Pratica Psicologia Hospitalar

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    Psicologia Clnica e da Sade Organizao: Maria Luiza Marinho e Vicente E. Caballo Editora: UEL Granada: APICSA, 2001 Pginas: 263-278

    A prtica da psicologia hospitalar

    Ricardo Gorayeb

    A insero do psiclogo no Hospital Geral

    Quando os primeiros psiclogos brasileiros comearam a trabalhar em hospitais, nadcada de 1960, no havia ainda um modelo claro a ser seguido, de um lado por queeram pioneiros no pas e de curro lado por que a prpria psicologia como cincia estavaainda se consolidando em pases mais desenvolvidos, no tendo ainda produzidomodelos experimentados e bem sucedidos. Assim, uma boa pane destes profissionais

    passou a reproduzir prticas do consultrio psicolgico na sua atividade no hospital, ou

    mesmo a trabalhar como assessor de Psiquiatras, sem uma verdadeira interao entre osprofissionais com cada um contribuindo com seus conhecimentos especficos, oumesmo exercendo somente a funo de psicometristas, sem participar ativamente doatendimento ao paciente.

    A reproduo das prticas de consultrio, que consiste em tentar levar para a beira doleito a postura de psicoterapeura clssico, no floresceu e no poderia mesmo florescer,

    por no trazer respostas s necessidades do paciente e da prpria equipe. Alm disto,carecia de ambiente apropriado e no atendia s demandas de apoio e informao que o

    paciente internado tem. imprescindvel, ao se trabalhar com Psicologia em ambientehospitalar, entender-se que ali no se faz somente Psicologia, mas sim PsicologiaMdica. E por psicologia mdica se entende o estudo das situaes psicolgicasenvolvidas na questo mais ampla de sade do paciente, com destaque para o aspecto dasade orgnica. Os aspectos psicolgicos so vistos e tratados como associados questo de sade fsica, no devendo desta ser dissociados. No se trata de diminuir aimportncia da psicologia, mas sim de adequ-la, para uma maior eficincia.

    Tambm, deve-se ressaltar que o paciente hospitalizado no semelhante ao cliente deconsultrio, visto que no procurou o psiclogo por demanda espontnea e noapresenta quadros clssicos de psicopatologia. Acometido de uma doena orgnica,grave ou aguda, tem uma demanda psicolgica especfica. Necessita comunicar-se bem

    com seu mdico, ou colocado de uma forma correra, necessita que seu mdico secomunique adequadamente consigo, necessita informaes e apoio. Se por decorrnciade suas caractersticas psicolgicas anteriores ou por excessiva presso da situao,apresenta um distrbio psicolgico transitrio fundamental para os participantes daequipe de atendimento entender que este distrbio e situacional, especfico e, na maior

    parte das vezes, relacional. Neste contexto, o papel do psiclogo hospitalar essencialpara apoi-lo, esclarec-lo, inform-lo, levar a equipe a se relacionar efetivamente comele, dar-lhe todas as informaes de aspectos especficos de sua patologia e do

    prognstico. Com isco, o Psiclogo Hospitalar adquire um papel extremamenterelevante para a harmonia da equipe e para a sade do paciente.

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    Este texto tem como objetivo fazer uma anlise e descrever algumas das experinciasvividas pelo autor, ao longo dos ltimos 30 anos, relativas insero do psiclogo noHospital Geral, bem como propor formas de insero e de atuao deste profissionalque possam favorecer seu trabalho, tornando-o mais eficiente e, conseqentemente,

    facilitando suas relaes com os outros membros da equipe, especialmente o mdico,resultando em uma melhoria para a qualidade de vida dos pacientes atendidos.

