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RELATÓRIO DEESTABILIDADE FINANCEIRA
NOVEMBRO 2011
Lisboa, 2011www.bportugal.pt
BANCO DE PORTUGAL
Av. Almirante Reis, 71
1150-012 Lisboa
www.bportugal.pt
Edição
Departamento de Estudos Económicos
Design, impressão e distribuição
Departamento de Serviços de Apoio
Área de Documentação, Edições e Museu
Serviço de Edições e Publicações
Lisboa, 2011
Tiragem
350 exemplares
ISSN 1646-2254 (impresso)
ISSN 2182-0384 (online)
Depósito Legal n.º 227535/05
Este Relatório foi redigido segundo o novo Acordo Ortográfi co.
ÍNDICE
I. ESTABILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO
7 1. APRECIAÇÃO GLOBAL
17 Caixa 1.1. Mapa de Estabilidade Financeira
25 Caixa 1.2. Ajustamento estrutural do rácio crédito/depósitos inscrito nos planos de fi nanciamento e de capital dos oito maiores grupos bancários portugueses
31 2. RISCOS MACROECONÓMICOS E FINANCEIROS
45 Caixa 2.1. O exercício de stress test na União Europeia em 2011: Principais resultados dos bancos portugueses
53 3. SITUAÇÃO FINANCEIRA DOS PARTICULARES E SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS
69 Caixa 3.1. A rendibilidade das empresas não fi nanceiras – evolução recente com base nos dados da Central de Balanços
75 4. SISTEMA BANCÁRIO
75 4.1. Atividade e rendibilidade
91 4.2. Risco de mercado
99 4.3. Risco de liquidez
113 4.4. Risco de crédito
133 4.5. Adequação de fundos próprios
139 Caixa 4.1. Situação fi nanceira dos seis maiores grupos bancários do sistema bancário português no terceiro trimestre de 2011
143 Caixa 4.2. Novo rácio de crédito em risco
149 Caixa 4.3. Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012
II. ARTIGOS
153 Um indicador de risco sistémico baseado no modelo de dívida contingente
Nuno Silva, Nuno Ribeiro, António Antunes
173 O comportamento dos bancos domésticos e não domésticos na concessão de crédito à habitação: uma análise com base em dados microeconómicos
Sónia Costa, Luísa Farinha
191 Modelação do incumprimento dos particulares
Nuno Alves, Nuno Ribeiro
IESTABILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO
APRECIAÇÃO GLOBAL
RISCOS MACROECONÓMICOS E FINANCEIROS
SITUAÇÃO FINANCEIRA DOS PARTICULARESE SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS
SISTEMA BANCÁRIO
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1. Apreciação global
Ao longo dos últimos seis meses, a materialização dos riscos sobre a estabilidade fi nanceira intensifi cou-
-se substancialmente, quer a nível mundial quer em Portugal, refl etindo a deterioração do enqua-
dramento macroeconómico e fi nanceiro, num contexto de generalização das tensões nos mercados
de dívida soberana da área do euro. Este agravamento das condições económicas e fi nanceiras
repercutiu-se numa deterioração da rendibilidade do sistema bancário português, bem como numa
maior materialização do risco de crédito e de mercado. No curto prazo, esta tendência de agrava-
mento dos riscos deverá persistir. No entanto, no quadro do Programa de Assistência Económica e
Financeira, existem diversos instrumentos que permitem mitigar o impacto destes choques sobre o
sistema fi nanceiro português, nomeadamente em termos de eventuais necessidades adicionais de
capital. Para além disso, a desalavancagem do sistema fi nanceiro português está a ser acompanhada
de forma permanente pelo Banco de Portugal, de modo a assegurar um processo ordenado e gradual,
não comprometendo o fi nanciamento da economia portuguesa.
Nesta edição do Relatório de Estabilidade Financeira introduzem-se dois mapas que apresentam de
forma esquemática a evolução das principais dimensões dos riscos sobre a estabilidade fi nanceira
(Gráfi cos 1.1 e 1.2). Estes mapas permitem ter uma perspetiva global sobre a evolução de cada
dimensão de risco, agregando um conjunto abrangente de indicadores económicos, fi nanceiros,
prudenciais e contabilísticos1. Refi ra-se que os valores de cada mapa são defi nidos com base na
posição relativa das variáveis face a referenciais históricos, ou seja, não correspondem necessariamente
a uma comparação com níveis ótimos ou de equilíbrio de longo prazo, nem permitem desenvolver
uma análise prospetiva dos riscos.
Em termos globais, a análise dos mapas de estabilidade fi nanceira permite concluir que os riscos
subjacentes ao sistema bancário português e ao seu enquadramento macroeconómico e fi nanceiro
se situam em níveis bastante elevados face aos respetivos referenciais históricos, destacando-se os
riscos relativos ao enquadramento macroeconómico e fi nanceiro doméstico e à situação fi nanceira
de particulares e empresas. A necessidade de ajustamento dos desequilíbrios macroeconómicos e
fi nanceiros, que inclui o processo de consolidação orçamental, deverá exercer uma forte pressão
descendente sobre a procura interna no curto prazo. Apesar de a magnitude dos riscos ser maior
no plano interno, o mapa de estabilidade fi nanceira também evidencia uma assinalável deterioração
do enquadramento macroeconómico e fi nanceiro internacional, em particular a partir do verão de
2011 (Gráfi co 1.1).
De facto, neste período assistiu-se a uma deterioração das perspetivas de crescimento a nível global,
em particular na área do euro, num contexto de agravamento das tensões associadas à crise da dívida
soberana, o que constitui uma das principais diferenças face aos riscos para a estabilidade fi nan-
ceira identifi cados na edição anterior do Relatório de Estabilidade Financeira. Esta situação adensa
os desafi os enfrentados pela economia portuguesa, bem como pelo sistema fi nanceiro português,
dado que o ajustamento dos desequilíbrios da economia terá de ser efetuado num enquadramento
bastante mais adverso, em particular no que diz respeito à evolução expectável da procura externa.
A intensifi cação dos mecanismos de interação e reforço entre o risco soberano, o sistema fi nanceiro
e a economia real tem vindo a afetar um conjunto cada vez mais alargado de países, acentuando a
natureza sistémica da atual crise. Neste contexto de aumento da volatilidade e incerteza e de persis-
1 A metodologia utilizada no desenvolvimento deste instrumento de análise é discutida na “Caixa 1.1 Mapa de estabilidade fi nanceira”, deste Relatório.
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tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana,
assistiu-se a difi culdades cada vez mais generalizadas dos bancos da área do euro em garantir o acesso
a fi nanciamento nos mercados de dívida por grosso, em particular em maturidades médias e longas.
Estes desenvolvimentos têm-se refl etido num aumento dos custos de fi nanciamento na emissão de
dívida a médio e longo prazo e em difi culdades na emissão de dívida nos mercados primários, mesmo
no mercado de obrigações hipotecárias (covered bonds). No segmento de dívida a curto prazo, as
difi culdades são menos agudas. De facto, apesar de também existirem algumas perturbações no
funcionamento do mercado monetário interbancário na área do euro, o acesso a fi nanciamento junto
do BCE tem permitido mitigar estas difi culdades, assistindo-se, de novo, a um aumento da interme-
diação do fi nanciamento dos bancos europeus por parte do Eurosistema. Neste contexto, no fi nal de
outubro foram anunciadas diversas medidas no âmbito da cimeira de chefes de estado e de governo
da União Europeia. Estas englobam nomeadamente o reforço do Fundo Europeu de Estabilidade
Financeira, o aumento do capital regulamentar do sistema bancário europeu e um novo acordo para
o envolvimento voluntário do setor privado na re-estruturação da dívida pública grega. Contudo, num
contexto de persistência de restrições no acesso a fi nanciamento, caso os bancos europeus optem
por mitigar o aumento de capital através de desalavancagem poderão ocorrer restrições signifi cativas
na oferta de crédito, com consequências para a evolução da economia europeia.
No caso da economia portuguesa, dados os elevados níveis de endividamento atingidos, mantém-se a
prioridade em prosseguir o esforço de ajustamento da situação fi nanceira, a nível de todos os setores
institucionais. Nesse contexto, os bancos portugueses terão de dar continuidade ao processo de
desalavancagem ordenada e de re-estruturação de algumas linhas de negócio que permita convergir
Gráfi co 1.1
EVOLUÇÃO GLOBAL DO ENQUADRAMENTO MACROECONÓMICO E FINANCEIRO DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS
1. Particulares
2. Empresas não financeiras
3. Enquadramento macroeconómico doméstico (riscos)
4. Enquadramento macroeconómico
global (riscos)
5. Mercados financeiros domésticos
6. Mercados financeiros globais
7. Condições monetárias e financeiras
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Fontes: Barclays Capital, Comissão Europeia, Confi dencial Imobiliário, Eurostat, FMI, iBoxx, INE, Thomson Reuters e Banco de Por-tugal.
Nota: Um valor mais afastado do centro implica um maior risco ou condições monetárias e fi nanceiras mais restritivas. Devido à indisponibilidade de dados de contas nacionais, os indicadores que utilizam esta informação não foram incluídos em setembro de 2011 (tendo-se assumido que se mantinham inalterados face a junho de 2011).
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a médio prazo para uma estrutura de fi nanciamento dos bancos e da economia portuguesa mais
sustentável e menos sensível a alterações na perceção de riscos por parte dos investidores internacionais.
Num cenário de perspetivas de forte contração da procura interna e do rendimento permanente,
é expectável um abrandamento da procura de crédito, sobretudo por parte dos particulares, assim
como um forte movimento de reafetação do crédito entre empresas e setores de atividade. Adicional-
mente, a adversidade atual e futura do enquadramento económico conduz a um aumento do risco
do tomador de crédito e a um maior rigor e, por consequência, maior seletividade na aprovação de
empréstimos. O princípio essencial é o de promover um processo gradual e ordenado de desalavan-
cagem do sistema bancário que não comprometa, antes redirecione, o fi nanciamento para os setores
e empresas mais competitivos da economia. Nesse sentido, as estratégias de desalavancagem dos
bancos devem privilegiar a venda de ativos não estratégicos, o aumento do recurso a fi nanciamento
estável e o reforço do capital.
O processo de ajustamento dos bancos portugueses está a ser acompanhado e monitorizado regu-
larmente pelo Banco de Portugal, no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira,
tendo em vista conciliar a desalavancagem ordenada e gradual com o fi nanciamento da economia.
Nomeadamente, os oito maiores grupos bancários portugueses têm vindo a submeter trimestral-
mente ao Banco de Portugal os respetivos planos de fi nanciamento e de capital para um horizonte
de médio prazo (ver “Caixa 1.2 Ajustamento estrutural do rácio entre crédito e depósitos nos planos
de fi nanciamento e de capital dos oito maiores grupos bancários portugueses”, deste Relatório).
Estes planos têm subjacente um conjunto de princípios e restrições, incluindo a convergência para
um rácio entre crédito e depósitos de 120 por cento no fi nal de 2014. A informação fornecida pelos
bancos aponta para que uma parte do ajustamento continue a apoiar-se numa redução da carteira
de crédito. Esta redução poderá ser obtida por diversas vias e afetar de forma diferenciada o fi nan-
ciamento da economia portuguesa. Uma das possibilidades consiste na venda de créditos, o que
não implica restrições ao fi nanciamento da economia portuguesa. Em termos prospetivos, os bancos
planeiam sobretudo operações adicionais de venda de créditos a não residentes, que podem assumir
também a forma de redução de atividade nalguns mercados. Uma outra possibilidade está associada
à redução da concessão de novos empréstimos. Em articulação com a amortização programada dos
créditos já existentes, tal implica uma redução mais gradual da carteira de crédito dos bancos. Neste
contexto, e de acordo com os planos apresentados pelos bancos, tal tenderá a ser particularmente
relevante no caso dos créditos a particulares para aquisição de habitação, num contexto de expec-
tável abrandamento signifi cativo da procura. Por seu turno, a concessão de crédito a empresas não
fi nanceiras privadas deverá registar diminuições pouco expressivas, acompanhadas por uma redução
signifi cativa da exposição a administrações e empresas públicas. Adicionalmente, de acordo com os
planos de fi nanciamento e de capital, os depósitos deverão continuar a evidenciar uma evolução
positiva ao longo do respetivo horizonte de projeção, refl etindo dinâmicas de recomposição da
carteira de ativos fi nanceiros dos particulares e perspetivas de recuperação da economia no fi nal do
horizonte do programa.
No decurso de 2011, os bancos portugueses prosseguiram o esforço de ajustamento do balanço
iniciado no ano anterior, conseguindo estabilizar o seu fi nanciamento junto do Eurosistema, embora
em níveis absolutos e relativos ainda elevados, o que contrasta com a evolução observada para o
conjunto dos bancos da área do euro, onde se observou o aumento do recurso a essa forma de
fi nanciamento. Refi ra-se que tal ocorreu num contexto de agravamento e generalização das tensões
nos mercados de dívida, de manutenção de fortes restrições quantitativas no acesso a fi nanciamento
nos mercados de dívida por grosso e de queda nos depósitos de não residentes.
A carteira de crédito a clientes em base consolidada registou uma variação negativa no primeiro
semestre de 2011, refl etindo um volume signifi cativo de vendas de créditos. Estas operações foram
constituídas, essencialmente, por vendas da carteira doméstica de crédito a empresas (essencialmente
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vendas de papel comercial) e da carteira de crédito das fi liais e sucursais estrangeiras. Descontando
o efeito destas vendas de ativos, que não afetam o fi nanciamento da economia portuguesa, ter-se-
-ia observado uma relativa estabilização do stock de crédito. Em termos setoriais, observou-se uma
redução gradual dos empréstimos concedidos ao setor privado não fi nanceiro residente, em especial
dos empréstimos concedidos a particulares, e, paralelamente, um aumento do fi nanciamento do
setor público (incluindo empresas públicas). Importa realçar que a evolução dos agregados de crédito
é consistente com o expectável no atual enquadramento económico recessivo, ou seja, a evidência
disponível aponta para a ausência de restrições excessivas ou abruptas na oferta de crédito (fenómeno
geralmente descrito como credit crunch).
O processo de ajustamento em curso do sistema bancário português tem benefi ciado também da
evolução positiva dos depósitos de clientes residentes, com destaque para os particulares. De facto,
os bancos portugueses têm efetuado esforços signifi cativos na captação de recursos de clientes,
designadamente através do aumento da sua remuneração relativa, procurando também integrar no
balanço recursos de clientes que se encontram fora do perímetro de consolidação bancário, como
os montantes aplicados em fundos de investimento ou em instrumentos de poupança geridos pelas
companhias de seguro dos respetivos grupos fi nanceiros. Dado que esta evolução tem subjacente,
em parte, ajustamentos da carteira dos particulares, refl etidos numa diminuição das aplicações na
generalidade dos restantes instrumentos de poupança, num contexto de crescente aversão ao risco, é
expectável que venha a observar-se um abrandamento no atual ritmo de crescimento destes depósitos.
No decurso de 2011 assistiu-se apenas a uma ligeira diminuição da margem total em operações com
clientes, apesar do esforço acrescido de captação de depósitos de clientes por parte dos bancos. No
período mais recente, as taxas de juro dos depósitos aumentaram para valores signifi cativamente
superiores às taxas de juro do mercado interbancário, o que justifi cou uma intervenção prudencial
do Banco de Portugal no sentido de mitigar os riscos para a estabilidade fi nanceira de estratégias
excessivamente agressivas de captação de depósitos2. Apesar do impacto negativo sobre a margem
fi nanceira do aumento da remuneração dos recursos de clientes, a aplicação de spreads mais elevados
na generalidade dos novos empréstimos concedidos compensou virtualmente este efeito, observando-
-se uma estagnação do diferencial entre as taxas de juro implícitas no crédito e nos depósitos, bem
como uma estabilização da margem fi nanceira avaliada em percentagem do ativo médio.
A médio prazo, no contexto do processo gradual de desalavancagem do setor bancário, a redução
gradual do recurso ao Eurosistema e a redução do rácio entre crédito e depósitos deverão condicionar
negativamente a evolução da margem fi nanceira, a principal componente do produto bancário. Em
contrapartida, a substituição de fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso por
depósitos e a adoção de uma política de concessão de crédito mais seletiva por parte dos bancos
tenderão a ter efeitos positivos sobre a margem fi nanceira, em linha com o observado recentemente.
Apesar da relativa estabilização da margem fi nanceira, os indicadores de rendibilidade dos bancos
portugueses foram signifi cativamente afetados pelo atual enquadramento económico e fi nanceiro,
encontrando-se em mínimos históricos (conforme ilustrado no Gráfi co 1.2). No decurso de 2011, a
rendibilidade foi particularmente afetada pela diminuição dos resultados em operações fi nanceiras
(refl etindo perdas registadas em operações de venda de ativos e desvalorizações de títulos) e pelo
aumento das provisões e imparidades associadas ao crédito, num contexto de forte materialização
do risco de crédito (Gráfi co 1.2). A tendência de aumento da materialização do risco de crédito é
transversal aos vários segmentos de mercado, assumindo, contudo, níveis e ritmos mais acentuados
nos empréstimos a particulares para consumo e outros fi ns e nos empréstimos a sociedades não
2 Em termos concretos, foram defi nidas novas exigências de fundos próprios para depósitos contratados com taxas de remuneração elevadas, isto é, superiores em 300 pontos base à taxa de referência do mercado inter-bancário para o prazo correspondente. Para mais detalhes ver a Instrução n.º 28/2011 do Banco de Portugal.
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fi nanceiras. No crédito à habitação, os indicadores de incumprimento situam-se em níveis historica-
mente elevados, mas substancialmente inferiores aos registados nos outros segmentos. O novo rácio
de crédito em risco situava-se, em setembro de 2011, em cerca de 6.8 por cento do crédito total
concedido pelo sistema bancário, o que compara com um valor de 5.1 por cento no fi nal de 2010
(ver “Caixa 4.2 Novo rácio de crédito em risco”, deste Relatório)3.
Apesar da forte deterioração do enquadramento macroeconómico doméstico condicionar negativa-
mente a evolução da atividade e, sobretudo, da rendibilidade do sistema bancário português, a ativi-
dade internacional dos bancos deverá continuar a exercer um efeito em sentido oposto. No primeiro
semestre de 2011, a atividade internacional representou mais de metade dos resultados do sistema
bancário. No médio prazo, as perspetivas favoráveis para a atividade económica de países onde os
grupos bancários portugueses detêm posições importantes (Angola, Brasil, Moçambique) deverão
continuar a suportar o crescimento da atividade internacional e, consequentemente, o aumento do
seu peso nos resultados do sistema bancário português. Ainda assim, a tendência de concentração da
atividade internacional em torno de um número cada vez mais reduzido de mercados considerados
estratégicos adiciona alguma incerteza à evolução futura deste agregado.
A evolução recente da situação fi nanceira dos particulares e das sociedades não fi nanceiras dá indí-
cios claros de que está em curso o inadiável processo de redução do endividamento, tendo em vista
alcançar um nível sustentável. No caso dos particulares, os níveis do consumo e da taxa de poupança
3 A Instrução n.º 23/2011 do Banco de Portugal alarga o conjunto de indicadores de qualidade de crédito que as instituições devem reportar sempre que divulgam informação quantitativa sobre este assunto. O novo conceito de crédito em risco é mais abrangente do que o de crédito com incumprimento, incorporando, nomeadamente, a possibilidade dos devedores com prestações em atraso continuarem a não cumprir as suas responsabilidades de crédito, estando mais em linha com as práticas internacionais neste domínio. A divulgação destes novos indicadores cumpre um dos requisitos do Programa de Assistência Económica e Financeira.
Gráfi co 1.2
EVOLUÇÃO GLOBAL DOS RISCOS NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS
1. Solvabilidade
2. Rendibilidade
3. Risco de mercado4. Risco de liquidez
5. Risco de crédito
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Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Um valor mais afastado do centro implica um maior risco.
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deverão ajustar-se a um nível de rendimento permanente mais baixo. Por seu turno, as sociedades
não fi nanceiras, sobretudo as que evidenciam um elevado nível de endividamento e baixo grau de
efi ciência, terão de proceder a ajustamentos estruturais, de forma a atingirem uma estrutura de
fi nanciamento mais equilibrada e menos sensível a choques negativos, bem como para potenciarem
a sua competitividade. É de salientar, em especial, a importância da re-estruturação das empresas
públicas dada a sua elevada dimensão e grau de endividamento (ver “Caixa 3.1 A rendibilidade das
empresas não fi nanceiras – evolução recente com base nos dados da Central de Balanços”, deste
Relatório). De facto, a evolução mais recente dos rácios de endividamento sugere que, ao contrário
do observado para as empresas privadas, as empresas públicas ainda não terão iniciado o necessário
processo de desalavancagem. Este pressupõe a re-estruturação do setor, que não só facilitará o processo
de desalavancagem ordenada do sistema bancário, como benefi ciará a competitividade da economia.
Refi ra-se que existem alguns fatores que poderão mitigar o impacto do enquadramento macroeco-
nómico desfavorável sobre a situação fi nanceira do setor privado não fi nanceiro. Em primeiro lugar,
é de esperar que, num contexto de enfraquecimento da situação macroeconómica na área do euro,
as taxas de juro do mercado monetário mantenham uma tendência de ligeira redução. Adicional-
mente, importa recordar que o processo de desalavancagem defi nido no Programa de Assistência
Económica e Financeira deverá ocorrer de forma gradual e ordenada, sem condicionar de forma
excessiva o fi nanciamento da economia, em especial das empresas mais produtivas e com melhores
perspetivas de crescimento. Complementarmente, o Código de Insolvência encontra-se em revisão,
o que deverá permitir que se identifi quem mais rapidamente empresas viáveis que possam ser alvo
de planos de re-estruturação de dívida.
Os rácios de solvabilidade dos bancos portugueses continuaram a evidenciar uma evolução positiva,
apesar do enquadramento macroeconómico e fi nanceiro adverso e do processo de ajustamento da
economia portuguesa, convergindo para os novos mínimos regulamentares defi nidos pelo Banco
de Portugal, no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira. De facto, estes fatores
exerceram pressão sobre os rácios de adequação de fundos próprios dos bancos portugueses, em
particular por via da redução da rendibilidade, refl etindo imparidades decorrentes da materialização
do risco de crédito, bem como perdas na carteira de ativos fi nanceiros. Perante condições de mercado
desfavoráveis à realização de aumentos de capital, e na sequência de uma recomendação efetuada
pelo Banco de Portugal no início do ano, os principais bancos portugueses adotaram uma política
de distribuição de dividendos bastante moderada, o que permitiu o reforço dos capitais próprios,
por via da incorporação dos resultados retidos. Para além disso, alguns bancos reforçaram os seus
fundos próprios através de operações de troca de dívida subordinada por capital e de recompra de
obrigações próprias.
No período mais recente, a intensifi cação e generalização das tensões nos mercados fi nanceiros inter-
nacionais originaram pressões adicionais sobre os rácios de capital dos bancos (“Caixa 4.1 Situação
fi nanceira dos seis maiores grupos bancários do sistema bancário português no terceiro trimestre
de 2011“, deste Relatório). Neste contexto, as autoridades europeias tomaram algumas medidas
para reforçar o capital do sistema bancário europeu, com o intuito de recuperar a confi ança dos
participantes nos mercados na capacidade dos bancos para absorver choques negativos, incluindo os
associados à re-estruturação da dívida pública grega e a diminuições no valor de mercado de títulos
de dívida de outros emitentes soberanos, conforme discutido na “Caixa 4.3 Novas exigências de
adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012”, deste Relatório4. Estas
medidas irão implicar um reforço do capital de alguns bancos portugueses. Adicionalmente, a even-
4 Em meados do ano também foi implementado, sob orientação da Autoridade Bancária Europeia, um exercício de stress test na União Europeia. No âmbito deste exercício, os bancos portugueses mostraram capacidade para absorver os choques negativos previstos no cenário adverso (ver “Caixa 2.1 O exercício de stress test na União Europeia em 2011: principais resultados dos bancos portugueses”, deste Relatório).
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tual transferência parcial dos fundos de pensões dos bancos portugueses para a Segurança Social
poderá resultar em necessidades de capitalização acrescidas. Por último, os resultados das inspeções
on-site à qualidade dos ativos dos bancos poderão eventualmente implicar o registo de imparidades
adicionais com impacto no capital regulamentar.
Em síntese, apesar do reforço dos rácios de solvabilidade dos bancos portugueses ao longo dos
últimos anos, em particular desde o fi nal de 2008, a perspetiva de materialização acrescida de riscos
no futuro próximo é consentânea com uma necessidade de reforço adicional dos capitais dos bancos
portugueses, de forma a assegurar a estabilidade do sistema fi nanceiro, dado que estes enfrentam
um conjunto de riscos e desafi os sem precedentes. Conforme ilustrado no Gráfi co 1.2, os riscos para
o sistema bancário assumem uma magnitude historicamente elevada no que se refere à rendibilidade,
que se situa em valores mínimos. Por seu turno, os indicadores de risco de crédito e de mercado
situam-se em níveis historicamente elevados, tendo-se assistido a uma progressiva deterioração ao
longo dos últimos trimestres. Adicionalmente, o risco de liquidez apresenta níveis elevados desde
meados de 2007.
Os bancos começaram a implementar os planos de desalavancagem, o que deverá conduzir a uma
situação mais sustentável do fi nanciamento da economia portuguesa no médio prazo. É essencial,
contudo, que este processo assuma uma natureza gradual, para permitir a progressiva convergência
para um novo equilíbrio de longo prazo. Refi ra-se que este processo se enquadra numa tendência
a nível europeu, num contexto de necessidades generalizadas de reforço de capital e dos rácios de
liquidez, sendo este processo consistente com a convergência para o cumprimento de requisitos
regulamentares mais exigentes a curto e médio prazo. Dada a posição de partida globalmente
sólida do sistema bancário português, a implementação destas medidas deverá contribuir a prazo
para a recuperação da confi ança dos investidores internacionais nos bancos portugueses e para um
regresso gradual ao fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso. Em paralelo,
a prossecução dos esforços de consolidação orçamental é determinante para assegurar a sustenta-
bilidade das fi nanças públicas, sendo essencial também para assegurar a estabilidade fi nanceira em
Portugal. Não obstante, estes esforços têm necessariamente de ser complementados com medidas
que permitam ultrapassar algumas debilidades estruturais da economia portuguesa, promovendo a
sua competitividade e o seu crescimento potencial.
Este Relatório foi elaborado com informação disponível até meados de novembro de 2011 (quadros
e gráfi cos com informação até 4 de novembro).
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PRINCIPAIS INDICADORES | EM PERCENTAGEM, VALORES EM FINAL DE PERÍODO
2005 2006 2007 2008 2009 2010 Jun. 2011*
Indicadores macroeconómicos e fi nanceiros
Preço do petróleo (Tvh USD brent) 46.0 1.2 58.9 -60.4 108.9 19.4 49.2
Taxas de juro de referência da política monetária
EUA 4.25 5.25 4.25 0.25 0.25 0.25 0.25
Área do euro 2.25 3.50 4.00 2.50 1.00 1.00 1.25
Euribor 3 meses 2.5 3.7 4.7 2.9 0.7 1.0 1.5
Yield das obrigações do Tesouro 10 anos
EUA 4.4 4.7 4.0 2.3 3.8 3.3 3.2
Área do euro 3.3 3.9 4.3 2.9 3.4 2.9 3.0
Portugal 3.4 4.1 4.5 4.0 4.1 6.7 11.0
Mercados acionistas (tvh)
S&P 500 3.0 13.6 3.5 -38.5 23.5 12.8 28.1
Dow Jones Euro Stoxx 23.0 20.3 4.9 -46.3 23.4 -0.1 13.4
PSI Geral 17.2 33.3 18.3 -49.7 40.0 -6.2 9.9
PSI Serviços Financeiros 24.4 34.8 4.9 -62.9 14.7 -29.9 -20.8
Situação fi nanceira do setor privado não fi nanceiro
Particulares
Endividamento (dívida fi nanceira)(a)
Em percentagem do PIB 82 87 89 92 96 95 93
Em percentagem do rendimento disponível 115 123 127 128 130 129 126
Empréstimos concedidos por instituições fi nanceiras residentes(b)
Taxa de variação anual 10.7 9.4 8.2 4.5 1.9 2.2 -1.6
dos quais:
Para aquisição de habitação 11.1 9.9 8.5 4.2 2.6 2.5 -0.4
Para consumo e outros fi ns 9.4 7.7 7.5 5.5 -0.6 1.3 -6.7
Capacidade (+) / Necessidade (-) de fi nanciamento(c)
Em percentagem do PIB 2.9 1.5 1.0 2.1 4.8 4.2 2.8
Em percentagem do rendimento disponível 4.0 2.1 1.5 2.9 6.5 5.7 3.8
Poupança corrente(c)
Em percentagem do PIB 7.2 5.7 4.9 5.1 8.0 7.3 6.0
Em percentagem do rendimento disponível(d) 10.0 8.0 7.0 7.1 10.9 9.8 8.1
Investimento em ativos reais(c)
Em percentagem do PIB 5.9 4.6 4.1 4.1 3.5 3.4 3.4
Sociedades não fi nanceiras
Dívida total(e)
Em percentagem do PIB 116 115 122 131 138 137 138
Taxa de variação anual 6.1 7.2 12.7 10.5 3.7 1.9 0.8
Dívida fi nanceira(f)
Em percentagem do PIB 108 106 114 124 130 129 130
Empréstimos concedidos por instituições fi nanceiras residentes(b)
Taxa de variação anual 4.6 5.9 13.1 10.7 2.8 0.8 -0.1
Capacidade (+) / Necessidade (-) de fi nanciamento(c)
Em percentagem do PIB -6.2 -7.2 -8.3 -11.4 -6.9 -5.1 -6.8
Poupança corrente(c)
Em percentagem do PIB 6.4 6.0 5.8 3.4 4.9 5.9 3.3
Investimento em ativos reais(c)
Em percentagem do PIB 13.9 14.1 15.0 15.9 12.6 11.2 11.3
Notas: tvh - taxa de variação homóloga; n.d.- não disponível. * No caso de variáveis de fl uxo, consideram-se os valores relativos ao primeiro semestre de 2011. (a) A dívida fi nanceira corresponde à soma de empréstimos obtidos e títulos de dívida emitidos pelo setor. (b) Empréstimos concedidos por Instituições Financeiras Monetárias e Outros Intermediários Financeiros. Os valores referentes a dezembro de 2010 foram ajustados relativamente à venda de uma carteira de créditos por parte do BPN à Parvalorem. (c) Os rácios de capacidade/necessidade de fi nanciamento, poupança e investimento em percentagem do PIB até 2008 (inclusivé) são calculados utilizando dados das Contas Nacionais Anuais; os rácios de 2009 em diante baseiam-se nas Contas Nacionais Trimestrais do INE por setor institucional. O investimento inclui a formação bruta de capital e as aquisições menos cessões de ativos não fi nanceiros não produzidos (essencialmente, terrenos). (d) Rendimento disponível ajustado pela variação da participação líquida das famílias nos fundos de pensões. (e) Inclui empréstimos concedidos a sociedades não fi nanceiras por outros setores institucionais; papel comercial e obrigações emitidas por sociedades não fi nanceiras na posse de outros setores e créditos comerciais recebidos de outros setores. (f) Igual à dívida total excluindo créditos comerciais recebidos de outros setores.
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PRINCIPAIS INDICADORES | EM PERCENTAGEM, VALORES EM FINAL DE PERÍODO
2005 2006 2007 2007** 2008** 2009** 2010** Jun. 2011*, **
Atividade e rendibilidade
Taxa de variação anual do ativo total 12.3 10.5 11.7 - 7.5 7.1 4.1 -1.5
ROE - Rendibilidade dos capitais próprios(g) 19.4 20.6 18.0 17.7 5.6 7.6 7.8 4.2
ROE - Rendibilidade dos capitais próprios - ajustada(g),(h) 18.8 10.1 8.8 7.7 4.5
ROA - Rendibilidade do ativo(g) 1.03 1.30 1.18 1.15 0.34 0.45 0.48 0.26
ROA - Rendibilidade do ativo - ajustada(g),(h) 1.18 0.62 0.58 0.51 0.29
Margem fi nanceira (perc. ativo total médio) 1.86 1.89 1.88 1.95 1.92 1.62 1.49 1.52
Comissões líquidas (perc. ativo total médio) 0.77 0.78 0.76 0.77 0.73 0.70 0.72 0.72
Rácio entre custos operacionais e produto da atividade 58.3 53.4 53.7 54.5 55.6 56.8 57.6 58.3
Exposição internacional (para o conjunto dos bancos domésticos)
Peso dos ativos externos no ativo total(i) 27.6 30.0 26.8 27.1 28.9 29.3 27.8 25.4
dos quais:
Ativos locais em moeda local 6.4 6.7 8.0 7.9 8.2 8.4 8.6 8.2
Ativos internacionais, por setor de contrapartida:
Setor bancário 12.7 14.0 8.2 8.2 6.3 5.4 4.0 3.2
Setor não bancário 8.5 9.3 10.7 10.9 14.4 15.5 15.2 14.0
Solvabilidade(j)
Rácio de adequação global de fundos próprios 11.3 10.9 10.0 10.4 9.4 10.5 10.3 10.1
Rácio de adequação global de fundos próprios - ajustado(l) - - - - 10.4 11.6 11.1 11.0
Rácio de adequação de fundos próprios de base 7.1 7.7 6.5 7.0 6.6 7.8 8.3 8.5
Rácio de adequação de fundos próprios de base - ajustado(l) - - - - 7.5 8.9 9.1 9.3
Rácio Core Tier 1 - - - - - 6.9 7.4 7.9
Rácio Core Tier 1 - ajustado(l) - - - - - 7.9 8.1 8.6
Risco de mercadoTaxa de cobertura dos fundos de pensões dos empregados bancários(em percentagem dos fundos próprios) 1.2 5.3 5.1 4.5 1.2 3.9 2.7 n.d.
Risco de liquidezRácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes 143.5 152.1 161.4 160.1 160.3 161.5 157.8 149.7
Gap de liquidez(m)
até 3 meses -0.9 -1.5 -2.5 -1.5 -1.9
até 3 meses - Instrução nº 13/2009 -7.6 -2.9 -3.9 -3.4
até 1 ano -8.2 -8.9 -11.4 -9.9 -7.0
até 1 ano - Instrução nº 13/2009 -15.0 -12.4 -11.5 -11.9
Para o conjunto dos bancos domésticosRácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes 134.8 142.6 152.7 147.1 145.7 147.9 143.2 136.1
Gap de liquidez(m)
até 3 meses -0.7 -0.9 -2.1 -1.4 -2.6
até 3 meses - Instrução nº 13/2009 -6.1 -3.0 -2.2 -2.0
até 1 ano -7.4 -8.9 -10.1 -9.0 -7.5
até 1 ano - Instrução nº 13/2009 -12.9 -12.0 -9.1 -10.6
Risco de créditoEmpréstimos concedidos por instituições fi nanceiras residentes ao setor privado não fi nanceiro(b)
Taxa de variação anual 8.0 7.8 10.3 10.3 7.2 2.3 1.6 -0.4
Incumprimento no crédito a particulares(n)
Em percentagem do crédito a particulares 1.7 1.5 1.6 1.6 1.9 2.4 2.7 3.0
Incumprimento no crédito a sociedades não fi nanceiras(n)
Em percentagem do crédito a sociedades não fi nanceiras 1.7 1.5 1.4 1.4 2.2 3.9 4.7 5.5
Fluxo anual de novos créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa(o)
Em percentagem dos empréstimos bancários ajustados de operações de titularização
Particulares 0.2 0.3 0.4 0.4 0.7 0.6 0.5 0.5
Ajustado de vendas para fora do sistema bancário 0.3 0.4 0.4 0.4 0.7 0.6 0.5 0.5
Sociedades não fi nanceiras 0.6 0.4 0.6 0.6 1.2 1.9 1.3 1.6
Ajustado de vendas para fora do sistema bancário 0.6 0.5 0.6 0.6 1.3 2.1 1.6 1.8
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PRINCIPAIS INDICADORES | EM PERCENTAGEM, VALORES EM FINAL DE PERÍODO
2005 2006 2007 2007** 2008** 2009** 2010** Jun. 2011*, **
Rácio de crédito em risco(p),(q) 3.5 4.8 5.1 6.1
Setor privado residente não fi nanceiro, do qual 4.0 5.3 5.5 6.6
Particulares residentes, do qual 4.8 5.4 5.3 5.9
Habitação 4.4 4.6 4.3 4.7
Consumo e outros fi ns 6.8 9.2 10.1 11.5
Sociedades não fi nanceiras 3.2 5.1 5.8 7.4
Administrações públicas residentes 1.0 0.6 0.8 0.8
Não residentes 1.9 3.6 4.3 5.6
Rácio de crédito com incumprimento(p),(r) 1.9 3.0 3.4 4.0
Setor privado residente não fi nanceiro, do qual 2.2 3.3 3.8 4.3
Particulares residentes, do qual 2.2 2.9 3.4 3.6
Habitação 1.7 2.2 2.5 2.6
Consumo e outros fi ns 4.4 6.4 7.8 8.9
Sociedades não fi nanceiras 2.1 3.6 4.2 5.2
Administrações públicas residentes 0.9 0.5 0.7 1.1
Não residentes 1.2 2.1 2.6 3.2
Provisões/Imparidades acumuladas para crédito
Em percentagem do crédito(p) 2.3 2.8 3.1 3.5
Setor privado residente não fi nanceiro, do qual 2.4 2.9 3.3 3.7
Particulares residentes, do qual 2.0 2.2 2.5 2.6
Habitação 1.4 1.4 1.5 1.5
Consumo e outros fi ns 4.5 5.9 7.5 8.2
Sociedades não fi nanceiras 2.9 3.6 4.0 4.9
Administrações públicas residentes 0.1 0.1 0.2 0.2
Não residentes 1.8 2.8 3.0 3.4
Em percentagem do crédito em risco(p),(q) 63.9 59.0 60.7 57.3
Setor privado residente não fi nanceiro, do qual 60.4 55.6 58.9 57.0
Particulares residentes, do qual 40.8 40.7 46.9 44.7
Habitação 32.4 31.0 33.8 31.2
Consumo e outros fi ns 66.7 64.1 74.7 71.9
Sociedades não fi nanceiras 90.0 71.0 69.5 67.3
Administrações públicas residentes 11.9 18.0 27.8 28.0
Não residentes 94.9 78.4 69.6 59.9
Em percentagem do crédito com incumprimento(p),(r) 116.5 95.9 91.1 88.4
Setor privado residente não fi nanceiro, do qual 112.1 89.1 86.3 85.9
Particulares residentes, do qual 89.5 75.4 74.2 71.8
Habitação 81.7 65.1 59.6 57.0
Consumo e outros fi ns 102.9 91.6 96.1 92.5
Sociedades não fi nanceiras 138.8 101.4 96.9 95.8
Administrações públicas residentes 12.3 24.1 32.7 19.7
Não residentes 152.1 134.2 116.0 105.1
Fontes: Bloomberg, INE, Thomson Reuters e Banco de Portugal.
Notas: * No caso de variáveis de fl uxo, consideram-se os valores relativos ao primeiro semestre de 2011. ** Quebra de série relacionada com um alargamento do conjunto de instituições em análise. Esta quebra de série não se aplica aos indicadores baseados nas Estatísticas Monetárias e Financeiras, que dizem respeito às instituições bancárias residentes. (g) Para efeitos do cálculo das rendibilidades do ativo e dos capitais próprios foram considerados os resultados antes de impostos e de interesses minoritários, utilizando valores médios de período para as variáveis de stock. (h) Os indicadores de rendibilidade ajustados em 2006 obtêm-se após dedução aos resultados do impacto da operação de re-estruturação de participações em empresas (nomeadamente na área seguradora) que ocorreu num dos principais grupos bancários considerados. Por sua vez, os indicadores ajustados de 2008 a 2011 são obtidos após a exclusão dos bancos BPN e BPP do agregado de instituições em análise. (i) Os valores comparáveis de 2004 a 2007 têm subjacente estimativas do valor do ativo total. (j) A partir de 2008, todas as instituições em análise determinaram o rácio de adequação de fundos próprios de acordo com a regulamentação de Basileia II, o que se refl etiu essencialmente no cálculo dos requisitos de capital. (l) Os indicadores calculados são obtidos após exclusão do BPN e do BPP a partir de 2008. (m) Até 2008, o cálculo deste indicador tem por base a Instrução n.º 1/2000 e desde então a Instrução n.º13/2009, às quais estão sujeitas apenas as instituições fi nanceiras que captam depósitos. (n) Empréstimos vencidos há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa em percentagem do saldo dos emprés-timos ajustado de titularização. Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das Administrações Públicas. (o) Variação do saldo de crédito vencido há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa no balanço das instituições fi nanceiras monetárias residentes ajustada dos abatimentos ao ativo e corrigida de reclassifi cações, calculada em percentagem dos empréstimos corrigidos de titularização. As vendas para fora do sistema bancário incluídas no fl uxo ajustado correspondem a créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, conforme reporte trimestral defi nido pela Instrução nº 17/2008. Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das Administrações Públicas. (p) Valores de crédito reportados em base consolidada pelo agregado do sistema bancário português, excluindo as sucursais em Portugal de instituições de crédito com sede em países pertencentes à União Europeia. Exclui igualmente o banco BPN por forma a evitar a distorção decorrente da venda de uma carteira de crédito à Parvalorem em dezembro de 2010. Inclui o crédito concedido a residentes e a não residentes, bem como os créditos concedidos pelas fi liais estrangeiras dos bancos portugueses. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. (q) O crédito em risco, defi nido de acordo com a Instrução do Banco de Portugal nº22/2011, inclui o valor total em dívida: do crédito que tenha prestações de capital ou juros vencidos há mais de 90 dias; dos créditos reestruturados, cujos pagamentos de capital ou juros, tendo estado vencidos por um período igual ou superior a 90 dias, tenham sido capitalizados, refi nanciados ou postecipada a sua data de pagamento, sem que tenham sido adequadamente reforçadas as garantias constituídas ou integralmente pagos pelo devedor os juros e outros encargos vencidos; e do crédito com prestações de capital ou juros vencidos há menos de 90 dias, mas sobre o qual existam evidências que justifi quem a sua classifi cação com crédito em risco. (r) O crédito com incumprimento compreende o crédito e juros vencidos há mais de 90 dias e outros créditos de cobrança duvidosa, que respeita às prestações futuras de um crédito quando houver dúvidas relativamente à sua cobrança, tal como se encontra estabelecido no Aviso do Banco de Portugal nº3/95.
CONTINUAÇÃO
CAIXA 1.1 | MAPA DE ESTABILIDADE FINANCEIRA
A análise de riscos para a estabilidade fi nanceira engloba um conjunto multifacetado de vertentes,
exigindo a avaliação de um vasto conjunto de indicadores e instrumentos de análise. Desde a sua primeira
edição, o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal inclui no “Capítulo 1 Apreciação
global” um quadro que sumaria a evolução recente dos principais indicadores económicos e fi nanceiros
utilizados na análise dos riscos para a estabilidade fi nanceira em Portugal.
Na presente edição do Relatório de Estabilidade Financeira introduz-se um novo mapa de estabilidade
fi nanceira que pretende apresentar de forma gráfi ca alguns destes indicadores, possibilitando a apre-
sentação das principais dimensões dos riscos sobre a estabilidade fi nanceira de forma esquemática. Este
mapa permite ter uma perspetiva global sobre a evolução de cada dimensão de risco. Os valores do
mapa são defi nidos com base na posição relativa das variáveis face a referenciais históricos, ou seja, não
correspondem necessariamente a uma comparação com níveis de equilíbrio de longo prazo. Ao longo
dos últimos anos vários bancos centrais têm vindo a incorporar indicadores semelhantes nos seus rela-
tórios de estabilidade fi nanceira, destacando-se o mapa publicado pelo Fundo Monetário Internacional
(FMI) no Global Financial Stability Report1.
Nesta caixa, são apresentados dois mapas distintos. O primeiro encontra-se mais focado nos riscos
associados ao enquadramento macroeconómico e fi nanceiro e às contrapartes do sistema bancário
português, nomeadamente particulares e empresas não fi nanceiras (Gráfi co 1). Este primeiro mapa
sumaria os principais indicadores subjacentes à análise efetuada no “Capítulo 2 Riscos macroeconómicos
e fi nanceiros” e no “Capítulo 3 Situação fi nanceira dos particulares e sociedades não fi nanceiras” do
Relatório de Estabilidade Financeira. Por seu turno, o segundo mapa encontra-se mais focado nos riscos
associados ao sistema bancário analisados no “Capítulo 4 Sistema bancário”, englobando indicadores
relacionados com solvabilidade, rendibilidade, risco de mercado, risco de liquidez e risco de crédito,
refl etindo não só a exposição dos bancos a estas dimensões de risco, mas também a vulnerabilidade a
choques macroeconómicos e fi nanceiros exógenos (Gráfi co 2).
Metodologia
Os mapas têm como referência a metodologia utilizada pelo FMI. Em primeiro lugar foram compilados
dados trimestrais para as variáveis referidas nos quadros 1 e 2. Os indicadores utilizados para o cálculo
do mapa têm por base os indicadores habitualmente publicados no quadro “Principais indicadores”
do Capítulo 1 do Relatório de Estabilidade Financeira, sendo complementados por outros indicadores
potencialmente relevantes. Contudo, o conjunto de indicadores utilizados não deve ser considerado de
forma estática, uma vez que a natureza dinâmica dos riscos deverá justifi car a revisão regular dos indi-
cadores considerados. Este princípio também orienta a preparação do mapa de estabilidade fi nanceira
do FMI que, para além disso, permite ajustamentos pontuais no mapa de riscos com base numa análise
qualitativa. Para cada série procurou-se obter dados desde o início de 1998 (nos quadros refere-se qual
a primeira observação disponível para cada série). Num segundo passo foram defi nidos cinco intervalos
da distribuição de cada série. Cada observação de cada série foi posteriormente classifi cada de 1 a 5,
tendo em consideração os cinco intervalos defi nidos. Um score mais elevado corresponde a maior risco ou
a condições monetárias e fi nanceiras menos acomodatícias, tendo como referência os valores históricos
de cada série. Para tal, defi niu-se se cada série tem uma correlação positiva ou negativa com o risco em
1 Ver http://www.imf.org/external/pubs/ft/gfsr/2011/01/pdf/text.pdf (pág. 2). A metodologia subjacente a este
indicador é descrita em Dattels, McCaughrin, Miyajima and Puig (2010), “Can you map global fi nancial stabili-
ty?”, IMF, Working Paper 10/145.
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análise (Quadros 1 e 2). O último passo consiste no cálculo de uma média não ponderada dos scores
atribuídos a cada indicador, obtendo um indicador síntese para cada dimensão de risco (calculando-se
também uma média simples das várias dimensões de risco, para obter um indicador agregado).
Estes mapas permitem representar de forma sucinta a evolução de várias dimensões de riscos para a
estabilidade fi nanceira. Não obstante, é importante referir que este instrumento de análise apresenta
inevitáveis limitações. Em particular, cada dimensão de risco é avaliada face a referenciais da distribuição
Gráfi co 1
EVOLUÇÃO GLOBAL DO ENQUADRAMENTO MACROECONÓMICO E FINANCEIRO DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS
1. Particulares
2. Empresas não financeiras
3. Enquadramento macroeconómico
doméstico (riscos)
4. Enquadramento macroeconómico global
(riscos)
5. Mercados financeiros domésticos
6. Mercados financeiros globais
7. Condições monetárias e financeiras
Dez-07 Dez-10 Jun-11 Set-11
Fontes: Barclays Capital, Comissão Europeia, Confi dencial Imobiliário, Eurostat, FMI, iBoxx, INE, Thomson Reuters e Banco de Portugal.
Nota: Um valor mais afastado do centro implica um maior risco ou condições monetárias e fi nanceiras mais restritivas. Devido à indisponi-
bilidade de dados de contas nacionais, os indicadores que utilizam esta informação não foram incluídos em setembro de 2011 (tendo-se
assumido que se mantinham inalterados face a junho de 2011).
Gráfi co 2
EVOLUÇÃO GLOBAL DOS RISCOS NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS
1. Solvabilidade
2. Rendibilidade
3. Risco de mercado4. Risco de liquidez
5. Risco de crédito
Dez-07 Jun-10 Dez-10 Jun-11
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Um valor mais afastado do centro implica um maior risco.
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histórica das séries temporais utilizadas na sua construção, ou seja, os referenciais utilizados poderão
não corresponder a níveis ótimos ou de equilíbrio de longo prazo. Adicionalmente, o mapa não permite
uma avaliação da importância relativa de cada risco. Por exemplo, não é possível afi rmar, com base neste
instrumento de análise, que os riscos no setor dos particulares são superiores ou inferiores aos associados
a empresas não fi nanceiras; é possível apenas avaliar como se posicionam atualmente os riscos em cada
um destes setores face aos seus referenciais históricos. Para além disso, este instrumento não pondera
a importância relativa de cada risco para o sistema bancário português, ou seja, não é considerado o
peso de cada dimensão de risco nas demonstrações fi nanceiras dos bancos. Por último, estes mapas
pretendem agregar a informação de um conjunto de indicadores que possam ter um conteúdo impor-
tante em termos de identifi cação de riscos num dado momento, ainda que tenham necessariamente de
ser revistos e atualizados ao longo do tempo, dada a natureza dinâmica dos riscos analisados.
Análise
Os gráfi cos 3 e 4 apresentam a evolução global dos indicadores de risco ao longo dos últimos anos. O
mapa de riscos sobre o enquadramento macroeconómico e fi nanceiro do sistema bancário português
sugere que, em termos históricos, os riscos assumem níveis particularmente elevados nas condições
macroeconómicas em Portugal, bem como no setor privado não fi nanceiro (empresas não fi nanceiras e
particulares). Adicionalmente, a deterioração das condições nos mercados fi nanceiros nacionais também
tem assumido uma magnitude expressiva. Em contrapartida, o enquadramento macroeconómico e fi nan-
ceiro internacional não assume valores de risco tão elevados, por comparação com valores históricos,
ainda que tenha evidenciado uma deterioração signifi cativa ao longo dos últimos meses. Por último,
as condições monetárias e fi nanceiras continuam a ser menos restritivas do que o observado no fi nal
de 2008, embora o seu grau de restritividade tenha aumentado claramente no período mais recente.
No que diz respeito ao mapa para o sistema bancário, observa-se que os riscos assumem uma magnitude
historicamente elevada na rendibilidade, que se situa em valores mínimos. Por seu turno, os indicadores
de risco de crédito e de mercado também se situam em níveis historicamente elevados, tendo-se assistido
a uma progressiva deterioração ao longo dos últimos trimestres. Adicionalmente, o risco de liquidez
continua a apresentar níveis elevados desde meados de 2007. Em contrapartida, o reforço dos rácios de
solvabilidade dos bancos portugueses ao longo dos últimos anos, em particular desde o fi nal de 2008,
traduz-se num nível relativamente baixo desta dimensão de risco, face aos valores observados no passado.
Contudo, tendo em conta a perspetiva de materialização acrescida de riscos no futuro próximo, este
resultado é consentâneo com a necessidade de reforço adicional dos capitais dos bancos portugueses.
Em termos globais, a análise dos mapas de estabilidade fi nanceira permite concluir que os riscos
subjacentes ao sistema bancário português e ao seu enquadramento macroeconómico e fi nanceiro se
encontram em níveis elevados face a referenciais históricos. Será no entanto de realçar que, no contexto
do processo de desalavancagem da economia portuguesa, incluindo do sistema bancário, os referenciais
históricos tenderão a não corresponder aos níveis ótimos de longo prazo, sendo que o grau de exigência
em termos de solvabilidade e de liquidez aumentou substancialmente.
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Evolução global do enquadramento macroeconómico e financeiro
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Particulares
1. Particulares Global
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Empresas não financeiras
2. Empresas não financeiras Global
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Enquadramento macroeconómico doméstico3. Enquadramento macroeconómico doméstico (riscos)
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Enquadramento macroeconómico global
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Mercados financeiros domésticos
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Mercados financeiros globais
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Condições monetárias e financeiras
7. Condições monetárias e financeirasGlobal
Fontes: Barclays Capital, Comissão Europeia, Confi dencial Imobiliário, Eurostat, FMI, iBoxx, INE, Thomson Reuters e Banco de Portugal.
Nota: Um valor mais elevado implica um maior risco ou condições monetárias e fi nanceiras mais restritivas, numa escala de 1 a 5. O indi-
cador global é uma média simples das sete dimensões de risco consideradas.
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS RISCOS NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS
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Evolução global dos riscos no sistema bancário português
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Solvabilidade
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4. Risco de liquidezGlobal
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Risco de crédito
5. Risco de créditoGlobal
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Um valor mais elevado implica um maior risco, numa escala de 1 a 5. O indicador global é uma média simples das cinco dimensões
de risco consideradas. Existem quebras metodológicas e de amostra nalgumas das séries consideradas.
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CAIXA 1.2 | AJUSTAMENTO ESTRUTURAL DO RÁCIO ENTRE CRÉDITO E DEPÓSITOS NOS PLANOS DE FINANCIAMENTO E DE CAPITAL DOS OITO MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS PORTUGUESES
O Programa de Assistência Económica e Financeira contempla um conjunto amplo de medidas que
visam, em última instância, reverter algumas das principais fragilidades que caraterizam a economia
portuguesa, nomeadamente no que se refere à sustentabilidade das finanças públicas e aos bloqueios
estruturais que limitam o seu crescimento potencial. Especifi camente no que se refere ao sistema
financeiro, o Programa de Assistência Económica e Financeira procura assegurar uma desalavancagem
ordenada e gradual e um reforço do capital dos bancos, consistentes com uma posição de financiamento
de mercado sustentável no médio prazo.
Neste contexto, o Banco de Portugal e o BCE, em articulação com a Comissão Europeia e o FMI, soli-
citaram aos oito maiores grupos bancários portugueses a elaboração de planos de fi nanciamento e de
capital1 para um horizonte de médio prazo, tendo subjacente um conjunto de princípios e restrições.
Entre aqueles são de destacar que o processo de desalavancagem deve ser consistente com o cenário
macroeconómico, que os bancos devem atingir com a brevidade possível uma posição de fi nanciamento
estável (i.e., menos sensível a oscilações na perceção de risco dos investidores internacionais) e que o
processo de desalavancagem não deve colocar em causa a viabilidade de médio prazo das instituições
envolvidas. A observância destes princípios deve ser concomitante com um conjunto de restrições, das
quais se podem destacar a necessidade de assegurar em cada momento o nível mínimo de capital regula-
mentar (cf. defi nido no Aviso do Banco de Portugal nº 3/2011), e de convergir para um limite superior de
120 por cento para o rácio entre crédito e depósitos até ao fi nal de 20142. Os planos traduzem-se numa
projeção da situação patrimonial e prudencial (nomeadamente em termos do capital regulamentar) rela-
tivamente à atividade consolidada dos grupos bancários envolvidos, em Portugal e a nível internacional.
A elaboração dos planos de fi nanciamento reveste-se de particular complexidade, tendo em conta o
difícil enquadramento económico e fi nanceiro e os princípios e restrições que lhe estão subjacentes. Neste
contexto, importa realçar que a avaliação dos planos pelas autoridades portuguesas, em articulação
com os membros da Troika, visa, inter alia, assegurar um equilíbrio entre a necessidade de concretizar
o ajustamento necessário e a salvaguarda do indispensável suporte fi nanceiro ao desenvolvimento da
atividade económica em Portugal, nomeadamente dos clientes/projetos com viabilidade económica3.
Note-se que as restrições estabelecidas poderão ser reajustadas em função da evolução do enquadra-
mento. Esta análise é efetuada numa base trimestral, levando em consideração projeções de variáveis
macroeconómicas e fi nanceiras, num cenário central.
Desde 2009, o rácio entre crédito e depósitos tem vindo a reduzir-se, situando-se em junho de 2011
próximo de 140 por cento (156 por cento em dezembro de 2007 - Gráfi co 1). Em termos agregados, os
planos apresentados pelo bancos apontam para uma redução gradual do rácio, para níveis inferiores a
120 a partir do fi nal de 2013.
1 Funding and capital plans, na expressão inglesa.
2 Para efeito da elaboração dos planos, fi cou estabelecido que o rácio compreende no numerador o crédito líqui-do de imparidades e no denominador o total dos depósitos de clientes e de linhas de fi nanciamento estáveis. Estas são elegíveis quando obtidas junto de casas-mãe, de acionistas qualifi cados ou de instituições multilate-rais, mediante adequada documentação da sua estabilidade.
3 A este propósito Importa referir que paralelamente a este exercício, envolvendo os oito maiores grupos ban-cários, o Banco de Portugal solicitou a um conjunto alargado de outras instituições a elaboração de planos de fi nanciamento e de capital, embora numa versão simplifi cada, em termos de abrangência da informação e das restrições associadas ao exercício. Esta informação é igualmente considerada na avaliação do impacto sobre a economia do processo de desalavancagem do sistema bancário.
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O crescimento robusto dos depósitos constitui um dos alicerces dos planos de fi nanciamento e de capital.
Esta evolução tem subjacente a continuação do ajustamento da carteira de ativos fi nanceiros dos parti-
culares residentes. Este ajustamento foi, em parte, induzido pela turbulência nos mercados fi nanceiros
a nível global, que se traduziu num aumento da volatilidade e numa diminuição das rendibilidades
das aplicações em ativos fi nanceiros sujeitos a risco de mercado (onde se incluem as participações em
fundos de investimento, as ações cotadas e os títulos de dívida). Por outro lado, as restrições impostas
na elaboração dos planos de fi nanciamento e de capital tendem a reforçar os incentivos para que os
bancos adotem estratégias de reintermediação no balanço dos recursos de clientes aplicados em outros
instrumentos emitidos pelos respetivos grupos fi nanceiros. Neste contexto, os planos apresentados
revelam globalmente uma redução do fi nanciamento por via de títulos de dívida colocados pelos bancos
junto da respetiva base de clientes, assim como uma diminuição dos ativos sob gestão, onde se incluem
os fundos de investimento e os produtos de seguros (Gráfi co 2)4.
Ainda que de forma diferenciada entre as oito instituições envolvidas, o ajustamento na posição patri-
monial dos bancos implicará globalmente uma redução na carteira de crédito. Esta redução poderá ser
obtida por diversas vias e afetar de forma diferenciada o fi nanciamento da economia portuguesa. Uma
das possibilidades consiste na venda de crédito. Alguns bancos recorreram ativamente a esta possibilidade
no decurso do primeiro semestre de 2011, englobando créditos com residentes e com não residentes. Este
tipo de operações não implica restrições ao fi nanciamento da economia portuguesa, consistindo apenas
na mudança de mutuante. Ao nível da atividade com não residentes, são ainda expetáveis operações
adicionais, podendo as mesmas assumir também a forma de redução de atividade em alguns mercados.
Uma outra possibilidade está associada à redução da concessão de novo crédito. Em articulação com a
amortização programada dos créditos já existentes, tal implica uma redução mais gradual da carteira de
crédito dos bancos. Neste contexto, e de acordo com os planos apresentados pelos bancos, tal tenderá
a ser particularmente relevante no caso dos créditos a particulares para aquisição de habitação.
4 A redução neste tipo de ativos tem tido como contrapartida um desinvestimento por sociedades de seguros e fundos de pensões e, em menor grau, por fundos de investimento, em títulos de dívida a médio e longo prazos emitidos por não residentes.
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Fonte: Banco de Portugal.
Nota: (a) Para efeitos do programa de ajustamento, estabeleceu-se que o rácio compreende no numerador o crédito líquido de imparidades e no denominador os depósitos de clientes e linhas de fi nanciamento estáveis. Estas são elegíveis quando obtidas junto de casas-mãe, de acionistas qualifi cados ou instituições multilaterais, mediante adequada documentação da sua estabilidade.
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Também signifi cativa em termos da evolução prospetiva da carteira de crédito é a diminuição da expo-
sição às administrações públicas e às empresas públicas não integradas no perímetro de consolidação
das administrações públicas. Dado o enquadramento defi nido para os planos de fi nanciamento e de
capital, este facto ilustra o potencial efeito positivo que a diminuição da exposição a entidades públicas
pode gerar em termos de aumento da capacidade de fi nanciamento do setor privado residente. Uma
redução das necessidades de fi nanciamento das instituições públicas e/ou uma alteração nos instru-
mentos utilizados pelas mesmas para obtenção de fi nanciamento junto dos bancos podem contribuir
para a libertação de recursos passíveis de ser canalizados para o setor privado sob a forma de crédito.
A redução projetada para a carteira de crédito às sociedades não fi nanceiras privadas residentes no
decurso do período compreendido entre junho de 2011 e dezembro de 2014 é na ordem de 2100 milhões
de euros, embora somente cerca de 1500 milhões de euros correspondam a redução de fi nanciamento
ao setor, com o montante de crédito remanescente a ser objeto de venda. A redução da carteira de
crédito a particulares para consumo e outros fi ns assumirá também uma importância reduzida, o que
está associado ao seu baixo peso no stock de crédito no início do Programa.
Em síntese, constata-se que o ajustamento da posição patrimonial dos bancos (avaliada pelo respetivo
hiato entre depósitos e crédito) estará, em larga medida, associado aos particulares residentes, por via
de um menor volume de crédito e de um volume acrescido de depósitos, e aos não residentes (Gráfi co
3). Os restantes setores residentes, e em particular as sociedades não fi nanceiras privadas, registam uma
redução pouco expressiva, podendo os bancos ter fl exibilidade acrescida nessa evolução caso a exposição
a entidades públicas seja reduzida de forma mais signifi cativa e/ou reconfi gurada.
Apesar de constituir uma situação invulgar em termos históricos da economia portuguesa, a redução do
crédito encontra algum paralelo em anteriores episódios recessivos. De facto, a procura de crédito pelos
agentes económicos tende a manter uma relação com o ciclo económico, tendo assumido um caráter
avançado no caso do crédito a particulares para habitação e desfasado no caso do crédito a sociedades
Gráfi co 2
FATORES SUBJACENTES À EVOLUÇÃO DOS DEPÓSITOS NO PERÍODO JUNHO 2011 – DEZEMBRO 2014
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Fonte: Banco de Portugal.
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não fi nanceiras5. Esta regularidade histórica poderá no entanto ser afetada no futuro próximo. A recessão
que se projeta para os próximos anos, refl etindo o forte ajustamento orçamental, tende a assumir uma
intensidade e persistência sem paralelo histórico. Por outro lado, no contexto do Programa de Assistência
Económica e Financeira, as reformas a introduzir na economia portuguesa poderão alterar as relações
empíricas detetadas em períodos anteriores.
Não obstante estes constrangimentos, e dada a informação e o instrumental analítico disponível, a
avaliação do Banco de Portugal aponta para que a evolução do crédito projetada pelos oito maiores
grupos bancários portugueses seja consistente com o cenário macroeconómico (Gráfi cos 4 e 5). É
particularmente notória a preocupação dos bancos em preservar o fi nanciamento às sociedades não
fi nanceiras privadas.
Finalmente, note-se que o ajustamento do balanço dos bancos deverá ter associada uma redução do
endividamento do setor não fi nanceiro para níveis semelhantes aos observados em 2004, no caso
dos particulares, e em 2007, no caso das sociedades não fi nanceiras (Gráfi co 6). Estes níveis são ainda
elevados, tanto em termos históricos como em termos internacionais. Neste contexto, o processo de
ajustamento dos particulares e das sociedades não fi nanceiras tenderá a persistir para além do horizonte
do Programa de Assistência Económica e Financeira, o que poderá ser facilitado num quadro de maior
crescimento potencial da economia portuguesa.
5 Para mais detalhes sobre esta regularidade histórica para a economia portuguesa, ver “Caixa 2.2 Evolução cíclica dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras e aos particulares”, Banco de Portugal, Relatório Anual 2009. Em Castro, G.e Santos, C. (2010), “Determinantes das taxas de juro e do crédito bancário”, Banco de Portugal, Boletim Económico – Primavera, é documentada uma relação econométrica entre agregados de crédito e de despesa, nomeadamente o investimento e o consumo.
Gráfi co 3
HIATO ENTRE DEPÓSITOS E CRÉDITO | PRINCIPAIS VETORES DE AJUSTAMENTO NO PERÍODO JUNHO 2011 – DEZEMBRO 2014
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Fonte: Banco de Portugal.
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CRÉDITO BANCÁRIO A PARTICULARES – HABITAÇÃO | TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL
CRÉDITO BANCÁRIO A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL
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Por memória:
Evolução implícita no modelo macroeconómico do Banco de Portugal(a)
Funding plans - 8 bancos
Funding plans - 8 bancos (excluindo EPs que não integram o perímetro das APs)
Funding plans - Agregado alargado de bancos
Por memória:
Evolução implícita no modelo macroeconómico do Banco de Portugal(a)
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: (a) O agregado de crédito considerado no modelo macroeconómico do Banco de Portugal difere ligeiramente do considerado nos Funding plans, ao incluir adicionalmente créditos concedidos ao setor por outras entidades, residentes e não residentes.
Gráfi co 6
ENDIVIDAMENTO DOS PARTICULARES E DÍVIDA FINANCEIRA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS
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1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013
Em
per
cent
agem
Endividamento dos particulares (% do rendimento disponível)Endividamento das sociedades não financeiras (% do PIB)
Fontes: INE e Banco de Portugal.
Nota: No caso das sociedades não fi nanceiras, no horizonte de previsão assume-se um crescimento líquido da dívida não bancária semelhante ao dos empréstimos
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2. Riscos macroeconómicos e financeiros
Ao longo dos últimos meses, os riscos macroeconómicos e fi nanceiros agravaram-se substancialmente,
quer a nível doméstico, quer a nível internacional. Deste modo, apesar de o conjunto de riscos iden-
tifi cados no Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal de Maio de 2011 permanecer
globalmente inalterado, a sua probabilidade e impacto potencial agravaram-se de forma signifi cativa,
tendo-se assistido a alguma materialização dos riscos identifi cados. Uma das principais diferenças face
à análise de riscos macroeconómicos e fi nanceiros publicada no Relatório de Maio prende-se com a
deterioração das perspetivas quanto ao enquadramento macroeconómico e fi nanceiro internacional.
