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Rádio em Revista Edição Nº 6 - out/nov 2012 www.radioemrevista.com Distribuição gratuita e dirigida Publicação da Escola de Rádio www.radioemrevista.com OS 90 ANOS DO RÁDIO NO BRASIL Edição Especial

Radio em Revista - Especial História do Rádio

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Revista feita especial para ser distribuida para alunos do ensino fundamental ajudadas pela AMPLA, em Niterói e São Gonçalo

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Rád

io em

Revista

Edição Nº 6 - out/nov 2012

www.radioemrevista.com

Distribuição gratuita e dirigida

Publicação da Escola de Rádio

www.radioemrevista.com

OS 90 ANOS DO RÁDIO NO BRASIL

EdiçãoEspecial

Rád

io e

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evis

ta

Dial FM RJ

88,5 Tribuna (Petrópolis)89,5 Rádio Globo 90,3 MPB FM 90,9 Rádio Mania91,1 Bradesco Esporte Fm91,7 Costa Verde (Itaguaí) 92,5 CBN 93,3 93 FM 94,1 Roquette Pinto 94,9 BandNews Fluminense95,7 SulAmérica Paradiso 96,5 Super Rádio Tupi 97,5 Rede Melodia 98,1 BEAT9898,9 MEC FM 99,9 JB FM 100,5 FM O Dia 101,1 Transamérica Pop 102,1 Rádio Mix 102,9 Jovem Pan103,7 Nativa 104,5 104,5105,1 Rede Aleluia 105,9 Faixa comunitária 106,3 UCP Petrópolis106,7 Catedral 107,1 107 FM107,9 Rádio Gospel

Dial AM RJ

540 Rádio Fluminense580 Nossa Rádio 630 Roquette Pinto 680 Copacabana 710 Sucesso 760 Manchete 800 MEC AM 830 Tropical860 CBN 900 Tamoio 940 Super Rádio Brasil990 Rádio Record1030 Capital 1060 Canção Nova 1090 Metropolitana 1130 Nacional 1180 Mundial AM1220 Rádio Globo 1280 Super Rádio Tupi1320 Rádio Difusora Boas Novas (Petrópolis) 1360 Bandeirantes1400 Rio de Janeiro 1440 Rádio Livre1480 Rádio Popular (Duque de Caxias) 1520 Rádio Continental 1560 Grande Rio (Itaguaí)

Dial Rio de Janeiro

PONTOS DE DISTRIBUIÇÃO

FACULDADES DE COMUNICAÇÃO

UNIVERSIDADES DE COMUNICAÇÃO

CENTROS CULTURAIS

RÁDIOS DO RIO DE JANEIRO

ESCOLAS PÚBLICAS

ESCOLA DE RÁDIO

Dia

l RJ

UMA PUBLICAÇÃO DA ESCOLA DE RÁDIO

DIREtORES Cris Jobim e Ruy Jobim

EDItOR/jORnALIStA RESPOnSÁvEL Roberto Moret

27849/RJ

REvISOR DE tExtO Bruno Menezes

COLABORADORES Bruno Filippo, Bruno Menezes,

Julyana Pollo e Maurício Menezes

DIAgRAMAÇÃO Cris Jobim

DIStRIBUIÇÃO Allan Lima

IMPRESSÃO WalPrint Gráfica e Editora

tIRAgEM 10.000 exemplares

COntAtO Rua Pedro Américo, 147 lj A Catete | Rio de Janeiro | RJ

Tel.: (21) 3596-5794 [email protected]

www.radioemrevista.com REDAÇÃO

[email protected] COntAtO PARA PUBLICIDADE

[email protected]

RÁDIO EM REvIStA é UMA PUBLICAÇÃO BIMESTRAL DA ESCOLA DE RÁDIO E CIRCULA

gRATUITAMENTE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. AS OPINIõES qUE APARECEM

NOS ARTIgOS ASSINADOS NÃO REPRESENTAM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DA REVISTA.

Indíce02 Dial Do Rio De JaneiRo

04 eDitoRial

06 HistóRia - o RepóRteR esso

07 poR onDe anDa? - RobeRto FigueiReDo

08 MicRoFone abeRto - MoviMentação

10 poR tRás Do MicRoFone - nélio bilate

12 capa - os 90 anos Do RáDio no bRasil

18 peRsonaliDaDe - antônio caRlos

20 gaFes Do RáDio - o RáDio vai acabaR

22 colunista conviDaDo - bRuno Filippo

24 HistóRia - big boy

26 leanDRo peteRsen - o Dna Do big boy

28 especial - pReDestinação - poR HaRolDo JR.

33 especial - pRK-30

36 especial - Revista Do RáDio

38 especial - RáDio MuRal Do passaDo

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PAtROCínIO

Rád

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ta

Para esta edição especial da

Rádio em Revista ficar pronta,

tivemos que mergulhar no

passado do Rádio. Lembramos

momentos tristes e outros tantos

alegres, mas o mais importante

é perceber que o Rádio continua

vivo e com várias opções de

futuro.

Chegamos aos 90 anos com

uma cara jovem e possibilidades

de estar nos celulares, na

internet, no satélite, no sistema

digital, que ao que parece,

finalmente chegará.

Você pode reparar a

quantidade de ouvintes que

agora estão ouvindo suas rádios

pelos celulares. O site da nossa

revista - radioemrevista.com -

é um sucesso, a credibilidade

do rádio subiu nas pesquisas

e temos o que comemorar. O

perfil dos interessados em fazer

os cursos da Escola de Rádio

Edito

rial

tem mudado. Deixaram de ser

curiosos de rádio e agora chegam

com disposição criativa para

colher no futuro uma profissão

promissora. Se você gosta do

rádio e quer trabalhar, faça um

curso na Escola de Rádio.

O Rádio pode ser mais que

tocar música e dar notícias.

Precisamos fazer alguma coisa

para mudar isso, não podemos

desanimar. Leia o bom texto do

Maurício Menezes e entenda

a “morte do rádio”. Leia

também a cronologia dos fatos

marcantes e entenda que o rádio

está espantando mosquitos!

Leia tudo!

Você esta com uma edição

especial da Rádio em Revista em

mãos. Pense no que você pode

fazer com sua criatividade. O

Rádio precisa de você: aluno,

professor, radialista, ouvinte e

crítico.●

Ruy Jobim

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Revista

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6H

istór

ia

REPóRtER ESSO Testemunha ocular da história

Iniciado nos Estados Unidos, em

1935, O Repórter Esso chegou a 15 países

se tornando referência de informação.

No Brasil, foi transmitido pela primeira

vez em 28 de agosto de 1941, pela Rádio

Nacional, no Rio de Janeiro. A síntese

noticiosa conquistou a audiência brasileira

dando origem ao jargão: “Se não deu no

Esso, não aconteceu”.

Dia 28 de agosto de 1941, exatamente

às 12h55 foi a estreia do Repórter Esso, na

Rádio Nacional, do Rio de Janeiro.

Fanfarras e clarins compunham o

prefixo que ficaria famoso. O locutor da

primeira edição foi Romeu Fernandes,

que anunciou o ataque da RAF, a Real

Força Aérea britânica, à Normandia e

a inauguração do Palácio da Guerra, na

Praça da República, no Rio de Janeiro. O

rádio jornal – “o primeiro a dar as últimas”

– permaneceu no ar por 27 anos.

A partir de 1944, prosseguindo

até 1962, o locutor titular do Repórter

Esso foi Heron Domingues (nas fotos).

Tornou-se a fase áurea do noticioso,

que, aproveitando as novas técnicas

ditadas pela escola de comunicação

radiofônica dos Estados Unidos, trazia

notícia curtas e objetivas. A mesma

escola que nos deu o lead e o sublead

no noticiário da imprensa escrita.

testeMunHa oculaR Da HistóRia

A última transmissão do Repórter

Esso¹, já sem a narração grave e solene

de Heron Domingues, ocorreu no dia

31 de dezembro de 1969. O locutor,

Roberto Figueiredo, começou a chorar

quando leu a última notícia daquele

dia. Era o fim do Repórter Esso,

testemunha ocular da história. ●

¹ Veja este vídeo no site da RR.

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Revista

07

Por onde anda?

RF: Sem nenhuma

dúvida foi o REPÓRTER

ESSO onde fui escolhido,

entre vários locutores como

sucessor do saudoso Heron

Domingues. Foram alguns

anos de glórias na minha

vida profissional, que até

hoje repercutem e me

deixam orgulhoso.

De qual fase sente mais

saudade?

RF: A passagem pelo Repórter Esso

e ao término dele ter conquistado, passo

a passo a condição de comunicador, líder

de audiência nos programas em que atuei

nos mais de 20 anos como contratado da

Rádio Globo.

O que mais mudou de ontem

para hoje?

RF: No plano pessoal posso dizer que

mudei de ativo para inativo. No plano

do veículo rádio, principalmente no AM,

infelizmente não temos a mesma força do

passado, mas quem sabe agora com as

novas tecnologias? ●

ROBERtO FIgUEIREDO

Como foi o começo?

