PRESCRIÇÃO RACIONAL EM MEDICINA VETERINÁRIA

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/14/2019 PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA

    1/10

    A PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA E OSNOMES DOS FRMACOS DOS MEDICAMENTOS ALOPTICOS

    RATIONAL PRESCRIPTION IN VETERINARY MEDICINE AND THENAMES OF ACTIVE SUBSTANCES OF ALOPATIC MEDICINES

    Augusto Langeloh1

    - REVISO BIBLIOGRFICA -

    RESUMO

    Este artigo revisa a questo da prescrio dos medicamentos, no exerccio da clnicaveterinria, ressaltando as dificuldades e/ou problemas que podem resultar daexistncia de diversos nomes atribudos a um mesmo frmaco. Os frmacos tem vriasdenominaes: o nome qumico, os nomes genricos e o nome comercial. Cada frmaco

    pode estar presente em mais de uma especialidade farmacutica produzida pelasdiversas indstrias farmacuticas e recebe uma denominao comercial distinta. Uma

    portaria ministerial aprovou as Denominaes Comuns Brasileiras baseadas naterminologia recomendada pela Organizao Mundial da Sade para o nome genricodos frmacos. mas parte da indstria farmacutica de medicamentos de uso mdico

    veterinrio ainda no emprega a denominao recomendada em seus produtos. Amultiplicidade resultante cria dificuldades e pode induzir o mdico-veterinrio a errosno momento da prescrio ou utilizao de medicamentos alm de obrig-lo a

    freqentes consultas a compndios a procura da sinonmia mais conhecida paraexercer uma teraputica racional. Por outro lado, o intercmbio comercial decorrentedo acordo Mercosul, se incluir a comercializao de medicamentos veterinrios, pode

    gerar dificuldades adicionais caso no sejam adotadas normas uniformes nadenominao das substncias ativas entre os pases signatrios do acordo.

    Palavras-chave:nome genrico, nome qumico, nome comercial, nomes de frmacos,prescrio, receita.

    SUMMARY

    Drugs can be designed by their chemical name, by their generic (or non proprietary)names and by the commercial (or proprietary) name. Drugs can be marketed by morethan one company and can have several proprietary or trademark names. In Brazil

    pharmaceutical companies which produce veterinary drugs use different chemical orgeneric names to designe the active drug of medicines. This clearly create difficulties

  • 8/14/2019 PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA

    2/10

    for veterinarians inducing errors andmisuses. Medicines for human use on the otherhand have a offcial generic (non-proprietary) name known as Denominaes Comuns

    Brasileiras (Brazilian Common Denomination) which were adopted in accordance withthe World Health Organization recomendations. It is stressed that Brazilian Oficialnon-proprietary names should also be adopted by manufacturers of veterinary drugs.This would either help to eliminate the necessity for memorizing multiple chemical and

    generic drug names as been as reduce the possibility of misunderstanding and errors. Ifveterinary medicines would be marketed in various South-American countries, as aresult from the Mercosul comercial agreement, the existence of many names for the

    same drug can result in an even more conjuse situation. This article deals with thisproblem and calls for attention for the uniformity of drug nomes.

    Key words:generic name, chemical name, proprietary name, drug name, prescription.

