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PROGRAMA DE MICROCRÉDITO DO ESTADO DA BAHIA (CREDIBAHIA): UMA ANÁLISE DO ARRANJO ORGANIZACIONAL DE OPERAÇÃO Paulo de Oliveira Costa Carmen Lúcia Castro Lima Marcia Maria Fonseca de Souza

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PROGRAMA DE MICROCRÉDITO DO ESTADO DA BAHIA (CREDIBAHIA): UMA

ANÁLISE DO ARRANJO ORGANIZACIONAL DE OPERAÇÃO

Paulo de Oliveira Costa Carmen Lúcia Castro Lima

Marcia Maria Fonseca de Souza

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Painel 39/003 Organizações em Rede

PROGRAMA DE MICROCRÉDITO DO ESTADO DA BAHIA (CREDIBAHIA): UMA ANÁLISE DO ARRANJO ORGANIZACIONAL

DE OPERAÇÃO1

Isidro-Filho

Paulo de Oliveira Costa Carmen Lúcia Castro Lima

Marcia Maria Fonseca de Souza

RESUMO

Em 2002, o Governo Estadual Baiano instituiu o Programa de Microcrédito do Estado

da Bahia (CREDIBAHIA). Este tem como objetivo fomentar os microempreendedores

que não têm acesso ao crédito bancário tradicional. Para condução do programa foi

implantada uma rede de cooperação entre a Agência Fomento do Estado da Bahia

(DESENBAHIA), Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (SETRE), o

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da Bahia (SEBRAE/BA) e

prefeituras. O objetivo deste artigo é avaliar, por intermédio da análise swot, o arranjo

em rede responsável pela execução do CREDIBAHIA. Concluiu-se, na avaliação

interna realizada pelos gestores do programa, que os resultados do modelo de gestão

compartilhada são bastante positivos ao: dar capilaridade; diminuir custos e distribuir

funções entre as instituições de acordo com a sua expertise. Contudo, são

encontradas dificuldades inerentes ao arranjo como a heterogeneidade e rotatividade

dos agentes de crédito e a descontinuidade das gestões municipais.

Palavras-chave: Políticas públicas, Microcrédito, Organização em Rede,

CREDIBAHIA.

1 Os autores agradecem aos Analistas da Desenbahia Bruno Freitas Neiva e Sergio Roberto Brandão Fernandez pela relatoria da reunião do brainstorming entre os gestores do Credibahia e pelos comentários e sugestões.

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1. INTRODUÇÃO

Cada vez mais, os governos têm intensificado suas ações para promover a

inclusão sócio produtiva de parcela da população à margem do Sistema Financeiro.

Os pequenos negócios ainda possuem dificuldades de captação de recursos para

seus investimentos, sendo poucas as instituições financeiras com foco em inclusão,

necessário para criar alternativas de financiamento adequadas ao

microempreendedor.

Neste cenário, o microcrédito produtivo e orientado surge como alternativa de

relevante impacto social. A metodologia aplicada permite o acesso desburocratizado

e continuado ao crédito, fortalecendo o empreendedorismo, propiciando a ampliação

da renda e melhorando as condições de vida da população.

Com esse intuito, foi criado, em 2002, o Programa de Microcrédito do Estado

da Bahia – CREDIBAHIA. O objetivo é apoiar as iniciativas de geração de trabalho e

renda por meio de uma estrutura alternativa de crédito, destinada a empreendedores

que tem dificuldades de acesso ao sistema tradicional de crédito. Além disto, outras

externalidades podem ser apontadas para o empreendedor e o município, como o

fomento ao crescimento e a consolidação dos micros empreendimentos e o estímulo

às economias municipais.

No contexto do CREDIBAHIA, as ações foram delineadas para atuação em

duas modalidades: financiamento direto aos microempreendedores (denominado 1º

piso) e financiamento a instituições operadoras de microcrédito (denominado 2º piso).

A atuação no 1° piso garante a oferta de microcrédito em locais cujo atendimento é

inviável para outras instituições que se destinam a este fim. O 2° piso potencializa a

oferta, acelerando a expansão do microcrédito no Estado.

Para execução do Programa, na atuação direta com o público alvo, se fez

necessário desenhar um arranjo institucional estabelecendo parceria entre a Agência

de Fomento do Estado da Bahia (DESENBAHIA); a Secretaria do Trabalho, Emprego,

Renda e Esporte (SETRE); o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas da

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Bahia (SEBRAE/BA) e prefeituras (onde essa iniciativa é implantada), de forma a

alcançar um maior número de territórios e capilarizar o acesso ao crédito.

Entre 2002 e 2015, o Programa realizou 162 mil operações de microcrédito que

resultaram no desembolso de R$ 337,6 milhões nas economias de 187 municípios

que aderiram ao programa. Diante do exposto, o presente artigo tem como objetivo

avaliar os resultados, aprendizados e desafios identificados no âmbito do modelo

organizacional responsável pela execução do Credibahia (DESENBAHIA, 2016).