RF: O meu começo foi

nos idos de 1953, onde fui

aprovado, no programa do

saudoso Ary Barroso, sendo

contratado pela Rádio Tupi do

RJ e na semana seguinte da

minha contratação fui lançado

com intenso bombardeio de

jornais e rádios associados,

como o mais jovem animador

do rádio carioca num programa de

grande sucesso da época chamado “Rádio

Sequência G3” comandado posteriormente

por Paulo Gracindo, Aerton Perlingeiro

e no qual o nosso grande Silvio Santos

atuava como locutor comercial.

Este episódio alimentou a minha

fantasia de adolescente, pois tinha 17 anos e

foi também um dos fatos mais traumáticos

de minha trajetória profissional, pois

pressionado pela timidez diante de um

auditório superlotado entrei mudo e sai

calado.

Foi uma carreira de animador que

durou um programa.

Que trabalho mais o destacou na

profissão?

O último Repórter Esso

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08

Isabella Saes está de volta ao

Rádio para comandar o programa “Tá

na hora”, de segunda a sexta às 17h, na

MPB FM.

O talentoso ator Rodrigo

Sant’anna, conhecido do público no

Zorra Total da TV Globo, estreou

às terças à noite um programa na

BEAT98. Ele levou para o Rádio “Os

Suburbanos”, peça teatral de sucesso

que conta com suas famosas persona-

gens como Valéria Vasques e Adelaide,

por exemplo.

O humorista Marcelo Adnet e o

blogueiro Rica Perrone agora falam de

futebol com o locutor Paulo Beto, to-

das às segunda, às 21h na BEAT98.

Alexandre Howoruski que fa-

zia a direção artística da Jovem Pan

Rio desde que ela chegou no dial do

Rio de Janeiro, passa o bastão para

Christovam Neumann, Howoruski fica

na direção artística da JB FM.

A Mix Rio FM, do grupo Dial

Brasil, foi a Rádio oficial dos shows de

Lady Gaga e Madonna.

A Rádio SulAmérica Paradiso

(95,7 MHz) apresenta um novo pro-

grama em sua grade: “No estúdio com

Roupa Nova”, promove um encontro

entre os integrantes da banda e con-

vidados ligados à música e personali-

dades, quartas 21h.

A Rádio Roquette Pinto (94,1

fm) apresenta, desde o dia 1º de no-

vembro, 15 horas, uma série especial

do “Agora No Ar”. São 4 programas so-

bre o Festival Internacional da Canção

(FIC), sempre as quintas feiras, com

reapresentação aos domingos. Apre-

sentadas por Ricardo Cravo Albin, pes-

quisador, e Marcelo Fróes, produtor, as

edições trazem canções que marcaram

a história da música brasileira a partir

da era dos festivais (1966-1972), além

de fatos interessantes sobre as fases do

concurso realizadas no ginásio do Ma-

racanãzinho e transmitidas pela tv. In-

térpretes como Maysa, Nana Caymmi

e Tony Tornado; cantores como Chico

Buarque, Ivan Lins e Alceu Valença

são exemplos que despontaram com o

evento.

Rádio digital: governo promete,

decidir o padrão digital.

Com base nos testes feitos até 2010

o então ministro Hélio Costa, apesar de

notório defensor do IBOC, esteve pre-

stes a se render ao DRM. Costa acabou

deixando a pasta sem uma definição

e o assunto só foi retomado quando

Paulo Bernardo assumiu o cargo – e o

MOvIMEntAÇÃO nO RÁDIO

[email protected]

Rád

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Revista

Microfone A

bertoRád

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Revista

09

(novo) governo resolveu recomeçar o

processo.

O atual ministro também já indi-

cou sua preferência pelo IBOC.

VOCÊ SABIA?

O microfone surge através da

ampliação dos recursos do bocal do

telefone, conseguidos em 1920, nos

Estados Unidos, por engenheiros da

Westinghouse.

Foi a Westinghouse que fez

nascer, meio por acaso, a radiofusão.

Ela fabricava aparelhos de rádio para

as tropas da Primeira Guerra Mundial

e com o término do conflito ficou com

um grande estoque de aparelhos encal-

hados. A solução para evitar o prejuízo

foi instalar uma grande antena no pá-

tio da fábrica e transmitir música para

os habitantes do bairro. Os aparelhos

encalhados foram então comercializa-

dos.

CURIOSIDADES DO RÁDIO

NO BRASIL

Foi oficialmente inaugurado em

7 de setembro de 1922.

A Instalação da primeira Rá-

dio de fato aconteceu em 20 de abril

de 1923 com Roquete Pinto e Henry

Morize. Surgiu a Rádio Sociedade do

Rio de Janeiro. A programação da

emissora não era para massa e sim

para elite, com óperas, recitais de poe-

sia, concertos, palestras culturais etc.

Os ouvintes faziam doações financeiras

para manter a Rádio no ar.

Anúncios eram proibidos.

O Decreto n. 21.111 de 01/03/32 au-

torizava destinar 10% de sua program-

ação a comerciais.

O erudito se torna popular. Contra-

tam-se artistas e produtores. Nos

anos 40 acontece a época de ouro do

Rádio.

Surge o Ibope, dia 13 de maio de

1942.

A primeira radio novela em 1942:

“Em busca da felicidade”

Esportes, radio jornalismo -

Repórter Esso...

O contexto da Primeira Guerra

Mundial e a Copa do Mundo marcaram

esta época do Rádio.

Chega um poderoso impulso:

o transistor, em 23/12/47 - deixa o

rádio portátil.

As FMs aparecem na década de

60 com muito mais qualidade sonora

e música clássica. ●

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Nélio Bilate, 77 anos,

carioca, morador da Ilha do

Governador. Casado, pai de três

filhos e uma vida profissional

que se mistura com a história

do Rádio no Brasil. Apaixonado

pelo que faz, Nélio Bilate está

há 41 anos no “ar” em uma

única emissora, a Super Rádio

Tupi. Profissional brilhante, humilde e

com muitas histórias para contar...

JP–Qual foi sua primeira

matéria?

NB: Minha primeira matéria foi

com o Zé da Bíblia. Um homem bem

vestido, com uma bíblia na mão,

que tocava a campainha da casa das

pessoas, se ajoelhava, rezava e pedia um

copo d’água. A pessoa abria a porta e ele

pegava uma arma escondida no fundo

falso da bíblia e rendia o morador,

levando dinheiro. Assim, ele foi fazendo

várias vítimas.

JP–Mas Nélio, esse foi o início

de muitas histórias...

NB: Ah, sim, eu entrevistei o pai do

menino Carlinhos, João Melo, suspeito

de ter participado do sequestro do

próprio filho. Outra reportagem de

destaque foi a do assassinato da filha

da autora Glória Perez, a atriz Daniella

Perez, morta pelo então ator Guilherme

de Pádua e a mulher dele Paula Thomaz.

A Rádio Tupi foi a única a entrevistar os

envolvidos no crime.

JP - Qual a estratégia usada

para conseguir a entrevista?

NB: O Guilherme não queria falar com

ninguém. Chegando na cela, ao invés

de chamá-lo de Guilherme de Pádua,

o tratei pelo nome do personagem na

novela, Bira, que era um motorista de

ônibus. Coloquei a mão no ombro dele

e disse: - “Bira, eu não acredito que

você fez isso. Minha filha adora você e

isso é sacanagem. Eu tenho certeza que

você jamais mataria a Daniella Perez”.

Acrescentei: - “Olha, amanhã eu vou

falar com a tua esposa, a Paula Thomaz,

que está na Polinter, em Niterói, quer

Por T

rás d

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néLIO BILAtE - repórterJulyana Pollo

Jornalista e produtora

Rád

io em

Revista

Por Trás do Microfone

mandar uma mensagem pra ela?”.

Naquele negócio de mandar mensagem

eu comecei a fazer a reportagem. No

final, ele deixou a mensagem para

a esposa, que estava grávida de sete

meses.

JP - E como você conseguiu

falar com a Paula Thomaz?

NB: No dia seguinte eu fui até a

Polinter, em Niterói, para entrevistar

a Paula Thomaz. - “O senhor não me

leve a mal, mas eu não posso falar”.

Respondi que tinha uma mensagem

do Guilherme e perguntei se ela queria

escutar. Foi aí que soltei um trechinho

do recado e parei. Ela queria ouvir

mais. A minha condição foi que Paula

gravasse uma mensagem para ele

também. Ela topou e eu coloquei a

gravação para ela ouvir. Em seguida eu

fiz a reportagem com ela.

JP - Qual foi a reportagem

mais emocionante?

NB: Ah, foi com o Rei Roberto

Carlos quando ele foi destaque da

Unidos do Cabuçu. Ele era o enredo da

escola. Quando ele chegou à Praça da

Apoteose, eu saí correndo e pulei no

carvalhão, um equipamento de grande

porte, uma espécie de elevador, que foi

usado para tirá-lo do alto do carro. As

pessoas embaixo gritavam “maluco,

esse cara é maluco, você vai cair daí”. O

Roberto Carlos cercado de seguranças

seguiu para o camarote onde daria uma

coletiva. Foi quando eu furei o bloqueio

e o segurança me agarrou e rasgou um

pedaço da minha roupa. Gritei: - “Oooo

Roberto”. Ele viu meu desespero e

mandou que me soltassem. Falei para

segurança, você pode até quebrar

meu braço, mas entrega esse cartão

a ele. Minutos depois, a porta abriu e

o segurança me mandou entrar. Eu

fiquei emocionado quando ao final da

reportagem exclusiva, Roberto Carlos

me parabenizou pela garra. Disse que

a rádio estava de parabéns e que se

ele abrisse uma emissora eu estaria

convocado.

