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QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DE CULTIVO E DE MEXILHÕES Perna perna (Linnaeus, 1758) COMERCIALIZADOS EM UBATUBA, SP JULIANA ANTUNES GALVÃO Dissertação apresentada à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em Ciências, Área de Concentração: Ciência e Tecnologia de Alimentos. P I R A C I C A B A Estado de São Paulo – Brasil Maio – 2004

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  • QUALIDADE MICROBIOLGICA DA GUA DE

    CULTIVO E DE MEXILHES Perna perna (Linnaeus, 1758)

    COMERCIALIZADOS EM UBATUBA, SP

    JULIANA ANTUNES GALVO

    Dissertao apresentada Escola Superior de

    Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de So

    Paulo, para obteno do ttulo de Mestre em Cincias,

    rea de Concentrao: Cincia e Tecnologia de

    Alimentos.

    P I R A C I C A B A

    Estado de So Paulo Brasil

    Maio 2004

  • QUALIDADE MICROBIOLGICA DA GUA DE

    CULTIVO E DE MEXILHES Perna perna (Linnaeus, 1758)

    COMERCIALIZADOS EM UBATUBA, SP

    JULIANA ANTUNES GALVO Licenciatura em Cincias Biolgicas

    Orientador: Profa. Dra. MARLIA OETTERER

    Dissertao apresentada Escola Superior de

    Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de So

    Paulo, para obteno do ttulo de Mestre em Cincias,

    rea de Concentrao: Cincia e Tecnologia de

    Alimentos.

    P I R A C I C A B A

    Estado de So Paulo Brasil

    Maio 2004

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    DIVISO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAO - ESALQ/USP

    Galvo, Juliana Antunes Qualidade microbiolgica da gua de cultivo e de mexilhes Perna perna

    (Linnaeus, 1758) comercializados em Ubatuba, SP / Juliana Antunes Galvo. - - Piracicaba, 2004.

    109 p. : il.

    Dissertao (mestrado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2004. Bibliografia.

    1. Meio ambiente aqutico 2. Mexilho 3. Microbiologia da gua - Qualidade 4Mitilicultura 5. Molusco bivalve I. Ttulo

    CDD 639.4

    Permitida a cpia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte O autor

  • Ao meu Deus que me sustentou em todos os momentos

    A minha me Raquel, por sempre colocar os filhos como prioridade

    em sua vida; pelo amor, por ser meu porto seguro e por estar comigo em

    toda e qualquer circunstncia.

    Ao meu pai Lauro por sempre estar torcendo por mim, vibrando com

    cada conquista.

    A minha irmzinha Ana Cludia pela preocupao, ateno e amor.

    A minha av Lourdes pelo amor incondicional, e por tantas

    renncias que fez favor dos filhos e netos.

    Ao meu av Rubens pela evidente satisfao em ter uma neta

    estudando na ESALQ.

    A meu tios, primos e demais familiares pelo carinho e apoio.

    A meus familiares que infelizmente partiram antes do trmino desse

    trabalho, na certeza que iremos ainda nos encontrar.

    DEDICO

    Llian, Lcia e Michelle por serem minhas irms do corao,

    OFEREO

  • iv

    HOMENAGEM

    Profa Dra Marlia Oetterer

    Por ser responsvel pelo meu ingresso no mestrado;

    Por acreditar na minha capacidade e possibilitar meu crescimento pessoal e

    profissional;

    Por ter me dado oportunidade de elaborar e trabalhar num projeto

    financiado pela FAPESP;

    Por sempre valorizar e elogiar meu trabalho, independente das falhas;

    Pela experiente orientao que permitiu meu amadurecimento;

    Pelo exemplo de vida, profissionalismo e amor pesquisa;

    Pela amizade, carinho e apoio em todos os momentos;

  • AGRADECIMENTOS

    Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e ao Programa de Ps Graduao em Cincia e Tecnologia de Alimentos pela formao profissional;

    Ao Departamento de Agroindstria, Alimentos e Nutrio pela abertura e por toda a estrutura e assistncia necessrias realizao desse trabalho;

    Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo pelo financiamento do projeto;

    Ao Prof Dr. Ernani Porto pela amizade, ateno, e participao efetiva no andamento dessa pesquisa;

    Profa Dra Marta Spoto e Carmem Castilho pela amizade e sugestes no decorrer deste trabalho;

    Ao Prof. Dr. Luiz Henrique Beiro da Universidade Federal de Santa Catarina pela ateno e apoio;

    Ao Prof Dr. Nilson Augusto Villa Nova pelas sugestes quanto aos dados de ndice pluviomtrico e pelo fornecimento de preciosos contatos;

    Aos demais professores da ESALQ pelos ensinamentos adquiridos e exemplo profissional;

    mdica veterinria Ana Maria Cruz pela grande amizade, profissionalismo e valiosas sugestes;

    pesquisadora do Instituto de Pesca Valria Gelli pela amizade e auxlios tcnicos prestados;

    s instituies parceiras deste projeto: ESALQ, MAPA, APTA IPESCA e Prefeitura Municipal de Ubatuba na pessoa do Eng. Agrnomo Antnio

    Marchiori;

    Associao dos Maricultores do Estado de So Paulo AMESP pela colaborao no decorrer deste trabalho;

  • vi

    Ao Laboratrio Regional de Apoio Animal LARA, sediado em Campinas, SP, na pessoa do Dr. Jos Guedes Dek, pela parceria essencial na execuo das

    anlises laboratoriais. chefe da seo de fsico-qumica Amlia Mitico

    Nishikawa Barbosa e ao chefe da seo de Microbiologia Amaury dos Santos

    e demais funcionrios pela realizao das anlises microbiolgicas e fsico-

    qumicas;

    Cludia Megumi Miyaki, Fiscal Federal Agropecurio pela amizade e auxlios tcnicos prestados durante toda a execuo deste trabalho;

    Ao Fiscal Federal Agropecurio Nelson Antonio Ferreira pela amizade, simpatia e por estar sempre pronto ajudar;

    Denise Regina Silva Abreu do Instituto Agronmico de Campinas - IAC pelos dados cedidos de insolao diria e ndice pluviomtrico da regio de

    Ubatuba, SP;

    biloga da CETESB Cludia Lamparelli pelo profissionalismo e contatos cedidos;

    SABESP pelas informaes cedidas na pessoa do qumico Antonio Dirceu Pigatto Azevedo;

    biloga Roberta Rizzo por caminhar comigo desde a poca da graduao iniciao cientfica, posteriormente transformando-se em companheira de

    trabalho e colega do curso de mestrado, por todos os momentos compartilhados,

    pelo amor e pela amizade;

    Ivani Moreno pela amizade e pela experincia compartilhada de anos de trabalho em laboratrio;

    Ao Rubens Pereira, pelas formataes das figuras; Regina Loureno, secretria do Programa de Ps-Graduao em Cincias e

    Tecnologia de Alimentos pela amizade e estmulo;

    A todos os funcionrios e amigos do Departamento de Agroindstria, Alimentos e Nutrio;

    As bibliotecrias Beatriz, Ligiana e Eliana pela amizade e servios prestados;

  • vii

    Midiam Gustinelli, pela amizade de todas as horas, e pela competncia profissional;

    Vilma e Slvio do Servio de Comutao Bibliogrfica da Biblioteca Central pelo profissionalismo, dedicao e amizade;

    zootecnista rika Fabiana Furlan pelo companheirismo e cumplicidade em todas as horas, pela calma e paz que sempre transmite, pela competncia

    profissional, e pela grande e slida amizade que este projeto possibilitou-nos

    construir;

    Aos alunos da equipe do Projeto de Polticas Pblicas: Eduardo Saln, Viviane Angeli, Paula Porreli, Fernando Rinaldi, Vitor Pontinha e Marcelo Fischer

    pela amizade, alegria e pelo primoroso trabalho em equipe;

    s Repblicas Zona Rural, Vira Latas, Arado, Deus quis, Caminho do Cu, Batkverna e Uspeo, pela amizade e inmeras integraes;

    Aos colegas do Programa de Ps-Graduao em Cincia e Tecnologia, Dbora, Lia, Ricardo, Aelson, Marielen, Fabiana, Elose, Selma, Ana Ceclia e

    Renata;

    Aos amigos do Programa de Ps-Graduao em Produo Animal, por todos os inesquecveis momentos compartilhados;

    Aos professores, funcionrios, amigos e alunos do SESI CE 164 pelo carinho, compreenso e apoio;

    s famlias Xavier da Costa PA e Pittol Firme ES pelo amor e carinho; Ao Paulo Henrique Aguiar pelo apoio no perodo das disciplinas; Ao Luciano Mincarelli Monfrin pelo carinho, cumplicidade e por estar sempre

    disposto a ajudar;

    A meus amigos que mesmo distantes, se fizeram presentes em todos os momentos;

  • SUMRIO

    Pgina

    LISTA DE FIGURAS................................................................................................. xii

    LISTA DE TABELAS................................................................................................ xiii

    RESUMO.................................................................................................................... xv

    SUMMARY................................................................................................................ xvii

    1 INTRODUO....................................................................................................... 1

    2 REVISO DE LITERATURA................................................................................ 4

    2.1 Os bivalves e o ambiente aqutico........................................................................ 4

    2.2 Caractersticas biolgicas dos bivalves................................................................. 5

    2.2.1 Descrio da espcie em estudo......................................................................... 6

    2.3 Microrganismos indicadores de importncia na anlise de gua.......................... 7

    2.4 Fatores que influem na qualidade da gua............................................................ 15

    2.5 Os bivalves como alimento................................................................................... 16

    2.5.1 Valor nutricional................................................................................................. 16

    2.5.2 Caractersticas fsico-qumicas da carne............................................................ 18

    2.5.3 Microbiologia da carne de bivalves.................................................................... 19

    2.5.4 Moluscos e surtos alimentares............................................................................ 20

    2.6 Consideraes sobre o desenvolvimento pesqueiro brasileiro e do litoral norte

    de So Paulo................................................................................................................ 22

    2.6.1 A aqicultura no municpio de Ubatuba, SP...................................................... 24

    2.6.2 A atividade de mitilicultura................................................................................ 27

  • ix

    2.6.3 Diagnsticos de mercado e consumo................................................................. 30

    3 MATERIAL E MTODOS..................................................................................... 32

    3.1 Eleio e caracterizao dos pontos de coleta....................................................... 32

    3.2 Metodologia de coleta da gua.............................................................................. 34

    3.3 Metodologia de coleta dos mexilhes................................................................... 36

    3.4 Anlises fsico-qumicas........................................................................................ 38

    3.4.1 gua de cultivo.................................................................................................. 38

