204

Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se
Page 2: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se
Page 3: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

RELATÓRIO DEESTABILIDADE FINANCEIRA

NOVEMBRO 2011

Lisboa, 2011www.bportugal.pt

Page 4: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BANCO DE PORTUGAL

Av. Almirante Reis, 71

1150-012 Lisboa

www.bportugal.pt

Edição

Departamento de Estudos Económicos

Design, impressão e distribuição

Departamento de Serviços de Apoio

Área de Documentação, Edições e Museu

Serviço de Edições e Publicações

Lisboa, 2011

Tiragem

350 exemplares

ISSN 1646-2254 (impresso)

ISSN 2182-0384 (online)

Depósito Legal n.º 227535/05

Este Relatório foi redigido segundo o novo Acordo Ortográfi co.

Page 5: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

ÍNDICE

I. ESTABILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO

7 1. APRECIAÇÃO GLOBAL

17 Caixa 1.1. Mapa de Estabilidade Financeira

25 Caixa 1.2. Ajustamento estrutural do rácio crédito/depósitos inscrito nos planos de fi nanciamento e de capital dos oito maiores grupos bancários portugueses

31 2. RISCOS MACROECONÓMICOS E FINANCEIROS

45 Caixa 2.1. O exercício de stress test na União Europeia em 2011: Principais resultados dos bancos portugueses

53 3. SITUAÇÃO FINANCEIRA DOS PARTICULARES E SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

69 Caixa 3.1. A rendibilidade das empresas não fi nanceiras – evolução recente com base nos dados da Central de Balanços

75 4. SISTEMA BANCÁRIO

75 4.1. Atividade e rendibilidade

91 4.2. Risco de mercado

99 4.3. Risco de liquidez

113 4.4. Risco de crédito

133 4.5. Adequação de fundos próprios

139 Caixa 4.1. Situação fi nanceira dos seis maiores grupos bancários do sistema bancário português no terceiro trimestre de 2011

143 Caixa 4.2. Novo rácio de crédito em risco

149 Caixa 4.3. Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012

Page 6: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

II. ARTIGOS

153 Um indicador de risco sistémico baseado no modelo de dívida contingente

Nuno Silva, Nuno Ribeiro, António Antunes

173 O comportamento dos bancos domésticos e não domésticos na concessão de crédito à habitação: uma análise com base em dados microeconómicos

Sónia Costa, Luísa Farinha

191 Modelação do incumprimento dos particulares

Nuno Alves, Nuno Ribeiro

Page 7: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

IESTABILIDADE DO SISTEMA FINANCEIRO

APRECIAÇÃO GLOBAL

RISCOS MACROECONÓMICOS E FINANCEIROS

SITUAÇÃO FINANCEIRA DOS PARTICULARESE SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

SISTEMA BANCÁRIO

1

2

3

4

Page 8: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se
Page 9: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

7

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

1. Apreciação global

Ao longo dos últimos seis meses, a materialização dos riscos sobre a estabilidade fi nanceira intensifi cou-

-se substancialmente, quer a nível mundial quer em Portugal, refl etindo a deterioração do enqua-

dramento macroeconómico e fi nanceiro, num contexto de generalização das tensões nos mercados

de dívida soberana da área do euro. Este agravamento das condições económicas e fi nanceiras

repercutiu-se numa deterioração da rendibilidade do sistema bancário português, bem como numa

maior materialização do risco de crédito e de mercado. No curto prazo, esta tendência de agrava-

mento dos riscos deverá persistir. No entanto, no quadro do Programa de Assistência Económica e

Financeira, existem diversos instrumentos que permitem mitigar o impacto destes choques sobre o

sistema fi nanceiro português, nomeadamente em termos de eventuais necessidades adicionais de

capital. Para além disso, a desalavancagem do sistema fi nanceiro português está a ser acompanhada

de forma permanente pelo Banco de Portugal, de modo a assegurar um processo ordenado e gradual,

não comprometendo o fi nanciamento da economia portuguesa.

Nesta edição do Relatório de Estabilidade Financeira introduzem-se dois mapas que apresentam de

forma esquemática a evolução das principais dimensões dos riscos sobre a estabilidade fi nanceira

(Gráfi cos 1.1 e 1.2). Estes mapas permitem ter uma perspetiva global sobre a evolução de cada

dimensão de risco, agregando um conjunto abrangente de indicadores económicos, fi nanceiros,

prudenciais e contabilísticos1. Refi ra-se que os valores de cada mapa são defi nidos com base na

posição relativa das variáveis face a referenciais históricos, ou seja, não correspondem necessariamente

a uma comparação com níveis ótimos ou de equilíbrio de longo prazo, nem permitem desenvolver

uma análise prospetiva dos riscos.

Em termos globais, a análise dos mapas de estabilidade fi nanceira permite concluir que os riscos

subjacentes ao sistema bancário português e ao seu enquadramento macroeconómico e fi nanceiro

se situam em níveis bastante elevados face aos respetivos referenciais históricos, destacando-se os

riscos relativos ao enquadramento macroeconómico e fi nanceiro doméstico e à situação fi nanceira

de particulares e empresas. A necessidade de ajustamento dos desequilíbrios macroeconómicos e

fi nanceiros, que inclui o processo de consolidação orçamental, deverá exercer uma forte pressão

descendente sobre a procura interna no curto prazo. Apesar de a magnitude dos riscos ser maior

no plano interno, o mapa de estabilidade fi nanceira também evidencia uma assinalável deterioração

do enquadramento macroeconómico e fi nanceiro internacional, em particular a partir do verão de

2011 (Gráfi co 1.1).

De facto, neste período assistiu-se a uma deterioração das perspetivas de crescimento a nível global,

em particular na área do euro, num contexto de agravamento das tensões associadas à crise da dívida

soberana, o que constitui uma das principais diferenças face aos riscos para a estabilidade fi nan-

ceira identifi cados na edição anterior do Relatório de Estabilidade Financeira. Esta situação adensa

os desafi os enfrentados pela economia portuguesa, bem como pelo sistema fi nanceiro português,

dado que o ajustamento dos desequilíbrios da economia terá de ser efetuado num enquadramento

bastante mais adverso, em particular no que diz respeito à evolução expectável da procura externa.

A intensifi cação dos mecanismos de interação e reforço entre o risco soberano, o sistema fi nanceiro

e a economia real tem vindo a afetar um conjunto cada vez mais alargado de países, acentuando a

natureza sistémica da atual crise. Neste contexto de aumento da volatilidade e incerteza e de persis-

1 A metodologia utilizada no desenvolvimento deste instrumento de análise é discutida na “Caixa 1.1 Mapa de estabilidade fi nanceira”, deste Relatório.

Page 10: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

8

I

tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana,

assistiu-se a difi culdades cada vez mais generalizadas dos bancos da área do euro em garantir o acesso

a fi nanciamento nos mercados de dívida por grosso, em particular em maturidades médias e longas.

Estes desenvolvimentos têm-se refl etido num aumento dos custos de fi nanciamento na emissão de

dívida a médio e longo prazo e em difi culdades na emissão de dívida nos mercados primários, mesmo

no mercado de obrigações hipotecárias (covered bonds). No segmento de dívida a curto prazo, as

difi culdades são menos agudas. De facto, apesar de também existirem algumas perturbações no

funcionamento do mercado monetário interbancário na área do euro, o acesso a fi nanciamento junto

do BCE tem permitido mitigar estas difi culdades, assistindo-se, de novo, a um aumento da interme-

diação do fi nanciamento dos bancos europeus por parte do Eurosistema. Neste contexto, no fi nal de

outubro foram anunciadas diversas medidas no âmbito da cimeira de chefes de estado e de governo

da União Europeia. Estas englobam nomeadamente o reforço do Fundo Europeu de Estabilidade

Financeira, o aumento do capital regulamentar do sistema bancário europeu e um novo acordo para

o envolvimento voluntário do setor privado na re-estruturação da dívida pública grega. Contudo, num

contexto de persistência de restrições no acesso a fi nanciamento, caso os bancos europeus optem

por mitigar o aumento de capital através de desalavancagem poderão ocorrer restrições signifi cativas

na oferta de crédito, com consequências para a evolução da economia europeia.

No caso da economia portuguesa, dados os elevados níveis de endividamento atingidos, mantém-se a

prioridade em prosseguir o esforço de ajustamento da situação fi nanceira, a nível de todos os setores

institucionais. Nesse contexto, os bancos portugueses terão de dar continuidade ao processo de

desalavancagem ordenada e de re-estruturação de algumas linhas de negócio que permita convergir

Gráfi co 1.1

EVOLUÇÃO GLOBAL DO ENQUADRAMENTO MACROECONÓMICO E FINANCEIRO DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

1. Particulares

2. Empresas não financeiras

3. Enquadramento macroeconómico doméstico (riscos)

4. Enquadramento macroeconómico

global (riscos)

5. Mercados financeiros domésticos

6. Mercados financeiros globais

7. Condições monetárias e financeiras

Dez-07 Dez-10 Jun-11 Set-11

Fontes: Barclays Capital, Comissão Europeia, Confi dencial Imobiliário, Eurostat, FMI, iBoxx, INE, Thomson Reuters e Banco de Por-tugal.

Nota: Um valor mais afastado do centro implica um maior risco ou condições monetárias e fi nanceiras mais restritivas. Devido à indisponibilidade de dados de contas nacionais, os indicadores que utilizam esta informação não foram incluídos em setembro de 2011 (tendo-se assumido que se mantinham inalterados face a junho de 2011).

Page 11: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

9

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

a médio prazo para uma estrutura de fi nanciamento dos bancos e da economia portuguesa mais

sustentável e menos sensível a alterações na perceção de riscos por parte dos investidores internacionais.

Num cenário de perspetivas de forte contração da procura interna e do rendimento permanente,

é expectável um abrandamento da procura de crédito, sobretudo por parte dos particulares, assim

como um forte movimento de reafetação do crédito entre empresas e setores de atividade. Adicional-

mente, a adversidade atual e futura do enquadramento económico conduz a um aumento do risco

do tomador de crédito e a um maior rigor e, por consequência, maior seletividade na aprovação de

empréstimos. O princípio essencial é o de promover um processo gradual e ordenado de desalavan-

cagem do sistema bancário que não comprometa, antes redirecione, o fi nanciamento para os setores

e empresas mais competitivos da economia. Nesse sentido, as estratégias de desalavancagem dos

bancos devem privilegiar a venda de ativos não estratégicos, o aumento do recurso a fi nanciamento

estável e o reforço do capital.

O processo de ajustamento dos bancos portugueses está a ser acompanhado e monitorizado regu-

larmente pelo Banco de Portugal, no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira,

tendo em vista conciliar a desalavancagem ordenada e gradual com o fi nanciamento da economia.

Nomeadamente, os oito maiores grupos bancários portugueses têm vindo a submeter trimestral-

mente ao Banco de Portugal os respetivos planos de fi nanciamento e de capital para um horizonte

de médio prazo (ver “Caixa 1.2 Ajustamento estrutural do rácio entre crédito e depósitos nos planos

de fi nanciamento e de capital dos oito maiores grupos bancários portugueses”, deste Relatório).

Estes planos têm subjacente um conjunto de princípios e restrições, incluindo a convergência para

um rácio entre crédito e depósitos de 120 por cento no fi nal de 2014. A informação fornecida pelos

bancos aponta para que uma parte do ajustamento continue a apoiar-se numa redução da carteira

de crédito. Esta redução poderá ser obtida por diversas vias e afetar de forma diferenciada o fi nan-

ciamento da economia portuguesa. Uma das possibilidades consiste na venda de créditos, o que

não implica restrições ao fi nanciamento da economia portuguesa. Em termos prospetivos, os bancos

planeiam sobretudo operações adicionais de venda de créditos a não residentes, que podem assumir

também a forma de redução de atividade nalguns mercados. Uma outra possibilidade está associada

à redução da concessão de novos empréstimos. Em articulação com a amortização programada dos

créditos já existentes, tal implica uma redução mais gradual da carteira de crédito dos bancos. Neste

contexto, e de acordo com os planos apresentados pelos bancos, tal tenderá a ser particularmente

relevante no caso dos créditos a particulares para aquisição de habitação, num contexto de expec-

tável abrandamento signifi cativo da procura. Por seu turno, a concessão de crédito a empresas não

fi nanceiras privadas deverá registar diminuições pouco expressivas, acompanhadas por uma redução

signifi cativa da exposição a administrações e empresas públicas. Adicionalmente, de acordo com os

planos de fi nanciamento e de capital, os depósitos deverão continuar a evidenciar uma evolução

positiva ao longo do respetivo horizonte de projeção, refl etindo dinâmicas de recomposição da

carteira de ativos fi nanceiros dos particulares e perspetivas de recuperação da economia no fi nal do

horizonte do programa.

No decurso de 2011, os bancos portugueses prosseguiram o esforço de ajustamento do balanço

iniciado no ano anterior, conseguindo estabilizar o seu fi nanciamento junto do Eurosistema, embora

em níveis absolutos e relativos ainda elevados, o que contrasta com a evolução observada para o

conjunto dos bancos da área do euro, onde se observou o aumento do recurso a essa forma de

fi nanciamento. Refi ra-se que tal ocorreu num contexto de agravamento e generalização das tensões

nos mercados de dívida, de manutenção de fortes restrições quantitativas no acesso a fi nanciamento

nos mercados de dívida por grosso e de queda nos depósitos de não residentes.

A carteira de crédito a clientes em base consolidada registou uma variação negativa no primeiro

semestre de 2011, refl etindo um volume signifi cativo de vendas de créditos. Estas operações foram

constituídas, essencialmente, por vendas da carteira doméstica de crédito a empresas (essencialmente

Page 12: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

10

I

vendas de papel comercial) e da carteira de crédito das fi liais e sucursais estrangeiras. Descontando

o efeito destas vendas de ativos, que não afetam o fi nanciamento da economia portuguesa, ter-se-

-ia observado uma relativa estabilização do stock de crédito. Em termos setoriais, observou-se uma

redução gradual dos empréstimos concedidos ao setor privado não fi nanceiro residente, em especial

dos empréstimos concedidos a particulares, e, paralelamente, um aumento do fi nanciamento do

setor público (incluindo empresas públicas). Importa realçar que a evolução dos agregados de crédito

é consistente com o expectável no atual enquadramento económico recessivo, ou seja, a evidência

disponível aponta para a ausência de restrições excessivas ou abruptas na oferta de crédito (fenómeno

geralmente descrito como credit crunch).

O processo de ajustamento em curso do sistema bancário português tem benefi ciado também da

evolução positiva dos depósitos de clientes residentes, com destaque para os particulares. De facto,

os bancos portugueses têm efetuado esforços signifi cativos na captação de recursos de clientes,

designadamente através do aumento da sua remuneração relativa, procurando também integrar no

balanço recursos de clientes que se encontram fora do perímetro de consolidação bancário, como

os montantes aplicados em fundos de investimento ou em instrumentos de poupança geridos pelas

companhias de seguro dos respetivos grupos fi nanceiros. Dado que esta evolução tem subjacente,

em parte, ajustamentos da carteira dos particulares, refl etidos numa diminuição das aplicações na

generalidade dos restantes instrumentos de poupança, num contexto de crescente aversão ao risco, é

expectável que venha a observar-se um abrandamento no atual ritmo de crescimento destes depósitos.

No decurso de 2011 assistiu-se apenas a uma ligeira diminuição da margem total em operações com

clientes, apesar do esforço acrescido de captação de depósitos de clientes por parte dos bancos. No

período mais recente, as taxas de juro dos depósitos aumentaram para valores signifi cativamente

superiores às taxas de juro do mercado interbancário, o que justifi cou uma intervenção prudencial

do Banco de Portugal no sentido de mitigar os riscos para a estabilidade fi nanceira de estratégias

excessivamente agressivas de captação de depósitos2. Apesar do impacto negativo sobre a margem

fi nanceira do aumento da remuneração dos recursos de clientes, a aplicação de spreads mais elevados

na generalidade dos novos empréstimos concedidos compensou virtualmente este efeito, observando-

-se uma estagnação do diferencial entre as taxas de juro implícitas no crédito e nos depósitos, bem

como uma estabilização da margem fi nanceira avaliada em percentagem do ativo médio.

A médio prazo, no contexto do processo gradual de desalavancagem do setor bancário, a redução

gradual do recurso ao Eurosistema e a redução do rácio entre crédito e depósitos deverão condicionar

negativamente a evolução da margem fi nanceira, a principal componente do produto bancário. Em

contrapartida, a substituição de fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso por

depósitos e a adoção de uma política de concessão de crédito mais seletiva por parte dos bancos

tenderão a ter efeitos positivos sobre a margem fi nanceira, em linha com o observado recentemente.

Apesar da relativa estabilização da margem fi nanceira, os indicadores de rendibilidade dos bancos

portugueses foram signifi cativamente afetados pelo atual enquadramento económico e fi nanceiro,

encontrando-se em mínimos históricos (conforme ilustrado no Gráfi co 1.2). No decurso de 2011, a

rendibilidade foi particularmente afetada pela diminuição dos resultados em operações fi nanceiras

(refl etindo perdas registadas em operações de venda de ativos e desvalorizações de títulos) e pelo

aumento das provisões e imparidades associadas ao crédito, num contexto de forte materialização

do risco de crédito (Gráfi co 1.2). A tendência de aumento da materialização do risco de crédito é

transversal aos vários segmentos de mercado, assumindo, contudo, níveis e ritmos mais acentuados

nos empréstimos a particulares para consumo e outros fi ns e nos empréstimos a sociedades não

2 Em termos concretos, foram defi nidas novas exigências de fundos próprios para depósitos contratados com taxas de remuneração elevadas, isto é, superiores em 300 pontos base à taxa de referência do mercado inter-bancário para o prazo correspondente. Para mais detalhes ver a Instrução n.º 28/2011 do Banco de Portugal.

Page 13: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

11

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

fi nanceiras. No crédito à habitação, os indicadores de incumprimento situam-se em níveis historica-

mente elevados, mas substancialmente inferiores aos registados nos outros segmentos. O novo rácio

de crédito em risco situava-se, em setembro de 2011, em cerca de 6.8 por cento do crédito total

concedido pelo sistema bancário, o que compara com um valor de 5.1 por cento no fi nal de 2010

(ver “Caixa 4.2 Novo rácio de crédito em risco”, deste Relatório)3.

Apesar da forte deterioração do enquadramento macroeconómico doméstico condicionar negativa-

mente a evolução da atividade e, sobretudo, da rendibilidade do sistema bancário português, a ativi-

dade internacional dos bancos deverá continuar a exercer um efeito em sentido oposto. No primeiro

semestre de 2011, a atividade internacional representou mais de metade dos resultados do sistema

bancário. No médio prazo, as perspetivas favoráveis para a atividade económica de países onde os

grupos bancários portugueses detêm posições importantes (Angola, Brasil, Moçambique) deverão

continuar a suportar o crescimento da atividade internacional e, consequentemente, o aumento do

seu peso nos resultados do sistema bancário português. Ainda assim, a tendência de concentração da

atividade internacional em torno de um número cada vez mais reduzido de mercados considerados

estratégicos adiciona alguma incerteza à evolução futura deste agregado.

A evolução recente da situação fi nanceira dos particulares e das sociedades não fi nanceiras dá indí-

cios claros de que está em curso o inadiável processo de redução do endividamento, tendo em vista

alcançar um nível sustentável. No caso dos particulares, os níveis do consumo e da taxa de poupança

3 A Instrução n.º 23/2011 do Banco de Portugal alarga o conjunto de indicadores de qualidade de crédito que as instituições devem reportar sempre que divulgam informação quantitativa sobre este assunto. O novo conceito de crédito em risco é mais abrangente do que o de crédito com incumprimento, incorporando, nomeadamente, a possibilidade dos devedores com prestações em atraso continuarem a não cumprir as suas responsabilidades de crédito, estando mais em linha com as práticas internacionais neste domínio. A divulgação destes novos indicadores cumpre um dos requisitos do Programa de Assistência Económica e Financeira.

Gráfi co 1.2

EVOLUÇÃO GLOBAL DOS RISCOS NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

1. Solvabilidade

2. Rendibilidade

3. Risco de mercado4. Risco de liquidez

5. Risco de crédito

Dez-07 Jun-10 Dez-10 Jun-11

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Um valor mais afastado do centro implica um maior risco.

Page 14: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

12

I

deverão ajustar-se a um nível de rendimento permanente mais baixo. Por seu turno, as sociedades

não fi nanceiras, sobretudo as que evidenciam um elevado nível de endividamento e baixo grau de

efi ciência, terão de proceder a ajustamentos estruturais, de forma a atingirem uma estrutura de

fi nanciamento mais equilibrada e menos sensível a choques negativos, bem como para potenciarem

a sua competitividade. É de salientar, em especial, a importância da re-estruturação das empresas

públicas dada a sua elevada dimensão e grau de endividamento (ver “Caixa 3.1 A rendibilidade das

empresas não fi nanceiras – evolução recente com base nos dados da Central de Balanços”, deste

Relatório). De facto, a evolução mais recente dos rácios de endividamento sugere que, ao contrário

do observado para as empresas privadas, as empresas públicas ainda não terão iniciado o necessário

processo de desalavancagem. Este pressupõe a re-estruturação do setor, que não só facilitará o processo

de desalavancagem ordenada do sistema bancário, como benefi ciará a competitividade da economia.

