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PROCESSO DE INCLUSÃO SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL1
Isadora Araújo Magalhães2
Lucineide Orsolin3
RESUMO: Com o objetivo de refletir acerca de práticas inclusivas relacionadas a pessoas
com deficiência, destaca-se o Assistente Social, como um profissional que trabalha na
perspectiva de viabilizar direitos e ampliar a cidadania. Diante disso se observa a relevância
deste fazer profissional para a efetivação da inclusão social, eliminando todas as formas de
preconceito e discriminação, bem como trabalhando na defesa intransigente dos direitos
humanos. Reflexões sobre inclusão social são relevantes à medida que compreendê-las
significa pensá-las de forma plena e não superficial, desmistificando mitos e estereótipos
historicamente criados acerca das pessoas com Síndrome de Down. Uma pessoa, com
deficiência, por exemplo, pode estar inserida no mercado de trabalho e em uma escola regular
de ensino. No entanto, isso não quer dizer que ela está de fato usufruindo de todos os seus
direitos, e, que exista neste caso inclusão social. São muitos os desafios neste processo.
Contudo, as possibilidades se sobressaem, principalmente se esta questão for pensada pela
prática interdisciplinar. Diante disso, é possível afirmar que o profissional Assistente Social
conta com conhecimento teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo e, portanto,
está apto para lutar e para viabilizar a inclusão social - de forma que esta aconteça
efetivamente e não apenas porque existe uma legislação que obriga tal procedimento ou
conduta.
PALAVRAS-CHAVE: Assistente Social. Inclusão Social. Síndrome de Down.
1 GT 6: Direito, Cidadania e Cultura 2 Formanda do Curso de Serviço Social. URI São Luiz Gonzaga. Email –
[email protected] 3 Mestre em Desenvolvimento UNIJUÍ – Ijuí/RS. Docente e Coordenadora do Curso de Serviço
Social. URI São Luiz Gonzaga.Email – [email protected]
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INTRODUÇÃO
Analisar a evolução da prática profissional do Serviço Social é importante para
compreender a profissão, bem como, sua operacionalização e relevância que esta apresenta
para o contexto social em que vivemos.
O Serviço Social foi visto por muito tempo como uma prática de assistencialismo, ou
seja, política de ajuda aos pobres, em que se atuava a partir de uma perspectiva caritativa. A
concepção que se tinha do assistente social era de “moças piedosas” que tinham pena dos
pobres e agiam de forma solidária. Acreditava-se que os pobres surgiam da falta de sorte e de
benção divina, assim, os “abençoados”, ou seja, os que tivessem condições financeiras
melhores deveriam ser solidários e fazer caridade para os necessitados:
As origens do Serviço Social estão fincadas na assistência prestada aos
pobres, por mulheres piedosas, alguns séculos atrás. De lá para cá, apesar de muita
coisa ter mudado, o Serviço Social continuou sendo uma profissão essencialmente
feminina, só que as ricas damas de caridade cederam lugar às filhas da classe média
ou dos trabalhadores urbanos (ESTEVÃO, 2006, p. 7).
A partir do Movimento de Reconceituação, na década de 1960, o qual surgiu com a
necessidade de adequar as práticas profissionais a realidade do país e para fazer uma ruptura
com o conservadorismo, construindo novos métodos e técnicas a partir das necessidades da
realidade social, a profissão ganha um novo sentido a sua prática, sendo operacionalizada não
mais como forma de assistencialismo. O Serviço Social, então, não é mais executado por
“boas moças” ou “mulheres piedosas”, mas por profissionais preparados com conhecimento
teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo que trabalham na perspectiva de
viabilizar direitos e ampliar a cidadania, comprometidos com a qualidade dos serviços
públicos prestados à população.