Enquanto há seis meses este enquadramento era globalmente favorável, o que deveria contribuir para
mitigar o impacto do processo de ajustamento económico em Portugal, durante o verão de 2011 assistiu-
-se a uma deterioração das perspetivas de crescimento a nível global, em particular na área do euro, num
contexto de agravamento das tensões associadas à crise da dívida soberana. Esta situação adensa os
desafi os enfrentados pela economia portuguesa, bem como pelo sistema fi nanceiro português, dado que
o ajustamento dos desequilíbrios da economia pode ter de ser efetuado num enquadramento bastante
mais adverso, em particular no que diz respeito à evolução expectável da procura externa. Neste contexto,
o enquadramento macroeconómico e fi nanceiro da atividade do sistema bancário caracteriza-se por
uma elevada incerteza, nomeadamente devido à persistência de dúvidas em torno dos mecanismos de
resolução institucional da crise da dívida soberana na área do euro, bem como sobre a trajetória futura
da economia mundial e, consequentemente, da economia portuguesa.
Neste enquadramento particularmente difícil, os principais riscos para a estabilidade fi nanceira em
Portugal continuam a estar fortemente relacionados entre si, sendo de destacar as seguintes dimensões:
i) a intensifi cação dos mecanismos de interação e reforço entre o risco soberano, o sistema fi -
nanceiro e a economia a nível internacional e doméstico, que podem condicionar a capacidade
de recuperação das economias e ameaçar a estabilidade fi nanceira a nível global;
ii) a intensifi cação e generalização de difi culdades no acesso dos bancos europeus a fi nancia-
mento nos mercados internacionais de dívida por grosso;
iii) os desafi os enfrentados pelos bancos portugueses num cenário de desalavancagem da eco-
nomia, enquadrados por um contexto macroeconómico e fi nanceiro particularmente adverso
e por restrições no acesso a fi nanciamento externo (incluindo para grandes empresas não
fi nanceiras, públicas e privadas), apesar do Programa de Assistência Económica e Financeira e
do acesso a fi nanciamento junto do Eurosistema;
iv) o impacto de um enquadramento económico adverso sobre a atividade, rendibilidade e solva-
bilidade dos bancos, em particular sobre a qualidade de crédito.
Conforme referido, estes riscos encontram-se profundamente interligados e tendem a reforçar-se mutu-
amente. Neste sentido, torna-se imprescindível atuar para mitigar a probabilidade e o impacto destes
riscos, tanto a nível internacional como nacional.
A nível internacional subsistem bastantes dúvidas quanto aos mecanismos de resolução da crise da dívida
soberana na área do euro, o que tem vindo a exercer pressões signifi cativas sobre os bancos europeus. O
aumento do risco de contágio neste período motivou a implementação de um conjunto de medidas em
julho, com o intuito de reforçar os mecanismos de estabilidade fi nanceira na União Europeia. Durante o
verão, a atuação do BCE nos mercados fi nanceiros, através da aquisição de títulos de dívida no âmbito
do Securities Market Programme, foi bastante importante para conter a exacerbação das perturbações
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na área do euro. Contudo, assistiu-se à generalização e intensifi cação das tensões durante o verão, o
que exigiu medidas adicionais. Neste contexto, no fi nal de outubro foram anunciadas diversas medidas
no âmbito da cimeira de chefes de estado e de governo da União Europeia. Estas medidas englobam
nomeadamente o reforço do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, medidas de reforço do capital de
bancos europeus e um novo acordo para o envolvimento voluntário do setor privado na re-estruturação
da dívida pública grega. Apesar de estas medidas terem sido inicialmente avaliadas de forma positiva
pelos participantes nos mercados fi nanceiros, alguns dias após a cimeira as preocupações em torno da
sustentabilidade da dívida pública italiana agudizaram-se, num contexto de instabilidade política na
Grécia e em Itália. Mais recentemente, aquelas preocupações generalizaram-se à Espanha e, em menor
grau, a um número adicional de países da área do euro. Deste modo, a situação atual continua a ser
marcada por uma elevada incerteza e por riscos signifi cativos para a estabilidade fi nanceira. Para além
da instabilidade política, persiste alguma incerteza sobre a implementação e efi cácia de algumas das
medidas anunciadas na cimeira do fi nal de outubro, bem como sobre o impacto negativo no crescimento
económico europeu que pode estar subjacente a um reforço signifi cativo e simultâneo do capital dos
bancos europeus.
Em Portugal, o Programa de Assistência Económica e Financeira defi nido na sequência do pedido de
apoio fi nanceiro à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao FMI contribui para mitigar
alguns dos riscos acima referidos, ainda que apresente inevitáveis desafi os no curto prazo, indissociáveis
do necessário processo de desalavancagem da economia portuguesa e, em particular, do sistema bancário
português. Em termos concretos, no que se refere à estabilidade do sistema fi nanceiro, o Programa de
Assistência Económica e Financeira inclui quatro eixos fundamentais:
i) assegurar que os bancos portugueses dispõem da liquidez necessária (incluindo o reforço do
colateral disponível e a possibilidade de emissão de obrigações com garantia estatal);
ii) defi nição de planos de fi nanciamento e capital específi cos de médio prazo para assegurar a
desalavancagem gradual e ordenada do setor bancário e a redução gradual do fi nanciamento
junto do Eurosistema;
iii) reforço das exigências anteriormente impostas pelo Banco de Portugal sobre os rácios de sol-
vabilidade (impondo-se um rácio Core Tier 1 mínimo de 9 por cento a partir do fi nal de 2011
e de 10 por cento a partir do fi nal de 2012);
iv) intensifi cação do acompanhamento do sistema bancário e da sua regulação e supervisão,
incluindo inter alia o reforço da metodologia de avaliação da solvabilidade e desalavancagem,
a inclusão de um novo rácio de crédito em risco no conjunto de indicadores prudenciais re-
gularmente publicados1 e a defi nição de um programa especial de inspeções on-site nos oito
maiores grupos bancários portugueses2.
Adicionalmente, o Programa de Assistência Económica e Financeira prevê algumas alterações e aper-
feiçoamentos nos fundos de garantia de depósitos e nos mecanismos de intervenção precoce e de
resolução dos bancos. Para além disso, o enquadramento legal encontra-se em revisão para facilitar
os processos de re-estruturação da dívida de empresas e particulares. Esta revisão inclui alterações ao
Código de Insolvência e tem vindo a ser complementada por uma intensifi cação do acompanhamento da
situação das empresas e dos particulares, incluindo o desenvolvimento de planos de contingência para
1 Ver “Caixa 4.2 Novo rácio de crédito em risco“, deste Relatório.
2 Este programa de inspeções on-site engloba uma análise das carteiras de crédito com o objetivo de confi rmar a adequação dos níveis de imparidade, uma revisão transversal do processo de cálculo de requisitos de fundos próprios para risco de crédito, e a validação das metodologias e parâmetros utilizados nos exercícios de stress test.
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gerir de forma efi ciente eventuais problemas decorrentes do endividamento excessivo destes setores.
A implementação deste conjunto de medidas encontra-se em progresso, de acordo com os calendários
defi nidos no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira3.
O sistema bancário português enfrenta um conjunto de desafi os críticos, exigindo um assinalável esforço
de re-estruturação de alguns modelos de negócio. Neste sentido, a necessidade de desalavancagem e
de convergência a médio prazo para uma estrutura de fi nanciamento mais sustentável irão condicionar
a evolução da atividade dos bancos portugueses nos próximos anos. Num cenário de forte contração
da procura interna, é expectável um correlativo abrandamento da procura de empréstimos por parte
das empresas e, sobretudo, dos particulares. Para além disso, ambos os setores terão de prosseguir o
esforço de ajustamento da sua situação fi nanceira, dados os elevados níveis de endividamento atingidos.
Adicionalmente, a adversidade atual e futura do enquadramento económico justifi caria, em qualquer
circunstância, critérios mais restritivos na aprovação de empréstimos. Não obstante, o processo de desa-
lavancagem do sistema bancário não deverá comprometer o fi nanciamento dos setores e empresas mais
competitivos da economia. Para tal, as estratégias de desalavancagem devem privilegiar a venda de ativos
não estratégicos, o aumento do recurso a fi nanciamento estável e o reforço do capital. Adicionalmente,
este processo deve assumir uma natureza gradual e ordenada, estando a ser acompanhado e monitori-
zado de forma permanente pelo Banco de Portugal, no âmbito do Programa de Assistência Económica e
Financeira. Não obstante, a gestão deste delicado equilíbrio constitui um dos mais importantes desafi os
para o sistema bancário português.
Forte deterioração das perspetivas de crescimento económico a nível global, num quadro de
crescente incerteza
Ao longo dos últimos meses observou-se alguma desaceleração da atividade económica a nível global.
Adicionalmente, as previsões de crescimento económico têm vindo a ser revistas em baixa, sobretudo
para 2012, e tem aumentado o grau de incerteza em torno destas projeções. Esta deterioraç ão do
enquadramento macroeconómico centra-se essencialmente nas economias avançadas, ainda que as
previsões de crescimento para as economias de mercado emergentes também tenham vindo a ser
afetadas negativamente (Gráfi cos 2.1 e 2.2). Por um lado, nos Estados Unidos a procura interna continua
a evidenciar uma recuperação bastante moderada e a probabilidade de recessão aumentou ligeiramente.
No entanto, a implementação de medidas orçamentais expansionistas pode ter um efeito positivo sobre
o crescimento económico no curto prazo, exigindo, contudo, um plano de consolidação orçamental que
garanta a sustentabilidade da dívida pública norte-americana a médio e longo prazo. Por outro lado, na
área do euro os efeitos de interação entre as tensões associadas à dívida soberana e ao sistema bancário
têm inevitáveis impactos sobre a atividade económica. Tal ocorre num contexto de esforços generalizados
de correção de desequilíbrios orçamentais (e de dúvidas quanto à sua sustentabilidade nalguns casos),
de alguma desalavancagem do setor fi nanceiro e, sobretudo, de uma elevada incerteza, que se agravou
no período mais recente (Gráfi cos 2.3 e 2.4).
Estas perturbações também tiveram algum impacto nas economias de mercado emergentes, ainda que estas
continuem a registar níveis de crescimento elevados. Nestas economias os efeitos negativos da contração
da procura externa poderão ser compensados pela tendência de expansão da procura interna, apesar
de existirem efeitos endógenos que exercem alguma pressão sobre este crescimento (nomeadamente o
facto de nalguns países terem vindo a ser implementadas políticas económicas menos acomodatícias,
com o objetivo de evitar um sobreaquecimento da procura interna). Existem alguns elementos de risco
que podem condicionar a evolução destas economias, nomeadamente os riscos para a estabilidade
fi nanceira associados ao forte crescimento do crédito e dos preços dos ativos, assim como o risco de
3 Para mais detalhes sobre a implementação destas medidas ver Programa de Assistência Económica e Financeira no sitio do Banco de Portugal.
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uma quebra dos fl uxos internacionais de capital, que se pode traduzir num ajustamento abrupto dos
desequilíbrios macroeconómicos globais.
Em termos globais, os riscos para a evolução da atividade económica a nível internacional são claramente
enviesados no sentido descendente. Neste contexto, é essencial um esforço concertado de atuação que
limite os efeitos de interação entre o risco soberano, o sistema fi nanceiro e a economia. Adicionalmente,
as vulnerabilidades observadas nalgumas economias de mercado emergentes, a volatilidade nos mercados
fi nanceiros e nos preços de matérias-primas e algumas tensões geopolíticas também podem comprometer
a evolução da atividade económica a nível mundial.
As projeções de crescimento para a economia portuguesa em 2012 também têm vindo a ser revistas
em baixa. A necessidade de ajustamento dos desequilíbrios macroeconómicos e fi nanceiros exerce uma
Gráfi co 2.3 Gráfi co 2.4
EVOLUÇÃO DAS PREVISÕES DE ANALISTAS PRIVADOS PARA O CRESCIMENTO DO PIB NA ÁREA DO EURO EM 2012
INDICADOR DE APETITE AO RISCO GLOBAL
0.4
0.6
0.8
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1.2
1.4
1.6
1.8
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Jan-11 Abr-11 Jul-11 Out-11
Em
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Data da previsão
ConsensusEuro Zone BarometerThe EconomistBlue Chip
-8-7-6-5-4-3-2-101234567
Dez-06 Ago-07 Abr-08 Dez-08 Ago-09 Abr-10 Dez-10 Ago-11
Euforia
Pânico
Fontes: Consensus Economics, MJEconomics, The Economist e Aspen Publishers.
Fonte: Credit Suisse.
Gráfi co 2.1 Gráfi co 2.2
EVOLUÇÃO DAS PREVISÕES DO PIB PARA 2011 EVOLUÇÃO DAS PREVISÕES DO PIB PARA 2012
4
1.6 1.5 1.6
6.4
0
1
2
3
4
5
6
7
PIB mundial Economias avançadas
Estados Unidos
Área do euro Economias de mercado
emergentes
Em
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Jan-11 Abr-11 Jun-11 Set-11
4
1.9 1.8
1.1
6.1
0
1
2
3
4
5
6
7
PIB mundial Economias avançadas
Estados Unidos
Área do euro Economias de mercado
emergentes
Em
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Jan-11 Abr-11 Jun-11 Set-11
Fonte: FMI. Fonte: FMI.
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forte pressão descendente sobre a procura interna no curto prazo. Por um lado, a inadiável consolidação
orçamental implica uma redução do consumo e investimento públicos. Por outro lado, as perspetivas
negativas quanto à evolução do rendimento e da procura, acompanhadas por condições de fi nanciamento
restritivas, deverão contribuir de forma signifi cativa para a contração do consumo e investimento privados.
Adicionalmente, a deterioração das perspetivas quanto à evolução da economia mundial condiciona
negativamente o contributo da procura externa para a evolução da atividade económica em Portugal.
Neste cenário de ajustamento, a economia portuguesa deverá registar uma contração signifi cativa no
futuro próximo, ainda que, a médio e longo prazo, seja expectável que a implementação adequada
de medidas estruturais permita promover a competitividade, produtividade e o crescimento potencial,
contribuindo também para a recuperação do acesso a fi nanciamento nos mercados fi nanceiros interna-
cionais. Não obstante, a convergência para este novo equilíbrio exige um processo de ajustamento com
custos económicos e sociais substanciais no curto prazo, sendo o seu sucesso condicionado não apenas
pela satisfação estrita dos compromissos assumidos na sequência do pedido de assistência fi nanceira,
mas também pelo processo de resolução institucional da atual crise de dívida soberana na área do euro.
As perturbações associadas à crise de dívida soberana na área do euro têm vindo a afetar
um número crescente de países, exigindo um conjunto de medidas para conter o aumento e
generalização das tensões
Ao longo dos últimos meses, as tensões subjacentes à crise da dívida soberana na área do euro passaram
a envolver um conjunto cada vez mais alargado de países, reforçando a sua natureza sistémica. Neste
período, as perturbações deixaram de assumir uma magnitude signifi cativa apenas nos países com
programas de assistência económica e fi nanceira (Grécia, Irlanda e Portugal), passando a afetar outros
países onde também existem receios quanto à sustentabilidade das fi nanças públicas (Bélgica, Chipre,
Eslováquia, Eslovénia, Espanha, França e Itália). Neste contexto, assistiu-se a um forte aumento dos
prémios de risco soberano, inter alia, na Itália e em Espanha e, em menor escala, na Bélgica e em França,
assistindo-se também a uma pronunciada deterioração das condições de acesso a fi nanciamento nos
mercados de dívida por grosso por parte de alguns bancos nestes países (Gráfi co 2.5).
A intensifi cação das tensões no verão de 2011 foi suscitada, pelo menos em parte, pela necessidade de
negociação de um segundo pacote de ajuda fi nanceira para a Grécia, em julho de 2011 (Gráfi co 2.6). O
aumento do risco de contágio neste período motivou a implementação de um conjunto de medidas para
reforçar os mecanismos de estabilidade fi nanceira na União Europeia. Em termos concretos, o Mecanismo
de Estabilização Europeu deverá substituir o atual Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) em
meados de 2013, passando a permitir: 1) intervenções preventivas nos mercados fi nanceiros; 2) o reforço
do capital de instituições fi nanceiras através de linhas de crédito aos governos de países que não estejam
envolvidos em programas de assistência fi nanceira; 3) a intervenção em mercados secundários de dívida
desde que o BCE reconheça a existência de condições excecionais nos mercados fi nanceiros e riscos
para a estabilidade fi nanceira. Adicionalmente, chegou-se, nessa data, a um acordo para o envolvimento
voluntário do setor privado na re-estruturação da dívida grega, tendo implícito um haircut de 21 por
cento. Para além destas medidas, foi negociada a extensão das maturidades dos empréstimos concedidos
a Portugal e à Irlanda, bem como a redução das taxas de juro aplicadas nos respetivos programas de
assistência fi nanceira, o que contribui para melhorar a sustentabilidade da dívida nestes países.
Contudo, as medidas anunciadas durante o verão não foram sufi cientes para mitigar a instabilidade nos
mercados fi nanceiros, tendo-se assistido a um agravamento assinalável dos prémios de risco da dívida
grega a partir do fi nal de agosto, com repercussões nos prémios de outros países europeus. Tendo-se
tornado clara a necessidade de implementar medidas adicionais a nível europeu para conter os efeitos
de feedback entre as tensões nos mercados de dívida soberana e os bancos europeus, na cimeira de
chefes de estado e de governo da União Europeia realizada a 26 de outubro foram anunciadas diversas
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medidas, nomeadamente:
– uma revisão das condições associadas ao envolvimento voluntário do setor privado na Grécia,
tendo subjacente um haircut implícito de 50 por cento, acompanhada por um reforço do pacote
de assistência fi nanceira internacional e por uma intensifi cação dos mecanismos de acompa-
nhamento da implementação das reformas acordadas;
– planos para aumentar a alavancagem do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, de forma
a ter capacidade adicional para mitigar o contágio entre emitentes soberanos da área do euro;
– um plano coordenado a nível europeu para melhorar o acesso a fi nanciamento de longo prazo
dos bancos europeus, facilitando a transição para estruturas de fi nanciamento mais equilibra-
das;
– medidas de reforço de capital do sistema bancário europeu, anunciadas pela Autoridade Ban-
cária Europeia (European Banking Authority – EBA) com o intuito de recuperar a confi ança dos
participantes nos mercados na capacidade dos bancos para absorver um conjunto de choques
negativos, incluindo os associados à re-estruturação da dívida grega e a diminuições no valor de
mercado de títulos de dívida de outros emitentes soberanos4.
Por seu turno, o BCE continuou a ter um papel crucial para mitigar os efeitos de contágio na área do
euro. Em maio de 2010 o BCE implementou o Securities Market Programme, passando a adquirir títulos
de dívida da área do euro nos mercados secundários, com o objetivo de normalizar os mecanismos de
transmissão da política monetária, através da estabilização de segmentos de mercado disfuncionais. A
partir de agosto de 2011, o BCE passou a adquirir, no âmbito deste programa, títulos de dívida pública
espanhola e italiana, o que contribuiu para conter a escalada das taxas de rendibilidade a longo prazo
nestes países, bem como em Portugal e na Irlanda. Foram também tomadas medidas para facilitar o
4 Ver “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012”, deste Relatório.
Gráfi co 2.5 Gráfi co 2.6
DIFERENCIAIS FACE À ALEMANHA DAS TAXAS DE RENDIBILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA DE EMITENTES EUROPEUS | 10 ANOS
INCLINAÇÃO DA CURVA DE CDS SOBERANOS
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500
1 000
1 500
2 000
2 500
3 000
3 500
Jun-08 Fev-09 Out-09 Jun-10 Fev-11 Out-11
Em
pon
tos
base
ÁustriaFrançaGréciaIrlandaItáliaPortugalEspanhaReino UnidoBélgica
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-1 600
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-1 200
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-600
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0
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Out-08 Abr-09 Out-09 Abr-10 Out-10 Abr-11 Out-11E
m p
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se
AlemanhaGréciaIrlandaPortugalEspanhaItália
Fonte: Thomson Reuters. Fontes: Thomson Reuters e cálculos do Banco de Portugal.
Nota: A inclinação da curva refl ete a diferença entre os CDS soberanos a 10 e a 5 anos, para cada país.
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acesso a fi nanciamento em dólares por parte dos bancos europeus que têm registado difi culdades no
acesso a este tipo de fi nanciamento. No início de outubro, o BCE anunciou ainda um novo programa de
aquisição de obrigações hipotecárias (covered bonds). Adicionalmente, o BCE reduziu as taxas de juro
de referência em 25 pontos base na reunião de 3 de novembro. Para além disso, continuam a vigorar
várias medidas não convencionais de política monetária, incluindo operações de refi nanciamento com
satisfação integral da procura (full allotment) e de longo prazo (cerca de doze meses).
Apesar das medidas tomadas pelas autoridades europeias (em particular no âmbito das cimeiras de
julho e de outubro) e dos esforços signifi cativos de consolidação orçamental em vários países, as
tensões relacionadas com a dívida soberana têm-se refl etido numa elevada volatilidade nos mercados
fi nanceiros internacionais, evidenciando que o impacto destas tensões assume uma escala mundial. De
facto, a aversão ao risco assumiu recentemente valores próximos dos observados após o colapso do
banco de investimento Lehman Brothers, em setembro de 2008 (Gráfi co 2.4), apesar de a volatilidade
nos mercados acionistas não se encontrar em níveis tão elevados (Gráfi co 2.7). Contudo, a atual capaci-
dade de absorção de choques, incluindo o poder de resposta das autoridades nacionais e internacionais,
encontra-se bastante mais condicionada em muitos aspetos. No período mais recente, apesar de os
mercados fi nanceiros terem registado inicialmente uma aparente reação positiva à cimeira de outubro,
esta foi rapidamente revertida, assistindo-se a um forte aumento da instabilidade fi nanceira. A necessi-
dade de clarifi cação de alguns aspetos das medidas anunciadas, os seus potenciais efeitos pró-cíclicos
(que poderão implicar revisões adicionais em baixa do crescimento económico) e a instabilidade política
nalguns países contribuíram para este recrudescimento das tensões, colocando em particular a Itália no
foco das preocupações europeias.
Neste contexto, os principais índices acionistas registaram fortes quedas ao longo dos últimos meses, as
quais se intensifi caram no período mais recente, afetando sobretudo os títulos do setor fi nanceiro (em
particular de bancos europeus) (Gráfi cos 2.8 e 2.9). Refi ra-se que esta evolução difi culta os esforços de
reforço de capital que muitos bancos prosseguem atualmente, implicando um aumento signifi cativo
dos custos subjacentes aos aumentos de capital. Por seu turno, os prémios de risco das empresas não
fi nanceiras também aumentaram durante o verão, ainda que de forma menos signifi cativa do que no
setor fi nanceiro.
Neste quadro de elevada aversão ao risco, registou-se um aumento da procura de ativos de refúgio,
traduzindo-se, por exemplo, numa signifi cativa valorização do ouro e numa forte apreciação do franco
Gráfi co 2.7
ÍNDICE DE VOLATILIDADE VIX
0
10
20
30
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50
60
70
80
90
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Fonte: Thomson Reuters.
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suíço, o que justifi cou a tomada de medidas específi cas para conter esta evolução por parte do Banco
Nacional da Suíça (fi xando um limite para a taxa de câmbio do franco suíço face ao euro). Simultanea-
mente, tornou-se mais evidente a segmentação nos mercados de dívida pública das economias avançadas:
enquanto nalguns países se assistiu a uma escalada sem precedentes dos prémios de risco, noutros países
as taxas de juro a longo prazo atingiram valores muito reduzidos em termos históricos. Na área do euro,
esta última evolução foi registada em países como a Alemanha, Países Baixos, Finlândia e Áustria5. Para
além disso, no Reino Unido e nos Estados Unidos também se observaram evoluções semelhantes, apesar
da incerteza em torno da sustentabilidade da situação das fi nanças públicas norte-americanas, o que
implicou um downgrade por parte da S&P durante o verão de 2011.
Generalização das difi culdades de acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso
por parte dos bancos europeus
A par do aumento da volatilidade e incerteza nos mercados fi nanceiros, tem-se assistido a difi culdades
cada vez mais generalizadas de bancos da área do euro em garantir o acesso a fi nanciamento nos
mercados de dívida por grosso, em particular em maturidades médias e longas. Estas difi culdades têm-se
refl etido num aumento dos custos de fi nanciamento na emissão de dívida a médio e longo prazos e, para
alguns bancos, em difi culdades na emissão de dívida nos mercados primários, mesmo no mercado de
obrigações hipotecárias (covered bonds) (Gráfi co 2.10). Refi ra-se que estas difi culdades não se limitam a
bancos de países com programas de assistência fi nanceira (Gráfi co 2.11). Pelo contrário, num contexto
de incerteza e aversão ao risco, os custos de fi nanciamento aumentaram de forma generalizada para
os bancos europeus e, nalguns casos, existem restrições quantitativas no acesso a fi nanciamento nos
mercados de dívida por grosso em maturidades médias e longas. No segmento de dívida a curto prazo
as difi culdades são menos agudas. De facto, apesar de também existirem algumas perturbações no
5 Mais recentemente assistiu-se a um aumento dos prémios de risco dos Países Baixos, Áustria e Finlândia face à Alemanha.
Gráfi co 2.8 Gráfi co 2.9
EVOLUÇÃO DE ÍNDICES ACIONISTAS: FALÊNCIA LEHMAN BROTHERS VERSUS INTENSIFICAÇÃO DA CRISE SOBERANA NA ÁREA DO EURO
ÍNDICES ACIONISTAS
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70
80
90
100
110
120
130
140
-80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70
Índi
ce
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S&P 500DJ EurostoxxPSI GeralS&P 500DJ EurostoxxPSI Geral
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S&P 500S&P BanksDJ EurostoxxDJ Eurostoxx BanksPSI GeralPSI Financial
Fonte: Thomson Reuters. Fonte: Thomson Reuters.
Nota: Dados diários até 4/11/2011. Dia 0 = 100 refere-se a 15/09/2008 nas linhas tracejadas e a 21/07/2011 nas linhas a cheio.
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funcionamento do mercado monetário interbancário na área do euro, o acesso a fi nanciamento junto
do BCE tem permitido mitigar estas difi culdades, assistindo-se, de novo, a um aumento da intermediação
do fi nanciamento por parte do Eurosistema (Gráfi co 2.12). Contudo, conforme referido anteriormente,
alguns bancos europeus têm vindo a enfrentar difi culdades no acesso a fi nanciamento em dólares, o
que justifi cou uma intervenção coordenada do BCE, da Reserva Federal dos Estados Unidos, do Banco
de Inglaterra e do Banco Nacional da Suíça em setembro de 2011.
Deste modo, existem riscos signifi cativos associados à capacidade de refi nanciamento dos bancos
europeus nas maturidades médias e longas nos mercados de dívida por grosso. Em particular, alguns
Gráfi co 2.10 Gráfi co 2.11
YIELDS DE EMPRESAS DO SETOR FINANCEIRO CREDIT DEFAULT SWAPS DE BANCOS EUROPEUS | 5 ANOS SENIOR
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AlemanhaÁustriaEspanhaFrançaGréciaIrlandaItáliaPortugalReino Unido
Fontes: Bloomberg e Merrill Lynch. Fontes: Thomson Reuters e cálculos do Banco de Portugal.
Nota: Para a área do euro é utilizado o índice EMU Financial Corporate Index e para os Estados Unidos o índice US Financial Corporates.
Nota: As séries para cada país referem-se a médias não ponde-radas de credit default swaps de bancos desse país em euros.
Gráfi co 2.12
TAXAS DE JURO NO MERCADO MONETÁRIO A 3 MESES | DIFERENCIAL ENTRE TAXAS NÃO COLATERALIZADAS E
COLATERALIZADAS
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EuroLibra esterlinaDólar norte-americano
Fonte: Thomson Reuters.
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dos títulos de dívida emitidos com garantia estatal a partir do fi nal de 2008 atingem a maturidade em
2012, podendo existir algumas difi culdades no refi nanciamento destes passivos. As restrições no acesso
a fi nanciamento podem constituir um elemento importante de restrição na oferta de crédito, contri-
buindo para uma desalavancagem do setor fi nanceiro, mas condicionando também o acesso a crédito
por parte das empresas e dos particulares, com consequências para a evolução da economia europeia.
Os bancos portugueses enfrentam sérios desafi os num cenário de desalavancagem,
enquadrados por um contexto macroeconómico e fi nanceiro particularmente adverso
Os riscos para a estabilidade fi nanceira associados à interação entre o risco soberano, o sistema fi nanceiro
e a economia assumem uma relevância crítica no caso português. Conforme discutido na “Secção 4.2
Risco de mercado”, deste Relatório, os bancos portugueses não apresentavam uma exposição muito
signifi cativa ao risco soberano antes da eclosão da crise fi nanceira. Contudo, a redução da procura
de dívida pública portuguesa nos mercados fi nanceiros internacionais implicou uma maior colocação
destes instrumentos junto dos bancos portugueses que, por sua vez, podem utilizar estes ativos como
colateral em operações de mercado (designadamente repos) e junto do BCE (Gráfi cos 2.13 e 2.14). Não
obstante, o aumento do risco soberano tem implicações negativas para a valorização do colateral dos
bancos em operações de refi nanciamento. Os impactos da exposição a dívida pública na rendibilidade
e no capital regulamentar foram relativamente limitados até ao momento, dado que estes títulos estão
registados na sua maioria nas carteiras de ativos fi nanceiros disponíveis para venda ou detidos até à
maturidade. Contudo, as decisões tomadas no âmbito das cimeiras de julho e de outubro implicam que
a exposição dos bancos portugueses a dívida pública tenha um impacto negativo substancial sobre o
seu capital regulamentar, conforme discutido na “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital:
desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012”, deste Relatório6.
Conforme referido anteriormente, assistiu-se recentemente à intensifi cação e generalização das difi cul-
dades no acesso a fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso a médio e longo
6 Em concreto, no âmbito da cimeira de outubro, a EBA determinou a criação de um buffer de capital refl etindo a avaliação a valores de mercado das exposições a dívida soberana detidas em 30 de setembro de 2011, impli-cando a eliminação do fi ltro prudencial aplicável aos títulos de dívida soberana da carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para venda e a avaliação, a preços de mercado, de exposições a dívida soberana nas carteiras de ativos detidos até à maturidade e de crédito concedido.
Gráfi co 2.13
EXPOSIÇÃO DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS A DÍVIDA SOBERANA (EMPRÉSTIMOS E TÍTULOS) PARA ALGUNS PAÍSES DA ÁREA DO EURO
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2007-062011-09
Empréstimos Títulos de dívida
Fontes: BCE e cálculos do Banco de Portugal.
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prazo por parte dos bancos europeus. Conforme discutido na “Secção 4.3 Risco de liquidez”, deste
Relatório, no caso dos bancos portugueses este acesso encontra-se vedado desde o fi nal de abril de
2010, fi nanciando-se essencialmente junto do BCE e do Banco Europeu de Investimento, bem como nos
mercados de dívida a curto prazo. Em contrapartida, os bancos têm reforçado a captação de depósitos
junto da sua base de clientes, o que contribui para uma estrutura de fi nanciamento mais equilibrada. De
qualquer modo, nos meses mais recentes, os bancos portugueses enfrentaram difi culdades acrescidas de
fi nanciamento nos mercados de dívida a curto prazo, dado o recrudescimento das tensões nos mercados
fi nanceiros internacionais (Gráfi co 2.15). Ao mesmo tempo, algumas agências de rating continuaram a
rever negativamente as notações atribuídas a bancos portugueses (Quadro 2.1).
Apesar do Programa de Assistência Económica e Financeira, da manutenção a nível elevado do fi nancia-
mento junto do BCE e da acrescida captação de depósitos, as restrições no acesso a fi nanciamento nos
mercados internacionais de dívida por grosso e a necessidade de desalavancagem do sistema bancário
têm implicações sobre a oferta de crédito à economia portuguesa, podendo assumir uma natureza
restritiva ativa para alguns agentes fi nanceiros. Contudo, é importante notar que a contração da ativi-
dade económica e do rendimento se traduz inevitavelmente numa substancial moderação da procura
de crédito, em particular dada a necessidade de desalavancagem do setor privado não fi nanceiro. Por
outro lado, as atuais perspetivas negativas quanto ao enquadramento macroeconómico e fi nanceiro
justifi cam uma reavaliação dos riscos assumidos pelos bancos na concessão de crédito, traduzindo-se num
aumento dos prémios de risco cobrados aos clientes. Neste sentido, existe um equilíbrio muito sensível
entre o necessário processo de desalavancagem do sistema bancário português, conforme defi nido no
âmbito do programa de assistência económica e fi nanceira, e a importância de continuar a assegurar
o fi nanciamento dos setores mais produtivos e competitivos da economia portuguesa, a fi m de não
comprometer a sua trajetória de recuperação no médio e longo prazo. Refi ra-se que este equilíbrio requer
que o processo de desalavancagem seja gradual e ordenado. Este processo está a ser acompanhado de
perto pelo Banco de Portugal, nomeadamente através da análise trimestral de planos de fi nanciamento
e de capital dos oito maiores grupos bancários, sendo necessário assegurar a sua consistência com o
cenário macroeconómico e fi nanceiro subjacente ao Programa de Assistência Económica e Financeira.
Gráfi co 2.14
EXPOSIÇÃO BRUTA INTERSETORIAL NA ECONOMIA PORTUGUESA
2008T2 2011T2
2008 T2
SNF
BC
SF
AP Part
RM
2011 T2
SNF
BC
SF
AP Part
RM
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: BC – Banco central; RM – Resto do mundo; SF – Sistema fi nanceiro; AP – Administrações públicas; SNF – Sociedades não fi nanceiras; Part – Particulares. Diâmetro do círculo proporcional à exposição intrasetorial; largura dos traços proporcional às relações intersetoriais. A metodologia pressupõe a estimação por máxima entropia de exposições bilaterais de cada setor, tendo por base ex-posições bilaterais de empréstimos e depósitos. Para mais detalhes sobre a metodologia ver Silva, N. (2010), “Relações intersetoriais na economia portuguesa: uma aplicação do modelo de dívida contingente”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2010.
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O processo de desalavancagem poderá ser efetuado por diferentes vias, com impactos diferenciados
sobre a economia portuguesa. Com vista a reduzir esse impacto, os bancos deverão privilegiar estraté-
gias de reforço da sua base de capital, de venda de créditos e ativos não estratégicos face aos setores
privado e público, e de reforço do fi nanciamento estável, nomeadamente dos depósitos captados junto
de clientes. Refi ra-se que um processo de desalavancagem dos bancos assente na redução da atividade
internacional tenderá a afetar menos a economia portuguesa mas, em contrapartida, poderá ter um
efeito negativo na evolução da rendibilidade e, consequentemente, na solvabilidade dos bancos, dado
que os resultados obtidos por via da atividade internacional têm oferecido um importante contributo
para a rendibilidade dos bancos portugueses ao longo dos últimos anos (ver “Secção 4.1 Atividade e
rendibilidade”, deste Relatório). Por outro lado, a desalavancagem efetuada através da venda de ativos
terá um efeito diferente sobre a economia do que se tiver lugar via redução de novo crédito. Contudo,
as vendas de ativos também poderão, nalguns casos, originar perdas no curto prazo com consequências
negativas para a rendibilidade e solvabilidade dos bancos. Nalgumas situações, estas vendas podem
implicar a antecipação de perdas que poderiam ter de ocorrer ao longo da maturidade dos empréstimos.
Quadro 2.1
NOTAÇÕES DE RATING DA DÍVIDA DE LONGO PRAZO DOS CINCO MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS PORTUGUESES E DA REPÚBLICA PORTUGUESA
S&P Moody’s Fitch
31-Dez-10 16-Mai-11 4-Nov-11 31-Dez-10 16-Mai-11 4-Nov-11 31-Dez-10 16-Mai-11 4-Nov-11
CGD A- BBB- BBB- A1 Baa1 Ba2 A BBB- BBB-
BCP BBB+ BBB- BBB- A3 Baa3 Ba3 BBB+ BBB- BBB-
BST A BBB- BBB- A1 A3 Baa2 AA AA AA-
BPI A- BBB- BBB- A2 Baa2 Ba2 A- BBB- BBB-
BES A- BBB- BBB- A2 Baa2 Ba2 BBB+ - -
República Portuguesa A- BBB- BBB- A1 Baa1 Ba2 A+ BBB- BBB-
Fonte: Bloomberg.
Nota: Para os bancos, os ratings da S&P referem-se à categoria LT Local Issuer Credit; os ratings da Moody’s referem-se à categoria Long Term Bank Deposits; os ratings da Fitch referem-se à categoria LT Issuer Default Rating. Para a República Portuguesa, os ratings referem-se todos à categoria Local Currency LT Debt.
Gráfi co 2.15
CREDIT DEFAULT SWAP SPREADS DE BANCOS PORTUGUESES | 5 ANOS SENIOR
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Jul-07 Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Jul-11
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BCPCGDBESiTraxx Financial Senior 5 anos
Fontes: Bloomberg e Thomson Reuters.
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A estabilidade do sistema fi nanceiro português encontra-se igualmente condicionada pela deterioração
das perspetivas sobre o crescimento económico, com implicações negativas sobre a atividade, rendibi-
lidade e solvabilidade dos bancos portugueses conforme discutido no “Capítulo 4 Sistema Bancário”,
deste Relatório. Em particular, existe uma forte pressão negativa sobre a qualidade de crédito, associada
a perspetivas de aumento das imparidades decorrentes da contração da atividade económica. Os bancos
tenderão deste modo a registar uma pressão sobre os seus requisitos de capital, que terá de ser contrariada
com o reforço do capital regulamentar ou com a venda de ativos, no contexto de um processo gradual
e equilibrado de desalavancagem, consistente com o não agravamento da situação macroeconómica.
Estes desafi os críticos exigem que os bancos portugueses tenham o capital necessário para enfrentar
possíveis choques adicionais, de forma a continuar a assegurar a estabilidade do sistema fi nanceiro7.
Neste sentido, as recomendações efetuadas pelo Banco de Portugal ao longo dos últimos meses e as
medidas integradas no Programa de Assistência Económica e Financeira contribuem para reforçar a solidez
do sistema bancário. Os bancos começaram a implementar os planos de desalavancagem que deverão
conduzir a uma situação mais sustentável do fi nanciamento da economia portuguesa no médio prazo. É
essencial, contudo, que este processo assuma uma natureza gradual, para permitir a progressiva conver-
gência para um novo equilíbrio de longo prazo. Dada a posição de partida globalmente sólida do sistema
bancário, a implementação destas medidas deverá permitir a recuperação da confi ança dos investidores
internacionais nos bancos portugueses, contribuindo para um regresso gradual ao fi nanciamento nos
mercados internacionais de dívida por grosso. A prossecução dos esforços de consolidação orçamental
é determinante para assegurar a sustentabilidade das fi nanças públicas, sendo essencial também para
assegurar a estabilidade fi nanceira em Portugal. Não obstante, estes esforços têm necessariamente de ser
complementados com medidas que permitam ultrapassar algumas debilidades estruturais da economia
portuguesa, promovendo a sua competitividade e o seu crescimento potencial.
7 Refi ra-se que, no âmbito do exercício europeu de stress test conduzido pela EBA em meados do ano, os bancos portugueses mostraram capacidade para absorver os choques negativos previstos no cenário adverso (ver “Cai-xa 2.1 O exercício de stress test da União Europeia em 2011: principais resultados dos bancos portugueses”, deste Relatório).
CAIXA 2.1 | O EXERCÍCIO DE STRESS TEST NA UNIÃO EUROPEIA EM 2011:
PRINCIPAIS RESULTADOS DOS BANCOS PORTUGUESES
Esta caixa apresenta as principais características e resultados do exercício de stress test realizado ao
nível da União Europeia (UE) no primeiro semestre de 2011. Este exercício foi conduzido pela Autoridade
Bancária Europeia (EBA) em cooperação com o Comité Europeu do Risco Sistémico (ESRB) e as autoridades
de supervisão nacionais. O exercício de stress test teve por objetivo avaliar a resistência de um conjunto
representativo de instituições fi nanceiras dos países da União Europeia a uma evolução negativa dos
mercados, bem como contribuir para a avaliação global do risco sistémico no sistema fi nanceiro da UE.
Em particular, avaliou-se a adequação de capital dos bancos para absorver os choques simulados, tendo
por referência um rácio de capital Core Tier 1 de 5 por cento1.
Em Portugal, o exercício foi realizado pelos quatro maiores grupos bancários, nomeadamente a Caixa
Geral de Depósitos, o Banco Comercial Português, o Espírito Santo Financial Group e o Banco BPI,
contemplando igualmente os respetivos fundos de pensões dos empregados bancários. Conjuntamente,
estes grupos bancários representavam cerca de dois terços do total do ativo do sistema bancário portu-
guês em 2010. Refi ra-se que o Banco Santander Totta, que representa cerca de 8.5 por cento do total
do ativo do sistema bancário, foi integrado no exercício de stress test realizado pelo Banco de España
enquanto fi lial do Banco Santander, uma vez que o exercício foi realizado tendo em consideração os
grupos bancários ao nível mais elevado de consolidação.
Os bancos realizaram o exercício de stress test aplicando as metodologias, cenários e pressupostos desen-
volvidos pela EBA em cooperação com o ESRB, o Banco Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia.
Os cenários subjacentes ao exercício de stress test2
O exercício teve como referência dois cenários macroeconómicos apresentados pela EBA, o cenário de
base e o cenário adverso. Ambos os cenários consideraram um horizonte temporal de dois anos (2011-
2012). O cenário de base assentou nas previsões de Outono de 2010 da Comissão Europeia. O cenário
de base previa uma continuação da recuperação económica a decorrer na União Europeia, um aumento
gradual das taxas de juros na área do euro e uma depreciação do dólar face ao euro. No entanto, embora
se antevisse uma recuperação da atividade económica ao nível agregado, o comportamento dos Estados-
-Membros apresentava-se diferenciado entre países, com o fortalecimento da recuperação a um ritmo
relativamente mais rápido em alguns Estados-Membros. Como tal, o cenário de base projetava para a
economia portuguesa uma desaceleração em 2011, recuperando moderadamente em 2012 (Quadro
1). Refi ra-se que este cenário, assente nas previsões de Outono de 2010, não incorporava o Programa
de Assistência Económica e Financeira defi nido na sequência do pedido de apoio fi nanceiro à União
Europeia, aos países membros da área do euro e ao FMI.
O cenário adverso foi desenvolvido pelo BCE de forma semelhante aos desenvolvidos para os stress tests
realizados em 2009 e 2010. O cenário incorporava um conjunto de choques comuns a todas as economias
bem como um conjunto de choques idiossincráticos, com o objetivo de captar características estruturais
de cada economia. O elemento chave do cenário consistia num agravamento da crise da dívida soberana
1 O conceito de capital Core Tier 1 utilizado no exercício de stress test difere do conceito subjacente ao Aviso
nº 1/2011 do Banco de Portugal por incluir, entre outros, as deduções relativas a participações em instituições
fi nanceiras que não consolidam no grupo e as deduções relativas ao diferencial entre a perda esperada e a im-
paridade para as instituições que utilizam o método das notações internas (com exceção da carteira de ações).
2 Para mais informação sobre os cenários, metodologias e procedimentos do exercício Europeu de stress test, ver
http://www.eba.europa.eu/EU-wide-stress-testing/2011/The-EBA-publishes-details-of-its-stress-test-scena.aspx.
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na União Europeia a partir do início de 2011. Em termos gerais, este cenário resultava num aumento
das taxas de curto prazo no mercado interbancário em 1.25 pontos percentuais por comparação com
o cenário de base e numa redução dos preços das ações em 15 por cento, em média, na área do euro.
O cenário adverso teve subjacente uma combinação particularmente severa de choques para a economia
portuguesa. Com efeito, este cenário implicava um período de recessão profunda na medida em que
a atividade económica deveria registar uma contração acumulada do PIB de 5.5 pontos percentuais
nos dois anos do exercício, isto é, 2011 e 2012. Adicionalmente, o desemprego também aumentava,
atingindo cerca de 13 por cento da população ativa em 2012 (Quadro 1, Gráfi cos 1 e 2).
Quadro 1
CENÁRIOS MACROECONÓMICOS
Portugal
Cenário de base 2011 2012
PIB a preços constantes (taxa de variação anual, em percentagem) -1.0 0.8
Desemprego (em percentagem da população ativa, valores em fi m de período) 11.1 11.2
Taxa de juro de curto prazo (Euribor a 3 meses, valores de fi m de período) 1.5 1.8
Taxas de juro de longo prazo (OTs a 10 anos, valores de fi m de período) 6.9 7.1
Preços de imóveis não residenciais (tvh em percentagem, valores de fi m de período) 0.0 0.0
Preços de imóveis residenciais (tvh em percentagem, valores de fi m de período) 0.0 0.0
Taxa de desconto atuarial (variação em p.p. face ao valor do ano anterior) 0.0 0.0
Cenário adverso 2011 2012
PIB a preços constantes (taxa de variação anual, em percentagem) -3.0 -2.6
Desemprego (em percentagem da população ativa, valores em fi m de período) 11.6 12.9
Taxa de juro de curto prazo (Euribor a 3 meses, valores de fi m de período) 2.8 3.1
Taxas de juro de longo prazo (OTs a 10 anos, valores de fi m de período) 9.4 9.6
Preços de imóveis não residenciais (tvh em percentagem, valores de fi m de período) -10.0 -16.9
Preços de imóveis residenciais (tvh em percentagem, valores de fi m de período) -2.9 -8.4
Taxa de desconto atuarial (variação em p.p. face ao valor do ano anterior) 0.5 0.25
Fonte: EBA.
Nota: tvh - taxa de variação homóloga.
Gráfi co 1 Gráfi co 2
DISTRIBUIÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB ACUMULADA ENTRE 2010 E 2012 PARA OS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA | MÁXIMO, MÍNIMO E
DISPERSÃO INTERQUARTIL
DISTRIBUIÇÃO DA VARIAÇÃO DA TAXA DE DESEMPREGO ENTRE 2010 E 2012 PARA OS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA | MÁXIMO, MÍNIMO E
DISPERSÃO INTERQUARTIL
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Portugal
Cenário de base Cenário adverso
Fonte: EBA. Fonte: EBA.
Nota: As caixas representam os intervalos entre os quartis 25 e
75. Os valores mínimo e máximo correspondem aos extremos
das linhas a preto.
Nota: As caixas representam os intervalos entre os quartis 25 e
75. Os valores mínimo e máximo correspondem aos extremos
das linhas a preto.
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O cenário adverso também incorporava uma diminuição dos preços no mercado imobiliário residencial
e não residencial em ambos os anos (Gráfi co 3). A calibração deste fator de risco foi específi ca a cada
país. Apesar de a evidência disponível apontar para a ausência de uma sobrevalorização dos preços
da habitação em Portugal, a redução nominal assumida no cenário adverso pode ser justifi cada pelas
condições cíclicas muito negativas prevalecentes neste cenário.
Este cenário incorporava também um choque sobre o spread de taxa de juro dos títulos de dívida pública,
resultando numa subida acentuada das taxas de juro a 10 anos no horizonte de análise. A magnitude
deste choque foi calibrada em função da situação de cada país. Num contexto em que o cenário também
assumia uma subida das taxas de juro da dívida pública alemã, foi adicionalmente considerado um
aumento da taxa de desconto atuarial dos fundos de pensões dos empregados bancários de 75 p.b. no
horizonte temporal em análise.
O choque sobre o spread de taxa de juro dos títulos de dívida pública teve efeitos sobre o balanço dos
bancos por três vias: (i) através da aplicação de haircuts ao valor dos títulos de dívida pública classifi cados
na carteira de negociação, (ii) através do agravamento de provisões associado ao aumento de perdas
esperadas implícitas nas classes de rating de cada país para as restantes exposições a dívida soberana
e (iii) através do aumento do custo de fi nanciamento.
Principais hipóteses metodológicas e de procedimento
O exercício de stress test assumiu um conjunto de hipóteses metodológicas, destacando-se as seguintes:
1. Balanço estático
O exercício foi realizado no pressuposto de balanço estático ao nível de dezembro de 2010, tendo-se
restringido totalmente alterações no valor do balanço e respetiva estrutura. Desta forma, os bancos não
puderam reagir aos choques implícitos aos cenários, isto é, o exercício não tomou em consideração as
alterações de estratégia planeadas pelos bancos nem os seus atos de gestão. Em particular, o exercício
não incorporou o processo de desalavancagem que os bancos portugueses estão a efetuar no âmbito
do Programa de Assistência Económica e Financeira;
Gráfi co 3
DISTRIBUIÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO DO PREÇO DOS ATIVOS IMOBILIÁRIOS ACUMULADA ENTRE 2010 E 2012 PARA OS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA | MÁXIMO, MÍNIMO E DISPERSÃO INTERQUARTIL
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Portugal
Cenário de base Cenário adverso
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cent
agem
Portugal
Cenário de base Cenário adverso
Imóveis residenciais
Fonte: EBA.
Nota: As caixas representam os intervalos entre os quartis 25 e 75. Os valores mínimo e máximo correspondem aos extremos das
linhas a preto.
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2. Aumento do custo de fi nanciamento
O exercício assumia que o custo das novas emissões nos mercados de fi nanciamento por grosso teria
um acréscimo em linha com o aumento do spread de taxa de juro dos títulos de dívida pública do país
de origem do banco. Esta hipótese, que tinha fortes impactos no custo de fi nanciamento, foi assumida
por todos os bancos no exercício, pese embora, nas atuais circunstâncias, os bancos portugueses não
tenham acesso ao mercado internacional de dívida por grosso a médio e longo prazo;
3. Limitações à passagem do aumento do custo de fi nanciamento às operações de crédito com
clientes
O aumento do spread no fi nanciamento dos bancos só podia ser transmitido parcialmente, no máximo
metade, às renovações de crédito junto de clientes. Esta hipótese teve fortes implicações na margem
fi nanceira. Adicionalmente, na fase fi nal do exercício, a EBA impôs um limite superior à margem fi nanceira;
4. Choques sobre a carteira de negociação
A carteira de negociação foi sujeita a choques sobre as taxas de juro, preços de ações, taxas de câmbio,
preços das mercadorias, e outros fatores de risco de mercado. Também foram aplicados haircuts aos
títulos de dívida pública classifi cados nesta carteira. Estes haircuts foram revistos em alta no decorrer
do exercício, de forma a refl etir o agravamento das condições de mercado da dívida soberana de alguns
países nos primeiros meses do ano;
5. Aumento de imparidades nas exposições a dívida soberana
Embora os cenários não explicitassem a possibilidade de incumprimento de um estado soberano da UE,
a EBA defi niu instruções para o registo de provisões sobre a dívida soberana, na sequência do aumento
na probabilidade de incumprimento implícita na classe de rating de cada país. Esta instrução foi intro-
duzida na fase fi nal do exercício, no sentido de refl etir as tensões que se vinham a verifi car no mercado.
Principais resultados do exercício de stress test
A resiliência dos bancos foi avaliada tomando como referência o capital de melhor qualidade dos bancos
(Core Tier 1) tendo-se estabelecido um benchmark de capital de 5 por cento dos ativos ponderados
pelo risco.
O gráfi co 4 apresenta a distribuição da amostra total dos bancos considerados na análise por classe
de rácio Core Tier 1 em dezembro de 2010 e em dezembro de 2012, i.e., após a simulação do cenário
adverso. Apresenta-se também a distribuição dos bancos portugueses pelas mesmas classes de Core
Tier 1. Como seria de esperar, verifi cou-se um movimento da distribuição total para a esquerda, em
resultado da aplicação dos choques adversos. A análise do gráfi co também permite concluir que, no
cenário adverso, a solvabilidade dos grupos bancários portugueses participantes no exercício também
seria signifi cativamente mais reduzida em 2012. No entanto, todos os grupos bancários portugueses
revelaram capacidade para absorver a combinação particularmente gravosa de choques económicos e
fi nanceiros contemplados no cenário adverso. De facto, embora de forma diferenciada, todos os bancos
continuavam a apresentar rácios de capital Core Tier 1 superiores a 5 por cento em 2012 no cenário
adverso (Gráfi co 5).
A redução dos níveis de solvabilidade em 2012 no cenário adverso, face aos valores de 2010, pode ser
atribuída ao impacto dos fatores de risco mais importantes do exercício, sendo os resultados para os
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Gráfi co 4
DISTRIBUIÇÃO DA AMOSTRA TOTAL DE BANCOS POR CLASSE DE CORE TIER I | CENÁRIO ADVERSO
0
5
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30
< 5% 5 - 6% 6 - 7% 7 - 8% 8 - 9% 9 - 10% >10%
Núm
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s
Core Tier I
2010
Amostra total de bancos da UEBancos portugueses
0
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10
15
20
25
30
< 5% 5 - 6% 6 - 7% 7 - 8% 8 - 9% 9 - 10% >10%
Núm
ero
de b
anco
s
Core Tier I
2012
Amostra total de bancos da UEBancos portugueses
Fonte: EBA.
Gráfi co 5
RÁCIOS DE CAPITAL CORE TIER I | CENÁRIO ADVERSO
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
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2010 2012
Em
per
cent
agem
Caixa Geral de Depósitos
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1
2
3
4
5
6
7
8
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2010 2012*
Em
per
cent
agem
Banco Comercial Português
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
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2010 2012**
Em
per
cent
agem
Espírito Santo Financial Group
0
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3
4
5
6
7
8
9
10
2010 2012**
Em
per
cent
agem
Banco BPI
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: * Inclui o impacto de uma emissão de capital anunciada, e com tomada fi rme, entre 31 de dezembro de 2010 e 30 de abril
de 2011. ** Incorpora o impacto de medidas anunciadas, contratualizadas e executadas até 30 de abril de 2011.
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bancos portugueses apresentados no gráfi co 63. Em primeiro lugar, no que diz respeito ao risco de crédito,
as perdas de imparidade líquidas associadas à carteira de empréstimos aumentaram signifi cativamente
devido, inter alia, à permanência de taxas de juro em níveis elevados, em conjugação com uma redução
acentuada do PIB e um aumento da taxa de desemprego. O registo de perdas por imparidades, embora
sendo heterogéneo entre os bancos devido às diferenças no valor inicial da carteira de empréstimos e
respetiva composição, é o fator com maior contributo negativo para a rendibilidade e a solvabilidade
dos bancos. Em comparação com os resultados reportados para o conjunto dos países incluídos no
exercício, verifi ca-se que os bancos portugueses registaram imparidades, avaliadas em percentagem do
ativo total, muito signifi cativas (Gráfi co 7).
Por sua vez, neste cenário de subida de taxas de juro, os resultados operacionais, e em particular a margem
fi nanceira, contribuíram para o aumento da solvabilidade dos bancos. De facto, a margem fi nanceira dos
3 Uma decomposição semelhante para a amostra total de bancos é apresentada em http://stress-test.eba.europa.
eu/pdf/EBA_ST_2011_Summary_Report_v6.pdf. Verifi ca-se que o impacto de cada fator para a solvabilidade dos
bancos portugueses é muito semelhante à apresentada para a amostra total de bancos europeus.
Gráfi co 6
DECOMPOSIÇÃO DOS EFEITOS SOBRE OS RÁCIOS DE CAPITAL CORE TIER I PARA OS BANCOS PORTUGUESES | CENÁRIO ADVERSO
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6
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cent
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Caixa Geral de Depósitos
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Out
ros
2012
Em
per
cent
agem
Banco Comercial Português
4
5
6
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9
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Res
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Em
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cent
agem
Espírito Santo Financial Group
4
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tal
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capi
tal
Impa
ridad
es
Out
ros
2012
Em
per
cent
agem
Banco BPI
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: As barras azuis representam os níveis de partida (2010) e fi nais (2012) dos rácios de capital. As barras verdes identifi cam as
variáveis com contributo positivo para a evolução dos rácios, enquanto as barras vermelhas estão associadas a contributos negativos.
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bancos portugueses é muito sensível à evolução das taxas de juro do mercado monetário na medida em
que, por um lado, as taxas dos créditos se encontram indexadas a esta taxa e, por outro lado, as taxas
de depósito não seguem tão de perto a evolução das taxas de mercado monetário, muito em particular
as taxas de depósitos à ordem que são muito baixas e praticamente não são sensíveis a movimentos nas
taxas de juro do mercado monetário. Por sua vez, o aumento no custo de fi nanciamento, decorrente da
subida dos spreads da dívida soberana, e a limitação à transmissão do aumento do custo às operações
de crédito de clientes, constituíram um elemento de pressão no sentido descendente sobre a margem
fi nanceira. Finalmente, refi ra-se que a EBA defi niu o valor observado em 2010 como limite superior
para a margem fi nanceira. Não obstante, o resultado operacional contribuiu muito positivamente para
a evolução do rácio de capital.
O impacto na demonstração de resultados dos bancos portugueses decorrente da desvalorização dos
títulos de dívida pública foi reduzido, uma vez que a maioria da dívida soberana se encontra registada
no banking book (Gráfi co 8). A desvalorização das exposições soberanas no banking book decorrente
da aplicação de haircuts de magnitude similar à considerada no trading book apenas teria impacto
sobre os fundos próprios na situação em que, através da venda da carteira, se verifi casse a realização
de menos valias latentes.
Finalmente, o aumento do risco de crédito materializou-se também num aumento dos ativos ponde-
rados por risco contribuindo para a redução dos rácios de solvabilidade, num contexto de hipótese de
balanço estático.
Gráfi co 7
PERDAS POR IMPARIDADE PARA ATIVOS FINANCEIROS NO BANKING BOOK
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
2010 2011 2012 2010 2011 2012
Cenário de base Cenário adverso
Em
per
cent
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do
ativ
o to
tal
CGD BCP ESFG BBPI
0
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1
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2
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3
3.5
4
2010 2011 2012 2010 2011 2012
Cenário de base Cenário adversoE
m p
erce
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em d
o at
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tota
l
Áustria Alemanha DinamarcaEspanha França Reino UnidoGrécia Irlanda ItáliaPaíses Baixos Portugal
Fonte: EBA.
Nota: A informação por país refere-se à média ponderada pelo ativo de cada banco.
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Considerações fi nais
Os exercícios de stress test são um instrumento, entre outros, à disposição das autoridades de super-
visão para avaliar a robustez das instituições/sistemas bancários. Além disso, constituem um elemento
de análise para as próprias instituições, e devem ser integrados no processo interno de gestão de
riscos. De facto, estes exercícios permitem identifi car as principais vulnerabilidades e fontes de risco das
instituições, contribuindo para a elaboração de medidas que permitam aumentar a solvabilidade das
mesmas, não devendo, desta forma, ser interpretados como um simples exercício de “passa ou falha”
por comparação com o limiar de 5 por cento defi nido para o rácio Core Tier 1. No exercício de 2011, os
bancos portugueses mostraram capacidade para absorver os choques previstos no cenário. No entanto,
embora se situassem acima do limiar de 5 por cento para o rácio Core Tier 1 em 2012 no cenário adverso,
dois bancos apresentaram medidas corretivas no sentido de reforçarem a respetiva situação fi nanceira.
Estas medidas foram concretizadas poucos meses após a publicação dos resultados do exercício, em
linha com as instruções do Banco de Portugal nesse sentido.
Gráfi co 8
EXPOSIÇÕES BRUTAS A DÍVIDA SOBERANA EM DEZEMBRO DE 2010 | EM PERCENTAGEM DO ATIVO TOTAL
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Tota
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ocia
ção
CGD BCP ESFG BBPI AT DE ES FR UK GR IE IT NL
Em
per
cent
agem
PT GR IE IT PL Outros países da UE Outros países fora da UE Todos os países
Fonte: EBA.
Nota: A informação por país refere-se à média ponderada pelo ativo de cada banco.
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3. SITUAÇÃO FINANCEIRA DOS PARTICULARES E SOCIEDADES
NÃO FINANCEIRAS
No primeiro semestre de 2011, o setor privado não fi nanceiro aumentou ligeiramente as suas necessi-
dades de fi nanciamento face ao mesmo período do ano anterior, refl etindo a redução da capacidade de
fi nanciamento dos particulares e o aumento das necessidades de fi nanciamento das empresas (Gráfi co
3.1)1. No caso dos particulares, foi notória a quebra do rendimento disponível que se refl etiu numa
redução do consumo e numa queda da taxa de poupança. No caso das empresas, observou-se uma
deterioração da situação fi nanceira, traduzida num aumento das necessidades de fi nanciamento, que
se mantiveram a um nível muito superior ao da média da área do euro (Gráfi co 3.2), bem como nos
indicadores de rendibilidade. O investimento reduziu-se refl etindo a quebra nas perspetivas de procura
e a necessidade de ajustamento dos balanços das empresas face ao seu atual elevado nível de endivida-
mento. É de destacar a ligeira redução registada no crédito bancário concedido às famílias e às empresas
não fi nanceiras, em contraste com o forte crescimento acumulado em anos anteriores. Por sua vez, a
maior concorrência entre os bancos na captação de depósitos potenciou a dinâmica de recomposição da
carteira de ativos fi nanceiros dos particulares, num contexto de aumento do risco de mercado e maior
aversão ao risco dos agentes. De facto, o aumento dos depósitos bancários contrastou com a queda
verifi cada na generalidade dos outros instrumentos de poupança.
Assim, a evolução da situação fi nanceira dos particulares e das sociedades não fi nanceiras deu indícios
claros de que está em curso o inadiável processo de desalavancagem do setor. Com a crise da dívida
soberana na área do euro tornou-se particularmente evidente que este ajustamento é absolutamente
necessário para se alcançar um nível sustentável de endividamento do setor não fi nanceiro. No caso dos
particulares, os níveis do consumo e da taxa de poupança deverão ajustar-se a um nível de rendimento
permanente mais baixo. A contração do investimento em habitação e a consequente redução do crédito
contribuirão para o necessário ajustamento do nível de endividamento. As sociedades não fi nanceiras,
sobretudo as que evidenciam um elevado nível de endividamento e baixo grau de efi ciência, terão de
1 Designa-se, abreviadamente, por setor privado não fi nanceiro o conjunto formado pelos particulares e pelas
empresas não fi nanceiras. Estas últimas incluem algumas empresas participadas por capital público mas que não
consolidam com o setor das aministrações públicas.
Gráfi co 3.1
CAPACIDADE/NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO DO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO
-14.0
-12.0
-10.0
-8.0
-6.0
-4.0
-2.0
0.0
2.0
4.0
6.0
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09 S1
10 S1
11 S1
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do
PIB
Sociedades não financeirasParticularesSetor privado não financeiro
Fonte: INE.
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proceder a ajustamentos na sua estrutura produtiva, em particular na sua estrutura de custos, no sentido
de se tornarem mais competitivas, e nos seus balanços, para atingirem uma estrutura de fi nanciamento
mais equilibrada e menos sensível a choques negativos. É de referir, em especial, a importância da
re-estruturação das empresas públicas dada a sua elevada dimensão e elevado endividamento. Em parti-
cular, espera-se que essa re-estruturação contribua para minimizar o seu impacto sobre o processo de
desalavancagem do sistema bancário e sobre o fi nanciamento das empresas privadas e dos particulares.
A desalavancagem do setor não fi nanceiro faz parte de um processo global de ajustamento. No caso
do setor fi nanceiro, o ajustamento traduz também a necessidade de cumprir as metas estabelecidas em
termos de requisitos de capital e de composição dos balanços que lhe permitirão alcançar uma estru-
tura de fi nanciamento sustentável, bem como o seu regresso gradual ao fi nanciamento pelos mercados
fi nanceiros internacionais.
Este ajustamento comportará elevados custos económicos e sociais no curto prazo, mas surge como um
imperativo incontornável. É de esperar que se intensifi quem as situações de incumprimento do crédito,
sobretudo nos segmentos mais vulneráveis, como sejam as famílias em que se verifi quem transições para
o desemprego e as empresas mais dependentes da evolução do mercado doméstico.
As situações de incumprimento no setor dos particulares terão, em princípio, implicações mais limitadas
em termos de estabilidade fi nanceira do que as que advêm do incumprimento por parte das sociedades
não fi nanceiras. No caso das famílias, o crédito é constituído em grande parte por crédito para aqui-
sição de habitação, em larga medida para primeira habitação, onde as situações de incumprimento são
naturalmente muito menos frequentes. Adicionalmente, estes empréstimos estão garantidos pelo valor
dos bens hipotecados não havendo evidência de rácios loan-to-value demasiado elevados em Portugal,
em particular porque a prática de equity withdrawal, frequente noutros países, não se generalizou em
Portugal. Adicionalmente, na atual fase recessiva, os preços do mercado imobiliário parecem ter descido
apenas marginalmente, refl etindo a ausência de uma bolha especulativa no mercado português. No caso
do crédito ao consumo e outros fi ns, a ocorrência de situações de incumprimento é muito mais frequente,
em parte por se ter generalizado o acesso a este tipo de crédito durante o período que decorreu entre o
início da área do euro e o eclodir da crise fi nanceira. O maior risco de crédito destes empréstimos estava,
aliás, refl etido na aplicação de spreads muito mais altos.
Gráfi co 3.2
CAPACIDADE/NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
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2009
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2010
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Em
per
cent
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do
PIB
Sociedades não financeiras Particulares
med
iana
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Fonte: Eurostat.
Nota: A média e a mediana foram calculadas com os dados para os países da área do euro para os quais existe informação disponível.
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No caso das empresas, o incumprimento está a aumentar para níveis muito elevados, o que resulta em
grande parte da acentuada contração da atividade económica. Com o objetivo de minimizar o impacto
da materialização do risco de crédito, está previsto no Programa de Assistência Económica e Financeira
a Portugal o fomento de mecanismos que conduzam à concretização de processos de re-estruturação
das empresas economicamente viáveis, mas com difi culdades em cumprir os compromissos decorrentes
das suas dívidas.
Particulares
No primeiro semestre de 2011, a situação fi nanceira dos particulares deteriorou-se consideravelmente.