Refi ra-se que existem alguns fatores que poderão mitigar o impacto do enquadramento macroeco-

nómico desfavorável sobre a situação fi nanceira do setor privado não fi nanceiro. Em primeiro lugar,

é de esperar que, num contexto de enfraquecimento da situação macroeconómica na área do euro,

as taxas de juro do mercado monetário mantenham uma tendência de ligeira redução. Adicional-

mente, importa recordar que o processo de desalavancagem defi nido no Programa de Assistência

Económica e Financeira deverá ocorrer de forma gradual e ordenada, sem condicionar de forma

excessiva o fi nanciamento da economia, em especial das empresas mais produtivas e com melhores

perspetivas de crescimento. Complementarmente, o Código de Insolvência encontra-se em revisão,

o que deverá permitir que se identifi quem mais rapidamente empresas viáveis que possam ser alvo

de planos de re-estruturação de dívida.

Os rácios de solvabilidade dos bancos portugueses continuaram a evidenciar uma evolução positiva,

apesar do enquadramento macroeconómico e fi nanceiro adverso e do processo de ajustamento da

economia portuguesa, convergindo para os novos mínimos regulamentares defi nidos pelo Banco

de Portugal, no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira. De facto, estes fatores

exerceram pressão sobre os rácios de adequação de fundos próprios dos bancos portugueses, em

particular por via da redução da rendibilidade, refl etindo imparidades decorrentes da materialização

do risco de crédito, bem como perdas na carteira de ativos fi nanceiros. Perante condições de mercado

desfavoráveis à realização de aumentos de capital, e na sequência de uma recomendação efetuada

pelo Banco de Portugal no início do ano, os principais bancos portugueses adotaram uma política

de distribuição de dividendos bastante moderada, o que permitiu o reforço dos capitais próprios,

por via da incorporação dos resultados retidos. Para além disso, alguns bancos reforçaram os seus

fundos próprios através de operações de troca de dívida subordinada por capital e de recompra de

obrigações próprias.

No período mais recente, a intensifi cação e generalização das tensões nos mercados fi nanceiros inter-

nacionais originaram pressões adicionais sobre os rácios de capital dos bancos (“Caixa 4.1 Situação

fi nanceira dos seis maiores grupos bancários do sistema bancário português no terceiro trimestre

de 2011“, deste Relatório). Neste contexto, as autoridades europeias tomaram algumas medidas

para reforçar o capital do sistema bancário europeu, com o intuito de recuperar a confi ança dos

participantes nos mercados na capacidade dos bancos para absorver choques negativos, incluindo os

associados à re-estruturação da dívida pública grega e a diminuições no valor de mercado de títulos

de dívida de outros emitentes soberanos, conforme discutido na “Caixa 4.3 Novas exigências de

adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012”, deste Relatório4. Estas

medidas irão implicar um reforço do capital de alguns bancos portugueses. Adicionalmente, a even-

4 Em meados do ano também foi implementado, sob orientação da Autoridade Bancária Europeia, um exercício de stress test na União Europeia. No âmbito deste exercício, os bancos portugueses mostraram capacidade para absorver os choques negativos previstos no cenário adverso (ver “Caixa 2.1 O exercício de stress test na União Europeia em 2011: principais resultados dos bancos portugueses”, deste Relatório).

Page 15: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

13

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

tual transferência parcial dos fundos de pensões dos bancos portugueses para a Segurança Social

poderá resultar em necessidades de capitalização acrescidas. Por último, os resultados das inspeções

on-site à qualidade dos ativos dos bancos poderão eventualmente implicar o registo de imparidades

adicionais com impacto no capital regulamentar.

Em síntese, apesar do reforço dos rácios de solvabilidade dos bancos portugueses ao longo dos

últimos anos, em particular desde o fi nal de 2008, a perspetiva de materialização acrescida de riscos

no futuro próximo é consentânea com uma necessidade de reforço adicional dos capitais dos bancos

portugueses, de forma a assegurar a estabilidade do sistema fi nanceiro, dado que estes enfrentam

um conjunto de riscos e desafi os sem precedentes. Conforme ilustrado no Gráfi co 1.2, os riscos para

o sistema bancário assumem uma magnitude historicamente elevada no que se refere à rendibilidade,

que se situa em valores mínimos. Por seu turno, os indicadores de risco de crédito e de mercado

situam-se em níveis historicamente elevados, tendo-se assistido a uma progressiva deterioração ao

longo dos últimos trimestres. Adicionalmente, o risco de liquidez apresenta níveis elevados desde

meados de 2007.

Os bancos começaram a implementar os planos de desalavancagem, o que deverá conduzir a uma

situação mais sustentável do fi nanciamento da economia portuguesa no médio prazo. É essencial,

contudo, que este processo assuma uma natureza gradual, para permitir a progressiva convergência

para um novo equilíbrio de longo prazo. Refi ra-se que este processo se enquadra numa tendência

a nível europeu, num contexto de necessidades generalizadas de reforço de capital e dos rácios de

liquidez, sendo este processo consistente com a convergência para o cumprimento de requisitos

regulamentares mais exigentes a curto e médio prazo. Dada a posição de partida globalmente

sólida do sistema bancário português, a implementação destas medidas deverá contribuir a prazo

para a recuperação da confi ança dos investidores internacionais nos bancos portugueses e para um

regresso gradual ao fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso. Em paralelo,

a prossecução dos esforços de consolidação orçamental é determinante para assegurar a sustenta-

bilidade das fi nanças públicas, sendo essencial também para assegurar a estabilidade fi nanceira em

Portugal. Não obstante, estes esforços têm necessariamente de ser complementados com medidas

que permitam ultrapassar algumas debilidades estruturais da economia portuguesa, promovendo a

sua competitividade e o seu crescimento potencial.

Este Relatório foi elaborado com informação disponível até meados de novembro de 2011 (quadros

e gráfi cos com informação até 4 de novembro).

Page 16: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

14

I

PRINCIPAIS INDICADORES | EM PERCENTAGEM, VALORES EM FINAL DE PERÍODO

2005 2006 2007 2008 2009 2010 Jun. 2011*

Indicadores macroeconómicos e fi nanceiros

Preço do petróleo (Tvh USD brent) 46.0 1.2 58.9 -60.4 108.9 19.4 49.2

Taxas de juro de referência da política monetária

EUA 4.25 5.25 4.25 0.25 0.25 0.25 0.25

Área do euro 2.25 3.50 4.00 2.50 1.00 1.00 1.25

Euribor 3 meses 2.5 3.7 4.7 2.9 0.7 1.0 1.5

Yield das obrigações do Tesouro 10 anos

EUA 4.4 4.7 4.0 2.3 3.8 3.3 3.2

Área do euro 3.3 3.9 4.3 2.9 3.4 2.9 3.0

Portugal 3.4 4.1 4.5 4.0 4.1 6.7 11.0

Mercados acionistas (tvh)

S&P 500 3.0 13.6 3.5 -38.5 23.5 12.8 28.1

Dow Jones Euro Stoxx 23.0 20.3 4.9 -46.3 23.4 -0.1 13.4

PSI Geral 17.2 33.3 18.3 -49.7 40.0 -6.2 9.9

PSI Serviços Financeiros 24.4 34.8 4.9 -62.9 14.7 -29.9 -20.8

Situação fi nanceira do setor privado não fi nanceiro

Particulares

Endividamento (dívida fi nanceira)(a)

Em percentagem do PIB 82 87 89 92 96 95 93

Em percentagem do rendimento disponível 115 123 127 128 130 129 126

Empréstimos concedidos por instituições fi nanceiras residentes(b)

Taxa de variação anual 10.7 9.4 8.2 4.5 1.9 2.2 -1.6

dos quais:

Para aquisição de habitação 11.1 9.9 8.5 4.2 2.6 2.5 -0.4

Para consumo e outros fi ns 9.4 7.7 7.5 5.5 -0.6 1.3 -6.7

Capacidade (+) / Necessidade (-) de fi nanciamento(c)

Em percentagem do PIB 2.9 1.5 1.0 2.1 4.8 4.2 2.8

Em percentagem do rendimento disponível 4.0 2.1 1.5 2.9 6.5 5.7 3.8

Poupança corrente(c)

Em percentagem do PIB 7.2 5.7 4.9 5.1 8.0 7.3 6.0

Em percentagem do rendimento disponível(d) 10.0 8.0 7.0 7.1 10.9 9.8 8.1

Investimento em ativos reais(c)

Em percentagem do PIB 5.9 4.6 4.1 4.1 3.5 3.4 3.4

Sociedades não fi nanceiras

Dívida total(e)

Em percentagem do PIB 116 115 122 131 138 137 138

Taxa de variação anual 6.1 7.2 12.7 10.5 3.7 1.9 0.8

Dívida fi nanceira(f)

Em percentagem do PIB 108 106 114 124 130 129 130

Empréstimos concedidos por instituições fi nanceiras residentes(b)

Taxa de variação anual 4.6 5.9 13.1 10.7 2.8 0.8 -0.1

Capacidade (+) / Necessidade (-) de fi nanciamento(c)

Em percentagem do PIB -6.2 -7.2 -8.3 -11.4 -6.9 -5.1 -6.8

Poupança corrente(c)

Em percentagem do PIB 6.4 6.0 5.8 3.4 4.9 5.9 3.3

Investimento em ativos reais(c)

Em percentagem do PIB 13.9 14.1 15.0 15.9 12.6 11.2 11.3

Notas: tvh - taxa de variação homóloga; n.d.- não disponível. * No caso de variáveis de fl uxo, consideram-se os valores relativos ao primeiro semestre de 2011. (a) A dívida fi nanceira corresponde à soma de empréstimos obtidos e títulos de dívida emitidos pelo setor. (b) Empréstimos concedidos por Instituições Financeiras Monetárias e Outros Intermediários Financeiros. Os valores referentes a dezembro de 2010 foram ajustados relativamente à venda de uma carteira de créditos por parte do BPN à Parvalorem. (c) Os rácios de capacidade/necessidade de fi nanciamento, poupança e investimento em percentagem do PIB até 2008 (inclusivé) são calculados utilizando dados das Contas Nacionais Anuais; os rácios de 2009 em diante baseiam-se nas Contas Nacionais Trimestrais do INE por setor institucional. O investimento inclui a formação bruta de capital e as aquisições menos cessões de ativos não fi nanceiros não produzidos (essencialmente, terrenos). (d) Rendimento disponível ajustado pela variação da participação líquida das famílias nos fundos de pensões. (e) Inclui empréstimos concedidos a sociedades não fi nanceiras por outros setores institucionais; papel comercial e obrigações emitidas por sociedades não fi nanceiras na posse de outros setores e créditos comerciais recebidos de outros setores. (f) Igual à dívida total excluindo créditos comerciais recebidos de outros setores.

CONTINUA

Page 17: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

15

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

PRINCIPAIS INDICADORES | EM PERCENTAGEM, VALORES EM FINAL DE PERÍODO

2005 2006 2007 2007** 2008** 2009** 2010** Jun. 2011*, **

Atividade e rendibilidade

Taxa de variação anual do ativo total 12.3 10.5 11.7 - 7.5 7.1 4.1 -1.5

ROE - Rendibilidade dos capitais próprios(g) 19.4 20.6 18.0 17.7 5.6 7.6 7.8 4.2

ROE - Rendibilidade dos capitais próprios - ajustada(g),(h) 18.8 10.1 8.8 7.7 4.5

ROA - Rendibilidade do ativo(g) 1.03 1.30 1.18 1.15 0.34 0.45 0.48 0.26

ROA - Rendibilidade do ativo - ajustada(g),(h) 1.18 0.62 0.58 0.51 0.29

Margem fi nanceira (perc. ativo total médio) 1.86 1.89 1.88 1.95 1.92 1.62 1.49 1.52

Comissões líquidas (perc. ativo total médio) 0.77 0.78 0.76 0.77 0.73 0.70 0.72 0.72

Rácio entre custos operacionais e produto da atividade 58.3 53.4 53.7 54.5 55.6 56.8 57.6 58.3

Exposição internacional (para o conjunto dos bancos domésticos)

Peso dos ativos externos no ativo total(i) 27.6 30.0 26.8 27.1 28.9 29.3 27.8 25.4

dos quais:

Ativos locais em moeda local 6.4 6.7 8.0 7.9 8.2 8.4 8.6 8.2

Ativos internacionais, por setor de contrapartida:

Setor bancário 12.7 14.0 8.2 8.2 6.3 5.4 4.0 3.2

Setor não bancário 8.5 9.3 10.7 10.9 14.4 15.5 15.2 14.0

Solvabilidade(j)

Rácio de adequação global de fundos próprios 11.3 10.9 10.0 10.4 9.4 10.5 10.3 10.1

Rácio de adequação global de fundos próprios - ajustado(l) - - - - 10.4 11.6 11.1 11.0

Rácio de adequação de fundos próprios de base 7.1 7.7 6.5 7.0 6.6 7.8 8.3 8.5

Rácio de adequação de fundos próprios de base - ajustado(l) - - - - 7.5 8.9 9.1 9.3

Rácio Core Tier 1 - - - - - 6.9 7.4 7.9

Rácio Core Tier 1 - ajustado(l) - - - - - 7.9 8.1 8.6

Risco de mercadoTaxa de cobertura dos fundos de pensões dos empregados bancários(em percentagem dos fundos próprios) 1.2 5.3 5.1 4.5 1.2 3.9 2.7 n.d.

Risco de liquidezRácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes 143.5 152.1 161.4 160.1 160.3 161.5 157.8 149.7

Gap de liquidez(m)

até 3 meses -0.9 -1.5 -2.5 -1.5 -1.9

até 3 meses - Instrução nº 13/2009 -7.6 -2.9 -3.9 -3.4

até 1 ano -8.2 -8.9 -11.4 -9.9 -7.0

até 1 ano - Instrução nº 13/2009 -15.0 -12.4 -11.5 -11.9

Para o conjunto dos bancos domésticosRácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes 134.8 142.6 152.7 147.1 145.7 147.9 143.2 136.1

Gap de liquidez(m)

até 3 meses -0.7 -0.9 -2.1 -1.4 -2.6

até 3 meses - Instrução nº 13/2009 -6.1 -3.0 -2.2 -2.0

até 1 ano -7.4 -8.9 -10.1 -9.0 -7.5

até 1 ano - Instrução nº 13/2009 -12.9 -12.0 -9.1 -10.6

Risco de créditoEmpréstimos concedidos por instituições fi nanceiras residentes ao setor privado não fi nanceiro(b)

Taxa de variação anual 8.0 7.8 10.3 10.3 7.2 2.3 1.6 -0.4

Incumprimento no crédito a particulares(n)

Em percentagem do crédito a particulares 1.7 1.5 1.6 1.6 1.9 2.4 2.7 3.0

Incumprimento no crédito a sociedades não fi nanceiras(n)

Em percentagem do crédito a sociedades não fi nanceiras 1.7 1.5 1.4 1.4 2.2 3.9 4.7 5.5

Fluxo anual de novos créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa(o)

Em percentagem dos empréstimos bancários ajustados de operações de titularização

Particulares 0.2 0.3 0.4 0.4 0.7 0.6 0.5 0.5

Ajustado de vendas para fora do sistema bancário 0.3 0.4 0.4 0.4 0.7 0.6 0.5 0.5

Sociedades não fi nanceiras 0.6 0.4 0.6 0.6 1.2 1.9 1.3 1.6

Ajustado de vendas para fora do sistema bancário 0.6 0.5 0.6 0.6 1.3 2.1 1.6 1.8

CONTINUA

Page 18: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

16

I

PRINCIPAIS INDICADORES | EM PERCENTAGEM, VALORES EM FINAL DE PERÍODO

2005 2006 2007 2007** 2008** 2009** 2010** Jun. 2011*, **

Rácio de crédito em risco(p),(q) 3.5 4.8 5.1 6.1

Setor privado residente não fi nanceiro, do qual 4.0 5.3 5.5 6.6

Particulares residentes, do qual 4.8 5.4 5.3 5.9

Habitação 4.4 4.6 4.3 4.7

Consumo e outros fi ns 6.8 9.2 10.1 11.5

Sociedades não fi nanceiras 3.2 5.1 5.8 7.4

Administrações públicas residentes 1.0 0.6 0.8 0.8

Não residentes 1.9 3.6 4.3 5.6

Rácio de crédito com incumprimento(p),(r) 1.9 3.0 3.4 4.0

Setor privado residente não fi nanceiro, do qual 2.2 3.3 3.8 4.3

Particulares residentes, do qual 2.2 2.9 3.4 3.6

Habitação 1.7 2.2 2.5 2.6

Consumo e outros fi ns 4.4 6.4 7.8 8.9

Sociedades não fi nanceiras 2.1 3.6 4.2 5.2

Administrações públicas residentes 0.9 0.5 0.7 1.1

Não residentes 1.2 2.1 2.6 3.2

Provisões/Imparidades acumuladas para crédito

Em percentagem do crédito(p) 2.3 2.8 3.1 3.5

Setor privado residente não fi nanceiro, do qual 2.4 2.9 3.3 3.7

Particulares residentes, do qual 2.0 2.2 2.5 2.6

Habitação 1.4 1.4 1.5 1.5

Consumo e outros fi ns 4.5 5.9 7.5 8.2

Sociedades não fi nanceiras 2.9 3.6 4.0 4.9

Administrações públicas residentes 0.1 0.1 0.2 0.2

Não residentes 1.8 2.8 3.0 3.4

Em percentagem do crédito em risco(p),(q) 63.9 59.0 60.7 57.3

Setor privado residente não fi nanceiro, do qual 60.4 55.6 58.9 57.0

Particulares residentes, do qual 40.8 40.7 46.9 44.7

Habitação 32.4 31.0 33.8 31.2

Consumo e outros fi ns 66.7 64.1 74.7 71.9

Sociedades não fi nanceiras 90.0 71.0 69.5 67.3

Administrações públicas residentes 11.9 18.0 27.8 28.0

Não residentes 94.9 78.4 69.6 59.9

Em percentagem do crédito com incumprimento(p),(r) 116.5 95.9 91.1 88.4

Setor privado residente não fi nanceiro, do qual 112.1 89.1 86.3 85.9

Particulares residentes, do qual 89.5 75.4 74.2 71.8

Habitação 81.7 65.1 59.6 57.0

Consumo e outros fi ns 102.9 91.6 96.1 92.5

Sociedades não fi nanceiras 138.8 101.4 96.9 95.8

Administrações públicas residentes 12.3 24.1 32.7 19.7

Não residentes 152.1 134.2 116.0 105.1

Fontes: Bloomberg, INE, Thomson Reuters e Banco de Portugal.

Notas: * No caso de variáveis de fl uxo, consideram-se os valores relativos ao primeiro semestre de 2011. ** Quebra de série relacionada com um alargamento do conjunto de instituições em análise. Esta quebra de série não se aplica aos indicadores baseados nas Estatísticas Monetárias e Financeiras, que dizem respeito às instituições bancárias residentes. (g) Para efeitos do cálculo das rendibilidades do ativo e dos capitais próprios foram considerados os resultados antes de impostos e de interesses minoritários, utilizando valores médios de período para as variáveis de stock. (h) Os indicadores de rendibilidade ajustados em 2006 obtêm-se após dedução aos resultados do impacto da operação de re-estruturação de participações em empresas (nomeadamente na área seguradora) que ocorreu num dos principais grupos bancários considerados. Por sua vez, os indicadores ajustados de 2008 a 2011 são obtidos após a exclusão dos bancos BPN e BPP do agregado de instituições em análise. (i) Os valores comparáveis de 2004 a 2007 têm subjacente estimativas do valor do ativo total. (j) A partir de 2008, todas as instituições em análise determinaram o rácio de adequação de fundos próprios de acordo com a regulamentação de Basileia II, o que se refl etiu essencialmente no cálculo dos requisitos de capital. (l) Os indicadores calculados são obtidos após exclusão do BPN e do BPP a partir de 2008. (m) Até 2008, o cálculo deste indicador tem por base a Instrução n.º 1/2000 e desde então a Instrução n.º13/2009, às quais estão sujeitas apenas as instituições fi nanceiras que captam depósitos. (n) Empréstimos vencidos há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa em percentagem do saldo dos emprés-timos ajustado de titularização. Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das Administrações Públicas. (o) Variação do saldo de crédito vencido há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa no balanço das instituições fi nanceiras monetárias residentes ajustada dos abatimentos ao ativo e corrigida de reclassifi cações, calculada em percentagem dos empréstimos corrigidos de titularização. As vendas para fora do sistema bancário incluídas no fl uxo ajustado correspondem a créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, conforme reporte trimestral defi nido pela Instrução nº 17/2008. Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das Administrações Públicas. (p) Valores de crédito reportados em base consolidada pelo agregado do sistema bancário português, excluindo as sucursais em Portugal de instituições de crédito com sede em países pertencentes à União Europeia. Exclui igualmente o banco BPN por forma a evitar a distorção decorrente da venda de uma carteira de crédito à Parvalorem em dezembro de 2010. Inclui o crédito concedido a residentes e a não residentes, bem como os créditos concedidos pelas fi liais estrangeiras dos bancos portugueses. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. (q) O crédito em risco, defi nido de acordo com a Instrução do Banco de Portugal nº22/2011, inclui o valor total em dívida: do crédito que tenha prestações de capital ou juros vencidos há mais de 90 dias; dos créditos reestruturados, cujos pagamentos de capital ou juros, tendo estado vencidos por um período igual ou superior a 90 dias, tenham sido capitalizados, refi nanciados ou postecipada a sua data de pagamento, sem que tenham sido adequadamente reforçadas as garantias constituídas ou integralmente pagos pelo devedor os juros e outros encargos vencidos; e do crédito com prestações de capital ou juros vencidos há menos de 90 dias, mas sobre o qual existam evidências que justifi quem a sua classifi cação com crédito em risco. (r) O crédito com incumprimento compreende o crédito e juros vencidos há mais de 90 dias e outros créditos de cobrança duvidosa, que respeita às prestações futuras de um crédito quando houver dúvidas relativamente à sua cobrança, tal como se encontra estabelecido no Aviso do Banco de Portugal nº3/95.

