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UNIVERSIDADE DO ALGARVE ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA _____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Reabilitação de edifícios de alvenaria Construção e Processos 1 Índice Sumário…………………………………………………………………………….….4 1. Introdução…………………………………………………………………….……5 2. Perspectiva Histórica………………………………………………......……….6 3. Desenvolvimento das alvenarias em Portugal………………….……..…..9 4. Caracterização das alvenarias……………………………………………….11 5. Tipos de alvenarias…………………………………………………………….13 5.1 Adobe ou Adobo…………………………………………………….…14 5.2 Taipa…………………………………………………………………..…14 5.3 Pedra………………………………………………………………….….15 5.4 Tijolo……………………………………………………………………..17 6. Patologias………………………………………………………………………...20 6.1 Patologias estruturais………………………………………………..20 6.1.1 Fissuração……………………………………………………20 6.1.2 Degradação…………………………………………………..23 6.1.3 Esmagamento……………………………………………….24 6.2 Patologias estéticas ou não estruturais…………………………25 6.2.1 Fissuração dos revestimentos tradicionais………..…26 6.2.2 Anomalias por acção da água……………………………27 6.2.2.1 Humidade do terreno……………………………28 6.2.2.2 Humidade de condensação…………………….29 6.2.2.3 Humidade devido ao fenómeno da higroscopicidade……………………………………………30

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____________________________________________________________________ Reabilitação de edifícios de alvenaria Construção e Processos

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Índice Sumário…………………………………………………………………………….….4

1. Introdução…………………………………………………………………….……5 2. Perspectiva Histórica………………………………………………......……….6 3. Desenvolvimento das alvenarias em Portugal………………….……..…..9 4. Caracterização das alvenarias……………………………………………….11 5. Tipos de alvenarias…………………………………………………………….13 5.1 Adobe ou Adobo…………………………………………………….…14 5.2 Taipa…………………………………………………………………..…14 5.3 Pedra………………………………………………………………….….15 5.4 Tijolo……………………………………………………………………..17 6. Patologias………………………………………………………………………...20 6.1 Patologias estruturais………………………………………………..20 6.1.1 Fissuração……………………………………………………20 6.1.2 Degradação…………………………………………………..23 6.1.3 Esmagamento……………………………………………….24 6.2 Patologias estéticas ou não estruturais…………………………25

6.2.1 Fissuração dos revestimentos tradicionais………..…26 6.2.2 Anomalias por acção da água……………………………27 6.2.2.1 Humidade do terreno……………………………28 6.2.2.2 Humidade de condensação…………………….29

6.2.2.3 Humidade devido ao fenómeno da higroscopicidade……………………………………………30

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6.2.3 Deficiente isolamento térmico……………………………30

6.2.4 Degradação estética da fachada………………………...31 7. Técnicas de reabilitação………………………………………………………32

7.1 Técnicas de reabilitação estrutural……………………………….32

7.1.1 Injecção……………………………………………………….33 7.1.2 Pregagem……………………………………………………..35

7.1.2.1 Pregagens generalizadas…………………...…..35 7.1.2.2 Pregagens “costura”……………………….……..36 7.1.2.3 Pregagens transversais………………………….37

7.1.2.4 Sistemas de ancoragem…………………………38

7.1.3 Pré-esforço……………………………………………….......40 7.1.4 Desmonte e reconstrução…………………………….......47 7.1.5 Rebocos armados……………………………………………48 7.1.6 Encamisamento……………………………………………..50

7.1.7 Refechamento das juntas……………………………..….52

7.2 Técnicas de reabilitação não estrutural………………………….54

7.2.1 Métodos de intervenção de limpeza…………………....54

7.2.1.1 Limpeza com água……………………………….54

7.2.1.2 Jacto com partículas abrasivas……………….54

7.2.1.3 Limpeza com ferramentas mecânicas………..55

7.2.1.4 Limpeza com biocidas…………………………...55 7.2.2 Métodos de reabilitação de patologias de Humidade Ascendente…………………………..………………………………56

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7.2.2.1 Drenos atmosféricos (ou de Knapen)…………56

7.2.2.2 Introdução de membranas estanques……….59 7.2.2.3 Injecções de produtos químicos……………....61

7.2.3 Estratégias para reabilitação de paredes de alvenaria fissuradas…………………………………………………………….66

8. Conclusão…………………………………………………………………………69 9.Referências bibliográficas………………………………………….………….70

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Sumário O presente trabalho está integrado na disciplina de Construção e Projectos do 4º ano do Bacharelato em Engenharia Civil, leccionado na Universidade do Algarve. Este trabalho contém os resultados de uma extensa e profunda investigação efectuada em torno do tema específico proposto: Reabilitação de edifícios de alvenaria. Após uma breve introdução histórica e caracterização das alvenarias, quanto ao tipo de alvenarias existentes, materiais utilizados e aplicações, bem como a origem das suas patologias e, finalmente, como forma de facilitar a sua intervenção com a escolha adequada de técnicas e materiais. As principais técnicas de reabilitação, quer inovadoras, quer tradicionais, são apresentadas referindo-se o seu potencial campo de aplicação, vantagens e limitações. Palavras chave: alvenarias, patologias, reabilitação.

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1. Introdução Após a Revolução Industrial (séc. XVIII) a evolução mundial ao nível dos mais variados sectores, económico, social, tecnológico e industrial, registou um crescimento e desenvolvimento elevados acentuados nas últimas décadas. Acompanhando o aparecimento de novas técnicas e novos materiais, o sector da construção tem-se desenvolvido de forma continuada ao longo dos anos. Alheia a este desenvolvimento está a alvenaria, pois desde o seu aparecimento como técnica de construção (9000 a 7000 a. C.) até aos nossos dias, não existiram grandes alterações ao nível da aplicação deste processo na construção. Entende-se por “alvenaria” a associação de um conjunto de unidades de alvenaria (tijolos, blocos, pedras, etc.) e ligante(s) que resulta num material que possuiu propriedades mecânicas intrínsecas, capaz de constituir elementos estruturais. Apesar da sua importância, ao nível dos custos (estima-se que a percentagem de custo das alvenarias em Portugal varie entre 14 e 20% do custo total dos edifícios)[1] e da sua funcionalidade, o enquadramento normativo nacional de apoio aos produtos, à concepção, disposições construtivas e dimensionamento é praticamente inexistente. Em conjugação com a falta de normalização, a situação portuguesa, caracterizada por uma abordagem generalizadamente simplista quanto à escolha de soluções de paredes e à forma como as mesmas são executadas, não tem paralelo a nível europeu e tem óbvios reflexos na qualidade das nossas construções. Sendo a utilização das alvenarias resistentes uma solução económica e tecnologicamente interessante em pequenas construções, é estranha a reduzida expressão das alvenarias em Portugal quando comparado com outros países europeus, como podemos verificar na Fig.1, isto apesar do nosso país estar localizado numa zona actividade sísmica.

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Fig.1: Soluções estruturais usadas na realização de edifícios expressa em percentagem do número total de edifícios [1]

2. Perspectiva Histórica Os primeiros abrigos que o homem procurou foram as grutas naturais ou escavadas, em locais onde existiam afloramentos rochosos, até que começou a construir os seus próprios abrigos, inicialmente de uma forma muito rudimentar utilizando os materiais que a Natureza dispunha, tais como, troncos de madeira, folhas de árvores e peles de animais. As primeiras habitações em alvenaria de pedra no lago Hullen, Israel, datam de 9000 a 8000 a.C. [1]. Outros vestígios, descobertos nas escavações Aïn Mallaha na Anatólia e em Tell Mureybet na Síria-Palestina, eram casas de estrutura circular com diâmetros entre os 6 e os 10m, semienterradas com uma profundidade de 70cm. Ao longo das paredes encontraram-se buracos para introdução de troncos, o que faz supor que inicialmente a estrutura superior seria em madeira sendo posteriormente substituída por muros de pedras ligadas por argamassa. A cobertura era formada por camadas de barro sobre uma armação. Entretanto ocorre a mudança da estrutura circular para uma estrutura rectangular (7700-7600 a.C.)[1], permitindo ampliações do espaço e reflectindo um certo desenvolvimento demográfico. Como exemplo desta mudança temos Jericó, referida na Bíblia como a cidade que foi destruída ao som das trombetas de Josué. As habitações rectangulares tinham mais que um andar e caracterizavam-se por um reboco das paredes de blocos de barro, agora de forma alongada e secos ao sol, e por um chão perfeitamente polido. A área habitada era circundada por

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uma muralha notável com tramos de 3,5m de altura, 2m de espessura e com torres circulares, sendo uma conhecida cuja altura conservada é de 9m. Outra das cidades conhecidas é Çatal-Hüyük na Anatólia e que remonta a 6500 a.C.. As suas casas de tijolo formam um bloco compacto, e onde a circulação das pessoas não se faz por ruas, mas pelos tectos dos terraços.

Fig.2: Reconstituição esquemática das casas em terraços de Çatal-üyük (6000 a.C.) A escolha dos materiais básicos de construção, era feita de acordo com as matérias primas disponíveis em cada local. Na Mesopotâmia, como não existiam afloramentos rochosos adoptaram-se os tijolos de barro. Já no Egipto e na Anatólia era utilizada em grande escala a pedra, sendo no caso egípcio utilizada apenas em monumentos e construções monumentais. Grandes civilizações foram surgindo e deixando as suas marcas, que subsistiram através dos tempos – as suas construções. Como prova do domínio das técnicas de construção, temos as imponentes pirâmides do Egipto (2800 a.C.). Esta grandiosidade só seria alcançada mais tarde pelos Romanos. Outro exemplo de grandiosidade e técnica é a cidade da Babilónia (900-600a.C.), situada ao longo das margens do rio Eufrates, sobre o qual existia uma ponte de tijolo com 115m de comprimento. A muralha também de tijolo era balizada por duas torres. Foi, no entanto, durante o Império Romano (0-1200 d.C.) que a generalização da produção de tijolos ocorreu devido à variedade e facilidade de obter a matéria prima necessária. Os edifícios romanos, a par dos gregos, eram construídos devido ao clima destas regiões, essencialmente com tijolos secos ao sol assentes sobre juntas de barro. As paredes de tijolo das construções romanas eram constituídas por uma combinação de alvenaria com

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betão, dispondo os tijolos numa parede dupla e preenchendo o seu interior com cascalho e fragmentos de tijolos.

