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PROPOSIÇÃO E AVALIAÇÃO DE UM MÉTODO MULTICRITÉRIO EM LICITAÇÕES: ESTUDO DE CASO NA CONSTRUÇÃO CIVIL Adalberto Pereira de Araujo Junior (UNICAMP) [email protected] Fernan Martins Vidal Fernandes Irber (IFAC) [email protected] CLAUDIA FERREIRA DE ALMEIDA (IFAC) [email protected] ALMIR MARIANO DE SOUSA JUNIOR (UFERSA) [email protected] Daniela de Freitas Lima (UFERSA) [email protected] No Brasil os recursos aplicados na construção civil são significativos. O setor público é o maior contratante de obras de engenharia o qual também é responsável pela sua fiscalização e correta aplicação. Apesar de todo o cuidado dos legisladores em se ter um processo licitatório eficaz e confiável, os Tribunais de Contas, responsáveis pela fiscalização e controle externo, se deparam diariamente com diversas irregularidades contratuais, tais como: Sobrepreço em relação à planilha oficial, obras pagas e não realizadas, entre outras. Desse modo, o presente trabalho tem como objetivo propor e avaliar um modelo de Apoio Multicritério à Decisão (AMD) que auxilie a Administração Pública do Estado Acre na classificação das empresas participantes na fase externa dos processos licitatórios, mais precisamente no lançamento do edital. Para isso foi realizada a aplicação de um questionário estruturado segundo o método Analytic Hierarchy Process (AHP) aos Analistas de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado do Acre, que de acordo com as suas experiências definiram importâncias relativas aos critérios: patrimônio líquido, maior desconto e qualificação profissional. Observou-se por fim, que tais importâncias influenciaram significativamente o ranqueamento das empresas antes julgadas unicamente pelo critério de maior desconto. Palavras-chave: Licitações, Multicritério, AHP, Construção Civil XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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PROPOSIÇÃO E AVALIAÇÃO DE UM

MÉTODO MULTICRITÉRIO EM

LICITAÇÕES: ESTUDO DE CASO NA

CONSTRUÇÃO CIVIL

Adalberto Pereira de Araujo Junior (UNICAMP)

[email protected]

Fernan Martins Vidal Fernandes Irber (IFAC)

[email protected]

CLAUDIA FERREIRA DE ALMEIDA (IFAC)

[email protected]

ALMIR MARIANO DE SOUSA JUNIOR (UFERSA)

[email protected]

Daniela de Freitas Lima (UFERSA)

[email protected]

No Brasil os recursos aplicados na construção civil são significativos.

O setor público é o maior contratante de obras de engenharia o qual

também é responsável pela sua fiscalização e correta aplicação.

Apesar de todo o cuidado dos legisladores em se ter um processo

licitatório eficaz e confiável, os Tribunais de Contas, responsáveis pela

fiscalização e controle externo, se deparam diariamente com diversas

irregularidades contratuais, tais como: Sobrepreço em relação à

planilha oficial, obras pagas e não realizadas, entre outras. Desse

modo, o presente trabalho tem como objetivo propor e avaliar um

modelo de Apoio Multicritério à Decisão (AMD) que auxilie a

Administração Pública do Estado Acre na classificação das empresas

participantes na fase externa dos processos licitatórios, mais

precisamente no lançamento do edital. Para isso foi realizada a

aplicação de um questionário estruturado segundo o método Analytic

Hierarchy Process (AHP) aos Analistas de Controle Externo do

Tribunal de Contas do Estado do Acre, que de acordo com as suas

experiências definiram importâncias relativas aos critérios: patrimônio

líquido, maior desconto e qualificação profissional. Observou-se por

fim, que tais importâncias influenciaram significativamente o

ranqueamento das empresas antes julgadas unicamente pelo critério de

maior desconto.

Palavras-chave: Licitações, Multicritério, AHP, Construção Civil

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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1. Introdução

O setor da construção civil é considerado o grande responsável pela dinamização da economia

nacional, seja no setor público ou privado. Ele é extremamente heterogêneo com grandes

variações, pela abrangência de suas atividades, tipologia das empresas, tecnologias e

qualificação de pessoal e dispersão geográfica. (ABDI, 2009).

