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Relatório de Arte – 1º semestre/2017 Turma: 9º ano Professora: Agda Brigatto Coordenadora: Maria Aparecida de Lima Leme … E O ANO COMEÇA COM IDEIAS DE TRANSFORMAÇÃO Baseado no tema transformação (tema do ano), no primeiro dia de aula, todas as turmas com folhas de jornal as mãos, refletiram sobre ideias e significados desse material tão cotidiano em nossas vidas: _ É impresso… mancha as mãos… a sua impressão é pior que a dos livros… nós lemos… serve para gente se informar… é feito de papel… perde a informação em poucos dias, depois vira banheiro de cachorro, recorte na escola, embrulho na loja, protetor de chão para não sujar com tinta… A partir dessa discussão de efemeridade e versatilidade desse material, os alunos foram convidados a explorar algumas possibilidades ao manusear o jornal: amassar, perceber a direção de suas fibras, rasgar, torcer, agregar, jogar, etc. Após esse contato inicial com o material e descobertas de que, por exemplo, se rasgado na direção de sua fibra o jornal pode ser cortado em tiras iguais usando apenas as mãos, foi proposta a criação de um objeto a partir do jornal usando apenas esse material e fita adesiva. Os alunos perceberam que um material tão frágil pode ser forte quando enrolado, amassado e aglomerado. Puderam notar também que esse objeto de leitura pode se transformar em um objeto de outra utilidade (cesto, protetor de superfícies), um objeto lúdico (espada, binóculo, fantasia) e, ainda, transformar-se em um objeto expressivo e estético utilizando linguagens e técnicas artísticas.

R e l a t ó r i o d e A r t e – 1 º s e m e s t r e / 2 0 1 7 · A u t o rre t a t o , 1953 S e m t í t u l o , 1962 S e m t í t u l o , 1979 C h i ca g o , 1 965 A partir da

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Relatório de Arte – 1º semestre/2017

Turma: 9º ano

Professora: Agda Brigatto

Coordenadora: Maria Aparecida de Lima Leme

… E O ANO COMEÇA COM IDEIAS DE TRANSFORMAÇÃO

Baseado no tema transformação (tema do ano), no primeiro dia de aula, todas as

turmas com folhas de jornal as mãos, refletiram sobre ideias e significados desse material

tão cotidiano em nossas vidas:

_ É impresso… mancha as mãos… a sua impressão é pior que a dos livros… nós

lemos… serve para gente se informar… é feito de papel… perde a informação em poucos

dias, depois vira banheiro de cachorro, recorte na escola, embrulho na loja, protetor de chão

para não sujar com tinta…

A partir dessa discussão de efemeridade e versatilidade desse material, os alunos

foram convidados a explorar algumas possibilidades ao manusear o jornal: amassar,

perceber a direção de suas fibras, rasgar, torcer, agregar, jogar, etc. Após esse contato

inicial com o material e descobertas de que, por exemplo, se rasgado na direção de sua fibra

o jornal pode ser cortado em tiras iguais usando apenas as mãos, foi proposta a criação de

um objeto a partir do jornal usando apenas esse material e fita adesiva.

Os alunos perceberam que um material tão frágil pode ser forte quando enrolado,

amassado e aglomerado. Puderam notar também que esse objeto de leitura pode se

transformar em um objeto de outra utilidade (cesto, protetor de superfícies), um objeto lúdico

(espada, binóculo, fantasia) e, ainda, transformar-se em um objeto expressivo e estético

utilizando linguagens e técnicas artísticas.

TRABALHO CRIATIVO COM A TRANSFORMAÇÃO DE FOLHAS DE JORNAL

A partir dessa atividade, discutimos o significado da arte em nossa sociedade e como

o artista precisa, necessariamente, do processo de transformação para poder modificar

sentimentos, sensações, ideias, materiais, ambientes e, algumas vezes, até o próprio corpo

para modificar o sentido das coisas e criar novas formas de ver e falar sobre o mundo.

Assim, o jornal feito para informar, frágil, efêmero, pode ganhar dezenas de outros

significados, formas e consistências pela manipulação artística.

O QUE QUEREMOS DIZER SOBRE E EM NOSSOS CORPOS?

Um questionário de interesses foi oferecido no início desse período letivo e os alunos

do nono ano, majoritariamente, elencaram temáticas artísticas relacionadas ao corpo, suas

representações e o corpo como suporte artístico.

