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Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado em Biociência Animal
MARIA LÚCIA APARECIDA SPANGA VIEIRA DOS SANTOS
PESQUISA DE ANTICORPOS ANTI-Leptospira spp. EM CÃES DA REGIÃO DO PANTANAL BRASILEIRO
Cuiabá 2018
MARIA LÚCIA APARECIDA SPANGA VIEIRA DOS SANTOS
PESQUISA DE ANTICORPOS ANTI-Leptospira spp. EM CÃES DA REGIÃO DO PANTANAL BRASILEIRO
Dissertação apresentada à UNIC, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Biociência Animal.
Orientador: Doutor Lázaro Manoel de Camargo Co-orientadora: Doutora Andréia Lima Tomé Melo
Cuiabá 2018
FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecária Elizabete Luciano /CRB1-2103
S238p Spanga, Maria Lúcia.
Pesquisa de Anticorpos ANTI-Leptospira spp. em Cães da Região do Pantanal Brasileiro. / Maria Lúcia Aparecida Spanga Vieira dos Santos. Cuiabá-MT, 2018.
50p. Inclui Lista de Figuras e Quadros.
Dissertação apresentada à UNIC – Universidade de Cuiabá, como requisito para obtenção do título de Mestre em Biociência Animal.
Orientador: Prof.Dr. Lázaro Manoel de Camargo Co-orientadora: Drª Andréia Lima Tomé Melo
1.Cães. 2.Leptospira spp. 3.Soroaglutinação Microscópica. 4.Pantanal.
CDU 619
MARIA LÚCIA APARECIDA SPANGA VIEIRA DOS SANTOS
PESQUISA DE ANTICORPOS ANTI-Leptospira spp. EM CÃES DA REGIÃO DO PANTANAL BRASILEIRO
Dissertação apresentada à UNIC, no Mestrado em Biociência Animal, área de concentração em Saúde Animal como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre, conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores:
BANCA EXAMINADORA
___________________________________ Prof. Dr. Lázaro Manoel de Camargo
UNIC
__________________________________ Prof.ª Dr.ª Andréia Lima Tomé Melo
UNIC
__________________________________ Prof.ª Dr.ª Ana Helena Benetti Gomes
UNIC
Cuiabá, 11 de Abril de 2018.
Dedico este trabalho à querida amiga Solange Atilho, pelo apoio incondicional nessa etapa acadêmica da minha vida, pelo abrigo na segurança do seu lar durante as estadias em Cuiabá, onde pude testemunhar a fé que move montanhas. Mateus 21:21
AGRADECIMENTOS
Ao meu Orientador Prof. Dr. Lázaro Manoel de Camargo, pela confiança depositada no meu desempenho, pelo modo afetuoso e cordial que sempre demonstrou nos atendimentos as minhas inquietações, meu muito obrigada.
À minha co-orientadora Prof.ª Dr.ª Andréia Lima Tomé Melo, pela generosidade em fornecer todos os elementos necessários para esta Dissertação, por fazer de forma tão precisa a ponte entre as ciências biológicas e as ciências veterinárias, me enveredando em novos horizontes da pesquisa. Agradeço a presteza e profissionalismo que manteve em todo esse período.
À Coordenação do Mestrado em Biocência Animal, na pessoa do Prof. Marcelo Diniz dos Santos, que esteve sempre atento ao bom andamento da minha trajetória acadêmica, meu muito obrigada.
Meus agradecimentos ao Professor Doutor: Daniel Moura de Aguiar - Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, ao Professor Doutor: Sérgio Santos de Azevedo - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária, e ao Mestre e aluno de Doutorado: Diego Figueiredo da Costa - Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), pela disponibilização e análise do material biológico utilizado.
Aos meus colegas de turma e tantos outros que conheci dentro da instituição, agradeço os encontros cordiais.
RESUMO
A leptospirose é uma zoonose causada por bactérias do gênero Leptospira, cuja importância mundial está no fato de acometer o homem e uma parcela razoável dos animais domésticos e selvagens. Embora haja estudos sobre este agente em algumas regiões do país, observa-se que no bioma do Pantanal as informações a respeito desta doença na população canina local são escassas. Pesquisas envolvendo animais domésticos podem complementar estudos epidemiológicos em saúde pública e, como no Brasil os cães possuem um convívio muito próximo com o ser humano, é evidente que dados obtidos sobre a doença nesses animais podem fornecer informações importantes a respeito da infecção. Nesse sentido, o presente estudo objetivou realizar a pesquisa de anticorpos anti-Leptospira spp. pela técnica de Soroaglutinação Microscópica (SAM) em 429 amostras de soros de cães provenientes de quatro municípios (Poconé - MT, Santo Antônio de Leverger - MT, Barão de Melgaço - MT e Corumbá - MS) localizados na região do Pantanal Brasileiro, procurando determinar possíveis associações entre os resultados dos exames sorológicos e os questionários sanitários. Assim, do total de cães avaliados pela SAM (título ≥100), verificou-se que 34 (7,93%; IC 95%: 5,63%-11,00%) cães tinham anticorpos anti-Leptospira spp. Os títulos encontrados variaram entre 100 a 1600 e todos os municípios analisados tinham cães sororeagentes para o agente pesquisado. Do total de cães soreagentes, 1,25% (2/160) eram do ambiente urbano e 11,90% (32/269) eram do ambiente rural. A análise estatística mostrou que as variáveis habitat, área e idade (48-72 meses) estavam associadas com a ocorrência de anticorpos anti-Leptospira spp. nos cães avaliados (P < 0.05). Estes resultados demonstram que os cães da região pantaneira tiveram contato com agentes do gênero Leptospira, o que representa uma informação relevante para a saúde pública local, principalmente devido à implicação zoonótica da doença. Palavras-chave: Cães. Leptospira spp. Soroaglutinação Microscópica. Pantanal.
ABSTRACT
Leptospirosis is a zoonosis caused by bacteria of the genus Leptospira, whose worldwide importance lies in the fact that it affects man and a reasonable portion of domestic and wild animals. Although there are studies on this agent in some regions of the country, it is observed that in the Pantanal biome the information about this disease in the local canine population is scarce. Researches involving domestic animals may complement epidemiological studies in public health and, as in Brazil, dogs have a close relationship with humans, it is evident that data obtained on this disease in these animals can provide important information about this infection. In this sense, the present study aimed to verify the presence of anti-Leptospira spp. antibodies by the Microscopic Soroagglutination Test in 429 samples of dogs from four municipalities (Poconé - MT, Santo Antônio de Leverger - MT, Barão de Melgaço - MT e Corumbá - MS) located in the Brazilian Pantanal region, in order to determine possible associations between the results of the serological tests and health questionnaires. Thus, of the total number of dogs evaluated (titer ≥100), it was verified that 34 (7.93%, 95% CI: 5.63% -11.00%) dogs had antibodies against Leptospira spp. The titers found ranged from 100 to 1600 and all analyzed municipalities had seroreagent dogs for the investigated agent. Of the total of positive dogs, 1.25% (2/160) were from the urban environment and 11.90% (32/269) were from the rural environment. Statistical analysis showed that the variables habitat, area and age (48-72 months) were associated with the occurrence of anti-Leptospira spp. antibodies in the evaluated dogs (P <0.05). These results demonstrate that dogs from the Pantanal region had contact with agents of the genus Leptospira, which represents information relevant to local public health, mainly due to the zoonotic implication of the disease. Keyword: Dogs. Leptospira spp. Microscopic Soroagglutination. Pantanal.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição dos cães sororeagentes para Leptospira spp.
38
Tabela 2 – Distribuição dos prováveis sorovares infectatantes e titulações de anticorpos anti-Leptospira spp. encontrados nos cães dos munípios analisados
39
Tabela 3 Análise das variáveis e os resultados da SAM (≥100) nos cães da região do Pantanal.
43
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Gama de hospedeiros para alguns isolados de sorogrupos comuns de Leptospira spp. que infectam animais e o homem.
15
Quadro 2 – Estirpes de Leptospira spp. empregadas como antígenos no teste da Soroaglutinação Microscópica (SAM).
