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PRODUTIVIDADE NO BRASIL Volume 1 – Desempenho DESEMPENHO E DETERMINANTES Organizadores Fernanda De Negri e Luiz Ricardo Cavalcante Autores Alexandre Messa, Carlos Mussi, Claudio Amitrano, Fernanda De Negri, Gabriel Squeff, João Maria de Oliveira, Lucas Mation, Luiz Dias Bahia, Luiz Ricardo Cavalcante, Mauro Oddo Nogueira, Regis Bonelli, Ricardo Infante, Roberto Ellery Jr, Rogerio Freitas, Thiago Miguez e Thiago Moraes

Produtitivade No Brasil Cap4

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  • PRODUTIVIDADE NO BRASILVolume 1 Desempenho

    DESEMPENHO E DETERMINANTES

    OrganizadoresFernanda De Negri e Luiz Ricardo Cavalcante

    AutoresAlexandre Messa, Carlos Mussi, Claudio Amitrano, Fernanda De Negri, Gabriel Squeff, Joo Maria de Oliveira, Lucas Mation, Luiz Dias Bahia, Luiz Ricardo Cavalcante, Mauro Oddo Nogueira, Regis Bonelli, Ricardo Infante, Roberto Ellery Jr, Rogerio Freitas, Thiago Miguez e Thiago Moraes

  • * Texto preparado para a Diretoria de Estudos e Polticas Setoriais de Inovao, Regulao e Infraestrutura DISET, do IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada.** Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV Fundao Getulio Vargas, Rio de Janeiro. Algumas das ideias aqui apresentadas foram discutidas em seminrios: no IBRE, em 17/3/2014; e na DISET/IPEA em 14/4/2014. Agradeo os comentrios de Fernando Veloso a uma verso anterior sem, contudo, compromet-lo com este texto.

    CAPTULO 4

    PRODUTIVIDADE E ARMADILHA DO LENTO CRESCIMENTO*

    Regis Bonelli**

    1 INTRODUO

    Uma das principais preocupaes na agenda contempornea da economia brasileira a perda de dinamismo depois da crise global de 2008 em longo prazo, alis, bem antes dela e, associada a essa perda, a reduo dos ganhos de produtividade. Depois da elevada taxa de crescimento do PIB registrada em 2010, o fraco desem-penho registrado em 2011-13, que se prolonga at 2014, tornou essa preocupao ainda mais aguda.

    Em geral, redues no ritmo de crescimento dos pases emergentes tm sido associadas a ritmos de crescimento mais lentos da produtividade medida que os pases alcanam nveis mdios de renda. Esse processo tem sido chamado de armadilha da renda mdia.

    Estudo recente da OECD (2014) enuncia em seu captulo 1 que A armadi-lha da renda mdia definida como um estgio de desenvolvimento caracterizado por desacelerao do crescimento devida a dificuldades de mudar de um padro baseado na acumulao de fatores para um baseado na inovao. Isso, por sua vez, est frequentemente relacionado ao lento crescimento e baixos nveis da produti-vidade (traduo nossa).

    No entanto, no claro se essa caracterizao de aplica ao Brasil. Em pri-meiro lugar, porque seria de se esperar que essa transio fosse gradual, o que no parece ter sido o caso na experincia brasileira: como se v no grfico 1 (seo 2), o colapso do crescimento brasileiro foi relativamente sbito e teve data certa para comear: o incio da dcada de 1980, coincidindo com o comeo da fase mais aguda da crise da dvida externa.

  • 112 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    Em segundo lugar, o pas continuou a apresentar altas taxas de acumulao de fatores mesmo com a reduo do crescimento nos anos 1980 embora de forma no eficiente, como veremos na seo 3.1

    Em terceiro lugar, como tambm veremos na seo 3, o pas recuperou ga-nhos relativamente elevados de produtividade, tanto total dos fatores, quanto do trabalho, durante a fase de bonana de 2003 a 2010, caracterizada pela retomada do crescimento com melhoria dos termos de troca internacionais. Dessa forma, um choque de demanda (externa) teria possibilitado uma recuperao ainda que incompleta, porque de durao limitada da produtividade.2

    Mas, nos ltimos anos, constata-se que essa recuperao teve vida curta. Por qu? Como as medidas de produtividade, do trabalho e do total dos fatores, podem ajudar a entender o que passou (ou, o que vem se passando), e qual a relao entre elas? Qual a importncia da estrutura setorial e de suas mudanas para a formao desse quadro agregado?

    Perguntas dessa complexidade no admitem respostas fceis. Mais modesta-mente, o objetivo deste texto indicar respostas para algumas delas com o intuito de, pelo menos, avanar no nosso conhecimento das causas da perda de dinamismo econmico do pas. Tentativamente, batizamos as dificuldades do momento atual como sendo devidas a uma armadilha do lento crescimento. Com isso foi pos-svel driblar as dificuldades conceituais associadas armadilha da renda mdia.3

    Dito isso, a organizao do texto a seguinte: a seo 2 destaca a importn-cia dos ganhos de produtividade para o crescimento brasileiro no mdio e longo prazos, fator mais crucial futuramente do que no passado, devido ao final da fase de bnus demogrfico que o Brasil est vivendo; a seo 3 mostra o registro da produtividade em longo prazo como preldio para analisar a evoluo dos ltimos anos. Um esboo de explicao, bastante especulativo, consta da seo 4, ao passo que a seo 5 apresenta outras variveis importantes para a anlise das perspectivas de crescimento do pas. J a seo 6 explora o aspecto pr-cclico da produtividade e sua importncia para a formao dessas perspectivas. A de nmero 7 apresenta decomposies setoriais dos ganhos de produtividade como elemento adicional para a compreenso das dificuldades do presente. A seo 8 conclui.

    1. Ver Bacha e Bonelli (2005) para uma anlise das causas dessa desacelerao.2. Pelo lado da oferta, Gopinath e Neiman (2014) mostram que um choque negativo e forte dos termos de troca produz um efeito negativo de primeira ordem sobre a PTF agregada. De forma simtrica, um choque forte e positivo dos termos de troca produz um efeito positivo sobre a PTF agregada.3. Ver, a propsito, Veloso e Pereira (2013).

  • 113Produtividade e armadilha do lento crescimento

    2 O IMPERATIVO DA PRODUTIVIDADE

    Uma viso de longo prazo do crescimento brasileiro mostrada no grfico a seguir, que apresenta as taxas anuais de crescimento do PIB e sua mdia mvel decenal desde 1950.

    GRFICO 1Brasil taxas anuais de crescimento do PIB e sua mdia mvel decenal, 1950-20141 (% a.a.)

    -5,0

    -2,5

    0,0

    2,5

    5,0

    7,5

    10,0

    12,5

    15,0

    1950

    1952

    1954

    1956

    1958

    1960

    1962

    1964

    1966

    1968

    1970

    1972

    1974

    1976

    1978

    1980

    1982

    1984

    1986

    1988

    1990

    1992

    1994

    1996

    1998

    2000

    2002

    2004

    2006

    2008

    2010

    2012

    2014

    Taxa anual cresc. PIB (Y') Mdia mvel decenal Y'

    Elaborao do autor.Fonte: Contas Nacionais, IBGE.Nota: 1 Para 2014 adotou-se taxa de 0,2%.

    claramente visvel nesse grfico, o mergulho na velocidade do crescimento depois de 1980, quando a mdia decenal crescia 8,6% a.a. aps ter alcanado o pico de 9,5% em 1977.4 A taxa decenal mais baixa ocorreu em 1990 (1,6% a.a.), caracterizando de forma inequvoca a dcada perdida dos anos 1980 dado que a populao crescia taxa de 1,9% ao ano no perodo. J a acelerao observada da at 1994 (2,8%) foi abortada logo em seguida por conta das crises externas da segunda metade dos anos 1990.

    De 2000 a 2004 a taxa mdia decenal ficou em torno de 2,5%, quando comeou a se acelerar, at chegar aos 3,8% de 2011. J em 2014 a taxa decenal reduziu-se para 3,3%. Em particular, a taxa mdia do quadrinio 2011-2014, os quatro ltimos anos mostrados no grfico, alcana apenas 1,6%, ou pouco menos

    4. Explicaes para esse colapso do crescimento foram objeto das anlises de Bacha e Bonelli (2005), Ferreira e Veloso (2013) e Bonelli e Bacha (2013), por exemplo.

  • 114 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    de 1% ao ano em termos per capita, sendo um resultado claro da armadilha do lento crescimento.

    Uma parte da desacelerao do crescimento reflete as mudanas demogrficas pelas quais o pas vem passando. Em particular, existem limitaes para o aumen-to da fora de trabalho em longo prazo, que resultam do crescimento futuro da Populao em Idade Ativa (PIA) a taxas cada vez menores. Embora esse aspecto, por si s, no seja suficiente para explicar a desacelerao dos ltimos anos, sua importncia para o desenho do futuro justifica uma apreciao mais detida.

    BOX 1

    Este trabalho usa duas medidas alternativas para os insumos de mo de obra: o nmero de pessoas ocupadas e o de horas trabalhadas. Como a srie para estas ltimas bem mais curta, ela s foi usada em alguns exerccios. A escolha de usar uma ou outra assinalada no texto, sempre que houver necessidade; mas, em geral, as avaliaes de prazo mais longo usam a srie de pessoas ocupadas (PO) e as de mbito mais curto as de horas trabalhadas (HT).