    Esta descrio se efetuar a partir de situaes especificamente brasileiras, podendoeventualmente se generalizar para outros pases subdesenvolvidos ou emdesenvolvimento. certamente diferente da situao de insero dos profissionais nomdicos em hospitais do assim chamado Primeiro Mundo, onde esta integrao j sedeu ou ocorre de uma maneira diferente de nossa realidade. Um exemplo de situaoideal de participao do Psiclogo em uma equipe de sade no ambiente hospitalar oque ocorreu na C.M.S. U. (Combined Medical Specialities Unit) do Duke UniversityMedical Center, na Carolina do Norte, Estados Unidos, onde psiclogo, psiquiatra e

    clnico geral compartilhavam a direo de uma equipe de profissionais em uma unidadeespecial para o tratamento de pacientes com doenas combinadas (de mais de umaespecialidade mdica), distrbios psicossomticos ou doenas crnicas recorrentes(Brooks et al., 1988).

    A prtica mdica tradicional

    At a poca em que foi regulamentada a profisso do psiclogo, a prtica mdicatradicional no Brasil prescindia da ao de outros profissionais, exceto do enfermeiro edos auxiliares de enfermagem. Os poucos conhecimentos existentes por parte dos outros

    profissionais de sade e a prpria fragilidade da formao, aliada ao noviciado dealgumas profisses, no argumentavam a favor da insero de outros profissionais na

    prtica de atendimento sade de pacientes hospitalizados.

    Dentro desta viso tradicional, a essncia do atendimento era feita pelo mdico, queprescrevia medicamentos ou condutas que eram executados por ele prprio, (como nosatos cirrgicos), ou por outros profissionais, o enfermeiro e o auxiliar de enfermagem(nos curativos e administrao de remdios ou procedimentos) e eram recebidos pelo

    paciente, sempre passivo. A compreenso nesta poca, e, lamentavelmente, em algumasprticas ainda vigentes hoje, era a de que se o doutor prescreveu, o paciente seguiria asinstrues fornecidas pelos profissionais, e se curaria. Porm, como hoje sobejamente

    conhecido, isto no verdade.A evoluo das equipes

    Mas, a evoluo do conhecimento nas outras reas da sade, como fisioterapia,nutrio, psicologia e terapia ocupacional comeou a introduzir gradualmente estesoutros profissionais dentro do hospital e no contexto de atendimento aos pacientesinternados. Assim, comeou a haver uma subdiviso dos trabalhos, no ainda umaintegrao dos trabalhos, deixando os outros profissionais (mdicos, enfermeiros e

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    auxiliares de enfermagem) de orientar dietas, prescrever exerccios fsicos, orientaratividades ou apoiar e aconselhar emocional e psicologicamente aos pacientes1.

    Posteriormente, as equipes multidisciplinares floresceram no pas, especialmente nos

    centros mais desenvolvidos ou onde havia atividade universitria concomitante. Pormultidisciplinar quero dizer que as equipes tinham a presena de mais de umprofissional ou de mais profissionais alem dos tradicionais das reas mdica e deenfermagem. Nem sempre tinham todos os profissionais e, especialmente, nem sempreagiam como equipes.

    Porm, a prpria prtica viria a demonstrar a necessidade de uma maior integrao entreestes profissionais. Passou-se, em seguida, a contar com a existncia de algumasequipes interdisciplinares, com os membros da equipe interagindo entre si, em busca deuma melhor qualidade de vida para os pacientes. Hoje, no Brasil, ainda temos muitoshospitais tradicionais, que funcionam somente com mdicos, enfermeiros e auxiliares de

    enfermagem, especialmente os hospitais privados ou de pequenas cidades. Temoshospitais que j admitem a presena de outros profissionais da sade, principalmentenutricionistas e fisioterapeutas. Temos hospitais que admitem todos os profissionaisnecessrios, incluindo psiclogo biomdico, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutasocupacionais e outros, mas que ainda vivem situaes de equipes multiprofissionais,sem grande interao entre os profissionais. E, finalmente temos hospitais, em geraluniversitrios ou em grandes centros urbanos, que possuem equipes interdisciplinares,com grande interao entre os membros.

    A importncia da anlise funcional

    Em um ambiente hospitalar, em todas as situaes onde podem se desenvolver as aesde um Psiclogo, e imprescindvel que estas aes se iniciem com uma anlisesistemtica, uma anlise funcional (Gorayeb e Range, 1988) do ambiente e dasdemandas que so colocadas ao psiclogo pela equipe e pelos pacientes. Esta anlisefuncional deve indicar as condies do ambiente, identificando aspectos do ambientefsico, condies materiais (como existncia ou no de salas especficas para o trabalhodo psiclogo), horrios de reunio da equipe, fluxo dos pacientes, etc.

