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PUBLICAÇÃO MENSAL DA AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO CIVIL / N.º59 / FEVEREIRO 2013 / ISSN 1646–9542 Intervenção forense em grandes desastres 59 Fevereiro de 2013 Distribuição gratuita Para receber a revista PROCIV em formato digital inscreva-se em: www.prociv.pt Leia-nos através do http://issuu.com/anpc ©Tiago Petinga/Lusa

PROCIV Número 59

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Revista Mensal da ANPC

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PUBL ICAÇÃO MENSAL DA AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO C IV IL / N .º59 / FE VERE IRO 2013 / I S SN 16 46 –9542

Intervenção forense em grandes desastres

59Fevereiro de 2013

Distribuição gratuita

Para receber a revista PROCIV em

formato digital inscreva-se em:

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Número 59, fevereiro de 2013

O lado "invisível" das catástrofes

Para lá do lado visível de qualquer operação de proteção e socorro, composto por uma parafernália de recursos humanos e técnicos, existe uma vertente bem mais reservada, igualmente importante em todos os acidentes graves e catástrofes: a in-tervenção forense, que se relaciona com a identificação de corpos. Trata-se de um trabalho minucioso e necessariamente discreto, atendendo à reserva emocional a que está associado. Em Portugal, assim como no resto do mundo, em diversas mis-sões internacionais, temos podido contar com a competência técnica do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, que através da sua Equipa Médico-Legal de Intervenção em Desastres, trabalha de forma articulada com os agentes de proteção civil.

Este ano de 2013 começou de forma atribulada. O temporal de 18 e 19 de janeiro foi responsável por avultados prejuízos em todo o país, e o acidente rodoviário no IC8 saldou-se, até ao momento, por 11 vítimas mortais e 21 feridos. Estas situa-ções causaram consternação coletiva e constituíram um desafio ao Dispositivo In-tegrado de Operações de Proteção e Socorro, que esteve à altura dos acontecimentos. De facto, em ambas situações, sobressaiu a qualidade técnica dos operacionais dos agentes de proteção civil intervenientes, cientes das tarefas que lhes estavam atribu-ídas, facto que em muito facilitou a coordenação das operações.

No dia 11 de fevereiro (11/2) assinala-se o Dia Europeu do 112, número úni-co europeu de emergência. A efeméride, instituída em 2009 por iniciati-va conjunta da Comissão e do Parlamento Europeu, visa reforçar o conheci-mento e a divulgação deste importante recurso junto dos cidadãos europeus. Embora o conhecimento do número 112 tenha aumentado ao longo dos últimos anos, de acordo com sondagem do Eurobarómetro, três em quatro cidadãos da UE ainda não sabem que podem telefonar para o 112 em caso de emergência para contactar a polícia, os bombeiros ou os serviços de assistência médica, quer no próprio país, quer nos restantes países comunitários.

Edição e propriedade – Autoridade Nacional de Protecção Civil Diretor – Manuel Mateus Couto Redação e paginação – Núcleo de Sensibilização, Comunicação e ProtocoloFotos: Arquivo da Autoridade Nacional de Protecção Civil, exceto quando assinaladoImpressão – Textype Tiragem – 2000 exemplares ISSN – 1646–9542

Os artigos assinados traduzem a opinião dos seus autores. Os artigos publicados poderão ser transcritos com identificação da fonte.

Autoridade Nacional de Protecção Civil Pessoa Coletiva nº 600 082 490 Av. do Forte em Carnaxide / 2794–112 Carnaxide Telefone: 214 247 100 Fax: 214 247 180 [email protected] www.prociv.pt

P U B L I C AÇ ÃO M E N S A L

Projecto co-financiado por:

Manuel Mateus CoutoPresidente da ANPC

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Forças Armadas apoiaram EDP na reposição da eletricidade em vários pontos do país

Na sequência do temporal que assolou o território nacio-nal nos dias 18 e 19 de Janeiro, e que causou, entre outros, o cor-te do abastecimento de electrici-dade em vários pontos do país, o Centro de Coordenação Opera-cional Nacional (CCON) reuniu nas instalações da ANPC, em Carnaxide, no dia 23 de Janeiro,

deliberando mobilizar a capacidade disponível das Forças Armadas em geradores eléctricos, de modo a permitir o rá-pido retorno à normalidade das populações afectadas.A deliberação resultou da necessidade manifestada pela EDP durante o briefing daquela estrutura de coordenação institucional, de obter reforço em meios autónomos de geração eléctrica.Na sequência daquela deliberação, as Forças Armadas res-ponderam prontamente ao solicitado, posicionando-se no terreno com unidades de geração móvel de potência com-preendida entre os 100 e os 250 Kva. Durante aquele temporal foram registadas quase 10.000 ocorrências em Portugal continental, obrigan-do a um aumento significativo do grau de prontidão e mobilização dos serviços e forças de protecção e socorro.

