Projeto Grupo Pecheux 09

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projeto grupo de pesquisa

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  • Universidade Federal de Santa Maria Centro de Artes e Letras

    Programa de Ps-Graduao em Letras Laboratrio Corpus

    Grpesq/CNPq Linguagem, Sentido e Memria

    Nmero de Registro no GAP: 021719

    Coordenadora: Prof Dr. Amanda Eloina Scherer

  • GRUPO DE ESTUDOS MICHEL PCHEUX

    O Grupo de Estudos Michel Pcheux surgiu pela iniciativa de acadmicos da graduao e da ps-graduao em Letras da UFSM, vinculados ao Laboratrio Corpus, com objetivo de organizar um frum (extracurricular) de discusso acerca da obra de Michel Pcheux. Iniciado em 2003 e mantido em 2004 (com novos membros), o grupo passou por um perodo de inatividade a partir de 2005 at ser retomado em maro de 2007. Desde ento, mantm-se em plena atividade, realizando os encontros com periodicidade, conforme o calendrio de dias letivos do Programa Ps-Graduao em Letras da UFSM.

    O ANALISTA, A TEORIA E ALGUNS CONCEITOS RELATIVOS

    O filsofo francs Michel Pcheux (1938-1983), precursor da Anlise de Discurso (doravante AD) desenvolvida na Frana em meados de 1960, juntamente com um coletivo de colaboradores, teorizou, sobretudo, acerca da materialidade do discurso. Por um lado, dando continuidade s elaboraes tericas de Louis Althusser (1918-1990), por outro, contrapondo-se Anlise do Discurso influenciada por Harris e trabalhada por Dubois em Nanterre, Pcheux conceituou o discurso enquanto uma determinada forma de materialidade (histrico-lingstica) diretamente imbricada com a materialidade ideolgica, propondo uma semntica do discurso.

    Dentro da tradio do pensamento marxista (ortodoxo ou heterodoxo), a grande novidade que as teorias de Althusser e Pcheux trouxeram foi a de romper com uma concepo de ideologia como simples reflexo da instncia econmica e com uma concepo de linguagem como instrumento de comunicao e lngua enquanto sistema anquilosado a uma sintaxe suturada. A especificidade e irredutibilidade das formaes ideolgicas e discursivas permitiram a delimitao de um novo campo de estudos para a Lingstica de base materialista. Uma vez que a ideologia no somente um espelho (com seus efeitos de simples inverso e distoro da imagem real) da luta de classes de base econmica, mas possui um modo de funcionamento

  • especfico, ela demanda um dispositivo de anlise adequado a seu estudo. Esse dispositivo se construiu a partir de pesquisas acerca da produo de sentido (semntica materialista) dos discursos entendidos enquanto a materialidade caracterstica s formaes ideolgicas.

    A AD se distinguiu ento, na perspectiva do materialismo histrico, por se ocupar de uma realidade peculiar, dotada de uma regularidade e um modo de funcionamento irredutveis. Dessa forma, o objeto de estudo da AD se diferencia e suas pesquisas ganham autonomia em relao a outros campos como o das formaes econmicas e sociais. Ainda que essa autonomia seja relativa, e a AD se sirva de chaves conceituais externas ao seu campo (como: luta de classes, enunciado, imaginrio, resistncia inconsciente). As descries e interpretaes de discursos tm como uma de suas bases as Cincias da Linguagem e a Lingstica Estrutural que propem uma concepo de lngua como opaca, equvoca e com uma regularidade interna prpria (teoria do valor de Saussure). No mais possvel descrever e interpretar uma dada formao ideolgica com base em referentes puramente sociais.

    Na perspectiva das cincias lingsticas, a AD permite uma abordagem alternativa para a compreenso de fenmenos de ordem semntica. A abordagem materialista proposta por Pcheux na dcada de 1960 desencadeou uma trajetria acidentada, com ratificaes e retificaes, ajustes, desvios e retomadas. Tal percurso configurou uma obra basilar da AD francesa que tem seu expoente, em um primeiro momento no Brasil, na pesquisadora Eni Orlandi. Essa terica faz uma interpretao que ressignifica os conceitos pecheutianos, de modo a torn-los possveis de serem mobilizados terico-analiticamente em discursos constitudos, formulados e em circulao no contexto brasileiro. Dito de outro modo, a relao entretida de interpretao da obra e no de recepo de conceitos alm-mar.