Embora se perceba uma evolução na forma de operacionalização do Serviço Social, é
possível perceber que ainda existem profissionais que trabalham a partir de uma perspectiva
assistencialista, que não têm uma visão crítica e propositiva acerca da realidade, o que
desvaloriza o fazer profissional e contribui para uma concepção equivocada e superficial da
profissão:
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Em primeiro lugar, para garantir uma sintonia do Serviço Social com os
tempos atuais, é necessário romper com uma visão endógena, focalista uma visão
“de dentro” do Serviço Social, prisioneira em seus muros internos. Alargar os
horizontes, olhar para mais longe, para o movimento das classes sociais e do Estado
em suas relações com a sociedade; não para perder ou diluir as particularidades
profissionais, mas, ao contrário, para iluminá-las com maior nitidez. Extrapolar o
Serviço Social para melhor apreendê-lo na história da sociedade da qual ele é parte
e expressão. É importante sair da redoma de vidro que aprisiona os assistentes
sociais numa visão de dentro e para dentro do Serviço Social, como precondição
para que se possa captar as novas mediações e requalificar o fazer profissional,
identificando suas particularidades e descobrir alternativas de ação (IAMAMOTO,
2003, p.20).
Abster-se de uma postura conservadora, ou seja, sair da zona de conforto e trabalhara
partir de perspectivas transformadoras da realidade social, é algo desafiador, no entanto, é
necessário quando se almeja uma nova ordem societária, que é também objetivo do Serviço
Social. E isto, implica em ser um profissional propositivo, criativo, reflexivo e não só
executivo, ou um mero profissional que cumpre somente atividades preestabelecidas.
O assistente social é um profissional voltado para atuar diretamente na realidade, a
partir das expressões da questão social, sendo este o objeto de estudo e ação do profissional.
As expressões se caracterizam pelas forças de resistência e pelas desigualdades sociais, as
quais se tornam visíveis pela falta de acesso da população aos direitos sociais. O profissional
pode intervir na realidade social através do planejamento, execução e avaliação de Programas
e Projetos voltados à área social. E para, além disso, ser um profissional assistente social
necessita ter compreensão acerca do Projeto Ético-Político da profissão, dos seus
conhecimentos teórico-metodológicos, ético-político e técnico-operativo, ou seja, ter
comprometimento com o fazer profissional, com os usuários dos serviços e com o Código de
Ética da profissão.
Marilda Iamamoto aborda sobre os desafios do profissional, assistente social, na
contemporaneidade:
Um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no presente é
desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho
criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes
no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo. (2003,
p.20).
Desta forma, o assistente social da contemporaneidade deve desenvolver propostas
criativas de trabalho para poder intervir nas demandas emergentes. E o processo de inclusão
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social se caracteriza como um desses desafios, tendo em vista que vivemos em uma
sociedade com preconceitos e limitadas compreensões acerca do processo de inclusão. As
práticas discriminatórias da sociedade podem, até mesmo dificultar a intervenção do
profissional no processo de viabilização de direito, contudo, não deve impedi-lo de exercer de
forma ética a sua atribuição e compromisso social, visto que a defesa intransigente dos
direitos humanos é um dos princípios fundamentais de um assistente social.
Provocar reflexão acerca da inclusão social, dos direitos das pessoas com deficiência,
bem como, ter empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, se constitui como
deveres enquanto assistentes sociais, comprometidos com a ampliação e consolidação da
cidadania, visando uma sociedade mais justa e igualitária. A partir disso, faz-se relevante
analisar as possibilidades do assistente social neste processo.
INCLUSÃO SOCIAL: POSSIBILIDADES E DESAFIOS AO SERVIÇO SOCIAL
Refletir sobre a necessidade da inclusão social se faz relevante no sentido de
compreender que a mesma deve existir de forma plena e não superficial. Uma criança com
Síndrome de Down, por exemplo, pode estar inserida em uma escola regular de ensino, no
entanto, isso não quer dizer que ela está de fato usufruindo de todos os seus direitos, e, que
exista neste caso inclusão social. São muitos os desafios neste processo para o Assistente
Social. Contudo, as possibilidades se sobressaem.
É difícil pensarmos que pessoas são excluídas do meio social em razão das
características que possuem, como cor da pele, cor dos olhos, altura e peso. Já nascemos com
essas características e elas é que nos definem como ser humano, sendo que, cada um de nós
se distingue um do outro. Isso deveria ser visto como algo positivo, no entanto, existe na
sociedade um “padrão ideal” a se seguir, e isso causa as discriminações, exclusões e
preconceitos.
