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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2017.0000664200
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas nº 0023203-35.2016.8.26.0000, da Comarca de Piracicaba, em que é requerente MM JUIZ DE DIREITO DA 5ª VARA CIVEL DA COMARCA DE PIRACICABA.
ACORDAM, em Turma Especial - Privado 1 do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Por unanimidade, deliberaram a apreciar o mérito e fixar as seguintes teses jurídicas da causa piloto que se processa em Primeira Instância.
TEMA 01: É válido o prazo de tolerância, não superior a cento e oitenta dias estabelecido no compromisso de venda e compra para entrega de imóvel em construção, desde que previsto em cláusula contratual expressa, clara e inteligível. Tese jurídica proposta pelo Relator e aprovada por maioria simples de votos: É valido o prazo de tolerância, não superior a cento e oitenta dias corridos estabelecido no compromisso de venda e compra para entrega de imóvel em construção, desde que previsto em cláusula contratual expressa, clara e inteligível. Vencidos os Desembargadores Elcio Trujillo, Luis Mario Galbetti, Carlos Alberto Garbi e Beretta da Silveira.
TEMA 02: Admite-se que o prazo de entrega da unidade autônoma tenha termo inicial da data de obtenção do financiamento pelo adquirente, desde que a cláusula contratual seja redigida de modo claro e não ultrapasse seis meses da data do registro da incorporação (art. 34, Lei 4.491/64).Tese jurídica proposta pelo Relator rejeitada, vencidos os Desembargadores Francisco Loureiro (Relator), Percival Nogueira, James Siano, Galdino Toledo, Álvaro Passos, Luis Mario Galbetti e Mary Grun. Tese jurídica aprovada por maioria simples de votos, conforme a proposta do Desembargador Carlos Alberto Garbi: Na aquisição de unidades autônomas futuras, financiadas na forma associativa, o contrato deverá estabelecer de forma expressa, clara e inteligível o prazo certo para formação do grupo de adquirentes e para entrega do imóvel. Vencidos os Desembargadores Donegá Morandini, Piva Rodrigues, James Siano e Fábio Quadros.
TEMA 03: Alegação de que a multa contratual, prevista em desfavor do promissário comprador, deve ser aplicada por reciprocidade e isonomia, à hipótese de inadimplemento da promitente vendedora. Por unanimidade, deram por prejudicado em razão da afetação do tema pelo Superior Tribunal de Justiça (REsps 1614721/DF e 1631485/DF, Tema 971), nos termos do disposto no art. 976, parágrafo 4º, do CPC.
TEMA 04: Indenização por danos morais em virtude do atraso na entrega das unidades autônomas aos promitentes compradores. Por unanimidade, rejeitaram o estabelecimento de qualquer tese em razão do tema envolver necessariamente matéria fática ao exame de cada caso concreto.
TEMA 05: O atraso da prestação de entrega de imóvel objeto de compromisso de compra e venda gera obrigação da alienante indenizar o adquirente pela privação injusta do uso do bem. O uso pode ser calculado economicamente pela
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medida de um aluguel, que é o valor correspondente ao que deixou de receber, ou teve de pagar para fazer uso de imóvel semelhante, com termo final na data da disponibilização da posse direta ao adquirente da unidade autônoma já regularizada". Tese jurídica proposta pelo Relator e aprovada por maioria simples de votos: O atraso da prestação de entrega de imóvel objeto de compromisso de compra e venda gera obrigação da alienante indenizar o adquirente pela privação injusta do uso do bem. O uso será obtido economicamente pela medida de um aluguel, que pode ser calculado em percentual sobre o valor atualizado do contrato, correspondente ao que deixou de receber, ou teve de pagar para fazer uso de imóvel semelhante, com termo final na data da disponibilização da posse direta ao adquirente da unidade autônoma já regularizada. Vencidos os Desembargadores Grava Brazil e Donegá Morandini
TEMA 06: É ilícito o repasse dos juros de obra ou juros de evolução da obra, após o prazo ajustado no contrato para entrega das chaves de unidade autônoma, incluído o período de tolerância. Tese jurídica proposta pelo Relator e aprovada por unanimidade: "É ilícito o repasse dos "juros de obra", ou "juros de evolução de obra", ou taxa de evolução da obra", ou outros encargos equivalentes após o prazo ajustado no contrato para entrega das chaves da unidade autônoma, incluído período de tole", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente), ELCIO TRUJILLO, JOSÉ ROBERTO FURQUIM CABELLA, LUIS MARIO GALBETTI, CARLOS ALBERTO GARBI, MARY GRÜN, GRAVA BRAZIL, PERCIVAL NOGUEIRA, BERETTA DA SILVEIRA, PIVA RODRIGUES, NATAN ZELINSCHI DE ARRUDA, SILVÉRIO DA SILVA, JAMES SIANO, GALDINO TOLEDO JÚNIOR E ALVARO PASSOS.
São Paulo, 31 de agosto de 2017
FRANCISCO LOUREIRO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Processo nº: 0023203-35.2016.8.26.0000
Classe: Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas
Assunto: Promessa de Compra e Venda
Órgão Julgador: Turma Especial Direito Privado 1
Partes: Requerente MM JUIZ DE DIREITO DA 5ª VARA
CIVEL DA COMARCA DE PIRACICABA
Interessados:
- Júnior de Moura Ataíde
- MVR Engenharia e Participações S/A
- Parque Piazza Navona incorporações SPE Ltda.
- Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias ABRAINC
- Câmara Brasileira da Indústria da Construção CBIC
- Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor do governo do
Estado de São Paulo Procon/SP
- Ordem dos Advogados do Brasil Seção de São Paulo
- Sindicato das Empresas de Compra e Venda, Locação e
Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de são Paulo
SECOVI
- Sindicato da Indústria da construção Civil de Grandes Estruturas
do Estado de São Paulo - SINDUSCON-SP
Foro/Vara de origem: Foro de Piracicaba - 5ª. Vara C
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VOTO Nº 31361
INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS. TEMAS RELACIONADOS AOS REQUISITOS E EFEITOS DO ATRASO DE ENTREGA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM CONSTRUÇÃO.TEMAS APROVADOS PELA TURMA JULGADORATema no. 01 - “É válido o prazo de tolerância, não superior a cento e oitenta dias corridos estabelecido no compromisso de venda e compra para entrega de imóvel em construção, desde que previsto em cláusula contratual expressa, clara e inteligível”.
Tema no. 02 “Na aquisição de unidades autônomas futuras, financiadas na forma associativa, o contrato deverá estabelecer de forma expressa, clara e inteligível o prazo certo para a formação do grupo de adquirentes e para a entrega do imóvel.”Tema no. 05 “O atraso da prestação de entrega de imóvel objeto de compromisso de compra e venda gera obrigação da alienante indenizar o adquirente pela privação injusta do uso do bem. O uso será obtido economicamente pela medida de um aluguel, que pode ser calculado em percentual sobre o valor atualizado do contrato, correspondente ao que deixou de receber, ou teve de pagar para fazer uso de imóvel semelhante, com termo final na data da disponibilização da posse direta ao adquirente da unidade autônoma já regularizada”
Tema 06 - “É ilícito o repasse dos "juros de obra", ou “juros de evolução da obra”, ou “taxa de evolução da obra”, ou outros encargos equivalentes após o prazo ajustado no contrato para entrega das chaves da unidade autônoma, incluído período de tolerância”.
Tema 07 - “A restituição de valores pagos em excesso pelo promissário comprador em contratos de compromisso de compra e venda far-se-á de modo simples, salvo má-fé do promitente vendedor”.
Tema 08 - “O descumprimento do prazo de entrega de imóvel objeto de compromisso de venda e compra, computado o período de tolerância, não faz cessar a incidência de correção monetária, mas tão somente dos juros e da multa contratual sobre o saldo devedor. Devem ser substituídos indexadores setoriais, que refletem a variação do custo da construção civil, por outros indexadores gerais, salvo quando estes
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últimos forem mais gravosos ao consumidor”.
Tema 09 - “Não se aplica a multa prevista no artigo 35, parágrafo 5º. da L. 4.591/64 para os casos de atraso de entrega das unidades autônomas aos promissários compradores”.
TEMAS PREJUDICADOS OU REJEITADOSTema 03 “Alegação de que a multa contratual, prevista em desfavor do promissário comprador, deve ser aplicada por reciprocidade e isonomia, à hipótese de inadimplemento da promitente vendedora”.
Tema 04 “Indenização por danos morais em virtude do atraso da entrega das unidades autônomas aos promitentes compradores”.
Cuida-se de incidente de resolução de demandas
repetitivas (arts. 976/987 NCPC) instaurado a requerimento do MM. Juiz
de Direito Mauro Antonini, Titular da 5ª. Vara Cível da Comarca de
Piracicaba, utilizando como caso paradigma ação indenizatória por atraso
de entrega de unidade autônoma futura, em contrato de compromisso de
compra e venda.
Propõe o MM. Juiz de Direito que as questões
repetitivas objeto do presente pedido de resolução, comuns a milhares de
ações similares que se processam em todo o Estado de São Paulo,
abordem os seguintes temas:
I. Alegação de nulidade da cláusula de tolerância de 180 dias
para além do termo final previsto no contrato;
II. Alegação de nulidade de previsão de prazo alternativo de
tolerância para a entrega de determinado número de meses
(em regra 24 meses) após a assinatura do contrato de
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financiamento;
III. Alegação de que a multa contratual, prevista em desfavor do
promissário comprador, deve ser aplicada por reciprocidade e
isonomia, à hipótese de inadimplemento da promitente
vendedora,
IV. Indenização por danos morais em virtude do atraso da entrega
das unidades autônomas aos promitentes compradores;
V. Indenização por perdas e danos, representada pelo valor
locativo que o comprador poderia ter auferido durante o
período de atraso;
VI. Ilicitude da taxa de evolução de obra;
VII.Restituição dos valores pagos em excesso de forma simples
ou em dobro;
VIII.Congelamento do saldo devedor enquanto a unidade
autônoma não for entregue aos adquirentes;
IX. Aplicação da multa do art. 35 , parágrafo 5º., da L. 4.591/64 ao
incorporador inadimplente;
Entende o MM. Juiz de Direito proponente que
existe o risco de sentenças contraditórias geradoras de insegurança
jurídica, de modo que a fixação de precedente de natureza vinculativa
traria inúmeros benefícios aos jurisdicionados e à própria celeridade que
se espera do Poder Judiciário.
Foi acolhida, em sede de juízo de admissibilidade
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e por maioria de votos, a proposta de instauração do incidente de
resolução de demandas repetitivas, na forma dos artigos 976 e seguintes
do NCPC (fls. 243/272).
A decisão que admitiu a instauração do incidente,
também por maioria de votos, não determinou a suspensão de todos os
processos que versam sobre os temas repetitivos.
Houve divulgação e publicidade do incidente,
mediante publicação de editais e registro em banco eletrônico de dados
do TJSP e CNJ (art. 979, par. 1º. NCPC e 192 RITJSP).
Determinou-se a oitiva das partes do processo do
qual se extraiu o incidente, no prazo de 15 dias (art. 983 NCPC).
Manifestaram-se nos autos:
a) Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias ABRAINC
(fls. 292/333 e documentos de fls. 350/429);
b) Câmara Brasileira da Indústria da Construção CBIC ( fls. 430/437
e documentos de fls. 444/459);
c) MVR Engenharia e Participações S/A e Parque Piazza Navona
incorporações STE Ltda. (fls. 460/500);
d) Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor do governo do
Estado de São Paulo Procon/SP (fls. 534/583);
e) Ordem dos Advogados do Brasil Seção de São Paulo Comissão
de Direito Urbanístico (fls. 584/606);
f) Sindicato das Empresas de Compra e Venda, Locação e
Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de são Paulo
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SECOVI (fls. 607/638);
g) Sindicato da Indústria da construção Civil de Grandes Estruturas
do Estado de São Paulo - SINDUSCON-SP (fls.703/767);
Foram as entidades de classe e demais
intervenientes admitidos como amicus curiae.
A Procuradoria Geral de Justiça ofereceu
parecer (fls. 507/533).
Foi publicado edital e lançado o registro do
IRDR nos bancos eletrônicos de dados do TJSP e do CNJ (art. 979, par.
1º. NCPC e 192 RITJSP).
O MM. Juiz de Direito Mauro Antonini, Titular da
5ª. Vara Cível da Comarca de Piracicaba, que requereu a instauração do
presente incidente, juntou aos autos caso idêntico relativo ao mesmo
empreendimento imobiliário, uma vez que o original perdeu objeto por
força de transação celebrada entre as partes litigantes.
É o relatório.
I - Do cabimento do IRDR
1. Não há óbice à análise de mérito do presente
IRDR.
As inúmeras manifestações colhidas dos autos
são uníssonas quanto ao conhecimento e processamento do presente
incidente, pois presentes preenchidos que se encontram os dois
requisitos cumulativos previstos no artigo 976 do NCPC, a saber:
I - efetiva repetição de processos que contenham
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controvérsias sobre o mesmo tema;
II - risco de ofensa à isonomia e segurança
jurídica.
Não há dúvida alguma que os nove temas
suscitados são objeto de milhares de demandas semelhantes que correm
no Estado de são Paulo, algumas delas já sumuladas por este Tribunal
de Justiça, tal a frequência de sua incidência.
Presente também o risco de ofensa à isonomia
e segurança jurídica. Repito aqui o que já deliberou a Turma julgadora
por ocasião da decisão de admissibilidade do incidente. Sem embargo de
parte dos temas objeto deste incidente de resolução de demandas
repetitivas já se encontrar sumulado pelo Tribunal de Justiça de São
Paulo, persiste a utilidade e a necessidade de recebimento e
processamento do presente feito.
Isso porque não se confundem os efeitos dos
verbetes sumulados de jurisprudência do Tribunal de Justiça de São
Paulo com os efeitos da decisão que julga incidente de resolução de
demandas repetitivas.
As sumulas de jurisprudência apenas indicam o
entendimento prevalecente do Tribunal de Justiça estadual, sem
qualquer efeito vinculativo ou consequências processuais mais
expressivas.
Já a decisão do incidente de resolução de
demandas repetitivas, de acordo com o novo Código de Processo Civil,
além do efeito vinculativo, gera expressiva gama de consequências
processuais, dentre as quais:
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a) A possibilidade de o juiz julgar liminarmente improcedente o
pedido que contrariar o entendimento firmado em incidente de
resolução (artigo 332, III, NCPC);
b) A possibilidade de o juiz conceder tutela de evidencia se as
alegações de fato puderem ser comprovadas por documentos e
houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos (art.
311, II,NCPC);
c) A possibilidade de se promover execução provisória sem
prestar caução (art. 521, IV, “e”, NCPC);
d) A possibilidade de se negar provimento a recurso de apelação
por decisão monocrática (art. 932, IV, “c”, NCPC)
2. Destaco que no curso do processamento do
presente IRDR ocorreu a extinção do processo paradigma, por força de
transação celebrada entre as partes.
Levando em conta, porém, a existência de dezenas de
casos idênticos em curso perante a Comarca de Piracicaba, tendo por
objeto o mesmo contrato-tipo e unidades autônomas situadas no mesmo
condomínio edilício, se procedeu à alteração do caso paradigma.
Caso idêntico ao anterior foi encaminhado pelo MM.
Juiz de Direito Mauro Antonini, da 5ª. Vara Cível da Comarca de
Piracicaba. O feito caso-piloto diz respeito à unidade no mesmo
edifício, e as teses jurídicas discutidas são rigorosamente iguais às da
demanda original.
3. Uma palavra apenas sobre a possibilidade de
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processamento e julgamento de IRDR suscitado por Juiz de Direito de
Primeiro Grau, tal como permite a regra expressa do artigo 977, I, do
código de Processo Civil.
A questão, a rigor, já se encontra superada pelo
Acórdão que, por maioria de votos, admitiu o processamento do IRDR.
O artigo 978, parágrafo único, do Código de Processo
Civil dispõe que “o órgão colegiado incumbido de julgar o incidente e de
fixar a tese jurídica julgará igualmente o recurso, a remessa necessária
ou o processo de competência originária de onde se originou o
incidente”.
Discute-se em sede doutrinária se o incidente de IRDR
se encontra vinculado a uma “causa-piloto”, com julgamento de situação
concreta, ou, ao contrário, de decisão abstrata de uma tese jurídica, a
partir de situação padrão (cfr. Sofia Temer, Incidente de Resolução de
demandas repetitivas, Juspodium, Salvador, p. 66-67; Alexandre
Freitas Câmara, O novo processo Civil Brasileiro, Atlas, p. 479; Kátia
Regina Souza, Julgamento de casos repetitivos no CPC de 2.015,
tese de mestrado aprovada na FDUSP, orientada pelo Des. Walter
Piva Rodrigues, p; 42 e seguintes).
Sucede que no caso em exame, como acima
mencionado, a “causa-piloto” se encontra ainda em Primeira Instância,
razão pela qual, embora possam ser apreciadas as circunstâncias do
caso concreto, não há como julga-la diretamente neste incidente, pena
de supressão de um Grau de jurisdição.
A proposta que se faz à Turma Julgadora é a
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conciliação das duas correntes doutrinárias “causa piloto” e decisão
abstrata de tese jurídica - mediante cisão cognitiva do incidente. Far-se á
o julgamento segundo as teses jurídicas do caso-piloto concreto. As
teses firmadas servirão ao MM. Juiz de Direito para julgar a demanda,
sem o risco de supressão de instancia.
Diga-se que essa cisão cognitiva é ínsita ao IRDR. Na
lição de autorizada doutrina, “há, portanto, uma cisão cognitiva ainda
que virtual e não física , firmando-se a tese jurídica no procedimento
incidental em que haverá se reproduzido o “modelo” que melhor
represente a controvérsia jurídica que se repete em dezenas ou milhares
de pretensões. A tese jurídica será aplicada em seguida às demandas
repetitivas, por ocasião do julgamento propriamente dito da causa
perante o juízo em que tramitar o processo, momento este em que será
feita também a análise e julgamento das questões éticas e das questões
jurídicas não comuns pelo juízo competente, esgotando-se a análise da
pretensão ou demanda propriamente dita” (Aluisio Gonçalves de
Castro Mendes e Sofia Temer, O incidente de resolução de
demandas repetitivas no novo Código de Processo Civil, Revista de
Processo, vol.243, maio de 2.015, Editora RT, p. 290).
A questão da aparente contradição entre a
possibilidade legal de o IRDR ser suscitado por Juiz de Primeiro Grau e a
supressão de instancia causada pelo julgamento direto perante o
Tribunal de Justiça é solucionada pelos autores acima citados:
“O primeiro é que a formação perante o segundo grau de
incidente com origem em processo sem decisão de primeiro grau
criaria hipótese de avocação de causa, deslocamento de
competência ou criação de competência originária, sem respaldo
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constitucional. A preocupação é válida e consistente. Não obstante,
se admitirmos a natureza objetiva do incidente (sobre a qual
discorremos no item 4.1. acima), com a cisão cognitiva para a
fixação de tese e não julgamento da causa propriamente dita, tal
problema poderia ser contornado, porque o tribunal apenas fixaria
uma norma jurídica abstrata, retomando-se o julgamento da
demanda perante o juízo originário, sem, portanto, o deslocamento
de competência da para julgamento da causa propriamente dita”
(obra citada, p. 298).
A proposta que se faz à Turma Julgadora,
portanto, é no sentido de apreciação do mérito e fixação das teses
jurídicas da causa-piloto que se processa em Primeira Instancia.
Com o escopo de evitar a avocação do
processo e supressão de instancia, as teses jurídicas firmadas serão
aplicadas pelo MM. Juiz de Direito ao caso concreto sob sua jurisdição.
4. Um dos temas propostos deve ser prima facie
excluído, por imperativo legal, do julgamento do presente IRDR, em
atenção ao disposto no artigo 976, parágrafo 2º., do CPC.
Trata-se do tema 03 alínea “c” acima, do
seguinte teor:
“Alegação de que a multa contratual, prevista em
desfavor do promissário comprador, deve ser aplicada
por reciprocidade e isonomia, à hipótese de
inadimplemento da promitente vendedora”.
O Superior Tribunal de Justiça. em data recente,
afetou exatamente a mesma tese em regime dos recursos repetitivos
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(REsps 1614721/DF e 1631485/DF - Tema 971), Relator o Ministro
Paulo de Tarso Sanseverino. Para fins de confronto, reproduzo o tema
afetado:
“Possibilidade ou não de inversão, em desfavor da
construtora (fornecedor), da cláusula penal estipulada
exclusivamente para o adquirente (consumidor), nos
casos de inadimplência da construtora em virtude de
atraso na entrega de imóvel em construção objeto de
contrato ou de promessa de compra e venda”
Proponho, desde logo, a exclusão do tema 3
(alínea c), pois, na forma do artigo 976, parágrafo 4º. do CPC, “incabível
o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos
tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver
afetado o recurso para definição de tese sobre questão de direito material
ou processual repetitiva”.
Quanto aos demais temas, o cabimento de
alguns deles despertou controvérsia por ocasião da decisão de
admissibilidade do incidente, inclusive com dissensão de parte da Turma
Julgadora. Surgiram, na ocasião, diversas e proveitosas discussões entre
os julgadores, em especial quanto ao exato conteúdo dos temas objeto
do incidente.
Tais discussões se encontram resumidas no culto
voto em separado lançado pelo Eminente Desembargador Grava Brasil.
Prevaleceu por votação da maioria, porém, o entendimento de que o
julgamento de mérito dos temas objeto do incidente é que proporcionará
a exata redação e o limite dos enunciados.
Cabe à Turma Especial Julgadora redigir com
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precisão, modular, restringir, ou rejeitar os temas propostos e já
admitidos em sede de juízo provisório.
Entendo mais apropriado, com o objetivo de
ordenar a discussão e o próprio Acórdão, que o cabimento e a redação
dos enunciados sejam apreciados em itens separados.
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II Temas objeto do IRDR
Tema no. 1 - Alegação de nulidade da
cláusula de tolerância de 180 dias para além do termo final previsto
no contrato
O primeiro tema é conhecido e tem
jurisprudência sedimentada deste Tribunal de Justiça, cristalizada na
Súmula 164, cujo verbete contém:
“É válido o prazo de tolerância não superior a cento e
oitenta dias, para entrega de imóvel em construção,
estabelecido no compromisso de venda e compra, desde que
previsto em cláusula contratual expressa, clara e inteligível”.
Nada impede a rediscussão do tema, própria ao
incidente de resolução de demandas repetitivas, cujos efeitos são mais
amplos do que a simples súmula de jurisprudência majoritária. A súmula,
de resto, foi questionada por alguns dos amicus curiae e pela
Procuradoria Geral da Justiça, em suas manifestações.
Não vejo razão, no entanto, para qualquer
alteração substancial ao que contém a Súmula 164, acima transcrita,
pelas razões que passo a expor.
Por força de norma cogente prevista no art. 43,
II, da Lei n. 4.591/64, deverá constar obrigatoriamente do contrato de
compromisso de venda e compra em incorporação imobiliária o prazo de
entrega da obra e o dever de o incorporador indenizar os adquirentes,
caso não conclua a edificação, ou a retarde sem justificativa.
Logo, violaria não somente as regras relativas à
incorporação imobiliária, como também as do Código de Defesa do
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Consumidor um contrato em que a prestação de entrega da unidade
fosse de prazo indeterminado, ou cominasse isenção de pena pelo
inadimplemento. No dizer de Melhin Namem Chalhub, qualquer que
seja a modalidade de contrato celebrado entre incorporador e
adquirentes, uma das cláusulas essenciais é a que indica “o regime da
construção, as condições de execução da obra, o prazo de conclusão e
suas eventuais prorrogações, com a estipulação de penalidades para o
caso de inadimplemento das obrigações do incorporador” (Melhin
Namem Chalhub. Da incorporação imobiliária. 3. ed. atual. Rio de
Janeiro: Renovar, 2010, p. 180).
Os contratos de compromisso e de venda e
compra de unidade futura, regidos pela L. 4.591/64, normalmente são de
consumo e de adesão. São de consumo, porque, salvo casos específicos
de investidores qualificados ou de pessoas jurídicas com expertise na
área da construção civil, existe hipossuficiência técnica ou econômica
dos adquirentes. São de adesão, porque o incorporador redige
unilateralmente o contrato e dá pouco ou nenhum espaço ao adquirente
para inserir alterações.
Existe antiga prática, que de tão usada e aceita
no meio social já se converteu em fonte normativa subsidiária - usos e
costumes - de inserir no contrato cláusula segundo a qual a
incorporadora/construtora tem a seu favor um prazo de tolerância
adicional de seis meses para entrega da obra. Discute-se a abusividade
de tal cláusula à luz do Código de Defesa do Consumidor, ou seja, se
não criaria desvantagem excessiva ao consumidor por ter de aguardar o
prazo suplementar para receber a prestação principal.
O entendimento amplamente majoritário do
Tribunal de Justiça de São Paulo é no sentido de não se reconhecer a
abusividade da cláusula, desde que clara e expressa, de prazo adicional
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de tolerância para entrega da obra, mas que não exceda tempo razoável
e proporcional à complexidade da prestação.
Os argumentos que se colocam em favor de tal
interpretação são de duas ordens.
Primeiro, o fato de tal cláusula ser habitual e já
incorporada nos usos e costumes de quem adquire unidades na planta,
de tal modo que não colhe de surpresa o consumidor e nem viola a sua
boa-fé objetiva. É praxe arraigada e aceita pelo mercado imobiliário.
Some-se a isso a exigência de ser a cláusula expressa, de modo a
informar e esclarecer o adquirente de possível retardo.
Segundo, como constou de Acórdão deste
Tribunal de Justiça “porque a construção de imóveis depende de diversos
fatores e, por vezes, encontra obstáculos no seu regular
desenvolvimento, tais como a dificuldade na aquisição de materiais, na
contratação de mão de obra, ou na obtenção de autorizações pelo Poder
Público, como também empecilhos decorrentes de alterações climáticas
que não eram previsíveis. E, porque tais circunstâncias efetivamente
influem no tempo necessário à conclusão das obras do empreendimento,
é plenamente justificável que o contrato preveja a prorrogação do prazo
de entrega” (TJSP, Apelação Cível 0028017-92.2012.8.26.0562, 4ª
Câmara de Direito Privado, Rel. Milton Carvalho, j. em 25/07/2013; no
mesmo sentido, entre centenas de outros, Apelação n.
