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www.pibrj.org.br Lição 12 - 4T2015 Pg. 1 Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro Os profetas Jeremias, Ezequiel e Daniel Estudo 12 - A história de um jovem e seus amigos Daniel 1 a 6 Elaborado por Gerson Berzins ([email protected] ) Daniel vem completar o presente ciclo de estudos sobre os profetas incumbidos de trazer a Palavra de Deus para tempos de destruição e exílio. O livro de Daniel compõe-se de duas partes bem distintas. Os primeiros seis capítulos falam da sua vida, o que revisaremos neste estudo. Os capítulos finais apresentam as suas profecias que serão consideradas no próximo estudo. A biografia de Daniel contem alguns dos episódios mais conhecidos da Bíblia: os seus três amigos na fornalha, Daniel na cova dos leões e a mão na parede. Quem cresceu na Igreja Evangélica tem ouvido essas histórias desde criança e cada uma delas serve de base para incontáveis lições sobre valores pessoais e atitudes corretas. Não há como esgotar o que este livro tem para nos inspirar. Repassando em rápidas pinceladas a vida de Daniel: ele pertencia à família real de Judá, e muito jovem, talvez até como pré- adolescente, foi levado para Babilônia, na primeira invasão de Jerusalém. Ali, pelos seus dotes foi separado para integrar um programa de formação de líderes e oficiais para o serviço do rei. A sua carreira pública consequente foi notável; serviu a quatro reis, em três impérios que se sucederam, o babilônio, o medo e o persa, ocupando postos de alta relevância. Daniel foi longevo. Talvez tenha vivenciado todo o drama do exílio, do começo ao fim. Não escapa da nossa curiosidade especular se ele se encontrou com o profeta Ezequiel ou mesmo com Esdras, o líder da primeira caravana de judeus retornando à Jerusalém. Quanto a Jeremias, Daniel atestou que conhecia as suas profecias (9.2), certamente não no formato final que hoje temos. Mas, de toda essa rica vivência, o que a Bíblia mais enfatiza é a fidelidade de Daniel para com Deus. A sua fidelidade é provada – e aprovada – na sua infância, na sua juventude e na sua maturidade. Nada, nem o poder nem a projeção que alcançou fizeram-no se afastar um milímetro da prática e testemunho da sua fé. Não houve desafio que se apresentava intransponível que pudesse abalar a confiança de Daniel em Deus. Temos que reconhecer que a fé de Daniel é do tipo que suportava chuvas e trovoadas e por isso serve de modelo. Além dessas conclusões que o livro nos sugere considerar, outra mais desafiadora, que demandam a nossa capacidade de compreensão, requerendo nosso afastamento das preocupações que nos cercam e o exercício de um olhar panorâmico, na intenção de nos situar no contexto mais amplo dos acontecimen- tos. É claro que se trata aqui do curso da História da humanidade, do nosso lugar nele e do papel de Deus como agente- interventor nas resoluções humanas. Gosto muito da imagem da História como um grande rio, que no seu curso por vezes corre tranquilo e sereno atravessando uma planície e por vezes se alvoroça e se tumultua se precipitando em uma catarata. Observando o curso do rio do alto de um mirante, sem dificuldade identificamos onde ele flui calmo e onde ele se agita; inseridos no rio, fica difícil de perceber. O problema nessa imagem é que somos apenas uma gota no rio e até as correntes começarem a se agitar na proximidade da queda, não sabemos o que teremos à nossa frente. Pensemos no curso que o rio da História corre agora. Mesmo com a dificuldade de analisar o momento sem estuda-lo com distanciamento crítico, devemos concordar com os cientistas sociais na afirmação de que mundo sofreu mais

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Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro Os profetas Jeremias, Ezequiel e Daniel Estudo 12 - A história de um jovem e seus amigos Daniel 1 a 6

Elaborado por Gerson Berzins ([email protected])

Daniel vem completar o presente ciclo de estudos sobre os profetas incumbidos de trazer a Palavra de Deus para tempos de destruição e exílio. O livro de Daniel compõe-se de duas partes bem distintas. Os primeiros seis capítulos falam da sua vida, o que revisaremos neste estudo. Os capítulos finais apresentam as suas profecias que serão consideradas no próximo estudo. A biografia de Daniel contem alguns dos episódios mais conhecidos da Bíblia: os seus três amigos na fornalha, Daniel na cova dos leões e a mão na parede. Quem cresceu na Igreja Evangélica tem ouvido essas histórias desde criança e cada uma delas serve de base para incontáveis lições sobre valores pessoais e atitudes corretas. Não há como esgotar o que este livro tem para nos inspirar. Repassando em rápidas pinceladas a vida de Daniel: ele pertencia à família real de Judá, e muito jovem, talvez até como pré-adolescente, foi levado para Babilônia, na primeira invasão de Jerusalém. Ali, pelos seus dotes foi separado para integrar um programa de formação de líderes e oficiais para o serviço do rei. A sua carreira pública consequente foi notável; serviu a quatro reis, em três impérios que se sucederam, o babilônio, o medo e o persa, ocupando postos de alta relevância. Daniel foi longevo. Talvez tenha vivenciado todo o drama do exílio, do começo ao fim. Não escapa da nossa curiosidade especular se ele se encontrou com o profeta Ezequiel ou mesmo com Esdras, o líder da primeira caravana de judeus retornando à Jerusalém. Quanto a Jeremias, Daniel atestou que conhecia as suas profecias (9.2), certamente não no formato final que hoje temos. Mas, de toda essa rica vivência, o que a Bíblia mais enfatiza é a fidelidade de