ANPC e Cruz Vermelha Portuguesa reúnem para delinear colaboração em matéria de sensibilização

Decorreu, no passado dia 29 de janeiro, na sede da ANPC, em Carnaxide, uma reunião de trabalho entre esta Auto-ridade Nacional e a Cruz Ver-melha Portuguesa (CVP), com vista ao desenvolvimento fu-turo de estratégias conjuntas no âmbito da sensibilização e preparação dos cidadãos.

A CVP é uma instituição humanitária de utilidade pú-blica destinada a defender a paz, garantir o respeito pela dignidade da pessoa humana, menorizar os efeitos da guerra e a promover a vida e a saúde. Criada em 11 de feve-reiro de 1865 pelo médico militar José António Marques que, no ano anterior, tinha representado o Rei D. Luís I na conferência internacional que deu origem à I Convenção de Genebra, ao longo da sua história prestou auxílio nos diversos conflitos em que Portugal esteve envolvido.Organizada através de uma estrutura nacional e 179 de-legações locais, a Cruz Vermelha Portuguesa exerce, em cooperação com os demais agentes e em harmonia com o seu estatuto próprio, funções de apoio, socorro e assis-tência sanitária e social.

ANPC tem novo Diretor Nacional de Recursos de Proteção Civil

Tomou posse no passado dia 25 de janeiro, como Diretor Nacional de Recursos de Prote-ção Civil da ANPC, o Coronel de Administração Militar José Carlos dos Santos Teixeira, que anteriormente ocupava as fun-ções de Inspetor-Adjunto da GNR. Habilitado com o Curso de Promoção a Capitão da Es-

cola Prática de Administração Militar e com o Curso de Promoção a Oficial Superior do Instituto de Altos Estudos Militares, é detentor, ainda, da licenciatura em Sociologia. Ao longo da sua carreira prestou serviço em diversas unida-des e estabelecimentos da GNR, nomeadamente no Coman-do Geral, nos Serviços Sociais, no Regimento de Infantaria, na Brigada Territorial Nº2 e no Comando de Administração de Recursos Internos.Da sua folha de serviço constam diversos louvores e conde-corações, destacando-se a de Mérito de Segurança Pública de 1ª Classe e as Medalhas de Ouro e de Prata de Comporta-mento Exemplar.José Carlos Teixeira substitui José Gamito Carrilho, que cessou comissão de serviço após quase 7 anos de exercício de funções na ANPC.

Admissão às Equipas de Apoio Psicossocial

Encontram-se abertas, até 28 de fevereiro de 2013, vagas para admissão às Equipas de Apoio Psicossocial (EAPS) da ANPC. O contingente a recrutar, nas áreas da psi-cologia (5) e do serviço so-cial (4), destina-se a reforçar as valências das atuais seis equipas territoriais institu-

ídas, distribuídas pelos distritos de Viana do Cas-telo, Braga, Viseu, Aveiro, Setúbal, Évora e Beja. Os candidatos devem possuir os seguintes requisitos: (1) bombeiro do quadro ativo ou de Comando de um Corpo de Bombeiros de Portugal continental; (2) habi-litação académica superior em Psicologia (e membro efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses) ou Ser-viço Social; (3) disponibilidade para frequentar ações formativas aos fins-de-semana e para ser mobilizado em situação de crise; (4) autorização do Comandan-te do Corpo de Bombeiros para se candidatar às EAPS. A integração nas EAPS funciona em regime de volunta-riado. As candidaturas devem ser enviadas por correio ele-trónico para o endereço: [email protected]. Informações adicionais disponíveis no site da ANPC (www.prociv.pt).

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A identificação humana é, na sua essência, um exercí-cio de comparação. Por um lado, é necessário recolher

dados do cadáver desconhecido, reconstruindo o seu per-fil – dados postmortem (PM); por outro lado, é necessário recolher dados das supostas vítimas junto dos familiares, entidades policiais e/ou diplomáticas, etc., que permitam reconstruir o seu perfil – dados antemortem (AM). A iden-tificação positiva só será possível quando ambos os dados, PM e AM, ao serem cruzados (ou comparados), coincidi-rem.

