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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO POR QUE SOU GORDA, MAMÃE? MARCAS DA SOCIEDADE LIPÓFOBA EM CÍNTIA MOSCOVICH VIRGINIA WILLIANE DE LIMA MOTTA NATAL RN 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

POR QUE SOU GORDA, MAMÃE?

MARCAS DA SOCIEDADE LIPÓFOBA EM CÍNTIA

MOSCOVICH

VIRGINIA WILLIANE DE LIMA MOTTA

NATAL – RN

2012

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VIRGINIA WILLIANE DE LIMA MOTTA

POR QUE SOU GORDA, MAMÃE?

MARCAS DA SOCIEDADE LIPÓFOBA EM CÍNTIA

MOSCOVICH

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para obtenção do grau de Nutricionista.

Orientadora: Profª. Michelle Cristine Medeiros da Silva

Co-Orientador: Prof. Dr. Alexsandro Galeno Araújo Dantas

NATAL-RN

2012

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VIRGINIA WILLIANE DE LIMA MOTTA

POR QUE SOU GORDA, MAMÃE?

MARCAS DA SOCIEDADE LIPÓFOBA EM CÍNTIA

MOSCOVICH

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do

grau de Nutricionista.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________________ Profa. Michelle Cristine Medeiros da Silva

Orientadora

__________________________________________________________ Prof. Dr. Alexsandro Galeno Araújo Dantas

Co-orientador

_____________________________________________________________ Profa. Ms. Ingrid Wilza Leal Bezerra

3º Membro

Natal, 12 de junho de 2012.

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À minha avó Rita, grande mulher,

alma altruísta, são tuas minhas

vitórias, em ti tenho a eterna fonte de

minha inspiração.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, porque “em Cristo sempre me conduz em

triunfo’’.

À minha família, pelo apoio, confiança e credibilidade que

sempre me foram doados com tanto afeto.

À minha mãe, em especial, por me estimular na busca

pelo conhecimento e por lutar para que eu tivesse acesso

às oportunidades que lhe foram negadas. Fica registrada

a minha eterna gratidão.

Ao meu irmão e ao meu pai, pelo incondicional suporte e

torcida.

Aos amigos, fisicamente próximos ou distantes, pelo

apoio, e principalmente pelas palavras de incentivo, vocês

são um dos pilares do meu alicerce.

À professora Vera, credito a ti grande importância na

minha formação enquanto profissional e ser humano.

Acredito que encontros como estes estão predestinados,

obrigada por me fazer reafirmar essa arte que me

transborda, em um local que juguei que iria perdê-la, a

Universidade. Obrigada por me mostrar a importância de

pensar qualitativamente.

À professora Michelle, estudante dedicada e sempre

ávida pelo saber, orientadora amiga e paciente, a quem

credito toda sensibilidade desse trabalho. Cheguei com a

certeza de que muito pouco sabia, saio com a certeza que

há muito mais a conhecer, devo a você uma parte do

pouco que hoje sei, muito obrigada.

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A sociedade cria os obesos e não os tolera

Jean Trémolieres.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................. 7

POR QUE SOU GORDA, MAMÃE? MARCAS DA SOCIEDADE LIPÓFOBA

EM CÍNTIA MOSCOVICH .................................................................................. 8

ANEXO............................................................................................................. 38

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APRESENTAÇÃO

A ideia inicial deste trabalho nasceu após uma aula de

Antropometria e Composição Corporal I, na qual a temática da Imagem

Corporal foi abordada, surgiu então o interesse de estudar com mais afinco

como se dão as relações entre a sociedade e seus corpos, a visão que têm de

si e do outro.

A escolha do tema como trabalho de conclusão de curso deve-se

a minha crença em um profissional nutricionista mais humano, que não impõe

ao corpo uma visão mecanicista, um profissional que busca entender a relação

de seus pacientes com seus corpos, atuando de forma a não só propiciar uma

dietética mais saudável, possibilitando alcançar seus objetivos nutricionais,

mas também de forma a entender que independente do peso dessas pessoas,

elas possuem uma identidade. Identidade, essa, que parece ser perdida ou

achada em quilos a mais ou menos, apegada a números que determinam que

lugar essa pessoa ocupará perante uma sociedade intitulada lipófoba.

A decisão de utilizar a literatura deveu-se ao fato de acreditar que

os saberes são indissociáveis, sendo a literatura feita pela sociedade e para a

sociedade, de forma que se retroalimentam, portanto, de certa maneira,

expressa em si as marcas de nossa sociedade.

A Revista Interface - Comunicação, Saúde, Educação foi

escolhida por ser uma publicação direcionada para a Educação e a

Comunicação nas práticas de saúde, a formação de profissionais de saúde

(universitária e continuada) e a Saúde Coletiva em sua articulação com a

Filosofia, as Ciências Sociais e Humanas. Tendo uma ênfase na pesquisa

qualitativa.

Os achados desta pesquisa encontram-se descritos a seguir.

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Por que sou gorda, mamãe?

Marcas da Sociedade Lipófoba em Cíntia Moscovich

Why am I fat, mom? Brands of Lipophobic Society in Cíntia Moscovich

¿Por qué soy gorda, mamá? Marcas de la Sociedad Lipófoba en Cíntia Moscovich

Resumo

Perceber o corpo em sua totalidade, compreendendo sua

dimensão simbólica, e, principalmente, vendo um individuo em seu corpo, e

não o corpo que carrega um indivíduo, é o grande desafio das ciências da

saúde. Buscou-se, portanto, desenvolver um trabalho multirreferencial. A obra

literária escolhida foi Por que sou gorda, mamãe? Uma das características

marcantes que definem a sociedade contemporânea é o desejo de um corpo

absolutamente livre de qualquer marca da adiposidade, sendo essa uma das

marcas da sociedade lipófoba, assim como a valorização do

movimento/velocidade, onde o discurso sobre saúde e obesidade centrado

numa responsabilidade individual, obsessão pela magreza, a última marca dá

conta que a lipofobia é centrada na medicina, moda e aparência corporal,

cozinha e alimentação cotidiana. Acredita-se que a compreensão da relação

entre sociedade e corpo, é de suma importância para o entendimento do

estado do paciente, nesse caso do paciente obeso, favorecendo a atuação do

profissional nutricionista

Palavras-chave: lipofobia, literatura, obesidade, imagem corporal

Abstract

Realizing that the body in its entirety, including its symbolic dimension, and

especially seeing a person in your body, not the body that carries a person, is

the great challenge of the health sciences. Sought therefore to develop a work

of nature multireferential. The literary book chosen was Por que sou gorda,

mamãe? (Why am I fat, mom?). One of the hallmarks that defines contemporary

society is the desire for a body to be absolutely fat-free, this being one of the

finds, as well as the enhancement of speed a speech about obesity and health

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centred on individual responsibility, obsession with thinness, the last found

gives the account that lipophobic is focused on medicine, fashion and body

appearance, kitchen and daily diet. It is believed that the understanding of the

relationship between society and the body is critical to understanding the

patient's State. In this case of patient overweight, favoring the professional role

of the nutritionist

Keywords: lipophobic, literature, obesity, body image

Resumen

Percibir el cuerpo en su totalidad, incluyendo su dimensión simbólica y sobre

todo viendo a un individuo en su cuerpo, no el cuerpo que lleva a un individuo,

es el gran desafío de las Ciencias de la salud. Por lo tanto, se ha buscado

desarrollar un trabajo de carácter multirreferencial. La obra literaria elegida fue

Por que sou gorda, mamãe? (¿Por qué soy gorda, mamá?) Una de las

características que define a la sociedad contemporánea es el deseo de un

cuerpo absolutamente libre de cualquier marca de grasa, siendo este uno de

los resultados, así como la apreciación de la velocidad, un discurso sobre la

obesidad y salud centrado en una responsabilidad individual, obsesión con la

delgadez, el último resultado trata de que la lipofobia se centra en el aspecto de

la medicina, la moda y el cuerpo, cocina y comida cotidiana. Se cree que la

comprensión de la relación entre la sociedad y el cuerpo, es fundamental para

el entendimiento del estado del paciente, en este caso del paciente obeso,

favoreciendo la actuación del profesional nutricionista

Palabras llave: lipofobia, literatura, obesidad, imagen corporal

Introdução

O corpo - carne e osso, fibras e líquidos - parte mais palpável da

existência humana, que pode ser sentido, visto e ferido, é o mesmo corpo que

abriga a complexidade dos seus mais variados significados. Esse corpo

metricamente modelado por dietas, exercício físico e até intervenções

cirúrgicas, figura-se como pertencente de maneira indissociável, não apenas ao

indivíduo, mas também à sociedade (Novaes, 2006, p.15).

