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Artigo que fala sobre,Como aumentar a probabilidade deaprovação de artigos em periódicos?Análise dos pareceres de avaliadoresda Revista Brasileira de Contabilidade

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  • Como aumentar a probabilidade de aprovao de artigos em peridicos? Anlise dos pareceres de avaliadores da Revista Brasileira de Contabilidade

    Jos Elias Feres de AlmeidaDoutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP; Professor dos mestrados em Cincias Contbeis e Gesto Pblica da Universidade Federal do Esprito Santo (Ufes); membro do Conselho Editorial da RBC. Possui publicaes nacionais e internacionais. coordenador e autor do livro Contabilidade das Pequenas e Mdias Empresas, publicado pela Elsevier.

    E ste artigo tem como objetivo descrever e analisar os pontos fracos dos artigos submetidos Revista Brasileira de Contabilidade, na perspectiva dos avaliadores, para proporcionar reflexes crticas e teis aos trabalhos de autores e pesquisadores antes da submisso. Para operacionalizar a pesquisa nos documentos, foram levantados e analisados 92 pareceres de avaliadores, com opinio negativa (rejeio) de 54 artigos. A anlise de contedo foi realizada para identificar os pontos fracos e recomendaes de melhoria. As anlises dos pareceres indicam que os artigos possuem, em geral, problemas como: i) referencial terico superficial e desatualizado; ii) problema de pesquisa e/ou objetivos inadequados; iii) estrutura/formatao e ortografia; iv) metodologia incompleta e/ou inadequada e pouco transparente; e v) concluses inadequadas, alm do escopo do estudo. O artigo ainda faz inferncias sobre os pareceres para aprimoramento dos artigos que sero submetidos RBC e dos pareceres por parte dos avaliadores.

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    1. Introduo e Desenvolvimento

    A pesquisa cientfica o veculo pelo qual obtemos conhecimento da realidade. Nas cincias sociais aplicadas e, mais especificamente, na Contabilidade, os resultados das pesquisas podem contribuir para a compreenso da prtica contbil, o modelo decisrio dos usurios da informao contbil, os efeitos do desenvolvimento ou das alteraes de normas, mas mais do que isso, a consolidao do conhecimento cientfico.

    Para a disseminao do co-nhecimento e evoluo da cin-cia, necessrio que a pesquisa cientfica seja divulgada, ou seja, compartilhada com seu pblico de interesse e com a sociedade em geral. Uma das possibilidades de divulgao dos estudos pela pu-blicao de artigos cientficos em peridicos (revistas) nacionais ou internacionais e eventos cientfi-cos e tcnicos, ambiente favorvel para se obterem crticas para apri-moramento dos estudos.

    Muitos esforos so feitos por pesquisadores brasileiros em Con-tabilidade para contribuir com o aprimoramento da qualidade dos estudos elaborados no Brasil, principalmente, compreendendo a base epistemolgica, terica, abordagens metodolgicas e an-lise de peridicos (THEPHILO; IUDCIBUS, 2005; COELHO et al., 2010). Esse tipo de estudo pos-sui relevncia para compreenso do statu quo da pesquisa contbil para que novos estudos ampliem a fronteira do conhecimento.

    No Brasil, crescente o nme-ro de estudos na rea contbil que analisam as caractersticas das pes-quisas, produzindo estudos biblio-mtricos, epistemolgicos, sobre abordagens metodolgicas, carac-tersticas dos peridicos, redes de autores e temas (OLIVEIRA, 2002;

    RIBEIRO FILHO et al., 2007; BORGES et al., 2011; CUNHA et al., 2012), mas com poucos voltados para analisar o trabalho realizado pelos avaliadores, e que podero trazer contribuies prticas aos autores.

    Nesse contexto, a tese de Mar-tins (2012), que traa a evoluo histrica do pensamento contbil que direcionou a pesquisa at o pa-tamar atual, identifica patologias na pesquisa brasileira em Contabi-lidade e apresenta caminhos, com base na filosofia da cincia, para romper o paradigma dominante do positivismo contbil, condio que proporcionar novos rumos no modo de fazer pesquisa e gerao de conhecimento.

    Em outra direo, uma maneira de contribuir diretamente com pes-quisadores a anlise de pareceres e avaliaes de estudos submetidos em peridicos e congressos, que um tema pouco explorado no Bra-sil e que pode trazer contribuies significativas para futuros estudos ao apresentar uma perspectiva cr-tica por parte dos avaliadores. Na rea contbil, destaca-se o estudo de Martins (2007), que analisou as avaliaes realizadas em uma edi-o do Congresso USP de Controla-doria e Contabilidade.

    De maneira complementar, Martins (2008, p. 5) considera que

    amplo e complexo o debate so-bre as condies que determinam as opes dos avaliadores e con-sumidores dos temas submetidos a um Congresso ou editoria de um peridico. Estudos autoa-valiativos sobre a produo cientfica oferecem

    elementos para uma reflexo cr-tica sobre a qualidade do que se est produzindo. [] preciso chamar a ateno, levar a debate e apresentar sugestes para supe-rao de possveis insuficincias e vieses dessa produo.