JP - E a experiência de ser

comunicador?

NB: O programa “A Um Passo da

Liberdade”, sob meu comando, ficou

no “ar” 10 anos, 1975 a 1985. O objetivo

era ajudar o preso que estava saindo

da cadeia, fazendo apelo de trabalho e

mostrando a importância da sociedade

no processo de recuperação para que o

indivíduo não retornasse para a vida do

crime.

JP– Qual recado você deixa

para os jovens profissionais

NB: Exerça a profissão com

vontade, conduza a matéria com

carinho e mostre que é um profissional.

Nunca agrida o entrevistado. Seja

humilde, a humildade esta acima de

tudo. E lembre-se: A reportagem mais

difícil é que é a boa! ●

11

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1883 - Do alto da Avenida Paulista,

o padre gaúcho Landell de Moura

realiza a primeira experiência radio-

telefônica no Brasil, transmitindo um

sinal de voz até o Morro de Santana

– uma distância de 8 quilômetros. O

experimento de Landell é considerado

o passo inicial do Rádio no País.

Década de 20

O fim da Primeira Guerra

Mundial (1914-1918) leva a

tecnologia, antes de controle

expresso das Forças Armadas,

para a área comercial. David

Sarnoff, russo radicado nos

Estados Unidos, sugere a

concepção de uma caixa

receptora de música à Marconi

Company para a venda ao

público. A ideia não vinga, mas

estabelece um caminho futuro

para o desenvolvimento do rádio

como a primeira mídia eletrônica

de massa.

1922 – Em setembro de 1922,

quando o Brasil celebrava o centenário

de sua independência, uma feira

comemorativa, no Rio de Janeiro,

trouxe o que era o assunto do momento

nos Estados Unidos: a tecnologia da

radiodifusão e seus aparelhos. Uma

transmissão experimental foi realizada

direto do Teatro Municipal. O público

ouviu o pronunciamento do presidente

Epitácio Pessoa e a ópera o Guarani, de

Carlos Gomes. Seguem-se emissões de

música lírica, conferências e concertos,

captados pelos 80 aparelhos de rádio

distribuídos pela cidade. Após as

festividades, as transmissões são

interrompidas.

1923 – Roquette Pinto e Henrique

Morize criam a Rádio Sociedade do Rio

de Janeiro, que apresentava programas

educativos e culturais. Influenciadas

por ela, são fundadas rádios amadoras

em várias partes do país. Todas nascem

como clubes e sociedades e como a

legislação proibia a publicidade, são

sustentadas por seus associados.

1924 – É regulamentada a atual

faixa de Ondas Médias, compreendidas

entre 550 à 1550 KHz.

1927 – O advento das mesas

12

Cap

a OS 90 ANOS DO RÁDIO NO BRASIL

Rád

io em

Revista

Capade controle de som (que permitiam

que um toca-disco fosse executado

diretamente, sem a necessidade de

captação do áudio via microfone)

marca o início da era eletrônica do

rádio.

Década de 30

Com o golpe de Getúlio

Vargas o rádio foi utilizado

como propaganda do governo.

Neste período também surgiram

diversas rádios de notícias.

1930 – O rádio começava, aos

poucos, a se tornar um veículo mais

popular. Em São Paulo, porém, o valor

de um aparelho ainda correspondia a

quase um sexto da renda mensal de

uma família de classe média da época.

1931 – São vendidos os primeiros

receptores com o nome das estações no

dial. No mesmo ano foram inauguradas

as rádios: Record e América de São

Paulo.

1932 – O governo do presidente

Getúlio Vargas autoriza as inserções

publicitárias, inaugurando assim o

atual modelo de mídia comercial.

Na época, somente 10% da grade

poderia ser ocupada por comerciais

(atualmente, esse índice é de 25%).

Nesse mesmo ano, o governo também

passa a distribuir concessões de canais

a empresas privadas e a indivíduos.

- Waldo de Abreu cria os primeiros

anúncios de rádio no Esplêndido

Programa da Rádio Clube do Brasil

do Rio de Janeiro. Locutores paulistas

usam o rádio como instrumento

para conseguir a adesão popular à

Revolução Constitucionalista de 1932.

1934 – Algumas emissoras,

como a Philips, começam a explorar

os anúncios publicitários de outra

maneira. Os apresentadores Adhemar

Casé e Nássara criam os primeiros

modelos de jingles publicitários

(Padaria Bragança). É inaugurada a

Rádio Mayrink Veiga, que seria uma

das maiores emissoras do Rio de

Janeiro.

1935 – Getúlio Vargas cria A Voz

do Brasil que se mantem no ar até hoje.

1936 – Entra no ar a Rádio

Nacional, que seria a de maior sucesso

na chamada ‘Era de Ouro’ do meio no

Brasil. Responsável pelo lançamento

dos maiores nomes da música nacional

conquistou tanto sucesso que chegou

a ser utilizada pelo presidente Vargas

como ponto de apoio de sua campanha

política.

1937 - Assis Chateaubriand

inaugura a Rádio Tupi, uma das

maiores do Brasil.

1938 - Formação da primeira rede

nacional de rádios, a Rede Verde e

Amarela, liderada pelas Organizações

Byngton, realiza cobertura esportiva

pioneira de um Campeonato Mundial

de Futebol na França.

13

Rád

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ta1

4C

apa 1939 - Começam as atividades

do Departamento de Imprensa e

Propaganda (DIP), órgão que tem,

entre outras finalidades, exercer

censura prévia sobre os programas

radiofônicos.

Década de 40

A partir da estatização

radiofônica implanta por Getúlio

Vargas no final da década de

30, o rádio sofreu mudanças

radicais. Neste período também

surgiram as primeiras redações

jornalísticas voltadas para o

rádio.

1940 - O governo do presidente

Getúlio Vargas estatiza a Rádio

Nacional do Rio de Janeiro. As

primeiras agências de publicidade

começam a atuar e os programas de

rádio recebem patrocinadores como

Coca-Cola, Gessy Lever, Colgate, Esso,

Goodyear, etc.

1941 – Entra no ar o Repórter

Esso, o primeiro programa de

jornalismo da história do rádio

brasileiro. Após a exibição de diversos

radio teatros, a Rádio Nacional veicula

a primeira radionovela do País: Em

Busca da Felicidade.

1944 – No Rio de Janeiro é

inaugurada a Rádio Globo.

1948 – Inicia-se a fase áurea

dos programas de auditório, na qual

nomes como Emilinha Borba, Marlene

e Dalva de Oliveira cativavam os

ouvidos e a imaginação dos ouvintes.

Década de 50

O início da década é marcado

pela chegada da televisão no

Brasil. Através da iniciativa

de Assis Chateaubriand,

proprietário do grupo Diários

Associados, entra ao ar no dia

19 de Setembro em São Paulo a

TV TUPI. A primeira emissora

televisiva do Brasil. Para

concorrer com o novo veículo, o

rádio teve que se transformar.

1951 – A radionovela O Direito de

Nascer se torna o primeiro fenômeno

de audiência do rádio brasileiro. A

Rádio Nacional ficou em destaque

com a exibição de 314 capítulos, que

mantiveram a novela no ar por mais de

três anos.

1955 – Primeira transmissão

experimental de rádio FM, pela Rádio

Imprensa do Rio de Janeiro, extinta

em dezembro de 2000.

Década de 60

Nos anos 60, o rádio adquiria

novas dimensões. Algumas

emissoras se dedicavam a

ouvintes de classe A com músicas

selecionadas, intercaladas com

noticiários políticos nacionais e

internacionais.

1960 - O primeiro programa

“Patrulha da Cidade” foi ao ar no dia

02 de janeiro de 1960. O jornalista

Afonso Soares, que criou o programa

Rád

io em

Revista

15

Capa

policial humorístico era quem lia as

notícias policiais em tópicos curtos,

sucintos e cheio de gírias de policiais

e bandidos. No início Afonso teve que

lutar com a direção da rádio por causa

dos termos ousados e avançadíssimos

para a época, mas conseguiu manter o

programa no ar.

1962 – É realizada a primeira

transmissão de rádio via satélite.

Em novembro é criada a Associação

Brasileira das Emissoras de Rádio e

Televisão (Abert).

1967 – É criado o Ministério das

Comunicações no dia 25 de fevereiro.

1969 – Chega ao fim a era do

Repórter Esso no rádio.

Década de 70

A ditatura militar assombrava

os veículos de comunicação

graças ao Ato Institucional 5. O

rádio não seria o único veículo a

se adaptar aos tempos militares.

A década consolidaria o Brasil

como País do Futebol com o

Tricampeonato mundial. E no

final da década, a população

vê os resultados da luta pela

democracia.

1970 - Ainda de forma tímida, as

emissoras de FM começam a se

instalar no País.

1972 - A Rádio Mundial

AM que se tornou a cara da zona sul

do Rio revelou um dos maiores disck-

jockeys da época, o inovador Big Boy

e seu “Alô crazy people”. Ao contrário

do que muitos imaginam Big Boy não

morreu de overdose, mas de uma crise

de asma. Não viu a transformação do

FM.