Os excluídos socialmente são também, por exemplo, os que não possuem condições
financeiras dentro dos padrões impostos pela sociedade, ou seja, as pessoas pobres, além dos
idosos, dos negros, indígenas, homossexuais, pessoas com deficiência, etc.
A palavra exclusão remete o pensamento instantaneamente para a ideia de
desigualdade. Não há como pensar em grupos privados de direitos considerados
básicos sem que se tenha em mente um comparativo, com um outro cujo acesso a
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esses direitos seja pleno. A desigualdade de renda, de oportunidade ao trabalho, de
acesso à saúde, à justiça, à escola, à cultura, ao lazer, à segurança, à escolha e à
cidadania política constitui cada uma delas, faces de uma única questão abrangente
que, quando estudada em conjunto e focada sobre os que estão despojados desses
direitos costuma chamar-se de exclusão social (AMORIM, BLANES,
POCHMANN, 2006, p. 98).
A desigualdade social é compreendida pelo desigual acesso aos bens e serviços
produzidos pela sociedade, bem como aos direitos, e, além disso, ela também é percebida nas
relações sociais, quando alguém é excluído ou não se percebe como pertencente a um
determinado espaço e/ou grupos sociais. Logo compreende-se, neste processo, que não há
inclusão de forma integral, mas sim, o que se observa com mais frequência é a exclusão
social, em suas variadas formas de expressão.
O assistente social, como referenciado anteriormente, é um profissional que trabalha
na perspectiva de viabilizar direitos e ampliar a cidadania. Diante disso, se observa a
relevância deste fazer profissional para a efetivação da inclusão social, eliminando com todas
as formas de preconceito, discriminação, trabalhando na defesa intransigente dos direitos
humanos.
Neste viés, é de compromisso dos assistentes sociais, da sociedade civil e também do
Estado, trabalhar na perspectiva de se efetivar a inclusão social, através de programas e
projetos de ordem social, além de colocar em vigor os já existentes, visando, desta forma,
uma sociedade mais justa e igualitária. Este processo implica em grandes desafios, uma vez
que a naturalização da exclusão e desigualdade social é algo marcante no contexto social em
que vivemos, pois são conceitos historicamente constituídos. No entanto, provocar reflexão
acerca deste processo é de fundamental importância para a efetivação da inclusão social, e
também para a desmistificação de estereótipos e preconceitos acerca da pessoa com
deficiência.
Faz-se relevante salientar, mais uma vez, que o Assistente Social dispõe de um
Código de Ética Profissional, do qual, alguns de seus princípios fundamentais norteiam esta
abordagem:
Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo;
Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de
toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos das
classes trabalhadoras;
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Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando
o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à
discussão das diferenças;
Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com
o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;
Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção
sexual, idade e condição física (CFESS. RES. 273/93).
A partir disso, compreende-se que trabalhar na perspectiva de respeitar as
diversidades e ter posicionamento em favor da equidade e justiça social, constituem-se como
alguns dos princípios básicos do Assistente Social. Tendo em vista que é compromisso deste
profissional prezar pelo exercício de seu Código de Ética.
O Assistente Social, como já mencionamos, é um profissional que possui
conhecimentos teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo, estando habilitado
para trabalhar a partir de uma perspectiva viabilizadora de direitos sociais e para a expansão
da inclusão social, visto que a sua formação lhe proporciona conhecimentos e possibilidades,
as quais são maiores que os desafios encontrados neste processo.
Neste viés, a inclusão social deve ser compreendida como um direito das pessoas em
ter acesso às suas necessidades básicas, viver e usufruir dos espaços sociais, os quais não
devem ser pensados e planejados apenas para as pessoas que não têm deficiência. A inclusão
deve acontecer de forma plena, podendo os sujeitos com deficiência usufruir dos bens e
serviços produzidos e ofertados pela sociedade sem discriminação, bem como aos direitos
sociais, sendo alguns deles o direito à educação de qualidade, ao convívio social e ao acesso
efetivo ao mercado de trabalho.
Portanto, a inclusão social deve acontecer de forma integral, plena e de caráter
verdadeiro, não somente porque existe uma legislação que exige esta conduta da sociedade,
mas sim por desejo de uma sociedade realmente inclusiva.
