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Terapias de Regressão Hipnótica A regressão é uma técnica terapêutica que pode ser usada para aliviar e superar problemas desde os mais simples — tais como o hábito de fumar e comer compulsivamente —, até dificuldades sérias de relacionamento, fobias, sintomas de doença no corpo físico, estresse etc. Este tratamento é aplicado em vários pacientes pela hipnoterapeuta Úrsula Markham, da Grã-Bretanha, que relata neste livro as experiências que presenciou utilizando a regressão, por meio da hipnose, a épocas mais remotas na vida atual do paciente, e ainda a regressão a vidas passadas. A hipnose permite que a pessoa narre os momentos marcantes vivenciados. Com muita atenção e cautela, a autora detecta o que pode ter sido traumático a ponto de causar um vício, uma fobia, um tique nervoso; esses "pontos fracos" são então trabalhados pelo próprio paciente com acompanhamento da hipnoterapeuta. Na seqüência das sessões de tratamento percebe-se gradativamente melhoras consideráveis e então resultados positivos são alcançados para ansiedade, problemas afetivos, baixa auto-estima, depressão, impotência, excesso de peso, entre outros. Terapias de Regressão Hipnótica é indicado para aqueles que querem obter a cura e aumentar o bem-estar.

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Terapias de Regressão

Hipnótica

A regressão é uma técnica terapêutica que pode ser usada para aliviar e superar problemas desde os mais simples — tais como o hábito de fumar e comer compulsivamente —, até dificuldades sérias de relacionamento, fobias, sintomas de doença no corpo físico, estresse etc. Este tratamento é aplicado em vários pacientes pela hipnoterapeuta Úrsula Markham, da Grã-Bretanha, que relata neste livro as experiências que presenciou utilizando a regressão, por meio da hipnose, a épocas mais remotas na vida atual do paciente, e ainda a regressão a vidas passadas.

A hipnose permite que a pessoa narre os momentos marcantes vivenciados. Com muita atenção e cautela, a autora detecta o que pode ter sido traumático a ponto de causar um vício, uma fobia, um tique nervoso; esses "pontos fracos" são então trabalhados pelo próprio paciente com acompanhamento da hipnoterapeuta. Na seqüência das sessões de tratamento percebe-se gradativamente melhoras consideráveis e então resultados positivos são alcançados para ansiedade, problemas afetivos, baixa auto-estima, depressão, impotência, excesso de peso, entre outros. Terapias de Regressão Hipnótica é indicado para aqueles que querem obter a cura e aumentar o bem-estar.

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Outras obras sobre hipnose e regressão publicadas pela NOVA ERA/RECORD:

HIPNOTISMO E AUTO-HIPNOTISMO DE INDUÇÃO RÁPIDA — Arnold Furst

HIPNOTISMO SEM MISTÉRIO — Raphael H. Rhodes GUIA PRÁTICO PARA AUTO-HIPNOSE — Melvin Powers

AUTO-HIPNOSE — Leslie M. LeCron VOCÊ JÁ VIVEU ANTES — Dra. Edith Fiore

DESCOBRINDO SUAS VIDAS PASSADAS — Gloria Chadwick REENCARNAÇÃO E IMORTALIDADE: Das Vidas Passadas às

Vidas Futuras — Patrick Drouot

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URSULA MARKHAM

Terapias de Regressão

Hipnótica Tradução de

ANN MARY FIGHIERA PERPÉTUO

r y RECORD

E D I T O R S RECORD

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CIP-Brasi). Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

Markham, Úrsula M297t Terapias de regressão hipnótica : como superar

acontecimentos que marcaram sua vida no passado / Úrsula Markham; tradução Ann Mary F. Perpétuo. — Rio de Janeiro: Record, 1994.

(Nova Era)

Tradução de: Hypnosis regression therapy Bibliografia. JSBN 85-01-03984-5

1. Hipnotismo - Uso terapêutico. 2. Reencarnação. 3. Terapias de regressão. I. Título.

94-0033 CDD-CDU-

615.8512 615.851.2

1

Título original inglês HYPNOSIS REGRESSION T H E R A P Y

Copyright © 1991 by Ursula Markham

Direitos exclusivos de publicação em língua portuguesa para o Brasil adquiridos pela

DISTRIBUIDORA R E C O R D DE SERVIÇOS DE IMPRENSA S.A. Rua Argentina 171 — 20921-380 Rio de Janeiro, RJ — Tel.: 585-2000

que se reserva a propriedade literária desta t radução.

