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PROJECTO Identificação de processos e técnicas de construção do bote baleeiro micaelense Grupo de Cidadãos pela Promoção do Património Baleeiro da Ilha de São Miguel Vila Franca do Campo, Fevereiro de 2015

Projecto: bote micalense

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PROJECTO Identificação de processos e técnicas de construção do bote baleeiro micaelense Grupo de Cidadãos pela Promoção do Património Baleeiro da Ilha de São Miguel Vila Franca do Campo, Fevereiro de 2015

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PROJECTO

Identificação de processos e técnicas de construção

do bote baleeiro micaelense

Grupo de Cidadãos pela Promoção do Património Baleeiro da Ilha de São Miguel

Vila Franca do Campo, Fevereiro de 2015

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RESUMO

São Miguel desempenha um papel importante no plano tecnológico e organizativo da fase industrial da caça à baleia nos Açores, projectando a actividade para ilha de Santa Maria e para o arquipélago da Madeira.

A identificação de processos e técnicas construtivas associadas ao bote baleeiro micaelense, no contexto do Património Baleeiro dos Açores, é um trabalho que falta concretizar. Consequência da consciencialização pública, evidencia-se a existência de um modelo construtivo diferenciado, associado à fase pujante da industrialização da baleação (anos 40-50 do séc. XX).

O projecto visa dar um contributo essencial para o entendimento do papel de São Miguel na actividade baleeira; promover a sua integração no contexto da baleação no arquipélago e no espaço Atlântico; valorizar a construção naval tradicional, incrementando a oferta de Vela para adultos.

RELEVÂNCIA E IMPACTO DO PROJECTO O projecto foca-se na preservação, rentabilização e valorização de capacidades e competências construtivas de uma mico-empresa de carpintaria naval tradicional, localizada no Porto de Pescas de Vila Franca do Campo, no âmbito da promoção da economia local. Presta homenagem à memória da baleação micaelense, contribuindo para a preservação do património marítimo pela associação de acções promotoras da cultura e das tradições, com benefícios para a qualificação do da oferta turística e a promoção da visibilidade e notoriedade do destino. Promove oportunidades pedagógicas e de orientação vocacional, consubstanciadas em iniciativas dirigidas a públicos diversos, incluindo jovens, estudantes e formandos. Aumenta a frota de botes baleeiros em operação na ilha de São Miguel permitindo incentivar a oferta da Vela desportiva e de lazer para adultos, criando novas oportunidades de contacto e acesso ao Mar, integrados nos objectivos da Economia Azul, da Estratégia Nacional para o Mar e das políticas regionais para o sector.

FUNDAMENTOS

A baleação foi uma actividade comum a todas as ilhas. Inicia-se por volta de 1830 nas Flores e ao longo de 40 anos propaga-se por todo o Arquipélago. Liga-se à expansão da actividade baleeira Americana de alto-mar ao longo do Atlântico. Coincide com a primeira vaga da imigração para os Estados Unidos. Assume uma base costeira com a instalação de múltiplas armações por todas as ilhas, produzindo idiossincrasias em cada ilha e em cada comunidade. Dinâmicas

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próprias locais, ao longo do tempo e do processo económico, criaram elementos diferenciadores: o Faial assume a importância de entreposto comercial; o Pico revela enormes impactos sociais internos e influência a economia de ilhas vizinhas; a Terceira interliga-se com a Graciosa; as baleias capturadas no Corvo eram processadas nas Flores; a ilha de São Miguel tem um papel relevante na fase industrial da caça à baleia, e na sua expansão a Santa Maria e à Madeira. Esta é uma história dos Açores! Com o fim da actividade, um importante movimento social [e político] concorreu para a preservação do património móvel e imóvel associado à caça da baleia. A sua institucionalização foi acautelada por legislação e financiamento próprios no âmbito do Programa de Recuperação do Património Baleeiro dos Açores, na esfera de competências próprias da Direção Regional da Cultura, delegadas por estatutos no Museu dos Baleeiros e na Comissão Consultiva do Património Baleeiro dos Açores. A concretização de inúmeros projetos de recuperação de embarcações, fábricas, casas de botes, portos e ancoradouros concentrou-se principalmente no grupo central. Justifica-se eventualmente a proximidade do Museu dos Baleeiros. O investimento público massivo ajudou a difundir a ideia do Pico como «a ilha da baleia». Mas é inquestionável a importância desta ilha também pela construção naval [de botes e lanchas], pela quantidade e diversidade de pessoas envolvidas, pelo impacto económico e social, para além de ter sido a última a abandonar a caça à baleia (1986). Contudo, outras ilhas ficaram à margem deste importante reconhecimento e valorização institucional e respectivos processos de patrimonialização. Em São Miguel, a destruição da Fábrica das Capelas comprometeu decisivamente o seu putativo interesse. O Inventário do Património Baleeiro Imóvel da Região (OMA) salientou vinte «sítios da baleação», incluindo portos, ancoradouros, vigias, estações e outras unidades de processamento. Pouco estudo incidiu sobre a matéria. Nenhuma preservação ou recuperação destas evidências da baleação micaelense foi concretizada. Menos ainda se fez no aproveitamento deste potencial enquanto recursos culturais e turísticos.