O SERVIÇO SOCIAL NAS ESCOLAS: UMA VISÃO INTERDISCIPLINAR
Torna-se significativo analisar as possibilidades do Serviço Social no âmbito escolar,
e, por certo, suas contribuições neste contexto. Trabalhar de forma interdisciplinar parece ser
um desafio para os profissionais das diferentes áreas do conhecimento e para a nossa
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sociedade. Contudo, há necessidade de refletir acerca desta prática que é fundamental para o
fazer profissional do Assistente Social.
O Assistente Social é um profissional que busca compreender e refletir sobre as
relações sociais, bem como, sobre o que as mesmas refletem no cotidiano dos usuários de
seus serviços. As experiências de cada indivíduo constituem a sua história de vida, que, por
certo, são determinantes para a compreensão de ser humano e sociedade, e, desta forma,
poder observar e compreender a sua situação, além de seus princípios e valores. Desta forma,
se analisa que o trabalho do Assistente Social não deve partir do pressuposto de que a sua
concepção de vida seja melhor e/ou superior a de alguém, a ponto de servir como exemplo,
mas que o profissional deve também compreender o outro.
É possível perceber, a partir das reflexões feitas e da apreensão acerca da importância
do fazer profissional do Assistente Social, que a sua inserção no âmbito escolar se faz
relevante na perspectiva de efetivação da inclusão social.
O campo educacional, para o Serviço Social, não vem a ser apenas mais um espaço de
atuação do Assistente Social, mas uma intervenção que visa articular seus conhecimentos
com todo o contexto escolar, de forma a prezar pela interdisciplinaridade. Esta inserção
possivelmente contribuirá para práticas inclusivas, de formação da cidadania e emancipação
dos sujeitos sociais.
Não se trata, ao menos do nosso ponto de vista, de identificar um nicho de
mercado inexplorado ou potencialmente viável. Trata-se, antes de tudo, de um
campo de intervenção do Estado e de uma dimensão da vida social, que hoje se
coloca como estratégica na sociedade contemporânea, seja para a afirmação de um
projeto societário vinculado aos interesses do capital, seja para a ampliação e
integração das lutas sociais no que diz respeito à conquista de direitos e
enfrentamento das desigualdades (ALMEIDA, 2000, p. 25).
Neste interim, é notório que a inserção de Assistentes Sociais nas escolas se faz
importante na medida em que este profissional trabalha numa perspectiva de viabilizar
direitos, bem como a partir de ações que visem o enfrentamento às desigualdades sociais e
efetivação da inclusão social. Não busca-se, “apenas”, mais um campo de trabalho onde o
Serviço Social possa intervir. A proposta e o desejo de lutar por práticas educacionais que
concebem o aluno como sujeito de relações sociais, as quais por vezes, interferem no seu
aprendizado e desenvolvimento, são bem maiores do que isso, ou seja, o Assistente Social
tem muito o que contribuir para a melhoria e o aperfeiçoamento do processo educativo.
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O Projeto de Lei 3688/2000, visa a inserção de assistentes sociais e psicólogos no
quadro de profissionais das escolas públicas de educação básica. Este PL já foi aprovado na
Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara (CSSF), na Comissão de Educação e
Cultura (CEC), e na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC); foi retirado de
pauta, de ofício, a pedido do Relator, um mês depois o parecer foi proferido e aprovado. No
momento está pronto para Pauta no Plenário (PLEN).
Mediante aprovação deste, se prevê a legalidade da atuação do Assistente Social nas
escolas, e, desta forma, a sua ampliação na possibilidade de enfrentamento às expressões da
questão social. Assim, considera-se que a partir do contexto escolar se pode analisar estas
manifestações de exclusão social, incluindo questões que vão desde a violência,
discriminações e práticas de bullying, até a evasão escolar, possivelmente oriundas destas
atitudes.