    Com a reduo da jornada mdia por trabalhador que caracteriza o Brasil desde a Constituio de 1988, o cres-cimento do nmero de horas menor do que o de pessoas ocupadas na maior parte dos anos desde ento. Entre 2000 e 2013, por exemplo, a reduo mdia de cerca de 0,6% a.a., uma taxa relativamente elevada. Obviamente, diferenas entre as taxas de variao da PO e das HT implicam taxas de crescimento diferentes para a produtividade do trabalho e para a produtividade total dos fatores.

    Elaborao do autor.

    Uma forma de especular sobre as tendncias futuras de crescimento do PIB, levando em conta a produtividade do trabalho e o final do bnus demogrfico que o pas vem vivendo, parte de uma identidade em que o PIB (Y) descrito como o produto da populao (POP) e das relaes

    (Y/PO), a produtividade da mo de obra;

    (PO/PEA), a taxa de ocupao (complemento da taxa de desemprego);

    (PEA/PIA), a taxa de atividade (na definio do IBGE); e

    (PIA/POP), a taxa de participao,

    da seguinte forma:

    Y Y / PO( )* PO / PEA( )* PEA / PIA( )* PIA / POP( )*POPOs dois ltimos termos direita na identidade acima dependem unicamente

    de mudanas demogrficas, e as projees para eles so, sabidamente, muito ro-bustas. Portanto, a informao que transmitem pode ser resumida na evoluo da PIA. Com isso, a expresso fica simplificada:

    Y Y / PO( )* PO / PEA( )* PEA / PIA( )*PIA (1)

  • 115Produtividade e armadilha do lento crescimento

    J as taxas de ocupao (PO/PEA) e de atividade (PEA/PIA) refletem aspec-tos econmicos que dependem do comportamento do mercado de trabalho e de variveis socioculturais, e merecem um breve comentrio.

    No passado, tanto a populao total (POP) crescia aceleradamente, como as taxas de participao (PIA/POP) e de atividade (PEA/PIA) tambm aumen-tavam, sendo fenmenos tpicos do desenvolvimento econmico. Logo, mesmo que a produtividade da mo de obra (Y/PO) e a taxa de ocupao (PO/PEA) no aumentassem, o PIB cresceria pela incorporao de mais pessoas atividade econmica (vale dizer: fora de trabalho).5

    Mas, medida que o pas avanava econmica e socialmente, a importncia desse verdadeiro bnus demogrfico para o crescimento econmico que pode-ramos chamar de os frutos pendendo dos galhos mais baixos diminua. E, se projetarmos para o futuro, em algum momento a Populao em Idade Ativa, de onde se extrai a fora de trabalho (PEA), deixar de crescer. Esse ponto foi estima-do pelo IBGE como ocorrendo em 2048 ou 2049 (dependendo de se considerar a PIA como sendo composta pelas pessoas de 10 anos e mais de idade, ou de 15 anos e mais).

    Como a relao PEA/PIA no tem flutuado muito e a taxa de ocupao (PO/PEA) no pode crescer indefinidamente,6 o crescimento do PIB passar a depender principalmente dos ganhos de produtividade da mo de obra, e, crescentemente, com o passar do tempo e com a reduo da velocidade de cres-cimento da PIA e da PEA.

    Na tabela seguinte, feita a partir de uma decomposio logartmica da iden-tidade anterior, v-se, na primeira linha, que a taxa mdia de crescimento do PIB na dcada entre 2003 e 2013 (3,7% a.a.) igual soma do crescimento da produtividade do trabalho (2,4% anuais, no perodo), da variao do elemento composto que chamamos de variveis socioeconmicas (que foi ligeiramente negativa, 0,2% ao ano entre 2003 e 2013; a taxa de atividade caiu mais do que cresceu a taxa de ocupao, medida em horas trabalhadas em relao PEA)7 e do crescimento da Populao em Idade Ativa de 10 anos e mais de idade (1,5% a.a.).

    Para o futuro, com a populao crescendo na dcada entre 2013 e 2023 a 0,7% ao ano, em mdia, a Populao em Idade Ativa (PIA, constituda na tabela como a frao da populao total com 10 e mais anos de idade) crescer 1,1% a.a..

    5. Ver, para uma anlise de longo prazo, Bonelli e Fontes (2013).6. A taxa de atividade tem permanecido aproximadamente constante em diversos pases. Alm disso, recorde-se que a taxa de desemprego, que o complemento da taxa de emprego ou ocupao (PO/PEA), encontra-se em nveis historicamente muito baixos em 2013-14 no Brasil. Logo, dificilmente a razo PO/PEA aumentar significativamente, seja em mdio, seja em longo prazo. J a relao PEA/PIA pode se elevar futuramente, mas, provavelmente, no em magnitude aprecivel.7. Esse resultado surpreendente, dada a grande queda do desemprego no perodo. Ele se deve principalmente queda da jornada de trabalho.

  • 116 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    Essa uma taxa historicamente muito baixa, como se sabe. Ela indica que a fora de trabalho (PEA), que se extrai da PIA, possivelmente crescer a taxas prximas a essa, colocando, como dissemos acima, limites oferta de trabalho.

    As trs linhas inferiores da tabela mostram simulaes do que pode vir a ser o crescimento do PIB na dcada entre 2013 e 2023, condicionadas a alternativas para o crescimento da produtividade do trabalho. Observando-se da direita para a esquerda: dado o crescimento projetado da PIA, e supondo-se constante o produto representado na tabela pelas variveis socioeconmicas, o crescimento do PIB depen-der unicamente dos ganhos de produtividade do trabalho. Se essa produtividade crescer 1% a.a. na dcada, o PIB crescer 2,1% anuais. Se a produtividade crescer 2,0% a.a., o PIB crescer 3,1% anuais. E assim sucessivamente.

    TABELA 1Taxas mdias de crescimento: PIB, produtividade do trabalho1, variveis socioecon-micas e PIA 10+ (% a.a.)

    Perodos entre PIB Produtividade do

    trabalho

    Variveis socioeconmicas

    (taxa de ocupao2 x taxa de atividade)

    PIA 10+

    2003-13 3,7 2,4 0,2 1,5

    2013-23 (1) 2,1 1,0 0 1,1

    2013-23 (2) 3,1 2,0 0 1,1

    2013-23 (3) 4,1 3,0 0 1,1

    Elaborao do autor.Notas: 1 A produtividade o trabalho medida pelo nmero de horas trabalhadas, segundo a srie gentilmente cedida por

    Fernando de Holanda Barbosa Filho, do IBRE/FGV;2 A rigor, trata-se do produto da taxa de ocupao pela jornada mdia por trabalhador.

    Logo, dadas as mudanas demogrficas, crescer depender cada vez mais de aumentos da produtividade. Ou, se preferirmos, os ganhos de produtividade tornam--se um imperativo com o fim do bnus demogrfico se o objetivo acelerar o crescimento para alm daquele dado pelo ritmo de evoluo da fora de trabalho.

    Mas, qual tem sido o desempenho recente da produtividade? Responder essa pergunta o objetivo da prxima seo.

    3 A DESACELERAO DO CRESCIMENTO E AS EVIDNCIAS PARA A PTF E PARA A PRODUTIVIDADE DO TRABALHO

    De uma perspectiva de longo prazo, e consideradas fases tpicas de crescimento ou de regimes caractersticos de politica econmica, o colapso da produtividade do trabalho e da produtividade total dos fatores (PTF) no Brasil dos ltimos dez anos primeira vista no muito pronunciado. A tabela seguinte demons-tra isso ao apresentar uma decomposio do tipo da de Solow, que separa o

  • 117Produtividade e armadilha do lento crescimento

    crescimento da produtividade do trabalho em duas parcelas: o aprofundamento do capital dado pelo produto da participao do capital na renda (alfa) pelo crescimento do capital utilizado por trabalhador e o crescimento da PTF.8

    Vrios aspectos importantes se destacam dos resultados dessa tabela. Um deles a elevadssima taxa de aprofundamento do capital at 1980, ao lado de ganhos muito fortes da PTF em dois subperodos dessa fase: 1948-62 (2,4% a.a.) e, especialmente, 1968-73 (3,6% a.a.).

    Outro o fato de que na longa dcada perdida de 1981-92 tanto o trabalho, quanto o capital continuaram a ser incorporados produo, mas ineficientemente, j que a produtividade do trabalho e a PTF caram no perodo.

    Um terceiro a constatao de que quando o crescimento do PIB diminui de intensidade algo que aparece simultaneamente com menor crescimento da produtividade do trabalho a PTF tambm cresce mais lentamente. Mais sobre isso, veremos adiante.

    TABELA 2Crescimento do PIB e decomposio do crescimento da produtividade do trabalho, perodos selecionados, 1948-2013 (% a.a.)

