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DESEMBAR UE O REVISTA N.º 25 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEMBRO 2016

associacaofuzileiros.pt · Publicação Periódica da Associação de Fuzileiros. Revista n.º 25 • Novembro 2016. Propriedade. Associação de Fuzileiros Rua Miguel Pais, n.º

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Publicação Periódica daAssociação de Fuzileiros

Revista n.º 25 • Novembro 2016

PropriedadeAssociação de Fuzileiros

Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq.2830-356 Barreiro

Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461email: [email protected]

www.associacaofuzileiros.pt

Edição e RedacçãoDirecção da Associação de Fuzileiros

DirectorJosé Ruivo

Directores AdjuntosLeão Seabra e Benjamim Correia

Editor PrincipalBenjamim Correia

ColaboraçõesDelegações da AFZ, CM, JR, LS, BC, Ribeiro

Ramos, Miranda Neto, José Horta, Paulo Gomes da Silva e Adelino Couto

Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Mário Manso, António Fernandes e MLS

Capa (Arranjo): Manuel Lema Santos

Coordenação eprodução gráfica

Manuel Lema [email protected]

Impressão e acabamentoGMT Gráficos, Lda.

Rua João de Deus, n.º 5-C2700-486 Amadora

Tel.: 217 613 030 • Telem.: 919 284 062email: [email protected]

Tiragem2.000 exemplares

Depósito legal n.º 376343/14ISSN 2183-2889

Não reconhecemos qualquer nova forma de ortografia da língua portuguesa mas, no respeito por diferente opção, manteremos os textos de terceiros aqui publicados que

configurem outra forma de escrita.

índice ficha técnica

O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

Editorial Ser Camarada 3

Almoço de Natal Almoço de Natal 2016 – Convite 4

Dez de Junho Comemorações Oficiais e Homenagem aos Combatentes – XXIII Encontro Nacional 5

Mensagem do Presidente da República Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa 6

Alocução do VAlm Victor Manuel Lopo Cajarabille 7

Alocução do Tenente-Coronel Brandão Ferreira 8

Corpo de Fuzileiros Juramento de Bandeira – Curso de Formação Básica de Praças (1.ª Edição 2016)

Dia da Escola de Fuzileiros 10

Alocução do Comandante da Escola de Fuzileiros CMG FZ Pacheco dos Santos 11

Pensamentos & Reflexões Sobre a Reestruturação do Corpo de Fuzileiros

Apontamento do CMG FZ (Ref) Hernâni Vidal de Rezende 14

Bissau em Chamas – Os fuzileiros de volta à Guiné 18

Dia do Fuzileiro Dia do Fuzileiro 21

Discurso do Comandante do Corpo de Fuzileiros CALM Luís Carlos de Sousa Pereira 22

Discurso do Presidente da Direcção AFZ José António Ruivo 23

Poesia – Fuzileiros 24

Homenagem

Capitão de Mar-e-Guerra Alberto Rebordão de Brito – 1942-1994 27

Almirante Eugénio Ferreira de Almeida e Comandante João T. Fontes de Sousa Campos 37

Notícias Encontro Anual do 18.º CFORN – 45.º Aniversário 39

Delegações Delegação do Algarve 41

Delegação do Douro Litoral 42

Delegação de Juromenha/Elvas 44

Delegação da Polícia Marítima 45

Cadetes do Mar

Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros 46

Divisões Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas 48

Convívios Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12 – Guiné 1970/71 50

Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 9 – Moçambique 1967/69 51

Companhia de Fuzileiros Especiais N.º 10 – Moçambique 1971/73 51

DFZJE – Convívio Fuzileiros – Escola de 87 52

Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 7 – Guiné 1966/68 53

Obituário 55

Diversos 55

editorial

3O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

Ir à origem das coisas é, por vezes, uma forma simples e pura de ver a realidade em que vivemos, mergulhados que estamos na normalidade do adquirido, sem questionar as causas e os porquês.

Camarada é o tratamento normal entre os fuzileiros, à semelhança do que acontece com a generalidade dos corpos militares. A origem do termo é relativamente evidente, mas nem por isso pensamos nela: etimologicamente, a palavra camarada vem do latim “camera” no sentido de quarto e dela deriva também a palavra camarata. Ora, é esse sentido de coletividade, de partilha de espaços e de interesses que está associado à palavra camarata.Todos nós, fuzileiros, nos sentimos parceiros de uma causa, de um conjunto de valores, de objetivos e quiçá de destinos comuns, porque fomos formados numa corporação militar, porque todos convivemos em camaratas. Esta vivência em espaços partilhados é um fator de união, que se traduz num tratamento que nos é caro. Tal como nas famílias, a experiência de vida numa mesma casa, o uso de um mesmo espaço, marca-nos para sempre, fazendo parte daquilo que somos.

Camarada é quem partilha connosco uma camarata, um bote ou um aquartelamento, mas é mais do que isso – é um símbolo da solidariedade e do espírito de entreajuda que a vivência em espaços comuns envolve.

Outras agremiações utilizam outros termos – companheiro (alguém com quem se come e compartilha o pão, “cum panis”) ou colega (alguém que é do mesmo “colégio”, no sentido de corporação profissional ou académica). Na vida militar, foi a ligação ao espaço físico da camarata que prevaleceu e ficou no tratamento corrente entre os seus pares.

Mas mais importante que a etimologia da palavra é o seu conteúdo. No fundo o que importa é o sentimento de pertença a um corpo comum, que todos os fuzileiros vivem e que exteriorizam ao nomear os seus camaradas, como algo de seu … do mesmo modo que se apresenta um irmão.

Camarada é alguém com quem nos sentimos bem e que connosco partilha ideias e objetivos, alguém com quem podemos contar nos bons e nos maus momentos, alguém de quem nos orgulhamos quando se destaca pelas suas ações valorosas, alguém que nos deixa triste nas suas derrotas pessoais ou profissionais.

Ser camarada é ser fiel a princípios e valores comuns, forjados pela experiência de vida em coletividade, pela formação militar, pelos laços de amizade e de ajuda que o conceito de camaradagem envolve. A camaradagem é um ato que implica aceitação do outro nas suas diferenças e atenção pelas suas necessidades.

Ser camarada é algo que nos gratifica porque sabemos que é na dádiva que está o proveito. É também algo que nos dá segurança, porque sabemos que o grupo – os nossos camaradas – está lá para nos apoiar, para nos defender quando tal for necessário, que está presente nos momentos difíceis e nos dias de convívio e de alegria… tanto na guerra como na paz.

Camarada, tal como fuzileiro, é para sempre!

José RuivoPresidente da Direcção

Ser Camarada

José Ruivo

almoço de natal

4 O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

ALMOÇO DE NATAL 2016(10 de Dezembro às 12:30 horas)

CONVITE

A Direcção da Associação de Fuzileiros convida todos os sócios e familiares a estarem presentes no Almoço de Natal, no dia 10 de Dezembro, e deseja um Santo Natal e um Ano Novo cheio de Saúde e Paz.

O Almoço terá lugar no Restaurante “Quinta da Alegria” na Penalva, Barreiro:

Coordenadas GPS: N 38. 60680 W -9.01689

ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROSFundada em 29 de Março de 1977

Preço: • Adultos: 22 botes

• Crianças (4-10 anos): 11 botes

Aperitivos:

• Martini

• Moscatel de Setúbal

• Gin

• Sumo de Laranja

• Água com e sem gás

• Croquetes de carne

• Pastelinhos de bacalhau

• Tâmaras com bacon

• Rissóis de camarão

• Tostas com queijo fresco

• Canapés de atum

• Ovinhos de codorniz

• Chouriço e Morcela assados

• Frutos secos

Quentes:

• Creme de Legumes

• Bacalhau com broa em Base de Espinafres

• Lombinhos de Porco à Inglesa

Sobremesas:

• Bolo Pingado de Ananás ou Salada de Frutas

Bebidas:

• Vinho branco

• Vinho tinto

• Sangria

• Águas Minerais

• Cerveja

• Refrigerantes

• Café

Digestivos (servidos à mesa)• 1 por pessoa

Ementa

Importante: Agradece-se a todos quantos desejem estar presentes no nosso almoço de Natal que efectuem as suas inscrições até ao dia 2 de Dezembro de 2016 através dos seguintes contactos:

tel.: 212 060 079, tlm.: 927 979 461, email: [email protected]

Fuzos – Prontos! Do mar – P’rá terra! Desembarcar – Ao assalto! Desembarcar – Ao Assalto! No mar e onde necessário!

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dez de junho

O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

As comemorações do 10 de Junho de 2016 centraram-se este ano em Lisboa. As cerimónias comemorativas e res-pectivo desfile militar tiveram lugar na magnífica praça do

Terreiro do Paço, sala de visitas de Lisboa.

A Associação de Fuzileiros foi uma das organizações convidadas a estar presentes neste evento e a desfilar com os seus veteranos que, neste caso particular, pertenciam quase todos à nossa Dele-gação de Juromenha/Elvas e que, como habitualmente, estiveram ao mais alto nível.

A Associação de Fuzileiros esteve representada na tribuna Presi-dencial pelo seu Presidente da Direcção.

Também, e como já vem sendo tradição, a Comissão Executiva para a Homenagem Nacional aos Combatentes 2016 promoveu, nesse mesmo dia, junto ao Monumento aos Combatentes do Ul-tramar, em Belém, o seu XXIII Encontro Nacional.

As cerimónias tiveram por objectivo homenagear todos aqueles que tombaram em defesa dos valores e da perenidade da Nação Portuguesa.

Portugueses, combatentes ou apenas cidadãos que amam a sua Pátria, reuniram-se ali em grande número para participarem nes-ta homenagem que, tão justamente, ano a ano se repete.

Como vem sendo habitual a Associação de Fuzileiros esteve re-presentada nas cerimónias por elementos da sua Direcção e por inúmeros Fuzileiros que, envergando as suas boinas, integraram o desfile de veteranos.

O extenso bloco de Fuzileiros, encabeçado pelo Guião da Associa-ção de Fuzileiros e comandado pelo Sargento-Mor Fuzileiro José Talhadas, desfilou, garbosamente, perante o público e entidades presentes, prestando homenagem aos militares mortos em defe-sa da Pátria, junto a Monumento ao Combatente.

Com a devida vénia e pelo seu alto significado patriótico, enten-demos dever publicar aqui a mensagem de Sua Excelência o Pre-sidente da República dirigida aos combatentes bem como os dis-cursos proferidos na ocasião pelo senhor Presidente da Comissão Executiva para as cerimónias, Vice-Almirante Victor Lopo Cajara-bille, e pelo orador principal, Tenente-Coronel Brandão Ferreira.

Benjamim CorreiaSóc. Orig. n.º 1351

Vice-Presidente da Direcção da AFZ

Comemorações Oficiais eHomenagem aos Combatentes

XXIII Encontro Nacional10 de Junho de 2016

6 O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

dez de junho

Mensagem doPresidente da República

Prof. Doutor Marcelo Rebelo de Sousa

Combatentes,

Não é sem emoção que me junto a vós nesta solene e emblemá-tica comemoração.

A vossa dolorosa prova de guerra, a sabedoria para suportardes os seus corolários ao longo da vida e a forma realista e intrépida como reagis, dão-vos, mais do que a qualquer outro, o direito de testemunhar e de serem escutados em defesa da paz.

O combatente, acima de todos os atores da guerra, anseia pela paz, pois mais do que qualquer outro conhece o horror da batalha e carrega no seu íntimo as feridas mais profundas e as cicatrizes mais devastadoras.

Embora a comparação da crueldade e da violência entre conflitos seja um exercício estéril e quase sem sentido, creio ser justo ao conceder às duas grandes guerras mundiais ocorridas no sécu-lo passado a primazia dos atos mais desumanos cometidos pela humanidade.

Portugal, que desde muito cedo na sua História compreendeu a força e a necessidade das alianças, como garantia da soberania, enquanto Nação, e da proteção e segurança do seu povo, foi um dos Estados que participou ativa e convictamente no sinistro pal-co da Primeira Guerra Mundial, ombreando com os países aliados na defesa de uma Europa livre e progressista, capaz de permitir o tão desejado desenvolvimento dos povos, ao abrigo de uma Euro-pa solidária e em paz.

Do primeiro conflito à escala mundial, ressoam os feitos heróicos dos militares portugueses que combateram na Batalha de La Lys, na Flandres, sobre a qual passaram quase cem aos.

A nossa memória recorda o então recém-criado Corpo Expedicio-nário Português que defendeu com invulgar e reconhecidas co-ragem e firmeza, apesar dos escassos recursos humanos e ma-teriais, os onze quilómetros de pântano que formavam a linha da frente aliada. Esta batalha constitui-se como um dos mais cruéis confrontos do Corpo Expedicionário Português.

Mas os vossos feitos foram, por seu turno, mais duradouros, numa longa e difícil campanha em terras africanas, que testemu-nha o sacrifício heróico de cada homem que um dia foi rosto na guerra, soldado de um povo, mas sobretudo que procurou, pelas

suas ações cumprir o desígnio de Portugal. São heróis que nós queremos perpetuar na nossa memória coletiva.

E para manter viva a História da nossa Pátria, esculpida neste Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar, evocamos, hoje, todos aqueles que lutaram ao serviço de Portugal… mas não só, pois um memorial como este fala das responsabilidades de cada um de nós. Não podemos esquecer o passado e temos que o compreender para construir um futuro melhor. É com este sentimento de renovação e incessante procura desse futuro me-lhor que celebramos este dia de Portugal e da Portugalidade.

Como vosso Comandante Supremo quero estar atento e ser um parceiro inspirador nos vossos esforços.

Assim, cumpre-me e cumpre a todos os portugueses prestar sentida homenagem aos militares que então combateram pe-los ideais da Nação Portuguesa, que hoje ainda preservamos e que neste dia se revestem de especial significado, expressando o mais solene respeito pelo sacrifício dos nossos antepassados, demonstrando a coragem para prosseguir o caminho e a visão de uma nação com quase nove séculos de história, percebendo a essência da identidade lusitana enquanto povo sem fronteiras.

Juntos, comprometemo-nos, aqui, a recordar que o amor à Pátria é condição essencial para o progresso e que, por maior que seja a intempérie, jamais abdicamos de Portugal.

7O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

dez de junho

Alocução doVAlm Victor Manuel Lopo Cajarabille

Excelentíssimas Entidades civis, militares e religiosas,

Digníssimos Convidados,Caros Combatentes,Portugueses.

Esta cerimónia destina-se a homenagear todos os que comba-teram por Portugal em qualquer época e em qualquer lugar do mundo. Por essa razão foi escolhido o dia de Portugal, porque só a dedicação ao país justifica o esforço e o sofrimento inerentes às campanhas militares.

Mas, de entre tantos, devemos destacar os que sacrificaram a própria vida em função da exigência das missões e dos atos de coragem e bravura, bem como os que pelos mesmos motivos fi-caram marcados para o resto da vida com deficiências relevantes.

Parece-me ainda pertinente exaltar os nossos camaradas con-temporâneos que se bateram no Ultramar e com os quais convi-vemos e partilhamos a mesma vontade de honrar Portugal. O mo-numento que se ergue à nossa frente significa que a sua memória jamais será apagada.

Dir-se-á que esta homenagem é um ato simbólico, o que é ver-dade. Mas, na realidade, os valores que afirmamos e defendemos ultrapassam em larga escala o simbolismo, porque se trata de um património da história de Portugal, escrito com o sangue dos combatentes. Compete-nos respeitar e louvar estes portugue-ses, os melhores de nós, que nos legaram o exemplo sublime da generosidade, dedicando à Pátria o seu maior sacrifício, sem recompensa possível.

A Pátria deve ser encarada como a nossa família alargada e que inspira responsabilidades comuns pelo destino coletivo. Todos os portugueses têm o direito e o dever de defender a Pátria, con-forme se encontra consagrado na Lei. Porém, os combatentes diferenciam-se pela natureza dos perigos que enfrentam.

Para honrar os que morreram pela Pátria é igualmente necessário dignificar os vivos que se bateram por ela e os que estão prontos a fazê-lo. Por isso, não esquecemos os militares que, hoje e cer-tamente amanhã, continuarão a participar em teatros de opera-ções em que o combate é pelo menos uma possibilidade.

Combatentes!

Temos também a grande responsabilidade de transmitir uma mensagem de ânimo às novas gerações para que não deixem de lutar por Portugal com ou sem armas, conforme as exigências.

E não se pense que no futuro os conflitos armados serão raros ou muito pouco prováveis ou que o envolvimento de Portugal não seja requerido.

O ambiente internacional de hoje é instável e imprevisível carac-terizado por ameaças que não vão desaparecer certamente nas próximas décadas. Portugal não está isolado no sistema interna-cional e a qualquer momento pode ser compelido a participar em operações militares com qualquer grau de intensidade.

Portanto, será sempre necessário encontrar a força, a energia e a vontade de fazer sacrifícios pelo país, especialmente quando as circunstâncias são mais penosas.

Combatentes!

Dedicação, honra e disciplina são três grandes referências que interiorizamos na vida militar em comunhão com os nossos com-panheiros. Sabemos o que significa cumprir um dever arrojado, sabemos apreciar a solidariedade que emerge nos momentos su-premos para nos ajudarmos mutuamente.

Hoje e sempre afirmamos que os mesmos sentimentos perduram para além da vida e a vossa presença nesta evocação é um sinal inequívoco de que esta homenagem é profundamente sentida e desejada pelos que serviram Portugal com grandeza.

Os nossos antepassados que fizeram história e que combateram antes de nós iluminaram o caminho para que os pudéssemos se-guir quando necessário. Legamos aos vindouros a mesma memó-ria agora ajustada aos tempos modernos, como marca da nossa identidade.

A missão que assumimos está assim definida, com a certeza de quem pertence ao povo de Portugal com orgulho e devoção.

Honremos os combatentes, viva Portugal!

8 O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

dez de junho

Alocução doTenente-Coronel Brandão Ferreira

“Estes homens, nos tempos de lutas e de crises,tomam as velhas armas da Pátria, e vão, dormindo mal,com marchas terríveis, à neve, à chuva, ao frio,nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos,para que nós conservemos o nosso descanso opulento.Estes homens são o povo, e são os que nos defendem”.

Acabo de ler um trecho de “O Povo”, de Eça de Queiroz.

Bom dia a todos.

Os meus agradecimentos por me dispensarem uns minutos da vossa atenção.

A Constituição da República Portuguesa (CR), apesar de ser a mais extensa que tivemos, desde 1822, não encontrou espaço nos seus 296 artigos e sete revisões, para referir uma única vez a palavra “Nação” – a Nação dos Portugueses.

Já relativamente à palavra “Pátria”, a Constituição é mais pródiga: invoca-a, nada mais, nada menos, do que uma vez, mais concre-tamente no seu artigo 276, e cito “A defesa da Pátria é direito e dever fundamental de todos os portugueses”!

É sabido que a defesa da Pátria não se faz apenas de armas na mão; essa defesa pode e deve, estender-se a todas as áreas da actividade humana.

Mas convém não esquecer que a defesa armada é o último argu-mento, que se faz em extremo e pode implicar o sacrifício de bens, sangue e vida.

E, ao ter-se abandonado o Serviço Militar Obrigatório, parece que a defesa da Pátria – esse dever e direito fundamental, segundo a Constituição, ficou direito de todos e dever só de alguns…

A Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas, por sua vez, con-tinua omissa sobre a “Nação”, mas já fala duas vezes em Pátria; no seu artigo 9º repete a fórmula da Constituição; e no Art.º 22 afirma peremptoriamente que, “será assegurada de forma perma-nente a preparação do País, designadamente das Forças Armadas para a defesa da Pátria” (atenção, eu só estou a dizer o que está lá escrito, não confundir com o que se tem feito…).

Ora haver Nação sem Pátria é curto; mas haver Pátria sem Nação, é impossível!

Porém, não havendo aparentemente, Nação, o Estado, que é jus-tamente a Nação politicamente organizada, representará, então, quem ou o quê?

Ora se o Estado não representar a Nação, não pode sentir a Pátria como sua, tão pouco a entender.

Portugal é, todavia, uma Nação coesa, seguramente desde o tem-po do esclarecido Rei, o Senhor D. Dinis; com as mais antigas fronteiras estáveis do mundo, mau grado o esbulho pendente de Olivença; formou um Estado Nacional Português, desde o tempo do preclaro Rei, Senhor D. João II e ganhou consciência que era uma Pátria, senão antes, garantidamente, depois de Camões ter escrito os Lusíadas!

E Camões – que também foi um combatente – não se esqueceu de, neles, referir a Nação – fê-lo, até, por sete vezes – e não foi avaro em relação à Pátria já que a evoca em 35 ocasiões!

E a obra de Luís Vaz – cuja morte neste dia também evocamos – foi-lhe tão superior e transcendente, que ele próprio se enganou

ao dizer, pressentindo o fim, que “morria com a Pátria”, antevendo a ocupação castelhana.

O certo é que, a Nação que já era Pátria, sobreviveu aos 60 anos da Coroa Dual Filipina e passou a viver de vida própria, qual fénix renascida!

O que atrás se disse representa, pois, a dissonância existente en-tre o Estado e a Nação, que é a razão por que nós nos reunimos aqui, desde há cerca de 25 anos, a comemorar o Dia de Portugal, honrando os combatentes, enquanto as figuras que ocupam tran-sitoriamente as cadeiras do Poder – Poder que está hoje, maiori-tariamente, fora do país – estão sempre noutro lado. E quanto aos combatentes por norma, aos costumes dizem nada.

Essa é também a razão pela qual as Forças Armadas só voltaram a integrar as comemorações oficiais do feriado nacional, há 10 anos, depois delas terem estado arredadas cerca de três décadas.

E caros compatriotas aqui presentes, não somos nós que estamos mal; “eles” é que se afastaram do trilho certo. Do trilho do Dever, da Honra, do Patriotismo, do amor a Portugal.

Esta cerimónia, singela mas muito digna, realizou-se sempre sem se pedir um ceitil que fosse, ao Estado e junto a um monumento, em memória dos combatentes, em que nada se pediu, também, ao Estado – aliás, em várias alturas, teve que ser construído com a oposição desse mesmo Estado.

Parece que a frase, entre muitas, célebre, do grande português e militar, que foi o Tenente - Coronel Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque, de que “Portugal é obra de soldados” passou a estar na moda.

Mas estando ou não, na moda, essa frase foi sempre uma rea-lidade, pois sem soldados – isto é, sem combatentes – não ha-veria território, a tal “nesga de terra debruada de mar”, no dizer de Torga; não haveria população; não haveria matriz cultural; não haveria segurança, não haveria Justiça, não haveria Bem-Estar, não haveria liberdade.

E quem permitiu e fez isto? Pois foram os soldados, os combaten-tes, o tal povo, do Eça.

Onde se devem individualizar as mães e as mulheres, pois foram elas que sempre aguentaram a rectaguarda!

Por isso todos nós devemos estar orgulhosos dos nossos comba-tentes; de quem disse “pronto”, quando chegou a hora; quem lu-tou quando foi preciso lutar; quem não virou a cara aos sacrifícios; quem não desertou do combate ou, pior ainda, quem traiu a terra que lhe serviu de berço, a terra dos seus pais. Porque, desgraça-damente, desses sempre os houve e ainda há. Também deles fa-lam “os Lusíadas” e não há estátuas, nomes de ruas, séries de te-levisão, condecorações, prémios, branqueamento da História, etc., que possa apagar essa realidade da memória colectiva da Nação.

Pelo menos enquanto restar um português com algum saber, ver-gonha na cara, coluna direita e bem - querer na alma!

9O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

dez de junho

Caros compatriotas, o combate não terminou com aqueles que hoje homenageamos e desenganem-se aqueles que julgam que não teremos de guerrear, novamente, ou que o terrorismo é ape-nas uma expressão de lunáticos contemporâneos, já que a sua origem remonta ao século XI, ao “velho da montanha” e à seita dos hashashin e, modernamente, em termos de terrorismo de Estado, à Revolução Francesa de 1789.

Temos que nos preparar para os combates do futuro.

Os nossos antepassados não andaram a trabalhar, a lutar, a edifi-car e a expandir o nosso país, desde 1128, para agora estarmos a alienar ao desbarato, a nossa soberania, a nossa nacionalidade, a nossa cultura (onde a língua tem um lugar de destaque), as nossas gentes, o nosso património e a nossa terra.

Para ficarmos escravos de dívidas perpétuas e enredados em leis alheias, iberismos serôdios ou federalismos espúrios; sermos, eventualmente, submersos por vagas de estranhos, cujas matrizes culturais não estejamos aptos a integrar, sem perdermos a nossa; e a caminhar para, a breve trecho, não haver um Km2 de território em mãos portuguesas.

E, outrossim, por nos estarmos a suicidar colectivamente, por via de excesso de emigração, imigração, leis de naturalização erra-das, quebra demográfica gravíssima e corrupção galopante.

Finalmente para sermos reféns de organizações sem rosto oficial, de carácter internacionalista e mais ao menos secretas ou discre-tas, que ninguém elegeu e que transformam, só por si, a Democra-cia e a Justiça, numa ficção.

E em vez das cinco Quinas passarmos a ter como símbolo o “Deus Mamon”.

Temos de olhar à nossa volta, acordar e reagir!

É que, como disse o tão mal citado Fernando Pessoa, “só existem Nações, não existe Humanidade”.

Caros compatriotas, esta cerimónia destina-se à exaltação da memória dos combatentes, nossos antepassados ou contempo-râneos, mas destina-se também, aos que hoje vivem e a quem compete receber e passar o testemunho.

Pois deles é o futuro e, por isso, a quem compete refletir sobre o exemplo dos que caíram ou se sacrificaram no campo, que tem de ser da Honra, enquanto as imperfeições da natureza humana não permitem a erradicação da guerra e outras imoralidades, na eterna luta entre o Bem e o Mal.

Devemos, deste modo, curvar-nos, reverentes e obrigados, junto aos nomes daqueles que estão gravados nos muros deste me-morial, que combateram nas últimas das centenas de campanhas ultramarinas que realizámos nos últimos seis séculos (não foram seis décadas…), fazendo jus ao Padre António Vieira que um dia disse que “Deus deu aos portugueses um berço estreito para nas-cer e o mundo inteiro para morrer”.

Evoco em nome de todos, aquele cujo nome figurou primeiro nes-te local: o do Subchefe da polícia Aniceto do Rosário, morto em combate, que na iminência de um ataque dos indianos disse ao Governador, “Parta V. Exª descansado que eu não deixarei ficar mal a bandeira portuguesa”.

E não posso deixar de dizer, com todas as fibras do meu ser, que eles lutaram bem, competente e vitoriosamente, numa guerra jus-ta, em termos humanos e que, infelizmente terminou de forma trágica e não merecida.

Nesta luta fizemos frente à maior campanha montada a nível glo-bal e mundial, contra a Nação dos Portugueses, desde a Guerra da Restauração.

Nela chegámos a manter 230.000 homens em pé de guerra, em quatro continentes e três oceanos, a combater durante 14 anos, em três teatros de operações enormes, distantes entre si e a então Metrópole – que era a base logística principal – por milhares de quilómetros, sem fazer uso de alianças militares e sem generais ou almirantes importados, o que já não sucedia desde Alcácer--Quibir.

