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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Faculdade de Odontologia ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR DAS COMPLICAÇÕES BUCAIS DA RADIOTERAPIA Fernanda Fonseca Belo Horizonte 2003

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Faculdade de Odontologia

ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR DAS COMPLICAÇÕES BUCAIS DA RADIOTERAPIA

Fernanda Fonseca

Belo Horizonte 2003

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Fernanda Fonseca

ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR DAS COMPLICAÇÕES BUCAIS DA RADIOTERAPIA:

Papel do cirurgião-dentista.

Dissertação apresentada ao Programa

Mestrado da Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Clínicas Odontológicas – Ênfase em

Estomatologia.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Martins

Belo Horizonte 2003

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FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Fonseca, Fernanda F676a Abordagem multidisciplinar das complicações bucais na

radioterapia : papel do cirurgião-dentista / Fernanda Fonseca. - Belo Horizonte, 2003.

94f. Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Martins. Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, Faculdade de Odontologia. Bibliografia.

1. Estomatologia. 2. Boca - Câncer. 3. Radioterapia – Efeitos

colaterais. I. Martins, Carlos Roberto. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Faculdade de Odontologia. IV. Título. CDU: 616.31

Bibliotecária – Marlene de C. Silva Santisteban – CRB 6/1434

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A Deus

Aos meus pais Maria Eugênia e José Aníbal

Pela oportunidade de realização pessoal e profissional que sempre me

proporcionaram,

Doce presença em todos os passos da minha vida,

Exemplos de dedicação e amor.

A minha avó Eugênia

Fonte inspiradora,

Semeadora de coragem, de fé e de perseverança.

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Carlos Roberto Martins, pela constante oportunidade de

aprendizagem, pelo exemplo de pessoa e de profissional, pela conversa amena a

qualquer hora, pela disponibilidade em ajudar sempre.

À amiga Keila, que com sua paciência e sabedoria infinitas, me acolheu e

incentivou nessa jornada.

Aos amigos e pacientes, pela tolerância e por entenderem a minha

ausência e permitirem que eu realizasse o meu ideal.

À minha família, que me incentiva e participa sempre de todas as minhas

conquistas.

Aos professores Helenice de Andrade Marigo Grandinetti, Martinho

Campolina Rebello Horta, Hermínia Marques Capistrano e Franca Arenare Jeunon,

por serem meus referenciais, exemplos profissionais a serem seguidos.

Aos meus colegas Ana Maria, Paulo, Rosana, Fernanda, Flávia, Daniela,

Fabiano e Karla, pelo convívio fraterno e harmonioso e pela conquista de novas e

verdadeiras amizades, pela ajuda e pelo companheirismo.

Ao Prof. Dr. Roberval de Almeida Cruz, pela liderança frente ao Programa de

Mestrado em Odontologia da PUC Minas, por ter nos guiado e nos incentivado.

Às secretárias Angélica, Fátima e Silvânia, por terem nos tolerado com

paciência e carinho por esses dois anos, sempre dispostas a nos ajudar.

À Reni, pela paciência, pelo incentivo e apoio, pela disposição em ajudar

sempre.

À Sílvia, Goreti, Cida e Jane, funcionárias das clínicas de Estomatologia, pela

colaboração e pela amizade.

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Aos médicos do Hospital Luxemburgo, em especial ao Dr. Alvimar e à Drª.

Maria do Carmo, pela disponibilidade e orientações.

Aos amigos do Hospital Heliópolis, onde se iniciou a minha jornada pela

Estomatologia.

À Profª. Drª. Maria Cristina Zindel Deboni, pelos ensinamentos passados

ainda quando estava em São Paulo, e que me direcionam até hoje, pelo incentivo ao

meu crescimento acadêmico.

Ao Dr. Gilceu Pace, em especial, que me mostrou que mesmo frente à mais

dolorosa das doenças, há espaço para o amor, para o aprendizado, para a bondade

e para a dignidade.

A todos os pacientes que têm me ensinado tanto, com sua luta diária e com

sua fé. Que Deus os abençõe.

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Altíssimo glorioso Dio, illumina le tenebre de lo core mio et da me fede dricta,

sperança certa e caritade perfecta, senno et cognoscemento, signore,

che faça lo tuo santo e verace commandamento. Amen.

São Francisco de Assis

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RESUMO

O tratamento dos carcinomas vem tendo progressos importantes, com

elevação dos índices de expectativa de vida dos pacientes. A melhoria da qualidade

de vida desses indivíduos é essencial para sua recuperação e reintegração à

sociedade. O tratamento das neoplasias malignas em região de cabeça e pescoço,

na maioria dos casos carcinomas de células escamosas, é realizado através de

cirurgia e/ou radioterapia. O tratamento radioterápico visa exterminar as células

neoplásicas ou reduzir parte da lesão; no entanto, efeitos secundários nocivos

podem ser provocados às células normais da região irradiada, produzindo

modificações deletérias na qualidade de vida e no estado geral de saúde dos

pacientes, durante e após o tratamento. Suas manifestações clínicas mais

freqüentes na cavidade bucal são: xerostomia, mucosite, disgeusia, disfagia,

candidíase, trismo muscular, alterações do ligamento periodontal, cáries de

irradiação, osteorradionecrose e dermatite. A oncologia é uma das especialidades

médicas onde o conceito de multidisciplinaridade se faz necessário. O cirurgião-

dentista deve estar presente nas equipes terapêuticas, atuando em diferentes

momentos e áreas da oncologia. Assistência odontológica a pacientes oncológicos

se refletirá em redução dos índices de freqüência e de morbidade destas

complicações e conseqüente melhoria da qualidade de vida desses pacientes. Este

trabalho procura descrever os efeitos deletérios causados pela radioterapia, realizar

levantamento das terapias utilizadas para sua prevenção e tratamento, propor

protocolo abrangente de atendimento ao paciente oncológico a ser submetido a

tratamento radioterápico e evidenciar a importância da participação de dentistas em

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equipe multidisciplinar de tratamento oncológico, estimulando o interesse dos

médicos e cirurgiões-dentistas nessa área de atuação.

PALAVRAS-CHAVE: Radioterapia/efeitos, neoplasias bucais/tratamento, mucosites, estomatites.

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ABSTRACT

Treatment of oral cancer has improved over the last years, reflecting in

better life conditions for the patients. In this context, the improvement in quality of live

is essential to patient’s recovery and reintegration to the society. Treatment for head

and neck malignancies usually consists of surgery, radiotherapy or both. Ionizing

radiation aims to exterminate neoplastic cells or to diminish the tumor size. However,

both treatments may result in long-term and often permanent morbidity, affecting

negatively quality of life and patients’ systemic health, during and after de radiation

therapy. Oral cavity and salivary glands exposed to high doses of radiation can

develop one or more of this side effects: xerostomia, mucositis, dysgeusia, nutricional

complications and difficulties to eat, candidiasis, muscular trismus, periodontal

disease, radiation caries, osteoradionecrosis and dermatitis. Care of patient receiving

or about to receive radiation therapy is best managed by a collaborative effort of

dentists, radiotherapists, and other health care professionals involved in oncological

treatment. If dentists participate in the early stages of treatment planning, necessary

procedures can be performed with minimal disruption of radiation therapy. Although

the sequelae associated with irradiation are potentially serious, they, too, can be

reduced or prevented entirely by prompt, effective dental management. This paper

was elaborated to assess the dentist’s role in a multidisciplinary team of oncology

care and to develop a protocol of management of the irradiated patient.

Key Words: Radiotherapy / adverse effects, oral neoplasia / treatment, mucositis,

stomatitis.

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SUMÁRIO

Lista de Tabelas

Lista de Quadros

Lista de Abreviaturas

1. Introdução ..............................................................................................14

2. Revisão de Literatura .............................................................................18

2.1. Radioterapia.................................................................................18

2.2. Complicações bucais da Radioterapia .........................................21

2.2.1. Xerostomia........................................................................22

2.2.2. Mucosite............................................................................25

2.2.3. Disgeusia...........................................................................29

2.2.4. Disfagia..............................................................................29

2.2.5. Trismo muscular................................................................30

2.2.6. Candidíase........................................................................31

2.2.7. Alterações do ligamento periodontal.................................33

2.2.8. Cárie de irradiação............................................................34

2.2.9. Osteorradionecrose...........................................................37

2.2.10. Dermatite...........................................................................44

2.3. Manejo das complicações bucais da Radioterapia......................45

2.3.1. Xerostomia.. ..................................................................45

2.3.2. Mucosite.........................................................................50

2.3.3. Disgeusia..... ..................................................................56

2.3.4. Disfagia........................... ...............................................57

2.3.5. Trismo muscular...............................................................58

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2.3.6. Candidíase......................................................................61

2.3.7. Alterações do ligamento periodontal................................62

2.3.8. Cárie de irradiação...........................................................62

2.3.9 Osteorradionecrose..........................................................64

2.3.10 Dermatite..........................................................................71

3. Protocolo de atendimento a pacientes que irão se

submeter à radioterapia ............................................................................72

3.1. Intervenções odontológicas prévias à radioterapia.........74

3.2. Intervenções odontológicas durante a radioterapia........79

3.3. Intervenções odontológicas após a radioterapia.............81

4. Considerações finais ............................................................................83

Referências Bibliográficas...........................................................................87

Anexo

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Fatores de risco para a mucosite oral radioinduzida ..................28

Tabela 2 – Agentes utilizados para abordagem da mucosite, sua

classificação e possível mecanismo de ação.................................................55

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Classificação de ORN proposta por Epstein (1987)....................40

Quadro 2- Composição de saliva artificial (CASTRO et al., 2002)................46

Quadro 3- Gradação da mucosite bucal segundo o critério WHO................51

Quadro 4- Preparo odontológico pré-tratamento radioterápico.....................78

Quadro 5 - Procedimentos aplicados durante a radioterapia........................80

Quadro 6 - Procedimentos aplicados após a radioterapia............................82

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LISTA DE ABREVIATURAS

RxT – Radioterapia.

DNA – Ácido desoxirribonucléico.

rad – Radiation absorved dose.

Gy – Gray.

cGy – centiGray.

WHO – World Health Organization.

ORN – Osteorradionecrose.

ATM – Articulação têmporomandibular.

TNF – Fator de necrose tumoral.

EGF – Fator de crescimento epidérmico.

G-CSF – Fator estimulador de colônia de granulócito.

GM-CSF – Fator estimulador de colônia de granulócito e macrófago.

PGE2 – Prostaglandina E2.

TGF – Fator de transformação de crescimento.

PGF – Fator de crescimento derivado de plaquetas.

TGF-β - Fator de transformação de crescimento - β.

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1. INTRODUÇÃO

A urbanização, a industrialização e a maior expectativa de vida da população

são fatores que influenciam, cada um a seu modo, a alteração do perfil de saúde dos

brasileiros, determinando preocupação crescente com a incidência das doenças

evolutivas, entre elas o câncer (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996).

A cavidade bucal é importante local de ocorrência de neoplasias malignas.

Em levantamento realizado pelo Ministério da Saúde no ano de 2002, o câncer de

boca foi classificado entre as dez neoplasias malignas mais freqüentes em

indivíduos de ambos os sexos. A estimativa de novos casos de câncer bucal, para

2003, é de 10.635 pacientes e a de óbitos, 3.245 pacientes (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2003).

O carcinoma espinocelular (carcinoma epidermóide ou carcinoma de células

escamosas) é a neoplasia maligna mais freqüente da região bucal, representando

aproximadamente 95% dos casos diagnosticados (FLAITL, 1996). Essa lesão pode

acometer qualquer área da cavidade bucal; entretanto, em grandes séries, as

localizações favoritas são o assoalho da boca, a língua, os lábios, a mucosa jugal, a

gengiva e o palato. Nos estágios iniciais, os cânceres da cavidade bucal aparecem

como placas firmes e elevadas, ou como áreas irregulares, ásperas ou verrucosas

de espessamento da mucosa, com coloração esbranquiçada ou eritematosa. Com

aumento dessas lesões, formam-se nódulos com posterior aparecimento de necrose

central, formando úlceras de contornos irregulares, endurecidas e com bordas

elevadas, geralmente assintomáticas (REGEZZI e SCIUBBA, 2000; COTRAN et al.

2000; SPOLIDORIO et al., 2001).

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Em vias aerodigestivas superiores, da mesma forma que na cavidade bucal,

tem-se o carcinoma espinocelular como o tipo histológico de maior freqüência dentre

as neoplasias malignas que acometem essa área. Na maioria dos pacientes com

câncer de cabeça e pescoço, o tumor primário pode ser facilmente visualizado pelo

exame cuidadoso da região; contudo, seu diagnóstico geralmente ocorre em fases

avançadas da doença. A incidência desses tumores é alta no Brasil e em países em

desenvolvimento e estudos epidemiológicos ratificam o quadro como problema de

saúde pública (KOWALSKI et al. 1994; GONÇALVES, 2001).

O tratamento das neoplasias malignas de cabeça e pescoço a ser instituído

depende, de um modo geral, do sítio anatômico acometido, de sua história natural,

de seu comportamento biológico, de suas características histológicas, de seu

estadiamento clínico e das condições físicas do paciente. A cirurgia é o tratamento

de escolha e a radioterapia (RxT) pode ser adjuvante à cirurgia, excluindo os casos

nos quais essa última não estiver indicada (LOPES et al., 1998; BARASCH et al.,

1998; SALVAJOLI et al., 1999).

A terapia do câncer de boca é complexa, podendo associar a cirurgia, a

radioterapia ou a quimioterapia. Independentemente do tipo de terapia a ser

utilizada, o paciente estará sempre correndo o risco de sofrer complicações sérias

na cavidade oral. É esperado que cerca de 50% dos pacientes com câncer de

cabeça e pescoço desenvolvam algum tipo de complicação na região oral em

decorrência da terapia. Essas complicações incluem dor, alteração da forma e da

função, mucosite e alteração do paladar (disgeusia) levando à perda de apetite,

sangramento, xerostomia, cárie, infecção e, em casos extremos, osteorradionecrose

da mandíbula (MIGLIORATI e MIGLIORATI, 2000; SPOLIDORIO et al., 2001).

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A possibilidade do aparecimento das complicações pode estar diretamente

relacionada às condições de saúde bucal do paciente, e ao tipo de terapia a ser

utilizada. As complicações podem ser transientes e desaparecer com o término do

tratamento. Outras podem tornar-se crônicas, requerendo cuidados constantes por

parte do cirurgião-dentista. Desse modo, é de grande importância que o profissional

da odontologia conheça as modalidades do tratamento do câncer de boca, as

complicações que poderão resultar de sua terapia, e que estabeleça um plano de

tratamento adequado para cada paciente. O preparo da cavidade oral deve ser

realizado, preferencialmente, antes do início da terapia do câncer, e deve continuar

durante e após a terapia (MIGLIORATI e MIGLIORATI, 2000).

O tratamento dos tumores da cavidade oral envolve uma ampla variedade de

opções terapêuticas, cuja escolha será determinada pela extensão, localização e

tipo histológico da lesão e estádio da doença, pelo estado clínico do doente e pelos

objetivos do tratamento: se curativo ou paliativo. Podem variar de uma simples

exérese para cicatrização por segunda intenção, até ressecções extensas que

podem envolver complexas reconstruções de partes moles ou mandíbula, com

retalhos pediculados ou anastomoses microcirúrgicas, em combinação ou não com

as linfadenectomias (esvaziamentos) cervicais, além da radioterapia exclusiva ou

adjuvante e quimioterapia. Como conseqüência direta desse aumento de

complexidade, a morbidade por procedimentos terapêuticos e o risco de seqüelas

funcionais e estéticas também cresceram (ARAÚJO FILHO e YOON, 2000).

A cirurgia de cabeça e pescoço é uma especialidade médica na qual a

abordagem multidisciplinar se faz necessária para o correto diagnóstico,

planejamento e tratamento. A integração entre os diversos profissionais de saúde,

além de resultar em melhores índices de cura e de sobrevida, proporciona melhora

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da qualidade de vida dos pacientes. Especificamente em tumores malignos

avançados da boca, a odontologia é uma especialidade essencial nos aspectos

preventivo, curativo e reabilitador, sendo, portanto, fundamental a sua integração

com as equipes multidisciplinares de oncologia (ROTHWELL, 1987; MIGUEL e

CURI, 2000).

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Radioterapia

A radioterapia (RxT) é a modalidade terapêutica que utiliza as radiações

ionizantes com o objetivo de destruir as células neoplásicas, visando uma redução

ou o desaparecimento da neoplasia maligna (LIMA et al., 2001).

Quando um feixe de radiação atravessa um material biológico, pode ser

absorvido pelo tecido ou levar a uma excitação dos elétrons ou ionização dos

átomos ou moléculas que constituem estes tecidos. A radiação de energia elevada,

capaz de expulsar um ou mais elétrons do átomo ou molécula, é considerada

ionizante. O ponto final importante desta interação está localizado na liberação de

quantidades relativamente elevadas de energia capaz de exercer um dano

localizado em uma célula, o que é considerado como resultado terapêutico, se

ocorrer em uma célula neoplásica, ou nocivo, se a célula em questão fizer parte da

constituição normal do organismo. Aqui figura, então, a chave do uso bem sucedido

da radiação ionizante no tratamento de distúrbios dos seres humanos: a habilidade

de destruir seletivamente as células malignas, ainda preservando a função normal

dos tecidos (LEHNERT, 1999; LIMA et al., 2001).