1975 - A Rádio Globo se consagra

nas transmissões de partidas de

futebol.

1977 - Inauguração da Rádio

Cidade FM, no Rio de Janeiro, líder

de audiência na década de 80. Nomes

como Eládio Sandoval, Fernando

Mansur, Romilson Luís, Paulo

Martins, Sérgio Luís e Jaguar fazem

escola em FM sob a coordenação de

Carlos Townsend. O mercado de rádio

jamais seria o mesmo.

1979 - O comunicador da Rádio

Globo AM, Waldir Vieira é campeão

de audiência nas tardes do Rio de

Janeiro com o programa “As Canções

do Roberto” e a “Carta da Vovó”. - No

auge da carreira, em novembro de

1985 – foi encontrado morto em um

motel devido a um vazamento de gás.

Década de 80

As rádios FM se consolidam

como o novo canal de rádio.

Graças a automação das

emissoras, é possível escutar

músicas 24 horas por dia.

1981 - Com o sucesso da Rádio

Cidade os locutores Eládio Sandoval

e Romilson Luis apostam na Rádio

Antena UM, que mais tarde seria

conhecida como a “Lite FM”.

Rád

io e

m R

evis

taC

apa 1982 - A Rádio Fluminense FM,

mais conhecida como “Maldita”, criou

uma nova linguagem de locução nas

FMs. Era a Rádio Rock. Na época do

primeiro Rock in Rio, estava entre as

cinco mais ouvidas regularmente. Num

segmento mais informativo desponta a

Rádio Del Rey FM.

1985 - A Transamérica FM passa a

transmitir ao vivo para o Rio de Janeiro

com uma equipe jovem e criativa. O rock

nacional desponta. Com a coordenação

de Eduardo Andrews, locutores como

Adriana Riemer, Paulo Beto, Ruy

Jobim, Jairo Roberto e Carlos Alberto

despontam no mercado. Produção

de Cláudio Carneiro. Sonoplastia

de Renato Justino. DJ Marcelo

Mansur. Programação Musical com

Fernandinho e Sônia Freitas.

Década de 90

Marcada por grandes

acontecimentos, o rádio teve

participação nas coberturas de

grandes eventos como a Copa do

Mundo de 1998.

1990 - No Rio de Janeiro uma

Rádio se destaca no berço do rádio

brasileiro. Era a Rádio RPC FM da

Praça Mauá para a liderança na

audiência. Uma “rádio doida”, como

era conhecida.

1991 - Com o slogan “A rádio

que toca notícia”, o Sistema Globo de

Rádio inaugura a Central Brasileira de

Notícias (CBN-AM), com 24 horas de

informações.

1995 - Início da campanha pelo

fim da obrigatoriedade de transmissão

do programa oficial A Voz do Brasil.

A Igreja Católica forma a Igreja-Sat,

maior rádio do país.

1996 - Lançamento da CBN-FM

São Paulo, primeira rádio só de

notícias em frequência modulada. O

governo envia ao Congresso projeto

de lei que prevê a regulamentação do

funcionamento das rádios piratas.

1997 - O percentual de domicílios

brasileiros com aparelhos de rádio

chega a 90,3%, contra 84,9% em

1992, segundo o IBGE. Na Região

Sul, o índice é de 94,8%; na Sudeste,

94,3%; na Centro-Oeste, 87,2%; e na

Nordeste, 83,3%.

Século XXI

Desde 1922, o rádio teve que

se adaptar constantemente.

Do transistor às plataformas

móveis, o rádio completou

noventa anos em 22 de setembro

de 2012 e enfrenta um processo

de reinvenção.

2000 - Começam a ter destaque

as rádios virtuais pela internet. Entra

em atividade a RadioClick do Sistema

Globo de Rádio.

2004 - Inauguração do FM Hall

no Shopping Rio Sul no Rio de Janeiro.

As rádios Paradiso FM e Jovem Pan

são as primeiras a transmitir em fibra

ótica de estúdios envidraçados onde o

16

Rád

io em

Revista

17

Ccapa

público assiste ao trabalho dos locutores.

– A operadora de telefonia Oi dá

o passo inicial da nova era das rádios

customizadas, com a participação de

anunciantes que dão nome e estilo às

emissoras. Na sequência, surgiram

outros exemplos, como a Sul-América

Trânsito, Sulamérica Paradiso,

Mitsubishi FM, Fast 89, entre outras.

No ano em que o rádio comemora

83 anos de transmissão analógica no

Brasil, as principais emissoras do país

começam a testar a difusão digital de

sua programação. A tecnologia é testada

por parte das emissoras dos grupos

Eldorado, Bandeirantes, Jovem Pan,

RBS e Sistema Globo de Rádio.

2005 - Primeira rede em FM com

24 horas de notícias (BandNews).

- O Sistema Globo de Rádio tira do

ar a Globo FM com 32 anos de atividade

e põe em seu lugar a Rádio CBN que até

então estava em AM. A Rádio Globo FM

passa a transmitir pela internet, pela

SKY TV, Net Digital, para Curitiba em

93,9 e Maringá em 97,9 Mhz.

– Comemorando os 84 anos do

rádio no Brasil, inicia-se no país em 26

de setembro as primeiras transmissões

de rádio no sistema digital, tecnologia

que está apenas “aterrissando”.

2006- A Rádio Cidade FM do Rio

de Janeiro sai do ar para dar lugar a

Rádio OI FM.

2007 - Em março a Rádio Jovem

Pan do Rio de Janeiro, 102.1MHZ, sai

do ar para dar lugar a Rádio MIX FM.

- Morre a astróloga Nena Martinez

da Rádio Tupi após 68 anos de

trabalho.

- Criada a Empresa Brasil de

Comunicação (EBC), congregando

a TV Brasil, NBR (televisão a cabo),

Agência Brasil e os Sistemas de Rádio

(Rádio Nacional AM e FM/ DF, Rádio

Nacional AM /RJ, Rádio MEC AM/RJ,

Radio MEC AM/DF, Rádio MEC FM/

RJ, Rádio Nacional do Alto Solimões

– AM, Rádio Nacional da Amazônia –

OC, Radioagência Nacional).

2008 - Em 27 de maio entra no ar

a nova Rádio Mundial AM 1180 no Rio.

Com a idéia de unir rádio e TV pela

internet, o projeto não durou 9 meses.

2012 - A Presidenta Dilma Russef

em abril, incluiu o nome de Landell de

Moura no Livro dos Heróis da Pátria.

– No momento em que completa

90 anos, o rádio atravessa a fase

final da definição de seu modelo

digital. O governo promete que, até

o fim do ano, as diretrizes para a

digitalização estejam definidas. Nesse

mesmo ano, também, o País ganha

o primeiro Grand Prix de rádio no

Festival de Criatividade de Cannes. A

peça vencedora foi desenvolvida pela

Talent para a revista Go Outside, que

usava uma frequência radiofônica

imperceptível ao ouvido humano, mas

que conseguia ter um efeito repelente

aos mosquitos.● Fonte: internet.

Rád

io e

m R

evis

ta

Antônio Carlos “ ... desde pequenininho”

Pers

onal

idad

e1

8

João Gilberto inventou a batida da

bossa nova tocando violão no banheiro.

Pelo mesmo motivo – a boa acústica

do aposento – era no banheiro que

Antônio Carlos lia textos em voz alta,

treinando a voz para tentar uma vaga

de locutor na Rádio Nacional. Muito

cantor de banheiro nunca chegou aos

pés do Pavarotti. Já Antônio Carlos

conseguiu o que queria na vida: é líder

absoluto de audiência em seu horário

e completou, em 2009, meio século de

microfone.

Não está distante da verdade dizer

que o criador do Show do Antônio

Carlos caiu de paraquedas no rádio.

Um dos maiores orgulhos da vida

desse comunicador carismático é o de

ter sido, em fins dos anos 50, um “pé-

marrom” – no jargão militar, assim são

chamados os integrantes da Brigada

Paraquedista.

Centenas de saltos depois, o sol-

dado precisava vencer também na vida

civil. Queria fazer rádio e foi de uma

tenacidade impressionante para atin-

gir este objetivo. Aluno do Instituto

Lafayette, no bairro carioca da Tijuca,

Rád

io em

Revista

Personalidade

jogava basquete e, por ter boa voz, foi

convidado a entrar para um grupo de

teatro amador. Não para ser ator, isso

ele não sabia fazer, mas como narrador

das peças.

Antônio Carlos ralou muito por

um lugar ao sol. Só conseguiu entrar

na Rádio Nacional depois de ter sido

reprovado oito vezes nos testes. Como

demorava muito esse emprego, seu iní-

cio de carreira, em 1959, foi na Rádio

Continental com a função registrada

em carteira de locutor-auxiliar III. Ou

seja, lia pequenos anúncios e olhe lá!

Como gostava muito de jazz, usava um

estúdio para produzir um quadro de

jazz.

Quando surgiu a TV Continental,

canal 9, em 1960, ele foi pedir em-

prego ao diretor Demerval Costa Lima.