CONTINUAÇÃO

Page 19: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

CAIXA 1.1 | MAPA DE ESTABILIDADE FINANCEIRA

A análise de riscos para a estabilidade fi nanceira engloba um conjunto multifacetado de vertentes,

exigindo a avaliação de um vasto conjunto de indicadores e instrumentos de análise. Desde a sua primeira

edição, o Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal inclui no “Capítulo 1 Apreciação

global” um quadro que sumaria a evolução recente dos principais indicadores económicos e fi nanceiros

utilizados na análise dos riscos para a estabilidade fi nanceira em Portugal.

Na presente edição do Relatório de Estabilidade Financeira introduz-se um novo mapa de estabilidade

fi nanceira que pretende apresentar de forma gráfi ca alguns destes indicadores, possibilitando a apre-

sentação das principais dimensões dos riscos sobre a estabilidade fi nanceira de forma esquemática. Este

mapa permite ter uma perspetiva global sobre a evolução de cada dimensão de risco. Os valores do

mapa são defi nidos com base na posição relativa das variáveis face a referenciais históricos, ou seja, não

correspondem necessariamente a uma comparação com níveis de equilíbrio de longo prazo. Ao longo

dos últimos anos vários bancos centrais têm vindo a incorporar indicadores semelhantes nos seus rela-

tórios de estabilidade fi nanceira, destacando-se o mapa publicado pelo Fundo Monetário Internacional

(FMI) no Global Financial Stability Report1.

Nesta caixa, são apresentados dois mapas distintos. O primeiro encontra-se mais focado nos riscos

associados ao enquadramento macroeconómico e fi nanceiro e às contrapartes do sistema bancário

português, nomeadamente particulares e empresas não fi nanceiras (Gráfi co 1). Este primeiro mapa

sumaria os principais indicadores subjacentes à análise efetuada no “Capítulo 2 Riscos macroeconómicos

e fi nanceiros” e no “Capítulo 3 Situação fi nanceira dos particulares e sociedades não fi nanceiras” do

Relatório de Estabilidade Financeira. Por seu turno, o segundo mapa encontra-se mais focado nos riscos

associados ao sistema bancário analisados no “Capítulo 4 Sistema bancário”, englobando indicadores

relacionados com solvabilidade, rendibilidade, risco de mercado, risco de liquidez e risco de crédito,

refl etindo não só a exposição dos bancos a estas dimensões de risco, mas também a vulnerabilidade a

choques macroeconómicos e fi nanceiros exógenos (Gráfi co 2).

Metodologia

Os mapas têm como referência a metodologia utilizada pelo FMI. Em primeiro lugar foram compilados

dados trimestrais para as variáveis referidas nos quadros 1 e 2. Os indicadores utilizados para o cálculo

do mapa têm por base os indicadores habitualmente publicados no quadro “Principais indicadores”

do Capítulo 1 do Relatório de Estabilidade Financeira, sendo complementados por outros indicadores

potencialmente relevantes. Contudo, o conjunto de indicadores utilizados não deve ser considerado de

forma estática, uma vez que a natureza dinâmica dos riscos deverá justifi car a revisão regular dos indi-

cadores considerados. Este princípio também orienta a preparação do mapa de estabilidade fi nanceira

do FMI que, para além disso, permite ajustamentos pontuais no mapa de riscos com base numa análise

qualitativa. Para cada série procurou-se obter dados desde o início de 1998 (nos quadros refere-se qual

a primeira observação disponível para cada série). Num segundo passo foram defi nidos cinco intervalos

da distribuição de cada série. Cada observação de cada série foi posteriormente classifi cada de 1 a 5,

tendo em consideração os cinco intervalos defi nidos. Um score mais elevado corresponde a maior risco ou

a condições monetárias e fi nanceiras menos acomodatícias, tendo como referência os valores históricos

de cada série. Para tal, defi niu-se se cada série tem uma correlação positiva ou negativa com o risco em

1 Ver http://www.imf.org/external/pubs/ft/gfsr/2011/01/pdf/text.pdf (pág. 2). A metodologia subjacente a este

indicador é descrita em Dattels, McCaughrin, Miyajima and Puig (2010), “Can you map global fi nancial stabili-

ty?”, IMF, Working Paper 10/145.

17

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

Page 20: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

análise (Quadros 1 e 2). O último passo consiste no cálculo de uma média não ponderada dos scores

atribuídos a cada indicador, obtendo um indicador síntese para cada dimensão de risco (calculando-se

também uma média simples das várias dimensões de risco, para obter um indicador agregado).

Estes mapas permitem representar de forma sucinta a evolução de várias dimensões de riscos para a

estabilidade fi nanceira. Não obstante, é importante referir que este instrumento de análise apresenta

inevitáveis limitações. Em particular, cada dimensão de risco é avaliada face a referenciais da distribuição

Gráfi co 1

EVOLUÇÃO GLOBAL DO ENQUADRAMENTO MACROECONÓMICO E FINANCEIRO DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

1. Particulares

2. Empresas não financeiras

3. Enquadramento macroeconómico

doméstico (riscos)

4. Enquadramento macroeconómico global

(riscos)

5. Mercados financeiros domésticos

6. Mercados financeiros globais

7. Condições monetárias e financeiras

Dez-07 Dez-10 Jun-11 Set-11

Fontes: Barclays Capital, Comissão Europeia, Confi dencial Imobiliário, Eurostat, FMI, iBoxx, INE, Thomson Reuters e Banco de Portugal.

Nota: Um valor mais afastado do centro implica um maior risco ou condições monetárias e fi nanceiras mais restritivas. Devido à indisponi-

bilidade de dados de contas nacionais, os indicadores que utilizam esta informação não foram incluídos em setembro de 2011 (tendo-se

assumido que se mantinham inalterados face a junho de 2011).

Gráfi co 2

EVOLUÇÃO GLOBAL DOS RISCOS NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

1. Solvabilidade

2. Rendibilidade

3. Risco de mercado4. Risco de liquidez

5. Risco de crédito

Dez-07 Jun-10 Dez-10 Jun-11

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Um valor mais afastado do centro implica um maior risco.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

18

I

Page 21: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Qu

adro

1 (

con

tin

ua)

ENQ

UA

DR

AM

ENTO

MA

CR

OEC

ON

ÓM

ICO

E F

INA

NC

EIR

O D

O S

ISTE

MA

BA

NC

ÁR

IO P

OR

TUG

UÊS

| ES

TATÍ

STIC

AS

DES

CR

ITIV

AS

DO

S IN

DIC

AD

OR

ES U

TILI

ZAD

OS

E C

OR

REL

ÃO

CO

M O

RIS

CO

mer

o d

e o

bse

rvaç

ões

Iníc

ioM

édia

Med

ian

aM

ínim

oPe

rcen

til

Máx

imo

Co

rrel

ação

co

m o

ris

co20

4060

80

1. P

arti

cula

res

Ativo

s fi nance

iros

líquid

os

em

% P

IB5

5M

ar-

98

133.4

125.2

118.0

12

3.3

12

4.5

12

5.7

15

0.4

17

5.2

-

Capaci

dade (+

) / N

ece

ssid

ade (-)

de fi n

anci

am

ento

em

% P

IB5

2D

ez-

98

2.3

2.3

-0.2

0.9

2.1

2.5

3.6

4.8

-

Taxa

de juro

sobre

sald

os

de e

mpré

stim

os

a p

art

icula

res

- h

abitaçã

o (%

)3

5M

ar-

03

3.9

3.8

1.9

2.4

3.8

4.1

5.0

5.9

+

BLS

- O

fert

a d

e c

rédito -

habitaçã

o (ín

dic

e d

ifusã

o)

36

Dez-

02

22.8

25.0

-20.0

-10

.00

.03

0.0

60

.07

0.0

+

BLS

- O

fert

a d

e c

rédito -

consu

mo (índic

e d

ifusã

o)

36

Dez-

02

24.4

20.0

-10.0

0.0

20

.03

0.0

40

.07

0.0

+

BLS

- P

rocu

ra -

habitaçã

o (índic

e d

ifusã

o)

36

Dez-

02

-16.7

0.0

-100.0

-60

.0-1

0.0

0.0

20

.03

0.0

-

BLS

- P

rocu

ra -

consu

mo (índic

e d

ifusã

o)

36

Dez-

02

-16.4

0.0

-80.0

-50

.0-2

0.0

0.0

10

.02

0.0

-

Incu

mprim

ento

no c

rédito a

part

icula

res

(%)

55

Mar-

98

2.1

2.0

1.5

1.8

1.9

2.1

2.5

3.1

+

Taxa

de d

ese

mpre

go (%

)5

5M

ar-

98

6.9

7.1

3.7

4.5

6.2

7.5

8.5

12

.4+

Indic

ador

de c

onfi ança

dos

consu

mid

ore

s5

5M

ar-

98

-27.7

-28.7

-54.0

-37

.8-3

1.1

-27

.0-1

5.2

-6.0

-

2. E

mpr

esas

não

fi na

ncei

ras

Ativo

s fi nance

iros

líquid

os

em

% P

IB5

5M

ar-

98

-148.9

-147.0

-163.8

-15

6.9

-15

1.1

-14

5.0

-13

9.8

-13

5.9

-

Capaci

dade (+

) / N

ece

ssid

ade (-)

de fi n

anci

am

ento

em

% P

IB5

2D

ez-

98

-6.8

-6.8

-11.0

-8.2

-7.2

-6.5

-5.5

-3.0

-

BLS

- O

fert

a d

e c

rédito -

SN

F (ín

dic

e d

ifusã

o)

36

Dez-

02

27.2

20.0

-10.0

0.0

10

.03

0.0

60

.08

0.0

+

BLS

- P

rocu

ra -

SN

F (ín

dic

e d

ifusã

o)

36

Dez-

02

-5.8

0.0

-50.0

-10

.0-1

0.0

0.0

0.0

20

.0-

Spre

ad e

mpre

sas

não fi n

ance

iras

PT f

ace

à A

lem

anha (p.b

.)4

8D

ez-

99

180.6

104.2

30.0

63

.68

2.8

13

0.9

24

2.7

99

8.3

+

Taxa

de juro

sobre

sald

os

de e

mpré

stim

os

a s

oci

edades

não fi n

ance

iras

(%)

35

Mar-

03

4.7

4.5

3.3

4.1

4.4

4.7

5.6

6.5

+

Ráci

o p

rice

-to-e

arn

ings

55

Mar-

98

20.8

17.5

9.1

14

.21

6.6

20

.12

8.8

43

.2+

Incu

mprim

ento

no c

rédito a

soci

edades

não fi n

ance

iras

(%)

51

Mar-

99

2.8

2.5

1.4

1.8

2.2

2.5

3.9

6.3

+

Indic

ador

de c

onfi ança

na indúst

ria t

ransf

orm

adora

55

Mar-

98

-7.2

-6.8

-32.0

-12

.3-8

.0-4

.70

.17

.3-

3. E

nqua

dram

ento

mac

roec

onóm

ico

dom

ésti

co (r

isco

s)PIB

(tv

h, %

)5

5M

ar-

98

1.4

1.3

-3.8

-0.5

1.1

1.7

3.1

5.5

-

Cré

dito d

om

ést

ico e

m %

PIB

trim

est

ral

55

Mar-

98

565.7

543.4

312.9

48

7.6

53

7.9

56

7.5

70

6.0

78

1.9

+

Gap c

rédito/P

IB (desv

io f

ace

à t

endênci

a d

e longo p

razo

)5

5M

ar-

98

4.1

2.5

-45.3

-28

.4-4

.99

.73

8.1

65

.9+

Pre

ços

habitaçã

o (tv

h, %

)5

5M

ar-

98

2.9

1.8

-1.8

0.4

1.3

3.0

5.8

9.9

+

Indic

ador

de s

entim

ento

eco

nóm

ico

55

Mar-

98

98.3

98.1

72.2

90

.19

5.5

10

0.8

10

9.4

11

4.7

-

Indic

ador

coin

cidente

da a

tivi

dade

55

Mar-

98

1.4

1.3

-2.7

-0.3

1.0

1.6

3.0

5.0

-

Spre

ad d

ívid

a p

úblic

a p

ort

uguesa

10 a

nos

face

à A

lem

anha (p.b

.)5

5M

ar-

98

87.6

25.7

-1.9

10

.91

9.0

34

.76

7.7

92

8.3

+

Bala

nça

corr

ente

e d

e c

apital em

% P

IB5

5M

ar-

98

-8.2

-8.2

-12.6

-10

.6-9

.2-7

.4-5

.9-1

.2-

Sald

o o

rçam

enta

l em

% P

IB5

5M

ar-

98

-4.8

-4.1

-9.4

-6.3

-4.9

-3.9

-3.2

-2.2

-

Dív

ida p

úblic

a e

m %

PIB

55

Mar-

98

61.8

57.6

48.5

50

.45

4.4

62

.87

1.6

93

.0+

19

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

Page 22: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Qu

adro

1 (

con

tin

uaç

ão)

ENQ

UA

DR

AM

ENTO

MA

CR

OEC

ON

ÓM

ICO

E F

INA

NC

EIR

O D

O S

ISTE

MA

BA

NC

ÁR

IO P

OR

TUG

UÊS

| ES

TATÍ

STIC

AS

DES

CR

ITIV

AS

DO

S IN

DIC

AD

OR

ES U

TILI

ZAD

OS

E C

OR

REL

ÃO

CO

M O

RIS

CO

mer

o d

e o

bse

rvaç

ões

Iníc

ioM

édia

Med

ian

aM

ínim

oPe

rcen

til

Máx

imo

Co

rrel

ação

co

m o

ris

co20

4060

80

4. E

nqua

dram

ento

mac

roec

onóm

ico

glob

al (r

isco

s)PIB

Uniã

o E

uro

peia

(U

E) (t

vh, %

)5

5M

ar-

98

1.8

2.1

-4.8

1.3

1.8

2.3

2.9

4.6

-

PIB

mundia

l (t

vh, %

)5

5M

ar-

98

3.4

3.9

-1.6

2.2

3.4

4.4

4.9

5.0

-

Falê

nci

as

Ale

manha (tv

h, %

)5

1M

ar-

99

1.2

0.3

-22.6

-6.9

-1.3

4.5

8.9

24

.0+

Falê

nci

as

EU

A (tv

h, %

)5

1M

ar-

99

3.4

-3.9

-49.8

-12

.5-5

.8-1

.71

4.2

62

.7+

Indic

ador

de s

entim

ento

eco

nóm

ico U

E5

5M

ar-

98

101.8

103.3

68.5

96

.51

01

.11

04

.41

10

.71

15

.3-

Pro

babili

dade d

e d

efa

ult 5

anos

Euro

pa O

cidenta

l (índic

e)

43

Mar-

01

970.3

868.0

302.0

50

0.6

68

9.6

10

09

.41

38

8.0

25

10

.0+

Spre

ad d

e e

mitente

s so

bera

nos

da á

rea d

o e

uro

face

à A

lem

anha (iB

oxx

, p.b

.)5

1M

ar-

99

27.1

11.7

1.7

7.6

9.2

14

.24

3.6

14

8.8

+

Pre

ço d

o p

etr

óle

o (tv

h U

SD

bre

nt,

%)

55

Mar-

98

21.1

18.2

-60.4

-9.6

9.1

30

.15

3.1

14

4.4

+

5. M

erca

dos

fi na

ncei

ros

dom

ésti

cos

PSI G

era

l (t

vh, %

)5

5M

ar-

98

6.9

9.6

-49.7

-18

.5-2

.21

7.3

29

.81

03

.9-

PSI Serv

iços

Finance

iros

(tvh

, %

)4

3M

ar-

01

-4.8

-5.1

-62.9

-28

.6-1

4.3

8.0

23

.46

0.6

-

Spre

ad d

ívid

a p

úblic

a p

ort

uguesa

10 a

nos

face

à A

lem

anha (p.b

.)5

5M

ar-

98

87.6

25.7

-1.9

10

.91

9.0

34

.76

7.7

92

8.3

+

Ráci

o p

rice

-to-e

arn

ings

55

Mar-

98

20.9

17.4

9.1

14

.41

6.3

20

.12

8.8

45

.9+

Spre

ad e

mpre

sas

não fi n

ance

iras

PT f

ace

à A

lem

anha (p.b

.)4

8D

ez-

99

180.6

104.2

30.0

63

.68

2.8

13

0.9

24

2.7

99

8.3

+

Vola

tilid

ade (desv

io p

adrã

o 6

0 d

ias

PSI G

era

l)5

5M

ar-

98

90.5

71.3

20.9

45

.06

1.7

84

.81

32

.72

75

.4+

6. M

erca

dos

fi na

ncei

ros

glob

ais

S&

P 5

00 (tv

h, %

)5

5M

ar-

98

4.6

8.7

-39.7

-15

.14

.71

1.9

19

.84

6.6

-

Dow

Jones

Euro

Sto

xx (tv

h, %

)5

5M

ar-

98

4.8

10.5

-46.3

-20

.73

.61

4.5

27

.85

0.9

-

VIX

55

Mar-

98

22.6

21.7

11.4

14

.61

9.3

23

.92

7.2

44

.1+

Ráci

o p

rice

-to-e

arn

ings

EU

A55

Mar-

98

24.4

24.9

11.4

18

.12

3.2

25

.23

0.3

39

.1+

Ráci

o p

rice

-to-e

arn

ings

UE

55

Mar-

98

18.9

19.2

7.9

12

.41

7.8

20

.52

4.7

29

.4+

Spre

ad b

anco

s co

m e

mis

sões

em

euro

s fa

ce à

Ale

manha (iB

oxx

, p.b

.)5

1M

ar-

99

113.9

62.4

14.6

35

.65

5.3

69

.61

73

.85

81

.5+

Spre

ad e

mpre

sas

não fi n

. em

issõ

es

em

euro

s fa

ce à

Ale

manha (iB

oxx

, p.b

.)5

1M

ar-

99

93.5

89.1

28.2

52

.46

9.4

94

.11

17

.93

29

.5+

Spre

ad d

e e

mitente

s so

bera

nos

da á

rea d

o e

uro

face

à A

lem

anha (iB

oxx

, p.b

.)5

1M

ar-

99

27.1

11.7

1.7

7.6

9.2

14

.24

3.6

14

8.8

+

7. C

ondi

ções

mon

etár

ias

e fi

nanc

eira

sTa

xa d

e refe

rênci

a F

ed f

unds

(%)

55

Mar-

98

2.9

2.3

0.3

0.3

1.8

4.0

5.3

6.5

+

Taxa

de juro

opera

ções

princi

pais

de refi nanci

am

ento

(BC

E, %

)5

1M

ar-

99

2.7

2.5

1.0

1.5

2.0

3.0

4.0

4.8

+

Euribor

3 m

ese

s (%

)5

2D

ez-

98

2.9

2.9

0.6

1.6

2.3

3.3

4.1

5.3

+

Spre

ad E

uribor-

Eure

po (p.b

.)5

0M

ar-

99

24.6

8.3

4.1

6.3

7.5

9.9

37

.01

15

.9+

Taxa

de juro

nova

s opera

ções

part

icula

res

(%)