35
LISTA DE ABREVIATURAS
LPS Lipopolissacarídeo
SAM Soroaglutinação Microscópica
OMS Organização Mundial da Saúde
PCR Reação em Cadeia Pela Polimerase
DNA Ácido Desoxirribonucleico
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................12
2 REVISÃO DE LITERATURA: LEPTOSPIROSE ..................................................13
2.1 ETIOLOGIA..........................................................................................................13
2.2 EPIDEMIOLOGIA.................................................................................................14
2.2.1 Leptospirose canina........................................................................................16
2.2.2 Leptospirose nos animais de produção........................................................17
2.2.3 Leptospirose nos animais silvestres.............................................................18
2.3 PATOGENIA.........................................................................................................19
2.4 SINAIS CLÍNICOS................................................................................................20
2.5 DIAGNÓSTICO....................................................................................................21
2.6 TRATAMENTO E PROFILAXIA...........................................................................23
2.7 SAÚDE PÚBLICA.................................................................................................23
REFERÊNCIAS..........................................................................................................25
3 OBJETIVOS............................................................................................................30
3.1 OBJETIVO GERAL...............................................................................................30
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................30
4 ARTIGO
Pesquisa de anticorpos anti-Leptospira spp. em cães da região do Pantanal
Brasileiro...................................................................................................................31
RESUMO....................................................................................................................31
ABSTRACT................................................................................................................32
INTRODUÇÃO...........................................................................................................33
MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................................34
RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................36
CONCLUSÃO............................................................................................................44
REFERÊNCIAS..........................................................................................................45
12
1 INTRODUÇÃO
A leptospirose é uma doença zoonótica de importância mundial que acomete
muitas espécies de animais, e é causada pela infecção por espiroquetas do gênero
Leptospira, as quais são bactérias filamentosas, finas e flexíveis, que formam
espirais finos com extremidades em forma de gancho. Trata-se de uma enfermidade
de importância mundial que acomete o homem, animais domésticos e silvestres,
sendo responsável por perdas econômicas na agropecuária e com grande
repercussão na saúde pública (FÁVERO et al., 2002; BATISTA et al., 2005;
GREENE, 2015).
A bactéria tem distribuição cosmopolita e sua ocorrência tem forte
associação com períodos de elevados índices pluviométricos (ACHA; SZYFRES,
1986; PLANK; DEAN, 2002). Na presença de hospedeiros e, em condições
ambientais favoráveis, as leptospiras podem permanecer por semanas ou meses em
regiões tropicais e subtropicais (PLANK; DEAN, 2002).
Nesse sentido, o Pantanal, que é um bioma caracterizado por ser a maior
planície alagável do planeta, alberga uma grande diversidade de fauna e propicia
condições ecológicas favoráveis ao desenvolvimento do gênero Leptospira, em
virtude da possibilidade da bactéria sobreviver por mais tempo em áreas alagadas e
com elevadas temperaturas (LINS et al., 1986; ALHO et al., 1987). Nas últimas
décadas, a região do Pantanal tem sido citada em estudos epidemiológicos e
sorológicos de leptospirose para animais de produção e silvestres (RIBEIRO et al.,
1999; FÁVERO et al., 2002; GIRIO et al., 2003; VIEIRA et al., 2011; ROMANI, 2012).
Sabe-se que o rato de esgoto (Rattus novergicus) e o cão (Canis lupus
familiaris) são os principais reservatórios deste patógeno no ambiente urbano
(SUEPAUL et al., 2010). Assim, a relação estreita entre cães e os homens ao longo
da história, faz com que a espécie tenha um papel importante na epidemiologia da
doença (MELLO; MANHOSO, 2007; GHNEIM et al., 2007; BATISTA et al., 2005).
Apesar da grande relevância dos cães na epidemiologia da leptospirose,
estudos sobre o gênero Leptospira nesses animais na região pantaneira são
escassos. Além disso, a beleza proporcionada pela paisagem pantaneira cativa
pessoas de todo o mundo e resulta num afluxo de turistas para a região. Aliado a
isso, há também a ocupação humana local e o convívio próximo entre o ser humano
13
e os cães, o que justifica a realização de pesquisas que enfoquem e busquem dados
sobre saúde animal. Ademais, investigações nesse âmbito são necessárias para o
estabelecimento de práticas de controle e profilaxia em relação a este agente nos
cães da região, considerando a forte influência ambiental dos ritmos que o sistema
hídrico pantaneiro pode exercer sobre a disseminação desta bactéria, o que poderia
comprometer a saúde pública regional em função do caráter zoonótico desta
doença.
2 REVISÃO DE LITERATURA: LEPTOSPIROSE
2.1 ETIOLOGIA
O agente etiológico da leptospirose pertence à ordem Spirochaetales, família
Leptospiraceae, gênero Leptospira. Classicamente, o gênero foi dividido em duas
espécies: Leptospira interrogans - lato sensu, que contém todas as cepas
patogênicas, e Leptospira biflexa sensu lato, que contém todas as cepas saprofíticas
do ambiente. Nesses dois grupos de leptospiras foram identificados diferentes
sorovares, com base na reatividade humoral distinta a diferentes componentes de
carboidratos no lipopolissacarídeo da membrana externa. A variante sorológica ou
sorovar é a menor unidade taxonômica do gênero; os sorovares são microrganismos
antigenicamente e, com frequência, epidemiologicamente distintos em determinada
espécie (GREENE, 2015).
Sorotipos que são antigenicamente relacionados têm sido tradicionalmente
agrupados em sorogrupos (KMETY; DIKKEN, 1993). Segundo a classificação
taxonômica clássica, com base em sorogrupos e sorovares e na patogenicidade, as
leptospiras podem ser divididas em dois grandes grupos: patogênicas e saprófitas.
As patogênicas, que podem infectar o homem e os animais são: Leptospira
interrogans, L. borgpetersenii, L. inadai, L. kirschneri, L. noguchii, L. weillii e L.
santarosai; possuem mais de 200 sorovares agrupados em 23 sorogrupos. As
espécies saprófitas de vida livre são: L. biflexa, L. wolbachii e L. hollandia; possuem
38 sorovares agrupados em 6 sorogrupos, estas são encontradas principalmente em
14
água doce, e os registros de infecção no homem e animais são raros (FAINE, 1982;
ACHA; SZYFRES, 1986; KMETY; DIKKEN, 1993).
Com o advento dos métodos genéticos, microrganismos do gênero Leptospira
foram classificados em 20 genomoespécies com base na sua relação genética.
Nessa nova classificação genética, as espécies estão classificadas em patogênicas
(L. interrogans, L. kirschneri, L. noguchii, L. alexanderi, L. weilii, L. borgpetersenii, L.
santarosai, L. kmetyi, L. canicola, L. grippotyphosa, L. icterohaemorrhagiae e L.
pomona), oportunistas/intermediárias (L. inadai, L. fainei, L. broomii, L. licerasiae e L.
wolffii) e não patogênicas (L. biflexa, L. meyeri e L. wolbachii) (GENOVEZ, 2016).
As leptospiras são bactérias filamentosas, finas e flexíveis (0,1 a 0,2 μm de
largura e 6 a 12 μm de comprimento) que formam espirais finos com extremidades
em forma de gancho, e com a presença de dois filamentos axiais de constituição
protéica denominados de flagelos periplasmáticos, os quais são responsáveis pela
motilidade rotacional do microrganismo. São constituídas de membrana
citoplasmática e parede celular de peptídeoglicano, bem como por uma membrana
externa com porção fosfolipídica e outra de lipopolissacarídeo (LPS).
São bactérias aeróbicas sendo que as estirpes patogênicas são isoladas
entre 28 a 30 ºC e as saprófitas entre 11 e 13 ºC, em pH de 7,2 a 7,6. Meios
líquidos, semissólidos e sólidos são empregados no cultivo bacteriano. São bem
visualizadas por iluminação de campo escuro ou contraste de fase e não se coram
bem pela técnica de Gram. Esses microrganismos não resitem a ambientes secos,
radiação solar direta, pH ácido (< 6) e elevada salinidade. Podem ser preservadas
em temperaturas de -70 ºC e em nitrogênio líquido (- 196 ºC) (GENOVEZ, 2016).