    Alm disto, o psiclogo deve fazer uma anlise das condies relacionais que encontranaquele ambulatrio ou enfermaria. Quem fez o pedido para a presena do psiclogo?

    Qual o nvel de poder que este indivduo detm? O quanto o trabalho do psiclogo realmente desejado e compreendido? Quanto de suas sugestes, seja de aspectos do

    1 Neste contexto de ter suas aes exercidas por outros profissionais, a situao da Psicologia peculiar,visco que o psiclogo trabalha basicamente com conselhos ou orientaes de condutas que so verbais e,conseqentemente, no assumem formas concretas fisicamente, como uma prescrio de dietas, umexerccio ou um programa de atividades. E conselho, aparentemente, qualquer um pode dar. Esta talvezseja uma das dificuldades pela qual a Psicologia passa, pois para exercer a ao do Psiclogo, sem s-lo,basta falar com as outras pessoas.

    Assim, a atividade do Psiclogo era e freqentemente exercida por outros profissionais. Isto ainda umdos fatores geradores de ausncia do psiclogo em muitos hospitais e em muitas prticas hospitalares e de

    conflitos em muitas equipes onde trabalha o Psiclogo, mas onde ainda no existe uma verdadeirainterdisciplinariedade.

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    atendimento aos pacientes, seja de aspectos funcionais da enfermaria ou do ambulatrio,sero bem acolhidas?

    Esta anlise deve tambm se estender para um conhecimento detalhado do tipo de

    paciente da clnica em questo. Quais so suas caractersticas demogrficas? Qual aepidemiologia do distrbio? Com que freqncia ocorre? Em quais parcelas dapopulao?

    Alm disto, o profissional deve efetuar um levantamento bibliogrfico exaustivo daliteratura nacional e internacional sobre o distrbio e sobre os seus aspectos

    psicolgicos. Somente aps isto poder propor um plano de trabalho equipe e iniciarefetivamente sua ao.

    Esta forma de agir, mais concreta, vem de encontro s caractersticas de formao debase biolgica do Mdico, do Enfermeiro e de outros membros da equipe, voltados para

    uma linha de pensamento mais concreto. Com propostas concretas o psiclogo estarfalando a mesma linguagem e aumentando a possibilidade de comunicao efetiva.Com uma viso detalhada da literatura e das caractersticas epidemiologias das doenasque a equipe trata, seu plano de trabalho tem maiores chances de ser mais produtivo,inovador e gerador de conhecimentos. Isto s trar benefcios sua interao com aequipe e sua ao com os pacientes. Somente desta forma o psiclogo estar

    preparado para interagir com a equipe como um membro participante e no como merocoadjuvante.

    A insero propriamente dita

    Os relatos a seguir constituem-se em algumas experincias ocorridas em HospitaisUniversitrios que, a meu ver, devem mesmo ser os primeiros a introduzir as mudanas

    para que esta experincia bem sucedida e possa ser reproduzida em outros hospitais.

    Um exemplo bastante eficiente de como uma equipe interdisciplinar se constituiu foi acriao do ento chamado "Ambulatrio de Distrbios da Diferenciao Sexual"(D.D.S.) do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto daUniversidade de So Paulo (H.C.F.M.R.P.U.S.P.). A equipe do D.D.S., como at hojechamada, constitu-se de assistentes sociais, cirurgies peditricos, endocrinologistas,enfermeiros, geneticistas, ginecologistas, psiclogos e urologistas.

    Tratam da criana ou mesmo do adulto diagnosticado tardiamente, cujo aparelhoreprodutor, por um problema gentico ou endocrinolgico, tenha se formadoindiferenciadamente, prejudicando a funo reprodutora, o funcionamento uretral e odesempenho sexual. Muitas vezes a indiferenciao tanta que os pais no sabem se ofilho, ao nascer, do sexo masculino ou feminino.