Este artigo está estruturado em quatro seções, além desta introdução. Na

segunda parte será discutido o microcrédito como uma iniciativa para geração de

ocupação e renda e as redes de cooperação como estratégia de gestão dessas

políticas. A seguir, será apresentada uma descrição do programa CREDIBAHIA e o

seu arranjo institucional de execução. Posteriormente, serão analisados os resultados

da análise swot sobre o modelo de governança do programa, elaborado pelos

parceiros executores do programa. Finalmente, serão feitas as considerações finais.

2. MICROCRÉDITO E GESTÃO EM REDES

Esta seção apresentará o microcrédito como política pública de geração de

trabalho, renda e desenvolvimento local. Particularmente, será discutido como os

modelos de governança interorganizacional, em rede, podem ser uma possibilidade

para gestão de programas com essa natureza.

2.1. MICROCRÉDITO COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA

Microfinanças podem ser conceituadas como a prestação de serviços

financeiros adequados e sustentáveis para população de baixa renda, quase sempre

excluída do mercado financeiro tradicional, mediante utilização de produtos,

processos e gestão diferenciados. Já o microcrédito, como um produto das

microfinanças, é a atividade que se dedica a financiar pessoas físicas e jurídicas

empreendedoras, de pequeno porte, utilizando metodologia diferente daquelas

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adotadas pelos bancos nas operações de crédito tradicionais (SOARES; MELO

SOBRINHO, 2008).

Programas de microcrédito, comumente, estão inclusos nas políticas públicas

de desenvolvimento social e local. De acordo com Miguel (2012), as instituições de

microfinanças (IMFs), e, em especial as que realizam microcrédito, possuem como

objetivos: (a) a redução da pobreza; (b) o fortalecimento de grupos minoritários, como

o de mulheres pobres; (c) a criação de empregos; (d) a ajuda aos pequenos

empreendedores a fortalecer seu negócio ou mesmo diversificar suas atividades; e (e)

o estímulo ao desenvolvimento de novos pequenos negócios.

Atualmente, no Brasil, o microcrédito é concedido por meio de ações da

sociedade civil; da iniciativa privada e do poder público. Estas apresentam diferentes

arranjos institucionais (BARONE et al., 2002).

A década de 90 foi marcada por uma expansão de instituições oficiais de

microcrédito. Destacam-se a atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) e do Programa de Microcrédito do Banco do Nordeste

do Brasil (Crediamigo).

As iniciativas do BNDES foram fundamentais para a atuação dos bancos

oficiais na área de microcrédito. Estas tinham como objetivo estruturar o setor de

microfinanças no Brasil, por intermédio da oferta de funding para os agentes

responsáveis pela aplicação de microcrédito (MIGUEL, 2012).

Em 1997, surgiu o programa do Banco do Nordeste, Crediamigo, a primeira

iniciativa de um banco estatal na área das microfinanças. O Crediamigo trabalha com

a metodologia de grupos solidários e, concomitantemente a concessão do crédito,

oferece capacitação gerencial para os beneficiários.

O microcrédito produtivo possui sinergia com outras políticas públicas de

promoção do desenvolvimento, inclusão produtiva, combate à pobreza e à

desigualdade social. Apresenta-se como uma ponte de transição à

autosustentabilidade daqueles que desenvolvem alguma atividade produtiva e que

são beneficiados por programas de transferência de renda.

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Nos últimos quinze anos, o microcrédito entrou na agenda das políticas

públicas em nível local. Com o propósito de gerar trabalho e renda, vários estados e

municípios, começaram a implantar os seus programas de microfinanças. O poder

público, assim, passou a desempenhar um papel importante no desenvolvimento do

setor.

As instituições públicas vêm atuando com programas voltados diretamente ao

tomador de crédito, por meio de bancos oficiais, chamados de “primeiro piso”. Há

ainda os programas públicos de fomento às instituições da sociedade civil e da

iniciativa privada, as denominadas atuação por repasse ou “segundo piso”.

Em termos de marco regulatório das ações governamentais, pode-se destacar

o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO). O PNMPO é um

programa do Ministério do Trabalho e Emprego, implantado em 2005, que definiu o

público-alvo da política pública, metodologia do microcrédito produtivo orientado e a

finalidade do próprio programa em disponibilizar recursos para o microcrédito

(COSTA, 2010).

Os programas de microcrédito possuem ferramentas especiais para a

concessão de crédito que os diferenciam dos demais, pois, são caracterizados pelo

fato de seus financiamentos serem “dirigidos” e “orientados’. Sua metodologia de

trabalho está baseada no contato direto com o empreendedor, realizado pelos agentes

de crédito, que são profissionais capacitados para este tipo de atividade (PREMOLI;

CIRINO, 2014).