Fig.3: Templo romano Fig.4: Casa de habitação no mundo de Milreu do início do romano – Insula séc. IV d.C. Já no período Gótico (1200-1600 d.C.) com as suas magníficas catedrais, atinge-se o esplendor na arte de talhar a pedra reflectindo-se nas suas construções. As catedrais góticas consistem num esqueleto de colunas, contrafortes, pequenas paredes, arcos e abóbadas. As paredes limitam a estrutura mas não a suportam, sendo geralmente constituídas por vitrais de grande dimensão.

Fig.5: Fachada principal da Fig.6: Esquema estrutural de uma catedral gótica Catedral de Reims

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No norte da Europa, devido à escassez de pedra, as construções eram dominadas pelo uso do tijolo, tal como na Inglaterra, aqui devido sobretudo ao aumento do preço das madeiras ao longo dos tempos. Assim, o uso do tijolo nas construções aumentava, levando a uma maior produção. Com a Revolução Industrial desenvolveu-se a mecanização da produção que permitiu o desenvolvimento de técnicas de construção e o aparecimento de novos materiais até aos dias de hoje. Actualmente, e desde a 2ª Guerra Mundial, as alvenarias resistentes de tijolo têm vindo a ser preteridas por alvenarias de compartimentação e de revestimento usando outros materiais como o aço, ferro e betão armado como resistentes. 3. Desenvolvimento das Alvenarias em Portugal A arquitectura tradicional portuguesa apresentava soluções de carácter regional, fruto de um longo processo evolutivo muito adaptadas às condições climatéricas. Nas construções predominava a utilização da pedra em paredes espessas e pesadas. De acordo com os Censos 2001, 58% do edificado total em Portugal é constituído por edifícios em alvenaria de pedra [2]. Em zonas rurais e em edifícios mais rudes no Norte do País, eram frequentes as soluções de paredes com pedra à vista, sendo a região do Minho um perfeito exemplo actual. Nos edifícios correntes, as paredes de pedra eram revestidas por rebocos espessos, porosos, de baixa rigidez e realizados em várias camadas. Apesar de não se conhecer um estudo muito aprofundado da evolução das soluções de paredes exteriores em Portugal, julga-se que as soluções tradicionais começaram a evoluir de uma forma rápida e nem sempre adaptadas às condições locais no pós-guerra. Assim, é no fim da década de 40 e sobretudo nas zonas urbanas que se assiste a uma generalização das estruturas de betão armado, nos pavimentos, estendida progressivamente aos elementos verticais de suporte. As paredes foram perdendo a função resistente e transformaram-se em simples panos de enchimento, tendo a pedra cedido progressivamente o lugar aos tijolos cerâmicos e posteriormente a blocos de betão. Os tijolos cerâmicos desdobraram-se numa variedade enorme de formatos, mas evoluindo sempre de elementos maciços para elementos predominantemente de furação horizontal e sucessivamente mais aligeirados.

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Na década de 60 generalizou-se a parede dupla permitindo: - aligeirar o peso das paredes de forma a não solicitar exageradamente a estrutura - reduzir a espessura dos panos - melhorar a produtividade para contrariar o aumento dos custos de mão-de-obra - dotar as soluções com características de estanquidade à água da chuva satisfatória Esta solução construtiva para as paredes da envolvente foi importada com adaptações do estrangeiro, sendo realizada progressivamente com panos mais esbeltos. No fim da década de 70, procurando um melhor conforto térmico dos edifícios aliado à necessidade de poupança de energia e nova regulamentação, foram introduzidos isolantes térmicos preenchendo as caixas de ar das paredes duplas.

Fig.7: Síntese aproximada da evolução das paredes exteriores em

Portugal Actualmente, na execução de paredes de alvenaria são utilizados com maior ou menor expressão, os tradicionais tijolos cerâmicos, blocos de cimento, blocos de betão leve (argila expandida) e blocos de betão celular autoclavado. Os objectivos das novas produções passam por desenvolver novos blocos de betão espessos e novos formatos de tijolos, que possam ser usados na realização de paredes simples, ainda que esta solução tarde a ser adoptada na construção.

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Como exemplo, no que diz respeito à produção cerâmica, temos a concepção de novos formatos de tijolos (modelos M,N,O,P) para utilização em paredes simples de pano único, cuja produção piloto se efectuou numa fábrica de Porto de Mós.

Fig.8: Novos formatos de tijolos estudados (M e N)

4. Caracterização das Alvenarias A alvenaria define-se como uma associação de unidades elementares naturais ou artificiais, constituindo uma construção. A ligação entre as unidades elementares é correntemente feita com argamassa, podendo a alvenaria ser reforçada com uma armadura. São caracterizadas por uma grande irregularidade geométrica e falta de homogeneidade material, resultado da diversidade de características (físicas, mecânicas e geométricas) dos materiais utilizados. A presença de cavidades ou vazios interiores é uma característica destas alvenarias que aparecem, consoante os casos, em maiores ou menores percentagens. Do ponto de vista material, a alvenaria pode considerar-se um compósito heterogéneo, intrinsecamente descontínuo, com boa resistência à compressão, fraca resistência à tracção e que conta apenas com a acção coesiva da gravidade. Homogeneidade, isotropia e propriedades mecânicas uniformes, são hipóteses vulgarmente assumidas na análise de estruturas modernas que não podem aqui aplicar-se com rigor.

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As vantagens da alvenaria como processo construtivo são[3]: - Menores custos relativamente à construção em betão armado; - Melhores características ignífugas; - Melhor resposta às variações térmicas; - Melhor isolamento acústico; - Maior rapidez e facilidade de execução (este último factor, fundamentalmente nas zonas onde não existem técnicos e equipamentos adequados); - Notável capacidade e versatilidade de adaptação ambiental, seja nos centros históricos das cidades, seja nas zonas rurais; - Elevada durabilidade no tempo. As desvantagens da alvenaria como processo construtivo são[3]: - Fragilidade (que é minorada pelo emprego de cintagens e armaduras); - Notável diminuição da resistência em presença de cargas cíclicas repetidas; - Escassa ductilidade, o que impõe a limitação do número de andares para os edifícios situados em zonas sísmicas; - Valor da resistência à compressão notavelmente mais baixo que o da betão armado. De uma forma geral, os elementos constituintes das alvenarias podem ser:

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5. Tipos de Alvenarias Entre os vários tipos de alvenaria, destacam-se os seguintes: 5.1. Adobe ou Adobo Designa-se por adobe o pequeno bloco de forma regular de argamassa de barro ordinário amassado com areia e palha, cortado em forma de tijolo e seco ao sol. As paredes de adobe, eram construídas segundo as mesmas regras para o tijolo, com a particularidade da sua grande maioria ser apenas empregue em construções pobres, ou em locais de terreno arenoso, onde porventura o acesso a outros materiais era mais difícil. Este tipo de construção, apesar de ser um dos mais antigos, não é muito vulgar, existindo principalmente na região do Distrito de Setúbal e Algarve [4]. A moldagem dos blocos é feita com uma forma de madeira rudimentar, normalmente construída pelo operário no local e denominada adobeira. As espessuras das paredes neste tipo de construção rondam os 35 cm . Como inconvenientes, tem a vulnerabilidade de ser facilmente atacado por roedores e ser fraco na estabilidade face a sismos e a esforços laterais provocados pela fluência das cargas da cobertura. Para contrariar estas fraquezas, eram em muitos casos reforçadas com a introdução de testemunhos ou gigantes. Por isso não era indicado para a construção de grandes edifícios. O adobe só deverá ser rebocado e tratado com rebocos à base de cal apagada, ou por intermédio de uma caiação directa sobre ele com a intenção de o proteger das acções atmosféricas, principalmente da água. Por ser facilmente degradado pela água, só podia ser executada sobre fundações de alvenaria de pedra ordinária, geralmente em xisto com cerca de 0,60 m acima do solo, a partir da qual se dava inicio à construção da parede, evitando assim as humidades ascendentes.

Fig.9 – Tijolos de adobe Fig.10 –Parede em adobe

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5.2. Taipa Barro misturado com grãos de areia e brita, batida a malho, por vezes apertada entre enxaimeis atravessados de fasquias. Significa um sistema de construção milenar que perdurou entre nós até meados deste século na construção de edificações, principalmente na região do Alentejo e Algarve [4]. 0 traço necessário à boa execução de uma massa de taipa, é determinada empiricamente na região, pela experiência antiga da aplicação do material. Escolhendo-se as terras, por nem todas possuírem as propriedades naturais suficientes para o fabrico. É formada por terra húmida comprimida entre taipais de madeira desmontáveis, removidos logo após estar completamente seca, formando assim uma parede de um material incombustível e isotérmico natural e particularmente barato. Como inconvenientes, tem a vulnerabilidade de ser facilmente atacado por roedores e ser fraco na estabilidade face a sismos e a esforços laterais provocados pela fluência das cargas da cobertura. Para contrariar estas fraquezas eram em muitos casos reforçadas com a introdução de testemunhos ou gigantes. Por isso não era indicado para a construção de grandes edifícios. A taipa só deverá ser rebocada e tratada com rebocos à base de cal apagada ou por intermédio de uma caiação directa sobre ela com a intenção de a proteger das acções atmosféricas, principalmente da água. Por ser facilmente degradada pela água, só podia ser executada sobre fundações de alvenaria de pedra ordinária, geralmente em xisto com cerca de 0,60 m acima do solo, a partir da qual se dava inicio à construção da parede, evitando assim as humidades ascendentes.

