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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO
POR QUE SOU GORDA, MAMÃE?
MARCAS DA SOCIEDADE LIPÓFOBA EM CÍNTIA
MOSCOVICH
VIRGINIA WILLIANE DE LIMA MOTTA
NATAL – RN
2012
VIRGINIA WILLIANE DE LIMA MOTTA
POR QUE SOU GORDA, MAMÃE?
MARCAS DA SOCIEDADE LIPÓFOBA EM CÍNTIA
MOSCOVICH
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do grau de Nutricionista.
Orientadora: Profª. Michelle Cristine Medeiros da Silva
Co-Orientador: Prof. Dr. Alexsandro Galeno Araújo Dantas
NATAL-RN
2012
VIRGINIA WILLIANE DE LIMA MOTTA
POR QUE SOU GORDA, MAMÃE?
MARCAS DA SOCIEDADE LIPÓFOBA EM CÍNTIA
MOSCOVICH
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do
grau de Nutricionista.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________ Profa. Michelle Cristine Medeiros da Silva
Orientadora
__________________________________________________________ Prof. Dr. Alexsandro Galeno Araújo Dantas
Co-orientador
_____________________________________________________________ Profa. Ms. Ingrid Wilza Leal Bezerra
3º Membro
Natal, 12 de junho de 2012.
À minha avó Rita, grande mulher,
alma altruísta, são tuas minhas
vitórias, em ti tenho a eterna fonte de
minha inspiração.
AGRADECIMENTOS
A Deus, porque “em Cristo sempre me conduz em
triunfo’’.
À minha família, pelo apoio, confiança e credibilidade que
sempre me foram doados com tanto afeto.
À minha mãe, em especial, por me estimular na busca
pelo conhecimento e por lutar para que eu tivesse acesso
às oportunidades que lhe foram negadas. Fica registrada
a minha eterna gratidão.
Ao meu irmão e ao meu pai, pelo incondicional suporte e
torcida.
Aos amigos, fisicamente próximos ou distantes, pelo
apoio, e principalmente pelas palavras de incentivo, vocês
são um dos pilares do meu alicerce.
À professora Vera, credito a ti grande importância na
minha formação enquanto profissional e ser humano.
Acredito que encontros como estes estão predestinados,
obrigada por me fazer reafirmar essa arte que me
transborda, em um local que juguei que iria perdê-la, a
Universidade. Obrigada por me mostrar a importância de
pensar qualitativamente.
À professora Michelle, estudante dedicada e sempre
ávida pelo saber, orientadora amiga e paciente, a quem
credito toda sensibilidade desse trabalho. Cheguei com a
certeza de que muito pouco sabia, saio com a certeza que
há muito mais a conhecer, devo a você uma parte do
pouco que hoje sei, muito obrigada.
A sociedade cria os obesos e não os tolera
Jean Trémolieres.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................................................. 7
POR QUE SOU GORDA, MAMÃE? MARCAS DA SOCIEDADE LIPÓFOBA
EM CÍNTIA MOSCOVICH .................................................................................. 8
ANEXO............................................................................................................. 38
7
APRESENTAÇÃO
A ideia inicial deste trabalho nasceu após uma aula de
Antropometria e Composição Corporal I, na qual a temática da Imagem
Corporal foi abordada, surgiu então o interesse de estudar com mais afinco
como se dão as relações entre a sociedade e seus corpos, a visão que têm de
si e do outro.
A escolha do tema como trabalho de conclusão de curso deve-se
a minha crença em um profissional nutricionista mais humano, que não impõe
ao corpo uma visão mecanicista, um profissional que busca entender a relação
de seus pacientes com seus corpos, atuando de forma a não só propiciar uma
dietética mais saudável, possibilitando alcançar seus objetivos nutricionais,
mas também de forma a entender que independente do peso dessas pessoas,
elas possuem uma identidade. Identidade, essa, que parece ser perdida ou
achada em quilos a mais ou menos, apegada a números que determinam que
lugar essa pessoa ocupará perante uma sociedade intitulada lipófoba.
A decisão de utilizar a literatura deveu-se ao fato de acreditar que
os saberes são indissociáveis, sendo a literatura feita pela sociedade e para a
sociedade, de forma que se retroalimentam, portanto, de certa maneira,
expressa em si as marcas de nossa sociedade.
A Revista Interface - Comunicação, Saúde, Educação foi
escolhida por ser uma publicação direcionada para a Educação e a
Comunicação nas práticas de saúde, a formação de profissionais de saúde
(universitária e continuada) e a Saúde Coletiva em sua articulação com a
Filosofia, as Ciências Sociais e Humanas. Tendo uma ênfase na pesquisa
qualitativa.
Os achados desta pesquisa encontram-se descritos a seguir.
8
Por que sou gorda, mamãe?
Marcas da Sociedade Lipófoba em Cíntia Moscovich
Why am I fat, mom? Brands of Lipophobic Society in Cíntia Moscovich
¿Por qué soy gorda, mamá? Marcas de la Sociedad Lipófoba en Cíntia Moscovich
Resumo
Perceber o corpo em sua totalidade, compreendendo sua
dimensão simbólica, e, principalmente, vendo um individuo em seu corpo, e
não o corpo que carrega um indivíduo, é o grande desafio das ciências da
saúde. Buscou-se, portanto, desenvolver um trabalho multirreferencial. A obra
literária escolhida foi Por que sou gorda, mamãe? Uma das características
marcantes que definem a sociedade contemporânea é o desejo de um corpo
absolutamente livre de qualquer marca da adiposidade, sendo essa uma das
marcas da sociedade lipófoba, assim como a valorização do
movimento/velocidade, onde o discurso sobre saúde e obesidade centrado
numa responsabilidade individual, obsessão pela magreza, a última marca dá
conta que a lipofobia é centrada na medicina, moda e aparência corporal,
cozinha e alimentação cotidiana. Acredita-se que a compreensão da relação
entre sociedade e corpo, é de suma importância para o entendimento do
estado do paciente, nesse caso do paciente obeso, favorecendo a atuação do
profissional nutricionista
Palavras-chave: lipofobia, literatura, obesidade, imagem corporal
Abstract
Realizing that the body in its entirety, including its symbolic dimension, and
especially seeing a person in your body, not the body that carries a person, is
the great challenge of the health sciences. Sought therefore to develop a work
of nature multireferential. The literary book chosen was Por que sou gorda,
mamãe? (Why am I fat, mom?). One of the hallmarks that defines contemporary
society is the desire for a body to be absolutely fat-free, this being one of the
finds, as well as the enhancement of speed a speech about obesity and health
9
centred on individual responsibility, obsession with thinness, the last found
gives the account that lipophobic is focused on medicine, fashion and body
appearance, kitchen and daily diet. It is believed that the understanding of the
relationship between society and the body is critical to understanding the
patient's State. In this case of patient overweight, favoring the professional role
of the nutritionist
Keywords: lipophobic, literature, obesity, body image
Resumen
Percibir el cuerpo en su totalidad, incluyendo su dimensión simbólica y sobre
todo viendo a un individuo en su cuerpo, no el cuerpo que lleva a un individuo,
es el gran desafío de las Ciencias de la salud. Por lo tanto, se ha buscado
desarrollar un trabajo de carácter multirreferencial. La obra literaria elegida fue
Por que sou gorda, mamãe? (¿Por qué soy gorda, mamá?) Una de las
características que define a la sociedad contemporánea es el deseo de un
cuerpo absolutamente libre de cualquier marca de grasa, siendo este uno de
los resultados, así como la apreciación de la velocidad, un discurso sobre la
obesidad y salud centrado en una responsabilidad individual, obsesión con la
delgadez, el último resultado trata de que la lipofobia se centra en el aspecto de
la medicina, la moda y el cuerpo, cocina y comida cotidiana. Se cree que la
comprensión de la relación entre la sociedad y el cuerpo, es fundamental para
el entendimiento del estado del paciente, en este caso del paciente obeso,
favoreciendo la actuación del profesional nutricionista
Palabras llave: lipofobia, literatura, obesidad, imagen corporal
Introdução
O corpo - carne e osso, fibras e líquidos - parte mais palpável da
existência humana, que pode ser sentido, visto e ferido, é o mesmo corpo que
abriga a complexidade dos seus mais variados significados. Esse corpo
metricamente modelado por dietas, exercício físico e até intervenções
cirúrgicas, figura-se como pertencente de maneira indissociável, não apenas ao
indivíduo, mas também à sociedade (Novaes, 2006, p.15).