As células malignas e as células normais diferem pouco em sua resposta à

radiação ionizante. Ambos os tipos de células são mais sensíveis durante a fase

mitótica do ciclo celular, e menos na fase S, de síntese de DNA. Os tumores

encontram-se habitualmente em maior proliferação celular, e, portanto com mais

células em mitose do que os tecidos normais e, conseqüentemente, sofrem maior

dano pela radiação (PINTO e LEITE, 1999).

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A radioterapia pode apresentar três finalidades diferentes: curativa, quando

pretende exterminar as células neoplásicas; remissiva, quando visa a reduzir parte

da neoplasia maligna ou auxiliar os tratamentos cirúrgico ou quimioterápico

coadjuvantes, e sintomática, quando indicada para tratamento da dor localizada

(CAIELLI et al., 1995). A radiação pode ser considerada capaz de ionizar direta ou

indiretamente o tecido-alvo. Esta pode agir diretamente sobre um alvo crítico dentro

da célula (DNA e membranas celulares) e causar o dano, ou pode agir indiretamente

sobre o alvo, através de uma série de substâncias químicas oxidativas chamadas

radicais livres, que são produzidos por meio da interação complexa da radiação com

a água intracelular (radiólise) e as moléculas de oxigênio.Os radicais livres são de

grande importância na RxT, pois fornecem os meios pelos quais o dano da radiação

pode ser intensificado (BERNSTEIN et al., 1993).

Atualmente, dois tipos gerais de técnicas são empregados clinicamente pela

radioterapia – a braquiterapia e a teleterapia. Na braquiterapia, a fonte de radiação é

colocada dentro ou próximo ao volume-alvo, ou ainda pode ser implantada através

de agulhas introduzidas diretamente na área tumoral. Exemplos desta técnica são a

radiação intersticial e intracavitária utilizadas no tratamento de muitos tumores

ginecológicos e da cavidade bucal. Já a teleterapia, que é a forma de tratamento

mais empregada, usa uma fonte de radiação posicionada a certa distância do

paciente. São exemplos de aparelhos utilizados pela teleterapia: tipo Cobalto 60,

aceleradores lineares, irradiação de ortovoltagem, irradiação betatron, nêutrons e os

p-mésons (LIMA et al., 2001).

A escolha do tipo de radiação e da energia a serem utilizados baseia-se em

parâmetros geométricos do volume-alvo. Este inclui o tumor conhecido, como

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determinado por exames clínicos e radiológicos, e potenciais vias de disseminação

regional (PINTO e LEITE, 1999).

A RxT exclusiva ou adjuvante à cirurgia prossegue de modo bem estabelecido

na abordagem aos tumores avançados em cabeça e pescoço. Por muitos anos a

unidade de dose usada foi o rad (radiation-absorved dose). A unidade utilizada

atualmente pelos radioterapeutas para medir a dose de radiação aplicada ao

paciente é Gray (Gy) – em homenagem ao físico e radiobiólogo inglês L.H. Gray – 1

Gy = 100 rad = 100 cGy (centiGray). Em geral, a dose total, com finalidade

terapêutica radical, é elevada e varia de 50 a 80 Gy. Esta dose é geralmente de

forma fracionada, sendo o fracionamento convencional a modalidade mais utilizada.

Neste esquema os pacientes recebem fração diária de 1,8 a 2,0 Gy, uma vez ao dia,

5 dias na semana, por um período de 5 a 7 semanas de tratamento. A vantagem de

se aplicar a dose fracionada da radiação é permitir que o tempo favoreça a

reparação dos tecidos saudáveis e que o tumor diminua seu volume lentamente

(ROTHWELL, 1987; SALVAJOLI et al., 1999; LIMA et al., 2001).

A região a ser tratada pela RxT recebe o nome de campo de radiação, que é

definido pelo médico radioterapeuta e por um físico. Estes profissionais são os

responsáveis pelo planejamento da RxT. De acordo com Engelmeier & King (1983) e

Abreu e Silva (2000), o tamanho e a localização do campo de radiação poderão

influenciar nas complicações do tratamento radioterápico.

A intenção do tratamento radioterápico é direcionar uma dose uniforme de

radiação à massa tumoral, enquanto a dose recebida pelos tecidos circunjacentes à

neoplasia é minimizada (TOLJANIC e SAUNDERS, 1984).

Entretanto, efeitos secundários nocivos podem ser provocados nas células

normais da região irradiada, produzindo modificações deletérias na qualidade de

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vida e no estado de saúde dos pacientes, durante e após o tratamento. A RxT

produz alterações reversíveis e irreversíveis aos tecidos sadios, dependendo do tipo

de radiação empregada, sua dose total, esquema de fracionamento utilizado, tipo

histológico, estadiamento e localização do tumor, faixa etária do paciente, sua

performance funcional, suas condições físicas gerais, nutricionais, comorbidades,

fatores sociais e psicológicos (ROTHWELL, 1987; WHITMAYER, 1997; PEREZ et

al., 1997; PERNOT et al., 1997; GONÇALVES, 2001; SPOLIDORIO et al., 2001).

As reações adversas à RxT são classificadas em agudas e tardias. A

morbidade aguda ocorre durante o tratamento ou até três meses subseqüentes e os

efeitos tardios podem manifestar-se vários meses ou mesmo anos após o

tratamento, acometendo particularmente tecidos de maior especificidade celular

(PEREZ et al., 1997).

Todos os pacientes submetidos a RxT para o tratamento do câncer em região

cabeça e pescoço tendem a desenvolver complicações bucais (BERGER e KILROY,

1997). Os principais efeitos nocivos à cavidade bucal se refletem em pele, mucosas,

ossos, glândulas salivares e dentes. As manifestações clínicas que ocorrem com

mais freqüência são: xerostomia, mucosite, disgeusia, disfagia, trismo muscular,

candidíase, alterações do ligamento periodontal, cárie de irradiação,

osteorradionecrose e dermatite (TOLJANIC e SAUNDERS, 1984; CAIELLI et al.,

1995; SCULLY e EPSTEIN, 1996; SALVAJOLI et al., 1999; SILVERMAN, 1999; DIB

et al., 2000; MIGUEL e CURI, 2000; GONÇALVES, 2001; LIMA et al., 2001).

2.2. COMPLICAÇÕES BUCAIS DA RADIOTERAPIA

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2.2.1. XEROSTOMIA

A xerostomia é um dos mais freqüentes efeitos colaterais da irradiação de

região de cabeça e pescoço. Quando a radiação é aplicada à região das glândulas

salivares, a função destas pode se tornar reduzida ou o tecido glandular pode ser

destruído, por ser este tecido altamente susceptível à ação deletéria da RxT

(TOLJANIC e SAUNDERS, 1984, SCULLY e EPSTEIN, 1996; SPOLIDORIO et al.,

2001).

A ação da RxT sobre as glândulas salivares provoca alterações qualitativas e

quantitativas no fluxo salivar (CAIELLI et al., 1995). Os sintomas de xerostomia

iniciam-se, geralmente, a partir da 2ª semana de tratamento radioterápico, após

1000 a 2000 cGy. Abaixo de 3000 cGy as modificações incluem inflamação, com

edema e dor, e podem ser reversíveis. Acima de 6000 cGy, as modificações

costumam ser permanentes (ROTHWELL, 1987; CAIELLI et al., 1995; LOPES et al.,

1998).

Sabe-se que a saliva é essencial para a manutenção da saúde oral, tendo

várias funções, dentre elas: lubrificação, manutenção da umidade, regulação do

equilíbrio hídrico, assim como ações antimicrobianas, de tamponamento, de limpeza

e solvente (TOLJANIC e SAUNDERS, 1984).

A exposição das glândulas salivares à radiação induz a ocorrência de fibrose,

degeneração gordurosa, atrofia acinar e necrose das células deste tecido (LIU et al.,

1990, CAIELLI et al., 1995, LOPES et al., 1998).

Histologicamente, as glândulas salivares irradiadas desenvolvem um edema

inicial, seguido de graus variáveis de fibrose e degeneração gordurosa,

acompanhados por degeneração progressiva dos capilares sangüíneos (TOLJANIC

e SAUNDERS , 1984).

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Especula-se se o dano ao tecido glandular é causado pelos efeitos diretos da

radiação sobre as células secretoras e os ductos, ou se é secundário à lesão das

delicadas estruturas vasculares, com conseqüente aumento da permeabilidade

vascular, edema intersticial e infiltrações de células inflamatórias (SPOLIDORIO et

al., 2001).

Os ácinos serosos são os mais radiossensíveis e têm suas células

danificadas primeiramente. As células mucosas são danificadas logo após e as

células do ducto, por último. Esta seqüência se reflete no curso clínico da

xerostomia, com a saliva se tornando mais espessa e viscosa, com coloração às

vezes escurecida, espumante e ácida durante as primeiras 2 ou 3 semanas de

tratamento e diminuindo consideravelmente de volume após isso (ROTHWELL,

1987; CAIELLI et al., 1995; SCULLY e EPSTEIN, 1996; SILVERMAN, 1999). Estas

alterações dizem respeito não apenas ao volume de saliva, mas também à sua

viscosidade e pH, níveis de imunoglobulinas e eletrólitos (alterações quantitativas e

qualitativas). Há acentuada diminuição do pH, da concentração total de bicarbonato

e da capacidade tampão da saliva, o que a torna mais ácida (LIU et al., 1990;

SCULLY e EPSTEIN, 1996; SPOLIDORIO et al., 2001).

O paciente apresenta queixas de secura bucal, sensação de queimação,

fissuras nas comissuras labiais, atrofia da superfície dorsal da língua, dificuldade em

usar próteses, sede acentuada, perda de paladar, dificuldade de falar, deglutir e

manter higiene bucal adequada (ROTHWELL, 1987; LOGEMANN et al., 2001).

A redução do fluxo salivar também tem efeito importante na composição da

microbiota oral. A população de bactérias cariogênicas aumenta às expensas de

microrganismos não-cariogênicos, aumentando a susceptibilidade do paciente à

cárie dentária (TOLJANIC e SAUNDERS, 1984; CAIELLI et al., 1995).

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Alguns pacientes que receberam altas doses de radiação ionizante em região

de glândulas salivares maiores podem apresentar redução da produção salivar em

um primeiro momento. Após o término da RxT, pode haver melhora do quadro de

xerostomia; no entanto, em alguns casos, a saliva produzida a partir de então pode

ter sua composição alterada, com baixos níveis de proteínas antimicronianas. Assim,

estes pacientes estarão sob risco constante de formação de cáries,

desmineralização dentária e doenças periodontais (LIU et al., 1990). A hipofunção

salivar também resulta em um risco proporcionalmente aumentado de

desenvolvimento de infecções mucosas, sendo os pacientes tipicamente acometidos

por fungos (BARASCH et al., 1998; SPOLIDORIO et al., 2001).

A duração da hipofunção das glândulas salivares varia de paciente para

paciente. Algum tipo de regeneração pode ocorrer vários meses após o tratamento,

e os sinais e sintomas indesejáveis da xerostomia podem ser modificados.

Entretanto, a recuperação de saliva adequada para proporcionar conforto oral e

restabelecimento de função pode ocorrer somente em 12 meses. Em alguns

pacientes, a saliva permanece alterada indefinidamente e esse fato é responsável

pela maior parte das queixas pós-tratamento radioterápico (LOPES et al., 1998;

SILVERMAN, 1999). A sensação de boca seca pode diminuir, em alguns casos, a

partir de hipertrofia compensatória de tecido glandular não-irradiado (SCULLY e

EPSTEIN, 1996).

O grau de acometimento da xerostomia depende da dose total irradiada na

região e do volume e tipo de tecido glandular irradiado (LIU et al., 1990).

A xerostomia é importante efeito deletério da RxT, uma vez que leva a

desconforto, perda de paladar e apetite, dificuldades de fala, mastigação, deglutição

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e higienização oral, bem como afeta negativamente a qualidade de vida do paciente

(SILVERMAN, 1999).

2.2.2. MUCOSITE

A mucosite é uma reação aguda da mucosa em virtude da morte das células

precursoras da camada basal do epitélio, com conseqüente diminuição da

renovação celular (CAIELLI et al., 1995; SEGRETO e SEGRETO, 2000). Inicia-se

como um processo de inflamação da mucosa oral que predispõe a infecções

oportunistas, extremamente doloroso e que muitas vezes evolui para a formação de

múltiplas úlceras na cavidade oral, impedindo a alimentação, a fala e até mesmo a

seqüência imediata do tratamento irradiante (DIB e CURI, 1999, GONÇALVES,

2001). A mucosite é o efeito agudo de maior freqüência e o maior fator dose-

limitante para a RxT na região de cabeça e pescoço. Deve ser entendida como um

efeito adverso agudo evidenciado clinicamente por uma sintomatologia complexa,

incluindo em sua evolução outras complicações, como a xerostomia, a alteração do

paladar, a disfagia, a odinofagia e quadros de infecções oportunistas (DIB et al.,

2000).

As alterações variam desde áreas eritematosas até ulcerações recobertas por

membranas fibrino-purulentas, doloridas, que são vias potenciais de infecção

(LOPES et al., 1998).

Observa-se a mucosite usualmente após a 2ª semana de RxT, com

aproximadamente 2000 cGy irradiados (GONÇALVES, 2001). Inicialmente o

paciente apresenta queixa de desconforto e secura da mucosa. As regiões de menor

queratinização ou de queratinização ausente são geralmente as mais afetadas,

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como a mucosa jugal, lábios, soalho bucal, palato mole, ventre e bordo lateral de

língua (LOPES et al., 1998).

Sonis (1998) apresentou um modelo teórico para explicar a patogênese da

mucosite oral em quatro fases distintas, seqüenciais e interdependentes:

a) Vascular / inflamatória: é caracterizada pela injúria epitelial e do

tecido conjuntivo pela ação da quimio e/ou radioterapia. Há liberação e

atuação de interleucinas e TNF, que induzem uma resposta inflamatória

atípica e acentuam a vascularidade subepitelial – aumento da permeabilidade

e congestão dos vasos sangüíneos.

b) Epitelial: O tecido normal é afetado inespecificamente pelo dano

direto ou indireto à síntese de DNA. É possível que a experiência dos

sintomas sejam evidentes a partir deste momento. A fase epitelial pode ser

mais profunda em termos de produção de lesões ulcerativas. Redução da

renovação epitelial resulta na atrofia e, inicialmente é sincrônica à fase

vascular. O eritema da mucosa pode representar a evidência clínica da

combinação entre o aumento da vascularidade e a redução da espessura

epitelial. Com o tecido atrófico e a renovação inibida, traumas funcionais

podem levar a ulceração.

c) Ulcerativa / microbológica: é a mais sintomática e, portanto de

maior complexidade, representada pela interação de fatores extrínsecos e

intrínsecos. Infecções oportunistas ocorrem principalmente por bactérias

Gram negativas, vírus ou fungos, decorrentes do desequilíbrio da microbiota

oral.

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d) Cicatrização: inclui elementos relacionados à proliferação

celular, diferenciação, normalização do quadro hematológico e controle da

microbiota oral.

O mecanismo pelo qual ocorre a mucosite baseia-se no fato de que a mucosa

oral apresenta uma alta atividade mitótica em função do alto “turnover” celular, isto é,

devido ao alto grau de descamação, há uma necessidade contínua de multiplicação

celular para recobrir a mucosa oral. A RxT age principalmente nas células com alta

atividade mitótica, de forma que a mucosa é intensamente afetada, perdendo a

capacidade de superar o processo normal de esfoliação (ROTHWELL, 1987; DIB e

CURI, 1999).

A mucosite oral severa, representada por ulceração confluente, impede que o

paciente tenha um estado nutricional adequado, levando à queda do seu estado

geral e, desse modo, pode ser necessária a interrupção da RxT temporária ou

definitivamente (DIB et al., 2000).

A mucosite geralmente persiste durante a RxT e continua por 1 a 2 semanas

após o término do tratamento. A menos que infecções secundárias tornem-se

severas, a mucosite começa a diminuir dentro de poucas semanas depois de

cessado o tratamento (Caielli et al., 1995).

O conhecimento dos fatores de risco relacionados ao tratamento e/ou ao

paciente, adicionados à sintomatologia, podem indicar qual intervenção a se realizar

sobre mucosite e demais complicações bucais radioinduzidas. As medidas de

prevenção e controle objetivam interferir direta ou indiretamente no mecanismo da

inflamação, dor, infecção e cicatrização, em forma de protocolos ou isoladamente.

Porém, pela complexidade da etiopatogenia da mucosite, ainda não há consenso

sobre esta questão (Gonçalves, 2001).

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A etiopatogênese da mucosite é complexa, visto que fatores relacionados ao

tratamento e ao paciente são determinantes na evolução severa da reação.

Observa-se, atualmente, a tendência de refinar a identificação destes fatores e,

conseqüentemente, propiciar intervenções profiláticas e terapêuticas de maior

espectro – tabela 1 (Gonçalves, 2001).

