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1 POR QUE A REGULAÇÃO EMOCIONAL É IMPORTANTE? dos casos, um componente interpessoal. Assim, ao ter a emoção “ansiedade”, você reconhece que está preocupado com o fato de que não conseguirá concluir o trabalho a tempo (avaliação), o ritmo cardíaco ace- lera (sensação), você se concentra em sua competência (intencionalidade), tem sen- timentos terríveis em relação à vida (sen- timento), torna-se fisicamente agitado e inquieto (comportamento motor) e pode muito bem dizer a seu parceiro que está em um dia ruim (interpessoal). Em virtude da natureza multidimensional das emoções, os clínicos podem considerar qual dimen- são deve ser o foco primordial, escolhendo entre várias abordagens, cada uma delas representada neste livro. Por exemplo, ao escolher as técnicas a serem utilizadas com cada paciente, os profissionais podem con- siderar suas escolhas técnicas com base no problema que se apresenta no momento. Por exemplo, se a luta de um paciente con- tra a sensação de agitação for muito proble- mática, o terapeuta pode empregar técnicas de manejo do estresse (p. ex., relaxamen- to, exercícios respiratórios), intervenções baseadas na aceitação, estratégias focadas nos esquemas emocionais ou atenção ple- na (mindfulness). Se o paciente se confron- ta com a sensação de que uma situação é Todos nós vivenciamos emoções de vários tipos e tentamos lidar com elas de manei- ras tanto eficazes quanto ineficazes. O ver- dadeiro problema não é sentir ansiedade, e sim nossa capacidade de reconhecê-la, acei- tá-la, usá-la quando possível e continuar a funcionar apesar dela. Sem emoções, nossas vidas não teriam significado, textura, rique- za, contentamento e conexão com outras pessoas. As emoções nos lembram de nos- sas necessidades, nossas frustrações e nos- sos direitos – nos levam a fazer mudanças, fugir de situações difíceis ou saber quando estamos satisfeitos. Ainda assim, há muitas pessoas que se sentem sobrecarregadas por suas emoções, temerosas dos sentimentos e incapazes de lidar com eles por acreditar que a tristeza e a ansiedade impedem um comportamento efetivo. Este livro destina- -se a todos os clínicos que ajudam essas pessoas a lidar mais efetivamente com as emoções. Consideramos que as emoções com- preendem um conjunto de processos, dos quais nenhum é por si só suficiente para denominar uma experiência como “emo- ção”. As emoções, como a ansiedade, en- volvem avaliação, sensação, intencionali- dade (um objeto), “sentimento” (ou qua- lia), comportamento motor e, na maioria

Regulação Emocional Em Psicoterapia

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1POR QUE A REGULAO EMOCIONAL IMPORTANTE?doscasos,umcomponenteinterpessoal. Assim,aoteraemooansiedade,voc reconhece que est preocupado com o fato dequenoconseguirconcluirotrabalho a tempo (avaliao), o ritmo cardaco ace-lera(sensao),vocseconcentraemsua competncia(intencionalidade),temsen-timentosterrveisemrelaovida(sen-timento),torna-sesicamenteagitadoe inquieto(comportamentomotor)epode muito bem dizer a seu parceiro que est em um dia ruim (interpessoal). Em virtude da naturezamultidimensionaldasemoes, osclnicospodemconsiderarqualdimen-so deve ser o foco primordial, escolhendo entrevriasabordagens,cadaumadelas representadanestelivro.Porexemplo,ao escolher as tcnicas a serem utilizadas com cada paciente, os prossionais podem con-siderarsuasescolhastcnicascombaseno problemaqueseapresentanomomento. Por exemplo, se a luta de um paciente con-tra a sensao de agitao for muito proble-mtica, o terapeuta pode empregar tcnicas demanejodoestresse(p.ex.,relaxamen-to,exercciosrespiratrios),intervenes baseadasnaaceitao,estratgiasfocadas nosesquemasemocionaisouatenople-na (mindfulness). Se o paciente se confron-tacomasensaodequeumasituao Todosnsvivenciamosemoesdevrios tiposetentamoslidarcomelasdemanei-ras tanto ecazes quanto inecazes. O ver-dadeiro problema no sentir ansiedade, e sim nossa capacidade de reconhec-la, acei-t-la,us-laquandopossvelecontinuara funcionar apesar dela. Sem emoes, nossas vidas no teriam signicado, textura, rique-za,contentamentoeconexocomoutras pessoas.Asemoesnoslembramdenos-sasnecessidades,nossasfrustraesenos-sos direitos nos levam a fazer mudanas, fugir de situaes difceis ou saber quando estamos satisfeitos. Ainda assim, h muitas pessoas que se sentem sobrecarregadas por suasemoes,temerosasdossentimentos e incapazes de lidar com eles por acreditar queatristezaeaansiedadeimpedemum comportamento efetivo. Este livro destina--seatodososclnicosqueajudamessas pessoasalidarmaisefetivamentecomas emoes.Consideramosqueasemoescom-preendemumconjuntodeprocessos,dos quaisnenhumporsissucientepara denominarumaexperinciacomoemo-o.Asemoes,comoaansiedade,en-volvemavaliao,sensao,intencionali-dade(umobjeto),sentimento(ouqua-lia),comportamentomotore,namaioria 20Leahy, Tirch & Napolitanoinsuportvel,oterapeutapodeconsiderar reestruturaocognitivaouresoluode problemasparacolocarascoisasempers-pectiva e considerar possveis modicaes dasituaoestressante.Assim,aregulao emocionalpodeenvolverreestruturao cognitiva,relaxamento,ativaocompor-tamentalouestabelecimentodemetas,to-lerncia aos esquemas emocionais e afetos, mudanas comportamentais e modicao dastentativasproblemticasdeobtervali-dao. Em cada um dos captulos deste vo-lume, oferecemos sugestes aos clnicos de comoavaliarquaisdessastcnicaspodem sermaisadequadasparacadatipodepa-ciente.Asemoestmumlongohistrico nalosoaocidental.Platoasconside-ravacomopartedeumametforaemque ococheirotentacontrolardoiscavalos: um facilmente domvel e no precisa ser conduzido, enquanto o outro selvagem e possivelmenteperigoso.Filsofosestoicos como Epteto, Ccero e Sneca viam a emo-o como experincia que perturbava a ca-pacidade de raciocnio, que deveria sempre dominar e controlar as decises. Contudo, asemoesesuaexpressosoaltamente valorizadasnaculturaocidental.Defato, opanteodosdeusesgregosrepresentava uma gama completa de emoes e dilemas. A pea As bacantes, de Eurpedes, represen-ta o perigo de ignorar e desonrar o esprito livreeselvagemdeDionsio.Asemoes desempenhampapelcentralemtodasas grandes religies do mundo que valorizam agratido,acompaixo,areverncia,o amor e at a paixo. O movimento Romn-tico rebelou-se contra a racionalidade do Iluminismo,ressaltandoanaturezalivre do homem, a criatividade, o entusiasmo, a inovao,oamorintensoeatovalordo sofrimento.Natradioreligiosaoriental, aprticabudistadiferenciaasemoes construtivasdasdestrutivas,encorajando oindivduoaexperimentarseulequede emoes, porm, evitando ater-se perma-nncia de qualquer estado emocional.O QUE REGULAO EMOCIONAL?Os indivduos que lidam com experincias estressantesvivenciamasemoesemin-tensidadecrescente,oque,porsis,pode sermaisumacausadeestresseeintensi-caodasemoes.Porexemplo,um homemquepassapelotrminodeuma re laontimasentetristeza,raiva,ansie-dade,faltadeesperanaeatsensaode alvio.medidaqueessasemoessein-tensicam, ele pode vir a abusar de drogas ou lcool, comer