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PRECONCEITO RACIAL NO COTIDIANO ESCOLAR
Autora: Célia Regina Colotário Lima1
Orientadora: Profª Drª Janete Leiko Tanno2
Resumo
O presente trabalho, com o título "Preconceito racial no cotidiano escolar”, tem por preocupação abordar alguns aspectos da história da cultura afrobrasileira e africana para possibilitar ao aluno conhecer a diversidade e a complexidade do continente Africano e as marcantes contribuições dessa população na formação da cultura brasileira, além de promover uma reflexão sobre as questões relacionadas ao preconceito racial. Nesse sentido, a percepção de algumas dificuldades de aprendizagem e de socialização entre alunos descendentes de diversas etnias no Colégio Estadual Margarida Franklin Gonçalves, local de aplicação do projeto, apontou a necessidade de conhecimento da cultura afrobrasileira e a reflexão sobre preconceito racial e discriminação entre os alunos a fim de amenizar tais situações, além de promover a autoafirmação étnica dos afrobrasileiros (re) construindo sua identidade e elevando sua autoestima. Dentro do contexto ora apresentado, a questão que norteou este estudo foi a aplicação de ações que podem combater o preconceito racial no espaço escolar.
Palavraschave: Preconceito racial; Escola; Cultura africana e afrobrasileira.
1 Introdução
Como uma das ações do PDE, este artigo traz os resultados das reflexões
sobre o preconceito racial existente nas relações sociais estabelecidas no ambiente
escolar, obtidos a partir da implementação ocorrida no segundo semestre de 2011,
1 Pósgraduação em História; graduação em Estudos Sociais; atua no Col.Est.do Campo Margarida Franklin Gonçalves.2Professora Adjunta do Departamento de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná –CCHE/Jacarezinho.
2
com alunos da 8ª série do ensino Fundamental, do Colégio Estadual do Campo Profª
Margarida Franklin Gonçalves.
É comum na prática escolar da disciplina de História não trabalharmos a
diversidade cultural advinda da África, sendo assim, as atividades planejadas a partir
de uma unidade didática, como uma das fases do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), discutindo questões relacionadas a História e cultura afro
brasileira e o preconceito racial, justificam esse artigo e também o fato de que
enquanto professora observouse algumas dificuldades de aprendizagem e de
socialização entre alunos na escola advindas das discriminações existentes entre
crianças negras e brancas.
Nesse sentido, o conhecimento da cultura afrobrasileira e a reflexão sobre
preconceito racial e discriminação entre os alunos pretendem amenizar tais
situações, além de promover a autoafirmação étnica dos afrobrasileiros (re)
construindo sua identidade e elevando sua autoestima. Dentro desse contexto
apresentado, a questão que norteia este estudo é conhecer quais são os tipos de
ações que podem combater o preconceito racial no Colégio Estadual do Campo
Profª Margarida Franklin Gonçalves.
Desta forma, objetivouse proporcionar aos alunos da 8ª série uma reflexão
da história da cultura africana e afrobrasileira, para aquisição de conhecimentos e
articulação dos conteúdos com o preconceito racial que vivenciam na escola,
observando as diferenças e preconceitos existentes no espaço escolar e lutar pela
construção de uma sociedade mais democrática, respeitando a diversidade cultural
e suas expressões em todos os espaços sociais.
É comum na sociedade, depararse com conflitos de caráter étnico racial,
não sendo diferente no interior da escola, onde se excluem e desconsideram
sujeitos em decorrência da aparência, raça, cor, sexo, etc. Dessa forma sustentase
o preconceito e a discriminação no cotidiano escolar. Esse fato reflete nos aspectos
psicológicos e cognitivos dos alunos que ainda estão em processo de formação,
assim contribuindo para o aumento dos índices de atraso e evasão escolar.
O trabalho foi realizado com base em teóricos que analisam temas como o
preconceito racial e a discriminação, como Cavalleiro (2001); Gomes (2005);
3
Munanga (2005); Sant'Ana (2005), bem como nas legislações brasileiras que tratam
sobre as mesmas questões como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais e
para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana (2004).
Utilizouse, também da pesquisa em ação na qual aplicouse diversas
atividades no decorrer de cinco meses no ano letivo de 2011 para alunos da 8ª série
no colégio de implementação que tiveram por objetivos: mostrar a importância de
combater o preconceito racial no espaço escolar; conhecer determinados conceitos
para aprender a valorizar os contrastes e diferenças entre as pessoas; melhorar o
relacionamento entre os alunos e elevar a autoestima das crianças negras; favorecer
a identificação de alunos com raiz afrodescendente; valorizar a cultura negra como
forma de amenizar as situações de preconceito, racismo e discriminação em sala de
aula; compreender as representações de estigma, discriminação e estereótipo, a fim
de superar as ações geradas pelo preconceito; desmistificar a visão estereotipada
do negro, para que ele deixe de ser o diferente; contribuir para a formação da
identidade e para a cidadania de negros e não negros; melhorar o relacionamento
entre os alunos, bem como promover a reflexão e a compreensão acerca da história
do povo brasileiro.