    Na literatura internacional, possvel encontrar pesquisas ou editoriais analisando a perspectiva dos avaliadores como um instru-mento para aprimorar os futuros estudos que sero submetidos a esses peridicos (JUDGE, 2008; AD-LER; LIYANARACHCHI, 2011; ZAT-TONI; VAN EES, 2012). Essa uma forma de os pesquisadores procu-rarem se certificar de questes por vezes no observadas para aprimo-rar a qualidade dos seus estudos.

    Dessa maneira, este artigo tem como objetivo descrever e analisar os pareceres dos avaliadores da Revista Brasileira de Contabilidade (RBC) para proporcionar aos auto-res o conhecimento de questes que precisam ser levadas em con-siderao quando da elaborao de pesquisas e antes da submisso em peridicos.

    Para o desenvolvimento do es-tudo, foi levantada uma amostra de 92 pareceres com avaliaes negati-vas, ou seja, avalia-es de artigos no

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    fator pode engrandecer as avalia-es, pois diferentes perspectivas podem ser consideradas.

    At o perodo de elaborao deste estudo, a RBC possui avalia-o B5 pelo Qualis/Capes e indexa-o na EBSCO.

    3. Estudos Anteriores e a Perspectiva dos Editores

    Adler e Liyanarachchi (2011) entendem que o processo edito-rial dos peridicos pouco estu-dado. Eles consideram que com-preender esse processo contribui para que autores/pesquisadores possam aprender com o fator fe-edback. Os autores explicam que o processo de publicao, se tiver fraqueza em umas das trs par-tes, que so os editores, autores e avaliadores, pode resultar em pu-blicaes pobres, ou seja, a qua-lidade das pesquisas publicadas pode ser comprometida.

    Por outro lado, Moizer (2009) ainda considera uma quarta parte, que seriam os burocratas e entida-des de financiamento de pesquisas. Estes ltimos podem influenciar o tipo de pesquisa a ser realizada porque precisam apresentar pro-dutos aos seus pblicos, como, por exemplo, demandar pesquisas des-critivas que sugerem ser neutras e

    recomendados para publicao na RBC entre janeiro de 2012 e abril de 2013. Posteriormente, o contedo de todos os pareceres foi analisado de maneira qualitativa. Procurou-se observar questes enfatizadas pe-los avaliadores, que tambm foram agregadas em tpicos comuns para descrev-las com mais consistncia, uma vez que muitos comentrios foram semelhantes. Muitos desses comentrios, se levados em consi-derao durante a elaborao do artigo ou antes de sua submisso, poderiam aumentar a probabilidade de aprovao.

    As evidncias apontam que exis-tem falhas comuns e repetitivas nos estudos, de acordo com os parece-res, que, se levadas em considera-o durante a elaborao do estudo ou antes da submisso, poderiam aumentar a probabilidade de apro-vao desses artigos. Alm disso, este estudo amplia a literatura sobre o tema, que pouco explorado, se-gundo Adler e Liyanarachchi (2011) e Zattoni e Van Ees (2012).

    Este estudo est dividido da seguinte maneira, aps esta intro-duo: no captulo 2, apresenta-se uma breve descrio da Revista Bra-sileira de Contabilidade; no captulo 3, apresenta-se os estudos ante-riores; j no captulo 4, os proce-dimentos metodolgicos; a anlise dos resultados no captulo 5; e, por fim, as concluses no captulo 6.

    2. A Revista Brasileira de Contabilidade e o Processo de Avaliao

    A Revista Brasileira de Contabi-lidade (RBC) uma revista cente-nria, tendo iniciado suas publica-es em 1912. No stio eletrnico do Conselho Federal de Contabi-lidade (CFC), so apresentadas as

    trs fases que o peridico passou, desde dificuldades financeiras at a sua terceira fase, quando o CFC passou a patrocinar a Revista des-de 1971 sem interrupes.

    A RBC possui escopo definido, conforme CFC (2014)1:

    A Revista Brasileira de Conta-bilidade (RBC) uma publica-o tcnica e tem como objetivo divulgar artigos com atributos tcnico-contbeis, transmitindo estudos e experincias profissio-nais. Os artigos veiculados na RBC no necessitam apontar, necessariamente, para uma nica direo doutrinria ou tcnica, dentro do esprito de respeito liberdade de opinio, que um dos alicerces do Conhecimento (Libertas Acadmica).

    O processo de avaliao com-posto basicamente de duas etapas aps a submisso. Assim que o ar-tigo submetido ao processo, a coordenao do Conselho Editorial designa dois membros do prprio Conselho Editorial para avaliao do estudo, os quais no sabem um do outro, nem quem so os autores, ou seja, a avaliao s cegas (double blind review). Os prprios membros podem realizar a avaliao ou desig-narem para avaliadores ad hoc, que so pesquisadores e professores com formao na rea. Caso ocor-ra divergncia nas avaliaes, por exemplo, um aprova e outro no aprova, o artigo designado a um terceiro membro do Conselho Edi-torial para emitir parecer definitivo.

