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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CHARLES GOUDINHO VIEIRA PROPOSTA DE UM SISTEMA DE CUSTOS PARA A EMPRESA FF FABRICAÇÃO E COMÉRCIO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS LTDA - ME. Biguaçu 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CHARLES GOUDINHO VIEIRA

PROPOSTA DE UM SISTEMA DE CUSTOS PARA A EMPRESA FF FABRICAÇÃO E COMÉRCIO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS LTDA - ME.

Biguaçu

2008

1

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CHARLES GOUDINHO VIEIRA

PROPOSTA DE UM SISTEMA DE CUSTOS PARA A EMPRESA FF FABRICAÇÃO E COMÉRCIO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS LTDA - ME.

Trabalho de conclusão de estágio apresentado como

requisito para obtenção do título de Bacharel em

Administração pela Universidade do Vale do Itajaí,

Centro de Educação de Biguaçu.

Orientadora: Profª. MSc. Cláudia Catarina Pereira.

BIGUAÇU

2008

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CHARLES GOUDINHO VIEIRA

PROPOSTA DE UM SISTEMA DE CUSTOS PARA A EMPRESA FF FABRICAÇÃO E COMÉRCIO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS LTDA - ME.

Este Trabalho de Conclusão de Estágio foi julgado adequado para a obtenção do título de

Bacharel em Administração e aprovado pelo Curso de Administração da Universidade do

Vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu.

Área de Concentração: Administração Financeira.

Biguaçu, 24 de novembro de 2008.

Profª. MSc. Cláudia Catarina Pereira

UNIVALI – CE de Biguaçu

Orientadora

Profª. MSc. Maria Albertina Schmitz Bonin

UNIVALI – CE de Biguaçu

Membro

Prof. Esp. Crisanto Soares Ribeiro

UNIVALI – CE de Biguaçu

Membro

3

Dedico este trabalho a meus Pais e a minha noiva

Grasiella, fonte de estímulo e inspiração para a

construção de uma vida e carreira promissoras.

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado o dom da vida e ter colocado em meu caminho pessoas

maravilhosas.

A Universidade do Vale do Itajaí.

A empresa FF Fabricação e Comércio de Produtos Alimentícios Ltda., que colaborou

decisivamente para conquista de mais essa vitória.

A professora Cláudia Catarina Pereira, orientadora competente e dedicada na

condução de seus alunos.

Aos demais professores, amigos e pessoas que direta ou indiretamente ajudaram na

conclusão dessa caminhada.

5

Se você não puder ser uma árvore frondosa

No alto de uma montanha

Seja um pequeno arbusto na beira de um rio

Mas seja o melhor arbusto que puder ser.

Douglas Malloch

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RESUMO

VIEIRA, Charles Goudinho. Proposta de um sistema de custos para a empresa FF fabricação e comércio de produtos alimentícios ltda. - ME. 2008. 78 f. Trabalho de Conclusão de Estágio (Graduação em Administração) – Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2008.

O presente trabalho tem como objetivo principal elaborar e propor um sistema de custos para auxiliar na tomada de decisão da empresa FF Fabricação e Comércio de Produtos Alimentícios LTDA – ME, micro empresa situada na cidade de Antônio Carlos que atua no processamento e comercialização de farinha de mandioca. Por se tratar de um trabalho com cunho estritamente técnico o método utilizado para formulá-lo foi o de proposição de planos. Buscando então apresentar solução para um problema já conhecido, mas ainda não resolvido. Com base nessa metodologia e na revisão teórica sobre os conceitos e teorias a cerca da gestão de custos é que foi possível elaborar o sistema mais adequado à realidade da organização. Com a aplicação do sistema proposto pôde-se então ter acesso a uma relevante gama de informações sobre os gastos da empresa e foi possível realizar análises importantes que poderão auxiliar no processo de tomada de decisão por parte da gerência.

Palavras-chave: Gestão de custos. Tomada de decisão.

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ABSTRACT

VIEIRA, Charles Goudinho. Proposta de um sistema de custos para a empresa FF fabricação e comércio de produtos alimentícios ltda. - ME. 2008. 77 f. Trabalho de Conclusão de Estágio (Graduação em Administração) – Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2008.

This study aimed to develop and propose a major cost system to assist in decision-making company's FF Manufacture and Trade in Food Products Ltd. - ME, micro enterprise located in the town of Antonio Carlos who works in the processing and marketing of flour cassava. Because it is a purely technical job with embossing the method used to formulate it was a proposal of plans. Then submit seeking solution to a problem already known, but not yet resolved. Based on this methodology and a review on the theoretical concepts and theories about the management of costs is that it was possible to develop the most appropriate system to the reality of the organization. With the implementation of the proposed system we could then have access to a range of relevant information about the company's expenses and could be important tests that could help in the decision-making by management.

Keywords: Management costs. Decision-making.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – DIFERENÇA CONTÁBIL ENTRE CUSTOS E DESPESAS.......................29

FIGURA 2 – GRÁFICO DO PONTO DE EQUILÍBRIO...................................................34

FIGURA 3 – FÓRMULA GERAL PARA O CÁLCULO DO MARK-UP............................37

FIGURA 4 – MODELO DE PLANTA BAIXA DA EMPRESA...........................................44

FIGURA 5 – PLANILHA DE CONTROLE DOS MATERIAIS DIRETOS.........................47

FIGURA 6 – PLANILHA DE CONTROLE DAS HORAS TRABALHADAS......................48

FIGURA 7 – PLANILHA DE CONTROLE DOS GASTOS GERAIS................................49

FIGURA 8 – FLUXO DAS PLANILHAS DO SISTEMA...................................................50

FIGURA 9 – PLANILHA DE CONTROLE DOS MATERIAIS DIRETOS.........................51

FIGURA 10 – PLANILHA DE CONTROLE DA DEPRECIAÇÃO....................................52

FIGURA 11 – PLANILHA DE CONTROLE DOS GASTOS GERAIS..............................53

FIGURA 12 – PLANILHA DE CONTROLE DAS HORAS TRABALHADAS....................54

FIGURA 13 – PLANILHA DE CONTROLE DAS RECEITAS..........................................55

FIGURA 14 – PLANILHA DE GASTOS COM A MÃO-DE-OBRA...................................57

FIGURA 15 – PLANILHA DE CUSTOS E DESPESAS..................................................58

FIGURA 16 – PLANILHA DE RATEIOS.........................................................................60

FIGURA 17 – PLANILHA DE CUSTEIO POR PRODUTO.............................................62

FIGURA 18 – PLANILHA DE CÁLCULO DO MARK-UP................................................64

FIGURA 19 – PLANILHA DE PONTO DE EQUILÍBRIO.................................................65

QUADRO 1 – EXEMPLOS DE PRODUÇÃO POR ORDEM E POR PROCESSO..........26

QUADRO 2 – EXEMPLOS DE CRITÉRIOS DE RATEIO DOS CIF...............................27

GRÁFICO 1 – PRODUTIVIDADE POR HORA TRABALHADA......................................68

GRÁFICO 2 – PARTICIPAÇÃO DOS CUSTOS E DESPESAS NOS GASTOS TOTAIS.69

GRÁFICO 3 – COMPOSIÇÃO DO PREÇO DO PRODUTO MARLETE.........................70

GRÁFICO 4 – COMPOSIÇÃO DO PREÇO DO PRODUTO FF.....................................71

GRÁFICO 5 – COMPOSIÇÃO DO PREÇO DO PRODUTO CANARINHO....................71

GRÁFICO 6 – COMPOSIÇÃO DO PREÇO DO PRODUTO POLVILHO........................72

GRÁFICO 7 – PARTICIPAÇÃO DOS PRODUTOS NO FATURAMENTO.....................73

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................101.1 OBJETIVOS..................................................................................................121.1.1 Objetivo geral.............................................................................................121.1.2 Objetivos específicos................................................................................121.2 JUSTIFICATIVA............................................................................................12

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................142.1 GESTÃO DE CUSTOS..................................................................................142.1.1 Terminologias e conceitos sobre gestão de custos..............................162.1.2 Classificação dos gastos..........................................................................182.1.2.1 Classificação quanto à apropriação aos produtos fabricados..................192.1.2.2 Classificação quanto aos níveis de produção..........................................202.1.2.3 Terminologias e considerações adicionais...............................................222.2 OBJETIVOS DA APURAÇÃO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO...................232.3 SISTEMAS DE ACUMULAÇÃO DE CUSTOS..............................................242.4 CUSTEIO POR ABSORÇÃO E CUSTOS INTEGRAIS.................................262.5 IMPLANTAÇÃO E GERENCIAMENTO DE UM SISTEMA DE CUSTOS......292.6 ANÁLISE DE CUSTO/VOLUME/LUCRO......................................................312.6.1 Ponto de Equilíbrio....................................................................................322.7 FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA..........................................................352.7.1 Formação de preços pelo método do mark-up......................................37

3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO..............................................................40

4 ANÁLISE DOS DADOS....................................................................................424.1 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO....................................................424.2 ESTRUTURA E PROCESSOS DA ORGANIZAÇÃO....................................434.3 ELABORAÇÃO DO SISTEMA.......................................................................454.3.1 Instrumento de coleta de dados...............................................................454.3.2 Elaboração das planilhas e programação do sistema...........................494.4 ANÁLISE DOS DADOS DA EMPRESA........................................................67

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................74

REFERÊNCIAS....................................................................................................76

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1 INTRODUÇÃO

No ambiente organizacional atual, onde a concorrência está cada vez mais

acirrada, o levantamento e avaliação eficaz dos custos relativos ao processo

produtivo de uma empresa podem ser itens decisivos para o sucesso da mesma,

proporcionando uma melhor relação com clientes e aumentando suas perspectivas

em longo prazo. Por outro lado, sobre a ótica da administração financeira, uma

organização tem o objetivo econômico de maximizar seu valor perante o mercado,

aumentando dessa forma a geração de retorno financeiro para seus proprietários em

curto e médio prazo (HOJI, 2006, p.25). Aliando a essas idéias o pressuposto de

que, em linhas gerais, os lucros podem ser auferidos pelo resultado da subtração

das receitas pelos gastos. Pode-se afirmar, então, que o controle e redução dos

custos de uma empresa são formas de manter sua lucratividade em conjunto com a

manutenção de sua participação no mercado, proporcionando uma boa gestão do

negócio.

Sob essa perspectiva de controle e redução de custos, pretende-se estudar o

caso da empresa FF Fabricação e Comércio de Produtos Alimentícios Ltda. - ME,

que fica localizada na cidade de Antônio Carlos, Estado de Santa Catarina. A citada

organização atua no segmento de produção e comercialização de farinha de

mandioca e derivados, sendo que seu mercado consumidor localiza-se

principalmente na região da Grande Florianópolis, abrangendo desde grandes

supermercados até pequenos mercados de bairro.

A empresa, desde a sua fundação, não elaborou um sistema de custos que

proporcionasse um melhor controle sobre seus gastos e que funcionasse como um

apoio eficaz à tomada de decisão. Dessa forma, todo o processo de custeio é

realizado por estimação ou “intuição” dos proprietários. Por esse motivo, eles

acabam não possuindo dados concretos no momento de elaborar orçamentos ou

precificar os produtos.

Recentemente, a organização vem passando por alguns problemas

referentes ao controle de seus custos. Percebe-se que falta um processo mais

sistematizado para otimizar o levantamento e análise desses valores. O que pode

acabar acarretando em formações de preços equivocadas e no corte de despesas

pautados em critérios simplistas, que não surtem efeito algum na solução do

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problema. Esse cenário pode também dar margem ao agravamento dos problemas

da empresa, se forem tomadas, por exemplo, decisões como o corte de mão-de-

obra para reduzir custos, sem que se realizem as devidas análises e reflexões sobre

os impactos financeiros e sociais decorrentes dessa ação. Com o objetivo de sanar

esse problema de mensuração e controle de custo é que se torna importante um

estudo mais detalhado sobre os gastos da organização. Bem como a criação de

procedimentos, que tornem possível a realização periódica e eficaz de um

levantamento e avaliação dos custos da empresa.

Dessa forma, o presente projeto tem por objetivo responder à seguinte

pergunta: Como elaborar um sistema de custos para a empresa FF Fabricação e

Comércio de Produtos Alimentícios Ltda. – ME, para dar apoio ao processo de

tomada de decisão?

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1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Propor um sistema de custos que dê apoio ao processo de tomada de

decisão para a empresa FF Fabricação e Comércio de Produtos Alimentícios Ltda. –

ME, da cidade de Antônio Carlos.

1.1.2 Objetivos específicos

• Investigar a composição dos gastos da empresa;

• Determinar os gastos diretos e indiretos, bem como os critérios de rateio;

• Alocar os gastos aos produtos e calcular o mark-up;

• Verificar o ponto de equilíbrio da empresa;

• Propor um sistema de informações sobre custos.

1.2 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho tem grande importância para a empresa FF Fabricação e

Comércio de Produtos Alimentícios Ltda. – ME, pois com um controle sistematizado

e eficaz dos custos decorrentes de seus processos produtivos ela poderá gerenciar

de forma mais precisa os seus gastos, identificando quais são os itens mais

impactantes em seu orçamento. Um sistema de custeio eficaz proporciona ainda

uma tomada de decisão (relativa a preços e redução de custos) mais segura, pois

fornece uma base de dados mais consistente. O estudo é importante também para o

acadêmico por se constituir numa oportunidade ímpar para a aquisição de

conhecimentos bastante amplos na área de gestão de custos.

Além dessas características, percebe-se que o momento é oportuno para a

realização do estudo dado o atual cenário competitivo. O qual se apresenta como

um indicativo de que é o tempo para uma reavaliação dos processos gerenciais da

organização, visando à manutenção ou até mesmo o crescimento de sua

participação no mercado.

Pode-se afirmar também que o projeto é viável, pois os proprietários da

empresa estão dispostos a fornecer os dados necessários para as análises a serem

13

realizadas. E o tempo necessário para a organização das informações e reflexão

sobre os resultados encaixa-se perfeitamente no período disponível para o término

do trabalho. Acrescenta-se ainda que o acadêmico possui afinidade com o tema

proposto, o que pode facilitar a condução do projeto.

14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo visa à revisão de referencial teórico adequado para dar

fundamento consistente ao trabalho a ser realizado. Para tanto, os assuntos a serem

abordados no estudo estarão organizados da seguinte forma. Na primeira seção se

discorrerá sobre a gestão de custos, seus conceitos, evolução e terminologias,

sendo esses itens de fundamental importância para o claro entendimento da

matéria. Ainda na primeira seção, abordar-se-á sobre a classificação dos custos, ou

seja, quais os comportamentos desses valores observados de diferentes pontos de

vista. Na segunda seção serão tecidos comentários sobre os objetivos da apuração

de custos e quais as necessidades que esse processo pretende atender. Na terceira

seção será abordado o tema sistemas de acumulação de custos, apontando quais

os modelos principais e suas características.