De acordo com Barone et al. (2002), é primordial que o microcrédito seja

concedido de forma assistida, dimensionando a viabilidade do crédito, em que a

concedente do empréstimo deve participar de todo o processo de liberação e

recebimento dos recursos pelo beneficiário. Deste modo, a concessão de

microcréditos e caracteriza por: operações com baixo ticket médio; número grande de

beneficiários, significativa capilaridade e necessidade de conhecimento do mutuário e

da realidade local.

2.2. GESTÃO EM REDES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE MICROCRÉDITO

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As relações entre instituições governamentais, do mercado e da sociedade civil

são temas importantes na pesquisa sobre gestão pública. Estão cada vez mais

presentes estruturas policêntricas que abarcam diversos atores e organizações

vinculados, entre si, por objetivos comuns e por uma dinâmica gerencial compatível

(DIAS, 2011).

No âmbito da gestão dos programas de microcrédito, um dos desafios do poder

público é operar arranjos complexos que envolvem diversos atores políticos e

administrativos, em vários níveis de governo, e outras instâncias do setor privado.

Diante disso, os modelos de governança destas iniciativas têm se pautado em uma

gestão descentralizada e horizontal, buscando arranjos institucionais alternativos.

Nas últimas décadas, observa-se novos formatos de gestão no setor público

como as alianças, parcerias e redes. As redes (inter) organizacionais e (inter)

governamentais de cooperação têm sido vistas como a solução adequada para

administrar políticas e projetos em que: os recursos são escassos; os problemas são

complexos; existem múltiplos atores envolvidos; há forte interação de agentes

públicos e privados (centrais e locais) e intensa participação social (DIAS, 2011).

Dias(2011) observa que a expansão das redes gestoras de políticas públicas,

especialmente no campo dos programas sociais, tem sido catalisada por fatores

relacionados à maior complexidade dos processos administrativos e ao

desenvolvimento tecnológico das comunicações.

Fernandes, et al. (2013) pontuam que a governança intersetorial, em rede,

como forma de gestão no setor público é relativamente recente e, assim, a dinâmica

de redes de cooperação, muitas vezes, não é plenamente internalizada pelos atores

envolvidos. Os autores constatam que os desafios e benefícios da gestão

compartilhada ainda não estão sedimentadas na cultura do serviço público, o que

dificultaria o alcance dos objetivos comuns.

Segundo Fernandes, et al. (2013):

Uma gestão em redes impõe novos desafios administrativos, novas lógicas de tomada de decisão coletiva, compartilhamento de valores e objetivos e estabelecimento de prioridades e regras de atuação. Assim, a posição, a influência e a efetividade de cada “nó” da rede estão relacionadas a capacidade de cada membro para trabalhar e articular dentro desse contexto (FERNANDES, etal. ,2013, p. 13).

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O Programa de Microcrédito – CREDIBAHIA- é uma iniciativa do Governo do

Estado da Bahia que visa fomentar as atividades econômicas da população de menor

renda, por meio da ampliação e criação de formas de acesso ao crédito para esse

segmento. O seu modelo de operação tem como base uma rede de parcerias e gestão

compartilhada. Este arranjo institucional será discutido na próxima seção.

3. CREDIBAHIA – PROGRAMA DE MICROCRÉDITO DO ESTADO DA BAHIA

Esta seção apresentará histórico e descrição do CREDIBAHIA, suas formas de

atuação, o arranjo institucional constituído para operacionalização e os seus principais

resultados, até o momento. O foco é a modalidade de atuação direta com o

empreendedor, tendo em vista que o objeto de análise é o modelo de gestão que

viabilizou o financiamento direto ao público-alvo.

3.1. HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DO CREDIBAHIA

Instituído em 2002, o CREDIBAHIA tem por objetivo dar acesso ao microcrédito

produtivo e orientado para empreendedores, formais ou informais, com dificuldade de

acesso ao mercado creditício convencional, proprietários de micro ou pequenas

unidades econômicas geradoras de trabalho e renda, nas áreas de produção,

comércio ou prestação de serviços, com faturamento até R$120.000,00 por ano

(DESENBAHIA, 2015).

A metodologia baseia-se na concessão de crédito orientado, com visita “in

loco”, a empreendedores, de forma individual ou solidária (grupos de 3 a 5

componentes). Com o objetivo de promover o crescimento e a consolidação dos

empreendimentos de pequeno porte, com base em investimentos de pequeno valor,

de forma ágil e desburocratizada, aliado a ações de capacitação empresarial e técnica

para os empreendedores (DESENBAHIA, 2015).

A operacionalização do programa dá-se por meio de duas formas de atuação:

uma para financiamento de instituições operadoras de microcrédito, buscando o

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fortalecimento e a ampliação de uma rede de agências capazes de propiciar crédito

aos microempreendimentos, e outra para financiamento direto aos micro

empreendimentos, de modo que também possibilitasse a atuação em localidades não

alcançadas por outras instituições (DESENBAHIA, 2015).

