Projeto Ler, interpretar e fazer arte através do olhar

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Ler, interpretar e fazer arte através do olhar foi um projeto de pesquisa tendo como principais eixos A proposta Triangular de Ana Mae Barbosa, o método de Edmund e o de Feldman e o método de Robert Saunders numa proposição de leitura com a obra Retirantes, 1944 de Portinari relacionando a música Asa Branca, perfazendo um paralelo com a contemporaneidade.Teve como objetivo resgatar valores culturais, históricos e sociais e promover sentimentos de pertença.

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O projeto Ler, Interpretar e fazer arte atravs do olhar envolveu 48 alunos do 7 e 8 ano do Ensino Fundamental da Escola Santa Clara do Capara, no municpio de Ina ES, objetivando o conhecimento atravs de anlises acerca de leitura de imagens, contextualizando histria e fazer artstico.

As atividades propostas de leitura, produo e releitura da imagem Retirantes de Joo Candido Portinari, 1944, pertinentes a seqncia didtica, possibilitaram aos estudantes estabelecer relaes com proposio de leitura, contextualizao e o fazer artstico integrados a Proposta Triangular juntamente com o mtodo multipropsito de Robert Saundedrs e o comparativo de Edmund Feldman. Teve como principais objetivos a anlise da obra em seus elementos plsticos como linha, forma, cor, espao etc. com nfase na complexidade histrica, social e cultural da poca, tendo como propsito mostrar um novo mundo a partir da arte; abrir o horizonte e desenvolver o senso esttico do aluno; lev-lo a desenvolver senso crtico e torn-lo cidado de opinio, favorecendo um paralelo com o ambiente (no caso rural) em que vivem, quer seja explorando fatores sociais, culturais e econmicos para expressarem reconhecimento de si prprio e do mundo atravs de prticas artsticas no ambiente escolar.

O projeto foi iniciado com o livro Encontro com Portinari de Rosane Macedo e Ceclia Aranha (2001), que relata o contexto histrico no perodo da produo da obra Retirantes, 1944 bem como a biografia do artista, Joo Candido Portinari.

Assistimos o vdeo Imaginrio Portinari (2005), para fazer uma aproximao entre o artista Portinari e suas obras para que os alunos, ao fazer a leitura da imagem Retirantes, 1944 a relacionassem aos aspectos sociais, culturais e econmicos do Brasil, bem como o fortalecimento da relao obra/texto no perodo em que outras obras do pintor foram produzidas compreendendo-a de forma crtica para perceber relaes entre o texto presente nas imagens e o contexto da comunidade a qual esto inseridos com o propsito de observar, descrever e expor a relao apreendida entre aluno/arte e relatar que tipos de reaes, associaes e criaes os mesmos iriam estabelecer e propor.

Anlise da imagem: SHAPE

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Retirantes (1944). Cndido Portinari - leo s/ Tela. 190 x 180 cm

Museu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand.

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Aps a anlise da imagem feita individualmente por todos os alunos de ambas as sries, fizeram a leitura coletivamente.

Os alunos do 7 ano efetuaram composies figurativas com a tcnica de desenho, as quais coloriram. Uns retrataram situaes que se assemelham ao tema da obra Retirantes, 1944 de Portinari e alguns relacionaram a obra com a msica Asa Branca de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Outros retrataram o oposto, a comunidade em que moram e a situao econmica a qual se encontra.

Releituras da obra Retirantes (1944) de Portinari:

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Serto.Aluna: Alunos: 7 ano Vida Seca.Aluno: 7 ano

Maicon interpreta as duas imagens acima:

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Em busca de uma vida melhor. Alunos: 7 anoRelato de Karoline, 8 ano:

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Aps os alunos de ambas as sries relacionarem a obra Retirantes, Portinari de 1944 msica Asa Branca, utilizamos um Cd para ouvir a msica. Eles, ento, compuseram textos imagticos a partir da trilha sonora utilizando papel ofcio, lpis grafite e lpis coloridos, pinceis e tinta guache para atividades de desenhos com papel canson, capas de livros (por serem impermeveis na utilizao de tintas). As imagens que produziram retratam sentimentos de desespero pela falta de gua, falta de plantao e separao de um casal. Vrios alunos interpretaram as imagens produzidas atravs de relatos orais e escritos.

