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Rua João Brígido, 1260 - Joaquim Távora - CEP: 60135-080 - Fortaleza/CE - Fones: 3266.73.10 - www.prece.mpf.gov.br MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL Exmo. Senhor Juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará. Processo nº 58-73.2012.6.06.0109 – Protocolo nº 58.600/2012 Classe: 30 - Recurso Eleitoral Recorrente: Recorrido: Relator: Ministério Público Eleitoral José Ribamar Borroso Baptista Desembargadora Maria Iracema Martins do Vale PARECER Nº /2012 Tratam os presentes autos de Recursos interpostos pelo Ministério Público Eleitoral e Coligação “PARACURU QUER UM NOVO TEMPO” em face de sentença exarada pelo Juízo da 109° Zona Eleitoral – Paracuru/CE que, analisando as Ações de Impugnação de Registro de Candidatura - AIRC´s movidas pelos recorrentes, calhou por julgá-las improcedentes, deferindo o pedido de registro de candidatura do aqui recorrido José Ribamar Barroso, haja vista a incidência do mesmo na causa de inelegibilidade prevista no art. 1°, I, “g”, da Lei Complementar 64/90. Irresignados, os recorrentes interpuseram Recurso Elelitoral, objetivando a reforma do decisum monocrático e, consequentemente, o indeferimento de seu pedido de registro de candidatura . Em suas razões recursais, o Ministério Público Eleitoral alega, em síntese, que não foram verificadas irregularidades insanáveis, como exigido pela LC 64/90, capazes de ensejar a inelegibilidade imputada

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Rua João Brígido, 1260 - Joaquim Távora - CEP: 60135-080 - Fortaleza/CE - Fones: 3266.73.10 - www.prece.mpf.gov.br

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL

Exmo. Senhor Juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará.

Processo nº 58-73.2012.6.06.0109 – Protocolo nº 58.600/2012Classe: 30 - Recurso EleitoralRecorrente:Recorrido:Relator:

Ministério Público EleitoralJosé Ribamar Borroso BaptistaDesembargadora Maria Iracema Martins do Vale

PARECER Nº /2012

Tratam os presentes autos de Recursos interpostos pelo Ministério Público

Eleitoral e Coligação “PARACURU QUER UM NOVO TEMPO” em face de sentença

exarada pelo Juízo da 109° Zona Eleitoral – Paracuru/CE que, analisando as Ações de

Impugnação de Registro de Candidatura - AIRC´s movidas pelos recorrentes, calhou por

julgá-las improcedentes, deferindo o pedido de registro de candidatura do aqui recorrido

José Ribamar Barroso, haja vista a incidência do mesmo na causa de inelegibilidade

prevista no art. 1°, I, “g”, da Lei Complementar 64/90.

Irresignados, os recorrentes interpuseram Recurso Elelitoral, objetivando a

reforma do decisum monocrático e, consequentemente, o indeferimento de seu pedido

de registro de candidatura .

Em suas razões recursais, o Ministério Público Eleitoral alega, em síntese,

que não foram verificadas irregularidades insanáveis, como exigido pela LC 64/90,

capazes de ensejar a inelegibilidade imputada

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RE 345-19.2012.6.06.0050 2/17

DA TEMPESTIVIDADE

Os presentes recursos são tempestivos, já que interpostos no tríduo legal

(art. 52, § 1º, da Resolução TSE n° 23.373/12), devendo portanto serem conhecidos.

Sentença publicada em 02.08.2012 [fl. 238v.]. Recursos Eleitorais

interpostos em 05.08.2012 [fl. 239 e 255].

MÉRITO

A inelegibilidade suscitada nos autos pelo Parquet Eleitoral tem suporte na

alínea “g” do inciso I do art. 1° da LC 64/90, com redação inovada pela lei da ficha

limpa:

g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funçõespúblicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato dolosode improbidade administrativa, e por decisão irrecorrível do órgãocompetente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo PoderJudiciário, para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes,contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso IIdo art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, semexclusão de mandatários que houverem agido nessa condição; (Redaçãodada pela Lei Complementar nº 135, de 2010)

No caso dos autos, resta saber se a conduta que gerou a rejeição das contas,

por decisão irrecorrível da respectiva Corte de Contas: a) constitui irregularidade

insanável; b) configura ato doloso de improbidade administrativa.

Em primeiro lugar, tem-se que insanável é toda e qualquer irregularidade

que não pode ser “corrigida” e que pela sua gravidade traduz o comprometimento dos

princípios norteadores do Direito Administrativo, em especial os da legalidade,

moralidade e impessoalidade, ultrapassando a fronteira entre os pequenos erros de

natureza formal e a falta de probidade administrativa1,

Em segundo lugar, a locução “ato doloso de improbidade administrativa”

comporta o exame da conduta ensejadora da desaprovação das contas sob duas

1José Jairo Gomes preleciona que: “Está claro não ser qualquer tipo de irregularidade que ensejará ainelegibilidade enfocada. Assim, pequenos erros formais, deficiências inexpressivas ou que não cheguema ferir princípios regentes da atividade administrativa , evidentemente, não atendem ao requisito legal”(Direito Eleitoral, 5ª edição, Belo Horizonte, Ed. Del Rey, 2010, p. 173)

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RE 345-19.2012.6.06.0050 3/17

perspectivas: a de ser ato de improbidade administrativa e a demonstração do dolo no

agir do gestor público.