Na contratação de uma empresa para a realização de um empreendimento a Administração

Pública, institui normas para licitações e contratos e dá outras providências através da lei

8.666, de 21 de junho de 1993.

Das modalidades de licitações, a concorrência engloba obras e serviços de engenharia de

maiores valores, e permite a administração tenha um maior controle não somente no que tange

os valores apresentados pelas empresas, como também sobre os requisitos mínimos de

qualificação exigidos no edital para a execução do objeto.

Apesar de todo o cuidado dos legisladores em se ter um processo licitatório eficaz e confiável,

os Tribunais de Contas, responsáveis pela fiscalização e controle externo, se deparam

diariamente com diversas irregularidades contratuais. O Tribunal de Contas do Estado (TCE)

do Acre acredita que tais irregularidades poderiam ser evitadas se o processo fosse mais

criterioso.

O atual modelo de classificação de empresas para execução de obras e serviços de engenharia

se baseia, na maioria dos casos, em um único critério de classificação: Menor preço. Diante

disto, faz-se o seguinte questionamento: O modelo de realização das licitações na construção

civil do Estado do Acre poderia ser mais criterioso?

O objetivo deste trabalho é propor e avaliar um modelo de Apoio Multicritério à Decisão

(AMD) que auxilie a Administração Pública do Estado Acre na classificação das empresas

participantes na fase externa dos processos licitatórios, ante a variedade de empresas da

construção civil e suas especificidades e as diversas exigências do gestores públicos.

Para o estado do Acre, aperfeiçoar a aplicação dos recursos públicos neste setor estratégico

para este estado pode trazer economias significativas, levando em consideração todas as

dificuldades que já são inerente à região norte.

2. Construção civil no Brasil e no estado do Acre

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A atividade construtiva é dividida por segmentos: residencial ou de edificações, comerciais ou

de empreendimentos; da construção pesada ou de infraestrutura e outros.

Segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

(Dieese, 2013), o setor da construção representou 5,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em

2012. Em 2011, o setor possuía cerca de 7,8 milhões de ocupados, representando 8,4% de

toda a população ocupada do país. Esta expansão foi motivada pelo aumento dos

investimentos públicos em obras de infraestrutura e em unidades habitacionais, a partir do

lançamento de dois programas de governo: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC

I), em 2007, e o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), em 2009. Foram investidos

na cadeia produtiva da construção R$ 349,4 bilhões em 2012.

De acordo com Cabral (2002) em estudo realizado com apoio do TCE-PE, foram analisados

os controles internos e 150 obras analisadas naquele estado, foi constatada a fragilidade dos

mesmos nos seguintes aspectos: 38% das obras não possuem projetos básicos compatíveis

com Lei nº 8666/93; 33,33% das obras não possuem orçamentos estimativos compatíveis com

Lei nº 8666/93; 28,67% das obras não foram executadas por empresas de engenharia,

conforme Lei nº 6.839/80 e Lei 5.194/66; 46,67% das obras não possuem fiscalização

conforme Lei 8666/93; 45,33% das obras não possuem boletins de medição compatíveis com

as obras executadas para liquidação das despesas das mesmas, conforme Lei 4320/64.

No Acre, historicamente a indústria da construção teve seu “’Boom” na década de 80, quando

tiveram investimentos significativos na construção de conjuntos habitacionais. Na época o

setor chegou a empregar cerca de 10.000 trabalhadores. Após este período houve uma

estagnação generalizada, causada pela falta de investimentos do setor público. Só no final dos

anos 90 com o governo Jorge Viana, o setor voltou a ser aquecido devido à política de

revitalização e construções de instituições e espaços públicos. No governo Tião Viana, a

política habitacional passou a ser um dos focos principais com o lançamento do complexo

habitacional “Cidade do Povo”, que terá ao menos 7.000 moradias, beneficiando

aproximadamente 15.000 trabalhadores diretos. É o setor que mais emprega e também o que

mais fatura atualmente na economia Acreana.