Tabela 1 – Fatores de risco para a mucosite oral radioinduzida Autores Fatores de risco Rothwell & Spektor, 1990 Scully & Epstein, 1996 Berger & Kilroy, 1997 Silverman, 1999

Tipo de radiação Fracionamento Dose, volume do campo e sítio anatômico Terapia multimodal Tempo de tratamento

Dose, 1995 Scully & Epstein, 1996

Pacientes pediátricos (≤ 20 anos) Pacientes idosos (≥65 anos)

Deham et al., 1999 Susceptibilidade individual Dose, 1995 Pobre performance funcional

Malnutrição Scully & Epstein, 1996 Berger & Kilroy, 1997 Silverman, 1999 Raber-Durlacher, 1999

Lesões orais/dentais pré- existentes Pobre higiene oral Ausência de cuidados orais antes do tratamento Uso de prótese dental

Rothwell & Spektor, 1990 Tabagismo e etilismo Trauma à mucosa oral

Raber-Durlacher, 1999

Alterações salivares

Epstein et al.,2000 Dumbrique et al, 2000

Diminuição de EGF

Archibald et al., 1986 Desequilíbrio da microbiota oral Mucke et al., 1998 Infecções oportunistas Gonçalves, 2001.

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2.2.3. DISGEUSIA

Alterações de paladar ocorrem geralmente associadas à modificação do fluxo

salivar e à ação direta da RxT sobre os botões gustativos linguais, com uma redução

de 50% na percepção a amargos e ácidos. As papilas gustativas expostas à

irradiação sofrem atrofia e gradualmente o paciente sente dificuldade de percepção

do paladar. Nos campos faciais de irradiação, nos quais a mucosa olfatória esteja

incluída, o sentido do olfato também pode sofrer comprometimento: assim, sabendo-

se que a estimulação do fluxo salivar e os sentidos do paladar e do olfato estão

intrinsecamente relacionados, sendo regulados por reflexos do sistema nervoso

central e autônomo, há claramente um sinergismo dessas complicações (DIB et al.,

2000).

A perda de paladar vai ocorrendo de acordo com a dose de radiação (240 –

400 cGy) e pode ser um problema transitório ou não (DIB et al., 2000). Com uma

dose acumulativa de aproximadamente 3000 cGy a perda de paladar vai

aumentando até a ausência quase completa. Pode-se atingir um ponto onde o

paciente perde de maneira significativa o paladar, não distinguindo substâncias

doces e não diferenciando ácidos de amargos (CAIELLI et al., 1995). Segundo

Rothwell (1987), a restauração parcial ou total do paladar ocorre entre 60 a 120 dias

após o término da RxT. Alguns pacientes podem se apresentar com hipogeusia

(redução residual na acuidade do paladar) ou com disgeusia (dano permanente).

2.2.4. DISFAGIA

Ocorre dificuldade de deglutição - disfagia- que pode acarretar problemas

nutricionais, fazendo com que os pacientes percam peso durante a RxT,

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comprometendo o seu estado físico pela dificuldade de mastigação e deglutição dos

alimentos (ROTHWELL, 1987). A disfagia aparece ao redor da 2ª e 3ª semanas de

tratamento radioterápico (CARDOSO, 2002).

A redução do fluxo salivar traz dificuldades para a correta lubrificação e

umedecimento dos alimentos e a presença de quadro de mucosite pode tornar a

mastigação extremamente dolorosa. A RxT pode também causar fibrose e atrofia

dos músculos da faringe, complicando ainda mais o quadro de disfagia

(ROTHWELL, 1987; CAIELLI et al., 1995). A diminuição do reflexo da deglutição e o

peristaltismo podem permanecer por até 2 anos, quando não estimulados, podendo

ainda ser observados em alguns pacientes por até 10 anos (CARDOSO, 2002).

2.2.5. TRISMO MUSCULAR

O paciente pode apresentar trismo muscular, com dificuldade de abertura da

cavidade bucal pela destruição celular e fibrose do tecido muscular e pelo edema

induzidos pela radiação.O grau de restrição de abertura bucal depende da dose de

radiação, da localização do tumor e da distribuição da radiação uni ou bilateral. A

abertura diminuída ou movimentos limitados da mandíbula podem ser debilitadores,

visto que podem ocasionar dificuldades na mastigação, na fala, na manutenção da

higiene bucal e na manipulação odontológica (ROTHWELL, 1987; CAIELLI et al.,

1995; CARDOSO, 2002).

Desordens da articulação temporomandibular (ATM) podem se desenvolver

devido a ansiedade, depressão e estresse associados ao câncer. Fibrose tecidual

que se forma após Rxt ou cirurgia, perda de continuidade da mandíbula devido à

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cirurgia ou à fratura patológica também podem resultar em alterações da ATM

(SCULLY e EPSTEIN, 1996).

2.2.6. CANDIDÍASE

A candidíase é a infecção da região orofaríngea mais freqüente durante

tratamento radioterápico, apesar de ser possível o desenvolvimento de outras

infecções fúngicas, bacterianas ou virais. A microbiota indígena da cavidade bucal,

em condições de saúde do hospedeiro, atua como fator de proteção contra a

colonização desta região por patógenos exógenos. Quando os tecidos bucais são

irradiados, essa relação de proteção é afetada e ocorrem alterações significantes na

microbiota bucal (SCULLY e EPSTEIN, 1996; EPSTEIN et al., 1998a).

A incidência de Candida sp na cavidade bucal e as razões para o

estabelecimento da candidíase são decorrentes de fatores precipitadores tais como:

queda de imunidade do hospedeiro, desordens endócrinas, lesões em mucosas,

higiene bucal deficiente, tratamento prolongado com antibióticos e corticosteróides

(SPOLIDORIO et al., 2001). Outros fatores podem influenciar o aumento da

colonização por Candida sp durante a RxT, tais como uso de próteses

odontológicas, tabagismo, alcoolismo e uso de medicações (EPSTEIN et al., 1998a).

O aumento da colonização pelas espécies Candida – principalmente

Candida albicans - é visto com freqüência em pacientes submetidos à RxT para

tratamento de carcinomas de região de cabeça e pescoço. Aponta-se a

hiposalivação ou a xerostomia como principal fator predisponente ao

desenvolvimento desta infecção, além de outras debilidades provocadas pelo

tratamento oncológico e pela situação de saúde geral do paciente. Em alguns

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pacientes a associação entre crescimento do número de colônias do fungo e

aderência da Candida às células epiteliais, como resposta a fatores do fungo, do

hospedeiro e do meio-ambiente, leva a candidíase bucal, com sinais clínicos de

infecção e seus sintomas associados (RAMIREZ-AMADOR et al., 1997).

A patogenia da infecção por Candida é bastante complexa, envolvendo

fungo e hospedeiro. A colonização parece ser influenciada por mecanismos

aderência entre o microrganismo e as células do epitélio da mucosa bucal. As

manifestações clínicas da infecção por Candida dependem do crescimento

acentuado das leveduras, o que, provavelmente está na dependência de fatores

como: proteínas expressas pela Candida, pelas células do hospedeiro e por sua

matriz extracelular, possibilidade da co-agregação entre fungos e bactérias, bem

como da imunocompetência do paciente (SCULLY e EPSTEIN, 1996; RAMIREZ-

AMADOR et al., 1997).

As lesões de candidíase geralmente são do tipo pseudomembranosa,

caracterizando-se pela formação de placas brancas, moles ou gelatinosas, que

crescem centrifugamente e confluem. As placas são compostas por fungos, resíduos

ceratóticos, células inflamatórias, células epiteliais descamadas, bactérias e fibrina.

A remoção das pseudomembranas deixa uma superfície eritematosa, erosada ou

ulcerada, freqüentemente sensível (LOPES et al., 1998; REGEZI e SCIUBBA, 2000).

Os relatos na literatura sobre a ocorrência de candidíase durante o

tratamento radioterápico apresentem taxas de incidência muito diferentes e variadas.

O principal motivo para a variação destes dados é a dificuldade em se diagnosticar

corretamente a candidíase, uma vez que as lesões podem se assemelhar às lesões

de mucosite, ou mesmo estarem sobrepostas a essas alterações da mucosa bucal

(NICOLATOU-GALITIS et al., 2003).

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As lesões podem se tornar extremamente dolorosas e agravar o

desconforto causado pela mucosite, pela xerostomia e pela disfagia que geralmente

acometem esses pacientes (SILVERMAN, 1999).

2.2.7. ALTERAÇÕES DO LIGAMENTO PERIODONTAL

As estruturas periodontais expostas à irradiação alteram-se macroscópica e

microscopicamente e por isso é essencial manter uma meticulosa higiene bucal e

periodontal com o objetivo de minimizar o risco de desenvolvimento de infecções

ósseas e periodontais (CAIELLI et al., 1995).

O ligamento periodontal pode apresentar regiões acelulares com afilamento e

desorientação de fibrilas protéicas, cemento acelular, membrana periodontal com

áreas de avascularização e desorientação das fibras de Sharppey, o que facilita o

desenvolvimento de doença periodontal com possíveis perdas dentárias e infecções

que podem aumentar o risco de início de osteorradionecrose (CAIELLI et al., 1995;

EPSTEIN et al., 1998b).

O periodonto é sensível à radiação em altas doses. Os danos celulares que

ocorrem podem levar à redução da celularidade dos tecidos, fibrose do tecido

conjuntivo e alterações vasculares com espessamento da íntima, endoarterite e

trombose. Os vasos sangüíneos do periodonto, periósteo e ligamento periodontal

podem ser afetados. Essas alterações podem resultar em risco aumentado de

doença periodontal e processo de reparo alterado com diminuição na capacidade de

remodelação óssea. Um aumento estatisticamente significante de perda de inserção

ocorre nos dentes localizados nas áreas submetidas à radiação ionizante. Também,

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após a RxT, a perda de elementos dentários é maior nos campos de irradiação

(EPSTEIN, 2002).

2.2.8. CÁRIE DE RADIAÇÃO

A RxT, quando aplicada em campos que envolvam diretamente as arcadas

dentárias, promove alterações na estrutura dental e na cavidade bucal, tornando os

dentes susceptíveis a cáries, as quais se comportam de maneira muito mais

agressiva e com progressão rápida, passando a ser denominadas cáries de radiação

(BROWN et al., 1978; JANSMA et al., 1989; AL-JOBURI et al., 1991; DIB e CURI,

1999).

A radiação ionizante pode atingir os dentes de forma direta, pela ação sobre a

estrutura dentária e/ou de forma indireta, pelas alterações relacionadas ao fluxo

salivar (CAIELLI et al., 1995).

A radiação agindo diretamente sobre os dentes pode alterar seus

componentes orgânicos e inorgânicos de alguma forma, tornando-os mais

susceptíveis à descalcificação (SILVERMAN, 1999). As alterações do tecido dental

se referem à perda de substância interprismática, que é protéica e, portanto, muito

sujeita à ação da radiação, e às alterações dos odontoblastos, que perdem ou

diminuem a capacidade de produzir dentina reacional quando do estímulo da cárie

(DIB e CURI, 1999). Pode haver a formação de dentina reacional e a polpa pode

apresentar transformação metaplásica na forma de fibrose e hialinização e também

pode mostrar áreas de calcificação (CAIELLI et al., 1995).

A RxT atuando sobre as glândulas salivares alteram sua função, reduzindo a

produção de saliva. Como conseqüência, temos alteração da microbiota bucal – que

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se torna composta, em sua maioria, por microrganismos altamente cariogênicos, e

modificações das características da saliva – capacidade reduzida de tamponamento

de ácidos, de remoção de carboidratos e ácidos e de remineralização da estrutura

dentária (BROWN et al., 1978; EPSTEIN et al., 1995; EPSTEIN et al., 1996; LOPES

et al., 1998; KIELBASSA et al., 1999).

No processo de xerostomia há aumento de Streptococcus mutans,

Lactobacillus, Candida e Staphylococcus e diminuição de Streptococcus sanguis e

espécies de Neisseria e Fusobacterium. Na microbiota anaeróbica há aumento de

Actinomyces e Veillonela (CAIELLI et al., 1995).

Em situações de fluxo salivar normal, qualquer desmineralização que ocorra

quando um a solução ácida interage o esmalte dentário é rapidamente revertida pela

ação contínua de “lavagem” da matriz do esmalte por uma saliva rica em solução de

cálcio. Sem a saliva, não somente é mais provável que a desmineralização ocorra,

como também é mais difícil que ela seja paralizada e reparada (ROTHWELL, 1987).

Esses fatos, somados à diminuição da autolimpeza dos dentes pela falta de

saliva, alterações da dieta alimentar (que por causa das alterações da mucosa bucal

passa a ser pastosa e muitas vezes rica em carboidratos), além da falta de cuidados

de higiene dental, são fatores responsáveis pelo desenvolvimento das cáries de

radiação (EPSTEIN et al., 1995; EPSTEIN et al., 1996; DIB e CURI, 1999).

O processo carioso que se desenvolve após a RxT caracteriza-se por ser

rampante, de progressão rápida e por iniciar-se geralmente na região do colo dental

(TOLJANIC e SAUNDERS, 1984). Além da região cervical, a cárie de radiação

freqüentemente ocorre nas superfícies lisas assim como em pontas de cúspides

dentárias (KIELBASSA et al., 1999). Dentes e superfícies normalmente mais

resistentes à ação dos microrganismos cariogênicos, são os mais afetados nesses

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casos. Em curto espaço de tempo, quando medidas preventivas e terapêuticas não

são tomadas, inicia-se um processo de desmineralização dentária, de forma mais

comum bilateralmente (vestibular e lingual/palatino) na região cervical, por

apresentar menor espessura de esmalte, que tem direção centrípeta, produzindo a

“amputação” da coroa dental. Devido à perda do esmalte que vai se destacando da

dentina e, também, pela falta de reatividade dos odontoblastos e progressiva

desmineralização da dentina, esse dente fica com consistência borrachóide (AL-

JOBURI et al., 1991; SCULLY e EPSTEIN, 1996; LOPES et al., 1998; DIB e CURI,

1999).

Histologicamente, a cárie de radiação se assemelha à cárie dental. A

única diferença detectada é sua natureza mais progressiva e disseminada

(TOLJANIC e SAUNDERS, 1984).

As lesões usualmente se iniciam dentro do primeiro ano após o tratamento

radioterápico. Dreizen et al. (1977) relatam que após a RxT, as taxas de

desenvolvimento de cáries dentárias aumentam até 50 vezes. Dentes que se

localizam fora da região irradiada têm o mesmo risco de desenvolverem cáries de

progressão rápida, devido a outras alterações relacionadas à cavidade oral -

redução do fluxo salivar, por exemplo (ROTHWELL, 1987). Resultados do estudo de

Kielbassa et al. (1999) mostram que o esmalte irradiado não é mais susceptível à

cárie do que aquele não-irradiado, se técnicas adequadas de higiene bucal forem

implementadas.

A cárie de radiação é um processo penoso para o paciente, uma vez que, se

não for tratada nas fases iniciais, progride rapidamente em direção pulpar,

acarretando dor. Há também comprometimento estético, ingestão de alimentos

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modificada ou diminuída, risco de fraturas dentárias e de desenvolvimento de ORN

(CAIELLI et al., 1995).

2.2.9. OSTEORRADIONECROSE

A osteorradionecrose é uma das mais sérias complicações do tratamento

radioterápico de cabeça e pescoço, cujo sítio mais comum de aparecimento é a

mandíbula (SOARES e MARCUCCI, 1996; CAIELLI et al., 1995; DIB e CURI, 1999;

MIGUEL e CURI, 2000; LIMA et al., 2001). Esta seqüela á caracterizada pelo defeito

de cicatrização induzida pelos efeitos teciduais da radiação ou como a perda da

viabilidade do osso (CURI, 2002; CARDOSO, 2002).

O termo osteorradionecrose tem sido discutido por vários autores nas últimas

décadas. A melhor definição de osteorradionecrose é uma seqüela proveniente da

radioterapia, caracterizada pela perda da mucosa de revestimento ou do tecido

cutâneo da boca e conseqüente exposição de tecido ósseo necrótico (EPSTEIN et

al., 1987; MIGUEL e CURI, 2000).

Até meados da década de 1980, a ORN era caracterizada pela tríade –

radiação, trauma e infecção, enfatizando de maneira errônea e excessiva o papel

dos agentes microbianos na patogênese da ORN. Segundo novo conceito proposto

por Marx (1983), o tecido após receber irradiação torna-se hipóxico, hipovascular e

hipocelular, tríade esta que afeta o osso irradiado de modo a interferir em sua

capacidade de restabelecimento, condição esta que permanece por tempo

indeterminado. Essa definição modificou, de maneira acentuada, o tratamento e a

prevenção da ORN (MIGUEL e CURI, 2000).

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A ORN caracteriza-se pela exposição de osso afetado, geralmente

acompanhada de outros sinais e sintomas, como por exemplo, drenagem de

secreção purulenta por fístulas orais e/ou cutâneas, úlceras orais, trismo, algia, odor

fétido, desconforto e dificuldades mastigatórias, de deglutição e de fala e, em alguns

casos, fraturas patológicas (EPSTEIN et al., 1987; CURI, 2002).