    3.4.2 Mexilho............................................................................................................. 39

    3.5 Anlises microbiolgicas...................................................................................... 40

    3.5.1 Preparo das amostras de gua............................................................................. 40

    3.5.2 Microrganismos analisados nas amostras de gua............................................. 40

    3.5.2.1 Coliformes totais e fecais................................................................................ 40

    3.5.2.2 Enterococcus sp.............................................................................................. 41

    3.5.2.3 Clostrdios sulfito-redutores............................................................................ 42

    3.5.2.4 Pesquisa de Salmonella.sp.............................................................................. 42

    3.5.2.5 Sthaphylococcus aureus.................................................................................. 45

    3.5.2.6 Bacillus cereus................................................................................................ 46

    3.5.2.7 Microrganismos aerbicos mesfilos (heterotrficos).................................... 47

    3.5.2.8 Contagem de bolores e leveduras.................................................................... 48

    3.5.3 Preparo das amostras de mexilhes.................................................................... 48

    3.5.4 Microrganismos analisados nas amostras de mexilho...................................... 49

    3.5.4.1 Coliformes totais e fecais................................................................................ 49

    3.5.4.2 Enterococcus sp.............................................................................................. 49

    3.5.4.3 Clostrdios Sulfito Redutores.......................................................................... 50

    3.5.4.4 Clostridium perfringens.................................................................................. 50

    3.5.4.5 Pesquisa de Salmonella sp............................................................................... 51

    3.5.4.6 Staphylococcus aureus.................................................................................... 51

    3.5.4.7 Bacillus cereus................................................................................................ 51

  • x

    3.5.4.8 Microrganismos aerbios mesfilos (Heterotrficos)..................................... 52

    3.5.4.9 Contagem de bolores e leveduras.................................................................... 52

    3.6 Anlise estatstica.................................................................................................. 52

    4 RESULTADOS E DISCUSSO............................................................................. 53

    4.1 gua de cultivo..................................................................................................... 53

    4.1.2 Anlises fsico-qumicas.................................................................................... 53

    4.1.2.1 pH.................................................................................................................... 53

    4.1.2.2 Turbidez........................................................................................................... 55

    4.1.2.3 Temperatura ambiente e da gua..................................................................... 56

    4.1.3 Anlises microbiolgicas................................................................................... 59

    4.1.3.1 Coliformes totais e fecais................................................................................ 59

    4.1.3.2 Enterococcus sp.............................................................................................. 65

    4.1.3.3 Clostrdios Sulfito-Redutores.......................................................................... 66

    4.1.3.4 Salmonella sp.................................................................................................. 67

    4.1.3.5 Staphylococcus aureus.................................................................................... 69

    4.1.3.6 Bacillus cereus................................................................................................ 70

    4.1.3.7 Microrganismos aerbios mesfilos (Heterotrficos)..................................... 71

    4.1.3.8 Bolores e leveduras......................................................................................... 72

    4.2 Mexilhes.............................................................................................................. 74

    4.2.1 Anlises fsico-qumicas..................................................................................... 74

    4.2.1.1 pH.................................................................................................................... 74

    4.2.1.2 Biometria das valvas....................................................................................... 75

    4.2.2 Anlises microbiolgicas................................................................................... 77

    4.2.2.1 Coliformes totais e fecais................................................................................ 77

    4.2.2.2 Clostrdios Sulfito Redutores e Clostridium perfringens............................... 81

    4.2.2.3 Enterococcus sp.............................................................................................. 82

    4.2.2.4 Salmonella sp.................................................................................................. 83

    4.2.2.5 Staphylococcus aureus.................................................................................... 85

    4.2.2.6 Bacillus cereus................................................................................................ 87

    4.2.2.7 Microrganismos aerbios mesfilos (Heterotrficos)..................................... 88

  • xi

    4.2.2.8 Bolores e leveduras......................................................................................... 88

    5 CONCLUSES....................................................................................................... 90

    5.1 Recomendaes..................................................................................................... 91

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................ 92

  • LISTA DE FIGURAS

    Pgina

    1 Mapa referente aos pontos de coleta de Ubatuba, SP.............................................. 33

    2 Barco cedido pelos maricultores para as coletas das amostras................................ 34

    3 Coleta da gua superficial dos pontos de cultivo eleitos......................................... 35

    4 Transporte das amostras de gua.............................................................................. 36

    5 Coleta dos mexilhes das cordas de cultivo Long line......................................... 37

    6 Etapas da operao de desdobre............................................................................... 37

    7 Lavagem com gua do mar ou gua tratada (dependendo do ponto de cultivo) e

    retirada das cracas das valvas................................................................................... 38

    8 Mexilhes sendo transportados em sacos de rfia................................................... 38

    9 Medio das valvas dos mexilhes.......................................................................... 39

    10 Abertura das valvas e retirada da carne.................................................................. 49

  • LISTA DE TABELAS Pgina

    1 pH em amostras de gua do mar, referente ao fator praias...................................... 54

    2 pH em amostras de gua do mar, segundo os meses de coleta................................ 54

    3 Turbidez da gua dos pontos de cultivo nos referidos meses de coleta (UNT)....... 56

    4 Temperatura ambiente (0C) registrada nos pontos de coleta.................................... 57

    5 Temperatura da gua de cultivo (0C) nos pontos de coleta...................................... 58

    6 Coliformes totais em NMP/100mL na gua de cultivo (mdias de triplicatas)....... 60

    7 Coliformes fecais em NMP/100mL na gua de cultivo (mdias de triplicatas)...... 60

    8 Coliformes totais na gua versus demais microrganismos...................................... 61

    9 Microrganismos analisados na gua versus ndice pluviomtrico........................... 62

    10 Microrganismos analisados na gua versus tbua de mars.................................. 63

    11 Microrganismos analisados na gua versus insolao dirias (h).......................... 63

    12 Enterococcus sp em NMP/100 mL na gua de cultivo (mdias de triplicatas)...... 65

    13 Clostrdios Sulfito Redutores em NMP/100 mL na gua de cultivo (mdias de

    triplicatas).............................................................................................................. 66

    14 Salmonella sp em 25 mL na gua de cultivo (mdias de triplicatas)..................... 67

    15 Staphylococcus aureus UFC/ mL na gua de cultivo (mdias de triplicatas)....... 70

    16 Bacillus cereus UFC/mL na gua de cultivo (mdias de triplicatas).................... 70

    17 Heterotrficos UFC/mL na gua de cultivo (mdias de triplicatas)...................... 71

    18 Bolores e Leveduras UFC/mL na gua de cultivo (mdias de triplicatas)............ 73

    19 pH de mexilhes referentes aos pontos de cultivo................................................. 75

    20 pH de mexilhes referentes aos meses de coleta.................................................... 75

    21 Tamanho das valvas em cm dos mexilhes............................................................ 76

  • xiv

    22 Coliformes totais NMP/g em mexilhes coletados nos diferentes pontos de

    cultivo (mdias de duplicatas)............................................................................ 78

    23 Coliformes fecais NMP/g em mexilhes coletados nos diferentes pontos de

    cultivo (mdias de duplicatas).............................................................................. 79

    24 Coliformes totais e fecais da gua versus do mexilho......................................... 80

    25 Clostrdios Sulfito Redutores NMP/g em mexilhes coletados nos diferentes

    pontos de cultivo (mdias de duplicatas)............................................................. 81

    26 Clostridium perfringens NMP/g em mexilhes coletados nos diferentes pontos

    de cultivo (mdias de duplicatas)...... .................................................................... 82

    27 Enterococcus sp NMP/g em mexilhes coletados nos diferentes pontos de

    cultivo (mdias de duplicatas).............................................................................. 82

    28 Salmonella em 25/g em mexilhes coletados nos diferentes pontos de cultivo

    (mdias de duplicatas)............................................................................................ 84

    29 Sthapylococcus aureus UFC/g em mexilhes coletados nos diferentes pontos de

    cultivo (mdias de duplicatas)................................................................................ 86

    30 Bacillus cereus UFC/g em mexilhes coletados nos diferentes pontos de cultivo

    (mdias de duplicatas)............................................................................................ 87

    31 Heterotrficos UFC/g em mexilhes coletados nos diferentes pontos de cultivo

    (mdias de duplicatas)............................................................................................ 88

    32 Bolores e Leveduras UFC/g em mexilhes coletados nos diferentes pontos de

    cultivo (mdias de duplicatas)................................................................................ 89

  • QUALIDADE MICROBIOLGICA DA GUA DE CULTIVO E DE

    MEXILHES Perna perna (Linnaeus, 1758) COMERCIALIZADOS

    EM UBATUBA SP

    Autora: JULIANA ANTUNES GALVAO

    Orientador: Profa. Dra. MARLIA OETTERER

    RESUMO

    O consumo de moluscos bivalves pode representar srios riscos sade

    pblica, pois refletem diretamente as condies do meio ambiente. Desta forma

    considera-se de extrema importncia o consumo de mexilhes livres de contaminao.

    Esta pesquisa objetivou estudar a qualidade microbiolgica das guas e mexilhes de

    trs pontos de cultivo do municpio de Ubatuba, SP, a saber: Engenho da Almada, Barra

    Seca e Costo do Cedro em um perodo compreendido entre novembro de 2002 e maro

    de 2003, totalizando 5 coletas mensais. Analisou-se na gua: Bacillus cereus, Clostrdios

    Sulfito Redutores, Aerbios Mesfilos, Staphylococcus aureus, Coliformes totais e

    fecais, Enterococos e Salmonella. Nos mexilhes foram analisados os mesmos

    microrganismos citados para gua mais o Clostridium perfringens. Os resultados

    encontrados tanto para as anlises de gua como dos mexilhes foram satisfatrios,

    condizentes com a legislao brasileira em vigor, salvo a coleta do ms de maro, do

    cultivo da Barra Seca, onde a mdia dos valores encontrados para coliformes fecais na

    gua (5,7x101 NMP/100mL) foi superior ao recomendado pela legislao sendo

  • xvi

    detectado tambm neste mesmo cultivo e ms, presena de Salmonella em 25 g nas

    amostras de mexilhes. Mesmo que as contagens de S. aureus e B. cereus na carne

    estejam de acordo com a legislao em vigor, cuidados devem ser tomados quanto ao

    armazenamento e a forma de consumo. Averiguou-se a intensidade de interferncias

    sazonais na contagem microbiana na gua e constatou-se que a tbua de mars e o ndice

    de insolao diria tiveram uma correlao negativa baixa, ao contrrio do ndice

    pluviomtrico que apresentou correlao positiva alta.