Impresso no Brasil

ISBN 85-01-03984-5

P E D I D O S P E L O REEMBOLSO POSTAL Caixa Postal 23.052 — Rio de Janeiro, RJ — 20922-970

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Para minha mãe e meu pai, com amor e agradecimento, por terem me propiciado uma

infância tão feliz de ser recordada.

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" A p r e n d e r é de scob r i r a q u i l o q u e v o c ê j á s a b e . F a ­zer é d e m o n s t r a r q u e v o c ê s a b e i s t o . "

RICHARD BACH, Ilusões

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Sumário

Introdução 11 1. O Histórico da Hipnose 15 2. O Que Ocorre Durante a Terapia de

Regressão? 28 3. Um Típico Estudo de Caso 51 4. Regressão na Vida Atual: A Experiência

Original 61 5. Regressão na Vida Atual: Históricos de

Casos 68 6. Regressão de Vidas Passadas 104 7. Regressão de Vidas Passadas: Históricos de

Casos 119 Conclusão 139 Bibliografia 140 índice Remissivo 141

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Introdução

Pouco tempo atrás, as pessoas que consultavam um hipnote-rapeuta tendiam a buscar ajuda para perder peso, parar de fumar ou superar pequenos hábitos, como roer unhas. Hoje, no entanto, a situação é um tanto diferente, pois a maioria dos pacientes esperados está buscando caminhos para lidar com problemas profundamente enraizados, os quais, apesar de apre­sentarem uma manifestação física atual, foram causados por experiências emocionais traumáticas anteriores. Os problemas atuais podem variar da gagueira ao medo de relacionamen­tos; de fobias a sentimentos de inadequação. Mas um fator é comum a todos: se o paciente irá ser ajudado na erradica­ção de seu problema e a viver uma vida plena e feliz, ele pre­cisa reconhecer e compreender as causas do seu estado atual. A maneira mais simples e menos dolorosa de fazer isto é por meio da regressão hipnótica.

A regressão em si não é, obviamente, a cura final; na rea­lidade, é somente o primeiro passo do caminho. Mas como é essencial! Sem ele, o próprio t ratamento, tanto por hipno-terapia quanto por outros meios, seria apenas a superposição de um aspecto atraente artificial de autoconfiança sobre um self interior atormentado. Isto só conduziria a mais proble­mas no futuro, quando as experiências do passado descobris­sem uma nova maneira de invadir o presente. É como se colocássemos um curativo sobre uma ferida aberta sem nos preocuparmos em limpar e tratar o ferimento em si. Você po­de não ser capaz de vê-la supurando sob o curativo, mas sabe que isto está acontecendo e que poderá até causar problemas

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mais sérios — e, certamente, mais dolorosos — no futuro. Além disso, a maioria das pessoas descobre que elas têm a ne­cessidade de conhecer e compreender a razão dos seus sinto­mas. Às vezes, esta necessidade pode se encontrar em um nível subconsciente, e se a causa básica não é descoberta o resulta­do será a emergência posterior de um novo conjunto de sintomas.

Cada indivíduo tem seu próprio "sistema de arquivo" sub­consciente, onde tudo que ele já viu, ouviu ou aprendeu fica permanentemente armazenado. Assim como um verdadeiro sis­tema de arquivos, uma grande parte do que lá está não é ne­cessária, sendo portanto relegada para o fundo das gavetas e dos armários apenas para acumular poeira. Através da hip­nose, no entanto, é possível a busca nesse sistema de arquivos de modo a encontrar qualquer pedaço de informação relevante que a mente possa necessitar — embora cada um encare isto com diferentes olhos.

Imagine como seria se de repente você encontrasse o diá­rio que manteve aos dezesseis anos. As palavras iriam descre­ver sentimentos e emoções de alguém de dezesseis anos de idade, com todos os problemas, esperanças e temores envol­vidos. Olhando para aquele diário, talvez uns vinte anos de­pois, você provavelmente sorriria do fato de alguns daqueles problemas lhe parecerem insuperáveis na época — e como de­sejaria que eles fossem tudo aquilo com que você tivesse de se preocupar hoje! Mas isto não significa que, para alguém de dezesseis anos, aqueles problemas não eram de fato reais. O efeito daqueles problemas sobre sua vida foi muito real também.