A capacidade de fi nanciamento do setor foi inferior à que se registou no mesmo período do ano ante-
rior (Gráfi co 3.3). A poupança reduziu-se e o consumo privado decresceu, o que é consistente com a
redução acentuada do rendimento disponível. Para o conjunto do ano, estima-se que o consumo registe
um decréscimo em termos reais mais acentuado do que o PIB, estabelecendo o indispensável contraste
com a tendência da última década. Esta evolução indica que as despesas de consumo dos particulares
começaram a ajustar-se a um nível mais baixo do rendimento permanente.
A redução do rendimento disponível resultou da evolução muito adversa do mercado de trabalho, com
a queda do emprego e a diminuição das remunerações por trabalhador. Este último aspeto foi especial-
mente condicionado pela redução de 5 por cento em termos médios das remunerações dos funcionários
públicos. No entanto, outros aspetos da consolidação orçamental, em particular o agravamento da
tributação direta e a redução das prestações sociais, contribuíram também para a evolução negativa do
rendimento disponível. Em contraste com a situação no mesmo período do ano anterior, os rendimentos
de propriedade deram um contributo positivo para a variação do rendimento disponível (Gráfi co 3.4).
O nível de investimento dos particulares, medido em percentagem do rendimento disponível, encontra-
-se longe dos níveis atingidos no início dos anos 2000, apresentando uma tendência decrescente mais
defi nida sobretudo a partir de 2005. Esta tendência tem sido relativamente moderada, em linha com
uma desaceleração também gradual do crédito à habitação. No entanto, no primeiro semestre de 2011,
o investimento em habitação reduziu-se signifi cativamente. Esta evolução resultou de uma apreciação
muito negativa sobre a evolução futura do rendimento disponível das famílias e da maior difi culdade em
Gráfi co 3.3
CAPACIDADE DE FINANCIAMENTO, POUPANÇA E INVESTIMENTO DOS PARTICULARES
-15
-12
-9
-6
-3
0
3
6
9
12
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imen
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08 09 10 11 S1 S1 S1 S1
Poupança fi nanceiraPoupançaSaldo de transferências de capitalAquisições líquidas de cessões de ativos reais(b)
Cap. líq. fi nanciamento, excluindo contribuições extraordiná-rias para fundos de pensões
Fonte: INE.
Notas: (a) Rendimento disponível ajustado pela variação da participação das famílias nos fundos de pensões. (b) Corresponde à
soma da FBCF, variação de existências, aquisições líquidas de cessões de objetos de valor e aquisições líquidas de cessões de ativos
não fi nanceiros não produzidos.
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obter fi nanciamento bancário, dado o aumento da restritividade nas condições de concessão de crédito.
O processo de ajustamento da situação fi nanceira dos particulares é evidente na redução observada nas
transações fi nanceiras, tanto do lado do ativo como do lado do passivo no primeiro semestre de 2011.
No seu conjunto, as transações líquidas de ativos fi nanceiros dos particulares registaram um valor negativo,
o que não é frequente observar-se. De facto, o fl uxo líquido signifi cativo registado nos depósitos não foi
sufi ciente para compensar o valor negativo dos outros instrumentos que integram a carteira de títulos
dos particulares (excetua-se o caso das ações não cotadas) (Gráfi co 3.5). Registou-se assim uma dimi-
nuição dos títulos de dívida dos bancos colocados junto de clientes, das subscrições líquidas de unidades
de participação em fundos de investimento e dos investimentos em seguros e fundos de pensões, bem
como o aumento dos resgates de certifi cados de aforro (incluídos nos depósitos para efeitos das contas
nacionais fi nanceiras).
A evolução dos depósitos resultou de uma política comercial por parte dos bancos mais orientada para a
captação de depósitos junto da sua base de clientes, o que contribui para uma estrutura de balanço mais
equilibrada. Esta prática dos bancos refl etiu-se no aumento da remuneração relativa dos depósitos. Note-se
que, no primeiro semestre de 2011, se voltou a observar uma diminuição da margem de intermediação
nos depósitos, o que não aconteceu no caso dos empréstimos (Gráfi co 3.6). Estes desenvolvimentos
contribuíram, assim, para o alargamento da diferença entre os juros recebidos e os juros pagos pelos parti-
culares. Note-se que uma subida rápida e acentuada das taxas de remuneração oferecidas pelos bancos
na captação de depósitos envolve riscos para as instituições e poderá ter um efeito negativo na evolução
da rendibilidade do sistema bancário2. Esta situação levou a que Banco de Portugal tivesse aprovado
recentemente medidas no sentido de fazer refl etir aquela prática em maior exigência de fundos próprios
nas instituições envolvidas, criando as condições para que a subida das remunerações dos depósitos se
faça de forma gradual e ordenada.
O aumento dos depósitos correspondeu também a uma tendência de recomposição da carteira de ativos
fi nanceiros dos particulares a favor de ativos não sujeitos a fl utuações de mercado, dado o contexto de
grande incerteza, nomeadamente no que respeita à evolução da própria situação fi nanceira das famílias.
Considerando as posições em fi nal de período, observa-se um reforço do peso dos depósitos bancários
na carteira de ativos fi nanceiros dos particulares e, em menor grau, das ações não cotadas (Gráfi co 3.7).
2 Ver “Secção 4.1 Atividade e rendibilidade”, deste Relatório.
Gráfi co 3.4
CONTRIBUTOS PARA A TAXA DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA DO RENDIMENTO DISPONÍVEL BRUTO DOS PARTICULARES
-3.00
-2.00
-1.00
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
2008 S1 2009 S1 2010 S1 2011 S1
Pon
tos
perc
entu
ais
Excedente bruto de exploração e rendimento mistoRemuneraçõesRendimentos de propriedadeImpostos, prestações sociais e outras transferênciasTotal (taxa de variação do rendimento disponível bruto)
Fonte: INE.
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Gráfi co 3.5
ACTIVOS FINANCEIROS DOS PARTICULARES | TRANSAÇÕES NO PERÍODO
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Outros débitos e créditos(a)
Empréstimos, créditos comerciais e adiantamentosSeguros de vida e fundos de pensõesAções não cotadas e outras participaçõesAções cotadasParticipações em fundos de investimentoTítulos exceto açõesNumerário e depósitosTotal transações líquidas em ativos fi nanceiros
Fontes: INE e Banco de Portugal.
Notas: Valores consolidados. (a) Inclui outras reservas técnicas de seguros e outras contas a receber.
Gráfi co 3.6
JUROS LÍQUIDOS RECEBIDOS POR PARTICULARES E MARGEM DA INTERMEDIAÇÃO BANCÁRIA COM PARTICULARES
-4
-2
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2
4
6
8
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2000 2002 2004 2006 2008 2010
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Margem dos empréstimos (a)Margem dos depósitos (b)Juros recebidos (c)Juros pagos (d)Juros líquidos (c-d)
08 09 10 11S1 S1 S1 S1
Fontes: INE e Banco de Portugal.
Notas: Os serviços de intermediação fi nanceira indiretamente medidos (SIFIM) constituem a remuneração indireta obtida pelas
instituições fi nanceiras nas operações de depósitos e empréstimos que realizam com os seus clientes. (a) SIFIM estimados para os
empréstimos de particulares. (b) SIFIM estimados para os depósitos de particulares. (c) Corresponde à diferença entre os juros a
receber incluídos na conta de distribuição do rendimento de particulares e os respetivos SIFIM. (d) Corresponde à soma dos juros a
pagar incluídos na conta de distribuição do rendimento de particulares com os respetivos SIFIM.
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Está em curso o processo de desalavancagem das famílias
Do lado do passivo, destaca-se a redução dos empréstimos obtidos pelos particulares no primeiro semestre
de 2011 (Gráfi co 3.8). É particularmente relevante a evolução dos empréstimos para aquisição de habi-
tação, que registaram um fl uxo negativo, o que acontece pela primeira vez num longo período. Esta
evolução refl ete sobretudo os empréstimos concedidos pelos bancos domésticos. O crédito concedido
aos particulares por instituições fi nanceiras residentes não domésticas registou também uma desacele-
ração desde o início de 2011, mantendo, no entanto, algum dinamismo face ao crédito concedido pelos
bancos domésticos3. Note-se que esta atuação diferenciada no mercado do crédito por parte dos bancos
3 De facto, os bancos não domésticos a operar em Portugal têm enfrentado menores difi culdades de fi nanciamen-
to no mercado internacional, o que lhes tem permitido uma menor restritividade de critérios na concessão de
crédito (ver “Secção 4.4 Risco de crédito” e o artigo “O comportamento dos bancos domésticos e não domésti-
cos na concessão de crédito à habitação: uma análise com base em dados microeconómicos”, deste Relatório).
Gráfi co 3.7
COMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE ATIVOS FINANCEIROS DOS PARTICULARES | EM PERCENTAGEM DO TOTAL DA
CARTEIRA
0
5
10
15
20
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30
35
40
45
Numerário e depósitos
Títulos cotados
Ações não cotadas
Seguros e FP Outros
Em
per
cent
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2007 S12008 S12009 S12010 S12011 S1
Fonte: Banco de Portugal.
Gráfi co 3.8
PASSIVOS FINANCEIROS DE PARTICULARES | TRANSAÇÕES
-10
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2000 2002 2004 2006 2008 2010 08S1
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Outros débitos e créditos(a)
Créditos comerciais e adiantamentosOutros empréstimosEmpréstimos bancários para outros fi nsEmpréstimos bancários para consumoEmpréstimos para habitaçãoTotal
Fontes: INE e Banco de Portugal.
Notas: Valores consolidados. (a) Inclui outras reservas técnicas de seguros e outras contas a receber.
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não domésticos tem contribuído para amenizar as consequências do processo de ajustamento. Contudo,
os dados mais recentes apontam para uma interrupção da tendência de aumento do peso dos bancos
não domésticos na concessão de crédito à habitação e uma convergência das taxas de juro praticadas,
sugerindo alguma reaproximação do comportamento dos bancos domésticos e não domésticos.
Ainda assim, a redução do rácio entre o nível de endividamento dos particulares e o rendimento disponível
foi marginal e deveu-se sobretudo à evolução dos empréstimos não bancários, essencialmente emprés-
timos concedidos por outras instituições fi nanceiras não monetárias (Gráfi co 3.9). No contexto da área
do euro, a dívida dos particulares, medida em percentagem do PIB, é superior à média, tendo mantido
a sua posição relativa, num patamar que se situa claramente abaixo do observado no grupo de países
que apresentam os rácios mais elevados (Chipre, Países Baixos e Irlanda) (Gráfi co 3.10).
A deterioração da confi ança das famílias num enquadramento macroeconómico muito desfavorável
tem-se traduzido na contração gradual da procura de crédito. Ao longo de 2010 esta situação foi
sobretudo visível no caso dos empréstimos para consumo e outros fi ns, uma vez que os empréstimos
para habitação continuaram a apresentar, até ao terceiro trimestre, taxas de crescimento relativamente
elevadas face ao que seria de esperar dada a evolução dos seus determinantes de longo prazo. Do lado
da oferta de crédito, de acordo com as respostas dos bancos portugueses participantes no Inquérito
ao Bancos sobre o Mercado do Crédito, as instituições têm vindo a aplicar condições cada vez mais
restritivas na concessão de crédito, num enquadramento caracterizado por acrescidas difi culdades de
fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso, necessidade de ajustamento dos seus
balanços e aumento do risco dos clientes. Esta maior exigência traduz-se em particular no aumento dos
spreads. Adicionalmente, outras condições contratuais ter-se-ão tornado também mais exigentes. Os
bancos inquiridos referem, por exemplo, o aumento das comissões e outros encargos não relacionados
com taxas de juro e a diminuição do montante dos empréstimos face ao valor da garantia. No que
respeita ao crédito para consumo e outros fi ns, acrescem outros fatores tais como a avaliação menos
favorável da capacidade dos consumidores para assegurar o serviço de dívida e o aumento dos riscos
relacionados com o valor das garantias.
Gráfi co 3.9 Gráfi co 3.10
ENDIVIDAMENTO DOS PARTICULARES | POSIÇÕES
EM FIM DE PERÍODO(a)
DÍVIDA FINANCEIRA DOS PARTICULARES | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL
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2001 2003 2005 2007 2009 2011S1
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Empréstimos bancários - HabitaçãoEmpréstimos bancários - ConsumoEmpréstimos bancários - Outros finsOutros empréstimosJuros a pagarTaxa de juro implicita
(b)
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Chi
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Din
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uéci
a
Em
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do
PIB
2001200820092010
Fontes: INE e Banco de Portugal. Fontes: Eurostat, INE e Banco de Portugal.
Nota: (a) No primeiro semestre de 2011, os outros emprésti-
mos incluem os empréstimos concedidos pela instituição Totta
IFIC que foi integrada no Banco Santander Totta em abril de
2011. (b) Estimativas do Banco de Portugal relativas a juros a
pagar de dívida fi nanceira dos particulares.
Nota: A média para a área do euro foi calculada com os dados
dos países para os quais existe informação disponível.
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Perspetivas de deterioração mais profunda na situação fi nanceira dos particulares
As perspetivas sobre a evolução da situação fi nanceira dos particulares são de deterioração da confi ança
das famílias, num contexto de aumento continuado do desemprego e redução acentuada do rendimento
disponível. Esta evolução deverá traduzir-se numa diminuição considerável da procura de crédito por
parte dos particulares prosseguindo o processo de desalavancagem deste setor. É de esperar também
que, por sua vez, a oferta de crédito contribua para esta evolução, dado que se perspetiva a aplicação
de condições mais exigentes na concessão de empréstimos, nomeadamente no caso dos empréstimos
para aquisição de habitação. Além disso, parece ter-se interrompido a tendência de aumento do peso
dos bancos não domésticos na concessão de crédito à habitação, registando-se uma aproximação entre
as taxas de juro praticadas por bancos domésticos e não domésticos.
Neste contexto, deverá prosseguir a tendência de subida da materialização do risco de crédito, com o
aumento das situações de incumprimento especialmente no que respeita aos empréstimos para consumo
e outros fi ns. No caso dos empréstimos à habitação, as prestações mantêm ainda um nível relativamente
moderado em termos absolutos face ao que se observava no início de 2009, o que se deve à queda
acentuada das taxas de juro (Gráfi co 3.11). No futuro próximo, apesar de se esperar que persista a
tendência de descida das taxas de juro do mercado monetário, as prestações de novos empréstimos
refl etirão condições contratuais mais restritivas (com spreads mais elevados e prazos menos longos). Para
os empréstimos já concedidos, a tendência de descida das taxas de mercado conjugada com a manu-
tenção dos spreads, incidirá favoravelmente nas prestações a pagar. Por sua vez, a quebra acentuada
que se projeta para o rendimento disponível refl etir-se-á também no nível médio da taxa de esforço4.
Sociedades não fi nanceiras
No primeiro semestre de 2011, o valor das necessidades de fi nanciamento das sociedades não fi nanceiras
foi de cerca de 7 por cento do PIB, o que representa algum agravamento face ao mesmo período do ano
anterior. Esta evolução refl etiu a acentuada quebra da taxa de poupança bruta do setor (em percentagem
do PIB) que foi parcialmente atenuada pela diminuição da taxa de investimento (Gráfi co 3.12). Note-se
que a habitual discrepância estatística entre o valor das necessidades de fi nanciamento e o saldo das
4 Ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.
Gráfi co 3.11
PRESTAÇÃO MÉDIA NO CRÉDITO À HABITAÇÃO
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Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11
Eur
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Juros TotaisCapital Amortizado
Fonte: INE.
Nota: Último valor: agosto de 2011.
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operações fi nanceiras foi particularmente elevada neste semestre. Esta situação refl ete sobretudo a maior
incerteza associada às estimativas relativas ao segundo trimestre do ano, que em geral apresenta um valor
mais elevado e mais volátil das necessidades de fi nanciamento por ser o trimestre em que tipicamente se
realiza a distribuição de dividendos5.
A poupança bruta das empresas é medida basicamente pela diferença entre o excedente bruto de explo-
ração e os rendimentos distribuídos (lucros e encargos fi nanceiros líquidos). A queda da taxa de poupança
resultou da ligeira diminuição do excedente bruto de exploração, medido em percentagem do PIB, e do
aumento signifi cativo dos rendimentos de propriedade (quer a parcela dos rendimentos distribuídos de
sociedades quer a dos encargos fi nanceiros) (Gráfi co 3.13). No caso dos lucros distribuídos, a evolução
deve-se em parte à distribuição extraordinária de dividendos da Portugal Telecom (no seguimento da
venda da participação no capital da Vivo).
A análise da situação fi nanceira das sociedades não fi nanceiras com base em dados agregados é muito
insufi ciente. Com efeito, o conjunto de empresas que constituem o setor das sociedades não fi nanceiras
é muito heterogéneo. As empresas diferem quanto ao setor de atividade, quanto à dimensão, quanto
ao facto de serem privadas ou públicas, entre outros aspetos. Num período de grandes tensões como
o atual, é particularmente importante ter em conta essa heterogeneidade. Assim, os dados de contas
nacionais, que se referem a uma situação média não representativa de nenhum dos tipos de empresas
que formam o conjunto, têm uma interpretação limitada. A informação de caráter microeconómico,
como a base de dados da Central de Balanços do Banco de Portugal, pode ser muito útil para colmatar
as insufi ciências da análise com base em dados agregados6.
5 Considerando os valores anuais terminados no semestre, a discrepância face às contas fi nanceiras é considera-
velmente menor.
6 Para uma caraterização detalhada das bases de dados da Central de Balanços, ver Banco de Portugal, Suplemen-
to 5/2005 ao Boletim Estatístico, dezembro-2005 e Suplemento 1/2008 ao Boletim Estatístico, maio de 2008
e os Estudos da Central de Balanços (Banco de Portugal, novembro de 2010, dezembro de 2010, setembro de
2011 e novembro de 2011).
Gráfi co 3.12
POUPANÇA, INVESTIMENTO E NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS
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PIB Capacidade/ necessidade líquida de fi nanciamento
Capacidade/ necessidade líquida de fi nanciamento(a)
Poupança brutaSaldo de transferências de capital(a)
Saldo de transferências de capitalAquisições líquidas de cessões de ativos reais(b)
Fonte: INE.
Notas: (a) Estes valores estão corrigidos da operação de transferência dos fundos de pensões da Portugal Telecom para a Caixa Geral
de Aposentações. (b) Corresponde à soma da formação bruta em capital fi xo, variação de existências, aquisições líquidas de cessões
de objetos de valor e aquisições líquidas de cessões de ativos fi nanceiros não produzidos.
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Inverteu-se a tendência de melhoria da rendibilidade das empresas observada até meados de
2010
A rendibilidade das empresas portuguesas, que tende a fl utuar de acordo com o ciclo económico, foi
particularmente atingida pela recessão de 2008/2009 (Quadro 3.1). Em 2010, observou-se inicialmente
alguma recuperação da atividade económica, que se caracterizou por uma virtual ausência de ajustamento
a nível interno, designadamente em matéria orçamental, por alguma recuperação da economia mundial
e pela manutenção das taxas de juro em níveis baixos. Estes aspetos contribuíram de forma signifi ca-
tiva para que a rendibilidade das empresas tivesse aumentado até meados do ano7. No entanto, esta
tendência não prosseguiu. A partir do fi nal de 2010, as perspetivas de crescimento interno deterioraram-se
signifi cativamente, num período dominado pela iminência de um pedido de assistência fi nanceira inter-
nacional que veio a concretizar-se. Já em meados de 2011, num contexto de agravamento das tensões
associadas à crise de dívida soberana na área do euro, a procura externa inverteu também a tendência de
recuperação. Assim, os indicadores disponíveis apontam para uma quebra da rendibilidade operacional
das sociedades não fi nanceiras. A evolução dos resultados líquidos, para além dos fatores relacionados
com a atividade produtiva, refl etiu a subida dos custos com a dívida, em resultado da inversão, no fi nal
de 2010, da trajetória descendente das taxas de juro (Gráfi co 3.14). A informação disponível sobre os
prazos médios de pagamentos e recebimentos aponta para um evidente alargamento do prazo médio
de pagamentos a terceiros, o que poderá traduzir as difi culdades, por parte das empresas, em obter
fi nanciamento de curto prazo (Gráfi co 3.15). Nas transações com não residentes, a tendência parece ser
de redução dos prazos médios, especialmente evidente do lado dos recebimentos, verifi cando-se também
uma reaproximação entre os prazos médios do lado dos pagamentos e do lado dos recebimentos.
De acordo com a informação disponível, a rendibilidade das empresas na primeira metade de 2011 não
7 A informação sobre a situação fi nanceira das sociedades não fi nanceiras em 2010 e 2011 está disponível apenas
para as empresas que constituem a amostra do Inquérito Trimestral às Empresas não Financeiras (ITENF), em que
estão sobre-representadas as empresas de maior dimensão.
Gráfi co 3.13
CONTRIBUTOS PARA A POUPANÇA BRUTA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS
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-10
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PIB
Excedente de exploração (bruto)Rendimentos de propriedade (saldo)Impostos sobre o rendimento e patrimónioOutras transferências correntes (saldo)Rendimentos distribuídos de sociedades (saldo)Juros (saldo)Outros rendimentos de propriedade (saldo)Poupança bruta
Fonte: INE.
Nota: Saldo refere-se à diferença entre os valores registados em recursos e empregos. Nas contas nacionais a partir de 2009 (inclu-
sivé) não está ainda disponível a informação sobre as componentes dos rendimentos de propriedade (rendimentos distribuídos de
sociedades, juros e outros rendimentos de propriedade)
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terá evoluído no mesmo sentido em todos os tipos de empresas e em todos os setores de atividade8. Nas
empresas do setor privado a situação fi nanceira é bastante menos grave do que nas empresas públicas,
quando avaliada pelos rácios contabilísticos do balanço e demonstração de resultados habitualmente
utilizados. De facto, as empresas do setor privado apresentam uma estrutura de balanço mais equilibrada
entre dívida e capital e taxas de rendibilidade mais elevadas. Além disso, a evolução mais recente dos
rácios de endividamento indica que está em curso o processo de desalavancagem para estas empresas, o
que não se observa no caso das empresas públicas. Por setores de atividade, a indústria transformadora
apresenta a situação mais favorável. Por sua vez, no setor dos transportes, no qual se incluem algumas
empresas públicas, o rácio dívida/capital é muito elevado e registou-se um decréscimo signifi cativo dos
lucros9. No setor do comércio, fundamentalmente produtor de serviços não transacionáveis, registou-se
também uma quebra assinalável dos indicadores de rendibilidade.
O crédito às empresas privadas não fi nanceiras abrandou signifi cativamente
No primeiro semestre de 2011, o fi nanciamento das sociedades não fi nanceiras voltou a comprimir-se
signifi cativamente (Gráfi co 3.16). De uma forma geral todas as fontes de fi nanciamento contribuíram para
aquela contração. O aspeto mais marcante desta evolução é o facto de os empréstimos terem registado
um fl uxo semestral ligeiramente negativo. A taxa de variação anual da dívida fi nanceira das sociedades
não fi nanceiras, de cerca de 1 por cento no primeiro semestre de 2011, contrasta com as taxas muito
elevadas registadas em anos recentes (Gráfi co 3.17). O ritmo de crescimento da dívida fi nanceira das
empresas do setor público permaneceu relativamente estável desde o fi nal de 2010, sendo mais elevado
do que o das empresas do setor privado10. No que respeita aos empréstimos, as instituições de crédito
residentes registaram uma taxa marginalmente negativa. Note-se que esta evolução tem subjacente uma
8 Ver “Caixa 3.1 A rendibilidade das empresas não fi nanceiras – evolução recente com base nos dados da Central
de Balanços”, neste capítulo.
9 Não inclui, no entanto, as três empresas públicas de transportes (REFER – Rede Ferroviária Nacional - EPE; Me-
tropolitano de Lisboa - EPE; Metro do Porto -SA) que foram reclassifi cadas do setor institucional das sociedades
não fi nanceiras para o setor institucional das administrações públicas em 31 de março de 2011, no contexto da
notifi cação do Procedimento dos Défi ces Excessivos, relativa aos anos de 2007 a 2010.
10 Ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.
Quadro 3.1
INDICADORES DO DESEMPENHO DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS
CBA CBT
2006 2007 2008 2009 2009 2010 2011
I II III IV I II III IV I II
Lucros líquidos/Receitas (%) 4.3 4.7 1.8 2.2 1.9 3.3 3.8 3.7 4.2 4.7 4.6 4.6 3.2 3.7
Dívida/Capital (%) 184.8 190.1 204.7 210.9 243.1 248.1 251.1 239.0 229.0 240.0 235.0 228.0 220.0 227.0
Dívida de curto prazo/Dívida (%) 56.7 55.8 53.8 51.5
EBITDA/Receitas (%) 7.8 8.5 6.0 6.0 10.2 11.4 11.8 12.6 11.1 11.9 11.9 12.2 10.3 11.0
Rácio de cobertura de juros
(nº de vezes) 3.9 3.5 2.0 2.5 3.6 4.4 4.8 4.9 5.8 6.2 6.2 6.2 5.0 4.9
Encargos fi nanceiros/Volume
de negócios (%) 2.2 2.7 3.2 2.6 3.0 2.8 2.7 2.8 2.1 2.1 2.1 2.2 2.2 2.4
ROE (%) 8.9 9.7 3.9 4.4 4.5 7.7 9.2 9.0 9.6 11.4 11.0 10.9 7.4 8.9
ROI (%) 8.2 9.2 6.1 5.4 5.4 6.6 7.1 7.3 6.5 7.2 7.1 7.1 5.5 6.3
Dívida em risco (%) 29.8 29.4 34.4 34.6 26.9 21.7 18.4 16.2 26.3 18.7 17.8 13.3 22.9 22.4
Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços.
Notas: (a) Para 2010 e 2011, os indicadores trimestrais correspondem aos que se obtêm com uma amostra constante em todos os
trimestres; os valores trimestrais para 2009 foram obtidos aplicando as taxas de variação implícitas nos indicadores calculados com
base na amostra constante entre o primeiro trimestre de 2009 e o quarto trimestre de 2010. (b) EBITDA (Earnings before interest,
taxes, depreciation and amortisation) é uma medida da rendibilidade operacional; Rácio de cobertura de juros = EBITDA/Encargos
fi nanceiros; ROE (Rendibilidade do capital) = Resultado líquido/Capital próprio; ROI (Rendibilidade do investimento) = (Resultado
líquido+encargos fi nanceiros)/Ativo total; Dívida em risco: dívida das empresas em que as despesas com juros são superiores ao EBI-
TDA em percentagem da dívida de todas as empresas.
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PASSIVOS FINANCEIROS DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | TRANSAÇÕES
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PIB
Outros débitos e créditos - efeito da transferência dos fundos de pensõesOutros débitos e créditos - excluindo o efeito da transferência dos Fundos de Pensões(a)
Créditos comerciais e adiantamentosAções não cotadas e outras participaçõesAções cotadasTítulos exceto açõesEmpréstimosTotal
Fontes: INE e Banco de Portugal.
Notas: Valores consolidados. (a) Inclui reservas técnicas de seguros e outras contas a pagar e exclui valores relativos à transferência
de fundos de pensões.
Gráfi co 3.14 Gráfi co 3.15
CUSTO DA DÍVIDAPRAZOS MÉDIOS DE RECEBIMENTOS E PAGAMENTOS
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2
3
4
5
6
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9
2001-Jun 2003-Jun 2005-Jun 2007-Jun 2009-Jun 2011-Jun
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2001-Jun 2003-Jun 2005-Jun 2007-Jun 2009-Jun 2011-Jun
Núm
ero
de d
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Prazo médio de pagamentosPrazo médio de pagamentos: face ao exteriorPrazo médio de recebimentosPrazo médio de recebimentos: face ao exterior
Fontes: INE e Banco de Portugal.
Nota: Custo da dívida = juros pagos / dívida fi nanceira. O indi-
cador calculado com base nos dados do ITENF refere-se a junho
de cada ano. O indicador relativo a um período é comparável
com o do mesmo período no ano anterior.
Fontes: INE e Banco de Portugal (ITENF e Central de Balanços
Trimestral).
Notas: Os indicadores referem-se a junho de cada ano. O in-
dicador relativo a um período é comparável com o do mesmo
período no ano anterior. Prazo médio de recebimentos = (cré-
ditos comerciais e adiantamentos concedidos / vendas e pres-
tações de serviços) x número de dias no período. Prazo médio
de pagamentos = (créditos comerciais e adiantamentos obtidos
/ (compras de mercadorias, de matérias primas, subsidiárias e
de consumo + fornecimentos e serviços externos)) x número
de dias no período.
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grande divergência entre a variação dos empréstimos concedidos às empresas públicas e a variação dos
empréstimos concedidos às empresas do setor privado. Com efeito, os primeiros registaram um cresci-
mento acentuado, com uma aceleração no terceiro trimestre de 2011, tendo os empréstimos concedidos
às empresas privadas mantido desde o fi nal de 2010 taxas de crescimento ligeiramente negativas. As
instituições não residentes continuaram a dar um contributo positivo para o crescimento do crédito no
caso das empresas privadas e dão um contributo apenas ligeiramente negativo no caso das empresas
públicas, tendo registado, em ambos os casos, alguma moderação em 2011.
A partir do início da área do euro, as empresas tiveram um fácil acesso a fi nanciamento através de crédito
bancário, obtido a custos muito mais baixos do que anteriormente. Este enquadramento contribuiu para
um aumento dos rácios de endividamento (em percentagem do PIB e em percentagem do capital) para
níveis muito elevados, quer em termos absolutos quer por comparação com a média da área do euro
(Gráfi cos 3.18 e 3.19). Assim, as sociedades não fi nanceiras terão de proceder a ajustamentos nos seus
balanços para atingirem uma estrutura de fi nanciamento mais equilibrada e mais estável. A evolução
mais recente no crédito concedido às empresas dá indícios de que o necessário processo de desalavan-
cagem das empresas privadas se terá iniciado. A situação é diferente no caso das empresas públicas que
mantiveram um ritmo acentuado de crescimento do crédito com uma aceleração muito pronunciada
no terceiro trimestre de 2011.
Do lado da procura, a evolução do crédito bancário concedido às empresas está em linha com as fracas
perspetivas da atividade económica e a evolução do investimento. Por sua vez, a oferta de crédito também
se encontra em retração dado o aumento do risco de crédito dos devedores e as já referidas difi culdades
dos bancos no acesso aos mercados de fi nanciamento por grosso, não obstante a manutenção de um nível
elevado de fi nanciamento junto do Eurosistema e a evolução favorável dos depósitos de clientes. Assim,
de acordo com os resultados do Inquérito aos Bancos sobre o Mercado do Crédito, os bancos portugueses
tornaram o acesso ao crédito mais restritivo também às empresas não fi nanceiras ao imporem spreads
mais elevados, reduzirem montantes e encurtarem maturidades. No mesmo sentido, os resultados dos
inquéritos de conjuntura às empresas (de natureza qualitativa) sugerem que o número de empresas que
se sentem afetadas por difi culdades no acesso ao crédito tem vindo a crescer em todos os setores da
atividade económica, embora de forma bastante heterogénea. Na indústria transformadora e no setor
dos serviços, a percentagem de empresas afetadas é relativamente pequena e tem aumentado mode-
Gráfi co 3.17
DÍVIDA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | POSIÇÕES EM FIM DE PERÍODO
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Dívida Total (a)Dívida Financeira (b)Dívida Financeira - tva (esc. dir.)Empréstimos concedidos por ICs residentes - tva (esc. dir.)
Fontes: INE e Banco de Portugal.
Notas: Valores consolidados. (a) Dívida total = dívida fi nanceira + créditos comerciais e adiantamentos recebidos de outros setores.
(b) Dívida fi nanceira = empréstimos + títulos emitidos. (c) O valor de 2010 foi ajustado relativamente à venda de uma carteira de
crédito por parte do BPN.
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radamente. Em contraste, no caso da construção, esta situação afeta uma proporção muito elevada de
empresas e apresenta um acentuado crescimento desde o início de 2008 (Gráfi co 3.20A, 3.20B e 3.20C).
Também do lado das instituições de crédito existe alguma diversidade de comportamentos. As institui-
ções de crédito residentes não domésticas, em particular, têm contribuído para mitigar a redução dos
empréstimos ao setor das empresas não fi nanceiras. No entanto, tal como no caso do crédito a parti-
culares, o contributo destas instituições para o crescimento do crédito tem-se vindo a reduzir em 2011.
As necessidades de fi nanciamento foram satisfeitas sobretudo por via da emissão de papel
comercial por parte de uma grande empresa, assim como pela emissão de ações não cotadas
e, em menor grau, ações cotadas
No primeiro semestre de 2011, as necessidades de fi nanciamento das empresas não fi nanceiras foram
sobretudo asseguradas por via da emissão de títulos de curto prazo (papel comercial emitido por uma
empresa de grande dimensão), colocados essencialmente junto de não residentes. Note-se que o cres-
cimento dos títulos na posse deste setor, quer no caso de títulos emitidos por empresas privadas, quer
no de títulos emitidos por empresas públicas, compensou o abrandamento registado pelos empréstimos
concedidos por não residentes.
No que respeita a títulos de dívida de médio e longo prazo, a emissão líquida registou, neste período, um
fl uxo de sinal negativo. Esta evolução está relacionada com o facto da taxa de rendibilidade das obrigações
emitidas por sociedades não fi nanceiras ter aumentado signifi cativamente nos últimos meses, refl etindo
as perturbações nos mercados de dívida soberana da área do euro, e o consequente aumento do risco
associado à generalidade dos emitentes portugueses, embora, no caso das sociedades não fi nanceiras,
esse aumento tenha sido menos acentuado do que no caso da dívida soberana.
Gráfi co 3.18 Gráfi co 3.19
DÍVIDA FINANCEIRA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL
RÁCIO ENTRE DÍVIDA E CAPITAL PRÓPRIO | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL
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Fontes: Eurostat, INE e Banco de Portugal. Fontes: Eurostat e Banco de Portugal.
Nota: O valor da área do euro corresponde à média dos países
apresentados no gráfi co. Os valores são consolidados, exceto
nos casos da Irlanda e do Reino Unido.
Nota: Este rácio corresponde ao quociente entre o valor da
dívida fi nanceira, ou seja, entre a soma de empréstimos com
títulos exceto ações e o valor do capital (medido a valores de
mercado). O valor para a área do euro corresponde à média dos
países apresentados no gráfi co. Os valores são consolidados,
exceto nos casos da Irlanda e do Reino Unido.
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Quanto aos outros instrumentos fi nanceiros, o recurso a capital acionista por parte das empresas cotadas
foi também mais baixo do que no primeiro semestre de 2010. A emissão de ações cotadas não tem tido
qualquer expressão neste setor porque o número de empresas cotadas é reduzido e a performance dos
mercados de ações tem sido muito negativa. As transações de ações cotadas apenas transparecem como
forma de fi nanciamento das empresas quando há venda para outros setores institucionais de ações das
suas carteiras de ativos. Em contraste, a emissão de ações não cotadas e outras participações teve um
peso signifi cativo no primeiro semestre de 2011, o que constitui um sinal positivo de rebalanceamento
da estrutura de fi nanciamento das empresas.
Perspetivas de forte contração da procura interna, evolução menos favorável da procura
externa e continuação do processo de ajustamento
A deterioração das expectativas de crescimento da procura e a necessidade de ajustamento dos balanços
das empresas face ao seu elevado nível de endividamento condicionarão a evolução do investimento e a
contribuição das empresas para a recuperação da atividade económica poderá ser mais lenta do que em
Gráfi co 3.20
EMPRESAS COM DIFICULDADES NO ACESSO AO CRÉDITO
A - Indústria transformadora B - Construção e obras públicas
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Valor trimestral
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Fonte: INE.
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anteriores recessões. Com o agravamento da crise da dívida soberana na área do euro, as perspetivas
para a evolução da procura externa são menos favoráveis do que se previa no início do ano. Assim,
o contributo positivo dos setores transacionáveis para o crescimento da economia no futuro próximo
tenderá a ser menor do que se esperava. Não obstante, os setores mais dependentes da evolução da
procura interna, como a construção e o comércio, deverão ser particularmente afetados. No entanto, o
processo de desalavancagem das empresas deverá continuar, refl etindo fatores quer do lado da procura
quer do lado da oferta de crédito. De qualquer modo, é de esperar também que o elevado nível de
endividamento das empresas, a diminuição da sua rendibilidade e o mais difícil acesso ao fi nanciamento
bancário deverão traduzir-se no aumento da frequência e intensidade das situações de incumprimento
do crédito.
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CAIXA 3.1 | A RENDIBILIDADE DAS EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS –
EVOLUÇÃO RECENTE COM BASE NOS DADOS DA CENTRAL DE BALANÇOS
A rendibilidade das empresas tende a acompanhar a evolução cíclica da economia. A atual conjuntura económica,
nacional e internacional, é particularmente desfavorável ao desempenho das empresas portuguesas. Acresce que,
num enquadramento caracterizado pelo aumento do risco de crédito dos devedores, pela difi culdade dos bancos
portugueses no acesso aos mercados de fi nanciamento por grosso e pela necessidade de re-estruturação dos
seus balanços, os bancos têm imposto condições contratuais mais exigentes na concessão de crédito às empresas
não fi nanceiras. Neste contexto, o acompanhamento da rendibilidade das empresas é particularmente relevante.
O capital próprio representa a parcela mais importante na estrutura de fi nanciamento das empresas não fi nanceiras
portuguesas, embora o seu fi nanciamento através da emissão de ações no mercado de capitais se mantenha limitado
a um pequeno conjunto de empresas de grande dimensão. No que toca a fontes de fi nanciamento externas às
empresas, são os bancos que desempenham o papel principal. Com a participação na área do euro, as empresas
portuguesas tiveram acesso a fi nanciamento bancário a taxas de juro muito mais baixas e menos voláteis do que
anteriormente. Neste enquadramento, durante a última década, as necessidades de fi nanciamento das empresas
não fi nanceiras foram satisfeitas em grande parte através do recurso a empréstimos bancários, o que levou a que
o seu nível de endividamento seja muito elevado, quer em termos históricos, quer por comparação com os países
da área euro.
O nível de endividamento não deixará de condicionar a rendibilidade das empresas não fi nanceiras, não só no
presente, mas também no futuro próximo. Note-se que o chamado efeito alavanca só benefi cia a rendibilidade
do capital próprio (ROE) das empresas cuja rendibilidade operacional é superior ao custo médio da dívida1. Na
situação inversa, em que os resultados operacionais são insufi cientes para cobrir o custo da dívida, o aumento do
endividamento amplifi ca o efeito negativo sobre o ROE das empresas. É, assim, importante garantir que o processo
de desalavancagem das empresas com resultados operacionais mais baixos se realiza. Note-se que, em Portugal,
estas tendem a ser também as mais endividadas, o que se conclui comparando, por exemplo, as empresas públicas
com as empresas privadas (Quadro 1A).
O desempenho das empresas depende necessariamente das suas características específi cas, tais como a dimensão
ou a qualidade da sua gestão, e ainda de características dos setores em que se centra a sua atividade, tais como o
grau de concorrência. Assim, ocorre uma grande diversidade de situações que não são aparentes quando se analisa
a informação de forma muito agregada. A informação sobre as contas das empresas recolhida pela Central de
Balanços do Banco de Portugal pode ser muito útil para identifi car padrões de comportamento distintos de acordo
com as características das empresas. O acesso por parte da Central de Balanços ao sistema Informação Empresarial
Simplifi cada (IES) permite a recolha de informação sobre as contas anuais de, praticamente, todo o universo das
empresas (mais de 350 mil)2. Esta informação está disponível apenas até 2009, pelo que não permite mostrar um
retrato muito atualizado do desempenho das empresas. Assim, para uma análise da situação mais recente, recorreu-
-se à informação da Central de Balanços Trimestral3.
1 Efeito positivo sobre a rendibilidade do capital próprio (ROE) resultante do aumento do seu nível de endivida-
mento. O efeito só é positivo em determinadas condições e é negativo para níveis de endividamento muito
elevados e/ou taxas de juro da dívida muito altas.
2 A informação é recolhida pela Central de Balanços desde o exercício de 2006, ano em que o sistema IES entrou
em vigor. Através deste sistema, as obrigações legais das empresas relativamente à entrega das suas contas
anuais podem ser substituídas por uma única entrega realizada de forma eletrónica.
3 A informação de periodicidade trimestral continua a ser recolhida através do Inquérito Trimestral às Empresas
não Financeiras (ITENF) realizado pelo INE e pelo Banco de Portugal. O ITENF recolhe um conjunto de variáveis
económico-fi nanceiras de cerca de 3 mil empresas, que cobrem uma parte signifi cativa da atividade do setor das
sociedades não fi nanceiras, mas refl etem sobretudo a situação das empresas de maior dimensão. Esta informa-
ção está disponível até ao segundo trimestre de 2011.
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Os indicadores sobre o desempenho das empresas calculados com base na informação anual da Central de Balanços
mostram que a situação fi nanceira das empresas portuguesas foi particularmente atingida pela recessão de 2008-
2009 (Quadros 1A e 1B). A redução da rendibilidade, em particular da rendibilidade operacional foi transversal aos
vários tipos de empresas e setores de atividade4. Nesse período, verifi cou-se também que o endividamento das
empresas continuou a crescer signifi cativamente, especialmente no caso das empresas públicas. Apesar disso, em
2009, a redução dos resultados operacionais foi parcialmente mitigada pela queda acentuada das taxas de juro.
A informação mais recente sobre a situação fi nanceira das sociedades não fi nanceiras está disponível apenas
para as empresas que constituem a amostra da Central de Balanços Trimestral. Note-se que nesta amostra estão
sobre-representadas as empresas de maior dimensão, o que deve ser tido em conta na análise da informação. No
caso das empresas privadas, observa-se uma ligeira melhoria da rendibilidade operacional ao longo de 2009 e
4 Os indicadores anuais apresentam-se apenas para os grupos de empresas para os quais existe informação tri-
mestral. Refi ra-se por exemplo que a construção, que não aparece aqui representada, teve um desempenho
particularmente negativo em 2008 com quebra de rendibilidade e aumento do endividamento.
Quadro 1A
INDICADORES DO DESEMPENHO DAS EMPRESAS | COMPARAÇÃO ENTRE EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS(a)
Todas as empresas Empresas públicas Empresas privadas
2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009
Lucros líquidos/Receitas (%) 4.3 4.7 1.8 2.2 1.7 -0.9 -3.7 -2.0 4.4 4.9 2.0 2.4
Dívida/Capital (%) 184.8 190.1 204.7 210.9 476.9 543.3 621.4 702.5 175.3 180.3 193.8 198.4
Dívida de curto prazo/Dívida (%) 56.7 55.8 53.8 51.5 33.9 34.7 31.2 31.5 58.8 57.6 55.7 53.3
EBITDA/Receitas (%) 7.8 8.5 6.0 6.0 7.2 4.8 2.5 2.9 7.8 8.7 6.1 6.1
Rácio de cobertura de juros (nº vezes) 3.9 3.5 2.0 2.5 2.3 1.1 0.5 0.8 4.0 3.7 2.1 2.6
Encargos fi nanceiros/Volume de
negócios (%) 2.2 2.7 3.2 2.6 3.6 5.0 5.4 4.0 2.1 2.6 3.1 2.5
ROE (%) 8.9 9.7 3.9 4.4 4.5 -2.4 -11.7 -7.1 9.1 10.0 4.3 4.7
ROI (%) 8.2 9.2 6.1 5.4 4.5 3.2 1.2 1.6 8.4 9.5 6.3 5.6
Dívida em risco (%) 29.8 29.4 34.4 34.6 42.4 44.3 51.5 48.5 28.6 28.2 33.0 33.3
Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços Anual.
Nota: (a) EBITDA (Earnings before interest, taxes, depreciation and amortisation) é uma medida da rendibilidade operacional; Rácio
de cobertura de juros = EBITDA/Encargos fi nanceiros; ROE (Rendibilidade do capital) = Resultado líquido/Capital próprio; ROI (Ren-
dibilidade do investimento) = (Resultado líquido+encargos fi nanceiros)/Ativo total; Dívida em risco: dívida das empresas em que as
despesas com juros são superiores ao EBITDA em percentagem da dívida de todas as empresas.
Quadro 1B
INDICADORES DO DESEMPENHO DAS EMPRESAS | COMPARAÇÃO ENTRE AS EMPRESAS DA INDÚSTRIA(a)
TRANSFORMADORA, DO COMÉRCIO E DOS TRANSPORTES E ARMAZENAGEM
Empresas da indústria transformadora
Empresas do comércio Empresas de transportes e armazenagem
2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009
Lucros líquidos/Receitas (%) 3.1 3.4 1.6 1.1 1.5 1.8 0.9 1.7 2.0 4.0 0.8 0.9
Dívida/Capital (%) 163.7 164.0 175.3 183.5 197.9 194.7 197.7 194.3 505.7 489.6 571.4 659.4
Dívida de curto prazo/Dívida (%) 65.0 66.3 61.9 58.7 74.8 76.5 75.7 69.7 28.8 29.1 27.6 30.3
EBITDA/Receitas (%) 6.0 6.4 4.6 3.8 3.3 4.0 3.4 3.6 7.6 9.8 7.5 7.1
Rácio de cobertura de juros (nº vezes) 4.6 4.3 2.7 2.5 3.6 3.1 2.1 3.6 2.0 2.1 1.5 1.5
Encargos fi nanceiros/Volume de
negócios (%) 1.3 1.6 1.8 1.6 1.0 1.3 1.7 1.0 4.1 5.0 5.7 5.3
ROE (%) 8.2 9.2 4.5 2.7 6.3 7.2 3.6 6.2 5.9 13.0 2.9 3.2
ROI (%) 8.2 9.2 6.2 4.1 7.3 8.9 7.3 7.0 4.9 8.2 6.0 5.0
Dívida em risco (%) 26.4 24.2 28.9 30.0 24.4 22.1 26.2 29.0 30.4 36.7 43.1 39.3
Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços Anual.
Nota: (a) EBITDA (Earnings before interest, taxes, depreciation and amortisation) é uma medida da rendibilidade operacional; Rácio
de cobertura de juros = EBITDA/Encargos fi nanceiros; ROE (Rendibilidade do capital) = Resultado líquido/Capital próprio; ROI (Ren-
dibilidade do investimento) = (Resultado líquido+encargos fi nanceiros)/Ativo total; Dívida em risco: dívida das empresas em que as
despesas com juros são superiores ao EBITDA em percentagem da dívida de todas as empresas.
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2010 e uma clara inversão desta tendência no início de 2011 que, no entanto, não se terá confi rmado para todos
os tipos de empresas (Gráfi cos 1 e 2). Nas empresas públicas, cuja situação fi nanceira é determinada por fatores
muito específi cos, ter-se-á registado alguma melhoria da rendibilidade operacional no segundo trimestre de 2011.
Entre o fi nal de 2009 e o fi nal de 2010, o aumento dos resultados líquidos refl etiu em grande parte a tendência de
descida das taxas de juro. A partir de fi nais de 2009 e, mais claramente em 2010, as empresas privadas reduziram
o seu grau de endividamento, mas terá havido uma inversão dessa tendência em meados de 2011. A dívida em
risco das empresas, ou seja a proporção que corresponde a empresas com resultados operacionais inferiores aos
encargos fi nanceiros, apresenta uma tendência para aumentar na generalidade das empresas, mas é muito mais
baixa nas empresas privadas do que nas empresas públicas. No que respeita às empresas públicas, refi ra-se ainda
que apresentam graus de endividamento incomparavelmente superiores o que, necessariamente, se refl ete em
resultados líquidos muito inferiores.
Para os setores de atividade para os quais existe informação trimestral disponível, o melhor desempenho em termos
de rendibilidade operacional e grau de endividamento observa-se na indústria transformadora (Gráfi co 2). Neste
setor, mais exposto à concorrência internacional, a rendibilidade é relativamente mas baixa do que a da média das
empresas, mas a sua evolução foi menos desfavorável em 2011. Além disso, o seu grau de endividamento é mais
baixo e parece estar a ajustar-se de forma mais rápida do que a média das empresas. Pelo contrário, no setor de
transportes, em que as empresas estão fortemente alavancadas e relativamente menos rentáveis, os lucros diminuíram
claramente. Note-se também que nestes dois setores o processo de desalavancagem parece ter-se também iniciado.
A informação sobre prazos médios de recebimentos e de pagamentos mostra que, de uma forma geral, a tendência
mais recente é de aumento dos prazos, sobretudo no caso dos pagamentos, o que pode estar relacionado com as
difi culdades das empresas em obter fi nanciamento de curto prazo, nomeadamente fi nanciamento bancário. No
entanto, observa-se uma grande heterogeneidade de situações quando se comparam as empresas privadas e as
empresas públicas ou as empresas de diferentes setores de atividade. Note-se, por exemplo, que o prazo médio de
pagamentos no caso das empresas públicas é de uma ordem de grandeza muito superior à da média. Por setores
de atividade, destaca-se positivamente o desempenho das empresas da indústria transformadora, apresentando
uma tendência decrescente dos prazos médios e uma aproximação entre o prazo médio de pagamentos e o de
recebimentos (Gráfi co 3).
Em suma, num enquadramento particularmente adverso para a generalidade das empresas não fi nanceiras
portuguesas, observa-se uma signifi cativa heterogeneidade no desempenho de empresas privadas e públicas e
entre empresas de diferentes setores de atividade. As empresas públicas, muito mais endividadas do que a média,
apresentam menor rendibilidade operacional e, sobretudo, menor rendibilidade do capital, dado que uma grande
parte dos seus resultados é consumida pelos encargos fi nanceiros. O endividamento das empresas privadas também
cresceu acentuadamente em anos anteriores, mas o seu nível é signifi cativamente menor do que nas empresas
públicas. Além disso, em 2010 as empresas privadas iniciaram o necessário processo de desalavancagem. Para os
setores de atividade para os quais está disponível informação mais atualizada, destaca-se o melhor desempenho
das empresas da indústria transformadora, de acordo com a generalidade dos indicadores habitualmente utilizados.
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Gráfi co 1
PRINCIPAIS INDICADORES DE RENDIBILIDADE | COMPARAÇÃO ENTRE EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS
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Lucros líquidos/ReceitasTodas as empresasEmpresas públicasEmpresas privadas
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EBITDA / Receitas
Todas as empresasEmpresas públicasEmpresas privadas
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Dívida/Capital
Todas as empresasEmpresas privadasEmpresas públicas (esc.dir.)
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Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços Trimestral.
Nota: Para 2010 e 2011, os indicadores correspondem aos que se obtêm com uma amostra constante em todos os trimestres; os
valores para 2009 for obtidos aplicando as taxas de variação implícitas nos indicadores calculados com base na amostra constante
entre o primeiro trimestre de 2009 e o quarto trimestre de 2010.
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Gráfi co 2
PRINCIPAIS INDICADORES DE RENDIBILIDADE | COMPARAÇÃO ENTRE EMPRESAS DA INDÚSTRIA TRANFORMADORA, DO
COMÉRCIO E DOS TRANSPORTES E ARMAZENAGEM
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Dívida em riscoTodas as empresasEmpresas da indústria transformadoraEmpresas do comércioEmpresas de transportes e armazenagem
Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços Trimestral.
Nota: Para 2010 e 2011, os indicadores correspondem aos que se obtêm com uma amostra constante em todos os trimestres; os
valores para 2009 for obtidos aplicando as taxas de variação implícitas nos indicadores calculados com base na amostra constante
entre o primeiro trimestre de 2009 e o quarto trimestre de 2010.
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Empresas privadas
Prazo médio de recebimentosPrazo médio de pagamentos
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Indústria tranformadora
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Comércio
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Transportes e armazenagem
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Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços Trimestral.
Nota: Os indicadores foram obtidos com uma amostra constante em todos os trimestres.
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4. Sistema Bancário1
4.1. Atividade e rendibilidade
O primeiro semestre de 2011 fi cou marcado por alterações profundas do quadro em que se desenvolve
a atividade do sistema bancário. A deterioração das condições de fi nanciamento do Estado português
nos mercados internacionais traduziu-se num considerável aumento do fi nanciamento do setor público
junto dos bancos, que reforçou a ligação entre os riscos soberano e bancário, agravando as difi culdades
dos bancos portugueses no acesso aos mercados de dívida por grosso. O exacerbar da crise da dívida
soberana na área do euro e o consequente aumento do risco sistémico a nível europeu contribuíram
para adensar o problema de fi nanciamento dos bancos domésticos que, juntamente com o aumento
do risco de crédito associado aos agentes económicos nacionais, resultou numa maior restritividade da
oferta de crédito. Por sua vez, a contração da atividade económica portuguesa, a diminuição do rendi-
mento disponível das famílias e a deterioração das perspetivas, refl etiram-se numa redução da procura
de crédito, concorrendo para o abrandamento do crédito concedido ao setor privado não fi nanceiro.
A escalada das taxas de rendibilidade dos títulos de dívida pública de alguns países da área do euro
(incluindo Portugal) provocou fortes desvalorizações na carteira de ativos fi nanceiros dos bancos, contri-
buindo adicionalmente para a erosão do capital contabilístico do sistema bancário. Neste contexto, os
níveis de rendibilidade foram signifi cativamente afetados, refl etindo, em larga medida, o aumento das
provisões e imparidades associadas ao crédito e a diminuição dos resultados em operações fi nanceiras.
No curto prazo, o processo de ajustamento do balanço dos bancos, num contexto mais abrangente de
correção dos desequilíbrios estruturais da economia, deverá continuar a condicionar negativamente a
evolução da atividade e rendibilidade do sistema bancário português. Contudo, um processo de desa-
lavancagem ordenado e gradual, que permita atingir uma estrutura de fi nanciamento mais sustentável
no médio prazo, deverá facilitar o reacesso aos mercados internacionais de dívida por grosso e reforçar
a capacidade do sistema bancário para continuar a fi nanciar os setores mais produtivos da economia. No
terceiro trimestre de 2011, de acordo com a informação disponível para os principais grupos bancários,
1 Na análise efetuada neste capítulo, o agregado defi nido como sistema bancário português refere-se às institui-ções de crédito e empresas fi nanceiras a operar em Portugal sob supervisão do Banco de Portugal, com exceção das instituições com sede no off-shore da Madeira. Assim, são considerados os grupos fi nanceiros, em base consolidada, que incluam no perímetro de consolidação pelo menos uma instituição de crédito ou uma empresa de investimento, e as instituições de crédito e empresas de investimento, em base individual, que não são objeto de consolidação em Portugal (incluindo as sucursais de instituições de crédito ou empresas de investimento). A análise deste universo revela-se importante na medida em que é a este conjunto de instituições que se aplica a nova Diretiva de Requisitos de Capital, sendo o universo de referência na generalidade dos países europeus. Todavia, não é possível ter dados anteriores a 2007 para o agregado em consideração, uma vez que a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade (NIC) não foi transversal a todas as instituições, coexistindo em 2005 e 2006 diferentes sistemas contabilísticos. Deste modo, os dados apresentados neste capítulo têm por base diferentes agregados de instituições. Em particular, até 2004 o conjunto de instituições refere-se a bancos e caixas económicas, com exceção dos bancos com sede ou atividade exclusiva no off-shore da Madeira e/ou atividade predominante com não residentes. Foram considerados como bancos as sucursais de instituições de crédito com sede em outro Estado-membro da União Europeia - excluindo aquelas que não sejam classifi cáveis como instituições fi nanceiras monetárias (IFM) – assim como as sucursais de instituições de crédito com sede em países terceiros. De dezembro de 2004 até 2009, são considerados dois conjuntos de instituições. Um pri-meiro, para o período de dezembro de 2004 a dezembro de 2007, que corresponde aos treze grupos bancários que adotaram as NIC (ou as Normas de Contabilidade Ajustadas) na elaboração das respetivas demonstrações fi nanceiras em 2005 (e que representava, em Dezembro de 2004, cerca de 87 por cento do total do ativo do conjunto de instituições analisado até então). O segundo para o período de março de 2007 a 2009. O período de sobreposição dos diferentes conjuntos de instituições permite a análise consistente de variações. De forma a facilitar a leitura, sempre que necessário os gráfi cos e quadros deste capítulo apresentam um tracejado vertical que sinaliza as quebras de série.
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o ativo total permaneceu virtualmente inalterado. Contudo, o aumento das imparidades registadas na
carteira de ativos fi nanceiros traduziu-se numa deterioração dos níveis de rendibilidade dos bancos2.
Atividade do sistema bancário português contraiu signifi cativamente no primeiro semestre
de 2011
No primeiro semestre de 2011, o balanço do sistema bancário português, em base consolidada, contraiu
de forma signifi cativa (queda de 1.8 por cento face a dezembro de 2010 e de 1.5 por cento face a junho
de 20103, Quadro 4.1.1). Esta evolução refl ete sobretudo a diminuição da carteira de crédito líquido a
clientes4 (incluindo ativos titularizados e não desreconhecidos) e da carteira de ativos fi nanceiros, num
contexto de desvalorização generalizada dos títulos de dívida detidos pelos bancos5. No que se refere
à carteira de crédito a clientes, é de destacar o volume signifi cativo de vendas de créditos realizadas no
primeiro e segundo trimestres de 2011 (totalizando cerca de 5.3 mil milhões de euros), que justifi cam
a totalidade da diminuição observada. Estas operações foram constituídas, essencialmente, por vendas
da carteira doméstica de crédito a empresas (essencialmente vendas de papel comercial) e por vendas
da carteira de crédito das fi liais e sucursais no exterior dos principais grupos bancários portugueses. De
facto, corrigindo este efeito, observou-se uma relativa estabilização do stock de crédito concedido, à
qual esteve associado um contributo positivo dos empréstimos concedidos pelas fi liais e sucursais dos
grupos bancários estrangeiros e pelas fi liais estrangeiras dos grupos bancários domésticos (atividade
internacional). De acordo com os dados das Estatísticas Monetárias e Financeiras, que dizem respeito à
atividade doméstica dos bancos, observou-se uma redução gradual dos empréstimos concedidos ao setor
privado não fi nanceiro no primeiro semestre, em especial dos empréstimos concedidos a particulares, e,
paralelamente, um aumento do fi nanciamento do setor público junto dos bancos domésticos. Importa
ainda sublinhar a manutenção da tendência de crescimento da rubrica de ativos titularizados e não
desreconhecidos, no seguimento da estratégia de reforço da pool de ativos elegíveis para fi nanciamento
junto do BCE que tem vindo a ser adotada pelos principais bancos domésticos. Num contexto de fortes
condicionalismos ao fi nanciamento dos bancos nos mercados internacionais, o recurso a operações de
titularização e vendas de crédito, apesar de potencialmente penalizador em termos de rendibilidade,
contribuiu para mitigar o impacto do processo de desalavancagem do setor bancário sobre a economia
portuguesa.
Face ao primeiro semestre de 2010, é de destacar, para além da diminuição da carteira de crédito líquido
a clientes (incluindo os créditos sob a forma de títulos), o contributo negativo das disponibilidades e apli-
cações em outras instituições de crédito, num contexto de difi culdades acrescidas de fi nanciamento nos
mercados internacionais (Gráfi co 4.1.1). Por sua vez, a carteira de ativos fi nanceiros teve um contributo
virtualmente nulo para a variação do ativo, uma vez que a signifi cativa expansão da carteira de ativos
disponíveis para venda, designadamente através da aquisição de títulos de dívida pública portuguesa,
foi contrabalançada pela desvalorização generalizada dos títulos de dívida detidos pelos bancos e pela
alienação de alguns títulos de capital.
2 Para mais detalhes ver a “Caixa 4.1 Situação fi nanceira dos seis maiores grupos bancários do sistema bancário português no terceiro trimestre de 2011”, deste Relatório.
3 Em dezembro de 2010, o BPN cedeu um montante signifi cativo de ativos a um conjunto de veículos fi nanceiros, o que teve um impacto relevante em algumas rubricas do balanço do sistema bancário. Excluindo o BPN em toda a série, de forma a obter valores comparáveis, a taxa de variação do ativo do sistema bancário, em base consolidada, situou-se em -1.0 por cento face a junho de 2010.
4 Para uma análise pormenorizada da evolução da carteira de crédito a clientes ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.
5 A análise detalhada da carteira de ativos fi nanceiros é apresentada na “Secção 4.2 Risco de mercado”, deste Relatório.
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O aumento da captação de depósitos no primeiro semestre e a manutenção a nível elevado
do fi nanciamento junto do Eurosistema mitigaram o impacto das crescentes difi culdades de
fi nanciamento dos bancos nos mercados fi nanceiros internacionais
Na primeira metade do ano, o fi nanciamento do sistema bancário dependeu, em grande medida, do
aumento da captação de recursos de clientes, rubrica que registou um crescimento de 3.6 por cento
face a dezembro de 2010 (8.9 por cento face a junho de 2010). Esta evolução é justifi cada quer pela
dinâmica de recomposição da carteira de ativos fi nanceiros dos particulares – num contexto de crescente
aversão ao risco –, quer pelo incentivo das instituições fi nanceiras em integrar no balanço recursos que
se encontram fora do perímetro de consolidação, como os montantes aplicados em fundos de investi-
mento ou companhias de seguro dos respetivos grupos fi nanceiros. Em sentido contrário, observou-se
um decréscimo generalizado das restantes rubricas do passivo, com destaque para a diminuição dos
recursos de outras instituições de crédito e das responsabilidades representadas por títulos, como conse-
quência das fortes restrições, em termos de quantidade e de preço, no acesso dos bancos aos mercados
internacionais de dívida por grosso. Por seu turno, o recurso às operações de cedência de liquidez do
Eurosistema manteve-se em níveis elevados, mas estáveis, face ao fi nal de 20106. O capital contabilístico
do sistema bancário foi severamente afetado neste período, devido ao impacto das perdas latentes da
carteira de ativos disponíveis para venda (valorizadas ao justo valor através do capital), observando-se
uma diminuição de 7.6 por cento dos capitais próprios face a dezembro de 2010 (-5.5 por cento face
ao período homólogo do ano anterior)7. Perante condições de mercado desfavoráveis à realização de
aumentos de capital, e na sequência de uma recomendação efetuada pelo Banco de Portugal no início
do ano, os principais bancos portugueses adotaram uma política de distribuição de dividendos bastante
moderada, o que permitiu o reforço dos capitais próprios, por via da incorporação dos resultados retidos.
É também de destacar o aumento de capital realizado por um dos principais grupos bancários domésticos,
6 A análise detalhada do fi nanciamento do sistema bancário no decurso de 2011, bem como a respetiva posição de liquidez, é apresentada na “Secção 4.3 Risco de liquidez”, deste Relatório.
7 A análise da adequação de capital em termos prudenciais é efetuada na “Secção 4.5 Adequação de fundos próprios”, deste Relatório.
Gráfi co 4.1.1
CONTRIBUTOS PARA A EVOLUÇÃO DO ATIVO(a)
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Disponibilidades e aplicações em Bancos Centrais
Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito
Títulos, derivados e participações
Crédito a clientes líquido – ajustados de operações de titularização
Outros créditos e valores a receber (titulados)
Ativos tangíveis e intangíveis
Outros ativos
Taxa de variação homóloga do ativo
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: A quebra de série representada em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise. Os títulos, derivados e participações compreendem os ativos fi nanceiros ao justo valor através de resultados, os ativos fi nanceiros disponíveis para venda, os investimentos detidos até à maturidade, os investimentos em fi liais e os derivados de cobertura. O crédito a clientes liquído – ajustado de operações de titularização exclui a componente de outros créditos e valores a receber (titulados), classifi cados na carteira de crédito. (a) Face ao período homólogo do ano anterior.
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concretizado maioritariamente através de uma operação de troca de dívida subordinada por capital.
Adicionalmente, foram realizadas algumas operações de recompra de obrigações próprias por parte de
algumas instituições, com impactos positivos nos capitais próprios (por via do aumento dos resultados),
dado o desconto face ao valor de emissão com que as mesmas transacionavam nos mercados secundários.
Ativos externos do sistema bancário doméstico prosseguiram a tendência de diminuição no
primeiro semestre, assistindo-se a uma redução da exposição face aos bancos e setor público
não residentes
Em junho de 2011, os ativos externos do sistema bancário doméstico, em base consolidada, registaram
uma diminuição em termos homólogos de 14 por cento (-10 por cento face a dezembro de 2010),
representando cerca de 25 por cento do total do ativo doméstico8 (Quadro 4.1.2). Em termos de matu-
ridades, e contrariamente à tendência registada nos últimos dois anos, observou-se uma recomposição
da carteira a favor de ativos a curto prazo (até 1 ano), em detrimento de ativos a prazos mais longos.
No que se refere às contrapartes institucionais, continuou a registar-se uma tendência de diminuição
da exposição face a bancos estrangeiros, sendo também de salientar uma diminuição da exposição ao
setor público, designadamente à divida soberana de países da área do euro. Esta evolução é justifi cada
8 A análise da exposição internacional é efetuada de acordo com as orientações metodológicas do Bank for In-ternational Settlements para o reporte e publicação das “Consolidated banking statistics”. Nesta análise apenas se considera o subconjunto das instituições domésticas, em base consolidada, uma vez que as instituições não domésticas são integradas no perímetro de consolidação dos sistemas bancários dos países das respetivas sedes.
