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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Juliana Henrique Gonçalves O curso de pedagogia analisado pelos artigos acadêmicos produzidos entre 1999 e 2011. MESTRADO EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE SÃO PAULO 2013

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · APASE Sindicato dos Supervisores de Ensino do Magistério Oficial no Estado de São Paulo CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Juliana Henrique Gonçalves

O curso de pedagogia analisado pelos artigos acadêmicos produzidos entre 1999 e 2011.

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

SÃO PAULO 2013

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Juliana Henrique Gonçalves

O curso de pedagogia analisados pelos artigos acadêmicos produzidos entre 1999 e 2011.

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA E SOCIEDADE

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial obtenção do título de MESTRE em Educação no Programa de Estudos Pós Graduados em Educação:História, Política, Sociedade, sob a orientação da Profa. Dra. Helena Machado de Paula Albuquerque.

São Paulo 2013

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Banca Examinadora

_________________________________

_________________________________

_________________________________

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À minha família, pelo apoio, incentivo e paciência. Ao Carlo Eugênio, meu amor, que me apoia e

compartilha comigo minhas angustias e felicidades.

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Agradecimentos

À professora Dra. Helena P. Machado Albuquerque, pela orientação, atenção e dedicação. Aos professores do programa de Pós-graduação em Educação: História, Política, Sociedade, pelas possibilidades de reflexões e debates, que só trouxeram enriquecimento à minha formação. À querida Betinha, pelas ajudas, dicas, conversas e atenção. Aos amigos que partilharam comigo essa jornada, que escutaram, compreenderam e ajudaram em diversos momentos. Ao Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo subsídio financeiro que colaborou para o desenvolvimento desta pesquisa.

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GONÇALVES, Juliana Henrique. 2013. O curso de pedagogia analisado pelos artigos acadêmicos produzidos entre 1999 e 2011. Dissertação (Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade.

Resumo

Esta pesquisa focalizou o curso de pedagogia. Seu objetivo central foi

identificar a concepção de pedagogia expressa em artigos selecionados

sobre o curso produzidos no período entre 1999 e 2011. Teve-se por

objetivos específicos: mapear e analisar os artigos publicados em revistas

acadêmicas sobre o curso de pedagogia entre 1999 e 2011; averiguar o

que está sendo discutido nos artigos acadêmicos; analisar os objetivos de

cada artigo; identificar as perspectivas e críticas em relação ao curso de

pedagogia e analisar comparativamente ideias convergentes e divergentes.

Utilizou-se uma metodologia de pesquisa documental de estado da

questão. Para a realização dessa pesquisa foram pesquisados os artigos

nos portais da CAPES Periódicos e do Scielo, sob os descritores:

pedagogia e curso de pedagogia e pedagogo; o que resultou em uma

amostra de 20 artigos. Teve-se como referenciais a legislação norteadora

do curso e os teóricos: Debesse, Mialaret, Saviani, Libâneo, Cruz, Gentili e

Gimeno Sacristán. Como resultados da pesquisa constatou-se uma

diferença entre os artigos escritos antes da publicação das diretrizes

curriculares nacionais para o curso consubstanciadas na Resolução CNE

01/ 20006 e nos produzidos posteriormente. Concluiu-se que a concepção

de pedagogia ainda é um tema em aberto que traz debates e polêmicas,

principalmente no tocante à forma como o curso deve estar estruturado.

Palavras-chaves: Pedagogia, curso de pedagogia, pedagogo, diretrizes

curriculares nacionais.

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GONÇALVES, Juliana Henrique. 2013. The course of pedagogy analyzed in the articles published in academic journals between 1999 and 2011. Dissertation (Master in Education: History, Politics, Society. São Paulo: Catholic University of São Paulo. Programo f Postgraduate studies in Education: History, Politics, Society.

Abstract

This research focused on the University courses of pedagogy. Its principal

aim was to identify the concept of pedagogy expressed in pre selected

articles published between 1999 and 2011. The specific goals are: to map

and analyze the articles published in academic journals; to identify the aims

of each article; to identify the prospects and criticisms about the course of

pedagogy and analyze comparatively convergent and divergent ideas. The

method was state of art research. The on-line database of Scielo and

CAPES were used to select the 20 articles that were analyzed in this text.

The following descriptors were used on this on-line research: pedagogy,

course of pedagogy and pedagogue. The research had as reference the

guiding legislation of the courses and the theorists: Debesse, Mialaret,

Saviani, Libâneo, Cruz, Gentili and Gimeno Sacristán. A difference was

noted between the articles written before the publication of the national

curriculum guidelines and the produced after it. The conclusion is that the

concept of pedagogy is still an open issue full of debates and controversies,

especially concerning how the course should be structured.

Keywords: Pedagogy, course of pedagogy, pedagogue and national

curriculum guideline.

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Lista de siglas

ANFOPE Associação Nacional pela Formação dos

Profissionais de Educação

ANPAE Associação Nacional de Política e Administração

da Educação

Anped Associação Nacional de Pós-Graduação e

Pesquisa em Educação

APASE Sindicato dos Supervisores de Ensino do

Magistério Oficial no Estado de São Paulo

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior

CEDES Centro de Estudos Educação e Sociedade

CFE Conselho Federal de Educação

CNE Conselho Nacional de Educação

FORUMDIR Fórum de Diretores de Faculdades/Centros de

Educação das Universidades Públicas

LDB Lei de Diretrizes e Bases

SINESP Sindicato dos Especialistas de Educação do

Ensino Público Municipal de São Paulo.

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Sumário

Introdução……………………………………………………………………….10

Capítulo 1 - Estudos das Diretrizes Curriculares Nacionais para o

curso de pedagogia e do conceito de pedagogia e suas diferentes

concepções.................................................................................................24

1.1 – O contexto macro da educação...................................................24

1.2 – Análise da Resolução CNE 1/2006 e pareceres

sobre o curso depPedagogia – contribuição de três autores

sobre o tema........................................................................................31

1.3 - Conceito de pedagogia e suas concepções………………….…..43

Capítulo 2 – Análises dos artigos selecionados.....................................62

2.1 – Artigos publicados antes da promulgação

da Resolução n. 1/2006......................................................................63

2.2 - Artigos publicados após a publicação da

Resolução n. 1/2006...........................................................................74

Considerações Finais..............................................................................103

Referências Bibliográficas......................................................................110

Anexo........................................................................................................117

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Introdução

Logo que conclui a primeira graduação fui para a área educacional.

Trabalho há seis anos e meio como professora de geografia do Ensino

Fundamental II e Ensino Médio. Mesmo com o passar do tempo e a

experiência adquirida, sempre me senti insegura e sem base firme para as

discussões mais aprofundadas no tocante às questões pedagógicas. Achava

que a minha formação para docência era insuficiente, que não tinha uma

formação teórica pedagógica para debater e discutir certos assuntos nas

escolas nas quais trabalhei, não conseguindo, plenamente, fazer uma ponte

entre a minha prática como docente e a teoria, ou seja, ver como esses dois

aspectos estão relacionados na minha própria vivência como professora.

Parti para a segunda graduação acreditando que iria suprir minhas

necessidades de formação. Assim, cursei pedagogia, e a partir de minhas

leituras e vivências passei a refletir e questionar o próprio curso e o modelo de

formação para todos os profissionais da educação que este oferecia.

Comecei a fazer perguntas relativas, principalmente, ao curso de

pedagogia: qual o tipo de formação dado nos cursos de pedagogia? Esse

modelo de formação adotado é o melhor? Há questionamentos e críticas em

relação a essa formação? Quais são eles? Estas eram minhas indagações logo

após minha formação em pedagogia.

Com esses questionamentos, entrei no mestrado com o objetivo de

estudar e pesquisar a qualidade da formação fornecida aos alunos nos cursos

de pedagogia. Porém, a questão da qualidade é de difícil mensuração, a qual,

se não for bem alicerçada, torna-se subjetiva, o que poderia tornar minha

pesquisa pouco objetiva, diferente do esperado de um trabalho acadêmico.

Para saber o que já foi pesquisado e discutido sobre o tema em tela,

realizei de início um levantamento das produções que abordam o curso de

pedagogia nos portais da CAPES Periódicos e do Scielo. Para esse

levantamento bibliográfico foram utilizados os seguintes descritores sob a

forma de todas as palavras: pedagogia, curso de pedagogia e pedagogo.

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No portal da Scielo, com o descritor ”pedagogia“, foram encontrados 121

produções, e com os descritores ”curso de pedagogia” e “pedagogo” foi

encontrada uma produção para cada. Já no portal da CAPES Periódicos, com

o descritor ”pedagogia”, foram encontrados 137 produções, com o descritor

“curso de pedagogia” encontrei 101 trabalhos e com o descritor ”pedagogo”,

mais 11.

Desse levantamento, feito nos dois mais importantes portais de artigos

científicos do Brasil, percebi a grande quantidade de trabalhos acadêmicos

voltados para essa temática, totalizando 249. Dentro desse conjunto, pude

notar a presença do tema “pedagogia“ em diversas áreas de ensino da

educação básica, como a matemática, a língua portuguesa, a educação física e

as artes, bem como produções em áreas do ensino superior relacionadas à

enfermagem, à medicina e à engenharia, entre outras.

Além desses trabalhos, foram igualmente encontrados temas de algum

modo relacionados com os citados acima, como, por exemplo: a pedagogia de

algum autor, como Paulo Freire, Gaston Bachelard ou Wilhelm Dilthey;

questões de gênero; pedagogia de projetos; escola inclusiva; pedagogia

libertária; direitos humanos e tantos outros.

Nesta busca, foi possível notar nos artigos a diversidade do material que

se relaciona ao tema aqui pesquisado. Percebi então que a questão do curso

de pedagogia não está definida, e nos trabalhos publicados nas revistas

acadêmicas encontram-se discussões sobre a identidade do curso e dos

profissionais da educação, debates sobre questões epistemológicas da

pedagogia e também pesquisas sobre os rumos tomados pelo curso e sua

concepção.

Considerando ser interessante discutir o curso de pedagogia no período

atual, decidi restringir o foco da análise aos artigos de revistas acadêmicas

publicados entre 1999 e 2011, uma vez que esse recorte temporal possibilitava

abranger a mudança da legislação a eles referente (1996 e 2006).

A preocupação da atual pesquisa se volta unicamente para o curso de

pedagogia, com o objetivo de compreender como este é visto e discutido na

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produção acadêmica da própria área. Tendo verificado que, ao contrário do

grande o número de artigos que focalizam o curso de pedagogia, foi baixa a

quantidade de teses (duas) e dissertações (cinco) encontradas, decidi fazer a

análise da produção científica sobre o curso de pedagogia apenas a partir da

leitura dos artigos. Como a minha intenção nesta pesquisa é uma analise

detalhada dos trabalhos publicados, houve a necessidade de fechar o escopo

de possibilidades de trabalhos analisados.

Após uma leitura dos títulos, resumos e palavras-chaves, selecionei ao

final 32 artigos. Ao realizar a análise desses resumos, constatei que alguns

tratavam do curso de pedagogia, mas focalizando-o em outros países, como

Portugal, por exemplo, ou o analisavam como apoio para avaliar a formação

específica dada ao pedagogo para a educação infantil. Alguns artigos

mostravam o processo de institucionalização do curso em uma Faculdade de

Filosofia, outros tantos, a história da formação docente no seu aspecto mais

geral sem focalizar especificamente o curso de pedagogia, o que não atendia o

objetivo da pesquisa que busco realizar, já que não apresentavam o curso

como tema principal.

Por conseguinte, ao analisar os resumos desses artigos, foi feito um novo

corte de 12 deles, resultando em uma amostra de textos selecionados por

terem como foco específico o curso de pedagogia. Logo, de acordo com esse

critério, fiquei com 20 artigos para serem analisados e discutidos na pesquisa.

Diante do levantamento realizado, coloquei a seguinte indagação, que

serviria de guia para as análises: qual a concepção de pedagogia que está por

trás das discussões sobre o curso nas publicações de artigos acadêmicos?

Para respondê-la, decidi efetuar uma pesquisa denominada de estado da

questão”, que consiste em mapear e analisar a produção acadêmica sobre o

curso de pedagogia. Para tanto, foi realizado um balanço da bibliografia já

produzida com o intuito de traçar um perfil do que está sendo discutido e

indicar quais as perspectivas adotadas pelos autores, apontando as possíveis

divergências e convergências entre esses trabalhos acadêmicos.

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Portanto, o foco de minha pesquisa será o curso de pedagogia em si e

não um estudo mais amplo de formação docente (englobando licenciaturas e

pedagogia), pois é nesse curso que, atualmente, são formados os docentes

que atuarão nos primeiros anos da formação escolar da criança, ou seja, a

base escolar será oferecida por estes professores, e uma base sólida e bem

desenvolvida é fundamental para que os alunos consigam caminhar sem

grandes problemas na sua vida escolar, além da formação de outros

profissionais da educação.

Do ponto principal desta pesquisa, que é averiguar a concepção de

pedagogia que está colocada nos trabalhos acadêmicos aqui avaliados,

desmembraram-se algumas perguntas, tais como: quais são as críticas e as

qualidades do modelo atual do curso de pedagogia? O curso cumpre com as

expectativas colocadas para ele?

Para tentar entender os problemas centrais levantados por essa pesquisa,

tomando por ponto de partida os artigos selecionados, pode-se agora afirmar

que este trabalho têm como objetivo central identificar a concepção de

pedagogia expressa nos artigos selecionados sobre o curso de pedagogia

produzidos no período de 1999 a 2011.

A pesquisa tem como objetivos específicos:

1. mapear e analisar os artigos publicados em revistas acadêmicas sobre

o curso de pedagogia entre 2000 e 2010;

2. averiguar o que está sendo discutido nos artigos acadêmicos;

3. analisar os objetivos de cada artigo;

4. identificar as perspectivas e críticas em relação ao curso de pedagogia

e analisar comparativamente ideias convergentes e divergentes.

Após estudo de alguns teóricos, levantei como hipótese que não há uma

única concepção de pedagogia e que, portanto, o curso sofre com mudanças

de rumo no decorrer de sua história e indefinições de acordo com a concepção

de pedagogia vigente.

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O sentimento de que há problemas na formação do pedagogo, e

consequentemente do professor das séries iniciais, é algo generalizado.

Porém, pressuponho que correntes teóricas diversificadas irão encaminhar a

questão para diferentes soluções, levantando discussões também diversas

quanto ao curso de pedagogia e passando por discussões de concepções de

pedagogo, de professor, e até constatações políticas e legais.

Com o intuito de entender mais profundamente a metodologia de

pesquisa sobre o estado da questão ou balanço, fiz uma leitura prévia de teses

e dissertações dos programas de pós-graduação da PUC-SP que utilizaram

esse tipo de procedimento de pesquisa. Foram encontrados 11 trabalhos

acadêmicos na última década (2000 a 2010) que utilizaram o balanço de

produção acadêmica no desenvolvimento da respectiva dissertação ou tese,

(Anexo 1). Tal passo foi importante para uma melhor familiarização com as

exigências da metodologia para esse tipo de trabalho, e também para poder

averiguar possibilidades de organização e análises dos dados obtidos,

resultando assim em maior segurança quanto à metodologia de pesquisa.

O modelo de pesquisa que busco realizar, de balanço ou estado da

questão dos artigos acadêmicos produzidos entre 1999 e 2011 que discutem o

curso de pedagogia, é um modelo de pesquisa importante. André (2002)

mostra a relevância de pesquisas o tipo balanço ou da forma que também

denomina de estado do conhecimento na educação:

Estudos do tipo “estado do conhecimento”, que fazem uma síntese integrativa da produção acadêmica em uma determinada área do conhecimento e em um período estabelecido de tempo, têm sido muito úteis ao revelar temáticas e metodologias priorizadas pelos pesquisadores, fornecendo importantes elementos para aperfeiçoar a pesquisa num determinado campo do saber.

Esses mapeamentos são fundamentais para acompanhar o processo de constituição de uma área do conhecimento, porque revelam temas que permanecem ao longo do tempo, assim como os que esmaecem, os que despontam promissores e os que ficam totalmente esquecidos. O material que serve de base para esses mapeamentos, isto é, aquilo que constitui o corpus sobre o qual é elaborada a síntese integrativa – relatórios de pesquisa, artigos de periódicos, textos apresentados em eventos científicos – é submetido a um olhar crítico que permite identificar redundâncias, omissões, modismos, fragilidades teóricas e metodológicas, que se adequadamente consideradas e corrigidas, contribuem para o reconhecimento do status científico da área e aumentam sua

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credibilidade junto à comunidade acadêmica/científica (ANDRÉ, 2002, p. 43).

De acordo com algumas leituras prévias de textos que tratam do “estado

da questão”, percebe-se que a produção de trabalhos voltados para o curso de

Pedagogia é pequena quando comparada a outros subtemas da educação, o

que reforça a relevância desta pesquisa.

Isso vem mostrar, como exposto anteriormente, que esta é uma área que

necessita de uma síntese para apontar e revelar temáticas que podem ser

futuramente aperfeiçoadas, ajudando a construir uma pesquisa mais intensa e

densa dentro da área de estudo:

Em linhas gerais, o exame das dissertações e teses produzidas na década de 1990 sobre a formação de professores revela que a maioria dos estudos se concentra na formação inicial, procurando avaliar os cursos que formam docentes. O curso Normal é o mais estudado. O curso de licenciatura também é o alvo de muitas pesquisas, enquanto o curso de pedagogia é pouco investigado (ANDRÉ et al., 1999, p. 303).

A análise dos artigos em sua íntegra, feita após uma leitura detalhada e

esmiuçada destes, foi o caminho escolhido, na medida em que há dificuldade

de realizar levantamentos sobre pesquisas acadêmicas cuja proposta de fazer

uma análise da produção acadêmica somente a partir dos resumos, pois estes

são deficitários nas informações necessárias para uma análise mais minuciosa

e qualitativa dos textos, como já apontado por Bueno, Marin e Sampaio (2005)

ao comentar as constatações em relação à leitura de artigos: “[...] o primeiro

dado que se destaca é a falta de precisão dos resumos [...]” (BUENO et al.

2005, p. 187).

Tal fato justifica a necessidade de aprofundamento da leitura dos artigos

para poder conseguir uma análise mais completa desses. Assim, analisar uma

gama grande de materiais sobre o tema segundo os critérios desta pesquisa

seria algo difícil dentro dos prazos estipulados, daí a necessidade de focar um

único tipo de produção acadêmica, que é o artigo em periódicos. Dessa forma,

o estudo terá maior importância para futuras consultas sobre o tema e poderá

servir de base para outros trabalhos acadêmicos, já que o panorama traçado

será mais completo.

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Sobre a temática do curso de pedagogia, é possível notar, com algumas

leituras prévias sobre o assunto, que entre os pesquisadores da área há uma

preocupação muito presente não só na última década, mas anteriormente

também, quanto aos caminhos do curso de pedagogia, preocupação essa que

recai na discussão sobre a concepção de pedagogia adotada em cada época.

Na década de 1920, em São Paulo, por exemplo, o debate sobre a

formação docente em nível superior foi bem forte, isso porque Sampaio Dória

cria a Faculdade de Educação “para aperfeiçoamento pedagógico e cultural

geral com o fito de formar inspetores, diretores de escolas normais, ginásios e

grupos escolares, além de professores para as escolas complementares”

(EVANGELISTA, 2002, p.45). Porém, a formação de professores em nível

superior só irá ser estabelecida de fato com a Lei estadual n. 2.269, de 31 de

dezembro de 1927, que diferencia o currículo da Escola Normal da Praça do

existente em outras escolas normais do Estado de São Paulo, dando-lhe

caráter de superioridade, ou seja, organizando-a como uma Escola Normal

Superior (idem, ibidem)

Muitos autores, no decorrer da história, mostraram que há

questionamentos quanto ao modelo de formação de professores e quanto à

criação do curso de pedagogia. Entre eles, Fernando de Azevedo considerava

que a formação superior do docente era uma necessidade, já que, no caso de

não haver tal formação, isso seria um risco à democracia, pois não haveria

clareza para os professores dos caminhos da ciência livre e neutra, passível de

fazer críticas e pesquisar:

Ao instituir formalmente a preparação superior desse profissional, ele realizou uma ideia unânime no inquérito, porém numa perspectiva técnica, razão pela qual denominou seu projeto de Instituto. Embora valorizasse a produção de pesquisa, não acentuou a produção da ciência como tarefa necessária à qualificação do mestre [...]. [...] imprimiu à instituição uma característica cultural, constituída pelo ideal de construção da “consciência nacional”. [...] ficou evidenciada a instrumentalização da formação docente para a realização de um modelo de sociedade pautada em valores industrializantes e citadinos, também o Instituto de Educação trouxe

essa marca (EVANGELISTA, 2002, p. 64).

Saviani (2008), ao descrever a história da pedagogia no Brasil, aponta

como a estrutura dos cursos de formação de professores sempre foi motivo de

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discussão, como aconteceu, por exemplo, quando da criação da Faculdade

Nacional de Filosofia, em 1939, que rompeu com a estrutura até então

existente para a formação de professores na Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras da USP e na Universidade do Distrito Federal, que era “ancorada no

desenvolvimento de estudos e pesquisas e na observação e no exercício

prático das escolas-laboratórios” (SAVIANI, 2008, pp. 37-38) e acabou por

separar “o profissional do cientista, deslocando-se o eixo das atividades

universitárias para a formação profissional” (SAVIANI, 2008, p. 38), separada

do desenvolvimento de pesquisa.

Ocorreu então uma separação entre a formação científica e a formação

profissional. Esse tema até hoje torna-se motivo de discussões, como

percebido em Libâneo e Pimenta:

[...] redução da formação do pedagogo à docência, à supressão em alguns lugares da formação de especialista (ou do pedagogo não diretamente docente), ao esvaziamento da teoria pedagógica em virtude da descaracterização do campo teórico-investigativo da pedagogia e das demais ciências da educação (LIBÂNEO & PIMENTA, 1999, p. 249).

[...] As novas realidades estão exigindo um entendimento ampliado das práticas educativas e, por conseqüência, da pedagogia (em alguns lugares denominados “ciências da educação”) distintos

dos cursos de formação de professores (LIBÂNEO & PIMENTA, 1999, p. 250).

Em seu trabalho sobre pesquisa em educação, André (2001) também

aponta a problemática da supervalorização da prática e consequente

desvalorização da teoria nos cursos de pedagogia. Para isso, utiliza-se de

alguns autores que também possuem a mesma preocupação e explicita suas

posições citando Miranda (2000):

Segundo Miranda, a literatura que focaliza a problemática do

professor reflexivo/pesquisador trata também das relações entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento dos profissionais práticos. A preocupação da autora, no entanto, é com a possível adoção acrítica dessa perspectiva, o que pode causar sérios problemas, como: (a) converter-se numa retórica legitimadora da reforma educacional, pondo nos ombros dos professores toda a responsabilidade pelo seu insucesso; (b) ao insistir num processo de reflexão orientado para resolver problemas imediatos da prática pode confirmar uma prática adaptativa aos problemas, e não transformadora; (c) “ao negar a teoria como parte necessária do processo de autonomia não estaria reduzindo, em lugar de elevar, as reais possibilidades de reflexão crítica do professor”?; (d) o

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pressuposto de que o conhecimento é importante é útil e imediatamente aplicável à prática não estaria afastando o professor de uma reflexão teórica que não esteja orientada por um fim imediato?; (e) corre-se o risco de desqualificar a universidade como instância formadora de professores; (f) “pode-se converter o exercício da pesquisa em ação esvaziada de significados se não lhe for garantida uma formação teórica sólida, preocupada não com os aspectos imediatos da vida escolar, mas também com outras grandes questões da cultura e da sociedade contemporânea”. Segundo ela,

“sem teoria não há emancipação” (MIRANDA apud ANDRÉ, 2001, pp. 56-57).

Silva também aponta para essa dicotomia entre teoria e prática em seu

texto sobre a educação do educador, quando estava em pauta uma reforma do

curso de pedagogia, e afirma:

[...] a recuperação da unidade entre e teoria e a prática educativa, de tal forma que a teoria seja o pensar crítico sobre a prática em busca de sua compreensão em toda sua significação global, ao mesmo tempo que essa prática pudesse atingir não só as consciências, mas que orientasse uma práxis transformadora social

das classes subalternas e instrumentalizasse suas lutas (SILVA, 1983, p. 44).

Outro autor, Imbernón, mostra que a formação do futuro docente deve ter

bases para “poder construir um conhecimento pedagógico especializado”

(2002, p.65) e, além disso, dar uma base sólida para que a atividade educativa

seja assumida na sua complexidade, formando um docente reflexivo em vários

âmbitos, como o cultural, o psicopedagógico e o científico.

Como visto, há em todos os autores mencionados acima um

questionamento e uma preocupação com o modelo do curso de pedagogia, o

que demonstra que o debate está aberto, e mesmo com as definições postas

nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso muito ainda está para ser

definido quanto aos rumos da pedagogia.

Para a análise dos artigos segui um roteiro, previamente estabelecido, no

qual destaquei os seguintes pontos:

- qual é a concepção de pedagogia?

- quais são as principais críticas e pontos positivos levantados sobre o

curso de pedagogia?

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- quem são os principais autores citados no artigo?

- são levantadas possibilidades de caminhos diferentes para o curso?

Quais?