2.2 EPIDEMIOLOGIA
A bactéria está mundialmente distribuída e sua ocorrência tem forte
associação com períodos de elevados índices pluviométricos (ACHA; SZYFRES,
1986; PLANK; DEAN, 2002). Na presença de hospedeiros e, em condições
ambientais favoráveis, as leptospiras podem permanecer por semanas ou meses em
regiões tropicais e subtropicais (PLANK; DEAN, 2002). Nas regiões que apresentam
clima seco, ocorrem infecções acidentais próximas aos corpos d’água represados,
15
com altas concentrações de animais no seu entorno, e em regiões temperadas, as
infecções são sazonais e ocorrem com maior frequência nos meses chuvosos
(SZYFRES, 1976). A infecção pode disserminar-se entre a mesma espécie animal e
entre espécies diferentes, de maneira cíclica. Urina, fetos abortados, placentas,
descargas cervicovagianis, e sêmen são as principais vias de eliminação do
patógeno. De maneira geral as portas de entrada da bactéria no organismo
hospedeiro se dão em pele íntegra ou lesionada com abrasões e na mucosa
conjuntiva, nasofaríngea e genitourinária (GENOVEZ, 2016).
Os estudos epidemiológicos realizados mostraram que as preferências
quanto ao hospedeiro podem mudar com o passar do tempo e região geográfica. Os
sorovares são mantidos na natureza por numerosos reservatórios em mamíferos
silvestres e domésticos com infecção subclínica ou hospedeiros de manutenção, que
atuam como fonte potencial de infecção da doença para os seres humanos e outros
hospedeiros animais acidentais. Os hospedeiros acidentais infectados desenvolvem
doença clínica mais grave e eliminam os microrganismos por um período mais curto
do que os hospedeiros reservatórios (GREENE, 2015) (Quadro 1).
Sorogrupo selecionado
Principal reservatório Conhecido
Hospedeiros acidentais
Outros animais
domésticos
Animais silvestres representativos
Cão Gato Humano
Bratislava Rato, suíno, equino?
+ – + Bovino,equino. Camundongo, porco-espinho, raposa, marsupial.
Autumnalis Camundongo. + – + Bovino. Rato, guaxinim, gambá, marsupial.
Icterohaemor_ rhagiae
Rato. + + + Bovino, suíno, cobaia.
Gambá, raposa, macaco.
Pomona Bovino, suíno, gambá.
+ + + Caprino, coelho.
Camundongo, porco-espinho, lobo, cervo, raposa.
Canicola Cão. + + + Bovino, equino, suíno.
Rato, tatu, porco-espinho, marsupial.
Batavia Cão, rato, camundongo.
+ + + Bovino. Porco-espinho, rato, tatu.
Hardjo Bovino. + – + Suíno, equino. Bovidae silvestres.
Australis Rato. + – + Cão. Marsupial.
Zanoni Rato. + – + Bovino, cão. Marsupial.
Grippotyphosa Rato, gambá. + + + Bovino, suíno, caprino.
Bovino, suíno, caprino, cobaia.
Quadro 1 – Gama de hospedeiros para alguns isolados de sorogrupos comuns de Leptospira spp. que infectam animais e o homem. Fonte: adaptado de Doenças infecciosas em cães e gatos (GREENE, 2015).
16
2.2.1 Leptospirose canina
Entre os animais domésticos, a principal fonte de infecção da leptospirose
para a população humana é o cão, em consequência do contato direto com os seres
humanos podendo esses animais eliminar leptospiras vivas através da urina durante
meses, mesmo sem apresentar sinais clínicos (FAINE et al., 1999).
São transmitidas entre hospedeiros por contato direto ou, mais comumente,
indireto. A transmissão direta ocorre por meio de contato com urina infectada,
transferência venérea e placentária, ferida de mordedura ou ingestão de tecidos
infectados. As aglomerações de animais, como as observadas em canis,
teoricamente poderiam ser consideradas como risco ambiental de infecção; todavia,
essa transferência não foi bem documentada (GREENE, 2015; MELLO; MANHOSO,
2007; FAINE et al., 1999; KMETY; DIKKEN, 1993).
Em algumas regiões geográficas, existe um aumento aparente na incidência
sazonal da leptospirose canina no final do verão e no outono, ou nas regiões com
estações frias e chuvosas no inverno. Existem vários cenários para a ocorrência
geográfica e temporal da leptospirose em cães, e foram feitas observações
semelhantes para a doença nos seres humanos. Devido à necessidade de água, a
incidência da doença ou os surtos frequentemente aumentam durante períodos de
maior pluviosidade ou enchentes, respectivamente, sobretudo em regiões tropicais
(GREENE, 2015).
Os sorovares mais prevalentes encontrados em pesquisa e que
determinaram a situação da leptospirose canina no Brasil foram Canicola,
Copenhageni, Icterohaemorrhagiae seguido pelo Autumnalis (MELLO; MANHOSO,
2007).
Os roedores são considerados os principais reservatórios da infecção, sendo
o rato de esgoto (Rattus novergicus) e os cães (Canis lupus familiaris) os principais
reservatórios da leptospirose no ambiente urbano. Estudos indicam que os
sorovares presentes nos roedores em um determinado local são semelhantes aos
encontrados em cães que cohabitam o mesmo ambiente (SUEPAUL et al., 2010).
A relação estreita entre cães e os homens ao longo da história, faz com que
a espécie tenha um papel importante na transmissão da doença, pois mantém a
bactéria por longo período nos rins, eliminando o patógeno através da urina sem
17
apresentar sinais clínicos, ou até mesmo após a melhora clínica (MELLO;
MANHOSO, 2007; BATISTA et al., 2005). Cães são bons sentinelas para detectar a
presença de leptospirose no ambiente (GHNEIM et al., 2007) e são representantes
chave para o entendimento da epidemiologia da doença, sendo que o diagnóstico e
tratamento dos animais doentes são importantes para se evitar a infecção humana
(OLIVEIRA, 2010).
2.2.2 Leptospirose nos animais de produção
Os bovinos são reservatórios naturais da sorovariedade Hardjo, sendo a
Leptospira borgpetersenii sorovar Hardjobovis a mais comum entre esses animais,
enquanto a Leptospira interrogans sorovar Hardjoprajitno também é encontrada em
algumas partes do mundo. Ambas as sorovariedades possuem a habilidade de
colonizar e persistir no trato reprodutor de vacas e touros, sugerindo a possibilidade
da transmissão venérea. Em vacas prenhes, o agente pode ser encontrado no útero,
levando a abortamento, natimortalidade e doença neonatal (ELLIS, 2015). Já em
relação à leptospirose em ovinos e caprinos observa-se que os sorovares mais
prevalentes são: Pomona, Autumnalis, Sejroe, Icterohaemorragiae, Gripotyphosa e
Ballum (OLIVEIRA; ARSKY; CALDAS, 2013).
Em equinos de diversos países a sorologia para leptospirose tem se mostrado
bastante variável, não demonstrando a ocorrência de um sorovar preferencial.
Consequentemente, a incidência de cada sorovar de Leptospira spp. varia conforme
as características regionais. Em éguas gestantes é comum o relato de reabsorção
embrionária precoce, abortos no terço final da gestação ou nascimento de potros
prematuros e fracos (THOMASSIAN, 2005).
Já nos suínos, os sorovares de leptospiras mais comumente encontrados, e
causadores da doença são: Pomona, Icterohaemorrhagiae, Tarassovi, Canicola,
Gryppotyphosa, Bratislava e Muenchen (SOBESTIANSKY et al., 1999). A
leptospirose está classificada como uma doença de grande importância do ponto de
vista sócio-econômico e/ou sanitário, com considerável repercussão no comércio de
animais e produtos de origem animal (NAVES et al., 2012).
18
2.2.3 Leptospirose nos animais silvestres
Diferentes investigações têm descrito a importância dos animais silvestres
como organismos vitais no ciclo epidemiológico de enfermidades que atingem o
homem e animais domésticos (CUTLER; FOOKS; VAN DER POEL, 2010; PAVLIN;
SCHLOEGEL; DASZAK, 2009). Estima-se que 60% de dos patógenos emergentes
são zoonóticos e que 70% tem origem na fauna silvestre (CUTLER; FOOKS; VAN
DER POEL, 2010).
Animais exercem importante papel na epidemiologia da leptospirose, na
quais as espécies silvestres são susceptíveis a infecção por uma ampla variedade
de sorovares do gênero Leptospira (LILENBAUM et al., 2005; CHAPMAN;
GILLESPIE; GOLDBERG, 2005).
Nas últimas décadas a região do bioma do Pantanal tem sido citada em
estudos epidemiológicos e sorológicos de leptospirose para animais de produção e
silvestres (RIBEIRO et al., 1999; FÁVERO et al., 2002; GIRIO et al., 2003; VIEIRA et
al., 2011; ROMANI, 2012).
