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SEMINÁRIO DA DISCIPLINA “EPISTEMOLOGIA DA PSICOLOGIA” (MESTRADO EM PSICOLOGIA –UFPR 1) Como a tradi!o t"#ri$a %&" 'o$ adota d" *" +"& o "+t&do. “No que concerne às Ciências Humanas, a questão da voz do objeto é de Segundo Ba!tin, é o objeto que distingue essas ciências das outras " e matem#ticas$. Não é %orém o !omem seu objeto es%ec&'co, uma vez que ser estudado %e(a Bio(ogia, %e(a )to(ogia etc. * objeto es%ec&'co das é o di+$&r+o ou, num sentido mais am%(o, a mat/ria +i0*i $a*t" . * objeto é um sujeito %rodutor de discurso e é com seu discurso que (ida o %esquisa discursos, as Ciências Humanas têm %ortanto essa es%eci'cidade de ter um objeto não a%enas a(ado, como em todas as outras disci%(ina um objeto a(ante.- morim, /010 “2e3etir sobre a constru4ão de uma e%istemo(ogia das ciências !umanas da '(oso'a da (inguagem de 5i!ai( Ba!tin e6ige do %esquisador desta um desa'o inicia(, ou seja, a caracteriza4ão do que é con!ecer um obj con!ecer um indiv&duo, outro sujeito cognoscente. 7ara Ba!tin, esta undamenta(, %ois %ermite ao %esquisador caracterizar cada e(emento, o em suas es%eci'cidades, nos seus %r8%rios (imites. o %ensarmos no co %ode ser e(aborado quando o sujeito se de%ara com um objeto, des%rovi interioridade, observa9se que ta( objeto %ode se reve(ar %or um ato u cognoscente e, %ortanto, ta( con!ecimento é da ordem do interesse %r# contra%artida, quando um determinado sujeito se abre %ara o con!ecime indiv&duo, deve conservar certa dist:ncia, %ois, abrir9se %ara o outr %ermanecer também vo(tado %ara si. )sta d& 2i$idad" ; +"r +&-"ito "3 ao m"+mo t"m o3 o,-"to d" $o*4"$im"*to ; e6ige que as ciências !umanas se de'nam a %arti %rob(em#tica que (!es seja %r8%ria e de um cam%o es%ec&'co de e6%(ora que orienta esse ti%o de con!ecimento é a %reocu%a4ão com a d"*+idad" " a ro5&*didad" do %&" / r"'"2ado a artir do "*$o*tro do "+%&i+ador o&tro . * %esquisador do cam%o das ciências !umanas est#, %ortanto, transitando d"+$o,"rta+ , das r"'"2a6"+ , das tomada+ d" $o*4"$im"*to , das $om&*i$a6"+ , das rod&6"+ d" +"*tido "*tr" o "& " o o&tro7” 8o,im3 9:19 “7ara Ba!tin, o <nico objeto rea( e materia( de que dis%omos %ara en da (inguagem !umana é o e6erc&cio da a(a em sociedade. 7or isso, %ara b#sica da (&ngua não é o signo, mas o enunciado . >m enunciado se di erencia de signo %orque %ara e6istir e(e e6ige a %resen4a de um enunciador "quem escreve$ e de um rece%tor "quem ouve, quem (ê$. * signo, segundo Saus

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questões respondidas para seminário de psicologia

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TEXTOS DA DISCIPLINA INTRODUO AO BEHAVIORISMO

SEMINRIO DA DISCIPLINA EPISTEMOLOGIA DA PSICOLOGIA

(MESTRADO EM PSICOLOGIA UFPR1) Como a tradio terica que voc adota define seu objeto de estudo?

No que concerne s Cincias Humanas, a questo da voz do objeto decisiva.

Segundo Bakhtin, o objeto que distingue essas cincias das outras (ditas naturais

e matemticas). No porm o homem seu objeto especfico, uma vez que este pode ser estudado pela Biologia, pela Etologia etc. O objeto especfico das Cincias Humanas o discurso ou, num sentido mais amplo, a matria significante. O objeto um sujeito produtor de discurso e com seu discurso que lida o pesquisador. Discurso sobre discursos, as Cincias Humanas tm portanto essa especificidade

de ter um objeto no apenas falado, como em todas as outras disciplinas, mas tambm um objeto falante. Amorim, 2010

