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Refletindo e ressignificando essa relação A CONJUGAÇÃO DAS FORÇAS DA FAMÍLIA E DA ESCOLA É CONDIÇÃO ESSENCIAL PARA UMA EDUCAÇÃO MAIS EFETIVA. FAMILIA E ESCOLA ATUANDO JUNTAS EM FAVOR DA CRIANÇA.

Refletindo e ressignificando essa relação · então, o que era tido, por muitos, como a principal finalidade do casamento - a união com intuito de propiciar um ambiente de formação

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Refletindo e ressignificando essa relação

A CONJUGAÇÃO DAS FORÇAS DA FAMÍLIA E DA ESCOLA É CONDIÇÃO ESSENCIAL PARA UMA EDUCAÇÃO MAIS EFETIVA. FAMILIA E ESCOLA ATUANDO JUNTAS EM FAVOR DA CRIANÇA.

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ELIANE HARTMANN DOS SANTOS

Família e Escola: refletindo e ressignificando essa relação

PONTA GROSSA 2007

Caderno Pedagógico –PDE/SEED/PR, destinado a subsidiar as reflexões do coletivo escolar sobre a relação escola-família-educando. Orientadora Profª. Ms. Marine Fecci B. Leite - UEPG

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!!!

APRESENTAÇÃO

Este caderno pedagógico foi elaborado com a finalidade de iniciar uma

reflexão coletiva acerca da relação escola, família e educando. Dirige-se portanto

a todos os profissionais da educação que vêm nessa interação, uma possibilidade

de contribuir para uma educação mais efetiva.

Para tanto, neste caderno propomos as seguintes abordagens:

- As mudanças no contexto da família e como conseqüência, as

novas demandas para a escola;

- A família contemporânea e a complexa tarefa de educar;

- A escola e os condicionantes internos da participação;

- Relatos de experiências de integração família/ escola.

Dentro das abordagens apresentamos:

espaço para reflexões no coletivo escolar e/ ou familiar;

sugestões de atividades para o coletivo escolar e/ou familiar;

sugestões de leituras; curiosidades ou informações adicionais;

alguns recortes de trabalhos de diversos autores que podem compor o cenário dos encontros em faixas ou cartazes, ou ainda, serem inseridos em comunicados às famílias.

...a família e a escola...

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SUMÁRIO 1 A FAMÍLIA EM PROCESSO DE MUDANÇA 1.1 Mudanças no contexto da família........................................................ 08 1.1.1 Sugestão de atividade...................................................................... 09 1.2 Um conceito de família........................................................................ 10 1.2.1 Sugestão de questionário para caracterização das famílias............ 11 1.2.2 Sugestão de atividade...................................................................... 13 2 A ESCOLA DIANTE DE NOVAS DEMANDAS 2.1 Escola e Família.................................................................................. 14 2.1.1 Sugestão de atividade...................................................................... 16 2.2 Escola e Educando.............................................................................. 17 2.2.1 Sugestão de atividades.................................................................... 19 3 A FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA E A COMPLEXA TAREFA DE EDUCAR 3.1 A Família e o processo de formação global do indivíduo: algumas considerações........................................................................................... 20 3.2 Práticas Educativas Familiares........................................................... 23 3.2.1 Sugestão de estratégia de trabalho para discussão de temas relevantes na prática educativa: “Sinais de Convivência”............................................... 26 4 A ESCOLA E OS CONDICIONANTES INTERNOS DA PARTICIPAÇÃO 4.1 Determinantes Legais......................................................................... 29 4.2 APMF e Conselho Escolar................................................................. 30 4.3 Níveis de Participação........................................................................ 32 4.3.1 Sugestão de questionários para verificar a percepção de familiares e equipe escolar acerca da participação da família na escola................ 33 4.3.2 Sugestão de atividade..................................................................... 35 4.3.3 Sugestão de atividade..................................................................... 35 5 PROCESSOS DE INTEGRAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA: ALGUNS RELATOS DE EXPERIÊNCIAS 5.1 Participação dos Pais na Vida Escolar dos Filhos....................................................................................................... 36 5.2 Processos de Integração Família-Escola.......................................... 38 5.2.1 Roda de Pais.................................................................................. 38 5.2.2 Se os Pais Não Vão à Escola, a Escola Vai Até os Pais............... 39 5.2.3 Retratos de Família........................................................................ 39 5.2.4 Família: Assunto de Escola............................................................ 40 5.2.5 A Família Vai à Escola................................................................... 41 5.3 Sugestão de atividade....................................................................... 41

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INTRODUÇÃO

As mudanças ocorridas na sociedade têm trazido para a

escola momentos de grande instabilidade. O mundo

contemporâneo, globalizado, trouxe o fim das grandes receitas, o

discurso da diversidade, das multidimídias, estabelecendo uma nova ordem, onde

todos são chamados a repensar seu papel. Sobre a escola, e mais diretamente

sobre os principais atores do processo de ensino-aprendizagem, professor e

aluno, é que tais mudanças têm causado efeitos comprometedores,

caracterizando um período de incertezas, onde protagoniza a indiferença,

causando fragilidade de toda ordem nessas relações. Motivar uma atividade -

fazer? Porquê? Conseguir um emprego?, Passar no vestibular?, Ter uma vida

melhor? São tantos diplomados nas filas. São mínimas as vagas das

universidades ocupadas por estudantes provenientes de escolas públicas, obter

boas notas então seria condição para ter uma vida melhor?

Tardif retrata esse contexto quando diz:

...diante da evolução da economia e do emprego, o retorno dos saberes escolares na vida profissional não é mais garantido, não há relação de correspondência entre escola e emprego, entre escola e a promoção ou a mobilidade social, entre a escola e a aquisição de expertise. Em suma os professores não podem prometer aos alunos que a formação que oferecem é a chave do sucesso. (TARDIF, 2005, p.144)

Todas essas mudanças tornam frágeis a atuação do professor, que ainda

enfrenta outros grandes obstáculos na efetivação do processo de aprendizagem,

decorrentes das mudanças na relação professor-aluno. Hoje o professor não

representa a autoridade de outrora, ao contrário, está sujeito por vezes, a

agressões verbais, psicológicas e até mesmo físicas.

Indisciplina, desrespeito, inversão de valores, fatores que vêm sendo

reforçados principalmente pelas mudanças ocorridas nas relações familiares, que

a partir da mulher no trabalho, passou a enfrentar novos problemas com a

convivência familiar bem menos frequente, ficando a escola responsabilizada por

transmitir valores antes pertinentes a ela.

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Dessa forma o professor também tem que responder pela formação moral

dos alunos e atuar, com competência, como educador e psicólogo, enfermeiro,

assistente social, orientador sexual, entre outros (ESTEVES, in NÓVOA, 1995).

Na fala de Gomes (2005, p.295), “a escola é comparável a uma arena

competitivo-conflitual, onde se encontram pelo menos duas gerações”, mediar tais

conflitos não é tarefa fácil, nem tampouco incumbência exclusiva da escola; faz-se

necessária a união dos principais interessados, família, educando e escola.

Diante dessa realidade, onde temos um aluno que não vem sendo

assistido, satisfatoriamente, pela sua família e cuja escola não comporta tamanha

tarefa, de forma que nem uma nem outra, vem desempenhando, a contento, o

seu papel, considerando todos os intervenientes decorrentes das exigências do

mundo moderno, vemos a necessidade de reunir família e escola, num

movimento de colaboração, a reverem seus papéis, refletindo na e para ação, a

fim de que, família-educando-escola, principais interessados no processo de

ensino-aprendizagem, possam suscitar as maiores e melhores mudanças na

educação da geração a quem deixaremos os encargos de um mundo em processo

de aquecimento global.

Para que a escola assuma como uma de suas metas - a integração

família/escola, propomos algumas reflexões coletivas, sobre as seguintes

temáticas: as mudanças no contexto da família e como conseqüência, algumas

novas demandas para a escola, a tarefa de educar na contemporaneidade; escola

e os condicionantes internos da participação e alguns exemplos de ações

desenvolvidas no âmbito da integração família/escola.

“ A educação não transformará a sociedade sozinha, contudo, sem a

educação a sociedade não será transformada.” Paulo Freire

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Segundo Paulo Freire (apud ARROYO, 2001), há grande questionamento sobre o ser humano nos tempos de crises, e que, nesses momentos, não são questões acidentais que o ser humano se coloca, mas

se coloca ele em questão, ele como questão. Como sugeriu Arroyo, questionamos: estamos nesse momento?

1- A FAMÍLIA EM PROCESSO DE MUDANÇA

QUANDO O TEU PAI CHEGAR!!!

Isso só tá acontecendo porque teu pai saiu de casa, a mãe você não obedece, né?

Vó, a mãe vem hoje?

Eu queria ter conhecido meus pais!

meus amigos acham estranho eu morar com dois pais.

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Cabe aqui uma pausa para uma reflexão:

A expressão

utilizada pelas mães, não há muito tempo atrás: quando teu pai chegar - que neste contexto, quase não cabe mais, por duas razões, a primeira é que muitas vezes esse pai levará dias para chegar, ou nem chegará e a segunda, mais crítica ainda, é que a mãe, muitas vezes, nem está perto para dizer isso. Ficam então as perguntas: como essa criança, que não é uma, nem duas, são muitas, compreende o que é limite? Adquire valores?

E a escola, o que e

como pode fazer, nesse sentido?

1988 2002 Casamento 951.236 714.523 Divórcios 33.437 126.503 Gazeta do Povo, 11/11/07

1.1 Mudanças no contexto da família

Atualmente, na maioria dos paises, casa-se menos e cada vez mais tarde.

Os casamentos, mais raros e mais tardios, são menos duráveis, com os filhos de

separados, divorciados, ou de pais solteiros

formando uma considerável parcela da

juventude.

Há um aumento de nascimentos

extraconjugais e um forte crescimento de

famílias em que mãe e pai são um só, as

famílias monoparentais – geralmente a mulher –

mãe solteira ou divorciada, que assume a guarda e

o encargo na criação e educação dos filhos, quando

isso não recai para os avós, fato resultante, muitas

vezes, de uma gravidez não programada na

adolescência. Isso vem acarretando uma maior

convivência dos filhos com pessoas do sexo

feminino, variável que não pode ser desprezada

quando se busca uma melhor convivência, seja em

sala de aula, na família ou na comunidade. A figura

dominante e patriarcal do pai está em processo de

extinção, aquele que dava seu nome aos membros,

que representava o grupo familiar e era seu chefe.