A partir das ações desenvolvidas foi possível trabalhar com os alunos sobre
a problemática da existência do racismo nas relações sociais dentro da escola e
ainda a prevenção como uma forma de diminuir, amenizar ou mesmo eliminar as
situações de preconceito, racismo e discriminação no espaço escolar. Considerou
se importante a aquisição de conhecimentos sobre o negro e sua história,
possibilitando, por meio do reconhecimento da história da trajetória do negro no
Brasil, o desenvolvimento de ações de respeito e tolerância.
Ao final da implementação do projeto, evidenciouse o aumento da
autoestima de alunos negros e afrodescendentes bem como maior respeito pela
diversidade e o valor da cultura negra. A unidade didática possibilitou uma abertura
para a escola trabalhar o tema do preconceito racial e, acrescentou mais um tijolinho
na construção da cidadania. Proporcionou aos alunos o reconhecimento de que é
4
possível viver e conviver com costumes e modos de vidas diferentes, num espaço
de respeito mútuo.
Sendo assim, este trabalho, em última instância, pretende proporcionar aos
profissionais da educação e principalmente aos alunos fazer uma reflexão sobre as
atitudes de preconceito presente no seu cotidiano, que às vezes passam
despercebidas e causam marcas indeléveis no desenvolvimento afetivo, cognitivo e
emocional de quem a sofre.
2 Preconceito e Racismo: Discriminação Racial
No Brasil, a discriminação racial é reconhecida pela Constituição
Federal/1988 (CF) e pune severamente o crime de racismo, entretanto, observase
que a prática de atitudes preconceituosas, nem sempre consegue ser inibida. O
problema na sociedade brasileira não é a falta de leis, mas sim a falta da sua
aplicabilidade.
A Constituição Federal nos seus artigos 5º, inciso l do art. 210, Art. 206,
inciso l do Art. 242, Art. 215 e art. 216, bem como nos Art. 26 A e 79 B dispostos na
LDB n. 9.394/96 asseguram o direito à igualdade de condições de vida e de
cidadania, assim como garantem igual direito às histórias e culturas que compõem a
nação brasileira, além do direito de acesso às diferentes fontes da cultura nacional a
todos os brasileiros (BRASIL, 2011b).
Sendo assim, estes dispositivos legais são utilizados para fundamentar as
reflexões sobre o racismo e preconceito nas escolas da rede pública e privada no
país, bem como no empenho da valorização da História e cultura dos afrobrasileiros
e africanos, além do comprometimento com a educação étnicoraciais em que todos,
igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.
Consoante a esses dispositivos elencados, temse como forma de
orientação e parâmetros para ser trabalhado nas escolas brasileiras o que está
disposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como tema transversal, isto
é, a Pluralidade Cultural que traz que essa temática está relacionada "ao
conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes
grupos sociais [...], às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais
5
discriminatórias e excludentes", que estão presentes na sociedade brasileira,
"oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo,
multifacetado e algumas vezes paradoxal" (BRASIL, 1997, p. 121).
Todavia, o legislado na Constituição Federal/88, na LDB n. 9.394/96 e as
orientações dadas pelos PCN/97, não foram suficientes para que a escola
trabalhasse e minimizasse os problemas relacionados com o racismo e preconceito
racial existente no contexto escolar.
Entendendose que a escola tem um papel fundamental, enquanto espaço
onde se dá a convivência entre alunos "de diferentes origens, com costumes e
dogmas religiosos diferentes daqueles que cada um conhece, com visões de mundo
diversas daquela que compartilha em família" (PCN, 1997, p. 123), cabe a análise da
presença do passado no presente e das identidades nesta convivência.
Como local onde as regras sociais são ensinadas, a escola deve
desenvolver o convívio democrático com a diferença e, também, ao apresentar aos
alunos os conhecimentos sistematizados sobre o país e o mundo, possibilitar
discussões e reflexões sobre a realidade plural de um país como o Brasil (PCN,
1997).
Neste aspecto, Gomes (2005, p. 154) explica que a escola sendo uma
instituição que tem o papel de atuar junto à formação humana, incluindose a
diversidade étnicoracial, não deve ficar alheia e nem enfatizando somente o
conhecimento conteudista "esquecendo de que o humano não se constitui apenas
de intelecto, mas também de diferenças, identidades, emoções, representações,
valores, títulos". Sendo assim, a autora diz que entende "o processo educacional de
uma maneira mais ampla e profunda" acreditando que é possível um avanço e
trabalho competente, por parte dos professores, "em relação à diversidade étnico
racial" (GOMES, 2005, p. 154).
A autora citada enfatiza a importância do papel social da escola, alertando
que a mesma não deve priorizar somente o aprendizado de conteúdos, mas antes
disto e com isto atender aos aspectos das diferenças entre as pessoas, na verdade,
de atender ao sujeito como ser total.