- qual é a avaliação geral feita do curso de pedagogia?

Estes itens nortearam a pesquisa, mas antes dessa análise, foi feita uma

primeira categorização com os artigos selecionados, transformando-os em um

banco de dados cujo objetivo inicial é mapear os trabalhos, criando categorias.

Tendo como referencial básico a metodologia proposta por Bardin, “A

categorização tem como primeiro objectivo (da mesma maneira que a análise

documental), fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos

dados brutos” (1977, p. 118). A tabela 1 expressa o conjunto de artigos, objeto

de análise com informações básicas sobre eles.

Tabela 1 – Relação de artigos selecionados

Ano Título Autores Revista Palavras-chave

1999

Formação de profissionais da

educação no Brasil: o curso de Pedagogia em

questão

Leda Scheibe e Márcia Ângela Aguiar

Educação & Sociedade

Reforma educacional, formação de profissionais da educação, reforma do

curso de pedagogia, Institutos Superiores de

Educação, diretrizes curriculares.

1999

Formação de profissionais da

educação: visão crítica e perspectiva de

mudança

José Carlos Libâneo e Selma Garrido Pimenta

Educação & Sociedade

Pedagogia, teoria pedagógica, formação de

profissionais da educação, formação pedagógica,

formação docente.

2001

Curso de Pedagogia: novos questionamentos em torno de uma velha

identidade

Magali de Castro

Ensaio: avaliação e políticas

publicas em Educação

Formação de professores, curso de pedagogia,

Institutos Superiores de Educação, política

educacional.

Page 20: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · APASE Sindicato dos Supervisores de Ensino do Magistério Oficial no Estado de São Paulo CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento

20

2004 O espaço acadêmico da

pedagogia no Brasil: perspectiva histórica

Dermeval Saviani Paideia Pedagogia, história da educação, educação

brasileira.

2005

Pedagogia e faculdades de educação: vicissitudes e

possibilidades da formação pedagógica e

docente nas IFES

Márcia Ângela da S. Aguiar e Márcia Maria

de Oliveira Melo

Educação & Sociedade

Pedagogia, faculdades/centros de educação, políticas de

formação dos profissionais da educação, projeto

político-pedagógico, gestão educacional e de ensino.

2005 Pedagogia e Diretrizes

Curriculares: polêmicas e controvérsias

Márcia Ângela da S. Aguiar e Márcia Maria

de Oliveira Melo Linhas Críticas

Pedagogia e curso de pedagogia, diretrizes

curriculares, profissionais da educação, formação de

professores, política de formação, Anfope.

2006

Diretrizes Curriculares para o Curso de

Pedagogia no Brasil: a gestão da educação

como gérmen da formação

Naura Syria Carapeto Ferreira

Educação & Sociedade

Pedagogia, diretrizes curriculares de pedagogia,

festão da educação, formação, política

educacional.

2006

Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia no Brasil: disputas de projetos no campo da

formação do profissional da

educação

Márcia Ângela da S. Aguiar, Iria Brzezinski,

Helena Costa L. Freitas, Marcelo Soares Pereira

da Silva, Ivany Rodrigues Pino

Educação & Sociedade

Pedagogia e curso de pedagogia, políticas

educacionais, diretrizes curriculares de pedagogia, profissionais da educação, formação de professores,

política de formação.

2006

Pronunciamento conjunto das entidades

da educação em relação às diretrizes

curriculares nacionais para o curso de graduação em

pedagogia

ANPEd, ANFOPE, ANPAE, CEDES e

FORUMDIR

Educação & Sociedade

Não possui

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21

2006

Diretrizes Curriculares da Pedagogia:

imprecisões teóricas e concepção estreita da formação profissional

de educadores

José Carlos Libâneo Educação & Sociedade

Diretrizes curriculares para o curso de pedagogia,

políticas de formação dos profissionais da educação

conhecimento pedagógico, formação pedagógica,

formação docente.

2007

Formação de professores para a

educação básica e o curso de Pedagogia: a

tensão entre instiuído e instituinte

Iria Brzezeinski

Revista Brasileira de Política e

Administração da Educação

Políticas educacionais, formação de professores,

diretrizes currriculares nacionais, curso de

pedagogia.

2007

Elementos para a formulação de

diretrizes curriculares para cursos de

pedagogia

Maria Amélia Santoro Franco, José Carlos

Libâneo, Selma Garrido Pimenta

Cadernos de Pesquisa

Formação de professores, pedagogia, sistema de

educação, legislação de ensino.

2007 Pedagogia Dermeval Saviani e Alda

Junqueira Marin Cadernos de

Pesquisa Não possui

2007 Pedagogia: o espaço da

educação na universidade

Dermeval Saviani Cadernos de

Pesquisa

Pedagogia, formação de professores, sistema de

educação, história da educação.

2007

Diretrizes Curriculares para o curso de

pedagogia: trajetória longa e inconclusa

Leda Scheibe Cadernos de

Pesquisa

Pedagogia, formação de professores, educação

infantil.

2008 Por uma pedagogia do

equilíbrio

Kelley Cristine Gonçalves Dias Gasque

e Ricardo Tescarolo

Educação e Pesquisa

Pedagogia, experiência, ética, equilíbrio.

2008 Pedagogia e

complexidade: diálogos preliminares

Ricardo Antunes de Sá Educar Educação, pedagogia, complexidade ciência

pedagógica.

2009 Pedagogia: concepções

e práticas em transformação

Ercília Maria Angeli Teixeira de Paula e

Érico Ribas Machado Educar

Pedagogia, diretrizes curriculares nacionais para

o curso de pedagogia, pedagogia social, formação

de professores.

2009

70 anos do curso de pedagogia no Brasil:

uma análise a partir da visão de dezessete

pedagogos primordiais

Giseli Barreto da Cruz Educação & Sociedade

Curso de pedagogia no Brasil, pedagogos

primordiais, formação de pedagogos.

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22

2011 Competências do pedagogo: uma

perspectiva docente

Marília Costa Morosini, Alberto F. Cabrera e Vera Lúcia Felicetti

Educação

Formação do pedagogo, metodologia

compartilhada, competências e indicadores

de qualidade.

A partir desse banco de dados, foi realizada uma análise prévia com o

objetivo de comparar os artigos. Após essa etapa, foi realizada, para uma

análise mais aprofundada, a leitura integral dos vinte artigos, levada a cabo

com base nos pontos anteriormente colocados. Isto resultou em uma nova

categorização sobre cada um dos artigos, mas agora mais detalhada, uma vez

que estes já foram lidos na sua íntegra. Para tal, usei as seguintes categorias

de análise:

- autores citados;

- concepção de pedagogia;

- referenciais do curso de pedagogia;

- críticas;

- pontos convergentes e divergentes.

Com os dados obtidos, uma outra análise foi realizada, a fim de responder

às questões levantadas nesta pesquisa utilizando como referencial a legislação

que orienta o curso de pedagogia e os teóricos Debesse, Mialaret, Saviani,

Libâneo, Cruz, Gentili e Gimeno Sacristán. Tanto a legislação quanto os

teóricos citados serão aprofundados no primeiro capítulo desta pesquisa.

A presente dissertação está dividida em dois capítulos e considerações

finais. O primeiro capítulo traz a análise da macro visão da sociedade

brasileira, mostrando como as categorias de análise mais amplas da sociedade

influenciam as análises de uma realidade mais restrita (BALL, 2011), no caso,

o curso de pedagogia e os caminhos seguidos por este.

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23

Após essa contextualização, é feita uma análise das Diretrizes

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia na perspectiva de três

autores: Saviani (2008), Cruz (2011) e Silva (2009), e a discussão das

diferentes concepções de pedagogia que abarcam a problemática da relação

entre teoria e prática no interior do curso. Tais análises e discussões feitas

nesse primeiro capítulo são utilizadas como base para a análise dos artigos.

No segundo capítulo as análises dos artigos são feitas sob a ótica das

discussões abordadas no primeiro capítulo.

Nas considerações finais foram reforçados os seguintes pontos:

- concepção de pedagogia adotada por cada autor;

- temas predominantes nos artigos anteriores às Diretrizes Curriculares

Nacionais para o curso de pedagogia (2006);

- temas predominantes nos artigos após as Diretrizes Curriculares

Nacionais para o curso de pedagogia (2006);

- pontos convergentes e divergentes nas concepções de pedagogia;

- percepção da relação teoria-prática predominante.

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24

Capítulo 1 – Estudos das Diretrizes Curriculares Nacionais para o

Curso de pedagogia e do conceito de pedagogia e suas diferentes

concepções.

Neste primeiro capítulo, discuto o macro contexto da educação,

apontando como certas tendências mundiais da política e da economia

influenciam a educação e indicando quais desses aspectos influenciam os

microcosmos da educação, como por exemplo a implementação das Diretrizes

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia.

Dessa forma, são também discutidas as Diretrizes Curriculares Nacionais

que deram base aos cursos de pedagogia que atualmente estão em

funcionamento no Brasil. Para realizar essa discussão, foram selecionados três

autores que recentemente analisaram tais diretrizes: Demerval Saviani (2008),

Giseli Barreto da Cruz (2011) e Gláucia Silva (2009).

Na terceira parte desse capítulo abordo o conceito de pedagogia e suas

diferentes concepções, já que para entender o curso e as análises feitas pelos

diferentes autores em seus artigos, é necessário compreender antes qual é o

embasamento de cada autor e como cada um concebe a pedagogia, para a

partir daí apreender as diferentes visões e as possíveis convergências e

divergências entre eles.

1.1 – O macro contexto da educação

A problemática da qualidade da educação no Brasil possui uma

diversidade de fatores e aspectos. Um desses aspectos, bastante discutido, é a

formação de professores para os níveis de educação infantil e fundamental,

que atualmente é feita pelos cursos de pedagogia. Quero deixar claro que não

concordo com a ideia de que as mazelas educacionais de nosso país são,

única e exclusivamente, culpa dos professores, que são mal formados e mal

preparados para a profissão docente, endossando, pois, com o erro que

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Valliant aponta como uma corrente forte nos últimos anos: “en los últimos años

se responsabiliza a los maestros y profesores de buena parte de los fracasos

de los sistemas educativos” (VALLIANT, 2008, p. 14).

Porém, acredito que o modelo atual de formação docente, junto com as

demandas sociais, econômicas e políticas do mundo atual, colaboram em

muito com o problema. Ou seja, a questão da formação é um dentre os vários

aspectos que compõem o complexo tema da educação no Brasil e no mundo,

como apontado por Valliant:

En primer lugar existen cambios vinculados al contexto macro y a

la evolución de los valores y de las concepciones sociales. También

hay cambios en el contexto del aula que llevan entre otros a revisar

los contenidos curriculares. Por último, has cambios en el contexto

político y administrativo (VALLIANT, 2008, p. 13).

A temática sobre os problemas da educação é discutida por diversos

autores, que buscam apontar os motivos e as ações que acabam por favorecer

a problemática. Citarei aqui alguns autores que buscam explicitar os motivos

que causam os problemas na educação num macro contexto.

Fazer essa discussão é trazer à tona temáticas mais amplas a respeito da

sociedade e como ela está organizada. Ball observa a relevância da relação

entre a macro e a micro dimensão na educação

O desenvolvimento epistemológico nas ciências humanas,

como a educação, funciona politicamente e é intimemente imbricado

no gerenciamento prático dos problemas sociais e políticos. O

vocabulário específico deve distanciar os pesquisadores e sua

atividade, mas, simultaneamente, também constrói um olhar fixo que

torna a “paisagem do social” sempre mais visível. A ideia de que as

ciências humanas, como os estudos educacionais, permaneçam fora

ou acima da agenda política de gerenciamento da população ou, de

algum modo tenham status neutro incorporado a um racionalismo

progressivo flutuante é um pensamento débil e perigoso (BALL,

2011, pp. 33-34 – grifo do autor).

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Notadamente, todos apontam o atual processo de globalização econômica

como um forte fator macro estrutural que influencia a maneira como a

sociedade está organizada e traça suas necessidades no mundo

contemporâneo, afetando, consequentemente, a educação e modo como o

professor e a formação docente é concebida. Isso porque, como diz Saviani,

não parece ser “possível compreender radicalmente a história da sociedade

contemporânea e, consequentemente, a história da educação contemporânea

sem se compreender o movimento do capital” (SAVIANI, 2002, p. 17).

No século XX, muitos pensadores, pesquisadores e administradores

asociavam a educação ao desenvolvimento, ou seja, para eles, investir em

educação era a garantia para obter o almejado desenvolvimento econômico.

Tal ideia, como veremos, persiste ainda hoje no discurso e no imaginário de

muitos. Assim:

[...] os dispêndios com educação passaram a ser considerados

desejáveis, não apenas por razões sociais ou culturais, mas

especificamente por motivos econômicos, e transformam-se num

investimento de retorno ainda mais compensador do que outros tipos

de investimentos ligados à produção material. A educação passou,

pois, a ser concebida como dotada de um valor econômico próprio e

considerada um bem de produção (capital) e não apenas de consumo

(SAVIANI, 2002, p. 22).

Tal ideia trouxe também consigo a concepção de valor econômico da

educação e a teoria do capital humano. Inicialmente, tal ideário corroborou com

a visão tecnicista da educação, principalmente entre as décadas de 1950 e

1970. Já no final da década de 1980, com as reformas inspiradas no sistema

produtivo conhecido como toyotismo (sistema de qualidade total, profissionais

flexíveis, sem autonômia, apenas cumpridores de tarefas), a educação passa a

ter por objetivo buscar uma maior produtividade, garantindo o máximo de

resultados com o mínimo de gasto (SAVIANI, 2002).

O desenvolvimento do Estado mínimo, sucedendo o modelo de Welfare

State, teve por base uma mudança na própria teoria do capital humano, como

aponta Gentili:

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Sabemos que a Teoria do Capital Humano teve origem e base

de sustentação numa conjuntura pelo desenvolvimento capitalista

marcada pelo crescimento econômico, pelo fortalecimento dos

Estados de Bem-Estar e pela confiança, quanto menos teórica, na

conquista do pleno emprego. [...], a crise da Era de Ouro do

capitalismo contemporâneo, e o seu estrondoso desmoronamento a

partir dos anos de 1970, marcaram uma alteração substantiva na

função econômica atribuída à escolaridade. Mudança que esteve

associada às profundas transformações estruturais sofridas na

economia-mundo capitalista, as quais, apesar do seu evidente

impacto desigual no plano regional, tem criado as condições

necessárias para uma modificação fundamental na função econômica

atribuída à escola, processo que, como é óbvio, marcará

profundamente o rumo e a natureza das políticas educacionais na

virada do século.

[...] a Teoria do Capital Humano promoveu um deslocamento da

ênfase na função da escola como âmbito de formação para o

emprego (promessa que justificou, em parte, a expansão dos

sistemas educacionais durante o século XX). Tal deslocamento

permitiu a progressiva aceitação do fato de que a educação e o

desemprego, a educação e a distribuição regressiva de renda social,

a educação e a pobreza podem conviver num vínculo conflitante,

porém funcional com o desenvolvimento e a “modernização”

econômica. As décadas de 1980 e 1990 ofereceram a forte evidência

do fracasso daquela teoria na sua formulação originária, processo

que, longe de debilita-la, acabou lhe oferecendo novo impulso e

dinamismo. [...] conduziram paradoxalmente a uma radicalização das

premissas individualistas e meritocráticas que sustentavam a teoria e,

também é claro, conduziram a uma perda definitiva do seu substrato

liberal-democrático (GENTILI, 2002, pp. 47-48).

Para os autores Saviani e Gentili, há uma tendência educacional, que

prevalece desde a década de 1960, expressa na concepção produtivista da

educação. Gentili aponta o fato de que o não cumprimento da promessa

integradora da educação levou à mudança nas bases da Teoria do Capital

Humano. A promessa integradora da educação

[...] estava fundada na necessidade de definir um conjunto de

estratégias orientadas para criar as condições “educacionais” de um

mercadão de trabalho em expansão e na confiança (aparentemente

incontestável) na possibilidade de atingir o pleno emprego (GENTILI,

2002, p. 49).

Onde antes se via uma preocupação com a educação para garantir o

emprego e o desenvolvimento econômico nacional, há agora um viés no qual

não é mais o Estado o ente que garantirá a educação, mas o indivíduo o que

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terá de estudar por si mesmo para possuir a possibilidade da empregabilidade.

Em outras palavras, é no âmbito privado que a responsabilidade agora é

colocada, pois cada indivíduo será responsável pelo próprio desenvolvimento

de suas capacidades e competências.

Dessa forma, o que antes era tema da esfera pública, passa a ser posta

na esfera privada. Como aponta Ball:

[...] A imposição e o cultivo da performatividade na educação e

no setor público, somados à importação e disseminação do

gerencialismo, também requerem e encorajam maior conjunto de

formas de organização e culturas institucionais e aproximam formas

de culturas dos modos de regulação e controle predominantes do

setor privado. Isso é parte do que é denominado “formas de agir e

pensar dominantes” nas novas economias institucionais (Dale; Ozga,

1993, p. 27). Nos termos de seus modos de operação, o setor público

não é mais visto como tendo qualidades especiais que o distingam de

um negócio (BALL, 2011, p. 25)

Essa transferência de características, do público para a esfera privada

traz consigo muitos problemas, entre eles, como Ball aponta, a cultura do self.

Portanto, para Ball, “[...] A ideia de deliberar e planejar almejando o “bem

comum” torna-se sem sentido” (BALL, 2011, p. 26).

Sobre a questão da empregabilidade, Lessard deixa claro a mudança que

a educação tem para as classes médias

As classes médias e, notadamente, as classes médias

inferiores estão, assim, preocupadas com o futuro delas e de seus

filhos. Numa tal conjectura, a escola é contestada na sua capacidade

de manter a reprodução e a mobilidade social. O diploma não

constitui mais uma garantia completa contra a insegurança

econômica, ele representa uma moeda desvalorizada por duas

razões: tem muitos em circulação, logo se necessita ter mais de um

para manter a vantagem concorrencial ou para avançar. [...] O

diplomado precisa ainda demonstrar ser competente (LESSARD,

2008, pp. 46-47).

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No âmbito de políticas macroeconômicas de cunho neoliberal, Ianni

ressalta:

Que os sistemas de ensino estão sendo modificados

radicalmente, desde que o Banco Mundial (Banco Internacional de

Reconstrução e Desenvolvimento, Bird) inicia e desenvolve um

programa de alcance mundial, propondo, induzindo e orientando a

reforma dos sistemas de ensino de primeiro, segundo e terceiro

níveis, em cada um e em todos os países do mundo. Em diferentes

graduações naturalmente, tendo-se em conta as peculiaridades

sociais e as tradições de cada país, o Banco Mundial tem sido o

agente principal na definição do caráter “economicista”, “privatista” e

“tecnocrático” da reforma dos sistemas de ensino nos três níveis em

curso na maioria dos países, desde os anos de 1950 do século XX e

entrando pelo século XXI. Reduzem-se, ou mesmo abandonam-se,

os valores e os ideais humanísticos de cultura universal e

pensamento crítico, ao mesmo tempo em que se implementam

diretrizes, práticas, valores e ideais pragmáticos, instrumentais,

mercantis. Tudo o que diz respeito à educação passa a ser

considerado uma esfera altamente lucrativa de aplicação do capital; o

que passa a influenciar decisivamente os fins e os meios envolvidos;

de tal modo que a instituição de ensino, não só privada como também

pública, passa a ser organizada e administrada segundo a lógica da

empresa, corporação ou conglomerado (IANNI, 2002, pp. 32-33).

Portanto, a educação passa a ser vista como algo lucrativo, sob as bases

do capitalismo de cunho neoliberal, e para que o lucro seja obtido a busca pela

qualidade e por uma performance profissional mais lucrativa é almejada e

cobrada. O objetivo final da educação deixa de ser a formação do cidadão, e

passa a ser a obtenção do lucro.

Brzezinski, ao se referir às mudanças ocorridas no âmbito educacional

referentes às transformações da revolução tecnológica, aponta que:

As transformações provocadas pela revolução tecnológica

ocorrida no último quartel do século XX impõem também desafios à

formação de educadores que devem ser capazes de promover uma

educação escolar e não-escolar de qualidade. Os educadores

precisam estar formados para que possam educar crianças,

adolescentes, jovens, adultos que precisam reunir em sua bagagem

cognoscitiva, entre outros conhecimentos, saberes e habilidades: a

polivalência e a especificidade, a participação e a individualização, a

liderança e a cooperação, a abstração e as práticas concretas, a

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detenção do conhecimento e o domínio das tecnologias, a decisão e

o trabalho em equipe (BRZEZINSKI, 2007, pp. 231-232).

Por sua vez, Charlot argumenta que o atual processo de globalização e as

políticas neoliberais afetam diretamente a escola, modificando o modo como

ela é redefinida em relação à sua função primordial:

As mudanças, incluídas aquelas que dizem respeito à escola,

decorrem das novas lógicas neoliberais, impondo a sua versão da

modernização econômica e social. Essas lógicas são ligadas à

globalização, mas constituem um fenômeno mais amplo. [...]

[...] tornam-se predominantes as exigências de eficácia e

qualidade da ação e da produção social, inclusive quando se trata de

educação.

[...] essas exigências levam a considerar o fim do ensino médio

como o nível desejável de formação da população [...]

[...] a ideologia neoliberal impõe a ideia de que a “lei do

mercado” é o melhor meio, a até o único, para alcanças eficácia e

qualidade. [...]

[...] desenvolvem-se em ritmo rápido novas tecnologias de

informação e comunicação [...]

Todas essas transformações têm consequências sobre a

profissão docente, desestabilizada não apenas pelas exigências

crescentes dos pais e da opinião pública, mas também na sua

posição profissional (nas escolas particulares), na sua posição diante

de seus alunos, nas suas práticas.

[...] Vigia-se menos a conformidade da atuação do professor

com as normas oficiais, mas avaliam-se cada vez mais os alunos, [...]

(CHARLOT, 2008, p. 20).

Para finalizar, discutindo os fatores que influenciam a profissão docente,

Charlot indica mais claramente a contradição citada acima:

[...] o professor sofre os efeitos de uma contradição radical da

sociedade capitalista contemporânea. Por um lado, esta precisa de

trabalhadores cada vez mais reflexivos, criativos, responsáveis,

autônomos – e, também, de consumidores cada vez mais informados

e críticos. Por outro lado, porém, ela promove um concorrência

generalizada, em todas as áreas da vida, trate-se de produção, de

serviço, de lazer e até de beleza. Sendo assim, uma formação cada

vez mais ambiciosa é proposta a alunos visando cada vez mais à

nota e não ao saber (CHARLOT, 2008, p. 21).

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Assim, pode-se notar que os diversos autores acima arrolados possuem

uma leitura que abarca a complexidade do tema, isto é, mostra como fatores

macro econômicos atuam nas decisões dos Estados (educação mais eficiente),

na maneira como o social está organizado e na percepção da educação como

um todo, incluindo o curso de pedagogia, a formação docente e a valorização

que se lhes dá. Pressupõe-se que esta questão complexa certamente

influencia o curso e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de

pedagogia, licenciatura (Resolução CNE 01/ 2006).

Na segunda parte deste capítulo, com as análises sobre as Diretrizes

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia, licenciatura (2006), é

possível notar a presença de certa tendência neoliberal na reformulação do

curso, com uma formação dos profissionais de maneira aligeirada, sem

preocupação com a cientificidade da pedagogia, o que acaba por desvalorizar

profissional e academicamente o pedagogo. Isso só denota o quanto os

interesses econômicos se sobrepõem à educação focada na para a formação

de um cidadão reflexivo e crítico na sociedade.

1.2 – Análise da Resolução CNE 1/2006 e pareceres sobre o curso de

pedagogia – contribuição de três autores sobre o tema

Neste momento apresento as visões de alguns autores sobre os

pareceres que antecederam a Resolução CNE 1/2006, que regulamenta e

reestrutura o curso de pedagogia. Cada autor traz contribuições específicas

para a resolução, encaminhando discussões referentes ao documento que

demonstram a diversidade de posições a respeito do texto legal.

Ao fazer essa exposição, pretende-se traçar, em linhas gerais, o que está

sendo discutido em relação às Diretrizes Nacionais Curriculares para o curso

de pedagogia. Uma discussão mais aprofundada encontra-se no terceiro

capítulo desta dissertação, no qual é feita a análise dos artigos selecionados

que trazem o tema exposto em alguns de seus textos.

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32

Para entender a formulação das Diretrizes, é necessário notar que, no

final da década de 1970, emergiu entre os educadores um forte movimento

para que houvesse uma redefinição do curso de pedagogia, que para eles

deveria ser crítica em relação à:

[...] concepção tecnoburocrática oficial que não incluía a participação dos educadores na definição da política educacional.

No decorrer dos anos 1980 esse movimento recebeu diferentes denominações até firmar-se como Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE). Tendo realizado inúmeros Encontros, produziu ampla reflexão e diferentes propostas com a participação de educadores de vários Estados e universidades. A essa altura já havia se ampliado da Pedagogia para

as demais licenciaturas (PIMENTA, 2011, pp. 13-14).

Com a LDB de 1996, foi necessário reorganizar o sistema de ensino em

todos os níveis. Consequentemente, foi necessário também criar diretrizes

curriculares para os cursos de graduação, entre eles o de pedagogia. Em

decorrência disso, foram criadas comissões que deveriam elaborar as diretrizes

para serem aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).