O chefão perguntou o que ele sabia

fazer. “Eu tenho um programa de jazz”,

mentiu. O diretor fez a contraproposta:

“Jazz não é popular. Faz um programa

de jazz e bossa nova. Começa na quin-

ta-feira”. Antônio Carlos, que se con-

sidera produtor, antes de tudo, não viu

tempo ruim: chamou uns convidados e

o programa foi ao ar.

Depois disso, foi trabalhar na nova

capital, na recém-criada TV Brasília.

De volta ao Rio, passou pela TV Tupi

de São Paulo, pela produção de Sílvio

Santos, então na TV Globo, pela

Roquette Pinto e pela Rádio Tupi, onde

ficou até 1987, ano em que veio para a

Rádio Globo, trazendo na bagagem o

show que leva seu nome.

Na Roquette Pinto uma novidade:

os programas da emissora não podiam

ter patrocinador. E isso valia para

o Futebol de Sucesso, muito ouvido

pelos passageiros do ônibus que o

carioca chama de “frescão”. Para não

viver apenas do salário, Antonio Carlos

dava brindes aos ouvintes “com o apoio

do Álvaro da Camélia”. Pronto. Estava

inventado o apoio, que existe até hoje.

No ano em que completou 50 anos

de atividades, Antônio Carlos continua

fiel às origens: “Sou pé-marrom. Pé-

marrom, hoje, significa trabalhar na

Rádio Globo”. ●

O Show do Antônio Carlos

acontece de segunda a sábado,

das 6 às 9 da manhã. Fazem

parte da sua equipe: Juçara

Carioca, Pudica e Zora Yonara.

Os produtores Karla de Lucas,

Fernando Fraga e Ricardo

Campello. Tudo ao som do

sonoplasta Tuninho Malvadeza.

Fonte: www.radioglobo.com

19

Rád

io e

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evis

ta

AtEnÇÃO: O RÁDIO vAI ACABAR!

Maurício Menezes

Jornalista, radialista e apresentador

Eu tinha 20 anos e alguns

fios de barba quando entrei

pela primeira vez numa redação

de Rádio. Era na Nacional e o

jornalismo estava em greve.

Para fazer uma ligação para

Niterói era preciso esperar

1h40m. Os teletipos, por onde

chegavam as notícias nacionais

e internacionais, faziam um

barulho tão grande que eles

ficavam numa sala separada

e à prova de som. Os colegas

mais antigos (todos eram mais

antigos) me perguntavam por

que eu queria trabalhar em rádio,

já que o rádio estava acabando.

Logo depois eu fui para a

Rádio Globo. O departamento de

jornalismo funcionava numa sala

suja e escura no quarto andar

do prédio do jornal. O diretor, o

chefe de reportagem, o redator e

os dois repórteres – isso mesmo,

os dois repórteres sentavam lado

a lado. A sala onde funcionava

o departamento de jornalismo

tinha 4m x 4m. Um dia visitei

a Tupi e levei um susto: uma

emissora escura, mal cuidada,

equipamentos velhos, móveis

rotos. Mas pra que melhorar, se

o rádio estava acabando?

Hoje, quarenta e dois anos

depois (estou com 62) a Rádio

Globo funciona em dois prédios

na rua do Russel. Estão lá até hoje

as três árvores que eu plantei

e ainda o meu filho Bruno.

Os equipamentos são os mais

modernos, as salas são claras

e confortáveis, os repórteres

Gaf

es d

o Rá

dio

20

Rád

io em

Revista

estão por todos os cantos – do

Brasil e do mundoe existe um

grande ambiente de respeito e

profissionalismo. A Globo tem

até helicóptero.

A Tupi em nada lembra

aquela coisa escura e mal

cuidada. A rádio modernizou-se

e tornou-se pioneira em vários

aspectos, como nas transmissões

em FM, nas câmeras colocadas

à disposição dos ouvintese em

outras inovações. Através de seu

site –indicado ao Prêmio Escola

de Rádio – os ouvintes podem

recuperar a programação que

perderam. A Tupi tornou-se uma

fábrica de bons profissionais.

Outro dia o repórter Sérgio

Américo entrou no ar e eu

perguntei se ele não tinha viajado

com o time do Flamengo, que

ia jogar no sul do Peru. Sergio

Américo estava lá. É que o som

estava tão limpo que eu pensei

que ele estivesse no estúdio ao

lado.

Assim tem acontecido com a

FM O Dia, com a BEAT98, com

a MPB, com a Band News, com

a CBN, que se multiplicou pelo

país, com a Transamérica e a

Bradesco, que mergulharam no

mundo do esporte e a Nativa, com

um público incrivelmente fiel e

tantas outras emissoras. O rádio

hoje está nos celulares e está no

mundo. Dia desses uma ouvinte

pediu um remédio na Tupi e

ligou um ouvinte da França! Em

seguida ligou outro, também da

França, onde o medicamento

pedido era comum. São todas

emissoras modernas, ágeis,

responsáveis, com profissionais

de renome e que crescem a cada

dia.

É bom ouvi-las. Porque como

me disseram há 42 anos, o rádio

está acabando... ●

Leia outros textos de Maurício

Menezes na coluna do site RR.

Gafes do Rádio

21

Rád

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evis

ta

Com o fôlego de camaleão

proporcional à força dos

pretensos inimigos que

poderiam emboscá-lo, o rádio

brasileiro sopra as noventa

velinhas para comemorar não

só a data redonda, mas também

para celebrar a capacidade

de adaptar-se às mudanças

tecnológicas que alteram a

relação emissor-receptor.

Essas mudanças, bruscas

desde a invenção da imprensa

por Gutemberg no século XV,

tornaram-se mais impactantes

e massivas no século XX com a

propagação da voz e da imagem.

Há sessenta anos, discutia-

se o velório do rádio, que

se findaria pela pujança

insubstituível da transmissão

da imagem acoplada a aparelhos

domésticos. Ressuscitou-o

Marshall Mcluhan (1911-1980), o

profeta da aldeia global que hoje

retorna à voga pelas mãos de

pesquisadores que perscrutam

o universo da internet. Ele deu

ao rádio o status acadêmico de

“meio quente”, e diagnosticou-

lhe o poder sensorial sobre o

ouvinte que equivale à de um

tambor tribal.

No canônico Os meios de

comunicação de massa como

extensões do homem, obra

publicada em 1964 nos Estados

Unidos e, aqui no Brasil, cinco

anos depois em tradução do

poeta Décio Pignatari, escreveu

este pensador canadense: “Com

a TV, o rádio se voltou para

Col

unist

a co

nvid

ado O tAMBOR tRIBAL DO

FUtURO Bruno Filippo

Jornalista e Sociólogo

22

Rád

io em

Revista

Colunista convidado

as necessidades individuais

do povo, em diferentes horas

do dia, bem em sintonia com

a multiplicidade de aparelhos

receptores nos quartos,

banheiros, cozinhas, carros

e – agora – bolsos.” Todas as

análises dos noventa anos de

rádio no Brasil subscrevem essa

afirmação.

Particularizando sua relação

com o ouvinte que, graças ao

transistor, pôde transportar o

aparelho aonde quer que fosse,

o rádio remodelou-se técnica e

esteticamente. E, nas palavras

de Mcluhan, “retribalizou o

mundo”, ao despertar nos

indivíduos sensações que antes

cabiam aos rituais primitivos e ao

permitir que eles se agrupassem

em torno de interesses comuns.

Se foi assim há meio século, por

que hoje seria diferente, se o

World Wide Web (www) e as

novas plataformas levam ao

paroxismo a ideia de aldeia

global, de retribalização?

Ao contrário dos anos

50 e 60, quando a televisão

parecia a muitos sobrepor-

se ao rádio, as tecnologias

deste início de século

XIX não rivalizam com o

meio radiofônico: bem ao

contrário, assimilam-no,

permitindo a ele novas

formas de aprofundar a

individualização com o

receptor. Não foi à toa que

o jornalista e comunicólogo

brasileiro Alberto Dines

disse que o rádio é a mídia

do futuro. ●

*Leia outros textos do autor

na sua coluna do site.

23

Rád

io e

m R

evis

ta

O texto a seguir foi tirado do livro

“Noites Tropicais”, de Nelson Motta,

que abrange todo o processo de

transformação da música brasileira,

desde o surgimento da Bossa Nova até

os primeiros anos da década de 1990,

com suas diferentes tendências, fases

e modismos, acompanhado de perto

por seu autor.

“Tímido e tenso, gorducho

e sorridente, Newton Duarte se

transformava diante do microfone:

sua voz metálica metralhava

palavras em ritmo vertiginoso e

espantosa precisão, criava gírias

e novas expressões, apresentava

aos jovens cariocas as últimas

novidades do rock internacional,

em discos contrabandeados por

comissários amigos. Coadjuvado por

‘DoktorSylvana’, seu técnico de som e

criador de sensacionais efeitos sonoros,

Big Boy falava tantas loucuras e num

ritmo tão alucinante que era ouvido

como o doidão de todos os doidões. No

início ele ainda viveu uma vida dupla: de

manhã era o sisudo e tímido professor

Newton, que ensinava Geografia no

Colégio de Aplicação da Lagoa, e à tarde

se transformava no enlouquecido Big

Boy no microfone da Rádio Mundial.

