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Por Que Nós Odiamos o RHPor Keith H. Hammonds – Fast Company
Bem, aqui temos uma festa agitada: uma reunião com algumas centenas de executivos
de recursos humanos em Las Vegas. Eles estão aqui, enfurnados por dois dias no Caesar’s
Palace, para debater sobre a “liderança estratégica de RH”, um conceito que soa, para o
observador leigo, ao mesmo tempo assustador e contraditório. Se não abertamente
irrisório.
Porque, convenhamos: Após quase 20 anos de uma retórica esperançosa sobre
tornarem-se “parceiros estratégicos” com um “lugar na mesa” onde as decisões
importantes são tomadas, a maioria dos profissionais de recursos humanos não está nem
perto disto. Eles não tem lugar, e a mesa está trancada em uma sala de reuniões para a
qual eles não tem a chave. As pessoas de RH não são, para a maioria das questões
práticas, nem estratégicas nem líderes.
Eu não me importo com Las Vegas. E, se ainda não ficou claro, não gosto do RH
também, e por isso estou aqui. O ofício de recursos humanos há muito se provou, na
melhor dos hipóteses, um mal necessário – e na pior, uma negra força burocrática que
cegamente reforça regras sem sentido, impede a criatividade e resiste às mudanças
construtivas. O RH é a função corporativa com o maior potencial – o principal motivador,
na teoria, do desempenho da organização – e também aquele que constantemente falha
em cumprir. E estou aqui para descobrir porque.
Por que as avaliações de desempenho são tão demoradas – e tão rotineiramente
inúteis? Por que o RH é comumente um capanga do diretor financeiro, descobrindo
maneiras mais engenhosas de cortar os benefícios e retalhar a folha de pagamentos? Por
que suas comunicações – quando podemos entendê-las – frequentemente desprezam a
realidade? Por que tantos processos de pessoas são um desperdício de duplicatas, criando
uma floresta de papéis para cada pequena transação? E por que o RH insiste na
uniformidade como sinônimo de igualdade?
Não é de se estranhar que nós odiemos o RH. Em uma pesquisa realizada em 2005 pela
consultoria Hay Group, apenas 40% dos empregados elogiaram suas empresas por reter
trabalhadores de alta qualidade. Apenas 41% concordaram que as avaliações de
desempenho eram justas. Apenas 58% avaliaram seu treinamento no trabalho como
favorável. A maioria disse que haviam poucas oportunidades para desenvolvimento – e
que eles não sabiam, de qualquer forma, o que era necessário para subir. Mais revelador
ainda, apenas metade dos trabalhadores abaixo dos níveis de gerente acreditavam que
suas companhias tinham um interesse genuíno em seu bem estar.
Nada disto é explicado imediatamente em Vegas. Estes colegas do RH, de empresas de
toda a nação, não são cortesãos malvados ou autômatos sem raciocínio. Em sua maioria
são pessoas inteligentes e cativantes que parecem realmente interessadas em melhorar
seus trabalhos. Eles falam convincentemente sobre o desenvolvimento dos empregados e
as mudanças culturais. E, após alguns drinques, tecem alguns contos muito engraçados
sobre a estranheza dos empregados (como aquele caso do cara que ameaçou processar a
empresa de sua esposa por “permitir” seu caso com um colega de trabalho).
Mas então, a fachada se desfaz. Acontece em uma apresentação da tarde chamada “De
Técnicos para Consultores: Como Transformar Sua Equipe de RH em Parceiros Estratégicos
do Negócio”. A palestrante, Julie Muckler, é a vicepresidente sênior de recursos humanos
na Wells Fargo Home Mortgage. Ele é uma mulher entusiasmada com um largo sorriso e
20 anos de experiência em empresas como a Johnson & Johnson e a General Tire. Ela é
graduada em economia do consumidor, recursos humanos e desenvolvimento
organizacional.