A identificação positiva só é reconhecida pela comunida-de forense internacional se for conseguida através de, pelo menos, uma das seguintes técnicas científicas: os exames de medicina dentária forense, a dactiloscopia e a genética forense. Estas três técnicas constituem, atualmente, os grandes pilares da identificação humana. Apenas com téc-nicas de presunção, não científicas, é inadmissível, hoje em dia, “identificar” um cadáver.

A grande maioria dos desastres são abertos – não se conhecem as vítimas, nem se sabe quantas são (terramotos, inundações, incêndios). A intervenção forense está mais facilitada nos desastres fechados (acidentes aéreos, naufrá-gios), quando existam listas de passageiros, uma vez que se conhece o número e as características das vítimas, faci-litando a aplicação dos elementos identificativos AM aos dados PM colhidos.

Sendo o principal objetivo da intervenção forense nos

desastres a identificação das vítimas, pode ainda ser ne-cessária a determinação da causa da morte (nas chamadas vítimas chave – as que podem constituir elementos re-levantes na investigação criminal decorrente do evento, como os pilotos da aeronave sinistrada, o maquinista do comboio ou o motorista do autocarro acidentado, o supos-to terrorista) e da data (ou momento) da morte. Este últi-mo parâmetro da investigação forense, em muitos desas-tres massivos, pode tornar-se a posteriori extremamente problemático, levando as entidades judiciárias a optarem pela figura legal da comoriência. Face às circunstâncias de exceção deste tipo de intervenções, as autópsias que se re-alizam à grande maioria das vítimas são, na realidade, exa-mes sumários (exames do hábito externo) e não autópsias completas. Mesmo que os corpos estejam íntegros, é neces-sário fundamentar a identificação com métodos científi-cos, nunca devendo permitir a sua entrega mediante mera identificação visual.

No âmbito do PNE [Plano Nacional de Emergência], a atuação do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciên-cias Forenses (INMLCF) enquadra-se nas ações de mortuá-ria, sendo o seu órgão operacional constituído pela Equipa Médico-Legal de Intervenção em Desastres. Esta equipa fo-rense foi criada em 2001, coincidindo com a publicação da lei orgânica que criou o INML (DL 96/2001, de 26 de março), no rescaldo do acidente de Castelo de Paiva, estando inte-grada, desde 2004, na base de dados do Centro de Monito-

Nas ações de mortuária que decorrem de situações de grandes desastres, a identificação das vítimas mortais é funda-mental para a entrega correta dos corpos aos familiares. Independentemente de poderem estar íntegros e reconhecíveis visualmente, a existência de muitas vítimas obriga a que a entrega dos corpos deva ser realizada segundo critérios de identificação forense científicos, para evitar equívocos dolosos ou fortuitos.

Operações de proteção e socorro

Intervenção forense em grandes desastres

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a 1. Morgue

improvisada em

Port-au-Prince,

Haiti, na sequência

do sismo de 2010.

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rização e Vigilância da UE (MIC). Num cenário de destruição, os agentes de proteção civil de intervenção imediata acodem ao TO [teatro de operações], estabelecendo preferências e estratégias de intervenção. As equipas forenses não são prioritárias, porque o trabalho de mortuária não é emergente. De acordo com o PNE, ao TO devem acudir as ERAVm (Entidades Responsáveis de Ava-liação de Vítimas mortais), constituídas por três indivídu-os: um elemento de segurança – GNR ou PSP (que comanda), um elemento de investigação criminal – PJ e um médico. A função das ERAVm é a referenciação/localização do ca-dáver, a validação de suspeita de crime, a preservação de provas e a verificação do óbito. A ERAVm deverá aplicar ao cadáver uma etiqueta de sinalização, com numeração sequencial onde figure um código da localização, etique-ta esta que nunca será retirada do corpo até à sua entrega. A verificação do óbito, feita pelo médi-co, envolve a aplicação de uma tarja ne-gra. Os médicos das equipas de emer-gência também podem aplicar uma tarja negra nos corpos que sejam ca-dáveres. Feita a verificação dos óbitos e a sinalização dos corpos no terreno, estes ficam a aguardar a sua retirada do local mediante ordem de remoção emanada do Ministério Público. A remoção dum corpo não sinalizado com tarja negra pode ser considerada criminosa (pode tratar-se de um corpo ainda com vida, passível de ser medicamente assistido).