0145194-42.2011.8.26.0100, 6ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des.
Alexandre Lazzarini, j. em 06/09/2012; Apelação n.
0193649-38.2011.8.26.0100, 4ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des.
Maia da Cunha, j. em 16/08/2012; Apelação n.
0041930-33.2011.8.26.0577, 4ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des.
Natan Zelinschi de Arruda, j. em 19/07/2012; Apelação n.
0102851-31.2011.8.26.0100, 9ª Câmara de Direito Privado, Rel. Lucila
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Toledo, j. em 22/05/2012; Apelação n. 9090857-03.2004.8.26.0000, 9ª
Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Viviani Nicolau, j. em
25/05/2010; Apelação n. 0022882-40.2011.8.26.0011; TJSP, 3ª Câmara
de Direito Privado, Rel. Donegá Morandini, j. 29/01/2013; TJSP, AC
0035314-56.2013.8.26.0000, 8ª Câmara de Direito Privado, Rel. Pedro
de Alcântara da Silva Leme Filho, j. 31/07/2013; Apelação n.
0017961-18.2012.8.26.0071, 6ª Câmara de Direito Privado, Rel. Fortes
Barbosa, j. 01/08/2013).
Disso decorre que se a cláusula que regula o
prazo de tolerância é expressa, clara e usual, já incorporada e absorvida
pelos usos e costumes, não há razão para o reconhecimento de sua
abusividade e nulidade.
Além disso, a cláusula de tolerância é
proporcional e adequada ao grau de complexidade da prestação de
construção e entrega de unidades autônomas em incorporação
imobiliária, bem como aos múltiplos fatores que podem provocar o seu
retardo controlado.
Existe reconheço corrente deste Tribunal de
Justiça que admite a licitude do prazo de tolerância, desde que motivado
e demonstrada a razão do atraso. Dizendo de outro modo, insuficiente
alegar que não foi possível concluir a obra no prazo inicial, e que o uso
do prazo complementar previsto em contrato se faz necessário. Deve ser
invocada e demonstrada a existência de fatos não imputáveis ao
empreendedor que justifiquem o atraso
Tome-se como exemplo, entre outros, o
Acórdão proferido pela 10ª. Câmara de Direito Privado, Apelação cível nº
1019144-12.2015.8.26.0100, Rel. Des. Carlos Alberto Garbi, j. 9 de maio
de 2017, cuja ementa, na parte que interessa ao tema, contém:
“O prazo de tolerância se dá, justamente, em razão da
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imprevisibilidade de ocorrências que podem comprometer o
andamento das obras. Prometido à venda o imóvel com a
estipulação de prazo certo para a sua entrega, deve o
compromissário vendedor, que tem recebido as prestações
pactuadas, entregá-lo no prazo previsto, não podendo se
eximir de cumprir a obrigação contratualmente assumida
perante os compromissários compradores. A cláusula que
prevê o prazo de tolerância para a entrega das obras coloca
o compromissário comprador em desvantagem exagerada e,
à luz do princípio da boa-fé e de acordo com o previsto no
art. 51 do CDC, não deve ser levada em consideração para
indicar o termo inicial da mora da vendedora”.
O Eminente Desembargador Carlos Alberto Garbi, em
posição endossada pelo não menos Eminente Desembargador Beretta
da Silveira, escreveu culto voto parcialmente divergente, no qual
sustenta, em abono à tese já posta em anteriores Acórdãos, que o prazo
denominado de “tolerância” não afasta a mora dos empreendedores
imobiliários.
Entendem que os empreendedores já se encontram em
mora, que somente se afasta caso demonstrada uma das eximentes de
responsabilidade civil caso fortuito ou força maior. Escoado o prazo de
tolerância, a mora se converteria em inadimplemento absoluto do
vendedor.
Com o devido respeito, o termo “tolerância” não exprime
com precisão a natureza da cláusula. Isso porque tolerância significa
indulgência, condescendência do credor. Na verdade, o que ajustaram as
partes desde que mediante cláusula clara e expressa foi um prazo
complementar para entrega da obra. Logo, o adquirente não é
indulgente, nem condescendente após o prazo inicial. Aguarda por mais
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seis meses porque assim se obrigou, por força de cláusula negocial.
Também não me seduz a tese posta no voto divergente,
pelo viés da abusividade do prazo complementar em relações de
consumo. Não vejo violação ao dever de informação, nem frustração de
justas expectativas do adquirente. Isso porque a cláusula que prevê o
prazo de tolerância deve ser clara e expressa. Além disso, os usos e
costumes se encarregaram essa a função dessa fonte normativa
secundária de tornar tal prazo socialmente aceito e já incorporado nas
expectativas e na confiança dos contratantes.
Não vejo sentido, finalmente, na alegação de que o prazo de
tolerância configuraria mora, e o seu escoamento a converteria em
inadimplemento absoluto. Sabido que o que distingue as duas situações,
na clássica lição de Agostinho Alvim: “há inadimplemento absoluto
quando não mais subsiste para o credor a possibilidade de receber a
prestação; há mora quando persiste essa possibilidade” (Da Inexecução
das Obrigações e suas Consequências, Edição Saraiva, 1.959, p. 46).
Há, assim, falta imputável ao devedor, que torna irrecuperável o
cumprimento da prestação, ainda que tardio. A obrigação, pois, não foi
cumprida, nem poderá mais sê-lo. Não parece ser esse o caso de atraso
na entrega de unidades autônomas, uma vez que a prestação remanesce
naturalmente útil ao credor, ainda após o escoamento do prazo de
tolerância.
Destaco que o Superior Tribunal de Justiça, em dezenas de
decisões monocráticas, tem admitido a licitude dos prazos adicionais
ou de tolerância. Lembro que não se enfrentou o tema de modo direto,
mas tão somente para negar provimento a agravos tirados contra
decisões que indeferiram o processamento de recursos especiais, com
fundamento nas Súmulas números 5 e 7 daquela Corte Superior. Confira-
se:
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“Observa-se que foi pactuada a entrega da unidade para o mês de
outubro de 2010, com prazo de tolerância de 180 (cento e oitenta
dias). Aludidos prazos encontram-se dentro do limite razoável de
tolerância para entrega da obra, conforme praxe utilizada pelas
empresas da construção civil”.
(REsp 1472803, Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, j
09/06/2017; no mesmo sentido, AgInt no AREsp 761627 / SP,
Ministro MOURA RIBEIRO, j. 01/12/2016, entre dezenas de
outros)
Entre as duas correntes admissão e rejeição do prazo de
tolerância, preferível a primeira, expressa na Súmula 164 deste Tribunal,
que não exige a prova de fatos não imputáveis ao incorporador. Admitir a
segunda corrente significaria investigar matéria fática complexa em
milhares de casos repetitivos, a exigir produção de prova técnica com
alto custo e injustificável atraso na entrega da prestação jurisdicional.
De outro lado, a adoção da corrente expressa na
Súmula 164 deste Tribunal de Justiça, que admite a cláusula de
tolerância sem necessidade de prova de fatos não imputáveis ao
incorporador, tem exatamente a função de mitigar os múltiplos fatores
que podem provocar o retardamento de obra de grande porte.
Logo, se tais fatores já se encontram embutidos
no prazo adicional de tolerância, não pode o empreendedor servir-se das
mesmas escusas como excludentes de responsabilidade civil, se nem o
prazo suplementar é respeitado.
Isso porque o prazo adicional de tolerância
posto no contrato por cláusula negocial, como acima visto, tem
exatamente a função de criar em favor do empreendedor certa
elasticidade, levando em conta os naturais percalços que podem ocorrer
em um empreendimento de grande porte. Não faria sentido que, escoado
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o prazo adicional, as mesmas razões fossem invocadas para elidir o
inadimplemento da prestação de entrega da unidade ao adquirente.
Exatamente por essa razão o Tribunal de Justiça
de São Paulo editou a Súmula no. Súmula 161, cujo verbete contém:
“Não constitui hipótese de caso fortuito ou de força maior, a
ocorrência de chuvas em excesso, falta de mão de obra,
aquecimento do mercado, embargo do empreendimento ou,
ainda, entraves administrativos. Essas justificativas encerram
“res inter alios acta” em relação ao compromissário
adquirente”.
O entendimento do Tribunal de Justiça é no
sentido que, escoado o prazo de tolerância, desde que ajustado de modo
expresso e claro, eventual escassez de materiais ou de mão de obra não
constituem excludentes de responsabilidade civil. Na lição clássica de
Agostinho Alvim, trata-se de fortuito interno ligado à própria atividade
geradora do dano, ou à pessoa do devedor e, por isso, leva à
responsabilidade do causador do evento. Somente o fortuito externo, ou
força maior, é que exoneraria o devedor, mas exigiria fato exógeno, que
não se liga à pessoa ou empresa por nenhum laço de conexidade. Se a
responsabilidade se funda na culpa, é suficiente o caso fortuito para
exonerar o devedor. Todavia, se a responsabilidade se funda no risco, tal
como ocorre em relações de consumo, então o simples caso fortuito não
o exonerará, mas será mister a força maior, ou, como alguns dizem, o
fortuito externo (Agostinho Alvim. Da inexecução das obrigações e
suas consequências. São Paulo: Saraiva, 1949, p. 291). Isso porque
se insere entre os riscos com os quais deve arcar aquele que, no
exercício da autonomia privada, gera situações potencialmente lesivas à
sociedade (Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barboza e Maria
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Celina Bodin de Moraes. Código Civil interpretado conforme a
Constituição. Rio de Janeiro: Renovar, 2004. v. I, p. 706).
Essa a razão pela qual não endosso a divergência
parcial manifestada pelos Eminentes Desembargadores Carlos Alberto
Garbi e Beretta da Silveira. Se o próprio Tribunal de Justiça sumulou
entendimento no sentido de que entraves administrativos, excesso de
chuvas, falta de material ou de mão de obra constituem fortuitos internos,
inerentes ao próprio risco da atividade, não faz sentido se exija a prova
de sua ocorrência para afastar os efeitos da mora durante o denominado
prazo de tolerância.
Finalmente, entendo adequada a observação lançada
pelo Eminente Desembargador Donegá Morandini, no sentido de fazer
constar que o prazo de tolerância de até 180 dias tem por objeto dias
corridos. A inserção de tal qualificadora afasta a possibilidade
encontrável em alguns contratos que o prazo se conta em dias uteis, a
ensejar indevida e pouco clara extensão. Incorporo, portanto, a sugestão
para que do enunciado conste que o prazo se conta em dias corridos.
Em resumo, proponho que o tema de número 1 receba
enunciado coincidente com o da Súmula 164 do Tribunal de Justiça de
São Paulo:
“É válido o prazo de tolerância, não superior a cento e
oitenta dias corridos, estabelecido no compromisso de
venda e compra para entrega de imóvel em construção,
desde que previsto em cláusula contratual expressa,
clara e inteligível”.
Tema no. 2 - Alegação de nulidade de
previsão de prazo alternativo de tolerância para a entrega de
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determinado número de meses (em regra 24 meses) após a
assinatura do contrato de financiamento
Cabe inicialmente decidir se o tema merece
apreciação de mérito.
A tese em exame despertou, por ocasião da
decisão de admissibilidade do incidente, dissensão levantada com
judiciosos argumentos pelo Desembargador Grava Brazil. Entendeu S.
Exa. que não deveria o IRDR prosseguir “sobre a referida controvérsia,
que, embora diga com cláusula inserta no contrato firmado entre
comprador e construtora, seu reflexo no crédito associativo e, assim, no
próprio PMCMV, é inconteste e não pode ser olvidado”.
Acrescentou que o tema guarda relação e
desperta “possível interesse da CEF, da União Federal e sobre a
necessidade de intervenção do Ministério Público Federal, da Defensoria
Pública Federal e da Advocacia Geral da União, trazendo para o âmbito
do IRDR a indesejável discussão sobre a competência e o impasse de se
dar prosseguimento ao incidente na Justiça Estadual, sem a
possibilidade de sua remessa à Justiça Federal, visto que as demandas
repetitivas se materializam aqui e não lá”.
Não resta dúvida que os denominados “prazos
alternativos” de entrega da obra, com termo inicial contado da aprovação
de financiamento relacionado ao Programa Minha Casa Minha Vida -
PMCMV, têm peculiaridades que devem consideradas pela Turma
Julgadora para aferir a sua licitude e eventual abusividade.
Tal circunstância, porém, não constitui óbice à
admissão da tese, que preenche os requisitos do artigo 976 do NCPC, a
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saber: a) efetiva repetição de processos que contenham controvérsias
sobre o mesmo tema; b) risco de ofensa à isonomia e segurança jurídica.
Também não vejo óbice quanto ao fato de os
muitos dos contratos que preveem prazos alternativos de entrega se
sujeitarem às regras especiais do Programa Minha Casa Minha Vida.
Isso não desfigura a sua natureza de contrato de compromisso de
compra e venda celebrado entre o empreendedor e o adquirente
consumidor, e nem impede a edição de enunciado, que levará em conta
a operação econômica entabulada entre as partes.
Não há interesse direto da Caixa Econômica
Federal, ou da União Federal, a justificar a intervenção do Ministério
Público Federal e da Advocacia Geral da União, com consequente
deslocamento da competência para a Justiça Federal.
Isso porque não se discute aqui a validade dos
contratos de financiamento, muito menos a exigibilidade dos créditos
garantidos pela CEF ou outros agentes financeiros. A discussão está
circunscrita à validade de cláusulas apostas em contratos preliminares
(anteriores ao financiamento) celebrados entre a
construtora/incorporadora e o adquirente, e os efeitos de eventual
abusividade, especialmente a pretensão indenizatória.
Não faz sentido que as demandas repetitivas que
versem sobre suposta abusividade de prazos alternativos de entrega de
unidades, geradoras do presente incidente, sejam julgadas às centenas
pela Justiça Comum, mas a decisão de caráter vinculativo, que fará
cessar a incerteza jurídica, seja decidida pela Justiça Federal.
Acrescento que eventual pretensão indenizatória
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se dará exclusivamente entre promitentes compradores e os
empreendedores imobiliários, sem qualquer reflexo direto no contrato de
financiamento.
O contrato de financiamento não é afetado pela
suposta abusividade dos prazos alternativos de entrega das unidades
autônomas.
O prazo ajustado no contrato de financiamento
será respeitado, e o mútuo não é invalidado, ou alterado diretamente por
suposta abusividade na cláusula que fixa prazos alternativos para
entrega das unidades autônomas.
Eventuais prejuízos decorrentes do atraso de
entrega das unidades serão cobrados somente da empreendedora
imobiliária em razão de cláusula obscura ou alternativa, violadora dos
deveres de esclarecimento e de informação nas relações de consumo.
A questão foi apanhada de modo preciso pelo
Eminente Procurador de Justiça David Cury Júnior, que em seu parecer
fez constar a seguinte passagem:
“Com a devida vênia, não há reflexo para o agente
financeiro em face da referida cláusula, capaz de justificar a sua
presença no incidente, por se tratar de estipulação em contrato
bilateral de venda e compra, sem imposição de quaisquer ônus
àquele, não atingido pelas suas disposições, tanto que o Superior
Tribunal de Justiça declarou a incompetência da Justiça Federal e
a ilegitimidade passiva da Caixa Econômica Federal em caso de
atraso de entrega de imóvel financiado pelo Programa Minha Casa
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Minha Vida (REsp 1462665, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j.
07/20/2015).
Nesse sentido também tem se pronunciado esse
Tribunal de Justiça, ao admitir ser a empresa pública (CEF) mera
gestora dos recursos financeiros do referido programa habitacional,
sendo a questão de fundo, relativa à entrega do bem imóvel, objeto
do contrato principal de compra e venda, e não do pacto adjeto de
mútuo (Apelação n. 1006264-02.2015.8.26.0451, 6ª Câmara de
Direito Privado, Rel. Des. Vito Guglielmi, j. 18/02/2016)”.
Eventual regime jurídico distinto dos imóveis
adquiridos pelo programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), cujo preço
é solvido quase ou integralmente por financiamento subsidiado e por
liberação do FGTS, não implica óbice à fixação do tema controverso,
mas tão somente prudência na redação do enunciado.
Proponho a admissão e conhecimento do tema.
No que se refere à questão de fundo, fiquei
vencido em minha proposição original. Prevaleceu, por maioria de votos,
a dissensão aberta pelo Eminente Desembargador Carlos Alberto Garbi.
Os excelentes como de hábito - fundamentos
que embasam a tese vencedora devem ser buscados no voto em
separado de S. Exa., Desembargador Carlos Alberto Garbi.
Exponho as razões que me levaram a emitir o voto
quanto à tese no. 02, na qual fiquei vencido.
Entendi que deve ser feita necessária distinção
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entre os contratos de compromisso de compra e venda regulados
somente pela Lei 4.591/64, objeto de financiamento privado a taxas de
mercado, e os contratos de compromisso de compra e venda regulados e
objeto de financiamento pelo Programa Minha Casa Minha Vida
PMCMV - Lei n.11.977/2009, Instrução Normativa n. 35/2012, do
Ministério das Cidades, e Resolução n.723/13, do CCFGTS.
Nos primeiros, o financiamento somente é tomado
pelo adquirente após a conclusão da obra, instituição do condomínio
edilício e atribuição da unidade autônoma, esta ofertada em garantia ao
agente financeiro credor. Durante a obra, eventual financiamento é
tomado pela construtora/incorporadora.
Nos segundos, se admite que o financiamento
seja contraído diretamente pelo adquirente junto à CEF ou outras
instituições financeiras no início ou no curso das obras do
empreendimento, antes de sua conclusão e instituição do condomínio
edilício.
No regime dos contratos regidos pelo Programa
Minha Casa Minha Vida PMCMV normalmente o adquirente
despende quantia módica de sinal e inicio de pagamento, ou às vezes
nem isso. Para a viabilização do empreendimento mediante
financiamento junto à Caixa Econômica Federal, se faz necessária a
reunião de número mínimo de contratos de compromisso de compra e
venda firmados. Somente depois de atingido determinado patamar de
vendas é que a alienante consegue obter o financiamento necessário
para a consecução do empreendimento.
A L. 4.591/64, em seu artigo 34, faculta ao
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incorporador desistir da realização do empreendimento, se verificar que
não há condições de mercado para absorver as unidades e sustentar o
custo da construção. Esse prazo máximo de carência é de 180 dias, com
termo inicial da data do registro da incorporação (Melhin Namen
Chalhub, Da Incorporação Imobiliária, 3ª. Edição Renovar, p. 57).
Essa a razão pela qual a fixação do prazo de
entrega com termo inicial a partir da obtenção do financiamento, se
estipulada de modo claro e objetivo, se mostra adequada à própria
operação econômica entabulada entre as partes e o agente financeiro,
desde que não ultrapasse seis meses contados do registro da
incorporação.
Em outras palavras, a reunião do grupo e a
aprovação e obtenção do financiamento junto à instituição financeira
deve ser feita dentro de certo prazo. Ultrapassado este, ou a
incorporadora desiste do empreendimento (art. 34 L. 4.591/64), ou
levantará a obra com recursos próprios, e fará durante o seu curso as
promessas de venda aos adquirentes.
Dizendo de outro modo, se admite que o termo
inicial do prazo de entrega da obra seja fixado por cláusula clara e
compreensível na data de obtenção do financiamento pelo promissário
comprador. Esse prazo, porém, não pode ultrapassar seis meses da data
do registro da incorporação imobiliária.
Admitir o contrário, ou seja, que o prazo de entrega
das unidades tivesse termo inicial a cada contrato de financiamento a ser
obtido pelos promissários compradores, sem limite máximo temporal,
provocaria situação inusitada. Basta imaginar a hipótese de os
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financiamentos a diversos adquirentes serem liberados em datas
distintas, alguns no início e outros durante as obras. Em um mesmo
empreendimento imobiliário um edifício de apartamentos - teríamos
prazos diferentes de entrega de unidades autônomas vinculadas entre si.
Mais ainda. Poderá ocorrer a situação de o grupo de
adquirentes que viabilizará a construção do empreendimento imobiliário
demorar anos para ser formado e obter o financiamento. Nessa hipótese,
a entrega das unidades autônomas seria vinculada a termo incerto, que
mais se aproxima de condição resolutiva, criando situação de incerteza e
de falta de transparência incompatível com as relações de consumo.
O contrato em exame da causa-piloto é padrão e
contém cláusula de prazo de entrega da obra similar ao de centenas de
outros
O contrato regula o prazo de entrega da unidade
futura em duas cláusulas distintas.
No quadro resumo, a cláusula tem o seguinte teor:
No corpo do contrato de compromisso de venda e
compra, novamente o prazo de entrega tem expressa regulação, do
seguinte teor:
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Não há propriamente prazos alternativos de
entrega ou da celebração do contrato, ou da obtenção do
financiamento mas sim menção estimativa da data da celebração do
contrato, e subordinação à data da obtenção do financiamento.
O Superior Tribunal de Justiça, em
pronunciamentos monocráticos de seus Eminentes Ministros, afirmou
que a cláusula contendo prazos alternativos não é abusiva, desde que
redigida de modo claro. O fundamento é que antes da obtenção do
financiamento, utilizado para solver o preço, não está obrigada a
construtora a entregar as chaves aos adquirentes (AREsp 773333, j.
18/02/2016, min. Luis Felipe Salomão; AREsp 1015921 Ministro
MOURA RIBEIRO, 07/12/2016).
Já o Tribunal de Justiça de São Paulo, em
jurisprudência majoritária, considera abusiva a cláusula que contém
prazos alternativos, ou prazo subordinado à obtenção de financiamento
(6ª. Câmara de Direito Privado, APEL .Nº: 1004023-96.2015.8.26.0114,
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Rel. Eduardo Sandeville; 10ª. Câmara de Direito Privado, Apelação
nº 1044709-68.2016.8.26.0576, Rel. Carlos Alberto Garbi, 2ª. Câmara
de Direito Privado, Apelação Cível no.1003278-19.2015.8.26.0114,
Rel. Des. Alcides Leopoldo e Silva; 1ª. Câmara de Direito Privado,
Apelação nº 1018538-45.2014.8.26.0576, Rel. Francisco Loureiro, 1ª
Câmara de Direito Privado; 3ª. Câmara de Direito Privado, Apelação
Nº 1009711-42.2014.8.26.0577, Rel. Beretta da Silveira, entre outros).
Parece que a virtude está em adotar solução
intermediária.
De um lado, não se pode esquecer da lição de
Enzo Roppo, para quem, embora seja o contrato um conceito jurídico,
reflete uma realidade exterior a si próprio, porque sempre traduz uma
operação econômica (O Contrato, Almedina, ps. 7 e seguintes). Os
compromissos de compra e venda ligados ao Programa Minha Casa
Minha Vida são dotados de circunstancias especiais, porque o
financiamento abrange quase a totalidade do preço e é obtido
diretamente pelo adquirente no início ou durante as obras.
De outro lado, não se pode tolerar a inserção de
cláusulas obscuras em contrato de consumo, com prazos alternativos, ou
meramente estimativos, que subordinam o termo inicial do prazo de
entrega da unidade à data incerta (obtenção de financiamento), que não
se sabe quando e nem se ocorrerá.
Recebi e refleti sobre propostas divergentes
apresentadas em bem redigidos votos pelos Eminentes
Desembargadores Carlos Alberto Garbi, Beretta da Silveira, Donegá
Morandini e Grava Brazil.
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Não tenho dúvida que a construção e a
comercialização de unidades futuras mediante obtenção de crédito
associativo junto ao PMCMV são feitas mediante circunstâncias
econômicas peculiares, que devem necessariamente refletir sobre as
cláusulas contratuais.
De um lado, razoável admitir que o termo inicial
do prazo de entrega da obra somente passe a fluir a contar da obtenção
do financiamento, que viabilizará o empreendimento. De outro lado, tal
termo, ainda que conste de cláusula clara e expressa, não pode ser
incerto, pena de vincular o consumidor adquirente a empreendimento por
tempo indefinido.
Há necessidade de se fixar um prazo máximo e
certo de entrega da obra. O Desembargador Donegá Morandini propõe o
prazo de 30 meses contado da assinatura do contrato. Os
Desembargadores Carlos Alberto Garbi, Beretta Filho e Grava Brazil
apenas exigem que a cláusula seja clara quanto ao prazo de formação
do grupo, sem, no entanto, fixar termo máximo.
Entendo que deve ser fixado prazo máximo
certo. Isso porque insuficiente a clareza da cláusula, se o prazo for
indeterminado, ou de tal modo extenso que vincule os adquirentes de
modo perene, sem a certeza da viabilidade do empreendimento.
De outro lado, o prazo certo não pode ser
fixado de modo aleatório, ou simplesmente por equidade pelo Tribunal,
ainda mais em caráter normativo. Essa a razão pela qual elegi um prazo
expressamente previsto no art. 34 da L. 4.591/64 (seis meses) usado
para desistência por parte do incorporador de empreendimentos
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imobiliários.
Pondera o Des. Carlos Alberto Garbi e com
razão - que tal prazo do artigo 34 somente incide nos casos em que
existe cláusula expressa permitindo ao empreendedor desistir da
incorporação. É verdade que em muitos casos de empreendimentos do
PMCMV o contrato preliminar não tem cláusula expressa de desistência.
A ausência de aludida cláusula, porém, não pode servir para que o
empreendedor possa postergar a viabilidade da incorporação ou mesmo
a entrega da obra por prazo indeterminado.
Reitero a inadequação da fixação de prazos
ainda que mediante cláusula expressa e clara em termo incerto, qual
seja, a data da obtenção do financiamento. Isso porque, repito, seriam
frequentes os casos nos quais os financiamentos ou a formação do grupo
poderia levar anos, ou, pior, as liberações ocorrerem em datas diferentes
(o que é comum), levando a prazos distintos de entrega de unidades em
um mesmo edifício.