    Perodos Y (PIB) y = (Y/L)

    Produtividade do trabalho alfa1k k = (K/L) (alfa = 0,4)Aprofundamento do capital

    PTF

    1948-62 7,6 4,7 2,2 2,4

    1963-67 3,5 2,4 1,6 0,8

    1968-73 11,2 5,7 2,1 3,6

    1975-80 6,9 3,6 2,3 1,3

    1981-92 1,4 0,6 0,3 0,9

    1993-02 2,9 1,0 0,4 0,6

    2003-13 3,5 2,1 0,8 1,3

    (2003-13) (1975-80) 3,4 1,5 1,5 0,0

    Elaborao do autor.Nota: 1 O valor adotado para alfa (0,4) pouco inferior ao que se obtm das Contas Nacionais do Brasil de 2000-09, mas

    est em linha com coeficientes adotados internacionalmente em exerccios de decomposio desse tipo. A medida de trabalho aqui o nmero de pessoas ocupadas (PO).

    Essa breve caracterizao do crescimento da produtividade do trabalho no longo prazo deixa claro que houve uma recuperao na mdia dos anos 2003-13, depois da (longa) dcada perdida de 1981-92 e da retomada de 1993-2002. Mas, o desempenho na ltima dcada a rigor, onze anos, na periodizao da tabela no chega prximo ao das fases anteriores pr-1980: o PIB, alis, cresceu apenas 3,5% ao ano.

    8. Cuja taxa aqui denominada PTF; doravante, todas as taxas de crescimento tm essa notao ().

  • 118 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    J o desempenho da PTF aparentemente no to ruim, como sugerido pela taxa de 1,3% a.a. de 2003 a 2013 que, de fato, s inferior da longa fase de crescimento do ps-guerra a 1962, e do perodo do milagre econmico.

    Nessa perspectiva, por exemplo, toda a reduo observada na produtividade do trabalho entre o perodo 1975-80 e a dcada mais recente (de 3,6% para 2,1%), diferena mostrada na ltima linha da tabela (escurecida), deve-se reduo do crescimento do capital por trabalhador: ele aumentou a 5,8% a.a. entre 1975 e 1980 e mais recentemente vem aumentando apenas 2,0% a.a.9

    Em outras palavras, o lento crescimento do capital por trabalhador que explica a reduo dos ganhos de produtividade da mo de obra no perodo 2003-2013 em relao ao quinqunio 1976-80, pois o crescimento da PTF exatamente o mesmo.

    Observe-se que o aprofundamento do capital explica em 2003-13 a mesma frao do crescimento da produtividade do trabalho que na dcada anterior, em 1993-2002, de crescimento mais lento: cerca de 40%. Os 60% restantes so de-vidos PTF.

    Essa concluso, no entanto, aplica-se ao perodo como um todo. Como regis-trado no grfico seguinte, o movimento recente da PTF bem mais preocupante. Com esse grfico, construdo com mdias mveis trienais de crescimento do PIB e da PTF de 1990 a 2013, fica claro que:

    A mdia trienal de crescimento da PTF vai de cerca de 2,5% a.a. no trinio 2006-8 para pouco menos de 2% no trinio 2008-10 e para quase zero no trinio 2011-2013, configurando uma ntida tendncia decrescente para o crescimento da PTF depois da crise global e, mais especificamente, desde 2010;

    O desenho do grfico altamente sugestivo no sentido de que quanto mais cresce o PIB, mais cresce a PTF (isto , a PTF pr-cclica); e

    Alm disso, com o PIB crescendo abaixo de certa taxa (2%?), a taxa PTF negativa (a nica exceo no grfico ocorre em 1998, quando a mdia trienal do PIB foi 1,9% a.a. e a de PTF foi de 0,8%).

    Logo, existe um ntido colapso da produtividade total dos fatores nos lti-mos anos.

    9. Taxas obtidas dividindo-se as da tabela por alfa = 0,4.

  • 119Produtividade e armadilha do lento crescimento

    GRFICO 2Mdias mveis trienais de crescimento do PIB (Y) e da produtividade total dos fatores ( PTF), 1990-2013 (% a.a.)

    -2

    -1

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    1990

    1991

    1992

    1993

    1994 1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004 2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010 2011

    2012

    2013

    Mdia mvel PTF' Mdia mvel Y'

    Elaborao do autor.

    BOX 2

    Por razes que no cabe discutir aqui, a decomposio adotada neste texto no inclui o capital humano entre as fontes de crescimento do PIB. Essa escolha, no entanto, tem consequncias que devem ser explicitadas.

    Seja p* a taxa de crescimento da PTF verdadeira i.e., computada usando-se tambm o capital humano por traba-lhador k h , alm do capital fsico, e p a taxa computada sem incluir a variao do capital humano, como neste texto. trivial observar que p* = p (1 ). k h Ou seja, a taxa verdadeira p* igual taxa viesada p menos uma frao do aumento do capital humano por trabalhador. Logo, se este cresce (como seria de se esperar pelas melhorias na educao, treinamento, idade e experincia no local e trabalho, etc.), o crescimento da PTF verdadeira menor do que o computado neste estudo. Assim, o crescimento da produtividade total possivelmente ainda menor do que como aqui calculado.

    Elaborao do autor.

    A piora no desempenho da produtividade depois de 2010 tambm pode ser analisada, no que toca produtividade do trabalho, usando-se o mtodo de decomposio do PIB apresentado na expresso (1) da seo anterior.

    A tabela seguinte mostra como a reduo na taxa mdia de crescimento do PIB explicada pelas variaes nas relaes acima apresentadas. Nela v-se que a queda de 2,1% a.a. no PIB entre os trinios assinalados explicada pela: queda de 0,6% na produtividade do trabalho; queda nas variveis socioeconmicas (devido especialmente reduo da jornada de trabalho); e pequena reduo na taxa de crescimento da PIA ( 0,1%).

  • 120 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    Como explicar essa queda da produtividade, tanto total dos fatores, quanto do trabalho, e quais as possveis implicaes para o crescimento?

    TABELA 3Decomposio do crescimento do PIB, mdias trienais (% a.a.)

    Trinios PIB ProdutividadeVariveis socioeconmicas

    (taxa de ocupao1 x taxa de atividade)PIA

    2008-10 4,1 2,5 0,2 1,4

    2011-13 2,0 1,9 1,2 1,3

    Diferena entre trinios 2,1 0,6 1,4 0,1

    Elaborao do autor.Nota: 1 A rigor, trata-se do produto da taxa de ocupao pela jornada mdia por trabalhador.

    4 UM ESBOO DE EXPLICAO

    Como vimos, do ponto de vista da oferta agregada est claro que a reduo na produtividade do trabalho associa-se principalmente ao crescimento mais lento do capital por trabalhador. Mas, recordemos que a taxa de crescimento do PIB tambm caiu muito entre os trinios 2008-10 e 2011-13. Em particular, caiu metade, e isso possivelmente afetou a produtividade.

    Pelo lado da demanda, uma possibilidade a de que o ritmo mais lento no Brasil reflita mudanas no ritmo de crescimento da economia mundial. Evidente-mente, de modo geral, quanto mais interconectada for uma determinada economia em relao economia global maior ser o efeito de aceleraes ou desaceleraes nesta sobre o pas.

    Mesmo sendo o Brasil uma economia relativamente fechada logo, pouco ligada economia internacional, fato fartamente conhecido , o pas foi, ainda assim, beneficiado pelo acelerado crescimento da China e outros pases asiticos e pelos melhores termos de troca a ele associado a partir de 2003 at 2010-11. E o mesmo fenmeno aconteceu com diversos pases da Amrica Latina.

    O interessante a se registrar que esse efeito de demanda, que beneficiou diversos pases do continente latino-americano, afetou desproporcionalmente o Brasil na fase de desacelerao ps-2010. A tabela seguinte ilustra diferenas entre o desempenho do Brasil e do restante da Amrica do Sul em uma comparao de perodos (P).10

    10. Essa decomposio nos foi sugerida em seminrio no IBRE por Armando Castelar Pinheiro e Samuel Pessa.

  • 121Produtividade e armadilha do lento crescimento

    TABELA 4Taxas de crescimento do PIB, Amrica do Sul e Brasil, por perodos selecionados (% a.a.)

    P1 P2 P3 Diferenas

    Taxas mdias de crescimento entre 1999-2003 2003-10 2010-14 P2 P1 P3 P2

    Amrica do Sul 1,5 4,4 3,2 2,9 1,2

    Amrica Sul (exclusive Brasil) 1,0 4,3 3,8 3,3 0,5

    Brasil 2,3 4,4 1,8 2,1 2,6

    Fonte: FMI, World Economic Outlook, reviso de abril de 2014, anexo estatstico, elaborao do autor.

    De fato, quando houve a acelerao do crescimento de antes para depois de 2003, a taxa do Brasil se elevou de 2,3% a.a. para 4,4% a.a. um ganho de 2,1 pontos enquanto o restante da Amrica do Sul passava de 1,0% para 4,3% a.a., com ganho de 3,3 p.p. J na fase de desacelerao, quando a Amrica do Sul perdeu 0,5 pontos , o Brasil perdeu 2,6 p.p., tendo passado de 4,4% a.a. para 1,8%. Logo, o Brasil ganhou menos na acelerao e perdeu muito mais na fase de desacelerao.

    Portanto, algo alm da desacelerao mundial deve ter ocorrido na passagem entre os perodos pr e ps 2010 para derrubar o crescimento brasileiro na magni-tude observada: de 4,4% a.a. entre 2003 e 2010 para 1,8% a.a. entre 2010 e 2014.