Fig.11 e 12– Perfil de parede de taipa

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5.3. Pedra Este tipo de parede em edifícios antigos resulta da associação de elementos em pedra, unidos entre si por argamassa de cal. O principal factor que levou à sua utilização como material de construção, foi o facto de a pedra ser um material que se encontrava facilmente na natureza. Para além disso, possui uma boa resistência ao fogo e uma durabilidade elevada, e a sua aplicação em paredes com espessuras relativamente elevadas origina um elemento com bom comportamento térmico e acústico[2]. Como desvantagem temos a sua fraca resistência mecânica. No caso de surgirem, no seu interior, tensões de tracção ou de flexão, a sua tendência é para a abertura, quase imediata, de fissuras[2]. Quanto às tensões de compressão, o seu comportamento torna-se um pouco melhor, embora não chegue a atingir os valores de resistência que estamos hoje em dia habituados com a utilização de betão.

A escolha do sistema construtivo para uma dada parede dependia de vários factores: custos, prazo de execução, natureza de recursos, materiais de ligação, técnicas construtivas, etc. Pelo que não havia à partida critérios que definissem de imediato a solução a adoptar, embora a distribuição geográfica pareça ser o factor de maior influência. Assim, na zona norte do País, predomina o granito, é esta rocha mais utilizada; na zona centro, predomina o xisto; na região de Lisboa e Alentejo, predominam os calcários[4].

Fig.13–Edifício em Sintra construído em alvenaria de pedra

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Podemos dividir as paredes de pedra argamassada em três grupos.

- Sem aparelhamento

Sem aparelhamento ou ordinária (corrente), são paredes de pedra toscas, angulosas e irregulares em forma e dimensão, ou roladas, ligadas entre si por argamassas ordinárias. Este tipo de construção, encontra-se espalhada por todo o país, mas de mais forte implantação na região centro e Lisboa[4]. Possivelmente por este tipo de material ser abundante, mesmo proveniente de demolições. Normalmente é rebocada e caiada para ser protegida dos agentes atmosféricos, nomeadamente a água.

Fig. 14 - Pedras roladas não aparelhadas

- Com aparelhamento

Em perpianho, ou seja regular, trabalhadas para o efeito, dispostas em camadas e ligadas entre si por argamassas, ou simplesmente depositadas umas sobre as outras. Cantaria que tem toda a largura da parede, aparelhada nas quatro faces. Encontra-se normalmente na zona Norte do País e à vista [4].

Fig.15 Fig.16 Fig.17

Fig.15 - Pedras angulosas dispostas irregularmente com uma face aparelhada

Fig.16- Perpianho

Fig.17 - Pedras com aparelho parcial dispostas em camadas

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- De duas faces

Paredes de pedra argamassada, normalmente irregular de forma angulosa dispostas em duas folhas, uma interior e outra exterior, preenchidas no meio por material de pequenas dimensões com argamassa ordinária. O seu travamento era conseguido por meio de ligadores de pedra que atravessavam a parede a toda a espessura, de madeira ou de ferro que impediam o esboroamento lateral das paredes[4].

Fig.18 – Parede de pedra de 2 faces com travamento

5.4. Tijolo

O tijolo vulgarmente utilizado na construção de edifícios antigos, maciço ou furado denominado "Burro", tinha em média as dimensões de 0,23x0,11x0,07m, as juntas não excediam 0,01m de espessura. A argamassa de aplicação para além de ter alguma consistência devia também preencher todos os espaços livres.

Em igualdade de circunstâncias as paredes de tijolo podiam ser menos espessas que as de pedra, por dois motivos. Primeiro porque a horizontalidade da cama e a maior regularidade de sobreposição conferiam-lhes maiores resistências e fraca condutibilidade térmica. Assim uma parede de 0,35 e 0,38m de espessura numa parede de tijolo, correspondia a uma parede de alvenaria de pedra de 0,50m de espessura[4].

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Para a criação de várias espessuras de paredes eram utilizadas várias formas de ser assente, tais como: Pano de tijolo ao alto ou ao cutelo, Pano assente à meia vez, Pano assente à uma vez, Pano assente a uma vez e meia, Pano assente a duas vezes.

- Pano de tijolo ao alto ou ao cutelo

Tijolo aplicado ao alto, utilizado em paredes divisórias de fraca espessura, reforçadas de onde em onde, com o máximo de 2,0m, por prumos de madeira ou ferro. Ou em construções de carácter provisório.

Fig.19 - Pano de tijolo ao alto ou ao cutelo

- À meia vez

A aplicação à meia vez era utilizada em divisórias e em chaminés, por exemplo assente ao baixo de forma a que a sua largura corresponda à espessura da parede.

Fig.20 - Pano assente à meia vez

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- A uma vez

Neste caso, os tijolos eram colocados como se de perpianhos de pedra se tratassem, dado que a espessura da parede era igual ao seu comprimento.

Fig.21 - Pano assente à uma vez

- Uma vez e meia

Os tijolos numa parede de vez e meia, com uma espessura de 0,35m, podiam ser dispostos de várias formas, sendo a que corresponde à colocação de cada fiada de uma fila de tijolos a uma vez e outra a meia vez, a mais usual. Na fiada seguinte estas fiadas eram alternadas.

Fig.22 - Pano assente a uma vez e meia

- De duas vezes

Nestes casos, a espessura da parede é múltipla da largura de tijolo.

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6. Patologias As patologias mais frequentemente observadas em alvenarias podem dividir-se em dois grupos, consoante afectem unicamente a função decorativa, sem nenhuma influência nas outras características estruturais ou de qualidade (Patologias Estéticas), ou afectem o comportamento e durabilidade do revestimento (Patologias Estruturais). As primeiras são as que se observam com maior regularidade. As Patologias Estéticas ou Não Estruturais mais frequentes são as seguintes [5]: - Diferenças de tonalidade - Carbonatações - Sombreamentos ou transparências Em termos de Patologias Estruturais, as mais observadas são [5]: - Fissuração - Falta de aderência do revestimento - Falhas de impermeabilidade - Falta de resistência 6.1 Patologias Estruturais 6.1.1 Fissuração A fissuração das paredes de alvenaria pode ocorrer nas zonas onde existam aberturas de portas e janelas, ou na ligação entre paredes ortogonais. Uma das principais causas de ordem estrutural responsável por este tipo de patologias prende-se com o assentamento diferencial das fundações. As fissuras que se podem gerar por causa desta instabilidade estrutural, podem atingir toda a largura da parede e apresentam inclinações características que permitem a identificação das zonas críticas das fundações, onde ocorreram os movimentos acentuados. A fissuração pode ainda ser causada por forças horizontais resultantes da actuação de sismos, neste caso são visíveis nas paredes fissuras cruzadas inclinadas a aproximadamente 45º [6].

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Fig 23 – Dois casos de fissuras em paredes de alvenaria Sob acção de cargas uniformemente distribuídas, em função principalmente da deformação transversal da argamassa de assentamento e da eventual fissuração de blocos ou tijolos por flexão local, as paredes em trechos contínuos, apresentarão fissuras tipicamente verticais [6].

Fig.24- Fissuração vertical em parede de alvenaria As aberturas de portas e janelas correspondem, em regra, a pontos fracos das paredes porque os seus contornos, em especial os cantos, são zonas onde se concentram tensões responsáveis pelo início do fenómeno da fendilhação.

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Fig.25- Fissuração nos cantos dos vãos

Devido à cargas verticais concentradas, sempre que não houver uma correcta distribuição dos esforços através de outros elementos, poderão ocorrer esmagamentos localizados e formação de fissuras a partir do ponto de transmissão da carga.

Fig.26-Fissuração na fachada de um edifício devido a cargas concentradas

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6.1.2 Desagregação A desagregação é uma anomalia muito generalizada nas paredes de alvenaria, que pode resultar da progressão e do agravamento de fissuração que já estivesse instalada em determinada parede do edifício. Frequentemente a desagregação que se verifica nas paredes de alvenaria é o resultado da acção dos agentes atmosféricos, em particular dos ciclos de calor e frio a que as paredes estão sujeitas em virtude das estações dos ano, que resulta em contracções e expansões sucessivas dos materiais, promovendo desta forma a desagregação dos revestimentos do suporte que no limite, poderá promover a desagregação da argamassa da alvenaria. A acção do vento é igualmente nefasta, sobretudo após uma primeira destruição do revestimento das paredes, já que promove uma maior desagregação dos materiais, para além de promover o transporte dos materiais mais finos. Existem ainda outros factores que podem contribuir para a desagregação das paredes de alvenaria de pedra, que são[7]: - Poluição; - Água proveniente das chuvas; - Água proveniente de infiltrações diversas; - Humidade do terreno que ascenda por capilaridade.

Fig.27 – Desagregação da argamassa da parede de alvenaria de pedra associada a uma primeira destruição do revestimento

A deposição de sais nas superfícies das paredes (eflorescências), ou entre a parede e o revestimento de reboco (criptoflorescências), com a formação de bolhas e empolamentos característicos que reflecte a

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degradação da própria alvenaria. Estas bolhas, na maioria das vezes, precedem a desagregação da alvenaria e surgem após intervenções inadequadas, por exemplo a aplicação de rebocos fortes, com elevado teor de cimento ou pinturas muito pouco permeáveis ao vapor, neste caso as bolhas formam-se entre o reboco e a pintura [8]. Após a desagregação as características mecânicas das paredes de alvenaria ficam alteradas sendo principalmente afectadas as capacidades de resistência à compressão e ao corte, devido às sucessivas reduções das suas secções.

Fig.28-Erosão da parede por acção da água e vento 6.1.3 Esmagamento Este fenómeno ocorre, de um modo geral, em zonas localizadas das paredes sendo a sua ocorrência preferencial nas zonas de aplicação de cargas concentradas e de intensidade elevada. Um exemplo deste tipo de solicitação corresponde à zona de descarga de vigas em paredes, ou quando as cargas aplicadas excedem em muito as cargas previstas resultando desta forma que os esforços actuantes sejam superiores aos resistentes.

Fig.29- Esmagamento por sobrecarga localizada

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6.2 Patologias Estéticas ou Não Estruturais As anomalias não estruturais podem ser variadas e podem incidir simultaneamente em vários elementos de construção, como a seguir indicado.

Quadro 1: Síntese das ocorrências de anomalias não estruturais [9]

As verdadeiras causas ou agentes da degradação estão a outro nível, como se descreve no quadro seguinte: acções humanas, acções naturais, desastres naturais e desastres de causas humanas.