Quadro 4.1.2
ATIVOS EXTERNOS CONSOLIDADOS DO SISTEMA BANCÁRIO DOMÉSTICO NA ÓTICA DO RISCO IMEDIATO – ESTRUTURA | EM PERCENTAGEM
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Total (106 €) 108 913 113 005 117 727 120 299 114 903 103 497
Em percentagem do ativo total 28.9 29.0 29.3 29.2 27.8 25.4
Ativos internacionais 71.7 72.1 71.2 70.7 69.2 67.5
Maturidade
até 1 ano 23.6 21.8 19.0 18.0 17.4 19.1
de 1 a 2 anos 4.6 4.1 4.7 5.1 4.4 4.3
a mais de 2 anos 36.5 38.7 39.1 41.1 41.3 37.6
Outros 7.1 7.5 8.4 6.5 6.1 6.6
Contraparte institucional
Bancos 21.8 20.1 18.3 15.3 14.3 12.4
Setor público 2.2 2.8 4.5 5.3 4.9 4.4
Setor privado não bancário 47.0 48.9 48.1 49.7 49.7 50.4
Outros 0.7 0.3 0.2 0.5 0.2 0.2
Contraparte geográfi ca
Países desenvolvidos 49.6 53.3 51.6 48.4 48.8 48.4
Centros off-shore 7.4 6.1 5.8 6.0 4.9 4.8
Países em desenvolvimento na Europa 6.2 5.3 5.2 5.5 5.6 5.9
Outros 8.5 7.4 8.5 10.8 9.8 8.4
Ativos locais em moeda local 28.3 27.9 28.8 29.3 30.8 32.5
Contraparte geográfi ca
Países desenvolvidos 20.5 20.3 20.0 20.2 20.0 20.1
Centros off-shore 0.4 0.4 0.5 0.5 0.6 0.4
Países em desenvolvimento na Europa 4.7 4.3 5.1 4.8 5.1 5.9
Outros 2.8 2.9 3.1 3.8 5.2 6.1
Por memória:
Ativos locais em moeda local (106 €) 30 834 31 546 33 899 35 204 35 440 33 608
Passivos locais em moeda local (106 €) 21 472 23 007 24 819 22 237 25 291 22 802
Fonte: Banco de Portugal.
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pelo necessário ajustamento do balanço dos bancos, processo que tem sido preferencialmente concre-
tizado através da alienação de ativos externos não estratégicos, de forma a mitigar os efeitos sobre o
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Forte diminuição da rendibilidade do sistema bancário no primeiro semestre de 2011
refl etindo, inter alia, o aumento das provisões e imparidades associadas à carteira de crédito
No primeiro semestre de 2011, os resultados antes de impostos e interesses minoritários do sistema
bancário português, em base consolidada, registaram um decréscimo de 52.5 por cento face ao período
homólogo de 2010 (Quadro 4.1.3). Esta evolução refl etiu-se numa diminuição acentuada da rendibilidade
do ativo e dos capitais próprios, situando-se os respetivos indicadores em 0.25 e 4.2 por cento, no fi nal
de junho (0.29 e 4.4 por cento excluindo o BPN) (Gráfi co 4.1.2).
Para esta diminuição contribuíram, essencialmente, o aumento das provisões e imparidades associadas à
carteira de crédito a clientes9, num contexto de forte materialização do risco de crédito, e a diminuição
dos resultados em operações fi nanceiras (Gráfi co 4.1.3a). No segundo caso são de destacar as perdas
registadas nas operações de venda de créditos e na carteira de títulos de dívida. Em sentido contrário,
observou-se um contributo ligeiramente positivo da margem fi nanceira, a principal componente da
demonstração de resultados, que registou um aumento de 4.5 por cento em termos homólogos,
enquanto os rendimentos de serviços e comissões líquidas permaneceram praticamente inalterados
face a junho de 2010.
Face ao segundo semestre de 2010, registou-se igualmente um contributo negativo dos resultados em
operações fi nanceiras e das provisões e imparidades associadas à carteira de crédito a clientes, sendo
ainda de salientar o impacto negativo dos outros resultados de exploração (Gráfi co 4.1.3b). Por seu
turno, observou-se um contributo positivo da componente de custos operacionais (custos com pessoal,
9 Para mais detalhes ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.
Gráfi co 4.1.2
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Fonte: Banco de Portugal.
Notas: A quebra de série apresentada em 2004 corresponde à introdução das normas internacionais de contabilidade, a qual im-plicou uma redefi nição do conjunto de instituições bancárias analisado. Adicionalmente, existe uma quebra de série em 2007 que corresponde a um alargamento do conjunto das instituições em análise. Os dados relativos ao semestre encontram-se anualizados.
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Gráfi co 4.1.3a Gráfi co 4.1.3b
VARIAÇÃO HOMÓLOGA DA RENDIBILIDADE DO ATIVO – ROA | DECOMPOSIÇÃO DE CONTRIBUTOS
VARIAÇÃO FACE AO SEMESTRE ANTERIOR DA RENDIBILIDADE DO ATIVO – ROA | DECOMPOSIÇÃO
DE CONTRIBUTOS
Margem fi nanceira
Comissões liquídas
Rendimentos de instrumentos de capital
Resultados em operações fi nanceiras
Outros resultados de exploração
Custos operacionais
Provisões e imparidade associado a crédito a clientes
Outras provisões e imparidades
Apropriação de resultados de associadas e diferenças de consolidação
Variação do ROA
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: A rendibilidade do ativo é calculada considerando os resultados antes de impostos e de interesses minoritários.
gastos gerais administrativos e amortizações) e da rubrica de outras provisões e imparidades (associadas
a ativos fi nanceiros disponíveis para venda e a ativos não fi nanceiros), que tinha registado um forte
aumento no segundo semestre de 2010.
A análise das curvas de distribuição empírica sugere uma diminuição dos indicadores de rendibilidade do
ativo (ROA) e dos capitais próprios (ROE) transversal à generalidade das instituições bancárias (Gráfi cos
4.1.4 e 4.1.5), observando-se um aumento do peso das instituições com níveis de rendibilidade nega-
tivos. Este aumento é justifi cado essencialmente pelo facto de um dos principais bancos domésticos
ter apresentado resultados antes de impostos e interesses minoritários negativos no primeiro semestre
de 2011. Em termos gerais, o sistema bancário português registou uma queda aproximada de 80 por
cento da rendibilidade por comparação com os valores observados antes do início da crise económica
e fi nanceira, em 200710.
De acordo com a informação publicamente disponível para um conjunto de grandes instituições fi nanceiras
da área do euro, os indicadores de rendibilidade estabilizaram na primeira metade de 2011, atingindo,
em média, valores superiores aos registados pelos bancos portugueses. Contudo, é de salientar a forte
deterioração registada no segundo trimestre, período em que se assistiu ao exacerbar da crise da dívida
soberana dos países da área do euro e ao aumento da incerteza nos mercados fi nanceiros internacionais.
10 Em ambos os indicadores de rendibilidade (ROA e ROE).
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Gráfi co 4.1.4 Gráfi co 4.1.5
RENDIBILIDADE DO ATIVO | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA RENDIBILIDADE DOS CAPITAIS PRÓPRIOS | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA
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Jun-10Dez-10Jun-11
Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.
Notas: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo; indicador calculado considerando o resultado antes de impostos e de in-teresses minoritários.
Notas: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo; indicador calculado considerando o resultado antes de impostos e de in-teresses minoritários.
Margem fi nanceira diminuiu ligeiramente no primeiro semestre de 2011, acompanhando a
contração da atividade do sistema bancário
Tal como referido anteriormente, a margem fi nanceira, a principal componente do produto bancário
português, apresentou uma evolução positiva em termos homólogos e uma ligeira redução face ao
segundo semestre de 2010 (-2.6 por cento), acompanhando a diminuição do ativo bancário. Como se
observa no gráfi co 4.1.6, registou-se uma virtual estabilização da margem fi nanceira, em percentagem
do ativo total médio, pese embora a evolução diferenciada por tipo de operação.
Em primeiro lugar, destaque-se o aumento da margem associada a operações com instrumentos fi nan-
ceiros. A diminuição das responsabilidades representadas por títulos – decorrente das difi culdades de
renovação da dívida obrigacionista colocada, em larga medida, junto de não residentes – e o facto do
aumento da remuneração implícita dos ativos representados por títulos ter sido superior ao aumento
da remuneração das responsabilidades (efeito de preço positivo) contribuíram para a evolução favorável
desta componente. Adicionalmente, refi ra-se o contributo do aumento dos juros provenientes de títulos
de dívida pública e privada, emitida por residentes.
No que se refere às operações no mercado monetário, a diminuição da margem esteve sobretudo associada
a um efeito preço negativo. Num contexto de fortes restrições ao fi nanciamento dos bancos portugueses
nos mercados internacionais, o movimento de subida das taxas de juro interbancárias traduziu-se na
diminuição do diferencial entre a remuneração dos ativos e dos passivos interbancários (Quadro 4.1.4).
Adicionalmente, o facto de a posição líquida dos bancos portugueses no mercado interbancário se ter
mantido fortemente defi citária (incluindo a posição face ao Eurosistema) reforçou o efeito de preço,
concorrendo para explicar a diminuição da margem das operações no mercado monetário neste período.
Importa, contudo, salientar que a evolução desfavorável desta componente está diretamente relacionada
com o comportamento da margem associada a operações com instrumentos fi nanceiros e com clientes,
na medida em que os juros pagos pelo fi nanciamento obtido junto do BCE são mais do que compensados
pelos juros dos ativos que permite fi nanciar.
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Nas operações com clientes, a evolução da margem fi nanceira refl etiu essencialmente um efeito de
volume negativo, associado ao abrandamento da concessão de crédito ao setor privado não fi nanceiro e
ao aumento da captação de depósitos. A aplicação de spreads mais elevados na generalidade dos novos
empréstimos concedidos compensou virtualmente o impacto negativo sobre a margem do aumento da
remuneração dos recursos de clientes, observando-se uma estagnação do diferencial entre as taxas de
juro implícitas no crédito e nos depósitos (efeito de preço nulo). Num contexto de forte deterioração da
capacidade de fi nanciamento dos bancos no mercado de dívida por grosso, a evolução ascendente das
taxas de juro de curto prazo não se traduziu no aumento da margem associada a operações com clientes
que tipicamente tem caracterizado o sistema bancário português. De facto, de acordo com os dados
das Estatísticas Monetárias e Financeiras, que dizem respeito à atividade doméstica, a partir de meados
de 2010 assistiu-se a uma ligeira diminuição da margem total entre os empréstimos e os depósitos de
clientes, sendo de salientar o aumento das taxas de juro dos depósitos para valores signifi cativamente
superiores às taxas de juro do mercado interbancário (taxas Euribor) (Gráfi co 4.1.7). Com o objetivo de
conter a subida progressiva das taxas de remuneração dos depósitos e de mitigar os riscos acrescidos
para o sistema bancário que essa situação representa, o Banco de Portugal defi niu, no âmbito da sua
competência de supervisão prudencial, novas exigências de fundos próprios relativamente a depósitos
contratados com taxas de remuneração elevadas, isto é, superiores em 300 pontos base à taxa de refe-
rência do mercado interbancário para o prazo correspondente11.
No médio prazo, no contexto do processo gradual de desalavancagem do setor bancário, a redução
gradual do recurso ao Eurosistema deverá contribuir para a diminuição da margem fi nanceira. Contudo,
será também de referir que a substituição de fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por
grosso por depósitos tenderá a ter um impacto favorável sobre a margem fi nanceira. Por outro lado, a
adoção de uma política de concessão de crédito mais restritiva por parte dos bancos, nomeadamente
através da aplicação de spreads mais elevados nos novos empréstimos, deverá exercer um efeito posi-
tivo sobre a margem fi nanceira. Este facto é particularmente relevante no caso do crédito às empresas,
caracterizado por maturidades mais curtas o que facilita o repricing do crédito. Finalmente, o processo de
11 Para mais detalhes ver “Instrução nº 28/2011” do Banco de Portugal.
Gráfi co 4.1.6
DECOMPOSIÇÃO DA MARGEM FINANCEIRA | EM PERCENTAGEM DO ATIVO MÉDIO
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Operações com instrumentos fi nanceiros
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Margem fi nanceira – Total
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Os valores semestrais encontram-se anualizados.
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desalavancagem do balanço dos bancos, em particular, a redução do rácio entre crédito e depósitos dos
oito maiores grupos bancários para um nível de 120 por cento até ao fi nal de 2014, deverá condicionar,
em termos de volume, a evolução da margem fi nanceira.
O abrandamento da atividade económica no primeiro semestre resultou numa diminuição
generalizada da produção de serviços bancários
Depois do signifi cativo crescimento registado em 2010, os resultados associados a serviços e comissões
voltaram a abrandar no primeiro semestre de 2011, em resultado da queda generalizada na produção
de serviços bancários. Num quadro de contração da atividade económica e consequente redução do
volume de transações fi nanceiras na economia, observou-se uma diminuição considerável das comis-
sões associadas à gestão de cartões, administração, cobrança e transferência de valores, que caíram
aproximadamente 9 por cento nos primeiros seis meses do ano, face ao segundo semestre de 2010. No
mesmo sentido, refl etindo, por um lado, a dinâmica de recomposição da carteira de ativos fi nanceiros dos
particulares e, por outro, a gestão ativa dos bancos no sentido de privilegiarem a captação de depósitos,
registou-se uma diminuição das comissões associadas à gestão de fundos de investimento mobiliários.
Ainda assim, os valores observados são superiores aos do primeiro semestre de 2009, período também
caracterizado por um elevado grau de aversão ao risco por parte dos investidores. O crescimento das
comissões associadas à prestação de garantias/avales, a operações de factoring e à negociação de títulos
por conta de terceiros (em bolsa e fora de bolsa) concorreu para mitigar o impacto negativo desta rubrica
sobre a rendibilidade do sistema bancário.
Por seu turno, os rendimentos de instrumentos de capital evidenciaram um comportamento positivo no
primeiro semestre, justifi cado, essencialmente, pela distribuição do dividendo extraordinário da Portugal
Telecom (no seguimento da venda da participação no capital da Vivo), que tem como acionistas alguns
dos principais grupos bancários portugueses. Excluindo operações de caráter extraordinário, verifi cou-se
uma ligeira diminuição desta rubrica, refl etindo quer a diminuição dos resultados das empresas partici-
padas, quer o aumento da taxa de retenção dos mesmos.
Gráfi co 4.1.7
DIFERENCIAIS DE TAXA DE JURO NAS OPERAÇÕES COM CLIENTES
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Diferencial total
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Diferencial dos depósitos – Total (esc. dir; invertida)
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: O diferencial das operações ativas foi calculado como a diferença entre as taxas de juro de saldos dos empréstimos (disponi-bilizadas pelas Estatísticas Monetárias e Financeiras) e a média móvel de seis meses da Euribor a 6 meses, enquanto o das passivas como a diferença entre a média móvel de seis meses da Euribor a 6 meses e as taxas de juro de saldos dos depósitos. O diferencial total corresponde à diferença entre a taxa de juro dos empréstimos e a taxa de juros dos depósitos. Última observação: setembro de 2011.
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Num contexto de contração do produto bancário, a contenção dos custos operacionais
mitigou parcialmente a deterioração dos indicadores de efi ciência dos bancos
No primeiro semestre de 2011 observou-se uma contenção dos custos operacionais, em linha com a
estratégia de re-estruturação das redes comerciais e de racionalização do número de efetivos adotada
pelos principais grupos bancários. Em particular, no que se refere aos custos com pessoal, é de salientar a
diminuição, tanto em termos homólogos como semestrais, dos encargos sociais com fundos de pensões
e das remunerações de empregados. Num contexto de contração das componentes mais relevantes
do produto bancário, a contenção dos custos operacionais contribuiu para mitigar a deterioração dos
indicadores de efi ciência dos bancos portugueses. No primeiro semestre de 2011, o rácio cost to income
do sistema ascendeu a 58.3 por cento, o que representa um aumento de 0.7 pontos percentuais face
ao conjunto do ano de 201012. A deslocação para a direita da curva de distribuição empírica (Gráfi co
4.1.8) revela uma deterioração generalizada deste indicador. Saliente-se, ainda, a convergência dos níveis
de efi ciência dos bancos, particularmente evidente na comparação com o período homólogo do ano
anterior (caracterizado claramente por uma distribuição bimodal).
Atividade internacional representou mais de metade do resultado do sistema bancário no
primeiro semestre de 2011
Os resultados gerados pelas fi liais estrangeiras dos grupos bancários portugueses cresceram de forma
considerável no primeiro semestre de 2011, o que, juntamente com a forte diminuição dos resultados da
atividade doméstica, resultou num aumento acentuado do peso da atividade internacional no resultado
líquido do sistema bancário (Quadro 4.1.5). O aumento da margem fi nanceira e a diminuição das impa-
ridades registadas na atividade das fi liais estrangeiras contribuíram positivamente para esta evolução.
No médio prazo, as perspetivas favoráveis para atividade económica de países onde os grupos bancários
portugueses detêm posições importantes (Angola, Brasil e Moçambique) deverão continuar a suportar o
crescimento da atividade internacional e, consequentemente, o aumento do seu peso no resultado do
12 O rácio cost to income é defi nido como o quociente entre os custos operacionais (que correspondem à soma dos gastos gerais administrativos, dos custos com pessoal e das amortizações) e o produto da atividade.
Gráfi co 4.1.8
RÁCIO COST TO INCOME | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA
30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
Jun-10Dez-10Jun-11
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo ativo total; indicador calcula-do como o quociente entre os custos operacionais (defi nidos como o somatório dos custos com pessoal, dos custos administrativos e das depreciações) e o produto da atividade.
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sistema bancário português. Ainda assim, a tendência de concentração da atividade internacional em
torno de um número cada vez mais reduzido de mercados considerados estratégicos adiciona alguma
incerteza à evolução futura deste agregado.
Quadro 4.1.5
IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE INTERNACIONAL PARA OS RESULTADOS DOS SISTEMA BANCÁRIO | EM PERCENTAGEM
Peso das fi liais estrangeiras
Atividade internacional
Taxa de variação homóloga
Atividade domésticaTaxa de variação
homóloga
2009 2010 2011 2010 2011 2010 2011
Dez. Jun. Dez. Jun. Jun. Dez. Jun. Jun. Dez. Jun.
Margem fi nanceira 15.4 18.7 19.9 19.1 11.3 28.5 8.4 -15.9 -6.1 3.8
Comissões 14.9 14.6 13.9 15.1 17.5 3.8 1.0 13.1 12.0 0.1
Produto da atividade 14.5 20.5 19.3 19.4 38.9 35.6 -9.6 -12.3 -3.9 -0.4
Gastos administrativos 13.8 14.9 14.6 14.7 9.6 8.7 -4.2 1.1 2.3 0.5
dos quais: Custos com pessoal 13.7 15.4 14.9 15.0 12.4 12.4 -3.7 -1.7 1.6 2.8
Imparidade 9.5 13.2 12.0 4.4 56.5 27.6 -57.2 -16.0 -1.5 46.9
Resultado antes de impostos e de interesses minoritários 33.3 36.3 32.8 76.7 30.2 13.3 9.3 -14.6 15.2 -87.2
Resultado líquido 15.4 25.1 23.6 58.4 59.5 102.2 20.0 -5.9 17.5 -78.1
Fonte: Banco de Portugal.
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4.2. Risco de mercado
A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros do sistema bancário português diminuiu no decurso do
primeiro semestre de 2011, refl etindo em grande medida a perda de valor associada à evolução desfavo-
rável dos mercados fi nanceiros internacionais, em particular a crise nos mercados de dívida soberana da
área do euro, mas também a não renovação de alguns títulos que atingiram a maturidade e a alienação
de parte da carteira por algumas instituições, no contexto do respetivo processo de desalavancagem. As
crescentes difi culdades de colocação de dívida titulada no mercado por parte do Estado Português foram
acomodadas por algumas instituições bancárias, registando-se um aumento da exposição da carteira ao
risco soberano nacional. Uma vez que a carteira de títulos e investimentos fi nanceiros está maioritaria-
mente classifi cada em ativos fi nanceiros disponíveis para venda ou detidos até à maturidade, as elevadas
perdas de valor apuradas no semestre repercutiram-se apenas parcialmente na rendibilidade e capital
regulamentar das instituições. Por sua vez, a posição fi nanceira dos fundos de pensões dos empregados
bancários foi também condicionada de forma adversa pelos desenvolvimentos nos mercados fi nanceiros
internacionais, refl etindo-se negativamente nos rácios de capital das instituições. O agravamento das
condições nos mercados fi nanceiros no período mais recente, num quadro de abrandamento da atividade
económica e de intensifi cação da crise da dívida soberana na área do euro – com destaque para a dete-
rioração da situação da Grécia e para a intensifi cação do contágio a Espanha e a Itália – deverá reforçar
os efeitos negativos observados no primeiro semestre sobre a rendibilidade e o capital das instituições.
Adicionalmente, poderá limitar de forma signifi cativa a capacidade de alienação de alguns ativos, assim
como afetar as condições em que a mesma se realize.
Dada a exposição dos bancos europeus ao setor público da área do euro, a intensifi cação da crise da
dívida soberana e a maior aversão ao risco dos investidores têm condicionado negativamente a avaliação
dos bancos por parte dos participantes nos mercados fi nanceiros internacionais. Neste contexto, e face ao
aumento do risco sistémico, o Conselho Europeu aprovou recentemente um conjunto de medidas propostas
pela European Banking Authority (EBA) com o objetivo de reforçar os rácios de capital das principais
instituições europeias, entre as quais a constituição, até 30 de junho de 2012, de um buffer temporário
de capital refl etindo a avaliação a valores de mercado das exposições a dívida soberana detidas em 30 de
setembro de 201113. Refi ra-se que, de acordo com a regulamentação prudencial previamente defi nida pelo
Banco de Portugal, as instituições do sistema bancário nacional têm de deduzir a capital 21 por cento do
valor nominal das suas exposições à dívida pública helénica, com efeitos a partir de setembro de 2011.
A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros registou uma diminuição no primeiro
semestre de 2011, não obstante o aumento da exposição à dívida pública portuguesa
A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros do sistema bancário português apresentou uma dimi-
nuição no primeiro semestre de 2011, de cerca de 7 por cento14. Deste modo, interrompeu-se a trajetória
ascendente do peso desta carteira no total do ativo do sistema bancário que se verifi cava desde fi nal de
2008 (Gráfi co 4.2.1). Quando comparado com o período homólogo, o valor da carteira apresenta um
crescimento próximo de 8 por cento, refl etindo o aumento signifi cativo no segundo semestre de 2010.
A redução da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros no primeiro semestre de 2011 refl etiu a dete-
rioração das condições nos mercados fi nanceiros internacionais, evidenciando-se o aumento das taxas de
juro de dívida pública de alguns países da área do euro, a alienação de instrumentos fi nanceiros, incluindo
13 Para mais informações ver “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012”, deste Relatório.
14 A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros compreende os ativos fi nanceiros ao justo valor através de re-sultados incluindo derivados de negociação (líquidos de passivos detidos para negociação), os ativos fi nanceiros disponíveis para venda, os investimentos detidos até à maturidade, os investimentos em fi liais e o valor líquido de derivados de cobertura, registados no balanço do sistema bancário português, em base consolidada. A car-teira inclui ainda posições associadas a operações de titularização não desreconhecidas de balanço.
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títulos de capital, por parte de alguns grupos bancários, e a não renovação de posições que entretanto
atingiram a maturidade (Gráfi co 4.2.2). A opção pela venda e não renovação de alguns instrumentos
insere-se na estratégia adotada por algumas instituições para desalavancagem dos respetivos balanços, o
que contribuiu simultaneamente para a redução dos requisitos de capital regulamentar e para obtenção
de liquidez adicional, limitando o recurso a fi nanciamento junto do Eurosistema.
Apesar da diminuição da carteira, as instituições continuaram a adquirir títulos de dívida em montantes
signifi cativos, nomeadamente títulos de dívida pública portuguesa. Com efeito, as crescentes difi culdades
de fi nanciamento do setor público português junto de investidores internacionais, que aumentaram dras-
Gráfi co 4.2.1
CARTEIRA DE TÍTULOS E INVESTIMENTOS FINANCEIROS | DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO NIC
-2
0
2
4
6
8
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14
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Jun07
Dez07
Jun08
Dez08
Jun09
Dez09
Jun10
Dez10
Jun11
Em
per
cent
agem
do
ativ
o
Ativos fi nanceiros ao justo valor através de resultados (líquidos)
Ativos fi nanceiros disponíveis para venda
Investimentos detidos até à maturidade
Investimento em fi liais
Derivados detidos para negociação
Derivados de cobertura
Total da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Carteira de títulos e investimentos fi nanceiros registada no balanço do sistema bancário, em base consolidada.
Gráfi co 4.2.2
DECOMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE TÍTULOS E INVESTIMENTOS FINANCEIROS | DE ACORDO COM A
CLASSIFICAÇÃO NIC E FONTE DE RISCO
-2
0
2
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6
8
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Jun10
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Jun11
Jun10
Dez10
Jun11
Jun10
Dez10
Jun11
Jun10
Dez10
Jun11
Jun10
Dez10
Jun11
Ativos financeiros ao
justo valor através de resultados (líquidos)
Ativos financeiros disponíveis para venda
Investimentos detidos até à maturidade
Derivados de cobertura e
de negociação
Investimento em filiais
Em
per
cent
agem
do
ativ
o
Taxa de juroAçõesCambialOutrosFiliais
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Carteira de títulos e investimentos fi nanceiros registada no balanço do sistema bancário, em base consolidada.
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ticamente ao longo do primeiro trimestre de 2011 e que conduziram ao pedido de assistência fi nanceira
no início de abril, foram em grande medida supridas pela tomada de títulos de dívida pública por algumas
instituições bancárias. Posteriormente, já no contexto do Programa de Assistência Económica e Financeira,
a necessidade de intermediação de fi nanciamento a empresas públicas anteriormente concedido por não
residentes contribuiu também para o aumento da exposição dos bancos portugueses ao setor público
nacional. Assim, a componente de títulos de dívida pública portuguesa aumentou no decurso do primeiro
semestre de 2011, apesar do impacto negativo sobre o valor de parte desta carteira, decorrente do
signifi cativo aumento das taxas de juro da dívida pública nacional no período em análise (Gráfi co 4.2.3).
Refl etindo estes desenvolvimentos, em junho de 2011, a carteira de títulos de dívida continuava a
ser a principal componente da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros, representando perto de
14 por cento do ativo total em base consolidada. Por sua vez, o peso da carteira de títulos de capital
permaneceu limitado, em torno de 1 por cento do ativo total. Cerca de metade da carteira de títulos
de dívida é constituída por títulos de dívida soberana, dominando a componente nacional. De acordo
com a informação disponível, para alguns dos principais grupos bancários, os emissores soberanos da
área do euro representam uma parcela signifi cativa dos títulos de dívida pública estrangeira. Em termos
de distribuição dos títulos de dívida pública pelas diferentes carteiras de ativos, 69 por cento dos títulos
estão classifi cados em ativos fi nanceiros disponíveis para venda, 18 por cento em ativos detidos até à
maturidade, estando a restante carteira em ativos avaliados a justo valor através de resultados. Uma
vez que os títulos de dívida pública são normalmente emitidos com taxa de juro fi xa, o risco de taxa
de juro é elevado, num contexto em que as tensões nos mercados de dívida soberana na área do euro
permanecem exacerbadas.
Quando comparados com outros bancos da área do euro, em particular com os de países fortemente
pressionados nos mercados de dívida, os bancos portugueses continuam a apresentar, de um modo geral,
uma menor exposição dos respetivos balanços a títulos de dívida pública (Gráfi co 4.2.4). Com base na
informação divulgada no âmbito do exercício de stress test realizado pela EBA, a principal componente
destas exposições estará associada ao respetivo risco soberano, à semelhança do observado para as
instituições portuguesas.
Gráfi co 4.2.3 Gráfi co 4.2.4
DECOMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE TÍTULOS DE DÍVIDA
TÍTULOS DE DÍVIDA PÚBLICA DETIDOS POR INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS EM ALGUNS PAÍSES DA ÁREA DO EURO
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Em
milh
ares
de
milh
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uros
Dívida pública portuguesa e outros emitentes públicos residentesEmitentes públicos estrangeiros e organismos financeiros internacionaisOutros títulos de dívida
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Jan-07 Out-07 Jul-08 Abr-09 Jan-10 Out-10 Jul-11
Em
per
cent
agem
do
ativ
o
Portugal Irlanda Grécia Espanha Itália
Fonte: Banco de Portugal. Fonte: BCE.
Nota: Carteira de títulos de dívida no balanço do sistema ban-cário, em base consolidada.
Nota: Última observação – setembro 2011.
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A evolução da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros repercutiu-se de forma signifi cativa nos
resultados e no capital contabilístico do sistema bancário português no primeiro semestre de 2011. Neste
contexto, recorde-se que a distribuição da carteira entre as diferentes componentes de ativo é relevante no
apuramento dos resultados e na determinação do capital contabilístico e regulamentar das instituições15.
Face à intensifi cação da crise de dívida soberana na área do euro e à crescente pressão dos participantes
nos mercados fi nanceiros internacionais sobre o sistema bancário europeu, no fi nal de outubro, o
Conselho Europeu aprovou algumas medidas com o objetivo de reforçar os rácios de capital das institui-
ções participantes no exercício de stress test realizado pela EBA. Deste modo, estas instituições deverão
reforçar os respetivos níveis de capital de forma a atingir, até 30 de junho de 2012, um rácio Core Tier
1 de 9 por cento (fazendo uso de um conceito que implica inter alia deduções aos fundos próprios core
relacionados com participações em instituições fi nanceiras), tendo por base uma avaliação a valores de
mercado de toda a dívida soberana detida no fi nal de setembro de 2011, independentemente da carteira
de ativos onde estivesse classifi cada16,17.
Os resultados associados a operações fi nanceiras e imparidades em títulos e investimentos
fi nanceiros diminuíram de forma signifi cativa no primeiro semestre de 2011, contribuindo
negativamente para a evolução da rendibilidade do ativo
No primeiro semestre de 2011, os resultados em operações fi nanceiras ajustados das imparidades associadas
à carteira de títulos e investimentos fi nanceiros denotaram um decréscimo signifi cativo face ao primeiro
semestre de 2010, superior a 60 por cento (Gráfi co 4.2.5)18. Apesar de contribuírem positivamente para
a rendibilidade do ativo, a evolução destes resultados constituiu um dos principais contributos para a
diminuição da rendibilidade no período em análise. Em comparação com o segundo semestre do ano
anterior, registou-se uma diminuição de 26 por cento nos resultados de operações fi nanceiras e perdas
por imparidades na carteira de títulos e investimentos fi nanceiros.
Os resultados em operações fi nanceiras no primeiro semestre de 2011 benefi ciaram da realização de
mais-valias em alguns instrumentos de capital, associadas sobretudo à alienação de títulos de capital
classifi cados na carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para venda, bem como dos resultados obtidos
em diferenças cambiais e em outras operações fi nanceiras. Em sentido oposto, registou-se uma desva-
lorização da carteira de títulos de dívida, bem como menos-valias na alienação de títulos e créditos
realizada por alguns dos principais grupos bancários. Verifi cou-se também uma evolução desfavorável
dos resultados relativos a derivados. Por sua vez, as perdas por imparidade associadas à carteira de títulos
15 Em termos contabilísticos, as variações na carteira dos ativos fi nanceiros avaliados ao justo valor através de resultados refl etem-se na íntegra nas rubricas de resultados, enquanto as variações nas restantes componentes da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros apenas afetam os resultados do exercício quando relacionados com a alienação de instrumentos ou quando têm subjacentes alterações de valor que impliquem o reconhe-cimento de imparidades. Variações de valor que não exijam este registo são contabilizadas na componente de reservas de reavaliação, elemento dos capitais próprios. Deve notar-se que as variações de valor dos ativos fi nanceiros disponíveis para venda, também avaliados mark-to-market, têm impacto em termos prudenciais (i.e. sobre o capital regulamentar das instituições), embora de forma diferenciada por tipo de instrumento. Em particular, enquanto as mais e menos-valias latentes dos títulos de capital são consideradas na determinação dos fundos próprios, as variações de valor dos títulos de dívida têm um efeito neutro.
16 Refi ra-se que o conceito Core Tier 1 subjacente às medidas aprovadas no Conselho Europeu coincide com a defi nição utilizada no exercício de stress test realizado pela EBA em 2011.
17 Para mais detalhes sobre as medidas adotadas a nível europeu com impacto nos rácios de capital ver “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012“, deste Relató-rio.
18 Os resultados em operações fi nanceiras analisados nesta secção correspondem à soma dos resultados de ati-vos e passivos fi nanceiros avaliados ao justo valor através de resultados, dos resultados dos ativos fi nanceiros disponíveis para venda, dos resultados de reavaliações cambiais e dos resultados da alienação de outros ativos fi nanceiros. Por sua vez, a componente das perdas por imparidades corresponde às imparidades associadas à carteira de títulos e investimentos fi nanceiros.
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e investimentos fi nanceiros permaneceram relativamente próximas do observado no primeiro semestre
de 2010. Refi ra-se, no entanto, que estas perdas evidenciaram uma diminuição signifi cativa face ao
segundo semestre de 2010.
Ainda no que diz respeito aos resultados relacionados com os mercados fi nanceiros, as comissões líquidas
obtidas em operações fi nanceiras registaram uma diminuição em termos homólogos, que se refl etiu
numa ligeira redução do respetivo contributo para a rendibilidade do ativo. As principais componentes
subjacentes a esta redução relacionaram-se com a gestão de fundos de investimento e montagem de
operações, não compensada pela evolução favorável das comissões obtidas em operações com títulos
por conta de terceiros. Comparativamente ao segundo semestre de 2010, registou-se um aumento das
comissões líquidas. Esta evolução foi comum às diferentes componentes, com exceção das comissões
associadas à gestão de fundos de investimento.
O signifi cativo aumento das perdas latentes refl etiu-se desfavoravelmente na evolução do
capital contabilístico das instituições
A variação de valor dos ativos fi nanceiros disponíveis para venda repercutiu-se negativamente na evolução
dos capitais próprios e, em muito menor grau, no capital regulamentar do sistema bancário português.
Em particular, as desvalorizações registadas nos títulos desta carteira, sobretudo nos títulos de dívida, no
primeiro semestre de 2011, implicaram um aumento substancial das menos-valias latentes (próximo de
2900 milhões de euros), contribuindo para a diminuição dos capitais próprios contabilísticos. O impacto no
capital regulamentar foi também negativo, mas bastante inferior, em linha com a neutralidade em termos
Gráfi co 4.2.5
CONTRIBUTOS PARA A RENDIBILIDADE DO ATIVO DOS RESULTADOS EM OPERAÇÕES FINANCEIRAS E IMPARIDADES EM TÍTULOS E INVESTIMENTOS FINANCEIROS | DE ACORDO COM A FONTE DE RISCO, POR
SEGMENTOS SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO NIC
-0.2
-0.1
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
Taxade juro
Ações Outrosriscos
Taxade juro
Ações Outrosriscos
Derivados Filiais Cambiais Outros Imparida-des
Total
Em
per
cen
tage
m d
o at
ivo
méd
io
09S109S210S110S211S1
Ativos financeiros ao justo valor através de resultados (líquidos)
Ativos financeiros disponíveis para venda
Fonte: Banco de Portugal.
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prudenciais das variações de valor dos títulos de dívida classifi cados nesta carteira de ativos. Todavia, como
mencionado anteriormente, no âmbito das decisões do Conselho Europeu de outubro, a neutralidade
dos títulos de dívida pública registados nesta carteira foi revista, tendo as instituições participantes no
exercício de stress test da EBA que reconhecer em fundos próprios até junho de 2012 as desvalorizações
apuradas em 30 de setembro de 2011.
O capital regulamentar foi igualmente penalizado pela elevada sensibilidade da posição
fi nanceira dos fundos de pensões aos mercados fi nanceiros
Como referido em anteriores Relatórios de Estabilidade Financeira, a carteira de ativos dos fundos de
pensões dos empregados do sistema bancário português caracteriza-se por uma elevada sensibilidade
a fl utuações nos mercados fi nanceiros, nomeadamente nos mercados acionistas e de dívida titulada. A
evolução das condições nestes mercados ao longo do primeiro semestre de 2011 repercutiu-se negativa-
mente na posição fi nanceira dos fundos de pensões de algumas instituições. Neste contexto, registou-se
um aumento das deduções aos fundos próprios relacionados com os fundos de pensões, contribuindo
negativamente para a evolução do capital regulamentar. Uma vez que algumas instituições apresentam
perdas atuariais acumuladas acima do limite aceite na determinação do capital regulamentar, limite
usualmente designado por “corredor”, os desenvolvimentos nos mercados fi nanceiros tendem a ter um
impacto integral nos fundos próprios destas instituições19.
As fortes tensões nos mercados fi nanceiros internacionais, sobretudo de dívida soberana
na área do euro, refl etiram-se em pressões adicionais sobre os rácios de capital dos bancos
portugueses
A crescente relevância da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros no ativo dos bancos ao longo dos
últimos anos, em particular a componente de dívida soberana, constitui uma vulnerabilidade adicional
para o sistema bancário português. Com efeito, as fortes tensões nos mercados fi nanceiros internacionais,
que se adensaram consideravelmente no decurso do segundo semestre, criaram pressões adicionais para
os bancos no que diz respeito à gestão do ativo, rendibilidade e capital regulamentar.
A deterioração das condições prevalecentes nos mercados de dívida e de capitais observada ao longo de
2011 condiciona de forma signifi cativa a capacidade de desinvestimento em alguns ativos, num período
em que os bancos portugueses enfrentam restrições de liquidez e têm de proceder à desalavancagem
dos respetivos balanços, de forma a garantir no médio prazo uma estrutura de fi nanciamento mais
sustentável. A alienação de parte da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros nas atuais circunstân-
cias poderá implicar o reconhecimento de perdas substanciais, com impacto negativo na rendibilidade
e consequentemente nos rácios de capital das instituições. Os desenvolvimentos desfavoráveis nos
mercados fi nanceiros deverão também traduzir-se no aumento das menos-valias na carteira de títulos e
investimentos fi nanceiros detida pelas instituições, acentuando os efeitos negativos sobre a rendibilidade
e o capital observados no primeiro semestre.
Adicionalmente, a exposição das instituições portuguesas ao setor público nacional e ao de alguns países
da área do euro assumirá particular relevância nos próximos meses no que diz respeito aos níveis de
capital. Por um lado, face ao agravamento da situação orçamental e fi nanceira grega ao longo de 2011,
19 Em termos prudenciais, o montante dos desvios atuariais negativos que exceda o “corredor contabilístico”, defi nido como 10 por cento do máximo entre o valor da carteira dos fundos de pensões e o valor das respon-sabilidades, constitui um elemento negativo dos fundos próprios. No entanto, entre 2008 e 2012, existe um alargamento do “corredor” para efeitos prudenciais, sendo esse alargamento progressivamente diminuído ao longo do período. Com efeito, dadas as características excecionais registadas nos mercados fi nanceiros em 2008, o Banco de Portugal, através do Aviso nº11/2008, permitiu que os desvios atuariais negativos apurados em 2008, deduzidos do rendimento esperado dos ativos do fundo de pensões no ano, fossem reconhecidos nos fundos próprios de forma faseada ao longo de 4 anos.
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e em linha com a decisão na cimeira europeia realizada em julho, de envolvimento do setor privado no
programa de apoio fi nanceiro à Grécia, o Banco de Portugal determinou que as instituições teriam que
deduzir ao Core Tier 1, a partir de setembro de 2011, o montante correspondente a 21 por cento do
valor nominal das posições em risco perante dívida pública grega20. Por outro lado, apesar de uma parte
signifi cativa dos títulos de dívida soberana estar classifi cada em ativos disponíveis para venda ou detidos
até à maturidade, i.e. em ativos sujeitos a fi ltros prudenciais ou não contabilizados a valor de mercado,
as medidas recentemente adotadas na União Europeia relativamente à reavaliação de todas as exposições
soberanas detidas em setembro de 2011 traduzem-se em necessidades de capital elevadas para as quatro
principais instituições do sistema bancário português.
A adoção destas medidas visa reforçar a solidez das instituições e, consequentemente, promover a
confi ança no sistema bancário. No entanto, a persistência de fortes tensões nos mercados de dívida sobe-
rana, associada à incerteza quanto às políticas europeias para solucionar a crise, continua a condicionar
adversamente a avaliação por parte dos investidores das instituições bancárias com maiores exposições
ao setor público da área do euro.
Por fi m, os fundos de pensões dos empregados bancários constituem um elemento adicional de vulne-
rabilidade das instituições portuguesas aos desenvolvimentos nos mercados fi nanceiros internacionais.
A manutenção da turbulência nos mercados fi nanceiros deverá continuar a ter repercussões adversas e
signifi cativas na posição fi nanceira dos fundos de pensões. Para algumas instituições, estes desenvolvi-
mentos traduzir-se-ão em pressões adicionais sobre o respetivo capital regulamentar. Neste contexto será
de salientar o impacto decorrente da eventual transferência parcial dos fundos de pensões dos empregados
bancários para a Segurança Social, cujos detalhes ainda não foram anunciados.
Deste modo, a deterioração das condições nos mercados fi nanceiros internacionais, em particular a
intensifi cação da crise de dívida soberana na área do euro, pressiona os rácios de capital, aumentando
consideravelmente as necessidades de capital das instituições portuguesas no decurso dos próximos meses.
Recorde-se que, no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira, os bancos portugueses
têm que apresentar um rácio de Core Tier 1 mínimo de 9 por cento no fi nal de 2011 e de 10 por cento
a partir de dezembro de 201221. Neste contexto, o Programa de Assistência Económica e Financeira
contempla o reforço do fundo de apoio para capitalização dos bancos portugueses, para um montante
de 12 mil milhões de euros, que poderá ser utilizado na eventualidade das instituições não conseguirem
cumprir os novos requisitos de capital através de soluções de mercado, sem que essa utilização afete a
natureza privada das instituições.
Será ainda de salientar que, a médio prazo, no âmbito do Novo Acordo de Capital - Basileia III, a deter-
minação dos fundos próprios estará mais exposta a fl utuações nos mercados fi nanceiros. Em particular,
embora de forma progressiva, será eliminado o fi ltro prudencial aplicado aos ativos fi nanceiros disponíveis
para venda. Assim, toda a carteira de títulos registada a valores de mercado terá impacto nos fundos
próprios das instituições. Adicionalmente, a nova regulamentação prevê a eliminação, também de forma
faseada, do “corredor” na determinação do impacto sobre o capital regulamentar dos desvios atuariais
negativos associados aos fundos de pensões dos empregados bancários. O impacto de Basileia III é bastante
heterogéneo entre as principais instituições do sistema bancário e encontra-se condicionado pela eventual
transferência parcial dos fundos de pensões para a Segurança Social.
20 No âmbito do Pilar 2, o Banco de Portugal determinou que as instituições terão que deduzir, a partir de 30 de se-tembro de 2011, 21 por cento do valor nominal das posições em risco perante dívida pública grega ao respetivo Core Tier 1. No entanto, caso exista o reconhecimento de imparidade relativamente a esses títulos, o montante da referida dedução deverá ser reduzido pelo valor dessa mesma imparidade.
21 Para mais detalhes sobre as medidas defi nidas no Programa de Assistência Económica e Financeira a Portugal, em particular as medidas relacionadas com o sistema fi nanceiro português, ver “Caixa O programa de ajus-tamento económico e fi nanceiro no âmbito do pedido de assistência fi nanceira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional“ apresentada no Relatório Anual do Banco de Portugal de 2010.
4.3. Risco de liquidez
Num contexto caracterizado pelo recrudescimento das tensões nos mercados fi nanceiros internacionais,
traduzido na generalização das difi culdades de acesso aos mercados de dívida por grosso por parte dos
bancos europeus, os bancos portugueses conseguiram estabilizar o seu fi nanciamento junto do Euro-
sistema, se bem que a nível elevado. Esta evolução, que contrasta com a observada para o conjunto
dos bancos da área do euro, foi possibilitada pela intensifi cação do ajustamento do balanço dos bancos
domésticos, traduzida na contínua redução do rácio entre o crédito e os depósitos. De facto, assistiu-se a
um forte crescimento dos depósitos de clientes, bem como a alienações signifi cativas de ativos. Contudo,
a intensifi cação da crise da dívida soberana na área do euro teve também refl exos negativos sobre a
gestão da liquidez dos bancos portugueses, em particular via redução do valor do colateral subjacente às
operações de fi nanciamento quer com o BCE quer no mercado repo internacional. Finalmente, a possi-
bilidade de downgrades adicionais ao rating da República Portuguesa tem implicações negativas sobre
a valorização do colateral dos bancos para operações de fi nanciamento, exercendo pressões adicionais
sobre a sua capacidade de fi nanciamento.
O Programa de Assistência Económica e Financeira inclui medidas que visam uma redução do grau de
alavancagem do sistema bancário, uma redução ordenada do fi nanciamento junto do Eurosistema e
um reforço da posição de capital, que visam garantir a consolidação, a médio prazo, de uma estrutura
de fi nanciamento sustentável da economia portuguesa. Esta deverá privilegiar as fontes de fi nancia-
mento mais estáveis, tais como os recursos de clientes, em particular os depósitos, de forma a diminuir
a dependência do fi nanciamento nos mercados de dívida por grosso. Adicionalmente, as autoridades
comprometeram-se a facilitar a emissão de obrigações bancárias com garantia do Estado num valor até
35 mil milhões de euros. Recorde-se que a adoção de regras mais exigentes para a gestão de liquidez, no
âmbito da futura regulamentação comunitária sobre requisitos de liquidez, constitui um desafi o adicional
para os bancos a nível internacional, incluindo os portugueses22. De qualquer modo, o ajustamento do
balanço dos bancos portugueses previsto no Programa de Assistência Económica e Financeira é consen-
tâneo com a regulamentação internacional de liquidez a aplicar no futuro. A signifi cativa dispersão da
situação de liquidez dos bancos portugueses deverá repercutir-se em esforços de ajustamento bastante
diferenciados23. Assim, o Programa de Assistência Económica e Financeira visa reforçar a solidez dos
bancos, nomeadamente através de um processo de desalavancagem exigente mas gradual e adequado.
A capacidade de fi nanciamento do sistema bancário português nos mercados internacionais
continuou fortemente condicionada em 2011
A nível internacional subsistem bastantes dúvidas quanto aos mecanismos de resolução da crise da dívida
soberana na área do euro, o que tem vindo a exercer pressões signifi cativas sobre os bancos europeus.
Com efeito, o exacerbar da crise da dívida soberana na área do euro no verão de 2011, e o consequente
aumento do risco sistémico a nível europeu, contribuiu para adensar o problema de fi nanciamento dos
bancos portugueses. Neste contexto, o BCE continuou a ter um papel crucial para mitigar os efeitos de
contágio na área do euro. No mês de agosto de 2011, o BCE anunciou que iria implementar novamente
o Securities Market Programme, suspenso desde o fi nal de março. A atuação do BCE nos mercados
fi nanceiros secundários, através da aquisição de títulos de dívida no âmbito deste programa tem sido
bastante importante para mitigar a generalização de perturbações na área do euro. No início de outubro
22 Para mais detalhes sobre as propostas para o novo enquadramento regulamentar, ver “Caixa 2.1 As principais
propostas de Basileia III”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira - Novembro 2010.
23 No fi nal do segundo trimestre de 2011, os oito maiores grupos bancários do sistema bancário português envia-
ram pela primeira vez ao Banco de Portugal os seus planos de fi nanciamento e capital, nos quais evidenciaram
as estratégias a implementar para cumprir os objetivos e as orientações defi nidas pelo Banco de Portugal e pelo
BCE em colaboração com a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional.
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o BCE anunciou ainda um novo programa de aquisição de obrigações hipotecárias (covered bonds).
Adicionalmente, o BCE reduziu as taxas de juro de referência em 25 pontos base na reunião de 3 de
novembro e continuou a conduzir operações de cedência de liquidez a taxa fi xa e montante ilimitado,
por prazos até cerca de 1 ano.
No decurso de 2011 observou-se um signifi cativo aumento do prémio de risco associado à dívida pública
portuguesa no contexto das signifi cativas perturbações nos mercados de dívida soberana da área do euro.
Esta situação refl etiu-se num forte aumento dos Credit Default Swaps (CDS) para a república portuguesa
e para os principais grupos bancários portugueses. Refi ra-se que, depois do forte aumento registado em
2010, os CDS dos principais grupos bancários portugueses diminuíram consideravelmente no primeiro
trimestre de 2011, aproximando-se do CDS sobre as obrigações do tesouro de maturidade comparável,
conforme referido no último Relatório de Estabilidade Financeira (Gráfi co 4.3.1). No entanto, após a
formalização do pedido de auxílio fi nanceiro, o risco associado à dívida dos bancos nacionais retomou
a tendência ascendente. Como resultado, o diferencial médio dos CDS nacionais face ao índice repre-
sentativo da área do euro (Dow Jones iTraxx Financials) passou de cerca de 20 pontos base, no início de
2010, para aproximadamente 970 pontos base no início de novembro de 2011.
As taxas de juro no mercado monetário mantiveram-se em valores reduzidos, em linha com as taxas de
juro ofi ciais do BCE, embora apresentando uma tendência de subida no decurso de 2011, assistindo-se a
um aumento do diferencial entre operações não colateralizadas e colateralizadas (Gráfi co 4.3.2). Ainda,
assim, os bancos sentiram signifi cativas restrições quantitativas no acesso ao mercado monetário, essen-
cialmente nos segmentos de prazos mais longos, bem como um aumento do custo de fi nanciamento,
Gráfi co 4.3.1 Gráfi co 4.3.2
CREDIT DEFAULT SWAP SPREADS DE BANCOS PORTUGUESES (5 ANOS SENIOR)
CUSTO DE FINANCIAMENTO DOS BANCOS PORTUGUESES
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BCPCGDBESDJ iTraxx Financial Senior 5 yearsCDS República Portuguesa
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Operações principais de refinanciamento do BCEEuribor 6 meses (média mensal)Taxas de rendibilidade de obrigações senior de bancos portuguesesTaxas de rendibilidade de obrigações com garantia estatal de bancos portuguesesDepósitos a prazo do sector privado não financeiro (saldo)
Fontes: Bloomberg e Thomson Reuters. Fontes: Bloomberg e Banco de Portugal.
Nota: Última observação: 08/11/2011. Nota: A série da taxa de rendibilidade de obrigações senior de
bancos portugueses refere-se a médias ponderadas pelo mon-
tante de emissão de obrigações do BCP, BPI, BES, BST, CGD e
MG. A série correspondente a obrigações com garantia estatal
de bancos portugueses inclui obrigações emitidas pelo BCP e
BES. A falta de liquidez do mercado restringe a representativi-
dade dos preços das obrigações, pelo que as taxas apresenta-
das devem ser interpretadas como meramente indicativas. As
obrigações emitidas com garantia estatal têm subjacente uma
comissão paga ao governo de 50 p.b., a que se adiciona o pré-
mio de risco do credit default swap do banco (ou de bancos
semelhantes, caso não exista CDS para esse emitente) à data de
emissão se esta tiver uma maturidade superior a 1 ano.
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que se agravaram após a cimeira de 26 de outubro24. Adicionalmente, o impacto dos downgrades da
notação de rating da República Portuguesa nos ratings dos próprios bancos, bem como no valor dos
títulos de dívida soberana e na disponibilidade das contrapartes os aceitarem como colateral deterioraram
a capacidade de fi nanciamento dos bancos portugueses. De facto, para além dos efeitos diretos das
tensões na dívida soberana sobre os bancos, por via da exposição a estes ativos, existem outros efeitos
indiretos que também afetam negativamente a estabilidade fi nanceira, nomeadamente o aumento do
risco soberano tem implicações negativas sobre a valorização do colateral dos bancos para operações de
fi nanciamento, exercendo pressões adicionais sobre a sua capacidade de refi nanciamento.
Num enquadramento marcado pela crescente diferenciação do risco soberano na área do euro, verifi -
caram-se fortes aumentos das taxas de rendibilidade em mercado secundário das obrigações emitidas
por bancos portugueses com garantia estatal e das obrigações senior de bancos portugueses. Adicio-
nalmente, as taxas de rendibilidade das covered bonds emitidas pelos bancos portugueses mantiveram
um perfi l ascendente, aumentando o seu diferencial face ao índice IBoxx, que constitui um benchmark
e agrega títulos semelhantes de melhor qualidade (investment grade) emitidos em euros (Gráfi co 4.3.3).
Esta evolução constitui um indicador da perceção de risco dos investidores internacionais relativamente
aos bancos portugueses, mas não se traduziu num custo efetivo de fi nanciamento destes nos mercados
de dívida por grosso a médio e longo prazo já que o acesso a estes mercados se lhes encontra vedado
desde o fi nal de abril de 2010.
Financiamento do sistema bancário português dependente, em larga medida, da cedência de
liquidez do Eurosistema e da captação de depósitos junto de clientes, face às difi culdades de
acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso
Na primeira metade de 2011, e em particular no segundo trimestre, a expansão da atividade do sistema
bancário português foi fi nanciada essencialmente através da captação de recursos de clientes sob a
forma de depósitos (Gráfi co 4.3.4). Adicionalmente, o aumento do recurso às operações de cedência
de liquidez do Eurosistema contribuiu também, embora em muito menor grau do que no primeiro
semestre de 2010, para o fi nanciamento dos bancos. Em sentido contrário, registou-se uma diminuição
das responsabilidades representadas por títulos e dos recursos líquidos de outras instituições de crédito,
24 Para mais detalhes relativos à cimeira de 26 de outubro ver “Capítulo 2 Riscos macroeconómicos e fi nanceiros”,
deste Relatório.
Gráfi co 4.3.3
TAXAS DE RENDIBILIDADE DAS COVERED BONDS
0
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Taxa de rendibilidade das covered bonds de bancos portuguesesIboxx Euro Covered 1-10 years yield
Fontes: Thomson Reuters e Bloomberg.
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em consequência das fortes restrições no acesso dos bancos aos mercados internacionais de dívida por
grosso, em particular nas maturidades médias e longas. Tiveram também lugar compras de obrigações
próprias em mercado secundário. De acordo com a informação mais recente das Estatísticas Monetárias e
Financeiras, que diz respeito à atividade doméstica dos bancos, nos seis meses terminados em setembro de
2011, o fi nanciamento do sistema bancário português continuou a apresentar uma estrutura semelhante
à observada no primeiro semestre (Gráfi co 4.3.5). O recurso às operações de cedência de liquidez do BCE
permaneceu relativamente estável, em níveis elevados, representando no fi nal de setembro cerca de 10
por cento do balanço do sistema. A informação disponível para os últimos meses não indicia alterações
signifi cativas na evolução do passivo do sistema bancário, sendo contudo expectáveis alterações signifi -
cativas da estrutura de fi nanciamento dos bancos no médio prazo. Em particular, espera-se uma maior
importância dos depósitos de clientes, uma diminuição do fi nanciamento junto do Eurosistema e um
Gráfi co 4.3.4
FLUXOS SEMESTRAIS DE FINANCIAMENTO DO SISTEMA BANCÁRIO EM BASE CONSOLIDADA
-30
-20
-10
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S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1
2007 2008 2009 2010 2011 2007 2008 2009 2010 2011
Em
milh
ares
de
milh
ões
de e
uros
Bancos domésticosSistema bancário
Recursos de clientes e outros empréstimosResponsabilidades representadas por títulosPassivos subordinadosPassivos por ativos não desreconhecidos em operações de titularizaçãoRecursos (líq.) de outras instituições de créditoRecursos (líq.) de bancos centraisFinanciamento total
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Existe uma quebra de série em junho de 2007 que corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise.
Gráfi co 4.3.5
PRINCIPAIS PASSIVOS DA ATIVIDADE DOMÉSTICA DO SETOR BANCÁRIO PORTUGUÊS | CONTRIBUTO PARA A
TAXA DE VARIAÇÃO SEMESTRAL
-8.0
-6.0
-4.0
-2.0
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Jan-07 Set-07 Mai-08 Jan-09 Set-09 Mai-10 Jan-11 Set-11
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do
ativ
o to
tal
Capital e reservas
Passivos diversos
Títulos exceto capital
Depósitos e equiparados do setor não monetário residente
Depósitos e equiparados de não residentes
Passivos face ao Banco de Portugal
Total do passivo e capital
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Última observação: setembro 2011.
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retorno aos mercados de dívida de médio e longo prazo, na sequência do regresso a estes mercados por
parte do Estado no terceiro trimestre de 2013, de acordo com o assumido no Programa de Assistência
Económica e Financeira.
No período de janeiro a setembro de 2011, o valor das emissões de obrigações do sistema bancário
português situou-se em cerca de 9 mil milhões de euros, mantendo a tendência de diminuição obser-
vada desde o início de 2010. O montante relativo a emissões a taxa fi xa foi signifi cativamente inferior
ao de obrigações a taxa variável (Quadro 4.3.1). A maior parte destas emissões insere-se na estratégia
dos bancos de emissão de títulos para utilizar como colateral nas operações de cedência de liquidez do
Eurosistema. Na primeira metade de 2011, destacou-se a emissão de covered bonds, correspondendo
a um valor próximo de 80 por cento do total de obrigações emitidas. Mais recentemente, dadas as
difi culdades acrescidas de emissão de dívida nos mercados primários (mesmo no mercado de covered
bonds), em linha com uma avaliação progressivamente mais negativa pelos participantes nos mercados
fi nanceiros e pelas agências de rating da qualidade dos títulos emitidos pelas instituições fi nanceiras
nacionais, estas têm vindo a recorrer à emissão de obrigações com garantia do Estado. No terceiro
trimestre de 2011, a emissão de obrigações com garantia do Estado representou cerca de 70 por cento
do total das obrigações emitidas pelos bancos, o que corresponde a 2080 milhões de euros. Quanto
à estrutura de fi nanciamento dos bancos no mercado de títulos, observou-se ao longo de 2010 uma
diminuição considerável do stock de certifi cados de depósito no passivo dos bancos, que levou a uma
diminuição do peso destes instrumentos no total das responsabilidades representadas por títulos. No
primeiro semestre de 2011, o seu peso manteve-se virtualmente inalterado face ao fi nal do ano anterior
(Gráfi co 4.3.6). As difi culdades de acesso aos mercados de fi nanciamento por grosso traduziram-se numa
diminuição do saldo vivo das obrigações emitidas por bancos portugueses em 2010 e, sobretudo, no
período de janeiro a setembro de 2011 (Gráfi co 4.3.7).
Os recursos de clientes sob a forma de depósitos mantiveram-se como principal fonte de fi nanciamento
dos bancos, representando em junho de 2011 cerca de 46 por cento do ativo em base consolidada (51
por cento no caso das instituições domésticas). Face às difi culdades de acesso aos mercados internacionais
de dívida por grosso, ao nível elevado de fi nanciamento obtido junto do Eurosistema e à necessidade
de desalavancagem dos bancos, a captação de depósitos tem vindo a assumir um papel relevante na
sua estratégia de fi nanciamento. Neste contexto, após um período de alguma estagnação no primeiro
semestre de 2010, a captação de depósitos junto de residentes voltou a aumentar na segunda metade
do ano, tendência que se manteve ao longo de 2011, tendo-se registado uma diminuição dos depósitos
do setor não monetário não residente (Gráfi co 4.3.8).
O aumento dos depósitos do setor não monetário residente esteve associado essencialmente à evolução
dos depósitos de particulares. A taxa de variação homóloga destes depósitos tem apresentado uma
tendência crescente, situando-se em 9.6 por cento no fi nal de setembro de 2011 (Gráfi co 4.3.9). De
acordo com informação mais recente relativa aos oito maiores grupos bancários portugueses, a taxa de
variação homóloga dos depósitos dos particulares situou-se em 9.2 por cento em outubro de 2011. Esta
evolução é justifi cada quer pela dinâmica de recomposição da carteira de ativos fi nanceiros dos parti-
Quadro 4.3.1
EMISSÕES BRUTAS DE OBRIGAÇÕES DOS GRUPOS BANCÁRIOS PORTUGUESES | ESTRUTURA POR TIPO DE
TAXA (EM PERCENTAGEM DO TOTAL)
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011(a) Posição em 30 de setembro de 2011
Taxa variável 87.8 98.1 82.7 75.9 49.7 32.4 60.3 77.1 57.3
Taxa fi xa e outros 12.2 1.9 17.3 24.1 50.3 67.6 39.7 22.9 42.7
Fontes: Bloomberg, Dealogic Bondware e Thomson Reuters.
Nota: (a) Inclui observações até 30 de setembro 2011.
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culares - num quadro de elevada aversão ao risco -, quer pelo incentivo das instituições fi nanceiras em
integrar no balanço recursos que se encontravam fora do perímetro de consolidação, como os montantes
aplicados em fundos de investimento ou companhias de seguro dos respetivos grupos fi nanceiros. De
facto, o aumento dos depósitos bancários contrasta com a queda verifi cada na generalidade dos outros
instrumentos de poupança, nomeadamente a diminuição dos títulos de dívida dos bancos colocados junto
de clientes, a já referida diminuição das subscrições líquidas de unidades de participação em fundos de
Gráfi co 4.3.6 Gráfi co 4.3.7
ESTRUTURA DAS RESPONSABILIDADES REPRESENTADAS POR TÍTULOS | EM BASE
CONSOLIDADA
SALDO VIVO DAS OBRIGAÇÕES EMITIDAS POR BANCOS PORTUGUESES POR MATURIDADE RESIDUAL | EM PORTUGAL E NO EXTERIOR
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ObrigaçõesCertificados de depósitoOutras responsabilidades representadas por títulos
Bancos domésticosSistema bancário0
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Dez-06 Dez-07 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Set-11E
m m
ilhar
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ilhõe
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eur
os
Mais de 10 anos ou obrigações perpétuas5 a 10 anos3 a 5 anos2 a 3 anos1 a 2 anosAté 1 ano
Fonte: Banco de Portugal. Fontes: Bloomberg, Dealogic Bondware e Thomson Reuters.
Nota: Inclui emissões de sucursais e fi liais de bancos portugue-
ses no exterior.
Gráfi co 4.3.8
TAXAS DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA DOS DEPÓSITOS DE CLIENTES
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Dez-98 Jan-01 Fev-03 Mar-05 Abr-07 Mai-09 Jun-11
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Depósitos em Portugal do setor não monetário (residente e não residente) e depósitos no exterior (residentes)(a)
Depósitos em Portugal e no exterior do setor não monetário residente(a)
Recursos de clientes (sistema bancário em base consolidada)
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: (a) Excluindo passivos por contrapartida de operações de titularização não desreconhecidas do balanço, registados sob a
forma de depósitos (e equiparados) de OIFAF. Última observação: junho 2011.
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investimento e o aumento dos resgates de certifi cados de aforro25. O forte crescimento dos depósitos de
particulares é especialmente relevante tendo em conta a sua maior estabilidade. Contudo, é de antecipar
um abrandamento a prazo do crescimento destes depósitos uma vez que a sua evolução recente tem
subjacente, em parte, ajustamentos da carteira dos particulares. A desagregação do total dos depósitos
bancários por setor institucional evidencia ainda uma desaceleração dos depósitos de sociedades não
fi nanceiras ao longo de 2011, depois de terem sido afetados por fatores temporários, uma diminuição
signifi cativa dos depósitos de não residentes e um aumento dos depósitos das administrações públicas,
setores cujos depósitos apresentam tipicamente uma evolução mais volátil (Gráfi co 4.3.10).
Diminuição signifi cativa do rácio entre o crédito e os recursos de clientes, sugerindo que se
terá intensifi cado na primeira metade de 2011 o processo ordenado de desalavancagem do
sistema bancário
No período de janeiro a setembro de 2011, o rácio entre o crédito e os recursos de clientes manteve a
tendência decrescente iniciada no terceiro trimestre do ano anterior26. Esta evolução foi semelhante para
o sistema bancário e para o agregado dos bancos domésticos, mantendo estes últimos níveis inferiores
aos observados para os bancos não domésticos (Gráfi cos 4.3.11 e 4.3.12). A diminuição observada
no rácio entre o crédito e os recursos de clientes refl etiu essencialmente o aumento dos depósitos de
clientes, mas também alguma diminuição do crédito, refl etindo em larga medida vendas de crédito.
Esta evolução surge em linha com o compromisso de desalavancagem ordenado e gradual assumido
no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira. O rácio entre o crédito e os depósitos
relativos à atividade internacional dos bancos domésticos registou uma diminuição a partir do último
trimestre de 2010, apresentando alguma estabilização no segundo trimestre de 2011. Este rácio manteve-
-se em valores relativamente reduzidos comparativamente aos observados para a atividade doméstica27.
25 Para mais detalhes a respeito da evolução da carteira de aplicações fi nanceiras dos particulares ver “Capítulo 3
Situação fi nanceira dos particulares e sociedades não fi nanceiras”, deste Relatório.
26 O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não considera os títulos emitidos pelos
bancos e colocados junto de clientes.
27 O valor dos créditos titularizados e não desreconhecidos, que não está incluído nos rácios entre o crédito e os
depósitos calculados para a atividade internacional, está em larga medida concentrado na atividade doméstica
dos bancos.
Gráfi co 4.3.9
DEPÓSITOS DE PARTICULARES RESIDENTES | TAXAS DE VARIAÇÃO
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Dez-98 Out-00 Ago-02 Jun-04 Abr-06 Fev-08 Nov-09 Set-11
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Taxa de variação homólogaTaxa de variação trimestral anualizada
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: A taxa de variação trimestral anualizada é calculada com base em valores ajustados de sazonalidade. Última observação:
setembro 2011.
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No quadro do Programa de Assistência Económica e Financeira, fi cou estabelecido que os oito maiores
grupos bancários deverão atingir um rácio entre o crédito e os depósitos de 120 por cento no fi nal de
2014, procedendo à redução gradual deste rácio, nos casos em que tal é relevante28. No fi nal de setembro
de 2011, o rácio entre o crédito e os depósitos dos oito maiores grupos bancários portugueses situava-se
em 139 por cento, menos 9 pontos percentuais do que em dezembro de 2010 (Gráfi co 4.3.13).
28 O conceito de crédito utilizado é líquido de imparidades e inclui créditos titularizados e não desreconhecidos. O
conceito de depósitos não inclui títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes e considera linhas
de fi nanciamento estáveis com a casa-mãe, acionistas qualifi cados ou instituições multilaterais.
Gráfi co 4.3.11
RÁCIOS ENTRE CRÉDITO E RECURSOS DE CLIENTES(a) | SISTEMA BANCÁRIO
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Jun-05 Mar-06 Dez-06 Set-07 Jun-08 Mar-09 Dez-09 Set-10 Jun-11
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Rácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientesRácio crédito líquido (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes(b)
Rácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titulari-zados e não desreconhecidos) - recursos de clientes
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) São utilizados dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não
considera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. A quebra de série em 2007 corresponde a um alargamento
do conjunto de instituições em análise. (b) Dados recolhidos ao abrigo da Instrução nº13/2009 do Banco de Portugal, que considera
apenas as instituições que recebem depósitos de clientes.