10
Perceber esse corpo em sua totalidade, compreendendo sua
dimensão simbólica, e, principalmente, vendo um individuo em seu corpo, e
não o corpo que carrega um indivíduo, é o grande desafio das ciências da
saúde. A nutrição por muitos anos regrada apenas pelo pensamento cientifico
reducionista - aquele que vê os corpos como verdadeiras máquinas – não
permitia essa percepção multidimensional de seus significados. No entanto,
visto que os hábitos alimentares são construídos, principalmente, de maneira
simbólica, cabe ao profissional da nutrição a delicadeza de desenvolver um
olhar polissêmico para os problemas que esse corpo abriga, sejam físicos e/ou
psicológicos.
Mesmo após décadas de conselhos médicos e estéticos, visando
saúde e/ou boa forma, por exemplo, grande parte da população do mundo
ocidental moderno aprecia alimentos gordurosos, bem como os açúcares
refinados. O que se agrava ainda mais quando se tem uma super-oferta de tais
alimentos (e de todos os outros), sem que se tenha aprendido a controlar sua
ingestão. Uma das consequências desse consumo exacerbado é a obesidade,
atualmente, é um dos mais graves problemas de saúde pública no mundo, e
está avançando de forma rápida e progressiva, sem diferenciar raça, sexo,
idade ou nível social. (Outram, 2009, p.43; Repetto, Rizzolli, Bonatt, 2003,
p.633).
De que forma o profissional da nutrição pode atuar no tratamento
da obesidade? Qual a melhor conduta? Como obter resultados satisfatórios?
Com a obviedade da não existência de respostas prontas, cabe a esses
profissionais desenvolverem sua capacidade de entender seus pacientes em
sua multidimensionalidade, pois “uma inteligência incapaz de perceber o
contexto e o complexo planetário, fica cega, inconsciente e irresponsável’’
(Morin, 2003, p.15).
LITERATURA E CIÊNCIA: DUAS FACES DA MESMA MOEDA
Segundo Bauman (2007, p.7), vivemos em uma sociedade
líquido-moderna, essa sociedade caracteriza-se por sua fluidez e amorfismo. É
11
preciso uma leveza em seus membros, pois esses estão sempre se
deslocando, como os líquidos não assumem uma forma própria, tudo muda
rapidamente nessa sociedade, não há tempo para consolidações.
É nessa sociedade que a obesidade emerge, a mesma sociedade
que rejeita os excessos do corpo obeso. Um paradoxo, já que a ideia da
gordura não complementa aquela da fluidez, necessária aos deslocamentos
rápidos e fugidios da sociedade líquido-moderna.
Perceber marcas dessa sociedade na literatura pode ser uma
forma de iluminar pontos cegos nesta temática de cunho bio-sócio-
antropológica. Arte e ciência são duas mãos na mesma via e complementam
nossa capacidade de descrever e entender a natureza (Araújo-Jorge, 2004, p.
46). Como Roland Barthes, acredita-se que “todas as ciências estão presentes
no monumento literário’’ (Barthes, 2007, p.17).
Buscou-se, portanto, desenvolver um trabalho de cunho
multirreferencial, guiado pela ideia de Morin (2003) de que em toda grande
obra, seja ela de literatura, de cinema, de poesia, de música, de pintura, de
escultura, existe um pensamento profundo sobre a condição humana, bem
como pelas reflexões de Claude Fischler (1995) acerca da sociedade lipófoba,
que é discutida em seu livro O Onívoro, no qual o autor propõe um estudo do
onívoro (eterno e moderno), de sua percepção e da evolução de suas
representações, numa perspectiva histórica.
Fischler (1995) define as sociedades modernas como lipófobas,
ou seja, odeiam a gordura. O autor destaca ao longo de seu texto marcas
dessa sociedade, sendo estas: obsessão pela magreza; rejeição a gordura e
obesidade/obesos; lipofobia centrada na medicina, moda e aparência corporal,
cozinha e alimentação cotidiana; o prezar movimento e velocidade; discurso
sobre saúde e obesidade centrado numa responsabilidade individual; cacofonia
alimentar.
Para buscar essas marcas, a obra literária escolhida foi Por que
sou gorda, mamãe? da autora Cíntia Moscovich. Para a escolha foi
considerado o fato de que autora compartilha com o leitor diversas realidades,
12
deixando em sua obra prever algo de intrínseco à própria condição humana,
desejos e inseguranças, emoções e contradições. A autora é considerada um
nome expressivo da ficção brasileira contemporânea, estando sua produção
entre as de maior importância de sua geração (Silva, Santos, 2008), sendo
obra uma reinvenção da memória da família da personagem sendo contada
através da história de seu corpo.
Foi realizada uma leitura inicial para reconhecimento da obra e,
em seguida, uma leitura para uma interpretação mais abrangente, levando em
consideração os diversos fatores que estão diretamente ligados à obesidade,
sejam estes físicos, psicológicos e principalmente sociais. Nessa segunda
leitura identificou-se as marcas da sociedade lipófoba descritas por Fischler
(1995). Optou-se por descrever estes achados em um quadro para uma melhor
organização e visualização (Apêndice). O intuito final da pesquisa é perceber,
através da literatura, como os obesos vivem e são vistos nessa sociedade que
tem verdadeiro horror à gordura. Partiu-se da ideia de que os saberes são
indissociáveis, portanto literatura e sociedade são tidas como interligadas e se
retroalimentam. As palavras de Moscovich (2006) ratificam esse pensamento:
[...] Talvez por isso me tenha dedicado à ficção, que é a última possibilidade de juntar um fato a outro e tornar íntegro o partido e o falante. A ficção é cimento de unir as partes. De casar o avulso e desconexo. Cinza e poeira, a ficção talvez as transforme no sólido da pedra (Moscovich, 2006, p.18).
A segunda das quatro regras do Discurso do Método de Decartes
anuncia o princípio da divisão: para conhecer um objeto em sua totalidade
devemos proceder a sua redução em tantas parcelas quantas necessárias para
que possamos resolvê-las. Ao invés de ir das partes ao todo, Lévi-Strauss
(2005) apresenta a possibilidade de se percorrer o caminho inverso. O
conhecimento do todo precederá ao das partes, caso trabalhemos com o objeto
em escala reduzida. A arte trabalha em escala reduzida. Ela encontra-se entre
o conhecimento científico e o pensamento mítico, pois “o artista tem, ao mesmo
tempo, algo do cientista e do bricoleur: com meios artesanais, ele elabora um
objeto material que é também um objeto de conhecimento”. (Lévi-Strauss,
2005, p.38).
13
Trabalhar por meio desses modelos reduzidos apresenta,
portanto, dois atributos: a possibilidade de observar a coisa sem fragmentá-la e
o fato de existir no modelo reduzido não uma simples cópia do objeto, falamos
antes de uma construção, uma produção do artista, que apreende em si um
modo de fabricação: uma linguagem, uma religião, um modo de operar
contratos matrimoniais e troca de bens, uma cozinha. A arte poderia então
atuar como estratégia que reaproximaria saberes, outrora distanciados, de
modo que permite enxergar os objetos com uma pretensa totalidade (Lévi-
Strauss, 2005, p.36-40).
Entender como se deu a fragmentação entre arte e ciência serve
como embasamento para se reafirmar a importância da união dos saberes.
Há muito a ciência reivindica autonomia em relação às
humanidades. Tal fragmentação, em termos institucionais, atingiu seu apogeu
nos séculos XVIII e XIX. A partir daí, a ciência ocidental teve seu
desenvolvimento com base na noção de especialidade, tornando-se cada vez
mais minimalista e com mais subdivisões (Filho, 2007, p.6).
Em sua obra As três culturas, Lepenies (1996) relata que a
chegada de Émile Durkheim à França, especificamente à Universidade de
Sorbonne, trouxe consequências trágicas para a fragmentação dos saberes
que já operava fortemente na história da ciência. Principalmente a partir do
século XVII, a literatura foi perdendo espaço na oferta de sentido e orientação
da civilização moderna e da realidade social, a ciência literária deveria passar
apenas a entender as obras em seus contextos históricos, ou seja, “o estudo
da história da literatura substituiria cada vez mais a própria leitura das obras
literárias’’ (Lepenies, 1996, p. 54-55).
Nas salas, antes destinadas à leitura literária, os fichários e as
fichas de arquivos é que ganhavam destaque, os estudantes não mais liam os
clássicos literários, “mas apenas os catálogos críticos de fontes, edições e
comentários sobre eles’’, cabendo à literatura apenas a função de exercitar a
memória. O supercientificismo era tamanho que essas salas de leitura
ganharam o título de laboratório (Lepenies, 1996, p. 56).