    Um relatrio da OECD (2014) resume possveis razes para essa piora de desempenho nos seguintes termos: A falta de um ambiente de negcios apro-priado e o alto custo do endividamento interno traduziram-se em investimento privado relativamente baixo. Impostos relativamente elevados (o Brasil tem uma carga tributria maior do que a de outros pases no membros da OCDE e nvel semelhante quando comparado com a mdia da OCDE), maiores receitas fiscais em percentagem do PIB, burocracia, gargalos de infraestrutura, bem como a ter-ceira maior tarifa de energia eltrica mdia do mundo, tudo isso fazendo parte do custo Brasil, so tambm barreiras modernizao e ao investimento em novos setores e atividades.

    Essas so explicaes gerais, e a nossos ver corretas, mas cujo impacto de difcil quantificao. possvel avanar um pouco mais com o apoio emprico se avaliarmos o papel da produtividade nessa reduo mais do que proporcional do crescimento brasileiro, pois, como vimos, a desacelerao da PTF foi especialmente acentuada depois de 2010.

    Para comear, oportuno lembrar que, assim como a produtividade do tra-balho e a PTF, a produtividade do capital, aparentemente, tambm acompanha o crescimento do PIB (ver adiante para um apelo mais formal intuio).

  • 122 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    A rigor, o crescimento da PTF e das produtividades do capital e do trabalho esto relacionados pela equao seguinte, derivada diretamente da definio do crescimento da PTF como resduo:

    PTF = (Y [u.K]) + [1 ]. (Y L) (2)

    na qual j foi definido, (Y [u.K]) uma aproximao para o crescimento da produtividade do capital e (Y L) para o crescimento da produtividade do trabalho.

    A tabela a seguir mostra os resultados de uma decomposio do crescimento da PTF entre as produtividades do capital e do trabalho para as mdias dos trinios 2008-10 e 2011-13 de acordo com (2).

    TABELA 5Crescimento da PTF e das produtividades do capital e do trabalho, ponderadas por e (1 ), e diferenas entre perodos selecionados (% a.a.)

    Perodos PTF *(Y uK) (1- )*(Y L)

    (1) 2008-10 0,017 0,002 0,015

    (2) 2011-13 0,003 -0,008 0,011

    Diferena (2) (1) -0,014 -0,010 -0,004

    Elaborao do autor.

    Os resultados deixam claro que as produtividades de cada fator e a PTF cresceram bem menos depois de 2010 do que antes, como vimos. Mas, a con-tribuio da queda na produtividade do capital foi preponderante para a da PTF.11 Alis, o crescimento da PTF entre 2010 e 2013 foi totalmente devido ao aumento da produtividade do trabalho (em mdia, de 1,8% a.a.), pois a do capital diminuiu no trinio, como aparece na tabela.

    Dessa forma, podemos avaliar, portanto, que a PTF cresceu pouqussimo no trinio 2011-13 principalmente porque a produtividade do capital, doravante denominada v,12 diminuiu. Quando as variveis relevantes so medidas em preos de 2000, v diminui de 0,479 em 2010 para 0,453 em 2013, uma queda de 5,4% em apenas trs anos, ou seja, bastante rpida. Isso levanta, naturalmente, a questo das causas dessa reduo.

    Uma possibilidade, pioneiramente explorada neste trabalho, a de que as mudanas na composio setorial do PIB possam ter provocado a queda ou, ao menos, contribudo para ela. Como se sabe, uma mudana visvel na composio

    11. O capital j est corrigido pelo grau de utilizao (u), como transparente da expresso no texto.12. Para manter a denominao usada em Bacha e Bonelli (2005) e Bonelli e Bacha (2013) ver apreciao sobre o desempenho recente de v mais adiante.

  • 123Produtividade e armadilha do lento crescimento

    setorial do PIB brasileiro no perodo entre 2010 e 2013 foi o aumento da parti-cipao dos servios.13

    Duas possibilidades se colocam nesse ponto: a produtividade do capital nos servios maior do que nos demais setores,14 o que sugerido pela intuio; ou, o oposto ocorre, e ela menor. Em ambos os casos, a produtividade agregada cair se a produtividade dos servios cair mais do que a nos demais setores (lembrando-se que a produtividade do total da economia, v, caiu).

    Mas, registre-se que, pelo efeito composio, um aumento da importncia do setor de servios deveria, todo o mais constante, elevar a produtividade mdia do capital. possvel, como especulamos, que uma queda mais rpida da produti-vidade nesse setor reverta esse efeito. Mas, neste caso, o responsvel pela queda da produtividade mdia do capital no seria o aumento da participao dos servios, e sim uma reduo da produtividade setorial.15

    Se tivssemos medidas independentes das produtividades (vi ) dos setores, seria possvel testar diretamente a validade dessa hiptese. No tendo, possvel apenas sugerir algo sobre a queda de v a partir de elucubraes como as que apre-sentaremos a seguir.

    Considere-se a seguinte decomposio de K/Y (inverso de v, com K j cor-rigido pela utilizao),16 supondo-se a economia dividida em dois setores, 1 e 2:

    KY

    = K1Y

    +K 2Y

    = Y1 K1Y1 Y

    +Y2 K 2Y2 Y

    = Y1 K1Y Y1

    +Y2 K 2Y Y2

    = 1x

    K1Y1

    + 2x K 2Y2 = 1 k1 + 2x

    k2Os so os pesos dos setores no PIB a preos constantes. A identidade,

    que traduzida em palavras diz apenas que a relao entre capital e produto total uma mdia ponderada das relaes setoriais, vale para cada ponto no tempo, isoladamente.

    Se k1 e k2 (as relaes capital em uso produto setoriais, inverso de v1 e v2 ) fossem constantes, seria possvel calcul-los usando os valores de K/Y em dois

    13. A rigor, o aumento da participao dos servios comeou bem antes: partindo de 66,9% do VA total da economia em 1996, essa participao aumentou 3 p.p. e chegou a 69,9% em 2009 para depois cair para 69,0% em 2010. Em 2013 chegou a 69,7%. Percentagens medidas a partir dos valores a preos constantes, segundo/seguindo as Contas Nacionais Trimestrais (IBGE).14. Como o setor de servios provavelmente menos capital-intensivo (menor K/Y) que os demais, sua produtividade do capital , possivelmente, maior.15. Devo essa observao a Fernando Veloso.16. Fazer a decomposio de v diretamente no possvel, porque no existem dados sobre a composio do capital por setores econmicos.

  • 124 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    anos quaisquer, pois os so conhecidos, assim como K/Y total agregado. Mas, eles no so necessariamente constantes assim como o total no o . Logo, possvel apenas calcular um deles em funo do outro.

    Por exemplo, k2 (dos servios, suponhamos) em funo de k1 (setor composto de agropecuria + indstria, suponhamos). Com os valores observados em 2010 (ano de pico de v = 0,479 na srie histrica recente; corresponde a uma relao K/Y agregada de 2,088)

    k2 = 3,025 0,449 xk1Em 2013 a relao

    k2 = 3,157 0,429 xk1 (v = 0,453 em 2013; corresponde a uma relao K/Y de 2,208)

    As expresses das duas retas para 2010 e 2013 esto plotadas no grfico 3, onde k2 escrito como funo de k1.

    Ser possvel concluir que a produtividade do capital nos servios (v2) no s mais alta, mas, alm disso, diminuiu em relao dos demais setores em 2013, em comparao com 2010, como requerido para confirmar a explicao sugerida acima para a queda da produtividade do capital agregada (aumento da relao K/Y)? S sob determinadas condies quanto aos valores e s variaes de v1 e v2entre 2010 e 2013.

    GRFICO 3Relao entre k2 e k1 , 2010 e 2013

    2

    2,05

    2,1

    2,15

    2,2

    2,25

    2,3

    2 2,05 2,1 2,15 2,2 2,25 2,3

    k2

    k1 Linha de 45 2010 2013

    2,088

    2,208

    Elaborao do autor.

  • 125Produtividade e armadilha do lento crescimento

    Em particular, a partir das relaes K1Y1 e

    K 2Y2 plotadas no grfico pode-se

    inferir que o resultado requerido para confirmar a hiptese que k1 seja maior do que a mdia em 2010 (> 2,088) logo, k2 menor do que a mdia e aumente mais do que a mdia entre 2010 e 2013. Ou, em outras palavras, que esteja di-reita da interseo da linha de 45 com ambas as retas (referentes a 2010 e 2013) acima. Tambm podemos inferir, simetricamente, que a produtividade do capital no setor composto por indstria + agropecuria (v1) seja menor que a mdia em ambas as datas e tenha diminudo menos que a mdia entre 2010 e 2013 isto , que v2 tenha diminudo mais do que a mdia. Infelizmente, no possvel avanar alm deste ponto.

    5 OUTRAS VARIVEIS RELEVANTES PARA A ANLISE

    Assim como a produtividade do trabalho, a produtividade do capital (v) tambm parece acompanhar o crescimento do PIB (Y), no sentido de que em perodos de rpido aumento do nvel de atividade agregado a produtividade tambm aumenta; e em perodos de crescimento mais lento, ela tende a aumentar menos ou a diminuir.

    Isso transparece no grfico 4, construdo para o perodo 1990-2013: na fase de forte crescimento do PIB 2003-2010 a produtividade do capital aumen-tou de 0,440 para 0,479. Depois desse ano ela cai para 0,453 em 2013, como acima mencionado.