E eu não faço a menor idéia sobre o que ela estava falando. Há menções sobre
“aprendizado interno de ação” e “enraizar mais nossa abordagem”. A apresentação em
PowerPoint delineia bem as iniciativas da Wells Fargo na gestão do desempenho, desenho
organizacional e equipes de soluções horizontais. Muckler descreve a alvancagem dos
recursos internos e o envolvimento dos recursos externos – e ela deixa sua audiência
pasma. Naquela noite, mesmo os profissionais de recursos humanos confidenciam que
não entenderam muito daquilo também.
Este, amigos, é o problema com o RH. Em uma economia do conhecimento, as
empresas com os melhores talentos vencem. Todos sabemos disto. Os executivos de
recursos humanos deveriam estar utilizando melhor os nossos, bem, recursos humanos –
encontrando os melhores candidatos, cuidando das estrelas, favorecendo um ambiente
de trabalho produtivo – da mesma forma que o TI gerencia os computadores e o
financeiro cuida do capital. O RH deveria estar unido à estratégia do negócio pelos
quadris.
Ao invés disso, a maioria dos RH das organizações se isolou literalmente à beira da
obsolescência. Eles são competentes na administração dos salários, benefícios e
aposentadorias, mas as empresas cada vez mais delegam estas atividades para
terceirizadas que podem realizar estas a custos reduzidos. O que sobra é o papel
estratégico mais importante de elevar o capital intelectual e de reputação da empresa –
mas o RH é, ao que parece, singularmente inapropriado para isto.
Segue o porque:
1. As pessoas do RH não são as tachinhas mais brilhantes da caixa. Seremos diretos: Se
você é um jovem ambicioso recentemente graduado de uma faculdade topo de linha
visando uma carreira recompensadora em negócios, seu primeiro instinto é não entrar na
dança dos recursos humanos (na Ross School of Business da Universidade de Michigan,
que indiscutivelmente ostenta a melhor faculdade para questões organizacionais, apenas
1,2% dos graduados em 2004 o fez). Um professor de gestão em uma escola líder disse:
“Os melhores e mais brilhantes não vão para o RH”.
Quem vai? Pessoas inteligentes, às vezes – mas não empresários. “O RH não tende a
contratar muitos pensadores independentes ou pessoas que possam firmar-se como
bússolas morais”, diz Garold L. Markle, um executivo de recursos humanos de longa data
na Exxon e Shell Offshore, que agora dirige sua própria consultoria. Alguns são exilados da
corrente principal corporativa: Eles tiveram resultados fracos em papéis mais polpudos –
mas não tão fracos para serem demitidos. Para eles, e para seus empregadores, o RH
representa um local de relativo baixo risco para se alocar.
Outros entram na área por escolha e com as melhores intenções, mas pelas razões
erradas. Eles gostam de trabalhar com as pessoas, e querem ser úteis – motivos nobres
que irritam completamente alguns pensadores de RH. “Quando as pessoas me procuram
dizendo ‘eu quero trabalhar com as pessoas’, eu digo ‘Bom, seja um assistente social’ ”, de
acordo com Arnold Kanarick, que dirigiu os recursos humanos na Limited e, até
recentemente, na Bear Stearns. “O RH não é sobre ser um benfeitor. É sobre conseguir os
melhores e mais inteligentes e aumentar o valor da empresa”.
A notícia realmente assustadora é que o abismo entre as capacidades e as exigências
dos cargos parece estar aumentando. Enquanto as demandas legais e dos negócios sobre
as funções aumentam, as qualificações educacionais dos funcionários não acompanham o
ritmo. Na verdade, conforme uma pesquisa da Sociedade para Gestão de Recursos
Humanos (SGRH), uma proporção consideravelmente menor dos profissionais de RH de
hoje tem alguma formação após a graduação do que em 1990.
E aqui temos mais um pouco de dados reveladores da SGRH: Quando os profissionais
de RH foram perguntados sobre o valor de vários cursos acadêmicos em direção de “uma
carreira de sucesso em RH”, 83% disseram que aulas de habilidades de comunicação
interpessoal tinham “valor extremamente alto”. Legislação trabalhista e ética do trabalho
vieram em seguida, com 71% e 66% respectivamente. Onde estava a gestão das
mudanças? Em 35%. Gestão estratégica? 32%. Finanças? Er, esta ficou com apenas 2%.
