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PRODUÇÃO INTEGRADA NO BRASIL - Embrapa · A agroindústria de caju do Nordeste tem relevante importância socioeconômica para o Brasil, em razão da exploração de aproximadamente

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ÃO

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TE

GR

AD

A N

O B

RA

SIL

2008/2009

9 788599 851500

ISBN 978-85-99851-50-0

© 2008 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada à fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.

A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é do autor.

Tiragem: 1.000 exemplares

1ª edição. Ano 2008

Elaboração, distribuição, informações:

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo

Departamento de Sistemas de Produção e Sustentabilidade

Coordenação-Geral de Sistemas de Produção IntegradaEsplanada dos Ministérios, Bloco D, Anexo “B” 1º andar, sala 128

CEP: 70043-900 Brasília – DF

Tels: (61) 3218 2390Fax: (61) 3223-5350www.agricultura.gov.br

Central de Relacionamento: 0800-7041995

Coordenação Editorial: Assessoria de Comunicação Social

Catalogação na FonteBiblioteca Nacional de Agricultura – BINAGRI

Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Produção integrada no Brasil : agropecuária sustentável alimentos seguros / Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretária de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. – Brasília : Mapa/ACS, 2009.

1008 p. : il. color. ; 28 cm + 1 CD-ROM

ISBN 978-85-99851-50-0

1. Produção integrada. I. Secretária de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. II. Título. III. Título: agropecuária sustentável alimentos seguros.

AGRIS F01

CDU 631.151

Ministério da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoSecretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo

Brasília - 2008/2009

Promover o desenvolvimento sustentável e a competitividade do agronegócio

em benefício da sociedade brasileira.

MissãoMapa

Equipe de organizadores do livro

Laércio ZambolimEngenheiro Agrônomo, MSc, PhD, Pós-docProfessor do Departamento de FitopatologiaCentro de Ciências AgráriasUniversidade Federal de Viçosa

Luiz Carlos Bhering NasserEngenheiro Agrônomo, MSc, PhD, Pós-docCoordenador Geral de Sistemas de Produção IntegradaDepartamento de Sistemas de Produção e SustentabilidadeSecretaria de Desenvolvimento Agropecuário e CooperativismoMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

José Rozalvo AndriguetoEngenheiro Agrônomo, MSc, PhD, Pós-docCoordenador de Produção Integrada da Cadeia AgrícolaDepartamento de Sistemas de Produção e SustentabilidadeSecretaria de Desenvolvimento Agropecuário e CooperativismoMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

José Maurício Andrade TeixeiraEngenheiro Agrônomo, Fiscal Federal AgropecuárioDepartamento de Sistemas de Produção e SustentabilidadeSecretaria de Desenvolvimento Agropecuário e CooperativismoMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Adilson Reinaldo Kososki Engenheiro Agrônomo, MScCoordenação Geral de Desenvolvimento SustentávelDepartamento de Sistemas de Produção e SustentabilidadeSecretaria de Desenvolvimento Agropecuário e CooperativismoMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento José Carlos FachinelloEngenheiro Agrônomo, MSc, Doutor, Pós-docProfessor do Departamento de FitotecniaFaculdade de Agronomia Eliseu MacielUniversidade Federal de Pelotas

14capítuloPRODUçãO InTEgRADA DE CAJU

Foto

: Fá

bio

Oki

ProduÇÃo integrAdA de cAJu

447

oliveira, v. H. de44; andrade, a. p. de44;

Silva, e. de o.44

O cajueiro (anacardium occidentale L.) é uma planta de grande importância econômica

para o Nordeste brasileiro, pela diversidade de produtos proporcionados pelo fruto e pe-

dúnculo e pela quantidade de empregos gerados. Apesar do grande potencial de uso e

da importância socioeconômica, a cajucultura brasileira ressente-se do emprego de ferra-

mentas de gestão da qualidade no campo que priorizem a qualidade da matéria-prima e as

demandas dos países importadores. A conversão dos sistemas de produção vigentes para

sistemas que respeitem o ambiente, a saúde do consumidor e o produtor, por meio da

redução do uso de agroquímicos e da integração de práticas de manejo do solo, poderá

contribuir para atenuar este quadro. Nesse contexto, a Produção Integrada de Frutas (PIF)

surge como uma alternativa para agregar valor à amêndoa de castanha de caju brasileira

no mercado externo e ao pedúnculo no mercado interno.