35

Mar-

03

5.5

5.4

4.1

4.8

5.1

5.6

6.3

7.3

+

Taxa

de juro

nova

s opera

ções

soci

edades

não fi n

ance

iras

(%)

35

Mar-

03

5.3

5.1

4.1

4.6

4.9

5.3

6.1

7.1

+

BLS

- O

fert

a d

e c

rédito -

habitaçã

o (ín

dic

e d

ifusã

o)

36

Dez-

02

22.8

25.0

-20.0

-10

.00

.03

0.0

60

.07

0.0

+

BLS

- O

fert

a d

e c

rédito -

consu

mo (índic

e d

ifusã

o)

36

Dez-

02

24.4

20.0

-10.0

0.0

20

.03

0.0

40

.07

0.0

+

BLS

- O

fert

a d

e c

rédito -

SN

F (ín

dic

e d

ifusã

o)

36

Dez-

02

27.2

20.0

-10.0

0.0

10

.03

0.0

60

.08

0.0

+

Fon

tes:

Barc

lays

Capital, C

om

issã

o E

uro

peia

, C

onfi denci

al Im

obili

ário, Euro

stat,

FM

I, iBoxx

, IN

E, Thom

son R

eute

rs e

Banco

de P

ort

ugal.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

20

I

Page 23: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Qu

adro

2

RIS

CO

S N

O S

ISTE

MA

BA

NC

ÁR

IO P

OR

TUG

UÊS

| ES

TATÍ

STIC

AS

DES

CR

ITIV

AS

DO

S IN

DIC

AD

OR

ES U

TILI

ZAD

OS

E C

OR

REL

ÃO

CO

M O

RIS

CO

mer

o d

e o

bse

rvaç

ões

Iníc

ioM

édia

Med

ian

aM

ínim

oPe

rcen

til

Máx

imo

Co

rrel

ação

co

m o

ris

co20

4060

80

1. S

olva

bilid

ade

Ráci

o d

e a

dequaçã

o g

lobal de f

undos

pró

prios

(%)

51

Dez-

98

10.2

10.2

9.2

9.8

10

.01

0.4

10

.81

1.3

-

Ráci

o d

e a

dequaçã

o d

e f

undos

pró

prios

de b

ase

(%

)5

1D

ez-

98

7.5

7.3

6.6

7.1

7.3

7.6

7.8

8.5

-

Ala

vanca

gem

(ca

pitais

pró

prios/

ativo

, %

)5

1D

ez-

98

6.0

6.0

4.9

5.6

5.9

6.1

6.3

6.7

-

Requis

itos

de f

undos

pró

prios/

ativo

(%

)5

1D

ez-

98

5.2

5.3

4.8

5.0

5.2

5.3

5.3

5.4

+

Fundos

pró

prios

de b

ase

em

% d

os

fundos

pró

prios

51

Dez-

98

73.4

73.2

62

.87

0.3

71

.97

4.5

78

.48

4.1

-

2. R

endi

bilid

ade

Retu

rn o

n e

quity

(%)

51

Dez-

98

15.8

17.6

4.2

10

.61

6.2

18

.01

9.9

23

.6-

Retu

rn o

n a

ssets

(%

)51

Dez-

98

0.9

1.0

0.3

0.6

0.9

1.1

1.1

1.4

-

Marg

em

fi n

ance

ira (%

ativo

médio

)5

1D

ez-

98

2.0

2.0

1.4

1.9

1.9

2.0

2.2

2.5

-

Imparidades

e p

rovi

sões

(% a

tivo

médio

)5

1D

ez-

98

0.6

0.6

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

1.0

+

Cost

to inco

me (%

)51

Dez-

98

54.9

55.5

47

.45

1.7

54

.35

6.5

57

.46

3.1

+

3. R

isco

de

mer

cado

Taxa

de c

obert

ura

dos

fundos

de p

ensõ

es

dos

em

pre

gados

bancá

rios

(% d

os

fundos

pró

prios)

39

Dez-

01

1.6

1.2

-1.8

-0.6

0.3

1.2

4.1

5.3

-

Desv

io f

ace

ao “

corr

edor”

dos

fundos

de p

ensõ

es

(% d

os

fundos

pró

prios)

17

Jun-0

73.2

2.9

2.1

2.2

2.3

3.5

4.3

5.6

+

Resu

ltados

opera

ções

fi nance

iras

em

% a

tivo

médio

51

Dez-

98

0.3

0.3

0.1

0.2

0.3

0.3

0.4

0.6

-

Cart

eira d

e t

ítulo

s e inve

stim

ento

s fi nance

iros

em

% a

tivo

26

Mar-

05

11.3

11.1

8.1

9.8

10

.81

1.3

13

.21

5.7

+

4. R

isco

de

liqui

dez

Ráci

o c

rédito/recu

rsos

de c

liente

s (%

)4

7D

ez-

99

142.5

144.2

10

3.7

12

6.0

13

5.5

15

1.9

16

1.5

16

6.6

+

Em

pré

stim

os

obtidos

junto

de b

anco

s ce

ntr

ais

em

% a

tivo

5

1D

ez-

98

2.2

1.2

0.4

0.9

1.0

1.4

2.7

9.5

+

Ráci

o c

obert

ura

de p

ass

ivos

inte

rbancá

rios

por

ativo

s ele

vada liq

uid

ez

(%)

51

Dez-

98

87.0

89.0

42

.07

6.3

85

.99

0.7

98

.81

24

.6-

5. R

isco

de

créd

ito

Cré

dito e

juro

s ve

nci

dos

(em

base

conso

lidada, %

)4

3D

ez-

02

2.2

2.1

1.4

1.7

2.1

2.2

2.7

3.7

+

Incu

mprim

ento

no c

rédito a

part

icula

res

(%)

55

Mar-

08

2.1

2.0

1.5

1.8

1.9

2.1

2.5

3.1

+

Incu

mprim

ento

no c

rédito a

soci

edades

não fi n

ance

iras

(%)

51

Mar-

99

2.8

2.5

1.4

1.8

2.2

2.5

3.9

6.3

+

Fluxo

anual de n

ovo

s cr

éditos

venci

dos

e o

utr

os

de c

obra

nça

duvi

dosa

- p

art

icula

res

(%)

51

Mar-

99

0.4

0.4

0.1

0.3

0.4

0.4

0.5

0.8

+

Fluxo

anual de n

ovo

s cr

éditos

venci

dos

e o

utr

os

de c

obra

nça

duvi

dosa

- S

NF

(%)

51

Mar-

99

0.8

0.6

-0.2

0.5

0.6

0.7

1.4

2.3

+

Imparidade e

pro

visõ

es

acu

mula

das

esp

ecí

fi ca

s e g

enérica

s para

cré

dito/c

rédito v

enci

do (%

)2

6M

ar-

05

123.5

125.1

95

.01

04

.61

17

.31

30

.51

47

.01

53

.2-

Imparidades

e p

rovi

sões

de c

rédito (dem

onst

raçã

o d

e resu

ltados,

% a

tivo

médio

)2

6M

ar-

05

0.4

0.4

0.2

0.3

0.4

0.4

0.6

0.7

+

Cre

scim

ento

dos

requis

itos

de f

undos

pró

prios

para

ris

co d

e c

rédito (tv

h, %

)4

3D

ez-

99

7.9

5.2

-0.7

2.5

4.3

6.9

13

.82

3.8

+

Fon

te: B

anco

de P

ort

ugal

No

ta: E

xist

em

quebra

s m

eto

doló

gic

as

e d

e a

most

ra n

alg

um

as

das

séries

consi

dera

das.

21

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

Page 24: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

histórica das séries temporais utilizadas na sua construção, ou seja, os referenciais utilizados poderão

não corresponder a níveis ótimos ou de equilíbrio de longo prazo. Adicionalmente, o mapa não permite

uma avaliação da importância relativa de cada risco. Por exemplo, não é possível afi rmar, com base neste

instrumento de análise, que os riscos no setor dos particulares são superiores ou inferiores aos associados

a empresas não fi nanceiras; é possível apenas avaliar como se posicionam atualmente os riscos em cada

um destes setores face aos seus referenciais históricos. Para além disso, este instrumento não pondera

a importância relativa de cada risco para o sistema bancário português, ou seja, não é considerado o

peso de cada dimensão de risco nas demonstrações fi nanceiras dos bancos. Por último, estes mapas

pretendem agregar a informação de um conjunto de indicadores que possam ter um conteúdo impor-

tante em termos de identifi cação de riscos num dado momento, ainda que tenham necessariamente de

ser revistos e atualizados ao longo do tempo, dada a natureza dinâmica dos riscos analisados.

Análise

Os gráfi cos 3 e 4 apresentam a evolução global dos indicadores de risco ao longo dos últimos anos. O

mapa de riscos sobre o enquadramento macroeconómico e fi nanceiro do sistema bancário português

sugere que, em termos históricos, os riscos assumem níveis particularmente elevados nas condições

macroeconómicas em Portugal, bem como no setor privado não fi nanceiro (empresas não fi nanceiras e

particulares). Adicionalmente, a deterioração das condições nos mercados fi nanceiros nacionais também

tem assumido uma magnitude expressiva. Em contrapartida, o enquadramento macroeconómico e fi nan-

ceiro internacional não assume valores de risco tão elevados, por comparação com valores históricos,

ainda que tenha evidenciado uma deterioração signifi cativa ao longo dos últimos meses. Por último,

as condições monetárias e fi nanceiras continuam a ser menos restritivas do que o observado no fi nal

de 2008, embora o seu grau de restritividade tenha aumentado claramente no período mais recente.

No que diz respeito ao mapa para o sistema bancário, observa-se que os riscos assumem uma magnitude

historicamente elevada na rendibilidade, que se situa em valores mínimos. Por seu turno, os indicadores

de risco de crédito e de mercado também se situam em níveis historicamente elevados, tendo-se assistido

a uma progressiva deterioração ao longo dos últimos trimestres. Adicionalmente, o risco de liquidez

continua a apresentar níveis elevados desde meados de 2007. Em contrapartida, o reforço dos rácios de

solvabilidade dos bancos portugueses ao longo dos últimos anos, em particular desde o fi nal de 2008,

traduz-se num nível relativamente baixo desta dimensão de risco, face aos valores observados no passado.

Contudo, tendo em conta a perspetiva de materialização acrescida de riscos no futuro próximo, este

resultado é consentâneo com a necessidade de reforço adicional dos capitais dos bancos portugueses.

Em termos globais, a análise dos mapas de estabilidade fi nanceira permite concluir que os riscos

subjacentes ao sistema bancário português e ao seu enquadramento macroeconómico e fi nanceiro se

encontram em níveis elevados face a referenciais históricos. Será no entanto de realçar que, no contexto

do processo de desalavancagem da economia portuguesa, incluindo do sistema bancário, os referenciais

históricos tenderão a não corresponder aos níveis ótimos de longo prazo, sendo que o grau de exigência

em termos de solvabilidade e de liquidez aumentou substancialmente.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

22

I

Page 25: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 3

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ENQUADRAMENTO MACROECONÓMICO E FINANCEIRO DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Evolução global do enquadramento macroeconómico e financeiro

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Particulares

1. Particulares Global

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Empresas não financeiras

2. Empresas não financeiras Global

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Enquadramento macroeconómico doméstico3. Enquadramento macroeconómico doméstico (riscos)

Global

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Enquadramento macroeconómico global

4. Enquadramento macroeconómico global (riscos)Global

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Mercados financeiros domésticos

5. Mercados financeiros domésticosGlobal

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Mercados financeiros globais

6. Mercados financeiros globaisGlobal

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Condições monetárias e financeiras

7. Condições monetárias e financeirasGlobal

Fontes: Barclays Capital, Comissão Europeia, Confi dencial Imobiliário, Eurostat, FMI, iBoxx, INE, Thomson Reuters e Banco de Portugal.

Nota: Um valor mais elevado implica um maior risco ou condições monetárias e fi nanceiras mais restritivas, numa escala de 1 a 5. O indi-

cador global é uma média simples das sete dimensões de risco consideradas.

23

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

Page 26: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 4

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS RISCOS NO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Evolução global dos riscos no sistema bancário português

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Solvabilidade

1. Solvabilidade Global

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Rendibilidade2. RendibilidadeGlobal

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Risco de mercado3. Risco de mercadoGlobal

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Risco de liquidez

4. Risco de liquidezGlobal

1

2

3

4

5

Dez-99 Dez-01 Dez-03 Dez-05 Dez-07 Dez-09

Risco de crédito

5. Risco de créditoGlobal

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Um valor mais elevado implica um maior risco, numa escala de 1 a 5. O indicador global é uma média simples das cinco dimensões

de risco consideradas. Existem quebras metodológicas e de amostra nalgumas das séries consideradas.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

24

I

Page 27: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

25

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

CAIXA 1.2 | AJUSTAMENTO ESTRUTURAL DO RÁCIO ENTRE CRÉDITO E DEPÓSITOS NOS PLANOS DE FINANCIAMENTO E DE CAPITAL DOS OITO MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS PORTUGUESES

O Programa de Assistência Económica e Financeira contempla um conjunto amplo de medidas que

visam, em última instância, reverter algumas das principais fragilidades que caraterizam a economia

portuguesa, nomeadamente no que se refere à sustentabilidade das finanças públicas e aos bloqueios

estruturais que limitam o seu crescimento potencial. Especifi camente no que se refere ao sistema

financeiro, o Programa de Assistência Económica e Financeira procura assegurar uma desalavancagem

ordenada e gradual e um reforço do capital dos bancos, consistentes com uma posição de financiamento

de mercado sustentável no médio prazo.

Neste contexto, o Banco de Portugal e o BCE, em articulação com a Comissão Europeia e o FMI, soli-

citaram aos oito maiores grupos bancários portugueses a elaboração de planos de fi nanciamento e de

capital1 para um horizonte de médio prazo, tendo subjacente um conjunto de princípios e restrições.

Entre aqueles são de destacar que o processo de desalavancagem deve ser consistente com o cenário

macroeconómico, que os bancos devem atingir com a brevidade possível uma posição de fi nanciamento

estável (i.e., menos sensível a oscilações na perceção de risco dos investidores internacionais) e que o

processo de desalavancagem não deve colocar em causa a viabilidade de médio prazo das instituições

envolvidas. A observância destes princípios deve ser concomitante com um conjunto de restrições, das

quais se podem destacar a necessidade de assegurar em cada momento o nível mínimo de capital regula-

mentar (cf. defi nido no Aviso do Banco de Portugal nº 3/2011), e de convergir para um limite superior de

120 por cento para o rácio entre crédito e depósitos até ao fi nal de 20142. Os planos traduzem-se numa

projeção da situação patrimonial e prudencial (nomeadamente em termos do capital regulamentar) rela-

tivamente à atividade consolidada dos grupos bancários envolvidos, em Portugal e a nível internacional.

A elaboração dos planos de fi nanciamento reveste-se de particular complexidade, tendo em conta o

difícil enquadramento económico e fi nanceiro e os princípios e restrições que lhe estão subjacentes. Neste

contexto, importa realçar que a avaliação dos planos pelas autoridades portuguesas, em articulação

com os membros da Troika, visa, inter alia, assegurar um equilíbrio entre a necessidade de concretizar

o ajustamento necessário e a salvaguarda do indispensável suporte fi nanceiro ao desenvolvimento da

atividade económica em Portugal, nomeadamente dos clientes/projetos com viabilidade económica3.

Note-se que as restrições estabelecidas poderão ser reajustadas em função da evolução do enquadra-

mento. Esta análise é efetuada numa base trimestral, levando em consideração projeções de variáveis

macroeconómicas e fi nanceiras, num cenário central.

Desde 2009, o rácio entre crédito e depósitos tem vindo a reduzir-se, situando-se em junho de 2011

próximo de 140 por cento (156 por cento em dezembro de 2007 - Gráfi co 1). Em termos agregados, os

planos apresentados pelo bancos apontam para uma redução gradual do rácio, para níveis inferiores a

120 a partir do fi nal de 2013.

1 Funding and capital plans, na expressão inglesa.

2 Para efeito da elaboração dos planos, fi cou estabelecido que o rácio compreende no numerador o crédito líqui-do de imparidades e no denominador o total dos depósitos de clientes e de linhas de fi nanciamento estáveis. Estas são elegíveis quando obtidas junto de casas-mãe, de acionistas qualifi cados ou de instituições multilate-rais, mediante adequada documentação da sua estabilidade.

3 A este propósito Importa referir que paralelamente a este exercício, envolvendo os oito maiores grupos ban-cários, o Banco de Portugal solicitou a um conjunto alargado de outras instituições a elaboração de planos de fi nanciamento e de capital, embora numa versão simplifi cada, em termos de abrangência da informação e das restrições associadas ao exercício. Esta informação é igualmente considerada na avaliação do impacto sobre a economia do processo de desalavancagem do sistema bancário.

Page 28: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

26

I

O crescimento robusto dos depósitos constitui um dos alicerces dos planos de fi nanciamento e de capital.

Esta evolução tem subjacente a continuação do ajustamento da carteira de ativos fi nanceiros dos parti-

culares residentes. Este ajustamento foi, em parte, induzido pela turbulência nos mercados fi nanceiros

a nível global, que se traduziu num aumento da volatilidade e numa diminuição das rendibilidades

das aplicações em ativos fi nanceiros sujeitos a risco de mercado (onde se incluem as participações em

fundos de investimento, as ações cotadas e os títulos de dívida). Por outro lado, as restrições impostas

na elaboração dos planos de fi nanciamento e de capital tendem a reforçar os incentivos para que os

bancos adotem estratégias de reintermediação no balanço dos recursos de clientes aplicados em outros

instrumentos emitidos pelos respetivos grupos fi nanceiros. Neste contexto, os planos apresentados

revelam globalmente uma redução do fi nanciamento por via de títulos de dívida colocados pelos bancos

junto da respetiva base de clientes, assim como uma diminuição dos ativos sob gestão, onde se incluem

os fundos de investimento e os produtos de seguros (Gráfi co 2)4.

Ainda que de forma diferenciada entre as oito instituições envolvidas, o ajustamento na posição patri-

monial dos bancos implicará globalmente uma redução na carteira de crédito. Esta redução poderá ser

obtida por diversas vias e afetar de forma diferenciada o fi nanciamento da economia portuguesa. Uma

das possibilidades consiste na venda de crédito. Alguns bancos recorreram ativamente a esta possibilidade

no decurso do primeiro semestre de 2011, englobando créditos com residentes e com não residentes. Este

tipo de operações não implica restrições ao fi nanciamento da economia portuguesa, consistindo apenas

na mudança de mutuante. Ao nível da atividade com não residentes, são ainda expetáveis operações

adicionais, podendo as mesmas assumir também a forma de redução de atividade em alguns mercados.

Uma outra possibilidade está associada à redução da concessão de novo crédito. Em articulação com a

amortização programada dos créditos já existentes, tal implica uma redução mais gradual da carteira de

crédito dos bancos. Neste contexto, e de acordo com os planos apresentados pelos bancos, tal tenderá

a ser particularmente relevante no caso dos créditos a particulares para aquisição de habitação.

4 A redução neste tipo de ativos tem tido como contrapartida um desinvestimento por sociedades de seguros e fundos de pensões e, em menor grau, por fundos de investimento, em títulos de dívida a médio e longo prazos emitidos por não residentes.

Gráfi co 1

RÁCIO ENTRE CRÉDITO E DEPÓSITOS(a)

130

140

150

160

enta

gem

100

110

120

130

Dez 07 Dez 08 Dez 09 Dez 10 Dez 11 Dez 12 Dez 13 Dez 14

Em

per

ce

Dez-07 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Dez-11 Dez-12 Dez-13 Dez-14

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: (a) Para efeitos do programa de ajustamento, estabeleceu-se que o rácio compreende no numerador o crédito líquido de imparidades e no denominador os depósitos de clientes e linhas de fi nanciamento estáveis. Estas são elegíveis quando obtidas junto de casas-mãe, de acionistas qualifi cados ou instituições multilaterais, mediante adequada documentação da sua estabilidade.

Page 29: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

27

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

Também signifi cativa em termos da evolução prospetiva da carteira de crédito é a diminuição da expo-

sição às administrações públicas e às empresas públicas não integradas no perímetro de consolidação

das administrações públicas. Dado o enquadramento defi nido para os planos de fi nanciamento e de

capital, este facto ilustra o potencial efeito positivo que a diminuição da exposição a entidades públicas

pode gerar em termos de aumento da capacidade de fi nanciamento do setor privado residente. Uma

redução das necessidades de fi nanciamento das instituições públicas e/ou uma alteração nos instru-

mentos utilizados pelas mesmas para obtenção de fi nanciamento junto dos bancos podem contribuir

para a libertação de recursos passíveis de ser canalizados para o setor privado sob a forma de crédito.