A verdade? A maioria dos gestores de recursos humanos não está particularmente
interessada em, ou equipada para, fazer negócios. E em um negócio, eisto é um certo
problema. Como guardiões do talento da empresa, o RH deve entender como as pessoas
se encaixam nos objetivos organizacionais. Ao contrário, “perspicácia nos negócios é o
único grande fator que falta nos profissionais de RH nos EUA hoje”, diz Anthony J. Rucci,
vicepresidente executivo na Cardinal Health Inc., uma grande distribuidora de
suprimentos de saúde.
Rucci é constantemente mencionado por acadêmicos, consultores e outros líderes de
RH como um executivo que realmente sabe de negócios. Na Baxter International, ele
dirigia tanto o RH como a estratégia corporativa. Antes disto, na Sears, liderou um estudo
de resultados em 800 lojas durante cinco anos para verificar a conexão entre o
comprometimento dos empregados, a lealdade dos clientes e a rentabilidade.
No que concerne Rucci, existem três questões que qualquer pessoa decente de RH no
mundo deveria ser capaz de responder. Primeiro, quem é o principal cliente da sua
organização? “Você falou com algum ultimamente? Você sabe quais os desafios que eles
enfrentam?” Segundo, quem é a competição? “O que eles fazem ou não fazem bem?” E,
mais importante, quem somos nós? “Qual é a avaliação realista do que nós fazemos bem
ou não tão bem frente aos clientes e à concorrência?”
O seu profissional de RH sabe as respostas?
2. O RH procura a eficiência ao invés do valor. Por que? Porque é mais fácil – e mais
fácil de se medir. Dave Ulrich, professor da Universidade de Michigan, relembra de um
encontro com o presidente e os altos executivos de RH de um grande banco. “A pessoa de
treinamentos disse que 80% dos empregados tiveram pelo menos 40 horas de aulas. O
presidente disse ‘Parabéns’. Eu disse ‘Você está falando sobre o que está fazendo. A
questão é, o que você está realizando?’ “
Este tipo de coisa enlouquece Ulrich. Por mais de 20 anos, ele se tornou o mais bem
conhecido guru da área de RH e um dos líderes do movimento de adotar papéis mais
estratégicos dentro das organizações. Mas os gestores de recursos humanos, ele
reconhece, tipicamente enfraquecem estes esforços ao dar mais importância às atividades
do que aos resultados. “Você só é eficaz se adicionar valor”, diz Ulrich. “Isto significa que
você não se mede pelo que você faz, mas pelo que entrega”. Com isto, ele se refere não
apenas ao valor realizado pelos empregados e gestores de linha, mas aos benefícios
transmitidos aos investidores e clientes também.
Vejam uma história real: Uma jovem e talentosa executiva de marketing aceita uma
oferta de trabalho da Time Warner saindo da escola de negócios. Ela é entrevistada para
vagas em vários departamentos – e depois lhe dizem que o RH é o único interessado nela.
Na verdade, ela descobre depois, todos estavam. Ela foi forçada ao trabalho, sob a
supervisão de um gestor absurdamente grosseiro, porque ninguém de dentro da
companhia queria aceitar.
Você decide: O RH fez seu trabalho? Por um lado, fechou a vaga. “Ele fez o que era
conveniente para a organização”, diz a mulher agora. “Conseguir alguém que não
espernearia sobre este trabalho provavelmente fez sentido para eles. Mas eu só senti
raiva.” Ela saiu da Time Warner após apenas um ano (um porta-voz da Time Warner se
recusou a comentar o incidente).
Parte do problema está no fato dos indicadores da Time Warner nunca conseguirem
avaliar o custo real da ação do departamento de RH. Os recursos humanos podem
rapidamente fornecer o número de pessoas contratadas, o percentual de avaliações de
desempenho completadas e o grau de satisfação dos empregados com seus benefícios.
