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Forum Abel Varzim Desenvolvimento e Solidariedade Rua Damasceno Monteiro, n.º 1 r/c 1170 108 LISBOA Colóquio MUTUALISMO, SEGURANÇA SOCIAL, SEGUROS 14 de Outubro de 2006 Culturgest - Lisboa PROGRAMA Sessão de Abertura - Dr.ª Paula Guimarães Sessão I - Mutualismo - Moderadora: Dr.ª Joaquina Madeira - Dr. Pedro Bleck da Silva “Quadro Geral do Mutualismo na Europa e no Mundo” - Dr. José Alberto Pitacas O mutualismo e a sua função social ao longo dos tempos: o caso portuguêsDebate Sessão II - Segurança Social - Moderadora: Dr.ª Isabel Saldida - Prof. Dr. Fernando Ribeiro Mendes “Sustentabilidade do Sistema de Segurança Social” - Prof. Dr. Sérvulo Correia “Novos desafios” Debate Sessão III - Seguros e Fundos de Pensões - Moderador: Dr. Luís Barbosa - Dr. Eugénio Ramos “Seguros e Protecção Social” - Dr. José Santos Teixeira “Os Fundos de Pensões: A participação nos lucros das empresas” Debate Mesa Redonda - Soluções a adoptar? - Moderador: Dr. Carlos Andrade CGTP-In Dr. Manuel Carvalho da Silva UGT Eng.º João Proença AIP Dr. Artur Pais Sessão de Encerramento - Comissão Parlamentar do Trabalho e Segurança Social Deputada Isabel Santos - Dr. Acácio Catarino Patrocínios:

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Forum Abel Varzim – Desenvolvimento e Solidariedade

Rua Damasceno Monteiro, n.º 1 r/c

1170 – 108 LISBOA

Colóquio

MUTUALISMO, SEGURANÇA SOCIAL, SEGUROS

14 de Outubro de 2006

Culturgest - Lisboa

PROGRAMA

Sessão de Abertura - Dr.ª Paula Guimarães

Sessão I - Mutualismo - Moderadora: Dr.ª Joaquina Madeira - Dr. Pedro Bleck da Silva – “Quadro Geral do Mutualismo na Europa e no Mundo” - Dr. José Alberto Pitacas – “O mutualismo e a sua função social ao longo dos tempos:

o caso português” Debate

Sessão II - Segurança Social - Moderadora: Dr.ª Isabel Saldida - Prof. Dr. Fernando Ribeiro Mendes – “Sustentabilidade do Sistema de Segurança

Social” - Prof. Dr. Sérvulo Correia – “Novos desafios”

Debate Sessão III - Seguros e Fundos de Pensões

- Moderador: Dr. Luís Barbosa - Dr. Eugénio Ramos – “Seguros e Protecção Social” - Dr. José Santos Teixeira – “Os Fundos de Pensões: A participação nos lucros das

empresas” Debate

Mesa Redonda - Soluções a adoptar? - Moderador: Dr. Carlos Andrade CGTP-In – Dr. Manuel Carvalho da Silva

UGT – Eng.º João Proença

AIP – Dr. Artur Pais

Sessão de Encerramento - Comissão Parlamentar do Trabalho e Segurança Social – Deputada Isabel Santos - Dr. Acácio Catarino

Patrocínios:

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APRESENTAÇÃO E RESUMO

Porque os problemas de segurança social não se limitam a meras questões financeiras ou actuariais, o Forum Abel Varzim empreendeu a realização de um Colóquio sobre Mutualismo, Segurança Social e Seguros, com o objectivo de desenvolver a investigação de novos procedimentos e formas organizativas, e de promover mais entreajuda e solidariedade, na doença, no desemprego, na velhice e noutras adversidades, entre pessoas, grupos e gerações. Embora dentro deste propósito, não aspiramos apresentar nesta Nota uma teoria da evolução histórica ou funcional dos sistemas de solidariedade e entreajuda, objectivo que está fora das nossas possibilidades. Desejamos, sim, partilhar reflexões sobre a necessidade dos sistemas de entreajuda, promover a clarificação dos anseios e aspirações a perseguir, e colaborar na busca de soluções respeitadoras dos condicionalismos existentes. Assim, após esta “Apresentação e Resumo” dedicamos o capítulo, “Introdução e Enquadramento da Análise”, à explanação dos principais pressupostos em que nos baseamos bem como à enumeração de algumas das razões que conduzem à necessidade de uma revisão dos sistemas de solidariedade, mas nunca à sua extinção ou contracção. Assim, no primeiro parágrafo deste capítulo, “Sempre as mesmas aspirações, mas novos desafios”, procuramos evidenciar a indispensabilidade destes sistemas através da continuada existência de redes de interdependências e de solidariedade envolvendo os seres humanos e contribuindo para a satisfação das suas necessidades e aspirações. No parágrafo seguinte, “Problemas relacionados com a Segurança Social”, referimos algumas das transformações em curso nas sociedades contemporâneas, evidenciando os principais problemas que induzem e que permanecem mal resolvidos. Porque é muito frequente discutir se o financiamento dos sistemas de segurança social deve ou não ser apoiado em rendimentos gerados por capitais pré-acumulados, iniciamos o capítulo central desta Nota, “Melhor Redistribuição dos Recursos” procurando aprofundar a análise desta questão. Assim, no parágrafo “Justiça e solidariedade” abordamos o tema da titularidade dos rendimentos atribuídos aos capitais, concordando com a sua apropriação privada, base das nossas sociedades industriais. Porém, considerando que a atribuição de uma parte do fluxo dos recursos resultantes da actividade económica aos sistemas de segurança social também pode e deve ser baseada num vínculo político-jurídico diferente da titularidade dos capitais, defendemos a coexistência dos dois sistemas, de capitalização e de repartição, complementares e não antagónicos. Outra questão muito frequentemente apresentada a propósito dos sistemas de segurança social e da sua forma de financiamento centra-se na discussão sobre a geração mais sacrificada, razão porque dedicamos o parágrafo “Equilíbrios intergeracionais” a mostrar que o sacrifício imposto ou escolhido por uma geração é fundamentalmente revelado pela evolução líquida do património colectivo, sem poder ignorar a evolução do montante da dívida, pública e privada, e sem esquecer as penhoras não quantificadas, muitas vezes ocultas, que vão sendo constituídas ou que foram herdadas.

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Assim, o que é significativo de uma sociedade, como conjunto de várias gerações, estar ou não a comprometer o futuro, não é a existência de um sistema de segurança social por capitalização ou por repartição, mas a evolução do valor líquido do seu património. Valor que deve incluir todos os compromissos, nomeadamente os entretanto assumidos através de sistemas de segurança social, muitas vezes mal quantificados, mas que deveriam estar expressos pelos respectivos valores actuariais a que deveriam corresponder reservas, que, quando inexistentes ou insuficientes, revelam hipotecas ou dívidas ocultas. Continuando a tratar de temas geradores de polémica, no parágrafo “Escolha entre esquemas de financiamento” advoga-se a sua complementaridade, defendendo que os esquemas de capitalização e de repartição devem ser combinados segundo os objectivos específicos que se deseja prosseguir e segundo as características estruturais e conjunturais do contexto socio-económico em que se aplicam. E nenhum deles deve ser evitado ou preferido por meras opções ideológicas. Por razões de transparência, sugere-se que nos sistemas por capitalização se calcule as reservas matemáticas associadas a cada beneficiário, consignadas à cobertura dos riscos convencionados, não podendo nem devendo ser utilizadas para reforço do poder económico pessoal. Finalizamos com outra questão frequentemente debatida a propósito dos sistemas de segurança social e geralmente apresentada sob o falso dilema estado-privados, tema que inserimos no parágrafo “Questões institucionais”. Depois de se referir a boa conotação existente entre a evolução da organização dos sistemas de solidariedade e a crescente complexidade organizativa das sociedades contemporâneas, conclui-se que, em muitos sistemas estaduais de segurança social, a forte dependência do poder político, frequentemente sujeito a interesses partidários, e os factos da gestão do fundo ser pouco responsável perante os beneficiários e destes não poderem optar por soluções alternativas têm levado à proposição da existência de vários fundos, em concorrência e com autonomia de gestão. Fundos que devem ser escolhidos livremente pelos beneficiários, quer à entrada quer a qualquer momento, através da possibilidade de transferência de reservas matemáticas individualmente calculadas e apresentadas em contas correntes, periodicamente actualizadas e comunicadas aos respectivos titulares. Facto que não dispensa que estes fundos estejam sujeitos a entidades reguladoras que, sem prejudicar a eficácia esperada dum mercado concorrencial, imponha procedimentos que assegurem a qualidade de serviço prestado e que impeçam o exercício de poder de mercado, promovendo a prática de preços justos. INTRODUÇÃO E ENQUADRAMENTO DA ANÁLISE Sempre as mesmas aspirações, mas novos desafios Do nascimento à morte, a vida de cada pessoa depende dos outros e do sistema de relações existentes nos pequenos ou grandes grupos em que está inserida: família e organizações presentes nas comunidades locais e nacionais ou ao nível da própria humanidade. A evolução natural das sociedades, em constante e cada vez mais acelerada mudança, modifica permanentemente muitos dos variados condicionalismos existentes, pondo em risco a continuidade dos laços afectivos e dos acordos e das alianças vigentes, expressos ou meramente tácitos, bem como dos sistemas de entreajuda que os