Na quarta e na quinta seções se discorrerá, respectivamente, sobre o método

de custeio por absorção, seus conceitos, estrutura, vantagens e desvantagens e

sobre a implantação e gerenciamento de um sistema de custos, levantando

questões importantes que devem ser apreciadas no momento da aplicação de um

sistema de custeio numa empresa. Na sexta seção o tema abordado será a análise

de custo-volume-lucro, suas características e importância como ferramenta

gerencial. Por fim, na sétima seção, abordar-se-á o tema formação de preços,

destacando quais aspectos devem ser considerados quando se realiza esse

processo e se discorrendo sobre o método mais utilizado pelas empresas para

formação do preço de venda. Através desse arcabouço teórico espera-se obter o

conhecimento necessário para elaboração do trabalho proposto.

2.1 GESTÃO DE CUSTOS

A contabilidade de custos surgiu com a Revolução Industrial, tendo como

principal função o registro e mensuração dos custos que incorriam diretamente na

produção, como por exemplo, o valor da matéria-prima consumida e o valor da mão-

de-obra empregada.

Essa fase inicial ficou então caracterizada pela preocupação com o

levantamento e registro dos custos diretos, com o objetivo de satisfazer às

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necessidades das organizações em controlar tais valores (LEONE, 2000b, p.11;

KHOURY e ANCELEVICZ, 2000, p.57).

Passado esse período e após a primeira e segunda guerras mundiais, a

contabilidade de custos evoluiu para um patamar onde serviria como fonte de

informações para os administradores das empresas (LEONE, 2000b, p.11). Na

mesma perspectiva, Santos et al (2006, p.11) afirmam que, nas últimas décadas, o

processo de apuração de custos passou a prestar dois importantes serviços para as

organizações. Onde, através da utilização dos dados obtidos com os registros dos

gastos, pôde auxiliar no controle e no processo de tomada de decisão dentro das

mesmas.

Tafner e Faustino Junior (2000, p.208-210) complementam essas idéias

quando salientam que, atualmente, as mudanças ocorridas no ambiente onde as

empresas atuam, requerem informações, acerca dos custos, que ultrapassem o

simples registro contábil ou fiscal. Dessa forma, o Custo Gerencial, por não focar

somente no passado, pode ser utilizado como um instrumento estratégico para a

empresa, pois tem a flexibilidade adequada para a realização de simulações e

análises de cenários futuros.

Leone (2000b, p.18) apresenta um conceito bem específico sobre a atual

contabilidade de custos (ou gestão de custos), quando enfatiza que esta é:

O ramo da função financeira que acumula, organiza, analisa e interpreta os custos dos produtos, dos estoques, dos serviços, dos componentes da organização, dos planos operacionais e das atividades de distribuição para determinar o lucro, controlar as operações e para auxiliar o administrador no processo de tomada de decisões e de planejamento.

Nessa mesma linha de pensamento, Santos et al (2006, p.13) definem a

contabilidade de custos como sendo um sistema que tem como objetivos principais o

registro dos custos dos produtos fabricados e comercializados pela empresa, a

valoração dos estoques da mesma e o fornecimento de informações que

possibilitem a análise de desempenho da empresa.

No ambiente competitivo atual, onde os preços são ditados pelo mercado,

para que uma empresa tenha um desempenho ótimo em termos de lucratividade,

torna-se imperativo que haja um eficaz controle e gerenciamento dos custos

(TAFNER e FAUSTINO JUNIOR, 2000, p.213). Nesse momento, entram as técnicas

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de custeio que, através da manipulação dos dados gerados, podem fornecer

informações vitais que servirão como subsídios para resolução de problemas

enfrentados pelo administrador (LEONE, 2000b, p.10). Para tanto, Tafner e Faustino

Junior (2000, p.213) salientam que se torna necessário dar mais ênfase para o

sistema de custos gerencial e não somente para os aspectos contábil e fiscal dessa

matéria.

2.1.1 Terminologias e conceitos sobre gestão de custos

Martins (2000, p.24) salienta que, em todas as áreas de conhecimento, é

possível encontrar problemas referentes à distinção de diferentes terminologias.

Existe, na verdade, uma variedade de palavras que podem ser associadas a um

único conceito, ou ainda, vários conceitos que expliquem o significado de um mesmo

termo. Corroborando com essas idéias, Leone (2000a, p.51) reconhece a dificuldade

em se definir com clareza os reais significados entre terminologias, como por

exemplo, desembolsos, gastos, custos e despesas.

Percebe-se, então, a importância da identificação clara dos termos que serão

utilizados no estudo, através do reconhecimento de seus respectivos conceitos, para

que dessa forma haja um melhor entendimento sobre o assunto e um resultado final

mais próximo da realidade. Assim sendo, pretende-se, nesse tópico, elencar e

conceituar as principais terminologias utilizadas na gestão de custos, iniciando-se

então pelo termo “desembolso”.

O desembolso representa o pagamento decorrente da aquisição de um bem

ou serviço. Pode ocorrer no mesmo momento do gasto, o que se configura num

pagamento à vista. Ou ainda em um momento posterior, o que se entende como um

pagamento a prazo. Pode-se citar como exemplos a compra de matéria prima à

vista, pagamento dos empregados, pagamento de empréstimos, entre outros

(VICECONTI e NEVES, 2000, p.11; MARTINS, 2000, p.26; PEREZ JÚNIOR,

OLIVEIRA e COSTA, 1999, p.15).

Já no tocante a gastos e custos, uma explicação bastante clara sobre a

diferença entre esses termos é apresentada por Iudícibus (1998, p.113), onde, na

linguagem comercial, custo pode significar o valor gasto na aquisição de

determinado bem ou serviço. Já, na linguagem popular, a palavra custo pode estar

associada a um determinado sacrifício como, por exemplo, a afirmação “este

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diploma custou muitas horas de minha vida...”. Independentemente do ponto de

vista, nota-se que a palavra custo vem associada de alguma vantagem, seja um

bem ou serviço, seja o conhecimento adquirido. Nesse sentido, o que comumente

chama-se de custo, contabilmente chamar-se-á de gasto.

Assim sendo, pode-se afirmar que “gasto” é a utilização de ativos por parte da

empresa, para a aquisição de produtos, serviços e outros ativos diversos (MARTINS,

2000, p.25; VICECONTI e NEVES, 2000, p.11; LEONE, 2000a, p.52). Na mesma

linha de pensamento, porém de forma mais específica, Perez Júnior, Oliveira e

Costa (1999, p.16) apresentam outro conceito sobre gastos:

Consumo genérico de bens e serviços. Os gastos ocorrem a todo momento e em qualquer setor de uma empresa. É importante não confundir gastos com desembolsos. [...] O que é gasto, ou seja, consumido, são os bens e serviços obtidos por meio do desembolso imediato ou futuro.

Os gastos, segundo afirmam Viceconti e Neves (2000, p.12), podem ser

subdivididos em: investimentos, custos e despesas. Essa divisão é melhor explicada

por Leone (2000a, p.54) quando salienta que o gasto pode ser classificado como

investimento quando o bem ou o serviço adquirido gerar benefícios em longo prazo.

Pode ser classificado também como custo ou despesa, quando for consumido,

respectivamente, pelos processos produtivos ou gerenciais da empresa.

De forma complementar, Perez Júnior, Oliveira e Costa (1999, p.16)

salientam que os gastos podem ainda ser subdivididos em perdas e desperdícios.

Configurando-se em outros dois importantes itens a serem definidos para um bom

entendimento do tema.

Segundo consta no Statement of Financial Accounting Concept (apud

SANTOS et al, 2006, p.19), as perdas são diminuições nos ativos de uma

organização, ocasionadas por operações periféricas ou acidentais dentro da própria

instituição ou do ambiente externo, quando a afetam. Na mesma perspectiva,

Viceconti e Neves (2000, p.13) afirmam que a perda “é um gasto não intencional

decorrente de fatores externos fortuitos ou da atividade produtiva normal da

empresa”. E complementam, salientando que, quando ocorre uma perda por motivos

externos ou referentes a problemas administrativos esta deve ser considera como

sendo uma despesa e, portanto, lançada diretamente no resultado do período. Ou

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ainda, quando a perda for observada dentro dos processos produtivos da empresa,

esta deve ser computada como sendo um item de custo no período.

Os desperdícios, por sua vez, são gastos que ocorrem durante o processo

produtivo ou de geração de receitas, podendo ser eliminados sem que causem

danos a qualidade e/ou quantidade dos bens ou receitas geradas. A identificação e

controle desses gastos pode ser fator determinante na boa manutenção da empresa.

Pois, visto que desperdícios não podem ter seus valores repassados para o preço

dos bens ou serviços oferecidos, o desconhecimento de suas causas ou de sua

existência pode significar em prejuízos para a organização (PEREZ JÚNIOR,

OLIVEIRA e COSTA, 1999, p.17-18).

2.1.2 Classificação dos gastos

Para um melhor entendimento sobre os diversos tipos de gastos que podem

existir numa empresa, torna-se necessário definir com clareza as diferenças

conceituais entre os termos custo e despesa. Pois serão essas as subdivisões de

gastos mais utilizadas para os fins desse trabalho. Mais ainda, “a separação dos

gastos em custos e despesas é fundamental para a apuração do custo da produção

e do resultado de um período” (PEREZ JÚNIOR, OLIVEIRA e COSTA, 1999,

p.17-19). Assim sendo, conforme explicam Leone (2000a, p.54), Viceconti e Neves

(2000, p.12) e Assef (2003, p.21), pode-se afirmar que:

• Custo é o consumo de recursos ou o gasto incorrido na produção de um

bem ou serviço (ou seja, na atividade produtiva), que serão então

comercializados pela organização.

• Despesa é o gasto direcionado para as atividades administrativas e

comerciais da empresa. Não está relacionada diretamente com a

produção dos bens ou serviços, mas sim com os processos que

proporcionam a obtenção de renda ou manutenção do negócio como um

todo.

Leone (2000a, p.55) salienta ainda que, numa empresa, pode haver vários

tipos de custos, tantas quantas forem as necessidades administrativas a serem

atendidas. Ou seja, existem custos diferentes que melhor auxiliam a atingir

19

determinados objetivos. Alguns desses custos são conhecidos e aplicados

reiteradamente pelos profissionais da área, outros somente são criados ou

estabelecidos conforme a necessidade de informações adicionais por parte da

gerência.

Nesse sentido, o objetivo dessa seção é o de classificar e conceituar os

principais tipos de custos encontrados na literatura sobre o assunto. Para tanto, o

modelo utilizado como base conceitual será o proposto por Viceconti e Neves (2000,

p.17-23), onde os custos e despesas podem ser classificados quanto à apropriação

aos produtos fabricados e em relação aos níveis de produção, além de explorar

outras terminologias significativas para o perfeito entendimento do assunto. A

escolha desse modelo baseia-se na eficácia que ele pode proporcionar ao alcance

do objetivo do estudo, bem como na verificação de que os conceitos abordados

nesse tipo de classificação são utilizados - de forma análoga (ASSEF, 2003,

p.21-24; SANTOS et al, 2006, p.55-65) ou com enfoques mais amplos (GALLORO e

GALLORO, 2000, p.82-84; LEONE, 2000a, p.57-58) - por diversos autores.

2.1.2.1 Classificação quanto à apropriação aos produtos fabricados

Segundo Assef (2003, p.21), os custos podem ser classificados em diretos e

indiretos quando relacionados com a unidade (objeto) de custo a ser analisada. Por

unidade de custo, pode-se entender como sendo a unidade física a ser fabricada ou

vendida, ou ainda o serviço a ser prestado. Esses objetos de custo podem ser

analisados de forma mais específica, como por exemplo, por peça produzida ou por

serviço prestado. Ou também serem estudados de forma mais ampla, os objetos de

custo seriam então, por exemplo, setores que produzem determinado produto ou

prestam um serviço específico (SANTOS et al, 2006, p.56).

De acordo com Viceconti e Neves (2000, p.17), os custos diretos “são

aqueles que podem ser apropriados diretamente aos produtos fabricados, porque há

uma medida objetiva de seu consumo nesta fabricação”. Ou seja, os custos podem

ser tidos como diretos se, no momento de sua alocação aos objetos de custos, não

necessitem de recursos arbitrários, como medidas de consumo e critérios de rateio

aleatórios. Os principais exemplos de custos diretos são a matéria-prima e a mão-

de-obra direta (ASSEF, 2003, p.21-22; LEONE, 2000a, p.59; SANTOS et al, 2006,

p.55).

20

Os custos indiretos, por sua vez, são aqueles que necessitam de algum

critério de rateio para que sejam associados aos diferentes objetos de custo, ou

seja, “são custos apropriados indiretamente aos produtos” (VICECONTI e NEVES,

2000, p.18). Entretanto, há alguns custos que são de natureza direta, mas que, dado

sua baixa relevância ou valor unitário, a relação “custo-benefício” na mensuração de

seu consumo em cada produto é negativa, tornando-se inviável sua execução. Por

esse motivo podem ser classificados como custos indiretos (ASSEF, 2003, p.22-23;

LEONE, 2000a, p.59; VICECONTI e NEVES, 2000, p.18).

Ainda em relação à apropriação dos gastos aos produtos fabricados, observa-

se o fato de que as despesas podem também ser classificadas em diretas e

indiretas. Entretanto, não estão associadas ao processo produtivo, mas sim ao

processo de geração de receitas ou prestação de serviços. Assim sendo, as

despesas com comissões, fretes, seguros de transporte, impostos sobre vendas,

entre outros, podem ser denominadas despesas diretas, pois se pode ter uma

medida exata de cada uma delas por produto ou serviço comercializado. Por outro

lado, despesas do tipo administrativa, financeira ou com imposto de renda e

contribuição social, não podem ser alocadas com exatidão ao tipo de receita que a

gerou. São lançadas então como despesas do período e classificadas como

despesas indiretas (PEREZ JÚNIOR, OLIVEIRA e COSTA, 1999, p.25-26).

2.1.2.2 Classificação quanto aos níveis de produção

Os custos podem também ser classificados quanto ao volume de produção.

Sobre esse assunto é importante destacar que, conforme afirmam Santos et al

(2006, p.56-57), não há, na prática, uma definição teórica globalmente aceita do que

viria a ser “nível de produção”. Nesse caso, essa variável deve ser avaliada e

definida de acordo com as particularidades e objetivos de cada organização.