Mas raramente vinculam estes indicadores ao desempenho da organização.
John W. Boudreau, um professor do Centro de Organizações Efetivas da Universidade
da Carolina do Sul, compara estas falhas às deficiências das funções financeiras antes de
DuPont descobrir como calcular o retorno dos investimentos em 1912. Em RH, ele diz,
“nós não temos nada parecido com esta sofisticação lógica com relação às pessoas ou ao
talento. Então as decisões que são feitas sobre este recurso são muito menos sofisticadas,
confiáveis e consistentes”.
Rucci, da Cardinal Health, está tentando consertar isto. A Cardinal regularmente faz aos
seus empregados 12 questões designadas para medir o comprometimento. Dentre elas:
Eles entendem a estratégia da empresa? Eles vêem conexão entre isto e os seus
trabalhos? Eles ficam orgulhosos ao dizer onde trabalham? Rucci correlaciona os
resultados destas a uma pesquisa com 2000 clientes, bem como aos dados das vendas
mensais e posicionamento no mercado.
“Então eu não sei se nossos processos de RH estão tendo um impacto por si”, conforme
Rucci, “mas sei absolutamente que o nível do comprometimento com empregados tem
um impacto nos nossos negócios, sendo responsável por entre 1% e 10% do lucro,
dependendo do negócio e do papel do funcionário. A Cardinal pode não ser convidada tão
cedo pela Junta Deliberativa para explicar nossas melhores práticas de classe mundial em
qualquer área do RH – e eu estou pouco me importando. A questão real é, os negócios
estão sendo efetivos e de sucesso?”
3. O RH não está trabalhando para você. Quer saber por que você passa por todo
aquele processo estúpido de avaliação de desempenho todo ano, na verdade? Markle,
que admite ter realizado inúmeros destes ao longo dos anos, fica feliz em confirmar suas
suspeitas. As empresas, ele diz, “fazem isto para proteger-se de seus empregados. Eles
colocam um pedaço de papel entre você e os empregados para que, caso haja qualquer
problema, possam recorrer ao arquivo e dizer ‘Aqui, eu documentei este problema’ “.
Há uma boa razão para este posicionamento defensivo, é claro. Nas últimas duas
gerações, o governo criou um imenso matagal de legislações trabalhistas. Oportunidades
Iguais; Práticas de Trabalho Justo; Saúde e Segurança Ocupacional; Licenças Médicas e
Familiares; e a sempre popular ERISA (Ato de Segurança dos Rendimentos na
Aposentadoria dos Empregados). Estas são questões complexas e sérias, requerendo
conhecimentos técnicos, e o RH deve atuar com cuidado razoável.
Mas “é fácil ser sugado por isto”, diz Mark Royal, consultor sênior do Hay Goup. “Há a
tensão criada pelo papel do RH enquanto protetor dos ativos corporativos – garantir que
nada aconteça fora da legalidade. Isto te coloca em uma posição de dizer não um bocado,
de interpretar o policial ruim. Você deve sair disto, ver todas as possibilidades, e adotar
uma abordagem mais aberta. Você deve compreender onde exceções podem ser feitas
nas políticas”.
Tipicamente, o pessoal de RH não pode ou não vai. Ao invés, perseguem a
uniformização e padronização frente a uma força de trabalho que é heterogênea e
complexa. Um gerente de uma grande empresa de financiamentos reclama que o RH está
tentando eliminar a maioria dos títulos de vice-presidente por lá – mesmo que os vp’s
sejam comuns na indústria financeira. Por que? Porque na área comercial da empresa, os
vice-presidentes são cargos reservados para os altos executivos. Em sua busca pela
“equidade” burocrática, o RH está na verdade ameaçando a reputação, e a efetividade,
dos profissionais de finanças da empresa.