14
Antigamente havia na Sorbonne uma sala na qual os estudantes podiam ler os clássicos, cujas obras estavam entre as leituras obrigatórias. Essa sala era chamada de étude: “Hoje, porém, um tal nome humilde não mais exprime que dignos trabalhos são realizados nessa sala. Hoje ela se chama laboratoire de philologie française’’(Lepenies, 1996, p. 55-56).
Essa divisão dos saberes impossibilita a compreensão do
complexo, “atrofia as possibilidades de compreensão e de reflexão’’, o que dá à
sociedade atual a incapacidade de resolução de problemas à medida que estes
aumentam sua abrangência, pois essa sociedade é incapaz de pensar em sua
multidimensionalidade (Morin, 2003, p.14-15).
Segundo Lepenies (1996), De Bonald vê na acentuação da
fragmentação entre literatura e ciências um sinal de modernidade, sendo, para
esse, um sinal de decadência (Lepenies, 1996, p.17-19). As palavras de De
Bonald não poderiam ser mais acertadas. É óbvia a importância do diálogo
entre os saberes.
Ainda assim, a relação entre sociedade e arte não se dá de
maneira tão simples, tendo em vista a cultura disciplinar, ainda hegemônica,
das formas de se fazer ciência na contemporaneidade. Tal qual a relação entre
corpo e sociedade.
Jamais o corpo foi tão interpretado, ele se tornou obra viva, não
falado, mas se tornou linguagem. O “corpo como objeto de arte” impele e
orienta uma grande quantidade de intenções e atos. O corpo torna-se então,
para a sociedade, um paradoxo, já que se projeta uma fascinação pelas
imagens corporais, mas ao mesmo tempo destaca-se a luta contra essas
imagens. Acredita-se que na arte encontram-se fabricadas nossas próprias
imagens (JEUDY, 2002, p. 17).
Nesse âmbito, a obesidade, como problema de saúde pública
aparece cedo na vida do brasileiro. Dados do Ministério da Saúde informam
que a população vem apresentando prevalência de excesso de peso. De
acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), de 2008 e 2009, a
população brasileira apresenta, já a partir de cinco anos de idade, uma grande
15
frequência de excesso de peso e obesidade, em todas as regiões e grupos de
renda (Instituto brasileiro de geografia e estatística, 2010).
Segundo Pedraza (2004, p.4), no Brasil, parte da população
urbana do sul-sudeste encontra-se numa fase de mudanças comportamentais,
reduzindo gorduras, principalmente animal e aumentando o consumo de
carboidratos complexos, frutas e verduras, em busca de uma melhor qualidade
de vida. Esse é um comportamento fomentado por órgãos como a Organização
Mundial de Saúde (OMS) através da estratégia global (World Health
Organization, 2004) ou como no Brasil, o Ministério da Saúde, através do Guia
Alimentar para população brasileira (Brasil, 2005), já que principalmente após a
Revolução Tecnológica, que facilitou o acesso a alimentos industrializados,
percebeu-se um aumento no consumo de gorduras e de açúcares refinados. O
que vem a culminar com o aumento de obesidade, doenças cardiovasculares e
todas as outras doenças crônicas não-transmissíveis (Instituto brasileiro de
geografia e estatística, 2004).
Na constante contradição em que a sociedade atual se encontra,
o corpo usado é quem dita quem somos. Esse corpo-imagem que tornou-se
determinante da felicidade a partir do momento em que estremece a auto-
estima, é o mesmo corpo que assume o papel de mensagem e acaba por falar
pelos sujeitos. O peso do corpo assume um papel de destaque na vida das
pessoas que são estigmatizadas (Kehl, 2004, p.174-178). O que nos leva a um
questionamento: Afinal quanto pesa uma identidade?
[...] me recuso ao espetáculo decadente. Faço de conta que o reflexo dos espelhos é um espectro transitório. Daquele diabo inchado que mora dentro de mim. Odeio esse demônio. (Moscovich, 2006,p. 141).
Entendendo que a obesidade não deve ser compreendida apenas
como um excesso de peso, já que essa também abrange aspectos subjetivos,
e é passível de ser percebida, interpretada e influenciada pelo sistema social e
pela cultura, a percepção dessa enfermidade vai além do aspecto
epidemiológico e revela-se na vivência do corpo (Pinto, Bosi, 2009, p.443).
A partir dos resultados encontrados propôs-se um
aprofundamento nessa sociedade líquido-moderna, procurando conhecer como
16
se dão as relações dessa com a alimentação e com o corpo, especificamente o
corpo obeso, de modo a compreender tamanha aversão à gordura, e discutindo
de que forma esse conhecimento pode auxiliar no tratamento de pacientes
obesos pelo profissional da nutrição.
MUITA GORDURA, POUCO SENSO: MARCAS DE UMA SOCIEDADE
LIPÓFOBA
Desde o século XIX, as sociedades burguesas consideraram o
corpo como propriedade privada, sendo esse de responsabilidade pessoal. O
corpo era o primeiro sinal - do homem sem antecedentes nobres – emitido para
mostrar quem esse homem em ascensão “é”, ou seja, a aparência substituiu o
“sangue” (Kehl, 2004, p.178). Segundo Novaes (2010):
Tal qual uma tela em branco, para determinados teóricos, amantes da arte, artistas performáticos e estudiosos sobre o tema, o corpo passa a ser encarado e compreendido como uma obra de arte. É nesse corpo, transformado em um registro vivo, que serão inscritos afetos, emoções, representações da história do sujeito, do seu tempo e também da sua dor, como no caso das tatuagens, branding, escarificações, suspensão etc (Novaes, 2010, p.407).
Em uma cultura na qual telas prevalecem em relações às
páginas, a imagem assume um papel importante. Diz-se que o sujeito
contemporâneo é por ela marcado e constituído. Esse sujeito líquido-moderno
é definido por sua fluidez, marcada pelos seus múltiplos afetos, seu
individualismo exacerbado pela sociedade de consumo e do espetáculo, bem
como suas relações transitórias e as suas identidades mutantes (Novaes, 2010,
p.407).
Não se pode pensar o corpo isoladamente, é fundamental
considerar o contexto no qual ele está inserido. Corpo e sociedade não podem
ser compreendidos separadamente, mas em convergência. O século XXI é
palco de diversas transformações decorrentes de novos valores, a tecnologia
com base na informação e na ciência modificou o modo de pensar, produzir,
consumir e comunicar alterando assim o modo de vida. As mudanças no plano
sociopolítico, econômicas, e nos modos de subjetivação parecem refletir
também no imaginário sobre o corpo (Maroun, Vieira, 2008, p.173).
17
O corpo, palco privilegiado de encenações, espelha e ao mesmo
tempo, se constitui na cultura. O corpo é a vestimenta, roupa, por isso deve cair
perfeitamente, sendo passível de retoques, caso necessário (Novaes, 2010,
p.407).
Segundo Fischler (1995) uma das características marcantes que
define a sociedade contemporânea é o desejo de um corpo absolutamente livre
de qualquer marca da adiposidade, sendo essa uma das marcas da sociedade
liquido-moderna. Para essa sociedade apenas o músculo é nobre, as
sociedades modernas tornaram-se aversivas à gordura.
Numa academia de ginástica não há gordos [...]. Constranjo-me diante deles, recuso-me a frequentar vestiários e duchas. Ao contrário, enfio-me dentro de camisetas extragrandes que vão do pescoço aos quadris (Moscovich, 2006, p.141).
A informação nessa sociedade dá-se de forma a poupar o
receptor do trabalho de pensar, de processar as informações recebidas. “O
mundo em flashes é facilmente deglutível, minimizando-se, assim, a
possibilidade de apropriação crítica e seletiva do conteúdo veiculado” (Novaes,
2006, p.79). É nesse ambiente que surgem os excessos, de informação, de
seletividade dessas informações e consequente excessos do corpo, por
dificuldade de seleção dos discursos que regem esse.
Do drama da alienação ao êxtase da informação
O início do século XXI trouxe consigo algumas características
marcantes, tais como a globalização e o surgimento de uma sociedade que
convencionou-se chamar sociedade do conhecimento (Titão, Viapiana, 2008,
p.26).
