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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial Distribuição Espacial das Entidades e a Rede Socioassistencial em Belo Horizonte: os CRAS e o Terceiro Setor Cristiane Ferreira Michette Belo Horizonte 2010

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS · Distribuição Espacial das Entidades e a Rede Socioassistencial em Belo Horizonte: os CRAS e o Terceiro Setor Dissertação

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial

Distribuição Espacial das Entidades e a Rede

Socioassistencial em Belo Horizonte: os CRAS e o Te rceiro

Setor

Cristiane Ferreira Michette

Belo Horizonte

2010

CRISTIANE FERREIRA MICHETTE

Distribuição Espacial das Entidades e a Rede

Socioassistencial em Belo Horizonte: os CRAS e o Te rceiro

Setor

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Geografia.

Orientador: Dr. José Irineu Rangel Rigotti Co-Orientador: Dr. José Flávio Morais Castro

Belo Horizonte

2010

FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Michette, Cristiane Ferreira M623d Distribuição Espacial das Entidades e a Rede Socioassistencial em Belo

Horizonte: os CRAS e o Terceiro Setor. / Cristiane Ferreira Michette. Belo Horizonte, 2010.

115f.: il.

Orientador: José Irineu Rangel Rigotti Co-orientador: José Flávio Morais Castro

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Tratamento da Informação Espacial.

1. Assistência Social. 2. Associação sem fins lucrativos. 3. Vulnerabilidade. I. Rigotti, José Irineu Rangel. II. Castro, José Flávio Morais. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Tratamento da Informação Espacial. IV. Título.

CDU: 361.21

Cristiane Ferreira Michette

Distribuição Espacial das Entidades e a Rede Socioa ssistencial em Belo

Horizonte: os CRAS e o Terceiro Setor

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia –

Tratamento da Informação Espacial, da Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais.

José Irineu Rangel Rigotti (Orientador) – PUC Minas

José Flávio Morais Castro – (Co-orientador) – PUC Minas

Mônica Abranches Fernandes – PUC Minas

Belo Horizonte, 04 de março de 2010

Dedico este trabalho em primeiro lugar a Deus, que me proveu com a força e coragem necessárias para chegar ao fim deste projeto. Ao meu amado Claudinei, pelos finais de semanas e noites solidárias que foi obrigado a passar por dividir comigo este trabalho, além de leitor atento e dedicado de todo o trabalho. A minha mãe pela força ilimitada e dedicação constante, e ao meu pai pelo exemplo de vida e coragem, aos meus irmãos, pelo amor incondicional que sempre pude contar em toda a minha vida.

E a todos aqueles e aquelas que farão deste trabalho uma ponte para a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Prof. Wanderley Chieppe atual Pró-reitor de Extensão da PUC Minas e

à Prof.ª Vera Victer Pró-reitora de Extensão no momento do meu ingresso no

Programa que apoiaram meu projeto dentro da Pró-reitoria de extensão sendo

participes deste trabalho.

Agradeço aos colegas do Observatório de Política Urbanas/PROEX/PUC Minas pelo

apoio e incentivo deste trabalho, em especial a Prof.ª e amiga Maria Helena de

Lacerda Godinho que sempre me impulsionou a voar mais alto. E a equipe do

Núcleo Comunitário, em especial as Professoras e amigas Mônica Abranches e

Luciene Leão que me apoiaram e ajudaram no decorrer de todo o projeto. A minha

estagiária e agora colega Assistente Social Mariana, pois sem ela seria difícil realizar

o trabalho de campo com tamanha eficiência.

Agradeço aos professores e funcionários do Programa de Pós-graduação em

Geografia – Tratamento da Informação Espacial, pelo carinho e atenção que recebi.

Ao meu grande amigo e orientador Prof. José Irineu Rangel Rigotti, pela orientação

e apoio incondicional neste trabalho. Ao Prof. José Flávio Morais Castro, pela co-

orientação e colaboração na construção dos mapas e metodologia deste trabalho.

Ao eterno mestre Prof. Oswaldo Bueno Amorim Filho, pela disponibilidade e

compreensão nos momentos difíceis, despertando em mim um especial carinho pelo

programa.

Agradeço em nome da Carla Andréa Ribeiro e do Beckembuer Neury a todos da

SMAAS, que muito colaboraram para que este projeto desse certo.

Agradeço ao Conselho Municipal da Assistência Social pela grande colaboração na

execução da pesquisa.

Agradeço, em especial, ao Gustavo Brant que com tamanha competência,

dedicação e carinho, dedicou-se incansavelmente para o bom êxito desse trabalho.

Crescer significa mudar e mudar envolve riscos, uma passagem do conhecido para o desconhecido. (William P. Young)

RESUMO

Este trabalho analisa a localização das entidades ligadas à Política de Assistência

Social por meio da identificação do público atendido e das atividades desenvolvidas,

tendo como unidade de análise espacial as áreas de abrangência dos CRAS. Nesse

sentido, foi desenvolvido um mapeamento dessas entidades do Terceiro Setor de

Belo Horizonte, considerando a Política de Assistência Social, que coloca a questão

da territorialização e do trabalho com a rede de serviços públicos e privados, junto

aos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), como fator essencial para

o atendimento ao público usuário da Assistência Social.

Palavras-chave: Assistência Social, Terceiro Setor, Vulnerabilidade.

ABSTRACT

This work analyzes the location of the entities connected with the Social

Assistance Political thorough the attended public identification and the

developed activities, considering as a spatial analysis unit the CRAS

service areas. It was developed a mapping of these Belo Horizonte Third

Sector entities, considering the Social Work Politicy, that considers the

territory question and the private and public net work service offered

joined with the Social Assistant Reference Centers (CRAS) work as an

essential factor to the service to the social work user public.

Key-words: Social Assistant, Third Sector, Vulnerability.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Apresentação construção geométrica de Christaller ......................................21

Figura 2: Mapa de localização – Belo Horizonte ..............................................................32

Figura 3: Região Metropolitana de Belo Horizonte ..........................................................33

Figura 4: Imagem de Satélite de Belo Horizonte - 2000 .................................................35

Figura 5: Planta Cadastral do extinto arraial de Belo Horizonte, antigo Curral Del Rei,

comparada com a planta da nova capital no espaço abrangido por aquele arraial ...38

Figura 6 e 7: Construções do Período JK em Belo Horizonte........................................39

Figura 8: Taxa de Fecundidade – 1940/2000 ...................................................................42

Figura 9: Belo Horizonte - % da população total ..............................................................43

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 ...............................................................................................................................40

TABELA 2 ...............................................................................................................................69

TABELA 3 ...............................................................................................................................70

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Características dos dois circuitos da economia urbana dos países

subdesenvolvidos ..................................................................................................................26

Quadro 2: Dimensões de análise das redes geográficas ...............................................27

Quadro 3: Combinações resultantes da conjunção entre o público e o privado .........53

Quadro 4: Capacidade de atendimento dos CRAS .........................................................67

Quadro 5: Equipes de referência dos CRAS segundo a NOB-RH/SUAS......................67

Quadro 6 : Distribuição das áreas da Proteção Social Básica - PSB segundo regional

administrativa, SMAAS/BH, 2008. ......................................................................................84

Quadro 7: Distribuição dos domicílios das áreas de abrangência dos CRAS, segundo

o critério do “ÍNDICE DE VULNERABILIDADE DA SAÚDE” (2003), Belo Horizonte,

2008. ........................................................................................................................................85

Quadro 8: Público atendido por entidades localizadas na área de abrangência dos

CRAS .......................................................................................................................................99

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................13

2 BASES TEÓRICAS.............................................................................................................17

2.1 Redes Geográficas.............................. ..............................................................19

2.2 Redes urbanas.................................. .................................................................28

2.3 Breve Caracterização geográfica e histórica de Belo Horizonte...................32

2.4 Belo Horizonte: caracterização e dinâmica do cr escimento demográfico...40

3 PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NA EXECUÇÃO DAS A ÇÕES

SOCIOASSISTENCIAIS: DO TERCEIRO SETOR À ASSISTÊNCIA SOCIAL..........50

3.1 Terceiro Setor ................................. ...................................................................50

3.2 Assistência Social............................. ................................................................56

3.2.1 Sistema Único de Assistência Social (SUAS)..................................................................62

3.2.2 Proteção social básica.....................................................................................................66

3.2.3 Assistência Social em Belo Horizonte.............................................................................68

4 MÉTODOS E TÉCNICAS ......................................................................................72

4.1 Obtenção dos dados e tratamento das informações .....................................74

5 DISTRIBUIÇÃO DAS ENTIDADES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO

DE BELO HORIZONTE E A CONSTRUÇÃO DA REDE SOCIOASSIS TENCIAL: OS

CRAS E O TERCEIRO SETOR ................................................................................81

5.1 Distribuição Espacial dos CRAS no município de Belo Horizonte/2007 ......81

5.2 Estrutura Funcional dos CRAS ................... .....................................................87

5.3 Constituição da rede socioassistencial na Polít ica de Assistência Social em

Belo Horizonte ..................................... ....................................................................92

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................ ....................................................108

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................111

1. INTRODUÇÃO

A Política de Assistência Social tem um papel importantíssimo na construção

do bem-estar social. Misha (1995) analisa os direitos sociais cobertos pelo Estado

de Bem-estar Social1, como proposto em suas origens e reafirma que a união dos

três elementos – pleno emprego, serviços sociais universais e de assistência social

– são expressão concreta da ideia de responsabilidade coletiva na manutenção de

um padrão mínimo necessário de condição de vida e de justiça social. Beveridge

(1944) acredita que a assistência seria, por um tempo determinado, até que as

políticas de emprego e renda funcionassem bem.

A partir da Constituição Federal de 1988, conhecida como a Constituição

cidadã, surge um Estado dentro de um pacto social, numa proposta de maior

participação da sociedade civil na execução dos serviços das políticas sociais e por

meio das diversas instâncias de controle social.

Para atuar nessa nova ordem, surgem instituições sociais tais como:

entidades filantrópicas, entidades de direitos civis, terceiro setor, organizações

sociais, fundações e instituições sociais das empresas. Essas entidades, juntamente

ao Estado e à sociedade civil, constituem o que denomina-se de Terceiro Setor. Os

movimentos sociais, as ONGs, as igrejas e os cidadãos se mobilizam para modificar

o cenário social, o que caracteriza uma mudança radical nas relações entre o

Estado, o setor privado e a sociedade civil.

O Terceiro Setor conjuga características dos dois setores tradicionais,

Mercado e Estado. Há de se gerir com eficiência (Mercado), sem ter o lucro como

motivação, e sim com interesse coletivo (equidade, prioridade dos valores humanos

sobre os do capital) como o Estado.

Nos anos 90, surge um novo padrão de relacionamento entre os três setores

da sociedade. O Estado começa a reconhecer que as ONGs acumularam um capital

de recursos, experiências e conhecimentos, sob formas inovadoras de

enfrentamento das questões sociais, que as qualificam como parceiros e

interlocutores das políticas governamentais. O mercado, antes distanciado, passa a

1 O plano de Beveridge, formulado em 1942, na Inglaterra, por Willian Beveridge propõe um pacto entre capital e trabalho mediado pelo Estado, em reação ao descrédito na crença liberal de livre mercado como instrumento de regulação econômica e social. Assim, originou-se o chamado Estado de Bem-estar Social.

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ver nas organizações sem fins lucrativos canais para concretizar o investimento do

setor privado empresarial nas áreas social, ambiental e cultural. Marcam-se,

portanto, nesse período, as palavras parceria, cidadania corporativa,

responsabilidade social e, investimento social privado.

Paralelamente, a política de Assistência Social começa a se institucionalizar.

A Constituição Federal de 1988 traz uma nova concepção para a Assistência Social

brasileira, incluindo-a no âmbito da seguridade social, regulamentada pela Lei

Orgânica da Assistência Social (LOAS), em 1993, como política pública para um

campo novo, o campo dos direitos. De acordo com a LOAS, no artigo primeiro, “a

assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é uma Política de

Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através

de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o

atendimento às necessidades básicas”.

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), de 2004, determina que a

Política de Assistência Social seja realizada de forma integrada às políticas setoriais,

considerando as desigualdades socioterritoriais, além de visar seu enfrentamento.

Também tem foco na garantia dos mínimos sociais, no provimento de condições

para atender contingências sociais e na universalização dos direitos sociais, pautada

pela autonomia do usuário.

Para que se tenha um melhor entendimento sobre a existência de uma rede

socioassistencial, se faz necessário apresentar, inicialmente, alguns conceitos

definidos na legislação da Assistência Social, após grande discussão teórica e

metodológica do poder público com a sociedade civil:

1. Rede socioassistencial: conjunto integrado de ações, da iniciativa pública e da sociedade, que oferta e opera benefícios, serviços, programas e projetos, o que supõe a articulação entre todas essas unidades de provisão de proteção social, sob a hierarquia de proteção social básica e especial e, ainda, por níveis de complexidade. (NOB/SUAS p.94) 2. Territorialização: eixo estrutural da Gestão do Sistema Único da Assistência Social (SUAS); o princípio da territorialização significa o reconhecimento da presença de múltiplos fatores sociais e econômicos, que levam o indivíduo e a família a uma situação de vulnerabilidade e ao risco pessoal e social. O princípio da territorialização possibilita orientar a proteção social de Assistência Social. (NOB/SUAS p.91) 3. Território: espaço em permanente construção, produto de uma dinâmica na qual se tencionam sujeitos sociais postos na arena política. Uma vez que essas tensões são permanentes, o território nunca está

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acabado, mas, ao contrário, em constante construção e reconstrução. (Dicionário de Termos Técnicos da Assistência Social, p.101).

Conforme a Política Nacional de Assistência Social, os serviços de proteção

básica – aqueles com objetivo de “prevenir situações de risco por meio do

desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos

familiares e comunitários” (PNAS, 2004, p.33) – deverão ser executados de forma

direta nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), uma unidade

pública estatal de base territorial, localizada em áreas de vulnerabilidade social para

o atendimento da Política de Assistência Social, e em outras unidades básicas e

públicas de assistência social, bem como de forma indireta nas entidades e

organizações de assistência social da área de abrangência dos CRAS.

Considerando a alta densidade populacional das RMs do País e, ao mesmo

tempo, o alto grau de heterogeneidade e desigualdade socioterritorial, a questão da

territorialidade é vista como ponto primordial pela PNAS. Assim, é imperioso

construir ações territorialmente definidas, considerando outras políticas setoriais e

entidades de assistência social localizadas na área de abrangência dos CRAS:

O princípio da homogeneidade por segmentos na definição de prioridades de serviços, programas e projetos torna-se insuficiente frente às demandas de uma realidade marcada pela alta desigualdade social. Exige-se agregar ao conhecimento da realidade a dinâmica demográfica associada à dinâmica socioterritorial em curso. (PNAS, 2005, p.43).

A implementação das políticas sociais devem considerar a questão do

território onde as pessoas residem, o que diferenciaria a forma de atendimento

conforme o grau de intensidade de pobres residentes numa determinada localidade.

A incorporação da dimensão territorial na operacionalização de políticas sociais

aumentaria a eficiência da política em termos de um direcionamento mais adequado

de recursos, além de contribuir para combater os efeitos sociais negativos

associados às localidades das altas concentrações de famílias pobres e em situação

de vulnerabilidade social.

Considerando a necessidade e a importância da territorialidade na assistência

social, esse estudo se propôs a fazer uma análise das entidades de Assistência

Social que compõe o Terceiro Setor e foram identificadas pela Pesquisa do

Diagnóstico do Terceiro Setor, realizada em 2006 conforme relatório de Rezende,

(2006) e junto às entidades contidas no banco de dados do Conselho Municipal de

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Assistência Social. Este trabalho teve o intuito de analisar a localização das

entidades ligadas à Política de Assistência Social e caracterizar o público atendido e

a área de abrangência. A proposta foi verificar se estavam localizadas na lógica da

territorialização para atender a demanda do público usuário da assistência social.

Nesse sentido, foi desenvolvido um mapeamento dessas entidades do

Terceiro Setor de Belo Horizonte, considerando a Política de Assistência Social, que

coloca a questão da territorialização e do trabalho com a rede de serviços públicos e

privados junto aos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) como fator

essencial para o atendimento à população.

Responder a algumas questões se torna primordial para este estudo. As

instituições do Terceiro Setor que se dizem entidades de Assistência Social estão

localizadas geograficamente nas áreas de maior vulnerabilidade social ou próxima a

elas? Essas entidades estão nas áreas de abrangência dos CRAS? Os CRAS

articulam efetivamente a rede socioassistencial no seu território para além das

entidades conveniadas? Qual é a relação existente entre o público atendido e as

atividades desenvolvidas pelas entidades? Qual é o perfil das entidades e onde se

localizam? Qual é a relação das atividades desenvolvidas pelos CRAS e as

atividades desenvolvidas pelas entidades?

A estrutura da dissertação organiza-se em 4 (quatro) capítulos mais a

conclusão. O primeiro apresenta o marco teórico da Geografia, que tem como

objetivo embasar este estudo. O segundo traz como fim conhecer melhor o objeto de

estudo desta dissertação, apresentando, respectivamente, uma análise histórica e

crítica da constituição e ação do Terceiro Setor e da apresentação da legislação que

estrutura a Política Nacional de Assistência Social, bem como apresentar o

desenvolvimento da Política de Assistência Social no município de Belo Horizonte. O

terceiro apresenta a metodologia utilizada no desenvolvimento deste estudo. O

quarto e penúltimo capítulo refere-se ao estudo de caso realizado para a pesquisa,

mais especificamente os resultados e análises dos dados coletados. A conclusão

não tem como objetivo encerrar o assunto, mas sim apontar os desafios encontrados

durante a pesquisa e levantar considerações acerca do que foi possível refletir e

perceber sobre o trabalho intersetorial e a territorialização na Política de Assistência

Social em Belo Horizonte.

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2 BASES TEÓRICAS

Para fundamentação teórica e metodológica deste trabalho, se faz necessário

um estudo sobre a geografia urbana e, mais precisamente, sobre as redes

geográficas. Dessa forma, será possível entender melhor como se constitui a

proposta legalizada do trabalho dos Centros de Referência da Assistência Social

(CRAS) com a rede de serviços socioassistenciais da Política de Assistência Social,

no município de Belo Horizonte.

A Geografia se tornou fundamental na definição de estratégias para atingir a

universalização de atendimento das políticas sociais. Isso se deve ao fato de que

não basta mais responder quem são as pessoas usuárias de tais políticas, neste

estudo em questão, usuários da assistência social, mas é preciso responder onde

estão, por isso a necessidade de realizar um estudo de fluxo da população, no

entanto, este tema não fez parte do objeto deste trabalho.

A geografia urbana estuda as questões espaciais do fenômeno urbano, tendo

a cidade como objeto principal, considerando seus aspectos fisiológico, morfológico

e cultural. Inclui, além das cidades, todas as áreas com características urbanas

como aglomerações urbanas, subúrbios, cidades satélite e franja rural-urbana.

Para alguns autores, como é o caso de George (1970), a geografia urbana se

apresenta como uma síntese do conjunto de estudos da geografia humana ou uma

introdução à geografia regional, ao passo que a cidade ocupa um lugar crescente na

personalização e organização das regiões. Segundo o autor, várias classificações

funcionais urbanas foram realizadas a partir das funções identificadas e classificadas

em setores: funções de nível nacional ou internacional (como as funções de uma

capital ou de uma grande metrópole econômica) e funções de nível regional,

respondendo a necessidade da população urbana da própria cidade.

A morfologia, como um dos aspectos estudados no fenômeno urbano, sempre

aparece na sua fase introdutória, seja na localização espacial das atividades ou na

classificação qualitativa e social das diferentes unidades que compõem a cidade. A

morfologia se relaciona com o cotidiano da vida urbana, a localização da habitação,

serviços com procura diferenciada, locais de trabalho de diferentes categorias e com

a mobilidade da população urbana no decorrer do dia. Sendo assim, a cidade pode

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ser vista de duas formas, de acordo com a escala: a cidade como ponto, distribuída

no espaço, ou a cidade como área, dotada de uma estrutura interna.

Alguns fatores importantes, como o aparecimento de novas formas e locais de

distribuição e comercialização de produtos de uso e consumo, além do rápido

crescimento das cidades levou a criação de grandes espaços urbanizados. Esses

espaços, segundo George (1970), são socialmente produzidos pelo homem; mas os

elementos do espaço natural também devem ser levados em conta e são

denominados como sítio geográfico: substrato geológico, bases topográficas e

geormorfológicas, condições pedológicas e climáticas, composição fitogeográfica,

caracterizando todo o ecossistema.

O espaço urbano construído é composto pelas infraestruturas físicas, em

conjunto com os espaços de várias funções: residenciais, socioeconômicas e

socioculturais. Essas funções fazem com que sejam criadas interações espaciais

mais ou menos integradas dentro da própria cidade ou com outros sistemas

urbanos, gerando um sistema de rede de integração urbana mais dinâmica.

A urbanização das cidades é intensificada pelo deslocamento do centro

econômico do campo para a cidade, com o aumento do comércio. Nos tempos

modernos, devido ao processo de industrialização, houve uma superposição do

espaço geográfico, dominado por uma cidade e sua região, o que se percebe por

meio da rede urbana2.

A geografia urbana se apresenta como um ponto de chegada ou uma síntese dos estudos da geografia humana e, ao mesmo tempo, como uma introdução à geografia regional, na medida em que esta atribui um interesse crescente ao papel das cidades na identidade e na organização das regiões. A geografia urbana se confunde com a geografia regional, a partir do momento em que seu estudo volta para as redes urbanas. (GEORGE, 1970, p.101/102 e105)

Entender a realidade urbana passa por compreender como evoluem as

formas, as funções e as estruturas urbanas, transformadas pela desintegração das

cidades antigas e pela urbanização generalizada. Conhecer o processo de

urbanização mundial e a cidade na região como sua posição, funções, tipologias,

hierarquias, redes urbanas; o espaço interno da cidade: sítio, zoneamento, uso do

solo, estrutura, morfologia e paisagem; percepção e cognição na cidade; seus

2 George (1970) conceitua a rede Urbana como um sistema de relações entre cidades mais ou menos hierarquizadas do ponto de vista funcional, que dinamiza um espaço geográfico, definindo sua personalidade e sua unidade.