Iniciamos as discussões sobre essa temática analisando representações do corpo na

propaganda da marca Coca-Cola da década de 1950 até os dias de hoje e as correlações

entre as imagens e aspectos culturais e sociais. Segundo a observação dos alunos durante

a aula, pudemos apontar que, (1) a figura masculina, nessas propagandas, estão vinculadas

à esporte, movimento, saúde; (2) durante os anos houve mudanças na representação dos

padrões familiares e (3) a figura feminina, em geral, é apresentada com senxualidade

exacerbada e dentro de padrões de beleza muito específicos (branca, magra, etc). Essas

características podem ser visualizadas nas imagens abaixo:

Imagens de propagandas da Coca-cola (dos anos 1950 aos dias de hoje)

A figura masculina, nessas propagandas, vem associada ao esporte e a saúde

Os padrões de representação das famílias vem mudando no decorrer dos anos na propaganda

A figura feminina, em geral, vem vinculada a sensualização exacerbada na publicidade

A análise crítica de imagens, artísticas ou cotidianas (propagandas, revistas,

televisão, internet), possibilita ao aluno ampliar suas formas de leitura do mundo,

compreender as intenções de quem elabora uma imagem e se tornar menos vulneráveis a

mensagens cotidianas que a mídia e a propaganda costumam oferecer de forma automática.

Maria Emilia Sardelich, professora da Universidade Federal da Paraíba e especialista

na área de cultura visual afirma que “nômades em nossas próprias casas, capturamos

imagens, muitas vezes sem modelo, sem fundo, cópias de cópias, no cruzamento de

inúmeras significações. Imagens para deleitar, entreter, vender, que nos dizem o que vestir,

comer, aparentar, pensar.” (p. 452) . A veiculação de imagens que ditam nossas relações e 1

modo de vida precisam passar por uma elaboração a fim de tornar consciente sua

mensagem. Além da fruição cultural pela leitura da imagem artística, precisamos ter a

prática de ler imagens a fim de ampliar nossa visão crítica sobre o mundo e as mensagens

simbólicas que nos rodeiam.

Após a análise das imagens publicitárias, os alunos pensaram sobre o que

concordavam e discordavam nessas propagandas. Receberam cópias dessas imagens para

realizar intervenções com suas opiniões por meio de desenho, pintura e palavras,

modificando o sentido da imagem original. A cor da pele foi alterada, os padrões de

comportamento reelaborados repensados e atualizados, assim como foi apontado que a

propaganda pode gerar imagens enganosas e sedutoras.

Trabalho criativo: intervenção em fotografia alterando o sentido publicitário original

Felipe Dosso Nathália Robles

1 SARDELICH, M. E. Leitura de imagens e cultura visual: desenredando conceitos para a prática educativa. Educar em Revista, Curitiba, n. 27, p. 203 – 219, jun. 2006. <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602006000100013&lng=pt&nrm=iso> Acesso em 16 ago. 2016

Danilo Torres

Posteriormente, os alunos voltaram sua atenção para o próprio corpo, mas diferente

do ano anterior estudando autorretratos, os alunos agora focalizaram pequenos detalhes

corporais que nos passam despercebidos: marcas de nascença, cicatrizes, poros,

sobrancelhas, cílios, orelhas foram retratados em desenho e fotografias a fim de representar

seus corpos por meio de outras linguagens.

Atividade prática: desenho de detalhes corporais

Alice Montanari Leonidas Alves

Anthony Kaam Nathália Robles

A partir da apreciação dos desenhos, observamos o fotógrafo britânico John Coplans

em suas fotografias corporais, em sua maioria autorretratos. Ao contrário das imagens

publicitárias, John explora o corpo real, envelhecido, em grandes escalas e, utilizando o

macro, o artista realiza o foco aproximado, gerando imagens que nos despertam

curiosidade, aflição, humor, etc.

John Coplans (1920, Londres Inglaterra - 2003, Nova Iorque, EUA)

Autorretrato (Costas com braços acima), 1984 Autorretrato (Peito do pé), 1984

Autorretrato (Mão com dedos esticados), 1987 Autorretrato, 1985

Ao observar essa imagens discutimos também como as imagens fotográficas de

John compõem uma série. A série se constitui em trabalhos artísticos que apresentam

alguns aspectos em comum como temática, cor, dimensões, técnica, enquadramento e luz.

