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Process Book – Projeto Regenera

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Este livro é um relatório do processo e resultados do projeto Regenera,

desenvolvido nas disciplinas de Projeto de Graduação em Design Grá!co I e II

durante o ano de 2014 na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).

rege-nera.tumblr.com

Feito por: Gisele Resende Costa.

Orientado por: Professores André Sens e Murilo Scoz.

Florianópolis, novembro de 2014.

Primeiros passos

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Primeiros passos

Ao dar início ao projeto, no começo da primeira disciplina de Projeto de Graduação, a primeira etapa a ser de!nida era um tema para o projeto, o assunto do qual ele trataria, primeiramente de um modo abrangente para em seguida afunilar a temática até chegar a uma de!nição especí!ca.

Depois de perambular por algumas ideias iniciais, acabei caminhando para temáticas de caráter mais social, e menos comercial. Ainda sem saber o tipo de projeto que seria desenvolvido ou que área(s) do design seria(m) aplicada(s) ao projeto, decidi-me pelo tema gênero.

Além de ser um assunto pelo qual me interesso pessoalmente, a escolha foi feita com base em uma hipótese: o tema gênero não é bastante discutido dentro do design. Essa hipótese surgiu através da minha própria observação dos produtos e objetos de design que vemos em nosso dia-a-dia, bem como os projetos com os quais eu lidei e lido ao longo de minha vida acadêmica e pro!ssional. E, de fato, ao longo do desenvolvimento do presente projeto, enquanto !z minhas pesquisas sobre o tema, percebi que as referências teóricas sobre questões de gênero no design, estudos e análises, eram muito poucas, principalmente quando se faz um recorte somente do design brasileiro.

A fala de uma professora e pesquisado-ra do design chamada Marinês Ribeiro resume bem a problemática do gênero

em relação ao design:

“Pense quando projetamos um brinquedo, embalagem, ilustração ou a própria propaganda que vai veicular esse brinquedo. Se esse projeto, propaganda ou embalagem adere a essas clivagens, a essas divisões [de gênero], o designer que está projetando não está apenas repetindo um fenômeno que existe no mundo social, o designer está reforçando estes valores e ajudando a construir essas noções de feminilidade e masculini-dade também. Quando aderimos a um determinado discurso, ou uma determinada forma de representação ou uma determinada forma de materiali-dade estamos reforçando, produzindo veículos para que estes valores circulem na sociedade. Não existe possibilida-de de neutralidade porque no momento que você projeta o produto que reforça algum tipo de estereótipo, divisão deste tipo, alguma noção de masculini-dade ou feminilidade especí!ca, estamos construindo conhecimen-to sobre gênero e sexualidade. Então os artefatos, as imagens constroem conhecimento, e estão falando de uma certa maneira de ver o mundo. Estão convocando as pessoas que vão ler ou se envolver com a prática do brincar a se posicionar de uma determinada forma frente a estes artefatos, brinquedos. Na vida cotidiana, nas práticas sociais, muitas vezes estes valores hegemônicos que são reforçados por práticas,

Tema

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[...] muitas vezes são burladas, são questionadas, as pessoas atravessam estas fronteiras. Os meninos podem se interessar pelas bonecas e as meninas podem se interessar pelos carrinhos. Mas aí temos um problema: quando eu falo de construção da diferença, não se trata de negar as diferenças, a!nal elas existem e é muito bom que seja assim. O problema é quando as diferenças que existem na sociedade sejam elas construídas, ou não, servem de justi!cativa para o estabelecimen-to de relações de desigualdade, quando são usadas para justi!car hierarquias, para estabelecerem limites de ação. Aí entramos novamente nas relações de poder.” (1)

Sendo assim, resolvi levar em frente o tema gênero e focar em uma abordagem simples e ainda não muito aprofunda-da no tema, já que é um assunto pouco explorado no campo do design.

Mas o que é gênero, a!nal? Além de ser um tema fora da pauta do design, é um tema que não é muito conhecido de maneira geral, pois não é discutido em uma esfera popular, apesar de não ser um tema novo, então muitas vezes só quem o estuda especi!camente tem conhecimento sobre o assunto. Portanto, segue uma breve introdução:

A ideia geral de gênero (sem utilizar ainda este termo para designá-la) foi pioneiramente introduzida pela escritora francesa Simone de Beauvoir

quando ela incitou os questionamen-tos do que signi!ca ser mulher em sua obra O Segundo Sexo, onde a mesma prontamente a!rma que:

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico de!ne a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermedi-ário entre o macho e o castrado que quali!cam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como um Outro.” (2)

Ou seja, ser mulher não é uma característica inerente da pessoa que nasce com o sexo feminino, e sim uma construção que agrega diversos aspectos, não somente o biológico. Alguns anos depois John Money, um psicólogo e sexologista, propôs a utilização da palavra gênero, bem como as expressões papel de gênero e identidade de gênero (em tradução livre):

“Identidade de gênero é a semelhança, unidade e persistência da individualida-de de alguém como masculino, feminino ou ambivalente (o lado introspectivo da moeda). Papel de gênero é tudo que uma pessoa diz ou faz para indicar aos outros e a si mesma a que nível ela é masculina ou feminina ou ambivalente (o lado extrospectivo da moeda).” (3)

Dentre as várias teorias que revolvem ao redor do termo gênero, um ponto

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parece ser comum: gênero não é uma categoria estática – e talvez isso também gere discordâncias e confusão sobre sua de!nição precisa. O que se entende por comportamentos próprios de um gênero – ou seja, os papéis de gênero – está em constante mudança, à medida que aquilo tido como convenção social também muda.