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Quadro 2: Acções humanas, acções naturais, desastres naturais e desastres de causas humanas [9]

6.2.1 Fissuração dos revestimentos tradicionais A fissuração dos revestimentos pode estar ou não associada à fissuração do suporte (alvenaria propriamente dita). Nos casos em que ocorre a fissuração do revestimento sem que o suporte tenha fissurado, as causas estão em geral ligadas ao tipo de revestimento e às condições de aplicação, mas podem resultar também de incompatibilidade química ou mecânica com o suporte. A diversidade de revestimentos não permite uma descrição exaustiva das causas, pelo que o quadro seguinte limita-se às causas possíveis da fissuração de rebocos ditos tradicionais.

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Quadro 3: Causas de fissuração dos rebocos [9]

Fig.30 – Fissuras em fachadas

6.2.2 Anomalias por acção da água A água é o principal agente causador de desagregações das paredes, dado que as humidades que se infiltram procuram as fissuras e os vazios existentes nas paredes criando uma rede de percursos preferenciais no interior dos elementos, normalmente através das juntas de argamassa entre as pedras, ou tijolos que constituem as paredes. A água que ascende por capilaridade vai durante o seu percurso dissolvendo os sais solúveis, provenientes do solo ou das argamassas e

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demais elementos que constituem a alvenaria, alterando a estrutura da parede que vai ficando rica em sais dissolvidos, até que as condições de humidade e temperatura ambiente provoquem a sua evaporação, com a deposição dos sais à superfície ou entre o reboco e o tosco da parede. O primeiro processo de deposição dos sais tem o nome de eflorescências, enquanto que no segundo processo a cristalização dos sais é acompanhada de acréscimo de volume, que provoca o aumento de tensões abaixo da superfície da parede originando as criptoflorescências. A repetição deste último processo nos sucessivos ciclos de secagem e de molhagem conduz à rotura da alvenaria, que tende a destacar-se em lascas, ou ao empolamento, fissuração e desagregação dos rebocos existente [8].

Fig.31 – Esquema do mecanismo de formação das criptoflorescências e

eflorescências numa parede [8] 6.2.2.1 Humidade do terreno As paredes dos pisos térreos e das zonas enterradas podem, em certos casos, apresentar problemas específicos provocados pela água do solo, já que os materiais empregues na execução de paredes de alvenaria de pedra atingem valores de capilaridade elevados, dando origem a que a humidade possa migrar através deles. Na ausência de quaisquer tipos de barreiras estanques, esta migração pode ocorrer quer verticalmente, quer horizontalmente, o que se verifica quando se reúnem as seguintes condições: - existência de zonas das paredes em contacto com a água do solo; - existência de materiais com elevada capilaridade nas paredes; - inexistência ou deficiente posicionamento de barreiras estanques nas paredes.

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Os sais existentes no terreno e nos próprios materiais de construção, após terem sido dissolvidos pela água são transportados através da parede para níveis superiores, quando a água atinge a superfície das paredes e se evapora, os sais cristalizam e depositam-se na parede. As anomalias devidas à presença de humidade do terreno caracterizam-se visualmente pelo aparecimento de manchas de humidade nas zonas das paredes junto ao solo, apresentando muitas vezes zonas erodidas na parte superior dessas manchas, e acompanhadas em certos casos pela formação de eflorescências e criptoflorescências e de manchas de bolor ou vegetação parasitária especialmente em locais com pouca ventilação [8].

Fig 32 - Manifestação de Fig 33 -Caso de humidade ascendente de eflorescências na base de águas superficiais numa parede exterior. uma parede. A “linha” é aqui perfeitamente visível. 6.2.2.2 Humidade de condensação A ocorrência de condensações superficiais em paredes depende dos seguintes factores [8]: - condições de ocupação, dos quais depende a produção de vapor nas edificações; - temperatura ambiente interior; - ventilação dos locais; - isolamento térmico das paredes. As condensações de vapor de água no interior das paredes não dão origem, em geral, a distúrbios visíveis. No entanto, podem provocar o apodrecimento dos materiais orgânicos, o destaque dos materiais, etc. Por outro lado o acréscimo do teor de água dos materiais constituintes das paredes, resultante da eventual absorção da água condensada, faz diminuir a resistência térmica desses materiais e consequentemente das paredes em que estão inseridos, este facto pode eventualmente dar origem à ocorrência de condensações superficiais.

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As anomalias devidas a fenómenos de higroscopicidade são caracterizadas pelo aparecimento de manchas de humidade em locais com fortes concentrações de sais, eventualmente associadas a degradações dos revestimentos das paredes. 6.2.2.3 Humidade devida a fenómenos de higroscopicidade A existência de sais no interior das paredes não é em circunstâncias correntes, particularmente gravosa. No entanto, se as paredes forem humidificadas os sais dissolvidos acompanharão as migrações da água até às superfícies onde cristalizarão designadamente sob a forma de eflorescências e criptoflorescências. Alguns destes sais são higroscópicos, isto é, têm a propriedade de absorver humidade do ar dissolvendo-se, quando a humidade do ar está acima de 65–75%, voltando a cristalizar, quando a humidade relativa baixa daqueles valores, acompanhados de um considerável aumento de volume[8]. Desta forma, estes sais são susceptíveis não só de provocarem humedecimento das superfícies sobre as quais se encontram, como de originarem fenómenos de degradação resultantes do aumento de volume que acompanha a sua cristalização em consequência da sucessão de ciclos de dissolução – cristalização. Os sais solúveis que se encontram mais frequentemente associados à ocorrência de manifestações patológicas são os sulfatos, os carbonatos, os cloretos, os nitritos e os nitratos, dos quais os dois primeiros não são, em geral, higroscópicos [8]. As anomalias devidas a fenómenos de higroscopicidade são caracterizadas pelo aparecimento de manchas de humidade em locais com fortes concentrações de sais, eventualmente associadas a degradações dos revestimentos das paredes.

6.2.3 Deficiente isolamento térmico A falta ou insuficiência de isolamento térmico das paredes exteriores provoca normalmente algum desconforto térmico e facilita a condensação de vapores superficiais nas partes mais frias da parede, devido às baixas temperaturas criadas pelas chamadas pontes térmicas, correspondentes às zonas de parede onde o isolamento térmico apresenta maiores deficiências. Com o passar do tempo surgem nestas zonas manchas negras, correspondentes à formação de fungos e bolores. Este tipo de anomalia é agravado pela ausência de ventilação e aquecimento no interior dos compartimentos.

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Fig.34– Formação de fungos e bolores em paredes de alvenaria de pedra 6.2.4 Degradação estética das fachadas Existem várias causas que provocam a degradação estética das fachadas, tais como [7]: - poluição atmosférica; - erosão pelo vento e chuva; - graffitis; - dejectos de pássaros; - segregações de micoorganismos.

Fig.35 - Efeitos de humidade Fig.36 - Desgaste por erosão do vento no e poluição na Sé de Lisboa Palácio de Alhambra em Granada

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7. Técnicas de reabilitação 7.1 Técnicas de reabilitação estrutural Tratando-se de estruturas antigas, as intervenções estruturais devem repor (ou melhorar) a segurança estrutural respeitando a identidade cultural das construções. O planeamento das intervenções deve adoptar uma metodologia de aproximação às estruturas que inclua uma apreciação geral - com informação de carácter qualitativo - e uma análise mais rigorosa - geralmente de carácter quantitativo - que conduza à identificação das características dos materiais e da estrutura, bem como à origem das patologias apresentadas. Assim, à peculiaridade das estruturas de alvenaria antigas parece adequar-se uma abordagem metodológica, por etapas, semelhante à utilizada em medicina [5]:

• Anamnese (historial): estudo da evolução histórica e recolha de dados e informações importantes;

• Diagnóstico: identificação das causas das anomalias e da

degradação e avaliação da segurança estrutural; • Terapia: escolha e aplicação da(s) técnica(s) de intervenção;

• Controlo: acompanhamento e controlo da eficiência da

intervenção. As técnicas de reabilitação estrutural disponíveis podem diferenciar-se de acordo com as características dos materiais, em técnicas tradicionais ou inovadoras, ou quanto aos efeitos, em técnicas activas ou passivas. Relativamente aos efeitos salienta-se que existem soluções mais vocacionadas para a melhoria das características mecânicas da alvenaria e soluções mais aptas para a correcção de deficiências do comportamento estrutural. Atendendo a que a maioria dos materiais utilizados nas intervenções são, hoje em dia, diferentes dos originais, há três características fundamentais que devem assegurar-se a este respeito:

• Compatibilidade: as técnicas e os materiais utilizados devem minimizar a alteração das características da rigidez da construção e do funcionamento estrutural original (compatibilidade mecânico-estrutural), bem como evitar o aparecimento de novas patologias, por apresentarem diferentes comportamentos físicos e/ou químicos, relativamente aos materiais existentes (compatibilidade físico-química);

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• Durabilidade: a necessidade de preservação das estruturas antigas, especialmente históricas, por um longo período de vida, justifica que as exigências de durabilidade dos materiais a utilizar sejam mais severas que em estruturas novas;

• Reversibilidade: deve ser salvaguardada a possibilidade de poder

remover, sem provocar danos nos materiais originais, os novos elementos resultantes da intervenção, no fim da sua vida útil ou no caso de revelarem sinais de inadequabilidade.

Relativamente às técnicas de reabilitação estrutural, a investigação disponível, resume-se às seguintes conclusões: 7.1.1 Injecção Esta técnica destina-se, essencialmente, a intervenções em alvenarias de pedra. Consiste na emissão de uma calda fluída (cimentícia, hidraúlica ou de resinas orgânicas), em furos previamente efectuados nas paredes, com o objectivo de preencher cavidades existentes, sejam elas fissuras ou vazios interiores. É por esta razão, particularmente, indicada para o reforço de alvenarias de pedra onde exista uma fina rede de vazios comunicantes entre si. A injecção permite uma qualidade e uma resistência mais uniforme da secção da alvenaria. A granulometria do material de enchimento depende do tamanho das fendas ou cavidades existentes. Em geral, é usada uma calda de ligante com água sem areia. No entanto, se os vazios são de grande dimensão, é preferível injectar uma argamassa ou betão de consistência fluída. A eficácia desta técnica tem sido bem sucedida em alvenarias, com um índice de vazios compreendido entre os 2% e os 15%. Abaixo de 2% os resultados são em geral fracos, salvo os casos em que esta percentagem corresponda à presença de vazios de grande dimensão [10]. Na ausência de tais condições a injecção não é aplicável ou é pouco eficaz, havendo que recorrer a técnicas combinadas ou alternativas. É uma técnica de reforço irreversível e “passiva” pois não há a realização de operações que alterem o equilíbrio de forças. O aspecto original exterior das paredes é respeitado pelo que é uma solução, frequentemente, utilizada em edifícios de reconhecido valor artístico e/ou arquitectónico, sempre que seja necessário intervir, e preservar o aspecto original.

