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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE CRIANÇAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Autor: Bianca da Cunha Teodoro Orientador: Prof.ª Dra. Paula Gomes de Oliveira Brasília - DF 2014 Pró-Reitoria de Graduação Curso de Pedagogia Trabalho de Conclusão de Curso

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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE CRIANÇAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Autor: Bianca da Cunha TeodoroOrientador: Prof.ª Dra. Paula Gomes de Oliveira

Brasília - DF2014

Pró-Reitoria de GraduaçãoCurso de Pedagogia

Trabalho de Conclusão de Curso

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BIANCA DA CUNHA TEODORO

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE CRIANÇAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Artigo apresentado ao curso de graduação em Pedagogia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Licenciada em Educação.Orientador: Prof.ª Dra. Paula Gomes de Oliveira

Brasília2014

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À minha família, que acreditou na minha capacidade, que me apoiou em todos os momentos da minha vida.

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado a chance de ingressar na Universidade Católica de Brasília e por me proporcionar um curso tão maravilhoso e cheio de descobertas. Agradeço também à minha família, que sempre me apoiou de forma tão maravilhosa, acreditando no meu potencial, me incentivando, me dando os melhores conselhos nos momentos que precisei.

Não posso deixar de citar aqui, a gratidão que sinto pela minha professora orientadora, Paula Gomes de Oliveira, que me conduziu e orientou nessa jornada. Ao professor Edgard Ricardo, que aceitou ser meu examinador Por fim, agradeço à professora Adenylma da escola em que minha pesquisa foi efetuada, pois ela me recebeu com todo respeito e compreensão, me disponibilizando todo o material que me foi necessário para a análise da minha pesquisa.

A todos vocês, meus mais sinceros agradecimentos, com toda emoção: Obrigada.

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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO DE CRIANÇAS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

BIANCA DA CUNHA TEODORO

Resumo:Alfabetizar e letrar têm sido uma temática bastante debatida atualmente. É

possível ser letrado e não ser alfabetizado? É possível ser alfabetizado e não ser letrado? Essas indagações nos trazem outras questões interessantes: O letramento exerce influência no ato de se alfabetizar? Qual a influência das pesquisas de Emília Ferreiro sobre a psicogênese da língua escrita para a alfabetização? Sendo assim, essa pesquisa buscou respostas a esses questionamentos. Tendo como objetivo, analisar o processo de alfabetização e letramento em crianças no segundo ano do ensino fundamental. Com uma abordagem qualitativa, esta se utilizou de uma metodologia baseada em observações em uma turma de segundo ano do ensino fundamental de uma escola pública da Secretária de Educação do Distrito Federal, localizada na Região Administrativa de Taguatinga, utilizando ainda uma entrevista semi-estruturada com a professora, sendo analisada a postura desta como alfabetizadora frente às crianças e as estratégias que a mesma utiliza para alfabetizar e letrar. Tendo como principais resultado, a ênfase das pesquisas de Emília Ferreiro para a educação atual; a análise das principais estratégias utilizada por uma dada professora para alfabetizar e letrar.

Palavras-chave: Alfabetização. Letramento. Psicogênese. Magda Soares. Emília Ferreiro

1 - INTRODUÇÃO

Alfabetização é uma das grandes chaves para a inclusão numa sociedade sendo importante no mundo onde a leitura e escrita são totalmente indispensáveis.

Entendendo a importância da alfabetização, como sendo mostrar o caminho, ensinar ao aluno as características da palavra em si, da língua escrita, como suas habilidades. Considerando que a alfabetização não é algo único, tendo então, suas peculiaridades, pois, nem todas as sociedades alfabetizam da mesma forma, considerando as diversas culturas que existem. A natureza do processo de alfabetização é diferente, quando considerada essas culturas, crianças de classes mais favorecidas tem um maior contato com a norma padrão culta, contrário a isso, as crianças das classes menos favorecidas não têm esse grande contato com as normas padrões cultas. Tornando possível, uma maior análise das implicações

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que há na fase da alfabetização, quanto às classes sociais, considerando que é perceptível que as crianças de classes mais favorecidas, possuem certa vantagem em relação às crianças de classes menos favorecidas, levando em consideração, o que talvez seria um preconceito linguístico e cultural.

Várias habilidades são consideradas na alfabetização, sendo elas estudadas por muitas perspectivas: psicológica, psicolinguística e linguística. Sendo então, perspectivas que nos mostram com mais clareza a importância da alfabetização. Existem então, vários conceitos de alfabetismo, dependendo assim, das necessidades, condições sociais estabelecidas em determinada fase de uma sociedade e cultura. Diferenciando, dependendo do contexto social, logo, podendo exercer diferentes papeis na vida de um indivíduo em determinada sociedade.

O letramento tem sido uma temática bastante estudada nas últimas décadas, analisando o amplo contexto que esse termo nos oferece. Sendo assim, de grande relevância a uma criança que ela tenha a possibilidade de ser letrada, mesmo não sendo alfabetizada. O que poderá ser um importante auxiliador no seu processo de alfabetização.

Compreender o letramento é também entender a sua importância, seja ela, para a sociedade, para a inserção em um meio cultural, primeiros contatos com o mundo da leitura e da escrita. Entendendo assim, que letramento e alfabetização são indissociáveis, mas que ambos possuem suas especificidades, suas distinções de significados ou de termos.

Letramento, em suas diversas características, torna-se importante para a aquisição da leitura e escrita, entendendo assim a sua importância para essa etapa da alfabetização. Uma criança que já possui certo conhecimento das letras, certamente terá mais facilidade de reconhecimento das mesmas ao chegar à fase escolar. O que torna o letramento ainda mais importante, pois, sabemos da realidade de muitas crianças que não tem a oportunidade de ter dado contato inicial com livros. O que seria um ‘’pontapé’’ inicial para a alfabetização.

Buscar respostas para o problema sobre a qualidade da educação, não representa ser uma tarefa fácil, mas olhando para toda a sua complexidade, é notório ser algo que infelizmente não há respostas completas. São vários os fatores responsáveis por essa qualidade do processo de ensino e aprendizagem da leitura e escrita, sendo assim, torna-se interessante a tentativa de compreensão dos mesmos.

Entender as diferenças de habilidades de uso da escrita, e habilidades de uso da leitura, torna-se fator importante, quando estes termos se fazem totalmente diferentes em seus significados, contextos e realidade. Sendo assim, um dos fatores importantes aqui, é buscar compreender como se dá esse processo, como se é trabalhdo as especificidades dessas habilidades.

Considerando o papel do professor, como sendo um mediador do conhecimento, torna-se importante a análise de como ele pode usar o letramento em prol do ensino e aprendizagem. O professor tendo então, o conhecimento da importância de um aluno letrado, ele pode, usar isso a favor da aprendizagem. Instigando o mesmo a aprofundar seus conhecimentos prévios sobre fonemas e grafemas, buscando associar um ao outro. Torna-se um fator de grande relevância aos docentes, compreender que a criança tem o contato com o mundo da leitura e

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escrita muito antes de adentrar na instituição chamada escola.Esta pesquisa, teve como objetivo geral: Analisar o proceso da alfabetização

e letramento em crianças no segundo ano do ensino fundamental. E como objetivos específicos: Identificar as estratégias de letramento e alfabetização utilizadas pela professora em sala de aula; Reconhecer o desenvolvimento das crianças na leitura e escrita a partir de uma perspectiva psicogenética.

Tomamos assim, como ponto de partida para que possamos prosseguir com a pesquisa aqui citada, os fatos que se julgam relevantes, considerando as especificidades da alfabetização e do letramento, ambos sendo individuais, mas que se completam em seus diversos contextos sejam eles sociais, ou individuais.