Desde a primeira proposta, as ideias de diversas entidades foram

ouvidas, como a Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da

educação (ANFOPE), a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa

em Educação (Anped), o Fórum de Diretores das Faculdades/Centros de

Educação das Universidades Públicas Brasileiras (FORUMDIR), a Associação

Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE), o Centro de

Estudos Educação e Sociedade (CEDES) e o Fórum Paulista de Pedagogia

(FORPED), além de sindicatos como o Sindicato dos Supervisores de Ensino

do Magistério Oficial no Estado de São Paulo (APASE) e o Sindicato de

Supervisores de Ensino do Município de São Paulo (SINESP), com ideias nem

sempre convergentes.

Na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, mais precisamente em seu

artigo 62, há a possibilidade de formar professores em instituições que não

desenvolvam pesquisa, ou seja, nos Institutos Superiores de Educação (ISE)

que, na hierarquia acadêmica, ocupam o nível mais baixo de formação. O

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artigo 64 dessa mesma lei inicialmente expunha que a formação de

professores ocorreria exclusivamente nas ISE, mas

[...] com a luta de educadores e várias instituições, substitui-se o exclusivamente por preferencialmente, reabrindo a possibilidade de o curso de Pedagogia formar profissionais para as funções docentes,

organizativas e gestionárias (ALBUQUERQUE & MARTINS, 2009, p.193).

As entidades supracitadas desenvolveram então uma proposta para as

Diretrizes na qual fica claro que o profissional formado pelo curso de pedagogia

pode atuar no ensino infantil, nas séries iniciais do Ensino Fundamental e em

diferentes áreas da educação, como a organização e a gestão. Tal proposta

busca deixar claro que a base da formação do pedagogo deve ser a docência,

mas sem deixar de lado a formação em outras áreas de atuação dos

educadores e na produção de conhecimento científico.

É importante ressaltar que houve um intervalo de tempo relativamente

grande entre a LDB de 1996 e a aprovação das diretrizes para o curso de

pedagogia de 2006. Muitos foram os debates e discussões sobre os caminhos

a serem seguidos pelo curso em questão, sempre havendo forças com

objetivos diferentes. Assim, tal demora é um indício de discussão e polêmica

quanto às definições para o curso, que estão permeadas de caráter ideológico

para definir, principalmente, qual é a função do curso de pedagogia, ou seja,

que profissional da educação será formado.

Esse embate de uma década entre entidades que representam os

interesses de grupos mais ou menos organizados traz à tona a pergunta central

desta dissertação: qual é a concepção de pedagogia expressa nos artigos

acadêmicos selecionados?

Ilustra a problematização trazida no bojo das discussões a proposta que

foi debatida no CNE, que evidenciou o desrespeito à LDB, já que

[...] descartava o bacharelado e privilegiava a licenciatura para professores de Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental com total desrespeito à Lei, à área epistêmica da Pedagogia e à formação do cientista da educação

(ALBUQUERQUE & MARTINS, 2009, p. 195).

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Dessa forma, acatando as reivindicações de diversas entidades, foi

acrescentado o artigo 14, que buscava incluir no curso de Pedagogia a

formação de supervisores, orientadores, planejadores e administradores. Além

disso, as diretrizes estabeleceram uma carga horária mínima:

[...] de 3.200 horas para o curso, mas não o número de anos, o que facilita o aligeiramento do curso restrito à formação do técnico professor, o que infelizmente parece estar ocorrendo.

Na cidade de São Paulo, em 2007, havia 48 instituições que ofereciam curso de Pedagogia credenciado, das quais oito em quatro anos, 32 em três anos, sete em três anos e meio e uma com aulas

apenas aos sábados (ALBUQUERQUE & MARTINS, 2009, p. 195).

Para Silva (2009), a polêmica sobre o curso de pedagogia é histórica no

Brasil. Libâneo (2011) afirma mesmo que as mudanças sofridas pelo curso de

pedagogia, historicamente, ocorreram apenas na grade curricular, sem

aprofundar nas questões epistemológicas da pedagogia.

O privilégio conferido à formação do licenciado, ou seja, do professor é o

aspecto que traz certa polêmica na análise das diretrizes para o curso de

pedagogia, como será mostrado a seguir, com as análises feitas por três

autores: Saviani (2008), Cruz (2011) e Silva (2009).

A análise de Saviani (2008) da Resolução CNE 1/2006 aponta a demora

de sua aprovação, que para o autor está ligada à crise que afeta o curso de

pedagogia, já que essa longa espera dificultou o estabelecimento de um

caminho a ser seguido pelo curso.

Por outro lado, é bem verdade que a demora na aprovação das diretrizes

poderia ser um ponto favorável, colaborando com a solução de dúvidas e

questões de interpretação de suas resoluções devido aos debates e

discussões que poderiam ser feitos sobre o tema. Porém, isso não foi

constatado, como Saviani nota quando afirma que há uma ambiguidade no

quesito da formação dos especialistas, já que “[...] mesmo sem regular a

formação dos especialistas, esta é formalmente admitida” (SAVIANI, 2008, p.

65).

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Essa indefinição quanto à formação dos especialistas aponta para o fato

de que a maior preocupação das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de

pedagogia está em criar o docente, seja para o Ensino Infantil, para o Ensino

Fundamental I, o Ensino Médio Normal, ou até mesmo para outras áreas

previstas na formação do pedagogo.

A forma como as diretrizes estão escritas e organizadas traz, segundo o

autor, uma preocupação demasiadamente grande quanto à forma dos cursos,

deixando em segundo plano a essência deste:

Vê-se, pelos termos em que se encontram vazados os textos do Parecer e da Resolução, que eles se encontram impregnados do espírito dos chamados novos paradigmas que vêm prevalecendo na cultura contemporânea, em geral, e na educação, em particular. O resultado coloca-nos diante do seguinte paradoxo: as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia são, ao mesmo tempo, extremamente restritas e demasiadamente extensivas: muito restritas no essencial e assaz excessivas no acessório. São restritas no que se refere ao essencial, isto é, àquilo que configura a pedagogia como um campo teórico-prático dotado de um acúmulo de conhecimentos e experiências resultantes de séculos de história. Mas são extensivas no acessório, isto é, dilatam-se em múltiplas e reiterativas referências à linguagem hoje em evidência, impregnada de expressões como conhecimento ambiental-ecológico; pluralidade de visões de mundo; interdisciplinaridade; contextualização, democratização; ética e sensibilidade afetiva e estética; exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas; diversidade; diferenças; gêneros; faixas geracionais; escolhas sexuais, como se evidencia nos termos da

Resolução [...] (SAVIANI, 2008, p. 67).

O autor também aponta como consequência do aspecto discorrido acima,

a circunstância de as faculdades terem dificuldade de organizar seus cursos de

pedagogia, já que, a partir unicamente das Diretrizes, é difícil perceber uma

base comum que confira certa unidade à pedagogia.

Após fazer a análise acima, Saviani afirma que um dos motivos de as

Diretrizes terem problemas é o fato de que desde a I Conferência Brasileira de

Educação (1980) o foco das discussões não esteve “[...] nas questões

essenciais relativas à formação do educador, de modo geral, e do pedagogo,

em especial, tendo se voltado para o aspecto da organização do curso”

(SAVIANI, 2008, p. 67). O que trouxe como consequência a não discussão de

questões importantes, como o “[...] próprio significado e conteúdo da pedagogia

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sobre cuja base cabe estruturar o curso correspondente” (SAVIANI, 2008, p.

68).

Saviani ainda observa que pesquisadores que a apoiam e que outros que

rechaçam tais diretrizes. Libâneo, Pimenta e Franco são apontados como

críticos, por exporem imprecisões teóricas e conceituais sobre pedagogia e sua

redução à docência. Já Luiz Carlos Freitas é colocado como apoiador dessa

diretriz, uma vez que é “[...] seguramente a liderança mais proeminente da

ANFOPE [...]” e “[...] converteu-se num dos mais aguerridos defensores da

docência como base da formação de educador [...]” (SAVIANI, 2008, pp. 69-

70).

Saviani (2008) ainda aponta como um fato a ser destacado a questão do

movimento de reforma dos cursos de Pedagogia, que inicialmente se declarava

como oposição às propostas de Valnir Chagas, mas que ao final veio a utilizá-

la. Assim, o “formar o especialista no professor” é definido como o principal

eixo da formação dos pedagogos e da concepção de docência.

Com as discussões apontadas por Saviani (2008), é possível perceber a

polêmica surgida com as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso

de pedagogia. Tais polêmicas serão discutidas mais profundamente com as

análises dos artigos selecionados nesta pesquisa, já que há vários artigos que

se propõem fazer uma análise dessas diretrizes.

Antes de iniciar sua análise sobre o momento atual legal do curso de

pedagogia, Cruz (2011) faz um breve histórico dos eventos mais significativos

que marcaram o curso. Para tanto, divide a história do curso de pedagogia no

Brasil em 4 marcos. O primeiro marco é o de 1939, que cria o curso de

pedagogia. Para a autora: “A instituição do Curso de pedagogia no final da

década de 30 decorreu de um longo processo de tentativas dos legisladores

em definir as bases da formação do professor, em especial, para atuar no

ensino secundário” (CRUZ, 2011, p. 30).

Nesse primeiro momento legal, o curso tinha como função formar o

técnico em educação e os professores do ensino secundário para as escolas

normais. Tal configuração perdurou da década de 1940 até o final da década

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de 1950. Em 1962, um novo marco legal é dado ao curso de pedagogia.

Segundo Cruz, a questão da formação superior dos professores primários vai

se desenvolver e atinge mais fortemente o debate na década de 1960:

O debate sobre formação superior do professor primário, formação do técnico de educação no âmbito da pós-graduação e da formação dos professores de ensino secundário, preferencialmente no contexto dos cursos das demais seções da faculdade de Filosofia, acirrou os problemas envolvendo a identidade do Curso de Pedagogia, a ponto de a ideia de sua extinção ganhar bastante relevo entre os educadores e os legisladores. Todavia, como a Escola Normal cumpria o seu papel de formação de professores primários e ascender essa formação para o nível superior representava um ambicioso projeto educacional, o segundo marco legal do Curso de Pedagogia tratou de abordar apenas a sua composição curricular, e a

ideia de extinção não foi levada a efeito (CRUZ, 2011, pp. 37-38).

O Parecer do Conselho Federal de Educação, n. 251, de 1962, de autoria

de Valnir Chagas, criou um currículo comum e definiu duração mínima do

curso, mantendo a separação entre bacharelado e licenciatura, mas eliminando

o modelo 3+1. Dessa forma, ambos os graus, bacharelado e licenciado,

poderiam ser adquiridos concomitantemente.

Cruz ainda destaca as ideias de Bissolli da Silva (1999) para apontar que

[...] Valnir Chagas explicitou, no Parecer, a fragilidade do Curso de Pedagogia, sinalizando a tensão existente entre a manutenção e extinção, sob o argumento da fala de conteúdo próprio. No texto do relator do Parecer, transpareceram a perspectiva de provisoriedade do curso e a necessidade da formação superior do professor primário, ficando a formação do pedagogo técnico de educação para estudos

subsequentes. (CRUZ, 2011, p. 38).

O terceiro marco legal do curso, segundo Cruz, foi o Parecer do CFE, nº

252, de 1969, também de autoria de Valnir Chagas, que traz como diferencial a

introdução das habilitações para formar os especialistas em educação

(Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar, Inspeção

Escolar e Magistério Normal):

Quanto ao magistério primário, prevaleceu a premissa “quem pode o mais pode o menos”. Todavia, o Parecer não incluiu uma habilitação para esse fim, prevendo apenas algumas disciplinas para a obtenção desse direito.

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De acordo com o Parecer CFE n. 252, de 11 de abril de 1969, o Curso de Pedagogia passou a conferir apenas o grau de licenciado, abolindo o de bacharel, pautado pelo núcleo central do curso que

focava o pedagógico a serviço da docência (CRUZ, 2011, pp. 47-48)

Tal Parecer durará até 1996, com a aprovação de LDB. Durante as

décadas de 1970 e 1980, o curso de pedagogia sofre diversas críticas:

[...] As críticas foram construídas, principalmente, no seio do movimento pela reformulação do curso, desencadeado na década de 80 por professores, instituições universitárias e organismos governamentais

[...]

A influência do movimento em prol da renovação do curso fez-se sentir na defesa das concepções de base comum nacional na formação dos profissionais da educação e da docência como base de formação do educador. Essas concepções, em especial a da docência como base de formação, adentraram o interior de algumas Faculdades de Educação, que experimentaram reformulações curriculares, suprimindo as habilidades referentes aos especialistas e buscando trabalhar predominantemente com a formação do professor, incluindo o das séries iniciais do 1° grau, na época, hoje Ensino Fundamental. Ou então assumiam a formação de pedagogos de forma integrada, na intenção de favorecer uma ação conjunta

desses profissionais na escola (CRUZ, 2011, p. 49).

O quarto marco legal é a Resolução do CNE n. 1, de 2006, que fixa as

Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia. Como já

apontado, entidades representativas como a ANFOPE, a Anped, o

FORUMDIR, a ANPAE e o CEDES fizeram parte das discussões referentes às

definições para as Diretrizes do curso:

[...] O debate tenso, intenso e sem consenso contribuiu para firmar progressivamente a concepção de identificar a Pedagogia com a função docente, na perspectiva de que o ensino deve ser a base da formação de todo educador, o que foi assegurado. Entretanto, como já sinalizado, considerar a docência como eixo central na formação do pedagogo não é algo livre de questionamentos. Há mais de 25 anos que os temas referentes à identidade da Pedagogia, ao conhecimento que lhe constitui, à dicotomia entre formar o professor e formar o especialista, dentre outros, tomam conta do cenário ou da arena de discussão educacional, sem alcançar o consenso almejado

(CRUZ, 2011, pp. 58-59).

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A autora aponta duas posições bem claras a respeito do caminho que

deve ser seguido no curso de pedagogia. A primeira, que contava com o apoio

da ANFOPE, é baseada nas linhas da própria diretriz. Nessa posição, a

docência aparece como eixo de formação do pedagogo. A posição contrária a

essa é defendida por Libâneo, Pimenta e Franco, que propõem que a teoria e a

prática sejam a base da identidade do pedagogo.

Portanto, a autora aponta questionamentos e posições opostas quanto às

Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia conforme o

exposto por Saviani, que vimos apresentando anteriormente. Isso só

demonstra como as Diretrizes “[...] acirram o debate em torno da essência da

Pedagogia, fazendo concorrer, rivalizar e lutar por ideias a respeito do seu

papel no campo acadêmico” (CRUZ, 2011, p. 62).

A tese de doutoramento de Gláucia Maria Figueiredo Silva, intitulada Das

imagens identitárias da pedagogia ao ofício de pedagogo: traçados nômades,

foi defendida na UNICAMP em 2009. Seguindo as linhas gerais de seu

orientador, o Prof. Dr. Silvio Donizetti de Oliveira Gallo, Silva aponta que a

ANFOPE possui uma posição muito bem definida de que a docência deve ser a

base comum nacional para o curso de pedagogia, sendo que este argumento

seria mesmo o maior problema da identidade do profissional da pedagogia. E é

a partir desse fundamento que a autora organiza seus argumentos.

Buscando fazer um histórico da problemática da identidade da pedagogia,

a autora fará uma divisão em 4 momentos marcantes para a história do curso

de pedagogia no Brasil, assim como feito por Cruz e exposto anteriormente.

O primeiro momento é o da criação do curso, em 1939, que com o

esquema 3+1 traz a dicotomia entre bacharelado e licenciatura. Tal esquema

trazia questionamentos quanto à identidade do curso. Mesmo ocorrendo novas

regulamentações, como a lei n° 4.024/1961 e os Pareceres CFE n° 251/1962 e

o CFE n° 292/1962, “[...] permaneceriam a incógnita identitária e o

obscurantismo formativo que, questionados na época passariam por mudanças

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radicais a partir da reforma universitária (lei n° 5.540/1968)” (SILVA, 2009, p.

106).

Em 1969, com o Parecer CFE n° 252 e a Resolução CFE n° 2, fica

garantida com as habilitações a obtenção do título de especialista em

educação. Mas a autora lembra que “[...] por abarcar todas as suas plurais

modalidades e manifestações, acabou por ser totalmente questionada em

função de sua pouca expressividade social” (SILVA, 2009, p. 107), uma vez

que a gama de habilitações não respondia de fato às necessidades da escola e

nem criava-se na escola a importância de certas atuações do pedagogo.

O segundo momento marcante é o que compreende os anos de 1973 até

1978, que segundo a autora é o período no qual “[...] a identidade do curso é

projetada” (SILVA, 2009, p. 107), sendo Valnir Chagas seu principal propositor.

Contudo, provém:

[...] desta mesma iniciativa o impasse epistemológico-identitário que perdura até os dias atuais. A ideia-base para tal proposição era formar o especialista no professor, [...], fazendo com que a formação do Pedagogo, ao mesmo tempo em que se desmembrava a partir das habilitações (que seriam as especializações propostas para pós-graduação e denominadas de licenciaturas das áreas pedagógicas), também se refere à formação dos professores para as séries iniciais da escolarização em nível superior, portanto, excluindo o curso

configurado (SILVA, 2009, p. 107 – grifo da autora).

No terceiro momento, que vai de 1979 a 1998, há a concretização da

Base Comum Nacional para os licenciados, que segundo a autora cria “[...]

uma Unilateralidade Identitária, ou seja, a pedagogia deve ter como base

comum nacional a docência e isso implica que está não exista sem a docência”

(SILVA, 2009, p. 108). Tal raciocínio traz consigo a “[...] ideia de que a

docência se constitui como o elo articulador entre os pedagogos e os

licenciados das áreas de conhecimento específico e, por isso, poderia haver

uma integração formativa e identitária entre ambos” (SILVA, 2009, pp. 108-

109), vale dizer, insiste na ideia de que “[...] o curso de Pedagogia é ao mesmo

tempo um Bacharelado e uma Licenciatura” (SILVA, 2009, p. 109).

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O quarto momento é o que antecede a criação das Diretrizes Curriculares

Nacionais para o curso de pedagogia, passando por sua homologação até os

dias atuais. Como já apontado anteriormente, diversas foram as entidades que

de alguma forma participaram das discussões destas. Tais diretrizes, aprovada

pelo CNE:

Apregoam um Sistema Nacional de Formação de Professores que objetiva a superação da dicotomia existente entre os modelos de bacharelado e licenciatura; afirmam que, desta maneira, é possível conseguir construir uma formação com identidade própria, tentando convencer de que não estabelecem currículos e muito menos uma formação para os cursos, mas parâmetros e/ou um referencial

formativo (SILVA, 2009,p. 114)

Segundo Silva, o documento possui termos que conferem um tom

tecnicista à docência e afirma que as diretrizes possuem uma formação

centrada na docência, acarretando uma diminuição da carga horária do curso e

colocando as especialidades e habilitações também em nível de pós-

graduação.

Além dessas colocações, a autora lembra que o atual curso deve abarcar

uma pluralidade de exigências que estariam ligadas às questões da atualidade

da profissão, o que “[...] não parece possível e não significa, tampouco, o

melhor a seguir, ao contrário, parece mais interessante apostar numa

pluralidade subjetiva que se dá na experiência-profissão pedagogia” (SILVA,

2009, p. 115).

Dessa forma, o documento cria um profissional com uma gama de

atribuições muito grande para a formação em um curso superior. Para Silva

(2009), a pluralidade da formação deve vir da prática, vale dizer, da

experiência, conhecimentos e história pessoal dos futuros pedagogos, sendo,

pois, a diversidade algo que provém do aluno e de suas indagações,

decorrentes então de sua própria prática, e não algo exterior, imposto por um

currículo dado e criado por uma instituição.

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Em sua tese, a autora comenta autores que criticaram as diretrizes. Além

dos já citados por outros autores, como Libâneo e Pimenta, a autora traz a

contribuição de Gasse. Segundo Silva,

As afirmações destes autores-militantes destoam das propostas defendidas pelas entidades envolvidas no debate político sobre a formação profissional, pois ambos caracterizam uma concepção muito própria, que baseia a identidade profissional do Pedagogo na teoria e prática relacionadas a saberes pedagógicos específicos, não somente aos saberes de ação docentes, posição

defendida pela associação (SILVA, 2009, p. 122).

Dessa forma, foi possível perceber que algumas críticas e pontos

discutíveis foram levantados a respeito das Diretrizes Curriculares Nacionais

para o curso de pedagogia. Talvez o ponto mais marcante, ou mais evidente,

seja a questão posta pelos autores aqui selecionados para uma análise inicial

desse documento, qual seja, a docência como base da formação do pedagogo.

Libâneo aponta essa problemática como ponto crucial da discussão

[...] O esfacelamento dos estudos no âmbito da ciência

pedagógica com a consequente subjunção do especialista no docente,

e a improcedente identificação dos estudos pedagógicos a uma

licenciatura, talvez sejam dois dos mais expressivos equívocos teóricos

e operacionais da legislação e do próprio movimento da reformulação

dos cursos de formação do educador, no que se refere à formação do

pedagogo (LIBÂNEO, 2009, p. 50).

Pimenta, na apresentação do livro Pedagogia, ciência da educação?, do

qual é organizadora, faz uma crítica às Diretrizes e aponta a necessidade de

ainda expandir as discussões referentes às questões epistemológicas da

pedagogia.

[...] os pedagogos viram o Conselho Nacional de Educação homologar as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Pedagogia (2006), peça normativa que longe está de regulamentar a formação de pedagogos, uma vez que reduz essa formação à de professores para a Educação Infantil e para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Se os cursos de Pedagogia assumirem, de fato, a formação desses professores, que o façam muito bem, com muita qualidade, pois o país precisa urgentemente de bons professores atuando nesses níveis de escolaridade. [...] E assim, entendemos que deverão ser denominados Cursos de Formação de Professores.

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Permanece a necessidade de se pensar e propor a formação do pedagogo, a partir da consideração da Pedagogia em seu estatuto

epistemológico de ciência da educação (PIMENTA, 2011, p. 8).

Para ser melhor discutida e debatida, tal questão demanda a necessidade

de uma melhor definição do conceito de pedagogia.

1.3 – Conceito e diferentes definições de pedagogia

Faz-se necessário neste momento tentar delimitar e definir o termo

pedagogia. Como mostrado anteriormente, ao tentar discutir as Diretrizes

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia, a concepção de educação e

pedagogia são básicas para a formulação da lei que regerá um sistema

educativo e norteará a organização de um curso superior, no caso em foco, a

prórpia pedagogia.

Para iniciar a discussão sobre o conceito de pedagogia, é preciso antes

apontar os significados do termo educação. Segundo Debesse (1974), esta é

uma palavra recente e possui dois significados, ambos derivados do latim:

A palavra educação é relativamente recente. Tomada ao latim,

tem dupla origem: educare quer dizer nutrir, e educere, tirar fora de,

conduzir para, numa palavra, criar. Nutrir e criar. Não estão aí as

duas tendências seculares e, muitas vezes, em conflito, de uma

educação ora preocupada antes de tudo com nutrir a criança de

conhecimentos, ora com criá-la, para dela tirar todas as

possibilidades? (DEBESSE, 1974, p. 2).

Mialaret (1977) irá identificar três significados contemporâneos da palavra

educação:

Hablar de educación es ante todo evocar una institución social,

un sistema educativo. Así pues, se opone la educación sociética a la

educación americana, o la educación moderna a la educación antigua

(MIALRET, 1977, p. 11 – grifo do autor).

El lenguaje corriente utiliza la palabra educación en otro

sentido: el del resultado de una acción. Se ha recebido una buena o

mala educación; se es el producto de educación clássica, por

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oposición al que ha recebido una educación técnica (MIALARET,

1977, p. 12 – grifo do autor).

El tercer sentido de la palavra “educación”se refiere al propio

processo que ralaciona, de una forma prevista o imprevista, a dos o

más seres humanos y los pone en comunicación, en situación de

intercabio y de modificaciones recíprocas (MIALARET, 1977, p. 13

– grifo do autor)

Segundo esse autor, a ideia de educação ampliou-se muito nos últimos

tempos, principalmente da metade do século XX em diante, trazendo uma

grande gama de situações educativas. Esse aspecto é resultado de uma

grande quantidade de fatores que atuam nas diversas relações educativas.

Para Mialaret:

[…] Como un fructo cuyo enriquecimiento depende de todas las

partes que lo ocnstituyen, la situación educativa y las relaciones

maestro-alumno deoendem de todas las partes que las constituyen, la

situación educativa y las relaciones maestro-alumno no son más que

el produscto final, que sólo puede analizarse y comprenderse

correctamente en relación com este conjunto de fuerzas que lo

determinan (MIALARET, 1977, pp. 34-35).

Devido a essa gama de forças que atuam nas situações educativas, o

termo pedagogia, segundo Mialaret, é restritivo. Para abarcar todos os

aspectos presentes faz-se necessário recorrer a uma série de ciências que

ajudarão a desvendar as situações educativas. Dessa forma, Mialaret defende

o uso da expressão “ciências da educação”.