A redução projetada para a carteira de crédito às sociedades não fi nanceiras privadas residentes no

decurso do período compreendido entre junho de 2011 e dezembro de 2014 é na ordem de 2100 milhões

de euros, embora somente cerca de 1500 milhões de euros correspondam a redução de fi nanciamento

ao setor, com o montante de crédito remanescente a ser objeto de venda. A redução da carteira de

crédito a particulares para consumo e outros fi ns assumirá também uma importância reduzida, o que

está associado ao seu baixo peso no stock de crédito no início do Programa.

Em síntese, constata-se que o ajustamento da posição patrimonial dos bancos (avaliada pelo respetivo

hiato entre depósitos e crédito) estará, em larga medida, associado aos particulares residentes, por via

de um menor volume de crédito e de um volume acrescido de depósitos, e aos não residentes (Gráfi co

3). Os restantes setores residentes, e em particular as sociedades não fi nanceiras privadas, registam uma

redução pouco expressiva, podendo os bancos ter fl exibilidade acrescida nessa evolução caso a exposição

a entidades públicas seja reduzida de forma mais signifi cativa e/ou reconfi gurada.

Apesar de constituir uma situação invulgar em termos históricos da economia portuguesa, a redução do

crédito encontra algum paralelo em anteriores episódios recessivos. De facto, a procura de crédito pelos

agentes económicos tende a manter uma relação com o ciclo económico, tendo assumido um caráter

avançado no caso do crédito a particulares para habitação e desfasado no caso do crédito a sociedades

Gráfi co 2

FATORES SUBJACENTES À EVOLUÇÃO DOS DEPÓSITOS NO PERÍODO JUNHO 2011 – DEZEMBRO 2014

0

3 000

6 000

9 000

12 000

15 000

18 000

es as to ãoEm

milh

ões

de e

uros

-9 000

-6 000

-3 000

Par

ticul

are

Soc

. não

fina

ncei

ras

priv

ada

Não

res

iden

tes

m. p

úblic

as (

incl

. EP

s fo

ra d

o

pe

rím

etro

das

AP

s)

O

utro

s

Tít.

dív

ida

colo

cado

s

ju

nto

de c

lient

es

Fun

dos

de in

vest

imen

t

Pro

duto

s de

seg

uros

Out

ros

ativ

os s

ob g

est ã

AdmDepósitos Outros recursos de clientes

Fonte: Banco de Portugal.

Page 30: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

28

I

não fi nanceiras5. Esta regularidade histórica poderá no entanto ser afetada no futuro próximo. A recessão

que se projeta para os próximos anos, refl etindo o forte ajustamento orçamental, tende a assumir uma

intensidade e persistência sem paralelo histórico. Por outro lado, no contexto do Programa de Assistência

Económica e Financeira, as reformas a introduzir na economia portuguesa poderão alterar as relações

empíricas detetadas em períodos anteriores.

Não obstante estes constrangimentos, e dada a informação e o instrumental analítico disponível, a

avaliação do Banco de Portugal aponta para que a evolução do crédito projetada pelos oito maiores

grupos bancários portugueses seja consistente com o cenário macroeconómico (Gráfi cos 4 e 5). É

particularmente notória a preocupação dos bancos em preservar o fi nanciamento às sociedades não

fi nanceiras privadas.

Finalmente, note-se que o ajustamento do balanço dos bancos deverá ter associada uma redução do

endividamento do setor não fi nanceiro para níveis semelhantes aos observados em 2004, no caso

dos particulares, e em 2007, no caso das sociedades não fi nanceiras (Gráfi co 6). Estes níveis são ainda

elevados, tanto em termos históricos como em termos internacionais. Neste contexto, o processo de

ajustamento dos particulares e das sociedades não fi nanceiras tenderá a persistir para além do horizonte

do Programa de Assistência Económica e Financeira, o que poderá ser facilitado num quadro de maior

crescimento potencial da economia portuguesa.

5 Para mais detalhes sobre esta regularidade histórica para a economia portuguesa, ver “Caixa 2.2 Evolução cíclica dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras e aos particulares”, Banco de Portugal, Relatório Anual 2009. Em Castro, G.e Santos, C. (2010), “Determinantes das taxas de juro e do crédito bancário”, Banco de Portugal, Boletim Económico – Primavera, é documentada uma relação econométrica entre agregados de crédito e de despesa, nomeadamente o investimento e o consumo.

Gráfi co 3

HIATO ENTRE DEPÓSITOS E CRÉDITO | PRINCIPAIS VETORES DE AJUSTAMENTO NO PERÍODO JUNHO 2011 – DEZEMBRO 2014

-30 000

-20 000

-10 000

0

10 000

20 000

Junh

o -

2011

Par

ticul

ares

Out

ros

resi

dent

es

Não

res

iden

tes

nanc

iam

ento

est

ável

Não

res

iden

tes

rtic

ular

es -

habi

taçã

o

o pe

rím

etro

das

AP

s)

finan

ceira

s pr

ivad

as

onsu

mo

e ou

tros

fins

Out

ros

resi

dent

es

arid

ades

par

a cr

édito

Dez

-201

4

de

euro

s

Vendas

90 000

-80 000

-70 000

-60 000

-50 000

-40 000

Linh

as d

e fin

Par

Adm

. púb

licas

(in

cl. E

Ps

fora

do

Soc

ieda

des

não

Par

ticul

ares

-c o

Impa

Em

milh

ões

Depósitos Crédito-90 000

Fonte: Banco de Portugal.

Page 31: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

29

1

Apr

ecia

ção

Glo

bal

Gráfi co 4 Gráfi co 5

CRÉDITO BANCÁRIO A PARTICULARES – HABITAÇÃO | TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL

CRÉDITO BANCÁRIO A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL

-6

-4

-2

0

2

4

6

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Em

per

cent

agem

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014E

m p

erce

ntag

em

Funding plans - 8 bancos

Funding plans - Agregado alargado de bancos

Por memória:

Evolução implícita no modelo macroeconómico do Banco de Portugal(a)

Funding plans - 8 bancos

Funding plans - 8 bancos (excluindo EPs que não integram o perímetro das APs)

Funding plans - Agregado alargado de bancos

Por memória:

Evolução implícita no modelo macroeconómico do Banco de Portugal(a)

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: (a) O agregado de crédito considerado no modelo macroeconómico do Banco de Portugal difere ligeiramente do considerado nos Funding plans, ao incluir adicionalmente créditos concedidos ao setor por outras entidades, residentes e não residentes.

Gráfi co 6

ENDIVIDAMENTO DOS PARTICULARES E DÍVIDA FINANCEIRA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

40

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013

Em

per

cent

agem

Endividamento dos particulares (% do rendimento disponível)Endividamento das sociedades não financeiras (% do PIB)

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Nota: No caso das sociedades não fi nanceiras, no horizonte de previsão assume-se um crescimento líquido da dívida não bancária semelhante ao dos empréstimos

Page 32: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se
Page 33: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

31

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

2. Riscos macroeconómicos e financeiros

Ao longo dos últimos meses, os riscos macroeconómicos e fi nanceiros agravaram-se substancialmente,

quer a nível doméstico, quer a nível internacional. Deste modo, apesar de o conjunto de riscos iden-

tifi cados no Relatório de Estabilidade Financeira do Banco de Portugal de Maio de 2011 permanecer

globalmente inalterado, a sua probabilidade e impacto potencial agravaram-se de forma signifi cativa,

tendo-se assistido a alguma materialização dos riscos identifi cados. Uma das principais diferenças face

à análise de riscos macroeconómicos e fi nanceiros publicada no Relatório de Maio prende-se com a

deterioração das perspetivas quanto ao enquadramento macroeconómico e fi nanceiro internacional.

Enquanto há seis meses este enquadramento era globalmente favorável, o que deveria contribuir para

mitigar o impacto do processo de ajustamento económico em Portugal, durante o verão de 2011 assistiu-

-se a uma deterioração das perspetivas de crescimento a nível global, em particular na área do euro, num

contexto de agravamento das tensões associadas à crise da dívida soberana. Esta situação adensa os

desafi os enfrentados pela economia portuguesa, bem como pelo sistema fi nanceiro português, dado que

o ajustamento dos desequilíbrios da economia pode ter de ser efetuado num enquadramento bastante

mais adverso, em particular no que diz respeito à evolução expectável da procura externa. Neste contexto,

o enquadramento macroeconómico e fi nanceiro da atividade do sistema bancário caracteriza-se por

uma elevada incerteza, nomeadamente devido à persistência de dúvidas em torno dos mecanismos de

resolução institucional da crise da dívida soberana na área do euro, bem como sobre a trajetória futura

da economia mundial e, consequentemente, da economia portuguesa.

Neste enquadramento particularmente difícil, os principais riscos para a estabilidade fi nanceira em

Portugal continuam a estar fortemente relacionados entre si, sendo de destacar as seguintes dimensões:

i) a intensifi cação dos mecanismos de interação e reforço entre o risco soberano, o sistema fi -

nanceiro e a economia a nível internacional e doméstico, que podem condicionar a capacidade

de recuperação das economias e ameaçar a estabilidade fi nanceira a nível global;

ii) a intensifi cação e generalização de difi culdades no acesso dos bancos europeus a fi nancia-

mento nos mercados internacionais de dívida por grosso;

iii) os desafi os enfrentados pelos bancos portugueses num cenário de desalavancagem da eco-

nomia, enquadrados por um contexto macroeconómico e fi nanceiro particularmente adverso

e por restrições no acesso a fi nanciamento externo (incluindo para grandes empresas não

fi nanceiras, públicas e privadas), apesar do Programa de Assistência Económica e Financeira e

do acesso a fi nanciamento junto do Eurosistema;

iv) o impacto de um enquadramento económico adverso sobre a atividade, rendibilidade e solva-

bilidade dos bancos, em particular sobre a qualidade de crédito.

Conforme referido, estes riscos encontram-se profundamente interligados e tendem a reforçar-se mutu-

amente. Neste sentido, torna-se imprescindível atuar para mitigar a probabilidade e o impacto destes

riscos, tanto a nível internacional como nacional.

A nível internacional subsistem bastantes dúvidas quanto aos mecanismos de resolução da crise da dívida

soberana na área do euro, o que tem vindo a exercer pressões signifi cativas sobre os bancos europeus. O

aumento do risco de contágio neste período motivou a implementação de um conjunto de medidas em

julho, com o intuito de reforçar os mecanismos de estabilidade fi nanceira na União Europeia. Durante o

verão, a atuação do BCE nos mercados fi nanceiros, através da aquisição de títulos de dívida no âmbito

do Securities Market Programme, foi bastante importante para conter a exacerbação das perturbações

Page 34: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

| R

ELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

32

I

na área do euro. Contudo, assistiu-se à generalização e intensifi cação das tensões durante o verão, o

que exigiu medidas adicionais. Neste contexto, no fi nal de outubro foram anunciadas diversas medidas

no âmbito da cimeira de chefes de estado e de governo da União Europeia. Estas medidas englobam

nomeadamente o reforço do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, medidas de reforço do capital de

bancos europeus e um novo acordo para o envolvimento voluntário do setor privado na re-estruturação

da dívida pública grega. Apesar de estas medidas terem sido inicialmente avaliadas de forma positiva

pelos participantes nos mercados fi nanceiros, alguns dias após a cimeira as preocupações em torno da

sustentabilidade da dívida pública italiana agudizaram-se, num contexto de instabilidade política na

Grécia e em Itália. Mais recentemente, aquelas preocupações generalizaram-se à Espanha e, em menor

grau, a um número adicional de países da área do euro. Deste modo, a situação atual continua a ser

marcada por uma elevada incerteza e por riscos signifi cativos para a estabilidade fi nanceira. Para além

da instabilidade política, persiste alguma incerteza sobre a implementação e efi cácia de algumas das

medidas anunciadas na cimeira do fi nal de outubro, bem como sobre o impacto negativo no crescimento

económico europeu que pode estar subjacente a um reforço signifi cativo e simultâneo do capital dos

bancos europeus.

Em Portugal, o Programa de Assistência Económica e Financeira defi nido na sequência do pedido de

apoio fi nanceiro à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao FMI contribui para mitigar

alguns dos riscos acima referidos, ainda que apresente inevitáveis desafi os no curto prazo, indissociáveis

do necessário processo de desalavancagem da economia portuguesa e, em particular, do sistema bancário

português. Em termos concretos, no que se refere à estabilidade do sistema fi nanceiro, o Programa de

Assistência Económica e Financeira inclui quatro eixos fundamentais:

i) assegurar que os bancos portugueses dispõem da liquidez necessária (incluindo o reforço do

colateral disponível e a possibilidade de emissão de obrigações com garantia estatal);

ii) defi nição de planos de fi nanciamento e capital específi cos de médio prazo para assegurar a

desalavancagem gradual e ordenada do setor bancário e a redução gradual do fi nanciamento

junto do Eurosistema;

iii) reforço das exigências anteriormente impostas pelo Banco de Portugal sobre os rácios de sol-

vabilidade (impondo-se um rácio Core Tier 1 mínimo de 9 por cento a partir do fi nal de 2011

e de 10 por cento a partir do fi nal de 2012);

iv) intensifi cação do acompanhamento do sistema bancário e da sua regulação e supervisão,

incluindo inter alia o reforço da metodologia de avaliação da solvabilidade e desalavancagem,

a inclusão de um novo rácio de crédito em risco no conjunto de indicadores prudenciais re-

gularmente publicados1 e a defi nição de um programa especial de inspeções on-site nos oito

maiores grupos bancários portugueses2.

Adicionalmente, o Programa de Assistência Económica e Financeira prevê algumas alterações e aper-

feiçoamentos nos fundos de garantia de depósitos e nos mecanismos de intervenção precoce e de

resolução dos bancos. Para além disso, o enquadramento legal encontra-se em revisão para facilitar

os processos de re-estruturação da dívida de empresas e particulares. Esta revisão inclui alterações ao

Código de Insolvência e tem vindo a ser complementada por uma intensifi cação do acompanhamento da

situação das empresas e dos particulares, incluindo o desenvolvimento de planos de contingência para

1 Ver “Caixa 4.2 Novo rácio de crédito em risco“, deste Relatório.

2 Este programa de inspeções on-site engloba uma análise das carteiras de crédito com o objetivo de confi rmar a adequação dos níveis de imparidade, uma revisão transversal do processo de cálculo de requisitos de fundos próprios para risco de crédito, e a validação das metodologias e parâmetros utilizados nos exercícios de stress test.

Page 35: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

33

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

gerir de forma efi ciente eventuais problemas decorrentes do endividamento excessivo destes setores.

A implementação deste conjunto de medidas encontra-se em progresso, de acordo com os calendários

defi nidos no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira3.

O sistema bancário português enfrenta um conjunto de desafi os críticos, exigindo um assinalável esforço

de re-estruturação de alguns modelos de negócio. Neste sentido, a necessidade de desalavancagem e

de convergência a médio prazo para uma estrutura de fi nanciamento mais sustentável irão condicionar

a evolução da atividade dos bancos portugueses nos próximos anos. Num cenário de forte contração

da procura interna, é expectável um correlativo abrandamento da procura de empréstimos por parte

das empresas e, sobretudo, dos particulares. Para além disso, ambos os setores terão de prosseguir o

esforço de ajustamento da sua situação fi nanceira, dados os elevados níveis de endividamento atingidos.

Adicionalmente, a adversidade atual e futura do enquadramento económico justifi caria, em qualquer

circunstância, critérios mais restritivos na aprovação de empréstimos. Não obstante, o processo de desa-

lavancagem do sistema bancário não deverá comprometer o fi nanciamento dos setores e empresas mais

competitivos da economia. Para tal, as estratégias de desalavancagem devem privilegiar a venda de ativos

não estratégicos, o aumento do recurso a fi nanciamento estável e o reforço do capital. Adicionalmente,

este processo deve assumir uma natureza gradual e ordenada, estando a ser acompanhado e monitori-

zado de forma permanente pelo Banco de Portugal, no âmbito do Programa de Assistência Económica e

Financeira. Não obstante, a gestão deste delicado equilíbrio constitui um dos mais importantes desafi os

para o sistema bancário português.

Forte deterioração das perspetivas de crescimento económico a nível global, num quadro de

crescente incerteza

Ao longo dos últimos meses observou-se alguma desaceleração da atividade económica a nível global.

Adicionalmente, as previsões de crescimento económico têm vindo a ser revistas em baixa, sobretudo

para 2012, e tem aumentado o grau de incerteza em torno destas projeções. Esta deterioraç ão do

enquadramento macroeconómico centra-se essencialmente nas economias avançadas, ainda que as

previsões de crescimento para as economias de mercado emergentes também tenham vindo a ser

afetadas negativamente (Gráfi cos 2.1 e 2.2). Por um lado, nos Estados Unidos a procura interna continua

a evidenciar uma recuperação bastante moderada e a probabilidade de recessão aumentou ligeiramente.

No entanto, a implementação de medidas orçamentais expansionistas pode ter um efeito positivo sobre

o crescimento económico no curto prazo, exigindo, contudo, um plano de consolidação orçamental que

garanta a sustentabilidade da dívida pública norte-americana a médio e longo prazo. Por outro lado, na

área do euro os efeitos de interação entre as tensões associadas à dívida soberana e ao sistema bancário

têm inevitáveis impactos sobre a atividade económica. Tal ocorre num contexto de esforços generalizados

de correção de desequilíbrios orçamentais (e de dúvidas quanto à sua sustentabilidade nalguns casos),

de alguma desalavancagem do setor fi nanceiro e, sobretudo, de uma elevada incerteza, que se agravou

no período mais recente (Gráfi cos 2.3 e 2.4).

Estas perturbações também tiveram algum impacto nas economias de mercado emergentes, ainda que estas

continuem a registar níveis de crescimento elevados. Nestas economias os efeitos negativos da contração

da procura externa poderão ser compensados pela tendência de expansão da procura interna, apesar

de existirem efeitos endógenos que exercem alguma pressão sobre este crescimento (nomeadamente o

facto de nalguns países terem vindo a ser implementadas políticas económicas menos acomodatícias,

com o objetivo de evitar um sobreaquecimento da procura interna). Existem alguns elementos de risco

que podem condicionar a evolução destas economias, nomeadamente os riscos para a estabilidade

fi nanceira associados ao forte crescimento do crédito e dos preços dos ativos, assim como o risco de

3 Para mais detalhes sobre a implementação destas medidas ver Programa de Assistência Económica e Financeira no sitio do Banco de Portugal.

Page 36: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

| R

ELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

34

I

uma quebra dos fl uxos internacionais de capital, que se pode traduzir num ajustamento abrupto dos

desequilíbrios macroeconómicos globais.

Em termos globais, os riscos para a evolução da atividade económica a nível internacional são claramente

enviesados no sentido descendente. Neste contexto, é essencial um esforço concertado de atuação que

limite os efeitos de interação entre o risco soberano, o sistema fi nanceiro e a economia. Adicionalmente,

as vulnerabilidades observadas nalgumas economias de mercado emergentes, a volatilidade nos mercados

fi nanceiros e nos preços de matérias-primas e algumas tensões geopolíticas também podem comprometer

a evolução da atividade económica a nível mundial.

As projeções de crescimento para a economia portuguesa em 2012 também têm vindo a ser revistas

em baixa. A necessidade de ajustamento dos desequilíbrios macroeconómicos e fi nanceiros exerce uma

Gráfi co 2.3 Gráfi co 2.4

EVOLUÇÃO DAS PREVISÕES DE ANALISTAS PRIVADOS PARA O CRESCIMENTO DO PIB NA ÁREA DO EURO EM 2012

INDICADOR DE APETITE AO RISCO GLOBAL

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

Jan-11 Abr-11 Jul-11 Out-11

Em

per

cent

agem

Data da previsão

ConsensusEuro Zone BarometerThe EconomistBlue Chip

-8-7-6-5-4-3-2-101234567

Dez-06 Ago-07 Abr-08 Dez-08 Ago-09 Abr-10 Dez-10 Ago-11

Euforia

Pânico

Fontes: Consensus Economics, MJEconomics, The Economist e Aspen Publishers.

Fonte: Credit Suisse.

Gráfi co 2.1 Gráfi co 2.2

EVOLUÇÃO DAS PREVISÕES DO PIB PARA 2011 EVOLUÇÃO DAS PREVISÕES DO PIB PARA 2012

4

1.6 1.5 1.6

6.4

0

1

2

3

4

5

6

7

PIB mundial Economias avançadas

Estados Unidos

Área do euro Economias de mercado

emergentes

Em

per

cent

agem

Jan-11 Abr-11 Jun-11 Set-11

4

1.9 1.8

1.1

6.1

0

1

2

3

4

5

6

7

PIB mundial Economias avançadas

Estados Unidos

Área do euro Economias de mercado

emergentes

Em

per

cent

agem

Jan-11 Abr-11 Jun-11 Set-11

Fonte: FMI. Fonte: FMI.