Além disso, ao longo da história e em cada canto do mundo, cada sociedade traz sua própria de!nição e fronteiras do que seria gênero, inclusive com muitos exemplos que extrapolam nossas de!nições !xas e binárias, com grupos, etnias e culturas apresentando até 5 diferentes gêneros que uma pessoa pode assumir naquela sociedade, todos aceitos e respeitados por seus indivíduos. (4) (5)

Por se tratar de questões de gênero especi!camente dentro do design, escolhi direcionar o projeto aos(às) próprios(as) designers e comecei a moldá-lo para ser um tipo de campanha, conscientizando os(as) estudantes e pro!ssionais da área a levarem em conta esse tipo de questão social em seu projetar. Porém, como já foi constatado anteriormente, o tema em questão é um assunto muito pouco discutido no campo do design, portanto preferi dar ao projeto uma abordagem primordial-mente expositiva, como um convite a uma primeira re"exão sobre o assunto, incentivando a discussão sobre o tema entre o público-alvo.

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Primeiros passos

Depois de de!nido o tema, comecei a pensar no conteúdo do projeto e posteriormente na forma que o mesmo iria assumir.

Como o objetivo era expor aos designers que muitos projetos tratam as questões de gênero de um jeito equivocado (ou não as levam em consideração), decidi montar uma pesquisa sobre alguns desses projetos para demonstrar onde estavam as falhas e o que poderia ser melhorado. Essa pesquisa serviria, então, como conteúdo do projeto.

Inicialmente pensei em fazer a pesquisa usando uma base histórica/cronológica, escolhendo alguns projetos ao longo das décadas de história do design e analisando cada um deles do ponto de vista do gênero. Porém, conseguir informações sobre projetos mais antigos não é simples, e a mera comparação entre um projeto e outro a décadas de distância sem que haja uma contextua-lização histórica poderia levar a conclusões equivocadas.

Comecei a procurar outra abordagem para o projeto e por acaso assisti a uma propaganda de um produto de limpeza na televisão, que parecia trazer uma temática diferenciada do comum, então fui atrás da propaganda online para assistí-la novamente. A partir disso resolvi pesquisar despretencio-samente sobre o mercado de produtos de limpeza e percebi que grande parte da comunicação das empresas era

carregada de estereótipos e discursos ultrapassados em relação aos estudos de gênero. Assim, resolvi fazer a pesquisa para o projeto com base em dois nichos de mercado especí!cos e suas abordagens em relação a gênero. Decidi usar mais de um segmento de mercado para não parecer que se tratava de um projeto especí!co de produtos de limpeza, mas sim um projeto de design em geral, demonstran-do que essa lógica pode ser aplicada para outros tipos de produto, inclusive levando o projeto adiante posterior-mente para tratar de outras áreas do mercado que aplicam o design em seu processo de produção.

Os produtos escolhidos para a pesquisa foram, então: produtos de limpeza e brinquedos. Os brinquedos foram escolhidos por serem uma área muito rica para pesquisa, já que muitas das discussões sobre gênero abordam as representações nocivas às quais as crianças são expostas desde que nascem, muitas delas perpetuadas pelos brinquedos que trazem uma ideia estereotipada dos papéis de gênero. Os brinquedos podem ser considera-dos um “começo” da in"uência dessas questões na vida das pessoas, pois costumam ser os elementos que trazem à criança a primeira exposição aos valores de gênero da sociedade.

Vale ressaltar que a ideia do projeto não é culpar determinado nicho de mercado, um produto ou uma marca

Pesquisa

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pelos problemas causados pelo sexismo, mas sim chamar a atenção para o fato de essas atitudes estarem presentes nos níveis mais básicos da nossa vivência, e que muitas vezes estão tão internalizadas em nossa cultura que não percebemos como podem ser prejudiciais e como as perpetuamos sem antes fazer uma re"exão sobre o assunto. Como foi explicado anteriormente, o objetivo do projeto é ser um agente expositor da atual situação das áreas em questão, do modo mais imparcial possível.

A metodologia para a pesquisa foi trabalhada separadamente para cada segmento de mercado, pois o enfoque de cada um é diferente. Para os produtos de limpeza, analisei a comunicação das marcas como um todo, ou seja, todos os pontos de contato da marca com os(as) consumidores(as), mais especi!camente site, vídeos e redes sociais. Entre esses elementos também estão a marca da empresa, embalagens dos produtos e propagandas, pois todos aparecem nos meios citados. Em se tratando de comunicação, !z uma separação em três grupos que seriam cada um um quesito a ser analisado: discurso verbal (ou seja, como a marca literalmente fala com o público), cores (o que a marca procura passar com a paleta cromática utilizada) e imagens (como se dá a representação !gurativa dos gêneros nos materiais veiculados pela marca). Foram escolhidas seis

marcas de produtos de limpeza, tanto para ambientes como para roupas, com base na popularidade dos produtos, ou seja, quais os mais encontrados em supermercados, vistos em propagandas na televisão, etc (com base no contexto observado por mim em uma capital brasileira no sul do país).

Para referenciar cada quesito, foi criada uma escala de notas de um a cinco, onde quanto melhor for a comunicação da marca, do ponto de vista das ques- tões de gênero, maior a nota. A escala em detalhes !cou de!nida como:

a) Discurso verbal:

1 Muito ruim: utiliza palavras exclusiva-mente de gênero especí!co, com a intenção de referenciar apenas um gênero em seu discurso verbal, sem demonstrar preocupação ou esforço em neutralizar o discurso (através de meios como usar o masculino neutro, a letra a entre parênteses, citar a palavra masculina e a feminina, evitar palavras de gênero especí!co ou outro tipo de artifício).