compulsivamente, ter in-snia, adotarumcomportamento sexual oucriticar-se.Umavezqueasemoes deansiedade,tristezaouraivasurgem, formasproblemticasdelidarcomsua intensidadepodemdeterminarseasex-perincias es tressantes vo lev-lo a novos comportamentosproblemticos.Adesre-gulaoemocionalpodeincit-loaquei-xar-se, provocar e atacar ou afastar-se dos outros.Elepodecarruminandosobre suasemoes,tentandodescobriroque estacontecendo,oqueofazmergulhar ainda mais na depresso, no isolamento e nainatividade.Osestilosproblemticos deenfrentamentodosproblemaspodem reduzirtemporariamenteaagitao(p. ex.,beberlcoolreduzaansiedadeacur-toprazo),mastambmprejudicaraad-ministraodasemoesposteriormente. Taissoluestemporrias(comercom-pulsivamente, esquiva, ruminao e abuso desubstncias)podemfuncionaremum primeiromomento;contudo,assolues podem se tornar um problema.Denimosdesregulaoemocional comoadiculdadeouinabilidadedelidar comasexperinciasouprocessarasemo-Regulao emocional em psicoterapia 21es.Adesregulaopodesemanifestar tanto como intensicao excessiva quanto comodesativaoexcessivadasemoes. Aintensicaoexcessivaincluiqualquer aumentodeintensidadedeumaemo-oquesejasentidapeloindivduocomo indesejada, intrusiva, opressora ou proble-mtica.Aintensicaodeemoesque resultem em pnico, terror, trauma, temor ousensodeurgncia,deformaqueoin-divduo se sinta sobrecarregado e com di-culdade de tolerar tais emoes, encaixa-se nessescritrios.Adesativaoexcessivade emoesincluiexperinciasdissociativas, comodespersonalizaoedesrealizao, ciso ou entorpecimento emocional em si-tuaes nas quais normalmente se esperaria que as emoes fossem sentidas em alguma intensidade ou magnitude. Por exemplo, ao confrontar uma situao de perigo de vida, umamulherreagecomentorpecimento emocionalerelatatersesentidocomose estivesse em uma outra dimenso de tempo e espao, observando o que parecia ser um lme.Essadesativaoemocional,carac-terizadapordesrealizao,vistacomo umareaoatpicaaumeventotraum-tico.Adesativaoexcessivadeemoes impedeoprocessamentoemocionalefaz parte de um estilo de enfrentamento carac-terizadoporesquiva.Entretanto,podeha-ver situaes em que desativar ou tempora-riamentesuprimiraemoopodesertil. Porexemplo,areaoinicialaumevento catastrcopodesermaisadaptativapela supressoinstantneadomedo,demodo quesepossalidarcomasituaonomo-mento.Aregulaoemocionalpodeincluir qualquer estratgia de enfrentamento (seja ela problemtica ou adaptativa) que o indi-vduo usa ao confrontar a intensidade emo-cionalindesejada.importantereconhe-cer que a regulao emocional como um termostatohomeostticocapazderegular asemoesemant-lasemnvelcon-trolvelparaquesepossalidarcomelas. Ouamodulaoparamaisouparame-nospodedesequilibrarascoisasdefor-maextrema,apontodecriarumasituao quentedemaisoufriademais.Aregu-lao emocional como qualquer estilo de enfrentamento:dependedocontextoeda situao.Elanoproblemticaouadap-tativaindependentementedapessoaeda situao presente.Aadaptaodenidaaquicomoa implementaodeestratgiasdeenfrenta-mentoadaptativasqueincrementamore-conhecimentoeprocessamentodereaes teisqueestimulam,tantoalongoquan-toacurtoprazo,umfuncionamentomais produtivo, denido por metas e propsitos valorizadospeloindivduo.FolkmaneLa-zarus(1988)identicaramoitoestratgias paralidarcomasemoes:confrontao (p.ex.,assertividade),distanciamento,au-tocontrole, busca de apoio social, aceitao deresponsabilidade,fuga-esquiva,resolu-oplanejadadosproblemasereavaliao positiva.Lidarcomexperinciasfazparte da regulao emocional. Se o indivduo lida melhor por meio da resoluo de proble-mas,sendoassertivo,adotandoativao comportamentalparabuscarexperincias mais graticantes ou reavaliando a situao ,suasemoestmmenorprobabilidade deseexacerbar.Exemplosdeestratgias no adaptativas para lidar com as emoes incluemintoxicaoalcolicaeautomuti-lao. Essas estratgias podem reduzir tem-porariamenteaintensidadedaemooe at trazer a sensao momentnea de bem--estar,masnocondizemcomasmetase ospropsitosqueoindivduoaprovaria. Presume-seaquiquepouqussimosindi-vduos endossem a crena de que abuso de lcool e automutilao valorizem a vida. As estratgias adaptativas podem incluir exer-ccios de relaxamento, distrao temporria 22Leahy, Tirch & Napolitanoduranteascrises,exercciofsico,conectar emoesavaloresmaiores,substituiruma emoo por outra mais agradvel ou apre-ciada,conscinciaatenta(mindfulaware-ness), aceitao, atividades prazerosas, mo-mentosntimoscompartilhadoseoutras estratgiasqueajudemaprocessar,lidar, reduzir, tolerarouaprendercomemoes intensas.Emcadacaso,asmetaseospro-psitosvalorizadosnosocomprometi-dos, mas podem, em algumas situaes, ser rearmados.O PAPEL DA REGULAO EMOCIONAL EM VRIOS TRANSTORNOSNosltimosanos,vericou-secrescente ateno dada ao papel do processamento e da regulao emocional em uma variedade detranstornos.Oprocessamentoemocio-nalpormeiodaativaodoesquemado medoduranteaexposiofoiemprega-donotratamentodefobiasespeccase emcadaumdostranstornosdeansiedade (Barlow, Allen e Choate, 2004; Foa e Kozak, 1986).Aativaodomedonotratamento dafobiaespeccapossibilitaaocorrncia deumnovoaprendizadoenovasassocia-esduranteaexposio.Entretanto,o uso de medicamentos tranquilizantes pode comprometer o tratamento com exposio eimpedirquenovasassociaesocorram. Seconsiderarmosaexposiocomouma forma de habituao ao estmulo e s sensa-es de medo que ocorrem com a exposio inicial, a ativao do medo um importante fator experiencial no novo aprendizado que decorre da exposio. Esse novo aprendiza-doincluireconhecerqueoestmulotemi-doprevumaascensoeumaquedada intensidade emocional e que esta no deve sertemida.Sentimentosintensospodem ser tolerados medida que sua intensidade diminui.Aregulaoemocionaltambmest envolvidanotratamentodotranstorno deansiedadegeneralizada(TAG).OTAG agoraconsideradoumtranstornomar-cadoprincipalmenteporexcessodepreo-cupaoecrescenteexcitaosiolgica (AmericanPsychiatricAssociation,2000). Apesardeapreocupaoexcessivapossuir muitoscomponentes(comointolerncia incerteza,escassezdeestratgiasfocadas emproblemasefatoresmetacognitivos), descobriu-se que a esquiva emocional um componentecentralnaativaoeperpe-tuaodapreocupao(Borkovec,Alcai-neeBehar,2004).Deformasemelhante, demonstrou-sequearuminao(pensa-mentos negativos repetidos sobre o passado ou o presente) um estilo cognitivo de alto riscoparadepresso(Nolen-Hoeksema, 2000) e tambm foi denida como uma es-tratgia de esquiva emocional ou experien-cial (Cribb, Moulds e Carter, 2006). Hayes e colaboradores propuseram que a esquiva experiencial um processo subjacente a v-rias formas de psicopatologia (Hayes, Wil-son,Gifford,FolletteeStrosahl,1996).Os indivduosqueutilizamesquivaexperien-cial ou emocional podem correr maior ris-codedesenvolverproblemaspsicolgicos; contudo,aquelesqueadotamasupresso emocional em certas situaes podem estar lidando com elas de forma mais adaptativa. Por exemplo, a supresso de emoes, uma forma de esquiva emocional, foi identica-dacomofatorderiscoparaoaumentode diculdades emocionais. Os indivduos que foraminstrudosasuprimirumaemoo relataram mais emoes