19

problemas urbanos, planejamento e perspectiva das cidades é compreender o

campo da geografia urbana. Constata-se, assim, o quanto que a Geografia

possibilita entender e visualizar melhor os fenômenos sociais ocorridos nas cidades

e suas soluções.

2.1 Redes Geográficas

Os estudos sobre redes geográficas sofreram grande impacto após a

Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e teve como grande contribuição a Teoria dos

Lugares Centrais, desenvolvido por Walter Christaller, em 1933. Nos anos que se

seguiram, pouco foi acrescentado nessa teoria. Segundo Clark (1991)3 a mesma foi

desenvolvida de forma dedutiva, a teoria explica o número de centros, sua dimensão

e distribuição no espaço.

A construção da teoria dos lugares centrais está alicerçada em pressupostos

ou hipóteses simplificadoras: a população distribui-se no espaço de forma

homogênea; a oferta encontra-se espacialmente concentrada num sistema de

lugares centrais; a procura de bens e serviços oferecidos nesses lugares é

assegurada pela população que neles vive e está em região complementar; os bens

e serviços são de ordens de importância variável, avaliáveis a partir da frequência

com que são necessários; a ordem dos bens e serviços oferecidos num centro está

associada à própria ordem de importância do centro ou lugar central; um centro que

desempenha funções de ordem superior também desempenha as de ordem inferior.

A partir desses pressupostos é possível admitir que a melhor localização seria

encontrada no centro geométrico de uma determinada zona. No entanto, há um

limite natural, determinado pelo limiar da procura (mínimo de procura que justifica a

iniciativa da oferta do bem e serviço) e pelo alcance do bem (custo ou esforço

máximo que o comprador está disposto a suportar para efetivar a aquisição).

Dessa forma, Christaller explicita a teoria visivelmente como vários círculos

(Fig.01): a cada centro corresponderia um círculo, cujo raio seria determinado pela

ponderação entre a força de vontade do consumidor de frequentar esse centro e o

esforço de deslocamento, medido pela distância ou custo de transporte. Com o

3 Além de CLARK (1991) como fonte para a descrição da Teoria dos Lugares Centrais, foram utilizadas anotações das aulas de Geografia Urbana, ministrada pelo Prof. Dr. Oswaldo Bueno Amorim Filho no ano de 2008

20

aparecimento de novos centros, inicia-se um processo de sobreposição parcial dos

círculos, que dará origem a zonas de configuração hexagonal, pois os consumidores

escolherão certamente o centro que minimize o seu esforço de deslocamento. Os

pontos de sobreposição correspondem a zonas de indiferença para o consumidor aí

localizado. Por meio de uma construção geométrica simples, Christaller definiu

igualmente (a partir de observações feitas no sul da Alemanha) o número dos

centros, as distâncias entre os diferentes centros, as áreas de influência, os volumes

de população envolvidos.

21

Figura 1: Apresentação construção geométrica de Christaller Fonte: Christaller(1933,p.66)

A natureza diversa do serviço prestado determinará uma hierarquização,

consoante às funções desempenhadas pelas empresas sejam de maior ou menor

alcance das populações. Os lugares centrais, no entanto, podem ser de tamanhos

22

diferentes. Quanto maior for a população a abastecer e de mais longe vierem os

clientes, mais importante será um lugar central. O resultado desse processo é uma

hierarquia de lugares centrais de tamanho diferente. No entanto, pode-se verificar

que os princípios definem uma superfície homogênea, na qual nenhuma localização

encerrará vantagens sobre qualquer outra, quando se trata de facilidade, preço das

mercadorias, serviços vendidos e custo de acesso. Já as limitações criam um

sistema de mercado que minimiza custos e maximiza lucros, a partir de

planejamento racional com base no conhecimento do mercado (CLARK, 1991).

Seguindo com a definição conceitual sobre redes geográficas, é possível dizer

que se entende na Geografia, como redes geográficas o conjunto de localizações

que se encontram conectadas entre si por vias e fluxos. Exemplificam-se essas

ligações como a conexão das sedes das cooperativas e seus produtores, pela sede

da Igreja Católica, suas paróquias e diocese, entre outras (CORRÊA, 2001).

As redes geográficas existem desde o momento em que foram definidas

localizações e caminhos e uma interação entre esses, ou seja, desde os primórdios

quando havia troca de mercadorias e presentes entre as civilizações, pois já havia a

centralidade de determinados povos (CORRÊA, 2001). Com a evolução das

civilizações, as redes geográficas se expandiram e se multiplicaram, devido às

novas formas de organização do trabalho e sua divisão territorial, que surgiram com

o advento do capitalismo. Com isso, houve um aumento da complexidade das

relações, dos papéis e dos fluxos das redes.

Qualquer tipo de fluxo pode ser considerado o início de uma rede, pois, para

que ela exista, é necessário que haja, primeiramente, uma conexidade, seja de

mercadoria ou de informação. Há existência de lugares possuidores de poder e

referência que podem incluir ou excluir elementos. Dessa forma, é possível inferir

que poucas são as chances de apresentação das redes em sua totalidade, uma vez

que se encontram em constante movimento (CASTRO et al, 2005).

A rede de localidades centrais também é vista como uma estrutura territorial,

com reprodução das classes sociais. Na segunda metade do século XX, definiram-

se as classes sociais, não somente em função de forças primárias frente à

dicotomia, proprietários dos meios de produção e aqueles que vendem sua força de

trabalho, mas também das ações de forças “residuais e derivativas”, verificando-se

um espectro social variado e fragmentado, fazendo coexistir na sociedade,

camponeses, exército de reserva, proprietários rurais, trabalhadores, classe média,

23

empregados do setor público e privado etc. O processo de acumulação capitalista

impõe que se reproduza esse espectro social, que se dá, em grande parte, no

consumo diferenciado de bens e serviços oferecidos pelas localidades centrais.

Essa diferenciação não se refere necessariamente ao tipo de serviço, mas também

à quantidade e qualidade dos bens e serviços consumidos (CORRÊA, 2001).

A diferenciação de consumo entre as classes sociais se dá a partir de uma

complexa hierarquia de localidades centrais que assumem diferenciados arranjos.

Conforme Santos (1979), os circuitos superior e inferior da economia e suas

projeções espaciais devem ser interpretados como meios socioespaciais que

servem a todas as classes sociais. O desdobramento da rede de localidades

centrais em dois planos servindo a classe alta, média e a classe pobre indica uma

coexistência de classes sociais distintas em um mesmo espaço frente à própria

reprodução social. Segundo Corrêa (2001), a complexidade da hierarquia das

localidades centrais se dá devido à localização diferenciada das classes sociais num

mesmo espaço, aparecendo a segregação socioespacial. Sendo assim, a rede de

localidades centrais cumpre dois papéis ao mesmo tempo: meio para acumulação

capitalista e meio para reprodução das classes sociais. Dessa forma, verifica-se a

reprodução do modo de produção capitalista.

No entanto, sabemos que a desigualdade socioespacial na atualidade é uma

questão latente em Belo Horizonte, sendo identificado as áreas de maior

vulnerabilidade social através do Índice de Vulnerabilidade da Saúde que será

explicitado em detalhes mais a frente. O que nos interessa neste trabalho é

identificar a potencialidade ou existência de uma rede de serviços socioassistenciais

principalmente nas regiões identificadas como risco elevado e muito elevado4.

Remetendo-nos a existência de um território com alta vulnerabilidade em Belo

Horizonte. Sabemos que a constituição destas redes através da existência de

localidades centrais compostas pelos CRAS e pelas entidades de assistência social

não é algo simples, porém se constitui um ponto importante para identificarmos se

os equipamentos de prestação de serviços estão localizados onde a população

demandatária reside, conciliando assim, a demanda com a possibilidade de acesso

ao serviço ofertado.

4 O IVS classifica o município em áreas em níveis de diferentes graus de risco social: risco muito elevado, elevado e baixo risco, mais a frente verificaremos como se dá essa classificação.

24

Em 1933, Christaller já discutia não apenas os elementos e mecanismos que

definem uma rede de localidades centrais, mas também a sua variabilidade de

condições e natureza, como fatores de organização social e econômica pertinente

às áreas subdesenvolvidas. Nestes estudos realizados por Christaller, identificam-se

três modos de organização, que não são excludentes entre si, podendo coexistir

numa mesma rede regional. Primeiramente, será abordada a rede dendrítica de

localidades centrais; em segundo lugar, os mercados periódicos; e, em terceiro, o

desdobramento da rede em dois circuitos. (CORRÊA, 2001)

As redes dendríticas caracterizam-se pela origem colonial, valorizando o

território conquistado pelo capital europeu, tendo como ponto de partida a fundação

de uma cidade estratégica e excentricamente localizada perto do litoral, face a uma

futura hinterlândia. Concentra-se o núcleo político e econômico da região, com a

existência da maior parte do comércio atacadista exportador e importador, o que

viabiliza a cidade a participar na divisão internacional do trabalho. Isso possibilita

abarcar a maior parte da renda, bem como a elite regional de raízes fundiária e

mercantil, tornando-se o maior foco de correntes migratórias de destino urbano.

Forma-se, assim, excessivo número de pequenos centros, pequenos pontos de

venda indiferenciados no que se refere ao comércio varejista, devido à limitada

mobilidade social e baixa demanda da população, bem como pela precariedade das

vias e dos meios de transporte. Além dessas características, as redes dendríticas

apresentam ausência de centros intermediários intersticialmente localizados,

gerando um padrão de relação comercial entre as cidades, no qual cada centro

dessa rede recebe e envia mercadorias para o núcleo mais próximo e maior da

cidade principal, impedindo a formação de centros (CORRÊA, 2001).

A existência dos mercados periódicos foi verificada em vários contextos

socioeconômicos e culturais na América Latina, África e Ásia. Eles se constituem

como núcleos de povoamento pequenos, que, de tempos em tempos, se

transformam em localidades centrais, uma ou duas vezes por semana, cinco dias na

semana ou até mesmo durante o período da safra, atraindo vendedores de todas as

áreas (artesãos, prestadores de serviços etc). Nessa época, também aproveitam

para organizar atividades culturais, sociais e políticas. Passado esse período, a

localidade volta a realizar a atividade principal, primária na origem.

Os mercados periódicos representam uma forma bem organizada de espaço-

tempo das atividades humanas: organizam todas as regiões vizinhas de forma que

25

os comerciantes e prestadores de serviços reunam-se num determinado núcleo de

povoamento para onde convergem os consumidores de uma localidade. Isso permite

que a população da região tenha acesso aos bens e serviços sem ter a necessidade

de viajar grandes distâncias para adquirir-los. (CORRÊA, 2001).

Alguns fatores de organização dos mercados como os conceitos de alcance

máximo e alcance espacial mínimo se tornam essencial para conceituação dos

mercados. Alcance máximo se define pela área determinada por um raio a partir de

uma localidade central. Nesse espaço determinado, a população se desloca para a

localidade central para obtenção de bens e serviços. Além de se deslocar para

regiões mais próximas, gasta menos com transporte e leva menos tempo para

obtenção do produto adquirido ou serviço prestado. Já o alcance espacial mínimo

tem que se levar em consideração o mínimo de consumidores existente em uma

determinada área para que um determinado serviço ou comércio se instale.

O alcance espacial máximo e mínimo varia conforme a oferta dos bens e

serviços e com a característica da população e a realidade do local, como densidade

demográfica, renda, padrão cultural, valor do transporte. Esses dois fatores fazem

com que os mercados periódicos se transformem ou não em mercados

permanentes. (CORRÊA, 2001).

Tendo em vista que nosso estudo refere-se à oferta de serviços considerados

como essencial à população e sem a intenção de lucro pela entidade prestadora de

serviços, os pontos identificados na rede como alcance espacial máximo e mínimo

se torna importantíssimo, principalmente porque o objetivo principal é que o serviço

ofertado esteja mais próximo onde reside a população demandatária.

O terceiro e último modelo é o de dois circuitos da economia desenvolvido por

Milton Santos, em 1970 e 1977. Esse modelo baseia-se na divisão da vida

econômica dos países subdesenvolvidos em dois circuitos de produção, distribuição

e consumo. Os circuitos superior e inferior resultam da modernização tecnológica,

ainda que o segundo, de forma indireta, dirija-se aos indivíduos que quase não

foram beneficiados com a referida modernização. A causa e o efeito dos dois

circuitos é a bipolarização social, ou seja, a existência de uma distribuição de renda

de forma diferenciada – um conjunto de pessoas que não possuem renda fixa, com

salários baixos, ao lado de uma minoria com renda elevada, que possui poder de

compra de bens e serviços. Ambos possuem as mesmas necessidades, mas

26

aqueles no circuito inferior não têm as mesmas condições de satisfazê-las.

(SANTOS, 1979)

Os dois circuitos não são isolados e apresentam formas de

complementaridade e de dependência a partir de trocas de insumos. O circuito

superior é constituído pelos bancos, comércio e indústrias voltados para exportação,

pela indústria vinculada ao mercado interno, pelos serviços modernos e empresas

atacadistas e de transportes. Suas clientelas urbanas ou regionais fazem parte da

classe alta, rica. Já o circuito inferior é formado por atividades que não utilizam

capital intenso, ainda apresentam uma organização primitiva, como a fabricação de

bens, alguns comércios e serviços e o público atendido é basicamente a população

pobre (Santos, 1979).

Quadro 1: Características dos dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos Fonte: SANTOS, 1979 p.34

O funcionamento dos dois circuitos é identificado facilmente, sendo que,

segundo Santos (1979), eles interferem na rede de localidades centrais de forma a

estruturá-las com cada centro, atuando simultaneamente nos dois circuitos e

formando duas áreas de influência. Existe uma estrutura de hierarquia urbana,

formada pela metrópole, pela cidade intermediária e pela cidade local, que tem

mecanismos de interferência nos circuitos.

Características Circuito Superior Circuito Inferior

Tecnologia capital intensivo trabalho intensivo Organização burocrática primitiva

Capitais importantes reduzidos Emprego reduzido volumoso

Assalariado dominante não-obrigatório Estoques grandes quantidades e/ou alta qualidade pequenas quantidades, qualidade inferior

Preçosfixo (em geral) submetidos à discussão entre comprador e

vendedor (haggling) Crédito bancário institucional pessoal não institucional

Margem de Lucroreduzida por unidade, mas importante pelo volume de negócios (exceção: produção de luxo)

elevada por unidade mas pequena em relação ao volume de negócios

Relações com a clientelaimpessoais e/ou com papéis diretas, personalizadas

Custos Fixos importantes desprezíveis Publicidade necessária nula Reutilização dos bens nula frequente Overhead Capital indispensável dispensável Ajuda Governamental importante nula e quase nula Dependência Direta do Exterior

grande, atividade voltada para o exterior reduzida ou nula

27

Observa-se que uma das dimensões espaciais mais importantes para a

caracterização dos dois circuitos nos países subdesenvolvidos é a rede de

localidades centrais. De fato, grande parcela da população está em situação de

pobreza e sofrendo forte exploração social. Dessa forma, o estudo da localidade

central toma uma dimensão política nos países desenvolvidos (CORRÊA, 2001). E

para este estudo, a identificação da localidade central se torna importante como fator

de organização da proposta metodológica da Política de Assistência Social no

município de Belo Horizonte.

Ao considerar a possibilidade de formação das redes, pode-se encontrar

grande número de dimensões de análise, observando as categorias organizacional,

temporal e espacial conforme apresentado no quadro 2 .

Quadro 2: Dimensões de análise das redes geográficas Fonte: CORRÊA, 2001, p.111-112

28

No quadro 2, verifica-se a direção da análise das redes geográficas, a qual

deve atravessar todas as variáveis no momento da análise, sem considerar a ordem

das mesmas. As dimensões organizacional, temporal e espacial tratam de todas as

possibilidades existentes nas especificações de uma rede geográfica, evidenciando

a estrutura interna, origem, natureza dos fluxos, funções e finalidades, construção,

duração, velocidade e frequência dos fluxos, escala, forma espacial e conexão das

redes, que cerca de todas as formas as alternativas de análise (CORRÊA, 2001).

Sendo assim, o que interessa neste estudo é identificar no município de Belo

Horizonte a efetivação e implementação da rede de serviços na Política de

Assistência Social que pressupõe a necessidade da existência de conexidade de

informações, acessibilidade e oferta de serviços entre os CRAS, as entidades de

assistência social e a população atendida.

2.2 Redes urbanas

Observa-se que em 1952 Pierre George já demonstrava a importância de se

estudar as redes urbanas para se entender melhor a organização espacial das

regiões. Segundo George (1964, p.280), “para que exista rede urbana, é necessário

discernir diversas relações que estabeleçam conexões funcionais permanentes entre

os elementos urbanos da rede e entre eles e o meio rural”. E para que seja

identificada uma rede urbana se faz necessária a existência de várias ligações

internas e externas.

Segundo Correa (2001 p.93) rede urbana é um conjunto de centros urbanos

articulados funcionalmente entre si. “A rede urbana é um produto social,

historicamente contextualizado”, que tem como função articular a sociedade num

determinado espaço e ser responsável pelas interações sociais espacializadas, bem

como garantir sua existência e reprodução.

“Espaço é a expressão da sociedade” (CASTELLS, 1999, p.499). Como a

sociedade está frequentemente passando por transformações, novas formas e

processos sociais devem surgir. A dinâmica de toda a estrutura social compõe o que

se chama de processos sociais, que, por sua vez, exercem forte influência no

espaço. Na verdade, a grande maioria das pessoas enxerga o espaço conforme o

local em que vivem. Assim, o espaço se torna um lugar onde a sua forma, função e

29

significado são independentes dentro das fronteiras da continuidade física

(CASTELLS, 1999).

Amorim Filho (1984), grande estudioso sobre redes urbanas, considera que a

noção de rede urbana é composta por um conjunto de aspectos fundamentais como

distribuição espacial identificada como primeira característica; diferenciação,

centralidade, hierarquia, e articulação funcional.

A rede urbana pode se organizar espontaneamente e se consolidar por uma

lenta evolução que pode alterar a criação de novas cidades, o deslocamento de

correntes comerciais ou uma decisão administrativa. Nem sempre é perfeitamente

adaptada, ideal para uma região. Admite-se que aspectos físicos, econômicos e

políticos influenciam na estabilidade, fragilidade ou não da rede.

Amorim Filho (1984) vem acrescentar a essa característica do nascedouro

espontâneo da rede urbana a necessidade que surgiu principalmente após a

Segunda Guerra Mundial, de se ter conhecimento das redes urbanas tanto pelos

poderes públicos, as quais passaram a utilizar as redes urbanas como objeto de

preocupação da intervenção pública, quanto pelos estudiosos da área ou por

cidadãos que devem conhecer melhor o território onde vivem.

Atualmente verifica-se que a realidade da sociedade e seus processos

sociais, num determinado espaço, se encontram de forma desigual, no que tange ao

espaço e ao tempo. A rede urbana se torna reflexo e condição dessa realidade,

passando, assim, a existirem diversas formas de redes urbanas, identificadas

conforme o padrão espacial, complexidade funcional dos centros, grau de

articulação interna e externa de cada rede e em diversos contextos histórico-

espaciais.

O sistema de redes interligadas identifica uma nova estrutura social das

regiões, passando a ser componentes fundamentais das organizações. Assim,

formaram-se e são capazes de se expandirem com muita facilidade, pois há a

informação propiciada pelo novo paradigma tecnológico (CASTELLS, 1999).

Percebe-se que a principal característica de uma rede urbana é a sua base

espacial geográfica. É necessário que exista certo grau de diferenciação urbana,

que possibilite a complementaridade funcional, tornando possíveis as relações intra

e extra urbanas. Sem essas relações, não há como se falar em rede urbana.

Segundo Santos (1981), existem modelos de elaboração e ensaio de tipologia

das redes urbanas. Entre os principais fatores que constituem a organização das

30

redes, citam-se: as massas; a massa de população, sua densidade e distribuição; a

massa de produção, sua distribuição e valor; e a massa de equipamento

(transporte). Também destacam-se os fluxos de população, das produções agrícolas

e industriais, dos monetários e de informações. O tempo pondera os dois elementos

– massas e fluxos. É uma noção que explica a rápida evolução dos transportes e a

lenta evolução do conjunto das estruturas econômicas e sociais, por diversos

fatores.

Santos (1981) p.153, diz que “uma rede urbana é o resultado de um equilíbrio

instável de massas e de fluxos, cujas tendências à concentração e dispersão,

variando no tempo, proporcionam as diferentes formas de organização e de domínio

do espaço pelas aglomerações”. O autor também identifica fatores secundários da

constituição das redes:

• Tamanho do país: as redes têm mais oportunidade de ser

heterogêneas em um país mais vasto;

• Idade de colonização: os países cujo equipamento foi anterior à era

industrial tiveram tempo de constituir “redes” e modificá-las a partir do

seu desenvolvimento. Nos países colonizados, formou-se uma rede

moderna, mais simples, com dificuldades de adaptação em benefício

da economia;

• Sistema de governo: que favorece um sistema multipolar ou um regime

centralizador, que favorece um sistema unipolar;

• Tipos de atividade econômica: quanto mais uma economia é complexa

e diversificada, mais estável tende a ser a rede urbana.

Ainda segundo Santos (1981), existem alguns critérios para se identificar uma

tipologia das redes: época e condições técnicas de formação; densidade e

distribuição espacial; grau e tipo de polarização; existência ou não de macrocefalia;

tipo de atividade dominante; presença efetiva ou não de uma hierarquização com

poderes de decisão; dinamismo das aglomerações; dependência ou não do conjunto

em relação ao exterior.

Na caracterização de uma tipologia das redes, se faz necessário identificar as

relações entre os centros urbanos e a demanda de serviços excepcionais; se a

região é isolada com uma fraca densidade urbana ou com pouco poder de consumo

e de acessibilidade. Santos (1981) afirma que nos países subdesenvolvidos, as

redes urbanas geralmente são pouco desenvolvidas. Algumas intervenções dos

31

cientistas nas políticas de desenvolvimento urbano podem contribuir

significativamente para a alteração desse cenário no sentido de proporcionar, a

partir de resultados obtidos em pesquisas, investimentos dos setores públicos e

privado para o desenvolvimento da região.