2 - REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: CONCEITOS E PERSPECTIVAS Considerando alfabetização e letramento, seus aspectos, suas

especificidades, pode-se analisar ambos, separadamente, mas compreendendo que os mesmos são indissociáveis em seus vários contextos, sejam eles dentro ou fora da escola. Sendo assim, para que possamos entender cada especificidade da alfabetização e do letramento. Tomemos como ponto inicial, o conceito de alfabetização, ‘’Alfabetização em seu sentido próprio, específico: processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita”. (SOARES, 2013. p. 15)

Soares em um de seus artigos sobre alfabetização, pode nos proporcionar as várias facetas da mesma, como o próprio nome do artigo explicita ‘’As muitas facetas da alfabetização”. (SOARES, 2003). Possamos através do mesmo, compreender que alfabetização exige muito mais que um aprendizado ‘’mecânico’’, ‘’aprender por aprender’’, mas que tenhamos então, que ter as habilidades de proporcionar a compreensão dela. O preconceito lingüístico, infelizmente, influencia no aprendizado da criança, podendo assim, dificultar o processo de alfabetização.

Soares (2013) explica o termo ‘’Alfabetismo’’ como sendo a condição que adquire aquele que aprende a ler e a escrever. Considerando ainda, as dimensões individuais e culturais do termo: dimensão individual, aborda a capacidade individual de habilidades de leitura e escrita, sendo ainda, que possamos compreender a importância que há, de saber dissociar as especificidades da leitura e escrita, onde, é possível que a criança possa ter o domínio da leitura, sem saber escrever, e ‘’vice-versa’’. ‘’Além das grandes diferenças entre ler e escrever é preciso ainda considerar que cada uma dessas atividades engloba um conjunto de habilidades e conhecimentos muito diferentes.’’ (p. 31)

Ler, considerando a sua dimensão individual, torna-se um conjunto de habilidades, conhecimentos linguísticos e psicológicos. Logo, a escrita em seu contexto individual, também é um conjunto de habilidades, conhecimentos linguísticos e psicológicos, mas totalmente diferentes das habilidades e conhecimentos que formam a leitura:

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Enquanto as habilidades e conhecimentos de leitura se estendem desde a habilidade de decodificar palavras escritas até a capacidade de integrar informação obtida de diferentes textos, as habilidades e conhecimentos de escrita estendem-se desde a habilidade de simplesmente transcrever sons até a capacidade de comunicar-se adequadamente com um leitor em potencial. (SOARES, 2013. p. 31)

Pode-se então, considerar agora, a dimensão social do alfabetismo, onde segundo Soares (2013) é o ‘’conjunto de práticas sociais associadas com a leitura e a escrita, efetivamente exercidas pelas pessoas em um contexto social especifico.’’ (p. 33). Ou seja, é passível de entendimento que a dimensão social do alfabetismo, se dá por meio das relações exercidas na sociedade, onde se faz necessário o uso da leitura e da escrita.

O material do Pró-letramento (2007) também adota uma definição de alfabetização e letramento:

Entende-se alfabetização como o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilita ao aluno ler e escrever com autonomia. Entende-se letramento como o processo de inserção e participação na cultura escrita. (BRASIL, 2007. p. 12)

Ou seja, letramento como sendo essa prática social que é vivida desde mesmo antes de adentrar na escola, sendo que a criança tem a possibilidade de viver em um mundo letrado antes do primeiro contato com o professor.

Analisando então, as duas tendências que podemos observar, a dimensão social do alfabetismo, sendo elas: Visão Progressista ‘’liberal’’, em que se torna característico em função das habilidades e conhecimentos que são considerados indispensáveis para que o indivíduo funcione de forma adequada em um contexto social. No qual, a partir disto deu-se origem o termo: alfabetismo funcional ou alfabetização funcional. O oposto dessa visão liberal, temos a visão que pode ser chamada de ‘’revolucionária’’, sendo conhecida como a visão forte das relações entre alfabetismo e sociedade:

Enquanto na perspectiva liberal progressista, o alfabetismo é definido pelo conjunto de habilidades necessárias para responder às práticas sociais em que a leitura e a escrita são requeridas, na perspectiva radical, ‘’revolucionária’’, as habilidades de leitura e escrita não são vistas como ‘’neutras’’, habilidades serem usadas em práticas sociais, quando necessário, mas são vistas como um conjunto de práticas socialmente construídas envolvendo o ler e o escrever, configuradas por processos sociais mais amplos, e responsáveis por reforçar ou questionar valores, tradições, padrões de poder presentes no contexto social. (SOARES, 2013. p. 35)

O contato com o mundo da leitura e escrita se dá antes de a criança adentrar no mundo escolar, é o que conhecemos por “letramento”, Soares (2003) afirma que letramento, é o contrário de analfabetismo, sendo assim, o letramento é a prática social de leitura e escrita, e a alfabetização, sendo como a aprendizagem do sistema de leitura e escrita:

Diferença fundamental, que está no grau de ênfase posta nas relações entre as práticas sociais de leitura e de escrita e a aprendizagem do sistema de escrita, ou seja, entre o conceito de letramento (illettrisme, literacy) e o conceito de alfabetização (alphabétisation, reading instruction, beginning literacy). (SOARES, 2003 p. 6)

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Analisando esta contextualização, se pode chegar à conclusão de que a criança, mesmo antes de entrar na escola, como já citado aqui, tem a possiblidade do contato com o mundo da leitura e escrita, seja esse por meio de livros e revistas infantis, ou até mesmo, no rótulo de algum alimento que essa criança possa observar, ou seja, há varias maneiras de uma criança ser habilitada ao letramento.

Muitas teorias foram estudadas para explicar a leitura e escrita, teorias nos quais os métodos eram mais tradicionais, outras nas quais os métodos levavam sempre em consideração a criança como um todo, como ser pensante. O erro era sempre levado como algo construtivo, totalmente contrárias às concepções mais tradicionais.

2.2. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: INDISSOCIABILIDADE NA PRÁTICA

Soares afirma que a alfabetização é indissociável do letramento. Onde, um completa o outro. Sendo assim, ambos são necessários:

Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, lingüísticas e psicolingüísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento. Não são processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só se pode desenvolver no contexto da e por meio da aprendizagem das relações fonema–grafema, isto é, em dependência da alfabetização. (SOARES, 2003 p. 14)

É o que também é explicitado no PCN - Língua Portuguesa, BRASIL (1997), onde nos deixa o entendimento de que realmente a leitura e a escrita, ambos com suas especificidades são indissociáveis, um é usado em prol do outro, em todo o tempo:

O trabalho com leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, conseqüentemente, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modelizadoras. A leitura, por um lado, nos fornece a matéria-prima para a escrita: o que escrever. Por outro, contribui para a constituição de modelos: como escrever. (BRASIL, 1997. p. 40)

Questões sejam elas sobre alfabetização, ou alfabetismo, (termo usado para se voltar as características do letramento), a qualidade da alfabetização é algo imprescindível para uma criança, sendo esta qualidade medida por alguns índices:

Exclusão, evasão, repetência, sem explicitação ou definição dos conhecimentos, aprendizagens, habilidades de que a criança foi excluída (exclusão da escola), ou aos quais renunciou (evasão), ou que adquiriu em nível insatisfatório (repetência); ou avalia-se a qualidade da alfabetização aferindo comportamentos de leitura e escrita definidos escolarmente, e quase sempre pela inércia da tradição. (SOARES, 2013. p. 49)

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Analisando os itens citados por Soares (2013) sobre os fatores medidores da qualidade da alfabetização, e entendendo a importância desses fatores para o tema aqui abordado, pode-se fazer um paralelo sobre os dados censitários da mesma entre 2000 e 2010. É evidente que os dados mostraram que houve uma grande queda nos índices de analfabetismo desde os anos de 1940 das pessoas com mais de 15 anos de idade, isso nos revela um grande avanço, mas também, sabemos de que ainda é preciso fazer muito pela alfabetização.