O projeto de Produção Integrada de Caju - PI de Caju teve início em 2002, com o objetivo

de consolidar a Produção Integrada de Caju nos principais polos produtores de caju do

Rio Grande do Norte e Ceará, mediante a transferência de conhecimentos e tecnologias,

conforme as bases estabelecidas pelo Marco Legal da Produção Integrada de Frutas, asso-

ciadas às Normas Técnicas e Documentos de Acompanhamento da Produção Integrada de

Caju - PI de Caju, visando à produção de castanhas e pedúnculos de qualidade. Embora a

avaliação de resíduos nos produtos oriundos da PI de Caju ainda não tenha sido realizada,

o atendimento obrigatório às recomendações técnicas específicas para a cultura do ca-

jueiro, como a adoção das Boas Práticas Agrícolas e de novas tecnologias de produção e

44 Embrapa Agroindústria Tropical.

ProduÇÃo integrAdA NO BRASIL

448

pós-colheita, representa ganhos em sanidade e qualidade, pois todas as técnicas utilizadas

visam à racionalização do uso dos agroquímicos. Em relação à produtividade de castanhas,

observou-se em áreas piloto um incremento de 20% na produtividade do sistema PI de Caju

em relação ao sistema convencional. De igual modo, fatores que contribuem para a manu-

tenção da qualidade e sanidade dos pedúnculos após a colheita, como o teor de vitamina

C, a acidez total e o pH, foram influenciados significativamente pelo sistema PI. No tocante

à capacitação de recursos humanos, as ações do projeto de PI de Caju beneficiaram direta-

mente 1.528 pessoas, entre técnicos, produtores e extensionistas, mediante a participação

em 13 cursos e treinamentos, dois seminários e 23 dias-de-campo e palestras.

introdução

A agroindústria de caju do Nordeste tem relevante importância socioeconômica para o

Brasil, em razão da exploração de aproximadamente 742 mil ha de cajueiros, que mobili-

zam no campo 300 mil pessoas e proporcionam uma produção de 133.211 toneladas de

castanha (ANDRADE, 2007; IBGE, 2008).

A matéria-prima castanha supre um parque industrial formado por nove empresas proces-

sadoras de grande porte no Ceará e cerca de 80 minifábricas no Nordeste, responsáveis

pela obtenção da amêndoa de castanha de caju (ACC), destinada, em sua maioria, à ex-

portação, gerando divisas da ordem de US$ 225 milhões anuais.

O mercado do pedúnculo para consumo in natura (caju-de-mesa) cresceu expressivamen-

te nos últimos dez anos, especialmente na região Sudeste, e o seu processamento respon-

de por produção de sucos naturais e concentrados, cajuína, doces, polpas, entre outros

derivados, os quais, em grande parte, destinam-se ao mercado interno, especialmente o

local (LEITE; PESSOA, 2002).

ProduÇÃo integrAdA de cAJu

449

Apesar do grande potencial de uso e da importância socioeconômica, o agronegócio caju res-

sente-se da ausência de ferramentas de gestão da qualidade no campo que priorizem a quali-

dade da matéria-prima e as demandas dos países importadores. Para importar outras espécies

de frutas, a União Europeia exige que os produtores tenham os seus sistemas de produção

certificados prioritariamente de acordo com as normas do Protocolo Eurepgap, que dá ênfase

às questões ambientais e sociais e, entre outras atribuições, exige a rastreabilidade do produto.

No caso específico da ACC, os principais compradores, Estados Unidos e Europa, apesar

de ainda não exigirem um protocolo de certificação específico, estão dispostos a pagar

preços diferenciados pelo produto oriundo de sistemas não convencionais. Desse modo,

produzir alimentos certificados representa a garantia de melhores preços e a comercializa-

ção no mercado internacional (OLIVEIRA; ANDRADE, 2004).

O Sistema de Produção Integrada de Frutas (PIF), protocolo brasileiro que consiste na ob-

tenção de frutos de qualidade, surge como uma oportunidade de minimizar os problemas

agrícolas e responder às demandas exigidas quanto à certificação e rastreabilidade do

sistema de produção para o cajueiro.

estado da arte

A agroindústria do caju exerce importante papel na região Nordeste, pelo significativo nú-

mero de oportunidades de empregos criados nos segmentos campo e indústria e pela

expressiva participação na geração de divisas externas, sendo os estados do Ceará, Rio

Grande do Norte e Piauí os principais produtores (LEITE; PESSOA, 2002; IBGE, 2006).