negativas. Em con-trapartida, a expresso das emoes foi re-lacionadamelhoradoestressepsicolgi-co, fazendo acreditar que escrever sobre as emoes durante um perodo faz mais sen-tido, talvez ajudando-os a processar melhor Regulao emocional em psicoterapia 23a experincia e a emoo (Dalgleish, Yiend, Schweizer e Dunn, 2009; Pennebaker, 1997; PennebakereFrancis,1996).Defato,o simplesatodeativar,expressarereetir sobreasemoespodetrazermelhorada depresso.Osindivduosdeprimidosque apresentavaminicialmentenveiselevados emumamedidadesupressoemocional obtiveram benefcio com um tratamento de seissemanasderedaoexpressiva,oque resultounareduodossintomas(Gort-ner,RudeePennebaker,2006).Todavia, emumestudo,asupressoemocionalfoi mais efetiva do que a aceitao na reduo doimpactodeassistiraumeventotrau-mticoemvdeo(Dunn,Billotti,Murphy e Dalgleish, 2009). Alm disso, a supresso emocionalnoestavaassociadacompul-so alimentar em outro estudo (Chapman, RosenthaleLeung,2009).Ademais,asu-pressodeemoesfoiassociadaaorelato deumdiamelhorporpartedeindiv-duoscomaltosindciosdetranstornoda personalidadeborderline(TPB;Chapman etal.,2009).Claramente,nohverdades absolutas no que se refere ao processamen-toemocional.svezes,asupressoajuda; em outras, atrapalha.Apesar de os transtornos da alimenta-o poderem resultar de muitos fatores (p. ex.,autoimagem,perfeccionismo,dicul-dades interpessoais e transtornos afetivos), h evidncias considerveis de que a regula-oemocionaltemumpapelsignicativo, beneciandocasoscomplexos(marcados porumacombinaodosfatoresderisco citados anteriormente) com uma estratgia de tratamento transdiagnstica (Fairburn etal.,2009;Fairburn,CoopereShafran, 2003).Partedessaestratgiatransdiagns-tica consiste em usar tcnicas de regulao emocionalparaauxiliarospacientesque recorrem a comportamentos problemticos (comercompulsivamente,purgar,beber, mutilar-se) por no saber o que fazer para lidar com as emoes (Fairburn et al., 2003, 2009; Zweig e Leahy, a ser publicado). Alm do mais, a regulao emocional atua como mediadora nos transtornos da alimentao e naqueles que envolvem vergonha (Gupta, ZacharyRosenthal,Mancini,Cheavense Lynch, 2008). A ruminao outra estrat-gia que pode ser usada por indivduos com transtornos da alimentao, como sugere o trabalhodeNolen-Hoeksema,Stice,Wade e Bohon (2007).Asupressoemocionalpoderesultar emmenorecciacomunicativa.Emum estudo,osparticipantesinstrudosasu-primirasemoesaodiscutirumassunto difcilapresentaramaumentonapresso sanguneaequedanaecciacomunicati-va. Alm disso, os participantes designados aescutaraquelesquetentavamsuprimir asemoestambmtiveramaumentona presso sangunea (E. A. Butler et al., 2003).Osindivduosdiferemquantoasuas losoasacercadaexpressoeexpe-rinciaemocional.Naterapiaconjugal, Gottmanidenticouumavariedadede losoasemocionaisqueafetamaforma comoosindivduospensam,avaliamere-agem ao estado emocional de seu parceiro. Assim,algunsparceirospodemconsiderar asemoescomoumfardoe,portanto, adotar uma postura desdenhosa ou mesmo depreciativa.Outrospodemenxerg-las comooportunidadedeaproximao,de conhecermelhoredeajudarseuparceiro (Gottman, Katz e Hooven, 1997). A regula-o emocional tambm parte do controle daraiva,poisessesindivduosfrequente-menteapresentamumintensoaumento nassensaesdeativao(frequnciacar-daca,tensofsica),juntocomumavasta gama de avaliaes, estilos de comunicao eaesfsicasinadequados(DiGiuseppee Tafrate,2007;Novaco,1975).Naverdade, a intensidade emocional pode se tornar to insuportvelparaalgunsqueumtempo 24Leahy, Tirch & Napolitanolimite autoimposto , s vezes, a interven-o de primeira linha. Finalmente, a desre-gulaoemocionalencontra-sesubjacente ao comportamento de automutilao, que com frequn cia um comportamento nega-tivamentereforadoparareduziremoes intensas(Nock,2008).Aautomutilao libera endornas, que temporariamente re-duzem a intensidade emocional negativa da ansiedade e da depresso.Talvezoprimeiroemaisabrangente trabalho terico a ressaltar o papel da des-regulaoemocionalemumtranstorno clnicoespeccotenhasidoodeLinehan sobre o desenvolvimento do transtorno da personalidadeborderline(TPB).Linehan (1993a, 1993b) conceituou o TPB como um transtorno de desregulao emocional difu-sa que resulta da combinao de vulnerabi-lidade biolgica s emoes e um ambiente desfavorvel por parte dos cuidadores. Esse ambientepossuitrscaractersticasfunda-mentais.Primeira,reagedeformacrtica, punitiva ou desdenhosa a uma criana emo-cionalmente vulnervel, exacerbando assim suavulnerabilidadeemocional.Segunda, reagealeatoriamenteaexpressesemocio-naisextremas,reforando-asintermitente-mente. Terceira, superestima a facilidade de resoluo dos problemas. Como resultado, o ambiente adverso deixa de ensinar as ha-bilidadesnecessriaspararegularemoes intensas.Consequentemente,oindivduo vulnervel do ponto de vista emocional pode recorrer a estratgias mal-adaptativas de re-gulaoemocional,comoautomutilao, compulso alimentar ou overdose, como for-ma de escapar ou diminuir a intensidade das emoes. No centro da conceituao do TPB proposta por Linehan est a esquiva emocio-nal. De fato, ela caracteriza o indivduo com TPB como emocionalmente fbico. Con-sideraqueomedodasemoesderivaem parte da avaliao negativa das experincias emocionais.AconceituaodeLinehandoTPB comotranstornoderegulaoemocio-naldenesuaabordagemdetratamento: aterapiacomportamentaldialtica(TCD; Linehan,1993a,1993b).ATCDumtra-tamento comportamental baseado na aten-o plena (mindfulness) que equilibra o uso de tcnicas de aceitao e mudana. Dentro daestruturadaTCD,aregulaoemocio-nalconceituadacomoumconjuntode habi lidades adaptativas, incluindo a capaci-dade de identicar as emoes e compreen-d-las,controlaroscomportamentosim-pulsivoseusarestratgiasadaptativaspara cada si tuao, de forma a ajustar as respos-tasemocionais. Uma parte essencial do tra-tamentoconsisteemajudarospacientesa superaromedoeaesquivadasemoese a aumentar a aceitao da experincia emo-cional.Cada vez mais, os modelos cognitivo--comportamentaisdepsicopatologiaesto sendoampliadosparareetirasperspecti-vasdaregulaoemocional.Osdcitsde regulaoemocionaljforamrelaciona-dos a vrios transtornos clnicos, incluindo abuso de substncias e transtorno de estres-seps-traumtico(TEPT;Cloitre,Cohen eKoenen,2006).Menninecolaboradores desenvolveram um modelo de desregulao emocional do TAG no qual este caracteri-zadoporelevadaintensidadedasemoes e compreenso emocional deciente, reati-vidade negativa ao prprio estado emocio-nal e reaes desadaptativas de manejo das emoes (Mennin, Heimberg, Turk e Fres-co,2002;Mennin,Turk,HeimbergeCar-min, 2004). Barlow e colaboradores (2004) desenvolveramumateoriaeunicaramo tratamento dos transtornos do humor e de ansiedade com base na teoria da regulao emocional.Umapesquisarecenteexaminouas perturbaes diferenciais entre o processa-mento emocional do TAG e do transtorno Regulao emocional em psicoterapia 25deansiedadesocial(Turk,Heimberg,Lu-terek, Mennin e Fresco, 2005). Novos mo-delosdetratamentodoTAGdemandam aintegraodetcnicasfocadasnasemo-es (Roemer, Slaters, Raffa e Orsillo, 2005; Turk et al., 2005).H ampla variedade de estratgias re-guladorasdeemoesquepodemouno serteis.Umametanliserecentesobre asestratgiasderegulaoemocionalem vriostranstornosindicouqueamaisfre-quentearuminao,seguidaporesqui-va, resoluo de problemas e supresso; h relativamentemenosnfasenareavaliao eaceitao(Aldao,Nolen-Hoeksemae Schweizer,2010).Essametanlisefornece importantesinformaessobreousorela-tivo das estratgias, mas, obviamente, no capazdeindicarquaisdelassomaisteis paramodicaradesregulaoemocional. Dequalquerforma,anaturezatransdiag-nsticadadesregulaoemocionalparece estar ganhando importncia (Harvey, Wat-kins, Mansell e Shafran, 2004; Kring e Sloan, 2010).TEORIA DA EVOLUODarwin (1872/1965) creditado como cria-dor da psicologia comparativa da expresso emocional.Suasobservaesedescries detalhadas frequentemente retratadas em fotosedesenhosindicamasimilaridade entrehumanoseanimaisetambmsuge-rem padres universais de expresso facial. As emoes so vistas na teoria da evoluo como processos adaptativos que permitem aosindivduosavaliaroperigo(ououtras condies), ativar comportamentos, comu-nicar-se com outros membros da espcie e incrementar aptides adaptativas (Barkow, Cosmides e Tooby, 1992; Nesse, 2000). Por exemplo, o medo, emoo universal, uma respostaadaptativaaumperigonatural, comoaaltura.Elepodeparalisaroani-mal,motiv-loafugirouevitareoferecer osmeiosdeexpressofacialevocalpara alertar os outros acerca do perigo iminente. Asemoesnegativaspodemserparticu-larmente adaptativas porque so invocadas emmomentosdeperigoouameaaepo-demexigirreaoimediataparagarantira sobrevivncia (Nesse e Ellsworth, 2009). Os etlogosperceberamqueasemoespo-dem ser apresentadas em padres aparente-mente universais de expresso facial, postu-ra, olhar e gestos de conciliao ou ameaa (Eibl-Eibesfeldt, 1975).Darwin interessou-se particularmen-tepelasexpressesfaciaisdevriasemo-es,colecionandonumerosasfotogra-asdepessoasdetodasasclassessociais (incluindoumhospitalpsiquitrico).A na turezaaparentementeuniversaldasex-pressesfaciaisfoicorroboradapelotra-balhotransculturaldePaulEkman,que demonstrouqueasexpressesfaciaisea percepodaexpressodeemoesbsi-cassoencontradasemtodasasculturas, sugerindo a existncia de emoes bsicas universais(Ekman,1993).Defato,aten-dncia natural a expressar emoes facial-mente torna quase impossvel escond-las (Bonannoetal.,2002).Deformasimilar, a diculdade em ler as emoes dos outros pode tornar-se uma desvantagem para al-guns indivduos.O VALOR DAS EMOESAs emoes ajudam-nos a avaliar as alter-nativas,oferecendomotivaoparamu-dar ou fazer algo, e revelam nossas neces-sidades.Porexemplo,osindivduoscom danosnasreascerebraisqueconectam emooerazopodemconseguiravaliar racionalmenteprsecontras,masno sercapazesdetomardecises.Damasio 26Leahy, Tirch & Napolitano(2005)referiu-sesemoescomomar-cadoressomticosquenosdizemoque queremosfazer.Apesardeasaborda-gensracionaisparaatomadadedeciso com base na teoria da utilidade sugerirem queosindivduosdevemavaliar(oude fatoavaliam)todasasevidnciasdispo-nveisedecidircombaseemtrocas,pes-quisasrelativasrealtomadadedeciso sugeremquenorarorecorremosheu-rstica(regrasdaexperincia)equeas emoes constituem a heurstica (regra de ouro)comaqualfrequentementeconta-mos. Essa abordagem semelhante ideia populardereaovisceral,reetidano ttulo do livro Gut feelings: the intelligence oftheunconscious,dopsicolgocognitivo social Gerd Gigerenzer (2007). Ao contr-riodomodeloracionalistadequeasrea-esvisceraissomenosvlidasoucon-veis, h crescentes evidncias de que elas podemfrequentementesermaisecazes, rpidas e precisas (Gigerenzer, 2007; Gige-renzer,HoffrageeGodstein,2008).Alm disso, as avaliaes emocionais ou intuiti-vassocomfrequnciaabasedamaioria dos julgamentos morais ou ticos, e no o raciocniomoralcomplexo(Haidt,2001; Keltner,HorbergeOveis,2006).Essavi-so de que h reaes viscerais por trs da tomada tradi cional das decises ticas ou o que poderia ser chamado de sabedoria sugere que pode haver alguma base emo-cional em uma mente sbia.Asemoesajudamanosconectar com os outros e constituem uma teoria da mentecompartilhada.Osindivduosque sofremdasndromedeAspergerouautis-mosoincapazesdeavaliarcompreciso as emoes dos outros, muitas vezes resul-tando em um comportamento interpessoal esquisitoedisfuncional(Baron-Cohenet al.,2009).Aincapacidadedereconhecer, classicar,diferenciarefazeraconexo entreasemoeseoseventosdenomi-nadaalexitimiaeestassociadaauma grandevariedadedeproblemas,incluindo abusodesubstncias,transtornosdaali-mentao, TAG, TEPT e outros problemas (Taylor,1984).Alinguagemdaemoo partedasocializaoemocionaldascrian-as. As famlias diferem no uso das palavras quesereferemsemoes,emsuadistin-o e denominao e no encorajamento da discussosobreelas.Essaconversasobre emoes tem efeito nas futuras tendncias alexitmicas ou na habilidade de reconhe-cer e dar nome s emoes. As famlias que falamsobreasemoestmmenorpro-pensodegerarcrianasalexitmicas(Be-renbaum e James, 1994).O conceito de inteligncia emocional englobaanaturezageraldaconscinciae adaptaoemocional,sugerindoumaca-ractersticageralquepossuiimplicaes abrangentesnocomportamentoadaptati-vo.Aintelignciaemocionalcompreende quatro fatores: percepo, uso, compreen-so e manejo das emoes (Mayer, Salovey e Caruso, 2004). Essas habilidades so im-portantesnasrelaesntimas,naresolu-o de problemas, nas tomadas de deciso, na expresso das emoes apropriadas, no controledasemoesenolocaldetraba-lho (Grewal, Brackett e Salovey, 2006). Ao longo do presente volume, descrevemos as tcnicasderegulaoemocionalqueen-volvem:1.perceber e classicar emoes,2.ahabilidadedeusarasemoespara tomardeciseseesclarecervalorese metas,3.compreender a natureza das emoes, descartandointerpretaesnegativas acerca delas, e4.aformacomoasemoespodemser manejadas e controladas.Regulao emocional em psicoterapia 27De fato, as tcnicas de regulao emo-cional podem ser vistas como parte de uma abordagemmaioremaisintegrativaque reconheceopapelcentraldainteligncia emocional.Nestelivro,oferecemosuma teoriaintegrativaeabrangentequeincor-poracadaumadessastcnicas:ateoriado esquema emocional, que descreve as vrias interpretaes,estratgiasemetasquepo-demserutilizadasparalidarcomasemo-es (Leahy, 2002, 2005a). Consideramos a terapia do esquema emocional (TEE) como umaconceituaodecasoenvolvendoa teo ria do paciente sobre as emoes, os mo-delos de controle emocional e as estratgias para lidar com as emoes. Sugerimos que muitasabordagenscontemporneasdare-gulaoemocionalpodemservistascomo modelos que lidam com as questes levan-tadas pela TEE. Todavia, os leitores podem usarastcnicasdestelivrosemadotara TEE como teoria condutora.NEUROBIOLOGIA DAS EMOESAspesquisasacercadaneurocinciada regulaoemocionaltrouxeramdesco-bertasimportantes,maspotencialmente confusasecontraditrias.Aindaassim, pesquisadoresetericoscomearamre-centemente a integrar essa literatura de for-ma a oferecer um modelo abrangente para compreender a neurobiologia da regulao