Usufruindo de uma logística notável – basta comparar com o que se passou com a nossa participação na I Guerra Mundial – que já não conseguíamos montar tão bem, desde que enviámos a ter-ceira Armada, à Índia, comandada pelo João da Nova, em 1501!

Abro um parêntesis para destacar a Marinha Mercante, neste es-forço logístico, sem a qual não poderíamos ter reagido rapidamen-te nem sustentado tão longo período de operações.

Hoje, dos 70.000 navios mercantes existentes no mundo, apenas uma dezena são de armadores portugueses e ostentam o pavilhão nacional. Nem meio batalhão conseguem transportar…

Nesta campanha só não conseguimos resistir à miserável invasão de Goa, Damão e Diu, pela União Indiana, em 1961, pela enorme desproporção de forças em presença e pela usual hipocrisia das relações internacionais. Mesmo assim ainda conseguimos pô-la em sentido durante mais de 10 anos – não foi coisa de somenos.

Nova Deli usou o “direito da força” mas nunca teve a força do Direito, nem da Razão!

Toda esta acção, a todos os títulos magnífica, não encontra paralelo em nenhuma campanha contemporânea, mas foi apenas corolário daquilo que o escritor americano, James Michener, disse de nós e cito: “Nesses anos quando um soldado português desembarcava de um dos barcos da sua nação para servir num forte de Moçam-bique, ou em Malaca, ou nos estreitos de Java, já previa, durante o seu tempo de serviço, três cercos, durante os quais comeria erva e beberia urina. Estes defensores portugueses contribuíram para uma das mais corajosas resistências da História do Mundo”.

A estes se devem juntar todos aqueles e seus descendentes, que desde a tarde de S. Mamede, acompanharam o nosso pai, Afonso Henriques, e têm mantido o seu legado até aos dias de hoje.

Lembrar o seu exemplo e preservar a sua memória, é tarefa in-gente de todos os bons portugueses, pois tal deixou de ser feito na escola, na generalidade dos “média” e quase desapareceu do discurso político a não ser em frases de circunstância, ditas sem convicção.

Em 1582, esse grande patriota que foi Ciprião Figueiredo de Vas-concellos, Governador das Ilhas dos Açores, escreveu ao monarca Habsburgo, que reinava em Madrid e atirou-lhe, “Antes morrer li-vres que em paz sujeitos” e logo acrescentou, “nem eu darei aos moradores destas ilhas outro conselho, porque um morrer bem é viver perpetuamente”.

Afirmamos hoje, o mesmo, com Esperança e acrisolada Fé, em que consigamos manter a estamina necessária para preservar a nossa terra, Portugal, livre e independente.

Lembro que um combatente só dá baixa para a cova!

Caros compatriotas, vou terminar com a melhor homenagem que podemos fazer a quem combateu e, porventura, morreu na defesa da terra dos nossos antepassados, e por tudo o que tal representa, incluindo o de que o seu sacrifício não possa ser considerado em vão.

Vamos todos em conjunto e em uníssono, darmos um grande e empolgante viva a Portugal.

Viva Portugal.Viva Portugal!

corpo de fuzileiros

10 O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

Decorreu no dia 03 de junho de 2016, na Escola de Fuzileiros, a cerimónia de Juramento de Bandeira do Curso de Forma-ção Básica de Praças (1.ª Edição de 2016), tendo sido pre-

sidida por S. Ex.ª o Vice-chefe do Estado-maior da Armada, e Co-mandante Naval, Vice-Almirante José Domingos Pereira da Cunha. Assinalando-se na mesma data o 55.º aniversário da Escola de Fuzileiros, esta cerimónia representou assim, um dia de redobrada festa para a nossa Escola.

A cerimónia do Juramento de Bandeira, na qual assumiram pe-rante o Estandarte Nacional, como portugueses e como militares, defender a nossa Pátria, foi o culminar de um período de cinco semanas de formação com o objetivo principal de habilitar os ci-dadãos com uma preparação militar geral.

Dando continuidade a um processo implementado fruto da necessi-dade de irmos ao encontro das exigências atuais da sociedade civil, teve lugar em 30 de abril de 2016, o “Dia da Família”, no qual fami-liares e amigos dos recrutas entenderam por bem marcar presença na Escola de Fuzileiros. Este dia tem como objetivo a divulgação da instituição militar e da Escola de Fuzileiros, desmistificando a

Juramento de BandeiraCurso de Formação Básica de Praças (1.ª Edição 2016)

e

Dia da Escola de Fuzileirosformação militar, apresentando os objetivos da formação básica de praças e as condi-ções habitacionais, de lazer e didáticas, fazendo assim a ponte entre as dimensões familiar e a militar, contribuindo de forma proactiva para a informação e assim poten-ciar a construção formativa de cada aluno.

Para a frequência do referido curso, apre-sentaram-se na Escola de Fuzileiros 64 elementos para o curso de Praças, desti-nados a alimentar as classes de Abaste-cimento, Operações, Técnicos de Arma-mento, Eletromecânicos e Comunicações. Destes, 56 concluíram este período de formação com sucesso.

Durante o período de formação foram mi-nistrados diversos módulos, nas vertentes

teóricas e práticas, que abrangem as áreas de Organização e Regulamentos, Socorrismo, Infantaria, Comunicações Internas, Armamento e Tiro e Educação Física. Foram ainda efetuadas di-versas palestras que abrangeram os temas da formação cívica e consumo de drogas, álcool e tabaco.

No dia 06 de junho, terminada a formação militar básica, os recru-tas destacaram para a Escola de Tecnologias Navais onde inicia-ram nessa data os respetivos Cursos de Formação de Praças, os quais os habilitarão com a formação específica tendo em conside-ração a classe a que pertencem.

Na expectativa de um futuro auspicioso o Diretor Técnico-peda-gógico exortou os alunos a “pôr em prática os conhecimentos já adquiridos” e desejou que os “valores a eles inerentes pautem a vida futura e assim contribuam para uma Marinha prestigiada, reconhecida como um parceiro indispensável para o desenvolvi-mento e a segurança do Estado, que nos enche de orgulho por dela fazermos parte e por darmos continuidade ao valioso legado daqueles que nos precederam e elevaram bem alto o nome da Marinha e de Portugal”.

CFR FZ Pinto Conde

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11O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

Senhor Almirante, Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada e Comandante Naval, a pre-sença de vossa excelência, e a forma como de imediato aceitou o convite para presidir à cerimónia de Juramento de Bandeira que hoje tem lugar, no Dia em que a Escola de Fuzileiros comemora o seu 55.º aniversário é um sinal inequívoco da importância e prio-ridade dada à missão que aqui se cumpre, nesta Unidade mãe de todos os Fuzileiros da Marinha.

Sr. Almirante, em primeiro lugar quero saudar os alunos que com grande garbo acaba-ram de fazer o mais elevado compromisso pessoal para com o seu país, jurando dar a sua vida pela pátria se tal necessário for. Numa sociedade onde o individualismo impera, esta é uma manifestação inequívoca de uma juventude solidária, corajosa e altruísta.

Saúdo também os familiares dos alunos aqui presentes em grande número, que devem justamente estar orgulhosos dos seus filhos. É para vós o meu reconhecimento por esta manifestação de alegria e pelo vosso testemunho de cidadania.

Cumprimento ainda especialmente todos os que hoje de foram publicamente condecorados, porque constituem para todos nós um exemplo de desempenho e dedicação à Marinha. Parabéns.

Hoje é também o Dia da Escola de Fuzileiros, sendo por isso mais um dia de regozijo! Foi mais um ano de intenso trabalho.

Conheço bem a mística da nossa Escola há mais de 30 anos. Daqui partem e partiram todos os Fuzileiros. Por estas portas entram civis e por elas saem militares convictos, marinheiros orgulhosos, “homens novos e novas mulheres” cientes dos seus deveres de cidadania e conscientes do seu potencial. É esta a nossa marca, é este o nosso timbre.

Após alguns anos de intermitentes processos de aquisição de pessoal, no ano que agora passou e que hoje comemoramos, retomámos a plenitude da realização dos cursos de oficiais, sargentos e praças fuzileiros, tal como, dos cursos de formação básica, como o que hoje termina.

Nesta Escola, que integra o Sistema de Formação Profissional da Marinha, não se olha a esforços nem se regateiam sacrifícios, para que os nossos alunos saiam bem preparados, confiantes e orgulhosos. Nesta Escola, é costume dizer-se que “não há horas para a Instrução”.

Este adagio não podia ser mais verdadeiro! No ano que passou sob o meu comando e do meu antecessor:a) No âmbito do PAFM I, realizámos 16 cursos e ministrámos formação a 300 alunos. Já no âmbito do PAFM II, realizaram-se 50

cursos para 466 formandos;b) No âmbito dos cursos de fuzileiros e dos cursos de aperfeiçoamento e especialização, nas áreas do armamento, do tiro e ex-

plosivos, na área da condução tática e na área da liderança, realizamos 60 exercícios de campo correspondendo a 135 dias efetivos de atividade fora da unidade, em que foram ministradas 2.918 horas úteis de formação para 1.100 formandos que envolveram 604 militares, entre formadores e pessoal de apoio. O que de forma expedita significa que metade dos dias úteis no ano que agora passa, foram ocupados com formação em contexto real na realização de exercícios de campo;

c) Ministrámos cinco acções de formação na área da liderança para 150 alunos de Universidades com as quais a Marinha tem protocolos estabelecidos;

d) Foram revistas cinco publicações escolares, encontrando-se outras cinco em revisão e duas novas em elaboração. Foram re-vistos vários planos de curso e três novos planos encontram-se em aprovação;

e) Realizaram-se sete cerimónias militares, das quais se salienta a “Abertura do Ano Operacional 2015/16”;f) Decorreram 38 visitas de militares à Escola de Fuzileiros, das quais se destacam 06 Destacamentos de Fuzileiros, 02 Compa-

nhias de Fuzileiros, 12 Cursos de Fuzileiros, entre outros, que envolveram 1.221 militares e seus familiares;g) Realizaram-se 111 visitas ao Museu do Fuzileiro, das quais se destacam 24 visitas de Escolas dos Concelhos limítrofes, 49

visitas de diversas entidades civis que envolveram 4.567 pessoas;h) Foram prestados 49 apoios a entidades civis e militares envolvendo pessoal de apoio e formadores. Estes apoios englobaram a

cedência de instalações com mais de 1.200 dormidas e o fornecimento de 3500 refeições. Ainda neste âmbito, foram realizadas 08 ações de formação visando o desenvolvimento de competências interpessoais e de “team-building”.

i) Prestámos apoio à prova AMPHIA-CHALENGE que teve mais de 1.000 participantes. Apoiámos as comemorações do 55.º ani-versário do Instituto Hidrográfico com a participação de 200 pessoas, bem como, recebemos e apoiámos a realização do Dia do Arsenal do Alfeite, evento que envolveu cerca de 300 pessoas;

Alocução do Comandante daEscola de Fuzileiros

CMG FZ Pacheco dos Santos

Nota da Redacção: Por ocasião do Juramento de Bandeira que teve lugar na Escola de Fuzileiros no passado 3 de Junho, o Comandante da Unidade, CMG FZ Pacheco dos Santos, proferiu a alocução que aqui publicamos por a considerarmos importante em termos da oportunidade e dos temas que aborda.

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j) Fomos o ponto de apoio logístico (PAL) para as forças de operações especiais da NATO no exercício TRJ-2015, durante cerca de um mês alojando e garantindo alimentação em regimes especiais para cerca de 200 militares internacionais;

k) Acolhemos 06 roteiros culturais;l) Participámos por duas vezes no “Dia B” do Barreiro, evento de responsabilidade social em que contribuímos para a beneficiação

de vários edifícios da autarquia a que nos orgulhamos de pertencer;m) Colaboramos com viaturas e pessoal nas campanhas do Banco Alimentar;n) Participamos em duas acções de “Coast-Watch” em colaboração com o Centro de Educação Ambiental da Mata da Machada;o) Apoiámos com pessoal material e instalações os exercícios do concurso de admissão de candidatos à Escola Naval;p) Organizámos campeonatos de Marinha, de Tiro, de Remo, de Orientação, e de Natação no Rio Coina;q) Organizámos em conjunto com a Associação de Fuzileiros o Dia do Fuzileiro, evento que congrega mais de 1.200 participantes;r) Recebemos e integrámos com sucesso, diversos estagiários das escolas secundárias da nossa região;s) No âmbito da cinotécnica, realizamos 13 buscas preventivas de explosivos, 104 buscas preventivas de drogas e realizámos 62

demonstrações cinotécnicas;t) Acolhemos em dois períodos distintos o “Dia da Defesa Nacional”. Evento que decorre durante cerca de um mês, no qual dia-

riamente cerca de 100 cidadãos nos visitam, nos conhecem, e daqui saem com a marca da Marinha e dos seus Fuzileiros.

Durante este ano, sob a direção e coordenação do CALM Comandante do Corpo de Fuzileiros fomos também protagonistas ativos e convictos de um processo de reestruturação que o Sr. Almirante bem conhece, e que designo eufenisticamente de muito exigente.

Este arrojado e complexo processo de reestruturação e de reengenharia organizacional, visou, entre outros aspetos, responder a dois desígnios: o primeiro a adaptação à necessária redução e efetivos, e o segundo a adaptação da estrutura orgânica para poder responder a uma perspetiva de emprego de forças mais ligeiras, mais flexíveis e com maior grau de prontidão, em que a missão do CCF passou a ser a geração e aprontamento de forças.

Foi com base nestes pressupostos, que em tempo, se incitou o desenho de uma nova estrutura, a qual tem vindo a ser implementada desde Setembro de 2015 e tem carácter experimental até ao final de 2016.

Na sua concepção, esta nova estrutura foi desenhada para privilegiar a pronti-dão operacional e neste sentido aponta para:

a. A reafectação de pessoal Fuzilei-ro às Unidades Operacionais, isto é, cada fuzileiro, sem embargo da sua sub especialização, é um Fuzileiro que pode ser empregue operacionalmente enquanto tal;

b. Outro aspecto relevante deste modelo, foi o reduzir o número de órgãos redundantes em duplicado e triplicado, tais como, secretarias e trens de campanha, de modo a libertar pessoal para que se pos-sam constituir forças com efetivos credíveis;

c. Visou também criar condições para um novo modelo de aprontamento das forças operacionais para que sejam certificadas e estejam criadas as condições para o seu emprego em missões reais;

d. Por fim, e não menos importante, procurou-se assegurar na estrutura do CCF o maior número possível de pessoal FZ, em de-trimento de outras classes como forma de assegurar maior capacidade operacional.

Tendo por base estes pressupostos, iniciou-se o processo de definir a nova estrutura e passou-se à sua implementação, desde se-tembro do ano passado. Neste âmbito, posso asseverar que todos os movimentos de pessoal referentes a esta reestruturação foram já efetuados. Grandes quantidades de material, equipamento e armamento, foram transferidos da antiga Base de Fuzileiros para a Escola de Fuzileiros num excecional esforço logístico, que exigiu um planeamento cuidadoso e grande capacidade de concretização.

Ainda na persecução dos objetivos e timings traçados pelo CALM CCF, refizemos todos os mapas de cargos de acordo com a nova estrutura orgânica e elaborámos também o novo Regulamento Interno da Escola de Fuzileiros.

Inserido no processo de Reestruturação do Corpo de Fuzileiros, e também neste ano impar, recebemos a Força de Fuzileiros n.º 3 (FFZ3) para a realização do seu aprontamento operacional, bem como, o Serviço de Experimentação Treino e Avaliação (SETA) do novo Depar-tamento de Operações. E como tal, também em tempo recorde, adaptámos e recuperámos as instalações para os receber e integrar. Tudo isto aconteceu num contexto já conhecido de fortes restrições orçamentais e de enormes constrangimentos na área do pessoal.

Mas estes pequenos problemas não nos demoveram do nosso caminho, e como Comandante desta Unidade quero expressar a minha gratidão aos homens e mulheres que aqui trabalham e que tornaram estas realizações possíveis, fizeram-no sem queixumes, embora

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naturalmente com esforço e sacrifício pessoal, mas também com muita alegria, muito garbo, e com um orgulho incontido de pura e simplesmente fazer, e de concretizar, fazendo-o bem. OBRIGADO.

Nos últimos três anos, com recurso a meios próprios e com a incontornável ajuda da tutela, em particular da Direção de Infra-estruturas, reabilitamos a Messe de Sargentos, substituímos os sistemas de aquecimento de água da piscina, e renovámos os seus balneários.

Substituímos o sistema de aquecimento de águas do Edifício do Batalhão de Instrução, e foram renovados integralmente os alojamentos dos pisos, 1 e 2 deste grande edifício.

Beneficiámos muitas infra-estruturas, das quais saliento a reabilitação total do edifício do SETA, com a ajuda da DI e do COMNAV.

Começámos um processo de repavimentação da Unidade, beneficiámos espaços exteriores com sistemas de rega e com o seu ajardi-namento. Renovámos a iluminação pública da unidade com ganhos notórios de eficiência nos consumos de eletricidade.

Renovámos a Pista de Destreza introduzindo novos mecanismos de segurança que permitem controlar os riscos envolvidos na sua realização. Estamos a poucos dias de concluir as obras de requalificação da Carreira de Tiro da Marinha.

Recentemente com o patrocínio do Sr. Presidente da Câmara Municipal do Barreiro em conjunto com a Direcção de Infra-estruturas, iniciámos o processo de resolução do problema dos efluentes no rio Coina. Demos já pequenos passos, mas são passos firmes, e estou seguro que a Marinha em conjunto com a Camara Municipal do Barreiro chegará a bom porto.

Tudo isto tem sido possível porque sonhámos com um futuro melhor e temos tido uma vontade indómita para o concretizar. Sim é possível!

A concretização de objetivos e o alcance de metas é muito estimulante porque reforça a nossa vontade de abraçar novos desafios, e reforça a crença de que os mesmos são atingíveis, por muito difíceis que nos possam parecer.

Sr. Almirante, o nosso sonho com um futu-ro onde sejamos mais eficientes e cuide-mos das pessoas leva-nos a edificar pla-nos, porque como se diz “quem não sabe para onde vai, todos os ventos são maus”.

Ambicionamos concluir a requalificação do edifício do BI, beneficiando o último piso, reconfigurando-o para gabinetes de trabalho para os Departamentos de For-mação.

Desejamos iniciar a intervenção de bene-ficiação do refeitório geral com especial atenção à segurança na área da confeção de refeições.

Necessitamos de requalificar as cobertas das praças e dos alunos e a enfermaria, obra que seguramente se constituirá num elemento reforçador da retenção de alu-nos e do pessoal.

Pretendemos iniciar a requalificação da casa da guarda e alargar a extensão da área de videovigilância para podermos ser mais efi-cientes nos recursos humanos envolvidos na segurança. Ainda nesta área, pretendemos cuidar da repavimentação da rede viária e da beneficiação da vedação junto ao Rio Coina.

Urge sermos apetrechados com uma viatura de combate a incêndios.

Insistimos na importância da ligação da rede elétrica à Carreira de Tiro da Marinha.

Carecemos de um simulador de tiro que permita melhorar a eficácia do treino, e aumentar a eficiência dos custos.

Senhor Almirante, temos um sonho e a vontade para o concretizar. Estou certo que quem nos tem ajudado, saberá que aqui damos bom uso a cada cêntimo que nos é atribuído. O meu maior desejo é que daqui a dois anos, eu, ou um meu sucessor possa perante esta audiência dizer! Valeu a pena ousar sonhar.

Excelentíssimo Senhor Vice-almirante Vice-chefe do Estado-Maior da Armada e Comandante Naval.

Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal do Barreiro.

Excelentíssimo Senhor Contra-almirante Comandante do Corpo de Fuzileiros.

Excelentíssimos Senhores Almirantes, Excelentíssimos Senhores Antigos Comandantes do Corpo de Fuzileiros e da Escola de Fuzileiros, distintos convidados e amigos, termino renovando o agradecimento pela vossa presença, neste dia particularmente especial para os novos militares que assim ficam ligados, como “Filhos da Escola”, para o resto das suas vidas a esta nobre Escola de Fuzileiros.

pensamentos&reflexões

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Sobre a Reestruturação do Corpo de FuzileirosApontamento do CMG FZ (Ref) Hernâni Vidal de Rezende

Ao encaixar a proposta de Reestruturação do Corpo de Fu-zileiros (CF) nos conteúdos da tríade - Fazer Certo, Fazer Bem, Fazer Diferente - o então Comandante do Corpo de

Fuzileiros, V/Alm Luís Carlos Sousa Pereira, enfatizou uma prá-tica prosseguida nos Fuzileiros desde a sua recriação no seio da Marinha, ainda que essa prática haja funcionado, na maioria das vezes, trocando a sequência dos dois últimos conteúdos.

Ao entender que o artigo, publicado no n.º 24 de “O Desembar-que”, pode fazer questionar determinados preconceitos, o Almi-rante convoca-nos à reflexão e à discussão de ideias.

Qualquer veterano, pela sua própria condição, tem sempre algo a doar e nada a receber da organização que serviu e onde deu o melhor de si; a sua ambição encontra-se ora voltada para o que de mais positivo e mais justo se possa aplicar ao futuro da mes-ma. No caso do autor deste apontamento, o afastamento, presen-cial, do CF, remonta já a quinze anos. Por isso, respeitando a dá-diva e o sentido do dever de todos quantos lideraram os Fuzileiros desde então, procurarei não contestar cada um dos pressupostos e justificativos evidenciados no citado artigo, conducentes à ine-vitabilidade da reestruturação expressada. Contudo, optando por uma dissertação progressiva no tempo e factual, rumo à doutrina que na nossa Marinha define o Conceito do Emprego das Forças e das Unidades de Fuzileiros e seus Requisitos Operacionais, com facilidade se relevam fundamentos não sintonizantes entre as duas partes. Deste modo:

1. Reinício, Doutrina e Combate - Ultrapassando vicissitudes de vária ordem e proveniência, o Alm Roboredo e Silva, na transição da década de 50 para 60 acreditou, firmemente, que a Marinha deveria ser munida de capacidades de projecção de poder militar apto a combater em terra, perante as ameaças que claramente se desenhavam no nosso horizonte africano.

Viveu-se então um dos raros momentos da nossa história em que o País se antecipou a rijas contrariedades que se abeiravam e, com a conveniente visão estratégica e também política, se pre-parou para contrariar o assalto aos seus territórios ultramarinos. Possuíamos uma invejável capacidade de transporte marítimo, factor de união entre territórios separados pelo mar e vontade de realização em torno de mobilização do poder nacional exis-tente. Mas, no contexto surge invariavelmente uma conjunção adversativa, Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso [vol 2 pág 85, série - Os Anos da Guerra Colonial - 2009], desacreditaram o então sonhado regresso da Infantaria de Marinha e consequências de tão particular arranjo para o combate, declarando 50 anos depois: - os Destacamentos de Fuzileiros Especiais (DFE’s), com 75/80 homens, tinham efectivos inferiores a cerca de 1/3 das Companhias de Caçadores (!?), incluindo as de paraquedistas e comandos, e não dispunham de elementos de apoio nem de serviços de alimentação e de transporte (...) o que limitava o seu emprego como unidades de intervenção (...) por força do seu menor efectivo, a sua capacidade de manobra era inferior (...) Antes de uma verdadeira necessidade operacional, que nunca foi estudada a nível do MDN, a criação dos DFE’s e, em certa medida das Companhias de Fuzileiros, resultou da necessidade da Marinha dispor de unidades para participar na guerra, nos cenários terrestres onde ela se iria travar (...) a Ma-rinha deveria considerar a doutrina do Exército (!?), o qual seria responsável pelo dispositivo operacional e pelo emprego das forças.

Como procurarei demonstrar noutra ocasião, com a convicção de quem partilhou experiências e praticou cenários de combate, o DFE constituiu a mais flexível e poderosa unidade especial de combate em qualquer uma das três frentes de guerra. Projectados de botes pneumáticos, de embarcações rígidas, de lanchas de desembarque, de viaturas tácticas, de nord-atlas, de helicópte-ros, de combóio [o próprio], os DFE´s combateram onde a exigência o ditou e em terrenos onde, seguramente, nenhuma outra força nacional o conseguiria fazer, agregando manobra/ reconhecimen-to, morteiros e anti-pessoal/ anti-carro. No combate, os DFE’s manobraram em áreas de influência directa correspondente ao alcance máximo dos seus morteiros de 60mm, desde algumas horas a 4/5 dias, sem reabastecimento, cumprindo assaltos de oportunidade, operações ofensivas de limpeza e desarticulação do dispositivo hostil, patrulhamentos ofensivos e captura de ini-migos; susceptíveis de subdivisão até ao mais pequeno escalão de combate, a Equipa [liderada por um já veterano], consonante ao meio de projecção disponibilizado.

Partiu desta vivência e dos resultados de vastíssima aplicação operacional, o valor sempre dado ao elemento humano, como peça decisiva de qualquer sistema que se estruture e se molde para o combate, dogma continuado desde então nos Fuzileiros.

2. Reinício II - Encerrada a campanha em África, unidades e meios dos 3 Ramos regressaram ao chão da partida. Parte sig-nificativa dos efectivos foram desmobilizados, unidades extintas, enquanto outras foram reagrupadas na quadrícula e bases exis-tentes. Tudo porém, foi-se processando de forma desgarrada, fora de um qualquer processo de visão e de reforma global das Forças Armadas. Algo de profundo deveria ter sido feito, contu-do, o que foi feito foi-o à peça, isto é, à medida do interesse e da ambição de cada Ramo [como hoje, inconcebivelmente, persiste]. A NATO, da qual havíamos solicitado licença sem vencimento para o esforço africano [com relevância para o Exército] voltou a contar para o compromisso nacional.

Apesar de em determinada altura se ter abordado a hipótese de os Fuzileiros se poderem fixar na Base de S. Jacinto [a qual havia funcionado como aeronaval], a orgânica e o dispositivo configuraram o Comando do Corpo de Fuzileiros (CCF) na área da Base Naval de Lisboa, no Alfeite, conjuntamente com a Força de Fuzileiros do Continente (FFC), enquanto a Escola de Fuzileiros (EF) perma-neceu em Vale do Zebro. A FFC estruturou-se por 3 Batalhões de Manobra, 3 Unidades de Apoio de Combate e Serviços de Base e de Campanha. Pouco mais tarde surgiu o Grupo Especial de Fuzi-leiros [antecessor do DAE]. Ao BF 1 foi incumbida a missão de Polícia Naval. Os, BF2 [sedeado inicialmente na Escola de Fuzileiros] e BF3 roda-ram, a partir de meados de 76, por duas fases de empenhamento anual - Treino/Intervenção e Reserva Operacional - satisfazendo esta, cumulativamente, o cumprimento de missões de segurança de instalações de Marinha, da NATO e do EMGFA.

Neste primeiro período de funcionamento pós-guerra até meio da década de 80, a vasta biblioteca dos US Marines, o ATP 8 e seus derivados, constituiram fonte de informação, sem dúvida, eram--no universalmente; todavia, entre nós pontificaram a doutrina do então Instituto Superior Naval de Guerra através do excelente Operações Anfíbias do Cmdt Virgílio de Carvalho, o saber e as

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pensamentos&reflexões

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lições do Alm Ferraz Sachetti, as conferências proferidas de for-ma entusiástica pelo Alm Gomes Teixeira, a capacidade de reali-zação do então Cmdt Ribeiro Ferreira. Foi uma época de intenso esforço e de saudável romantismo.