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Existem diferentes soluções de injecção classificadas em função do processo utilizado. Assim, pode recorrer-se a [10]: - injecção sob pressão: é frequentemente utilizada em alvenarias, mesmo nas degradadas, desde que com capacidade para conter a pressão das injecções. - injecção por gravidade: destina-se a paredes fortemente degradadas e é realizada mediante emissão da calda através tubos de adução, inseridos nas fissuras ou cavidades da parede ou mediante utilização de seringas hipodérmicas actuando sobre tubos predispostos na parede. - injecção sob vácuo: nesta solução a ascenção da calda é provocada pela aspiração do ar nos tubos superiores, enquanto se injectam os tubos inferiores. É indicada para o reforço de pequenos elementos arquitectónicos, ou de elementos de alguma forma removíveis. As operações para preparação do suporte para injecção de caldas são[10]: - remoção do reboco. - limpeza da parede: a superfície da parede deve ser lavada com água de forma a eliminar eventuais substâncias solúveis, como o gesso, ou outras substâncias insolúveis. - refechamento de juntas e selagem das fissuras: para evitar a fuga da calda durante a operação de injecção. As operações para injecção de caldas por pressão são [10]: - posicionamento e execução dos furos de injecção. - colocação dos tubos de injecção: tubos de material plástico ou de alumínio são introduzidos nos furos. - lavagem ou molhagem interior dos vazios: remoção de detritos e/ou pó resultantes; a redução da absorção, pela parede, da água contida na calda de injecção.

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Fig.37 – Injecções de consolidação Fig.38- Distribuição dos furos em edifícios de alvenaria

Fig.39- Injecção de alvenarias: selagem de fendas e consolidação material

7.1.2 Pregagem Entende-se como pregagem a utilização de uma solução mecânica para reforçar ou promover a ligação entre elementos co-operantes. Esta técnica foi desenvolvida em Itália, após a II Guerra Mundial, para reforço e reabilitação de estruturas antigas de alvenaria. Consistia na colocação de barras metálicas, com protecção anti-corrosão, em furos de pequeno diâmetro, previamente abertos, que atravessavam os elementos a reforçar. Após o posicionamento dos reforços, os furos eram selados com caldas de injecção apropriadas 7.1.2.1 Pregagens generalizadas A utilização de pregagens, em intervenções extensas, pode modificar substancialmente as propriedades mecânicas da alvenaria tornado-a num material semelhante ao betão armado, capaz de resistir a esforços de tracção e de corte, além de melhorar, significativamente, a resistência

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à compressão. É o caso do reforço generalizado de elementos estruturais de alvenaria.

Fig.40 - Pregagens generalizadas em reforço de paredes mestras (secção transversal) Neste caso, os reforços, tradicionalmente barras de aço inoxidável, são dispostos em direcções cruzadas numa autêntica malha tridimensional interior à alvenaria. A selagem dos orifícios da furação permite também colmatar os vazios da alvenaria adjacentes aos furos. 7.1.2.2 Pregagens “costura” A aplicação de pregagens também pode ser usada para assegurar resistência à tracção, em zonas críticas, ou para ligar paredes perpendiculares entre si numa autêntica intervenção de “costura” (pregagens de “costura”).

Fig.41- Exemplos da melhoria de ligações entre paredes com pregagens

em direcções cruzadas [10]

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7.1.2.3 Pregagens transversais Outro tipo de pregagens, com características distintas das já referidas, são as pregagens aplicadas transversalmente à secção da parede. A sua finalidade é confinar a secção transversal das paredes, especialmente paredes compostas, promovendo a sua integridade estrutural através de uma boa ligação entre os paramentos. A sua aplicação reduz as possibilidades de instabilização e controla a dilatação transversal da parede, sob acção de cargas verticais, especialmente se combinada com a instalação de armaduras longitudinais de reforço nas juntas horizontais.

Fig.42- Distribuição localizada de pregagens transversais à secção da parede em quincôncio

A sua aplicação consiste na execução de furos transversais à alvenaria com berbequim, com diâmetros variáveis entre 4 e 10 mm e na introdução de barras de aço fixas por aderência e/ou ancoradas pelas extremidades, nas faces opostas da parede. A distribuição dos furos deve fazer-se em quincôncio, tanto quanto possível, sobre juntas de argamassa que atravessem toda a secção. Os furos podem ser injectados, tirando-se assim também partido da aderência na fixação. Os sistemas mais usuais de fixação são os gatos metálicos ou ancoragens de anilha e porca de aperto [10].

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Fig.43 - Sistema de ancoragem com porca e anilha

7.1.2.4 Sistemas de ancoragem A eficácia mecânica das pregagens depende da qualidade da aderência entre as armaduras e a alvenaria. Para o efeito, recomenda-se a utilização de barras de aderência melhorada (superfície nervurada), de pequeno diâmetro e um especial controlo na injecção. Para obviar ao problema da qualidade aderência, especialmente quando se pretendem forças elevadas, recorre-se, isolada ou combinadamente com as ancoragens por aderência, ao uso de chapas metálicas exteriores de distribuição das forças de aperto ou a dispositivos de ancoragem típicos do pré-esforço. Nestes casos aproveita-se para efectuar um ajuste de confinamento à alvenaria. Apesar do seu efeito activo as tornar mais eficazes que as pregagens simples, o problema da sua utilização prende-se com a aplicação das ancoragens na alvenaria, com reduzida resistência ao punçoamento, pelo que são necessárias generosas áreas de apoio das chapas que dificultam a sua ocultação[10].

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Fig.44 – Ancoragens com calda injectada

Fig.45 - Ancoragem sobre perfil metálico tipo U embebido na parede

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Fig.46 – Execução de ancoragens Fig.47 – Ancoragens helicoidaismecânicas

Fig.48 -Ancoragens sobre chapa metálica. 7.1.3 Pré-esforço O pré-esforço pode ser usado para melhorar o comportamento das paredes, sob acções no próprio plano, através de compressão axial que melhora a resistência à tracção e ao corte, ou sob acções fora do plano da parede, na ligação entre paredes opostas com efeitos no confinamento global da estrutura.

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A compressão axial, induzida pela acção do pré-esforço, com efeito contínuo entre ancoragens, incrementa a resistência à tracção das paredes. Consequentemente, o funcionamento estrutural da parede, para cargas actuantes no próprio plano, tem, agora, condições para a mobilização de mecanismos de resistência e deformabilidade por corte [10]. Além disso, a sua resistência ao corte, também vem incrementada (Teoria de Coulomb). Para a acção de cargas, fora do plano, os seus efeitos manifestam-se na melhoria do comportamento à flexão, com o incremento do momento requerido para traccionar a secção. No comportamento em serviço as melhorias manifestam-se ao nível do controle da deformação e da fissuração, com efeitos benéficos para a durabilidade. No entanto, além da fraca resistência à tracção, as estruturas de alvenaria antiga evidenciam, em geral, fraca ligação entre elementos estruturais, como é o caso das ligações entre paredes e entre paredes e pavimentos e/ou coberturas. Esta fragilidade assume especial importância para acções horizontais, com particular destaque para a acção sísmica [10]. A melhoria do comportamento mecânico das paredes, isolada e integradamente, reflecte-se na consolidação global da estrutura, com funcionamento monolítico, maior ductilidade e resistência. Idêntica contribuição, mas com efeito passivo, podem ter soluções de ligação e cintagem, executadas com bandas metálicas ou laminados FRP . A Figura 49 ilustra uma disposição-tipo, em edifícios, de tirantes (cabos ou barras) de pré-esforço com efeitos na melhoria da integridade global da estrutura.

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Fig.49 – Esquema de reforço-tipo de um edifício existente com soluções de pré-esforço: (1) tirantes com efeito de compressão axial nas paredes com melhorias para a flexão global; (2) pregagem entre paredes ortogonais com efeito de confinamento ao nível dos pavimentos; (3) pregagens de vão entre paredes opostas com efeito de confinamento ao nível dos pavimentos. Além do referido, é uma técnica de carácter reversível e, especialmente importante para zonas sísmicas, não introduz aumentos significativos de massa. A sua análise e efeitos, em estruturas antigas, são análogos aos das novas concepções. Desta forma, o pré-esforço constitui uma versátil técnica de reforço, com carácter provisório ou definitivo, com aplicação tanto a elementos ou partes da estrutura como à sua globalidade (Figura 50).

Fig.50 - Exemplos de reforço de estruturas existentes de alvenaria com aplicação de pré-esforço [10].