A sociedade líquido moderna é calcada em uma natureza
contraditória e fluida, na qual o mundo se apresenta em metamorfoses, sendo
marcada pelos fluxos de tecnologia, informação e conhecimento, que se
encontram controlados pela fluidez, flexibilidade, mobilidade, fragmentação e
heterogeneidade (Bauman, 2007, p.7). A informação nessa sociedade
apresenta-se em dimensões e significados que são modificados e se
18
fragmentam numa pluralidade de possibilidades, de forma a colocar seus
membros na condição de "incapazes de reduzir o ritmo espantoso da mudança,
muito menos prever e controlar sua direção" (Bauman, 2007, p.91-92).
Com a alimentação não poderia ser diferente, o discurso que gira
em torno dessa atualmente é composto por informações que mudam antes que
a informação anterior possa ser fixada, sendo essa a característica mais
marcante da sociedade líquido-moderna. Resta, portanto, a dúvida: “Afinal, o
que escolher?” Recorrendo ao conceito durkheimiano de anomia1, Claude
Fischler (1995) apresentou o neologismo gastro-anomia, a ausência de regras
na alimentação.
A industrialização dos alimentos possibilitou uma maior
diversidade de produtos a serem ofertados para os consumidores. Essa
diversidade alimentar permitiu dinamicidade ao ato de se alimentar, sendo
possível ter uma alimentação variada e balanceada, já que essa diversidade
parece proporcionar uma alimentação mais saudável, reduzindo assim
enfermidades (Hernández, Arnáiz, 2005, p.441).
Para Fischler (1995) essa liberdade de escolha a qual o
consumidor está submetido leva-o a um processo de dúvidas. Apesar do hábito
alimentar receber influência do ambiente, situação socioeconômica e cultura do
indivíduo, essa escolha tem embasamento em informações que para este
consumidor tem uma grande confiabilidade. Precisamente aí se concentra o
grande dilema do consumidor contemporâneo, a falta de informações
consistentes ou coerentes, pois seja no discurso médico ou na mídia o que se
encontra são incertezas, ou até mesmo informações contraditórias, a palavra
de ordem é tão fugaz que acaba gerando um certo caos, uma verdadeira
cacofonia alimentar (Fischler, 1995, p.195). As informações são variadas e
opositoras. Tolhida pela dúvida essa sociedade moderna então é definida por
Fischler (1995) como gastro-anômica, ou seja, no que se refere a alimentação,
é “sem lei ou com normas desestruturadas ou em degradação” (Hernández,
Arnáiz, 2005, p.444; Fischler, 1995, p.315-316).
1 O termo “anomia” é empregado por Durkheim caracteriza-se como “o estado de desregramento’’ no qual as paixões são ameaçadoras da ordem (Durkheim, 2000, p. 322).
19
Baudrillard (1996) cita uma obesidade secundária ou de
simulação, que é aquela, que, assim como os sistemas atuais, engordam de
tanta informação. Esta obesidade é bem característica da sociedade da
modernidade operacional, na qual se anseia por estocar e memorizar tudo, a
ponto de chegar aos limites da informação, instaurando simultaneamente uma
potencialidade monstruosa, mas que não é mais possível por em ação.
(Baudrillard, 1996, p.25).
A obesidade carrega consigo uma lentidão que permite
visibilidades, e na sociedade líquido-moderna as coisas acontecem muito
rapidamente, valoriza-se a velocidade.
Em meados do século XIX a velocidade aparece nos esportes,
trazendo consigo uma valorização da linha reta, pistas para veículos em alta
velocidade, por exemplo, que têm sempre o mínimo de curvas, obstáculos e
interferências possíveis, quanto mais reta, mais favorável a velocidade. As
imagens são a forma mais eficaz de compartilhar conhecimento, devendo se
adequar à demanda de rapidez e imediatitude, por isso a superfície lisa
encontra no corpo um local no qual rugas, dobras e saliências são evitadas
pelo olhar. Assim, a gordura não é bonita aos olhos, os obesos são verdadeiros
obstáculos para essa sociedade que rejeita o que o peso corporal traz, a
sociedade da velocidade não tem lugar para os lentos. A gordura, portanto, é
relacionada à lentidão, à presença, ao olhar lento, que não economiza,
resumindo, ao corpo presente; enquanto que a magreza, veste-se de uma
velocidade, captada por um olhar rápido, ágil, “o corpo gordo é um corpo de
olhar mediado e não imediato” (Almeida, 2009, p.3; Novaes, 2006, p.79). Os
obesos caíram do barco ou simplesmente não conseguiram acompanhar sua
velocidade (Bauman, 2007, p.133), essa valorização da velocidade constitui-se
em uma outra marca da sociedade lipófoba.
Vinte e dois quilos pesam muito mais do que parece, tornei-me lenta, cansada, arisca. Triste, muito, e muito melancólica. Lenta e cansada como minhas tias, irmãs de papai, triste como Vovó Magra, melancólica como Vovó Gorda. Arisca como minha mãe. Minha alma decerto se mostra no corpo, esse confortável corpo, que passou, por excesso, a ser tão incômodo. Um estorvo. Chegar ao peso adequado é penoso. A dor também pesa (Moscovich, 2006, p.17).
20
A obesidade constitui-se em um obstáculo a ser superado,
problemas de má aparência e com a gordura são considerados como os piores
tipos de desleixos com o corpo, sendo estes uma transgressão moral. Portanto,
cabe ao indivíduo um esforço pessoal para alcançar essa beleza, e esse
esforço é puramente de sua responsabilidade. Dessa forma, os cuidados com o
físico exprimem uma forma de preparar-se para encarar os julgamentos e
expectativas sociais (Novaes, 2006, p.98-99). Apresentando-se como um
discurso sobre saúde e obesidade centrado numa responsabilidade individual,
outra marca.
[...] – Há quem viva para comer. Aprendam que se deve comer para viver. Não era mera frase de efeito, a gravidade com que papai a pronunciou estava no lugar devido e adequado. Havia uma medida nas coisas e devíamos aprendê-la. As coisas todas têm um método. Até a gordura (Moscovich, 2006, p.219).
Fischler (2002) apresentou uma classificação dos estereótipos
morais ligados aos obesos, o caráter ambíguo inferido à obesidade demonstra
o paradoxo residente na forma como a sociedade trata os obesos, que vagam
entre a amabilidade e o repúdio, transitando entre o bem e o mal.
Em pesquisa na França sobre a percepção da gordura masculina,
os resultados indicaram que aos obesos cabem uma dupla imagem. Se por um
lado era descritos como bons vivants, cabendo-lhes alegria, comicidade, o
gosto pela boa mesa, um bom convívio social, por outro a imagem negativa do
gordo era sentida, a jovialidade deste era suspeita de não ser mais que uma
fachada que utilizava para dissimular sofrimento ou tristeza (Fischler, 2002,
p.71). A esse último obeso cabe à culpa por tomar mais do que a parte que lhe
cabe, os gordos são gulosos e gula é um dos pecados capitais. A bíblia, o livro
sagrado do cristianismo, apresenta, no livro de Provérbios, capítulo 23 e
versículos um e dois, um bom exemplo disso: “Quando te assentares a comer
com um governador, atenta bem para o que é posto diante de ti, E se és
homem de grande apetite, põe uma faca à tua garganta”.
21
Estranhamente a obesidade é um modo de desaparecimento do
corpo, no qual as formas são perdidas, a delimitação da área desse
desaparece. Como se o corpo quisesse digerir o espaço e não mais se opor ao
mundo exterior. (Baudrillard, 1996, p.25).
Minha alma decerto se mostra no corpo, esse confortável corpo, que passou, por excesso, a ser tão incômodo. Um estorvo. Chegar ao peso adequado é penoso (Moscovich, 2006,p.17).
Para atribuição de uma classificação negativa ou positiva ao
obeso é estabelecida uma relação entre os traços físicos e a imagem social
dessa pessoa, por exemplo, é aceitável um chefe de cozinha obeso, mas um
nutricionista obeso é intolerável. Deste modo “o que sabemos do gordo (por
exemplo, sua ocupação, sua imagem social), pode influenciar o que vemos de
sua própria obesidade”. Aos obesos malignos e benignos cabe o estigma
imposto por uma sociedade na qual a tolerância para gordura é drasticamente
reduzida, chegando essa gordura a ser enquadrada em forma de categoria de
exclusão. A magreza ganha destaque e uma supervalorização, – “os magros
talvez nem saibam como ofendem e afrontam o próximo” (Moscovich, 2006,
p.189) - pois no seu excesso de peso o obeso leva uma gordura carrega
estereótipos depreciativos (Novaes, 2006, p.118; Fischler, 1995, p.73). Essa
obsessão pela magreza vem a se apresentar como uma outra marca da
sociedade lipófoba
Gordos são pusilânimes. Gordos são suspeitos de ter caráter fraco e determinação quebradiça. Cobardes. Mentirosos. Gordos são simpáticos porque nunca serão bonitos. São sorridentes porque têm que disfarçar porqueiras emocionais. Quasímodos. Gordos são seres humanos que não merecem caridade ou confiança (Moscovich, 2006, p.25).