Estudos sobre a presença de leptospiras em animais silvestres e
sinantrópicos foram realizados em roedores, edentatas, carnívoros, artiodáctilos e
primatas, os quais podem atuar como fonte de infecção e potenciais disseminadores
dos diferentes sorovares de Leptospira spp. (OLIVEIRA et al., 2013). No Pantanal,
EMBRAPA, (1999) relacionou o porco monteiro com a ocorrência da sorovariedade
Tarassovi em bovinos, devido à estreita relação entre as duas populações e
considerou os equinos da região como a segunda espécie doméstica em maior
densidade no Pantanal.
Um estudo realizado no Pantanal sul-matogrossense com animais silvestres,
utilizou as técnicas sorológicas e moleculares para a detecção de sorovares
predominantes entre as espécies: Pomona e Butembo para veado campeiro
(Ozotoceros bezoarticus); Hardjo para cachorro do mato (Cerdocyon thous),
Icterohaemorrhagiae para jaguatirica (Leopardus pardalis) e Pomona para quati
(Nasua nasua) (VIEIRA et al., 2011).
19
2.3 PATOGENIA
No caso da leptospirose canina observa-se que as bactérias penetram nas
mucosas das vias digestiva, respiratória e genital ou na pele íntegra, escoriada,
arranhada ou amolecida pela água. Uma vez dentro do ambiente mais aquecido do
corpo de um mamífero, ocorrem alterações de transcrição que intensificam a
patogenicidade da espiroqueta (LO et al., 2006; MATSUNAGA et al., 2006;
PALANIAPPAN; RAMANUJAM; CHANG, 2007). Após penetrar no organismo, a
bactéria dissemina-se pela circulação sanguínea e multiplica-se ativamente no
endotélio vascular, sistema linfático, líquor e órgãos parenquimatosos (rins, baço,
pumões, fígado, olhos, trato genitourinário e sistema nervoso central), dando início a
um quadro agudo septicêmico, com sinais clínicos pouco específicos, denominado
de leptospiremia (ACHA, 2003).
O período de incubação é de 5 a 10 dias, no qual o organismo responde
imunologicamente pelo sistema de defesa, onde as células T e células B
dependentes são estimuladas. A gravidade da leptospirose pode ser associada com
a intensidade da resposta imunitária humoral (FONSECA, 2012). A fagocitose tem
início e a maioria das leptospiras é digerida nos vacúolos de macrófagos e netrófilos,
sendo que essa atividade fagocítica das células polimorfonucleadas é iniciada por
anticorpos opsonizantes (SAMBASIVA et al., 2003). Após essa fase de fagocitose
das bactérias, elas passam a se albergar nos túbulos renais, onde o sistema
imunológico tem maior dificuldade de atuação e inicia-se a fase leptospiúrica, onde
haverá a eliminação do microrganismo pela urina (FONSECA, 2012). A eliminação
renal da bactéria ocorre desde 72 horas após a infecção até semanas a meses em
animais domésticos e por toda a vida em roedores (PAES, 2016).
A aderência de fagócitos, a liberação de citocinas e a agregação plaquetária
somadas à intensa multiplicação bacteriana no endotélio vascular resultam em
quadros hemorrágicos, edema, congestão e vasculite generalizados. A colonização
renal determia lesões nas células do epitélio tubular e edema do parênquima, com
consequente redução da perfusão renal, levando a um quadro de insuficiência renal
aguda. Há também hepative em função da ação das toxinas produzidas pelo
patógeno, além de vasculite, hemorragia pulmonar, uveíte e meningite (PAES,
2016).
20
Já em relação à patogenia da leptospirose nos animais de produção, após a
penetração, as leptospiras patogênicas percorrem as vias linfáticas e disseminam-se
pelo organismo do animal acometendo principalmente os pulmões, fígado e baço,
multiplicando-se por cerca de uma semana. Em fêmeas gestantes, a bactéria pode
atravessar a placenta e chegar ao feto em qualquer fase da gestação, causando
perdas embrionárias, abortamentos, natimortalidade e nascimento de crias
debilitadas. Além disso, observa-se lesão direta das células endoteliais de pequenos
vasos, resultando em hemorragia disseminada. As lesões aparecem entre 48 e 72
horas da infecção, acompanhadas por petéquias e segue-se então, a fase de
leptospiremia, com estágio febril. Nos bovinos infectados, o tempo necessário para o
estabelecimento de lesões varia conforme a dose, a virulência e a toxicidade da
bactéria infectante (GENOVEZ, 2016).
2.4 SINAIS CLÍNICOS
Em cães com leptospirose observa-se, na fase aguda da doença, a
presença de apatia, anorexia, letargia, febre (39,5 °C a 40 °C), calafrios e
hipersensibilidade muscular generalizada. Subsequentemente, ocorrem vômitos,
desidratação rápida e colapso vascular periférico, além de taquipneia, pulso rápido e
irregular e perfusão capilar deficiente. Os defeitos da coagulação e a lesão vascular
são aparentes, como hematêmese, hematoquezia, melena, epistaxe e petéquias
disseminadas.
Os cães com doença terminal ficam deprimidos e apresentam hipotermia,
não havendo tempo para o desenvolvimento de insuficiência renal e hepática. As
infecções subagudas caracterizam-se por anorexia, vômitos, desidratação e
aumento da sede.
Em muitos cães com leptospirose subaguda, a temperatura retal encontra-se
na faixa de referência. A relutância em se mover e a hiperestesia paraspinal podem
resultar de inflamação muscular, meníngea ou renal. É possível que ocorra perda de
peso, habitualmente associada a uma redução da ingestão de alimento em
consequência da hiperestesia associada à inflamação, ou da uremia (GREENE,
2015).
21
Há também a presença de icterícia na esclera, mucosas conjuntival, oral e
genital e em áreas mais claras da pele, como pavilhão auricular e abdômen. A urina
adquire coloração escura e redução da frequência de micção, naa uscultação
pulmonar indica a ocorrência de pneumonia e pleurite (PAES, 2016).
Já os bovinos com leptospirose apresentam um quadro clínico caracterizado
por infertilidade, abortamentos, natimortalidade, nascimento de bezerros fracos e
portadores renais e mastite flácida em bovinos leiteiros. E nos equinos, dependendo
do sorovar infectante, pode haver tanto manifestação reprodutiva quanto sistêmica.
Em relação aos suínos nos animais jovens observa-se febre anorexia, conjuntivite,
icterícia hemoglobinúria e distúrbios neurológicos, enquanto que nos adultos o
abortamento é muito comum (GENOVEZ, 2016).
2.5 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da leptospirose pode ser realizado pela demonstração do
agente (métodos diretos) e por métodos indiretos (provas sorológicas) do agente ou
do material genético (SARMENTO et al., 2012; FAINE et al., 1999; SANTA ROSA;
PESTANA 1963). Entre as provas indiretas mais utilizadas temos a pesquisa de
anticorpos, que podem ser detectados no sangue aproximadamente de 5 a 7 dias
após o início dos sintomas, bem com o cultivo do agente etiológico e o isolamento
(GRENNE, 2015)
A Soroaglutinação Microscópica (SAM) é uma técnica de diagnóstico
baseada na detecção de anticorpos, sendo o método considerado como prova
padrão ouro pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A SAM com antígenos
vivos é a mais utilizada em todo o mundo e baseia-se em primeiro lugar na reação
entre anticorpos presentes no soro contra os antígenos encontrados na superfície da
bactéria (FAINE et al., 1999; LEVETT, 2001).
Diversos fatores afetam a especificidade e a sensibilidade desta prova, tais
como: coleção de estirpes empregadas como antígenos, idade e densidade dos
cultivos, diluição inicial dos soros, temperatura e tempo de incubação (FÁVERO et
al., 2002).
22
A recomendação oficial para a prova da SAM aplicada à leptospirose é que
a coleção de antígenos empregada contenha um representante por sorogrupo
(SARMENTO et al., 2012), sendo importânte o acrécimo de sorovares autóctones da
região, que ampliaria a capacidade discriminadora do teste (BROD et al., 2005).
Já a Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR) é um diagnóstico precoce
da leptospirose no homem e em espécies animais que tem uso crescente, pois a
técnica apresenta alta sensibilidade e especificidade, permitindo amplificar partes
mínimas do DNA de um microrganismo provenientes de amostras biológicas
diversas, como humor aquoso, urina, soro sanguíneo, líquor, e tecidos,
respectivamente (BAL et al., 1994; BROWN et al., 1996; BROWN et al., 2003;
ROMERO et al., 1998).