Em contraste com o que se passava ao tempo com o Exército Português, à volta do como fazer chegar a sua 1ª Brigada Mis-ta Independente ao flanco Sul da NATO, em pleno ambiente da chamada Guerra Fria, os Fuzileiros poderiam projectar poder em terra através de navios da esquadra, caso o interesse nacional o determinasse e o grau de ameaça o permitisse. O NRP “São Gabriel” transportava o equivalente a 2 CF´s [fê-lo durante a campa-nha africana]. O NRP “São Miguel” carregava elementos de apoio de combate, LARC’s V e apoios de serviços. Em Corvetas e em fragatas da classe “João Belo” embarcavam elementos do co-mando, do estado-maior do então Batalhão Reforçado de Desem-barque (BRD) e o elemento de assalto anfíbio. Por fim, uma ou duas LDG’s transportava/m viaturas tácticas [com destaque para os VBLTP de 4 rodas, enquanto ao serviço]. Por ocasião da realização de exercícios conjuntos, concebidos para testar conceitos, doutrina e o aprontamento da força, participavam helicópteros e meios de asa fixa da FAP.

Se os encontros com os USMarines, quer em território nacional quer nos exercícios da série Display Determination no Mediterrâ-neo, demonstraram quanto bem entendíamos o valor da projec-ção de poder a partir do mar e a consequente manobra em terra, os encontros com os Royal Marines abriram-nos a perspectiva de procurar por em prática muitas das técnicas e das tácticas apre-endidas nos anos 60 e 70 e integrá-las, tanto quanto possível, nos novos tempos.

Foi com este pensamento que surpreendemos americanos ao co-locar pequenos escalões de combate, à noite, a partir de botes de assalto e em locais pouco acessíveis da costa, numa lógica de dispersar, concentrar e dispersar de novo o esforço, desafiando--os por fim a procurarem experimentar do mesmo modo, coisa que fizeram em anos seguintes e, com meios próprios. É facto que atravessámos um pequeno período de simulação, no qual as viaturas tácticas foram consideradas como blindados em cená-rios forjados; mas, foi deste modo que treinámos a coordenação de meios daquele tipo com a manobra apeada e surpreendemos de novo os USMarines e núcleos de observadores, em sessões de treino cruzado, pondo jovens comandantes de companhia a manobrar LVTP’s e fogos de cobertura em benefício da sua infan-taria embarcada, ajustando a dinâmica do movimento ao nosso tradicional bom aproveitamento das caracteristicas militares do terreno, numa lógica de exploração de vulnerabilidades, através de velocidade, fogo e manobra. Também os Royal Marines, recém vitoriosos das Malvinas, foram mimados em anos consecutivos nos Exercícios da série Open Gate, no arquipélago da Madeira, com acções de espera em alto mar, à noite, verdadeiras embos-cadas de botes, pacientemente montadas ao longo dos eixos de provável penetração dos seus caiaques, numa lógica de buscar surpresa através de criatividade/ mostra de coragem.

3. Evolução - Os NRP’s “São Gabriel” e “São Miguel” foram en-tretanto abatidos ao efectivo. A dinâmica interna e o acreditar surgiram contudo redobrados, na transição dos anos 80/90. Se até ali, a renovação dos conceitos e da doutrina haviam partido do CF, testados depois em parceria com os meios navais, o EMA assumiu sistematizar o esforço e credibilizá-lo, em termos de do-cumentação doutrinária e operacional da Marinha.

No âmbito da exibição de capacidades anfíbias, foram exponen-ciados verdadeiros compêndios da matéria, a partir de excelen-tes balcões de vista sobre o mar, para que governantes, as mais elevadas patentes militares e comunicação social, apreciassem

o valor da manobra operacional a partir do mar, apondo navios, fuzileiros, mergulhadores e Força Aérea num ambiente conjunto de intervenção, à nossa medida, respondendo a cenários forjados de crise, de emergência humanitária ou de evacuação e resgate de elementos não combatentes. Numa ou noutra situação, parti-ciparam pequenos escalões de manobra de fuzileiros dos PALOP.

Vontade e criatividade não tiveram limites de aplicabilidade, com vincada expressão no treino com os navios da esquadra, quer no aperfeiçoamento do carregamento de combate da força quer no faseamento da posterior projecção para terra, procurando en-curtar, sempre, os períodos de faina de botes, embarque/desem-barque, com os navios a pairar ou em deslocamento, de noite ou de dia. O mesmo esforço, para metas cada vez mais curtas e eficazes na montagem de bases de apoio de fogos, na montagem e organização de postos C3I, na recuperação de viaturas tácticas sinistradas, no treino em campanha das capacidades do Apoio de Serviços, entre muitos outros que a memória já não alcança.

4. Evolução II vs Confirmação de Capacidades - A década de 90 constituiu, por assim dizer, o período áureo da evolução orga-nizativa vs tendências operativas do CF.

Dados os bons resultados da experimentação, foram confirmados ciclos anuais de treino para todas as unidades, de progressão sequêncial [individual/ equipa/ secção/ pelotão/ companhia], passando de seguida à integração dos apoios de combate [que haviam concluído o treino específico] nas companhias e depois no batalhão de mano-bra, para a execução de exercícios-tema de carácter conjunto e/ou combinado. O aprontamento para determinada missão poderia ocorrer em qualquer etapa do ciclo estabelecido. Paralelamente foi esboçado um programa de formação global, o qual, partindo de base comum, a manobra, fosse crescendo através de cursos de aperfeiçoamento, de qualificação, de especialização e de pro-moção, conduzindo o infante de marinha a praticar a manobra em vários escalões de liderança e, de acordo com idade e aptidões, fosse passando por diversos apoios de combate [comunicações, fo-gos, transportes tácticos, sapadores, VCB e, no futuro, defesa anti-aérea próxima, esta, passível de equipar FS’s e FF’s, dizia-se], pelos apoios de serviços em campanha e pelo elemento de assalto anfíbio, regressando à manobra após cada curso de promoção.

A partir desta crucial sequência da formação e do treino, onde sempre foi determinante proporcionar a cada lider conhecimen-to e prática para assumir o comando do escalão imediatamente superior, os melhores foram apontados ao DAE, ao RECON, às armas de apoio e depois, também ao PELBOARD.

Mas, uma vez mais o poder da conjunção adversativa, a nomen-clatura militar vigente reunia pretextos (?) para alarmar alguma gente, dentro e fora da Marinha; isto é, o atrevido “R”, entre os “B” e “D” (de BRD), que tão simplesmente significava acrescentar à manobra qualquer elemento de combate não orgânico [por pe-quena expressão que tivesse], para o cumprimento de dada tarefa [por exemplo, um pelotão de reconhecimento avançado e duas equipas de sapadores], não equivaleria a um batalhão couraçado, tanto mais que está-vamos perante uma força-tarefa ligeira, de pequena dimensão [PU - Pequena Unidade]. Como expressão cautelar foi admitido pelo EMA, a designação Batalhão Menos de Desembarque [porque não a designação - Batalhão Reforçado de Desembarque Menos? Já que - menos, expressava uma força-tarefa constituída por número inferior a 3 elementos de manobra?]. Por fim, confirmou-se a designação Batalhão Ligeiro de Desembarque (BLD).

Posto isto, releve-se a junção de parcerias que pronunciaram desde logo sucesso nos trabalhos conducentes à estruturação da Força, envolvendo EMA, Comando Naval, Comando do Corpo de Fuzileiros, Direcção do Serviço de Formação, Direcção de Navios, Direcção de Transportes, Esquadrilha de Submarinos, entre outros.

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Em abreviado, o CF começou por apresentar o BLD segundo um modelo-padrão [como um todo, porém, passível de compartimentação por forças-tarefa], capaz de cumprir no âmbito das missões atribuídas à Marinha, quer em termos da segurança e defesa do País, quer no âmbito dos compromissos bilaterais ou que viessem a ser assu-midos perante a Aliança Atlântica, a União Europeia e as Nações Unidas; foi-lhe ajustado um Plano de Reequipamento e de Rear-mamento [proporcionando cobertura da ordem dos 13.000 m, no caso dos morteiros servidos com munições de propulsão assistida] e, já sob a égide do EMA, passou-se à divulgação e experimentação do conceito. Pen-sado inicialmente como força constituída em permanência, o BLD manteve-se, contudo, como força a activar em dado momento do ciclo operacional ou, quando determinado, pela simples razão do modelo valorizar o treino específico das unidades que o enfor-mam e, também, que os respectivos oficiais viessem a englobar o estado-maior e os escalões de combate a incorporar na força.

Depressa e de forma expressiva, foi registada a curiosidade fran-cesa nos AWWP no QG NATO, em Bruxelas. Também, em sessões de trabalho [EMA e CF] ocorridas em Londres e em Portsmouth, quer o MoD quer os elementos do estado-maior da então Brigada Anfíbia - Reino Unido/ Holanda (UK/NL), informaram positivamente face a uma possível integração do BLD e do DAE naquela Brigada; o juízo final concluiu que tal integração poderia vir a constituir reforço das suas capacidades [hoje, não fora o Brexit, no âmbito da Polí-tica Comum de Segurança e Defesa da UE, dir-se-ia tratar de um Joint UK-PO-NL Battle Group, significando uma expressão militar, de natureza anfíbia, de cerca de 1.500 efectivos].

Internamente, o ambiente suscitava o estudo activo e participado, muito para além do encargo principal de cada um, doando-se sa-ber e experiência à causa, enchendo o esqueleto e estruturando o conceito. Eram oficiais e também alguns sargentos, que lidaram/lidavam nas Unidades do CF, com formação e idades diversas.

Como ponto de partida, uma constatação simples: - afinal, o bote de assalto continha imensas virtudes, constituindo-se como alvo não remunerável para o inimigo. Desde além horizonte ou na-vegando cosido ao perfil costeiro, poderia projectar, de noite ou de dia, uma equipa de manobra, uma arma de apoio com a res-pectiva guarnição, um pequeno contentor com reabastecimento, nos mais difíceis e estranhos recantos de uma costa hostil. E o potencial de combate reunido em 24 botes de assalto?

Para melhor expressão e amplitude coesiva dos trabalhos, aí estava o Navio Polivalente Logistico [o nosso LPD/NPL] com estu-do, engenharia e arquitectura no âmbito da Marinha e enorme curiosidade por banda do Exército [onde pairava na altura, o interesse das autoridades da Emergência Civil?]. Cumulativamente, aquele meio obteria corpo nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), a par de outros meios para renovação da esquadra. O programa en-contrava-se inscrito nas contrapartidas do processo de aquisição dos submarinos. No imediato, já não seria determinante recorrer à transformação de uma das FF, como navio transportador de uma força de desembarque de escalão companhia, como aventa-do pelo EMA [lamente-se que, em paralelo, tal intento não haja prosseguido].

Mas, neste ponto a virtude da conjunção adversativa, no final da década registou-se a provação do esforço, já com alguns items do reequipamento adquiridos. Surgiu, no preciso momento em que a Marinha não fora considerado o Ramo de primeira opção nacional para intervir em mais uma situação de crise na Guiné--Bissau. Desta vez, o cenário ascendeu ao patamar guerra civil entre facções, uma das quais apoiada por tropas senegalesas e da Guiné-Conacry. Como em outras ocasiões nas imediações do Golfo, a França accionou de imediato uma força anfíbia, anun-ciando vontade e capacidades para resgatar do território cidadãos europeus e de outras regiões. Por terras lusas, ao mais alto nível

foi adiado, até mais o não poder ser, o envio do único tipo de força capaz de extrair cidadãos nacionais e estrangeiros, segurar e defender a nossa embaixada, fomentar e intervir no diálogo en-tre beligerantes. Apesar de algumas publicações aludirem a este caso concreto, no qual uma força nacional protagonizou com su-cesso, contando apenas consigo própria, uma intervenção de va-lor internacional na época recente, estudado e referido em vários e importantes centros de doutrina naval e anfíbia internacionais, por cá quedámo-nos, por curtíssima aparição pública do PR e do PM de então [Sexas o Dr Jorge Sampaio e o Eng António Guterres], os quais expressaram ao país: - corremos riscos, pacientemente, mas a missão decorreu com total sucesso... Foi sem alardes, como sempre quando o binómio Marinha/ Fuzileiros funciona [Questões básicas: e se a Sra de Fátima não tivesse disponibilizado um meio mercante? E se alguma das partes em conflito optasse por disparar, indiscriminadamente, sobre os numerosos grupos de civis, no cais, nas ruas e no interior, antes de uma força credível se encontrar disponível no território?].

A Força Naval rumou ao Atlântico Médio, preparada para projectar em terra uma força de escalão inferior a uma Companhia Ligeira de Desembarque e equipas do DAE e do RECON, comprimindo a bordo marinheiros e fuzileiros, porém, ciente que seria o único tipo de força nacional capaz de cumprir aquela missão. A partir do mar.

5. Acomodação Estrutural - Na transição entre séculos, a es-truturação do CF sustentou-se nos IOA 400 e POA 1 (A); no Sub--sistema de Formação de Fuzileiros no âmbito do Sistema de Formação da Marinha [o qual procurou detalhar a escalada e a abrangência da formação já esboçada no ponto 4, acrescentando um pacote de formação com-plementar que todos os fuzileiros deveriam possuir, incluindo os do regime do contrato - socorrismo, comunicações a nível de pelotão, condutores de viaturas li-geiras e médias]; no Sistema de Treino das Forças e das Unidades de Fuzileiros [conforme descrito em 4]; no recrutamento e na formação de efectivos em sintonia com as dinâmicas do reequipamento, entre outros de orientação diversa.

Por razões de racionalização da estrutura global do CF e em oca-siões distintas, a FFC já dera lugar à Base de Fuzileiros, o BF3 fora extinto, a Polícia Naval estruturou-se na UPN para mais tarde englobar o BF1, o PELBORD configurou-se no BF1, o BF2 perdeu a CF23 e o DAE viu incrementar as suas equipas de acções es-peciais. Então, como hoje, sobrepuseram-se as causas: - fracas respostas no recrutamento de efectivos [ou tectos pré-definidos?], ambição irrealista, produto operacional, deduzível do Conceito Estratégico Militar, de valor reduzido face à estrutura edificada e ao dispositivo gerado.

6. (In)Compromisso - Não cabe ao CF, nem à Marinha, aventar preconceitos quanto à expressão de poder do dispositivo vigente e, com razão nisso, avançar com um qualquer desenho organiza-cional à medida da ambição que se entenda deduzir dos concei-tos estratégicos de defesa e militar. O mesmo entendimento em relação aos outros Ramos.

[Por ocasião da revisão do Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN), o Gen Valença Pinto afirmou não existir fundamento para o fazer, uma vez que - não vivemos isolados, mas no quadro da UE e ela está numa interrogação imensa. Ou aprofunda a integração politica e Portugal há-de querer acompanhar esse esforço colectivo, ou no extremo oposto, não se aguenta, desintegra-se e vamos assistir a uma renacionalização das politicas de defesa aumentando os requisitos militares em cada país...Não conheço nenhuma Reforma em curso, apenas medidas avul-sas. Isto é, por outras palavras, o Exército não vai mexer. Em timing idêntico, o Alm Melo Gomes expressou: - foi aprovado um novo CEDN, mas não é menos verdade que o MDN preverteu todo um trabalho efectuado por 26 dos nossos mais capazes pensadores estratégicos].

Facto, a revisão do CE(S)DN pareceu, de início, reunir tudo para correr bem. Entre os “E” e “D”, continha, finalmente, o “S” de

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segurança e o trabalho fora atribuído, com grande publicidade, a uma comissão constituída por 26 conselheiros, do melhor que existiria entre nós, sob coordenação do Prof Luís Fontoura. De-pressa porém, o governo se assustou com o rumo dos conteúdos produzidos, suas propostas e conclusões. À primeira manifesta-ção de desagrado público de uma corporação que se entendia afectada, a PSP, o PM veio a terreiro expressar - ainda não era o tempo (?) de tratar das Forças e dos Serviços de Segurança, enquanto o MDN declarava - o trabalho da comissão constitui apenas um documento de trabalho. Desconsideração pelo nobre esforço dos conselheiros, falta de coragem do governo para pros-seguir e explicar um assunto de grande importância para o País, que não constitui segredo de Estado, entenda-se, e que os por-tugueses devem debater para melhor se integrarem no esforço colectivo. O trabalho foi para os fundos e, em sua substituição, surgiu um documento de legislatura, confuso, hermético, reche-ado de temas martelados no texto para que nenhuma ambição fi-casse de fora, culminando com estranhas recomendações, como - clarificar o modelo dualista de segurança interna [PSP vs GNR] e, também, emitindo contributos relativos a factores decisivos do potencial estratégico nacional, numa tentativa de aproximação à abrangência do documento dos 26; longe de o conseguir, retirou -lhe ou menorizou pontos capitais [o Gen. Garcia Leandro considerou aquele documento como o que de melhor se produziu até ao momento na matéria, aproximando-se de um verdadeiro Conceito Estratégico Nacional, já que aborda todas as áreas da vida nacional, com detalhe].

Para que conste, o novo CEDN não expressa - a defesa e a va-lorização da nossa condição marítima como parte integrante da existência secular do País [assim mencionado no documento dos 26], no quadro dos Objectivos Nacionais Permanentes, emparceirando depois - a valorização da nossa vocação atlântica - com outros Objectivos Nacionais Conjunturais. Enquanto isto, os Espaços de Interesse Estratégico Nacional - voltam-nos, primeiramente para o continente [mais periferia] e, em segundo lugar, para o espaço euro-atlântico.

Completando as razões do descarte do Gen. Valença Pinto refe-ridas, recorde-se que o Estado se aposta a dinamizar na ONU, o arrastado processo de expansão da plataforma continental. As responsabilidades internacionais do País, ajustadas às suas áreas marítimas de soberania e de jurisdição e ao espaço aéreo, cum-pridas já nos limites da sua capacidade aéro-naval, aumentarão de forma significativa. Por outro lado, a Marinha não dispõe de capacitação material para acorrer a situações de grande emer-gência civil ou de extracção de cidadãos, de zonas de calamidade ou de crise, quando exposto ser o único Ramo capaz de o fazer [uma simples demonstração de emergência civil, face a um sismo nos Açores ou a outro tipo de calamidade na Madeira, evidenciará resultados, seguramente, arrasadores. Planeie-se uma qualquer operação de evacuação ou resgate de civis, da Venezuela, de Angola, ou de outro local, em apoio da comunidade nacional e internacional, e todos os planeadores se recordarão da sorte de termos tido um navio mercante disponível nos mares da Guiné e de Cabo Verde e do arrojo de uma manobra operacional a partir do mar, cumprida por uma força preparada em 48 horas, em 1998]. Falharam as contrapartidas apostadas no NPL, que não falhe a obrigação de expressar o seu vazio na esquadra, servindo Segurança e Defesa [A Itália beneficiou de apoios comunitários para fazer face a situações daquela natureza, numa evidente mostra de duplo uso de meios].

Este, não é o momento para alterar a estrutura operacional do CF. Mexer e melhorar na estrutura de funcionamento, sim, as tecnologias e as ferramentas informáticas darão contributo de-cisivo. Algo haverá ainda a fazer e a propor como, por exemplo, determinar o balanço ocupacional entre funcionários civis [mais baratos] e militares. Já no particular das 3 Forças de Fuzileiros (FFZ) enunciadas, modulares, reunindo manobra, reconhecimento,

anti-carro, morteiros e algumas polivalências, sem expressar o poder de combate de cada elemento, parecendo simétricas en-tre si, surge extraordinariamente vago para apreciar. Estamos perante elementos que se movem com dinâmicas e alcances distintos, deixando supor vulnerabilidades óbvias. Desde logo, a falta de capacidade de defesa anti-aérea próxima. A tarefa do reconhecimento é inútil, já que naquele escalão de combate, o re-conhecimento é executado pela manobra [reconhecimento próximo]. O que transparece é uma expressão de poder frágil, de ambição estritamente agarrada a limitações tidas como inultrapassáveis, casos da obtenção de recursos humanos e da ineficácia de um processo de reequipamento, o qual fora estudado em resposta aos requisitos operacionados que a Marinha ajustara às Forças e às Unidades de Fuzileiros, porém, não assumido como política continuada.

7. Conclusão - Este não é o momento para a reestruturação do Corpo de Fuzileiros.

No nosso País, releve-se, nunca foi dada resposta à seguinte questão básica: - como fazer projecção de força? Ambição expe-dicionária sim, com toda a certeza. Como cumprir? Voltando 40 anos atrás como o nosso Exército ou entrando em fila de espera para fretar/ alugar transporte estratégico, eis o que parece. O que não pode ser projectado, por mar e ar, não serve, sabendo que interoperabilidade inter-organizações e pré-posicionamento de meios, não estão ao nosso alcance e a ameaça não reside nas nossas fronteiras imediatas, a Norte e a Leste.

O que choca o veterano que acompanhe, ainda com paixão, o caminho das nossas Forças Armadas e Forças de Segurança é, acima de tudo, a ausência de Conceito de Segurança e Defesa, extraído do Conceito Estratégico Nacional (CEN) o qual persiste, desde há séculos, fora do nosso pensamento colectivo, arrolando incoerências, desperdícios, desencontros. É tempo de deixar o deixa passar. Neste ponto, às nossas lideranças, civis e militares, exige-se estudar com respeito e, agir; exige-se o melhor apro-veitamento da circunstância que se nos depara. Ou temos uma estratégia ou fazemos parte da estratégia de alguém que, agirá por nós [escutando o aviso de Alvin Toffler].

Se tivermos um CEN, saberemos como balancear e valorizar o nosso posicionamento no espaço europeu, na estruturação do es-paço transatlântico [incluindo a América Latina] e no espaço da CPLP, libertando-nos da contingência europeia e obter outra voz.

Se tivermos um CEN, não mais seremos confrontados com arran-jos de imagem e notícias, desfilando meses a fio nos nossos noti-ciários televisivos, de lastimável competição entre a nossa Polícia Marítima e o Grupo de Controlo Costeiro da GNR; de lastimável intromissão da GNR em temas que parecem dizer apenas respei-to às Forças Armadas; de lastimável competição entre Forças e Serviços de Segurança.

Se tivermos um CEN, não seremos confrontados com o definhar dos ENVC, ou com a falta de interesse ou de luta pelo NPL.

Acreditar, parecendo atitude ingénua, promove iniciativa, man-tém e melhora o discurso, mesmo que a determinante orientação do Estado não venha a ocorrer já amanhã.

Hernâni Vidal de RezendeSóc. Orig. n.º 288

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Bissau em chamas

Os fuzileiros de volta à Guiné1

Naquele verão de 1998 Portugal vivia em plena euforia. A aproximação à Europa era notória, a economia funcionava aparentemente bem, o equilíbrio político, embora baseado

num governo de minoria parlamentar, tinha sido razoavelmente conseguido. E depois a EXPO! Sob o tema “Os Oceanos, um Pa-trimónio para o Futuro”, a EXPO 98 era um sucesso, provocando uma onda de entusiasmo e autoconfiança. O 10 de junho de 1998 chegou, assim, em ambiente de festa nacional e prometia ser diferente dos rotineiros “Dias da Nação” anteriores.

E, no entanto, os órgãos de decisão do Estado ao mais alto ní-vel, embora participando na festa, faziam face a um problema muito sério. Um golpe militar na Guiné-Bissau, que analistas e a diplomacia internacional receavam há já algum tempo, tinha--se concretizado e, em 7 de junho, havia criado uma situação que ameaçava a segurança dos cidadãos portugueses residentes e afetava os interesses nacionais naquele país. A Guiné-Bissau, particularmente Bissau, encontrava-se literalmente em chamas.

Perante tal situação, o Governo português teria de agir e tenciona-va fazê-lo. No dia 9 de junho, à tarde, o comandante naval alerta os navios e os fuzileiros de que se aguardava a todo o momento uma ordem do general CEMGFA mandando passar a uma pronti-dão de 12 horas, após o desfile naval previsto para o dia seguinte, no rio Tejo, no âmbito das comemorações do 10 de junho. Os meios navais atribuídos incluíam a fragata Vasco da Gama, as corvetas Honório Barreto e João Coutinho e o Bérrio, um navio reabastecedor de esquadra. Haveria uma Força de Desembarque dos Fuzileiros com o Destacamento de Ações Especiais (DAE), um Destacamento de Mergulhadores e uma equipa médica.

A Força de Desembarque dos Fuzileiros, que constituía o elemen-to de intervenção em terra, era comandada pelo primeiro-tenente fuzileiro Duarte Mendes, embarcado na corveta Honório Barreto e tinha três componentes principais: o elemento de manobra com-posto por um pelotão de atiradores da Companhia de Fuzileiros n.º 22 sob o comando do aspirante fuzileiro Patrício Dias (Ho-nório Barreto) e um pelotão de reconhecimento sob o comando do segundo-tenente Pinto Conde (João Coutinho); um elemento

de apoio de combate incluindo uma secção de morteiros sob o comando do segundo-tenente fuzileiro Fernandes Gil (Bérrio) e uma secção anti-carro sob o comando do 2.º sargento fuzileiro Frias Pereira; um elemento de apoio de serviços, com uma secção de logística (1.º sargento fuzileiro João da Cunha), uma secção de saúde (sargento ajudante enfermeiro Banon Lopes) e uma secção de comunicações (cabo fuzileiro António Silva) (todos embarcados no Bérrio). O grupo de botes (grupo de assalto anfíbio) estava divi-dido entre as duas corvetas (12 botes em cada uma) sob a chefia do guarda-marinha Fernandes Vaqueiro. O DAE, sob o comando do segundo tenente fuzileiro Fernandes Fonseca, estava embar-cado na Vasco da Gama

O aprontamento do conjunto dos Fuzileiros tinha sido coordenado pelo capitão-tenente Pereira Leite que seria o oficial de operações anfíbias do estado-maior do comandante da força naval, capitão de mar-e-guerra Melo Gomes. Entre os oficiais fuzileiros, o co-mandante Leite era o único que conhecia a Guiné mas, na verda-de, pouco mais do que Bissau; os outros tiveram que se contentar em estudar as plantas da capital e de algumas das principais lo-calidades, obtidas em Lisboa antes da largada. Embora equipados e armados em função da natureza humanitária da operação em que seriam envolvidos, disponham, a bordo dos navios, de uma reserva de armamento e munições calculada com margem de se-gurança, de acordo com as regras habituais.

Logo que concluído o desfile, os navios regressam ao Alfeite e co-meça o seu aprovisionamento: 14 camiões com víveres, dotações extraordinárias de sobressalentes, material médico, gasolina, munições, mísseis e todo o material da Força de Desembarque. Cerca das 18 horas, menos de seis horas depois, o grosso do abastecimento está concluído e o comandante do Corpo de Fuzi-leiros comunica estar pronto a embarcar o seu pessoal (cerca de 140 homens). Os dados estavam lançados.