[…] La elección de la expresión “Ciências de la Educación” no

consiste en poner un vestido nuevo a una práctica antigua; no es el

resultado de una moda, ni la expresión de una pretensión vana por

parte de los professores; se trata, al contrario, de algo más profundo y

que corresponde a una realidade nueva (MIALARET, 1977, p. 7).

Mialaret, outro autor aqui já exposto, segue a ideia de ciências da

cducação e não de pedagogia. A utilização desse termo, segundo o autor, se

dá pelo fato de a realidade educacional ser atingida por uma gama variada de

fatores que irão influenciá-la. Esses fatores, por sua vez, estão divididos em

três níveis, quais sejam: as condições da instituição escolar, as condições

locais da educação e as condições do ato educativo. Desse modo, são

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trabalhadas três escalas de fatores influenciadores, a macro, a média e a micro

dimensão, e em cada uma delas há aspectos próprios que atuam para definir e

delimitar a educação em um determinado lugar. Assim, nota-se a complexidade

na qual está inserida a educação e o ato educativo.

Para Mialaret (1977), assim como os fatores que atuam nas situações

educativas, que são postos em três níveis, também as disciplinas que

organizam as ciências da educação acompanharão tal lógica. Nessa direção,

para cada um dos níveis haverá disciplinas próprias que ajudarão nos estudos

referentes à educação. Dessa forma, haverá disciplinas que estudam as

condições gerais e locais da educação (história da educação, sociologia da

educação, economia da educação, entre outras), as que focarão as situações

educativas e ações educativas (psicologia da educação, didática, metodologias

e técnicas de educação, avaliação, entre outras) e as ciências de reflexão e do

futuro (filosofia da educação e a planificação da educação).

O autor, conhecendo as críticas que são desenvolvidas pelo fato de as

ciências da educação abarcarem muitas outras ciências dentro dela – o que faz

com que não tenha uma especificidade e traga questionamentos quanto à sua

cientificidade –, aponta uma possível superação destas critícas ao expor que:

Tal variedad es la razón por la que se ha podido poner en duda

la unidad de estas ciencias, su autonomía y su especificidad.

Todas estas disciplinas, que a menudo no son más que una

parte de una disciplina más general (historia de la educación,

psicologia de …, planificación de…), tienen en común un objetivo muy

preciso: el estudio de las situaciones y los hechos educativos.

[…] hemos estudiado las numerosas extensiones de la noción

de educación y los principales sentidos de esta palabra; un estudio

completo del fenómeno social “educación”debe recurrir a todas las

disciplinas susceptibles de captar este fenómeno en todas sus

dimensiones y bajo todos sus aspectos. Es pues en relación con su

objetivo que las ciencias de la educación encuentran su principio de

reagrupación en una familia con unos contornos bastante bien

delimitados en comparación con otros campos de la investigación

científica (MIALARET, 1977, pp. 77-78).

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Outro fator importante levantado pelo autor é o referente à formação de

educadores. Segundo ele, as ciências da educação são a base para a

formação desses profissionais, uma vez que, com a estrutura proposta por

Mialaret, o educador poderá de fato ter acesso às diversas disciplinas que

darão base teórica para refletir sobre a sua prática:

Las ciencias de la educación sustituyen, poco a poco, las

opiniones, las recetas transmitidas por la tradición, um conjunto de

resultados y um saber cuya validez está probada, informaciones que

permiten al educador situar mejor su acción en el espacio y em el

tiempo y pasar de um estado de “peón” al de um hombre que toma

conciencia de su acción, tanto de sus limitaciones como de sus

posibilidades. La ciencia, tanto em este campo como en todos los

demás, no mata el arte del práctico, sino que, al contrario, lo

enriquece considerablemente, poniendo a su disposición el conjunto

de resultados válidos que el práctico, por si solo, no habría podido

descubrir o inventar. [...] Las ciencias de la educación deberían jugar

um papel de primer plano en todas las empresas de preparación de

los futuros educadores y de perfeccionamento de los que están en

ejercicio (MIALARET, 1977, p. 93).

No final de seu livro, Mialaret reforça mais uma vez a questão das

ciências da educação em sua relação com a formação de educadores,

mostrando como são necessárias:

[...] Mantenemos la esperanza de que las ciencias de la

educación ocuparán un lugar cada vez más importante em la

formación de los educadores de todos los niveles, y que la

preparación de los maestros mejorará en la medida en que los

aspectos prácticos estabelecerán relaciones cada vez más precisas y

cada vez más numerosas con la investigación y la teoria; la formación

de un educador no es la formación de um especialista em ciencias de

la educación; es la preparación de un individuo que podrá recurrir a

ellas; a outro nivel, queremos que los formadores de formadores sean

considerados como especialistas en ciencias de la educación, y que

la licence y la maîtrise sean el testimonio de una verdadera formación

em este campo (MIALARET, 1977, p. 105).

Assim, com essas colocações finais, é possível notar que as ciências da

educação, segundo o autor, fariam parte da formação de educadores, mas ele

também deixa claro que o professor não é o especialista em ciências da

educação, mas usará delas para melhorar a sua prática. Os especialistas em

ciências da educação serão os formadores de formadores. Com isso, fica claro

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que as ciências da educação não servem somente de base para formar

educadores, mas têm como diferencial exatamente a possibilidade de serem

usadas para ajudar e melhorar na formação desses.

Porém, é preciso observar, com Saviani (2008), que esta ideia de Mialaret

não é uma unanimidade entre os estudiosos. O conceito de pedagogia abarca

uma multiplicidade de definições, por isso, para buscar uma definição desse

termo dentro dessa pesquisa, é necessário que algumas abordagens sejam

explicitadas e, ao final, se defina uma delas como a referência que pautará

todo o restante da pesquisa:

[...] As conceituações multiplicam-se, o pedagógico desdobra-

se em múltiplos enfoques e a esperada unificação das perspectivas

se desfaz. Há os que definem a pedagogia como sendo a ciência da

educação. Outros negam-lhe caráter científico, considerando-a

predominantemente como arte de educar. Para alguns ela é antes

técnica do que arte, enquanto outros a assimilam à filosofia ou a

história da educação, não deixando de haver, até mesmo, quem a

considere teologia da educação. Outra forma de entender a

pedagogia é dada pelo “termo”, definindo-a como teoria da educação.

Mas há, também, definições combinadas como ciência e arte de

educar, ciência de caráter filosófico que estuda a educação apoiada

em ciências auxiliares, e teoria e prática da educação (SAVIANI,

2008, p. 135).

Mialaret (1977), ao iniciar sua discussão sobre o tema, também afirma que

“Hay que reconocer, además, que reina un gran desorden en la terminoloía y

que las interferencias y confusiones entre enseñanza, educación, pedagogia…

son numerosas y complejas” (MIALARET, 1977, p. 7).

Assim, nota-se que o termo pedagogia é bastante polêmico e traz uma

complexidade de discussões, tanto que em muitos países o curso de

pedagogia nem mesmo existe, sendo intitulado ciência da educação. O que

inicialmente é possível notar é que, independente de qual seja a concepção de

pedagogia veiculada, o foco e o objeto de estudo é sempre a educação:

[...] um exame mesmo supercial das diversas e múltiplas

caracterizações do termo “pedagogia” permite perceber que, para lá da

diversidade, há um ponto comum: todas elas trazem uma referência

explícita à educação (SAVIANI, 2008, p. 135).

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Saviani traz as contribuições de Genovesi sobre a discussão, aduzindo a

concepção desse autor: “[...] a pedagogia é somente uma das ciências da

educação, ainda que aquela decisiva à qual cabe criar e pôr foco formalmente

ao objeto educativo em estreita relação com o seu fazer histórico” (GENOVESI

apud SAVIANI, 2008, p. 139). Ainda buscando definir o que é a pedagogia para

esse autor, Saviani escreve que:

Não deixa de ser intrigante esse entendimento de que a

pedagogia é apenas uma dentre as muitas ciências da educação,

sendo, ao mesmo tempo, aquela que permite a existência das demais

ciências da educação (SAVIANI, 2008, p. 139).

Após explicitar a concepção de Genovesi, utilizando-a como ponto de

partida, Saviani busca delimitar a sua própria concepção de pedagogia.

Inicialmente, buscará fazer uma diferenciação entre ciências da educação e

ciência da educação:

As chamadas ciências da educação, em verdade, são ciências

já constituídas com um objeto próprio, externo à educação, e que

constituem, em seu interior, um ramo específico que considera a

educação pelo aspecto de seu próprio objeto, recortando, no conjunto

do fenômeno educativo, aquela faceta que lhe corresponde.

Diferentemente, a ciência da educação, propriamente dita, se

constituiria na medida em que constituísse a educação, considerada

em concreto, isto é, em sua totalidade, como seu objeto (SAVIANI,

2008, p. 139).

Partindo dessas duas ideias, o desenvolvimento do campo educacional se

desenvolverá de maneiras distintas. Na primeira, a educação é apenas uma

passagem para as pesquisas das diversas áreas (sociologia, psicologia,

economia, etc.). Já na segunda a educação é um ponto de partida e de

chegada na pesquisa, enquanto as outras áreas podem contribuir com o campo

educativo (SAVIANI, 2008).

Tal ideia exposta por Saviani é colocada na figura abaixo, cuja intenção é

deixar mais clara e ilustrativa a ideia exposta pelo autor:

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Fonte: SAVIANI, 2008, p. 140

Tal ideia também é apresentada por Pimenta ao citar Estrela e Falcão:

“[...] que consideram as “ciências da educação” como outras “ciências que

também estudam a educação”. Estrela (1980) propõe “que se denomine

Pedagogia à Ciência da Educação” (PIMENTA, 2011, p. 53 – grifo do autor).

Para os autores Libâneo e Pimenta, o curso de pedagogia não pode ser

confundido com formação docente:

O curso de Pedagogia destinar-se-á à formação de

profissionais interessados em estudos do campo teórico-investigativo

da educação e no exercício técnico-profissional como pedagogos no

sistema de ensino, nas escolas e em outras instituições educacionais,

inclusive as não-escolares (LIBÂNEO & PIMENTA, 2006, p. 15).

Segundo estes autores, o fato de o curso atualmente ser visto como

voltado única e exclusivamente para formação de professores, é uma perda

para a área da pedagogia, trazendo prejuízos para a profissão de pedagogo:

Quanto à descaracterização profissional do pedagogo,

subsumido ao ´professor`, sua formação passa a ser dominada pelos

estudos disciplinares das áreas das metodologias. Estas, ao voltarem

seus estudos diretamente à sala de aula, espaço fundamental da

docência, ignoram os determinantes institucionais, históricos e sociais

(objeto de estudo da Pedagogia). Desse modo, a Pedagogia, ciência

que tem a prática da educação como objeto de investigação e de

exercício profissional - no qual se inclui a docência, embora nele se

incluam outras atividades de educar – não tem sido tematizada nos

cursos de formação de pedagogos (LIBÂNEO & PIMENTA, 2006,

p. 20).

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O erro, segundo esses autores, está em reduzir o termo pedagogia à

docência, o que traz consigo erros conceituais:

O pedagógico e o docente são termos inter-relacionados mas

conceitualmente distintos. Portanto, reduzir a ação pedagógica à

docência é produzir um reducionismo conceitual, um estritamento do

conceito de Pedagogia. A não ser que os defensores da identificação

pedagogia-docência entendam o termo Pedagogia como

metodologia, isto é, como procedimentos de ensino, prática do

ensino, que é o entendimento vulgarizado de Pedagogia. Mas pensar

assim significa desconhecer os conceitos mais elementares da teoria

educacional. A Pedagogia é mais ampla que a docência, educação

abrange outras instâncias além da sala de aula, profissional da

educação é uma expressão mais ampla que profissional da docência,

sem pretender com isso diminuir a importância da docência. E não

existe suporte teórico, conceitual, para justificar essa ideia de

“docência ampliada”, argumento usado por muitos colegas para

justificar esta identificação reducionista entre Faculdade de Educação

e Formação de Professores (LIBÂNEO & PIMENTA, 2006, p. 30).

Portanto, para estes autores a pedagogia é mais uma das ciências da

educação,isto é, mais especificamente, a ciência da prática social da

educação. Por utilizarem o termo ciências da educação, os autores consideram

que há uma variedade de ramos específicos (história da educação, teoria da

educação, didática e outras) que geram um complexo conjunto de ciências da

educação, do qual a pedagogia faz parte, sendo ainda ela a garantir a unidade

do conjunto ao dar sentido às contribuições das várias ciências que estudam a

educação.

O que a diferenciaria das outras ciências da educação seria o fato de a

pedagogia partir da prática educativa ao invés de se desenvolver a partir do

discurso sobre a educação, como no caso das outras ciências da educação

(LIBÂNEO & PIMENTA, 2006):

A ciência pedagógica dispõe de ramos de estudos dedicados

aos vários aspectos da prática educativa (teoria da educação, política

educacional, teoria do ensino (didática, organização escolar, história

da Pedagogia). Esse complexo de conhecimentos funda-se no

entendimento de que a Pedagogia compõe o conjunto das ciências

da educação, mas se destaca delas por assegurar a unidade e dar

sentido às contribuições das demais ciências, já que lhe cabe o

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enfoque globalizante e unitário do fenômeno educativo. Fica claro

que, desse ponto de vista, os conhecimentos obtidos dessas ciências,

à medida que se referem ao fenômeno educativo, convertem-se em

conhecimentos pedagógicos, única razão para a existência de uma

sociologia da educação, psicologia da educação, biologia da

educação etc. (LIBÂNEO, 2009, pp. 136-137 – grifos do autor).

Libâneo (2011) deixa claro que a pedagogia nao é a única ciência a

estudar a educação, e que o fenômeno educativo é pluridisciplinar, porém a

pedagogia é a responsável:

[…] pela reflexão problematizadora e unificadora dos probelmas

educativos, para além dos aportes parcializados dsa demais ciências

da educação. Portanto, a multiplicidade dos enfoques e análises que

caracteriza o fenômeno educativo não torna desnecassária a

Pedagogia, como querem alguns intelectuais. Ao contrário,

precisamente em razão disso, ela institui-se como campo próprio de

investigação para possibilitar um tratamento globalizante e

intencionalmente dirigido dos problemas educativos (LIBÂNEO in

PIMENTA, 2011, p. 141).

Com essa concepção, tais autores defendem “[...] a criação do curso de

Pedagogia, um curso que oferece formação científica e técnica para

interessados no aprofundamento, na teoria e na pesquisa pedagógica e no

exercício de atividades pedagógicas específicas” (LIBÂNEO & PIMENTA, 2006,

pp. 35-36).

Franco acrescenta que: “[…] a docência deve se fundamentar pela

pedagogia, não sendo correto afirmar que a pedagogia se faz pela docência. A

Inversão requerida não é meramente formal, ela expressa uma concepção

epistemológica” (FRANCO, 2008, p. 117).

A autora ainda levanta um ponto que é bastante discutido na pedagogia,

qual seja, a relação entre teoria e prática, e aponta para o fato de que essa

discussão não é um tema recente, mas presente desde o século XVIII, quando

Herbart incorpora a psicologia como base científica da pedagogia:

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Pode-se perceber que, desde o início de sua cientificização, a

ciência pedagógica impregna-se do dilema entre ser ciência e

continuar com a sua especificidade de ser arte. Não se trata de uma

questão de oposição entre científico e artístico; mas trata-se de

considerar que o ser ciência e o ser arte estarão, por certo, em

processo de transformação histórica, configurando um problema

crucial da pedagogia em todas as épocas e ainda não equacionado,

qual seja: a questão da articulação da teoria e da prática, a questão

da ciência da prática que não será tecnologia, a questão de encontrar

o espaço da pedagogia na intersecção dessas contradições

(FRANCO, 2008, p. 33).

Essa questão sobre teoria e prática no curso de pedagogia é para Saviani

um dos pontos centrais para a discussão da polêmica sobre o curso. Segundo

o autor, as diferentes correntes se preocupam demais ou com uma, ou com a

outra. Por conta disso, perde-se muito nos estudos da pedagogia. Isso porque

elas são indissociáveis, apesar de serem diferentes em sua essência. Para o

autor, elas estão dialeticamente relacionadas. Dessa forma, uma não pode

excluir a outra, os termos são indissociáveis:

[...] Teoria e prática são aspectos distintos e fundamentais da

experiência humana. Nessa condição podem, e devem, ser

consideradas na especificidade que as diferencia uma da outra. Mas,

ainda que distintos, esses aspectos são inseparáveis, definindo-se e

caracterizando-se sempre em relação ao outro. Assim, a prática é a

razão de ser da teoria, o que significa que a teoria só se constituiu e

se desenvolveu em função da prática que opera, ao mesmo tempo,

como seu funcionamento, finalidade e critério de verdade. A teoria

depende, pois, radicalmente da prática. Os problemas de que ela

trata são postos pela prática e ela só faz sentido enquanto é acionada

pelo homem como tentativa de resolver os problemas postos pela

prática. Cabe a ela esclarecer a prática, tornando-a coerente,

consistente, consequente e eficaz. Portanto, a prática igualmente

depende da teoria, já que sua consistência é determinada pela teoria

(SAVIANI, 2008, p. 126).

O autor ainda indica que, pelo fato de o ser humano antecipar

mentalmente um ato, ele torna: “[...] a prática humana determinada pela teoria.

Portanto, quanto mais sólida for a teoria que orienta a prática, tanto mais

consistente e eficaz é a atividade prática” (SAVIANI, 2008, p. 127).

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Assim, Saviani aponta para uma unidade entre teoria e prática. Com essa

perspectiva, o autor desenvolve a sua teoria pedagógica denominada histórico-

crítica, que não será aqui analisada, uma vez que não faz parte dos objetivos

dessa pesquisa. O que é importante resaltar é que dentre os modelos de curso

superior em educação pensados no Brasil, seja pedagogia, ou ciência(s) da

educação, essa dicotomia entre teoria e prática sempre se fez presente.

Segundo o autor, o problema está no fato de não conseguirmos articular

esses dois polos. Quando se busca uma solução, ela é articulada de duas

maneiras: em uma, os institutos ou faculdades específicas têm que adotar um

departamento de pedagogia ou educação e este seria o responsável pelo

conteúdo didático-pedagógico; na outra, as faculdades de educação seriam

dotadas de departamentos específicos para cada disciplina do currículo. Tais

propostas não solucionam a dicotomia, pois acabam por mantê-la.

Franco ressalta que essa dicotomia trouxe prejuízos para o processo de

cientifização da pedagogia, o que a fez ser menosprezada por muitos no

campo científico:

[...] Inevitavelmente, a não-fecundação mútua de teorias

educacionais e práticas pedagógicas foi redundando na

instrumentação acrítica das práticas, produzindo caminhos lineares e

paralelos entre os dois polos da ação educativa e, dessa forma, o

fosso entre a teoria e a prática pedagógica foi ficando cada vez maior,

subdimensionando-se a validade teórica e prática da pedagogia

(FRANCO, 2008, p. 72).

Dentro dessa perspectiva, Saviani ainda lembra que essa dicotomia entre

teoria e prática traz consigo a separação de conteúdo e forma. Com esse

problema em mente, Saviani desenvolve uma organização do curso que

encarece a relação dialética entre teoria e prática (conteúdo e forma). Para ele,

uma das saídas para os cursos de pedagogia e de licenciatura seria centralizá-

los nos livros didáticos. Isso porque, segundo o autor,

[...] mal ou bem, os livros didáticos fazem a articulação entre a

forma e o conteúdo, isto é, eles dispõem os conhecimentos numa

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forma que visa a viabilizar o processo de transmissão-assimilação

que caracteriza a relação professor-aluno em sala de aula. [...]. [...] à

medida que se alteram as influências teórico-pedagógicas, os livros

didáticos mudam de cara (SAVIANI, 2008, p. 158).

Para Saviani, essa organização daria conta de formar os professores e

também os pesquisadores e especialistas com a seguinte organização

possível:

[...] Sua formação se iniciaria pelo curso de pedagogia,

articulando o ensino dos fundamentos teóricos e práticos da

educação com a pesquisa propiciada pela inserção dos alunos nos

projetos desenvolvidos pelos professores, mediante programas de

iniciação científica; prosseguiria com a pós-graduação lato sensu, isto

é, com cursos de especialização articulados com o mestrado, onde se

daria sua plena iniciação nas lides da pesquisa, complementando-se

com o doutorado (SAVIANI, 2008, p. 160).

Assim, a formação de professores e pesquisadores da educação não

pode ser vista como dissociada. Ambos os profissionais são parte de um

mesmo curso, não podendo privilegiar nem uma nem a outra formação. Nesse

detalhe, Franco segue o pensamento de Saviani quanto à não necessidade da

dicotomização entre teoria e prática:

Apostar na pedagogia como ciência da educação significa

pressupor a necessária intercomunicação entre pesquisa e

transformação, entre teoria e prática, entre consciência e

intencionalidade (FRANCO, 2008, p. 78).

A relação entre teoria e prática aconteceria na experiência da pesquisa ou

na ação profissional, já que, ao entrar em contato com os docentes, os

pedagogos, com a sua formação teórica como embasamento, são capazes de

analisar a prática e desenvolver novas teorias e pressupostos pedagógicos. O

pedagogo não precisa ser docente para ter relação direta com a prática

docente:

Contudo, Franco separa-se do pensamento de Saviani por acreditar que

os profissionais da educação devem ser formados de maneira diferente dos

professores:

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[...] a ação do pedagogo não se confunde com a ação docente,

ambos funcionam ainda como papéis complementares, mas

diferentes. Ao pedagogo, educador por excelência, cabe a

organização da escola, a reflexão sobre as ações desencadeadas, a

composição dos elementos da filosofia da, educação que emergem

da prática, a previsão de ações didáticas, o acompanhamento do

papel do professor. Este será o executor em sala de aula da

organização e dos fins pretendidos (FRANCO, 2008, p. 44).

Para a autora, o objeto de estudo da pedagogia enquanto ciência seria a

práxis educativa ela mesma, ou seja, a ação educativa intencional,

comprometida e ética, geralmente exercida pelo professor. A partir dessa

reflexão (práxis pedagógica) sobre a práxis educativa, podem ocorrer

mudanças e esclarecimentos sobre essa práxis:

[...] caberá à pedagogia ser a ciência que transforma o senso

comum pedagógico, a arte intuitiva presente na práxis, em atos

científicos, sob a luz de valores educacionais, garantidos como

relevantes socialmente, em uma comunidade social. Seu campo de

conhecimentos será formado pelo interseção entre os saberes

interrogantes das práticas, os saberes dialogantes das

intencionalidades da práxis e os saberes que respondem às

indagações reflexivas formuladas por essas práxis (FRANCO, 2008,

p. 86).

Para Gimeno Sacristán, a palavra prática tem um outro significado: prática

e ação são distintos, apesar de serem usados como sinônimos. A ação passa a

ter significado de atividade do sujeito, sendo uma atividade individualizada; já a

prática é a ação compartilhada, fruto de ações individuais que foram se

fazendo coletivas. Foram ações no passado, mas de tanto serem usadas foram

sendo naturalizadas, tornando-se trilhas bem marcadas e do conhecimento de

todos. Assim:

A prática é, então, sinal cultural de saber fazer composto de

formas de saber como, ainda que ligados também a crenças, a

motivos e a valores coletivos, afirmados e objetivados com marca

impessoal. Essa marca é cultura intersubjetiva e objetiva, é expressa

em ritos, costumes, sabedoria compartilhada, instituições, espaços

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construídos para educar, formas de vida dentro de organizações

escolares, estilos de fazer em contextos sociais e históricos,

orientações básicas e papéis estáveis. Alunos, pais e professores,

especialistas e políticos encontram essa marca como condição prévia

à ação (GIMENO SACRISTÁN, 1999, p. 74).

Para este autor, as faculdades que formam professores estão focadas na

questões teóricas, deixando de dar a devida importância ao prático. Isso

porque, segundo Gimeno Sacristán, os estudos para a formação docente não

focam um estudo sobre a prática educativa, pois se o fizesse, a reprodução do

modelo atual de educação seria em parte superado:

A formação de professor por meio da comunicação dessa

informação sobre a prática presente e passada é uma maneira de a

prática ser-lhes transmitida, não exatamente a realidade das ações

que estiveram em sua origem, mas elaboração sobre fragmentos da

cultura prática objetivada. É a única maneira de que tenham acesso à

realidade ampla desenvolvida no espaço e no tempo não-acessíveis.

A aprendizagem significativa dessa informação é a base fundamental

da continuidade cultural no ciclo inovador [...] (GIMENO

SACRISTÁN, 1999, p. 81).

O futuro docente precisa entrar em contato com os estudos sobre essa

prática: “A narração de experiências (que já não são estritamente experiências,

não nos esqueçamos) é fundamental para os professores, e isso não é ciência

da educação, mas sim conhecimento sobre ela” (GIMENO SACRISTÁN, 1999,

p. 81).

Gimeno Sacristán acredita ainda que os estudos das práticas e das

experiências vivenciadas, que só serão possíveis com a comunicação, são a

chave para propiciar um ciclo renovador à educação, e livrá-la de seu ciclo

reprodutor. Portanto, o autor segue com sua crítica observando que as

pesquisas discutem muito o que acham sobre algum tema, ou o que querem,

mas que pecam em estudar sobre o saber fazer.