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Perceber esse corpo em sua totalidade, compreendendo sua

dimensão simbólica, e, principalmente, vendo um individuo em seu corpo, e

não o corpo que carrega um indivíduo, é o grande desafio das ciências da

saúde. A nutrição por muitos anos regrada apenas pelo pensamento cientifico

reducionista - aquele que vê os corpos como verdadeiras máquinas – não

permitia essa percepção multidimensional de seus significados. No entanto,

visto que os hábitos alimentares são construídos, principalmente, de maneira

simbólica, cabe ao profissional da nutrição a delicadeza de desenvolver um

olhar polissêmico para os problemas que esse corpo abriga, sejam físicos e/ou

psicológicos.

Mesmo após décadas de conselhos médicos e estéticos, visando

saúde e/ou boa forma, por exemplo, grande parte da população do mundo

ocidental moderno aprecia alimentos gordurosos, bem como os açúcares

refinados. O que se agrava ainda mais quando se tem uma super-oferta de tais

alimentos (e de todos os outros), sem que se tenha aprendido a controlar sua

ingestão. Uma das consequências desse consumo exacerbado é a obesidade,

atualmente, é um dos mais graves problemas de saúde pública no mundo, e

está avançando de forma rápida e progressiva, sem diferenciar raça, sexo,

idade ou nível social. (Outram, 2009, p.43; Repetto, Rizzolli, Bonatt, 2003,

p.633).

De que forma o profissional da nutrição pode atuar no tratamento

da obesidade? Qual a melhor conduta? Como obter resultados satisfatórios?

Com a obviedade da não existência de respostas prontas, cabe a esses

profissionais desenvolverem sua capacidade de entender seus pacientes em

sua multidimensionalidade, pois “uma inteligência incapaz de perceber o

contexto e o complexo planetário, fica cega, inconsciente e irresponsável’’

(Morin, 2003, p.15).

LITERATURA E CIÊNCIA: DUAS FACES DA MESMA MOEDA

Segundo Bauman (2007, p.7), vivemos em uma sociedade

líquido-moderna, essa sociedade caracteriza-se por sua fluidez e amorfismo. É

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preciso uma leveza em seus membros, pois esses estão sempre se

deslocando, como os líquidos não assumem uma forma própria, tudo muda

rapidamente nessa sociedade, não há tempo para consolidações.

É nessa sociedade que a obesidade emerge, a mesma sociedade

que rejeita os excessos do corpo obeso. Um paradoxo, já que a ideia da

gordura não complementa aquela da fluidez, necessária aos deslocamentos

rápidos e fugidios da sociedade líquido-moderna.

Perceber marcas dessa sociedade na literatura pode ser uma

forma de iluminar pontos cegos nesta temática de cunho bio-sócio-

antropológica. Arte e ciência são duas mãos na mesma via e complementam

nossa capacidade de descrever e entender a natureza (Araújo-Jorge, 2004, p.

46). Como Roland Barthes, acredita-se que “todas as ciências estão presentes

no monumento literário’’ (Barthes, 2007, p.17).

Buscou-se, portanto, desenvolver um trabalho de cunho

multirreferencial, guiado pela ideia de Morin (2003) de que em toda grande

obra, seja ela de literatura, de cinema, de poesia, de música, de pintura, de

escultura, existe um pensamento profundo sobre a condição humana, bem

como pelas reflexões de Claude Fischler (1995) acerca da sociedade lipófoba,

que é discutida em seu livro O Onívoro, no qual o autor propõe um estudo do

onívoro (eterno e moderno), de sua percepção e da evolução de suas

representações, numa perspectiva histórica.

Fischler (1995) define as sociedades modernas como lipófobas,

ou seja, odeiam a gordura. O autor destaca ao longo de seu texto marcas

dessa sociedade, sendo estas: obsessão pela magreza; rejeição a gordura e

obesidade/obesos; lipofobia centrada na medicina, moda e aparência corporal,

cozinha e alimentação cotidiana; o prezar movimento e velocidade; discurso

sobre saúde e obesidade centrado numa responsabilidade individual; cacofonia

alimentar.

Para buscar essas marcas, a obra literária escolhida foi Por que

sou gorda, mamãe? da autora Cíntia Moscovich. Para a escolha foi

considerado o fato de que autora compartilha com o leitor diversas realidades,

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deixando em sua obra prever algo de intrínseco à própria condição humana,

desejos e inseguranças, emoções e contradições. A autora é considerada um

nome expressivo da ficção brasileira contemporânea, estando sua produção

entre as de maior importância de sua geração (Silva, Santos, 2008), sendo

obra uma reinvenção da memória da família da personagem sendo contada

através da história de seu corpo.

Foi realizada uma leitura inicial para reconhecimento da obra e,

em seguida, uma leitura para uma interpretação mais abrangente, levando em

consideração os diversos fatores que estão diretamente ligados à obesidade,

sejam estes físicos, psicológicos e principalmente sociais. Nessa segunda

leitura identificou-se as marcas da sociedade lipófoba descritas por Fischler

(1995). Optou-se por descrever estes achados em um quadro para uma melhor

organização e visualização (Apêndice). O intuito final da pesquisa é perceber,

através da literatura, como os obesos vivem e são vistos nessa sociedade que

tem verdadeiro horror à gordura. Partiu-se da ideia de que os saberes são

indissociáveis, portanto literatura e sociedade são tidas como interligadas e se

retroalimentam. As palavras de Moscovich (2006) ratificam esse pensamento:

[...] Talvez por isso me tenha dedicado à ficção, que é a última possibilidade de juntar um fato a outro e tornar íntegro o partido e o falante. A ficção é cimento de unir as partes. De casar o avulso e desconexo. Cinza e poeira, a ficção talvez as transforme no sólido da pedra (Moscovich, 2006, p.18).

A segunda das quatro regras do Discurso do Método de Decartes

anuncia o princípio da divisão: para conhecer um objeto em sua totalidade

devemos proceder a sua redução em tantas parcelas quantas necessárias para

que possamos resolvê-las. Ao invés de ir das partes ao todo, Lévi-Strauss

(2005) apresenta a possibilidade de se percorrer o caminho inverso. O

conhecimento do todo precederá ao das partes, caso trabalhemos com o objeto

em escala reduzida. A arte trabalha em escala reduzida. Ela encontra-se entre

o conhecimento científico e o pensamento mítico, pois “o artista tem, ao mesmo

tempo, algo do cientista e do bricoleur: com meios artesanais, ele elabora um

objeto material que é também um objeto de conhecimento”. (Lévi-Strauss,

2005, p.38).

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Trabalhar por meio desses modelos reduzidos apresenta,

portanto, dois atributos: a possibilidade de observar a coisa sem fragmentá-la e

o fato de existir no modelo reduzido não uma simples cópia do objeto, falamos

antes de uma construção, uma produção do artista, que apreende em si um

modo de fabricação: uma linguagem, uma religião, um modo de operar

contratos matrimoniais e troca de bens, uma cozinha. A arte poderia então

atuar como estratégia que reaproximaria saberes, outrora distanciados, de

modo que permite enxergar os objetos com uma pretensa totalidade (Lévi-

Strauss, 2005, p.36-40).

Entender como se deu a fragmentação entre arte e ciência serve

como embasamento para se reafirmar a importância da união dos saberes.

Há muito a ciência reivindica autonomia em relação às

humanidades. Tal fragmentação, em termos institucionais, atingiu seu apogeu

nos séculos XVIII e XIX. A partir daí, a ciência ocidental teve seu

desenvolvimento com base na noção de especialidade, tornando-se cada vez

mais minimalista e com mais subdivisões (Filho, 2007, p.6).

Em sua obra As três culturas, Lepenies (1996) relata que a

chegada de Émile Durkheim à França, especificamente à Universidade de

Sorbonne, trouxe consequências trágicas para a fragmentação dos saberes

que já operava fortemente na história da ciência. Principalmente a partir do

século XVII, a literatura foi perdendo espaço na oferta de sentido e orientação

da civilização moderna e da realidade social, a ciência literária deveria passar

apenas a entender as obras em seus contextos históricos, ou seja, “o estudo

da história da literatura substituiria cada vez mais a própria leitura das obras

literárias’’ (Lepenies, 1996, p. 54-55).

Nas salas, antes destinadas à leitura literária, os fichários e as

fichas de arquivos é que ganhavam destaque, os estudantes não mais liam os

clássicos literários, “mas apenas os catálogos críticos de fontes, edições e

comentários sobre eles’’, cabendo à literatura apenas a função de exercitar a

memória. O supercientificismo era tamanho que essas salas de leitura

ganharam o título de laboratório (Lepenies, 1996, p. 56).

