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Que tal refletirmos um pouco

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(Parênteses: na minha modesta opinião, um idioma que divirja jus- tamente na frase “Eu te amo” não pode ter nenhuma esperança de unificação, falada, escrita ou o que seja.) Eu não perdi as esperanças. Se até o confisco do Pla- no Bresser está reaparecendo, eu tenho certeza de que a- inda vou ter os meus tremas e acentos de volta A ortografia inglesa não faz sentido? À primeira vis- ta, não. Mas se a escrita fosse fonética, como diferenciar ―eight‖ de ―ate‖, ―see‖ de ―sea‖?

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Page 1: Que tal refletirmos um pouco
Page 2: Que tal refletirmos um pouco

Uma crônica é uma narração que segue uma ordem tempo-

ral.Pode ser um relato de eventos históricos em ordem cronoló-

gica ( historiografia), ou uma narração curta e frequente em re-

vistas e jornais ( literatura e jornalismo).

A crônica difere da notícia e da reportagem porque, embora

utilizando o jornal ou revista como meio de comunicação, não

tem por finalidade principal informar o destinatário, mas refletir

sobre o acontecido. Desta finalidade resulta que, neste tipo de

texto, podemos ler a visão subjetiva do cronista sobre o universo

narrado. Assim, o foco narrativo situa-se invariavelmente na pri-

meira pessoa.

Aqui teremos crônicas sobre os temas: ‗‘ momento de des-

coberta Truman‘‘, ‗‘Um olhar sobre a cidade‘‘, ‗‘Uma crônica

esportiva‘‘, ―De repente, adolescência‘‘ e, além disso, algumas

crônicas de jornal, revista, de Martha Medeiros ( colunista do

jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Ja-

neiro), e Nelson Rodrigues (um importante dramaturgo, jorna-

lista e escritor brasileiro).. Também contamos com a presença

dos editores Yasmin Leite Gomes e Isabella Bellintani, estudan-

tes do primeiro ano da escola Visconde de Porto Seguro, que ti-

veram bastante trabalho em montar esta coletânea, e esperam

que todos gostem do trabalho apresentado.

Page 3: Que tal refletirmos um pouco

Em busca de justiça .............................................................. P.04

Desigualdade nos dias atuais..................................................P.05

Um pequeno gesto já é um bom começo................................P.06

Consciência na Humanidade..................................................P.07

De repente Adolescente...........................................................P08

Tristeza e competição..............................................................P09

Decepção no estádio ...............................................................P10

Crônica de Jornal.............................................................P11 e 12

Crônica de Revista......................................................P13,14 e 15

Crônica de Martha Medeiros...........................................P16 e 17

Crônica de Nélson Rodrigues...........................................P18 e19

Page 4: Que tal refletirmos um pouco

Acordei com uma gritaria de flanelinhas que, como eu, potes-

tavam contra alguma coisa que ainda não fazia idéia do que e-

ra. Até que no meio da confusão ouvi um homem gritar que

um novo repelente estava acabando com nossas vidas. Alem

de liberar um cheiro horrível, não conseguíamos nos aproxi-

mar dos carros. Entrei em pânico. Sem limpar os carros, não

ganharia minhas moedinhas que me sustentaram durante toda

minha vida. Mesmo que fossem muito poucas, eram dessas

que eu dependia. Naquela manhã , reunimos todos os flaneli-

nhas para promover uma passeata contra o repelente. ‗‘Não

somos mosquitos‘‘ , gritavam todos os flanelinhas ali presen-

tes. Me lembro como se fosse hoje. A polícia resolveu agir

contra nosso bando e nos agrediu violentamente como se fos-

semos criminosos.

Acordei de novo, no hospital publico com uma enfermeira en-

faixando meu braço e perguntando o que teria acontecido co-

migo. Disse apenas que foi por uma boa causa. Me senti jul-

gado pela sociedade, pelo meu tom de pele mais escuro e mi-

nhas condições mais humildes. Aquela passeata teria

sido um fracasso, porém tinha em minha mente uma consci-

ência tranqüila, de quem lutou por valores de uma vida digna

em busca da felicidade e de justiça.

Page 5: Que tal refletirmos um pouco

É engraçado pensar como a humanidade se tornou tão egoísta

e preconceituosa ao passar dos anos. Ao invés de aprender-

mos com os erros dos outros e nos esforçarmos para tornar-

mos pessoas melhores, estamos sempre regredindo e fazendo

questão de menosprezar os outros, como se dinheiro tornasse

alguém superior. Mas afinal, por que agir assim, se dinheiro

não compra caráter e muito menos humildade?