A regressão é um pouco assim. Reviver e tornar a experi­mentar a situação através da hipnose não significa que isto o fará esquecer de eventos passados ou fingir que eles não acon­teceram. É somente para lhe ajudar a colocá-los em perspec­tiva e ver que algo que pode ter tido um efeito devastador sobre você aos dez anos de idade (e continuou tendo daí em diante) tem um efeito bem menos devastador quando visto, digamos, através dos olhos de alguém com quarenta anos.

O valor de utilizar a regressão hipnótica no tratamento

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de um problema — e lembre-se de que a regressão constitui somente uma parte do tratamento, a outra é a terapia que se segue — é que o paciente não se verá livre de um conjunto de sintomas somente para substituí-lo por outro. Isto é por­que ele foi capaz de voltar atrás e ver por si próprio, de ma­neira esperançosa através de uma compreensão madura, a causa original do problema; uma vez que ele lida com aquela causa original, não é mais necessário que ela tenha qualquer efeito sobre sua vida atual.

Existem dois tipos de regressão: (i) a estágios mais primi­tivos na vida presente do paciente, e (ii) a uma possível vida passada. A efetiva existência de vidas passadas será posterior­mente discutida neste livro, mas a terapia é de igual forma efi­caz se acreditamos que a reencarnação é possível ou que os fatos revelados são apenas o produto da mente subconsciente do paciente.

Como será mostrado no Capítulo 1, a hipnose não é o único método disponível de indução à regressão — mas o único que uso. Além do fato de que venho sendo há muitos anos uma hipnoterapeuta praticante, eu realmente acredito que é a maneira mais rápida e mais eficaz — e a menos dolorosa — de alcançar resultados positivos. Por tanto , será somente a terapia de regressão por meio de hipnose que será discutida neste livro. Espero que ao chegar à página final você esteja tão confiante quanto eu na técnica em si e em seu valor tera­pêutico enquanto gerador de melhorias para as vidas das pessoas.

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O Histórico da Hipnose

A hipnose existe há muito, muito tempo. Ninguém conhece de fato suas origens, mas ela certamente foi utilizada como terapia pelos antigos egípcios, gregos e romanos. Desde en­tão sua história tem sido um tanto diversificada — em certos tempos aceita, e em outros desaprovada com veemência. As antigas civilizações acreditavam firmemente em uma forma de hipnose (apesar da palavra não ter sido cunhada naquela época, passando a existir somente no início do século XIX: ela deri­va do grego hypnos, que significa sono). Com o passar do tem­po, no entanto, seus usos curativos foram encarados com crescente suspeita, não auxiliada por histórias como a de Sven-gali, que ajudou a convencer um público já inseguro que se submeter à hipnose era abrir mão de toda a vontade espontâ­nea e colocar a mente de um indivíduo sob o poder de outro.

Os pioneiros da regressão hipnótica

Foi somente no século XIX, com o trabalho de Pierre Janet, que as pessoas começaram a considerar o assunto da regre-são. Janet foi aluno do respeitado Professor Charcot (1825-

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1893), responsável pela fundação da Escola Salpêtrière de Hip­notismo, na França, e por trazer credibilidade ao assunto. Foi Janet que descobriu — durante o andamento de seu trabalho — que pacientes que sofriam daquilo que ele havia classifica­do como "desordens neuróticas" tinham, com freqüência, lap­sos significativos em suas memórias de longo prazo; eles conseguiam, de maneira efetiva, bloquear incidentes ocorri­dos muito tempo atrás, que t inham sido particularmente do­lorosos ou excessivamente angustiantes. Através da hipnose, Janet foi capaz de ajudar seus pacientes a recordar aqueles eventos passados. Tais lembranças conduziam o indivíduo a uma compreensão mais profunda de si próprio e dos efeitos traumáticos na sua vida dos até então incidentes "esquecidos". A compreensão, é claro, é o primeiro passo essencial no ca­minho para a cura. Não é uma experiência dolorosa desde que o paciente esteja sendo tratado por um terapeuta ético e trei­nado, o qual também realizará um acompanhamento como descrito nos históricos de casos detalhados em capítulos pos­teriores.