Quanto a ser ato de improbidade, a referência que se deve ter me mente é a

própria Lei de Improbidade Administrativa (Lei n° 8.429/92), que se triparte em três

espécies de atos: os que geram enriquecimento ilícito do próprio gestor (art. 9º), os que

causam prejuízos ao erário (art. 10º) e os que correspondem a graves violações dos

princípios constitucionais do Direito Administrativo (art. 11).

Merece especial reflexão a questão do dolo do agente em matéria de

improbidade administrativa. Como bem observam Marlon Jacinto Reis e Lucieni

Pereira, “não é cabível aqui qualquer referência ao conceito que o dolo recebe em se

tratando de Direito Penal. Lembremos que estamos diante de um pronunciamento da

Justiça Eleitoral acerca de irregularidades descritas em um parecer ou acórdão de um

Tribunal de Contas. Não há em tais documentos referências suficientes para se

aquilatar o psiquismo do responsável pelas contas, a ponto de tomar possível uma

análise minimamente sofisticada do seu elemento volitivo.… A referência a dolo foi

inserida no texto do dispositivo com o específico fim de excluir da aplicação do

dispositivo aquele administrador que evidentemente em nada concorreu para a

ocorrência do vício detectado quando da: tomada de contas.2”

Desse modo, o dolo do ato de improbidade deve ser afastado apenas quando,

de maneira clara e precisa, não se possa vincular o ato praticado à figura do gestor que

por ele foi responsabilizado, sob pena de esvaziamento da alínea “g” do art. 1º, inciso I,

da lei das inelegibilidades.

Pois bem.

Dito isso, passemos à análise das condutas que ensejaram a rejeição das

contas do ora candidato.

2 “Artigo ESTATUTO ELEITORAL E FINANÇAS PÚBLICAS: apontamentos sobre os novos aspectosda inelegibilidade decorrente da rejeição de contas – in Lei da Ficha Limpa Interpretada por juristas eresponsáveis pela iniciativa popular, Ed. Edipro, 2010, p. 92

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RE 345-19.2012.6.06.0050 4/17

DOS MOTIVOS DA REJEIÇÃO DAS CONTAS

Nos últimos 08 [oito] anos, José Ribamar Barroso Baptista teve suas

contas públicas julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas dos Municípios - TCM,

consoante se observa nos seguintes processos:

1.1.2 — Ausência do procedimento licitatório, no valor de R$ 15.000,00

(quinze mil reais), para locação do veículo de placas HUD — 8215, de

propriedade do Sr. João Pessoa Vieira, que é Vereador do Município, o

quecaracteriza a prática de favoritismo — (multa de R$ 1.064,10

aplicada à Sra. Antônia Xavier Moreira e ora mantida) A Interessada

apresentou nesta oportunidade os seguintes documentos:

- Tomada de Preços, Edital n° 002/2001 — (fls. 1343/1444);

- Contrato com o vereador João Pessoa Vieira — (fls. 1434/1437);

A Inspetoria, após análise dos argumentos e documentos ofertados pela

Defesa, verificou que a Tomada de Preços, Edital n.° 002/2001 ocorreu

no exercício de 2001 e não foram apresentados os aditivos aos contratos

originais, além do que nos Protocolos de entrega de cópias do Edital

constava Prefeitura Municipal de Itaitinqa, o que demonstra falha no

controle interno.

Diante do exposto, o Órgão Técnico ratificou a falha, ressaltando

também que a contratação do Vereador João Pessoa Vieira ocorreu de

forma irregular, ferindo os princípios da impessoalidade e da legalidade.

O TCM/CE verificou a existência de diversas irregularidades, notadamente,

“ausência de licitação na contratação de serviços de locação de veículo.”

Vê-se pois, que a Corte de Contas condenou o recorrente pela prática de

múltiplas irregularidades, destacando-se aquela atinente ao descumprimento da Lei de

Licitações.

No entanto, embora tenha o ilustrado magistrado que proferiu a decisão

guerreada reconhecido a impossibilidade de rediscutir o acerto ou desacerto da decisão

proferida pela Corte de Contas, no que concordamos, ao passar para o exame dos

requisitos necessários à configuração da inelegibilidade prevista na alínea “g”, do inciso

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RE 345-19.2012.6.06.0050 5/17

I, do art. 1º, da LC nº 64/90, entendeu que não haviam provas de que as irregularidades

identificadas pela Corte de Contas eram insanáveis, uma vez que poderiam ter sido

remediadas pela própria comissão de licitação, afirmando, por fim, que as

irregularidades apontadas no processo do TCM não seriam capazes de configurar ato

doloso de improbidade administrativa, uma vez que se baseavam “numa análise

superficial e sem aprofundamento probatório típico de um procedimento

administrativo”.