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concretizam, levando a sucessivamente alterar e reorganizar reciprocidades e permutas que foram ficando apoiadas em realidades ou equilíbrios ultrapassados. Concomitantemente, vai sendo necessário rever objectivos que entretanto se revelaram demasiadamente ambiciosos ou onerosos, apesar de terem sido consensualmente prosseguidos até então. Nesta permanente evolução e mudança, reconhece-se, como conclusão ao alcance da experiência de cada um e confirmada pelas ciências humanas, que, para além da alimentação, vestuário e habitação, uma das necessidades primárias a satisfazer em cada pessoa é dar e receber carinho e amor. Razão porque sempre permanece a aspiração universal de entreajuda, baseada no reconhecimento de que a humanidade constitui uma só família de pessoas interdependentes e solidárias. Verdade que para muitos se alimenta e reforça na crença de que somos filhos de um Deus que nos ama profundamente e que deseja que nos amemos de forma semelhante. Assim, poderão mudar as formas de auxílio e de solidariedade, alterando objectivos e aperfeiçoando os sistemas de resposta, mas persiste sempre a promoção institucionalizada de maior e mais eficaz entreajuda na doença, no desemprego, na velhice e noutras adversidades, entre pessoas, grupos e gerações. E, embora se reconheça que os objectivos e os condicionalismos são muito diversificados e evolutivos, no espaço e no tempo, podemos dizer, de forma condensada, que a característica essencial destes sistemas consiste sempre em dar e receber amor e carinho, não apenas de forma reactiva, mas também pró-activa, preparando respostas e envolvendo grupos cada vez mais alargados. Problemas relacionados com a segurança social Passando para matérias directamente relacionadas com a segurança social, eventualmente implicando a sua revisão e aperfeiçoamento, recordemos rapidamente Algumas evoluções em curso nas sociedades contemporâneas De entre as mudanças com que convivemos, destacamos: Melhoria das possibilidades de assistência médica, em geral e particularmente nos últimos anos de vida, com forte acréscimo de encargos. Aumento da esperança de vida, que dificilmente pode ser inteiramente repercutido na extensão do período de reforma. Aumento do número de anos anteriores ao primeiro emprego, devido a estudos mais alongados e a formações complementares, cada vez mais extensos. Profunda redistribuição do Emprego, geográfica e sectorialmente, implicando deslocalização de actividades, originando intensa migração económica, e exigindo contínua aquisição de novas competências para adaptação a novas prestações e a novos serviços. Redução da natalidade e da institucionalização das famílias. Forte acréscimo do peso de custos não internalizados nos preços de mercado, como os correspondentes a prejuízos causados ao ambiente e a muitos outros bens de interesse comum. Problemas mal resolvidos Entre os acontecimentos reveladores da existência de problemas mal resolvidos ou