    INTRODUO

    Prescrever racionalmente em Medicina-Veterinria significa eleger o(s) melhor(es)medicamento(s) para prevenir ou combater a doena de um animal ou grupo de animais,levando em conta diagnstico, prognstico, relao custo/benefcio, as expectativas docriador ou proprietrio e, quando for o caso, resguardando os interesses do consumidordos produtos de origem animal. Prescrever corretamente uma tarefa difcil que, aps oestabelecimento do diagnstico, requer conhecimento do "arsenal" teraputico,atualizao constante atravs de consulta a fontes bibliogrficas confiveis, e,sobretudo, responsabilidade (MILLER, 1977; PUGH, 1991; DAVIES, 1995;LANGELOH, 1995). Um levantamento realizado na 26 edio do CompndioVeterinrio (ANDREI, 1993 ) revelou que existem 798 especialidades farmacuticasdistribudas em 6 (seis) dos principais grupos farmacolgicos de importncia mdico-veterinria, compreendendo: a) anti-helmnticos, b) quimioterpicos e antibiticos, c)ectoparasiticidas, d) analgsico/antitrmicos/anti-inflamatrios (AINE), e)tranquilizantes/anestsicos e f) frmacos com ao hormonal. Neste nmero no seincluem, portanto, as especialidades farmacuticas integradas exclusivamente porvitaminas, oligoelementos e sais minerais, os biolgicos e outras categorias. A estasespecialidades de uso mdico-veterinrio podem se somar, para inmeras situaes

    prticas na clnica Mdico Veterinria, em uso "extra-rtulo" (a), um nmero certamenteelevado de medicamentos da linha "humana", discriminados na literatura pertinente(ANDREI, 1989; DEF 93/94). A eleio de uma (ou mais) destas especialidadesfarmacuticas envolve vrios parmetros, um dos quais a escolha do melhor frmaco,

    definido como a substncia ativa do medicamento aloptico, eficaz para o caso em pauta. Desta escolha e da implementao do esquema teraputico correto depende osucesso do tratamento. Na prescrio, ao invs do nome genrico, prefere-se utilizar onome comercial da especialidade teraputica, preferncia esta que parece serinternacional (BRITISH VETERINARY ASSOCIATION, 1991; DOUST, 1994). Nestecaso o estabelecimento comercial, seja farmcia, drogaria ou outro (casa agrcola, porex.), s pode vender o medicamento prescrito, isto , no pode substitu-lo por outrosem consulta e consentimento do profissional que o prescreveu. Em medicina,entretanto, tem havido esforo oficial no sentido de incentivar a prescrio pelo nome

  • 8/14/2019 PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA

    3/10

    genrico da substncia ativa, com objetivo de reduzir os custos do tratamento, como sepode inferir do Decreto n 793 de 05.04.93 (BRASIL, 1993a). Nestes casos a escolha daespecialidade farmacutica delegada para o farmacutico em atividade noestabelecimento escolhido pelo consumidor. Esta prtica pode ser adotada maisfacilmente em ambientes hospitalares pelos profissionais que nele atuam. Em MedicinaVeterinria a implementao de procedimento similar seria dificultada ou mesmo

    inviabilizada pela diversidade de nomenclatura genrica atribuda a um mesmo frmacocomo veremos no decorrer deste trabalho.

    Este artigo procura demonstrar que, alm dos conhecimentos tcnicos mais diretamenterelacionados com o diagnstico e dos conhecimentos de farmacologia e teraputica,tambm necessrio conhecer os nomes qumicos e genricos dos frmacos e seussinnimos para exercitar uma prescrio racional.

    Os nomes dos frmacos

    Os frmacos podem ser conhecidos e identificados atravs de vrias denominaes: onome qumico, o nome genrico (que podem ser vrios) e o nome comercial (PUGH,

    1991).

    Nome qumico

    O nome qumico seguramente a mais precisa forma de denominar um frmaco poisenumera os seus constituintes, sua funo qumica, posio, sequncia e relacionamentona estrutura molecular. Neste nome tambm deve estar includo, se presente, a

