Práticas de Gestão de Estoques, Armazenagem e · PDF file2 Armazenagem e Transporte”; (iv) Finalmente, na quinta e última seção, são realizadas considerações que concluem

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    Prticas de Gesto de Estoques, Armazenagem e Transporte nos Canais de Distribuio Brasileiros

    Autoria: Paulo Tarso Vilela Resende, Guilherme Dayrell Mendona

    Resumo Exigncias cada vez maiores em tempos de entrega mais curtos, reduo nos custos logsticos, menor quantidade de centros de distribuio e adiamento na customizao dos produtos contribuem para o desencadeamento de mudanas profundas no sistema de transporte e armazenagem das empresas. Nesse contexto, o gerenciamento estratgico das funes de transporte e estoques das redes de distribuio tem se destacado como uma ferramenta importante na otimizao dos fluxos de materiais e produtos, com uma associao direta com a sustentabilidade de patamares competitivos ideais. Com o propsito de se contextualizar esta discusso para o cenrio brasileiro, 86 empresas dos principais canais de distribuio do Brasil foram amostradas e analisadas em itens como custos logsticos, definio de estratgias de estoques e transporte e, por fim, sistemas de controle e gerenciamento logstico. Resultados apontam para uma tendncia de se avaliar prioritariamente os custos de transporte em detrimento dos de estoques no momento da definio das estratgias de distribuio. Alm disso, identificou-se que os sistemas de controle e gesto de transporte e armazenagem utilizados no Brasil esto mais voltados para o controle interno de movimentao de materiais nas empresas, ao invs de priorizar a integrao dos canais de distribuio como um todo. 1. Introduo A competio global est cada vez mais forando as empresas a realocar suas plantas produtivas e centros de distribuio a fim de se alcanar competitividade e eficincia em custo. Alm disso, exigncias cada vez maiores em tempos de entrega mais curtos, reduo nos custos logsticos, menor quantidade de centros de distribuio e adiamento na customizao dos produtos contribuem para o desencadeamento de mudanas profundas no sistema de transporte e armazenagem das empresas. Finalmente, fatores como a infra-estrutura de modais disponvel, questes governamentais internacionais ou interestaduais de regulao, crescente regulao social e de segurana, aumento da exigncia dos clientes, e melhoria nos recursos tecnolgicos, so tidos como essenciais na elaborao de estratgias logsticas (STANK e GOLDSBY, 2000). Nesse contexto, o gerenciamento estratgico das funes de transporte e estoques das redes de distribuio tem se destacado como uma ferramenta importante na otimizao dos fluxos de materiais e produtos, com uma associao direta com a sustentabilidade de patamares competitivos ideais. Com o propsito de se contextualizar esta discusso para o cenrio brasileiro, 86 empresas dos principais canais de distribuio do Brasil foram amostradas e analisadas em itens como custos logsticos, definio de estratgias de estoques e transporte e, por fim, sistemas de controle e gerenciamento logstico.

    Basicamente, o estudo est divido em quatro sees principais: (i) Na Seo 2, com base em uma ampla reviso bibliogrfica, os principais conceitos relacionados com o desenvolvimento de estratgias de estoques e transporte so abordados (ii) Na seo referente Metodologia, os procedimentos de coleta de dados, tratamento do banco de dados e caracterizao da amostra so apresentados; (iii) Na seo 4, resultados e anlises aplicadas ao contexto brasileiro so expostos em trs sub-sees principais: Definio de Estratgias de Distribuio, Avaliao Detalhada da Gesto de Transporte e Estoques e Sistemas de Gesto da

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    Armazenagem e Transporte; (iv) Finalmente, na quinta e ltima seo, so realizadas consideraes que concluem o trabalho, levando as principais questes do estudo.

    2. Reviso Bibliogrfica O conceito de cadeia de suprimentos prope um controle integrado sobre a movimentao de produtos desde a extrao das matrias-primas at o consumidor final. A chave para a gesto eficiente da cadeia de suprimentos planejar e controlar as atividades de transporte e os estoques como sendo uma entidade nica (CHRISTOPHER, 1992). Trs elementos so fundamentais para alcance da integrao operacional desejada:

    i) identificar a demanda de nvel de servio do consumidor final, (ii) definir onde posicionar os estoques ao longo da cadeia de suprimentos, e quanto estocar em cada ponto e (iii) desenvolver as polticas e procedimentos apropriados para gerir a cadeia de suprimentos como uma entidade nica. (CHRISTOPHER, 1992)

    O alcance da integrao entre as funes de estoques e transporte deve sempre ter como objetivo principal a diminuio da instabilidade operacional. Especificamente, incertezas na previso de demanda ou at mesmo provenientes de fatores extremos como greves operrias, desastres naturais, falncia de empresas, atos de terrorismo podem prejudicar a estabilidade do sistema logstico. Como exemplo, em maro de 2000, um incndio na planta industrial da Philips, Novo Mxico, Estados Unidos, causou a interrupo de suprimentos para empresas como a Ericsson e a Nokia (CHOPRA e SODHI, 2004). Esta ltima, por dispor de uma gama mais ampla de fornecimento no sofreu grandes danos em seu processo produtivo, enquanto que a Ericsson teve prejuzo de aproximadamente 400 milhes de dlares em vendas. Chopra e Sodhi (2004) afirmam que:

    Para se prevenir contra perdas significativas nas vendas..., os gestores devem desenvolver um delicado equilbrio para manter nveis ideais de estoque, capacidade de produo e transporte ao longo de toda a cadeia de suprimentos em um contexto ambiental de mudanas rpidas e de extremo dinamismo (CHOPRA e SODHI, 2004).