A busca pelo tamanho único para todos, diz um professor que estuda o campo, “é
parcialmente pela observância, mas mais porque é muito mais fácil.” Burocratas por todo
lado abominam exceções – não apenas porque abrem a companhia para acusações de
preconceito, mas porque exigem mais que soluções rotineiras. São dispendiosas e
demoradas para gerenciar. Abra uma exceção, o RH teme, e as porteiras se abrirão.
Há uma contradição aqui, é claro: Abrir exceções deveria ser exatamente o que os
recursos humanos fazem, todo o tempo – não porque é legal para os empregados, mas
porque isto movimenta os negócios. Os empregadores mantém seus melhores ao
reconhecer e recompensar seu desempenho distintivo, não por tratá-los como iguais aos
outros. “Se eu estou dirigindo um negócio, posso dizer quem realmente está ajudando a
movê-lo para frente”, diz Dennis Ackley, um consultor de comunicação interna. “O RH
deve ter a mesma visão. Devemos passar a mensagem que valorizamos nossos
funcionários de alto desempenho, e estamos focados em recompensar e reter eles”.
Ao invés disso, os departamentos de recursos humanos fazem pesquisas salariais,
função por função e cargo por cargo, contra padrões da indústria, mantendo os
pagamentos – mesmo os das estrelas – entre uma faixa estreita de competidores. Eles
devolvem as avaliações de desempenho para os gestores que avaliam seus funcionários
muito bem, relutantes em reconhecer realizações com um mérito superior ao aumento de
4% de toda a empresa.
Os recursos humanos, em outras palavras, abrem mão dos valores de longo prazo pela
eficiência de custos de curto prazo. Um teste simples: A quem o vice-presidente de
recursos humanos de sua empresa se reporta? Se é ao diretor financeiro – e há uma boa
chance de ser – então o RH está seguindo na direção errada. “Este é um modelo que não
pode funcionar”, diz um alto executivo de RH que já esteve lá. “Uma pessoa financeira
está preocupada em retirar dinheiro da organização. O RH deve estar preocupado em
trazer investimentos”.
4. O escritório do canto não entende o RH (e vice-versa). Estou em outra festa agitada:
algumas dezenas de gestores de RH de nível médio em um restaurante de hotel em
Mahwah, Nova Jersey. Não é de maneira nenhuma glamurosa. Mas é reveladora, de uma
maneira esperançosa. Hunter Douglas, uma fabricante de cortinas de $ 2,1 bilhões, juntou
sua equipe de RH de todos os lugares dos Estados Unidos para celebrar suas conquistas.
O chefão da empresa está presente. Marvin B. Hopkins, presidente e diretor executivo
de operações na América do Norte, desce os elogios: “Me sinto fantástico pelas suas
conquistas”, ele diz. “Nosso negócio é sobre as pessoas. Contratar, treinar e empatizar
com os empregados é extremamente importante. Quando alguém é demitido ou sai,
falhamos de alguma maneira. As pessoas precisam sentir que tem um lugar na empresa,
um senso de propriedade”.
Então, sim, é um discurso corporativo padrão em um local monótono diferente. Mas
quer saber? Os gestores de RH de Tupelo e Dallas estão totalmente animados. Eles
voaram para a matriz, tiraram fotos com o chefe, e vão assistir Mamma Mia na Broadway
esta tarde por conta da empresa.
Seu departamento de RH pode dizer que é escutado pelo topo? Provavelmente não.
“Às vezes”, diz Ulrich, “os gestores de linha tem esse legado do RH em suas mentes, e não
conseguem livrar-se dele. Me senti realmente mal por um colega do RH. O presidente
queria alguém para planejar os piqueniques da organização e controlar o sindicato, e
todas as vezes que este cara tentava ser estratégico, era derrubado.”
Como é? Os executivos não acham que o RH importa? E todo aquele discurso sobre os
empregados serem seu ativo mais importante? Bom, parece que isto foi um pequeno mal
entendido. Na década de 90, um grupo de acadêmicos examinou o relacionamento entre
o que as companhias (entre elas as unidades do reino unido da Hewlett-Packard e do
Citibank) diziam sobre seus ativos humanos e como eles realmente se comportavam. Os
resultados foram, talvez, inevitáveis.