O relativamente bem conhecido Sigmund Freud, em cer­ta época, trabalhou com Janet. Foi Freud o primeiro a fa­zer uso extensivo da hipnose a fim de investigar as profun­dezas da mente subconsciente. Ele também foi o primeiro a insistir no ponto de que a descoberta da raiz do proble­ma é um primeiro estágio essencial para alcançar a cura. As dificuldades de Freud surgiram porque ele não avaliou cor­retamente a necessidade de cooperação entre paciente e te­rapeuta: ele estava inclinado a tratar seus pacientes como sujeitos dóceis, com um papel pequeno, ou até mesmo ne­nhum, a desempenhar. Em virtude disto, com freqüência falhou na realização de curas e, por fim, desiludiu-se com a hipnose como uma forma de terapia. Hoje, é claro, é re­conhecido que nenhum êxito verdadeiro pode ser alcançado por um terapeuta trabalhando sozinho: a cooperação total do paciente é essencial.

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A regressão ganha aceitação

Depois de Pierre Janet e Sigmund Freud, durante a primeira parte do século XX, pouca consideração foi dada ao assunto da regressão. Com o passar do tempo, a hipnose ganhou cre­dibilidade e passou a ser vista como algo além de um simples entretenimento, e cada vez mais hipnoterapeutas adotaram o uso da regressão da vida atual em seus trabalhos. Mas todo o conceito de regressão de vidas passadas era visto, na me­lhor das hipóteses, como inacreditável e, na pior delas, como uma forma de intromissão numa área que melhor seria deixar inexplorada.

Então vieram dois homens que deram contribuições muito significativas para a área de regressão de vidas passadas. Um foi Morey Bernstein, que trabalhou nos Estados Unidos, e o outro, Arnall Bloxham, que trabalhou na Grã-Bretanha.

Bernstein entrou no campo da regressão de vidas passa­das quase que por acaso. Como hipnoterapeuta, ele havia con­sultado um senhora chamada Virgínia Tighe, do Colorado. Durante o desenrolar do tratamento da sra. Tighe, Bernstein utilizou a sugestão hipnótica e então a regressão, com a in­tenção de conduzi-la a uma época anterior em sua vida pre­sente. Mas a sra. Tighe afirmou ser capaz de lembrar-se de uma encarnação prévia, onde ela era uma irlandesa chamada Bridey Murphy. Ela nunca estivera na Irlanda e jamais havia lido qualquer coisa sobre o país, mas no entanto foi capaz de fornecer, com riqueza de detalhes, dados sobre o modo de vi­da naquele lugar em uma época anterior. Todos os dados for­necidos foram verificados e constatou-se que estavam completamente corretos. Morey Bernstein ficou tão impres­sionado por este acontecimento que publicou detalhes do ca­so em um livro, The Search for Bridey Murphy (A Busca por Bridey Murphy), no qual deu a Virgínia Tighe o pseudônimo de Ruth Simmons.

Muitas pessoas já devem ter ouvido falar das Fitas Blox­ham. Arnall Bloxham era um hipnoterapeuta que trabalhava em Cardiff, nas décadas de 70 e 80. Ele era altamente respei-

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tado em sua área e tornou-se presidente da Sociedade Britânica de Hipnoterapeutas, em 1972. Bloxham sempre fora fascinado pela regressão daquilo que aparentava ser vidas passadas e ele realizava experiências com aqueles pacientes que mostravam ser excelentes para a hipnose (com a total permissão e coopera­ção deles, é claro), gravando o resultado destes experimentos. Ele também realizou reuniões públicas para discutir o concei­to de regressão de vidas passadas, nas quais colocava para qual­quer pessoa interessada as gravações de suas sessões experi­mentais. Apesar de seu interesse inicial ter sido despertado pela conexão entre problemas atuais e eventos que poderiam ter ocorrido em vidas pregressas, tornou-se tão fascinado pelo tó­pico que se dedicou ao seu estudo com afinco. Em 1976, Jef-frey Iverson publicou um livro sobre Bloxham, e seu trabalho intitulou-se More Lives Than One? {Mais Vidas do que Umal). Este livro, com introdução de Magnus Magnusson, tornou-se tema de um programa de televisão da BBC na época.

Atualmente, David Canova, fundador e diretor da Federa­ção Mundial de Hipnoterapeutas, ensina aos seus estudantes, como parte do curso, regressão (da vida presente) e re-regressão (de vidas passadas). Em sua própria prática, quando ele desco­bre que um paciente é um sujeito especialmente bom para a hipnose, indaga se este gostaria de tentar a re-regressão por motivos de interesse e observação; caso o paciente concorde, com permissão por escrito, ele grava a sessão. Entre o mais fascinante de seus casos está o de uma mulher (que chamarei de Judith), a qual, tendo regredido para uma jovem mulher em uma vida prévia (que chamaremos de Alice), numa sessão posterior regrediu até ser a mãe de Alice — que, é interessan­te notar, morrera no exato momento do nascimento da filha.