Foi ao entrar no mercadinho, que algo me chamou atenção.

Um novo produto acabara de ser fabricado e estava sendo co-

mercializado sem nenhuma restrição pela cidade. ‗‘Repelente

para flanelinhas‘‘, chamava. Um sentimento de ódio tomou

conta de mim e como reação, sai rapidamente do mercado.

Dirigindo por duas quadras, pude finalmente parar em um fa-

rol, onde se encontravam um amontoado de meninos flaneli-

nhas. Automaticamente, juntaram-se ao redor do meu carro e

com um tom amedrontado em sua voz, o mais novo do grupo

falou:

-- Oi tio, posso limpar seu vidro?

Olhei no fundo de seus olhos e pude ver toda uma vida do-

lorosa e difícil da qual deve ter passado e que com certeza ali

não era onde desejava estar, mas infelizmente por injustiças

do destino estava, e respondi:

--Obvio, minha criança.

Page 6: Que tal refletirmos um pouco

Acordei com um pensamento estranho, do qual nunca ha-

via me passado antes. Uma série de perguntas para qual

não conseguia encontrar respostas, repentinamente, tam-

bém me vieram a cabeça.

Ao longo do mesmo caminho, do qual diariamente sigo

para o trabalho, uma cena lamentável prendeu minha a-

tenção. Catadores de sucata, trabalhavam duro para man-

ter a ordem e a limpeza de nossa cidade, enquanto pesso-

as desrespeitosas, ignorantes e egoístas, continuavam a

passar e jogar seus lixos pela rua, como se estivessem de

olhos vendados, sem ao menos notar que as pessoas já

trabalhavam ali, catando o lixo que outros mal educados,

já haviam descartado. Será possível , em pleno século

XXI, com tantas possibilidades de nos tornarmos um país

unido e cooperativo , tenhamos nos tornado egoístas e in-

dividualistas? Que ao menos não saibamos trabalhar jun-

tos, para formar um mundo melhor?

Como um rápido momento de alucinação, saltei do carro

e segurei uma mulher que havia no exato momento joga-

do uma latinha de refrigerante no chão. Não precisei nem

dizer e como se um olhar valesse mais que mil palavras,

ela voltou e apanhou o que havia deixado para trás. Con-

tinuei supervisionando a rua por mais algumas horas e fui

embora decidido que, um belo começo de transformar o

mundo, era com um pequeno gesto como esse.

Page 7: Que tal refletirmos um pouco

Um dia desses, estava no engarrafamento na cidade de São

Paulo. Uma fila quase infinita de carros na marginal que

parecia não acabar. Percebi como as pessoas estavam irri-

tadas e impacientes consigo mesmas só pela quantidade de

buzinas que estavam soando.

Presa no transito, sem saber o que fazer, olhei para fora da

janela e observei todo aquele lixo jogado no rio. Percebi

como as pessoas não se importavam com o lixo jogado nas

ruas, muito menos com a poluição e com o trabalho duro

dos catadores de sucata.

É impressionante como a raça humana tem uma mentali-

dade ignorante e egoísta. Só pensam em si próprios e não

se importam com o que esta acontecendo em sua volta. Eu

agia como eles, mas depois de refletir durante horas na-

quela tarde, percebi o quanto é importante termos um mí-

nimo de consciência com a natureza e não pensarmos so-

mente em si próprio.

Page 8: Que tal refletirmos um pouco

É muito comum ouvirmos de nossos familiares, ou até

mesmo de pessoas mais velhas, para que aproveitemos

nossa fase como criança, pois o tempo passa rápido de-

mais. E hoje, vejo que todos eles estavam realmente cer-

tos, o tempo voa.

Acordei nessa manhã ensolarada, com uma sensação estra-

nha. Olhei ao meu redor, mas nada estava diferente, a não

ser eu mesma. Meu lençol estava com uma mancha aver-

melhada. Fiquei parada por alguns minutos, imóvel, e ate

mesmo espantada, até realmente me tocar do que estava a-

contecendo. A bebezinha da mamãe estava ficando moci-

nha. Corri para o banheiro, e por horas, fiquei a me obser-

var ao espelho. Minha pele, já não era mais o mesmo pês-

sego de antes. Espinhas monstruosas surgiam em meu ros-

to, me deixando assustada, e incontrolavelmente irritada, o

que provavelmente podia ser entendido como a famosa

TPM e para piorar, pelos em regiões que eu nunca espera-

va encontrar, também resolveram aparecer. Lágrimas

quentes de raiva escorreram pelo meu rosto. Resolvi con-

versar com minha mãe, e ela amorosamente, me explicou

que eram fases de vida, e que toda mulher um dia também

passaria por isso.