    propriedade da substncia, em soluo, desviar a luz polarizada atravs da incluso deum "l" ou (-) se levo ou de um "d" ou (+) se dextrorotatria, conforme o desvio da luzseja para a esquerda ou direita respectivamente. Esta uma propriedade fsica de sumaimportncia pois inmeros frmacos s so eficazes farmacologicamente em uma dessasformas - por exemplo somente os ismeros levgiros do cloranfenicol e tetramisol soativos. Um dado frmaco pode ter mais de um nome qumico, como exemplificado como tetramisol e o triclorfono na Tabela 1. Em geral, quanto mais complexa a estruturaqumica, maior a possibilidade de ter vrios nomes qumicos. Isto se deve a que osintegrantes da molcula da substncia em questo podem ser enumerados em ordemdiferente ou, mesmo, parcialmente aglutinados em uma outra molcula conhecida cujonome passa a fazer parte da nova substncia. Apesar da sua "preciso" o nome qumiconem sempre pode ou utilizado. Por outro lado, mesmo que fosse, a perfeitacompreenso da estrutura molecular a partir desta denominao fica limitada aosqumicos e, s vezes, at restrita aos especialistas de um determinado ramo da qumica.A partir do nome qumico tambm difcil estabelecer a que grupo farmacolgico

    pertencem muitas substncias ativas. O nome qumico deve ser grafado com inicial

    minscula.Cdigo alfa-numrico

    Nas fases preliminares de desenvolvimento e investigao de uma substncia com potencialidade para se tomar um frmaco de interesse teraputico importante, olaboratrio envolvido costuma utilizar um cdigo alfa-numrico (MOREAU, 1985).Esta sigla identifica esta substncia e impede aos eventuais concorrentes de copi-la

    pura e simplesmente, o que decerto seria facilitado se, nesta fase, fosse divulgado seu

  • 8/14/2019 PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA

    4/10

    nome qumico. Habitualmente a sigla constituda de iniciais retiradas do prprio nomedo laboratrio ou indstria que desenvolve as investigaes. O nome Bayva-1470 foiutilizado pela Bayer nos testes pr-clnicos e clnicos para a xilazina, hojecomercializado com o nome de Rompun. Algumas vezes o frmaco acaba se tomandoconhecido mais por este nmero do que por qualquer outra denominao. o caso dedois quimioterpicos, o CGA72662 correspondente a ciro-mazina e o NF180

    correspondente a furazolidona, entre as especialidades de uso Mdico veterinrio. Oemprego deste "nome" alfa-numrico, nas bulas, deve ser totalmente desestimulado oumesmo proibido. As denominaes comuns brasileiras, vide abaixo, no incluemnenhuma denominao desta natureza.

    Nome(s) genrico(s)

    Em lugar do nome qumico, muito complexo e/ou extenso, e do cdigo alfa-numricoque nada informa sobre a estrutura ou atividade farmacolgica do frmaco, aparecem osnomes genricos. Estes podem ser comparados a "apelidos", pois so atribudos emfuno de caractersticas qumicas o que se reflete nas propriedades farmacolgicasgerais. Algumas substncias, entretanto, podem apresentar propriedades farmacolgicas

    "nicas". Ex. o termo penicilinas inclui a benzilpenicilina (e seus vrios sais) mais aampicilina, carbenicilina e todas as outras que apresentam em comum o cido-6-aminopenicilnico (6-APA). Esta molcula central, 6-APA, confere importantes

    propriedades comuns a este grupo de substncias, mas cada um dos frmacos citados secaracteriza por propriedades farmacodinmicas e farmacocinticas exclusivas (e.g. a

    benzilpenicilina s eficaz contra bactrias Gram positivas, a ampicilina tem eficciacontra bactrias Gram positivas e Gram negativas, etc. etc.). Outros exemplos de nomesgenricos que renem vrios representantes compreendem: aminoglicosdeos,

    barbitricos, benzimidazis, benzodiazepnicos, catecolaminas, sulfonamidas, etc.

    O nome genrico pode ser especfico, referindo-se a uma substncia qumicadeterminada, como por exemplos benzilpenicilina, fenobarbital, cloranfenicol, diazepame tiabendazol. A partir destas substncias tambm pode-se obter sais distintos, que sediferenciam entre si por alguma(s) propriedade(s) farmacolgica(s). Exemplificando:

    benzilpenicilina sdica; benzilpenicilina benzatnica; fenobarbital sdico; palmitato decloranfenicol e o succinato de cloranfenicol, etc.