Muitas vezes, a definição funcional dos centros, a natureza e intensidade de

integração de cada rede na economia global são determinadas pelas grandes

corporações multifuncionais e multilocalizadas estruturadas em rede. Sendo assim,

a rede urbana de uma determinada região, em vários casos, não pode ser descrita

apenas a partir de um padrão espacial, seja dendrítico, christalleriano ou qualquer

arranjo espacial, pois as densidades de centros variam conforme a localidade

interna. A complexidade da funcionalidade das redes urbanas e o padrão espacial

são indispensáveis e de comum intensidade na identificação dos processos de

transformação da sociedade e na sua organização social, “da qual a rede urbana é

uma de suas mais importantes manifestações e condicionantes”. (CORRÊA, 2001,

p.99).

Corrêa (2001) entende que para haver rede urbana tem a necessidade de

existirem três condições mínimas: existência de uma sociedade que vive de uma

economia de mercado, com comércio realizado, com bens produzidos local e

externamente. Segundo, deve haver pontos fixos no espaço de modo permanente

ou temporariamente onde ocorrem as transações. Em terceiro lugar, deve haver

uma interação entre os pontos fixos para que se ratifique e reflita sobre a

diferenciação hierárquica dos mesmos.

Evidentemente que não há como dissociar redes urbanas, redes geográficas

de redes sociais neste trabalho. E embora toda a bibliografia encontrada sobre redes

geográficas e redes urbanas se referenciem para um território macro, na perspectiva

de país ou inter-municipal, este trabalho tem o propósito de identificar a existência

de uma rede intra-urbana ou intra-municipal de Belo Horizonte. Dessa forma,

pretende-se identificar a existência de uma política de promoção regional a partir da

articulação de equipamentos públicos e privados, situados nos centros

intermediários em cada território estudado.

Para entender melhor a dinâmica da população dessas regiões vulneráveis,

serão verificados estudos em torno do crescimento demográfico do município de

Belo Horizonte.

32

2.3 Breve Caracterização geográfica e histórica de Belo Horizonte

Belo Horizonte atualmente tem uma área de 330,93 km2, localiza-se na região

centro-sul do Estado de Minas Gerais e sua localização absoluta é de 19°55’14’’ de

latitude sul e de 43°56’17’’ de longitude oeste 5.

Figura 2: Mapa de localização – Belo Horizonte Fonte: ZAHREDDINE 2004

5 Informações tratadas a partir da base cartográfica, disponibilizada pela PRODEMGE.

33

Belo Horizonte faz divisa com oito municípios. São eles: ao norte, os

municípios de Ribeirão das Neves, Vespasiano e Santa Luzia; a leste, Sabará e

Nova Lima; ao sul, Brumadinho e Ibirité, e a oeste, o município de Contagem.

Figura 3: Região Metropolitana de Belo Horizonte Fonte: ZAHREDDINE 2004

A cidade de Belo Horizonte tem um sítio com uma topografia acidentada,

advinda das ramificações da cordilheira do espinhaço, que compõem o grupo da

Serra do Itacolomy. A sede municipal localiza-se, em média, a 852,19 metros de

altitude e o ponto mais alto do município encontra-se na Serra do Curral, atingindo

1.390m.

34

De acordo com FERREIRA (1997), Belo Horizonte apresenta uma fisiologia

diversificada e vinculada às propriedades geológicas de seu substrato. O município

está inserido na unidade geológica do tipo cráton do São Francisco e seu território

encontra-se no contato de duas macro-unidades do relevo mineiro: as serras do

Quadrilátero Ferrífero e a Depressão do Alto Médio São Francisco. O domínio do

complexo de Belo Horizonte integra a unidade geomorfológica denominada

Depressão de Belo Horizonte que representa 70% do seu território. A área de maior

expressão está ao norte da calha do ribeirão Arrudas. Neste complexo, predomina

um relevo tipificado por espigões, colinas de topo plano arqueado e encostas

policonvexas de declividades variadas, nos flancos dessas feições e nas transições.

Entre elas ocorrem com freqüência anfiteatros de encostas côncavas e drenagem

convergente e nichos resultantes da estabilização de antigas voçorocas.

Conforme Zahreddine (2004) podemos observar na figura 4 a malha urbana

da cidade de Belo Horizonte (destacada em cinza) e os obstáculos naturais na

porção leste do sítio de Belo Horizonte6. No limite leste, destacam-se as seguintes

serras: Serra do Curral, Serra do Jatobá, Taquaril, José Vieira e Mutuca.

A existência destas barreiras geográficas interfere diretamente na expansão

da malha urbana de Belo Horizonte como pode ser observado ainda na figura 4 nos

limites dos municípios de Sabará, (nordeste de Belo Horizonte) e Nova Lima (Leste

e Sudeste de Belo Horizonte) em que o adensamento urbano é fraco, devido

principalmente às serras ali localizadas.

Já na divisa com Contagem (região Oeste de Belo Horizonte) a malha urbana

dos municípios se encontram, não se identificando nenhuma barreira que as

dividem, diferente de “Belo Horizonte e Sabará e Belo Horizonte e Nova Lima onde

estas paisagens são bem visíveis”. Zahreddine (2004 p.61)

6 Imagem satélite LandSat 5, de parte da região metropolitana de Belo Horizonte incluindo o município de Belo Horizonte e os municípios limítrofes, cedida em dezembro de 2002, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe, localizado em São José dos Campos - São Paulo. A imagem foi capturada em setembro de 2001 por meio de composição das bandas 3,4 e 5 do satélite LandSat 5 (obtida no site da Prefeitura de Belo Horizonte e elaborada por Danny Zahreddine).

35

Figura 4: Imagem de Satélite de Belo Horizonte - 2000 Fonte: Zahreddine (2004 p.62)

36

Com relação ao aspecto hídrico, Belo Horizonte situa-se na Bacia Rio das

Velhas às margens do São Francisco, e é abastecida pelos Ribeirões Arrudas e

Onça (afluentes do Rio das Velhas) e mais ao norte pelo Ribeirão Pampulha,

represado e gerando a Lagoa da Pampulha e desaguando mais tarde no limite de

Belo Horizonte e o município de Santa Luzia. O ribeirão Arrudas é formado pelo

córrego Ferrugem, vindo do município de Contagem e os córregos Jatobá e Barreiro,

ambos de Belo Horizonte, e que deságuam no Rio das Velhas, no município de

Sabará.

Com o desenvolvimento e crescimento desordenado de Belo Horizonte várias

foram as mudanças ambientais e sociais, como o aumento significativo da poluição e

demolição dos prédios históricos que retratavam a memória do município. Somente

a partir das décadas de 1980-90, inicia-se a preocupação com a revitalização da

cidade, com novas atividades culturais, inauguração de novos parques, bem como a

preocupação ambiental que passa a fazer parte da agenda política do município.

Verifica-se que Belo Horizonte, mesmo sendo uma das primeiras cidades

planejadas no país, não conseguiu combater a desigualdade social, vista fortemente

nos grandes centros urbanos – estas áreas constituem-se como ponto central deste

trabalho. A partir da constituição, implementação e efetivação de uma rede

socioassistencial em Belo Horizonte, pode-se ter uma cidade mais justa e menos

desigual.

Belo Horizonte foi idealizada com o intuito de ser a capital administrativa do

Estado de Minas Gerais em substituição a Ouro Preto, sendo a primeira cidade

planejada do país. Fundada em 12 de dezembro de 1897 foi planejada para possuir

uma população estimada de 200.000 habitantes. Mas, no ano de 1970 a cidade

atingiu o total de 1.000.000 de habitantes, o que levou a transformar a calma capital

do início do século XX em uma cidade densamente povoada em suas porções norte

e oeste, influenciada principalmente pela instalação de novas indústrias e de

multinacionais nestas regiões.

Construída a partir de ideários republicanos e com grandes influências das

cidades mais modernas do mundo, como Paris e Washington, novas estratégias

tiveram que surgir para o planejamento de Belo Horizonte, pois foi planejada para

ser construída dentro da Avenida do Contorno, mas não foi o que ocorreu. Logo no

início da construção da capital mineira, várias pessoas que não tinham poder

aquisitivo para se instalar no interior da Avenida do Contorno foram se instalando no

37

seu entorno. Dessa forma, foram surgindo às exclusões socioterritoriais. A partir do

momento em que as pessoas com posses se localizaram no interior da Avenida do

Contorno e as de pouco poder aquisitivo no entorno, foram criados grandes

aglomerados, vilas e favelas nas proximidades. Isso acarretou um descontrole do

crescimento urbano na periferia da cidade, crescendo muito mais rapidamente do

que a área planejada, dentro da Avenida do Contorno.

Aarão REIS (apud BARRETO, 1995) descreve aspectos centrais do Plano da

Cidade no relatório sobre a planta de Belo Horizonte:

Foi organizada a planta geral da futura cidade, dispondo-se na parte central, no local do atual arraial, a área urbana, de 8.815.382 m², dividida em quarteirões de 120m X 120m pelas ruas, largas e bem orientadas, que se cruzam em ângulos retos, e por algumas avenidas que as cortam em ângulos de 45º. Às ruas, fiz dar a largura de 20 metros, necessária para a conveniente arborização, a livre circulação dos veículos, o tráfego dos carros e trabalhos da colocação e reparações das canalizações subterrâneas. Às avenidas, fixei a largura de 35 metros, suficiente para dar-lhes a beleza e o conforto que deverão, de futuro, proporcionar à população. Apenas a uma das avenidas – corta a zona urbana de norte a sul, e que é destinada à ligação dos bairros opostos – dei a largura de 50 m. para constitui-la em centro obrigado da cidade e, assim, forçar a população, quando possível, a ir-se desenvolvendo do centro para a peripheria, como convem à economia municipal, à manutenção da hygiene sanitaria, e ao prosseguimento regular dos trabalhos technicos. Essa zona urbana é delimitada e separada da suburbana por uma avenida de contorno que facilitará a conveniente distribuição dos impostos locaes, e que, de futuro será uma das mais apreciadas bellezas da nova cidade. A zona suburbana de 24.930.803 m², – em que os quarteirões são irregulares, os lotes de áreas diversas, e as ruas traçadas de conformidade com a topographia e tendo apenas 14 metros de largura – circunda inteiramente a urbana, formando vários bairros, e é, por sua vez, envolvida por terceira zona de 17.474.619 m², reservada aos sitios destinados à pequena lavoura. Para localização dos primeiros 30.000 habitantes estão reservadas apenas as secções I a VII da área urbana (com 4.395.212 m²), e as I e VI da zona suburbana (com 3.855.993 m²), comprehendidas todas na faixa determinada por duas linhas parallelas traçadas pelo eixo das Avenidas Christovão Colombo e Araguya.(p. 242)

Podemos verificar assim, na planta a seguir e na descrição acima que a proposta inicial da construção da cidade era dividi-la em três zonas de ocupação: a urbana, a suburbana e a rural. Sendo que a zona urbana objetivava se organizar contendo os centros administrativos e comerciais, equipamentos urbanos utilitários e bairros residenciais, distribuídos em ruas e avenidas mais largas. O limite da zona urbana com a zona suburbana era definido pela avenida de contorno. A zona suburbana possuia grandes terrenos com ruas mais estreitas e traçado geral menos regular, onde se deveriam instalar chácaras, quintas e sítios arborizados. A zona

38

rural e periférica destinava-se a colônias agrícolas de abastecimento. A Avenida Afonso Pena, era o centro em torno da qual seriam instalados o mercado, o parque, o teatro, os palácios do Congresso, da Justiça e do Correio. (Abranches, 2005)

Figura 5: Planta Cadastral do extinto arraial de Belo Horizonte, antigo Curral Del Rei, comparada com a planta da nova capital no espaço abrangido por aquele arraial Fonte – Fundação João Pinheiro (1997, p. 22) in Abranche (2005) p.75.

A construção de Belo Horizonte foi marcada pela modernidade, conforme

Abranches (2005) somente após 1940, em que Belo Horizonte transformou-se em

um grande centro urbano, com a chegada de Juscelino Kubtscheck à prefeitura. Ele

começou a se preocupar com a expansão da cidade, sendo fundamental para o

desenvolvimento do município, pois foi o responsável por promover obras na região

39

norte de Belo Horizonte (Complexo da Pampulha), que levariam à posterior

ocupação efetiva daquela área. Juscelino Kubitschek pretendia transformar a cidade

numa metrópole capaz de realizar intercâmbios com os principais centros urbanos

do país. “Seu programa focalizava a expansão urbana, a abertura de largas

avenidas e a criação de novos bairros como a Pampulha, bairro de elite que se

tornou cartão postal da cidade, sediando uma das obras-primas de Niemeyer” (p.81).

Figura 6 e 7: Construções do Período JK em Belo Horizonte a) Fonte - Edifício Niemeyer; Arquitetura de O.Niemeyer, Museu Histórico Abílio Barreto (1955, Arq da Modernidade, p. 213) in Abranches (2005 p. 83) b) Fonte: Edifício Acaiaca; Luiz Pinto Coelho FONTE - Foto; Nino Andrés (1947, Arq. da Modernidade, p. 176) in Abranches (2005 p. 83)

40

2.4 Belo Horizonte: caracterização e dinâmica do cr escimento demográfico

Belo Horizonte é considerado como o município mais populoso do Estado,

com 2.452.617 habitantes,7 em 2009, de um total de 20.033.665, isto é, 12,24% do

total da população mineira.

A população mais que triplicou na RMBH, passando de 523.000 habitantes,

em 1950, para cerca de 1.720.000, em 1970, com uma urbanização de 90%, no

último ano. Vários são os fatores que levaram a esse crescimento significativo da

população da RMBH, dentre eles, citam-se as taxas de mortalidade, que

decresceram substancialmente, e a de fecundidade, que decresceu posteriormente.

Além disso, observa-se que a taxa de imigração aumentou, intensificando o

crescimento populacional. A esperança de vida ao nascer cresceu, em dez anos, de

1940 a 1970, o que significa um fator relevante na soma dos últimos 30 anos.

Fatores como fecundidade, mortalidade e migração são diretamente influenciadas

por processos econômicos, sociais, culturais e políticos de um determinado território,

refletindo, assim, nas taxas de crescimento da população. Entre 1960 e 1970, a

RMBH cresceu 6,3% ao ano, levando a mudanças demográficas consideráveis.

(CAETANO; RIGOTTI, 2008)

TABELA 1 Taxas anuais de crescimento populacional (%), Brasi l, RMBH, Belo Horizonte e demais

municípios da RMBH – 1950/2000 Unidade 1950-1960 1960-1970 1970-1980 1980-1991 1991-2000

Brasil 3,0 2,9 2,6 1,9 1,6

RMBH 5,9 6,3 4,5 2,5 2,4

Belo Horizonte 7,0 5,9 3,7 1,2 1,1

Demais

municípios da

RMBH

3,4 7,4 6,3 4,8 3,9

Fonte: BRITO, 2004, para as décadas de 1950 e 1960; IBGE – Censos demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000, para as demais décadas. In: CAETANO; RIGOTTI, 2008.

O crescimento populacional de Belo Horizonte, como pode ser observado na

tabela acima, contribuiu, consideravelmente, para expansão demográfica da RMBH,

principalmente na década de 1950-60. O papel da migração demonstra ser um fator

7 De acordo com o Censo do Universo, IBGE (2000).

41

importante na dinâmica demográfica, verificando uma inversão de crescimento do

núcleo para os demais municípios a partir da década de 1960.

“A RMBH tem passado por mudanças significativas de seu padrão

demográfico. A fecundidade iniciou seu acelerado processo de grande declínio,

contribuindo para a diminuição do crescimento vegetativo. Porém a força desse

componente demográfico era contrabalanceada pelos saldos migratórios positivos”.

Assim, Belo Horizonte é identificada como o grande pólo receptor de migrantes,

alterando sua dinâmica populacional. Porém a partir da década de 1970 esse quadro

começa a se modificar ao passo que outros municípios passam a receber

emigrantes do estado e da própria capital. Mas, a capital ainda é quem comanda a

distribuição da população dentro da região metropolitana. (CAETANO & RIGOTTI,

2008 p.40)

A RMBH cresceu 2,4 % entre 1991 e 2000 ficando no terceiro lugar em

relação a outras regiões metropolitanas. Belo Horizonte registrou um crescimento de

1,1%, muito inferior que outros municípios que tiveram taxas acima da média da

RMBH como Esmeradas (7,63%), Betim (6,7%) e Ribeirão das Neves (6,2%). Já os

municípios que tiveram suas taxas inferiores à média da RMBH destacam-se três

com taxas negativas: Baldim (-0,3%), Igarapé (-1,1%) e Mateus Leme (-1,2%).

(CAETANO, 2009 p.29)

Frente aos indicadores de crescimento populacional da RMBH tem-se

observado a importância da taxa de imigração. Observa-se que em Belo Horizonte

há maior participação de imigrantes com origem fora da RMBH, em relação ao total

de imigrantes de data fixa8, o que não ocorre nos demais municípios.

Observa-se que Belo Horizonte expressa a dinâmica da RMBH no decorrer

dos anos, no que se refere à diminuição da taxa de fecundidade, o que está levando

a um envelhecimento da população. É importante salientar que este fenômeno

ocorre não somente em Belo Horizonte ou na RMBH, mas no país como um todo

desde meados da década de 1960.

“Em 1940 a taxa de fecundidade no Brasil era de mais de 6 filhos por mulher,

e já em 2000 esta taxa cai para quase 2,5 filhos por mulher, isto significa uma

redução de quase 60% em um período relativamente curto de 40 anos”.

(ZAHEDINNE, 2004 p.31)

8 Não residiam na capital em 1995 e sim em 2.000.

42

BRASIL - TAXA DE FECUNDIDADE - 1940 / 2000

0

2

4

6

8

10

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-OesteREGIÕES

TA

XA

DE

FE

CU

ND

IDA

DE

1940195019601970198019912000

Figura 8: Taxa de Fecundidade – 1940/2000 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940-2000 in ZAHREDINNE, 2004.

Ao analisarmos a distribuição da população dentro de Belo Horizonte

podemos observar, de acordo com a figura 09, que ”em 1991, a regional mais

populosa em Belo Horizonte não era a regional Centro-sul, mas sim a regional

Noroeste, que contava com 16,8% da população, isto é, 339.229 habitantes, seguida

pela regional Leste, com 12,41% (254.225 habitantes), e, em 3° lugar, a regional

Centro-sul, com 12,40% (250.159 habitantes). A regional que possuía a menor

porcentagem de população residente era a da Pampulha, com 5,28% (106.483

habitantes)”. (ZAHREDDINE, 2004, p.72)

No ano 2000, verificou-se que algumas regiões continuaram na mesma

perspectiva em relação à porcentagem da população residente. A regional Noroeste,

mesmo tendo diminuído o número de pessoas residentes, manteve-se como a

região com a maior população, passando de 16,81% para 14,96% (de 339.229

habitantes para 334.913).

ZAHREDDINE (2004) analisa a diferença de comportamento da distribuição

espacial da população de 0 a 59 anos (população não-idosa) e a de 60 anos e mais

(população idosa) como podemos observar respectivamente nas figuras (10 e 11).

43

Figura 9: Belo Horizonte - % da população total Regionais – 1991/2000 Fonte: ZAHREDDINE 2004

44

Figura 10: Distribuição espacial da população de 0 a 59 anos – ano 1991 e 2000

Fonte: ZAHREDDINE 2004

45

Observa-se um “processo de relativo esvaziamento da parte central da cidade

e o incremento da população na parte mais periférica do município. Representando

um aumento da população na periferia da cidade, além da ocupação mais efetiva de

regiões que, em 1991, ainda eram relativamente pouco povoadas, como é o caso

das regionais da Pampulha, Venda Nova e Barreiro”. A distribuição e mobilidade da

população em geral coincidem com a da população na faixa etária de 0 a 59,

justamente porque a maior parte da população está nesta faixa etária como

podemos observar na figura 10. (ZAHREDDINE, 2004 p.78)

Com relação à população com 60 anos e mais, até 1991 houve uma

concentração espacial da população idosa na parte central da cidade e suas

adjacências, destacando-se a região da Pampulha e Belvedere. Conforme a

distribuição espacial da população com 60 anos e mais (por 100.000 habitantes),

observada na figura (11) percebe-se que este padrão mudou9.

Já no ano 2000, houve um aumento da periferia na distribuição dos idosos em

detrimento de uma diminuição na área central. “No entanto, deve-se ressaltar

também, que a proporção relativa de idosos no centro da cidade ainda continua

relevante, principalmente na porção norte da regional Centro-sul, ao passo que as

porções oeste da regional Leste e leste da regional Noroeste sofrem um significativo

esvaziamento. Isto nos mostra que a população idosa de Belo Horizonte sofre um

processo de periferização muito semelhante ao da população não-idosa.”

(ZAHREDDINE, 2004 p. 80/82)

No ano de 2000, 204.573 habitantes tinham 60 anos ou mais, o que significa

um percentual de 9,14% da população total. Já em 1991, a população total era de

2.020.161 milhões de habitantes10, sendo 146.537 idosos, ou seja, 7,2% da

população. Verifica-se, então, que, de 1991 para 2000, o número absoluto da

população idosa compreendida pela faixa etária 60 anos ou mais teve um

crescimento de 28,36%, demonstrando o considerável aumento dessa população na

cidade de Belo Horizonte, conforme podemos observar nas figuras 11 e 12. Outra

característica significativa é o número de mulheres que totalizou 1.181.263

mulheres, ao passo que o número de homens era de 1.057.263. Portanto, a

9 Em 1991, dos 172 setores censitários que pertenciam ao intervalo de classe 88 a 100, quase todos estavam localizados na região central de Belo Horizonte e suas adjacências. 10 De acordo com dados do Censo Demográfico do IBGE (1991). Questionário do Universo. Elaborado a partir dos CDs em formato ASCII.

46

Pirâminde Etária % - 1991 - Belo Horizonte

15,00 10,00 5,00 0,00 5,00 10,00 15,00

de 0 a 4 anos

de 10 a 14 anos

de 20 a 24 anos

de 30 a 34 anos

de 40 a 44 anos

de 50 a 54 anos

de 60 a 64 anos

de 70 a 74 anos

80 anos ou mais

Fai

xa E

tária

%FemininoMasculino

população feminina era 5,53% maior do que a população masculina da cidade

conforme a figura 13.