O comportamento clínico da ORN é variável e depende de uma série de

fatores (localização anatômica do tumor, condições bucais do paciente, por

exemplo), mas principalmente da quantidade total de dose de radiação recebida

pelos tecidos. Clinicamente, esta seqüela pode apresentar quadros crônicos,

caracterizados por exposições ósseas pequenas, estáveis e assintomáticas, ou por

quadros agudos, com exposições ósseas extensas, progressivas e sintomáticas, que

muitas vezes evoluem com fratura patológica do osso afetado. Essa variação de

comportamento clínico está relacionada com as amplitudes das lesões induzidas

pela radiação nos tecidos (EPSTEIN et al., 1987; CURI, 2002; JERECZEK-FOSSA e

ORECCHIA, 2002).

Essa necrose é de difícil controle, uma vez que é muito difícil determinar a

real condição de vitalidade e resistência do osso que ainda não está aparentemente

afetado, fazendo com que muitas vezes se creia que somente uma porção será

seqüestrada e, no entanto, a necrose caminhe por todo um segmento ósseo

contíguo (DIB e CURI, 1999).

De acordo com Epstein et al. (1987), o diagnóstico de ORN é baseado na

história clínica pregressa do paciente, associada aos aspectos clínicos – ulceração

da mucosa com exposição do osso necrótico por mais de 03 meses, e

radiográficos.Segundo Miguel e Curi (2000), não existem sinais e sintomas

patognomônicos de ORN, sendo necessária a diferenciação principalmente de

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recorrências tumorais e processos infecciosos específicos (p.ex.: actinomicose ou

micoses profundas, como blastomicose).

As imagens radiográficas de ORN incluem densidade óssea diminuída e

fraturas ocasionais. Aparecem como uma radioluscência indefinida, sem esclerose

demarcada ao redor da zona necrótica. Áreas radiopacas podem ser identificadas

quando há formação de seqüestros ósseos, sendo que os principais aspectos

radiográficos da ORN estão caracterizados por alterações escleróticas e atróficas

(OLIVEIRA et al., 2003).

Imagens realizadas por meio de tomografia computadorizada mostram

anormalidades ósseas como áreas líticas focais, interrupções das corticais ósseas e

perda do aspecto esponjoso da trabeculagem na área sintomática, geralmente

acompanhado por espessamento da parte de tecido mole. A cintilografia óssea

permite avaliar a extensão e a localização da lesão, apresentando alta sensibilidade

e baixa especificidade para o diagnóstico de ORN. As imagens de ressonância

magnética demonstram sinal de medula anormal, destruição de cortical óssea e

elevação irregular de leve a moderada (JERECZEK-FOSSA e ORECCHIA, 2002).

Os exames radiográficos são comumente utilizados, sendo que as

radiografias periapical, oclusal e panorâmica são essenciais para avaliar, com

detalhes, o comportamento e os limites do processo. Tomografia computadorizada

tem sido empregada para delimitar as dimensões e eliminar possíveis dúvidas de

diagnóstico, principalmente quando há suspeita de recorrência tumoral. Cintilografia

óssea tem sido utilizada para identificar a intensidade metabólica do osso afetado;

porém, devido ao grande número de falso-positivos, esse exame deve ser

empregado com cautela (MIGUEL e CURI, 2000).

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A ORN tem uma incidência bastante variável em pacientes que sofreram RxT

de cabeça e pescoço, variando de 1,8 a 40%, dependendo de vários autores.

Apesar dos avanços tecnológicos dos aparelhos de radioterapia e da melhoria das

técnicas cirúrgicas, a incidência de ORN não tem diminuído nas últimas décadas

(MARX, 1983; EPSTEIN et al., 1987; SOARES e MARCUCCI, 1996; CURI, 2002).

Atualmente existem várias classificações de comportamento clínico da ORN,

na tentativa de determinar o prognóstico e orientar o tratamento (MIGUEL e CURI,

2000). A classificação proposta por Epstein et al. (1987) – quadro 1 - tem sido

freqüentemente utilizada.

Quadro 1 - Classificação de ORN proposta por Epstein (1987).

Estádio I Resolução e fechamento

(A) sem fratura patológica

(B) com fratura patológica

Estádio II Persistente / crônica

(A) sem fratura patológica

(B) com fratura patológica

Estádio III Aguda progressiva

(A) sem fratura patológica

(B) Com fratura patológica

FONTE: Epstein et al. (1987).

Com relação à dose de radiação e a ocorrência de ORN, Clayman (1997),

baseado em seus estudos sugere que doses menores ou iguais a 50 Gy raramente

causam ORN; no entanto, doses entre 60 e 70 Gy aumentam significativamente as

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chances de desenvolver tal lesão. Doses superiores a 75 Gy aumentam em até 10

vezes a predisposição à ORN, quando comparado a doses de 50 Gy, tornando as

chances de cura ainda mais difíceis. Esses achados foram corroborados por outros

autores (MARX, 1983; SCULLY e EPSTEIN, 1996; CURI, 2002; JERECZEK-FOSSA

e ORECCHIA, 2002).

De acordo com Dib e Curi (1999), doses superiores a 5.000 cGy e aplicadas

em aparelhos de super e megavoltagens apresentaram um risco maior de

desencadearem a ORN. A associação de braquiterapia à teleterapia convencional

também predispõe ao aparecimento do quadro.

A patogênese da ORN é caracterizada por uma seqüência de radiação,

formação de um tecido hipovascular-hipocelular-hipóxico, com o conseqüente

rompimento da barreira protetora da mucosa bucal (de maneira espontânea ou

traumática), resultando em um processo não-cicatrizante (MARX, 1983). A ORN é

considerada como um dano tardio da radiação ao sistema de canais Haversianos e

aos vasos sangüíneos, caracterizado pela capacidade inadequada de reparo e

repopulação.

Com altos níveis de radiação, os tecidos hematopoiéticos se tornam

acelulares e gordurosos (TOLJANIC e SAUNDERS, 1984). O potencial de formação

óssea é adversamente afetado porque os componentes medulares e vasculares que

participam da produção de osso são altamente radiossensíveis (ROTHWELL, 1987).

A radiação reduz o potencial de vascularização dos tecidos. Vasos

sangüíneos do periodonto, periósteo, canais Haversianos e da medula óssea

geralmente se apresentam diminuídos em número e calibre (ROTHWELL, 1987;

EPSTEIN et al., 1987). A radiação leva à endarterite obliterante, com trombose das

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veias de menor calibre, fibrose do periósteo e da mucosa e danos aos osteócitos,

osteoblastos e fibroblastos (SCULLY e EPSTEIN, 1996).

As condições de hipovascularidade e de hipóxia ameaçam a atividade celular,

a formação de colágeno e a capacidade de cicatrização e reparo do tecido ósseo

(JERECZEK-FOSSA e ORECCHIA, 2002).

O sítio anatômico mais acometido é a mandíbula, pelo fato de apresentar uma

estrutura óssea mais compacta e densa: absorve mais radiação, e um menor aporte

de fluxo sangüíneo em relação à maxila (SCULLY e EPSTEIN, 1996).

Maia (1997) descreve que a ORN parece iniciar-se na parte central do osso,

caracterizando-se por ser um processo inflamatório crônico, doloroso, com

crescimento difuso e irregular, onde os espaços medulares se fundem até a

formação de seqüestros ósseos.

De acordo com Maxymiw (1991) e Marunick (1998), várias situações podem

predispor a ocorrência de ORN, incluindo:

- Inadequada cicatrização pós-extração em áreas submetidas à

radiação prévia;

- Traumas ao osso irradiado;

- Infecção por bactérias e fungos;

- Fatores nutricionais;

- Extrações pré ou pós-radioterapia;

- Trauma protético;

- Localização do tumor;

- Abuso de álcool e fumo;

- Condições dentárias e periodontais do paciente;

- Pobre higiene oral;

- Fatores associados à RxT: dose total de radiação, modo como a

radiação é aplicada, razão dose/dia e tipo de radiação.

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O principal fator relacionado à ORN é a exodontia após a RxT. No entanto,

outros fatores que possam provocar exposição e infecção óssea devem ser

considerados (OLIVEIRA et al., 2003).

Soares & Marcucci (1996) observaram que o período médio de

desenvolvimento de ORN foi de 07 meses após o tratamento radioterápico, porém

há casos descritos em que ocorreu sua manifestação 38 e 45 anos após o término

da RxT.

Existe muita discussão em relação ao risco de desenvolver ORN e o tempo

decorrido até o final da RxT. As lesões provocadas nos tecidos pela radiação podem

ser progressivas ao longo dos anos e de intensidade cada vez mais graves. Foram

identificados dois picos de maior incidência de ORN trauma-induzida, mas em média

o período de aparecimento foi de 18 meses após o fim da RxT (variação de 3 meses

a 15 anos). O primeiro pico de incidência de ORN ocorre durante o primeiro ano e o

segundo pico, entre o segundo e o quinto ano após a RxT. Em virtude da

necessidade de intervenções cirúrgicas para controle de recorrências tumorais, as

cirurgias oncológicas são responsáveis por 50% dos fatores desencadeantes de

ORN no primeiro pico. No entanto, após o crítico período de chance de recidiva

tumoral, as causas mais comuns de desencadeamento de ORN são de origem

bucodentária e representam 60% dos casos durante o segundo pico de incidência.

Aparentemente, há um descuido dos profissionais envolvidos na reabilitação desses

pacientes em períodos mais tardios, quando estes procuram tratamentos

reabilitadores e são submetidos a procedimentos cirúrgicos odontológicos como

exodontias, cirurgias periodontais, etc. (MIGUEL e CURI, 2000).

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2.2.10. DERMATITE

A pele localizada no campo de irradiação pode sofrer alterações,

desenvolvendo áreas de eritema, formação de bolhas, descamação (seca ou úmida)

e necrose. Tencarte (1997) relata que as alterações dérmicas iniciam-se a partir da

segunda semana de tratamento radioterápico. A intensidade dos efeitos é variada e

os pacientes podem queixar-se de ardência ou até mesmo de dor nos casos mais

severos. Reações mais exuberantes como a descamação úmida, podem exigir

interrupção do tratamento radioterápico (LOPES et al., 1998; CARDOSO, 2002).

A pele irradiada se caracteriza por possuir aspecto de queimadura, com

supressão do crescimento de pêlos da face na região afetada. Essa alteração nos

folículos pilosos pode ser ou não transiente. Em alguns pacientes a pele pode sofrer

necrose em grandes porções teciduais, com exsudação de líquidos provenientes do

tecido conjuntivo exposto – esse quadro clínico caracteriza a descamação úmida.

Deve-se cuidar destas lesões para evitar contaminação e agravo do desconforto

causado ao paciente (TOLJANIC e SAUNDERS, 1984; SILVERMAN, 1999).

A regressão total das alterações que ocorrem na pele ocorre logo após o

término da RxT. Entretanto atrofia da pele, mudanças na pigmentação, alopecia e

telangectasia podem ser observadas por algum tempo após o tratamento (LOPES et

al., 1998).

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2.3. MANEJO DAS COMPLICAÇÕES BUCAIS DA RADIOTERAPIA

As complicações bucais relacionadas ao tratamento radioterápico de

neoplasias malignas de cabeça e pescoço podem comprometer seriamente a

qualidade de vida e a saúde dos pacientes, além de poderem afetar negativamente

o curso do plano de tratamento oncológico previamente estabelecido.

2.3.1. XEROSTOMIA

Segundo Caielli et al. (1995), o tratamento da xerostomia é paliativo e tem

como objetivos principais:

- Estimulação do fluxo salivar residual;

- Substituição da perda de secreção, aliviando a secura da boca;

- Proteção da dentição;

- Redução do consumo de sacarose.

Substitutos artificiais de saliva têm sido indicados para o alívio sintomático

da xerostomia. Os substitutos da saliva ou preparações de saliva artificial são

paliativos que aliviam temporariamente o desconforto causado pela secura bucal. A

maioria destes produtos contém carboximetilcelulose, água e eletrólitos e alguns

ainda contêm flúor (ROTHWELL, 1987; DIB et al., 2000). Garg e Malo (1997) citam a

composição destes substitutos artificiais de saliva: 20 ml de solução de metilcelulose

a 4%, 10 ml de glicerina, uma gota de óleo de limão e soro fisiológico em quantidade

necessária para produzir 90 ml desta solução. Algumas destas soluções possuem

mucinas animais que normalmente são mais bem aceitas pelos pacientes e também

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podem promover o restabelecimento de microbiota bucal normal (SCULLY e

EPSTEIN, 1996).

Castro et al. (2002) indicam o uso de fórmula de saliva artificial proposta

pelo Departamento de Bioquímica da Faculdade de Odontologia de Bauru, descrita

no quadro 2.

Quadro 2 – Composição de saliva artificial (CASTRO et al., 2002).

Componentes Quantidade (mg)

KCl 960,0

NaCl 674,0

MgCl2 41,0

K2HPO2 116,8

Nipagin 10,0

Nipazol 100,0

Carboximetil-celulose Na 8,0

Sorbitol a 70 % 24,0

FONTE: Castro et al. (2002).

A fórmula descrita no quadro 2 deve ser autoclavada por 20 minutos em

vapor fluente. Quando esfriar, acrescentar 0,5 ml de essência de hortelã e completar

para 1.000 ml, com água destilada (CASTRO et al., 2002).

Sialogogos aumentam farmacologicamente a produção de saliva pela

estimulação do tecido glandular intacto responsivo, restaurando o fluxo salivar

normal. A pilocarpina e, recentemente, a amifostina são as únicas drogas aprovadas

pelo US Food and Drug Administration para uso como sialogogos (DIB et al., 2000).

O hidrocloreto de pilocarpina (solução ou tabletes) deve ser utilizado de 3 a 4 vezes

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ao dia, doses de 5 mg (GARG e MALO, 1997; SILVERMAN, 1999) Após a

administração de pilocarpina, a secreção salivar permanece estimulada por até mais

de 3 horas.

A pilocarpina tem se mostrado muito eficiente na estimulação de secreção

salivar em pacientes que apresentam algum tecido glandular com funcionamento

normal. Estimula a produção de saliva pela sua propriedade agonista muscarinica-

colinérgica, ou seja, atua sobre células efetoras que funcionam para estimular as

glândulas salivares, lacrimais e sudoríparas (GARG e MALO, 1997). Pode ser

utilizada em forma de gotas oftálmicas ou em comprimidos (SCULLY e EPSTEIN,

1996).

Por causa de seus efeitos colinérgicos, mesmo em baixas doses, deve-se

avaliar com cautela quais as situações e pacientes em que esta droga pode ser

utilizada. A pilocarpina não é recomendada a pacientes com hipertensão arterial,

problemas cardiovasculares, asma ou úlceras gastrointestinais e pode apresentar,

como efeitos colaterais, sudorese, rinite, cefaléia, náusea e urina freqüente (SCULLY

e EPSTEIN, 1996).

Um outro estimulador salivar, o betanecol, administrado sob forma de

tabletes em doses divididas variando de 75 a 200 mg diariamente, foi eficiente em

muitos casos. Este medicamento é utilizado rotineiramente em casos de retenção

urinária pós-operatória e pós-parto. No entanto seu uso ainda não foi liberado pelos

órgãos de saúde competentes dos Estados Unidos, aonde vem sendo estudado

(SILVERMAN, 1999).

Em alguns pacientes em que temos como queixa principal a saliva ter se

tornado excessivamente viscosa, pode-se utilizar a guaifenesina como agente

mucolítico -200 a 400 mg, 3 a 4 vezes ao dia (SILVERMAN, 1999).

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O índice de aceitação destes produtos por parte dos pacientes é variável,

sendo queixa comum a necessidade de se aplicá-los repetidas vezes durante o dia.

Alguns pacientes preferem ingerir vários goles de água durante o dia. Pastilhas de

limão e gomas de mascar sem açúcar podem estimular a produção residual de

saliva. Recomenda-se o uso de protetor labial diante a queixa de secura bucal e dos

lábios (ROTHWELL, 1987; SILVERMAN, 1999; DIB et al., 2000).

Mais recentemente tem-se utilizado a amifostina como agente

radioprotetor. Esta medicação se acumula em vários tecidos normais, apresentando

altas concentrações em glândulas salivares e rins. Administram-se normalmente 200

a 240 mg/ m2, como dose diária. Estudo realizado por Rudat et al. (2000) mostrou

que o uso da amifostina reduz a incidência de lesões dentárias e preserva a

produção de saliva em níveis desejáveis.

A acupuntura tem beneficiado pacientes com xerostomia causada por

etiologias diversas (JOHNSTONE et al., 2001). Seu uso em pacientes refratários a o

tratamento com pilocarpina tem apresentado bons resultados paliativos,

representando uma forma adicional de tentativa de minimizar os efeitos da

xerostomia e melhorar a qualidade de vida destes pacientes.

O uso de lubrificantes bucais ajuda a recuperar a umidade da cavidade

bucal, garante lubrificação dos tecidos bucais e da garganta, auxilia a saliva em sua

função de limpeza dos dentes, contribui para a normalização do pH da mucosa e da

saliva residual e facilitam a adaptação de próteses (GARG e MALO, 1997).

Os pacientes devem ser aconselhados a manter hidratação suficiente,

evitar fumar e utilizar bebidas alcoólicas, alterar a dieta alimentar consumindo

alimentos mais pastosos, macios e não muito temperados (GARG e MALO, 1997).