Os dados apresentados a seguir são do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, realizado em 2010.

Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade Brasil – 1940/2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Analisando os dados do gráfico do IBGE, é entendível que os índices de analfabetismo sofreram uma grande queda nos últimos 70 anos. O que remete que antigamente vários fatores contribuíam para o analfabetismo, podendo ser desde a falta de oportunidade à evasão escolar. As questões da evasão e do analfabetismo colocam em evidência, a importância de ser alfabetizado na idade certa.

Os dados a seguir, são os índices da: Taxa de analfabetismo de pessoas de 10 anos ou mais de idade e de 15 anos ou mais de idade, por sexo, situação

do domicilio e os grupos de idade – Brasil – 2000/2010.

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

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Observando os dados do segundo gráfico do Censo do IBGE, pode-se entender que mesmo a diferença não sendo alarmante, as taxas de analfabetismo são maiores em homens do que em mulheres. E ainda os índices mostram que a área rural tem grandes números de analfabetismo, comparado aos índices das áreas urbanas.

Sabe-se da importância da alfabetização para a cidadania, Soares (2013) nos traz um paralelo entre essas duas temáticas, onde é possível compreender a visão da mesma sobre a alfabetização como algo não vinculado a cidadania e contrário a isso, alfabetização totalmente vinculada ao exercício da cidadania:

A relação entre alfabetização e cidadania pode ser analisada sob duas perspectivas, aparentemente contraditórias: de um lado, é preciso negar, de outro, é preciso afirmar a vinculação entre o exercício da cidadania e o acesso à leitura e à escrita. (SOARES, 2013. p. 55)

Analisemos então, as duas propostas citadas, a primeira onde afirma que a alfabetização não é indispensável ao exercício da cidadania, essa ideia, trata-se sobre o fato de que somente quem tem o domínio das habilidades de leitura e escrita é que pode agir como cidadão. Fato esse imposto pela classe dominante, sendo assim, não é necessário ser alfabetizado para ser cidadão. A segunda perspectiva é onde cita que, a alfabetização está intimamente ligada ao exercício da cidadania, pois, onde em sociedades que predominam o uso da leitura e escrita, o exercício da cidadania se faz por meio do domínio dessas habilidades. “Justifica-se, assim, a afirmação de que a alfabetização é um instrumento na luta pela conquista da cidadania, e é fator indispensável ao exercício da cidadania.” (SOARES, 2013. p. 59)

Logo, torna-se relevante nessa pesquisa entender os ciclos da educação básica, no Distrito Federal. As etapas da alfabetização são organizadas no Bloco Inicial da Alfabetização – BIA, nas quais as diretrizes do Bloco Inicial da Alfabetização de 2012 foram elaboradas durante todo o ano de 2011 por profissionais da rede pública. Desde a aprovação das diretrizes pedagógicas do BIA em 2006, vários profissionais vem trabalhando nesse aperfeiçoamento do bloco. A implantação do Ensino Fundamental de 9 anos na rede pública do Distrito Federal, iniciou-se em 2005, portanto em 2009 o Ensino Fundamental de 9 anos já estava implantado nas 14 Coordenações Regionais de Ensino. Sendo assim, dentro do ciclo do BIA, a primeira etapa da alfabetização é o primeiro ano do ensino fundamental, posteriormente, vindo a segunda etapa – segundo ano do ensino fundamental, finalizando o BIA com a terceira etapa – terceiro ano. Nessa linha dos ciclos, o aluno não pode ser retido nas primeiras etapas da alfabetização:

O BIA - Bloco Inicial de Alfabetização - é uma organização escolar em ciclos de aprendizagem que pressupõe mudanças nas concepções de ensino, aprendizagem e avaliação, e, consequentemente, na organização do trabalho pedagógico e na formação de seus professores.

(BRASIL, 2012. p. 14)

É interessante essa perspectiva do BIA, onde se pode avaliar a criança desde seu progresso na primeira etapa do ciclo, não deixando de salientar a importância que o BIA deposita no professor, enfatizando que o mesmo deve saber entender que cada estudante tem um tempo diferente de aprendizagem, o que deve ser respeitado, cabendo ao professor, saber lidar com essas diferenças em sala de aula:

Deve-se lembrar, também, que as pessoas têm tempos diferentes de aprendizagem e, consequentemente, aprendem de formas diferentes.

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Nesse sentido, os professores devem criar oportunidades diferenciadas de aprendizagem para os estudantes e, para tal, é imprescindível que organizem o trabalho e o tempo didático em função de cada um deles, garantindo, assim, um ganho significativo na formação plena de futuros cidadãos. (BRASIL, 2012. p. 19)

O Brasil vem nesse contexto dos ciclos, tomando medidas para avaliar a alfabetização, com estratégias interessantes de levantamentos de dados. O país criou o ANA – Avaliação Nacional da Alfabetização, que é aplicada ao final do terceiro ano dos ciclos, que como citado aqui, é a fase final do ciclo de alfabetização:

A avaliação está direcionada para as unidades escolares e estudantes matriculados no 3º ano do Ensino Fundamental, fase final do Ciclo de Alfabetização, e insere-se no contexto de atenção voltada à alfabetização[...] (BRASIL, 2013. p. 5)

Avaliação Nacional da Alfabetização, aplicada ao fim do terceiro ciclo do BIA, é um importante indiciador de como está a alfabetização dos brasileiros. Sendo relevante compreender de que ainda há muito o que se fazer.

2.3. AQUISIÇÃO DA LEITURA E ESCRITA: UMA PERSPECTIVA PSICOGENÉTICA

Compreender o processo do desenvolvimento da alfabetização, de início pode parecer uma tarefa de fácil acesso, podendo levar a criança ao ápice desse processo, apenas com um mero processo de mecanização ou memorização, seria fácil, se tudo fosse dessa forma. Porém, sabemos que não é assim que as coisas acontecem, para ser efetivada a alfabetização é necessário um longo processo, não porque a criança é ‘’burra’’ ou ‘’preguiçosa’’, mas sim porque é de uma forma natural e psicogenética que para se chegar ao processo de leitura e escrita, requer uma série de etapas cognitivas e até mesmo ambientais/sociais. Podemos iniciar o entendimento desse processo, com o posicionamento de Ferreiro (1989):

O desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem dúvida, em um ambiente social. Mas as práticas sociais, assim como as informações sociais, não são recebidas passivamente pelas crianças. Quando tentam compreender, elas necessariamente transformam o conteúdo recebido. Além do mais, a fim de registrarem a informação, elas a transformam. Este é o significado profundo da noção de assimilação que Piaget colocou no âmago de sua teoria. (FERREIRO, 1989, p. 24)

Entendemos assim, a importância do contato da criança com a leitura e escrita mesmo antes de entrar no mundo escolar, uma criança está rodeada por grafemas, seja nos desenhos da televisão, nos livros que ela já tem contato, em várias situações a criança tem a possibilidade do desenvolvimento da leitura e escrita:

Felizmente, as crianças de todas as épocas e de todos os países ignoram esta restrição. Nunca esperaram completar 6 anos e ter uma professora á sua frente para começarem a aprender. Desde que nascem são construtoras de conhecimento. No esforço de compreender o mundo que as rodeia, levantam problemas muito difíceis e abstratos e tratam, por si próprias, de descobrir respostas para eles. Estão construindo objetos complexos de conhecimento e o sistema de escrita é um deles. (FERREIRO, 2001. p. 65)

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Como já dito anteriormente, fica claro que, inevitavelmente a criança sempre estará em constante contato com o mundo da leitura e escrita, o que pode ser um facilitador do processo de ensino e aprendizagem. Ferreiro e Teberosky (1999) citaram, ao defenderem a teoria de Piaget, sobre a criança e a constante busca pelo conhecimento, entende-se assim que essa busca se dá também no processo de leitura e escrita fora da escola, quando não há um professor mediador, a criança exerce o letramento por meio da curiosidade que há move:

O sujeito que conhecemos através da teoria de Piaget é aquele que procura ativamente compreender o mundo que o rodeia e trata de resolver as interrogações que este mundo provoca. Não é um sujeito o qual espera que alguém que possui um conhecimento o transmita a ele por um ato de benevolência. É um sujeito que aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo que organiza seu mundo. (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999. p. 29)

Ferreiro e Teberosky (1999) definiram alguns níveis da escrita, para que pudéssemos entender com mais clareza, como funciona a psicogênese da escrita, sendo o Nível 1, mais conhecido como Hipótese Pré-Silábica Nível 1, define que “Escrever é reproduzir os traços como a forma básica da mesma.” (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 193), podemos entender assim, que neste nível, a criança age por reprodução daquilo que está propondo, se ela quer escrever determinada palavra, a mesma irá associar esta ao tamanho do objeto, animal ou pessoa em questão:

Este é um ponto muito interessante: a criança espera que a escrita dos nomes de pessoas seja proporcional ao tamanho (ou idade) dessa pessoa, e não ao comprimento do nome correspondente. (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 194)

Esta hipótese também é caracterizada pela associação do desenho à escrita e esta àquela, nos fica claro que a criança pode usar este recurso, como um reforço e apoio aquilo que ela nos quer transmitir ou que está sendo proposto a ela, “[...] como se a escrita sozinha não pudesse “dizer” tal ou qual coisa, mas emparelhada com o desenho pode servir para “dizer” o nome deste. ‘’ (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 200). Neste nível, ocorre com frequência a aparição da letra cursiva como tipo de escrita, mas, podendo ocorrer também a escrita do modelo impressa. Onde o surgimento de letras e números é tido normal, não caracterizando assim, patologias:

No que se refere à modificação da orientação espacial dos caracteres, neste nível em níveis subsequentes assinalamos que não pode ser tomada como índice patológico (prenúncio de dislexia ou disgrafia), mas como algo totalmente normal. Não somente normal como também, em alguns casos estas inversões são voluntárias e testemunham um desejo de exploração ativa dessas formas dificilmente assimiláveis. (FEREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 201)

Adentramos então no segundo nível das hipóteses psicogenéticas, este sendo como Hipótese pré-silábica Nível 2, “A hipótese central deste nível, é a seguinte: Para poder ler coisas diferentes (isto é atribuir significados diferentes), deve haver uma diferença objetiva nas escritas.’’ (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 202). Neste nível os grafismos são mais definidos e claros, aproximando-se mais das letras. Sendo ainda que em algumas crianças a quantidade de grafismos é menor, nestes casos, a criança utiliza essa pequena quantidade para escrever

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diversas coisas, mudando apenas a ordem linear dos grafismos, “É assim como estas crianças expressam a diferença de significação por meio de variações de posição na ordem linear [...].’’ (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 202).

Conhecendo então as primeiras hipóteses dos níveis da psicogênese, estamos aptos a compreender o nível 3, conhecido como a Hipótese Silábica, “Este nível está caracterizado pela tentativa de dar um valor sonoro a cada uma das letras que compõem uma escrita.’’ (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 209), ou seja, a criança começa a associar a escrita com a fala, passando a entender que há uma representação da fala na escrita. Nesta hipótese duas características dos níveis 1 e 2 podem deixar de fazer sentido à criança:

Quando a criança começa a trabalhar com a hipótese silábica, duas das características importantes da escrita anterior podem desaparecer momentaneamente: as exigências de variedade e de quantidade mínima de caracteres. (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 212)

Logo, no nível 4, chamado de Hipótese Silábico-Alfabética, este sendo como um momento de transição da criança:

A criança abandona a hipótese silábica e descobre a necessidade de fazer uma análise que vá “mais além’’ da sílaba pelo conflito entre a hipótese silábica e a exigência de quantidade mínima de gramas (ambas exigências puramente internas, no sentido de serem hipóteses originais da criança) e o conflito entre as formas gráficas que o meio lhe propõe e a leitura dessas formas em termos de hipótese silábica (conflito entre uma exigência interna e uma realidade exterior ao próprio sujeito). (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 214)

O último nível das hipóteses da psicogênese da escrita é o nível 5, sendo esta a Hipótese Alfabética, “A partir desse momento, a criança se defrontará com as dificuldades próprias da ortografia, mas, não terá problemas de escrita, no sentido estrito.’’ (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999, p. 219)

3 - METODOLOGIA

A escola na qual esta pesquisa se realizou foi uma escola pública da Secretária de Educação do Distrito Federal, situada na Região Administrativa de Taguatinga, a qual atende crianças do primeiro ao quinto ano em tempo integral. Escolhemos a turma de segundo ano, para o desenrolar da pesquisa, pois, considerando o BIA, as crianças estão na segunda etapa do processo de alfabetização nesse período.

A pesquisa em questão se tratou de uma pesquisa qualitativa, de cunho exploratório, logo, a pesquisa aqui abordada, tentou buscar informações que nos levassem a conclusões sobre o processo de alfabetização e letramento das crianças de segundo ano do ensino fundamental. Frisou aspectos que a caracterizasse como qualitativa, analisou os dados de tal informação, com o objetivo de compreender todos os aspectos que justifiquem a manifestação do tema em questão. Segundo Goldenberg (1997, p. 34, apud, SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009, p. 31):

A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os pesquisadores que adotam a abordagem

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qualitativa opõe-se ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim, os pesquisadores qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa (GOLDENBERG, 1997, p. 34)

Além disso a pesquisa adotou um cunho exploratório, pois, tratou-se de um processo de imersão na escola, onde a realidade em questão foi observada para que os objetivos desta fossem atingidos. Marconi e Lakatos definem pesquisa exploratória (2002):

São investigações de pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos. Empregam-se geralmente procedimentos sistemáticos ou para a obtenção de observações empíricas ou para as análises de dados (ou ambas, simultaneamente). Obtêm-se freqüentemente descrições tanto quantitativas ou qualitativas do objeto de estudo, e o investigador deve conceituar as inter-relações entre as propriedades do fenômeno, fato ou ambiente observado [...]. (MARCONI e LAKATOS, 2002, P. 85)

Escolhemos o turno matutino para realização da pesquisa, em um período de três semanas observamos uma turma de segunda ano, com o total de 24 alunos, foi observada no seu cotidiano escolar e em suas práticas de alfabetização e letramento.