6
Ainda que se compreenda o papel da escola e as legislações, somente a
partir do ano 2003, com os ajustes na LDB n. 9.394/96, advindos da implantação da
História da África e Cultura AfroBrasileira, através da lei 10.639/03, que estabelece
a obrigatoriedade nos currículos escolares em toda a rede de ensino pública ou
privada e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana
(DCN), aprovada em 10/3/2004, é que a escola focalizou o tema racismo e
preconceito racial.
Foi nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN, 1998) que se intensificou a
decisão política, que acabou abrangendo, inclusive, a formação dos professores
quanto à inclusão de História e cultura afrobrasileira e africana, em que reconhece a
importância da valorização da história e cultura do povo negro.
Partindo desse contexto é que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações ÉtnicoRaciais e para o Ensino de História e Cultura Afro
Brasileira e Africana trata das políticas de reparações, de reconhecimento e
valorização, de ações afirmativas em “que o Estado e a sociedade tomem medidas
para ressarcir os descendentes de africanos negros, dos danos psicológicos,
materiais, sociais, políticos e educacionais sofridos sob o regime escravista [...]”
(BRASIL, 2004, p. 3).
Neste sentido, as DCN (1998) indicam que estudar o povo negro, não
significa a restrição a ela apenas, "ao contrário, diz respeito a todos os brasileiros,
uma vez que devem educarse enquanto cidadãos atuantes no seio de uma
sociedade multicultural e pluriétnica, capazes de construir uma nação democrática"
(BRASIL, 1998, p. 17).
Indicase, pois que não adianta somente manter vagas para negros na
escola, mas a atenção das políticas públicas na educação seja de abertura de vagas
vinculada a permanência deles na escola e o respeito aos direitos destes enquanto
pessoa humana deve, também, estar inseridos no trabalho escolar.
Possivelmente, com a inserção destas legislações na educação brasileira
priorizouse o tema racismo e preconceito racial nas escolas, pois compreendese
que "o silêncio que atravessa os conflitos étnicos na sociedade é o mesmo que
7
sustenta o preconceito e a discriminação no interior da escola" (CAVALLEIRO, 2001,
p. 98).
No entanto, promover políticas públicas na área da educação requer
"medidas de ampliação do acesso e melhoria da qualidade do atendimento aos
grupos historicamente discriminados – negros, indígenas, mulheres, homossexuais,
entre outros". Analogamente, as ações de respeito à diversidade e combate à
discriminação devem fazer parte da formação acadêmica, já que fica evidenciada o
não respeito à diversidade e "tampouco contemplado o debate dos temas"
(PARANÁ, 2009, p. 262).
Neste sentido, é preciso implantar ações, na prática, objetivando romper
atitudes racistas na escola e criar um espaço escolar de cooperação, onde todos
possam sentirse iguais, tendo os mesmos direitos. Para criar estratégias educativas
e pedagógicas com critério igualitário, reconhecendo, valorizando e respeitando o
outro, é preciso e urgente, então, a abordagem desses temas nos cursos de
formação inicial e continuada de professores.
Entretanto, Munanga (2005, p. 17) registra que é necessário muito mais que
leis, formação e conhecimento para que se trate do tema preconceito e racismo,
explicando que "não existem leis no mundo que sejam capazes de erradicar as
atitudes preconceituosas existentes nas cabeças das pessoas, atitudes essas
provenientes dos sistemas culturais de todas as sociedades humanas".
Neste sentido, Munanga (2005) lembra que a escola é capaz, através de
seu papel social e não só como transmissora de conteúdos, de provocar reflexões
em seu interior com as atividades no cotidiano sem que se espere que as leis
aconteçam para acabar com atitudes preconceituosas.
Castro (2005 apud PARANÁ, 2009, p. 32), aborda a importância dos
professores serem estimulados ao exercício e conhecimento de uma educação para
a cidadania e o respeito às diferenças, já que o papel destes profissionais é de
extrema importância no contexto escolar, dizendo que é necessário "estimular os
professores para estarem alertas, para o exercício de uma educação por cidadanias
e diversidade em cada contato, na sala de aula ou fora dela, em uma brigada
vigilante antiracista", confirmando ações de respeito aos "direitos das crianças e
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jovens, tanto em ser, como em vir a ser; não permitindo a reprodução de piadas que
estigmatizam [...]. O racismo, [...] que temos em nós se manifesta de forma sutil; não
é necessariamente intencional e percebido".
Sendo assim, cada pessoa, enquanto professor tem suas concepções e
práticas de acordo com a vivência pessoal, familiar e cultural e que se não for
trabalhada podem interferir no trato com os alunos no cotidiano da escola, da sala
de aula e por esta razão se tem a necessidade de estimular os professores (as) para
o exercício da cidadania.
Dadas tais questões é preciso que se entenda o significado (conceituação)
de preconceito existente na sociedade que se reflete no contexto escolar e que, pela
vivência profissional da pesquisadora, se revela no dia a dia da escola, seja em sala
de aula como em outros espaços escolares, quando se compreende que preconceito
"é uma opinião preestabelecida, que é imposta pelo meio, época e educação. Ele
regula as relações de uma pessoa com a sociedade", de acordo com Sant'Ana
(2005, p. 62).