Figura 11 – Distribuição Espacial da População com mais de 60 anos no ano de 1991 e 2000

Fonte: ZAHREDDINE 2004

Figura 12 – Pirâmide Etária % - 1991 – Belo Horizonte Fonte: IBGE Censo demográfico 2000 universo in Zarhredinne,2004

47

Pirâminde Etária % - 2000 - Belo Horizonte

15,00 10,00 5,00 0,00 5,00 10,00 15,00

de 0 a 4 anos

de 10 a 14 anos

de 20 a 24 anos

de 30 a 34 anos

de 40 a 44 anos

de 50 a 54 anos

de 60 a 64 anos

de 70 a 74 anos

80 anos ou mais

Fai

xa E

tária

%FemininoMasculino

A população masculina com faixa etária de 0 a 4 anos, 10 a 14 anos

ultrapassa o limite de 10% em 1991 já a população com 60 a 64 anos mal chega

aproximadamente aos 3 % (Fig.13). Por outro lado observa-se, em 2000 (Fig. 14),

que a população tanto de homens e mulheres diminuíram relativamente na idade de

0 a 4 anos, de 10 a 14 anos e obteve um aumento significativo nas idades

superiores a 20 a 24 ultrapassando os 10% nesta faixa e modificando o formato da

pirâmide colocando-a de forma abaulada no ano de 2000.

Figura 13: Pirâmide Etária % - 2000 – Belo Horizonte Fonte: IBGE Censo demográfico 2000 universo in Zarheddine, 2004.

Outro fenômeno importante que traz impactos no processo de envelhecimento

de Belo Horizonte são as migrações. Entre os anos de 1995-2000, o saldo

migratório do município foi negativo, sendo de -113.200 pessoas. De acordo com

Rigotti e Vasconcellos (2003):

(...) esses resultados são fortemente influenciados pelo comportamento de Belo Horizonte. Na capital, o volume do saldo migratório negativo entre os dois períodos aumentou mais de 14 mil pessoas – passou de algo em torno de 99 mil para pouco mais de 113 mil (...). (RIGOTTI; VASCONCELOS, 2003, p.58).

Segundo ZAHREDDINE (2004) podemos citar um outro fator interessante que

influencia na taxa de envelhecimento da população de Belo Horizonte, a emigração

que ocorre principalmente com a população jovem que possui maiores condições de

mobilidade.

48

Para demonstrar o processo de envelhecimento11 da população de Belo

Horizonte, ZAREDDINE (2004) utilizou o índice de idosos, proposto por MOREIRA

(2000) com as seguintes classes: 0% a 10,7% (população Jovem), 10,7% a 27,3%

(população intermediária) e mais de 27,3% (população idosa) conforme podemos

observar na figura 15.

Em 1991 o número de pessoas com 60 anos e mais de idade era de 146.537

pessoas, ao passo que o número das pessoas com menos de 15 anos era de

604.383. Isto resulta em um índice de 24,25%, isto é, próprio de uma população em

nível intermediário de envelhecimento. Em 2000, o número de pessoas com 60

anos chegou a 204.573, e o número das pessoas com menos de 15 anos diminui

para 543.518. Isto significa que Belo Horizonte possui um índice de envelhecimento

de 37,63% em 2000, fazendo parte do intervalo do índice de idosos, própria de uma

população relativamente idosa.

Observa-se que em 1991, conforme verificamos na figura 15 as áreas com

altos índices de idosos estavam nas mediações da Lagoa da Pampulha, na regional

Pampulha, e no ponto de encontro entre as regionais Noroeste, Nordeste, Leste,

Centro-sul e Oeste. As áreas com menor índice de idosos eram as regionais

Barreiro, e as regionais Norte e Nordeste, do município. No entanto, alguns setores

nas regiões Norte e Sul da cidade aparecem com um alto índice de idosos.

Geralmente estes setores possuem estes índices porque há asilos12.

Já no ano de 2000, houve um aumento considerável da área abrangida pelos

intervalos mais altos do índice de idosos, ampliando para as regiões próximas e

adjacências, além de atingir as regiões norte e sul do município.

O número de setores censitários referentes ao intervalo de classe mais de

27,3% (população idosa) aumentou de 797 setores em 1991 para 1.317 em 2000, já

o intervalo de classe 0 a 10,7 (população jovem) diminuiu de 301 setores em 1991

para 126 em 2000 (ZAHREDDINI, 2004). Isso demonstra conforme a figura 15, que

o processo de envelhecimento em Belo Horizonte em 2000 aumentou do centro para

a periferia em relação ao ano de 1991.

11 O processo de envelhecimento se dá a partir da transição demográfica, processo onde os altos níveis de fecundidade e mortalidade passam para níveis mais baixos, levando a um aumento da proporção de pessoas idosas em uma determinada população (MOREIRA, 2000). 12 Setores censitários que possuem asilos possuem os seguintes códigos: 05.64-0050; 05.62-0065; 05.62-0079; 05.62-0093; 05.62-0122; 05.63-0227; 05.65-0052; 05.65-0055; 05.68-0003; 60.66-0135; 60.69-0020; 60.69-0046.

49

Sendo assim, fatores como migração, emigração, diminuição da taxa de

fecundidade e aspectos socioeconômicos demonstram que a população

belorizontina passa claramente por um processo de envelhecimento populacional, o

que certamente demandará maior assistência social.

Figura 14 – Índice de Idosos com mais de 60 anos nos anos de 1991 e 2000 Fonte: ZAHREDDINI, 2004.

50

3 PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NA EXECUÇÃO DAS A ÇÕES

SOCIOASSISTENCIAIS: DO TERCEIRO SETOR À ASSISTÊNCIA SOCIAL

3.1 Terceiro Setor

Historicamente, o Terceiro Setor advém de uma nova concepção de Estado,

que a partir das décadas de 1980–90, emerge inserido no novo pacto social,

comprometido com a sociedade civil. O papel social a ser desempenhado torna-se

essencial, por meio de maiores investimentos sociais e atuando em parcerias com

as empresas e a sociedade civil, na busca de soluções duradouras para a

minimização dos déficits sociais.

Para atuar nessa nova ordem social, surgem certas organizações no interior

da sociedade civil, caracterizadas pelo desenvolvimento de ações de natureza

privada com fins públicos. Várias denominações são dadas a essas instituições

sociais: entidades filantrópicas, entidades de direitos civis, organizações não

governamentais (ONGs), organizações sem fins lucrativos, setor independente,

organizações sociais, fundações e instituições sociais das empresas, Terceiro Setor.

O Terceiro Setor, assim, apresenta várias denominações conceituais,

provavelmente devido à sua pluralidade, à grande diversidade de organizações que

o compõe e à multiplicidade de formas e áreas de atuação. Segundo Coelho (2000),

diante da multiplicidade de denominações pode-se verificar a falta de precisão

conceitual, demonstrando assim que existe uma grande dificuldade de enquadrar a

enorme diversidade de organizações em parâmetros comuns.

Haver uma conceituação para o Terceiro Setor que englobe todas as

organizações que o compõem é importante para definir os limites existentes entre o

Terceiro Setor, o Mercado e o Estado. Segundo Coelho (2000), a interação dos

mesmos é posta como fator determinante na delimitação desses setores através da

qual se interpenetram e se condicionam. A conjuntura sociopolítica determina a

variação de intensidade e profundidade dessa relação.

Para Fernandes (1994), quando se define o Terceiro Setor, percebe-se que os

setores interagem entre si; que o Mercado e o Estado não são tão rígidos como

parecem ser, e que o Terceiro Setor provavelmente passa a influenciar as ações

51

políticas e econômicas de um país. Na mesma perspectiva de pensamento Hudson

(1999) considera que grande parte das mudanças e inovações sociais importantes

foram realizadas devido à atuação de instituições que compõem o Terceiro Setor,

como é o caso dos serviços hospitalares, educação, serviços prestados às pessoas

com deficiência e às pessoas menos favorecidas, pesquisas científicas de doenças,

desenvolvimento espiritual, fundos de beneficência para empregados na indústria,

ajuda internacional, proteção do meio ambiente e campanhas pelos direitos da

mulher.

Atualmente, questiona-se a confiabilidade das instituições desse setor, porém

muitas organizações do setor público são vistas como inadequadas para lidar

eficientemente com os problemas sociais de hoje. O Terceiro Setor considera que

esteja apto a desenvolver tais ações, com competência de gestão e consciência

social, mas esse assunto não será aprofundado neste trabalho, pois é histórico,

longo e não faz parte do recorte do estudo. O que vale a pena ressaltar é que não se

pode deixar o Terceiro Setor passar de colaborador e complementador do Estado

para ser responsável pelas ações. Em outras palavras, não se pode transferir o

dever do Estado de executar as diversas políticas públicas para a sociedade civil por

meio do Terceiro Setor. Se isso ocorresse, seria um retrocesso de lutas históricas

das políticas públicas.

Portanto, em 1995, consolidou-se a Reforma do Estado representando o

marco institucional da responsabilidade social e as palavras parceria, cidadania

corporativa, responsabilidade social, investimento social privado apareceram

fortemente, buscando fortalecer o Terceiro Setor e o Estado. Uma nova arquitetura

social se consolida por meio da responsabilidade social atribuída aos modelos

construídos pela relação entre o Estado e a sociedade. Este marco reafirma as

tradições de práticas filantrópicas com “notável tendência à despolitização da

abordagem sobre a desigualdade e sobre a pobreza, enquanto convive com o marco

institucional da LOAS desde 1993, que preconiza a primazia da responsabilidade do

Estado sob a ótica da cidadania e do direito”. (Freitas, 2008 p.43)

Formas de expressão desse novo movimento de encontro dos três setores da

economia brasileira, no século XXI, aparecem para promover o desenvolvimento

social a partir do incentivo a projetos autossustentáveis – em oposição às

tradicionais práticas de caráter assistencialista geradoras de dependência – e em

propostas de superação de padrões injustos de desigualdade social e econômica.

52

Para este estudo, optou-se por utilizar os mesmos conceitos do Diagnóstico

do Terceiro Setor de Belo Horizonte, em 2006. Conforme Silva e Aguiar (2001) apud

Manual do Entrevistador13 (2006), Terceiro Setor é denominação recente e pouco

utilizada, e muitos que a utilizam consideram como primeiro setor o Estado, segundo

setor o Mercado e o Terceiro Setor o que representa característica de ambos. Ou

seja, o Terceiro Setor conjuga a finalidade do primeiro setor, composto por

organizações que visam a benefícios coletivos (embora não pertençam ao governo)

e a metodologia do segundo, sendo de natureza privada (embora não objetivem

lucros).

A principal virtude do Terceiro Setor é a combinação de características dos

dois setores tradicionais, Mercado e Estado, ou seja, gerir de forma semelhante ao

setor privado (eficiente), sem ter a mesma motivação (lucro), e sim o interesse

coletivo (equidade, prioridade dos valores humanos sobre os de capital). Outros

destaques são a organização interna, a transparência e a responsabilização, visto

que existe uma ampla gama de organizações no Terceiro Setor, desde aquelas

altamente formalizadas até as informais. É preciso prestar contas e “satisfazer” as

exigências dos doadores de recursos para a continuação do financiamento,

condicionando as prioridades e orientando a atuação das organizações

dependentes.

Outra característica do importante Terceiro Setor é a busca constante em

criar um espaço de participação cidadã ou comunitária. São identificadas ações que

são extensões da esfera pública não executada pelo Estado e de custo elevado para

serem geridas pelo Mercado. Sendo assim, surge um movimento da sociedade, o

papel do cidadão fica visivelmente comprometido pelo voluntariado, que transforma

em doação a busca por lucro do mercado. O traço comum dessas instituições é sua

essência, orientadas por valores, criadas e mantidas por pessoas que acreditam que

mudanças são necessárias e que elas mesmas podem e devem tomar atitudes de

solidariedade para a construção de um mundo mais justo e menos desigual.

Nos anos 1990, o Estado começa a reconhecer que o Terceiro Setor

acumulou um capital de recursos, experiências e conhecimentos, sob formas

inovadoras de enfrentamento das questões sociais, que as qualificam como

13Documento produzido pela coordenação da pesquisa, a qual fui coordenadora de campo, para orientar os pesquisadores de campo na Pesquisa do Diagnóstico do Terceiro Setor de Belo Horizonte, no ano de 2006.

53

parceiros e interlocutores das políticas governamentais. O Mercado incentivado, a

partir de isenções fiscais e obrigações da legislação, passa a ver nas organizações

sem fins lucrativos canais para concretizar o investimento do setor privado

empresarial nas áreas social, ambiental e cultural.

Pode-se verificar uma definição para o Terceiro Setor mais amplamente

utilizada e aceita, denominada como estrutural/organizacional. Tal definição é

composta por cinco características que podem ser observadas para se definir o

conjunto do Terceiro Setor e as organizações que o compõem:

1. Estruturadas: possuem certo nível de formalização de regras e procedimentos, e algum grau de organização permanente. São, portanto excluídas as organizações sociais que não apresentam uma estrutura interna formal. 2. Privadas: estas organizações não têm nenhuma relação institucional com governos, embora possam dele receber recursos. 3. Não distribuidoras de lucros: nenhum lucro gerado pode ser distribuído entre seus proprietários ou dirigentes. Portanto, o que distingue essas organizações não é o fato de não possuírem “fins lucrativos”, e sim o destino que é dado a estes, quando existem. Eles devem ser dirigidos à realização da missão da instituição. 4. Autônomas: possuem os meios para controlar sua própria gestão, não sendo controladas por entidades externas. 5. Voluntárias: envolvem um grau significativo de participação voluntária (trabalho não-remunerado). A participação de voluntários pode variar entre organizações e de acordo com a natureza da atividade por ela desenvolvida. (Silva e Aguiar, 2001, apud Manual do Diagnóstico doTerceiro Setor p.7).

Silva e Aguiar (2001) ao conceituar o Terceiro Setor ordenam toda a base

conceitual de Fernandes (1994), conforme o quadro abaixo, as quais podem verificar

a existência de grande consonância com os autores anteriores. Conceituando

assim, o Terceiro Setor como um conjunto de organizações e iniciativas privadas

que visam à produção de bens e serviços públicos:

AGENTES FINS SETOR Privados Privados Mercado Públicos Públicos Estado Privados Públicos Terceiro Setor Públicos Privados Corrupção Quadro 3: Combinações resultantes da conjunção entre o público e o privado Fonte: Silva e Aguiar (2001)

Vale a pena ressaltar que não há ordenamento jurídico para o espaço que

não é Estado nem Mercado. Sendo assim, a natureza jurídica das entidades sem

fins lucrativos é classificada em: fundações mantidas com recursos privados, mas

54

nem todas atuam no Terceiro Setor; associações; cartório; organização religiosa,

partido político, sociedade sem fins econômicos (Código Civil de 1916) e outras

formas de organizações sem fins lucrativos.

O surgimento do Terceiro Setor implica em mudanças profundas no que diz

respeito ao papel do Estado e do Mercado e principalmente no que se refere à

participação do cidadão na esfera pública. A partir da Constituição Federal de 1988,

essa participação se intensifica diante da legitimação por lei da participação popular

através das instâncias de controle social. Isto tem nos levado a ampliar o conceito

de público não mais intrínseco a estatal, mas no público não estatal.

Os problemas sociais existentes hoje, no Brasil, exigem que o Estado assuma

a “primazia da responsabilidade” em cada esfera de governo, na condução das

políticas públicas. A sociedade civil, por meio das instituições sem fins lucrativos,

como determina na PNAS (2004), entidades beneficentes e de assistência social,

participa como parceira, de forma complementar, no que refere à oferta de serviços,

programas, projetos e benefícios da Assistência Social.

No diagnóstico do Terceiro Setor, realizado em BH, segundo Rigotti et al

(2006), foram identificadas 1342 entidades e georreferenciadas 1319 conforme

podemos observar na figura (16). Verifica-se que a distribuição espacial das

entidades quanto a sua área de atuação apresentam maior concentração espacial

na região Centro-Sul e suas adjacências nas regiões Leste, Oeste e Noroeste. Isso

é compreensível, se considerarmos que estas são as áreas da cidade com maior

densidade comercial e de serviços, tanto privados quanto públicos. Por outro lado

observa-se uma ausência de organizações numa faixa de sentido nordeste-

sudoeste, da região Leste até o Barreiro, a qual podemos atribuir essa situação por

se tratar de um limite natural formado pela Serra do Curral – podendo assim,

verificar uma nítida divisão na densidade das organizações, especialmente na região

do Barreiro.

Nas demais regiões observa-se que as entidades se distribuem de maneira

relativamente mais homogênea, com uma densidade maior nas regionais Venda

Nova e Norte, comparadas às regionais Nordeste e Pampulha.

Já nos mapas laterais que representam à distribuição espacial das entidades,

segundo suas áreas de atuação, podemos perceber que a maior densidade de

pontos refere-se às instituições de Assistência Social, que se espalham por todo o

município, porém observa-se uma concentração na região centro-sul. O que

55

interessa para esse trabalho é a localização destas entidades, qual o público

atendido pelas mesmas e as atividades desenvolvidas, bem como a articulação

existente na perspectiva de constituição de uma rede de serviços socioassistencial.

Figura 15 – Entidades do Terceiro Setor Fonte: Rigotti et al (2006).

56

3.2 Assistência Social

A Assistência Social como campo de atuação do governo no Brasil tem início

com duas ações: em 1937, com a criação do Conselho Nacional de Assistência

Social (CNSS); e na década de 1940, com a criação da Legião Brasileira de

Assistência, a LBA. Foram intensificadas as ações do Governo Federal e dos

governos dos estados e municípios, em parceria com LBA e com as respectivas

primeiras damas de estados e municípios. A partir de 1977, com a criação do

Ministério da Previdência e Assistência Social, como condição pública, há o vínculo

com o sistema de proteção social, Sistema Nacional de Previdência e Assistência

Social (SINPAS).

A partir da Constituição Federal de 1988, a Assistência Social assume a

condição de política pública não contributiva, descentralizada e participativa. A

Assistência Social passa a fazer parte do Tripé da Seguridade Social, junto à Saúde

e Previdência, não sendo mais uma ação complementar, com papel pouco definido,

passando a ser um direito de cidadania, não mais um favor ocasional ou

emergencial apenas. Mas, em 1989, com a criação do Ministério do Bem-estar

Social, não se consolidou a Assistência Social como política pública e muito menos

como integrante da Seguridade Social. Pelo contrário, fortaleceu-se ainda mais o

modelo desenvolvido pela LBA.

Em 1993, a partir de uma negociação de movimentos sociais com o Governo

Federal e representantes da Câmara Federal, foi aprovada a Lei Orgânica da

Assistência Social (LOAS), fundamentando a Política de Assistência Social (PAS).

Art. 1° - A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que prevê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento as necessidades básicas. Art. 2° - A assistência social tem por objetivos: I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V – a garantia de 1 (um) salário mínimo de beneficio mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua família. (BRASIL, 1993).

57

A Assistência Social, em seus princípios, prima pela supremacia do

atendimento social sobre a questão econômica e a universalização dos direitos, bem

como o respeito à dignidade do cidadão, sua autonomia e direito a serviços de

qualidade, convívio familiar e comunitária.

Ao conferir a Assistência Social o status de política pública, de caráter

universal e redistributivo, a noção de vulnerabilidade substitui a noção de pobreza

restrita à indigência econômica. Esta nova institucionalidade orienta a tratar as

necessidades sociais principalmente no que se refere aos projetos de enfrentamento

da pobreza de forma intersetorial. Através das interfaces com as demais políticas

públicas a Assistência Social objetiva atender as demandas respeitando a

especificidade e particularidade de cada seguimento, entendendo que o homem é

um ser único nos diversos setores, sem perder de vista que o atendimento deve

seguir a égide da inclusão social. (Freitas, 2008) No entanto, podemos verificar que

o critério da renda ainda continua predominando sobre a vulnerabilidade social,

somente a partir de 2004 com o SUAS é que vamos verificar que estas concepções

passam a ser implementadas de forma mais efetiva.

Do ano de 1993 a 2003, a Política de Assistência Social foi regulamentada

por três principais instrumentos: a LOAS, Lei n° 8. 742, de 7 de dezembro de 1993; o

primeiro texto da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), de 1998, e as

Normas Operacionais Básicas (NOB/97 e NOB/98). Considera-se que a NOB/97

conceituou e estabeleceu normas para garantir eficiência e efetividade ao sistema

descentralizado e participativo da Assistência Social. A NOB/98, além de conceituar

e definir estratégias, princípios e diretrizes para operacionalizar a PNAS/98,

explicitou quanto ao financiamento de serviços, programas e projetos. Essa

normativa ampliou as atribuições dos Conselhos de Assistência Social e criou

espaços permanentes de pactuação e negociação.

Segundo Freitas (2008) as políticas sociais e dentre elas a assistência social

a partir da década de 80 passa a ser referenciada pela noção de direito,

possibilitando uma leitura diferenciada da questão social, colocando a pobreza como

parte intrínseca à estrutura capitalista, frente às contradições entre o capital e o

trabalho. A assistência social enquanto política pública possui características

58

identificadas com o padrão de proteção social de enfrentamento da questão social14,

definido pela relação entre a sociedade e o Estado.

Frente à nova lógica apresentada de atendimento pela política de assistência

social a população beneficiária, verifica-se a necessidade de conceituar e situar

vulnerabilidade social, além de identificar os indicadores sociais utilizados para

caracterizar as áreas estudadas. Estudar áreas de vulnerabilidade nos permite ir

além do enfoque da pobreza e pensar não apenas nas necessidades das pessoas

carentes, mas também nos recursos e ativos que elas tem para enfrentar os riscos

provenientes de suas privações (CUNHA, 2006).