Page 37: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

35

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

forte pressão descendente sobre a procura interna no curto prazo. Por um lado, a inadiável consolidação

orçamental implica uma redução do consumo e investimento públicos. Por outro lado, as perspetivas

negativas quanto à evolução do rendimento e da procura, acompanhadas por condições de fi nanciamento

restritivas, deverão contribuir de forma signifi cativa para a contração do consumo e investimento privados.

Adicionalmente, a deterioração das perspetivas quanto à evolução da economia mundial condiciona

negativamente o contributo da procura externa para a evolução da atividade económica em Portugal.

Neste cenário de ajustamento, a economia portuguesa deverá registar uma contração signifi cativa no

futuro próximo, ainda que, a médio e longo prazo, seja expectável que a implementação adequada

de medidas estruturais permita promover a competitividade, produtividade e o crescimento potencial,

contribuindo também para a recuperação do acesso a fi nanciamento nos mercados fi nanceiros interna-

cionais. Não obstante, a convergência para este novo equilíbrio exige um processo de ajustamento com

custos económicos e sociais substanciais no curto prazo, sendo o seu sucesso condicionado não apenas

pela satisfação estrita dos compromissos assumidos na sequência do pedido de assistência fi nanceira,

mas também pelo processo de resolução institucional da atual crise de dívida soberana na área do euro.

As perturbações associadas à crise de dívida soberana na área do euro têm vindo a afetar

um número crescente de países, exigindo um conjunto de medidas para conter o aumento e

generalização das tensões

Ao longo dos últimos meses, as tensões subjacentes à crise da dívida soberana na área do euro passaram

a envolver um conjunto cada vez mais alargado de países, reforçando a sua natureza sistémica. Neste

período, as perturbações deixaram de assumir uma magnitude signifi cativa apenas nos países com

programas de assistência económica e fi nanceira (Grécia, Irlanda e Portugal), passando a afetar outros

países onde também existem receios quanto à sustentabilidade das fi nanças públicas (Bélgica, Chipre,

Eslováquia, Eslovénia, Espanha, França e Itália). Neste contexto, assistiu-se a um forte aumento dos

prémios de risco soberano, inter alia, na Itália e em Espanha e, em menor escala, na Bélgica e em França,

assistindo-se também a uma pronunciada deterioração das condições de acesso a fi nanciamento nos

mercados de dívida por grosso por parte de alguns bancos nestes países (Gráfi co 2.5).

A intensifi cação das tensões no verão de 2011 foi suscitada, pelo menos em parte, pela necessidade de

negociação de um segundo pacote de ajuda fi nanceira para a Grécia, em julho de 2011 (Gráfi co 2.6). O

aumento do risco de contágio neste período motivou a implementação de um conjunto de medidas para

reforçar os mecanismos de estabilidade fi nanceira na União Europeia. Em termos concretos, o Mecanismo

de Estabilização Europeu deverá substituir o atual Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) em

meados de 2013, passando a permitir: 1) intervenções preventivas nos mercados fi nanceiros; 2) o reforço

do capital de instituições fi nanceiras através de linhas de crédito aos governos de países que não estejam

envolvidos em programas de assistência fi nanceira; 3) a intervenção em mercados secundários de dívida

desde que o BCE reconheça a existência de condições excecionais nos mercados fi nanceiros e riscos

para a estabilidade fi nanceira. Adicionalmente, chegou-se, nessa data, a um acordo para o envolvimento

voluntário do setor privado na re-estruturação da dívida grega, tendo implícito um haircut de 21 por

cento. Para além destas medidas, foi negociada a extensão das maturidades dos empréstimos concedidos

a Portugal e à Irlanda, bem como a redução das taxas de juro aplicadas nos respetivos programas de

assistência fi nanceira, o que contribui para melhorar a sustentabilidade da dívida nestes países.

Contudo, as medidas anunciadas durante o verão não foram sufi cientes para mitigar a instabilidade nos

mercados fi nanceiros, tendo-se assistido a um agravamento assinalável dos prémios de risco da dívida

grega a partir do fi nal de agosto, com repercussões nos prémios de outros países europeus. Tendo-se

tornado clara a necessidade de implementar medidas adicionais a nível europeu para conter os efeitos

de feedback entre as tensões nos mercados de dívida soberana e os bancos europeus, na cimeira de

chefes de estado e de governo da União Europeia realizada a 26 de outubro foram anunciadas diversas

Page 38: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

| R

ELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

36

I

medidas, nomeadamente:

– uma revisão das condições associadas ao envolvimento voluntário do setor privado na Grécia,

tendo subjacente um haircut implícito de 50 por cento, acompanhada por um reforço do pacote

de assistência fi nanceira internacional e por uma intensifi cação dos mecanismos de acompa-

nhamento da implementação das reformas acordadas;

– planos para aumentar a alavancagem do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, de forma

a ter capacidade adicional para mitigar o contágio entre emitentes soberanos da área do euro;

– um plano coordenado a nível europeu para melhorar o acesso a fi nanciamento de longo prazo

dos bancos europeus, facilitando a transição para estruturas de fi nanciamento mais equilibra-

das;

– medidas de reforço de capital do sistema bancário europeu, anunciadas pela Autoridade Ban-

cária Europeia (European Banking Authority – EBA) com o intuito de recuperar a confi ança dos

participantes nos mercados na capacidade dos bancos para absorver um conjunto de choques

negativos, incluindo os associados à re-estruturação da dívida grega e a diminuições no valor de

mercado de títulos de dívida de outros emitentes soberanos4.

Por seu turno, o BCE continuou a ter um papel crucial para mitigar os efeitos de contágio na área do

euro. Em maio de 2010 o BCE implementou o Securities Market Programme, passando a adquirir títulos

de dívida da área do euro nos mercados secundários, com o objetivo de normalizar os mecanismos de

transmissão da política monetária, através da estabilização de segmentos de mercado disfuncionais. A

partir de agosto de 2011, o BCE passou a adquirir, no âmbito deste programa, títulos de dívida pública

espanhola e italiana, o que contribuiu para conter a escalada das taxas de rendibilidade a longo prazo

nestes países, bem como em Portugal e na Irlanda. Foram também tomadas medidas para facilitar o

4 Ver “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012”, deste Relatório.

Gráfi co 2.5 Gráfi co 2.6

DIFERENCIAIS FACE À ALEMANHA DAS TAXAS DE RENDIBILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA DE EMITENTES EUROPEUS | 10 ANOS

INCLINAÇÃO DA CURVA DE CDS SOBERANOS

0

500

1 000

1 500

2 000

2 500

3 000

3 500

Jun-08 Fev-09 Out-09 Jun-10 Fev-11 Out-11

Em

pon

tos

base

ÁustriaFrançaGréciaIrlandaItáliaPortugalEspanhaReino UnidoBélgica

-1 800

-1 600

-1 400

-1 200

-1 000

-800

-600

-400

-200

0

200

Out-08 Abr-09 Out-09 Abr-10 Out-10 Abr-11 Out-11E

m p

onto

s ba

se

AlemanhaGréciaIrlandaPortugalEspanhaItália

Fonte: Thomson Reuters. Fontes: Thomson Reuters e cálculos do Banco de Portugal.

Nota: A inclinação da curva refl ete a diferença entre os CDS soberanos a 10 e a 5 anos, para cada país.

Page 39: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

37

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

acesso a fi nanciamento em dólares por parte dos bancos europeus que têm registado difi culdades no

acesso a este tipo de fi nanciamento. No início de outubro, o BCE anunciou ainda um novo programa de

aquisição de obrigações hipotecárias (covered bonds). Adicionalmente, o BCE reduziu as taxas de juro

de referência em 25 pontos base na reunião de 3 de novembro. Para além disso, continuam a vigorar

várias medidas não convencionais de política monetária, incluindo operações de refi nanciamento com

satisfação integral da procura (full allotment) e de longo prazo (cerca de doze meses).

Apesar das medidas tomadas pelas autoridades europeias (em particular no âmbito das cimeiras de

julho e de outubro) e dos esforços signifi cativos de consolidação orçamental em vários países, as

tensões relacionadas com a dívida soberana têm-se refl etido numa elevada volatilidade nos mercados

fi nanceiros internacionais, evidenciando que o impacto destas tensões assume uma escala mundial. De

facto, a aversão ao risco assumiu recentemente valores próximos dos observados após o colapso do

banco de investimento Lehman Brothers, em setembro de 2008 (Gráfi co 2.4), apesar de a volatilidade

nos mercados acionistas não se encontrar em níveis tão elevados (Gráfi co 2.7). Contudo, a atual capaci-

dade de absorção de choques, incluindo o poder de resposta das autoridades nacionais e internacionais,

encontra-se bastante mais condicionada em muitos aspetos. No período mais recente, apesar de os

mercados fi nanceiros terem registado inicialmente uma aparente reação positiva à cimeira de outubro,

esta foi rapidamente revertida, assistindo-se a um forte aumento da instabilidade fi nanceira. A necessi-

dade de clarifi cação de alguns aspetos das medidas anunciadas, os seus potenciais efeitos pró-cíclicos

(que poderão implicar revisões adicionais em baixa do crescimento económico) e a instabilidade política

nalguns países contribuíram para este recrudescimento das tensões, colocando em particular a Itália no

foco das preocupações europeias.

Neste contexto, os principais índices acionistas registaram fortes quedas ao longo dos últimos meses, as

quais se intensifi caram no período mais recente, afetando sobretudo os títulos do setor fi nanceiro (em

particular de bancos europeus) (Gráfi cos 2.8 e 2.9). Refi ra-se que esta evolução difi culta os esforços de

reforço de capital que muitos bancos prosseguem atualmente, implicando um aumento signifi cativo

dos custos subjacentes aos aumentos de capital. Por seu turno, os prémios de risco das empresas não

fi nanceiras também aumentaram durante o verão, ainda que de forma menos signifi cativa do que no

setor fi nanceiro.

Neste quadro de elevada aversão ao risco, registou-se um aumento da procura de ativos de refúgio,

traduzindo-se, por exemplo, numa signifi cativa valorização do ouro e numa forte apreciação do franco

Gráfi co 2.7

ÍNDICE DE VOLATILIDADE VIX

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Jan-07 Set-07 Mai-08 Jan-09 Set-09 Mai-10 Jan-11 Set-11

Fonte: Thomson Reuters.

Page 40: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

| R

ELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

38

I

suíço, o que justifi cou a tomada de medidas específi cas para conter esta evolução por parte do Banco

Nacional da Suíça (fi xando um limite para a taxa de câmbio do franco suíço face ao euro). Simultanea-

mente, tornou-se mais evidente a segmentação nos mercados de dívida pública das economias avançadas:

enquanto nalguns países se assistiu a uma escalada sem precedentes dos prémios de risco, noutros países

as taxas de juro a longo prazo atingiram valores muito reduzidos em termos históricos. Na área do euro,

esta última evolução foi registada em países como a Alemanha, Países Baixos, Finlândia e Áustria5. Para

além disso, no Reino Unido e nos Estados Unidos também se observaram evoluções semelhantes, apesar

da incerteza em torno da sustentabilidade da situação das fi nanças públicas norte-americanas, o que

implicou um downgrade por parte da S&P durante o verão de 2011.

Generalização das difi culdades de acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso

por parte dos bancos europeus

A par do aumento da volatilidade e incerteza nos mercados fi nanceiros, tem-se assistido a difi culdades

cada vez mais generalizadas de bancos da área do euro em garantir o acesso a fi nanciamento nos

mercados de dívida por grosso, em particular em maturidades médias e longas. Estas difi culdades têm-se

refl etido num aumento dos custos de fi nanciamento na emissão de dívida a médio e longo prazos e, para

alguns bancos, em difi culdades na emissão de dívida nos mercados primários, mesmo no mercado de

obrigações hipotecárias (covered bonds) (Gráfi co 2.10). Refi ra-se que estas difi culdades não se limitam a

bancos de países com programas de assistência fi nanceira (Gráfi co 2.11). Pelo contrário, num contexto

de incerteza e aversão ao risco, os custos de fi nanciamento aumentaram de forma generalizada para

os bancos europeus e, nalguns casos, existem restrições quantitativas no acesso a fi nanciamento nos

mercados de dívida por grosso em maturidades médias e longas. No segmento de dívida a curto prazo

as difi culdades são menos agudas. De facto, apesar de também existirem algumas perturbações no

5 Mais recentemente assistiu-se a um aumento dos prémios de risco dos Países Baixos, Áustria e Finlândia face à Alemanha.

Gráfi co 2.8 Gráfi co 2.9

EVOLUÇÃO DE ÍNDICES ACIONISTAS: FALÊNCIA LEHMAN BROTHERS VERSUS INTENSIFICAÇÃO DA CRISE SOBERANA NA ÁREA DO EURO

ÍNDICES ACIONISTAS

60

70

80

90

100

110

120

130

140

-80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70

Índi

ce

Dias

S&P 500DJ EurostoxxPSI GeralS&P 500DJ EurostoxxPSI Geral

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Set-08 Mar-09 Set-09 Mar-10 Set-10 Mar-11 Set-11Ín

dice

100

= 3

1/12

/201

0

S&P 500S&P BanksDJ EurostoxxDJ Eurostoxx BanksPSI GeralPSI Financial

Fonte: Thomson Reuters. Fonte: Thomson Reuters.

Nota: Dados diários até 4/11/2011. Dia 0 = 100 refere-se a 15/09/2008 nas linhas tracejadas e a 21/07/2011 nas linhas a cheio.

Page 41: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

39

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

funcionamento do mercado monetário interbancário na área do euro, o acesso a fi nanciamento junto

do BCE tem permitido mitigar estas difi culdades, assistindo-se, de novo, a um aumento da intermediação

do fi nanciamento por parte do Eurosistema (Gráfi co 2.12). Contudo, conforme referido anteriormente,

alguns bancos europeus têm vindo a enfrentar difi culdades no acesso a fi nanciamento em dólares, o

que justifi cou uma intervenção coordenada do BCE, da Reserva Federal dos Estados Unidos, do Banco

de Inglaterra e do Banco Nacional da Suíça em setembro de 2011.

Deste modo, existem riscos signifi cativos associados à capacidade de refi nanciamento dos bancos

europeus nas maturidades médias e longas nos mercados de dívida por grosso. Em particular, alguns

Gráfi co 2.10 Gráfi co 2.11

YIELDS DE EMPRESAS DO SETOR FINANCEIRO CREDIT DEFAULT SWAPS DE BANCOS EUROPEUS | 5 ANOS SENIOR

0

2

4

6

8

10

12

Jan-07 Out-07 Jul-08 Abr-09 Jan-10 Out-10 Jul-11

Em

per

cent

agem

Área do euroEstados Unidos

0

500

1 000

1 500

2 000

2 500

3 000

Set-08 Jun-09 Mar-10 Dez-10 Set-11E

m p

onto

s ba

se

AlemanhaÁustriaEspanhaFrançaGréciaIrlandaItáliaPortugalReino Unido

Fontes: Bloomberg e Merrill Lynch. Fontes: Thomson Reuters e cálculos do Banco de Portugal.

Nota: Para a área do euro é utilizado o índice EMU Financial Corporate Index e para os Estados Unidos o índice US Financial Corporates.

Nota: As séries para cada país referem-se a médias não ponde-radas de credit default swaps de bancos desse país em euros.

Gráfi co 2.12

TAXAS DE JURO NO MERCADO MONETÁRIO A 3 MESES | DIFERENCIAL ENTRE TAXAS NÃO COLATERALIZADAS E

COLATERALIZADAS

-50

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Jan-07 Set-07 Mai-08 Jan-09 Set-09 Mai-10 Jan-11 Set-11

Em

pon

tos

base

EuroLibra esterlinaDólar norte-americano

Fonte: Thomson Reuters.

Page 42: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

| R

ELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

40

I

dos títulos de dívida emitidos com garantia estatal a partir do fi nal de 2008 atingem a maturidade em

2012, podendo existir algumas difi culdades no refi nanciamento destes passivos. As restrições no acesso

a fi nanciamento podem constituir um elemento importante de restrição na oferta de crédito, contri-

buindo para uma desalavancagem do setor fi nanceiro, mas condicionando também o acesso a crédito

por parte das empresas e dos particulares, com consequências para a evolução da economia europeia.

Os bancos portugueses enfrentam sérios desafi os num cenário de desalavancagem,

enquadrados por um contexto macroeconómico e fi nanceiro particularmente adverso

Os riscos para a estabilidade fi nanceira associados à interação entre o risco soberano, o sistema fi nanceiro

e a economia assumem uma relevância crítica no caso português. Conforme discutido na “Secção 4.2

Risco de mercado”, deste Relatório, os bancos portugueses não apresentavam uma exposição muito

signifi cativa ao risco soberano antes da eclosão da crise fi nanceira. Contudo, a redução da procura

de dívida pública portuguesa nos mercados fi nanceiros internacionais implicou uma maior colocação

destes instrumentos junto dos bancos portugueses que, por sua vez, podem utilizar estes ativos como

colateral em operações de mercado (designadamente repos) e junto do BCE (Gráfi cos 2.13 e 2.14). Não

obstante, o aumento do risco soberano tem implicações negativas para a valorização do colateral dos

bancos em operações de refi nanciamento. Os impactos da exposição a dívida pública na rendibilidade

e no capital regulamentar foram relativamente limitados até ao momento, dado que estes títulos estão

registados na sua maioria nas carteiras de ativos fi nanceiros disponíveis para venda ou detidos até à

maturidade. Contudo, as decisões tomadas no âmbito das cimeiras de julho e de outubro implicam que

a exposição dos bancos portugueses a dívida pública tenha um impacto negativo substancial sobre o

seu capital regulamentar, conforme discutido na “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital:

desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012”, deste Relatório6.

Conforme referido anteriormente, assistiu-se recentemente à intensifi cação e generalização das difi cul-

dades no acesso a fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso a médio e longo

6 Em concreto, no âmbito da cimeira de outubro, a EBA determinou a criação de um buffer de capital refl etindo a avaliação a valores de mercado das exposições a dívida soberana detidas em 30 de setembro de 2011, impli-cando a eliminação do fi ltro prudencial aplicável aos títulos de dívida soberana da carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para venda e a avaliação, a preços de mercado, de exposições a dívida soberana nas carteiras de ativos detidos até à maturidade e de crédito concedido.

Gráfi co 2.13

EXPOSIÇÃO DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS A DÍVIDA SOBERANA (EMPRÉSTIMOS E TÍTULOS) PARA ALGUNS PAÍSES DA ÁREA DO EURO

3.42.7

4.24.8

0

2

4

6

8

10

12

Áre

a do

eur

oP

ortu

gal

Bél

gica

Ale

man

haIr

land

aG

réci

aE

span

haF

ranç

aIt

ália

Paí

ses

Bai

xos

Áus

tria

Áre

a do

eur

oP

ortu

gal

Bél

gica

Ale

man

haIr

land

aG

réci

aE

span

haF

ranç

aIt

ália

Paí

ses

Bai

xos

Áus

tria

Em

per

cent

agem

dos

ativ

os to

tais

2007-062011-09

Empréstimos Títulos de dívida

Fontes: BCE e cálculos do Banco de Portugal.

Page 43: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

41

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

prazo por parte dos bancos europeus. Conforme discutido na “Secção 4.3 Risco de liquidez”, deste

Relatório, no caso dos bancos portugueses este acesso encontra-se vedado desde o fi nal de abril de

2010, fi nanciando-se essencialmente junto do BCE e do Banco Europeu de Investimento, bem como nos

mercados de dívida a curto prazo. Em contrapartida, os bancos têm reforçado a captação de depósitos

junto da sua base de clientes, o que contribui para uma estrutura de fi nanciamento mais equilibrada. De

qualquer modo, nos meses mais recentes, os bancos portugueses enfrentaram difi culdades acrescidas de

fi nanciamento nos mercados de dívida a curto prazo, dado o recrudescimento das tensões nos mercados

fi nanceiros internacionais (Gráfi co 2.15). Ao mesmo tempo, algumas agências de rating continuaram a

rever negativamente as notações atribuídas a bancos portugueses (Quadro 2.1).

Apesar do Programa de Assistência Económica e Financeira, da manutenção a nível elevado do fi nancia-

mento junto do BCE e da acrescida captação de depósitos, as restrições no acesso a fi nanciamento nos

mercados internacionais de dívida por grosso e a necessidade de desalavancagem do sistema bancário

têm implicações sobre a oferta de crédito à economia portuguesa, podendo assumir uma natureza

restritiva ativa para alguns agentes fi nanceiros. Contudo, é importante notar que a contração da ativi-

dade económica e do rendimento se traduz inevitavelmente numa substancial moderação da procura

de crédito, em particular dada a necessidade de desalavancagem do setor privado não fi nanceiro. Por

outro lado, as atuais perspetivas negativas quanto ao enquadramento macroeconómico e fi nanceiro

justifi cam uma reavaliação dos riscos assumidos pelos bancos na concessão de crédito, traduzindo-se num

aumento dos prémios de risco cobrados aos clientes. Neste sentido, existe um equilíbrio muito sensível

entre o necessário processo de desalavancagem do sistema bancário português, conforme defi nido no

âmbito do programa de assistência económica e fi nanceira, e a importância de continuar a assegurar

o fi nanciamento dos setores mais produtivos e competitivos da economia portuguesa, a fi m de não

comprometer a sua trajetória de recuperação no médio e longo prazo. Refi ra-se que este equilíbrio requer

que o processo de desalavancagem seja gradual e ordenado. Este processo está a ser acompanhado de

perto pelo Banco de Portugal, nomeadamente através da análise trimestral de planos de fi nanciamento

e de capital dos oito maiores grupos bancários, sendo necessário assegurar a sua consistência com o

cenário macroeconómico e fi nanceiro subjacente ao Programa de Assistência Económica e Financeira.