Cerca das 13 horas do dia 11, no navio-chefe, a fragata Vasco da Gama, «apita-se à faina» para largar da base. Às sete e meia da tarde, do mesmo dia, saíam as duas corvetas e, no dia seguinte, pelas 12 horas, saía o Bérrio. No dia 15 de junho, manhã cedo,

1 Este texto foi elaborado a partir do livro “Bissau em Chamas – Junho de 1998” e consta de transcrições, quase integrais, de várias passagens onde se fazem refe-rências aos fuzileiros. O livro foi escrito pelo autor deste artigo em parceria com o VAlm Silva Santos. Fotos cedidas pelo 1TEN SEF Figueiredo Pereira.

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o navio-chefe estava à entrada do rio Geba pronto para iniciar o trânsito final para Bissau.

Pouco depois das 13 horas, as duas corvetas fundeiam nas ime-diações do cais de Bissau e a Vasco da Gama permanece a pairar para poder operar os helicópteros.

Era chegada a altura de levar à prática, pela primeira vez, a matriz da atuação planeada para as intervenções em terra. Em primeiro lugar, desembarcariam os elementos do DAE para fazerem um reconhecimento inicial e estabelecerem uma área de segurança, deslocando-se em três botes (um à distância para dar proteção) ou nos helicópteros (um também em proteção, com atiradores especiais). Seriam, regra geral, os primeiros a entrar e os últimos a sair.

Depois, o pessoal da Companhia n.º 22 ou do pelotão de reconhe-cimento, conforme as exigências da situação e respetivas dispo-nibilidades (nesta primeira intervenção foram empregues os dois, dado o caos que se tinha instalado entre os refugiados). Constitui-riam uma espécie de segunda vaga para terra, que se ocuparia de montar um perímetro defensivo, quando requerido, organizar os refugiados para o embarque e fazer o seu transporte para bordo.

Em cerca de 15 minutos, um total de 20 botes de borracha (10 de cada corveta) é posto na água.

Pelas 19 horas, o embarque dos refugiados estava completado, mas faltava ainda uma ação: providenciar segurança para a Em-baixada de Portugal. Decide-se empregar uma secção do pelotão de reconhecimento sob o comando do segundo-tenente Pinto Conde, que é desembarcada antes dos navios largarem com o primeiro grupo de refugiados para Cabo Verde.

Dia 19, era preciso partir rapidamente para a Ponta Biombo, onde se tinha combinado reunir o próximo grupo de refugiados a reco-lher. Um pouco antes das 15 horas, com o navio-chefe já perto do local definido, são postos três botes na água com o pessoal do DAE, para um reconhecimento prévio da zona, primeiro nas aproximações e a seguir em terra. São avisados por um capitão do Exército, que iria ser recolhido, de que tinha sido avistada uma peça de artilharia a cerca de 200 metros para o interior. O co-mandante do DAE achou mais seguro sugerir ao comandante da força não empregar os helicópteros. De imediato, começa o em-barque dos 16 refugiados nos botes de borracha. Pouco depois, estão todos a salvo no relativo conforto e segurança dos navios.

O jornalista Luís de Castro, que se encon-trava a bordo da Vasco da Gama, descreve esta operação nos seguintes termos: «Os semirrígidos regressam, mas o mar está agitado e dificulta a passagem dos botes para as escadas da fragata. Há mulheres e crianças, um dos homens cai ao mar e dois marinheiros lançam-se à água para o agarrar. Por momentos, deixámos de os ver e tememos o pior. Conseguiram apanhá-lo e os três são puxados por ou-tros soldados. Fico arrepiado. Sinto uma pontinha de emoção e de orgulho nestes homens».

Já a 20 de junho, havia em Bissau mais refugiados a embarcar e era necessário substituir os fuzileiros que faziam a se-gurança da Embaixada por um grupo do GOES, o que foi feito por helicóptero, apro-veitando uma acalmia do tiroteio que tinha estado a deflagrar perto do complexo que os fuzileiros protegiam. Um ferido com estilhaços dos rebentamentos, que tinha vindo recolher-se na residência do embai-xador, foi preparado para evacuação por um fuzileiro socorrista.

Entretanto, a corveta João Coutinho tinha cerca de oito toneladas de ajuda a desem-barcar em Bolama. Segundo a combinação feita, o tenente Conde desembarca com um grupo dos seus homens numa praia próxima. Não tendo conseguido encontrar quem receberia o material regressam aos botes mas encontram-nos totalmente em seco, a mais de 200 metros da linha de água. O baixar da maré fora mais rápido do que o esperado. Acabou por ser uma “boa oportunidade” de aplicar a técnica de progressão em terreno lodoso.

A 28 de junho, com a Vasco da Gama de novo em Bissau, havia mais de 300 pessoas a embarcar. Sob o controlo dos fuzileiros que tinham sido enviados para

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terra, o embarque decorre sem atropelos. Na memória dos que lá estavam ficaram duas imagens muito fortes: a de tropas sene-galesas, no outro lado do cais, a embarcarem os seus mortos e a de um pai sem autorização para entrar no cais que queria, a todo o custo, contactar a filha que já tinha embarcado; afinal, queria apenas dar-lhe dinheiro, tarefa de que o comandante do pelotão se encarregou, como intermediário.

Na manhã de três de julho, a Honório Barreto prepara-se para proceder à evacuação de mais refugiados, desta vez na Ponta Biombo. Seriam cerca de 70, mas quando os fuzileiros chegaram à praia, com três botes de borracha, tinham à sua espera uma pequena multidão de 400 pessoas. O habitual esquema de se-gurança dos fuzileiros depressa se revelou insuficiente. Foi por isso desembarcado mais um pelotão, que se encontrava de re-serva a bordo da corveta, o que permitiu estabelecer uma área de segurança e um embarque devidamente disciplinado. Ao fim de pouco mais de uma hora, estão recolhidas 92 pessoas, de acor-do com as listas de prioridades feitas pela autoridade local; são cidadãos portugueses, holandeses e cabo-verdianos, com as res-petivas famílias. Pelo caminho ficava muito mais gente que queria abandonar o território, na sua totalidade guineenses que não se enquadravam nos critérios estabelecidos para a evacuação. Não se conformando com a situação, começam a reagir, insistindo em embarcar; valeu a ajuda de cerca de 20 militares da Junta Militar Guineense que, entretanto chegados, colaboraram no controlo dos descontentes quando os fuzileiros começaram a retirar. Os militares da Junta tiveram de fazer alguns disparos para o ar para deixar claro que não embarcaria mais ninguém.

Na avaliação então feita pelo comandante da força naval, consi-derava-se que a situação estava a tornar-se cada vez mais difícil de controlar e que as operações de recolha de refugiados se ti-nham tornado inseguras. Mesmo assim, vieram a fazer-se novas evacuações. A situação da população agravava-se de dia para dia: sem qualquer ajuda humanitária e com carências alimenta-res e de assistência médica extremamente agudas. Para a força naval não restava senão procurar dar resposta a pedidos de as-sistência para entrega de ajuda e recolha dos chamados refugia-dos relutantes, aqueles que não tinham aproveitado as anteriores oportunidades de sair, acreditando numa melhoria de situação que acabou por não vir.

Na lista de espera estavam 12 pessoas que propunham ser reco-lhidas nos Rápidos do Saltinho, uma das zonas difíceis. A recolha faz-se no dia 10 de julho. Eram oito portugueses e quatro guine-enses, que a continuação dos confrontos, entre os militares da Junta e as tropas senegalesas, tinha feito alterar a vontade inicial de ficar. Uns chegaram a pé; outros foram de viatura até Catió e aí seguiram numa embarcação local até a Vasco da Gama, guiados

por um helicóptero da força que lhes foi apontando o caminho para o navio, que estava fundeado à entrada do rio Cacine.

Ainda acaba por haver mais uma evacuação de 95 refugiados em Bissau, em que a inserção da equipa de segurança dos fuzileiros se faz por helicóptero. O dramatismo é grande dada a situação de grande instabilidade que a capital então vivia, incluindo tiroteio de armamento pesado e disparo de mísseis Katiuska, da zona do Cumeré para a baixa de Bissau e vice-versa. Um pai desespera-do, não podendo embarcar, queria que os fuzileiros ao menos lhe levassem o filho para a segurança do navio de guerra.

Durante os 33 dias que durou a missão do grupo da Vasco da Gama, realizaram-se 13 operações de evacuação de refugiados (1237) e sete de entrega de ajuda (44 toneladas).

A fragata Corte Real, que substituiu a força naval da Vasco da Gama, continuou a dispor do apoio de um destacamento de ações especiais dos fuzileiros, comandado pelo primeiro-tenente Palma, a quem competiu garantir a segurança das deslocações dos diplomatas, que negociaram um acordo de cessar-fogo, e manterem-se prontos para intervenções pontuais de emergência, em especial, para a segurança da Embaixada e corpo diplomático ainda presente em Bissau.

Escreveu o Dr. Jorge Sampaio, no prefácio do livro que relata os acontecimentos atrás referidos: «foi um momento de gravidade e risco para muitos portugueses e no qual ficaram bem eviden-ciadas a coragem, a sabedoria, a abnegação e a determinação dos portugueses que, nos diversos planos e momentos de ação, foram chamados a intervir». Algo, portanto, que merece ser recor-dado nesta Revista.

Alexandre Reis RodriguesSócio n.º 587

dia do fuzileiro

21O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

Este ano o “Dia do Fuzileiro” foi comemorado, excepcional-mente, no segundo Sábado de Julho alterando-se, assim, o que está consensualmente acordado e vem sendo cumprido

há vários anos.

Não havendo motivo extraordinário que o impeça, as comemo-rações do “Dia do Fuzileiro” no próximo ano e em anos futuros, continuarão a ter lugar no primeiro Sábado de Julho.

A alteração deste ano para o dia 9 de Julho deveu-se ao facto de as Unidades do Corpo de Fuzileiros, entre elas a Escola de Fuzi-leiros, estarem envolvidas em grande actividade operacional que não permitiu acomodar tão importante acontecimento na data inicialmente prevista.

Mas não houve qualquer problema por esse facto porque a altera-ção foi comunicada com tempo suficiente para que cada Fuzileiro pudesse adaptar a sua vida e pudesse estar presente no dia mais importante para todos nós.

A presença de Fuzileiros foi massiva e tudo decorreu conforme previsto.

Numa organização conjunta entre o CCF e a AFZ, onde a Escola de Fuzileiros, como anfitriã, tem papel preponderante a todos os níveis, merece destaque a Cerimónia Militar, momento de lembrar

os que connosco “marcharam a par”; a magnífica Demonstração Cinotécnica onde se exibiu tudo o que de melhor existe em Portu-gal a nível militar e das forças de segurança e o Almoço Convívio que foi servido a mais de mil e duzentas pessoas em condições de conforto e segurança, só possíveis com muita dedicação e em-penho do pessoal da Escola de Fuzileiros.

Três grupos de “cante” Alentejano abrilhantaram o almoço numa síntese bem conseguida uma vez que o Alentejo deu e continua a dar muitos e bons Fuzileiros, passe a redundância.

Foi uma grande festa estando todos de parabéns em especial a equipa de operacionais da EF e da UMD que muito fizeram para que tudo decorresse sem problemas.

Missão cumprida!

(Pela sua importância publicamos aqui as alocuções proferidas na ocasião pelo Co-mandante do CF e pelo Presidente da AFZ, respectivamente. Ainda, neste âmbito, publicamos uma poesia que a Dr.ª Maria de Lurdes da Silva Maravilha teve a ama-bilidade de dedicar aos Fuzileiros depois de connosco ter convivido no nosso Dia e ali ter apresentado o seu novo Livro ”GUERRA COLONIAL – Silêncios Rasgados”)

Benjamim CorreiaSóc. Orig. n.º 1351

Vice-Presidente da Direcção da AFZ

Dia do Fuzileiro

9 de Julho de 2016

dia do fuzileiro

22 O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

Falar de valores numa sociedade mercantilista e egoísta como a que vivemos é, muitas vezes, utópico ou ingénuo. Porque, ou como, relevar algo que é imaterial se as nossas preocupações se centram nos bens materiais?

Quando temos um problema, avaliamos as possíveis soluções de três formas:

Primeiro ajuizamos se o que podemos fazer é adequado, ou seja, se responde ao problema que temos;

Depois calculamos se é possível concretizar a nossa ideia, ou seja, se a resposta que imaginámos é exequível. Se, por exemplo, quiser-mos fazer um desembarque anfíbio que inclua o movimento navio-terra de viaturas táticas, mas não dispusermos de um navio de assalto anfíbio, esse desembarque não é exequível;

Por fim julgamos sobre a aceitabilidade da solução. E é neste particular que os tempos da crise nos levaram a desvirtuar uma fase do processo de decisão que talvez seja a mais importante.

De facto, a ditadura dos números, das estatísticas e das médias encorajaram-nos a apreciar sobretudo o custo-benefício das soluções, levando-nos a esquecer o que mais interessa: as referências éticas e morais, os valores e princípios que nos regem e que condicionam aquilo que temos como certo ou errado.

Só uma sólida matriz de valores, professada através de uma forte consciência individual e coletiva pode evitar que nos deixemos tentar pelo que é fácil, levando-nos ao invés a agir segundo o que é correto. Mesmo que isso signifique maior esforço ou sacrifício pessoal.

Só assim seremos fortes e confiáveis.

E é isso que são os Fuzileiros: fortes e confiáveis. É isso que tenho testemunhado durante todo o meu tempo de comando.

Recordemo-nos do grito dos Fuzileiros para relevar a última transição, «… do mar para a terra – desembarcar – ao assalto», «desem-barcar – ao assalto»!

Não é «desembarcar – reagrupar – reabastecer – progredir» ou algo do género! Não, os Fuzileiros partem para o assalto assim que saem de bordo dos navios!

Os Fuzileiros são os primeiros perante o perigo;

São os fuzileiros que combatem o inimigo quando este ainda tem vontade de combater;

Cabe aos Fuzileiros retirar ao inimigo essa vontade de combater;

São os Fuzileiros que moldam o campo de batalha e facilitam o trabalho daqueles que os seguem no teatro de operações.

Ser Fuzileiro requer uma têmpera, vontade e atitude muito especiais. Estar preparado para o pior, pressupõe ser exigente no dia-a-dia, não fraquejar, e não perder o rumo.

Nestes dois últimos anos assistimos a inúmeras mudanças no Corpo de Fuzileiros. Tais mudanças trouxeram-nos mais exigência ao nível do treino, a necessidade de estarmos mais disponíveis para o serviço, e um enorme esforço de adaptação a novas lógicas organizacionais e de funcionamento.

Tudo isto foi feito para afetar mais militares às componentes operacionais de projeção de força, proteção de força e operações especiais, e assim credibilizar a capacidade e os resultados operacionais.

Alterámos rotinas, e a vida das pessoas sofreu modificações, o que, naturalmente, gerou desconforto. Mas um Fuzileiro sabe que o homem, o grupo e a missão convivem em todos os momentos, e que os interesses individuais se subordinam aos do grupo e estes aos da missão.

Um Fuzileiro sabe que se assim não for, não se materializa a unidade no propósito e na ação que são a imagem de marca do Corpo de Fuzileiros e o segredo para o sucesso a que todos nos habituamos e com que honramos aqueles por quem lutamos, os portugueses.

Não deixaremos ninguém para trás, mesmo aqueles que tenham mais dificuldade ou se julguem incapazes de acompanhar a difícil dinâmica de transformação. Todos contam e nós contamos com todos.

Que os serviços prestados pelos Fuzileiros a Portugal e a confiança dos portugueses nos seus Fuzileiros se possam assim perpetuar.

Fuzileiros Para Sempre!

Discurso do Comandante doCorpo de Fuzileiros,

CALM Luís Carlos de Sousa Pereira

Fuzileiros!Hoje, mais uma vez, reúne-se uma grande família, nesta que é a sua casa mãe.

Como já aqui hoje foi referido, é uma ocasião para celebrar a amizade, para recuperar memórias e para relembrar histórias.

Mas os amigos por vezes afastam-se; as memórias desvanecem-se; e o tempo muda a forma como narramos as nossas histórias. Tudo é temporário e no final só resta aquilo que nos une: um mesmo conjunto de valores, e uma atitude comum perante a vida, e perante os outros, em que todos nos revemos.

dia do fuzileiro

23O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

Interrogamo-nos sobre como é possível mantermos uma ligação tão forte só porque somos fuzileiros e concluímos facilmente que: onde há um Fuzileiro, há um amigo.

A família junta-se novamente na Casa Mãe para um dia de confraternização, camaradagem e espírito de união. Também muita nostalgia de tempos que já lá vão e essa inexorável inevitabilidade tão nossa, que só é possível exprimir-se pela palavra saudade, esse misto de tristeza, alegria e conforto pelo que já se viveu, pelo que se aprendeu e pelo que se ensinou.

Mais um ano se passou sobre o desfolhar dos dias das nossas vidas no decurso do qual alguns, infelizmente, se ficaram pelo cami-nho e por estes nos inclinamos, prestando-lhes as nossas homenagens. Um dia destes, lá nos encontraremos juntos, sempre juntos, protegendo-nos mutuamente como os Fuzileiros sabem fazer. Homenageamos hoje a entrega e espírito de missão dos Fuzileiros que combateram na Guerra do Ultramar - que ainda está bem viva na nossa memória - com o coração e a alma cheios de orgulho no que fizeram, em combate e fora dele. Muito em especial queremos homenagear os que já faleceram, quer no cumprimento do dever, quer porque a lei da vida assim o determinou.

Assinalo também a presença dos Fuzileiros da era das novas missões. Tal como no passado os Fuzileiros continuam a responder PRON-TO, permitindo que outros usufruam da liberdade que vós, nas missões ajudais a fortalecer.

As circunstâncias específicas do momento actual são muito diferentes das que se colocaram diante dos combatentes do ultramar, mas os desafios não são menores. Também hoje aquilo de que é mais preciso são homens que amem a sua terra e que estejam prontos a trabalhar e lutar por Portugal.

Não esqueçamos também os familiares e entes queridos que, enfrentando medos, angústias e sofrimentos, souberam constituir um suporte de rectaguarda feito de amor e carinho, alicerçado na esperança de um bom regresso daqueles que Portugal tinha chamado a servir.

Venho também aqui falar da amizade, da camaradagem e da forte ligação que se tem criado entre a Associação de Fuzileiros e de outras Associações e Grupos de Marinheiros e Fuzileiros espalhados pelo país, e refiro-me concretamente ao Núcleo de Fuzileiros Templários de Tomar e ao Núcleo dos Fuzileiros Motociclistas que recentemente se juntou à nossa Associação e que em muito podem contribuir para a sua divulgação.

Os Fuzileiros têm uma casa de entrada, a Escola de Fuzileiros e uma casa de saída, a Associação de Fuzileiros, ambas muito importantes, porque marcantes na trajectória profissional e também pessoal dos marinheiros da boina azul ferrete. Este é, por si só, motivo mais do que suficiente para considerarmos que o Corpo de Fuzileiros e a Associação de Fuzileiros devem caminhar de braço dado, atitude espe-rada por todos os Fuzileiros de todos os tempos – do passado, do presente e, garantidamente do futuro. Este inexplicável sentimento de pertença é intemporal dando razão de ser a uma das nossas maiores verdades – Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre.

A Associação de Fuzileiros poderá e deverá ser um espaço de partilha, de exercício de outra forma de cidadania – diferente daquela que era exercida nas fileiras – mas nem por isso menos útil e actuante. O que prevalece para cada associado é o sentido de união a um grupo que tem uma memória comum, a alegria da camaradagem vivida em cada encontro que promovemos, um elo de ligação, de continuidade da vida na Marinha e nos Fuzileiros.

No cumprimento dos objectivos traçados no programa eleitoral da nova Direcção, refiro-me à parceria estabelecida com a nossa congé-nere Espanhola com a qual temos vindo a trocar informação e artigos das respectivas revistas, assim como a adesão de dois camaradas do Brasil e um de Angola que manifestaram o desejo de aderirem à nossa Associação, o que muito nos deve honrar e satisfazer uma vez que demonstra o interesse em reatarem antigos laços (os fuzileiros brasileiros tiveram origem na Brigada Real de Marinha que constituiu a guarda pessoal do Rei D. João VI e o acompanhou na sua deslocação para o Brasil em 1808), e que demonstra a admiração que têm pela história dos Fuzileiros Portugueses.

Não posso deixar de aqui lembrar o constante e abnegado trabalho das nossas Delegações do Algarve, do Douro Litoral e de Juromenha--Elvas – presididas respectivamente pelo Paulo Domingues, pelo Henrique Mendes e pelo Licínio Morgado, trabalho feito com muito empenho e dedicação, onde um pequeno grupo organiza e executa diversos eventos para que outros possam usufruir. Delegações que

Discurso do Presidente da Direcção da Associação Nacional de Fuzileiros

José António Ruivo

Fuzileiros!

Bem-vindos à nossa Escola, bem-vindos ao Dia do Fuzileiro.

Fuzileiros, familiares e amigos, neste encontro anual que se quer de convívio e sã camara-dagem, o Corpo de Fuzileiros e a Associação de Fuzileiros unem esforços com o objectivo de trazerem o maior número de homens que nesta Escola ganharam o direito de usarem a sua boina e a passearem à sobra das mesmas árvores que, tal como hoje, noutros tempos lhes deram abrigo.

Estamos aqui para celebrar o Dia do Fuzileiro recordando o ambiente de vida que nos tornou mais fortes e mais conscientes do valor da entrega por amor à Pátria e do sentir profundo da solidariedade que acompanha todos os momentos difíceis.

dia do fuzileiro

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tão bem nos representam nas suas áreas de implantação. Boa representação e bem fazer deste punhado de homens que se desdobram em actividades junto das populações e que assim dignificam o nome dos Fuzileiros e da Marinha.

Uma palavra muito especial para o projecto dos Cadetes do Mar Fuzileiros que a Associação de Fuzileiros apadrinhou desde o princípio e no qual o José Talhadas e o Afonso Brandão, há cinco anos, dão o melhor de si no sentido de sensibilizar e formar jovens civis no campo da cidadania e do gosto pelo Mar e pela Marinha.

Cumpre-me referenciar o trabalho da equipa organizadora da Associação de Fuzileiros, sob orientação do Vice-Presidente Comandante Benjamim Correia e coordenada pelo Secretário Nacional Mário Gonçalves e pela Secretária da Direcção Ana Duarte, coadjuvados por mais alguns elementos da Direcção, que ajudaram a pôr de pé esta festa que todos os anos nos anima.

Realço igualmente o trabalho de todo o pessoal: oficiais, sargentos e praças que deram execução ao evento, quer do Comando do Corpo de Fuzileiros, na pessoa do Contra-Almirante Sousa Pereira quer da Escola de Fuzileiros, na pessoa do Comandante Pacheco dos Santos e que tornaram possível que mais uma vez nos encontrássemos aqui hoje, neste dia tão especial.

FUZILEIRO UMA VEZ, FUZILEIRO PARA SEMPRE!

FUZILEIROS

Homens que vestem fardaE servem (serviram) Portugal na MarinhaHomens que foram em grupos criadosE especialmente treinadosPara operações mais arrojadas

Fuzileiro Naval criado em 1961As suas origens estãoNos Fuzileiros Marinheiros No Terço da Armada de 1621Da Brigada RealDe 1797

Numas forças treinadas a rigorDifíceis os seus treinos No seu todoVencendo a pista do lodoAprenderam os Assaltos anfíbiosDifíceis, perigososMas precisos e louvadosEm todos os lados

Com a boina azul e o distintivoQue lhes dão o registoDe Fuzileiros NavaisDe Fuzileiros EspeciaisTropas da “ELITE”Do nosso grande Portugal

Nos teatros de operaçõesForam exibidos Nas “ribaltas” montadasDa Guerra do UltramarAngola, Guiné PortuguesaE MoçambiqueE só receberam asAs palmas teatraisEm 1974

A formação foi feitaE ainda é hojeAs Praças e Sargentos Na sua EscolaFazendo da mochila sacolaQue usaramPara os livros na infânciaCom as diferençasHoje são homensOntem eram crianças

A sua Escola para formaçãoÉ a Escola de FuzileirosEm Vale do ZebroA dos Oficiais na Escola NavalCom formação em ciênciasMilitares Navais

São Fuzileiros iguaisCom patentes diferentes

Aceitem esta minha poesiaDepois de estar no vosso meioCom um livro que vósMuito bem o conheceisFoi uma honraLevar parte dum segredoQue eu consegui rasgarO baú da Guerra ColonialQue enlutou PortugalNão foi vossa a derrotaFoi como no livro se anota A vossa coragemEsteve na grande mudançaDando nações ao mundoE a honrar Portugal

Em poesiaE com muita alegriaFica a minha presençaNa batalha do recordarA peça teatralConvivendo em armasMas com munições de papel.

Lurdes Maravilha

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PROTOCOLOS SUBSCRITOS PELA AFZ(Com vantagens para os Sócios)

Farmácia da Recosta Desconto 10%, excepto em produtos em campanha, Produtos da Diabetes,Leites Infantis e Medicamentos com valor superior a 50 €

VilaMoura Alconru, S.A.e DFZA

Protocolo de Cooperação entre a VILAMOURA ALCONRU, S. A. ea Delegação da Associação de Fuzileiro do Algarve

Clube de Campismo do Barreiro (CCB) Instalações do Parque de Campismo dos Picheleiros: 20% desconto sobre tabela em vigor

ORTOPAULOS – Centro de Ortopedia, Lda. Descontos até 20% (Serviços e Equipamento)

Instituto Médico Dentário do Barreiro (IMDB) Descontos (10%, 20%, 30%) sobre a tabela de preços em vigor e anexa ao protocolo

Sociedade de Tiro do Porto Protocolo para a utilização da Carreira de Tiro do Complexo Desportivo de Rates (CTCDR)

Clube Pinhal da Foz (CPF) Apartamentos Turísticos (Época Baixa -25%, Época Média -20%, Época Alta -15% e -10%)

High School Academy Uma propina mensal 15% e 100% no valor da inscriçãoDuas ou mais propinas mensais 20% e 100% no valor da inscrição

KéroCuidados Presta Serviços a idosos e Famílias

Open Smile Clínica Médica – Presta Serviços Médicos, inclui Méd. Dentista

Associação Recreativa e Desportiva Bons Amigos (ARDBA) Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas

Grupo Desportivo e Recreativo Unidos da Recosta (GDRUR) Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas

Editora Náutica Nacional, Lda. (ENN) Editora de Capitais privados – Edita a Revista de Marinha e também livros

Manuel J. Monteiro & C.ª, Lda.(MJM)

Especializada na Comercialização de Electrodomésticos, representa as Marcas: Junex, Vaillant, Gorenje, Dito Sama, Gisowatt e Stiebel Eltron

Funerária Central Vila Chã - 30% desconto em todos os serviços

Associação Nacional de Agentes de Segurança Privada (ANASP) Formação e Credenciação

Casa de Repouso São João de Deus Acolhimento em regime interno, possui dois estabelecimentos:Lagoa da Palha - Pinhal Novo e Cabeço Verde - Barreiro

Casa de Repouso Quinta da Relva Acolhimento de idosos, lar e cuidados continuados

MH Wellness Club – Motricidade Humana Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer, Santo André - Barreiro

Kangaroo Health Clube Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer: Quimiparque - Barreiro

GAMMA Grupo de Amigos do Museu de Marinha

Universidade Lusófona COFAC – Cooperativa de Formação e Animação Cultural – Lisboa e Porto10% desconto nas propinas

Universidade Lusófona ISES – Instituto Superior de Segurança - Conferências

Funerária São Marçal Desconto 20%, Canha - Montijo

Para mais pormenores, deve ser consultado o site da AFZ, o Secretariado Nacional (Tel.: 212 060 079 –Telm.: 927 979 461) ou as nossas Delegações

27O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

homenagem

A convite do Chefe do Estado-Maior da Armada Vice-Almirante Roboredo e Silva, frequenta o Curso de Especialização em Fuzileiros Especiais como Aspirante da Reserva Naval.