    Para a construo desse grfico, a produtividade do capital foi calculada como o quociente entre o valor do PIB e o do estoque de capital (u.K), j corrigido para levar em conta as variaes no grau de utilizao (u). Esta ltima varivel mostrada no grfico 5 e ser utilizada em exerccios mais adiante.17

    17. O grau de utilizao u calculado pela mdia da utilizao de capacidade de trs setores: agropecuria, setor empresarial no agropecurio e outros (APU, outros servios, aluguel), com pesos que variam no tempo de acordo com o valor adicionado gerado por cada setor. Em 2013, por exemplo, esses pesos foram: 6% para a agropecuria, 61% para o setor empresarial no agrcola e 33% para os demais setores. A utilizao de capacidade na agropecuria definida pela diferena entre a produo efetiva e a tendncia entre picos de produo em longo prazo. A do setor empresarial no agropecurio segue o NUCI calculado pelo IBRE/FGV (normalizado para = 1,0 em 1973) e para os outros se adotou a hiptese de que operam em plena capacidade (= 1,0).

  • 126 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    GRFICO 4Desempenho da produtividade do capital v (relao produto / capital-em-uso),1 1990-2013

    0,479

    0,453

    0,41

    0,42

    0,43

    0,44

    0,45

    0,46

    0,47

    0,48

    0,49

    1990

    1991

    1992

    1993

    1994

    1995

    1996

    1997

    1998

    1999

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    2012

    2013

    v (relao produto-capital em uso)

    Elaborao do autor, a partir de concepo desenvolvida em Bacha e Bonelli (2005).Nota: 1 Baseada em valores a preos de 2000.

    O grfico 5 mostra que o nvel mximo de utilizao ocorreu no ano de 1961 (0,994) e o mnimo em 1992 (0,862). Em geral, a utilizao foi, em mdia, mais elevada at 1980 do que depois desse ano. Mas, mesmo depois dessa data, possvel distinguir fases com diferentes graus de utilizao mdia.

    De 1981 a 1992, por exemplo, a medida de utilizao foi, em mdia, de 0,898, com muita varincia. J de 1993 em diante, at 2013, ela chegou a 0,944. Registre-se, finalmente, que, apesar da desacelerao do crescimento depois de 2010, o grau de utilizao permaneceu relativamente alto. Ele da ordem de quase 96%, em mdia, durante 2010-13, um nvel bastante elevado.

  • 127Produtividade e armadilha do lento crescimento

    GRFICO 5Utilizao de capacidade na Economia Brasileira (u), 1947-2013(Em %)

    86

    87

    88

    89

    90

    91

    92

    93

    94

    95

    96

    97

    98

    99

    100

    1947

    19

    49

    1951

    19

    53

    1955

    19

    57

    1959

    19

    61

    1963

    19

    65

    1967

    19

    69

    1971

    19

    73

    1975

    19

    77

    1979

    19

    81

    1983

    19

    85

    1987

    19

    89

    1991

    19

    93

    1995

    19

    97

    1999

    20

    01

    2003

    20

    05

    2007

    20

    09

    2011

    20

    13

    96,2

    92,6

    94,4

    89,8

    Mdia 2010-13 = 95,9

    Elaborao do autor segundo metodologia sintetizada na nota de rodap 19. Ver, para a aplicao original, Bacha e Bonelli (2005).

    interessante notar, tambm, que a taxa de investimento a preos constantes, ou taxa de formao bruta de capital fixo (FBCF), outra varivel necessria para os exerccios a serem feitos na seo seguinte, no diminuiu entre 2010 e 2013, apesar da desacelerao do crescimento. Isso evidenciado no grfico seguinte, no qual se mostra que ela permaneceu aproximadamente constante (19,4% em 2010 e 19,6% do PIB em 2013, por exemplo) depois de avanar fortemente durante a fase de bonana externa de 2003-2010. De fato, entre esses anos a taxa de FBCF aumentou quase cinco pontos de percentagem do PIB: de 14,5% para 19,4%.

  • 128 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    GRFICO 6Taxa de FBCF a preos constantes de 2000 (% do PIB)(Em %)

    10,0

    12,5

    15,0

    17,5

    20,0

    22,5

    25,0

    27,5

    30,0

    1947

    19

    49

    1951

    19

    53

    1955

    19

    57

    1959

    19

    61

    1963

    19

    65

    1967

    19

    69

    1971

    19

    73

    1975

    19

    77

    1979

    19

    81

    1983

    19

    85

    1987

    19

    89

    1991

    19

    93

    1995

    19

    97

    1999

    20

    01

    2003

    20

    05

    2007

    20

    09

    2011

    20

    13

    Taxa de investimento a preos constantes de 2000

    Elaborao do autor.Fonte: Contas Nacionais.

    De passagem, registre-se que a taxa de FBCF caiu de 28,9% do PIB em 1975 para cerca da metade desse valor em 2003 (14,5%). No de se estranhar, portanto, que o crescimento tenha desabado desde a dcada de 1970, como evi-denciado no grfico 1.18

    6 PRODUTIVIDADE PR-CCLICA?

    Os ganhos de produtividade esto associados expanso do investimento em ca-pital fixo isto , tecnologia incorporada em mquinas e equipamentos e aos investimentos em capital humano e em inovao. A teoria e a experincia brasileira e internacional ensinam que o crescimento lento dificulta a realizao de economias de escala, no estimula as mudanas tecnolgicas e de aprendizado, nem a adoo de inovaes logo, limita a expanso da produtividade.

    18. A queda da taxa de FBCF um dos ingredientes mas no o nico da interpretao de Bacha e Bonelli (2005) para o colapso do crescimento do PIB depois de 1980.

  • 129Produtividade e armadilha do lento crescimento

    Obviamente, essa associao pode ser espria: a expresso que define a variao da PTF mostra que ela uma contribuio residual ao crescimento, depois que os insumos de mo de obra e capital so levados em considerao.19

    Mas, a intuio sugere que esse resduo se deve a uma combinao de vrios fatores, muitos dos quais associados ao ritmo de crescimento do nvel de ativida-de. Os mais importantes entre eles so os retornos crescentes de escala; a melhora da eficincia na utilizao dos insumos; a realocao de fatores pelo aprendizado e experincia no local de trabalho; as mudanas organizacionais no interior das unidades produtivas; e a melhoria na qualidade dos insumos (no captadas ou no adequadamente computadas nas variaes de quantidades de insumos utilizados, como melhorias no capital humano).

    Finalmente, mas no menos importante, existem erros de medida que tendem a subestimar as medidas usuais de crescimento do capital e do emprego. Entre estes ltimos destaca-se o fato de as medidas de capital e trabalho no incorpora-rem mudanas como o aumento no ritmo de produo nem a medida usual de estoque de capital utilizado, nem a de trabalho refletem adequadamente mudanas deste tipo. Algumas mudanas estruturais que acompanham o crescimento mais acelerado como, por exemplo, a concentrao da produo em empresas maiores e de produtividade mais elevada e alteraes nos layouts das unidades produtivas para elevar a produtividade, da mesma forma, no so corretamente precificadas.

    19. Em texto anterior (Bonelli, 2013, p. 69-70, rodap) notamos que (...) da definio de PTF contribuio ao crescimento depois de deduzida (do crescimento do PIB) a contribuio do uso de insumos esperar-se-ia, ceteris paribus, uma associao negativa entre o crescimento da produtividade e o do uso dos insumos de capital e trabalho: dado o crescimento, quanto maior o uso combinado dos insumos, menor a produtividade. Na realidade a correlao para os dados brasileiros para os anos de 1948 a 2012 positiva (R = 0,423). Se anos de recesso so retirados o coeficiente sobe para 0,755..

  • 130 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    BOX 3

    Uma ilustrao do aspecto pr-cclico da produtividade apresentada a seguir em grfico construdo com dados da indstria. As curvas mostram o crescimento da produo fsica e da produtividade da mo de obra na Indstria Geral (IG) em termos das mdias mveis de 12 meses (taxas anuais, portanto) do ano findo em dezembro de 2002 ao ano terminado em dezembro de 2013. O desenho refora a noo de que o crescimento da produtividade acompanha o da produo.

    (Em %)

    -12

    -10

    -8

    -6

    -4

    -2

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    20

    02.1

    2 20

    03.0

    3 20

    03.0

    6 20

    03.0

    9 20

    03.1

    2 20

    04.0

    3 20

    04.0

    6 20

    04.0

    9 20

    04.1

    2 20

    05.0

    3 20

    05.0

    6 20

    05.0

    9 20

    05.1

    2 20

    06.0

    3 20

    06.0

    6 20

    06.0

    9 20

    06.1

    2 20

    07.0

    3 20

    07.0

    6 20

    07.0

    9 20

    07.1

    2 20

    08.0

    3 20

    08.0

    6 20

    08.0

    9 20

    08.1

    2 20

    09.0

    3 20

    09.0

    6 20

    09.0

    9 20

    09.1

    2 20

    10.0

    3 20

    10.0

    6 20

    10.0

    9 20

    10.1

    2 20

    11.0

    3 20

    11.0

    6 20

    11.0

    9 20

    11.1

    2 20

    12.0

    3 20

    12.0

    6 20

    12.0

    9 20

    12.1

    2 20

    13.0

    3 20

    13.0

    6 20

    13.0

    9 20

    13.1

    2

    Produo IG Produtividade IG

    Elaborao do autor.Fonte: IBGE, PIM-PF.