3. Licitações

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O setor de obras públicas representa grande parte dos recursos financeiros aplicados pelos

gestores nos mais diversos setores da sociedade brasileira, constituindo o grande propulsor da

economia nacional. A situação caótica em que se encontram as obras públicas no país impôs

desafios ao controle, no que se refere à correta alocação de recursos públicos, tendo em vista

que estes são limitados, com o objetivo de maximizar os benefícios para a comunidade.

(AUTORIAN, 2011).

Para contextualizar as etapas da contratação, o processo licitatório, segundo Autorian (2011),

costuma ser dividido em duas fases, a interna e a externa. A primeira delas é desenvolvida

pela Administração até a publicação do edital ou entrega do convite, enquanto a segunda se

inicia a partir daí e termina com a contratação do empreendimento. As etapas de execução de

obras públicas são demonstradas na Figura 1.

Figura 1 – Fluxograma das etapas da execução indireta de obras públicas

Fonte: Adaptado do TCU (2009)

O controle externo de contratos e processos licitatórios é realizado pelo Tribunal de Contas da

União, quando os recursos provêm da esfera Federal, e pelos Tribunais de Contas dos

Estados, órgão destinado à fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e

patrimonial dos estados e municípios, auxiliando o Poder Legislativo no controle externo.

Conforme estudo do Tribunal de Contas da União (2009), dentre as principais irregularidades

em obras são: ausência de recursos para execução da totalidade das obras; contrato de

execução dissonante do contrato de financiamento ou do termo do convênio; desvio de

finalidade no emprego dos recursos; projeto básico em desacordo com a; ausência de estudos

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ambientais adequados; e direcionamento da licitação. Ele acrescenta que as consequências

são: o comprometimento dos resultados da implantação de obras devido dificuldade de

adquirir recursos adicionais, aumento dos cursos em decorrência das paralizações, prejuízo

social em virtude dos atrasos das conclusões das obras e a hesitação na viabilidade da

construção com o novo orçamento apresentado.

Essas evidências, que levam as obras públicas a serem consideradas piores do que suas

equivalentes, realizadas para a área privada, estão em desacordo com as necessidades do

Estado e da própria sociedade. (FERREIRA, 2011).

4. A modalidade concorrência

Conforme § 1º do art. 22 da Lei 8.666/93, concorrência é a modalidade de licitação entre

quaisquer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os

requisitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de seu objeto. A lei ainda

estabelece os limites por modalidade e para dispensabilidade, conforme mostra a Tabela 1:

Tabela 1 – Limites para dispensabilidade e modalidades de licitação

Dispensabilidade e modalidades Limites para compras e serviços Limites para Obra e serviços de

engenharia.

Licitação Dispensável Até R$ 8.000,00 Até R$ 15.000,00

Convite Até R$ 80.000,00 Até R$ 150.000,00

Tomada de Preço Até R$ 650.000,00 Até R$ 1.500.000,00

Concorrência Acima de R$ 650.000,00 Acima de R$ 1.500.000,00

Fonte: Adaptado de Motta (2005)

Por tratar de licitações de grandes vultos, a concorrência tornou-se a modalidade estratégica

para abordagem neste trabalho, no que tange a parte quantitativa. No que se refere à questão

qualitativa tomaremos com base a legislação vigente, propondo uma nova avaliação de

propostas. Discussões a respeito de uma nova abordagem em licitações de obras públicas vêm

ganhando força, apesar de ser uma exigência da administração quanto à qualificação técnica e

econômica.

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5. Método analytic hierarchy process (AHP)

O atual modelo licitatório prioriza principalmente a avaliação de custos para escolha da

empresa vencedora. Nesse contexto, surge a necessidade de se propor um método

multicritério já na fase externa das licitações de maneira a não priorizar somente a proposta de

preço das empresas, mas também suas qualificações técnicas de pessoal e financeira.

O Decision Support Systems Glossary (DSS, 2006) define AHP como “[...] uma aproximação

para tomada de decisão que envolve estruturação de multicritérios de escolha numa

hierarquia. O método avalia a importância relativa desses critérios, compara alternativas para

cada critério, e determina um ranking total das alternativas.”.