Uma manhã, o professor Newton

entrou na sala, de paletó e gravata, e,

como sempre, com uma pesadíssima

pasta, que jamais abria. Entre os alunos

crescia a curiosidade por seu volumoso

conteúdo, e alguns deles, ouvintes e

fãs de Big Boy, já começavam a notar

Hist

ória

24

BIg BOy | inconfundível

Rád

io em

Revista

estranhas semelhanças entre a voz e o

jeito rápido de falar, o ritmo, a dicção

perfeita do mestre chatíssimo e do

querido DJ. Até que naquela manhã, no

meio de uma dissertação tediosa sobre

a Bacia Amazônica, o professor Newton

parou de repente e começou a falar

como Big Boy, com seu grito de guerra

‘Hello, crazypeople’, e seguiu falando

como Big Boy, no seu ritmo, com suas

gírias, os alunos deliravam, jogavam

livros e cadernos para o alto, gritavam

‘É Big Boy! É Big Boy! É Big Boy’.

Arrancando a gravata e tirando

o paletó, o professor Newton abriu

sua famosa pasta e começou a jogar

discos, discos e mais discos para os

alunos, ‘Discos para todos!’, gritava

e gargalhava histericamente, falando

vertiginosamente uma torrente de

loucuras e proclamando que sua

verdadeira identidade era Big Boy

e que o professor Newton estava

morto. A porta se abriu e ele foi

interrompido pelo diretor furioso,

pediu demissão no ato e saiu

ovacionado pelos alunos.

Big Boy teve breve e fulgurante

carreira, se transformou em uma

legenda do rádio, fez inúmeros

inimigos, influenciou milhares de

pessoas e morreu com 33 anos,

sozinho em um quarto de hotel em

São Paulo, sufocado por um ataque

de asma.”

Big Boy, criou uma linguagem

revolucionária para os padrões da

época. ●

25

História

Rád

io e

m R

evis

ta2

6

BM: O que você faz hoje em

dia?

LP: Trabalho como produtor de

TV, na rede Globo. Também dou uma

de DJ na festa "Soul, baby, SOUL!" em

parceria com os DJs Sir Dema e Lucio

Branco.

BM: O que tem guardado do

seu pai Big Boy?

LP: Praticamente todo o acervo

dele ficou comigo. Tudo o que minha

mãe guardou quando ele morreu, o

que inclui os discos de vinil (cerca de

20000 entre compactos e LPs), as fitas

cassette (muitas delas com entrevistas

interessantíssimas, de nomes como

Mick Jagger, Wilson Pickett, James

Brown, Chico Buarque, etc), fotos e

matérias para jornais e revistas da

época.

BM: Como era o Newton

Alvarenga Junior como pai?

LEANDRO PETERSEN O DNA do Big Boypor Bruno Menezes

Entr

evist

a Es

peci

al

A semelhança de Leandro Petersen, filho do saudoso Big Boy que tinha 8 meses

de vida quando o pai se foi, vai além da aparência: ele também é DJ

Rád

io em

Revista

LP: Infelizmente não o conheci,

pois quando ele morreu eu tinha

apenas 8 meses.

BM: Qual mensagem,

ensinamento que ele deixou

para a sua vida?

LP: Mesmo não o tendo conhecido

pessoalmente, a história dele é

interessantíssima, um cara que fazia

o impossível para levar adiante sua

paixão pela música. Desde matar

aula para comprar discos em SP,

quando garoto, até percorrer os

quatro cantos do mundo em busca de

novidades para tocar na rádio, depois

de radialista consagrado. Acho que

ficou a mensagem da perseverança,

de acreditar em seus sonhos perseguir

seus objetivos até a última instância.

Eu penso muito nisso no meu dia-a-

dia.

BM: Qual influência o Big

Boy deixou na sua vida.

LP: A influência dele foi enorme,

principalmente através dos discos, que

eu escuto até hoje. Com ele eu aprendi

que você deve levar o seu gosto a sério,

tocar o que você realmente gosta e

acredita, ao invés de ceder às pressões

do mercado. Isso lhe dá personalidade.

Eu procuro seguir isso como DJ, a Soul,

baby, SOUL! é um exemplo disso: um

baile black baseado em funk dos anos

70, mas que cativa um público amplo

há quase 7 anos justamente porque é

autêntico.

BM: O que as pessoas mais

querem saber dele?

LP: Essa é uma pergunta difícil.

Na verdade, o que eu mais ouço é o

que as pessoas SABEM dele. Chega a

ser engraçado, toda vez que alguém

mais velho que eu descobre de quem

eu sou filho vem uma história boa pela

frente. Ele foi muito importante na

vida de muita gente, porque música

marca muito a vida das pessoas, traz

lembranças... Eu passei a minha vida

inteira ouvindo essas histórias, e

ouço até hoje. Acho inclusive que foi

através desses relatos que eu construí

a minha imagem do Big Boy, que eu

pude conhecer um pouco quem foi o

meu pai. E isso é muito gratificante,

porque só vem coisa positiva dessas

lembranças, dá para perceber o

quanto ele era querido não só como

pessoa pública, mas no âmbito pessoal

também. ●

Assista no site da RR o

documentário sobre Big Boy

feito por Leandro Petersen.

Entrevista Especial2

6

Rád

io e

m R

evis

ta

A história que agora conto foi

contada por meu pai e dela eu muito

compartilhei.

De cabelos quase cor de cobre,

o menino aguardava, ansiosamente,

a chegada do pai a casa. Os minutos

pareciam intermináveis e a noite não

escurecia de vez. o céu nublado e o frio

dos dias típicos do inverno curitibano.

Era primeiro de maio de 1944. O garoto

estava completando dez anos, e o pai

lhe prometera, de presente, a realização

do seu maior sonho..

De ouvidos aguçados, o ranger

do portão, o gemido das rodas da

charrete e o trote do cavalo logo foram

percebidos por ele. Era o pai, finalmente

retornando, após mais um dia duro de

trabalho na penitenciária, tomando

conta dos presos mais perigosos.

O coração do guri acelerou. Ele

sentia as batidas mais fortes no peito

e não conseguia se controlar. Ficou

em dúvida, perguntando-se se deveria

correr até o curral e ajudar o pai a

descer da charrete e depois tirar a sela

do cavalo, escovar o pelo do animal e

alimentá-lo com o capim que colhera

de manhã cedinho, com as mãozinhas

endurecidas pela geada que caíra

durante toda a madrugada, ou se

ficava esperando dentro de casa, na vã

expectativa de disfarçar e esconder do

pai o quanto estava nervoso.

Na indecisão, quando se deu

conta, o pai, com um grande embrulho

debaixo do braço, entrou na sala e já

dando ordens, como era de hábito:

- Por que essa cara de paspalho,

piá? Vai lá cuidar do cavalo, anda, guri!

– determinou o pai, mal humorado,

como sempre.

O garoto não conseguia desgrudar

os olhos da caixa. Paralisado, esperava

que o pai estendesse a mão e lhe

entregasse o presente prometido.

- Não te mandei cuidar do cavalo,

28

PREDEStInAÇÃOHaroldo de Andrade Junior

Radialista

Espe

cial

Rád

io em

Revista

piá? – gritou o pai, dando um safanão

na cabeça do filho, desmanchando-lhe

o topete que fora penteado com muito

zelo, para celebrar a ocasião. Como um

raio, o pequeno saiu do seu estupor,

e partiu para o quintal da chácara,

molhando o seu sapatinho novo na

lama formada pela água da chuva em

mistura com o chão de terra roxa e

barro.

Ele perdeu um bom tempo,

cuidando das suas obrigações. Quando

retornou para dentro de casa, com

tristeza, viu que o pai ainda não tomara

banho, como sempre fazia, e nem estava

à mesa, reclamando do feijão aguado

e do arroz “papa” preparados pela

mulher. Sem pressa, na maior calma,

o pai estava sentado no banquinho

azul de madeira que ficava embaixo

da janela da cozinha, pitando o seu

cigarrinho de palha.

A ansiedade do menino crescia, mas

ele tinha medo de falar sobre o presente

com o pai, que poderia explodir em

fúria, como tantas vezes acontecia,

e massacrá-lo com a força dos seus

punhos, calejados de tanto bater nos

presidiários, assim como também no

filho. O clima estava tenso. O silêncio

tomou conta do ambiente, ouvindo-se

apenas o crepitar da lenha no fogão,

atirando fagulhas, pequeninas estrelas

de fogo, pelo ar.

O menino percebeu que o pai

o estava torturando, com prazer,

ao prolongar a demora para fazer a

abertura da caixa que trouxera. Era

um jogo de paciência, que o garoto

venceu. O pai se levantou, atirou o

pitoco de cigarro pela janela e sem

dizer uma palavra, foi para o banho. A

sós na cozinha, mãe e filho se olharam e

trocaram um sorriso de cumplicidade e

aliviado conforto, e dirigiram-se a sala,

para aguardar a hora tão esperada.

Cansado pela espera e pela ansiedade,

o garoto adormeceu.