A obesidade também é “espectral’’, paradoxalmente não pesa,
mas flutua numa boa consciência da socialidade. O corpo perde suas normas,
sua cena e sua razão, mesmo sendo visível em excesso, o conjunto continua
transparente, os obesos são um obstáculo tão incomodo aos olhos que prefere-
se evitá-los, colocam-se então à margem da sociedade (Baudrillard, 1996,
p.26). Apesar dessa marginalização, os obesos constituem hoje uma parcela
22
tão significativa da sociedade que tornaram-se um nicho de mercado, das
roupas (extra) largas aos seriados de televisão, do mercado em ascensão de
modelos GG aos assentos em aviões, o mercado deu o espaço que tanto falta
ao obeso. Pensar o obeso nessas múltiplas perspectivas pode ser a forma para
reduzir o peso do preconceito.
Entendendo-se que o sujeito não toma posse do alimento apenas
por necessidade de sobrevivência, mas sim por algo que “o coloque na
condição de existência e o faça construir um sentido para a vida”, não se
deveria enxergar que para o obeso o desejo de comer poderia apresentar-se
como uma espécie de vazio, no qual o sujeito decide preenche-lo de forma
excessiva? (Carneiro, 2004, p.271).
Como coloca Novaes (2006, p.70) “na atualidade o corpo é a própria
vestimenta, por isso, ele sim, deve estar adequado ao código”. Afinal, que
código é esse, e como se institui?
Meu corpo, nossas regras
Segundo Foucault (2006, p.50-51) as questões sobre a dietética
podem auxiliar no esclarecimento da instituição de normas e condutas
alimentares. A reflexão dos gregos na época clássica, por exemplo, têm o
alimento, bebida e atividade sexual como instrumentos de regulação.
Questiona-se então como servir-se dos prazeres, desejos e atos de modo a
evitar os excessos, ou seja, qual o limite, a medida para estes três campos?
Para controlar esses excessos, os gregos da antiguidade
estabeleceram a dieta como ferramenta para o controle das práticas
alimentares, sexuais e exercícios físicos. Foucault (2006), utiliza-se de duas
narrativas sobre a origem da dietética, uma que apontava para o surgimento da
medicina a partir da dietética, encontrada na coleção hipocrática, e outra
encontrada em Platão, que acredita que a preocupação com o regime advém
de uma alteração nas práticas médicas. “A dietética aparece, segundo essa
gênese, como uma espécie de medicina para os tempos de lassidão, ela era
destinada às existências mal conduzidas e que buscam prolongar-se”. O
estabelecimento do regime fez com que a dietética se tornasse um
23
prolongamento da arte de curar sustentado no modo de vida, “o regime é toda
uma arte de viver” (Foucault, 2006, p.91-92). Como vemos em Moscovich
(2006, p.204): “A última frase de papai, antes de avistarmos o carro-guincho do
Touring chegando, foi: - Vocês vão fazer dieta. E vai ser para toda vida. Aquela
frase foi uma profecia”.
Segundo Novaes e Vilhena (2003, p.15), à medida que a visão foi eleita
como um sentido privilegiado perante os demais, possibilitou-se o surgimento
de alguns sentidos como o pudor, sentimento esse que veio a contribuir na
educação do olhar sobre o corpo.
Como coloca Bauman (2007, p.131), o corpo continua tão socialmente
regulado quanto era antes, “mudaram apenas as agências reguladoras, com
consequência de longo alcance para a sorte dos indivíduos incorporados,
encarregados de administrar os corpos que têm e são”.
Fischler (1995, p.307), aborda que o discurso normativo da medicina
sobre a saúde e obesidade tornou-se um discurso moral, que tem seus
fundamentos da responsabilidade individual, e sobretudo é um discurso de
culpabilidade, marca essa já citada anteriormente. Em Moscovich (2006, p.
205) temos: “Só havia um jeito de seguir aquela dieta: - Força de vontade.
Você quer, você consegue”.
O última marca, da sociedade lipófoba, encontrada em
Moscovich, dá conta que a lipofobia é centrada na medicina, moda e aparência
corporal, cozinha e alimentação cotidiana. Os discursos que normatizam o
corpo vão, progressivamente, “tomando conta da vida simbólica/subjetiva do
sujeito”. Os cuidados físicos configuram-se então como uma forma de se
preparar para o olhar do outro, analogamente o investimento estético está
ligado à visibilidade almejada, as qualidade estéticas do próprio corpo que
determinam se o sujeito se expõe ou se omite ao olhar do outro (Novaes,
Vilhena, 2003, p.17).
[...] me espremo dentro daquele delírio do fabricante de roupas esportivas, jogo uma toalha ao ombro e me dou ao desfrute de levantar pesos, espichar todos os músculos em alongamentos, suar em bicas nas aulas de aeróbica, que não são as mais recomendadas para meu caso – isso quando não caminho na
24
esteira, olhando para uma parede branca ou para uma televisão que não tem boa sintonia, sempre com o sentimento de ir tanto para lugar nenhum (Moscovich, 2006, p.138).
O discurso da medicina atua como um regime disciplinar, de
forma que circula-se um saber/poder que não está ao alcance de um individuo
comum. Assim sendo, as noções de saúde, doença e os padrões estéticos
ditados, são plausíveis de serem entendidos como uma maneira de regulação
social, que vigia, pune, através de seus discursos, os sujeitos que não se
enquadram nas normas. É nesse âmbito que os obesos estão inseridos.
(Novaes, 2006, p.66-67).
O médico me cumprimentou e quis saber das minhas refeições livres, aquelas a que eu tinha direito. Contei a ele da peripécia na cantina e que estava evitando comer feito um boi uma vez por semana. Ele não gostou. Foi taxativo ao afirmar que a tal refeição ainda ia me fazer falta. E que eu não precisava comer feito um boi – aliás, comer feito um boi não era nada saudável. Liberdade vigiada (Moscovich, 2006, p.103-104).
Os obesos surgem como infratores dessas normas, “nada é mais
divergente do padrão do que a gordura”. Esses são mantidos excluídos, pois já
não “participam das regras do jogo social”, refletem em suas imagens o
descaso no agenciamento de seus corpos, quebrando as normas, os obesos
perdem os limites de seus corpos (Novaes, Vilhena, 2003, p.19-21).
Com a gordura, o ato de ensaboar as costas ou de enxugá-las é uma performance desagradável. O médico me sugeriu que usasse o secador de cabelo para eliminar vestígios de umidade naqueles lugares – as palavras são dele – em que houvesse “dobrinhas”. Eis aí, agora tenho dobrinhas (Moscovich, 2006, p.125).
Porém, os discursos sobre o corpo não são neutros, ver o corpo
como apenas disciplinado, obedecendo fielmente às regras, é uma postura que
deve ser evitada. O corpo nunca é totalmente aprisionado pelos dispositivos
culturais, dispositivos esses que o tornaria suscetível à sua submissão total às
expectativas sociais. As práticas corporais podem ser compreendidas, portanto,
como submissão ao discurso do outro, ou podem atuar como contestação
(Novaes, 2006, p.68).
25
De que forma esses sujeitos podem rebelar-se contra o discursos de
normatização do corpo? Como não sucumbir às repressões intrínsecas no
olhares de uma sociedade lipófoba? De que forma a união dos saberes podem
contribuir nesse processo?
NUTRIÇÃO E LITERATURA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL?
A falta de comunicação entre os saberes acabou favorecendo a
formação de profissionais cada vez mais mecanicistas, a área da saúde, em
especial, pareceu absorver de forma acentuada o discurso de uma sociedade
globalizada, na qual as pessoas são reduzidas a máquinas. A medicina
desmembra o corpo de tal forma que encontram-se hoje especialidades para
cada uma de suas partes, não obstante essa mesma medicina constitui-se
como um dos aparelhos reguladores do corpo.
Uma das bandeiras mais levantadas atualmente é a da busca por
uma medicina mais humana. A nutrição como um dos ramos da medicina,
também começa a buscar essa humanização em sua prática, talvez o grande
questionamento tenha sido qual a forma mais efetiva para alcançar esse
objetivo, uma resposta encontrada por muitos na arte.
Reafirma-se aqui a ideia de Barthes (2007, p.17), na qual
acredita-se que “todas as ciências estão presentes no monumento literário’’ .