2 Ruim: utiliza por vezes um discurso neutro e por vezes um discurso de gênero especí!co, dependendo da situação em que o discurso está aplicado, porém ainda não demonstra alguma preocupação ou cuidado em redigir o discurso com o objetivo de abranger todos os gêneros.

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3 Razoável: utiliza por vezes um discurso neutro e por vezes um discurso de gênero especí!co, dependendo da situação em que o discurso está aplicado, porém demonstra alguma preocupação ou cuidado em redigir o discurso com o objetivo de abranger todos os gêneros.

4 Bom: utiliza um discurso muito neutro, mas ainda não completamente. Demonstra preocupação e cuidado em proferir um discurso neutro, mesmo que ainda cometa deslizes.

5 Muito bom: utiliza um discurso completamente neutro, evitando palavras de gênero especí!co quando possível e empregando algum artifício para abranger todos os gêneros quando necessário. Demonstra uma grande preocupação e cuidado em neutralizar o discurso verbal.

b) Cores:

1 Muito ruim: utiliza cores que buscam fazer relação com seu público a nível de gênero, sem levar em conta fatores intrínsecos ao produto em si, ao segmento ou a valores da marca para de!nir o uso das cores.

2 Ruim: utiliza basicamente cores que buscam fazer relação com seu público a nível de gênero, somente levando em conta fatores intrínsecos ao produto em si, ao segmento ou a valores da marca para de!nir o uso das cores em materiais

esporádicos ou versões especiais de produtos.

3 Razoável: utiliza cores que parecem quase arbitrárias por não expressarem claramente uma relação com o produto em si, o segmento ou valores da marca, tampouco referenciam o gênero do público.

4 Bom: utiliza cores que buscam fazer relação com o produto em si, o segmento ou valores da marca, mas ainda assim apresenta cores que procuram fazer relação com o gênero do público em materiais esporádicos ou versões especiais de produtos.

5 Muito bom: utiliza cores que fazem relação direta ao produto em si, ao segmento ou a valores da marca, sem levar em consideração o gênero do público-alvo para de!nir o uso das cores.

c) Imagens:

1 Muito ruim: utiliza imagens humanizadas de pessoas de um só gênero, sem demonstrar preocupação ou esforço em abranger um público amplo, além de exibir pouca variação de etnia, idade, estilo de vida e atividades executadas pelas pessoas representa-das.

2 Ruim: utiliza imagens humanizadas de pessoas de mais de um gênero, porém sem demonstrar preocupação ou esforço em abranger um público amplo, ainda atrelando a representação

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a papéis de gênero estereotipados, com pouca variação de etnia, idade, estilo de vida e atividades executadas pelas pessoas representadas.

3 Razoável: utiliza imagens humanizadas de pessoas de todos os gêneros, demonstrando alguma preocupação ou esforço em abranger um público amplo, inclusive com alguma variação de etnia, idade, estilo de vida e atividades executadas pelas pessoas representadas, porém ainda atrelando a representação a papéis de gênero estereotipados.

4 Bom: utiliza imagens humanizadas de pessoas de todos os gêneros, demonstrando preocupação e esforço em abranger um público amplo, inclusive com uma boa variação de etnia, idade, estilo de vida e atividades executadas pelas pessoas representadas.

5 Muito bom: utiliza imagens humanizadas de pessoas de todos os gêneros, demonstrando grande preocupação e esforço em abranger um público amplo, com uma variação deliberadamente diferenciada e questionadora de etnia, idade, estilo de vida e atividades executadas pelas pessoas representadas.

Depois de de!nidos os quesitos, foram observados e analisados os dados coletados nos meios de comunicação de cada empresa, a análise foi redigida e posteriormente

transformada em notas para cada quesito e cada marca.

Para o segmento de brinquedos, a pesquisa foi baseada nas embalagens, e para reduzir a amplitude da pesquisa, foi analisada somente uma loja de brinquedos, através do site da loja, que foi escolhida por se tratar de uma grande rede de lojas, difundida em todo o país. Foram observadas as embalagens de 160 brinquedos e constatadas as cores predominantes em cada embalagem, bem como o preço de cada brinquedo.

Não é necessário se aprofundar muito em uma pesquisa para perceber que brinquedos são fortemente divididos entre “de menina” e “de menino”, é um fator fácil de observar em brinquedos de qualquer tipo, em qualquer faixa etária (e não só em brinquedos, em roupas e outros utensílios infantis também). Um elemento muito utilizado para traçar essa linha divisória é a cor – notoriamen-te rosa para meninas e azul para meninos. Quando falamos em design grá!co e brinquedos, um dos elementos mais relevantes é a embalagem. Um brinquedo pode não ter alguma interface grá!ca, mas com certeza terá uma embalagem, que é um elemento fundamental para a venda do brinquedo. A embalagem deve chamar a atenção da criança e trazer informações para os pais, e a informação visual – como a cor – é um código rápido e intuitivo para dizer a quem aquele brinquedo pertence.

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Por isso escolhi focar a análise dos brinquedos na cor das embalagens.

As cores foram observadas através do que era possível ver na foto disponibili-zada no site (quando não havia foto da embalagem, !z uma busca por conta própria), e a cor do brinquedo em si não foi levada em conta, somente a cor da embalagem visível (tanto externa quanto interna, para brinquedos onde havia um display que possibilitava ver dentro da embalagem), levando em conta tanto a cor de fundo como eventuais fotos e ilustrações que apareciam nas embalagens. A aparência geral da embalagem também foi levada em conta para de!nir a cor predominante.