Sob a ótica da classificação dos custos quanto ao volume de atividades,

Viceconti e Neves (2000, p.18-19) destacam quatro tipos de custos, são eles: custos

fixos, custos variáveis, custos semivariáveis e custos semifixos ou por degraus.

Custos fixos são aqueles que se mantêm inalterados, dentro de uma

determinada faixa de volume de produção e num determinado período. Ou seja, são

os valores que não se alteram independentemente se há mais ou menos produção.

Os principais exemplos são os aluguéis e seguros patrimoniais da fábrica

21

(GALLORO e GALLORO, 2000, p.83; SANTOS et al, 2006, p.57; VICECONTI e

NEVES, 2000, p.18). Uma característica importante sobre esse tipo de custo,

conforme explicam Santos et al (2006, p.59-60), é que, mesmo sendo fixo no total

produzido em determinado período, ele varia no valor unitário sobre cada produto

fabricado, sendo inversamente proporcional ao volume de produção. Ou seja,

quanto mais se produz de um determinado produto, menor será a parcela do custo

fixo total atribuída a ele. Assim sendo, “[...] para que exista uma otimização dos

custos fixos, [...] é necessário operar o mais perto possível do nível de capacidade

máximo [...]” (SANTOS et al, 2006, p.60).

Os custos variáveis são aqueles valores que aumentam ou diminuem

conforme o volume de produção de uma empresa, mas não necessariamente de

forma proporcional. Como exemplo, pode-se citar as matérias-primas consumidas

ou, até mesmo, os materiais indiretos utilizados na produção (GALLORO e

GALLORO, 2000, p.83; SANTOS et al, 2006, p.62; VICECONTI e NEVES, 2000,

p.18-19).

Segundo comenta Leone (2000a, p.74), os custos semivariáveis, comumente

encontrados na prática, são os gastos incorridos na fabricação de produtos ou na

prestação de serviços que são compostos por uma parte fixa e outra variável. Ou

seja, “são custos que variam com o nível de produção, entretanto, têm uma parcela

fixa mesmo que nada seja produzido” (VICECONTI e NEVES, 2000, p.19). Um

exemplo típico é apresentado por Viceconti e Neves (2000, p.19), quando citam a

conta de energia elétrica, que mesmo ela variando conforme o nível de produção da

empresa há uma taxa fixa mínima cobrada pela companhia de energia caso não

haja gasto no período.

Ainda no tocante à classificação dos custos quanto aos níveis de produção,

Leone (2000a, p.74) destaca que existem alguns custos fixos que se mantêm

inalterados até certo volume de produção, passando para outro nível de valores

caso esse ponto de volume seja ultrapassado, mantendo-se novamente constantes

até que outro ponto máximo de produção seja alcançado. De forma sintetizada,

Viceconti e Neves (2000, p.19), explicam que “custos semifixos ou custos por

degraus são custos que são fixos numa determinada faixa de produção, mas que

variam se há uma mudança desta faixa”.

Perez Júnior, Oliveira e Costa (1999, p.21-23), salientam ainda que “as

despesas fixas têm características semelhantes [...] aos custos fixos”. Ou seja, são

22

despesas que não tem seu valor alterado dentro de certa faixa de atividades. Pode-

se citar como exemplos os salários da administração e as despesas financeiras. Por

outro lado, de forma análoga aos custos variáveis, as despesas variáveis são

aquelas que se alteram conforme o volume de atividades geradoras de receita da

empresa. Como por exemplo, as comissões e impostos sobre vendas (PEREZ

JÚNIOR, OLIVEIRA e COSTA, 1999, p.21-23).

2.1.2.3 Terminologias e considerações adicionais

Viceconti e Neves (2000, p.23) apresentam ainda outras três classes de

custos que merecem algum destaque, são elas:

• Custos de produção do período – pode ser denominado também de custo

fabril, esse item representa o valor gasto na produção dentro de

determinado período. É composto pela soma dos gastos com materiais

diretos, mão-de-obra direta e demais gastos indiretos de fabricação

(LEONE, 2000a, p.69; VICECONTI e NEVES, 2000, p.23).

• Custo primário – é a soma da matéria-prima e da mão-de-obra direta

utilizadas na produção. Esse composto representa dois expressivos itens

no total dos custos de fabricação (LEONE, 2000a, p.69; VICECONTI e

NEVES, 2000, p.23).

• Custo de conversão ou de transformação – é o real custo da produção.

Composto pela soma da mão-de-obra direta e dos custos indiretos de

fabricação, esse tipo de custo representa o próprio esforço da empresa na

transformação da matéria-prima em produtos ou serviços a serem

comercializados (GALLORO e GALLORO, 2000, p.83; LEONE, 2000a,

p.69).

Viceconti e Neves (2000, p.22) salientam ainda que pode haver uma

combinação entre as classificações de custos quanto ao volume de produção e

quanto à apropriação aos produtos fabricados. Assim sendo, o consumo de matéria-

prima pode ser classificado como um custo direto e variável, pois se sabe quanto de

material é empregado em cada unidade produzida e, ao mesmo tempo, a

quantidade total desse custo varia conforme o número de produtos fabricados. Da

23

mesma forma, pode-se associar outros itens de custo a essa classificação mista,

com diferentes combinações.

2.2 OBJETIVOS DA APURAÇÃO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO

Segundo afirmam Perez Júnior, Oliveira e Costa (1999, p.29), em linhas

gerais, o objetivo de uma empresa manter um sistema de apuração de custos

decorre basicamente de duas necessidades: uma fiscal e societária, onde a

contabilidade dos custos integra os demais procedimentos de escrituração exigidos

pela lei; e outra gerencial, na qual não se é necessário seguir os ditames da

legislação, ou seja, é uma apuração de custos com caráter extracontábil, a fim de

melhorar as informações gerenciais.

A partir desses dois objetivos básicos, pode-se definir, genericamente, outros

seis objetivos principais visados pela apuração de custos (PEREZ JÚNIO, OLIVEIRA

e COSTA, 1999, p.29-32), são eles:

• Apuração do custo dos produtos e dos departamentos – trata-se do

objetivo principal de qualquer sistema de custeio. Determinar os custos

incorridos no processo produtivo, bem como os gastos realizados nos

diversos departamentos, é a função básica que se espera quando da

apuração de custos. Fornecendo assim dados importantes para o

gerenciamento e controle da empresa como um todo;

• Atendimento de exigências contábeis e fiscais – um sistema de custeio

também tem como objetivo fornecer condições para que os gastos da

empresa sejam apurados e alocados conforme as exigências da

legislação, seja ela contábil (para elaboração das demonstrações

financeiras) ou fiscal (para fins de apuração de imposto de renda, entre

outras);

• Controle dos custos de produção – empresas necessitam também

conhecer seus custos produtivos para poder então controlá-los. Nesse

caso, a apuração de custos de um determinado período pode servir como

base de comparação com desempenhos passados ou ainda para

confronto com padrões pré-determinados. Auxiliando no levantamento e

análise de possíveis divergências, suas causas e soluções cabíveis;

24

• Melhoria de processos e eliminação de desperdícios – sistemas de custos

também buscam proporcionar à organização, meios de facilitar a

identificação de possibilidades para aperfeiçoamento de processos,

auxiliando no apontamento e eliminação de possíveis desperdícios;

• Auxílio na tomada de decisões gerenciais – há muitas possibilidades para

que a apuração de custos auxilie nas decisões gerenciais. Pode-se citar,

por exemplo, formação de preços, calculo de lucratividade, entre outras.

• Custos para otimização de resultados – nesse ponto, um sistema de

custos pode ser elaborado para fornecer informações rápidas e confiáveis

para os gestores da empresa, possibilitando uma tomada de decisão mais

ágil e compatível com as mudanças constantes do ambiente.

Na mesma linha de pensamento, Vanderbeck e Nagy (2003, p.15)

apresentam de forma direta e concisa o objetivo principal do processo de apuração

de custos numa empresa. Afirmam que “a informação produzida por um sistema de

contabilidade de custos fornece uma base para determinar custos de produtos e

preços de venda, e ajuda a gerência a planejar operações”. Entretanto, para que o

sistema de custeio de uma empresa atinja plenamente os objetivos para os quais

está sendo desenvolvido, deve-se analisar com atenção que tipos de informações

está se tentando produzir. Relatórios com fins contábeis geralmente não são úteis

para análises gerenciais e vice e versa. O método a ser utilizado no levantamento e

tratamento dos dados sobre os gastos da empresa precisa estar de acordo com a

realidade da mesma e ser devidamente adaptado as peculiaridades do negócio.

Dessa forma, pode-se agregar valor aos processos produtivos da organização,

melhorando sua gestão e evidenciando possíveis oportunidades de crescimento

(MAHER, 2001, p.44-46).

2.3 SISTEMAS DE ACUMULAÇÃO DE CUSTOS

Em linhas gerais, “um sistema pode ser definido como um conjunto de

elementos interagentes e interdependentes relacionados cada um ao seu ambiente

de modo a formar um todo organizado” (SILVA, 2004, p.352). Em perspectiva

semelhante, porém de forma mais específica, Leone (2000a, p. 36) salienta que o

sistema de custos é a ferramenta utilizada para que a empresa tenha os meios

25

necessários para levantar, organizar e produzir informações, a cerca dos custos

produtivos, para todos os setores da organização.

Há basicamente dois tipos de sistemas de custos, o sistema de custeamento

por ordem de produção e o sistema de custeamento por processo. Esses dois tipos

de sistema são os extremos de diversos outros modelos de custeio utilizados pelas

empresas (HORNGREN, FOSTER e DATAR, 2000, p. 67-68). A adoção de um ou

de outro sistema - ou de alguma associação dos dois - vai depender basicamente do

modelo produtivo da organização e da necessidade de informações a ser atendida

por meio dele (LEONE, 2000a, p. 36-37).

No sistema de custeamento por ordem os custos são acumulados em um

determinado lote de produtos ou a um produto/serviço específico. Esse modelo é

mais adequado quando a organização tem como característica principal os

processos produtivos não padronizados. Ou seja, os produtos ou serviços são feitos

de forma não homogênea, intermitente, por encomenda ou sobre medida

(HORNGREN, FOSTER e DATAR, 2000, p. 67; LEONE, 2000a, p. 37).

O sistema de custeamento por processo, por sua vez, tem como premissa

básica a acumulação dos custos numa determinada fase da produção ou em um

determinado centro de custos, deixando para segundo plano a identificação desses

custos nas unidades produzidas. Frequentemente esse modelo é utilizado em

empresas que possuem características fabris homogêneas, com produção contínua

e produtos/serviços padronizados. Nesse caso o custo unitário do produto será

conhecido através da média dos custos acumulados no processo em relação a uma

grande quantidade de unidades fabricadas, num determinado período (HORNGREN,

FOSTER e DATAR, 2000, p. 67; LEONE, 2000a, p. 37).

No quadro 1 é apresentado exemplos de processos produtivos dos setores de

serviços, comercial e industrial, que podem ser enquadrados nos dois sistemas.

26

Setor de Serviços Setor Comercial Setor IndustrialUtilização do custeio por ordem

• Empresa de auditoria

• Agência de propaganda

• Envio de catálogo para uma lista de endereços

• Promoção de um produto novo na loja

• Montagem de aeronaves

• Construção de casas

Utilização do custeio por processo

• Processamento de depósitos (Bancos)

• Entrega postal (de itens padrão)

• Comercialização de grãos

• Processamento de novas assinaturas de uma revista

• Refino de petróleo

• Produção de bebidas

Quadro 1 – Exemplos de produção por ordem e por processo.Fonte: adaptado de Horngren, Foster e Datar (2000, p. 68).

Percebe-se, através dos exemplos do Quadro 1, que é possível classificar

sistemas de custeio de empresas de diferentes setores dentro das duas tipologias

apresentadas, por ordem e por processo. Entretanto, é importante ressaltar que, não

raramente, encontra-se organizações que utilizam em seu processo produtivo os

dois sistemas básicos de custeio, parte da produção sendo custeada por processo e

outra parte por ordem (PEREZ JÚNIOR, OLIVEIRA e COSTA, 1999, p.89;

MARTINS, 2000, p.157). Complementando a idéia, Perez Júnior, Oliveira e Costa

(1999, p.89) salientam ainda que, apesar da possibilidade de se utilizar um ou outro

sistema de acumulação, é essencial que se atente para o fato de que os resultados

finais devem ser os mesmos, independentemente do modelo de custeio. Ou seja, o

modelo de sistema de acumulação de custos a ser utilizado pode ser definido

deliberadamente pela empresa, desde que se utilizem os métodos corretos de

apuração para que não haja alterações nos resultados.

2.4 CUSTEIO POR ABSORÇÃO E CUSTOS INTEGRAIS

O custeio por absorção tem por característica principal a apropriação de todos

os custos, diretos e indiretos, aos produtos fabricados. Utilizando-se então de

critérios de rateio para a alocação dos custos indiretos de fabricação (CIF) às

unidades produzidas. Sendo que as despesas do período são lançadas diretamente

contra os resultados da empresa (ASSEF, 2003, p.25; BERNARDI, 2007, p.38). De

forma complementar, Perez Júnior, Oliveira e Costa (1999, p.64) salientam que o

custeio por absorção é um método derivado dos princípios contábeis. Sendo, por

27

esse motivo, aceito como metodologia válida para fins fiscais e na elaboração de

demonstrações financeiras.

Basicamente, o esquema de desenvolvimento do custeio por absorção é

composto por três passos (PEREZ JÚNIOR, OLIVEIRA E COSTA, 1999, p.64-68):

• Separação dos gastos em custos e despesas – nesse momento é

importante separar corretamente os gastos do período em custos e

despesas;

• Apropriação dos custos diretos – nesse passo, deve-se alocar os custos

diretos aos produtos produzidos no período. Os principais custos diretos

de fabricação são os materiais diretos e a mão-de-obra direta (MOD);

• Apropriação dos custos indiretos – no último passo, deve-se também

apropriar os CIF aos produtos fabricados no período. Sendo feito então

através de algum critério de rateio. Como por exemplo, proporcionalmente

aos custos diretos, à mão-de-obra direta ou à quantidade fabricada de

cada produto. Pode-se citar como exemplos de custos indiretos de

fabricação a energia elétrica, o aluguel da fábrica, entre outros.

Perez Júnior, Oliveira e Costa (1999, p.26) salientam ainda que pode existir

variados critérios de rateio e que, em muitos casos, são atribuídos de forma

subjetiva e arbitrária, podendo alterar os resultados finais da apuração do custo de

um produto. Não há um procedimento padrão para a realização de rateios. Ou seja,

não existem critérios de rateio válidos como regra geral para todas as organizações.