De qualquer modo, o conceito de preconceito se refere a estigmas e
estereótipos julgados previamente de forma negativa que as pessoas fazem do
outro.
Depois de conhecer o significado de preconceito, é importante esclarecer
que neste trabalho fazse uma abordagem específica ao preconceito racial, que de
acordo com Valente (apud LOPES, 2005, p. 188) quer dizer "ideia preconcebida,
suspeita de intolerância e aversão de uma raça em relação a outra, sem razão
objetiva ou refletida [...]. Discriminação racial é atitude ou ação de distinguir [...]."
Isto indica que o preconceito é sempre uma atitude de alguém para com o
outro, ou para com grupos de pessoas, é sempre negativa e de desvalorização,
considerando a pessoa ou grupo "indigno de convivência no mesmo espaço,
excluído moralmente", conforme indica Lopes (2005, p. 188).
No material de Gênero e Diversidade na escola há a seguinte explicação de
racismo:
"[...] doutrina que afirma não só a existência das raças, mas também a superioridade natural e, portanto, hereditária, de umas sobre as outras. A atitude racista, por sua vez, é aquela que atribui qualidades
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aos indivíduos ou grupos conforme o seu suposto pertencimento biológico a algumas das diferentes raças e, portanto, conforme as suas supostas qualidades ou defeitos inatos e hereditários. Assim, o racismo não é apenas uma reação ao outro, mas uma forma de subordinação do outro”. (PARANÁ, 2009, p. 35).
E sendo forma de subordinação do outro, a discriminação racial e o racismo,
enquanto conduta e doutrina violam os direitos da pessoa, e é condenada pela
Constituição Federal/88 e tratado também na Convenção da ONU sobre a
Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial que em seu artigo 1º, define
discriminação racial como "qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência
baseados em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, que tenha por
objeto ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, o gozo ou o exercício [...]"
assinalando, também, que seja "em condições de igualdade, dos direitos humanos e
liberdades fundamentais no domínio político, econômico, social e cultural ou em
qualquer outro domínio da vida pública". (BRASIL, 2011, p. 1).
De todo modo, é necessário e urgente que se valorize a diversidade e a
memória coletiva nacional, seja na sociedade e no contexto escolar, para que cada
cidadão reconheça o seu valor na construção da identidade nacional, independente
da cor da pele e, que todos comprometidos com a educação de negros e brancos,
venham relacionarse com respeito, sendo capazes de corrigir atitudes de
desrespeito e discriminação (DCN, 1998).
Sobre a construção da identidade e da memória coletiva nacional, voltada
para a população negra, Munanga (2005, p. 16) expressa que "o resgate da
memória coletiva e da história da comunidade negra não interessa apenas aos
alunos de ascendência negra. Interessa também aos alunos de outras ascendências
étnicas, principalmente branca", já que não cabe somente a ela, mas inclusive aos
brancos que acabaram por ser afetados, tanto uma quanto a outra, por preconceitos
na memória cultural dos povos.
Daí dizer que essa memória coletiva "pertence a todos, tendo em vista que a
cultura da qual nos alimentamos, [...] é fruto de todos os segmentos étnicos [...] que,
contribuíram [...] na formação da riqueza econômica e social e da identidade
nacional” (MUNANGA, 2005, p.16).
10
No entanto, ainda que se queira resgatar a memória coletiva e a história da
comunidade negra, observase que a população negra é menor que a branca e
geralmente pobre e indigente, o que marca o preconceito racial enraizado na cultura
brasileira, que é explicitado por Henriques (2003 apud PARANÁ, 2009, p. 225):
[...] os negros, em 1999, representavam 45% da população brasileira, mas 64% da população pobre e 69% da população indigente. Os brancos, por sua vez, correspondiam a 54% da população total, mas somente 36% dos pobres e 31% dos indigentes. Ocorre que dos 53 milhões de brasileiros pobres, 19 milhões são brancos, 30,1 milhões, pardos e 3,6 milhões, pretos. Entre os 22 milhões de indigentes temos 6,8 brancos, 13,6 pardos e 1,5 pretos.
Estes dados indicam as desigualdades sociais e a discriminação racial da
população negra e pobre no Brasil e que incide no preconceito racial na sociedade
brasileira, que também está relacionado aos conceitos dados na escola, durante
muito tempo, através dos livros e materiais didáticos e, inclusive, das atitudes dos
professores e outros profissionais que atuam no contexto escolar, situação que
Munanga (2005, p. 16) afirma dizendo que "não precisamos ser profetas para
compreender que o preconceito incutido na cabeça do professor e sua incapacidade
em lidar profissionalmente com a diversidade, [...] desestimulam o aluno negro e
prejudicam seu aprendizado". Estas, entre outras situações do cotidiano escolar são
pontuadas pela autora como sendo a causa "de repetência e evasão escolar
altamente elevado do alunado negro, comparativamente ao do alunado branco"
(MUNANGA, 2005, p. 16).