Daniel para com Deus. A sua fidelidade é provada – e aprovada – na sua infância, na sua juventude e na sua maturidade. Nada, nem o poder nem a projeção que alcançou fizeram-no se afastar um milímetro da prática e testemunho da sua fé. Não houve desafio que se apresentava intransponível que pudesse abalar a confiança de Daniel em Deus. Temos que reconhecer que a fé de Daniel é do tipo que suportava chuvas e trovoadas e por isso serve de modelo. Além dessas conclusões que o livro nos sugere considerar, há outra mais desafiadora, que demandam a nossa capacidade de compreensão, requerendo nosso afastamento das preocupações que nos cercam e o exercício de um olhar panorâmico, na intenção de nos situar no contexto mais amplo dos acontecimen-tos. É claro que se trata aqui do curso da História da humanidade, do nosso lugar nele e do papel de Deus como agente-interventor nas resoluções humanas. Gosto muito da imagem da História como um grande rio, que no seu curso por vezes corre tranquilo e sereno atravessando uma planície e por vezes se alvoroça e se tumultua se precipitando em uma catarata. Observando o curso do rio do alto de um mirante, sem dificuldade identificamos onde ele flui calmo e onde ele se agita; inseridos no rio, fica difícil de perceber. O problema nessa imagem é que somos apenas uma gota no rio e até as correntes começarem a se agitar na proximidade da queda, não sabemos o que teremos à nossa frente. Pensemos no curso que o rio da História corre agora. Mesmo com a dificuldade de analisar o momento sem estuda-lo com distanciamento crítico, devemos concordar com os cientistas sociais na afirmação de que mundo sofreu mais

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transformações nos últimos 30 anos, que em todo seu curso anterior. Não mais vivemos, agimos ou comportamos como em 1985. Os mais jovens, que sequer viveram o antes, parecem gente de outro tipo, que os mais vividos não conseguem nem compreender, nem acompanhar. Estaríamos no meio de uma catarata? Por outro lado, atravessamos esses anos todos em paz, prosperidade e progresso, não enfrentamos invasores bárbaros nem nossas cidades foram destruídas ou saqueadas e tudo isso são sinais de curso calmo da História. Onde estamos? O que o curso futuro nos reserva? Devemos recear o que não conhecemos? Deveríamos nos preparar para um futuro de muita recessão, instabilidade política, desastres ambientais e mesmo convulsão social? Deveríamos, ao contrário, acreditar na capacidade humana de superação e de construir uma sociedade mais justa, e preservadora, cabendo-nos fazer o que estiver ao alcance como nossa contribuição a essa tarefa? A resposta que daremos a estas questões está condicionada pela teologia que adquirimos como a nossa. A resposta vem de como entendemos o livre arbítrio humano e o quanto aceitamos a intervenção do dedo de Deus nos afazeres da humanidade: se ele dirige os detalhes, se ele só intervém nas grandes linhas do curso, ou se ele já fez o que tinha que fazer e delegou todo o resto à nossa responsabilidade. As duas partes do livro de Daniel apresentam uma resposta clara a essas preocupações; preocupações que não estão no nosso cotidiano; preocupações que possivelmente preferimos não abordar, quer seja para evitar a ansiedade nelas embutida, quer seja por que já assumimos não ter resposta para elas. Daniel nos convida a se ocupar destas exatas preocupações. O convite de Daniel é para nos ocuparmos delas para que, de uma vez por todas, elas deixem de ser nossas preocupações. Vemos Daniel com vítima da História. Levado cativo tão jovem, era a gota d’água que não sabia para onde era arrastado. Toda a segurança e

tranquilidade do curso de seus pais, e avós por gerações a perder de vista se desmoronaram no roldão das águas precipitantes da catarata chamada Babilônia. No entanto, Daniel tinha uma resposta para tudo aquilo e a sua resposta era forte o suficiente para suportar o precipício que o engolia. A resposta de Daniel é simples: Deus é o Senhor da História. Não importa quanta besteira os seres humanos possam fazer. nada há que impeça o cumprimento da vontade de Deus. Se Deus é Deus dos detalhes, ou se Deus é Deus apenas direcionador, pouco importa e cada um pode escolher sua preferência porque da parte de Deus ele agirá das duas maneiras ou de qualquer outra, como ele quiser. A teologia que Daniel expressou na sua oração em 2.20-22 é que importa: “Louvado seja o nome de Deus para todo o sempre; a sabedoria e o poder a ele pertencem. Ele muda as épocas e as estações; destrona reis e os estabelece. Dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos que sabem discernir. Revela coisas profundas e ocultas; conhece o que jaz nas trevas, e a luz habita com ele”. A lição de Daniel sobre a História não se extingue na sua biografia; as suas profecias nos ensinam mais a este respeito e devemos ouvi-las também.