O processo utilizado do AHP passa por duas etapas: estruturação hierárquica do problema e a

modelagem do método (GOMES, 2012).

A Figura 2 apresenta a estrutura do problema por meio de um diagrama hierárquico.

Figura 2 – estrutura do problema em diagrama hierárquico

Fonte: Adaptado de Ferreira (2011)

O primeiro ponto a ser considerado é a determinação de uma escala de valores para

comparação, que não deve exceder um total de nove fatores, a fim de se manter a matriz

consistente. Assim, Saaty (1991), definiu uma escala fundamental, conforme a Tabela 2:

Tabela 2 – Escala fundamental de comparações do AHP

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Peso Importância Definição

1 Igual Importância As duas alternativas contribuem igualmente para o objetivo.

3 Importância pequena de uma

sobre a outra.

A experiência e o juízo favorecem uma atividade em relação a

outra.

5 Importância grande ou

essencial

A experiência ou juízo, favorecem fortemente uma atividade em

relação a outra.

7 Importância muito grande ou

demonstrada.

Uma atividade é muito fortemente favorecida em relação a outra.

Pode ser demonstrada na prática.

9 Importância absoluta. Uma evidência favorece uma atividade em relação a outra. Com

o mais alto grau de segurança.

2/4/6 e

8

Valores intermediários Quando se procura uma condição de compromisso entre duas

definições.

Fonte: Saaty (1991)

Chen (2004) resume os passos recomendados para aplicação do AHP:

a) Definir o problema e o que se procura saber;

b) Decompor o problema estruturado em hierarquias sistemáticas, do topo (objetivo

geral) para o último nível (fatores mais específicos, usualmente as alternativas);

c) Construir uma matriz de comparação paritária entre os elementos do nível inferior e

os do nível imediatamente acima;

d) Fazer os julgamentos para completar as matrizes;

e) Calcular o índice de consistência (IC);

f) Analisar as matrizes para estabelecer as prioridades locais e globais, comparar as

alternativas e selecionar a melhor opção.

6. Materiais e métodos

A pesquisa caracteriza-se pela combinação métodos quantitativos e qualitativos por meio de

estudo de caso na construção civil.

O estudo de caso é uma abordagem de caráter empírico que investiga um fenômeno atual no

contexto da vida real, geralmente considerando que as fronteiras entre o fenômeno e o

contexto onde se insere não são claramente definidas. (MIGUEL, 2012). A Figura 3 mostra

como o estudo de caso deve ser conduzido.

Figura 3 – Condução de um estudo de caso

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Fonte: Adaptado Miguel (2012)

Fez-se necessário a utilização do estudo de caso, ambientado na cidade de Rio Branco, onde o

setor da construção civil é extremamente dependente de obras públicas, especificamente junto

ao TCE, órgão de controle externo, na definição da importância dos critérios e colhendo

informações das empresas participantes do processo licitatório do qual está sendo estudado na

Comissão Permanente de Licitação do Estado (CPL).

Para guiar este estudo foi traçado um plano para sua realização representado pela Figura 4,

que deixa claro quais os passos a serem percorridos.

Figura 4 – Passos para a realização da pesquisa

Fonte: Autoria Própria (2013)

Para uma melhor caracterização dos critérios que o edital de licitação propõe, foi aplicado

questionário estruturado aos atores envolvidos no controle externo de obras públicas,

composto por 5 Analistas de Controle Externo, na especialidade de Engenharia Civil, que

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abordou a importância relativa entre 3 principais critérios: maior desconto em relação ao

órgão contratante, qualificação do quadro de pessoal e patrimônio líquido.

O método AHP é dedicado ao ambiente decisional multicritério e muito utilizado em todo o

mundo. Dessa forma, esse método foi adotado para este estudo e o resumo dos elementos de

decisão dessa pesquisa apresentam-se no Quadro 1.