  • MICROBIOLOGY QUALITY OF THE CULTIVATION WATER

    AND MUSSELS Perna perna (Linnaeus, 1758) MARKETED IN

    UBATUBA, SP

    Author: JULIANA ANTUNES GALVO

    Adviser: Profa. Dra. MARLIA OETTERER

    SUMMARY

    The consumption of bivalve mollusks can represent serious risks to the public

    health, because they reflect the conditions of the environment directly. This way it is

    considered of extreme importance the consumption of mussels without contamination.

    This work aims of studing the water and mussels microbiology quality from three

    different seafood farms in Ubatuba, SP, to know: Engenho da Almada, Barra Seca and

    Costo do Cedro from November 2002 to March 2003, totaling five monthly. It was

    analyzed in the water: Bacillus cereus, Total Clostridia, Aerobic Mesophilic,

    Staphylococcus aureus, total and fecal coliforms, Enterococci and Salmonella. In the

    mussels the same microorganisms were analyzed mentioned for water more Clostridium

    perfringens. The results found in the water and in the mussels were satisfactory, suitable

    with the Brazilian legislation, except for the sample at Barra Secas beach, in March.

    The average of the values found at that place for fecal coliformes in the water was

    higher (5,7x101 MPN/100mL) than the recommended by the legislation. Even in this

    collection, it was also detected Salmonella in 25 g of mussels. Even if the counts of S.

    aureus and B. cereus in the mussesls are in agreement with the legislation in vigor cares

  • xviii

    they should be taken with relationship to the storage and the consumption form. The

    intensity of seasonal interferences was discovered in the microbial count in the water, in

    which was verified that the board of tides and the index of daily heatstroke had a low

    negative correlation unlike the index pluviometric it presented high positive correlation

  • 1 INTRODUO

    O crescimento da populao mundial faz aumentar a necessidade de se

    produzir alimentos e buscar novas alternativas; o mar se afigura como uma das mais

    promissoras dentre essas alternativas. nesse sentido que a maricultura, constitui uma

    nova fronteira mundial na produo de alimentos. O mar deixa de ser to somente uma

    fonte de turismo e lazer e passa a ser encarado como uma rea cultivvel que necessita

    de cuidados e proteo (Marques, 1998).

    Um dos sistemas de produo alimentar que mais rapidamente se

    desenvolveu no mundo a aqicultura, chegando a atingir uma taxa de crescimento

    equivalente a 9,6% ao ano na ltima dcada; este aumento est diretamente relacionado

    com a contribuio que o sistema oferece para diminuir a diferena entre a demanda e a

    oferta de produtos pesqueiros (Beiro et al., 2000).

    A mitilicultura uma das atividades mais produtivas da aqicultura, sendo

    a mais prspera em diversas regies do mundo, incluindo o Brasil, alcanando

    produtividade de at 30 t /ha/ano, o que representa a maior cifra obtida com modalidade

    de criao no sujeita a alimentao artificial. Alm de diversos aspectos biolgicos

    favorveis, outros fatores como o baixo custo das instalaes, facilidade de manejo e

    localizao dos cultivos no mar contriburam, em muito, para a expanso mundial dessa

    atividade nos ltimos anos. O Brasil iniciou seus cultivos comerciais em 1989 com

    produo de 120 t e atualmente, o principal produtor de mexilhes da Amrica do Sul,

    tendo produzido 8.000 t em 1998 (Gelli et al., 1998; Moluscos..., 2002). No Brasil, a

    produo de bivalves est centrada nos estados do Rio de Janeiro, So Paulo e Santa

    Catarina, devido principalmente s caractersticas ambientais propcias ao

  • 2

    desenvolvimento desses moluscos, os quais necessitam de guas de temperaturas amenas

    e ricas em nutrientes (Beiro et al., 2000).

    No estado de So Paulo, estudos bioecolgicos e de aprimoramento das

    tcnicas de criao do mexilho Perna perna iniciaram-se em 1976, sendo que a

    Amrica Latina devido s suas condies geogrficas tem grande potencial para produzir

    e exportar aos mercados dos Estados Unidos, Europa e Japo, os produtos da pesca e da

    aqicultura.

    A pesca tem sido, h milnios, uma atividade rotineira para as comunidades

    costeiras. Incerta e predatria, a extrao dos recursos passou de uma atividade

    equilibrada e aceitvel a uma dimenso drstica de sobre-explorao, provocada pelo

    crescente aumento populacional e conseqente incremento no esforo de explorao,

    acompanhado pelo rpido aprimoramento das tecnologias de captura, por legislaes

    imprprias, falta de fiscalizao e desorganizao do setor pesqueiro. Essa poltica vem

    ocasionando violentas quedas na biomassa, o que deriva em escassez dos recursos e

    quebra nos ciclos naturais, com conseqentes impactos ecolgicos, econmicos e sociais

    (Gelli & Carneiro, 2003; Gelli et al.,1998).

    A implantao da atividade de maricultura tem sido vista como meio de

    elevar a produtividade de reas costeiras, promover o aumento de produo de alimentos

    e de desenvolvimento scio-econmico de determinadas regies, diminuir a presso

    extrativa sobre os recursos explorados e de incorporar os pescadores a uma atividade

    planificada. No Brasil, estudos de custo e benefcio da mitilicultura e outros tipos de

    criatrios mostraram viabilidade econmica, com investimentos e custo operacional

    relativamente baixos. A atividade poder ajudar a conter o empobrecimento das

    comunidades artesanais que, com o declnio dos estoques pesqueiros, ficaram com

    poucas alternativas de renda para permanecer em suas terras (Gelli et al.,1998).

    A tarefa de se estabelecer normas para a produo e consumo de moluscos

    no simples, especialmente quando se considera que o pas no tem tradio como

    produtor deste alimento e tambm que o consumo de moluscos pode representar srios

    riscos sade pblica, uma vez que os mesmos refletem diretamente as condies do

  • 3

    meio ambiente. A segurana do consumidor de moluscos bivalves depende da sanidade

    destes, a qual por sua vez depende das condies fsicas, qumicas e microbiolgicas do

    ambiente de origem, do manuseio e tecnologia ps-captura, bem como da existncia de

    legislao adequada, que baseie a fiscalizao em todas as etapas.

    O objetivo desta pesquisa, foi diagnosticar a qualidade microbiolgica da

    gua de cultivo e dos mexilhes Perna perna comercializados na regio de Ubatuba,

    subsdio fundamental para a estabilidade da produo, com conseqente fixao do

    mitilicultor na atividade. Esta investigao parte do projeto de Polticas Pblicas

    designado de Diagnstico e intervenes emergentes para a comercializao de

    pescado mexilhes no Litoral Norte, regio de Ubatuba, SP, o qual visa a implantao

    de uma unidade beneficiadora de produtos pesqueiros na regio.

  • 2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Os bivalves e o ambiente aqutico

    A gua constitui um dos elementos essenciais vida de todo ser humano;

    suas funes no abastecimento pblico, industrial e agropecurio na preservao da vida

    aqutica, na recreao e no transporte, demonstram essa vital importncia. Ela cobre

    aproximadamente da superfcie do planeta, sendo que a maior parte, 97,4% salgada

    e se encontra nos oceanos; 1,8% est congelada nas regies polares e apenas o restante,

    0,8% de gua doce, est disponvel para a populao da Terra no se conhecendo bem

    ainda qual a frao que se encontra contaminada. A gua atua, por conseqncia de sua

    contaminao, como importante veculo de inmeras doenas, seja em decorrncia de

    excretos humanos ou de animais, seja pela presena de substncias qumicas nocivas

    sade humana. A avaliao microbiolgica da gua de rios, riachos, lagos, oceanos ou

    provenientes de toda fonte que, por ventura, possa vir a prejudicar o homem, precisa ser

    realizada periodicamente para que o homem tenha controle do seu meio ambiente

    (Cavalcante et al. 1998; Guilherme et al., 2000).

    A contaminao que vem ocorrendo ao longo dos anos causada pelo

    desenvolvimento industrial, pelo crescimento demogrfico e pela ocupao do solo de

  • 5

    forma intensa e acelerada, aumentando consideravelmente o risco de doenas de

    transmisso de origem hdrica. A relao da qualidade da gua com as doenas vem

    sendo observada desde a mais remota antiguidade, porm s foi comprovada

    cientificamente em 1854 por John Snow, quando demonstrou que a epidemia de clera

    em Londres ocorreu devido veiculao hdrica (Guilherme et al., 2000).

    2.2 Caractersticas biolgicas dos bivalves

    A classe Bivalvia tambm chamada Pelecypoda ou ainda Lamellibranchia

    formada por moluscos conhecidos por bivalves tais como mexilhes, ostras, vieiras,

    abalones, berbiges e outros mariscos. Os bivalves do Brasil esto distribudos em 44

    famlias com 379 espcies (Beiro et al., 2000; Cadogan, 1992; Santos, 1982).

    A principal caracterstica da concha dos bivalves sua constituio em

    duas valvas, unidas dorsomedianamente por um ligamento de conchiolina no

    calcificada e que, da mesma forma que a concha, secretada pelo manto (Boffi, 1979).

    Os moluscos bivalves alimentam-se de plncton, microrganismos e matria

    orgnica. Atravs das brnquias, filtram cerca de 19 a 50 L/h, com alguma ou nenhuma

    capacidade seletiva acumulando na massa visceral, lmem do intestino e

    hepatopncreas, todos os agentes biolgicos e abiticos que se encontram na gua onde

    vivem. Durante o processo fisiolgico da alimentao, a gua entra na cavidade palial

    atravs do sifo aspirante, passando pela brnquia da stia e expelida pelo sifo

    expirante que mais estreito que o sifo aspirante. Ambos os sifes possuem um vu

    que pode regular o fluxo da corrente de gua. As partculas de alimentos so presas pelo

    muco espalhado sobre as lamelas branquiais concentrando-se assim, nos tecidos dos

    moluscos (Beiro et al., 2000; Cook, 1991; Espnola & Dias, 1980; Lira et al., 2000;

    Martins, 1983b).

  • 6

    2.2.1 Descrio da espcie em estudo

    Mexilho o termo utilizado na lngua portuguesa para denominar as

    diversas espcies de moluscos bivalves da famlia Mytilidae, sendo os gneros mais

    comuns o Perna, Mytilus e Mytella, sendo essas espcies conhecidas popularmente por

    marisco (Boffi, 1979).