Propus solução intermediária, que ficou vencida
durante a sessão de conferencia de votos, que concilia as duas
necessidades, com a seguinte redação para a tese:
“Admite-se que o prazo de entrega da unidade autônoma
tenha termo inicial da data de obtenção do
financiamento pelo adquirente, desde que a cláusula
contratual seja redigida de modo claro e não ultrapasse
seis meses contados da data do registro da
incorporação (art. 34 L. 4.591/64)”
A tese vencedora, que adotou a dissensão
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aberta pelo Eminente Desembargador Carlos Alberto Garbi, recebeu a
seguinte redação:
“Na aquisição de unidades autônomas futuras,
financiadas na forma associativa, o contrato deverá
estabelecer de forma expressa, clara e inteligível o prazo
certo para a formação do grupo de adquirentes e para a
entrega do imóvel.”
Mais uma vez lembro que os fundamentos que
levaram a Turma Julgadora a adotar tal deve devem ser buscados no
voto em separado do Desembargador Carlos Alberto Garbi.
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Tema 04 - Indenização por danos morais em virtude do atraso
da entrega das unidades autônomas aos promitentes
compradores.
O tema em exame foi objeto de acesa discussão
no julgamento que admitiu o processamento do IRDR.
Isso porque a indenização por danos morais
envolve necessário exame das circunstâncias de cada um dos casos
concretos submetidos à apreciação judicial. Sabido que o
inadimplemento de obrigações pode gerar, ou não, pretensão
indenizatória por danos morais.
Podem os danos morais ter origem tanto na
responsabilidade contratual como na extracontratual. O simples
inadimplemento não gera, por si só, dano moral. Exige-se que o
inadimplemento provoque diretamente atentado ao bem-estar psicofísico
do indivíduo, vale dizer, deve apresentar uma certa magnitude para ser
reconhecido como dano extrapatrimonial. Leva-se em conta, assim,
apenas os efeitos do inadimplemento contratual que, por sua natureza ou
gravidade, atinjam bens da personalidade ou provoquem sofrimento
negativo intenso e diferenciado ao credor.
A ocorrência de dano moral não se verifica pela
origem da responsabilidade (aquiliana ou contratual), mas sim pelo
resultado, ou seja, pela natureza do interesse violado do ofendido.
Em mera sede de admissibilidade, se permitiu o
processamento do incidente de resolução quanto a tal tema. Ficou claro,
na ocasião, que naquele momento se permitia a indagação se o
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inadimplemento da prestação de entrega de unidades autônomas poderia
em tese gerar danos morais, caso violados direitos da personalidade ou
causassem sofrimento intenso ao credor.
Sucede que ao enfrentar o mérito do incidente,
após reflexão mais profunda sobre a tese, cheguei à conclusão no
sentido oposto, qual seja, o da inadequação de fixar enunciado sobre
cabimento de indenização de danos morais, que geraria mais dúvidas do
que benefícios aos operadores do direito.
A razão de tal conclusão é simples. As situações
concretas que podem em tese gerar danos morais, porque infinitas e
fáticas, não caberiam em simples enunciado.
Poderia ser elaborado enunciado de conteúdo
absolutamente genérico, como por exemplo, “se o inadimplemento
causar violação à direitos da personalidade, ou à dignidade da pessoa
humana, caberão danos morais”. Sucede que o enunciado, além de
exprimir obviedade, em rigorosamente nada serviria para evitar novos
conflitos, ou contribuir para a segurança jurídica.
O enunciado acima mencionado remeteria os
Juízes à necessária verificação fática e investigação acerca de o
inadimplemento ter causado violação a direitos fundamentais ou a
direitos da personalidade, a cada caso concreto.
Poderia o enunciado gerar ainda efeito contrário,
qial seja, o de sugerir de modo equivocado que todo e qualquer
inadimplemento na entrega de unidades autônomas gera violação a
direitos fundamentais, a fomentar novos litígios e demandas infundadas.
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
O tema relativo a danos morais em hipótese de
inadimplemento de entrega de unidades autônomas passa
necessariamente pela análise das circunstâncias de cada caso concreto,
e se mostra rebelde à possibilidade de tese normativa sobre questão de
direito.
Essa a razão pela qual entendo inadequada a
edição de enunciado para tratar de danos morais em casos de atraso na
entrega de unidades autônomas.
Proponho à Turma Julgadora a rejeição de fixação
de tese para a questão do inadimplemento da prestação de entrega de
unidades autônomas gerar danos morais aos adquirentes.
Tema 05 - Indenização por perdas e danos,
representada pelo valor locativo que o comprador poderia ter
auferido durante o período de atraso
O tema de número 05 versa sobre matéria
amplamente conhecida e discutida por este Tribunal de Justiça de São
Paulo, objeto de duas súmulas de jurisprudência:
Súmula 162: Descumprido o prazo para a entrega do imóvel objeto
do compromisso de venda e compra, é cabível a condenação da
vendedora por lucros cessantes, havendo a presunção de prejuízo
do adquirente, independentemente da finalidade do negócio.
Súmula 160: A expedição do habite-se, quando não coincidir com
a imediata disponibilização física do imóvel ao promitente
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
comprador, não afasta a mora contratual atribuída à vendedora.
Diversas entidades e associações admitidas como
amicus curiae reavivam a discussão e defendem que a Súmula 162 do
Tribunal de Justiça, acima transcrita, na verdade condena os
empreendedores imobiliários ao pagamento de danos meramente
hipotéticos, diante da ausência de prova concreta de que os adquirentes
conseguiriam locar suas unidades a terceiros, ou delas tirar frutos
imediatos.
Não há razão para alterar o entendimento
sumulado deste Tribunal de Justiça. O inadimplemento da prestação de
entrega da unidade autônoma gera perdas e danos indenizáveis ao
adquirente. No dizer de Melhim Namem Chalhub, “o inadimplemento do
incorporador, relativo ao injusto retardamento da conclusão da obra,
causa prejuízos representados pela subtração dos legítimos resultados
do investimento realizado pelos adquirentes, resultados esses que
correspondem à percepção da renda de aluguéis da unidade imobiliária
adquirida ou à utilização dessa unidade, notadamente para moradia
própria ou para desenvolvimento de negócio próprio” (Melhin Namem
Chalhub. Da incorporação imobiliária. 3ª. Edição atualizada Renovar.
Rio de Janeiro, 2.010, p. 357).
Há entendimento torrencial do Superior Tribunal de
Justiça no sentido de que “a jurisprudência desta Casa é pacífica no
sentido de que, descumprido o prazo para entrega do imóvel objeto do
compromisso de compra e venda, é cabível a condenação por lucros
cessantes. Nesse caso, há presunção de prejuízo do promitente-
comprador, cabendo ao vendedor, para se eximir do dever de indenizar,
fazer prova de que a mora contratual não lhe é imputável”. (AgInt no
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
AREsp 986711 / DF, Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, j. 15/12/2016;
AgRg no REsp. nº 1.202.506/RJ 3ª Turma rel. Min. Sidnei Beneti j.
07/02/2012 Dje 24/02/2012; REsp. nº 808.446/RJ 3ª Turma rel. Min.
Castro Filho j. 24/08/2006 DJU 23/10/2006, p. 312, entre dezenas de
outros)
Embora o precedente acima citado se refira à
existência de uma presunção da existência de dano, talvez o mais
correto fosse assentar a existência de uma probabilidade de prejuízo
decorrente do atraso da entrega de bem por natureza frugífero.
O inadimplemento da prestação de entrega da
unidade autônoma ao adquirente normalmente gera danos indenizáveis.
Podem ocorrer danos emergentes e lucros cessantes.
No caso do atraso na entrega de unidades
autônomas, alguns danos emergentes desde logo são lembrados. O
pagamento de aluguel em imóvel distinto, enquanto se aguarda a entrega
da unidade prometida, é o mais evidente, e deve perdurar não somente
até a citação, ou mesmo a sentença, mas até a efetiva entrega das
chaves ao adquirente, momento em que poderá este desfazer o
contrato de locação.
Podem ocorrer também lucros cessantes. Lucros
cessantes nada mais são do que os ganhos de que ficou o credor privado
em virtude do evento danoso. Em termos diversos, é a exclusão de um
ganho que era ou poderia ser esperado, atual ou futuramente, se o fato
danoso não houvesse ocorrido (Jorge Cesa Ferreira da Silva.
Inadimplemento das obrigações, Editora RT, São Paulo, 2007, p.
164).
A título de ilustração, o Código Civil Alemão (BGB), no
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
§ 252, 2ª alínea, de modo muito mais preciso do que o Código Civil
Brasileiro, define o lucro cessante como “o que, em conformidade com o
transcurso normal das coisas ou em razão de especiais circunstâncias,
notadamente medidas e providências adotadas, podia, com
probabilidade, ser esperado”.
A definição se ajusta perfeitamente à situação em
exame. De acordo com o curso natural das coisas, natural e provável que
bens frugíferos, com origem em investimentos elevados dos adquirentes,
geram vantagens aos seus titulares.
O termo lucros cessantes, embora consolidado por
quase um século de uso, induz a certo equívoco conceitual. O mais
comum deles é pressupor que se exija um ganho pretérito constante e
habitual, que foi interrompido pelo ato ilícito. O exemplo clássico é o do
taxista que sofre uma colisão em seu veículo, e calcula a féria que deixou
de ganhar com base no rendimento médio passado (Gisela Sampaio da
Cruz Guedes. Lucros cessantes do bom senso ao postulado
normativo da razoabilidade, Editora RT, São Paulo, 2.011, p. 72).
Nem sempre, porém, se exige a prova de ganhos
pretéritos que deixaram de se projetar para o futuro em razão do ato
ilícito como pressuposto dos lucros cessantes. Os exemplos mais
frequentes são exatamente os imóveis que deixaram de ser entregues
nas datas convencionadas. Há entendimento absolutamente
sedimentado no Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que “não
entregue pela vendedora imóvel residencial na data contratualmente
ajustada, o comprador faz jus ao recebimento, a título de lucros
cessantes, dos aluguéis que poderia ter recebido e se viu privado pelo
atraso. (STJ, AgRg no Ag 692543/RJ, Rel. Min. Humberto Gomes de
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Barros, j. 09.09.2007, entre dezenas de outros).
Não resta dúvida que a prova dos danos emergentes é
mais exigente do que a dos lucros cessantes. O dano emergente deve
ser provado em toda a sua extensão, ao passo que o lucro cessante “não
comporta essa prova absoluta e admite ilações ou presunções, pois que
tratamos de fatos não sensíveis, mas prováveis” (Manoel Ignacio
Carvalho de Mendonça. Doutrina e prática das obrigações, Ed.
Francisco Alves, 1.911, Rio de Janeiro, vol 2, p. 58).
O que se exige é tão somente uma probabilidade objetiva,
que resulte do curso normal das coisas, e das circunstancias do caso concreto
(Agostinho Alvim. Da Inexecução das Obrigações e suas Consequências,
Saraiva, 1.949, p. 204).
Julgado do Superior Tribunal de Justiça que bem
apanhou o tema da prova dos lucros cessantes fixou o seguinte: “A
inexecução do contrato pelo promitente-vendedor, que não entrega o
imóvel na data estipulada, causa, além do dano emergente, figurado nos
valores das parcelas pagas pelo promitente-comprador, lucros cessantes
a título de alugueres que poderia o imóvel ter rendido se tivesse sido
entregue na data contratada. Trata-se de situação que, vinda da
experiência comum, não necessita de prova (art. 335 do Código de
Processo Civil). Recurso não conhecido.” (STJ, REsp 644984/RJ, Rel.
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 16/08/2005, DJ
05/09/2005, p. 402).
Não prevalece, por isso, entendimento minoritário dos
tribunais no sentido de que, apesar do atraso das obras, sem prova
concreta de que os adquirentes deixaram de lucrar, inexiste indenização
a ser paga. Para tal corrente, são arguidos prejuízos hipotéticos e não
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
concretos. Tal tese se ressente de dois defeitos. O primeiro é o de exigir
prova cabal dos lucros cessantes, esquecendo-se que são eles, por
natureza, sempre abstratos e calcados em juízo de probabilidade e de
razoabilidade. O segundo é o de esquecer que como a unidade não foi
entregue, jamais o adquirente poderia provar que a teria locado a
terceiros. Isso porque, salvo exceções, não se locam imóveis na planta,
mas somente imóveis prontos.
Os lucros cessantes, assim, são essencialmente os
frutos que os adquirentes receberiam se o imóvel tivesse sido entregue
na data prevista. Podem ser fixados em liquidação de sentença, ou, de
modo mais célere e direto, mediante fixação equivalente à remuneração
que a unidade geraria, em montante próximo a 0,5% do valor do imóvel.
Confira-se, entre outros, precedente do Tribunal de
Justiça de São Paulo a respeito do cálculo:
“Lucros Cessantes. A indenização por lucros cessantes
corresponde à privação injusta do uso do bem e encontra
fundamento na percepção dos frutos que lhe foi subtraída pela
demora no cumprimento da obrigação. O uso pode ser calculado
economicamente pela medida de um aluguel, que é o valor
correspondente ao que deixou de receber ou teve que pagar para
fazer uso de imóvel semelhante. A base de cálculo da reparação
por lucros cessantes ou percepção dos frutos deve ser fixada em
percentual equivalente a 0,5% sobre o valor atualizado do imóvel”
(TJSP, Apelação nº 0003647-67.2012.8.26.0071, Rel. Carlos
Alberto Garbi, j. 23/04/2013).
Arguem amicus curiae que na realidade o tema
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
em exame não versa sobre lucros cessantes, mas sim sobre perda de
uma chance.
É bom lembrar que as figuras dos lucros
cessantes e da perda de uma chance não se confundem. Do ponto de
vista teórico, é possível perceber que essas duas facetas do dano
patrimonial são intrinsecamente diferentes.
Na perda de uma chance, há um dano
emergente, uma vez que a chance em si considerada já se encontra no
patrimônio do lesado no momento em que se verifica o evento danoso.
Nesse sentido, a perda de chance caracteriza-se como lesão ao próprio
direito patrimonial do lesado, sendo um dano certo. A consequência é
que a perda de uma chance deixa de figurar na categoria dos lucros
cessantes e se desloca para a categoria dos danos emergentes, o que
parece tecnicamente mais aceitável (Gisela Sampaio da Cruz Guedes,
Lucros Cessantes, 2011, p. 120-121).
Não é por acaso que Maurizio Bocchiola,
citado por Gisela Sampaio da Cruz Guedes, defende que a perda de
uma chance não pode ser considerada lucro cessante, pois, nesses
casos, não se deve conceder a indenização pela vantagem perdida, mas,
sim, pela perda da possibilidade de se conseguir essa vantagem,
possibilidade esta que já integrava o patrimônio do lesado (Gisela
Sampaio da Cruz Guedes, obra citada, p. 123).
Em termos diversos, a perda de uma chance se
situa no plano dos danos emergentes, uma vez que a chance
propriamente dita já integra o patrimônio do lesado à época do evento
danoso, de modo que o dano é certo. Por outro lado, os lucros cessantes
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
configuram dano provável, indemonstrável, que deve ser aferido por meio
do que ordinariamente acontece, isto é, com base no transcurso normal
das coisas.
É por isso que os lucros cessantes são
indenizados por inteiro, enquanto a chance perdida é indenizada tão
somente na proporção de sua probabilidade.
Não há, pois, como admitir a confusão entre as
duas figuras.
O termo final da indenização dos lucros cessantes,
tal como sumulado por este Tribunal de Justiça, corresponde à entrega
física e jurídica da unidade ao adquirente.
Isso porque a prestação assumida pelo
incorporador não é somente a de entrega física da unidade autônoma,
mas também a de sua entrega jurídica. Não basta a mera obtenção do
habite-se, mas também a entrega das chaves. O habite-se apenas atesta
a regularidade administrativa do empreendimento, é averbado junto ao
Oficial de Registro Imobiliário para a subsequente instituição do
condomínio edilício. Somente então poderá ser outorgada escritura de
venda e compra e transferência do domínio da unidade autônoma já
especificada. A perfeição jurídica da unidade também se compreende
nos deveres do incorporador.
Gera o negócio jurídico complexo de incorporação
imobiliária múltiplos deveres ao incorporador. Gera tanto obrigações de fazer,
tais como promover a construção do edifício, obter o habite-se, averbar a
construção, instituir o condomínio edilício e outorgar a escritura definitiva,
como obrigações de dar, tal como a entregar a unidade ao adquirente (Melhin
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Namem Chalhub. Da incorporação imobiliária. 3ª. Edição atualizada
Renovar. Rio de Janeiro, 2.010, p. 357).
Destaco que o Eminente Desembargador Grava
Brazil, lançou bem redigido voto divergente em relação ao tema em exame.
Propõe S. Exa., secundado por manifestações dos não menos Eminentes
Desembargadores Donegá Morandini e Beretta Filho, que os lucros cessantes
devem ser contados ao montante de 0,5% ao mês sobre o capital
desembolsado, e não sobre o valor da unidade autônoma cuja entrega
atrasou.
Apesar dos judiciosos argumentos postos nos votos
dissidentes, me permito refutá-los. Reitero que os lucros cessantes devem ser
calculados sobre o valor da unidade em atraso. A razão disso é simples e
técnica: a prestação inadimplida não é de devolução do capital já pago, ou
seja, não há prestação pecuniária, tal como ocorre nas hipóteses de resolução
do contrato, com retorno das partes ao status quo ante. Aqui o adquirente
deseja o cumprimento do contrato, e não a sua extinção. A prestação
inadimplida é de entrega da unidade autônoma por inteiro. Logo, os frutos não
podem e não devem corresponder ao capital já despendido, mas sim ao que
renderia a unidade, se tivesse esta sido entregue no prazo ajustado.
Repito que há desvio de ótica no cálculo das perdas e
danos incidentes apenas sobre o capital já investido pelo adquirente. Isso
porque o prejuízo do comprador não diz respeito aos juros sobre aquilo que já
gastou, mas sim pela privação do uso de unidade que não recebeu no prazo.
Finalmente, como o caso não envolve prestação
pecuniária inadimplida - mas sim prestação de entrega de uma unidade
imobiliária não me parece adequado que enunciado de natureza normativa
precifique as perdas e danos em rígidos 0,5% ao mês. Sabido que o mercado
imobiliário é volúvel, de modo que alugueis não recebidos podem flutuar ao
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
longo do tempo, de acordo com o momento econômico do país. Em tempos de
economia aquecida e escassez de imóveis, alugueis sobem, e movimento
inverso ocorre em momentos de crise.
Essa a razão pela a qual as perdas e danos devem
ser calculadas sobre o valor da unidade cuja prestação de entrega foi
inadimplida, sem fixação de percentual determinado,
Diante do acima exposto, proponho enunciado que
englobe as duas Súmulas de jurisprudência deste Tribunal de Justiça:
“O atraso da prestação de entrega de imóvel objeto de
compromisso de compra e venda gera obrigação da alienante
indenizar o adquirente pela privação injusta do uso do bem. O uso
será obtido economicamente pela medida de um aluguel, que pode
ser calculado em percentual sobre o valor atualizado do contrato,
correspondente ao que deixou de receber, ou teve de pagar para
fazer uso de imóvel semelhante, com termo final na data da
disponibilização da posse direta ao adquirente da unidade
autônoma já regularizada”
Tema no 06 - Ilicitude da taxa de evolução de
obra.
Por ocasião do julgamento da admissibilidade
do presente IRDR, o tema da ilicitude dos denominados “juros de obra”
despertou polêmica e voto dissidente do Eminente Desembargador
Grava Brazil. Entendeu S. Exa., em judiciosas razões, que a
cobrança de tal verba está vinculada a contratos do Programa Minha
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Casa Minha Vida, com interesse direto da Caixa Econômica Federal. A
competência para exame da matéria, por consequência, seria da Justiça
Federal.
Repete-se o que já foi dito no tema no. 02
acima. O interesse da CEF no repasse dos “juros de obra” é meramente
reflexo, ou indireto, sem força suficiente para deslocar a competência do
julgamento do presente incidente.
Isso porque a discussão sobre a licitude ou
ilicitude do repasse dos juros de obra se trava exclusivamente entre os
empreendedores imobiliários e os adquirentes de unidades autônomas,
sem qualquer repercussão econômica sobre o agente financeiro.
Em outras palavras, não se discute a licitude de
cláusula inserta no contrato de financiamento, que permite a cobrança de
referido encargo. O que se discute é tão somente a licitude do repasse
de tal encargo do empreendedor imobiliário para o adquirente de unidade
futura.
Disso decorre que eventual ilicitude do repasse
do encargo se resolverá em perdas e danos entre o adquirente e o
empreendedor imobiliário. Não há condenação do agente financeiro e
nem invalidade da cláusula inserta no contrato de mútuo.
Essa a razão, aliás, pela qual centenas ou
milhares de casos nos quais se discute a licitude de referido repasse
foram e são julgados pela Justiça Comum, sem deslocamento para a
Justiça Federal. Não faria sentido que os casos concretos e singulares
fossem julgados pela Justiça Comum, mas o IRDR que visa uniformizar e
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
dar segurança jurídica aos contendores fosse julgado pela Justiça
Federal.
Passo ao mérito do tema 06.
Não há qualquer ilicitude no repasse aos
adquirentes de unidades futuras dos denominados “juros de obra” ou
“juros de evolução de obra” ou “taxa de evolução de obra” durante o
período acordado pelas partes no contrato de construção do
empreendimento imobiliário.
Nos empreendimentos do SFH ou do Programa
Minha Casa Minha Vida, nos quais o promissário comprador durante a
construção assume financiamento perante a instituição financeira, a
cobrança de encargos segue regime peculiar.
Como explica de modo didático voto do
Desembargador Carlos Alberto de Salles, no julgamento da apelação nº
1007481-89.2013.8.26.0309:
“No que diz respeito à taxa de evolução da obra, tampouco assiste
razão à ré. Ainda que esses valores tenham sido cobrados e
recebidos pela Caixa Econômica Federal em consonância com
contrato de financiamento celebrado entre esta e os autores, a ré
deve restituir os consumidores os valores pagos durante o período
de sua mora. Em razão do modo como o contrato de financiamento
durante a obra é redigido, congela-se o valor a financiar, e, até que
a obra seja concluída, o consumidor paga apenas “encargos
relativos a juros e atualização monetária”. Somente depois da
individualização da matrícula é que se passa à amortização do
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
débito propriamente. Assim, evidente que, quanto mais tempo a
conclusão atrasar, mais os consumidores teriam de pagar a título
de taxas de “evolução da obra” ou “fase de obras”. Acolher a
pretensão da ré, portanto, equivaleria a repassar ao consumidor
encargos decorrentes exclusivamente da mora da vendedora, aos
quais os compradores não deram causa e que estão
completamente fora de seu controle o que não se pode admitir”
(TJSP j. 27/03/2015).
Disso decorre que o repasse dos chamados
“juros de obra” ou “taxa de evolução de obra” é lícito e perfeitamente
afinado com a operação econômica do contrato durante o curso do prazo
de entrega da unidade.
Escoado tal prazo, incluído aí o período de
tolerância ajustado no contrato, o repasse se torna automaticamente
ilícito.
Isso porque, como explicou o Desembargador
Cláudio Godoy, quando do julgamento do recurso de Apelação nº
4003537-91.2013.8.26.0482, em 11.08.2015:
“Com efeito, no contrato de mútuo firmado com a CEF para
quitação do saldo devedor (fls. 60/89), previu-se que o pagamento
dos encargos mensais seria devido a partir do mês subsequente ao
da contratação, respondendo o mutuário pelo pagamento de juros
e de correção monetária durante a construção (cláusula 7ª, I, 'a'
fls. 65), assim ainda antes do início da exigibilidade das parcelas
de amortização do saldo devedor, após o término da obra.
Neste contexto, não há que se falar em devolução, tout court, de
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
valores pagos, afinal, ao mutuante, assim revertidos em favor do
promissário. E menos ainda se autoriza, na mesma esteira,
nenhuma correção, mero fator de repotenciação.
Porém, diante do retardo no cumprimento da obrigação afeta à ré
de concluir as obras, privou-se o promissário da possibilidade de
iniciar a amortização do principal do mútuo já contratado.
E aí o ponto nodal a salientar. Como previsto no contrato de
financiamento (cláusulas 7ª, I e par. 3º, e 12ª), no período das
obras, ou chamado de produção, portanto antes que regularizado o
término da construção, os pagamentos pelo adquirente eram tão
somente de juros, e calculados sobre o saldo devedor, sem
amortização do capital. O denominado retorno do valor mutuado,
assim a sua amortização, apenas se poderia dar após a conclusão
regular das obras.
O resultado é que o retardo da fornecedora retirou do consumidor a
possibilidade de, mais cedo, amortizar o capital e, com isso, reduzir
o saldo devedor sobre o qual calculados os juros do financiamento.
Por conseguinte, nem a totalidade dos juros pagos deve ser
devolvida, porque encargos de financiamento efetivamente
tomado, disponibilizados os recursos, mas nem, por isso, nenhum
importe de juros se deve devolver.
A ré deverá devolver a diferença entre os juros pagos e os que
seriam devidos se não houvesse atraso e se, assim, o capital
pudesse ter sido mais cedo amortizado, diminuindo a base de
cálculo dos mesmos acréscimos. Tudo a apurar em liquidação.”
Essa é a posição adotada de modo pacífico no
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Tribunal de Justiça de São Paulo.
Não há ilicitude do repasse dos juros de obra
durante o período de construção do empreendimento previsto no
contrato. Escoado o prazo de entrega, computado o período de
tolerância, os pagamentos que serviriam para amortização do principal
são usados para abater juros do financiamento, em prejuízo do
adquirente (Apelação nº 1025469-80.2014.8.26.0506, Donegá
Morandini, j 5 de junho de 2017 TJSP - Ap.
1016150-34.2013.8.26.0309 - rel. Des. Alexandre Coelho - j.
05/11/2015; TJSP - Ap. 0007884- 98.2012.8.26.0248 - rel. Des. Natan
Zelinschi de Arruda - j. 12/03/2015; TJSP - Ap.