Mas a PCR tem com limitação a incapacidade de identificar o sorovar
infectante, e embora isso não seja significativo para o paciente, a identificação do
sorovar tem valor importância epidemiológica em se tratando de saúde pública
(LEVETT, 2004).
A sensibilidade da PCR pode variar de acordo com a escolha dos pares de
oligonucleotídeos iniciadores, padronização dos reagentes empregados na técnica,
seleção do material biológico, forma de conservação e tempo de estocagem da
amostra, uma vez que o DNA pode facilmente sofrer degradação (VELOSO et al.,
2000). Anahi et al. (2013) compararam o desempenho das técnica SAM e PCR em
um levantamento da infecção por Leptospira spp. em mamíferos silvestres do
Pantanal sul-matogrossense, e apesar de não terem encontrado diferença
significativa entre as duas técnicas, os autores concluem que cada técnica pode ser
utilizada em momentos diferentes de acordo com as circunstâncias.
Outro método de diagnóstico é a microscopia de campo escuro que baseia-
se na visualização direta da espiroqueta na urina de animais suspeitos. No entanto,
em virtude da necessidade de um microscópio adequado, operador treinado e
quantidade mínima de bactérias viáveis (105 leptospiras/ml), o método apresenta
entre 30 a 60% de sensibilidade e cerca de 60 a 80% de especificidade (GENOVEZ,
2016).
Há também a possibilidade de isolamento do agente com identificação do
sorogrupo/sorovar responsável pela infecção por meio do sangue, derrames
cavitários, urina, fígado e rins colocados em meios seletivos para cultivo
microbiológico (PAES, 2016).
23
2.6 TRATAMENTO E PROFILAXIA
A eficácia do tratamento da leptospirose canina depende do diagnóstico
precoce da doença, sendo que a instituição de terapia na fase inicial da doença traz
bons resultados. De maneira geral, o tratamento inclui o uso de antimicrobianos, na
qual o tratamento de suporte para animais com leptospirose depende da gravidade
da infecção e da existência de disfunção renal e hepática, bem como de outros
fatores que causam complicações (GREENE, 2015).
No caso dos animais de produção é também indicado a utilização de
antimicrobianos. Entretanto, a relação custo/benefício da antibioticoterapia deve
levar em conta o valor dos animais, o destino do rebanho e o tipo de criação, sendo
que o tratamento é sempre recomendável quando houver risco de transmissão aos
humanos (GENOVEZ, 2016).
A prevenção da leptospirose envolve o combate aos roedores, higienização
periódica das instalações, quarentena para animais recém-adquiridos e isolamento e
tratamento dos animais doentes. A vacinação também é uma importante medida
profilática, pois as vacinas comerciais contra leptospirose são efetivas em reduzir a
ocorrência da doença e a gravidade da sintomatologia clínica (PAES, 2016).
2.7 SAÚDE PÚBLICA
A leptospirose é uma importante zoonose com distribuição mundial e a
incidência da leptospirose humana tem crescido em países da América Latina
associada aos desastres naturais e ao crescimento desordenado das cidades
(OLIVEIRA; GUIMARÃES, 2009). Os sorovares que mais acometem humanos são
Icterohaemorrhagiae e Canicola. A bactéria é transmitida dos animais para os
humanos direta ou indiretamente, através do contato com a urina infectada de
roedores, animais domésticos ou silvestres, bem como pelo consumo de água e
alimentos contaminados. Nesse sentido, os cães têm papel importante na
transmissão do patógeno para os humanos em virtude do contato com urina ou
sangue de animais doentes ou portadores. Também pode ser observado o caráter
24
ocupacional da doença em humanos, principalmente aquelas pessoas que estão em
contato direto com excretas, carcaças e fetos abortados de animais de produção,
especialmente bovinos e suínos (PAES, 2016; GENOVEZ, 2016).
25
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30
3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Realizar a pesquisa de anticorpos anti-Leptospira spp. em cães da região do
Pantanal Brasileiro.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Realizar a pesquisa de anticorpos anti-Leptospira spp. pela técnica de
Soroaglutinação Microscópica (SAM) em cães dos municípios de Poconé/MT,
Santo Antônio de Leverger/MT, Barão de Melgaço/MT e Corumbá/MS.
Determinar possíveis associações entre os resultados dos exames sorológicos e
os questionários sanitários que podem ser relevantes para o desenvolvimento da
infecção pelo agente pesquisado.
31
PESQUISA DE ANTICORPOS ANTI-Leptospira spp. EM CÃES DA REGIÃO DO PANTANAL BRASILEIRO
A survey of anti-Leptospira spp. antibodies in dogs from the Brazilian Pantanal Region
RESUMO
SPANGA, M.L. Pesquisa de anticorpos anti-Leptospira spp. em cães da região do Pantanal Brasileiro. 2018. Dissertação (Mestrado em Biocência Animal) – Universidade de Cuiabá, Cuiabá, 2018.
A leptospirose é uma zoonose causada por bactérias do gênero Leptospira, cuja importância mundial está no fato de ela acometer o homem e uma parcela razoável dos animais domésticos e selvagens. Embora haja estudos sobre este agente em algumas regiões do país, observa-se que no bioma do Pantanal as informações a respeito desta doença na população canina local são escassas. Pesquisas envolvendo animais domésticos podem complementar estudos epidemiológicos em saúde pública e, como no Brasil os cães possuem um convívio muito próximo com o ser humano, é evidente que dados obtidos sobre a doença nesses animais podem fornecer informações importantes a respeito da infecção. Nesse sentido, o presente estudo objetivou realizar a pesquisa de anticorpos anti-Leptospira spp. pela técnica de Soroaglutinação Microscópica (SAM) em 429 amostras de soros de cães provenientes de quatro municípios (Poconé - MT, Santo Antônio de Leverger - MT, Barão de Melgaço - MT e Corumbá - MS) localizados na região do Pantanal Brasileiro, procurando determinar possíveis associações entre os resultados dos exames sorológicos e os questionários sanitários. Assim, do total de cães avaliados pela SAM (título ≥100), verificou-se que 34 (7,93%; IC 95%: 5,63%-11,00%) cães tinham anticorpos anti-Leptospira spp. Os títulos encontrados variaram entre 100 a 1600 e todos os municípios analisados tinham cães sororeagentes para o agente pesquisado. Do total de cães soreagentes, 1,25% (2/160) eram do ambiente urbano e 11,90% (32/269) eram do ambiente rural. A análise estatística mostrou que as variáveis habitat, área e idade (48-72 meses) estavam associadas com a ocorrência de anticorpos anti-Leptospira spp. nos cães avaliados (P < 0.05). Estes resultados demonstram que os cães da região pantaneira tiveram contato com agentes do gênero Leptospira, o que representa uma informação relevante para a saúde pública local, principalmente devido à implicação zoonótica da doença. Palavras-chave: Cães. Leptospira spp. Soroaglutinação Microscópica. Pantanal.
32
ABSTRACT
SPANGA, M.L. A survey of anti-Leptospira spp. antibodies in dogs from the Brazilian Pantanal Region. 2018. Dissertation (Master Animal Bioscience) - University of Cuiabá, Cuiabá, 2018. Leptospirosis is a zoonosis caused by bacteria of the genus Leptospira, whose worldwide importance lies in the fact that it affects man and a reasonable portion of domestic and wild animals. Although there are studies on this agent in some regions of the country, it is observed that in the Pantanal biome the information about this disease in the local canine population is scarce. Researches involving domestic animals may complement epidemiological studies in public health and, as in Brazil, dogs have a close relationship with humans, it is evident that data obtained on this disease in these animals can provide important information about this infection. In this sense, the present study aimed to verify the presence of anti-Leptospira spp. antibodies by the technique of Microscopic Soroagglutination in 429 samples of dogs from four municipalities (Poconé - MT, Santo Antônio de Leverger - MT, Barão de Melgaço - MT e Corumbá - MS) located in the Brazilian Pantanal region, in order to determine possible associations between the results of the serological tests and health questionnaires. Thus, of the total number of dogs evaluated (titer ≥100), it was verified that 34 (7.93%, 95% CI: 5.63% -11.00%) dogs had antibodies against Leptospira spp. The titers found ranged from 100 to 1600 and all analyzed municipalities had seroreagent dogs for the investigated agent. Of the total of positive dogs, 1.25% (2/160) were from the urban environment and 11.90% (32/269) were from the rural environment. Statistical analysis showed that the variables habitat, area and age (48-72 months) were associated with the occurrence of anti-Leptospira spp. antibodies in the evaluated dogs (P <0.05). These results demonstrate that dogs from the Pantanal region had contact with agents of the genus Leptospira, which represents information relevant to local public health, mainly due to the zoonotic implication of the disease. Keyword: Dogs. Leptospira spp. Microscopic Soroagglutination. Pantanal.