    Dito isso, propomos construir dois algoritmos para especular sobre o cresci-mento futuro, ambos condicionais ao comportamento de determinadas variveis--chave, adotando-se uma contabilidade a preos constantes (no caso, a preos de 2000).

    Partindo-se de

    Y = (uK) + (1 )L + PTF

    e levando-se em conta que

    K = (I/K)

    uma simples manipulao algbrica permite chegar a

    Y = PTF + u2v(I/Y) + T

    onde

    T = (1- )L u

    sendo u a utilizao de capacidade e a depreciao do capital.

  • 131Produtividade e armadilha do lento crescimento

    Do anterior v-se que Y uma combinao linear da taxa de crescimento da produtividade (PTF), da taxa de Formao Bruta de Capital Fixo (I/Y) multipli-cada por u2v (que tem a dimenso de um coeficiente angular), e de um termo T, que a diferena entre a contribuio positiva do trabalho (L) e a contribuio negativa da depreciao para o crescimento do PIB.

    T uma taxa negativa, dados os valores esperados (e recentemente observados) para as variveis , L, u e .

    Para especular sobre o futuro foram adotadas as seguintes hipteses:

    = 0,4 (participao do capital na renda)

    u = 0,96 (taxa de utilizao mdia do quadrinio 2010-13)

    = 0,048 (taxa implcita de depreciao do capital nos anos recentes)

    L = 1% a.a. (crescimento da ocupao aproximadamente igual ao da PIA)

    Com esses valores, T = 0,0124; ou seja, o termo T subtrai 1,2% a.a. do crescimento do PIB, dadas as demais variveis e parmetros.

    E, o que falar de u2v? Para calcular esse coeficiente angular preciso arbi-trar v (relao produto-capital em uso, ou produtividade do capital), alm de e u . Vimos acima que v cresceu entre 2003 e 2010, mas caiu depois, at chegar a 0,453 em 2013. Contando com uma modesta recuperao no futuro, arbitrou-se um valor de 0,46 para v nas simulaes.

    A partir desse ponto, possvel adotar duas possibilidades para o crescimento da produtividade total dos fatores. A primeira que ela determinada exogena-mente, e a segunda que PTF depende do prprio crescimento do PIB. Indepen-dentemente da hiptese adotada, em ambos os casos ficar ilustrada a armadilha do lento crescimento nos grficos e anlises a seguir.

    Seguindo-se a hiptese de PTF exogenamente determinada, adotou-se para essa taxa a mdia do trinio 2011-13: 0,3% a.a. Com este valor e os parmetros acima definidos obtm-se o leque de possibilidades de crescimento do grfico se-guinte, o qual evidencia que as taxas de crescimento do PIB (Y) e da PTF (PTF) so lidas no eixo vertical esquerda para as diferentes taxas de FBCF medidas a preos de 2000, apresentadas no eixo horizontal. O eixo vertical da direita mostra a percentagem do crescimento do PIB explicada pela PTF.

  • 132 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    GRFICO 7Crescimento projetado do PIB para diferentes taxas de investimento, dada PTF = 0,3 (% a.a.)

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    0,0

    0,5

    1,0

    1,5

    2,0

    2,5

    3,0

    3,5

    4,0 15

    16

    17

    18

    19

    20

    21

    22

    23

    24

    25

    Taxa

    s de crescimen

    to do PIB e da PT

    F

    Taxa de investimento I/Y (pr. de 2000)

    PTF'(=0,003) Y' PTF'/Y' (eixo da direita)

    Elaborao do autor.

    imediato concluir que a linearidade da relao entre o crescimento do PIB e a taxa de formao bruta de capital fixo implica que aumentos de PTF (exge-nos) transmitem-se na mesma magnitude ao crescimento do PIB para cada taxa de investimento considerada.

    A reta inclinada indica que para cada ponto adicional de aumento na taxa de investimento o PIB cresce 0,2 pontos de percentagem adicionais. Com uma taxa de FBCF de 18%, o crescimento do PIB de 2,2% a.a. Se a taxa de FBCF aumentar para 20%, o crescimento do PIB se eleva para 2,5% a.a. Em particular, para a taxa mdia registrada no trinio 2011-13, de 19,4%, o PIB cresce a 2,3%.

    Como esperado, a parcela do crescimento devida produtividade diminui quanto mais alto for Y (e Y/I), o que no s contra intuitivo, como tambm contraria a experincia histrica sumariada na tabela 2: para taxas de investimento de 15% a PTF explica 18% de Y; para taxas de 25% a PTF explica apenas 9%.

    Obviamente, aumentos em qualquer dos parmetros v, u e implicam aumento na inclinao da reta, fazendo com que para uma mesma taxa de FBCF o crescimento do PIB seja maior. Da mesma forma, redues em T jogam a reta paralelamente para cima na mesma magnitude. Assim, se o crescimento do emprego (L) aumentar, tudo o mais constante, a reta se desloca para cima, e se L diminuir,

  • 133Produtividade e armadilha do lento crescimento

    a reta ir para baixo. Isso tudo que se pode dizer no marco do algoritmo com PTF exgena.

    Um caso talvez mais interessante surge quando o modelo permite que PTF varie com Y, isto , que a produtividade seja endgena. Como repetidas vezes sugerido neste texto, a evidncia grfica que a produtividade tende a acelerar com o crescimento do PIB conforme demonstrado, por exemplo, no grfico 2 para a PTF.

    Se assim for, possvel endogeneizar a produtividade. Dessa forma, dada a taxa de FBCF, ficam determinados tanto o crescimento do PIB (Y), quando o da produtividade (PTF).

    O grfico seguinte ilustra esse caso. Como antes, as taxas de FBCF esto no eixo horizontal O eixo esquerda mostra Y e PTF, e o da direita mostra a parcela do crescimento anual do PIB devido produtividade para cada taxa de FBCF que se considere.

    GRFICO 8Crescimento projetado do PIB e da PTF para diferentes taxas de investimento (% a.a.)

    -100

    -80

    -60

    -40

    -20

    0

    20

    40

    -1,0

    0,0

    1,0

    2,0

    3,0

    4,0

    5,0

    6,0

    15

    16

    17

    18

    19

    20

    21

    22

    23

    24

    25

    Taxa

    s de crescimen

    to do PIB e da PT

    F

    Taxas de investimento I/Y (em preos de 2000)

    PTF' Y' PTF'/Y' (eixo da direita)

    Elaborao do autor.

    Nesse segundo modelo, cada ponto percentual de aumento da taxa de FBCF acarreta elevao de 0,4 0,5% no crescimento do PIB. Alm disso, para taxas de investimento inferiores a 18% do PIB, a PTF negativa. Isso corresponde a taxas para Y de pouco menos de 1,9% a.a. ordem de grandeza, alis, sugerida pelo exame do grfico 2.

  • 134 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    Dada a taxa de investimento observada em 2011-13, de 19,4% do PIB, PTF igual a 0,35% e Y igual a 2,4% a.a. Note-se que a parcela do crescimento do PIB devido produtividade aumenta com o crescimento e com a taxa de inves-timento, como sugerido pela experincia histrica. Para taxas de investimento de 25%, por exemplo, PTF igual a 1,5% a.a. e Y de 4,8% a.a. Logo, a parcela explicada pela produtividade de 32%.

    Os parmetros adotados na construo de ambos os grficos anteriores, obtidos da experincia recente, ilustram a armadilha de lento crescimento em que se encontra o pas. Sair dela passa por elevar a taxa de investimento de forma a aumentar o capital por trabalhador e por aumentar a produtividade do capital e do trabalho logo, da PTF.

    Restaria examinar se as mudanas na composio setorial do PIB podem ajudar no processo. Alm disso, como intumos antes, a elevao na participao dos servios no PIB pode ter contribudo para a reduo observada na produti-vidade do capital. Assim, nos parece oportuno questionar: em que medida ter contribudo, tambm, para a desacelerao pela tica da demanda?

    7 DECOMPOSIO SETORIAL DO CRESCIMENTO20

    Ter a mudana na estrutura setorial da produo contribudo para o crescimento da produtividade? A experincia histrica brasileira ensina que sim, mas com con-tribuies cuja importncia varia no tempo. Assim, por exemplo, a contribuio da mudana estrutural foi forte nas dcadas de 1940 e 1950, aumentou ainda mais nas de 1960 e 1970 e diminuiu nas duas seguintes, considerados os anos extremos.21 Qual o registro mais recente?

    possvel decompor as variaes de produtividade (P) de duas formas dife-rentes, mas com o mesmo resultado numrico, dependendo da utilizao de pesos do perodo base ou final, a partir das expresses seguintes:22

    P = Pt P0 = Pi,t . Ai,t Ai,0( ) + Ai,0 . Pi,t Pi,0( ) (Decomposio 1)e

    P = Pt P0 = Pi,0 . Ai,t Ai,0( ) + Ai,t . Pi,t Pi,0( ) (Decomposio 2)

    20. Os dados de ocupao da mo de obra em 2012 comparveis aos das Contas Nacionais, disponveis apenas at 2009, foram calculados e gentilmente cedidos por Maurcio Canedo Pinheiro, do IBRE/FGV.21. Ver Bonelli (2013).22. Ver Bonelli e Fontes (2013).