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Faz-se então necessário, para o autor, uma maior discussão das práticas,

até para que estas possam ajudar o docente a ter uma ação mais reflexiva

sobre sua própria atividade. Diz Gimeno Sacristan: “a prática tem a ver com a

projeção de elementos teóricos nela, mas não se poderia compreendê-la se só

apelamos para estes” (1999, p. 29). Ou seja:

A relação teoria- prática é a abordagem certa para penetrar

nessa complicada interação entre o que sabemos sobre algo e as

formas de fazer as coisas para que se assemelhem aos resultados

que consideramos aceitáveis e desejáveis (Idem, p.18).

Libâneo, Pimenta e Franco veem uma formação dicotomizada entre

bacharéis e licenciados, entre pesquisadores e professores. Portanto, a

pedagogia não é vista como base exclusiva da formação docente, muito

embora ela deva fazer parte da formação desses professores. Dessa forma, o

pedagogo terá uma formação mais teórica, para poder analisar a práxis

educativa. Já o docente terá em sua formação os aportes teóricos da

pedagogia que o ajudarão em sua prática.

Esses autores concordam com Saviani quanto ao lugar da pedagogia,

lembrando que, dentre as ciências que as constituem, a pedagogia é a

responsável pela unidade e por dar sentido às contribuições das outras

ciências. Porém, Libâneo e Pimenta se afastam de Saviani no tocante à

relação teoria e prática na formação do pedagogo. Enquanto, para Saviani,

esta é uma relação dialética, para Libâneo e Pimenta os estudos devem focar a

teoria, dando embasamento teórico para os alunos, desenvolvendo cursos que

possuem formação para bacharel exclusivamente.

A posição adotada por Mialaret é divergente das de Libâneo, Pimenta e

Saviani. Os estudos de ciências da educação devem abarcar os três níveis de

influência na educação e, para tanto, é necessário utilizar os aportes científicos

de diversas ciências.

Existe, assim, uma pluridisciplinaridade na temática educativa. Como já

visto anteriormente, Libâneo, Pimenta e Saviani seguem outro rumo na questão

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da concepção de pedagogia, pois para eles a pedagogia confere a unicidade

aos estudos de educação, uma vez que ela tem seus próprios aportes

epistemológicos.

Porém, Mialaret, Libâneo e Pimenta concordam com a questão da relação

entre teoria e prática. Para estes autores, a teoria é importante e é ela que

deve dar a base da formação dos profissionais do curso, uma vez que, se os

alunos estiverem familiarizados com os aportes teóricos do curso, estes

poderão chegar à reflexão sobre sua prática.

Quero ainda resaltar a importância das ideias de Gimeno Sacristán, o

qual aponta a importância da comunicação para que uma prática enraizada

resulte em mudanças, quebrando ciclos reprodutores na educação. Tal ideia é

muito relevante, uma vez que, favorece a formação de um profissional reflexivo

sobre a sua própria prática.

Nessa breve apresentação de alguns autores que discutem o termo

pedagogia, não foram expostas outras abordagens referentes ao tema. Para

tanto, exponho a tabela organizado por Cruz (2011), no qual se mostram

claramente as diversas posições existentes a respeito dos estudos de

educação.

Tabela 2 – Diferentes concepções de Pedagogia e Ciência(s) da Educação.

Posições

Pedagogia

Geral

(Única Ciência

da Educação)

Ciência da

Educação

(Ignora o termo

Pedagogia)

Ciências da

Educação

(Exclui a

Pedagogia)

Ciências da

Educação

(Inclui a

Pedagogia)

-A Pedagogia

como a única

Ciência da

Educação,

considerando as

demais

auxiliares.

- Ideia de

experimentação

educacional –

aplicação ao campo

educativo de

princípios científicos

incorporados de

outras ciências.

-Ideia de Ciência da

Educação como

- Educação

como objeto de

estudo de um

conjunto de

ciências:

Sociologia,

Psicologia,

Filosofia...

- Dispersão do

estudo da

- Cada ciência

toma o

fenômeno

educativo de

um ponto de

vista

específico,

sendo a

Pedagogia

uma dessas

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Ênfase

suporte científico da

tecnologia

educacional –

aplicação das

teorias de

aprendizagens

comportamentalistas

e sistêmicas à

prática de ensino.

- Visão científica do

fenômeno educativo

– como valores e

fins da educação

não podem ser

inferidos

cientificamente,

dilui-se o caráter

ético-normativo

associado ao termo

Pedagogia.

problemática

educacional,

levando a uma

postura

pluridisciplinar.

ciências.

- O caráter

plural do

fenômeno

educativo não

elimina sua

unicidade.

- A Pedagogia

promove uma

síntese

integradora

dos diferentes

processos

analíticos que

corresponde a

cada uma das

ciências da

educação.

- A Pedagogia

apoia-se nas

ciências da

educação sem

perder sua

autonomia

epistemológica

e sem reduzir-

se a uma ou

outra, ou ao

conjunto

dessas

ciências.

Referência

- Pedagogos

clássicos, a

partir de Herbart

(Alemanha)

- Psicologia

Experimental

francesa.

- Concepção de

Dewey (EUA).

- Mialaret

(França)

- Visalberghi

(Itália).

- Sarramona

(Espanha).

- Estrela

(Portugal)

- Libâneo,

Pimenta e

Franco (Brasil).

- Pretende

exclusividade no

tratamento

científico da

educação, algo

- Enfoque

positivista,

designando o

estudo científico da

educação como

- A autonomia

dada a cada

uma das

ciências da

educação leva

- A Pedagogia

não é a única

ciência que

tem a

educação

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Considerações

e/ou críticas

impróprio, tendo

em vista o

caráter

pluridimensional

da realidade

educativa

“Ciência da

Educação” no

singular.

a enfoques

parciais da

realidade

educativa,

comprometendo

a unidade

temática e

abrindo espaço

para vários

reducionismos.

como objeto de

estudo, mas é

aquela que

pode constituir-

se em

conhecimento

integrador dos

aportes das

demais áreas.

Fonte: CRUZ, 2011, p. 181-182.

Como foi possível perceber, os diferentes autores aqui abordados têm

diferentes concepções de pedagogia e ciência(s) da educação, assim como da

relação entre a teoria e a prática. Dessa forma, segue abaixo uma tabela com

as informações condensadas sobre esses temas em cada autor.

Tabela 3 – Autores e suas concepções de Pedagogia e sua ideia de relação teoria e prática

Autor Concepção de Pedagogia Relação teoria e prática na

formação do pedagogo

Mialaret Exclui o termo pedagogia.

Segue a ideia de ciências da

educação como uma soma

de diversas ciências,

acarretando em uma

pluridisciplinaridade

O foco central é na teoria, as

diversas disciplinas trarão

base teórica para o

educador refletir a sua

prática.

Saviani Ideia de pedagogia como a

ciência que traz a unicidade

para as diversas ciências de

educação. A pedagogia é a

ciência da educação.

Relação entre teoria e

prática deve ser dialética,

não focando apenas em uma

delas. Não separa

profissionais teóricos dos

práticos

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61

Libâneo, Pimenta e Franco Pedagogia é a ciência da

educação. Há várias

ciências que estudam a

educação, porém é a

pedagogia que irá além das

análises parciais das outras

ciências. A pedagogia traz a

possibilidade de uma análise

mais global do fenômeno

educativo.

Para Libâneo e Pimenta:

Foco na teoria, já que a

formação não deve ser para

a docência e sim para os

estudos científicos e

técnicos da educação.

Formação para bacharel.

Gimeno Sacristán As faculdades que formam o

professor devem focalizar

teoria e prática. Não discute

a concepção de pedagogia.

A relação teoria- prática é a

abordagem certa para

penetrar na complicada

interação entre o que

sabemos e as formas de

atuar para o alcance de

resultados considerados

aceitáveis. Não separa

profissionais teóricos dos

práticos.

As duas tabelas ajudarão nas análises realizadas no próximo capítulo,

pois os artigos estudados tentarão ser enquadrados nessas diferentes

concepções de pedagogia e a ciência(s) da educação, sem esquecer, é claro,

a relação entre teoria e prática nos autores analisados.

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62

Capítulo 2 – Análises dos artigos selecionados.

Neste capítulo descrevo e analiso os artigos listados na Tabela 1, tendo

como base o roteiro já apresentado na introdução e com o objetivo de

responder à questão central dessa dissertação: qual a concepção de

pedagogia que está por trás das discussões sobre o curso nas publicações de

artigos acadêmicos?

Para tanto, após o levantamento dos artigos, foram lidos todos os textos,

expostos em suas linhas gerais e reunidos segundo a respectiva concepção de

pedagogia. Essa nova classificação foi efetuada tomando como base a tabela

3, que separa as diferentes concepções de pedagogia enfatizando a relação

entre a teoria e a prática nesse curso, e com base nos autores aqui

comentados. Assim, reitero que as categorias de análises dos artigos serão:

- autores citados;

- concepção de pedagogia;

- críticas;

- pontos convergentes e divergentes.

Com a leitura dos artigos, foi possível perceber uma estratégia comum

adotada pelos autores para exporem suas ideias e concepção sobre o curso de

pedagogia. Essa estratégia consiste em, primeiro, fazer um breve histórico

deste curso, apontando suas transformações ao longo dos anos e mostrando

sua evolução até os dias atuais.

Um aspecto que deve ser especificado neste momento é o fato de os

artigos terem sido escritos tanto antes quanto depois das Diretrizes

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia, o que resulta em duas

categorias de textos, que tanto podem trabalhar com as possibilidades em

potencial do texto legal então em processo de amadurecimento, quanto já fazer

a análise do texto final do próprio documento aprovado.

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63

2.1 – Artigos publicados antes da promulgação da Resolução n.

1/2006.

Para a retomada do conjunto de artigos selecionados e analisados que

foram publicados antes da promulgação das Diretrizes Curriculares Nacionais

para o curso de pedagogia, segue abaixo a Tabela 4.

Tabela 4 – Artigos selecionados e analisados publicados antes da resolução CNE 1/2006.

Ano Título Autores Revista Palavras-chave

1999

Formação de professionais da

educação no Brasil: o curso de pedagogia em

questão

Leda Scheibe e Márcia Ângela Aguiar

Educação & Sociedade

Reforma educacional, formação de profissionais da educação, reforma do

curso de pedagogia, Institutos Superiores de

Educação, diretrizes curriculares.

1999

Formação de profissionais da

educação: visão crítica e perspectiva de mudança

José Carlos Libâneo e Selma Garrido Pimenta

Educação & Sociedade

Pedagogia, teoria pedagógica, formação de

profissionais da educação, formação pedagógica,

formação docente.

2001

Curso de pedagogia: novos questionamentos em torno de uma velha

identidade

Magali de Castro

Ensaio: avaliação e

políticas publicas em

educação

Formação de professores, curso de pedagogia,

Institutos Superiores de Educação, política

educacional.

2004 O espaço acadêmico da

pedagogia no Brasil: perspectiva histórica

Dermeval Saviani Paidéia Pedagogia, história da educação, educação

brasileira.

2005

Pedagogia e faculdades de educação: vicissitudes

e possibilidades da formação pedagógica e

docente nas IFES

Márcia Ângela da S. Aguiar e Márcia Maria

de Oliveira Melo

Educação & Sociedade

Pedagogia, faculdades/centros de educação, políticas de

formação dos profissionais da educação, projeto

político-pedagógico, gestão educacional e de ensino.

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2005 Pedagogia e Diretrizes

Curriculares: polêmicas e controvérsias

Márcia Ângela da S. Aguiar e Márcia Maria

de Oliveira Melo Linhas Críticas

Pedagogia e curso de pedagogia, diretrizes

curriculares, profissionais da educação, formação de

professores, política de formação, Anfope.

Scheibe & Aguiar (1999), que apresentam a concepção de pedagogia

como a formação docente não deixando claro se entendem ou não a

pedagogia como área de estudo, afirmam que esta possui uma amplitude

própria e que o currículo deveria conter uma parte básica que englobaria os

fundamentos sociológicos, históricos, antropológicos, econômicos, políticos e

psicológicos necessários para o entendimento dos diversos setores da

educação na sociedade atual.

Tal ideia parece indicar que as autoras acreditam que há diversas

ciências da educação, cada uma delas contribuindo de alguma maneira para

explicar a complexidade da educação. Porém, elas não explicitam nitidamente

se a pedagogia teria a capacidade de unir todas elas em um todo ou se seria

apenas uma diversidade separada e parcial da realidade, trazendo uma

pluridisciplinaridade ao campo pedagógico. Assim, não há informações

suficientes, no artigo, que faça com que haja uma classificação clara em

relação à posição das autoras quanto à concepção de pedagogia.

As autoras afirmam que a configuração do curso de pedagogia não pode

ser vista só pelo lado conceitual, antes podendo ser interpretado pela:

[...] trajetória peculiar que assumiu o curso de Pedagogia no

Brasil, como espaço também de formação de professores para a

educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, não apenas

tem o papel de vincular essa formação ao ensino universitário, mas

principalmente e ainda o de superar a dicotomia que desvincula teoria

e prática, pensar e fazer, conteúdo e forma na área do conhecimento

e da prática educacional (SCHEIBE & AGUIAR, 1999, p. 236).

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65

Ao final, as autoras acatam em termos gerais os pressupostos defendidos

pelas posições de Saviani e de Sacristan no tocante à relação entre teoria e

prática no curso de pedagogia.

As autoras apresentam críticas às propostas das Diretrizes Curriculares

Nacionais, então ainda em discussão, indicando certos aspectos que teriam

possíveis consequências para o curso e mostrando caminhos a serem

evitados, tais como:

- seguir orientações dos organismos multilaterais, o que causaria

mudanças no curso que colaborariam com interesses de instituições que

visam apenas ao lucro e não à qualidade do curso;

- rebaixamento na hierarquia acadêmica do curso, pois este estaria ligado

aos Institutos Superiores de Educação (ISE), separados das

universidades de pesquisa, o que deverá ser menos oneroso para a

instituição;

- rebaixamento da qualificação dos docentes, o que traria prejuízos para a

educação básica;

- baixa demanda pelo curso, pois a procura será por carreiras mais nobres

e promissoras;

- esvaziamento dos cursos mais longos, já que a formação de curta

duração seria oferecida, possibilitando uma entrada mais rápida no

concorrido mercado de trabalho.

Ao apontarem dificuldades e possíveis consequências decorrentes das

propostas das Diretrizes, de certa forma as autoras estão sugerindo soluções,

pois indicam o que deve ser evitado na elaboração das diretrizes.

Libâneo & Pimenta, que, conforme vimos no capítulo anterior, assumem

alguns pressupostos claros no tocante à concepção de pedagogia e à relação

teoria-prática no curso de pedagogia, voltam aqui a reiterar sua posição, como

se pode perceber por meio dos seguintes trechos:

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[...] A pedagogia promove a síntese integradora dos diferentes

processos analíticos que correspondem a cada uma das ciências da

educação em seu objeto específico de estudo.

[...]

Defendemos, pois, a criação do curso de pedagogia, um curso

que oferece formação teórica, científica e técnica para interessados

no aprofundamento da teoria e da pesquisa pedagógica e no

exercício de atividade pedagógicas específicas planejamento de

políticas educacionais, gestão do sistema de ensino e das escolas,

assistência pedagógico-didática a professores e alunos, avaliação

educacional, pedagogia empresarial, animação cultural, produção e

comunicação nas mídias etc.) (LIBÂNEO & PIMENTA, 1999, pp.

256-257).

Para ambos, há uma confusão entre os responsáveis pelas Diretrizes,

pois esses insistem em identificar o curso de pedagogia como voltado

exclusivamente para a formação de professores. Sendo assim, as propostas

das Diretrizes, além de acentuarem esse problema, colocam outros, tais como:

- redução da formação de qualquer tipo de educador à formação docente;

- esvaziamento da teoria pedagógica, o que acarretará um desprestígio

acadêmico cada vez maior da ciência pedagógica;

- eliminação da formação do especialista em pedagogia (stircto sensu)

pelo especialista no docente;

- relação direta entre o campo epistemológico e o profissional;

- currículo inchado, com muita diversidade de formação profissional;

- aligeiramento da formação;

- redução da oferta de disciplinas para poder conciliar o tempo de

formação mínima (3.200h), com a gama de diversidade de formação;

- impossibilidade do curso de formar o pesquisador e o especialista em

educação.

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67

O terceiro artigo analisado foi o de Castro (2001), que traz discussões

sobre as semelhanças entre o currículo proposto pelas Diretrizes e o cursado

pela autora na década de 1960, sendo guardadas as devidas transformações

no campo educacional, que atualmente vem sendo ampliado com uma gama

de possibilidades de atuação cada vez maior pelo educador. Assim, para a

autora há um “[...] resgaste da identidade do profissional da educação,

enquanto professor e pesquisador, identidade essa que ele nunca deverá

perder” (CASTRO, 2001, p. 171). Além disso, para a autora o curso tem

possibilidades de se expandir, se sair do âmbito exclusivamente escolar,

atingindo várias outras instâncias educacionais da vida.

Portanto, Castro apoia a formação do docente no curso de pedagogia e

critica a posição de alguns pesquisadores da área da educação, que apoiam a

criação dos Institutos de Ensino Superior (IES) como local exclusivo de

formação docente, como fora inicialmente pensado nas Diretrizes para o curso.

Castro (2001) não deixa clara sua posição quanto à concepção de

pedagogia, mas por apoiar o modelo que contempla a formação que teve na

década de 1960, percebe-se que há uma convergência com o pensamento de

Scheibe & Aguiar (1999) quanto ao papel do currículo de formação no curso de

pedagogia, com as diversas disciplinas de fundamentos fazendo parte do

currículo, mas sem uma posição clara a respeito delas: ou pluridisciplinares,

cada uma dando sua contribuição de maneira separada, ou como aportes para

uma leitura mais ampla da complexidade, ou seja, como ciências que auxiliam

o entendimento da pedagogia enquanto ciência.

Para a autora os problemas que a proposta das Diretrizes traz são:

- criação dos IES, que possuem uma organização institucional pouco

definida, o que os coloca em posição inferior às faculdades e

universidades;

- IES possuem um descompromisso com a pesquisa, desvinculando

ensino e pesquisa;

- titulação inferior dos professores para a trabalhar nas IES;

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- possibilidade de dispensa de algumas disciplinas e do estágio, o que

pode causar uma maior procura por esses cursos em relação ao de

pedagogia.

Outro autor que escreveu antes das diretrizes foi Saviani (2004), que em

seu artigo faz um histórico do curso de pedagogia a partir de uma perspectiva

que não foi abordada em outros textos. O autor se baseia no histórico das leis

para traçar os caminhos percorridos pelo curso. Dessa forma, traz o percurso

desde a criação do Estatuto das Universidades Brasileiras, em 1931, até os

dias atuais, no caso, 2004, ano em que o texto foi publicado.

No decorrer do texto, Saviani demonstra que a pedagogia fez parte do

ensino superior desde a década de 1930. Contudo, no amplo espectro de

tempo que contempla, percebe que ela acabou por estar sempre ligada à

formação exclusivamente profissional, em detrimento de uma formação mais

investigativa de ligação entre o teórico e o prático.

Em sua opinião, essa característica do curso trouxe um baixo status

social para a profissão de professor. A criação da pós-graduação em educação

na década de 1970, segundo Saviani, ajudou a aumentar o status acadêmicos

da área, mas não ajudou totalmente a solucionar os problemas relativos ao

curso de pedagogia.

Dessa forma, Saviani deixa claro que o curso de pedagogia deve ter por

base o fato de que a ciência pedagógica é uma ciência prática e que, portanto,

deve possuir uma relação dialética entre teoria e prática. Desdobrando seu

raciocínio, o autor acaba por criticar a LDB de 1996 exatamente porque cria as

IES e as Escolas Normais Superiores. Usando uma frase de Schmied-

Kowarzik, afirma que estas reduzem a pedagogia a: “[...] uma ciência

profissional pragmática do professor, mera transmissora de conhecimentos

para domínios de aptidões técnicas e artesanais da orientação do ensino”

(SCHMIED-KOWARZIK in SAVIANI, 2004, p. 123).

A essa crítica soma-se outra, que lhe está diretamente vinculada, na qual

o autor afirma que, a partir da década de 1960, predominou uma concepção

produtivista de educação, baseada na teoria do capital humano, na qual há

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uma preocupação em garantir: “[...] a eficiência por meio de uma racionalidade

técnica que maximize sua produtividade” (SAVIANI, 2004, p. 121). Com isso,

subordina-se a educação à lógica do mercado.

Para finalizar seu texto, Saviani aponta para a necessidade de “[...]

retomar as principais concepções de educação de modo a sistematizar, a partir

delas, os principais conceitos constitutivos da pedagogia” (SAVIANI, 2004, p.

123).

Aguiar e Melo (2005a), em seu texto, fazem uma análise das propostas

das diretrizes curriculares para o curso de pedagogia, e indicam a possibilidade

de uma diretriz capaz abranger a licenciatura e o bacharelado (sem a dicotomia

pré-existente na formação), conforme será explicado mais adiante.

Para as autoras, um dos problemas da pedagogia no Brasil está ligado à

diversidade de interpretações e identidades ligadas ao curso. Há desde uma

concepção de licenciatura desligada do bacharelado, passando por uma

formação única (bacharel e licenciado), até uma formação exclusiva a

bacharéis. Mesmo que essas diferentes ideias sobre o curso estivessem

historicamente ligadas a uma visão positivista de ciência e do currículo, a partir

da década de 1970 houve uma exacerbação dessa lógica, com o surgimento

do chamado “neotecnicismo” (p. 120).

Para Aguiar e Melo o curso deve ter uma concepção uno/plural:

[...] a opção por uma estrutura única de organização do curso

de pedagogia na relação entre bacharelado e licenciatura não pode

perder de vista a totalidade complexa do que vem a ser a pedagogia

e o ensino dentro do curso de pedagogia, considerando que a

pedagogia é ao mesmo tempo teoria e prática contextualizada e

interdisciplinar no plano da relação entre bacharelado e licenciatura,

articulado a uma base comum nacional. Entende-se por base comum

nacional uma diretriz que permeia o currículo como um todo e traz no

seu bojo uma concepção sócio-histórica de educação (AGUIAR &

MELO, 2005a, p. 122).

Portanto, as autoras discordam de Libâneo e Pimenta no tocante à

relação entre teoria e prática e aproximam-se de Saviani, já que para elas o

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ideal de um curso de pedagogia seria poder integrar de maneira indissociável a

teoria e a prática, fazendo do pedagogo um bacharel e licenciado ao mesmo

tempo. Assim, a pedagogia terá intrínseca ao curso a ideia de docência, que

segundo as autoras e a ANFOPE deve ser a base da formação de qualquer

profissional da educação.

Para as autoras, a pedagogia constrói um discurso de síntese

pedagógica:

[...] realizada mediante a reflexão sobre a prática, no interior e

fora do curso de pedagogia, contribuem para o fortalecimento da

especificidade da pedagogia e, por conseguinte, do curso de

pedagogia. Por outro lado, requerem essas sínteses os aportes das

ciências sociais e humanas, visto que elas dão subsídios para a

construção sempre atualizada de seus fundamentos, nas relações

uno/plural, geral/particular. A elaboração dessa(s) síntese(s) exige a

explicitação mais clara e articulada da ciência da educação (como

teoria educacional e pedagógica) com os fundamentos das ciências

da educação (sem perda da autonomia relativa da pedagogia)

(AGUIAR & MELO, 2005a, p. 121).

Segundo essa afirmação das autoras, pode-se perceber que sua

concepção de pedagogia se aproxima da expressa por Libâneo, Pimenta e

Franco no capítulo anterior. Entretanto, por não terem sido ainda aprovadas as

diretrizes do curso no ano em que o artigo foi publicado, as autoras fazem

alguns levantamentos críticos às propostas das diretrizes, entre elas:

- a possível exacerbação da docência, valorizando a licenciatura no curso;

- influência de uma racionalidade técnico-científica.

Essas mesmas autoras, Aguiar & Melo (2005b), escreveram um outro

artigo discutindo a necessidade da centralidade da pedagogia nas políticas de

formação de profissionais da educação, principalmente nas Instituições

Federais de Ensino Superior (IFES), e isso com base nos princípios

democráticos, do trabalho coletivo, da avaliação da docência e da avaliação

contínua da docência.

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71

Para que essa centralidade da pedagogia seja obtida, é necessário,

segundo as autoras, trabalhar com uma base comum pedagógica, com a

intenção de desenvolver uma relativa autonomia, a profissionalidade e a

profissionalização dos profissionais da educação, além de construir saberes

necessários à profissão.

Em seu texto, as autoras, ao fazerem uma crítica ao curso de pedagogia

e à área de educação, explicitam sua concepção de pedagogia ao afirmarem

que o curso de pedagogia tem sido reduzido ao domínio do como fazer,

dizendo:

[...] que essa desvalorização e esse desprestígio do campo

pedagógico têm relação com o aparecimento das ciências da

educação, fazendo com que a pedagogia passasse a se subdividir

em muitas especialidades. O que reduziu a mesma a campo

aplicativo dessas ciências, perdendo assim sua autonomia relativa,

apesar dos ganhos (AGUIAR & MELO, 2005b, p. 967).

As autoras ainda afirmam que:

O ponto nodal a ser efetivamente considerado concerne ao

resgate/fortalecimento da especificidade do pedagógico em meio aos

aportes teóricos, no interior dos diversos loci educativos, o qual

precisa tornar-se um discurso síntese, como um objeto próprio, no

caso dos centros de educação, no curso de Pedagogia, e como o

conhecimento/princípio transversal dos demais centros/áreas do

conhecimento [...] (AGUIAR & MELO, 2005b, p. 972).