33
INTRODUÇÃO
A leptospirose é uma doença zoonótica de importância mundial que acomete
muitas espécies de animais, e é causada pela infecção por espiroquetas do gênero
Leptospira, as quais são bactérias filamentosas, finas e flexíveis, que formam
espirais finos com extremidades em forma de gancho. Trata-se de uma enfermidade
de importância mundial que acomete o homem, animais domésticos e silvestres,
sendo responsável por perdas econômicas na agropecuária e com grande
repercussão na saúde pública (FÁVERO et al., 2002; BATISTA et al., 2005;
GREENE, 2015).
A bactéria tem distribuição cosmopolita e sua ocorrência tem forte
associação com períodos de elevados índices pluviométricos (ACHA; SZYFRES,
1986; PLANK; DEAN, 2002). Na presença de hospedeiros e, em condições
ambientais favoráveis, as leptospiras podem permanecer por semanas ou meses em
regiões tropicais e subtropicais (PLANK; DEAN, 2002).
Nesse sentido, o Pantanal, que é um bioma caracterizado por ser a maior
planície alagável do planeta, alberga uma grande diversidade de fauna e propicia
condições ecológicas favoráveis desenvolvimento do gênero Leptospira, em virtude
da possibilidade da bactéria sobreviver por mais tempo em áreas alagadas e com
elevadas temperaturas (LINS et al., 1986; ALHO et al., 1987). Nas últimas décadas,
a região do Pantanal tem sido citada em estudos epidemiológicos e sorológicos de
leptospirose para animais de produção e silvestres (RIBEIRO et al., 1999; FÁVERO
et al., 2002; GIRIO et al., 2003; VIEIRA et al., 2011; ROMANI, 2012).
Sabe-se que o rato de esgoto (Rattus novergicus) e o cão (Canis lupus
familiaris) são os principais reservatórios deste patógeno no ambiente urbano
(SUEPAUL et al., 2010). Assim, a relação estreita entre cães e os homens ao longo
da história, faz com que a espécie tenha um papel importante na epidemiologia da
doença (MELLO; MANHOSO, 2007; GHNEIM et al., 2007; BATISTA et al., 2005).
Apesar da grande relevância dos cães na epidemiologia da leptospirose,
estudos sobre o gênero Leptospira nesses animais na região pantaneira são
escassos. Além disso, a beleza proporcionada pela paisagem pantaneira cativa
pessoas de todo o mundo e resulta num afluxo de turistas para a região. Aliado a
isso, há também a ocupação humana local e o convívio próximo entre o ser humano
34
e os cães, o que justifica a realização de pesquisas que enfoquem e busquem dados
sobre saúde animal. Ademais, investigações nesse âmbito são necessárias para o
estabelecimento de práticas de controle e profilaxia em relação a este agente nos
cães da região, considerando a forte influência ambiental dos ritmos que o sistema
hídrico pantaneiro pode exercer sobre a disseminação desta bactéria, o que poderia
comprometer a saúde pública regional em função do caráter zoonótico desta
doença.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostragem
Para execução deste trabalho foram avaliadas 429 (160 provenientes de área
urbana e 269 de área rural) amostras de soros de cães coletadas em um estudo
anterior, no período de 2009 a 2012, de quatro municípios localizados na região do
Pantanal: i) Poconé (16º 15' 24" S; 56º 37' 22" O); ii) Santo Antônio de Leverger (15º
51' 47" S; 56º 04' 47" O); iii) Barão de Melgaço (16º 11' 49" S; 55º 58' 03" O) e iv)
Corumbá (19º 00' 33"S; 57º 39' 44" O) (MELO et al., 2011; 2017).
As amostras de sangue dos cães foram colhidas por venopunção da jugular
para obtenção do soro e um questionário sanitário abrangente foi aplicado a cada
proprietário do cão que foi selecionado para a colheita de sangue. As informações
coletadas incluíram principalmente habitat (urbano ou rural), área (não alagável e
alagável), sexo e idade do animal (MELO et al., 2011; 2017).
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética de Uso de Animais da
Universidade de Cuiabá (CEUA/UNIC), sob número de protocolo 008/2016.
Soroaglutinação Microscópica (SAM)
A Soroaglutinação Microscópica (SAM) é a técnica recomendada pela OIE
(2012), na qual os antígenos vivos utilizados foram mantidos em meio líquido
(EMJH, Difco, Detroit, MI, EUA) de acordo com os protocolos oficiais (ZUERNER,
2005) (Quadro 2).
35
Espécie Sorovar Sorogrupo Amostra de referência
L. biflexa Patoc Semaranga Patoc I (ATCC 23582)
L. borgpetersenii Ballum Ballum Mus 127
L. borgpetersenii Castellonis Ballum Castellon 3
L. borgpetersenii Javanica Javanica Veldrat Batavia 46
L. borgpetersenii Mini Mini Sari
L. borgpetersenii Tarassovi Tarassovi Perepelicin
L. borgpetersenii Whitcombi Celledoni Whitcomb
L. interrogans Australis Australis Ballico
L. interrogans Autumnalis Autumnalis Akiyami A
L. interrogans Bataviae Bataviae Van Tienen
L. interrogans Bratislava Australis Jez Bratislava
L. interrogans Canicola Canicola Hond Utrecht IV
L. interrogans Copenhageni Icterohaemorrhagiae M 20
L. interrogans Hardjo Sejroe Hardjoprajitno
L. interrogans Hebdomadis Hebdomadis Hebdomadis
L. interrogans Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae RGA
L. interrogans Pomona Pomona Pomona
L. interrogans Pyrogenes Pyrogenes Salinem
L. interrogans Wolffi Sejroe 3705
L. kirschneri Butembo Autumnalis Butembo
L. kirschneri Cynopteri Cynopteri 3522 C
L. kirschneri Grippotyphosa Grippotyphosa Moskva V
L. noguchii Panama Panama CZ 214 K
L. santarosai Guaricurus Sejroe Bov. G
L. santarosai Shermani Shermani 1342 K
Quadro 2 - Estirpes de Leptospira spp. empregadas como antígenos no teste da Soroaglutinação Microscópica (SAM).
As cepas de referência foram cultivadas em EMJH por 5-10 dias a 28 °C em
estufa DBO® (Eletrolab, São Paulo, São Paulo, Brasil) até o crescimento na
densidade de 1-2 x 108 leptospiras/mL. As culturas foram examinadas
microscopicamente para assegurar que estavam livres de autoaglutinação e
contaminação; e subculturas foram realizadas semanalmente para manutenção dos
cultivos. Para cada reação foi utilizado um controle negativo, empregando-se
solução salina tamponada (NaCl 0,9%) aos ensaios. Cada amostra de soro foi
inicialmente diluída a 1:50 em solução salina tamponada. Após esta etapa, uma
alíquota desta diluição contendo 50 μL foi adicionada em microplacas de vinil de
fundo plano contendo 96 poços (Costar, Corning, NY, EUA), e logo após, foi
acrescentado o mesmo volume de cada antígeno correspondente nos poços,
respeitado a marcação das placas, obtendo-se uma diluição final de 1:100. Cada
amostra sorológica foi testada frente à bateria antigênica compreendida por 24
sorovares. As microplacas foram incubadas em estufa bacteriológica a 37 °C por 90
min. Cada amostra foi observada em microscopia de campo escuro e classificada de
36
acordo com os procedimentos descritos abaixo, conforme Martins e Lilenbaum
(2013).