As atuais características do crédito são: a) crédito individual ou solidário,

concedido de modo escalonado entre as faixas de R$200,00 e R$10.000,00; b)

investimento fixo e capital de giro como itens financiáveis; c) nível de financiamento

do investimento em até 100%; d) prazo de até 24 meses; e) aval de terceiros,

individual ou solidário (DESENBAHIA, 2015).

3.2. ARRANJO INSTITUCIONAL E ATRIBUIÇÕES DOS PARCEIROS

O Programa CREDIBAHIA é uma iniciativa do Governo do Estado, por

intermédio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte - SETRE, e da

DESENBAHIA, em parceria com SEBRAE/BA e Prefeituras. O Programa é executado

no âmbito do município, sob a coordenação da SETRE e da DESENBAHIA,

atendendo às prioridades e potencialidades locais, com apoio do SEBRAE/ BA na

capacitação de agentes de crédito e empreendedores.

A constituição de parceria viabilizou a execução desta estratégia específica

para lidar com diversidades socioeconômicas do estado. A estruturação deste modelo

de gestão levou em consideração a formatação de um arranjo que viabilizasse uma

capilaridade de rede de modo a alcançar todo e qualquer município demandante na

extensa dimensão do estado da Bahia, e consequentemente permitir o acesso por

mais empreendedores. Permite, ainda, a distribuição de tarefas e custos na

operacionalização do programa e a conjugação das expertises de cada parceiro

(DESENBAHIA, 2015).

A Desenbahia, como instituição financeira autorizada a operar microcrédito

produtivo e orientado, gestora do Fundo de Desenvolvimento Social e Econômico –

FUNDESE, inicialmente a principal fonte de recursos para financiamento dos

empreendedores, é responsável pela gestão do Programa, definição das diretrizes e

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normas reguladoras para concessão e operacionalização do crédito, gestão

financeira, desenvolvimento e manutenção do sistema de controle de operações e seu

suporte técnico, sistema este desenvolvido em plataforma web de modo a viabilizar o

acesso por meio dos postos de atendimento do Programa distribuídos

geograficamente no estado.

A SETRE, que tem dentre suas competências a de fomentar o

empreendedorismo na perspectiva de criar novas oportunidades de trabalho e renda,

possui uma extensa rede de Unidades de Atendimento do SineBahia 2 podendo

abrigar postos de microcrédito, e, ainda, tem corpo técnico com conhecimento sobre

microcrédito, tem como atribuições a gestão do Programa, articulação e interlocução

com as prefeituras, prestação de orientação metodológica, acompanhamento e

supervisão técnica dos postos de atendimento e dos agentes de crédito.

Figura 1. Arranjo Institucional de Gestão do Programa CREDIBAHIA

Fonte: DESENBAHIA, 2015.

Elaboração própria

2O SineBahia é um órgão, vinculado à SETRE, que realiza a intermediação para o trabalho. Este reúne

em um mesmo espaço, profissionais em busca de colocação no mercado e empresas com necessidade de contratação.

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O SEBRAE-Bahia, que tem experiência em capacitação na área de negócios,

tem como atribuição a formação e capacitação dos agentes de crédito, qualificação

de empreendedores e empreendimentos, além de participar na formulação de ações

no âmbito do CREDIBAHIA.

As prefeituras, instância com maior grau de conhecimento da realidade local,

de maior proximidade e acesso pelos empreendedores, são responsáveis por

disponibilizar estrutura física e pessoal para instalação dos postos de atendimento e

acompanhamento dos empreendimentos de seus respectivos municípios, zelando

pela sustentabilidade do Programa.

A parceria constitui-se por meio de termo de cooperação técnica, sem repasse

de recursos entre os entes convenentes. As dotações orçamentárias de cada parceiro

para execução das ações contemplam seu escopo de atribuições específicas e

concernentes à área de atuação de cada entidade. Os recursos para financiamento

dos empreendedores tiveram como origem, inicialmente, a fonte FUNDESE (de seu

Programa PAPIS - Programa de Apoio a Projetos de Interesse Social) e,

adicionalmente a partir de 2007, a fonte BNDES que possibilitou maior alavancagem

do programa. Os recursos para os empreendedores são repassados pela Desenbahia

ao empreendedor, por meio da rede bancária autorizada.

3.3. PRINCIPAIS RESULTADOS

O início do CREDIBAHIA foi marcado pela instalação de postos em 04 (quatro)

municípios do estado, como projeto-piloto. A partir dos resultados alcançados e da

validação desta experiência, a ampliação da rede em número de pontos deu-se

conforme apresentado no gráfico abaixo.

Até 2006, houve um grande crescimento da rede com vistas a consolidar suas bases

para massificação da política pública de acesso ao microcrédito produtivo e orientado.

A partir de 2007, o ritmo de abertura de postos foi reduzido, dada a necessidade de

intensificar ações de acompanhamento da rede já instalada, adequando-o assim à

estrutura administrativa de suporte.