No caso da obra de John, os alunos nomearam a técnica fotográfica, a temática corporal, o

uso do recurso monocromático - chamada pelos fotógrafos de imagem em PB (preto e

branco) - o foco e o enquadramento que faz o espectador buscar descobrir na imagem qual

foi a sessão do corpo retratada. A partir desses conceitos, os alunos desenvolveram

pequenas séries fotográficas. As imagens deveriam assemelhar-se tecnicamente e deveriam

apresentar o mesmo enquadramento, cor, se possível a mesma iluminação e todas as

imagens deveriam retratar algum detalhe corporal. O resultado foi surpreendente!

Atividade Prática: desenvolvimento de série fotográfica

Larissa Lisardo

Raquel Giffoni

Gabriela Figueiredo

Leônidas Alves

Léo Leon Silva

A turma ficou envolvida com o material fotográfico, baixando aplicativos de

tratamento de imagem no celular (Snapseed), e analisando como poderiam melhorar as a

maneira de fotografar. Utilizando o Gimp (software livre de edição de imagem) realizamos

corte, alterações de brilho, cor e contraste e foram vislumbradas novas possibilidades de

edição da imagem para além da máquina fotográfica. Ainda nesse clima de intervenção

sobre a imagem capturada, os alunos ainda realizaram interferências em desenho em suas

fotografias impressas.

Atividade Prática: intervenção na própria fotografia

Alice Montanari Anthony Kaam

Tainá Silva Larissa Lisardo

Aproveitando o envolvimento temático, apresentei aos alunos uma fotógrafa que

havia acabado de conhecer e que, contrária a John Coplans, não pertencia ao cenário

artístico de sua época e faleceu em pleno anonimato exercendo por muitos anos a função

de babá. Vivian Maier nasceu nos Estados Unidos, viveu na França com a mãe por alguns

anos, mas passou a maior parte da vida em Nova Iorque e Chicago revelando frágeis laços

familiares.

Sozinha, reservada e com costume de acumular jornais, notícias, recibos, roupas,

sapatos, Vivian mudava seus endereços conforme seu novo emprego de babá ou cuidadora

e, não diferentemente das outras compulsões, a fotografia se revelava uma atividade vital

realizada o tempo todo em qualquer lugar que estivesse.

Seu trabalho póstumo foi descoberto pelo jovem historiador (atual curador de sua

obra) John Maloof que realizou um trabalho intenso para descobrir nos negativos de Vivian a

qualidade estética que sua intuição apontava, assim como para revelar a história de vida da

incrível fotógrafa que ele havia encontrado, por acaso, em um leilão de antiguidades,

buscando fotos de Chicago para um estudo que, na época, ele realizava.

Os alunos apreciaram as imagens fotográficas de Vivian em seu site oficial,

discutiram como essas imagens se conectam dentro conceito de série e apontaram o caráter

de espontaneidade presente nas imagens capturadas por Maier. As poses espontâneas das

pessoas flagradas pela fotógrafa se deviam, em grande parte, por um recurso da antiga

câmera Rolleiflex que apresentava um espelho, permitindo ao fotógrafo manter a câmera

baixa ao capturar a imagem.

Vivian Maier (1926, Nova Iorque, Estados Unidos - 2009, Chicago, Estados Unidos)

Autorretato, 1953

Sem título, 1962

Sem título, 1979 Chicago, 1965

A partir da obra de Vivian, os alunos estudaram possibilidades composicionais que

podem originar uma imagem artística. Essas regras são utilizadas por fotógrafos

desenhistas e pintores ao criar uma composição, no entanto, quebrá-las também pode

significar criar uma composição harmônica, pois essas regras devem ser apenas guias

composicionais. São elas a Regra dos Terços, o Enquadramento, a Simetria, o uso de

Reflexo, da Sombra e das Linhas Guias.

 

REGRA DOS TERÇOS: Se dividimos a tela fotográfica em três, temos a seguinte     

formação dividida em terços:

Grade que divide a foto em terços. Algumas câmeras fotográficas e celulares têm esse recurso

Vivian Maier, Autorretrato, sem data  

Repare como o rosto da artista está praticamente na intersecção da linha horizontal inferior e da linha vertical 

à direita

Algumas câmeras fotográficas e celulares podem ser programados para ter essa

divisão já em sua tela, localizando o fotógrafo durante seu trabalho. Essa regra é seguida

quando o objeto principal da fotografia se encontra em uma das quatro intersecções das

divisões dos terços (onde tem os círculos da primeira imagem).