As leituras foram realizadas em microscópico óptico (Zeiss, Standort
Göttingen, Vertrieb, Alemanha), com condensador seco de campo escuro, em
magnificação máxima de 200 vezes, observando-se a formação de aglutinações. As
amostras sorológicas foram inicialmente analisadas na diluição de 1:100 e, aquelas
que apresentavam nível de aglutinação igual ou superior a 50% foram então,
novamente diluídas numa razão geométrica de dois (1:200, 1:400 e 1:800). O título
sorológico foi representado para recíproca da maior diluição que apresentou
resultado positivo. O maior título alcançado foi utilizado para identificar o sorovar
infectante. Os animais foram considerados positivos quando apresentaram títulos
≥100.
Em decorrência da parceria estabelecida com a Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG), as amostras foram processadas pela técnica de SAM na
Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária (UAMV), Centro de Saúde e Tecnologia
Rural (CSTR), Patos, Paraíba.
Análise estatística
O estudo de associação entre os resultados dos exames sorológicos e dos
questionários foi realizado a partir do teste do Qui-quadrado (2) ou Teste Exato de
Fischer, quando necessário, utilizando o programa EpiInfo 7.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Do total de cães avaliados pela SAM (título ≥100), verificou-se que 34 (7,93%;
IC 95%: 5,63%-11,00%) cães tinham anticorpos anti-Leptospira spp. O sorogrupo
mais frequente foi o Icterohaemorrhagiae com 19 (4,42%) animais sororeagentes,
seguido pelo Australis com 7 (1,63%). Os sorogrupos Tarassovi, Hebdomadis e
Autumnalis apresentaram 2 (0,46%) cães soropositivos cada um, enquanto que o
sorogrupo Grippotyphosa apenas 1 (0,23%). Em uma amostra não foi possível
37
determinar provável sorogrupo relacionado com a infecção, pois a mesma regiu
igualmente tanto para o sorovar Grippotyphosa quanto para o Copenhageni.
Neste estudo os títulos encontrados foram de 100 (n=2), 200 (n=11), 400
(n=17), 800 (n=2) e 1600 (n=2), e destes, somente um cão urbano tinha título de 200
e outro de 400; os demais eram todos de ambiente rural. Todos os muncípios
analisados tinham cães sororeagentes para Leptospira spp., e na Tabela 1 é
possível observar a distribuição dos cães sororreagentes para cada sorovar
considerando a maior titulação, e o provável sorogrupo infectante.
Já os sorovares detectados e as titulações encontradas de acordo com cada
local pesquisado estão sumarizados na Tabela 2.
38
Tabela 1 – Distribuição dos cães sororreagentes para Leptospira spp.
Amostra Título da amostra frente ao sorovar Provável sorovar
infectante Provável sorogrupo
infectante Hebdomadis Canicola Tarassovi Castellonis Autumnalis Bratislava Icterohaemorrhagiae Grippotyphosa Pomona Copenhageni
16
200
100 Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae 34
400
Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae
164
200
400
Grippotyphosa Grippotyphosa 165
100
Tarassovi Tarassovi
183
100
200 200 400
200 200 200 Bratislava Australis 191
200
800
Bratislava Australis
192
200
Bratislava Australis 194
400
Bratislava Australis
195 100
Hebdomadis Hebdomadis 196 100
100
400
Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae
200 200
Hebdomadis Hebdomadis 201
200
Tarassovi Tarassovi
207
400
200 Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae 211
100
100 200 Copenhageni Icterohaemorrhagiae
225
100
100
200 Copenhageni Icterohaemorrhagiae 246 200
400 Copenhageni Icterohaemorrhagiae
294
200 Copenhageni Icterohaemorrhagiae 303
200
Autumnalis Autumnalis
321
100 200
Bratislava Australis 325
100 200
Bratislava Australis
329
100
200 200 200 200 400 200 400 Indeterminado Indeterminado 330
400
Autumnalis Autumnalis
331
200
400
400 800 Copenhageni Icterohaemorrhagiae 346
200
200
200 400 Copenhageni Icterohaemorrhagiae
351
200
200
200 400 Copenhageni Icterohaemorrhagiae 354
100
200 400 Copenhageni Icterohaemorrhagiae
360
100 400
Bratislava Australis 366
100
200
200 100 200 400 Copenhageni Icterohaemorrhagiae
373
200
200
400
Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae 415
100
200
1600
400 400 Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae
416
200
400
1600
200 400 Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae 421
200
Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae
424
200
400
200 200 Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae 429
400
Icterohaemorrhagiae Icterohaemorrhagiae
39
Tabela 2 – Distribuição dos prováveis sorovares infectatantes e titulações de anticorpos anti- Leptospira spp. encontrados nos cães dos munípios analisados.
Provável sorovar infectante
Poconé Santo Antônio de Leverger Barão de Melgaço Corumbá
Positivos/ testados (%)
Títulos detectados (nº de cães)
Positivos/ testados (%)
Títulos detectados (nº de cães)
Positivos/ testados (%)
Títulos detectados (nº de cães)
Positivos/ testados (%)
Títulos detectados (nº de cães)
Icterohaemorrhagiae 4/319 (1,25) 200 (1), 400 (3) 0/16 (0) - 5/45 (11,11) 200 (1), 400 (2), 1600 (2) 1/49 (2,04) 400 (1)
Grippotyphosa 1/319 (0,31) 400 (1) 0/16 (0) - 0/45 (0) - 0/49 (0) - Tarassovi 2/319 (0,62) 100 (1), 200 (1) 0/16 (0) - 0/45 (0) - 0/49 (0) - Bratislava 4/319 (1,25) 200 (1), 400 (2), 800 (1) 0/16 (0) - 1/45 (2,22) 400 (1) 2/49 (4,08) 200 (2)
Hebdomadis 2/319 (0,62) 100 (1), 200 (1) 0/16 (0) - 0/45 (0) - 0/49 (0) - Copenhageni 4/319 (1,25) 200 (3), 400 (1) 2/16 (12,50) 400 (2) 2/45 (4,44) 400 (2) 1/49 (2,04) 800 (1) Autumnalis 1/319 (0,31) 200 (1) 0/16 (0) - 0/45 (0) - 1/49 (2,04) 400 (1)
Indeterminado 0/319 (0) - 0/16 (0) - 0/45 (0) - 1/49 (2,04) 400 (1)
40
O presente estudo demonstrou a presença de anticorpos anti-Leptospira spp.
em 34/429 (7,93%) cães de quatro municípios que pertencem ao bioma pantaneiro.
Trata-se de um levantamento sorológico relevante para a área de estudo já
que pesquisas sobre este agente na população canina do Pantanal ainda são
escassos. Há trabalhos que revelam a ocorrência de animais sororreagentes para
Leptospira spp. em outras regiões do Brasil, cujos resultados são bastante variáveis
(JOUGLARD; BROD, 2000; MASCOLLI et al., 2002; MAGALHÃES et. al., 2006;
AGUIAR et al., 2007; AZEVEDO et al., 2011; SANTOS et al., 2017).
Inquéritos sorológicos mostram a participação de vários sorovares na infecção
leptospírica canina (LANGONI et al., 2015), na qual os anticorpos formados no
animal são dirigidos contra o sorovar específico, no entanto, pode existir reações
cruzadas entre diferentes sorovares, e o cão ser reagente a vários sorovares
simultaneamente, dificultando a identificação do sorovar mais frequente
(HAGIWARA, 2003). Por esse motivo, quando um animal apresentou co-aglutinação
de dois ou mais sorovares, se considerou a sorovariedade de maior titulação como
um indicador da identidade do provável sorogrupo responsável pela infecção
(HASHIMOTO et al., 2010; LANGONI et al., 2015).
O sorogrupo mais frequente foi o Icterohaemorrhagiae com 19 (4,42%)
animais, dos quais 10 tiveram reação frente ao sorovar Icterohaemorrhagiae (2 cães
urbanos e 8 rurais) e 9 cães rurais reagiram ao sorovar Copenhageni. A presença do
sorovar Icterohaemorrhagiae pode ter relação com condições sanitárias e
ambientais que facilitam o contato com o seu hospedeiro natural, o rato de esgoto
(Rattus novergicus) (BARCELLOS; SABROZA, 2001; SUEPAUL et al., 2010;
HAGIWARA, 2003). De modo similar, outros estudos relatam também uma maior
frequência para este sorovar em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul
(MAGALHÃES et al., 2006; HASHIMOTO et al., 2010; MESQUITA et al., 2017).