Este é um indicativo do quanto a escola precisa refletir sobre as experiências
vivenciadas por negros no contexto escolar que reforçam as imagens estereotipadas
e preconceituosas nos alunos e do quantos estes contribuem para o fracasso
escolar.
Finalmente, esperase que os alunos vençam os preconceitos, estereótipos
e estigmas, garantindolhes uma sociedade mais justa, mais democrática e mais
igualitária e que venha transformar a estrutura do espaço escolar em local melhor
para a convivência de todos. Nesse sentido, Hasenbalg (2003, p. 98), cita sobre "a
importância e a urgência em se erradicar todas as formas de discriminação,
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baseadas em gênero, raça, cor, etnia, idade, nacionalidade, religião e demais
critérios".
Acreditase que para a garantia dos "direitos civis, políticos, sociais,
econômicos e culturais, ou seja, para se assegurar o pleno exercício da cidadania,
próprio dos regimes democráticos de direito", é prioritário e essencial que se elimine
todas as formas de discriminação.
O conhecimento é direito de todos e um instrumento fundamental para a
conquista da cidadania, e a escola representa um espaço privilegiado para
providenciar meios de inserir oportunidades, de ampliar seus conhecimentos e
ajudar a formação da identidade étnicocultural dos alunos negros e não negros.
O essencial é que se faça conhecer o que determina as leis e aprendam a
conviver com elas num espaço democrático de respeito e não somente de
obrigação.
A despreocupação com a questão da convivência entre várias culturas e
etnias, quer na família, quer na escola, pode colaborar para a formação de
indivíduos preconceituosos e discriminadores.
No espaço escolar há toda uma linguagem não verbal expressa por meio de
comportamentos sociais e disposições; formas de tratamento, atitudes, gestos, tons
de voz e outras que transmite valores marcadamente preconceituosos e
discriminatórios, comprometendo, assim, o conhecimento a respeito do grupo negro.
Menezes (2002, p. 79), evidencia o fato da necessidade de reeducação para
que a sociedade possa refletir sobre as opressões racistas, o que confirma Silva
(2005, p. 26) quando explica que vários professores ainda representam baixa
expectativa relacionada aos alunos negros e de classes populares. "As origens
dessa baixa expectativa podem estar na internalização da representação do negro
como pouco inteligente, 'burro', nos meios de comunicação e materiais
pedagógicos".
Confirmando as evidências que Munanga (2005) faz sobre os problemas
existentes na escola, também em relação às atitudes dos professores é que se
evidencia na abordagem feita por Silva (2005) que considera o desinteresse,
12
repetência e evasão escolar com base no que a cultura disseminou e, ainda
dissemina, com relação aos negros sobre a capacidade intelectual dessa população.
Ao se achar igualitária, livre do preconceito e da discriminação, a escola tem
perpetuado desigualdades de tratamento e minado efetivas oportunidades
igualitárias a todas as crianças e, que segundo Cavalleiro (2005, p. 59) está
pontuada nas agressões verbais e físicas emanadas aos afrobrasileiros no contexto
escolar que não são levados como importantes e sérios, o que o autor indica "que
uma parcela significativa da sociedade subestima a relevância social, moral e ética
dos procedimentos antissociais, não raciocinando as conseqüências localizadas e
amplas de tais fatos".
Com base no referencial teórico adotado, a linguagem verbal e não verbal
usada na escola é impregnada de preconceitos, resultando em atos, atitudes
discriminatórias e ofensas raciais, fortalecendo cada vez mais o racismo.
Gomes (2005, p. 143146) ao discutir sobre o documentário intitulado Olhos
Azuis3 considera necessário que seja trabalhado na escola a questão do preconceito
racial. Entretanto, a autora alerta para os cuidados que é preciso ter ao tratar do
assunto e indica que para que a escola avance em relação aos problemas
relacionados entre conteúdos (saberes escolares) e a realidade social "é preciso que
os (as) educadores (as) compreendam que o processo educacional também é
formado por dimensões como a ética, as diferentes identidades, a diversidade, a
sexualidade, a cultura, as relações raciais, entre outras".
Nesse contexto, a escola deveria ser então um lugar que mostre os
caminhos, amplie horizontes, que possibilite aos alunos aquisição do conhecimento
de que necessitam para viverem como cidadãos plenamente reconhecidos e
conscientes de seu papel na sociedade, tendo em vista objetivos comuns, visando a
uma sociedade mais justa e igualitária, ao invés de contribuir para perpetuar
situações discriminatórias e excludentes com consequências desastrosas tanto para
a autoestima quanto para o aproveitamento escolar dos alunos.
3 Esse documentário relata a experiência da Sra. Jane Eliot, professora e psicóloga branca nos EUA, que organiza e desenvolve um workshop com pessoas de diferentes grupos étnico/raciais para discutir sobre o racismo e seus desdobramentos. (GOMES, 2005, p.143).