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Gráfico 1. Evolução do número de municípios atendidos pelo CREDIBAHIA 1º piso.

Fonte: Sistema Gerenciamento do Microcrédito da Desenbahia

Elaboração própria

Atualmente, o programa alcança 186 municípios dos 417 do estado, com cerca de

metade dos postos de atendimento situados no semiárido baiano. Esta é uma das

principais oportunidades viabilizadas pelo programa: a possibilidade de alcance

estadual. Até dezembro de 2015, o acesso ao crédito estava disponível para 44% dos

municípios baianos. Há presença dos postos de atendimento em todos os Territórios

de Identidade do estado. Ver Figura 2 em que as áreas em amarelo são as que

existem agências do CREDIBAHIA.

Figura 2. Área de Atuação do Credibahia – 1º piso

Fonte: Sistema Gerenciamento do Microcrédito da Desenbahia

Elaboração própria

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Entre 2002 e 2015, o CREDIBAHIA realizou 162 mil operações de microcrédito

que resultaram na liberação de R$ 337,6 milhões nas economias dos municípios que

aderiram ao programa. Atendendo também a um propósito de promover a

democratização e interiorização do crédito, cerca de 95% destes recursos foram

destinados às regiões fora da Região Metropolitana de Salvador).

Foram financiados 67,5 mil empreendedores para realização de investimento

fixo e capital de giro nos seus empreendimentos, com contratos de valor médio de

aproximadamente R$2 mil, contribuindo para manutenção de cerca de 123 mil postos

de trabalho.

O Gráfico 2 demonstra a distribuição das aplicações realizadas por ano. O

número de contratos efetivado está diretamente relacionado com o número de

unidades em funcionamento e de seu grau de maturidade. Nos últimos anos,

observou-se um aumento do número de financiamentos por posto e uma elevação do

valor médio de financiamento, por consequência do número de renovações

realizadas, que giram em torno de 70%.

Gráfico 2. Número de contratos e volume de recursos liberados – CREDIBAHIA 1º Piso

Fonte: Sistema Gerenciamento do Microcrédito da Desenbahua

Elaboração própria

Como principais benefícios do programa CREDIBAHIA pode-se inferir: a)

fortalecimento das economias municipais, amplamente baseadas em

empreendimentos de micro e pequeno porte, b) alavancagem e melhoria da qualidade

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dos produtos/serviços colocados à disposição da população, c) desenvolvimento das

capacidades gerenciais dos microempreendimentos, d) aumento das vendas e

compra de mercadorias a menor preço, seja pelo maior volume adquirido seja pela

modalidade de pagamento a vista, percebendo consequentemente maiores lucros, e)

destinação majoritária dos lucros para aquisição de bens de consumo.

Outro tipo de resultado a ser destacado é integração do CREDIBAHIA com

programas sociais do estado, como o Vida Melhor. Em consonância com a política

federal do Programa Brasil Sem Miséria, foi instituído em agosto de 2011, sob a

coordenação da Casa Civil, o Programa Estadual de Inclusão Socioprodutiva – Vida

Melhor3, cujo objetivo é reduzir a vulnerabilidade econômica e social dos beneficiários

por meio do trabalho decente de pessoas em situação de pobreza e com potencial

laborativo, com vistas à sua emancipação socioeconômica. A meta é beneficiar cerca

de 400 mil famílias da área urbana e rural, preferencialmente o público inscrito no

Cadastro Único do Governo Federal.

O microcrédito constitui também uma importante ferramenta de apoio,

estruturação e alavancagem financeira dos Empreendedores Individuais (EI). Dados

divulgados pelo SEBRAE/BA informam que somente na Bahia foram formalizados 200

mil empreendimentos4.

4. MODELO DE GESTÃO EM REDE DO CREDIBAHIA: UMA AVALIAÇÃO

A presente seção tem como objetivo apresentar as reflexões dos gestores do

Programa CREDIBAHIA sobre as principais forças, fraquezas, oportunidades e

ameaças do arranjo institucional desenhado para gestão deste, nos últimos catorze

anos. Optou-se, metodologicamente, pela utilização da análise swot, com coleta de

dados por meio da técnica do brainstorming.

3 Programa do Plano Plurianual 2016-2019 do Governo do Estado da Bahia, área temática Inclusão Produtiva.

4http://www.portaldoempreendedor.gov.br/estatistica/lista-dos-relatorios-estatisticos-do-mei

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4.1. METODOLOGIA

A análise realizada, no presente trabalho, teve como estratégia a avaliação

interna do modelo de gestão do CREDIBAHIA. Esta é um processo no qual os

gestores das instituições envolvidas objetivam conhecer as suas próprias realidades.

Para tanto, coleta os dados, organiza as informações e as analisa coletivamente. Além

disso, estabeleceria soluções para superação de problemas (CUNHA, 2006).