Portanto, é possível perceber que a concepção de pedagogia adotada

pelas autoras é semelhante à exposta por Saviani, característica que se

percebe quando afirmam que a pedagogia é a síntese de outros discursos

científicos e também quando defendem que a pedagogia perde com o

aparecimento das ciências da educação, já que esses outros campos acabam

por dividir o objeto da pedagogia e reduzem a pedagogia à aplicabilidade das

resoluções de outras ciências. Assim, a pedagogia deveria ser a única ciência

da educação.

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72

Sobre a relação entre a teoria e a prática, as autoras afirmam ser de

extrema necessidade para a formação, tanto docente, quanto stricto sensu,

enfatizando a busca por uma relação dialética entre as funções de ensino,

pesquisa e extensão. Dessa forma, as autoras também se assemelham à ideia

de Saviani no tocante à essa temática.

Aguiar & Melo trazem ainda algumas críticas ao curso de pedagogia, a

saber:

- curso reduzido ao saber fazer, que gera um desprestígio da área;

- organização institucional compartimentada, voltada para atender as

demandas do mercado e ligada à lógica do lucro;

- políticas neoliberais sendo adotadas nas áreas da educação fazem com

que o conhecimento e a qualificação profissional sejam adequados à essa

lógica (flexibilidade, controle, produtividade, competitividade etc.);

- incorporação a-crítica das imposições de organismos externos;

- são deixados de lado o discurso ético-político, a organização estética,

cultural e pedagógica do espaço-tempo e do trabalho pedagógico nos

cursos de pedagogia;

- práticas desarticuladas entre graduação e pós-graduação.

Segue abaixo a tabela 5, que retoma de maneira sucinta as análises

formuladas sobre os artigos produzidos no período de 1999 até 2005.

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Tabela 5 - Análise dos artigos selecionados publicados entre 1999 e 2005, contendo:

concepção de pedagogia, relação entre teoria e prática, críticas e caminhos para o curso e

principais autores citados.

Autor Críticasecaminhos PontospositivosConcepçãopedagogia

Concepçãodeteoriaepráticaparao

curso

Principaisautores

ScheibeeAguiar(1999)

Seguirdeterminaçõesdeorganismos

internacionais;criaçãodasIESs;rebaixamento

daqualificaçãodocente;baixa

demandaparaocurso;

Nãoexplicita.

Nãoexplicitamnoartigo.

Apontapenasaamplitudeda

áreapedagógica.

Formaçãodeveserdoprofessor-pesquisador.Assemelha-seà

Saviani.

Sacristan(1998);Silva

(1999);Gadotti(1985).

LibâneoePimenta(1999)

Identificaçãodocursocomadocência;

esvaziamentodaparteteórica;trocadoespecialistaempedagogigapelo

especialistadocente;currículoinchado;aligeiramentoda

formação;reduçãodasdisciplinas;nãoformaropesquisadorem

educação.

Nãohá.

Pedagogiaéaciênciada

educação.Asoutrasciênciassãoauxiliares,comoacredita

Saviani,Libâneo,PimentaeFranco.

Formaçãoapenasparaobacharelado.PosiçãodeLibâneo,PimentaeFranco.

SarramonaeMarques(1985);

Vilsaberghi(1983),Estrela(1992);Severino(1999);Houssaye(1995).

Castro(2001)

FocadanasIESs:IESssemcompromissocomapesquisa;titulaçãoinferiorparatrabalharnasIESs;dispensaporalgumasdisciplinase

estágios(maiorprocuraporIESs).

Expansãodaáreadeatuação;resgateda

identidadedepesquisaedocentedapedagogia.

Nãodeixaclaro.Discutea

estruturadocurso,nãoa

epistemologia.

Formaçãodeserdoprofessor-

pesquisador.Assemelha-seà

Saviani.

Semautorescitados

Saviani(2004)

ComosIESshásreduçãodacarreiraàdocência(aptidões

técnicassãovalorizadas);educaçãosubordinadaàlógicadomercado;necessidade

deretomarasprincipaisconcepções

deeducação.

Nãoexplicita. Nãoexplicita.Relaçãodialéticaentreteoriae

prática.

Schmied-Kowarzik

(1983);Silva(2003);Fávero(2000).

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AguiareMelo(2005a)

Diversasidentidadesdocurso(principalmentecomasdicotomia

bacharel-licenciatura);possívelexacerbaçãodadocência;influência

daracionalidadetécnic0-científica.

Teradocênciacomobase;

possibilidadedecriarumcurso

uno(bachareladoelicenciatura).

Pedagogiaéaciênciada

educação.Asoutrasciênciassãoauxiliares,comoacredita

Saviani,Libâneo,PimentaeFranco.

Teoriaepráticadevempossuirumarelaçãodialética(cursouno-bacharelelicenciado).

Assemelha-seàSaviani.

Santos(1989e1996);Feeitas(1996);Saviani(1991);Zabala(2002);Aguiar

(1999,2000e2002);

Silva(1999);Santomé(1998);Freitas(1996);

Melo(200e2003).

AguiareMelo(2005b)

Cursoreduzidoaofazer;ligadoàs

demandasdomercado(a-crítico);adoçãodepolíticasneoliberaisna

educação;desarticulaçãoentregraduaçãoepós-

graduação.

Nãoexplicita.

Pedagogiaéaúnicaciênciada

educação.Assemelha-seà

Saviani,Libâneo,PimentaeFranco.

Teoriaepráticadevempossuirumarelaçãodialética(cursouno-bacharele

licenciado).Assemelha-seàSaviani.

Santos(1989e1996);Feeitas(1996);Saviani(1991);Zabala(2002);Aguiar

(1999,2000e2002);

Silva(1999);Santomé(1998);Freitas(1996);

Melo(200e2003);Bicudo(2000);

2.2 – Artigos publicados após a publicação da Resolução n. 1/2006.

Segue abaixo a Tabela 6, que retoma as artigos selecionados para

análise que foram publicados após a promulgação das Diretrizes Curriculares

Nacionais para o curso de pedagogia.

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Tabela 6 - Artigos selecionados e analisados publicados após a resolução CNE 1/2006.

Ano Título Autores Revista Palavras-chave

2006

Diretrizes Curriculares para o curso de pedagogia no

Brasil: a gestão da educação como gérmen da formação

Naura Syria Carapeto Ferreira

Educação & Sociedade

Pedagogia, diretrizes curriculares de

pedagogia, festão da educação, formação, política educacional.

2006

Diretrizes Curriculares do curso de pedagogia no

Brasil: disputas de projetos no campo da formação do profissional da educação

Márcia Ângela da S. Aguiar, Iria

Brzezinski, Helena Costa L. Freitas, Marcelo Soares Pereira da Silva, Ivany Rodrigues Pino

Educação & Sociedade

Pedagogia e curso de pedagogia,

políticas educacionais,

diretrizes curriculares de

pedagogia, profissionais da

educação, formação de professores,

política de formação.

2006

Pronunciamento conjunto das entidades da educação

em relação às diretrizes curriculares nacionais para o

curso de graduação em pedagogia

ANPEd, ANFOPE,

ANPAE, CEDES e FORUMDIR

Educação & Sociedade

Não possui

2006

Diretrizes Curriculares da pedagogia: imprecisões teóricas e concepção estreita da formação

profissional de educadores

José Carlos Libâneo

Educação & Sociedade

Diretrizes curriculares para o

curso de pedagogia, políticas de

formação dos profissionais da

educação conhecimento pedagógico,

formação pedagógica,

formação docente.

2007

Formação de professores para a educação básica e o

curso de pedagogia: a tensão entre instiuído e

instituinte

Iria Brzezeinski

Revista Brasileira de Política e

Administração da Educação

Políticas educacionais, formação de professores,

diretrizes currriculares

nacionais, curso de pedagogia.

2007

Elementos para a formulação de diretrizes

curriculares para cursos de pedagogia

Maria Amélia Santoro Franco,

José Carlos Libâneo, Selma Garrido Pimenta

Cadernos de Pesquisa

Formação de professores,

pedagogia, sistema de educação,

legislação de ensino.

2007 Pedagogia Dermeval

Saviani e Alda Junqueira Marin

Cadernos de Pesquisa

Não possui

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76

2007 Pedagogia: o espaço da

educação na universidade Dermeval Saviani

Cadernos de Pesquisa

Pedagogia, formação de

professores, sistema de educação,

história da educação.

2007 Diretrizes Curriculares para

o curso de pedagogia: trajetória longa e inconclusa

Leda Scheibe Cadernos de

Pesquisa

Pedagogia, formação de professores,

educação infantil.

2008 Por uma pedagogia do

equilíbrio

Kelley Cristine Gonçalves Dias

Gasque e Ricardo

Tescarolo

Educação e Pesquisa

Pedagogia, experiência, ética,

equilíbrio.

2008 Pedagogia e complexidade:

diálogos preliminares Ricardo Antunes

de Sá Educar

Educação, pedagogia,

complexidade ciência pedagógica.

2009 Pedagogia: concepções e práticas em transformação

Ercília Maria Angeli Teixeira

de Paula e Érico Ribas Machado

Educar

Pedagogia, diretrizes curriculares

nacionais para o curso de pedagogia,

pedagogia social, formação de professores.

2009

70 anos do curso de pedagogia no Brasil: uma

análise a partir da visão de dezessete pedagogos

primordiais

Giseli Barreto da Cruz

Educação & Sociedade

Curso de pedagogia no Brasil, pedagogos primordiais, formação de pedagogos.

2011 Competências do pedagogo:

uma perspectiva docente

Marília Costa Morosini, Alberto F.

Cabrera e Vera Lúcia Felicetti

Educação

Formação do pedagogo,

metodologia compartilhada, competências e indicadores de

qualidade.

O primeiro artigo analisado que foi elaborado após a promulgação das

Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia foi o de Ferreira

(2006), que aprecia as diretrizes curriculares nacionais para o curso de

pedagogia e faz uma discussão sobre os princípios e concepções das políticas

de formação dos profissionais da educação, acentuando que o compromisso e

a responsabilidade desse profissional deve ser antes de tudo com a cidadania.

O foco principal da discussão de Ferreira está relacionado à questão da

cidadania, entendida como uma das principais bases para a formação do

profissional da educação. Por isso, a autora analisa as diretrizes sob a luz

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77

dessa questão e explicita a maneira como esse foco está presente em outros

documentos legais, como a Constituição da República Federativa do Brasil, a

Carta Magna da Educação Brasileira e as próprias Diretrizes Curriculares

Nacionais para o curso de pedagogia.

A autora levanta vários pontos positivos referentes às Diretrizes, entre os

quais destacam-se:

- a ampla possibilidade de formação e atuação do profissional da

educação;

- formação em gestão da educação, compromissada com os princípios

constitucionais;

- unidade da formação pedagógica, sem contraposição entre teoria e

prática;

- formação do pedagogo como gestor, superando compreensões restritas

e unilaterais;

- o pressuposto da gestão democrática, a partir do qual pode ser gerada

mais qualidade na educação;

Para a autora:

A formação do pedagogo tem, hoje, diretrizes que possibilitam

a organização, a estrutura e o funcionamento de um curso

comprometido com os princípios constitucionais e dos ideais da Carta

Magna da Educação Brasileira, sem a fragmentação de habilitações

que dispersam o conteúdo da formação. A resolução CNE/CP n.

1/2006 de forma implícita e explícita reitera os princípios da gestão

democrática da educação, assegurando esta não-fragmentação por

meio da compreensão democrática de totalidade (FERREIRA,

2006, p. 1354).

Portanto, a autora vê pontos positivos nas diretrizes. Ferreira acredita que

este documento legal valoriza a gestão democrática por garantir a participação

dos atores da educação, trazendo reflexão, conhecimentos, análises e

antecipações para as ações pedagógicas. Dessa forma, um outro profissional é

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formado com base nos ideais de cidadania e, assim, a escola cumpre o seu

papel político-institucional.

Para a autora, a relação teoria-prática aparece como resolvida nas

diretrizes, pois nelas essa questão é vista como unidade na formação

pedagógica, uma vez que para a participação democrática dos profissionais da

educação se fazem necessários conhecimentos, conceitos, princípios e

objetivos da pedagogia.

Em seu texto a autora não explicita em nenhum momento sua concepção

de pedagogia, uma vez que sua preocupação central é com a questão da

cidadania, isto é, mais especificamente, verificar se as diretrizes dão

embasamento para que ela seja atingida. Logo, no decorrer do artigo não

foram encontradas informações referentes à sua concepção de pedagogia e

nem indícios que poderiam colaborar para esta análise.

O segundo artigo analisado foi o de Scheibe (2007), que discute as

Diretrizes Curriculares para o curso de pedagogia a partir dos debates que

estas causaram, desde a instituição da LDB, em 1996, até a sua promulgação,

em 2006. A autora faz inicialmente uma descrição das diretrizes e depois faz

um histórico das discussões sobre a formulação dessas, iniciada na década de

1990 e que ganhou um fôlego renovado a partir de 1996.

Scheibe afirma que o conceito-chave colocado nos debates das entidades

que discutiram as diretrizes é o da base comum nacional para a formação dos

profissionais da educação. Porém, no decorrer do texto, descreve todas as idas

e vindas das discussões entre as entidades representativas dos profissionais

da educação e as entidades governamentais. Depois de muitas discussões e

muita mobilização nacional, as diretrizes são aprovadas pelo governo, porém,

como aponta a autora na frase de Brzezinski, parafraseando Anísio Teixeira:

“Vitória? Porém meia vitória” (SCHEIBE, 2007, p. 56).

Um dos pontos críticos ao parecer colocado pelas diretrizes é o fato de:

“Significativamente, o parecer não se refere à formação do pedagogo, mas à

formação do licenciado em pedagogia” (SCHEIBE, 2007, p. 59). A autora deixa

claro que as diretrizes trazem uma ambiguidade quanto a esse ponto, não

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79

fechando a discussão sobre o curso de pedagogia (curso apenas como

licenciatura, ou um bacharelado e uma licenciatura).

Um dos problemas levantados pela autora referentes à pedagogia como

licenciatura decorre do fato de o curso poder ser reduzido a um conhecimento

prático da docência. Para ela:

[...] Decorre daí o grande desafio que precisa ser enfrentado

para que esta prática venha a se construir, nos projetos pedagógicos

de curso, no princípio educativo gramsciano: o desafio é estabelecer

uma formação teórica sólida, com base no conhecimento científico e

na pesquisa consolidada, e não ceder à incorporação da

racionalidade técnica ou do praticismo pedagógico predominante na

epistemologia da reforma educacional oficial, na qual se vincula o

conhecimento formativo a uma prática imediatista (SCHEIBE, 2007,

p. 60).

Para Scheibe, o formado em pedagogia deve sair com os dois títulos, pois

se é certo que a pedagogia é a ciência da prática, os pedagogos devem então

ter uma formação bacharel/licenciado:

Assim, os problemas levantados pela autora referentes ao curso são:

- a influência neoliberal nas reformas educacionais;

- a não superação da dicotomia entre teoria e prática, não resolvendo a

formação bacharel e licenciado;

- a possibilidade de vincular o curso, única e exclusivamente, à prática;

- quais os conteúdos considerados necessários para a formação do

pedagogo segundo as diretrizes;

- quão relativa será a autonomia e a flexibilização dos projetos político-

pedagógicos dos cursos.

A concepção de pedagogia da autora não é explicitada no texto. Já a

concepção de teoria e prática no curso de pedagogia foi mostrada

anteriormente, quando a autora afirma que deve haver uma unidade entre

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bacharelado e licenciatura. Com isso, essa concepção também assemelha-se à

desenvolvida por Saviani.

O artigo de Franco, Libâneo e Pimenta (2007), o terceiro analisado,

apresenta igualmente um histórico sobre os sentidos da palavra pedagogia. Ao

fazerem isso, passam a definir o conceito que para eles será trabalhado ao

longo do texto. Como já exposto no capítulo anterior, a posição desses autores

é a de que a: “[...] Pedagogia promove uma síntese integrado dos diferentes

processos analíticos que correspondem a cada uma das ciências da educação

em seu objeto específico de estudo” (FRANCO, LIBÂNEO & PIMENTA, 2007,

p. 77).

Após definirem a concepção de pedagogia que defendem, os autores

fazem uma análise das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso com base

nos pressupostos dessa concepção. Entre as críticas levantadas estão:

- o fato de as Diretrizes não disponibilizarem uma fundamentação e

conceituação da pedagogia;

- a identificação do curso com a docência, sendo que os autores

acreditam que a docência é apenas uma modalidade da atividade

pedagógica;

- desprezo da epistemologia do campo científico da pedagogia;

- definição de docência como algo subordinado à pedagogia, porém sem

apresentar a conceituação desta – resultando na confusão entre

pedagogia e docência;

- conceituação de qualquer atividade educacional como atividade docente

– erro conceitual;

- não diferenciação entre campo científico, setor profissional e áreas de

atuação;

- incongruência entre as orientações de formação e as competências do

pedagogo;

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- falta de informações sobre as possibilidades de formação prescritas nas

diretrizes;

- incongruência entre a formação de profissionais da administração,

planejamento e supervisão das diretrizes com a LDB – nas diretrizes é

apenas em nível de pós-graduação, na LDB pode ser feita também em

cursos de graduação.

Estes autores são bastante críticos em relação ao texto veiculado nas

Diretrizes e afirmam na conclusão do texto que:

[...] o Ministério da Educação deve reavaliar a pertinência de homologar a resolução que dispõe sobre as diretrizes curriculares para a Pedagogia porque não atende às necessidades sociais e pedagógicas de formação de educadores postas por um mundo em mudanças. Sugerimos, também, que essa reavaliação busque fundamentar-se na articulação entre as dimensões epistemológica, prática e disciplinar, de forma a sustentar um diálogo com a realidade educacional, para potencializar a superação do campo tensional que tem produzido indesejadas rupturas entre as necessidades e as

possibilidades da educação brasileira (FRANCO, LIBÂNEO & PIMENTA, 2007, p. 95).

Sobre a relação entre teoria e prática no curso de pedagogia, os autores

afirmam que esta deve construir teorias fundamentadas na prática, criando

estratégias didáticas e investigativas para ajudar na composição de saberes

pedagógicos, já que, ao fazê-lo, estes poderão ser transformados em bases

para a compreensão e transformação das práticas dos docentes.

Deve-se ressaltar que para estes autores o pedagogo não é

necessariamente docente, pois “[...] todo trabalho docente é trabalho

pedagógico, mas nem todo trabalho pedagógico é trabalho docente” (FRANCO,

LIBÂNEO & PIMENTA, 2007, p. 75). Portanto, para os autores, o curso de

pedagogia deverá garantir uma:

[...] formação teórica, científica e técnica com vistas ao aprofundamento na teoria pedagógica, na pesquisa educacional e no exercício de atividades pedagógicas específicas. [...] com duração mínima de 3.200 horas, num período de quatro anos.

O currículo de formação do pedagogo deve assegurar a formação em pesquisa e o exercício de atividades educativas nas

escolas e em espaços não escolares [...] (FRANCO, LIBÂNEO & PIMENTA, 2007, pp. 84-85).

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O próximo artigo analisado foi o de Aguiar et al. (2006), que analisa as

Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia a partir dos debates que foram

realizados pelas entidades do campo educacional (ANFOPE, ANPED, CEDES,

FORUMDIR e ANPAE). Os autores deixam claro que o curso de pedagogia

possui diversas identidades que lhe foram atribuídas ao longo de sua história

no Brasil. Tal fato fez e faz gerar um conflito sobre o caminho a ser seguido

pelo curso de pedagogia. Os debates referentes às propostas para as

Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia não passam ao

largo dessa discussão.

As entidades do campo educacional organizaram debates e fóruns de

discussão para poderem definir qual curso de pedagogia os educadores

almejavam. Entre a promulgação da LDB 9394/96 e das Diretrizes Curriculares

Nacionais – pedagogia passaram-se 10 anos. Nesse período, propostas foram

enviadas aos órgãos federais que demoraram a ser analisadas. Com isso,

segundo as autoras, problemas foram causados, pois a demora de uma

definição gerou uma diversidade de estruturas de cursos de pedagogia que

demanda uma atenção e uma avaliação bastante minuciosas por parte do

Ministério da Educação (MEC), além da expansão dos cursos normais

superiores e do curso de pedagogia, ambos em instituições privadas que,

segundo as autoras, não possuem história e nem compromisso com a

formação de seus profissionais.

Neste artigo é possível perceber que a ANFOPE deixou clara sua posição

de criar um curso de pedagogia que formasse de maneira integrada os

licenciados e os pedagogos, mas que o MEC sempre recusou tal premissa, o

que gerou embates entre os dois órgãos.

Para os autores, mesmo com as diretrizes já formuladas e promulgadas,

há espaço para novas discussões e reflexões mais aprofundadas sobre o

curso. Ou seja, a aceitação desse documento legal, mesmo trazendo pontos

positivos para a área, ainda é passível de críticas e melhoras, que só serão

possíveis em um ambiente rico em reflexões e debates sobre o tema.

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Entre os pontos positivos das diretrizes, os autores ressaltam o fato de

que elas abriram um amplo horizonte de formação e atuação, afastando a

redução do curso a uma formação docente. O artigo expõe como positivo o fato

de as diretrizes trabalharem com o conceito de docência ampliada, que está

ligada à ideia de trabalho pedagógico não apenas focado em escola formal e

em docência propriamente dita, mas em trabalhos realizados em instituições

escolares e não-escolares na área da educação.

Além desses pontos, os autores ressaltam o fato de que o curso terá a

formação de pesquisadores, visto que os embasamentos teóricos necessários

para essa formação estão presentes em algumas partes das diretrizes.

Por estarem apoiadas no conceito de docência ampliada, os autores

acreditam que mesmo a licenciatura sendo a base do curso de pedagogia, as

metodologias e o ensino dos conteúdos relativos à docência não serão a tônica

do curso, uma vez que este encontra-se fundamentado no exercício da

docência ampliada, ou seja, está baseado em um conceito mais amplo de

educação:

A compreensão da licenciatura nos termos das DCN-

Pedagogia implicará, pois, uma sólida formação teórica, alicerçada no

estudo das práticas educativas escolares e não-escolares e no

desenvolvimento do pensamento crítico, reflexivo fundamentado na

contribuição das diferentes ciências e dos campos de saberes que

atravessam o campo da pedagogia (AGUIAR et al. 2006, p.833).

Nessa citação é possível perceber a concepção de pedagogia adotada

pelos autores, que é a de pedagogia como ciência que se utiliza de outras na

sua discussão, o que se assemelha à concepção de Libâneo, Pimenta e

Franco.

Porém, separam-se de Libâneo e Pimenta no tocante à relação entre a

teoria e a prática do curso de pedagogia por acreditarem que ele deva ter uma

formação voltada para a docência, focando além da teoria a prática na

formação do profissional da educação.

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Além dos pontos positivos já mostrados, os autores ainda apontam o fato

de as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia romperem

com a fragmentação que existia no curso, pois acabam com as habilitações ao

pensarem na formação para a gestão educacional.

Os autores ainda apontam alguns problemas para serem resolvidos, entre

eles a criação dos Institutos Superiores de Educação (IES) e dos Cursos

Normais Superiores pela LDB 9394/96, que segundo os autores deverá ser

revista.

No caso das IESs e os Cursos Normais Superiores criados em grande

número nos últimos anos, defendem que devam passar por uma nova

avaliação que garanta a qualidade da formação, e também que se realize um

estudo do número de vagas ofertadas por estas instituições, informação útil

para que nelas adentrem estudantes com um perfil que possibilite de fato uma

formação ao mesmo tempo prática e teórica.

O perfil requerido pelos estudantes diz respeito sobretudo à

disponibilidade de realizar estágios, pois para tanto os estudantes devem ter

horários livres, não rígidos. Além disso, as diretrizes devem deixar claro que o

curso de pedagogia é um bacharelado e uma licenciatura, sem separá-los.

Dessa forma, os autores veem as diretrizes como promissoras, embora

reconheçam que isso não pode ser visto como um impeditivo que impossibilite

futuras críticas ou debates sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o

curso de pedagogia e a identidade da pedagogia.

Para os autores, a relação entre teoria e prática está garantida pelas

diretrizes. Ao apoiarem as Diretrizes Curriculares Nacionais e fazerem alguns

apontamentos é possível perceber que sua concepção de pedagogia é

semelhante à adotada por Saviani, na qual a pedagogia, mesmo que

atravessada por uma gama de ciências, confere certa unidade a todas as

reflexões sobre o objeto educativo.

O artigo desenvolvido pelas entidades da área da educação (ANPEd,

ANPOFE, ANPAE, CEDES e FORUMDIR) em relação às Diretrizes

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85

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia (2006), o próximo a ser

analisado, traz uma análise do documento à luz do entendimento que possuem

sobre o curso de pedagogia.