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Antigamente havia na Sorbonne uma sala na qual os estudantes podiam ler os clássicos, cujas obras estavam entre as leituras obrigatórias. Essa sala era chamada de étude: “Hoje, porém, um tal nome humilde não mais exprime que dignos trabalhos são realizados nessa sala. Hoje ela se chama laboratoire de philologie française’’(Lepenies, 1996, p. 55-56).

Essa divisão dos saberes impossibilita a compreensão do

complexo, “atrofia as possibilidades de compreensão e de reflexão’’, o que dá à

sociedade atual a incapacidade de resolução de problemas à medida que estes

aumentam sua abrangência, pois essa sociedade é incapaz de pensar em sua

multidimensionalidade (Morin, 2003, p.14-15).

Segundo Lepenies (1996), De Bonald vê na acentuação da

fragmentação entre literatura e ciências um sinal de modernidade, sendo, para

esse, um sinal de decadência (Lepenies, 1996, p.17-19). As palavras de De

Bonald não poderiam ser mais acertadas. É óbvia a importância do diálogo

entre os saberes.

Ainda assim, a relação entre sociedade e arte não se dá de

maneira tão simples, tendo em vista a cultura disciplinar, ainda hegemônica,

das formas de se fazer ciência na contemporaneidade. Tal qual a relação entre

corpo e sociedade.

Jamais o corpo foi tão interpretado, ele se tornou obra viva, não

falado, mas se tornou linguagem. O “corpo como objeto de arte” impele e

orienta uma grande quantidade de intenções e atos. O corpo torna-se então,

para a sociedade, um paradoxo, já que se projeta uma fascinação pelas

imagens corporais, mas ao mesmo tempo destaca-se a luta contra essas

imagens. Acredita-se que na arte encontram-se fabricadas nossas próprias

imagens (JEUDY, 2002, p. 17).

Nesse âmbito, a obesidade, como problema de saúde pública

aparece cedo na vida do brasileiro. Dados do Ministério da Saúde informam

que a população vem apresentando prevalência de excesso de peso. De

acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), de 2008 e 2009, a

população brasileira apresenta, já a partir de cinco anos de idade, uma grande

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frequência de excesso de peso e obesidade, em todas as regiões e grupos de

renda (Instituto brasileiro de geografia e estatística, 2010).

Segundo Pedraza (2004, p.4), no Brasil, parte da população

urbana do sul-sudeste encontra-se numa fase de mudanças comportamentais,

reduzindo gorduras, principalmente animal e aumentando o consumo de

carboidratos complexos, frutas e verduras, em busca de uma melhor qualidade

de vida. Esse é um comportamento fomentado por órgãos como a Organização

Mundial de Saúde (OMS) através da estratégia global (World Health

Organization, 2004) ou como no Brasil, o Ministério da Saúde, através do Guia

Alimentar para população brasileira (Brasil, 2005), já que principalmente após a

Revolução Tecnológica, que facilitou o acesso a alimentos industrializados,

percebeu-se um aumento no consumo de gorduras e de açúcares refinados. O

que vem a culminar com o aumento de obesidade, doenças cardiovasculares e

todas as outras doenças crônicas não-transmissíveis (Instituto brasileiro de

geografia e estatística, 2004).

Na constante contradição em que a sociedade atual se encontra,

o corpo usado é quem dita quem somos. Esse corpo-imagem que tornou-se

determinante da felicidade a partir do momento em que estremece a auto-

estima, é o mesmo corpo que assume o papel de mensagem e acaba por falar

pelos sujeitos. O peso do corpo assume um papel de destaque na vida das

pessoas que são estigmatizadas (Kehl, 2004, p.174-178). O que nos leva a um

questionamento: Afinal quanto pesa uma identidade?

[...] me recuso ao espetáculo decadente. Faço de conta que o reflexo dos espelhos é um espectro transitório. Daquele diabo inchado que mora dentro de mim. Odeio esse demônio. (Moscovich, 2006,p. 141).

Entendendo que a obesidade não deve ser compreendida apenas

como um excesso de peso, já que essa também abrange aspectos subjetivos,

e é passível de ser percebida, interpretada e influenciada pelo sistema social e

pela cultura, a percepção dessa enfermidade vai além do aspecto

epidemiológico e revela-se na vivência do corpo (Pinto, Bosi, 2009, p.443).

A partir dos resultados encontrados propôs-se um

aprofundamento nessa sociedade líquido-moderna, procurando conhecer como

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se dão as relações dessa com a alimentação e com o corpo, especificamente o

corpo obeso, de modo a compreender tamanha aversão à gordura, e discutindo

de que forma esse conhecimento pode auxiliar no tratamento de pacientes

obesos pelo profissional da nutrição.

MUITA GORDURA, POUCO SENSO: MARCAS DE UMA SOCIEDADE

LIPÓFOBA

Desde o século XIX, as sociedades burguesas consideraram o

corpo como propriedade privada, sendo esse de responsabilidade pessoal. O

corpo era o primeiro sinal - do homem sem antecedentes nobres – emitido para

mostrar quem esse homem em ascensão “é”, ou seja, a aparência substituiu o

“sangue” (Kehl, 2004, p.178). Segundo Novaes (2010):

Tal qual uma tela em branco, para determinados teóricos, amantes da arte, artistas performáticos e estudiosos sobre o tema, o corpo passa a ser encarado e compreendido como uma obra de arte. É nesse corpo, transformado em um registro vivo, que serão inscritos afetos, emoções, representações da história do sujeito, do seu tempo e também da sua dor, como no caso das tatuagens, branding, escarificações, suspensão etc (Novaes, 2010, p.407).

Em uma cultura na qual telas prevalecem em relações às

páginas, a imagem assume um papel importante. Diz-se que o sujeito

contemporâneo é por ela marcado e constituído. Esse sujeito líquido-moderno

é definido por sua fluidez, marcada pelos seus múltiplos afetos, seu

individualismo exacerbado pela sociedade de consumo e do espetáculo, bem

como suas relações transitórias e as suas identidades mutantes (Novaes, 2010,

p.407).

Não se pode pensar o corpo isoladamente, é fundamental

considerar o contexto no qual ele está inserido. Corpo e sociedade não podem

ser compreendidos separadamente, mas em convergência. O século XXI é

palco de diversas transformações decorrentes de novos valores, a tecnologia

com base na informação e na ciência modificou o modo de pensar, produzir,

consumir e comunicar alterando assim o modo de vida. As mudanças no plano

sociopolítico, econômicas, e nos modos de subjetivação parecem refletir

também no imaginário sobre o corpo (Maroun, Vieira, 2008, p.173).

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O corpo, palco privilegiado de encenações, espelha e ao mesmo

tempo, se constitui na cultura. O corpo é a vestimenta, roupa, por isso deve cair

perfeitamente, sendo passível de retoques, caso necessário (Novaes, 2010,

p.407).

Segundo Fischler (1995) uma das características marcantes que

define a sociedade contemporânea é o desejo de um corpo absolutamente livre

de qualquer marca da adiposidade, sendo essa uma das marcas da sociedade

liquido-moderna. Para essa sociedade apenas o músculo é nobre, as

sociedades modernas tornaram-se aversivas à gordura.

Numa academia de ginástica não há gordos [...]. Constranjo-me diante deles, recuso-me a frequentar vestiários e duchas. Ao contrário, enfio-me dentro de camisetas extragrandes que vão do pescoço aos quadris (Moscovich, 2006, p.141).

A informação nessa sociedade dá-se de forma a poupar o

receptor do trabalho de pensar, de processar as informações recebidas. “O

mundo em flashes é facilmente deglutível, minimizando-se, assim, a

possibilidade de apropriação crítica e seletiva do conteúdo veiculado” (Novaes,

2006, p.79). É nesse ambiente que surgem os excessos, de informação, de

seletividade dessas informações e consequente excessos do corpo, por

dificuldade de seleção dos discursos que regem esse.

Do drama da alienação ao êxtase da informação

O início do século XXI trouxe consigo algumas características

marcantes, tais como a globalização e o surgimento de uma sociedade que

convencionou-se chamar sociedade do conhecimento (Titão, Viapiana, 2008,

p.26).

A sociedade líquido moderna é calcada em uma natureza

contraditória e fluida, na qual o mundo se apresenta em metamorfoses, sendo

marcada pelos fluxos de tecnologia, informação e conhecimento, que se

encontram controlados pela fluidez, flexibilidade, mobilidade, fragmentação e

heterogeneidade (Bauman, 2007, p.7). A informação nessa sociedade

apresenta-se em dimensões e significados que são modificados e se

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fragmentam numa pluralidade de possibilidades, de forma a colocar seus

membros na condição de "incapazes de reduzir o ritmo espantoso da mudança,

muito menos prever e controlar sua direção" (Bauman, 2007, p.91-92).