Na sua retórica, as organizações de recursos humanos abarcaram a linguagem de uma
abordagem “leve”, falando sobre treinamento, desenvolvimento e comprometimento.
Mas “o princípio subentendido estava invariavelmente restrito às melhorias do
desempenho da linha de frente”, os autores escreveram no livro resultante, Strategic
Human Resource Management (Gestão Estratégica de Recursos Humanos). “Mesmo que a
retórica da gestão de RH seja suave, a realidade é quase sempre dura, com os interesses
da organização prevalecendo sobre aqueles dos indivíduos”.
“No melhor dos mundos”, diz a professora Lynda Gratton da Escola de Negócios de
Londres, uma das autoras do estudo, “a realidade deveria ser uma combinação entre duro
e suave”. Isso é o que está acontecendo na Hunter Douglas. O departamento de recursos
humanos pode atender as necessidades dos empregados porque provou sua energia para
os negócios – e vice-versa. Betty Lou Smith, vice-presidente de RH corporativo da
empresa, começou a investigar as conexões entre o turnover dos funcionários e a
qualidade dos produtos. Divisões com as maiores taxas de turnoves, ela descobriu, eram
também aquelas cujas taxas de produtos avariados eram de 5% ou mais. E,
extraordinariamente, 70% dos empregados estavam saindo da empresa nos primeiros seis
meses de contrato.
O pessoal de Smith descobriu que os novos funcionários estavam saindo por vários
motivos: Não sentiam-se respeitados, não tinham participação nas decisões, mas mais
importante, sentiam uma falta de conexão quando foram contratados. “Nós demos uma
orientação de 10 minutos, e então eles estavam por conta própria”, diz Smith. Ela resolveu
estas deficiências criando um programa de mentoria que pareava os novatos com
trabalhadores mais experientes. Estes últimos estavam desconfiados no começo, mas com
o tempo, os cargos de mentor (com o chapéu e camiseta destacando) passaram a ser
vistas como um prestígio. A taxa de turnover dos seis meses caiu dramaticamente para
16%. A frequência e a produtividade – e a taxa de itens avariados – melhoraram.
“Nós não esperamos ouvir do topo”, diz Smith. “Você não pode apenas sentar no canto
olhando para os benefícios. Nós precisamos saber quais são os problemas com o nosso
negócio. O RH precisa tomar a iniciativa e assumir a responsabilidade, e não esperar que a
gestão venha bater em nossa porta”.
Mas a maioria das pessoas de RH o faz.
A Hunter Douglas nos dá um vislumbre de esperança – da possibilidade que o RH pode
ser feito corretamente. E certamente, mesmo com organizações inefetivas de recursos
humanos, existem grandes gestores individuais de RH – pessoas confiáveis e atenciosas,
antenadas, que são sensíveis às nuances culturais mas que conseguem entender de
negócios e de como as pessoas se encaixam. Profissionais que entram voluntariamente no
RH vindos de posições de linha podem se provar especialmente hábeis, trazendo consigo
uma sensibilidade de lucro e prejuízo e fortes habilidades de gestão.
Na Yahoo, Libby Sartain, gerente líder de pessoas, está construindo um grupo que pode
provar ser o departamento de recursos humanos realmente efetivo que os empregados e
executivos imaginam. Nisto, Sartain se aproveita de duas vantagens. Primeira, ela chegou
com a reputação de inovadora, conseguida em 13 anos liderando o RH na Southwest
Airlines. E segunda, ela tem licensa do topo para fazer tudo que necessário para criar uma
organização de classe mundial.
Sartain não tem apenas um “lugar na mesa” na Yahoo; ela na verdade ajudou a
construir a mesa, instituindo uma reunião operacional semanal que ela coordena com o
diretor operacional Dan Rosensweig. Talento está sempre no topo da agenda – e no fim
de cada reunião, a equipe executiva passa as decisões individuais de desenvolvimento
para os responsáveis do RH.