    Os primeiros casos que chegavam ao hospital traziam consigo um pouco da contusofamiliar e social que o distrbio produzia. A interveno de uma equipe mdica e umaequipe com mltiplos profissionais era imprescindvel. A ao do assistente social paraavaliar a situao familiar e econmica e do psiclogo para apoiar, orientar, aconselhar

    e, mesmo, avaliar o sexo "comportamental da criana, eram parte fundamental do

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    tratamento. A necessidade de reunies peridicas para troca de informaes e tomada dedecises diagnosticas e teraputicas virou rotina. Esta interao resultou em maiorconhecimento do trabalho mtuo entre membros da equipe, em produo deconhecimento, formao de estudantes e residentes e constituiu-se em modelo para

    outros hospitais. O que mais importante que contribuiu para grande alvio, conforto,segurana e melhoria de qualidade de vida para pais e crianas (Gorayeb, Petean eGorayeb, 1999).

    O paciente cirrgico

    Um tipo de paciente para quem fundamental a ao do Psiclogo no ambientehospitalar o paciente cirrgico. Alm dos desconfortos de ter uma doena, estarhospitalizado e longe de seus afazeres e sua famlia, este paciente ainda tem a ameaade algo desconhecido e arriscado. Os pacientes tm receio do desconhecido e medo quea cirurgia e/ou a anestesia dem problema. Aqui, como em todas as outras reas de

    atendimento a pacientes hospitalizados, informao adequada, no momento certo, nadose cena, elemento vital para reduzir ansiedade e depresso. Alm disto, a literatura farta em mostrar que informao e apoio psicolgico reduzem tambm dias deinternao, complicaes e analgsicos ps-cirrgicos (Holmes, 1987).

    O Psiclogo deve atuar como estimulador de que o mdico que vai fazer a cirurgiaesclarea ao "paciente os motivos desta, o tipo, a durao e as conseqncias. Cirurgiasso atos invasivos, radicais, programados para solucionar ou aliviar um problema do

    paciente mas, pela prpria natureza invasiva, deixam seqelas que precisam ser bemjustificadas e explicadas. A responsabilidade da explicao e do principal agente do ato.

    Da mesma forma, cabe ao anestesista a explicao do ripo de anestesia, seus riscos eefeitos. Ao Psiclogo cabe induzir a equipe a ser informativa e disponvel ao paciente.Depois disco, cabe-lhe apoiar o paciente, ouvir suas angstias, reduzi-las, com

    procedimentos especficos se necessrio. essencial que o Psiclogo inicie oatendimento do paciente cirrgico ates da cirurgia, tenha conhecimento de aspectos damesma sobre os quais vai interagir com o paciente, e continue apoiando o paciente no

    ps-cirrgico. Em alguns casos, como em cirurgias raciais, que envolvem problemas deauto-imagem (The PFD, 1996) ou em transplantes, o psiclogo tem a responsabilidadede emitir parecer indicando ou contra indicando a cirurgia.

    O paciente cirrgico infantil

    Se cirurgia e problemtica para adultos, duplamente problemtica para as crianaspois estas se sentem mais desamparadas e a angstia estende-se tambm para seus pais.Como em todas as reas de atendimento medico, informao devidamentecompreendida pelos pacientes um elemento fundamental para uma melhor adaptaodo paciente. A literatura mostra que programas de apoio e informao s crianas antesdas cirurgias melhoram sua recuperao no ps-cirrgico (Kain et al, 1998).

    No caso da criana, cuja capacidade de abstrao menor, esta informao deve serdada de uma maneira concreta, para que se torne compreensvel. Em nossa experincia

    no H.C.F.M.R.P.U.S.P, a criana vivncia, dias antes da cirurgia, concretamente, as

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    experincias que vai ter, enquanto estiver acordada, no dia da cirurgia, como o que e irao centro cirrgico, como ver seu mdico e enfermeiro usando roupas especiais emscaras e tambm qual o efeito das pomadas anestsicas pr injeo de anestesia(Gorayeb et al., 2000).