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De acordo com Bonan et al. (2003), a xerostomia é um fenômeno mais

sintomático, ou seja, as queixas de boca seca e de viscosidade da saliva são mais

relevantes do que a real quantidade de redução do fluxo salivar.

Outra estratégia de manejo da xerostomia é o reposicionamento de

porções de tecido de glândulas salivares para regiões submucosas adjacentes, que

estariam fora do campo de irradiação. Em pesquisa realizada por Greer et al. (2000),

tecido de glândulas salivares (parótida e submandibular) de hamsters foi

transplantado para a região submucosa da bochecha. Após 3 meses, realizou-se

remoção deste tecido reposicionado e fez-se análise histológica. O que se pôde

observar foi a manutenção da função do tecido glandular, que se apresentava

intacto, viável e organizado. Os dados obtidos neste estudo indicam que é possível

realizar autotransplante de tecido de glândula salivar e conserva-lo viável em modelo

animal. Isso mostra que pode ser possível reduzir os efeitos da xerostomia em

pacientes humanos pelo uso de técnicas similares de autotransplante, mas que

estudos mais aprofundados são necessários para determinar se os enxertos se

tornarão subseqüentemente funcionais e se o seu crescimento pode ser

biologicamente estimulado, antes de se realizar estudos em humanos.

Outra alternativa de prevenção de xerostomia é utilizar técnicas de

radiação conformada e de intensidade-modulada que poupem a região das

glândulas salivares (EISBRUCH et al., 2001).

Cardoso (2000) relata que bochechos repetidos com água bicarbonatada

e chá de camomila parecem ter contribuído para minimizar o desconforto da

hiposalivação, por estarem oferecendo uma constante hidratação à mucosa.

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Alguns estudos realizados com animais sugerem que o uso de vitaminas

antioxidantes tais como α-tocoferol e β-caroteno podem reduzir os danos em

glândulas salivares (SCULLY e EPSTEIN, 1996).

2.3.2. MUCOSITE

O tratamento da mucosite é feito com soluções tópicas, anestésicos e

antibióticos, de acordo com a fase e a gravidade de cada caso, sendo o mais

importante a sua prevenção, que pode depender de um correto preparo do meio

bucal e dentário prévio à irradiação. Tem-se demonstrado que, quanto mais

higienizada a cavidade bucal antes e durante o tratamento radioterápico, menores

serão as complicações sobre a mucosa. Um outro fator muito importante é o tipo de

aparelho utilizado no tratamento, sendo que os aceleradores lineares de alta energia

causam menos efeitos colaterais sobre a mucosa do que a bomba de cobalto ou

outros aceleradores de energia menor (DIB e CURI, 1999).

Um índice de gradação de mucosite permite ao profissional de saúde

avaliar a severidade das lesões em termos de dor e capacidade do paciente manter

alimentação adequada. Muitos sistemas de gradação existem, a maioria destes

baseados em dois ou mais parâmetros clínicos, incluindo eritema, dor e problemas

alimentares (BERGER e KILROY, 1997).

Um dos sistemas mais utilizados é o preconizado pela Organização

Mundial da Saúde (World Health Organization- WHO), que se utiliza do critério de

toxicidade aguda. A descrição da severidade clínica da mucosite é apresentada no

quadro 3 - (GONÇALVES, 2001).

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Quadro 3 - Gradação da mucosite bucal segundo o critério WHO

WHO Severidade da reação

0 Sem evidência de mucosite.

1 Eritema, lesões assintomáticas.

2 Eritema, úlceras, pode ingerir sólidos.

3 Eritema, úlceras, só pode ingerir liquido.

4 Úlceras confluentes, alimentação não é possível.

FONTE: Gonçalves (2001).

Há consenso entre clínicos e pesquisadores que uma prevenção eficiente

da mucosite requer exame abrangente do paciente para se identificar doenças

bucais potencialmente complicadoras, antes do início do tratamento oncológico.

Existem vários tratamentos propostos para o manejo da mucosite, apesar de ainda

não se ter estabelecido com eficácia e segurança o efeito benéfico da maioria dos

regimes propostos (BERGER e KILROY, 1997). Apesar do grande número de

intervenções propostas, há um número reduzido de trabalhos prospectivos

randomizados contento resultados benéficos estatisticamente significativos

(GONÇALVES, 2001).

Inicialmente, os pacientes devem ser orientados quanto à necessidade de

controle rigoroso da higiene bucal, evitar a ingestão de alimentos muito

condimentados, ácidos e de consistência sólida e o uso de agentes irritantes como o

fumo e o álcool. As próteses devem ser avaliadas antes do início do tratamento

radioterápico e seu uso deve ser desaconselhado durante este período (DIB et al.,

2000).

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Caielli et al. (1995) preconizam o uso de solução salina de bicarbonato de

sódio durante todo o curso da radioterapia para aliviar o desconforto bucal.

Segundo Dib et al. (2000) uma vez que se faz o diagnóstico de mucosite

bucal, é preciso que se empreguem bochechos com 15 ml de suspensão oral de

hidróxido de alumínio e magnésio , sabor não ácido, 4 vezes ao dia.

Em trabalho realizado por Feber (1996), fez-se comparações entre grupos

utilizando dois protocolos diferentes de controle da mucosite: solução salina a 0.9%

e peróxido de hidrogênio 3.5 volumes. Os resultados deste estudo mostraram que,

em média, o grupo que utilizou a solução salina teve evolução clínica melhor. Este

fato sugere que a limpeza mecânica freqüente da cavidade bucal pode ser mais

importante do que as propriedades antissépticas de bochecho com peróxido de

hidrogênio.

Outro medicamento avaliado quanto a sua capacidade de atuação sobre

o aparecimento de lesões de mucosite é o gluconato de clorexidina a 0,12%, 2

bochechos diários, uma vez que é aceito que a microbiota bucal pode agravar o

quadro de mucosite. Labbate et al. (2003) avaliaram o surgimento e curso de lesões

de mucosite em dois grupos de pacientes. Um grupo utilizou gluconato de

clorexidina e outro grupo fez uso de água destilada. Após a avaliação dos

resultados, observou-se que a clorexidina não eliminou as lesões de mucosa mas

diminuiu, significativamente, os seus efeitos deletérios e intensidade, sem apresentar

um refluxo persistente na qualidade de vida dos pacientes. Scully e Epstein (1996),

baseados em pesquisa bibliográfica, relatam que a clorexidina não possui efeito

sobre a mucosite. No entanto, mesmo contraditório o uso da clorexidina tem algum

valor por apresentar outros benefícios, principalmente o controle da placa

bacteriana.

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Pesquisa realizada por Nicolatou-Galitis et al. (2001), utilizou fator

estimulador de colônia de granulócito e macrófago na tentativa de controlar a

mucosite. Esta citocina tem oferecido uma nova forma de tratamento da fase

ulcerativa da mucosite. A administração de GM-CSF, como enxagüatório de uso

tópico, tem demonstrado uma redução de lesões de mucosite causadas pela

radioterapia e melhor cicatrização das áreas acometidas. O possível mecanismo

pelo qual GM-CSF atua sobre estas lesões ainda não foi totalmente esclarecido. O

que se observa é que GM-CSF parece atuar sobre vários tipos celulares,

beneficiando, entre outras coisas, a neovascularização e a cicatrização. 20 dos 46

pacientes avaliados, com quadro inicial de mucosite graus 2 e 3 (WHO),

completaram o tratamento radioterápico com mucosite grau 1, o que indica um efeito

benéfico dos bochechos com GM-CSF. No entanto, estudos controlados mais

aprofundados são necessários para verificar estes achados.

A aplicação terapêutica de imunoglobulinas tem sido descrita como

benéfica para o controle de lesões de mucosite bucais e de orofaringe. Em estudo

de Mose et al. (1997) observou-se que as imunoglobulinas parecem ter papel

importante na melhoria da resposta imune da mucosa, que pode ser prejudicada

pela radioterapia. No entanto, os resultados obtidos após aplicação profilática de

imunoglobulinas neste estudo mostraram que sua eficácia clínica não é tão evidente

quanto se esperava. Apesar disto, o tratamento proposto é capaz de melhorar a

defesa imune local e, desta forma, diminuir a incidência de graus elevados de

mucosite.

Fator de crescimento epidérmico (EGF) está presente nos fluidos

biológicos, inclusive na saliva, e desempenha papel importante na manutenção da

barreira epitelial e na cicatrização das mucosas. EGF estimula a divisão e a

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proliferação de células de vários tecidos, inclusive das células epiteliais bucais,

mantendo a homeostase tecidual por meio de efeito citoprotetor e por influenciar as

taxas de crescimento e de renovação das células epiteliais. Epstein et al. (2000) por

meio de estudo realizado com 18 pacientes submetidos à RxT, verificou que a

mucosite causada pela radiação ionizante sofre influência do volume de saliva,

quantidade total e concentração de EGF na cavidade bucal. O volume de saliva e a

quantidade total de EGF decrescem significativamente nas primeiras semanas de

tratamento e permanecem diminuídas durante a RxT.

O sulcrafato, um sal básico de alumínio da sucrose octassulfatada,

substância utilizada no tratamento da úlcera péptica, que devido a sua viscosidade

em Ph ácido produz uma pasta que adere à base da lesão, reduzindo e aliviando os

sintomas dolorosos, também tem sido utilizada na prevenção e tratamento da

mucosite (CARDOSO, 2001). Existem evidências que sugerem que há também

aumento da produção local de prostaglandina E2 (PGE2), o que resulta em aumento

do fluxo sangüíneo da mucosa, produção de muco, atividade mitótica e migração de

células para a superfície. Estudos realizados em pacientes irradiados em uso de

sulcrafato , mostram que há diminuição do edema da mucosa, dor, disfagia e perda

de peso corporal (BERGER e KILROY, 2001).

A benzidamina, agente antiinflamatório não esteróide, com efeitos

antimicrobiano, analgésico e anestésico, também tem sido estudada e utilizada para

manejo da mucosite bucal radioinduzida. Os pacientes devem fazer bochechos 4

vezes ao dia com 15 ml do medicamento, por 2 minutos (EPSTEIN et al., 2001).

Corticosteróides tópicos foram avaliados em alguns estudos. O efeito

potencial deste medicamento sobre as lesões de mucosite sugere a necessidade de

um maior número de estudos, particularmente sobre a viabilidade do uso tópico e

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sistêmico destes medicamentos que podem afetar a microbiota normal e promover a

colonização da cavidade bucal por patógenos potenciais (SCULLY e EPSTEIN,

1996).

Com base em estudo realizado por Gonçalves (2001), foram tabelados os

principais agentes estudados para a prevenção da mucosite oral radioinduzida

(tabela 2).

Tabela 2 - Agentes utilizados para abordagem da mucosite, sua

classificação e possível mecanismo de ação.

Classificação Agentes estudados Possível mecanismo de ação

Citoprotetores diretos: 1- Formação de barreira 2- Estímulo da resposta epitelial

Sulcrafato

PGE2 β-caroteno Amifostina Laser Glutamina

Estímulo à síntese de prostaglandinas; Formação de barreira mecânica; Estímulo à renovação celular epitelial. Aumento da atividade mitótica, produção de muco e aumento de fluxo sangüíneo. Crescimento normal e diferenciação do epitélio. Proteção seletiva aos tecidos normais versus o tumor. Aumento da síntese de colágeno, melhora da cicatrização. Proliferação celular, crescimento acelerado e reparo da mucosa.

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Citoprotetores indiretos G-CSF e GM-CSF

Benzidamina

Imunoglobulina humana

Regulação da proliferação e diferenciação de células hematopoiéticas. Inibição da síntese de prostaglandinas. Redução de inflamação da mucosa local e aumento da defesa imune.

Antimicrobianos Clorexidina

Antibiótico/ Antifúngico

Propriedade contra anaeróbios, aeróbios e fungos, na saliva e na placa dental. Eliminação seletiva de microrganismos, com redução de endotoxinas.

FONTE: Gonçalves (2001).

Mais recentemente estudos sobre a ação dos lasers de baixa intensidade

ou de baixa potência demonstram sua ação benéfica sobre os tecidos bucais

acometidos pela mucosite. O laser promove a liberação de prostaglandinas, tendo,

assim, ação antiinflamatória e também de endorfinas, ajudando no controle da dor.

Além disso, reduz a apoptose e melhora a cicatrização (MIGLIORATI et al., 2002).

O controle da dor causada pela mucosite é realizado com uso de agentes

anestésicos (lidocaína, benzidamina, diclonina e difenidramina), que podem

proporcionar certo alívio. De acordo com Migliorati e Migliorati (2000), pode-se

utilizar xilocaína viscosa a 2% aplicada sobre as áreas afetadas. Dib et al. (2000)

preconizam o uso de cetoprofeno, 150 mg, 1 comprimido 2 vezes ao dia, ou gotas –

20 mg, 50 gotas de 6/6 ou de 8/8 horas, para controle da dor em mucosites

radioinduzidas. Indicam, também, solução viscosa para bochecho e alívio dos

sintomas, constituída por cloridrato de lidocaína 100mg, carboximetilcelulose sódica

125 mg – usar 1 colher de sopa, 3 vezes ao dia.

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2.3.3. DISGEUSIA

A alteração do paladar ou até mesmo a perda da acuidade de diferenciar

o gosto dos alimentos podem ser eventos extremamente incômodos para os

pacientes irradiados, além de poderem contribuir com aparecimento de distúrbios

nutricionais. Usualmente, o paladar é recuperado gradualmente durante alguns

meses após o final do tratamento radioterápico (SCULLY e EPSTEIN, 1996).

Os pacientes tentam compensar a alteração do paladar comendo

alimentos ricos em sacarose, o que contribui para o desenvolvimento de cáries, ou

usando maior quantidade de temperos, o que aumenta o desconforto frente à

mucosite. Os pacientes devem receber orientação quanto à necessidade de

cuidados com a higiene bucal e mudança de hábitos alimentares. Um nutricionista

deve pertencer a equipe multidisciplinar de tratamento oncológico para poder

orientar estes pacientes e desenvolver com cada um, uma dieta mais apropriada

(CAIELLI et al., 1995).

De acordo com Dib et al. (2000), a xerostomia pode acentuar a sensação

de alteração do paladar, pelo espessamento do fluxo salivar. Recomenda-se, dentro

do possível, escovar a língua com uma escova dental macia; isso pode auxiliar na

remoção da camada de fluxo salivar espesso e, assim, favorecer o contato físico

direto das papilas gustativas com os alimentos.

Estudos sobre suplementos de zinco (tais como sulfato de zinco),

demonstram que sua administração diária parece ser útil no manejo da disgeusia. A

dosagem recomendada é comprimidos de 50 mg, de 2 a 4 vezes ao dia, às refeições

(CAIELLI et al., 1995; SCULLY e EPSTEIN, 1996; SILVERMAN, 1999; MIGLIORATI

e MIGLIORATI, 2000).

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2.3.4. DISFAGIA

Atenção especial deve ser dada à alimentação e ao peso corpóreo dos

pacientes submetidos à RxT. Alterações sistêmicas como anemia, hemorragias e

deficiências imunológicas devem ser evitadas. Perda de peso pode levar a fraqueza,

inatividade, desânimo, anorexia e susceptibilidade a infecções (SILVERMAN, 1999).

Suporte nutricional é necessário e deve ser realizado por nutricionistas

especializados em pacientes oncológicos. Muitos dos pacientes oncológicos já

apresentavam hábitos alimentares inadequados mesmo antes do tratamento. O

consumo calórico pode ser mantido com alimentos mais macios e fáceis de engolir

como sopas, purês, gemadas, gelatinas, pudins e dieta líquida complementar.

Cuidados com higiene bucal devem ser redobrados e o uso de tabaco, álcool e

alimentos condimentados e duros deve ser fortemente contra-indicado (CAIELLI et

al., 1995).

Alimentação por sonda nasogástrica deve ser utilizada quando uma perda

de 10% do peso corpóreo de antes da RxT é notada. Geralmente isto ocorre entre a

3ª e 4ª semanas de tratamento radioterápico (CAIELLI et al., 1995).

2.3.5. TRISMO MUSCULAR

Os tratamentos tradicionais do trismo muscular radioinduzido se baseiam em

exercícios fisioterápicos para reduzir ou prevenir a severidade da fibrose muscular

(TOLJANIC e SAUNDERS, 1984; CAIELLI et al., 1995; CHUA et al., 2001). Existe

uma grande variedade de exercícios que podem reduzir a possível restrição de

movimento pós-radioterapia, mas uma vez que a fibrose já tenha se estabelecido, a

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fisioterapia só poderá limitar o progresso de alterações de função dos músculos

envolvidos (SCULLY e EPSTEIN, 1996).É importante que se tenha, como membro

de equipe multidisciplinar de tratamento oncológico, um fisioterapeuta.

Tão logo comece a radioterapia, os pacientes com risco de desenvolverem

trismo muscular precisam realizar exercícios diários de alongamento para

manutenção da abertura total da boca e a mobilidade da mandíbula. O paciente é

instruído a abrir a boca o máximo possível, 20 vezes seguidas, 3 vezes ao dia

(CAIELLI et al., 1995).