A pesquisa que se desenvolveu teve como instrumento de coleta de dados a observação das crianças e do contexto da sala de aula, nos quais o foco foi a atuação da professora e das crianças nas atividades de leitura, escrita e letramento. Identificamos assim, as estratégias utilizadas pela professora para atuar no processo de aquisição da leitura e escrita. Observando o desenvolvimento das crianças a partir dos resultados desta:

Observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar. (MARCONI e LAKATOS, 2002, P. 88)

Foram analisadas também, as produções textuais das crianças após intervenção da professora, sendo que esta análise considerou a temporalidade como fator importante desta pesquisa, pois, os avanços conquistados pelas crianças ao longo da pesquisa foram de grande importância nesta. Estas produções foram atividades de leitura, escrita e letramento, nas quais, a professora trabalhou de modo interventivo, a fim de promover o desenvolvimento das crianças. Observando a reação de cada uma no decorrer das atividades propostas. Analisamos também as atividades de práticas de alguns alunos, dentro do contexto da pesquisa.

Utilizamos como terceiro instrumento a entrevista semiestruturada realizada com a professora, na qual chamamos aqui de Maria (nome fictício) buscando assim, dados para fundamentar este segundo instrumento da pesquisa. Como a professora trabalha as questões aqui tratadas, quais estratégias a mesma utiliza como método de alfabetização. Como definiu Gerhardt et. al. (2009):

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O pesquisador organiza um conjunto de questões (roteiro) sobre o tema que está sendo estudado, mas permite, e às vezes até incentiva, que o entrevistado fale livremente sobre assuntos que vão surgindo como desdobramentos do tema principal. (GERHARDT et. al. 2009, p. 65)

Esses são pontos importantes que deram fundamentos ao tema desta pesquisa e a problemática aqui abordada.

4 - ANÁLISE DE DADOS

A análise dos dados desta pesquisa foi baseada nos objetivos que a nortearam, tentando assim, buscar respostas para as problemáticas de alfabetização e letramento nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório. Utilizamos como instrumento de pesquisa a observação e a entrevista semi-estruturada, realizada com uma professora de uma turma de segundo ano dos anos iniciais.

Compreendendo que este trabalho teve como objetivo analisar o processo da alfabetização e letramento em crianças do segundo ano do ensino fundamental, percebeu-se que elas, no que se refere, à aquisição da escrita e leitura, progridem aos poucos de forma não linear. As crianças do segundo ano, já chegam nessa fase com noções básicas do sistema alfabético, tais como a relação entre o som e letra, alguns vocábulos simples com grafia consolidada, dentre outras características relacionadas ao processo de alfabetização e letramento, isso ocorre principalmente, devido às propostas das etapas da alfabetização dentro do BlA.

Sendo assim, adentramos aos objetivos específicos desta pesquisa, com base nas observações feitas em sala de aula, e na entrevista semi-estruturada realizada com a professora da turma.

4.1. IDENTIFICAR AS ESTRATÉGIAS DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO UTILIZADAS PELA PROFESSORA EM SALA DE AULA

As observações feitas em sala de aula mostraram um ritmo favorável à aprendizagem dos alunos. A professora sempre se portou de forma acessível ao ensino e aprendizagem, com uma postura cabível a faixa etária da turma, considerando que a mesma procura atender as necessidades das crianças, auxiliando nas atividades, elogiando os avanços delas, trabalhando a leitura e escrita de cada um e respeitando os limites de cada criança.

A sala de aula possui um ambiente facilitador do ensino, com um cantinho chamado “Cantinho da leitura’’, onde os alunos têm à disposição deles livros e gibis, para se interarem do mundo literário com uma forma mais lúdica, pois esse ‘’cantinho’’ é bastante decorado.

Ao explicar uma atividade, a professora resolve as problemáticas coletivamente, lendo ou pedindo que os estudantes o fizessem para assim, trabalhar a leitura individual em uma forma coletiva. Quando há avaliações de aprendizagem,

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a professora lê coletivamente a prova, esperando que os alunos a respondam, para então passar para a próxima questão. Outra estratégia utilizada pela professora é a leitura silenciosa e posteriormente a leitura coletiva. Esse recurso é interessante, pois a criança ao ler primeiramente para si tem a chance de assimilar melhor as palavras, tem a oportunidade de exercer práticas de letramento, levando ainda em consideração que a criança pratica a fala em público, Maria fala dessa importância:

Todos os dias tem leitura na sala, eles lêem pra mim, interpretação oral sempre, eles fazem muita. Acho que nessa fase deles é mais importante ainda do que escrita, pra eles irem aprendendo a ter opinião própria, a formular suas idéias, a não ter medo de falar, de errar. Muitas crianças não querem falar por terem medo de errar, então eu acho que é muito importante fazer essa interpretação oral. (MARIA, 2014)

A turma é incentivada a ler também livros didáticos, para que os alunos possam responder os exercícios de forma mais atenta. Sempre utilizando o recurso da leitura coletiva, cada aluno lendo um parágrafo ou frase do texto em questão. Sendo uma frase dita pela professora durante a leitura do aluno, incentivadora e coerente, quando ela afirma: “Ler bem não significa ler correndo’’. Elogios em relação à leitura dos alunos são frequentes na prática pedagógica da professora, além disso, notou-se que ela elogia o melhoramento de alguns alunos, para que toda a turma possa ver. Incentivando a grafia de forma que o aluno venha entender ao ler posteriormente.

A prática do reagrupamento prevista na modalidade de ciclos é utilizada na escola. Os estudantes das turmas de segundo ano são redistribuídos nas três turmas vigentes, cada professora regente, fica responsável por um grupo de aluno. Essa é uma ferramenta, utilizada como foco à aprendizagem do aluno. Nesse momento, as dificuldades são trabalhadas visando o progresso do mesmo e facilidades já existentes são “lapidadas”:

O reagrupamento de estudantes é uma estratégia pedagógica que permite o atendimento às necessidades de aprendizagens de grupos específicos de estudantes por um período determinado. Deve ser uma atividade intencional e planejada pelo grupo de professores que o desenvolverá, registrará, acompanhará e avaliará sistematicamente. (BRASIL, p. 12. 2013)

Quando perguntada se a mesma utiliza estratégias específicas para a alfabetização e letramento, a professora responde que segue o currículo, a metodologia, mas que:

[...] eu costumo dizer que cada dia é um dia, então muitas vezes eu já fiz um planejamento e o planejamento ir por terra, e ali porque quando você faz um planejamento ele tem que ser totalmente flexível, porque muitas vezes você planeja uma aula e os alunos não estão preparados, não respondem da forma como você planejou e às vezes eles estão interessados em outra coisa e você tem que adequar seu planejamento e mudar. [...] (MARIA, 2014)

Entende-se assim, que a professora enfatiza as estratégias de alfabetização e letramento, relatando que todos os dias realiza leitura na sala de aula, interpretação oral. Há ainda o trabalho da biblioteca e a caixa de leitura da sala de aula. A mesma afirma não reutilizar materiais no ano seguinte, pois diz que cada turma tem sua especificidade, cada turma é única. Frisando ainda que:

A sua postura em sala é você e sua turma, ali é o que ele te responde e você tem que estar pronta e ter a sensibilidade disso, de prestar atenção no

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que está dando certo e no que não está e imediatamente você voltar e se for preciso você volta, refaz o caminho, toma outra postura, e ali você faz, você cria, você vai descobrindo, na verdade você se deixa levar e a turma vai te dando um norte e depois juntos vocês tomam uma nova direção. (MARIA, 2014)

Esta fala da professora chama atenção pelo fato de que ela utiliza uma metodologia de trabalho participativo que considera a opinião das crianças, dando assim importância à aprendizagem dos mesmos. A isso podemos associar a citação de Soares (2013):

Porque, durante décadas, andamos afirmamente, ansiosamente, em busca, sim, de um método: silábico? Global? Fônico? Ou, quem sabe, eclético? Mas buscávamos um método. Durante décadas, esse parecia ser o problema crucial da alfabetização: um método. (SOARES, 2013. p. 86)

Sendo assim, pode-se notar certa “evolução’’ de estratégias para alfabetizar e letrar, uma flexibilidade que antes não existia nas escolas, podendo ser um facilitador do ensino e aprendizagem. Maria afirma ainda que apesar de ter um roteiro fixo, ela não o segue fielmente, pois sempre é necessário fazer adaptações que se adéquem às realidades das crianças.