Rizzardo (2006) coloca como a evolução de um

processo de dissociação, desaparecendo a

subordinação estanque dos filhos aos pais. São

muitas as mudanças sofridas na

contemporaneidade no contexto da família e drásticas as conseqüências dessas

mudanças para o indivíduo e para a vida em sociedade, como revela Giddens

(apud VITALE, 2002, p.60-61):

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Entre todas as mudanças que estão se dando no mundo, nenhuma é mais importante do que aquelas que acontecem em nossas vidas pessoais – na sexualidade, nos relacionamentos, no casamento e na família. É uma revolução que avança de maneira desigual em diferentes regiões e culturas, encontrando muitas resistências. Como ocorre com outros aspectos no mundo em descontrole, não sabemos ao certo qual virá a ser a relação entre vantagens e problemas. Sob certos aspectos estas são as transformações mais difíceis e perturbadoras de todas.

E não param por aí, muitos casais optam por não terem filhos, caindo

então, o que era tido, por muitos, como a principal finalidade do casamento - a

união com intuito de propiciar um ambiente de formação e preparação dos filhos

para a sociedade.

Observamos hoje um sistema mais aberto de relacionamento interpessoal,

que na medida que se tornou mais democrático, tornou-se também bastante

conflituoso, daí, ser imprescindível o diálogo, baseado na compreensão das

necessidades de seus membros e a entre ajuda de apoio com vistas ao

desenvolvimento pessoal, familiar e social.

1.1.1 Promova um encontro com representatividade de pais, professores, funcionários e equipe diretiva e proponha a seguinte reflexão: você(s) concorda com a citação de Giddens? Dentro da sua realidade, quais são as principais mudanças vivenciadas? Quais as conseqüências dessas mudanças no contexto escolar e familiar? __________________________________________________________________

__________________________________________________________________

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A família brasileira 3,8 é o número médio de pessoas por casa 2,7 é a quantidade média de filhos por família

PARA SABER MAIS.....PESQUISA..................................... família brasileira – caderno especial do jornal Folha de São Paulo

de 07/10/07

1. 2 Um conceito de família

Considerando esse contexto, caracterizado por diferentes configurações

familiares que surgem da flexibilização de papéis, de alteração nos padrões

familiares e da organização social, é que propomos de acordo com Szymanski

(2002) a compreensão de família como “uma associação de pessoas que escolhe

conviver por razões afetivas e assume um compromisso de cuidado mútuo e, se

houver, com criança, adolescentes e adultos.”

Dessa forma, ao falarmos em família junto aos nossos alunos e

comunidade, estaremos nos referindo às pessoas que, a esses, mantém laços de

afetividade com comprometimento de cuidado mútuo, de forma que todos, nesse

sentido, terão um mesmo padrão familiar – o afeto, não importando as figuras (pai

e mãe, somente mãe ou pai, etc.) que a compõe.

Kaslow (2001, apud SZYMANSKI, 2002, p.10) cita nove tipos de

composição familiar que podem ser consideradas “família”:

a) família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos biológicos;

b) famílias extensas, incluindo três ou quatro gerações;

c) famílias adotivas temporárias (Foster);

d) famílias adotivas que podem ser bi-raciais ou multiculturais;

e) casais;

f) famílias monoparentais chefiadas por pai ou mãe;

g) casais homossexuais, com ou sem crianças;

h) famílias reconstituídas depois do divórcio;

i) várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte

compromisso mútuo.

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CASAMENTO: união entre homem e mulher segundo as leis civis e religiosas. UNIAO ESTÁVEL: convivência entre homem e mulher sem realizar as formalidades do casamento. UNIÃO HOMOAFETIVA: convivência entre pessoas do mesmo sexo que é equiparada `a união estável, por analogia. FAMILIA MONOPARENTAL: ela é formada sem a figura do casal, por mãe e filho, pai e filho, avô e neto, solteiro e filho adotado e outros arranjos. FAMÍIA SIMULTÂNEA: quando uma pessoa mantém mais de uma família, embora seja casado ou viva com outra pessoa em união estável, ou tenha duas ou mais uniões estáveis ao mesmo tempo. FAMÍLIA RECOMPOSTA: formada por enteados, padrastos, meio-irmãos e filhos de pais divorciados que convivem com irmãos socioafetivos (adotivos). João Natal Bertotti

Gazeta do Povo, 11/11/07

Todas essas situações, de uma forma ou outra retratam a família

contemporânea, a família que vivenciamos, e, diante disso, a escola precisa ter

claro que o modelo

idealizado de família: pai,

mãe e seus filhos, embora

exista, já não é

predominante, e, a partir

disso, necessário se faz

conhecer a sua realidade,

de forma a caracterizar as

famílias com as quais se

busca trabalhar, a fim de

ajustar o que se pretende

com o que é possível

atingir, considerando as

reais condições das

pessoas envolvidas.

1.2.1 Sugestão de questionário para a caracterização das famílias. __________________________________________________________________

__________________________________________________________________

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realizada para o Ministério da Educação, em 2004/2005, intitulada, “Pesquisa Nacional Qualidade da Educação: a escola pública na opinião dos pais”, revelou o perfil dos 10.500 entrevistados em todo o país:

mãe responsável respondente – 72,7% pai responsável respondente – 12,7% avó responsável respondente – 6,2% Cerca de 27% dos responsáveis

declararam ter menos de 04(quatro) anos de escolaridade

7,5% não freqüentaram a escola menos de 3% tem nível superior completo

Disponível em http://www.scielo.br

Caros familiares, este questionário visa colher algumas informações que irão servir para programar as atividades escolares com a participação dos pais, durante o ano de _____, no período _______. Sua participação é indispensável para que possamos melhor atendê-los. CARACTERIZAÇÃO DA FAMÍLIA 1- O número de pessoas da família do aluno: 2 3 4 5 outros:____________________________ 2- Assinale as pessoas que moram com o aluno: mãe pai avô avó

irmãos madrasta padrasto irmãos por parte da mãe ou pai

outros, quem?___________________________________________________ 3- O pai está trabalhando no momento? Qual a sua atividade? __________________________________________________________________ 4- A mãe trabalha fora? Qual é a sua atividade? __________________________________________________________________ 5- Quem são os responsáveis pelo sustento da família? __________________________________________________________________ 5- Com quem o aluno passa a maior parte do tempo, quando não está na escola? __________________________________________________________________ 6- Assinale o valor que mais se aproxima do valor total dos rendimentos mensais da família: até 380 reais até 760 reais até 1140 reais mais que 1140 reais 7- Possui casa própria? SIM NÃO 8- Escolaridade da mãe: não freqüentou a escola até a 4ª série até a 8ª série ensino médio (2º grau) ensino superior 9- Escolaridade do pai: não freqüentou a escola até a 4ª série até a 8ª série

ensino médio (2º grau) ensino superior 10- Dados do respondente mãe pai outro,quem?_____________________Idade:_______________

1.2.2 Tabule os dados obtidos, apresente-os em gráficos e socialize com o grupo de professores envolvidos, avaliando as reais condições das famílias dos alunos com os quais os mesmos irão trabalhar. _________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

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REFERÊNCIAS ARROYO, M. Educação em tempos de exclusão. In: GENTILI, P.; FRIGOTTO, G. (orgs.). A cidadania negada: políticas de exclusão na educação e no trabalho. São Paulo: Cortez; [Buenos Aires, Argentina]: CLACSO, 2001. BERTOTTI, J. N. Novo modelo de Família. Gazeta do Povo, Paraná, 11 nov. 2007. Folha Sociedade, p. 4 -6. ESTEVÃO, C. V. Escola e Participação: o lugar dos pais e a escola como um lugar de cuidado. Ensaio – Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, V.11, n.41, p. 415-424, out./dez. 2003. FAMÍLIA BRASILEIRA. Folha de São Paulo. Caderno Especial. SP, out. 2007. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. _________. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. GOMES, C. A. A escola de qualidade para todos: abrindo as camadas da cebola. Ensaio: aval. Pol. Públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.48, p.281-306, jul./set.2005. RIZZARDO, A. Direito de Família: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro: Forense, 2006. RODRIGUES, O. M. R. et al. Psicologia do desenvolvimento e aprendizagem: investigações e análises. São Carlos: Rima, 2004. 176p. SZYMANSKI, H. Viver em família como uma experiência de cuidado mútuo: desafios de um mundo em mudança. Serviço Social e Sociedade, n.71, ano XXIII, p.9-25, set. 2002. ______________. A relação família/escola: perspectivas e desafios. Brasília, Plano, 2001. TARDIF, M. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Trad. João Batista Kreuch. Rio de Janeiro: Vozes, 2005. VIANA, M. J.B. Novas abordagens da escolarização das camadas populares: uma revisão de estudos recentes acerca de trajetórias escolares de sucesso. Vertentes, São João Del Rei, nº 7,p.82-93, jan./jun. 1996. VITALE, M. A. F. Famílias monoparentais: indagações. Serviço Social e Sociedade, n.71, ano XXIII, p.45-62, set. 2002.

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2.1. ESCOLA e FAMÍLIA: Escola espaço para socialização da custódia?

Para refletirmos sobre esse aspecto, temos que voltar um pouco no tempo,

e reviver “os tempos da vovó”, quando ela era mais um membro na família, além

de vários irmãos, a mãe cuidando do bebê, mas sem desviar a atenção de tudo,

os filhos mais velhos brincando na rua com os mais novos, com os primos e com

os amiguinhos, aqueles, os filhos da Dona Doca e do Seu João. Um cenário

pacato, onde os vizinhos se conhecem, as crianças têm liberdade de brincar na

rua, onde não há muitos perigos, a não ser, brigas corriqueiras durante as

brincadeiras.

