Upload
eliana-mello
View
387
Download
2
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - ESCOLA DE BELAS ARTES
CURSO DE CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE BENS CULTURAIS MÓVEIS
DISCIPLINA: APL079– REINTEGRAÇÃO DE LACUNAS EM ESCULTURAS.
PROFESSORA: LUCIENNE ELIAS
ALUNA: Eliana Ursine da Cunha Mello
DATA: 23/05/2012
OBJETIVO: Relatório sobre os testes com massas de nivelamento em suporte de
madeira.
INTRODUÇÃO
Existe uma categoria de produtos que, junto aos adesivos são frequentemente
utilizados nas operações de restauração, e, sobretudo no preparo prévio a
reintegração de policromias de esculturas em madeira: - as massas de nivelamento.
Esses materiais atendem a necessidade de preenchimento, de maneira estável, dos
vãos e lacunas que se formam nas obras devido às perdas, tanto no nível do suporte
quanto somente de alguns extratos, e é um trabalho que antecede a reintegração
cromática. De um modo geral, as massas de nivelamento são uma mescla de
aglutinante com uma carga inerte em forma granular ou em pó, que se distribuem
bidimensionalmente nos espaços a serem tratados e criam um corpo espesso após o
enrijecimento.
As lacunas que o nivelamento deve fechar são variadas e os materiais devem se
adequar as características específicas de cada caso, para que as funções do objeto
sejam, ao máximo, reestabelecidas. Há casos em que as áreas abertas são por
demais irregulares e a massa deve adquirir uma plasticidade maior no intuito de
garantir uma maior superfície de contato.
Para este trabalho é muito importante o conhecimento da técnica construtiva do objeto
e dos materiais nele empregados. Essas informações devem ser analisadas
juntamente a observação da dimensão dos danos que a peça apresenta. A magnitude
das áreas de perda se inter-relaciona com a integridade física da peça, direcionando a
metodologia na intervenção de conservação e restauração.
Página 1 de 12
A estrutura histórica também deve ser considerada para evitar, o quanto possível, a
substituição dos materiais existentes. A elaboração de um dossiê sobre a intervenção
finaliza o trabalho e documenta todo o processo, permitindo a avaliação posterior e
servindo de base segura para novos procedimentos.
Os estudos, pesquisas e experimentações com as diversas opções de materiais
capacitam o profissional para escolhas criteriosas e eficientes, na realização de um
bom trabalho.
Como atividade prática da disciplina “Reintegração de Lacunas em Escultura”, foi
realizado um simulado para experimentação de diversas massas de nivelamento
compatíveis com as obras em madeira.
OBJETIVOS
O objetivo da proposta é levar o aluno ao conhecimento prático das propriedades de
diversas massas de nivelamento. É imprescindível que o profissional conheça o
comportamento físico-químico dos produtos relacionados à conservação e a
restauração, bem como a compatibilidade de cada um deles junto à obra a ser
trabalhada, pois a variedade de suportes, de pigmentos e técnicas existentes não
permite a generalização das escolhas
Busca-se a observação e o entendimento sobre questões importantes relativas ao
comportamento desses materiais no momento em que são manipulados, em sua fase
líquida, no processo de secagem, em sua fase sólida e na interação entre eles.
.O exercício buscou também promover uma maior familiarização com os produtos, que
de forma recorrente são citados nos estudos de casos realizados na disciplina de
Reintegração de Lacunas em Esculturas em Madeira.
METODOLOGIA
O simulado iniciou-se com o preparo de uma placa de madeira, e a seleção das
cargas e aglutinantes que seriam testados:
Suporte:
Placa de madeira MDF
Carga:
Carbonato de Cálcio
Página 2 de 12
Aglutinantes:
PVA
Metilcelulose
Cola de coelho a 10% (H2O)
Gelatina a 10% (H2O)
Mowiol
Cera microcristalina
Diluentes:Ácool
Água
O processo de análise de seu pela observação dos aspectos resultantes da
manipulação da massa e seu aspecto antes e após enrijecimento. Foram quesitos de
avaliação:
Alteração dimensional após secagem (formação de trincas)
Resistência mecânica. (resistência à pressão e riscos)
Aspecto superficial. (lisura e brilho)
Uma classe de materiais tradicionalmente utilizada como aglutinante de massas de
nivelamento esculturas em madeira policromada é a dos adesivos, popularmente
conhecidos como colas.
Em El Livo Del Arte, escrito no final do século XIV, Cennino Cennini já ensinava
receitas de colas de amido, peixe, pele e ossos para diversas finalidades1 na pintura e,
no século XX os materiais acrílicos e polivinílicos chegaram ao mercado para atender
a mesma demanda.