Finalizado o curso e classificado em primeiro lugar, teria preferência na escolha em qual das províncias ultramarinas pretendia prestar serviço. Opta por Moçambique. Porém, para seu espanto, é nomeado para a Guiné, enquanto outro colega de curso pior classificado, mas eventualmente melhor relacionado, é nomeado para Moçambique. Rebordão de Brito entendeu não aceitar esta nomeação e recorre hierarqui-camente. É-lhe reconhecida razão na reclamação e, perante essa decisão superior, voluntaria-se mas, desta vez por vontade pessoal, para a Guiné após o que, em 28 de Outubro de 1967, depois de promovido a Subtenente RN, é integrado como 3.º oficial do Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 12, na Guiné.

Promovido a segundo-tenente em 28 de Outubro de 1968, durante a comissão de serviço que termina em Outubro de 1969, é louvado por três vezes pelo comodoro comandante da Defesa Marítima da Gui-né, sendo um dos louvores avocado pelo brigadeiro comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné. Recebeu ainda um louvor colectivo concedido pelo comandante-chefe.

Tendo concorrido ao Serviço Especial, é admitido como Subtenente SE – gradua-do em segundo-tenente – em 7 de Maio de 1970.

No período que decorre entre os anos de 1970 e 1971, desempenha funções como adjunto do chefe do Centro de Operações Especiais do Comando da Defesa Marítima da Guiné, onde recebe novo louvor colectivo.

Durante esse período, foi chamado a participar na Operação “Mar Verde”, tendo o grupo de combate que comandava destruído as lanchas inimigas atracadas no porto de Conackry. Foi ainda condecorado, em 1970, com a Medalha de Prata de Valor Militar, com Palma.

Em Abril de 1971 é louvado pelo Ministro da Defesa Nacional, por proposta do comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné e, por Portaria de 23 desse mesmo mês e ano, condecorado com a Medalha da Cruz da Guerra de 1.ª classe.

Promovido a primeiro-tenente em 26 de Abril de 1971, é de novo louvado em Outubro pelo comandante da Defesa Marítima da Guiné.

Ainda durante o ano de 1971 é nomeado para comandar o recém-criado Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 22, unidade de fuzi-leiros africanos e, entre 1972 e 1974, exerce as funções de comandante do Centro da Preparação de Fuzileiros Africanos, em Bolama.

Por alvará de 24 de Maio de 1972 é conferido ao primeiro-tenente fuzileiro Rebordão de Brito o grau de Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

BiografiaAlberto Rebordão de Brito nasceu a 6 de Fevereiro de 1942 na ilha de S. Vicente, Cabo Verde e vem para Portugal com 4 meses de idade.

Em 1946, com 4 anos, a tragédia bate à porta da família e Joaquim José de Brito, pai de Alberto, morre. Inicia então os seus estudos na Voz do Operário.

Entre 1953 e 1959 frequenta o Instituto dos Pupilos do Exército com o n.º 191 onde conclui o Curso Geral do Comércio, continuan-do os seus estudos na área económico-financeira na Faculdade de Economia de Lisboa.

É incorporado na Armada em 3 de Agosto de 1962 como cadete de Administração Naval da Reserva Marítima, frequentando na Escola Naval o Curso de Formação de Oficiais da Reserva Maríti-ma. Entretanto, a 18 de Julho de 1963, termina na Escola Náutica o Curso de Comissariado, passando os três anos seguintes na

Capitão de Mar-e-GuerraAlberto Rebordão de Brito

1942-1994

Marinha Mercante.

Em 3 de Outubro de 1966 regressa à Escola Naval como cadete da Reserva Naval, sendo promovido a Aspirante daquela classe de oficiais em 18 de Fevereiro de 1967.

Enquanto aluno do Instituto dos Pupilos do Exército

Num momento de convívio enquanto Comissário da Marinha Mercante

homenagem

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Bissau – Condecorado no 10 de Junho, ao lado de Ramalho Eanes vendo-se atrás Marcelino da Mata e Benjamim Abreu

No dia 31 de Julho de 2009, na Es-cola de Fuzileiros, em cerimónia presidida pelo Comandante do Corpo

de Fuzileiros, Contra-almirante Picciochi, foi inaugurada a Praça Capitão-de-Mar--e-Guerra Rebordão de Brito (Museu do Fuzileiro) e descerrada a placa toponímica pela esposa Sr.ª D.ª Maria da Conceição Rebordão de Brito e pelos filhos Rui e Al-berto.

Assistiram à cerimónia o Capitão-de-mar--e-Guerra Alpoim Galvão, o Comandante da Escola de Fuzileiros e alguns militares que com ele serviram, os Comandantes das Unidades de Fuzileiros e militares da guarnição da Escola de Fuzileiros.

Durante a sua brilhante carreira o coman-dante Alberto Rebordão de Brito foi lou-vado por cinco vezes pelo comodoro co-mandante da Defesa Marítima da Guiné, sendo um dos louvores avocado superiormente, dois louvores colectivos do comandante--chefe das Forças Armadas da Guiné, um louvor do Ministro da Defesa Nacional sob proposta do comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné e um louvor concedido pelo director do Institu-to de Socorros a Náufragos.

Era detentor das seguintes medalhas e condecorações:

– Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito com Palma, grau Oficial;

– Medalha Militar de Prata de Valor Militar com Palma;

– Medalha da Cruz da Guerra de 1.ª classe;

– Medalha Militar de Mérito Militar de 3.ª classe;

– Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas, com a legenda “Guiné 1967-1972” e “Guiné 1972-74”;

– Grã-Cruz de 1.ª classe da Ordem de Santa Maria Magdalena, da Polónia.

ALVARÁ DE CONCESSÃO DO GRAU DE OFICIAL DA ORDEMMILITAR DA TORRE E ESPADA, DO VALOR, LEALDADE E MÉRITO1

Considerando de justiça distinguir o primeiro-tenente fuzileiro ALBERTO REBORDÃO DE BRITO, que, por mais de uma vez, ga-nhou jus a condecorações por acções em campanha desde 1961;

1 Publicado no Diário do Governo II Série n.º 149/28-6-1972, pela Presi-dência da República e na AO/34/5-7-72.

A 4 de Maio de 1973 é promovido a capitão-tenente por distinção e, em Junho do ano seguinte, é de novo louvado pelo comodoro comandante da Defesa Marítima da Guiné.

A 26 de Março de 1975, por se opor frontalmente ao regime que então dirigia o País, é expulso das Forças Armadas, sendo-lhe retirado o direito de usar medalhas militares e condecorações, exilando-se em Espanha. Esta situação foi considerada inconsti-tucional, sendo reintegrado com todas os direitos e regalias três anos depois.

É promovido a capitão de fragata a 8 de Junho de 1976 e dois anos depois a capitão-de-mar-e-guerra.

Até 1985 desempenha funções como chefe do Serviço de Assis-tência nas praias do Instituto de Socorros a Náufragos, sendo no final da comissão louvado pelo director do referido Instituto.

Faleceu a 23 de Novembro de 1994, no Hospital da Marinha.

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homenagem

O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

Considerando que na prática de feitos em combate em duas co-missões na província da Guiné revelou coragem constante em presença do inimigo, alto espírito de sacrifício, decisão, alhea-mento consciente do perigo, prestígio pessoal sobre as tropas comandadas ou entre os seus camaradas e superiores, virtudes militares estas que o impõem como alto valor moral da Nação:

AMÉRICO DEUS RODRIGUES TOMÁS, Presidente da República e Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas, faz saber que, nos termos do Decreto-Lei n.º 44721, de 24 de Novembro de 1962, confere ao primeiro-tenente fuzileiro ALBERTO REBORDÃO DE BRITO, sob proposta do Presidente do Conselho, o grau de oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

ALVARÁ DE CONCES-SÃO DA PALMA À

ORDEM MILITAR DA TORRE E ESPADA, DO VALOR, LEALDADE E

MÉRITO2

Os agraciamentos com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Va-lor, Lealdade e Mérito, conferidos ao abrigo do art.3º, al. b), do Decreto lei 44721, de 24-11-62, destinados a galar doar feitos heróicos em campanha militar, de-veriam ser concedidos com palma, nos termos do § 3.º do art. 38.º do citado diploma legal.

Considerando que na Lei Orgânica das ordens Honoríficas Portu-guesas em vigor, aprovada pelo Dec.-Lei 414-A/86, de 15-12, se mantiveram os pressupostos e requisitos quanto à concessão da palma aos condecorados com aquela Ordem;

Considerando que a concessão do grau de oficial da ordem Militar da Torre e Espa-da, do Valor, Lealdade e Mérito ao então primeiro-tenente fuzileiro Alberto Rebor-dão de Brito, apesar de fundamentada na prática de feitos heróicos em campanha militar, não o foi com palma;

Considerando o que me foi representado pelo Conselho das Antigas Ordens Milita-res por intermédio do respectivo chanceler e tendo em vista a defesa e o prestígio das Ordens:

Mário Soares, Presidente da República e Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Por-tuguesas, faz saber que nos termos da Lei Orgânica, aprovada pelo Decreto-Lei 414-A/86, de 15-12, concede a palma ao capi-tão-de-mar-e-guerra Alberto Rebordão de Brito, oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

2 Publicado no Diário da República II Série n.º 266/18-11-89

Testemunho oral de Alberto Rebordão de Brito3

O comandante Rebordão de Brito morreu antes de poder rever e alterar o texto abaixo, que é o resultado de uma gravação. Não tem portanto o estilo pessoal de outros, embora reproduza fiel-mente as suas palavras.

Há uma face da guerra em que não são só tiros, nem rebenta-mentos, nem mortos nem explo-sões – há também uma vertente humana que é muito grande e que se expressa de variadíssi-mas formas.

Como esta que passo a contar:

Num assalto a um acampamen-to inimigo, sem esperarmos, quando íamos a entrar na pi-cada de acesso e já tinhamos aberto fogo, houve uns garotos que vieram a correr de repente para o nosso lado e três ou qua-tro foram metralhados, sem cul-pa nenhuma nossa. Passando revista ao acampamento, encon-trámos um garotito abandonado a chorar no meio do arrozal, que lá se chama bolanha. Não íamos deixá-lo ali, naturalmente os pais também não voltariam tão depressa e resolvemos levá-lo para o aquartelamento. E lá fizémos umas dezenas de quilómetros até voltarmos para a unidade. O garoto foi tratado como mascote, mandámos fazer um uniforme branco e ficou com o meu apelido e com os nomes do telegrafista e do homem que o carregou mais tempo.

Entretanto, estava a aproximar-se o fim da comissão da unidade e íamos regressar a Lisboa. Um oficial do Exército na Guiné, que foi um dos três majores assassinados durante uma tentativa de es-tabelecimento de paz com o PAIGC, pediu-me para eu perguntar à unidade se concordavam que o garoto fosse adoptado legalmente por ele. Lá fizémos um conclave e dissémos que sim, porque ne-nhum de nós sabia o que ia fazer no futuro, não tinhamos família constituída e cada um já estava a pensar em partir para novas co-

3 Rodrigues, Rui (1995). Os Ùltimos Combatentes do Império. Lisboa: Erasmos

O 1TEN FZE Alberto Rebordão de Brito recebe a Ordem da Torre e Espada das mãos do Presidente da

República, Almirante Américo Tomás

O DFE 12 fotografado com os majores do CAOP que foram assassinados

homenagem

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missões em Angola e Moçambique ou, eventualmente, na Guiné como foi o meu caso. Decidimos, portanto, entregar o garoto ao major Passos Ramos para ser adoptado.

Fizémos uma formatura com todo o cerimonial, com o garoto far-dado de grumete, de branco, e entregámo-lo ao major Passos Ramos que, suponho, o terá adoptado. Mas como ele foi mais tarde assassinado não sei o que se passou, porque vim passar uns meses a Lisboa e deixei de ter contacto com as pessoas.

Ou então como esta outra história:

Noutro assalto a um acampamento, em que, quando nos estáva-mos a preparar para almoçar a velha lata de sardinhas, começá-mos a ouvir vozes. Naturalmente que nos pusémos logo em posi-ção defensiva, percebemos que as vozes não mudavam de sítio e avançámos para ver o que se passava. Por acaso tínhamos dado com outro acampamento. Manobrei as forças que tinha, que era um grupo muito pequeno, de doze homens, assaltámos o acam-pamento, matámos uns tantos fulanos e depois passámos revista ao acampamento. Apanhámos umas armas, contámos os mortos e demos com um ferido. Era óbvio que não íamos abater o ferido.

Então tive de tomar uma decisão um bocado complicada: ou hipotecava a segurança do meu grupo no transporte do ferido ou deixava-o morrer ali. Para transportar o ferido eram precisos

quatro homens, o que reduzia o grupo logo de um terço. Achei preferível hipotecar a segurança do grupo. Chamei o helicópte-ro pelo rádio e evacuámo-lo para o hospital de Bissau para ser tratado, e creio que se terá salvo. É uma coisa que parece um bocado incongruente – o homem apanhou um tiro nosso quando combatia contra nós, e somos nós a evacuá-lo – mas não é. É um inimigo vencido mas que tem de ser tratado como gente.

Entre as várias vertentes da guerra, há outra que é a caricata:

Durante a operação Mar Verde, o assalto a Conakry, eu tinha um grupo de catorze homens cuja missão era afundar as unidades da Marinha do PAIGC e eventualmente as da Marinha da República da Guiné-Conakry. Tratava-se de obstar a que qualquer meio na-val pudesse impedir a acção dos nossos navios ou que pudesse contribuir para isso.

Aquando da aproximação a um molhe de enrocamento que havia para a protecção do porto interior de Conakry, notei que um bote de borracha ficava para trás. Pensei que o homem que ia ao mo-tor estava com medo. Dexei-o. Fui para cima do molhe com uns binóculos para ver a disposição dos navios e aí apanhei um dos maiores sustos da minha vida.

Em vez de navios relativamente pequenos – que apesar de se-rem maiores que os nossos eram pequenos – vi uma fragata. Chamei um dos meus homens e disse-lhe: “Olha, temos ali uma fragata à frente, nós somos apenas catorze, não temos hipótese de sobreviver, vamos lançar-nos ao ataque da fragata, direitos aos alojamentos da guarnição e rebentar com tudo o que seja possível. Já sabemos que não saímos de lá vivos, mas ao menos deixamos as nossas unidades actuar à vontade.” Enquanto isto se passava, o guia que ia connosco, um homem da Guiné-Cona kry que estava mesmo atrás de mim e que eu só conhecia desde a noite anterior, passou o tempo todo a afiar um facalhão enorme nas pedras do molhe, o que não deixou de me inquietar.

Eu tinha a noção perfeita de que, com catorze homens apenas, não era capaz de dominar os duzentos homens da guarnição de um fragata, mas era capaz de fazer estragos suficientes para que a fragata não se pudesse mexer, de provocar avarias nos órgãos vitais; mas que ficávamos lá todos estendidos no chão, também não tinha dúvida nenhuma. Entrar não era complicado, o que era complicado era sair, mas eu tinha de garantir a segurança dos homens que estavam a bordo dos nossos navios e que eram qua trocentos ao todo.

Uma coisa que não me preocupou minimamente foi o facto de a fragata ser soviética – os soviéticos usavam muitas vezes Co-nakry como ponto de apoio e nenhuma das marinhas da região tinha fragatas – porque, quando muito, podia resultar em mais uma condenação na ONU e nós já estávamos habituados a isso.

Lancei os botes ao assalto e, à medida que nos fomos aproximan-do, em vez da fragata começaram a aparecer dois navios peque-nos que eu tinha visto no prolongamento um do outro – a proa de uma e a popa de outro – e que me parecia um navio de grandes dimensões. É escusado dizer que a minha alma resplandeceu. E lá vinha o tal bote atrasado, no ramerrão, a que eu não liguei nenhuma. Decidi fazer o assalto à esquadra inimiga, às vedetas P6 e Comar da República da Guiné com os meios que tinha, já reduzidos, a que ainda faltava o tal bote atrasado que não havia meio de chegar ao pé de nós.

Lá conseguimos cumprir o objectivo de incendiar e afundar o que fosse possível para a nossa Marinha se movimentar à vontade nas águas de Conakry. No regresso, cada um saltou para um bote

à sorte e o meu praticamente não saía do mesmo lugar – foi aí que percebi que o homem que tinha vindo a pilotar o bote desde o navio até chegar ao porto interior, estava com o motor avariado. Quando cheguei a bordo do navio-mãe estava tudo às escuras, naturalmente, e vi uma dentadura branca e uns olhos que me disseram. “Então, chefe, quantas cervejas é que eu ganhei?”

LDG “Montante” e duas LFG ao largo de Conakry

LDG “Montante” durante a operação Mar Verde

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homenagem

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Era o marinheiro, natural da Guiné, que tinha ido a pilotar o bote para lá, e que sabia, no seu íntimo, que eu lhe estava a chamar cobarde. Era o marinheiro Said. Um homem espertíssimo, que depois foi fuzilado pelo PAIGC, comandado depois pelo presidente Nino Vieira.

A propósito deste:

Uma vez recebi uma informação que o actual presidente estava a fazer rezas a um imã muçulmano que existia na ilha dos Escravos. Como já não o podia apanhar, resolvi demonstrar-lhe que ia onde quisesse com o meu pessoal. Assim, desembarcámos numa praia comprida da ilha dos Escravos, sem segurança nenhuma, com o pessoal numa linha de uns duzentos metros de frente e ao som de tambores e clarins.

Quase como no filme Apocalypse Now, só que não tinhamos he-licópteros nem altifalantes e os tambores e os corneteiros não sabiam tocar Wagner. Desembarcámos, revistámos a ilha toda e reembarcámos outra vez ao som do tambor e do clarim – e esta graça foi uma das coisas que nunca me perdoou.

De resto, tirando estas pequenas histórias, todas as operações de contra-guerrilha são iguais e vulgaríssimas. Uma operação, seja ela bem ou mal sucedida, resulta sempre de duas coisas apenas: um planeamento de cinco dias e uma barulheira de um minuto, do qual quarenta e cinco segundos são estrondos e sons de metralha e o resto, um exercício do português mais vernáculo. A seguir, é a recolha de informações, as contagens de mortos e feridos – uma operação a nível de pequenas unidades é rigoro-samente isto.

Depois, havia aquelas situações de confronto, do tipo embosca-da. Na minha unidade, sempre que éramos apanhados, tinhamos criado e enraizado o hábito de carregar sobre o inimigo, como se fosse uma carga de cavalaria, a disparar e gritar insultos e “vamos a eles, vamos apanhar um à mão”. Era assim que conse-guíamos pôr o inimigo em debandada. É preciso correr e disparar e obrigar o inimigo a correr de costas ou a correr mais depressa que nós. É uma técnica que pode parecer esquisita, mas que foi muitíssimo eficaz durante todos os anos em que estive no Ultramar.

Aparentemente, isto contraria aquilo que pode classificar-se de uma tendência natural – que é a de mergulhar quando se ouvem tiros. Mas chegando a determinada altura de habituação ao com-bate, o instinto de sobrevivência dá-nos a sensação mais segura de estarmos a saber o que se passa e de onde vêm as coisas e não ter a cabeça na terra, onde não se vê nada a não ser as raízes e a poeira levantada dos tiros. De pé tem-se uma visão de conjunto e sabe-se como se há-de manobrar ou para que lado havemos de carregar. É muito mais fácil. Pode dizer-se que a melhor defesa é o ataque, carregar sobre o inimigo fazendo a maior barulheira possível: isto tem um efeito psicológico muito grande.

Curiosamente, um dos meus homens que morreu estava deitado no chão com a cabeça junto ao meu pé e foi atingido nela – sem a cabeça dele tinha eu apanhado um tiro no pé. Mas não pode ficar toda a gente de pé. De pé fica o comandante, que não in-teressa que faça fogo, mas perceba o que está a passar-se para poder actuar e acabar com o perigo o mais depressa possível.

Além disso, o facto de o comandante ficar de pé dá segurança ao resto do pessoal e isso é importante para que uma operação corra bem. Por exemplo, quando íamos para áreas muito com-plicadas e os homens estavam receosos, levava só um pingalim ou uma pistola, para lhes fazer sentir que não havia razões para ter medo.

Um homem bem treinado tem muito mais possibilidade de so-brevivência na guerra do que um homem mal treinado. Mas talvez eu tenha tido mais sorte do que outros no aspecto em que participei em mais missões com êxito. De resto, a minha carreira é uma carreira que qualquer militar medianamente dedicado ao seu conceito de Pátria faria: era apenas cumprir. Talvez eu tives-se tido mais ocasiões de o fazer. Talvez as tivesse procurado. De resto, a minha carreira militar nada teve de especial.

Guiné, DFE 12 e Rebordão de Brito1967

O STEN FZE RN Alberto Rebordão de Brito integrou o Destaca-mento de Fuzileiros Especiais n.º 124.

O PTB – Plano de Treino Básico do DFE 12 foi dado pelo DFE 7 em final de comissão na área do Cumeré, no rio Geba a montan-te de Bissau, utilizando lanchas de desembarque, simulando no lôdo e tarrafo as difíceis condições das habituais operações com fuzileiros.

Em 13/14 de Dezembro de 1967 o DFE 12, com o apoio da LFG “Hidra” e da LDM 304 participou na operação “Gienah III” na península de Pobreza, rio Tombali; emboscados e violentamente atacados sofreram 1 morto e seis feridos. Rebordão de Brito teve acção preponderante na operação, comportamento por que mais tarde veio a ser louvado.

“...Durante a Operação GIENAH III, seguia o 2.º Ten Brito na van-guarda da coluna, quando esta foi fortemente emboscada, em

4 O Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 12, DFE12, foi comandado pelo 1TEN Fernando Alberto Gomes Pedrosa e, além de todos os restan-tes sargentos e praças da unidade, integrou ainda o 2TEN Pedro Manuel de Almeida Serradas Duarte (oficial imediato) e o STEN FZE RN Ben-jamim Lopes de Abreu (4.º oficial); rendeu, em Novembro de 1967 na Guiné, o DFE6 comandado pelo 1TEN José Luis Ferreira Leiria Pinto.

Preparação de operação anfíbia com Rebordão de Brito ao fundo

Evacuação de feridos durante a operação “Gienah III”

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terreno descoberto, por um numeroso grupo IN que, abrigado na orla da mata, logo no início da acção provocou um morto e 6 feridos ao destacamento. Perante a situação extremamente difícil que se seguiu, com todo o pessoal em terreno descoberto batido pelo fogo IN, o referido Oficial, revelando extraordinário arrojo, sangue-frio e elevado senso táctico, imediatamente se lançou, apenas acompanhado de 3 praças, num envolvimento galva-nizando todo o pessoal com o seu exemplo que teve um efeito preponderante na debandada do grupo IN, o qual sofreu baixas e a captura dum LGF RPG-2 e outro material. [….]” (extracto do louvor referindo a operação “Gienah III”)

Apoio à recuperação da LDM 302 quando em 19 de Dezembro de 1967 foi alvo de violento ataque no rio Cacheu tendo ficado à deriva e meio submersa, sendo rebocada para Ganturé onde se afundou. A LFG “Cassiopeia” largou de Bissau para o Cacheu com um grupo de assalto do DFE 12 a fim de protegerem os tra-balhos de recuperação da lancha que foi depois substituída pela LFG “Sagitário” – P 1131. O rebocador “Diana” participou nos trabalhos e reboque para Bissau.

Ainda em 1967, em 29 de Dezembro, o DFE 12 embarca na LFG “Cassiopeia” e leva a cabo a Operação “Algol” no rio Cacheu, Concolim, com o apoio da LDM 204.

1968

Apenas quatro meses após a sua chegada à Guiné, na sequên-cia da missão de recuperação da LDM 302, Rebordão de Brito é louvado em 22.01.68 pelo Comandante da Defesa Marítima da Guiné, confirmado na OA, 2.ª Série de 12.02.68.

No decorrer do ano de 1968 o DFE 12, com o apoio de meios navais participa nas mais diversas missões:

– Operação Bellatrix, 12Jan68, Ilha de Caiar, Rio Tombali, DFE 12, FAP, LFG SAGITÁRIO, LDM 301/304, Relab 02/68;

– Operação Antares, 29/30Jan68, Nhané Tancroal, Rio Cacheu, DFE 12, LFG LIRA, LDM 305, FAP, Relab 06/68;

– Operação Vega, 19Fev68, Canjaja, Rio Cacheu, DFE 12, LFG SAGITÁRIO, LDM 312, FAP, Relab 10/68;

– Operação Orion, 06Mar68, Cadique Nalu, Rio Cumbijã, DFE 12, FAP, DFE 10 (helitransportado), LFG HIDRA/ORION, LDM 205/307, Relab 13/68;

– Operação Centauro, 14Mar68, Cametonco, Ilha de Catunco, LFG LIRA, DFE 10/12, LDM 201/304, Relab 1C/68;

– Operação Pollux, 16Abr68, Tiligi, Rio Cacheu, DFE 12, LFG SA-GITÁRIO, LDM 304, FAP, Relab 17/68;

– Operação Castor, 16Abr68, Tiligi, Rio Cacheu, DFE 12, LDG AL-FANGE, LDM 204, FAP, Relab 18/68;

– Operação Virgem, 30Abr68, Poindom, Rio Corubal, DFE 3/12, FAP, LDM306, Relab 19/68, (S/LFG).

Ainda durante o ano de 1968, com o general Spínola como Go-vernador e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, na segunda quinzena do mês de Junho, é lançada a Operação “Via Láctea” por tempo indeterminado, entre Porto Coco e Olossato, envolvendo a activação de uma Base Naval de Patrulhas em Gan-turé, com a afectação local de meios navais e fuzileiros com a finalidade de, em conjunto com as forças terrestres, cortar a in-filtração de forças inimigas pelos corredores de Sitató, Jumbem-bem, Sambuiá e Canja.

O DFE 12 em conjunto ou fraccionado em grupos de combate participa em várias dessa missões, sempre de forma destacada.

– Operação Alcyone, 28Mai68, Poindom, Rio Corubal, DFE 12, FAP, LFG LIRA, LDM 307, Relab 24/68;

– Operação Canopus, 07/08Jun68, Leto/Nhane, Rio Cacheu, DFE 12, LFG HIDRA, LDM 305, Relab 26/68.

Mais tarde, em Setembro, é lançada a Operação “Andrómeda” reforçando os meios navais na área (LFP, LDM e LDP) e com o apoio dos já existentes destinados a neutralizar as cambanças no corredor de Sano/Canja.

Ainda no mesmo mês o DFE 12 em conjunto com o DFE 13 parti-cipam na Operação “Dragão” na zona do Sambuiá.