    O nome genrico adotado para um frmaco pode ser diferente em distintos pases: anoradrenalina (denominao europia) a norepinefrina nos EEUU e no Brasil. A

    penicilina G (denominao inglesa) , no Brasil, a benzilpenicilina.

    No passado, antes do estabelecimento de normas internacionais, um frmacodesenvolvido em laboratrios distintos, poderia receber de cada indstria um "apelido"

    prprio e diferente. Como resultado, independente do(s) nome(s) qumico(s), umfrmaco pode ter vrias denominaes genricas (Tabela 1 e 2). Alguns laboratriose/ou empresas produtoras de subtncias qumicas registraram e empregam o "apelido"que atriburam a um dado frmaco por eles desenvolvido. Por exemplo Vapona adenominao conferida ao diclorvos pela Shell (BUDAVARI et al. 1990). Estasituao, quase catica, obrigou a elaborao e adoo de normas visando regular,uniformizar e facilitar a criao de nomes genricos. O nome genrico das substnciasativas deve ser grafado com inicial minscula.

  • 8/14/2019 PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA

    5/10

    Uniformizao dos nomes genricos

    A existncia de tantas e to diversas denominaes para um mesmo frmaco provocaram a adoo de vrias medidas, destacando-se: (a) o estabelecimento denormas internacionais para fixar o nome das substncias ativas (MOREAU 1985;KOROLKOVAS, 1988); (b) a recomendao de emprego de nomes genricos oficiaistambm denominados de "nomes no propriedade" (non proprietary names)(KOROLKOVAS, 1988 e 1994; PUGH, 1991; DAVIES, 1995 ) e (c) a elaborao dedicionrios com as sinonmias das substncias qumicas ( BUDAVARI et al. 1990). Oscatlogos do Chemical Abstracts, o Index Merck, as Farmacopias e as recomendaesda OMS, entre outros, constituem exemplos do esforo para correlacionar as diferentesdenominaes atribudas s substncias qumicas e/ou padroniz-lo.

  • 8/14/2019 PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA

    6/10

    No Brasil, a Portaria ministerial n 971 aprovou relao contendo a DenominaoComum Brasileira (DCB) para os frmacos, fundamentada na terminologiarecomendada pela Organizao Mundial da Sade (OMS) procurando operacionalizaruma uniformizao (BRASIL, 1993b). Esta medida porm no resolveu ainda os

    problemas existentes com os frmacos presentes em especialidades farmacuticas deuso Mdico veterinrio (Tabela 1).

    Para facilitar o reconhecimento da classe ou do efeito farmacolgico das substnciasativas so usados prefixos ou sufixos iguais (KOROLKOVAS, 1988 e 1993).Exemplificando: a) terminam em "icilina" os antimicrobianos que tem ao semelhante da penicilina (ampicilina, carbenicilina, etc.); terminam em "fos" ou "vos" osectoparasiticidas a base de organofosforados (clorfenvinfos e diclorvos); terminam em"olol" os bloqueadores beta-adrenrgicos (propranolol, atenolol, etc.); comeam com"cef" os antimicrobianos aparentados com as cefalosporinas (ex. cefaclor, cefaloridina,etc.), e assim por diante. Mas h excees que podem causar srias confuses como oorganofosforado metrifonato (Tabela 1), cuja denominao correta "triclorfono", oantibitico aminosidina (um aminoglicosdeo tambm conhecido por paromomicina)entre outros que obrigam a consulta aos compndios, procura da sinonmia mais

    conhecida.