Para realização de alguns exercícios podem ser utilizados artefatos bucais

desenvolvidos especialmente com esta finalidade, que podem atuar externa ou

internamente à cavidade bucal. São exemplos destes artefatos próteses expansoras

com parafusos, próteses modificadas que promovem o aumento da dimensão

vertical ou até mesmo um simples prendedor de roupas de varal, que deve ser

colocado entre os dentes e manipulado de forma que promova a abertura e o

fechamento das arcadas dentárias (TOLJANIC e SAUNDERS, 1984; SOUZA e

BARBOSA, 1991; DIB e CURI, 1999). As forças geradas por estes aparelhos podem

ser contínuas ou intermitentes, leves ou acentuadas, elásticas ou inelásticas (CHUA

et al., 2001).

Apesar destes exercícios geralmente serem efetivos nos casos mais brandos,

é necessário que o paciente mantenha esforço contínuo e aquiescência ao

tratamento. Em pacientes com quadros severos de trismo, o uso destes aparelhos

pode ser difícil e o tratamento raramente é efetivo (TOLJANIC e SAUNDERS, 1984;

CHUA et al., 2001).

Alguns estudos, avaliando novas abordagens para o tratamento do trismo,

sugerem que o uso de pentoxifilina pode ter efeito terapêutico benéfico. A

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pentoxifilina é uma substância derivada da metilxantina, utilizada no tratamento se

uma variedade de doenças vásculo-oclusivas. A pentoxifilina melhora a

microcirculação e a oxigenação tecidual através do aumento da maleabilidade dos

glóbulos vermelhos, diminuição da viscosidade sangüínea e aumento da liberação

de oxigênio pelas hemácias. O medicamento ainda possui propriedades

imunomodulatórias com regulação de certas citocinas (diminuindo sua ação),

algumas das quais são suspeitas de desempenharem papel importante na

patogênese da fibrose radioinduzida. Em estudo piloto realizado por CHUA et al.

(2001), utilizou-se para tratamento de trismo em 16 pacientes 400 mg de

pentoxifilina, 2 a 3 vezes por dia, por 8 semanas. Medidas da abertura bucal foram

tomadas antes e após o uso da medicação e obteve-se como conclusão que a droga

exerce certo efeito terapêutico benéfico nos pacientes avaliados, apesar de outros

achados ainda precisarem ser confirmados por um estudo randomizado, controlado

por placebo.

Na fibrose causada pelo tratamento radioterápico há presença de

infiltrado de células inflamatórias, fibroblastos atípicos e uma grande quantidade de

vários componentes da matriz extracelular. A proliferação anormal de fibroblastos é

considerada o evento mais importante do estabelecimento e progressão das reações

de fibrose, apesar de que o exato mecanismo que inicia a transformação e a

proliferação dos fibroblastos ainda não ser conhecida. Estudos recentes indicam que

algumas citocinas como fator de necrose tumoral (TNF), fator de crescimento

transformador (TGF), fator de crescimento derivado de plaquetas (PGF) e fator de

crescimento derivado de macrófagos podem ter papel importante na fibrose causada

por radioterapia. Em especial o TGF-β tem sido apontado como fator chave do

desenvolvimento desta fibrose e níveis elevados desta citocina foram encontrados

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em animais de pesquisa que desenvolveram complicações pós-radioterapia (CHUA

et al., 2001).

O TGF-β atua ativando a síntese e secreção de proteínas da matriz

extracelular, reduzindo a síntese de enzimas proteolíticas de degradação da matriz e

aumentando a produção de alguns inibidores de proteases. É postulado que, neste

tipo de fibrose, as citocinas são produzidas em resposta à radiação, com TGF-β

agindo como o modulador fibrogênico mais importante. Assim, a interferência

terapêutica na ação das citocinas pode reduzir a extensão da fibrose ou mesmo

revertê-la (SULLIVAN et al., 1988; CHUA et al., 2001). De acordo com as

observações descritas acima, o uso da pentoxifilina deve ser considerado para

tratamento do trismo muscular causado pela radioterapia.

2.3.6. CANDIDÍASE

Infecções fúngicas são freqüentes em pacientes submetidos a tratamento

radioterápico. Para casos de infecções brandas, normalmente o uso de suspensão

oral de nistatina e o uso tópico de miconazol 2% gel oral é suficiente (CAIELLI et al.,

1995; LOPES et al., 1998; DIB et al., 2000). A solução de nistatina não deve conter

alta porcentagem de sacarose, o que a gravaria os problemas relacionados à cárie

dentária. Se houver saliva suficiente para dissolvê-los, tabletes vaginais de nistatina

ou pastilhas de cetoconazol devem ser utilizados por permitirem um contato mais

prolongado da droga com os tecidos afetados (ROTHWELL, 1987).

Em casos mais severos, com maior comprometimento ou em caso de

infecções mais resistentes, o tratamento da candidíase passa a ser sistêmico.

Esquemas terapêuticos variados têm sido descritos na literatura. Ramirez-Amador et

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al. (1997) e Migliorati e Migliorati (2000) propõem o uso de cetoconazol 200 mg por

dia, por 7 dias ou, para pacientes com história prévia de doença hepática ou alergia

ao cetoconazol, fluconazol 100 mg por dia, por 7 dias. Silverman (1999) diz que a

duração do tratamento antifúngico depende do controle dos sinais e recorrências,

podendo durar mais de 1 semana. Dib et al. (2000) recomendam o uso de

cetoconazol 200mg, 1 comprimido, 2 vezes ao dia, por 21 dias.

2.3.7. ALTERAÇÕES DO LIGAMENTO PERIODONTAL

A avaliação periodontal pré-radioterapia é de extrema importância.

Atenção especial deve ser dedicada à higiene bucal dos pacientes, à presença de

fatores irritantes locais como placa bacteriana e cálculo dentário, sangramento,

doença periodontal e cárie. De acordo a avaliação realizada deve-se elaborar plano

de tratamento preventivo conservador, mantendo os elementos dentários presentes

e incentivando a higiene bucal, ou radical, com a eliminação dos elementos

dentários presentes (MIGLIORATI e MIGLIORATI, 2000).

A instituição de manobras de higiene bucal e de controle de alterações

periodontais possibilitará a manutenção do estado de saúde gengival e periodontal

mesmo em condições adversas (CAIELLI et al., 1995; MIGLIORATI e MIGLIORATI,

2000). Raspagem, alisamento radicular e polimento coronário devem ser realizados

no mínimo uma semana antes do início da radioterapia para permitir reparação

tecidual suficiente (CAIELLI et al., 1995).

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2.3.8. CÁRIE DE IRRADIAÇÃO

Para prevenir ou pelo menos minimizar o desenvolvimento de cáries de

irradiação, medidas de higiene bucal devem ser implementadas e incentivadas

desde antes do início do tratamento radioterápico, além de programação de visitas

regulares ao dentista para controle e profilaxia (SILVERMAN, 1999). A

conscientização do paciente em relação à higiene bucal é uma consideração

importante. O paciente deve possuir motivação e habilidade física para manter um

programa preventivo eficaz. (CAIELLI et al., 1995).

Medidas adicionais de prevenção incluem o uso de soluções antisépticas

e flúor. Bochechos com soluções antisépticas aquosas – clorexidina, por exemplo,

se forem bem toleradas pelos pacientes, são úteis na eliminação de debris e no

controle da placa bacteriana (SILVERMAN, 1999).

Aplicações diárias de flúor tópico, seja sob forma de solução para

bochecho, gel utilizado com o auxílio de moldeiras ou pasta de dentes, são eficazes

(JANSMA et al., 1989). De acordo com Rothwell (1987) e Caielli et al. (1995), o ideal

é a utilização de gel neutro de fluoreto de sódio a 1%, todos os dias, em moldeiras

confeccionadas com material flexível, durante consulta inicial de avaliação

odontológica. Esta moldeira deve se estender aproximadamente 3 mm além da

margem livre da gengiva e adaptar-se aos dentes intimamente para permitir

adequada aplicação do flúor. Os preparados de fluoreto de sódio são preferidos a

fluoreto estanhoso, uma vez que o último apresenta efeitos colaterais desagradáveis

como gosto ruim, sensibilidade dentária e manchamento das lesões remineralizadas.

Gel acidulado não é indicado em pacientes recebendo exposição à RxT porque pode

levar à descalcificação significativa sem remineralização suficiente, o que pode

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ocorrer na presença de hipossalivação. Também pode causar irritação na mucosa

com ardor, eritema e ulceração.

Aos pacientes mais resistentes ao seguimento do protocolo de prevenção de

cáries pode ser administrada clorexidina gel, que deve ser aplicada por um período

de 5 minutos, durante 14 dias. Este procedimento deve ser repetido a cada 3 ou 4

meses, até o fluxo salivar retornar ao normal, visando controlar os microrganismos

cariogênicos (LOPES et al., 1998).

Nos pacientes que desenvolveram cárie de irradiação, deve ser realizado

tratamento odontológico restaurador convencional. Caso a cárie tenha destruído

toda a coroa dentária e comprometido a polpa, deve ser realizado tratamento

endodôntico com obliteração do conduto, sob uso de antibioticoterapia, deixando a

raiz “sepultada” no alvéolo. As exodontias devem ser evitadas ao máximo,

principalmente na mandíbula, pelo risco de desenvolvimento de osteorradionecrose

(CAIELLI et al., 1995; LOPES et al., 1998).

2.3.9. OSTEORRADIONECROSE

O tratamento da osteorradionecrose não pode ser estabelecido com um

protocolo rígido para todos os pacientes, mas avaliado individualmente em cada

caso. Atualmente não existe uma padronização universalmente aceita por todas as

instituições de tratamento oncológico. Vários tipos de tratamento para

osteorradionecrose de maxila e mandíbula são utilizados na literatura, variando entre

manejos conservadores, cirurgias e terapias adjuvantes (CURI e DIB, 1997; CURI et

al., 2000).

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As terapias conservadoras, que incluem o uso de antibióticos sistêmicos

(Clindamicina 300 mg, via oral, 04 vezes ao dia), irrigação local com soluções

antissépticas e remoção de pequenos seqüestros ósseos, parecem ser ineficazes no

controle da ORN aguda e progressiva e estão indicadas somente em casos

envolvendo pequenas exposições e necroses ósseas e que podem apresentar

capacidade de cicatrização espontânea (CURI et al., 2000; MIGLIORATI e

MIGLIORATI, 2000). De acordo com Oliveira et al. (2003) em casos estáveis as

chances de sucesso com este tipo de tratamento são de aproximadamente 61,8%.

Beumer et al. (1983) reportaram que exposições ósseas limitadas à zona de

gengiva inserida são particularmente responsivas ao tratamento conservador, sem

existir necessidade de cirurgia e terapias adjuvantes, como o uso de oxigenação

hiperbárica. O tratamento conservador apresentou resolução (não exposição óssea

e recobrimento da mucosa) em 15 (75%) de 20 pacientes tratados. Apenas 3 (15%)

pacientes apresentaram evolução insatisfatória, com necessidade de tratamento

cirúrgico associado à oxigenação hiperbárica. Esses mesmos autores destacaram

que nenhuma diferença foi observada na resposta ao tratamento conservador em

relação à ORN trauma-induzida e espontânea.

Wong et al. (1997) apresentaram um estudo retrospectivo com 32 pacientes

portadores de ORN de mandíbula, tratados de maneira conservadora. 3 pacientes

morreram antes da análise final do estudo. Dos 29 pacientes avaliados, 14 (48%)

apresentaram resolução completa da ORN. Além disso, 19 (69%) dos 29 pacientes

não necessitaram de cirurgia e/ou oxigenação hiperbárica, devido à resolução e

melhoria dos sinais e sintomas da ORN. Esses autores destacaram que os casos em

que a resolução não foi obtida, o quadro permaneceu assintomático e com função

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preservada, o que seria aceitável em pacientes com idade avançada ou aqueles que

desejassem evitar novas cirurgias.

Curi e Dib (1997) avaliaram retrospectivamente 104 pacientes portadores

de ORN em mandíbula e maxila tratados conservadoramente. Os critérios de

resolução de ORN nesse estudo foram a não identificação de tecido ósseo necrótico

exposto e o recobrimento por mucosa normal. 44 (42,3%) casos obtiveram cura, 34

(32,6%) casos permaneceram estáveis e assintomáticos e 26 (25,1%) casos

apresentaram quadro agudo e progressivo. 10 pacientes evoluíram com fratura

patológica de mandíbula; entretanto, todos recusaram cirurgias reconstrutoras após

a cura da ORN.

Um sinal clínico-radiográfico importante apontado na literatura para a opção

por uma terapia conservadora no manejo da ORN é a identificação da formação de

seqüestro ósseo (MARX, 1983). Seqüestro ósseo é uma porção do osso que se

separa do leito ósseo remanescente durante o processo de necrose, sendo

indicativo de um processo de defesa do organismo através do isolamento da área

necrótica. A grande quantidade de osso necrótico presente nos quadros de ORN

impede que a reparação ocorra de maneira satisfatória. Portanto, pequenos

procedimentos cirúrgicos (seqüestromias) facilitam a epitelização e cicatrização da

ORN. Outra consideração importante apontada por alguns autores no

acompanhamento de pacientes portadores de ORN de maxila e mandíbula é o fato

da maioria dos pacientes desejarem, sempre que possível, evitar cirurgias adicionais

no tratamento dessa seqüela (Curi, 2002).

Cirurgia radical é indicada em casos onde as terapias conservadoras não

obtêm sucesso e em lesões sintomáticas, de progressão rápida, com quadro de

trismo severo, múltiplas fístulas, áreas extensas de exposição óssea ou coexistência

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de fraturas. A terapia cirúrgica da ORN inclui seqüestrectomia ou

hemimandibulectomia radicais e, quando possível, reconstruções com retalhos livres

microvascularizados. Reconstruções utilizando enxertos livres de fíbula, retalhos

osteocutâneos de escápula ou enxertos de crista ilíaca promovem resultados

estéticos e funcionais satisfatórios (NÉMETH et al., 2000; JERECZEC-FOSSA &

ORECCHIA, 2002; OLIVEIRA et al., 2003).

Outra terapia proposta para tratar a ORN é a utilização de

reposicionamento de tecido duro, proposta por Carl e Ikner (1998). Em seu estudo 8

pacientes , previamente expostos à radioterapia, e com necessidade de realização

de extrações dentárias, receberam enxertos ósseos associados ao conteúdo de 1

cápsula de tetraciclina 250 mg nos alvéolos dentários, durante as exodontias. As

cirurgias foram realizadas com o cuidado de não serem extremamente traumáticas e

os alvéolos, já preenchidos, foram suturados adequadamente. Clinicamente houve

epitelização completa em todos os casos. Não houve desenvolvimento de infecções

e radiograficamente nenhuma alteração óssea pode ser identificada nas áreas de

exodontias, por um período de proservação de 7 a 18 meses. Os resultados desse

estudo preliminar indicam uma abordagem prática e fácil das extrações dentárias em

pacientes irradiados, uma vez que permite uma expectativa razoável de fechamento

do tecido mole na área da extração, auxiliando a seqüência de cicatrização. Trata-se

de uma proposta terapêutica não muito dispendiosa e disponível.

A utilização de oxigenoterapia hiperbárica tem atraído particular atenção,

apresentando resultados satisfatórios na recuperação de lesões de ORN por

promover um aumento dramático na tensão de oxigênio nos tecidos, proporcionando

angiogênese, aumento dos componentes celulares, síntese de colágeno,

proliferação de fibroblastos, melhoria das condições metabólicas favorecendo,

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assim, a recobertura tecidual e cicatrização (JERECZEC-FOSSA e ORECCHIA,

2002; OLIVEIRA et al., 2003).

Atualmente existem protocolos bem estabelecidos de tratamento de ORN

com cirurgia e oxigenoterapia hiperbárica adjuvante (MERKESTEYN et al., 1995;

CURI, 2002). Esses protocolos apresentam várias razões para a utilização da

oxigenoterapia hiperbárica. O principal motivo do seu uso é a sua capacidade de

promover a revascularização do tecido irradiado e/ou infectado e estimular as

atividades fibroblásticas. Portanto, o alvo principal não dessa terapia não é o osso

necrótico, mas sim osso e tecido mole viáveis que não foram completamente

comprometidos pela radiação. O tecido ósseo necrótico somente pode ser removido

através de cirurgia; desta forma, a utilização de oxigenoterapia hiperbárica deve ser

feita de maneira adjuvante, com a finalidade de aumentar a capacidade de

cicatrização do tecido irradiado e prepara-lo para uma futura reconstrução (Curi,

2002).

A terapia de oxigenação hiperbárica é realizada com o paciente respirando

oxigênio a 100%, com pressões elevadas ao redor de 2,0 – 3,0 pressões

atmosféricas (equivalente a 15 – 20 mmHg), com duração de 60 a 90 minutos cada

sessão, por meio de câmaras “monoplace” (capacidade de tratar 1 pessoa) ou

“multiplaces” (capacidade de tratar várias pessoas simultaneamente).Existem vários

protocolos de tratamento, basicamente consistindo de 30 sessões diárias (segunda

a sexta-feira), quando realizado de maneira exclusiva. Esse protocolo pode ser

intercalado por procedimento cirúrgico, realizando-se 20 sessões pré-operatórias e

10 sessões pós-operatórias (MIGUEL e CURI, 2000). O oxigênio comporta-se como

uma droga, caso seja utilizado em doses muito baixas, apresentará um resultado

terapêutico inadequado, e em altas doses, poderá tornar-se tóxico. No entanto, de

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acordo com Marx et al. (1990), a utilização do oxigênio em limites de doses bem

conhecidos, apresenta risco de toxicidade bastante remoto (em torno de 1,3/10.000

sessões).