    Normalmente, o aumento dos nveis de estoque a soluo adotada para garantia de um fluxo logstico estvel. Entretanto, o uso indiscriminado dessa prtica pode causar srios prejuzos operacionais e no faturamento da empresa e ainda trazer poucos benefcios. Alm disso, o aumento dos estoques no sentido inverso da cadeia de suprimentos tende a ser ampliado atravs de polticas de estoque de segurana diferenciadas, como exemplo. O Efeito Chicote, como este fenmeno chamado, um dos grandes desafios de integrao da cadeia de suprimentos face s incertezas operacionais. Pode-se mitigar tal efeito atravs da reduo de lead times produtivos, reviso de procedimentos de compra, limitao na flutuao nos preos e a integrao no planejamento e avaliao de desempenho de toda a cadeia de suprimentos (Lee e Billington, 1992; Towill, 1996; Fransso e Wouters, 2000 In: Svensson 2005). Dessa forma, percebe-se que, cada vez mais, se trocam estoques por informao e se dinamizam as operaes. A estratgia de adiamento na customizao do produto e na movimentao de carga at que a informao especfica de compra dos consumidores seja registrada um bom exemplo disso. Rabinovich e Evers (2003) provam em seu estudo que este tipo de estratgia gera impactos positivos na medida em que diminui o estoque

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    especulativo da empresa. Christian (1997, In: RABINOVICH e EVERS, 2003) cita o sucesso obtido pela montadora alem BMW que reestruturou sua rede de distribuio com um sistema de informao baseado no conceito de adiamento, obtendo a reduo do tempo de ciclo do pedido de 30 para 10 dias. Ou seja, obtm-se mais flexibilidade e os nveis de estoque tambm decaem (ZOIA, 2001 In: RABINOVICH e EVERS, 2003). Independentemente da estratgia de agregao de valor utilizada, importante manter o objetivo estratgico de no desequilibrar a relao entre nveis de estoque e a intensidade no transporte de carga (SVENSSON, 2003). Pode-se dizer tambm que os benefcios provenientes de operaes logsticas em pontos de ao de produo, centro de consumo e de suprimento so anulados sem o suporte de um sistema de transporte bem planejado e implementado. Em estudo conduzido por Lemoine e Skjoett-Larsen (2004), provou-se que a diminuio no nmero de centros de armazenagem gerou uma diminuio na tonelagem transportada por quilmetro til, exigindo uma diferente estratgia de entrega e, conseqentemente, de planejamento de transporte. Diante disso, deve-se buscar a integrao do planejamento de estratgias de transporte de produtos com aquelas que suportam a gesto de estoques. Um exemplo de boa prtica nessa rea a tcnica de merge-in-transit. considerado como um promissor mtodo de administrao logstica j que promove a diminuio dos nveis de estoque ao reestruturar a atividade de transporte correlacionada (Ala-Risku et al., 2003; Karkainnen et al, 2003). Freqentemente confundido com o cross-dockingi, o merge-in-transit pode ser definido como sendo:

    Um modelo de entrega em que carregamentos oriundos de fornecedores diferentes ou plantas industriais distintas de uma empresa so consolidados em uma nica entrega em um ponto de transio qualquer o qual no opera com estoques. (Ala-Risku et al., 2003)

    Essa tcnica propicia menores tempos no ciclo de entrega, maior possibilidade de ampliao das opes de customizao. Entretanto, requer um eficiente modelo organizacional e operacional para suporte do fluxo de produtos e informaes entre os agentes do canal de distribuio, sendo difcil de ser implementado em larga escala. De uma forma geral, esse mtodo mais aplicvel a situaes em que o pedido infreqente e inclui a necessidade de unio de diferentes componentes de entrada para formar o produto inteiro, ou quando o recebimento de cargas bastante custoso para a empresa (Ala-Risku et al., 2003). Apesar dos benefcios evidentes, a aplicao de sistemas como o merge-in-transit pode se tornar invivel para fluxos logsticos internacionais. A ampliao da distribuio para um cenrio global exige um esforo ainda maior de integrao estratgica das atividades de transporte e armazenagem (MATTSON, 2003; KORNELIUSSEN e GRONHAUG, 2003). O processo de globalizao afeta a distribuio das empresas na medida em que os varejistas e atacadistas so players mundiais, a produo requer uma coordenao global e as empresas produtoras tambm se globalizam. Dessa forma, a cultura empresarial acaba se transformando devido crescente variedade de novos agentes includos nos