    A respeito dos membros do Conselho Editorial, pode-se obser-var que existe uma disperso deles pelo territrio nacional, fator que contribui para evitar vis ou ten-dncia para uma ou outra rea de pesquisa, mais do que isso, esse

    1 Disponvel em: http://portalcfc.org.br/rbc/ Acesso em: 27/11/2013.

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    ral ou editor associado podem recu-sar o artigo diretamente enquanto estiver no processo de desk review, antes de designar aos avaliadores. O artigo no deve ser avaliado e as razes de sua no aceitao devem ser explicadas ao autor.

    Judge (2008) apresentou, no editorial de 2008 do peridi-co CGIR, algumas decises para melhorar o processo editorial, principalmente, nessa fase de desk review. importante para os autores compreenderem o processo, porque sempre poder contribuir na qualidade dos estu-dos. Primeiramente, o editor (ou editor associado) verifica se o ar-tigo est adequado basicamen-te linha editorial. Caso esteja, segue para avaliao; caso con-trrio, o autor receber o manus-crito com desk reject com uma breve explicao da avaliao do editor (screening process) para tal deciso. Nessa nova estrutu-ra do processo de avaliao, os editores elaboraram trs critrios para rejeitar um artigo durante o screening process, em se tratan-do do CGIR: (1) adequao ao es-copo e misso do jornal; (2) qua-lidade da execuo da pesquisa; (3) contribuio para o debate internacional sobre governana corporativa. Estes critrios so

    por parte dos avaliadores. As ex-perincias e as novas temticas e metodologias podem contribuir para aumentar o conhecimento dos avaliadores.

    Com base na literatura apre-sentada at aqui, e de acordo com a realidade brasileira, no so mui-tos os avaliadores com quem os editores podem contar. Todos so sobrecarregados, ministrando au-las ou realizando outras atividades profissionais, como a elaboraro de suas pesquisas e a avaliao de artigos para congressos e diversas revistas. Certamente, essa condi-o pode afetar a qualidade das avaliaes, mas que podem ser mi-tigadas pela dupla avaliao.

    Os peridicos internacionais, por exemplo, vm apresentando altas taxas de rejeio de artigos, muitas vezes chegando a 80% (CLARKSON, 2012). Para Mozer (2009), os top journals internacio-nais possuem taxa de aceitao prxima a 10%, no diferente do peridico Corporate Governance: An International Review (CGIR), que tem uma taxa de aceitao prxima de 12%.

    Como estratgia para evitar so-brecarregar os avaliadores, pode ser utilizada a recusa do artigo pelo procedimento chamado desk re-ject, momento em que o editor ge-

    poderiam ser utilizadas por elabo-radores de polticas pblicas e com a chancela de pesquisas feitas por acadmicos de alta qualidade, to-davia, sem desenvolver teorias ou testar hipteses.

    Esse ambiente leva a ou-tra provocao feita por Moizer (2009), que a questo dos in-centivos entre essas partes. Usu-almente, os autores cedem os direitos autorais sem qualquer re-munerao, bem como raramente os avaliadores so remunerados e, por vezes, os editores tambm no o so, salvo quando o peri-dico financiado por alguma edi-tora. Todavia, nesse meio, na vi-so do autor, somente os editores possuem algum benefcio, uma vez que nem os nomes dos avalia-dores so publicados ao lado do artigo, sendo esta uma questo incentivada pelo autor, constar os nomes dos avaliadores, como um reconhecimento mnimo pelo tra-balho desenvolvido.

    Entretanto, Ferson e Matsu-saka (2013) consideram que ava-liar estudos no to importan-te quanto publicar as prprias pesquisas, mas que importante para a profisso e para o sucesso enquanto acadmicos. De fato, Mozer (2009) tambm conside-ra que existe esse tipo de ganho

    As evidncias apontam que existem falhas comuns e repetitivas nos estudos, de acordo com os pareceres, que, se levadas em considerao durante a elaborao do estudo ou antes da submisso, poderiam aumentar

    a probabilidade de aprovao desses artigos.

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    analisados da seguinte maneira pelo editor, antes de designar os trabalhos para os avaliadores: i) o primeiro critrio sobre o foco do estudo e se aborda algum aspecto importante para a lite-ratura sobre governana corpo-rativa; analisa se a literatura est alinhada com o foco do estudo e a relevncia dele, ou seja, se o problema de pesquisa explora algum ponto que os profissio-nais da rea se interessam; ii) o segundo critrio (qualidade) est relacionado com a redao/orto-grafia, ou seja, se o artigo est bem escrito, fcil de entender e apropriadamente formatado, com o uso adequado da teoria (argumentos e lgica coerentes) e, no caso de estudos empricos, do rigor metodolgico (coleta de dados e procedimentos de anlise); iii) no terceiro critrio (contribuio), so analisados os insights gerados (o estudo uma mera replicao de contri-buies existentes e/ou oferece pouca novidade?), insights inter-nacionais (contribui para a com-preenso global da governana corporativa?) e til (os achados possuem alguma relevncia para profissionais e reguladores?) (JUDGE, 2008).

    Desse modo, pode-se consi-derar que os autores precisam ter muita ateno antes da submis-so de trabalhos e tomar cuida-dos a partir dessa perspectiva dos editores, porque da mesma maneira que um peridico sobre governana corporativa faz essas anlises, na rea

    contbil, ocorre da mesma ma-neira ou similar.