4009305-73.2013.8.26.0554 - rel. Des. Donegá Morandini - j.
06/11/2014; TJSP - Ap. 1004650-68.2013.8.26.0309 - rel. Viviani
Nicolau - j. 27/11/2014).
Também o Superior Tribunal de Justiça
encampou tal posição, ao fixar:
“Os "juros de obra" pagos após o prazo de previsão de
entrega das chaves, deverão ser ressarcidos pela
construtora ao consumidor”. (AResp 718080, Rel. Min.
Maria Isabel Gallotti, j. 08/06/2016).
Recebi os votos parcialmente divergentes dos
Eminentes Desembargadores Carlos Alberto Garbi, Grava Brazil, Donegá
Morandini e Beretta da Silveira.
Parte das dissensões se refere apenas à
redação. Têm integral razão os Eminentes Magistrados ao propor que o
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
enunciado encampe a expressão “ou outros encargos equivalentes”, de
modo a permitir que a decisão normativa abarque todas as verbas que os
empreendedores possam pretender cobrar sob a mesma causa, apenas
com nomes distintos.
No que se refere à substituição da expressão
“entrega das chaves” por entrega da “unidade autônoma”, entendo que a
melhor solução é a proposta pelo Eminente Des. Beretta da Silvelra, que
soma os dois termos.
Não me parece adequada a proposta do Des.
Grava Brazil, de simples substituição de uma expressão (entrega das
chaves) por outra (entrega da unidade autônoma). Isso porque muitas
incorporadoras entendem que a unidade já está entregue com a mera
expedição do habite-se. Sucede que entre tal data e a transferência da
posse direta ao adquirente, após a instituição do condomínio edilício
junto ao Oficial do Registro de Imóveis e vistoria da unidade, decorrem
semanas, ou mesmo meses. Pondera o Eminente Desembargador que
muitas vezes o próprio adquirente deixa indevidamente de receber as
chaves. Claro que em tal caso estamos diante de moras sucessivas
primeiro do empreendedor e em seguida do adquirente hipótese fática
não contemplada no enunciado.
Essa a razão pela qual entendo que o
enunciado, para maior clareza, possa abranger as expressões entrega
das chaves e da unidade autônoma.
Proponho o seguinte enunciado:
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Tema 06 - “É ilícito o repasse dos "juros de obra", ou
“juros de evolução da obra”, ou “taxa de evolução da
obra”, ou outros encargos equivalentes, após o prazo
ajustado no contrato para entrega das chaves da
unidade autônoma, incluído período de tolerância”.
Tema 07- Restituição dos valores pagos em
excesso de forma simples ou em dobro
As vendas ou promessas de venda de unidades
autônomas futuras normalmente tipificam relações de consumo.
Nada impede, porém, que investidores do ramo
imobiliário, ou mesmo pessoas jurídicas, adquiram unidades autônomas
como investimento, ou como ativo permanente para consecução de suas
atividades sociais.
Dois podem ser os regimes jurídicos que regulam
a devolução de quantias indevidamente cobradas ou pagas nos contratos
de aquisição de unidades autônomas futuras: direito comum (art. 940
CC) e relação de consumo (art. 42, par. único CDC).
No que se refere ao regime de direito comum, o
artigo 940 do Código Civil tem jurisprudência sedimentada e objeto de
antiga Súmula, no sentido de que a cobrança excessiva, mas de boa-fé,
não dá lugar à devolução em dobro. Confira-se a súmula 159 do
Supremo Tribunal Federal: “Cobrança excessiva, mas de boa-fé, não dá
lugar às sanções do art. 1.531 do CC “ [CC de 1.916].
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
No que se refere ao regime do Código de Defesa
do Consumidor, o artigo 42, parágrafo único, dispõe que “o consumidor,
cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção
monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável”.
Embora a doutrina consumerista de modo
unânime dispense o dolo (ou mesmo a culpa) do fornecedor para a
aplicação da sanção da restituição em dobro, não é este o entendimento
da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
Afirma a doutrina consumerista que o fornecedor
somente se exime da sanção se provar engano justificável, não
proveniente de dolo ou mesmo de culpa (Sérgio Cavalieri Filho,
Programa de Direito do Consumidor, Atlas, p. 170; Antônio Herman
de Vasconcellos e Benjamin, Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, 10ª. Edição
Gen Forense, p. 410).
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
porém, se pacificou no sentido contrário, de exigir, ainda nas relações de
consumo, o dolo do fornecedor para justificar a devolução em dobro,
especialmente se o pagamento tem causa em cláusula contratual.
Confira-se, entre dezenas de outros, os seguintes
precedentes:
“A jurisprudência desta Corte Superior firmou o entendimento de
que para se determinar a repetição do indébito em dobro deve
estar comprovada a má-fé, o abuso ou leviandade, como
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
determinam os arts. 940 do Código Civil e 42, parágrafo único, do
Código de Defesa do Consumidor, o que não ficou comprovado na
presente hipótese, tornando imperiosa a determinação de que a
repetição se dê de forma simples. Acórdão recorrido em harmonia
com a jurisprudência deste Tribunal. Aplicação da Súmula 83/STJ”.
(AgRg no AREsp 606.522/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, Terceira Turma, DJe 13/5/2016; AgRg no AREsp
605.634/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA,
DJe 25.11.2016; AgInt no AREsp 779.575/PB, Rel. Ministra
MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, DJe 21.10.2016;
REsp 1539815 / DF, Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE;
REsp nº 1.032.952/SP, Rel.: Min. NANCY ANDRIGHI,
Terceira Turma; DJe 26/3/2009; AgInt no REsp 1449237 / PR,
Ministro MOURA RIBEIRO, j. 25/04/2017).
Fixou o Superior Tribunal de Justiça que nem
toda cobrança com origem em cláusula contratual ilícita se reputa de má-
fé. A própria discussão sobre a validade da cláusula consensualmente
acordada e executada pelas partes, de algum modo, afasta o dolo do
contratante. (STJ REsp 1300032, Min. Mauro Campbell, julgado em
07.03.201; REsp 1060001/DF, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA,
TERCEIRA TURMA, DJe 24.2.2011; AgRg no AREsp 268.154/RJ, Rel.
Min. Luís Felipe Salomão, j. em 11.02.2014 pela 4ª T.; AgRg no REsp
1199273/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 09/08/2011, DJe 19/08/2011).
O Tribunal de Justiça de São Paulo seguiu na
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
mesma direção do Superior Tribunal de Justiça. O entendimento é
praticamente pacífico no sentido da devolução simples da cobrança e
pagamento em excesso, salvo dolo do fornecedor (TJSP - 1ª Câmara de
Direito Privado - Apelação nº 1115157-10.2014.8.26.0100 - Rel. Rui
Cascaldi j. 08/05/2017; 3ª. Câmara de Direito Privado, Apelação Cível
nº 1004349-21.2016.8.26.0664, Rel. Donegá Morandini, j. 5 de junho
de 2017; Apelação nº 1008399-33.2016.8.26.0004, Rel. Natan
Zelinschi, j. 18 de maio de 2017; Ap. 1004115-54.2016.8.26.0077, Rel.
Des. Elcio Trujillo, j. em 07.02.2017 10ª Câm.; Apelação nº
1028166-03.2014.8.26.0562, Rel. Des. MARY GRÜN).
Diante do torrencial entendimento do Tribunal
de Justiça de são Paulo e do Superior Tribunal de Justiça a respeito do
tema, proponho o seguinte enunciado:
Tema 07 - “A restituição de valores pagos em
excesso pelo promissário comprador em contratos de compromisso
de compra e venda far-se-á de modo simples, salvo má-fé do
promitente vendedor”.
Tema 08
Congelamento do saldo devedor enquanto a
unidade autônoma não for entregue aos adquirentes;
O tema em exame diz respeito ao congelamento
do saldo devedor do preço das unidades autônomas cujo prazo de
entrega foi excedido, computado o período de tolerância.
A respeito do assunto, dispõe a Súmula 163 do
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Tribunal de Justiça de são Paulo:
“O descumprimento do prazo de entrega do imóvel objeto do
compromisso de venda e compra não cessa a incidência de
correção monetária, mas tão somente dos encargos contratuais
sobre o saldo devedor”.
Se a incorporadora deixa de entregar a unidade
autônoma no prazo previsto, pode o adquirente sustar as parcelas do preço
que se vencerem no mesmo prazo e em datas posteriores a tal prestação, com
fundamento no artigo 477 do Código Civil (exceptio non adimpleti contractus).
A exigibilidade das parcelas do preço fica suspensa
até a correspondente entrega das chaves. Cumprida a prestação devida pelo
incorporador, porém, imediatamente cessa a causa da exceptio non adimpleti
contractus, de modo que retoma o contrato a sua vida normal.
A suspensão da exigibilidade das parcelas do
preço, contudo, não paralisa a incidência da mera atualização monetária sobre
o saldo devedor. Os valores das parcelas devem ser atualizados desde a data
de vencimento prevista no contrato até o efetivo pagamento, como simples
modo de preservação do valor real ou de troca da moeda.
Sabido que a correção monetária nada acrescenta
à dívida, mas apenas impede a sua corrosão. Disso decorre que mesmo o
alienante em mora faz jus à atualização da parcela faltante do preço, pois sua
corrosão consistiria pena não prevista em lei. (REsp 1.391.770, 1ª Turma,
DJe de 09/04/2014. No mesmo sentido: REsp 1.202.514/RS, 3ª Turma,
minha relatoria, DJe de 30/06/2011 e AgRg no REsp 780.581/GO, 4ª
Turma, DJe de 19/10/2010).
Existe posição absolutamente pacificada no
Superior Tribunal de Justiça no sentido que a mora na entrega das
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
chaves pela construtora não constitui causa de suspensão da correção
monetária do saldo devedor, mas tão somente de substituição do
indexador, do Índice Nacional da Construção Civil (INCC) pelo Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), salvo quando o INCC
for menor e, portanto, mais favorável ao consumidor, devendo incidir
depois do vencimento do prazo, incluindo o de tolerância (REsp 1454139
/ RJ, 3ª. T., Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 03/06/2014).
A razão desse posicionamento é simples, ainda
segundo o entendimento tranquilo do Superior Tribunal de Justiça:
“Nesse contexto, salvo melhor juízo, o fato de o
vendedor encontrar-se em mora no cumprimento da sua obrigação,
no caso a entrega do imóvel, não justifica a suspensão da cláusula
de correção monetária do saldo devedor, na medida em que
inexiste equivalência econômica entre as duas obrigações/direitos”.
“Em outras palavras, o prejuízo decorrente do
atraso na conclusão da obra não guarda correspondência como o
valor da correção monetária do saldo devedor para o período de
inadimplência”. (AREsp 667623 Ministra NANCY ANDRIGHI, j.
12/06/2017).
No que se refere aos juros, ou a eventual cláusula
penal sobre as parcelas sustadas do preço, a situação é outra. Claro que a
mora do incorporador exclui a mora simultânea dos adquirentes, de modo que
não incidem os juros e a multa das parcelas em suspenso por força do atraso
na entrega das unidades autônomas.
Enquanto não ocorrer a efetiva entrega das chaves
aos adquirentes, com consequente imissão na posse direta da unidade
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
autônoma, eventuais impostos, taxas, tarifas e despesas condominiais são de
exclusiva responsabilidade do incorporador.
O que se pode discutir e decidir, em caráter
normativo, é a troca do indexador após o vencimento do prazo de
entrega das unidades autônomas, computado o período de tolerância.
Há entendimento pacífico do Tribunal de Justiça
de São Paulo e do Superior Tribunal de Justiça que “não se aplica o
INCC como índice de correção após à entrega da obra” (AgRg no REsp
579.160/DF, 4ª Turma, DJe de 25/10/2012. No mesmo sentido: AgRg
no Ag 1.349.113/PE, 3ª Turma, DJe de 19/08/2011).
Seguindo nessa mesma linha de raciocínio e
considerando que o mutuário não pode ser prejudicado por
descumprimento contratual imputável exclusivamente à construtora,
afigura-se igualmente inaplicável o INCC para correção do saldo devedor
após o transcurso da data limite para entrega da obra. (STJ, EDcl no
REsp 1.629.427/RJ, 3ª Turma, DJe de 01/02/2017; AgInt nos EDcl no
AREsp 897.311/RJ, 3ª Turma, DJe de 07/11/2016; REsp 1.454.139/RJ;
3ª Turma, DJe de 17/06/201).
Propõe-se, à vista do que acima se expos, o
seguinte enunciado, que apenas consolida e estende a Súmula 163
deste Tribunal de Justiça de São Paulo:
Tema 08 - “O descumprimento do prazo de entrega de
imóvel objeto de compromisso de venda e compra,
computado o período de tolerância, não faz cessar a
incidência de correção monetária, mas tão somente dos
juros e multa contratual sobre o saldo devedor. Devem
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ser substituídos indexadores setoriais, que refletem a
variação do custo da construção civil, por outros
indexadores gerais, salvo quando estes últimos forem
mais gravosos ao consumidor”
Tema 09
Aplicação da multa do art. 35 , parágrafo 5º., da
L. 4.591/64 ao incorporador inadimplente
Dispõe o artigo 35 da L. 4.591/64:
Art. 35. O incorporador terá o prazo máximo de 45
dias, a contar do termo final do prazo de carência, se houver, para
promover a celebração do competente contrato relativo à fração
ideal de terreno, e, bem assim, do contrato de construção e da
Convenção do condomínio, de acordo com discriminação
constante da alínea "i", do art. 32
.......................................................................
§ 5º Na hipótese do parágrafo anterior, o
incorporador incorrerá também na multa de 50% sobre a quantia
que efetivamente tiver recebido, cobrável por via executiva, em
favor do adquirente ou candidato à aquisição”
Verifica-se de imediato que o artigo 35 da L.
4.591/64 se aplica aos casos de irregularidade do registro da
incorporação imobiliária, ou negativa de celebração dos contratos de
compromisso de compra e venda com os adquirentes que dispõem de
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
simples reservas de unidades.
Sabido que pode o incorporador estipular prazo de
carência, desde que o faça expressamente, para fins de desistência do
empreendimento, na hipótese de sua inviabilidade econômica (art. 34 da
L. 4.591/64).
Se não houver prazo de carência expressamente
fixado, ou ultrapassado o prazo de carência sem denúncia da
incorporação, tem o incorporador a obrigação de, em 60 dias, celebrar
com os adquirentes os contratos correspondentes (compromisso de
compra e venda, construção, etc) (Melhin Namen Chalhub, Da
Incorporação Imobiliária, 3ª. Edição Renovar, p. 163/164)
Em outras palavras, na primeira fase da
incorporação surge o direito do adquirente, com correlata obrigação
imposta ao incorporador, de celebrar o contrato preliminar. A violação a
esse direito é regulada pelo artigo 35, acima transcrito, e gera a pesada
multa de 50% sobre o valor que o adquirente já tiver pago (Caio Mário
da Silva Pereira, Condomínio e Incorporações, 10ª. Edição, Forense,
p. 275/278).
Não contempla a norma do artigo 35 da L.
4.591/64, portanto, a hipótese de atraso de entrega das unidades
autônomas já compromissadas aos adquirentes, mas sim a negativa da
celebração do próprio contrato preliminar.
São duas hipóteses completamente distintas. A
primeira, prevista no artigo 35 da L. 4.591, na fase inicial da incorporação
imobiliária, de recusa do incorporador celebrar o próprio contrato de
compromisso de compra e venda, após o prazo de desistência do
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
empreendimento. A segunda, de incorporação imobiliária regular, com
contratos de compromisso de compra e venda já celebrados, cuja
execução, consistente da entrega das unidades autônomas, ter atrasado
por várias causas.
Não há como estender a multa legal prevista para
a fase inicial da incorporação para hipótese radicalmente distinta, que diz
respeito ao atraso na estrega das unidades aos adquirentes.
O Eminente Desembargador Donegá Morandini
propôs inicialmente a redação de enunciado admitindo a incidência da
referida multa, para as hipóteses de ausência do próprio registro da
incorporação imobiliária. A proposição foi posteriormente retirada, mas
merece algumas considerações.
É verdade que a proposição do Eminente Juiz
Mauro Antonini, que provocou a suscitação do incidente, foi genérica a
respeito. Sucede que, compulsando os autos do caso paradigma, se
constata que a incorporação se encontra regularmente registrada, e o
que almejam os adquirentes é a extensão da multa do artigo 35 para a
hipótese de atraso da entrega da unidade.
Não resta dúvida que a falta do próprio registro da
incorporação faz incidir a multa prevista expressamente no artigo 35 da
L. 4.591/64 para a situação, mas sobre tal questão não paira dúvida,
diante da absoluta clareza da lei.
O que se discute é a extensão da multa prevista
para a ausência de registro da incorporação, para situação de atraso da
entrega da obra, e penso que o enunciado deve elucidar somente tal
dúvida.
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Proponho o seguinte enunciado a respeito da tese:
Tema 09 - “Não se aplica a multa prevista no artigo 35,
parágrafo 5º. da L. 4.591/64 para os casos de atraso de
entrega das unidades autônomas aos promissários
compradores”.
Conclusão
Proponho o julgamento do presente Incidente de
Resolução de Demandas Repetitivas para que, na forma do artigo 985 do
Código de Processo Civil, as teses aprovadas sejam aplicadas a todos os
processos individuais e coletivos pendentes, ou casos futuros que
versem sobre as mesmas questões de direito no Estado de São Paulo,
inclusive nos Juizados Especiais.
Não é o caso de se determinar a suspensão dos
processos em curso, tema já deliberado por ocasião da decisão que
admitiu o IRDR, e por mais de uma razão: (i) primeiro, porque as teses
ora firmadas referendam súmulas de jurisprudência deste Tribunal de
Justiça, com alteração apenas de redação; (ii) segundo, porque se
escoou o prazo ânuo do art. 980 do NCPC.
Eventuais recursos especial ou extraordinário
serão dotados de efeito suspensivo dos efeitos deste Acórdão (art. 987
NCPC), sem que isso implique, porém, a paralisação de processos cujo
prosseguimento foi autorizado por esta Turma Julgadora ao admitir o
incidente.
O julgamento da causa-piloto será realizado pelo
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
MM. Juiz de Direito da 5ª. Vara Cível de Piracicaba, à luz das teses ora
aprovadas, com o escopo de evitar avocação de processo e supressão
de instancia.
Resultado do julgamento do incidente de
resolução de demandas repetitivas:
(i) Dar por prejudicada a tese de no. 03
“Alegação de que a multa contratual,
prevista em desfavor do promissário
comprador, deve ser aplicada por
reciprocidade e isonomia, à hipótese de
inadimplemento da promitente
vendedora”, porque afetada pelo Superior
Tribunal de Justiça (REsps 1614721/DF e
1631485/DF - Tema 971));
(ii) Rejeitar a tese no. 04 “Indenização por
danos morais em virtude do atraso da
entrega das unidades autônomas aos
promitentes compradores”, por envolver
necessariamente matéria fática ao exame
de cada caso concreto;
(iii) Aprovar as seguintes teses, mediante
adoção dos enunciados abaixo:
Tema no. 01 - “É válido o prazo de
tolerância, não superior a cento e oitenta
dias corridos estabelecido no
compromisso de venda e compra para
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
entrega de imóvel em construção, desde
que previsto em cláusula contratual
expressa, clara e inteligível”.
Tema no. 02 “Na aquisição de unidades
autônomas futuras, financiadas na forma
associativa, o contrato deverá
estabelecer de forma expressa, clara e
inteligível o prazo certo para a formação
do grupo de adquirentes e para a entrega
do imóvel”
Tema no. 05 “O atraso da prestação de
entrega de imóvel objeto de
compromisso de compra e venda gera
obrigação da alienante indenizar o
adquirente pela privação injusta do uso
do bem. O uso será obtido
economicamente pela medida de um
aluguel, que pode ser calculado em
percentual sobre o valor atualizado do
contrato, correspondente ao que deixou
de receber, ou teve de pagar para fazer
uso de imóvel semelhante, com termo
final na data da disponibilização da
posse direta ao adquirente da unidade
autônoma já regularizada”
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Tema 06 - “É ilícito o repasse dos "juros
de obra", ou “juros de evolução da obra”,
ou “taxa de evolução da obra”, ou outros
encargos equivalentes após o prazo
ajustado no contrato para entrega das
chaves da unidade autônoma, incluído
período de tolerância”
Tema 07 - “A restituição de valores
pagos em excesso pelo promissário
comprador em contratos de
compromisso de compra e venda far-se-á
de modo simples, salvo má-fé do
promitente vendedor”
Tema 08 - “O descumprimento do prazo
de entrega de imóvel objeto de
compromisso de venda e compra,
computado o período de tolerância, não
faz cessar a incidência de correção
monetária, mas tão somente dos juros e
multa contratual sobre o saldo devedor.
Devem ser substituídos indexadores
setoriais, que refletem a variação do
custo da construção civil por outros
indexadores gerais, salvo quando estes
últimos forem mais gravosos ao
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
consumidor”
Tema 09 - “Não se aplica a multa prevista
no artigo 35, parágrafo 5º. da L. 4.591/64
para os casos de atraso de entrega das
unidades autônomas aos promissários
compradores”.
FRANCISCO LOUREIRO
Relator
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
DECLARAÇÃO DE VOTO
INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS Nº:
0023203-35.2016.8.26.0000
REQUERENTE: MM JUIZ DE DIREITO DA 5ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE
PIRACICABA
INTERESSADOS: JUNIOR DE MOURA ATAÍDE, M.R.V. ENGENHARIA E
PARTICIPAÇÕES S/A, PARQUE PIAZZA NAVONA INCORPORAÇÕES SPE LLTDA.,
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INCORPORADORAS IMOBILIÁRIAS - ABRAINC,
CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO-CBIC, FUNDAÇÃO DE
PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO
PAULO - PROCON/SP, ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SEÇÃO DE SÃO
PAULO E SIND. DAS EMPRESAS DE COMPRA VENDA LOCAÇÃO E
ADMINISTRAÇÃO DE IMÓVEIS RESIDENCIAIS E COMERCIAIS DE SÃO PAULO-
SECOVI-SP
COMARCA: PIRACICABA
JUIZ PROLATOR: MAURO ANTONINI
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas - IRDR - Proposição com fundamento nos arts. 976 e 977, I, do NCPC - Nove temas relacionados aos efeitos do atraso na entrega de imóveis adquiridos na planta ou em fase de construção.
TESES VOTADAS:
TESE n. 01 - “É válido o prazo de tolerância, não
superior a cento e oitenta dias corridos
estabelecido no compromisso de venda e compra
para entrega de imóvel em construção, desde que
previsto em cláusula contratual expressa, clara e
inteligível.” APROVADA, POR MAIORIA, nos
termos do voto do Relator, com a inclusão do
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
termo “corridos”, por sugestão do Desembargador
Beretta da Silveira.
TESE n. 02 “Na aquisição de unidades autônomas
futuras, financiadas na forma associativa, o
contrato deverá estabelecer de forma expressa,
clara e inteligível o prazo certo para a formação do
grupo de adquirentes e para a entrega do imóvel.”
APROVADA, POR MAIORIA, nos termos
da divergência apresentada pelo
Desembargador CARLOS ALBERTO GARBI, com
pequena alteração de redação, apresentada por
este julgador, para inclusão da expressão “de
forma expressa, clara e inteligível” e com sugestão
trazida com a discussão do tema em sessão de
julgamento, para inclusão do termo “certo”.
TESE n. 03 “Alegação de que a multa contratual,
prevista em desfavor do promissário comprador,
deve ser aplicada por reciprocidade e isonomia, à
hipótese de inadimplemento da promitente
vendedora”, afetado pelo Superior Tribunal de
Justiça (REsps 1614721/DF e 1631485/DF - Tema
971) JULGARAM PREJUDICADA, POR VOTAÇÃO
UNÂNIME, em razão de afetação pelo STJ, nos
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
termos do voto do relator.
TESE n. 04 “Indenização por danos morais em
virtude do atraso da entrega das unidades
autônomas aos promitentes compradores.” -
REJEITADA, POR VOTAÇÃO UNÂNIME, nos termos
do voto do Relator, por envolver exame de matéria
fática em cada caso concreto.
TESE n. 05 - “O atraso da prestação de entrega de
imóvel objeto de compromisso de compra e venda
gera obrigação da alienante indenizar o adquirente,
pela privação injusta do uso do bem. O uso pode
ser calculado economicamente pela medida de um
aluguel, que poderá ser fixado em percentual
incidente sobre o valor atualizado do contrato,
correspondente ao que deixou de receber, ou teve
de pagar para fazer uso de imóvel semelhante, com
termo final na data da disponibilização da posse
direta ao adquirente da unidade autônoma já
regularizada.” APROVADA, POR MAIORIA, nos
termos do voto do Relator, com inclusão da
expressão “que poderá ser fixado em percentual
incidente sobre o valor atualizado do contrato”,
resultante da discussão do tema em sessão de
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
julgamento. Votaram vencidos os
Desembargadores Grava Brazil e Donegá
Morandini.
TESE n. 06 “É ilícito o repasse dos juros de obra,
ou juros de evolução da obra, ou taxa de evolução
da obra, ou outros encargos equivalentes, após o
prazo ajustado no contrato para entrega das
chaves de unidade autônoma, incluído período de
tolerância.” APROVADA, POR VOTAÇÃO
UNÂNIME.
Tema n. 07 - “A restituição de valores pagos em
excesso pelo promissário comprador em contratos
de compromisso de compra e venda far-se-á de
modo simples, salvo má-fé do promitente
vendedor.” APROVADA, POR VOTAÇÃO
UNÂNIME, nos termos do voto do Relator.
TESE n. 08 - “O descumprimento do prazo de
entrega de imóvel objeto de compromisso de
venda e compra, computado o período de
tolerância, não faz cessar a incidência de correção
monetária, mas tão somente dos juros e multa
contratual sobre o saldo devedor. Devem ser
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
substituídos indexadores setoriais, que refletem a
variação do custo da construção civil por outros
indexadores gerais, salvo quando estes últimos
forem mais gravosos ao consumidor.”
APROVADA, POR VOTAÇÃO UNÂNIME, nos
termos do voto do Relator.