Gráfi co 4.3.10
DEPÓSITOS DO SETOR NÃO MONETÁRIO - ATIVIDADE DOMÉSTICA | TAXAS DE VARIAÇÃO ANUAL E CONTRIBUTOS
POR SETOR INSTITUTIONAL
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Jan-07 Out-07 Jul-08 Abr-09 Jan-10 Out-10 Jul-11
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Companhias de Seguro e Fundos de PensõesInstituições fi nanceiras não monetárias excluindo depósitos com prazo acordado superior a 2 anosAdministrações PúblicasSociedades não fi nanceirasParticularesEmigrantesNão residentes Total de depósitos(a)
Total depósitos de residentes(a)
Total depósitos excluindo os depósitos das administrações públicas(a)
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: (a) Exclui os depósitos com prazo acordado superior a 2 anos de instituições fi nanceiras não monetárias. Última observação:
setembro de 2011.
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A diminuição do rácio entre o crédito e os recursos de clientes no fi nal do terceiro trimestre de 2011 foi
registada pela generalidade das instituições domésticas. Com efeito, neste período, a curva de distribuição
empírica relativa a este rácio deslocou-se para a esquerda, quer face ao observado em igual período do
ano anterior, quer face a dezembro de 2010 (Gráfi co 4.3.14). É de salientar que a distribuição bimodal
aponta para a existência de dois grupos importantes de bancos com necessidades de ajustamento
bastante diferenciadas.
Gráfi co 4.3.12
RÁCIOS ENTRE CRÉDITO E RECURSOS DE CLIENTES(a) | BANCOS DOMÉSTICOS
90
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110
120
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Jun-05 Mar-06 Dez-06 Set-07 Jun-08 Mar-09 Dez-09 Set-10 Jun-11
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Rácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientesRácio crédito líquido (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes(b)
Rácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titulari-zados e não desreconhecidos) - recursos de clientesRácio crédito bruto - recursos de clientes (atividade interna-cional)Rácio crédito líquido de imparidade - recursos de clientes (atividade internacional)
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) São utilizados dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não
considera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. A quebra de série em 2007 corresponde a um alargamento
do conjunto de instituições em análise. (b) Dados recolhidos ao abrigo da Instrução nº13/2009 do Banco de Portugal, que considera
apenas as instituições que recebem depósitos de clientes.
Gráfi co 4.3.13
RÁCIO ENTRE CRÉDITO E DEPÓSITOS DOS OITO MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS RESIDENTES
100
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Em
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cent
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Fonte: Banco de Portugal.
Notas: O conceito de crédito utilizado é líquido de imparidades e inclui créditos titularizados e não desreconhecidos. O conceito de
depósitos não inclui títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes e considera linhas de fi nanciamento estáveis com a
casa-mãe, acionistas qualifi cados ou instituições multilaterais
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Banc
ário
Num quadro de signifi cativas difi culdades de acesso aos mercados de dívida por grosso,
o fi nanciamento junto do Eurosistema manteve-se num nível elevado, mas relativamente
estável na primeira metade de 2011
Não obstante a persistência de difi culdades de acesso aos mercados de dívida internacional, quer em
termos de preço, quer em termos de quantidade, o recurso dos bancos portugueses ao fi nanciamento
junto do Eurosistema manteve-se em níveis elevados, mas virtualmente estáveis, face ao fi nal de 2010
(Quadro 4.3.2; Gráfi co 4.3.15). Em contraste, o recurso ao fi nanciamento obtido junto do Eurosistema
para o conjunto da área do euro tem seguido uma trajetória ascendente no período mais recente, em linha
com a intensifi cação e generalização das difi culdades no acesso dos bancos europeus ao fi nanciamento
nos mercados de dívida por grosso, em particular nas maturidades médias e longas (Gráfi co 4.3.16). De
facto, as perturbações deixaram de assumir uma magnitude signifi cativa apenas nos países com programas
de assistência económica e fi nanceira (Grécia, Irlanda e Portugal), passando a afetar outros países onde
também existem receios quanto à sustentabilidade das fi nanças públicas (Bélgica, Chipre, Eslováquia,
Eslovénia, Espanha, França e Itália). Por sua vez, o fi nanciamento junto de outras instituições de crédito
registou uma diminuição no segundo trimestre do ano, consentânea com a deterioração da perceção
do risco dos investidores internacionais relativamente aos bancos portugueses.
O Programa de Assistência Económica e Financeira a Portugal prevê a necessidade de reforço do colateral
dos bancos, no sentido de, entre outras, preservar o recurso às operações de cedência de liquidez do
BCE. Tal é particularmente relevante uma vez que o valor da pool de colateral para efeitos de acesso
às operações de crédito do BCE é afetada negativamente pelo agravamento das tensões nos mercados
fi nanceiros internacionais. No primeiro semestre de 2011, registou-se um aumento do valor da pool de
colateral para o que contribuíram os títulos de dívida pública, bem como as obrigações hipotecárias. A
evolução destes ativos compensou a diminuição observada ao nível dos Asset Backed Securities. Poste-
riormente, até ao fi nal do mês de outubro, destacou-se o contributo dos títulos emitidos com garantia
do Estado, o que permitiu mitigar a ligeira diminuição observada no valor total da pool de colateral.
Gráfi co 4.3.14
RÁCIO ENTRE O CRÉDITO E OS RECURSOS DE CLIENTES - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS | DISTRIBUIÇÃO
EMPÍRICA
0 50 100 150 200 250 300
Set-10
Dez-10
Set-11
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não considera títulos emi-
tidos pelos bancos e colocados junto de clientes. Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal.
Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pondera as insti-
tuições pelo seu ativo.
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Ligeira deterioração dos gaps de liquidez no decurso dos três primeiros trimestres de 2011
No terceiro trimestre de 2011, os gaps de liquidez apresentaram uma deterioração muito ligeira em
todos os prazos considerados face ao fi nal de 2010, sendo esta evolução semelhante para o sistema
Gráfi co 4.3.15
SALDO DAS OPERAÇÕES DE POLÍTICA MONETÁRIA DOS BANCOS PORTUGUESES
-4
-2
0
2
4
6
8
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12
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-10
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Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Jul-11
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Operações principais de refi nanciamentoOperações de refi nanciamento de prazo alargadoFacilidade permanente de cedência de liquidezOutras operações de cedência de liquidez(a)
Facilidade permanente de depósitoOutras operações de absorção de liquidez(b)
Peso do fi nanciamento obtido junto do Eurosistema no ativo concolidado das OIFM residentes(c) (esc. dir.)
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Inclui as “Operações ocasionais de regularização de liquidez” e as “Operações estruturais de ajustamento de liquidez”.
(b) Inclui “Depósitos a prazo” e “Acordos de recompra”. (c) OIFM - Outras Instituições Financeiras Monetárias. Última observação:
outubro 2011.
Quadro 4.3.2
POSIÇÃO DOS BANCOS PORTUGUESES FACE A BANCOS CENTRAIS E A OUTRAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO | EM BASE CONSOLIDADA, EM MILHARES DE MILHÕES DE EUROS
Sistema bancário Dez-07 Dez-08 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11
Recursos (líq.) de bancos centrais -6.9 3.7 4.2 34.9 38.7 36.9 40.0
Recursos (líq.) de outras instituições de crédito 32.7 40.7 35.4 43.1 49.2 50.9 44.5
Caixa, disponibilidades e aplicações em bancos centrais 12.7 10.7 15.3 11.1 10.5 9.1 9.5
Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito 39.7 33.6 38.9 35.9 31.9 31.9 33.0
no país 8.5 11.9 13.2 13.0 8.8 8.0 9.1
no estrangeiro 31.2 21.7 25.7 22.9 23.0 23.9 23.9
Recursos de bancos centrais 5.7 14.4 19.4 46.0 49.2 46.0 49.6
Recursos de outras instituições de crédito 72.4 74.3 74.3 79.0 81.1 82.8 77.5
no país 7.7 10.2 8.6 7.5 7.0 6.7 5.9
no estrangeiro 64.7 64.1 65.8 71.5 74.1 76.1 71.5
Bancos domésticos Dez-07 Dez-08 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11
Recursos (líq.) de bancos centrais -8.1 2.4 2.2 30.5 32.9 33.0 36.8
Recursos (líq.) de outras instituições de crédito 9.8 8.4 6.0 8.5 10.7 14.0 6.6
Caixa, disponibilidades e aplicações em bancos centrais 11.6 9.2 13.4 9.2 9.0 8.1 7.8
Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito 26.0 23.4 23.4 18.4 15.4 13.4 16.0
no país 6.1 9.3 10.8 9.3 6.2 5.4 7.0
no estrangeiro 19.9 14.2 12.6 9.1 9.2 7.9 9.1
Recursos de bancos centrais 3.5 11.5 15.7 39.7 41.9 41.1 44.6
Recursos de outras instituições de crédito 35.8 31.8 29.5 26.9 26.1 27.4 22.6
no país 5.5 7.9 6.0 4.8 5.7 5.7 5.0
no estrangeiro 30.3 23.9 23.5 22.2 20.4 21.7 17.6
Fonte: Banco de Portugal.
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bancário e para o agregado dos bancos domésticos (Gráfi co 4.3.17)29. Esta evolução refl etiu o menor
contributo dos ativos elegíveis (disponíveis) como garantia em operações de crédito de bancos centrais,
associado à diminuição do valor dos ativos integrados na pool de colateral, em linha com os sucessivos
downgrades da República Portuguesa, e também o ligeiro aumento do recurso a operações de crédito
do Eurosistema (Gráfi co 4.3.18).
Os gaps de liquidez evoluíram de forma próxima para a generalidade das instituições domésticas nos
três primeiros trimestres de 2011 (Gráfi cos 4.3.19 e 4.3.20). Contudo, em linha com o agudizar das
tensões nos mercados fi nanceiros internacionais, observou-se uma ligeira deslocação das curvas de
29 Gap de liquidez defi nido como (Ativos Líquidos – Passivos Voláteis)/(Ativo – Ativos Líquidos)x100, em cada esca-
la cumulativa de maturidade.
Gráfi co 4.3.17
GAPS DE LIQUIDEZ EM ESCALAS CUMULATIVAS DE MATURIDADE
-21
-18
-15
-12
-9
-6
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3
6
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Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: Gap de liquidez defi nido como (Ativos líquidos - Passivos voláteis)/(Ativo - Ativos líquidos)x100 em cada escala cumulativa de
maturidade residual. O indicador foi calculado com base nos dados e nos conceitos defi nidos na Instrução nº13/2009. Os resultados
para as instituições domésticas surgem a tracejado.
Gráfi co 4.3.16
SALDO DAS OPERAÇÕES DE POLÍTICA MONETÁRIA DO EUROSISTEMA
-600
-400
-200
0
200
400
600
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Operações principais de refi nanciamentoOperações de refi nanciamento de prazo alargadoFacilidade permanente de cedência de liquidezOutras operações de cedência de liquidez(a)
Facilidade permanente de depósitoOutras operações de absorção de liquidez(b)
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Inclui as “Operações ocasionais de regularização de liquidez” e as “Operações estruturais de ajustamento de liquidez”.
(b) Inclui “Depósitos a prazo” e “Acordos de recompra”. Última observação: outubro 2011.
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Gráfi co 4.3.18
GAP DE LIQUIDEZ DAS INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS PARA HORIZONTES TEMPORAIS DE ATÉ 12 MESES | PRINCIPAIS CONTRIBUTOS
-40
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Até
1 m
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ano
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1 m
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ano
Até
1 m
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Até
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ano
Até
1 m
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ano
Até
1 m
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ano
Até
1 m
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Dez08 Mar09 Jun09 Set09 Dez09 Jun10 Dez10 Mar11 Jun11 Set11
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Ativos elegíveis como garantia em operações de crédito de bancos centrais (disponíveis)Instrumentos fi nanceiros derivadosCompromissos assumidos perante terceirosOutros ativos/passivosRecursos (liq.) de bancos centraisRecursos (liq.) de outras instituições de créditoResponsabilidades representadas por títulosGap de liquidez - Até 1 mêsGap de liquidez - Até 3 mesesGap de liquidez - Até 1 ano
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal.
Gráfi co 4.3.19 Gráfi co 4.3.20
GAP DE LIQUIDEZ ATÉ 1 MÊS - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA
GAP DE LIQUIDEZ ATÉ 12 MESES - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40
Set-10Dez-10Set-11
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40
Set-10
Dez-10
Set-11
Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.
Notas: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009
do Banco de Portugal, considerando dados em base consoli-
dada. Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não
paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pon-
dera as instituições pelo seu ativo.
Notas: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009
do Banco de Portugal, considerando dados em base consoli-
dada. Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não
paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pon-
dera as instituições pelo seu ativo.
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ário
distribuição empírica para a esquerda, quer face ao observado em igual período do ano anterior, quer
face a dezembro de 2010, indicando alguma deterioração dos gaps.
O processo de desalavancagem do sistema bancário português nos próximos anos, acordado no âmbito do
Programa de Assistência Económica e Financeira, deverá traduzir-se numa melhoria dos gaps de liquidez
à medida que os bancos convirjam para uma estrutura de fi nanciamento mais estável, traduzindo-se em
rácios entre o crédito e os recursos de clientes mais baixos. Este facto deverá contribuir, inter alia, para
que, a prazo, os bancos recuperem o acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso e sejam
menos sensíveis às alterações da perceção de risco dos investidores internacionais.
Redução do risco para a posição de liquidez dos bancos advindo dos elementos
extrapatrimoniais
No atual contexto de crise económica, e em particular de signifi cativas difi culdades de fi nanciamento
das empresas, uma possível fonte de pressão adicional sobre a liquidez dos bancos prende-se com os
compromissos assumidos perante terceiros, que incluem linhas de crédito, descobertos bancários e garan-
tias concedidas, uma vez que podem constituir um risco adicional para o processo de desalavancagem
que os bancos deverão desenvolver nos próximos anos30.
O valor dos compromissos assumidos perante terceiros registou uma diminuição signifi cativa no decurso
de 2011. A fração dominante deste valor é representada pelos compromissos com reduzida probabi-
lidade de execução ou com maturidade residual superior a 12 meses. Por seu turno, os compromissos
incluídos nas classes de maturidade até 1 ano representaram cerca de 1.3 por cento do ativo total,
merecendo entre estes particular destaque os compromissos com prazo de execução esperado inferior
a uma semana que têm vindo a apresentar uma redução sensível (Gráfi co 4.3.21). Importa ainda referir
que estes valores incluem compromissos revogáveis e irrevogáveis, representando estes últimos cerca de
um terço do total em junho de 2011.
30 De acordo com a Instrução do Banco de Portugal nº12/2009 os bancos reportam, por maturidades residuais, o
valor dos compromissos assumidos perante terceiros em relação aos quais haja certeza ou elevada probabilidade
de execução, incluindo na classe de maturidade superior a 12 meses os compromissos que considerem como
sendo de execução improvável.
Gráfi co 4.3.21
COMPROMISSOS ASSUMIDOS PERANTE TERCEIROS PELO SISTEMA BANCÁRIO
0
2
4
6
8
10
12
Dez08
Mar09
Jun09
Set09
Dez09
Mar10
Abr10
Mai10
Jun10
Set10
Dez10
Mar11
Jun11
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uros
À vista e até 1 semanaSuperior a 1 semana e até 1 mêsSuperior a 1 mês e até 3 mesesSuperior a 3 meses e até 6 mesesSuperior a 6 meses e até 12 meses
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Dados recolhidos ao abrigo da Instrução nº13/2009 do Banco de Portugal, que considera apenas as instituições que recebem
depósitos de clientes.
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4.4. Risco de Crédito
A situação macroeconómica desfavorável da economia portuguesa tem-se traduzido numa deterioração
da situação fi nanceira do setor privado não fi nanceiro, refl etindo-se num aumento da materialização do
risco de crédito. Os vários indicadores de qualidade de crédito disponíveis confi rmam que a tendência
de aumento do risco de crédito no total das carteiras das instituições de crédito se acentuou em 201131.
O rácio de incumprimento, obtido com base nas Estatísticas Monetárias e Financeiras, situa-se no
conjunto do setor privado não fi nanceiro em valores máximos desde o início da área do euro. Por sua
vez, o fl uxo anual de novos empréstimos vencidos e de cobrança duvidosa voltou a aumentar desde o
quarto trimestre de 2010, embora permaneça abaixo dos valores máximos atingidos durante a atual
crise fi nanceira (Gráfi co 4.4.1)32.
31 Neste relatório é divulgado pela primeira vez um novo indicador de qualidade de crédito (crédito em risco). Este
indicador é um conceito mais abrangente do que o crédito com incumprimento, que procura levar em conside-
ração a possibilidade dos devedores com prestações em atraso continuarem a não cumprir as suas responsabi-
lidades de crédito. Para uma descrição deste indicador e a sua comparação com o crédito em incumprimento
calculado numa base comparável ver ”Caixa 4.2 Novo rácio de crédito em risco”, deste Relatório. A análise efe-
tuada neste capítulo continua contudo a basear-se essencialmente no rácio de incumprimento dos empréstimos
bancários obtido com base nas Estatísticas Monetárias e Financeiras, o qual corresponde aos empréstimos ven-
cidos há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa em percentagem do saldo dos empréstimos ajustado de
titularização. Refi ra-se que os indicadores de crédito com incumprimento e crédito em risco analisados na Caixa
4.2 incluem o crédito vencido há mais de 90 dias, para além de serem obtidos com dados em base consolidada
e de terem subjacente um conjunto ligeiramente diferente de instituições de crédito.
32 O mês de dezembro de 2010 fi cou marcado por duas operações com um forte impacto nas estatísticas mone-
tárias e fi nanceiras: a passagem das empresas Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto do setor das sociedades
não fi nanceiras para o setor das administrações públicas e a venda de uma carteira de crédito por parte do BPN
à Parvalorem (empresa que, também no mês de dezembro, transitou para o setor das administrações públicas).
De forma a facilitar a análise, os dados apresentados neste relatório foram corrigidos destas operações, sempre
que tal for relevante. Para mais detalhes sobres estas correções ver Relatório de Estabilidade Financeira-maio
2011.
Gráfi co 4.4.1
INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS AO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO RESIDENTE(a)
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
0.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11
Em
per
cent
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Em
per
cent
agem
Rácio incumprimento(b)Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e de cobrança duvidosa (esc. dir.)(c)
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa
e Metro do Porto para o setor das Administrações Públicas. (b) Defi nido como crédito em incumprimento (empréstimos vencidos
há mais de 30 dias, e outros de cobrança duvidosa) em percentagem do saldo dos empréstimos ajustados de titularização. (c) A
estimativa do fl uxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos em-
préstimos, corrigidos de titularização, sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança
duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005, das vendas para fora do sistema bancário
de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme a Instrução do
Banco de Portugal nº17/2008.
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A tendência de aumento da materialização do risco de crédito é transversal aos vários segmentos,
assumindo, contudo, níveis e ritmos mais acentuados nos empréstimos a particulares para consumo e
outros fi ns e nos empréstimos às sociedades não fi nanceiras. No crédito à habitação, o rácio de incum-
primento situa-se num nível historicamente elevado, mas substancialmente inferior ao registado nos
outros segmentos. Para esta situação contribui o peso dominante do crédito à primeira habitação, para
o qual a probabilidade de incumprimento é menor33, a participação relativamente baixa das famílias
de menores rendimentos neste mercado34, o facto de uma parte signifi cativa destes créditos para além
das garantias hipotecárias terem associadas garantias pessoais prestadas por familiares35, assim como
o facto do rácio das prestações dos empréstimos à habitação no rendimento familiar ser relativamente
reduzido em Portugal, quando comparado com o de outros países da área do euro, o que refl ete, em
larga medida, as maturidades mais longas destes empréstimos em Portugal36. Por fi m, refi ra-se que o
facto de não existir evidência de uma sobrevalorização em termos agregados dos preços da habitação em
Portugal limita as perdas para as instituições de crédito em caso de execução de hipotecas, não obstante
alguma redução de preços dos imóveis decorrente do abrandamento da procura.
No caso das sociedades não fi nanceiras, o aumento dos rácios de incumprimento tem sido comum aos
vários setores de atividade, sendo particularmente acentuado nos setores “Construção” e “Atividades
imobiliárias”. O incumprimento continua a ser mais frequente e signifi cativo nos empréstimos com
montantes mais reduzidos e nas empresas de menor dimensão. Esta situação poderá estar a contribuir
para um ajustamento da carteira de crédito dos bancos às sociedades não fi nanceiras. Com efeito, em
2011 os empréstimos de montantes mais reduzidos concedidos às sociedades não fi nanceiras conti-
nuam a registar um enfraquecimento acentuado, enquanto os empréstimos de maiores montantes e
os empréstimos concedidos a grandes empresas mantêm taxas de crescimento positivas. Para o maior
dinamismo dos empréstimos de montantes mais elevados contribui em grande parte o forte crescimento
dos empréstimos concedidos às empresas públicas não incluídas nas administrações públicas. Note-se, no
entanto, que a heterogeneidade da evolução dos empréstimos bancários por dimensão das empresas é
mitigada quando se consideram os restantes empréstimos concedidos por residentes e os títulos detidos
quer por residentes quer por não residentes.
Por setores de atividade persiste uma signifi cativa dispersão das taxas de crescimento dos empréstimos,
mas observa-se igualmente alguma convergência, com os setores inicialmente mais afetados pela crise,
nomeadamente “Construção” e “Atividades imobiliárias”, a registarem reduções menores do que no
fi nal de 2010 e a maioria dos restantes setores a registar uma redução das taxas de crescimento.
Ao nível das instituições de crédito regista-se alguma heterogeneidade de comportamentos na concessão
de crédito às sociedades não fi nanceiras. De facto, embora tenha aumentado o número de instituições
que estão a reduzir signifi cativamente o crédito, existe, em simultâneo, uma fração não negligenciável
de instituições com taxas de crescimento dos empréstimos moderadamente positivas. Na concessão de
crédito aos particulares, onde o abrandamento dos empréstimos tem sido mais signifi cativo em 2011,
verifi ca-se uma maior convergência de comportamento por parte das diferentes instituições, com uma
concentração das taxas de crescimento dos empréstimos em torno de valores ligeiramente negativos.
No caso dos empréstimos para consumo e outros fi ns existe, contudo, um número signifi cativo de
instituições com taxas de crescimento bastante negativas, o que não se observa no crédito à habitação.
33 Ver “Caixa 4.2 Principais características dos empréstimos a particulares para aquisição de habitação em Portu-
gal”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira 2008.
34 Ver Farinha (2008), “O endividamento das famílias portuguesas: evidência recente com base nos resultados do
IPEF 2006-2007”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira 2007.
35 Ver “Caixa 4.3 Crédito concedido às famílias e incumprimento: uma caracterização com base na Central de
Responsabilidades de Crédito”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira-maio 2010.
36 Ver “Caixa 4.3 Características dos empréstimos hipotecários de maior risco nos Estados Unidos e na Europa”,
Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira 2008 e “Housing fi nance in the euro area”, Occasional
Paper No 101, BCE, 2009.
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Em termos gerais, o abrandamento dos empréstimos ao setor privado tem resultado de uma deterioração
dos determinantes de longo prazo da procura de crédito e de fatores da oferta de crédito, num contexto
de aumento da materialização do risco de crédito, de fortes restrições à captação de fundos por parte
dos bancos no mercado internacional de fi nanciamento por grosso e de necessidade do ajustamento de
balanço das instituições de crédito para uma estrutura de fi nanciamento mais sustentável. O abrandamento
dos empréstimos tem, contudo, assumido um ritmo gradual e limitado, para o que tem contribuído o
aumento da captação de depósitos de clientes e o facto do recurso às operações de cedência de liquidez
do BCE ter permanecido num nível elevado, ainda que estável. O comportamento das instituições de
crédito residentes não domésticas, as quais enfrentam menores difi culdades de fi nanciamento do que
as instituições domésticas, tem igualmente contribuído para que não se registem maiores reduções dos
empréstimos ao setor privado não fi nanceiro. O contributo destas instituições para o crescimento do
crédito tem-se vindo contudo a reduzir desde fi nais de 2010. Este comportamento foi particularmente
marcado nos empréstimos às sociedades não fi nanceiras. No caso dos particulares, as taxas de crescimento
dos empréstimos concedidos por instituições residentes não domésticas permanecem signifi cativamente
acima das taxas das instituições domésticas.
O processo de ajustamento da economia portuguesa, designadamente a intensifi cação da consolidação
orçamental, em particular num contexto de abrandamento da economia internacional, deverá implicar
uma forte contração da atividade económica em Portugal em 2012 e a consequente manutenção da
tendência de aumento do desemprego e do número de empresas em processos de falência ou insolvência.
Em simultâneo, dada a necessidade de desalavancagem dos balanços dos bancos e as suas difi culdades
de fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso, estes deverão ter menor margem
de manobra do que no passado para renegociarem condições mais favoráveis, como por exemplo um
alargamento dos prazos, em caso de difi culdades dos clientes cumprirem as suas obrigações. Esta situ-
ação deverá ser particularmente relevante no caso das famílias, podendo assistir-se mais facilmente no
caso das empresas a processos de re-estruturação empresarial que levem a renegociações de dívida.
É assim de esperar que se continue a assistir a uma maior materialização do risco de crédito, o que sugere
a necessidade dos bancos continuarem a aumentar a dotação de imparidade para perdas de carteira de
crédito (Quadro 4.4.1). Em setembro de 2011, as imparidades/provisões relativas ao setor privado não
fi nanceiro cobriam cerca de 82 por cento do crédito com incumprimento e de 55 por cento do crédito
em risco, defi nidos na “Caixa 4.2 Novo rácio de crédito em risco”, deste Relatório, traduzindo uma
redução face aos níveis registados no fi nal de 2010.
Existem, contudo, alguns fatores que deverão mitigar o impacto do enquadramento macroeconómico
desfavorável sobre a situação fi nanceira do setor privado não fi nanceiro. Em primeiro lugar, é de esperar
que, num contexto de enfraquecimento da situação macroeconómica na área do euro, as taxas de juro
do mercado monetário mantenham uma tendência de ligeira redução. Adicionalmente, importa referir
que, embora o ajustamento a médio prazo do sistema fi nanceiro português exija que os bancos prossigam
o respetivo processo de desalavancagem de acordo com o Programa de Assistência Económica e Finan-
ceira, este processo deverá ocorrer de forma gradual e ordenada, sem condicionar de forma excessiva
o fi nanciamento da economia, em especial das empresas mais produtivas e com melhores perspetivas
de crescimento. Neste contexto, a situação fi nanceira do setor empresarial e dos particulares continuará
a ser acompanhada no sentido de identifi car possíveis medidas de política que mitiguem o impacto do
endividamento elevado destes setores na sua capacidade de fi nanciamento. Complementarmente, o
Código de Insolvência está a ser alterado, o que deverá permitir que se identifi quem mais rapidamente
empresas viáveis que possam ser alvo de planos de re-estruturação de dívida.
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Quadro 4.4.1
INDICADORES DE QUALIDADE DE CRÉDITO E PROVISÕES/IMPARIDADES | EM PERCENTAGEM
2008 2009 2010 2010 2011Dez. Dez. Set. Dez. Set.
Indicadores de Qualidade do Crédito
Rácio de crédito em risco(a),(b) 3.5 4.8 5.2 5.1 6.8
Setor privado não fi nanceiro residente, 4.0 5.3 5.7 5.5 7.3
do qual:
Habitação 4.4 4.6 4.5 4.3 4.9
Consumo e outros fi ns 6.8 9.2 10.0 10.1 12.2
Sociedades não fi nanceiras 3.2 5.1 6.1 5.8 8.5
Rácio de crédito com incumprimento(a),(c) 1.9 3.0 3.4 3.4 4.5
Setor privado não fi nanceiro residente, 2.2 3.3 3.9 3.8 4.9
do qual:
Habitação 1.7 2.2 2.4 2.5 2.7
Consumo e outros fi ns 4.4 6.4 7.7 7.8 9.7
Sociedades não fi nanceiras 2.1 3.6 4.4 4.2 5.9
Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa (Estatísticas Monetárias e Financeiras)(d)
Setor privado não fi nanceiro residente, 0.9 1.2 0.8 0.9 1.2
do qual:
Habitação 0.3 0.3 0.1 0.1 0.2
Consumo e outros fi ns 2.4 2.0 1.9 2.1 2.6
Sociedades não fi nanceiras 1.3 2.1 1.4 1.6 2.1
Provisões/Imparidades acumuladas para crédito
Em percentagem do crédito(a)
Setor privado não fi nanceiro residente, 2.4 2.9 3.2 3.3 4.0
do qual:
Habitação 1.4 1.4 1.5 1.5 1.5
Consumo e outros fi ns 4.5 5.9 6.4 7.5 9.1
Sociedades não fi nanceiras 2.9 3.6 4.0 4.0 5.3
Em percentagem do crédito em risco(a),(b)
Setor privado não fi nanceiro residente, 60.4 55.6 55.2 58.9 54.9
do qual:
Habitação 32.4 31.0 32.6 33.8 30.7
Consumo e outros fi ns 66.7 64.1 64.1 74.7 74.1
Sociedades não fi nanceiras 90.0 71.0 66.5 69.5 62.3
Em percentagem do crédito com incumprimento(a),(c)
Setor privado não fi nanceiro residente, 112.1 89.1 81.7 86.3 81.6
do qual:
Habitação 81.7 65.1 59.6 59.6 56.0
Consumo e outros fi ns 102.9 91.6 82.8 96.1 93.1
Sociedades não fi nanceiras 138.8 101.4 92.3 96.9 89.4
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Valores de crédito reportados em base consolidada pelo agregado do sistema bancário português (ver nota 1 secção 4.1),
excluindo as sucursais em Portugal de instituições de crédito com sede em países pertencentes à União Europeia. Exclui igualmente o
banco BPN por forma a evitar a distorção decorrente da venda de uma carteira de crédito à Parvalorem em dezembro de 2010. Inclui
o crédito concedido a residentes e a não residentes, bem como os créditos concedidos pelas fi liais estrangeiras dos bancos portugue-
ses. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. (b) O crédito em risco, defi nido de acordo com a Instrução do Banco
de Portugal nº22/2011, inclui o valor total em dívida do crédito: que tenha prestações de capital ou juros vencidos há mais de 90 dias;
do crédito que tenha estado nesta situação tendo sido reestruturado e; do crédito com prestações de capital ou juros vencidos há
menos de 90 dias, mas sobre os quais existam evidências que justifi quem a sua classifi cação com crédito em risco. (c) O crédito com
incumprimento compreende o crédito e juros vencidos há mais de 90 dias e outros créditos de cobrança duvidosa, que respeita às
prestações futuras de um crédito quando houver dúvidas relativamente à sua cobrança, tal como se encontra estabelecido no Aviso
do Banco de Portugal nº3/95. (d) Fluxos de empréstimos vencidos há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa concedidos
pelas outras instituições fi nanceiras monetárias a residentes. A estimativa do fl uxo anual é calculada ajustando a variação do saldo de
empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005,
das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em
base trimestral conforme Instrução do Banco de Portugal nº17/2008.
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Signifi cativo abrandamento dos empréstimos concedidos a particulares e aumento do grau
de restritividade na concessão de crédito...
Em 2011, os empréstimos bancários a particulares mantiveram a tendência de signifi cativo abrandamento
que vêm a registar desde meados de 2010, atingindo taxas de variação inferiores às observadas no
período recessivo de 2003. Esta trajetória foi comum tanto aos empréstimos para habitação como aos
empréstimos para consumo e outros fi ns, embora continue a assumir um caráter mais acentuado neste
último caso. Os empréstimos para aquisição de habitação reduziram-se 0.6 por cento em setembro de
2011, em termos de variação anual, o que compara com um crescimento de 3.3 por cento em meados
de 2010 (Gráfi co 4.4.2). A taxa de variação trimestral anualizada permanece abaixo da taxa de variação
anual, o que sugere que o enfraquecimento dos empréstimos à habitação deverá manter-se nos próximos
meses, em linha com a evolução dos seus determinantes37. Para a manutenção de uma tendência de
enfraquecimento dos empréstimos à habitação aponta também o facto dos empréstimos concedidos por
instituições fi nanceiras residentes não domésticas estarem a registar uma tendência de desaceleração
desde o início de 2011, embora mantenham um dinamismo muito superior ao das instituições domésticas.
De facto, as menores difi culdades de fi nanciamento das instituições não domésticas estarão a permitir
a estas instituições oferecer condições menos restritivas do que as instituições domésticas no crédito à
habitação, levando a um aumento da sua quota de mercado38.
No caso dos empréstimos para consumo e outros fi ns, a taxa de variação anual regista valores negativos
desde o início de 2011, situando-se em setembro em -3.5 por cento (Gráfi co 4.4.3). A taxa de variação
trimestral anualizada mantém-se igualmente abaixo da taxa anual, perspetivando a continuação de
37 Atualmente o crescimento dos empréstimos à habitação parece estar próximo do que resultaria dos seus deter-
minantes de longo prazo (taxas de juro e investimento em habitação). Veja-se Castro, G. e C. Santos, (2010),
“Determinantes das taxas de juro e do crédito bancário”, Banco de Portugal, Boletim Económico-Primavera
2010.
38 Ver artigo “O comportamento dos bancos domésticos e não domésticos na concessão de crédito à habitação:
uma análise com base em dados microeconómicos”, deste Relatório.
Gráfi co 4.4.2 Gráfi co 4.4.3
EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO(a)
EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES PARA CONSUMO E OUTROS FINS(a)
-5.0
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11
Em
per
cent
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Taxa de variação anualTaxa de variação trimestral anualizada
-10.0
-5.0
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11
Em
per
cent
agem
Taxa de variação anualTaxa de variação trimestral anualizada
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) As taxas de variação são calculadas com base na
relação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês,
ajustados de operações de titularização, e transações mensais,
as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi -
cações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de
preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade.
Os valores apresentados estão corrigidos do efeito da venda da
carteira de crédito do BPN à Parvalorem.
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) As taxas de variação são calculadas com base na
relação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês,
ajustados de operações de titularização, e transações mensais,
as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi -
cações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de
preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade.
Valores corrigidos da venda de uma carteira de créditos do BPN
à Parvalorem em dezembro de 2010.
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quedas nestes empréstimos no futuro próximo, em linha com a evolução do consumo privado e com o
aumento da restritividade na concessão de crédito por parte dos bancos. Os empréstimos para consumo e
outros fi ns concedidos pelos bancos residentes não domésticos, embora estejam a desacelerar, continuam
igualmente a dar um contributo positivo para a taxa de variação destes empréstimos.
Os dados das contas fi nanceiras, disponíveis até ao segundo trimestre de 2011, apontam para que o
enfraquecimento dos empréstimos aos particulares seja ainda mais acentuado quando se consideram,
para além dos empréstimos concedidos por instituições fi nanceiras monetárias, também os empréstimos
concedidos por outros intermediários fi nanceiros e auxiliares fi nanceiros (Gráfi co 4.4.4).
Segundo o Inquérito trimestral aos bancos sobre o mercado de crédito, o enfraquecimento dos emprés-
timos a particulares tem refl etido tanto fatores da procura como da oferta. Ao longo de 2011, os bancos
têm reportado reduções signifi cativas da procura, as quais foram particularmente acentuadas no segundo
e terceiros trimestres no caso da habitação. Para esta evolução terá contribuído essencialmente uma
tendência de deterioração das perspetivas para o mercado da habitação e da confi ança dos consumi-
dores. Do lado da oferta, os bancos reportaram um signifi cativo aumento de exigência dos critérios de
concessão de crédito desde o início de 2011. Este aumento da restritividade terá sido motivado tanto por
maiores custos de fi nanciamento e restrições de balanço, como por um aumento dos riscos associados
à atividade económica em geral, às perspetivas para o mercado de habitação e à capacidade dos consu-
midores assegurarem o serviço da dívida. Segundo os bancos inquiridos, a maior exigência nos critérios
de aprovação de crédito tem-se traduzido num aumento dos spreads assim como na generalidade das
restantes condições contratuais, nomeadamente numa redução das maturidades, num aumento de
comissões, aumento das garantias exigidas e redução dos montantes dos empréstimos.
Os spreads das taxas de juro das novas operações de crédito à habitação e consumo têm vindo a aumentar
desde meados de 2010 e início de 2010, respetivamente, situando-se em níveis elevados quando
comparado com os valores registados desde o início da área do euro (Gráfi co 4.4.5). O nível elevado dos
spreads é particularmente signifi cativo se se levar em consideração que estará a ocorrer em simultâneo
com uma recomposição das carteiras dos bancos a favor de empréstimos de menor risco e que está a
ser limitado por um nível relativamente menor das taxas de juro praticadas pelas instituições residentes
não domésticas. Contudo, este último efeito atenuou-se em 2011 face ao segundo semestre de 2010,
refl etindo o aumento do risco de crédito e as perspetivas menos favoráveis para o mercado imobiliário.
O número de instituições que estão a reduzir as suas carteiras de crédito à habitação e ao consumo e
outros fi ns tem vindo a aumentar. As distribuições das taxas de crescimento dos empréstimos a parti-
culares nestes dois segmentos deslocaram-se signifi cativamente para a esquerda, passando as modas
a situarem-se em valores negativos (Gráfi co 4.4.6). O enfraquecimento relativamente generalizado
das determinantes da oferta e procura de crédito tem contribuído para uma maior concentração das
distribuições, a qual é mais acentuada no caso da habitação, onde se continuam contudo a registar
taxas de crescimento elevadas por parte de algumas instituições residentes não domésticas. No caso
dos empréstimos para consumo e outros fi ns existe um número signifi cativo de instituições com taxas
de crescimento bastante negativas.
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Gráfi co 4.4.4 Gráfi co 4.4.5
CONTRIBUTOS PARA A TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES CONCEDIDOS PELO SISTEMA FINANCEIRO RESIDENTE
TAXAS DE JURO DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO E PARA CONSUMO
-4.0
-2.0
0.0
2.0
4.0
6.0
8.0
10.0
-4.0
-2.0
0.0
2.0
4.0
6.0
8.0
10.0
T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2
2007 2008 2009 2010 2011
Em
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cent
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Pon
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0.01.02.03.04.05.06.07.08.09.010.011.012.013.014.0
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12.0
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Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11
Em
pon
tos
perc
entu
ais
Em
per
cent
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Spread - habitação (esc.dir.) (a)Spread - consumo (esc.dir.) (b)Taxa de juro de novas operações - habitaçãoTaxa de juro de novas operações - consumo(c)Taxa de juro de saldos - habitação
Instituições fi nanceiras Monetárias (IFM)Outros Intermediários Financeiros e Auxiliares Financeiros (OIFAF)Taxa de variação anual dos empréstimos concedidos a particulares por IFM e OIFAF (esc. dir.)
Fontes: INE e Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Dados ajustados da transferência da carteira de crédito
do BPN para a Parvalorem em dezembro de 2010.
Notas: (a) Spread de taxa de juro de novos empréstimos a
particulares para aquisição de habitação utilizando Euribor a
6 meses. (b) Spread de taxa de juro de novos empréstimos a
particulares para consumo estimado utilizando a Euribor a 6
meses, a Euribor a 1 ano e a taxa de juro dos swaps em euros
a 5 anos, nos casos em que o prazo de fi xação inicial da taxa
é 1 ano, entre 1 e 5 anos e mais de 5 anos respetivamente.
(c) Taxa de juro média calculada com base nas taxas de novos
empréstimos por prazo de fi xação inicial da taxa, ponderados
pelos montantes de novas operações em cada prazo.
Gráfi co 4.4.6
DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DA TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES
Para aquisição de habitação Para consumo e outros fi ns
-20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48
Taxa de variação anual dos empréstimos
Set 10Set 11
-20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60
Taxa de variação anual dos empréstimos
Set 10Set 11
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.
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...num contexto de aumento da materialização do risco de crédito dos particulares
O rácio de incumprimento dos empréstimos bancários a particulares mantém uma tendência de aumento
desde o início de 2008, situando-se em cerca de 3 por cento, em setembro de 2011, o que traduz um
nível máximo desde o início da área do euro (Gráfi co 4.4.7). Num contexto de deterioração da situação
fi nanceira das famílias, o acréscimo da materialização do risco de crédito tem sido comum à generalidade
dos segmentos de crédito, assumindo contudo um nível e ritmo muito mais acentuados no caso dos
empréstimos para consumo e outros fi ns.
No caso do crédito à habitação, o rácio de incumprimento dos empréstimos situa-se num nível historica-
mente elevado, embora ainda relativamente contido. Para esta situação tem contribuído o facto do fl uxo
de novos empréstimos em incumprimento permanecer em linha com a média registada desde o início
da área do euro, embora registe uma tendência de aumento, desde fi nais de 2010 (Gráfi co 4.4.8). Em
2011, a deterioração dos indicadores de incumprimento tem sido comum à generalidade das exposições
(Quadro 4.4.2). Desde o fi nal de 2010, a percentagem do número de devedores com incumprimento
tem registado um aumento mais acentuado no caso dos empréstimos com montantes mais elevados.
O aumento da materialização do risco de crédito no caso dos empréstimos à habitação é igualmente
evidenciado pelo acréscimo da execução de hipotecas e/ou das dações em pagamento, o que se tem
traduzido num aumento dos ativos imobiliários no balanço dos bancos, os quais continuam, contudo,
a representar um valor inferior a 1 por cento do total do ativo dos bancos em base consolidada. Esta
situação acentua ainda mais o desequilíbrio atualmente existente entre a oferta e a procura de imóveis,
contribuindo para o fraco comportamento dos preços (Gráfi co 4.4.9).
No que se refere ao consumo e outros fi ns, os fl uxos de empréstimos em incumprimento situam-se
em valores historicamente elevados. Estes fl uxos, depois de terem registado um aumento signifi cativo
no segundo semestre de 2010, estabilizaram no primeiro semestre de 2011, voltando a aumentar nos
Gráfi co 4.4.7 Gráfi co 4.4.8
RÁCIOS DE INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS(a)
FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA(a)
Particulares Particulares
0.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
9.0
10.0
11.0
12.0
Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11
Em
per
cent
agem
TotalHabitaçãoConsumo e outros fins
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11
Em
per
cent
agem
TotalHabitaçãoConsumo e outros fins
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Defi nido como os empréstimos vencidos há mais
de 30 dias e outros de cobrança duvidosa em percentagem
do saldo dos empréstimos ajustado de titularização. Valores
corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à
Parvalorem.
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) A estimativa do fl uxo anual de novos empréstimos
vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em per-
centagem dos empréstimos, corrigidos de titularização, sendo
calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos ven-
cidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ati-
vo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005, das
vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e
outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados
em base trimestral conforme a Instrução do Banco de Portugal
nº17/2008. Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de
crédito do BPN à Parvalorem.
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Gráfi co 4.4.9
ÍNDICE CONFIDENCIAL IMOBILIÁRIO | TAXA DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA
-8.0
-6.0
-4.0
-2.0
0.0
2.0
4.0
6.0
8.0
10.0
Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11
Em
per
cent
agem
NominalReal (a)
Fonte: Confi dencial Imobiliário.
Nota: (a) Defl acionado pela taxa de variação homóloga do IPC.
Quadro 4.4.2
INDICADORES DE INCUMPRIMENTO DOS EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES, POR DIMENSÃO DA EXPOSIÇÃO (a)
2009 2010 2010 2010 2011 2011
Dez. Jun. Set. Dez. Jun. Set.
Habitação
Exposição total
Número de devedores com incumprimento (%)(b) 5.1 5.4 5.1 4.9 5.1 5.4
Crédito e juros vencidos (%)(c) 1.7 1.9 1.8 1.8 1.8 2.0
Exposições de montante superior ao percentil 90(d)
Percentagem do crédito(e) 28.5 28.6 28.5 28.6 28.6 28.6
Número de devedores com incumprimento (%)(b) 6.3 6.4 6.0 5.9 6.4 6.9
Crédito e juros vencidos (%)(c) 1.6 1.8 1.7 1.8 1.9 2.1
Consumo
Exposição total
Número de devedores com incumprimento (%)(b) 12.2 12.7 12.6 12.8 13.4 13.4
Crédito e juros vencidos (%)(c) 6.9 7.5 8.1 8.6 9.1 9.3
Exposições de montante superior ao percentil 90(d)
Percentagem do crédito (e) 54.6 54.8 54.6 54.8 55.0 55.5
Número de devedores com incumprimento (%)(b) 13.0 13.3 13.5 13.7 14.7 14.9
Crédito e juros vencidos (%)(c) 5.4 6.0 6.5 7.1 7.8 8.0
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Correspondem a crédito conce-
dido por bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de factoring,
sociedades de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros resi-
dentes. Inclui também crédito concedido (ou detido) por entidades que não pertencem ao sistema fi nanceiro, nomeadamente pela
Parvalorem, pelo Instituto de Turismo de Portugal e desde setembro de 2011 por algumas sociedades de recuperação de crédito.
Apenas as exposições face a uma determinada instituição superiores a 50 euros foram consideradas e foram excluídas as linhas de
crédito não utilizadas. Considerou-se que um determinado devedor se encontra em situação de incumprimento se o montante de
crédito vencido for superior a 0.5 por cento da sua exposição face ao sistema fi nanceiro. Os valores obtidos através da CRC não têm
necessariamente que coincidir com os apurados no âmbito das Estatísticas Monetárias e Financeiras (EMF) visto que as instituições
com obrigações de reporte direto para efeito das EMF (Bancos, Caixas Económicas e Caixas de Crédito Agrícola Mútuo) são um
subconjunto das entidades participantes na CRC. (b) Em percentagem do número de devedores com crédito nesta carteira. (c) Em
percentagem do crédito total concedido nessa carteira. (d) Percentis defi nidos com base no número de devedores ordenados segun-
do o montante da sua exposição no segmento em causa. (e) Crédito à habitação (ou ao consumo) com exposições superiores ao
percentil 90, em percentagem do crédito total à habitação (ou ao consumo).
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Banc
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meses mais recentes. Neste contexto, o rácio de incumprimento mantém uma tendência de aumento,
situando-se num nível bastante superior aos níveis médios registados desde o início da área do euro.
Para esta situação deverá estar a contribuir o aumento do acesso a este segmento de crédito por parte
de famílias de menor rendimento durante os anos que antecederam a crise económica e fi nanceira. No
caso do crédito ao consumo, as exposições mais elevadas mantêm rácios de incumprimento menores do
que as restantes exposições, embora tenham registado acréscimos signifi cativos em 2011 (Quadro 4.4.2).
Os empréstimos bancários às sociedades não fi nanceiras voltaram a desacelerar em 2011,
apresentando um maior dinamismo nas empresas de maior dimensão, com destaque para as
empresas públicas
A taxa de variação anual dos empréstimos concedidos pelos bancos às sociedades não fi nanceiras
retomou no segundo trimestre de 2011 a tendência de desaceleração que tinha interrompido em
meados de 2010, situando-se em setembro de 2011 num valor ligeiramente negativo (Gráfi co 4.4.10).
Este comportamento recente foi essencialmente determinado pelo signifi cativo abrandamento dos
empréstimos concedidos por instituições residentes não domésticas, num contexto em que a taxa de
crescimento anual dos empréstimos concedidos por bancos domésticos tem permanecido em valores
praticamente nulos desde fi nais de 2010.
O setor bancário também se encontra exposto ao risco de crédito das sociedades não fi nanceiras através
das posições em dívida titulada. A dívida titulada emitida por sociedades não fi nanceiras na posse de
bancos ascendia em setembro de 2011 a 17 mil milhões de euros, em comparação com empréstimos
concedidos no valor de 117 mil milhões de euros. Em 2011, o agregado de crédito mais amplo, que
engloba empréstimos e dívida titulada emitida por sociedades não fi nanceiras na posse de bancos, tem
apresentado uma evolução em linha com a dos empréstimos, muito embora refl ita em parte vendas de
títulos de dívida de empresas na carteira dos bancos (Gráfi co 4.4.10).
Gráfi co 4.4.10
CRÉDITO BANCÁRIO CONCEDIDO ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a)
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Taxa de variação anual dos empréstimos e dos títulos emitidos pelas sociedades não fi nanceiras e detidos pelo sistema bancárioTaxa de variação anual dos empréstimosTaxa de variação trimestral anualizada dos empréstimos
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) As taxas de variação são calculadas com base na relação entre saldos de empréstimos bancários (ou saldos de emprés-
timos bancários e títulos de curto prazo detidos pelo sistema bancário) em fi m de mês, ajustados de operações de titularização, e
transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi cações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações
cambiais e de preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade. Os valores apresentados encontram-se corrigidos da
passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das Administrações Públicas e da venda da carteira de créditos
do BPN à Parvalorem.
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Desde o fi nal de 2010 que se tem vindo a registar uma clara divergência entre o dinamismo dos emprés-
timos concedidos por bancos residentes às empresas públicas (não incluídas nas administrações públicas)
e os empréstimos concedidos às sociedades não fi nanceiras do setor privado. Enquanto os primeiros têm
registado ritmos de crescimento muito elevados, os empréstimos concedidos por bancos residentes às
empresas privadas têm mantido taxas de crescimento ligeiramente negativas (Gráfi cos 4.4.11 e 4.4.12).
Do ponto de vista do crédito total concedido a estes dois tipos de empresas, as diferenças não são
contudo tão acentuadas, embora as empresas do setor público mantenham ritmos de crescimento do
crédito mais elevados do que as do setor privado39. O crescimento do crédito total permaneceu relativa-
mente estável desde o fi nal de 2010, de forma mais notória no caso das empresas públicas. No caso das
empresas privadas, os empréstimos concedidos por não residentes registaram alguma moderação em
2011, mas continuam a dar um contributo positivo para o crescimento do crédito, o que não acontece
no caso das empresas públicas. Adicionalmente, os saldos de títulos emitidos por empresas privadas têm
a vindo a registar em 2011 um crescimento signifi cativo em relação a período idêntico do ano anterior,
contrastando com o crescimento praticamente nulo dos mesmos no caso das empresas públicas40.Em
qualquer dos casos estes movimentos têm subjacentes aumentos nos saldos dos títulos na posse de não
residentes, que estão a ser infl uenciados por movimentos intra grupos. No caso das empresas públicas
teve lugar uma venda de títulos de curto prazo por parte de um banco residente não-doméstico à sua
casa-mãe e no caso das sociedades não fi nanceiras privadas registaram-se no período emissões que
foram adquiridas por empresas do mesmo grupo no exterior.
A heterogeneidade dos empréstimos bancários por dimensão das empresas é mitigada
quando se considera um conceito mais abrangente de crédito
O forte dinamismo dos empréstimos às empresas públicas contribui, em grande parte, para a aceleração
registada pelos empréstimos associados a exposições mais elevadas desde meados de 2011 (Quadro
4.4.3). No caso das sociedades não fi nanceiras do setor privado, as taxas de crescimento dos empréstimos
associados a exposições mais elevadas registaram no período mais recente algum aumento, embora sejam
substancialmente inferiores às registadas para os empréstimos das empresas públicas de dimensão equiva-
lente. Pelo contrário, os empréstimos de montantes mais reduzidos, os quais estão quase exclusivamente
associados às empresas de setor privado, têm continuado a enfraquecer signifi cativamente em 2011.
A evolução dos empréstimos por dimensão da exposição está em linha com a diferenciação observada
no dinamismo dos empréstimos, concedidos por residentes (excluindo o Tesouro), por dimensão das
empresas (Gráfi co 4.4.13). Esta diferenciação é ainda mais acentuada quando se consideram apenas os
empréstimos bancários. De facto, os empréstimos bancários têm vindo a registar taxas de crescimento
bastante signifi cativas no caso das grandes empresas, uma tendência de aceleração para um ritmo mode-
rado no caso das empresas médias e taxas de crescimento próximas de zero ou ligeiramente negativas
no caso das micro e pequenas empresas. Quando se consideram igualmente os títulos emitidos pelas
sociedades não fi nanceiras, na posse quer de residentes, quer de não residentes, a diferença da evolução
do crédito entre as pequenas e as grandes empresas reduz-se, com as grandes empresas a registarem
ritmos de crescimento mais moderados e as pequenas empresas ritmos mais elevados. Refi ra-se, contudo,
que a aceleração da dívida titulada das pequenas empresas está a ser em grande parte determinada por
emissões de pequenas empresas que fazem parte de grupos não fi nanceiros.
39 O crédito total engloba empréstimos, títulos e créditos comerciais concedidos ou detidos pelos setores residen-
tes (fi nanceiro e não fi nanceiro) e pelo resto do mundo.
40 Refi ra-se que os empréstimos concedidos por não residentes às empresas públicas incluídas nas Administrações
Públicas registaram um enfraquecimento no terceiro trimestre de 2011 e que os títulos emitidos por estas em-
presas na posse de não residentes têm vindo a registar desde meados de 2011 ligeiras reduções face ao mesmo
período do ano anterior.
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Gráfi co 4.4.12
CRÉDITO CONCEDIDO ÀS EMPRESAS PÚBLICAS NÃO INCLUÍDAS NAS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS | CONTRIBUTOS PARA A TAXA DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA
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Empréstimos concedidos por bancos residentesEmpréstimos concedidos por outras instituições fi nanceiras residentesEmpréstimos concedidos por não residentesEmpréstimos concedidos pelo TesouroTítulos na posse de residentesTítulos na posse de não residentesTotal (taxa de variação homóloga) (esc. dir.)Empréstimos concedidos por bancos residentes (taxa de variação homóloga) (esc. dir.)
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: Taxas de variação homólogas dos saldos em fi m de período. As séries não se encontram ajustadas de operações de titulari-
zação, reclassifi cações, abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. Dados ajustados da integração da Totta IFIC no
Banco Santander Totta em abril de 2011.
Gráfi co 4.4.11
CRÉDITO CONCEDIDO ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS DO SETOR PRIVADO | CONTRIBUTOS PARA A TAXA
DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA
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Empréstimos concedidos por bancos residentesEmpréstimos concedidos por outras instituições fi nanceiras residentesOutros empréstimos concedidos por residentesEmpréstimos concedidos por não residentesTítulos na posse de residentesTítulos na posse de não residentesCréditos comerciais concedidos por residentesCréditos comerciais concedidos por não residentesTotal (taxa de variação homóloga) (esc. dir.)Empréstimos concedidos por bancos residentes (taxa de variação homóloga) (esc. dir.)
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: Taxas de variação homólogas dos saldos em fi m de período. As séries não se encontram ajustadas de operações de titulari-
zação, reclassifi cações, abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. Dados ajustados da transferência da carteira de
crédito do BPN para a Parvalorem em Dezembro de 2010 e da integração da Totta IFIC no Banco Santander Totta em abril de 2011.
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Gráfi co 4.4.13
CRÉDITO CONCEDIDO ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a)
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Empresas médias
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Empresas grandes
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Em
per
cent
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Sociedades Gestoras de Participações Sociais
Crédito totalCrédito bancárioEmpréstimos totaisEmpréstimos bancários
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Taxas de variação homólogas dos saldos em fi m de período. Inclui empréstimos concedidos por residentes, exceto pelo
Tesouro e títulos na posse de residentes e de não residentes. As séries não se encontram ajustadas de operações de titularização,
reclassifi cações, abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. Dados ajustados da transferência da carteira de crédito
do BPN para a Parvalorem em dezembro de 2010 e da integração da Totta IFIC no Banco Santander Totta em abril de 2011.
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Os empréstimos bancários com maturidade superior a 5 anos continuam a ser os que dão o maior
contributo para o crescimento dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras (Gráfi co 4.4.14). Apesar
desta situação, tem-se observado em 2011 um enfraquecimento dos empréstimos com prazos mais
longos e um aumento das taxas de variação registadas pelos empréstimos com prazos mais curtos. Os
descobertos bancários e empréstimos até 1 ano, que estavam a registar quedas em termos homólogos
desde o segundo semestre de 2009, registaram um ligeiro acréscimo no terceiro trimestre de 2011. Esta
evolução está em grande parte a ser determinada pelos empréstimos concedidos às empresas públicas,
os quais estão a registar uma aceleração muito acentuada nos prazos mais curtos e reduções nos prazos
mais longos, que continuam, contudo, a ter um maior peso no total.
De entre os principais setores de atividade, as maiores reduções dos empréstimos continuam a ser regis-
tadas na “Construção” e nas “Atividades imobiliárias”, setores que foram inicialmente mais diretamente
afetados pela atual crise (Quadro 4.4.4). Contudo, nestes setores, os empréstimos bancários têm registado
em 2011 reduções menores, em termos homólogos, do que as observadas no fi nal de 2010. Pelo contrário,
na maioria dos restantes setores de atividade, as taxas de crescimento dos empréstimos têm mantido
uma tendência de redução. Nos últimos meses, os empréstimos têm registado um enfraquecimento
particularmente notório nos setores das “Indústrias transformadoras” e do “Comércio por grosso e a
retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos”. Os empréstimos dos setores “Educação, saúde
e outras atividades de serviços sociais e pessoais” e “Atividades de consultoria técnicas e administrativas”
são os únicos que não têm registado uma tendência de desaceleração em 2011.
Segundo o Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, o comportamento anémico dos empréstimos
às sociedades não fi nanceiras terá ocorrido num contexto de enfraquecimento da procura e de condições
gradualmente mais restritivas na concessão de crédito, em particular nos empréstimos de prazos mais
longos. Em linha com a evolução observada pelo investimento empresarial, as respostas ao inquérito
apontam para que a redução de necessidades de fi nanciamento do investimento seja o principal fator
para a redução da procura. Por sua vez, as necessidades de fi nanciamento das empresas associadas à
Gráfi co 4.4.14
CONTRIBUTOS DOS SEGMENTOS DE PRAZO CONTRATUAL PARA A TAXA DE VARIAÇÃO DO SALDO DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS
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Empréstimos a mais de 5 anosEmpréstimos de 1 a 5 anosEmpréstimos até 1 ano, excluindo descobertosDescobertos bancáriosTaxa de variação homóloga do saldo dos empréstimos bancá-rios (esc. dir.)Taxa de variação anual do saldo dos empréstimos bancários (esc. dir.)
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: Os contributos referem-se ao saldo de empréstimos bancários contabilizados no ativo dos bancos, sem qualquer ajusta-
mento, para o qual a taxa de variação homóloga é apresentada. A taxa de variação anual dos empréstimos é calculada com base
na relação entre os saldos ajustados de operações de titularização e transações mensais calculadas a partir dos saldos corrigidos de
reclassifi cações, abatimentos ao ativo e reavaliações cambiais e de preço. Os descobertos bancários foram classifi cados como tendo
prazo inferior a um ano. Os valores apresentados encontram-se corrigidos tanto da venda da carteira de créditos do BPN à Parvalorem
como da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das administrações públicas através de uma estimativa
baseada em dados da CRC.
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re-estruturação de dívida têm constituído praticamente o único fator a contribuir para um aumento da
procura. Ao longo dos três primeiros trimestres de 2011, os bancos inquiridos apontaram como prin-
cipais determinantes do acréscimo de restritividade, o aumento do custo do capital, a manutenção de
condições desfavoráveis no acesso ao fi nanciamento no mercado, riscos elevados associados à atividade
económica em geral e, de forma crescente desde o início do ano, um aumento dos riscos específi cos
das empresas. A maior exigência dos critérios de concessão de crédito tem-se traduzido num aumento
dos spreads, em simultâneo com um agravamento das restantes condições contratuais. De facto, de
acordo com os inquéritos aos empresários efetuados pelo INE, o crédito bancário tem sido apontado de
forma crescente como um dos fatores limitativos da atividade. A importância deste fator é bastante mais
acentuada na construção do que na indústria transformadora e nos serviços, setores onde tem vindo a
aumentar, mas de forma bastante mais limitada41.
O acréscimo na restritividade nos critérios de concessão de crédito está em linha com o aumento
signifi cativo registado desde fi nais de 2010 pelo diferencial entre as taxas de juro dos empréstimos às
sociedades não fi nanceiras e a Euribor a 6 meses (Gráfi co 4.4.15). Refi ra-se que este diferencial se situa
num nível mais elevado nos bancos domésticos do que nos bancos residentes não domésticos, embora
esteja a aumentar em ambos os casos.
A distribuição das taxas de crescimento dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras revela, tal como
já acontecia no fi nal de 2010, uma bipolarização de comportamentos por parte das instituições de
crédito (Gráfi co 4.4.16). De facto, um número signifi cativo de instituições está a reduzir os empréstimos,
ao mesmo tempo que uma fração também importante das instituições mantém taxas de crescimento
moderadamente positivas.
41 Sobre este assunto ver “Capítulo 3 Situação fi nanceira dos particulares e sociedades não fi nanceiras”, deste Relató-
rio.
Quadro 4.4.4
EMPRÉSTIMOS CONCEDIDOS POR OUTRAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a) | DESAGREGAÇÃO SETORIAL, TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL EM FIM DE PERÍODO(b)
2007 2008 2009 2010 (c) Setembro 2011 (c)
Peso no total
Total 11.2 10.5 1.9 1.2 -0.2 100.0
Por setor de atividade:
Agricultura, produção animal, caça, fl oresta e pesca 17.6 23.4 5.6 6.1 2.3 1.8
Indústrias extrativas 4.6 9.4 1.4 -1.9 -4.3 0.4
Indústrias transformadoras 10.6 9.2 3.2 0.6 -1.2 12.9
Eletricidade, gás, vapor, água, gestão de resíduos e despoluição 11.8 49.6 9.6 9.3 1.4 4.2
Construção 10.8 3.1 0.7 -6.1 -4.2 20.5
Comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis
e motociclos 4.8 4.2 -2.6 1.1 -2.7 13.0
Transportes e armazenagem 9.9 20.8 5.0 11.8 5.6 6.6
Alojamento, restauração e similares 21.0 12.9 11.2 16.4 4.6 5.1
Atividades de informação e de comunicação 11.2 10.3 6.1 19.4 3.1 1.2
Atividades das SGPS não fi nanceiras 21.5 15.5 2.3 8.4 4.4 10.1
Atividades imobiliárias 15.0 13.8 1.4 -5.1 -3.0 13.6
Atividades de consultoria técnicas e administrativas 3.5 8.7 -7.4 -2.1 4.9 6.5
Educação, saúde e outras atividades de serviços sociais e pessoais 11.0 13.7 15.7 4.8 5.6 4.0
Outras atividades de serviços 110.7 149.7 96.1 804.6 4.3 0.1
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) São considerados os empréstimos concedidos por outras instituições fi nanceiras monetárias, sendo a afetação dos em-
préstimos por setor de atividade estimada com base na estrutura da Central de Responsabilidades de Crédito. (b) As taxas de varia-
ção são calculadas com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de período e transações calculadas a partir de
saldos corrigidos de reclassifi cações. São igualmente ajustados de operações de titularização e corrigidos de abatimentos ao ativo e
reavaliações cambiais e de preço. (c) As taxas de variação anual de dezembro de 2010 e de setembro de 2011 foram corrigidas do
efeito causado pela venda da carteira de créditos do BPN através de uma estimativa baseada na variação do total de empréstimos do
banco e das reclassifi cações efetuadas em cada setor.
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Gráfi co 4.4.15 Gráfi co 4.4.16
TAXA DE JURO DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS
DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DA TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS
0.0
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Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11
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Euribor a 6 meses
Taxa de juro de saldos de empréstimos bancários
Diferencial (esc. dir.)
-20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48
Taxa de variação anual dos empréstimos
Set 10
Set 11
Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.
Notas: Taxas e diferencial referentes a saldos em fi m de perío-
do. Os fi nais de ano encontram-se sublinhados. Até dezembro
de 2002, as taxas de saldos são estimativas. O diferencial é cal-
culado como a diferença entre a taxa sobre saldos e a média
móvel de 6 meses da Euribor a 6 meses.
Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano
que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.
Aumento generalizado da materialização do risco de crédito das sociedades não fi nanceiras
por setor de atividade e dimensão das exposições
A forte contração da atividade económica está a contribuir para que a materialização do risco de crédito
das sociedades não fi nanceiras continue a aumentar para níveis muito elevados (Gráfi co 4.4.17). Os
créditos vencidos e de cobrança duvidosa no balanço dos bancos, corrigidos da venda da carteira de
crédito do BPN que ocorreu em dezembro de 2010, representavam 6.4 por cento do total de empréstimos
concedidos às sociedades não fi nanceiras em setembro de 2011 (4.7 por cento no fi nal de 2010). Por
sua vez, o fl uxo de novos créditos em incumprimento, depois de ter registado uma redução entre fi nais
de 2009 e o terceiro trimestre de 2010, tem mantido uma tendência de aumento em 2011.
A deterioração dos indicadores de incumprimento tem sido comum aos diferentes graus de exposição
(Quadro 4.4.5). De acordo com os dados disponíveis até setembro de 2011, o rácio do crédito vencido
tem continuado a aumentar na generalidade das exposições, mantendo valores mais reduzidos nas
grandes exposições. A percentagem de devedores com incumprimento, que até ao fi nal de 2010 estava
a registar acréscimos mais acentuados no caso das exposições mais reduzidas, tem registado em 2011
acréscimos signifi cativos nas exposições mais elevadas, embora permaneça num nível inferior ao das
restantes exposições. Por dimensão das empresas, regista-se igualmente um acréscimo generalizado
da materialização do risco de crédito, embora as empresas de maior dimensão mantenham rácios de
incumprimento signifi cativamente inferiores aos das empresas mais pequenas (Quadro 4.4.6). Indepen-
dentemente da dimensão das empresas, os indicadores de incumprimento apresentam valores mais
reduzidos no caso do crédito concedido por bancos do que no caso dos empréstimos concedidos por
outras instituições fi nanceiras não bancárias, o que deverá refl etir o diferente nível de risco de crédito
dos devedores dos dois tipos de instituições.