Quadro 1 – Elementos da aplicação no presente estudo

Elemento Aplicação no presente estudo

Objetivo Classificação das empresas participantes da licitação

Decisor(es) Analistas de controle externo

Critérios de decisão Maior Desconto, Patrimônio Líquido e Qualificação Profissional

Alternativas 13 empresas do ramo da construção civil

Estados da natureza Cidade de Rio Branco-AC

Consequência Empresa mais qualificada segundo os critérios definidos

Fonte: Adaptado de Malczewski (1999)

7. Resultado

Para atender as etapas de gerais de aplicação do método AHP foi construída a hierarquia de

critérios, realizada a comparação par a par para definir as prioridades e obtida a prioridade

composta das alternativas.

A estrutura hierárquica dos critérios é mostrada na Figura 5.

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Figura 5 – Estrutura hierárquica dos critérios

Fonte: Autoria própria (2013)

Depois de construir a hierarquia, cada decisor deve fazer uma comparação, par a par,

de cada elemento em um nível hierárquico dado, criando-se uma matriz de decisão quadrada.

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O primeiro ponto a ser considerado é a determinação de uma escala de valores para

comparação, a fim de se manter a matriz consistente. Assim, utilizou-se a Escala Fundamental

definida por Saaty. A comparação par a par das alternativas é utilizada realizando uma

escala linear própria, que varia de 1 a 9, a qual é denominada Escala Fundamental de Saaty,

apresentada na Tabela 3.

Tabela 3 – Escala fundamental de Saaty

Valor Definição Explicação

1 Igual importância Contribuição idêntica

3 Fraca importância Julgamento levemente superior

5 Forte importância Julgamento fortemente a favor

7 Muito forte importância Dominância reconhecida

9 Importância absoluta Dominância comprovada

2, 4, 6, 8 Valores intermediários Dúvida

Fonte: Saaty (1994)

Dessa maneira, é gerada uma matriz quadrada recíproca positiva conhecida como Matriz

Superior. A Matriz Superior A é aquela que expressa o número de vezes em que uma

alternativa domina ou é dominada pelas demais, comparadas par a par. Considerando os 3

critérios da estrutura hierárquica e as informações fornecidas pelos questionários aplicados

junto aos decisores foi desenvolvida Matriz Superior A mostrada na Tabela 4.

Tabela 4 – Matriz superior A

Matriz A Maior

Desconto

Qualificação

Profissional

Patrimônio

Líquido

Maior Desconto 1,00000 1,08000 2,64000

Qualificação Profissional 1,00000 3,06600

Patrimônio Líquido 1,00000

Fonte: Autoria Própria (2013)

Para obter a prioridade relativa de cada critério é necessário:

a) Normalizar os valores da matriz de comparações (Matriz A);

A matriz A está na Tabela 5 e a sua normalização na Tabela 6.

Tabela 5 – Matriz A, soma das colunas

Matriz A Maior

Desconto

Qualificação

Profissional

Patrimônio

Líquido

Maior Desconto 1,00000 1,08000 2,64000

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Qualificação Profissional 0,92593 1,00000 3,06600

Patrimônio Líquido 0,37879 0,32616 1,00000

Soma 2,30471 2,40616 6,70600

Fonte: Autoria Própria (2013)

Tabela 6 – Matriz A normalizada

Matriz A Maior

Desconto

Qualificação

Profissional

Patrimônio

Líquido

Maior Desconto 0,43389 0,44885 0,39368

Qualificação Profissional 0,40175 0,41560 0,45720

Patrimônio Líquido 0,16435 0,13555 0,14912

Fonte: Autoria Própria (2013)

b) Obter o vetor de prioridades, conforme a Tabela 7;

Tabela 7 – Matriz A e o vetor prioridade

Matriz A Maior

Desconto

Qualificação

Profissional

Patrimônio

Líquido Prioridade

Maior Desconto 0,43389 0,44885 0,39368 0,42547

Qualificação Profissional 0,40175 0,41560 0,45720 0,42485

Patrimônio Líquido 0,16435 0,13555 0,14912 0,14968

Fonte: Autoria Própria (2013)

Assim, a partir dos resultados obtidos, o critério Maior Desconto veio em primeiro lugar

seguido de Qualificação Profissional e Patrimônio Líquido.