Hoje esse cenário foi praticamente extinto, as famílias aparecem com

diversos formatos, remontadas, (mãe e filhos, avó e netos, pai e filhos, tias,

madrinhas e até vizinhas assumindo filhos, e mais recentemente, os casais

homossexuais e filhos); marcadas principalmente pela ida da mulher para o

mercado de trabalho, essas famílias ficaram a mercê de um espaço seguro para

os filhos, já que os vilarejos desapareceram e deram lugar as grandes cidades,

onde as pessoas não se conhecem, onde a rua se tornou sinônimo de

insegurança. Devido a essa mudança na vida familiar, Enguita (2004, p.64) coloca

que estender o espaço escolar aos alunos é hoje uma necessidade da sociedade,

ele diz: “Hoje, a escola complementa a família como antes fazia a pequena

comunidade à sua volta.”

A escola representa, nesse sentido, o espaço dentro da comunidade com

melhores condições de ser a extensão da casa, suprindo aquele espaço antes tido

como parte da socialização e lazer, que eram as ruas tranqüilas dos pequenos

vilarejos, sob os olhos de familiares e vizinhos.

Todo esse quadro de mudança social porque passa a humanidade onde ao

mesmo tempo em que se abrem as possibilidades através do mundo globalizado,

pela rapidez da informação, da chamada era digital, das novas descobertas na

área das ciências, dos produtos novos lançados no mercado; fecham-se para

formas de convivência tranqüila, para a liberdade de sair às ruas, pelo medo

2- A ESCOLA DIANTE DAS NOVAS DEMANDAS!

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resultado da superlotação das cidades onde o vizinho já não é alguém conhecido,

leva a escola a assumir mais este novo papel: o espaço, na maioria das vezes,

único, da expressão do indivíduo, daí explodirem tantos

conflitos na relação aluno-aprendizagem-professor.

São muitas e importantes atribuições a serem

desenvolvidas e coordenadas na Escola, num curto tempo

e num espaço que, muitas vezes, não tem boa estrutura

física e nem humana suficientes para atender tal demanda,

a ponto de manter, sobretudo, a qualidade da

aprendizagem, conforme diz Amorin (apud AQUINO, 2000,

p. 51): “o papel de ensinar é ampliado até o

incomensurável: é preciso ensinar tudo”.

A escola representa, nesse contexto, a rua do

vilarejo, o ponto de encontro para as brincadeiras, é o

espaço permitido pelos pais, sinônimo de lugar “seguro”,

onde os filhos podem ser controlados.

A necessidade de prover a família, associada a

outros fatores, dentre eles, a desestruturação da família

tradicional, em muitos casos, formadas por mãe e filhos, a

escassez de oportunidade de trabalho, dentre outros, gera

uma certa inibição das demais incumbências da família, a

luta pela sobrevivência “diária”, vem suprimindo o

planejamento, a reflexão, o diálogo; é o discurso do tem

que: tem que ir trabalhar, tem que ir à escola, tem que,

tem que, não há tempo para pensar, é preciso ir....

Nesse sentido é que muitos alunos “estão na escola”, “têm que estar na

escola”, afinal, com quem ficariam se a mãe precisa trabalhar?

Esvaziou-se o sentido da

escola, que também, mas não

apenas, é o da socialização, do

espaço para a convivência.

Muitos pais matriculam seus

filhos e, de desculpa em desculpa, só retornam à escola para confirmar a

É notável que

a escola, para atender as

necessidades da família, se articule para atender mais

essa demanda atual, é o que temos, e considerando tal condição é que

temos que pensar a escola. As mudanças

da sociedade impõem mudanças

na escola e na conduta daqueles

que dela participam, dessa forma, o que

se busca é recuperar junto às famílias, o

que vem se perdendo, ou seja, o

redirecionamento desse filho à escola,

por que se vai à escola?, o que se pode esperar da escola?, quais os

direitos e deveres da família e do

educando em relação essa escola?.

...nenhuma competência pedagógica consegue substituir aqueles momentos próprios de uma relação familiar, cheia de uma certa cumplicidade afetiva e proveniente de laços de amor.

Luiz Fernando Gomes Guimarães Diretor Pedagógico, Belo Horizonte - 1999

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aprovação ou reprovação, e há ainda aqueles, que só ficam sabendo desse

resultado, na matrícula do ano seguinte, o que nos remete a concluir que, nesses

casos - e não são poucos - a escola representa apenas um espaço de custódia,

basta estar, ano após ano.

2.1.1 Abra um debate no coletivo escolar e/ou familiar partindo da citação de Enguita (2004, p.64): “Hoje, a escola complementa a família como antes fazia a pequena comunidade à sua volta.” Essa afirmação expressa a sua realidade?

Em caso afirmativo: a) Em que medida? b) Qual a percepção que a equipe escolar, professores, funcionários,

alunos e familiares têm dessa afirmação colocada por Enguita? c) Na opinião da sua comunidade escolar, a escola precisa refletir sobre

essa questão ou não há influência significativa com o processo de ensino e aprendizagem?

d) Se a sua escola vê a necessidade de reflexão quanto a esta questão, então, que medidas vêm sendo tomadas no sentido de rever os tempos e espaços escolares para atender a essa demanda?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Faça uma estatística, por turmas, sobre a participação dos pais nas reuniões promovidas pela Escola. Discuta no coletivo escolar a melhor maneira de divulgar os resultados e melhorar (se necessário) o índice de participação. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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2.2. ESCOLA E EDUCANDO: Escola, um espaço de referência existencial?

Decorrentes, em grande parte, das dificuldades estruturais da família no

mundo moderno, da falta de diálogo, da orientação da família no sentido do

comprometimento do filho enquanto estudante, pertencente a uma instituição que

prevê direitos e deveres, aliado a um certo sentido de responsabilização do

Estado enquanto provedor de condições de ingresso

aos estudos, através da universalização do ensino

fundamental; amparados por leis e paliativos sociais,

dentre eles, vales transporte, gás, leite, etc, nos parece

que a escola tem representado, para alguns alunos,

apenas um espaço de referência

O que para certos pais parece ser custódia, para

os filhos, é o ponto de encontro com um grupo que é

seu, de modo que, crianças e jovens, podem não

possuir casa própria, desconhecer o pai ou até mesmo

a mãe, ou ambos, não praticar efetivamente uma

religião, não pertencer a nenhuma associação

recreativa, não usar as roupas ditas da “moda” ou não

ter acesso à internet, não ter orkut, mas todos

pertencem a essa ou àquela escola. Se perguntados

sobre onde estudam, o dizem com tranqüilidade e

segurança.

A escola é [ou deveria ser] para o indivíduo,

criança ou adolescente, uma referência garantida pelo

Estado e cobrada pela sociedade, de forma que a

democratização do ensino - a escola para todos,

possibilitou, sobretudo ao indivíduo das classes menos favorecidas, em meio a

tantas impossibilidades, um espaço de referência social. O’Sullivan ( 2004, p.356)

discute essa questão, nos dizendo:

”...possivelmente, muitos jovens,

crianças e adultos que freqüentam as escolas

o que procuram é recuperar a

humanidade que lhes foi roubada. Encontrar na escola um espaço onde sejam tratados

como humanos”. ARROYO, 2001

Você concorda com o pensamento do autor?

Como a escola acolhe

os alunos novos?

A escola, como está, vem contribuindo para

humanização ou desumanização?

Que medidas, no

âmbito das políticas educacionais,

poderiam ser tomadas para viabilizar a

educação como um processo de

humanização?

O que os familiares pensam sobre isso?

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Embora os seres humanos pareçam incrivelmente flexíveis em seu modo de vida, precisamos de um lugar que satisfaça nossa necessidade de proteção, de afeto, de compreensão, de participação, de ócio, de criação de identidade e de liberdade. Para satisfazê-las hoje em dia, é preciso achar uma alternativa à globalização irrestrita, que ajude no senso de comunidade e de ter um lugar no mundo, que atenda algumas necessidades fundamentais tolhidas pela presente economia mundial. As instituições educacionais de todos os níveis precisam desempenhar um papel crucial no sentido de alimentar o senso de comunidade e de ter um lugar no mundo.

A escola representa, para alguns, o único espaço significativo no sentido de

pertença ao mundo. Este sentimento é oportunizado através das relações,

principalmente com os colegas, propiciando também a formação de padrões

específicos de comportamento e vocabulário particular, decorrentes,

principalmente da convivência cada vez mais restrita entre os adultos; os pais

passam a maior parte do tempo fora de casa, ocupados com

o provimento de suas famílias, e os filhos, ocupam seu

tempo em contato virtual ou presencial com grupos da sua

geração, os quais estabelecem padrões de valores sociais,

morais e éticos particulares, de forma que, ter status no

grupo, significa, muitas vezes, estar com o tênis de marca,

ter medidas de modelo ou exibir um celular de última

geração.

A escola deve ser referência! referência de

conhecimentos, de valores, de ética; nela, colegas

convivem, trocam experiências, divertem-se, vivem conflitos, mas precisam de

acompanhamento e limites para

que possam se sentir mais

seguros. A escola sozinha não

comporta, não comportou e não

comportará essa tarefa, isso tudo

tem que ser discutido nas escolas e sobretudo com as famílias – alicerces na

construção da pessoa.

Precisamos fazer o resgate da escola como um ambiente educativo colocar

família, educando e escola, frente a frente, a fim de por em prática a autocrítica, a

tolerância e o diálogo constantes, na busca de melhorias na educação.

Tudo isso nos leva a refletir e

ponderar: a escola vem conseguindo educar, transmitir

conhecimentos ou está se restringindo

a um espaço de referência

existencial: crianças,

adolescentes e jovens “pertencem à

escola” e daí?

A educação é, sem dúvida nenhuma, uma obra complexa demais para ficar apenas sob a responsabilidade da família ou da escola.

Vera Sandra Chagas de Souza

Coordenadora de Gestão – Ceará - 2005

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2.2.1 De acordo com O’Sullivan, nós seres humanos precisamos de um lugar que satisfaça nossa necessidade de proteção, afeto, de compreensão, de participação, de ócio, de criação, de identidade e de liberdade...e, que as instituições educacionais têm papel importante no sentido de alimentar o senso de comunidade e de ter um lugar no mundo. Organize um encontro com representantes de todos os segmentos da escola, e coloque a citação de O’Sullivan para apreciação. PARTE I Apresente algumas questões a serem respondidas pelo grupo. Sugestões:

a) Você concorda com o autor. Por quê? b) Relate situações vivenciadas na escola, que evidenciam um sentido de

pertencimento, um senso de comunidade. c) Aponte medidas que podem ser tomadas para que a escola possa

melhorar o sentido de pertencimento. A família pode contribuir sistematicamente para isso? Apresente, ao menos uma sugestão, envolvendo a família.