13
3 Ações e Resultados do Projeto de Implementação
A proposta a partir da unidade didática iniciouse com a apresentação do
projeto aos alunos. O ponto inicial para a discussão da temática foi a análise de
imagens de pessoas brancas e negras. Os alunos discutiram as imagens e
relataram o que pensavam da frase de Gilberto Freyre: “Todo brasileiro mesmo o
alvo, de cabelo loiro traz na alma, quando não no corpo, a sombra, ou pelo menos a
pinta, do indígena ou do negro”. (FREYRE, 2000, p. 343).
Nessa atividade, os alunos dispuseramse em círculo, sentados no chão
observaram e analisaram as imagens, dando a sua opinião, um de cada vez,
falando e ouvindo. Nesse primeiro momento os alunos estavam retraídos e tímidos
ao darem sua opinião em público. Pôdese observar que se sentiram sensibilizados
ao serem despertados para essa atividade, passando a reconhecer o processo de
desvalorização da imagem do negro e a idealização e a compreensão do mundo dos
brancos. Muitos alunos presentes no grupo com características afrodescendentes
negligenciavam os seus valores referentes às raízes africanas.
Na sequência, em outra aula, no dia 11 de agosto de 2011, realizouse com
o grupo de alunos, um levantamento prévio sobre os seguintes conceitos: raça,
preconceito, discriminação e estereótipo. Esta atividade teve como propósito inicial
observar o conhecimento que os alunos possuíam destes conceitos e seus
respectivos significados. Pôdese observar que eles tiveram dificuldades de
expressaremse de forma oral e escrita os conceitos relacionados à questão racial e
não manifestaram nenhuma atitude de repúdio às práticas preconceituosas.
Portanto, o desafio maior da unidade foi no decorrer deste trabalho, despertar nos
alunos a necessidade de mudança de conduta em relação ao preconceito e
discriminação, estimulandoos a convivência e a aceitação em relação às diferenças
étnicoraciais.
No terceiro encontro, em 18 de agosto de 2011, apresentouse um texto da
Revista Vida Simples, escrito por Bernardo Ramirez (2010), com o título
“Preconceito, eu?”, em que o escritor aborda o fato das pessoas não reconhecerem
o preconceito, ou seja, que ninguém admite ser preconceituoso.
14
Nesse dia, também aconteceu a exibição do vídeo TV pendrive, sobre o
clássico da literatura nacional “Menina bonita do laço de fita”, de autoria de Ana
Maria Machado (2000), que trata do respeito às próprias diferenças e as do outro.
O preconceito camuflado, conforme revelam as pesquisas indicadas no texto
de Ramirez (2010) traz a reflexão da importância de se pensar sobre o que cada
pessoa considera sobre o outro, enquanto que Machado (2000) revela o respeito a si
próprio e a aceitação de sua cor ao falar do negro e do branco.O objetivo desta
atividade foi a sensibilização para o tema, a partir da leitura e a observação das
cenas do vídeo. A história possibilitou apresentar aos alunos o valor da diversidade
étnicocultural e contribuir para promover a igualdade racial a partir da raça negra,
favorecendo a identificação dos alunos negros com a sua raiz cultural africana e
também elevar a sua autoestima.
Procurouse enfatizar a luta pela democratização e que a sala de aula deve
ser um encontro da diversidade, do respeito às diferenças culturais, religiosas,
raciais e outras. Um espaço que garante a igualdade racial no sistema de ensino.
Foi observado que os alunos reconheceram a importância da construção da
identidade étnica. Eles também perceberam o valor da diversidade a partir da raça
negra. Ao término da aula montaram cartazes com frases que valorizam o negro e,
transmitem ideias que combatem o preconceito racial e a discriminação, como as
seguintes:
“Diga não ao preconceito”;
“Eu sou branco, você é negro e vivemos juntos”;
“Preconceito racial você pensou nisso?”;
“Viver em paz: brancos e negros...racismo nunca mais”.
No quarto momento, em 25 de agosto de 2011, para iniciar a aula foi feita a
leitura de um texto veiculado na internet4 e divulgado por Gilmar Lopes (2010) de
uma situação, que aconteceu dentro de uma aeronave da empresa TAM, de
preconceito racial. Todos receberam uma cópia do texto, leram, refletiram e
trocaram ideias sobre atitudes discriminatórias e as consequências desastrosas que
o racismo causa no indivíduo, interferindo nos sentimentos e emoções.
4Disponível em: http://www.efarsas.com/preconceitoemumvoodatamterminacomfinalfeliz.html
15
Neste dia também foi feito o estudo acerca da Lei Federal 10.639/03, que
obriga o ensino da história e cultura africanas e afrobrasileiras, considerando que é
preciso conhecer para respeitar.
Foi discutida também a Constituição Federal de 1988, a lei máxima no
Brasil, que afirma que somos iguais perante a lei, não sendo admitidos preconceitos
de origem de raça, sexo e cor, idade, ou quaisquer outras formas de discriminação.