Partindo do ponto de que alfabetização e letramento apesar de serem questões com definições diferentes são dois fatores indissociáveis. Neste contexto, foi perguntado a Maria (2014), como ela compreende alfabetização e letramento, a mesma afirma que “Não há como distinguir alfabetização e letramento, tudo parte daqui, é uma boa alfabetização que esses alunos irão caminhar, isso aqui é a base.’’ Entende-se assim, que a professora compreende essa indissociabilidade. Como citado no referencial teórico deste, Soares (2004) nos traz uma definição sobre:

[...] a necessidade de reconhecimento da especificidade da alfabetização, entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema da escrita, alfabético e ortográfico; em segundo lugar, e como decorrência, a importância de que a alfabetização se desenvolva num contexto de letramento – entendido este, no que se refere à etapa inicial da aprendizagem da escrita, como a participação em eventos variados de leitura e de escrita, e o conseqüente desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, e de atitudes positivas em relação a essas práticas [...] (SOARES, 2004. p. 16)

Maria afirma ainda que incentiva os estudantes a aumentarem suas práticas literárias fora da escola, como: observar placas nas vias, OutDoor, para assim, ampliar a prática de letramento em seus vários contextos. Nessa mesma concepção, Ferreiro (2001) nos traz a seguinte citação:

A língua escrita é um objeto de uso social, com uma existência social (e não apenas escolar). Quando as crianças vivem em um ambiente urbano, encontram escritas por toda a parte (letreiros da rua, vasilhames comerciais, propagandas, anúncios da TV, etc.). (FERREIRO, p. 37. 2001)

Nesse contexto, podemos compreender a relevância de proporcionar à criança, o entendimento de que ela pode aprimorar seus conhecimentos linguísticos dentro e fora da escola e como citado na entrevista, é dessa forma que Maria alfabetiza e letra seus alunos.

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4.2. RECONHECER O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS NA LEITURA E ESCRITA A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA PSICOGENÉTICA.

Levando em consideração as pesquisas de Emília Ferreiro no âmbito da educação, e os trabalhos analisados por ela sobre a psicogênese da escrita, tomamos como um dos pontos importantes dessa pesquisa, o desenvolvimento das crianças na leitura e escrita a partir de uma perspectiva psicogenética, analisando como o professor ver esse pressuposto em sua sala de aula.

Considerando que a escola pesquisada trata-se de uma escola da rede pública do Distrito Federal, que adota a perspectiva psicogenética nas suas atividades de alfabetização no BIA, o tema da psicogênese atualmente é uma das ferramentas mais utilizadas para medir o nível de alfabetização dos estudantes. Sendo assim, é notório que se perceba o desenvolvimento dos alunos a partir da aplicação desse teste, usando isso em prol do letramento e da alfabetização, reconhecendo o nível em que o estudante está para serem trabalhadas possíveis dificuldades do mesmo. Ferreiro e Teberosky (1999) classificaram esses níveis em: Hipótese Pré-Silábica Nível 1, Hipótese Pré-Silábica Nível 2, Hipótese Silábica, Hipótese Silábico-Alfabética, Hipótese Alfabética. As observações e entrevista desta pesquisa tiveram como um dos focos, a psicogênese, onde se tentou buscar respostas para os problemas citados anteriormente.

O teste da psicogênese aplicado no mês de setembro na escola pode mostrar o desenvolvimento dos alunos. Em análise, percebeu-se que 90% dessas avaliações observadas, mostraram um notável desenvolvimento dos alunos, nos quais, no início do ano, alguns não sabiam nem escrever palavras que passassem compreensão ao leitor, realidade que não é mais presente nesta turma. A professora relata ter hoje em sala de aula três níveis diferentes da psicogênese: Silábicos, Silábico-alfabéticos e o restante da turma alfabéticos em subníveis diversos. Relatando ainda que no início do ano letivo, a turma estava ainda em um ritmo que alterou muito ao longo de todos os bimestres que já se passaram, sendo que 8 eram silábicos e 16 Silábico-alfabéticos.

Considerando a importância de se chegar ao último desses níveis psicogenéticos, a realidade da turma e o desenvolvimento dela em relação ao inicio do ano, podemos associar com a definição de Ferreiro e Teberosky (1999) relacionado ao nível Alfabético:

A escrita alfabética constitui o final desta evolução. Ao chegar a este nível, a criança já franqueou a “barreira do código’’; compreendeu que cada um dos caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba e realiza sistematicamente uma análise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever. (FERREIRO E TEBEROSKY, 1999. p. 219.)

Analisando a entrevista feita com Maria, pode-se constatar a real importância que ela vê na psicogênese para o desenvolvimento dos alunos, pois ela percebe isso ao longo de suas aulas, trabalhando coletivamente ou individualmente as dificuldades dos mesmos.

O teste da psicogênese é o norte, é através desse teste que você vai saber onde tem que interferir, em que ponto você tem que trabalhar com seu aluno, acho mais importante do que provas. Ali você sabe exatamente onde tem que voltar, onde ficou a falha. Eu acho que o teste da psicogênese é

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muito mais uma avaliação do trabalho do professor do que uma avaliação das crianças, porque ali você vai saber em que ponto tem que interferir que tem que fazer suas interferências com os alunos. (MARIA, 2014)

Maria relata ainda as dificuldades de escrita que são observadas ao longo das aulas e nos testes da psicogênese, apesar de frisar que é uma fase normal da criança, sendo as principais expostas: 1) As crianças escreverem da forma como pronunciam as palavras. 2) A questão tecnológica, pois elas escrevem na forma como lêem na internet, como as palavras: “Está’’ sendo substituída por ‘’tá’’, ‘’você’’, sendo abreviada por ‘’vc’’. Soares (2013) afirma:

Do ponto de vista propriamente lingüístico, o processo de alfabetização é, fundamentalmente, um processo de transferência da seqüência temporal da fala para a seqüência espaço-direcional da escrita, e de transferência da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita (cf. Silva, 1981). É, sobretudo, essa segunda transferência que constitui, em essência, a aprendizagem da leitura e da escrita: um processo de estabelecimento de relações entre sons e símbolos gráficos, ou entre fonemas e grafemas. Ora, como não há correspondência unívoca entre o sistema fonológico e o sistema ortográfico na escrita portuguesa (um mesmo fonema pode ser representado por mais de um grafema, e um mesmo grafema pode representar mais de um fonema), o processo de alfabetização significa, do ponto de vista lingüístico, um progressivo domínio de regularidades e irregularidades. (SOARES, 2013. p. 21,)

Dessa forma, podemos estabelecer relação entre a fala de Maria e a citação de Soares (2013), podendo assim, compreender que a criança em seu processo de aquisição da escrita, escreve da forma como fala. Compreendendo assim que a criança na fase da alfabetização não escreve ortograficamente.

