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Depois de ser expulso de uma fazenda,
onde trabalhava como “agregado”, Domingos de
Almeida, hoje com 52 anos, agricultor da
comunidade de Caldeirão do Morro, município de
Ruy Barbosa, partiu para trabalhar em fábricas
de cimento na região de Salvador-BA. Pensava
em voltar com dinheiro, mas nada conseguiu.
Sua vida tomou um rumo diferente quando
ao voltar para sua comunidade, adquiriu 12
tarefas de terra, o equivalente a 5,4 hectares.
Casou-se com Dona Marlene, com quem tem 5
filhos: Marlúcia, Valdinéia, Luciane, Gardênia e
Eduardo.
Além da casa e da roça, a família construiu uma casa de farinha e passou a viver da produção da
terra: mandioca, milho, feijão e criação de porco e galinha. Mas a renda insuficiente sempre obrigou Seu
Domingos a trabalhar para particulares, por isso afirma que sua esposa e as filhas até já trabalharam
mais na roça do que ele mesmo: “Nossa renda é da família, aqui todos nós trabalhamos, minha mulher
cuida de tudo, minhas filhas capinam pra me ajudar e quando vendo umas coisinhas, aí na outra
semana até não preciso trabalhar para outras
pessoas”, declara.
Em 2004, a família recebeu uma
cisterna para água de beber, através da Cáritas
Diocesana de Ruy Barbosa, atualmente gestora
do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2)
da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA).
Com a primeira água vieram as capacitações,
um estímulo para que Seu Domingos
diversificasse ainda mais a sua produção.
Plantou abacaxi, expandiu sua área de
mandioca para a produção de farinha e
aumentou a criação de porcos e galinhas. Além
disso, o agricultor ainda cria umas vacas para
tirar o leite, usado na alimentação da família.
Bahia
Ano 6 | nº 997 | outubro | 2012Ruy Barbosa- Bahia
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Produção apropriada garante sustento da família de Seu Domingos
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Família de Seu Domingos e Dona Marlene em sua horta molhada com água de uma cisterna enxurrada
Produção familiar garante baixos custos e maior renda para o sustento de toda a família.
ÁGUA PARA PRODUÇÃO CONTRIBUI PARA MELHOR QUALIDADE DE VIDA NO SEMIÁRIDO
Com a água da cisterna, a família cultiva principalmente coentro e alface, além de um plantio
diversificado com cebola, chuchu, quiabo, pimentas, pepino, hortelã, mamão, aipim, maracujina,
melancia, manjericão e feijão. Os canteiros são cobertos com sombrite e palha de licuri e muitos deles
são canteiros econômicos, cuja terra para o plantio é colocada sobre uma lona de plástico, diminuindo
assim a quantidade de água usada e mantendo uma boa produção por mais tempo. Parte da colheita é
usada na alimentação da família, mas não é à toa que doze canteiros são de coentro e alface: hortaliças
vendidas na feira e na vizinhança, gerando uma renda média mensal superior a um salário mínimo.
Definitivamente, a cisterna contribuiu para a melhoria da autoestima e qualidade de vida das
pessoas da família, que juntos cuidam dos bichos, molham as plantas e não deixam de pensar num
futuro melhor, como expressa Dona Marlene: “Nossa vida tá melhorando a cada dia; no sábado sempre
temos alguma coisa pra vender e fazer a feira, essa cisterna foi uma benção e todo mundo aqui cuida da
horta”.
Enquanto isso, Seu Domingos já planeja as atividades que irá desenvolver no ano de 2013,
quando pretende aumentar a produção, principalmente de pimenta-passarinho, uma espécie que lhe
garante bons resultados. Seu desejo é alcançar uns cem pés da planta: “No futuro só tem como
melhorar, quando chover e tiver mais água vou para uma faixa de 30 canteiros produzindo”, explica o
agricultor.
Quando questionado se a água da
cisterna será suficiente para manter essa
produção, responde com sabedoria: “Nossa
produção é familiar, e com a minha idade não
quero mais trabalhar como empregado dos
outros, por isso no tempo das chuvas,
molharemos os canteiros com água dos
tanques e barreiros para deixar a água da
cisterna para o tempo da seca, quando também
diminuiremos a quantidade do plantio”. Dá um
sorriso e ainda completa: “Nunca mais
precisarei sair da roça como fiz quando era
novo”.
O sorriso fácil no rosto de Seu Domingos atingiu o resto da família quando, em 2011, adquiriram
uma cisterna enxurrada de 52 mil litros de água, por meio do Projeto Cisternas, um convênio da Cáritas
Diocesana de Ruy Barbosa com o Governo do Estado da Bahia. A cisterna foi construída próxima à
casa, na descida do terreno, com a implantação de 4 canteiros e atualmente a família cultiva em 19
canteiros, uma produção que desafia a atual seca que atinge o Semiárido brasileiro.
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Seu Domingos planeja expandir a horta
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Bahia
Apoio:
Programa Cisternas