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Reexaminando a Psicologia: uma perspectiva Crítica e visão africana Elias Ricardo Sande 1. Introdução O presente artigo consiste num resumo elaborada tendo como base principal os capítulos 8, 9, 10, 11 e 12 do livro Re-examining Psychology de T. Len Holdstock. Este trabalho surge no âmbito da cadeira de Perspectivas Africanas do Fenómeno Psicológico. O objectivo do trabalho é tornar os estudantes cientes de diferentes aspectos que existem nas teorias psicológias previamente elaboradas, os quais precisam ser contextualizadas e reelaborados conforme o contexto em que forem ao aplicados. A metodologia para a elaboração deste trabalho consistiu na revisão bibliográfica da obra disponibilizada pelos docentes da cadeira . 2. A Psicologia Rumo a Uma Consciência Africana Alguns intelectuais africanos (poetas e escritores) mostram-se reservados à visão dos psicólogos Afro-americanos quanto a adequação da psicologia Euro-americana como uma psicologia que pode ser universalmente representativa. Mphahlele (1987), um missionário creditado, de nome Edward Blyden, tornou-se mentor desta ideia, chamando atenção ao comportamento ultrajante por parte dos missionários e outros ocidentais na África. Ele foi a primeira pessoa a falar de uma personalidade própria dos africanos. Ao viajar para África ele se deu conta de como os seus colegas impuseram o Cristianismo aos africanos sem ter em conta as suas religiões. Os cristãos olharam para os africanos como pagãos e como crianças da escuridão. Ele também percebeu que os Europeus não apreciavam a poesia indígena ou história; além disso, ele apercebeu-se também da alienação do africano, o qual era bombardeado com ideias

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Reexaminando a Psicologia: uma perspectiva Crtica e viso africana

Elias Ricardo Sande

1. Introduo

O presente artigo consiste num resumo elaborada tendo como base principal os captulos 8, 9, 10, 11 e 12 do livro Re-examining Psychology de T. Len Holdstock.

Este trabalho surge no mbito da cadeira de Perspectivas Africanas do Fenmeno Psicolgico. O objectivo do trabalho tornar os estudantes cientes de diferentes aspectos que existem nas teorias psicolgias previamente elaboradas, os quais precisam ser contextualizadas e reelaborados conforme o contexto em que forem ao aplicados.

A metodologia para a elaborao deste trabalho consistiu na reviso bibliogrfica da obra disponibilizada pelos docentes da cadeira .

2. A Psicologia Rumo a Uma Conscincia Africana

Alguns intelectuais africanos (poetas e escritores) mostram-se reservados viso dos psiclogos Afro-americanos quanto a adequao da psicologia Euro-americana como uma psicologia que pode ser universalmente representativa.

Mphahlele (1987), um missionrio creditado, de nome Edward Blyden, tornou-se mentor desta ideia, chamando ateno ao comportamento ultrajante por parte dos missionrios e outros ocidentais na frica. Ele foi a primeira pessoa a falar de uma personalidade prpria dos africanos. Ao viajar para frica ele se deu conta de como os seus colegas impuseram o Cristianismo aos africanos sem ter em conta as suas religies. Os cristos olharam para os africanos como pagos e como crianas da escurido. Ele tambm percebeu que os Europeus no apreciavam a poesia indgena ou histria; alm disso, ele apercebeu-se tambm da alienao do africano, o qual era bombardeado com ideias negativas sobre a sua prpria cultura, obrigando-os a adoptar a cultura europeia.

Face a este cenrio, intelectuais oriundos de diferentes partes do mundo organizaram encontros na Europa e Nova Iorque para discutir a questo da invaso do continente africano. Estas reunies resultaram na formao do Congresso Pan-Africano, o qual focalizou a questo da unio da cultura africana, onde os negros pudessem firmar-se perante o mundo. Eles propunham a unidade poltica de toda a frica e o reagrupamento das diferentes etnias, divididas pelas imposies dos colonizadores. Valorizavam a realizao de cultos aos ancestrais e defendiam a ampliao do uso das lnguas e dialetos africanos, proibidos ou limitados pelos europeus.

O pan-africanismo uma ideologia que prope a unio de todos os povos de frica como forma de potenciar a voz do continente no contexto internacional. O pan-africanismo tem sido mais defendido fora de frica, entre os descendentes dos escravos africanos que foram levados para as Amricas at ao sculo XIX e dos emigrantes mais recentes.