    O mexilho P. perna um molusco bivalve com a seguinte classificao

    sistemtica:

    Filo mollusca

    Classe Bivalvia Linnaeus, 1758

    Ordem Mytiloida Frursac, 1822

    Famlia Mytilidae Rafinesque, 1815

    Gnero Perna Retzius, 1788

    Espcie Perna perna Linnaeus, 1758 (Epagri, 1994)

    A espcie Perna perna (L., 1758), consta na dcima edio do System

    Nature com o nome de Mya Perna. O gnero Perna sp, foi criado por Retzius em 1788,

    tendo sido revalidado por Soot-Ryen em 1955. Esse gnero caracterizado pela borda

    resilial perfurada, pela posio anterior do msculo retrator do p e pela ausncia total

    do msculo adutor anterior (Boffi, 1979; Galvo-Bueno, 1977).

    O bivalve Perna perna tem um tamanho mdio de 5 a 8 cm de

    comprimento e 3 cm de espessura. o maior dos mitildeos brasileiros, podendo atingir

    at 14 cm de comprimento (Klappenbach, 1964). Sua concha apresenta faixa resilial

    perfurada, linhas de crescimento bem marcada, cicatriz do retrator mdio

    aproximadamente circular, por vezes lobada, separada do retrator posterior o qual forma

    uma cicatriz bilobada com o adutor posterior, adutor anterior ausente e cicatriz do

    retrator anterior alongada (Boffi, 1979; Klappenbach, 1964).

    Nos mexilhes, os sexos so separados mas no h dimorfismo sexual. No

    entanto, a colorao das gnadas masculinas esbranquiada ou creme e, as gnadas

  • 7

    femininas tm uma tonalidade mais alaranjado-avermelhada. Pelo fato dessa espcie ser

    tropical e sub-tropical, ela elimina gametas durante todo o ano, porm, de um modo

    geral, os perodos de fixao das larvas ocorrem no inverno e no vero, com pequenas

    variaes de um ano para o outro (Fernandes, 1981).

    O Perna perna uma espcie nativa da frica e hoje tem uma ampla

    distribuio no mundo, estando presente do continente africano at o Marrocos, e na

    Amrica do Sul, desde a Venezuela, Uruguai e ao longo da costa Atlntica; no Brasil

    abundante entre o Rio Grande do Sul e o Esprito Santo (Boffi, 1979; Sidall, 1980;

    Souza, 2003). provvel que esta espcie tenha sido introduzida no Brasil, nos sculos

    XVI a XIX, durante o trfico negreiro, quando muitas embarcaes mantinham um

    intenso comrcio com a frica e traziam em seus cascos os mexilhes incrustados. A

    melhor evidncia de sua introduo foi obtida com o estudo das espcies presentes nos

    sambaquis. Na maioria dos vestgios arqueolgicos datados de 8.000 a 2.000 anos

    A.C.- deixados pelos pescadores, caadores e coletores de moluscos que viviam no

    litoral do Estado do Rio de Janeiro no foram encontradas conchas de P. perna. Deste

    modo, a existncia de casos recentes do comportamento invasor da espcie, sua

    distribuio disjunta nas Amricas, alm da fragilidade de dados que atestem a sua

    presena na pr-histria brasileira, reforam a hiptese de que o mexilho P. perna seja

    uma espcie extica no Brasil (Souza, 2003).

    2.3 Microrganismos indicadores de importncia na anlise de gua

    A principal dificuldade do monitoramento da qualidade da gua de um

    determinado local, o estabelecimento de indicadores adequados e a definio dos

    critrios a serem adotados para esta avaliao. Nesse sentido, procura-se relacionar a

    presena de indicadores de poluio fecal no ambiente aqutico e o risco potencial de se

    contrair doenas infecciosas por meio de sua utilizao para recreao. Esses critrios

    devem estar sempre associados ao bem estar, segurana e sade da populao

    (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - Cetesb, 2003).

  • 8

    Segundo Cabelli et al. (1983), os melhores indicadores da presena de

    patgenos entricos em fontes de poluio fecal devem ter as seguintes propriedades:

    estar presente em guas contaminadas por material fecal em densidades mais elevadas

    que os patgenos, ser incapaz de crescer em ambientes aquticos mas capazes de

    sobreviver por mais tempo que os microrganismos patognicos; apresentar resistncia

    igual ou maior que os patgenos aos processos de desinfeco, ser facilmente

    enumerados por tcnicas precisas; ser aplicvel a todos os tipos de guas recreacionais

    naturais (doce, salobra, salina), estar ausente em guas no poludas e associadas

    exclusivamente a despejos de fezes animais e humanas e apresentar densidade

    diretamente correlacionada com o grau de contaminao fecal. Esse conjunto de

    caractersticas constitui uma definio terica de um indicador, pois nenhum tipo de

    bactria preenche totalmente esses requisitos. No entanto, essas caractersticas

    restringem os indicadores a alguns grupos de bactrias.

    Segundo Geldreich (1967), uma vez descoberto o fato de que as bactrias

    patognicas transmitidas atravs da gua contaminada eram responsveis por uma srie

    de infeces intestinais, foram desenvolvidos testes bacteriolgicos capazes de indicar a

    contaminao fecal da gua.

    As condies do ambiente marinho dificultam o isolamento de bactrias

    patognicas; fato que explica porque as pesquisas sobre a contaminao microbiana do

    litoral limitam-se geralmente determinao das concentraes de bactrias indicadoras

    da poluio fecal (Plusquellec, 1983). Os coliformes e, mais recentemente, os

    estreptococos fecais so os microrganismos utilizados mundialmente para verificar a

    qualidade da gua.

    O conceito de utilizar coliformes para deduzir a presena de patgenos

    baseou-se num trabalho realizado em 1885 por Excherich, atravs da identificao do

    Bacilo de coli como fazendo parte da microflora intestinal natural de animais de sangue

    quente. Depois desse trabalho criaram-se correntes de pesquisadores que apoiam

    (Geldreich, 1967; Geldreich, 1970) e os que criticam (Dutka, 1973; Dutka & Bell, 1973;

    Fair & Morrison, 1967; Gallagher & Spino, 1968; Hendricks & Morrison, 1967; Kfir et

    al., 1992) o uso de coliformes para deduzir a presena, na gua, de patgenos como

  • 9

    Salmonella, Shigella, Vibrio e enterovrus. Sendo que alguns autores como Andrews et

    al. (1975) apoiam somente o uso de coliformes fecais e no os de coliformes totais para

    a gua de cultivo, por julgar a segurana do molusco cultivado.

    Estudos que buscaram relacionar indicadores de poluio com a presena

    de patgenos, demonstraram ser questionvel a utilizao, pelo National Shellfish

    Sanitation Program nos Estados Unidos, do NMP Nmero Mais Provvel de

    coliformes totais como critrio para classificao das reas de obteno de bivalves

    (Jos, 1996).

    A colimetria e classificao de guas provenientes de reas onde so

    coletados ou cultivados bivalves constitui-se sempre em subsdio cientfico til para as

    autoridades envolvidas na fiscalizao e controle da qualidade dos alimentos, uma vez

    que a presena desses microrganismos indica as condies sanitrias desses produtos

    (Lira et al., 2000; National Advisory Committee on Microbiological Criteria for Foods,

    1992).

    Como indicador de poluio fecal recente, os coliformes termotolerantes

    apresentam-se em grandes densidades nas fezes, sendo portanto, facilmente isolados e

    identificados na gua por meio de tcnicas simples e rpidas, alm de apresentarem

    sobrevivncia praticamente semelhante das bactrias enteropatognicas. No entanto, a

    presena de coliformes termotolerantes nas guas no confere a estas uma condio

    infectante. Este sub-grupo das bactrias coliformes no por si s prejudicial sade

    humana, apenas indica a possibilidade da presena de quaisquer organismos patognicos

    (Cetesb, 2003).

    Assim, alta densidade de coliformes termotolerantes em gua marinha

    indica um elevado nvel de contaminao por esgotos (Cetesb, 2003), o que poder

    colocar em risco a sade dos banhistas e a sanidade de bivalves provenientes dessa

    regio, cujas conseqncias so imprevisveis, dependendo basicamente, da sade da

    populao que gera esses esgotos, da taxa de filtrao/fator de bioacumulao dos

    bivalves, e do grau de imunidade dos consumidores.

    O grupo de coliformes totais inclui as bactrias na forma de bastonetes

    Gram negativos, no esporognicos, aerbias ou anaerbias facultativas, capazes de

  • 10

    fermentar a lactose com produo de gs, em 24 a 48 h, a 35oC. O grupo inclui cerca de

    20 espcies, dentre as quais encontram-se tanto bactrias originrias do trato

    gastrintestinal de humanos e outros animais de sangue quente, como tambm diversos

    gneros e espcies de bactrias no entricas, como Serratia e Aeromonas, por exemplo.

    Por essa razo, sua enumerao em gua e alimentos menos representativa como

    indicao de contaminao fecal, do que a enumerao de coliformes ou Escherichia

    coli (Franco & Landgraf, 1996; Silva et al., 2000).

    Para coliformes fecais ou coliformes termotolerantes a definio a mesma

    de coliformes totais porm, restringindo-se aos microrganismos capazes de fermentar a

    lactose, com produo de gs em 24 h, e temperatura entre 44,5 - 45,5oC. Esta definio

    objetivou em princpio, selecionar apenas os coliformes originrios do trato

    gastrintestinal. Atualmente, sabe-se, que o grupo dos coliformes fecais inclui pelo menos

    trs gneros, Escherichia, Enterobacter e Klebsiella, dos quais dois (Enterobacter e

    Klebsiella) incluem cepas de origem no fecal. Por esse motivo, a presena de

    coliformes fecais em gua e alimentos menos representativa, como indicao de

    contaminao fecal, do que a enumerao direta de E. coli porm, muito mais

    significativa do que a presena de coliformes totais, dada a alta incidncia de E. coli

    dentro do grupo fecal (Silva et al., 2000).

    Cerca de 95% dos coliformes existentes nas fezes humanas e de outros

    animais so E. coli e, dentre as bactrias de habitat reconhecidamente fecal, dentro do

    grupo dos coliformes fecais, a E. coli, embora tambm possa ser introduzida a partir de

    fontes no fecais, o melhor indicador de contaminao fecal conhecido at o momento,

    pois satisfaz todas as exigncias de um indicador ideal de poluio. Por esse motivo, as

    tendncias atuais se direcionam no sentido da deteco especfica de E. coli, com o

    desenvolvimento de diversos mtodos que permitem a enumerao rpida dessa espcie

    diretamente (Silva et al. 2000).