Algumas das questões a serem identificadas pelo Assistente Social na área da
educação são: analisar o baixo rendimento escolar, a evasão escolar, o “desinteresse” pelo
aprendizado, a insubordinação a qualquer limite ou regra escolar, a vulnerabilidade às drogas,
as atitudes e comportamentos agressivos e violentos, suspeita de abuso sexual, violência
familiar, além de propor estratégias de fortalecimentos de vínculos familiares e sociais
(CFESS, 2011, apud ARAÚJO E BARCELOS, 2016).
Acredita-se que a contribuição do Assistente Social neste espaço pode ser ainda maior
e mais complexa. Trabalhar a partir de uma prática emancipatória, que visa politizar os
sujeitos, também é uma das possibilidades do profissional neste contexto:
Pensar a educação no âmbito da crise do capitalismo contemporâneo é
analisá-la sob duas perspectivas: a subordinação das práticas educativas aos
interesses do capital, ou, o entendimento da educação enquanto apropriação de um
conjunto de conhecimentos, atitudes, habilidades e valores capazes de forjar a
liberdade e o reconhecimento do homem enquanto ser teológico, criador e (re)
criador da sua própria história (AMARO, 1997, p.7-8).
Diante disso, a capacidade de observação, inerente ao Assistente Social, possibilita ter
uma visão ampla do contexto social do educando, permitindo conhecê-lo e compreendê-lo
melhor enquanto sujeito de relações sociais, ou seja, que possui uma família, que está
inserido em um contexto social e não somente um indivíduo que está na condição de aluno, o
qual se pressupõe de que tem o dever de aprender. A escola deve ser reconhecida como uma
totalidade, e que, portanto, vai além de seus “portões”, se constituindo em um espaço para a
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ampliação da cidadania e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários a partir das
oportunidades de participação dos mesmos.
Amaro (1997) aponta que o cenário escolar é um espaço social rico e fecundo. E é
nele que as contradições sociais se mostram vivas e pulsantes, espelhando a realidade tal
como ela é.
É neste espaço, a partir de um trabalho interdisciplinar, que o Assistente Social visa
reconhecer as expressões da questão social, visto que a escola é um ponto de encontro para a
construção do diálogo e para propor estratégias de enfrentamento a estas expressões. Neste
sentido, o profissional pode assumir o papel de articulador de propostas e ações que visem a
constante reflexão acerca dos processos acima mencionados.
Percebe-se a relevância da profissão de Serviço Social na consolidação dos processos
de aprendizagem em um sentido amplo, a partir da aproximação da família à realidade
educacional, percebendo esta como parte do contexto escolar, contribuindo para o
reconhecimento da escola como um espaço social também seu e que, portanto, é de sua
responsabilidade colaborar para práticas eficientes da Gestão Escolar. Por outro lado, também
é relevante que a escola conheça ou reconheça a realidade familiar e social em que o aluno
está inserido, podendo identificar, inclusive, quais os reais motivos de uma possível
dificuldade de aprendizagem, ou seja, o que a realidade familiar vivenciada por este aluno
pode influenciar diretamente em seu desenvolvimento.
Schneider e Hernandorena (2012) apontam para as definições de Gestão Escolar,
sendo fundamental que esta articule espaços administrativos, pedagógicos, políticos e
financeiros que possam dinamizar as ações educativas, entendendo a escola como um espaço
de socialização da cultura e do saber historicamente produzido.
[...] compreende-se que a Gestão Escolar composta destes espaços configura-
se em um processo que deva ser operacionalizado no viés da participação entre
escola e comunidade, ou seja, um processo que propicie aos alunos, professores,
funcionários e comunidade em geral, serem sujeitos atuantes e integrados na
dinamização do cotidiano escolar (2012, p.21).
Diante do exposto é possível compreender que a interdisciplinaridade é fundamental
no âmbito escolar e que práticas de socialização entre o corpo escolar, comunidade e as
famílias contribui para a educação, ampliação da cidadania e para um processo educacional
de qualidade em que ambos propõem e participam do mesmo:
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A interdisciplinaridade aparece neste contexto como uma das
possibilidades de instrumentalizar os profissionais a interagir em equipe de forma
mais coerente e eficiente, conjugando esforços, ampliando o raio de análise e de
ação, face a uma realidade sempre pronta a nos desafiar e a tornar nossa intervenção
absoleta (AMARO, 1997, p.35).