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No entanto, o nível de compressão axial imposto pelo pré-esforço, é limitado pela capacidade resistente da secção ou por mecanismos de instabilização. A este respeito, a aplicação de compressão axial, em alvenarias de pedra irregular, com fraca qualidade de assentamento e não convenientemente confinadas, pode agravar a sua susceptibilidade a fenómenos de instabilização. O uso de pré-esforço, perpendicular ao plano das paredes, como é o caso dos tirantes 3 (ver Figura 49), é condicionado pela resistência ao punçoamento das alvenarias, em geral fraca. Deve proceder-se à avaliação prévia destas condições e à escolha da ancoragem de características adequadas. Complementarmente, pode justificar-se a consolidação local da alvenaria na zona de ancoragem. O uso de pré-esforço não pode considerar-se uma técnica inovadora ou recente no reforço de estruturas existentes. Com efeito, a aplicação de tirantes, para manter unidas certas partes de estruturas de alvenaria, é uma prática antiga, talvez seja mesmo a solução mais frequentemente adoptada no passado, em diferentes épocas e culturas, para reparar patologias associadas a maus funcionamentos estruturais. O uso mais frequente vem associado à estabilização de arcos ou abóbadas, cujos impulsos horizontais provocam abertura dos seus apoios, e também para confinar a base de cúpulas, com tendência para abrirem ao nível da base. No primeiro caso os tirantes são colocados ao nível do arranque dos arcos e atravessam o vão entre apoios, o que pode ter um impacto visual significativo, no entanto, a tradição da sua presença, em muitos edifícios históricos, tornou-os familiares pelo que são mais facilmente aceites pelos restauradores. No segundo caso eram, inicialmente, aplicadas bandas de ferro e posteriormente de aço, pelo extradorso das cúpulas de onde eram muito pouco visíveis. Para lhes induzir o pré-esforço, antes de ajustar as ancoragens, as barras eram aquecidas em toda a extensão. O encurtamento, associado ao arrefecimento, traccionava os cabos que reagiam contra as paredes onde ancoravam. Hoje em dia dispõe-se de aços de alta resistência, que podem reduzir muito a secção transversal dos tirantes, e de uma vasta gama de dispositivos de ancoragem. Salienta-se no entanto que a utilização de tirantes em aço de elevada resistência pode ser desaconselhável devido aos elevados deslocamentos necessários para mobilizar a sua resistência última. A aplicação do pré-esforço pode fazer-se tanto pelo interior como pelo exterior. Tirantes internos – A actual disponibilidade de equipamento de perfuração, de grande precisão e potência, permite a abertura de furos

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de pequeno diâmetro e de grande extensão que facilita a colocação de reforços, em posições estratégicas, para corrigir patologias estruturais. Os ref orços pré-esforçados alteram a condição de equilíbrio da estrutura. No caso da Figura 51 a acção de compressão axial do pré-esforço compensa o impulso do arco e os seus efeitos sobre a parede. Apesar das perturbações associadas à furação, este processo não requer novas fundações nem reduz o espaço útil disponível. Tem sido usado, com sucesso, no incremento da resistência e ductilidade no reforço de estruturas antigas. Em situações em que o uso de pré-esforço interior não seja adequado, a aplicação pelo exterior é uma opção alternativa.

Fig.51 - Acção do pré-esforço interno na compensação do impulso de arcos e seus efeitos sobre as paredes [10]. Tirantes exteriores – a colocação de tirantes exteriores evita o uso do complexo equipamento de furação bem como a perturbação inerente. Esta técnica é utilizada há séculos para contrariar a deformabilidade de paredes sob a acção dos impulsos de arcos ou abóbadas (Figura 51). Em paredes, a aplicação exterior deve fazer-se com tirantes pares, instalados simetricamente em relação ao eixo da parede, com controlo de forças, de modo a evitar compressão excêntricas não aceitáveis. Neste caso, requisitos de durabilidade, resistência ao fogo e aspectos estéticos,

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exigem a adopção de medidas de recobrimento e protecção, como caixas de alvenaria envolventes ou outras medidas, como pinturas intumescentes, que mantém os cabos aparentes como era prática antiga.

Fig.52- Tirantes exteriores pré-esforçados contrariam os impulsos do

arco sobre as paredes de suporte [10]. Relativamente às ancoragens, dependendo da potência dos tirantes, ou se adoptam dispositivos próprios do sistema de pré-esforço (Figura 52) ou ancoragens do tipo das apresentadas na secção anterior, a propósito da ancoragem das pregagens.

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Fig.53 - Dispositivos de ancoragem típicos de pré-esforço: (a) para cabos [Sistema MK4];

(b) para barras [Sistema Dywidag]

Fig.54– Disposição de tirantes Fig.55 – Aplicação de tirante

Fig.56 – Tirantes passivos não aderentes dotados de ancoragens dúcteis

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Fig.57 – Exemplo de aplicação de um tirante

7.1.4 Desmonte e reconstrução A possibilidade de desmonte, reconstrução, constitui uma vantagem para a manutenção das alvenarias antigas, facilitando a correcção de deficiências ou degradação do material localizada ou, ainda, permitindo melhorar a qualidade construtiva das alvenarias. A substituição parcial de elementos ou partes de construção é efectuada, mediante cuidadosa acção de desmonte e sua re-execução, utilizando os materiais originais, bem como pedras e tijolos, com melhor qualidade construtiva e ligados por argamassas pouco retrácteis como, por exemplo, argamassas gordas de cal e areia ou de cimento, cal e areia. É um processo trabalhoso, mas muito eficaz, para melhorar a capacidade mecânica das alvenarias e corrigir fissurações [10]. Deve efectuar-se por pequenos tramos e deixar contornos irregulares, para facilitar uma boa ligação entre o material novo e o material existente.

Fig.58 - Substituição e reconstrução com os mesmos materiais

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Fig.59 - Substituição e reconstrução com materiais diferentes

A finalidade é reparar ou substituir componentes degradados ou deficientes e, eventualmente, reforçar. Do ponto de vista estrutural, estas operações não colocam grandes problemas, mas requere-se algum cuidado construtivo, para numerar as peças e voltá-las a colocar, exactamente, no mesmo sítio. O desmonte de elementos estruturais exige um prévio escoramento que suporte, temporariamente, a zona que gravita sobre o elemento em reconstrução, até que este possa entrar novamente em carga. O desmonte e reconstrução completa de elementos estruturais é fácil em alvenarias de pedra sã. 7.1.5 Rebocos armados Os rebocos armados constituem uma das soluções técnicas mais usuais que muito se têm desenvolvido com a experiência da sua utilização. Os rebocos armados destinam-se a paredes em bom estado geral, mas com acentuada degradação superficial (por exemplo paredes de adobe). Os seus efeitos reflectem-se na melhoria da ligação entre paredes, no controlo da fissuração, na resistência ao corte e na ductilidade. É uma solução que poderá ter condicionantes estéticas. A sua aplicação em paramentos exteriores constitui, ainda, uma protecção contra as agressões climatéricas. A execução dos rebocos armados consiste na aplicação de uma camada de argamassa de revestimento sobre a parede existente, com espessuras de 2 a 3 cm, na qual se usa uma armadura de reforço, fixada por pontos. Tradicionalmente são usadas como armadura a malha de aço electrossoldada, com varões de fino diâmetro, e a malha de metal distendido. No entanto, com o desenvolvimento de armaduras sintéticas, como a rede de fibra de vidro ou as fibras curtas sintéticas, e o aparecimento das fibras curtas em aço, dispõe-se hoje em dia de um leque alargado de opções [10].

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Fig.60- Reparação de fenda localizada com reboco armado com malha de aço electrossoldada

Fig.61 – Execução de rebouco Fig.62 – Sistema de fixação da malha armado com fixação da malha

Fig.63 – Fixação da malha com Fig.64 – Aplicação da argamassa conectores apropriados

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7.1.6 Encamisamento O encamisamento com betão armado é uma técnica muito invasiva, semelhante aos rebocos armados mas com maiores requisitos mecânicos. Só deve ser aplicada em casos em que não exista outra solução alternativa. O encamisamento consiste na aplicação, de um ou de ambos os lados da parede existente, de uma fina camada de betão (cerca de 5 a 10 cm de espessura), reforçado com malha de aço, fixada à parede existente através de pregagens, num processo semelhante ao dos rebocos armados (Figura 65). Trata-se, assim, de um revestimento, de maior espessura que um reboco convencional e com características mecânicas de reforço, sobretudo ao corte, que vão além dos rebocos armados.

Fig.65- Aspectos construtivos de encamisamento armado com malha de

aço electrossoldado [10] A sua aplicação tanto se destina a alvenarias de pedra como de tijolo. No entanto, a sua aplicação, em paredes de alvenaria de pedra, é dificultada pela aplicação das ligações transversais, uma vez que a sua irregularidade morfológica não garante a existência de juntas que atravessem toda a secção (Figura 66). Desta forma, devido à dificuldade em perfurar as pedras, as ligações não são executadas como previsto. Nestes casos particulares, a combinação com outras técnicas (injecção,

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refechamento de juntas, ou mesmo sua combinação) deve ser considerada. A sua eficácia depende muito da acção de confinamento induzida pelas novas camadas de betão envolventes sobre a parede original, para o que, as fixações da armadura, ao atravessarem a secção, desempenham um papel muito importante. Se a aplicação só pode fazer-se numa das faces devem ser tomados cuidados especiais na aplicação das pregagens transversais. Do ponto de vista mecânico, o encamisamento com betão armado, além de melhorar a ligação entre as paredes, conduz a um aumento da rigidez, axial e transversal da parede original, e da sua resistência à compressão.

Fig.66 - dificuldades de aplicação das pregagens transversais de ligação em alvenarias de pedra. Uma alternativa à utilização do encamisamento com betão armado é a utilização de estruturas metálicas autoportantes (Figura 67). Esta solução é muito utilizada especialmente como reforço temporário, por exemplo durante o período de intervenção.

Fig.67– Exemplo de aplicação de um reforço metálico ao confinamento de um pilar de suporte de arcos de alvenaria [10]

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Fig.68 – Encamisamento de elementos de alvenaria com betão

7.1.7 Refechamento das juntas O objectivo desta técnica é restaurar as condições de integridade das fachadas, no que diz respeito à presença de argamassas degradadas nas juntas e assim melhorar as características mecânicas e de protecção da parede (Figura 69). Efectivamente, a água representa um factor chave na deterioração da alvenaria a prazo. A escolha da argamassa de refechamento é em função, obviamente, da finalidade da intervenção e das condições de compatibilidade com o material existente.

Fig.69- Operação de substituição da argamassa das juntas - refechamento das juntas - numa parede de alvenaria de blocos cerâmicos

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A execução desta técnica pressupõe a realização das seguintes operações: - remoção parcial da argamassa das juntas: extracção e limpeza da argamassa existente nas juntas, numa profundidade de 5 a 7 cm. Se a intervenção é programada para ambos os lados da parede, a profundidade máxima da extracção deve ser de cerca de 1/3 da espessura total [10]. Nestes casos, para não prejudicar a estabilidade do muro, as juntas com argamassa removida devem ser preenchidas antes de se dar início à remoção na face oposta (Figura 70).