Para o semiárido nordestino, a importância é ainda maior, porque os empregos do campo

são gerados na entressafra de culturas tradicionais, como milho, feijão e algodão, reduzin-

ProduÇÃo integrAdA NO BRASIL

450

do, assim, o êxodo rural. A ocupação de mão-de-obra varia durante o ano em função das

práticas culturais, ocorrendo um pico por ocasião da colheita. São registradas também

oportunidades de utilização da mão-de-obra em países que industrializam a castanha de

caju, como é o caso do Brasil e da Índia, o que amplia o número de postos de trabalho.

No caso do Brasil, são gerados empregos também no processamento do pedúnculo, com

elevada variedade de produtos, como: bebidas (sucos, cajuína, néctares, polpas, aguar-

dente etc.), doces e ração animal (LEITE; PESSOA, 2002; OLIVEIRA, 2002).

O Ceará é o maior produtor brasileiro de castanha de caju (IBGE, 2008), gerando ex-

portações de ACC no valor de US$ 180.001.278 (ALICEWEB, 2008). O mercado interno

representa apenas 10% do volume exportado, embora haja indícios de que esse mercado

tenha crescido nos últimos anos com a sua utilização na indústria de chocolates (LEITE;

PESSOA, 2002).

Por sua vez, o mercado de polpas, cajuína, refrigerantes, aguardentes e outros menos

expressivos vem crescendo, com consequente aumento da ocupação de mão-de-obra e

geração de renda para muitos agentes produtivos, seja em fábricas de maior porte ou em

unidades artesanais (LEITE; PESSOA, 2002).

Apesar do enorme potencial, o agronegócio caju enfrenta dificuldades de ordem agrícola

e econômica, com reflexos na produção e geração de emprego e renda, resultantes do

sistema de exploração utilizado, sem foco de mercado, ocupando extensas áreas, em de-

trimento do uso de tecnologias (ANDRADE, 2007).

A cadeia produtiva do caju, a partir da metade da década de 1980, vem apresentando

sinais evidentes de perda de competitividade (OLIVEIRA; ANDRADE, 2004). A participação

do Brasil nas exportações mundiais de ACC entre 1992 e 1998 foi reduzida em 45%. Essa

perda foi determinada basicamente por problemas internos, já que nesse mesmo período

o mercado importador ampliou significativamente as compras de ACC (PAULA PESSOA

et al., 2000). Atualmente, o País ocupa a terceira posição no mercado mundial de ACC,

antecedido pela Índia e Vietnã (FAO, 2006).

ProduÇÃo integrAdA de cAJu

451

Além disso, os mercados mundiais passaram a exigir qualidade dos produtos e o con-

trole de todo o sistema de produção, incluindo a análise de resíduos e os estudos sobre

o impacto ambiental, para realizarem suas importações (FACHINELLO et al., 2000). Para

ter acesso a esse mercado e não estar sujeito às barreiras técnicas, o produtor precisa

adequar o sistema de produção empregado aos novos requisitos de qualidade e competi-

tividade exigidos pelos países importadores.

Nesse contexto, a Produção Integrada de Frutas (PIF) apresenta-se como uma alternativa

para o ingresso das frutas brasileiras no mercado externo. A PIF surgiu no Brasil em 1997,

com a cultura da maçã, sendo ampliada, posteriormente, para outras frutas. Em 2002, a

cultura do cajueiro foi selecionada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(Mapa) para compor o rol das primeiras espécies frutíferas beneficiadas com o Programa

de Produção Integrada de Frutas. Nesse mesmo ano teve início o Projeto de Produção

Integrada de Caju - PI de Caju, com abrangência prevista para os Estados do Ceará e Rio

Grande do Norte. A sua execução ficou a cargo da Embrapa Agroindústria Tropical, unida-

de de pesquisa da Embrapa, com sede em Fortaleza, Ceará (OLIVEIRA, 2003).