Conforme relata Maria, a parte da escrita é mais complicada do que a leitura, pois muitas vezes o trabalho é feito na escola, e não há uma continuidade em casa, sendo que muitas crianças só tem esse acesso na escola. E as principais dificuldades da parte ortográfica são em relação a essas palavras, pois é uma questão visual, como cita a professora, a criança tem que ter contato com a leitura, com livros, revistas, gibis. A mesma afirma ainda, possuir alunos que já tem uma prática literária avançada, lendo livros como ‘’Harry Potter’’, ‘’A culpa é das estrelas’’, ‘’Diário de um banana’’, conforma palavras da professora entrevistada, e conforme detectado nos testes da psicogênese aplicados ao longo dos bimestres, e em especial, os testes aplicados em setembro, essas crianças que já estão habituadas a esse tipo de literatura, já possuem uma escrita mais evoluída.

5 - CONCLUSÃO

Considerando os problemas que foram abordados nesta pesquisa, sendo eles: Qual a influência do letramento na aquisição de leitura e escrita? Como o professor pode usar o letramento em prol do ensino e aprendizagem na aquisição da escrita? Quais são as estratégias utilizadas para alfabetizar e letrar dos 6 aos 8 anos? E considerando ainda os resultados obtidos por meio das observações e entrevista é notório que:

Aquisição da leitura e escrita é uma importante etapa no processo de desenvolvimento cognitivo da criança, e vários fatores podem ser importantes

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para o desenvolvimento desta etapa do estudante. Entre eles, pode-se destacar o letramento, este sendo como as práticas sociais de leitura e escrita. Uma criança que entra na fase escolar, com certo conhecimento das letras, do mundo da leitura, provavelmente terá facilidade, pois, poderá ter dado domínio do mundo letrado, podendo reconhecer letras, e associar o fonema ao seu grafema em questão.

Uma criança letrada, mesmo não sabendo ler, pode entender a importância da leitura desde a um contato com livros, sabendo interpretar a informação que ele lhe passa, mesmo não sabendo ler, associando gravuras e as ilustrações da história. São pontos importantes do letramento, que poderá ser um grande auxiliador no momento da alfabetização.

O professor sabendo dessa importância do letramento para o desenvolvimento do aluno tem em “mãos” uma grande ferramenta como auxílio, pois ele poderá usar isso como estratégia de ensino, instigando o aluno a buscar em seus conhecimentos prévios o que ele já viu em livros, imagens.

Buscar no estudante dúvidas sobre o mundo da escrita, sobre as letras em seu sentido grafônico, fonêmico. Dando ao aluno novas oportunidades de leituras, incentivando-o a estar sempre no mundo literário. Cabendo ao professor, frisar a importância da leitura como um aprendizado real, e não de uma memorização mecânica, dando ao aluno o entendimento do sistema grafônico e fonêmico.

O professor deve possuir várias estratégias para alfabetizar e letrar a criança, sabendo que em uma sala de aula, ele encontrará diversas características individuais, especificidades, maneiras diferentes de pensar, de agir, ritmos diferentes de aprendizagem, níveis psicogenéticos diversos. Dar à criança a chance de assimilação do novo conhecimento à sua antiga estrutura cognitiva. Outro fator importante que o professor deve levar em consideração, é o erro, sabemos que para o construtivismo, o erro deve ser construtivo, sendo assim, o docente pode usar isso como auxílio da alfabetização, pois se o aluno erra, ele deve incentivar o mesmo a continuar, a entender o porquê daquele erro, mostrando que ele pode estar sempre em crescimento, mesmo errado, pode adquirir conhecimento.

Outras estratégias interessantes podem ser grandes auxiliadoras do processo de alfabetização, como: mostrar inicialmente os grafemas aos alunos, associando-os aos seus fonemas, provocar no estudante o prazer pelo contato com o mundo da leitura e escrita. Incentivando o aluno a ler oralmente. Esses aqui são somente exemplos de auxiliadores da alfabetização e letramento, deixando claro do imenso “mundo” que é a alfabetização, imenso “mundo” que é o letramento.

A perspectiva psicogenética vem sem mostrando importante estratégia metodológica e um elemento diagnosticador da alfabetização, pois com o teste da psicogênese é possível analisar o nível psicogenético que aquele aluno se encontra, observando se ele possui ou não alguma dificuldade de escrita, sendo então o momento de a professora intervir de forma mediadora, dando ao aluno, a chance de trabalhar alguma dificuldade que ele possui, tendo o auxílio da professora. E em relação às crianças que não possui dificuldades de leitura e escrita, é interessante que a professora também os incentivem a continuar a desenvolver suas habilidades, ou seja, elogiando e incentivando todos os alunos, ele tendo ou não, dificuldades.

Portanto, é neste contexto que se podem observar os processos que englobam a alfabetização e letramento nas crianças do segundo ano do ensino

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fundamental. O letramento é uma ferramenta indissociável da alfabetização, mesmo ele tendo suas especificidades, suas características que o torna próprio, é necessário à alfabetização. É possível observar que existem crianças que são letradas e não são ainda alfabetizadas, da mesma forma que existem crianças que são alfabetizadas e não são letradas. Sendo assim, é necessário que a criança seja alfabetizada e letrada, pois ter somente uma dessas práticas torna-se de certa forma, um fator negativo. Alfabetizar e letrar é proporcionar o novo, é mostrar caminhos, é dar a chance de novas descobertas.

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6. REFERENCIAL

BRASIL. Avaliação Nacional da Alfabetização. Documento Básico. – Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixera, 2013Teixeira,2013.

______. Bloco Inicial de Alfabetização. Subsecretaria de Educação Básica – Brasília. 2012.

______, Estratégias Didáticos-Pedagógicas e Avaliação nos Ciclos. Disponível em: http://www.cre.se.df.gov.br/ascom/documentos/curric_mov/semestral/estr_did_pedag_aval_ciclos.pdf. Acesso em: 20 de Outubro de 2014

______. Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília. 1997

______. Pró-letramento. Secretaria de Educação Básica. Brasília. 2007

FERREIRO, Emilia. Alfabetização em Processo. 5. ed. São Paulo: Corte Editora, 1899. 144 p.

______, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. 24. ed. São Paulo: Cortez, 2001. 104 p

______, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artemed, 1999. 304 p.

GERHARDT et. al. (2009). Unidade 2 – Pesquisa Científica. In: Métodos de Pesquisa. Edição 1. 2009. Editora da UFRGS.

GOLDENBERG. (1997 apud) Silveira, Denise Tolfo e. Córdova, Fernando Peixoto. Unidade 2 – Pesquisa Científica. In: Métodos de Pesquisa. Edição 1. 2009. Editora da UFRGS.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2002. 282 p.

SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento. 6. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2013. 123 p.

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______, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Minas Gerais. 2003

______, Magda. Letramento: Um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2001. 125 p.

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7. ANEXOS

TRANSCRIÇÃO ENTREVISTA COM PROFESSORA DO 2ª ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS

1. Quantos anos a senhora tem de docência?R= ‘’24 anos de docência’’

2. Considerando toda a sua caminhada como professora, quantos anos trabalha com a alfabetização?R= ‘’Sempre trabalhei com quinto ano, assim que entrei na secretaria eu fiquei com uma turma de segundo ano, que era a antiga primeira série, e agora peguei o segundo ano, então são dois anos com a alfabetização.’’

3. E com o Segundo ano do EF?R= Um ano

4. A senhora prefere alfabetização ou quinto ano?R= ‘’Eu estou gostando demais, gosto muito dos alunos maiores, mas são realidades bem diferentes. Com a alfabetização o seu trabalho mostra mais, eu acho que a gente tem um retorno, apesar de ser difícil, trabalhoso, mas eu acho que o retorno é bem gratificante, por exemplo, eu peguei a turma bem despreparada, e hoje eles já mostram um retorno. O quinto ano também mostra retorno, mas eu estou gostando demais do segundo ano.’’