    Os catlogos de sinonmia qumica so dinmicos, pois a cada ano novos frmacos soacrescentados ao arsenal teraputico. A consulta a estes compndios pelo Mdicoveterinrio, a cada troca de medicamento, no prtica. A soluo, aparentementemuito mais simples, passa pela uniformizao da denominao genrica utilizada paracada frmaco. Todas e cada especialidade farmacutica com o mesmo frmaco devemempregar a mesma denominao ao identificar o(s) seu(s) constituinte(s) ativo(s)

    principalmente dentro de um mesmo pas. Esta uma possibilidade vivel no Brasilonde todos os medicamentos de uso Mdico veterinrio necessitam de registro noServio de Controle de Produtos Veterinrios do Departamento de Defesa Animal daSecretaria de Defesa Agropecuria do Ministrio da Agricultura, do Abastecimento e daReforma Agrria de acordo com o Regulamento de Fiscalizao de Produtos de UsoVeterinrio anexo ao Decreto 1.662 (BRASIL, 1995) que veio substituir o Decreto64.499 de 14.05.1969. A uniformizao deve ser procedida pela adoo dadenominao comum brasileira (acima referida). Para os frmacos que ainda notenham uma denominao comum brasileira, isto , ainda no foram includos naPortaria 971 (BRASIL, 1993b), deve ser usado, provisoriamente, o nome proposto pelaOMS ou, na falta deste, o daInternational Nonproprietary Names (INN) adotando-se aDCB assim que o nome for escolhido e divulgado. Esto previstas atualizaes anuaisdas listas da DCB. Em especialidades farmacuticas mdico veterinrias freqente aintroduo de substncias ativas que ainda no foram includas na DCB e/ou que noso empregadas em especialidades destinadas ao uso humano (Tabela 3).

  • 8/14/2019 PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA

    7/10

    Nome comercial

    O nome comercial uma denominao de fantasia atribudo s especialidadesfarmacuticas que veiculam o(s) frmaco(s) previamente preparado pela indstria. umnome registrado (KOROLKOVAS, 1988 e 1993; BUDAVARI et al. 1990). Salvoexcees ou coincidncias, no guarda qualquer compromisso ou relao com as

    propriedades qumicas ou farmacolgicas da substncia ativa. Alm disso, muitasespecialidades farmacuticas contm mais de um frmaco apesar das recomendaes emcontrrio em rgos reguladores, e.g. Portaria 159 (BRASIL, 1992) e do fato dateraputica racional preferir a administrao de monopreparados (MILLER, 1977;BRITISH VETERINARY ASSOCIATION, 1991; PUGH, 1991; DOUST, 1994;DAVIES, 1995). Na Tabela 1 foram includos, a ttulo de exemplo, o nome comercialde especialidade farmacutica de uso Mdico veterinrio que, na bula, utiliza o nomequmico ou genrico com a qual est relacionada. O nome comercial deve ser grafadocom inicial maiscula.

  • 8/14/2019 PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA

    8/10

    Exemplificando com problemas do dia-a-dia

    Para ilustrar alguns possveis problemas decorrentes da falta de uniformidade nadenominao de frmacos freqentemente empregados em teraputica mdicoveterinria foram reunidos exemplos representativos na Tabela 1. Com relao aocloranfenicol foram encontradas trs formas diferentes de se referir a esta substncia

    ativa, enquanto que para o organofosforado diclorfos foram encontradas 4denominaes distintas. O clnico desinformado ou desatento que, por causa deinsucesso, eventualmente proceda substituies no curso de um tratamento, entre asespecialidades farmacuticas contendo cloranfenicol ou diclorfos, reunidas na Tabela 1

    para exemplificao, poder se frustar: h uma grande probabilidade de que asubstituio no resulte em melhora do quadro clnico ou controle da doena. A trocaentre medicamentos contendo o mesmo frmaco, ainda que com denominaesdiferentes na bula, s ter sucesso se o primeiro medicamento usado era deficientequanto a concentrao preconizada na bula ou quanto a liberao do frmaco paraabsoro, se estava com prazo de validade vencido, etc. e a segunda especialidadefarmacutica preencher os requisitos mnimos assegurando uma biodisponibilidadeadequada.