Conforme Kaztman e Filgueiras (2006), a vulnerabilidade está diretamente

ligada à existência de um risco potencial. Também está diretamente relacionada ao

componente social, ou, segundo Telles (1996) in HOGAN & MARANDOLA, (2006),

relaciona-se à questão social que tem como matriz o debate social em busca da

compreensão do funcionamento da sociedade capitalista de classe que propusesse

uma transformação social. Várias são as tendências apresentadas no decorrer dos

tempos, no entanto nunca se deixou de pensar nas desigualdades sociais advindas

das diferenças de classes, ou seja, do modelo perverso do sistema e da sociedade

capitalista. Alguns conceitos como marginalidade, exclusão, dependência,

exclusão/inclusão, segregação e apartheid foram utilizados por diversos

pesquisadores para explicar a complexa realidade que envolve a temática da

pobreza contemporânea na perspectiva das desvantagens sociais.

Sendo assim, pensar a vulnerabilidade na visão das desvantagens sociais, ou

seja, na perspectiva de condições sociais negativas que afetam as pessoas ou na

impossibilidade de acesso a bens ou ao conhecimento, remete à dificuldade ou

incapacidade dos indivíduos nessa condição de gerir suas próprias oportunidades.

Enfim, segundo Kaztman (1999), a vulnerabilidade é entendida como

desajuste entre os ativos e estrutura de oportunidades advindas da capacidade dos

atores sociais em desfrutar das oportunidades sociais apreendidas e aplicadas em

outros setores, socioeconômicos, melhorando suas condições de vida.

Bilac (2006) cita duas categorias de riscos: modificações nas estruturas

familiares e as questões de gênero, que pode interferir na dimensão da

14 Considera-se questão social como expressão das contradições entre o capital e o trabalho, originadas no processo da industrialização, indissociável, desse modo, da dinâmica específica do capital.

59

vulnerabilidade. Então, quando se fala de espaços vulneráveis, deve-se considerar,

na sua formação, um conjunto de fatores sociais, econômicos e políticos.

Segundo Observatório das Metrópoles (2009), os trabalhos realizados na

cidade do México, em 2000, sobre pobreza, pela Comisión Econômica para América

Latina y el Caribe (CEPAL), constituem uma vertente importante na conceituação de

vulnerabilidade. Foi elaborado um documento, intitulado Vulnerabilid social,

comunidades, hogares e indivíduos, que define vulnerabilidade como:

A qualidade de vulnerável, ou seja, o lado fraco de um assunto ou questão, ou o ponto por onde alguém pode ser atacado, ferido ou lesionado, física ou moralmente, por isso mesmo vulnerabilidade implica risco, fragilidade ou dano. Para que se produza um dano, devem ocorrer três situações: um evento potencialmente adverso, ou seja, um risco, que pode ser exógeno ou endógeno; uma incapacidade de responder positivamente diante de tal contingência; e uma inabilidade para adaptar-se ao novo cenário gerado pela materialização do risco. (p.9)

Portanto, a questão da vulnerabilidade está relacionada a três pontos: risco,

incapacidade de resposta e inabilidade para adaptar-se às novas situações.

Referencia-se ao cerceamento dos direitos econômicos, sociais, políticos ou

culturais, o que evidencia o discurso da pobreza e da exclusão, identificando o

cidadão cerceado do direito à habitação digna, à saúde, de ser respeitado, de ter

participação política, de poder falar, de ser representado, de ser ouvido.

Conforme Hogan e Marandola (2006, p.46), a “ciência da vulnerabilidade deve

primar pelo enfoque espacial. A dimensão geográfica dos fenômenos é fundamental

na medida em que permite uma melhor compreensão do ‘jogo de escalas’ e das

interações regionais e locais”. Para efeito deste trabalho, considera-se que essa

vertente está em consonância com o conceito de vulnerabilidade estruturado na

base legal que norteia a Política Nacional de Assistência Social e no entendimento

de que os elementos que vulnerabilizam as pessoas não são determinados pelas

questões econômicas. Vários são os fatores que fragilizam as relações pessoais e

sociais, como famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de

afetividade, pertencimento e sociabilidade; identidades estigmatizadas (por questões

de deficiência, étnicas, cultural, sexual), exclusão pela pobreza, e/ou no acesso às

demais políticas públicas e do mercado de trabalho, uso de substâncias psicoativas,

violência ou risco pessoal e social. Todos esses fatores afetam as pessoas e as

tornam vulneráveis e legalmente usuárias da Política de Assistência Social.

60

Segundo Observatório das Metrópoles (2009 p.26), a problemática da

vulnerabilidade existente nas grandes metrópoles brasileiras advém da crise “do

regime de gestão de risco, fundado no mercado e na mobilização das estruturas

familiar-comunitárias”. Isso ocorre a partir de um processo capitalista, em que se

vivencia uma inacabada mercantilização da força de trabalho, gerando uma massa

de trabalhadores com salários precarizados, marginalizados, sem remuneração,

desempregados ou excluídos das ações mercantis. A responsabilidade de gestão

dos riscos e reproduções sociais são transferidas para as famílias, rompendo com o

que, historicamente, se vinculava a relação mercado-família e um estreito laço com

Estado de Bem-estar Social seletivo. A questão social subjacente a essa crise vem

colocar a questão de como devolver ao Estado a capacidade de ser agente

integrador da sociedade, na busca de mais justiça e menos desigualdade social.

As diversas realidades vivenciadas nos territórios urbanos mostram as

variadas facetas da reprodução social. Como diz Oliveira (1982), o caráter

inacabado da mercantilização da força do trabalho corresponde ao caráter

inacabado do habitat urbano brasileiro.

Assim, entende-se vulnerabilidade como uma situação social em que se

encontram as pessoas, as famílias, os grupos frente à reprodução social. Também o

mercado não garante economicamente segurança às pessoas em forma de

emprego; as famílias não garantem a socialização, tornando-se uma instituição

fragilizada. As relações sociais se estendem para o entorno dos domicílios, para as

comunidades, construindo uma rede de relações sociais.

A complexidade da realidade atual demanda uma compreensão ampla que

envolve saberes de diversas áreas, ou seja, um trabalho interdisciplinar ou até

mesmo transdisciplinar, com o objetivo de apreender a totalidade dos problemas

sociais e na busca compartilhada de soluções. Tendo em vista que o conhecimento

se encontra disperso tanto nos diversos campos disciplinares quanto nos diversos

lugares sociais, e que estratégias isoladas não produzem resultados positivos na

dimensão coletiva.

Essas concepções direcionam o estudo dos territórios vulneráveis do

município de Belo Horizonte e remetem a analisar a rede socioassistencial desses

territórios, que, em conjunto e coordenada pelo poder público, devem direcionar a

minimizar as desigualdades e os riscos sociais. O trabalho em rede exige uma

flexibilidade, pois as propostas de trabalhos não estão acabadas, prontas, perfeitas

61

ou completas, as decisões e acordos são provisórios, o que exige do poder público

constante acompanhamento e sensibilização da rede quanto ao papel de

participação na execução de uma política pública. A relação entre os CRAS e as

entidades devem ser complementares, baseadas em princípios como autonomia,

transparência, cooperação, responsabilidade pessoal e coletiva.

As redes de serviço socioassistencial tem como foco as questões sociais e

visam complementar a ação do Estado ou a suprir sua ausência no equacionamento

de problemas complexos que põe em riscos o equilíbrio social. As relações surgem

e permanecem frente a uma visão comum em torno da sociedade ou de uma

determinada questão social, demandando, portanto estratégias de mobilização

constante das parcerias.

Em 2004, a sociedade civil, efetivada por meio dos mecanismos de

deliberação, conselhos e conferências da Política de Assistência Social, definiu

novas bases e diretrizes para a Política Nacional de Assistência Social (PNAS),

efetivando o Sistema Único de Assistência Social (SUAS)15,reafirmando a mudança

da lógica de atendimento do recorte econômico para a lógica da vulnerabilidade

social. A definição dos conteúdos do pacto federativo, resultante do amplo processo

de construção da sociedade civil, desencadeada pelo Ministério de Desenvolvimento

Social e Combate a Fome (MDS), culminou no mais novo instrumento de regulação

dos conteúdos e definições da PNAS/SUAS (2004), a Norma Operacional Básica

NOB/SUAS (2005).

Segundo Torres (2006), a Política Nacional de Assistência Social de 2004 tem

como princípios norteadores três frentes de atuação na defesa da inclusão social e

dos direitos sociais: direitos à renda, segurança alimentar e assistência social. A

preocupação primordial é fortalecer a idéia da integração da assistência social às

outras políticas setoriais, da garantia dos mínimos sociais, o atendimento a

contingências sociais e a universalização dos direitos sociais, a partir do princípio da

descentralização e participação.

15 A implementação do Sistema Único da Assistência Social foi a principal deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em dezembro/2003, em Brasília (DF).

62

3.2.1 Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

Os municípios, estados e Distrito Federal estão construindo uma rede de

proteção social, que integra serviços, programas, projetos e benefícios assistenciais.

Formam, assim, um novo modelo de Assistência Social, desde 2003, a partir da

principal deliberação na IV Conferencia Nacional de Assistência Social, que é a

implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Esse modelo apresenta novas concepções e conceitos que norteam a

execução da Política de Assistência Social, enfatizando a noção de proteção social

como fator norteador das ações de prevenção e proteção nas situações de risco

pessoal e social numa perspectiva de sustentabilidade, através de orçamento

público e na qualidade da garantia social, “abandonando assim, as ideias tutelares e

subalternas que (sub) identificam brasileiros como carentes, necessitados,

miseráveis, discriminando-os do reconhecimento de ser de direitos”. (LOPES, 2006

p. 80)

Ainda segundo Lopes (2006) garantir as bases de autonomia dos entes

federativos, na lógica do Sistema Único de Assistência Social é “uma estratégia

fundamental nesse novo desenho político-administrativo, pois somente a partir

dessa proposta de reorganização da política de assistência social, em nível nacional

(e não federal) é que se pode viabilizar todos os recursos técnicos e materiais para

efetivação do potagonismo da população no processo de controle social”. (p.89)

O SUAS integra uma política pactuada nacionalmente, que prevê uma

organização participativa e descentralizada da Assistência Social, envolvendo

participação ativa de estados e municípios, com ações voltadas para o

fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Também regula, em todo o

território nacional, a hierarquia, os vínculos e as responsabilidades do sistema de

serviços, benefícios, programas e projetos de assistência social. Os requisitos e

responsabilidades de cada participante, União, estados e municípios estão definidos

na Norma Operacional Básica do SUAS (NOB/SUAS, 2005).

63

São eixos estruturantes do SUAS, conforme a PNAS/2004 :

1. precedência da gestão pública da política; 2. alcance de direitos socioassistenciais pelos usuários; 3. matricialidade sociofamiliar; 4. descentralização político administrativa; 5. territorialização; 6. financiamento partilhado entre os entes federados; 7. fortalecimento da relação democrática entre estado e sociedade civil; 8. valorização da presença do controle social; 9. participação popular/cidadão usuário;

10. qualificação de recursos humanos; 11. informação, monitoramento, avaliação e sistematização de resultados.

(Política Nacional de Assistência Social, 2004, p.87)

Para uma contextualização dos princípios norteadores do SUAS, observou

Sposati (2006, p.01):

Entendo que está em questão a construção da unidade da política de assistência social no território brasileiro sob o paradigma do direito e da cidadania e conseqüente ruptura, com o paradigma conservador que organiza a assistência social sob a égide: do assistencialismo; da fragmentação de serviços por segmentos sociais; pelo entendimento dos serviços como projetos sociais e não como ação/atenção continuada, que devem prover condições de acesso e qualidade de resultados; pela privatização da concepção da política de assistência social como de responsabilidade de organizações sociais; pelo principio da subsidiariedade, benemerência, filantropia e não do direito social; pela operação das ações de assistência social através de agentes isolados da sociedade civil.O paradigma do direito se pauta no conceito constitucional do direito socioassistencial como proteção e seguridade social com caráter universal e regulada pelo Estado como seu dever e direito do cidadão. (...) /este é o momento de concretização do Sistema Único da Assistência Social – SUAS, a partir do paradigma da universalização do direito à proteção social fundado na cidadania, abandonando as idéias tutelares e subalternas que (sub)identificam brasileiros como carentes, necessitados, pobres, mendigos, miseráveis, discriminando-os e apartando-os do reconhecimento de “ser de direito””.

O princípio da utilização do território como unidade essencial na identificação

e caracterização do público-alvo e da distribuição das ações da Assistência Social

consiste no reconhecimento da desigualdade socioterritorial existente nas diversas

regiões, considerando suas diversas dimensões, geográficas, socioeconômicas,

demográfica e cultural, o que possibilita desenvolver ações mais efetivas.

A preocupação com a territorialização leva a refletir sobre a possibilidade de

alcançar a universalidade de cobertura entre indivíduos e famílias que estejam em

situações de vulnerabilidade, risco pessoal e social, ocasionados por fatores

econômicos e sociais. Propicia também um trabalho mais efetivo no planejamento

das ações e na articulação com a rede de prestação de serviço, como é o caso de

64

parceria com entidades do Terceiro Setor, objeto deste trabalho, o que se torna fator

primordial para atingir a universalidade.

O Estado, no entanto, deverá se responsabilizar em primazia pelo

desenvolvimento de habilidades específicas para a formação de redes.

Historicamente, as políticas sociais, especificamente a da Assistência Social, são

marcadas pela diversidade, superposição e paralelismo de ações, entidades e

órgãos, entre Estado e sociedade civil, o que acarreta um gasto enorme de recursos

para além do que é necessário e, contraditoriamente, deixa muitas vezes de

desenvolver várias ações por falta de verbas. O Estado deve estimular a criação de

espaços de colaboração e de ações integradas com a sociedade civil, por meio do

Terceiro Setor, de modo que multiplique o sucesso das ações.

É importante que o Estado seja referência e se responsabilize por coordenar

a construção da rede socioassistencial, mobilizando as instituições sem fins

lucrativos, organizações não governamentais e segmentos empresariais, por meio

de decisões políticas tomadas pelo poder público em consonância com a sociedade

e garantindo o fortalecimento das políticas públicas e não fomentando a substituição

do Estado no cumprimento do seu dever pela sociedade civil. Na proposta de

constituição da rede socioassistencial, é primordial a existência de uma

reciprocidade das ações na rede de proteção social básica e especial, com

centralidade na família. A existência de fluxos deve ser pactuada e consensada

entre toda a rede, desde a definição da porta de entrada até a qualidade dos

serviços. Assim, a rede socioassistencial passa a romper com a prática das ajudas

parciais e fragmentadas e começa a caminhar em direção aos direitos assegurados

de forma integral, com padrões de qualidade (PNAS, 2004).

Para Sposati (2006) o SUAS não pode se constituir em uma rede mínima de

proteção social para que possa ser concernente à assistência social enquanto

política de seguridade social. Nesse sentido a projeção da rede socioassistencial,

seu dimensionamento, abrangência, cobertura é fundamental para que se trabalhe

na perspectiva de um atendimento continuado e de qualidade, ultrapassando o

atendimento compensatório, que ocorre ocasionalmente após o risco instalado, mas

na direção de uma proteção social que objetive também a prevenção do

agravamento da vulnerabilidade. A assistência social poderá atingir assim a uma

efetividade.

65

Para Menicucci (2002), a proposta de planejamento e intervenções

intersetoriais envolve mudanças nas instituições sociais e nas suas práticas.

Significa que a forma de articulação das ações deverá ser alterada, passando de um

modelo segregado para uma universalização da proteção social. O indivíduo passa a

ser olhado como um todo detentor de direitos e usuário de diversos serviços

executados pelo poder público e por entidades do Terceiro Setor. Para se pensar na

universalização, há de se considerar mudanças na cultura e nos valores da rede

socioassistencial, das organizações gestoras das políticas sociais e das instâncias

de participação e sua localização geográfica.

Segundo a PNAS (2004), a concepção de assistência social como política

pública tem como principais pressupostos a territorialização, a descentralização

política administrativa das ações e a intersetorialidade.

O Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) é uma unidade pública

estatal de base territorial, ou seja, localizado num determinado território e que se

responsabiliza pelas ações e público atendido nessa área, aqui denominada como

“área de abrangência dos CRAS”.

Segundo determinação da PNAS (2004), o CRAS deverá ser localizado em

áreas de maior vulnerabilidade social, que abranja um total de 5.000 famílias

referenciadas16, sob situação de vulnerabilidade, em núcleos de até 20.000

habitantes no caso de uma metrópole, conforme demonstrado no Quadro I, na

próxima seção. Para que um CRAS seja instalado, deverá se elaborar um

diagnóstico socioterritorial com dados mais precisos do território. Em Belo Horizonte,

foi realizado um diagnóstico a partir de dados do IBGE/2000, do Índice de

Vulnerabilidade da Saúde (IVS) /1996, que definiu as áreas de maior vulnerabilidade

do município e será apresentado na seção 2.2.3. A Secretaria Municipal de

Assistência Social está trabalhando para aprimorar esse diagnóstico.

O CRAS é o equipamento caracterizado como unidade local do SUAS que

possibilita, na maioria das vezes, o primeiro acesso das famílias aos direitos

socioassistenciais e, portanto, à proteção social. Estrutura-se, assim, como porta de

entrada unificada dos usuários da Política de Assistência Social para a rede de

proteção básica. Também desempenha papel estratégico como articulador das

16 Conforme a PNAS (2004, p.95), “família referenciada” significa aquela que vive em áreas caracterizadas como de vulnerabilidade, definidas a partir de indicadores estabelecidos por órgão federal, pactuados e deliberados.

66

políticas sociais e da rede socioassistencial no território onde se situa. Este consiste

como unidade de estudo deste trabalho.

A proteção social na Assistência Social caracteriza-se pela execução de um

conjunto de ações, projetos, programas e serviços que visam o enfrentamento da

pobreza com a redução e prevenção dos impactos oriundos da fragilidade social e

humana. Surge uma nova lógica de organização das ações: com a definição de

níveis de complexidade, na área da proteção social básica e na proteção social

especial17, com a referência no território, considerando regiões e portes de

municípios, e principalmente com centralidade na família.

3.2.2 Proteção social básica

Segundo a PNAS (2004), a Proteção Social Básica objetiva prevenir situações

de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, além do

fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Destina-se às famílias que vivem

em situação de risco e ainda não apresentam seus vínculos familiares rompidos,

tendo como unidade de atendimento os Centros de Referência da Assistência Social

(CRAS).

Entre os serviços, programas e projetos desenvolvidos nos CRAS o Programa

de Atenção Integral às Famílias (PAIF), é o principal programa executado, sendo a

sua existência requisito fundamental para implantação do equipamento. O PAIF

desenvolve uma ação continuada da Assistência Social, constituído de serviços

socioassistenciais e projetos de preparação para inclusão produtiva, integrando-se

às demais políticas sociais.

A capacidade de atendimento do CRAS varia de acordo com o porte do

município e com o número de famílias em situação de vulnerabilidade social,

conforme estabelecido na NOB/SUAS (2005). Estima-se a seguinte capacidade de

atendimento, por área de abrangência do CRAS:

17 Segundo a PNAS (2004, p.33-37), A Proteção Social Especial é uma modalidade de atendimento que atende a pessoas e famílias que tiveram seus direitos violados e seus vínculos familiares e comunitários rompidos, tendo como unidade de atendimentos o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS).

67

CRAS em território referenciado por

até: Porte do município Capacidade de

atendimento 2.500 famílias Pequeno Porte I até 500 famílias/ano 3.500 famílias Pequeno Porte II até 750 famílias/ano 5.000 famílias Médio, Grande e

Metrópole até 1.000 famílias/ano

Quadro 4: Capacidade de atendimento dos CRAS Fonte: NOB/SUAS/2005

As instalações físicas do CRAS devem ser compatíveis com os serviços nele

ofertados e devem dispor de, no mínimo, três ambientes com funções bem definidas:

uma recepção, uma ou mais salas para entrevistas e um salão para reunião com

grupos de famílias, além das áreas convencionais de serviços. Deve ser maior, caso

oferte serviços de convívio e socioeducativos para grupos de crianças,

adolescentes, jovens e idosos ou de capacitação e inserção produtiva, assim como

contar com mobiliário compatível com as atividades a serem ofertadas.

No que se refere aos recursos humanos, a equipe do CRAS deverá ser

composta seguindo as determinações da NOB-RH/SUAS. O tamanho das equipes

varia de acordo com a capacidade de atendimento da unidade, mas sempre deverão

contar preferencialmente com assistentes sociais e com psicólogos.

Pequeno Porte I Até 2.500 famílias

referenciadas

Pequeno Porte II Até 3.500 famílias

referenciadas

Médio, Grande e Metrópole Até 5.000 famílias

referenciadas Dois técnicos de nível superior, sendo um assistente social e outro, preferencialmente psicólogo

Três técnicos de nível superior, sendo dois assistentes sociais e outro, preferencialmente psicólogo

Quatro técnicos de nível superior, sendo dois assistentes sociais, um psicólogo e um profissional que compõe o SUAS

Dois técnicos de nível médio Três técnicos de nível médio Quatro técnicos de nível médio Quadro 5: Equipes de referência dos CRAS segundo a NOB-RH/SUAS Fonte: NOB/SUAS (2005)

68

3.2.3 Assistência Social em Belo Horizonte 18

Em Belo Horizonte, no ano de 2002, a Secretaria Municipal Adjunta de

Assistência Social implantou o “BH Cidadania”, que não é um programa e sim uma

estratégia de gestão intersetorial, responsável por realizar a articulação das políticas

sociais no território de abrangência que lhe é determinado. Trabalhando de forma

intersetorial e descentralizada, passou a dar maior importância ao território, com a

participação da comunidade.

Naquela ocasião, a Assistência Social passou a contar com os Núcleos de

Apoio à Família (NAF), localizados no território e que tinham um equipamento para

se trabalhar à prevenção de riscos sociais na região. Foram implantados nove NAFs

nas diversas áreas de vulnerabilidade do município para trabalhar com 600 famílias.

Toda a lógica de organização do trabalho da Assistência Social no município foi

alterada, a família passou a ser o foco prioritário e o espaço geográfico, área de

abrangência dos NAFs, se tornou a base de organização dos projetos, programas e

serviços da Assistência Social.