As Normas Técnicas Específicas (NTE) para a Produção Integrada de Caju foram apro-

vadas por meio da Instrução Normativa nº. 10, de 26 de agosto de 2003, publicada no

Diário Oficial da União - DOU de 1º de setembro de 2003, com a finalidade de propor pa-

râmetros para as várias etapas de produção, como cultivo, colheita e pós-colheita. Na sua

elaboração, houve a participação de produtores, pesquisadores, técnicos e extensionistas

vinculados aos setores governamental e privado (OLIVEIRA; ANDRADE, 2004). Algumas

práticas recomendadas nas referidas normas técnicas, contudo, carecem de maiores estu-

dos científicos que permitam, com segurança, a sua adoção pelos cajucultores, tanto sob

o aspecto técnico quanto o de viabilidade econômica.

ProduÇÃo integrAdA NO BRASIL

452

objetivos gerais

Consolidar a Produção Integrada de Caju nos principais polos produtores do Rio Grande

do Norte e Ceará, mediante a transferência de conhecimentos e tecnologias, conforme as

bases estabelecidas pelo Marco Legal da Produção Integrada de Frutas, associadas às

Normas Técnicas Específicas para a Produção Integrada de Caju - PI de Caju.

objetivos específicos

•Reunir as informações disponíveis sobre os cajucultores e as associações interessados

em aderirem à PI de Caju.

•Estimular a adesão de associações de pequenos e médios produtores à PI de Caju.

•Revisar as NTE para a PI de Caju, adaptando-as aos protocolos de maior aceitação no

mercado internacional.

•Difundir e implementar as Boas Práticas Agrícolas e o sistema APPCC na PI de Caju.

•Revisar, adequar e publicar nova edição dos cadernos de campo e pós-colheita e das

cartilhas de monitoramento de pragas e doenças na PI de Caju.

•Comparar os Sistemas de Produção Convencional (PC) e Integrada (PI) de caju em

relação a práticas importantes de manejo da planta e do solo, fitossanidade, economi-

cidade, monitoramento ambiental e qualidade da matéria-prima tanto para a indústria

quanto para o consumo in natura.

continua...

ProduÇÃo integrAdA de cAJu

453

•Elaborar material didático para apoiar o programa de capacitação de recursos huma-

nos em PI de Caju.

•Manter atualizada a home page da PI de Caju.

•Promover gestões junto aos órgãos competentes para registro de novos produtos na

grade de agroquímicos do cajueiro.

metas

•Promover a transferência dos conhecimentos e das tecnologias disponíveis na PI de

Caju para o público envolvido no sistema, nos principais polos produtores do Ceará e

Rio Grande do Norte.

• Introduzir as Boas Práticas Agrícolas e o sistema APPCC em propriedades integrantes da

PI de Caju, visando minimizar perigos comuns que ameaçam a segurança do alimento.

•Realizar análises econômicas comparativas de sistemas de Produção Integrada e Con-

vencional de Caju.

•Propiciar aos componentes da equipe do projeto informações, experiências e novos

conhecimentos sobre Produção Integrada de Frutas.

...continuação

ProduÇÃo integrAdA NO BRASIL

454

resultados

• Benefícios ambientais da Produção Integrada

Embora a análise dos impactos ambientais ainda não tenha sido realizada, podem-se con-

siderar os efeitos benéficos relacionados à preservação dos recursos naturais como água,

ar, solo e biodiversidade, decorrentes da racionalização das intervenções químicas no sis-

tema PI de Caju (OLIVEIRA, 2005).

• Ganhos econômicos

A PI de Caju vem apresentando resultados significativos no que diz respeito à produtivida-

de de castanhas e à qualidade pós-colheita de pedúnculos. Avaliações de comparação de

Sistemas de Produção Integrada (PI) e Convencional (PC), em pomares de cajueiro-anão

precoce, foram realizadas em Beberibe (CE), na safra 2005-2006, por Andrade (2007), o

qual observou que o número de castanhas e a produtividade (kg ha-1), no sistema PI, foram

superiores aos encontrados no sistema PC (Figuras 1, 2 e 3).

Figura 1 - Área conduzida sob o Sistema de Produção Integrada (PI) em cajueiro-

anão precoce. Beberibe (CE), safra 2005-2006.

ProduÇÃo integrAdA de cAJu

455

Figura 2 - Área conduzida sob o Sistema de Produção Convencional (PC) em ca-

jueiro-anão precoce. Beberibe (CE), safra 2005-2006.

Figura 3 - Avaliação do número de castanhas produzidas por hectare, em cajuei-

ro-anão precoce, nos Sistemas de Produção Integrada e Convencional. Beberibe

(CE), safra 2005-2006.