No processo de avaliação interna do modelo de gestão do CREDIBAHIA foi

utilizada a análise swot, que permite identificar as forças, fraquezas, oportunidades e

ameaças, sendo possível assim levantar informações do ambiente interno e externo

(TRAVASSOS; VIEIRA, 2011)

Em relação à coleta de dados, foi utilizada a técnica do brainstorming. A

ferramenta é muito utilizada para promover a interação de um pequeno grupo de

trabalho, em que há o incentivo à participação de todos em expressar as suas opiniões

e ideias. Assim, um grupo se reúne com a finalidade de refletir sobre um tema

específico (MINICUCCI,2001)

Com esse intuito, foi realizada uma reunião, no dia 20/4/2015, entre os gestores

do CREDIBAHIA, tendo como objeto avaliar o arranjo institucional de

operacionalização do Programa. Participaram desse encontro: Marcia Maria Fonseca

(Gerente de Microcrédito da DESENBAHIA);Adriana Pereira de Souza (Analista

Técnico da Unidade de Acesso a Crédito e Serviços Financeiros do SEBRAE/BA);

Rosaura Meira Castro Velloso (Analista Técnico da Comfis- Coordenação de

Microcrédito e Finanças Solidarias da SETRE); Júlio Silva Santana (Técnico

da Comfis - Coordenação de Microcrédito e Finanças Solidarias da SETRE); Weslen

Sandro Moreira Santos (Coordenador da Comfis -Coordenação de Microcrédito e

Finanças Solidarias da SETRE); e Roberto Martins (Secretário de Desenvolvimento

Econômico do Município de Eunápolis).

A dinâmica da avaliação foi organizada da seguinte forma: 1. Foram convidados

7 (sete) participantes, representantes dos entes parceiros, para o encontro; um

mediador e dois relatores 2. O mediador apresentou os objetivos do encontro 3. Em

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seguida, o mediador solicitou ao conjunto dos participantes que, a cada momento,

estes apresentassem as fraquezas; as forças; oportunidades e ameaças do arranjo

institucional 4. As ideias apresentadas foram registradas durante a sessão pelos

relatores. 5. O mediador procedeu a leitura dos registros para validação pelo grupo.

Nos itens seguintes será apresentada uma síntese das principais forças,

oportunidades, fraquezas e ameaças do arranjo institucional apontadas pelos

participantes durante o encontro.

4.2. AMBIENTE INTERNO: FORÇAS E FRAQUEZAS

Neste item, foram discutidas as variáveis ou fatores que a rede de parceiros

tem controle. Estes envolvem recursos, capacidades e processos, como:

colaboradores, tecnologia, recursos financeiros, experiência dos gestores, processos

organizacionais e produtivos, valores ou cultura, agilidade ou capacidade de

mudança.

4.2.1. Forças

Foi solicitado ao grupo de gestores que discutissem as principais forças do

modelo, isto é, características positivas de destaque no modelo que favorecem o

cumprimento do propósito.

De acordo com a percepção do grupo, o modelo da gestão compartilhada é um

dos principais aspectos positivos a ser ressaltado. O arranjo permitiu a união de

instituições que exploram suas respectivas áreas de conhecimento e somam esforços

na execução do programa, potencializando os resultados. Além disso, a interação

proporciona troca de informações e experiências entre os parceiros.

Este modelo, ao envolver os três entes federativos (União, Estado e Município),

comporta a integração de políticas públicas, fazendo com que ações delineadas no

âmbito federal e estadual consigam estar disponíveis aos cidadãos dos municípios. O

grupo considerou está uma experiência exitosa, sugerindo inclusive ser utilizada para

outras áreas do setor público.

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Outra perspectiva proporcionada pelo modelo é a divisão de custos: cada

entidade possui um conjunto de responsabilidades e com orçamentos próprios, sem

repasse entre instituições, realizam suas contribuições em busca do propósito do

programa.

Um aspecto também bastante ressaltado é a capilaridade permitida às ações

do programa, que já atinge 187municípios do estado. Este resultado não seria

possível com as instituições atuando isoladamente, pois teriam dificuldade em

viabilizar o alcance estadual que o parceiro município proporciona, principalmente em

localidades de menor densidade populacional e econômica.

Um sistema informatizado desenvolvido em plataforma web, que viabiliza o

acesso à base de dados para os diversos pontos onde há posto instalado, tanto para

lançamento de dados e informações como para acompanhamento dos clientes,

constituiu-se um elemento essencial para operacionalização e gestão compartilhada

dos entes do programa.

O público-alvo exerce um papel fundamental no controle social da política sob

as perspectivas de disponibilidade e qualidade do serviço prestado, o que é realizado

por meio de devolutivas relatadas em diversos canais de comunicação

disponibilizados pelas instituições envolvidas e/ou entidades de representação

coletiva, favorecendo a continuidade da ação mesmo com a alternância de grupos

políticos no poder.