TESE n. 09 - “Não se aplica a multa prevista no
artigo 35, parágrafo 5º. da L. 4.591/64 para os casos
de atraso de entrega das unidades autônomas aos
promissários compradores.” APROVADA, POR
VOTAÇÃO UNÂNIME, nos termos do voto do
Relator.
VOTO Nº 28243
I - Trata-se de Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas - IRDR, apresentado pelo MM Juiz de
Direito da 5ª Vara Cível da Comarca de Piracicaba, legitimado pelo
art. 977, I, e com fundamento no art. 976, ambos os dispositivos do
NCPC, sob o argumento de que a matéria diz “com diversas ações que
envolvem as mesmas questões unicamente de direito, ajuizadas por
compromissários compradores de unidades autônomas na planta, deduzindo
diversos pedidos condenatórios em face da promitente vendedora”.
O IRDR foi, por maioria de votos, admitido
quanto aos seguintes temas:
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Tema n. 01 - “É válido o prazo de tolerância, não
superior a cento e oitenta dias estabelecido no
compromisso de venda e compra para entrega de
imóvel em construção, desde que previsto em
cláusula contratual expressa, clara e inteligível.”
Tema n. 02 - “Admite-se que o prazo de entrega
da unidade autônoma tenha termo inicial da data
de obtenção do financiamento pelo adquirente,
desde que a cláusula contratual seja redigida de
modo claro e não ultrapasse seis meses contados
da data do registro da incorporação (art. 34 L.
4.591/64).”
Tema n. 03 “Alegação de que a multa
contratual, prevista em desfavor do promissário
comprador, deve ser aplicada por reciprocidade e
isonomia, à hipótese de inadimplemento da
promitente vendedora.”
Tema n. 04 “Indenização por danos morais em
virtude do atraso da entrega das unidades
autônomas aos promitentes compradores.”
Tema n. 05 “O atraso da prestação de entrega
de imóvel objeto de compromisso de compra e
venda gera obrigação da alienante indenizar o
adquirente pela privação injusta do uso do bem O
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
uso pode ser calculado economicamente pela
medida de um aluguel, que é o valor
correspondente ao que deixou de receber, ou teve
de pagar para fazer uso de imóvel semelhante, com
termo final na data da disponibilização da posse
direta ao adquirente da unidade autônoma já
regularizada.”
Tema n. 06 “É ilícito o repasse dos juros de
obra, ou juros de evolução da obra, ou taxa de
evolução da obra, após o prazo ajustado no
contrato para entrega das chaves de unidade
autônoma, incluído período de tolerância.”
Tema n. 07 “A restituição de valores pagos em
excesso pelo promissário comprador em contratos
de compromisso de compra e venda far-se-á de
modo simples, salvo má-fé do promitente
vendedor.”
Tema n. 08 “O descumprimento do prazo de
entrega de imóvel objeto de compromisso de
venda e compra, computado o período de
tolerância, não faz cessar a incidência de correção
monetária, mas tão somente dos juros e multa
contratual sobre o saldo devedor. Devem ser
substituídos indexadores setoriais, que refletem a
variação do custo da construção civil por outros
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indexadores gerais, salvo quando estes últimos
forem mais gravosos ao consumidor.”
Tema n. 09 “Não se aplica a multa prevista no
artigo 35, parágrafo 5º. da L. 4.591/64 para os casos
de atraso de entrega das unidades autônomas aos
promissários compradores.”
Interveio no IRDR a ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE INCORPORADORAS IMOBILIÁRIAS ABRAINC,
postulando o afastamento dos temas relativos ao prazo de
tolerância (Tema n. 02) e taxa de evolução de obra (Tema n. 06),
sendo que, no mérito, propôs: (i) validade da cláusula de tolerância
de 180 dias; (ii) validade do prazo alternativo de tolerância para
entrega de determinado número de meses, após a assinatura do
contrato de financiamento; (iii) impossibilidade de inversão da
cláusula penal moratória em desfavor da construtora na hipótese de
atraso na entrega do imóvel; (iv) inexistência de danos morais por
simples atraso na entrega do imóvel; (v) descabimento da
condenação por lucros cessantes hipotéticos, em caso de atraso na
entrega do imóvel, bem como incabível acumular indenização por
lucros cessantes e cláusula penal compensatória; (vi) licitude da
taxa de evolução da obra; (vii) descabimento da restituição em
dobro dos valores pagos pelo comprador; (viii) descabimento do
congelamento do saldo devedor; e (ix) inaplicabilidade da multa do
artigo 35, §5º, da Lei 4.591/64 ao incorporador. Confira-se fls.
291/333.
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De igual forma, interveio no feito a CÂMARA
BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL CBIC,
buscando fosse admitida como amicus curiae (fls. 430/437).
Manifestaram-se a MRV ENGENHARIA E
PARTICIPAÇÕES S.A e a PARQUE PIAZZA NAVONA
INCORPORAÇÕES SPE LTDA., pugnando no seguinte sentido: (i)
validade da cláusula de tolerância; (ii) validade da cláusula que fixa
o prazo de entrega do imóvel a contar da assinatura do contrato de
financiamento; (iii) impossibilidade de inversão da cláusula penal
em desfavor da construtora; (iv) impossibilidade de condenação
automática em danos morais; (v) impossibilidade de cumulação da
cláusula penal com eventual indenização em perdas e danos e que
esta, quando cabível, seja fixada em valores compatíveis com o
prejuízo efetivamente sofrido; (vi) ilegitimidade da construtora para
responder pela taxa de juros de obra ou, subsidiariamente, pelo
reconhecimento da ausência de prejuízo concreto; (vii) presunção
de boa-fé, a afastar a devolução em dobro, no caso de cobrança
considerada indevida; (viii) afastamento do congelamento do saldo
devedor; e (ix) inaplicabilidade da multa de que trata o art. 35, § 5º,
da L. 4591/64. Confira-se fls. 460/500.
O Ministério Público do Estado de São
Paulo, em parecer da lavra do i. Procurador de Justiça David Cury
Junior, ofereceu parecer (fls. 507/533), propondo o acolhimento do
incidente na sua integralidade, para os seguintes fins: (i) validade
da cláusula de tolerância de 180 dias para além do termo final
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previsto no contrato, desde que a sua eficácia esteja vinculada à
demonstração de justificativa externa, como caso fortuito ou força;
(ii) validade da cláusula que estipula prazo a partir da assinatura do
contrato de financiamento para a conclusão das obras nos
compromissos de compra e venda com pacto adjeto de hipoteca em
favor de agente financeiro; (iii) cabimento da intervenção judicial no
contrato para estabelecer a isonomia na relação contratual de
compra e venda de unidades imobiliárias em construção, de forma
a garantir ao consumidor o direito de reclamar cláusula penal
moratória tal como previsto em favor do contratado, assegurando-
lhe a indenização mínima pela demora da entrega da coisa, pelo
fornecedor, independentemente da prova da existência de danos
materiais ou morais dela derivadas; (iv) o mero descumprimento do
prazo estabelecido no contrato de promessa de compra e venda
para a entrega do imóvel em construção ao adquirente não enseja,
por si, reparação de danos morais, os quais deverão ser objeto de
prova, pelo prejudicado, durante a demanda; (v) a demora na
entrega do bem objeto do contrato de aquisição de unidade
imobiliária em construção enseja danos materiais decorrentes da
privação do uso pelo seu adquirente, consistindo em perdas e
danos no percentual mensal de 0,5% sobre o valor do contrato
atualizado, durante todo o período de atraso; (vi) legalidade da
denominada taxa de evolução da obra (juros da obra), assistindo
direito ao adquirente de unidade imobiliária autônoma, porém, de
exigi-la da vendedora, no caso de haver atraso no cumprimento do
prazo de entrega do imóvel; (vii) devolução simples, e não em
dobro, dos valores pagos em excesso pelo adquirente da unidade
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autônoma em construção, ressalvada a hipótese de comprovada
má-fé do vendedor; (viii) a demora na entrega das chaves do bem
ao adquirente da unidade autônoma constitui causa suficiente para
autorizar a suspensão da correção monetária (congelamento),
medida que previne dano à parte que cumpriu rigorosamente as
suas obrigações e pune quem efetivamente deu causa ao atraso na
prestação convencionada no contrato, sendo que, na pior das
hipóteses, após o vencimento do prazo, compete ao Juiz substituir
o INCC por outro índice mais favorável ao consumidor, de acordo
com o contrato, ou com a Tabela Prática do Tribunal de Justiça; (ix)
o inadimplemento da entrega ao adquirente do bem imóvel em
construção, no prazo estipulado no contrato, gera direito a perdas e
danos, mas não rende ensejo à incidência da multa do art. 35, da
Lei 4.591/64, pois tal circunstância não se encaixa na situação
fática prevista naquela norma.
Ofereceu memorial escrito a FUNDAÇÃO DE
PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR PROCON, aduzindo
que: (i) abusividade do prazo de tolerância estipulado nos contratos
de compra e venda de empreendimentos vendidos na planta; (ii)
nulidade, nos termos do art. 51, V, do CDC, da cláusula do prazo
que fixa a entrega do imóvel em determinados meses, a contar da
assinatura do contrato de financiamento; (iii) possibilidade de
inversão da cláusula penal em desfavor do fornecedor, aplicando-
se a reciprocidade da obrigação posta ao consumidor, em razão de
seu caráter moratório; (iv) cabimento da indenização por danos
morais; (v) cabimento da indenização por lucros cessantes,
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
correspondente ao valor locativo do bem, em razão do atraso na
entrega, que acarreta privação ou impossibilidade de fruição do
imóvel pelo consumidor; (vi) indevida a cobrança da taxa de
evolução de obra em caso de atraso; (vii) devolução em dobro do
valor pago indevidamente, à vista do disposto no art. 42, par. ún.,
do CDC, sendo despiciendo se perquirir pela má-fé, por cuidar de
responsabilidade objetiva; (viii) acerto da suspensão da correção
monetária do saldo devedor no caso de atraso de obra; e (ix)
pertinência da multa prevista no art. 35, § 5º, da L. 4.592/64, quer
quando não estiver prevista a aplicação de sanção para o
descumprimento do comando legal, quer como substitutivo da
cláusula penal, quando não houver reciprocidade prevista no
instrumento contratual.
A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
SEÇÃO SÃO PAULO, por sua COMISSÃO DE DIREITO
URBANÍSTICO, de sua vez, ofereceu manifestação (fls. 584/638),
concluindo por: (i) ausência de ilegalidade da cláusula contratual
que disponha sobre o prazo de tolerância, observado o direito de
informação; (ii) admissibilidade da previsão de condição suspensiva
e resolutiva, vinculando a consecução do empreendimento à
obtenção do financiamento; (iii) inadequação da prefixação de
danos por meio de cláusula penal, sendo cabível a indenização por
lucros cessantes, em percentual (0,5%) incidente sobre o valor do
contrato ou sobre o valor pago; (iv) a indenização por dano moral
somente é cabível quando houver efetiva comprovação do abalo
em razão da conduta da incorporadora; (v) ausência de sobrecarga
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
financeira ao compromissário comprador no pagamento da taxa de
evolução de obras; (vi) inaplicabilidade do art. 42, do CDC, em não
se vislumbrando má-fé; (vii) inaplicabilidade do congelamento do
saldo devedor em caso de atraso; e (viii) inaplicabilidade da multa
prevista no art. 35, § 5º, da L. 4.591/64.
A manifestação do SINDICATO DAS
EMPRESAS DE COMPRA, VENDA, LOCAÇÃO E
ADMINISTRAÇÃO DE IMÓVEIS RESIDENCIAIS E COMERCIAIS
DE SÃOPAULO SECOVI e da CÂMARA BRASILEIRA DA
INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL CBIC, foi pela ausência de
requisitos de admissibilidade do IRDR, em relação (i) ao prazo
fixado a partir da assinatura do contrato de financiamento, (ii)
quanto à taxa de evolução de obra e (iii) quanto à aplicação do art.
35, § 5º, da L. 4.591/64. No mérito, a manifestação foi no seguinte
sentido: (i) quanto ao prazo de tolerância, que seja fixada tese no
mesmo sentido do que consta da Súmula 164 do TJ/SP, repelindo-
se alegações de nulidade/abusividade; (ii) fixação da tese no
sentido da validade da estipulação de regra contratual prevendo,
para efeito de verificação do prazo de entrega da unidade
imobiliária, o prazo fixado no contrato que vier a ser firmado para
tomada de financiamento pelo adquirente junto ao agente financeiro
(sem prejuízo de eventual utilização do prazo de tolerância); (iii)
fixação da tese no mesmo sentido do que consta da Súmula 159
deste E. Tribunal; (iv) não cabimento de danos morais, pelo simples
atraso na entrega da unidade imobiliária; (v) cabimento da
indenização por lucros cessantes apenas em caso de prova
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
concreta do prejuízo, não se podendo presumir o dano, devendo
ser revogada a Súmula 162 deste E. Tribunal; (vi) legalidade da
taxa de evolução de obra; (vii) não cabimento da devolução em
dobro, sem a prova objetiva e específica da má-fé; (viii)
descabimento do congelamento do saldo devedor, em caso de
atraso; e (ix) inaplicabilidade do art. 35, § 5º, da L. 4591/64, em
relação ao atraso da obra. Confira-se fls. 607/638.
Por fim, o SINDICATO DA INDÚSTRIA DA
CONSTRUÇÃO CIVIL DE GRANDES ESTRUTURAS DO ESTADO
DE SÃO PAULO SINDUSCON-SP, aduziu manifestação no
seguinte sentido: (i) legalidade da cláusula de tolerância, com prazo
de 180 dias; (ii) legalidade do prazo alternativo de determinado
número de meses, para entrega do imóvel, a contar da assinatura
do contrato de financiamento; (iii) descabimento da aplicação da
multa contratual, prevista em desfavor do comprador, para o caso
de mora no pagamento, postulou em reciprocidade na hipótese de
inadimplemento da vendedora; (iv) não caracterização do dano
moral, em caso de mero atraso na entrega da unidade autônoma;
(v) a condenação em lucros cessantes somente se justifica quando
houver efetiva prova de que o promitente-comprador, de fato,
deixou de lucrar por conta da entrega atrasada do imóvel; (vi)
licitude da taxa de evolução de obra, visto que não é cobrada
depois de findo o prazo máximo previsto no contrato de
financiamento para término da construção, quando tem início o
período de amortização; (vii) necessidade de prova da má-fé para
incidir a devolução em dobro, prevista no art. 42, par. ún., do CDC;
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
(viii) não congelamento do saldo devedor, nos termos da Súmula
163, deste E. Tribunal; e (ix) inaplicabilidade da multa de que trata
o art. 35, § 5º, da L. 4.591/64.
Foram prestadas informações
complementares, pelo Juízo de Primeiro Grau, que provocou o
incidente, informando acordo na demanda que deu ensejo ao IRDR
e propondo sua substituição. Confira-se fls. 828/831.
O culto Relator Sorteado, em seu judicioso e
respeitável voto, propõe:
I. Dar por prejudicada a tese de n. 03
“Alegação de que a multa contratual, prevista em
desfavor do promissário comprador, deve ser
aplicada por reciprocidade e isonomia, à hipótese
de inadimplemento da promitente vendedora.”,
porque afetada pelo Superior Tribunal de
Justiça (REsps 1614721/DF e 1631485/DF -
Tema 971);
II. Rejeitar a tese n. 04 “Indenização por
danos morais em virtude do atraso da entrega das
unidades autônomas aos promitentes
compradores.”, por envolver necessariamente
matéria fática ao exame de cada caso
concreto;
III.Aprovar as seguintes teses, mediante
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
adoção dos enunciados abaixo:
Tema n. 01 - “É válido o prazo de tolerância, não
superior a cento e oitenta dias estabelecido no
compromisso de venda e compra para entrega de
imóvel em construção, desde que previsto em
cláusula contratual expressa, clara e inteligível.”
Tema n. 02 “Admite-se que o prazo de entrega
da unidade autônoma tenha termo inicial da data
de obtenção do financiamento pelo adquirente,
desde que a cláusula contratual seja redigida de
modo claro e não ultrapasse seis meses contados
da data do registro da incorporação (art. 34 L.
4.591/64).”
Tema n. 05 - “O atraso da prestação de entrega
de imóvel objeto de compromisso de compra e
venda gera obrigação da alienante indenizar o
adquirente pela privação injusta do uso do bem O
uso pode ser calculado economicamente pela
medida de um aluguel, que é o valor
correspondente ao que deixou de receber, ou teve
de pagar para fazer uso de imóvel semelhante, com
termo final na data da disponibilização da posse
direta ao adquirente da unidade autônoma já
regularizada.”
Tema n. 06 - “É ilícito o repasse dos "juros de
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
obra", ou “juros de evolução da obra”, ou “taxa de
evolução da obra”, após o prazo ajustado no
contrato para entrega das chaves de unidade
autônoma, incluído período de tolerância.”
Tema n. 07 - “A restituição de valores pagos em
excesso pelo promissário comprador em contratos
de compromisso de compra e venda far-se-á de
modo simples, salvo má-fé do promitente
vendedor.”
Tema n. 08 - “O descumprimento do prazo de
entrega de imóvel objeto de compromisso de
venda e compra, computado o período de
tolerância, não faz cessar a incidência de correção
monetária, mas tão somente dos juros e multa
contratual sobre o saldo devedor. Devem ser
substituídos indexadores setoriais, que refletem a
variação do custo da construção civil por outros
indexadores gerais, salvo quando estes últimos
forem mais gravosos ao consumidor.”
Tema n. 09 - “Não se aplica a multa prevista no
artigo 35, parágrafo 5º. da L. 4.591/64 para os casos
de atraso de entrega das unidades autônomas aos
promissários compradores.”
É o resumo do essencial, adotado, quanto ao
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
mais o relatório do r. voto do culto Relator Sorteado.
II Com relação ao Tema n. 01, “É válido o
prazo de tolerância, não superior a cento e oitenta dias estabelecido no
compromisso de venda e compra para entrega de imóvel em construção,
desde que previsto em cláusula contratual expressa, clara e inteligível.”, por
expressar a entendimento sedimentado neste E. Tribunal,
consolidado na Súmula 1641 e amplamente debatido na
jurisprudência de todas as Câmaras desta Primeira Subseção de
Direito Privado, meu voto acompanha o r. voto condutor, nos seus
exatos e precisos termos.
Essa a tese aprovada por maioria de votos.
III Quanto ao Tema n. 02, “Admite-se que o
prazo de entrega da unidade autônoma tenha termo inicial da data de
obtenção do financiamento pelo adquirente, desde que a cláusula contratual
seja redigida de modo claro e não ultrapasse seis meses contados da data
do registro da incorporação (art. 34 L. 4.591/64)”, penso, data maxima
venia, que a discussão não passa pelo exame do requisito previsto
no art. 34, da L. 4.591/64.
A matéria é apresentada com exatidão pelo
nobre Relator:
“No que se refere à questão de fundo, deve ser feita
necessária distinção entre os contratos de
compromisso de compra e venda regulados somente
1 É válido o prazo de tolerância não superior a cento e oitenta dias, para entrega de imóvel em construção, estabelecido no compromisso de venda e compra, desde que previsto em cláusula contratual expressa, clara e inteligível.
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
pela Lei 4.591/64, objeto de financiamento privado a
taxas de mercado, e os contratos de compromisso de
compra e venda regulados e objeto de financiamento
pelo Programa Minha Casa Minha Vida PMCMV - Lei
n.11.977/2009, Instrução Normativa n. 35/2012, do
Ministério das Cidades, e Resolução n.723/13, do
CCFGTS.
Nos primeiros, o financiamento somente é tomado
pelo adquirente após a conclusão da obra,
instituição do condomínio edilício e atribuição da
unidade autônoma, esta ofertada em garantia ao
agente financeiro credor. Durante a obra, eventual
financiamento é tomado pela
construtora/incorporadora.
Nos segundos, se admite que o financiamento seja
contraído diretamente pelo adquirente junto à CEF
ou outras instituições financeiras no início ou no
curso das obras do empreendimento, antes de sua
conclusão e instituição do condomínio edilício.
No regime dos contratos regidos pelo Programa
Minha Casa Minha Vida PMCMV normalmente o
adquirente despende quantia módica de sinal e
inicio de pagamento, ou às vezes nem isso. Para a
viabilização do empreendimento mediante
financiamento junto à Caixa Econômica Federal, se
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
faz necessária a reunião de número mínimo de
contratos de compromisso de compra e venda
firmados. Somente depois de atingido determinado
patamar de vendas é que a alienante consegue
obter o financiamento necessário para a
consecução do empreendimento.”
Bem pontuando a diferença entre os dois
tipos de contratação, o Relator avança dizendo que “A L. 4.591/64, em
seu artigo 34, faculta ao incorporador desistir da realização do empreendimento,
se verificar que não há condições de mercado para absorver as unidades e
sustentar o custo da construção. Esse prazo máximo de carência é de 180 dias,
com termo inicial da data do registro da incorporação (Melhin Namen Chabhub,
Da Incorporação Imobiliária, 3ª. Edição Renovar, p. 57).” e conclui:
“Essa a razão pela qual a fixação do prazo de entrega
com termo inicial a partir da obtenção do
financiamento, se estipulada de modo claro e objetivo,
se mostra adequada à própria operação econômica
entabulada entre as partes e o agente financeiro,
desde que não ultrapasse seis meses contados do
registro da incorporação.”
Primeiro, importante consignar que a
questão posta no Tema em discussão tem relação direta com o
segundo tipo de contrato ou, eventualmente, a outros programas
habitacionais de cunho social, cuja contratação se dá em situações
excepcionais e muito mais vantajosas para o comprador-
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
consumidor em relação a empreendimentos sem essa
característica.
Assim, partindo dessa premissa, a meu
sentir o problema nesse encaminhamento está em admitir a
aplicação do art. 34, da Lei n. 4.591/64, aos contratos regidos pelo
Programa Minha Casa Minha Vida PMCMV ou quaisquer outros
programas voltados à obtenção de moradia por crédito associativo.
Nesse sentido, penso que a questão foi bem
pontuada no r. voto divergente do Desembargador Carlos Alberto
Garbi:
“Com o devido respeito, o prazo previsto na Lei para
desistência da incorporação não se aplica à hipótese
do compromisso de venda e compra realizado sob a
condição de obter o crédito associativo. A
incorporadora que não obteve a concessão do crédito
não anotou no registro da incorporação a faculdade de
desistir, como prevê o dispositivo em referência, e o
empreendimento será mantido, com oferecimento das
unidades à venda. O crédito associativo poderá ser
obtido, inclusive, em outro momento, além dos seis
meses da incorporação.
Acrescente-se que não se pode impor o curto prazo de
seis meses para que o incorporador faça a venda das
unidades e obtenha o financiamento, sabido das
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
dificuldades do mercado de imóveis e dos
procedimentos exigidos para aprovação do crédito dos
adquirentes. Impor esta solução é seguramente
colocar o incorporador em mora na entrega das
unidades e inviabilizar o programa habitacional do
crédito associativo.”
Assim, não se pode deixar de reconhecer a
licitude da fixação do prazo de construção a partir da assinatura de
um segundo contrato, no caso, o de financiamento, posto celebrado
em condições excepcionais, cuja contratação é vantajosa ao
adquirente, pelas próprias condições de custo do crédito
disponibilizado, o qual, em última análise, responde praticamente
pela totalidade da obra.
Sob esse enfoque, o que deve ser garantido
ao consumidor e, no caso, adquirente, é justamente a informação
expressa, clara e inteligível pela qual se dá a contratação e a forma
de cômputo do prazo, com previsão, nessas mesmas condições, do
prazo para a formalização do financiamento.
Nas palavras sempre objetivas e claras do
Desembargador Garbi:
“Percebe-se que há providências que antecedem a
assinatura do contrato, que não tem data para se
concretizar, do que decorre a incerteza quanto á data
da entrega do imóvel. O consumidor não pode ficar
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
sujeito a essa incerteza. O que se deve exigir é que o
contrato estabeleça claramente o prazo no qual deverá
ocorrer a contratação do financiamento, bem como
todas as suas condições, para que se possa
determinar a data da entrega do imóvel. Em outras
palavras, o incorporador deve formar o grupo de
adquirentes em prazo certo informado ao consumidor.
Não me parece adequado fixar prazo apriorístico,
porque não é ilícito estabelecer que o prazo de entrega
do imóvel se dê a partir do contrato de financiamento,
ainda que esse financiamento se demore a confirmar,
quando se sabe que o sucesso do empreendimento
depende da reunião de um grupo de adquirentes. O
que assegura o Código de Defesa do Consumidor é
que se dê a informação completa e clara sobre as
condições do negócio a permitir que o adquirente
possa decidir, informado, sobre o negócio, o que não
tem ocorrido em alguns casos examinados no
Tribunal.” (grifos não originais)
Concluindo, acompanho a divergência
levantada pelo Desembargador Garbi, com uma pequena alteração
de redação, de conteúdo meramente formal, para harmonizar a
redação com o conjunto de temas discutidos, acrescentando a
referência “expressa, clara e inteligível”.
É certo, ainda que durante o julgamento do
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
IRDR, foi sugerida a inclusão do termo “certo” em relação ao prazo
a ser fixado, o que foi acolhido pela douta maioria.
Assim, a texto final da tese ficou assim
redigido:
Tema n. 02 “Na aquisição de unidades
autônomas futuras, financiadas na forma
associativa, o contrato deverá estabelecer de
forma expressa, clara e inteligível o prazo certo
para a formação do grupo de adquirentes e para a
entrega do imóvel.”
Essa a tese aprovada por maioria de
votos.
IV Com relação ao Tema n. 03, ou seja,
quanto à “Alegação de que a multa contratual, prevista em desfavor do
promissário comprador, deve ser aplicada por reciprocidade e isonomia, à
hipótese de inadimplemento da promitente vendedora.”, correto afirmar
que a afetação do tema pelo Superior Tribunal de Justiça (REsps
1614721/DF e 1631485/DF - Tema 971) encerra qualquer
discussão a respeito, nos termos do art. 976, § 4º, do CPC.