205.238171.129

PI PC

Sistemas

Núm

ero

de c

asta

nhas

/ha

250.000

200.000

150.000

100.000

50.000

0

ProduÇÃo integrAdA NO BRASIL

456

Em relação à produtividade de castanhas, nesse mesmo trabalho, o resultado do Sistema

PI foi superior ao do PC (Figura 4), representando um incremento de 20%.

Figura 4 - Avaliação da produtividade de castanhas (kg ha-1), em cajueiro-anão

precoce, nos Sistemas de Produção Integrada e Convencional. Beberibe (CE),

safra 2005-2006.

1.352

1.621

1.750

1.500

1.250

1.000

750

500

250

0PI PC

Sistemas

Prod

utiv

idad

e (k

g/ha

-1)

Andrade (2007) também avaliou parâmetros de qualidade, como acidez titulável (AT), pH e

teor de vitamina C. Quanto à (AT), os valores foram superiores aos observados no Sistema

PI (Figura 5). Em relação ao pH, as médias obtidas no sistema PC foram superiores às do

Sistema PI (Figura 6). Os teores de vitamina C obtidos no Sistema PI foram significativa-

mente superiores aos obtidos no sistema PC (Figura 7).

ProduÇÃo integrAdA de cAJu

457

Figura 5 - Avaliação da acidez total em pedúnculos de cajueiro-anão precoce,

conduzidos sob os Sistemas PI e PC. Beberibe (CE), safra 2005-2006.

0,28

0,37

PI PC

Sistemas

AT (%

)

0,4

0,35

0,3

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

0

Figura 6 - Avaliação do pH em pedúnculos de cajueiro-anão precoce, conduzidos

sob os Sistemas PI e PC. Beberibe (CE), safra 2005-2006.

4,44,6

PI PC

Sistemas

54,5

43,5

32,5

21,5

10,5

0

ProduÇÃo integrAdA NO BRASIL

458

Figura 7 - Avaliação do teor de vitamina C em pedúnculos de cajueiro-anão preco-

ce, conduzidos sob os Sistemas PI e PC. Beberibe (CE), safra 2005-2006.

111,70

89,41

140,00

120,00

100,00

80,00

60,00

40,00

20,00

-

Vita

min

a C

(mg/

100g

)

PI PC

Sistemas

• Ganhos da sociedade em termos de contaminação do produto agrícola

Embora a avaliação do teor de resíduos nos produtos oriundos da PI de Caju não tenha

sido realizada, o atendimento obrigatório às recomendações técnicas específicas para a

cultura do cajueiro, como a adoção das Boas Práticas Agrícolas (BPA) e de novas tec-

nologias de produção e pós-colheita, representa ganhos em sanidade e qualidade, pois

todas visam à racionalização do uso dos agroquímicos. Isso se tornou possível graças à

definição de procedimentos específicos para o monitoramento de pragas, realizado com o

emprego de técnicas adaptadas a cada praga, destacando-se a escala de notas, a partir

da qual se obtém o grau de infestação, o que determina, ou não, a intervenção química,

de acordo com o nível de ação ou controle (Tabela 1).

ProduÇÃo integrAdA de cAJu

459

Tabela 1 - Resumo dos níveis de ação ou controle para as principais pragas do cajueiro.

Insetos

Grau de

infestação (%) Desfolha

Infestação

Frutos Mudas

Insetos desfolhadores

-

-

Na fase vegetativa 60%

Na fase vegetativa 60%

-

-

-

-

Pulgão 40 - - -

Broca-das-pontas 40 - - -

Trips 25 - - -

Percevejo-do-fruto - - 10% -

Cigarrinha-das-inflorescências 25 - - -

Mosca-branca 25 - - -

Díptero-das-galhas 25 - - -

Larva-do-broto-terminal 25 - - 5%

Traça-das-castanhas - - 5% -

Fonte: MESQUITA et al., 2004.

ProduÇÃo integrAdA NO BRASIL

460

Além disso, o cumprimento das normas estabelecidas para manipulação e seleção dos

cajus/castanhas, tanto na colheita (Figura 8) quanto na pós-colheita e embalagem (Figura

9), favorece o surgimento de produtos de alta qualidade quanto à higiene e sanidade.

Figura 8 - Detalhe da caixa para colheita de caju-de-mesa na PI de Caju.

Figura 9 - Seleção de cajus-de-mesa na PI de Caju.