    Zattoni e Van Ees (2012, p. 107) consideram que um desk re-ject fornece ao autor um feedback imediato que contribuir com a pesquisa e explicam que difcil aceitar a deciso de um peridi-co pela rejeio do artigo, mas que eles tambm recebem rejei-es enquanto autores. Eles ainda consideram que existem poucos estudos examinando o processo editorial e o desempenho dos pe-ridicos em Contabilidade.

    Na rea contbil brasileira, na direo desses estudos in-ternacionais, o estudo de Mar-tins (2007) fez uma anlise das avaliaes dos avaliadores do 5 Congresso USP de Controla-doria e Contabilidade ocorrido em 2005. Martins (2007, p. 4) ainda destaca que os desafios colocados para os avaliadores exigem compromissos e respon-sabilidades. Afinal, so centenas de autores que aguardam seus pareceres, esperando justia e coerncia nas decises dos ava-liadores. De fato, as evidncias do autor indicam muitas fragili-dades nas avaliaes destacadas especificamente nessa edio.

    Por outro lado, para que isso seja enfrentado pelos autores, importante destacar os argumen-tos de Clarkson (2012, p. 360) so-bre a qualidade dos estudos:

    a noo de qualidade tem a ver com a capacida-de do estudo em informar

    o debate, que, por sua vez, est diretamente ligado a trs

    fatores fundamentais: (i) contri-buio a importncia do foco do estudo e da extenso da sua inovao; (ii) o rigor que o estu-do foi conduzido (credibilidade cientfica); e (iii) a capacidade do prprio material em transmitir o estudo de forma transparente e acessvel (comunicao). Mais uma vez, a responsabilidade recai sobre os autores para demonstrar o valor do seu trabalho; no responsabilidade dos avaliadores (gatekeepers) encontrar isso (Tra-duo livre).

    4. Procedimentos metodolgicos

    Para a realizao deste estu-do qualitativo, foi utilizada a tc-nica de anlise de contedo nos pareceres dos avaliadores para levantamento e classificao dos temas das pesquisas e as falhas mais comuns dos autores, se-gundo destaques dos avaliadores nos pareceres.

    A amostra de pareceres in-tencional, no probabilstica e foi extrada do perodo de janeiro de 2012 a abril de 2013, totalizando 92 documentos, de um total de 54 artigos submetidos nesse perodo. A Tabela 1 apresenta a amostra dos pareceres e a distribuio pelo nmero de pareceres com o tercei-ro item do parecer final No reco-mendado para publicao, consi-derado como parecer com negativa.

    Observa-se, na Tabela 1 que dos 54 artigos al-guns tiveram apenas um parecer com negativa.

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    No caso, esses artigos tiveram di-reito anlise por um terceiro ava-liador, que pode ter aprovado, ou no, aps o perodo de extrao da amostra.

    O segundo passo foi uma ten-tativa de descrever as reas dos artigos submetidos RBC, para verificar se existe concentrao em alguma rea especfica. Assim, cinco reas foram consideradas: Contabilidade Financeira (CFIN), Contabilidade Gerencial (CGER), Educao (EDUC), Contabilidade Pblica (PB) e TPICOS, novas te-mticas e estudos interdisciplina-res que no puderem ser alocados em alguma rea especfica.

    Na anlise descritiva dos te-mas dos artigos, conforme maior alinhamento do objeto de estudo, foi possvel elaborar a Tabela 2, que apresenta a distribuio das reas levantadas.

    Na Tabela 2, pode-se verificar que temas emergentes e que no so exclusivos de uma nica rea de pesquisa so predominantes (Tpicos com 44 pareceres), segui-dos de estudos sobre Contabilida-de Financeira (25 pareceres) e Contabilidade Gerencial (19 pareceres). Por outro lado, pode-se inferir, na perspecti-

    va dos pareceres, que existem opor-tunidades para estudos nas reas de Educao e Contabilidade Pblica.

    A RBC no possui um corte de pontuao para rejeitar um estu-do, mas depender da opinio final dos avaliadores. Todavia, para com-preenso das opinies de negativa, como critrio de pontuao de-senvolvido para este estudo, cada item/critrio do parecer dos avalia-dores foi pontuado de 1 (ruim) a 5 (excelente). Essa escala pode pro-porcionar insights para confirmar a viso final dos avaliadores. Isso porque um estudo pode ter alguns critrios com pontuao baixa, mas que os avaliadores podem ter soli-citado ajustes para aprimorar o ar-tigo durante as rodadas de avalia-o at sua possvel publicao.

    O modelo de pa-recer utilizado pelos avaliadores ad hoc at o perodo de

    Tabela 1 Amostra de Pareceres com Negativa na RBC

    Amostra total 92

    2 negativas 75

    1 negativa 17

    Tabela 2 Alocao dos pareceres por reaREAS CFIN CGER EDUC TPICOS PB TOTAL

    n 25 19 1 44 3 92

    Notas: CFIN = Contabilidade Financeira; CGER = Contabilidade Gerencial; EDUC = Educao; TPICOS = Novas temticas e estudos interdisciplinares; PB = Contabilidade Pblica.