emocional.OchsnereGross(2007)ofe-receramummodelotericodossistemas neurais interativos envolvidos na regulao emocional,combaseemrevisodalitera-tura. Esse modelo integra tanto os aspectos ascendentes(bottom-up)quantodes-cendentes(top-down)doprocessamento emocional.Ummodeloascendentederegula-oemocionaldescreveasemoescomo umarespostaaumestmuloambiental. Certosestmulosdesencadeadoresdoam-biente podem ser vistos como detentores de qualidadesinerentesqueprovocamemo-es especcas nos seres humanos mode-lotambmdescritocomoemoo-vista--como-propriedade-do-estmulo(Ochs-nereGross,2007).Aspesquisascomno humanosdemonstraramqueaamgdala estenvolvidanoaprendizadodapreviso deestmulosadversosedasexperincias desagradveis que se seguem exposio a eles,enquantoaextinoaparentaenvol-veratividadenoscrticesfrontaismedial eorbital(LeDoux,2000;OchsnereGross, 2007; Quirk e Gehlert, 2003).Osmodelosdescendentesderegu-laoemocionalpropemqueasemoes emergem como resultado de um processa-mento cognitivo. Tal processamento envol-ve discriminar quais estmulos do ambiente deveriamserbuscados,evitadosousele-cionados para se dar ateno. Isso tambm envolveavaliarseoestmuloserbenco oudanosoaoindivduo,particularmen-teemtermosdesuasnecessidades,metas emotivaes(OchsnereGross,2007).Os seres humanos so os nicos qualicados a empregar linguagem, pensamento racional, processamento das relaes e memria para executar estratgias deliberadas e conscien-tes de regulao emocional. De acordo com Davidson,FoxeKalin(2007),osachados deestudoscomnohumanos,aspesqui-sasdeneuroimagemhumanaeosestudos de leses sugerem que uma srie de regies inter-relacionadasdocrebropodemfun-cionarcomocircuitosreguladoresdas emoes. Essas regies incluem a amgdala, ohipocampo,ansula,ocrtexcingulado anterior (CCA) e as regies dorsolaterais e ventraisdocrtexpr-frontal(CPF)(Da-vidson,2000).Postulou-sequeaatividade pr-frontal seja um componente central da 28Leahy, Tirch & Napolitanoregulao emocional em humanos, em par-ticular no processamento descendente (Da-vidson,2000;Davidsonetal.,2007;Ochs-ner e Gross, 2005). Ademais, uma atividade relativamenteconcentradaesquerdado CPF pode estar envolvida em melhor capa-cidade de regular e reduzir emoes negati-vas (Davidson et al., 2007).O modelo de Ochsner e Gross (2007) postulaqueosmodosascendenteedes-cendente de processamento esto envolvi-dos na regulao emocional. Quando o ser humanosedeparacomumestmuload-verso no ambiente, como a ameaa de um animalpredador,umareaoemocional ascendente pode ocorrer. Essa reao pode envolveraativaodesistemasdeavalia-o,incluindoatividadenaamgdala,no nucleusaccumbensenansula(Ochsnere FeldmanBarrett,2001;OchsnereGross, 2007).Essessistemasdeavaliaocomuni-cam-secomocrtexecomohipotlamo paragerarrespostascomportamentais.A respostaemocionaldescendentetambm podecomearcomumestmulodoam-biente. Contudo, pode ser um estmulo dis-criminativo, o qual sugere que o indivduo prev que um estmulo ou sensao adversa podeestaracaminho.Oestmulonopro-cessamentodescendentepodetambmser neutro,capazdeprovocarumareaone-gativaemdeterminadocontexto.Emtais casos,processoscognitivosmaiselevados estoenvolvidosnageraodeumares-postaemocionalajustada.Essesprocessos envolvem sistemas de avaliao do CPF que agempormeiodeestruturascomooCPF lateralemedial,bemcomooCCA(Ochs-nereGross,2007).Assim,v-seopoten-cial de interdependncia entre os modos de processamentoemocional,oquesugerea possibilidade de que nenhum deles precisa ser visto como dominante. De fato, os mo-delosdeprocessamentopodemestarrela-cionados em um sosticado continuum que ospesquisadoresaindaprecisamentender ou explicar plenamente.PRIMAZIA: COGNIO OU EMOO?Umdebaterecorrentenessecampoa questodacausalidade:asemoestm primaziaouascogniesconduzems emoes? Zajonc (1980) props que a per-cepo de estmulos novos ou ameaadores podeocorrerquaseimediatamentesem conscincia e que as avaliaes dos estmu-los podem ocorrer aps a resposta emocio-nal ter sido ativada. Lazarus, em contrapar-tida, argumentou que as avaliaes de uma situao resultam em respostas emocionais equeacogniotemprimaziatemporal sobreaemoo(Lazarus,1982;Lazaruse Folkman,1984).Assimcomoemmuitos debatesdicotomizados,halgumavali-dadeemambasasposies.Emfavorda primaziadaemoosobreacognio,h umvolumeconsiderveldepesquisasque demonstramquealgunsestmulos(como aqueles desconhecidos e ameaadores) ini-cialmente se desviam das sees corticais do crebro e so quase instantaneamente pro-cessadospelaamgdaladeformaincons-ciente.Esseprocessamentoinconsciente domedoafetaoaprendizado,amemria, a ateno, a percepo, a inibio e a regu-laodasemoes(LeDoux,1996,2003; PhelpseLeDoux,2005).Fazendoacone-xo entre o rpido processamento fora da conscinciacomasadaptaesevolutivas, aneurocinciatentoucolocarocondicio-namento ao medo no contexto das reaes adaptativas a uma ameaa que no podem serretardadaspeloprocessamentocons-ciente.Porexemplo,oindivduoestca-minhandoe,derepente,sentemedo,pula assustado e em seguida diz: Aquilo parece umacobra.Aconscinciadanaturezado Regulao emocional em psicoterapia 29estmuloocorreapsarespostaemocio-nal.Paracomplicaraindamaisopapelda conscincia, h considerveis evidncias de que ela no seja convel como relatora dos eventos interiores. Por exemplo, se pensar-mosnaconscinciacomoumprocessode contabilidadedoseventosinteriores,h amplo conjunto de evidncias empricas de sua impreciso. Frequentemente, deixamos de ter conscincia dos eventos estimulantes quetiveramimpactoemnossosprocessos emocionaisoumesmocognitivos(Gray, 2004).Lazarus(1991)argumentouqueZa-joncconfundiuprocessamentocognitivo com processamento consciente e que pos-svel fazer uma avaliao cognitiva sem es-tarconscientedisso.Assim,nessemodelo, as avaliaes podem ocorrer imediatamen-teeforadaconscincia.Seessavisofor adotada,pode-seargumentarqueaamg-dala avalia estmulos em termos de inten-sidade,novidade,mudana,iminnciaou outrasdimensesrelevantes.Ademais, osmodelosdeprimaziadasemoesno diferenciamadequadamenteaquelasque podemsercaracterizadasporprocessos-siolgicos similares. Por exemplo, emoes comomedo,cime,raivaeoutraspodem serreduzidasaprocessossiolgicossi-milaresdeexcitao,masaexperincia dessasemoesdependedaavaliaoda ameaaedocontextonoqualaexcitao ocorre. Eu posso ter medo da cobra, ter ci-mes da ateno que meu parceiro d a ou-tra pessoa, sentir raiva ao car preso em um engarrafamento ou car excitado medida quecorromaisrpidonaesteiraergom-trica.Assensaessiolgicassubjacentes podem ser bem parecidas, mas a avaliao e o contexto ajudam a denir a emoo.Ateoriadaredeentreemooecog-nio de Bower compartilha alguma nfase comum com a posio de Zajonc. De acor-do com esse modelo, emoes, pensamen-tos,sensaesetendnciascomportamen-taissoconectadasassociativamentenas redesneurais.Assim,ativarumprocesso ativa os outros. O modelo da rede com fre-qunciautilizaainduoemocionalpara ativar os processos siolgicos e o conte-do cognitivo que podem estar ligados nessa rede(Bower,1981;BowereForgas,2000). PesquisasdeForgasecolaboradoresindi-camqueainduodaemooafetajulga-mento, tomadas de deciso, percepo