Os grupos podem ser formados segundo a função desempenhada na escola. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ PARTE II Cada grupo apresenta a sua apreciação ao grande grupo. Dessa apresentação, poderá surgir:

a) um mural, divulgando as pessoas ou o grupo de pessoas que vêm desenvolvendo ações positivas, nesse sentido, na escola.

b) Um plano de ação, envolvendo todos os segmentos da escola e a família, para melhorar o senso de comunidade dentro da escola.

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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REFERÊNCIAS AQUINO, J. G. Do cotidiano escolar: ensaios sobre a ética e seus avessos. São Paulo: Summus, 2000. ENGUITA, M. F. Educar em tempos incertos. Trad. Fátima Murad.- Porto Alegre:Artemed, 2004. ESTEVÃO, C. V. Escola e Participação: o lugar dos pais e a escola como um lugar de cuidado. Ensaio – Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, V.11, n.41, p. 415-424, out./dez. 2003. GUIMARÃES, L. F. G. Por uma parceria eficiente: família/escola. Amae Educando, Belo Horizonte, V.32, n. 288, p. 19-22, nov. 1999. O’SULLIVAN, E. Aprendizagem transformadora: uma visão educacional para o século XXI. São Paulo: Cortez. Instituto Paulo Freire, 2004. SAYÃO, R. A responsabilidade educacional da família e da escola. Revista da Ciência da Educação, Lorena, V.4. n.7, p. 87-88, nov. 2002. SOUZA, V. S. C. de. Família e Escola: a integração possível. Revista Gestão em Rede. Curitiba, PR, n.63, p.10-12, ago. 2005.

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3.1 A Família e o processo de formação global do indivíduo: algumas

considerações.

Neste espaço, busca-se iniciar uma reflexão junto às famílias sobre o modo

dos membros familiares serem uns com os outros em um mundo de

transformações, pois as relações familiares estão sendo duramente afetadas pelas

imposições do mundo moderno, com o

tempo de convivência cada vez mais

escasso, o aumento da violência, a

vulnerabilidade dos limites e a

concorrência desleal com a mídia,

entre outros, numa perspectiva de co-

responsabilidade e promoção da

família e da escola como instituições pilares na formação humana.

A tarefa de educar, em especial na era em que vivemos, da tecnologia, da

informação e do conhecimento, está carecendo enormemente de análises, de um

rever de posturas, em particular e em primeiro lugar da família e da escola.

Ourique; Tomazetti (2005, p.98) corroboram nesse sentido:

a articulação entre a educação formal, a cargo da escola, e a educação informal, desenvolvida pela família em seus pequenos, através de hábitos e condutas morais, é de grande importância para os parâmetros do que significa ser um cidadão responsável e crítico da realidade sejam alicerçados firmemente. A criança quando pequena, pede uma posição dos pais quanto ao que é realmente importante, já quando é adolescente, confronta os discursos da família com os da escola e exige coerência e sintonia entre eles.

Embora buscar uma sintonia na educação seja algo de extrema

complexidade, isso não impossibilita minimizar as divergências, para isso, é

necessário abrir espaço ao diálogo, a reflexão e a crítica construtiva, numa

perspectiva de crescimento.

3- FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA E A COMPLEXA TAREFA DE

EDUCAR

Para educar nos tempos atuais, a família precisa fortalecer-se, tornando seus membros resistentes, autores de uma luta sem trégua contra o isolamento, a falta de diálogo e de exclusão de seus membros.

Zélia Maria Lopes Marochi Secretária Municipal de Educação, Ponta Grossa - 2005

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Pinheiro (2003), fala da família como o principal referencial para a

formação da personalidade do indivíduo e que a inversão de valores que vem

ocorrendo, acarreta dificuldades para a

família, para a escola e para todos os

que, de alguma forma, comungam da

construção da pessoa. Nesse mesmo

sentido, tratando do direito de família, em relação ao dever dos pais, referindo-se

à questão do sustento, guarda e educação dos filhos, Rizzardo (2006), coloca-a

como tarefa vital, ressaltando sobretudo, a assistência pessoal, a convivência e o

acompanhamento, de acordo com a idade e a evolução da personalidade, o que

envolve, segundo ele, uma atenção às inclinações pessoais e aspirações dos

filhos.

Rizzardo (2006), considera que a formação é uma das tarefas mais difíceis

e complexas, o que exige constante presença dos pais, baseada no diálogo e

carinho, dentre os demais compromissos, afirmando que a falta de assistência dos

pais, acarreta múltiplas conseqüências na formação dos filhos, dando margem a

inúmeras formas de degradação. Sobre situações que dão margem à perda do

poder familiar, o mesmo autor relaciona, entre outras, a excessiva liberdade, a

tolerância com atos de delinqüência, a indiferença com a conduta e o desinteresse

pelas necessidades e pela conduta do filho.

Temos aí, uma parte das incumbências da família

perante os filhos, as quais vêm sendo, em alguns casos,

negligenciadas, muitas pela formação precária da família,

outras, decorrentes do pouco tempo de convivência familiar,

resultado da necessidade do sustento à família, que se torna

a cada ano mais difícil, principalmente para as famílias

socialmente menos privilegiadas, recaindo na escola, alunos

com acentuados problemas de comportamento, dentre eles,

a falta de comprometimento com as tarefas escolares, atitudes de desrespeito a

colegas e professores, agressividade, entre outros. Tais fatores se colocam como

uma barreira para a efetivação do processo ensino -aprendizagem.

Embora saibamos que a educação abrange processos formativos que se

desenvolvem em outros segmentos da sociedade, de forma mais acentuada hoje,

E a escola, nesse contexto, desestabilizada

com a avalanche de mudanças

sociais se pergunta: qual é sua função? A

quem está atendendo? Para

quê? O que priorizar?

A aprendizagem se inicia no lar, com atividades básicas nas quais a família ensina o respeito, o amor e a solidariedade, o que é básico para a convivência humana e social....

BALTASAR E MORETTI

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Como cada filho é diferente do outro, é importante para os pais saberem comunicar amor através de todas as linguagens. Gary Chapman denominou as formas pelas quais expressamos amor como AS CINCO LINGUAGENS DO AMOR. É muito importante saber que um filho valoriza mais uma das cinco, por isso é imprescindível reconhecer qual é a principal linguagem de amor de cada filho. 1ª. LINGUAGEM DE ENCORAJAMENTO - palavras sinceras de elogio e reconhecimento. Para filhos cuja principal linguagem é esta, não nada mais desestimulante do que ouvir frases depreciativas como: você não fez mais que a sua obrigação..., se tivesse se esforçado mais... 2ª. TEMPO DE QUALIDADE – dedicar tempo ao filho, ouvindo-o atentamente e dando respostas adequadas àquilo que está sendo dito; ir ao cinema, jogar bola, caminhar juntos, isso tudo é uma forma muito especial de dispor de um “tempo de qualidade” para seu filho. 3ª. TOQUE FÍSICO – abraços , beijos, andar de mãos dadas. 4ª. DAR PRESENTE- não significa compensar a ausência com excesso de bens materiais, e sim um presente simples, em um momento inesperado. 5ª. AÇÕES DE SERVIÇO – consertar ou construir um brinquedo ou roupa muito apreciado pelo filho. Comunique amor através das cinco formas, mas principalmente àquela que seu filho mais valoriza, isso vale para o casal, entre irmãos e amigos. Para saber mais: CHAPMAN, G. As cinco linguagens do amor. Editora Mundo Cristão.

num mundo globalizado, não podemos crer que tais processos tenham resultado

mais efetivo e positivo, se não integrarmos a família à escola, buscando a

devolução e a

redefinição da

competência de ambas,

refletindo sobre aspectos

legais, mas sobretudo,

as incumbências morais

que devem nortear a

família e a escola, no

processo de formação

global do indivíduo,

diante desse momento

de instabilidade.

É nesse processo

social, que as trocas

afetivas (ou não) vão

imprimindo marcas que

as pessoas carregam a

vida toda, definindo

modos de ser e agir com

os outros e

freqüentemente sendo

projetadas nas famílias

que se formam

posteriormente; daí ser

vital, a importância dada

a cada instante compartilhado com os membros da família, da transmissão de

valores, do diálogo com palavras que confirmem os sentimentos e com atitudes

que representem as palavras, afinal como coloca Szymanski (2002), “é pelos

sentimentos e estados de ânimo que nos expomos continuamente e, em

conseqüência, as pessoas interpretam-se mutuamente e a si mesmas no decorrer

de trocas intersubjetivas.”

25

3.2 Práticas Educativas Familiares

Cotidianamente as pessoas

transmitem às outras com as quais

convivem padrões de

comportamento que denotam a

forma como foram educados, ao

mesmo tempo em que, mesmo que

subjetivamente, educam (ou deseducam) por essas mesmas atitudes; esse

conjunto de atitudes que caracterizam o individuo no seu modo de ser é um

processo que se dá ao longo da vida, situado social e historicamente.

Pais e mães compreendem sua tarefa socializadora dessa mesma forma,

considerando sua historia de vida, os valores herdados, os partilhados com os

pares e os novos valores, que vêm de seu contato com outras informações e com

outros segmentos da sociedade, por esses motivos não há uma uniformidade no

modo de educar.

Segundo Szymanski (2001, p.87), as práticas educativas familiares, são

definidas como “ações contínuas e habituais pelos membros mais velhos da

família, nas trocas intersubjetivas, com o sentido de possibilitar a construção e

apropriação de saberes, práticas e hábitos sociais pelos mais jovens, trazendo em

seu interior, uma compreensão e uma proposta de ser-no-mundo com o outro”.

Sarti (1996, apud

SZYMANSKI, 2002) revela que,

na família economicamente

desfavorecida, as relações entre

seus membros seguem um

padrão tradicional de autoridade

e é uma questão de ordem moral

a subordinação dos projetos individuais aos familiares e a insistência na

hierarquia, revela-se nesse contexto a força para impor a obediência, como

objetivo último da tarefa socializadora.