O resto do dia permaneci sentada na varanda, pensando

em tudo por qual eu já havia passado e pude entender, que

a vida é uma só, e se você não aproveita, o tempo passa, e

você fica para trás.

Page 9: Que tal refletirmos um pouco

Dia ensolarado e tranqüilo na cidade de São Paulo. Todos es-

tão ansiosos para o jogo que ocorrerá no final da tarde, pois

este, decide o final do campeonato. Mas eu, como cidadão,

não estava nada feliz. Sempre gostei muito de jogos de fute-

bol, até presenciar um acontecimento lamentável na saída do

estádio de um jogo em que fui com meu filho torcer e assistir.

O jogo ocorreu tranqüilo, até o primeiro tempo, onde o placar

se mantinha estável e não favorecia a nenhum dos times. Mas

infelizmente, o jogo começou a mudar. O time adversário a

qual nos torcíamos estava perdendo, e sua torcida, não muito

contente, resolveu atirar pedras em nosso lado da arquibanca-

da. A confusão começou, e uma série de policias armados en-

traram no estádio para tentar acalmar a situação. Corri com

meu filho para fora do estádio, e entrei no primeiro taxi que

vi passar pela rua. A caminho de casa, podíamos ver ambu-

lâncias passando, e pessoas sangrando. Ao chegar em casa, e

por a cabeça no travesseiro parei para pensar, em como um

esporte que deveria servir para divertir e trazer prazer as pes-

soas, poderia fazer tão mal. Não acreditava, em como o vicio

e a paixão por um time, poderia ser capaz de tirar a vida de

pessoas inocentes, que só estavam lá, assim como eu, para se

distrair.Uma lagrima fria escorreu pelo meu rosto, me levan-

do a crer, que mesmo em dia ensolarados como o dia de hoje,

seriam capazes de me fazer esquecer o que os jogos de fute-

bol hoje em dia representam, sofrimento e disputa, e não mais

um simples momento de diversão.

Page 10: Que tal refletirmos um pouco

Fui assistir a um jogo do são Paulo no estádio pela pri-

meira vez. Era um jogo imperdível e depois de implorar

quase de joelhos para minha mãe, ela concordou em me

levar ao jogo, porem não aconselhava que eu fosse sozi-

nha e resolveu ir junto. A partida foi um sucesso, todos

os torcedores vibravam como nunca. Tudo ocorria muito

bem ate a hora em que ouvi barulhos de tiros e avistei

cavalos da policia em volta do estádio. Uma multidão de

pessoas foi atropelada pela policia. Minha mãe agarrou

em meu braço com muita força e saímos as duas corren-

do em direção ao lugar menos movimentado possível.

Finalmente conseguimos chegar ate o carro, eu estava

muito assustada com aquilo tudo, nunca imaginei que

poderia resultar num desastre como esse. Depois de ou-

vir um sermão de minha mãe, pedi desculpas por ter pe-

dido para ir ao jogo, e prometi para mim mesma que não

iria nunca mais. Foi realmente uma decepção, nunca

pensei que isso pudesse acontecer por causa de uma

simples partida de futebol.

Page 11: Que tal refletirmos um pouco

Q U AR TA - F E I R A, 11 D E M AR Ç O D E 2 0 0 9 - Crônica Acabo de devorar um livro que é a melhor e mais embasada crítica já escrita ao acordo ortográfico do português. Trata-se de “The Mo-ther Tongue: English and how it got that way” (algo como “A Língua Materna: como o inglês ficou desse jeito), de Bill Bryson, o mesmo do genial “Uma breve história de quase tudo”. Está bem, está bem: o livro não é exatamente sobre o acordo orto-gráfico do português. Não foi publicado agora, mas em 1990. E Bill Bryson não deve saber xongas sobre as diferenças entre as varian-tes do português dos dois lados do Atlântico – nem ao menos que o nosso “Eu te amo”, em solo luso, se diz “Amo-te”. (Parênteses: na minha modesta opinião, um idioma que divirja jus-tamente na frase “Eu te amo” não pode ter nenhuma esperança de unificação, falada, escrita ou o que seja.) O que “The Mother Tongue” traz é uma fórmula vencedora de auto-ajuda para toda língua que queira conquistar amigos e influenciar pessoas. E a fórmula que fez do inglês o idioma mais influente do planeta, afirma Bryson, é justamente a sua falta de regulamenta-ção. Olhe que interessante: o período em que o inglês mais evoluiu foi durante os 300 anos – entre 1066 e 1399 – em que reis normandos mandaram na Inglaterra. Enquanto o francês era a língua oficial da Corte, a patuléia pôde fazer da língua inglesa o que bem lhe aprou-vesse. Foi quando os gêneros acabaram abolidos, as conjugações verbais foram simplificadas, e os plurais saxões terminados em “n” e “r” foram naturalmente uniformizados em “s”.