O que é a hipnose?

A hipnose talvez seja a mais incompreendida de todas as tera­pias complementares. Por um lado, há os que a consideram

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como estando a um passo da bruxaria, acreditando que o hip-noterapeuta é capaz de subjugar a vontade e dominar a men­te de sua vítima inconsciente. Por outro lado, algumas pessoas encaram-na como uma resposta instantânea para todos os pro­blemas na vida. "Faça-me parar de fumar" , eles pedem. "Torne-me mais seguro ." Na realidade, é claro que nenhum hipnoterapeuta pode levar você a fazer qualquer coisa. Sua habilidade encontra-se na ajuda que ele lhe dá para que você alcance seu objetivo por si mesmo. Até mesmo quando se vê uma encenação de hipnotismo e parece que os sujeitos estão sendo conduzidos a agir " d e modo não-espontâneo" contra sua vontade, isto não é o que realmente ocorre. Cada um da­queles sujeitos é, na verdade, um voluntário espontâneo e um extrovertido por natureza, e, portanto, permite a si mesmo ser parte do espetáculo.

A hipnoterapia é uma habilidade que é aprendida. Ela não é — como algumas pessoas ainda acreditam — um poder quase mágico que alguns poucos possuem. O hipnoterapeuta corre­tamente treinado passa — assim como o médico, o advogado ou músico bem-sucedidos — por um longo período de estu­do, prática e aperfeiçoamento de seu ofício. Como não há nin­guém direcionando hipnoterapeutas em seu trabalho, você vai querer se assegurar de que aquele que for consultar tenha re­cebido um treinamento adequado. O Capítulo 2 descreve al­gumas maneiras de fazer isto.

T O D O S P O D E M S E R H I P N O T I Z A D O S ?

Muitas pessoas são curiosas quanto a quem pode ou não ser hipnotizado. Na verdade, é bem simples. Com poucas exce­ções, qualquer pessoa que deseje ser hipnotizada o pode ser, enquanto que aqueles que não querem devem evitar a práti­ca. (Isto se aplica ao estado de transe leve, vide abaixo.)

Qualquer pessoa que possua uma história de epilepsia (mesmo quando esta condição é totalmente controlada por me­dicação) não deve, em hipótese alguma, ser hipnotizada, já que o processo para entrar no estado de alteração mental ade-

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quado pode, na realidade, desencadear uma convulsão epilép­tica. Pode não ocorrer, mas é melhor não arriscar. Este é, no entanto, o único caso onde a hipnose pode causar danos. Em qualquer outra situação, a pior coisa que pode ocorrer é que simplesmente nada aconteça.

Existem, na realidade, somente três tipos de pessoas que não podem ser hipnotizadas com êxito. O primeiro tipo é a pes­soa que sofre de qualquer forma de deficiência mental, pois gente assim não pode cooperar o suficiente com o terapeuta pa­ra que se alcance o resultado desejado. O segundo tipo é qual­quer criança de cerca de menos de cinco anos de idade, pois é pouco provável que consiga concentrar-se durante o tempo ne­cessário — apesar de crianças mais velhas serem os melhores pacientes, pois ainda se encontram no estágio onde sua imagi­nação está em bom funcionamento e não têm a preocupação de ganhar a sobrevivência ou criar uma família. A última catego­ria é de qualquer pessoa sob a influência do álcool, pois é bem sabido que as faculdades mentais de tais pessoas encontram-se, com freqüência, prejudicadas, mesmo que temporariamente.

Por tanto , quem é o sujeito ideal para a hipnose? A me­lhor pessoa é alguém com as seguintes qualidades:

• inteligência • uma boa memória natural • que não tenha medo de expressar seus sentimentos • uma boa imaginação visual.

N Í V E I S D E H I P N O S E

Existem três níveis principais de hipnose:

Transe Leve

Existem muito poucas pessoas nas quais o transe leve não possa ser induzido, caso elas queiram e desde que estejam dis­postas a cooperar totalmente com o terapeuta.