O próprio site trazia uma divisão entre “brinquedos de menina” e “brinquedos de menino”, portanto resolvi usar a própria divisão do site para comparar os dois “lados”. Dentre as várias categorias de brinquedos para cada gênero, presentes no site, selecionei aleatoria-mente cinco categorias, que estavam presentes nos brinquedos de ambos os gêneros. Dentro das categorias, fui analisando os brinquedos à medida que apareciam na ordem do próprio site, sem selecionar por preço ou qualquer outro quesito.

Depois de feita a pesquisa, foram contabilizadas todas as cores de cada embalagem em cada seção dentro de cada gênero e também foi feita uma média de preço dos brinquedos de cada seção, para cada gênero.

É importante observar que o projeto não tem o objetivo de representar uma realidade absoluta, nem de ser estatisticamente relevante. Algumas marcas de produtos de limpeza e brinquedos de uma só loja não podem representar !elmente a realidade dos dois segmentos de mercado inteiros, para isso seria necessário uma pesquisa muito mais detalhada e extensa. A ideia é simplesmente exibir uma amostra do que vemos ao nosso redor em nosso dia-a-dia, convidando para re"etir e discutir sobre a questão nos futuros projetos.

Além disso, outros fatores relevantes para uma análise completa de mercado – como quem detém o poder e decisão de compra, hábitos de consumido-res(as), fatores que podem contribuir para um per!l de mercado, como classe social e etnia – não foram levados em conta na pesquisa, pois o objetivo foi fazer um recorte do mercado e focar somente nas questões relacionadas a gênero.

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Primeiros passos

Somente depois de !nalizada toda a pesquisa – o conteúdo – comecei a pensar na forma que o projeto iria assumir.

Observando todos os dados coletados, o trabalho poderia tomar diversos rumos, um vídeo, um jogo, uma série de ilustrações. Voltando à ideia inicial de fazer um projeto expositivo sobre representação de gênero e consideran-do a natureza dos dados coletados, acabei me decidindo por fazer um projeto de infográ!co.

Infográ!cos são muito versáteis, podendo ter um caráter muito técnico e direto, com foco na informação, ou por outro lado podem tomar um rumo mais artístico, focando na forma e abstraindo

a informação, possivelmente até o ponto de torná-la ininteligível. Ao meu ver, tudo depende do objetivo do infográ!co. Nem sempre a ideia é transmitir a informação de um jeito mais simples – se fosse assim, poderia ser usada uma tabela ou um texto –, mas sim tornar a informação mais interessante, e esse foi justamente o ponto onde eu quis chegar.

A ideia foi fazer um infográ!co para cada nicho de mercado pesquisado, por se tratarem de abordagens diferentes para cada um, portanto dois infográ!cos no total. A forma dos infográ!cos deveria estar equilibrada entre o “lado info e o lado grá!co”, despertando o interesse do(a) espectador(a) mas sem prejudicar a compreensão da informação.

Tipo de projeto

Experimen to #1

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Experimento #1

Ao longo do processo de criação do projeto, fui realizando algumas atividades experimentais que me ajudaram a visualizar melhor o tema e delinear a área de abrangência do projeto.

O primeiro experimento teve como objetivo fazer um mapeamento super!cial da atuação do projeto entre o público de designers. A hipótese inicial era que, levando em considera-ção a presença muito pequena e rasa de discussões sobre questões de gênero dentro do campo do design, essas questões não seriam sequer levadas em conta no ato de projetar, não haveria uma re"exão por parte dos designers sobre a aplicação e repercussão dessa questão em seus projetos.

Sendo assim, foi aplicado o questioná-rio com 205 pessoas, todas atuantes do campo do design. O questionário consistia em sete perguntas, sendo três delas obrigatórias e três delas perguntas pessoais opcionais para ter uma noção sobre o per!l dos(as) respondentes.

A última pergunta era um espaço para comentários, sugestões e reclamações.

Procurando sanar possíveis dúvidas sobre o tema gênero e fazer com que as respostas fossem mais precisas, o questionário começava com uma breve explicação sobre o assunto:

“Esse questionário tem o objetivo de descobrir como os/as designers abordam a representação de gênero em seus projetos.

(Caso você não saiba, gênero é o conjunto de expectativas sociais e normas de comportamento convencio-nadas para mulheres e homens).”

Cada pergunta também trazia uma breve explicação e exemplos para facilitar o entendimento.

O questionário ainda pode ser acessado através do endereço: gisele.typeform.com/to/JPSJCx.

Os resultados do questionário são os seguintes:

Questionário

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Você leva em consideração questões de gênero enquanto projeta?

Você sente que há obstáculos para aplicar essas considerações nos seus projetos?

87 / 42,4%

84 / 41%

23 / 11,2%

11 / 5,4%

Às vezes eu considero isso enquanto realizo meus projetos.

Sim, sempre re!ito sobre isso enquanto realizo meus projetos.

Não, eu nunca pensei/penso sobre isso ao realizar meus projetos.

Não, eu pre"ro não considerar isso ao realizar meus projetos.

104 / 51%

72 / 35%

25 / 12%

4 / 2%

Sim, sinto que existem obstáculos.

Não, não sinto que existem obstáculos.

Eu não faço essas considerações nos meus projetos.

Outro

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Se sim, quais [obstáculos]?

Selecione a opção que mais se adequa à sua relação com o design. (199 respostas)

Não acho que há obstáculos.

O/A cliente reclama.

Meu/minha chefe reclama.

Outro

Meus/minhas colegas de trabalho não concordam.

Sinto constrangimento ao levantar essas questões.

Sou estudante de design e já trabalho na área.

Sou estudante de design e ainda não trabalho na área.

Sou formado/a em design e trabalho na área.

Sou formado/a em design e não trabalho na área.

Não sou formado/a em design e trabalho na área.