Segundo estas entidades, as diretrizes são um avanço histórico na

formação dos profissionais de educação suas as características positivas são:

- o curso de pedagogia ser identificado como licenciatura, mas não

exclusiva, ou seja, sem excluir as outras formações;

- exclusão da a formação aligeirada e fragmentada das habilitações;

- assegurar uma formação teórica sólida, interdisciplinar e coletiva;

- formação que articula formação de professores, compreensão da

multidimensionalidade da escola, sua estrutura, organização e pesquisa

em educação;

- articulação entre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de

pedagogia com a LDB/96 (a articulação de gestão educacional com

gestão democrática, formação de professores para as atribuições

definidas na LDB, enfatiza que a formação em Educação Infantil e as

primeiras séries do fundamental possa ocorrer ao mesmo tempo nos

cursos de pedagogia como nos cursos normais superiores).

As entidades finalizam seu artigo fazendo algumas proposições:

- duração mínima de 4 anos para o curso de pedagogia;

- criação de um Comitê Nacional de Formação dos Profissionais da

Educação para assegurar a implementação das diretrizes;

- realização de um Seminário Nacional sobre a Formação de Profissionais

da Educação criado pelo MEC e organizado e coordenado pelas

entidades da área de educação.

Portanto, as entidades da área da educação são favoráveis às resoluções

contidas nas diretrizes, acreditando que elas resolvem os impasses das

relações entre teoria e prática ao definirem a docência como a base do curso

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de pedagogia. Isso significa que o curso de pedagogia deve buscar aprofundar

essa relação, sendo isso garantido com a docência como base da formação.

Porém, o artigo não expõe de maneira cristalina a concepção de

pedagogia que essas entidades defendem e pressupõem para um curso de

formação de pedagogos.

Outro artigo analisado foi o de Libâneo (2006), que faz uma análise crítica

das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia. Este é um

autor crítico a esse documento, assim, seu texto não expõe nenhum ponto

positivo referente às diretrizes. Dentre os pontos criticados por Libâneo estão:

- a regulamentação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de

pedagogia trata exclusivamente de formar professores – reduzindo a

pedagogia à docência;

- a exclusão do pedagogo especialista;

- o curso prepara o professor para participar e não para assumir funções

de gestão da escola;

- a imprecisão conceitual com relação aos termos: pedagogia, educação e

docência – pedagogia é substituída por docência;

- o entendimento genérico da atividade docente – qualquer atividade no

campo da educação é atividade docente;

- a falta de clareza nas definições do percurso curricular – as habilitações

continuariam;

- as competências dos egressos do curso são confundidas com objetivos,

conteúdos e recomendações morais;

- não inova no formato curricular;

- acaba com a autonomia que gerava em algumas instituições caminhos

alternativos e inovadores;

- precária fundamentação teórica no campo conceitual da pedagogia;

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Libâneo afirma que:

[...] a pedagogia não se resume a um curso, antes, a um vasto

campo de conhecimentos, cuja natureza constitutiva é a teoria e a

prática da educação ou a teoria e a prática da formação humana.

Assim, o objeto próprio da ciência pedagógica é o estudo e a reflexão

sistemática sobre o fenômeno educativo, sobre as práticas educativas

em todas as suas dimensões (LIBÂNEO, 2006, p. 849).

Investiga teoricamente o fenômeno educativo, formula

orientações para a prática a partir da própria ação prática e propões

princípios e normas relacionados aos fins e meios da educação

(LIBÂNEO, 2006, p. 850).

Essas definições mostram um conceito amplo de pedagogia, a

partir do qual pode compreender a docência como uma modalidade

de atividade pedagógica, de modo que a formação pedagógica é um

suporte, a base, da docência, não o inverso (LIBÂNEO, 2006, p.

850).

Para o autor, a maneira como os cursos de pedagogia estão organizados

segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia traz

prejuízos para as escolas e para a educação no geral, pois acarreta perda do

avanço científico na área, além de não preparar profissionais devidamente

qualificados para atuar nos ambientes escolar e não-escolar, seja na docência

ou como especialista.

Quanto à concepção de pedagogia e à relação entre teoria e prática, esta

já está exposta em outras partes desta dissertação, mas cabe afirmar que a

pedagogia é a ciência da educação e é auxiliada por outros campos científicos,

criando uma síntese em seu discurso. Além disso, o curso de pedagogia, como

já exposto nas críticas feitas por esse autor, não deve ter a docência como

base, mas deve estar formulado para formar o pesquisador, com uma base

teórica muito bem alicerçada.

O próximo artigo analisado é o de Brzezinski (2007), que trata do

processo histórico de formação de professores da educação básica e as

políticas educacionais que culminaram na criação das Diretrizes Curriculares

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Nacionais para o curso de pedagogia. Em sua análise, a autora chega a

conclusão de que duas correntes se fazem presentes nas políticas

educacionais, o Estado e as forças sociais, ou, em outras palavras, instituído e

instituinte, respectivamente.

As mudanças ocorridas nas últimas décadas do século XX e início do

século XXI trazem, segundo a autora, desafios aos educadores e à sua

formação. Para ela, essas transformações acarretam uma necessidade ainda

maior de formar homens e mulheres cidadãos. Para tanto, um novo paradigma

de ciência, ainda em construção, se faz necessário, pois este garantiria a

emancipação. Dessa forma,

[...] o grande desafio é ser um professor-pesquisador resiliente

que domine uma prática pedagógica que favoreça a emancipação de

seus aprendentes, para que possam exercer com plenitude a sua

cidadania.

Neste universo de educadores, encontra-se o gestor da

educação (BRZEZINSKI, 2007, p. 233).

Portanto, para a autora a formação deve ser tripartite: professor-

pesquisador-gestor. Ao fazer uma análise histórica do curso, Brzezinski afirma

que os embates acerca da identidade do curso de pedagogia seguem as

incertezas do estatuto epistemológico da pedagogia como ciência. Assimilou-se

um campo científico com um curso, que acabou por ter como principal função o

saber fazer em detrimento de conhecer o que se faz e avaliar como se faz. No

decorrer da história do curso, a pedagogia foi sendo fragmentada e a formação

do pedagogo foi sendo enfraquecida. Diversos são os movimentos criados para

buscar um novo caminho para o curso de pedagogia e a abertura é dada com a

LDB, que pede a criação das diretrizes para os cursos superiores.

Dessa forma, tensões entre o instituído e o instituinte se instalam nos

debates acerca do curso, principalmente no tocante à formação de professores

como atribuição do curso de pedagogia, assunto que o órgão governamental

não aceitava.

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89

Para a autora, com as novas diretrizes uma nova identidade de pedagogo

e de curso de pedagogia é desenhada: a de professor-pesquisador-gestor, que

é defendida por ela. Outros pontos considerados positivos são colocados por

Brzezeinski:

- certa autonomia é concedida às instituições formadoras;

- docência como base de identidade do pedagogo;

- base comum nacional;

- uma concepção docência é explicitada pela Diretrizes Curriculares

Nacionais para o curso de pedagogia;

- a docência não é uma formação exclusiva do pedagogo;

- são asseguradas as formações para gestão e pesquisa;

- extinção das habilitações;

- não obrigatoriedade da organização curricular por disciplinas;

- obrigatoriedade da docência para exercer outras funções de magistério.

Porém, alguns pontos de crítica são expostos pela autora, principalmente

em relação ao embate entre o instituído e o instituinte:

- o curso de pedagogia deve ser visto como um bacharelado e uma

licenciatura;

- a ação docente deve ser o “[...] ponto de inflexão das demais ciências

que dão o suporte conceitual e metodológico para a investigação e a

intervenção nos múltiplos processos de formação humana” (BRZEZINSKI,

2007, p. 249);

- fazer uma distinção clara entre a Diretrizes Curriculares Nacionais para o

curso de licenciatura em pedagogia e o campo de atuação profissional do

pedagogo;

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- política de valorização do magistério e criação de um sistema nacional

de formação de professores;

- desenvolver os estudos sobre a epistemologia da Pedagogia como

ciência praxiológica;

- avaliar e acompanhar as transformações ocorridas nos cursos de

pedagogia e normais superiores após a implementação das Diretrizes

Curriculares Nacionais.

Para a autora, a relação teoria e prática é essencial em pedagogia,

fazendo parte do seu campo de trabalho e até mesmo da formação de seu

discurso científico.

O artigo de Marin e Saviani (2007) é uma exposição breve sobre textos

que tratam das diretrizes do curso. Mas, ainda que breve, é possível notar no

texto claras menções aos debates inerentes ao tema da pedagogia, seja os

abordados entre os pesquisadores, seja aqueles desenvolvidos entre

pesquisadores e entidades da área da educação.

Estes autores afirmam a importância de ideias opostas que estavam em

debate para o enriquecimento e o desenvolvimento da área, e observam que

as polêmicas que envolvem a pedagogia não estão presentes só no Brasil, mas

em vários outros países, já que as reformas não são exclusividade do nosso

país.

Assim, o texto dos dois autores não se aprofunda em nenhuma

discussão, nem define uma concepção de pedagogia, mas traz um panorama

da situação e uma introdução aos possíveis caminhos que a pedagogia pode

seguir, mesmo com as definições dadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o curso de pedagogia.

O próximo artigo analisado é o de Saviani (2007), que afirma a

importância do curso de pedagogia para o desenvolvimento dos estudos

voltados para a educação, analisando, dessa forma, como as Diretrizes

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia afetam o curso. Para tanto, o

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autor traça um histórico do conceito de pedagogia, e pontua a relação teoria-

prática como o eixo causador da polêmica nesse curso.

Sobre o conceito de pedagogia, Saviani afirma

[...] a característica mais saliente da pedagogia pode ser

identificada na relação teoria-prática. [...] o conceito de pedagogia se

reporta a uma teoria que se estrutura a partir e em função da prática

educativa. A pedagogia, como teoria da educação, busca equacionar,

de alguma maneira, o problema da relação educador-educando, [...]

orientando o processo de ensino e aprendizagem. Assim, não se

constituem como pedagogia aquelas teorias que analisam a

educação sem ter como objetivo formular diretrizes que orientem a

atividade educativa. Situam-se nesse âmbito toas as teorias da

educação oriundas das ciências humanas que se voltam para a

análise do fenômeno educativo [...] (SAVIANI, 2007, p. 102).

Sobre a relação teoria-prática, Saviani afirma que há duas grandes

tendências: a primeira, que foi dominante até o final do século XIX, dá

prioridade à teoria sobre a prática e está centrada nas teorias do ensino; já a

segunda, que ganha força no início do século XX, dá prioridade à prática sobre

a teoria e está centrada nas teorias da aprendizagem. Cada uma dessas ideias

sobre a relação teoria-prática resultará em um modelo diferente de formação

para o curso de pedagogia.

Segundo o autor, a saída é superar essa dilema. Para tanto, a relação

teoria-prática deve ser dialética, isso porque “[...] teoria e prática são apostos

que se incluem, abrindo caminho para a consideração da unidade entre teoria e

prática” (SAVIANI, 2007, p. 109).

Depois de discutida a parte conceitual da pedagogia, Saviani faz um

histórico do curso de pedagogia, desde sua criação até os dias atuais. Uma

das passagens abordadas pelo autor que importa relatar é que, no Brasil, a

partir da década de 1960 até os dias atuais, é hegemônica a concepção

produtivista de educação baseada na Teoria do Capital Humano, o que levou a

uma racionalidade técnica que busca a maximização da produtividade gerando

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eficiência. Isso ocorre porque as leis que regem o mercado são postas como

principais, subjugando a educação à uma dimensão técnica.

Como já afirmado anteriormente, para Saviani a crise do curso de

pedagogia está ligada à demora na definição de suas diretrizes. Em sua

análise das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia, o

autor afirma que estas possuem ambiguidades, pois mesmo sem regulamentar

o especialista, esta formação é admitida.

Para Saviani, a análise das diretrizes deixa entrever um paradoxo:

[...] as novas diretrizes curriculares nacionais do Curso de

Pedagogia são, ao mesmo tempo, extremamente restritas e

demasiadamente extensivas: muito restritas no essencial e assaz

excessivas no acessório. São restritas no que se refere ao essencial,

isto é, àquilo que configura a pedagogia como um campo teórico-

prático dotado de um acúmulo de conhecimentos e experiências

resultantes de séculos de história. Mas são extensivas nos acessório,

isto é, se dilatam em múltiplas e reiteradas referencias à linguagem

hoje em evidência, impregnada de expressões como conhecimento

ambiental-ecológico; pluralidade de visões de mundo;

interdisciplinaridade [...] (SAVIANI, 2007, p. 127).

Assim, Saviani prevê dificuldades para a implementação e organização

dos cursos de pedagogia, já que é difícil identificar uma base comum que dê

unidade ao curso.

Passando agora ao artigo de Sá (2008), vê-se que ele busca trazer um

diálogo entre a pedagogia enquanto ciência e o pensamento complexo,

sistematizado por Edgar Morin. O mundo globalizado e a alta complexidade da

modernidade possibilitam e favorecem esse diálogo.

Para o autor, a pedagogia constrói uma identidade própria, pois ela conta

com uma teoria e um discurso científico específicos, mesmo possuindo outras

ciências que discutam a educação, ou até mesmo que a sustentem, em termos

epistemológicos. Assim, sua concepção de pedagogia assemelha-se à de

Libâneo, Pimenta e Franco. Sá afirma:

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A pedagogia do ponto de vista do princípio sistêmico-

organizacional (MORIN, 2005) poderia ser compreendida como um

todo, como a emergência, como o produto das inter-relações e das

interações dos aportes epistemológicos das outras áreas do

conhecimento científico que, dinamicamente, contribuem para a

síntese integradora sistematizada pela Pedagogia. Diria-se que o

todo (o discurso pedagógico) não se confunde com as partes (aportes

das demais ciências). No entanto, uma não acontece sem a

elaboração do outro. O todo não é soma das partes (SÁ, 2008, p.

60).

A educação, objeto da pedagogia, está inserida em uma modernidade

complexa, que precisa ser estudada e analisada. Dessa forma, o princípio

sistêmico-organizacional pode ser um aporte importante para a pedagogia e

sua complexidade, isso porque o trabalho pedagógico não pode ser analisado

sob um único aspecto ou elemento. Por ser complexo, precisa considerar o

todo, assim como as particularidades das partes. Tal ideia de realidade

complexa é vista pelo autor até mesmo nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o curso de pedagogia, quando estas afirmam que a escola é uma

organização complexa.

No tocante à relação teoria e prática o autor não explicita sua posição.

O próximo artigo é o de Gasque e Tescarolo (2008), que analisa a

pedagogia como ciência prática com fundamentação científica, e faz críticas ao

modo reducionista de ver a pedagogia como um treinamento técnico. Dessa

forma, os autores propõem uma nova forma de ver a pedagogia, que é a do

equilíbrio entre a razão e a experiência. Para os autores:

A Pedagogia, ao explicar e prescrever conhecimentos e

procedimentos de intervenção e desenvolvimento da Educação,

supera essa visão preconceituosa e reducionista, que considera

teoria científica apenas a que apresenta “um modelo matemático que

descreve e codifica as observações que fazemos” (Hawking, 2001, p.

21).

Contra o anacronismo dessa cosmovisão, a Pedagogia deve

propor o equilíbrio complexo e dialético entre reflexão e experiência e

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entre técnica e ética, para alcançar a integração das “dimensões

especulativas e empíricas” e os princípios e conceitos “primordiais da

tradição pedagógica (GASQUE & TESCAROLO, 2008, p. 141)

Para garantir que esse equilíbrio seja atingido, a experiência vivida deve

fazer parte da razão científica, assim a experiência docente com o aporte da

pedagogia como ciência cria uma análise de síntese universal. Uma das

questões centrais da pedagogia do equilíbrio que os autores ilustram é a

presença da ética, já que sem ela não há possibilidade de construir diálogos

entre as pessoas e nem entre a pessoa e sua própria consciência.

Para Gasque e Tescarolo, a pedagogia enquanto ciência é considerada

como ciência da educação geral (2008, p. 142), não sendo explicitado mais

sobre o assunto, o que dá margens para diversas interpretações da concepção

adotada pelos autores.

Em relação à questão da teoria e prática no curso de pedagogia, nota-se

que a prática no curso se faz necessária, uma vez que é com ela que serão

desenvolvidos os princípios da pedagogia do equilíbrio proposta pelos autores.

Dessa forma, a concepção de teoria e prática para o curso de pedagogia

assemelha-se à de Saviani.

Outro artigo analisado é o de Cruz (2009), que traz a visão de dezessete

pedagogos que cursaram pedagogia nas primeiras décadas de criação do

curso sobre as mudanças que sofreu e a atualidade dele. Esses pedagogos,

também chamados de “primordiais”, são professores do curso de pedagogia

que se formaram entre as décadas de 1940 e 1960. Neste artigo, revela a

autora que esses pedagogos fizeram críticas ao curso de pedagogia atual,

entre elas:

- perda da densidade teórica – que pode ser aprofundada com as novas

diretrizes;

- o estudo dos clássicos foi secundarizado;

- baixo capital cultural dos alunos;

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- o pedagogo deve ser capaz de atuar além da sala de aula – pedagogo

deve “fazer pedagogia” (CRUZ, 2009, p. 1197);

- diretrizes podem subjugar a pedagogia enquanto ciência, por ter a

docência como base;

- problemas na conceituação da pedagogia pelos alunos – dificuldade de

sintetizar o que é pedagogia.

A concepção de pedagogia defendida pela autora assemelha-se à de

Saviani, na qual a pedagogia é a responsável pela síntese integradora, e em

sua posição ela ainda ressalta que não pode ser só teoria e nem só prática,

mas: “[...] a reunião mútua e dialética da teoria e da prática que faz emergir um

pedagogo” (CRUZ, 2009, p. 1196).

No tocante à relação teoria e prática no curso, Cruz segue também a ideia

de que ele deve ter a prática, já que esse é um dos pressupostos da ciência

pedagógica, ou seja, a dialética entre teoria e prática, seguindo também a

mesma linha de Saviani quanto à temática.

O próximo artigo a ser discutido é o de Paula & Machado (2009), que

analisa o curso de pedagogia e também suas diretrizes em relação à formação

do pedagogo social. Mesmo focando a formação em pedagogia social, o artigo

busca definir um caminho para o curso e traz reflexões sobre sua identidade.

Várias são as demandas sociais no cenário atual, e atender a essas

demandas requer uma nova concepção de educação, segundo os autores,

principalmente no tocante à formação dos sujeitos historicamente excluídos. É

com essa demanda que entra em ação a pedagogia social.

Para os autores, as diretrizes apontam uma mudança na sociedade que

indica a necessidade de uma nova formação do pedagogo. Porém, as

Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia acabam por ter

como base a docência, restringindo ao final a atuação e a formação dos futuros

pedagogos. As diretrizes, segundo Paula e Machado, apontam ainda para o

trabalho fora das escolas, mas acabam por centrar a formação apenas em

aspectos metodológicos de ensino-aprendizagem, não fornecendo informações

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sobre como ocorrerá a formação para esses outros espaços não-escolares e

nem qual é a sua finalidade educativa.

Os autores observam como uma característica positiva das Diretrizes

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia a questão de valorizar os

espaços além da escola, encarecendo um pouco mais o segmento socialmente

excluído da população.

Paula e Machado não excluem a prática na formação em pedagogia, pois

afirmam que essa formação não pode ser única, isto é, no caso, a docência,

preferindo uma outra que:

[...] compreenda o pensar, o refletir, o agir, o transformar, o dar

aula, o articular, direcionar, coordenar, aspectos estes que envolvem

um universo de conhecimentos e não uma concepção que restringe a

formação e atuação do profissional (PAULA & MACHADO, 2009,

p. 230).

No tocante à concepção de pedagogia, o artigo não traz informações que

possam ser usadas para a classificação.

No próximo artigo analisado, de Morosini, Cabrera & Felicetti (2011), são

identificadas 5 competências para a formação de um pedagogo de qualidade,

que serviram de base para a discussão da reformulação do curso de pedagogia

na PUCRS. Para formular essas competências, as novas diretrizes para o

curso e a LDB serviram como base de discussão do tema.

O artigo relata que as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de

pedagogia acarretaram mudanças no curso da PUCRS, como por exemplo a

extinção das habilitações, a suspensão do curso de psicopedagogia, a

implantação de um novo currículo e a formulação de um Projeto Político

Pedagógico.

Com esse texto, do ano de 2011, já é possível notar como as diretrizes

trouxeram mudanças na forma de organizar os cursos, como relatado

anteriormente.

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As cinco competências identificadas como essenciais para o curso de

pedagogia pelos professores da PUCRS foram:

- conhecimento da área de atuação – mescla dos saberes das disciplinas

e dos saberes didático-pedagógicos;

- ação didática-pedagógica – construção de referenciais teóricos que

deem maior confiança para a prática do docente;

- gestão de processos educativos – relação da macropolítica com a

micropolítica dos sistemas educativos;

- ação investigativa – identificar e compreender os problemas que

envolvem a aprendizagem e formular estratégias aplicáveis em sala de

aula;

- exercício da cidadania – a base da função da escola, exigindo o respeito

às diversidades humanas.

Partindo das competências vistas como essenciais para o pedagogo,

pode-se notar uma preocupação centrada na docência, não havendo uma

ligação com outras possíveis formações que as Diretrizes Curriculares

Nacionais para o curso de pedagogia propiciam.

É possível perceber que há uma preocupação com relação à teoria e à

prática, conforme o exposto na primeira competência descrita acima. Mas o

artigo não explicita se essa relação será oferecida no curso, ou se o pedagogo

a desenvolverá no decorrer de sua prática profissional.

O artigo não expõe a concepção de pedagogia que embasa a opção dos

professores por certas competências e não por outras, ou seja, não é discutido

epistemologicamente o que é ser pedagogo e o que é pedagogia. Como dito,

parte das competências está ligada às Diretrizes Curriculares Nacionais para o

curso de pedagogia e LDB, mas as próprias diretrizes apontam para outras

formações que não a docência, mesmo que esta seja a base. Com isso, é

possível perceber que parte do receio de alguns autores a respeito da redução

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do curso à docência pode ser comprovada com a formulação do curso de

pedagogia da PUCRS.

Segue abaixo a tabela 7, que retoma de maneira sucinta as análises

formuladas neste capítulo.

Tabela 7 – Análise dos artigos selecionados contendo a concepção de pedagogia e a relação

teoria e prática para o curso por autor.

Autores Críticasecaminhos PontospositivosConcepçãopedagogia

Concepçãodeteoriae

práticaparaocurso

principaisautores

Ferreira(2006)

Nãoexplicita.

Amplapossibilidadedeformaçãoe

atuaçãoprofissional;formaçãoemgestão

voltadaparaademocracia;unidadenaformação(teoria-prática);formaçãodopedagogocomo

gestor(semrestringirouserunilateral);gestãodemocráticageraqualidadenaeducação.

Nãoexplicita

Formaroprofessoreo

gestor.Assemelha-seàdeSaviani

Kosik(1976);Hamelini

(1989);Gatti(2003);Barroso(2006);Dourado(2006);

Aguiaretal(2006)

Diversasidentidadesdocursodepedagogiadurantesuahistória;

demoranapromulgaçãodasDCN-pedagogia(crioudiversoscursosquedeevmseravaliadospeloMEC);revercriaçãodasIESse

CursosNormaisSuperioresepassarporavaliações;estudononúmerodevagasháserofertadas;deixarclaronasDCN-

pedagogiaqueocursoébacharelelicenciatura.

formaçãoampla;afastaareduçãodocursoàdocência;docênciaampliada;formaçãodeteóricoscomembasamento;

mesmosendolicenciaturaasdisciplinasde

metologiadeensinonãoserãotônica,

poistrabalha-secomconceitodedocênciaampliada;rompe

comafragmentaçãodashabilitações.

Nãodeixaclaraaposição.Afirmam

apenasqueasciênciasdãosuporteàpedagogia.

Cursouno(bacharelelicenciado).Assemelha-seàSaviani.

Brzezinski(1995,2005e2006);Melo(2000,2003e2006);Freitas(1995e2004).

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Entidades(2006)

Cursodeveterduraçãomínimade4anos;criaçãodeComitêNacionaldeFormaçãodos

ProfissionaisdaEducaçãoparaassegurarimplementaçãodas

DCN

Identidadedocursocoma

licenciatura,massemexcluiras

outrasformações;acabacomaformaçãoaligeiradae

fragmentadadashabilitações;assegura

formaçãoteórica,interdisciplinare

coletiva;articulaçãoentreformaçãodeprofessores,

compreensãodacomplexidadeda

escola,suaestrutura,

Nãoexplicita Nãoexplicita. Nãohácitações.

Libâneo(2006)

Reduçãodapedagogiaàdocência;exclusãodo

pedagogoespecialista;preparaparaparticiparenãoassumiragestãodaescola;imprecisões

conceituais(pedagogia,docênciaeeducação);

entendimentogenéricodaatividadedocente;nãotrazclaroopercursocurricular(habilitaçõescontinarão?;competênciasconfundidascomobjetivos,conteúdoserecomendaçõesgerais;nãoinovanoformatocurricular;acabacomaautonomiaque

algumasinstituiçõespossuiam;precáriafundamentaçãoteóriconocurso;perdadoavançocientíficodaárea.

Nãoexplicita.

Pedagogiaéumadas

ciênciasdaeducaçãoefaz

asínteseintegradorade

todasasoutrasciênciasdaeducação.

Formaçãoparao

bacharelado.

Pimenta(1997);Franco(2003e2006);Schimied-Kowarzik(1983);Suchodolski

(1977);Durkhein(1967);QuintasCabanas(1995);

Libâneo.