O padrão de falar e ouvir no relacionamento de um casal pode determinar o padrão comunicacional e de interação com seus filhos.

Dione Rute Henneberg

Psicóloga Clínica e Escolar, Especialista em Terapia Sistêmica Familiar, Ponta Grossa - 2007

É pela educação que um adulto marca seu filho com marcas de desejo; assim, o ato educativo pode ser ampliado a todo ato de um adulto dirigido a uma criança. KUPFER, M. C. Educação para o futuro: psicanálise e educação. São Paulo: Escuta, 2000

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Embora se tenha apontado esse quadro para as famílias economicamente

desfavorecidas, percebe-se que culturalmente, ainda está

arraigada em todas as classes sociais, a visão hierárquica,

homem, mulher e crianças, norteando as práticas

educativas, num prisma de submissão, segundo regras

rígidas e pré-fixadas, com tradições imutáveis e na

dependência de opiniões alheias. Contrastando a esse

modo, estão as práticas educativas, calcadas na interação, considerando o

conhecer-se e o conhecer o outro, como uma prática de estreitamento dos laços,

ao contrário do anterior cuja submissão às regras e a autoridade pode levar ao

afastamento mútuo. Contudo, não significa que não deva haver regras e

autoridade, sobretudo nesse mundo contemporâneo, caracterizado pela

vulnerabilidade dos valores, profunda crise ética e percepção do conceito de

liberdade e limites, porém o que deve ser ressaltado é a maneira de como

definimos a autoridade e a proposição das regras, considerando o reconhecimento

do outro como um legítimo outro, de forma a possibilitar maior transparência a

cada membro da família.

Outra família é aquela caracterizada pelo

intenso controle, em vista de um ideal de

socialização, que suprime as expressões individuais

dos seus membros mais jovens e que coloca uma

preocupação excessiva com a segurança e o bem

estar dos filhos, de modo a torná-los dependentes

e com uma visão hostil do mundo.

Szymanski (2002) coloca que a estrutura

familiar não é um determinante do modo das

pessoas cuidarem de sua relação numa família

(solicitude), o que conta, segundo ela, são suas

histórias, a classe social de pertencimento, a cultura

familiar e sua organização significativa no mundo.

Entretanto, modos de agir e sentir são percebidos diferentemente nas camadas

sociais, como exemplo, destacam-se nas pesquisas, as punições físicas em maior

intensidade nas camadas empobrecidas (Mcloyd, 1990, 1998; NUNES, 1994;

Diante disso, é que buscamos abrir um espaço

para reflexão escola/família, em meio à necessária, justa e árdua busca pelo sustento, pelo provimento das famílias, o

quê e como estamos transmitindo aos nossos filhos? Como podemos

melhorar os relacionamentos

familiares, para além das condições sociais? Como

família e escola podem atuar para propiciar uma

educação efetiva diante da gama de influências do

mundo globalizado?

Práticas educativas: padrão

tradicional de autoridade, com regras rígidas e pré-fixadas ???

27

A mulher pensa em voz alta e o homem fala sozinho. A mulher usa por dia em média 6.000 a 8000 palavras, de 2000 a 3000 sons vocais e 8.000 a 10.000 gestos, expressões faciais, movimentos de cabeça e outros sinais de linguagem corporal. Os homens , porém utilizam 2.000 a 4.000 palavras, de 1.000 a 2.000 sons vocais, de 2.000 a 3.000 sinais de linguagem corporal, mais ou menos um terço da marca alcançada pela mulher.

Portanto nos relacionamentos, os parceiros precisam tomar consciência de suas maneira diferentes de enfrentar situações. O homem deve entender que, quando a mulher fala sobre um problema, ela não espera que a resposta lhe traga solução, ela só quer se expressar verbalmente. E a mulher deve compreender que o silêncio do homem não quer dizer que alguma coisa esteja errada, pois de modo geral ele usa frases curtas com um inicio simples, uma idéia clara e uma conclusão.

DIONE RUTE HENNENBERG

PSICÓLOGA E CLINICA ESCOLAR ESPECIALISTA EM TERAPIA SISTEMICA FAMILIAR, PONTA GROSSA - 2007

KASLOW, 2001, apud SZYMANSKI, 2002), denotando dessa forma que classe

social é um dos elementos definidores de relacionamento interpessoal.

O que vem sendo discutido hoje, em face das intensas mudanças sociais, é

que as práticas educativas familiares, para além do nível social, estão fragilizadas,

Guimarães (1999) relata que

muitos jovens oriundos de bom

nível social, nas suas palavras,

”vivem ao Deus dará”, e coloca

que esses jovens passam dias

até altas horas da madrugada

vendo Tv ou navegando pela

internet, sem nenhuma

intervenção dos pais; outros

permanecem nas ruas até tarde

da noite com a turma, curtindo

ou provocando brigas; num

outro contexto, crianças, filhas

de pais separados, sendo

usadas como objeto de

chantagem emocional ou

moeda para barganha em

processos de pensão alimentícia. Guimarães (1999) observa ainda que, mesmo

aquelas famílias consideradas estruturadas e estáveis, têm dificuldade de impor

limites aos filhos e isso, segundo ele, pode resultar da insegurança dos pais em

reproduzirem uma educação com a qual foram criados e hoje renegam.

As situações familiares apontadas não se apresentam de forma fechada

em cada caso, no cotidiano, o que se apresenta é uma predominância no modo de

ser, porém observa-se aberturas a outras possibilidades, de forma que, ao se

pensar a família, com perspectivas à sua promoção, novas formas de ser com o

outro, podem ser ensaiadas e instituídas.

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3.2.1 Sugestão de estratégia de trabalho para discussão de temas relevantes na prática educativa: sinais de convivência.

O nome atribuído a essa estratégia deve-se a analogia que proponho com alguns sinais de trânsito, por ser um tema acessível a todos, ao menos pelos símbolos, além de ser um material visual interessante, o qual tende a despertar o interesse, propiciando uma maior participação, além de ser um meio de fazer diversas reflexões, sendo amplas as possibilidades de interpretação e condução do trabalho.

O objetivo principal dessa estratégia é proporcionar atividades de apoio aos pais e à escola na educação, contribuindo na formação integral do aluno, e propiciando, dessa forma, um processo mais reflexivo de acompanhamento da vida escolar com vistas a um melhor rendimento escolar . Trata-se de um meio para iniciar uma reflexão sobre um tema, num encontro de pais, com indicação de leitura e material ilustrativo para cada tema. Dessa forma, um encontro poderá iniciar com a seguinte pergunta: por que existem os sinais de trânsito? Colhem-se as opiniões dos participantes, fazendo a analogia com a necessidade de criarmos normas, atribuir limites e sinalizar a nossa convivência..... SINAL DO DIA:

“SINAIS DE CONVIVÊNCIA”

Lançam-se as seguintes questões: 1- Significado : preferencial ou dê a preferência 2- O que ela está indicando para o trânsito? 3- O desrespeito a essa sinalização pode implicar em que? 4- Fazer a analogia, solicitando aos participantes que elenquem situações, pessoas ou coisas que são “preferenciais”, as quais elas, enquanto pais, mostram a seus filhos que os mesmos devem dar “preferência”. Fechar a discussão comparando esse sinal de trânsito, com um sinal de convivência, por exemplo, RESPEITO. Problematizar essa questão, permeando questões como o respeito às pessoas mais velhas em geral, pessoas com necessidades especiais, a diversidade de raças, ao meio ambiente, etc.

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TEMA: RESPEITO

Sugestões de materiais que poderão subsidiar a discussão do Tema Respeito: 1- Texto Falar e ouvir para amar no contexto familiar. HENNEBERG. Revista Escola

de Pais do Brasil. 2007, p.2.

OBS: Esse mesmo tema abordado com os pais poderá ser trabalhado com os alunos pelos próprios pais, durante o período das aulas, resultando em um painel para toda a escola, por um período pré-determinado, onde os alunos poderiam estar afixando exemplos (reportagens, fotos, relatos) de atitudes de respeito.

E assim com quantos sinais se quiser trabalhar. Exemplos:

TEMA: AUTORIDADE

Sugestões de textos que poderão subsidiar a discussão do Tema Autoridade: 1- MÃES MÁS. Revista Escola de Pais do Brasil. A convivência familiar e ambientes

externos. 2006, p.8. 2- A autoridade no processo educacional:os orientadores educacionais como

mediadores das relações de poder. Ourique e Tomazetti. Revista Educação. Disponível em: <http:www.ufsm.br/ce/revista>

RESPEITO

PARE

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TEMA: LIMITES

Sugestões de materiais que poderão subsidiar a discussão do Tema Limites: 1- Artigo: A liberdade e o limite – Eduardo J. M. Monteiro. AMAE Educando. 1999,

p.14-15. 2- O desafio de colocar limites- um comentário de Geíza Maria Simão. AMAE

Educando. 1999, p.16. 3- Artigo: Sem descaso, sem desamor, com LIMITES – Arnalda do S. Costa. AMAE

Educando. 2006, p.06-10.

TEMA:ORIENTAÇÃO/DIÁLOGO/COMUNIC.

Sugestões de materiais que poderão subsidiar a discussão do Tema Orientação: 1- Falar e ouvir no contexto familiar – Dione Rute Hennenberg. Revista Escola de Pais

do Brasil - Pais e filhos: é possível a comunicação?. 2007, p.2. 2- Amor: arma contra o silêncio. Roger Adriano B. Mazur. Revista Escola de Pais do

Brasil - Pais e filhos: é possível a comunicação?. 2007, p.8. 3- Linguagens do amor. Rev Cláudio Jose Rati. Revista Escola de Pais do Brasil - Pais

e filhos: é possível a comunicação?. 2007, p.9.