  • 135Produtividade e armadilha do lento crescimento

    onde Ai,t e Ai,0 so as participaes relativas de cada setor (i) no emprego total nos perodos e t e 0 e Pi,t e Pi,0 so os nveis de produtividade setorial da mo de obra nesses perodos. O primeiro termo na expresso direita das identidades acima o componente estrutural, e o segundo o tecnolgico.

    A tabela seguinte apresenta uma mdia simples dos resultados das duas possibilidades de decomposio acima trazidas. O perodo de 1995 a 2012 foi subdividido em trs para destacar as mudanas ocorridas depois da crise global.

    A leitura dos resultados direta, apesar das diferenas de desempenho entre os perodos. A mudana estrutural foi importante para os ganhos de produtividade em 1999-2004 quando, inclusive, foram o principal componente para o modesto registro de 0,2% a.a. e no quadrinio seguinte.

    TABELA 6Decomposio do crescimento da produtividade do trabalho (valor adicionado por pessoa ocupada) em perodos selecionados (% a.a.)

    1995-1999 1999-2004 2004-2008 2008-2012

    Mudana estrutural

    -0,5%* 0,9 0,9 0,2

    Produtividade setorial

    0,9% -0,7** 1,1 1,5

    Total

    0,4% 0,2 2,0 1,7***

    Destaques e principais responsveis: * Ind. Transformao e Ativ. Imobilirias e Aluguel (queda relativa de emprego com ganho de produtividade); ** Servios de Informao e Comrcio (aumento do emprego com queda da produtividade); *** Praticamente todos, exceto APU: (- 0,6%).

    Elaborao do autor.

    J os ganhos internos aos setores, efeito produtividade puro, foram relevantes em todos os subperodos, exceto entre 1999 e 2004. A comparao entre os dois ltimos subperodos deixa claro que a queda no crescimento da produtividade foi devida menor contribuio do componente estrutural, pois o componente de produtividade interno, ou puro, de fato, aumentou entre os perodos.

    Do ponto de vista dos principais destaques em termos do perodo 1995-2012 como um todo, a tabela 7 registra em negrito os vencedores: agropecuria ( na qual a produtividade relativa praticamente dobrou no perodo), indstria extrativa mineral, servios industriais de utilidade pblica e intermediao financeira.23

    23. Deve-se mencionar que a taxa de crescimento da produtividade medida pelo VA por pessoa ocupada ligeiramente menor do que quando medida pelo PIB por pessoa porque os impostos sobre produtos vm aumentando de participao na composio do PIB a preos de mercado.

  • 136 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    Todos os setores dos servios, exceto os intermedirios financeiros e, em menor medida, as atividades imobilirias e aluguis,24 contriburam para puxar o crescimento da produtividade agregada da mo de obra para baixo. Nesse sentido, vale a pena citar uma concluso de um texto recente:

    Uma explicao para o lento aumento da produtividade (nos anos 2000) est nas fontes de crescimento do PIB por setores, onde se destacam os servios. Como a produtividade desse setor cresceu lentamente, isso afetou o resultado total. O interes-sante que o Brasil uma exceo no que toca ao crescimento da produtividade dos servios quando comparado com uma ampla gama de pases emergentes. (Bonelli e Fontes, 2013, p. 274-275).

    Conclui-se que, ainda existe espao para que a mudana estrutural contribua para elevar a produtividade agregada. O melhor exemplo disso a progressiva perda de participao relativa da agropecuria na ocupao. Como este setor tem produtividade bem abaixo da de todos os demais (tabela 7), a recomposio estrutural que ocorre com o crescimento da produtividade da agropecuria, que embute reduo do emprego no setor, tende a elevar a produtividade agregada, mas, o lento crescimento da produtividade dos servios coloca uma ncora para o aumento dela.

    TABELA 7Produtividades setoriais relativas (total da economia = 1,0)

    1995 1999 2004 2008 2012

    Agropecuria total 0,18 0,21 0,26 0,31 0,35

    Extrativa mineral 9,64 11,92 12,94 13,64 13,90

    Transformao 1,30 1,30 1,29 1,14 1,10

    Construo civil 0,99 0,89 0,83 0,75 0,69

    Prod. distr. eletricidade, gs, gua 5,77 6,58 6,93 6,79 10,35

    Comrcio 0,83 0,79 0,71 0,75 0,77

    Transporte, armazenagem e correio 1,49 1,43 1,29 1,21 1,12

    Servios de informao 4,81 5,50 1,64 1,47 1,58

    Intermedirios financeiros, seguros, prev comp, serv relac. 4,64 5,22 4,85 6,35 6,65

    Outros servios 0,66 0,61 0,59 0,58 0,57

    Ativ imobilirias e aluguis 9,44 11,63 14,17 12,28 12,27

    Adm, sade e educao pblicas 1,84 1,85 1,77 1,56 1,39

    Total 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0

    Elaborao do autor.

    24. Ambos, registre-se, com pequena participao no emprego: 2% do total da economia na mdia dos anos 2000-12.

  • 137Produtividade e armadilha do lento crescimento

    8 CONCLUSO

    As preocupaes com o fraco desempenho macroeconmico do Brasil se acentuaram nos ltimos anos, levantando suspeitas de que somos, ou estamos, prisioneiros de uma armadilha de lento crescimento. Para lanar alguma luz sobre essa questo, este trabalho explorou aspectos do desempenho econmico recente do pas, com nfase, principalmente, na evoluo da oferta agregada e seus determinantes. Dele sobressai um conjunto de concluses, muitas das quais so tentativas, como as seguintes:

    1) A proximidade do fim do bnus demogrfico que vem sendo experimen-tado pelo Brasil implica evoluo da fora de trabalho futuramente cada vez mais limitada por uma populao em idade ativa, que cresce a taxas cada vez menores e em cerca de 30 anos passar a diminuir;

    2) Um exerccio simples de decomposio mostra que, com o passar do tempo, o crescimento do PIB ser cada vez mais dependente de aumentos na produtividade do trabalho. Logo, o final do bnus demogrfico coloca um nus extra sobre a produtividade;

    3) De uma perspectiva de longo prazo, o colapso da produtividade do trabalho e da produtividade total dos fatores (PTF) registrados nos lti-mos onze anos no , primeira vista, muito forte: entre 2002 e 2013 a produtividade do trabalho aumentou 2,1% a.a. e a PTF a 1,3% anuais. Consideradas fases clssicas da historiografia brasileira, esta ltima taxa s inferior da longa fase de crescimento, que vai do ps-guerra a 1962 (de 2,4% a.a.) e do perodo do milagre econmico 1968-73 (3,6% a.a.);

    4) Uma decomposio de Solow revela ainda que, embora o aprofundamento do capital venha representando cerca de 40% do crescimento da produ-tividade do trabalho os 60% restantes sendo explicados pelo aumento da PTF , as taxas de aumento da dotao de capital fixo por trabalhador so recentemente muito inferiores s que prevaleciam at 1980;

    5) Mas, obviamente, o registro da fase terminada em 2013 no foi uniforme, muito pelo contrrio. A taxa mdia trienal de crescimento da PTF, alis, caiu de cerca de 2,5% a.a. no trinio 2006-08 para pouco menos de 2% no trinio 2008-10 e para quase zero no trinio 2011-13. Os resultados tambm sugerem que quanto mais cresce o PIB, mais cresce a PTF isto , a PTF pr-cclica;

    6) A queda no ritmo de crescimento da produtividade caracteriza, tambm, a do trabalho. Comparando-se os trinios 2008-2010 e 2011-13, conclui--se que a queda da produtividade do trabalho (de 2,5% a.a. para 1,9% a.a.) explica quase um tero da queda do PIB;

  • 138 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    7) A reduo na produtividade associa-se, principalmente, ao crescimento mais lento do capital por trabalhador. Mas, a taxa de crescimento do PIB tambm caiu muito entre os trinios mencionados (de 4,1% para 2,0% a.a.);

    8) Pelo lado da demanda, uma possvel explicao a de que a velocidade mais lenta do pas reflete a reduo de ritmo da economia mundial, mes-mo sendo o Brasil uma economia relativamente fechada. Apesar disso, o pas foi beneficiado pelo acelerado crescimento da China e outros pases asiticos, a exemplo de outros pases da Amrica do Sul;

    9) Mas, o ponto importante que esse efeito de demanda afetou despro-porcionalmente o Brasil, de forma negativa, na fase de desacelerao ps-2010. Quando houve esta desacelerao, a Amrica do Sul (exclusive Brasil) perdeu meio ponto de percentagem de crescimento em relao fase de bonana externa anterior, tendo passado de 4,3% a.a. para 3,8% anuais. J o Brasil perdeu 2,6% a.a., tendo passado de 4,4% a.a. para apenas 1,8%. Algo deve ter ocorrido, alm da desacelerao mundial, para derrubar o crescimento brasileiro dessa forma;

    10) A literatura especializada lista um conjunto relativamente grande de fato-res que podem ter contribudo para essa derrubada, mas, em geral, esses fatores ou no so quantificveis, ou so de quantificao relativamente difcil. Logo, necessrio buscar explicaes que possam ser avaliadas pelo recurso evidncia emprica disponvel;