Mphahlele citado por Holdstock (2000) afirma que o conceito da Personalidade africana expressa um desejo ardente para liberdade, autodeterminao, desejo para rejeitar o homem branco quebrando a administrao cultural dele e a reinsero da sua dignidade, restaurando valores tradicionais, modos de vida, e hbitos.

De acordo com Mphahlele (1963) citado por Holdstock (2000), a assimilao completa da cultura francesa arrancou as suas razes africanas, o que deu origem ao ressentimento contra as pretenses de civilizao europia. A negritude, tornou-se um acto de repulso contra coisas europeias, foi uma ideologia de valorizao da cultura negra em pases africanos ou com populaes afro-descendentes expressivas que foram vtimas da opresso colonialista.

Na frica do Sul, o Congresso Nacional africano construiu no esprito do nacionalismo africano, agregando diversos grupos tnicos em um nico movimento. Este movimento se expandiu durante os anos quarenta, culminando em reunies de massa. As leis do pas constantemente lembravam as pessoas que eles eram diferentes, que eram negros e de conscincia naturalmente negra.

Bantu Stephen Biko, embora que no fosse psiclogo no sentido formal do termo, expressou uma aspirao poderosa de que o africano dotado de aspectos psicolgicos, ou seja, fez uma aproximao africana quilo que a psicologia. oportuno afirmar que o empenho de Biko teve implicaes psicolgicas, pois, elevou a conscincia dos africanos sobre a importncia de estar em contacto com quem eles eram e com as condies as quais eles foram forados para viver.

Biko queria que o movimento da Conscincia Negra desenvolvesse no africano uma auto-conscincia, um senso de dignidade.

Como primeiro passo vital para emancipar os seus camaradas africanos, Biko queria que eles apreciassem a sua bondade inata como pessoas. De acordo com Biko citado por Holdstock (2000), vrios factores contriburam para a pobre auto-imagem entre os negros sul africanos. Por causa da habilidade que a cultura branca tem para resolver muitos problemas nos campos mdicos, agrcolas, e tecnolgicos, tendeu a ser considerada como cultura superior. Quase tudo o que a criana negra era exposta durante o seu desenvolvimento reforam at certo ponto um senso de inferioridade. As suas Escolas, ruas, casas, instalaes desportivas, e organizaes so todas diferentes das dos brancos. Estas diferenas criam um senso de estado incompleto na sua humanidade, onde a perfeio encontrada na cultura branca. Isto levado a cabo at a fase adulta.

A cultura africana se tornou num barbarismo; os brancos que estudaram o passado dos africanos acabaram por distorcer e desfigurar a histria negra; as praticas religiosas e os costumes eram considerados superstio. A histria de sociedades africanas foi reduzida a batalhas tribais e guerras.

A conscincia negra, procurou encaixar as pessoas num processo de emancipao, livr-las de uma situao de escravido. O real propsito era proporcionar esperana, fixar um novo estilo de auto-confiana e dignidade para os negros como uma atitude psicolgica que conduz a iniciativas novas (Biko citado por Holdstock, 2000).

2.1. O Contributo de Frantz Fanon na Psicologia Africana

Fanon foi um psiquiatra proeminente que reflectiu acerca da aplicao de princpios psicolgicos na frica contempornea. A contribuio de Fanon no se cingiu apenas a aspectos ligados ao colonialismo mas tambm aos efeitos que a prpria colonizao causou ao africano. Ele trabalhou com a psicologia das pessoas colonizadas (antes e depois), como tambm com a psicologia da mentalidade colonial. As contribuies de Fanon ocorreram durante os anos cinqenta e inicio dos anos sessenta, e estas iluminaram o africano rumo a descolonizao, pois, neste perodo muitos pases colonizados lutavam pela libertao nacional,

Ele rejeitou o foco ontogentico de Freud no complexo de dipo, e props uma perspectiva de sociogentica, enfatizando a importncia de factores culturais e sociolgicos do comportamento (Fanon citado por Holdstock, 2000).

Em Freud, o complexo de dipo o ncleo constitucional da subjectividade. Foi neste ncleo que Freud estabeleceu o elo para sua analogia entre o desenvolvimento da libido individual e o desenvolvimento civilizao do indivduo, realizando uma extenso da psicologia individual psicologia das massas.

Fanon tambm discordou com a concepo da inconscincia colectiva de Jung, discutindo que esta era uma questo filogentica de disposies herdadas, afirmando que a inconscincia colectiva, recorrendo ou no aos genes, pura e simplesmente a soma de preconceitos, mitos, atitudes colectivas de um determinado grupo. (Fanon citado por Holdstock).