pes-soal, ateno e memria todos processos cognitivos(ForgaseBower,1987).Alm disso,oafetoinduzidotambmafetapro-cessos de atribuio ou explicao (Forgas e Locke,2005).Forgaselaborouummodelo de infuso dos afetos, o qual prope que a excitao afetiva inuencia o processamen-to cognitivo, especialmente quando a heu-rstica (atalhos) ou um processamento mais extenso ativado (Forgas, 1995, 2000). De fato,aspessoascomfrequnciaavaliam quoarriscadaumaalternativapodeser com base em seu estado afetivo atual (Kun-reuther, Slovic, Gowda e Fox, 2002). Arntz, Rauner e van den Hout (1995) sugerem que essaheursticadasemoesusadacomo informao na avaliao do perigo pelos indivduos fbicos, de modo que eles pen-sam: Se eu me sinto ansioso, deve haver al-gum perigo. Tanto o modelo da infuso do afeto quanto a teoria da rede propostos por Bowersugeremqueaexcitaoemocional pode ativar vieses cognitivos especcos, os quaisprovocamaindamaisdesregulao. Consequentemente,ahabilidadedeapazi-guar ou acalmar a excitao afetiva, caso ela ocorra, e a habilidade de modicar os vieses cognitivosnegativosativadospelosafetos devem ser teis na facilitao da regulao emocional.Issonoresolveaquestodaprima-zia do debate emocional e, realmente, sua resoluopodedependerdossignicados semnticosdeavaliao,conscincia 30Leahy, Tirch & Napolitanoeprocessamentocognitivo.Todavia,h evidnciasconsiderveisdequeemooe cognio so interdependentes, e cada uma podeinuenciaraoutranoquepodeser vistocomoumcicloderetroalimentao. Nopresentevolume,reconhecemosque esses processos so interdependentes e que nohnecessidadedetomarumaposio quanto primazia a m de desenvolver tc-nicas teis para ajudar os pacientes.TERAPIA DE ACEITAO E COMPROMISSOAterapiadeaceitaoecompromisso(ac-ceptance and commitment therapy, ACT, em ingls) baseada na teoria comportamental delinguagemecognioconhecidacomo teoriadosquadrosrelacionais(TQR),que ofereceaperspectivatericadosprocessos centraisenvolvidosnapsicopatologiaena desregulaoemocional(Hayes,Barnes--HolmeseRoche,2001).Deacordocom essaperspectiva,acausacentraldospro-blemas relacionados s emoes envolve as formas como a natureza do processamento verbalhumanocontribuemparaa esqui-vaexperiencial(Luoma,HayeseWalser, 2007).Otermoesquivaexperiencialre-presenta esforos para controlar ou alterar a forma, frequncia ou sensibilidade situacio-nal dos pensamentos, sentimentos e sensa-es, precisamente quando isso causa danos comportamentais (Hayes et al., 1996).DeacordocomaTQR,ossereshu-manos aprendem a relacionar eventos e ex-perinciasentresiemumarederelacional aolongodavidaeareagiraeventoscom base,emparte,nasuarelaocomoutros eventos, em vez de se basearem meramente nas propriedades do estmulo representado pelo evento em questo (Hayes et al., 2001). Dessa forma, um evento pode vir a se asso-ciaraqualqueroutro.Porexemplo,seeu tivesse de ir a um funeral beira de um belo lago ao pr do sol, minhas experincias fu-turas de relaxar perto de um lago no m do dia poderiam evocar a sensao de tristeza. A TQR tambm sugere que, quando experi-mentamos pensamentos ou representaes mentaisdeumevento,suaspropriedades estimuladorasaparecemdeformaliteral. Porexemplo,quandoumapessoacom depressovivenciaopensamentonegativo ningumnuncavaimeamar,elareage emocionalmenteaessepensamentocomo seelefosserealeliteral,emvezdeapenas umeventoemsuamente.Esseprocesso chamadodefusocognitiva(Hayes, StrosahleWilson,1999).Dadosospro-cessosderespostarelacionalefusocog-nitiva,encontramo-nosemumasituao interessante,naqualpodemosrelacionar um evento a qualquer outro e, quando uma representao mental de um evento ativa-da, podemos reagir s propriedades do est-mulodaquelarepresentaomentalcomo se ela fosse literal.Umamaneiranaturalerazovelpela qualossereshumanosreagemasituaes angustiantesedifceisconsisteemtentar evitaroufugirdessassituaes.Talestra-tgia apropriada e eciente em interaes queenvolvemnossoambiente.Porexem-plo,sereceioquecertacavernasejaperi-gosa e a evito, muito menos provvel que eu seja atacado pelo predador faminto que moranela.Issosemelhanteteo riabifa-torial de aquisio e conservao do medo, deMowrer(1939).Aesquivareforada pelareduodomedo,conservandocom issoomedodoestmulo.Infelizmente,a naturezadarespostarelacionalhumana tal que tentativas de evitar, suprimir ou eli-minar eventos mentais como pensamentos eemoespodem,naverdade,servirpara amplicarosofrimentoouincmodovi-Regulao emocional em psicoterapia 31venciado(Hayesetal.,1999).Issofcil decompreender,poistentarnopensar nomedoconsiste,pordenio,pensar nele ou no estmulo temido, o que, por sua vez, pode evocar mais medo. Dessa forma, o modelo da TQR sugere que a resposta re-lacional humana e a fuso cognitiva contri-buem para a esquiva experiencial, que, por seuturno,contribuiparaadesregulao emocional, a psicopatologia e vidas insatis-fatrias e incompletas.A ACT sugere que a meta da psicote-rapiapodeserestabeleceremanterae-xibilidadepsicolgica(HayeseStrosahl, 2004) ou a capacidade de estar em contato com opresentedemaneiramaisplena como ser humano consciente e, com base no que a situao permite, mu-daroupersistirnocomportamen-toparaatingirosfnsalmejados. (Luomaetal.,2007,p.17;vertam-bm Hayes e Strosahl, 2004)AsintervenesdaACTutilizamseis processoscentrais,osquaisbuscamcolo-carospacientesemcontatoexperiencial diretocomsuasexperinciaspresentes, interromper a fuso cognitiva, promover a aceitaoexperiencial,ajud-losaselivrar da construo narrativa que tm de si mes-mos,ajud-losaalcanarumacordocom o que mais valorizam e facilitar o compro-missocomasdiretrizesquevalorizamna vida. Desse modo, o objetivo geral da ACT umprocessoderegulaoemocionale tolernciadosafetosaserviodetrajet-riascomportamentaisprofundaseintrin-secamentecompensadoras.Ospacientes gra dualmenteaprendemaexpandirseu repertrio comportamental na presena de eventosinternosqueprovocamsofrimen-to,oquetalvezsejaoelementocentralde qualquer denio de regulao emocional.REAVALIAOUmadasestratgiasmaisamplamenteuti-lizadasparalidarcomasemoesouso daavaliaooureavaliao.Essesmode-loscognitivossvezesnosoconside-radoscomopartedaregulaoemocional, nosentidodequeasavaliaes(presu-mivelmente)precedemasemoes.Por exemplo, pode-se dividir as estratgias para lidarcomemoesemantecedentesefo-cadas na resposta. Um exemplo de estratgia antecedenteseriaavaliarofatorestressan-tecomomenosameaadorouasimesmo comoplenamentecapazdelidarcomele. Outrosexemplosdeestratgiasanteceden-tes incluem arranjos de controle do estmu-lo (como no manter lanches muito calri-cosdentrodecasa).Areestruturaocog-nitivaearesoluodeproblemastambm soexemplosdeestratgiasantecedentes. Exemplos de estratgias focadas na resposta incluemautoapaziguamento,supressoda emoo,distraoeengajamentoemati-vidadesagradveis;algumasdessasestrat-giascriammaisproblemas.Emumestudo comparativodessesdoisestilos,osreava-liadorescomportaram-sedeformamais efetiva, experimentando mais emoes po-sitivas,menosemoesnegativasemelhor funcionamentointerpessoal,eatendncia opostafoimaisevidentenossupressores (Gross e John, 2003). Talvez o