    As principais vantagens dos coliformes como indicadores so o fato de se

    encontrarem normalmente, no intestino humano e animais de sangue quente e serem

    eliminadas em grandes quantidades nas fezes. Alm disso, em funo da sua prevalncia

    nos esgotos podem ser quantificados na gua recm contaminada, atravs de mtodos

  • 11

    simples. Outros microrganismos patgenos no tm sido utilizados como indicadores de

    poluio, devido pequena populao presente nas guas poludas e s dificuldades de

    serem manipulados em tcnicas de laboratrio. As principais limitaes so o fato de

    estarem includas no grupo das espcies de origem no fecal, que podem se multiplicar

    nas guas poludas, alm dos mtodos de deteco serem sujeitos a falsos resultados

    negativos, por interferncia de Pseudomonas e falsos positivos, atravs de ao

    sinergstica de outras bactrias (American Public Health Association - APHA, 1992;

    Pelczar et al., 1996; Silva et al., 2000).

    A investigao da presena da Pseudomonas aeruginosa, patgeno

    secundrio oportunista, foi instituda pela Unio Europia em 1995, visando um melhor

    controle microbiolgico da gua. A pesquisa dessa bactria recomendada em paralelo a

    outros microrganismos patgenos, alm de coliformes totais e fecais e da contagem

    padro de bactrias. As P. aeruginosa so bactrias aerbias estritas, Gram negativas, na

    forma de bastonetes, que crescem de 37 a 42oC, so muito resistentes sobrevivendo em

    substratos com pequenas quantidades de nutrientes e capazes de inibir as bactrias do

    grupo coliforme, que so as que representam na legislao brasileira, o parmetro para

    reprovar ou liberar determinada gua para utilizao humana. No Brasil, este grupo de

    bactrias tem aparecido com relativa freqncia em exames bacteriolgicos para gua

    clorada, no clorada e gua mineral natural (Cavalcante et al., 1998; Guilherme et al.,

    2000; Silva et al., 2000).

    No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), rgo que

    estabelece a classificao e normaliza os parmetros de qualidade da gua, segundo o

    seu uso preponderante, determina que a gua salobra ou salina destinada criao

    extensiva ou intensiva de espcies destinadas alimentao humana e que sero

    ingeridas cruas, apresentem o NMP de bactrias coliformes fecais inferior a 14/100mL,

    com no mais de 10% das amostras excedendo 43 coliformes/100 mL (Brasil, 1986),

    concordando com os valores citados por Cook (1991) para reas submetidas ao

    monitoramento sanitrio visando a classificao como rea aprovada para a extrao de

    bivalves.

  • 12

    A contagem padro de bactrias aerbias heterotrficas mesfilas

    considerada a tcnica que melhor estima a densidade de bactrias contaminantes em

    guas no potvel. A importncia da avaliao do grau de poluio deste tipo de gua

    utilizando a contagem padro de bactrias, est relacionada determinao da fonte

    poluidora, alm de reforar os padres de qualidade da gua e de traar a sobrevivncia

    de microrganismos (APHA, 1992). Esta contagem objetiva estimar o nmero de

    bactrias heterotrficas na gua, particularmente como uma ferramenta para acompanhar

    variaes nas condies de processo, no caso de gua mineral, ou a eficincia das

    diversas etapas de tratamento, no caso de gua tratada, permitindo ainda verificar as

    condies higinicas em diferentes pontos da rede de distribuio (Silva et al., 2000).

    O grupo de estreptococos fecais engloba as espcies Streptococus e

    Enterococcus spp do grupo sorolgico D de Lancefield, que ocorrem em grande

    quantidade nas fezes humanas e de outros animais e tm o trato intestinal como habitat

    natural. So bactrias lticas na forma de cocos ou cocobacilos, Gram positivos,

    imveis, catalase negativos e anaerbios facultativos, cujas principais caractersticas

    diferenciadas so a capacidade de hidrolisar a esculina e crescer a 45oC. O grupo dos

    enterococos um subgrupo dos estreptococos fecais e inclui as espcies reclassificadas

    para o novo gnero Enterococcus spp, capazes de crescer a 10oC, pH 9,6 e na presena

    de 6,5% de NaCl. Os estreptococos fecais normalmente no ocorrem em guas e solos

    virgens ou no poluda, estando as raras ocorrncias relacionadas diretamente a animais

    de vida selvagem ou drenagem do solo por enxurradas. Podem persistir por longo

    tempo em guas de irrigao, com alto teor eletroltico, porm no se multiplicam na

    gua poluda, sendo sua presena uma indicao de contaminao fecal recente.

    Adicionalmente, a identificao da espcie pode dar uma indicao da origem da

    contaminao fecal (humana ou animal). Sua maior resistncia aos diversos processos de

    tratamento de esgoto, em comparao com os coliformes fecais, permite uma correlao

    mais direta com a sobrevivncia sanitria, pois seu habitat no restrito ao trato

    intestinal, podendo tambm ocorrer na vegetao e em certos tipos de solo. As principais

    aplicaes da contagem de estreptococos fecais e enterococos so a avaliao da

    qualidade de mananciais e corpos dgua, a avaliao da qualidade da gua tratada e a

  • 13

    avaliao e monitoramento das condies higinicas de sistemas industriais (Silva et al.,

    2000).

    Os Clostrdios sulfito redutores tm sido utilizados como indicadores de

    contaminao fecal em gua, pois sua incidncia no meio aqutico est constantemente

    associada a dejetos humanos, sendo sua presena comum em fezes, esgoto em gua

    poluda. So esporognicos e os esporos apresentam excepcional longevidade em gua,

    em funo da grande resistncia aos desinfetantes e outras condies desfavorveis do

    meio ambiente. Por esse motivo so teis na deteco de contaminao fecal remota, em

    situaes nas quais outros indicadores, como E. coli j no se encontrariam presentes. O

    principal representante deste grupo o C. perfringens, bactria anaerbia Gram positiva,

    esporognica, sulfito redutora, com temperatura de crescimento na faixa de 20 a 500C e

    tima de 450C. Tem sido utilizado como indicador de contaminao fecal em gua, pois

    sua incidncia no meio aqutico est constantemente associada a dejetos humanos,

    sendo comum sua presena em fezes, esgotos e gua poluda. Como esporognico, os

    esporos apresentam excepcional longevidade em gua, em funo da grande resistncia

    aos desinfetantes e outras condies desfavorveis do meio ambiente. Por esse motivo o

    C. perfringens tel na deteco de contaminao fecal remota, em situaes nas quais

    outros indicadores, como E. coli j no se encontrariam presentes. A deteco de C.

    perfringens recomendada como complemento aos outros testes bacteriolgicos de

    avaliao da qualidade da gua uma vez que em esgoto e gua poluda sua populao

    geralmente excede a de vrus entricos e bactrias patognicas. A ausncia em gua

    destinada ao consumo humano tambm pode ser considerada uma indicao segura da

    ausncia desse contaminantes (Silva et al., 2000).

    O C. perfringens pode ser isolado do solo. Devido sua ampla

    distribuio, muito difcil evitar a contaminao dos alimentos com estes organismos,

    que ainda podem formar esporos termoresistentes, portanto, o cozimento nem sempre

    torna o alimento seguro. O pescado e seus produtos raramente tm sido responsveis por

    surtos de envenenamento por C. perfringens, mas menciona-se que estas bactrias se

    encontram normalmente em mariscos, e s vezes, tanto o pescado in natura como o

    cozido podem estar contaminados com essa bactria (Hernandez, 1985).

  • 14

    O C. perfringens como um microrganismo anaerbio e esporulado,

    apresenta riscos para produtos embalados a vcuo ou submetidos ao tratamento trmico,

    conseqentemente, produtos in natura contaminados com esse microrganismo podem se

    constituir em risco se forem utilizados como matria-prima para o processamento

    trmico (enlatamento), ou embalados a vcuo.

    atribudo a pssaros marinhos a disseminao da Salmonella e outros

    patgenos na gua. A Salmonella tem sido relatada como contaminante em vrias

    espcies de pescado, principalmente em crustceos como o camaro h evidncias de

    que certos sorotipos desse microrganismo faam parte da microflora natural de alguns

    crustceos em pases tropicais (Huss et al., 2000; Silva et al., 2000; WHO, 1999).

    Segundo Martins (1983a), sob o ponto de vista sanitrio, a pesquisa de

    Salmonella e vibrios em moluscos bivalves, constitui em aspecto importante de sade

    pblica, pois esse microrganismo tem sido freqentemente relacionado com a veiculao

    de gastroenterites e toxinfeces em populaes que os consomem crus ou cozidos

    precariamente.

    Salmonella est associada a reas intestinais de animais de sangue quente,

    mas alguns estudos detectaram Salmonella associada a intestinos de carpa e tilpias

    provenientes da piscicultura (Huss et al., 2000).

    Vrias espcies de Vibrios conhecidas por serem patognicas para

    humanos, tambm tm sido isolados de bivalves. H muito o que se estudar sobre a

    ecologia desses microrganismos; sabe-se que quanto ao seu desenvolvimento, o sal

    requerido ou aumenta seu crescimento. Estas bactrias fazem parte da microflora natural

    de esturios e guas marinhas, sugerindo a natureza nativa destas espcies, podendo se

    acumular nos tecidos dos bivalves durante sua alimentao. Com a possvel exceo do

    Vibrio cholerae, a presena desses vibrios no tm coneco com poluio (Cook, 1991;

    Colwell et al., 1984).

    As leveduras so encontradas ao lado de uma grande variedade de formas

    microbianas no ambiente marinho e representam contingente importante do total da

    microbiota existente. Exercem relevante papel na ecologia, como nos processos de

    converso da matria orgnica e inorgnica; e exercem a funo de nutrientes para os

  • 15

    habitantes de oceanos e mares, alm de estarem includas entre os possveis indicadores

    microbiolgicos de poluio, sendo as espcies mais encontradas nesse meio a Cndida,

    Cryptococcus, Deparyomices, Rhodotorula e Trichosporon. H evidncias de que a

    contagem de leveduras na gua do mar paralela ao nmero de coliformes, e que quanto

    maior a contaminao da gua por resduos de esgotos no tratados, maior o nmero de

    leveduras presentes (Paula, 1978).

    Nas tcnicas propostas na 14a edio do Standard Methods for the

    Examination of Water and Wastewater (APHA, 1975), discute-se a possibilidade da

    utilizao de fungos como novos indicadores de poluio, pois a gua altamente poluda

    apresenta grande nmero de fungos do solo, incluindo leveduras. Portanto, um aumento

    no nmero de fungos indicaria a presena de material orgnico em grandes

    concentraes.