Outro

90 / 44%

61 / 29,7%

29 / 14%

29 / 14%

26 / 12,7%

26 / 12,7%

74 / 37,2%

61 / 30,7%

53 / 26,6%

6 / 3%

4 / 2%

1 / 0,5%

17

Em qual estado do Brasil você mora? (199 respostas)

Qual é a sua idade? (199 respostas)

Santa Catarina

Rio Grande do Sul

Rio de Janeiro

Outro país

São Paulo

Paraná

20 - 29 anos

Menos de 19 anos

30 - 39 anos

Mais de 40 anos

122 / 61,3%

34 / 17,1%

30 / 15,1%

10 / 5%

2 / 1%

1 / 0,5%

175 / 88%16 / 8%

6 / 3% 2 / 1%

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As conclusões que tirei com os resultados da pesquisa foram que, ao contrário do que eu pensava anteriormente, a maioria das pessoas a!rma que leva em consideração questões de gênero enquanto projeta (“às vezes” ou “sempre”), apesar de ainda haver um número relevante de pessoas que não considera, ou prefere não considerar, essas questões em seus projetos – 16,6%.

Porém, apesar da vontade dos(as) designers em abordar essas questões, a maioria sente que existem obstáculos para fazê-lo, tais como agentes externos – clientes, chefes, colegas – ou o próprio constrangimento em levantar esse tipo de questão. Ainda assim há muitas pessoas que sentem que não há obstáculos para considerar o gênero em seus projetos. Juntando isso ao fato de muitos projetos ainda apresenta-rem conceitos equivocados em relação aos estudos de gênero, e a maioria das pessoas que responderam ao questionário a!rmar que consideram tais questões, parece haver um paradoxo entre o processo de criação do projeto e o resultado em si.

Percebe-se também que a grande maioria dos(as) respondentes é relativamente jovem, e grande parte são estudantes que já trabalham ou não na área. Isso é um fator muito interessante porque a ideia do projeto é promover uma re"exão, e a etapa acadêmica é onde são formadas as primeiras ideias sobre a pro!ssão, onde ainda há uma liberdade maior para conduzir os projetos de uma maneira ideal, com menos determinações vindas de agentes externos, onde o(a) estudante pode experimentar diferentes situações de projeto mais amplamente.

A maneira como o questionário foi aplicado e sua amplitude pequena não o con!guram para ser estatisticamen-te relevante – e a preocupação inicial não era que fosse –, mas o resultado foi muito útil e positivo principalmen-te pelas respostas que não estão nos grá!cos, que as pessoas responderam nos campos “outros” e na pergunta !nal, onde muitos(as) incentivaram a realização do projeto e se mostraram muito positivos(as) em relação ao tema, opinando que também achavam que faltava essa discussão ao campo do design, e elogiando a iniciativa do projeto.

Experimen to #2

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Experimento #2

A ideia do segundo experimento surgiu a partir da observação de capas de revistas e na grande quantidade de críticas que as mesmas recebem dentro dos estudos de gênero, principal-mente em relação ao uso exagerado de edição nas fotos de modelos mulheres, que são modi!cadas ao ponto das modelos !carem com corpos surreais. Por causa da quantidade de críticas, existem revistas que chegam a mascarar os ossos aparentes de modelos exageradamente magras para não serem criticadas e acusadas de perpetuar um padrão de beleza prejudicial, o que também acaba gerando uma ideia irrealista de corpo feminino.

Pensando nas capas de revistas que mostram modelos mulheres, comecei a me perguntar como seria a representa-ção de modelos homens nas capas das mesmas revistas, e se as pessoas que vêem essas revistas percebiam as diferenças nas representações de homens e mulheres e tinham noção da quantidade de edição que uma capa de revista pode sofrer.

Assim, montei uma intervenção onde um balão de fala vazio foi colocado junto às pessoas estampadas nas revistas e reproduções dessas capas foram espalhadas pelo Centro de Artes (CEART) da UDESC, esperando que as pessoas que por lá circulam preenches-sem o balão de fala com suas ideias e

re"exões sobre a imagem ali mostrada. Algumas capas da mesma revista foram colocadas lado a lado, uma estampando uma mulher e outra um homem, para que houvesse uma comparação entre as duas.

Procurei balancear as representa-ções femininas e masculinas, bem como mostrar revistas de diferentes épocas e algumas de caráter polêmico, como a capa da revista Time de junho de 2014, mostrando a atriz transgêne-ro Laverne Cox, e a capa da Fall Fashion New York de agosto de 2011, mostrando o então modelo Andreij Pejic, que tem traços extremamente andróginos e era frequentemente confundido com uma modelo mulher *.

Ao todo foram 14 “cartazes” espalhados pelo CEART (alguns exemplos estão na página 21), e procurei monitorar regularmente a situação dos mesmos para veri!car se alguém havia intervido. Infelizmente a grande maioria desses cartazes foi retirada (possivelmente pela administração do CEART) e não pude ver os resultados do experimento. Somente dois cartazes preenchidos sobraram (páginas 22 e 23).

* Na época em que a revista foi distribuí-da, Andrej Pejic ainda se identi!cava como homem, posteriormente assu- mindo sua identidade transgênera, em 2014, e se identi!cando atualmente como uma mulher, de nome Andreja Pejic. (6)

Gênero & revistas

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24

Como quase todos os cartazes foram retirados, !cou difícil tirar alguma conclusão do experimento. O balão de uma das capas foi preenchido fazendo uma “brincadeira” entre o nome da revista e o nome de um !lme, enquanto os da outra capa foram um pouco mais questionadores e !zeram uma relação entre a imagem de uma mulher e um homem sentados à uma mesa de um café ou restaurante, levantando a questão da conta que por “cavalheiris-mo” costuma ser paga pelo homem, uma questão frequentemente discutida dentro do tema gênero por se tratar de uma representação da dinâmica entre mulheres e homens onde o homem

parece ser sempre aquele que tem o poder aquisitivo. Inclusive quando uma mulher e um homem vão juntos a um restaurante, di!cilmente a conta será entregue à mulher, ou aos dois igualmente. A pessoa que serve a mesa costuma presumir que quem vai pagar é o homem, entregando a conta diretamente a ele.