modelo clni-co de reavaliao mais amplamente utiliza-do seja a reestruturao cognitiva, usando--seasmuitastcnicasdaterapiacognitiva deBeckoudaterapiaracional-emotiva comportamental de Ellis (Beck, Rush, Shaw eEmery,1979;ClarkeBeck,2009;Ellise MacLaren,1998;Leahy,2003a).Hevi-dnciasempricasconsiderveisdaeccia da terapia cognitiva em ampla variedade de transtornos(A.Butler,Chapman,Forman e Beck, 2006).32Leahy, Tirch & NapolitanoA reavaliao inclui o exame dos pen-samentos acerca de uma situao que pro-vocaexcitaoemocional.Porexemplo,o modelo de Beck prope que os pensamen-tosautomticosocorremdemodoespon-tneo frequentemente sem ser examinados ou avaliados. Os pensamentos automticos podemsercategorizadoscomodistores ouvieses,incluindoleituramental,pen-samentodicotmico,previsodofuturo, personalizaoerotulao.Essespensa-mentossoconectadossregrascondicio-nais de pressupostos, como se algum no gostademim,issoterrveloueudevo me odiar se voc no gostar de mim. Alm disso, os pressupostos e os pensamentos au-tomticos esto ligados a crenas nucleares ou esquemas pessoais que o indivduo tem sobresimesmoousobreosoutros,como considerar-seincompetenteouverosou-troscomoaltamentecrticos.Osmodelos dereavaliaotentamidenticaressespa-dres de pensamento e alter-los por meio de reestruturao cognitiva e experimentos comportamentais.METAEMOOGottmanecolaboradores(1996)propu-seramqueumcomponenteimportante dasocializaoenvolveavisolosca que os pais tm das emoes, qual eles se referemcomolosoametaemocional. Especicamente,algunspaisenxergama experinciaeaexpressodasemoesda criana (raiva, tristeza ou ansiedade) como um evento negativo a ser evitado. Essas vi-sesnegativasdasemoessocomunica-dasnasinteraesparentais,deformaque o genitor ser desdenhoso, crtico ou sobre-carregadopelasemoesdacriana.Con-trastandocomessesestilosproblemticos desocializaoemocional,Gottmaneco-laboradores(1996)identicaramumestilo de treinamento emocional que envolve a ca-pacidade de reconhecer at baixos nveis de intensidadeemocional,vendoessasemo-esdesagradveiscomooportunidades paraobterintimidadeeapoio,auxiliando acrianaanomearediferenciaremoes epraticandoresoluodeproblemascom ela.Ospaisqueadotamoestilodetreina-mentoemocionaltmmaiorprobabilida-dedeterlhoscapazesdeautoapaziguar suasprpriasemoes;ouseja,otreina-mentoemocionalajudanaautorregulao emocional. Alm do mais, os lhos de pais queutilizamotreinamentoemocionalso mais ecientes nas interaes com seus co-legas,mesmoquandoumcomportamento adequadoentreelesenvolveainibioda expressoemocional.Assim,lhosdepais que usam treinamento emocional so mais avanadosnoquesitointelignciaemocio-nal,sabendoquandoexpressarequando inibiraexpressoecomoprocessarere-gular suas prprias emoes (veja Mayer e Salovey,1997).Otreinamentoemocional noapenasreforaoestilocatrticonas crianas;permitetambmqueelasidenti-quem,diferenciem,validemeacalmem suasemoesesolucionemosproblemas. Oestilodetreinamentoemocionaldes-crito por Gottman e colaboradores uma extensodacapacidadeativadeescutae estratgiasderesoluodeproblemasde-fendidaspelosmodelosdeinteraonos relacionamentosbaseadosnacomunica-o(p.ex.,JacobsoneMargolin,1979; Stuart, 1980).TERAPIA FOCADA NA EMOOAterapiafocadanaemoo(TFE)uma terapiaexperiencialehumansticacujas origensestonateoriadoapego,naneu-rocinciaemocionalenosconceitosde intelignciaemocional(Greenberg,2002). Regulao emocional em psicoterapia 33ATFEumaterapiabaseadaemevidn-ciaseempiricamentefundamentada.De formasemelhantedescriodeGottman decomoospaisdevemlidarefetivamente comasemoes,naTFEoterapeutatam-bm pode atuar como um treinador (coach) emocionalqueajudaospacientesaserem maisefetivoseadaptativosnoprocessa-mento de suas reaes emocionais.NaTFE,considera-sequearelao entre o terapeuta e o paciente desempenha afunoderegulaodosafetospormeio deprocessosdeapego(Greenberg,2007). Vrios processos encontrados na TFE tam-bmestopresentesnasmodalidadesde terapiacognitivo-comportamentaldeter-ceira gerao, como aceitao, contato com opresente,conscinciaatenta(mindful awareness),cultivodaempatiaeativao deprocessosautoapaziguadoresbaseados noapego.Especicamente,diz-sequea alianateraputicanaTFEfuncionacomo um duo (dade) apaziguador. Nessa intera-oemdade,comasdinmicasdoapego humanoemao,ospacientespodemser capazesdeinternalizarhabilidadesauto-apaziguadoraspormeiodetreinamento emocionaleaprendizadoexperiencialre-petidos nas sesses de terapia. Alm disso, a aliana teraputica pode criar um ambien-te no qual os pacientes se deparam direta e profundamente com emoes desaadoras, enquantoaprendemashabilidadesdeque precisam para tolerar o sofrimento e regu-lar de modo efetivo suas respostas emocio-nais (Greenberg, 2002).ApesardeaTFEreconhecerquea cognioumcomponenteessencialdo processamentoemocional,ocontrole(ou reavaliao)cognitivodaemoono oprocessocentraldessemodelo(Green-berg,2002).ATFEsugerequeasemoes inuenciamacognio,bemcomoacog-nioinuenciaasemoes.Ascognies podemserusadasparaafetarasemoes, entretanto,estaspodemserusadaspara mudaroutransformaroutrasemoes.A TFE sugere que processos de avaliao, pro-cessosdesensaesfsicasesistemasafeti-vos ativam-se de forma integrada para evo-caraexperinciaemocional(Greenberg, 2007).ATFE,oconceitodeinteligncia emocional e a TEE sustentam que as expe-rincias emocionais envolvem alto nvel de atividadesintetizadaesincronizadaentre ossistemasbiolgicosecomportamentais humanos.SOCIALIZAO EMOCIONALApesardeasemoesteremsidorelacio-nadas teoria da evoluo e parecerem ser universalmenteexperimentadas,asociali-zao parental tem impacto na conscincia, expressoeregulaoemocional.Desdea publicaodoinuentetrabalhodeBowl-by(1968,1973)sobreapego,houveconsi-dervelinteressenaimportnciadoapego seguro ou inseguro no desenvolvimento da infncia vida adulta. Bowlby props que o componente essencial do apego seguro era a previsibilidade e reatividade dos pais. Bow-lbyeoutrossugeriramquerupturasen-volvendoapegoentrepaiselhospodiam afetarodesenvolvimentodemodelosde funcionamento interno isto , esquemas ouconceitosacercadaprevisibilidadee dacapacidadedecriao(nurturance).Os bebsecrianasprivadosdeapegosegu-rotmmaiorriscodedesenvolveransie-dade,tristeza,raivaeoutrosproblemas emocionais.Halgumaevidnciadeque ospadresdeapegosomoderadamen-teestveisnosprimeiros19anosdevida (Fraley, 2002). Em um estudo com adultos expostos a um evento traumtico (o ataque de11/09aoWorldTradeCenter),aqueles quetinhamlaossegurostiverammenor propensoadesenvolverTEPT(Fraley, 34Leahy, Tirch & NapolitanoFazzari,BonannoeDekel,2006).Apesar deproblemasprecocesrelativosaoapego teremsidofocodateoriadasrelaesob-jetais (Clarkin, Yeomans e Kernberg, 2006; Fonagy, 2000), os processos de apego tam-bmtmsidofocodosterapeutascogniti-vos (Guidano e Liotti, 1983; Young, Klosko e Weishaar, 2003).Acompreensoqueascrianastm dasemoesdosoutros,competnciaso-cial,emocionalidadepositivaeajustamen-togeralestorelacionadasamaiorzelo parental,maiorexpressividadeemocional positiva e menor desaprovao e hostilida-de(Isley,ONeil,ClatfeltereParke,1999; Matthews, Woodall, Kenyon e