    Em se tratando de bivalves e outras espcies de pescado, d-se nfase

    qualidade da gua, pois a classificao desta fundamental para garantir a sanidade

    qumico-microbiolgica do molusco, pois monitorando as guas, os rgos competentes

    podero definir qual o local recomendado para a colheita e cultivo de bivalves (National

    Advisory Commitee on Microbiological Criteria for Foods,1992).

    2.4 Fatores que influem na qualidade da gua

    Segundo a Cetesb, (2003), diversos so os fatores que concorrem para a

    presena de esgoto na praia. Dentre eles, pode-se citar como mais relevantes, a

    existncia de sistemas de coleta e disposio dos efluentes domsticos gerados nas

    proximidades, a existncia de cursos dgua afluindo ao mar, o aumento da populao

    durante os perodos de temporada, a fisiografia da praia, a ocorrncia de chuvas e as

    condies de mar.

    Em sua maioria, os municpios litorneos paulistas so desprovidos de

    sistemas adequados para a coleta, tratamento e disposio final dos esgotos. Os sistemas

    de coleta de esgotos existentes no so suficientes para afastar os despejos, que

  • 16

    terminam por ser lanados em galerias de guas pluviais, crregos ou praias, o que

    naturalmente prejudica a qualidade da gua.

    Com relao fisiografia da praia, importante ressaltar que enseadas,

    baas e lagunas apresentam condies de diluio bastante inferiores s observadas em

    regies costeiras abertas. A menor taxa de renovao da gua dessas regies contribui

    para a concentrao dos poluentes, limitando, assim, a capacidade de diluio do meio

    receptor, como o caso de muitos cultivos de mexilhes da regio de Ubatuba (Cetesb,

    2003; Salati Filho, 2001).

    As chuvas constituem-se em uma das principais causas da deteriorao da

    qualidade da gua de praias. Esgotos, lixos e outros detritos so carreados para as praias

    atravs de galerias, crregos e canais de drenagem na ocorrncia de chuvas, produzindo,

    assim, um aumento considervel na densidade de bactrias nas guas litorneas. Deve-se

    lembrar ainda, a prtica disseminada na regio litornea de se ligar o sistema coletor de

    guas pluviais rede de esgotos, assim como a interligao dos sistemas coletores de

    esgoto rede de drenagem pluvial, que tambm so muito prejudiciais qualidade

    sanitria da gua das praias (Cetesb, 2003; Salati Filho, 2001).

    2.5 Os bivalves como alimento

    2.5.1 Valor nutricional

    A utilizao de moluscos bivalves como alimento data da poca paleozica,

    sendo a qualidade sanitria do ambiente aqutico onde estes so capturados ou

    cultivados, responsvel, diretamente, pelos problemas de sade pblica que podem gerar

    quando consumidos, principalmente se ingeridos in natura (Santos, 1982).

    Provavelmente foi no sculo passado nos restaurantes parisienses, que os

    moluscos comearam a ser reintegrados como iguaria fina. Segundo Fernndez-Armesto

    (2004), os moluscos providos de conchas so consideradas uma comida eficiente, no

    sentido de que j vm envoltos em uma concha funcional, quando dispostos mesa,

  • 17

    sendo este prato considerado extremamente nutritivo e apresentando desperdcio

    mnimo.

    O cultivo de moluscos foi realizado, inicialmente, pelos japoneses (2000 a.

    c.) e romanos (100 a. c.) alcanando, nos dias atuais, elevado nvel tecnolgico e

    dispondo ao consumidor um alimento nutritivo e de grande demanda.

    O mexilho apresenta pronunciada variao sazonal na composio de sua

    carne, com maior rendimento na poca de desova. O valor energtico de 80 Kcal/100g,

    prximo ao dos peixes magros como a merluza (76Kcal/100g), enquanto que as ostras

    possuem em mdia 44 Kcal/100g. Apresentam 1 a 7% de glicognio, teor elevado em

    relao s outras carnes e peixes, onde este carboidrato se encontra em baixa proporo.

    A frao protica do pescado situa-se na faixa de 8,4% a 17%; para mariscos e ostras os

    valores mdios so de 6% e 13%, respectivamente (Espnola & Dias, 1980).

    Furtado et al. (1998), analisaram sururu (Mytella falcata), e berbigo

    (Anomalocardia brasiliana). A espcie M. falcata apresentou teores mdios de umidade

    de 30,65% e de protena de 56,44%, enquanto que, para a espcie A. brasiliana os teores

    foram 25,62% e 48,14%, respectivamente. O teor de lipdeos mostrou-se menor no

    molusco M. falcata, com mdia de 2,9%, enquanto o A. brasiliana expressou um valor

    superior com mdia de 7,7% e tambm apresentou-se mais rico nos teores de cinza

    (3,13%) e carboidratos (15,18%). A espcie M. falcata revelou um teor mdio de 1,38%

    e 8,45% destes componentes. Quanto aos minerais, o zinco apresentou teores de maior

    expresso: 70,5 mg para M. falcata e 68,8 mg para A. brasiliana. A quantidade mdia de

    clcio encontrada para o M. falcata foi de 53,7 mg e para o A. brasiliana 49,5mg,

    comprovando assim a importante colaborao destes bivalves como fontes de nutrientes

    na alimentao de populaes litorneas.

    Em trabalho realizado concomitantemente a esta pesquisa, foram avaliados

    a composio centesimal de mexilhes Perna perna nos mesmos pontos de cultivo e

    perodo, sendo encontrado os seguintes valores para umidade, lipdeos, cinza, protena e

    carboidrato: 83,9%; 1%; 1,9%; 9% e 4% respectivamente (Porrelli et al., 2003).

  • 18

    2.5.2 Caractersticas fsico-qumicas da carne

    A carne de moluscos recm capturados apresenta odor tpico de fresca;

    nos produtos elaborados apresenta-se leitosa, com aroma agradvel. A ao de fechar as

    valvas quando esto em contato com o ar, a elasticidade da carne e as cores vivas so

    sinais de frescor (Beiro et al., 2000).

    O processo de decomposio altera quase sempre a concentrao de ons

    hidrognio de um alimento. A determinao do pH importante no caso do pescado,

    pois este um alimento de baixa acidez (Tavares et al., 1988).

    Um dos padres de qualidade do pescado est baseado na anlise de pH do

    produto, no qual os nveis externos do pH da carne aceitveis so inferiores a 6,8 e

    internos 6,5. Outros ndices de qualidade tambm so utilizados como BVT, TMA e

    indol (Beiro et al., 2000; Brasil, 1980; Pregnolatto & Pregnolatto, 1985).

    A medida do pH no deve ser utilizada individualmente como ndice de

    frescor, pois pode induzir a falsas avaliaes. No entanto, seus valores geralmente

    acompanham, paralelamente, anlises qumicas, microbiolgicas e sensoriais (Nort,

    1988).

    Quando o pescado morre, modificaes fsico-qumicas ocorrem em seu

    corpo at a completa deteriorao, e estas precisam ser controladas e monitoradas ao se

    objetivar a qualidade do produto final. Os passos iniciais do processo de deteriorao do

    pescado so a liberao de muco em sua superfcie e a instalao do rigor mortis; a

    autlise e a decomposio bacteriana caracterizam o produto deteriorado (Oetterer,

    1999).

    Quando comparados a outros tipos de pescado, os moluscos apresentam em

    sua carne um teor relativamente elevado de carboidratos e menores concentraes de

    nitrognio. Conseqentemente, a sua deteriorao pode ser considerada essencialmente

    fermentativa. Outro fator qualitativo do pescado quanto aos lipdeos, que possuem

  • 19

    grande quantidade de cidos graxos insaturados,sendo portanto, altamente suceptveis

    oxidao acelerada pela presena de luz, calor, irradiao e metais pesados (Beiro et al.,

    2000).

    2.5.3 Microbiologia da carne de bivalves

    A classe Bivalva de grande interesse para os ecologistas que se

    interessam pelo controle da poluio, pois provavelmente a maior acumuladora de

    poluentes do meio ambiente. Esse fato tem sido objeto de estudos de avaliao de

    contaminao ambiental atravs da presena de bactrias e metais pesados em bivalves.

    Com o incremento da mitilicultura, os riscos sanitrios causados pelo consumo de

    mexilhes tm aumentado no que se refere presena de metais pesados, fitoplncton e

    microrganismos (Espnola & Dias, 1980; Lamparelli, 1987).

    Os moluscos particularmente o Mytilus edulis esto entre os mais

    importantes animais contaminados de enseadas nas regies temperadas. Eles tambm

    esto entre os organismos de maior dificuldade de controle, freqentemente impondo

    condies que eliminam outras espcies. Entre os vrios mtodos usados para controle

    dos moluscos contaminados por poluio, a clorao provavelmente o mais largamente

    utilizado (Espnola & Dias, 1980).

    Devido sua distribuio na costa martima e esturio, os moluscos esto

    por inmeras vezes sujeitos poluio proveniente de esgoto, principalmente nas

    proximidades de grandes centros urbanos. O principal perigo poluio a presena de

    bactrias e vrus patognicos, o que se transforma em problema de sade pblica,

    abalando o prestgio desses alimentos junto populao; agravando o problema, est o

    consumo dos moluscos in natura ou levemente cozidos (Beiro et al., 2000; Espnola &

    Dias, 1980; Jos, 1996).

    Dependendo da qualidade microbiolgica da gua da qual capturado e/ou

    cultivado o molusco, da qualidade da gua que se utiliza para sua lavagem e de outros

    fatores, a microbiota dos moluscos bivalves varia consideravelmente. Tm-se isolado os

  • 20

    seguintes gneros bacterianos: Serratia, Pseudomonas, Proteus, Clostridium, Bacillus,

    Escherichia, Enterobacter, Shewanella, Lactobacillus, Flavobacterium e Micrococcus.

    Conforme se instala e avana a alterao, predominam as espcies de Pseudomonas,

    Acinetobacter e Moraxella, enquanto que nas ltimas fases da alterao predominam os

    enterococos , os lactobacilos e as leveduras (Jay, 1994).