    Um exemplo de casos especiais: o casal infrtil

    Dentre as diversas possibilidades de trabalho do psiclogo hospitalar, impossveis deaqui serem esgotadas por sua extenso, destaco uma por sua recentidade e pelo fato deno lidar com pacientes doentes, na acepo clssica da palavra. Trata-se do casalinfrtil.

    Pela existncia anterior de problemas de ordem orgnica, predominantemente ocorrendona mulher mas, importante de se dizer, que tambm ocorrem no homem, alguns casaisno conseguem engravidar. Dada a demanda de nossa sociedade e dos prprios

    indivduos, o desejo de ter um filho torna-se uma premncia muito grande na vidadestas pessoas.

    Todavia, a soluo do problema do ponto de vista orgnico no simples. Uma srie deexames, alguns dolorosos e de procedimentos demorados, so necessrios para odiagnstico e preparatrios para o uso de uma tcnica de fertilizao assistida, comoinseminao artificial ou implantao de vulos fertilizados "in vitro'', como tentativa esoluo do problema. E como isto toma tempo, envolve muitos gastos financeiros por

    parte do casal e no h certeza do sucesso, cria-se condies ideais para odesenvolvimento de uma situao extremamente estressante, se no houver o devidoapoio psicolgico.

    A experincia que temos de lidar com casais no incio de sua fase diagnostica, quandovrios exames fsicos so necessrios. Neste momento os pacientes so triados pelomdico e assistente social, para participar do programa de Fertilizao Assistida.Colocamo-nos cormo membros da equipe propondo apoiar o casal, se este julgarnecessrio. interessante notar que, neste momento, os casais no tm demanda para oatendimento psicolgico e, somente uma pequena minoria, com alguma problemtica

    pessoal ou de relacionamento, decide usar o apoio psicolgico. Depois de completadosos exames, quando o casal encaminhado para o Laboratrio de Ginecologia, onde sedar o processo de fertilizao assistida, novamente todos os casais so convidados a

    participar de sesses de grupo de apoio psicolgico e informao mdica sobre osprocedimentos.

    Grande parte dos casais convidados (cerca de 50%) comparece s sesses de apoio queconsistem de um conjunto de 4 a 5 reunies de uma hora e meia de durao, com a

    participao do psiclogo em todas as sesses e do medico ou enfermeiro em uma ouduas sesses, para o esclarecimento de duvidas sobre diagnostico e/ou exames. Nestassesses criam-se condies para que haja um apoio psicolgico, reduo da tenso,inclusive com treino de relaxamento muscular.

    A literatura mostra que grupos de apoio psicolgico e aprendizagem de tcnicas de

    reduo de tenso, com formatos semelhantes a este, produzem um aumento de 30% nas

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    taxas de fertilizao assistida (Domar, Seibel e Benson, 1990). Nossas avaliaesinformais indicam que em nossos grupos h grande reduo da ansiedade. Estamos em

    procedimento de elaborao de um protocolo de pesquisa para verificar os efeitos destesgrupos sobre as taxas de fertilizao assistida. At o momento temos observado que os

    casais atendidos nos grupos desenvolvem uma melhor qualidade de relacionamentointerpessoal, maior compreenso dos procedimentos e da demora para a fertilizao euma melhor capacidade de utilizao das informaes recebidas. A equipe da qual

    participamos muito informativa e aberta a interaes com o paciente, cada umexercendo adequadamente o seu papel, o que facilita o trabalho de todos.

    O psiclogo como interconsultor

    A interconsulta no ambiente hospitalar entendida como a ao de um profissional desade no processo de atendimento que um paciente vem recebendo. A responsabilidade

    pelo atendimento global do paciente do profissional que faz o pedido de interconsulta.

    Ele atendia o paciente antes e vai continuar a atender depois da interconsulta. Ointerconsultor sempre um especialista de outra rea, chamado a esclarecer,diagnosticar ou dar soluo a uma problemtica de sade que o paciente tenha e quefuja da competncia do profissional ou equipe responsvel. O interconsutor vem paraavaliar um problema especfico e vai depois que o problema solucionado. Esta uma

    prtica comum entre mdicos, especialmente em hospitais universitrios.