Apesar do resultado não ter saído como esperado, considerei o experimento válido pela presença deste único cartaz onde houve uma resposta interessante, demonstrando que a intervenção pode gerar resultados úteis, possibilitando que seja repetida em outra situação, com as devidas melhorias.

Experimen to #3

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Experimento #3

A representação de gênero na mídia pode ser considerada problemática em vários níveis, e no cinema não é diferente. A indústria cinematográ!ca é muito criticada por sua representação estereotipada dos gêneros, principal-mente de mulheres. Isso, aliado ao fato de que a participação feminina em !lmes é muito inferior à masculina (tanto na frente quanto atrás das câmeras) torna essa indústria um ambiente um tanto quanto hostil.

Existe um teste chamado Bechdel Test que busca exempli!car essa problemáti-ca submetendo os !lmes a três simples quesitos. O teste foi criado em 1985 pela cartunista Alison Bechdel, aparecendo em uma tirinha que explicava as regras (7):

1. O !lme deve ter pelo menos duas personagens mulheres,

2. Que conversem entre si,

3. Sobre algo que não um homem.

O objetivo do teste não é determinar se um !lme é sexista ou não, se representa bem as mulheres ou não, mas sim fazer uma observação sobre a naturaliza-ção dessa micro-presença feminina em !lmes, sobre a falta de !lmes que contem histórias sobre mulheres. O fato de os quesitos serem tão simples e tantos !lmes, inclusive aclamados e adorados, não passarem no teste é uma declaração sobre essa falha de

representação de gênero na indústria cinematográ!ca.

Pensando sobre esse teste, comecei a me perguntar se os !lmes passariam em um “Bechdel Test Reverso”, onde as regras se aplicariam a homens e não mulheres. Sem pensar muito, todos os !lmes que me vieram à mente passavam facilmente no teste. Resolvi fazer um comparativo e aplicar esses dois testes a uma lista aleatória de 50 !lmes, e, prevendo os resultados, propus o desa!o de encontrar um !lme que não passasse no Bechdel Teste Reverso.

Sendo assim, as regras do Bechdel Test Reverso seriam:

1. O !lme deve ter pelo menos dois personagens homens,

2. Que conversem entre si,

3. Sobre algo que não uma mulher.

Obs.: Algumas tecnicalidades sobre o teste não !cam claras dentro dos quesitos originalmente estabeleci-dos pela criadora, e deixam brechas para interpretação. Algumas pessoas consideram que os(as) personagens devem ter nomes para serem levados em conta, por exemplo. Portanto, resolvi estabelecer alguns parâmetros para facilitar a análise dos !lmes. Para esse experimento !cou de!nido que:

Gênero & !lmes

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Os(As) personagens não precisam ter nomes;

Crianças também foram consideradas como personagens mulheres/homens;

Animais ou outras criaturas humanizadas que se encaixem claramente (através da combinação de atributos físicos, aparência, voz, nomes, pronomes de tratamento, etc) nos papeis sociais de gênero podem ser considerados(as) mulheres/homens;

Falas dirigidas a um grupo de pessoas e não a uma pessoa em particular não foram consideradas conversas;

Falas onde não há resposta verbal de uma das partes não foram considera-das conversas;

Conversas em outras línguas que não a do próprio !lme e que não apresentam legenda embutida no !lme não foram consideradas por entender-se que a conversa não é para ser compreendida.

Bechdel Test Original

Bechdel Test Reverso

1 A OrigemInception (2010)

2 A ViagemCloud Atlas (2012)

3 A Vida Marinha com Steve ZissouThe Life Aquatic with Steve Zissou (2004)

4 AbracadabraHocus Pocus (1993)

5 AnastasiaAnastasia (1997)

6 Apenas Uma VezOnce (2006)

7 As Aventuras de Peter PanPeter Pan (1953)

8 As Aventuras de PiLife of Pi (2012)

9 As Mulheres do Sexto AndarLes Femmes du 6ème Étage (2010)

10 Bastardos InglóriosInglourious Basterds (2009)

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Bechdel Test Original

Bechdel Test Reverso

11 Bling Ring: A Gangue de HollywoodThe Bling Ring (2013)

12 Cinema ParadisoNuovo Cinema Paradiso (1988)

13 Clube de Compras DallasDallas Buyers Club (2013)

14 Diário De Uma PaixãoThe Notebook (2004)

15 ElaHer (2013)

16 Elvira: A Rainha das TrevasElvira: Mistress of the Dark (1988)

17 Frozen: Uma Aventura CongelanteFrozen (2013)

18 Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 2Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 2 (2011)

19 HitchcockHitchcock (2012)

20 IntocáveisIntouchables (2011)

21 Jogos VorazesThe Hunger Games (2012)

22 Johnny & JuneWalk The Line (2005)

23 Mais Estranho que a FicçãoStranger Than Fiction (2006)

24 MalévolaMale!cent (2014)

25 Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor VirtualMedianeras (2011)