Além desta instância, há também um elemento na instrumentalização do

crédito, um comitê local de no mínimo 03 (três) pessoas, geralmente constituído por

comissões tripartites, que também contribui para este controle social da execução da

política, constituindo-se assim uma alçada, além do agente de crédito, que valida os

empreendimentos indicados para apoio, dando maior transparência às ações no

município.

Os cursos ministrados pelo Sebrae/BA para os agentes de crédito que atuam

nesse programa são destaques, pois são estruturados de acordo com as

necessidades do programa e não há precedentes no país. Atuam na capacitação dos

agentes de créditos, ampliando a perspectiva de melhor desempenho.

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O acesso a funding, para a disponibilização do crédito, quesito classificado

como de restrito e difícil acesso por grande parte de operadores de microcrédito no

país, foi considerada outra força importante do programa. Atualmente, os recursos

que financiam os empreendedores do CREDIBAHIA são oriundos do FUNDESE (fonte

estadual) e do BNDES (fonte federal). Desta forma, a Desenbahia, por ser instituição

financeira e administradora do FUNDESE, pode captar e aplicar recursos adicionais

aos municípios.

4.2.2. Fraquezas

Em um segundo momento, ainda em relação ao ambiente interno, foi solicitado

aos membros das instituições que analisassem a seguinte questão: Quais são as

principais fraquezas do modelo, ou seja, características negativas que prejudicam o

cumprimento do seu propósito?

Foi pontuado que, em que pese o mérito dos resultados já alcançados, faz-se

necessário criar uma alternativa que contemple as prefeituras de menor porte, já que

estas são as que tem mais dificuldades para arcar os custos relativos às suas

atribuições no programa. Por este motivo, há dificuldades do CREDIBAHIA alcançar

os municípios mais pobres. Várias prefeituras enfrentam problemas relacionados à

contenção de gastos e despesas com pessoal, o que acaba prejudicando o

desempenho do programa ou inviabilizando sua instalação.

Não obstante haja também entendimento por parte do grupo, neste quesito, de

que a visão e o interesse do gestor municipal quanto a viabilizar uma estrutura que

apoia o desenvolvimento e consolidação dos pequenos empreendimentos faz grande

diferença: os gastos com a manutenção do programa. São investimentos que

viabilizam a circulação de mais recursos na economia local, estimulam o adensamento

econômico e o protagonismo da população local e seu desenvolvimento, e geram mais

postos de trabalho no município, retirando a administração pública municipal da

posição, muitas vezes, de única fonte empregadora potencial no município. Além do

mais, a atuação municipal é parte integrante de um arranjo em que esta assume parte

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dos gastos, vez que outros investimentos necessários para completar o fluxo

operacional são suportados por outras instituições convenentes.

Uma outra fraqueza identificada é a heterogeneidade nas gestões municipais;

enquanto uma parte considera estratégico no sentido de política para estímulo da

economia municipal, outros não parecem comprometidos e envolvidos, ao não

garantir suporte e estrutura dos postos e acompanhamento e monitoramento dos

agentes e empreendedores, o que afeta fortemente os resultados do programa.

Uma outra questão levantada é diversidade do perfil e das condições de

trabalho dos agentes de crédito, esta última em função do apoio da gestão municipal.

Há muito casos em que o perfil do agente é inadequado ao trabalho a ser

desenvolvido. Inclusive, há situações de realocação destes para outras funções dentro

da prefeitura. A rotatividade também dificulta o andamento do programa com a

descontinuidade do trabalho e necessidade de novos treinamentos.

4.3. AMBIENTE EXTERNO

Neste tópico, foram analisados as variáveis ou os fatores que estão fora do

controle da rede de parceiros. São fatores como políticas governamentais,

infraestrutura, recursos logísticos, marco legal, ambiente econômico e político.

4.3.1. Oportunidades

Já em relação ao ambiente externo, os gestores foram questionados sobre: as

principais oportunidades, ou seja, as situações externas às instituições que podem

acontecer e aperfeiçoar o modelo de gestão do programa?

Uma das oportunidades é a maior integração com as políticas sócio produtivas,

por intermédio de planejamentos integrados e o compartilhamento de metas. Os

programas de microcrédito possuem grande possibilidade de mais efetividade e êxito

aproveitando as sinergias com outros programas de inclusão socioeconômica,

empreendedorismo individual, cooperativo ou associativista e na geração de emprego

e renda.

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Outro ponto destacado como oportunidade é a implementação da Lei geral de

micro e pequena empresas. A expectativa é que esta pode melhorar a gestão dos

pequenos negócios, ao simplificar o pagamento de impostos e reduzir a burocracia

para a abertura e fechamento de empreendimentos.

Existe uma série de parcerias, que ainda não foram efetivadas, as quais

poderiam ser apoiadas através do arranjo. Foram citados, o estreitamento dos laços

com os próprios empreendedores, estabelecimentos de parcerias com entidades de

classes e outras secretarias do Governo do Estado.