Complicações resultantes da utilização de oxigenação hiperbárica são

extremamente raras; no entanto, efeitos tóxicos do oxigênio podem ser observados

em sistema nervoso central, olhos, fígado, traquéia e brônquios (CURI et al., 2000).

A literatura restringe de forma absoluta o uso de oxigenação hiperbárica a alguns

pacientes devido a condições médicas pré-existentes como atelectasia, doença

pulmonar obstrutiva crônica, derrame pulmonar bilateral basal, pacientes com neurite

óptica, infecções virais e presença de tumores malignos (OLIVEIRA et al., 2003).

São também consideradas contra-indicações, porém relativas, pacientes com

infecção respiratória, gestantes, pacientes com problemas psiquiátricos e pacientes

submetidos à cirurgia de ouvido ou torácica.

O risco de desenvolvimento de ORN pode ser atenuado por meio de

avaliação bucal prévia ao início da radioterapia. Extrações dentárias devem ser

realizadas antes do início do tratamento oncológico, respeitando, quando possível,

um período de 7 a 14 dias. Alveoloplastia e sutura cuidadosas devem ser realizadas

(JERECZEC-FOSSA e ORECCHIA, 2002).

O principal fator relacionado à ORN é a exodontia após a RxT

(CLAYMAN, 1997; OLIVEIRA et al., 2003). O trauma causado às estruturas bucais

pela extração dentária produz uma demanda por síntese de proteínas que requer a

atividade tanto de componentes celulares capazes de sintetiza-las (principalmente

fibroblastos) e uma rede de vasos sangüíneos capazes de transportar nutrientes ao

local da lesão, o que está prejudicado pela ação da radiação (MAXYMIW et al.,

1991). Exodontias pós-radioterapia devem ser criteriosamente indicadas. Quando

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houver extrema necessidade de realizá-las, o procedimento cirúrgico deve ser

cuidadoso. Os dentes devem ser removidos com elevadores e fórceps, de forma não

tão traumática, se houver tecido de granulação no interior dos alvéolos ou na

gengiva adjacente, esse deve ser curetado, espículas ósseas devem ser eliminadas

e o tecido mole deve ser suturado sem tensão. Em casos que são necessárias

múltiplas extrações dentárias, até 2 dentes devem ser removidos por sessão. As

outras extrações serão realizadas em quadrantes alternados em consultas

subseqüentes. A proservação desses pacientes precisa ser rigorosa (MARX et al.,

1985; MAXYMIW et al., 1991). Alguns autores sugerem que a dente seja retirado

através de técnica de utilização de elásticos ortodônticos ajustados na região

cervical do elemento a ser extraído, permitindo, assim, que ele sofra extrusão

(TOLJANIC e SAUNDERS, 1984; ANTÔNIO et al., 2001).

Como forma adicional de prevenção do desenvolvimento de ORN causado

por extrações pós-radioterapia, devemos utilizar antibioticoprofilaxia para as

intervenções cirúrgicas, bem como oxigenação hiperbárica. Essa última abordagem

apresenta melhores resultados (MARX et al., 1985).

Não há consenso sobre qual tipo de antibiótico deve-se utilizar, nem em

relação à dosagem recomendada. Marx et al. (1985) utilizaram 1.000.000 unidades

de penicilina G aquosa , administrada por via endovenosa imediatamente antes da

cirurgia e mantiveram uma dose de 500 mg de fenoximetilpenicilina, 4 vezes ao dia,

por 10 dias após a cirurgia. Maxymiw et al. (1991) recomendam o uso de 2.0 g de

penicilina V potássica, via oral, 1 hora antes do procedimento cirúrgico e

manutenção de 600 mg, 4 vezes ao dia, por 1 semana.

Cuidado também deve ser tomado quanto a escolha da solução anestésica a

ser utilizada. Anestésicos locais com baixas concentrações de epinefrina (≤ 1:

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200.000) e a não utilização de lidocaína são condutas desejáveis (MAXYMIW et al.,

1991). Estudos in vivo e in vitro demonstram que a lidocaína inibe a síntese de

importantes macromoléculas estruturais, colágeno e glicosaminoglicanos. O uso de

lidocaína a 2% com epinefrina a 1:100.000 (substância vasoconstritora) em um

ambiente que se apresenta hipovascular e hipocelular é questionável. Segundo

Maxymiw et al. (1991), a prilocaína é menos tóxica que a lidocaína, e deve então ser

utilizada.

A oxigenoterapia hiperbárica utilizada como medida de prevenção de

desenvolvimento de ORN é realizada em esquema fracionado: 20 sessões antes da

exodontia e 10 sessões depois, com duração de 90 minutos cada, com oxigênio a

100% e pressão absoluta de 2.4. Estudo clínico prospectivo randomizado realizado

por Marx et al. (1985) comprovou que a angiogênese promovida pela oxigenação

hiperbárica se torna mensurável após 8 sessões e rapidamente progride para um

índice de 80% a 85% de vascularização semelhante a de tecido não irradiado ao

atingir 20 sessões. Não há evidências de que ocorra regressão da angiogênese

tecidual, mesmo alguns anos após a terapia.

Quanto ao alto custo da oxigenoterapia hiperbárica, Curi e Dib (1997) e

Oliveira et al. (2003) argumentam que se pensarmos na segurança da cobertura, o

mesmo torna-se pequeno quando comparado ao possível custo físico e financeiro do

tratamento de ORN em maxilares irradiados sem a utilização de tal terapia.

2.3.10. DERMATITE

A intensidade dos efeitos da radioterapia sobre a pele é variada, e os

pacientes podem queixar-se de ardência ou até mesmo de dor nos casos mais

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severos. Para minimizar esse quadro são prescritos cremes hidratantes e

cicatrizantes (LOPES et al., 1998).

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3. PROTOCOLO DE ATENDIMENTO A PACIENTES QUE IRÃO SE SUBMETER À

RADIOTERAPIA

Complicações orofaciais infelizmente são comuns em todas as modalidades

de tratamento de pacientes portadores de neoplasias malignas de cabeça e pescoço

(SCULLY e EPSTEIN, 1996). Embora a irradiação das estruturas bucais possa

produzir mudanças severas e permanentes nos tecidos adjacentes, o tratamento

preventivo e o acompanhamento odontológico dos pacientes antes, durante e após o

tratamento radioterápico freqüentemente diminuem ou eliminam muitos efeitos

deletérios dessa terapia (CAIELLI et al., 1995).

Pacientes portadores de câncer avançado de cabeça e pescoço têm que

lidar com a doença em si, que apresenta risco de vida elevado, e também com a

perspectiva de enfrentar efeitos adversos causados pelo tratamento oncológico.

Estas experiências são extremamente traumáticas. O grande espectro de efeitos

indesejáveis da RxT afeta particularmente as estruturas da cavidade bucal e ossos

maxilares, resultando em sério prejuízo da função oral, acarretando transtornos à

qualidade de vida dos pacientes e à sua tolerância ao tratamento (BRUINS et al.,

1998).

A maioria dos pacientes que irão se submeter a tratamento radioterápico

para câncer de cabeça e pescoço necessitam de atenção especial em relação à

cavidade bucal. O estabelecimento e a manutenção da saúde bucal e um cuidadoso

planejamento de intervenções odontológicas são procedimentos essenciais para

minimizar o aparecimento de efeitos deletérios agudos ou tardios ou, pelo menos,

oferecer melhores condições de manejo destas complicações, que podem levar à

necessidade de interrupção temporária ou definitiva do tratamento e, dessa forma,

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comprometer adversamente o controle local do tumor e as taxas globais de

sobrevida. Além disso, nos casos de interrupção com aumento do tempo total de

tratamento, ocorrerá aumento significativo no custo do tratamento, diminuição da

motivação do paciente em prosseguir o planejamento terapêutico e, sobretudo, a

repercussão sobre o prognóstico, a qualidade de vida do paciente e sua posterior

reabilitação (SCULLY e EPSTEIN, 1996; BARASCH et al., 1998; SILVERMAN, 1999;

DIB et al., 2000).

Os danos causados pelo tratamento radioterápico podem ser reversíveis ou

não. Para que se consiga prevenir ou minimizar essas complicações é necessário

que se forme nos centros de tratamento oncológico uma equipe multidisciplinar de

profissionais. É consenso que o acompanhamento dos pacientes que irão se

submeter ou já estão sob tratamento radioterápico é melhor realizado por meio de

colaboração entre cirurgiões-dentistas, radioterapeutas, cirurgiões de cabeça e

pescoço, oncologistas clínicos, fonoaudiólogos,nutricionistas, fisioterapeutas,

enfermeiros especializados e outros profissionais de saúde envolvidos no tratamento

oncológico. Os fatos expostos demonstram a importância do controle das

complicações da RxT e cada vez mais ratificam a presença do cirurgião-dentista

nesta equipe de tratamento (ROTHWELL, 1987; SCULLY e EPSTEIN, 1996; DIB et

al., 2000; MARQUES, 2000; ORD et al., 2001).

O tratamento multidisciplinar deve oferecer ao paciente: a melhor

oportunidade de cura, a preservação dos órgãos e a melhor qualidade de vida. A

otimização das chances de cura para os pacientes, mesmo à custa da diminuição na

capacidade funcional, deve permanecer como prioridade máxima. Por isso, a

ocorrência de efeitos indesejáveis torna-se um desafio para a equipe de

profissionais de saúde. Tanto a experiência dos grandes serviços de oncologia como

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a literatura em geral fundamentam amplamente a necessidade do manejo

multidisciplinar do carcinoma de cabeça e pescoço (MARQUES, 2000).

É de grande importância que o profissional da odontologia conheça as

modalidades de tratamento do câncer de cabeça e pescoço, especialmente o de

cavidade bucal, as complicações que poderão resultar de sua terapia, e que

estabeleça um plano de tratamento adequado para cada paciente. O preparo da

cavidade oral deve ser realizado, preferencialmente, antes do início da terapia do

câncer, e deve continuar durante e após a terapia (MIGLIORATI e MIGLIORATI,

2000; HANCOCK et al., 2003).

Todos os pacientes dentados ou desdentados cujos maxilares, glândulas

salivares maiores ou cavidade bucal estiverem dentro do campo de radiação devem

receber uma ampla avaliação bucal ao serem submetidos à radioterapia. Deve-se,

como manobra preventiva, identificar os fatores de risco para o desenvolvimento de

complicações bucais, em particular aquelas que podem interferir no tratamento com

radiação, e iniciar amplo programa de manutenção de saúde bucal (SOUZA e

BARBOSA,1991).

3.1. INTERVENÇÕES ODONTOLÓGICAS PRÉVIAS À RADIOTERAPIA

Durante avaliação inicial, o cirurgião-dentista deve requisitar do médico

responsável informações sobre o diagnóstico do tumor, seu tipo histológico, sua

localização, seu estadiamento, o plano de tratamento oncológico proposto, qual o

tipo de radiação a ser empregada, sua dose total, esquema de fracionamento, a

condição médica do paciente, medicamentos em uso e a existência de

comorbidades sistêmicas (ROTHWELL, 1987; WHITMEYER, 1997; PEREZ et al.

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1997; PERNOT et al. 1997; MIGLIORATI e MIGLIORATI, 2000; GONÇALVES, 2001;

SPOLIDORIO et al., 2001). As informações obtidas devem ser registradas em

prontuário odontológico (Anexo 1).

A anamnese deve ser completa, procurando-se conhecer o máximo sobre

a história dental e freqüência de visitas ao cirurgião-dentista e também a presença

de hábitos como o consumo de tabaco e álcool. Estes hábitos inclusive devem ser

desaconselhados (MIGLIORATI e MIGLIORATI, 2000).

Exame clínico inicial da cavidade bucal, feito por cirurgiões-dentistas com

conhecimento para avaliar e tratar pacientes que irão se submeter a tratamento

oncológico, deve ser realizado antes do início da radioterapia. Muitas condições

bucais adversas tais como pobre higiene bucal, dentes fraturados, infecções, lesões

de mucosa e de tecido duro, restaurações defeituosas, presença de fatores irritantes

locais como placa bacteriana e cálculo dentário, sangramentos e doença periodontal

são fatores de risco para o aparecimento de seqüelas do tratamento radioterápico

(HANCOCK et al., 2003).

A avaliação inicial inclui um exame clínico minucioso e abrangente das

estruturas extra e intrabucais, com registro de todas as alterações encontradas. O

profissional deve lançar mão de manobras semiotécnicas de inspeção, palpação e

percussão para obter um maior número de informações. Deve-se, também, avaliar

as condições de higiene bucal e situação de próteses dentárias, realizar medição da

abertura máxima da boca – distância entre as arcadas, pelo risco de

desenvolvimento de trismo muscular e iniciar programa de prevenção,

conscientização sobre os efeitos deletérios da RxT e motivação dos pacientes

(CAIELLI et al., 1995; CARDOSO, 2002).

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Todos os pacientes avaliados, inclusive os clinicamente edêntulos, devem

realizar exames radiográficos para avaliação dos elementos dentários, periodonto e

osso alveolar, detecção de possíveis dentes impactados, de qualquer alteração

patológica presente em tecido ósseo ou presença comprometimento ósseo pelo

tumor maligno (ROTHWELL, 1987). O ideal é que se solicite radiografia panorâmica

para todos os pacientes e radiografias periapicais e bite-wings complementares, de

pacientes dentados (WRIGHT et al., 1985; SILVERMAN, 1999).

Documento elaborado pelo National Institute of Dental and Craniofacial

Research – NIDCR (2003), sintetiza as opiniões de vários autores (WRIGHT et al.,

1985; ROTHWELL, 1987; SCULLY e EPSTEIN, 1996; BRUINS et al., 1998;

MIGLIORATI e MIGLIORATI, 2000) e defende uma avaliação completa da cavidade

oral realizada por um cirurgião-dentista antes do início do tratamento oncológico, por

ser de extrema importância. São objetivos desta avaliação:

- Reduzir o risco e a severidade das complicações bucais;

- Permitir o diagnóstico e tratamento de infecções existentes ou outros

problemas, que podem levar a infecções sistêmicas mais graves;

- Propiciar condições para que o paciente possa completar o plano de

tratamento com sucesso;

- Prevenir, eliminar ou reduzir dores da região bucal;

- Prevenir ou minimizar complicações que afetariam a nutrição dos

pacientes;

- Prevenir ou reduzir a incidência posterior de necrose óssea;

- Preservar ou melhorar as condições de saúde bucal;

- Promover educação sobre higiene bucal durante a terapia antineoplásica;

- Melhorar os índices de qualidade de vida;

- Reduzir os custos do tratamento.

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Com base nos dados colhidos durante a anamnese e observações

realizadas durante os exames clínico e radiográfico iniciais, um plano de tratamento,

para adequação do meio bucal, prévio à RxT deve ser desenvolvido.

Todos os dentes, especialmente aqueles situados na região a ser irradiada,

deverão ser avaliados cuidadosamente. Um plano de tratamento agressivo de

extração de todos os dentes antes da RxT pode ser considerado, particularmente

para pacientes com longa história de negligência odontológica. Todos os dentes com

prognóstico duvidoso devem ser extraídos. Para decidir entre manter ou extrair um

dente antes da RxT, muitos fatores têm importância. Eles incluem a motivação do

paciente e sua habilidade para colaborar com o programa de prevenção. Com o

objetivo de evitar a ORN é aconselhável a realização de exodontias nos seguintes

casos:

- dentes com lesões extensas de cárie com vitalidade pulpar questionável

ou com envolvimento pulpar;

- lesões periapicais extensas;

- doença periodontal moderada ou avançada – bolsa periodontal maior que

5 mm, especialmente com perda óssea, mobilidade ou envolvimento de

furca;

- raízes residuais não completamente cobertas por osso alveolar ou com

imagem radiotransparente associada;

- dentes impactados ou parcialmente erupcionados que não estejam

circundados por osso alveolar ou que estejam em contato com o ambiente

bucal;

- dentes muito próximos ao tumor.

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As exodontias devem realizadas com o mínimo de traumatismo possível aos

tecidos bucais. Espículas ósseas devem ser removidas, assim como acerto de tecido

ósseo deve ser criterioso. A cicatrização preferencialmente deve ser realizada por

primeira intenção. Um período de 7 a 14 dias entre a realização das extrações e o

início da RxT é desejável, para se obter o adequado fechamento da ferida cirúrgica.

O uso ou não de antibioticoterapia dependerá da pré-existência de infecções, uma

vez que esses medicamentos não interferem na cicatrização (CAIELLI et al., 1995;

HANCOCK et al., 2003).

De acordo com Caielli et al. (1995) e Migliorati e Migliorati (2000), profilaxia

dental, com realização de raspagem, alisamento radicular e polimento coronário,

deve ser realizada pelo menos uma semana antes da radioterapia para permitir

reparação tecidual suficiente. É crucial levar o periodonto a uma condição boa antes

da RxT, por causa do poder de cicatrização diminuído após o tratamento

radioterápico. Restaurações com excesso devem ser recontornadas ou renovadas

para remover fatores de retenção de alimentos e de placa bacteriana, bem como

para remover fatores traumáticos. Dentes cariados devem ser limpos e selados

(Quadro 4).