5. Como escolheu a alfabetização?R= ‘’Eu escolhi a alfabetização porque eu estava caindo no tédio, todo o ano eu já sabia o conteúdo, eu não estava mais encontrando prazer. Lógico, não posso dizer que é tudo a mesma coisa porque cada ano é uma turma diferente, cada ano você aprende coisas totalmente diferentes, mas estava virando uma rotina. ‘’

O TRABALHO PEDAGÓGICO

6. Como a senhora compreende a alfabetização e letramento? R= ‘’Não há como distinguir alfabetização e letramento, tudo parte daqui, é uma boa alfabetização que esses alunos irão caminhar, isso aqui é a base, e eles estão em uma idade que tudo que você quiser conseguir de um aluno é agora, é agora que tem que introduzir todos os ensinamentos, então você consegue muito deles nessa fase aqui, eles te dão uma resposta imediata de tudo que você for trabalhar, não só

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letramento, mas toda a parte de princípios que você trabalha com eles, sua postura frente a eles, eu estou mesmo encantada com a alfabetização.’’

7. A senhora utiliza estratégias específicas para a alfabetização?R= ‘’A gente segue o currículo, a metodologia. Mas eu costumo dizer que cada dia é um dia, então muitas vezes eu já fiz um planejamento e ele ir por terra, porque quando você faz um planejamento ele tem que ser flexível porque muitas vezes você planeja uma aula e os alunos não estão preparados, eles não te respondem da forma como você planejou, ou às vezes eles estão interessados em outra coisa, e você tem que adequar seu planejamento e mudar. Você às vezes está trabalhando uma coisa e você percebe que surgiu na sala um assunto que despertou o interesse deles, então você tem que aproveitar aquele momento, é como um novelo, você tem que pegar aquela ponta e deslanchar, então eu aproveito muito isso. Eu nunca guardei material para usar no ano seguinte, como caderno. Porque cada turma é única. Às vezes você pode aproveitar uma atividade, mas só o fato de você ir buscar uma atividade que atende a turma, aquilo ali já faz com que você recicle sua maneira de ensinar, te leva a buscar outras formas. Então eu acho que eu não tenho uma metodologia, lógico, a gente segue o currículo, agora a sua postura em sala é você e sua turma, ali é o que ele te responde e você tem que estar pronta e ter a sensibilidade disso, de prestar atenção no que está dando certo e no que não está e imediatamente você voltar e se for preciso você volta, refaz o caminho, toma outra postura, e ali você faz, você cria, você vai descobrindo, na verdade você se deixa levar e a turma vai te dando um norte e depois juntos vocês tomam uma nova direção.’’

8. Considerando a pergunta anterior, qual a importância dessas estratégias para alfabetização?R= ‘’O roteiro fixo eu não sigo, eu tenho, mas você não pode ficar preso aquilo ali, por exemplo, aqui temos três segundo anos e nós temos um planejamento, mas nunca vai coincidir de o que uma turma está trabalhando você trabalhar da mesma forma, você trabalha aquele conteúdo, mas de formas totalmente diferenciadas porque cada turma é única. E ate dentro da própria sala você monta grupos, porque na minha sala eu trabalho com três níveis diferentes, e você tem que adequar àquela atividade de acordo com os níveis.

9. E quais são os níveis presentes na turma?

R= ‘’Dois silábicos, quatro alfabéticos e o restante da turma alfabetizados 1, 2, 3 e 4’’

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10. Como a senhora observa o desenvolvimento das crianças ao longo do processo de alfabetização e letramento? R= ‘’Quando eu peguei a turma eu tinha, 8 silábicos, 16 alfabéticos, em um total de 24 alunos, hoje eu tenho 2 silábicos, e sinceramente eu não achei que daria conta disso, fiquei pensando, como faria com que esses alunos lessem, eram muitos alunos silábicos e uma dificuldade bem acentuada, ai hoje eu vejo eles lendo, gostando de fazer produções de texto, porque trabalhamos toda sexta feira produção de texto, e eu já vejo o desenvolvimento, eu vejo eles gostando de fazer produções, eles mesmo cobram isso, pegam os cadernos, constroem textos. Eu acho isso gratificante, lógico, não é o que eu queria, eu queria a totalidade, mas infelizmente a totalidade nós nunca teremos.’’

11. Foi perguntado no início desta pesquisa, como a senhora compreende a alfabetização e letramento. Sendo assim, qual a importância da psicogênese no processo de alfabetização e letramento?

R= ‘’O teste da psicogênese é o norte, é através desse teste que você vai saber onde tem que interferir, em que ponto você tem que trabalhar com seu aluno, acho muito importante o teste, muito mais importante do que provas. Ali você sabe exatamente onde tem que voltar, onde você tem que trabalhar, onde ficou a falha. Eu acho que o teste da psicogênese é muito mais uma avaliação do trabalho do professor do que uma avaliação das crianças, porque ali você vai saber em que ponto tem que interferir, que tem que fazer suas interferências com os alunos.’’

12.Semanalmente a senhora utiliza algum método de leitura, alguma atividade específica de leitura?

R= ‘’Todos os dias tem leitura na sala, eles lêem pra mim, interpretação oral sempre, eles fazem muita. Acho que nessa fase deles é mais importante ainda do que escrita, pra eles irem aprendendo a ter opinião própria, a formular suas idéias, a não ter medo de falar, de errar. Muitas crianças não querem falar por terem medo de errar, então eu acho que é muito importante fazer essa interpretação oral. E você direcionar o pensamento deles e ver como eles estão pensando, qual a linha de raciocínio deles. Eles têm livros, tem a biblioteca que eles pegam livros, além do trabalho da biblioteca, tem de sala, a caixa de leitura, que eles pegam, lêem, então toda atividade que eles terminam, eles vão lá pegam gibi, pegam livros, por eles mesmo, tendo uma rotina que eles mesmo pedem para pegar os gibis e os livros. Não são todos, isso é um trabalho que ainda tem que trabalhar com o restante, mas eles gostam de ler. Eu tenho uma aluna que essa semana ela estava lendo ‘’A culpa é das estrelas’’ e eu falei com ela sobre isso e ela disse que estava gostando e lendo junto com a mãe dela. Tem uns que estão lendo ‘’Harry Potter’’, ‘’diário de um banana’’. Eu acho que eles estão bem além, tem alunos que estão até além do que eu estava esperando.’’

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13. Dentro de sala, quais as dificuldades de escrita que a senhora mais observa?

R= ‘’A fala que é algo cultural, a forma como eles falam, eles escrevem. Não é propriamente um erro, isso aí eu já vejo assim como uma questão cultural que tem que ser trabalhada, hoje em dia não taxamos mais como um erro, e nem como uma dificuldade, e sim temos que respeitar, mas tendo que ser trabalhado. E a questão da tecnologia, eles abreviam muito ‘’TÁ, ‘’Você - VC’’, eles querem trazer esses vícios para a sala, então eu acho a parte da escrita mais complicada de ser trabalhada, tem crianças que lêem, mas na parte da escrita apresenta muita dificuldade e isso eu observo até no quinto ano. O trabalho é feito na escola, mas não há uma continuação em casa, principalmente em escola integral que não tem dever de casa, eles estudam aqui e chegam em casa ‘’pronto, acabou’’, o único trabalho é feito aqui mesmo. Você tem que estar sempre em contato com a leitura, e tem criança que não tem esse acesso a livros em casa, não é uma constancia, e crianças que em casa lêem você percebe, elas não tem dificuldade na ortografia.’’