Refletir sobre a construo de uma epistemologia das cincias humanas a partir

da filosofia da linguagem de Mikhail Bakhtin exige do pesquisador desta rea enfrentar

um desafio inicial, ou seja, a caracterizao do que conhecer um objeto, e o que

conhecer um indivduo, outro sujeito cognoscente. Para Bakhtin, esta distino

fundamental, pois permite ao pesquisador caracterizar cada elemento, objeto e sujeito,

em suas especificidades, nos seus prprios limites. Ao pensarmos no conhecimento que

pode ser elaborado quando o sujeito se depara com um objeto, desprovido de

interioridade, observa-se que tal objeto pode se revelar por um ato unilateral do sujeito

cognoscente e, portanto, tal conhecimento da ordem do interesse prtico. Em

contrapartida, quando um determinado sujeito se abre para o conhecimento de outro

indivduo, deve conservar certa distncia, pois, abrir-se para o outro , neste caso,

permanecer tambm voltado para si. Esta duplicidade ser sujeito e, ao mesmo tempo,

objeto de conhecimento exige que as cincias humanas se definam a partir de uma

problemtica que lhes seja prpria e de um campo especfico de explorao. O critrio

que orienta esse tipo de conhecimento a preocupao com a densidade e a

profundidade do que revelado a partir do encontro do pesquisador e seu outro. O

pesquisador do campo das cincias humanas est, portanto, transitando no terreno das

descobertas, das revelaes, das tomadas de conhecimento, das comunicaes, das

produes de sentido entre o eu e o outro. Jobim, 2012Para Bakhtin, o nico objeto real e material de que dispomos para entender o fenmeno da linguagem humana o exerccio da fala em sociedade. Por isso, para ele a unidade bsica da lngua no o signo, mas o enunciado. Um enunciado se diferencia de um signo porque para existir ele exige a presena de um enunciador (quem fala, quem escreve) e de um receptor (quem ouve, quem l). O signo, segundo Saussure, faz parte de uma construo terica que dispensa os sujeitos reais do discurso. Um enunciado, por sua vez, acontece em um determinado local e em um tempo determinado, produzido por um sujeito histrico e recebido por outro. Cada enunciado nico e irrepetvel. A mesma frase pronunciada em situaes sociais diferentes, ainda que pelo mesmo enunciador, no constitui um mesmo enunciado. Ribeiro, 20142) Qual o mtodo (ou conjunto de mtodos) adotado por essa tradio para o estudo desse objeto?A filosofia da linguagem bakhtiniana prope que as Cincias Humanas estabelecam um mtodo prprio que se diferencie das outras cincias, naturais e exatas. Bakhtin: As cincias exatas so uma forma monolgica de saber: o intelecto

contempla uma coisa e emite um enunciado sobre ela. A s h um

sujeito: o cognoscente (contemplador) e falante (enunciador). A ele s

se contrape a coisa muda. Qualquer objeto do saber (incluindo o

homem) pode ser percebido e conhecido como coisa. Mas o sujeito

como tal no pode ser percebido e estudado como coisa porque, como

sujeito e permanecendo sujeito, no pode tornar-se mudo;

consequentemente, o conhecimento que se tem dele s pode ser dialgico (2003, p.400).

A epistemologia das cincias humanas de Bakhtin, pautada em sua filosofia da

linguagem, tem como premissa problematizar a forte presena do positivismo no

pensamento ocidental moderno, criando outra possibilidade de se produzir

conhecimento no interior das cincias humanas. O argumento para isso o de que o

conhecimento que os homens podem ter do mundo natural diferente do conhecimento

que os homens podem ter de si mesmos, sobre sua natureza, suas criaes e formas de

vida. Ao levar em conta a particularidade do encontro do pesquisador com o seu outroe, consequentemente, a especificidade do conhecimento que pode ser gerado a partir

dessa condio, o que se destaca a produo de um conhecimento inevitavelmente

dialgico e alteritrio. Para Bakhtin, h que se considerar a complexidade do ato

bilateral e da profundidade do conhecimento que se constitui e se revela na relao

dialgica eu-outro. Dialogismo e alteridade, na obra de Bakhtin, so conceitos que no

podem ser pensados separadamente. Alteridade, na sua concepo, no se limita

conscincia da existncia do outro, nem tampouco se reduz ao diferente, mas comporta

tambm o estranhamento e o pertencimento. O outro o lugar da busca de sentido, mas

tambm, simultaneamente, da incompletude e da provisoriedade. Essa perspectiva

apresenta a condio de inacabamento permanente do sujeito, o vir-a-ser da condio do

homem no mundo, assim como tambm denuncia a precria condio das teorias que

buscam, atravs de uma linguagem instrumental, representar a totalidade da experincia

do homem no mundo. O mundo conhecido teoricamente no o mundo inteiro. (Bakhtin,2010) Jobim, 2012

Dialogismo e alteridade so conceitos chave. A autora continua: o ato de pesquisar um momento marcado pela excepcionalidade, ou seja, um acontecimento nico, e que deve ser entendido no mbito de tal dimenso singular.

(...)

Nessa perspectiva o pesquisador rompe com a pretensa neutralidade na produo do

conhecimento em cincias humanas, deixando-se afetar pelas circunstncias e pelo

contexto em que a cena da pesquisa se desenrola. Na medida em que este fato

inevitvel, a questo para o pesquisador no mais controlar a sua performance para

minimizar ao mximo as consequncias de suas atitudes no campo, mas, ao contrrio,

faz-se mister tornar explcito no seu relato o modo como as circunstncias o afetam. Em

outros termos, o pesquisador se indaga sobre a especificidade do conhecimento que

produzido de forma compartilhada, na tenso entre o eu e o outro, por meio de uma

cumplicidade consentida entre ambos. Como veremos a seguir, problematizando a

compreenso que o sujeito constri de si mesmo, na relao com os outros na vida, que

Bakhtin lana as premissas que orientam nossa reflexo sobre a relao do pesquisador

com os sujeitos no mbito da pesquisa. Jobim, 2012

3) Como a tradio terica que voc adota trata o problema mente-corpo? Qual o papel da fisiologia (se algum) nesse tratamento?