Agindo de forma acertada, o Juiz Eleitoral da 109ª Zona reconheceu

primeiro que a ação de impugnação ao registro de candidatura não é o meio adequado à

rediscussão do mérito de decisões proferidas pela Corte de Contas, no que, como dito

acima, concordamos:

“Agravo regimental. Recurso especial. Registro de candidatura.Ausência de documentos necessários. Reexame. Análise do mérito dedecisões proferidas em outros feitos. Impossibilidade. Desprovimento.[...] 2. Nos processos de registro de candidatura, não se discute omérito de procedimentos ou decisões proferidas em outros feitos.A análise restringe-se a aferir se o pré-candidato reúne ascondições de elegibilidade necessárias, bem como não se enquadraem eventual causa de inelegibilidade. [...].” (Ac. de 29.9.2010 noAgR-REspe nº 105541, rel. Min. Marcelo Ribeiro)

Dito isso, constatada a efetiva condenação pela prática de irregularidades,

afrontosas à Constituição Federal e à Lei de Licitações, bem como a impossibilidade de

reanálise desta decisão pela Justiça Eleitoral, mostra-se equivocada a sentença atacada,

eis que, ao contrário do que afirma o prolator da decisão em primeira instância, as falhas

apontadas pelo TCM não poderiam, e nem podem, ser sanadas, tampouco se fazia

necessário um maior aprofundamento do TCM para identificar a natureza dolosa do ato.

Com efeito, constatou a Corte de Contas haver irregularidades consistentes

na própria ausência do procedimento previsto na Lei das Licitações e, segundo o art. 10

da Lei nº 9.429/92, constitui ato de improbidade administrativa frustrar a licitude de

processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente.

Resta claro, portanto, o equívoco do magistrado, o que fica patenteado pela

simples leitura deo ítem “b” do dispositivo de sua decisão:

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RE 345-19.2012.6.06.0050 6/17

“INDEFIRO o pedido de IMPUGNAÇÃO FORMULADO PELO

Ministério Público Eleitoral, por não ter sido demonstrado que, no caso em concreto,

restou configurado um ato doloso capaz de constituir a prática de improbidade

administrativa. A decisão do Tribunal de Contas não se aprofundou na apuração do

“dolo” do ordenador de despesa e na configuração ou não de ato de improbidade

suficiente para gerar inelegibilidade. Além disso a falha poderia ter sido sanada pela

Comissão de Licitação, com exclusão do licitante infrator...” (fls. 238). [sem negrito no

original]

Assim, tenho que, na espécie, os vícios são graves e insanáveis,

caracterizando atos dolosos de improbidade administrativa, a incidir a inelegibilidade

prevista na alínea 'g' do inciso I do art. 1º da LC nº 64/90.

Nesse sentido, esse TRE-CE já teve a oportunidade, na escorreita relatoria

do seu atual Presidente, Ademar Mendes Bezerra, de firmar o entendimento sobre a

circunstância de ser ato de improbidade a ausência de licitação para a realização de

despesas públicas:

IMPUGNAÇÃO EM REGISTRO DE CANDIDATURA. ELEIÇÕES 2010.DECISÕES DO TCM EM TOMADA DE CONTAS DE GESTÃO.ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI N.º 135/10REJEITADA. PRESCRIÇÃO DA PRIMEIRA CAUSA DEINELEGIBILIDADE SUSCITADA. RECONHECIMENTO. SEGUNDACAUSA DE PEDIR DA IMPUGNAÇÃO: NÃO REALIZAÇÃO DELICITAÇÃO PARA CONTRATAÇÃO COM PARTICULARES. ATODOLOSO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. COMPROVAÇÃODE DANO AO ERÁRIO. OFENSA AO DISPOSTO NA LEI N.º 8.429/92,ART. 10, VIII. RECONHECIMENTO DA INELEGIBILIDADE. AÇÃO DEIMPUGNAÇÃO QUE SE JULGA PROCEDENTE. INELEGIBILIDADEPREVISTA NO ART. 1º, I, G, DA LC N.º 64/90. REGISTRO DACANDIDATURA INDEFERIDO.1. Incabível a este Regional resolver matéria de defesa já apreciada ou que

poderia ter sido arguída junto ao TCM, por oportunidade da apreciação dascontas do candidato. Tal situação importaria em ampliar indevidamente aanálise do mérito da impugnação que se restringe à subsunção dos motivosapresentados pelo TCM à hipótese do disposto na LC n.º 64/90, art. 1º, I, g.2. Causa de Pedir: Desaprovação de contas por ausência da realização

de Licitação Pública. Vício de natureza insanável que configura atodoloso de improbidade administrativa.3. Pedido de Registro de Candidatura INDEFERIDO. [REGISTRO DE

CANDIDATURA nº 405571, Acórdão nº 405571 de 03/08/2010, Relator(a)ADEMAR MENDES BEZERRA, Publicação: PSESS - Publicado emSessão, Data 03/08/2010]

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RE 345-19.2012.6.06.0050 7/17

Tal entendimento baliza-se em sedimentada jurisprudência do TSE, que

pode assim ser transcrita:

Registro. Inelegibilidade. Rejeição de contas.1. O recurso de revisão perante o Tribunal de Contas não possui efeitosuspensivo.2. Constatada a irregularidade atinente ao descumprimento da Lei deLicitações - consistente na ausência de processo licitatório -, vícioconsiderado insanável por esta Corte Superior, afigura-se ainelegibilidade do art. 1º, inciso I, alínea g, da Lei Complementar nº64/90.