O importante na adoção de um ou outro critério é pesar a relevância dos valores

incorridos e o bom senso dos gestores ou consultores no momento da escolha. No

quadro 2 é apresentado alguns exemplos de CIF e seus possíveis critérios de rateio:

Gastos Classificação Possível critério de rateioDepreciação de máquinas industriais

Custo do produto Quantidades produzidas ou tempo de utilização de máquinas

Mão-de-obra indireta Custo do produto Tempo de utilização de mão-de-obra direta

Material indireto Custo do produto Consumo de material diretoDepreciação do edifício industrial

Custo do centro de custo

Área ocupada por cada linha de produção

Gastos com refeitório industrial

Custo do centro de custo

Quantidade de refeições servidas

Energia elétrica consumida pela fábrica

Custo do centro de custo

Energia consumida por máquinas e equipamentos de cada linha de produção

Quadro 2 – Exemplos de critérios de rateio dos CIF.

28

Fonte: adaptado de Perez Júnior, Oliveira e Costa (1999, p. 27).

Uma das vantagens da utilização do custeio por absorção, além do

atendimento às exigências contábeis e da possibilidade de oferecer informações

gerenciais, é o fato de que, de certa forma, ele é um método mais barato e simples

de se implantar. Vantagem essa proporcionada principalmente por não exigir que

haja a separação dos custos em fixos e variáveis. Desobrigando a empresa de

tentar efetuar a medição direta de custos que geralmente são parte fixos e parte

variáveis. Como por exemplo, energia elétrica, água, aquecimento, entre outros.

Podendo assim tornar a apuração dos custos muito complexa ou cara, inviabilizando

o sistema (MAHER, 2001, p.374-376).

Por outro lado, deve-se estar atento ao problema causado pelo tratamento

dos custos fixos como custos unitários, característico do custeio por absorção.

Sendo um custo fixo unitário função tanto do valor total desse custo como do volume

produzido, pode haver divergências entre os valores totais e unitários. Ou seja, pode

um custo fixo unitário para produzir determinado produto reduzir de um período para

outro mesmo que o custo fixo total tenha aumentado, basta que a produção também

aumente no período apurado. Esse tratamento unitário dos custos fixos pode se

apresentar como uma desvantagem do custeio por absorção. Uma vez que

possibilita a análise distorcida de custos fixos totais por parte dos gestores (MAHER,

2001, p.374-376).

É importante ressaltar ainda que, contabilmente, somente os custos diretos e

indiretos devem ser apropriados à produção de um determinado período. Entretanto,

pode-se estender a análise do custeio por absorção alocando também as despesas

do período aos produtos fabricados. Dessa forma, podem-se utilizar os resultados

obtidos como base para formação de preços, para emissão de relatórios gerenciais

ou controle dos gastos gerais de fabricação (ASSEF, 2003, p.27; BERNARDI, 2007,

p.38). A esse procedimento de associação de todos os gastos da empresa aos

produtos ou serviços elaborados, incluindo-se as despesas, dá-se a classificação de

custos integrais ou plenos (BRUNI e FAMÁ, 2002, p.38). Aumenta-se, com esse

método, a amplitude de possibilidades de análise e controle dos gastos, tornando o

sistema de custos uma ferramenta extremamente útil e vantajosa para o

gerenciamento da organização. A figura 1 ilustra a diferenciação contábil dos gastos

de uma organização e suas diferentes classificações.

29

Figura 1 – Diferença contábil entre custos e despesas.Fonte: adaptado de Bruni e Famá (2002, p. 37).

Portanto, a partir da Figura 1, percebe-se que para os cálculos de

precificação o procedimento mais adequado é o da utilização do custo integral. Pois,

neste contexto, são levados aos produtos todos os gastos por eles consumidos. Que

é a base ideal para a fixação de preços.

2.5 IMPLANTAÇÃO E GERENCIAMENTO DE UM SISTEMA DE CUSTOS

Perez Júnior, Oliveira e Costa (1999, p.298) salientam que a implantação de

um sistema de custos requer treinamento e ajustes que só serão diagnosticados

quando o sistema, seja ele desenvolvido ou adquirido, for posto em prática dentro da

empresa. Dessa forma, a melhor maneira de se efetuar a implantação de um

sistema de custos é composta pelos seguintes passos:

• Da parte para o todo – deve-se primeiramente testar o sistema em uma

linha de produção ou em um produto específico, para posteriormente

incorporar a ele o restante dos processos da empresa;

• Do simples para o sofisticado – inicialmente somente os custos mais

relevantes devem ser apurados. Quanto mais simples o sistema mais fácil

será sua implantação e aceitação na empresa. Conforme a organização e

os funcionários forem se habituando ao sistema, pode-se pensar em

aperfeiçoá-lo adicionando novas informações.

30

De maneira complementar, Martins (2000, p.379) e Lima (2000, p. 49)

enfatizam que se deve, primordialmente, saber para que servirá o sistema (para

controle, fornecimento rápido de informações, avaliação, etc.) e quem será o cliente

das informações geradas por ele e como essas serão utilizadas. Após a coleta

desses dados e da definição dos objetivos a serem alcançados com o sistema, fica

mais claro qual a melhor forma de construí-lo.

Outro item a ser estudado ainda na fase de elaboração do sistema é a

relação custo-benefício de sua implantação e manutenção. Deve-se observar se os

benefícios gerados serão maiores que os custos decorrentes de sua estruturação

(HORNGREN, FOSTER e DATAR, 2000, p. 67; PEREZ JÚNIOR, OLIVEIRA E

COSTA, 1999, p.299). De forma mais detalhada, Martins (2000, p. 378-379) explica

que se pode ter um expressivo gasto para se obter as primeiras informações a cerca

de custos, dado a implantação de rotinas e procedimentos, bem como da

contratação de pessoal, necessários para a implantação do sistema. Em

contrapartida essas informações serão extremamente úteis à administração, pois

elas surgem como subsídios para a tomada de decisão, que antes não existiam.

Porém, deve-se atentar para a relação inversamente proporcional que existe entre o

custo e a utilidade quando se acrescentam mais detalhes ao sistema. Quanto mais

informações diferentes são solicitadas, maior ficará o custo de obtê-las e menor será

sua real utilidade para a gerência. Por esse motivo, “torna-se imperioso um

meticuloso estudo para um adequado julgamento, a fim de se decidir onde parar

com o acréscimo de detalhes de um Sistema de Custos” (MARTINS, 2000, p. 379).

Há ainda uma necessidade básica para que se tenha um bom sistema de

custos, trata-se das quantificações físicas. Seria de pouca utilidade saber o valor

monetário gasto com matéria-prima na produção se não se conhecer o volume físico

movimentado no processo e a quantidade fabricada no período em questão.

Entretanto, deve-se também atentar para a viabilidade da mensuração dessas

quantidades físicas, para que seu custo não seja maior que seus benefícios

(MARTINS, 2000, p. 30; LIMA, 2000, p. 51).

Por último, mas não menos importante, deve-se dar especial atenção à

questão humana quando se está pensando um sistema de custos. Martins (2000, p.

28) salienta que “o sucesso de um sistema de informações depende do pessoal que

o alimenta e o faz funcionar. [...] Se estas falharem ou não colaborarem, todo o

sistema acabará por falir”. Nessa mesma linha de pensamento, Horngren, Foster e

31

Datar (2000, p. 67) salientam que um sistema torna-se ineficiente quando os

gerentes operacionais o identificam como sendo inútil e enganoso. Para que isso

não ocorra deve-se integrar o sistema às operações da empresa e não o contrário. A

melhor forma de minimizar as resistências quando da implementação das novas

rotinas é fazê-la de forma gradativa. Dessa forma pode-se identificar problemas

diversos à cerca da efetividade do sistema. E através da resolução desses,

desenvolvê-lo e aprimorá-lo até que atinja sua capacidade plena de funcionar como

ferramenta de gestão (MARTINS, 2000, p. 28-29).

Perez Júnior, Oliveira e Costa (1999, p.303) salientam ainda que se deve

evitar alguns fatores que podem tornar o sistema de custos deficiente. Um deles é a

utilização de padrões de custos desatualizados, que dão margem para análises

deficientes entre o real e o padrão. Informações incorretas sobre produtos e custos

também não são bem vindas, uma vez que podem gerar informações distorcidas

sobre custos e abrem espaço para decisões erradas. Deve-se evitar ainda a

inclusão dos custos de capacidade ociosa no custo de produção, uma vez que esses

gastos não ocorreram na produção devem ser lançados contra o resultado do

período como perdas. Tomando-se esses cuidados, é possível minimizar as

deficiências do sistema de custos e maximizar a geração de informações úteis para

a administração da empresa.

2.6 ANÁLISE DE CUSTO/VOLUME/LUCRO

Vanderbeck e Nagy (2003, p.414) alertam para importância do lucro líquido de

uma empresa como indicador de sua “saúde” financeira e de sucesso no alcance de

suas metas. Dessa forma, no momento do planejamento de mudança nos níveis de

atividade da organização, a antecipação da influência dos preços de venda, custos e

volume de produção, são essenciais para a visualização dos efeitos dessas

mudanças nos lucros da empresa. Podendo, assim, a administração tomar decisões

baseadas em informações mais seguras e que não prejudiquem a lucratividade da

organização.

Nesse contexto, Vanderbeck e Nagy (2003, p.414) revelam que “a análise de

custo-volume-lucro (CVL) é uma técnica que usa os graus de variabilidade para

medir o efeito de mudanças no volume sobre os lucros resultantes”. Em outras

palavras, esse instrumento é utilizado para se estimar os lucros que podem ser

32

obtidos em diferentes níveis de produção e vendas. Além de auxiliar na visualização

dos impactos das modificações nos preços de venda, nos custos ou nos dois

elementos juntos, frente ao lucro líquido da empresa (VICECONTI e NEVES, 2000,

p.153).

Para tanto, a análise CVL parte do pressuposto que os ativos da empresa,

suas máquinas, instalações, estoques de matéria-prima, mão-de-obra, entre outros,

permanecerão estáveis em curto ou médio prazo e que seu volume de atividade se

mantenha dentro de um determinado limite normal de variação. Possibilitando então

se inferir que os custos e despesas fixas e variáveis também se manterão

inalterados durante o período que está sendo submetido à análise (MARTINS, 2000,

p.271; VANDERBECK e NAGY, 2003, p.414-415). Dessa forma, torna-se possível a

utilização, por parte da administração, de indicadores como, por exemplo, o ponto de

equilíbrio, facilitando a gestão da empresa e o processo de tomada de decisão.

2.6.1 Ponto de Equilíbrio

A determinação do ponto de equilíbrio é o objetivo principal da análise de

custo-volume-lucro. Por conceito, o ponto de equilíbrio é o ponto onde as receitas de

vendas são iguais ao total dos custos e despesas da empresa, sendo que o lucro,

por sua vez, é nulo (BERNARDI, 2007, p.65; HOJI, 2006, p.337; VANDERBECK e

NAGY, 2003, p. 415). O ponto de equilíbrio em unidades de produto pode ser

calculado através da divisão dos custos e despesas fixos pela margem de

contribuição unitária do produto (BERNARDI, 2007, p.65-66; HOJI, 2006, p.341).

A margem de contribuição, por sua vez, é essencial para que se evidencie

qual é a participação de um produto vendido no pagamento dos custos e despesas

fixas da empresa. Bernardi (2007, p.64) apresenta um conceito bastante claro do

que seria a margem de contribuição:

Margem de Contribuição de um produto, mercadoria ou serviço é a diferença entre o valor das vendas, os custos variáveis e as despesas variáveis da venda. Isto significa que se pode avaliar o quanto cada venda contribui para pagar os custos fixos e despesas fixas.

Na mesma linha de pensamento, mas de forma complementar, Hoji (2006,

p.340) salienta que após ser apurada a margem de contribuição unitária (MCU) de

33

cada produto, pode-se multiplicá-la pela quantidade total de unidades vendidas,

conhecendo assim, de forma mais simplificada, a margem de contribuição total

(MCT) das vendas. Isso é possível pois a MCT varia de forma proporcional ao

volume de vendas do produto.

Pode-se calcular, basicamente, três diferentes tipos de ponto de equilíbrio

(BERNARDI, 2007, p.72-73; HOJI, 2006, p.343; VICECONTI e NEVES, 2000,

p.159), são eles:

• Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC) – é o montante de vendas que equilibra

a receita com a soma dos custos e despesas da empresa;

• Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE) – é basicamente igual ao ponto de

equilíbrio contábil, exceto pelo fato de que se acrescenta ao cálculo o

custo de oportunidade sobre o capital investido na empresa. Seria então o

ponto onde os custos, despesas e o custo de oportunidade, somados, se

igualam às receitas de vendas da organização;

• Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF) – é o total da receita de vendas que

se iguala à soma dos custos e despesas que não representam saídas de

caixa da empresa. Nesse caso, por exemplo, a depreciação não seria

computada nos custos fixos para efeito de cálculo do ponto de equilíbrio,

pois não implica em desembolso para a organização.

Independentemente do tipo de ponto de equilíbrio utilizado para se realizar a

análise CVL, percebe-se o elevado grau de utilidade que esse indicador oferece

para a gestão da organização. Através dele a administração pode controlar e gerir

sua área comercial, produtiva e financeira de forma mais transparente e com metas

mais bem definidas. Na figura 2 é possível visualizar a representação gráfica do

ponto de equilíbrio.

34

02

468

1012

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Receita total

Custos Fixos e DespesasFixasCustos e Despesas Totais

Figura 2 – Gráfico do ponto de equilíbrio.Fonte: adaptado de Bernardi (2007, p.66).

Por outro lado, Hoji (2006, p.337) salienta que o método do ponto de equilíbrio

possui limitações que devem ser consideradas no momento de sua utilização. Para

empresas que produzem somente um produto, o que geralmente não ocorre na

prática, a análise de custo-volume-lucro e o ponto de equilíbrio podem ser utilizados

sem problemas. Porém, para organizações que industrializam dois ou mais produtos

surgem dificuldades em se determinar seu ponto de equilíbrio geral. Isso devido,

principalmente, pela subjetividade na alocação dos custos fixos aos diferentes

produtos, bem como pelas diferentes margens de contribuição que eles apresentam.

Nesse caso, existindo uma diversificada linha de produtos, Bernardi (2007,

p.69-71) enfatiza que se pode lançar mão de formas alternativas de apuração do

ponto de equilíbrio geral da empresa. Uma delas é a determinação de pontos de

equilíbrio individuais e posteriormente um PE total. Dessa forma, deve-se calcular o

porcentual de participação de cada produto no total das vendas da empresa e então

ratear os custos e despesas fixas totais com base nesse índice. Após o rateio dos

custos e despesas fixas para cada produto, divide-se esse valor pela margem de

contribuição individual, obtendo assim o ponto de equilíbrio para cada produto. O PE

geral da organização seria então, por essa proposição, a soma desses PEs

individuais.