Perante esta ausência institucional e desinteresse generalizado, um grupo de cidadãos agregados em torno do bote baleeiro “SENHORA DE FÁTIMA”, dedicou-se ao aprofundamento da questão da baleação em São Miguel, com particular incidência no levantamento dos botes antigos.

O ponto de partida foi o bote “SANTA JOANA” (Museu Carlos Machado). Identificaram-se outras embarcações em Santa Maria, São Jorge, Holanda e França, cujas especificidades, processos e técnicas construtivas fundamentam a hipótese de existência do design micaelense, nunca antes referenciado, muito menos estudado. Neste contexto, foi produzido um relatório circunstancial intitulado “PATRIMÓNIO BALEEIRO MICAELENSE - passado, presente e futuro”, apresentado a diversas entidades competentes.

Consolidou-se a justificação e pertinência de um projecto de estudo sobre os elementos construtivos diferenciadores dos botes de São Miguel Não apenas pela

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sua relevância no conjunto do património baleeiro dos Açores, mas também pela expressão da participação cívica dos cidadãos na construção e valorização da identidade e da cultura Açoriana. METODOLOGIA

Considerando a escassez de informação relativa à actividade baleeira em São Miguel, confirmando-se o desconhecimento generalizado dos processos e técnicas construtivas associadas ao bote baleeiro micaelense no contexto do Património Baleeiro dos Açores, o grupo de cidadãos do Projecto de Animação Cultural, Recreativo, Turístico e Desportivo do bote baleeiro “SENHORA DE FÁTIMA” deu prioridade à sensibilização das Instituições Regionais, dos decisores políticos e da opinião pública para a questão.

Esta foi uma fase preliminar onde foram desenvolvidas as seguintes acções:

06/06/2014. Evento "À Conversa Com…” tendo como convidado Albano Cymbron na qualidade de representante dos antigos proprietários da União das Armações Baleeiras de São Miguel e autor do livro “A Fase Industrial da Baleação Micaelense, 1936-1970”. Foi apresentado, pela primeira vez, um estudo comparativo dos botes micaelense e bote convencional. Participaram neste debate Arsénio Puím, António Viana, Fernando Vieira, Alexandre Cabral, Armando Viveiros, Vítor Correia, Filipe Pacheco, Hermínio Pacheco, Francisco Perry, Manuel Mota, Nuno Mota, Jorge Arruda, Mário Prieto e Eduardo Lacerda. Convidado especial: Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo que manifestou apoio ao projeto valorização do património baleeiro micaelense.

25/08/2014. Conclusões e redacção do relatório circunstancial “PATRIMÓNIO BALEEIRO MICAELENSE - passado, presente e futuro”, com síntese de ponto de situação à data.

04/09/2014. Enviado ofício ao Secretário Regional da Educação e Cultura solicitando audiência para apresentação da intenção do grupo de cidadãos para a promoção do património baleeiro de São Miguel. A reunião aconteceu a 27 de Janeiro de 2015.

29/09/2014. Reunião com o GP do Partido Socialista, na Delegação da Assembleia Legislativa Regional, em Ponta Delgada, com a presença das Exmas. Sras. Deputadas Benilde Oliveira, Catarina Furtado, Cecília Pavão e Renata Botelho e do Sr. Deputado José San-Bento.