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Neste estado, é comum o sujeito imaginar que não foi hip­notizado, mas que simplesmente se sentiu muito relaxado por um período curto. E, de fato, este nível de hipnose encontra-se em alguma parte entre o relaxamento profundo e a medita­ção leve. É ideal para aqueles aspectos de terapia que não ne­cessitam estar vinculados à regressão: parar de fumar, perder peso ou treinar a memória, por exemplo. Não é, na verdade, adequado para aqueles que necessitam ou desejam experimen­tar a regressão. Provavelmente haveria alguns resultados, mas estes talvez resultassem um tanto superficiais e o conhecimento adquirido seria de uma natureza mais geral que específica.

Transe Médio

Este estado pode ser induzido a cerca de 3/4 da popula­ção; o resto, por alguma razão desconhecida, não consegue alcançá-lo, mesmo quando deseja fazê-lo. Ele é, obviamente, mais profundo que o transe leve, mas não tão profundo para que o paciente não perceba o que está ocorrendo à sua volta. Na realidade, ele será capaz de ouvir qualquer som que possa ocorrer — um telefone tocando ou o barulho do trânsito na rua — mas é pouco provável que estes sons causem algum im­pacto em sua consciência ou interrompam sua linha de pensa­mento. Eles meramente farão parte do entorno.

O transe médio é o melhor para qualquer tratamento que exija regressão, pois será possível ao paciente reviver experiên­cias passadas a um nível mais realista, tanto vendo e ouvindo o que acontece, quanto sendo capaz de descrevê-las como um espectador.

Transe Profundo (também conhecido como transe sonambu-lístico)

Este nível somente pode ser alcançado por cerca de 5-10% da população. É o mais comumente utilizado no hipnotis­mo de representação, e o fato de que ele está longe do al-

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cance de muitos explica por que o hipnotizador acaba traba­lhando somente com cerca de dez pessoas entre sessenta vo­luntários. Ao submeter estes voluntários a uma série de testes rápidos no palco, ele logo descobrirá quais são capazes de alcançar o estado de transe profundo; são somente estas pes­soas que responderão rápida e satisfatoriamente às suas su­gestões.

Eu* não acredito na utilização do estado de transe pro­fundo em qualquer forma de terapia, pois este envolve a hi-poamnésia, um estado em que o paciente não perceberá o que está acontecendo no momento, tampouco será capaz de recordá-lo posteriormente. Não considero isto como sendo éti­co no tratamento, pois creio que todos devem estar plenamente cientes daquilo que ocorre em cada e todos os estágios. De fato, sem tal consciência, o paciente seria incapaz de coope­rar com o terapeuta e, por tanto, suas chances de cura seriam minimizadas. Nunca apreciei nenhuma forma de "mis té r io" em terapia e sempre tomo muito cuidado em explicar aos meus pacientes exatamente aquilo que pretendo fazer, o que espero deles e o que eles provavelmente vão experimentar. (Para maio­res detalhes sobre este assunto, vide Capítulo 2.) Além disto, em se t ratando de terapia por hipnose — se o problema re­quer regressão ou não — o transe profundo nunca é neces­sário.

Mesmo no estado de transe profundo, nenhum paciente irá falar ou fazer qualquer coisa que não falaria ou faria quan­do totalmente consciente e acordado. Voluntariamente, ele não fará nada que entre em conflito com seu código moral pes­soal, tampouco pode ser induzido a fazê-lo. A mente subcons­ciente é sempre totalmente protetora e não permitirá que o paciente se traia por suas ações ou suas palavras. Mesmo se ele houvesse cometido um assassinato na semana anterior, ele não revelaria este fato sob hipnose se não fosse este seu de­sejo!

*Em todo este livro, quando escrevo na primeira pessoa do singular, estou, na reali­dade, explicando aquilo que qualquer hipnoterapeuta ético faria. É que se torna mais simples escrever a partir de minha própria experiência.

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N Í V E I S D E A T I V I D A D E D A M E N T E

A hipnose acontece naquilo que é chamado de estado Alfa (a mente subconsciente). A mente humana possui quatro níveis de atividade:

O Nível Alfa

Este é o nível no qual trabalhamos em hipnoterapia. O nível Alfa corresponde ao subconsciente e envolve cerca de 100% de concentração. Você pode notar, portanto, que quan­do a hipnose é comparada a estar adormecido, nada poderia estar mais distante da verdade. Tampouco ela tem alguma re­lação com os sonhos espontâneos que temos quando estamos dormindo.

O Nível Bela

Este é o nível de consciência no qual todos funcionamos quando estamos acordados. Grande parte deste nível está en­volvido com o funcionamento físico de nossos corpos — res­piração, circulação, batimento cardíaco etc. — e não mais que 1/4 é disponível para lidarmos com nossos processos conscien­tes de pensamento.