O transporte dos corpos poderá ser feito por diferen-tes equipas (bombeiros, CVP, voluntários, militares), num segundo tempo, sem interferir com os trabalhos de evacuação de sobreviventes. Os cadáveres devem ser intro-duzidos em sacos próprios, juntamente com o espólio reco-lhido à volta (documentos, objetos pessoais) que facilitará posteriormente a identificação. A etiqueta de sinalização e a tarja negra devem manter-se bem presas ao corpo, de-vendo o número de sinalização ser escrito por fora, no saco. Serão depositados em Zonas de Reunião de Mortos (ZRnM), estabelecidas com anterioridade nos PMEs, [Planos Muni-cipais de Emergência] convergindo posteriormente para o necrotério provisório (NECPRO), onde irão decorrer as ações de mortuária.

A eleição do local para instalar o NECPRO normalmente já está prevista nos PMEs; todavia, devem sempre ser ou-vidos os elementos das equipas forenses intervenientes. O NECPRO deverá localizar-se tão perto quanto possível do local do evento, de maneira a que o transporte dos ca-dáveres envolva um impacto mínimo para a população. Todavia, há que ter em atenção que este transporte não deve interferir com as vias de evacuação dos sobreviventes e de acesso das equipas de intervenção, obviamente prio-ritárias. Por vezes esta distância deverá ser maior, no caso de estar comprometida a segurança dos elementos interve-nientes (réplica de sismos, por exemplo). De salientar que a localização do NECPRO não deve aproveitar salas de au-tópsia já devidamente montadas, nos Serviços Médico-Legais locais, para não perturbar o normal funcionamento das mesmas, que entretanto, já desfalcadas de pessoal, terão

que continuar a efetuar a sua rotina. Devem ainda ser tidos em considera-ção outros cuidados. A experiência de casos passados aconselha a não utilizar edifícios públicos de cará-ter social (escolas, pavilhões gim-nodesportivos, centros paroquiais ou mesmo instituições de saúde). É de esperar que a utilização de áre-

as com estas características venha a marcar fortemente as populações afetadas, estigmatizando estes edifícios no que se refere às funções para que foram criados, tornando-os a posteriori pouco atrativos para as populações, vinculan-do-os psicologicamente, de forma negativa, ao evento. As-sim, deve ser escolhida uma área devidamente protegida das condições ambientais (coberta e abrigada dos ventos), com água corrente e suficientemente arejada, com dimen-sões que permitam trabalhar sem atropelos (um armazém, celeiro ou qualquer hangar próximo do TO), com acessos fáceis às vias de comunicação e com a possibilidade de cria-ção de áreas de trabalho para as várias equipas no terreno. Poderão também ser utilizadas estruturas móveis apro-priadas, destinadas exclusivamente para esse efeito, de fácil transporte e montagem (tendas ou contentores desti-nados à instalação de hospitais de campanha), que podem ser devidamente adaptadas para este efeito.Um NECPRO deverá estar constituído por uma área de re-

A eficácia das ações de mortuária não se mede pela rapidez da atuação, mas sim pela eficácia dos trabalhos

desenvolvidos, designadamente a identificação correta dos corpos.

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2. Colheita de

impressões digitais

(Madeira)

3. Depósito de

cadáveres em

contentor de frio

(Madeira).

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© Ana Livramento

© R. Santos

ceção/admissão de cadáveres (onde se efetua o registo dos elementos identificativos possíveis, a anotação do espólio, a colheita de impressões digitais e o registo fotográfico ini-cial); uma área de identificação (com acesso aos familiares das vítimas, para reconhecimento direto destas, sempre que admissível, ou reconhecimento do espólio, na grande maioria das vezes); uma área de equipamento (para arma-zenamento dos materiais consumíveis e equipamentos de autópsia, bem como amostras biológicas recolhidas); uma área de autópsias (apenas para a realização das autópsias ou exames sumários); uma área de prepa-ração e entrega de cadáveres (onde os corpos já autopsiados poderão ser en-tregues, caso já estejam identificados); uma área de secretariado e acolhimen-to de familiares (onde serão acolhidas todas as pessoas que procurem conhe-cidos que possam encontrar-se en-tre as vítimas e onde trabalharão em conjunto vários grupos profissionais, desde pessoal das equipas forenses, elementos policiais, equipas de ação social, de psiquiatria e psicologia). Aqui são colhidas informações junto das fa-mílias para a criação da base de dados AM onde constem todos os dados pessoais das supostas vítimas para poste-rior comparação com os dados PM recolhidos no exame dos cadáveres, para uma eventual identificação positiva.