“Esta reunião”, diz Sartain, “passa uma forte mensagem para todos na Yahoo de que
não podemos fazer nada sem o RH”. Também sinaliza para os responsáveis do RH que eles
são responsáveis por mais do que apenas organizar os papéis e atrapalhar. “Nós vemos o
RH como zelador do maior investimento da companhia. Se você não estiver sustentando
este investimento e acompanhando seu crescimento, você não está fazendo seu
trabalho”.
A Yahoo, conforme alguns peritos e colegas de outras organizações, está entre as
poucas companhias – entre elas a Cardinal Health, Procter & Gamble, Pitney Bowes,
Goldman Sachs e a General Electric – que estão realmente trazendo os recursos humanos
para o nível da estratégia de negócios. Mas elas são realmente poucas. O professor da
USC Edward E. Lawler III diz que, no ano passado, os profissionais de RH alegaram gastar
23% de seu tempo “sendo um parceiro estratégico de negócios” – não mais do que o
informado em 1995. E os gestores, ele descobriu, dizem que o RH está muito menos
envolvido na estratégia do que pensa que está. “Apesar de todo o falatório sobre
estratégia”, diz Lawler, “ainda há um longo caminho a se percorrer” (de fato, quando
perguntei a uma pessoa de linha do RH como exatamente ela estava envolvida com a
estratégia de negócios de sua unidade, ela descreveu excitada um almoço mensal do vice-
presidente com os empregados).
O que está causando esta separação com a estratégia? Gratton, da London Business
School, passa muito tempo treinando profissionais de recursos humanos para criar mais
impacto. Ela vê dois problemas: Muitas das pessoas de RH trazem fortes habilidades
técnicas, mas nenhum ponto de vista sobre o futuro e como as organizações irão mudar.
Segundo, é muito difícil alinhar a estratégia do RH à estratégia dos negócios, porque esta
muda muito rápido, e é difícil não perder tempo com uma estratégia de compensação ou
os benefícios para conseguir acompanhar. Mas do que apenas compreender a estratégia,
os executivos realmente efetivos “precisam operar a partir de um conjunto de princípios e
valores pessoais”. E poucos o fazem.
Ao mesmo tempo, a seleção natural econômica está, de certa forma, resolvendo o
problema para nós. Alguns dos 94% de grandes empregadores pesquisados este ano pela
Hewitt Associates relataram estar terceirizando pelo menos uma atividade de recursos
humanos. Até 2008, de acordo com a pesquisa, muitos planejam expandir a terceirização
para incluir atividades como aprendizagem e desenvolvimento, folha de pagamentos,
recrutamento, saúde e bem-estar, e mobilidade global.
O que quer dizer que eles vão cortar praticamente tudo que o RH faz. A retórica feliz do
mundo do RH diz que tudo isto é para o melhor: Terceirizando a agenda administrativa,
afinal, permitiria que os profissionais de recursos humanos focassem em coisas mais
importantes e centrais para os negócios. Você sabe, ser um parceiro estratégico.
O problema, se você for um profissional de RH, é este: As atividades que as empresas
estão terceirizando – a administração – tendem a ser as coisas que você é bom em fazer. E
o que sobra não é exatamente seu ponto forte. Os recursos humanos são aleijados pelo
que Jay Jamrog, diretor executivo do Instituto de Recursos Humanos, chama
“incapacidade educada: Você é inteligente, e você sabe que a maneira que trabalha hoje
não durará por mais 10 anos. Mas você não consegue mudar de nível. Você está preso”.
É neste ponto que os recursos humanos estão hoje. Presos. “Esta é uma organização
única na empresa”, conforme Boudreau da USC. “Ela descobre coisas sobre os negócios
através das lentes de pessoas e talentos. Esta é uma oportunidade para a vantagem
competitiva”. Na maioria das empresas, esta oportunidade é completamente
desperdiçada.
E é por isso que eu odeio o RH.