O Nível Teta

Este nível corresponde à parte da mente inconsciente que funciona quando estamos em um sono leve. Na verdade, a maior parte de todo o sono acontece neste nível.

O Nível Delta

Este é o nível do sono profundo, no qual a mente incons­ciente obtém a maior quantidade de descanso real. Nenhuma

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sugestão hipnótica pode ser ouvida quando o sujeito está no nível Delta — o qual, talvez de modo surpreendente, não ocupa mais do que cerca de meia hora por noite. O tempo que al­guém dorme antes que este nível seja alcançado varia de pes­soa para pessoa.

T E M O R E S E A N S I E D A D E S S O B R E A H I P N O S E

Antes de seguir adiante, talvez fosse melhor desfazer alguns dos mitos e temores mais comuns em relação ao assunto da hipnose e explicar minha própria e particular maneira de tra­balhar.

Como eu havia dito, se o paciente não deseja ser hipnoti­zado, nem toda a habilidade e perícia no mundo o induzirá àquele estado. É claro que, quando alguma pessoa me procu­ra, em geral, já está segura de que a hipnose será benéfica pa­ra ela, portanto esta não é uma situação que ocorra com freqüência. E sempre passo a maior parte da primeria sessão explicando exatamente o que irá acontecer e como ele irá se sentir; conseqüentemente, ao iniciar a hipnose propriamente dita, espero que o paciente já tenha todas as suas perguntas respondidas e seus temores atenuados e passe a sentir confiança em mim e naquilo que estarei prestes a fazer.

É comum as pessoas imaginarem que ao se submeterem à hipnose possam ocorrer efeitos colaterais desagradáveis ou prejudiciais. Em todos os meus anos de prática, e entre todos os hipnoterapeutas que conheço ou que tenho lido, nunca ou­vi falar de qualquer indivíduo que sofresse algum efeito cola­teral — exceto os positivos. Porque o primeiro estágio da hipnose envolve a aprendizagem do relaxamento — algo de que todos nós necessitamos — é provável que quaisquer efei­tos colaterais experimentados venham a ser, de fato, benéfi­cos. Você pode descobrir que dorme melhor que antes (e pode jogar fora os remédios para dormir que porventura tomava), que você se livrou daquela insistente dor de cabeça ou que os músculos de seu pescoço e ombros repentinamente encontram-se aquecidos e relaxados.

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Pode ter certeza de que nenhum mal lhe acontecerá atra­vés da hipnose. Lembre-se de que está sempre no controle, e se existe algo que o faça sentir-se ansioso, basta abrir os olhos e tudo estará terminado. Isto não lhe causará mal algum, apesar de que ser suavemente trazido de volta ao presente pela voz do terapeuta é uma maneira mais satisfatória.

Quando trago de volta os pacientes do estado hipnótico, em geral, conto até três. Isto é feito para permitir que eles te­nham tempo para voltar gradualmente a um estado de alerta total sem qualquer sensação de choque — mas seria igualmente eficaz se eu estalasse meus dedos ou mesmo dissesse a eles " aco rdem" .

Algumas pessoas também temem que, após a sessão, elas permaneçam em um estado semi-hipnótico. Ou mesmo, co­mo um dos meus próprios pacientes perguntou-me: " O que acontecerá se você me hipnotizar e cair morta antes de me acor­d a r ? " Creio que isto nunca poderá ocorrer; o máximo que aconteceria seria o paciente abrir os olhos e sair completamente do estado hipnótico, ou, então, cochilar por uns dez ou quin­ze minutos antes de acordar, como se de um cochilo em uma cadeira de balanço.

Existem também alguns pacientes que são ótimos sujei­tos para a terapia hipnótica, mas são incapazes de relaxar o suficiente para a regressão. Isto normalmente ocorre porque eles têm algum medo, consciente ou de outra natureza, da­quilo que eles vão desenterrar durante o curso do tratamento. Novamente, quando eu tiver conversado com eles, explicado como a regressão funciona e exatamente aquilo que eles irão experimentar, espero que eles sintam a confiança necessária em mim e neles próprios, a fim de permitir que ela ocorra. E , como explicarei com mais detalhes no Capítulo 2, é total­mente possível garantir que eles não sofram de qualquer ma­neira, tanto mental, quanto física ou emocionalmente.