26 Meia-Noite em ParisMidnight in Paris (2011)

27 Millennium: Os Homens que Não Amavam as MulheresThe Girl with the Dragon Tattoo (2011)

28 Moonrise KingdomMoonrise Kingdom (2012)

29 O Estranho Mundo de JackThe Nightmare Before Christmas (1993)

30 O Fabuloso Destino de Amélie PoulainLe Fabuleux Destin d’Amélie Poulain (2001)

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Bechdel Test Original

Bechdel Test Reverso

31 O Grande GatsbyThe Great Gatsby (2013)

32 O Grande TruqueThe Prestige (2006)

33 O GrinchHow the Grinch Stole Christmas (2000)

34 O Guia do Mochileiro das GaláxiasThe Hitchhiker’s Guide to the Galaxy (2005)

35 O Hobbit: A Desolação de SmaugThe Hobbit: The Desolation of Smaug (2013)

36 Os MiseráveisLes Misérables (2012)

37 Peixe Grande e suas Histórias MaravilhosasBig Fish (2003)

38 Relação MortalThe Moth Diaries (2011)

39 Seven: Os Sete Crimes CapitaisSe7en (1995)

40 Sherlock Holmes: O Jogo de SombrasSherlock Holmes: A Game of Shadows (2011)

41 ThorThor (2011)

42 Uma Noite de Amor e MúsicaNick And Norah’s In!nite Playlist (2008)

43 V de VingançaV for Vendetta (2005)

44 ValenteBrave (2012)

45 Viajar É PrecisoWanderlust (2012)

46 X-Men 2X2 (2003)

47 10 Coisas que Eu Odeio em Você10 Things I Hate About You (1999)

48 12 Anos de Escravidão12 Years a Slave (2013)

49 50%50/50 (2011)

50 (500) Dias com Ela(500) Days of Summer (2009)

30

32 / 64%

6 / 12%

12 / 24% 1 / 2%

49 / 98%

Como já era esperado, a esmagadora maioria dos !lmes passa no Bechdel Test Reverso. O único !lme que não passa tem uma trama muito especí!ca (acontece dentro de um colégio interno só para meninas), que justi!caria a falta de homens no !lme.

Mais da metade dos !lmes passa no Bechdel Test original, mas uma grande quantidade ainda falha não só em ter mulheres conversando sobre assuntos diversos, mas em ter mulheres que sequer conversem entre si. Além disso, muitos dos !lmes passam graças a uma só cena, frequentemente durando só alguns segundos, enquanto que para o teste Reverso, os !lmes passam com facilidade.

Se o critério considerasse apenas personagens com nomes, muitos !lmes deixariam de passar no teste original, alguns chegam a ter somente uma mulher com nome no !lme inteiro, enquando que o resultado do teste reverso permaneceria praticamente inalterado.

Concluí com essa breve pesquisa que, apesar de não ser um teste absoluto e determinante de um diagnóstico preciso sobre o cinema, como dito anteriormen-te, o teste ainda é muito válido por se tratarem de questões tão simples e que não são atendidas atualmente. Se o teste fosse irrelevante, os resultados seriam muito semelhantes dos dois lados, o que não aconteceu.

Bechdel Test Original Bechdel Test Reverso

Criação

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Criação

Os experimentos mostrados anterior-mente foram úteis para avaliar as ideias levantadas pelo projeto ao longo da trajetória de desenvolvimento, e trazer à tona outros pensamentos e re"exões sobre o assunto, preparando o caminho para a etapa seguinte, a da criação propriamente dita.

Antes de focar em colocar em prática o desenvolvimento dos infográ!cos, decidi criar uma marca para o projeto, uma identidade visual que uni!casse todos os materiais criados, e que transmitisse de alguma forma a ideia geral do projeto. A marca não tinha como objetivo ser a parte principal do projeto, mas sim dar uma identi!cação ao trabalho como um todo, assim como uma marca de revista, por exemplo, que aparece em cada edição, sinalizando a continuida-de do projeto, e criando uma unidade e identidade para a revista.

Comecei fazendo um brainstorming de palavras relacionadas ao projeto, que foram surgindo ao longo da pesquisa e da realização dos experimentos. Percebi assim que muitas palavras traziam o pre!xo re- (re"exão, representa-ção, reforma, regeneração, ...) e dentro dessa pesquisa acabei chegando ao termo refração, fenômeno físico que acontece quando uma onda passa de um meio a outro, o que acaba gerando uma mudança na velocidade de propagação da onda e consequente-mente faz a mesma mudar de direção de

propagação. Um dos exemplos desse fenômeno é a dispersão da luz, que acontece quando a luz branca passa por um prisma, que divide a luz em suas várias frequências de cor. (8) A representação grá!ca da dispersão da luz foi uma das principais inspirações para a marca do projeto, usada como conceito.

A ideia da dispersão da luz é como uma metáfora para o objetivo que o projeto pretende alcançar. Como se a luz branca que vem de um lado representasse a metodologia única e monótona de criação de um projeto, onde são repetidamente expressadas as mesmas ideias, os mesmo estereótipos, até que passam pelo meio diferente do normal, o que faz com que cada feixe vá para uma direção, diversi!cando o pensamento em relação às questões impostas pelo projeto.

Identidade visual

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Partindo da mesma observação de que muitas palavras que apareceram durante a pesquisa traziam o pre!xo re- – inclusive o próprio conceito de refração –, escolhi colocar esse pre!xo no nome do projeto, para indicar uma coisa que é revista, pensada novamente, e também reforçada.