Assim, acompanho a proposta do Relator de
considerar prejudicado o IRDR em relação a esse Tema, sendo a
tese considerada prejudicada, por votação unânime.
V Com relação ao Tema n. 04, referente à
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
“Indenização por danos morais em virtude do atraso da entrega das
unidades autônomas aos promitentes compradores.”, efetivamente, tal
como proposto pelo Relator, o incidente não prospera.
A propósito, nos termos do voto divergente
anteriormente declarado (fls. 266/271), sequer elementos
justificadores para instauração do IRDR sobre a tese se faziam
presentes, visto que a questão envolve necessariamente matéria
fática dependente do exame de cada caso concreto.
Na ocasião, ao proferir voto divergente,
relativamente à admissibilidade do IRDR quanto ao tema, anotei:
“Ainda que se possa dizer que, em tese, a controvérsia
instalada sobre o dano moral diga respeito à questão
unicamente de direito, o reconhecimento de dano
dessa natureza reclama análise de fato, não se trata
de mera consequência do inadimplemento contratual.
...
Ademais, em relação ao dano moral, a divergência que
se verifica nos julgados deste E. Tribunal de Justiça,
dizem com a interpretação dos fatos do caso concreto,
não se trata de discussão puramente de direito
material, o que reforça o descabimento do IRDR nesse
ponto.
...
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Logo, a admissibilidade do incidente em relação a essa
matéria, a pretexto de 'fixar se o inadimplemento da
prestação de entrega de unidades autônomas pode em
tese gerar danos morais' não harmoniza, data venia,
com o objetivo do instituto, que não se volta à
discussão de questão em tese.
...
Com esse foco, tem-se que eventual deliberação a
respeito, no plano do incidente, poderá dar ensejo a
maior controvérsia, em vez de solucioná-la mais
facilmente, dando margem a interpretação não
objetivada pelo IRDR e, consequentemente,
possibilitando maior insegurança jurídica.”
Tudo, para concluir, no sentido de que:
“Assim, sempre respeitando entendimento diverso, não
admito o incidente sobre esse tema.”
Logo, pelo quanto mencionado pelo Relator
e pelos argumentos por mim anteriormente apresentados,
acompanho, a proposta de rejeição do Tema n. 04, sendo a tese
rejeitada por votação unânime.
VI No que tange ao Tema n. 05, “O atraso
da prestação de entrega de imóvel objeto de compromisso de compra e
venda gera obrigação da alienante indenizar o adquirente pela privação
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
injusta do uso do bem. O uso pode ser calculado economicamente pela
medida de um aluguel, que é o valor correspondente ao que deixou de
receber, ou teve de pagar para fazer uso de imóvel semelhante, com termo
final na data da disponibilização da posse direta ao adquirente da unidade
autônoma já regularizada.”, penso, data venia, que a solução não deve
ser exatamente a proposta.
Nada obstante, é certo que a jurisprudência
majoritária deste E. Tribunal vem caminhando para consolidar o
entendimento no sentido do tema, tal como proposto, sentido no
qual, frise-se, também, tenho encaminhado meus votos.
Ocorre que o tempo e a melhor reflexão
sobre a questão justificam, em meu entender, a mudança de
posicionamento, que ora submeto a este D. Colegiado, pois me
parece que, como bem colocado pela MRV e como assinalado na
manifestação da OAB-SP, a incidência do percentual de 0,5% (hoje
oscilando para menos), como valor locativo mensal, ou seja,
incidente sobre o valor do contrato < ou do imóvel >, acaba por
desequilibrar o tratamento isonômico entre as partes, quando, pelas
condições do compromisso de compra e venda, a maior parte do
pagamento do preço será desembolsada na entrega das chaves,
privilegiando o comprador em nítido prejuízo do vendedor.
Em outras palavras, na grande massa de
demandas examinadas por este E. Tribunal e, inclusive, que deram
ensejo à repetição justificadora deste IRDR, o atraso da obra se dá
quando a parte do preço paga é inferior a 30% ou, no mais das
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
vezes, inferior a 10%.
Isso sem falar nos contratos referentes ao
Programa Minha Casa Minha Vida PMCMV, quando o sinal é
meramente simbólico e as parcelas pagas, juros de obra, não são
representativas, visto que a amortização somente ocorrerá
efetivamente com a entrega do bem.
Exemplificando, no caso que deu ensejo a
este IRDR, o preço do imóvel era de R$ 96.854,00, sendo que o
sinal pago foi de R$ 3.813,00 e outros R$ 3.120,00 deveriam ser
pagos em vinte parcelas de R$ 156,00, com financiamento de R$
89.921,00. Assim, em princípio, o atraso na entrega do imóvel dar-
se-ia com o pagamento de 7,16% do preço total do bem. O aluguel
mensal representaria R$ 484,27, vale dizer, R$ 5.811,24 por ano,
portanto, caso o atraso perdure por cerca de quatorze meses, o
comprador já teria todo o capital investido de volta.
Sob esse enfoque, penso que o aluguel
fixado como perdas e danos, resulta em vantagem injustificável
para o comprador, arranhando enriquecimento sem causa, causa e
violando o disposto no art. 944, do CC, que estipula a indenização
pela extensão do dano, que, no caso, estaria sendo fixado
desproporcionalmente.
Assim, a meu sentir, quer porque o
desembolso para a aquisição do imóvel não foi significativo, quer
porque deve haver certa proporcionalidade entre o lucro cessante,
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a punição e a mora resultantes do atraso na entrega do bem,
parece-me que o percentual de 0,5% deve incidir sobre o capital
dispendido pelo comprador.
Ora, se os lucros cessantes, como pontua o
Relator “são essencialmente os frutos que os adquirentes receberiam se o
imóvel tivesse sido entregue na data prevista”, não se pode ignorar que, na
data prevista para entrega, o comprador tem por quitado o bem
junto ao vendedor, ou pelo pagamento puro e simples ou por meio
de financiamento, de forma que razoável supor que estaria em
condições, ao menos em tese, de auferir o fruto por inteiro do bem.
Entretanto, operando-se o atraso no curso do
cumprimento integral do compromisso, o pagamento parcial do
preço < e no mais das vezes reduzido > não pode gerar um fruto
desproporcional, como se o comprador tivesse sido privado do bem
e do capital integral para quitação do contrato (por si ou por meio de
financiamento), a indenização deve refletir a privação e, nessa
hipótese, a privação não é plena ou total, visto que o preço não foi
pago (salvo no caso de quitação antecipada).
Logo, manifesto-me favorável ao
reconhecimento dos lucros cessantes, mas com sua fixação
proporcional à extensão do prejuízo ou do que deixou de auferir, em
relação ao quanto dispendido, vale dizer, o percentual mensal
haverá de ser aferido sobre a base do quantum efetivamente
desembolsado pelo comprador.
Nada mais se está a fazer do que
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reconhecer que a indenização ou o lucro cessante mensal é
proporcional à parte do preço pago.
A propósito, não se pode olvidar que a
incidência da indenização se faz mês a mês e que sobre o valor
apurado incide juros de mora, à razão de 1% ao mês, a contar da
citação (ou do vencimento se o atraso persistir no curso da
demanda), o que potencializa a indenização, circunstância que não
pode ser simplesmente desconsiderada.
Sob esse enfoque, a redação proposta para
o tema ficaria como segue:
Tema n. 05 “O atraso da prestação de entrega
de imóvel objeto de compromisso de compra e
venda gera obrigação da alienante indenizar o
adquirente, proporcionalmente ao quanto pago,
pela privação do capital empregado na sua
aquisição, correspondendo a 0,5% ao mês,
incidente sobre a parte do preço efetivamente
desembolsada, com termo final na data da
disponibilização da unidade autônoma já
regularizada.”
A proposta foi rejeitada, vencidos este
Magistrado e o Desembargador Donegá Morandini.
Uma vez rejeitada a proposta retro
apresentada, deixei de insistir na proposta subsidiária, que dizia
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com parte do enunciado proposto, a qual buscava não descartar a
referência adotada pela expressiva maioria deste E. Tribunal,
fixando o lucro cessante em 0,5%, do valor atualizado do contrato,
pois, ainda que se considere o quanto mencionado anteriormente,
razoável o valor do contrato e referido percentual como parâmetros
locatícios.
É que, ao estabelecer um percentual como
parâmetro, no caso 0,5%, o enunciado possibilita o encerramento
de discussões a respeito, motivo último do IRDR, permitindo seu
pronto e rápido julgamento, enquanto a referência genérica “O uso
pode ser calculado economicamente pela medida de um aluguel, que é o
valor correspondente ao que deixou de receber, ou teve de pagar para fazer
uso de imóvel semelhante” somente se resolverá mediante perícia,
ainda que na fase de cumprimento de sentença, como maiores
ônus econômicos e de tempo, em prejuízo à celeridade, impostos
às partes, alimentando a persistência da controvérsia.
Entretanto, como, após a discussão na
sessão, o douto Relator acolheu sugestão para alterar a redação de
sua proposta original, admitindo que o locativo seja fixado em um
percentual do valor atualizado do contrato e havendo consenso a
respeito, optei por não insistir na tese subsidiária, admitindo a
redação final de consenso, que acabou sendo votada por
unanimidade, no que toca à forma de cálculo da indenização, e que
ficou assim expressa:
Tema n. 05 - “O atraso da prestação de entrega de
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imóvel objeto de compromisso de compra e venda
gera obrigação da alienante indenizar o adquirente,
pela privação injusta do uso do bem. O uso pode
ser calculado economicamente pela medida de um
aluguel, que poderá ser fixado em percentual
incidente sobre o valor atualizado do contrato,
correspondente ao que deixou de receber, ou teve
de pagar para fazer uso de imóvel semelhante, com
termo final na data da disponibilização da posse
direta ao adquirente da unidade autônoma já
regularizada.”
VII No que diz respeito ao Tema 06, “É ilícito
o repasse dos 'juros de obra', ou 'juros de evolução da obra', ou 'taxa de
evolução da obra', após o prazo ajustado no contrato para entrega das
chaves de unidade autônoma, incluído período de tolerância”, penso
importante ressaltar alguns aspectos.
Primeiro, data venia, ao contrário do quanto
mencionado pelo i. Relator, quando do exame da admissibilidade
do IRDR, em meu voto divergente, aventei eventual discussão
quanto à competência da Justiça Federal, caso o tema tivesse o
tratamento amplo proposto no r. voto de Sua Excelência, que referiu
na letra “f”, tão somente a questão como “ilicitude da taxa de evolução
de obra”.
Na ocasião afirmei:
“Ocorre que a discussão sobre a ilicitude, data venia,
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nos termos da divergência, tal como sustentada pelo
MM Juiz autor do requerimento de instauração do
IRDR, não tem a amplitude da discussão, tal como
posta no tema.
É que a divergência jurisprudencial, que é objeto das
demandas repetitivas, não diz propriamente com a
legalidade da cobrança da taxa de evolução de obra ou
encargos de juros da obra, mas com sua incidência no
caso de atraso da obra, ou seja, além do prazo
contratualmente previsto.” (fls. 262/263)
Daí a proposta então formulada:
“Penso, no entanto, que a solução se dá por outro
caminho, pois, na medida em que se reconhece que a
divergência é pontuada pelo descumprimento do prazo
de entrega, cuja observância levaria, como ressaltado
pelo Magistrado autor do requerimento de IRDR, à
cessação de sua cobrança, nesse sentido: 'se tivesse
ocorrido entrega pontual, a cobrança desses valores
pela instituição financeira teria cessado'.
Logo, o tema deve estar voltado à discussão da
divergência exclusivamente no âmbito da relação entre
e comprador e construtora, para saber se é correto
afirmar que 'a vendedora é que dá causa a esses
pagamentos adicionais'.
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Assim, proponho a admissibilidade do tema sobre a
responsabilidade pelo pagamento da taxa de evolução
de obra quando houver descumprimento do prazo de
entrega da obra pela construtora.
A redação proposta é a seguinte:
'Responsabilidade pelo pagamento da taxa de
evolução de obra a partir do momento em que
caracterizado o atraso na entrega da unidade
autônoma.'” (fls. 265/266)
Como, ainda que por outro caminho, o d.
Relator Sorteado acabou limitando sua conclusão, acompanho a
proposta, que acabou sendo aprovada, por votação unânime,
ficando a redação aprovada como segue:
“É ilícito o repasse dos juros de obra, ou juros de
evolução da obra, ou taxa de evolução da obra, ou
outros encargos equivalentes, após o prazo
ajustado no contrato para entrega das chaves de
unidade autônoma, incluído período de tolerância.”
VIII Quanto ao tema 07, “A restituição de
valores pagos em excesso pelo promissário comprador em contratos de
compromisso de compra e venda far-se-á de modo simples, salvo má-fé do
promitente vendedor.”, em que pese a proposta reflita a posição
praticamente pacífica da jurisprudência deste E. Tribunal, foi
pontuado pelo SECOVI-SP e pela CBIC (fls. 610/611), que em
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
decisão monocrática, proferida no REsp 1.551.968/SP, em
08/05/2015, pelo Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, foi
mencionado expressamente que “cumpre observar que o tema da
repetição em dobro encontra-se afetado ao rito dos recursos especiais repetitivos
(cf. Tema 929, REsp 1.517.888/RN, de minha relatoria), pendente de julgamento.”.
É certo, no entanto, que em decisão proferido
pelo referido Ministro, em 12/06/2017, houve a desafetação do
recurso, mantendo-se, no entanto, a afetação anteriormente
estendida, em relação ao REsp 1.585.736/RS, também por decisão
monocrática do Ministro Paulo de Tarso, datada de 09/09/2016,
acerca das “hipóteses de aplicação da repetição em dobro prevista no art. 42,
parágrafo único, do CDC”.
Nada obstante, em que pese a afetação e a
forma genérica em que o tema foi tratado, parece-me, data venia,
não ser o caso de aplicação do impedimento previsto no art. 976, §
4º, do CPC, visto que a discussão na Corte Superior se faz no
âmbito das relações jurídicas em contratos bancários, situação
totalmente diversa da matéria ora tratada, que cuida
especificamente de contratos imobiliários e, mais precisamente, de
compromissos de compra e venda de bens imóveis.
Com isso, afasto a preliminar levantada pelas
citadas entidades e, nos termos da conclusão apresentada no voto
do Relator, também voto pela aprovação do tema com a redação
proposta no voto condutor, o que foi acolhido, por unanimidade.
IX Com relação ao Tema n. 08, “O
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descumprimento do prazo de entrega de imóvel objeto de compromisso de
venda e compra, computado o período de tolerância, não faz cessar a
incidência de correção monetária, mas tão somente dos juros e multa
contratual sobre o saldo devedor. Devem ser substituídos indexadores
setoriais, que refletem a variação do custo da construção civil por outros
indexadores gerais, salvo quando estes últimos forem mais gravosos ao
consumidor.”, a proposta do culto Relator consagra fundamentos
irrebatíveis e que refletem o pensamento majoritário das Câmaras
Julgadoras deste E. Tribunal, consoante o disposto na Súmula 163
desta Corte2, razão pela qual comporta acompanhamento
incondicional.
A proposta foi aprovada, por votação unânime.
X Por fim, quanto ao Tema n. 09, “Não se
aplica a multa prevista no artigo 35, parágrafo 5º. da L. 4.591/64 para os
casos de atraso de entrega das unidades autônomas aos promissários
compradores.”, penso ser possível se discutir o cabimento do IRDR
em relação a essa matéria, ao contrário do apontado pelo SECOVI
e pela CBIC.
Nesse passo, é certo que, a rigor, a situação
vista em primeiro grau e retratada pelo Magistrado que provocou o
incidente, ainda não se faz de modo pleno na segunda instância,
cuja jurisprudência começa a dar os primeiros passos a respeito
(Apelações ns. 0014659-46.2012.8.26.0114,
1021742-60.2015.8.26.0577, 1015414-07.2015.8.26.0451, 1001025-
2 O descumprimento do prazo de entrega do imóvel objeto do compromisso de venda e compra não cessa a incidência de correção monetária, mas tão somente dos encargos contratuais sobre o saldo devedor.
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94.2014.8.26.0566, 0067961-87.2012.8.26.0114,
0009767-38.2013.8.26.0477, 4026684-86.2013.8.26.0114 e
4006003-46.2013.8.26.0001).
Nada obstante, retratada a repetição na
instância de origem e possibilitada a ampla discussão sobre o tema,
não parecendo haver grandes discussões a respeito, mostra-se
factível seu exame, evitando que se concretize a ofensa à isonomia
e se coloque em risco a segurança jurídica, para só então se dar
vazão a uma interpretação consolidada em sede de IRDR.
Essa me parece a melhor forma de atender a
mens legis do art. 976, do CPC, uma vez presente a conveniência e
a oportunidade de se deliberar sobre o tema no âmbito do IRDR.
Com essas considerações, não acolho a
preliminar levantada pelo SECOVI e pela CBIC e, no mérito, diante
das judiciosas ponderações do Relator, acompanho seu
entendimento, para o fim de dar pela inaplicabilidade do art. 35, §
5º, da L. 4.591/64, em face dos casos de atraso na entrega das
unidades autônomas.
Pugno, portanto, pela aprovação do
enunciado, tal como proposto pelo Relator Sorteado.
A tese foi aprovada por votação unânime.
X - Concluindo, acompanho o Relator dando
por prejudicado o Tema 03 e rejeito o Tema 04. Acompanho, ainda,
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
a solução proposta quanto aos Temas 01, 06 e 08. Afasto a
preliminar levantada pelo SECOVI e pela CBIC em relação aos
Temas 07 e 09 e acompanho o Relator quanto à solução proposta.
Quanto ao Tema 02, acompanho a divergência externada pelo
Desembargador Carlos Alberto Garbi. Quanto ao Tema 05,
apresento voto divergente em parte.
XI - Ante o exposto, pelo meu voto, o Tema 03
é considerado prejudicado, o Tema 04 é rejeitado, os temas 07 e 09
são conhecidos e aprovados, juntamente com os Temas 01, 06 e
08, todos consoante redação proposta pelo Relator, o Tema 02 é
aprovado nos termos da divergência do Desembargador Garbi e o
tema 05 é aprovado, nos termos da fundamentação e da redação
proposta neste voto.
Este voto é vencedor em relação aos
temas/teses 01, 02, 03, 04, 06, 07, 08 e 09, sendo vencido em
relação ao tema/tese 05.
DES. GRAVA BRAZIL
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Voto nº 38.496
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas nº 0023203-35.2016.8.26.0000Comarca: PiracicabaRequerente: Mm Juiz de Direito da 5ª Vara Civel da Comarca de Piracicaba Interessados: Junior de Moura Ataíde, M.R.V. Engenharia e Participações S/A, Parque Piazza Navona Incorporações Spe Lltda., Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias - ABRAINC, Câmara Brasileira da Indústria da Construção-CBIC, FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO - PROCON/SP, Ordem dos Advogaddos do Brasil Secao de Sao Paulo e Sind. das Empresas de Compra Venda Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo-SECOVI-SP
DECLARAÇÃO DE VOTO CONVERGENTE E PARCIALMENTE DIVERGENTE
TEMA 1
Proposta alternativa de enunciado: É válido o prazo de
tolerância, não superior a cento e oitenta dias corridos, estabelecido no
compromisso de venda e compra para entrega de imóvel em construção,
desde que previsto em cláusula contratual expressa, clara e inteligível.
Justificativa: A expressa referência a maneira do cômputo do
prazo de tolerância, em dias corridos e não úteis, é necessária como meio
de afastar as interpretações contrárias aos compromissários-adquirentes,
alargando-se, desarrazoadamente, a prorrogação consentida para a entrega
do imóvel.
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TEMA 2
Divergência parcial Proposta alternativa de enunciado:
Na aquisição de unidades autônomas futuras, financiadas na
forma associativa, admite-se que, por cláusula contratual
expressa e inteligível, o prazo de entrega do imóvel tenha
termo inicial da data de obtenção do financiamento, desde que
não decorrido prazo superior a 36 meses entre a assinatura
do compromisso de venda e compra e a entrega das chaves
do imóvel.
Justificativa: Os negócios jurídicos imobiliários firmados de
forma associativa consagram particulares inexistentes nos demais contratos
envolvendo a promessa de venda e compra de unidades futuras,
circunstância a permitir a adoção de diverso termo inicial para cômputo do
prazo de entrega, uma vez necessária a prévia formação do grupo de
interessados no empreendimento.
Por essa característica, tornar estanque o prazo para a entrega
da unidade pode implicar na inviabilização deste tipo de negociação.
Ainda que se alegue a aparente contradição de termos
contratuais, caso autorizado o cômputo do prazo para a entrega da unidade
somente com a aquisição do financiamento imobiliário, a existência de
clausula expressa, clara e inteligível dispondo desta particularidade, afasta
qualquer abusividade, notadamente porque conhecido o prazo final para a
entrega do imóvel.
Nessa diretriz, recentemente decidiu a 3ª Câmara de Direito
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Privado, “não se desconhece os inúmeros precedentes editados por este
Tribunal, por meio dos quais se afastou a contagem do prazo somente com
a contratação do empréstimo financeiro. Nos casos relatados por este
Relator, cumpre destacar, mostravam-se desarrazoadas as dilações diante
do prazo da contratação firmada entre comprador e vendedora, realidade
que não se mostra presente neste caso, considerando que, na totalidade das
dilações, a entrega deveria acontecer até novembro de 2014, quando então
extraídos cerca de 30 meses de construção. Esse interregno, guardadas as
peculiaridades da construção civil, não se mostrou excessivo, nem
tampouco destoa da prática comercial, descabendo, por esses motivos, a
declaração de nulidade pretendida” (Apelação Cível nº
1010462-11.2016.8.26.0625, Rel. Des. Donegá Morandini).
Ademais, animado pela assertiva do E. Relator “...de se fixar
um prazo máximo e certo de entrega da obra”, externada na última
proposta de voto, é que, com a máxima vênia, volto a insistir no
estabelecimento de um prazo certo (36 meses) contado da assinatura do
contrato de financiamento, sugerido a seguinte tese jurídica em relação ao
referido tema.
Os negócios jurídicos imobiliários firmados de forma
associativa consagram particulares inexistentes nos demais contratos
envolvendo a promessa de venda e compra de unidades futuras,
circunstância a permitir a adoção de diverso termo inicial para cômputo do
prazo de entrega, uma vez necessária a prévia formação do grupo de
interessados no empreendimento.
Por essa característica, tornar estanque o prazo para a entrega
da unidade pode implicar na inviabilização desse tipo de negociação.
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Ainda que se alegue a aparente contradição de termos
contratuais, caso autorizado o cômputo do prazo para a entrega da unidade
somente com a aquisição do financiamento imobiliário, a existência de
clausula expressa, clara e inteligível dispondo desta particularidade, afasta
qualquer abusividade, notadamente porque conhecido o prazo final para a
entrega do imóvel.
Não se desconhece, além disso, a falta de normatização
relacionada ao tema, seja para o cômputo do prazo inicial ou do período
total de construção. Essa omissão, entretanto, não impede o
pronunciamento judicial, nem mesmo aquele estabelecido de forma
colegiada e com vinculação aos processos que tramitem sob a jurisdição
estatal (art. 985, inciso I, do Código de Processo Civil), na forma
estabelecida pelo art. 4º da LINDB. Neste particular, aliás, o enunciado
pela Súmula nº 164, deste E. Tribunal de Justiça, por meio da qual
estabelecida a legalidade do prazo de tolerância, normativa temporal que
não encontrava expressa previsão legal.
Neste cenário, insuperável a necessidade de deliberação
judicial relacionada ao assunto, cuidando-se de temática de fundo jurídico
e com repercussão em centenas de demandas judiciais em tramitação. Para
tanto, pautável o equacionamento à observância do fim social da medida e
das exigências do bem comum, na forma do art. 8º do Código de Processo
Civil.
Recorde-se, a propósito, que os contratos em que vinculado o
término das construções à obtenção do financiamento imobiliário são
estabelecidos pela maior faixa da população brasileira, tratando-se, por
imperativo legal, de primeiro imóvel da pessoa ou do seu núcleo familiar.
Referem-se, na realidade, a unidades habitacionais que atendem a função
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
social da propriedade e, ainda, ao direito social da moradia (art. 6º,
Constituição Federal).
Sendo assim, anotada as particularidades que envolvem esta
contratação e o destinatário da avença, evidencia-se certo distanciamento
aos preceitos trazidos pelo mencionado art. 8º do CPC a permissão para
que o prazo de entrega da unidade seja computado com a obtenção do
financiamento bancário, ainda que aliado ao improrrogável prazo semestral
a iniciar com a incorporação, como proposto pelo E. Relator, considerando
que tal registro não possui prazo limítrofe, bastando que seja realizado
antes da comercialização das unidades imobiliárias (art. 32, Lei nº
4.591/64), disciplina, neste contexto, que implicaria na sujeição dos
promitentes adquirentes a uma obrigação abusiva e contrária aos ditames
da boa-fé e equidade contratual, segundo o art. 51, inciso IV, do Código de
Defesa do Consumidor.
Por tudo isso, balizando-se a finalidade da contratação em
análise, a população destinatária do programa social de que resultou na
construção de empreendimentos segundo o financiamento associativo, bem
assim a necessária limitação de prazo para a entrega da unidade,
providência que se alinha ao dever de informação ao contratante sujeito à
proteção consumerista, não se vislumbra impropriedade na estipulação de
prazo máximo para a entrega das chaves da unidade, tudo por força da
função social que baliza este tipo de negociação, cujo prazo limite, de 36
meses, encontra amparo na proporcionalidade e razoabilidade da medida
(art. 8º, CPC), além de espelhar a prática do mercado imobiliário.