Com a alimentação não poderia ser diferente, o discurso que gira

em torno dessa atualmente é composto por informações que mudam antes que

a informação anterior possa ser fixada, sendo essa a característica mais

marcante da sociedade líquido-moderna. Resta, portanto, a dúvida: “Afinal, o

que escolher?” Recorrendo ao conceito durkheimiano de anomia1, Claude

Fischler (1995) apresentou o neologismo gastro-anomia, a ausência de regras

na alimentação.

A industrialização dos alimentos possibilitou uma maior

diversidade de produtos a serem ofertados para os consumidores. Essa

diversidade alimentar permitiu dinamicidade ao ato de se alimentar, sendo

possível ter uma alimentação variada e balanceada, já que essa diversidade

parece proporcionar uma alimentação mais saudável, reduzindo assim

enfermidades (Hernández, Arnáiz, 2005, p.441).

Para Fischler (1995) essa liberdade de escolha a qual o

consumidor está submetido leva-o a um processo de dúvidas. Apesar do hábito

alimentar receber influência do ambiente, situação socioeconômica e cultura do

indivíduo, essa escolha tem embasamento em informações que para este

consumidor tem uma grande confiabilidade. Precisamente aí se concentra o

grande dilema do consumidor contemporâneo, a falta de informações

consistentes ou coerentes, pois seja no discurso médico ou na mídia o que se

encontra são incertezas, ou até mesmo informações contraditórias, a palavra

de ordem é tão fugaz que acaba gerando um certo caos, uma verdadeira

cacofonia alimentar (Fischler, 1995, p.195). As informações são variadas e

opositoras. Tolhida pela dúvida essa sociedade moderna então é definida por

Fischler (1995) como gastro-anômica, ou seja, no que se refere a alimentação,

é “sem lei ou com normas desestruturadas ou em degradação” (Hernández,

Arnáiz, 2005, p.444; Fischler, 1995, p.315-316).

1 O termo “anomia” é empregado por Durkheim caracteriza-se como “o estado de desregramento’’ no qual as paixões são ameaçadoras da ordem (Durkheim, 2000, p. 322).

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Baudrillard (1996) cita uma obesidade secundária ou de

simulação, que é aquela, que, assim como os sistemas atuais, engordam de

tanta informação. Esta obesidade é bem característica da sociedade da

modernidade operacional, na qual se anseia por estocar e memorizar tudo, a

ponto de chegar aos limites da informação, instaurando simultaneamente uma

potencialidade monstruosa, mas que não é mais possível por em ação.

(Baudrillard, 1996, p.25).

A obesidade carrega consigo uma lentidão que permite

visibilidades, e na sociedade líquido-moderna as coisas acontecem muito

rapidamente, valoriza-se a velocidade.

Em meados do século XIX a velocidade aparece nos esportes,

trazendo consigo uma valorização da linha reta, pistas para veículos em alta

velocidade, por exemplo, que têm sempre o mínimo de curvas, obstáculos e

interferências possíveis, quanto mais reta, mais favorável a velocidade. As

imagens são a forma mais eficaz de compartilhar conhecimento, devendo se

adequar à demanda de rapidez e imediatitude, por isso a superfície lisa

encontra no corpo um local no qual rugas, dobras e saliências são evitadas

pelo olhar. Assim, a gordura não é bonita aos olhos, os obesos são verdadeiros

obstáculos para essa sociedade que rejeita o que o peso corporal traz, a

sociedade da velocidade não tem lugar para os lentos. A gordura, portanto, é

relacionada à lentidão, à presença, ao olhar lento, que não economiza,

resumindo, ao corpo presente; enquanto que a magreza, veste-se de uma

velocidade, captada por um olhar rápido, ágil, “o corpo gordo é um corpo de

olhar mediado e não imediato” (Almeida, 2009, p.3; Novaes, 2006, p.79). Os

obesos caíram do barco ou simplesmente não conseguiram acompanhar sua

velocidade (Bauman, 2007, p.133), essa valorização da velocidade constitui-se

em uma outra marca da sociedade lipófoba.

Vinte e dois quilos pesam muito mais do que parece, tornei-me lenta, cansada, arisca. Triste, muito, e muito melancólica. Lenta e cansada como minhas tias, irmãs de papai, triste como Vovó Magra, melancólica como Vovó Gorda. Arisca como minha mãe. Minha alma decerto se mostra no corpo, esse confortável corpo, que passou, por excesso, a ser tão incômodo. Um estorvo. Chegar ao peso adequado é penoso. A dor também pesa (Moscovich, 2006, p.17).

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A obesidade constitui-se em um obstáculo a ser superado,

problemas de má aparência e com a gordura são considerados como os piores

tipos de desleixos com o corpo, sendo estes uma transgressão moral. Portanto,

cabe ao indivíduo um esforço pessoal para alcançar essa beleza, e esse

esforço é puramente de sua responsabilidade. Dessa forma, os cuidados com o

físico exprimem uma forma de preparar-se para encarar os julgamentos e

expectativas sociais (Novaes, 2006, p.98-99). Apresentando-se como um

discurso sobre saúde e obesidade centrado numa responsabilidade individual,

outra marca.

[...] – Há quem viva para comer. Aprendam que se deve comer para viver. Não era mera frase de efeito, a gravidade com que papai a pronunciou estava no lugar devido e adequado. Havia uma medida nas coisas e devíamos aprendê-la. As coisas todas têm um método. Até a gordura (Moscovich, 2006, p.219).

Fischler (2002) apresentou uma classificação dos estereótipos

morais ligados aos obesos, o caráter ambíguo inferido à obesidade demonstra

o paradoxo residente na forma como a sociedade trata os obesos, que vagam

entre a amabilidade e o repúdio, transitando entre o bem e o mal.

Em pesquisa na França sobre a percepção da gordura masculina,

os resultados indicaram que aos obesos cabem uma dupla imagem. Se por um

lado era descritos como bons vivants, cabendo-lhes alegria, comicidade, o

gosto pela boa mesa, um bom convívio social, por outro a imagem negativa do

gordo era sentida, a jovialidade deste era suspeita de não ser mais que uma

fachada que utilizava para dissimular sofrimento ou tristeza (Fischler, 2002,

p.71). A esse último obeso cabe à culpa por tomar mais do que a parte que lhe

cabe, os gordos são gulosos e gula é um dos pecados capitais. A bíblia, o livro

sagrado do cristianismo, apresenta, no livro de Provérbios, capítulo 23 e

versículos um e dois, um bom exemplo disso: “Quando te assentares a comer

com um governador, atenta bem para o que é posto diante de ti, E se és

homem de grande apetite, põe uma faca à tua garganta”.

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Estranhamente a obesidade é um modo de desaparecimento do

corpo, no qual as formas são perdidas, a delimitação da área desse

desaparece. Como se o corpo quisesse digerir o espaço e não mais se opor ao

mundo exterior. (Baudrillard, 1996, p.25).

Minha alma decerto se mostra no corpo, esse confortável corpo, que passou, por excesso, a ser tão incômodo. Um estorvo. Chegar ao peso adequado é penoso (Moscovich, 2006,p.17).

Para atribuição de uma classificação negativa ou positiva ao

obeso é estabelecida uma relação entre os traços físicos e a imagem social

dessa pessoa, por exemplo, é aceitável um chefe de cozinha obeso, mas um

nutricionista obeso é intolerável. Deste modo “o que sabemos do gordo (por

exemplo, sua ocupação, sua imagem social), pode influenciar o que vemos de

sua própria obesidade”. Aos obesos malignos e benignos cabe o estigma

imposto por uma sociedade na qual a tolerância para gordura é drasticamente

reduzida, chegando essa gordura a ser enquadrada em forma de categoria de

exclusão. A magreza ganha destaque e uma supervalorização, – “os magros

talvez nem saibam como ofendem e afrontam o próximo” (Moscovich, 2006,

p.189) - pois no seu excesso de peso o obeso leva uma gordura carrega

estereótipos depreciativos (Novaes, 2006, p.118; Fischler, 1995, p.73). Essa

obsessão pela magreza vem a se apresentar como uma outra marca da

sociedade lipófoba

Gordos são pusilânimes. Gordos são suspeitos de ter caráter fraco e determinação quebradiça. Cobardes. Mentirosos. Gordos são simpáticos porque nunca serão bonitos. São sorridentes porque têm que disfarçar porqueiras emocionais. Quasímodos. Gordos são seres humanos que não merecem caridade ou confiança (Moscovich, 2006, p.25).