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    realizao deste estudo apre-sentado no Quadro A.

    5. Anlise dos Resultados

    Nessa seo, so analisados os resultados de duas maneiras. A primeira o entendimento e avaliao dos estudos pelos avaliadores ad hoc. A segunda parte contm sugestes para melhoria dos pareceres, para que o autor tenha um produto melhor para trabalhar durante o processo de avaliao.

    5.1 Anlise dos pareceres enviados aos autores

    Para facilitar a interpretao dos pareceres dos avaliadores, ini-cia-se com a estatstica descritiva e, na sequncia, a interpretao dos pontos mais observados quando da anlise de contedo dos pareceres.

    A Tabela 3 apresenta a pontu-ao mdia por critrio de avalia-o dos pareceres de cada artigo submetido. A RBC tem por regra

    reprovar artigos que faam aluso depreciativa classe contbil. Nes-se caso, nenhum dos artigos repro-vados o foi por esse motivo. Isso re-vela que existem falhas estruturais nos estudos que precisam ser re-fletidas criticamente pelos autores antes da submisso, corroborando com as evidncias internacionais.

    Outro ponto levantado que os artigos, em mdia, no atingi-ram a metade da pontuao pos-

    svel para fins de publicao, fruto da baixa qualidade dos estudos realizados na opinio dos avalia-dores, como se depreende pelas notas atribudas.

    O segundo critrio (c2), rela-cionado contribuio Cincia Contbil, mostra que, em geral, os artigos no trazem contribui-es interessantes. Da anlise de contedo realizada, foi possvel observar que so estudos que revi-

    Tabela 3 Distribuio dos Pareceres pelos critrios de avaliaoCritrios Pontuao Total Possvel Percentual

    c1 92 92 100%

    c2 192 460 41.74%

    c3 207 460 45.00%

    c4 187 460 40.65%

    c5 189 460 41.09%

    c6 201 460 43.70%

    c7 173 460 37.61%

    c8 177 460 38.48%

    c9 151 460 32.83%

    c10 145 460 31.52%

    c11 144 460 31.30%

    Total 1.858 5.060 36.72%

    Nota: Os critrios de avaliao foram apresentados na metodologia. Cada critrio foi pontuado de 5 (excelente) at 1 (ruim), exceto o critrio 1, que assume 1 para no (quando no faz aluso pejorativa classe contbil) ou 0 (quando faz aluso pejorativa).

    Quadro ACritrio Objeto de avaliao

    1 Aluso depreciativa classe contbil. Sim No

    Contribuio Cincia Contbil. Excelente Muito Bom Bom Regular Ruim

    3 Originalidade do estudo e/ou relevncia do tema. Excelente Muito Bom Bom Regular Ruim

    4 Resumo (problema de pesquisa, objetivo, abordagem metodolgica, resultados e consideraes finais). Excelente Muito Bom Bom Regular Ruim

    5 Introduo (justificativa escolha do tema, problema de pesquisa, hiptese se houver, objetivo). Excelente Muito Bom Bom Regular Ruim

    6 Qualidade da redao e organizao do texto (ortografia, gramtica, clareza, objetividade, sequenciamento dos elementos e estrutura formal). Excelente Muito Bom Bom Regular Ruim

    7 Qualidade da reviso de literatura (referncias, apresentao das citaes, consulta a obras apropriadas para o desenvolvimento do tema). Excelente Muito Bom Bom Regular Ruim

    8 Consistncia terica do trabalho (abordagem terica que proporciona sustentao ao desenvolvimento do estudo). Excelente Muito Bom Bom Regular Ruim

    9 Mtodo e tcnicas de pesquisa (adequao da metodologia e clareza na descrio da trajetria percorrida para o desenvolvimento do estudo). Excelente Muito Bom Bom Regular Ruim

    10 Anlise e interpretao de dados e resultados (descrio, coerncia, articulao terica e metodolgica). Excelente Muito Bom Bom Regular Ruim

    11 Consideraes Finais / Concluso (clareza, coerncia e alcance dos objetivos). Excelente Muito Bom Bom Regular Ruim

    Sntese dos principais pontos fortes do trabalho.Sntese dos principais pontos fracos do trabalho.Recomendaes para mudanas.

    PARECER FINAL:( ) Recomendado para publicao( ) Atender s recomendaes e submeter novamente( ) No recomendado para publicao

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    sam literatura ou sobre questes j superadas na literatura ou que po-dem agregar pouco ao profissio-nal da Contabilidade, na tica dos avaliadores. De acordo com Brad-bury (2012), esse item contribui-o para a literatura o principal determinante para rejeio de um artigo no peridico internacional Accounting and Finance, chegan-do a 80% dos pareceres analisados pelo autor.

    J no quesito originalidade (c3), tem-se a pontuao mdia mais alta, perfazendo 207 pontos (45%). Em alguns casos, o tema pode ser original, mas no foi bem explorado pelos autores. Em outras palavras, os autores no apresentaram adequadamente suas pesquisas, mas isso ser mais explorado com a compreenso de todos os critrios.