Nesse mesmo ano, 1968, o DFE 12 viria a ser louvado colectiva-mente pelo forma como actuou no dia 06.07.1968 em missão de patrulha e fiscalização no rio Catora, quando desembarcam com botes a sul da estrada Có-Pelundo. Foi ainda o STEN RN Alberto Rebordão de Brito louvado individualmente pelo CDM da Guiné em 15.07.1968, transcrito e publicado na Ordem da Armada por despacho de 21.07.1968 do VALM Chefe do Estado-Maior da Ar-mada.

Antes do final do ano os Destacamentos de Fuzileiros deixam de pertencer operacionalmente ao CDMG e é estabelecida uma base em Buba passando ao comando do COP 4.

1969

Em 27 de Janeiro de 1969 o COP 3 é transferido para Farim e é determinado ao CDMG para manter um Destacamento em Ganturé. Entretanto nos meses de Feve-reiro e Março, decorre uma operação de grande envergadura na zona de Teixeira Pinto, envolvendo os DFE 12 e DFE 3, duas Companhias de Páras, duas Companhias da Exército e a 16.ª Companhia de Coman-dos, missão sob o comando do CAOP 1, numa batida conjugada com emboscadas na região do Churo, a sul da estrada de Bachile-Cacheu e região de Jopá.Helitransportado e num desembarque

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homenagem

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Durante todo o primeiro trimestre foi mantido em Teixeira Pinto--Cacheu aquele dispositivo com dois Destacamentos de Fuzilei-ros.

A Operação “Nebulosa” – Rio Inxanche que teve início em 15 de Agosto com o apoio LFG “Sagitário” e um grupo de assalto redu-zido comandado pelo 2TEN FZE RN Rebordão de Brito em quatro botes de borracha foi abortada dia 20 numa primeira tentativa. Emboscados novamente no tarrafo a partir do dia 24 para onde foram conduzidos pelo radar da LFG, no dia 27 após longa e pe-nosa espera, em condições extremamente difíceis, foi capturado e afundado o NM “Patrice Lumumba” após difícil combate que envolveu a luta corpo a corpo.

Em Outubro o DFE 12 é rendido pelo DFE 3.

1970

Em 21 de Abril foi activado o primeiro Destacamento de Fuzileiros Africanos, o DFE 21, comandado pelo 1TEN Raul Cunha e Silva e criado o Centro de Preparação de Fuzileiros de Bolama.

Operação “Mar Verde” em 22 de Novembro de 1970

Operação preparada e levada a cabo sob o comando do CTEN Alpoim Calvão que embarca na LFG “Orion”. Participam ainda na operação as LFG “Cassiopeia”, “Hidra”, “Dragão” e ainda as LDG “Montante” e “Bombarda”, onde embarcam tropas especiais en-tre as quais se incluem o DFE 21, o 1.º Destacamento de Fuzilei-ros Especiais Africano e uma Companhia de Comandos Africana. “...A primeira vaga parte à uma e meia da madrugada de Domin-go, dia 22, do navio-comandante, a LFG “Orion” onde embarcou o CTEN Alpoim Calvão, o comandante da operação. Trata-se do Grupo Victor, composto por 14 fuzileiros especiais e um guia, na-tural da República da Guiné, cuja missão é neutralizar a Marinha de Guerra do PAIGC, assim como as vedetas mais modernas da Marinha da República da Guiné. Largam em três botes Zebro co-mandados pelo 2TEN FZE RN Rebordão de Brito. O armamento de que dispõem é ligeiro, pistolas metralhadoras Kalashnikov e também granadas ofensivas, defensivas e incendiárias.

Os botes seguem em velocidade reduzida em direcção ao dique La Prudence onde aguardam a ordem de ataque do comandante. Uma vez recebida a ordem, os botes partem em máxima veloci-dade em direcção aos oito navios atracados: sete vedetas rápidas e uma lancha de desembarque.

De acordo com as informações do guia, três vedetas e a lancha de desembarque pertenciam ao PAIGC e as restantes à República da Guiné.

Aquele grupo de fuzileiros faz a abordagem aos navios, depois de terem eliminado a sentinela, um combatente do PAIGC. De ime-diato, lançam várias granadas para o interior das embarcações, causando danos irreparáveis. Três navios afundaram-se e quatro incendiaram-se.

Embora apanhadas de surpresa as guarnições das lanchas reagi-ram com fogo de armas ligeiras e uma metralhadora pesada, mas os fuzileiros colocados em pontos estratégicos neutralizaram a resistência, causando cerca de 20 baixas e sofrendo apenas um ferido ligeiro. Em 45 minutos tudo estava terminado.

Em resultado dos incêndios, as lanchas, com mísseis, torpedos, munições e combustível a bordo, explodem em bolas de fogo vi-síveis de bordo da LFG “Orion”. O primeiro objectivo da Operação Mar Verde está atingido e a cidade de Conakry acorda ao som de explosões....”.5

1971

Em 16 e 17 de Maio o 1TEN Rebordão de Brito é nomeado para substituir temporariamente o 1TEN Mendes Fernandes no coman-do do DFE 12.

Em Julho é reestruturado o Centro de Operações Especiais sendo--lhe atribuído os DFE 21 e DFE 22, este último em vias de ser activado.

Em Novembro é activado o DFE 22 sendo nomeado comandante o 1TEN Rebordão de Brito. Os militares da Província que o integra-vam tinham prestado juramento a 5 de Outubro no final do curso do Centro de Preparação de Bolama. A Unidade foi inicialmente dividida em 2 grupos de assalto um sediado no aquartelamento de Buba e o outro no de Bolama com amissão de patrulhar e fis-calizar o rio Grande de Buba, o canal de Bolama e seus afluentes. Atribuído experimentalmente ao CDMG.

Em 2 de Novembro o DFE 21 é rendido em Buba pelo DFE 22.

1972

O DFE 22 continuava com um grupo de assalto em Buba e outro em Bolama, actuando quer em GA quer em conjunto todo o Des-tacamento.

Em 15 de Janeiro Rebordão de Brito é substituído no comando pelo 1TEN Amadeu Cardoso Anaia cuja cerimónia de entrega de comando é levada a efeito em 5 de Março sendo a cerimónia presidida pelos Comodoros Magro Lopes e Moura da Fonseca, em fase de rendição no CDMG. Este Destacamento actuava com os oficiais e parte do restante pessoal com espingardas Kalashnikov chegando mesmo os elementos que seguiam na frente da coluna a usar fardas capturadas ao PAIGC, o que poderia lançar alguma confusão entre o inimigo, também pelo facto de serem negros.

Numa sucessão de factos, em finais de Março o DFE 22 foi des-tacado para Gampará onde vem a ser substituído em Maio pelo DFE 21 e é criada a Tabanca Nova da Armada, a partir de final de Julho.

1973/1974...

Em 20 de Janeiro Amilcar Cabral é assassinado à porta da sua residência em Conakry, em Março aparece pela primeira vez o míssil terra-ar Strella. Em 6 de Agosto, depois de regressar à Me-trópole, o General Spínola é exonerado do cargo de Comandante--Chefe e substituído pelo General Bettencourt Rodrigues.

5 Monteiro, Saturnino(1997). Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa, Vol VIII, 1808-1975. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora

Pessoal da Companhia de Comandos Africanaembarcado na LDG “Montante”, atracada a duas LFG

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“In” Separata do Boletim 210 do IPE – Instituto dos Pupilos do Exército, sobre Rebordão de Brito:

«Mas 1973 será também o ano do I Congresso dos Combatentes do Ultramar, realizado no Porto. Alberto Rebordão de Brito e Mar-celino da Mata assinam um telegrama contestatário que é enviado ao Congresso em nome de várias centenas de combatentes, entre os quais salientamos Almeida Bruno, Manuel Monge, Otelo Sarai-va de Carvalho, Matos Gomes, Ramalho Eanes, Hugo dos Santos e Vasco Lourenço. O telegrama dizia assim:

“Cerca de quatro centenas de militares dos quadros permanen-tes e combatentes do Ultramar, com várias comissões de servi-ço, certos que interpretam o sentir de outros camaradas que, por motivo de circunstâncias múltiplas, ignoram verdadeiramente o Congresso, desejam informar V. Ex.ªs e esclarecer a Nação do seguinte:1. Não aceitam outros valores nem defendem outros interesses

que não sejam os da Nação:2. Não reconhecem aos organizadores do I Congresso dos Com-

batentes do Ultramar e, portanto, ao próprio Congresso, a ne-cessária representatividade.

3. Não participando nos trabalhos do Congresso, não admitem que, pela sua não participação, sejam definidas posições ou atitudes que possam ser imputadas à generalidade dos com-batentes.

4. Por todas as razões formuladas se consideram e declaram to-talmente alheios às conclusões do Congresso, independente-mente do seu conteúdo e da sua expressão.

Subscrevem o presente telegrama, em representação simbólica das quatro centenas de militares referidos, os dois militares que publicamente e por diversas vezes a Nação Portuguesa consa-grou:– Capitão-Tenente Alberto Rebordão de Brito (oficial da Ordem Mi-

litar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito; medalha de Prata de Valor Militar com palma; Cruz de Guerra de 1.ª Classe).

– 1º Sargento graduado em Alferes, Marcelino da Mata (cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Méri-to; Cruz de Guerra de 1.ª Classe; Cruz de Guerra de 2.ª Classe).”

O regime não veria com bons olhos esta ousadia de Rebordão de Brito que não se coibia de o enfrentar, olhos nos olhos. É de sa-lientar que este telegrama é considerado a génese do Movimento dos Capitães.

O Congresso decorreu entre 1 e 3 de Junho de 1973 e a publi-cação do Decreto-Lei n.º 353/73, que daria origem à entrada de milicianos nos quadros permanentes de oficiais do Exército, é de 13 de Julho de 1973.

A Revolução de 25 de Abril de 1974 surpreende-o de férias em Londres com a família. Na véspera da partida para Londres, a 21 de Abril, o General Spínola diz-lhe que quando regressasse haveriam de ter uma conversa sobre umas coisas que se es-tavam a passar… Não foi preciso. Regressa a Lisboa a 29 de

Abril, e segue para a Guiné onde a actividade operacional estava suspensa. Mas a missão que o esperava não era mais fácil que combater. Cabia-lhe agora dizer aos seus homens, aos Fuzileiros Africanos, a quem tinha dado preparação e formação, ao lado dos quais tinha combatido, que iria nascer uma nova Guiné, uma nova Marinha, que os iria receber no seu seio e que contava com eles.

As ordens seriam essas mas, por sã lucidez e amor aos seus ho-mens, não as cumpre. Deixa paióis abertos, aconselha os seus fuzileiros africanos a saírem da Guiné, a irem para o Senegal. Muitos, a grande maioria, escutam o seu Comandante evitando o fuzilamento certo. Outros, crentes nas oportunidades que lhes seriam dadas na nova Guiné, encontram a morte por fuzilamento, tal como muitos comandos do Batalhão de Comandos Africanos.

Rebordão de Brito choraria a morte dos seus camaradas que não conseguiu evitar. Anos mais tarde, com outros oficiais fuzileiros, consegue trazer para Portugal alguns dos seus Fuzileiros Africa-nos, inclusivamente providenciando-lhes emprego. Eram laços de camaradagem e de amizade que os ventos fortes da História não iam conseguir quebrar.

Regressou a Portugal trazendo consigo a Bandeira Nacional que estava hasteada no Palácio Governamental de Bolama. Não a quis deixar lá!

Terminada a guerra, e regressado a Portugal, Rebordão de Brito viverá mais sobressaltos, nomeadamente pelo seu envolvimento no movimento de 11 de Março de 1975. Sente na pele a amarga experiência do exílio, primeiro no Brasil e depois em Espanha, e também o afastamento forçado da família. Em Março de 1977, é um dos nove Fundadores da Associação de Fuzileiros, e esta há-de homenageá-lo dedicando-lhe a sua Marcha. Em 1978 é reintegrado na Armada e colocado no Instituto de Socorros a Náufragos, terminando a sua carreira como Chefe do Serviço de Assistência nas Praias em 1985.

Não voltaria, portanto, a desempenhar funções numa unidade de Fuzileiros, como seria natural dada a sua experiência, e eventual-mente o seu desejo. Faleceu precocemente a 23 de Novembro de 1994, com 52 anos de idade.

Em Junho de 1999, o Hotel Atlântico (Monte Estoril) descerrou um quadro com o retrato do Com. Rebordão de Brito na sua Galeria de Ilustres Figuras Militares, numa iniciativa que, no âmbito do Dia de Portugal, visava “cumprir em cada ano o dever de recordar, com a dignidade merecida, o esforço abnegado dos seus combatentes veteranos ou mortos”.

Apesar todas as distinções, condecorações e medalhas, Rebor-dão de Brito manteve sempre um espírito sereno e desprovido de vaidades, que no seu caso seriam justificadas e perdoáveis. Evitava protagonismos, e arranjava sempre alguém com quem partilhar os louros. Continuava a dar grandes lições. Queremos acreditar que algumas destas nobres características que enfor-mavam Alberto Rebordão de Brito tenham sido adquiridas na sua vivência juvenil nos Pupilos do Exército. Para usar a expressão naval: orgulhamo-nos deste “filho da escola”.»

Diogo Pacheco de AmorimSócio Originário n.º 1543

Nos tempos conturbados do exílio em Madrid, não foram poucas, entre os exilados, as figuras esquivas e nebulosas com quem nos cruzámos. E referimos isto porque o Alberto Rebordão de Brito, que só então conhecemos, chamou-nos logo a atenção pela lim-pidez, clareza e transparência do seu sorriso, da sua forma de

estar e da sua maneira de ser.Naquele mundo crepuscular de um exílio onde nunca sabíamos bem exactamente quem se sentava ao nosso lado, o Alberto foi uma das excepções. E também por isso conhecê-lo, mais do que uma agradável surpresa, foi um privilégio.

Testemunhos para revista “O Desembarque”sobre Comandante Rebordão de Brito

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homenagem

O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

Fomos um fim de semana a Andorra. Em descanso das desven-turas políticas de então. De qualquer modo Bons Tempos. Só cá estou eu!

Não vamos falar das invulgares qualidades de homem e de militar que foram as do Alberto Rebordão de Brito. Para isso, muito mais do que nós estão habilitados os seus camaradas e amigos de uma vida inteira que seguramente aqui deixarão o seu testemunho.

Relembraremos, apenas, um jantar em casa do Alberto onde, en-tre outros, estávamos nós os dois e em que ele nos desafiou a metermos as mãos à obra de um hino para os Fuzileiros.

Acedemos de imediato. Perguntámos-lhe quais os locais que tinham, para os fuzileiros, particular significado nos palcos de guerra porque haviam passado. A letra brotou facilmente, vivía-mos tempos sombrios em que a emoção estava à flor da pele e a ideia da terra e dos homens que víamos vendidos, lá longe, de-pois de tantos anos de sacrifício e de coragem gastos sem conta, revoltava-nos profundamente.

Quanto à música saiu ainda mais rapidamente.

No dia seguinte, o Alberto ouviu e aprovou.

E assim nasceu o que é hoje o Hino da Associação dos Fuzileiros. Com uma pequena alteração, sugerida pelo Comandante José Moniz: a troca de Chiloango por Chilombo, em Angola.

Quando ouvimos esse hino, chegado ao “desfilai oh fuzileiros mortos”, quem vislumbramos sempre à cabeça dessa marcha sem fim, porque sem tempo, é o Comandante Alberto Rebordão de Brito, sorridente e sereno, larger than life, um dos últimos he-róis de um país que o não mereceu.

José Cardoso MonizSócio Originário n.º 36

Quando e como nasceu a ideia de um Hino dos Fuzileiros?Julgo não ter grande importância. O José Campos e Sousa esteve em Moçambique na CCaç 2759, tendo sido agraciado com uma Cruz de Guerra.

O Hino da Associação de Fuzileiros sempre mencionou o rio Chi loango. Digo isso com conhecimento porque estive em Sassa--Zau, rio Chiloango, vários meses quando fazia a 1.ª comissão, tendo procedido à transferência para a lagoa Massabi.

Portanto abandonámos Sassa-Zau e o Chiloango. Estive no Chi-lombo 17 meses, quando comandava o DFE 10 na minha 4.ª co-missão e até ser promovido a capitão-tenente. O rio Chiloango não deixou recordações. Nem boas, nem más.

As razões porque “exigi” que no Hino da Associação o nome Chi-loango fosse substituído por Chilombo foram:

– Termos permanecido no Chilombo 7 anos;

– Ter sido ali que o Camarada Sarmento Coelho foi atingido com 14 tiros e sobreviveu;

– Depois de me vir embora, terem sido mortos numa emboscada o 2TEN RN António Piteira, o Mar FZE 771/68 António Cardoso Saraiva, meu afilhado, e o Mar FZE 717/70 João Pereira. Esta história será contada um dia!...

Vivi tudo isto intensamente. Incluindo a “gestação” da Associação.

Alberto Rebordão de Brito foi um combatente tremendamente efi-caz na Guiné.

Conheci-o em 1965. Fui seu instrutor. Sei dele o que me disse-ram. A rapaziada que o acompanhou por aquelas paragens, pode fazer narrativas com conhecimentos vividos. O que eu disser é “suponhamos”.

Pelo caminho perdi-me com algum “arengar” todo e informei da razão daquela nova quadra que começa assim: “Onde quer que nos...”

Durante o mandato do ALM Picchiochi , este fez reparo ao facto do Hino dos Fuzileiros ser todo virado para o passado e não contem-plar os novos desafios que os fuzileiros de hoje enfrentam. Para satisfazer este problema, assaz pertinente, pedimos ao Diogo Pa-checo de Amorim para lavrar uma quadra que desse acolhimento à pretensão. Só uma, para não prolongar demasiadamente.

A música é a mesma, a cadência também.Aqui vai:

Onde quer que nos chamem estaremosOnde quer que nos mandem lutarNossas almas na noite sem medoNossas boinas de novo ao luar

Vista do aquartelamento do Chilombo, junto ao rio Zambeze

José Campos e Sousa, António Diniz Vieira, Alberto Rebordão de Brito e Victor Martins

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José TalhadasSócio Originário n.º 95

Tive a honra de conhecer e ser comandado pelo então 2.º Te-nente Rebordão de Brito como 3.º oficial do DFE 2 – Guiné 1967-1969.

Oficial de destacada preparação profissional, elevado espirito de corpo e liderança, coragem extraordinária debaixo de fogo e com qualidades de comando excepcionais evidenciadas nas inúme-ras acções de combate em que tive a oportunidade de participar debaixo do seu comando e, por isso, coloco o saudoso Tenente Rebordão Brito no lote dos combatentes de eleição dos Fuzileiros ao longo da sua História.

Das inúmeras operações em que o tive como meu chefe de grupo, destaco principalmente as várias acções inopinadas; patru-lhas de reconhecimento, golpes de mão, reações a emboscadas, em que rapi-damente tomava decisões tácticas com resultados sempre positivos para o nosso grupo de combate.

Só a sua presença na fren-te do grupo de combate

com a sua serenidade de chefia, liderança e camaradagem, le-vava os seus homens a segui-lo em qualquer acção de combate por mais difícil que ela se apresentasse.

Um homem sempre solidário, pronto a ajudar qualquer camarada que dele precisasse, daí sempre ser considerado um quase “ído-lo” por todos os homens nas Unidades que comandou ou chefiou na Guerra e em tempo de Paz.

Entre muitas operações em que tive a honra de ser chefiado pelo Tenente Rebordão de Brito, destaco o Golpe de Mão na zona de Canjaja.

Certo dia correram rumores (a que hoje se chama fugas de in-formação) que brevemente estaria para ocorrer algo importante na zona de Canjaja.

Num final de tarde, o Tenente Rebordão de Brito reúne a rapazia-da e pede voluntários para uma missão especial. Nem foi preciso dizer mais nada, todos se ofereceram… embora, só pudéssemos levar um grupo reduzido, devido às características da operação.

Durante a aproximação ao objectivo avistamos uma sentinela re-ferenciada pelo Tenente Rebordão de Brito.

Este, de seguida, enviou uma equipa para a neutralizar e, segui-damente, com muito cuidado, aproximámo-nos os últimos me-tros a rastejar até chegarmos perto das primeiras “moranças”.

O Tenente Brito, combinou a “hora H”, posicionou as armas de apoio nos mais favoráveis sectores de tiro e deu ordem de assal-to.Uma vez mais, devido ao seu comando, baseado na sua orga-nização e experiência, esta operação foi um êxito e considerada um exemplo neste tipo de operações.

O sucesso desta operação desorganizou por algum tempo o PAIGC e a sua supremacia na zona de Canjaja.

A nossa amizade continuou ao longo dos anos. Durante a sua doença, estando eu no Brasil em missão de serviço, tivemos o nosso último contacto telefónico, sim, digo último, porque dois dias mais tarde recebi uma mensagem em que dava a conhecer o seu falecimento.

Foi uma enorme tristeza para mim não poder despedir-me de um grande amigo e combatente.

Manuel Lema Santos

Sóc. Efect. n.º 2189

1TEN RN (Lic.)

Bibliografia:

– Arquivo de Marinha, Núcleo 236-A e COLOREDO – Guiné

– Separata do Boletim da APE n.º 210, s/data

– Monteiro, Saturnino(1997). Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa, Vol

VIII, 1808-1975. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora

– Baêna, Luís Sanches de (2006). Fuzileiros – Factos e Feitos na Guerra de

África, 1961/1974, Crónica dos Feitos da Guiné. Lisboa: Comissão Cultural da

Marinha, Edições INAPA

– Bernardo, Manuel Amaro (2007). Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros,

Guiné 1970-1980. Lisboa: Prefácio

– Texto e fotos do arquivo do autor, com as cedências seguintes: Revista da

Armada; Arquivo de Marinha; Rui Santos Vargas (Instituto dos Pupilos do

Exército); Rui Rebordão de Brito (TCor); Luis Costa Correia (CMG); Escola de

Fuzileiros (AFZ); José Talhadas (Smor FZE).

LOJA MATOSINHOSTel.: 224 969 620

LOJA VIANA DO CASTELOTel.: 258 811 201

[email protected]

ORTOPEDIA MONTEIROFabrico de Próteses e Ortóteses

Unipessoal, Lta.

LOJA DAS PAIVASTel.: 211 818 829

LOJA DO MONTIJOTel.: 212 312 290

LOJA DA AMADORATel.: 214 345 576

[email protected]

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O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

A vontade de nos reunirmos existia há muito. Finalmente aconteceu e ainda bem. Pouco tempo depois, deixaram-nos.

Fica a memória de dois Comandantes que fizeram bem, que cumpriram com elevadíssimo mérito e em qualquer lugar onde a missão da Marinha o exigiu, que foram até junto do combate, que souberam liderar e que nunca tiveram dúvidas quanto ao valor dos que de facto combatiam, bem longe, neste caso em pleno coração da África Austral.

O Almirante, então Comandante Naval de Angola, foi várias ve-zes às linhas da frente, curioso de verificar as realidades locais, para melhor entender as contingências logísticas, os particula-rismos do apoio às populações, o moral dos seus combatentes, o jogo da aplicação de forças especiais no contexto operacional conjunto. Sempre que algum oficial proveniente das Zonas de Intervenção se apresentava nas instalações de Luanda, como retrata com profundo respeito o CMG FZE (ref) Carreiro e Silva, o Comandante Naval, dirigindo-se à sala de espera, onde uma ou outra entidade civil e alguns comandantes aguardavam o mo-mento de serem recebidos, expressava com evidente deferência e contangiante entusiasmo – ...desculpem senhores, mas pre-ciso de saber, já e de viva voz, como vai a situação nas regiões onde a nossa Marinha combate. Galvanizado por entrar à frente dos que exerciam altos cargos em zona de campanha, mas em ambiente de ar condicionado (epíteto carinhoso aos que auferiam abo-no de campanha, fosse qual fosse o local do desempenho) lá entrava para 15/20 minutos de exposição o jovem 2STEN, acabado de chegar à cidade e ansioso de pegar uma fresquinha em qualquer uma das magníficas esplanadas da marginal.

O então CTEN (M) Sousa Campos, comandante do Comando das Forças de Marinha do Leste, conhecia bem o valor e as capa-cidades de combate dos seus fuzileiros e dominava a situação operacional na Frente Leste (Região do Moxico e saliente do Cazombo), com enfoque nas rotas de infiltração Agostinho Neto (MPLA) por Centro e Sul e Benedito (FNLA) por Norte. O seu principal esforço consistiu em procurar emparceirar, na luta e nas oportunidades, os dois DFE fixados na extensa região e sob os quais detinha o comando operacional (por delegação do Comandante Naval), com as unidades de comandos (dos então capitães Jaime Neves, Raul Folques e Bandeira) e as companhias de paraquedistas (dos então jovens oficiais Ferreira Pinto e Vilas Boas, entre outros), transportadas estas de nord--atlas desde o litoral e do Norte. Senhor de uma capacidade per-suasiva verdadeiramente única, fez-se ouvir, até à exaustão, nos gabinetes e nos corredores do comando da Zona Militar Leste (comando de Brigadeiro do Exército), situado na cidade do Luso, hoje Luena. Os Fuzileiros tinham poder e aptidão para serem empe-nhados em igualdade de circunstâncias com os seus congéneres operacionais e o Comandante nunca disso abdicou. Era um chato (!), ou melhor, era o Sousa Chato...

O esforço foi compensado e os resultados não se fizeram esperar.

Projectados de bote pneumático, de embarcações rígidas, de viaturas tácticas, de nord-atlas, de helicóptero (ligeiro ou médio), de comboio (o próprio), as unidades de fuzileiros combateram onde a exigência o ditou, através de assaltos de oportunidade, opera-ções ofensivas de limpeza e desarticulação do dispositivo hostil, patrulhamentos de combate e captura de inimigos. Nas suas

bases, Chilombo e Lungué-Bungo, encontravam-se sediados pe-lotões de Companhias de Fuzileiros, responsáveis pelo patrulha-mento nos rios, apoio operacional e logístico.

Como forma de transmitir a persistência na acção e o estilo de liderança do Comandante, permitam que descreva um aconteci-mento que culminou, em elevados decibéis, no posto de comando avançado de uma operação conjunta. Foi assim, e tal encontra-se documentado:

Dezasseis fuzileiros foram projectados de comboio na região do Luacano, não muito longe do encontro de fronteiras com a Zambia e com o Zaire. Haviam viajado, disfarçados, desde o Luso. Larga-do o bilhete de turística em ponto bem definido, rápidamente o grupo se embrenhou na escuridão.

(A linha de caminho de ferro de Benguela, partindo do Lobito, atravessando todo o território, de Oeste a Leste, entrava pelo Zaire na rica província do Katanga ou Shaba e, por isso, quase sempre foi poupada a ataques ou sabotagens do inimigo. À cautela porém, a composição era precedida por uma locomotiva rebenta-minas e protegida por um pelotão reforçado do Exército).

Ao segundo dia da infiltração, começaram a aparecer vestígios de passagem hostil. A informação foi passada ao posto de co-mando, não chegando directamente aos grupos de combate de comandos e de paraquedistas que operavam na mesma região, como devido, por incompatibilidade de frequências/deficientes comunicações.

(!!!Por isto, talvez aos pequenos grupos de combate das nossas forças, seja justo atribuir a designação de pioneiros no desempenho operacional segundo o con-ceito missões-tipo, considerado hoje aplicável num cenário de ameaça ciber-nética!!!)