ProduÇÃo integrAdA de cAJu

461

capacitação dos agentes envolvidos na piF/Sapi

As ações do projeto de Produção Integrada de Caju – PI de Caju, no período de 2002 a

2008, beneficiaram diretamente 1.487 pessoas, entre técnicos, produtores e extensio-

nistas, mediante a participação em 13 cursos e treinamentos, 2 seminários e 23 dias-de-

campo e palestras.

A partir dos treinamentos realizados, elaborou-se o cadastro dos técnicos capacitados em “Ava-

liação da conformidade na Produção Integrada de Frutas - PIF”, disponível para os organismos

envolvidos no credenciamento de produtores e empacotadoras no sistema PIF (OLIVEIRA, 2005).

As publicações descritas a seguir, utilizadas nas ações de capacitação da PI de Caju,

foram elaboradas com base no acervo de tecnologias disponíveis na Embrapa Agroindús-

tria, constituindo-se nas primeiras do gênero, em âmbito mundial, sobre o tema Produção

Integrada de Caju.

•Manual da Produção Integrada de Caju.

•Cultivo do cajueiro-anão precoce (Sistema de Produção 1 - Embrapa).

•Monitoramento de pragas na cultura do cajueiro (Documentos 48 - Embrapa).

•Monitoramento de doenças na cultura do cajueiro (Documentos 47 - Embrapa).

•Normas técnicas e documentos de acompanhamento da Produção Integrada de Caju

(Documentos 66 – Embrapa).

•Amostragem de pragas na Produção Integrada do cajueiro-anão precoce (Comunica-

do Técnico 94 – Embrapa).

continua...

ProduÇÃo integrAdA NO BRASIL

462

•Manejo da irrigação na Produção Integrada do cajueiro-anão precoce (Circular Técnica

15 – Embrapa).

•Colheita e pós-colheita de castanha de cajueiro-anão precoce na Produção Integrada

de Frutas (Circular Técnica 18 – Embrapa).

• Irrigacaju: planilha eletrônica para o manejo da irrigação na Produção Integrada de Caju

(Circular Técnica 23 - Embrapa).

•Produção, pós-colheita e certificação em pomares de cajueiro (Instituto Frutal, 2006).

paradigmas quebrados

Práticas de manejo

Parte dos cajucultores emprega práticas inadequadas de manejo do solo e da planta,

utilizando equipamentos inapropriados ou mal regulados, causando degradação do solo,

do meio ambiente e, às vezes, contaminando o próprio trabalhador. Com a adoção do

sistema PI de Caju, essas práticas deixarão de ser utilizadas.

Monitoramento de pragas e doenças

O advento da PI de Caju contribuiu para o surgimento de uma prática não utilizada pelos

cajucultores: o monitoramento. Grande parte dos produtores ainda combate pragas e do-

enças somente após a infestação e, às vezes, quando estas atingem alto grau de incidên-

cia, o que dificulta o tratamento e, por vezes, não o torna eficaz, pois a detecção é realiza-

...continuação

ProduÇÃo integrAdA de cAJu

463

da tardiamente e, em alguns casos, parte da safra já está comprometida. O monitoramento

do pomar contribuiu não só para prevenir e controlar as pragas e doenças (MESQUITA et

al., 2004), como também para melhor acompanhamento do desenvolvimento das plantas.

Receptividade a novos conhecimentos

O tradicionalismo na cajucultura, por anos repassado de geração a geração, por ser o caju

um produto nativo do Nordeste, é característica marcante e está arraigado na cultura da

maioria dos cajucultores, o que dificulta a adoção de novas tecnologias que favorecem o

melhor desempenho dos pomares. Por meio de atividades de divulgação, como cursos,

palestras, seminários, dias-de-campo, treinamentos e visitas, a PI de Caju vem conseguin-

do mudar esse cenário.

A cada evento, nota-se o crescente número de participantes, principalmente produtores,

interessados em adquirir conhecimentos que os orientem na condução de seus pomares.

Também se observa uma mudança de comportamento quanto à adoção de algumas das

práticas recomendadas pelo sistema PI de Caju.

conclusão

A PI de Caju pode contribuir para uma cajucultura racional e sustentável, tendo como

principais vantagens a preservação do meio ambiente, a saúde do trabalhador rural e a

produção de alimentos saudáveis e de alta qualidade.

Ver literatura consultada no CD-ROM anexo a esta publicação.