4) Como a tradio terica que voc adota lida com o problema da inescrutabilidade da subjetividade? Como ela estuda processos psicolgicos no-observveis diretamente?

5) Como a tradio terica que voc adota trata da tenso entre determinismo e livre-arbtrio?

No pensamento Bakhtiniano,o livre-arbtrio uma iluso, pois o ser humano j nasce engedrado nas redes das vrias estratificaes sociais que o antecederam. Ao mesmo tempo, um sujeito que se posiciona e atua nessas redes. No que diz respeito constituio da conscincia, Bakhtin afirma que o territrio interno de cada um no soberano; ser significa ser para o outro e, por meio do outro, para si proprio. com o olhar do

outro que comunico com o meu interior. Tudo que diz respeito a mim, chega a minha consciencia por meio da palavra do outro, com sua entoao valorativa e emocional. Do mesmo modo que o corpo

da criana, inicialmente, forma-se no interior do corpo da me, a conscincia do homem desperta a si prpria envolvida na conscincia alheia(Bakhtin, 1985). Jobim, 1997. Em outras palavras: pelo olhar do outro, impregnado de valores, que me comunico com meu interior. Jobim, 2012.Bakhtin: - "Tudo o que me diz respeito, a comecar por meu

nome, e que penetra em minha consciencia, vem-me do mundo exterior,

da boca dos outros (da me, etc.), e me e dado com a entonao,

com o tom emotivo dos valores deles. Tomo conscincia de mim, originalmente,

atraves dos outros: deles recebo a palavra, a forma e o

tom que serviro para a formao original da representao que

terei de mim mesmo" (1992, p. 378).In: Jobim, 1997

No que se refere a autoria das produes de linguagem na vida cotidiana, Bakhtin admite que a palavra no pertence ao falante unicamente. E certo que o autor (aquele que fala) tem seus direitos inalienveis em relacao a palavra, mas o ouvinte tambm est presente de algum modo, assim como todas as vozes que antecederam aquele ato de fala ressoam na palavra do autor. Tudo que dito est situado fora da alma do falante e nao pertence somente a ele. Nenhum falante o Ado bblico que nomeia o mundo pela primeira vez, nenhum falante o primeiro a falar sobre o tpico do seu discurso.

Cada um de nos encontra um mundo que ja foi articulado, elucidado, avaliado de muitos modos diferentes - j falado por algum. A linguagem nunca est completa, ela um projeto sempre caminhandoe sempre inacabado. O conhecimento prescinde no apenasda linguagem, mas tambm depende do juzo de valor nela implicado. Jobim, 1997Bakhtin: - "Compreenso e juzo de valor. Compreender sem

julgar impossvel. As duas operaes so inseparveis: so simul

tneas e constituem um ato total. A pessoa aproxima-se da obra com

uma viso do mundo j formada, a partir de um dado ponto de vista.

Esta situao em certa medida determina o juzo sobre a obra, mas

nem por isso permanece inalterada: ela e submetida a ao da obra

que sempre introduz algo novo. Somente nos casos de inrcia dogma

tica e que nada de novo e revelado pela obra (o dogmatismo atem

se ao que ja conhecia, no pode enriquecer-se). Compreender no

deve excluir a possibilidade de uma modificao, ou at de uma

renncia, do ponto de vista pessoal. 0 ato de compreenso supe

um combate cujo mobil consiste numa modificao e num

enriquecimento recprocos' (1992, p. 382).

6) H uma definio do que seja verdade (cientfica ou no) na sua tradio terica?

Na perspectiva bakhtiniana a verdade nao se encontra no interior de uma nica pessoa, mas est na interao dialogica entrepessoas que a procuram coletivamente. 0 mundo em que vivemos fala de diversas maneiras, e essas vozes formam o cenrio onde contracenam a ambiguidade e a contradio. Bakhtin quer perceber a unidade do mundo no particular, no efmero, ou seja, a totalidade, o universal esta presente nas mltiplas vozes que participam do dilogo da vida. A unidade da experincia e da verdade do homem e polifonica. Somente a tensao entre as multiplas vozes que participam do dialogo da vida pode dar conta da integridade e da complexidade do real. Se cada enunciado, no contexto de uma interacao verbal, e urn elo de uma cadeia mais ampla de textos, cada texto pode ser compreendido como monada que refrata todos os textos de uma dada esfera tematica. Dialogismo e polifonia constituem as caracterfsticas, essenciais e necessarias, a partir das quais o mundo pode ser compreendido e interpretado de muitas e diferentes maneiras, tendo em vista seu estado de permanente mutao e inacabamento. Jobim, 1997