    Problemas de mesma natureza podem ocorrer com os demais exemplos que integram aTabela 1. Apenas um ser usado a ttulo de ilustrao: assim a troca ou mudana entreos produtos Neguvon, Antihelmin, Cicloson e Revermin no trar nenhum benefcio sea causa do tratamento ocorre por resistncia dos helmintos, hipersensibilidade txica oualrgica do paciente ao triclorfono. Todos so base do mesmo frmaco, umorganofosforado, portanto tem em comum o mesmo espectro e demais caractersticasfarmacolgicas, ainda que nas respectivas bulas a composio possa revelar quatronomes distintos, sugerindo que sejam diferentes. A nica forma de saber que os quatronomes se referem a mesma substncia ativa a consulta ao ndex Merck, ChemicalAbstracts ou equivalentes ou, ainda, a um bom livro texto de Farmacologia... H casosem que a consulta a estes compndios tampouco ajuda: por exemplo a substncia ativada especialidade farmacutica Leivamisole, dado como leivamisol, sinonmia que noaparece em nenhum compndio consultado.

    CONCLUSO

    Pretendeu-se neste artigo chamar ateno dos Mdicos veterinrios clnicos para umaquesto relevante e adicional aos problemas naturalmente j existentes para elaboraruma prescrio e na instituio de um tratamento (LANGELOH, 1995).Especificamente relacionado com a ausncia de uniformidade na denominao dos

    frmacos das centenas de especialidades farmacuticas disponveis para escolha pelo profissional. Esta falha pode causar frustraes teraputicas e, mesmo, suscitar errosmdicos. O Mdico veterinrio deve estar consciente da possibilidade deste problema e

    procurar formar-se e informar-se adequadamente cada vez que incluir uma novaespecialidade farmacutica ao seu arsenal e toda vez que um esquema posolgico,seguido a risca, no resultar no sucesso esperado. A situao poder ficar ainda maisconfusa diante da iminente implementao de trocas comerciais entre os pasesintegrantes do acordo MERCOSUL, se os medicamentos de uso Mdico veterinrioforem includos no intercmbio (PEREIRA, 1993). Deve-se estar consciente que este

  • 8/14/2019 PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA

    9/10

    intercmbio pode introduzir ainda mais variveis na j complicada situao daterminologia dos frmacos. Para evit-las caberiam reunies entre os responsveis erepresentantes dos rgos oficiais que cuidam do registro dos medicamentos de usoMdico veterinrio, procurando uniformizar as suas denominaes. Este aspecto no foicontemplado explicitamente no documento gerado pelas autoridades dos pasesenvolvidos, o chamado Marco Regulatrio Para os Produtos Veterinrios. Normas

    elaboradas com o objetivo de uniformizar as denominaes dos frmacos entre ossignatrios do acordo MERCOSUL deveriam acolher as recomendaes dos organismosinternacionais, e.g. OMS, as quais j foram adotadas no Brasil na elaborao dasDenominaes Comuns Brasileiras.

    AGRADECIMENTOS

    O autor agradece aos professores Dr. J.R.B. de Mello do Departamento de Farmacologiae Dr. E.P. Schenkel do Departamento de Produo de Matria Prima, ambos da UFRGS

    pela anlise e reviso deste artigo.

    FONTES

    a - Entende-se por uso extra-rtulo o emprego de uma especialidade farmacutica parauma finalidade diferente das especificadas nas indicaes da bula ou, ainda, para umaespcie diferente da(s) indicada(s) na bula. Nestes casos o veterinrio que prescreve onico responsvel pelas conseqncias danosas eventualmente provocadas no pacientee/ou consumidor de produtos de origem animal.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ANDREI - Compndio Mdico. 29 ed. So Paulo: Organizao Andrei Editora Ltda,1989. 822 p. [ Links ]