Agravo regimental não provido. [Agravo Regimental em Recurso Ordinárionº 163385, Acórdão de 06/10/2010, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANILEITE SOARES, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data6/10/2010]

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. INELEGIBILIDADE.REJEIÇÃO DAS CONTAS. PERÍODO. PRESIDENTE DA CÂMARA DEVEREADORES. INEXISTÊNCIA. NOTA DE IMPROBIDADE.TRIBUNAL DE CONTAS. OCORRÊNCIA. GRAVESIRREGULARIDADES. AUSÊNCIA DE LICITAÇÃO. FALTA.CONTRATO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. IRREGULARIDADEINSANÁVEL. FALTA. NOTÍCIA. SUSPENSÃO DOS EFEITOS. AÇÃODESCONTITUTIVA. CONTAS. PRETENSÃO. REEXAME. DISSÍDIOJURISPRUDENCIAL. ALEGAÇÃO. FALTA. FUNDAMENTAÇÃO.INEXISTÊNCIA. FUNDAMENTOS NÃO-INFIRMADOS.DESPROVIMENTO.1. Para que o agravo obtenha êxito, é necessário infirmar os fundamentos dadecisão atacada.2. A ausência de impugnação ao registro de candidatura não impede queo juiz aprecie a inelegibilidade de ofício. Precedentes.3. É firme o entendimento desta Corte no sentido de que "odescumprimento da lei de licitação importa irregularidade insanável"(Ac. 22.704, rel. Min. Luiz Carlos Madeira, PSESS de 19.10.2004).4. É vedado o reexame de fatos e provas em recurso especial (Súmula nº 279do Supremo Tribunal Federal).5. A divergência jurisprudencial não foi evidenciada.6.Agravo regimental desprovido. [Agravo Regimental em Recurso EspecialEleitoral nº 29371, Acórdão de 30/09/2008, Relator(a) Min. MARCELOHENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, Publicação: PSESS - Publicado emSessão, Data 30/9/2008]

Dúvida não resta quanto ao fato objeto da impugnação constituir ato de

improbidade.

O dolo do ato, por seu turno, fica evidenciado na medida em que não se

visualiza qualquer fato que possa afastar a prática do ato da figura do gestor que veio a

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RE 345-19.2012.6.06.0050 8/17

ser condenado, o que se exterioriza pela incontestável plausibilidade da alegação de que

o gestor tem a obrigação de saber as hipóteses em que é obrigado a licitar, ou a atender

o procedimento licitatório exigido.

Quanto às razões da Coligação “PARACURU QUER UM NOVO TEMPO”

(fls. 256/300), também recorrente, verificamos que em sua anílise o MM. Juiz operou

com correção, uma vez que os motivos elencados para justificar o indeferimento do

registro, lista extensa de ações penais e civis públicas de improbidade administrativa a

que responde o pretenso candidato, não satisfazem às exigências da LC nº 64/90, uma

vez que não existe decisão condenatória de órgão colegiado, tampouco sentença

transitada em julgado, o que, mesmo à luz do esforço desta recorrente, não se fez capaz

de justificar o acolhimento de suas alegativas.

DA SUSPENSÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO DO TRIBUNAL DE

CONTAS DOS MUNICÍPIOS

Embora não haja menção na sentença de primeiro grau e nas razões dos

recursos à existência de decisões que suspendem a eficácia da decisão da Corte de

Contas que condenou o recorrido, constata-se que foi acostada às fls. 199/203 uma cópia

da medida antecipatória de tutela concedida pela 6ª Vara da Fazenda Pública de

Fortaleza, onde foi deferida a imediata suspensão dos efeitos dos Acórdãos que

4359/2010 e 2068/2011, que serviram de fundamento para a impugnação intentada pelo

Ministério Público Eleitoral.

Assim, o candidato obteve, ao apagar das luzes do tempo para o registro

de sua candidatura, medida liminar suspendendo os efeitos de acórdão do TCM.

Com efeito, a alínea “g” ressalva a possibilidade de ser obtida liminar dessa

natureza, que afastaria a inelegibilidade.

No entanto, recomenda o caso uma interpretação sistêmica do art. 26-C, §

2º, e art. 16 da mesma Lei de Inelegibilidades, com o art. 1º, I, g da LC nº 64/90, a fim

de que só seja possível obter a real intenção do legislador e o fim último da edição da

Lei da Ficha Limpa, que é o de afastar os maus gestores da cena pública a partir do

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exercício de cargos e mandatos eletivos, em razão de fatos colhidos de sua vida

pregressa:

Art. 15. Transitada em julgado ou publicada a decisão proferida porórgão colegiado que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-ánegado registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nuloo diploma, se já expedido. (Redação dada pela Lei Complementar nº135, de 2010)