Portanto, sendo a literatura feita para e pela sociedade, encontrar nessa arte
respostas para os questionamento que perpassam o orgânico, não só é
possível como essencial.
Cíntia Moscovich constrói o livro com base em uma pergunta a
qual ratifica-se, afinal “por que sou gorda, mamãe? A resposta encontrada não
se resume a uma explicação cientifica, um emaranhado de fatores contribuíram
de forma direta com a obesidade. A gordura é a causa da relação conflituosa
entre mãe e filha, ao mesmo tempo consequência, na qual a capa de gordura
atua como um mecanismo de mimetismo e a filha fica, paradoxalmente,
26
invisível aos olhos da mãe. A cada quilo perdido a personagem parece resgatar
sua identidade e reaver seu direito de ser vista e aceita pela mãe, de forma que
os quilos perdidos não só representam números, mas a recuperação da
imagem corporal da personagem.
Um calça que não me servia já há algum tempo voltou a meu corpo. Antes, para vesti-la, tinha de me deitar na cama e, chupando a barriga, unir aquelas duas coisas que pareciam feitas para nunca se encontrar: o botão e sua casa. Outra mágica: os engates do zíper se entregaram uns aos outros com docilidade. Me animei à verificação de peso. No consultório, tirei os sapatos, os brincos, esvaziei o ar dos pulmões. Perda de dois quilos. Cravados (Moscovich, 2006, p.84).
Acredita-se que a compreensão da relação entre sociedade e
corpo, é de suma importância para compreensão do estado do paciente, nesse
caso do paciente obeso, favorecendo a atuação do profissional nutricionista e
dando a esse a possibilidade de um atendimento mais humano e focado no
outro, considerando a multidimensionalidade do processo do cuidar, afinal o
cuidar também é uma arte.
Jeudy (2002, p.158) refere que o corpo “é sempre unicamente
uma constelação de imagens, não possui existência real”. Enquanto
profissionais de saúde devemos proporcionar a existência real desse corpo, e
isso só é possível se transcendermos essa constelação de imagens,
percebendo o indivíduo além, buscando muito mais que quilos a serem
perdidos, buscando a recuperação de uma identidade que parece se perder em
meio as células adiposas.
“Agora eu sei por que sou gorda”, diz Cíntia Moscovich (2006,
p.251). Nós também. Por meio do exercício que neste trabalho tentou-se
realizar, pôde-se compreender um pouco mais o paradoxo que a sociedade
contemporânea carrega com a gordura. A importância do diálogo entre nutrição
e literatura, fica latente nestas linhas, assim como a crença de que a arte tem-
se mostrado num meio efetivo para a formação de profissionais mais aptos a
compreender as singularidades da condição humana.
27
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nessa sociedade líquido-moderna na qual os valores
individualistas se manifestam de forma tão intensa, as normas impostas devem
atuar como um sustentáculo para proporcionar a consciência à iniquidade de
sua tirania, levando a seu consequente questionamento.
As marcas da sociedade lipófoba apresentadas por Fischler -
obsessão pela magreza; rejeição a gordura e obesidade/obesos; lipofobia
centrada na medicina, moda e aparência corporal, cozinha e alimentação
cotidiana; prezar movimento e velocidade; discurso sobre saúde e
obesidade centrado numa responsabilidade individual - com exceção da
cacofonia alimentar, foram identificadas no texto de Moscovich, reforçando
portanto, que a literatura constitui-se um bom meio para o estudo das marcas
dessa sociedade, possibilitando a reafirmação da interligação dos saberes.
Cabe destacar, contudo, que este trabalho não tem o intuito de
destituir a obesidade do seu caráter nocivo à saúde, implicando fatores de risco
ao indivíduo. Como problema de saúde pública mundial, a obesidade requer
cuidados, precisamente nesse âmbito situa-se um objetivo secundário deste
trabalho, o de reforçar a gama de fatores que atuam sobre o indivíduo que
podem resultar na patologia relatada.
Para profissionais de saúde, que buscam o entendimento do
processo saúde-doença além do orgânico, é importante estimular seus
pacientes a catarse, descobrindo dessa forma que muito além de um corpo
obeso encontra-se uma sociedade que apresenta verdadeira repulsa a gordura.
Compreender essa exclusão sofrida pelos obesos é o fator que pode vir a fazer
a diferença entre o sucesso e o fracasso de um tratamento. Visto que o físico e
o psicológico não caminham separados, vindo a reforçar a importância de uma
equipe multidisciplinar.
Trabalhos como este são escassos na literatura, reconhecendo a
importância das percepções do corpo pela sociedade do corpo imagem,
reforça-se a importância de trabalhos que se voltem para o tema da imagem
corporal, – não só centrados na obesidade, mas anorexia, bulimia, e distúrbios
28
de imagens mais recentes como a ortorexia e vigorexia - mesmo uma
continuidade do presente trabalho em que se utilizasse das falas dos próprios
indivíduos obesos para fortalecer ainda mais o caráter multidimensional da
patologia da obesidade.
29
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30
APÊNDICE
Marcas da Sociedade Lipófoba
Obsessão pela magreza Rejeição a gordura e
obesidade/obesos
Lipofobia centrada na medicina; moda e aparência corporal; cozinha
e alimentação cotidiana
Prezar movimento e velocidade
Discurso sobre saúde e obesidade
centrado numa responsabilidade
individual
Cacofonia alimentar
Marcas da Sociedade
lipófoba encontradas no livro “Por
que sou gorda, mamãe?’’
Minha alma decerto se mostra no corpo, esse confortável corpo, que passou, por excesso, a ser tão incômodo. Um estorvo. Chegar ao peso adequado é penoso (p.17).
O gordo é uma das faces que a aberração pode ter. O anômalo, compulsivo e viciado. Gordos são pusilânimes. Gordos são suspeitos de ter caráter fraco e determinação quebradiça. Cobardes. Mentirosos. [...] Gordos são seres humanos que não merecem caridade ou confiança (p.25).
O médico concordou em assinar o armistício. Mas a paz entre nós só viria se eu perdesse o equivalente aos tabletes de manteiga ou aos tais espetos de picanha . [...] Além de pedir uma batelada de exames, ele prometeu vigilância cerrada: periodicamente, o retorno e a verificação de peso. Mais uma coisa: -Você não está gorda. Certo, meu estado não era transitório, a gordura nunca foi um episódio solteiro em minha vida, eu sabia, ele nem precisava ir adiante. Mas ele foi: [...] - Sei que parece injusto, mas a natureza a fez assim. Você é gorda (p.15).
Vinte e dois quilos pesam muito mais do que parece tornei-me lenta, cansada, arisca (p.17).
Numa academia de ginástica não há gordos [...]. Constranjo-me diante deles, recuso-me a frequentar vestiários e duchas. Ao contrário, enfio-me dentro de camisetas extragrandes que vão do pescoço aos quadris (p. 141).
---
Foi assim que Hersh rompeu com a determinação excruciante da gordura: caminha, corre, come pouco, se
Ainda de costas na balança, sem me interessar pelo ponteiro, pedi ao médico que me informasse a variação, se variação houvesse.
Comecei a buscar roupas em lojas que anunciavam tamanhos especiais. Tecido e mais tecido em forma de batas, túnicas, vestidos, peças cujas circunferências espetaculares são somente
Pessoas acima do peso não tem somente dificuldades para se locomover ou para amarrar os sapatos (p.67).
Só havia um jeito de seguir aquela dieta: - Força de vontade. Você quer, você consegue (p.205).
---
33
cuida. Yacov conseguiu emagrecer, mas voltou a engordar. Emagrece, engorda, engorda e emagrece (p.51).
Ele quase me beijou: foram-se embora, e espero que não voltem, dois quilos e trezentos gramas (p. 45).
proporcionais ao desgosto que oferecem. Nos provadores, às ocultas, mulheres aos gemidos e suor tentam espremer seus babados em panos de corte reto, disfarçando a flacidez nas cores neutras (p.17).
Emagreci bastante, já se nota, Ricardo comentou o fato duas vezes no mesmo dia. Fui testar e comprovei que muitas outras roupas, além da calça em que já havia entrado, voltaram caber em mim. No entanto, estou longe, e sempre estarei, de ser uma pinup (p. 134).
[...]Os outros passam também a ser aqueles que em aviões e ônibus não incomodam seus vizinhos de assento com excessos esparramados. E que não chamam a atenção de imediato em qualquer lugar onde entrem. Um gordo nunca é discreto. Nunca (p. 133).