80 KM

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32

RATI, C. J. Linguagens do Amor. Revista Escola de Pais do Brasil, Seccional de Ponta Grossa, p.9, 2007. RIBEIRO, I.; RIBEIRO, A. C. T. (orgs).; DUARTE, L. F. et al. Família em Processos Contemporâneos: Inovações Culturais na Sociedade Brasileira. São Paulo: Loyola, 1995. RIZZARDO, A. Direito de Família: Lei nº 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro: Forense, 2006. RODRIGUES, O. M. R. et al. Psicologia do desenvolvimento e aprendizagem: investigações e análises. São Carlos: Rima, 2004. 176p. SAYÃO, R. A responsabilidade educacional da família e da escola. Revista da Ciência da Educação, Lorena, V.4. n.7, p. 87-88, nov. 2002. SCHIOCHET, C.M.; ALBERS, N.K.; PICK, R.E. Família – Núcleo Essencial na Formação de Virtudes: uma perspectiva antropológica. Monografia. Universidade Estadual de Ponta Grossa/Universidad de La Sabana/IEF. 2006. SIMÃO, G. M. O desafio de colocar limites. Amae Educando. p.16, 1999. SZYMANSKI, H. Viver em família como uma experiência de cuidado mútuo: desafios de um mundo em mudança. Serviço Social e Sociedade, n.71, ano XXIII, p.9-25, set. 2002. ______________. A relação família/escola: perspectivas e desafios. Brasília, Plano, 2001. VIANA, M. J.B. Novas abordagens da escolarização das camadas populares: uma revisão de estudos recentes acerca de trajetórias escolares de sucesso. Vertentes, São João Del Rei, nº 7,p.82-93, jan./jun. 1996.

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A função social da escola é ensinar bem e preparar os indivíduos para

exercer a cidadania e o trabalho no contexto de uma sociedade complexa,

enquanto se realizam como pessoa (VIEIRA, 2002).

Família e escola estão vivendo a chamada

“crise existencial”, a ineficácia de ambas é tema de

livros, artigos, discursos, onde permeiam expressões

de mudança como reinventar, reconceituar, rever,

resgatar, transformar, ao lado de outras expressões

indicativas de mudança, como cooperação, coletivo,

humano, diversidade, comunidade, interação,

afetividade, resiliência, flexibilização, abertura,

participação, parcerias e tantas outras; de modo que, a união, como um meio de

minimizar esse quadro de crise, traz consigo a síntese dessas expressões. Muitos

desses termos, implícita ou explicitamente estão presentes na fala Libâneo (2001,

p.131-132) ao fazer referência à gestão democrática:

A gestão democrática participativa valoriza a participação da comunidade escolar no processo de tomada de decisão, concebe a docência como trabalho interativo, aposta na construção coletiva de objetivos e das práticas escolares, no diálogo e na busca do consenso.

Os princípios da gestão democrática apontam para ações pensadas e

decididas no coletivo, dessa forma, temos nesse modelo de gestão o principal

condicionante à participação.

4.1 Determinantes Legais

A Lei 9394/96-LDBEN, ao tratar dos princípios e fins da educação, explicita:

“a educação, dever da família e do Estado...tem por finalidade o pleno

desenvolvimento educacional...” e ainda, a mesma Lei coloca, “os

4- ESCOLA: condicionantes internos da participação

Como a escola irá ensinar bem se as pessoas

as quais ela está procurando atender não estão bem, estão, muitas

vezes, “carentes”, de recursos, de alimentação, de limites, de diálogo e de

convivência?

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estabelecimentos de ensino terão a incumbência de ... articular-se com as famílias

... criando processos de integração...” (art. 4º LDBEN/96). Por outro lado, o

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), determina que é direito dos pais ou

responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da

definição das propostas educacionais (Cap. IV, parágrafo único).

As leis dão garantia à participação da família na escola, quando incumbem

os estabelecimentos de ensino de criar processos de integração, bem como

quando colocam como direito à participação e acompanhamento do processo

escolar, e, explicitam ainda que a educação é primeiro dever da família, é com a

família que se inicia o processo de educar, processo esse, ampliado pela

educação escolar com o apoio do Estado.

4.2 Associação de Pais, Mestres e Funcionários - APMF e Conselho Escolar

Quanto a incumbência dos estabelecimentos de ensino, no que se refere à

viabilização de meios que propiciem a integração com as famílias, as escolas o

fazem, oficialmente, pelos órgão colegiados APMF e Conselho Escolar.

O que ocorre, em alguns casos, é que a

existência de mecanismos de ação coletiva como a

APMF- Associação de Pais, Mestres e Funcionários e

o Conselho Escolar, que deveriam propiciar a

participação mais efetiva da população, e em

especial, das famílias nas atividades da escola, não

vêm desenvolvendo, satisfatoriamente, a essa

finalidade, segundo Paro (2004), em parte, isso se

deve ao caráter formalista e burocratizado desses

órgãos colegiados.

Ocorre que apesar de todo o discurso democrático, sobretudo o

envolvimento coletivo nas discussões dos processos educativos, este ainda está

centrado no interior da escola, é possível que tal fato ocorra não, simplesmente,

pela desconsideração da importante participação da comunidade, em especial da

família, mas sim, principalmente, a um processo histórico de afastamento das

APMF? Quais suas atribuições? Quem são seus integrantes?

Como se articulam com os demais segmentos da

escola? Que atividades estão sendo

desenvolvidas pela APMF neste momento?

35

PARTICIPAÇAO DAS FAMÍLIAS NAS ESCOLAS

Em um trabalho organizado pela Assitente Social Profª Divanir

Eulália Naressi Munhoz – UEPG, sob o Tema: ESCOLA,

FAMÍLIA E SOCIEDADE, encontramos algumas sugestões

para melhorar esse processo, são elas:

a) Minimizar os procedimentos burocráticos;

b) Valorizar ao máximo as contribuições familiares (críticas,

idéias, presença...);

c) Inventar espaços de discussão/conversa;

d) Trabalhar temas da atualidade e necessários, a partir de sugestões das famílias;

e) Abrir espaços para conversas individuais com mães, pais,

responsáveis, de modo a melhorar o nível de segurança e

auto-estima das pessoas;

f ) Buscar na comunidade se há iniciativas de apoio psico-social,

especialmente através das igrejas, e tentar organizar tais

iniciativas em rede, buscando o apoio de profissionais da

cidade, num sentido humanitário e de solidariedade entre as

pessoas.

g) Programas de socialização e lazer para as famílias,

valorizando os seus aspectos culturais (usos e costumes); a

partir do seu senso comum para discutir inf ormações mais

elaboradas.

famílias, em especial as provenientes dos meios pobres e desfavorecidos,

conforme escreve Nóvoa (1998, apud BEZZANT, p. 45, 2003):

Monopólio é a palavra certa para descrever a forma como a Igreja (séculos XVI a XVIII) e depois o Estado (séculos XVIII a XX) ocuparam o campo educativo, tornando ilegítima a intervenção de outros atores sociais. A pouco e pouco, as famílias e as comunidades viram-se afastadas da coisa educativa; todas as razões serviram para justificar este afastamento: a ignorância dos pais, os maus costumes da família, a influência nefasta do meio social, etc. Os discursos foram assumidos, em primeira linha, pelos professores que demarcaram sua condição de especialistas contra os agentes educativos naturais.

Romper com esse processo de afastamento não é tarefa simples, no Brasil,

a democracia,

enquanto forma de

participação é muito

recente e frágil e a

escola precisa educar

e educar-se para a

participação. Trata-se

de um processo

complexo, que se

inicia na concepção

e pré-disposição

individual para a

participação e que se

efetiva (ou não)

através dos

mecanismos coletivos

de viabilização dessa

participação. Esse

rompimento não se

dá ao acaso, é, antes de tudo, uma decisão; é querer; é programar.

36

4.3 Niveis de participação

Bastiani (1993, apud BHERING, E.; SIRAJ-BLATCHFORD, 1999) afirma

que “o envolvimento de pais com a escola passou a ser considerado nos últimos

anos como uma preocupação necessária e legítima e não pode ser mais uma

opção extra”, que poderá ou não existir.

No Brasil, estudos salientam a importância do contato com os pais em

outras situações que não aquelas extremas e problemáticas (PINHEIRO, apud

FERRAZ, 1986; FALCÃO FILHO, 1989; SMOLKA, 1989; PINTO, 1985); outros

estudos brasileiros (CARVALHO, 1989, VIANA, 1993) destacam o movimento das

camadas populares, na maioria compostos pelas mães, em luta pela escola,

considerando o acesso e melhoria da qualidade do ensino público, porém sem

maiores envolvimentos com o ensino e a aprendizagem (apud BHERING, E.;

SIRAJ-BLATCHFORD, 1999).

Constatações como essas sustentam a busca permanente por processos

que viabilizem a interação família e escola, como condição essencial para o

comprometimento da família com as questões da escola, de forma a levá-la a

sentir-se parte da mesma, e portanto responsável pelos rumos os quais ela [a

escola] tomará.

Sobre a efetivação dos processos participativos no interior da escola,

Gandin (1988) estabelece três níveis de participação: o primeiro nível é o da

colaboração, que corresponde à participação no seu primeiro estágio. Nesse nível,

as pessoas são convocadas a colaborar na execução de um projeto, de uma idéia,

de uma decisão definida por outra pessoa. O segundo nível é o da delegação de

poderes, que representa um nível mais avançado de participação, embora a

estrutura básica de poder permaneça a mesma. O poder é distribuído como

concessão. A direção define os limites da liberdade do outro, de forma que

continua havendo o que pensa e o que executa. O terceiro nível é o da construção

conjunta. Esse nível coloca todos os interessados sob uma mesma ótica, tudo é

definido em conjunto, quebrando a dicotomia planejador X executor.

A maioria da ações no interior da escola se dão no nível de delegação de

poder e as ações que envolvem a família, em sua maior parte, são a nível de

colaboração, de modo que as tentativas de interação escola-família, ainda vêm

37

sendo pontuais, fragmentadas e desarticuladas, ficando tais ações voltadas ao

suprimento de pessoal nos eventos festivos da escola ou na manutenção predial.

Organizar o trabalho na escola, abrindo

espaços para participação das famílias, não é

apenas uma reestruturação da forma de trabalho,

mas uma mudança de paradigma na vigência da

escola, das relações de poder e distribuição de

tarefas, trata-se realmente de reinventar a escola,

numa perspectiva de co-responsabilidade, de

participação efetiva, não apenas no fazer, mas no

processo de refletir e decidir, o quê e como fazer.