Outra forma de se calcular o ponto de equilíbrio geral de uma empresa que

produz e comercializa mais de um produto é através da apuração de uma margem

de contribuição média ponderada desses produtos. Deve-se, nesse caso, ponderar

as margens de contribuição individuais dos produtos pelas suas respectivas

porcentagens de participação nas vendas da empresa. O resultado da soma dessa

ponderação é a margem de contribuição média da empresa. Para se conhecer então

Volume

Ponto de Equilíbrio

Custos e Despesas Variáveis

35

o ponto de equilíbrio através dessa proposição, basta dividir os custos e despesas

fixas totais pela margem de contribuição média obtida, sem a necessidade de

efetuar rateios (ASSEF, 2003, 62-66; BERNARDI, 2007, p.71-72).

Conceitualmente, sabe-se que o ponto de equilíbrio de uma empresa pode

ser considerado como a igualdade entre as receitas totais de venda e os gastos

totais do período (os custos mais as despesas). Entretanto, Assef (2006, p.66)

salienta que a receita de vendas que ultrapassa o ponto de equilíbrio não deve ser

considerada como lucro em sua totalidade. Isso devido aos custos variáveis serem

proporcionais ao nível de atividade da empresa. Dessa forma, quanto mais se

vende, mais ocorrerão custos variáveis de venda. Ou seja, as receitas de vendas

que superarem o PE da empresa podem ser sim convertidas em lucros, mas

proporcionalmente à margem de contribuição apurada.

2.7 FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

A fixação do preço de venda dos produtos ou serviços de uma empresa é um

processo complexo e de grande responsabilidade. Porém, é essencial na condução

do negócio, bem como na manutenção de seus resultados econômicos e financeiros

(BERNARDI, 2007, p.121; BRUNI e FAMÁ, 2004, p.321; HOJI, 2006, p.345). Mesmo

não sendo, o preço de venda, uma variável chave para o sucesso e crescimento da

organização, uma fixação equivocada desse valor pode ser fator determinante para

o seu fracasso (BRUNI e FAMÁ, 2004, p.321). Por esse motivo, conforme salienta

Assef (2003, p.37), a diretoria de uma empresa deve participar diretamente desse

processo, controlando constantemente as margens de seus produtos, bem como

acompanhando e fixando níveis específicos de custos e investimentos de acordo

com a lucratividade de cada linha.

Entretanto, a formulação de uma política de preços não é uma tarefa fácil de

ser realizada. Conforme revela Bernardi (2007, p.121):

O número de variáveis qualitativas e quantitativas, incertezas, probabilidades e eventos a considerar e ponderar, para sua definição, é extenso, abrangendo aspectos internos e externos, interdependências e interações sistêmicas, por vezes caóticas.

36

Essa inúmera gama de possibilidades, que torna a formação de preços tão

complexa, pode ainda ser aumentada se consideradas variáveis que, geralmente,

são pouco ou nada controláveis por parte das empresas. Pode-se citar como

exemplo as reações de consumidores, concorrentes, hábitos de consumo,

mudanças bruscas nas condições econômicas, produtos substitutos, entre outras

(BERNARDI, 2007, p.121; HOJI, 2006, p.345). Diante dessa realidade, segundo

salienta Bernardi (2007, p.121), as empresas devem, além de se emprenharem na

formulação de uma ótima estratégia de preços, reavaliar também processos e

paradigmas instituídos com o passar do tempo de vida da organização. Para assim

estarem “sincronizadas” com as novas condições de mercado.

Condições essas que, em muitos ramos de atividade, pressionam as

empresas a praticar preços impostos pelo próprio mercado. Obrigando, de certa

forma, a organização a adequar seus processos até atingir, de forma viável, os

níveis de preços impostos a ela (HOJI, 2006, p.345). Sob pena de, caso não consiga

atender a tais exigências, acabar vendendo produtos e serviços que não cubram

nem os gastos fixos da operação e por conseqüência incorrer em prejuízos

consecutivos.

Nesse sentido, segundo comenta Bernardi (2007, p.125), a exclusiva

utilização do antigo modelo de precificação baseado no simples repasse dos custos,

despesas e lucros para o preço de venda já não é mais viável. Isso devido a visão

“míope” que se utiliza nessa abordagem, pensando no processo somente de dentro

para fora da empresa. O ideal é que se alie a essa metodologia uma visão de fora

para dentro da organização. Visualizando então o mercado como agente ativo no

processo de formação de preço. Cenário este onde a empresa ajusta seus

processos de forma que o preço estipulado possa cobrir os gastos totais das

operações e gerar os lucros desejados.

Entretanto, conforme salienta Hoji (2006, p.345), tradicionalmente, as

empresas ainda se utilizam do método de formação de preços com base nos custos

de produção. Os custos produtivos exercem, na verdade, um papel essencial nesse

processo. Mas o importante a ser observado é que, além de cobrir custos, o preço

de venda também precisa proporcionar à organização a maximização de lucros, a

manutenção da qualidade, a otimização da capacidade produtiva e o atendimento

das exigências do mercado em relação ao preço praticado (BRUNI e FAMÁ, 2004,

p.323). Dessa forma, entende-se que a formação de preços com base nos custos

37

pode ainda ser uma ferramenta informacional importante para as organizações.

Atuando principalmente como balizadora para análises comparativas relativas a

preços praticados pela empresa e no mercado, bem como para evidenciar possíveis

gastos desnecessários ou ainda visualização mais clara e precisa das margens de

lucro obtidas pela empresa.

2.7.1 Formação de preços pelo método do mark-up

Conceitualmente, pode-se afirmar que “o mark-up é uma taxa predeterminada

que se adiciona sobre a base, com o objetivo de determinar o preço de venda”

(HOJI, 2006, p.347). Ou seja, o preço estipulado através do método de mark-up

deverá cobrir os gastos totais da empresa e os impostos incidentes sobre as vendas,

proporcionando ainda um valor residual que será o lucro desejado pela organização.

Esse método de precificação, apesar de ser tradicional e básico, é bastante útil para

a formação e gestão de preços. Especialmente por evidenciar o preço ideal a ser

praticado pela empresa (piso) e analisá-lo ou compará-lo com os preços de mercado

(limite ou teto) (BERNARDI, 2007, p.130). Na figura 3 pode-se visualizar, em linhas

gerais, a fórmula para o cálculo do mark-up.

( ) GLI

P

upMark

∗+−

=

−1

1

P = preço de venda.I = porcentagem dos impostos sobre vendas.L = lucro desejado em percentual do preço de venda.G = gastos totais da empresa.

Figura 3 – Fórmula geral para o cálculo do Mark-up.Fonte: adaptado de Bruni e Famá (2004, p.341).

Genericamente, o mark-up pode ser aplicado de três formas distintas (BRUNI

e FAMÁ, 2004, p.340), são elas:

• Sobre o custo variável - nessa metodologia o mark-up deve ser tal que

cubra os gastos que não são considerados no momento da apuração dos

custos do produto;

• Sobre os gastos variáveis - nesse modelo o mark-up é aplicado sobre os

gastos variáveis, incluindo aí os custos e as despesas variáveis;

38

• Sobre os gastos integrais – nessa forma o mark-up é empregado como

multiplicador sobre os gastos totais da empresa.

Porém, conforme esclarece Bernardi (2007, p.171), devido à grande

complexidade em se alocar as despesas fixas da organização aos produtos

fabricados, o método mais utilizado na prática é o da aplicação do mark-up sobre os

custos variáveis. Dessa forma, os impostos e comissões sobre vendas, as despesas

de vendas fixas, despesas administrativas fixas, os custos de produção fixos

(dependendo do método de custeio) e o lucro desejado, devem compor o cálculo do

mark-up que será aplicado sobre os custos variáveis dos produtos (BRUNI e FAMÁ,

2004, p.341). Um exemplo do método de aplicação de mark-up sobre os custos

variáveis é apresentado na tabela 1.

Tabela 1 – Cálculo do mark-up sobre o custo variável de produção.Descrição %

(+) Preço de venda 100,00(-) PIS/Confins -3,65(-) ICMS -12,00(-) Comissões -5,35(-) Despesas administrativas/financeiras -5,00(-) Despesas fixas de vendas -10,00(-) Custos indiretos (fixos) de fabricação -19,00(-) Lucro -5,00(=) Custo variável 40,00

Mark-up divisor 60,00Mark-up multiplicador 2,50

Fonte: adaptado de Bruni e Famá (2004, p.342).

Percebe-se, através do exemplo ilustrado na tabela 1, que todas as contas

são apresentadas em formato percentual. Os valores percentuais relativos a

impostos e comissões sobre as vendas são obtidos, geralmente, de forma bastante

simples e objetiva. Isso se dá essencialmente por serem índices previamente

estipulados pela legislação tributária ou pela própria empresa (no caso das

comissões sobre vendas).

Entretanto, a mesma facilidade que ocorre na obtenção dos percentuais de

impostos e comissões sobre vendas não existe para a apuração dos mesmos

valores representativos dos gastos fixos da empresa. Para se realizar essa tarefa

pode-se, conforme explicam Bruni e Fama (2004, p.343), estimar percentualmente

todos os gastos fixos em relação às vendas da empresa num determinado horizonte

39

de tempo, através da apuração dos valores médios dessas contas. É importante

salientar ainda que, na utilização desse método, a empresa deve monitorar

periodicamente a participação dos gastos fixos em relação ao montante das vendas,

para que dessa forma possa analisar mais precisamente o percentual a ser utilizado

no cálculo do mark-up (BERNARDI, 2007, p.171). Nesse contexto a organização

poderá ter sempre a mão um método de formação de preços o mais próximo

possível de sua realidade interna.

No entanto, cabe ressaltar que a aplicação de mark-up para a obtenção do

preço de venda relega informações importantes como demanda, concorrência e

valor percebido pelo mercado. Nesse sentido, a utilização exclusiva desse método

para estipular o preço a ser praticado pela empresa pode ser ineficaz. Mas, se o

mark-up for utilizado como instrumento de referência para análises das implicações

de decisões sobre preço frente ao mercado e para evidenciar possíveis ajustes

necessários nos processos produtivos e gerenciais da empresa, pode sim ser uma

importante fonte de informações para a organização (BERNARDI, 2007, p.130).

40

3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

O método que serviu como base para a confecção do presente trabalho foi o

de proposição de planos. Segundo Roesch (1999, p.72-75), esse tipo de abordagem

tem o propósito de apresentar soluções para problemas organizacionais já

diagnosticados, mas ainda não resolvidos. Assim sendo, visto que o trabalho tem

cunho estritamente técnico e se propôs a apresentar uma solução a determinado

problema da empresa onde foi realizado, entende-se que esse modelo foi o mais

indicado para o alcance do objetivo geral do estudo.

O trabalho foi realizado na empresa FF Fabricação e Comércio de Produtos

Alimentícios Ltda. – ME, localizada à Rua Antônio José Zimermann, S/N, no Centro

da Cidade de Antônio Carlos, Estado de Santa Catarina. O período em que o estudo

foi realizado é o de março a novembro de 2008. O levantamento das informações

necessárias para a realização do estudo foi feito com o senhor Valdir Brasnel

Hoffmann e o senhor Alexandre Hoffmann, que ocupam, respectivamente, os cargos

de sócio gerente e assistente de produção.

Para a obtenção dessas informações e de outros dados necessários para a

conclusão do trabalho, foram utilizados basicamente três instrumentos, descritos a

seguir: a pesquisa bibliográfica, que é o estudo sistematizado de livros e outras

publicações referentes ao assunto a ser abordado no estudo (VERGARA, 2003,

p.48), serviu como fonte de conhecimento sobre os conceitos a serem utilizados no

trabalho; a investigação documental, que se constitui na obtenção de dados através

da análise de documentos, como por exemplo, relatórios, planilhas e sistemas

informatizados (VERGARA, 2003, p.48), proveu as informações necessárias para a

verificação dos problemas e posterior proposição de soluções; utilizou-se também da

entrevista focalizada, que consiste em uma conversa informal entre o pesquisador e

o entrevistado, porém com foco bastante claro e objetivo no problema a ser resolvido

(VERGARA, 2003, p.55). Esta serviu como fonte de dados e esclarecimentos

adicionais para uma melhor compreensão das particularidades do negócio da

empresa e, por conseqüência, para uma maior acurácia nos resultados do estudo.

O tratamento e análise dos dados foram realizados utilizando o método de

custeio por absorção e de custos integrais. Essas metodologias consistem na

separação dos diversos gastos da empresa em custos e despesas, subdividindo, em

41

seguida, os custos em diretos e indiretos, para então apropriar esses valores para

cada objeto de custo. O sistema de informações elaborado também foi estruturado à

luz dos conceitos desses modelos de custeio, entretanto, foram realizadas

adaptações e complementações conforme as exigências particulares do negócio.

A programação do sistema de custos proposto foi feita utilizando planilhas

eletrônicas do software Microsoft Excel 2003. Essa versão do software de planilhas

foi escolhida pelo fato de que o microcomputador onde ele seria utilizado funcionava

com o sistema operacional Windows 98, não aceitando versões mais recentes do

Excel.

As planilhas criadas foram vinculadas conforme a necessidade de

informações de cada uma. Foram criadas ainda macros para a programação de

botões que auxiliam na seleção de valores e automatizam o cálculo de alguns

indicadores. As planilhas foram planejadas de tal forma que facilitem a utilização por

parte do usuário e proporcionem a inserção de mais produtos ou campos em caso

de mudanças nos processos da empresa.

42

4 ANÁLISE DOS DADOS

Esse tópico tem por objetivo apresentar informações importantes sobre três

aspectos principais do trabalho realizado na organização objeto desse estudo.

Primeiramente se discorrerá, de forma sucinta, sobre as características, estrutura

física e os processos utilizados pela empresa no processamento de seus produtos.

Num segundo momento será apresentado o sistema de custos elaborado com base

na revisão teórica construída e adaptado às necessidades e realidades da

organização. Finalizando o assunto, serão apresentadas algumas informações

obtidas com a aplicação do sistema na empresa e as respectivas reflexões que

foram feitas após a obtenção dessas informações.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO

A FF Fabricação e Comercio de Produtos Alimentícios Ltda. – ME é uma

empresa que atua nos segmentos de fabricação e comercialização de farinha de

mandioca e derivados. Sua sede está localizada na Rua Antônio José Zimermann,

S/N, bairro Centro, no município de Antônio Carlos, Estado de Santa Catarina. É

uma empresa familiar que iniciou suas atividades informalmente. No ano de 1980

teve então sua firma registrada sob a forma de sociedade limitada por dois filhos do

fundador, que passaram então a gerenciá-la juntamente com outros membros da

família.