Para completar o pre!xo, pesquisei por termos que de algum modo já trouxessem um indício sobre o tema do projeto, sobre a palavra gênero. Através dessa busca acabei chegando na origem do termo, que vem da biologia, onde a palavra é usada para descrever uma das classi!ca-

ções biológicas dos seres vivos: espécie, gênero, família, ordem... e assim por diante. Em inglês e em outras línguas a palavra usada para designar o conjunto de papeis sociais esperados de indivíduos de determina-do sexo (gender) não é a mesma da classi!cação taxonômica dos seres (genus), porém as duas palavras tem a mesma raiz no latim

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genus, que signi!ca “descendente, família, tipo, gênero”, palavra também encontrada no grego como genos, sendo que o plural é genera (7). Unindo as duas partes, o nome do projeto !cou Regenera (pronuncia-se Regênera), signi!cando uma revisão, uma re"exão sobre todos os possíveis gêneros. Algumas versões da palavra trazem o acento circun"exo na palavra gênera, mas preferi deixar o termo em sua forma original, porque a palavra regenera, do verbo regenerar, também foi um termo importante que apareceu durante o processo criativo, e acredito que não seja um problema o nome ser pronuncia-do de modo diferente, não há um jeito certo e um jeito errado.

Como a marca seria usada somente como um elemento uni!cador do projeto, preferi uma abordagem mais minimalista no símbolo, para que o logotipo não con"itasse com os infográ!-cos – que já seriam muito coloridos e elaborados –, abstraindo ao máximo a ideia de refração e dispersão da luz. Após desenhar diversas alternativas, decidi usar o próprio nome do projeto para representar as ondas que passam pelo meio, quebrando a palavra em duas partes não-contínuas, separadas por uma barra que representa a mudança dos meios. Para seguir a ideia de uma marca minimalista, o logotipo é monocromático, com uma versão em preto e outra em branco.

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Criação

Simultaneamente com a criação da marca, !z a geração de alternativas para os infográ!cos, para escolher a forma que eles iriam assumir.

Partindo da ideia de que o conceito da marca é um fenômeno cientí!co, optei por fazer os infográ!cos com um caráter que remetesse a isso, que tivesse uma imagem séria e bastante abstrata.

Depois de desenhar diversas formas possíveis, fui aos poucos chegando em uma forma arredondada, com uma certa simetria radial, possível de ser aplicada em ambos os infográ!cos. A forma circular foi interessante por possibili-tar uma fácil comparação entre cada parte da pesquisa: os dois gêneros das embalagens de brinquedos e as seis marcas dos produtos de limpeza.

Dessa forma, passei a re!nar o formato grá!co do projeto, e selecionar e aplicar os dados que seriam demonstrados no trabalho.

Procurei incluir no infográ!co o máximo de informações possíveis, sem prejudicar o entendimento das mesmas. Como foi dito anteriormen-

te, busquei um equilíbrio entre o “info e o grá!co”, projetando uma forma que fosse atraente e despertasse o interesse de quem olha, mas sobretudo que transmitisse as informações de um jeito preciso e inteligível.

Os dois infográ!cos teriam a mesma forma-base, moldada e adaptada a cada uma das situações. Outro ponto importante é que em nenhum momento são divulgados nomes de marcas no próprio infográ!co, pois poderia passar a ideia equivocada de estar acusando alguém, o que não é a intenção. Assim, preferi omitir nos infográ!cos os nomes das marcas e empresas pesquisadas, e disponibilizei todo o material da pesquisa online para ser baixado e veri!cado por quem tivesse interesse.

Por !m, escolhi colocar cada infográ!-co dentro de um poster, onde aparecem informações complementares sobre a temática do projeto e legendas para facilitar o entendimento da informação.

Os detalhes da pesquisa e os infográ!-cos !nais podem ser encontrados no endereço: rege-nera.tumblr.com

Infográ!cos

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Conclusão

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Conclusão

Como foi explicado ao longo deste relatório, a ideia do projeto é ser uma ferramente expositiva de um cenário atual e muito próximo da nossa realidade, incentivando a re"exão das pessoas em relação às questões de gênero pelas quais somos rodeados diariamente e por vezes nem percebemos.

Espero que esse trabalho contribua para impulsionar as pessoas envolvidas em projetos de design a ter um olhar mais crítico em relação aos seus projetos, e aos resultados dos mesmos que encontramos por toda a nossa volta, nas prateleiras dos supermercados, na televisão, e em nossas casas.

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Referências

1 REVISTA CLICHÊ. Design e Gênero. 2014. Disponível em <http://www.revistacliche.com.br/exp/design-e-genero-marines-ribeiro/>. Acesso em: 18 nov. 2014.

2 BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. v.2. Tradução: Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

3 COLEMAN, Eli. John Money: a tribute. EUA: The Haworth Press, Inc., 1991. p. 01-14. Disponível em <http://books.google.com.br/books?id=Be28xb4JPbwC&lpg=PA13&ots=im11F7Lves&dq=john%20money%201955&hl=pt-BR&pg=PA13#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 31 ago. 2014.

4 PBS. Two Spirits. 2011. Disponível em <http://www.pbs.org/independentlens/two-spirits/map.html>. Acesso em: 18 nov. 2014.

5 GRAHAM, Sharyn. Sulawesi’s !fth gender: Inside Indonesia, 2001. Disponível em <http://www.insideindonesia.org/feature-editions/sulawesis-!fth-gender>. Acesso em: 18 nov. 2014.

6 MATTHEWS, Natalie. Top Model Andreja Pejic Bravely Shares Her Trans Story: Elle, 2014. Disponível em <http://www.elle.com/news/culture/andrej-andreja-pejic>. Acesso em: 18 nov. 2014.

7 ANDERS, Charlie Jane. Why The Bechdel Test Is More Important Than You Realize: io9, 2014. Disponível em <http://io9.com/why-the-bechdel-test-is-more-important-than-you-realize-1586135613>. Acesso em: 18 nov. 2014.

8 SILVEIRA, Fernando Lang da. Dispersão e refração da luz: UFRGS, 2013. Disponível em <http://www.if.ufrgs.br/cref/?area=questions&id=156>. Acesso em: 18 nov. 2014.