Participaram os seguintes membros da Secção do Bote Baleeiro do Clube Naval de Vila Franca do Campo: Srs. Eduardo Lacerda, Mário Prieto, Jorge Arruda e Miguel Cravinho.

03/10/2014. Reunião com GP Partido Social Democrata na sala de reuniões do Hotel Marina, em Vila Franca do Campo, com a presença dos Deputados José Andrade, Humberto de Melo, Jorge Macedo e Cláudio Almeida com Eduardo Lacerda, Mário Prieto, Jorge Arruda, Armando Viveiros e Miguel Cravinho. Como observadores convidados, Vítor Couto, Arsénio Puím e Rui Sousa Martins.

06/10/2014. Dirigido ofício ao Presidente do Conselho de Ilha de São Miguel, Dr. Noé Rodrigues, enviando cópia do relatório acima referido,

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propondo inclusão de ponto na ordem de trabalhos da próxima reunião do CISM, para análise, debate e tomada de posição sobre o assunto.

20/10/2014. Conselheiros discutiram e aprovaram por unanimidade o relatório da baleação micaelense, incluído na agenda de trabalhos do Conselho de Ilha de São Miguel. Presentes 42 membros, representantes das autarquias e outras instituições, incluindo presidentes de Câmaras e Assembleias Municipais de Vila Franca do Campo, Lagoa, Ponta Delgada, Ribeira Grande, Nordeste e Povoação; deputados regionais e representantes sindicais, empresariais e de associações agrícolas.

27/01/2015. Audiência com o Secretário Regional da Educação e Cultura para manifestação de interesse relativo ao projecto do bote baleeiro micaelense e a sua integração no contexto regional. Da reunião conclui-se uma alteração nas políticas para o Património Baleeiro dos Açores com uma abrangência mais alargada e a integração de São Miguel.

20/02/2015. Audição do representante núcleo do bote baleeiro na Comissão Permanente dos Assuntos Sociais relativamente ao Projecto de Resolução n.º 103/X (PS) – Identificação dos processos e técnicas de construção do bote baleeiro, com referência ao bote baleeiro micaelense.

Concluída a fase de institucionalização da questão da baleação micaelense, sentida a necessidade de se «fazer qualquer coisa», fundamenta-se a pertinência de apresentar o presente projecto que constitui-se como um estudo no âmbito da ARQUEOLOGIA NAVAL. Pretende-se proceder à análise formal do desenho e dos processos construtivos através do levantamento de informação escrita, oral, fotográfica e vídeo das características associadas ao bote baleeiro micaelense, partindo de pré-existências (referenciadas no Relatório Circunstancial anexo), construindo um exemplar que confirma a hipótese de diferenciação suscitada. O projecto pretende dar resposta à Resolução n.º 103/PS - Identificação dos processos e técnicas de construção do bote baleeiro, aprovada na Assembleia Legislativa Regional em _____.

FASES DO PROJECTO:

1. Identificação do bote baleiro de modelo micaelense:

a. Levantamento das características, funções, materiais, técnicas construtivas e elementos decorativos.

b. Confirmação da hipótese levantada através da construção de um exemplar na técnica do tabuado cruzado em X, em contraposição ao método convencional do revestimento horizontal com mata-juntas.

c. Elaboração de memória descritiva e registo audiovisual. 2. Construção do bote baleeiro micalense:

a. Valorização do processo construtivo através de iniciativas de promoção (media) e de formação pedagógica (escolas)

b. Promoção da construção naval tradicional e da economia local.

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3. Utilização do bote novo no âmbito da legislação em vigor nas vertentes: a. Desportiva/recreativa – oferta de Vela para adultos e promoção da

embarcação como plataforma de novos acessos ao Mar. b. Turística – integração na imagem, produto e destino; contributo para

a qualificação das paisagens marítimas. c. Cultural – Integração de São Miguel no Património Baleeiro dos

Açores. d. Pedagógica – utilização do bote baleeiro micaelense como

instrumento de construção da identidade Açoriana; de ligação das ilhas, das Comunidades e dos Açorianos.