Ainda nesta etapa é feita a avaliação de consistência das prioridades relativas:

c) Calcular a Razão de Consistência (RC) para medir o quanto os julgamentos foram

consistentes em relação a grandes amostras de juízos completamente aleatórios.

As avaliações do método AHP são baseadas no pressuposto de que o decisor é racional, isto é,

se A é preferido a B e B é preferível a C, então A é preferido a C. Se o RC é superior a 0,1 os

julgamentos não são confiáveis porque estão muito próximos para o conforto de

aleatoriedade, neste caso os resultados obtidos não apresentam valores consistentes.

Para calcular a Razão de Consistência (RC) é necessário primeiro obter o valor de λmax que

representa o maior autovalor da matriz A, obtido a partir da seguinte equação:

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Aw = λmax x w (1)

Onde:

A é a Matriz A.

w é o vetor de prioridade.

Uma vez calculado λmax, deve-se calcular o Índice de Consistência (IC), obtido pela equação

(2), para logo calcular a Razão de Consistência (RC).

1

max

n

nIC

(2)

n é o número de critérios (ordem da matriz).

A Razão de Consistência (RC) é obtida pela fórmula:

RI

ICRC (3)

Em que RI é o índice de consistência referente a um grande número de comparações par a par

efetuadas. Este é um índice aleatório calculado para matrizes quadradas de ordem n pelo

Laboratório Nacional de Oak Ridge, nos EUA. Para a matriz n = 3, RI = 0,58.

Assim, obtiveram-se resultados mostrados na Tabela 8:

Tabela 8 – λmax, índice e razão de consistência para a matriz A dos critérios

Variável Resultado

λmax 3,00571

IC 0,00285

RC 0,00492

Fonte: Autoria Própria (2013)

A última etapa é a construção da matriz de comparação paritária para cada critério,

considerando cada uma das alternativas selecionadas. (Tabela 9)

Tabela 9 – Dados de maior desconto, qualificação profissional e patrimônio líquido

Empresa Maior Desconto Qualificação Profissional Patrimônio Líquido

A 24,9 3 2.650.159,71

B 18,46 3 776.892,97

C 15,78 2 993.844,53

D 12,42 2 506.569,41

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E 11,76 7 1.401.992,61

F 11,3 5 3.116.828,23

G 9,57 3 1.493.633,75

H 8,08 6 1.799.754,84

I 7,52 3 602.417,85

J 7,06 12 2.440.817,30

K 6,51 6 6.883.281,63

L 6,13 2 563.265,46

M 0,82 7 12.274.791,38

Soma 140,31 61 35504249,67

Fonte: Autoria Própria (2013)

Os dados normalizados correspondentes à Tabela 9 estão na Tabela 10.

Tabela 10 – Dados normalizados

Empresa Maior Desconto Qualificação Profissional Patrimônio Líquido

A 0,17746 0,04918 0,07464

B 0,13157 0,04918 0,02188

C 0,11247 0,03279 0,02799

D 0,08852 0,03279 0,01427

E 0,08381 0,11475 0,03949

F 0,08054 0,08197 0,08779

G 0,06821 0,04918 0,04207

H 0,05759 0,09836 0,05069

I 0,05360 0,04918 0,01697

J 0,05032 0,19672 0,06875

K 0,04640 0,09836 0,19387

L 0,04369 0,03279 0,01586

M 0,00584 0,11475 0,34573

Fonte: Autoria Própria (2013)

Com os dados normalizados a última etapa é obtida a prioridade composta para as

alternativas, multiplicando os valores da matriz dos dados pelo vetor prioridade dos critérios

obtidos no início do método (Figura 6).

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Figura 6 – Cálculo das prioridades compostas das alternativas

Fonte: Autoria Própria (2013)

Para uma melhor visualização da resolução do problema se reestruturou a hierarquia dos

critérios e das alternativas (Figura 7).

Figura 7 – Estrutura Hierárquica dos Critérios com seus respectivos pesos.

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Fonte: Autoria própria (2013)

Por fim, verificou-se a classificação das empresas participantes na fase externa do processo

licitatório do estudo de caso (ver Tabela 11).