Art. 26-C. O órgão colegiado do tribunal ao qual couber a apreciaçãodo recurso contra as decisões colegiadas a que se referem as alíneas d,e, h, j, l e n do inciso I do art. 1o poderá, em caráter cautelar, suspendera inelegibilidade sempre que existir plausibilidade da pretensão recursale desde que a providência tenha sido expressamente requerida, sob penade preclusão, por ocasião da interposição do recurso. (Incluído pela LeiComplementar nº 135, de 2010)§ 1o Conferido efeito suspensivo, o julgamento do recurso teráprioridade sobre todos os demais, à exceção dos de mandado desegurança e de habeas corpus. (Incluído pela Lei Complementar nº 135,de 2010)§ 2o Mantida a condenação de que derivou a inelegibilidade ourevogada a suspensão liminar mencionada no caput, serãodesconstituídos o registro ou o diploma eventualmente concedidos aorecorrente. (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010)

Na ótica da Lei da Ficha Limpa, se determinada liminar suspensiva da

inelegibilidade vier a ser cassada ou revogada, o efeito inexorável é o de ser

desconstituído o registro ou o diploma.

Se a alínea “g” admite que, por decisão judicial, seja suspensa ou anulada a

decisão da Corte de Contas afastando a inelegibilidade, o efeito há de ser o mesmo no

caso de insubsistência da decisão suspensiva da causa de inelegibilidade.

Sem dúvida, pode ser argumentado que caberia, no âmbito das ações

individuais que resultaram na cessação dos efeitos das decisões da Corte de Contas,

obter a cassação ou a suspensão das decisões liminares proferidas pelos juízes da

Fazenda Pública.

E isso de fato foi feito pelo Ministério Público do Estado do Ceará, que

interpôs Pedido de Suspensão de Liminar nº0130487-02.2012.8.06.0000 , ainda não

apreciado pelo Tribunal de Justiça.

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Por isso, refletimos sobre a tamanha incoerência, quiçá falta de prudência,

em se deferir o registro de um candidato que se encontra amparado por decisão liminar

precária e mal fundamentada, em relação a qual pesa pedido de cassação expresso e

prestes a ser apreciado.

O Ministério Público Eleitoral não desconhece que o artigo 11, § 10 da Lei

9.504 estabelece que “as condições de elegibilidade e as causas de inelegibilidade

devem ser aferidas no momento da formalização do pedido de registro da candidatura,

ressalvadas as alterações, fáticas ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a

inelegibilidade”. Contudo, não pode prevalecer o entendimento de que a alteração

advinda à situação do recorrido, no sentido de desconsiderar a decisão suspensiva da

liminar que lhe foi favorável, não é apta a autorizar o indeferimento do registro, sob

pena de malferimento dos princípios da proporcionalidade e da lisura das eleições,

que devem orientar a interpretação na seara eleitoral. Senão vejamos.

Com efeito, uma decisão de natureza cautelar, que venha a subsistir por

poucos dias, não pode ser considerada apta a afastar a incidência de uma Lei

Complementar fulcrada em decisão do Tribunal de Contas proferida após longo

período de tramitação, com observância de todas as garantias constitucionais,

notadamente o contraditório e a ampla defesa.

A cada ano eleitoral, observa-se que os candidatos que têm contas rejeitadas

pelo Tribunal de Contas por irregularidades insanáveis, dentre os quais o recorrido,

deixam para ajuizar ações anulatórias na Justiça comum faltando poucos dias

para o prazo final do pedido de registro de candidaturas (05 de julho), denotando

que o propósito de tais ações não é discutir a validade da decisão do órgão de

contas, mas afastar a inelegibilidade do art. 1º, inciso I, “g” da LC nº 64/90.

Com esse artifício, os candidatos criam uma urgência artificial, já que a

questão poderia ter sido submetida ao Poder Judiciário com maior antecedência, e

retiram do Ministério Público a possibilidade de reversão eficaz da medida, cujos

efeitos são extremamente danosos para a sociedade.

Além disso, aceitar tal conduta implicaria em entregar nas mãos do

particular (candidato) e de um juiz distante da realidade do processo eleitoral, o

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controle da efetividade de lei complementar das inelegibilidades, cuja criação teve por

escopo proteger a lisura, a legitimidade e a normalidade das eleições, consoante

determina o artigo 14, § 9º da Constituição Federal, o que consiste um verdadeiro

absurdo.

O Tribunal Superior Eleitoral já não vem aceitando o afastamento da

inelegibilidade sob comento, quando a decisão cautelar é proferida em ação anulatória

ajuizada às vésperas do termo final do pedido de registro:

RECURSO - ADEQUAÇÃO - REGISTRO DEFERIDO NA ORIGEM.Havendo ocorrido o deferimento do registro na origem, afastada ainelegibilidade, o recurso cabível é o especial. INELEGIBILIDADE -REJEIÇÃO DE CONTAS - AÇÃO – ALCANCE. O ajuizamento de ação,impugnando o ato da Corte de Contas, na undécima hora, comobtenção de tutela antecipada findo o prazo para registro, não afasta ainelegibilidade - inteligência do artigo 1º, I, "g" , da Lei Complementarnº 64/90. O Tribunal, por maioria, admitiu o recurso como interposto,como especial, e o proveu, na forma do voto Ministro Marco Aurélio(Presidente), que redigirá o acórdão. (RESPE nº 26957 – arapongas/PR,Acórdão de 27/09/2006 , Relator(a) Min. MARCELO HENRIQUESRIBEIRO DE OLIVEIRA , Relator(a) designado(a) Min. MARCOAURÉLIO MENDES DE FARIAS MELLO, publicado em sessão, data27/06/2006).