No início do terceiro dia os vestígios aumentaram, deixando um trilho largo e bastante pisado por entre a savana, acompanhando de perto a orla de infindável clareira. A informação, que justificava a operação conjunta, focava a infiltração de uma tal coluna Bene-dito, com cerca de 150 elementos, entre carregadores de material e combatentes da FNLA, subdividida em 2 a 3 grupos. A meio

Almirante Eugénio Ferreira de Almeidae

Comandante João T. Fontes de Sousa Campos

ALM Ferreira de Almeida, de boina com âncora e com o Guião do DFE 10, ladeado pelo ex-2TEN (FZE RN) Castro Almeida, à sua direita, e pelo ex-2TEN (FZ RN) Ulisses Paulos. Em

cima, o CMG (FZE) Rezende, o CTEN (M/FZE) Azevedo Coutinho, CMG ( M/FZE) Silva Dias, o CMG (M) Sousa Campos e o CMG (FZE) Dias da Silva.

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da manhã o grupo emboscou, com o objectivo de eventualmen-te capturar elementos isolados em missões de reconhecimento avançado. Ao princípio da tarde, sem sucesso, a emboscada foi levantada e, precavendo qualquer acção de envolvimento ao pe-queno efectivo, a progressão passou a fazer-se junto à orla da mata, com um dispositivo em “T” e especial atenção ao trilho. Duas a três horas depois foi decidida nova emboscada, em local favorável e onde rastos recentes de passagem humana concor-riam. Pouco depois foram surgindo vultos apressados de com-batentes hostis. Os sinais de mãos e de braços foram emitidos no sentido de aguardar, deixando o inimigo penetrar o máximo possível na zona de morte. Seguiram-se os tais milésimos de se-gundo, terríveis, que os fuzileiros bem conhecem. Pouco depois tudo se precipitou. O factor surpresa fora decisivo. O grupo da FNLA era de facto numeroso e não fora o terreno a ele desfavo-rável, tudo teria sido bem complicado. Uns bons quinze minutos depois dispersou, com descarga de fogo serrado, porém, ao aca-so. Diversas baixas, armamento, municiamento, documentação e vários rastos de sangue através da vegetação, foram resultados do confronto comunicados, bem como a direcção de uma fuga desordenada.

Mas, e reside aqui a importância de termos o Comandante Sou-sa Campos no posto de comando avançado, julgada a situação táctica, não foi dada credibilidade ao posicionamento geográfico referenciado e, por isso, um DO 27 de reconhecimento ou um T 6 armado, iria sobrevoar a zona, apreciar a manobra e confirmar posições. A regra imposta a qualquer elemento de combate em avaliação, consistia no lançamento de uma granada de fumo à passagem do meio aéreo ou na colocação de telas de comuni-cações (que não possuíamos) numa clareira; isto é, esclarecer todos os intervenientes, incluindo o inimigo, passando-lhe informação vantajosa. Reagindo, o Comandante apenas solicitou aos fuzilei-ros no terreno, confirmação das posições já fornecidas e qual o entendimento sobre o provável reagrupamento inimigo. O resto ficou por ele. Acreditou, uma vez mais, nos que comandava. Qual-quer jovem combatente nunca mais se esqueceria de tamanha prova de confiança. O risco, a existir, fora partilhado por ambos.

Pouco depois, grupos de comandos, da reserva operacional, fo-ram projectados de helicóptero na região referenciada e a coluna Benedito, de apoio e reforço às posições da FNLA no interior, neu-tralizada por completo.

.../...Aproveitando o facto de no texto acima ter sido referido o con-ceito missões-tipo e também, o costumeiro favorecimento na

atribuição de objectivos operacionais a determinadas forças combatentes do sistema instituído, permitam-me que aborde ou-tra situação concreta:

... Um casal afecto ao MPLA decidiu deixar temporariamente o seu refúgio, numa zona de influência deste movimento, a fim de se casar na cidade do Luso, junto da família. Foram capturados por elementos da PIDE, interrogados e, semanas depois, disponi-bilizaram-se como guias no golpe de mão a 2 bases de reabaste-cimento e reunião de guerrilheiros, de onde tinham aliás partido para a tão ambicionada cerimónia.

No comando de Zona, o Comandante Sousa Campos fez-se ou-vir uma vez mais e foi desencadeada a Operação Dueto. O Co-mandante, contudo, não escondia profundo desacordo quanto à atribuição dos guias às forças a empenhar. Ao DFE logo havia de calhar a mulher!? (expressou, no seu imenso inconformismo).

Bom, mas lá foi meio DFE ao assalto, em dueto com uma com-panhia reduzida de comandos... Sem compatibilidade de comu-nicações entre as duas forças foi decidido, muito simplesmente: 1. Assalto para ambas as forças às 06 AM do dia seguinte ao do lançamento 2. Proibido ultrapassar a linha de água divisória de cada uma das zonas de intervenção 3. Quinze horas para cumprir cerca de 50 Km, em savana e terreno plano, semi-arenoso, até atingir a Área do Objectivo 4. Acerto entre ambos os deslocamen-tos nas imediações dos mesmos objectivos 5. Assalto, destruição das posições e regresso ao Ponto de Partida.

As forças foram projectados de viaturas tácticas pesadas. A guia era extrordinária. Tinha uma noção exacta das cautelas a impor na progressão e do tempo necessário para chegar a horas. Os fuzileiros já não eram maçaricos e desde o início a progressão foi controlada. Todavia, em breve se acreditou no propósito que a mulher anunciou querer cumprir – recuperar e trazer, intactos, os seus haveres... Cerca das 5 e meia da manhã foi alcançada a área do objectivo. Organizado o dispositivo táctico julgado conve-niente, restava aguardar e apurar a observação. Algumas vozes anunciaram o nascer de mais um dia. Guerrilheiros e população viviam juntos, cuidando esta da alimentação daqueles. O grupo de assalto abriu em linha, deixando uma secção de reserva, in-tegrando enfermeiro e socorrista (boticas), numa intersecção de trilhos. A vozearia aumentou e os movimentos no acampamento tornaram-se demasiado próximos. Em cima da hora H e pela pon-ta direita do nosso dispositivo, passou uma mulher a caminho da satisfação das suas necessidades fisiológicas. Já não regressou pelo mesmo sitio porque um guerrilheiro, com as mesmas inten-ções, chocou com a nossa linha de assalto. Foram alguns minutos de confronto aceso, baixas inimigas, armamento e documentação capturados. A perseguição e o reagrupamento prolongaram-se por cerca de meia hora.

Do lado de lá da linha divisória entre zonas de intervenção, os comandos progrediam com cerca de 2 horas de atraso. Ao che-garem, limitaram-se a destruir um acampamento abandonado precipitadamente. De regresso ao ponto de partida, foi patente a satisfação da nossa guia, de alguidar com os seus haveres à cabeça e exigente no tratamento da sua bagagem, dividida entre-tanto no transporte por 2 simpáticos e invejosos fuzileiros.

É a vida, ou melhor, é, acima de tudo, a sobrevivência... O Co-mandante Sousa Campos assumiu proteger este jovem casal, através das instituições religiosas da cidade do Luso.

As duas fotografias, que ilustram o feliz reencontro, foram tiradas a meio da década de noventa, na Base de Fuzileiros. Que fique o apontamento e a recordação de dois lideres militares de exce-lência.

Hernâni Vidal de RezendeSóc. Orig. n.º 288

Além dos presentes na foto inicial surge, ao fundo à direita, o ex-CTEN (MN) Prof. Manuel Oliveira Carrageta, o qual acumulou funções no serviço de saúde, com um extraordinário

desempenho no apoio médico a uma comunidade local – quimbo – de cerca de 5.000 habitantes, situada a 1 Km da Base do Lungué-Bungo, apoiado por 3 moços de botica

(socorristas, por si formados).

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O meio século vai-se aproximando, pois já lá vão quarenta e cinco desde que, ainda cachopos, nos apresentamos na Escola Naval, em 18 de Fevereiro de 1971, para honrar-

mos o botão de âncora e, consequentemente, a Marinha. Já o escrevi e volto a fazê-lo: É obra! Ano após ano, o ritual cumpre-se no primeiro sábado do mês de Junho. A data do evento está pré determinada para que os camaradas, atempadamente, possam arrumar as suas vidas em ordem à presença do maior número possível, sabendo-se que a “união faz a força” e, acrescento eu, fomenta a coesão e a solidariedade do grupo.

Com o meio século ao virar da esquina, é tempo de fazer contas. Contamos cinquenta e sete quando nos apresentamos na Escola Naval, dos quais vinte e três da classe de Marinha, vinte e cin-co da classe de Fuzileiros e nove da classe de Técnicos Espe-cialistas. Já partiram cinco, pelo que restam cinquenta e dois. Destes, alguns, certamente por motivos imperiosos, não puderam participar neste evento, mas o quorum é bem substancial com a presença de quarenta e um resistentes. Em comunhão de espírito com todos os camaradas, presto saudosa homenagem ao Roque dos Santos, António Piteira, José Calheiros, Sacadura Bote e Si-darta de Sousa que, repousando em paz, se sentirão orgulhosos e felizes com o nosso exemplo de união e fraternidade que, ano após ano, teimosamente nos impulsiona para o abraço quente e sentido, que nos vitamina o espírito em meia dúzia de horas de felicidade.

Ao longo de muito tempo de sucessivos Encontros, parece que tudo vai fluindo a preceito e a motivação não fenece, antes pa-recendo engrossar com o prolongamento dos anos. Para além da vontade genuína, é sinal que vivemos uma senectude activa que nos permite e estimula a participar na vida social e, parti-cularmente, nestes eventos que nos tocam sobremaneira. Por-quanto estas nossas jornadas obedecem a uma dupla lógica: a de proporcionar o convívio e o amplexo fraterno, mas igualmente buscar o reencontro com a Marinha, através de sucessivas visitas a unidades, departamentos, navios, museus e outros locais a ela umbilicalmente ligados. E, em consequência, como sistematica-mente vem acontecendo, proceder à publicitação do que se viu, trazendo à tona as actividades relevantes que vão desenvolvendo,

muitas delas esquecidas do grande público. Ora, convenhamos, isto não é coisa pouca e tem vindo a ser escrupulosamente cum-prido, pelo que se regista com apreço. Não temos que padecer de falsa modéstia quando avaliamos a realidade, sendo que o que até aqui foi feito nos enche a alma e nos honra. Para o futuro, procuraremos seguir a máxima do Pedro Abrunhosa e procurar fazer o que ainda não foi feito.

Este desiderato foi novamente atingido no corrente ano, com a decisão de visitar o Polo Museológico da Direcção de Faróis, em Paço de Arcos. Após a devida concentração no Clube Náutico, ali bem perto da Direcção de Faróis, para lá nos dirigimos em cumprimento dum dos objectivos mais relevantes das nossas jor-nadas, o de sermos transportados numa nova viagem de memó-rias, sempre afectiva, aos locais que nos tocaram ou nos foram próximos em tempos idos de ligação à Marinha.

Para melhor enquadramento, dir-se-á que a Direcção de Faróis está integrada na Direcção-Geral da Autoridade Marítima e tem designadamente por missão a direção técnica de todo o assi-nalamento marítimo nacional, funções inspetivas, emissão de pareceres técnicos, formação do pessoal faroleiro e instalação, manutenção e conservação do assinalamento marítimo. Através dos polos museológicos, como complemento da sua missão, pro-cede à divulgação do espólio à sua guarda, basicamente os equi-pamentos e instrumentos utilizados no assinalamento marítimo.

Por me parecer interessante faço constar do presente artigo o brasão da Direcção de Faróis, cuja labareda central simboliza as enormes fogueiras que, ardendo ao ar livre, serviam para indicar aos mareantes o abrigo desejado ou o perigo a evitar, enquanto as estrelas de ouro em fundo azul caracterizam o céu nocturno. Segundo consta da documentação oficial existem 30 faróis no Continente guarnecidos por 66 faroleiros, 16 nos Açores por 37 faroleiros e 7 na Madeira por 9 faroleiros, num total de 110 fa-roleiros.

Como salientei, para além da camaradagem e da convivialidade, estes Encontros procuram, sempre que possível, revestir uma matriz cultural, ou se quisemos, de enriquecimento pessoal e colectivo. Temos tido a preocupação constante de atingir este ob-jectivo. E, no caso presente, confessemos que o Polo Museológico da Direcção de Faróis foi para nós uma agradável surpresa.

Com efeito, em 1984, por motivo da modernização do assina-lamento marítimo que levou à inevitável substituição de muitos equipamentos, alguns deles centenários, foi sentida a necessida-de de preservar todo este valioso acervo, daí que se tivesse opta-do por criar um núcleo museológico, que serviria para formação dos cursos de faroleiros e para dar resposta às inúmeras solici-tações de visitas de estudo e consequente aprofundamento dos conhecimentos sobre a evolução histórica dos faróis em Portugal.

Instalado num edifício construído de raiz em 1987, com uma área total de 250 m2 para exposição permanente, dispõe ainda de um auditório com capacidade para 30 lugares sentados, para além de diversos equipamentos audiovisuais. Obtivemos a informação que, devido à dificuldade e até perigosidade do acesso ao local pela estrada marginal, o Polo Museológico infelizmente não está aberto regularmente ao público, funcionando apenas através de

Encontro Anual do 18.º CFORNPólo Museológico da Direcção de Faróis

45.º Aniversário4 de Junho de 2016 Adelino Couto

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visitas guiadas com marcação prévia. Numa das paredes pode observar-se um belo painel de azulejos da antiga Fábrica de Ce-râmica Constância, fundada em 1836, na Rua de São Domingos à Lapa, que embeleza e dignifica o espaço. O espólio é rico, po-dendo apreciar-se colecções de lanternas, ópticas de Fresnel, candeeiros de petróleo que se usavam antes da utilização da energia eléctrica, lâmpadas, vitrinas com diversos acessórios de farolagem, bem como quadros com documentos históricos sobre as características e funcionamento dos faróis.

Dá-se público reconhecimento da disponibilidade demonstrada pelo Subdirector da Direcção de Faróis, CFR José Maria da Silva, para, na sequência do pedido formulado pela Comissão, dar as-sentimento ao mesmo, no sentido de ser viabilizada esta visita guiada ao Polo Museológico, que inegavelmente contribuiu para um melhor conhecimento das suas atribuições e actividades.

Fomos recebidos por um oficial de nome Farinha, faroleiro--mor, que nos proporcionou uma viagem histórica com exposição pormenorizada sobre todo o equipamento exposto, sua simbolo-gia e evolução dos faróis ao longo dos tempos, nomeadamente o já inexistente farol de Nossa Senhora da Luz, edificado em 1761 a norte da barra do rio Douro, que terá sido o primeiro em Portugal. Enfim, como consta da documentação disponibilizada, a Direção de Faróis continua a cumprir a honrosa missão de manter acesa a luz que guia o navegante e o encaminha em segurança ao porto de abrigo.

Alimentada a alma com a visita ao Museu e tirada a foto de grupo para arquivo histórico, foi chegado o tempo de alimentar o cor-po. Aproveitando a logística local, decidimos almoçar no restau-rante do Clube Desportivo de Paço D´Arcos, onde, para além das imprescindíveis entradas, manducamos uma feijoada de búzios com gambas, seguida de ensopado de borrego, tendo como so-bremesa doce de maçã com canela. Mais do que a qualidade do repasto, ao que se sabe sem qualquer reclamação exarada no respectivo livro, o importante era desfrutar o momento, o am-biente e a alegria contagiante que, por isso mesmo, rapidamente se instalou e, por que não dizê-lo, da magnífica vista para o mar azul que, bem humorado, nos olhava ali bem perto, em sinal de regozijo pela nossa presença. Mais do que a voz fomos deixando falar o coração. E inevitavelmente foram surgindo as “bocas” do costume, as piadas e as recordações de antanho, num clima de amena cavaqueira e boa disposição. E o sol radioso ia descendo no horizonte, aprestando-se para beijar carinhosamente o ocea-no, como que sinalizando a hora da despedida.

Sinto como dever fechar este artigo de forma diferente do que tenho feito. Há um impulso de gratidão, que sei que é colectivo, porque é nosso. Cumpre-me exarar registo para memória futu-ra sobre o trabalho da Comissão Organizadora, com letra mai-úscula, claro. Servindo, neste caso o 18.º CFORN, sem cuidar

recompensa, tem tido uma labuta incansável, uma dedicação extraordinária e uma grande imaginação operativa. Sem tibiezas ou falsos pudores, estes encómios vão inteirinhos para o BRAGA e para o LIMA, seus expoentes máximos. Disse muitas vezes ao longo da minha vida que ninguém é insubstituível, mas estes são-no. Alguns - ou talvez, muitos – não farão assisada ideia do trabalho e esforço despendidos, por que não dizê-lo, das chati-ces, do inconformismo, da planificação de objectivos em prol de jornadas de camaradagem e convívio, que se pretendem solidifi-cadas nas memórias dos presentes e que, cogito eu, só se expli-cam num conceito simples de uma espécie de amor à Marinha, construído em momentos de sofrimento e angústia num passado já distante da juventude.

Os sentimentos mais pujantes e genuínos nascem dos momentos difíceis, feitos, na frase simplificada de Churchill, de sangue, suor e lágrimas. Muitos de nós despertaram para eles, quiçá demasia-damente cedo. Mas essa circunstância deu-nos a argamassa que nos tornou mais fortes e mais unidos. Singela explicação para a grandeza dos nossos Encontros. Porém, para que nos possamos encontrar de novo, uma despedida é necessária. Sempre sofrida como são todas. E ela inexoravelmente aconteceu no termo de mais uma jornada de alegria, boa disposição e salutar cordialida-de entre pares, que mais uma vez deram uma exemplar lição de união e sã camaradagem.

Daqui vão os meus votos que, estou seguro, são comungados por todos: QUE AS NOSSAS DESPEDIDAS SEJAM UM ETERNO REEN-CONTRO.

Adelino CoutoSóc. Orig. n.º 2382

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Neste período a DFZA levou a efeito inúmeras actividades que muito valorizaram o espírito associativo e dinamizaram o in-tercâmbio com as autoridades locais e com a sociedade civil

em geral. Para que conste aqui fica o registo de algumas que bem demonstram esta dinâmica:

– HERCULES VII SERIES – Ria de Alvôr (23 a 25 Abril 2016), participação de 17 elementos.

– EUROPEU FORMULA WINDSURFING – Portimão (17 a 22 Maio 2016), participação de 9 elementos.

– Banco Alimentar – Faro/Portimão (29 Maio 2016), colabora-ção com 17 elementos.

– OPTIMIST WORLD CHAMPIONSHIP 2016 – Vilamoura (03 Ju-lho 2016), participação de 10 elementos.

– 35.ª Concentração MOTAR – Faro (14 a 17 Julho 2016), par-ticipação de 8 elementos.

– Campeonato do Mundo FI Motonáutica – Grande Prémio Portugal – Portimão (29 a 31 Julho 2016), participação de 11 elementos.

– XXVII Fatacil – Lagoa (18 a 28 Agosto 2016), participação de 16 elementos.

– VI Descida do Rio Arade

– Cerimónia de atribuição do topónimo de uma rua ao Fu-zileiro, falecido em serviço, Bruno Chainho – Aldeia de St.º André, Santiago do Cacém (24 Setembro 2016), participação com 6 elementos DFZA e onde estiveram também presentes representantes do Corpo de Fuzileiros, da AFZ Direcção Na-cional e da Delegação da AFZ de Juromenha/Elvas.

Delegação do Algarve

VI Descida do Rio Arade

Este evento, pela sua dimensão e meios envolvidos, merece especial destaque. Tendo decorrido entre Silves e Portimão, a VI Descida do Rio Arade realizou-se no passado dia 11 Setem-

bro 2016 e contou com a presença de 250 participantes.

Para o efeito o Corpo de Fuzileiros cedeu 26 botes. A segurança, sempre em primeiro lugar, foi garantida por 2 Botes da UMD e res-pectivas guarnições, por uma lancha do ISN, uma embarcação da Polícia Marítima, uma embarcação de mergulhadores, duas em-barcações particulares e ainda por um Kaiaque de Portimão que acompanhou toda a descida.

Campeonato do Mundo FI Motonáutica – Grande Prémio Portugal

XXVII Fatacil

PROTOCOLOS subscritos pela DFZA

AquaShow Quarteira

50% desconto (entradas no parque) para sócios e familiares de 1.º grau

15% sobre tarifa balcão (Hotel) para sócios e familiares de 1.º grau

Ginásio do SulOlhão

Passe mensal free acessos: 25%/mês para sócios e familiares de 1.º grau

delegações

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Descida do Rio Douro com botes a remo

Visita à Fragata Bartolomeu Dias

6.º Aniversário da DFZJE

No dia 11 de Junho realizou-se a 2.ª Descida do rio Douro em botes a remo. Tudo decorreu como previsto, muito bem, e todos os Fuzileiros participantes se comportaram com brio

e aprumo.

Pelo facto e pelo êxito do evento recebemos os parabéns do se-nhor Vereador da Cultura da CM de Gaia, Delfim de Sousa, do Comandante Zona Marítima do Norte CMG Teixeira Pereira e do CMG Lhano Preto que esteve presente.

A 13 de Junho e a convite do Comando Zona Marítima do Nor-te, a Delegação de Fuzileiros Douro Litoral fez uma visita guiada à Fragata Bartolomeu Dias. Foi o momento para ac-

tualizarmos os nossos conhecimentos sobre a Marinha actual e trocarmos impressões com a guarnição que nos acolheu de forma excelente.

A Delegação de Fuzileiros Douro Litoral fez se representar nas comemorações do 6.º aniversário da DFZJE, a 4 de Ju-nho, pelo seu Presidente Henrique Mendes e sua esposa.

Foi um excelente convívio e queríamos apenas agradecer o aco-lhimento e dar os parabéns pela excelente organização, pelo ex-celente convívio que proporcionaram e êxito alcançado.

Delegação do Douro Litoral

Neste grande evento foi uma honra ter entre nós o CALM Piccio-chi, o Comandante José Ruivo, o Comandante Benjamim Correia, respectivamente, Presidente e Vice-Presidente da Associação de Fuzileiros, o representante do Comandante da Zona Marítima do Sul, vários elementos das quatro Forças Especiais Militares Portu-guesas e algumas estrangeiras bem como a presença de muitos familiares e amigos, entre outras entidades.

A VI Descida do Arade teve alguns pontos altos durante o tra-jecto mas, o que mais convém realçar, é o excelente espírito de camaradagem e convívio entre todos os elementos presentes. O final da prova realizou-se na rampa do Clube Naval de Portimão onde se lavaram, enrolaram e carregaram os Botes, seguindo-se depois para o Ponto de Apoio Naval de Portimão onde decorreu o almoço-convívio até à abaladiça.

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Uma palavra de agradecimento ao Comandante da Zona Ma-rítima do Norte pelo seu empenho e ajuda para que o convívio tivesse o êxito que teve e ao ISN e Polícia Marítima que, mais uma vez, nos deram o seu excelente apoio.

À Direcção da AFZ,, ao Corpo de Fuzileiros, à Unidade Móvel de Dsesembarque e seus militares o nosso muito obrigado.

A todos os que lá estiveram presentes, aos que ajudaram com o seu contributo e ao pessoal da Direcção da Delegação dizemos que estamos todos de parabéns!

No passado dia 11 de Setembro a Delegação de Fuzileiros Douro litoral realizou um agradável convívio/piquenique na Barragem de Alpendurada e Marco de Canaveses.

Estiveram presentes Fuzileiros locais e de diversos pontos do país como de Felgueiras, Almada, Matosinhos, Marco Canave-ses, Guimarães, Vila Nova Gaia, Porto, Penafiel, Amarante, etc...

Um são convívio onde não faltou a parte aquática com o bote “FUZOS” a rasgar as águas da barragem com muita adrenalina à mistura.

O som do motor e a esteira traçada pelo bote trazem-nos à memória outros tempos de grande camara-dagem e operacionalidade.

Tivemos também a juventude a operar os kaiaques gentilmente cedidos pela Associação de Cano-agem do Marco de Canaveses, a quem desde já agradecemos.

O almoço, bem regado, decorreu em clima de muita amizade e par-tilha. Obrigado a todos e…. para o ano há mais.

Dia do Fuzileiro

Convívio na Barragemde Alpendurada

Mais ano passou e mais uma vez a nossa Delegação se fez representar muito dignamente no Dia do Fuzileiro.Um autocarro repleto desembarcou na casa mãe e,

os Fuzileiros da DFZDL e seus familiares, participaram nas comemorações deste dia tão importante para a família “Fu-zileiro” que este ano se celebrou, excepcionalmente, no dia 9 de Julho.

Foi um excelente convívio e a viagem pelo que agradecemos a todos pelo excelente comportamento e aprumo, preocupação que sempre deve nortear os que orgulhosamente ostentam a boina Azul Ferrete.

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Inauguração do Memorial ao Combatente em Elvas

Homenagem póstuma ao camarada Bruno Chainho

No dia 24 de Setembro, a DFJE marcou presença na inau-guração do Memorial ao Combatente que se encontra situado na Rotunda do Combatente em Elvas.

Esta iniciativa foi levada a cabo pelo Núcleo de Elvas da Liga dos Combatentes em conjunto com o Município de Elvas.

No passado dia 24 de Setembro a DFZJE, a convite da DFZA, participou na Homenagem, a título pós-tumo, ao camarada FZ Bruno Chainho, que tom-

bou em serviço da GNR no Pinhal Novo em Novembro de 2013, numa tentativa de travar um assalto.

Foi uma homenagem muito sentida com o descerra-mento de uma placa toponímica que irá dar nome a uma rua de Vila Nova de Santo André, localidade de onde o Fuzileiro Bruno Chainho era natural.

Marcaram presença, além das Delegações de Fuzilei-ros de Juromenha/Elvas e do Algarve, a GNR, o repre-sentante da Ministra da Administração Interna, o Pre-sidente da Câmara Municipal de Santiago do Cacém, o Presidente da Junta de Freguesia de Santo André, os pais de Bruno Chainho e grande parte da população local que não quis deixar de homenagear o seu filho da terra.

Delegação de Juromenha/Elvas

RECOMENDAÇÕES/INFORMAÇÕES/PEDIDOS da Direcção

Endereços Electrónicos

A Direcção Nacional da AFZ solicita a todos os Sócios que possuam endereços electrónicos (email) o favor de os remeterem ao Secretariado Nacional ([email protected]) para facilitar as comunicações/informações que se pretende assumam a natureza de constantes e permanentes. É também importante que os sócios mantenham actualizados os seus contactos, as suas moradas, telefones e telemóveis. Assim, estarão os Sócios sempre informados, em tempo quase real, de todas as regalias de que poderão usufruir, bem como das datas e locais dos convívios e eventos, da iniciativa da Associação ou dos Associados.

Documentos de despesa com saúde

A Associação de Fuzileiros, através do seu Secretariado Nacional, disponibiliza aos seus associados o serviço de recepção e encaminhamento, para os serviços competentes, dos documentos de despesas com saúde.

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delegações

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Presença na Expo São Mateus e participação na Procissão dos Pendões

Criação da Delegação da Associação de Fuzileirosda Polícia Marítima (DFZPM)

Uma vez mais a Direcção de Fuzileiros de Juromenha/Elvas marcou presença na Expo São Mateus, englobada na roma-ria de São Mateus, que decorreu em Elvas, de 16 a 25 de

Setembro.