Oliveira (1997, p.44), corrobora nesse sentido: Melhorar a qualidade da educação vai muito além da promoção de reformas curriculares, implica, antes de tudo, criar novas formas de organização do trabalho na escola, que não apenas se contraponham às formas contemporâneas de organização e exercício do poder, mas que constituam alternativas práticas possíveis de se desenvolverem e de se generalizarem, pautadas não pela hierarquia de comando, mas por laços de solidariedade, que se consubstanciam formas coletivas de trabalho, instituindo uma lógica inovadora no âmbito das relações sociais.

É importante que essas duas instituições percebam pelo diálogo, a

importância da conjugação das suas forças, e não uma sobrepondo a outra, ou,

uma assumindo a responsabilidade, que fundamentalmente, cabe a essa e não

àquela.

4.3.1 Sugestão de questionários para verificar a percepção de familiares e equipe escolar acerca da participação da família na escola. _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

...a família não virá para normatizar o processo educativo, assim como a escola não irá conduzir a dinâmica familiar, trata-se de um processo de abertura onde, sem receios ou jogo de culpa, possamos encontrar alternativas que permitam ampliar o contexto desta relação.

Dulce Maria Mantuano Netto, Marta Maria Melo Vieira Franco,Vânia Lúcia Resende Rasuk

Orientadoras Educacionais

Nesse sentido, é que precisamos, no coletivo da escola e junto às famílias,

definirmos: o que é participar?, sob o ponto de

vista da escola e da família a aproximação de ambas é

importante? Por quê? O que escola e família esperam

dessa participação?, De que forma esse processo de participação poderá se

efetivar?

38

Caros familiares, este questionário visa colher algumas informações que irão servir para programar as atividades escolares com a participação dos pais, durante o ano de _____, no período _______. Sua participação é indispensável para que possamos melhor atendê-los.

a) Você acha importante acompanhar o processo escolar do seu filho? Por quê?

SIM NÃO

Por quê?_____________________________________________________

b) De que forma você vem participando da vida escolar do seu filho?

conversando com ele sobre o que aprendeu na escola. Sentando com ele para olhar seus cadernos. Ajudando a cumprir em casa os deveres da escola. Cobrando um horário fixo de estudos. Outras formas________________________________________________ ____________________________________________________________

c) Como você gostaria de participar da vida escolar do seu filho em 2008? somente nas reuniões quando for convidado ou convocado.

Desenvolvendo várias atividades na escola. Fazendo parte de um grupo voluntário para desenvolver atividades com os alunos, no período da tarde. Fazendo parte de um clube de mães ou pais, que além de outras atividades, também acompanharia de maneira mais próxima o desenvolvimento do filho na escola.

Outras formas________________________________________________ ____________________________________________________________

d) Assinale o horário que você considera melhor para participar de atividades na escola: Pela manhã Inicio da tarde Fim da tarde À noite Aos sábados

Nome do responsável:_______________________________________Idade ______ Nome do aluno:_______________________________________

“A escola e a família precisam estar juntas para poder melhor conduzir a

criança” Queremos o melhor para o seu filho e para isso contamos com você!

Sejam bem vindos ao nosso Colégio.

39

4.3.2 Tabule os dados obtidos nos dois questionários e socialize com a equipe escolar, contraste os dados:

a) Expectativa da equipe escolar quanto à participação da família e posicionamento da família quanto a essa participação.

b) O horário considerado pelos familiares mais propicio à participação na escola e a disponibilidade dos professores envolvidos.

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

c) Solicite que os membros da APMF que se apresentem (se necessário) e

confirmem ou relatem outras ações, voltadas ao incentivo da família, que não foram citadas pelos respondentes do questionário.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ d) Abra um debate com a seguinte questão: Como vencer as dificuldades

da participação dos órgãos colegiados? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4.3.3 Organize um encontro com os familiares, socialize os dados obtidos (apresente-os através de gráficos) e inicie um plano de participação com base nesses dados.

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

40

REFERÊNCIAS ARROYO, M. Educação em tempos de exclusão. In: GENTILI, P.; FRIGOTTO, G. (orgs.). A cidadania negada: políticas de exclusão na educação e no trabalho. São Paulo: Cortez; [Buenos Aires, Argentina]: CLACSO, 2001. BEZZANT, T.M. G. da S. Relações humanas entre família e escola. MATHESIS: Revista Educação, Jandaia do Sul, V.4, n. ½, p. 43-52, jan. 2003. BHERING, E.; SIRAJ-BLATCHFORD, I. A Relação Escola-Pais: um modelo de trocas de colaboração. Cadernos de Pesquisa, n. 106, p. 191-213, mar. 1999. BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto da Criança e do Adolescente. 3. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006. _______.Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9394/96. Brasília:1996 ESTEVÃO, C. V. Escola e Participação: o lugar dos pais e a escola como um lugar de cuidado. Ensaio – Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, V.11, n.41, p. 415-424, out./dez. 2003. GANDIN, D. Escola e Transformação Social. Ed. Vozes. Petrópolis, RJ, 1988. LIBÂNEO, J.C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2001. LÜCK, H. et al. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. Rio de janeiro: DP & A, 2002. MANTUANO NETTO, D. M.; FRANCO, M. M. M. V.; RASUK, V.L.R. A família vai à escola. Amae Educando, Belo Horizonte, v.25, n. 228, p.33-35, jun. 1992. MUNHOZ, D. E. N. Escola, Família e Sociedade. Apostila. Ponta Grossa: UEPG OLIVEIRA, D. A. (org.). Gestão Democrática da Educação: desafios Contemporâneos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2004. VIEIRA, S. L. (org). Gestão da escola: desafios a enfrentar. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

41

3º SEMINÁRIO INDISCIPLINA NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA. SINDICATO DAS ESCOLAS PARTICULARES DO PARANÁ-SINEPE/ UNIVERSIDADES PARANAENSES

Em seminário em Curitiba, Professores reforçam a importância da parceria com os pais... Indisciplina na escola tem origem em casa. ( frase em destaque na reportagem) “As escolas também têm sua parcela de responsabilidade...falta para muitas a habilidade de lidar com os problemas e aflições das crianças e adolescentes. ... De modo geral as escolas pouco buscam a presença e quando buscam não sabem se comunicar com os pais. Ainda mandam bilhetinhos.” Joe Garcia

Professor de Mestrado da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP e organizador do Seminário

Na Escola ATUAÇÃO em Curitiba, maior envolvimento com as famílias e redução de alunos por turma (até 20 alunos por sala) foram medidas que contribuíram para diminuir problemas graves de indisciplina.

Gazeta do Povo, 10/11/07

5.1 Participação dos Pais na Vida escolar dos Filhos

A importância da

participação dos pais, na vida

escolar dos filhos, tem

apresentado importante papel

na aprendizagem, de forma

que a discussão sobre a

aproximação da família com a

escola vêm evoluindo para a

busca de mecanismos que

possibilitem um maior e

melhor envolvimento.

Muitos pesquisadores,

na década de 80, fizeram

estudos no sentido de

identificar as maneiras pelas

quais os professores e as

escolas se utilizavam para

trabalhar mais próximos dos

pais, com vistas a que, estes

se sentissem mais atraídos

para se envolver mais com a escola (SMITH, 1980; BASTIANI, 1986; CYSTER et

al, 1979; WONFENDALE, 1983; HANNON, 1987; EPSTEIN, 1982,86; JOWETT,

1988, 1991 e outros apud BHERING, SIRAJ-BLATCHFORD, 1999). A literatura

também mostra projetos que evolviam os pais no ensino da leitura e mais tarde na

5- Processos de integração família-escola: relatos de

experiência

42

Epstein e Dauber (1991), em seus estudos de formas de envolver os pais com a escola, concluíram que, quando os professores incluem os pais na sua rotina de trabalho, esses pais começam a interagir mais com as crianças em casa, sentem-se mais confiantes em ajudá-los, acham que os professores são melhores, mais competentes e confiantes no que fazem e, por outro lado, as crianças começam a melhorar o comportamento e o rendimento. Para saber mais: BHERING, E.; SIRAJ-BLATCHFORD, I. A relação Escola-Pais: um modelo de trocas e colaboração. Cadernos de Pesquisa, n.106, p.191-216, mar/99.

matemática, trazendo resultados positivos não só para as crianças, como também

para os pais que se sentiram mais conscientes do que se passava na escola

(HEWISON, TIZARD, 1980; TIZARD, SCHOFIELD, HEWISON, 1982; HANNON,

JACKSON, 1987, BRYANT, 1995 e outros apud BHERING, SIRAJ-

BLATCHFORD, 1999).

Nas Filipinas, por exemplo, criou-se o PLSS (Sistema de Apoio Pedagógico

dos Pais), um programa inovador que reconhece o papel dos pais na educação

dos filhos e facilita a sua colaboração com os professores. Cada estabelecimento

de ensino conta com um grupo de pais e professores, que colocam o programa

em prática, organizando seminários destinados aos pais, com a finalidade de os

aconselhar sobre o modo de contribuir para a educação dos seus filhos, sendo

que esses participam em alguns momentos ao lado de seus pais. No decorrer do

programa, os pais são associados ao processo pedagógico, o qual sob orientação

do professor, ajudam os filhos no trabalho em casa ou na escola. Como resultado

positivo desse projeto, ressalta -se a redução na taxa de abandono escolar, fato

que levou o projeto a ser experenciado em outras partes do país (DELORS, 1999,

apud BEZZANT, 2003).

Mella (et al., 2002, apud GOMES, 2005), cuja pesquisa referia-se a escolas

bem sucedidas, acentuou o papel destacado dos alunos e dos pais como atores

significantes. Rodrigues (et al.,

2004), num estudo cujo

objetivo foi identificar a quais

fatores os educadores, os pais

e os próprios alunos atribuem o

sucesso ou o fracasso escolar,

coloca entre outros, que o

professor deve promover a

colaboração dos pais, que

devem participar ativamente da

educação de seus filhos,

esclarecendo ainda que colaboração dos pais não significa responsabilidade pelo

43

ensino, mas a oportunidade de exercitar o praticar o que a escola ensina, o que

segundo ele é um primeiro passo para a construção do sucesso escolar, a ação

conjunta entre professores, alunos e seus pais.