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exigindo novas soluções, recordamos: Os sistemas de repartição não se mostram adequados a assegurar a solidariedade intergeracional nos moldes anteriormente previstos, evidenciando tensões: na repartição do fluxo de recursos resultante da actividade económica em benefício dos mais velhos, em fase menos produtiva, que por comodidade designamos por terceira idade; em benefício dos mais jovens, cheios de promessas mas ainda não participando na produção económica, que designamos por primeira idade; e em benefício daqueles que se encontram na fase mais activa e em plena força das sua capacidade produtiva, que designamos por segunda idade; na distribuição do emprego entre os mais idosos, com uma vida activa mais longa, e os mais jovens, ansiando por uma rápida integração no mundo do trabalho; As Companhias de Seguros dificilmente aceitam, para não dizer recusam, a cobertura dos riscos de saúde dos mais idosos. Comércio internacional desregulado e sem resposta para as fortes distorções originadas pela sobre-exploração de mão-de-obra desprotegida ou pela reduzida atenção dada aos custos ambientais, em países emergentes, e por subsídios à produção agrícola e a sectores tecnologicamente pouco exigentes, nos países ricos. Intensificação dos fluxos migratórios entre regiões com diferente nível de desenvolvimento económico, para além da fuga a guerras e a perseguições, sem suficiente regulação dos interesses das partes interessadas nem adequada protecção dos direitos humanos dos mais débeis e necessitados. Forte défice de regulação social e económica, consentido pela falsa crença de que o Mercado acabará por resolver os problemas resultantes da grande assimetria de distribuição da riqueza e das distorções existentes nos preços. Com a consequente desresponsabilização dos gestores e generalizado sentimento de imunidade relativamente a muitos crimes sociais e ambientais. MELHOR REDISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS Justiça e solidariedade Embora os capitais permaneçam improdutivos quando em simples entesouramento, devemos reconhecer que quando combinados com outros factores produtivos, a remuneração atribuída aos capitais não resulta só da produtividade dos trabalhadores que usam estes capitais nem da organização social e empresarial envolvente. Questão que não depende do período em que os capitais foram acumulados nem de quem proporcionou a acumulação dos recursos correspondentes, renunciando ao seu consumo imediato, nem de quem possui a respectiva titularidade. A convicção de que uma parte da produção que os capitais proporcionam deve ser atribuída aos seus proprietários não resulta só de considerações de natureza económica, mas também de uma convenção de natureza jurídica, aliás fortemente apoiada no reconhecimento do direito à propriedade privada dos bens de produção, princípio base das nossas sociedades industriais. Convenção frequentemente utilizada, a nível individual ou familiar, para constituir uma reserva para períodos de adversidade ou de simples quebra de rendimentos. E, a nível de grupos organizados, para a constituição de reservas colectivas, para garantir os rendimentos necessários a seguros e a sistemas de segurança social.

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Todavia, recorrendo a uma convenção político-jurídica diferente, mas não oposta nem incompatível com a anterior, pode ser considerado que uma parte do fluxo de recursos resultante da actividade económica de uma sociedade deve ser destinada a um sistema de segurança social por repartição. Convenção que dispensa qualquer regra de afectação dos resultados da actividade económica pelos diferentes factores produtivos e que é independente da propriedade dos capitais utilizados. De facto, é apenas necessário que esta convenção se apoie em considerações de solidariedade e entreajuda, nomeadamente, no entendimento de que, enquanto ainda não activa, a geração que actualmente se encontra em maior actividade, que acima designamos por segunda idade, beneficiou da solidariedade da geração anterior, tal como continua a beneficiar de todo o património, tangível e intangível, acumulado pelas gerações que a precederam, com relevo para a organização social e empresarial envolvente e para todo o património cultural, científico e técnico. Sentimento de solidariedade que não pode deixar de ser estendido às gerações em crescimento e futuras, a quem deve ser transmitido o património recebido das anteriores, sem esquecer o constituído pela Natureza, e de modo a não comprometer a sua sobrevivência nem o seu desenvolvimento e bem-estar. Por outro lado, embora as economias de mercado tenham demonstrado serem eficazes na alocação dos recursos necessários à produção de bens transaccionáveis e na motivação dos agentes de produção económica, por estarem demasiado especializadas na produção de riqueza, também se têm revelado não só incapazes de assegurar uma repartição mais justa e adequada a corrigir as assimetrias existentes, como ainda contribuem para agravar as desigualdades, pois orientam a produção para a satisfação das necessidades dos que têm mais poder económico e desprezam as necessidades e as aspirações menos solváveis. Assim, nas sociedades modernas, quanto mais intensa e generalizada for a economia de mercado, tanto mais necessário será recorrer a sistemas de correcção de assimetrias e de redistribuição da riqueza produzida, passando pela imposição de fortes sistemas de regulação administrativa e económica, que condicionem o aproveitamento de recursos não transaccionáveis no mercado e imponham o prosseguimento de objectivos de interesse comum que não possam ou que não interessa que sejam financiados pelo mercado. Assim, não se pode dispensar a existência de amplos sistemas de solidariedade baseados em sistemas de repartição, poderosos aparelhos de correcção das assimetrias que os sistemas de mercado vão produzindo. Contudo, nada impede que estes sistemas de repartição coexistam com sistemas de capitalização, desde que esta simultaneidade seja devidamente regulada. Retomaremos esta questão mais adiante, em “Escolha entre esquemas de financiamento”. Equilíbrios intergeracionais Relativamente a bens com expressão monetária, nem sempre é fácil concluir se uma pessoa, numa dada fase da sua vida, está ou não a produzir mais do que consome. De facto, ainda que nos limitemos aos fluxos de bens tangíveis ou mesmo dos bens transaccionados no mercado e expressos em moeda, a conclusão depende dos endividamentos e de outros compromissos assumidos. E esta questão é ainda menos