Este processo pode ser entendido como uma superação do pensamento fragmentado e
disciplinar. Uma prática interdisciplinar pode ser descrita como interações participativas, de
complementação de todas as formas de conhecimento.
Segundo Frigotto (2008) a interdisciplinaridade é vista como uma necessidade e como
um problema. A necessidade é entendida por meio da concepção de que o sujeito precisa
estabelecer relações sociais, pois o homem é um ser de relações, não é isolado, não é uma
“ilha”. E também, porque devemos alargar nossos horizontes enquanto profissionais,
superando a visão fenomênica dos fatos. A mesma também é concebida como um problema,
pois, os limites do próprio ser humano, como saber ouvir, refletir, analisar e reconhecer a
importância do outro para o convívio social, fazem com que tenhamos dificuldade em
estabelecer relações. Todavia esta dificuldade é potenciada pela forma específica que os
homens produzem a vida de forma condida, alienada no interior da sociedade de classe. Desta
forma, o modo de produção capitalista neoliberal faz com que tenhamos uma visão
egocêntrica do mundo, tendo em vista que o nosso conhecimento está atrelado a este modo de
produção vigente.
Acredita-se que mais do que perceber a interdisciplinaridade como um problema,
devemos pensá-la como um desafio, mas um desafio possível de superação:
O lugar do Serviço Social na educação é um específico, como específicos
são todos os campos do saber, mas específico não quer dizer isolado, único,
exclusivo. Nisso constitui-se o desafio da humanidade na contemporaneidade. É
esse desafio que chamamos de INTERDISCIPLINARIDADE (SCHNEIDER;
HERNANDORENA, 2012, p. 42).
Diante do contexto abordado, é possível afirmar que a inserção do Assistente Social
nestes espaços contribuirá para a ampliação e fortalecimento da rede de proteção social,
visando reconhecer as demandas de saúde, de sociabilidade, assistência, habitação, renda,
dentre outras que se fazem presentes no contexto escolar.
Para Martinelli e Rodrigues (2001), o Serviço Social é uma profissão interdisciplinar
por excelência, pois articula diferentes conhecimentos de modo próprio, em um movimento
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crítico entre prática-teoria e teoria-prática. Assim, a interação com outras áreas é primordial
para o fazer profissional.
Uma visão estreita sobre a interdisciplinaridade faz observar que há distorções a
respeito de sua concepção, pois pensar uma prática interdisciplinar não é tomar para si as
atribuições específicas de cada profissão, ao contrário disso, é a interação e contribuição de
um conhecimento para outro conhecimento:
A perspectiva interdisciplinar não fere com a especificidade das profissões e
tampouco seus campos de especialidade. Muito pelo contrário, requer a
originalidade e a diversidade dos conhecimentos que produzem e sistematizam
acerca de determinado objeto, de determinada prática, permitindo a pluralidade de
contribuições para compreensões mais consistentes deste mesmo objeto, desta
mesma prática (MARTINELLI e RODRIGUES, 2001, p. 156-157).
Trabalhar a partir de uma prática interdisciplinar é algo desafiador, na medida em que
sentimos dificuldade em nos relacionarmos e convivermos com a diversidade, com a
complexidade do ser humano, com saber ouvir e refletir a respeito do que o outro tem a dizer.
No entanto, somos seres de relações sociais, e necessitamos alargar os horizontes e superar
esta visão fenomênica, como contribui Frigotto (2008).
Compreender a interdisciplinaridade como algo necessário e também como “postura
profissional”, não parece simples. Sentimos dificuldade em conviver com as diferenças, com
o múltiplo e, certamente, uma postura interdisciplinar esbarrará na necessidade de se rever a
condição ética na própria profissão, buscando um amadurecimento profissional que se reverta
em um novo saber ético e social (MARTINELLI E RODRIGUES, 2001).