Para definição da área de abrangência dos NAFs, além do critério político,

inicialmente foi utilizado o Índice de Vulnerabilidade da Saúde (IVS). Esse indicador

foi instituído, em 1996, pela equipe da Secretaria Municipal de Saúde, e tem como

objetivo mapear as áreas de riscos, ou seja, verificar os níveis de vulnerabilidade

encontrados no município, classificando-os de risco muito elevado, médio risco e

baixo risco. Esse índice será utilizado na identificação das áreas vulneráveis de Belo

Horizonte neste trabalho.

18 Dados fornecidos pela Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social - SMAAS, e nas publicações da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte: Monitoramento e Avaliação da Política de Assistência Social de Belo Horizonte: sistema de indicadores,2007 e Territorializção da Proteção Social Básica do Sistema Único de Assistência Social: Reflexão Teórico-metodológica sobre a experiência de BH, 2008.

69

Fonte de Informação Peso Indicadores/Descrição

0,5 1-Percentual de domicílios particulares permanentes com abastecimento de água inadequado ou ausente

1 2-Percentual de domicílios particulares permanentes com esgotamento sanitário inadequado ou ausente

0,5 3-Percentual de domicílios particulares permanentes com destino do lixo de forma inadequada ou ausente

Saneamento

Total=2,00

0,75 4-Percentual de domicílios improvisados no setor censitário

0,25 5-Razão de moradores por domicílio

Habitação

Total=1,00

1,5 6-Percentual de pessoas analfabetas

0,5 7-Percentual de chefes de família com menos de 4 anos de estudo

Educação

Total=2,00

0,5 8-Percentual de chefes de família com renda de até 2 salários mínimos

1,5 9-Renda média do chefe de família (invertida) Renda

Total=2,00

0,25 10-Coeficiente de óbitos por doenças cardiovasculares em pessoas de 30 a 59 anos

1,5 11-Óbitos proporcionais em pessoas com menos de 70 anos de idade

0,25 12-Coeficiente de óbitos em menores de 5 anos de idade

1 13-Proporção de chefes de família de 10 a 19 anos

Sociais/Saúde

Total=3,00 TABELA 2: Indicadores utilizados na construção das áreas de vulnerabilidade à saúde por setores censitários, Belo Horizonte, 2003 Fonte: Índice de Vulnerabilidade à Saúde – Secretaria Municipal de Saúde/PBH, 2003

70

Categorização do índice de vulnerabilidade à saúde

• Risco baixo – setores com valores inferiores ao médio

• Risco médio – setores censitários que tinham valores do Índice de

Vulnerabilidade à Saúde em 0,5 desvio padrão em torno da média

• Risco elevado – setores com valores acima do risco médio até o limite

de 1 desvio padrão

• Risco muito elevado – setores com valores acima do risco elevado

Categoria de risco mín. máx. população (%) domicílios % n setores* (%) Baixo 0,25 2,33 627.224 28 199.692 32,4 826 32,3 Médio 2,33 3,32 849.611 38 240.038 36,7 935 36,5 Elevado 3,32 4,31 603,600 27 157.343 24,7 624 24,4 Muito elevado 4,31 6,86 157.897 7,1 39.247 6,2 175 6,8 Não se aplica ..... ..... ...... ...... .... ..... 3 0,1 Total 0,25 6,86 2.238.332 100 636.320 100 2.560 100 TABELA 3: Categorização do Índice de Vulnerabilidade à Saúde

Fonte: Índice de Vulnerabilidade à Saúde – Secretaria Municipal de Saúde/PBH, 2003

As áreas de maior vulnerabilidade foram identificadas a partir da construção

de um ranking das áreas mais vulneráveis da cidade, dividindo-as por regional no

município, a partir do IDH, dos dados do IBGE e do IVS, atualizado periodicamente

em alguns pontos pela Secretaria de Saúde, o que possibilitou a caracterização do

território. Com isso, reafirmou-se que as nove áreas iniciais dos NAFs eram as mais

vulneráveis, determinando, assim, a expansão para 5.000 famílias para

implementação dos CRAS a partir da PNAS em 2004.(PBH/SMAAS,2008)

Optou-se, inicialmente, pelos seguintes critérios na definição do território e,

posteriormente, implantação do equipamento CRAS:

• Não recortar setor censitário, pela possível dificuldade de desagregação de

dados;

• Respeitar os limites das regiões administrativas;

• Utilizar o máximo possível o território dos Centros de Saúde, pois se

identificou que assistência social, educação e saúde têm áreas de

atendimento e abrangência diferentes;

• Verificar as barreiras geográficas. Não pode haver uma via expressa, uma

rodovia, um córrego que separe o território;

71

• A percepção e organização espontânea dos atores que se encontram no

local;

• O fluxo espontâneo da população à procura dos serviços de Assistência

Social;19(PBH/SMAAS,2008)

Em 2006, em Belo Horizonte, foram estabelecidos 140 territórios20 e, dentre

eles, 75 deveriam ter CRAS, pois se encontravam em níveis de risco elevado e

muito elevado. Na conferência municipal, do ano de 2006, definiu-se que seriam

implantados a cada ano nove equipamentos, atingindo, assim, a meta de 75, no ano

de 2010. Mas, o processo de implementação dos CRAS não seguiu tal regra,

somente no ano de 2009, foram implantados mais dois CRAS.

Uma vez realizada a expansão mais sistemática, a Gerência de Informação,

Monitoramento e Avaliação (GEIMA) está trabalhando na construção de indicadores,

para que de fato se crie critérios bem definidos para escolha de 5.000 famílias.

Não foi encontrado em Belo Horizonte nenhum estudo sobre a rede

socioassistencial, a não ser das entidades da proteção social básica que já têm

convênios com a prefeitura – um número muito reduzido frente ao montante que o

município pode ter.

19 Foram feitos levantamentos de dados e georreferenciamento dos mesmos a partir dos beneficiários dos serviços executados pelos NAFs e pelas regionais. 20 Para realização deste recorte foram utilizados dados do IBGE de 2000, considerando os setores censitários não havendo divisão dos mesmos.

72

4 MÉTODOS E TÉCNICAS

Para o alcance dos objetivos deste trabalho, procurou-se realizar uma análise

exploratória dos dados do censo demográfico de 1991 e 2000 (questionário do

Universo), da pesquisa do Diagnóstico do Terceiro Setor 2006 e dos cadastros do

Conselho Municipal de Assistência Social de Belo Horizonte 2008. Neste sentido, a

exploração enfocou, no caráter espacial das informações e nos relatos dos

profissionais dos CRAS.

É importante ressaltar que a utilização dos dados dos censos demográficos

de 1991 e 2000 (questionário do Universo) foi importante para identificação e

verificação da distribuição espacial da população belorizontina nos territórios dos

CRAS a partir de documentos da PBH (2007), bem como a distribuição espacial no

decorrer dos anos, observando principalmente o envelhecimento da população de

Belo Horizonte. Estudos realizados por Rigotti, Caetano (2009) e Zahreddine (2004)

sobre a tendência demográfica de Belo Horizonte foram importantes para um maior

conhecimento sobre o município estudado.

Resumidamente, o trabalho seguiu as seguintes etapas. Após a revisão

bibliográfica buscando descrever e compreender melhor o papel da rede

sociassistencial dentro da Política de Assistência Social e aspectos sobre a

constituição de redes geográficas e urbanas, realizou-se um trabalho de campo e

posteriormente partiu-se para o tratamento dos dados. Com o auxílio de um pacote

estatístico, o SPSS, e com o Excel, construiu-se um grande banco de dados que

contemplava as informações tanto do Terceiro Setor quanto do Conselho Municipal

de Assistência Social.

O Diagnóstico do Terceiro Setor se deu de fevereiro a abril de 2006. O

levantamento de dados no CMAS foi realizado durante o mês de outubro de 2008,

porém com dados das entidades cadastradas no ano de 2007. E as entrevistas

foram realizadas conforme a disponibilidade dos coordenadores, no período de

março a outubro de 2008. Ao final do processo, as informações foram codificadas,

digitadas e tabuladas, formando-se um banco de dados relacional.

Paralelamente à construção deste banco de dados foram realizadas visitas in

loco para entrevistar a coordenação dos equipamentos CRAS e, assim, identificar as

especificidades existentes conforme o território onde se encontra, bem como a real

73

atuação das equipes responsáveis pelo equipamento no que se refere a sua função

de articuladora da rede de atendimento, como está colocado na PNAS/2004 e a

NOB/2005. Finalmente, analisou-se a constituição da rede de atendimento

sociassistencial em cada território dos CRAS.

De posse deste banco de dados unificado, passamos para a segunda etapa,

que foi a compatibilização das bases cartográficas utilizadas.

Uma vez vencida esta fase de tratamento das informações, partiu-se para a

elaboração dos mapas, que objetivaram ressaltar a distribuição espacial das

entidades de Assistência Social por grupos de públicos atendidos e por atividades

desenvolvidas, bem como a distribuição espacial dos equipamentos CRAS de Belo

Horizonte.

Na coleção de mapas em que apresentou-se os dados da pesquisa, a cidade

de Belo Horizonte é identificada como um espaço preenchido pelas referidas

entidades, que são representadas por pontos nesta superfície. Desta forma, cada

uma das 626 organizações foram plotadas em uma malha digital, de acordo com seu

endereço. As variáveis estão associadas à localização de cada uma das entidades

através do CEP.

Após a identificação e descrição dos dados alguns procedimentos foram

realizados referente a comparações dos mesmos, a fim de verificarmos se, no

município de Belo Horizonte, existe uma rede de atendimento socioassistencial

constituída.

Num primeiro momento realizou-se a verificação da área dos CRAS com o

IVS e para observar se estes se encontram nas áreas de maior vulnerabilidade

social, conforme determina a PNAS (2004). Num segundo momento comparou-se a

distribuição da população, conforme diagnóstico realizado com os dados dos censos

1991 e 2000, com a localização das entidades, conforme seu público atendido, para

verificar se elas se encontram no território onde se localiza a população a ser

atendida. Num terceiro momento, comparamos as áreas dos CRAS com as

entidades conforme o público atendido e as atividades desenvolvidas. Assim, foi

possível comparar as entidades identificadas com a rede de atendimento constituída

no território por meio das entidades conveniadas e completando a análise com as

entrevistas com as coordenações dos CRAS. Portanto, verificou-se a existência e a

potencialidade no fortalecimento de uma rede de atendimento socioassistencial no

território dos CRAS.

74

Para esta etapa do trabalho, foram utilizados dois softwares principais, o

software mapinfo 8.5 (da empresa MapInfo) e o software Arcview 9.2 (da empresa

ESRI). Estes dois softwares foram utilizados devido à maior oferta de bases

cartográficas que são disponibilizadas nestes formatos, além de suas

potencialidades para a exploração dos dados espaciais utilizados.

4.1 Obtenção dos dados e tratamento das informações

Como já foi dito, este estudo contou com um banco de dados formatado,

digitalizado e organizado, contendo informações de 1.342 instituições do Terceiro

Setor das áreas de saúde, educação, assistência social, esporte e outras, construído

a partir da pesquisa do Ministério Público, intitulada “Diagnóstico do Terceiro Setor

em Belo Horizonte”, no ano de 2006. Foram filtradas as entidades identificadas

como de Assistência Social, ficando um total de 360 entidades, não sendo

contempladas as entidades de educação e saúde, com a finalidade de se estudar

com maior refinamento as entidades com potencial para serem vinculadas ao SUAS.

No ano de 2008, construiu-se outro banco de dados a partir das fichas das

entidades cadastradas no Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), o que

suscitou um árduo processo de levantamento dos cadastros, identificando entidades

que não foram incluídas no “Diagnóstico do Terceiro Setor”. Isso se deve,

primeiramente, ao fato de que, no Diagnóstico do Terceiro Setor, só foram incluídas

as entidades que o pesquisador conseguiu falar com o representante legal in loco.

Assim, muitas entidades não foram incluídas por que não foi encontrado o

representante legal, ou não foi encontrado o endereço ou o representante negou a

participar do diagnóstico. Após esse processo, os dois bancos foram unidos e

verificado se não havia nenhuma duplicidade de entidades, totalizando 626

instituições.

Para a viabilização do levantamento dos dados, foi fundamental efetivar e

formalizar contatos com o Conselho Municipal de Assistência Social e com a

Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social.

A primeira etapa do trabalho baseou-se na entrevista com Léa Lúcia Braga,

secretária Adjunta de Assistência Social, que também era, no ano de 2008,

presidente do CMAS.

75

Também foi realizada uma pesquisa qualitativa com os coordenadores dos

CRAS, através de entrevista semi-estruturada, especificamente visando atender aos

objetivos desta dissertação, com as seguintes informações: atendimento fora da

área de abrangência dos CRAS, composição da equipe técnica, forma de registro e

atendimento nos CRAS, atividades desenvolvidas, existência de barreiras territoriais,

constituição da rede de atendimento socioassistencial no território. A entrevista foi

realizada nos 15 CRAS de Belo Horizonte, com os coordenadores ou, na sua

ausência, com um assistente social.

No CMAS as fichas cadastrais são preenchidas pelas entidades para

requerimento de inscrição ou renovação, contendo informações de identificação,

jurídica e contábil. Assim, optou-se por levantar os seguintes dados:

• Endereço • Telefone • Público atendido • Atividade desenvolvida

Paralelamente ao levantamento de dados no CMAS, foi iniciado um processo

de classificação do público atendido pelas entidades do Diagnóstico do Terceiro

Setor, pois na pesquisa realizada em 2006 essa questão era aberta, sem nenhuma

padronização e não foi analisada na época. Quando surgia alguma dúvida, a

entidade era contatada por telefone.

Uma fragilidade dessa pesquisa é a falta de à identificação dos públicos por

faixa etária. Pois, não foram definidas as classes que demonstrariam o limiar das

idades para classificar criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso. Portanto,

considera-se a informação fornecida pelo responsável pela entidade na pesquisa de

campo.

O processo de compilação de informações foi realizado manualmente, tanto

para os dados das entidades cadastradas no CMAS, a partir da leitura e transcrição

para o formulário de coleta dos dados presentes das fichas de registro das entidades

do CMAS, quanto para as entrevistas gravadas, realizadas com os coordenadores

dos 15 CRAS.

Para a classificação do público-alvo e das atividades desenvolvidas. Foram

utilizados os termos e classificações adotados pela PNAS/SUAS (2004), pela

NOB/SUAS e pela LOAS, além da mesma classificação de atividades utilizada no

questionário do Terceiro Setor para as entidades do CMAS.

76

Inicialmente, foram identificados 57 tipos de públicos atendidos pelas

entidades, o que demonstra alto grau de desagregação dos dados. Diante da

complexidade da variedade de públicos, iniciou-se um processo de agregação dos

dados, para que houvesse a possibilidade de georreferenciar as entidades, levando

em consideração o público que elas atendem. Optou-se por considerar a PNAS

(2004) para a agregação dos dados, viabilizando assim o georreferenciamento das

informações conforme se verifica abaixo.

Tipos de públicos atendidos pelas entidades de assistência social no

município de Belo Horizonte:

1. Público por faixa etária:

• Criança

• Adolescente

• Jovens

• Adultos

• Idosos

2. Públicos identificados por suas vulnerabilidades sociais,

• Pessoa com deficiência

• Dependentes de substâncias psicoativas (dependentes químicos e

alcoólatras)

• Grupos étnicos e de Gênero (Negros, índios, luso descendentes, mulheres)

• Pessoas Carentes

• Outras vulnerabilidades (Morador de rua, pessoas ameaçadas,

desempregados, encarcerados, pessoas com alguma doença).

3. Família

4. Trabalhadores (profissionais de classe, funcionários públicos, funcionários de

entidades privadas, atletas, camponeses, prostitutas, catadores de papel). Este

grupo é identificado por trabalhar atendendo, capacitando ou assessorando

trabalhadores de diversas classes.

5. População em Geral

6.Grupos Sociais (aposentados, alunos, pensionistas, líderes comunitários,

religiosos, gestantes). Este grupo trabalha no atendimento, capacitação ou

orientação das diversas classes especificadas.

77

7.Organizações Sociais (entidades de assistência social, creches, associações,

sociedade civil organizada). Este grupo trabalha assessorando organizações sociais

sem fins lucrativos.

Para as atividades desenvolvidas pelas entidades, foram identificadas 44

tipologias conforme as seguintes descrições:

• Qualificação/formação profissional; • Socialização infanto-juvenil; • Abrigo/asilo/internato; • Creche/berçário; (somente quando na entidade há outro trabalho além da

educação). • Oficinas de artesanato; • Atendimento técnico (odontologia, fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição,

enfermagem, fonoaudiologia, psicologia, atendimento médico, acompanhamento de assistente social etc.);

• Esporte; • Oficinas culturais (música, arte etc.); • Orientações e encaminhamentos; • Reforço escolar / atividades de educação extra-escolar; • Lazer; • Atendimento, acompanhamento e internação a dependente químico e

acompanhamento família do dependente; • Formação de cidadania; • Cesta básica/alimentação/sopão; • EJA; • Grupo de convivência da terceira idade; • Apoio sociofamiliar; • Auxílio natalidade/doação enxoval/leite; • Doações (agasalho, cobertores, remédios, material escolar, gás, livros etc); • Atendimento/acompanhamento a gestante; • Articulação e mobilização de entidades; • Capacitação e formação para entidades; • Apoio e assessoria a entidades; • Grupo de geração e produção de trabalho e renda; • Formação na área de associativismo, cooperativismo e direitos humanos; • Albergue; • Casa de brincar; • Inclusão digital/informática; • Encaminhamento ao mercado trabalho; • Atendimento e acompanhamento à pessoa com deficiência; • Apoio e formação de lideranças comunitárias; • Articulação comunitária; • Abordagem de rua; • Alfabetização de adultos informal; • Desenvolvimento comunitário; • Juizado de conciliação;

78

• Medidas socioeducativas; • Cursos para deficiente visual múltiplo; • Habitação; • Capacitação e assessoria a conselhos municipais; • Casa de apoio; • Pré-vestibular comunitário; • Agente jovem; • Serviço de proteção contra ameaças;

Na mesma perspectiva e utilizando o mesmo método de agregação do público

atendido pelas entidades, num segundo momento, agregamos os dados conforme

áreas determinadas na PNAS (2004).

Vejamos as agregações dos dados conforme ações previstas na PNAS

(2004):

Proteção Social Básica: 1. Benefícios Eventuais:

• Cesta básica/alimentação/sopão; • Auxílio natalidade/doação enxoval/leite; • Doações (agasalho, cobertores, remédios, material escolar, gás, livros

etc); 2. Inclusão Produtiva

o Qualificação/formação profissional; o Oficinas de artesanato; o Grupo de geração e produção de trabalho e renda; o Inclusão digital/informática; o Encaminhamento ao mercado trabalho;

3. Socioeducativas

• Socialização infanto-juvenil; • Creche/berçário; • Esporte; • Oficinas culturais (música, arte etc.); • Reforço escolar / atividades de educação extra-escolar; • Lazer; • EJA; • Casa de brincar; • Alfabetização de adultos informal; • Pré-vestibular comunitário; • Agente jovem;

79

4. Atenção Integral a família • Atendimento técnico (odontologia, fisioterapia, terapia ocupacional,

nutrição, enfermagem, fonoaudiologia, psicologia, atendimento médico, acompanhamento de assistente social etc.);

• Orientações e encaminhamentos; • Apoio sociofamiliar; • Atendimento/acompanhamento a gestante;

5. Atenção integral ao idoso

• Grupo de convivência da terceira idade; 6. Formação de cidadania e defesa de direitos

• Articulação e mobilização de entidades; • Formação na área de associativismo, cooperativismo e direitos

humanos; • Capacitação e formação para entidades; • Apoio e assessoria a entidades; • Apoio e formação de lideranças comunitárias; • Articulação comunitária; • Formação de cidadania; • Capacitação e assessoria a conselhos municipais;

7. Outras atividades

• Desenvolvimento comunitário; • Juizado de conciliação; • Habitação.

Proteção Social Especial: 1. Entidades de longa permanência

• Abrigo/asilo/internato; • Albergue; • Casa de apoio;

2. Inclusão da pessoa com deficiência • Atendimento e acompanhamento à pessoa com deficiência; • Cursos para deficiente visual múltiplo;

3. Atendimento a dependentes de substâncias psicoat ivas • Atendimento, acompanhamento e internação a dependente químico e

acompanhamento família do dependente; 4. Outros

• Serviço de proteção contra ameaças; • Abordagem de rua; • Medidas socioeducativas;

80

Após a organização dos dados passamos para o mapeamento e análise das

informações encontradas, enfatizando assim, a distribuição espacial das entidades e

a análise da rede socioassistencial do município de Belo Horizonte.

O mapeamento das entidades de assistência social é de suma importância

tendo em vista a necessidade de se construir uma rede socioassistencial de

atendimento à população vulnerável de Belo Horizonte.

Com o banco de dados montado e organizado foi possível realizar o trabalho

de georreferenciamento dos equipamentos CRAS e das entidades de Belo

Horizonte, conforme o público atendido e as atividades desenvolvidas nestas

entidades.

O trabalho contou com duas bases cartográficas e um mapeamento da rede

conveniada fornecidos pela Gerência de Informação, Monitoramento e Avaliação

(GEIMA) da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. A primeira base cartográfica

refere-se à localização dos CRAS e as áreas de abrangência dos referidos

equipamentos, e a segunda refere-se ao Índice de Vulnerabilidade da Saúde (IVS),

bem como o mapeamento das entidades conveniadas com a PBH na proteção social

básica.

A partir dessas bases cartográficas realizamos layers das áreas de

abrangência dos CRAS com o IVS e com a distribuição espacial das entidades.

No próximo capítulo verificaremos os vários aspectos observados na pesquisa

através do mapeamento das entidades e das entrevistas semi-estruturadas, que

permitiram realizar uma análise da infra-estrutura, recursos humanos e do trabalho

intersetorial, com base na legislação em vigor.

81

5 DISTRIBUIÇÃO DAS ENTIDADES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO MUNICÍPIO

DE BELO HORIZONTE E A CONSTRUÇÃO DA REDE SOCIOASSIS TENCIAL: OS

CRAS E O TERCEIRO SETOR

Este capítulo tem o objetivo de apresentar os resultados da pesquisa.