A inconscincia colectiva de Jung: segundo Jung citado por Modelli (2009), o inconsciente colectivo, possua sentimentos, pensamentos e recordaes que condicionavam cada sujeito (desde seu nascimento), inclusive, em sua forma de simbolizar os sonhos. Ou seja, o modo preferencial de uma pessoa reagir ao mundo deve-se dentre outras, a herana gentica, as influncias familiares e as experincias que o indivduo teve ao longo de sua vida.

A sociognese de Fanon poder sugerir uma afinidade mais ntima a Adler do que a do Freud e Jung. Porm, ele no est totalmente de acordo com Adler. Embora a psicologia de Adler considera factores socio-patognicos no desenvolvimento de problemas de sade mental, a sua psicologia continua centrada na dinmica de egos distintos dentro da famlia, sem incorporar a famlia num contexto socio-histrico e cultural.

De acordo com Fanon, os objectivos supremos da psicologia e psiquiatria so a explicao da relao entre a psique (alma) e a estrutura social, a reabilitao dos alienados , e a transformao das estruturas sociais que contrariam as necessidades humanas (Bulhan, citado por Holdstock, 2000).

2.2. A Colonizao da Psicologia em frica

Os poetas e escritores de frica, a voz da comunidade psicolgica nas suposies ideolgicas da disciplina, foram relativamente emudecidos. A razo mais bvia o facto de a Psicologia ter sido importada como um produto j feito do Ocidente. Como disse Akin-Ogundeji (1991) citado por Holdstock (2000:144), A histria da Psicologia em frica em grande parte a histria do colonialismo.

O debate sobre as regras e a orientao da Psicologia nas sociedades africanas ocorreu dentro de constrangimentos de paradigmas contemporneos. Akin-Ogundeji (1991) lamenta o facto de a Psicologia em grande parte dos pases de frica (Nigria) cingir-se ainda em pesquisas de sala de aula, principalmente interessada com os rigores de trabalho emprico, que so de pouca relevncia prtica para os problemas da vida na sociedade contempornea. Os relatrios de pesquisa so muito artificiais, "seco", "sem sentido", ou "irrelevantes" e para serem significantes Akin-Ogundeji clama por fundamento da Psicologia africana dentro das realidades scio-culturais e das experincias humanas na frica.

Nsamenang citado por Holdstock (2000), diz que a Psicologia de natureza Eurocntrica importada para frica questionvel quanto a sua relevncia para o continente fricano. Os mtodos de pesquisa convencionais so incapazes de acessar e avaliar as perspectivas do desenvolvimento do africano. Ele problematiza a importncia da cultura no desenvolvimento, e defende a contextualizao no sentido de se ter uma compreenso do desenvolvimento humano em frica. As metodologias de pesquisa precisam ser contextualizadas, as ferramentas de avaliao tm que ser sensveis cultura.

Na altura do Apartheid, na frica do Sul verificaram-se divergncias de opinies quanto ao modo de exerccio da Psicologia. Um grupo (o grupo dominante-brancos) defendia o uso do estado actual psicolgico como ponto de partida. Outro grupo (negros) clamava por uma reviso do estado actual da Psicologia. Os que aderiam manuteno do estado actual da Psicologia (o grupo dominante) descreveram-se como progressivos, liberais, e polticos. So indivduos deste grupo que na maioria dos casos administrou psicologia nos moldes tradicionais (psicologia ocidental), e que foram acrticos sobre as polticas da disciplina durante a era de apartheid.

3. Rumo a uma Viso Mundial Africana

Em frica, holismo uma experincia vivida. Existe a convico de que tudo deve permanecer junto, o que traduzido directamente no quotidiano.

De acordo com a InfoEscola (2008), o holismo (grego holos, todo) a ideia de que as propriedades de um sistema, quer se trate de seres humanos ou outros organismos, no podem ser explicadas apenas pela soma de seus componentes. Isto , uma maneira de ver o mundo, o Homem e a vida em si como entidades nicas, completas e intimamente associadas.

Kruger citado por Holdstock (2000), descreve a viso geral dos curandeiros indgenas sul africanos, expressando bem o holismo em frica. Ele afirma que os curandeiros indgenas moram num mundo no dividido no qual animais, plantas, humanos, sonhos, e antepassados, todos juntos formam um pedao.