    Nos moluscos cozidos precariamente, encontram-se espcies dos gneros

    Alcaligenes, Flavobacterium, Moraxella, Acinetobacter e algumas bactrias Gram

    positivas. As principais bactrias patognicas contaminantes em carnes de bivalves so a

    Salmonella, sempre envolvida com gastroenterites e tambm responsvel pela febre

    tifide; a Shigella que pode causar disenteria e certas espcies de Clostridium que

    podem produzir exotoxinas patognicas. Moluscos so os maiores veculos do vrus da

    hepatite A (Espnola & Dias, 1980; Beiro et al., 2000).

    Muitos gneros de leveduras so encontrados no pescado e produtos

    crneos. Entre eles temos: Candida, Cryptococcus, Debaromyces, Hansenula, Pichia,

    Rhodotorula, Saccharomyces, Sporobolomyces, Torula, Torulopsis e Trichospora. (Jay,

    1987).

    A presena de Listeria monocytogenes classifica os produtos citados, a

    seguir, como de alto risco, para os quais um programa de controle de Listeria deveria ser

    estabelecido. So eles: os produtos cozidos ou prontos para o consumo tais como carne

    de caranguejo, camaro, surimi, camaro empanado, alm dos consumidos in natura,

    bivalves e pescado defumados a frio. A natureza psicrotrfica da Listeria e outros

    psicrotrficos deve ser uma considerao primria de controle em qualquer tentativa de

    se prolongar, atravs de armazenagem refrigerada, a vida til de um produto marinho

    (Beiro et al., 2000).

    2.5.4 Moluscos e surtos alimentares

    O consumo de moluscos, conforme registros em literatura especializada,

    responsvel por inmeros surtos epidmicos e responde diretamente pelos problemas de

  • 21

    sade pblica ocasionados, principalmente, quando os moluscos so ingeridos in natura

    e a qualidade sanitria do ambiente aqutico onde eles so capturados est

    comprometida (Jos, 1996).

    Dados epidemiolgicos mostram que o consumo de moluscos bivalves est

    associado com doenas de veiculao alimentar e a maior preocupao tem sido a gua

    contaminada com esgoto. No entanto, moluscos bivalves podem tambm estar

    naturalmente contaminadas com Clostridium botulinum tipo E ou Vibrio spp em guas

    no poludas (Jos, 1996).

    Fonte de contaminao adicional potencial o manejo do pescado; assim,

    desde o momento da captura, ainda nos barcos pesqueiros, este deve ser manipulado de

    forma higinica e lavado com gua livre de contaminantes. Outro fator relevante a

    cadeia do frio, pois segundo algumas pesquisas, em pases tropicais, as ostras tm sido

    comercializadas temperatura ambiente, variando de 25o C a 30o C, fomentando a

    contamimao inicial (Germano et al., 1998; Laloo et al., 2000).

    O montante de doenas transmitidas por alimentos no conhecido.

    Somente em alguns pases foram estabelecidos sistemas de informaes quanto a surtos

    de toxinfeces causadas por alimentos e, nestes, s uma pequena frao de casos

    computada (World Health Organization - WHO, 1999).

    A maioria dos surtos alimentares documentados, envolvendo pescado

    marinho nos Estados Unidos, est relacionada com o consumo de moluscos bivalves.

    Esta incidncia se deve biologia do animal, qualidade da gua na qual este se

    encontra, s tcnicas de manipulao ps captura e ao fato de que estes alimentos,

    freqentemente, so consumidos in natura (Cook, 1991).

    A importncia dos frutos do mar como veculos de toxinfeces est

    condicionada a fatores como a dieta da populao consumidora e o modo tradicional de

    preparo do alimento. Assim, a proporo de surtos alimentares envolvendo pescado

    significativamente mais alta no Japo devido ao alto consumo de pescado in natura

    quando comparado a outros pases como o Canad e Estados Unidos (Huss et al., 2000).

    Segundo Laloo et al. (2000), em estudos realizados em Trinidad Tobago a

    respeito da qualidade bacteriolgica de ostras in natura comercializadas na regio, havia

  • 22

    57,5% delas na faixa das que excederam o padro recomendado pelo ICMF

    International Comission on Microbiological Specifications for Foods, de 5,0 X 105

    UFC/g de aerbios totais.

    Do total de surtos alimentares relatados nos Estados Unidos no perodo de

    1988-1992, 35% foram causados por bactrias (Clostridium botulinum, Escherichia coli,

    Salmonella, Staphylococcus, Vibrio spp. e Bacillus cereus) atravs dos moluscos

    contaminados e 12% atravs de peixes. Segundo Espnola & Dias (1980), 47% dos

    surtos alimentares, tendo moluscos como vetores, so causados por microrganismos de

    etiologia desconhecida, como hepatites no especificadas e certos tipos de Vibrios (V.

    parahaemolyticus, V. vulnificus, V. cholerae), representando um risco ainda maior para

    pessoas que consomem bivalves in natura. No caso do V. parahaemolitycus, este

    microrganismo responsvel por uma elevao de 20%, nos casos documentados, de

    intoxicao alimentar no Japo.

    possvel que V. Cholerae possa estar associado com caranguejos e

    animais da fauna marinha que possuem concha, e que esta associao possa prolongar

    sua sobrevivncia no ambiente marinho (Colwel et al., 1984).

    2.6 Consideraes sobre o desenvolvimento pesqueiro brasileiro e do litoral Norte

    de So Paulo

    Como forma de organizao social e econmica, a atividade pesqueira

    apresenta uma temporalidade muito antiga, apesar de estar desvinculada dos esquemas

    clssicos de periodizao da civilizao humana, at os dias de hoje, e sua importncia

    no Brasil traduz-se a uma necessidade de maior organizao dos segmentos produtivos,

    uma poltica pesqueira mais colada realidade, um esforo maior de capacitao de

    pessoal e um sistema de informao mais preciso (Cardoso, 2001).

    A sobrepesca de algumas espcies, a pesca predatria de outras e a

    destruio de ecossistemas de alta produtividade so algumas das conseqncias que

  • 23

    acompanham o desenrolar do projeto de modernizao do setor pesqueiro, contribuindo

    para a reduo do pescado junto costa (Cardoso, 2001).

    Segundo dados levantados pela FAO (2003), a pesca extrativa marinha

    mundial teve um decrscimo de 3,45% de 2001 a 2002, vindo este fato intensificar a

    importncia da aqicultura.

    A categoria dos pescadores artesanais tida como um dos grupos sociais

    onde predomina uma situao de pobreza, tendo havido vrias tentativas para reverter tal

    situao, pois predominantemente em terra e no no mar que as causas desta situao

    so manifestadas, refletindo situaes de moradia, saneamento, nutrio, escolaridade e

    sade inadequadas, presentes na maioria das comunidades pesqueiras, visto que a renda

    obtida pela pesca extrativa, permite somente um nvel de subsistncia para o pescador

    (Cardoso, 2001).

    A cadeia de intermediao do pescado talvez seja uma das mais longas do

    no setor primrio. Aliando-se ao fato de sua perecebilidade, enquanto mercadoria, estes

    fatores resultam numa brutal transferncia de renda do pescador para os setores de

    distribuio e comercializao do produto. Tambm, a inconstncia das capturas,

    inerente pesca extrativa, compromete o rendimento dos pescadores e a organizao dos

    processos de armazenamento e de comercializao por parte dos pescadores artesanais,

    impedindo-os, por exemplo, de firmarem contratos regulares de fornecimento de

    pescado (Cardoso, 2001).

    A produo pesqueira do litoral Norte, que segundo a Companhia de

    Entrepostos e Armazns Gerais do Estado de So Paulo (CEAGESP), tem cado 20 % ao

    ano desde 98. A demanda existente precisa ser suprida com a compra, por parte de

    restaurantes, de pescado do Sul do pas e do Mercosul. A queda nos estoques pesqueiros

    tem sido atribuda degradao dos manguezais, pesca predatria, e poluio dos

    rios, causando uma reduo de at 75% da renda dos pescadores locais. A diminuio da

    renda por sua vez, tem causado abandono da profisso, fato que aliado baixa

    escolaridade e pouca qualificao, acaba por dificultar o enquadramento dos pescadores

    em outra atividade (Fim..., 2002).

  • 24

    No Brasil, a maricultura est representada, basicamente, pelo cultivo de

    crustceos e moluscos. O cultivo de moluscos responsvel por 245 t. de toda a

    produo aqcola mundial, sendo que os mexilhes representam cerca de 13,3% da

    produo de moluscos cultivados (Ostrensky et al., 2000).

    Segundo Borghetti & Ostrensky (2000), os moluscos produzidos no Brasil

    so o mexilho Perna perna, duas espcies de ostras, a nativa Crassostrea rhizophorae e

    a ostra do pacfico Crassostrea gigas, e uma espcie de vieria, Nodipectem nodosus.

    Nestes poucos anos da mitilicultura no Estado de Santa Catarina, cerca de

    800 produtores ingressaram na atividade, foram criadas 13 associaes de produtores e

    construdas 4 unidades de processamento de moluscos. O nmero de empregos diretos

    gira em torno de 4000 e cada hectare de cultivo de mexilho tem possibilitado a gerao

    de at 52 empregos (Moluscos..., 2002).

    2.6.1 A aqicultura no municpio de Ubatuba, SP

    No litoral Norte de So Paulo, principalmente no municpio de Ubatuba,

    estudos de custo e benefcio da mitilicultura mostraram viabilidade econmica, com

    investimentos e custo operacional relativamente baixos. A atividade foi iniciada na

    regio nos primrdios dos anos 70, tendo hoje uma tecnologia definida e utilizada por 18

    ncleos de produo, sendo 10 destes no municpio de Ubatuba, na sua maioria

    formados por comunidades de pescadores artesanais (Brasil, 2002; Marques & Pereira,

    1989; Proena et al., 2001).

    A mitilicultura vem sendo praticada comercialmente em Ubatuba desde

    1983, porm sem um apoio poltico necessrio ao seu desenvolvimento. Em

    contrapartida, no estado de Santa Catarina, onde houve grande empenho para o

    desenvolvimento da atividade, o cultivo do mexilho Perna perna teve incio em 1986 e

    j responde por cerca de 93% da produo nacional de mexilhes (Brasil, 2002; Proena

    et al., 2001).

  • 25

    O Litoral Norte de So Paulo possui uma rea de 1943 km2 abrangendo

    quatro municpios: So Sebastio, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba. Estes municpios

    possuem um total de 184 praias, a maioria com extenso mdia de 1 Km, cobrindo uma

    extenso de 128 km (CETESB, 2002).