    11) Decompondo a desacelerao no crescimento da PTF entre os trinios delimitados por 2010, verifica-se que da queda de 1,4% em PTF, 1,0% foi devido reduo da produtividade do capital e 0,4% produtividade do trabalho. Alis, o crescimento da PTF entre 2010 e 2013 foi totalmente advindo do aumento da produtividade do trabalho (em mdia, de 1,1% a.a.), pois a do capital diminuiu no trinio. Conclui-se que a PTF cresceu pouco no trinio 2011-13 principalmente porque a produtividade do capital diminuiu;

    12) Uma possibilidade que as mudanas na composio setorial do PIB possam ter contribudo para essa queda. No perodo entre 2010 e 2013 houve aumento da participao dos servios no PIB, e queda do agre-gado agropecuria + indstria. Se houve reduo na produtividade do capital nos servios acima da reduo mdia total observada, o efeito da mudana na composio setorial da produo ter sido o de diminuir a produtividade agregada do capital;

  • 139Produtividade e armadilha do lento crescimento

    13) O trabalho mostra, tambm, que o crescimento e a produtividade caram depois de 2010, mesmo com a presena de taxas relativamente elevadas de utilizao de capacidade (bem como de emprego, no custa lembrar) e de taxas de formao bruta de capital fixo relativamente elevadas quando medidas a preos constantes;

    14) Isso pode implicar taxas de crescimento para o futuro, possivelmente, mais lentas do que se imaginava at h bem pouco tempo atrs, a menos crescimento de ganhos de produtividade, de aumento no capital por trabalhador e da taxa de investimento;

    15) Uma investigao das perspectivas condicionais de crescimento utilizou dois algoritmos de projeo: um adotando-se a hiptese de que o cres-cimento da PTF dado exogenamente; o outro, de que ele depende do prprio crescimento do PIB isto , que a PTF pr-cclica;

    16) Do primeiro exerccio conclui-se que aumentos de PTF (exgena) transmitem-se na mesma magnitude ao crescimento do PIB para cada taxa de investimento considerada; e para cada ponto de aumento na taxa de investimento, o PIB cresce 0,2 pontos de percentagem adicionais. Em particular, quando se adota a taxa de 0,3% a.a. para o crescimento da PTF, o PIB cresce a 2,3% a.a., dada a taxa de investimento mdia de 2011-13 (19,4% do PIB, a preos de 2000);

    17) No segundo modelo, cada ponto percentual de aumento da taxa de FBCF acarreta aumento de 0,4 0,5% no PIB. Alm disso, para taxas de inves-timento inferiores a 18% do PIB, a PTF negativa. Isso corresponde a taxas de pouco menos de 1,9% a.a. para o PIB;

    18) Dada a taxa de investimento observada em 2011-13, de 19,4% do PIB, o crescimento da PTF de 0,35% a.a. e o do PIB de 2,4% a.a. Ambos os exerccios resultam em nmeros plausveis para o crescimento do PIB contemporneo, como no poderia deixar de ser;

    19) Os parmetros adotados para as projees, obtidos da experincia histrica brasileira recente, ilustram a armadilha de lento crescimento em que se encontra o pas. Sair dela passa, obviamente, por elevar a taxa de inves-timento de forma a aumentar o capital por trabalhador e por aumentar a produtividade do capital e do trabalho logo, da PTF;

    20) Finalmente, o trabalho explora o papel da mudana na estrutura setorial da produo para o crescimento da produtividade. A experincia histrica brasileira ensina que essa mudana foi importante no passado, mas com contribuies cuja relevncia varia no tempo. Para avaliar esse aspecto,

  • 140 Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes

    o perodo de 1995 a 2012 foi subdividido em trs para destacar as mu-danas ocorridas depois da crise global das anteriores;

    21) A concluso principal que a mudana estrutural foi importante para os ganhos de produtividade em 1999-2004 quando, inclusive, foi o principal fator para o modesto ganho mdio de 0,2% a.a. e no qua-drinio seguinte. J os ganhos internos aos setores, o efeito puro de produtividade, foram relevantes nos demais subperodos (exceto entre 1999 e 2004);

    22) A comparao entre os perodos 2005-2008 e 2009-2012 deixa claro que a queda no crescimento da produtividade de 2,0% para 1,7% a.a. foi devido menor contribuio do componente estrutural, pois o compo-nente de produtividade interno aumentou, de fato, entre os perodos; e

    23) No obstante, ainda existe espao para que a mudana estrutural contri-bua para elevar a produtividade agregada, dados os profundos desnveis setoriais de produtividade ainda existentes. Mas, o lento crescimento da produtividade da maior parte dos segmentos includos no setor produtor de servios inibe aumentos mais rpidos da produtividade agregada.

    REFERNCIAS

    BACHA, E.; BONELLI, R. Uma interpretao para as causas da desacelerao do Brasil. Revista de Economia Poltica, So Paulo, jul.-set., 2005.

    BONELLI, R.; BACHA, E. Crescimento brasileiro revisitado. In: VELOSO, F. et al. (Ed.). Desenvolvimento econmico: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 2013.

    BONELLI, R. O Desenvolvimento econmico brasileiro em uma viso de longo prazo. In: PEREIRA et al. (Org.). Armadilha da renda mdia: vises do Brasil e da China. Rio de Janeiro: FGV, Instituto Brasileiro de Economia, 2013.

    BONELLI, R.; FONTES, J. O desafio brasileiro no longo prazo. In: BONELLI, R.; PINHEIRO, A. C. (Org.). Ensaios IBRE de Economia Brasileira 1. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Economia; Editora FGV, 2013.

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    VELOSO, F. et al. (Ed.) Desenvolvimento econmico: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 2013.

  • 141Produtividade e armadilha do lento crescimento

    GOPINATH, G; NEIMAN, B. Trade adjustment and productivity in large crises. American Economic Review, v. 104, n. 3, p. 793-831, 2014.

    OECD ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. OECD perspectives on global development 2014: boosting productivity to avoid the middle-income trap. OECD Development Center, Paris, Frana.

    PEREIRA, L. V.; VELOSO, F.; BINGWEN, Z. (Org.). Armadilha da renda m-dia vises do Brasil e da China. Rio de Janeiro: IBRE, Editora FGV, 2013. v. 1.

    VELOSO, F.; PEREIRA, L. V. A perspectiva brasileira sobre a armadilha da renda mdia. In: PEREIRA et al. (Org). 2013.

  • Misso do Ipea

    Aprimorar as polticas pblicas essenciais ao desenvolvimento brasileiro por meio da produo e disseminao de conhecimentos e da assessoria ao Estado nas suas decises estratgicas.

    Misso da ABDI

    Servio social autnomo vinculado ao Ministrio do Desenvolvimento, da Indstria e do Comrcio Exterior tem como misso desenvolver aes estratgicas para possibilitar a poltica industrial, promovendo o investimento produtivo, o emprego, a inovao e a competitividade da industria brasileira.

    9 788578 112288

    ISBN 978-85-7811-228-8

    CAPTULO 1Os dilemas e os desafios da produtividade no BrasilFernanda De Negri*Luiz Ricardo Cavalcante**

    CAPTULO 2Desafios para o Clculo da Produtividade Total dos FatoresRoberto Ellery Jr*

    CAPTULO 3METODOLOGIAS DE CLCULO DA PRODUTIVIDADE TOTAL DOS FATORES E DA PRODUTIVIDADE DA MO DE OBRAAlexandre Messa

    CAPTULO 4PRODUTIVIDADE E ARMADILHA DO LENTO CRESCIMENTO*Regis Bonelli**

    CAPTULO 5Evoluo recente dos indicadores de produtividade no Brasil*Luiz Ricardo Cavalcante**Fernanda De Negri***

    CAPTULO 6COMPARAES INTERNACIONAIS DE PRODUTIVIDADE E IMPACTOS DO AMBIENTE DE NEGCIO*Lucas Ferreira Mation**

    CAPTULO 7PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E MUDANA ESTRUTURAL: UMA COMPARAO INTERNACIONAL COM BASE NO WORLD INPUT-OUTPUT DATABASE (WIOD) 1995-2009*Thiago Miguez**Thiago Moraes***

    CAPTULO 8Produtividade do Trabalho e Mudana Estrutural no Brasil nos Anos 2000Gabriel Coelho SqueffFernanda De Negri

    CAPTULO 9Informalidade, crescimento e produtividade do trabalho no Brasil: desempenho nos anos 2000 e cenrios contrafactuaisGabriel Coelho Squeff e Claudio Roberto Amitrano*

    CAPTULO 10O DESAFIO DA PRODUTIVIDADE NA VISO DAS EMPRESAS*Joo Maria de Oliveira**Fernanda De Negri***

    CAPTULO 11PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E HETEROGENEIDADE ESTRUTURAL NO BRASIL CONTEMPORNEOMauro Oddo NogueiraRicardo InfanteCarlos Mussi

    CAPTULO 12Produtividade agrcola no BrasilRogrio Edivaldo Freitas*

    CAPTULO 13EVOLUO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO DAS CADEIAS PRODUTIVAS DEVIDO A MUDANAS TECNOLGICAS DA INDSTRIA BRASILEIRA 1990-2009*Luiz Dias Bahia**

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