    A estrutura dos resumos (c4) mostra que o percentual de pon-tuao mdia atingido de 40,65% reflete que os autores precisam aprimorar o que informar no re-sumo. Essa parte do artigo o primeiro contato com o leitor, e a leitura do estudo depender da capacidade do resumo em con-venc-lo a ler. Alguns avaliadores destacaram que o resumo gen-rico e no aborda diretamente o objetivo do estudo e as evidncias encontradas. Observe que a intro-

    duo tambm passa pelos mes-mos problemas de estrutura (c5), que sero mais bem explorados no Quadro 1.

    Os autores precisam estar sempre atentos ao bom uso da gramtica e da qualidade concisa da redao dos artigos. Os ava-liadores da RBC, da mesma ma-neira que discutido nos estudos internacionais, so professores e profissionais ocupados. Portanto, quanto mais revisado e organiza-do o texto, tornar-se- mais fcil a leitura por parte dos avaliadores e a compreenso da mensagem da pesquisa. Nesse ponto, conforme a pontuao do sexto critrio (c6), a reviso gramatical antes da sub-misso poder aumentar as chan-ces de aprovao.

    Bradbury (2012) destaca que, para o editor (durante a etapa de desk review), um dos pontos mais criticados a qualidade da reda-o e a formatao dos estudos. De 66 pareceres analisados pelo autor, apenas 6 foram considera-dos pelos avaliadores como bem escritos. No caso da RBC, o se-gundo critrio mais destacado nos pareceres, que acabam por diminuir as chances de aprovao. A baixa qualidade da ortografia/gramtica e da forma da narrativa do estudo dificulta o trabalho dos avaliadores em entender o que os

    autores querem explicar, desde o problema de pesquisa, objetivos, motivao terica at a interpre-tao dos resultados e concluses.

    Sobre isso, Zimmerman (1989 apud CLARKSON, 2012), explica que

    depois de ler a carta de rejeio do editor acompanhado dos pa-receres dos avaliadores, a pri-meira reao de um jovem autor (iniciante) ocasionalmente que o editor e/ou os avaliadores no entenderam a anlise. Se este for o caso, no nem do editor nem dos avaliadores o problema. O autor falhou na comunicao das ideias clara e convincentemente (Traduo livre).

    O critrio c7 qualidade da re-viso da literatura um dos mais criticados pelos avaliadores. Os autores, em geral, no buscam es-tudos recentes publicados em pe-ridicos e congressos. muito im-portante que os autores busquem citar estudos relacionados e sobre o mesmo tema. Ter um estudo pu-blicado semelhante no motivo para no fazer o estudo, muito menos para no cit-lo, mas, sim, para apresentar um novo olhar so-bre o tema ou propor algo diferen-te do que foi feito antes. Quanto mais informado o avaliador estiver do que j foi feito sobre o tema e

    Os avaliadores da RBC, da mesma maneira que discutido nos estudos internacionais, so professores e profissionais ocupados. Portanto, quanto mais revisado e organizado o texto, tornar-se- mais fcil a leitura por parte dos avaliadores e a compreenso da mensagem da

    pesquisa.

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    o que diferencia o estudo dos de-mais, mostrar sua originalidade (j discutido no item c3).

    A reviso de literatura trar ao estudo os fundamentos tericos que o sustentam. Conforme apre-sentado no item c8, os estudos falham no embasamento terico, que diferente de reviso de lite-ratura (item c7). Essa abordagem terica que fornecer substncia ao critrio 2.

    Comparando com os resul-tados descritivos de Clarkson (2012), que esto mais agrupa-dos, as evidncias so prximas ordem de recomendao para re-jeio na primeira rodada do pe-ridico Accounting and Finance, que a seguinte: 1) Falta de con-tribuio/inovao (82.7%); 2) Co-municao inadequada (67,9%); 3) Suporte terico/fundamenta-o (64,2%); 3) Metodologia e design de pesquisa (54,3%); e 4) Concluses inapropriadas/sem embasamento (42,3%).

    Os critrios 9 e 10 so ana-lisados juntos porque um afeta o outro, respectivamente. Essas pontuaes baixas so reflexos da falta de metodologia, e da pouca transparncia dos procedimentos

    metodolgicos (exemplo: seleo da amostra, perodo de tempo, roteiro de entrevistas, omisso do questionrio, etc.), fatores que impedem que o estudo possa ser compreendido ou mesmo utiliza-do como base em outra realidade.

    Como a Cincia Contbil est dentro das Cincias Sociais Apli-cadas, os autores precisam per-correr as etapas de execuo do estudo, seleo da amostra ou qualquer outro procedimento para que o leitor possa compre-ender o que foi feito. Como con-sequncia disso, os autores no interpretam adequadamente os resultados e no complementam suas anlises comparando com estudos anteriores ou apresen-tando as diferenas obtidas ou confirmaes com o que a litera-tura apresenta.

    Por fim, o critrio 11, que a parte final do estudo, o item com menor pontuao, refletindo superficialidade das concluses e extrapolaes que fogem do es-copo do estudo. Alguns avaliado-res destacaram que as afirmaes no so consistentes com o esco-po do estudo e no so capazes de generalizaes.