Entretanto, é comum encontrar na literatura especializada o mesmo produto sendo
referido como adesivo, consolidante ou mesmo verniz.
Mauro Matteini diz a este respeito:
(...) na prática da restauração, os limites entre distintas indicações não são
sempre definidos. De fato, pode ser que o restaurador empregue
frequentemente um adesivo para corrigir problemas de consolidação, ou ao
1 CENNINI, Cennino - Libro dell'Arte, Comentado e anotado por Franco Brunello, com prefácio de Liscio Magagnato, Neri. Pozza Ed., Vicenza, 1982.p.150
Página 3 de 12
contrário, um consolidante como adesivo, ou ainda, utilize um verniz como
fixador. (MATTEINI, 1989. P.197)
Segundo ele, algumas substâncias, incluindo as colas animais, podem se converter ao
secar em materiais com notável poder adesivo nas camadas pictóricas em
desprendimento. Se ao mesmo tempo elas penetram no suporte através das trincas
dos craquelês, passam a exercer uma ação coesiva.
Por último, possuindo uma boa capacidade de formar filme, podem proteger a
superfície onde foram aplicadas formando vernizes. Porém, mesmo consideradas
multifuncionais, cada uma dessas substâncias tem uma aplicação efetiva, tornando as
outras de certa forma secundárias e não tão eficientes.
A restauração impõe fortes limitações a uma grande parte dos materiais, visto que
existe a condição da reversibilidade à ser respeitada. Diante disso, é importante que a
escolha do que será utilizado seja fundamentada, para que se confirme ou não a sua
pertinência.
Em nossos testes as colas utilizadas tiveram função coesiva, pois deveriam promover
a aglutinação da carga utilizada, no caso, o Carbonato de Cálcio.
Os adesivos aglutinantes testados são classificados também segundo sua origem:
Adesivos aglutinantes de origem animal
Todos os adesivos de natureza protéica podem ser aplicados em dissoluções e
emulsões aquosas. O processo de adesão está baseado na passagem de estado sol
para gel. Ao mesmo tempo, acontece também a evaporação da água, dando origem
ao filme. Substâncias como cloreto de sódio, cloreto de amônia e nitrato de potássio
funcionam como inibidores e podem impedir a gelificação da cola.
Seu uso consagrado na restauração deve-se a grande reversibilidade na água,
propriedade mantida mesmo após o envelhecimento. Testados:
Colas de coelho: Material elaborado a partir da pele do coelho, higroscópico e,
que misturado à água morna, forma uma dispersão coloidal. Uma característica
importante desse adesivo é que sua concentração é diretamente proporcional à
quantidade de água usado no preparo da solução. Comercializado em forma
de pó, lascas ou pequenos grãos, pode ser encontrada na cor branca, amarelo
e marrom.
Página 4 de 12
Gelatinas: Quimicamente a gelatina em pó é uma mistura de proteínas,
moléculas de grande massa molecular, que por sua vez são formadas pela
união de outras moléculas menores, os aminoácidos. As proteínas pertencem à
classe dos colóides liófilos, ou seja, aqueles que possuem afinidade com água.
Como esses colóides têm maior facilidade em transformar-se do estado gel
para sol, ou vice-versa, são chamados de reversíveis. Uma das propriedades
dos colóides é diminuir a tensão superficial dos sistemas aquosos. A gelatina
utilizada na restauração é vendida em pó ou lâminas flexíveis. Deve ser
umedecida na água morna e deixada em repouso antes de ser levada ao
banho-maria. A temperatura de aquecimento não pode ultrapassar os 60°C
para que a solução não perca suas propriedades coloidais. O acréscimo de
álcool etílico confere característica fungicida ao produto. A gelatina, assim
como todos os adesivos protéicos, deve ser aplicada ainda morna e esse
princípio deve ser seguido com critério para que o reaquecimento excessivo
não interfira na reversibilidade do estado gel.
Adesivos aglutinantes cerosos – Naturais e sintéticos
São materiais caracterizados por boa reversibilidade. Foi testado:
Cera microcristalina: Cera opalescente derivada do petróleo. Cera mineral e
flexível, com grande força de adesão plástica devido à estrutura microcristalina.
Apresenta-se em diversas colorações – branca, amarela, âmbar, marrom e
preta. Compatibiliza-se com ceras vegetais e animais e resinas naturais em
todas as proporções.É solúvel em éter de petróleo e sensível à maioria dos
solventes orgânicos, incluindo álcoois. Não deve ser exposta ao fogo
diretamente pois é inflamável.