Gráfi co 2.14

EXPOSIÇÃO BRUTA INTERSETORIAL NA ECONOMIA PORTUGUESA

2008T2 2011T2

2008 T2

SNF

BC

SF

AP Part

RM

2011 T2

SNF

BC

SF

AP Part

RM

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: BC – Banco central; RM – Resto do mundo; SF – Sistema fi nanceiro; AP – Administrações públicas; SNF – Sociedades não fi nanceiras; Part – Particulares. Diâmetro do círculo proporcional à exposição intrasetorial; largura dos traços proporcional às relações intersetoriais. A metodologia pressupõe a estimação por máxima entropia de exposições bilaterais de cada setor, tendo por base ex-posições bilaterais de empréstimos e depósitos. Para mais detalhes sobre a metodologia ver Silva, N. (2010), “Relações intersetoriais na economia portuguesa: uma aplicação do modelo de dívida contingente”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2010.

Page 44: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

| R

ELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

42

I

O processo de desalavancagem poderá ser efetuado por diferentes vias, com impactos diferenciados

sobre a economia portuguesa. Com vista a reduzir esse impacto, os bancos deverão privilegiar estraté-

gias de reforço da sua base de capital, de venda de créditos e ativos não estratégicos face aos setores

privado e público, e de reforço do fi nanciamento estável, nomeadamente dos depósitos captados junto

de clientes. Refi ra-se que um processo de desalavancagem dos bancos assente na redução da atividade

internacional tenderá a afetar menos a economia portuguesa mas, em contrapartida, poderá ter um

efeito negativo na evolução da rendibilidade e, consequentemente, na solvabilidade dos bancos, dado

que os resultados obtidos por via da atividade internacional têm oferecido um importante contributo

para a rendibilidade dos bancos portugueses ao longo dos últimos anos (ver “Secção 4.1 Atividade e

rendibilidade”, deste Relatório). Por outro lado, a desalavancagem efetuada através da venda de ativos

terá um efeito diferente sobre a economia do que se tiver lugar via redução de novo crédito. Contudo,

as vendas de ativos também poderão, nalguns casos, originar perdas no curto prazo com consequências

negativas para a rendibilidade e solvabilidade dos bancos. Nalgumas situações, estas vendas podem

implicar a antecipação de perdas que poderiam ter de ocorrer ao longo da maturidade dos empréstimos.

Quadro 2.1

NOTAÇÕES DE RATING DA DÍVIDA DE LONGO PRAZO DOS CINCO MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS PORTUGUESES E DA REPÚBLICA PORTUGUESA

S&P Moody’s Fitch

31-Dez-10 16-Mai-11 4-Nov-11 31-Dez-10 16-Mai-11 4-Nov-11 31-Dez-10 16-Mai-11 4-Nov-11

CGD A- BBB- BBB- A1 Baa1 Ba2 A BBB- BBB-

BCP BBB+ BBB- BBB- A3 Baa3 Ba3 BBB+ BBB- BBB-

BST A BBB- BBB- A1 A3 Baa2 AA AA AA-

BPI A- BBB- BBB- A2 Baa2 Ba2 A- BBB- BBB-

BES A- BBB- BBB- A2 Baa2 Ba2 BBB+ - -

República Portuguesa A- BBB- BBB- A1 Baa1 Ba2 A+ BBB- BBB-

Fonte: Bloomberg.

Nota: Para os bancos, os ratings da S&P referem-se à categoria LT Local Issuer Credit; os ratings da Moody’s referem-se à categoria Long Term Bank Deposits; os ratings da Fitch referem-se à categoria LT Issuer Default Rating. Para a República Portuguesa, os ratings referem-se todos à categoria Local Currency LT Debt.

Gráfi co 2.15

CREDIT DEFAULT SWAP SPREADS DE BANCOS PORTUGUESES | 5 ANOS SENIOR

0

200

400

600

800

1 000

1 200

1 400

1 600

1 800

Jul-07 Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Jul-11

Em

pon

tos

base

BCPCGDBESiTraxx Financial Senior 5 anos

Fontes: Bloomberg e Thomson Reuters.

Page 45: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

43

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

A estabilidade do sistema fi nanceiro português encontra-se igualmente condicionada pela deterioração

das perspetivas sobre o crescimento económico, com implicações negativas sobre a atividade, rendibi-

lidade e solvabilidade dos bancos portugueses conforme discutido no “Capítulo 4 Sistema Bancário”,

deste Relatório. Em particular, existe uma forte pressão negativa sobre a qualidade de crédito, associada

a perspetivas de aumento das imparidades decorrentes da contração da atividade económica. Os bancos

tenderão deste modo a registar uma pressão sobre os seus requisitos de capital, que terá de ser contrariada

com o reforço do capital regulamentar ou com a venda de ativos, no contexto de um processo gradual

e equilibrado de desalavancagem, consistente com o não agravamento da situação macroeconómica.

Estes desafi os críticos exigem que os bancos portugueses tenham o capital necessário para enfrentar

possíveis choques adicionais, de forma a continuar a assegurar a estabilidade do sistema fi nanceiro7.

Neste sentido, as recomendações efetuadas pelo Banco de Portugal ao longo dos últimos meses e as

medidas integradas no Programa de Assistência Económica e Financeira contribuem para reforçar a solidez

do sistema bancário. Os bancos começaram a implementar os planos de desalavancagem que deverão

conduzir a uma situação mais sustentável do fi nanciamento da economia portuguesa no médio prazo. É

essencial, contudo, que este processo assuma uma natureza gradual, para permitir a progressiva conver-

gência para um novo equilíbrio de longo prazo. Dada a posição de partida globalmente sólida do sistema

bancário, a implementação destas medidas deverá permitir a recuperação da confi ança dos investidores

internacionais nos bancos portugueses, contribuindo para um regresso gradual ao fi nanciamento nos

mercados internacionais de dívida por grosso. A prossecução dos esforços de consolidação orçamental

é determinante para assegurar a sustentabilidade das fi nanças públicas, sendo essencial também para

assegurar a estabilidade fi nanceira em Portugal. Não obstante, estes esforços têm necessariamente de ser

complementados com medidas que permitam ultrapassar algumas debilidades estruturais da economia

portuguesa, promovendo a sua competitividade e o seu crescimento potencial.

7 Refi ra-se que, no âmbito do exercício europeu de stress test conduzido pela EBA em meados do ano, os bancos portugueses mostraram capacidade para absorver os choques negativos previstos no cenário adverso (ver “Cai-xa 2.1 O exercício de stress test da União Europeia em 2011: principais resultados dos bancos portugueses”, deste Relatório).

Page 46: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se
Page 47: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

CAIXA 2.1 | O EXERCÍCIO DE STRESS TEST NA UNIÃO EUROPEIA EM 2011:

PRINCIPAIS RESULTADOS DOS BANCOS PORTUGUESES

Esta caixa apresenta as principais características e resultados do exercício de stress test realizado ao

nível da União Europeia (UE) no primeiro semestre de 2011. Este exercício foi conduzido pela Autoridade

Bancária Europeia (EBA) em cooperação com o Comité Europeu do Risco Sistémico (ESRB) e as autoridades

de supervisão nacionais. O exercício de stress test teve por objetivo avaliar a resistência de um conjunto

representativo de instituições fi nanceiras dos países da União Europeia a uma evolução negativa dos

mercados, bem como contribuir para a avaliação global do risco sistémico no sistema fi nanceiro da UE.

Em particular, avaliou-se a adequação de capital dos bancos para absorver os choques simulados, tendo

por referência um rácio de capital Core Tier 1 de 5 por cento1.

Em Portugal, o exercício foi realizado pelos quatro maiores grupos bancários, nomeadamente a Caixa

Geral de Depósitos, o Banco Comercial Português, o Espírito Santo Financial Group e o Banco BPI,

contemplando igualmente os respetivos fundos de pensões dos empregados bancários. Conjuntamente,

estes grupos bancários representavam cerca de dois terços do total do ativo do sistema bancário portu-

guês em 2010. Refi ra-se que o Banco Santander Totta, que representa cerca de 8.5 por cento do total

do ativo do sistema bancário, foi integrado no exercício de stress test realizado pelo Banco de España

enquanto fi lial do Banco Santander, uma vez que o exercício foi realizado tendo em consideração os

grupos bancários ao nível mais elevado de consolidação.

Os bancos realizaram o exercício de stress test aplicando as metodologias, cenários e pressupostos desen-

volvidos pela EBA em cooperação com o ESRB, o Banco Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia.

Os cenários subjacentes ao exercício de stress test2

O exercício teve como referência dois cenários macroeconómicos apresentados pela EBA, o cenário de

base e o cenário adverso. Ambos os cenários consideraram um horizonte temporal de dois anos (2011-

2012). O cenário de base assentou nas previsões de Outono de 2010 da Comissão Europeia. O cenário

de base previa uma continuação da recuperação económica a decorrer na União Europeia, um aumento

gradual das taxas de juros na área do euro e uma depreciação do dólar face ao euro. No entanto, embora

se antevisse uma recuperação da atividade económica ao nível agregado, o comportamento dos Estados-

-Membros apresentava-se diferenciado entre países, com o fortalecimento da recuperação a um ritmo

relativamente mais rápido em alguns Estados-Membros. Como tal, o cenário de base projetava para a

economia portuguesa uma desaceleração em 2011, recuperando moderadamente em 2012 (Quadro

1). Refi ra-se que este cenário, assente nas previsões de Outono de 2010, não incorporava o Programa

de Assistência Económica e Financeira defi nido na sequência do pedido de apoio fi nanceiro à União

Europeia, aos países membros da área do euro e ao FMI.

O cenário adverso foi desenvolvido pelo BCE de forma semelhante aos desenvolvidos para os stress tests

realizados em 2009 e 2010. O cenário incorporava um conjunto de choques comuns a todas as economias

bem como um conjunto de choques idiossincráticos, com o objetivo de captar características estruturais

de cada economia. O elemento chave do cenário consistia num agravamento da crise da dívida soberana

1 O conceito de capital Core Tier 1 utilizado no exercício de stress test difere do conceito subjacente ao Aviso

nº 1/2011 do Banco de Portugal por incluir, entre outros, as deduções relativas a participações em instituições

fi nanceiras que não consolidam no grupo e as deduções relativas ao diferencial entre a perda esperada e a im-

paridade para as instituições que utilizam o método das notações internas (com exceção da carteira de ações).

2 Para mais informação sobre os cenários, metodologias e procedimentos do exercício Europeu de stress test, ver

http://www.eba.europa.eu/EU-wide-stress-testing/2011/The-EBA-publishes-details-of-its-stress-test-scena.aspx.

45

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

Page 48: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

na União Europeia a partir do início de 2011. Em termos gerais, este cenário resultava num aumento

das taxas de curto prazo no mercado interbancário em 1.25 pontos percentuais por comparação com

o cenário de base e numa redução dos preços das ações em 15 por cento, em média, na área do euro.

O cenário adverso teve subjacente uma combinação particularmente severa de choques para a economia

portuguesa. Com efeito, este cenário implicava um período de recessão profunda na medida em que

a atividade económica deveria registar uma contração acumulada do PIB de 5.5 pontos percentuais

nos dois anos do exercício, isto é, 2011 e 2012. Adicionalmente, o desemprego também aumentava,

atingindo cerca de 13 por cento da população ativa em 2012 (Quadro 1, Gráfi cos 1 e 2).

Quadro 1

CENÁRIOS MACROECONÓMICOS

Portugal

Cenário de base 2011 2012

PIB a preços constantes (taxa de variação anual, em percentagem) -1.0 0.8

Desemprego (em percentagem da população ativa, valores em fi m de período) 11.1 11.2

Taxa de juro de curto prazo (Euribor a 3 meses, valores de fi m de período) 1.5 1.8

Taxas de juro de longo prazo (OTs a 10 anos, valores de fi m de período) 6.9 7.1

Preços de imóveis não residenciais (tvh em percentagem, valores de fi m de período) 0.0 0.0

Preços de imóveis residenciais (tvh em percentagem, valores de fi m de período) 0.0 0.0

Taxa de desconto atuarial (variação em p.p. face ao valor do ano anterior) 0.0 0.0

Cenário adverso 2011 2012

PIB a preços constantes (taxa de variação anual, em percentagem) -3.0 -2.6

Desemprego (em percentagem da população ativa, valores em fi m de período) 11.6 12.9

Taxa de juro de curto prazo (Euribor a 3 meses, valores de fi m de período) 2.8 3.1

Taxas de juro de longo prazo (OTs a 10 anos, valores de fi m de período) 9.4 9.6

Preços de imóveis não residenciais (tvh em percentagem, valores de fi m de período) -10.0 -16.9

Preços de imóveis residenciais (tvh em percentagem, valores de fi m de período) -2.9 -8.4

Taxa de desconto atuarial (variação em p.p. face ao valor do ano anterior) 0.5 0.25

Fonte: EBA.

Nota: tvh - taxa de variação homóloga.

Gráfi co 1 Gráfi co 2

DISTRIBUIÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO DO PIB ACUMULADA ENTRE 2010 E 2012 PARA OS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA | MÁXIMO, MÍNIMO E

DISPERSÃO INTERQUARTIL

DISTRIBUIÇÃO DA VARIAÇÃO DA TAXA DE DESEMPREGO ENTRE 2010 E 2012 PARA OS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA | MÁXIMO, MÍNIMO E

DISPERSÃO INTERQUARTIL

-10

-5

0

5

10

15

Em

per

cent

agem

Portugal

Cenário de base Cenário adverso

-5

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

Em

pon

tos

perc

entu

ais

Portugal

Cenário de base Cenário adverso

Fonte: EBA. Fonte: EBA.

Nota: As caixas representam os intervalos entre os quartis 25 e

75. Os valores mínimo e máximo correspondem aos extremos

das linhas a preto.

Nota: As caixas representam os intervalos entre os quartis 25 e

75. Os valores mínimo e máximo correspondem aos extremos

das linhas a preto.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

46

I

Page 49: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

O cenário adverso também incorporava uma diminuição dos preços no mercado imobiliário residencial

e não residencial em ambos os anos (Gráfi co 3). A calibração deste fator de risco foi específi ca a cada

país. Apesar de a evidência disponível apontar para a ausência de uma sobrevalorização dos preços

da habitação em Portugal, a redução nominal assumida no cenário adverso pode ser justifi cada pelas

condições cíclicas muito negativas prevalecentes neste cenário.

Este cenário incorporava também um choque sobre o spread de taxa de juro dos títulos de dívida pública,

resultando numa subida acentuada das taxas de juro a 10 anos no horizonte de análise. A magnitude

deste choque foi calibrada em função da situação de cada país. Num contexto em que o cenário também

assumia uma subida das taxas de juro da dívida pública alemã, foi adicionalmente considerado um

aumento da taxa de desconto atuarial dos fundos de pensões dos empregados bancários de 75 p.b. no

horizonte temporal em análise.

O choque sobre o spread de taxa de juro dos títulos de dívida pública teve efeitos sobre o balanço dos

bancos por três vias: (i) através da aplicação de haircuts ao valor dos títulos de dívida pública classifi cados

na carteira de negociação, (ii) através do agravamento de provisões associado ao aumento de perdas

esperadas implícitas nas classes de rating de cada país para as restantes exposições a dívida soberana

e (iii) através do aumento do custo de fi nanciamento.

Principais hipóteses metodológicas e de procedimento

O exercício de stress test assumiu um conjunto de hipóteses metodológicas, destacando-se as seguintes:

1. Balanço estático

O exercício foi realizado no pressuposto de balanço estático ao nível de dezembro de 2010, tendo-se

restringido totalmente alterações no valor do balanço e respetiva estrutura. Desta forma, os bancos não

puderam reagir aos choques implícitos aos cenários, isto é, o exercício não tomou em consideração as

alterações de estratégia planeadas pelos bancos nem os seus atos de gestão. Em particular, o exercício

não incorporou o processo de desalavancagem que os bancos portugueses estão a efetuar no âmbito

do Programa de Assistência Económica e Financeira;

Gráfi co 3

DISTRIBUIÇÃO DA TAXA DE CRESCIMENTO DO PREÇO DOS ATIVOS IMOBILIÁRIOS ACUMULADA ENTRE 2010 E 2012 PARA OS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA | MÁXIMO, MÍNIMO E DISPERSÃO INTERQUARTIL

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

Per

cent

agem

Portugal

Cenário de base Cenário adverso

Imóveis não residenciais

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

Per

cent

agem

Portugal

Cenário de base Cenário adverso

Imóveis residenciais

Fonte: EBA.

Nota: As caixas representam os intervalos entre os quartis 25 e 75. Os valores mínimo e máximo correspondem aos extremos das

linhas a preto.

47

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

Page 50: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

2. Aumento do custo de fi nanciamento

O exercício assumia que o custo das novas emissões nos mercados de fi nanciamento por grosso teria

um acréscimo em linha com o aumento do spread de taxa de juro dos títulos de dívida pública do país

de origem do banco. Esta hipótese, que tinha fortes impactos no custo de fi nanciamento, foi assumida

por todos os bancos no exercício, pese embora, nas atuais circunstâncias, os bancos portugueses não

tenham acesso ao mercado internacional de dívida por grosso a médio e longo prazo;

3. Limitações à passagem do aumento do custo de fi nanciamento às operações de crédito com

clientes

O aumento do spread no fi nanciamento dos bancos só podia ser transmitido parcialmente, no máximo

metade, às renovações de crédito junto de clientes. Esta hipótese teve fortes implicações na margem

fi nanceira. Adicionalmente, na fase fi nal do exercício, a EBA impôs um limite superior à margem fi nanceira;

4. Choques sobre a carteira de negociação

A carteira de negociação foi sujeita a choques sobre as taxas de juro, preços de ações, taxas de câmbio,

preços das mercadorias, e outros fatores de risco de mercado. Também foram aplicados haircuts aos

títulos de dívida pública classifi cados nesta carteira. Estes haircuts foram revistos em alta no decorrer

do exercício, de forma a refl etir o agravamento das condições de mercado da dívida soberana de alguns

países nos primeiros meses do ano;

5. Aumento de imparidades nas exposições a dívida soberana

Embora os cenários não explicitassem a possibilidade de incumprimento de um estado soberano da UE,

a EBA defi niu instruções para o registo de provisões sobre a dívida soberana, na sequência do aumento

na probabilidade de incumprimento implícita na classe de rating de cada país. Esta instrução foi intro-

duzida na fase fi nal do exercício, no sentido de refl etir as tensões que se vinham a verifi car no mercado.

Principais resultados do exercício de stress test

A resiliência dos bancos foi avaliada tomando como referência o capital de melhor qualidade dos bancos

(Core Tier 1) tendo-se estabelecido um benchmark de capital de 5 por cento dos ativos ponderados

pelo risco.

O gráfi co 4 apresenta a distribuição da amostra total dos bancos considerados na análise por classe

de rácio Core Tier 1 em dezembro de 2010 e em dezembro de 2012, i.e., após a simulação do cenário

adverso. Apresenta-se também a distribuição dos bancos portugueses pelas mesmas classes de Core

Tier 1. Como seria de esperar, verifi cou-se um movimento da distribuição total para a esquerda, em

resultado da aplicação dos choques adversos. A análise do gráfi co também permite concluir que, no

cenário adverso, a solvabilidade dos grupos bancários portugueses participantes no exercício também

seria signifi cativamente mais reduzida em 2012. No entanto, todos os grupos bancários portugueses

revelaram capacidade para absorver a combinação particularmente gravosa de choques económicos e

fi nanceiros contemplados no cenário adverso. De facto, embora de forma diferenciada, todos os bancos

continuavam a apresentar rácios de capital Core Tier 1 superiores a 5 por cento em 2012 no cenário

adverso (Gráfi co 5).