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fácil de resolver relativamente a grupos alargados, mesmo que homogéneos sob o ponto de vista etário. Com efeito, se uma pessoa ou um grupo se endividar, pode estar a consumir muito mais do que produz, mesmo que esteja na fase mais activa da sua vida e participando na acumulação de reservas para sistemas de segurança social por capitalização. Numa análise meramente financeira, é evidente que, se a dívida colectiva for superior ao património acumulado, este e o seu rendimento dificilmente assegurarão a cobertura das amortizações e dos juros daquela. Assim, o que é significativo de uma sociedade, como conjunto de várias gerações, estar a viver acima das suas possibilidades ou se, pelo contrário, acumula bens de produção suficientes para assegurar a cobertura das suas necessidades quando for menos produtiva, não é a existência de sistemas de segurança social por capitalização ou por repartição, mas a evolução do valor líquido do seu património. Valor líquido que deve incluir todos os compromissos e dívidas, que vão sendo constituídos ou que foram herdados, incluindo os entretanto assumidos através de sistemas de segurança social, muitas vezes muito mal quantificados, Entre estas dívidas não quantificadas devem figurar os défices de reservas actuariais que seriam necessárias para assegurar o cumprimento de compromissos anteriormente assumidos relativamente à extensão da segurança social a grupos beneficiários com contribuições insuficientes. Défices que também podem resultar das evoluções em curso, invalidando pressupostos anteriores, como tem sucedido quanto à esperança de vida ou às despesas de saúde. Estes défices não precisam de estar titularizados para serem assimilados a uma dívida interna e, apesar de terem como justificação a redução de assimetrias existentes, não deixam de contribuir para acentuar as futuras. De facto, tal como qualquer dívida interna, origina uma contribuição posterior de forma mais ou menos indiscriminada, incidindo sobre a generalidade dos contribuintes, obrigados a participar no resgate e na remuneração de créditos financiados pelos mais afortunados da geração anterior, entretanto transmitidos aos seus herdeiros. Se o défice for coberto por financiamento externo, o ónus passa a recair sobre toda a colectividade, que terá de pagar o resgate e os juros com os recursos que for produzindo, privando-se do seu usufruto e eventual redistribuição e podendo comprometer o próprio desenvolvimento socio-económico. Teoricamente, podemos considerar muitas situações entre dois extremos. Dum lado, uma geração na segunda fase da vida que, através do recurso a forte endividamento externo, hipoteca o futuro da primeira idade e pouco contribui para mitigar as dificuldades da terceira idade que lhe é contemporânea e que sobrevive à custa de reservas por ela acumuladas e não através de sistemas de segurança social baseadas em esquemas de repartição. No outro extremo, podemos considerar uma geração na segunda idade apoiando a primeira e a terceira idades que lhe são contemporâneas e mantendo colectivamente um activo líquido em crescimento, suficiente para posteriormente assegurar a sua própria terceira idade e o financiamento das actividades prosseguidas pela geração dos seus filhos. De facto, o que é significativo de uma sociedade, como conjunto de várias gerações, estar ou não a comprometer o futuro, não é a existência de um sistema de segurança social por capitalização ou por repartição, mas a evolução do valor líquido do seu património. Valor que deve incluir todos os compromissos, nomeadamente os