Por setor de atividade, continua igualmente a registar-se um aumento generalizado dos rácios de incum-
primento no crédito concedido pelo setor bancário (Gráfi co 4.4.18). Este acréscimo foi particularmente
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Quadro 4.4.5
INDICADORES DE INCUMPRIMENTO DO CRÉDITO A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | POR DIMENSÃO DAS
EXPOSIÇÕES(a), EM PERCENTAGEM
2008 2009 2009 2009 2010 2010 2010 2011 2011
Dez. Jun. Set. Dez. Jun. Set. Dez. Jun. Set.
Exposição total
Número de devedores com incumprimento(b) 16.3 18.5 18.6 18.7 19.7 19.9 19.9 22.0 23.0
Crédito e juros vencidos(c) 2.4 4.0 4.4 4.1 4.7 5.1 5.1 6.1 7.2
Exposições de montante superior ao percentil 90(d)
Número de devedores com incumprimento(e) 11.5 15.7 15.9 14.3 16.0 16.4 15.6 19.2 21.8
Crédito e juros vencidos(f) 1.8 3.5 3.9 3.6 4.1 4.5 4.5 5.5 6.6
das quais: exposições de montante superior ao percentil 99(d)
Número de devedores com incumprimento(e) 9.2 13.8 13.8 11.4 13.2 13.7 12.5 16.8 19.8
Crédito e juros vencidos(f) 0.9 2.6 2.9 2.3 2.6 2.9 2.9 3.6 4.5
das quais: exposições de montante superior ao percentil 99.5(d)
Número de devedores com incumprimento(e) 7.6 13.0 12.4 9.3 11.8 12.0 10.7 15.4 17.9
Crédito e juros vencidos(f) 0.6 2.4 2.6 2.0 2.1 2.4 2.4 3.0 3.6
das quais: exposições de montante superior ao percentil 99.9(d)
Número de devedores com incumprimento(e) 6.3 11.3 10.9 7.1 7.8 9.1 6.2 10.7 11.6
Crédito e juros vencidos(f) 0.3 2.0 1.9 1.4 0.9 1.2 1.3 1.3 1.7
Exposições de retalho(g)
Número de devedores com incumprimento(e) 16.8 18.8 18.9 19.1 20.1 20.3 20.3 22.3 23.1
Crédito e juros vencidos(f) 5.8 7.3 7.9 7.8 8.7 9.0 9.2 10.5 11.6
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Inclui crédito concedido por
bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades
de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros residentes. Inclui
também crédito concedido (ou detido) por entidades que não pertencem ao sistema fi nanceiro, nomeadamente pela Parvalorem,
pelo Instituto de Turismo de Portugal e desde setembro de 2011 por algumas sociedades de recuperação de crédito. Apenas as
exposições face a uma determinada instituição fi nanceira superiores a 50 euros foram consideradas e foram excluídas as linhas de
crédito não utilizadas. Considerou-se que uma determinada sociedade não fi nanceira se encontra em situação de incumprimento
se o montante de crédito vencido for superior a 0.5 por cento da sua exposição face ao sistema fi nanceiro. (b) Em percentagem do
número de sociedades não fi nanceiras com dívidas a instituições fi nanceiras participantes na CRC. (c) Em percentagem do crédito
total concedido por instituições fi nanceiras participantes na CRC a sociedades não fi nanceiras residentes. (d) Percentis defi nidos com
base no número de empresas ordenadas segundo o montante da exposição total. (e) Em percentagem do número de devedores
desta carteira. (f) Em percentagem do crédito total desta carteira. (g) Exposições cujos montantes são menores do que o limite
inferior das grandes exposições. Correspondem a 90 por cento das empresas com dívida junto das instituições participantes na CRC.
Gráfi co 4.4.17
INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a)
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2.5
3.0
1.0
2.0
3.0
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5.0
6.0
7.0
8.0
Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11
Em
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cent
agem
Em
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cent
agem
Rácio incumprimento(b)Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e de cobrança duvidosa (esc.dir.)(c)
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa
e Metro do Porto para o setor das Administrações Públicas. (b) Defi nido como os empréstimos vencidos há mais de 30 dias e outros
de cobrança duvidosa em percentagem do saldo dos empréstimos ajustado de titularização. (c) A estimativa do fl uxo anual de novos
empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização,
sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo,
das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005, das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de
cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme a Instrução do Banco de Portugal nº17/2008.
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acentuado nos setores “Construção” e “Atividades imobiliárias”, os quais registam, em simultâneo
com os setores “Comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos”,
“Indústrias transformadoras” e “Indústrias extrativas”, um nível de incumprimento superior à média
das sociedades não fi nanceiras.
Os bancos terão de continuar a aumentar as dotações/imparidades para perdas na carteira de
crédito
Num contexto de perspetivas de uma forte contração da atividade económica em Portugal durante o
próximo ano, que deverá ter um impacto muito negativo sobre a situação fi nanceira das famílias e das
empresas, é de esperar que se continue a registar um acréscimo generalizado da materialização do risco
de crédito. Nestas circunstâncias, assume particular importância que os bancos continuem a aumentar
as dotações de imparidades/provisões para perdas na carteira de crédito, de forma a assegurar que os
rácios de cobertura do crédito em risco não se reduzam. Em simultâneo, não obstante o cenário macro-
económico desfavorável enfrentado pela economia portuguesa e o necessário processo de ajustamento
dos vários setores para níveis de endividamento mais sustentáveis, é importante que a desalavancagem
do setor fi nanceiro se continue a processar de uma forma gradual, não pondo em causa o fi nanciamento
dos setores mais produtivos da economia.
Quadro 4.4.6
INDICADORES DE INCUMPRIMENTO DOS EMPRÉSTIMOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS, POR DIMENSÃO DAS EMPRESAS E TIPO DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA(a) | EM PERCENTAGEM
2009 2010 2010 2010 2010 2011 2011 2011 Peso dos empréstimos no total (%)
(Set-11)Dez. Mar. Jun. Set. Dez. Mar. Jun. Set.
Número de devedores com incumprimento(b)
Empréstimos concedidos por IFM 17.8 18.5 18.7 18.9 18.4 19.9 20.7 21.6
Micro-empresas 18.4 19.1 19.3 19.4 18.9 20.3 21.4 22.2
Pequenas empresas 15.2 16.3 16.9 17.2 16.7 18.3 18.3 19.2
Médias empresas 14.8 15.8 16.3 16.3 16.3 18.1 18.3 19.0
Grandes empresas 11.0 11.2 11.7 9.9 8.2 9.9 11.9 12.1
Empréstimos concedidos por IFNM 19.0 19.8 20.3 21.0 21.8 22.8 26.7 28.0
Micro-empresas 20.2 20.8 21.3 22.0 22.9 23.9 28.6 29.8
Pequenas empresas 16.5 17.6 18.2 19.0 19.6 20.6 23.3 24.7
Médias empresas 15.6 17.3 18.1 18.5 18.6 19.2 21.5 22.3
Grandes empresas 9.7 11.2 12.2 12.7 9.5 12.5 12.7 12.9
Crédito e juros vencidos(c)
Empréstimos concedidos por IFM 4.0 4.4 4.5 5.0 4.3 4.9 5.2 6.0 100.0
Micro-empresas 5.8 6.3 6.8 7.4 6.5 7.2 8.1 9.2 35.2
Pequenas empresas 3.9 4.5 4.6 4.9 4.5 5.1 5.0 6.0 24.7
Médias empresas 3.1 3.3 3.2 3.8 2.9 3.5 3.8 4.2 24.5
Grandes empresas 1.4 1.0 1.0 1.2 1.1 1.2 1.4 1.6 15.6
Empréstimos concedidos por IFNM 9.3 9.7 9.9 10.3 10.4 11.1 14.7 15.5 100.0
Micro-empresas 13.1 13.6 13.7 13.8 14.2 15.1 20.7 22.0 32.2
Pequenas empresas 11.3 12.0 12.9 13.5 14.2 14.4 17.7 19.2 25.9
Médias empresas 8.0 8.8 9.4 10.2 9.6 10.5 12.4 12.1 24.7
Grandes empresas 1.9 1.9 1.0 1.2 1.0 1.3 1.9 2.6 17.1
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Inclui crédito concedido por
bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades
de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros residentes. Não
inclui crédito concedido a Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS). (b) Em percentagem do número de sociedades não
fi nanceiras com dívidas a Instituições Financeiras Monetárias (IFM) ou Instituições Financeiras não Monetárias (IFNM) participantes na
CRC. (c) Em percentagem do crédito total concedido por IFM ou IFNM participantes na CRC a sociedades não fi nanceiras residentes.
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Gráfi co 4.4.18
RÁCIOS DE INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a) POR SETOR DE ATIVIDADE
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
Alojamento e restauração Set-11Dez-10
SGPS não financeiras Set-11Dez-10
Indústrias transformadoras Set-11Dez-10
Comércio e reparação de veículos Set-11Dez-10
At. imobiliárias Set-11Dez-10
Construção Set-11Dez-10
Total Set-11Dez-10
Pontos percentuais
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0
Outros serviços Set-11Dez-10
Eletricidade, gás, vapor, água Set-11Dez-10
Indústrias extrativas Set-11Dez-10
Informação e comunicação Set-11Dez-10
Agricultura, produção animal, etc Set-11Dez-10
Educação, saúde, etc Set-11Dez-10
Transportes e armazenagem Set-11Dez-10
Consultoria técnicas e administrativas Set-11Dez-10
j ç
Em percentagem
Rácio de incumprimentoContributo para o rácio de incumprimento das SNF (escala superior)
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Valores corrigidos da carteira de crédito vendida pelo BPN. As correções setoriais foram estimadas com base na diferença
entre a posição do banco no mês de novembro e de dezembro de 2010 e ajustados pelo montante das reclassifi cações efetuadas em
cada setor. Os rácios de incumprimento correspondem aos empréstimos vencidos há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa
em percentagem do saldo dos empréstimos.
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4.5. Adequação de fundos próprios42
No fi nal de junho de 2011, o rácio Core Tier 143 médio do sistema bancário português registou um
acréscimo signifi cativo face a dezembro de 2010 (0.5 pontos percentuais), situando-se em 8.6 por cento
(7.9 por cento incluindo BPN44) (Quadro 4.5.1). Esta evolução traduz o esforço de cumprimento do rácio
mínimo de 9 por cento a partir do fi nal do ano (10 por cento a partir do fi nal de 2012), defi nido na
sequência do Programa de Assistência Económica e Financeira45, que reviu em alta o mínimo de 8 por
cento estipulado pelo Banco de Portugal no início de abril. Em particular, refi ra-se o impacto conside-
rável no rácio total do sistema do aumento de capital efetuado por um dos principais grupos bancários
portugueses e a adoção, pela generalidade dos bancos, de uma política moderada de distribuição de
dividendos no seguimento de uma recomendação efetuada pelo Banco de Portugal.
Ainda que a convergência para os novos requisitos de capital tenha sido efetuada a um bom ritmo no
primeiro semestre, as medidas de caráter prudencial defi nidas no Conselho Europeu de 26 de Outubro,
sob proposta da European Banking Authority (EBA), deverão exigir aos quatro maiores grupos bancários
portugueses um assinalável esforço de capitalização46, estimado, a título preliminar, em aproximadamente
7.8 mil milhões euros, a concretizar até ao fi nal de junho de 201247. Dada a magnitude dos montantes
envolvidos, a capacidade de geração de fundos próprios através da retenção de resultados e da alie-
nação de ativos afi gura-se insufi ciente para assegurar o cumprimento das novas exigências de capital.
Adicionalmente, o facto de estas medidas implicarem um reforço dos capitais num conjunto alargado
de bancos de países da área do euro que concorrem entre si na atração de investidores internacionais,
deverá também difi cultar a obtenção de recursos por parte dos bancos portugueses através de soluções
privadas de mercado. Em todo o caso, o fundo de apoio ao reforço de capital dos bancos, no montante
de 12 mil milhões de euros, criado no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira,
será sufi ciente para suprir eventuais necessidades de capitalização dos bancos portugueses. As novas
exigências de capital regulamentar tiveram por objetivo explícito contribuir para reforçar a solidez das
instituições fi nanceiras europeias, incrementar a sua capacidade para fazer face a choques adversos e
conter o aumento do risco sistémico provocado pelo agudizar da crise da dívida soberana na área do
euro. No que se refere especifi camente aos bancos portugueses, a eventual transferência parcial dos
fundos de pensões dos bancos para a Segurança Social e os resultados das inspeções on-site à qualidade
dos ativos dos bancos deverão resultar em deduções adicionais aos fundos próprios, a serem efetuadas,
previsivelmente, até ao fi nal de junho de 2012.
42 O conjunto de instituições analisado nesta secção difere do considerado nas secções anteriores, na medida em que foram excluídas as sucursais de grupos fi nanceiros com sede em países membros da União Europeia.
43 O rácio Core Tier 1 é apurado através do quociente entre o conjunto de fundos próprios designado de “core” e as posições ponderadas em função do risco. O conjunto de fundos próprios “core” compreende o capital de melhor qualidade da instituição, em termos de permanência e capacidade de absorção de prejuízos, deduzido de eventuais prejuízos e de certos elementos sem valor de realização autónomo, numa perspetiva de continui-dade da atividade de uma instituição. As posições ponderadas em função do seu risco representam uma medida dos riscos decorrentes da atividade fi nanceira, designadamente dos riscos de crédito, de mercado (incluindo requisitos mínimos de fundos próprios associados aos riscos cambial e da carteira de negociação) e operacional. Em Portugal, a medida de Core Tier 1 tem por base as regras de Basileia III aplicáveis em 2013 para a defi ni-ção do Common Equity Tier 1, i.e. antes da aplicação do regime transitório para determinadas deduções. Em particular, não inclui a dedução relativa a participações em instituições fi nanceiras que não consolidam, nem a dedução relativa a ativos por impostos diferidos. O cálculo do rácio Core Tier 1 é defi nido no Aviso nº1/2011 do Banco de Portugal.
44 Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril 2010, deixando, a partir dessa data, de ser incluído no universo de instituições bancárias.
45 De acordo com o Aviso nº3/2011 do Banco de Portugal.
46 Aqueles que, pela sua dimensão, foram integrados nos exercícios de stress test da EBA e que, por isso, são diretamente abrangidos pelas suas deliberações.
47 A análise das medidas de reforço de capital anunciadas no Conselho Europeu de 26 de Outubro é efetuada na “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012”, deste Relatório.
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I
Retenção de resultados dos bancos contribui positivamente para a evolução dos fundos
próprios de base
No primeiro semestre de 2011, os fundos próprios de base registaram um ligeiro aumento (Gráfi co
4.5.2), o que se traduziu numa melhoria dos rácios Tier 1 e Core Tier 1 para 9.3 e 8.6 por cento, respe-
tivamente. Para esta evolução contribuiu positivamente a incorporação dos resultados não distribuídos,
assim como a diminuição das deduções associadas à detenção de participações não qualifi cadas em
instituições fi nanceiras e sociedades de seguro. Em sentido contrário, observou-se um aumento dos
elementos negativos, justifi cado, em larga medida, pela deterioração da posição fi nanceira dos fundos
Quadro 4.5.1
ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS | EM BASE CONSOLIDADA, EM MILHÕES DE EUROS
2009 2010 2011
Jun. Dez. Jun. Dez. Jun.
1. Fundos próprios
1.1. Fundos próprios de base totais para efeitos de solvabilidade 23 904 25 572 26 124 27 099 27 608
1.1.1. Fundos próprios de base (brutos) 25 233 27 000 27 416 29 015 29 258
dos quais: Elementos non core 3 819 4 656 4 560 4 952 3 700
1.1.2. Deduções aos fundos próprios de base 1 329 1 427 1 292 1 916 1 649
1.2. Fundos próprios complementares totais para efeitos de solvabilidade 9 646 9 049 8 385 7 293 6 412
1.2.1. Fundos próprios complementares (brutos) 10 861 10 352 9 593 8 940 7 658
1.2.2. Deduções aos fundos próprios complementares 1 215 1 303 1 207 1 647 1 246
1.3. Deduções aos fundos próprios totais 1 284 386 1 672 702 1 178
1.4. Fundos próprios suplementares totais disponíveis para cobertura de riscos de mercado 34 0 0 0 0
Total dos fundos próprios 32 300 34 235 32 837 33 690 32 843
2. Requisitos de fundos próprios
2.1. Requisitos de FP para risco de crédito, risco de crédito de contraparte e transações incompletas 22 898 23 571 23 453 23 402 23 294
2.2. Risco de liquidação 1 0 0 0 0
2.3. Requisitos de fundos próprios para riscos de posição, riscos cambiais e riscos de mercadorias 711 759 855 874 772
2.4. Requisitos de fundos próprios para risco operacional 1 732 1 795 1 765 1 818 1 819
2.5. Requisitos de fundos próprios - Despesas gerais fi xas 5 5 4 4 5
2.6. Grandes riscos - Carteira de negociação 0 0 0 0 0
2.7. Requisitos transitórios de fundos próprios ou outros requisitos de fundos próprios 0 0 0 0 0
Total dos requisitos de fundos próprios 25 346 26 130 26 077 26 098 25 891
3. Rácios (em percentagem)
3.1. Fundos próprios/Requisitos totais 127.4 131.0 125.9 129.1 126.9
3.2. Fundos próprios/(Requisitos totais x 12.5) 10.2 10.5 10.1 10.3 10.1
3.3. Fundos próprios de base/(Requisitos totais x 12.5) 7.5 7.8 8.0 8.3 8.5
3.4. Rácio Core Tier I(a) 6.8 6.9 7.0 7.4 7.9
Por memória:
Rácios de capital excluindo BPN e BPP(b)
Fundos próprios/Requisitos totais 141.4 145.3 136.5 139.1 137.1
Fundos próprios/(Requisitos totais x 12.5) 11.3 11.6 10.9 11.1 11.0
Fundos próprios de base/(Requisitos totais x 12.5) 8.6 8.9 8.8 9.1 9.3
Rácio Core Tier I(a) 7.8 7.9 7.8 8.1 8.6
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Calculado como o rácio entre (fundos próprios de base subtraídos de elementos non core) e (requisitos totais x 12.5). (b) A partir de 2010 apenas se excluiu o BPN, uma vez que o BPP entrou em liquidação em abril de 2010 , deixando a partir dessa data de ser incluído no universo de instituições bancárias.
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de pensões dos empregados bancários, num contexto de fortes perturbações nos mercados fi nanceiros
internacionais48. Por seu turno, dado o fi ltro prudencial aplicável às variações de valor dos títulos de
dívida classifi cados na carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para venda49, as desvalorizações dos
títulos de dívida pública detidos pelos bancos tiveram um impacto relativamente reduzido sobre o capital
regulamentar, em junho. Importa ainda salientar que o aumento de capital referido anteriormente,
concretizado maioritariamente através de oferta pública de troca de dívida subordinada perpétua por
ações ordinárias da instituição, teve um impacto neutro nos fundos próprios de base, contribuindo
apenas para o reforço do rácio Core Tier 1 (substituição de elementos non-core por elementos core).
No mesmo período, os fundos próprios totais registaram um decréscimo de 2.5 por cento, o que se
refl etiu numa ligeira deterioração do rácio de adequação global de fundos próprios do sistema bancário
português para 10.1 por cento. Para esta evolução contribuiu sobretudo a redução dos fundos próprios
complementares, em resultado da diminuição da rubrica de empréstimos subordinados e das provisões
para riscos gerais de crédito. Em particular, refi ra-se a concretização de algumas operações de recompra
de obrigações próprias por parte dos bancos – benefi ciando do desconto face ao valor de emissão com
que as mesmas transacionavam no mercado secundário – e que contribuíram para o reforço do rácio
Core Tier 1 (via aumento dos resultados). Deste modo, a crescente importância atribuída recentemente
a elementos de capital de maior qualidade, nomeadamente em termos de permanência e capacidade
de absorção de prejuízos, e a aplicação de medidas prudenciais mais exigentes no contexto europeu,
enquadram a ligeira redução verifi cada nos fundos complementares que apresentam uma tendência
descendente desde o fi nal de 2008.
48 Note-se que, paralelamente à deterioração da posição fi nanceira atual dos fundos de pensões, na sequência da aplicação do Aviso nº11/2008 do Banco de Portugal continuam a ser reconhecidas nos fundos próprios parte das perdas atuariais registadas em 2008.
49 De acordo com alínea d) do Artº 10 do Aviso nº6/2010 do Banco de Portugal, na determinação dos fundos próprios de base devem excluir-se os ganhos e as perdas não realizados, que não representem imparidade, em títulos de dívida, créditos e outros valores a receber classifi cados como ativos fi nanceiros disponíveis para venda.
Gráfi co 4.5.1 Gráfi co 4.5.2
ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS
DECOMPOSIÇÃO DOS FUNDOS PRÓPRIOS DE BASE
6.0
7.0
8.0
9.0
10.0
11.0
12.0
Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Jun-11
Em
per
cent
agem
Rácio Core Tier 1Rácio de adequação de fundos próprios de base, Tier 1Rácio de adequação global de fundos próprios
-10 000
-5 000
0
5 000
10 000
15 000
20 000
25 000
30 000
35 000
Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Jun-11E
m m
ilhõe
s de
eur
os
Capital elegível Interesses minoritáriosOutros elementos positivos Elementos negativosDeduções ao FP de Base Total
Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.
Nota: As séries apresentadas excluem os bancos BPN e BPP. Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril de 2010 , deixando a partir dessa data de ser incluído no universo de ins-tituições bancárias.
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Estabilização dos requisitos de fundos próprios no primeiro semestre, em linha com o
abrandamento da atividade do sistema bancário
Em junho de 2011, os requisitos de fundos próprios permaneceram virtualmente inalterados face ao
fi nal de 2010, em consonância com o abrandamento da atividade dos bancos, quer a nível da carteira de
crédito a clientes, quer da carteira de ativos fi nanceiros (Quadro 4.5.1). De facto, apesar da forte dete-
rioração das condições monetárias e fi nanceiras da economia portuguesa, os ativos do sistema bancário
ponderados pelo risco estagnaram neste período. Contudo, no que se refere aos riscos de crédito, de
contraparte e transações incompletas – a principal componente dos requisitos de fundos próprios –, é
de sublinhar o aumento dos requisitos associados ao crédito a Administrações Regionais e Locais e a
crédito vencido. No primeiro caso, esta evolução deverá estar relacionada com os downgrades do rating
da República Portuguesa que afetaram os ponderados de risco associados às instituições na esfera do
Estado e, de modo geral, os créditos garantidos pelo Estado.
Reforço generalizado do rácio Core Tier 1 no primeiro semestre
O rácio Core Tier 1 do sistema bancário português registou um acréscimo signifi cativo no primeiro
semestre, situando-se em 8.6 por cento no fi nal de junho, em linha com a necessidade de convergência
para o objetivo de 9 por cento defi nido no Programa de Assistência Económica e Financeira, a ser atin-
gido a partir de dezembro de 2011. A melhoria do rácio Core Tier 1 foi transversal à maior parte das
instituições bancárias, ainda que se observe uma ligeira diminuição do rácio de três dos oito maiores
grupos bancários portugueses, sendo que um destes se encontra numa posição confortável para o
cumprimento do referido objetivo (Gráfi co 4.5.3). Note-se que as instituições de menor dimensão – na
sua grande maioria fi liais e sucursais de grandes bancos estrangeiros – apresentam, regra geral, níveis
de solvabilidade superiores à média do sistema bancário.
Numa perspetiva estritamente contabilística, observou-se uma diminuição do rácio entre os capitais
próprios e total do ativo, mesmo quando excluídas as componentes intangíveis (designadamente as
diferenças de consolidação negativas – Goodwill) (Gráfi co 4.5.4). Esta evolução refl ete sobretudo o
Gráfi co 4.5.3 Gráfi co 4.5.4
EVOLUÇÃO DO RÁCIO CORE TIER 1 DOS BANCOS PORTUGUESES | Em percentagem
RÁCIO ENTRE CAPITAL E ATIVO
9.0
10.0
11.0
12.0
13.0
o 2
011
5.0
6.0
7.0
8.0
5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 12.0 13.0
Jun
ho
Oito maiores grupos bancáriosOutros grupos bancários (agregado)Média sistema bancário
Dezembro 2010
4.0
4.5
5.0
5.5
6.0
6.5
7.0
7.5
8.0
Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Jun-11
Em
per
cent
agem
Capital/AtivoCapital Tangível/Ativo Tangível
Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.
Notas: As séries apresentadas excluem os bancos BPN e BPP. Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril de 2010, deixando, a partir dessa data, de ser incluído no universo de instituições bancárias.
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impacto da desvalorização dos títulos de dívida da carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para venda
que, embora não sendo considerada para efeitos prudenciais, afetou negativamente os capitais próprios
dos bancos, a nível contabilístico. Note-se que este rácio não discrimina os ativos dos bancos em função
do risco que lhes está associado, distinguindo-se, por isso, do rácio utilizado, para fi ns prudenciais, como
medida de adequação de capital. No entanto, a sua utilização como ferramenta de análise complementar
é cada vez mais pertinente, atendendo a que os rácios Core Tier 1 dos bancos podem resultar da utili-
zação de modelos internos de avaliação de risco (na terminologia anglosaxónica, Internal Ratings Based
approach-IRB) no cálculo dos requisitos de fundos próprios que constituem um fator de enviesamento
na comparação entre bancos, em especial a nível internacional.
O gráfi co 4.5.5 apresenta uma comparação dos principais grupos bancários portugueses com um
painel de grandes bancos europeus em termos de Core Tier 1 e de peso dos ativos ponderados pelo
risco no total do balanço. No quadrante A encontram-se os bancos com rácios Core Tier 1 bastante
elevados, associados ao facto de mitigarem fortemente o risco dos seus ativos. No quadrante oposto,
D, encontram-se os bancos que são penalizados em termos de Core Tier 1 pelo facto de ponderarem
mais em termos de risco o ativo dos seus balanços. Este é o caso dos bancos portugueses que, apesar
de apresentarem rácios de capital sobre o ativo relativamente elevados, comparam mal, em termos de
capital regulamentar a nível europeu, pelo facto de utilizarem em menor proporção modelos IRB no
cálculo dos ativos ponderados pelo risco. Em Portugal apenas três grupos bancários utilizam modelos
desenvolvidos internamente, contrariamente ao que acontece nos países do Centro e do Norte da Europa,
onde a adoção de modelos IRB é mais generalizada. Através de um exercício de simulação conclui-se
que uma redução de 25 por cento nos ativos ponderados pelo risco dos principais bancos portugueses
(para valores mais próximos da média dos bancos europeus) permitiria a cada um atingir um rácio Core
Tier 1 superior 10 por cento, tendo por base os valores observados em junho de 2011.
Gráfi co 4.5.5
RÁCIO CORE TIER 1 VS ATIVO PONDERADO PELO RISCO/ATIVO | POSICIONAMENTOS DOS BANCOS PORTUGUESES
NO CONTEXTO EUROPEU (JUNHO 2011)
0.12
0.14
0.16
0.18
e T
ier
1
Bancos EuropeusBancos Portugueses
A B
0.04
0.06
0.08
0.1
0.1 0.3 0.5 0.7 0.9
Rác
io C
or
C D
Ativo ponderado pelo risco/Ativo
Fonte: Banco de Portugal.
CAIXA 4.1 | SITUAÇÃO FINANCEIRA DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS NO TERCEIRO TRIMESTRE DE 20111
De acordo com a informação disponível para os seis maiores grupos bancários portugueses, no terceiro
trimestre de 2011 a atividade do sistema bancário, medida pelo ativo total em base consolidada, perma-
neceu virtualmente inalterada (Quadro 1). De facto, após a signifi cativa queda registada no primeiro
trimestre, justifi cada pela diminuição da carteira de ativos fi nanceiros e pela concretização de operações
de venda de créditos em montante signifi cativo, o balanço dos bancos estabilizou nos trimestres seguintes.
No terceiro trimestre, a ligeira diminuição observada na carteira de crédito líquido a clientes refl ete, em
parte, um aumento das imparidades associadas à carteira de crédito, não existindo evidência de uma
retração signifi cativa na concessão de novo crédito. É também de salientar um signifi cativo aumento
da materialização do risco de crédito neste período, consubstanciado num crescimento de aproxima-
damente 11 por cento da carteira de crédito vencido. No que se refere à carteira de ativos fi nanceiros,
1 O total do ativo dos seis grupos bancários analisados na presente caixa (Caixa Geral de Depósitos, Espírito Santo Financial Group, Banco Comercial Português, Banco BPI, Santander Totta e a Caixa Económica Montepio Geral) representava cerca de 77 por cento do ativo do sistema bancário português em junho de 2011. De modo a neutralizar o impacto da integração do Finibanco na Caixa Económica Montepio Geral, foram revistos os dados anteriores a 2011, que passaram a incluir aquela instituição.
Quadro 1
BALANÇO DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS | Base consolidada
Estrutura(em percentagem do
activo)
Taxas de variação homóloga (em percentagem)
Taxas de variação trimestral
(em percentagem)
2009 2010 2011 2010 2011 2011
Dez. Dez. Set. Set. Dez. Mar. Jun. Set. Mar. Jun. Set.
Disponibilidades e aplicações em Bancos Centrais 3.3 2.1 1.9 -25.0 -32.5 -31.6 -12.4 13.9 -14.1 3.1 -2.2
Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito 5.6 3.2 3.4 -21.3 -39.6 -38.4 -23.2 -23.1 -2.2 3.4 2.0
Títulos, derivados e participações 15.8 19.7 18.3 28.9 29.7 3.6 -2.8 -5.4 -9.2 -1.4 0.6
Crédito a clientes líquido 63.5 60.0 59.6 3.0 -1.8 -4.4 -8.1 -6.8 -2.8 -0.2 -0.5
Ativos titularizados e não desreconhecidos 6.7 9.6 10.4 3.5 47.6 49.8 55.8 39.5 7.4 -0.4 -1.5
Ativos tangíveis e intangíveis 1.0 1.0 1.0 -23.6 -0.8 -0.1 -3.4 0.9 1.5 -2.9 1.1
Outros ativos 4.2 4.4 5.4 21.4 10.7 0.8 5.6 14.0 -1.0 10.6 7.9
Total do ativo 100.0 100.0 100.0 5.3 3.9 -1.4 -3.0 -2.5 -3.2 0.2 0.1
Recursos de bancos centrais 3.8 9.9 10.7 272.6 169.5 132.1 5.2 9.1 -8.3 10.6 4.1
Recursos de outras instituições de crédito 7.3 7.3 5.9 -1.4 3.1 -5.7 -23.7 -19.2 -1.3 -21.2 0.9
Recursos de clientes e outros empréstimos 45.2 46.4 51.1 7.6 6.7 7.4 11.5 8.1 -0.1 5.0 1.9
Responsabilidades representadas por títulos 27.1 20.1 17.1 -18.6 -23.1 -31.1 -24.3 -21.7 -7.7 -4.8 -6.2
Passivos subordinados 2.5 2.1 1.4 -10.4 -12.8 -17.5 -25.7 -37.2 -8.8 -13.8 -15.9
Outros passivos 7.1 7.5 7.7 -3.1 9.3 -5.1 -3.2 7.0 -5.6 0.9 5.1
Capitais próprios 6.9 6.8 6.1 3.2 1.8 -2.4 -4.7 -12.0 -1.3 -6.9 -5.3
Total do passivo e capital 100.0 100.0 100.0 5.3 3.9 -1.4 -3.0 -2.5 -3.2 0.2 0.1
Por memória:
Crédito a clientes incluindo operações de titularização não desreconhecidas 72.0 71.4 72.1 3.3 3.1 1.0 -2.0 -1.6 -1.6 0.1 -0.3
Fonte: Banco de Portugal.
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a desvalorização generalizada dos títulos de dívida e de capital detidos pelos bancos foi compensada
pela valorização de instrumentos derivados da carteira de ativos fi nanceiros detidos para negociação.
No terceiro trimestre, manteve-se a tendência de recomposição da estrutura de fi nanciamento dos
bancos, sendo de destacar o aumento dos recursos de clientes sob a forma de depósitos por contra-
partida da diminuição das responsabilidades representadas por títulos. Adicionalmente, registou-se uma
diminuição da rubrica de passivos subordinados, que continuou a refl etir a concretização de operações
de recompra de obrigações próprias por parte dos bancos, benefi ciando do desconto face ao valor de
emissão com que as mesmas transacionam no mercado secundário. O facto de estes títulos não serem
elegíveis para o cumprimento das novas metas de adequação de capital (em termos de Core Tier 1)
contribui para os tornar menos atrativos como fonte de fi nanciamento. Por seu turno, os recursos de
bancos centrais – que incluem o fi nanciamento obtido junto do Eurosistema e os recursos obtidos pelas
fi liais e sucursais estrangeiras dos grupos bancários domésticos junto de outros bancos centrais - regis-
taram um ligeiro aumento.
No terceiro trimestre, os resultados antes de impostos e interesses minoritários do conjunto das insti-
tuições em análise registaram uma forte diminuição face ao apurado em igual período de 2010. De
facto, à semelhança do observado no segundo trimestre, os resultados antes de impostos e interesses
minoritários situaram-se em valores próximos de zero, o que se traduziu numa forte deterioração dos
indicadores de rendibilidade (Quadro 2 e Gráfi co 1). Para esta evolução contribuiu a desvalorização
da carteira de ativos fi nanceiros, incluindo, inter alia, a dedução de 21 por cento ao valor nominal das
posições em risco perante a dívida pública grega, determinada no âmbito do plano de envolvimento do
setor privado no programa de apoio fi nanceiro à Grécia. As imparidades associadas à carteira de crédito
a clientes continuaram a condicionar negativamente a rendibilidade das instituições, pese embora a
diminuição registada por comparação com os valores extraordinariamente elevados do trimestre ante-
Quadro 2
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS | BASE CONSOLIDADA; EM
PERCENTAGEM DO ATIVO MÉDIO
Resultado apurado no trimestre Resultado acumulado desde o início do ano
2010 2011 2010 2011
T3 T4 T1 T2 T3 Set. Dez. Mar. Jun. Set.
Margem fi nanceira 1.49 1.42 1.37 1.43 1.35 1.39 1.39 1.37 1.41 1.39
Rendimentos (líquidos) de serviços e comissões 0.72 0.71 0.70 0.71 0.67 0.71 0.71 0.70 0.71 0.70
Resultados em operações fi nanceiras 0.17 0.30 0.14 0.17 0.12 0.27 0.28 0.14 0.15 0.14
Outros resultados 0.18 0.25 0.09 0.26 0.05 0.16 0.19 0.09 0.17 0.13
Produto da atividade 2.56 2.69 2.30 2.57 2.19 2.53 2.56 2.30 2.44 2.36
Custos operacionais 1.44 1.51 1.32 1.45 1.30 1.41 1.43 1.32 1.39 1.36
Dotações de provisões e de imparidade 0.70 0.64 0.52 1.18 0.90 0.65 0.64 0.52 0.85 0.87
das quais: associadas a crédito a clientes 0.42 0.43 0.40 1.00 0.54 0.47 0.46 0.40 0.71 0.65
Diferenças de consolidação e apropriação de resultados -0.09 -0.06 -0.06 -0.06 0.00 -0.06 -0.06 -0.06 -0.06 -0.04
Resultados antes de impostos e de interesses minoritários 0.51 0.60 0.52 0.00 0.00 0.54 0.55 0.52 0.26 0.18
Imposto sobre os lucros do exercício 0.07 0.02 0.09 -0.21 0.01 0.06 0.05 0.09 -0.06 -0.04
Resultado antes de interesses minoritários 0.44 0.58 0.43 0.21 -0.01 0.48 0.51 0.43 0.32 0.21
Interesses minoritários 0.19 0.19 0.14 0.15 0.09 0.17 0.18 0.14 0.14 0.13
Resultado líquido 0.25 0.38 0.29 0.07 -0.10 0.31 0.33 0.29 0.18 0.09
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Os resultados, trimestrais e acumulados, foram anualizados para o cálculo das respetivas percentagens sobre o ativo médio.
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rior. Adicionalmente, observou-se uma relativa estabilização da margem fi nanceira e dos rendimentos
de serviços e comissões, que continuaram a evidenciar um elevado nível de resiliência (Gráfi co 2). Por
último, é de salientar a diminuição dos custos operacionais (custos com pessoal, gastos administrativos
e amortizações).
O rácio Core Tier 1 dos principais grupos bancários registou uma ligeira redução, situando-se em 8.3
por cento no fi nal de setembro de 2011 (Quadro 3). Esta evolução refl ete sobretudo o aumento dos
elementos negativos associadas aos desvios atuariais dos fundos de pensões dos bancos e a aplicação
da dedução de 21 por cento do valor nominal das posições em risco perante a dívida pública grega.
Refi ra-se que, em 30 de setembro, três das instituições cumpriam o rácio mínimo de 9 por cento defi nido
no Programa de Assistência Económica e Financeira para o fi nal de 2011. As restantes instituições em
análise têm programado, para o trimestre em curso, medidas que visam assegurar o cumprimento do
Quadro 3
ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS DOS SEIS PRINCIPAIS GRUPOS BANCÁRIOS | BASE CONSOLIDADA, EM
MILHÕES DE EUROS
2010 2011
Set. Dez. Mar. Jun. Set.
1. Fundos próprios
Fundos próprios de base (A) 24 151 25 484 26 011 25 889 24 803
dos quais: Elementos non-core (B) 4 294 4 616 4 595 3 420 2 682
2. Requisitos de fundos próprios (C) 21 771 21 694 21 426 21 508 21 437
3. Rácio Core Tier 1 (em percentagem) (A-B)/(C x 12.5) 7.3 7.7 8.0 8.4 8.3
Fonte: Banco de Portugal.
Gráfi co 1 Gráfi co 2
RENDIBILIDADE DO ATIVO (ROA) E DOS CAPITAIS PRÓPRIOS (ROE) DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS | COM BASE NO RESULTADO DO
TRIMESTRE
DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS – FLUXOS TRIMESTRAIS
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
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Mar-08 Set-08 Mar-09 Set-09 Mar-10 Set-10 Mar-11 Set-11
Em
per
cent
agem
Em
per
cent
agem
ROE ROA (esc. dir.)
-400
-200
0
200
400
600
800
1 000
1 200
1 400
1 600
1 800
2010T1 2010T2 2010T3 2010T4 2011T1 2011T2 2011T3
Em
milh
ões
de e
uros
Margem financeiraRendimentos (líquidos) de serviços e comissõesResultados de operações financeiras e imparidades associadas Custos operacionaisProvisões e imparidades associadas a crédito a clientesResultados antes de impostos e de interesses minoritários
Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.
Nota: A medida de rendibilidade utilizada é o resultado antes de interessses minoritários e impostos. Os resultados trimestrais foram anualizados para o cálculo dos indicadores de rendibi-lidade.
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referido objetivo sem necessidade de recurso ao fundo público de apoio à capitalização dos bancos. Esta
avaliação não incorpora o impacto dos resultados do programa das inspeções on-site em curso, bem
como o impacto da eventual transferência parcial dos fundos de pensões dos bancos para a Segurança
Social, que apenas terão refl exo prudencial em junho de 2012, conjuntamente com as necessidades de
capitalização determinadas no Conselho Europeu de 26 de Outubro, para quatro das instituições em
análise, sob proposta da European Banking Authority (EBA)2.
2 Para mais detalhes ver “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e pers-petivas para 2012”, deste Relatório.
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CAIXA 4.2 | NOVO RÁCIO DE CRÉDITO EM RISCO
A Instrução do Banco de Portugal nº23/2011, que entrou em vigor no dia 26 de setembro de 2011,
alarga o conjunto de indicadores de qualidade de crédito que as instituições devem reportar sempre
que divulgam informação quantitativa sobre a matéria. Com esta alteração, as instituições de crédito
passaram a ter de divulgar não apenas rácios de crédito com incumprimento no crédito total, como
acontecia até aqui, mas também rácios de crédito em risco no crédito total.
O conceito de crédito em risco é mais abrangente do que o de crédito com incumprimento, incorpo-
rando, nomeadamente, a possibilidade dos devedores com prestações em atraso continuarem a não
cumprir as suas responsabilidades de crédito. Os rácios de crédito em risco reforçam a comparabilidade
e a transparência da informação relativa à qualidade de crédito e seguem o conceito de “non-perfoming
loans” que consta no manual de metodologia de compilação das estatísticas dos “Financial Soundness
Indicators” do FMI. A divulgação destes novos indicadores cumpre um dos requisitos do Programa de
Assistência Económica e Financeira a Portugal1.
O rácio de crédito com incumprimento2 e o rácio de crédito em risco estão defi nidos em (1) e (2).
Crédito com incumprimento Rácio de crédito com incumprimento=
Crédito total(1)
Crédito em risco Rácio de crédito em risco=
Crédito total(2)
O crédito com incumprimento inclui as prestações de crédito vencido há mais de 90 dias e o crédito que,
verifi cadas algumas condições de severidade do incumprimento já observado (que depende da percen-
tagem já vencida de um crédito ou de um mesmo cliente), seja considerado de cobrança duvidosa3. Por
sua vez, o crédito em risco corresponde ao conjunto dos seguintes elementos:
a) Valor total em dívida do crédito que tenha prestações de capital ou juros vencidos por um pe-
ríodo igual ou superior a 90 dias. Os créditos em conta corrente não contratualizados deverão
ser considerados como crédito em risco decorridos 90 dias após a verifi cação dos descobertos.
b) Valor total em dívida dos créditos re-estruturados não abrangidos na alínea anterior, cujos
pagamentos de capital ou juros, tendo estado vencidos por um período igual ou superior a
90 dias, tenham sido capitalizados, refi nanciados ou postecipada a sua data de pagamento,
sem que tenham sido adequadamente reforçadas as garantias constituídas (devendo estas ser
1 No ponto 2.9 do Memorando de entendimento sobre as condicionalidades de política económica fi cou estabe-lecido que o “Banco de Portugal assegurará até fi m de setembro de 2011 que a divulgação de informação sobre empréstimos em incumprimento será melhorada através da adição de um novo rácio, alinhado com práticas internacionais, ao rácio atual que apenas inclui os pagamentos de empréstimos em atraso”.
2 Note-se que o rácio de crédito com incumprimento apresentado nesta caixa difere do indicador de incumpri-mento obtido com base nas Estatísticas Monetárias e Financeiras, que é utilizado na maior parte da análise efetuada na “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório. A principal diferença consiste no facto do indicador das Estatísticas Monetárias e Financeiras incluir empréstimos vencidos há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa, em percentagem do saldo dos empréstimos ajustado de titularização, e de ser obtido com base em dados não consolidados. Refi ra-se ainda que em anteriores edições do Relatório de Estabilidade Financeira era já incluído em alguns quadros o indicador de crédito com incumprimento com uma defi nição igual à do apre-sentado nesta caixa, mas para o qual o reporte não permitia o seu cálculo para os vários segmentos de crédito, nem em base consolidada.
3 Ver artigo 4º do Aviso do Banco de Portugal nº3/95.
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sufi cientes para cobrir o valor total do capital e juros em dívida) ou integralmente pagos pelo
devedor os juros e outros encargos vencidos.
c) Valor total do crédito com prestações de capital ou juros vencidos há menos de 90 dias, mas
sobre o qual existam evidências que justifi quem a sua classifi cação como crédito em risco,
designadamente a falência ou liquidação do devedor. Em caso de insolvência do devedor, os
saldos recuperáveis poderão deixar de ser considerados em risco após a homologação em
tribunal do respetivo acordo ao abrigo do Código de Insolvência e Recuperação de Empresas,
caso não persistam dúvidas sobre a efetiva cobrabilidade dos valores em dívida.
No gráfi co 1 apresenta-se uma comparação dos dois rácios para o período entre dezembro de 2008
e setembro de 2011. Por defi nição, o rácio de crédito em risco assume um valor superior ao rácio de
crédito com incumprimento. Os dois rácios apresentam contudo um comportamento semelhante ao
longo do tempo. Desde o fi nal de 2008, ambos os indicadores mantêm uma tendência de aumento,
a qual, depois de ter abrandado em 2010, se acentuou de novo em 2011. Em setembro de 2011, o
crédito em risco representava 6.8 por cento do crédito total concedido pelo sistema bancário, o que
compara com um valor de 3.5 por cento no fi nal de 20084. No mesmo período, o rácio de crédito com
incumprimento passou de 1.9 por cento para 4.5 por cento.
Nos principais segmentos de crédito, com exceção da habitação, os rácios de crédito em risco e de
crédito com incumprimento têm vindo registar uma tendência de aumento nos últimos anos, que se
acentuou em 2011 (Gráfi cos 2 e 3)5. Na habitação, a deterioração dos rácios de qualidade de crédito
tem sido bastante mais moderada. Em setembro de 2011, os rácios de crédito em risco situavam-se em
4.9 por cento na habitação, 12.2 por cento no consumo e outros fi ns, 8.5 por cento nas sociedades
não fi nanceiras e 6.4 por cento no crédito concedido a não residentes (2.7, 9.7, 5.9 e 3.6 por cento,
respetivamente, no caso dos rácios de crédito com incumprimento).
Ao nível das várias instituições de crédito verifi ca-se uma concentração de rácios de crédito em risco à
habitação no intervalo entre 5 e 7 por cento em setembro de 2011, existindo contudo um conjunto de
4 Estes indicadores foram calculados com base na informação reportada ao abrigo da Instrução do Banco de Por-tugal nº22/2011, incluindo assim dados das instituições de crédito e das sucursais em Portugal de instituições de crédito com sede em países não pertencentes à União Europeia. Na análise efetuada excluíram-se os dados do banco BPN por forma a evitar a distorção decorrente da venda de uma carteira de crédito com elevado nível de incumprimento à Parvalorem em dezembro de 2010.
5 Sublinhe-se que esta segmentação é apenas efetuada para a atividade com residentes.
Gráfi co 1
INDICADORES DE QUALIDADE DE CRÉDITO | NO CONJUNTO DO SISTEMA BANCÁRIO (BASE CONSOLIDADA)
0.0
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
6.0
7.0
8.0
Dez-08 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11 Set-11
Em
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Rácio de crédito em riscoRácio de crédito com incumprimento
Fonte: Banco de Portugal.
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instituições, com peso não negligenciável na concessão de crédito à habitação, com rácios de crédito em
risco mais reduzidos (Gráfi co 4). Desde o fi nal de 2010, embora se tenha vindo a assistir a uma deslo-
cação da distribuição para a direita, não parecem ter existido alterações muito signifi cativas ao nível da
dispersão dos rácios entre instituições. Pelo contrário, no caso dos rácios de crédito em risco associados
ao crédito ao consumo e outros fi ns, existe em setembro de 2011 uma elevada heterogeneidade de
valores entre instituições (Gráfi co 5). Esta dispersão dos rácios de crédito em risco a particulares para
consumo e outros fi ns acentuou-se face ao fi nal de 2008. Nessa data, a distribuição apresentava-se
Gráfi co 2 Gráfi co 3
RÁCIOS DE CRÉDITO EM RISCO | NO CONJUNTO DO
SISTEMA BANCÁRIO (BASE CONSOLIDADA)
RÁCIOS DE CRÉDITO COM INCUMPRIMENTO | NO
CONJUNTO DO SISTEMA BANCÁRIO (BASE CONSOLIDADA)
0.0
2.0
4.0
6.0
8.0
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Dez-08 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11 Set-11
Em
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TotalHabitação residentesConsumo e outras finalidades residentesSociedades não financeiras residentesNão residentes
0.0
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Dez-08 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11 Set-11E
m p
erce
ntag
em
TotalHabitação residentesConsumo e outras finalidades residentesSociedades não financeiras residentesNão residentes
Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.
Gráfi co 4 Gráfi co 5
DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DO RÁCIO DE CRÉDITO EM RISCO A PARTICULARES RESIDENTES | PARA
AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO
DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DO RÁCIO DE CRÉDITO EM RISCO DO CRÉDITO A PARTICULARES RESIDENTES | PARA CONSUMO E OUTROS FINS
0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 11% 12% 13% 14% 15%
Rácio de crédito em risco
Dez 08Dez 10Set 11
0% 3% 5% 8% 10% 13% 15% 18% 20% 23% 25% 28% 30%Rácio de crédito em risco
Dez 08Dez 10Set 11
Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.
Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.
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relativamente concentrada, o que sugere que desde esse período existiu um conjunto de instituições
que registaram apenas ligeiros acréscimos dos rácios de crédito em risco, enquanto um outro grupo de
instituições registou acréscimos muito acentuados do risco de crédito. No caso do crédito às sociedades
não fi nanceiras tem igualmente ocorrido um aumento signifi cativo da dispersão, a qual tem sido acompa-
nhada por um aumento signifi cativo dos rácios de crédito em risco da maioria das instituições (Gráfi co 6).
No gráfi co 7 apresentam-se as imparidades/provisões para crédito em percentagem do crédito em
risco por segmento de crédito (rácio de cobertura do crédito em risco). O crédito em risco à habitação
tem níveis de cobertura por provisões/imparidades bastante inferiores aos dos restantes segmentos, o
que refl ete o facto de estes créditos terem em geral associadas hipotecas sobre os imóveis e/ou outras
garantias. Este rácio regista uma relativa estabilidade desde dezembro de 2008, situando-se em cerca
de 30 por cento em setembro de 2011. O crédito em risco a particulares para consumo e outros fi ns
tem o nível de cobertura mais elevado, o qual se situa em cerca de 74 por cento em setembro de 2011,
depois de ter registado um acréscimo em fi nais de 2010. No crédito às sociedades não fi nanceiras, o
rácio de cobertura situa-se em cerca de 62 por cento e no crédito a não residentes em cerca de 57
por cento. Em ambos os casos registou-se uma redução signifi cativa do rácio de cobertura em 2009,
seguida de uma relativa estabilização no caso das sociedades não fi nanceiras. O gráfi co 8 inclui os rácios
de cobertura do crédito com incumprimento por provisões/imparidades para crédito. Neste caso, o
maior rácio de cobertura está associado ao crédito com incumprimento concedido a não residentes, o
qual tem vindo a registar contudo uma tendência de redução, situando-se em setembro de 2011 num
nível já não muito superior aos rácios de cobertura do crédito ao consumo e outros fi ns e do crédito às
sociedades não fi nanceiras.
Em resumo, o novo rácio de crédito em risco constitui uma medida mais abrangente do risco de crédito
que refl ete, nomeadamente, a possibilidade dos devedores com crédito com incumprimento no momento
atual ou com créditos re-estruturados após incumprimento continuarem a não cumprir as suas respon-
sabilidades de crédito no futuro. Adicionalmente, este novo indicador tem a vantagem de estar próximo
dos indicadores de qualidade de crédito mais utilizados internacionalmente. Contudo, dada a heteroge-
neidade nas defi nições de Non-Performing Loans (NPL) utilizadas pelos vários países, as comparações
internacionais deverão ser efetuadas com cautela. O indicador de crédito em risco apresenta em geral
uma evolução próxima da registada pelo rácio de crédito com incumprimento, não alterando assim a
Gráfi co 6
DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DO RÁCIO DE CRÉDITO EM RISCO A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS RESIDENTES
0% 5% 10% 15%Rácio de crédito em risco
Dez 08Dez 10Set 11
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.
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análise da evolução do qualidade de crédito que tem vindo a ser efetuada com o rácio de crédito com
incumprimento. Estes dados confi rmam que a tendência de deterioração da qualidade de crédito no
total das carteiras das instituições de crédito se acentuou em 2011. O nível e o ritmo de aumento do
risco de crédito são diferenciados nos vários segmentos, sendo em particular de destacar, no caso do
setor residente não fi nanceiro, o comportamento bastante mais favorável registado pelo crédito à habi-
tação, face ao crédito ao consumo e outros fi ns e ao crédito às sociedades não fi nanceiras. Nestes dois
últimos segmentos existe uma elevada heterogeneidade entre os rácios de crédito em risco das várias
instituições de crédito, o que contrasta com a menor dispersão registada no caso do crédito à habitação.
Gráfi co 7 Gráfi co 8
RÁCIOS DE COBERTURA DE CRÉDITO EM RISCO | NO CONJUNTO DO SISTEMA BANCÁRIO (BASE CONSOLIDADA)
RÁCIOS DE COBERTURA DE CRÉDITO COM INCUMPRIMENTO | NO CONJUNTO DO SISTEMA
BANCÁRIO (BASE CONSOLIDADA)
20.0
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70.0
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Dez-08Dez-09Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11 Set-11
Em
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agem
TotalHabitação residentesConsumo e outras finalidades residentesSociedades não financeiras residentesNão residentes
20.0
40.0
60.0
80.0
100.0
120.0
140.0
160.0
Dez-08 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11 Set-11
Em
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TotalHabitação residentesConsumo e outras finalidades residentesSociedades não financeiras residentesNão residentes
Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.
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CAIXA 4.3 | NOVAS EXIGÊNCIAS DE ADEQUAÇÃO DE CAPITAL: DESENVOLVIMENTOS RECENTES E PERSPETIVAS PARA 2012
No decurso de 2011, foram adotadas diversas medidas relativas à adequação de fundos de próprios
com vista a reforçar os níveis de solvabilidade do sistema bancário português. O objetivo desta caixa é
sintetizar este conjunto de iniciativas, com especial ênfase nas exigências de reforço de capital determi-
nadas no Conselho Europeu de 26 de outubro.
No início de abril, no âmbito da sua competência de supervisão prudencial, o Banco de Portugal fi xou
um limite mínimo de 8 por cento para o rácio Core Tier 1 (Aviso nº1/2011), a observar pelas instituições
sujeitas à sua supervisão até ao fi nal de 2011. O conceito de Core Tier 1 foi defi nido com base nas regras
de Basileia III aplicáveis em 2013 para a defi nição do Common Equity Tier 11. Este conceito compreende
apenas os elementos de melhor qualidade dos fundos próprios, nomeadamente em termos de perma-
nência e capacidade de absorção de prejuízos. Para além do objetivo de reforçar a solidez dos bancos
portugueses, numa conjuntura internacional extremamente adversa, a defi nição deste limite em abril
permitiu também antecipar a convergência para os novos padrões internacionais de Basileia III.
Em maio, no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira, o objetivo fi xado para o rácio
Core Tier 1 mínimo foi revisto de 8 para 9 por cento, a ser cumprido até ao fi nal de 2011, sendo adicio-
nalmente estipulado um rácio mínimo de 10 por cento, até ao fi nal de 2012 (Aviso nº3/2011). Para fazer
face a situações em que os bancos não consigam, recorrendo a soluções de mercado, satisfazer atem-
padamente os níveis de capital exigidos, foi criado o fundo de apoio ao reforço de capital do sistema
bancário no montante de 12 mil milhões de euros. Destaque-se ainda o reforço dos mecanismos de
monitorização da solvabilidade e da liquidez, como a realização de inspeções on-site à qualidade dos
ativos dos bancos e a obrigatoriedade de apresentação de planos de fi nanciamento e capital trimestrais
por parte dos oito maiores grupos bancários, que ajudarão a detetar eventuais necessidades adicionais
de capitalização.
Face à deterioração da situação orçamental grega e em linha com a decisão na Cimeira Europeia reali-
zada em julho, de envolvimento do setor privado no programa de apoio fi nanceiro à Grécia, o Banco de
Portugal determinou a dedução ao Core Tier 1 das instituições fi nanceiras portuguesas, do montante
correspondente a 21 por cento do valor nominal das posições em risco perante a dívida pública grega,
com aplicação a partir do fi nal de setembro.
Posteriormente, no Conselho Europeu de 26 de outubro, foi acordado um haircut de 50 por cento no
valor nominal da dívida grega detida pelos investidores privados. Os termos e condições desta nova
proposta ainda se encontram por ultimar, não estando prevista uma data para o reconhecimento efetivo
do haircut acordado.
A agudização da crise da dívida soberana na área do euro motivou a defi nição de um conjunto de
medidas de reforço de capital, à escala europeia, para o conjunto das instituições sujeitas ao exercício
de stress test da European Banking Authority (EBA). Neste contexto, assume especial relevância a
eliminação do fi ltro prudencial aplicável aos títulos de dívida soberana da carteira de ativos fi nanceiros
disponíveis para venda e a avaliação a preços de mercado das exposições soberanas2, quer na carteira
de ativos detidos até à maturidade quer na carteira de crédito, com referência ao fi nal de setembro de
1 Para mais detalhe ver “Basel III: A global regulatory framework for more resilient banks and banking systems”em www.bis.org/publ/bcbs189.pdf.
2 O conceito de “soberano” utilizado pela EBA corresponde à categoria prudencial de “Administrações Centrais e Locais”, isto é, considera as exposições numa ótica de risco imediato, não incluindo exposições a outras con-trapartes, garantidas, total ou parcialmente, pelo Estado.
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2011. As necessidades adicionais de capital resultantes desta alteração valorimétrica foram estimadas
preliminarmente em 4.4 mil milhões de euros para o conjunto dos quatro maiores grupos bancários
portugueses (totalizando aproximadamente 41 mil milhões para o conjunto das instituições europeias
sujeitas ao exercício) e deverão assumir a forma de um buffer temporário de capital.
A este montante acrescem necessidades de 3.4 mil milhões de euros (cerca de 65 mil milhões para o
conjunto das instituições europeias) para que estes atinjam um rácio Core Tier 1 de 9 por cento até junho
de 2012. Note-se que a medida de Core Tier 1 utilizada pela EBA difere da portuguesa pelo facto de
incluir, inter alia, deduções relativas a participações em instituições fi nanceiras que não consolidam no
grupo e deduções relativas ao diferencial entre a perda esperada e a imparidade para as instituições que
utilizam o método das notações internas (com exceção da carteira de ações). Esta diferença metodológica
tem um impacto não negligenciável no caso português, pelo que o objetivo de 9 por cento fi xado pela
EBA para o conjunto dos quatro maiores bancos portugueses é mais exigente que o objetivo de 9 por
cento estipulado no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira (o qual abrange todas
as instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal). Em todo o caso, refi ra-se que as estimativas
apresentadas a 26 de outubro para o buffer temporário de capital têm um caráter preliminar, estando
em curso uma reavaliação das necessidades de capitalização dos bancos com base nas posições de
capital, exposições soberanas e preços de mercado a 30 de setembro de 2011.
No plano nacional, a eventual transferência parcial dos fundos de pensões dos bancos para a Segurança
Social deverá resultar em necessidades de capitalização acrescidas. Contudo, apesar da operação se
encontrar planeada para 2011, o seu impacto nos fundos próprios apenas se fará sentir em junho de
2012. Adicionalmente, os resultados das inspeções on-site à qualidade dos ativos dos bancos poderão
determinar o registo de imparidades adicionais com impacto no capital regulamentar.
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IIARTIGOS
UM INDICADOR DE RISCO SISTÉMICO BASEADONO MODELO DE DÍVIDA CONTINGENTE
O COMPORTAMENTO DOS BANCOS DOMÉSTICOS E NÃO DOMÉSTICOS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO À HABITAÇÃO:
UMA ANÁLISE COM BASE EM DADOS MICROECONÓMICOS
MODELAÇÃO DO INCUMPRIMENTO DOS PARTICULARES
153
Art
igos
UM INDICADOR DE RISCO SISTÉMICO BASEADO NO MODELO DE
DÍVIDA CONTINGENTE*
Nuno Silva** | Nuno Ribeiro** | António Antunes**
Resumo
Este artigo apresenta um novo indicador de risco sistémico assente no modelo de
dívida contingente. O modelo proposto adapta o trabalho de Gray, Merton e Bodie
(2007) às características de um país da área do euro. Posteriormente, com base nos
balanços intersetoriais e assumindo um mecanismo de transmissão de choques onde
todos os ativos são constantemente valorizados a preços de mercado, consideram-se
todas as combinações de choques em diversas dimensões capazes de esgotar a base de
capital de pelo menos um dos setores institucionais. A probabilidade destes choques
acontecerem é de seguida estimada. A metodologia proposta é aplicada à economia
portuguesa no período entre 2002 e 2010. Para tal, consideraram-se choques em sete
dimensões, os quais podem ser divididos em dois tipos: choques no capital próprio
de alguns setores (sociedades não fi nanceiras, instituições fi nanceiras, sociedades de
seguros e administrações públicas) e choques nos passivos (sociedades não fi nanceiras
e particulares). No caso de choques sobre os passivos de particulares, distinguiram-
se os passivos relacionados com hipotecas residenciais dos restantes. O indicador
desenvolvido aponta para um elevado nível de risco sistémico desde o fi nal de 2007.
1. Introdução
Tradicionalmente a literatura sobre risco sistémico tende a focar-se nas instituições fi nanceiras e nas
relações entre elas. A crise fi nanceira que começou nos EUA em 2007 e, em particular, a atual crise da
dívida soberana europeia são exemplos de que existem canais de contágio mais abrangentes do que os
que estão associados estritamente às interconexões entre bancos. Neste contexto, a extensão do estudo
dos canais de transmissão de choques de natureza fi nanceira ao conjunto da economia é essencial para
entender os mecanismos subjacentes à formação do risco sistémico.
Na base do risco sistémico estão geralmente posições fi nanceiras desequilibradas, associadas, inter alia,
a elevados graus de alavancagem, que se tendem a acumular nas fases ascendentes do ciclo económico.
Neste contexto, choques desfavoráveis de elevada magnitude, de natureza real ou fi nanceira, tendem a
produzir uma cascata de perdas por toda a economia. Dependendo da fragilidade dos vários setores e
das interconexões existentes entre eles, estes choques acabam ora por se diluir, gerando mais ou menos
expressivas oscilações na economia, ou por ser amplifi cados, caso em que conduzem a reduções muito
pronunciadas da atividade económica. A este respeito, o modelo de dívida contingente tem sido usado
* Os autores agradecem ao Departamento de Estatística pelo fornecimento de informação relativa às contas fi nan-
ceiras nacionais. As opiniões expressas no artigo são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessa-
riamente com as do Banco de Portugal ou do Eurosistema. Eventuais erros e omissões são da exclusiva responsa-
bilidade dos autores.
** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos.
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II
para identifi car estas posições ao nível dos balanços setoriais, bem como os canais de transmissão dos
choques. Nesta área destacam-se os artigos de Gapen, et al. (2004, 2008), Gray, Merton e Bodie (2007)
e Gray et al. (2008). No entanto, estes estudos focam-se em economias sujeitas a risco cambial, pelo que
lhes falta a generalidade sufi ciente para serem aplicados a grandes economias avançadas.
Na sequência do trabalho de Castrén e Kavonius (2009), Silva (2010) propõe-se a adaptar o modelo às
especifi cidades das economias da área do euro, nomeadamente, a existência de uma moeda comum
num contexto de política orçamental descentralizada. Adicionalmente, introduz-se um mecanismo de
transmissão de choques onde todos os ativos são permanentemente avaliados a preços de mercado. Este
estudo pretende estender o modelo proposto em Silva (2010) alterando algumas das assunções então
feitas e propondo um novo indicador de risco sistémico que explicitamente estima, em cada momento
no tempo, a probabilidade de pelo menos um dos setores em análise entrar em incumprimento no prazo
de um ano. O valor estimado é interpretado como sendo a probabilidade da economia no seu conjunto
entrar em rutura fi nanceira. O modelo foi desenhado para poder ser aplicado a qualquer economia avan-
çada, muito em particular às economias dos países participantes na área do euro, sendo que algumas
das suas hipóteses permitem captar alguns factos estilizados da atual crise fi nanceira, nomeadamente,
a importância sistémica da ligação entre os riscos no sistema bancário e os riscos soberanos. Finalmente,
o indicador proposto constitui a primeira medida conhecida pelos autores baseada no modelo de dívida
contingente que faz a síntese de toda a informação das contas nacionais fi nanceiras.
Este estudo é composto por 7 secções. A secção 2 apresenta o modelo de dívida contingente (modelo
de Merton). A secção 3 explicita a utilização das contas nacionais fi nanceiras com o objetivo de aplicar
o modelo de dívida contingente ao nível setorial. O procedimento é exemplifi cado com dados para a
economia portuguesa. A secção 4 apresenta uma forma de aplicação de choques exógenos e detalha
o mecanismo de transmissão no sistema de posições fi nanceiras intersetoriais. A secção 5 introduz o
conceito de fronteira de estabilidade na literatura de estabilidade fi nanceira. Este conceito é depois
utilizado na secção 6 na construção da medida de risco sistémico apresentada, que se designará por
“probabilidade da economia entrar em rutura fi nanceira”. A secção 7 conclui.
2. O modelo de dívida contingente
O modelo de dívida contingente faz apelo ao modelo de Merton (1974) para avaliar os passivos de um
determinado emissor de dívida, que designaremos por empresa, mas que poderá ser um setor económico,
como veremos mais adiante. Considere-se uma empresa que emite dívida num determinado momento
com uma determinada maturidade. A questão que se coloca é se, no momento da maturidade da dívida,
a empresa tem ativos sufi cientes para honrar esse compromisso. A empresa honrará o compromisso se o
valor dos seus ativos suplantar na maturidade o valor da dívida a pagar. Se isso não acontecer, a empresa
declarar-se-á insolvente, sendo os ativos liquidados a favor dos credores. A diferença entre a dívida e
os ativos será então o montante da perda que os credores terão de suportar. O processo de decisão de
efetuar ou não o re-embolso da dívida na maturidade é análogo ao de exercer ou não uma opção de
compra sobre um ativo. Naturalmente, o detentor da opção comprará o ativo subjacente unicamente
se o seu preço de mercado, nessa altura, for superior ao preço previamente acordado. Neste caso hipo-
tético, o ativo subjacente é a totalidade dos ativos da empresa e o preço de exercício é o valor nominal
da dívida. Por sua vez, e seguindo a mesma lógica, o valor de mercado da dívida deverá ser igual ao seu
valor nominal descontado por uma taxa de juro sem risco deduzido do valor de uma opção de venda
sobre o ativo da empresa ou setor1. Ou seja, na ausência de oportunidades de arbitragem, um investidor
deverá estar indiferente entre tomar um montante de dívida sem risco, ou tomar o mesmo montante
com risco mas garantindo que, em caso de não re-embolso, ele pode reaver a diferença entre aquilo
1 A taxa de juro sem risco utilizada neste estudo é a Eurepo a 3 meses.
155
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que recebe (o valor do ativo da empresa) e aquilo que deveria receber (o re-embolso da dívida). Tal é
conseguido através da opção de venda. Em termos práticos, conhecido o valor corrente da empresa, a
volatilidade da rendibilidade da empresa em bolsa, o valor da dívida e a taxa de juro sem risco, o modelo
de dívida contingente permite calcular uma série de medidas de risco, de onde se destacam a distância
ao incumprimento, a probabilidade de incumprimento e a perda esperada.