Atualmente, a empresa tem como principal atividade a comercialização de

farinha de mandioca e derivados. Esse processo se dá através da compra a granel

do produto de outros fabricantes, para a posterior revenda com as marcas

tradicionais da empresa.

O mercado consumidor da organização é composto por algumas grandes

redes de supermercados, como Angeloni e Imperatriz, bem como pequenos

supermercados de bairro. A amplitude de seu atendimento limita-se à região da

Grande Florianópolis. A expansão desse mercado é desejável pela gerência,

entretanto ela ainda é inviável pela falta de organização de procedimentos e de

indicadores de desempenho de maior precisão.

43

Seu quadro de funcionários atual é composto por 6 pessoas que exercem as

seguintes funções:

• 2 Sócios/Diretores;

• 1 Gerente de produção;

• 1 Motoristas;

• 2 Auxiliares de produção.

A empresa não possui organograma formal, devido principalmente pelo

reduzido número de funcionários e pela característica de ser uma microempresa

familiar. Dessa forma, as decisões são tomadas pelos diferentes membros da

família, de acordo com os critérios que cada um, ou vários deles, julgarem serem

adequados à dada situação. Apesar da participação ativa das pessoas nas decisões

da empresa, a maior parte das proposições ainda é submetida aos patriarcas, que

irão aprovar ou não as idéias ou soluções levantadas.

4.2 ESTRUTURA E PROCESSOS DA ORGANIZAÇÃO

A área física utilizada pela empresa FF Fabricação e Comércio de Produtos

Alimentícios para o processamento de seus produtos faz parte de um prédio mais

amplo que é utilizado por outros empreendimentos da família. Esse espaço utilizado

pela empresa é subdividido em quatro ambientes, um refeitório, uma sala reservada

à gerência, uma área maior destinada à armazenagem da matéria prima, dos

produtos já processados e expedição dos pedidos e mais uma sala separada

utilizada como escritório. Esses ambientes representam um total de

aproximadamente 310m², que estão disponíveis para a armazenagem,

processamento e distribuição dos produtos da empresa, bem como para a

administração do processo. Na figura 4 é possível visualizar um modelo da planta

baixa da área utilizada pela empresa para a produção de suas mercadorias.

44

Figura 4 – Modelo de planta baixa da empresa.Fonte: dados primários.

Os produtos comercializados pela organização não são diretamente

fabricados por ela. As matérias primas, no caso a farinha de mandioca e o polvilho,

são comprados a granel de outros fabricantes. Essas matérias primas são então

embaladas e comercializadas com as marcas tradicionais da empresa. O mix de

produtos é composto por três marcas de farinha de mandioca (Marlete, FF e

Canarinho) e uma de polvilho. O sistema de produção predominante da organização

é o de produção em lotes, evidenciado pelo fato dos produtos serem processados de

acordo com o volume de vendas previsto para um determinado período. Essas

vendas são efetuadas parte por um representante comercial e outra parte pela

própria empresa, sendo que a entrega das mercadorias são realizadas a cargo da

organização independentemente de quem faça a venda. Esse é o fluxo de materiais

e mercadorias da empresa, descrito aqui de forma sintetizada com o intuito de

melhor esclarecer quais as atividades da empresa pesquisada e de que forma são

realizadas.

A investigação da estrutura e dos processos produtivos da organização serviu

como fonte de informações para uma análise e levantamento inicial de dados sobre

Gerência

Escritório

Refeitório

Produção

Legenda

Área utilizada pela empresa

45

seus gastos gerais. Auxiliando na identificação mais apropriada de quais gastos

deveriam ser classificados como custos ou como despesas. Sempre associando os

valores a seus fatos geradores dentro das diferentes etapas da produção ou

comercialização dos produtos, facilitando a identificação e separação das contas

para posterior análise dos custos da empresa.

4.3 ELABORAÇÃO DO SISTEMA

O trabalho de campo na empresa se iniciou com a investigação dos

processos produtivos e os respectivos gastos que incorriam em cada etapa da

produção e venda dos produtos. Nesse momento, identificou-se que a organização

não possuía um registro sistematizado e organizado dos gastos com materiais

diretos, mão de obra e demais gastos gerais. Esses dados se encontravam bastante

dispersos, sendo que somente as informações a cerca das compras das matérias

primas e das vendas dos produtos possuíam registros históricos para controle. Os

demais gastos eram conhecidos, porém, não eram controlados periodicamente pela

administração da organização.

Diante desses fatos, optou-se pela elaboração de algumas planilhas iniciais

que serviriam para o levantamento e organização dos gastos da empresa. Após a

aplicação inicial dessas planilhas foram identificados alguns problemas de

elaboração, o que evidenciou a necessidade de mudanças nas mesmas. Essas

mudanças foram realizadas então juntamente com a elaboração do sistema

definitivo, corrigindo as deficiências inicialmente detectadas.

4.3.1 Instrumento de coleta de dados

Para a obtenção inicial de informações optou-se por elaborar três planilhas,

com o objetivo de identificar e organizar os dados referentes aos gastos da

organização. Essas planilhas serviram como base para a construção do sistema de

custos, sendo elas posteriormente responsáveis pela “alimentação” do sistema.

Projetou-se então uma planilha para controle das Horas Trabalhadas, outra para

controle dos Materiais Diretos e uma terceira planilha para controlar os Gastos

Gerais da empresa (energia elétrica, salários, refeitório, manutenção de máquinas,

transporte, entre outros).

46

A planilha de controle dos materiais diretos foi construída com o intuito de se

obter dados mais próximos da realidade em relação ao custo da matéria-prima

utilizada no processamento dos produtos. Uma vez que os materiais são comprados

em mais de um fornecedor, com preços diferentes, o controle do custo médio desses

itens pode oferecer informações mais precisas no momento da análise dos dados.

Além disso, a planilha em questão também serve para o controle das perdas durante

a produção. Perdas essas que, no caso específico dessa empresa, serão tratadas

como desperdícios, não participando então dos custos dos produtos.

A “alimentação” da planilha é feita com a inserção dos valores referentes a

peso padrão dos materiais, compras, produção e perdas, dentro de seus respectivos

meses e para cada material utilizado. O peso padrão é a medida em gramas da

quantidade necessária de cada material para o processamento dos produtos, esses

valores são utilizados somente como referência para os demais cálculos da planilha.

Nos campos referentes às quantidades em quilogramas são informadas as

quantidades compradas, produzidas e perdidas. No campo dos valores,

especificamente no bloco referente às compras, são informados os valores totais do

material comprado no mês. Os demais campos são calculados automaticamente

após a entrada dos dados necessários.

O cálculo do custo unitário dos materiais consumidos é realizado através do

custo médio de aquisição dos mesmos. A soma do estoque com as compras,

subtraída da produção e das perdas geram os valores referentes ao estoque do mês

seguinte. Na parte inferior da planilha é possível realizar a conversão da quantidade

unitária de embalagens utilizadas ou perdidas na produção para o seu respectivo

valor em gramas. Esse último bloco de informações foi inserido para facilitar o

controle dos materiais e a utilização da planilha. Na figura 5 pode-se ter uma melhor

visualização da estrutura da planilha de controle dos materiais diretos.

47

Figura 5 – Planilha de controle dos materiais diretos.Fonte: dados primários.

Na planilha de controle de horas trabalhadas o objetivo era tornar possível a

obtenção de dados sobre a quantidade de horas dispensadas no processamento de

cada produto. Para tanto, os nomes dos produtos embalados num determinado dia

eram informados na coluna correspondente, sem especificar a quantidade de horas,

somente apontando os produtos que foram produzidos no dia. As horas trabalhadas

eram então alocadas para cada produto de acordo com uma jornada de trabalho de

oito horas diárias. Esse tipo de estrutura planejada para a planilha se mostrou pouco

eficaz. Isso devido à falta de precisão sobre a quantidade de horas efetivamente

utilizadas na produção. Fato esse que evidenciou a necessidade de mudanças e

reformulações na planilha. A figura 6 apresenta a formatação utilizada para a

planilha de controle de horas trabalhadas.

48

Figura 6 – Planilha de controle das horas trabalhadas.Fonte: dados primários.

A terceira planilha projetada serviu para o registro dos valores monetários

desembolsados com os gastos gerais da empresa. As contas descritas na planilha

foram identificadas e classificadas juntamente com os responsáveis da organização.

As informações sobre os valores de cada conta são obtidas, em sua maioria, de

forma extra-contábil, com exceção para os tributos e valores correspondentes a

salários. Essa configuração inicial da planilha, a exemplo da planilha de controle de

horas trabalhadas, também apresentou algumas limitações. Evidenciando então a

necessidade de mudanças nas contas nela descrita. Uma parte da planilha de

controle dos gastos gerais da empresa é apresentada na figura 7.

49

Figura 7 – Planilha de controle dos gastos gerais.Fonte – dados primários.

A aplicação dessas planilhas foi bastante importante para o levantamento de

dados necessários para o início das análises sobre os custos da empresa. Bem

como para a identificação de detalhes que deveriam ser alterados e melhorados

para a elaboração de um sistema mais eficiente, com utilização mais simplificada e

com a flexibilidade necessária no caso da incorporação de novos produtos à linha já

existente. Com essas informações pôde-se então realizar as mudanças no conjunto

das três planilhas iniciais e construir o sistema propriamente dito a partir dos dados

já obtidos.

4.3.2 Elaboração das planilhas e programação do sistema

A partir do levantamento inicial de dados sobre os processos e gastos da

empresa, iniciou-se então a etapa de análise, planejamento e programação das

planilhas que iriam compor o sistema de custos que se propôs elaborar. Nesse

momento foram realizadas as alterações nas planilhas inicias que serviram como

instrumento de coleta de dados na empresa. Essas planilhas serão utilizadas agora

para a “alimentação” das demais partes do sistema, que foi então construído com

50

base nas mesmas. Na figura 8 é apresentado o fluxo das planilhas que compõem o

sistema.

Figura 8 – Fluxo das planilhas do sistema.Fonte: dados primários.

As planilhas referentes a materiais diretos, depreciação, gastos gerais, horas

trabalhadas e receitas são utilizadas para a inserção de dados no sistema. As

informações contidas nessas planilhas devem refletir a realidade dos números com o

maior grau de precisão possível. Sempre levando em consideração a melhor relação

de custo/benefício na obtenção dos dados. As informações que fazem parte do

restante das planilhas são obtidas automaticamente ou através de solicitações do

usuário. Interação essa que se dá especialmente nas planilhas de custeio, mark-up,

ponto de equilíbrio e de gráficos, que geram informações importantes para a tomada

de decisão e análises diversas.

A base de dados do sistema, que inicialmente tinha-se planejado ser formada

pelas planilhas de materiais diretos, horas trabalhadas e gastos gerais, foi

complementada com a inserção de mais duas planilhas, a de depreciação e a de

receitas. Essas duas últimas necessárias para um tratamento e análise mais

adequados e completos dos dados financeiros da empresa.

A planilha de controle dos materiais diretos é basicamente igual à utilizada

como instrumento de coleta de dados. A estrutura de entrada de dados continua a

51

mesma, com o usuário informando as quantidades e valores dos materiais

comprados e posteriormente a quantidade de materiais consumidos e as perdas de

matéria-prima no processo. Entretanto, foram feitas mudanças na apresentação

visual da planilha, com o intuito de facilitar a leitura e visualização dos dados

históricos. Um bloco de informações sobre o estoque final foi também adicionado a

planilha para uma análise mais completa da situação do estoque de materiais diretos

ao final do mês. A figura 9 apresenta a nova estrutura utilizada na planilha de

materiais diretos.

Figura 9 – Planilha de controle dos materiais diretos.Fonte: dados primários.

A segunda planilha do sistema é a da depreciação. Essa planilha foi

adicionada à base de dados para que seja possível realizar a depreciação de

52

máquinas, equipamentos, reformas, entre outros itens, de forma automatizada e com

os devidos registros históricos. Essa planilha tem a função básica de fornecer

informações a cerca de itens a depreciar, seus valores e o tempo restante ao final do

exercício, bem como de “alimentar” a planilha de gastos gerais com o valor total da

depreciação de cada mês.

Os dados referentes à descrição do item, seu valor total, a quantidade de

meses em que deve ocorrer a depreciação e o mês em que se deve iniciar a

contabilizar os valores são informados pelo usuário. Após a entrada dessas

informações a planilha calcula automaticamente o valor mensal da depreciação do

item e adiciona esse valor no mês em que se deve iniciar a contabilização. Após o

mês de dezembro há um bloco de informações que apresenta os valores e tempos

restantes a depreciar para os próximos exercícios. Na última linha da planilha é

apresentada a soma da depreciação dos diferentes itens previamente descritos. Na

figura 10 é possível visualizar melhor a estrutura da planilha de depreciação.

Figura 10 – Planilha de controle da depreciação.Fonte: dados primários.

A terceira planilha que compõe a base de dados do sistema é a de gastos

gerais. A estrutura inicial de contas utilizada na coleta de dados apresentou

problemas de identificação de alguns gastos da empresa. Por esse motivo, no

momento de construção do sistema, foram feitas mudanças visuais e de estrutura da

planilha para uma análise mais acurada dos dados nela inseridos.

53

Na planilha inicialmente utilizada a conta transporte incorporava os gastos

com combustível e com o salário do motorista. Essa configuração mostrou-se

ineficiente no momento da separação das despesas com a mão de obra da área

comercial da empresa. Por esse motivo foi criada uma conta adicional referente ao

salário do motorista que faz as entregas, objetivando assim uma melhor visualização

e tratamento dos dados contidos nessa planilha. Outra alteração estrutural foi na

linha correspondente a depreciação, onde inicialmente tinha-se planejado inserir os

valores manualmente foi realizada uma nova programação que busca esses dados

da planilha de depreciação automaticamente. Foram realizadas ainda algumas

mudanças visuais com o intuito de tornar mais clara a leitura das informações. A

nova estrutura da planilha de controle dos gastos gerais é apresentada na figura 11.

Figura 11 – Planilha de controle dos gastos gerais.Fonte: dados primários.

A exemplo do que ocorreu com as planilhas de controle dos materiais diretos

e dos gastos gerais, a planilha de controle das horas trabalhadas também sofreu

alterações. Devido à ineficiência apresentada pela planilha na identificação da exata

quantidade de horas utilizadas no processamento dos diferentes produtos,

percebeu-se a necessidade de uma nova estruturação para essa parte da base de

dados. Nesse sentido, a nova planilha utilizada para controle das horas trabalhadas

foi elaborada separando-se os produtos em quatro blocos distintos (um para cada

54

produto), onde eram contemplados os meses e os dias para a entrada da

quantidade de horas efetivamente utilizadas na produção. Na figura 12 é possível

visualizar a nova estrutura utilizada na planilha.