A obesidade também é “espectral’’, paradoxalmente não pesa,

mas flutua numa boa consciência da socialidade. O corpo perde suas normas,

sua cena e sua razão, mesmo sendo visível em excesso, o conjunto continua

transparente, os obesos são um obstáculo tão incomodo aos olhos que prefere-

se evitá-los, colocam-se então à margem da sociedade (Baudrillard, 1996,

p.26). Apesar dessa marginalização, os obesos constituem hoje uma parcela

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tão significativa da sociedade que tornaram-se um nicho de mercado, das

roupas (extra) largas aos seriados de televisão, do mercado em ascensão de

modelos GG aos assentos em aviões, o mercado deu o espaço que tanto falta

ao obeso. Pensar o obeso nessas múltiplas perspectivas pode ser a forma para

reduzir o peso do preconceito.

Entendendo-se que o sujeito não toma posse do alimento apenas

por necessidade de sobrevivência, mas sim por algo que “o coloque na

condição de existência e o faça construir um sentido para a vida”, não se

deveria enxergar que para o obeso o desejo de comer poderia apresentar-se

como uma espécie de vazio, no qual o sujeito decide preenche-lo de forma

excessiva? (Carneiro, 2004, p.271).

Como coloca Novaes (2006, p.70) “na atualidade o corpo é a própria

vestimenta, por isso, ele sim, deve estar adequado ao código”. Afinal, que

código é esse, e como se institui?

Meu corpo, nossas regras

Segundo Foucault (2006, p.50-51) as questões sobre a dietética

podem auxiliar no esclarecimento da instituição de normas e condutas

alimentares. A reflexão dos gregos na época clássica, por exemplo, têm o

alimento, bebida e atividade sexual como instrumentos de regulação.

Questiona-se então como servir-se dos prazeres, desejos e atos de modo a

evitar os excessos, ou seja, qual o limite, a medida para estes três campos?

Para controlar esses excessos, os gregos da antiguidade

estabeleceram a dieta como ferramenta para o controle das práticas

alimentares, sexuais e exercícios físicos. Foucault (2006), utiliza-se de duas

narrativas sobre a origem da dietética, uma que apontava para o surgimento da

medicina a partir da dietética, encontrada na coleção hipocrática, e outra

encontrada em Platão, que acredita que a preocupação com o regime advém

de uma alteração nas práticas médicas. “A dietética aparece, segundo essa

gênese, como uma espécie de medicina para os tempos de lassidão, ela era

destinada às existências mal conduzidas e que buscam prolongar-se”. O

estabelecimento do regime fez com que a dietética se tornasse um

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prolongamento da arte de curar sustentado no modo de vida, “o regime é toda

uma arte de viver” (Foucault, 2006, p.91-92). Como vemos em Moscovich

(2006, p.204): “A última frase de papai, antes de avistarmos o carro-guincho do

Touring chegando, foi: - Vocês vão fazer dieta. E vai ser para toda vida. Aquela

frase foi uma profecia”.

Segundo Novaes e Vilhena (2003, p.15), à medida que a visão foi eleita

como um sentido privilegiado perante os demais, possibilitou-se o surgimento

de alguns sentidos como o pudor, sentimento esse que veio a contribuir na

educação do olhar sobre o corpo.

Como coloca Bauman (2007, p.131), o corpo continua tão socialmente

regulado quanto era antes, “mudaram apenas as agências reguladoras, com

consequência de longo alcance para a sorte dos indivíduos incorporados,

encarregados de administrar os corpos que têm e são”.

Fischler (1995, p.307), aborda que o discurso normativo da medicina

sobre a saúde e obesidade tornou-se um discurso moral, que tem seus

fundamentos da responsabilidade individual, e sobretudo é um discurso de

culpabilidade, marca essa já citada anteriormente. Em Moscovich (2006, p.

205) temos: “Só havia um jeito de seguir aquela dieta: - Força de vontade.

Você quer, você consegue”.

O última marca, da sociedade lipófoba, encontrada em

Moscovich, dá conta que a lipofobia é centrada na medicina, moda e aparência

corporal, cozinha e alimentação cotidiana. Os discursos que normatizam o

corpo vão, progressivamente, “tomando conta da vida simbólica/subjetiva do

sujeito”. Os cuidados físicos configuram-se então como uma forma de se

preparar para o olhar do outro, analogamente o investimento estético está

ligado à visibilidade almejada, as qualidade estéticas do próprio corpo que

determinam se o sujeito se expõe ou se omite ao olhar do outro (Novaes,

Vilhena, 2003, p.17).

[...] me espremo dentro daquele delírio do fabricante de roupas esportivas, jogo uma toalha ao ombro e me dou ao desfrute de levantar pesos, espichar todos os músculos em alongamentos, suar em bicas nas aulas de aeróbica, que não são as mais recomendadas para meu caso – isso quando não caminho na

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esteira, olhando para uma parede branca ou para uma televisão que não tem boa sintonia, sempre com o sentimento de ir tanto para lugar nenhum (Moscovich, 2006, p.138).

O discurso da medicina atua como um regime disciplinar, de

forma que circula-se um saber/poder que não está ao alcance de um individuo

comum. Assim sendo, as noções de saúde, doença e os padrões estéticos

ditados, são plausíveis de serem entendidos como uma maneira de regulação

social, que vigia, pune, através de seus discursos, os sujeitos que não se

enquadram nas normas. É nesse âmbito que os obesos estão inseridos.

(Novaes, 2006, p.66-67).

O médico me cumprimentou e quis saber das minhas refeições livres, aquelas a que eu tinha direito. Contei a ele da peripécia na cantina e que estava evitando comer feito um boi uma vez por semana. Ele não gostou. Foi taxativo ao afirmar que a tal refeição ainda ia me fazer falta. E que eu não precisava comer feito um boi – aliás, comer feito um boi não era nada saudável. Liberdade vigiada (Moscovich, 2006, p.103-104).

Os obesos surgem como infratores dessas normas, “nada é mais

divergente do padrão do que a gordura”. Esses são mantidos excluídos, pois já

não “participam das regras do jogo social”, refletem em suas imagens o

descaso no agenciamento de seus corpos, quebrando as normas, os obesos

perdem os limites de seus corpos (Novaes, Vilhena, 2003, p.19-21).

Com a gordura, o ato de ensaboar as costas ou de enxugá-las é uma performance desagradável. O médico me sugeriu que usasse o secador de cabelo para eliminar vestígios de umidade naqueles lugares – as palavras são dele – em que houvesse “dobrinhas”. Eis aí, agora tenho dobrinhas (Moscovich, 2006, p.125).

Porém, os discursos sobre o corpo não são neutros, ver o corpo

como apenas disciplinado, obedecendo fielmente às regras, é uma postura que

deve ser evitada. O corpo nunca é totalmente aprisionado pelos dispositivos

culturais, dispositivos esses que o tornaria suscetível à sua submissão total às

expectativas sociais. As práticas corporais podem ser compreendidas, portanto,

como submissão ao discurso do outro, ou podem atuar como contestação

(Novaes, 2006, p.68).

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De que forma esses sujeitos podem rebelar-se contra o discursos de

normatização do corpo? Como não sucumbir às repressões intrínsecas no

olhares de uma sociedade lipófoba? De que forma a união dos saberes podem

contribuir nesse processo?

NUTRIÇÃO E LITERATURA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL?

A falta de comunicação entre os saberes acabou favorecendo a

formação de profissionais cada vez mais mecanicistas, a área da saúde, em

especial, pareceu absorver de forma acentuada o discurso de uma sociedade

globalizada, na qual as pessoas são reduzidas a máquinas. A medicina

desmembra o corpo de tal forma que encontram-se hoje especialidades para

cada uma de suas partes, não obstante essa mesma medicina constitui-se

como um dos aparelhos reguladores do corpo.

Uma das bandeiras mais levantadas atualmente é a da busca por

uma medicina mais humana. A nutrição como um dos ramos da medicina,

também começa a buscar essa humanização em sua prática, talvez o grande

questionamento tenha sido qual a forma mais efetiva para alcançar esse

objetivo, uma resposta encontrada por muitos na arte.

Reafirma-se aqui a ideia de Barthes (2007, p.17), na qual

acredita-se que “todas as ciências estão presentes no monumento literário’’ .

Portanto, sendo a literatura feita para e pela sociedade, encontrar nessa arte

respostas para os questionamento que perpassam o orgânico, não só é

possível como essencial.

Cíntia Moscovich constrói o livro com base em uma pergunta a

qual ratifica-se, afinal “por que sou gorda, mamãe? A resposta encontrada não

se resume a uma explicação cientifica, um emaranhado de fatores contribuíram

de forma direta com a obesidade. A gordura é a causa da relação conflituosa

entre mãe e filha, ao mesmo tempo consequência, na qual a capa de gordura

atua como um mecanismo de mimetismo e a filha fica, paradoxalmente,

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invisível aos olhos da mãe. A cada quilo perdido a personagem parece resgatar

sua identidade e reaver seu direito de ser vista e aceita pela mãe, de forma que

os quilos perdidos não só representam números, mas a recuperação da

imagem corporal da personagem.

