PROJECTO "TRANS-NEURO": DESEMPENHO NEUROPSICOLÓGICO NA TOMADA DE DECISÃO EM PESSOAS COM

TRANSTORNOS RELACIONADOS COM SUBSTÂNCIAS, EM TRATAMENTO

NUMA COMUNIDADE TERAPÊUTICA /UNIDADE DE DIA

Resultados: As pontuações médias, da amostra total, no IGT correspondem a um desempenho classificado como inadaptado nos 5 blocos da prova e na pontuação total (M =-6.26; SD = 23.33). Não se encontraram diferenças no desempenho final da prova entre homens e mulheres, sendo considerado desadaptado o desempenho quer nos homens (M =-5.33; SD =23.46), quer nas mulheres (M= -9.43; SD= 24.43). Todo o grupo de indivíduos desta amostra tende a tomar más decisões em situações de ambiguidade.

Authors: Cardoso, S.*, Rodrigues, S.**, Piñón, A.,** *Amorim, M.****, Flora, M.****, Tavares, A.**, Coutinho, C.***** & Ferreira, A.****** *CRI Porto Oriental, ARS Norte; ** CRI Porto Ocidental, ARS Norte; *** UAD Vigo, CEDRO; **** CTPP, ARS Norte; ***** DICAD, ARS Norte; ******CRI Porto Central, ARS Norte

The authors report no conflicts of interest in this work

email: susana.carvalho@arsnorte.min-saude.pt

Iowa Gambling Test (IGT) N=31

Bloco 1 -2,19(4,85)

Bloco 2 -1,74(4,97)

Bloco 3 -1,81(4,77)

Bloco 4 -0,45(7,44)

Bloco 5 -0,29(7,18)

IGT Total -6,26(23,33)

Introdução: Os Transtornos Relacionados com Substâncias (TRS) são, na sua essência, um problema de Tomada de Decisão (TD) (1), podendo ser compreendidos como patologias da “tomada de decisão”(2), “escolhas”(3) ou patologias do “horizonte temporal” (4). A hipótese do marcador somático proporciona uma explicação possível deste problema, considerando que a TD é um processo orientado por sinais emocionais ou marcadores somáticos que antecipam as possíveis consequências das diferentes opções de decisão (5,6). A incapacidade para provocar ou processar estes sinais emocionais produziria uma “miopia para o futuro”, ou seja, uma incapacidade para antecipar as possíveis consequências positivas ou negativas de determinadas acções (6). Vários estudos, que avaliaram o desempenho de pessoas com TRS, com base na prova Iowa Gambling Task (IGT), demonstraram mudanças significativas nos processos de TD em condições ambíguas (6,8), ou seja em que os indivíduos não tinham conhecimento explícito sobre a probabilidade de receber uma recompensa ou um castigo (6). Esta prova em sido usada para avaliar o modelo de marcador somático na Tomada de Decisão.

Conclusões: Os resultados obtidos no estudo realizado indicam que uma grande parte dos indivíduos da amostra apresenta alterações neuropsicológicas na tomada de decisão. Estes resultados são consistentes com investigações prévias (7), pelo que a hipótese do marcador somático proporciona uma boa explicação para os déficits evidenciados nesta amostra. A dificuldade ou, mesmo, deterioração na Tomada de Decisão na vida quotidiana, para além do contexto de estudo, pode contribuir para uma pior qualidade de vida e para o ciclo de gravidade de consumo de substâncias em que estas pessoas tendem a estar envolvidos. A deterioração pode, nomeadamente, levar a um menor cumprimento dos programas de tratamento, favorecendo a recaída e os resultados negativos destes utentes, como a doença e morte (Biernacki et al., 2018) (9). Assim, estas alterações neuropsicológicas têm implicações em diferentes aspectos da funcionalidade destes indivíduos, não apenas no comprometimento a nível clínico, como também a nível das relações familiares, no déficit social e na dificuldade de reincorporação profissional. Estas alterações neurocognitivas, globalmente, devem ser consideradas no diagnóstico, tratamento e prevenção de TRS, pois a sua identificação será de extrema importância de modo a permitir que as pessoas com deterioração cognitiva possam integrar programas específicos de reabilitação cognitiva.

Objectivo: Estudar o desempenho na Tomada de Decisão, com base numa tarefa neuropsicológica, em pessoas com TRS, em situação de abstinência, em tratamento numa Comunidade Terapêutica/Unidade de Dia.

Método: Uma versão computorizada do IGT foi administrada a uma amostra intencional de utentes (N=31), que cumprem os critérios de selecção, em tratamento numa unidade da DICAD/ARS Norte: Comunidade Terapêutica Ponte da Pedra (CT/UD). Este estudo preliminar faz parte de um projecto aprovado pela Comité de Ética de Saúde da ARS Norte, a 3 de Outubro de 2017 (Opinião Legal nº128/2017), integrando uma investigação transfronteiriça com a Galiza, Espanha.

Referências: (1) Rochat, L., Maurage, P., Heeren, A. & Billieux, J. (2018). Let’s Open the Decision-Making Umbrella: A Framework for Conceptualizing and Assessing Features of Impaired Decision Making in Addiction Neuro-psychology Review. doi: 10.1007 s11065-018-9387-3. (2) Redish, A. D., Jensen, S. & Johnson, A. (2008). Addiction as vulnerabilities in the decision process. Behavioral and Brain Sciences, 31(4), 461–487. (3) Kalivas,P. W. & Volkow, N. D. (2005). The neural basis of addiction: A pathology of motivation and choice. American Journal of Psychiatry, 162(8), 1403–1413 (4) Bickel, W. K., Kowal, B. P. & Gatchalian, K. M. (2006). Understanding addiction as a pathology of temporal horizon. The BehaviorAnalyst Today, 7(1), 32–47. (5) Bechara, A. & Damasio, H. (2002). Decision-making and addiction (part I): impaired activation of somatic states in substance dependent individuals when pondering decisions with negative future conse-quences. Neuropsychologia, 40: 1675-89. (6) Bechara, A. & Damasio, A. R. (2005). The somatic marker hypothesis: A neural theory of economic decision. Games and Economic Behavior, 52(2), 336-372. (7) Verdejo, A., Aguilar de Arcos, F. & Pérez-García, M. (2004). Alteraciones de los procesos de toma de decisiones vinculados al córtex prefrontal ventromedial en pacientes drogodependientes. Rev Neurol 38 (7):601-6. (8) Brand, M., Labudda, K. & Markowitsch, H. J. (2006). Neuropsychological correlates of decision-making in ambiguous and risky situations. Neural Networks, 19(8), 1266-1276. (9) Biernacki, K., Terret, G., McLennan, S. Morton, P. & Rendell., P. (2018). Decision-making, somatic markers and emotion processing in opiate users. Psychopharmacology (Berl). 2018 Jan; 235(1):223-232.