- Acorda, piá! Acorda! – disse o pai,

rudemente, sacolejando o filho pelos

ombros que ao abrir os olhos, apesar de

sonolento, a primeira coisa que viu foi

o rádio, orgulhosamente colocado em

cima de uma estante de madeira, em

posição de destaque. Como se fora um

boneco de mola, o garoto deu um salto

e correu para o aparelho; antes que

encostasse a mão nele, o pai o agarrou

e fez a advertência:

- Você nunca meta as patas no

rádio! Nunca! Ouviu? Se o rádio

quebrar, eu vou moer você na pancada,

entendeu, guri? Entendeu? Responda!

Fascinado com o equipamento,

novinho em folha, com os seus

grandes botões e um brilhante visor

de luz esverdeada, tudo emoldurado

por uma linda caixa de madeira escura,

o menino fez que sim, balançando

afirmativamente a cabeça. O pai,

solene, aumentou o volume, e o som

mágico e maravilhoso de uma valsa

29

Especial

Rád

io e

m R

evis

ta3

0Es

peci

al

tomou conta de tudo. Foi uma emoção

indescritível, com as notas do Danúbio

Azul enchendo de felicidade o coração

do menino.

O rádio só era ligado à noite,

quando o pai chegava e a família se

reunia em volta do equipamento para

ouvir histórias, novelas, músicas,

notícias sobre a guerra – e sonhar.

Uma noite, o pai, ao ligar o rádio,

descobriu que haviam tirado de

sintonia a sua emissora preferida. Quis

saber quem foi. Fez ameaças. Gritou.

Ninguém se acusou. Os irmãos não

se acusaram. A mãe se calou. E o pai

decidiu que tinha sido o garoto, que

precisava aprender uma lição. Naquela

noite, com o corpo brutalmente ferido

a socos e pontapés, os olhos, a boca

e os ouvidos sangrando, o menino,

desmaiado, foi colocado na cama e não

escutou os seus programas favoritos.

O padrinho, ao saber do ocorrido,

decidiu socorrer o menino, levando-o

para morar na sua casa, protegendo e

cuidando do afilhado.

- Padrinho, como é que eu faço

para comprar um rádio? – o garoto,

um dia, quis saber.

- Só tem um jeito: trabalhando

e ganhando dinheiro – respondeu o

padrinho.

- Eu quero comprar um rádio pra

mim, só meu. Quero trabalhar com

você – o garoto pediu.

Na manhã seguinte, bem cedinho,

padrinho e afilhado já estavam

no curral, tirando leite das vacas

e enchendo os latões, que eram

colocados em cima de uma charrete, na

qual padrinho e afilhado percorriam as

ruas da capital paranaense oferecendo

o produto fresquinho. O dinheiro que

ganhavam era pouco, mas o garoto

Rád

io em

Revista

Especial3

1

economiza tostão por tostão.

- Padrinho, não quero mais ir a

escola, não – ele falou um dia.

- Por que isso, garoto? Lugar

de menino é na escola, pra poder

se formar, trabalhar e ganhar mais

dinheiro – o padrinho explicou.

- Pra que, se eu já sou leiteiro e já

ganho o meu dinheiro? – o menino

respondeu.

- Simplesmente porque, se você

estudar e quiser ser leiteiro, será um

leiteiro muito melhor – o padrinho foi

taxativo.

Leiteiro. Foi a primeira profissão

de meu pai. Depois, na sua paixão,

conseguiu emprego numa estação de

rádio, trabalhando como faxineiro,

observando , aprendendo e praticando

no serviço de alto-falantes de um

parque de diversões, oferecendo

músicas aos casais enamorados.

Na rádio, na falta do locutor do

horário, o operador de áudio, de

brincadeira, provocou:

- E aí, garoto, quer falar no

microfone?

Meu pai aceitou. O diretor da

emissora, em casa, ao ouvir aquela voz

diferente da habitual, telefonou para

a rádio, querendo saber quem estava

apresentando o programa de músicas

clássicas.

- É o Haroldo, o garoto da limpeza

– o operador de áudio esclareceu,

pedindo desculpas e prometendo

tirar o menino do ar. O diretor não

deixou. Disse que estava indo para a

rádio e que, chegando lá, resolveria o

problema.

E foi assim que Haroldo de

Andrade iniciou a sua carreira de

radialista, parecendo uma surpresa

para todos, menos para si mesmo,

Rád

io e

m R

evis

ta3

2Es

peci

al porque já vinha se preparando à

espera de uma oportunidade.

Aos 19 anos, em meados dos

anos 50, veio para o Rio de Janeiro,

contratado pela rádio Mauá, onde

passou a apresentar O MUSIFONE,

primeiro programa interativo do

rádio brasileiro, com a participação ao

vivo dos ouvintes que, pelo telefone,

escolhiam as suas músicas favoritas.

Virou uma febre.

Logo se tornou líder de audiência,

desbancando nomes tradicionais

e emissoras muito mais poderosas

do que a sua pequena “rádio do

trabalhador”. No comecinho dos anos

60, foi contratado pela rádio Globo,

onde ficou durante mais de 40 anos,

sempre líder absoluto de audiência,

criando quadros como o “Bom Dia”, a

“Pesquisa do Dia”, “A Música da Minha

Vida”, “Por um Milagre”, “A Parada de

Cada Um”, e introduziu a participação

de médicos e advogados, em lugar das

tradicionais previsões astrológicas e

receitinhas, trazendo esclarecimentos

e informações para os ouvintes. Mas,

o seu grande legado para o rádio

contemporâneo é o debate.

“OS DEBATES POPULARES”, o

seu quadro mais famoso, foi criado

no comecinho dos anos 70, no auge

da ditadura militar, com a censura

lacrando jornais, emissoras de rádio

e de televisão, impedindo a liberdade

de expressão. Os Debates Populares

resistem – até hoje, nas principais

emissoras de rádio de todo o Brasil.

Tive a honra, o orgulho e a sorte de

ser o primeiro redator das primeiras

pautas dos “debates do Haroldo de

Andrade”, como o povo dizia.

O sonho de comprar um aparelho

rádio foi realizado e cresceu. Meu pai

comprou a sua própria emissora, a rá-

dio Haroldo de Andrade, que morreu

com ele num primeiro de março, dia

de aniversário da cidade do Rio de Ja-

neiro que ele verdadeiramente amou e

defendeu através dos microfones.

Em nome de todos os radialistas,

esteja você onde estiver, meu pai, pra

você estas minhas palavras, o nosso

agradecimento, a nossa saudade – e

este BOM DIA. ●

Rád

io em

Revista

33

Especial

PROgRAMA: PRK-30, RÁDIO COM HUMOR

Este foi, sem dúvida, o maior

programa de rádio de todos os

tempos no Brasil. Dois dos maiores

humoristas brasileiros, Lauro Borges

e Castro Barbosa estavam à frente

desse programa de humor, que estreou

na rádio Mayrink Veiga, no Rio de

Janeiro, em 19 de outubro de 1944.

PRK-30 era o prefixo de uma

suposta rádio pirata, onde dois

speakers, Megatério Nababo

D’alicerce (Castro Barbosa) e

Otelo Trigueiro (Lauro Borges),

apresentavam notícias de impagáveis

correspondentes internacionais,

cantores, declamadores, etc, todos

protagonizados pelos dois humoristas.

O programa PRK-30 teve a sua

origem no programa PRK-20 da

Rádio Clube do Rio de Janeiro, com os

mesmos apresentadores. Lauro Borges

recebeu um convite irrecusável para se

mudar para a rádio Mayrink Veiga e

lá, criou a PRK-30, segundo ele, com

10 megahertz a mais de potência que

a anterior. Castro Barbosa só iria para

a Rádio Mayrink Veiga em 16 de Abril

de 1945, na 25º edição do programa,

porque estava preso ao contrato com a

Rádio Clube.

Enquanto Castro Barbosa

permanecia na Rádio Clube, o ator

Pinto Filho assumia o seu posto com o

personagem Chouriço de Moraes.

Ainda mesmo antes da PRK-30,

Lauro Borges já tinha ficado famoso

com dois outros programas de humor.

Eram eles, A Buzina e Cenas Escolares

Rád

io e

m R

evis

ta3

4(mais tarde, batizado de Piadas do

Manduca, devido a problemas com a

censura).

O programa humorístico PRK-

30 está para o rádio como o Barão de

Itararé, o grande humorista, está para

o jornal escrito. Se até hoje os livros

de humor do Barão são lidos com total

prazer, as poucas gravações existentes

permitem que possamos acompanhar,

com a mesma satisfação, Lauro Borges

e Castro Barbosa à frente do programa

de rádio que permaneceu no ar de 1944

a 1964, sendo que em 1947, no auge

da Rádio Nacional do Rio de Janeiro,

conseguiu 52,5% da audiência em

novembro e fechou o ano com 50,1%.

O programa passava para o

ouvinte a idéia de uma “rádio pirata”

que entrava no ar em cima do prefixo

da Rádio Nacional, satirizando tudo

que acontecia no rádio da época. PRK-

30, que segundo os apresentadores,

era um programa “só para homens,

mulheres e crianças de ambos os

sexos”, era escrito por Lauro Borges e

apresentado por ele e Castro Barbosa,

sendo que apenas os dois faziam todas

as vozes de todos os personagens,

coisa que boa parte do público não

acreditava que fosse possível.