Um calça que não me servia já há algum tempo voltou a meu corpo. Antes, para vesti-la, tinha de me deitar na cama e, chupando a barriga, unir aquelas duas coisas que pareciam feitas para nunca se encontrar: o botão e sua casa. Outra mágica: os engates do zíper se entregaram uns aos outros com docilidade. Me animei à verificação de peso. No consultório, tirei os sapatos, os brincos, esvaziei o ar dos pulmões. Perda de dois quilos. Cravados (Moscovich, 2006, p.84).

Acredita-se que a compreensão da relação entre sociedade e

corpo, é de suma importância para compreensão do estado do paciente, nesse

caso do paciente obeso, favorecendo a atuação do profissional nutricionista e

dando a esse a possibilidade de um atendimento mais humano e focado no

outro, considerando a multidimensionalidade do processo do cuidar, afinal o

cuidar também é uma arte.

Jeudy (2002, p.158) refere que o corpo “é sempre unicamente

uma constelação de imagens, não possui existência real”. Enquanto

profissionais de saúde devemos proporcionar a existência real desse corpo, e

isso só é possível se transcendermos essa constelação de imagens,

percebendo o indivíduo além, buscando muito mais que quilos a serem

perdidos, buscando a recuperação de uma identidade que parece se perder em

meio as células adiposas.

“Agora eu sei por que sou gorda”, diz Cíntia Moscovich (2006,

p.251). Nós também. Por meio do exercício que neste trabalho tentou-se

realizar, pôde-se compreender um pouco mais o paradoxo que a sociedade

contemporânea carrega com a gordura. A importância do diálogo entre nutrição

e literatura, fica latente nestas linhas, assim como a crença de que a arte tem-

se mostrado num meio efetivo para a formação de profissionais mais aptos a

compreender as singularidades da condição humana.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa sociedade líquido-moderna na qual os valores

individualistas se manifestam de forma tão intensa, as normas impostas devem

atuar como um sustentáculo para proporcionar a consciência à iniquidade de

sua tirania, levando a seu consequente questionamento.

As marcas da sociedade lipófoba apresentadas por Fischler -

obsessão pela magreza; rejeição a gordura e obesidade/obesos; lipofobia

centrada na medicina, moda e aparência corporal, cozinha e alimentação

cotidiana; prezar movimento e velocidade; discurso sobre saúde e

obesidade centrado numa responsabilidade individual - com exceção da

cacofonia alimentar, foram identificadas no texto de Moscovich, reforçando

portanto, que a literatura constitui-se um bom meio para o estudo das marcas

dessa sociedade, possibilitando a reafirmação da interligação dos saberes.

Cabe destacar, contudo, que este trabalho não tem o intuito de

destituir a obesidade do seu caráter nocivo à saúde, implicando fatores de risco

ao indivíduo. Como problema de saúde pública mundial, a obesidade requer

cuidados, precisamente nesse âmbito situa-se um objetivo secundário deste

trabalho, o de reforçar a gama de fatores que atuam sobre o indivíduo que

podem resultar na patologia relatada.

Para profissionais de saúde, que buscam o entendimento do

processo saúde-doença além do orgânico, é importante estimular seus

pacientes a catarse, descobrindo dessa forma que muito além de um corpo

obeso encontra-se uma sociedade que apresenta verdadeira repulsa a gordura.

Compreender essa exclusão sofrida pelos obesos é o fator que pode vir a fazer

a diferença entre o sucesso e o fracasso de um tratamento. Visto que o físico e

o psicológico não caminham separados, vindo a reforçar a importância de uma

equipe multidisciplinar.

Trabalhos como este são escassos na literatura, reconhecendo a

importância das percepções do corpo pela sociedade do corpo imagem,

reforça-se a importância de trabalhos que se voltem para o tema da imagem

corporal, – não só centrados na obesidade, mas anorexia, bulimia, e distúrbios

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de imagens mais recentes como a ortorexia e vigorexia - mesmo uma

continuidade do presente trabalho em que se utilizasse das falas dos próprios

indivíduos obesos para fortalecer ainda mais o caráter multidimensional da

patologia da obesidade.

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http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-27302003000600001&script=sci_arttext>.

Acesso em: 13 Nov. 2011.

SILVA, V. G.; SANTOS, J. N. Resistência e renovação: a escrita e a comida em Cíntia

Moscovich. Arquivo Maaravi: Rev. Digital de Estudos Judaicos da UFMG, v. 1, p. 1-

5, 2008. Disponível em: < http://www.ufmg.br/nej/maaravi/artigojuliavivien-

kabalah.html>. Acesso em: 15 Nov. 2011.

TITÃO,F.; VIAPIANA, N. A Importância Da Organização Da Informação No Século

XXI: Reflexões. Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis,

v.13,n.1,p.26-36,jan./jun.,2008. Disponível em: <

http://revista.acbsc.org.br/index.php/racb/article/viewArticle/545 >. Acesso em: 22

Fev. 2012.

WORLD HEALTH ORGANIZATION . Global Strategy on Diet, Physical Activity

and Health. Food Nutr Bull. 2004; p.292-302. Disponível em: <

http://www.who.int/dietphysicalactivity/strategy/en/>. Acesso em: 20 Nov. 2011.

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APÊNDICE

Marcas da Sociedade Lipófoba

Obsessão pela magreza Rejeição a gordura e

obesidade/obesos

Lipofobia centrada na medicina; moda e aparência corporal; cozinha

e alimentação cotidiana

Prezar movimento e velocidade

Discurso sobre saúde e obesidade

centrado numa responsabilidade

individual

Cacofonia alimentar

Marcas da Sociedade

lipófoba encontradas no livro “Por

que sou gorda, mamãe?’’

Minha alma decerto se mostra no corpo, esse confortável corpo, que passou, por excesso, a ser tão incômodo. Um estorvo. Chegar ao peso adequado é penoso (p.17).

O gordo é uma das faces que a aberração pode ter. O anômalo, compulsivo e viciado. Gordos são pusilânimes. Gordos são suspeitos de ter caráter fraco e determinação quebradiça. Cobardes. Mentirosos. [...] Gordos são seres humanos que não merecem caridade ou confiança (p.25).

O médico concordou em assinar o armistício. Mas a paz entre nós só viria se eu perdesse o equivalente aos tabletes de manteiga ou aos tais espetos de picanha . [...] Além de pedir uma batelada de exames, ele prometeu vigilância cerrada: periodicamente, o retorno e a verificação de peso. Mais uma coisa: -Você não está gorda. Certo, meu estado não era transitório, a gordura nunca foi um episódio solteiro em minha vida, eu sabia, ele nem precisava ir adiante. Mas ele foi: [...] - Sei que parece injusto, mas a natureza a fez assim. Você é gorda (p.15).

Vinte e dois quilos pesam muito mais do que parece tornei-me lenta, cansada, arisca (p.17).

Numa academia de ginástica não há gordos [...]. Constranjo-me diante deles, recuso-me a frequentar vestiários e duchas. Ao contrário, enfio-me dentro de camisetas extragrandes que vão do pescoço aos quadris (p. 141).

---

Foi assim que Hersh rompeu com a determinação excruciante da gordura: caminha, corre, come pouco, se

Ainda de costas na balança, sem me interessar pelo ponteiro, pedi ao médico que me informasse a variação, se variação houvesse.

Comecei a buscar roupas em lojas que anunciavam tamanhos especiais. Tecido e mais tecido em forma de batas, túnicas, vestidos, peças cujas circunferências espetaculares são somente

Pessoas acima do peso não tem somente dificuldades para se locomover ou para amarrar os sapatos (p.67).

Só havia um jeito de seguir aquela dieta: - Força de vontade. Você quer, você consegue (p.205).

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cuida. Yacov conseguiu emagrecer, mas voltou a engordar. Emagrece, engorda, engorda e emagrece (p.51).

Ele quase me beijou: foram-se embora, e espero que não voltem, dois quilos e trezentos gramas (p. 45).

proporcionais ao desgosto que oferecem. Nos provadores, às ocultas, mulheres aos gemidos e suor tentam espremer seus babados em panos de corte reto, disfarçando a flacidez nas cores neutras (p.17).

Emagreci bastante, já se nota, Ricardo comentou o fato duas vezes no mesmo dia. Fui testar e comprovei que muitas outras roupas, além da calça em que já havia entrado, voltaram caber em mim. No entanto, estou longe, e sempre estarei, de ser uma pinup (p. 134).