Podem ser citados exemplos que demonstram a operao de conscincia nica na frica. Por exemplo, dentro da esfera de relaes interpessoais, as pessoas so consideras doentes se algum que estiver perto delas estiver doente. Os gmeos so considerados como sendo uma nica entidade e no como indivduos separados. No se dirige a um gmeo como um ser nico, mas sim como parte integrante do outro. Na morte de um gmeo, o sobrevivente simbolicamente desce para a sepultura durante a cerimnia de enterro.

3.1. A Religio, a Fora Vital e o Conceito da Divindade

Os africanos so altamente religiosos, no necessariamente no senso de participao de igreja ou aderncia a um dogma religioso especfico, mas no senso de honrar o que representa uma preocupao da humanidade.

Para Mbiti citado por Holdstock (2000) as ideias sobre Deus para os grupos africanos, expresso em milhares de nomes, tendo em considerao quatro categorias gerais: o que Deus faz, as imagens de Deus, a natureza de Deus, e a relao com Deus.

diferente o modo pelo qual os ocidentais confiam nas suas habilidades para dominar todos os problemas, incluindo um ao outro, a natureza, e o universo. Se restringindo para o observvel e a para o racional, falta cincia Ocidental a habilidade e perspectiva para compreender a realidade africana.

Descrevendo psicologia africana, Parrinder (1969) citado por Holdstock (2000:167) afirma que o Homem no s um indivduo, ou somente um ser social; ele uma fora vital que continua em contacto com outras foras. Ele as influencia, mas elas tambm o influenciam constantemente. A fora vital est dentro de todos os homens e criaturas, formando um lao entre eles.

Mphalele (1984) citado por Holdstock (2000:168) afirma que ns todos somos os dedos da mesma mo, que Deus. Cada dedo diferente do outro, contudo a fora da mo ser achada dentro da aco coordenada dos seus diferentes componentes. O ser humano no s uma fora vital, mas uma fora vital em participao.

Das participaes vitais, nenhuma mais importante que a relao com os antepassados, porque os antepassados so os intermedirios entre a vida e a morte (Ikenga-Metuh citado por Holdstock, 2000). Os antepassados so frequentemente chamados mortos-vivos, uma indicao de que a demarcao entre vida e morte na frica no to definitivo quanto no Ocidente.

A existncia e a presena dos antepassados no so interrogadas na Africa. Um mundo sem eles no possvel. Isto igualmente verdade tanto para as pessoas nas zonas rurais, como para as pessoas de zona urbana. At mesmo africanos que pertencem as igrejas Crists integraram a sua convico nos antepassados com a noo Crist do Esprito Santo.

Sem a constante interveno e proximidade dos antepassados no haver um futuro feliz.

Quando o respeito memria do defunto pago atravs de cerimonias apropriadas, os antepassados, em geral, so vistos como guardies benevolentes, capazes de interceder em nome das pessoas vivas. por isso que os africanos esto dispostos a comprometerem-se com certas obrigaes requeridas pelo morto. (Murray, citado por Holdstock, 2000).

3.2. A Dimenso Interpessoal

Os Africanos sempre estiveram mais interessados em relaes humanas do que em lugares ou coisas, pois eles no tm contudo, qualquer grau significante. Pessoas propem mais prazer, do que lugares (Mphahlele citado por Holdstock, 2000).

A expresso ubuntu, um conceito que carrega a ideia de fora baseado nas qualidades de compaixo, cuidado, bondade, respeito, e empatia. Uma pessoa sem ubuntu considerada como algum digno de piedade ou desprezo.

Conceitos ocidentais que provem a aproximao mais ntima a ubuntu so empatia, compaixo, e considerao de positivo incondicional (Holdstock, citado por Holdstock, 2000). Infelizmente, em psicologia, foram associadas empatia e considerao positiva ao comportamento teraputico profissional efectivo onde estas atitudes vo surgir em troca de recompensa financeira, do que surgir como componentes bsicos de relaes interpessoais quotidianas. Na realidade, as condies que Rogers (1951) descreve como necessrias e suficientes para psicoterapia efectiva, parte e pacote da psicologia do povo de frica. Os ocidentais que tiveram a oportunidade de participar ou observar a sociedade africana ficaram surpresos devido a capacidade que os africanos tm de falar uns com os outros, pelo simples facto de gostarem da companhia um do outro.