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Tabela 11 – Prioridade composta das alternativas

Empresa Prioridade Composta

J 0,11528

A 0,10757

M 0,10299

K 0,09055

E 0,09032

F 0,08223

B 0,08015

H 0,07388

C 0,06597

G 0,05621

D 0,05373

I 0,04624

L 0,03489

Fonte: Autoria Própria (2013)

7. Discussão

Diante o exposto, percebe-se que o processo licitatório do estudo de caso sofreu uma mudança

significativa da classificação final ao passar por uma avaliação mais criteriosa utilizando os

elementos que fazem parte da exigência em edital, não apenas utilizando-os como elementos

inabilitatórios, mas também classificatórios. Tal avaliação passou agir de forma mais

minuciosa e relevante, modelando as preferências dos decisores, tornando o processo mais

confiável para a tomada de decisão, por considerar as diversas variáveis que compõe uma

organização, como seus recursos humanos e financeiros.

Observa-se, por exemplo, a drástica mudança na colocação da empresa J, que possui um

patrimônio líquido de R$ 2.440.817,30, com um quadro total de pessoal de 12, incluindo nível

técnico e superior. No outro extremo, a empresa D, caiu da 4ª para a 11ª posição, ocasionado

principalmente pelo seu quadro de pessoal que conta apenas com 2 responsáveis técnicos

registrado no CREA.

A empresa M não possui um quadro técnico tão expressivo quanto o da empresa J, contando

com 7 responsáveis técnicos, porém possui um patrimônio líquido de R$ 12.274.791,38, o que

contribuiu significativamente para a sua saída de último lugar para o 3º.

No setor público, discussões acerca de uma nova lei de licitações já estão em andamento. Em

audiência pública no senado, o Instituto de Pesquisa Econômicas Aplicadas (IPEA),

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recomendou àquela casa, a formulação de uma nova lei de licitações que entre diversas

exigências, contaria com um maior número de critérios na avaliação da proposta mais

vantajosa para a Administração.

A utilização do método AHP, tornaria o processo mais criterioso de forma a considerar

simultaneamente os vários recursos que compõe as empresas participantes, transmitindo mais

segurança a Administração Pública no que tange ao cumprimento dos contratos.

8. Conclusões

Percebe-se a necessidade de tornar o processo licitatório mais criterioso, não somente devido

aos grandes investimentos feitos no setor de construção civil nos últimos anos e por ser o

setor que mais fatura e emprega no estado do Acre, mas pelos problemas identificados pelo

órgãos de controle como: obras pagas e não realizadas e, sobrepreço em relação a planilha

oficial.

A proposição de um método multicritério, vem despertar na Administração Pública do Acre

uma visão mais ampla do processo de tomada de decisão, saindo de uma análise baseada

apenas no maior desconto, critério atualmente utilizado, e passando a considerar as diversas

características que as empresas são compostas como o corpo técnico e qualificação financeira,

importantes e que não são levados em conta.

Propõe-se que ao utilizar o método os gestores procurem identificar critérios que possam

influenciar na classificação das empresas, deixando claro da legalidade do processo e das

informações que devem ser apresentadas. Ainda se sugere trabalhar com os órgãos de controle

na determinação dos critérios na avaliação tendo em vista a sua responsabilidade de

fiscalização.

Recomenda-se a aplicação de outros métodos no presente estudo, identificando uma possível

forma de tratar as preferências dos decisores de forma a tornar o processo o mais isonômico

possível.

9. Referências

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SIMPÓSIO NACIONAL DE AUDITORIA DE OBRAS PÚBLICAS, 2002. Brasília.

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2013.

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FERREIRA, G. J. O Controle Externo das Obras Públicas: Um Panorama Sobre os Principais Aspectos

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10ª ed. rev. atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Ray, 2005.

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fiscalização de obras de edificações públicas. 2009. Disponível em: <portal2.tcu.gov.br >. Acesso em: 10 Abr.

2013, disponível em site do TCU.

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Apêndice A – Questionário estruturado multicritério AHP

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