5.2 Processos de Integração Família-Escola

Muitas instituições escolares vêm

viabilizando meios de enfrentar esse desafio,

a integração escola-família, e, é do

reconhecimento e importância dada aos

benefícios da prática de integração família-

escola que surgiram os projetos que relataremos adiante.

5.2.1 RODA DE PAIS: espaço de cidadania (ROSÁRIO, 2001).

Esse projeto desenvolveu-se no Pré-Escolar Rita de Cássia Figueiredo,

situado em Contagem - MG, com encontros mensais realizados no turno da

noite, envolvendo a comunidade escolar. Tais encontros foram norteados

pelo seguintes objetivos: ampliar e favorecer a participação de todos

(escola/família) na formação da criança; favorecer a construção significativa

de uma proposta de educação/homem/sociedade, extrapolando a visão

conteudista, reducionista e fragmentada; criar espaço de formação e

vivência da cidadania, sem medo do confronto com a diferença e com a

diversidade e; estabelecer uma relação escola/comunidade harmoniosa,

com vínculos baseados no respeito, na confiança e na solidariedade.

O primeiro tema abordado na roda de pais – Afinal, de quem é a bola?, foi

introduzido através de uma dramatização, com a finalidade de se fazer

reflexões acerca dessa importante parceria. Após esse primeiro momento,

onde ficou claro que a bola é de todos, que escola e família tem papéis

importantes e diferentes a cumprir, mas que fazem parte de uma mesma

roda e, juntos, devem sustentar a bola, os pais, em grupo, listaram temas

de interesse, para posterior elaboração do cronograma anual da roda de

Onde os pais vigiam, censuram e aplaudem, a educação melhora.

Vera Sandra Chagas de Souza Coordenadora de Gestão, Ceará - 2005

44

pais. Os temas sugeridos pelos pais foram: dever de casa (reflexões e

questionamentos), limites, sexualidade, ausência do pai, a proposta

pedagógica, a televisão e a educação.

A avaliação do projeto se dava a cada encontro, onde os pais por meio de

relatos orais ou escritos, manifestavam os níveis de atendimento às

expectativas, os avanços e a participação individual e coletiva, sempre na

perspectiva de viabilizar os meios necessários para aperfeiçoar o processo.

5.2.2 PROJETO: SE OS PAIS NÃO VÃO À ESCOLA, A ESCOLA VAI ATÉ

OS PAIS (SILVA, et al)

Esse trabalho foi uma iniciativa da Escola Reitor Álvaro Augusto Cunha

Rocha, Educação Infantil e Ensino Fundamental, do CAIC/UEPG – Ponta

Grossa - PR, oportunizada a 366 famílias, com o objetivo de promover a

discussão de temas de interesse familiar, proporcionando em diferentes

momentos, atividades de apoio aos pais, na educação dos filhos,

contribuindo assim para a formação integral e familiar do aluno. A escola

apresentou aos pais, via questionário, uma lista de temas, para que os

mesmos apontassem os assuntos de sua preferência, sendo que do total de

seis temáticas, três foram mais votadas, Pais que trabalham o dia todo

como podem dar atenção aos filhos? (41%), Limites e conflitos com os

filhos (22%), Televisão como administrar? (16%). Para facilitar o acesso dos

pais aos temas foram oferecidos como opções: leitura domiciliar dos textos,

palestras ou grupo de estudos. A avaliação das atividades do projeto foi

feita via questionário, onde os pais relataram contribuições imediatas no

seu cotidiano familiar.

5.2.3 PROJETO RETRATOS DE FAMÍLIA (BANDEIRA, 2006)

Evento anual, realizado pelo Instituto Libertas de Educação e Cultura –

Belo Horizonte, “Retratos de Família” é um encontro que reúne alunos e

familiares, amigos e colaboradores. O objetivo é que os pais reconheçam

seus espaços dentro da escola, como parceiros do processo

45

ensino/aprendizagem, além de ser uma confraternização e integração entre

família e instituição educacional. A opção por se comemorar um dia com a

família, se deu devido às novas configurações familiares, de forma que,

pai, mãe, tios, avós, primos, o namorado da mãe ou a namorada do pai,

entre outras possibilidades, participassem, contrapondo-se a prática do Dia

dos Pais ou das Mães, separadamente.

Diversas atividades são realizadas, entre elas, caminhadas, piquenique

coletivo, oficinas de circo e artes, jogos de dama e Mostra coletiva num

Espaço Cultural, com a exposição de trabalhos assinados por pais de

alunos e professores.

5.2.4 FAMÍLIA: ASSUNTO DE ESCOLA (RODRIGUES, 1999)

Projeto desenvolvido na Escola Municipal de Pré-escolar D. Labibe

Rachid de Abreu (Papagaios – MG), com objetivo de fornecer subsídios para

esclarecimentos às famílias sobre o trabalho realizado pela escola,

mostrando a sua real finalidade, nas palavras da supervisora: ”...esclarecer

que a Escola Infantil é uma mola que impulsiona a criança a traçar seu

projeto de vida, na escola ou fora dela, e não um depósito de crianças onde

elas ficam, enquanto os pais trabalham”, visando também buscar a

melhoria no ensino-aprendizagem. Daí surgiu um projeto interdisciplinar que

permite aos alunos uma nova visão do universo familiar, onde diversas

atividades envolvendo a família foram programadas, tais como: os alunos

escreviam cartas às suas mães; discussão do tema “família” em sala de

aula; levantamento de dados das famílias (visitas às famílias, entrevista oral

ou escrita); gincanas para angariar material de higiene para as famílias mais

pobres, e convidar, uma vez por semana, uma mãe, por sorteio, para

participar da aula e confecção e distribuição da merenda.

Em sala de aula, diversas atividades foram desenvolvidas

considerando o tema família, no nível de desenvolvimento pré-escolar, razão

pela qual não as detalharemos aqui.

46

5.2.5 A FAMÍLIA VAI À ESCOLA (MANTUANO NETTO; FRANCO E

RASUK, 1992)

apresentamos aqui, as sugestões dadas por num artigo que aborda o

comprometimento da escola com a busca de atividades que possibilitem a sua

interação com a família. São elas:

a) REUNIÃO DE PAIS: trabalho centralizado em um só tema, esgotando-se

em uma só reunião.

b) CURSO PARA PAIS: trabalho realizado em torno de um tema executado ao

longo de vários contatos (reuniões) ou bloco de temas oferecidos a um

mesmo grupo.

c) ACOMPANHAMENTO PARALELO DE PAIS E FILHOS (POR SÉRIE): na

medida em que se desenvolve o projeto, junto aos pais, trabalham,

paralelamente, os alunos, com temas específicos da faixa etária.

Consideramos que tais experiências, com as adequações necessárias a

cada realidade, possam ser úteis, na medida em que são exemplos, e que destes,

possam suscitar outros, no iminente processo de aproximação escola/família.

5.3 Sugestão de atividade: num encontro com pais, professores, equipe escolar, distribua uma experiência citada acima, por grupo, solicitando:

47

I FASE a) os pontos positivos e negativos observados na estratégia; b) uma avaliação quanto à viabilidade de implementar tal proposta na sua

escola, incluindo os recursos necessários e os meios de provê-los, se necessário.

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ II FASE

a) apresentação das análises por grupo ao grande grupo; b) levantamento de experiências vivenciadas pelos partícipes da reunião; c) eleição da(s) experiência(s) mais relevante ao contexto; d) elaboração de um plano de implementação da(s) proposta(s).

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

48

REFERÊNCIAS BANDEIRA, F. Retratos de Família. Amae Educando, Belo Horizonte, V.39, n. 344, p. 30-33, nov. 2006. BEZZANT, T.M. G. da S. Relações humanas entre família e escola. MATHESIS: Revista Educação, Jandaia do Sul, V.4, n. ½, p. 43-52, jan. 2003. BHERING, E.; SIRAJ-BLATCHFORD, I. A Relação Escola-Pais: um modelo de trocas de colaboração. Cadernos de Pesquisa, n. 106, p. 191-213, mar. 1999. GOMES, C. A. A escola de qualidade para todos: abrindo as camadas da cebola. Ensaio: aval. Pol. Públ. Educ., Rio de Janeiro, v.13, n.48, p.281-306, jul./set.2005. MANTUANO NETTO, D. M.; FRANCO, M. M. M. V.; RASUK, V.L.R. A família vai à escola. Amae Educando, Belo Horizonte, v.25, n. 228, p.33-35, jun. 1992. RODRIGUES, T. de J. Família: assunto de escola. Amae Educando, Belo Horizonte, V.32, n. 283, p. 17-19, maio 1999. ROSARIO, A. C. Roda de pais: espaço e cidadania. Amae Educando, Belo Horizonte, V.34, n.301, p.20-22, ago. 2001. SAYÃO, R. A responsabilidade educacional da família e da escola. Revista da Ciência da Educação, Lorena, V.4. n.7, p. 87-88, nov. 2002. SILVA, R. M. et al. Se os pais não vão à escola, a escola vai até os pais. Revista Conexão UEPG, Ponta Grossa, V.1, n.1, p.55-57, 2005. SOUZA, V. S. C. de. Família e Escola: a integração possível. Revista Gestão em Rede. Curitiba, PR, n.63, p.10-12, ago. 2005. VIANA, M. J.B. Novas abordagens da escolarização das camadas populares: uma revisão de estudos recentes acerca de trajetórias escolares de sucesso. Vertentes, São João Del Rei, nº 7,p.82-93, jan./jun. 1996.

49

ALERTA URGENTE!!! Temos um longo caminho a percorrer na construção de uma parceria mais

efetiva entre família e escola.

Contudo, acreditamos que somente através de um diálogo estabelecido

entre essas instituições, considerando as mudanças históricas, a diversidade de

arranjos familiares e as desvantagens materiais e culturais de grande parte das

famílias, entre outros, é que poderemos contribuir, através da busca dessa

aproximação, para o sucesso da educação pública.

Esperamos que os pontos aqui levantados possam suscitar reflexões no

coletivo escolar e familiar, de modo que, as instituições Família-Escola, lócus de

produção de identidade social, possam repensar sua responsabilidade educativa

e, considerando a especificidade do papel de cada uma, através de uma maior

comunhão entre pais e professores, entre família e escola, a educação seja mais

efetiva, visando o bem-estar e o sucesso escolar das crianças.

50