Nessa diretriz, recentemente, decidiu a 3ª Câmara de Direito
Privado, “não se desconhecem os inúmeros precedentes editados por este
Tribunal, por meio dos quais se afastou a contagem do prazo somente com
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
a contratação do empréstimo financeiro. Nos casos relatados por este
Relator, cumpre destacar, mostravam-se desarrazoadas as dilações diante
do prazo da contratação firmada entre comprador e vendedora, realidade
que não se mostra presente neste caso, considerando que, na totalidade das
dilações, a entrega deveria acontecer até fevereiro de 2014, quando então
extraídos cerca de 32 meses de construção. Esse interregno, guardadas as
peculiaridades da construção civil, não se mostrou excessivo, nem
tampouco destoa da prática comercial, descabendo, por esses motivos, a
declaração de nulidade pretendida. É como destacado, a propósito, na
Apelação nº 1025928-66.2014.8.26.0576, de minha Relatoria);
“Entretanto, há particularidade a envolver o presente julgado, notadamente
por não se vislumbrar excesso ou abusividade na conclusão do
empreendimento no prazo máximo de 30 (trinta) meses, já admitido o
cômputo da prorrogação, circunstância que, por si só, afasta o acolhimento
do pleito inaugural, o qual buscava a contagem do prazo contratual
segundo a avença firmada com as empreendedoras, sem relação com o
instrumento estabelecido com a instituição financeira” (Apelação Cível nº
1023854-36.2014.8.26.0577, de minha Relatoria).
TEMA 5
Divergência parcial Acompanha-se a proposta de
enunciado nº 5.1. apresentada pelo Des. Grava Brazil: “O
atraso da prestação de entrega de imóvel objeto de
compromisso de compra e venda gera obrigação da alienante
indenizar o adquirente, proporcionalmente ao quanto pago,
pela privação do capital empregado na sua aquisição,
correspondendo a 0,5% ao mês, incidente sobre a parte do
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
preço efetivamente desembolsada, com termo final na data da
disponibilização da unidade autônoma já regularizada”.
Justificativa: A proposta de redação apresentada pelo E.
Relator consolida, ao mesmo tempo, os danos emergentes e os lucros
cessantes. Contudo, danos emergentes, porque efetivos, não exigem
normatização por meio do IRDR, já que decorrentes do texto legal (arts.
389 e 395, CCB). Aliás, a consulta formulada pelo MM. Juiz de Direito vai
ao encontro desta conclusão, porquanto alude à “indenização por perdas e
danos, representada pelo valor locativo que o comprador poderia ter
auferido durante o atraso”. Assim, o termo “poderia ter auferido”, neste
caso, deixa evidente tratar-se de lucros cessantes.
A inexistência de alíquotas previamente estabelecidas, por seu
turno, torna oneroso o processo judicial, exigindo, na maior parte das
vezes, a realização de prova pericial. Assim, considerando-se que a
expectativa de locação é de aproximadamente 0,5% ao mês, tem-se por
correta a utilização desse percentual na aferição do montante mensal
devido pela promitente-vendedora.
No mais, acertada a limitação da base de cálculo, tal como
destacado pela divergência. Ainda que boa parte das pretensões
indenizatórias seja ajuizada após a entrega da unidade, não se desconhece
as lides apresentadas no curso da relação contratual em moratória. Nesta
situação, salvo situações excepcionais, não se teve por liquidada a
integralidade do preço contratado, não se mostrando equânime a decisão
judicial que utiliza o preço atualizado do imóvel, lembre-se, ainda não
solvido, como base para a apuração dos lucros cessantes.
Por isso, correta e alinhada ao princípio que veda o
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
enriquecimento sem causa a proposta de se utilizar o “preço efetivamente
desembolsado” como parâmetro à apuração da mencionada espécie
indenizatória, de modo que, quanto maior o volume financeiro quitado
pelo promissário-comprador, proporcionalmente será a indenização que
devida ao adquirente.
Pelo meu voto, portanto, acompanho a divergência
apresentada pelo E. Des. Grava Brazil, no que se refere ao tema 5.1,
divergindo, da proposta do enunciado pertinente ao tema 02,
subscrevendo, quanto ao mais, o voto do E. Relator.
Donegá Morandini
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Voto nº 40258Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas nº 0023203-35.2016.8.26.0000Comarca: PiracicabaRequerente: Mm Juiz de Direito da 5ª Vara Civel da Comarca de Piracicaba Interessados: Junior de Moura Ataíde, M.R.V. Engenharia e Participações S/A, Parque Piazza Navona Incorporações Spe Lltda., Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias - ABRAINC, Câmara Brasileira da Indústria da Construção-CBIC, FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO - PROCON/SP, Ordem dos Advogaddos do Brasil Secao de Sao Paulo e Sind. das Empresas de Compra Venda Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo-SECOVI-SP
DECLARAÇÃO DE VOTO
Por primeiro, lembro que por ocasião do
julgamento da admissão deste IRDR, como havia ainda dúvida sobre a
possibilidade de o incidente ser suscitado por magistrado que atuava em
determinado processo que não se encontrava no Tribunal, bem assim,
diante da repercussão – naquele momento – da suspensão dos processos
que estavam em andamento no Estado de São Paulo, optou-se por não
suspender as ações em curso.
Agora, neste momento do julgamento do mérito
do incidente, deverá a Corte se pronunciar sobre a modulação da decisão
que vier a ser proferida e várias serão as questões que deverão ser
definidas, como abaixo se apontará.
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Tema 1.
Proposta do Relator:
“É válido o prazo de tolerância, não superior a
cento e oitenta dias estabelecido no compromisso de venda e compra
para entrega de imóvel em construção, desde que previsto em cláusula
contratual expressa, clara e inteligível.”
Proposta alternativa sugerida pelo Des. CARLOS
ALBERTO GARBI:
“É válida a cláusula que estabelece o prazo de
tolerância, cuja aplicação exige a prova do fortuito/força maior (fatos
inevitáveis) ou ausência de culpa do compromissário-vendedor, desde
que prevista de forma expressa, clara e inteligível.”
Proposta alternativa sugerida pelo Des.
DONEGÁ MORANDINI:
“É válido o prazo de tolerância, não superior a
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
cento e oitenta dias corridos, estabelecido no compromisso de venda e
compra para entrega de imóvel em construção, desde que previsto em
cláusula contratual expressa, clara e inteligível.”
Acompanho a divergência apresentada pelo Des.
CARLOS ALBERTO GARBI, e mais a sugestão do Des. DONEGÁ
MORANDINI, quanto a inclusão “não superior a cento e oitenta dias
corridos”.
É certo que, quanto a este Tema 1, o Tribunal de
Justiça de São Paulo já editou a Súmula 164 nos exatos termos que o
Relator propõe para o enunciado. Também é certo que, desde o início dos
debates nos julgamentos das ações envolvendo contratos de compromissos
de compra e venda de bem imóvel, em particular, quanto a questão do
prazo de tolerância, defendi o fundamento que o Des. CARLOS
ALBERTO GARBI apresenta agora e, gentilmente, traz à colação trecho
de um Acórdão por mim relatado na Terceira Câmara de Direito Privado.
No concernente ao tema, face à paridade que deve
reinar nas relações comutativas, não se mostra lícito que o empreendedor seja
privilegiado, ainda que residualmente, com a previsão de, em última instância,
não ter de obedecer a prazo algum, em detrimento do consumidor que já
desembolsou determinado valor e não viu o “sonho da casa própria” realizado.
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
O construtor, pelo conhecimento técnico e empírico
que possui, tem condições de antever que pode ocorrer certo atraso na
conclusão das obras. E, justamente por isso, procede à inserção contratual da
tradicional cláusula de tolerância (até 180 cento e oitenta dias corridos).
Eventuais disposições contratuais em sentido da
possibilidade de indeterminação do prazo de conclusão da construção
mostram-se angularmente contrárias ao sistema consumerista definido pela
Lei nº 8.078/90, principalmente quando considerado seu artigo 51, § 1º.
Ou seja, o negócio jurídico de compromisso de
compra e venda de imóvel realiza-se a termo (ainda que minimamente
variável) e não sujeito a condição.
Isso porque, à evidência, ninguém de prudência
mediana aceitaria entregar a terceiro grande extensão de suas economias
(senão todas elas) em troca de bem cuja entrega se dará em data futura e
incerta.
Pela mesma razão, também se compreende que o
ingresso no período de extensão da obra contratualmente estabelecido (de 180
dias) dar-se-á, justamente, para evitar que o empreendedor seja surpreendido
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
por acontecimentos naturais ou mercadológicos que escapam de seu domínio.
Tais motivos, aliás, veem-se agrupados sob a rubrica da força maior.
Nesse ponto, para fazer jus ao ingresso ao lapso
contratual de extensão temporal, competiria à vendedora a necessidade de
comprovação, junto aos consumidores, da concretização do motivo de força
maior, não sendo suficiente a mera alegação.
A propósito, considerando que a relação jurídica em
tela se estabelece, no mais das vezes, em contrato de adesão (pois os termos
dos instrumentos contratuais são quase que integralmente definidos pela
vendedora somente relegando ao compromissário comprador a possibilidade
de interferir nos ajustes quanto ao preço final da unidade transacionada e à
forma de seu pagamento, dentre outros pontos periféricos), caso se afaste a
necessidade de prova da situação extraordinária, inegável que o
reconhecimento do “evento futuro e incerto” ficaria ao arbítrio de uma das
partes, conferindo à condição o caráter de puramente potestativa a qual,
juridicamente, se mostraria nula de pleno direito (artigo 51, incisos I e IV,
CDC, c.c. o artigo 122, in fine, CC).
E não resta dúvida de que, em situações como a ora
veiculada, há de se considerar a teoria do risco profissional do empresário (in
casu, o construtor).
O mundo moderno desenvolve rapidamente as
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
atividades empresariais, nos diversos setores da presença do ser humano,
sempre com o escopo de atrair a atenção dos consumidores, dos usuários e dos
clientes de modo geral. Toda essa estrutura, adredemente preparada, resultado
de amplas pesquisas por empresas altamente especializadas, não decorre do
espírito magnânimo ou altruísta do empresário e tampouco tende à
solidariedade humana. Trata-se de fator meramente empresarial e voltado a
uma única finalidade: fornecer ou vender melhor para vender mais; enfim, o
resultado é o lucro.
Na construção civil, para alcançar esse resultado
operacional positivo esperado, elaboram-se justamente o cronograma e o
fluxograma do empreendimento, com dimensionamento dos custos
envolvidos, do tempo a ser dispendido e das pessoas a tomar parte nas
atividades de projeto e edificação e, por fim, do montante de receitas que se
fará imprescindível para a consecução da obra.
Em um cenário de busca pelo equilíbrio (tal como o
que se pretende estabelecer judicialmente nas relações de consumo), não se
afeiçoa razoável admitir ao detentor do domínio do processo construtivo (e
que, ab initio, unilateralmente define todos os seus prazos) a prerrogativa de,
ao final, modular as datas a seu bel prazer, de modo a, com isso, furtar-se aos
efeitos da mora debitoris.
Caso o prazo de tolerância não se sujeite a
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
nenhum requisito, o que irá ocorrer é que o prazo contratual para
construção da obra não será apenas aquele indicado formalmente na
avença, mas sim, aquele prazo mais o prazo de tolerância que, de tolerância
nada terá já que será incorporado automaticamente no prazo total para
entrega da obra. Vale dizer, o prazo de entrega da obra será aquele do
contrato e mais o prazo de tolerância, o que equivale a dizer que de
tolerância esse prazo nada terá, já que estará automaticamente incorporado
no prazo total.
Bem por isso, por tais fundamentos e aderindo
aos que trouxe o douto Des. CARLOS ALBERTO GARBI, me associo à
sugestão de redação por ele feita quanto ao Tema 1, com o acréscimo do
termo “não superior a cento e oitenta dias corridos” sugerido pelo Des.
DONEGÁ MORANDINI, nos termos fundamentados por Sua Excelência,
tendo em vista que o eminente Des. GARBI não faz nenhuma referência a
prazo, deixando em aberto o que poderia, eventualmente, ocasionar prazos
exageradamente longos, dai porque a indicação expressão de que tal prazo
não poderá ser superior a 180 dias corridos.
Por tais fundamentos, e os trazidos pelos doutos
Desembargadores mencionados, assim ficaria a redação final:
TEMA 1: (Sugestão Des. Carlos Garbi +
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Sugestão Des. Donegá Morandini).
“É válida a cláusula que estabelece o prazo de
tolerância, não superior a cento e oitenta dias corridos, cuja aplicação
exige a prova do fortuito/força maior (fatos inevitáveis) ou ausência de
culpa do compromissário-vendedor, desde que prevista de forma
expressa, clara e inteligível.”
TEMA 2
Acompanho a sugestão de redação feita pelo
eminente Des. CARLOS ALBERTO GARBI, com a redação proposta
pelo Des. GRAVA BRAZIL.
“Na aquisição de unidades autônomas futuras,
financiadas na forma associativa, o contrato deverá estabelecer de
forma expressa, clara e inteligível o prazo para a formação do grupo
de adquirentes e para a entrega do imóvel.”
TEMA 5
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Acompanho a sugestão apresentada pelo Des.
GRAVA BRAZIL aderindo a seus fundamentos, bem assim aos
fundamentos trazidos pelo eminente Des. DONEGÁ MORANDINI.
TEMA 5:
“O atraso da prestação de entrega de imóvel
objeto de compromisso de compra e venda gera obrigação da alienante
indenizar o adquirente, proporcionalmente ao quanto pago, pela
privação do capital empregado na sua aquisição, correspondendo a
0,5% ao mês, incidente sobre a parte do preço efetivamente
desembolsada, com termo final na data da disponibilização da unidade
autônoma já regularizada.”
TEMA 6
Também aqui me permito acompanhar a sugestão
do Des. GRAVA BRAZIL, com parte da sugestão feita pelo Des.
DONEGÁ MORANDINI.
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
São várias as expressão utilizadas nos diversos
contratos em referência para denominar a cobrança dos juros
compensatórios incidentes durante a construção da unidade imobiliária,
quais sejam: “juros de obra”, ou “juros de evolução da obra”, “taxa de
evolução da obra”, “juros de medição”, dai porque me parece salutar a
sugestão de ampliar a redação por meio de abertura hermenêutica.
Por sua vez, o Des. Grava Brazil bem
fundamenta no sentido de que a “ilicitude não fique vinculada à entrega
das chaves, pois a colocação é genérica e, em muitas situações, ainda que
não se opere a entrega formal das chaves, estas estão à disposição ou na
dependência de uma providência do comprador”, de modo que me parece
mesmo adequada a colocação “entrega do imóvel”:
E, para manter coerência com o que sustentei
quanto ao Tema 1, tal qual o Des. Carlos Garbi, retiro do enunciado a
expressão “incluindo o período de tolerância”.
Ficando assim a redação:
TEMA 6:
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
“É ilícito o repasse dos “juros de obra” ou
“juros de evolução da obra”, “taxa de evolução da obra”, “juros de
medição” ou outros encargos equivalentes, após o prazo ajustado no
contrato para entrega das chaves da unidade autônoma”.
TEMA 8:
Acompanho a sugestão do Des. CARLOS
ALBERTO GARBI para retirar a expressão “computado o período de
tolerância”, em coerência a minha posição quanto ao Tema 1. Ficando
assim a redação do enunciado:
TEMA 8:
“O descumprimento do prazo de entrega de
imóvel objeto de compromisso de venda e compra não faz cessar a
incidência de correção monetária, mas tão somente dos juros e multa
contratual sobre o saldo devedor. Devem ser substituídos indexadores
setoriais, que refletem a variação do custo da construção civil, por
outros indexadores gerais, salvo quando estes últimos forem mais
gravosos ao consumidor.”
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
TEMA 9:
Acompanho a sugestão feita pelo Des. DONEGÁ
MORANDINI.
A discussão aqui se refere a aplicação da multa do
art. 35, parágrafo 5º, da L 4.591/64 ao incorporador inadimplente. De fato,
não se pode dizer que o inadimplemento do incorporardor/compromissário
vendedor se restrinja ao atraso na entrega das unidades, hipótese que não
poderia mesmo sofrer penalidade por falta de amparo legal. Mas, lembrou
bem Sua Excelência, que há também inadimplemento na hipótese se o
incorporador/compromissário vendedor não providenciar o prévio
arquivamento dos documentos inerentes à incorporação imobiliária. Nessa,
hipótese, por força legal, a penalidade pode e deve ser aplicada, conforme
precedente por mim relatado na Terceira Câmara de Direito Privado:
“ILEGITIMIDADE PASSIVA. Viável a cobrança,
direcionada à construtora, da restituição das verbas atinentes à comissão
de corretagem. Aplicação do CDC (arts. 7º, parágrafo único, 18, 19 e 28,
§2º). Ilegitimidade afastada. PRESCRIÇÃO. Prazo trienal (Código Civil,
art. 206, § 3º, IV - REsp nº 1.551.956/SP). Lapso extintivo verificado na
espécie, entre a data da celebração do contrato e a propositura da
demanda. MORA CONSTRUTIVA. Caracterização. Nulidade da cláusula
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
que posterga o prazo da entrega para 24 após a data da assinatura do
contrato de financiamento. LUCROS CESSANTES. Correta a condenação.
Os prejuízos decorrentes do atraso da obra são presumidos, sendo
desnecessária a sua apuração em liquidação de sentença, diante da
ausência de prova documental dos valores efetivamente gastos com
aluguel. Condenação, na ordem de 0,5% do valor atualizado do imóvel.
JUROS DE OBRA. Atraso na entrega que deu margem a que o autor
continuasse a pagar os juros de obra. DANOS MORAIS. Atraso
construtivo que gerou abalo de índole moral. Caso vertente, entretanto,
que não encerra gravidade a permitir a manutenção da indenização no
patamar fixado. Indenização reduzida para R$ 5.000,00. MULTA PELA
ASSINATURA DO CONTRATO SEM O PRÉVIO REGISTRO DA
INCORAÇÃO. Registro tardio que autoriza a incidência da multa do
artigo 35, § 5º, da Lei 4.591/64, com redução, entretanto, para o
percentual de 30% dos valores pagos anteriormente ao registro da
incorporação. Sentença reformada. Sucumbência mantida. PROVIDO, EM
PARTE, o recurso.” (Apel. 1016893-35.2015.8.26.0451, j. 14.03.2017).
Bem por isso, acompanho a sugestão de redação
feita pelo Des. DONEGÁ MORANDINI:
TEMA 9:
“É admissível a cobrança da multa prevista no
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
artigo 35, parágrafo 5º, da Lei nº 4.591/64, quando ausente o prévio
arquivamento, no Cartório de Registro de Imóveis, dos documentos
necessários ao registro da incorporação imobiliária.”
No mais, acompanho o substancioso voto do
eminente Desembargador Relator.
Feitas as sugestões com relação aos Temas do
IRDR, resta a questão de saber se cabe modulação da decisão, como
faculta o § 3º, do art. 927 do Código de Processo Civil.
Não parece ser o caso de qualquer modulação no
caso, haja vista que as teses ora firmadas estão em conformidade com a
orientação predominante até aqui adotada por esta Corte de Justiça, ou seja,
não está havendo alteração de jurisprudência dominante.
No mais, aplicar-se-ão os incisos III, 1ª parte, do
art. 927, o inciso I, do art. 928 e os incisos I e II, do art. 985, todos do
Código de Processo Civil.
Por derradeiro, haverá de conter esta decisão,
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
dispositivo expresso determinando a devolução dos autos tomados como
causa-piloto para o primeiro grau de jurisdição para continuidade do
julgamento naquela esfera? A resposta aqui me parece positiva, até porque
o douto Relator assim já propõe na fundamentação de seu voto, deixando,
entretanto, de fazer constar parte dispositiva nesse sentido.
BERETTA DA SILVEIRADesembargador
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas nº 0023203-35.2016.8.26.0000 -
Piracicaba (5ª Vara Cível)
Requerente: MM. Juiz de Direito da 5ª Vara Cível da Comarca de Piracicaba
Interessados: Junior de Moura Ataíde
Interessados: M. R. V. Engenharia e Participações S/A
Interessados: Parque Piazza Navona Incorporações SPE Ltda
Interessados: Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias - ABRAINC
Interessados: Câmara Brasileira da Indústria da Construção - CBIC
Interessados: Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor do Governo do Estado de
São Paulo PROCON/SP
Interessados: Ordem dos Advogados do Brasil seção de São Paulo
Interessados: Sindicato das Empresas de Compra e Venda, Locação e Administração de
Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo SECOVI
Interessados: Sindicato da Industria da Construção Civil de Grandes Estruturas do
Estado de São Paulo SINDUSCON - SP
VOTO Nº 26.079
DECLARAÇÃO DE VOTO
Respeitado o entendimento da Douta maioria, fiquei vencido a
respeito do tema 1, e parcialmente vencido nos temas 6 e 8.
Tema 1 Alegação de nulidade da cláusula de tolerância de 180
dias para além do termo final previsto no contrato.
Sustenta o D. Relator, cujo entendimento prevaleceu por maioria de
votos, que a corrente minoritária encontrada na jurisprudência do Tribunal, no
sentido de que o prazo de tolerância é lícito desde que motivado e
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
demonstrada a razão do atraso, implica “investigar matéria fática complexa
em milhares de repetitivos, a exigir a produção de prova técnica com alto
custo”, e conclui pela validade objetiva da disposição contratual, seguindo a
orientação majoritária.
Cumpre lembrar que o julgamento do IRDR não está vinculado à
jurisprudência majoritária, porque o seu objetivo é uniformizar a interpretação
sobre questão unicamente de direito e estabelecer isonomia e segurança
jurídica com a afirmação de tese jurídica (entendimento paradigmático). A
instauração deste incidente encontra causa justamente na divergência
endógena, interna do Tribunal, e o seu julgamento não se dá simplesmente
pela escolha de uma ou outra corrente jurisprudencial, porque a jurisdição está
aberta pelo incidente à construção do entendimento vinculativo sobre a
questão jurídica controvertida.
Não se quer dizer, evidentemente, que os julgados produzidos a
respeito da matéria de direito controvertida não têm nenhum valor. Ao
contrário, esses julgados orientam o debate necessário para alcançar o objetivo
do IRDR, que é firmar a tese jurídica, mas o debate e a discussão da tese a ser
firmada pode ser promovido também com novos fundamentos, porque no
IRDR não se julga a causa ou recurso, de forma que não se deve observância
ao princípio da adstrição quanto aos fundamentos sustentados (Daniel
Amorim Assumpção Neves in “Novo Código de Processo Civil Comentado”,
ed. jusPODIVM, 2ª ed., p. 1.647).
De acordo com Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade
Nery, “todos os argumentos que tiverem sido levantados em relação à tese
jurídica discutida deverão ser enfrentados quando do julgamento, haja vista
que se procura uniformizar o entendimento sobre essa mesma tese ...”
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
(Código de Processo Civil Comentado, ed. Revista dos Tribunais, 16ª ed., p.
2.121). No mesmo sentido se anota também o entendimento de Cassio
Scarpinella Bueno (Manual de Direito Processual Civil, ed. Saraiva, p. 587) e
Rodolfo de Camargo Mancuso (Incidente de Resolução de Demandas
Repetitivas, ed. Revista dos Tribunais, p. 267).
É comum nos contratos de compromisso de venda e compra de
unidades futuras a cláusula que estabelece o prazo de tolerância do adquirente
para a entrega do imóvel (em geral fixados em 180 dias). O que se tem notado
no contato com centenas de processos ajuizados a respeito deste tema é que as
incorporadoras abusam da tolerância e a interpretam convenientemente a seu
favor ao adotar esse prazo como termo da obrigação, ignorando o
compromisso que assumiram com o adquirente de fazer a entrega do imóvel
até a data contratada.
A obrigação que o incorporador assumiu perante o consumidor é de
fazer a entrega do bem na data estabelecida. A entrega da unidade após o
termo fixado no contrato ocorre em mora. Outro entendimento implica tornar
sem efeito o compromisso assumido, assim como negar vigência ao art. 397
do Código Civil, in verbis: “O inadimplemento da obrigação positiva e
líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor”.
A “tolerância” significa indulgência, condescendência, ou seja, admitir
modo de agir diametralmente oposto ao nosso (Grande Dicionário Houaiss),
ou como registra Caldas Aulete, suportar com paciência, aturar e aguentar. O
que se tolera, destarte, é uma falta, a quebra de um compromisso, o
inadimplemento.
A tolerância escrita nesses contratos não representa permissão para
descumprir e quebrar o compromisso assumido. A interpretação que se deve
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
dar, destarte, a essa tolerância é no sentido de que o adquirente aceita a mora e
declara que receberá o imóvel até esgotar a “tolerância” ou prazo de tolerância
ajustado, impedindo a ele, pela declaração que fez, de considerar o
inadimplemento absoluto e, consequentemente, enjeitar o imóvel. Logo, não
obstante a mora na entrega do imóvel, o compromissário-vendedor poderá
ainda fazer a entrega do bem, purgando a mora, dentro do prazo de tolerância.
Contudo, não se pode afastar o entendimento de que a entrega do imóvel
promovida após o termo fixado no contrato cuida-se de mora.
Para que o devedor se livre das consequências da mora, ou seja, o
pagamento de perdas e danos, deverá fazer prova da ocorrência de fortuito ou
força maior (art. 393 do CC), ou da ausência de culpa (art. 392 do CC). Se o
fortuito ou força maior impõe a comprovação de que o resultado era inevitável
e irresistível, para a culpa, de acordo com a lição de Agostinho Alvim, “não é
suficiente a prova de que o devedor é pessoa habitualmente cuidadosa e
observadora de seus deveres; será necessário provar que no caso concreto
esses cuidados existiram, tendo o devedor feito tudo para cumprir a
obrigação” (Da Inexecução das Obrigações e suas Consequências, 4ª ed.,
Saraiva, p. 334).
Não há como afastar, diante do Código Civil e da doutrina, o
entendimento de que a entrega do imóvel após o termo ajustado, ainda no
prazo de tolerância, caracteriza cumprimento imperfeito da obrigação.
É oportuno lembrar que a “tolerância” não produz nenhum efeito
sobre os elementos da obrigação. Como anota Judith Martins-Costa, “[n]em
a tolerância do credor em relação a um ato do devedor (que pode gerar os
fenômenos da supressio e da surrectio), nem a prorrogação de prazo
concedida pelo credor” caracterizam novação tácita da obrigação
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
[Comentários ao Novo Código Civil, v. V, t. I, ed. Forense, p. 537], assim
como, afirma Caio Mário da Silva Pereira, “[n]em a tolerância ou
inatividade do credor permite induzi-la” (o autor se refere à remissão da
obrigação) [Instituições de Direito Civil, v. II, ed. Forense, 22ª ed., p. 263].