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Scheibe(2007)

Pedagogiaésólicenciatura(pontoemaberto-reduçãoao

conhecimentopráticodadocência);influêncianeoliberalnasreformas;nãosuperaçãodadicotomiaentreteoriaeprática;

possibilidadedocursoservoltadoàprática

exclusivamente;dúvidasquantoaosconteúdosaserem

consideradosimportantes;haveráautonomiae

flexibilidadenosPPPdoscursos?

Basecomumnacional Nãoexplicita

Assemelha-seàSaviani.Cursouno-bacharelelicenciado.

Catani(2001);Saviani(2005);Silva(1999)

Franco,LibâneoePimenta(2007)

DCNsemfundamentaçãoenemconceitualizaçãodapedagogia;identificaçãocomadocência;desprezoàepistemologiadapedagogia;erroconceitual

(qualqueratividadeeducacionaléatividadedocente);nãohá

diferençasentrecampocientífico,setorprofissionaleáreadeatuação;incongruênciaentreorientaçõesdeformaçãoecompetênciasdopedagogo;faltadeinformaçãosobreaspossibilidadesdeatuação

profissional;incongruêncianaformaçãodeprofissionaisparaaadministração,planejamentoesupervisãoentreDCNeLDB;necessidadedereavaliaras

diretrizes.

Nãoaponta

Pedagogiaéumadas

ciênciasdaeducaçãoefaz

asínteseintegradorade

todasasoutrasciênciasdaeducação.

Formaçãoparao

bacharelado.

Libâneo(1997);Pimenta

(1999);Franco(2003);Schmied-Kowarzik(1983);QuintanaCabanas(1995);Houssaye(2002);Beillerot(1985);Mialaret

(1976);Silva(1999);Estrela

(1992).

Brzezinski(2007)

Cursodeveservistocomobachareladoelicenciatura;criarumaDCNdelicenciaturadepedagogiaeoutraparaa

atuaçãodosprofissionaisdepedagogia;buscaravalorizaçãomagistério;criarumsistemanacionaldeformaçãodeprofessores;desenvolver

estudossobreaepistemologiadapedagogoacomociência

praxiológica;avaliareacompanharastransformaçõea

ocorridasnoscursosdepedagogiaenormaissuperiores

apósasDCN-pedagogia.

Certaautonomiadoscursos;docenciacomobasedaformação;

basecomumnacional;concepçãodedocênciaéexplicitadanasDCN-pedagogia;docêncianãoéumaformação

exclusivadapedagogia;formação

paragestãoepesquisa;extinçãodashabilitações;inovaçãocurricular(organizaçãopordisciplinasnãoprecisaserseguida);obrigatóriaadocênciaparaexercerfunçõesnaáreaeducacional.

Nãoexplicita.cursouno(bacharelelicenciado)

Brzezinski(1994,1996e1999);Santos(1995e2001);Tavares(2000

e1003);Teixeira(2000).

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MarineSaviani(2007)

Nãosãoapontadascríticasenemcaminhos.

Debatessãoinerentesaocurso,tantono

Brasilcomoemoutrospaíses;debateébomparaenriqueceredesenvolveraárea.

Nãoexplicita NãoexplicitaNãocitaauores

Saviani(2007)

DemoranasdefiniçõesdaDCN-pedagogia;admitemasnão

regulamentaoespecialistaempedagogia;difícilidentificarumabasecomumparadarunidadeaocurso;DCNsãorestritasaoqueconfiguraa

pedagogiacomocampoteórico-prático;DCNextensivasnos

acessórios

Nãoexplicita.

Pedagogiaéaciênciada

educação.Asoutrasciênciassãoauxiliares,comoacredita

Saviani,Libâneo,PimentaeFranco.

Dialéticanarelaçãoteoria-

prática.

Silva(2003);Schmied-Kowarzik(1983);Genovesi(1999);

Suchodolski(1978);Scheffler

(1974);Saviani(2005e2006).

Sá(2008)

AdotarateoriadacomplexidadedeMorin

napedagogia(abarcatodaacomplexidadedaeducação,sem

serasomadaspartes).

DCNafirmaacomplexidadeda

escola

Pedagogiaéumadas

ciênciasdaeducação,

porémestafazasíntese

integradora.Assemelha-seàLibâneo,PimentaeFrancoeSaviani.

Nãoexplicita.

Giddens(2002);Schmied-Kowarzik(1983);Houssaye(2004);Pimenta

(1996);Franco(2007);

Libâneo(1996,1998,2006e2007);Morin(1003,1997,2001,2005);Petráglia

(2005),Silva(1999).

GasqueeTescarolo(2008)

Modoreducionistadeverapedagogia(comotreinamentotécnico);necessidadedeverapedagogiadeumanovaforma(equilíbrioentrearazãoea

experiência);terapresençadaéticanabasedaformaçãoparaqueabrapossibilidadesde

diálogosentreeducadoreseaauto-avaliação.

Nãoexplicita.

Pedagogiacomociênciadaeducaçãogeral.Não

explicitamaissobreoassunto.

Teoriaepráticadevemestarjuntasnaformaçãodopedagogo.

Assemelha-seàSaviani.

Schmied-Kowarzik

(1983);Dewey(1979);Gauthier(1998);Marques

(1996);OrtegaYgasset(1973);

Merleau-Ponty(1998),Foucault(2004).

Cruz(2009)

Perdadadensidadeteórica;estudosdosclássicos

secundarizado;baixocapitalculturaldosalunos;pedagogodeveatuarnasaladeaulae

além;alunoscomdificuldadedeconceituaresintetizara

pedagogia.

Nãoexplicita.

Pedagogiaéumadas

ciênciasdaeducaçãoefaz

asínteseintegradorade

todasasoutrasciênciasdaeducação.Assemelha-seàSaviani,Libâneo,PimentaeFranco.

Apedagogiaéteoriae

prática,deveformaro

bachareleolicenciado.

Assemelha-seàSaviani.

Silva(1999);Saviani(2007);

Houssaye(2004)

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PaulaeMachado(2009)

Pedagogiaterabasedadocênciarestringeaatuação;DCNapotamotrabalhoforadaescola,mascentramaformaçãonosaspectosmetodológicosdeensino-aprendizagem;DCNnão

explicamcomoocorreráaformaçãodosoutros

profissionaisquenãosãodocentes.

DCNapontammudançasna

sociedadequefazemrequererumnovopedagogo;valorizaa

educaçãoaserofertadaàpopulaçãosocialmenteexcluída.

Nãoexplicita

Aformaçãodevelevarem

contaaprática,massemesquecerdeformaroutros

profissionaisquenãoatuemna

docência.Assemelha-seàSaviani.

ScheibeeAguiar(1999);

Libâneo(2006);Aguiaretal(2006);Caliman(2006);Graciani(1997);Machado

(2002);Petrus(1997).

Morosini,CabreraeFelicetti(2011)

Nãoexplicita.

Extinçãodashabilitações;

suspensãodocursodepesicopedagogia

(PUCRS);implantaçãodeumnovocurrículo(PUCRS);formaçãodeumprojetopolíticopedagógico(PUCRS).

Nãoexplicita

Relaçãoteoriaepráticafaz-senecessária,

masnãoexplicitaseo

cursotrabalharácomessa

lógica,ouseseráaplicadaapenasna

práticadesaladeaulaapósformado.

Cabrera(2008e2010);Felicetti(2010);Morosini

(2007e2010);Perrenoud(2000);

Shulman(1986e2010);VogteRogalla(2009).

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Considerações Finais

Uma constatação inicial é o fato de a grande maioria dos artigos terem

sido escritos após a promulgação das diretrizes, pois, do total de 20 artigos, 5

foram escritos antes e 15 depois. Isso demonstra que, mesmo havendo

produção antes da resolução, com análises das propostas para as diretrizes, o

tema torna-se mais atrativo após a promulgação destas.

Com a aprovação desse documento legal que oferece uma diretriz para o

curso, o tema torna-se frequente, já que toca na própria estrutura dos cursos e

na maneira como são vistos entre os pesquisadores da área. Por isso, vários

são os autores que escreveram artigos em que pensam o curso de pedagogia

principalmente após as diretrizes. E com a promulgação destas, os autores

conseguem de fato fazer uma análise das possibilidades de estruturar o curso

e visualizar quais são os pontos positivos e os passíveis de crítica.

É possível perceber com a análise dos artigos que algumas

características são comuns à maioria deles, como a presença da discussão das

Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia. É claro que tal

assunto seria apresentado com frequência, já que o período abordado nesta

pesquisa refere-se ao período de 1999 a 2011, momento de discussão e

debates sobre a formulação e promulgação das mesmas. Nos artigos

anteriores à resolução legal, são analisadas as propostas para as diretrizes,

mas ao mesmo tempo os autores já tentam deixar claro sua posição em

relação ao curso.

Um grupo de autores se destacou como críticos das Diretrizes

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia desde suas primeiras

propostas até sua promulgação em 2006. É o caso de Libâneo, Pimenta e

Franco, que afirmam que o curso de pedagogia deveria ser exclusivamente um

bacharelado, focando na parte teórica. O pedagogo deve ter uma formação na

qual consiga ser pesquisador e trabalhar em todas as áreas de demanda de

educadores, e não apenas como docente.

Para esse grupo de autores o curso de pedagogia organizado pelas

diretrizes, que possui a base da docência ampliada, não terá condições de se

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104

colocar em prática. Afirmam que são muitas as atribuições dadas ao curso e

que é impossível formar um profissional para tantas finalidades. Dessa forma,

acreditam que o curso não terá capacidade de formar pedagogos com

qualidade.

Além disso, Libâneo, Pimenta e Franco indicam inúmeras incongruências

das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia,

principalmente no tocante à concepção de pedagogia e como estas conceituam

a docência. Para estes autores, as diretrizes pecam por não trazerem uma

conceituação de pedagogia e por assumirem como sinônimos pedagogia e

docência. Isso, segundo Libâneo, Pimenta e Franco, traz consequências

graves, como a percepção de que todo trabalho pedagógico é docente e a

subordinação ou perda do campo científico da pedagogia à docência. O curso

passa a ser assimilado como licenciatura e não como bacharelado, preferência

dos autores.

Outro tema muito comum dentro das discussões dos artigos está

relacionado à confecção de um breve histórico do curso de pedagogia, do

conceito e termo pedagogia, ou das diretrizes. A utilização dessa estratégia

para desenvolver o tema, fez-se presente para que os leitores pudessem

compreender como o curso caminhou desde sua criação até os dias atuais, ou

como chegamos a uma certa visão do curso de pedagogia.

Dessa forma, o leitor pode perceber como o próprio curso sofreu, no

decorrer dos anos, mudanças que acarretaram problemas de identidade. E

passa até mesmo a justificar a associação entre pedagogia e docência, que

está presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia.

Os autores que formularam seus argumentos baseados em algum tipo de viés

histórico foram: Scheibe & Aguiar (1999); Libâneo e Pimenta (1999), Castro

(2001), Saviani (2004); Aguiar & Melo (2005 a) (2005b); Libâneo (2006); Aguiar

et al (2006), Brzezezinski (2007); Saviani e Marin (2007), Saviani (2007);

Franco, Libâneo e Pimenta (2007); Cruz (2009) e Paula & Machado (2009).

Dos 20 artigos analisados, apenas seis não desenvolveram algum tipo de viés

histórico.

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105

Nos breves históricos ilustrados por muitos autores foi possível notar

como o curso esteve ligado ora ao bacharelado, ora à licenciatura, ou a ambos.

Assim, entende-se como o curso não possui uma identidade clara e, também,

como atualmente esta associado à docência.

Um ponto comum presente em quase todos os artigos é a ênfase nas

transformações por que nossa sociedade vem passando, decorrentes de um

mundo globalizado com viés mercadológico, o que estreitou as relações entre

educação e mercado de trabalho.

Tal fato acarretou mudanças na maneira de ver e pensar a educação, que

agora está voltada para flexibilização, com mais agilidade na formação para

entrada rápida no mercado de trabalho, além de encarecer avaliações para

gerir os resultados e traçar novas metas. Os artigos que não entraram nessa

discussão foram apenas seis: Castro (2001), Saviani (2004), Aguiar & Melo

(2005); Aguiar et al (2006); Saviani e Marin (2007) e Cruz (2009).

Há dois artigos que foram analisados que não explicitam de maneira clara

suas posições quanto às Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de

pedagogia, a saber, os de Sá (20098) e Gasque & Tescarolo (2008). Ambos

possuem como objetivo mostrar como o curso de pedagogia pode caminhar a

partir das constatações do mundo em mudança, bem como a partir da forma

como a pedagogia é teorizada. No artigo de Gasque e Tescarolo (2008), o foco

está no potencial da pedagogia para ser conciliadora (teoria e prática são

inseparáveis). Já no artigo de Sá (2008), o foco é relacionar a pedagogia ao

pensamento complexo de Morin.

Um ponto de crítica das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de

pedagogia que apareceu em diversos artigos foi a legalização das ISEs, que

segundo muitos autores trouxe prejuízos, seja expandindo demais a oferta do

curso, seja diminuindo o tempo de formação, ou concorrendo diretamente com

o curso de pedagogia em busca de alunos, havendo dois cursos para a mesma

formação (daí o risco de esvaziar a pedagogia).

Os artigos que não abordaram o tema das ISEs foram: Libâneo e Pimenta

(1999); Aguiar & Melo (2005); Ferreira (2006); Libâneo (2006); Saviani & Marin

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(2007); Saviani (2007); Gasque e Tescarolo (2008); Sá (2008) e Paula &

Machado (2009), totalizando 9 artigos.

As principais críticas às Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de

pedagogia e ao próprio curso são:

- criação das ISEs, o que leva a uma depreciação do curso de pedagogia;

- o curso ficar associado única e exclusivamente à docência;

- falta de embasamento suficientemente sólido para a definição de

Pedagogia e de pedagogo.

- o fato de Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia

preverem muitas formações no curso, sem explica-las, concentrando-se

na docência.

Os pontos positivos vistos por alguns autores foram:

- criação de uma base comum nacional;

- ter a docência como base da formação do pedagogo;

- acabar com as habilitações, que fragmentavam o curso.

Nota-se que alguns pontos positivos são indicados por alguns autores

como negativos, como a base para docência, criticada por Libâneo, Pimenta e

Franco. Portanto, são os únicos autores a não concordarem com a relação

teoria e prática explicitada por Saviani, ou seja, vista como dialética.

Alguns pontos importantes de incongruência entre os autores e que

deixam dúvidas quanto aos caminhos a serem seguidos pelos cursos são:

- As Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia trazem

inovação curricular?

- As Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia mantém

a autonomia dos cursos?

- É bom ter a docência como base?

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- O curso está voltado exclusivamente para a licenciatura?

- A extinção das habilitações como será normatizada pelas Diretrizes

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia, licenciatura

- Haverá embasamento teórico adequado?

A respeito de tais questionamentos, podemos afirmar que as Diretrizes

Curriculares Nacionais para o curso de pedagogia não são claras o suficiente,

já que suscitam posições bastante divergentes quanto aos pontos acima, o que

leva à dúvida e perguntas, como as acima relacionadas.

Além disso, nota-se uma diversidade de possibilidades de discussão do

tema pedagogia, que pode ser analisado tanto pelo viés epistemológico (tema

central de interesse desta pesquisa), como pelo profissional e estrutural (a

maneira como o curso é pensado e estruturado), embora tais aspectos estejam

articulados, pois discutir um sem discutir o outro é perder densidade na

discussão.

Apesar disso, foi possível notar que alguns artigos não trouxeram todos

esses vieses de discussão, abordando, em alguns casos, apenas um deles,

como é o caso de Ferreira (2006), Scheibe (2006), Paula e Machado (2009) e

outros. A discussão de como o curso está organizado foi uma preocupação

constante nos artigos, pelo fato de as diretrizes serem a discussão central em

praticamente todos eles.

Foi possível perceber que a concepção de pedagogia não foi exposta de

maneira clara em todos os artigos. Portanto, nem todos os artigos puderam ser

classificados no tocante à concepção de pedagogia.

Como exposto no primeiro capítulo desta pesquisa, há 4 concepções de

pedagogia, quais sejam: a pedagogia como a única Ciência da Educação; a

que a toma como Ciência da Educação (ignorando o termo pedagogia); a que

prefere falar de Ciências da Educação (excluindo a pedagogia) e a que se

refere à Ciências da Educação incluindo a pedagogia.

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Na maioria dos trabalhos analisados há uma predominância da

concepção que considera a pedagogia como a ciência da educação por

execelência. Esta ideia não descarta as outras ciências que estudam a

educação, mas vê a pedagogia como a única capaz de um discurso integrador

e de síntese da realidade educacional, já que esta possui como ponto de

partida e de chegada de suas pesquisas a educação. Porém, mesmo estas

ideias sendo majoritárias nos artigos, isso não quer dizer que sejam aceitos por

todos como unanimidade.

A ausência de uma explicitação do conceito de pedagogia em alguns

autores pode ser indício de que não há uma reflexão sobre o assunto, havendo

uma dispersão para outros temas acidentais por julgarem que o conceito de

pedagogia, ponto essencial, já esteja superado.

Assim, foi possível perceber com as análises dos artigos selecionados

que o curso de pedagogia foi um tema bastante discutido no período proposto

por esta pesquisa. Isso talvez se dê pelo fato de abordar o período no qual a

LDB pede uma nova diretriz para os cursos superiores, influenciando, dessa

forma, a existência da discussão sobre como será pensado o curso de

pedagogia a partir de então.

Portanto, com o tema em debate nas instâncias legais e acadêmicas,

vários foram os artigos publicados em revistas científicas que buscaram fazer

uma análise das possíveis diretrizes para o curso, quando estas ainda estavam

em formulação, e uma análise das diretrizes quando estas já estavam

homologadas.

Percebe-se que foram muitas as críticas quanto às Diretrizes Curriculares

Nacionais para o curso de pedagogia, o que denota que o curso ainda está em

construção. Essas diretrizes podem ser rediscutidas e reelaboradas graças aos

debates que ainda são feitos dentro do campo acadêmico. Além disso, mesmo

havendo uma concepção de pedagogia majoritária exposta nos artigos

selecionados, há autores que não concordam com essa concepção ou que não

a expuseram, dando margem a possíveis novas discussões e debates sobre o

tema.

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A discussão da concepção de pedagogia não está concluída, como

apontado anteriormente, visto que alguns autores não concordam com a

concepção majoritária encontrada nos artigos, e alguns nem sequer expuseram

suas ideias sobre o tema. Assim, o debate ainda está em aberto, o que traz

riqueza para a área, já que novos aprofundamentos poderão advir de embates

acadêmicos sobre o tema.

Para tanto, esse deve ser um tema discutido pelos cursos de pedagogia,

deve-se incentivá-lo perante os alunos, para que cada vez mais floresçam

novos questionamentos e debates, fazendo com que esta área se torne cada

vez mais rica e valorizada dentro e fora do campo acadêmico.

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110

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117

Anexo

Tabela de teses e dissertações sobre o estado da arte produzidas entre 2000 e 2010, encontradas na

biblioteca da PUC - SP

2001

Saber Educacional: um

mapa da produção

acadêmica docente

(PUC/SP - USP: 1990-

1997 )

Maria da

Conceição Lima

de Andrade

Doutorado Ciências Sociais

Mapear a produção acadêmica

realizada nas instituções,

PUC/SP e USP e, com isso,

desenhar o perfil dos trabalhos

produzidos nos últimos anos,

delineando asdiscussões, as

perspectivas teóricas e as

tendências na área.

2002

O papel pedagógico do

diretor escolar na

produção discente dos

cursos de Pós-

Graduação em

Educação das

Universidades paulistas

(1970-1999)

Maria Ignes

OrdonhesMestrado

Educação: História,

Política e Sociedade

Mapear e examinar a produção

discente dos Cursos de Pós-

graduação em Educação das

Universidades Paulistas sobre o

papel pedagógico do diretor

escolar; o estudo exploratório

sobre a produção discente dos

cursos de pós-graduação,

abrangendo as décadas de

1970, 1980 e 1990, que

abordam a administração

escolar e o papel do diretor

escolar na condução do

processo educativo.

2003

Jogos e brincadeiras na

educação infantil: um

balanço das

dissertações e teses

defendidas nos

programas de Pós-

Graduação em

Educação

Adriano José

Rossetto JúniorMestrado

Educação: História,

Política e Sociedade

Mapear e interpretar as teses e

dissertações, com base em

exaustiva revisão bibliográfica

das pesquisas defendidas nos

programas de Pós-Graduação

em Educação, no período de

1981 a 2001, que abordam os

jogos e brincadeiras na

educação infantil.

2003

Escola e violência:

análise de dissertações

e teses sobre o tema

produzidas na área de

Educação, no período

de 1990 a 2000

Rosana Maria

César Del

Picchia de

Araújo Nogueira

MestradoEducação: História,

Política e Sociedade

Analisar e refletir sobre a

produção dos programas de Pós-

Graduação em Educação sobre

a temática "escola e violência"

no Município de São Paulo no

período de 1990 a 2000, tendo

como referencial teórico a teoria

crítica da sociedade.

2005

A contribuição do

Behaviorismo Radical

para a formação de

professores - uma

análise a partir das

dissertações e teses no

período de 1970 a 2002

Maria Ester

RodriguesDoutorado

Psicologia da

Educação

Analisar a contribuição do

Behaviorismo Radical para a

formação de professores, a

partir de teses e dissertações no

períodode 1970 a 2002, período

inicial de 32 anos de existência

da Pós-Graduação strito sensu

brasileira.

2006

A concepção de

avaliação educacional

veiculada na produção

acadêmica do programa

de Pós-Graduação em

Educação: Currículo

(1975-2000)

Célia Regina

TeixeiraDoutorado Cúrriculo

Documentar, organizar e

compreender a concepção de

avaliação educacional veiculada

na produção acadêmica do

programa de Pós-Graduação

em Educação: Currículo da

PUC/SP, no período de 1975-

2000.

Page 118: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · APASE Sindicato dos Supervisores de Ensino do Magistério Oficial no Estado de São Paulo CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento

118

2006

A formação de

professores nas

dissertações e teses

defendidas em

programas de Pós-

Graduação em

educação entre os anos

de 1999 e 2003

Roberta Rotta

Messias de

Andrade

MestradoPsicologia da

Educação

Analisar as teses e dissertações

sobre a formação de

professores defendidas entre os

anos de 1990 e 2003, nos

programas de Pós-Graduação

em Educação das Instituições

de Ensino Superior brasileiras.

2007

A pesquisa na Pós-

Graduação: balanço da

produção discente

sobre a criança/infância

(PUC-SP - 1978-2004)

Renata de

Castro

Guimarães

MestradoEducação: História,

Política e Sociedade

Análise da produção discente

sobre a criança, na perspectiva

de entender como a criança vem

sendo construída como objeto

de pesquisa.

2008

A Revista de Pedagogia

da cadeira de Didática

Geral e Especial da

Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras da

Universidade de São

Paulo (1955 - 1967) - A

formação do professor

de ensino secundário

Ellen Lucas

RozanteMestrado

Educação: História,

Política e Sociedade

Analisar como o impresso

Revista de Pedagogia, editado

pelos professores da antiga

cadeira de Didática Geral e

Especial da Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras da

Universidade de São Paulo,

percebe e propõe a formação

do professorado secundário

entre os anos de 1955 e 1967.

Pretende-se investigar qual a

proposta curricular na formação

do professorado secundário por

meio da Revista de Pedagogia

e, mais especificamente, quais

os conceitos e práticas

necessárias para ser um "bom

professor" secundário e

compreender o conceito de

educação tradicional e

educação moderna neste

período.

2009

Inclusão escolar de

pessoas com

deficiência intelectual:

estudo das pesquisas

em teses e dissertações

produzidas por

programas de

Psicologia e de

Educação (com

concentração em

Psicologia) no Brasil

(2002 a 2006)

Airton Tadeu

Barros MunhosDoutorado

Psicologia da

Educação

Compreender como a questão

da inclusão escolar das pessoas

com deficiência intelectual está

sendo tratada nas pesquisas

sobre essa temática.

2009

Relações etnorraciais e

currículos escolares em

teses e dissertações

produzidas nos

programas de Pós-

Graduação stricto

sensu Em Educação -

Brasil (1987-2006)

Kátia

Evangelista

Regis

Doutorado Currículo

Sistematizar e analisar as

principais questões discutidas

em teses de doutorado e

dissertações de mestrado, que

enfocaram as relações

etnicorraciais e o currículo

escolar, desenvolvidos em

programas de Pós-Graduação

stricto sensu em Educação,

entre os anos de 1987-2006.

Page 119: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC … · APASE Sindicato dos Supervisores de Ensino do Magistério Oficial no Estado de São Paulo CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento

119

2009

A indisciplina escolar

nas pesquisas

acdêmicas

Valdir Aguiar

LedoMestrado

Educação: História,

Política e Sociedade

Fazer um estudo da "indisciplina

escolar" nas pesquisas

acadêmicas. Investigar as

perspectivas de análises

presentes nas teses e

dissertações a respeito do

fenômeno produzidas na

Faculdade de Educação da USP

e no Programa de Pós-

Graduação stricto sensu em

Educação da PUC-SP entre os

anos 2000 e 2006.