Enquanto minhas colegas frequentava, lojas e butiques nas quais se vendiam roupas para meninas-moças, enquanto elas andavam de shorts e minissaias, enquanto se metiam em blusas muito justas que ostentavam as novas formas femininas, eu me contentava em cinzentas lojas de confecções para senhoras, nas quais conseguia vestidões, saiões e camisões, tudo o que merecesse superlativos (p.37).
[...] Escorando-se na porta e no teto, lenta e exausta, titia sentou-se aos pouquinhos. Bem aos pouquinhos (p.192).
[...] – Há quem viva para comer. Aprendam que se deve comer para viver. Não era mera frase de efeito, a gravidade com que papai a pronunciou estava no lugar devido e adequado. Havia uma medida nas coisas e devíamos aprendê-la. As coisas todas têm um método. Até a gordura (p.219).
---
[...] me espremo dentro daquele delírio do fabricante de roupas esportivas, jogo uma toalha ao ombro e me dou ao desfrute de levantar pesos, espichar todos os músculos em alongamentos, suar em bicas nas aulas de aeróbica, que não são
[...] me recuso ao espetáculo decadente. Faço de conta que o reflexo dos espelhos é um espectro transitório. Daquele diabo inchado que mora dentro de mim. Odeio esse demônio. (p. 141).
Carnes, eu as cozinho no forno ou na frigideira, com pouquíssima gordura [...] (p.44).
Maika’le está tão gorda que nem consegue caminhar direito (p.194).
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34
as mais recomendadas para meu caso – isso quando não caminho na esteira, olhando para uma parede branca ou para uma televisão que não tem boa sintonia, sempre com o sentimento de ir tanto para lugar nenhum (p. 138).
Os magros talvez nem saibam como ofendem e afrontam o próximo (p.189).
O ruim é que a gordura nubla qualquer senso de humor (p. 148).
Um calça que não me servia já há algum tempo voltou a meu corpo. Antes, para vesti-la, tinha de me deitar na cama e, chupando a barriga, unir aquelas duas coisas que pareciam feitas para nunca se encontrar: o botão e sua casa. Outra mágica: os engates do zíper se entregaram uns aos outros com docilidade. Me animei à verificação de peso. No consultório, tirei os sapatos, os brincos, esvaziei o ar dos pulmões. Perda de dois quilos. Cravados(p. 84).
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Aquela dieta, a primeira da minha vida, marcou a enorme diferença entre nós, as duas. A partir dali, eu pertencia ao outro time. A senhora, privilegiada pela natureza, apesar de comer o que bem
A gordura, esses excessos que ficam tão bem nas plantas mas que. Num humano, tanto deformam e alteram o ânimo. Nossa família, mamãe, um clã de obesos (p.176).
O médico me cumprimentou e quis saber das minhas refeições livres, aquelas a que eu tinha direito. Contei a ele da peripécia na cantina e que estava evitando comer feito um boi uma vez por semana. Ele não gostou. Foi taxativo ao afirmar que a tal refeição ainda ia me fazer falta. E que eu não precisava comer feito
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quisesse, era magra de dar raiva (p.206).
um boi – aliás, comer feito um boi não era nada saudável. Liberdade vigiada (p.103-104).
Livre do químicos, cresci ora bulímica, ora anoréxica, em tempos que bulimia e anorexia eram neologismo de uso alheio (p.208).
Medo da comida, sempre, e sempre em pânico diante de tudo que fosse branco ou de cor clara: massas, pães, arroz, batata, gordura (p.208).
[...] restrições à mesa matam uma pessoa mais depressa do que a doença, tenho certeza (p. 124).
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Com a gordura, o ato de ensaboar as costas ou de enxuga-las é uma performance desagradável. O médico me sugeriu que usasse o secador de cabelo para eliminar vestígios de umidade naqueles lugares – as palavras são dele – em que houvesse “dobrinhas”. Eis aí, agora tenho dobrinhas (p . 125).
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Uma enorme vontade de comer uma daquelas refeições de estivador: arroz, feijão, ovo frito, massa, bife na chapa, purê de batatas, salada de tomate e cebola. Tudo num único prato fundo e transbordante. Para beber, uma daquelas cervejas pretas, docinhas, das quais se dizia que eram boas para mulheres que amamentavam. Sobremesa: pudim de leite. Só vontade. Um delírio (p. 125-126).
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Roupa em tamanho especial é o mais duro golpe na autoestima de uma pessoa. Não significa apenas se está condenado a roupas
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horrorosas e caríssimas. Significa que a criatura obesa, além de excluída das medidas normais, passará a frequentar verdadeiras confrarias da adiposidade – muito distante daqueles lugares nos quais os outros se abastecem. (p. 133).
[...] No total, a perda havia sido de exatos onze quilos e quinhentos gramas [...] O médico me deu parabéns [...] Ele me disse que, mais do que a refeição livre, era importante fazer exercícios
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A última frase de papai, antes de avistarmos o carro-guincho do Touring chegando, foi: - Vocês vão fazer dieta. E vai ser para toda vida. Aquela frase foi uma profecia (p.204).
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[...] além de toneladas de verduras, frutas e carnes, das quais se deveria retirar toda a gordura (p.205).
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Como odiei aquela médico e como odiei aquele senhorita. Com meus renovados protestos, prescreveu Moderex, que ia me tirar a fome (p.205)
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Emagreci depois que entrou em cena aquela médica amalucada que, além de uma tabela de calorias, impunha a seus pacientes remédios aviados, com calmantes, excitantes, laxantes, diuréticos e hormônios (p.208).
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Medo da comida, sempre, e sempre em pânico diante de tudo o que fosse branco ou de cor clara: massas, pães, arroz, batata, gordura. Por uns quinze anos, comi alface, agrião, rúcula, repolho, couve, acelga; carne, às vezes, porções pequenas, quase insossas, que eu engolia sem mastigar (p. 208-209).
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O médico me propôs que daqui por diante, à cada refeição, eu diminua três garfadas. Nem dá trabalho, ele apelou, só três bocadinhos de cada vez (p.231).
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ANEXO
Diretrizes para Autores
Interface - Comunicação, Saúde, Educação aceita colaborações
em português, espanhol e inglês para todas as seções. Apenas trabalhos
inéditos serão submetidos à avaliação. Não serão aceitas para submissão
traduções de textos publicados em outra língua.
Os originais devem ser digitados em Word ou RTF, fonte Arial 12, respeitando
o número máximo de palavras definido por seção da revista. Todos os originais
submetidos à publicação devem dispor de resumo e palavras-chave alusivas à
temática (com exceção das seções Livros, Criação, Notas breves e Cartas).
Da folha de rosto devem constar título (em português, espanhol e inglês) e
dados dos autores com as informações na seguinte ordem:
Autor principal: vínculo institucional - Departamento, Unidade, Universidade
(apenas um, por extenso). Endereço completo para correspondência, telefones
de contato, e-mail.
Co-autores: vínculo institucional - Departamento, Unidade, Universidade
(apenas um, por extenso). Email.
Observação: não havendo vínculo institucional, informar a atividade
profissional. A titulação dos autores não deve ser informada.
A indicação dos nomes dos autores logo abaixo do título é limitada a oito.
Acima deste número serão listados no rodapé da página.
Da folha de rosto também devem constar as respostas às seguintes perguntas:
1 No que seu texto acrescenta em relação ao já publicado na literatura nacional
e internacional;
2 Caso o seu manuscrito se utilize de dados, que no todo ou em parte
subsidiaram outras publicações de artigos e/ou capítulos de livros, liste tais
publicações e informe no que o presente texto difere das demais;
3 A seu critério, indique dois ou três avaliadores (do país ou exterior) que
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possam atuar no julgamento de seu trabalho. Caso julgue necessário informe
sobre pesquisadores com os quais possa haver conflitos de interesse com seu
artigo.
Em nota de rodapé, na folha de rosto, o (s) autor (es)deve (m) explicitar se o
texto é inédito, se foi financiado, se é resultado de dissertação de mestrado ou
tese de doutorado, se há conflitos de interesse e, em caso de pesquisa com
seres humanos, se foi aprovada por Comitê de Ética da área, indicando o
número do processo e a instituição.
Em artigo com dois autores ou mais devem ser especificadas também em nota
de rodapé, na folha de rosto, as responsabilidades individuais de todos os
autores na preparação do mesmo, de acordo com um dos modelos a seguir:
Modelo 1: “Os autores trabalharam juntos em todas as etapas de produção do
manuscrito.”