[...]Os outros passam também a ser aqueles que em aviões e ônibus não incomodam seus vizinhos de assento com excessos esparramados. E que não chamam a atenção de imediato em qualquer lugar onde entrem. Um gordo nunca é discreto. Nunca (p. 133).

Enquanto minhas colegas frequentava, lojas e butiques nas quais se vendiam roupas para meninas-moças, enquanto elas andavam de shorts e minissaias, enquanto se metiam em blusas muito justas que ostentavam as novas formas femininas, eu me contentava em cinzentas lojas de confecções para senhoras, nas quais conseguia vestidões, saiões e camisões, tudo o que merecesse superlativos (p.37).

[...] Escorando-se na porta e no teto, lenta e exausta, titia sentou-se aos pouquinhos. Bem aos pouquinhos (p.192).

[...] – Há quem viva para comer. Aprendam que se deve comer para viver. Não era mera frase de efeito, a gravidade com que papai a pronunciou estava no lugar devido e adequado. Havia uma medida nas coisas e devíamos aprendê-la. As coisas todas têm um método. Até a gordura (p.219).

---

[...] me espremo dentro daquele delírio do fabricante de roupas esportivas, jogo uma toalha ao ombro e me dou ao desfrute de levantar pesos, espichar todos os músculos em alongamentos, suar em bicas nas aulas de aeróbica, que não são

[...] me recuso ao espetáculo decadente. Faço de conta que o reflexo dos espelhos é um espectro transitório. Daquele diabo inchado que mora dentro de mim. Odeio esse demônio. (p. 141).

Carnes, eu as cozinho no forno ou na frigideira, com pouquíssima gordura [...] (p.44).

Maika’le está tão gorda que nem consegue caminhar direito (p.194).

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as mais recomendadas para meu caso – isso quando não caminho na esteira, olhando para uma parede branca ou para uma televisão que não tem boa sintonia, sempre com o sentimento de ir tanto para lugar nenhum (p. 138).

Os magros talvez nem saibam como ofendem e afrontam o próximo (p.189).

O ruim é que a gordura nubla qualquer senso de humor (p. 148).

Um calça que não me servia já há algum tempo voltou a meu corpo. Antes, para vesti-la, tinha de me deitar na cama e, chupando a barriga, unir aquelas duas coisas que pareciam feitas para nunca se encontrar: o botão e sua casa. Outra mágica: os engates do zíper se entregaram uns aos outros com docilidade. Me animei à verificação de peso. No consultório, tirei os sapatos, os brincos, esvaziei o ar dos pulmões. Perda de dois quilos. Cravados(p. 84).

---

Aquela dieta, a primeira da minha vida, marcou a enorme diferença entre nós, as duas. A partir dali, eu pertencia ao outro time. A senhora, privilegiada pela natureza, apesar de comer o que bem

A gordura, esses excessos que ficam tão bem nas plantas mas que. Num humano, tanto deformam e alteram o ânimo. Nossa família, mamãe, um clã de obesos (p.176).

O médico me cumprimentou e quis saber das minhas refeições livres, aquelas a que eu tinha direito. Contei a ele da peripécia na cantina e que estava evitando comer feito um boi uma vez por semana. Ele não gostou. Foi taxativo ao afirmar que a tal refeição ainda ia me fazer falta. E que eu não precisava comer feito

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quisesse, era magra de dar raiva (p.206).

um boi – aliás, comer feito um boi não era nada saudável. Liberdade vigiada (p.103-104).

Livre do químicos, cresci ora bulímica, ora anoréxica, em tempos que bulimia e anorexia eram neologismo de uso alheio (p.208).

Medo da comida, sempre, e sempre em pânico diante de tudo que fosse branco ou de cor clara: massas, pães, arroz, batata, gordura (p.208).

[...] restrições à mesa matam uma pessoa mais depressa do que a doença, tenho certeza (p. 124).

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Com a gordura, o ato de ensaboar as costas ou de enxuga-las é uma performance desagradável. O médico me sugeriu que usasse o secador de cabelo para eliminar vestígios de umidade naqueles lugares – as palavras são dele – em que houvesse “dobrinhas”. Eis aí, agora tenho dobrinhas (p . 125).

---

Uma enorme vontade de comer uma daquelas refeições de estivador: arroz, feijão, ovo frito, massa, bife na chapa, purê de batatas, salada de tomate e cebola. Tudo num único prato fundo e transbordante. Para beber, uma daquelas cervejas pretas, docinhas, das quais se dizia que eram boas para mulheres que amamentavam. Sobremesa: pudim de leite. Só vontade. Um delírio (p. 125-126).

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Roupa em tamanho especial é o mais duro golpe na autoestima de uma pessoa. Não significa apenas se está condenado a roupas

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horrorosas e caríssimas. Significa que a criatura obesa, além de excluída das medidas normais, passará a frequentar verdadeiras confrarias da adiposidade – muito distante daqueles lugares nos quais os outros se abastecem. (p. 133).

[...] No total, a perda havia sido de exatos onze quilos e quinhentos gramas [...] O médico me deu parabéns [...] Ele me disse que, mais do que a refeição livre, era importante fazer exercícios

---

A última frase de papai, antes de avistarmos o carro-guincho do Touring chegando, foi: - Vocês vão fazer dieta. E vai ser para toda vida. Aquela frase foi uma profecia (p.204).

---

[...] além de toneladas de verduras, frutas e carnes, das quais se deveria retirar toda a gordura (p.205).

---

Como odiei aquela médico e como odiei aquele senhorita. Com meus renovados protestos, prescreveu Moderex, que ia me tirar a fome (p.205)

---

Emagreci depois que entrou em cena aquela médica amalucada que, além de uma tabela de calorias, impunha a seus pacientes remédios aviados, com calmantes, excitantes, laxantes, diuréticos e hormônios (p.208).

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Medo da comida, sempre, e sempre em pânico diante de tudo o que fosse branco ou de cor clara: massas, pães, arroz, batata, gordura. Por uns quinze anos, comi alface, agrião, rúcula, repolho, couve, acelga; carne, às vezes, porções pequenas, quase insossas, que eu engolia sem mastigar (p. 208-209).

---

O médico me propôs que daqui por diante, à cada refeição, eu diminua três garfadas. Nem dá trabalho, ele apelou, só três bocadinhos de cada vez (p.231).

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ANEXO

Diretrizes para Autores

Interface - Comunicação, Saúde, Educação aceita colaborações

em português, espanhol e inglês para todas as seções. Apenas trabalhos

inéditos serão submetidos à avaliação. Não serão aceitas para submissão

traduções de textos publicados em outra língua.

Os originais devem ser digitados em Word ou RTF, fonte Arial 12, respeitando

o número máximo de palavras definido por seção da revista. Todos os originais

submetidos à publicação devem dispor de resumo e palavras-chave alusivas à

temática (com exceção das seções Livros, Criação, Notas breves e Cartas).

Da folha de rosto devem constar título (em português, espanhol e inglês) e

dados dos autores com as informações na seguinte ordem:

Autor principal: vínculo institucional - Departamento, Unidade, Universidade

(apenas um, por extenso). Endereço completo para correspondência, telefones

de contato, e-mail.

Co-autores: vínculo institucional - Departamento, Unidade, Universidade

(apenas um, por extenso). Email.

Observação: não havendo vínculo institucional, informar a atividade

profissional. A titulação dos autores não deve ser informada.

A indicação dos nomes dos autores logo abaixo do título é limitada a oito.

Acima deste número serão listados no rodapé da página.

Da folha de rosto também devem constar as respostas às seguintes perguntas:

1 No que seu texto acrescenta em relação ao já publicado na literatura nacional

e internacional;

2 Caso o seu manuscrito se utilize de dados, que no todo ou em parte

subsidiaram outras publicações de artigos e/ou capítulos de livros, liste tais

publicações e informe no que o presente texto difere das demais;

3 A seu critério, indique dois ou três avaliadores (do país ou exterior) que

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possam atuar no julgamento de seu trabalho. Caso julgue necessário informe

sobre pesquisadores com os quais possa haver conflitos de interesse com seu

artigo.

Em nota de rodapé, na folha de rosto, o (s) autor (es)deve (m) explicitar se o

texto é inédito, se foi financiado, se é resultado de dissertação de mestrado ou

tese de doutorado, se há conflitos de interesse e, em caso de pesquisa com

seres humanos, se foi aprovada por Comitê de Ética da área, indicando o

número do processo e a instituição.

Em artigo com dois autores ou mais devem ser especificadas também em nota

de rodapé, na folha de rosto, as responsabilidades individuais de todos os

autores na preparação do mesmo, de acordo com um dos modelos a seguir:

Modelo 1: “Os autores trabalharam juntos em todas as etapas de produção do

manuscrito.”