REGISTRO DE CANDIDATURA. CANDIDATO A DEPUTADOESTADUAL. CONTAS REJEITADAS PELO PODER LEGISLATIVOMUNICIPAL. EX-PREFEITO. RECURSO PROVIDO PARA INDEFERIRO REGISTRO. 1. O dilatado tempo entre as decisões que rejeitaram ascontas e a propositura das ações anulatórias evidencia o menosprezo daautoridade julgada para com o seus julgadores. 2. O ajuizamento daação anulatória na undécima hora patenteia o propósito único debuscar o manto do enunciado sumular nº 1 deste Superior Eleitoral.Artificialização da incidência do verbete. 3. A ressalva contida na partefinal da letra "g" do inciso I do art. 1º da Lei Complementar nº 64/90 háde ser entendida como a possibilidade, sim, de suspensão deinelegibilidade mediante ingresso em juízo, porém debaixo das seguintescoordenadas mentais: a) que esse bater às portas do Judiciário traduza acontinuidade de uma "questão" (no sentido de controvérsia ou lide) jáiniciada na instância constitucional própria para o controle externo, queé, sabidamente, a instância formada pelo Poder Legislativo e peloTribunal de Contas (art. 71 da Constituição); b) que a petição judicial selimite a esgrimir tema ou temas de índole puramente processual, sabidoque os órgãos do Poder Judiciário não podem se substituir, quanto aomérito desse tipo de demanda, a qualquer das duas instâncias de Contas;c) que tal petição de ingresso venha ao menos a obter provimentocautelar de explícita suspensão dos efeitos da decisão contra a qual seirresigne o autor. Provimento cautelar tanto mais necessário quanto se

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sabe que, em matéria de contas, "as decisões do tribunal de que resulteimputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo" (§ 3º doart. 71 da Lei Constitucional). 4. Recurso ordinário provido. O Tribunal,por unanimidade, proveu o recurso, na forma do voto do relator.(RO/RECURSO ORDINÁRIO nº 963 - são paulo/SP, Acórdão de13/09/2006, Relator(a) Min. CARLOS AUGUSTO AYRES DE FREITASBRITTO, publicado em sessão, data 13/09/2006).

Neste caso, a decisão liminar foi obtida pelo recorrido em 04/07/2012, no

penúltimo dia para registro e, por tal razão, não deve ser considerada apta a

suspender a sua inelegibilidade, porquanto ajuizada tardiamente e, notadamente

com o único propósito de viabilizar a sua candidatura.

A par disso, a interpretação literal do artigo 11, § 10 da Lei n.º 9.504/97, no

sentido de que a decisão que suspendeu a eficácia da liminar proferida pelo Juiz da

Fazenda Pública não pode ser levada a efeito por ter restabelecido a inelegibilidade

e não a afastado, devendo se considerar a situação da data do protocolo do registro

e não do seu efetivo julgamento, implicaria em ofensa aos princípios

constitucionais da lisura, da normalidade e da legitimidade das eleições, uma vez

que o particular (candidato), manipulando a jurisdição ao deixar para ajuizar a

ação anulatória às vésperas do prazo final para formalização do registro, teria o

condão de decidir sobre a efetividade da Lei das Inelegibilidades (Lei

Complementar nº 64/90), subvertendo a ordem de prevalência do interesse público

sobre o particular.

Não de pode perder de vista, ainda, que a Constituição Federal reservou, em

seu art. 14, §9º3, a Lei Complementar a matéria atinente a inelegibilidades, suas

hipóteses e prazos de cessação e, por extensão óbvia, toda a normatização sobre a

vigência das inelegibilidades. Daí, a interpretação do artigo 11, § 10 da Lei n.º

9.504/97, de se dar em conformidade com a Lei Complementar n° 64/90 e o art. 14,

§ 9º, da CF/88., no sentido de ser considerada a eficácia e legitimidade de decisão

3 § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de suacessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício demandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleiçõescontra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou empregona administração direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº4, de 1994)

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judicial posterior, que venha a restaurar a inelegibilidade: “as condições de

elegibilidade e as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da

formalização do pedido de registro da candidatura, ressalvadas as alterações, fáticas

ou jurídicas, supervenientes ao registro que afastem a inelegibilidade”; no entanto,

considerando o disposto no art. 14§ , 9º, da CF/88 e os dispositivos dos arts. 15 e 26-C

da Lei Complementar n° 64/90, devem ser consideradas as alterações supervenientes

ao registro, de natureza jurídica, que restabeleçam a inelegibilidade, na hipótese do

art. 1º, I, alínea “g” da CF/88.