Lembre-se de que a hipnose não é um jogo em uma festa para ser praticado por amadores para seu entretenimento pró­prio ou de outras pessoas. Não é difícil aprender a simples téc­nica de induzir ao estado hipnótico uma outra pessoa — o importante é saber como lidar com aquela pessoa uma vez que

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ela esteja hipnotizada e não se deliciar com a brincadeira. Em­bora isto não cause nenhum dano permanente à pessoa que for hipnotizada, não é correto tratar os problemas de uma pes­soa como matéria de um experimento frívolo.

Se a hipnose, em qualquer uma de suas formas, é para ser levada a sério, então é ainda mais vital que a regressão hip­nótica seja t ratada com o devido respeito. Porque a pessoa sendo submetida à regressão talvez tenha que encarar algo que foi traumático na época ou que até parecia ser trivial, mas te­ve um efeito duradouro no subconsciente, todo o assunto exi­ge um manejo cuidadoso e habilidoso.

Certas fitas-cassete à venda supostamente o capacitam a experimentar a regressão sozinho. Eu não posso persuadi-lo a resistir à tentação de tentar trabalhar com tais fitas. Elas alegam que irão lhe ajudar a iniciar a regressão sozinho e en­tão deixam você até ver aonde isto o conduzirá. Tudo pode correr bem, e você poderá simplesmente reviver e experimen­tar um período feliz em sua vida. O perigo surge caso você alcance um ponto doloroso e não exista ninguém para ajudá-lo a lidar com isto da maneira que descreverei no Capítulo 2.

No entanto, não há mal algum em fitas hipnóticas pro­fissionais elaboradas para auxiliá-lo a superar um problema específico, onde a regressão não é necessária — fumar, estu­dar, tensão pré-menstrual etc. Nestas fitas, você ouvirá a voz de um hipnoterapeuta, que o ajudará a alcançar o estado de­sejado e então dará as mesmas sugestões que ele ou ela fariam se você estivesse no consultório; finalmente, o hipnoterapeu­ta o despertará.

Quando um paciente me procura para fazer regressão, eu gravo a sessão em uma fita, que costumo dar ao paciente no final da consulta. Mas estas fitas terão passagens vazias, pois jamais gravo a técnica em si, não porque ela seja especial ou tão secreta que eu não queira divulgá-la — na realidade, o pa­ciente lembrará dela muito bem — mas porque não quero que ele escute aquela fita, em alguma data futura, e inicie uma re­gressão quando eu não estiver presente para comandar a si­tuação. Por tanto, a gravação somente terá início quando o paciente alcançar aquele ponto em sua memória que ele dese-

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ja explorar, e caso seja necessário conduzi-lo adiante ou para trás em sua regressão, eu simplesmente coloco minha mão so­bre o microfone para que a técnica não seja gravada.

O benefício do autoconhecimento

Como eu havia salientado anteriormente, a regressão não cura nenhum problema específico. Ela é meramente um pri­meiro passo — mas muito significativo, e um passo sem o qual a tarefa do hipnoterapeuta, na certa, seria mais difícil.

Existem alguns problemas (fumar, roer unhas etc.) com que podemos lidar sem o uso da regressão. Mas, independen­te do fato de que alguns pacientes — não importa o quanto seu problema pareça claro — insistem em saber como este foi causado, a autocompreensão é a chave para a resolução bem-sucedida de qualquer problema emocional.

Isto é especialmente verdadeiro quando lidamos com pes­soas que sofrem de fobias de um tipo ou outro . A definição do dicionário de uma fobia é de " u m medo i lógico", e quem está sofrendo, com freqüência, sabe que seu medo é ilógico. Este fato nada faz para alimentar sua autoconfiança; sem aque­la sensação de confiança ele sentirá extrema dificuldade em trabalhar na superação de seu medo. Se a regressão for capaz de descobrir a razão para a presença inicial da fobia — aque­la primeira e assustadora ocasião — ela pode não ser o sufi­ciente para pôr um fim à fobia, mas na certa faz com que o paciente pare de sentir que está simplesmente sendo " f r a c o " e " t o l o " ou (como dizem alguns dos meus pacientes) que ele está "enlouquecendo" . Isto, por sua vez, propicia-lhe a dis­posição ideal para ser ajudado a superar o problema de uma vez por todas.

Por tanto , enquanto seria incorreto afirmar que a regres­são é a essência do tratamento terapêutico, ela é, certamente, um estágio importante. Sua não realização significaria tornar o tratamento mais longo, caso este venha a ter algum êxito.