EXECUÇÃO:

A promoção e a gestão do projecto são exclusivas o grupo de cidadãos do Projecto de Animação Cultural, Recreativo, Turístico e Desportivo do bote baleeiro “SENHORA DE FÁTIMA”.

Os trabalhos decorrerão na oficina de carpintaria naval, sita ao Cais do Tagarete, Vila Franca do Campo, ilha de São Miguel - Açores.

As obras de carpintaria serão da responsabilidade técnica do Mestre José de Melo, especialista da arte da construção de embarcações de madeira e tradicionais, com amplo portfólio nas áreas da pesca, transporte marítimo e recreio. Este profissional possui mais de 35 anos de experiência. É coadjuvado pelo Sr. Paulino Fanfa, seu assistente, igualmente competente e com créditos firmados no ofício.

O estudo, registo e inventariação ficará a cargo dos promotores do projecto, detentores de competências nos domínios da construção naval, património marítimo e promoção cultural.

Prevêem-se alocar recursos externos, com especialização na recolha e edição multimédia (foto e vídeo). Esta componente do projecto é muito importante, na medida e que produzirá «material em bruto» com elevado potencial editorial em diversos formatos (brochura, revista, livro, blog, documentário, etc.). Será executado pelo Sr. Tiago Batista que já fez trabalho similar a quando da reconstrução do bote baleeiro “SENHORA DE FÁTIMA” em 2010, nas Ribeiras do Pico.

O financiamento do projecto é da Direcção Regional da Cultura, no âmbito do Programa de Recuperação do Património Baleeiro dos Açores, operacionalizado por um contrato de execução com o Mestre José de Melo.

PARCERIAS

Visando maximizar o impacto económico e a relevância social junto da Comunidade, valoriza-se a participação e envolvimento de Instituições locais:

> Centro de Estudos Etnológicos da Universidade dos Açores

> Escola Básica e Secundária e Escola Profissional de Vila Franca do Campo

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> Câmara Municipal de Vila Franca do Campo

> Comando da Zona Marítima dos Açores

> TERRA AZUL – azores whale watching

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NOTA COMPLEMENTAR

Este projecto representa cerca de 0,2% do montante total de investimento na recuperação do património baleeiro dos Açores, desde 1991, predominantemente concentrado no Grupo Central (fonte: AO Online, 17/08/2011; RTP/A, 26/06/2012).

Acresce aos 2 milhões de euros, outros investimentos complementares mais recentes, onde se destacam o novo auditório do Museu dos Baleeiros, Pico (meio milhão de euros) e a requalificação da Fábrica de Porto Pim, Faial (cerca de um milhão euros).

Destaca-se que o projecto aqui apresentado é a primeira iniciativa no âmbito da preservação, recuperação e valorização do património baleeiro da ilha São Miguel.

CALENDÁRIO

Os trabalhos decorrerão no primeiro semestre de 2015, com início após assinatura do protocolo entre DRC e o CNVFC. A execução do projecto fica dependente do enquadramento no âmbito do Plano e Orçamento Regional.

ORÇAMENTO

O orçamento previsto 50.000,00€ (cinquenta mil euros), a transferir em tranche única.

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QUADRO RESUMO

1. Programa de Apoio à Recuperação Património Baleeiro dos Açores - DRC.

2. Análise do desenho e processo construtivo; levantamento da informação escrita, oral, fotográfica e vídeo.

3. Contratação mão-de-obra especializada local; aquisição material e serviços externos.

4/5. Apoio logístico; acompanhamento técnico e científico.

6. Recuperação/restauro bote-modelo.

7. Valorização mico-empresa: 2 postos de trabalho.

8. Réplica de utilização desportiva, recreativa, cultural, turística e formação.

9. Trabalhos em oficina no Inverno: operacionalidade do bote no Verão 2015.

10. Primário: Material de relevante potencial editorial; mais um bote a navegar em SM. Secundário: Estímulo da economia local, aumento frota, mais oferta de Vela adultos, preservação das competências, artes e ofícios, qualificação cultural e turística, oportunidade pedagógica.

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Bibliografia: “Baleação em Botes de Boca Aberta nos Mares dos Açores, história e métodos atuais de uma indústria-relíquia”, Robert Clarke, 1954. “A Fase Industrial da Baleação Micaelense, 1936-1970”, Albano Cymbron