Ressalte-se, ainda, que qualquer interpretação, a permitir que candidatos que

tenham vida pregressa desabonadora possam concorrer a cargos eletivos, após lançarem

mão de chicana jurídica para evitar a incidência de uma causa de inelegibilidade,

acabaria por atentar contra os mais elevados valores constitucionais, considerando-se

que as inelegibilidades fundamentadas na probidade administrativa e na moralidade

exigida para o exercício do mandato e de natureza eminentemente preventiva e

protetiva, existem para assegurar a solidez do Estado Democrático de Direito, a

Democracia Representativa e o Princípio Republicano.

Não há qualquer fundamento, guindado pela lógica, para que se admita, na

hipótese do art. 26-C, o efeito previsto da cassação do registro ou do diploma na

hipótese de insubsistência da liminar que afastava a inelegibilidade, e se negue o

mesmo efeito para o caso de a liminar que suspenda ou anula a decisão da Corte de

Contas perder igualmente a sua eficácia.

Sobre o assunto, cabe o ensinamento de Edson de Resende Castro4:

Parece inevitável, em síntese, que o Juiz Eleitoral, ao decidir o registrode candidatura, leve em conta a elegibilidade e a inelegibilidadesupervenientes ao protocolo do pedido, pois é inconcebível que adecisão se distancie da situação fática e jurídica existente naquelemomento. Basta imaginar um candidato com condenação criminal porhomicídio ou tráfico de entorpecentes que transite em julgado no dia 30de julho do ano da eleição. Se o Juiz, apreciando o pedido de registro nodia 10 de agosto, fosse levar em conta a situação fática e jurídica domomento do protocolo do pedido (05 de julho), teria que deferir acandidatura de alguém que já está com direitos políticos suspensos, oque seria no mínimo absurdo e aviltante para o Judiciário.

4CASTRO, Edson de Resende. Curso de Direito Eleitoral. 6ª. ed. Belo Horizonte: 2012, p. 156.

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Outro forte argumento a justificar a desconsideração desta antecipação de

tutela como capaz de suspender a inelegibilidade do pretenso candidato, é o fato de

tramitar perante o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará pedido de suspensão desta

medida, conforme consulta processual abaixo transcrita, havendo forte indício de que

referido pedido haverá de ser deferido, uma vez que em pedidos da mesma natureza,

recentemente analisados pelo Exmo. Presidente, foram suspensas as decisões

antecipatórias de tutela.

Consulta Processual – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁProcesso: 0130650-79.2012.8.06.0000Classe: Suspensão de Liminar ou Antecipação de TutelaÁrea: CívelAssunto: Atos AdministrativosOrigem: Comarca de Fortaleza / Fortaleza / 1ª Vara da Fazenda PúblicaNúmeros de origem: 0153968-88.2012.8.06.0001Distribuição: PresidênciaRelator: PRESIDENTE TJCE

Outro ponto a ser analisado, também não enfrentado na sentença de primeira

instância e mencionados nas razões recursais, acostou-se decisão proferida pelo

Conselheiro do TCM, relator em Recurso de Revisão (fls. 206/209), bem como Acórdão

daquela Corte (212/222), onde se concede efeito suspensivo com o fito de impedir que

a decisão que condenou o ora recorrido e redundou na sua inelegibilidade continue a

produzir os seus efeitos.

Contudo, tal liminar não tem aptidão para afastar a inelegibilidade. Isso

porque a própria norma da alínea “g” somente ressalva à decisão judicial o efeito de

suspender ou anular a decisão da Corte de Contas.

Por outro lado, o recurso de revisão não se trata de recurso

propriamente dito, mas de medida que muito se assemelha no processo civil à ação

rescisória e, no processo penal, à revisão criminal, pressupondo o anterior trânsito em

julgado da decisão a ser revista, tendo seu cabimento nas seguintes hipóteses, segundo a

Lei Orgânica do TCM:

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Art. 34. Da decisão que julgar em definitivo as contas de gestão,caberá recurso de revisão interposto pelo responsável, seus herdeiros,sucessores ou por Procurador de Contas, no prazo de cinco anos, apartir da publicação da decisão, a qual se fundamentará:I - em erro de cálculo que tenha influído de modo decisivo para adesaprovação das contas, ou que tenha sido considerado para fins deimputação de débito ou multa;II - na comprovação de que a decisão recorrida se baseou nafalsidade ou insuficiência de documentos;III- na superveniência de documentos novos, cuja existência ignoravaou deles não pôde fazer uso, capazes, por si só, de elidir osfundamentos da decisão;IV - na errônea identificação ou individualização do responsável.”