Estas atividades de conhecimento sobre as legislações permitem que elas
façam parte do cotidiano escolar e social do aluno. É fundamental que os alunos
conheçam e discutam as medidas legais antirracistas no combate ao racismo e a
discriminação, para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Ao estudarem de forma analítica o Art. 5 da Constituição Federal de 1988,
que determina a prática do racismo como crime inafiançável e imprescritível,
observouse que os alunos ficaram assustados ao tomarem conhecimento das leis
que regem a nossa sociedade. Reconheceram a dimensão, o peso e a importância
das normas constitucionais e, que devem ser cumpridas e respeitadas.
Assim que concluíram este trabalho, os alunos apresentaram em sala de
aula aos demais colegas do ensino fundamental (5° ao 9°ano) o que aprenderam
em relação às leis e de que maneira estas podem colaborar nas transformações
sociais, políticas e educativas. Os alunos, de modo geral, demonstraram
conhecimento, entusiasmo e confiança durante a apresentação.
Entre 01 e 08 de setembro de 2011, fezse a apresentação das imagens da
reportagem: Preconceito, eu? de Ramirez (2010) que foram salvas no pendrive e
mostradas na TV da sala de aula. Cada imagem trazia uma frase que foi discutida
com os alunos conforme pode se observar nas figuras 1 e 2, abaixo:
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Figura 1: Quando o assunto é preconceito, sempre achamos que o problema está no outro.Foto: Marcelo ZocchioFonte:http://mdemulher.abril.com.br/bemestar/reportagem/autoajuda/preconceitoeu609350.shtml
Figura 2: Somos imperfeitos, mas é importante conhecer nossos preconceitos mais velados para poder combatêlos.Foto: Marcelo ZocchioFonte:http://mdemulher.abril.com.br/bemestar/reportagem/autoajuda/preconceitoeu609350.shtml
Com essas imagens os alunos observaram as diferenças entre as frutas na
figura 1 e discutiram a frase concluindo que cada pessoa observa a imagem de
acordo com sua própria interpretação que segue a visão que eles têm do mundo e
das pessoas. Disseram que muitas vezes aconteceu de terem tido atitudes e falas
preconceituosas sem terem se dado conta disso.
Na figura 2 observaram a imagem dizendo que as diferenças podem
conviver bem e que os homens também deveriam perceber que não é tão difícil
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conviver com as diferenças. Tomando a frase como verdadeira, refletiram que o
homem precisa pensar melhor nos seus atos e falas.
Por meio dessas atividades os alunos puderam reconhecer que todas as
pessoas têm um tipo de preconceito camuflado e que é preciso combater estas
atitudes de preconceito e discriminação. Mesmo tendo costumes e modos de vidas
diferentes, podese viver e conviver com respeito mútuo em todos os espaços
sociais.
Na aula seguinte, retomaram as imagens sem as frases e apresentouse
outra, de Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua
pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.5
Nesse momento os alunos compreenderam que a questão do preconceito
pode ser desaprendida e de que é possível sim vencer a discriminação, respeitando
as diferenças que existem entre as pessoas.
A realização de pesquisa sobre a história do negro no Brasil intitulada
“Escravidão no Brasil”, aconteceu na biblioteca da escola em duas datas, 22 e 29 de
setembro de 2011, momentos em que os alunos aprenderam a utilizar recursos
como livros, internet, entre outros. Este momento foi muito especial, pois
apresentaram o resultado do trabalho acerca do tema para os demais colegas.
Conseguiram expor e manifestar suas indignações às práticas racistas e condições
desumanas em que viviam e eram tratados os negros.
No encontro do dia 06 de outubro de 2011, o senhor Emídio Rodrigues dos
Santos, cidadão negro ibaitiense, narrou sua história de vida e mostrou a luta que
enfrenta para superar o preconceito racial. Discursou sobre a promoção da
igualdade, ressaltou a discriminação que há séculos perseguem os negros e relatou
suas experiências de sucesso para o enfrentamento do preconceito racial.
Aprofundou os debates acerca do que é ser negro no Brasil nos dias de hoje.
Em 13 de outubro de 2011, promoveuse a exibição do filme “Vista Minha
Pele” em que foi convidado o palestrante Sr. Emídio Rodrigues dos Santos que
compareceu e assistiu na companhia dos alunos. Este vídeo teve o propósito de
5 PÉ NA ÁFRICA. Disponível em: http://geografia2011.wordpress.com/.
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incrementar a discussão sobre o racismo e preconceito racial. Foi distribuída uma
ficha catalográfica, para que os alunos preenchessem após a exibição do filme. Em
seguida, ocorreu um espaço para debate, diálogo e troca de experiências vividas
pelos alunos em relação aos problemas enfrentados, semelhantes à história do filme
como ofensas, humilhações e desrespeito.Finalmente, os alunos mostraram grande
interesse pelo assunto e o entendimento de atitudes que podem combater a
discriminação e os preconceitos. Se colocar na pele de quem sofre o preconceito, é
a melhor maneira para entender a discriminação.