Fig.70 - Profundidade das ranhuras abertas nas juntas quando se actua de um ou de ambos os lados da parede [10] - lavagem das juntas abertas com água (a baixa pressão): para limpar as ranhuras abertas e para limitar a absorção pelo suporte da água da argamassa; -reposição das juntas: deve efectuar-se mediante cuidadoso preenchimento, com várias camadas de argamassa, desde a zona mais profunda das ranhuras abertas. A eficácia desta intervenção depende da eficiente compactação das camadas de argamassa para preenchimento (“argamassa bem apertada”). Para garantia do aspecto estético da parede, esta é a operação que requer maior controlo durante a execução. Se a parede apresenta um aparelho com cunhas ou calços deve proceder-se à sua reposição, de modo a restaurar as características tipológico construtivas da parede.

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7.2 Técnicas de reabilitação não-estrutural 7.2.1 Métodos de intervenção de limpeza A limpeza das fachadas tem finalidades estéticas e protectoras, visando eliminar todos os elementos prejudiciais à fachada como sais solúveis, incrustações, microorganismos, partículas de poluição, excrementos de aves, entre outros. As operações de limpeza devem ter em atenção que a superfície da fachada deverá manter o seu aspecto, cor e textura, tanto quanto possível. 7.2.1.1 Limpeza com água A limpeza com água é hoje bastante desaconselhada. Este método é normalmente ineficaz a remover manchas muito entranhadas, reduzindo apenas a sua intensidade e expondo a fachada ao seu principal agente agressor.

Fig.71 – Limpeza com agua 7.2.1.2 Jacto com partículas abrasivas O jacto com partículas abrasivas utiliza-se principalmente em fachadas de pedra e deve ser equacionado tendo em conta as características da pedra. A pressão pode ocasionar perdas de material significativas na pedra, pelo que são preferíveis sistemas em que possa haver um controlo da pressão. A utilização deste método pode abrir mais as fissuras eventualmente existentes na pedra e provocar a abertura dos poros da pedra, aumentando a sua capacidade de absorção de água. É preferível a utilização de micro-jactos, para evitar um grande desgaste do material [7]. A limpeza por micro-jacto de precisão de partículas abrasivas tem sido precisamente considerado como um dos mais aconselhados para remoção de crostas duras.

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7.2.1.3 Limpeza com ferramentas mecânicas A limpeza com ferramentas mecânicas - escovas rotativas, discos, escovas metálicas, etc. - produz desgaste e conduz à alteração da textura da alvenaria, não sendo um método muito aconselhável para alvenarias de pedra, por exemplo.

Fig.as72 e 73 – Limpeza com ferramentas mecânicas

7.2.1.4 Limpeza com biocidas Um método que tem sido cada vez mais utilizado é a limpeza com biocidas, sendo os mais utilizados os de cloro, cobre, e as soluções de amónia quaternária ou borato, sendo estas últimas as mais eficazes. A sua utilização é aconselhável em tempo seco e em superfícies secas. Previamente à sua aplicação, os organismos de maiores dimensões devem ser removidos com escovas macias. Existem novas técnicas, ainda em desenvolvimento, tais como a limpeza por laser e por ultra-sons e as limpezas com pastas biológicas que, embora ainda em fase muito precoce de pesquisa, têm-se mostrado muito promissores, apesar de, nalguns casos implicarem custos bastante significativos [7].

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7.2.2 Métodos de reabilitação de patologias de Humidade Ascendente

7.2.2.1 Drenos atmosféricos (ou de Knapen) Knapen (1911) concebeu um método que consistia em introduzir drenos de material cerâmico nas paredes de alvenaria, por forma a proceder à sua secagem. Seguindo o mesmo princípio de funcionamento, o ar que entrava nos drenos ficava rapidamente saturado, sendo sucessiva e continuamente substituído pelo ar seco, mais leve. De modo a acelerar esta evaporação, os drenos eram colocados em posição oblíqua, favorecendo assim uma corrente de convecção ligada ao arrefecimento do ar que promove a evaporação. Dado o baixo custo deste processo, a sua utilização foi generalizada. Contudo, a realidade revelou que era pouco eficaz, pois a temperatura no interior dos tubos, uma vez que é diferente da do exterior, dificulta, na prática, uma avaliação analítica real do comportamento deste sistema. Os tubos utilizados inicialmente eram constituídos em material cerâmico, tendo sido posteriormente substituídos por outros de plástico, cuja ausência de porosidade foi compensada pela existência de diversas perfurações.

Fig. 74 – Principio de funcionamento dos drenos atmosféricos (ou de Knapen) [8] Este processo consiste na execução de simples furos de arejamento, dispostos em quincôncio e inclinados de 20º a 30º com a horizontal, distando entre si cerca de 35 a 40 cm, não devendo a sua profundidade ultrapassar ¾ da largura da parede a tratar [8]. Nestes furos são colocados os drenos, os quais podem ser cerâmicos, plásticos ou metálicos, e apresentar diversas formas e dimensões, consoante o caso onde serão aplicados. Em seguida a cavidade deverá ser preenchida com uma argamassa porosa, por forma a fixar o dreno e favorecer a

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circulação do ar. Finalmente é aplicada uma argamassa de acabamento e colocada uma grelha de protecção aparente na extremidade livre do dreno.

Fig.75 – Esquema de abertura das cavidades na parede para colocação

dos drenos

Fig.76 – Esquema dos drenos atmosféricos

concebidos por Knapen [8] - Eficácia A eficácia deste método é bastante variável, dependendo de factores externos, tais como o aquecimento no interior do edifício, a penetração solar, a humidade existente, etc. No entanto, em qualquer caso a sua eficácia é duvidosa, uma vez que, por um lado, a abertura de cavidades nas paredes poderá provocar pontes térmicas, as quais em presença de temperaturas mais baixas, favorecerão condensações localizadas. Por outro lado, ainda que o princípio de funcionamento seja válido, os sais que existem nas alvenarias em geral, e especialmente nas que estão sujeitas a fenómenos de ascensão de água do terreno, acabam, inevitavelmente, por colmatar as zonas de contacto entre os drenos e a parede, impedindo a passagem do vapor de água. Este inconveniente poderá eventualmente ser ultrapassado recorrendo à colocação de uma

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barreira de estanquicidade através de injecção de silicones, mas o processo de reparação mais frequente é o da substituição dos próprios drenos, geralmente de 5 em 5 anos [8].

Fig.77 – Aspecto de um dreno em material plástico utilizado actualmente (dreno Speedy)

Fig.78 – Aspecto de uma parede tratada com tubos atmosféricos - Limitações Em primeiro lugar, convêm referir que os tubos não constituem propriamente uma solução de reparação; eles apenas atenuam o efeito da humidade, não a corrigem. Salientam-se também os problemas de ordem estética que a colocação das grelhas nas fachadas poderão provocar. Por outro lado, este sistema não poderá ser aplicado em paredes muito espessas, mal consolidadas ou em alvenarias de pedra. Em algumas circunstâncias, quando se registam humidades e condensações excessivas, tais como em instalações sanitárias, lavandarias ou cozinhas, este sistema poderá funcionar de forma inversa, aumentando o problema.

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7.2.2.2 Introdução de membranas estanques Esta técnica consiste em intercalar em toda a secção do paramento um material impermeável sobre a forma de folhas ou placas. Existem essencialmente quatro técnicas distintas sob o ponto de vista do método de corte da parede [8]: - Substituição dos elementos de alvenaria; - Corte com serra manual ou mecânica; - Corte por carotagens (método de Massari); - Introdução forçada de materiais rígidos (processo Shoner Turn). • Substituição dos elementos de alvenaria Este processo consiste na demolição de pequenos troços da parede, à medida que neles se vai inserindo uma faixa (com cerca de 20 a 30 cm de altura) de materiais impermeáveis. Trata-se de uma técnica de execução morosa e difícil, sendo apenas utilizada em paredes constituídas por elementos de dimensões reduzidas e formato regular, dado que hoje em dia tende a cair em desuso. • Corte com Serra manual ou mecânica A utilização deste método foi francamente melhorada através do corte com serra. São cortados troços de comprimentos de 1m e neles introduzidos materiais como membranas betuminosas, placas de chumbo, folhas de polietileno ou de policloreto de vinilo, e argamassas de ligantes sintéticos. Assegurar a continuidade destes materiais ao longo da parede é um facto fundamental para que o processo obtenha resultados favoráveis. O nível de vibrações produzido por certo tipo de serras poderá inviabilizar a sua utilização em certas paredes, nomeadamente em alvenarias pouco coerentes, nas quais possam existir problemas de estabilidade.

Fig.79 – Corte mecânico de uma parede de alvenaria

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• Corte por carotagens (método de Massari) Massari desenvolveu e apresentou um método de corte baseado em carotagens sucessivas, em troços de 42 cm de comprimento. As furações, com o diâmetro nominal de 3,5 cm, são executadas alternadamente em duas séries de modo a que a segunda permita cortar o material remanescente da primeira. Este processo tem o conveniente de poder cortar paredes de qualquer espessura. Os espaços vazios, depois de devidamente limpos, são tratados com argamassas de ligantes sintéticos.

Fig.80 – Método de Massari [8]

• Introdução forçada de materiais rígidos (processo Shoner Turn) Este método, surgido recentemente no mercado, consiste na introdução na parede afectada de chapas metálicas, geralmente de formato ondulado em aço inoxidável, através da utilização de martelos pneumáticos que forçam a sua penetração. O seu campo de utilização é bastante restrito – apenas se poderá utilizar em alvenarias constituídas por elementos de dimensões regulares, com juntas horizontais bem definidas. Tal como o corte com serra, as vibrações a que este método está sujeito, poderão comprometer a sua aplicação.