    O municpio de Ubatuba constitudo de 78 praias e segundo dados do

    IBGE Censo 2000, possui a populao de 66.448 habitantes, sendo que este nmero

    praticamente duplicado nos finais de semana prolongados e na alta temporada. Sendo

    que, segundo Salati Filho (2001), a carga poluidora mdia da populao fixa de 2.691

    Kg DBO/dia, enquanto que o da populao flutuante principalmente nos finais de

    semana e frias de 8.073 Kg DBO/dia, chegando ao mximo de produo de carga

    poluidora de 13.455 Kg DBO/dia.

    Quatro municpios do Litoral Norte do Estado de So Paulo so atendidos

    pela Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo - SABESP, mas apenas

    as reas centrais possuem rede de coleta de esgoto, cujo tratamento ou desinfeco

    feita base de cloro. Nas praias existem alguns sistemas individuais de tratamento de

    esgotos e a disposio final feita por infiltrao no solo atravs de fossas spticas ou

    pelo lanamento em corpos dgua (rios, crregos e oceano), aps desinfeco (Salati

    Filho, 2001).

    Segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB

    (2003), os ndices relativos do Litoral Norte referentes a esgoto impressionam no s

    pela quantidade de carga poluidora gerada mas, sobretudo, pela quantidade no tratada

    cerca de 90%.

    Os resultados de anlises efetuadas por Agudo et al. (1982), revela que,

    algumas praias do municpio de Ubatuba apresentaram ndices crescentes de

    contaminao nos ltimos anos. A mais prejudicada tem sido a praia do Saco da Ribeira,

    onde a concentrao de coliformes fecais aumentou em um fator 23, nos ltimos trs

    anos, passando de uma concentrao mediana de 1,0x102 CF/100 mL para 2,3x103

    CF/100 mL. Outras praias do municpio, onde o nvel de poluio vem aumentando em

    menos proporo so Praia das Toninhas, Praia da Enseada, Praia de Perequ-Mirim,

    Praia do Lzado e Praia Dura. J nas praias de Itamambuca, Vermelha do Norte,

  • 26

    Perequ-Au, Tenrio, Itagu, Praia Grande, Lagoinha e Maranduba, nos ltimos trs

    anos, o nvel de poluio pode ser considerado estvel. A Praia Iperoig tem sido

    considerada atravs dos anos como uma das mais contaminadas de todo o municpio,

    porm com leve tendncia a melhorar nos ltimos anos. Relatrios recentes da Cetesb,

    revelam que a qualidade das guas das praias do Litoral Paulista melhoraram em 2002; a

    tendncia de melhora na qualidade sanitria da praia paulistas vem se verificando nos

    ltimos 4 anos, fato explicado em parte, pelas obras de infra-estrutura de saneamento

    bsico implantadas na regio costeira (Relatrio..., 2003).

    O municpio de Ubatuba considerado um local excelente para

    implantao da maricultura, pois situa-se, relativamente, prximo aos principais centros

    consumidores (So Paulo e Rio de Janeiro); uma regio com muitos atrativos

    tursticos; apresenta a costa litornea bastante recortada, formando pequenas baas

    abrigadas e possui 80% de sua rea inserida no Parque Estadual da Serra do Mar

    (CETESB, 2002).

    O turismo no Litoral Norte teve grande incremento a partir da dcada de

    sessenta, com o advento das ligaes rodovirias, promovendo o afluxo de turistas para

    esta regio. problemtica do desenvolvimento urbano e turstico do litoral, soma-se a

    problemtica ambiental que ganha corpo nas ltimas dcadas.

    Como j sugerido pela FAO (2001), a aqicultura vem destacando-se como

    provedora de alimentos e empregos, o que pode ser confirmada, pela adeso de

    pescadores locais maricultura. Segundo entrevista Folha de So Paulo (Fim... 2002),

    o pescador Euzbio Higino de Oliveira, 58 anos, produtor de um dos pontos de coleta da

    presente pesquisa, afirma estar satisfeito com a produo de mexilhes, pois, segundo o

    mesmo, em poca de temporada, o faturamento com a venda dos moluscos chega a R$

    2.000,00, enquanto que com a pesca extrativa ganhava no mais do que um salrio

    mnimo.

    Nos laboratrios do Centro de Biologia Marinha da USP (Cebimar USP)

    e Instituto de Biocincias da USP, estudos de monitoramento da presena de toxinas

    marinhas, iniciaram-se em meados da dcada de oitenta, constatando a existncia das

  • 27

    mesmas no litoral de So Paulo, porm em quantidades residuais, sem oferecer perigo

    aos consumidores de mariscos (Freitas, 2003).

    2.6.2 A atividade da mitilicultura

    A problemtica da produo de mexilhes como atividade extrativa no que

    se refere aos aspectos sanitrios, de legislao e de sade do consumidor foi discutida

    por Jos (1996), para os municpios paulistas de Perube, So Sebastio e So Paulo. As

    concluses so as seguintes: a legislao pertinente inadequada e incompleta, uma vez

    que no abrange diversos procedimentos inerentes obteno de bivalves para consumo

    humano; a atuao dos rgos pblicos responsveis pela fiscalizao sanitria das reas

    de obteno de bivalves falha no que se refere aos servios de inspeo e fiscalizao

    de alimentos em nvel federal, estadual e municipal; a inexistncia de um dispositivo

    legal a respeito da obrigatoriedade de identificao de bivalves, inviabiliza o

    conhecimento da rea de origem por ocasio da comercializao e, esta ocorre de forma

    rotineira no Estado de So Paulo, no atacado e no varejo; inmeros comerciantes

    adquirem bivalves sem comprovao de origem, tornando-se responsveis pela sanidade

    dos mesmos; os comerciantes varejistas infringem o Cdigo do Consumidor, por no

    divulgarem que bivalves provenientes de gua com concentrao mdia superior a 14

    Coliformes fecais CF/100mL no podem ser ingeridos in natura e por no informarem

    as condies sanitrias do local de origem do produto por eles comercializado; os

    prprios consumidores, que adquirem esses produtos sem identificao, demonstram

    falta de conhecimento do risco Sade Pblica e de conscientizao dos prprios

    direitos.

    27Segundo Ostini & Gelli (s/d) h vrios mtodos de cultivo de mexilhes.

    Dentre eles est o cultivo em estaca que muito utilizado na Frana e apresenta a

    vantagem de no expor os bivalves aos predadores do fundo; a desvantagem a

    exposio ao ar na mar baixa, reduzindo o tempo hbil de alimentao. O cultivo sobre

    27 OSTINI, S; GELLI, V.C. Curso de criao de mexilho. Ubatuba: IPESCA, s.d. 45p.

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    o fundo uma tcnica muito utilizada na Holanda e consiste no transporte de mexilhes

    jovens para os locais de cultivo, geralmente em guas calmas e rasas, a vantagem deste

    sistema que o marisco permanece todo o tempo submerso, alimentando-se

    continuamente, mas tem como maior desvantagem o contato deste com o lodo e,

    conseqente presena de resduos minerais no intestino, depreciando o produto final.

    Para a implantao do cultivo suspenso, muitos aspectos devem ser levados em

    considerao, embora seja uma tcnica muito utilizada no Mediterrneo, com a

    vantagem de apresentar baixo custo de implantao e manuteno.

    No Litoral Norte de So Paulo existem 77 famlias cadastradas como

    produtoras de mexilho Perna perna. Os criadores esto organizados em associaes, e

    as fazendas marinhas esto localizadas em 23 praias ao longo do litoral. Cada fazenda

    ocupa cerca de 2.000 m2 de lmina dgua e produz em mdia 12 Kg de mexilho por

    metro linear de rede (Gelli et al., 2002).

    O sistema de cultivo utilizado pelos produtores no Litoral Norte

    denominado espinhel, ou long line, devido a sua adaptao s condies

    oceanogrficas da Costa paulista, que permitem fcil manejo e pequeno investimento. A

    semeadura realizada com base no sistema francs, permitindo que cada sistema

    simples implantado produza at duas toneladas de mexilhes, em casca, por safra e em

    um perodo que varia de 6 a 9 meses, conforme o local de produo (Pereira et al.,

    2003).

    As tcnicas de criao de mexilhes foram aprimoradas e difundidas pelo

    Instituto de Pesca/ Agncia Paulista de Tecnologia do Agronegcio - APTA/ Secretaria

    da Agricultura e Abastecimento - SAA e suas parcerias (Centro de Assistncia Tcnica

    Integrada (CATI) So Sebastio e Departamento de Produo Animal - DPA/

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento - MAPA) atravs de cursos e

    assistncia tcnica a comunidades de pescadores locais do Litoral Norte do Estado de

    So Paulo, resultando no aumento de 9 para 90 produtores nos ltimos cinco anos (Gelli

    & Carneiro, 2003). Sendo que, o municpio de Ubatuba conta com 42 mitilicultores.

    A Associao dos Maricultores do Estado de So Paulo -AMESP

    composta de 115 associados. A implantao do sistema de geo-referenciamento para a

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    implantao da maricultura, a padronizao do cenrio e o zoneamento das fazendas

    marinhas, so aes coordenadas pelo Instituto de Pesca, com a participao das demais

    parcerias (Secretaria do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

    Recursos Renovveis - IBAMA, DPA/ MAPA, colnias de pesca, prefeituras municipais

    e universidades) que esto propiciando o desenvolvimento ordenado das fazendas

    mexilhoneiras na regio (Gelli & Carneiro, 2003).

    Estes mesmos autores realizaram um levantamento preliminar em 1989,

    quanto s reas mais favorveis mitilicultura no litoral do municpio de Ubatuba e

    concluram que a atividade pode ser praticada no municpio, em cerca de 4100 hectares

    distribudos ao longo deste litoral; que o potencial de produo desta rea , de acordo

    com as mesmas estimativas, de cerca de 125 mil toneladas de mexilhes, em casca, por

    ano, e que, do ponto de vista econmico, esse potencial justifica plenamente a

    delimitao e a preservao destas reas para fins de prtica da mitilicultura.

    Atualmente, a produo de mexilho do Litoral Norte est em torno de 100

    toneladas/ano, sendo o municpio de Ubatuba, o local com maior potencial de produo.

    A comercializao do mexilho ocorre praticamente durante o ano todo, predominando a

    forma a granel, sendo que a oferta maior no vero, perodo em que a produo maior.

    A maioria dos produtores de Ubatuba vende o mexilho in natura, vivo na concha,

    sendo que alguns os vendem limpos e cozidos e outros comercializam o produto j

    pronto para o consumo mariscado, diretamente na praia para o turista. Todas as

    iniciativas de criao de moluscos bivalves no pas podem ser consideradas clandestinas,

    no que se refere legalizao de uso da rea. Isso ocorre porque a