 

ENQUADRAMENTO: A regra do enquadramento é seguida quando o fotógrafo 

utiliza um objeto, cenário ou paisagem para dar contorno a pessoa ou objeto principal da

fotografia. O enquadramento pode ser realizado por uma janela, buraco, porta, ou duas

árvores contra a luz que deem importância a figura principal da fotografia.

 

 

 

 

 

 

 

Vivian Maier, Chicago, 1963 

O vidro quebrado da janela enquadra a cena onde duas figuras humanas caminham em meio a neve 

 

SIMETRIA : A regra da simetria é notada em fotografias em que a imagem, dividida 

ao meio verticalmente, apresenta os mesmos elementos do lado esquerdo e direito, com

exceção de pequenos detalhes. Essa fotografia é comum em fotos arquitetônicas como

pontes, túneis e prédios.

Vivian Maier, NY, 1954

 Perceba que até a posição dos pés das mulheres que dão as 

mãos para a criança estão simétricos

Vivian Maier, 1970  

A distribuição das três figuras e suas sombras também dão o caráter simétrico a essa imagem

 

REFLEXO: O reflexo é utilizado como efeito fotográfico quando o assunto principal da 

imagem aparece refletido ou é duplicado pelo efeito do espelhamento em um vidro, objeto

metálico ou outro material refletor.

Vivian Maier, Nova York, 1953  

A imagem do adulto com duas crianças caminhando aparecem refletidas no acúmulo de água no chão. 

Vivian Maier, Autorretrato, 1955  

A própria artista aparece refletida duas vezes no espelho. Isso ocorre, pois há dois espelhos um frente ao outro. 

SOMBRA: Nesse método o fotógrafo não focaliza o sujeito ou a cena principal da 

imagem, mas sim a sua sombra, em geral, projetada no chão.

Vivian Maier, Autorretrato, 1959  

A sombra da fotógrafa e sua bicicleta aparecem projetadas na calçada. 

Vivian Maier, Autorretrato, sem data  

Perceba a folha seca que estava caída ao chão, foi enquadrada por Vivian ao lado esquerdo da sua sombra, 

lugar onde fica o coração humano. 

LINHAS GUIAS: Ao utilizar esse recurso, o fotógrafo aproveita de linhas presentes   

na imagem para guiar o olhar do observador para o objeto principal a ser retratado. Essas

linhas podem ser decorrentes do piso, de linhas de construções, assim como estruturas

urbanas como pontes e túneis.

          

 

Vivian Maier, Nova Iorque, 1954  

Além das linhas da calçada e do edifício, as próprias mulheres presentes nessa imagem formam uma fila 

estruturada. 

Vivian Maier, Ásia, 1959  

Aqui o grande barco atracado forma uma linha branca inclinada da direita para esquerda que leva o observador à 

pequena mulher carregado a trouxa na cabeça. 

Os alunos realizaram, por fim, três fotografias baseadas no uso das regras

composicionais obtendo o seguinte resultado:

Atividade Prática: fotografias seguindo as regras composicionais

Alice Montanari - Regra dos terços

Felipe Dosso - Regra dos terços

Danilo Torres - Reflexo

Gabriela Figueiredo - Regra dos terços

Julia Chaves - Simetria Lira Argolo - Simetria

Nathália Robles - Simetria

Pedro Lopes - Regra dos terços Rachel Giffoni - Reflexo

Hoje, juntos analisamos as fotografias compostas pelos alunos, revendo o trabalho

do semestre todo em meio a um clima agradável de parceria. Os alunos, vendo projetadas

as próprias imagens capturadas, relataram sobre suas composições, enquanto os colegas

realizavam análises técnicas muito apuradas relacionadas ao tema das fotos, assim como

às regras composicionais. Pistas foram apontadas para a criação de melhores composições,

elogios foram tecidas e risadas, muitas risadas fecharam nosso semestre apontando que o

caminho percorrido foi construído de tijolinhos de sentidos que, subjetivamente, foi unindo a

turma, dentro de suas subjetividades, em um mesmo projeto.