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Fig.81 – Método de Shoner Turn [8]

– Eficácia Este processo é, de entre todos o mais fiável. Quando cuidadosamente colocadas, as membranas estanques garantem uma eficácia total. – Limitações Tal com já foi referido, alguns dos métodos de corte possuem limitações devido às vibrações por si causadas. Convém também não esquecer que, na medida em que representa a introdução de uma descontinuidade física nas paredes, este método deverá ser utilizado apenas em edifícios de porte reduzido, sempre com a preocupação de não enfraquecer zonas estruturalmente importantes. Do ponto de vista económico, é de todos os métodos o mais caro. 7.2.2.3 Injecções de produtos químicos Tal como foi descrito anteriormente, a criação de uma barreira física, embora com resultados eficazes, possui grandes limitações de aplicação; tem custos directos elevados, e são de aplicabilidade restrita. Aliando estes factos ao aparecimento de novos materiais, particularmente do tipo sintético, têm surgido novas técnicas de execução de barreiras estanques, através da introdução destes produtos nas paredes. Neste processo, é constituída uma banda estanque na qual as propriedades capilares do material, designadamente o ângulo de contacto entre a água e a superfície interior dos poros, é modificado quimicamente. Importante referir que, as injecções irão apenas, de um modo geral, controlar a humidade e não impedi-la de subir.

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Deste modo, ao invés de um corte, é criada uma série de furos ao longo da base da parede (o mais próximo possível do nível do terreno), com um espaçamento entre si entre 10 a 40 cm (dependendo da prescrição do fabricante e do modo de injecção). Os furos a executar na base das paredes deverão ser dispostos do seguinte modo[8]: - Para aplicação por gravidade poderão ser levemente oblíquos relativamente à parede; - Deverão ser executados de um dos lados da parede no caso de a espessura desta não ser superior a 0,50m, ou dos dois lados da parede no caso contrário; - O seu diâmetro deverá ser apropriado ao diâmetro das hastes a introduzir na parede para a impregnação.

Fig.82 - Execução dos furos

Na criação deste tipo de barreiras deverão de ser utilizados produtos repelentes de água, em forma líquida ou viscosa, diluíveis em água. São geralmente baseados em micro-emulsões de silicone com estrutura espacial, às quais se associam moléculas orgânicas [8]. Estes produtos deverão possuir como características principais os seguintes aspectos [8]: - Capacidade de modificação do ângulo de contacto entre a água ascendente e a superfície interior dos poros; - Boa ligação química à parede existente; - Capacidade de inalteração do aspecto e propriedades do substracto mineral; - Constância de propriedades a temperaturas entre os 5ºC e 40ºC; - Baixa resistência à difusão do vapor de água, permitindo a respiração das paredes; - Resistência aos alcalis; - Serem fungicidas; - Não serem poluentes;

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- Serem isentos de solventes químicos.

Fig.83 – Esquema de funcionamento da introdução de produtos químicos por gravidade ou difusão.

Existem dois métodos de introdução dos produtos: por gravidade ou difusão e por pressão. No primeiro caso, o produto escorrerá livremente para a parede através das forças gravíticas, estendendo-se seguidamente, por difusão, por toda a sua espessura. A injecção sob pressão, tal como o nome indica, é executada através da ajuda de uma bomba, que será ligada a vários tubos introduzidos na furação existente.

Fig.84 - Período de permanência dos reservatórios no local para difusão do líquido

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A obturação dos furos – com argamassas adequadas e não retrácteis – só poderá ser executada após a secagem total do paramento. Finalmente, e de modo a promover-se a boa reabilitação da parede após o tratamento, será necessário proceder-se à substituição dos antigos rebocos. Estes só deverão ser executados quando os teores médios de humidade dos paramentos sejam iguais ou inferiores a 5% [8]. Esta operação reveste-se de extrema importância, pois irá remover todos os depósitos de sais higroscópicos neles depositados ao longo do período em que a anomalia esteve activa. Deste modo, os novos rebocos a aplicar terão - para além da inevitável compatibilidade com o suporte – uma importante função: a capacidade de prevenir a passagem dos referidos sais da superfície ainda contaminada para o exterior, pois tal como foi referido anteriormente, as paredes poderão levar anos a secar e a sua base permanecerá sempre húmida. Como tal, poder-se-á distinguir duas fases distintas e indissociáveis neste processo: - A introdução dos produtos – que irá exercer funções de controle da humidade; - A substituição dos rebocos antigos – que irá exercer funções de prevenção relativamente a futuros estragos. – Eficácia As injecções não formam um “plano impermeável” como as membranas estanques, mas sim uma banda difusa. Quando as soluções são injectadas em substratos heterogéneos – casos das alvenarias - , de um modo geral não preenchem igualmente toda a estrutura; irão criar “caminhos” preferenciais que correspondem às linhas de menor resistência dos materiais – geralmente poros mais largos ou fendas. Infelizmente não são estes os caminhos mais importantes para a condutância da água na parede. Para além disto, quanto mais húmida estiver a parede, maior tendência tem este fenómeno de acontecer, especialmente com sistemas baseados em solventes que não se misturam com água. O fenómeno – cujo termo anglo-saxão se designa por “viscous fingering” [8]– assume maior significado no caso das injecções sob pressão.

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Fig.85– Caminhos preferências do líquido dentro da parede.

A eficácia deste tipo de sistemas poderá também ser afectada quando existem anteriores soluções impregnadas na parede a tratar. Problemas semelhantes poderão ocorrer quando as paredes são tratadas contra infestações de animais.

Fig.86 - Remoção e limpeza do reboco Fig.87 - Execução dos furos afectado

Fig.88 - Colocação do sistema

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– Limitações De um modo geral, poder-se-á afirmar que os processos de injecção, seja por gravidade ou sob pressão, podem atingir bons resultados, se utilizados inteligentemente e instalados de forma conscienciosa. De facto, o sistema exige o recurso a mão de obra especializada, motivo pelo qual tem começado a cair em desuso em alguns países, associando-se inevitavelmente ao elevado número de falhas. Outra grande limitação da utilização deste tipo de sistemas é o facto de a base das paredes permanecer sempre húmida, já que o processo não constitui uma barreira totalmente estanque e uniforme. A utilização de emulsões à base de solventes poderá também causar problemas nocivos à saúde dos utilizadores dos espaços tratados, nomeadamente em condições higrométricas desfavoráveis – elevadas humidades relativas. 7.2.3 Estratégias para reabilitação de paredes de alvenaria fissuradas A aplicação das estratégias gerais apresentadas no Quadro 4 e a escolha das técnicas específicas de reabilitação, para os casos de fissuração de paredes de alvenaria, têm diversas condicionantes, de entre as quais se destacam as seguintes [9]: - O tipo de causa (defeito de construção, causa intrínseca ao elemento construtivo ou causa externa) cujo conhecimento está dependente da capacidade de diagnóstico; - A distribuição das fissuras e o seu grau de estabilização (fissuras isoladas ou distribuídas, estabilizadas ou não-estabilizadas, movimentos previsíveis); - As consequências das fissuras (falta de estanquidade, diminuição da resistência ou estabilidade da obra, degradação acelerada de materiais, defeitos estéticos, inconvenientes psicológicos, etc.); - O tipo de parede (parede de fachada, parede interior, parede rebocada, parede com revestimento cerâmico, parede de tijolo à vista, etc.). Sublinha-se ainda que existem diversas situações particulares de reabilitação, nomeadamente: - Reparação de fissuras que envolvam a perda de estanquidade da parede; - Reparação de fissuras que envolvam risco de perda de estabilidade das paredes; - Reparação de fissuras em cunhais; - Reparação de fissuras em paredes com tijolo face à vista.

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Quadro 4: Exemplos da concretização das estratégias gerais de reabilitação de patologias não estruturais para o caso da fissuração de paredes de alvenaria [9]

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Quadro 5: Exemplos da concretização das estratégias gerais de reabilitação de patologias não estruturais para o caso da acção da humidade sobre paredes de alvenaria [9]

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8. Conclusão Neste trabalho comprovou-se a importância da caracterização da tipologia das paredes, em estruturas antigas de alvenaria, como forma de melhor compreender o seu comportamento mecânico e a origem de muitas das suas patologias e, finalmente, como forma de facilitar a sua intervenção, com a escolha adequada de técnicas e materiais. É necessário apostar na prevenção como a melhor, mais eficiente e garantida forma de preservar o património arquitectónico-cultural, tal como, em zonas urbanas verifica-se que estas intervenções de reabilitação são frequentemente motivadas por rentáveis programas de utilização subjacentes à pressão das especulações imobiliárias mais do que pelo estado de degradação exibido. As patologias que hoje se observam só podem ser ultrapassadas com um significativo investimento na fase de projecto em particular no esforço de compatibilização de materiais e de subsistemas construtivos, com particular atenção aos pontos singulares. As técnicas de reabilitação são muito diversas e devem ser seleccionadas e postas em prática devidamente enquadradas por uma estratégia global de reabilitação, adequada aos objectivos e condicionantes de cada caso de patologia. A incorrecta utilização de técnicas de reabilitação conduz, com frequência, ao reaparecimento precoce dos defeitos, ou mesmo ao seu agravamento.

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9. Referências bibliográficas

[1] Oliveira, Paulo (1999), Exemplos de Utilização de Alvenaria Estrutural, DEC - Universidade do Minho, www.civil.uminho.pt/masonry/ publications [2] Lamego, Paula (2005), Reforço Sísmico em paredes de alvenaria de pedra, www.construlink.com [3] Angelis, Cláudio de, Patologias das Estruturas de Edifícios, www.lisboa-renovada.net [4] Lda, Paulo Jones (2002), www.paulojones.com [5] Roque, João C. Almendra e Lourenço, Paulo B. (2003), Reabilitação estrutural de paredes antigas de alvenaria, LNEC [6] Usuda, Fábio, Técnicas construtivas especiais - alvenaria estrutural, www.facens.br [7] Lourenço, Patrícia (2003), Reabilitação de edifícios em pedra, Companhia de arquitectura e design [8] Cabaça, Sónia (2002), Humidade ascendente em paredes de edifícios antigos, www.construlink.com [9] Silva, J. Mendes da (2002), Alvenarias não estruturais- Patologias e estratégias de reabilitação, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra [10] Roque, João Carlos Almendra (2002), Reabilitação estrutural de paredes antigas de alvenaria, Dissertação para obtenção do grau de mestre em Engenharia Civil, Universidade do Minho