Adesivos aglutinantes Semisintéticos (adesivos naturais modificados) e
Sintéticos
Com o desenvolvimento de novas técnicas, a fabricação de substâncias no mercado
dos produtos adesivos tem se mostrado crescente desde meados do século XX.
Desde que foram introduzidos no meio comercial, os sintéticos disputaram espaço
com os produtos tradicionalmente usados, em alguns casos, acabando por substituí-
los. Mas o que se questiona é se o tempo de avaliação ao qual foram submetidos não
Página 5 de 12
é relativamente pequeno para que se tenha a exata dimensão de suas interações com
os materiais artísticos usados.
Celulósico (Metil Celulose): Foi desenvolvido na Alemanha para aplicação
como substituta da gelatina. Apresenta-se como um pó, com coloração branca
e creme que, dissolvido em água, origina um gel transparente. É higroscópica e
possui ampla viscosidade. Muito solúvel em água fria ou quente. Apesar da
fácil solubilização, é melhor que se faça o umedecimento prévio do pó com um
líquido miscível em água, como álcoois, glicóis, acetona, etc.
Vinílicos (Mowiol): Produzido pela industria Hoescht, no Brasil é
comercializado pelo nome de Mowiol 8-88. Apresenta-se como pó solúvel em
água. A coloração vai do branco ao creme. Estável ao calor acima de 100ºC,
porém tende a amarelecer e a se tornar insolúvel nestas temperaturas. Tem
boa capacidade de adesão, flexibilidade, estabilidade à luz e a produção de um
filme bastante resistente à tração.
A empresa Oficia do Restauro, especializada em conservação e restauração
patenteou uma massa de nivelamento ode se misturam: água destilada, álcool
polivinílico, carbonato de cálcio, massa corrida, cola branca e fungicida. Esta
massa foi criada durante a restauração do forro da nave da Igreja Matriz Nossa
senhora do Bom Sucesso, em Caeté, Minas Gerais; e dede então é utilizada
pela empresa em restauro de retábulos, pinturas parietais, telas e esculturas
policromadas.
Polivinil Acetato(PVA) ): Produto de boa aderência, estável á luz solar, raios
ultra violeta a ao calor. Baixa resistência mecânica , pouca resistência à água,
aos ácidos, às bases e soluções salinas. Entre as temperaturas de 10ºc e
15ºC, se fragiliza tornando-se quebradiço.
Resina termoplástica de característica polar. Em sua forma pura o PVA
apresenta-se sólido transparente, incolor e insípido. Comercialmente é
encontrado em dispersão aquosa, aparência leitosa. É solúvel em etanol,
isopronol, cicloehona, metilcetona, etila e matila, benzeno e tolueno entre
outros. A solubilidade varia conforme o grau de polimerização do produto. Para
melhorar a solubilidade pode-se acrescentar H2O. Depois de seca a resina
torna-se de difícil dissolução devido ao alto peso molecular dos polímeros.
È um produto muito utilizado em trabalhos de restauro devido à praticidade de
manuseio, por não ser tóxico, com boa adesão em materiais não porosos e
Página 6 de 12
porosos, boa estabilidade na cor do filme, pouca atração á poeira e formação
de filme flexível.
Algumas desvantagens a observar:
Reage com metais oxidáveis, por isso é preciso cuidado ao manipular o
produto com ferramentas e com resíduos de metal presentes em pó de
serragem. Após a secagem completa, o PVA torna-se bastante resistente,
solúvel em fortes solventes, e no caso de repinturas o caráter reversivel fica
comprometido. O PH neutro do PVA pode ser alterado com a adição de algum
estabilizador.
Como agente de carga foi utilizado o
Carbonato de Cálcio: O carbonato de cálcio, também conhecido como calcita, é
um mineral inorgânico, quimicamente bruto com características alcalinas que
resulta em reações do óxido de cálcio com dióxido de carbono. Na natureza, o
carbonato de cálcio pode ser encontrado nos minerais, na forma cristalina. Sua
fórmula química é CaCO3.
Como diluentes foram utilizados a água e o álcool etílico. A função do álcool nas
misturas é promover a aceleração da secagem, já que ele volatiza mais rapidamente.
DESENVOLVIMENTO
A placa de madeira MDF foi previamente lixada para a retirada de qualquer tipo de
cera ou gordura de sua superfície. Em seguida foi limpa com um pano seco para
eliminação dos resíduos.