Page 12: Que tal refletirmos um pouco

Ao retomar o status de idioma oficial, o inglês mo-

derno estava mais enxuto, mas continuava suficientemen-

te vira-lata para incorporar tudo o que viria a passar pelo

seu caminho: o vocabulário deixado pela corte francofô-

nica, os neologismos fabricados pelos elizabetanos e vito-

rianos, os termos importados das colônias, as estruturas

inventadas pelos americanos.

Até hoje ingleses e americanos não têm uma orto-

grafia comum – nem querem ter. Os ingleses seguem o

dicionário Oxford, os americanos seguem o Webster – e

os dicionários seguem os britânicos e os americanos, re-

gistrando as grafias que ocorrem e vingam na vida real.

A ortografia inglesa não faz sentido? À primeira vis-

ta, não. Mas se a escrita fosse fonética, como diferenciar

―eight‖ de ―ate‖, ―see‖ de ―sea‖?

Eu não perdi as esperanças. Se até o confisco do Pla-

no Bresser está reaparecendo, eu tenho certeza de que a-

inda vou ter os meus tremas e acentos de volta

Page 13: Que tal refletirmos um pouco

Cronica Da Revista O Globo De 5 De Agosto

Crônica do Amor Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por con-junção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pe-la fragilidade que se revela quando menos se espera. Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome. Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste

Page 14: Que tal refletirmos um pouco

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não li-ga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. E-le não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara? Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia românti-ca também tem seu valor. É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Page 15: Que tal refletirmos um pouco

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor? Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemá-tica: eu linda + você inteligente = dois apaixona-dos. Não funciona assim. Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível. Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó! Mas ninguém consegue ser do jeito que o a-mor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a manei-ra mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa

Page 16: Que tal refletirmos um pouco

A TRISTEZA PERMITIDA (

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair

da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu

convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas

providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os ri-

tuais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como

tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra com-

pras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se

eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não en-

contrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje le-

vantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai rea-

gir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo,

ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que

eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra

eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a

ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é

mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de

ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma do-

ença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma.

Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa?

Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.

Page 17: Que tal refletirmos um pouco

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo

com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste,

também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento

tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que

ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é

estar deprimido.

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é

estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou

consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é desco-

brir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm

essa mania de serem discretas.

Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não

me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu an-

do tão down...‖ Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos

versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada,

melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desa-

marrar a cara. ―Não quero te ver triste assim‖, sussurrava Roberto Car-

los em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a en-

frentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para dis-

farçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de

existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-

oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro

que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor

mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria

das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus a-

baixo da euforia.

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem

pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspec-

ção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar.

Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabe-

doria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o

fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos.

Page 18: Que tal refletirmos um pouco

Freud no futebol

Um amigo meu que foi aos Estados Unidos informa que, lá, todo mun-

do tem o seu psicanalista. O psicanalista tornou-se tão necessário e tão coti-

diano como uma namorada. E o sujeito que, por qualquer razão eventual,

deixa de vê-lo, de ouvi-lo, de farejá-lo, fica incapacitado para os amores, os

negócios e as bandalheiras. Em suma: — antes de um desses atos gravíssi-

mos, como seja o adultério, o desfalque, o homicídio ou o simples e cordial

conto-do-vigário, a mulher e o homem praticam a sua psicanálise.

O exemplo dos Estados Unidos leva-me a pensar no Brasil ou, mais e-

xatamente, no futebol brasileiro. De fato, o futebol brasileiro tem tudo, me-

nos o seu psicanalista. Cuida-se da integridade das canelas, mas ninguém se

lembra de preservar a saúde interior, o delicadíssimo equilíbrio emocional

do jogador. E, no entanto, vamos e venhamos: — já é tempo de atribuir-se

ao craque uma alma, que talvez seja precária, talvez perecível, mas que é in-

c o n t e s t á v e l .

A torcida, a imprensa e o rádio dão importância a pequeninos e mise-

ráveis acidentes. Por exemplo: — uma reles distensão muscular desencadeia

manchetes. Mas nenhum jornal ou locutor jamais se ocuparia de uma dor-de

-cotovelo que viesse acometer um jogador e incapacitá-lo para tirar um vago

arremesso lateral. Vejam vocês: há uma briosa e diligente equipe médica,

que abrange desde uma coriza ordinaríssima até uma tuberculose bilateral.