Girio et al. (2003) em pesquisa com animais domésticos e silvestres na região
de Nhecolândia, Mato Grosso do Sul, observaram que o sorovar
Icterohaemorrhagiae foi mais frequente em ovinos (Ovis aries) domésticos, porcos-
monteiros ou javali (Sus scrofa) em estado feral, ovinos (Ovis aries) vivendo em
estado feral, e veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), demonstrando que várias
espécies de animais silvestres, domésticos ou que vivem em estado feral podem
manter leptospiras no ecossistema matogrossense e serem fonte de infecção para
cães especialmente os de pastoreio e caça.
41
Já na cidade de Cuiabá, capital matogrossense, cujas àguas são drenadas
para o Pantanal, Silva (2010) encontrou frequência baixa 2 (1,72%) de cães
infecctados pelo sorovar Icterohaemorrhagiae.
O sorovar Copenhageni é mantido por roedores sinantrópicos, com alta
prevalência em cães e humanos nas grandes metrópoles brasileiras (RODRIGUES
et al., 2013). Leptospiras patogênicas dos sorovares Canicola e Icterohaemorrhagiae
estão associadas à maioria dos casos clínicos de leptospirose em cães (STOKES et
al., 2007).
O sorogrupo Australis (sorovar Bratislava) foi o segundo mais frequentre, com
7 (1,63%) cães positivos, sendo todos de ambiente rural. A sorovariedade Bratislava
já foi relatada em espécies silvestres (ULLMANN et al., 2012), em bovinos (JULIANO
et al., 2000; HOMEM et al., 2001; TOMICH et al., 2007; FIGUEIREDO et al., 2009;
OLIVEIRA et al., 2010), em ovinos (HERRMANN et al., 2004) e em cães (AGUIAR et
al., 2007; CASTRO et al., 2011).
Silva et al. (2015) em pesquisa realizada no Pantanal, mencionaram que os
sorovares predominantes nas reações da Soroaglutinação Microscópica (SAM)
foram Bratislava e Grippotyphosa, encontrando tanto animais domésticos quanto
selvagens reagentes ao sorovar Bratislava, demontrando assim, a circulação do
mesmo pela região pantaneira.
A sorovariedade Bratislava, cuja ocorrência já foi registrada anteriormente em
bovinos no Pantanal de Mato Grosso por Pellegrin et al. (1999), também já foi
descrita com elevada prevalência em equinos (SANTA ROSA et al., 1968;
CORDEIRO et al., 1974). Segundo estudo realizado por Pellegrin e colaboradores
(1999), depois dos bovinos, os equinos podem ser considerados a segunda espécie
doméstica de maior densidade no Pantanal. Então, a grande presença dos equinos
na região pantaneira, aliada ao contato frequente principlamente com os cães rurais,
poderia refletir nos resultados encontrados neste trabalho a cerca do sorovar
Bratislava.
Os sorogrupos Tarassovi (sorovar Tarassovi), Hebdomadis (sorovar
Hebdomadis) e Autumnalis (sorovar Autumnalis) apresentaram 2 (0,46%) cães de
ambiente rural soropositivos cada um. Hashimoto et al. (2010) no Paraná também
encontraram baixa frequência dos sorovares Autumnalis e Hebdomadis, e nenhum
Tarassovi em caninos. Já em estudo realizado em Uberlândia, Estado de Minas
Gerais, os sorovares de maior frequência foram o Autumnalis (34,2%) e Tarassovi
42
(23,7%), não sendo evidênciados cães sororreagentes ao sorovar Hebdomadis
(CASTRO et al., 2011). E na cidade de Cuiabá, Mato Grosso, Silva (2010) obteve a
maior frequência para o sorovar Patoc (29,31%), seguido por Autumnalis (25,86%)
nos cães analisados.
A presença de animais reagentes para a sorovariedade Tarassovi pode estar
relacionada à presença de suínos domésticos e ferais, considerados um dos
principais reservatórios desta sorovariedade (FAINE 1982; GARNER; OJBRIEN,
1988).
O sorogrupo Grippotyphosa (sorovar Grippotyphosa) apresentou apenas 1
(0,23%) cão de ambiente rural reagente. A sorovariedade Grippotyphosa é
frequentemente relatada em animais selvagens, principalmente em roedores, como
capivara (Hidrochaeris hidrochaeris), e em marsupiais, como (Didelphis spp.)
(CORRÊA et al., 2004), podendo estes exercerem papel de reservatório da
sorovariedade para os animais domésticos em diversos estados brasileiros (SILVA
et al., 2015).
Dessa maneira, a infecção do cão está na dependência da existência do
portador natural nas proximidades. Assim, cães que adquirem a infecção pelo
sorovar Grippotyphosa são os cães de caça ou que residem em áreas suburbanas,
onde podem ser encontrados os roedores e outros mamíferos silvestres
(HAGIWARA, 2003), o que não deixa de ser uma realidade observada
principalmente nos cães rurais deste estudo.
Embora haja um consenso geral de que a imunidade desenvolvida é
específica do sorovar, existe certo grau de reatividade cruzada entre os diferentes
sorogrupos (HAGIWARA; LUSTOSA; KOGIKA, 2004). Um mesmo animal pode
reagir para mais de um sorovar, considerando como responsável pela infecção o de
maior título, e como co-aglutinantes os demais sorovares reagentes (LANGONI et
al., 2015).
Do total de cães soreagentes para Leptospira spp., 1,25% (2/160) eram do
ambiente urbano e 11,90% (32/269) eram do ambiente rural. A análise estatística
mostrou que as variáveis habitat, área e idade (48-72 meses) estavam associadas
com a ocorrência de anticorpos anti-Leptospira spp. nos cães avaliados (P < 0.05)
(Tabela 3).
43
Tabela 3 – Análise das variáveis e os resultados da SAM (≥100) nos cães da região do Pantanal.
Variáveis analisadas
Nº de cães
Analisados Positivos para Leptospira spp.
Número (%) P-valor
Habitat Urbano Rural
160 269
2 (1,25)
32 (11,90)
0,00
Área
Área não alagável Área alagável
256 173
13 (5,08) 21 (12,14)
0,01
Sexo
Macho Fêmea
258 171
25 (9,69) 9 (5,26)
0,13
Idade*
0-12 meses
124
8 (6,45)
0,60 12-24 meses 100 5 (5,0) 0,30 24-48 meses 94 8 (8,51) 0,98 48-72 meses 50 8 (16,0) 0,04 >72 months 48 4 (8,33) 0,78
* 13 cães não tiveram a idade determinada pelos seus proprietários. Destes, apenas 1 tinha anticorpos anti-Leptospira spp. (título de 400 para o sorovar Icterohaemorrhagiae).
A presença de associação entre a variável habitat e a presença de anticorpos
anti-Leptospira spp. pode ser explicada pelo fato de haver em áreas rurais
hospedeiros naturais ou acidentais para Leptospira spp., entre animais silvestres e
domésticos, os quais estão distribuídos por toda a planície pantaneira estudada
(ALHO et al., 1987). Ademais, grande parte dos cães rurais tem o hábito de caça e
cotidianamente podem estar expostos a esse tipo de infecção.
Além disso, estes resultados mostram que o tipo de área está associado com
a ocorrência de anticorpos contra Leptospira spp., sendo que um maior número de
animais reagente foi verificado em área alagável. Sabe-se que esta bactéria se
desenvolve muito bem em locais com períodos de elevados índices pluviométricos
(ACHA; SZYFRES, 1986; PLANK; DEAN, 2002). E em relação à região de estudo,
nota-se que é um bioma caracterizado por ser a maior planície alagável do planeta,
e possui uma grande diversidade de fauna, o que propicia condições ecológicas
favoráveis ao desenvolvimento do gênero Leptospira, em virtude da possibilidade da
bactéria sobreviver por mais tempo em áreas alagadas e com elevadas
temperaturas (LINS et al., 1986; ALHO et al., 1987).
44
Quanto à idade, verificou-se associação entre os cães reagentes e que estão
na faixa etária de 48-72 meses, o que poderia ser explicado pelo maior tempo de
exposição ao agente pelos cães mais velhos. Em outro estudo, foi observado que a
faixa etária compreendida entre 1 e 5 anos pode ser considerada um fator de risco
para ocorrência da leptospirose canina (SILVA, 2010).
CONCLUSÃO
A partir dos resultados observados no presente estudo, é possível inferir que
os cães da região pantaneira tiveram contato com agentes do gênero Leptospira, o
que representa uma informação relevante para a saúde pública local, principalmente
devido à implicação zoonótica da doença.
45
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