Em seguida, foram delimitadas as áreas de aplicação, onde haveria uma grande área
para testes de reintegração e seis pequenas áreas, subdivididas em duas, para que
fossem aplicadas duas camadas de um mesmo material: uma camada fina e outra
mais espessa.
Página 7 de 12
Cada área foi ocupada de acordo com a legenda:
Massa de Metil + PVA + Carbonato
Massa de Cola de coelho 10% (H2O) + Carbonato
Massa de Gelatina a10% (H2O) + Carbonato
Massa de Mowiol + H2O + Álcool + Carbonato
Massa de Mowiol + H2O + Carbonato
Massa de Cera Microcristalina + Carbonato
Massa de Metil + PVA + Carbonato (para testes de reintegração cromática.)
Preparo das massas e observações
Para o preparo o Carbonato de Cálcio foi peneirado e macerado com pistilo em pote
de vidro.
Todos os aglutinantes foram preparados previamente, visto que alguns necessitam de
tempo para serem corretamente dissolvidos.
1. METIL + PVA (CASCOREZ) + CARBONATO DE CÁLCIO
O metil foi preparado a 4%(H2O).
Em um primeiro teste foram utilizadas as seguintes proporções de Metil e PVA:
PVA : METIL (1:1)
PVA : METIL (1:2)
Entretanto, devido a problemas, naquele momento, não compreendidos, resolveu-se
que a próxima aplicação teria uma consistência maior:
PVA : METIL (1:3)
O carbonato foi adicionado ao aglutinante aos poucos, e era desejável que formasse
uma massa lisa, sem grânulos e de consistência semelhante à “maionese”.
Nos primeiros testes a massa formou uma superfície texturada e rugosa, razão pela
qual alterou-se a concentração do aglutinante.
Porém, verificou-se na aula seguinte que o carbonato de cálcio estava com aparência
cristalizada e data de validade vencida. Outro material foi então utilizado:
CARBONATO + (PVA + METIL 1:3) e os resultados foram excelentes, correspondendo
ao esperado. O tempo de secagem é muito bom e suficiente ao trabalho a ser
Página 8 de 12
realizado. Após secagem a área aplicada não apresentava alterações dimensionais,
estava com boa resistência além da superfície regular e lisa.
2. COLA DE COELHO10%(H2O) + CARBONATO DE CÁLCIO
Para o preparo da cola de coelho utilizamos 10 gramas de cola de coelho,
adicionamos água deionizada para hidratar um pouco (os grãos de cola incham),
acrescentamos mais água até completar a medida de 100ml. Levamos ao banho Maria
para a diluição com o cuidado de não deixar ferver.
O carbonato de cálcio então é acrescentado delicadamente à solução, até que forme
uma pasta lisa e sem grânulos.
O resultado foi muito bom e a aplicação bastante tranquila, visto que a massa tem um
tempo de secagem razoável, permitindo que a massa depositada na placa de madeira
seja trabalhada com espátula. Após secagem a área de aplicação fina apresentou
discretas alterações dimensionais, com a formação de craquelês bem finos. Porém
estava com boa resistência além de superfície lisa. A área de aplicação mais espessa
também estava lisa, mas craquelou-se severamente, formando um reticulado em toda
sua extensão.
3. GELATINA 10% (H2O) + CARBONATO DE CÁLCIO
Foi utilizado 12 gramas de gelatina previamente umedecida em água deionizada. Após
esse procedimento foi acrescentado 120 ml de água e a mistura levada ao fogo para
homogeinização completa, tendo o cuidado de não deixar ferver.
O carbonato de cálcio é acrescido no aglutinante ainda quente até que a massa atinja
a consistência desejada.
Não houve dificuldades da elaboração do processo e o resultado foi satisfatório.
Tanto a aplicação da camada mais fina quanto a mais espessa apresentaram ótimo
desempenho. Não houve alterações dimensionais e a superfície formada ficou bem
lisa. Percebe-se entretanto pouca resistência a abrasão.
4. MOWIOL EM H2O (1:3)
O mowiol foi preparado previamente para completa dissolução.
Para o preparo da massa, o carbonato é vertido na solução até que seja atingida a
consistência de pasta de dente.
O tempo de trabalho é menor do que as outras massas testadas, porém não chega a
comprometer o resultado.
Página 9 de 12
Ao final do processo temos uma massa sem alterações dimensionais, com superfície
lisa, mas que, ao contrário das outras, apresenta, ao ser manuseada, discreto
desprendimento de fina camada de pó branco, nos levando a crer que o poder coesivo
do aglutinante para essa carga não é satistório.