Designemos por A o valor de mercado dos ativos de uma empresa ou setor e por B e E o valor da sua
dívida contingente e o seu capital próprio a preços de mercado, respetivamente. Na ausência de fricções
fi nanceiras e assumindo liquidez na maturidade de todos os ativos da empresa, verifi ca-se a identidade
A E B= + (1)
ou seja, o valor da empresa é igual à diferença entre os seus ativos e o valor da sua dívida com risco (ou
contingente). Suponha-se que A segue um processo estocástico de difusão em torno de uma tendência
determinística equivalente à taxa de retorno sem risco. Assuma-se também que em 0t = a empresa
emite obrigações de cupão zero de valor nominal T
B correspondente à totalidade da sua dívida. Uma
empresa é considerada insolvente se, na maturidade, o valor dos seus ativos, A , for inferior a TB . Assim,
seguindo a teoria de apreçamento de opções já enunciada, o valor corrente da empresa, E , é igual ao de
uma opção europeia sobre o ativo subjacente A , com maturidade em t T= e preço de exercício igual
à dívida a liquidar nesse momento, ou seja, TB . Aplicando o Lema de Itô, impondo condições de não
arbitragem e de fronteira correspondentes a uma opção de compra, e defi nindo T tt = - , obtém-se
a seguinte equação para o valor de E ,
1 2( ) ( )r
TE A d B e dt-= F - F (2)
em que defi nimos
2
1
1ln ( )
2 AT
A
Ar
Bd
s t
s t
+ += (3)
2
2
1ln ( )
2 AT
A
Ar
Bd
s t
s t
+ -= (4)
Nas equações anteriores, As é a volatilidade do retorno do ativo, r é a taxa de juro de um ativo sem
risco, que supusemos constante, t é o intervalo de tempo até à maturidade e F é a função cumulativa
normal estandardizada. A equação 2 tem uma interpretação simples. O primeiro termo avalia o valor dos
ativos ponderados por um valor relacionado com a probabilidade de a opção de compra ser exercida; o
segundo termo desconta o montante de dívida a re-embolsar, ponderado por um montante menor do
que o anterior (devido ao sinal negativo no argumento de ()F ⋅ ) por haver limitação superior nos prejuízos.
Por sua vez, o prémio de risco da dívida, P , pode ser calculado como
rT
Ae EP Bt- + -= (5)
Note-se que, no caso sem risco, 0P = e o valor do ativo resume-se à divida nominal descontada pela
taxa de juro acrescida do valor do capital próprio.
A equação 2 apresenta duas incógnitas, A e A
s . De forma a obter o valor destas variáveis é necessário
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impor uma segunda condição. Uma possibilidade é dizer que o valor da empresa, E , também segue
um movimento Browniano geométrico mas com parâmetros diferentes dos de A .
Aplicando o Lema de Itô e igualando os termos correspondentes à volatilidade resulta que
1( )
E AE A ds s= F (6)
onde E
s é a volatilidade do retorno da empresa.
Resolvendo o sistema composto pelas equações 2 e 6 para cada momento é possível obter uma série
temporal para A e A
s 2. Substituindo A e E na equação 1, pode-se então recuperar B
e calcular a
distância ao incumprimento, 2
d , a probabilidade de incumprimento, 2
( )N d- , e a perda esperada, ou
seja, P .
As empresas raramente têm uma única emissão de dívida. Felizmente o modelo de Merton é passível
de ser adaptado para emissões de dívida de diferentes níveis de senioridade. Neste estudo é utilizada
essa adaptação em relação à dívida das administrações públicas, a qual é dividida em três tranches com
diferentes níveis de subordinação3.
3. O modelo de dívida contingente ao nível setorial
O modelo de Merton foi inicialmente desenvolvido para ser aplicado a empresas cotadas em bolsa, para
as quais informação sobre o seu valor de mercado e volatilidade dos seus retornos está publicamente
disponível e é fácil de interpretar. A aplicação do modelo de dívida contingente a setores económicos
requer um conjunto de assunções e simplifi cações que se detalham mais à frente. Esta secção tem três
subsecções: a primeira articula uma forma de conjugar a análise ao nível micro e ao nível setorial; a
segunda explicita a abordagem seguida na estimação das designadas contas “quem-a-quem” a partir
das contas nacionais fi nanceiras. Finalmente, iremos mostrar como é que estas, juntamente com infor-
mação do mercado, podem ser usadas para defi nir o capital próprio, a volatilidade do retorno do capital
e a barreira de incumprimento dos vários setores em análise. Os resultados obtidos são divulgados em
Silva, Ribeiro e Antunes (a publicar).
3.1. Do nível micro para o nível setorial
Considere-se uma economia com oito setores: sociedades não fi nanceiras, banco central, outras insti-
tuições fi nanceiras e monetárias, outros intermediários fi nanceiros e auxiliares fi nanceiros, sociedades
de seguros e fundos de pensões, administrações públicas, particulares e resto do mundo4. Todos estes
setores apresentam as suas próprias especifi cidades. No entanto, com base na sua diversidade, podem
ser divididos em dois tipos. Por um lado, existem aqueles setores que podem ser vistos apenas como um
único agente económico. É o caso das administrações públicas e do banco central. Para estes setores,
é indiferente analisar o seu risco de crédito ao nível micro ou em termos agregados porque coincidem.
2 Note-se que, ao contrário do assumido no modelo original de Black e Scholes (1973), a hipótese de estaciona-
riedade de A
s não é tida em conta na resolução deste sistema.
3 Para mais informação a este respeito, ver Cossin e Pirotte (2007).
4 Dado que a quase totalidade das pensões em Portugal são de benefício defi nido, resolveu-se atribuir os ativos
e passivos dos fundos de pensões em questão ao balanço dos setores que em última instância são responsáveis
pelo seu pagamento. Este procedimento permite-nos interpretar o setor sociedades de seguros e fundos de
pensões como sendo constituído apenas por empresas de seguros. Por esse motivo, este setor será doravante
designado por SS. Os acrónimos OIFM e OIFAF serão em diante utilizados para designar as outras instituições
fi nanceiras monetárias e os outros intermediários fi nanceiros e auxiliares fi nanceiros, respetivamente. Nos grá-
fi cos apresentados e sempre que facilite a exposição do conteúdo, os setores sociedades não fi nanceiras, admi-
nistrações públicas e resto do mundo são denominados como SNF, AP e RM, respetivamente.
157
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Por outro lado, existem aqueles setores que resultam da agregação de vários agentes económicos. É o
caso das sociedades não fi nanceiras, OIFM, OIFAF, SS, particulares e resto do mundo. Para estes setores,
o capital próprio e a dívida do agregado correspondem à soma do capital próprio e da dívida de todos
os agentes que os compõem, respetivamente. A volatilidade do retorno do capital próprio é, no entanto,
inferior à média da volatilidade do retorno dos capitais próprios de cada um dos agentes que compõem
o setor devido à existência de um efeito diversifi cação. Adicionalmente, ao ignorar a heterogeneidade
existente em cada setor, e dadas as não linearidades inerentes ao modelo de avaliação do valor de
mercado da dívida, a aplicação do modelo de dívida contingente ao nível setorial tende a subestimar o
risco existente na economia. Este enviesamento é especialmente importante no caso de setores com um
elevado nível de heterogeneidade, como as sociedades não fi nanceiras e os particulares. Este problema é
de difícil resolução sem abordar a questão ao nível micro. No entanto, mostrar-se-á na secção 4.1 como
esta difi culdade pode ser mitigada concetualmente no desenho dos choques que estão subjacentes ao
cálculo do indicador de risco sistémico.
3.2. As contas quem-a-quem
O modelo de Merton pode ser aplicado ao nível setorial utilizando para tal as contas nacionais fi nanceiras
não consolidadas que no caso de Portugal são publicadas trimestralmente pelo Banco de Portugal5.
Estas contas estão organizadas de forma matricial com base nos oito setores já apresentados e sete
instrumentos (ouro monetário e direitos de saque especiais, numerário e depósitos, títulos exceto ações,
empréstimos, ações e outras participações, reservas técnicas de seguros e outros débitos e créditos).
Títulos exceto ações e empréstimos estão divididos em curto e longo prazo. O instrumento dos títulos
exceto ações inclui derivados financeiros, os quais são tratados como um instrumento à parte. Ações e
outras participações incluem ações cotadas, não cotadas e fundos de investimento. As reservas técnicas
de seguros foram divididas entre reservas relacionadas com seguros e reservas associadas a fundos de
pensões6. À exceção do ouro monetário e direitos de saque especiais, todas as operações são registadas
segundo o princípio da dupla entrada, pelo que qualquer ativo tem um passivo correspondente que lhe
serve de contrapartida. Esta característica faz com que o sistema seja fechado no seu conjunto, tornando-
-o especialmente útil para o estudo dos canais de propagação dos choques na economia.
Infelizmente no caso de Portugal, à exceção de “depósitos” e “empréstimos”, as contas nacionais fi nan-
ceiras não contêm qualquer informação relativamente aos balanços bilaterais (contas quem-a-quem).
No entanto, estas podem ser estimadas por máxima entropia tal como é feito em vários estudos no
mercado interbancário (ex. Sheldon and Maurer (1998), Upper and Worms (2004) and Wells (2004)).
Considere-se para tal que os balanços bilaterais num dado instrumento k podem ser representados
por uma matriz N N´ onde N é o número de setores e kij
x é a exposição do setor i ao setor j no
instrumento k :
5 Estes dados são publicados para todos os países da área do euro, embora com diferentes níveis de detalhe.
6 Esta divisão foi necessária de forma a separar as sociedades de seguros dos fundos de pensões. De forma a
facilitar a exposição, os instrumentos em análise serão doravante referidos apenas como “depósitos”, “títulos
de dívida”, “empréstimos”, “ações”, “seguros”, “pensões” e “outros”.
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1 1
11 1 1
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1
N N
k k k kij i ij j
j i
k
j N
com x a e x li ij iN
N Nj NN
x x x
x x x
x x x
= =
= =
é ùê úê úê úê ú
å åê úê úê úê úê úê úë û
Neste caso, ki
a e kjl correspondem ao total de ativos e ao total de passivos do setor i e j no instru-
mento k , respetivamente.
Adicionalmente, considere-se que ki
a e kjl podem ser vistos como os componentes de ( )kf a e ( )kf l , as
distribuições marginais dos ativos e dos passivos, respetivamente, e que kij
x é uma realização da distri-
buição conjunta ( , )kf a l .
Assumindo independência, ou máxima entropia, kij
x é o produto das duas distribuições marginais. Com
o objetivo de melhorar os resultados, várias restrições foram impostas a posteriori. Em particular, as
exposições intra-setores foram deduzidas a partir da diferença entre dados consolidados e não consoli-
dados e o banco central foi considerado como sendo totalmente detido pelas administrações públicas.
Adicionalmente, todas as exposições entre banco central, OIFM, OIFAF e SS foram restringidas de forma
a igualar a diferença entre as contas consolidadas e não consolidadas do setor fi nanceiro em agregado.
Sendo que nem todas as restrições consideradas correspondem a zeros, defi niu-se um procedimento
iterativo em que cada matriz é rebalanceada imediatamente após a restrição ser imposta. Este meca-
nismo garante que a igualdade entre ativos e passivos é respeitada para cada instrumento. O algoritmo
repete-se até que se atinja a convergência7.
3.3. Assunções setoriais
3.3.1. Capital próprio e volatilidade dos retornos do capital próprio
O capital próprio de uma empresa é geralmente defi nido como sendo a sua riqueza líquida, isto é, o
excesso de valor dos ativos sobre os passivos. Este pode ser medido em termos contabilísticos, refl etindo
o passado da empresa, ou a valor de mercado, caso em que reproduz não só o passado da empresa, mas,
sobretudo, as expectativas relativamente ao seu futuro. Deste modo, para fi ns de aplicação do modelo
de dívida contingente, é mais adequado utilizar os valores de mercado. No caso de empresas cotadas,
estes valores resultam da cotação em bolsa, pelo que são do conhecimento público e não requerem
qualquer tipo de estimação adicional. Para as restantes, o valor contabilístico é passível de ser ajustado
fazendo apelo à evolução das suas congéneres cotadas. Este procedimento pode ser replicado ao nível
setorial, mas apenas para os setores que emitem ações, tais como, as sociedades não fi nanceiras, OIFM,
OIFAF e SS. Os direitos conferidos aos detentores das ações destes setores podem ser considerados como
equivalentes a opções de compra nos seus ativos com preço de exercício igual aos seus passivos. No
caso das sociedades de seguros, não existindo ações cotadas em Portugal, e dado que estas empresas
ao nível europeu tendem a investir em ativos similares e, portanto, estão sujeitas a riscos idênticos,
7 Os dados relativos às ações não cotadas foram ajustados de forma a melhor refl etir a evolução do mercado.
Este ajuste é posterior à estimação das contas quem-a-quem. De forma semelhante, também a separação entre
sociedades de seguros e fundos de pensões é posterior à estimação das contas quem-a-quem.
159
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decidiu-se multiplicar o valor contabilístico registado nas contas nacionais fi nanceiras pelo rácio price-
-to-book implícito em cada momento às ações constantes do índice Stoxx Europe 600 Insurance. Os
fundos de investimento emitidos, os quais são especialmente relevantes no caso de OIFAF, também são
contabilizados como fazendo parte do seu capital próprio. A volatilidade dos retornos do capital próprio
destes setores foi estimada com base no índice PSI-20, no caso das sociedades não fi nanceiras, do índice
PSI-Serviços fi nanceiros no caso de OIFM e OIFAF, e do índice Stoxx Europe 600 Insurance no caso de
SS. Em relação ao banco central, apesar de este emitir “ações”, as quais são totalmente detidas pelas
administrações públicas, estas não se encontram cotadas no mercado. Sendo assim, resta-nos utilizar o
seu capital próprio contabilístico, o qual tem em conta o valor de mercado do ouro, mas exclui os lucros
futuros do banco. Dado que no caso português o banco central não se encontra cotado, não é possível
calcular a volatilidade do retorno dos seus capitais próprios. Como alternativa, calculou-se a volatilidade
do retorno do capital próprio do Banque National de Belgique, o qual é o único banco central na zona
euro cotado no mercado.
Para os setores que não emitem “ações”, tais como particulares, administrações públicas e resto do
mundo, a defi nição do seu capital próprio não resulta diretamente das contas fi nanceiras. Felizmente
no caso dos particulares continua a fazer sentido considerar que o seu capital próprio corresponde à
soma da riqueza líquida de cada agente que compõe o setor. De forma a manter a consistência com
a forma como os mercados valorizam as empresas, a riqueza dos particulares deverá corresponder à
soma da posição fi nanceira líquida das famílias, da sua riqueza imobiliária e do valor presente das suas
poupanças futuras. A informação necessária ao apuramento da posição fi nanceira líquida dos particu-
lares encontra-se nas contas nacionais fi nanceiras e é defi nida como a diferença entre ativos e passivos
fi nanceiros. Relativamente à riqueza imobiliária, não se encontram disponíveis estatísticas para todos os
países da área do euro. No caso de Portugal, as estimativas mais recentes foram preparadas no contexto
da elaboração do Relatório Anual 2010 do Banco de Portugal, as quais foram usadas neste estudo. Por
fi m, o valor presente das poupanças dos particulares foi estimado considerando uma série infi nita de
fl uxos fi nanceiros com valor igual aos da poupança atual e uma taxa de desconto igual à taxa de juro
implícita ao valor das obrigações nacionais a 10 anos. Assumiu-se que estes fl uxos cresceriam a uma
taxa anual de 2 por cento, que corresponde ao nível considerado pelo BCE como compatível com a
estabilidade de preços e tomado como referência na condução da política monetária. No que diz respeito
à volatilidade do retorno do capital próprio dos particulares, estimou-se a volatilidade de um portfolio
semelhante ao detido pelos particulares8.
Nos setores tratados anteriormente os conceitos de capital próprio e riqueza líquida foram considerados
como sucedâneos. Contudo, no caso das administrações públicas e do resto do mundo, parece existir
evidência empírica a sugerir que esta defi nição não é a mais razoável. Nas próximas duas subsecções
iremos apresentar uma nova abordagem à avaliação do capital próprio destes dois setores.
8 A volatilidade da Euribor a 6 meses foi utilizada como medida da volatilidade dos “depósitos”, “seguros” e
“pensões”. A volatilidade das taxas de juro implícitas nas obrigações nacionais a 10 anos foi usada para os
ativos em “títulos de dívida”, “empréstimos” e “outros”. A volatilidade do PSI-20 foi utilizada como proxy para
os investimentos em “ações”. A volatilidade dos retornos em imobiliário foi estimada com base no índice de
preços de habitação Confi dencial Imobiliário. Finalmente, a volatilidade das poupanças futuras dos particulares
foi estimada assumindo que a única fonte de incerteza é a taxa de desconto (para mais informação sobre este
procedimento ver secção 3.3.1.1 relativamente ao setor das administrações publicas). A estimativa obtida da
volatilidade foi posteriormente ajustada de forma a refl etir a estrutura de fi nanciamento do setor. Dadas estas
hipóteses, a volatilidade dos retornos do capital próprio dos particulares tendeu a variar num intervalo entre
20% e 45%.
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3.3.1.1. As administrações públicas
O lado esquerdo do balanço das administrações públicas é constituído pela soma dos seus ativos fi nan-
ceiros e reais com o valor atual dos impostos futuros. Por seu turno, o lado direito do balanço é composto
pelo valor atual das despesas futuras e pelos passivos fi nanceiros incorridos. Não considerando os ativos
reais, para os quais não se dispõe de estimativas, a riqueza líquida das administrações públicas corres-
ponde à soma da posição fi nanceira líquida com o valor presente das poupanças futuras. Sendo que a
posição fi nanceira líquida da maioria das administrações públicas dos países da zona euro é negativa, e
seguindo uma lógica baseada na riqueza líquida, ter-se-á necessariamente de chegar à conclusão que
as poupanças futuras são mais que sufi cientes para compensar este facto, ou alternativamente, que as
administrações públicas da grande maioria destes países se encontram insolventes. Estimar o valor das
poupanças futuras das administrações futuras é, no entanto, uma tarefa com algum nível de complexi-
dade, na medida em que envolve não só estimar a receita, mas também a despesa futura. Não obstante
essas difi culdades de estimação, dado os permanentes défi ces públicos, é difícil argumentar que esta
poupança será suficiente para compensar as atuais posições financeiras fortemente negativas. Ainda assim,
até muito recentemente a questão do fi nanciamento não se afi gurou como um obstáculo ao endivida-
mento dos Estados da zona euro. Acontece que, ao contrário das empresas, as receitas e despesas das
administrações públicas são em grande medida defi nidas politicamente. Pelo menos do ponto de vista
teórico, a receita de um Estado é unicamente condicional à riqueza do país e ao seu PIB futuro. De forma
semelhante, à parte de algumas despesas obrigatórias, as quais por defi nição não podem ser evitadas, o
Estado tem autonomia para defi nir quanto pretende gastar. Enquanto os mercados acreditarem que um
determinado governo tem capacidade para equilibrar as fi nanças públicas nalgum horizonte futuro, as
administrações públicas continuarão a obter fi nanciamento mesmo no caso em que as estimativas para
as contas públicas no futuro imediato apontem para défi ces signifi cativos e persistentes. No momento
em que surjam dúvidas sobre essa capacidade, o governo poderá ter que exercer algumas das opções
de que dispõe, nomeadamente, aumentar impostos ou reduzir despesas. Estes factos não permitem
assumir a equivalência entre capital próprio e riqueza líquida neste setor. Em alternativa, a abordagem
que é seguida neste trabalho consistiu na avaliação do espaço de manobra de que o governo de um
determinado Estado dispõe para consolidar as suas fi nanças públicas no momento em que surjam descon-
fi anças entre os operadores de mercado quanto à capacidade de o governo realizar essa consolidação.
Dado que o modelo de Merton se propõe estimar o lado esquerdo do balanço com base unicamente
no lado direito, as receitas futuras do governo serão ignoradas para este efeito. Em contrapartida, no
lado direito do balanço são identifi cadas as despesas que não sejam essenciais ao exercício estrito da
soberania e, como tal, sejam passíveis de redução sem pôr em causa a própria existência do Estado como
entidade soberana. Os passivos fi nanceiros correspondem a responsabilidades já assumidas por contra-
partida, grosso modo, de défi ces passados e, como tal, são exigíveis pelos credores no seu vencimento.
Contudo, existe alguma fl exibilidade no que diz respeito às despesas futuras, as quais dividiremos em
duas categorias: “obrigatórias” e “discricionárias”. As despesas discricionárias correspondem ao conjunto
de bens e serviços que as administrações públicas prestam aos cidadãos, mas que não são necessários
ao exercício da soberania. Com base nas suas receitas e em escolhas políticas, o Estado decide o seu
nível de despesas discricionárias. Em contraste, as despesas obrigatórias correspondem a gastos que
não podem ser evitados, sob pena de estar em causa a existência do próprio Estado, nomeadamente,
defesa, justiça, administração interna e negócios estrangeiros9. Neste estudo, defi niu-se que as despesas
obrigatórias correspondem a 30% do PIB10. Em face de uma forte redução da confi ança do mercado na
9 Pode argumentar-se também que existe um nível mínimo de despesa associado à redistribuição de riqueza e à
coesão social, sem o qual as funções de soberania referidas podem estar comprometidas.
10 Este valor foi decidido de forma relativamente arbitrária e com alguma subjetividade. Ainda assim, corresponde
a uma aproximação da média da despesa realizada pelas administrações públicas de países com um nível de
produto médio-alto e países com um nível de produto elevado não pertencentes à OCDE, onde o estado social
é menos desenvolvido do que na maioria dos países da zona do euro.
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capacidade do soberano cumprir os seus compromissos fi nanceiros, o governo pode reduzir a despesa
discricionária, indiciando um aumento da poupança futura. No limite, quando confrontado com choques
extremamente negativos, o Estado poderá eliminar toda a sua despesa discricionária, mas nunca a sua
despesa obrigatória. Embora possa acontecer que esta opção nunca seja exercida, e daí não fazer parte
da riqueza líquida das administrações públicas, ela deve ser tida em conta aquando da valorização do
capital próprio deste setor. Neste estudo, designaremos esta opção como reserva discricionária, a qual
corresponde à capacidade do Estado soberano aumentar a poupança por via da redução da despesa. De
forma a melhor espelhar a realidade no modelo, foram impostas três restrições adicionais. Em primeiro
lugar, de forma a refl etir a rigidez normalmente associada à despesa pública, considera-se que nenhum
Estado tem condições para reduzir a despesa mais de 2 por cento por trimestre. Em segundo lugar,
assume-se que não é possível o governo reduzir a sua despesa nominal em mais de 20 por cento do seu
nível atual. Sempre que alguma destas condições for efetiva, esta hipótese implica que o Estado não
pode apropriar-se da totalidade da diferença entre despesa corrente e despesa obrigatória. A despesa
discricionária remanescente é, portanto, inelástica e deve ser assimilada como fungível com a despesa
obrigatória. Neste estudo designamos o horizonte temporal necessário para que estas restrições sejam
efetivas de “período de ajustamento”. Por fi m, considera-se que a despesa obrigatória cresce a uma
taxa anual de 2 por cento, a qual corresponde à taxa de infl ação compatível com o objetivo primordial
de estabilidade de preços do BCE na condução da política monetária. A partir do momento em que
a despesa total, já tendo em conta a reserva discricionária, interseta a despesa obrigatória, a reserva
discricionária começa a diminuir, isto é, a possibilidade de fazer poupanças adicionais é decrescente no
tempo. A reserva discricionária desaparece no momento em que a despesa obrigatória iguala o atual
nível de despesa total. O conjunto de fl uxos fi nanceiros futuros associados à reserva discricionária é
sujeito a uma avaliação em termos presentes, para a qual é necessário defi nir uma taxa de desconto.
Neste estudo, foi utilizada a taxa de juro implícita nas obrigações nacionais a 10 anos, a qual introduz
a opinião do mercado relativamente à sustentabilidade do atual nível de despesa e receita do Estado. O
gráfi co 1 apresenta o processo de estimação da reserva discricionária com base na informação do último
trimestre de 2010. O capital próprio das administrações públuca é calculado somando a sua posição
financeira líquida com a sua reserva discricionária.
Relativamente à volatilidade dos retornos do capital próprio das administrações públicas, a maioria dos
estudos realizados nesta área utiliza a volatilidade da taxa de juro implícita às obrigações nacionais a 10
anos. Neste estudo utilizou-se uma metodologia diferente, mais consistente com a defi nição de capital
Gráfi co 1
ESTIMAÇÃO DA RESERVA DISCRICIONÁRIA EM 2010 T4
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2011 2014 2017 2020 2023 2026 2029 2032 2035 2038
Des
pesa
trim
estr
al
Projeções do modelo (trimestrais)
Reserva discricionária Despesa correnteDespesa obrigatória Despesa discricionáriaDespesa corrente (excl. reserva disc.)
Fonte: Cálculos dos autores.
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próprio das administrações públicas defi nida anteriormente. Em termos gerais, considerou-se que o
capital próprio das administrações públicas depende apenas da taxa de desconto utilizada para calcular
o valor presente dos fl uxos futuros associados às reservas discricionárias. Assumiu-se que essa taxa segue
uma distribuição triangular com limite inferior igual ao mínimo observado durante o período amostral
da taxa de juro implícita às obrigações nacionais a 10 anos. A moda e o limite superior da distribuição
foram calibrados para que o desvio padrão iguale a volatilidade da taxa de juro implícita às obrigações
nacionais durante o trimestre em causa e o valor esperado seja tão próximo quanto possível da taxa de
juro efetivamente observada no fi nal do trimestre.
3.3.1.2 O resto do mundo
O setor “resto do mundo” resulta da agregação de vários agentes económicos com características muito
distintas. Esta heterogeneidade cria difi culdades à presente análise. Adicionalmente, o facto de estarmos
a avaliar o resto do mundo apenas na sua relação com o país em análise diz-nos muito pouco sobre a
situação fi nanceira do resto do mundo. Assim, independentemente da defi nição utilizada para capital
próprio, esta será sempre de difícil interpretação. Isto não signifi ca que o resto do mundo é irrelevante
no modelo. O resto do mundo é muito importante como absorvedor e emissor de choques. A título de
exemplo, se uma empresa não residente ou um soberano não cumprirem as suas responsabilidades, isto
poderá ter um impacto importante sobre a economia em análise. Dadas as restrições, procurámos sobre-
tudo garantir que a defi nição utilizada é passível de ser aplicada a todos os países, independentemente
de terem uma posição fi nanceira positiva ou negativa em relação ao exterior. Adicionalmente, defi niu-se
o capital próprio do resto do mundo de forma a não afetar o valor de mercado da sua dívida. Não faria
sentido concluir que os ativos de algum setor relativamente ao resto do mundo valiam menos só porque
um determinado país tem uma posição externa bastante positiva. Assim, a metodologia seguida em relação
ao resto do mundo é bastante semelhante à seguida para as administrações públicas. O lado esquerdo
do balanço do resto do mundo corresponde ao valor presente de todas as exportações futuras para o
país em análise acrescido de todos os ativos fi nanceiros. Em contrapartida, o lado direito do balanço
inclui o valor atual das importações futuras ao qual acrescem os passivos fi nanceiros do resto do mundo.
Contrariamente às administrações públicas, não é possível argumentar que existe um nível mínimo de
importações. No caso limite, se o resto do mundo tiver difi culdades de pagamento, as empresas do país
em análise deixarão de exportar restaurando o equilíbrio por essa via. Deste modo, assumiu-se que o
capital próprio corresponde ao valor presente de todas as importações futuras do resto do mundo, acres-
cidas da sua posição fi nanceira líquida. As importações constituem, assim, um amortecedor, diminuindo
sempre que interpretadas como insustentáveis pelo mercado. A sustentabilidade dessas importações é
avaliada utilizando uma taxa de desconto, a qual pode ser defi nida através do modelo CAPM. Desta
forma, pretende-se que a taxa de desconto incorpore o risco sistemático nas exportações para o resto
do mundo face ao portfolio de mercado. Assim, países que têm as suas exportações concentradas em
mercados mais voláteis terão necessariamente taxas de desconto mais elevadas. Por seu turno, o índice
Vstoxx, que é uma medida de volatilidade implícita baseada no índice Dow Jones Eurostoxx 50, é utilizado
como proxy para a volatilidade dos retornos do capital próprio do resto do mundo.
3.3.2 A barreira de incumprimento
A literatura relativa ao modelo de dívida contingente considera geralmente a barreira de incumprimento,
TB , como sendo igual à soma dos passivos de curto prazo com 50 por cento dos passivos de longo
prazo. Esta hipótese é justifi cada pela possibilidade de no longo prazo as empresas poderem ajustar o seu
comportamento de acordo com a evolução do mercado. Tendo por base as contas nacionais fi nanceiras,
os instrumentos “depósitos”, “empréstimos (curto prazo)”, “títulos de dívida (curto prazo)” e “outros”
foram considerados como passivos de curto prazo, enquanto “empréstimos (longo prazo)”, “títulos de
dívida (longo prazo)”, “seguros” e “pensões” foram considerados como passivos de longo prazo. Para
163
Art
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todos os setores exceto as administrações públicas e o resto do mundo seguiu-se uma abordagem em
linha com a literatura. Para estes setores, a segmentação por maturidade foi ignorada na medida em que
a defi nição utilizada para o seu capital próprio foi justifi cada pela sua capacidade de ajustamento. No
caso das administrações públicas impôs-se uma estrutura de passivos mais complexa de forma a ter em
conta as idiossincrasias do setor. Assim, os passivos das administrações públicas foram divididos em três
tranches de forma a incorporar a ideia proposta por Silva (2010) de que o soberano tem capacidade para
impor restrições ao comportamento dos agentes económicos residentes que não seria possível aplicar
aos não residentes. Este procedimento tem sido observado durante a atual crise de dívida soberana
durante a qual os bancos residentes acomodaram a menor procura dos não residentes nos leilões de
dívida pública. Esta fl exibilidade imposta tem que ser considerada aquando da valorização da dívida das
administrações públicas detida por agentes económicos residentes. Assim, considerou-se como dívida
sénior o valor presente de todas as despesas obrigatórias, incluindo todas as despesas inevitáveis durante
o período de ajustamento. A primeira tranche de dívida subordinada é composta por “títulos de dívida”
e “empréstimos” detidos pelo resto do mundo, “depósitos”, maioritariamente detidos por particulares e
“outros” que correspondem a passivos junto de fornecedores. Finalmente, a segunda tranche de dívida
subordinada inclui os restantes passivos, nomeadamente, “empréstimos” e “títulos de dívida” detidos
por todos os setores exceto o resto do mundo, o que corresponde, quase na totalidade, a passivos em
relação a OIFM. As administrações públicas não têm passivos sob a forma nem de “seguros” nem de
“pensões”. Considerou-se que “depósitos” tem menos risco que “empréstimos” e “títulos de dívida”
na medida em que é politicamente menos aceitável não honrar compromissos relativamente a particu-
lares do que persuadir os bancos residentes a renovar linhas de crédito previamente existentes. Todas as
defi nições encontram-se sumarizadas no quadro 1.
Quadro 1
TABELA DE ASSUNÇÕES SETORIAIS
Setores que emitem
açõesParticulares Resto do Mundo Administrações Públicas
Capital
próprio
SNF, OIFM, OIFAF,
SSFP: Valor das
ações cotadas,
valor ajustado das
ações não cotadas e
valor dos fundos de
investimento
BC: Valor contabilistico
das respetivas ações
Posição fi nanceira
líquida
+
Ativos imobiliários
+
Valor presente das
poupanças futuras
Posição fi nanceira
líquida
+
Valor presente das
importações futuras
Posição fi nanceira líquida
+
Valor presente das reservas
discricionárias
Volatilidade
do retorno
do capital
próprio
SNF: PSI-20
BC: Banque Nationale
de Belgique
OIFM e OIFAF: PSI-
Serv. Financeiros
SSFP: Stoxx Europe
600 Insurance
Volatilidade do
portfolio de ativos de
particulares ajustado
para a estrutura de
fi nanciamento do
setor
VStoxx
Simulação onde as taxas de
juro implícitas nas obrigações
de dívida pública a 10 anos
seguem uma distribuição
triangular
Passivos
(curto prazo)
Depósitos
Empréstimos (curto prazo)
Títulos de dívida (curto prazo)
Derivados fi nanceiros
Outros
Depósitos
Empréstimos
Títulos de dívida
Seguros
Pensões
Outros
Sénior: Valor presente das
despesas obrigatórias
1ª sub.: Depósitos, Títulos de
dívida e Empréstimos detidos
por não residentes e outros
2ª. sub.: Títulos de dívida
e Empréstimos detidos por
residentes
Passivos
(longo prazo)
Empréstimos (longo prazo)
Títulos de dívida (curto prazo)
Seguros
Pensões
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4. O modelo de dívida contingente em termos prospetivos
Na secção 3 mostrou-se como aplicar o modelo de dívida contingente ao nível setorial de forma a estimar
o valor de mercado dos ativos de cada setor, bem como vários indicadores de risco. Em termos pros-
petivos, não existe informação disponível quer quanto ao valor de mercado do capital próprio de cada
setor, quer em relação à volatilidade futura dos seus retornos. Assim, é necessário fazer mais assunções
relativamente à forma como os choques são transmitidos na economia. Nesta secção são descritos os
tipos de choques a estudar com o modelo. De seguida desenha-se o mecanismo de transmissão que
permite quantifi car as perdas que resultam desses mesmos choques.
4.1. O que é que entendemos por choque?
Os agentes económicos são constantemente confrontados com mudanças que afetam as suas decisões.
Estas decisões podem resultar de alterações esperadas ou inesperadas no ambiente em que operam.
A hipótese de racionalidade dos agentes económicos assume que apenas as alterações inesperadas
implicam alterações nas escolhas dos agentes. Desta forma, alterações previsíveis já se encontram total-
mente incorporadas no valor de mercado dos ativos. No modelo utilizado neste estudo, com exceção
do banco central, todos os setores encontram-se contabilizados, pelo menos parcialmente, a valor de
mercado11. Deste modo assume-se que apenas alterações inesperadas são relevantes . Designaremos
essas alterações como choques, os quais são interpretados como eventos exógenos, na medida em que
são determinados fora do modelo.
Para cada setor, o modelo apresentado até agora tem duas variáveis endógenas, A e As , e várias
variáveis exógenas, nomeadamente, E , Es , T
B e r . Para fi ns prospetivos, no entanto, como será
melhor explicado na secção 4.2, assumimos que Es segue uma trajetória defi nida endogenamente.
Adicionalmente, assume-se que r está fi xo. Deste modo, obtém-se um modelo onde apenas existe a
possibilidade de ocorrência de choques diretos nos agregados de balanço, nomeadamente em E e
TB . Dada a igualdade entre os lados esquerdo e direito do balanço, esta abordagem é equivalente
a considerar choques em A . No entanto, ao considerarmos apenas choques em E e T
B , evita-se o
risco de duplicação de choques. Em relação a E , existem duas situações distintas. Por um lado, para
aqueles setores que emitem “ações”, qualquer choque em E afeta não só o setor que sofre o choque
mas também todos os seus acionistas de forma proporcional à sua detenção de capital. Por outro lado,
no caso dos setores que não emitem ações (particulares, administrações públicas e resto do mundo), o
capital próprio é visto como correspondente a ações sem setor detentor. Por outras palavras, o capital
próprio destes setores é apenas uma medida da solvência do setor e não propriamente um ativo de outro
setor. Isto garante-nos que continuamos a olhar apenas para um dos lados do balanço12. Em contraste
com E , T
B é composto por um grande número de instrumentos: “depósitos”, “títulos de dívida”,
“empréstimos” “seguros”, “pensões” e “outros”. Cada um destes instrumentos pode ser interpretado
como uma variável exógena, sendo possível simular choques em cada um deles individualmente.
No parágrafo anterior restringiu-se o número de choques suscetíveis de serem analisados no modelo a
choques em E e em T
B . No contexto do modelo de Merton, no entanto, faz sentido olhar apenas para
choques em E na medida em que se trata de um modelo de um só fator. Por outras palavras, existe
apenas uma fonte de incerteza. Os compromissos são cumpridos sempre que os ativos superem a barreira
de incumprimento na maturidade. Caso contrário, os detentores de dívida têm que assumir perdas. O
11 O capital próprio de particulares não se encontra a valor de mercado. No entanto, vários dos instrumentos uti-
lizados na sua estimação estão ora a preço de mercado, como é o caso de “ações”, ora de acordo com algum
modelo de avaliação, como é o caso dos ativos imobiliários e das poupanças futuras. O capital próprio das
administrações públicas e do resto do mundo são contabilizados através de um modelo baseado em dados de
mercado.
12 Tal não seria possível se considerássemos que o capital próprio de um determinado setor é constituído pela soma
e subtração de elementos do lado esquerdo e direito do balanço.
165
Art
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modelo não considera a possibilidade de não pagamento sem insolvência explícita, ou seja, sem que
a totalidade da base de capital tenha sido consumida. No entanto, é possível que muitos dos agentes
económicos que compõem um setor se tornem insolventes sem que isso signifi que que o setor, no seu
todo, seja insolvente. Como exemplo, considere-se que a atividade económica diminui inesperadamente.
As sociedades fi nanceiras têm menos lucros, as instituições fi nanceiras registam mais perdas de crédito, as
administrações públicas registam maiores défi ces, o desemprego aumenta e as importações aumentam.
Todos estes eventos tendem a diminuir o capital próprio de cada um dos setores e, por conseguinte,
o valor de mercado da dívida. Isto são tudo choques em E . No entanto, ao mesmo tempo, algumas
empresas fecharão, alguns bancos desaparecerão e alguns particulares decretar-se-ão insolventes. Ao
nível agregado, é impossível ter isto em conta sem considerar a possibilidade de choques em T
B .
4.2. O mecanismo de transmissão de choques
Na última secção discutiu-se que choques faria sentido considerar no contexto de uma aplicação do
modelo de dívida contingente ao nível setorial. Defi niram-se e justifi caram-se dois tipos de choques:
choques em E e choques em T
B . Como explicitado na secção 2, no contexto do modelo de Merton,
os passivos são contingentes no valor dos ativos e o capital próprio funciona como um amortecedor de
choques, na medida em que representa um direito residual sobre os rendimentos gerados pelo ativo. No
caso de choques em E , este impacto é direto, enquanto para choques em T
B , é o setor que detém o
ativo correspondente que sofre uma perda no seu capital próprio. O choque é depois transmitido por
duas vias. Por um lado, os detentores do capital dos setores atingidos sofrem uma perda proporcional
à percentagem do capital detido. Daqui em diante este mecanismo irá ser denominado de “canal de
capital”. Por outro lado, dado que o valor da dívida é contingente nos ativos, qualquer choque que
produza alterações ao nível da qualidade da dívida implica também perdas no setor que detém essa
dívida como ativo. Este canal constituirá o “canal de dívida” na taxonomia utilizada13. As perdas que
resultam deste canal não são geralmente registadas nos balanços. No entanto, a sua consideração
contribui para melhor compreender os canais de transmissão de choques na economia. Assim, qualquer
que seja a fonte da perda, ela tem de ser transmitida aos detentores de capital dos setores atingidos. O
mecanismo repete-se até que o choque se tenha dissipado totalmente. Este modelo de transmissão pode
ser replicado através de um algoritmo onde as perdas relacionadas com ambos os canais são calculadas
e distribuídas no fi m de cada iteração14. Este mecanismo iterativo encontra-se representado no gráfi co
2. O painel A ilustra como um choque hipotético no capital próprio de todos os setores se propaga. O
painel B mostra como é que as perdas de cada setor são calculadas e distribuídas.
Os canais de capital e de dívida têm duas interpretações económicas bastante distintas. Enquanto o canal
de capital corresponde a perdas efetivamente verifi cadas, o canal de dívida considera as perdas esperadas
como resultado de alterações na probabilidade de incumprimento e perda dado o incumprimento dos
vários setores. Na ausência de risco de crédito, isto é, assumindo que todos os setores cumprem todas as
suas responsabilidades, o canal de dívida não existiria no modelo. Ao contrário das perdas relacionadas
com o canal de capital, as quais são quantifi cáveis de forma trivial com base nas iterações anteriores,
as perdas associadas ao canal de dívida exigem a utilização de um modelo de valorização de dívida, tal
como o modelo de dívida contingente. Uma vez defi nido o valor futuro do capital próprio de cada setor
com base no modelo de transmissão de choques, falta-nos apenas defi nir uma trajetória em relação à
13 O valor dos choques em E e T
B correspondem às perdas iniciais indicadas no gráfi co 2 – Painel A. O primeiro
impacto de ambos os tipos de choques pertence ao canal de capital. Relativamente a choques em T
B , note-se
que aqueles setores que falharam os seus compromissos tornam-se mais solventes após o choque. Este ganho
é registado no canal de dívida.
14 Apesar das perdas originadas pelo canal de dívida em iterações anteriores serem transmitidas pelo canal de capi-
tal, considera-se que estas perdas pertencem ao canal de dívida, na medida em que se este último não existisse,
estas perdas também não existiriam.
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evolução da volatilidade dos retornos do capital próprio após o choque para podermos aplicar o modelo
de dívida contingente em termos prospetivos. Manipulando o sistema de equações defi nido na equação
2, obtém-se a seguinte expressão15:
21 ( )rT
E A
Be d
Ets s -
æ ö÷ç ÷ç= + F ÷ç ÷÷çè ø
Substituindo 2
d e A
s , que não estão disponíveis no momento da iteração, pelos seus valores na iteração
anterior é possível ter uma previsão de E
s .
De forma a melhor representar a realidade, o modelo integra três aspetos que merecem atenção
adicional. Dois desses aspetos referem-se à forma como as OIFM e as administrações públicas inte-
15 Ver Bensoussan, Crouhy, Galai, Wilkie e Dempster (1994).
Gráfi co 2
O MECANISMO DE TRANSMISSÃO DE CHOQUES
Painel A
Painel B
167
Art
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ragem. Na secção 3.3.2 considerou-se que a barreira de incumprimento das administrações públicas se
encontra dividida em três tranches com diferentes níveis de risco e, portanto, diferentes valores. Esta
diferenciação também tem que ser tida em linha de conta no mecanismo de transmissão de choques.
Assim, choques na capacidade do soberano pagar as suas dívidas afetam principalmente os detentores
de dívida mais júnior, ou seja, as OIFM. Em paralelo, considera-se que o Estado garante toda a dívida
das OIFM. Assim, todas as variações no valor de mercado da dívida das OIFM tendem a repercutir-se no
capital próprio das administrações públicas e, de forma indireta, nos detentores de dívida do soberano.
Neste estudo considera-se que, para o período amostral, o valor desta garantia já está incorporado nas
expetativas de mercado associadas à taxa de desconto utilizada para calcular o valor presente da reserva
discricionária. No entanto, para fi ns prospetivos, qualquer alteração no valor de mercado da dívida das
OIFM deverá ser subtraída explicitamente no capital próprio das administrações públicas. Em conjunto,
estamos perante um ciclo que se autoalimenta de forma semelhante ao que se tem verifi cado durante
a atual crise fi nanceira (Gráfi co 3).
O último aspeto a considerar tem a ver com a forma como o resto do mundo interage com os restantes
setores. Como qualquer outro setor, o resto do mundo age simultaneamente como um detentor de ativos
e um emissor de capital e dívida. Como detentor de ativos, admite-se que o resto do mundo absorve
todas as variações no valor dos ativos que detém. De forma semelhante, enquanto emissor de dívida,
se algum dos agentes que compõem o resto do mundo não pagar as suas dívidas faz sentido pensar
que tal gerará uma cascata de perdas no sistema. No entanto, é menos razoável assumir que perdas no
capital próprio do resto do mundo causadas por perdas registadas por agentes residentes em iterações
anteriores sejam devolvidas aos setores residentes em iterações subsequentes. As perdas tenderão a
dissipar-se dentro do resto do mundo, sendo que apenas uma pequena parte deverá voltar a impactar
os setores residentes através de ações de não residentes detidas por agentes residentes. Acontece que,
tal como referido na secção 3.3.1.2 deste estudo, o setor resto do mundo engloba apenas os agentes
económicos não residentes na sua relação com os residentes. Assim, qualquer cálculo da exposição sob
a forma de “ações” de agentes económicos residentes a não residentes com base nas contas nacionais
fi nanceiras levaria a uma excessiva sobreavaliação da mesma. De forma a evitar este problema, este
estudo optou por assumir que o resto do mundo não transmite perdas no canal de capital. Em relação
ao canal de dívida, esta hipótese não foi excluída à partida. No entanto, qualquer perda neste canal
deverá ser irrelevante dada a defi nição de capital próprio do resto do mundo utilizada.
Gráfi co 3
MECANISMO DE INTERAÇÃO ENTRE AS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS E OIFM
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5. A fronteira de estabilidade
A secção anterior propôs um método de quantifi cação das perdas decorrentes da ocorrência de choques.
A partir daí é possível calcular uma série de indicadores de risco. Na sequência da crise fi nanceira inter-
nacional que teve origem nos Estados Unidos em 2007, o acompanhamento do risco sistémico assumiu
particular relevância para os decisores de política. Neste quadro, indicadores avançados da robustez
do sistema fi nanceiro assumem importância acrescida. Esta secção apresenta o conceito de fronteira
de estabilidade, o qual, à parte de ser um indicador de risco por si só, é um conceito fundamental na
metodologia associada ao nosso novo indicador de risco sistémico.
De acordo com Silva, Ribeiro e Antunes (a publicar), as perdas relacionadas com os canais de capital e de
dívida evoluem de forma totalmente diferente à medida que o número de iterações aumenta. Enquanto
a variação marginal nas perdas relacionadas com o canal de capital tende a diminuir à medida que o
número de iterações aumenta (independentemente do número de iterações), a variação marginal nas
perdas totais relacionadas com o canal de dívida evolui de forma não monotónica. Silva, Ribeiro e Antunes
(a publicar) estudam as características destes dois canais e concluem que apesar de o canal de capital
ser o mais importante para choques convergentes, é o canal de divida que determina se o sistema tem
capacidade ou não de absorver o choque. Este tipo de mecanismo cria uma falsa sensação de robustez
na medida em que nas primeiras iterações o canal de capital tende a dominar sobre o canal de dívida. No
entanto, nos casos divergentes há um ponto a partir do qual o canal de capital é dominado pelo canal
de dívida gerando uma série de perdas que conduz ao colapso do sistema. Este mecanismo é consistente
com o que é advogado por Castrén e Kavonius (2009), Allen e Gale (2000), Gallegati, Greenwald, Stiglitz
e Ruchiardi (2008) e Haldane (2009), os quais, embora de forma não formalizada, referem a existência
de um ponto de infl exão da rede. Uma vez ultrapassado este ponto, todas as interações na economia
tornam-se canais de amplifi cação e não de absorção tornando um sistema aparentemente robusto num
sistema muito frágil. No nosso modelo, este ponto é motivado pela existência de risco de crédito.
Seguindo a ideia relacionada com a existência deste ponto de infl exão, introduz-se neste estudo o
conceito de fronteira de estabilidade. Defi na-se fronteira de estabilidade como o espaço geométrico em
nR composto por todas as combinações de choques inesperados em n dimensões capaz de conduzir
o sistema ao colapso num determinado momento do tempo. O sistema colapsa a partir do momento
em que o capital próprio de pelo menos um dos setores se torna não positivo após a total absorção
de um determinado choque. Qualquer ativo ou combinação de ativos pode constituir uma dimensão.
Quando n é igual a um, designa-se de fronteira de estabilidade individual. Condicional nos balanços,
nas relações intersetoriais e na perceção de risco do mercado, as fronteiras de estabilidade individuais
permitem aferir a dimensão do choque inesperado necessário para fazer colapsar o sistema. O resultado
vem sobre a forma de percentagem de todos os ativos nessa dimensão.
Com base na secção 4.1 consideraram-se choques no capital próprio de todos os setores. Adicionalmente,
consideraram-se choques nos passivos das sociedades não fi nanceiras, OIFAF, SS, particulares e resto
do mundo. Para os particulares, estimou-se também a fronteira de estabilidade associada às hipotecas
residenciais. Por fi m, estimou-se a fronteira de estabilidade associada às duas tranches de dívida subor-
dinada das administrações públicas.16 O gráfico 4 apresenta as fronteiras de estabilidade para algumas
destas dimensões.
Como se constata no gráfi co 4, as fronteiras de estabilidade não são estáticas no tempo. Quanto melhor
for a estrutura fi nanceira, maior é o choque necessário para fazer colapsar o sistema, o que sugere uma
16 A existência de fronteiras de estabilidade relacionadas com choques em T
B foram justifi cadas pela existência
de heterogeneidade intersetorial. No caso das administrações públicas esta heterogeneidade não existe. No
entanto, em contraste com o que acontece nas empresas, no caso do soberano é possível que este decida
unilateralmente não pagar parte da sua dívida sem que isso signifi que que deixe de existir. Este facto justifi ca a
consideração de choques nos passivos das administrações públicas.
169
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maior robustez. Este princípio é válido também para fronteiras de estabilidade com mais dimensões.
Conclui-se daqui que é possível avaliar alterações no risco sistémico com base em alterações no posi-
cionamento da fronteira de estabilidade. Quanto mais distante estiver a fronteira de estabilidade da
origem no espaço n
R , maior é a resiliência da rede intersetorial a choques nas dimensões consideradas.
Na secção 6 mostra-se como resumir toda a informação contida na(s) fronteira(s) de estabilidade num
único indicador.
6. O indicador de risco sistémico
A secção 5 apresentou o conceito de fronteira de estabilidade. Tal como foi argumentado, a fronteira
de estabilidade é, por si só, um indicador de risco, na medida em que representa todas as combinações
de choques inesperados de magnitude sufi cientemente elevada para consumir o capital próprio de pelo
menos um setor. Contudo, o conceito de fronteira de estabilidade não tem em conta a probabilidade de
ocorrência destes choques. O objetivo do indicador de risco sistémico proposto é justamente avaliar a
probabilidade da economia sofrer uma combinação de choques para além da fronteira de estabilidade.
Dada a impossibilidade de estimar o modelo quando um determinado setor fi ca com capital próprio não
positivo, designamos a probabilidade de isso acontecer de probabilidade da economia entrar em rutura
fi nanceira. Matematicamente, o indicador proposto pode ser defi nido como:
1
( ,..., )
( ,..., )
(dim1,..., dim )nFE FE
I n¥ ¥
= Yò
onde Y é uma função densidade probabilidade n-dimensional e { }1,...,
nFE FE
são as coordenadas da
nossa fronteira de estabilidade multidimensional.
Para muitas das dimensões apresentadas na secção 5 é difícil ter uma opinião fundamentada sobre a sua
distribuição. É o caso de choques nos passivos de OIFM, OIFAF, SS e resto do mundo. Iremos portanto
Gráfi co 4
FRONTEIRAS DE ESTABILIDADE INDIVIDUAIS ENTRE 2002T1 E 2010T4
Painel A – Choques em E Painel B – Choques em BT
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Mar-02 Mar-03 Mar-04 Mar-05 Mar-06 Mar-07 Mar-08 Mar-09 Mar-10
SNF OIFM SS AP
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
Mar-02 Mar-03 Mar-04 Mar-05 Mar-06 Mar-07 Mar-08 Mar-09 Mar-10
SNF Dívida de AP (2ª sub.)Particulares (exceto emp. habitação) Particulares (habitação)RM
Fontes: Cálculos dos autores.
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deixar estas dimensões fora do nosso indicador de risco sistémico17, o que nos deixa com 7 dimensões:
1. Capital próprio das sociedades não fi nanceiras
2. Capital próprio de OIFM e OIFAF (optou-se por juntar estas duas dimensões)
3. Capital próprio de SS
4. Capital próprio das administrações públicas
5. Passivos das sociedades não fi nanceiras
6. Passivos de particulares exceto “empréstimos” concedidos por OIFMs para aquisição de habi-
tação.
7. Passivos de particulares em “empréstimos” concedidos por OIFMs para aquisição de habitação.
Por simplicidade, assumiu-se que Y é uma distribuição Normal com 7 dimensões, valor esperado nulo
e matriz variância-covariância W . O valor esperado de Y tem de ser necessariamente nulo, na medida
em que apenas as inovações, ou choques, são de interesse neste modelo. Os desvios esperados no
valor futuro das posições de balanço já estão contabilizados no capital próprio de cada setor a valor de
mercado. Assim, o desafi o analítico reside na estimação de W , o qual, à semelhança da fronteira de
estabilidade, não é constante ao longo do tempo. Cada uma das matrizes variâncias-covariâncias foi
estimada com base em dados sobre o retorno do capital próprio de cada um dos setores nos 12 meses
precedentes a cada trimestre. No caso das dimensões 1, 2 e 3, W foi estimado com base na volatilidade
dos retornos do PSI-20, do PSI-Serviços Financeiros e do Stoxx Europe 600 Insurance, respetivamente.
A volatilidade da dimensão 4 foi estimada com base no retorno das estimativas mensais do capital
próprio das administrações públicas. Para as restantes dimensões, utilizou-se a volatilidade dos desvios
dos fl uxos de empréstimos em incumprimento (em percentagem do total de empréstimos concedidos)
em relação à média dos últimos doze meses. Com base nestas hipóteses obteve-se a probabilidade da
economia entrar em rutura fi nanceira18. No gráfi co 5 apresenta-se a série da probabilidade da economia
entrar em rutura fi nanceira para o período Março de 2002 a Dezembro de 2010. O indicador de risco
proposto aponta para dois períodos de risco sistémico especialmente elevado, nomeadamente, o período
entre 2002 e 2003 e o período após Setembro de 2007. Apesar de o indicador indicar probabilidades
17 As dimensões relacionadas com o capital próprio do banco central, dos particulares e do resto do mundo foram
também excluídas do indicador. Este facto não deverá ter grande impacto, uma vez que a fronteira de estabili-
dade relacionada com estas dimensões é sempre próxima de 1.
18 Na prática esta probabilidade foi estimada por via de simulações de Monte-Carlo. Para mais resultados, ver Silva,
Ribeiro e Antunes (a publicar).
Gráfi co 5
PROBABILIDADE DE COLAPSO FINANCEIRO DA ECONOMIA
0%
5%
10%
15%
20%
25%
Mar-02 Mar-03 Mar-04 Mar-05 Mar-06 Mar-07 Mar-08 Mar-09 Mar-10
Fonte: Cálculos dos autores.
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de ruptura fi nanceira claramente acima de 10% em ambas as crises, as fronteiras de estabilidade no
gráfi co 4 (painel A) e as estimativas de W sugerem que o primeiro período foi, não exclusivamente, mas
especialmente focado num setor apenas, SS, o qual atingiu níveis de volatilidade do capital próprio muito
elevados. Em oposição, a atual crise é caracterizada por uma forte diminuição das fronteiras de estabili-
dade associadas a todas as dimensões. De facto, quase todas as fronteiras de estabilidade apresentadas
no gráfi co 4 atingiram o seu mínimo durante a atual crise, contribuindo para que a probabilidade de
rutura fi nanceira da economia registasse o seu valor máximo, cerca de 20%, em Dezembro de 2008.
7. Conclusão
Este estudo propõe um novo indicador de risco sistémico baseado em análise de redes e no modelo de
dívida contingente. O indicador proposto pretende ser uma proxy da probabilidade da economia entrar
em rutura fi nanceira no prazo de um ano. Do ponto de vista conceptual, a metodologia proposta pode
ser dividida em duas partes. Em primeiro lugar, são estimadas todas as combinações de choques neces-
sários para colapsar o sistema de relações intersetoriais na economia. O conjunto dessas combinações
constitui a fronteira de estabilidade, conceito introduzido neste artigo. De seguida, avalia-se a probabi-
lidade de ocorrência desses choques. O modelo proposto tem a vantagem de permitir a construção de
um indicador-síntese do risco sistémico na economia. Movimentos do indicador podem depois ser melhor
entendidos, analisando deslocações das fronteiras de estabilidade individuais, bem como alterações nos
parâmetros da distribuição multivariada dos fatores de risco e da velocidade de absorção da rede. O
modelo contribui ainda para melhor entender a forma como os choques são transmitidos na economia
e o papel de cada setor. Em particular, considera-se explicitamente a forte interconexão existente entre
o risco soberano e o risco no setor bancário.
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O COMPORTAMENTO DOS BANCOS DOMÉSTICOS E NÃO
DOMÉSTICOS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO À HABITAÇÃO:
UMA ANÁLISE COM BASE EM DADOS MICROECONÓMICOS*
Sónia Costa** | Luísa Farinha**
Resumo
As instituições fi nanceiras não domésticas têm tido um papel importante na suavização
do processo de desalavancagem da economia portuguesa, contribuindo em particular
para uma menor desaceleração do crédito à habitação. O peso dos novos empréstimos
concedidos por bancos não domésticos aumentou signifi cativamente ao longo de
2010. Adicionalmente, os bancos não domésticos têm praticado taxas de juro mais
reduzidas nos novos empréstimos do que os bancos domésticos. A diferença entre
as taxas praticadas pelos dois tipos de instituição aumentou, em meados de 2010,
com o agravamento da crise da dívida soberana. Neste artigo utilizam-se dados
microeconómicos relativos a novos contratos de crédito à habitação para analisar
se os bancos domésticos e não domésticos têm um comportamento diferenciado
relativamente à restritividade aplicada na concessão de crédito. Os resultados apontam
para que os bancos domésticos sejam mais sensíveis ao grau de risco dos devedores
do que os não domésticos. Este comportamento ter-se-á acentuado no período
de alargamento do diferencial de taxas de juro entre os bancos domésticos e não
domésticos.
1. Introdução
O processo de desalavancagem do setor privado, fi nanceiro e não fi nanceiro, é um aspeto crucial do
ajustamento em curso na economia portuguesa. Com o agudizar da crise da dívida soberana na área do
euro tornou-se particularmente evidente que os atuais níveis de endividamento dos vários setores são
insustentáveis. A necessária correção das despesas em consumo e investimento por parte das famílias
começou entretanto a verifi car-se, refl etindo-se num abrandamento da procura de crédito. Num contexto
de aumento do risco de crédito dos devedores, de difi culdade dos bancos portugueses no acesso aos
mercados de fi nanciamento por grosso e de necessidade de re-estruturação dos seus balanços, os efeitos
do lado da oferta têm contribuído também para o enfraquecimento do crédito.
A contração da oferta de crédito pode traduzir diferentes comportamentos por parte dos bancos. Os
bancos podem impor condições contratuais mais exigentes de forma generalizada a todos os devedores,
aplicando, por exemplo, taxas de juro mais elevadas. Podem também optar por aumentar relativamente
mais a restritividade na concessão de crédito aos devedores de risco mais elevado. Os bancos podem
ainda decidir não conceder crédito aos devedores com maior probabilidade de incumprimento, mesmo
* As autoras agradecem a Susana Narciso e Susana Salvado do Departamento de Supervisão Comportamental
do Banco de Portugal os esclarecimentos prestados sobre a base de dados do crédito à habitação e a António
Antunes pela discussão dos resultados. As opiniões expressas no artigo são da responsabilidade das autoras, não
coincidindo necessariamente com as do Banco de Portugal ou do Eurosistema. Eventuais erros e omissões são da
exclusiva responsabilidade das autoras.
** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos.
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que estes estivessem dispostos a pagar o prémio de risco1. Estes vários tipos de comportamento têm
consequências diferentes no que respeita à “qualidade” média dos novos devedores das instituições de
crédito e, por isso, implicações distintas em termos de estabilidade fi nanceira. Assim, tentar identifi car o
tipo de comportamento seguido pelos bancos domésticos, no contexto atual, é uma questão relevante.
A presença de instituições não domésticas no mercado de crédito poderá ser muito útil na análise desta
questão dado que o seu comportamento é, em princípio, diferenciado do das instituições em que a
origem do capital é doméstica. Estas instituições têm a vantagem face às instituições portuguesas de
poderem fi nanciar-se junto das respetivas casas-mãe, as quais fazem em geral parte de grupos fi nanceiros
internacionais com carteiras de ativos diversifi cadas e estão localizadas em mercados onde as instituições
enfrentam menores problemas de acesso ao fi nanciamento. Além disso, as instituições que são sucursais
não estão sujeitas aos requisitos de capital e de desalavancagem mais exigentes associados ao processo
de ajustamento da economia portuguesa.
As instituições fi nanceiras não domésticas têm tido um papel importante na suavização do ciclo de
crédito na economia portuguesa, em particular no caso do crédito à habitação2. De facto, os novos
empréstimos à habitação concedidos pelo conjunto dos bancos domésticos têm registado nos últimos
anos uma tendência de redução, a qual só se começou a observar no caso dos bancos não domésticos
em 2011. Neste contexto, o peso dos novos empréstimos concedidos por bancos não domésticos, que se
situava em cerca de 20 por cento em 2009, aumentou signifi cativamente ao longo de 2010, situando-se
desde meados desse ano em cerca de 35 por cento, um valor muito superior à quota de mercado destes
bancos no total do stock de crédito à habitação. Além disso, os bancos não domésticos têm praticado
taxas de juro mais reduzidas nos novos empréstimos do que os bancos domésticos, o que se intensifi cou
em meados de 2010, com o agravamento da crise da dívida soberana. Esta evolução diferenciada das
taxas de juro pode dever-se ao facto de ter aumentado a proporção dos devedores com maior risco nas
instituições domésticas face às não domésticas (efeito composição) e/ou a uma aplicação de critérios
mais restritivos na concessão de crédito por parte das instituições domésticas. As consequências para
a estabilidade fi nanceira são diferentes num ou noutro caso. Este artigo tenta dar um contributo para
esclarecer esta questão.
Neste artigo utilizam-se dados microeconómicos relativos a novos contratos de crédito à habitação para
analisar se os bancos domésticos e não domésticos têm um comportamento diferenciado relativamente
à restritividade aplicada na concessão de crédito. O estudo benefi ciou da disponibilidade de uma base de
dados relativa a contratos de crédito à habitação recolhida pelo Departamento de Supervisão Compor-
tamental (DSC) do Banco de Portugal. Esta base de dados contém informação detalhada ao nível dos
contratos de crédito, tendo a vantagem de permitir relacionar o montante do empréstimo com a respetiva
taxa de juro, controlando ao mesmo tempo outras características dos contratos e determinadas caracte-
rísticas das instituições fi nanceiras (como, por exemplo, a origem doméstica/não doméstica do capital).
Desta base de dados foi selecionada uma amostra de novos empréstimos para os quais foi possível obter
as condições iniciais dos contratos.
Uma limitação da base de dados do DSC consiste no facto de não incluir informação sobre as caracte-
rísticas do devedor. Adicionalmente, a amostra de novos empréstimos selecionada a partir desta base
de dados cobre um período temporal relativamente curto (de outubro de 2009 a setembro de 2010),
incluindo assim poucos meses após o agravamento da crise de dívida soberana que ocorreu em meados
de 2010 e que acabou por implicar o pedido de assistência fi nanceira de Portugal em abril de 2011.
Com o objetivo de colmatar estas limitações utilizam-se também neste artigo os dados da Central de
Responsabilidades de Crédito (CRC) do Banco de Portugal relativos aos saldos de crédito concedido a
1 É o caso de racionamento do crédito apresentado por Stiglitz e Weiss (1981).
2 Ver “Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições fi nanceiras residentes não domésticas no processo de desala-
vancagem da economia portuguesa”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira, Maio de 2011.
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particulares, para o período de abril de 2009 a junho de 2011. Com estes dados calcularam-se indica-
dores de incumprimento no sistema bancário para os devedores com novos empréstimos à habitação,
os quais permitem ter uma ideia aproximada sobre a qualidade média do crédito concedido por bancos
domésticos e não domésticos.
O artigo está organizado da seguinte forma: na secção 2 efetua-se uma breve revisão da literatura rela-
tiva ao papel das instituições não domésticas na oferta de crédito do país de acolhimento; na secção 3
apresentam-se as bases de dados utilizadas; a secção 4 inclui uma análise descritiva dos dados, a qual
permite caracterizar a evolução recente dos empréstimos à habitação concedidos por bancos domés-
ticos e não domésticos; a secção 5 apresenta os resultados de regressões efetuadas com o objetivo de
analisar se os bancos domésticos e não domésticos têm um comportamento diferenciado relativamente
à restritividade aplicada na concessão de crédito; por fi m a secção 6 inclui as principais conclusões.
2. Literatura
Uma parte da literatura empírica recente sobre o efeito da entrada/presença de instituições fi nanceiras não
domésticas sobre a estabilidade económica e fi nanceira no país de acolhimento procura avaliar se aquela
entrada/presença contribui para atenuar ou amplifi car os choques macroeconómicos. Os fundamentos
teóricos para esta literatura baseiam-se quase sempre no modelo desenvolvido por Holmstrom, Bengt e
Tirole (1997) ou em extensões deste modelo. Este artigo centra-se nos efeitos da integração fi nanceira
e conclui que esta tende a amplifi car o impacto dos choques negativos que afetem o valor do colateral
porque, no caso de ocorrer um choque deste tipo, os bancos não locais tenderão a deslocalizar-se. No
caso de o choque incidir sobre o próprio sistema bancário, a presença de bancos não locais tende a ter
um efeito estabilizador porque estes têm mais facilidade em importar recursos fi nanceiros do exterior
para fi nanciar projetos locais. Dado que os dois tipos de choques acontecem frequentemente em simul-
tâneo é difícil saber à partida qual o efeito dominante. De acordo com Clarke et al. (2005), a presença de
bancos não locais de maior dimensão, com um maior nível de compromisso com a economia, traduzido
numa estratégia de longo prazo, tenderia a minimizar o primeiro efeito sendo mais provável obter um
resultado global no sentido da estabilização.