A DFZJE esteve presente na área de exposição com um stand e participou, como já é tradição, na Procissão dos Pendões que

se realizou, no dia 20 de Setembro, na presença de milhares de pessoas. Este ano, além da presença de diversos camaradas fuzileiros que orgulhosamente nos acompanharam, desfilaram connosco camaradas da Associação de Paraquedistas que se fi-zeram acompanhar do seu guião e também, a nosso convite, os camaradas espanhóis da Associacion de Veteranos “Base Aérea de Talavera La Real” .

Indo de encontro ao espírito emanado dos Estatutos da As-sociação de Fuzileiros (Art. 10.º, 11.º e 12.º) um grupo de Fuzileiros da Polícia Marítima entendeu constituir-se em De-

legação desta Associação.

A proposta dos representantes da futura Delegação (Bruno Talhadas, Paulo Isidro, João Neto e Manuel Mendes) foi for-malmente apresentada em reunião que teve lugar na sede da Associação Nacional de Fuzileiros, no passado dia 11 de Julho, onde se definiu a estratégia para a sua concretização.

Por sua vez, a Direcção da Associação Nacional de Fuzileiros, em reunião de 14 de Julho de 2016, analisada a proposta, de-cidiu reconhecer a referida Delegação que terá, para arranque do projecto, uma Direcção mínima constituida pelo Presidente, Bruno Talhadas, pelo Secretário, Paulo Isidro Relvas, e pelo Tesoureiro, João Conde Neto.

Esta decisões ficaram exaradas na Acta n.º 234/07/2016 a fo-lhas 34 e 35, ficando também decidido que a data de 14 de Julho de 2016 passará a ser a data de referência da criação desta Delegação e, como tal, a data comemorativa dos futuros aniversários.

A Direcção

Delegação da Polícia Marítima

cadetes do mar

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Prosseguindo o programa estabelecido pela UCMF, realizou--se no sábado, 16 Abril, a 7.ª actividade de Formação dos Cadetes do Mar Fuzileiros, no Museu de Marinha.

Durante a manhã, os Cadetes do 1.º ano debruçaram-se sobre a história das embarcações do século XV e XVIII e assim, puderem aprofundar o estudo sobre os heróis, de diferentes épocas, no-meadamente o Infante D. Henrique, Afonso de Albuquerque e o Almirante Marquês de Niza, trabalhos que serão apresentados no próximo Dia do Cadete do Mar.

Os Cadetes do 2.º e 3.º anos, aproveitando o magnífico espólio e acervo histórico Naval, existente no Museu de Marinha, desen-volveram os trabalhos que irão apresentar sobre diversos temas militares tais como; Cerimonial Marítimo, Regulamento das Me-dalhas Militares, Regras da Bandeira Nacional e a História dos Fuzileiros.

Durante a tarde, os Cadetes continuaram a sua formação prática em Ordem Unida, executando um exercício de comando de uma esquadra conforme o estipulado no Regulamento de Cerimonial Naval. Em sala, os Cadetes apresentaram o estudo da disciplina

Serviço Cívico à Comunidade Naval, conduzindo uma sessão sobre o heroi nacional escolhido para seu tema, valorizando os feitos pelos mesmos praticados sempre balizados pelo contexto histórico respectivo, e os efeitos na estratégia da Defesa de Por-tugal no Mundo.

Com a realização da 7.ª Actividade, terminaram os Cadetes do Mar Fuzileiros um ciclo de formação que se iniciou em Setembro de 2015 e que culminou com a entrega dos res-

pectivos Certificados de Final de Curso

A cerimónia teve lugar no dia 14 de Maio de 2016 na Associação de Fuzileiros e que foi presidida pelo Presidente da Direcção CMG FZ José António Ruivo.

Cerimónia singela mas de alto significado, contou com a presen-ça de instrutores, familiares e amigos e calou fundo nos Cadetes que, tal como os envolvidos nesta tão meritória missão, viram o seu esforço, de vários fins de semana de actividades e de muitas horas de estudo, devidamente recompensado.

Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros

Encerramento das Actividades 2015/201614 de Maio de 2016

7.ª Actividade16 de Abril de 2016

cadetes do mar

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Pelo meio, como fomos acompanhando, ficaram múltiplas acções de formação programadas que versaram temas tão distintos como: Educação Física, Cerimo-nial Naval e Ordem Unida, Comportamen-to Cívico na Comunidade Naval, Meios Aquáticos/Remo em Botes, Orientação Desportiva e História dos Fuzileiros, entre outros.

Neste contexto cabe aqui, ainda, dar o de-vido relevo à cerimónia que teve lugar em Mafra, no dia 30 de Abril, comemorando o Dia dos Cadetes do Mar e dos Cadetes do Exército de Portugal.

A cerimónia foi presidida pelo Senhor Ge-neral Rovisco Duarte, CEME e contou com a presença de Senhor Contra-Almirante Ramalho Borges em representação do Al-mirante CEMA.

Todas as Unidades de Cadetes Nacio-nais estiveram presentes com os seus instrutores e outras personalidades com envolvimento directo no desenvolvimento deste Projecto, além de muitos familiares, amigos e público em geral.

José TalhadasSóc. Orig. n.º 95

Comte UCMF / Mestre da UCMF

Afonso BrandãoSóc. Orig. n.º 1277

Mestre da UCMF

Revista “O Desembarque”

Caros Sócios, Camaradas, Amigos e Colaboradores Permanentes,

Antes de mais cumpre agradecer a pronta resposta que vem sendo dada pelos nossos colaboradores mais efectivos e a de todos quantos, embora menos regularmete, nos enviam textos para publicação.

Só assim se torna possível manter a edição de “O Desembarque” com a regularidade e qualidade que pretendemos.

Mais uma vez recomendamos que os textos devem ser remetidos via correio electrónico, em documento “Word” e as fotografias (se possível legendadas) deverão possuir qualidade gráfica e enviadas como anexos e não já integradas nos textos.

Os artigos (cartas ao Director, notícias, crónicas, lendas e narrativas, opinião, cultura e memória, pequenas histórias, poesia, etc., etc.) serão publicados se a Direcção da AFZ e a Redacção de “O Desembarque” considerarem que têm qualidade e estiverem de acordo com a sua linha editorial, sem prejuízo de os textos poderem ser revistos, adaptados e reduzidos se os respectivos autores, expressamente, a tal se não opuserem, quando da remessa dos seus artigos.

No caso de, na Redacção da revista, se juntar um número de trabalhos que ultrapasse a dimensão de “O Desembarque” (em princípio, 52 páginas) publicar-se-ão os artigos pela ordem de entrada ou dos registos dos acontecimentos, se a qualidade for considerada equivalente, designadamente, no caso de relatos de convívios ou encontros de que disponhamos de textos e fotos, nas condições de qualidade já definidas.

Quanto às Delegações, torna-se imprescindível a sua colaboração atempada, enviando fotos (com qualidade gráfica) dos eventos da sua responsabilidade, acompanhadas de um texto simples e sintético mas que permita aos responsáveis pela edição/publicação da Revista perceberem, minimamente, o evento, ou seja: identificação das Entidades e outros convidados presentes; estimativa total de presenças; impacto do evento na Região/Delegação/AFZ; entre outros aspectos que entendam, por bem, deverem ser tornados públicos.

Contamos com todos!

A Direcção da AFZ e Redacção de “O Desembarque”

divisões

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Como vem sendo habitual, a Associa-ção de Fuzileiros realizou mais uma actividade de campismo por forma a

promover o convívio familiar e fomentar a prática desta actividade ao ar livre.

Realizado novamente nas Instalações Navais de Tróia (PANTRIOA), este ano foi escolhido o fim-de-semana de 4 e 5 de Junho.

Com cerca de 50 participantes, cedo se montaram as tendas para se iniciar um fim-de-semana descontraído e com reali-zação de actividades livres; destacou-se o tiro com arco e flecha que fez as maravi-lhas dos mais novos!

Este ano contámos também com a pre-sença da Corveta António Enes e, no do-mingo, foi dia de visita ao Navio. A guar-nição recebeu-nos e conduziu uma visita guiada, dando a conhecer a todos a sua história e a suas funções operacionais.

Foi um convívio curto mas preenchido de muitas actividades e que deixou vontade a muitos de, para o ano, estarem de volta… e lá estaremos!

Não posso deixar de agradecer a toda a Guarnição do PANTROIA e da Corveta Antó-nio Enes pelo modo como nos acolheram!

Muito obrigado!

A Associação de Fuzileiros realizou no fim de semana de 30 de Abril e 01 de Maio um Curso de Tiro Pratico Desportivo (IPSC) para o seus quatro atletas que alcançaram a Licença

Federativa C ao longo do seu percurso no tiro desportivo!

Estes quatro atletas receberam a formação ministrada pelo for-mador Sr. Paulo Santos em duas fases, tendo decorrido no pri-meiro dia a parte teórica e prática in door na Sede da Associação de Fuzileiros e, no segundo dia, a parte prática em carreira de tiro nas instalações a Academia Nacional de Tiro em Corroios.

Ministrada a formação, os atletas realizaram exame na Federação Portuguesa de Tiro, no Regimento de Comandos da Carregueira, onde todos os formandos obtiveram nota final positiva!

A estes atletas desejamos os melhores resultados nesta nova mo-dalidade desportiva que abraçam…

Divisão do Mare das Actividades Lúdicas e Desportivas

Textos de Espada PereiraSóc. Orig. n.º 445

Chefe de Divisão do MALD

Fim-de-Semana Campista 2016

Tiro DesportivoCurso de Tiro Prático (IPSC)

divisões

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Realizou-se no passado dia 17 de Se-tembro, na Escola de Fuzileiros, a 4.ª edição da prova de remo em bo-

tes da Associação de Fuzileiros.A maré, de tão baixa que estava, condi-cionou a hora de início da prova mas não desmoralizou os atletas das equipas con-correntes. O Bar da UMD foi fornecendo reforço alimentar e delinearam-se estraté-gias para ultrapassar o contratempo.Este ano a prova contou com 12 equipas, num total de 80 atletas, que com bravura se fizeram ao rio Coina disputando com desportivismo os lugares do pódio. Com todas as tripulações de regresso a terra firme, ocuparam o pódio as equipas Prensados II com o 3.º Lugar, Heróis do Rio com o 2.º lugar e a grande vencedora desta 4.ª Edição, a equipa Mad Max Team, com o 1.º lugar.Realizada a entrega de prémios e tirada a tradicional fotografia de grupo, mar-chou-se para o merecido almoço de convívio realizado na Escola de Fuzileiros.Fica aqui o nosso agradecimento a todos os que nos apoiaram na realização deste grande evento com destaque para a Escola de Fuzileiros e para a Uni-dade de Meios de Desembarque e, em especial, para a excelente equipa de militares que esteve sempre pronta a ajudar e ao nosso lado!

E como a 5.ª edição é já para o ano, até lá... bons ventos e marés...!

Realizou-se no passado dia 18 de Junho, na Carreira de Tiro Desportivo do Centro de Educação Física da Armada, o Troféu Sarg. Fuzileiro Henrique Madaíl na modalidade de tiro Arma Curta de Recreio (ACR) a 25 m.

Esta competição, que se realiza todos os anos, tem como finalidade homenagear um grande Fuzileiro e Atleta do Tiro Desportivo e contou com a presença de atletas de oito clubes, tendo participado 33 atletas desportivos!

Sendo uma modalidade com cada vez mais adeptos, na divisão Homens Sénior (HS) o pódio foi ocupado por três atletas que obtiveram todos a mesma pontuação, ou seja, os três fizeram 272 pontos em 300 possíveis! O desempate teve de fazer-se com recurso às melhores séries.

Classificação HS1.º Classificado: Rui Rodrigues (Ass. de Fuzileiros)2.º Classificado : Mário Miranda (Clube Português de Tiro Prático e Precisão)3.º Classificado : Luis Matos (Ass. de Fuzileiros)

Classificação HV1.º Classificado : Rui Ribeiro ( Sociedade de Tiro n.º 2)2.º Classificado : João Lourenço (Clube Português de Tiro Prático

e Precisão)3.º Classificado: Carlos Machado (JSR Clube de Tiro)

Classificação HJ1.º Classificado: Bruno Moreira (Casa do Pessoal de Corroios)

Classificação SS1.ª Classificada: Elizabete Fernandes (Ass. de Fuzileiros)2.ª Classificada: Carla Venâncio (Ass. de Fuzileiros)

Classificação por Equipas1.ª Classificada: Clube Português de Tiro Prático e Precisão2.ª Classificada: Associação de Fuzileiros3.ª Classificada: Casa do Pessoal de Corroios

Tiro – Troféu Sarg. Fz Henrique MadaílTiro ARC 25 m

Prova de Remo em Botes 2016

convívios

50 O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

O pessoal do Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 12 (1970/71) e as suas famílias reuniram-se no passado dia 23 de Abril, na Pousada de Santa Iria em Tomar, para um

encontro periódico, justamente quando passaram 45 anos do re-gresso da sua comissão de serviço na Guiné.

Foi um encontro que contou com a logística da sua delegação centro, onde pontificaram o João Aleixo Mata e o Rogélio Lopes da Silva, e a supervisão do Armando Gonçalves.

Nesta reunião, o pessoal do DFE 12 quis, também, recordar – porque ocorreram, precisamente, em Abril de 1970, os dois as-saltos seguidos à base central do PAIGC na Frente Norte (acções «Cocha» e «Catanada»), onde após combates prolongados cap-turaram mais de 10 toneladas de armamento.

Na ocasião foi homenageado o marinheiro telegrafista FZE Ulis-ses Pereira Correia, morto em combate a 24 de Outubro de 1970, junto à estrada do Sambuiá, homenagem esta que se estendeu a todos os fuzileiros falecidos em serviço.

O DFE 12 esteve em comissão de serviço na Guiné entre Janeiro de 1970 e Dezembro de 1971, sob o comando do então primeiro--tenente Francisco Mendes Fernandes, que, no final do almoço, discursou para realçar o valor da convivência e da solidarieda-de que o pessoal do destacamento manteve ao longo destes 46 anos.

Na Guiné, o DFE 12 realizou actividade de patrulha permanente dos rios e acções operacionais no Comando Operacional n.º 3, sediado em Bigene, no Comando de Agrupamento Operacio-nal n.º 1, em Teixeira Pinto, hoje Canchungo, Porto Gole, onde

actuou, operacionalmente, em acções sobre a supervisão do Co-mando da Defesa Marítima (CDMG) e do Batalhão de Caçadores Paraquedistas (BCP) e, por um período de um mês, em Bissau, sob o controlo operacional do CDMG, do BCP e de uma estrutura formada especialmente, com unidades dos três ramos, denomi-nada Comando de Agrupamento Temporário.

Presente, como convidado, neste almoço o contra-almirante Pic-ciochi, que exerceu o cargo de Comandante do Corpo de Fuzilei-ros desde 08 Outubro de 2008 a 05 Setembro de 2014.

Serafim LobatoSócio n.º 1792

Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 1245 Anos depois do seu Regresso

Guiné 1970/7123 de Abril de 2016

convívios

51O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

A Companhia de Fuzileiros N.º 10 que cumpriu comissão em Moçambique entre os anos de 1971 e 1973, reu-

niu em convívio no dia 8 de Maio de 2016 para comemorar o 42.º aniversário.

A adesão felizmente continua a ser grande tendo estado presentes cerca de 80 pessoas

o que diz bem do espírito de união desta Unidade.O almoço decorreu com muita animação recordando tempos passados.Os vinte e cinco camaradas já falecidos fo-ram e serão sempre lembrados. Tivemos também a felicidade de reencontrar alguns

que compareceram à chamada pela pri-meira vez.

Esta Unidade, comandada pelo coman-dante Fernando Alberto dos Santos Lou-renço prestou serviço em diferentes zo-nas da então Província de Moçambique tendo tido grupos em Porto Amélia, Beira,

O DFE 9, que esteve em Moçambique entre 1967 e 1969, realizou, no pas-sado dia 07 de Maio, o encontro co-

memorativo dos 47 anos do seu regresso a Lisboa.

O almoço realizou-se num restaurante em Famões e contou com a presença de 16 elementos do DFE 9, entre o quais o Co-mandante António Luís Santarém da Cruz, e alguns familiares dos camaradas pre-sentes, num total de 42 pessoas.

O Manuel Carlos Almeida (o Barrinha) que, juntamente com o João Oliveira Duarte, organizaram o evento, agradecem a pre-sença de todos e pretendem partilhar com a comunidade FZ estes momentos deste convívio.

Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 9Moçambique 1967/69

7 de Maio de 2016

Companhia de Fuzileiros N.º 10Moçambique 1971/73

8 de Maio de 2016

convívios

52 O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

No passado dia 14 de Maio, um largo grupo de camaradas Fuzileiros da Escola de 87 visitaram e usufruiram

para convivio e pernoita, das instalações da sede da DFZJE. Foi uma agitação na pacata vila de Juromenha com tantos Fu-

zileiros num só dia mas, o mais importante de tudo, foi o espírito de camaradagem por todos evidenciado e a divulgação que va-mos fazendo.

Neste caso da “Escola de 87”, as autori-dades autárquicas de Elvas, ao mais alto nível, estiveram presentes e enalteceram o iniciativa.

Alguém reconhecendo o trabalho organi-zativo do FZ Migués, disse: “A culminar a excelente organização e a capacidade de planificação que proporcionou a vinda de muitos Filhos da Escola a Elvas, eis o re-conhecimento merecido, com a presença do Sr. Presidente da Câmara Municipal de Elvas bem como do Sr. Vice-Presidente.”

Foi um excelente momento de convívio entre camaradas mais modernos e mais antigos, sem dúvida!

Delegação da Associação de Fuzileirosde Juromenha/Elvas

Convívio Fuzileiros – Escola de 8714 de Maio de 2016

Nampula, Vila Cabral/Meponda, Coboe, Metangula e Lourenço Marques.

Tem vindo a reunir-se anualmente desde 1975 em vários pontos do país, estando a projectar-se novo encontro para o próximo ano que se realizará no Algarve.

Artur M R SimõesSócio n.º 1792

Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz de Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt

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53O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

UNIDADE DE ELEIÇÃO, VALOROSA E DESTEMIDA

6 de Junho de 1966, segunda-feira oito da manhã, o velhinho Contratropedeiro Vouga deixa a Base Naval de Lisboa rumo à Guiné.

A bordo o DFE N.º 7 e, no cais, muitos familiares, namoradas e amigos. Para comemorar as Bodas de Ouro da sua chegada a Bissau, este Destacamento reuniu-se no passado dia 11 de Junho num encontro cheio de significado e com uma presença bastante positiva de antigos combatentes, familiares e amigos.

Este evento teve o seu início na Escola de Fuzileiros de cujo programa destacamos:

10h30 - Homenagem aos Fuzileiros já falecidos com colocação de uma coroa de flores junto ao Monumento do Fu-zileiro; imposição da Boina de Fuzileiro à mais jovem elemento do Destacamento, a Daniela Gaito; descerra-mento de uma placa comemorativa do 50.º Aniversá-rio da chegada à Guiné, seguido de discursos a criar emoções.

11h15 - Cerimónia religiosa na Capela da Escola, onde o Cape-lão Licínio recordou os camaradas já falecidos.

12h00 - Visita ao Museu do Fuzileiro.

13h00 - Partida para Fernão Ferro, onde teve lugar um almoço de confraternização no Restaurante Manjar das Laran-jeiras, animado com a graciosidade dos jovens e salpi-cado de namoradas que, há cinquenta anos, tinham fi-cado no Cais da Base Naval de Lisboa e hoje são mães e avós dos nossos filhos e netos.

Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 750.º Aniversário da sua chegada – Guiné 1966/68

11 de Junho de 2016

Dr. Pedro Mota

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54 O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

16h15 - Actuação do Coro Polifónico do Clube do Sargento da Armada dirigido pelo Maestro Pio.

17h00 - Abertura do Bolo de Aniversário e fim do evento com a promessa de novo encontro em 2018.

Comandado pelo então 1.º tenente Moi-tinho de Almeida e formado por anóni-mos portugueses que não fugiram, não desertaram e obedecendo, com o risco da própria vida, a uma decisão política do regime vigente, cumpriu o DFE7 uma comissão de serviço naquela ex-colónia, onde teve um compor-tamento que viria a ser reconhecido como brilhante.

Ao longo dos 22 meses de actividade operacional, actuando num terreno inóspito, em condições climáticas adversas e pe-rante um adversário aguerrido, bem preparado e bem armado, o Destacamento nunca deixou de ir aos objectivos, nunca fugiu ao combate, nunca perdeu uma arma a favor do inimigo, nunca deixou um camarada para trás.

Aceitando todos os riscos, actuou sempre como equipa coesa, moralizada, elevada agressividade, espírito de unidade e efi-ciência em combate, naquele “inferno” onde tantas vezes se misturou sangue com lama.

O Destacamento regressou a Lisboa a 18 de Abril de 1968 a bordo da Fragata Diogo Gomes, tendo recebido, ainda a bor-do, os cumprimentos de boas-vindas do então CEMA, Almirante

Armando Júlio de Reboredo e Silva que numa passagem do seu discurso, afir-mou: “O vosso valor e coragem na defesa do território nacional, dão-vos o direito a regressar cobertos de prestígio e de gló-ria e, acima de tudo, com a consciência do dever cumprido – o maior prémio dos bons portugueses. A Armada Portuguesa tem obrigação de seguir o vosso exem-plo...”. E, dirigindo-se aos jornalistas presentes, afirmou: “Não fosse a extra-ordinária coragem dos nossos fuzileiros e

o assinalável serviço das lanchas da Marinha, a Armada, neste tipo de guerra, quase passava despercebida porque raramente teria ocasião para actuar”.

O Destacamento regressou coberto de louvores e condecora-ções, tanto individuais como colectivos, mas a maior glória foi não ter havido mortes. Regressaram todos vivos embora alguns e seus familiares ainda estejam a pagar uma factura muito ele-vada.

Regressaram todos com vida mas já cá não estão todos, e en-tre os que já partiram, há um que quero aqui pronunciar o seu nome, pagando assim a minha dívida de gratidão: Manuel José Franco Belo, Marinheiro Fuzileiro Especial N.º 119/65.

O Belo, conhecido na unidade por o Cow-Boy, foi protagonis-ta comigo em muitas situações de combate na Guiné, dando sempre provas de coragem, enorme auto-confiança e diabólica eficácia no tiro, partiu pelas 16 horas e 40 minutos do dia 15 de novembro de 1973, vítima de uma mina assassina cobardemen-te escondida numa poeirenta picada de Angola.

Partiu, como partiram tantos outros heróis humildes, ingénuos, de quem não se fala, nomes ignorados que fizeram história mas que não têm História. Por ti, meu querido camarada, que tão cedo nos deixaste, recito entre soluços uma oração.

Guilhermino A. Ângelo

Sócio n.º 1527

obituário

55O DESEMBARQUE • n.º 25 • Novembro de 2016 • www.associacaodefuzileiros.pt

Homenagem ao Sócio de Mérito 1SAR FZ Henrique MadaílFaleceu, no passado dia 10 de Setembro de 2016, o Primeiro-Sargento Fuzileiro Henrique António Marques Madaíl, Sócio de Mérito da nossa Associação.

Incorporado em 1960, fez comissões de serviço em Angola e Moçambique e, mercê da sua vontade e persistência, tornou-se referência maior na modalidade de Tiro de Pistola.

A sua fama como atirador extravasou a Marinha, destacando-se a nível nacional e internacional, tendo represen-tado Portugal ao mais alto nível, como atleta olímpico, entre 1971 e 1982.

Obteve resultados brilhantes em inúmeras competições, foi notícia em jornais e revistas e orgulhou-se de “ter batido por três vezes consecutivas o recorde Nacional de Pistola de Grosso Calibre”.

Aqui se presta homenagem aos que nos deixaram

diversos

Donativos à AFNome do sócio N.º Donativo

Comemorações do10 de Junho – Vários Sócios …. 60,45 €

Junta de Freguesia do Alandroal à Delegação de Juromenha/Elvas

…. 300,00 €

MITRENA Fábrica do Papel em Setúbal …. 6 Cxs.

Papel A4

Francisco Manuel Neves Jordão 1634 2,00 €

Ludgero dos Santos Silva 167 30,00 €

CMG FZ Francisco Mendes Fernandes 546 100,00 €

Francisco Manuel Neves Jordão 1634

3 Quadros com

versosJosé Bernardes Monteiro (Assinatura anual de“O Desembarque”)

1225 10,00 €

Henrique Pais Fernandes 2398 10,00 €

Novos SóciosNome do sócio N.º

Horácio Fernandes 2499

Noé Rodrigues João Magalhães (Marinha de Angola) 2500

José Albino Da Costa Rebelo 2501

António Fernandes Nunes 2502

Joaquim António Pereira Dias 2503

António José Silva Rego 2504

Fernando Sequeira Tordão 2505

Pilemeno Carvalheira da Silva Marques 2506

José Armando Matos Fernandes 2507

Bruno Alexandre Capatão Talhadas 2508

Novos SóciosNome do sócio N.º

José Manuel Mendes 2509

Luís Miguel Cruz Fialho 2510

Paulo Domingos Gonçalves 2511

João Carlos Conde Neto 2512

Humberto Luís Pires Tomás 2513

Paulo Jorge Rodrigues Isidro Relvas 2514

Manuel César Tibério Magarreiro 2515

José Alberto Perna Gabriel 2516

Loan Mendes Rianço (2 meses de idade) 2517

Pedro Jorge de Aquino Silva 2518

A Associação Nacional de Fuzileiros e a Revista “O Desembarque” apresentam sentidas condolências às Suas Famílias, publicando-se as respectivas fotografias que correspondem às que encontrámos nos nossos ficheiros.

Estes nossos Camaradas e Amigos permanecerão para sempre entre nós!

Carlos Alberto da Costa SecaSócio n.º 117

440856 SAJ FZ REF16/02/1936 a 08/2016

Inácio JamancaSócio n.º 585

8970 SAR FZE DFA REF25/04/1951 a 07/2014

Alexandre Guerreiro Lopes Perninha

Sócio n.º 23260167 MAR FZE

20/09/1949 a 09/10/2016

José Eduardo F. Ramos PaixãoSócio n.º 1909125371 GR FZ

25/08/1950 a 12/2015

Amadeu SantosSócio n.º 602

816462 SMOR FZE15/04/1941 a 09/07/2016

Dam-Dam CamaráSócio n.º 1895

117770 1GR FZE PIV REF09/05/1948 a 03/2015

Manuel Oliveira FernandesSócio n.º 871

752561 CAB FZE09/08/1941 a 07/2016

Por estes méritos reconhecidos e em sua honra, a Associação de Fuzileiros criou uma prova de referência anual na modalidade de tiro desportivo com a designação “Troféu de Tiro com Arma Curta e Recreio – Sargento FZ Henrique Madaíl”.Oportunamente foram endereçadas as devidas condolências à Família mas “O Desembarque” não poderia deixar de dar devida nota do desaparecimento físico deste nosso Sócio de Mérito que tanto dignificou os Fuzileiros, a Marinha e Portugal.

A Direcção