5. MOWIOL (H2O + ÁLCOOL) 4:25:50 + CARBONATO
O procedimento do preparo dessa massa é igual ao anterior, com a diferença do
acréscimo do ácool, que tem a função de promover uma secagem mais rápida, visto
que é mais volátil que a água.
Essa característica diminuiu consideravelmente o tempo de trabalho.
O resultado final é o de pior desempenho. A superfície é lisa,
porém bastante irregular, pois a rapidez da secagem não permite o trabalho de
alisamento.
O desprendimento da fina camada de pó branco que foi observada no processo sem o
álcool, aqui é muito evidente e pronunciado.
A resistência mecânica também deixou a deseja: tanto a aplicação fina quanto a
espessa mostraram-se demasiadamente macias e quebradiças.
As duas massas de nivelamento aglutinadas por mowiol foram as que apresentaram a
tonalidade mais clara após secagem.
6. CERA MICROCRISTALINA + CARBONATO
O preparo dessa massa é o mais complexo, devido a pouca fluidez da cera quando há
queda da temperatura. Isso faz com que a carga não fique completamente agregada
ao aglutinante, formando pequenos pontos de dissociação.
O processo consiste no derretimento da cera em banho-maria até sua completa
liquefação. Neste momento peneira-se o carbonato, tomando o cuidado de
homogeinizar ao máximo a mistura com o bastão de vidro.
O resultado não é muito satisfatório, porque além do baixo poder de cobertura, a
superfície formada fica texturada e com pontos dispersos do carbonato não aglutinado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A observação das amostras suscitou vários questionamentos sobre a melhor escolha
para cada situação. As análises de resistência, de coloração, a retração,apresentação
superficial, etc., nos levaram a estabelecer métodos comparativos de uso em áreas
Página 10 de 12
maiores ou menores, avaliando sua atuação conjunta à camada pictórica que será
aplicada
Devido à diversidade de resultados, ficou claro que capacidade de coesão da massa
preparada não deve superar a do objeto a ser restaurado, visto que, se por algum
motivo, tal quais fortes oscilações climáticas, houver variações dimensionais, a massa
de consolidação é quem deverá ceder, e não as partes originais da obra de arte.
Assim, uma relativa flexibilidade é propriedade necessária à estabilidade dimensional
da escultura a ser policromada.
Entretanto devem ser observadas com parcimônia as tendências à retração ou
expansão muito eminentes da massa nivelamento durante o processo de secagem.
Ambos os fenômenos são características negativas de um material que irá receber
uma camada pictórica, pois promovem forças de tensão na superfície original da peça
em restauro causando craquelês e desprendimentos.
Segundo Matteini (2001), estes comportamentos são resultados das interações entre
carga inerte e aglutinante. A carga inerte pode inchar, absorver o aglutinante e depois
contrair, devido a evaporação, ficando dimensionalmente menor que o original. Pode
acontecer também que carga e aglutinante não sejam reciprocamente inertes e reajam
formando novas substâncias, com densidades específicas.
Outro fator, não menos importante é a questão da reversibilidade. Diante a
possibilidade de ser necessário retratar o objeto restaurado, materiais que favoreçam
a reversão química da união protegem a peça de um delicado processo de remoção
mecânica, corroborando assim com sua integridade física.
A massa de carbonato com PVA e METIL, diluídos em H2O é uma das mais utilizadas,
devido à resistência, praticidade e não toxidade do produto. Um inconveniente é a
demora na secagem.
Concluindo, o desempenho do nivelamento só vai ser eficiente se a massa empregada
cumprir os objetivos e se encaixar na estrutura sem agressão, numa combinação de
forma e função. A forma diz respeito à adequação estética e a função à resistência e
estruturação da obra.
Para tanto observar a coloração, a fragilidade e a extensão das áreas de perda, bem
como o tratamento estético necessário são fundamentais. Essas informações aliadas
ao conhecimento técnico de cada material são as ferramentas para se estabelecer
uma metodologia eficiente.
Página 11 de 12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CENNINI, Cennino - Libro dell'Arte, Comentado e anotado por Franco Brunello,
com prefácio de Liscio Magagnato, Neri. Pozza Ed., Vicenza, 1982.p.150
MAYER, Ralph – Manual do Artista de técnicas e materiais. São Paulo: Martins
Fontes, 1999
MATTEINI, Mauro- MORALES, Arcanjo - La química em La restauración, los
materiales del arte pictórico. JUNTA DE ANDALUCÍA – Sevilla, ES, 2001
SERCK-DEWAIDE, Myriam. “Conservacão de Esculturas Policromadas”.
Curso Técnico.Copyright, J. Paul Getty Trust, 1989.
Página 12 de 12