Modelo 2: “Autor X responsabilizou-se por…; Autor Y responsabilizou-se por…;
Autor Z responsabilizou-se por…, etc. “
Da primeira página devem constar (em português, espanhol e inglês): título,
resumo (até 150 palavras) e no máximo cinco palavras-chave.
Observação: na contagem de palavras do resumo, excluem-se título e
palavras-chave.
Notas de rodapé - numeradas, sucintas, usadas somente quando necessário,
indicadas no final da página em que foram inseridas.
CITAÇÕES NO TEXTO
No texto, as citações devem subordinar-se à forma Autor (apenas a primeira
letra do sobrenome em maiúscula – mesmo quando estiver entre parênteses),
data, página. Ex.:
“...e criar as condições para a construção de conhecimentos de forma
colaborativa (Kenski, 2001, p. 31).
Casos específicos:
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a Citações literais de até três linhas: entre aspas, sem destaque em itálico
(Autor, data, p.xx sem espaço entre o ponto e o número). Ponto final depois
dos parênteses.
b Citações literais de mais de três linhas: em parágrafo destacado do texto (um
enter antes e um depois), com 4 cm de recuo à esquerda, em espaço simples,
fonte menor que a utilizada no texto, sem aspas, sem itálico, terminando na
margem direita do texto. Em seguida, entre parênteses: (Sobrenome do autor,
data, página), seguido de ponto final.
Observação: em citações, os parênteses só aparecem para indicar a autoria.
Para indicar fragmento de citação utilizar colchete:
[...] encontramos algumas falhas no sistema [...] quando relemos o manuscrito
mas nada podia ser feito [...]. (Fulano, Sicrano, 2008, p.56).
c Vários autores citados em seqüência: do mais recente para o mais antigo,
separados por ponto e vírgula: (Pedra, 1997; Torres, 1995; Saviani, 1994).
d Textos com dois autores: Almeida e Binder, 2004 (no corpo do texto);
Almeida, Binder, 2004 (dentro dos parênteses).
e Textos com três autores: Levanthal, Singer e Jones (no corpo do texto);
Levanthal, Singer, Jones (dentro dos parênteses).
f Textos com mais de três autores: Guérin et al., 2004 (dentro e fora dos
parênteses).
g Documentos do mesmo autor publicados no mesmo ano: acrescentar letras
minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espaçamento (Campos,
1987a, 1987b).
REFERÊNCIAS
Todos os autores citados no texto devem constar das referências listadas ao
final do manuscrito, em ordem alfabética, seguindo normas adaptadas da
41
ABNT (NBR 6023/2002).
Exemplos:
Obs.: Por limitações do sistema não é possível apresentar o texto com o
negrito nos títulos das referências, nos exemlos listados).
LIVROS:
FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos.
São Paulo: Ed. Unesp, 2000.
* Título sempre destacado em negrito; sub-título, não).
** Sem indicação do número de páginas do livro.
***A segunda e demais referências de um mesmo autor (ou autores) deve ser
substituída por um traço sublinear (seis espaços) e ponto, sempre da mais
recente para a mais antiga. Se mudar de página, é preciso repetir o nome do
autor. Se for o mesmo autor, mas com colaboradores, não vale o travessão.
Ex.:
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
27. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003 (Coleção Leitura).
______. Extensão ou comunicação? 10.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
*** Dois ou três autores, separar com ponto e vírgula; mais de três autores,
indicar o primeiro autor, acrescentando-se a expressão et al. Ex.:
CUNHA, M.I.; LEITE, D.B.C. Decisões pedagógicas e estruturas de poder na
Universidade. Campinas: Papirus, 1996 (Magistério: Formação e Trabalho
Pedagógico).
FREIRE, M. et al. (Orgs.). Avaliação e planejamento: a prática educativa em
questão. Instrumentos metodológicos II. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1997
(Seminários.)
42
CAPÍTULO DE LIVRO:
QUÉAU, P. O tempo do virtual. In: PARENTE, A. (Org.). Imagem máquina: a
era das tecnologias do virtual. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1996. p.91-9.
*Apenas o título do livro é destacado, em negrito.
** É obrigatório indicar, ao final, a página inicial e final do capítulo citado.
Regras específicas
1 Autor do livro igual ao autor do capítulo:
HARTZ, Z.M.A. Explorando novos caminhos na pesquisa avaliativa das ações
de saúde. In: ______ (Org.). Avaliação em saúde: dos modelos conceituais à
pratica na análise da implantação dos programas. Rio de Janeiro: Fiocruz,
1997. p.19-28.
2 Autor do livro diferente do autor do capítulo:
VALLA, V.V.; GUIMARÃES, M.B.; LACERDA, A. Religiosidade, apoio social e
cuidado integral à saúde: uma proposta de investigação voltada para as
classes populares. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. (Orgs.). Cuidado: as
fronteiras da integralidade. Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 2004. p.103-18.
3 Autor é uma entidade:
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros curriculares nacio¬nais: meio ambiente e saúde.
3.ed. Brasília: SEF, 2001.
4 Séries e coleções:
MIGLIORI, R. Paradigmas e educação. São Paulo: Aquariana, 1993. 20p.
(Visão do futuro, v.1).
ARTIGOS EM PERIÓDICOS:
PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Rev.
Saúde Pública, v.35, n.1, p.103-9, 2001.
* Apenas o título do periódico é destacado, em negrito.
** Sem indicação da cidade de publicação do periódico.
***É obrigatório indicar, após o volume e o número, as páginas em que o artigo
foi publicado.
TESES E DISSERTAÇÕES:
IYDA, M. Mudanças nas relações de produção e migração: o caso de Botucatu
e São Manuel. 1979. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Saúde Pública,
Universidade de São Paulo, São Paulo. 1979.
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* Sem indicação do número de páginas.
** Título da tese/dissertação destacado, em negrito.
RESUMOS EM ANAIS DE EVENTOS:
PAIM, J.S. O SUS no ensino médico: retórica ou realidade. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO MÉDICA, 33., 1995, São Paulo. Anais... São
Paulo, 1995. p.5.
* palavra Anais destacada, em negrito.
**Quando o trabalho for consultado on-line, mencionar o endereço eletrônico:
Disponível em:<...>. Acesso em (dia, mês, ano).
***Quando o trabalho for consultado em material impresso, colocar página
inicial e final.
DOCUMENTOS ELETRÔNICOS:
WAGNER, C.D.; PERSSON, P.B. Chaos in cardiovascular system: an update.
Cardiovasc. Res., v.40, p.257-64, 1998. Disponível em: . Acesso em: 20 jun.
1999.
* Título do trabalho destacado, em negrito.
** Os autores devem verificar se os endereços eletrônicos (URL) citados no
texto ainda estão ativos.
Observação: se a referência incluir o DOI, este deve ser mantido. Só neste
caso (quando a citação for tirada do SciElO, sempre vem o Doi junto; em outros
casos, nem sempre).
ILUSTRAÇÕES:
Imagens, figuras ou desenhos devem estar em formato tiff ou jpeg, com
resolução mínima de 200 dpi, tamanho máximo 16 x 20 cm, em tons de cinza,
com legenda e fonte arial 9. Tabelas e gráficos torre podem ser produzidos em
Word ou Excel. Outros tipos de gráficos (pizza, evolução...) devem ser
produzidos em programa de imagem (photoshop ou corel draw). Todas as
ilustrações devem estar em arquivos separados e serão inseridas no sistema
como documentos suplementares, com respectivas legendas e numeração. No
texto deve haver indicação do local de inserção inserindo-se, também, o texto
referente a cada uma delas.
As submissões devem ser realizadas on-line no endereço:
http://submission.scielo.br/index.php/icse/login
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ANÁLISE E APROVAÇÃO DOS ORIGINAIS
Todo texto enviado para publicação será submetido a uma pré-avaliação inicial,
pelo Corpo Editorial. Uma vez aprovado, será encaminhado à revisão por pares
(no mínimo dois relatores). O material será devolvido ao (s) autor (es) caso os
relatores sugiram mudanças e/ou correções. Em caso de divergência de
pareceres, o texto será encaminhado a um terceiro relator, para arbitragem. A
decisão final sobre o mérito do trabalho é de responsabilidade do Corpo
Editorial (editores e editores associados).
A publicação do trabalho implica a cessão integral dos direitos autorais à
Interface - Comunicação, Saúde, Educação. Não é permitida a reprodução
parcial ou total de artigos e matérias publicadas, sem a prévia autorização dos
editores.
Os textos são de responsabilidade dos autores, não coincidindo,
necessariamente, com o ponto de vista dos editores e do Conselho Editorial da
revista.