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entretanto assumidos através de sistemas de segurança social, muitas vezes muito mal quantificados, mas que deveriam estar expressos pelos respectivos valores actuariais a que deveriam corresponder reservas realizáveis, que, quando inexistentes ou insuficientes, revelam hipotecas ou dívidas ocultas. Raramente existe um único sistema de segurança social, mesmo quando a legislação privilegia o funcionamento de um só. Assim, para além deste equilíbrio intergeracional, é necessário examinar e assegurar a viabilidade e a continuidade de cada subsistema, oficial ou complementar. Escolha entre esquemas de financiamento Os dois esquemas de segurança social, por repartição e por capitalização, têm diferentes vantagens e inconvenientes, mas não são opostos nem incompatíveis. Podem (devem) ser combinados segundo os objectivos específicos que se deseja prosseguir e segundo as características estruturais e conjunturais do contexto socio-económico em que se aplicam. E nenhum deles deve ser evitado ou preferido por meras opções ideológicas. Aliás, na apreciação das vantagens e inconvenientes de cada um, é importante não confundir as visões micro e macro. Embora reconhecendo que ao longo dos tempos não faltaram iniciativas, por vezes muito institucionalizadas, de colmatar os défices de assistência que as famílias não cobriam, nem podiam cobrir, devemos admitir que a regra mais seguida foi a de privilegiar a acumulação de capitais com o consequente estreitamento da solidariedade familiar aos parentes mais próximos e à já acima referida acentuação de assimetrias. No entanto, para se limitar os inconvenientes duma acumulação de capitais excessivamente personalizada e, sobretudo, muito desigualmente distribuída, foram sendo adoptados incipientes sistemas de correcção e de repartição de recursos, nomeadamente impostos sobre a propriedade, as sucessões e os rendimentos, com taxas crescentes em função das bases de incidência. Estratégia que se revelou insuficiente e inadequada para atenuar as assimetrias. De facto, para além de ineficaz na sua prevenção, não dispensa a complementaridade de sistemas especificadamente dedicados à entreajuda e assistência, desejavelmente universal e de adesão tendencialmente obrigatória. Aliás, só no século XX e sobretudo na Europa é que se generalizaram os sistemas de segurança social, dedicados à entreajuda na doença, no desemprego e na velhice. O aparecimento dos modernos sistemas de segurança social não fez desaparecer o problema da escolha entre os esquemas de repartição e de capitalização. Numa fase inicial, de arranque, a necessidade de constituição de reservas e a dificuldade de impor um esquema de repartição, ainda que desigual e pouco abrangente, favorece a escolha dos esquemas de capitalização. Também é costume atribuir ao esquema de capitalização a vantagem de promover a acumulação de poupança indispensável à descolagem do desenvolvimento socio-económico baseado na industrialização da economia e, numa fase mais avançada, ao aprofundamento da liberalização da sociedade. O alargamento acelerado dos sistemas de segurança social a grupos que até então pouco ou nada contribuíram, sem a constituição atempada de reservas adequadas, tem que ser baseado em sistemas de repartição, não dispensando mesmo o recurso à

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transferência de rendimentos pouco correlacionados com as actividades dos beneficiados. Independentemente da justiça da redistribuição de rendimentos assim conseguida, há que verificar a sustentabilidade dos alargamentos, ou seja, se as transferências necessárias são política e socialmente aceitáveis pelos longos períodos implícitos, sem originar défices de difícil ou mesmo impossível financiamento. Por razões ideológicas, frequentemente rotuladas de demagógicas, foi muitas vezes adoptada a extensão acelerada da segurança social a grupos que pouco ou nada contribuíram directamente para a constituição das reservas necessárias e sem estar assegurada a existência de receitas suficientes para a cobertura dos encargos correspondentes. A não explicitação das reservas necessárias, agravada pela não segregação das reservas constituídas pelos que vinham contribuindo desde longa data e que deveriam estar-lhes consignadas, pôs em risco o cumprimento dos compromissos anteriormente assumidos para com eles, frustrando as correspondentes expectativas. O facto da propriedade dos capitais acumulados num sistema de segurança social não estar personalizada, mas pertencer ao grupo abrangido pelo sistema, elimina ou pelo menos atenua o inconveniente de acentuar as assimetrias que resultariam da propriedade individual. Assimetrias que, quanto muito, apenas ocorrem entre grupos abrangidos por diferentes sistemas e não entre os indivíduos de cada grupo. Com efeito, embora se possa (e deva) associar a cada elemento uma reserva matemática, função do valor e da permanência das contribuições efectuadas, esta reserva está consignada à cobertura dos riscos convencionados, não podendo nem devendo ser utilizada para outros fins, e muito menos para reforço do poder económico pessoal. Questões Institucionais Nas sociedades primitivas ou pouco organizadas, os fluxos de entreajuda entre pessoas e entre gerações assentam predominantemente em laços familiares, levando alguns autores a considerar que uma forma dos mais idosos assegurarem apoio para a sua velhice passa pelo número elevado de filhos. Nesta mesma linha de pensamento, inserem-se os fortes laços de solidariedade tradicionalmente existentes no interior de famílias muito alargadas, sobretudo em sociedades primitivas, proporcionando entreajuda e cobrindo riscos na adversidade, na doença e mesmo no desemprego. Assim se estabelecendo como que um sistema incipiente de segurança social baseado na repartição de recursos, embora sem proporcionar cobertura universal nem socialmente garantida. Solução que os ideais de igualdade e de solidariedade naturalmente apoiaram e promoveram e que, em Portugal, deram origem às Misericórdias e a muitas instituições de protecção de órfãos e de viúvas. O facto destes sistemas incipientes de repartição poderem recorrer à acumulação de capitais não muda a sua essência. Esquema que, aliás, é pouco operacional em sociedades onde a insegurança domina e o risco de guerra é muito elevado. Em sociedades menos desorganizadas e com maior paz social, uma forma tradicional de se reforçar a cobertura de riscos reside no entesouramento e na acumulação de capitais, a que se atribui a função de reserva pessoal ou familiar de fazer face às adversidades, à doença e à velhice. Esquema que apenas é eficaz para os menos desafortunados, com suficiente capacidade de aforro e reduzida sinistralidade, e que,