    Na medida em que comeou a trabalhar em hospitais, ligado a equipes ou em Serviosde Psicologia independentes, o psiclogo passou a ter um status de especialista,diferente do status do psiquiatra, que mais freqentemente lida com os casos de:distrbio psiquitrico ou psictico que requerem o uso de psicofrmacos e passou a serchamado em interconsultas para tratar de questes psicolgicas que pacientesapresentam no decorrer de seu atendimento medico.

    Assim, dificuldades de aceitao do diagnstico e/ou prognstico, ansiedade exacerbadaem situaes de exame, tristeza e/ou depresso eliciadas pelo quadro clnico ou peloisolamento social e familiar decorrentes da hospitalizao, somatizaes, reaescondicionadas a procedimentos, etc., passaram a se constituir em motivos para efetuarum pedido de interconsulta ao Psiclogo para participar do atendimento a um pacienteinternado em clnicas onde ele no atua.

    Nesta situao, o essencial da ao do psiclogo ser capaz de fazer uma rpida anliseda situao para identificar a origem do problema e, mesmo no sendo membropermanente da equipe, comportar-se provisoriamente como se fosse. Procurar envolveros outros profissionais numa melhor relao mdico-paciente ou enfermeiro-paciente,identificar aes que possam surtir efeitos imediatos, como estimular o mdico a melhoresclarecer o problema do paciente, solicitar ao servio social que providencie condies

    para que os familiares venham visitar o paciente e, especialmente, ouvir, apoiar epermitir ampla ventilao ao paciente.

    Aps esta interveno inicial, pode-se detectar a presena ou ausncia de quadrospsicolgicos especficos que precisem ser tratados na forma de uma psicoterapia breve.

    Nossa experincia em interconsulta vem do incio de nossa ao num hospital geral uma

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    avaliao de sua eficincia foi recentemente constatada por pacientes, equipe efamiliares (Gorayeb et al., 1999).

    Gostaria de ressaltar que a adequada e eficiente ao do psiclogo como interconsultor

    num hospital geral e uma das suas aes mais visveis perante os outros profissionais e,por isto mesmo, de maior responsabilidade para colaborar ou prejudicar a disseminaodas aes do psiclogo hospitalar. Agindo com competncia e eficincia s tende aaumentar a procura e valorizao de sua ao profissional.

    O paciente terminal

    Um tema que no poderia deixar de ser abordado nesta breve exposio e a questo dopapel do psiclogo Junto ao paciente cujo diagnstico extremamente grave e cujoprognstico a terminalidade, breve ou remota. So pacientes que a princpio tmdificuldade de aceitar seu diagnstico ou prognstico e para os quais a disponibilidade

    da equipe deve ser grande. A Organizao Mundial da Sade recomenda que ainformao da terminalidade seja dada pelo medico responsvel pelo atendimento (WorlHealth Organization, 1993). Mas o problema psicolgico do paciente no termina comesta comunicao. Na realidade, com a comunicao que o problema psicolgico do

    paciente comea. A partir da a presena continuada do psiclogo fundamental para. opaciente evoluir favoravelmente em seu processo de compreenso e aceitao do quevai acontecer em sua vida. Este processo, pelo tempo que toma e pelas caractersticasque tem, e o que mais se assemelha aos processos psicoterpicos tradicionais, comsesses regulares repetindo-se sucessivamente.

    Duas consideraes so importantes de serem feitas neste contexto. A primeira anecessidade de preparo pessoal do psiclogo para lidar com pacientes terminais. Q

    psiclogo que quiser desempenhar bem este papel deve ter uma boa compreenso eaceitao pessoal do processo de morrer, para poder ser capaz de ajudar outros a morrer,aceitando o fato e em boa relao consigo mesmo, com seus familiares e com suascrenas.

    A segunda a necessidade de olhar para a equipe e tentar avaliar como esta se posicionaperante os bitos que ocorrem durante seu trabalho. Em algumas reas da medicina,como no tratamento de neoplasias, AIDS ou em procedimentos especficos comotransplante de medula ssea, radioterapia e quimioterapia, os profissionais da equipe so

    expostos a ndices elevados de bitos. Isto, por mais que no se revele abertamente,afeta o estado emocional dos profissionais envolvidos. O psiclogo precisa avaliar aoportunidade de intervir terapeuticamente junto a. equipe, sem deixar de ser ummembro dela, ou mesmo, se avaliar que isto necessrio, propor que algum outro

    profissional, estranho equipe, o faa.