Dando continuidade às ações para implementação do projeto, nos cinco
encontros do mês de novembro as seguintes atividades foram desenvolvidas:
1. Montagem de um painel, com frases afirmativas contra o preconceito
racial, com a finalidade de promoção da Igualdade Racial:
“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, ainda
haverá guerra” (Bob Marley);
“O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que
fazem o mal, mas sim, por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer”
(Albert Einstein);
“A minha pele é memória, sonhos; desejos escondidos em cada povo. A
minha pele é manhã, tarde, mas sobretudo noite” (Cuti escritor do grupo
Quilombhoje6);
“Eu odeio o racismo, pois o considero uma coisa selvagem, venha ele de um
negro ou de um branco” (Nelson Mandela);
“O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito, desfazse, basta a
simples reflexão.”(Machado de Assis)
”Enfrentar preconceitos é o preço que se paga por ser diferente.” (Luiz
Gasparretto).
6 O QUILOMBHOJE LITERATURA, grupo paulistano de escritores, foi fundado em 1980, por Cuti, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Abelardo Rodrigues e outros, com objetivo de discutir e aprofundar a experiência afrobrasileira na literatura. O grupo tem como proposta incentivar o hábito da leitura e promover a difusão de conhecimentos e informações, bem como desenvolver e incentivar estudos, pesquisas e diagnósticos sobre literatura e cultura negra. Disponível em: http://www.quilombhoje.com.br/quilombhoje/historicoquilombhoje.htm
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O painel ficou exposto no refeitório do colégio, com o propósito de que todos
os alunos visualizassem todos os dias estas frases, a fim de sensibilizar e despertar
o respeito ao diferente e, desse modo, contribuir para mudar atitudes de preconceito
e de discriminação.
2. Dinâmica de Grupo: “Valorização da etnia Negra: Respeitando as
Diferenças” em que cada grupo confeccionou uma boneca negra de papel para
contextualizar a compreensão dos conceitos: preconceito, discriminação e
estereótipo. O trabalho possibilitou desenvolver atitudes de solidariedade e
cooperação, além do respeito ao outro, mesmo que este seja diferente.
3. Apresentação da música “Racismo é Burrice” (Gabriel o Pensador7). A
música foi escolhida como uma estratégia, para sensibilizar os alunos a trabalharem
a questão racial no espaço escolar. Gabriel o Pensador, expressa na letra, um grito
de protesto ao preconceito racial, que impera em nossa sociedade. A análise da
letra da música foi realizada em dois momentos: no primeiro, os alunos destacaram
palavras ou frases que manifestavam atitudes preconceituosas, discriminatórias e
excludentes. No segundo momento, o grupo buscou relacionar os problemas
gerados pelo preconceito apresentados na música e analisaram a forma como o
autor critica o preconceito racial. Em seguida, os alunos responderam as seguintes
questões em uma discussão em grupo e depois socializaram para a turma:
1. O preconceito aumenta e reforça o racismo? Por quê?
2. Quais os problemas que podem ocorrer com as pessoas vítimas de
preconceito?
A conclusão dos alunos, a partir das discussões na classe, foram que o
preconceito fere a pessoa, ofendea e de que a sociedade ainda precisa discutir e
refletir mais sobre as questões de preconceito e racismo.
Para finalização das propostas, em dezembro, fezse a apresentação final
do projeto à comunidade escolar. Juntamente com a comemoração do Dia Nacional
da Consciência Negra8, realizada por uma equipe interdisciplinar, com shows e
apresentações, os alunos do projeto tiveram a oportunidade de participar
7 Músico brasileiro.8 Esta data foi estabelecida pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Foi escolhida a data de 20 de novembro, pois foi neste dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares.
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ativamente, cantando o Rap de Gabriel o Pensador e dançando a música Black or
White de Michael Jackson9.
CONCLUSÃO
Ao final dos trabalhos, percebeuse o fortalecimento da autoestima dos
alunos, principalmente dos afrodescendentes, no momento em que eles se
perceberam integrantes de uma cultura valorizada.
Aprenderam a identificar, controlar, enfrentar e superar os preconceitos e
estereótipos implícitos nas relações do dia a dia, dentro e fora da escola. Tornaram
se mais sensíveis e propícios a enfrentar sua condição racial, sem se sentirem
diferentes de ninguém.
Foi possível observar que no decorrer das atividades os alunos construíram
uma imagem positiva do continente africano, valorizando a História afrobrasileira,
desmistificando a visão estereotipada que se tem do negro, assim como acendeu a
curiosidade acerca da cultura africana.
Enfim, a experiência contribuiu para amenizar a discriminação racial e
promover a melhor convivência entre os alunos no espaço escolar, fato que se
comprova ao verificar que atitudes preconceituosas foram evitadas pelos alunos
passando a uma harmonização e relacionamento mais adequado entre eles.
Estes foram os passos iniciais, compreendendo que um trabalho desse porte
deve ser frequente no ambiente escolar visto que, a médio e a longo prazo,
possibilita aos alunos e aos educadores formas de convivência harmoniosa,
contribuindo no combate ao preconceito racial e promovendo a igualdade racial no
sistema de ensino.
REFERÊNCIAS
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9 Cantor e compositor americano.
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