Quadro 4 - Preparo odontológico pré-tratamento radioterápico

Orientação do paciente

Exodontia de dentes com prognóstico duvidoso ou ruim

Estabilização da doença periodontal, eliminação de placa e cálculo

Tratamento endodôntico, inclusive das raízes, para preservação do osso alveolar

Restauração dos dentes cariados, utilizando amálgama, ionômero ou compômero

Instituição de medidas de higiene bucal

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Escovação com creme dental fluoretado após as refeições

Aplicação tópica diária de gel fluoretado – fluoreto de sódio a 1%, neutro - com

auxílio de moldeira confeccionada durante consulta inicial.

Enxágües com solução antibacteriana – gluconato de clorexidina a 0,12%,solução

não-alcoólica, 1 vez ao dia, para pacientes com saúde bucal debilitada.

Utilização correta e cuidadosa do fio dental.

Aconselhamento em relação a suspensão dos hábitos de fumar e ingerir bebidas

alcoólicas.

Lesões cariosas e periodontais devem ser tratadas, infecções devem ser

debeladas, deve-se desencorajar o uso de próteses durante a RxT – principalmente

aquelas mal adaptadas, o nível de higiene bucal deve ser mantido e checado

cuidadosamente. Medidas adicionais podem ser iniciadas dependendo do estado

bucal e das queixas que vão surgindo (SOUZA e BARBOSA,1991).

3.2. INTERVENÇÕES ODONTOLÓGICAS DURANTE A RADIOTERAPIA

Durante a RxT, uma vez que a escovação pode se tornar dolorida pela

mucosite, limpeza profissional semanal e uso de solução de clorexidina podem ser

indicadas.Como medida de prevenção e alívio para os sintomas da mucosite, os

pacientes devem enxaguar a boca de oito a dez vezes por dia com solução salina de

bicarbonato de sódio. O uso de próteses deve ser desaconselhado. Saliva artificial e

produtos específicos para melhora da secura bucal estão indicados. Fisioterapia é

indicada em casos de risco de se desenvolver trismo muscular (CAIELLI et al.,1995).

Observar a alimentação, suplementando a dieta quando necessário – alimentos

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líquidos e pastosos, de preferência – e uso de sonda nasogástrica em casos de

perda de peso severa (Quadro 5).

Quadro 5 - Procedimentos aplicados durante a radioterapia.

1- Reforço das orientações sobre higienização.

2- Suspensão temporária do uso de prótese parcial removível (PPR) e total

(PTR).

3- Suspensão do uso de gluconato de clorexidina a 0,12%.

4- Introdução dos bochechos de água bicarbonatada – 5 vezes ao dia.

01 colher de chá de bicarbonato de sódio

½ colher de chá de cloreto de sódio

diluídos em ¼ de copo de água aquecida.

5- Introdução dos bochechos de chá de camomila – 5 vezes ao dia.

6- Uso de saliva artificial, em caso de desconforto.

7- Aplicação diária de fluoreto de sódio a 1%, gel neutro, em pacientes

dentados, 1 vez ao dia, por 5 minutos.

8- Em presença de candidíase – uso de Nistatina suspensão – 100.000 UI/ml,

para bochechos.

9- Exercícios de abertura e fechamento de boca 10 vezes para completar uma

série, 5 séries, 3 vezes ao dia.

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3.3. INTERVENÇÕES ODONTOLÓGICAS APÓS A RADIOTERAPIA

Terminado o tratamento radioterápico é muito importante que o paciente

continue sendo acompanhado pelo cirurgião-dentista. As consultas devem ser

regulares e os pacientes devem ser acompanhados minuciosamente pelo resto de

suas vidas. Isto é necessário para checar, avaliar e reforçar o regime de higiene

bucal e para encorajar os pacientes a aderir ao programa. As lesões de mucosite

podem persistir e devem ser tratadas até que haja alívio dos sintomas e

desaparecimento de seus sinais clínicos. As próteses devem ser usadas com muita

cautela, pois a mucosa que foi exposta à radiação é vulnerável e facilmente

danificada, condição esta que é agravada pela xerostomia. A aplicação tópica de

flúor é indicada para reduzir as chances de aparecimento de lesões cariosas.

Possíveis extrações, se indicadas em condições muito específicas, devem ser

realizadas sob cuidados especiais: alta dose profilática de antibiótico de largo

espectro é iniciada poucos dias antes da extração e deve continuar por duas

semanas, para prevenir infecções oportunistas. Tratamento preventivo com oxigênio

hiperbárico tem se mostrado mais benéfico do que a antibioticoprofilaxia na

prevenção de ORN, mas não é facilmente acessível na maioria dos países. Quando

a extração for de extrema necessidade, deve-se adotar o esquema terapêutico

proposto por Marx ect al. (1985), utilizando-se 1.000.000 unidades de penicilina G

aquosa, administrada por via endovenosa imediatamente antes da cirurgia e

manutenção de uma dose de 500 mg de fenoximetilpenicilina, 4 vezes ao dia, por 10

dias após a cirurgia. Casos de trismo permanecem com orientação fisioterápica e

aconselhamento nutricional deve ser mantido – quadro 6 (SOUZA e

BARBOSA,1991; CAIELLI et al.,1995; LOPES et al.,1998) .

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O tratamento multidisciplinar deve ser a tônica do tratamento oncológico e, nesse

sentido, a participação do cirurgião-dentista é fundamental para a prevenção e

tratamento das seqüelas terapêuticas.

Quadro 6 - Procedimentos aplicados após a radioterapia

1- Reforço das orientações sobre higienização.

2- Suspensão do uso de prótese parcial removível (PPR) e total (PTR) por 180

dias.

3- Bochechos com água bicarbonatada, por 30 dias – 5 vezes ao dia.

4- Bochechos com chá de camomila, 5 a 10 vezes ao dia, por 180 dias.

5- Em caso de candidíase, uso de nistatina.

6- Aplicação diária de flúor gel neutro em pacientes dentados, 1 vez ao dia, por 5

minutos.

7- Manutenção dos exercícios fisioterápicos, por 180 dias.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Complicações orofaciais infelizmente são comuns em todas as modalidades

de tratamento de pacientes portadores de neoplasias malignas de cabeça e pescoço

(SCULLY e EPSTEIN, 1996).

É de fundamental importância a prevenção e o controle dos efeitos adversos

bucais radioinduzidos tardios e agudos. Estes últimos podem limitar o tratamento,

levar à necessidade de interrupção temporária ou definitiva do tratamento e, dessa

forma, comprometer adversamente o controle local do tumor e as taxas globais de

sobrevida. Além disso, nos casos de interrupção com aumento do tempo total de

tratamento, ocorrerá aumento significativo no custo do tratamento, diminuição da

motivação do paciente em prosseguir o planejamento terapêutico e, sobretudo, a

repercussão sobre o prognóstico, a qualidade de vida do paciente e sua posterior

reabilitação (BARASCH et al., 1998; SILVERMAN, 1999; DIB et al., 2000).

Pacientes portadores de câncer avançado de cabeça e pescoço têm que

lidar com a doença em si, que apresenta risco de vida elevado, e também com a

perspectiva de enfrentar efeitos adversos causados pelo tratamento oncológico.

Estas experiências são extremamente traumáticas. O grande espectro de efeitos

indesejáveis da RxT afeta particularmente as estruturas da cavidade bucal e ossos

maxilares, resultando em sério prejuízo da função oral, acarretando transtornos à

qualidade de vida dos pacientes e à sua tolerância ao tratamento (BRUINS et al.,

1998).

A maioria dos pacientes que irão se submeter a tratamento radioterápico

para câncer de cabeça e pescoço necessitam de atenção especial em relação à

cavidade bucal. O estabelecimento e a manutenção da saúde bucal e um cuidadoso

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planejamento de intervenções odontológicas são procedimentos essenciais para

minimizar o aparecimento de efeitos deletérios ou, pelo menos, oferecer melhores

condições de manejo destas complicações (SCULLY e EPSTEIN, 1996).

É consenso que o acompanhamento dos pacientes que irão se submeter ou

já estão sob tratamento radioterápico é melhor realizado por meio de colaboração

entre cirurgiões-dentistas, radioterapeutas, cirurgiões de cabeça e pescoço,

oncologistas clínicos, fonoaudiólogos, enfermeiros especializados e outros

profissionais de saúde envolvidos no tratamento oncológico. Se os cirurgiões –

dentistas participarem desde estágios iniciais do plano de tratamento, procedimentos

necessários poderão ser realizados, com a mínima possibilidade de interrupções da

RxT (ROTHWELL, 1987; MARQUES, 2000; ORD et al., 2001).

As potenciais complicações advindas da utilização da radiação ionizante

podem ser transientes e desaparecer com o término do tratamento. Outras podem

se tornar crônicas, requerendo cuidados constantes por parte do cirurgião-dentista.

Desse modo, é de grande importância que o profissional da odontologia conheça as

modalidades de tratamento do câncer de cabeça e pescoço, especialmente o de

cavidade bucal, as complicações que poderão resultar de sua terapia, e que

estabeleça um plano de tratamento adequado para cada paciente. O preparo da

cavidade bucal deve ser realizado, preferencialmente, antes do início da terapia do

câncer, e deve continuar durante e após a terapia (MIGLIORATI e MIGLIORATI,

2000).

O tratamento multidisciplinar deve oferecer ao paciente: a melhor

oportunidade de cura, a preservação dos órgãos e a melhor qualidade de vida. A

otimização das chances de cura para os pacientes, mesmo à custa da diminuição na

capacidade funcional, deve permanecer como prioridade máxima. Por isso, a

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ocorrência de efeitos indesejáveis torna-se um desafio para a equipe de

profissionais de saúde. Tanto a experiência dos grandes serviços de oncologia como

a literatura em geral fundamentam amplamente a necessidade do manejo

multidisciplinar do carcinoma de cabeça e pescoço (MARQUES, 2000).

Numerosos relatos indicam que em adição ao tratamento oncológico, a

preexistência de doenças bucais, extrações dentárias e tratamento odontológico

inadequados são os maiores fatores de risco para o desenvolvimento de

complicações bucais. Para preveni-las e melhorar os resultados a serem obtidos

pelos pacientes, medidas de prevenção e tratamento abrangentes são necessárias

antes, durante e após a terapia antineoplásica, principalmente quando a RxT está

indicada (BRUINS et al., 1998).

Apesar da maioria dos estudos defenderem a eficácia do exame bucal

prévio ao tratamento radioterápico, diretrizes baseadas em evidências clínicas, que

auxiliariam os clínicos a decidirem qual a melhor intervenção na cavidade bucal seria

a mais indicada para cada paciente, não estão amplamente disponíveis (BRUINS et

al., 1998). As poucas orientações descritas e utilizadas atualmente mostram uma

grande diversidade de condutas e são formuladas em termos gerais, não

consideram todos os fatores de risco relacionados às lesões malignas e não

analisam as relações que existem entre os efeitos benéficos e inconvenientes das

intervenções odontológicas em pacientes que irão se submeter a RxT.

Uma vez que as complicações causadas pelo tratamento radioterápico

são passíveis de prevenção ou de controle, é necessário, para obter-se melhores

condições de vida e de tratamento para os pacientes, que se prepare um protocolo

abrangente, com comprovação de eficácia clínica, que possa ser utilizado pelas

equipes multidisciplinares de atendimento aos pacientes oncológicos.

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De acordo com a literatura consultada, seria ideal que, logo após fosse

diagnosticada a neoplasia maligna de cabeça e pescoço, o paciente fosse

encaminhado ao cirurgião-dentista. Este, então, se encarregaria de avaliar, prevenir

e orientar o paciente quanto às possíveis alterações bucais que poderão se

desenvolver, em tempo hábil e não comprometendo o plano de tratamento global da

neoplasia.

Para ser bem-sucedido, o desenvolvimento de um programa proposto

para os pacientes irradiados depende basicamente de dois fatores indispensáveis:

conhecimento profundo do problema por parte dos elementos da área de saúde

envolvidos direta ou indiretamente com a radioterapia de cabeça e pescoço para a

correta indicação de um programa de atenção estomatológica e educação dos

pacientes para os cuidados necessários durante as fases pré, trans e pós-

radioterapia.

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89. SPOLIDORIO, D.M.P. et al. Avaliação quantitativa de Streptococcus do grupo

mutans e Cândida sp e fatores salivares na cavidade bucal de pacientes submetidos à radioterapia. Pesqui Odontol Bras, v. 15, n. 4, p. 354-358, out./dez. 2001.

90. SOUZA, E.W.; BARBOSA, J.R.A. Procedimentos odontológicos em pacientes

submetidos a radioterapia de cabeça e pescoço. Odont Mod, v. 18, n. 5, p. 23-25, set./out. 1991.

91. SULLIVAN, G.W. et al. Inhibition of the inflamatory actino of interleukin-1 and

tumor necrosis factor (alpha) on neutrophil function by pentoxifylline. Infec Immunol, v. 56, p. 1722-1729, 1988.

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92. TENCARTE, C.R. et al. Tratamento dos efeitos secundários da actinoterapia

na esfera bucal. Conduta do Centro Brasileiro de Oncologia Bucal. Rev Bras Odontol, v. 53, n. 3, p. 146-148, 1997.

93. TOLJANIC, J.A.; SAUNDERS JUNIOR, V.W. Radiation therapy and

management of the irradiated patient. J Prosthet Dent, v. 52, n. 6, p. 852-858, dec. 1984.

94. WHITMAYER, C.C. Radiotherapy for head and neck neoplasm. Gen Dent, v.

45, n. 4, p. 363-370, july/ago. 1997.

95. WONG, J.K.; McLEAN, M. Conservative management of osteoradionecrosis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod, v. 84, n. 1, p. 16-21, july 1997.

96. WRIGHT, W.E. et al. An oral disease prevention program for patients

receiving radiation and chemotherapy. J Am Dent Assoc, v. 110, p. 43-47, jan 1985.

97. NATIONAL ORAL HEALTH INFORMATION CLEARINGHOUSE. Oral

complications of cancer treatment: what the oral health team can do.National Institute of Dental and Craniofacial Research. Disponível em: <http://www.nohic.nidcr.nih.gov/index.asp> Acesso em: 4 ago. 2003.

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ANEXO 1

PRONTUÁRIO ODONTOLÓGICO

IDENTIFICAÇÃO 1. Nome: ________________________________________________________________________________ 2. Filiação: ______________________________________________________________________________ 3.Cor: ____________________ 4. Sexo:__________ 5. Estado civil: _______________________________ 6. Nacionalidade: ______________________________ 7. Naturalidade:______________________________ 8. Data de nascimento: ____/ ____/ _______ 9. Profissão: _________________________________________ 10. Cônjuge:______________________________________________________________________________ 11. Endereço res.: _________________________________________________________________________ _________________________________________ Tel.: __________________________________________ 12. Endereço com.: ________________________________________________________________________ _________________________________________ Tel.: __________________________________________ 13. Documento de identidade: ____________________ 14. Prontuário hospitalar: ______________________ 15. Médicos responsáveis: _____________________________________________________________ ANAMNESE Q.P. ou M.C.: H.M.A. ( início, evolução, estado atual ):

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H.P. ( Tratamentos médicos ou odontológicos: doenças cardiovasculares, reumáticas, renais,

hepáticas, dermatológicas, infecciosas, hemopatias, endocrinopatias; alergia e intolerância por

anestésico e medicamentos; dietas, hemorragia e cicatrização; sono, apetite e digestão; hábitos e

condições de vida ):

H.F. ( Doenças transmissíveis, por contágio ou herança, em membros da família do paciente e

“causa mortis” de possíveis óbitos ocorridos entre os mesmos):

Avaliação dos hábitos de higiene oral :

1. escova:______________________________

2. fio dental:____________________________

3. palito:_______________________________

4. pasta dental:__________________________ enxagüatórios: __________________

5. freqüência da escovação:_______________________________________________

6. freqüência de ida ao dentista:____________________________________________

7. última consulta odontológica:___________________________________________

8. Está em tratamento odontológico?

Se SIM, que tipo de tratamento?

Nome e telefone do dentista:

Certifico que as informações por mim dadas são verdadeiras.

Belo Horizonte, ______ de ________________ de 200__.

__________________________________________________________

PACIENTE

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Localização, estadiamento e avaliação histopatológica da neoplasia maligna:

Planejamento de tratamento oncológico/ Radioterapia (equipamento utilizado, campo

a ser irradiado, dose total, fracionamento e tempo de tratamento):

EXAME OBJETIVO

(constituição física, fácies, edemas, pele, temperatura, pressão arterial, pulso, respiração, exames

extra-oral, lábios, bochechas, assoalho bucal, língua, palato, orofaringe, mucosa alveolar, gengiva,

dentes, fluxo salivar, oclusão, ATM, fatores traumatizantes, próteses):

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EXAMES COMPLEMENTARES

PLANO DE TRATAMENTO ONCOLÓGICO e EVOLUÇÃO

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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Prontuário odontológico realizado por :