Inicialmente, apresentaremos a localização dos CRAS em Belo Horizonte, definidas

em 2007, e iniciaremos uma análise comparativa dos equipamentos, das entidades

de Assistência Social e das áreas vulneráveis identificadas pelo IVS – Índice de

Vulnerabilidade da Saúde (2003).

Em um segundo momento, iniciaremos uma análise de dados qualitativos

coletados a partir de entrevista semiestruturada com coordenadores dos CRAS ou

com assistente social, a fim de identificar a constituição da rede socioassistencial e o

funcionamento dos CRAS no território.

Finalmente, num terceiro e último momento, analisaremos a potencialidade da

constituição de uma rede sociaassistencial em Belo Horizonte, a partir da localização

das entidades de Assistência Social e dos CRAS, de acordo com o público atendido

e com as atividades desenvolvidas, além do auxílio das entrevistas realizadas com

as coordenações dos CRAS.

5.1 Distribuição Espacial dos CRAS no município de Belo Horizonte/2007

Nesta seção, avalia-se as áreas de abrangência dos CRAS e a distribuição

espacial das entidades, tendo em vista o IVS e a dinâmica demográfica, sintetizada

no capítulo anterior.

Em estudos realizados pela SMAAS – Secretaria Adjunta de Assistência

Social (2008) foram identificadas 140 áreas para Proteção Social Básica, com

aproximadamente 5.000 famílias, no município de Belo Horizonte. Inicialmente,

foram implementados 9 CRAS conforme a distribuição dos NAFS, passando no

mesmo ano para 15 CRAS nas 9 regionais do município, sendo que na regional

Noroeste, a região mais populosa (com mais de 15 % da população belorizontina),

foram implantados 3 CRAS, conforme podemos observar na quadro 6 e figura 17.

Sendo assim, adotaremos para melhor visualização e análise em todas as

apresentações dos dados a divisão do município em regionais e em áreas de

abrangência dos CRAS, conforme figuras 16 e 17.

82

Figura 16: Regionais do Município de Belo Horizonte, MG - 2009

83

Figura 17: Centro de Referência da Assistência Social – CRAS – por Regional – 2008 Município de Belo Horizonte, MG.

84

Regionais administrativas Áreas delimitadas para PSB CRAS existentes atualmente

Barreiro 17 02

Centro-Sul 18 01

Leste 16 02

Nordeste 16 02

Noroeste 20 03

Norte 12 01

Oeste 17 01

Pampulha 10 02

Venda Nova 14 01

Total 140 15

Quadro 6 : Distribuição das áreas da Proteção Social Básica - PSB segundo regional administrativa, SMAAS/BH, 2008. Fonte: GEIMA/SMAAS - PBH

Nesta distribuição dos CRAS, segundo a PBH/SMAAS (2008), estão sendo

cobertos 12% da população de Belo Horizonte.

Ao observarmos as áreas dos CRAS com as regiões de maior

vulnerabilidade do município, ou seja, de risco muito elevado, conforme o IVS (figura

18), verificamos que são várias as regiões de risco muito elevado sem o

equipamento CRAS para realizar os atendimentos da população local.

Verificando o quadro 7, observa-se que alguns CRAS possuem parte do seu

território em áreas de baixo e médio risco como é o caso dos CRAS Santa Rosa

(78%), Pedreira Prado Lopes (67,6%), a Vila Senhor dos Passos (88%), Arthur de

Sá (83%), Novo Ouro Preto (61%) e Mariano de Abreu (54%), ou seja, a maior parte

das suas áreas estão localizadas numa situação baixo e médio risco conforme os

respectivos percentuais. No entanto, podemos observar que 9 dos 15 CRAS estão

localizados numa proporção considerável do seu território em áreas de risco elevado

e muito elevado, tais como, Conjunto Paulo VI (100%), Conjunto Jardim Felicidade

(100%), Cruzeirinho (92%), Independência (88,6%), Santa Rita de Cássia (72%),

São José (69,6%), Morro das Pedras (69%), Petrópolis (68,4%) e por fim Vila

Apolônia (60%).

85

CRAS REGIONAL BAIXO (%) MÉDIO (%) ELEVADO (%) MUITO ELEVADO (%) Independência Barreiro 4,6 6,4 82 6,6

Petrópolis Barreiro 0 31,6 51,3 17,1 Santa Rita Centro Sul 28 0 30 42 Cruzeirinho Leste 0 7,7 81 11 Mariano de

Abreu Leste 0 54 46 0

Arthur de Sá Nordeste 11 72 15 2,4 Conj. Paulo VI Nordeste 0 0 66 34 Pedreira Prado

Lopes Noroeste 8,6 59 24 9

São José Noroeste 0 30,4 23,9 45,7 Senhor dos

Passos Noroeste 33 55 13 0

Conj.Felicidade Norte 0 0 82 18 Morro das

Pedras Oeste 14 18 56 13

Santa Rosa Pampulha 36 42 11 12 Novo Ouro Preto Pampulha 45 16 30 9,5

Vila Apolônia Venda Nova 2,9 38 19 41 Quadro 7: Distribuição dos domicílios das áreas de abrangência dos CRAS, segundo o critério do “ÍNDICE DE VULNERABILIDADE DA SAÚDE” (2003), Belo Horizonte, 2008. Fonte: Censo IBGE 2000 – SMSA apud PBH, 2008 (p25)

Segundo PBH (2008), ao analisar o IVS constatou-se que 34,1 % da

população de Belo Horizonte está residindo em áreas consideradas de risco elevado

e muito elevado, o que corresponde a 761.197 habitantes. Conforme estudos da

PBH/SMAAS (2008) foram identificados 169.708 habitantes nas áreas de

abrangência dos CRAS, significando 22,3% dos habitantes moradores em áreas de

maior risco.

Observando a distribuição dos CRAS podemos dizer que sua localização ou

ampliação vai de encontro com o que Clark (1991) vem dizer dos pressupostos da

Teoria dos Lugares Centrais, em que a oferta dos serviços encontram-se

espacialmente concentrada num sistema de lugares centrais; a procura de bens e

serviços oferecidos nesses lugares é assegurada pela população que neles vive e

no caso dos serviços da Proteção Social Especial depende também da população

que está em região complementar.

86

Figura 18: Índice de vulnerabilidade à saúde – IVS 2003* Município de Belo Horizonte

Conforme observado na seção 1.3 os maiores crescimentos geométrico

médio anual da população das regionais do município de Belo Horizonte, entre os

anos de 1991 e 2000, se deu principalmente nas porções norte e sul da capital

87

mineira. As regionais que mais cresceram ao ano foram as da Pampulha (3,37%),

Norte (2,58%) e Venda Nova (2,42%) e o Barreiro (1,94%). Já a regional Noroeste

mesmo com uma taxa de crescimento negativa (-0,14%) permanece como a regional

mais populosa do município levando Belo Horizonte a uma taxa de 1,15% de

crescimento ao ano no período. (ZAHEDDINI, 2004)

No entanto, podemos observar que a maioria das entidades de assistência

social se concentra na região Centro-Sul e suas adjacências, Leste, Oeste e

Noroeste do município, não acompanhando assim, a direção do crescimento

populacional de Belo Horizonte. Também observa-se, em uma faixa de sentido

nordeste-sudoeste, da região Leste até o Barreiro, uma ausência de organizações

por se tratar de um limite natural formado pela Serra do Curral – daí uma nítida

divisão na densidade das organizações, especialmente na região do Barreiro. Nas

demais regionais, as entidades se distribuem de forma mais homogênea.

Outro ponto que podemos observar é a localização das entidades que se

concentram nas áreas de baixo e médio risco (figura 18). Seria necessário, assim,

um estudo mais aprofundado quanto aos acessos para a população, levando em

consideração a distância, transporte, as diversas barreiras sociais e geográficas.

Portanto, temas como transporte, acessibilidade, barreiras geográficas, barreiras

invisíveis (como é o caso do tráfico) são essenciais para entender a lógica da

concentração.

5.2 Estrutura Funcional dos CRAS

O objetivo principal dos CRAS é contribuir para a inclusão social por meio do

fortalecimento dos vínculos familiares, comunitários e sociais, bem como a inserção

na rede de serviços. No decorrer das entrevistas realizadas nos CRAS observou-se

que todos conhecem e tendem a seguir as normas determinadas pela PNAS (2004)

e na NOB/SUAS (2005) para atingir tal objetivo. No entanto, várias foram as

ambiguidades encontradas.

Uma das competências dos CRAS é a função de atender a população

vulnerável moradora na área de abrangência do território específico. Porém, tendo

em vista a dimensão de Belo Horizonte e o fato de que no presente momento ainda

não há cobertura de toda a população vulnerável, faz-se necessário questionar a

88

forma de atendimento à população que está fora das áreas de abrangência e muitas

vezes no limite geográfico deste território.

Foi então verificado que o critério inicial para o atendimento21 pelos CRAS é o

endereço de moradia da pessoa demandatária do serviço, o que determina se ela

está ou não dentro da área de abrangência dos equipamentos. Observou-se que

15% dos CRAS não realizam nenhum atendimento ou orientação às pessoas que

estão fora da área, e outros 15% realizam atendimento, pois “a Assistência Social

trabalha com a universalidade”, conforme um dos coordenadores. Os demais 70%

dizem que fazem entrevista, verificam a demanda, orientam e encaminham para a

rede de serviços ou para a regional, “a gente orienta e encaminha para onde a

pessoa deve procurar”... “Ela vai ter um encaminhamento realizado aqui, mas não

vai ser incluída no acompanhamento do CRAS”, relatam dois coordenadores. Assim,

pode-se perceber que a forma do atendimento inicial da população vulnerável fora

do território demarcado, depende da sensibilidade, disponibilidade ou entendimento

do coordenador, por não existir uma metodologia ou diretriz que oriente o trabalho.

Outro ponto levantado foi quanto à composição da equipe técnica que,

conforme a legislação, deverá ser composta, no caso de Belo Horizonte, por dois

assistentes sociais, um psicólogo, um profissional de nível superior que compõe o

SUAS e quatro técnicos de nível médio. Verificamos que a equipe, na maioria dos

CRAS, é extremamente reduzida, o que torna um “desafio muito grande trabalhar

com 5000 famílias com uma equipe tão pequena” (coordenador de um dos CRAS).

Não há uma coerência na composição das equipes, pois estas têm uma grande

diversidade quanto à quantidade de técnicos, bem como de horas. Pode-se verificar

que 85% dos CRAS possuem, como equipe técnica, dois assistentes sociais, um

psicólogo, um coordenador de nível superior e dois técnicos de nível médio, o que

mostra uma defasagem de dois técnicos de nível médio e uma dúvida quanto às

horas dos técnicos de nível superior, pois dos assistentes sociais ou psicólogos

apenas um em cada CRAS tem 8 horas e os outros dois são de 6 ou 4 horas, tendo

em vista que a legislação não se refere à quantidade de horas. Porém, tendo em

vista os relatos dos coordenadores, todos consideram que a equipe não é suficiente

para trabalhar no atendimento a 5.000 famílias referenciadas.

21 Atendimento pressupõe uma escuta, encaminhamento para a rede de serviços e acompanhamento a esta família ou indivíduo.

89

Outro ponto levantado foi a forma de registro dos atendimentos, considerado

ineficaz pelos coordenadores, tendo em vista que a secretaria de assistência social

ainda não possui um sistema capaz de unificar as informações, quantificar e

qualificar as demandas mensalmente. Conforme relato de um dos coordenadores,

“não há um fluxo normatizado”.

Verificou-se que as atividades são executadas de forma direta por alguns

CRAS, como grupo de convivência de idosos, casas de brincar, programas para

jovens e grupos de mulheres, principalmente quando se referem às oficinas de

reflexão, convivência, mobilização comunitária e eventos. Outra forma de execução

das atividades é a forma indireta, ou seja, executados por convênio com entidades

do terceiro setor que compõem a rede sociassistencial, como socialização infanto-

juvenil, grupo socioeducativo, programa para jovens, dentre outros. Na verdade,

observa-se que a definição do que será realizado por meio da execução direta ou

indireta depende do espaço físico de cada CRAS, da disponibilidade de recursos e

da existência de entidades no território, o que para muitos foi relatado ser

problemático, considerando a inexistência de entidades no território ou que queiram

se conveniar.

O principal trabalho desenvolvido pelos CRAS é o acompanhamento às

famílias que tem como premissa a sua promoção, em busca de sua reorganização e

de seu protagonismo para a superação de vulnerabilidades e riscos. Para atingir

este objetivo os CRAS desenvolvem ações de acompanhamento das famílias, numa

proposta de integração de dois eixos: assistencial e socioeducativo. Nos dois eixos,

as ações estão voltadas para o apoio efetivo das famílias e de seus membros, por

meio da potencialização da rede socioassistencial e do acesso aos serviços básicos

a que têm direito. Portanto, são necessários atividades de encaminhamento e

acompanhamento de casos, visitas e articulações institucionais, bem como visitas

domiciliares e reuniões intersetoriais, dentre outras ações de rede. Observou-se in

loco algumas etapas para o desenvolvimento do trabalho em rede desempenhadas

pelas equipes dos CRAS que são consideradas como fundamentais, tais como, o

levantamento de dados ou mapeamento das entidades no território22, articulação e

22 O levantamento de dados permite o conhecimento da área de abrangência do território. Consiste em estudos da área e que pode apoiar-se nas informações oferecidas por outras políticas setoriais que estejam estabelecidas no local, bem como demais instrumentais disponibilizados por entidades de outro ente federativo. Concomitante ao levantamento observa-se a Investigação diagnóstica que,

90

organização da rede socioassistencial de proteção social básica localizada no seu

território de abrangência. Neste item, há uma diversidade de conceitos e

entendimentos que perpassam pela concepção de intersetorialidade do próprio

coordenador, além da sua capacidade profissional e pessoal de articulador, que faz

parte da sua função. No entanto, muitos se limitam ao BH cidadania23 articulando-se

apenas com as entidades governamentais, tais como escolas e centro de saúde,

bem como com as entidades conveniadas, mesmo assim, muitas das vezes, deixam

a desejar quanto à efetividade das parcerias.

Para que a parceria com o terceiro setor seja efetivada, há de se construir um

vínculo entre os CRAS e as entidades para garantir o atendimento e

acompanhamento do usuário e das famílias encaminhadas. Observa-se a

necessidade do poder público formalizar essa parceria para garantir a efetivação da

rede e o atendimento a toda população vulnerável dos territórios. Foi verificado que

apenas em quatro CRAS, o coordenador consegue articular e construir a rede

socioassistencial para além das instituições governamentais, escolas e centro de

saúde, e das entidades conveniadas. Outros três CRAS manifestaram que

conheciam a função do CRAS de ser responsável de iniciar essa articulação, além

de relatarem saber da grande necessidade de realizarem mais parcerias, ou seja,

articular-se com entidades do terceiro setor. No entanto, ainda não iniciaram o

processo, e nos oito demais CRAS a equipe realizou um “levantamento básico” 24das entidades na área de abrangência e consideram que não possuem “pernas”

para desenvolver tal ação, participando apenas em reuniões com as entidades

conveniadas e governamentais, sem perspectiva de ampliação. Algumas falas são

interessantes para mostrar a percepção do coordenador com a construção da rede

socioassistencial.

• “Em tese, na proteção básica, o CRAS deveria coordenar o sistema local. Estamos ainda em fase de construção já que a política nacional e o sistema são recentes.”;

• “ Verificamos que no território há inúmeras entidades que prestam serviços, mas elas não trabalham de forma articulada.”;

• “a gente não tem perna, porque se tivéssemos, nós poderíamos aumentar nossas parcerias...”

além da etapa anterior, busca cadastrar entidades por meio do levantamento dos serviços existentes pela própria equipe técnica do CRAS. 23 Programa da PBH implementado no ano 2000 para desenvolver o trabalho intersetorial entre as políticas sociais, tendo o território e a família como eixos principais. (PBH, 2007) 24 Comentário de um coordenador de CRAS.

91

• “Não, nós não fazemos o encaminhamento, porque nós não temos condições de estabelecer um laço que permita o acompanhamento dessas famílias só se houver um compromisso da entidade parceira,...”;

• “... a Assistência Social realmente conhece muito bem a rede que oferece os serviços socioassistenciais, e pode ser que haja uma orientação ao usuário à possibilidade de existência desses serviços, mas institucionalmente nós não fazemos esses encaminhamentos;” (Entrevista dos coordenadores dos CRAS, 2008).

No que se refere ao trabalho intersetorial entre as demais políticas públicas,

principalmente Saúde e Educação, os coordenadores foram unânimes em relatar

que há maior facilidade em trabalhar em parceria com a Saúde quando se tem o

Programa da Saúde da Família – PSF, do que com a Educação. Esta última exige

muito tempo para sensibilização dos seus atores quanto à importância do trabalho

em conjunto. Essa dificuldade ocorre devido à falta de conhecimento da função dos

CRAS nos territórios, bem como da inexistência de uma prática intersetorial.

A questão do trabalho intersetorial, da relação do poder público e do Terceiro

Setor é muito nova e não se tem nenhuma definição na legislação ou na estrutura da

gestão que caracterize ou defina a forma de execução do trabalho, por isso cada

coordenador de CRAS desenvolve o trabalho conforme seu conhecimento e sua

sensibilidade. Na verdade, é colocado como um desafio para o poder público e para

a sociedade civil trabalhar as parcerias de forma intersetorial em busca de maior

efetividade e maior qualidade dos serviços prestados.

Um ponto dificultador para o desenvolvimento das ações dos CRAS é o que

denominamos como “barreiras territoriais”, ou seja, dificuldades de acesso devido ao

tráfico de drogas (barreira humana ou invisível), gangues rivais dentre outras, e

barreiras geográficas. Identificou-se que na sua grande maioria o tráfico de drogas

dificulta o acesso dos usuários, pois estes não podem se deslocar livremente no

território. Em alguns casos o mesmo ocorre com a equipe técnica, tendo em vista

que em um dos CRAS o coordenador foi baleado num evento, e vários outros têm

que ter conhecimento de lideranças comunitárias da situação do local para

transitarem no território.

Ao analisarmos os dados coletados do funcionamento do CRAS, podemos

perceber um grande potencial em sua constituição, pois, conforme Amorim (1990) a

primeira característica de uma rede é a sua base de distribuição geográfica, tanto o

poder público quanto a sociedade civil estão caminhando para a execução de

serviços que primam pela importância territorial.

92

5.3 Constituição da rede socioassistencial na Polít ica de Assistência Social em Belo Horizonte

Analisaremos as entidades de assistência social em duas tipologias, conforme

o segmento da população atendida e de acordo com as atividades desenvolvidas.

Sendo assim, podemos contemplar a lógica da Assistência Social organizada em

relação ao segmento populacional ou a lógica organizada com bases nos tipos de

necessidades atendidas ou riscos cobertos.

Para Sposati (2006) organizar os serviços na ótica da população

demandatária é olhar a assistência social na perspectiva dos necessitados, e não

para as necessidades e demandas dessa população.

Observa-se que a maioria das entidades trabalha com crianças, adolescentes

ou idosos (figuras 19). Esses são segmentos populacionais prioritários na

assistência social em que o Estado se vê na responsabilidade de desenvolver ações

de proteção social a estes públicos, seja para prevenir ou protegê-los contra risco

pessoal ou social.

93

Figura 19 Entidades que atendem criança, adolescentes, jovens, adultos e idosos Fonte: Dados do Diagnóstico do Terceiro Setor, 2006 e Conselho Municipal de Assistência Social, 2007

94

A distribuição da população se configura a partir da formação da cidade que

se deu do centro para a periferia. Compondo um conjunto de alta densidade e com

padrão espacial semelhante à distribuição do total de organizações, encontram-se

as entidades que atendem crianças, adolescentes e Idosos (figura 19), seguido em

menor proporção as que atendem adultos e jovens25. Estes são, portanto, os

públicos atendidos que mais contribuem para a configuração espacial das

organizações além das que atendem famílias (figura 21), que também têm uma

grande densidade em todo município.

Podemos verificar que as densidades da distribuição espacial das entidades

que atendem crianças e adolescentes coincidem em muitas regiões, no entanto

perceber-se que nas regiões Barreiro e Oeste há uma concentração maior no

atendimento a crianças. Verificou-se na pesquisa que várias entidades atendem

mais de um público concomitantemente, coincidindo principalmente no atendimento

a crianças e adolescentes. Entretanto, não é objeto deste trabalho analisar quais as

entidades desenvolvem ações com mais de um tipo de público. A análise se deu a

partir da individualização dos diversos públicos ou atividades desenvolvidas por

entidade, evitando assim, sobreposição de entidades no georreferenciamento.

Considerando as regionais de Belo Horizonte (figura 19), verificaremos que na

regional Centro-Sul, onde se encontra o CRAS Santa Rita de Cássia, há uma maior

concentração de entidades que atendem crianças, adolescentes e idosos. Nos

estudos demográficos observamos que é uma região em que predominam os idosos.

Quanto às áreas de abrangência dos CRAS e o recorte do público atendido,

podemos observar que somente nos CRAS São José (NO) 26 e Independência (BA)

não há entidades que atendam crianças, adolescentes e idosos (figuras 19). O

CRAS Petrópolis (BA) possui apenas uma entidade que atende a idosos não tendo

nem uma que atenda criança ou adolescentes.

Conforme dados da PBH (2007), nos CRAS Senhor dos Passos e Pedreira

Prado Lopes, que se encontram na regional Noroeste, identifica-se a maior

proporção de Idosos, provavelmente por ser a parte mais antiga da cidade. No

entanto, segundo estudos de Zahredinne (2004), no ano 2000 houve um aumento da 25 Não foi realizado nenhum cruzamento para verificar as entidades que atendem mais de um público. Portanto, toda a análise é feita considerando o atendimento para cada público diferente e não mais de um ao mesmo tempo. 26 Considera-se as seguintes siglas para as regionais de Belo Horizonte: Barreiro (BA), Pampulha (PA), Leste (LE), Noroeste (NO), Nordeste (NE), Oeste (OE), Venda Nova (VN), Centro-sul (CS), Norte (N)

95

periferia na distribuição dos idosos em detrimento de uma diminuição relativa na

área central. Porém, deve-se ressaltar que a proporção de idosos no centro da

cidade ainda continua relevante, principalmente na porção norte da regional Centro-

Sul, ao passo que as porções oeste da regional Leste e leste da regional Noroeste,

onde se encontram os CRAS Senhor dos Passos e Pedreira Prado Lopes, sofrem

um significativo esvaziamento de idosos.