    ANDREI - Compndio Veterinrio. 26 ed. So Paulo: Organizao Andrei EditoraLtda, 1993. 683 p. [ Links ]

    BRASIL, Ministrio da Agricultura e Reforma Agrria. Portaria 159 de 19.06.1992,Dirio Oficial da Unio. Sec I, p. 7942-3, 23.06.1992. [ Links ]

    BRASIL, Decreto 793 de 05.04.1993. Dirio Oficial da Unio. Sec. I, n 65, p. 4398, 6abr 1993a. [ Links ]

    BRASIL, Ministrio da Sade, Portaria 971 de 10.08.1993, Dirio Oficial da Unio,Sec I, n 154, p. 11745-77, 13 ago. 1993b. [ Links ]

    BRASIL, Decreto 1662 de 06.10.95, Dirio Oficial da Unio. In: Veterinria &Zootecnia, n 8, p. 16, 1995. [ Links ]

  • 8/14/2019 PRESCRIO RACIONAL EM MEDICINA VETERINRIA

    10/10

    BRITISH VETERINARY ASSOCIATION (BVA) - Prescribing of medicinal productsby veterinary surgeons. Veterinary Record, v. 14, p. 245-8, 1991. [ Links ]

    BUDAVARI, S., O'NEIL, M.J., SMITH, A. et al. INDEX MERCK, 11th. ed. Rahway, New Jersey: Merck & Co., 1990. 1606 p. [Links ]

    DAVIES, L.E. Drug Prescription Orders. In: RICHARD ADAMS, A. ed. VeterinaryPharmacology and Therapeutics. 7th. ed. Ames, Iowa, USA: Iowa State UniversityPress, 1995. Cap. 1, p. 1141-2. [ Links ]

    DEF93/94 - Dicionrio de Especialidades Farmacuticas. So Paulo: Ed. JornalBrasileiro de Medicina, 1993. 876 p. [ Links ]

    DOUST, T. Regulation of veterinary chemicals in Austrlia. Australian VeterinaryJournal, v. 71, p. 407-9, 1994. [ Links ]

    KOROLKOVAS, A. Essentials of Medicinal Chemistry. London: Ed. John Wiley &Sons Inc., 1988, p. 16-26. [ Links ]

    KOROLKOVAS, A. Nomenclatura de Frmacos. Infarma, Braslia, v. 2, p. 13-4, 1993.[ Links ]

    KOROLKOVAS, A. Proposta para padronizao das Denominaes ComunsBrasileiras. Cadernos de Farmcia, Porto Alegre, v. 10, p. 15-7, 1994. [ Links ]

    LANGELOH, A. A prescrio de medicamentos e sua legislao aplicada a clnicaveterinria. Arquivos da Faculdade de Veterinria da UFRGS, Porto Alegre, v. 24,

    p. 210-43, 1995. [Links ]

    MILLER, L.C. Doctors, Drugs, and Names. Journal of the American MedicalAssociation, v. 177, p. 97-103, 1977. [ Links ]

    MOREAU, R. The naming ceremony. World Health, v. 10, p. 8-9, 1985. [ Links ]

    PEREIRA, M.S. O Mercosul e a indstria veterinria. Veterinria e Zootecnia. PortoAlegre, v. 1, p. 4, 1993. [ Links ]

    PUGH, D.M. Pharmacology and the veterinarian. In: BRANDER, G.C., PUGH, D.M.,BYWATER, R.J. & JENKINS, W.L. Veterinary applied Pharmacology &Therapeutics. 5th. ed. London: Baillire Tindall, 1991. Cap. 1. p. 3-8. [ Links ]

    1 Mdico Veterinrio, Mestre e Doutor em Farmacologia, Professor Adjunto doDepartamento de Farmacologia do Instituto de Biocincias da UFRGS, Rua ProfessorSarmento Leite, 500/202, 90046-900 - Porto Alegre, RS.

    www.vetarquivos.blogspot.com