A prática interdisciplinar é mais necessária do que desafiadora. Trabalhar em
conjunto, socializando, refletindo e a partir disso pensar ações e/ou estratégias de
enfrentamento, é o exercício de uma nova sociedade, que tenta banir a ideia de autoritarismo
e superioridade de ideias. Marques e Ramalho (apud SÁ, 2010), contribuem com esta
reflexão:
[...] a co-participação causa impacto. É um desafio trabalhar com o novo. É
preciso aprender a trabalhar sem coordenação, mas sim em conjunto, com
planejamento democrático, onde as pessoas trabalhem livres, elaborando um
modelo de responsabilidade, não condicionadas a um chefe, mas ao compromisso
real. É difícil, se principalmente considerarmos o período de autoritarismo em que
vivemos desde 1964. Mas se desejamos bani-lo, precisamos exercitar (mesmo se
houver erros), não reproduzir o autoritarismo por simples desconhecimento de uma
outra prática ou por medo do novo (MARQUES E RAMALHO, 2010, p.70).
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Neste viés é possível perceber a prática interdisciplinar como sendo primordial para o
exercício da profissão de Assistente Social, visto que este trabalha na perspectiva de ampliar
a cidadania, viabilizando os direitos e lutando constantemente para que se alcance uma
sociedade mais justa e igualitária. E isto só é possível se existir uma forma de trabalho que
conte com as diferentes áreas do saber, cada um contribuindo com o seu conhecimento e
ambos conseguindo enfrentar os desafios diários que a realidade social apresenta,
especialmente no âmbito escolar, que como foi abordado, é um espaço possível de
identificação e enfrentamento das mazelas sociais, ou seja, um contexto de real importância
para os processos de trabalho do Assistente Social.
Diante das reflexões, é possível afirmar que a interdisciplinaridade é essencial para a
profissão, devendo ser uma constante na prática profissional do Assistente Social. O
profissional que adota outra forma de exercer a profissão, que não seja a de articulação com
outras áreas do saber acaba por ferir os princípios da profissão e tornando-a fragmentada e
isolada. Assim, compreende-se que a interação com outras áreas é particularmente primordial
para o Serviço Social.
Portanto, a interdisciplinaridade, bem como os processos que norteiam a efetivação da
inclusão social são caracterizadas como desafios contemporâneos para o Serviço Social.
Visto que ambas não devem ser analisadas isoladamente, uma complementa a outra, podendo
dizer que uma prática interdisciplinar é um instrumento técnico necessário para a profissão de
Assistente Social, bem como para que o processo de inclusão social aconteça de forma plena.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analisar o contexto histórico, bem como, refletir sobre ele, faz-se relevante quando se
busca uma desmistificação de estereótipos que foram criados e estabelecidos ao longo dos
séculos. Este processo permite compreender os preconceitos relacionados às pessoas com
deficiência, em especial, às pessoas com Síndrome de Down.
O processo de inclusão social apresenta desafios, no entanto, como já mencionamos,
as possibilidades se sobressaem. O assistente social encontra neste contexto oportunidades e
formas de trabalhar na perspectiva de viabilizar direitos, e, desta forma, ampliar a cidadania,
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que é o objetivo do fazer profissional, tendo em vista que a inclusão social é direito do
cidadão e não apenas uma conduta a ser adotada pelo fato de existir uma legislação que prevê
obrigatoriedade.
No entanto, como refletimos neste estudo, a sociedade ainda não percebe a inclusão
social desta forma, e, bem como, a pessoa com Síndrome de Down como um sujeito com
potencialidades e capacidade diversas, o qual não pode ser considerado “diferente” no sentido
de inferioridade, simplesmente por ter alguma limitação física e/ou psíquica. E para que isso
seja possível, há necessidade de analisar o contexto histórico para rever e observar alguns
estereótipos construídos historicamente, ver as pessoas com deficiência a partir de suas
possibilidades e não a partir de um aspecto biomédico ou de suas limitações, e, assim, despir-
se de todas as formas de preconceito em relação às mesmas.
Diante disso, é possível perceber que a inclusão social necessita de reflexões amplas
e aprofundadas, tendo em vista que além de nossa atribuição enquanto Assistentes Sociais,
também é responsabilidade da família, do contexto escolar e de toda a sociedade presar pela
inclusão de forma plena e de caráter verdadeiro, e não apenas a partir de uma legislação que
prevê obrigatoriedade de condutas.
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