Modelo 2: “Autor X responsabilizou-se por…; Autor Y responsabilizou-se por…;

Autor Z responsabilizou-se por…, etc. “

Da primeira página devem constar (em português, espanhol e inglês): título,

resumo (até 150 palavras) e no máximo cinco palavras-chave.

Observação: na contagem de palavras do resumo, excluem-se título e

palavras-chave.

Notas de rodapé - numeradas, sucintas, usadas somente quando necessário,

indicadas no final da página em que foram inseridas.

CITAÇÕES NO TEXTO

No texto, as citações devem subordinar-se à forma Autor (apenas a primeira

letra do sobrenome em maiúscula – mesmo quando estiver entre parênteses),

data, página. Ex.:

“...e criar as condições para a construção de conhecimentos de forma

colaborativa (Kenski, 2001, p. 31).

Casos específicos:

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a Citações literais de até três linhas: entre aspas, sem destaque em itálico

(Autor, data, p.xx sem espaço entre o ponto e o número). Ponto final depois

dos parênteses.

b Citações literais de mais de três linhas: em parágrafo destacado do texto (um

enter antes e um depois), com 4 cm de recuo à esquerda, em espaço simples,

fonte menor que a utilizada no texto, sem aspas, sem itálico, terminando na

margem direita do texto. Em seguida, entre parênteses: (Sobrenome do autor,

data, página), seguido de ponto final.

Observação: em citações, os parênteses só aparecem para indicar a autoria.

Para indicar fragmento de citação utilizar colchete:

[...] encontramos algumas falhas no sistema [...] quando relemos o manuscrito

mas nada podia ser feito [...]. (Fulano, Sicrano, 2008, p.56).

c Vários autores citados em seqüência: do mais recente para o mais antigo,

separados por ponto e vírgula: (Pedra, 1997; Torres, 1995; Saviani, 1994).

d Textos com dois autores: Almeida e Binder, 2004 (no corpo do texto);

Almeida, Binder, 2004 (dentro dos parênteses).

e Textos com três autores: Levanthal, Singer e Jones (no corpo do texto);

Levanthal, Singer, Jones (dentro dos parênteses).

f Textos com mais de três autores: Guérin et al., 2004 (dentro e fora dos

parênteses).

g Documentos do mesmo autor publicados no mesmo ano: acrescentar letras

minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espaçamento (Campos,

1987a, 1987b).

REFERÊNCIAS

Todos os autores citados no texto devem constar das referências listadas ao

final do manuscrito, em ordem alfabética, seguindo normas adaptadas da

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ABNT (NBR 6023/2002).

Exemplos:

Obs.: Por limitações do sistema não é possível apresentar o texto com o

negrito nos títulos das referências, nos exemlos listados).

LIVROS:

FREIRE, P. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos.

São Paulo: Ed. Unesp, 2000.

* Título sempre destacado em negrito; sub-título, não).

** Sem indicação do número de páginas do livro.

***A segunda e demais referências de um mesmo autor (ou autores) deve ser

substituída por um traço sublinear (seis espaços) e ponto, sempre da mais

recente para a mais antiga. Se mudar de página, é preciso repetir o nome do

autor. Se for o mesmo autor, mas com colaboradores, não vale o travessão.

Ex.:

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.

27. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003 (Coleção Leitura).

______. Extensão ou comunicação? 10.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

*** Dois ou três autores, separar com ponto e vírgula; mais de três autores,

indicar o primeiro autor, acrescentando-se a expressão et al. Ex.:

CUNHA, M.I.; LEITE, D.B.C. Decisões pedagógicas e estruturas de poder na

Universidade. Campinas: Papirus, 1996 (Magistério: Formação e Trabalho

Pedagógico).

FREIRE, M. et al. (Orgs.). Avaliação e planejamento: a prática educativa em

questão. Instrumentos metodológicos II. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1997

(Seminários.)

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CAPÍTULO DE LIVRO:

QUÉAU, P. O tempo do virtual. In: PARENTE, A. (Org.). Imagem máquina: a

era das tecnologias do virtual. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1996. p.91-9.

*Apenas o título do livro é destacado, em negrito.

** É obrigatório indicar, ao final, a página inicial e final do capítulo citado.

Regras específicas

1 Autor do livro igual ao autor do capítulo:

HARTZ, Z.M.A. Explorando novos caminhos na pesquisa avaliativa das ações

de saúde. In: ______ (Org.). Avaliação em saúde: dos modelos conceituais à

pratica na análise da implantação dos programas. Rio de Janeiro: Fiocruz,

1997. p.19-28.

2 Autor do livro diferente do autor do capítulo:

VALLA, V.V.; GUIMARÃES, M.B.; LACERDA, A. Religiosidade, apoio social e

cuidado integral à saúde: uma proposta de investigação voltada para as

classes populares. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. (Orgs.). Cuidado: as

fronteiras da integralidade. Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 2004. p.103-18.

3 Autor é uma entidade:

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação

Fundamental. Parâmetros curriculares nacio¬nais: meio ambiente e saúde.

3.ed. Brasília: SEF, 2001.

4 Séries e coleções:

MIGLIORI, R. Paradigmas e educação. São Paulo: Aquariana, 1993. 20p.

(Visão do futuro, v.1).

ARTIGOS EM PERIÓDICOS:

PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Rev.

Saúde Pública, v.35, n.1, p.103-9, 2001.

* Apenas o título do periódico é destacado, em negrito.

** Sem indicação da cidade de publicação do periódico.

***É obrigatório indicar, após o volume e o número, as páginas em que o artigo

foi publicado.

TESES E DISSERTAÇÕES:

IYDA, M. Mudanças nas relações de produção e migração: o caso de Botucatu

e São Manuel. 1979. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Saúde Pública,

Universidade de São Paulo, São Paulo. 1979.

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* Sem indicação do número de páginas.

** Título da tese/dissertação destacado, em negrito.

RESUMOS EM ANAIS DE EVENTOS:

PAIM, J.S. O SUS no ensino médico: retórica ou realidade. In: CONGRESSO

BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO MÉDICA, 33., 1995, São Paulo. Anais... São

Paulo, 1995. p.5.

* palavra Anais destacada, em negrito.

**Quando o trabalho for consultado on-line, mencionar o endereço eletrônico:

Disponível em:<...>. Acesso em (dia, mês, ano).

***Quando o trabalho for consultado em material impresso, colocar página

inicial e final.

DOCUMENTOS ELETRÔNICOS:

WAGNER, C.D.; PERSSON, P.B. Chaos in cardiovascular system: an update.

Cardiovasc. Res., v.40, p.257-64, 1998. Disponível em: . Acesso em: 20 jun.

1999.

* Título do trabalho destacado, em negrito.

** Os autores devem verificar se os endereços eletrônicos (URL) citados no

texto ainda estão ativos.

Observação: se a referência incluir o DOI, este deve ser mantido. Só neste

caso (quando a citação for tirada do SciElO, sempre vem o Doi junto; em outros

casos, nem sempre).

ILUSTRAÇÕES:

Imagens, figuras ou desenhos devem estar em formato tiff ou jpeg, com

resolução mínima de 200 dpi, tamanho máximo 16 x 20 cm, em tons de cinza,

com legenda e fonte arial 9. Tabelas e gráficos torre podem ser produzidos em

Word ou Excel. Outros tipos de gráficos (pizza, evolução...) devem ser

produzidos em programa de imagem (photoshop ou corel draw). Todas as

ilustrações devem estar em arquivos separados e serão inseridas no sistema

como documentos suplementares, com respectivas legendas e numeração. No

texto deve haver indicação do local de inserção inserindo-se, também, o texto

referente a cada uma delas.

As submissões devem ser realizadas on-line no endereço:

http://submission.scielo.br/index.php/icse/login

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ANÁLISE E APROVAÇÃO DOS ORIGINAIS

Todo texto enviado para publicação será submetido a uma pré-avaliação inicial,

pelo Corpo Editorial. Uma vez aprovado, será encaminhado à revisão por pares

(no mínimo dois relatores). O material será devolvido ao (s) autor (es) caso os

relatores sugiram mudanças e/ou correções. Em caso de divergência de

pareceres, o texto será encaminhado a um terceiro relator, para arbitragem. A

decisão final sobre o mérito do trabalho é de responsabilidade do Corpo

Editorial (editores e editores associados).

A publicação do trabalho implica a cessão integral dos direitos autorais à

Interface - Comunicação, Saúde, Educação. Não é permitida a reprodução

parcial ou total de artigos e matérias publicadas, sem a prévia autorização dos

editores.

Os textos são de responsabilidade dos autores, não coincidindo,

necessariamente, com o ponto de vista dos editores e do Conselho Editorial da

revista.