Figura 12 – Planilha de controle das horas trabalhadas.Fonte: dados primários.

O bloco de meses e dias referentes ao produto Marlete se repete para os

demais produtos comercializados pela empresa. Ao final da planilha foi inserido um

resumo mensal da produção, onde é possível visualizar as horas dispensadas no

55

processamento dos produtos de forma individual e no total geral. Um último bloco de

informações referentes a quantidades produzidas no mês também foi adicionado à

planilha com o objetivo de facilitar posteriores cálculos de produtividade.

Finalizando a base de dados do sistema, percebeu-se a necessidade de se

conhecer informações a cerca das receitas da empresa. Mais especificamente sobre

a participação de cada produto na composição do faturamento total. Essa

informação é de vital importância para o rateio das despesas da empresa aos

diferentes produtos e para o cálculo de seu ponto de equilíbrio. A planilha de

controle das receitas é apresentada na figura 13.

Figura 13 – Planilha de controle das receitas.Fonte: dados primários.

A “alimentação” dessa planilha é relativamente simples, bastando entrar com

os valores correspondentes ao faturamento mensal de cada produto. Os demais

cálculos são realizados automaticamente. O bloco de informações referentes à

porcentagem de participação serve para, além de fornecer dados para outras

planilhas, proporcionar um acompanhamento periódico do perfil de vendas da

organização.

Finalizada a construção da base de dados do sistema partiu-se então para a

elaboração e programação das planilhas que irão realizar o processamento dos

dados levantados. Para tanto, formulou-se três planilhas, são elas: “Gastos com

Mão-de-obra”, “Custos e Despesas” e “Rateios”. Essas planilhas tinham como

objetivo principal realizar as devidas provisões, classificações e rateios dos gastos

da empresa, que até então não haviam sido processados. As informações obtidas

56

nessas planilhas são então utilizadas na parte gerencial do sistema, onde são

apresentados gráficos e informações mais trabalhadas sobre os custos da

organização.

A necessidade dessas planilhas de processamento foi percebida no momento

do levantamento dos primeiros dados sobre os gastos gerais da empresa. Um dos

fatores que evidenciaram essa necessidade foi a identificação de que as

informações sobre os salários e encargos trabalhistas eram consideradas sem que

houvesse uma provisão mais adequada dos gastos com décimo terceiro salário e

férias dos funcionários. Diante disso, optou-se por desenvolver uma planilha de

controle que fosse capaz de realizar uma provisão, mesmo que aproximada, dos

encargos trabalhistas não identificados anteriormente e do custo por hora da mão-

de-obra direta da fábrica. Os dados que são processados por essa planilha são

retirados exclusivamente da planilha de controle dos gastos gerais, mais

especificamente nas linhas referentes à folha de pagamento e encargos (INSS e

FGTS).

O primeiro bloco de informações da planilha de gastos com a mão-de-obra

tem como principal objetivo organizar e realizar o cálculo das provisões dos dados

referentes a gastos com pessoal da planilha de gastos gerais. Após esse

processamento os valores totais dos gastos com mão-de-obra são então separados

e classificados em gastos com mão-de-obra direta, indireta e de vendas. Onde

também são realizadas as devidas provisões. Os cálculos da planilha, em sua

maioria, são realizados automaticamente, com exceção para o custo horário da

mão-de-obra direta. Nesse bloco de informações o usuário deve informar a

quantidade de dias úteis nos respectivos meses e a carga horária padrão da fábrica,

obtendo-se assim o custo por hora da mão-de-obra. As informações processadas

nesse ponto são utilizadas pelas planilhas de custos e despesas e de rateios. A

figura 14 apresenta a estrutura utilizada na elaboração da planilha.

57

Figura 14 – Planilha de gastos com a mão-de-obra.Fonte: dados primários.

Após o processamento dos dados referentes aos gastos com a mão-de-obra,

pode-se então realizar a separação dos gastos gerais totais da organização em

custos e despesas. O sistema proposto realiza essa tarefa através da planilha de

processamento dos custos e despesas. Os dados “tratados” nessa planilha são

obtidos das planilhas de controle dos materiais diretos, dos gastos gerais, dos

gastos com a mão-de-obra e das horas trabalhadas.

Todo o processamento e cálculos da planilha são realizados

automaticamente. No primeiro bloco de informações os gastos referentes aos

processos de obtenção de receitas são classificados como despesas. Sendo então

subdivididos em despesas administrativas, despesas de vendas e despesas diretas

(impostos e comissões). Os gastos que estão associados aos processos produtivos

58

são encontrados no segundo bloco de informações da planilha. São então

classificados como custos e subdivididos em diretos e indiretos. No final da planilha

foi adicionado ainda um bloco de informações referente ao percentual de

participação de cada tipo de custo e despesa no total dos gastos gerais. A ilustração

da planilha de custos e despesas é apresentada na figura 15.

Figura 15 – Planilha de custos e despesas.Fonte: dados primários.

59

Cabe aqui destacar que os totais das contas referentes à energia elétrica e

telefone aparecem como custos indiretos e despesas de vendas, respectivamente,

devido a relativa dificuldade em realizar a separação de suas partes direta e indireta,

bem como a identificação das partes que seriam custos e despesas. Isso ocorre

principalmente devido ao fato de que a energia elétrica e o telefone são

compartilhados para todo o prédio. Dessa forma, tanto a fábrica quanto os outros

empreendimentos da família acabam utilizando esses recursos. Nesse contexto,

após a constatação de que os valores não são relativamente expressivos frente às

outras contas, decidiu-se classificar os gastos com energia elétrica e telefone dentro

dos processos que mais consumiam esses recursos. Decisão esta tomada com base

na inviabilidade referente a custo/benefício da identificação das diferentes partes

dessas contas.

É importante ressaltar ainda que os custos diretos informados na planilha de

custos e despesas aparecem em valores totais e também separadamente para cada

produto. Essa formatação foi escolhida para simplificar a programação das demais

planilhas do sistema. Com esse mesmo objetivo é que o campo referente à mão-de-

obra ociosa (tempo de mão-de-obra da fábrica que não é utilizado diretamente na

produção) foi mantido no bloco de custos diretos. Entretanto, esse valor é tratado

como custo indireto e somado à mão-de-obra indireta na realização dos rateios.

Processo esse que poderá ser realizado com as informações geradas após a

separação dos gastos em custos e despesas.

A parte do sistema que é responsável pelo rateio dos custos e despesas

indiretas aos produtos é a planilha de rateio. Os dados a serem processados nessa

planilha são obtidos nas planilhas de gastos com a mão-de-obra e na planilha de

custos e despesas. Outras duas planilhas do sistema geram informações para os

rateios, são elas: horas trabalhadas e receitas. Porém, essas últimas servem

basicamente como fonte de informações para os critérios de rateio utilizados. Os

rateios realizados na planilha são dos valores correspondentes às despesas e

custos indiretos, sendo informada a parte desses gastos que cabe a cada produto e

os critérios de rateio utilizados. Na figura 16 é possível visualizar a planilha de

rateios até o mês de junho.

60

Figura 16 – Planilha de rateios.Fonte: dados primários.

A coluna da planilha de rateios onde aparecem os critérios utilizados na

alocação tem uma função somente informacional para o usuário. Os cálculos

utilizados nos rateios são realizados de forma automática, diretamente nas células

correspondentes aos meses e contas detalhadas. A escolha dos critérios foi feita

com base no grau de relação que existe entre as contas descritas e o critério a ser

utilizado. Nesse sentido, o critério de rateio mais coerente para realizar a alocação

61

das despesas aos produtos é a porcentagem de participação nas vendas. Onde o

produto que mais vende recebe uma parcela maior de despesas.

O mesmo raciocínio foi utilizado na escolha dos outros critérios, tentando

sempre associar os gastos a ratear com os processos que tem mais relação com os

seus fatores geradores. Dessa forma, o produto que mais consumiu tempo da mão-

de-obra direta deve receber uma maior parcela dos custos referentes à mão-de-obra

indireta, energia elétrica e refeitório. Pois esses custos possuem uma relação

bastante próxima com a quantidade de tempo que se utiliza no processamento dos

produtos. De forma análoga, os demais custos indiretos têm uma relação mais

próxima com o volume de produção da fábrica, sendo possível utilizar então o

consumo de matéria prima como critério de rateio.

Finalizado o processamento dos dados sobre os gastos da empresa pôde-se

então realizar a programação da parte gerencial do sistema. As planilhas que

compõem essa etapa do projeto têm como objetivo principal fornecer informações

úteis para análise da situação dos custos dos produtos e que auxiliem na tomada de

decisão. Para tanto foram projetadas quatro planilhas, são elas: Custeio por Produto,

Mark-up, Ponto de Equilíbrio e uma parte destinada para Gráficos.

A primeira planilha gerencial do sistema é a de custeio por produto. Nessa

planilha pode-se obter informações mensais sobre os custos de cada produto

processado e comercializado pela organização. Os cálculos são realizados

automaticamente, basta o usuário clicar no botão referente ao mês que se deseja

realizar a análise. Ao lado direito dos botões aparecerá o mês que está ativo, ou

seja, o mês cujas informações sobre os custos dos produtos estão sendo

apresentadas nas tabelas.

O método de custeio que foi utilizado como base para a construção de todo o

sistema foi o de custeio por absorção. Entretanto, algumas adaptações foram

realizadas para melhor se adequar às necessidades de informações da empresa.

Um exemplo é a participação das despesas indiretas na composição do custo total

dos produtos.

Segundo o conceito de custeio por absorção as despesas da organização não

devem compor os custos dos produtos, mas sim serem lançadas diretamente contra

o resultado da empresa. Porém, para a organização pesquisada, essa metodologia

não seria muito eficaz, pois a identificação dos custos para o cumprimento de

normas fiscais e composição de estoques geraria informações incompletas sobre o

62

custo total dos produtos. Nesse sentido, de forma complementar, optou-se por

utilizar o método de custeio integral, abrangendo também as despesas indiretas da

empresa. Dessa forma, as despesas administrativas e de vendas podem ser

devidamente apropriadas aos diferentes produtos para que se obtenha uma “leitura”

mais completa da composição de seus custos totais. Na figura 17 é possível

visualizar a estrutura da planilha de custeio por produto.

Figura 17 – Planilha de custeio por produto.Fonte: dados primários.

63

Foi construída uma tabela de custo para cada produto. Os campos referentes

aos custos diretos, custos indiretos, despesas indiretas de vendas e despesas

indiretas de administração foram separados e detalhados de tal forma que se torne

possível uma identificação mais fácil e rápida das contas que tem maior impacto no

custo total do produto. A coluna das tabelas referente aos totais das contas tem seus

valores retirados das planilhas de custos e despesas e de rateios. Esses valores são

então divididos pela quantidade produzida no mês, que é apresentada na coluna de

unidades (Kg), gerando a informação dos custos unitários de cada produto. Além de

gerar informações importantes para análises diversas por parte da gerência da

empresa, a planilha de custeio fornece ainda dados para a próxima planilha

gerencial do sistema, a planilha de mark-up.

Com o intuito de simplificar a programação e a utilização do sistema o cálculo

do mark-up é realizado com base no mesmo mês de análise utilizado na planilha de

custeio. Assim sendo, para melhor identificar a fonte dos dados que estão sendo

utilizados, no início da planilha de mark-up há um campo indicando qual mês está

ativo no momento da visualização. Caso o usuário necessite alterar o mês de

análise isso deve ser feito clicando no botão do mês desejado na planilha de custeio.

A formatação utilizada na planilha de mark-up segue as mesmas linhas da

planilha de custeio, tendo uma tabela para cada produto. O Mark-up é calculado com

base no custo integral do produto. Como já se conhece os valores totais das

despesas administrativas e de vendas que cabem a cada produto elas aparecem

automaticamente nas tabelas. Caso o usuário opte por utilizar a porcentagem média

de participação das despesas indiretas no total das receitas, basta informar o valor

correspondente no campo “despesas indiretas (opção)” que os valores monetários

inseridos por padrão são retirados do cálculo. O usuário deve ainda informar a

alíquota de imposto que incide sobre seus produtos, o percentual de comissões que

são pagas aos vendedores e a margem de lucro desejada na comercialização dos

produtos. Após a inserção desses dados a planilha gera o Mark-up divisor e

multiplicador, bem como o preço de venda sugerido com base nas informações

fornecidas.

Essa planilha não tem o objetivo de simplesmente apontar qual será o preço

de venda que deve ser praticado pela empresa. Uma vez que esses preços são

definidos por uma série de variáveis de mercado, as informações obtidas com a

64

aplicação do mark-up devem ser utilizadas como balizadoras para a tomada de

decisão. A figura 18 apresenta uma ilustração da planilha de cálculo do mark-up.

Figura 18 – Planilha de cálculo do mark-up.Fonte: dados primários.

A última planilha gerencial do sistema é a de ponto de equilíbrio e há também

sete gráficos após as planilhas. Os gráficos servem para fornecer uma visualização

mais clara do comportamento de alguns números apresentados no sistema durante

o período apurado de 12 meses. Esses gráficos serão mais bem explicados e

analisados juntamente com os dados da empresa. Já a planilha do ponto de

equilíbrio, por sua vez, foi construída com o objetivo de calcular esse indicador que

65

se constitui em uma informação importante para o gerenciamento e controle dos

níveis de produção e venda da organização.

Para o cálculo do ponto de equilíbrio optou-se por realizar uma média

trimestral dos valores correspondentes ao indicador. Esse período de tempo de três

meses foi adotado pelo fato de que não seria interessante somente identificar qual

foi o ponto de equilíbrio em um determinado mês, mas sim se ter uma noção

aproximada do ponto em que as receitas se igualam aos custos totais da empresa.

Dessa forma os gestores podem melhor acompanhar e projetar os volumes de

produção e vendas da organização.

A estrutura utilizada na construção da planilha de ponto de equilíbrio é similar

as demais planilhas gerenciais do sistema. Na parte superior da planilha encontram-

se os botões referentes aos trimestres que se deseja analisar. Ao lado direito desses

botões é apresentado o trimestre ativo, ou seja, aquele cujas informações estão

sendo mostradas nas tabelas. Após a escolha do trimestre desejado e da inserção

das informações sobre preço, impostos e comissões a planilha calcula

automaticamente o ponto de equilíbrio da empresa. A planilha de ponto de equilíbrio

é ilustrada na figura 19.