Pode-se observar uma maior proporção de crianças nos CRAS Petrópolis,

Vila São José, Conjunto Paulo VI, Cruzeirinho, Santa Rita e Vila Apolônia e de

adolescentes nos CRAS Conjunto Felicidade, Santa Rita, Conjunto Paulo VI. No que

se refere à proporção de jovens e adultos há uma certa homogeneidade nos

territórios de todos os CRAS.

No atendimento aos jovens (figura 19) somente os CRAS Pedreira Prado

Lopes e Vila Senhor dos Passos (NO), Santa Rita de Cássia (CS) e Conjunto Jardim

Felicidade (N) executam ações. Na mesma direção seguem as entidades que

atendem adultos (figura 19) localizadas somente no CRAS Jardim Felicidade (N),

Novo Ouro Preto e Santa Rosa (PA), Vila Senhor dos Passos (NO), Cruzeirinho (LE)

e Santa Rita de Cássia (CS).

Especificamente na Vila Senhor dos Passos (NO), e Pedreira Prado Lopes

(NO) é onde se tem mais entidades que atendem a estes públicos dentro da área de

abrangência dos CRAS.

Considerando o envelhecimento da população de Belo Horizonte e a sua

periferização, verifica-se que a distribuição espacial das entidades e o tipo de

público atendido pelas entidades deverão ser repensados, tendo em vista a grande

quantidade delas que se localizam na área central de Belo Horizonte e que atendem

principalmente crianças e adolescentes.

96

Figura 20: Entidades que Atendem Pessoas com Vulnerabilidade Social: Pessoas com deficiência, dependentes de substancias psicoativas, grupos étnicos e de gênero, pessoas carentes, outras vulnerabilidades. Fonte: Dados do Diagnóstico do Terceiro Setor, 2006 e Conselho Municipal de Assistência Social, 2007

97

Há outro grupo de entidades que podemos denominar como as que atuam

com públicos considerados vulneráveis (figura 20). Observa-se que não é tão denso

quanto o grupo anterior, mas possui considerável número de entidades do Terceiro

Setor, localizadas na região central de Belo Horizonte, mas também em todas ou

quase todas as regionais. Trata-se das que atendem pessoas carentes, seguidas

por pessoas com deficiência, grupos étnicos, dependentes de substâncias

psicoativas e outras vulnerabilidades. Com exceção das entidades que atendem

dependentes de substâncias psicoativas e grupos étnicos, as demais estão

presentes em todas as regionais.

Seguindo a análise, podemos verificar que a maioria dos CRAS estão

descobertos nos atendimentos aos públicos vulneráveis, no que se refere à

disponibilidade de entidades do Terceiro Setor. O grupo que atende pessoas com

alguma vulnerabilidade social (figura 20) possui uma maior concentração na região

central de Belo Horizonte. A maior concentração dessas entidades ocorre entre

aquelas que realizam atendimento ao que se denominou de “outras

vulnerabilidades” e às pessoas carentes.

No entanto, observa-se que somente os CRAS Santa Rosa (PA) e

Cruzeirinho (LE) possuem entidades dentro do território; os CRAS São José,

Pedreira Prado Lopes (NE) e Santa Rita de Cássia possuem entidades no limite do

território.

Já no que se refere aos atendimentos, somente os CRAS Vila Apolônia (VN),

Novo Ouro Preto (PA) e Vila Senhor dos Passos (NE) possuem entidades que

atendem pessoas com deficiência. O CRAS Mariano de Abreu (LE) é o único que

possui no seu território entidades que atendem a dependentes de substância

psicoativas.

98

Figura 21:Entidades que realizam atendimentos a: Famílias, Trabalhadores, População Em Geral, Grupos Sociais, Organizações Sociais Fonte: Dados do Diagnóstico do Terceiro Setor, 2006 e Conselho Municipal de Assistência Social, 2007

99

As entidades que atendem Famílias e Trabalhadores (figura 21) são as que

têm uma maior densidade em todo município. Apenas os CRAS São José e

Independência não possuem entidades que atendem famílias. Já as que atendem

Trabalhadores estão presentes em 11 CRAS, e somente os CRAS Conjunto

Felicidade(N), Santa Rosa (PA), São José (NE) e Cruzeirinho (LE) não possuem

entidade desta natureza. Ao contrário dessas, as entidades que atendem

organizações sociais estão dispersas em Belo Horizonte, contemplam apenas os

CRAS Novo Ouro Preto (PA), Conjunto Paulo VI (NO) e Morro das Pedras (OE).

Para o atendimento à população em geral e aos grupos sociais não identificamos

nenhuma entidade nas áreas de abrangência dos CRAS.

Consolidando todas as informações, podemos observar no quadro 8, que os

CRAS São José e Independência não possuem nenhuma entidade no seu território,

e os CRAS Novo Ouro Preto e Senhor dos Passos são os que possuem a maior

diversidade de públicos atendidos.

CRAS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Vila Apolônia (VN)

Conj.Jardim Felicidade (N)

Conj. Paulo VI (NO)

Novo Ouro Preto (PA)

São José (NE)

Vila Senhor dos Passos (NE)

Pedreira Prado Lopes (NE)

Morro das Pedras (OE)

Petrópolis (BA)

Independência (BA)

Santa Rita de Cássia (CS)

Cruzeirinho (LE)

Mariana de Abreu (LE)

Arthur de Sá (NO)

Santa Rosa (PA)

Legenda: 1 criança, 2 adolescente, 3 jovem, 4 adulto, 5 idosos, 6 pessoas com deficiência, 7 dependentes de substâncias psicoativas, 8 grupos étnicos e de gênero, 9 pessoas carentes, 10 família, 11 trabalhadores, 12 população em geral, 13 grupos sociais, 14 organizações sociais,15 outras vulnerabilidades. Verde Claro: não possui o atendimento e Verde escuro possui o atendimento do público especificado. Quadro 8: Público atendido por entidades localizadas na área de abrangência dos CRAS Fonte: Dados do Diagnóstico do Terceiro Setor, 2006 e Conselho Municipal de Assistência Social, 2007

100

Podemos observar assim, que a maioria das entidades de Assistência Social

que compõem o Terceiro Setor em Belo Horizonte estão dispersas em todo o

município. No entanto, são poucas as que estão nas áreas de abrangência dos

CRAS. Portanto, a constituição, organização e funcionamento da rede

socioassistencial depende do potencial de articulação e de sensibilização dos CRAS

com as entidades dentro do território e para além dele.

A ausência de entidades que atendam a algum público específico ou que

desenvolve alguma atividade nos territórios dos CRAS reafirma a ideia de Amorim

(1990), que considera necessária a existência de certo grau de diferenciação

urbana, possibilitando a complementaridade funcional, o que torna possível as

relações entre as regiões, consideradas neste estudo como as áreas dos CRAS e as

regionais ou até mesmo dentro da cidade como um todo. Pois, sem essas relações

intra e extra território, não há como se falar em rede urbana.

A partir dos pressupostos da Teoria dos Lugares Centrais apresentado no

capítulo 1, pode-se admitir que a melhor localização dos serviços a serem ofertados

para a população vulnerável, seria encontrada no centro de uma determinada zona,

ou seja, nas áreas de abrangência dos CRAS. Pois, há um limite natural,

determinado pelo limiar da procura (mínimo de procura que justifica a iniciativa da

oferta do bem e serviço) e pelo alcance do serviço (custo ou esforço máximo que a

pessoa está disposto a suportar para usufruir do serviço).

Distribuição espacial das áreas conforme atividades desenvolvidas

pelas organizações do Terceiro Setor

Outro item analisado nas entidades foi as atividades que elas desenvolvem

relacionando-as à Proteção Social Básica e à Proteção Social Especial.

Primeiramente, verificamos todas as entidades que estão vinculadas através

das atividades que desenvolvem a Proteção Social Básica.

Observa-se, na figura 22, que a distribuição espacial das entidades, de

acordo com as atividades desenvolvidas na proteção social básica, segue as

mesmas características do conjunto das entidades, tendo uma maior concentração

na regional Centro-Sul e seu entorno. As atividades de maior densidade são as que

desenvolvem atividades socioeducativas, que coincidem com a distribuição espacial

101

das crianças e adolescentes (figura 19), e entidades que desenvolvem atividades

categorizadas na pesquisa como “outras atividades”, ou seja, que realizam

desenvolvimento de comunidade, juizado de conciliação e questões habitacionais.

Verifica-se que os CRAS Pedreira Prado Lopes e Vila Senhor dos Passos

(NO) são os que possuem a maior concentração de entidades que desenvolvem

atividades socioeducativas e “outras atividades”. Ainda com alta densidade

identificamos as entidades que desenvolvem atividades de inclusão produtiva, nos

territórios dos CRAS Novo Ouro Preto (PA), Morro das Pedras (OE), Pedreira Prado

Lopes e Vila Senhor dos Passos (NO), Cruzeirinho e Mariano de Abreu (LE),

seguido das organizações que desenvolvem atividades de atenção integral à família

e atenção integral ao idoso. A maior concentração dessas entidades se encontra na

regional Centro-Sul, no entanto somente os territórios dos CRAS Vila Apolônia (VN),

Santa Rosa (PA) e Vila Senhor dos Passos (NE) possuem entidades desta natureza.

Finalmente, numa densidade bem menor, encontramos as entidades que trabalham

com a concessão de benefícios eventuais nos CRAS Santa Rita de Cássia (CS),

Santa Rosa (PA), Vila Senhor dos Passos e Pedreira Prado Lopes (NO). As

entidades que trabalham com formação de cidadania, fortalecimento das entidades e

defesa de direitos não se localizam em nenhuma área de abrangência dos CRAS,

mas estão presentes em seis regionais com exceção da Oeste, Pampulha e

Nordeste.

Podemos dizer que, dentro de uma hierarquia na cidade definida por Amorim

(1990), como uma característica essencial na construção de uma rede urbana, as

regionais e as áreas de abrangências dos CRAS funcionariam como cidades locais

que possuem alguns serviços e que são de alcance mínimo e, dificilmente, são

utilizados por pessoas de outras regiões. É claro que há exceções, tal como ocorre

com serviços muito especializados, tradicionais, ou pouco disseminados dentro do

território do município, como é o caso das entidades da Proteção Social Especial.

102

Figura 22: Entidades que realizam atividades da Proteção Social Básica: Benefícios eventuais, inclusão produtiva, socioeducativas, atenção integral a família, atenção integral ao idoso, formação de cidadania e defesa de direito, outras vulnerabilidades) Fonte: Dados do Diagnóstico do Terceiro Setor, 2006 e Conselho Municipal de Assistência Social, 2007

103

Analisando as entidades da Proteção Social Especial, considera-se

importante lembrar que estas trabalham na perspectiva de proteção a riscos sociais

e pessoais violados, diferentemente da Proteção Social Básica, que trabalha com a

prevenção desses riscos.

Classificamos as entidades da Proteção Social Especial (figura 23) em quatro

tipos: (1) Entidades de longa permanência, ou seja, abrigos, asilos, internatos,

albergues, casas de apoio. Identificadas no CRAS Morro das Pedras (OE) e Vila

Apolônia (VN); (2) Entidades que desenvolvem atividades de inclusão da pessoa

com deficiência, que têm maior concentração na regional Centro Sul, (mas em

relação às áreas dos CRAS a densidade está alta especificamente no CRAS Vila

Senhor dos Passos). (3) Entidade que realiza atendimento a dependentes de

substâncias psicoativas, possui uma menor densidade de entidades e não estão

localizadas em nenhuma área de abrangência dos CRAS. E quanto à distribuição

espacial de acordo com as regionais podemos observar que a regional Oeste possui

o maior número de entidades desta natureza seguida da regional Centro-Sul,

Noroeste e Barreiro. (4) E, por fim classificadas como outras as que desenvolvem

atividades como, serviço de proteção contra ameaças, abordagem de rua, medidas

socioeducativas.

104

Figura 23: Entidades que realizam atividades da Proteção Social Especial: Entidades de longa permanência, inclusão da pessoa com deficiência, atendimento a dependentes de substancias psicoativas, outros Fonte: Dados do Diagnóstico do Terceiro Setor, 2006 e Conselho Municipal de Assistência Social, 2007

105

Atualmente, as entidades de assistência social conveniadas com a PBH

identificadas como rede oficial, permitem inferir que há proximidade, do seu

desenho, fluxo e dinâmica, com as redes dendríticas da teoria das localidades

centrais, desenvolvida por Christaller.

Pode-se afirmar, conforme Ávila (2007 p.91), que “na análise de Christaller

realizada para as redes dendríticas, o centro de Belo Horizonte, e seu entorno

imediato, funcionaria como o espaço (cidade) primaz, o qual possui e centraliza

funções políticas e econômicas expressivas ao ponto de concentrar serviços” de

todos os níveis de complexidade, fazendo com que pessoas de outras regiões se

desloquem para atender as suas necessidades. Entretanto neste trabalho, deve-se

observar a dimensão espacial ou a escala como regional administrativa do município

ou as áreas de abrangência dos CRAS para analisar a rede socioassistencial

utilizando com forma espacial dendrítica e conexão interna.

Quanto à formação da rede, pode-se analisá-la utilizando também as

dimensões organizacional e temporal. Em se tratando da dimensão organizacional, a

rede socioassistencial é diversificada e, por isso, possui uma grande variedade de

públicos a serem atendidos e atividades desenvolvidas, pois são heterogêneos os

usuários da Assistência Social. A origem de uma rede fortalecida deve ser

planejada, quando provém de um estudo/pesquisa que incentivará sua criação, ou

espontânea, considerando a demanda do momento e seu fluxo de pessoas e

informações. No entanto, faz-se necessária uma posição propositiva por parte do

poder público na organização dessa rede socioassistencial. A função da rede pode

ser considerada como de realização e de suporte ao poder público, uma vez que há

as duas execuções nos âmbitos das atividades, ou seja, executada diretamente pelo

poder público ou externa, executada pelas entidades do Terceiro Setor. Porém, sua

finalidade sempre se refere à garantia de direito do usuário da Política de

Assistência Social.

Quanto à dimensão temporal, a duração da rede de serviços socioassistencial

é definida como de longa permanência, pois conforme a PNAS/2004 as entidades

devem desenvolver suas atividades de forma planejada, continuada, permanente.

No entanto sua eficácia depende dos atores que estão envolvidos no processo,

sendo assim hora a rede se comporta de forma lenta, hora instantânea.

106

Assim, a rede de proteção ao público usuário da Assistência Social permite a

analogia com as redes geográficas, apesar de ser uma realidade tão nova e

diferenciada daquela que norteou a construção da teoria de Christaller em sua

essência.

Podemos observar, que em Belo Horizonte, por meio das entidades

conveniadas (figura 24), inicia-se um processo de articulação da rede

socioassistencial. Como foi relatado nas entrevistas com os coordenadores dos

CRAS, na maioria deles, existem fluxos de encaminhamento e acompanhamento

dos usuários da Assistência Social que tem no CRAS a porta de entrada dos

serviços, somente com as entidades conveniadas por determinação da SMAAS.

Verificando a distribuição espacial e a quantidade de entidades conveniadas

no município de Belo Horizonte (figura 24) e comparando com as entidades

identificadas na pesquisa (figura 18), observa-se que há uma grande quantidade que

não se encontra na rede oficial do município, na categoria de conveniadas, para

execução indireta de ações de socioassistencial. No entanto, essas entidades

executam tais serviços sem nenhuma parceria ou auxilio do poder público. Outro

ponto observado é a grande quantidade de entidades conveniadas da Proteção

Social Básica que estão fora dos territórios dos CRAS, o que demonstra a

possibilidade de articulação e construção de fluxos de atendimentos com entidades

que se encontram nas respectivas regionais, ou seja, para além dos territórios dos

CRAS. Torna-se necessário, portanto, potencializar a rede em todo o município.

107

Figura 24: Localização da s Unidades de Entidades Conveniadas ao Serviço de Proteção Social Básica - PSB27 Fonte: Adaptação do mapa da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/SMSA de Novembro de 2009.

27 Realizou-se uma sobreposição deste mapa com a base cartográfica das áreas de abrangência dos CRAS.

108

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A definição e o entendimento sobre vulnerabilidade, terceiro setor e

Assistência Social passa a ser fundamental para o bom entendimento e

desenvolvimento deste trabalho. Neste estudo, considerou-se Assistência Social

como uma política pública não contributiva, pautada pela universalidade da

cobertura e do atendimento, proporcionando a equidade aos grupos desfavorecidos,

seja pela questão da renda ou por qualquer outro fator de vulnerabilidade que o

deixe em desvantagem no acesso aos direitos sociais. Isso significa que a

Assistência Social é um dever do Estado e um direito de quem dela necessitar,

podendo ser executada em parceria com a Sociedade Civil, da qual participa as

entidades do terceiro setor.

No estudo realizado o equipamento CRAS torna-se o lugar de referência para

as entidades do terceiro setor, tanto como articulador da rede socioassistencial

composta por essas entidades, como porta de entrada das demandas da população

vulnerável residente na sua área de abrangência.

Portanto, acredita-se que quanto mais próximo os CRAS estiverem da

população vulnerável e das entidades prestadoras de serviços, melhor será o

atendimento frente à realidade da população. Podemos verificar um consenso nos

estudos atuais na área da Assistência Social sobre a compreensão dos processos

sociais que determinam a localização, o arranjo espacial e a evolução dos espaços

urbanos considerando principalmente o alcance mínimo e máximo dos usuários da

Assistência Social aos serviços a serem ofertados.

Ao observarmos quantitativamente a participação do terceiro setor, aqui

representadas pelas entidades de assistência social de Belo Horizonte, podemos

verificar a pontecialidade para implementar uma rede socioassistencial de

atendimento a população vulnerável do município.

Esta rede socioassistencial, para se constituir como eficiente, eficaz menos

desigual, deve ser pensada para além dos territórios dos CRAS. Tendo em vista que

a maioria das entidades se localizam fora das áreas de abrangência dos CRAS,

espera-se que, com a expansão dos equipamentos para mais territórios vulneráveis,

a rede socioassistencial se amplie. Porém, é sabido que não basta ter entidades no

território para a constituição da rede. É necessário que o gestor público cumpra seu

109

papel de articulador e mobilizador da rede de serviços, proporcionando

acessibilidade dos usuários às entidades, seja fora do território ou articulando para

que sejam executadas as ações nos diversos territórios dos CRAS. Observou-se,

por exemplo, que o CRAS Independência não possui nenhuma entidade no seu

território e o CRAS Petrópolis possui entidades apenas na sua divisa, significando

que vários serviços não são executados no território por falta de entidades para

desenvolver tais ações, deixando a desejar o atendimento ao público vulnerável

nestes territórios.

Quanto à forma de distribuição da população vulnerável, podemos dizer que

esta se dá conforme a configuração urbana do município de Belo Horizonte dos dias

atuais, advindo do crescimento desorganizado da periferia, que não permitiu a

muitos o acesso à moradia adequada, proporcionando o aparecimento de várias

vilas e aglomerados. Mesmo Belo Horizonte sendo uma das primeiras cidades do

país a ser planejada, não conseguiu combater as diferenças sociais características

dos grandes centros. A constituição das redes de atendimento da sociedade civil

não acompanhou esse crescimento desordenado, se localizando muitas vezes fora

das áreas de maior vulnerabilidade, e com densidade alta em apenas uma regional,

como é o caso da Centro-Sul, o que pode dificultar o acesso ao usuário.

A Política de Assistência Social, em sua nova lógica de valorizar a

constituição do território e a necessidade da população visa combater mais

eficientemente a exclusão social, procurando estar cada vez mais próxima da

pessoa em situação de vulnerabilidade.

A possibilidade de mapear as entidades de Assistência Social encontradas no

Diagnóstico do Terceiro Setor e no cadastro do Conselho Municipal de Assistência

Social permitiu novas reflexões sobre a constituição da rede socioassistencial. Faz-

se necessário construir uma rede pactuada com a sociedade civil, visando aumentar

o atendimento das pessoas em situação de vulnerabilidade e melhorar a qualidade

dos serviços, promovendo a inclusão social dos usuários da Política de Assistência

Social.

Todos os dados e documentos analisados neste estudo reforçam a ideia de

que ainda não se pode falar, em seu sentido estrito, que Belo Horizonte possui uma

rede de serviços socioassistenciais formada. Como se observou, o que existe é um

conjunto de entidades cuja posição e articulação começam a criar um embrião de

110

uma rede municipal de atendimento socioassistencial, tendo em vista a tímida

relação dos CRAS constituídos a partir das entidades conveniadas com a PBH.

O primeiro ponto que dificulta a existência de uma rede socioassistencial no

município de Belo Horizonte é a falta de conhecimento por parte do poder público

das entidades existentes e de sua localização.

Um segundo ponto importante que dificulta a constituição da rede

socioassistencial em Belo Horizonte é a localização das entidades fora da área de

abrangência dos CRAS. E, por outro lado, identifica-se uma quase inexistência de

articulação com as entidades fora do território e um início de articulação interna

principalmente com as entidades conveniadas.

Terceiro e último ponto: podemos dizer que a falta de entendimento e de

diretrizes para os coordenadores dos CRAS que determinem e orientem o usuário,

as entidades e o governo sobre a importância de se ter uma rede de atendimento

socioassistencial para além das entidades conveniadas com o poder público.

Diante deste estudo apresentado sugere-se um estudo qualitativo de fluxos,

barreiras geográficas e invisíveis que influenciam o acesso do usuário aos CRAS

como forma de continuidade deste trabalho.

Portanto, há um grande desafio posto principalmente para o governo em

articulação com a sociedade civil: desenvolver uma metodologia e diretrizes

unificadas com encaminhamentos e atendimentos para orientar o trabalho dos

CRAS e das entidades, de forma a tornar a rede eficiente e eficaz para se trabalhar

intersetorialmente e, assim, atender o usuário da Política de Assistência Social em

toda sua complexidade.

111

REFERÊNCIAS

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