A intimidade dos africanos no restringida para os amigos mais prximos, mas sim a um grupo inteiro de pessoas que vm juntas do trabalho ou que esto num convvio. Sendo assim, eles compartilham os seus segredos, alegrias, e aflies; ningum se sente intruso no assunto do outro. Pelo contrrio, bem-vinda a curiosidade, surgindo deste modo um desejo para compartilhar.

A aproximao dos africanos nas suas relaes interpessoais contrasta com a necessidade da privacidade que os ocidentais tm. A conscincia africana tenta recapturar algum do senso tradicional de comunidade onde os homens e mulheres so juntamente envolvidos na especulao de uma resposta para os diversos problemas da vida.

H bebs que dormem pacificamente nas costas da me durante o mais enrgico de danas cerimoniais ou sentando no colo dela enquanto esta bate os tambores durante alguma ocasio festiva ou cerimonial.

Embora existam biberes na comunidade africana, normalmente as crianas so amamentadas atravs do seio da me. Logo ao nascer, as crianas dormem com as suas mes e so carregadas nas suas costas, por outros adultos, por irmos ou irms. Isto assegura um maior contacto fsico durante os primeiros anos, em contraste com bebs europeus que logo a nascena so colocados em camas/beros ou transportados em cadeirinhas apropriadas. A forma como o beb embrulhado quando est nas costas da me, como segurado ao ser alimentado, sugere que provvel que influencie no desenvolvimento do crebro da criana, isto , a proximidade entre da criana com o corpo da me, certamente vai ter um efeito no desenvolvimento de confiana implcita na criana.

Esta confiana do africano tem implicaes directas para sade mental como tambm para a expresso artstica.

4. O Romanticssimo na Psicologia

4.1. A Dimenso Esttica dos Africanos

Apesar de a preferncia esttica e a criatividade constituirem um aspecto complexo da cognio e do comportamento consciente, estes no so dados a devida ateno em psicologia. De acordo com Hillman citado por Holdstock (2000), esta negligncia pode ser atribuda falta de sensibilidade esttica na psicologia em geral.

Hillman citado por Holdstock (2000) clama por uma psicologia que tem a sua base na imaginao das pessoas mais do que nas suas estatsticas e diagnsticos. No estudo de casos clnicos, ele quer que seja aplicada uma mente potica e no cientfica. De todos males da psicologia, Hillman considera a negligncia da beleza a mais grave. A Psicologia tem que encontrar o caminho para a beleza se manter viva, a beleza a cura para males psicolgicos. Ele afirma que a Psicologia precisa encontrar tambm o apoio inesperado do trabalho de neurocientistas nos quais eles elucidam a sobrevivente e evolucionria importncia das estticas.

Neste sentido, importante que o foco tradicional na anlise de objectos estticos e das idias fixadas em obras de arte seja substitudo por uma aproximao mais dinmica para a arte na qual o foco trocado rumo anlise do comportamento esttico. Siegfried citado por Holdstock, 2000). Embora o estudo do comportamento esttico tenha sido negligenciado na psicologia, tem que se ter cuidado em no cometer o mesmo erro no desenvolvimento de uma psicologia Africentrica, especialmente desde que a dimenso esttica constitua um aspecto importante da vida em frica.

A arte compromete a pessoa comunidade. Esta talvez a razo pela qual as crianas ainda pequenas, so expostas canes, a msica, e as danas da comunidade. Tonder (1987) citado por Holdstock (2000:184) exemplifica que A me africana canta para o seu filho e expe-lhe a diversos aspectos da msica desde a tenra idade. Ela treina a criana para se dar conta do ritmo e do movimento balanando-a msica, cantando para ela imitando ritmos de tambor. Desde cedo as mes danam com bebs nas costas e batem os tambores com elas ao colo. As crianas adquirem habilidades artsticas e de dana com a mesma facilidade que aprendem caminhar e falar.

O rtmo o arquiteto do ser, a mais pura expresso de fora da vida em frica. O rtmo prov a dinmica interna, a qual estrutura a fala, msica, dana, poesia, teatro, e o desempenho atltico. Sem o rtimo, o africano torna-se um barco que vagueia no mar da vida. O rtmo traz o propsito e o significado, aumenta a compreenso e o senso de ser; une o indivduo com a fora csmica; ergue os espritos, e assim, cura. Est a base das tcnicas usadas por curandeiros indgenas para alcanar estados alterados de conscincia, habilitando-os ao divino e a cura.