Figura 19 – Planilha de ponto de equilíbrio.Fonte: dados primários.

66

Na planilha de ponto de equilíbrio o usuário deve fornecer os dados sobre o

preço de venda de cada produto e os percentuais de impostos e comissões que

incidem sobre esse preço. No bloco de informações que calcula a margem de

contribuição dos produtos os dados sobre os custos variáveis são extraídos da

planilha de custos e despesas. Mais especificamente nos campos referentes aos

custos diretos. Isso é possível dada à estreita relação entre custos diretos e custos

variáveis que ocorre na organização onde se realizou o estudo. De forma similar, os

valores referentes aos custos e despesas fixas são os mesmos classificados no

sistema como custos e despesas indiretas. Essa relação é viável decorrente das

especificidades no comportamento desses gastos na empresa em questão. As

despesas variáveis, por sua vez, são obtidas incidindo os percentuais de impostos e

comissões diretamente sobre o preço de venda informado.

Como a organização trabalha com a produção e comercialização de mais de

um produto, a margem de contribuição utilizada no cálculo do ponto de equilíbrio

deve ser o resultado da soma das margens de contribuição unitárias ponderadas

pela participação média nas vendas de cada produto. Porém, cabe aqui ressaltar,

que o perfil de vendas utilizado nesse cálculo deve ser acompanhado mensalmente

para que grandes variações no percentual de participação das vendas entre os

produtos sejam mais detalhadamente analisadas para evitar distorções substanciais

no cálculo do ponto de equilíbrio.

A margem média a ser utilizada para a identificação do indicador é calculada

na planilha de forma manual, esse procedimento é necessário devido a limitações

nos softwares utilizados para confecção e operação do sistema. Na célula de cor

azul, correspondente à margem média da planilha do ponto de equilíbrio, o usuário

deve realizar a soma das ponderações que aparecem automaticamente. Os demais

resultados são gerados sem intervenção do usuário.

Todas as planilhas que compõem o sistema possuem informações sobre sua

função e sobre algumas operações básicas que devem ser executadas para que os

cálculos sejam realizados. As células de cor azul das planilhas são liberadas para

edição e servem para os usuários inserirem os dados necessários para a geração de

informações. As demais células são então bloqueadas para proteger as fórmulas e

programações de possíveis alterações que afetariam os resultados e informações

geradas pelo sistema. Proporcionando então uma fonte de informações segura e

consistente para análises e reflexões sobre os custos da organização.

67

4.4 ANÁLISE DOS DADOS DA EMPRESA

Já durante a construção do sistema pôde-se obter informações relevantes a

respeito dos gastos da empresa e suas inter-relações com os processos produtivos.

Entretanto, essas informações iniciais começaram a fazer mais sentido após a

finalização de todas as planilhas que se propôs elaborar. Em especial as planilhas

gerenciais, com destaque para os gráficos, que tornaram possível a realização de

análises mais completas através da relação entre as diferentes informações sobre

os custos e despesas apresentadas.

Todas as reflexões aqui comentadas foram feitas com base em dados de um

horizonte de tempo de três meses, são eles: maio, junho e julho. Esse espaço de

tempo não pôde ser ampliado pela falta de registros históricos de um grande número

de gastos que seriam importantes para a análise dos custos da empresa. Porém,

apesar do período reduzido, as análises e reflexões realizadas com esses dados

foram bastante importantes.

Uma primeira informação essencial obtida ainda durante a programação das

planilhas foi a quantificação da capacidade produtiva da fábrica que era

efetivamente utilizada. Na média dos três meses analisados a quantidade da mão-

de-obra direta utilizada na produção ficou em 69,25% do total de horas disponíveis.

Partindo do pressuposto que, nessa empresa especificamente, a utilização da mão-

de-obra da fábrica tem uma relação direta com a utilização das máquinas, pode-se

concluir que a organização possui em torno de 30% de sua capacidade produtiva a

disposição para ser mais bem trabalhada. Cabe ainda destacar que a utilização da

mão-de-obra direta está superestimada, principalmente pela baixa precisão no

momento da transcrição dos dados do instrumento de coleta para a planilha de

controle das horas trabalhadas. Distorção essa que tende a diminuir com a utilização

periódica do sistema, gerando informações mais consistentes sobre esse fator.

A precisão na apuração das horas trabalhadas é importante para outras

análises. Como por exemplo, o cálculo da produtividade média por hora trabalhada

para os diferentes produtos. É possível perceber o impacto direto e substancial que

os níveis de produtividade têm nos custo unitário dos produtos. Essa reflexão foi

possível após a verificação de que o custo do produto Polvilho no mês de julho ficou

quase 5% acima do preço de venda praticado pela empresa. Fato esse gerado pela

baixa produtividade apresentada no respectivo mês para esse produto. O gráfico 1

68

mostra os níveis de produtividade dos diferentes produtos nos três meses

analisados.

Gráfico 1 – Produtividade por hora trabalhada.Fonte: dados primários.

No mês de julho, onde a produtividade do Polvilho foi bastante baixa, se

comparada a maio, os custos unitários com a mão-de-obra direta e indireta tiveram

um substancial aumento, afetando o custo final do produto. A mão-de-obra direta,

por exemplo, teve um acréscimo de 150%. Em valores monetários essa diferença foi

de R$0,12, passando de R$0,08 em maio para R$0,20 em julho. Se analisada

isoladamente, essa diferença de alguns centavos pode parecer insignificante e não

receber a devida atenção no momento da apuração dos custos. Entretanto, por se

tratar de produtos que têm preços de comercialização relativamente baixos,

compreendidos numa faixa que vai de R$1,50 até R$3,50, pequenas variações de

valores nos custos podem representar grandes impactos nas margens de lucro.

Apesar do custo do Polvilho ter se apresentado superior ao seu preço de

venda no mês de julho, não há um problema grave de lucratividade com o produto.

Essa distorção foi causada, como já comentado, pela falta de precisão na alocação

das horas trabalhadas aos diferentes produtos da empresa. Entretanto, com a

identificação desse problema, foi possível constatar que, além de uma maior

precisão no controle das horas trabalhadas, é importante cuidar da manutenção dos

volumes de produção e comercialização dos produtos. Proporcionando assim uma

economia de escala que suporte os níveis de lucratividade desejados pela empresa.

69

Atualmente a empresa mantém bons níveis de produção. Conseguindo fazer

com que seus custos e despesas indiretos, que no caso em questão se confundem

com os custos e despesas fixos, fiquem em torno de 10% de seus gastos gerais,

conforme é apresentado no gráfico 2. Esse fato proporciona uma diluição ideal

desses custos e despesas no momento da apuração dos custos unitários dos

produtos. Pode-se deduzir ainda que uma melhor utilização do excedente da

capacidade produtiva da organização, através de boas estratégias de produção e

vendas, pode proporcionar uma melhora nos seus índices de lucratividade.

Gráfico 2 – Participação dos custos e despesas nos gastos totais.Fonte: dados primários.

A importância da manutenção dos níveis ideais de escala também pode ser

observada quando se analisa a composição do preço de venda dos produtos da

empresa. A maior parcela desses preços é composta pelos custos e despesas

diretas. Restando uma margem de contribuição relativamente pequena para cobrir

os custos e despesas indiretas, bem como a margem de lucro esperada.

Utilizando como exemplo a composição de preço do produto Marlete,

apresentada no gráfico 3, pode-se extrair duas importantes informações. A primeira

diz respeito ao volume de produção e vendas da empresa, sendo que esse fator

pode impactar substancialmente a margem de lucro do produto, pois uma redução

na escala poderia aumentar a participação dos custos e despesas indiretas em

detrimento à parcela correspondente ao lucro. A segunda informação está

relacionada com a variação dos valores referentes aos gastos diretos que compõem

70

a maior parcela do preço. Variações monetárias para mais ou para menos nesses

itens devem ser acompanhadas com atenção para que se possa realizar as

projeções e análises necessárias para uma tomada de decisão antecipada e

consistente.

Gráfico 3 – Composição do preço do produto Marlete.Fonte: dados primários.

Com a aplicação do sistema na empresa pôde-se ainda obter informações

que divergem de algumas constatações dos responsáveis da organização. Uma

delas é a margem de contribuição do produto Marlete. Para a empresa esse produto

era o que possuía a maior margem de contribuição. Entretanto, após a análise dos

dados do sistema foi possível perceber que os produtos que possuem maior

margem são a farinha FF e a farinha Canarinho. Essa inferência foi feita através da

análise das margens de contribuição unitárias na planilha de ponto de equilíbrio e

confirmadas com os gráficos de composição dos preços dos produtos. No gráfico 4 e

no gráfico 5 é possível visualizar as margens de contribuição dos produtos FF e

Canarinho, respectivamente. É importante ressaltar, para um melhor entendimento

dos gráficos, que a parcela descrita como outros é a que representa a margem de

contribuição média dos três meses pesquisados.

71

Gráfico 4 – Composição do preço do produto FF.Fonte: dados primários.

Gráfico 5 – Composição do preço do produto Canarinho.Fonte: dados primários.

Outra questão importante que foi confirmada com a análise dos gráficos de

composição de preços é referente ao problema de baixa produtividade encontrada

no produto polvilho. Esse fator, como já comentado, gera uma grande variação no

custo direto da mão-de-obra a ser apropriado ao produto. Essa informação pode ser

visualizada com mais clareza no gráfico 6, onde a mão-de-obra direta corresponde a

72

8% do preço do Polvilho. Sendo que nos outros produtos esse item não passa de

2% do preço.

Gráfico 6 – Composição do preço do produto Polvilho.Fonte: dados primários.

Um último gráfico que fornece informações importantes para a tomada de

decisão é o de participação dos produtos no faturamento da empresa. Essas

informações também aparecem na planilha de receitas, porém de forma numérica. A

representação gráfica dos números lá apresentados proporciona um

acompanhamento mais claro da evolução e do perfil das vendas da empresa. Um

aspecto que deve ser analisado com atenção nesse gráfico é a variação da

participação de cada produto no faturamento total. Um aumento da participação de

um produto com maior margem de contribuição pode reduzir o ponto de equilíbrio

calculado no sistema. Por esse motivo, uma variação brusca no perfil de vendas da

organização deve ser analisada com mais detalhamento para proporcionar um

ajuste ideal desse indicador à nova situação. O gráfico 7 apresenta uma projeção

das receitas da empresa nos três meses pesquisados.

73

Gráfico 7 – Participação dos produtos no faturamento.Fonte: dados primários.

As informações apresentadas no gráfico 6 não condizem com a realidade da

organização. Os dados referentes às receitas não foram disponibilizados para a

realização do estudo. Essas informações foram então projetadas com base nos

volumes de produção de cada mês analisado e nos preços de venda praticados pela

empresa.

Da mesma forma, as informações e análises aqui apresentadas foram

estruturadas com o objetivo de manter o sigilo solicitado pela gerência da

organização. Por esse motivo não são apresentados valores monetários referentes a

gastos, custos unitários ou preços de venda praticados para cada produto

comercializado. Nesse sentido, os comentários feitos limitam-se aos dados

porcentuais e as conclusões que se pôde obter com base nessas informações.

74

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É fato que o nível de complexidade e de rivalidade no ambiente de negócios

contemporâneo está extremamente elevado. Esse cenário exige que as empresas,

sejam elas grandes ou pequenas, implementem modelos e ferramentas de gestão

eficazes e que proporcionem o crescimento ou a manutenção do negócio. Nesse

momento, as técnicas e conceitos estudados pelos profissionais da administração

podem e devem ser utilizadas como subsídios para a análise e produção de

informações importantes para as empresas.

Sem o acesso aos dados e informações atualizadas a tomada de decisão por

parte da gerência das organizações pode se tornar lenta ou defasada, não gerando

os resultados desejados dentro dos prazos determinados. Por esse motivo é que se

faz necessário uma boa organização e sistematização de procedimentos que

proporcionem a elaboração de indicadores e a obtenção de informações que

orientem as ações das empresas. Em especial as micro e pequenas empresas. Visto

que esse tipo de organização, geralmente, não tem procedimentos adequados de

levantamento e processamento de dados ou informações, acabam tornando-se mais

vulneráveis às constantes variações ou mudanças no ambiente onde atuam.

O sistema de custos elaborado nesse trabalho teve como objetivo auxiliar

uma micro-empresa a se proteger dessas variações e mudanças nos fatores

ambientais. Apesar de a organização não ter grandes problemas com os processos

e lucratividade de sua atividade, esta não deve abrir mão de conhecer e aplicar

novas formas de organizar e analisar seus dados internos. Através da identificação

dos diferentes itens de custo e despesa e da produção de informações a gerência

pode realizar projeções e planejamentos de acordo com o que o mercado está

demandando em determinado momento.

Os dados utilizados no estudo eram conhecidos da organização. Entretanto,

nunca tinham sido bem organizados e tratados de forma que pudessem gerar

informações relevantes. A investigação e levantamento dos itens de gasto que iriam

compor o sistema foi relativamente simples, em grande parte pela simplicidade do

processo produtivo e de vendas utilizado pela empresa. Porém, os dados apurados

sobre os valores dos gastos são ainda, em certo grau, bastante estimados, o que

75

pode distorcer as informações geradas nas planilhas. Situação essa que tende a

melhorar com a continuidade e aprendizado no uso do sistema.

Em geral, as conclusões que foram possíveis de se chegar com a finalização

e aplicação do trabalho foram bastante significativas para a empresa. Por

conseqüência, foram muito gratificantes para o acadêmico, pois este pôde

experimentar na prática os conceitos e teorias aprendidos na academia e constatar

os resultados positivos que esses conhecimentos podem trazer para a organização

que os utiliza. As teorias aprendidas e debatidas em sala de aula, de forma isolada,

puderam ser então inter-relacionadas e adaptadas conforme a realidade da

organização. Nesse contexto, pode-se concluir que o projeto atingiu seu objetivo

geral, pois se conseguiu construir e propor um sistema de custos que auxiliasse na

tomada de decisão da empresa pesquisada.

Por fim, pode-se ainda sugerir algumas idéias para novos trabalhos e

pesquisas junto a FF Fabricação e Comércio de Produtos Alimentícios LTDA – ME.

Uma delas é o aperfeiçoamento do sistema de custos elaborado. Utilizando para

tanto um software mais adequado para a construção de um banco de dados sobre

custos, proporcionando a geração de relatórios e informações melhor elaboradas e

com registros históricos mais abrangentes. Outra sugestão de trabalho que pode ser

realizado é um estudo de viabilidade econômica e financeira da reativação da

produção de farinha de mandioca da empresa. Visto que esse é um desejo dos

gestores, pode ser um trabalho bastante importante e útil para a organização.

76

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