    Nessa perspectiva, consideramos de extrema valia o estudo demorado e o mais exaustivo possvel da obra de Michel Pcheux, mediante leitura e debate em grupo de seus textos mais conhecidos, dos menos conhecidos e daqueles ainda no publicados em nosso pas. Para, desse modo, discutirmos aprofundadamente os conceitos-chave em AD, que por sua vez

  • atravessada/entremeada epistemologicamente por outras disciplinas, tal como formulou Orlandi:

    [...] se a Anlise do Discurso herdeira das trs regies de conhecimento Psicanlise, Lingstica, Marxismo no o de modo servil e trabalha uma noo a de discurso que no se reduz ao objeto da Lingstica, nem se deixa absorver pela Teoria Marxista e tampouco corresponde ao que teoriza a Psicanlise. Interroga a Lingstica pela historicidade que ela deixa de lado, questiona o Materialismo perguntando pelo simblico e se demarca da Psicanlise pelo modo como, considerando a historicidade, trabalha a ideologia como materialmente relacionada ao inconsciente sem ser absorvida por ele (ORLANDI, 2003, p. 20)

    Contudo, apesar da autonomia relativa da AD, mas levando em conta decisivamente sua materialidade especfica que o discurso, consideramos pertinente o estudo de conceitos teorizados em campos de saber externos instncia discursiva.

    Nesse sentido, a definio e problematizao dos conceitos j referidos: ideologia, luta de classes, e resistncia, entre outros, tanto na perspectiva da AD como tambm no contexto dos saberes em que foram mais exaustivamente formulados de extremo valor para os estudiosos do discurso.

    Outros conceitos como formao discursiva, acontecimento e heterogeneidade, alm de serem importados de outras teorias e saberes, possuem um escopo e uma definio prpria no interior do arcabouo terico da AD. Isso se d porque esses conceitos esto diretamente articulados com a concepo de discurso proposta pela AD, tal como um imbricamento/confronto entre o simblico e o poltico.

    METODOLOGIA

    - Encontros com periodicidade semanal (com durao de uma hora em perodo de aulas conforme o calendrio letivo da ps-graduao/graduao da UFSM); - Pr-definio da temtica de cada encontro do grupo de estudos com, no mnimo, uma semana de antecedncia;

  • - Indicao prvia das leituras mais pertinentes a cada temtica (texto base, texto de ligao com a AD) com, no mnimo, a antecedncia de uma semana. Uma referncia bibliogrfica indicativa est na seqncia deste projeto; - As temticas dos encontros do grupo de estudos sero relativas aos conceitos-chave da teoria do discurso ou do dispositivo terico-analtico da AD;

    - A seqncia e a transio de uma temtica a outra se efetivar apenas quando a discusso de um determinado tema/conceito for considerada satisfatoriamente esgotada por todos os membros do grupo.

    SEQNCIA DE CONCEITOS-CHAVE Luta de classes e/ou Luta de lugares: (posio social X posio sujeito); Formao Social: (modo de produo, relaes de produo, foras produtivas, mais valia); Ideologia: (Aparelhos ideolgicos de Estado, Ideologia X ideologias X formaes ideolgicas); Formaes Discursivas: Regularidades, heterogeneidade, interdiscurso, memria discursiva, estrutura e acontecimento (acontecimento histrico, acontecimento discursivo, acontecimento enunciativo, pr-construdo). Sujeito/sentido: Forma-sujeito, posio sujeito, modalidades de funcionamento subjetivo, sujeito cindido, resistncia (sujeito do) inconsciente, subjetividade, subjetivao, singularizao, interpelao, identidade, identificao.

    Lngua/discurso: lngua saussureana, lngua pecheutiana, materialidade lingstica, enunciativa e discursiva; enunciado X enunciao; funcionamento discursivo; dispositivo terico X dispositivo analtico; metfora X metonmia; nomeao X designao X referncia; apagamento X silenciamento X falta; deslocamento X ruptura; falha X equvoco X ambigidade; lngua nacional X lngua oficial; lngua fluda X lngua de madeira; significante X significado X sentido; mecanismos lingstico/discursivos de substituio, remisso, especificao, definio e descrio; efeitos de sentido; intradiscurso X interdiscurso; parfrase X polissemia X verso efeito metafrico; condies

  • de produo dos discursos; dados X fatos discursivos; lngua X alngua; gesto de leitura X empirismo.

    Materialidades: contradio, materialismo histrico, materialismo dialtico, materialidade lingstica, materialismo aleatrio, simblico, imaginrio, real, real da lngua, real da histria.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    GREGOLIN, Maria do Rosrio. Foucault e Pcheux na Anlise Do discurso: Dilogos e Duelos. So Carlos: ClaraLuz, 2004.

    MALDIDIER, Denise. A Inquietao do Discurso. (Re)ler Michel Pcheux Hoje. Trad. de Eni P. Orlandi. Campinas: Pontes, 2003.

    MARZIRE, Francine. Anlise do Discurso. Histria e Prticas. Trad. de Marcos Marcionilo. So Paulo: Parbola, 2007.

    ORLANDI, Eni P. Anlise de Discurso. Princpios e Procedimentos. Campinas: Pontes, 2003.

    BIBLIOGRAFIA BSICA

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    BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR (AUTORES RELACIONADOS):

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