Também não se deve confundir “tolerância” com “moratória”, anota
Claudio Luiz Bueno de Godoy a propósito do art. 838, inc. I, do Código
Civil, que prevê a extinção da fiança se o credor conceder moratória ao
devedor. Esclarece que “Não se deve porém confundir essa situação de
formal alargamento do termo final do cumprimento da obrigação (o autor se
refere à moratória) como mera inércia ou demorado credor em cobrar seu
crédito” [Código Civil Comentado, coord. Min. Cesar Peluso, ed. Manole, 8ª
ed., p. 808].
A cláusula em discussão, portanto, não é nula, porque ela tem o efeito
de afastar o inadimplemento absoluto e a resolução do contrato pelo
adquirente, mas ela não pode ser interpretada a favor do compromissário-
vendedor para livrá-lo das consequências que decorrem da mora. Para tanto
incumbe ao compromissário-vendedor provar o fortuito ou a ausência de
culpa, porque a tolerância não modifica o termo estabelecido para o
cumprimento da obrigação.
Há outra razão que pesa decisivamente em favor dessa interpretação.
É que esses contratos são regulados pelo Código de Defesa do Consumidor,
no qual se tem como direito básico “a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços” (art. 6º, III), porque o contrato não obriga o
consumidor quando o respectivo instrumento for redigido “de modo a
dificultar a compreensão de seu sentido e alcance” (art. 46).
Explica Cláudia Lima Marques: “O inciso III assegura justamente este
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
direito básico à informação, realizando a transparência no mercado de consumo
objetivada pelo art. 4º, do CDC. No CDC, a informação deve ser clara e
adequada (arts. 12, 14, 18, 20, 30, 31, 33, 34, 46, 48, 52 e 54), esta nova
transparência rege o momento pré-contratual, rega a eventual conclusão do
contrato, o próprio contrato e o momento pós-contratual. É mais do que um
simples elemento formal, afeta a essência do negócio, pois a informação
repassada ou requerida integra o conteúdo do contrato (arts. 30, 33, 35, 46 e
54), ou, se falha, representa a falha (vício) na qualidade do produto ou serviço
oferecido (arts. 18, 20 e 35). Da mesma forma, se é direito do consumidor ser
informado (art. 6º, III), este deve ser cumprido pelo fornecedor e não fraudado
(art.1 º)” (Manual de Direito do Consumidor, Antônio Herman V. Benajmim,
Claudia Lima Marques e Leonardo Roscoe Bessa, 3ª ed, Ed. RT, 2010, pgs.
68/69).
O consumidor tem o direito a ser informado sobre o termo exato
estabelecido para a entrega do imóvel. Na forma proposta para o enunciado da
tese pelo Douto Relator, o consumidor assina o contrato com a data de entrega
prevista, mas essa data poderá ser alterada em até 180 dias pela vontade
exclusiva (potestativa) do compromissário-vendedor, frustrando
indevidamente as expectativas do adquirente.
Nem é necessário lembrar que o adquirente pode ter outras obrigações
vinculadas ao prazo de entrega do imóvel que foi contratado, como aluguel de
outro imóvel, entrega de imóvel que vendeu, financiamentos, reserva de
dinheiro, contratação de móveis planejados etc.
Não atende ao dever de informar correta e precisamente o consumidor
a cláusula que deixa dúvida ao adquirente sobre a data da entrega do imóvel.
A interpretação sustentada pelo voto da Douta maioria, no sentido de
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
que o prazo de tolerância pode ser usado “potestativamente” pelo
compromissário-vendedor, sem fazer a prova do fortuito ou ausência de culpa,
implica, com o devido respeito, em frontal violação ao Código de Defesa do
Consumidor, que declara nulas, porque abusivas, as cláusulas que
“estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé
ou equidade” (art. 51, IV) e que “autorizem o fornecedor a modificar
unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após a sua
celebração” (art. 51, XIII).
O que se vê na maior parte dos casos é que a vendedora, desde a
assinatura do contrato, não intenciona entregar as unidades no prazo
estabelecido. É o que se permite entender quando as incorporadoras deixam de
fazer prova da causa do atraso na entrega dos imóveis. Age de má-fé ao
contratar prazo que não pretende cumprir, enganando o adquirente, porque se
vale da “tolerância” prevista como termo final da obrigação.
Esse prazo de “tolerância”, que é praticado no mercado imobiliário,
deve ser admitido quando devidamente comprovado pela devedora da
obrigação que motivos fortuitos ou de força maior, ou outros que a isentem de
culpa, justificaram a demora. Devem comprovar que se empenharam no
cumprimento da obrigação no prazo, que deram início às obras em tempo
suficiente a levar a cabo a obrigação que assumiram, que motivos fora do seu
controle determinaram o atraso e que agiram, destarte, com a boa-fé objetiva
que se reclama dos contratantes.
Não podem se valer do prazo de “tolerância” sem a adequada
justificativa, como se fora exercício potestativo de um direito que o contrato e
a lei não reconhecem. Afinal, não é crível que as incorporadoras e construtoras
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
não pudessem prever todo tipo de adversidade para a realização do
empreendimento antes de assinar a obrigação a termo.
Portanto, a cláusula que prevê o prazo de tolerância para a entrega das
obras coloca o compromissário comprador em desvantagem exagerada, de
modo que, à luz do princípio da boa-fé e de acordo com o previsto no art. 51
do Código de Defesa do Consumidor, não deve ser aplicada para definir o
termo inicial da mora do compromissário-vendedor.
A esse respeito, vale destacar o voto do Desembargador Beretta da
Silveira em caso semelhante: “A relação jurídica mitigada na espécie
submete-se, inegavelmente, ao sistema do Código de Defesa do Consumidor,
visto que a autora, na qualidade de compromissária compradora, apresentou-
se perante a requerida, promitente vendedora, para aquisição de imóvel de
índole residencial (ou não comercial) como destinatária final (e não com o
ânimo de revenda). E a vulnerabilidade da primeira perante a última, do
ponto de vista construtivo-financeiro, é flagrante, uma vez que as informações
essenciais do processo de edificação e de sua viabilidade econômica
concentram-se na figura do empreendedor. Feita essa anotação e
considerando os termos do contrato celebrado entre as partes (fls. 25/59),
observa-se que, ao tempo da demanda, já havia sido extrapolado não apenas
o prazo ordinário de entrega da obra (fevereiro de 2011 fls. 31), mas também
o lapso extraordinário de 180 (cento e oitenta) dias corridos, instituído na
cláusula XXII (prazo esse que, embora não declinado no contrato, serve
justamente para desonerar a construtora no caso de eventual fortuito ou
motivo de força maior que possa atrapalhar o processo construtivo). Quanto
ao tema, improcede a alegação da demandada, no sentido de que as
excludentes da responsabilidade civil acima referidas trariam ao caso a
indeterminação do tempo de entrega da obra. Face à paridade que deve
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reinar nas relações comutativas, não se mostra lícito que o empreendedor
seja privilegiado, ainda que residualmente, com a previsão de, em última
instância, não ter de obedecer a prazo algum, em detrimento do consumidor
que já desembolsou determinado valor e não viu o “sonho da casa própria”
realizado. Outrossim, o construtor, pelo conhecimento técnico e empírico que
possui, tem condições de antever que pode ocorrer certo atraso na conclusão
das obras. E, justamente por isso, procede à inserção contratual da
tradicional cláusula de tolerância (na espécie, fixada em 180 cento e oitenta
dias corridos). Eventuais disposições contratuais em sentido da possibilidade
de indeterminação do prazo de conclusão da construção mostram-se
angularmente contrárias ao sistema consumerista definido pela Lei nº
8.078/90, principalmente quando considerado seu artigo 51, § 1º. Ou seja, o
negócio jurídico de compromisso de compra e venda de imóvel realiza-se a
termo (ainda que minimamente variável) e não sujeito a condição, como
busca sustentar, em essência, a recorrente. (...) E não resta dúvida de que, em
situações como a ora veiculada, há de se considerar a teoria do risco
profissional do empresário (in casu, o construtor)” (Ap. n.
0196696-20.2011.8.26.0100, dj. 30.07.2013).
É oportuno anotar que recentemente, em 6 de julho passado, o jornal
O Estado de São Paulo noticiou, no caderno de Economia & Negócios, que o
Governo está prestes a fechar uma proposta de regulamentação dos distratos e
entre os itens discutidos está o prazo de tolerância. Diz a matéria, produzida
por Murilo Rodrigues Alves e Adriana Fernandes, que “a regulamentação
pode acabar com o prazo de tolerância de seis meses depois de encerrado o
contrato dado às construtoras para entregar os imóveis. O limite passaria a
ser os últimos seis meses do contrato, quando o comprador já precisará arcar
com as despesas da entrega da chave. Se o imóvel não for entregue, a
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indenização será de até 0,5% do valor do imóvel. Essa medida só valeria para
os contratos que vão ser assinados depois da regulamentação”.
Cumpre finalmente registrar a respeito do tema a evolução da
jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça. Em julgado de
22/05/2014, relatado pelo Min. Sidnei Beneti, confirmando a negativa de
seguimento do recurso especial, se entendeu que “a convicção a que chegou o
Tribunal a quo quanto à abusividade da cláusula contratual de tolerância
para entrega do imóvel decorreu da análise do conjunto probatório. O
acolhimento da pretensão recursal demandaria o reexame do mencionado
suporte. Incide nesse ponto a Súmula 7/STJ” [AgRg no Ag REsp n. 476.891-
DF, Dje 30/05/2014].
Igual entendimento se sustentou em outro caso julgado pelo Egrégio
Superior Tribunal de Justiça em 03/03/2016, relatado pelo Ministro Marco
Aurélio Bellizze, negando seguimento a recurso especial contra decisão que
não reconheceu a ocorrência de caso fortuito a justificar o atraso na entrega da
obra [AgRg no Ag REsp n. 713.546-RJ, Dje, 14/03/2016].
Recentemente, em 16 de fevereiro de 2017, o Egrégio Superior
Tribunal de Justiça negou provimento ao agravo interno contra decisão
monocrática que deu parcial provimento ao recurso apenas para afastar a
multa prevista no art. 538, par. único, do CPC/73. Neste julgamento, relatado
pelo Ministro Moura Ribeiro, se afirmou que: “A Corte de origem, com
base no contexto fático-probatório da causa, reconheceu que a aplicação
do prazo de extensão (ou tolerância) para a entrega do imóvel adquirido
na planta, no caso de 180 dias, previsto contratualmente, somente deve
ser aplicado em favor da construtora em casos excepcionais, o que não
ocorreu no caso em análise. Revisar tal entendimento esbarra no óbice
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contido nas Súmulas nºs 5 e 7 do STJ” [Agint no REsp n. 1.557.117-SP, Dje
07/03/2017].
No caso referido por último, o Tribunal de São Paulo afirmou que
“Não se discute aqui a validade de tal cláusula na hipótese de ocorrência
dos denominados fortuitos externos, fatos alheios à atividade da
construtora e aptos a impedir a continuidade das obras. Se se tratar de
fatos imprevisíveis, incontornáveis, de real força maior, e estando eles
provados, aí, sim, caberia o benefício da cláusula, que é lícita e pode ser
contratada”.
No julgamento em referência, o Ministro Mora Ribeiro anotou que
“O Tribunal de origem, por sua vez, atestou a validade de tal cláusula,
não admitindo, entretanto, sua aplicação automática, haja ou não prova
de caso fortuito ou força maior. E no caso vertente, ressaltou que a
ausência de mão de obra não é motivo suficiente para justificar o atraso
na entrega do imóvel, pois integram o risco suficiente para justificar o
atraso na entrega do imóvel, pois integram o risco da própria atividade da
recorrente”.
E não encontrou nos paradigmas relacionados pelo recorrente a
hipótese de admissibilidade do recurso: “Desse modo, sendo dessemelhante
o suporte fático apresentado, não se mostram atendidos os requisitos
previstos nos arts. 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil, e
255, § 2º, do RISTJ”.
É possível, diante dos julgados destacados, perceber que a
jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça caminha para o
reconhecimento expresso de que a cláusula de tolerância é válida, mas não
pode ser aplicada sem a comprovação das excludentes da responsabilidade
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contratual. É nesse sentido que, respeitosamente, dissentindo nessa parte do
voto da Douta maioria, propunha outro enunciado para o Tema 1, a seguir
destacado:
“É válida a cláusula que estabelece o prazo de tolerância,
cuja aplicação exige a prova do fortuito/força maior (fatos
inevitáveis) ou ausência de culpa do compromissário-
vendedor, desde que prevista de forma expressa, clara e
inteligível.”
Tema 2 Alegação de nulidade de previsão de prazo alternativo
de tolerância para entrega de determinado número de meses (em regra 24
meses) após a assinatura do contrato de financiamento
O Douto Relator propõe, a respeito do Tema 2, o seguinte enunciado
de tese:
“Admite-se que o prazo de entrega da unidade autônoma
tenha termo inicial da data de obtenção do financiamento
pelo adquirente, desde que a cláusula seja redigida de modo
claro e não ultrapasse seis meses contados da data do registro
da incorporação (art. 34 L. 4.591/64)”
Sustenta o Douto Relator a aplicação, por analogia, do prazo de
carência da incorporação, previsto no art. 34 da Lei n. 4.591/64, para limitar o
prazo de entrega das unidades compromissadas mediante o “crédito
associativo”.
Com o devido respeito, o prazo previsto na Lei para desistência da
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incorporação não se aplica à hipótese do compromisso de venda e compra
realizado sob a condição de obter o crédito associativo. A incorporadora que
não obteve a concessão do crédito não anotou no registro da incorporação a
faculdade de desistir, como prevê o dispositivo em referência, e o
empreendimento será mantido, com oferecimento das unidades à venda. O
crédito associativo poderá ser obtido, inclusive, em outro momento, além dos
seis meses da incorporação.
Acrescente-se que não se pode impor o curto prazo de seis meses para
que o incorporador faça a venda das unidades e obtenha o financiamento,
sabido das dificuldades do mercado imobiliário e dos procedimentos exigidos
para aprovação do crédito dos adquirentes. Impor esta solução é seguramente
colocar o incorporador em mora na entrega das unidades e inviabilizar o
programa habitacional do crédito associativo.
Assiste razão ao Douto Relator quando afirma que o adquirente não
pode se sujeitar a prazo obscuro e incerto para a entrega da imóvel, como se
verifica em muitos casos julgados pelo Tribunal a respeito do crédito
associativo. A solução, a meu ver, está em exigir que a informação ao
consumidor seja clara quanto ao prazo para a assinatura do contrato e entrega
do imóvel.
A Caixa Econômica Federal disponibiliza, no seu sítio eletrônico,
informações sobre o financiamento e se verifica que ele é realizado com
recursos do FGTS para compra de unidades de valor até R$ 40.000,00 e com
prazo de entrega de 2 a 24 meses, contados da assinatura do primeiro contrato.
Os beneficiários são pessoas físicas com renda até R$ 5.400,00 e a aprovação
da proposta de financiamento, na forma associativa, exige pesquisas
cadastrais e análise de capacidade de pagamento e entrevistas com os
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beneficiários, que serão acompanhados por técnico social durante todo o
empreendimento[http://www1.caixa.gov.br/gov/gov_social/municipal/progra
mas_habitacao/imovel_planta_associativo/saiba_mais.asp acessado em
05/07/2017, às 18:25h.]. Esses valores foram alterados, inclusive, recentemente,
pela Resolução 836/2017 do Conselho Curador do FGTS.
Percebe-se que há providências que antecedem a assinatura do
contrato, que não tem data para se concretizar, do que decorre a incerteza
quanto à data de entrega do imóvel. O consumidor não pode ficar sujeito à
essa incerteza. O que se deve exigir é que o contrato estabeleça claramente o
prazo no qual deverá ocorrer a contratação do financiamento, bem como todas
as suas condições, para que se possa determinar a data de entrega do imóvel.
Em outras palavras, o incorporador deve formar o grupo de adquirentes em
prazo certo informado ao consumidor.
Não me parece adequado fixar prazo apriorístico, porque não é ilícito
estabelecer que o prazo de entrega do imóvel se dê a partir do contrato de
financiamento, ainda que esse financiamento se demore a confirmar, quando
se sabe que o sucesso do empreendimento depende da reunião de um grupo de
adquirentes. O que assegura o Código de Defesa do Consumidor é que se dê a
informação completa e clara sobre as condições do negócio a permitir que o
adquirente possa decidir, informado, sobre o negócio, o que não tem ocorrido
em alguns casos examinados no Tribunal. Prevaleceu no julgamento outra
redação para o enunciado de tese, adotadas as proposições dos demais
integrantes da Turma Julgadora na sessão de julgamento, como segue:
“Na aquisição de unidades autônomas futuras, financiadas na
forma associativa, o contrato deverá estabelecer de forma
expressa, clara e inteligível o prazo certo para a formação do
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grupo de adquirentes e para a entrega do imóvel.”
Tema 8 Congelamento do saldo devedor enquanto a unidade
autônoma não for entregue aos adquirentes
O Douto Relator propõe o seguinte enunciado:
“O descumprimento do prazo de entrega de imóvel objeto de
compromisso de venda e compra, computado o período de
tolerância, não faz cessar a incidência de correção monetária,
mas tão somente dos juros e multa contratual sobre o saldo
devedor. Devem ser substituídos indexadores setoriais, que
refletem a variação do custo da construção civil, por outros
indexadores gerais, salvo quando estes últimos forem mais
gravosos ao consumidor.”
Essencialmente acompanho o voto do relator. Contudo, em razão do
quanto sustentado para o Tema 1, deve ser excluída do enunciado a referência
ao prazo de tolerância. Vencido em relação à tese do Tema 1, registro apenas a
redação que entendia adequada, caso tivesse prevalecido o meu voto:
“O descumprimento do prazo de entrega de imóvel objeto de
compromisso de venda e compra não faz cessar a incidência
de correção monetária, mas tão somente dos juros e multa
contratual sobre o saldo devedor. Devem ser substituídos
indexadores setoriais, que refletem a variação do custo da
construção civil, por outros indexadores gerais, salvo quando
estes últimos forem mais gravosos ao consumidor.”
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Supensão dos processos pendentes
Quando foi admitido o processamento deste Incidente, a Douta
maioria entendeu que não deveria ser aplicado o disposto no art. 982, inc. I, do
Código de Processo Civil, deixando de determinar a suspensão dos processos
pendentes, individuais e coletivos, que tramitam no Estado de São Paulo.
Naquela oportunidade fiquei vencido, prevalecendo o entendimento em
sentido contrário.
Volto ao tema e lembro que a doutrina sustenta que a suspensão dos
processos é efeito natural da admissão do incidente e um dever para o relator.
Como afirmam Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, “a admissão
do incidente pelo colegiado gera ao relator o dever de determinar a
suspensão de todos os processos pendentes, sejam individuais ou coletivos”
[Comentários ao Código de Processo Civil, vol. XVI, ed. Revista dos
Tribunais, p. 95].
Ou como anotam Aluisio Gonçalves de Castro Mendes e Sofia
Temer, “admitido o incidente, com a fixação do ponto de direito
controvertido, deverão ser suspensos todos os processos individuais ou
coletivos em trâmite na área de jurisdição do tribunal respectivo que versem
sobre idêntica controvérsia. A suspensão dos processos é ponto fulcral do
instituto, devendo as demais causas repetitivas aguardar a definição da tese
jurídica no procedimento-modelo incidental” [Comentários ao Código de
Processo Civil, coord. Cassio Scarpinella Bueno, v. 4, ed. Saraiva, p. 219].
Ademais, não fosse a impositiva redação do dispositivo em referência
(art. 982, I,), há outra expressa determinação no art. 313 do NCPC:
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“Suspende-se o processo: ... IV pela admissão de incidente de resolução
de demandas repetitivas;”
De forma mais incisiva sustenta Daniel Amorim Assumpção Neves
que “a admissão do incidente ora versado leva o relator a determinar o
sobrestamento dos processos em primeiro grau dentro dos limites de
competência territorial do tribunal de segundo grau. Entendo que a
suspensão é obrigatória, independendo do estágio procedimental do processo
ou mesmo da convicção do relator, havendo, inclusive, doutrina que entende
pela dispensa de decisão expressa nesse sentido, sendo a suspensão dos
processos um efeito natural da admissão do IRDR. Não chego a tanto, mas
entendo que a decisão de suspensão é um ato vinculado, e por esta razão,
contra ela não caberá recurso, afastando-se nesse caso, de forma
excepcional, a aplicação do art. 1.021, caput, do Novo CPC” [Novo Código
de Processo Civil Comentado, 2ª ed., ed. JusPODIVM, p. 1.641].
Há nesse caso, como identifica a doutrina de Fredie Didier Junior e
Leonardo Carneiro da Cunha, uma hipótese de conexão por afinidade entre
todos os processos que versem a mesma questão de direito, e se há conexão a
suspensão de um deles (piloto) implica na suspensão dos demais. Esclarece os
autores que: “os instrumentos de julgamento de casos repetitivos provocam,
como se vê, a suspensão de todos os processos que versem sobre a mesma
questão de direito a ser examinada pelo tribunal. Esse é um meio de gestão
bastante relevante de casos repetitivos. Não suspender os processos em curso
frustra os benefícios proporcionados pelo microssistema de gestão de casos
repetitivos, pois (a) contribuiu para a proliferação de decisões conflitantes;
(b) aumenta os custos de solução da disputa em cada caso, permitindo que as
mesmas questões sejam tratadas em juízos distintos, com dispêndio de tempo,
de recursos financeiros e de pessoal; (c) desperdiça a atenção dos integrantes
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do judiciário que, em vez de focar em uma única causa, tem de examinar
diversos processos individuais” [Curso de Processo Civil, v. 3, 13ª ed., p.
600].
Anota-se, ainda, no mesmo sentido: José Maria Rosa Tesheiner e
Daniela Viafore de Oliveira [Comentários ao Código de Processo Civil,
coord. Angélica Arruda Alvim et. al., ed. Saraiva, p. 1134/1135]; Humberto
Theodoro Júnior, 47ª, ed. Forense, p. 921]; Araken de Assis [Manual dos
Recursos, 8ª ed., Ed. Revista dos Tribunais, p. 465].
Se alguma discricionariedade pode ser reconhecida ao Tribunal na
decisão sobre a suspensão dos processos, me parece que a partir do
julgamento do incidente, com a afirmação da tese, não há mais razão para não
suspender todos os processos sobre os temas afetados. É que agora o Tribunal
firmou o entendimento sobre os temas, de forma que não se mostra adequado
permitir que as demandas continuem sendo julgadas de acordo com a
convicção dos Juízes, quando se tem por afirmadas as teses jurídicas a
respeito.
Ignorar o quanto decidido e prosseguir no julgamento dos processos é,
com o devido respeito, negar a própria essência do incidente previsto no
NCPC, que visa uniformizar as decisões e dar celeridade e economia aos
processos, com racionalidade. Não faz sentido permitir a formação de coisa
julgada conflitante com entendimento diverso daquele já afirmado em
julgamento de incidente pela Turma Especial do Tribunal, e que tem força
vinculativa, inclusive para os casos futuros.
Nesse sentido cumpre lembrar que “os tribunais devem uniformizar
sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente” (art. 926,
NCPC). Ao preservar a estabilidade, afirma José Rogério Cruz e Tucci,
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
“orientando-se pelas decisões judiciais em situações sucessivas
assemelhadas, os tribunais contribuem, a um só tempo, para a certeza do
direito e para a proteção da confiança na escolha do caminho trilhados pelos
litigantes”.
Anota o autor, ainda, “a jurisprudência consolidada na forma de
precedente judicial assegura a igualdade dos cidadãos perante a distribuição
da justiça, porque casos análogos devem ser julgados do mesmo modo,
sobretudo no Brasil, em que há grande número de tribunais. O
pronunciamento pretoriano desigual é forte indício de injustiça em pelo
menos um dos casos encerrados” [Comentários ao Código de Processo Civil,
coord. de Cassio Scarpinella Bueno, v. 4, p. 19]
Negar a suspensão implica em estabelecer tratamento desigual a
demandas afetadas. É que o processo piloto receberá julgamento conforme as
teses firmadas, enquanto os demais não. E se ao processo piloto não couber a
aplicação imediata do quanto decidido, porque a decisão ainda está sujeita a
recurso com efeito suspensivo, a suspensão só terá efeito para o processo
piloto, também em tratamento desigual em relação aos demais. Poderá agravar
a situação caso seja permitido que o próprio processo piloto tenha
prosseguimento e seja julgado sem respeito à vinculação do incidente,
inclusive em segundo grau. São questões não resolvidas no julgamento do
incidente.
Por todas essas razões, respeitado o entendimento da Douta maioria,
sustentei a aplicação do quanto previsto na lei (arts. 313, IV, e 982, I, NCPC),
com a suspensão de todos os processos pendentes nesta data de julgamento no
Estado de São Paulo, em qualquer grau de jurisdição, até o trânsito em julgado
ou o prazo de um ano. Contudo, fiquei vencido e isolado na proposição.
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Pelo exposto, acompanho essencialmente o voto do Douto Relator,
divergindo em parte dos enunciados de tese propostos para os Temas 1
(vencido), 2 (vencedor) e 8 (vencido), e quanto à suspensão dos processos
pendentes.
CARLOS ALBERTO GARBI Desembargador
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Este documento é cópia do original que recebeu as seguintes assinaturas digitais:
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FRANCISCO EDUARDO LOUREIRO 6998A6A
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PAULO ROBERTO GRAVA BRAZIL 69A06F5
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CARLOS EDUARDO DONEGA MORANDINI 6A087E1
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ARTUR CESAR BERETTA DA SILVEIRA 69CD198
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CARLOS ALBERTO GARBI 6AA1C11
Para conferir o original acesse o site: https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informando o processo 0023203-35.2016.8.26.0000 e o código de confirmação da tabela acima.