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mesmo neste grupo, ainda tem o inconveniente de acentuar as assimetrias, por a aleatoriedade dos riscos ser muito irregular no tempo, entre grupos ou famílias, e entre indivíduos. A simples consciência desta irregularidade conduz espontaneamente a mais alargada mutuação dos riscos, visando o prosseguimento mais racional e eficaz de objectivos pessoais através da substituição dos laços de solidariedade existentes nas famílias de sangue para associações mais amplas e abertas, baseadas noutro tipo de laços. Assim nasceram muitas associações de entreajuda directa e recíproca, cobrindo riscos específicos, normalmente de adesão livre e em que a responsabilidade da cobertura dos riscos continuava difusa no grupo de aderentes. Com a crescente dimensão destas associações, a gestão deixa de ser prestada por voluntários para ser assegurada por profissionais remunerados e as contribuições ou quotas deixam de ser dependentes dos casos a socorrer, passando a ser estabilizadas estatisticamente em valores médios acrescidos das despesas administrativas. As inevitáveis variações dos montantes a cobrir, mais ou menos afastados do valor médio acordado, originam atrasos na cobertura dos riscos convencionados e impõem a constituição de reservas para fazer face a períodos mais ou menos longos com falta de fundos, o que permite a regularização e alisamento das quotizações. Então, a responsabilidade da cobertura do risco pode passar do grupo para a associação, considerada como instituição autónoma, mas a consequente redução do relacionamento pessoal e inerente diminuição de confiança entre os associados e a gestão das grandes associações mútuas, resultante do crescimento, conduz naturalmente ao estabelecimento de relações contratuais explicitando os direitos de cada aderente e as obrigações do grupo gestor, institucionalizado na forma de empresa seguradora. Empresa que, contra o pagamento de prémios preestabelecidos, assegura a cobertura de riscos bem definidos e se sujeita ao cumprimento de regulamentos oficialmente aprovados quanto à constituição de reservas e à contratação de resseguros que garantam o cumprimento integral dos compromissos assumidos. Não se depreenda da descrição anterior que uma grande associação mutualista tenha de assumir a forma de uma empresa seguradora. A eficiência na gestão e a oferta de boa qualidade de serviço deve ser prosseguida por ambas. A diferença essencial está nos objectivos e motivações de cada instituição. Da associação mutualista espera-se que dê prioridade à entreajuda e à solidariedade entre os associados, beneficiários da sua acção, procurando maximizá-las dentro dos condicionalismos impostos pela eficaz utilização dos recursos e sua justa remuneração. Da companhia de seguros espera-se que maximize a remuneração dos capitais dos sócios proprietários, dentro dos condicionalismos impostos pela boa qualidade dos serviços prestados aos clientes, beneficiários da sua acção, e pela eficaz utilização dos restantes recursos e sua justa remuneração. Não se pode contudo excluir a hipótese de existência de companhias de seguros que não consigam uma gestão eficaz dos recursos utilizados nem de associações mútuas que sacrifiquem a maximização da entreajuda aos associados a remunerações excessivas de alguns recursos, nomeadamente dos seus quadros e dirigentes. Inversamente, também se não pode excluir a possibilidade de existirem companhias seguradoras que partilhem os lucros pelos seus clientes, nem de associações mútuas que sejam excelentes na gestão eficaz dos recursos utilizados.