Paralelamente, deverá ser disponibilizada uma rede de frio, com acesso fácil às áreas de receção e entrega de cadá-veres, que poderá constar de contentores frigoríficos mó-veis ou de instalações de refrigeração fixas, devidamente adaptadas a esta funcionalidade.

O funcionamento do NECPRO, uma vez instalado, segui-rá como que uma “linha de montagem” nos procedimentos: o corpo dá entrada na área de receção, é submetido aos exa-mes gerais, dactiloscopia e fotografia. Segue para a área de autópsia, onde é submetido ao exame buco-dentário, ao exame externo e às colheitas de amostras biológicas para exames complementares. Finalmente, é conduzido para a área de preparação e entrega, podendo ser entregue se a identificação for positiva ou ser de novo guardado no frio se estiver pendente de identificação.

Em situações de conflitos armados ou de atentados ter-roristas é conveniente, antes de iniciar os exames fo-renses, submeter o corpo, ainda dentro do body bag, a exame radiológico (intensificador de imagem ou fluo-roscópio) para identificar ou excluir a presença de pro-jéteis, fragmentos metálicos ou outros objetos poten-cialmente perigosos durante a manipulação do corpo. O espólio retirado de cada corpo deve ser cui-dadosamente etiquetado e limpo, para even-tual reconhecimento por parte dos familiares.

Num cenário de desastre, deve ser dada prioridade absoluta aos meios de socorro e salvamento dos sobreviven-tes, aos canais de evacuação dos feri-dos e às medidas de prevenção de novas ocorrências. As ações de mortuária, onde se integra a Equipa Médico-Le-gal de Intervenção em Desastres, não são emergentes e devem ser discretas. As pressões de ordem social ou política geradas nestas situações

de crise não devem afetar o seu bom funcionamento. As únicas urgências admissíveis nos trabalhos de mortu-ária prendem-se com situações adversas (calor excessivo, chuvas torrenciais, derrocadas, réplica de sismos) que di-ficultem a recuperação dos corpos, a sua preservação ou a sua identificação nas melhores condições. Dependendo do tipo de evento, as ações de mortuária podem tardar dias ou mesmo semanas.

Até à data, a Equipa Médico-Legal de Intervenção em Desastres participou ativamente em três cenários, dois in-ternacionais – o tsunami no sudeste asiático (Tailândia), em janeiro de 2005 e o sismo em Port-Au-Prince (Haiti), em janeiro de 2010, e um nacional – as enxurradas na Madeira, em fevereiro de 2010.

Maria Cristina de Mendonça, Coordenadora Nacional da Equipa Médico-Legal de Intervenção em Desastres, do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, [email protected]

Estando o reconhecimento visual dos corpos vivamente desa-

conselhado pelo impacto emocional causado, é preferível apresentar às famílias objetos pessoais, peças de

vestuário ou calçado, que sejam facilmente reconhecíveis.

4.Montagem do

NECPRO (Madeira).

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D I V U L G A Ç Ã O

O Reino Unido foi o primeiro país europeu a ter um nú-mero de emergência (999), em julho de 1937. A escolha

de apenas três dígitos para o número de emergência deveu-se à sua facilidade de memorização.O número de emergência europeu 112 foi introduzido em 1991 para complementar os números de emergência nacio-nais e tornar os serviços de emergência mais acessíveis em todos os Estados-membros da União Europeia (UE). Desde 1998, as regras da UE exigem que os Estados-membros asse-gurem que todos os utilizadores de telefones fixos e móveis possam telefonar gratuitamente para o 112. Em 1999 surgiu a Associação Número de Emergência Euro-peu – EENA 112, uma organização não-governamental com sede em Bruxelas, Bélgica, com o objetivo de promover a qualidade dos serviços de emergência acessíveis através do número 112, em toda a Europa (www.eena.org).

O número 112 é válido tanto para a rede fixa, como para a rede móvel, e é também o número internacional de emer-gência nas redes de telefones móveis GSM. No caso de não haver rede disponível pelo operador móvel, a chamada será encaminhada pela antena ou repartidor mais próximo, mesmo que pertença a outro operador móvel. Nos telefo-nes móveis o número 112 pode ser marcado mesmo com o teclado bloqueado.