A literatura empírica refl ete esta dualidade de posições. Goldberg (2002), por exemplo, conclui que a
presença de bancos americanos em mercados emergentes contribui para estabilizar a oferta de crédito
em caso de fl utuações no crescimento e nas taxas de juro nestes mercados. No entanto, conclui também
que os mercados nos países de acolhimento fi cam sensíveis às fl utuações da economia dos EUA. Morgan
e Strahan (2004) tratam a questão do ponto de vista das consequências da integração fi nanceira dentro
dos EUA, estendendo a análise a um conjunto de países.
Tanto quanto foi possível averiguar, não existem na literatura empírica estudos diretamente compará-
veis com a análise que se apresenta neste artigo. Os estudos empíricos recentes que analisam, ao nível
microeconómico, os principais fatores determinantes das taxas de juro dos empréstimos à habitação e
outros empréstimos concedidos às famílias, põem sobretudo ênfase nas características dos devedores.
Por exemplo, Edelberg (2003, 2006) e Magri e Pico (2011), respetivamente para o caso dos EUA e de
Itália, centram-se sobretudo no efeito do risco de crédito sobre as taxas de juro.
3. Dados
a. Dados de contratos de crédito à habitação
Neste artigo utiliza-se uma base de dados de contratos de crédito à habitação recolhida pelo Departamento
de Supervisão Comportamental (DSC) do Banco de Portugal junto das instituições de crédito, com o
objetivo de proceder ao acompanhamento deste mercado. Esta base de dados contém informação sobre
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as principais características de todos os contratos vivos em 30 de setembro de 2010, nomeadamente
a identifi cação da instituição de crédito que concedeu o empréstimo, as datas de início e de termo do
contrato, o montante inicial do empréstimo, o montante em dívida e as taxas de juro (taxa nominal e taxa
anual efetiva) em 30 de setembro de 2010. A base de dados tem ainda informação sobre o regime de
taxa de juro, o tipo de indexante e o spread, a duração do período da taxa fi xa, o regime de prestações,
o tipo de crédito e a modalidade de amortização dos empréstimos3. Para além das características dos
empréstimos vivos a 30 de setembro, a base de dados contém informação sobre re-embolsos antecipados
e renegociações dos empréstimos à habitação que tenham ocorrido entre 1 de outubro de 2009 e 30
de setembro de 2010.
A informação sobre as renegociações dos empréstimos permitiu construir, para o período entre outubro
de 2009 e setembro de 2010, uma base de dados dos novos empréstimos contratados em cada mês, os
quais são o objeto de estudo deste artigo. Em particular, os dados relativos às renegociações de prazos
e de spreads efetuadas entre 1 de outubro de 2009 e 30 de setembro de 2010 foram utilizados para se
obterem as taxas de juro e os prazos no início do contrato4. Assim, na análise, não foram utilizados os
dados dos empréstimos contratados no período anterior a outubro de 2009, uma vez que para estes não
é possível obter as condições iniciais dos contratos. Além disso, excluíram-se os empréstimos com taxas de
juro indexadas a uma taxa não especifi cada, com taxas mistas, e aqueles em que ocorreram renegociações
que envolveram alterações no regime de taxa de juro. Para todos estes contratos não é possível obter
o valor da taxa inicial. Por fi m, refi ra-se que não foram utilizados os dados relativos a crédito conexo,
a empréstimos com regimes de prestações diferentes de constantes e a empréstimos com períodos de
carência de capital e juros. A exclusão destes dados foi motivada pelo facto das características muito
específi cas dos contratos serem difíceis de controlar numa análise de regressão. Além disso, evita-se a
perturbação causada nos dados pela eventual imprecisão na utilização de algumas destas classifi cações.
Os dados utilizados dizem assim respeito a 68633 novos empréstimos, com data de início entre outubro
de 2009 e setembro de 2010. Destes, 15516 correspondem a empréstimos concedidos por bancos não
domésticos. A periodicidade considerada é mensal.
b. Dados da Central de Responsabilidades de Crédito
A base de dados da CRC do Banco de Portugal contém informação enviada mensalmente ao Banco
de Portugal por todas as instituições de crédito a operar no país. Para cada par instituição de crédito/
devedor, a informação sobre os saldos de crédito está desagregada por nível de responsabilidade do
crédito (individual ou conjunto), tipo de produto fi nanceiro, situação do crédito, prazo original e residual
do crédito e, ainda, classe de crédito vencido (para o crédito em situação de vencido). Desde o início de
2009, a informação sobre o tipo de produto permite identifi car inequivocamente o crédito à habitação.
A informação sobre o crédito vencido permite construir indicadores de incumprimento do crédito e rela-
cioná-los com determinadas características das instituições de crédito, dos devedores e dos empréstimos.
3 Os regimes de taxa de juro considerados são taxa fi xa, variável ou mista. Os indexantes da taxa variável consis-
tem nas taxas de juro Euribor a 3, 6 e 12 meses ou outro indexante. As prestações podem ser constantes, pro-
gressivas ou ter outro regime. O tipo de contrato inclui as categorias de crédito à habitação e de crédito conexo.
As modalidades de amortização dos empréstimos incluem amortizações clássicas ou contratos com períodos
de carência inicial de capital ou de capital e juros (até 6 meses, 6 meses – 1 ano, mais de 1 ano) e/ou com uma
percentagem de capital diferido para a última prestação.
4 O prazo no momento inicial foi obtido subtraindo ao prazo a 30 de setembro a soma das alterações de prazo
que tenham eventualmente ocorrido até essa data devido a renegociações. O mesmo procedimento foi seguido
para calcular o spread no momento do contrato. No caso dos empréstimos indexados às taxas de juro Euribor
a 3, 6 e 12 meses, os valores destes indexantes na data de início do contrato, em simultâneo com os spreads
calculados, permitiram obter a taxa de juro nominal estabelecida na data de início do contrato. No caso dos
empréstimos de taxa fi xa considerou-se que o valor da taxa de juro inicial é igual ao valor da taxa em 30 de
setembro, o que é uma hipótese razoável uma vez que, segundo a informação da base de dados, os períodos
de fi xação destas as taxas são sempre iguais ou superiores a 1 ano.
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Na CRC não existe informação que permita identifi car de forma inequívoca os empréstimos novos, os
quais são o objeto da análise deste trabalho. Assim, a identifi cação dos novos empréstimos resultou da
comparação dos saldos do crédito à habitação para os mesmos devedores e com as mesmas caracterís-
ticas, na mesma instituição de crédito, em três meses consecutivos. Num determinado mês, considerou-se
que um saldo corresponde a um novo empréstimo se tiver um montante padronizado (múltiplo de 100
euros) e se nos dois meses anteriores o devedor não tiver qualquer crédito ou tiver apenas créditos com
características muito diferentes.
Dada a natureza aproximada destes dados, os indicadores obtidos com base na CRC devem ser interpre-
tados com um cuidado especial. No entanto, no período comparável, a informação sobre novos créditos
na CRC obtida desta forma parece ser consistente com a da base de dados do DSC. A utilização destes
dados tem a vantagem de se poder alargar o período temporal de junho de 2009 a junho de 2011. Além
disso, permite calcular os indicadores de incumprimento, suprindo parcialmente a falta de informação
ao nível do devedor na base de dados do DSC. Uma das principais limitações da CRC é não dispor de
informação sobre taxas de juro associadas aos créditos. Os indicadores de incumprimento da CRC não
podem assim ser utilizados para estimar o modelo apresentado na secção 5 para analisar a restritividade
dos critérios de concessão de crédito das instituições domésticas e não domésticas. Neste contexto, os
indicadores de incumprimento são utilizados como uma fonte de informação complementar à análise
de regressão. Em particular, estes indicadores permitem ter alguma ideia sobre o nível e evolução da
“qualidade” inerente aos novos empréstimos concedidos por instituições domésticas e não domésticas.
4. Análise descritiva
No gráfi co 1a apresenta-se a evolução, entre outubro de 2009 e setembro de 2010, do número de
novos empréstimos à habitação considerados na amostra retirada da base de dados do DSC. O número
de contratos estabelecidos por bancos domésticos é superior ao dos bancos não domésticos, contudo a
diferença entre ambos reduz-se bastante a partir do primeiro trimestre de 2010. Enquanto o número de
empréstimos concedidos por bancos domésticos regista uma tendência claramente decrescente, passando
de cerca de 5000 em outubro de 2009 para menos de 3000 em setembro de 2010, o número de contratos
dos bancos não domésticos aumentou ligeiramente (de cerca de 1200 para cerca de 1400). Os dados
da CRC confi rmam esta evolução, mas indicam que desde o início de 2011 o número de empréstimos
concedidos por bancos não domésticos estará igualmente a reduzir-se (Gráfi co 1b).
A informação sobre o montante total de crédito concedido pelos dois tipos de instituições, apresentada
no gráfi co 2, confi rma que o peso dos bancos não domésticos na concessão de novos empréstimos à
habitação terá aumentado signifi cativamente entre fi nais de 2009 e setembro de 2010, permanecendo
depois relativamente estável até junho de 2011.
Quanto às características dos contratos, observa-se que o montante médio por contrato é sempre superior
no caso das instituições não domésticas (média mensal de 94 mil euros para os bancos domésticos e 117
mil euros para os bancos não domésticos, segundo os dados do DSC), tendo-se mantido relativamente
estável ao longo do período em análise (Gráfi co 3).
A estrutura dos prazos dos novos empréstimos concedidos pelos dois tipos de bancos regista algumas
alterações durante o período em análise (Gráfi co 4). De acordo com os dados do DSC, nas instituições
domésticas reduziu-se claramente o peso dos empréstimos com prazos mais longos, o que é visível ao
longo de todo o período no caso do prazo de mais de 45 anos (Gráfi co 4a). Por sua vez, nas instituições
não domésticas parece ter diminuído a importância dos prazos na classe 25-30 anos e aumentado o
peso dos prazos mais longos (Gráfi co 4b). Entre outubro de 2009 e setembro de 2010, o prazo médio
dos novos empréstimos aumentou cerca de dois anos nos bancos não domésticos e reduziu-se cerca de
um ano nos domésticos. Na CRC, os prazos só estão disponíveis em intervalos, o que limita a compara-
bilidade com os dados do DSC, tanto mais que não existe desagregação para os prazos superiores a 30
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anos, onde se concentram a maior parte dos empréstimos à habitação e onde parecem ter ocorrido as
maiores alterações. Estes dados sugerem que tanto as instituições domésticas, como as não domésticas
terão reduzido no período mais recente o peso dos prazos superiores a 30 anos (Gráfi cos 4c e 4d). Como
contrapartida, os bancos domésticos terão aumentado o peso dos empréstimos com prazos mais curtos
(inferiores a 10 anos) e os não domésticos o peso de prazos intermédios (10-25 anos).
As taxas de juro médias implícitas nos dados do DSC são sempre inferiores no caso dos empréstimos
Gráfi co 2a Gráfi co 2b
MONTANTE TOTAL DOS NOVOS EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO
DADOS DSC DADOS CRC
10
20
30
40
50
60
100 000
200 000
300 000
400 000
500 000
600 000
Out-09 Dez-09 Fev-10 Abr-10 Jun-10 Ago-10
Per
cent
agem
Milh
ares
de
euro
s
10
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30
40
50
60
100 000
300 000
500 000
700 000
900 000
1 100 000
Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Jun-11
Per
cent
agem
Milh
ares
de
euro
s
Não domésticos / Total (esc. dir.)Não domésticosDomésticos
Fonte: Banco de Portugal.
Gráfi co 1a Gráfi co 1b
NÚMERO DE CONTRATOS DE NOVOS EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO
DADOS DSC DADOS CRC
10
18
26
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3 000
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erce
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Jun-09 Out-09 Fev-10 Jun-10 Out-10 Fev-11 Jun-11
Per
cent
agem
Nº d
e co
ntra
tos
Não domésticos / Total (esc. dir.)Não domésticosDomésticos
Fonte: Banco de Portugal.
179
Art
igos
concedidos por instituições não domésticas e apresentam tanto nos bancos domésticos como nos não
domésticos uma tendência crescente a partir do primeiro trimestre de 2010 (Gráfi co 5a), num contexto
de expectativas de aumento de taxas de juro por parte do BCE. A diferença entre as taxas dos bancos
domésticos face às dos não domésticos alargou-se signifi cativamente durante o segundo e o terceiro
trimestres de 2010. Os dados obtidos a partir das Estatísticas Monetárias e Financeiras do Banco de
Portugal, apontam para que no período mais recente tenha ocorrido uma redução do diferencial entre
as taxas de juro dos dois tipos de bancos, continuando, contudo, as taxas dos bancos não domésticos
a apresentar um nível inferior (Gráfi co 5b).
Finalmente, apresentam-se, no gráfi co 6, dois indicadores de incumprimento calculados com base nos
dados da CRC para os devedores com novos empréstimos à habitação por tipo de instituição. O primeiro
indicador corresponde ao rácio entre o número de devedores com novos empréstimos à habitação que
têm algum crédito vencido no sistema bancário e o número total de devedores com novos empréstimos
à habitação (Gráfi co 6a). O segundo indicador refere-se à média ponderada dos rácios, por devedor,
entre o seu crédito vencido e o seu crédito total no sistema bancário (Gráfi co 6b). Como ponderador
utilizou-se o peso do novo crédito concedido a cada devedor no total do novo crédito por tipo de banco
(doméstico ou não doméstico). Os dois indicadores têm sempre um nível superior nos bancos domésticos,
o que sugere que a qualidade média dos devedores a quem concedem novos empréstimos é inferior
à dos bancos não domésticos. Até ao terceiro trimestre de 2010 parece observar-se contudo alguma
aproximação da qualidade de crédito concedido pelos dois tipos de bancos, determinada principalmente
pela redução dos indicadores de incumprimento no caso dos bancos domésticos. Esta situação é contudo
em grande parte revertida no período posterior.
Em resumo, de acordo com estes dados, ao longo do período analisado, os bancos não domésticos
concederam crédito à habitação a devedores de qualidade média superior, o que é sugerido tanto pelo
nível médio mais elevado dos montantes dos empréstimos5, como pelos indicadores de incumprimento.
5 O montante inicial dos empréstimos à habitação está fortemente correlacionado com o valor do colateral, tendo
assim em geral, como se vai ver na secção 5, uma relação positiva com a qualidade de crédito do devedor.
Gráfi co 3a Gráfi co 3b
MONTANTE MÉDIO POR CONTRATO DOS NOVOS EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO
DADOS DSC DADOS CRC
105
112
119
126
133
140
80
90
100
110
120
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Out-09 Dez-09 Fev-10 Abr-10 Jun-10 Ago-10
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Milh
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de
euro
s
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112
119
126
133
140
80
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Jun-09 Out-09 Fev-10 Jun-10 Out-10 Fev-11 Jun-11
Per
cent
agem
Milh
ares
de
euro
s
Não domésticos / Domésticos (escala da direita)Não domésticosDomésticos
Fonte: Banco de Portugal.
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2011
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II
Esta situação pode, pelo menos em parte, justifi car o nível mais reduzido das taxas de juro nos bancos
não domésticos. Na maior parte do período analisado observa-se um aumento signifi cativo da quota
de mercado dos bancos não domésticos, em simultâneo com um aumento do diferencial positivo das
taxas de juro dos bancos domésticos face às dos não domésticos. Não parece existir evidência de que
esta evolução das taxas de juro seja justifi cada por um efeito composição, ou seja, por uma melhoria
relativa da qualidade da carteira de crédito dos bancos não domésticos face à dos domésticos. De facto,
no período de alargamento do diferencial das taxas de juro, os montantes médios dos empréstimos não
sofrem alterações signifi cativas e os indicadores de incumprimento não apontam para uma melhoria
da qualidade relativa dos novos devedores dos bancos não domésticos. Neste contexto, uma possível
explicação para a evolução diferenciada das taxas de juro podem ser diferenças ao nível da exigência
Gráfi co 4a Gráfi co 4b
PRAZO DOS NOVOS EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO
DADOS DSC – BANCOS DOMÉSTICOS DADOS DSC – BANCOS NÃO DOMÉSTICOS
0
5
10
15
20
25
30
35
<10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 >45
Per
cent
agem
Anos
0
5
10
15
20
25
30
35
<10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 >45
Per
cent
agem
Anos
Gráfi co 4c Gráfi co 4d
PRAZO DOS NOVOS EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO
DADOS CRC – BANCOS DOMÉSTICOS DADOS CRC – BANCOS NÃO DOMÉSTICOS
0
10
20
30
40
50
60
70
<10 10-20 20-25 25-30 >30
Per
cent
agem
Anos
0
10
20
30
40
50
60
70
<10 10-20 20-25 25-30 >30
Per
cent
agem
Anos
Fonte: Banco de Portugal.
2009T4 2010T1 2010T2 2010T3
2009T3 2009T4 2010T1 2010T2 2010T3 2010T4 2011T1 2011T2
181
Art
igos
Gráfi co 5a Gráfi co 5b
TAXA DE JURO MÉDIA DOS NOVOS EMPRÉSTIMOS
DADOS DSC ESTATÍSTICAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
Out-09 Dez-09 Fev-10 Abr-10 Jun-10 Ago-10
Pon
tos
perc
entu
ais
Per
cent
agem
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
1.0
2.0
3.0
4.0
5.0
Jan-09 Jun-09 Nov-09 Abr-10 Set-10 Fev-11 Jul-11
Pon
tos
perc
entu
ais
Per
cent
agem
Não domésticos - Domésticos (esc. dir.)Não domésticosDomésticos
Fonte: Banco de Portugal.
Gráfi co 6a Gráfi co 6b
INDICADORES DO RISCO DE CRÉDITO DOS NOVOS DEVEDORES NO CRÉDITO À HABITAÇÃO
PERCENTAGEM DE NOVOS DEVEDORES COM INCUMPRIMENTO
NO SISTEMA BANCÁRIO(a)
MÉDIA PONDERADA DA PERCENTAGEM POR DEVEDOR DO SEU
CRÉDITO VENCIDO NO SISTEMA BANCÁRIO NO CRÉDITO TOTAL
NO SISTEMA BANCÁRIO(b)
DADOS DSC DADOS CRC
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
0.0
1.0
2.0
3.0
4.0
Jul-09 Out-09 Jan-10 Abr-10 Jul-10 Out-10 Jan-11 Abr-11
Pon
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perc
entu
ais
Per
cent
agem
(mm
3 ce
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0.00
0.02
0.05
0.07
0.10
0.12
0.00
0.04
0.08
0.12
0.16
0.20
Jul-09 Out-09 Jan-10 Abr-10 Jul-10 Out-10 Jan-11 Abr-11
Pon
tos
perc
entu
ais
Per
cent
agem
Não domésticos / Domésticos (esc. dir.)Não domésticosDomésticos
Fonte: Banco de Portugal.
Notas: (a) Percentagem do número de devedores com novos empréstimos à habitação nos bancos domésticos (ou não domésticos)
que têm algum crédito vencido no sistema bancário, no número de devedores total com novos empréstimos à habitação nos bancos
domésticos (ou não domésticos). (b) Percentagem por devedor do seu crédito vencido no seu crédito total no sistema bancário
ponderada pelo peso do crédito concedido por bancos domésticos (ou não domésticos) a esse devedor no total do crédito concedido
pelos bancos domésticos (ou não domésticos).
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182
II
dos critérios aplicados na concessão de crédito para o mesmo tipo de devedores. Esta hipótese será
analisada na próxima secção.
Refi ra-se ainda que os dados disponíveis para fi nais de 2010 e para o primeiro semestre de 2011 ilustram
uma interrupção da tendência de aumento do peso dos bancos não domésticos na concessão de crédito
à habitação e uma maior proximidade das taxas de juro praticadas, sugerindo alguma reaproximação do
comportamento dos dois tipos de instituições.
5. Análise de regressão
a. Metodologia e variáveis
O objetivo desta secção é identifi car os principais fatores que explicam o nível das taxas de juro aplicadas
por instituições de crédito domésticas e não domésticas na concessão de crédito à habitação. Um aspeto
central da análise é testar a existência de diferenças no comportamento dos dois tipos de instituições
bem como a existência de eventuais alterações temporais nesse comportamento.
É de esperar que as taxas de juro do crédito estejam relacionadas com características das instituições
(em particular o país de origem do capital), características dos devedores (em particular o seu grau de
risco), características dos empréstimos (em particular o prazo) e ainda com condições do enquadramento
económico-fi nanceiro que afetam da mesma forma todas as instituições a operar no mesmo país. Assim,
procedeu-se a uma análise de regressão, começando por se estimar um modelo do seguinte tipo:
0 1 2 3 4 5
6 7
i i i i i
k k n nk i i i
n
iTAN NDom DReemb lnMont Prazo DIsol
DIndex DTime
b b b b b b
b eb
= + + + + + +
å + +å
( )1
Neste modelo, a variável a explicar é a taxa de juro nominal iTAN aplicada ao empréstimo i na data
de início do contrato. Como variáveis explicativas incluíram-se variáveis que captam as características
da instituição de crédito que concedeu o empréstimo e que são consideradas relevantes para explicar
diferenças entre as taxas de juro. Em particular, incluiu-se no modelo uma variável dummy que indica se
a origem do capital da instituição de crédito que concedeu o empréstimo é doméstica ou não doméstica
( )iNDom . Esta variável toma o valor 1 no caso de a instituição ser não doméstica e 0 no caso contrário.
Além disso, o modelo inclui uma variável dummy que toma o valor 1 nos casos em que a instituição não
pertence a um grupo bancário ( )iDIsol , o que só acontece no caso de algumas instituições domésticas6.
A variável iDReemb é uma variável dummy que toma o valor 1 no caso de, no período em análise,
ter havido algum re-embolso antecipado do empréstimo e o valor 0 no caso oposto. A inclusão deste
indicador destinou-se a captar o efeito da qualidade do crédito associada ao devedor do empréstimo.
A inclusão desta variável pressupõe que os re-embolsos são tipicamente efetuados por indivíduos com
uma melhor situação fi nanceira e, por isso, apresentam um menor risco de crédito.
O modelo inclui também como variáveis explicativas as principais características do empréstimo no
momento inicial: montante – ilnMont - e prazo – iPrazo . O montante é medido pelo logaritmo do valor
6 Tentou-se incluir no modelo outras variáveis que representassem características das instituições de crédito que à
partida pareciam relevantes para explicar diferenças de taxas de juro, tais como a dimensão, rácios de rendibi-
lidade, de solvabilidade ou de liquidez. No entanto, o facto de não se dispor destes indicadores para o grupo a
que pertencem as instituições não domésticas mas apenas para as fi liais e sucursais a operar em Portugal parece
distorcer os resultados estimados para os respetivos coefi cientes. Refi ra-se que a inclusão destas variáveis não
altera de forma signifi cativa os efeitos estimados para as restantes variáveis.
183
Art
igos
inicial do empréstimo em milhares de euros, e o prazo é medido em anos. À partida, para devedores com
um grau de risco igual, seria de esperar uma relação positiva entre o montante do empréstimo e a taxa
de juro, uma vez que quanto maior o montante emprestado maior o valor da perda para a instituição de
crédito associada à eventual materialização do risco de crédito. No entanto, é de esperar que o montante
do empréstimo que, no caso do crédito à habitação, está em geral fortemente correlacionado com o
valor do colateral, possa captar em grande parte a qualidade de crédito dos diferentes devedores. Assim,
o coefi ciente associado à variável montante deve ser interpretado levando em consideração estes dois
efeitos possíveis. Refi ra-se que, por exemplo, Magri e Pico (2011) e Edelberg (2003) obtêm um efeito
negativo e signifi cativo do montante sobre a taxa de juro dos empréstimos à habitação, em regressões
que incluem também uma variável destinada a medir especifi camente o risco do devedor (credit score).
Quanto ao efeito da variável prazo do empréstimo, espera-se que, controlando o risco do devedor, a prazos
maiores correspondam taxas mais elevadas, dada a existência de um prémio de risco para compensar a
maior incerteza associada a prazos mais longos.
O modelo inclui também quatro variáveis dummy –kiDIndex – que controlam o regime de taxa de juro.
Três destas variáveis referem-se aos casos em que os indexantes são as taxas de juro Euribor a 3, 6 e
12 meses e a quarta variável refere-se ao caso de empréstimos com taxa de juro fi xa. Espera-se que,
em princípio, quanto maior for o prazo de renovação das taxas maior será o risco para a instituição de
crédito e, por isso, mais elevada a taxa aplicada ao empréstimo.
Finalmente, incluíram-se no modelo dummies mensais niDTime , que captam o efeito das condições
variáveis no tempo mas que afetam de forma semelhante todas as instituições e devedores. Ainda que
a dimensão temporal da amostra seja limitada, os dados cobrem um período de alguma instabilidade
fi nanceira associada ao agravamento da crise da dívida soberana na área do euro, pelo que se justifi ca
a inclusão destas dummies.
O modelo dado pela equação (1) impõe que os coefi cientes estimados associados às características dos
empréstimos sejam idênticos para instituições de crédito diferentes, nomeadamente para as domésticas
e não domésticas. No entanto, um aspeto essencial da análise apresentada neste artigo é o de saber se,
perante um empréstimo de características semelhantes, a taxa de juro aplicada por instituições de crédito
domésticas e não domésticas é ou não diferente. Assim, a partir da especifi cação base, estimou-se um
modelo em que se admite a possibilidade de os coefi cientes estimados associados às variáveis explicativas
mais relevantes ( ), ,i i ilnMont Prazo DReemb poderem ser diferentes no caso de empréstimos concedidos
por bancos domésticos e não domésticos, que corresponde à seguinte equação:
( ) ( )( ) ( )
11 12 21 22
31 32 41 42
5 6 7
1 1
1 1
i i i i i i i
i i i i i i i i
k k n ni i i i
k n
TAN NDom NDom NDom DReemb NDom DReemb
NDom lnMont NDom lnMont NDom Prazo NDom Prazo
DIsol DIndex DTime
b b b b
b b b b
b b b e
= + - + + - +
+ - + + - +
+ + +å å( )2
A estimação da especifi cação seguinte, obtida através de uma reparametrização do modelo dado pela
equação (2):
BA
NC
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( )( ) ( ) ( )
12 11 12 22 32 42
21 22 31 32 41 42
5 6 7
i i i i i
i i i i i i
k k n ni i i i
k n
TAN NDom DReemb lnMont Prazo
NDom DReemb NDom lnMont NDom Prazo
DIsol DIndex DTime
b b b b b b
b b b b b b
b b b e
= + - + + + +
- + - + - +
+ + +å å( )2 '
permite testar se os efeitos das variáveis , ,i i ilnMont Prazo DReemb , sobre as taxas de juro são signifi ca-
tivamente diferentes no caso de empréstimos concedidos por instituições de crédito domésticas e não
domésticas7.
Finalmente, com o objetivo de testar a possível existência de alterações temporais no comportamento dos
dois tipos de instituições, estimou-se uma especifi cação ainda mais geral que admite a possibilidade de
os coefi cientes associados ao montante, ao prazo e aos re-embolsos poderem ser diferentes não só entre
instituições mas também na primeira e na segunda parte do período amostral. De facto, de acordo com
a análise efetuada na secção anterior o aumento da quota de mercado das instituições não domésticas
foi mais acentuado na segunda metade do período da amostra. Neste período observou-se igualmente
um acréscimo no diferencial de taxas de juro entre os dois tipos de instituições. Esta evolução poderá ser
justifi cada por alguma alteração no comportamento das instituições num contexto de agravamento da
crise de dívida soberana, que difi cultou ainda mais a capacidade de fi nanciamento dos bancos domésticos
nos mercados de dívida por grosso.
Assim, estimou-se também o modelo seguinte:
( )( )( ) ( )
11 12 13
14 21 22
23 24
31 32
1
1
1 1
i i i i
i i i i i
i i i i
i i i
TAN NDom DAntes NDom DDepois NDom DAntes
NDom DDepois NDom DReemb DAntes NDom DReemb DDepois
NDom DReemb DAntes NDom DReemb DDepois
NDom lnMont DAntes NDom lnMon
g g g
g g g
g g
g g
= + + - +
- + + +
- + - +
+ ( )( )( ) ( )
33
34 41 42
43 44
5 6 7
1
1
1 1
i i i
i i i i i i
i i i i
k k n ni i i i
k n
t DDepois NDom lnMont DAntes
NDom lnMont DDepois NDom Prazo DAntes NDom Prazo DDepois
NDom Prazo DAntes NDom Prazo DDepois
DIsol DIndex DTime
g
g g g
g g
g g g e
+ - +
- + + +
- + - +
+ + +å å
( )3
Nesta especifi cação DAntes e DDepois são variáveis dummy que tomam o valor 1 para as observações
antes e depois de Abril de 2010, respetivamente. A estimação das reparametrizações adequadas deste
modelo permitem testar se as diferenças nos efeitos das variáveis dummy de re-embolsos, montante
e prazo são estatisticamente diferentes para os bancos domésticos e não domésticos em cada um dos
períodos temporais e se, os coefi cientes estimados são estatisticamente diferentes para o mesmo conjunto
de bancos (domésticos ou não domésticos) na primeira e na segunda parte do período temporal.
Refi ra-se ainda que, para se interpretar melhor o efeito da nacionalidade do capital sobre as taxas de
juro do crédito, para cada um dos modelos se estimaram também especifi cações em que se inclui como
variável explicativa adicional a taxa de juro das obrigações de dívida pública a 10 anos no país de origem
7 Note-se que testar a signifi cância estatística dos coefi cientes associados às variáveis multiplicativas NDomiDRe-embi, NDomilnMonti e NDomiPrazoi é equivalente a testar se as diferenças entre os coefi cientes associados às
variáveis dummy de re-embolsos, montante e prazo nas duas sub-amostras (bancos domésticos e não domésti-
cos) são estatisticamente signifi cativas.
185
Art
igos
do capital, medida em médias mensais. No contexto da crise atual em que as taxas de juro das obriga-
ções dos bancos se encontram muito correlacionas com as taxas de juro da dívida pública, esta variável
pretende identifi car, de forma mais precisa, o impacto das difi culdades de fi nanciamento dos bancos e
da necessidade de desalavancagem dos seus balanços, nas taxas de juro que aplicam aos seus devedores.
b. Resultados das estimações
Especifi cação base
Na primeira coluna do quadro 1 apresentam-se os resultados da estimação do modelo dado pela equação
(1) que corresponde à especifi cação de base. No que respeita ao efeito das características das instituições
de crédito, observa-se que o coefi ciente estimado associado à dummy que toma o valor 1 no caso de
as observações corresponderem a empréstimos de instituições não domésticas ( )iNDom é negativo e
signifi cativo, sugerindo que os empréstimos destas instituições têm, em média, taxas de juro mais baixas
mesmo quando apresentam características idênticas. Os resultados sugerem também que as instituições
domésticas isoladas apresentam em média taxas de juro signifi cativamente mais elevadas, o que pode
refl etir o facto de estas instituições não benefi ciarem das vantagens de economias de escala e acesso
a informação que se espera estarem associadas ao comportamento das instituições que pertencem a
um grupo.
O coefi ciente estimado para a dummy associada à existência de re-embolsos antecipados do empréstimo
( )Re iD emb é negativo e signifi cativo, sugerindo que esta variável estará, como se pretendia, a captar
a qualidade do devedor em termos de risco de crédito. De facto, espera-se que os devedores com uma
situação fi nanceira mais sólida tenham uma maior propensão para realizar re-embolsos antecipados dos
seus empréstimos. Assim, o coefi ciente negativo obtido na estimação sugere, como seria de esperar, que os
devedores com menor risco de crédito negoceiam com os bancos taxas de juro mais reduzidas em média.
Relativamente ao efeito das características dos contratos, é de realçar que o montante ( )ln iMont apre-
senta um coefi ciente negativo e signifi cativo. Esta situação sugere que esta variável deve, em grande
parte, captar a “qualidade” do devedor, ou seja, o facto de em geral empréstimos de montantes mais
elevados serem concedidos a devedores com um nível de rendimento e/ou riqueza mais elevado, aos
quais estará associado um menor risco de crédito. O coefi ciente associado ao prazo do empréstimo
( )iPrazo apresenta um sinal positivo e signifi cativo, tal como esperado, que refl ete o prémio de risco
que se deve à maior incerteza associada a prazos mais elevados. Os coefi cientes associados ao regime
de taxa sugerem que as taxas de juro dos empréstimos com taxa variável aumentam com o prazo do
indexante e que os empréstimos com taxa fi xa têm em média taxas de juro mais elevadas. Estes efeitos
estão de acordo com o que seria de esperar num período em que não existiam expectativas de reduções
das taxas de juro por parte do BCE.
Na segunda coluna do quadro 1 apresentam-se os resultados da estimação de um modelo idêntico ao
anterior em que se inclui adicionalmente como regressor a taxa de juro de dívida pública a dez anos do
país de origem da instituição de crédito. O coefi ciente estimado associado a esta variável é positivo e
signifi cativo como seria de esperar. Quando se comparam os resultados das duas primeiras colunas do
quadro 1 conclui-se que o principal impacto da inclusão da taxa de juro da dívida pública é uma redução
do efeito, em termos de magnitude e signifi cância estatística, associado à dummy relativa às instituições
não domésticas. Esta situação parece confi rmar que uma das principais razões para o nível mais elevado
das taxas de juro das instituições domésticas são as suas maiores difi culdades de fi nanciamento decor-
rentes da crise de dívida soberana.
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II
Inclusão de efeitos diferenciados por tipo de instituição (doméstica/ não doméstica)
Nas últimas três colunas do quadro 1 apresentam-se os resultados da estimação da equação (2), ou seja,
da especifi cação em que se considera a possibilidade do montante, do prazo e da dummy que indica
a existência de re-embolsos terem coefi cientes diferentes para bancos domésticos e não domésticos.
A terceira e quarta colunas apresentam, respetivamente, os coefi cientes estimados, e correspondentes
t-rácios, para o caso dos bancos domésticos e dos não domésticos. A última coluna apresenta as diferenças
entre os coefi cientes estimados para os bancos domésticos e os não domésticos e os t-rácios associados
ao teste da igualdade entre estes coefi cientes, obtidos com base na equação (2’).
Os coefi cientes estimados associados ao montante e à dummy de re-embolsos são negativos e signifi ca-
tivos, embora de magnitude signifi cativamente inferior no caso dos bancos não domésticos do que nos
domésticos. No sentido em que estas variáveis parecem estar a captar o risco de crédito do devedor, as
diferenças entre os coefi cientes podem ser interpretadas como evidência de que as taxas de juro apli-
Quadro 1
RESULTADOS DA REGRESSÃO SEM DISTINÇÃO DE ACORDO COM O PERÍODO AMOSTRAL
Sem distinção entre bancos domésticos e não domésticos
Com distinção entre bancosdomésticos e não domésticos
(1) (1b)
Bancos domésticos
(2a)
Bancos não domésticos
(2b)
Diferença
(2b)-(2a)
Constante 4.34 3.72 4.79 2.25 -2.55
(82.6) (65.65) (71.46) (38.37) (-28.69)
Dummy banco não doméstico -0.78 -0.62
(-155.14) (-85.28)
Taxa de juro da dívida pública 0.16
(31.47)
Dummy banco isolado 0.72 0.72 0.70
(8.49) (8.51) (8.36)
Logaritmo do montante -0.20 -0.20 -0.25 -0.09 0.16
(-43.79) (-44.15) (-40.85) (-17.12) (19.77)
Prazo (anos) 0.005 0.005 0.006 0.005 -0.001
(19.07) (18.78) (17.06) (13.29) (-1.44)
Dummy ocorrência de reembolsos -0.21 -0.20 -0.23 -0.06 0.173
(-10.30) (-10.09) (-9.99) (-1.92) (4.56)
Dummy indexante euribor 6 meses 0.36 0.33 0.37
(64.39) (53.75) (64.92)
Dummy indexante euribor 12 meses 0.40 0.39 0.39
(8.08) (7.9) (7.74)
Dummy taxa fi xa 0.45 0.42 0.44
(8.96) (8.29) (8.78)
Número de observações 68633 68633 68633
Root MSE 0.6603 0.6575 0.6588
Fonte: Banco de Portugal.
Nota: t-rácios entre parêntesis
187
Art
igos
cadas pelos bancos domésticos terão sido, neste período, mais sensíveis ao grau de risco dos devedores.
Relativamente ao prazo não existe evidência de um comportamento diferente por parte dos dois tipos
de instituições.
Inclusão de efeitos diferenciados por tipo de instituição e período temporal (antes e depois
de abril de 2010)
O quadro 2 inclui os resultados da estimação das regressões em que se permite que os coefi cientes
associados ao montante, ao prazo, à dummy que indica a existência de re-embolsos e à dummy que
indica se o empréstimo foi concedido por uma instituição não doméstica sejam diferentes na primeira e
na segunda parte do período amostral (outubro de 2009 a março de 2010 e abril de 2010 a setembro
de 2010). A primeira parte do quadro corresponde aos resultados da estimação do modelo dado pela
equação (3). As primeiras quatro colunas apresentam os coefi cientes estimados, e correspondentes
t-rácios, para o caso dos bancos domésticos e dos não domésticos antes e depois de abril de 2010. As
quatro colunas seguintes apresentam as diferenças entre os coefi cientes bem como os t-rácios associados
ao teste da igualdade entre os coefi cientes8.
As diferenças estimadas para a constante do modelo captam o facto de as taxas de juro terem aumentado,
tanto no caso dos bancos domésticos, como no dos não domésticos, na segunda parte do período amostral,
mas de forma mais acentuada nos bancos domésticos. A dummy relativa aos re-embolsos tem, tal como
no modelo anterior, um sinal negativo de maior magnitude para as instituições domésticas do que para
as não domésticas, não parecendo ter havido alterações signifi cativas da primeira para a segunda parte
do período amostral. A interpretação das diferenças entre os dois sub-períodos no efeito desta variável
deve ser efetuada com cautela. Dado que só se conhecem os re-embolsos ocorridos até setembro de
2010, os empréstimos contratados em datas próximas deste mês têm naturalmente um reduzido número
de ocorrências. No caso do montante, o coefi ciente negativo acentua-se entre os dois sub-períodos para
as instituições domésticas e não se altera signifi cativamente no caso das não domésticas, o que pode
sugerir que a maior diferenciação do risco de crédito por parte das instituições domésticas se possa ter
acentuado ligeiramente no tempo. Por fi m, os resultados para o prazo apontam para que, na primeira
parte do período amostral, os bancos não domésticos possam ter estado a exigir prémios menores nas
taxas de juro quando a maturidade do contrato aumenta do que os bancos domésticos. Esta situação
pode sugerir que as instituições não domésticas terão facilitado a extensão do prazo impondo uma
penalização menos forte em termos de taxa de juro para manter a possibilidade de aliviar as prestações.
As instituições de crédito domésticas terão, atualmente, mais difi culdade em prosseguir esta prática. Este
comportamento está de acordo com a evolução diferenciada observada nos prazos dos empréstimos
analisada na secção anterior. A diferença entre o comportamento dos bancos relativamente ao prazo
parece, contudo, ter-se esbatido na segunda parte do período amostral.
Na segunda parte do quadro 2 apresentam-se os resultados de uma regressão idêntica à anterior, mas
em que se inclui adicionalmente a taxa de juro das obrigações de dívida pública dos países de origem
das instituições domésticas. Como seria de esperar, as taxas de juro das obrigações da dívida pública têm
um impacto signifi cativamente maior nas taxas de juro dos empréstimos na segunda metade da amostra,
refl etindo o agravamento da crise da dívida soberana. Com a introdução desta variável os níveis médios das
taxas de juro cobradas pelos bancos (dados pelas “constantes”) deixam de aumentar signifi cativamente
da primeira para a segunda parte da amostra. Esta situação sugere que o aumento das taxas de juro no
período entre abril e setembro de 2010, expurgado do efeito da evolução da qualidade de crédito dos
devedores e das características dos contratos, será em grande parte explicado pelas diferenças ao nível
das necessidades de desalavancagem dos bancos. Os restantes resultados mantêm-se inalterados face
à regressão em que não se incluem as taxas de juro da dívida pública.
8 Testa-se a igualdade entre os coefi cientes para os bancos doméstico e não domésticos em cada um dos sub-
-períodos e a igualdade entre os coefi ciente para o mesmo tipo de bancos nos dois sub-periodos.
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189
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igos
6. Conclusões
Entre fi nais de 2009 e o terceiro trime stre de 2010, os bancos não domésticos aumentaram a sua
quota no mercado de crédito à habitação em Portugal. Para esta situação terão contribuído as maiores
difi culdades de fi nanciamento enfrentadas pelos bancos portugueses, assim como a necessidade de
desalavancagem dos seus balanços no contexto do processo de ajustamento da economia portuguesa.
Durante o segundo e terceiro trimestres de 2010, o aumento da quota de mercado dos bancos não
domésticos ocorreu em simultâneo com uma subida do diferencial positivo entre as taxas de juro dos
bancos domésticos e as dos não domésticos.
Os resultados de regressões efetuadas com dados microeconómicos para os novos contratos de crédito à
habitação no período de outubro de 2009 a setembro de 2010 apontam para que os bancos domésticos
sejam mais sensíveis ao grau de risco dos devedores do que os não domésticos. Este comportamento
ter-se-á acentuado no período de alargamento do diferencial de taxas de juro entre os bancos domés-
ticos e não domésticos, ou seja, os bancos domésticos terão cobrado neste período taxas de juro ainda
mais diferenciadas para devedores com diferentes qualidades de crédito. Os resultados sugerem também
que os bancos não domésticos possam ter estado a exigir prémios de taxas de juro menores do que os
bancos domésticos, para maturidades maiores dos contratos.
De acordo com os indicadores de incumprimento calculados para os novos devedores, embora os bancos
não domésticos concedam em média crédito a devedores com risco de crédito inferior, não terá ocorrido
uma melhoria da “qualidade” relativa dos novos devedores dos bancos não domésticos, face à dos
domésticos, durante o período de alargamento do diferencial das taxas de juro. Neste contexto a redução
das taxas de juro dos bancos não domésticos face às dos domésticos não terá ocorrido em simultâneo
com uma alteração na composição da “qualidade” dos devedores entre os dois tipos de bancos.
Os dados agregados disponíveis para fi nais de 2010 e o primeiro semestre de 2011 apontam para uma
interrupção da tendência de aumento do peso dos bancos não domésticos na concessão de crédito à
habitação e uma maior proximidade das taxas de juro praticadas, sugerindo alguma reaproximação do
comportamento dos bancos domésticos e não domésticos. A análise dos mecanismos subjacentes a esta
evolução só será possível efetuar quando estiverem disponíveis dados microeconómicos para este período.
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Referências
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191
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igos
* Os autores agradecem os comentários de António Antunes, Ana Cristina Leal e Carlos Santos. As opiniões expres-
sas no artigo são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as do Banco de Portugal
ou do Eurosistema. Eventuais erros e omissões são da exclusiva responsabilidade dos autores.
** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos.
MODELAÇÃO DO INCUMPRIMENTO DOS PARTICULARES*
Nuno Alves** | Nuno Ribeiro**
Resumo
A realização de stress tests requer, entre outros, a disponibilidade de instrumentos que
permitam projetar perdas na carteira de crédito, muito em particular em diferentes
cenários macroeconómicos. Este artigo apresenta regularidades empíricas entre
medidas de risco de crédito bancário aos particulares e variáveis macroeconómicas. São
estimados dois modelos econométricos respectivamente para o segmento de crédito a
particulares para aquisição de habitação e de crédito a particulares consumo e outros
fi ns.
1. Introdução
Ao longo das últimas décadas, em diversos países desenvolvidos, a materialização intensa do risco de
crédito esteve subjacente a crises bancárias generalizadas. Estas ocorreram, em muitos casos, devido a
uma combinação de um grau de alavancagem elevado e a ocorrência de choques desfavoráveis e de
magnitude elevada. Neste particular, Pesola (2005, 2007) estuda exaustivamente o papel dos fatores
Macroeconómicos na explicação das perdas na carteira de crédito nos países Nórdicos, assim como um
conjunto de outros países desenvolvidos onde se assistiu a crises bancárias. De facto, os mercados de
crédito, e em geral os mercados de capitais, são caracterizados por incerteza e por problemas de infor-
mação suscetíveis de conduzir a um nível de riscos assumidos superior ao desejável na fase ascendente
do ciclo de crédito.
Uma discussão teórica detalhada das imperfeições no mercado de crédito que podem explicar porque
é que a materialização do risco de crédito pode desviar-se substancialmente das expectativas existentes
quando o crédito é concedido está fora do âmbito deste trabalho. De qualquer forma, podem sublinhar-se
sinteticamente algumas, tais como: (i) miopia; (ii) alterações no sentimento dos investidores que conduzem
a ciclos em que um período de forte aumento da procura de ativos não monetários (incluindo ativos
reais) é seguido de uma reversão repentina dessa procura no sentido de ativos monetários – Kindleberger
(1978); (iii) comportamento de manada (herd behaviour) – Banerjee (1992); (iv) incentivos à gestão para
obter resultados no curto prazo; (v) inexistência de memória institucional (o ciclo de crédito é sufi cien-
temente longo para que exista rotação das pessoas diretamente envolvidas no processo de aprovação
de crédito – Berger e Uddel (2004)); (vi) alterações ao longo do ciclo económico das implicações dos
problemas de seleção adversa e de risco moral (por exemplo, no momento em que um banco toma a
iniciativa de aumentar a taxa de juro do crédito para compensar os sinais de aumento da materialização
do risco de crédito, os projetos com menor risco poderão deixar de ser viáveis à nova taxa de juro, ao
mesmo tempo que são transmitidos aos devedores incentivos para alterar o perfi l de risco no sentido de
privilegiarem atividades mais arriscadas – Stiglitz e Weiss (1981, 1983)).
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Em concreto, os modelos que se baseiam em relações econométricas simples capazes de simular os
desenvolvimentos no incumprimento nas carteiras de crédito dos bancos em diferentes cenários
macroeconómicos são cruciais no desenho de stress tests ao sistema bancário – Gambera (2000),
Andersen et al. (2008), Hoggart et al. (2005). Estes últimos são, por sua vez, um instrumento para avaliar
a adequação do capital dos bancos para absorver choques severos mas plausíveis, exatamente aqueles
que qualifi cariam como adequados à realização de stress tests.
Neste trabalho são apresentados modelos com o objetivo de simular o incumprimento no setor dos
particulares, com distinção dos empréstimos para aquisição de habitação dos empréstimos para fi nalidade
distinta da habitação (consumo e outros fi ns). As abordagens empíricas ao risco de crédito concentram-se
habitualmente no setor das sociedades não fi nanceiras. Uma das razões assenta no fato de a informação
ao nível micro para um período temporal sufi cientemente longo estar mais facilmente disponível para
este setor, seja em bases de dados privadas ou baseada em informação pública relativa ao mercado de
obrigações1. Outra razão relaciona-se com o fato de a maior parte das crises bancárias que ocorreram
até aos anos 90 terem estado associadas a problemas no setor das empresas, enquanto as perdas nas
carteiras de empréstimos a particulares não foram sufi cientemente elevadas em termos agregados.
Contudo, o aumento muito forte do endividamento dos particulares a partir de fi nais da década de 90
constituiu uma alteração de paradigma, de tal forma que o estudo dos determinantes do incumprimento
dos particulares passou a ser objeto de estudo mais atento, seja na dimensão temporal, seja em amostras
longitudinais – Rinaldi e Sanchis-Arellano (2006); para o caso português ver Farinha e Lacerda (2010).
Adicionalmente, o cálculo explícito de taxas de incumprimento (a medida ex-post de probabilidade de
incumprimento) está mais facilmente disponível para empresas e pode ser desagregado por características
relevantes das empresas (como a dimensão e o setor de atividade económica) com sensibilidades face
aos fatores macroeconómicos diferenciadas. Em Portugal, na ausência de séries temporais de eventos
de incumprimento identifi cados ao nível micro (ou indicadores agregados baseados em incumprimentos
observados) que cubram pelo menos um ciclo económico, a estimação da relação entre incumprimentos
e fatores cíclicos necessita de fazer apelo a indicadores agregados que possam ser utilizados, com um
grau de confi ança razoável, como variáveis proxy das taxas de incumprimento. Em primeiro lugar, as
medidas baseadas nos saldos de empréstimos com montantes em incumprimento não são adequadas,
uma vez que refl etem a acumulação passada de empréstimos que entraram em incumprimento. Como
tal, este tipo de indicadores têm uma memória longa dos episódios de incumprimento passados e
exibem persistência elevada. Por sua vez, à primeira vista, tanto as dotações de provisões para perdas na
carteira de crédito (ou imparidades no conceito das IAS/IFRS) como o fl uxo de abatimentos parecem bons
candidatos para este efeito. Contudo, estes indicadores são infl uenciados por alterações nas políticas de
provisionamento e de abatimento de créditos dos bancos, assim como nas regras contabilísticas, de tal
forma que estão sujeitos a movimentos espúrios. Outra possibilidade, que é a que constituirá a opção
do trabalho empírico deste estudo, será considerar o fl uxo de empréstimos de cobrança duvidosa (mais
à frente esta variável será defi nida mais rigorosamente) em percentagem do saldo vivo de empréstimos.
Este indicador pode ser interpretado como uma taxa de incumprimento (Quaglariello e Marcucci (2008)),
na medida em que, ao longo da amostra, a taxa a que os devedores individuais normalizam a respetiva
situação de incumprimento ao longo do tempo mantém proporcionalidade face à taxa a que a que novos
devedores entram em incumprimento ao longo da vida dos respetivos empréstimos.
Neste artigo, optou-se pela estimação de uma equação linear multivariada, em vez de um modelo VAR,
o qual é particularmente popular na literatura, uma vez que toma em consideração todas as possíveis
interações entre as variáveis. Contudo, a integração dos resultados dos modelos VAR no conjunto de
toda a infraestrutura de stress test, incluindo todo o bloco macroeconómico tradicional, não é tarefa
óbvia. Deve notar-se que, a literatura empírica identifi ca importantes não linearidades nos modelos de
risco de crédito. De facto, a sensibilidade das variáveis que representam o risco de crédito face às variáveis
1 A este respeito, ver Pederzoli e Torriceli (2005), Bonfi m (2009), Simons e Rowles (2009), Allen e Saunders (2004),
Sorge e Virolainen (2006), Gambera (2000), Andersen et al. (2008) e Jakubík (2006).
193
Art
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macroeconómicas é frequentemente variante no tempo e ao longo do ciclo económico. Em particular, a
materialização do risco de crédito é mais sensível aos fatores macroeconómicos nos períodos recessivos
do que nos períodos não recessivos – ver Marcucci e Quagliariello (2009), Laevan e Majnoni (2003),
Gasha e Morales (2004), Misina e Tessier (2008).
Finalmente, deve sublinhar-se que este artigo não aborda as questões relacionadas com as políticas de
provisionamento dos bancos nem a respetiva prociclicidade. Estas questões teriam que ser respondidas
num quadro de análise mais vasto, no qual as provisões/imparidades são utilizadas diretamente como
variável de estudo, em conjugação com a evolução cíclica das receitas brutas de provisões – ver Bikker
e Metzemakers (2005), Luc e Majnoni (2003), Bikker e Hu (2005).
O remanescente deste artigo encontra-se organizado como segue. Na Secção 2 descrevem-se as principais
características das variáveis a estimar. Nas secções 3 e 4 apresentam-se os modelos econométricos que
estão subjacentes à estimação. A Secção 5 apresenta simulações fora da amostra, utilizando as projeções
macroeconómicas do Banco de Portugal mais recentes e na Secção 6 apresentam-se as conclusões.
2. Os dados
De modo a estimar as perdas nas carteiras de crédito aos particulares seria ideal começar por calcular
as probabilidades de incumprimento (PDs) com base em dados individuais de empréstimos aos particu-
lares e subsequentemente aplicar uma LGD (acrónimo inglês para Loss Given Default, ou seja, a perda
dado o incumprimento) a essas PDs. Esta é a metodologia utilizada pelo Banco de Portugal para estimar
perdas de crédito no caso das empresas não fi nanceiras2. Infelizmente, não existem atualmente séries
sufi cientemente longas para os dados relativos aos particulares3.
Neste artigo apresentamos uma nova metodologia para estimar o incumprimento nas carteiras de crédito
bancário aos particulares, com base em dados agregados. Este procedimento permite igualmente prever
o incumprimento face a alterações no enquadramento macroeconómico.
O procedimento é ancorado nas séries temporais do fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de
cobrança duvidosa – este últimos defi nidos como aqueles empréstimos que cumprem os critérios cons-
tantes no Artigo 4º. do Aviso 3/95 do Banco de Portugal – em percentagem dos empréstimos, corrigidos
de titularização. As séries são calculadas ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e
outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de
2005, das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não
abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme a Instrução do Banco de Portugal nº2/2007.
Os valores encontram-se corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem. As
séries encontram-se disponíveis desde 1991T1. A análise separa os empréstimos para habitação dos
empréstimos para consumo e outros fi ns (Gráfi co 1). O Banco de Portugal publica estas séries regular-
mente no Relatório de Estabilidade Financeira.
Deve ser sublinhado que estes fl uxos não correspondem estritamente a uma medida de PD, dado que
também incluem as recuperações de empréstimos anteriormente em incumprimento. Não obstante, será
de esperar que a evolução desta série seja um bom referencial para a evolução da PD4.
2 Para uma descrição da metodologia, ver Banco de Portugal, Occasional Paper 1/2007 “Financial Setor Assess-
ment Programme Portugal: Banking System Stress Testing Exercise”.
3 O Banco de Portugal encontra-se presentemente a iniciar um projeto que visa preencher esta lacuna, o que
implicará um pedido de bases de dados microeconómicas aos bancos.
4 De modo a testar esta hipótese, comparámos o nível e a dinâmica do fl uxo anual de empréstimos vencidos e
outros de cobrança duvidosa para as empresas não fi nanceiras com a medida de PD habitualmente calculada
pelo Banco de Portugal com base na Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Os resultados sugerem
que a evolução do fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa, para as empresas não
fi nanceiras, acompanha de forma bastante próxima a evolução da respetiva PD (embora com um nível diferente,
o que é expectável devido à recuperação de situações de incumprimento).
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O gráfi co 1 revela algumas características interessantes das séries em análise, que importa destacar. Em
primeiro lugar, enquanto o fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para
habitação (em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização5) é uma variável estacionária,
o fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para consumo e outros fi ns é
claramente não estacionário no período amostral. Em segundo lugar, em 2011, enquanto o fl uxo anual
de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para habitação se manteve em níveis relativa-
mente baixos, o fl uxo relativo aos empréstimos para consumo e outros fi ns aumentou para níveis muito
elevados, embora abaixo dos máximos registados em 2009. Em terceiro lugar, os fl uxos anuais podem
ocasionalmente ser negativos (nomeadamente no caso de as recuperações mais que compensarem os
novos empréstimos em incumprimento). Este foi precisamente o caso dos empréstimos bancários para
habitação em 2005.
A diferente natureza dos dois fl uxos de empréstimos vencidos implica que é necessário adotar um modelo
econométrico distinto para cada um. O modelo relativo ao incumprimento no segmento da habitação
é apresentado na secção seguinte. O modelo relativo ao incumprimento no segmento do consumo e
outros fi ns é apresentado na Secção 4.
3. Modelação do fluxo anual de empréstimos vencidos e
outros de cobrança duvidosa para habitação
Como acima referido, o fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para habitação
(em percentagem dos empréstimos, ajustados de titularização) é uma variável estacionária na amostra.
Devido a limitações nos dados disponíveis, o período de estimação resume-se a 1999T1-2011T2. Esta
é uma amostra relativamente curta mas tem a vantagem de se centrar num único regime monetário.
O modelo empírico estimado foi o seguinte:
( )4 46, , , ,habitação habitaçãot crise t j
Fluxodeempréstimos vencidos f M spread PIB U dummy-
= D D
5 No remanescente do texto, os fl uxos de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa serão sempre
apresentados em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização.
Gráfi co 1
VARIÁVEIS A ESTIMAR
FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE
COBRANÇA DUVIDOSA: HABITAÇÃO
FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE
COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T10
0.5
1
1.5
2
2.5
3
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1
Fonte: Banco de Portugal.
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em que 6M corresponde à taxa de juro a 6 meses no mercado monetário, habitaçãospread é o diferencial
entre as taxas de juro dos empréstimos para habitação e a taxa de juro a 6 meses no mercado mone-
tário, 4PIBD é a taxa de variação homóloga do PIB, 4UD é a variação anual da taxa de desemprego
e crisedummy é uma variável dummy que se inicia em 2009T1, de modo a captar o período de crise
fi nanceira após a falência do banco de investimento Lehman Brothers. Os dados são das Estatísticas Mone-
tárias do Banco de Portugal e da edição de Verão de 2011 do Boletim Económico do Banco de Portugal.
A especifi cação fi nal, usando um procedimento de simplifi cação do modelo “do geral para o particular”,
é apresentada no quadro 1. Os resultados na amostra são apresentadas no gráfi co 2. O desempenho do
modelo é bastante bom, em particular tendo em conta que a especifi cação não inclui nenhum termo
desfasado da variável explicada. Os sinais dos coefi cientes também são os esperados. De facto, o fl uxo
anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para habitação aumenta com o nível das
taxas de juro (tanto no que se refere à taxa no mercado monetário como ao diferencial de taxas de juro)
Quadro 1
MODELAÇÃO DO FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: HABITAÇÃO
Variáveis Coefi ciente
Constante -0.903***
(-0.09)
6tM 0.196***
(0.017)
habitaçãotspread 0.103***
(0.020)
2habitaçãotspread - 0.099***
(0.020)
4habitaçãotspread - 0.085***
(0.017)
4tPIBD -0.032***
(0.009)
41tPIB -D -0.034***
(0.009)
41tU -D 0.062***
(0.018)
44tU -D 0.103***
(0.015)
crisedummy 0.265***
(0.036)
Número de observações 50
R 20.864
Fonte: Cálculos dos autores.
Notas: 6M corresponde à taxa de juro a 6 meses no mercado
monetário; habitaçãospread é o diferencial entre as taxas de juro
dos empréstimos para habitação e a taxa de juro a 6 meses
no mercado monetário; 4PIBD é a taxa de variação homó-
loga do PIB; 4UD é a variação anual da taxa de desemprego
e crisedummy é uma variável dummy que se inicia em 2009T1.
***, ** e * indicam signifi cância estatística a 1%, 5% e 10%,
respetivamente.
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e é globalmente contra-cíclico. Adicionalmente, desde o início da crise, o fl uxo anual permaneceu acima
do que seria expectável com base nos seus determinantes fundamentais, tal como refl etido no sinal
positivo da variável dummy (bem como na sua signifi cância estatística). Este facto pode dever-se inter
alia ao aumento da restritividade das condições fi nanceiras neste período. Finalmente, os coefi cientes
são estáveis ao longo da amostra (os resultados da análise recursiva estão disponíveis mediante pedido).
4. Modelação do fluxo anual de empréstimos vencidos e
outros de cobrança duvidosa, para consumo e outros fins
O fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa, para consumo e outros fi ns, é
uma variável não estacionária no período amostral (1999T1-2011T2). Deste modo, esta variável será
modelada com base numa equação com um Mecanismo Corretor do Erro (MCE).
No período amostral existe uma relação de longo prazo entre o fl uxo anual de empréstimos vencidos
e outros de cobrança duvidosa para consumo e outros fi ns, a taxa de desemprego e a taxa de juro dos
empréstimos para consumo e outros fi ns. Este facto foi confi rmado através de testes de cointegração de
Johansen (o quadro 2 apresenta os resultados dos testes corrigidos do enviesamento de pequena amostra).
O gráfi co 3 apresenta a relação estimada de longo prazo (a respetiva nota apresenta os coefi cientes da
equação de longo prazo). No longo prazo, o fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança
Gráfi co 2
RESULTADOS DO MODELO RELATIVO AOS EMPRÉSTIMOS PARA HABITAÇÃO | FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS
VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: HABITAÇÃO
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1
Valores observadosEstimativas do modelo
Fonte: Cálculos dos autores.
Quadro 2
TESTES DE COINTEGRAÇÃO DE JOHANSEN: SISTEMA COM O FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA PARA CONSUMO E OUTROS FINS, A TAXA DE DESEMPREGO E A TAXA DE JURO DOS EMPRÉSTIMOS PARA CONSUMO E OUTROS FINS
RankTeste do Traço [Prob.]
Corrigido do enviesamento de pequena amostraTeste do Máximo [Prob.]
Corrigido do enviesamento de pequena amostra
0 30.56 [0.040]** 24.25 [0.015]**
1 6.32 [0.662] 6.25 [0.588]
2 0.07 [0.040] 0.07 [0.797]
Fonte: Cálculos dos autores.
Notas: ***, ** e * indicam signifi cância estatística a 1%, 5% e 10%, respetivamente.
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duvidosa para consumo e outros fi ns tem uma relação positiva com a taxa de desemprego e com a taxa
de juro dos empréstimos para consumo e outros fi ns.
A dinâmica de curto prazo foi estimada através de um procedimento habitual de simplifi cação “do geral
para o particular”. A especifi cação fi nal é bastante simples (Quadro 3). A variação trimestral do fl uxo
anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para consumo e outros fi ns é estimada
como função de um termo autoregressivo, da variação em cadeia do PIB e do Mecanismo Corretor do
Erro (desfasado). Estas variáveis apresentam os sinais habituais. Em particular, o coefi ciente do MCE é
Gráfi co 3
MECANISMO CORRETOR DO ERRO – RELAÇÃO DE LONGO PRAZO ENTRE O FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA PARA CONSUMO E OUTROS FINS, A TAXA DE DESEMPREGO E A TAXA DE JURO DOS EMPRÉSTIMOS PARA CONSUMO E OUTROS FINS |
MECANISMO CORRETOR DO ERRO
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1
Fonte: Cálculos dos autores.
Nota: O gráfi co apresenta a seguinte série:
. . 4.153 0.305 * 0.348 * cons eoutros fins cons eoutros finst t t tECM Fluxodeempréstimosvencidos U Taxade juro= + - -
Quadro 3
MODELAÇÃO DA VARIAÇÃO TRIMESTRAL DO FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS
Variáveis Coefi ciente
Constante 0.030
(0.022)
.1
cons eoutros finstFluxodeempréstimos vencidos -D 0.551***
(0.105)
tPIBD -0.047*
(0.025)
1tMCE - -0.272***
(0.063)
Número de observações 48
R 2
0.493
Fonte: Cálculos dos autores.
Notas: ***, ** e * indicam signifi cância estatística a 1%, 5%
e 10%, respetivamente.
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estimado em -0.27, o que implica que os fl uxos anuais retornam ao respetivo nível de longo prazo (tal
como determinado pelo MCE) a um ritmo relativamente rápido. Em termos gerais, o modelo consegue
captar as características mais salientes da variável explicada ao longo do período amostral (Gráfi co 4).
5. Previsões fora da amostra
Os modelos descritos nas Secções 3 e 4 podem ser utilizados para prever a evolução do fl uxo anual de
empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa em diferentes cenários macroeconómicos. Nesta
secção apresentamos previsões fora da amostra com base nas projeções macroeconómicas mais recentes
divulgadas pelo Banco de Portugal. Os resultados, para o período 2011T3-2012T4, são apresentados no
gráfi co 5. Os resultados sugerem que, não obstante a prevalência de baixas taxas de juro no mercado
monetário, as condições macroeconómicas adversas da economia portuguesa implicarão uma subida
Gráfi co 5
PROJEÇÕES DO FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA | EM
PERCENTAGEM DOS EMPRÉSTIMOS, CORRIGIDOS DE TITULARIZAÇÃO: 2011T3-2012T4
FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE
COBRANÇA DUVIDOSA: HABITAÇÃO
FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE
COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
2007T1 2008T1 2009T1 2010T1 2011T1 2012T10.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
2007T1 2008T1 2009T1 2010T1 2011T1 2012T1
Fontes: INE, Banco de Portugal e cálculos dos autores.
Gráfi co 4
DINÂMICA DE CURTO PRAZO DO MODELO RELATIVO AOS EMPRÉSTIMOS PARA CONSUMO E OUTROS FINS) | VARIAÇÃO DO FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS
-0.5
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1
Estimativas do modeloValores observados
Fonte: Cálculos dos autores.
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dos fl uxos anuais de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa nos próximos trimestres, para
níveis superiores aos observados em meados de 2009.
6. Conclusões
Este artigo apresentou dois modelos que visam estimar a evolução dos fl uxos anuais de empréstimos
vencidos e outros de cobrança duvidosa, nos dois segmentos mais relevantes dos empréstimos a parti-
culares: habitação e consumo e outros fi ns. O desempenho dos modelos revelou-se aceitável e robusto.
Em certas condições – em particular num quadro em que os devedores normalizam a situação de incum-
primento a uma taxa constante – a evolução daqueles fl uxos será uma boa aproximação à evolução das
probabilidades de incumprimento em cada um dos segmentos. Neste sentido, estes modelos permitem
projetar a evolução do incumprimento dos particulares em cenários macroeconómicos alternativos.
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ANEXO: Dados utilizados
FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: HABITAÇÃO
FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS
VARIAÇÃO DO FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T10
0.5
1
1.5
2
2.5
3
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1
-0.6
-0.5
-0.4
-0.3
-0.2
-0.1
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1
TAXA DE JURO DO MERCADO MONETÁRIO A 6 MESES
DIFERENCIAL DE TAXA DE JURO (FACE À TAXA DO MERCADO MONETÁRIO A 6 MESES): PARTICULARES PARA HABITAÇÃO
DIFERENCIAL DE TAXA DE JURO (FACE À TAXA DO MERCADO MONETÁRIO A 6 MESES): PARTICULARES PARA CONSUMO E OUTROS FINS
0
1
2
3
4
5
6
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T10
0.5
1
1.5
2
2.5
3
3.5
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T15
6
7
8
9
10
11
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1
TAXA DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA DO PIB
TAXA DE DESEMPREGO(NOVA METODOLOGIA)
VARIAÇÃO ANUAL DA TAXA DE DESEMPREGO
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
6
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T10
2
4
6
8
10
12
14
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1
Fontes: INE e Banco de Portugal.