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Figura 5 Misericrdia. Alunos:7 ano

Adeus Rosinha. Alunos: 7 ano

Alex, 8 srie Misericrdia de Natlia de Souza Cardoso.

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A Imagem Adeus Rosinha, ilustra com desenvoltura a letra da msica Asa Branca. O solo sem plantao, o sol quente no ltimo plano forma uma linha diagonal com a fogueira no canto inferior esquerdo representa a seca. A deciso de partir, buscar em outro lugar a sobrevivncia deixando sua moradia; a amada sem saber que atitude tomar ao ver seu amor partir que demonstra grande aflio e uma rvore em decomposio ocupa a parte central da imagem. Maicom e Paulina fizeram a leitura do desenho, Adeus Rosinha: SHAPE

Nas atividades com tinta Guache, foram efetuadas pelos alunos do 8 ano, foi utilizado pinceis e cores primrias e tons de cores frias em contraste com as cores quentes.

A pintura, O ltimo pau de arara, na pgina abaixo, se apresenta com diferentes tons e as pinceladas grossas proporcionam muita luminosidade. Na parte superior, retrata a atmosfera com pinceladas em vrios tons e entra em harmonia com os tons terrosos na parte inferior. A rvore no primeiro plano apresenta vida atravs da textura que lhe d volume. A aparncia do animal est em acordo com o ambiente, pois aparenta tranquilidade em seu caminhar. Percebe-se em toda imagem as formas triangulares, cilndricas, quadradas e circulares. Os elementos esto bem demarcados com linhas suaves e grossas. SHAPE

O ltimo pau de arara. Alunos: 8 ano

A imagem toda parece estar em movimento da esquerda para a direita, exceto o cacto que parece estar subordinado e hipnotizado pelo sol.

Maicon descreve a imagem O ltimo pau de arara:

Na imagem abaixo, nota-se ao contrrio da anterior; planos que foram criados expressando a textura utilizando muitas cores. Como na maioria dos textos, a presena forte do cacto resistindo s intempries da natureza tendo a sua direita, planta seca. A atmosfera com muita luz representada por azul claro e branco entra em harmonia com o azul forte que representa o cu esquerda superior e percebe-se que o sol no canto superior direita est intenso sem nuvens escuras que representa a ausncia de chuva e permanece, entretanto a seca. SHAPE

Seca atinge comunidade. Alunos: 8 ano Relato de Joo Pedro e Sidene acerca da imagem Seca atinge comunidade:

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A imagem abaixo representa com fidelidade a msica Asa branca. Foram utilizadas cores primrias, secundrias, tercirias e neutras. A aluna representou a presena da seca tanto no sol que se presencia em boa parte da imagem como tambm no solo que tem um crnio de animal representando o fim da vida. O grande tronco de rvore indcio de que h falta de matas, de plantaes em toda parte.

No primeiro plano, a presena de uma pessoa protegendo, segurando com firmeza uma planta viosa que representa esperana. H indcios que se direciona para algum lugar que poder ter acesso a uma vida melhor. Sua face, entretanto apresenta descontentamento; seus olhos incertezas, solido. A ave em pleno voo se direciona para fora da imagem, seus ps acentuados pela cor negra, tambm utilizada nos olhos, parecem querer ficar, tentar sobreviver num ambiente to hostil.

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Esperana, que retrata a msica Asa Branca. Alunos: 8 anoAps fazerem a anlise da imagem Retirantes, 1944, relacionando o contexto histrico em que fora criada paralela vida do artista direcionamos nosso olhar ao ambiente que estamos inseridos e dialogando com a obra, nos posicionamos criticamente para reconhecer quem somos, o que temos e o que queremos. Percebemos fatores econmicos, sociais e culturais da comunidade de Santa Clara do Capara que foi registrado atravs dos relatos que identificam como a percebem, valorizam e anseiam por mudanas que visam permanncia na comunidade para que haja progresso sem prejudicar o ambiente.

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Os alunos produziram desenhos, registrando como percebem a economia local que baseada nas lavouras de caf e tendo como alternativa de economia sustentvel o cultivo do morango. Retratam o ambiente onde ocorre a produo, colheita, transporte de morangos e produtos que se obtm a partir da matria prima cultivada na comunidade de Santa Clara do Capara. Os alunos esto cientes da importncia do caf como meio de sobrevivncia no campo e vem o cultivo do morango como um novo meio de sustentabilidade, paralelo a produo do caf.