Em Portugal, inicialmente o número nacional de emer-gência era o 115, associado ao serviço de primeiros-so-corros e transporte de feridos e doentes, criado em 13 de outubro de 1965 pelos Ministérios do Interior e da Saúde e Assistência. Com a gestão a cargo da PSP, o número de emergência operava inicialmente apenas em Lisboa, tendo sido alargado, sucessivamente, às outras grandes cidades do país, e utilizado até 2007. Na atualidade, o número de emergência 112 está ligado

a centrais de emergência coordenadas pelo Ministério da Administração Interna.O 112 - Número Nacional de Emergência, dá resposta, para além da saúde, a outras situações de emergência, tais como incêndios, assaltos, agressões, e outras. Dispõe, também, de página na internet (w w w.112.pt)A chamada de emergência é gratuita e atendida por um ope-rador da central de emergência, que aciona os sistemas mé-dico, policial e de combate a incêndios, ou outros, consoante a situação verificada. Em determinado tipo de ocorrências a chamada poderá ser transferida para o Centro de Orienta-ção de Doentes Urgentes (CODU) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).

Desde Junho de 2008 que o 112 – Número Europeu de Emergência, está operacio-nal em toda a União Europeia. Nesse ano, a Comissão Europeia lançou um site que fornece informações sobre o 112 aos cidadãos que viajam na União Europeia. No ano seguinte declarou o dia 11 de fevereiro, "Dia Europeu do 112".

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A G E N D A

7 de fe verei ro, Caste lo Bra ncoC ON F E R Ê NC I A "C A R AC T E R I Z A-Ç ÃO A M BI E N TA L E A NÁ LI SE DE R I SC OS E M BAC I A S T R A NSF RON -T EI R IÇ A S: PROJ E C T O -PI L O T O NO R IO ÁG U E DA"O Con se l ho Téc n ico-Cient í f ico d a Escol a Super ior Ag rá r ia do I n st i-t uto Pol itéc n ico de Caste lo Bra nco promove, no d ia 7 de fe verei ro, com i n ício às 16h, no a n f iteat ro A 2 dest a i n st it u ição, con ferência no â mbito d as tem át icas d a ca racter i z ação a m-bient a l e a n á l i se de r i sco.

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22 de fevereiro, CoimbraCURSO SOBRE GESTÃO DE GRANDES INCÊNDIOS FLORESTAISPromovido pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais (CEIF) da Associa-ção para o Desenvolvimento da Aero-dinâmica Industrial (ADAI), este curso tem lugar no auditório do departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Informações e inscrições: w w w.adai.pt

15 de fevereiro, Ponta DelgadaCONCURSO FOTOGRÁFICO “AS FORÇAS ARMADAS E A PROTEÇÃO CIVIL”Promovido pelo Comando Operacional dos Açores, no âmbito das comemora-ções do seu XX aniversário, decorre, até ao dia 15 de fevereiro de 2013, o período para entrega dos trabalhos a concurso. O objetivo é fomentar a ref lexão sobre o papel das Forças Armadas enquanto agente de proteção civil. Destina-se a fotógrafos profissionais e amadores da Região Autónoma dos Açores.

26 de fevereiro, Ponta DelgadaCOLÓQUIO “AS FORÇAS ARMADAS E A PROTEÇÃO CIVIL”O Comando Operacional dos Açores no contexto da comemoração do XX aniver-sário, promove um conjunto de iniciati-vas, entre as quais se destaca a realiza-ção do colóquio “As Forças Armadas e a Protecção Civil”, que se realiza a 26 de fevereiro, no Anfiteatro C da Universida-de dos Açores. O evento conta com o apoio da Secretaria Regional de Saúde e da Universidade dos Açores.

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11 e 1 2 de fe verei ro, Br u xe l asR EU N I ÃO D O G RU PO DE T R A-BA LHO PRO C I V DA U ERea l i z a-se nest a d at a e no conte x to d a presidê ncia i rl a ndesa do Con se-l ho d a Un ião Eu ropeia, a re u n ião per iód ica do g r upo de t raba l ho PROCI V. Da age nd a con st a a n á l i se d a nova leg i sl ação re l at iva ao Meca n i smo Comu n it á r io de P rote-ção Civ i l .

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11 de fevereiroDIA EUROPEU DO 112Assinala-se, nesta data, o Dia Europeu do Número Único de Emergência – 112. O Ministério da Administração Interna promove um conjunto de iniciativas com vista à divulgação deste recurso para utilização em casos de doença súbita e outras situações de emergência, como incêndios, acidentes graves, assal-tos, agressões e outros.