4.2. Ritmo na Poesia, Msica, Movimento e no Teatro

De acordo com Senghor citado por Holdstock (2000), no h nenhuma diferena fundamental entre prosa e poesia em literatura africana. Para Senghor o poema no estar completo a menos que seja cantado ou dado um acompanhamento musical. Porm, at mesmo sem cano, poesia msica.

De acordo com Nketia (1974) citado por Holdstock (2000:188) as culturas musicais das sociedades africanas entre o norte islmico e o europeu sul, formam uma rede de tradies distintas contudo relacionadas, as quais sobrepem-se em certos aspectos de estilo, prtica, ou uso, e partilham caractersticas comuns de padro interno, procedimento bsico, e similaridades contextuais. Estas tradies musicais relacionadas constituem uma famlia distinta das do ocidente ou do oriente. Porm, at mesmo no sul, a atitude hostil dos missionrios para msica africana, especialmente para o tocar do tambor, o qual era associado a prticas pags, e depois, a excluso de msicos tradicionais e a sua msica de instituies educacionais, sem querer assegurou a continuidade de msica tradicional em sua forma original.

A msica na cultura africana caracteriza por estados emocionais. Ela no s serve como um meio de comunicao interpessoal, mas tambm liga a vivncia com os antepassados e ambos com a divindade. Nas sociedades africanas, a msica a comida da vida em um sentido literal, geralmente compreendida como uma experincia humana que incorpora dana e poesia.

De acordo com o Warren e Senghor citado por Holdstock (2000) a repetio a essncia de ritmo africano. Para Senghor manter a repetio prov a fora unificada necessria que permite o tocar ou a escuta de complexas improvisaes polirtmicas, sem que a forma bsica seja perturbada.

Na cultura tradicional africana, a dana serve para uma multiplicidade de funes. A dana une todos os aspectos do indivduo: corpo, emoo, esprito, e razo em um todo transcendente, e por outro lado, une o danarino a todo o mundo de viver e dos defuntos. Danar tem uma funo importante na socializao de rapazes e meninas em termos de valores do grupo a que pertencem e de manter esses valores entre adultos. Em danas de guerreiro h uma relao espiritual forte entre vida e morte.

Uma caracterstica muito distintiva da dana africana a sua relao terra. Nas formas de dana Ocidentais os movimentos so claros e passageiros. Os danarinos se esforam para flutuar ligeiramente do cho o quanto possvel. A dana africana, pelo contrrio, fica perto do cho. Se so executados saltos o propsito sempre voltar para o cho e no quebrar o contacto com me terra. Curandeiros indgenas danam descalos. Danar com sapatos um sinal de que o curandeiro perdeu o contacto com os antepassados.

O rtmo faz parte do teatro africano e arte uma vez que acompanhado de msica, dana, poesia e movimento.

5. Concluso

A dimenso holistica do modo de estar em frica tem uma grande transao para contribuir maneira na qual ns nos aproximamos e geralmente administramos psicologia no continente africano. Enfatiza-se o facto de que o ser humano precisa de ser considerado como sendo um todo. Em termos africanos, no somos apenas racionais, mas tambm afectuosos.

A Psicologia africana avalia a dimenso espiritual como tambm assuntos mundanos do dia a dia. Os conceitos de esprito e alma esto relacionados.

O conceito ubuntu em frica, incorpora as trs condies que Rogers considerou ser necessrio e suficiente para uma psicoterapia. Alm disso, ubuntu considera a implemetao das consideraes de Rogers no comportamento quotidiano da pessoa.

A viso que o mundo tem de Africa refora a noo expressa em psicologia cultural que o indivduo no pode ser estudado isoladamente do seu contexto histrico, social, e geogrfico. O desafio para a psicologia no apenas ajudar os indivduos problemticos a resolver as suas dificuldades quotidianas, mas tambm procurar investigar a estrutura e a natureza da sociedade onde o indivduo est inserido.

Questes ligadas a sade mental diferem segundo as orientaes culturais de cada sociedade, e precisam ser respeitadas, tornando-as parte da psicologia clinica.

6. Bibliografia

Holdstock, T. L. (2000). Re-examining Psychology Critical perspectives and African insights. USA/Canada: Routledge.

InfoEscola (2008). Holismo. Disponvel a 27 de Maro de 2010 em http://www.infoescola.com/filosofia/holismo-holistico/

Modelli, N. (2009). Os tipos psicolgicos de Carl Jung. Disponvel a 27 de Maro de 2010 em http://nairamodelli.wordpress.com/2009/06/15/os-tipos-psicologicos-de-carl-jung/