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Produo. Alunos: 7 anoA festa tradicional que ocorre todo ano a da laranja. A associao comunitria quem a organiza. Falam do evento com orgulho.

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Festa da Laranja. Alunos: 8 ano A religio presente a catlica e protestante. A imagem retrata a caminhada da misericrdia que programada pela parquia Paulo Apstolo de Pequi e que

ocorre uma vez por ano. Relataram que o ponto de encontro entre vrias comunidades que vem de vrios nortes a igreja do Pouso Alto. Ao chegarem de manhzinha tomam um delicioso caf e caminham cantando, rezando num percurso de trs quilmetros. O proco celebra missa e todos almoam. Os adultos aproveitam a ocasio para relembrarem de situaes anteriores que tm em comum e as repassam para os mais novos.

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Caminhada das guas. 7 anoAs duas imagens seguintes representam a festa tradicional que acontece em vrias partes do Brasil. Em Santa Clara do Capara e realizada na escola e na igreja.

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Festa no Arrai de Santa Clara. Alunono SHAPE

Arraiau do Capara. Alunos: 8 anoO maior centro de lazer a Cachoeira do Chiador. Nos domingos de vero vem pessoas de vrias regies para apreci-la por sua beleza, fazer churrasco e passar um dia tranquilo em um ambiente familiar.

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Cachoeira do Chiador.Alunos: 8 anoExposio dos trabalhos no mural da EMEF Santa Clara do Capara:

Aps ter finalizado o projeto de pesquisa participativa, selecionamos as atividades prticas de acordo com as etapas em que foram efetuadas e separamo-las de acordo com os temas que foram desenvolvidos. Os alunos organizaram-nas em papis cenrios utilizando fita durex. O resultado do nosso trabalho foi exposto no corredor que d acesso a entrada da escola no final de maio e no ms de junho de 2012.

Montando os painis. Maio, 2012.

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No decorrer dos dias percebemos alunos do perodo matutino e do vespertino contemplando as imagens, relacionando-as a situaes que lhe so peculiares, tecendo comentrios e demonstrando desejos de efetuarem atividades artsticas.

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CONSIDERAES FINAIS

Os resultados e anlises levam a crer que o projeto de pesquisa participativa propiciou conhecimentos, imaginao e percepo, desenvolvendo autonomia, sentimentos de cidadania atravs de anlises acerca de leitura de imagens, contextualizando histria e fazer artstico, tendo como suportes a Abordagem Triangular paralela ao mtodo comparativo de Edmund Feldman (1970), identificando em seu entorno prticas relacionadas a fatores sociais, culturais e econmicos.

Somos de opinio de que o projeto Ler, apreciar e fazer arte atravs do olhar foi importante diante da necessidade de se alfabetizar para a leitura da imagem atravs de contextualizao histrica e fazer artstico. Os alunos do 7 e do 8 ano relacionaram a vida do artista relatando que semelhante deles e sentiram que podem de uma forma ou de outra realizar-se profissionalmente, se idealizarem um futuro e produziram de forma interativa relatos orais, verbais e produo artstica, demonstrando assim assimilao e desenvolvimento bem como autonomia, esprito crtico e sentimento de pertena.

H muitos veculos de distribuio da produo imagtica e neste contexto que o uso da imagem em sala de aula se faz necessrio a partir da leitura e contextualizao da imagem de qualquer categoria, pois a arte parte da herana cultural de um povo, e deve est presente na sala de aula, ser contextualizada, analisada, interpretada com julgamento e recriao para os discentes se perceberem como transformadores do mundo ou agentes de transformao de sua prpria realidade.

REFERNCIAS

ACEDO, R; ARANHA, C. Encontro com Portinari. Belo Horizonte.Ed. Formato,1995.

BARBOSA, A M. A Imagem no Ensino da Arte-Anos oitenta e novos tempos. 5.: Ed. Perspectiva. So Paulo, 2002.

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PILLAR, A D. A Educao do Olhar no ensino das artes. 5.ed. Porto Alegre: Mediao, 2009.

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