Sobre o assunto, o TSE já teve a oportunidade de se pronunciar:

ELEIÇÃO 2010. REGISTRO DE CANDIDATURA. AGRAVOREGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO. INELEGIBILIDADE.ART. 1º, I, g, da LC Nº 64/90 C.C. LC Nº 135/2010. FATOIMPEDITIVO DO DIREITO DO IMPUGNANTE. ÔNUS DA PROVA.CANDIDATO/ IMPUGNADO. ART. 11, § 5º DA LEI Nº 9.504/97.REJEIÇÃO DE CONTAS. SUSPENSÃO DE INELEGIBILIDADE.NECESSIDADE DE PROVIMENTO JUDICIAL.1. A mera inclusão do nome dos gestores na lista remetida à Justiça

eleitoral não gera inelegibilidade e nem com base nela se podeafirmar ser elegível o candidato (art.11, § 5º da Lei nº 9.504/97).2. O ônus de provar fato impeditivo do direito do impugnante é do

candidato/impugnado. Precedentes.3. É necessária a obtenção de provimento judicial para suspender a

inelegibilidade decorrente de rejeição de contas por irregularidadeinsanável. Precedentes.4. Agravo Regimental a que se nega provimento.(Agravo Regimental em Recurso Ordinário nº 118531, Acórdão de

01/02/2011, Relator(a) Min. HAMILTON CARVALHIDO,Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 036, Data21/02/2011, Página 62)

Inelegibilidade. Rejeição de contas. Recurso de revisão. Tribunal deContas da União.O recurso de revisão interposto perante o Tribunal de Contas daUnião e os embargos de declaração a ele relativos não afastam ocaráter definitivo da decisão que rejeita as contas.Decorrido o prazo de cinco anos previsto na redação original da

alínea g do inciso I do art. 1º da Lei Complementar nº 64/1990, nãomais incide a respectiva causa de inelegibilidade.

Nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, desproveu oagravo regimental.

Recurso Especial Eleitoral nº 11083-95/MG, rel. Min. ArnaldoVersiani, em 26.5.2011.

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ELEIÇÃO 2010. REGISTRO DE CANDIDATURA. AGRAVOREGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMOORDINÁRIO. CAUSA DE INELEGIBILIDADE. CONTAS DECONVÊNIO JULGADAS IRREGULARES PELO ÓRGÃOCOMPETENTE. AUSÊNCIA DE PROVIMENTO JUDICIALFAVORÁVEL. FUNDAMENTOS NÃO INFIRMADOS.DESPROVIMENTO.

1. Reconhecido o caráter insanável das irregularidades,configuradoras de ato de improbidade administrativa, queculminaram com a rejeição das contas do candidato pelo órgãocompetente, além da ausência de provimento judicial favorável, é derigor a incidência da causa de inelegibilidade disposta no artigo 1º, I,g, da Lei Complementar nº 64/90.2. A liminar em pedido de revisão deduzida perante o Tribunal de

Contas não afasta a incidência do disposto no artigo 1º, I, g, da LeiComplementar nº 64/90, com as modificações da Lei Complementarnº 135/2010, que reclama suspensão ou anulação pelo PoderJudiciário, das decisões do Tribunal de Contas que julga irregularescontas de convênio.3. É inviável o agravo regimental que não infirma os fundamentos da

decisão atacada, incidindo, pois, os enunciados 283 da Súmula doSupremo Tribunal Federal e 182 da Súmula do Superior Tribunal deJustiça.4. Agravo regimental a que se nega provimento.(Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 90166, Acórdãode 02/12/2010, Relator(a) Min. HAMILTON CARVALHIDO,Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 02/12/2010 )

Nessas condições, não há como afastar a causa de inelegibilidade suscitada

nos autos com base em decisão monocrática de Conselheiro ou pleno do TCM que, em

recurso de revisão, suspende os efeitos de decisão colegiada daquela Corte já transitada

em julgado.

Lembro que, antes mesmo de se cogitar da Lei da Ficha Limpa, o TSE já

tinha o seguinte entendimento:

Agravo regimental. Recurso ordinário. Eleições 2006. Registro.Candidato. Deputado estadual. Contas. Rejeição. Ações judiciais.Propositura. Trânsito em julgado. Art. 1º, I, g, da Lei Complementar nº64/90. Inelegibilidade. Fluência. Configuração.1. Transitada em julgado a decisão que não acolheu ação anulatóriado decreto legislativo que rejeitou as contas, volta a fluir ainelegibilidade prevista no art. 1º, I, g, da Lei Complementar nº 64/90.

2. O agravo regimental, para que obtenha êxito, deve afastarespecificamente os fundamentos da decisão impugnada.Agravo regimental a que se nega provimento.

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(AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ORDINÁRIO nº 1104,Acórdão de 31/10/2006, Relator(a) Min. CARLOS EDUARDO CAPUTOBASTOS, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 31/10/2006 )

CONCLUSÃO

Dessa forma, pugna, o Ministério Público Eleitoral, pelo conhecimento dos

recursos eleitorais e, no mérito: pelo provimento do recurso interposto pelo Ministério

Público Eleitoral quanto ao registro de José Ribamar Barroso Baptista, no sentido do

reforma a sentença de primeiro grau e indeferimento do registro de candidatura, ante a

incidência da causa de inelegibilidade do art. 1º, I, “g”, da LC nº 64/90, ou, na hipótese

de até a data do julgamento não ter sido obtido o efeito suspensivo da liminar

pleiteada, que o registro seja deferido de forma condicional, utilizando-se o mesmo

raciocínio do Art. 26-C da LC n° 64/90, ressalvando-se a hipótese de vir a ser

restabelecida a causa de inelegibilidade.

É o parecer.

Fortaleza, 22 de agosto de 2012.

Márcio Andrade TorresProcurador Regional Eleitoral