4.3.2. Ameaças

No que se refere, ainda, ao ambiente externo foi perguntado: Quais são as

principais ameaças, ou seja, as situações externas às instituições que podem

acontecer e prejudicar o modelo de gestão do programa?

A ameaça mais contundente ao arranjo institucional, que viabiliza a gestão

compartilhada do programa, é a descontinuidade política, característica inerente ao

setor público, devido a mudança nos cargos das esferas federal, estadual ou

municipal, que põe em risco a continuidade do programa nas instâncias de transição

e nas abaixo dela.

Foi ressaltado que a desarmonia no ambiente regulatório afeta aspectos da

operacionalização e expansão das ações. Alterações normativas sem a observância

e contemplação das características e especificidades de tratamento do público

empreendedor e dos arranjos necessários para viabilizar o alcance do público

demandante, podem inviabilizar iniciativas por restringir a flexibilidade do setor público

para fluir as políticas públicas.

Em cenários de crise econômica, a escassez de recursos constitui-se também

uma ameaça para captação de funding, podendo comprometer estratégias de

expansão e continuidade. Com a redução das receitas governamentais, seus

respectivos repasses também seguem a mesma tendência, o que pode afetar os

repasses e recursos para programas sociais.

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A análise swot realizada foi de grande relevância para a avaliação do modelo

de gestão do CREDIBAHIA. Esta permitiu que os gestores refletissem sobre o arranjo

institucional utilizado e as práticas desenvolvidas em relação ao Programa

CREDIBAHIA. Pode-se verificar os seus méritos e necessidades de melhoria.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do ponto de vista do fomento, a importância dos resultados quanti-qualitativos

e o efeito multiplicador da operação do Programa CREDIBAHIA podem ser melhor

compreendidos ao se observar três de suas características mais relevantes: o alcance

interinstitucional e intersetorial; a diversidade dos seus clientes e a sua abrangência

territorial.

A relevância de seu alcance interinstitucional é observada pelo envolvimento

das esferas federal, estadual e municipal, que são ativadas pela operação de seu

arranjo institucional. Influenciada e reforçada pelo alcance interinstitucional, a

capacidade intersetorial do Programa e de seu portfólio de linhas crédito permite que

ele componha e reforce um conjunto diverso de programas setoriais do Governo da

Bahia com foco na inclusão socioeconômica, empreendedorismo individual,

cooperativo ou associativista e na geração de emprego e renda, em ação coordenada

e articulada com outras políticas públicas. Do ponto de vista do fomento, essas duas

características evidenciam a importância e efeito irradiador do Credibahia nos três

níveis governamentais.

Em relação ao modelo de gestão, identificou-se que houve importantes ganhos

no arranjo institucional implementado. Contudo, é necessário que sejam superados

obstáculos, para que o programa CREDIBAHIA amplie o seu alcance e aperfeiçoe a

iniciativa. Foi pontuada, neste sentido, a necessidade de elaborar planejamentos

integrados entre os parceiros.

Deve-se buscar soluções para redução dos custos do programa das

prefeituras, em termos de infraestrutura e equipamentos, haja vista que são os entes

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mais frágeis financeiramente, por meio de maior apoio das outras esferas

governamentais.

É necessário aprimorar o modelo de gestão para que o CREDIBAHIA possa ter

maior abrangência junto aos municípios com maior necessidade desta estrutura

alternativa de acesso ao crédito. O aperfeiçoamento da comunicação e a publicização

dos seus resultados, seria uma estratégia importante para sensibilizar os gestores

municipais sobre as vantagens do programa para a economia local.

Sobre o ambiente legal, discute-se, em nível nacional, medidas que

harmonizem as regulamentações que impactam o ambiente das Microfinanças, com

intuito potencializar os efeitos, promover a massificação da política de microcrédito no

país e ampliar as ações de educação financeira do público alvo.

Por fim, em uma avaliação geral da iniciativa, a relação custo-benefício para

operacionalização de um programa cujo investimento é retornável têm se mostrado

satisfatória para todos os entes envolvidos, uma vez que os objetivos das partes têm

sido alcançados por meio desta exitosa ação conjunta, conforme os resultados

apresentados evidenciam.

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http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rea/article/download/493/453> com

acesso em 29 de março de 2016.

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AUTORIA

Paulo de Oliveira Costa – Mestre em Administração, Especialista em Economia Baiana e Engenheiro Químico pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Diretor de Operações da Desenbahia.

Endereço eletrônico: [email protected].

Telefone: (71) 3103-1069

Carmen Lúcia Castro Lima – Doutora em Cultura e Sociedade e Mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e da Universidade Católica de Salvador (UCSAL) Analista da Desenbahia.

Endereço eletrônico: [email protected].

Telefone: (71) 3103-1064

Marcia Maria Fonseca de Souza – Graduada em Administração de empresas (Cairu) e Pós-graduada em Gerenciamento de Projetos (FGV). Gerente da área de Microfinanças na Desenbahia.

Endereço eletrônico: [email protected].

Telefone: (71) 3103-1399