Jacob, 1996; RothbaumeWeisz,1994).Aexpresso emocionalnegativaeummenorzelopor parte dos pais esto associados maior inci-dncia de comportamento antissocial (Cas-pietal.,2004).Eisenbergecolaboradores sugeriram que a expressividade negativa por partedospaisestassociadaaumamenor capacidadederegulaoemocional,que, porsuavez,associa-seamaisproblemas externalizadosemenorcompetnciasocial (Eisenberg, Gershoff et al., 2001; Eisenberg, LiewePidada,2001).Assim,aregulao emocional medeia a relao entre expresso parental e outras capacidades sociais.Humanfaseconsidervelnaim-portncia da invalidao na teoria da TCD como fator precoce de contribuio para o desenvolvimentodedesregulaoemocio-nal.Emumestudorecente,aautomutila-ointencionalesteveassociadaarelatos retrospectivosdepunioenegligncia porpartedospaisquandoacrianaesta-vatriste(Buckholdt,ParraeJobe-Shields, 2009).Crianascomtranstornosdeansie-dade tiveram mais provavelmente pais que expressavam menos afetos positivos e mais afetos negativos e tinham poucas discusses explanatriassobreasemoes(Suveget al.,2008).Todosessesprocessosdeapego einterpessoaissugeremqueproblemase processos de relacionamento so um com-ponentecentraldaregulaoemocional. Issocondizcomomodelointerpessoalde depresso e suicdio, que prope que as ne-cessidadesuniversaisdepertencimentoe um senso de que no somos um fardo para osoutrossofatoresdevulnerabilidade (Joiner, Brown e Kistner, 2006).MODELOS METAEXPERIENCIAISAsemoesconstituememsicontedos cognitivossociais;ouseja,aspessoastm suas prprias teorias acerca da natureza de suasemoesedasemoesalheias.Em anos recentes, props-se a teoria da mente como capacidade cognitivo-social geral por trs da capacidade de entender as prprias emoeseasdosoutrosecomoumaha-bilidadecujodesenvolvimentocomeana primeirainfnciaecontinuasubsequen-temente.Umadimensonaconceituao dasemoesograuemqueseacredita que elas sejam xas (entidade) ou mutveis (maleveis). Essas dimenses mostraram-se preditivasdoajustamentoduranteauni-versidade.Ostericosdaentidadetiveram maiores taxas de depresso, mais diculdade deajustamentosocial,menosbem-estare menorpropensoausarestratgiasderea-valiao(Tamir,John,SrivastavaeGross, 2007).Ametacogniosimilaraopensa-mentonoegocntrico,quefoienfatizado porFlavelleoutrosnapsicologiadode-senvolvimentohvriasdcadas(Flavell, 2004; Selman, Jaquette e Lavin, 1977). Ins-pirando-se no conceito de descentralizao dePiaget,opensamentonoegocntrico envolve a capacidade de distanciar-se e ob-servaropensamentoeaperspectivados outrosecoordenarainteraoentreas prpriasperspectivaseasalheias.Pensar Regulao emocional em psicoterapia 35sobreopensamentofoiumconceitocru-cialnapsicologiadodesenvolvimentoque reetiuanaturezapotencialmenterecor-renteeautorreexivadacogniosocial. Quandoaplicadoaopensamentoacerca das emoes em si mesmo ou nos outros ,oconceitoevoluiu,transformando-se nateoriadamente(Baron-Cohen,1991), importantetantonosmodeloscognitivos quantonospsicodinmicos,bemcomona neurocincia (Arntz, Bernstein, Oorschot e Schobre, 2009; Corcoran et al., 2008; Fona-gy e Target, 1996; Stone, Lin, Rosengarten, Kramer e Quartermain, 2003; Vllm et al., 2006).Omodelometacognitivoproposto por Adrian Wells a mais detalhada teoria clnica para a teoria da mente e de como os processos metacognitivos esto por trs de vrios transtornos (Wells, 2004, 2009). Por exemplo,pessoascronicamentepreocupa-dasacreditamquedevemlidar,controlar e neutralizar pensamentos intrusivos e que os pensamentos conferem responsabilidade pessoal. O modelo metacognitivo busca es-clarecer as crenas acerca de como a mente funciona, em vez de modicar o contedo dospensamentos,eauxiliaropacientea abandonarestratgiasimprodutivas,como tentativas de suprimir, controlar, ter certe-zaeusarreasseguramentoeoutrosmto-dosdecontrolemental.Leahyfoialm edesenvolveuomodelometaexperiencial chamadoterapiadoesquemaemocional ,sugerindoqueaspessoasdiferenciam--seemsuascrenassobreanaturezadas emoes(p.ex.,controlveis,perigosas, vergonhosas,exclusivas)eanecessidade deinvocarestratgiasdecontroleemocio-nal, como preocupao, ruminao, culpa, esquivaouabusodesubstncias(Leahy, 2002).Omodelodoesquemaemocional tambmcompartilhacomaTCDoreco-nhecimentodemitosemocionaiscomuns, porexemplo:algumasemoessoreal-menteestpidas,emoesdolorosasre-sultamdemaucomportamentoouse os outros no aprovam meus sentimentos, eunodeveriamesentircomomesinto (Linehan,1993a).Examinamosascrenas disfuncionaiscomunssobreasemoes, crenas estas que podem perturbar a forma comoselidacomelas,eilustramosouso daTEEedaTCDcomoestratgiasmais efetivasdemanejodasemoes.Nopr-ximocaptulo,oferecemosumpanorama daTEEqueincorporaosdiferentescom-ponentes do processamento e da regulao emocional discutidos ao longo deste livro, e propomos tcnicas especcas para identi-car e modicar interpretaes, avaliaes e estratgias problemticas para lidar com as emoes difceis.CONCLUSESAemoonoumfenmenosimples. Elacompreendeavaliao,sensaofsica, comportamento motor, metas ou intencio-nalidade,expressointerpessoaleoutros processos.Consequentemente,umaabor-dagem abrangente da regulao emocional devereconheceranaturezamultifacetada das emoes e oferecer tcnicas que possam ser aplicadas em cada um desses processos. Esseopropsitodestelivro.Ademais,as estratgiasdemanejovariamconsidera-velmente,eosindivduospodempreferir algumas delas a outras. Para alguns, a rees-truturao cognitiva pode anular as outras estratgiasderegulaodasemoes,ao modicararespostaemocionalpormeio da reavaliao. J, outros, em que emoes intensas j foram ativadas, podem ser bene-ciados por ampla variedade de tcnicas de reduodeestresse,atenoplena(mind-fulness),aceitaooutcnicasdaterapia doesquemaemocional.Algunspacientes podemterdiculdadecomanaturezain-terpessoaldasuaexperinciaemocionale 36Leahy, Tirch & Napolitanoobterbenefcioscomastcnicasvoltadas validao ou ao funcionamento interpes-soal(p.ex.,aprenderhabilidadespara manter amizades e apoio social). Apesar de havermuitosZeitgeistnocampodapsico-logia, os pacientes esto menos interessados nas tendncias tericas do terapeuta e mais na relevncia e efetividade das tcnicas dis-ponveis.Consequentemente,cadaumde nsrepresentandointeressesereasde conhecimento um tanto diferentes tentou oferecer ao leitor uma ampla gama de tc-nicas que possam ser adaptadas a cada pa-ciente. Conforme indicamos anteriormente neste captulo, o clnico pode ajudar os pa-cientes a examinarem:1.se o problema permite modicao da situaopelaresoluodeproblemas, pelo controle do estmulo ou pela rees-truturao cognitiva;2.se o problema o aumento da excitao e das sensaes (nas quais as tcnicas de reduo de estresse, como relaxamento progressivo,exercciosrespiratriose outros de autorrelaxamento, podem ser teis); ou3.se o problema como lidar com a in-tensidadeemocionalumavezqueela surja,sugerindoautilidadedaaceita-o, ateno plena, autoapaziguamento focado na compaixo e outras tcnicas.Em cada um dos captulos a seguir, su-gerimos diretrizes para a escolha das tcni-casetambmrelacionamoscadatcnica com alternativas relevantes.