    Alm de apresentar a pontu-ao mdia dos artigos obtida pela tabulao das notas, tambm foram levantados os principais pontos fracos e recomendaes observados nos pareceres dos ava-liadores durante a anlise de con-tedo. As falhas (ou problemas) foram alocadas em pontos seme-lhantes e, quando fosse o caso, al-gum ponto relevante para aprimo-ramento dos estudos. O Quadro 1 apresenta as principais falhas, todavia, esclarece que no uma lista exaustiva.

    Os pontos fracos levantados a partir da anlise dos pareceres dos avaliadores exibidos no Quadro 1 refletem pontualmente o que os au-tores podem levar em considerao quando da elaborao dos artigos ou de sua reviso e vitando-se essas falhas, as chances para publicao aumentam, alm de proporcionar a qualidade dos estudos.

    5.2 Anlise e Recomendaes para os Avaliadores

    Na anlise qualitativa do conte-do dos pareceres dos avaliadores, foi possvel observar que existe um excesso de objetividade e pouca explicao aos autores, em alguns

    Quadro 1 Levantamento dos principais pontos destacados pelos avaliadoresPrincipais Pontos Fracos Nm. de problemas

    Caractersticas semelhantes consideradas como pontos fracos e recomendaes para mudanas pelos avaliadores

    Ttulo 13 Inadequao; no reflete o escopo do trabalho.

    Problema de Pesquisa 30 Falta de problema, objetivo, problemtica, etc.

    Reviso de Literatura e Referencial Terico 65

    Antiguidade, superficialidade, reviso antiga, faltam clssicos, falta literatura atual e estrangeira, artigos que no esto nas referncias, teoria frgil, considera lei como teoria, confuso conceitual, interpretao equivocada da lei, afirmao equivocada, referencial terico e bibliogrfico fraco.

    Redao/Estrutura 44 Gramtica, portugus, estrutura, ABNT, etc.

    Juzo de valor 15 Juzo de valor, afirmaes sem fundamentos ou evidncias.

    Anlise resultados, Falta de Evidncias 25 Falta de limitaes, falta de evidncias, etc.

    Concluses 37 Superficial, sem evidncia, extrapolao alm da amostra, no responde ao problema.

    Metodologia 47 Falta de clareza na explicao sobre seleo da amostra, sobre a tcnica aplicada, falta transparncia sobre o tratamento dado em estudos qualitativos.

    Originalidade 24 Tema muito debatido, tema recorrente, sem originalidade.

    Resumo e Introduo 29 Superficialidade, sem problema ou problemtica, objetivos no relacionados com o problema. O resumo no claro e repetitivo.

    Escopo inadequado 16 Fora do escopo da RBC, artigo no cientfico, artigo com identificao, estudo sugere ser consultoria.

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    Como aumentar a probabilidade de aprovao de artigos em peridicos? Anlise dos pareceres de avaliadores da Revista Brasileira de Contabilidade

    casos. Por exemplo, na parte em que o avaliador pode expressar sua opinio e comentar o estudo, na sntese dos pontos fortes comum encontrar frases similares a tema atual ou assunto interessante, ou mesmo em branco. De um lado, se o estudo tem algo interessan-te, seria importante ponderar se possvel auxiliar nas sugestes de mudanas quais pontos podem ser aprimorados para o artigo au-mentar as chances de publicao. Por outro lado, por vezes, os ava-liadores possuem dificuldades em entender a mensagem dos traba-lhos, com erros gramaticais e re-dao confusa que potencializam esse problema. Evidncias pareci-das foram encontradas por Martins (2007) quando da anlise das ava-liaes do 5 Congresso USP.

    Nos pontos fracos identifi-cados pelos avaliadores, muitas vezes, so levantados tpicos, mas sem qualquer sugesto de melhoria, como, por exemplo, problema de pesquisa confuso ou relacionadas com problemas no ttulo do estudo. Todavia, nas recomendaes para mudanas, muitas vezes, o avaliador con-sidera os pontos fracos desta-cados em tpicos como de fcil entendimento por parte dos au-tores, o que de fato no trivial, necessitando maior detalhamen-to pelos avaliadores (salvo os casos em que j so propostas melhorias ou so feitas conside-raes para ajustes).

    Nesse caso, Ferson e Masusaka (2013, p. 10) sugerem que o pare-cer seja elaborado em duas partes. A primeira consiste numa carta ao editor, que no comumente vista pelos autores do estudo. A segunda parte o corpo do pare-cer, o qual tipicamente inclui um breve resumo do artigo, seguido de crticas e comentrios constru-tivos para benefcio dos autores. Todavia, a carta ao editor pode ser

    parafraseada pelo editor para jus-tificar a deciso dos avaliadores.

    Dentro desse contexto, retor-na-se aos incentivos recebidos pelos editores e avaliadores j discutidos na literatura apresen-tada. O ponto crucial que os avaliadores no existem em n-mero suficiente e tambm so pesquisadores que precisam pu-blicar seus trabalhos. No Brasil, ainda necessrio encontrar um caminho para tornar esse proces-so editorial um crculo virtuoso.