    A clareza para lidar com este tema que na cultura ocidental constitui-se em um tabupouco conversado, facilita o trabalho do psiclogo junto equipe e especialmente juntoao paciente. No deve o psiclogo desconsiderar as necessidades que os familiares,especialmente de pacientes mais jovens, tm de receber apoio e orientao psicolgica.

    Consideraes finais

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    Neste breve espao destacaram-se aspectos considerados importantes para uma atuaoadequada do psiclogo hospitalar, analisando como isto poderia ocorrer em algumasreas de atuao. Mas algumas consideraes finais precisam ser efetuadas.

    Em nenhuma ao, de qualquer profissional da sade junto a pacientes em qualquer reado hospital, pode-se deixar de destacar a importncia do adequado relacionamento dos

    profissionais com o paciente. A Organizao Mundial da Sade d tanta importncia aisto que produziu um texto especialmente destinado a descrever os comportamentos queos profissionais, principalmente o mdico, devem ter para relacionar-se com os

    pacientes. Este texto sugere formas detalhadas de ao que vo reduzir os desconfortose a desinformao dos pacientes na situao de buscar ajuda para solucionar um

    problema de sade (World Health Organization, 1993). Devemos considerar que umaboa relao profissional-paciente constitui-se num direito do paciente no numaconcesso liberal dos profissionais.

    Outra considerao que precisa ser feita relativa ao fornecimento de informao aospacientes. A informao e outro direito essencial do paciente. Dar informao obrigao dos profissionais, principalmente do mdico e um direito fundamental do

    paciente. Garantir que a informao foi dada e compreendida parte integrante dotrabalho do psiclogo. Este deve utilizar todo seu conhecimento, como um especialistaem aprendizagem, para que a informao chegue ao paciente em seu nvel de

    processamento e no dentro de uma linguagem tcnica hermtica, que s vezes sesconde a incompetncia para relacionamento interpessoal de quem a forneceu. imprescindvel lembrar-se que informao parte do processo teraputico para o

    paciente internado. Bem informado o paciente evolui melhor e mais rpido e sofremenos psicologicamente.

    Este relato cobriu uma srie de reas de atuao do psiclogo em hospitais, mascertamente no todas. No esto aqui descritas, por exemplo, as atuaes possveis de

    psiclogos em unidades de Emergncia, na internao infantil, (excetuada a internaocirrgica), na obstetrcia e em muitas outras clnicas mdicas, cada uma com suas

    peculiaridades. Tambm no esto descritas as possibilidades de atuao do psiclogocomo terapeuta de equipes especiais de sade, que lidam com problemticas dolorosas

    para a prpria equipe, como morte e desfigurao ou mesmo as possibilidades de atuarterapeuticamente junto problemtica relacional de equipes.

    Em todas estas reas tambm imprescindvel uma adequada atuao, calcada noconhecimento e na eficincia. Para construir uma profisso de respeito junto aos outros

    profissionais e aos prprios pacientes precisamos, enquanto classe profissional, produzircada vez mais e melhor, solucionar problemas, criar modelos, produzir melhorias dequalidade de vida.

    Neste sentido, responsabilidade inalienvel dos Hospitais Universitrios produzirconhecimentos, calcados em atividades de pesquisa, que venham a indicar as melhoresmaneiras de atuao em cada circunstncia. A atividade de pesquisa em psicologiahospitalar no pode e no deve ser dissociada da assistncia aos pacientes e da formao

    de novos profissionais. Quando os Hospitais Universitrios brasileiros produzirem um

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    conjunto sistemtico de conhecimentos sobre a ao dos psiclogos no hospital, a classeno precisar mais pleitear seu lugar neste espao de trabalho. Ser, sim, solicitada aestar continuamente presente, participando ativamente da ateno diferenciada eintegral sade dos usurios.

    Referncias bibliogrficas

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