Alguns exemplos são: Megatério

Nababo d’Alicerce (Castro), um

português que se orgulhava de “falar

inglês em vários idiomas”, e Otelo

Trigueiro (Lauro), “a voz onde as

abelhas se inspiram para fazer o mel”,

que fala para o “deleite condensado

das morenas inequívocas, das

louras inelutáveis e até das morenas

ferruginosas. Para todas aquelas que

estão me ouvindo, meus sinceros

parabéns”!

As radionovelas que faziam grande

sucesso na época não escaparam às

sátiras dos dois e então a PRK-30

colocava no ar novelas como: “Só

morra em Godoma”, que tinha os

personagens: Romeu de Pontapelier,

tio de uma sobrinha. Amaro, primo

de Rosa. Rosa, prima de Amaro. Alice,

filha de um vizinho da esquerda. Dona

Esquerda, vizinha do pai de Alice. Dona

Moema, esposa do doutor Valério, já

falecido e, portanto, viúva.

Lauro Borges fazia um outro

programa chamado “Piadas do

Manduca” e Castro Barbosa fazia

o mesmo “português” em outros

programas. Antes disso, em 1937,

Lauro tinha um programa chamado

“A Buzina”, onde imitava vozes de

correspondentes estrangeiros. Os dois

conheceram-se no lendário “Programa

Casé” e foi Renato Murce quem teve a

idéia de reuni-los pela primeira vez no

programa “A Hora Sorrindo”.

Estiveram também nos programas

humorísticos “Variedades Esso”,

“Programa Colgate-Palmolive”, “Clube

do Lero-Lero”, mas, sobretudo, “PRV-

8 “RaioX” e “PRK-20”, esboços da

Espe

cial

Rád

io em

Revista

futura “PRK-30” - quando só então

Castro Barbosa assumiu o seu nome

real.

PRK-30 estreou no dia 19 de

outubro de 1944, às 21h, pelas ondas

da Mayrink Veiga: “Meus estimados

admiradores, boa-noite. A voz que

vocês estão tendo o prazer de ouvir

neste momento é a voz penicilínica,

veludosa e afiambrada do maior

espícler da presente atualidade: Otelo

Trigueiro. Tanques! Tanques! Tanque

iú vira e mexe”.

A partir dessa saudação ao público,

a empatia popular do programa só fez

crescer a cada edição, principalmente

quando passou a ser transmitido pela

Rádio Nacional, em 1947.

Ninguém sabia que Lauro Borges

criava as suas criaturas a partir

de impressões do quotidiano: um

rapazinho negro, que gostava de

escrever poemas de amor às moças

da sua rua, inspirou a figura de “Otelo

Trigueiro” e as folias poéticas do

“Boa-Noite”; um português do bar

da esquina, gordo e bigodudo, serviu

de modelo para o “Megatério”; uma

vizinha portuguesa metida a entoar

fados e que vivia implorando por uma

oportunidade no rádio deu origem à

“Maria Joaquina Dobradiça da Porta

Baixa”.

Infelizmente existem poucas

informações sobre estes dois

importantes nomes da radiofonia e

do humorismo brasileiros.

Laurentino Borges Sáes (Lauro

Borges) era paulista. Nasceu

em 1901 e faleceu em 1967.

Joaquim Silvério de Castro

Barbosa (Castro Barbosa) era

mineiro, nascido em 7 de maio

de 1905 e falecido em 20 de

Abril de 1975.

Segundo humoristas, PRK-

30 foi o melhor programa de

humor de todos os tempos

e o embrião de todo humor

desenvolvido pelo Rádio e pela

Televisão desde então. ●

*Assista o vídeo da

PRK-30 no site da Rádio

em Revista.

Especial3

5

Rád

io e

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evis

ta

Lançada em abril de 1948 pelo

jornalista Anselmo Domingos, não

por acaso quando a ascensão do rádio

no Brasil dava origem ao que ficou

conhecido como “Era do Rádio”, a

Revista do Rádio, que por 22 anos

(1948-1970) circulou em praticamente

todo o território nacional, logo

se tornou uma das mais célebres

protagonistas desse rico momento de

nascimento da cultura de massas em

nosso país.

Poucas publicações no Brasil con-

seguiriam encarnar tão intensamente

o seu objeto quanto a Revista do Rá-

dio, provocando em seus leitores a

forte sensação de que ela emergia dos

bastidores das emissoras e da intimi-

dade dos elencos das rádios, de que

ela era de fato a “voz” oficial do rádio

no Brasil. Em especial de uma delas: a

dinâmica e poderosa Rádio Nacional,

emissora criada em 1936 pela empresa

carioca A Noite, que editava jornal do

mesmo nome.

A Revista do Rádio veio mostrar

os donos das vozes que encantavam

os ouvintes: cantores, animadores de

auditório, locutores, humoristas, radio

atores, atrizes... Em forma de texto e

fotografia, revelava aos brasileiros a

vida profissional e íntima dos artistas,

que assim iam se tornando, como é da

natureza da cultura de massas, “ídolos

populares”, “astros” e “estrelas”.

A primeira edição teve quarenta

páginas, custou três cruzeiros e trouxe

na capa Carmem Miranda, de quem

Anselmo era fã.

Ainda na introdução do primeiro

número, Anselmo fez breve análise do

ano de 1947. Citando diversas emissoras

então em funcionamento, demonstrou a

efervescência do rádio na época, quando

informações a respeito eram publicadas,

porém de forma espaçada e irregular nas

páginas dos jornais.

Publicações como Carioca,

Promove, Vida Doméstica, A Voz do

Rádio, Cine-Rádio-Jornal, Cinelândia,

Guia Azul já abordavam a temática,

mas foi a Revista do Rádio – e pouco

REvIStA DO RÁDIO3

6Es

peci

al

Rád

io em

Revista

depois uma concorrente, Radiolândia

(1952 – 1962), da Rio Gráfica Editora

– que proporcionou ao rádio o seu

maior destaque. Sempre em formato

de 19cmx27cm e com apenas a capa

em cores, a Revista do Rádio variou

na periodicidade. Foi mensal nos dois

primeiros anos, mas se tornou semanal

a partir de março de 1950.

A revista oferecia ainda uma diver-

sidade de seções, cada uma tratando

de um tipo de assunto: “A pergunta da

Semana” (opiniões de artistas sobre

um tema), “Feira de amostras” (piadas

sobre gente do rádio), “Discos” (lança-

mentos e parada de sucessos), “Teatro

na Revista do Rádio”, “Cinema na Re-

vista do Rádio” (em meados da década

de 50 passou a sair também a seção

TV, assinada por Hélio Tys), “Correio

dos fãs” (perguntas dos fãs), “Rádio

em revista” (atualidades do rádio),

além da popularíssima “Mexericos da

Candinha”, inaugurada em 1953 com

o nome “Segredos da Candinha”, com

fofocas picantes sobre os artistas.

Outras colunas fixas sobre

intimidades dos artistas eram “Buraco

da fechadura”, “Ficha completa”, “Eu

sou assim” e “Entrevista teco-teco”,

além da interessante “Minha casa é

assim”, que mostrava fotografias das

casas dos astros e estrelas do rádio.

Em geral, as notícias eram sobre a

vida amorosa, rivalidades, aparências,

contas bancárias e comportamentos

dos famosos. Havia também interação

com o público por meio de promoções e

premiações aos artistas de rádio, como

“Os melhores do Rádio” e o, sempre

ansiado pelos fãs, concurso anual “A

Rainha e o Rei do Rádio”, promovido

pela Associação Brasileira de Rádio. Já

em tom mais sério, o editorial, escrito

por Anselmo Domingos, analisava

quaisquer assuntos relativos ao rádio.

A Revista do Rádio deixaria de ex-

istir em 1970, poucos meses depois da

morte de seu criador. Foram vinte e

dois anos de informação, histórias de

astros e estrelas e construção, semana

a semana, dos grandes mitos do rádio

brasileiro. Aliás, nada ou quase nada se

divulgava sobre artistas estrangeiros, a

não ser quando vinham se apresentar

no Brasil. Vinte e dois anos de criação,

ainda ingênua e com pequena ambição

mercantil, de uma nascente cultura de

massas no Brasil, num estilo que não

deixaria, no entanto, de influenciar as

dezenas de publicações que viriam a

ser criadas no país. ●

37

Especial

Rád

io e

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evis

ta

Assis Chateaubrian

Alberto Peres,Ioná Magalhaes,Aliomar e outros.Elenco Tupi anos 50.Foto Arq.Silvio Matos (site)

Rádi

o M

ural

Roquette Pinto e Getúlio Vargas

Almirante

Cesar Ladeira e Carmem Miranda

Rádio Mural - alguns rostos do passado

Rád

io em

Revista

Rádio Mural

Oduvaldo Cozi locutor esportivo

Emilinha Borba e Marlene

Mario LuizElenco da radionovela

“Direito de Nascer”

As fotos que estão neste mural foram coletadas através de pesquisas na internet com o intuito de apresentar as antigas

gerações que fizeram do rádio o maior veículo de comunicação do Brasil. Se quiser ver mais acesse o site www.radioemrevista.com e

clique no Flickr

Rád

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evis

ta

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A Escola de Rádio, tem como objetivo principal desde sua criação em 1994: promover a possibilidade de apaixonados pelo meio alcançarem os sonhos, ampliando os horizontes e criando possibilidades de se trabalhar em Rádio.

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