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Entretanto, sobretudo quando se desejam seguros de adesão imposta a um universo alargado de utentes, tem sido habitual confiá-los a empresas ou instituições públicas, ditas de segurança social, sujeitas a forte e densa regulação administrativa sobre os riscos cobertos, sobre a repartição dos encargos e sobre a garantia dos prémios. A grande dependência do poder político, frequentemente sujeito a interesses partidários, e os factos da gestão do fundo ser pouco responsável perante os beneficiários e destes não poderem optar por soluções alternativas têm levado à proposição da existência de vários fundos, em concorrência e com autonomia de gestão. Sobretudo nos casos em que haja coexistência de vários sistemas de segurança social, não necessariamente em concorrência, há interesse, por razões de transparência e de emulação, que cada beneficiário conheça o valor das reservas matemáticas que lhe estão atribuídas, parecendo até desejável não se excluir a possibilidade de eventual transferência entre sistemas ou instituições, desde que devidamente reguladas. Nos sistemas de repartição, não basta conhecer as rendas necessárias. Também é importante conhecer os fundos que seriam precisos para satisfazer os compromissos assumidos perante os beneficiários se tais rendas fossem suspensas ou variassem no tempo ou se houver alteração dos riscos cobertos, sendo cómodo falar em reservas virtuais. A gestão destes fundos, reais ou virtuais, não tem necessariamente de ser pública, mas deve ser fortemente regulada, sendo ainda desejável que os beneficiários possam escolher livremente o fundo que desejam, quer à entrada quer a qualquer momento, através da possibilidade de transferência de reservas matemáticas individualmente calculadas e apresentadas em contas correntes, periodicamente actualizadas e comunicadas aos respectivos titulares. Escolha que não dispensa que estes fundos estejam sujeitos a entidades reguladoras que, sem prejudicar a eficácia esperada dum mercado concorrencial, imponha procedimentos que assegurem a qualidade de serviço prestado e que impeçam o exercício de poder de mercado, promovendo a prática de preços justos. Todavia, sem um mercado desenvolvido e maduro, com empresas eficientes e competitivas, deve ser reconhecido que não é de esperar uma boa regulação, com suficiente autonomia em relação aos poderes económico e político. Assim, na prática, é pouco operacional procurar uma solução óptima que não corresponda a uma combinação de várias soluções complementares. Há mesmo que esperar a coexistência de soluções imperfeitas, com empresas privadas mal reguladas e instituições públicas mal geridas... E concentrar os esforços na construção de uma regulação independente e eficaz que, aliada à livre escolha proporcionada aos clientes e utentes, obrigue estas instituições s oferecer serviços com qualidade/preço sempre crescente.

António Leite Garcia Dirigente Nacional do Forum Abel Varzim

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Notas conclusivas

Síntese elaborada pelo Dr. Acácio Catarino e apresentada no final dos trabalhos

Pontos de convergência

1) A Segurança Social, como a protecção social no seu todo, baseia-se na

coesão social, corresponsabiliza a Sociedade, o Estado e cada cidadão,

família e grupo social;

2) O Estado é que deve garantir a todos os cidadãos a Segurança Social

básica;

3) Apesar de não ser defensável nem viável uma alternativa global à

Segurança Social pública, é indispensável a actualização e o desenvolvimento

do mutualismo como complemento e como reforço do papel responsável dos

cidadãos. A longa história da entreajuda e do mutualismo, o seu forte

enraizamento, o humanismo dos seus princípios e o seu pioneirismo social

constituem uma das manifestações mais expressivas da solidariedade social.

As dificuldades com que se debatem as mutualidades hoje em dia tornam

imperiosa a respectiva análise, a formulação de propostas e a adopção das

medidas necessárias;

4) Não se pode reduzir a Segurança Social às pensões, nem sequer ao

somatório de todos os regimes. A responsabilidade do Estado e da

Sociedade no seu todo abrange também o domínio da acção social

vocacionada para a resposta a situações sociais não cobertas, por enquanto,

por direitos consagrados na lei.

Pontos de divergência

1) As fontes de financiamento;

2) O plafonamento das contribuições;

3) Os níveis das prestações;

4) A opção entre o modelo de repartição e o de capitalização;

5) A sustentabilidade da Segurança Social.

Pareceu prevalecer no Colóquio a opção por um modelo de repartição e

capitalização, salvaguardando a conciliação da solidariedade com a

solvabilidade. E, quanto à sustentabilidade de todo o sistema, foi defendido

que devem ser evitados os extremos do economicismo e da

irresponsabilidade financeira.

Quanto aos seguros privados, entendeu-se que deverá ser analisada a

respectiva situação actual, tendo em vista a regulação que reduza ao mínimo

as incertezas das prestações e promova a sua responsabilidade social.

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Entendeu-se também que deverá ser preservado, por cada geração, o

património económico e social do País, a fim de que a Segurança Social não

se baseie no seu endividamento sistemático.

Recomendações finais Os participantes no Colóquio recomendaram vivamente que os cidadãos,

famílias, populações locais e grupos sociais atribuam alta prioridade aos

respectivos projectos de Segurança Social e complementem a Segurança

Social pública, nomeadamente, através de instituições mutualistas.

Recomendaram também que os órgãos de soberania, os parceiros sociais e

outras forças e entidades sociais continuem a aprofundar a temática da

protecção social e a promover o respectivo debate e difusão de informações

para esclarecimento da consciência pessoal e colectiva e para que sejam

adoptadas orientações cada vez mais justas, mais consistentes e

reconhecidas como tais.

Lisboa, 14 de Outubro de 2006