    Por fim, vale destacar uma breve recomendao de Moizer (2009, p. 302), conforme a rea-lidade do ambiente em que ele est inserido, que o bom avalia-dor deve apresentar:

    1. Informe ao editor quando co-nhecer a identidade do autor, mas ainda revisar o artigo.

    2. Seja profissionalmente qualifi-cado para aceitar a avaliao, tendo conhecimento suficien-te sobre o tema do artigo. Se no for o caso, ento o bom avaliador devolver o artigo ao editor.

    3. Separe um tempo suficiente para ler o artigo na ntegra em profundidade em uma sesso.

    4. Esteja ciente de qualquer pre-ferncia de paradigma, o que pode influenciar o julgamento e levar rejeio de um arti-go, porque uma determinada direo da investigao no interessante para o avaliador.

    5. Lute para encontrar uma maneira de fazer a reviso em um tom positivo. Mesmo quando encontrar falhas, use adjetivos, como interessante, criativo e ambicioso.

    6. Solicite material adicional que fortalecer o artigo, no por razes e interesses pessoais.

    7. Permita a possibilidade de aprovao do estudo sem ne-nhuma reviso, que ocorre

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    REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE

    em raros casos, em que a lei dos rendimentos decrescentes tornaria qualquer trabalho de valor incremental mnimo.

    8. Ao fazer sugestes amplas ou detalhadas, procure criar uma lista de alteraes necessrias na primeira vez para evitar descobrir mais e mais suges-tes em cada etapa da reviso do artigo. No entanto, um bom revisor permitir alguma flexi-bilidade para o autor escrever o artigo que quer escrever.

    9. Distinguir entre falhas corri-gveis e incorrigveis.

    10. Para falhas corrigveis, in-dicar o que precisa ser feito para corrigi-las.

    11. Para falhas incorrigveis, indicar o que deveria ser discutido na parte de limitaes do artigo.

    12. Ao recomendar a rejeio de um artigo, especificar os motivos (por exemplo, falhas incorrigveis) e fornecer ar-gumentos convincentes do porqu de essas falhas justifi-carem a rejeio.

    13. Quando no for muito tempo consumido, direcionar os au-tores para artigos e livros que podem ajud-los na reviso do manuscrito.

    14. Ao receber uma avaliao de reviso (2 rodada, por exemplo), prestar ateno

    ao que o outro avaliador e o editor disseram.

    15. Elabore o parecer dentro de um perodo de tempo razo-vel (por exemplo, dentro de 30 dias). (Traduo livre e adaptada).

    6. Concluses, limitaes e sugestes para futuras pesquisas

    O presente estudo apresenta uma anlise qualitativa e descritiva das principais questes levantadas pelos avaliadores ad hoc em seus pareceres com negativa referentes a artigos submetidos Revista Bra-sileira de Contabilidade (RBC).

    Pde-se observar que muitos pontos crticos destacados por

    avaliadores da RBC tambm ocor-rem em peridicos internacionais de acordo com estudos que ana-lisaram o processo editorial. Por isso, se os autores levarem em considerao esses fatores, quan-do da elaborao do estudo e na sua reviso antes da submisso, a probabilidade para publicao au-mentar significativamente.

    Percebeu-se das anlises dos pareceres que muitos estudos ainda esto em estgio inicial, fal-tando amadurecimento terico, conceitual e metodolgico para inferncias prticas para os pro-fissionais. Sugere-se aos autores submeter seus trabalhos primeira-mente a congressos para receber as crticas e comentrios iniciais para posterior submisso em pe-ridicos. Clarkson (2012) tambm analisou a quantidade de eventos e agradecimentos pessoais nos artigos submetidos na Accoun-ting and Finance e detectou que artigos com mais agradecimen-tos e mais exposio em eventos possuem menor taxa de rejeio, reforando o argumento anterior.

    Este tipo de estudo precisa ser estimulado por editores de peridicos e organizadores de congressos de contabilidade para que os pesquisadores atuais e os futuros possam antecipar falhas e aprender com os erros anteriores.

    Na anlise qualitativa do contedo dos pareceres dos avaliadores, foi possvel observar que existe um excesso de objetividade e pouca explicao aos

    autores, em alguns casos.

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    Como aumentar a probabilidade de aprovao de artigos em peridicos? Anlise dos pareceres de avaliadores da Revista Brasileira de Contabilidade

    Essa uma maneira de a Cincia Contbil continuar a sua evoluo ,aprendendo com as avaliaes e recomendaes de pesquisadores e professores que contribuem com toda a classe contbil, os quais dis-ponibilizam seu tempo para o apri-moramento dos estudos.

    Este trabalho possui limitaes de ordem temporal (perodo de se-

    leo dos pareceres), da amostra (por no ser probabilstica) e me-todolgicos (por empregar anlise de contedo conforme critrios es-tipulados ex-ante da anlise realiza-da e pelo agrupamento dos pontos fracos destacados pelos avaliadores conforme interpretao do autor).

    Esse tipo de anlise realizada promissora tanto em peridicos

    internacionais como nacionais. Compreender mais adequada-mente o processo de avaliao contribuir sobremaneira com a qualidade da pesquisa cientfica em Contabilidade e deve ser ex-pandido em estudos futuros, po-dendo inclusive ser utilizado para elaborao de polticas pblicas por rgos reguladores.

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