Só não existe um especialista para resguardar a lancinante fragilidade psí-

quica dos times. Em conseqüência, o jogador brasileiro é sempre um pobre

ser em crise.

Page 19: Que tal refletirmos um pouco

Isabella Bellintani – 9

Yasmin Leite - 27

Professora Érica Salgado

21MA5

Produção de texto

Contracapa

Page 20: Que tal refletirmos um pouco

Este artigo pode conter de

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Uma das vantagens de usar

o boletim informativo como

ferramenta promocional é a

possibilidade de aproveitar

outros materiais de marke-

ting, como informações à

imprensa, estudos de mer-

cado e relatórios.

O segredo de um trabalho

bem-sucedido é apresentar

um conteúdo útil ao leitor.

Uma forma de apresentar

um conteúdo eficiente é

desenvolver e escrever seus

próprios artigos ou incluir a

programação de eventos

futuros ou uma oferta espe-

cial promovendo um novo

produto.

Pesquise outros artigos ou

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”complementares“ acessan-

do a World Wide Web. Você

poderá escrever sobre uma

variedade de assuntos ou

optar por artigos resumidos.

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sher oferece uma maneira

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tim informativo, converta-o

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tim informativo. Há também

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Alguns boletins informativos

contêm uma coluna atuali-

zada a cada edição: uma

coluna de dicas, crítica lite-

rária, uma carta do presi-

dente ou um editorial. Você

também poderá fornecer o

perfil de um funcionário ou

de clientes importantes.

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mativos são bem variados.

Você pode incluir artigos

sobre novos avanços e des-

cobertas tecnológicas em

sua área.

Se preferir, poderá fazer

observações sobre as ten-

dências comerciais ou eco-

nômicas ou previsões para

clientes.

Se fizer uma distribuição

interna, poderá analisar

novos procedimentos ou

Página 20 Volume 1, edição 1

Legenda da imagem ou do

elemento gráfico.

Legenda da ima-

gem ou do ele-

mento gráfico.

“Para chamar a

atenção do

leitor, insira

uma citação ou

frase

interessante do

texto aqui.”

Page 21: Que tal refletirmos um pouco

Para nós, o futebol não se traduz em termos técnicos e táticos, mas pu-

ramente emocionais. Basta lembrar o que foi o jogo Brasil x Hungria*, que

perdemos no Mundial da Suíça. Eu disse ―perdemos‖ e por quê? Pela supe-

rioridade técnica dos adversários? Absolutamente. Creio mesmo que, em

técnica, brilho, agilidade mental, somos imbatíveis. Eis a verdade: — antes

do jogo com os húngaros, estávamos derrotados emocionalmente. Repito:

— fomos derrotados por uma dessas tremedeiras obtusas, irracionais e gra-

tuitas. Por que esse medo de bicho, esse pânico selvagem, por quê? Nin-

guém saberia dizê-lo.

E não era uma pane individual: — era um afogamento coletivo. Nau-

fragaram, ali, os jogadores, os torcedores, o chefe da delegação, a delega-

ção, o técnico, o massagista. Nessas ocasiões, falta o principal. Estão a pos-

tos os jogadores, o técnico e o massagista. Mas quem ganha e perde as par-

tidas é a alma. Foi a nossa alma que ruiu face à Hungria, foi a nossa alma

que ruiu face ao Uruguai. E aqui pergunto: — que entende de alma um téc-

nico de futebol? Não é um psicólogo, não é um psicanalista, não é nem

mesmo um padre. Por exemplo: — no jogo Brasil x Uruguai entendo que

um Freud seria muito mais eficaz na boca do túnel do que um Flávio Costa,

um Zezé Moreira, um Martim Francisco. Nos Estados Unidos, não há uma

Bovary, uma Karênina que não passe, antes do adultério, no psicanalista.

Pois bem: — teríamos sido campeões do mundo, naquele momento, se o

escrete houvesse freqüentado, previamente, por uns cinco anos, o seu psica-

nalista.

Sim, amigos: — havia um comissário de polícia, que lia muito X-9,

muito Gibi. Para tudo o homem fazia o comentário erudito: — ―Freud ex-

plicaria isso!‖. Se um cachorro era atropelado, se uma gata gemia mais alto

no telhado, se uma galinha pulava a cerca do vizinho, ele dizia: — ―Freud

explicaria isso!‖. Faço minhas as palavras da autoridade: — só um Freud

explicaria a derrota do Brasil frente à Hungria, do Brasil frente ao Uruguai

e, em suma, qualquer derrota do homem brasileiro no futebol ou fora dele.