A redução dos níveis de solvabilidade em 2012 no cenário adverso, face aos valores de 2010, pode ser

atribuída ao impacto dos fatores de risco mais importantes do exercício, sendo os resultados para os

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

48

I

Page 51: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 4

DISTRIBUIÇÃO DA AMOSTRA TOTAL DE BANCOS POR CLASSE DE CORE TIER I | CENÁRIO ADVERSO

0

5

10

15

20

25

30

< 5% 5 - 6% 6 - 7% 7 - 8% 8 - 9% 9 - 10% >10%

Núm

ero

de b

anco

s

Core Tier I

2010

Amostra total de bancos da UEBancos portugueses

0

5

10

15

20

25

30

< 5% 5 - 6% 6 - 7% 7 - 8% 8 - 9% 9 - 10% >10%

Núm

ero

de b

anco

s

Core Tier I

2012

Amostra total de bancos da UEBancos portugueses

Fonte: EBA.

Gráfi co 5

RÁCIOS DE CAPITAL CORE TIER I | CENÁRIO ADVERSO

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

2010 2012

Em

per

cent

agem

Caixa Geral de Depósitos

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

2010 2012*

Em

per

cent

agem

Banco Comercial Português

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

2010 2012**

Em

per

cent

agem

Espírito Santo Financial Group

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

2010 2012**

Em

per

cent

agem

Banco BPI

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: * Inclui o impacto de uma emissão de capital anunciada, e com tomada fi rme, entre 31 de dezembro de 2010 e 30 de abril

de 2011. ** Incorpora o impacto de medidas anunciadas, contratualizadas e executadas até 30 de abril de 2011.

49

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

Page 52: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

bancos portugueses apresentados no gráfi co 63. Em primeiro lugar, no que diz respeito ao risco de crédito,

as perdas de imparidade líquidas associadas à carteira de empréstimos aumentaram signifi cativamente

devido, inter alia, à permanência de taxas de juro em níveis elevados, em conjugação com uma redução

acentuada do PIB e um aumento da taxa de desemprego. O registo de perdas por imparidades, embora

sendo heterogéneo entre os bancos devido às diferenças no valor inicial da carteira de empréstimos e

respetiva composição, é o fator com maior contributo negativo para a rendibilidade e a solvabilidade

dos bancos. Em comparação com os resultados reportados para o conjunto dos países incluídos no

exercício, verifi ca-se que os bancos portugueses registaram imparidades, avaliadas em percentagem do

ativo total, muito signifi cativas (Gráfi co 7).

Por sua vez, neste cenário de subida de taxas de juro, os resultados operacionais, e em particular a margem

fi nanceira, contribuíram para o aumento da solvabilidade dos bancos. De facto, a margem fi nanceira dos

3 Uma decomposição semelhante para a amostra total de bancos é apresentada em http://stress-test.eba.europa.

eu/pdf/EBA_ST_2011_Summary_Report_v6.pdf. Verifi ca-se que o impacto de cada fator para a solvabilidade dos

bancos portugueses é muito semelhante à apresentada para a amostra total de bancos europeus.

Gráfi co 6

DECOMPOSIÇÃO DOS EFEITOS SOBRE OS RÁCIOS DE CAPITAL CORE TIER I PARA OS BANCOS PORTUGUESES | CENÁRIO ADVERSO

4

5

6

7

8

9

10

11

1220

10

Res

ulta

dos

oper

acio

nais

Aum

ento

de

capi

tal

Req

uisi

tos

de

capi

tal

Impa

ridad

es

Out

ros

2012

Em

per

cent

agem

Caixa Geral de Depósitos

4

5

6

7

8

9

10

11

12

2010

Res

ulta

dos

oper

acio

nais

Aum

ento

de

capi

tal

Req

uisi

tos

de

capi

tal

Impa

ridad

es

Out

ros

2012

Em

per

cent

agem

Banco Comercial Português

4

5

6

7

8

9

10

11

12

2010

Res

ulta

dos

oper

acio

nais

Aum

ento

de

capi

tal

Req

uisi

tos

de

capi

tal

Impa

ridad

es

Out

ros

2012

Em

per

cent

agem

Espírito Santo Financial Group

4

5

6

7

8

9

10

11

1220

10

Res

ulta

dos

oper

acio

nais

Aum

ento

de

capi

tal

Req

uisi

tos

de

capi

tal

Impa

ridad

es

Out

ros

2012

Em

per

cent

agem

Banco BPI

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: As barras azuis representam os níveis de partida (2010) e fi nais (2012) dos rácios de capital. As barras verdes identifi cam as

variáveis com contributo positivo para a evolução dos rácios, enquanto as barras vermelhas estão associadas a contributos negativos.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

50

I

Page 53: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

bancos portugueses é muito sensível à evolução das taxas de juro do mercado monetário na medida em

que, por um lado, as taxas dos créditos se encontram indexadas a esta taxa e, por outro lado, as taxas

de depósito não seguem tão de perto a evolução das taxas de mercado monetário, muito em particular

as taxas de depósitos à ordem que são muito baixas e praticamente não são sensíveis a movimentos nas

taxas de juro do mercado monetário. Por sua vez, o aumento no custo de fi nanciamento, decorrente da

subida dos spreads da dívida soberana, e a limitação à transmissão do aumento do custo às operações

de crédito de clientes, constituíram um elemento de pressão no sentido descendente sobre a margem

fi nanceira. Finalmente, refi ra-se que a EBA defi niu o valor observado em 2010 como limite superior

para a margem fi nanceira. Não obstante, o resultado operacional contribuiu muito positivamente para

a evolução do rácio de capital.

O impacto na demonstração de resultados dos bancos portugueses decorrente da desvalorização dos

títulos de dívida pública foi reduzido, uma vez que a maioria da dívida soberana se encontra registada

no banking book (Gráfi co 8). A desvalorização das exposições soberanas no banking book decorrente

da aplicação de haircuts de magnitude similar à considerada no trading book apenas teria impacto

sobre os fundos próprios na situação em que, através da venda da carteira, se verifi casse a realização

de menos valias latentes.

Finalmente, o aumento do risco de crédito materializou-se também num aumento dos ativos ponde-

rados por risco contribuindo para a redução dos rácios de solvabilidade, num contexto de hipótese de

balanço estático.

Gráfi co 7

PERDAS POR IMPARIDADE PARA ATIVOS FINANCEIROS NO BANKING BOOK

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

2010 2011 2012 2010 2011 2012

Cenário de base Cenário adverso

Em

per

cent

agem

do

ativ

o to

tal

CGD BCP ESFG BBPI

0

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

4

2010 2011 2012 2010 2011 2012

Cenário de base Cenário adversoE

m p

erce

ntag

em d

o at

ivo

tota

l

Áustria Alemanha DinamarcaEspanha França Reino UnidoGrécia Irlanda ItáliaPaíses Baixos Portugal

Fonte: EBA.

Nota: A informação por país refere-se à média ponderada pelo ativo de cada banco.

51

2

Risc

os M

acro

econ

ómic

os e

Fin

ance

iros

Page 54: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Considerações fi nais

Os exercícios de stress test são um instrumento, entre outros, à disposição das autoridades de super-

visão para avaliar a robustez das instituições/sistemas bancários. Além disso, constituem um elemento

de análise para as próprias instituições, e devem ser integrados no processo interno de gestão de

riscos. De facto, estes exercícios permitem identifi car as principais vulnerabilidades e fontes de risco das

instituições, contribuindo para a elaboração de medidas que permitam aumentar a solvabilidade das

mesmas, não devendo, desta forma, ser interpretados como um simples exercício de “passa ou falha”

por comparação com o limiar de 5 por cento defi nido para o rácio Core Tier 1. No exercício de 2011, os

bancos portugueses mostraram capacidade para absorver os choques previstos no cenário. No entanto,

embora se situassem acima do limiar de 5 por cento para o rácio Core Tier 1 em 2012 no cenário adverso,

dois bancos apresentaram medidas corretivas no sentido de reforçarem a respetiva situação fi nanceira.

Estas medidas foram concretizadas poucos meses após a publicação dos resultados do exercício, em

linha com as instruções do Banco de Portugal nesse sentido.

Gráfi co 8

EXPOSIÇÕES BRUTAS A DÍVIDA SOBERANA EM DEZEMBRO DE 2010 | EM PERCENTAGEM DO ATIVO TOTAL

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

Tota

ldo

s qu

ais:

neg

ocia

ção

CGD BCP ESFG BBPI AT DE ES FR UK GR IE IT NL

Em

per

cent

agem

PT GR IE IT PL Outros países da UE Outros países fora da UE Todos os países

Fonte: EBA.

Nota: A informação por país refere-se à média ponderada pelo ativo de cada banco.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

52

I

Page 55: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

3. SITUAÇÃO FINANCEIRA DOS PARTICULARES E SOCIEDADES

NÃO FINANCEIRAS

No primeiro semestre de 2011, o setor privado não fi nanceiro aumentou ligeiramente as suas necessi-

dades de fi nanciamento face ao mesmo período do ano anterior, refl etindo a redução da capacidade de

fi nanciamento dos particulares e o aumento das necessidades de fi nanciamento das empresas (Gráfi co

3.1)1. No caso dos particulares, foi notória a quebra do rendimento disponível que se refl etiu numa

redução do consumo e numa queda da taxa de poupança. No caso das empresas, observou-se uma

deterioração da situação fi nanceira, traduzida num aumento das necessidades de fi nanciamento, que

se mantiveram a um nível muito superior ao da média da área do euro (Gráfi co 3.2), bem como nos

indicadores de rendibilidade. O investimento reduziu-se refl etindo a quebra nas perspetivas de procura

e a necessidade de ajustamento dos balanços das empresas face ao seu atual elevado nível de endivida-

mento. É de destacar a ligeira redução registada no crédito bancário concedido às famílias e às empresas

não fi nanceiras, em contraste com o forte crescimento acumulado em anos anteriores. Por sua vez, a

maior concorrência entre os bancos na captação de depósitos potenciou a dinâmica de recomposição da

carteira de ativos fi nanceiros dos particulares, num contexto de aumento do risco de mercado e maior

aversão ao risco dos agentes. De facto, o aumento dos depósitos bancários contrastou com a queda

verifi cada na generalidade dos outros instrumentos de poupança.

Assim, a evolução da situação fi nanceira dos particulares e das sociedades não fi nanceiras deu indícios

claros de que está em curso o inadiável processo de desalavancagem do setor. Com a crise da dívida

soberana na área do euro tornou-se particularmente evidente que este ajustamento é absolutamente

necessário para se alcançar um nível sustentável de endividamento do setor não fi nanceiro. No caso dos

particulares, os níveis do consumo e da taxa de poupança deverão ajustar-se a um nível de rendimento

permanente mais baixo. A contração do investimento em habitação e a consequente redução do crédito

contribuirão para o necessário ajustamento do nível de endividamento. As sociedades não fi nanceiras,

sobretudo as que evidenciam um elevado nível de endividamento e baixo grau de efi ciência, terão de

1 Designa-se, abreviadamente, por setor privado não fi nanceiro o conjunto formado pelos particulares e pelas

empresas não fi nanceiras. Estas últimas incluem algumas empresas participadas por capital público mas que não

consolidam com o setor das aministrações públicas.

Gráfi co 3.1

CAPACIDADE/NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO DO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO

-14.0

-12.0

-10.0

-8.0

-6.0

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 08 S1

09 S1

10 S1

11 S1

Em

per

cent

agem

do

PIB

Sociedades não financeirasParticularesSetor privado não financeiro

Fonte: INE.

53

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 56: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

proceder a ajustamentos na sua estrutura produtiva, em particular na sua estrutura de custos, no sentido

de se tornarem mais competitivas, e nos seus balanços, para atingirem uma estrutura de fi nanciamento

mais equilibrada e menos sensível a choques negativos. É de referir, em especial, a importância da

re-estruturação das empresas públicas dada a sua elevada dimensão e elevado endividamento. Em parti-

cular, espera-se que essa re-estruturação contribua para minimizar o seu impacto sobre o processo de

desalavancagem do sistema bancário e sobre o fi nanciamento das empresas privadas e dos particulares.

A desalavancagem do setor não fi nanceiro faz parte de um processo global de ajustamento. No caso

do setor fi nanceiro, o ajustamento traduz também a necessidade de cumprir as metas estabelecidas em

termos de requisitos de capital e de composição dos balanços que lhe permitirão alcançar uma estru-

tura de fi nanciamento sustentável, bem como o seu regresso gradual ao fi nanciamento pelos mercados

fi nanceiros internacionais.

Este ajustamento comportará elevados custos económicos e sociais no curto prazo, mas surge como um

imperativo incontornável. É de esperar que se intensifi quem as situações de incumprimento do crédito,

sobretudo nos segmentos mais vulneráveis, como sejam as famílias em que se verifi quem transições para

o desemprego e as empresas mais dependentes da evolução do mercado doméstico.

As situações de incumprimento no setor dos particulares terão, em princípio, implicações mais limitadas

em termos de estabilidade fi nanceira do que as que advêm do incumprimento por parte das sociedades

não fi nanceiras. No caso das famílias, o crédito é constituído em grande parte por crédito para aqui-

sição de habitação, em larga medida para primeira habitação, onde as situações de incumprimento são

naturalmente muito menos frequentes. Adicionalmente, estes empréstimos estão garantidos pelo valor

dos bens hipotecados não havendo evidência de rácios loan-to-value demasiado elevados em Portugal,

em particular porque a prática de equity withdrawal, frequente noutros países, não se generalizou em

Portugal. Adicionalmente, na atual fase recessiva, os preços do mercado imobiliário parecem ter descido

apenas marginalmente, refl etindo a ausência de uma bolha especulativa no mercado português. No caso

do crédito ao consumo e outros fi ns, a ocorrência de situações de incumprimento é muito mais frequente,

em parte por se ter generalizado o acesso a este tipo de crédito durante o período que decorreu entre o

início da área do euro e o eclodir da crise fi nanceira. O maior risco de crédito destes empréstimos estava,

aliás, refl etido na aplicação de spreads muito mais altos.

Gráfi co 3.2

CAPACIDADE/NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2010

2009

2009

2010

2009

2010

BE DE EE IE GR ES FR IT CY LU NL AU PT SL SK FI AE AE DK SE UK

Em

per

cent

agem

do

PIB

Sociedades não financeiras Particulares

med

iana

méd

ia

Fonte: Eurostat.

Nota: A média e a mediana foram calculadas com os dados para os países da área do euro para os quais existe informação disponível.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

54

I

Page 57: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

No caso das empresas, o incumprimento está a aumentar para níveis muito elevados, o que resulta em

grande parte da acentuada contração da atividade económica. Com o objetivo de minimizar o impacto

da materialização do risco de crédito, está previsto no Programa de Assistência Económica e Financeira

a Portugal o fomento de mecanismos que conduzam à concretização de processos de re-estruturação

das empresas economicamente viáveis, mas com difi culdades em cumprir os compromissos decorrentes

das suas dívidas.

Particulares

No primeiro semestre de 2011, a situação fi nanceira dos particulares deteriorou-se consideravelmente.

A capacidade de fi nanciamento do setor foi inferior à que se registou no mesmo período do ano ante-

rior (Gráfi co 3.3). A poupança reduziu-se e o consumo privado decresceu, o que é consistente com a

redução acentuada do rendimento disponível. Para o conjunto do ano, estima-se que o consumo registe

um decréscimo em termos reais mais acentuado do que o PIB, estabelecendo o indispensável contraste

com a tendência da última década. Esta evolução indica que as despesas de consumo dos particulares

começaram a ajustar-se a um nível mais baixo do rendimento permanente.

A redução do rendimento disponível resultou da evolução muito adversa do mercado de trabalho, com

a queda do emprego e a diminuição das remunerações por trabalhador. Este último aspeto foi especial-

mente condicionado pela redução de 5 por cento em termos médios das remunerações dos funcionários

públicos. No entanto, outros aspetos da consolidação orçamental, em particular o agravamento da

tributação direta e a redução das prestações sociais, contribuíram também para a evolução negativa do

rendimento disponível. Em contraste com a situação no mesmo período do ano anterior, os rendimentos

de propriedade deram um contributo positivo para a variação do rendimento disponível (Gráfi co 3.4).

O nível de investimento dos particulares, medido em percentagem do rendimento disponível, encontra-

-se longe dos níveis atingidos no início dos anos 2000, apresentando uma tendência decrescente mais

defi nida sobretudo a partir de 2005. Esta tendência tem sido relativamente moderada, em linha com

uma desaceleração também gradual do crédito à habitação. No entanto, no primeiro semestre de 2011,

o investimento em habitação reduziu-se signifi cativamente. Esta evolução resultou de uma apreciação

muito negativa sobre a evolução futura do rendimento disponível das famílias e da maior difi culdade em

Gráfi co 3.3

CAPACIDADE DE FINANCIAMENTO, POUPANÇA E INVESTIMENTO DOS PARTICULARES

-15

-12

-9

-6

-3

0

3

6

9

12

15

99 2001 2003 2005 2007 2009

Em

per

cent

agem

do

rend

imen

to d

ispo

níve

l(a)

08 09 10 11 S1 S1 S1 S1

Poupança fi nanceiraPoupançaSaldo de transferências de capitalAquisições líquidas de cessões de ativos reais(b)

Cap. líq. fi nanciamento, excluindo contribuições extraordiná-rias para fundos de pensões

Fonte: INE.

Notas: (a) Rendimento disponível ajustado pela variação da participação das famílias nos fundos de pensões. (b) Corresponde à

soma da FBCF, variação de existências, aquisições líquidas de cessões de objetos de valor e aquisições líquidas de cessões de ativos

não fi nanceiros não produzidos.

55

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 58: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

obter fi nanciamento bancário, dado o aumento da restritividade nas condições de concessão de crédito.

O processo de ajustamento da situação fi nanceira dos particulares é evidente na redução observada nas

transações fi nanceiras, tanto do lado do ativo como do lado do passivo no primeiro semestre de 2011.

No seu conjunto, as transações líquidas de ativos fi nanceiros dos particulares registaram um valor negativo,

o que não é frequente observar-se. De facto, o fl uxo líquido signifi cativo registado nos depósitos não foi

sufi ciente para compensar o valor negativo dos outros instrumentos que integram a carteira de títulos

dos particulares (excetua-se o caso das ações não cotadas) (Gráfi co 3.5). Registou-se assim uma dimi-

nuição dos títulos de dívida dos bancos colocados junto de clientes, das subscrições líquidas de unidades

de participação em fundos de investimento e dos investimentos em seguros e fundos de pensões, bem

como o aumento dos resgates de certifi cados de aforro (incluídos nos depósitos para efeitos das contas

nacionais fi nanceiras).

A evolução dos depósitos resultou de uma política comercial por parte dos bancos mais orientada para a

captação de depósitos junto da sua base de clientes, o que contribui para uma estrutura de balanço mais

equilibrada. Esta prática dos bancos refl etiu-se no aumento da remuneração relativa dos depósitos. Note-se

que, no primeiro semestre de 2011, se voltou a observar uma diminuição da margem de intermediação

nos depósitos, o que não aconteceu no caso dos empréstimos (Gráfi co 3.6). Estes desenvolvimentos

contribuíram, assim, para o alargamento da diferença entre os juros recebidos e os juros pagos pelos parti-

culares. Note-se que uma subida rápida e acentuada das taxas de remuneração oferecidas pelos bancos

na captação de depósitos envolve riscos para as instituições e poderá ter um efeito negativo na evolução

da rendibilidade do sistema bancário2. Esta situação levou a que Banco de Portugal tivesse aprovado

recentemente medidas no sentido de fazer refl etir aquela prática em maior exigência de fundos próprios

nas instituições envolvidas, criando as condições para que a subida das remunerações dos depósitos se

faça de forma gradual e ordenada.

O aumento dos depósitos correspondeu também a uma tendência de recomposição da carteira de ativos

fi nanceiros dos particulares a favor de ativos não sujeitos a fl utuações de mercado, dado o contexto de

grande incerteza, nomeadamente no que respeita à evolução da própria situação fi nanceira das famílias.

Considerando as posições em fi nal de período, observa-se um reforço do peso dos depósitos bancários

na carteira de ativos fi nanceiros dos particulares e, em menor grau, das ações não cotadas (Gráfi co 3.7).

2 Ver “Secção 4.1 Atividade e rendibilidade”, deste Relatório.

Gráfi co 3.4

CONTRIBUTOS PARA A TAXA DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA DO RENDIMENTO DISPONÍVEL BRUTO DOS PARTICULARES

-3.00

-2.00

-1.00

0.00

1.00

2.00

3.00

4.00

2008 S1 2009 S1 2010 S1 2011 S1

Pon

tos

perc

entu

ais

Excedente bruto de exploração e rendimento mistoRemuneraçõesRendimentos de propriedadeImpostos, prestações sociais e outras transferênciasTotal (taxa de variação do rendimento disponível bruto)

Fonte: INE.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

56

I

Page 59: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 3.5

ACTIVOS FINANCEIROS DOS PARTICULARES | TRANSAÇÕES NO PERÍODO

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

2000 2002 2004 2006 2008 2010 08S1

09S1

10S1

11S1

Em

per

cent

agem

do

rend

imen

to d

ispo

níve

l

Outros débitos e créditos(a)

Empréstimos, créditos comerciais e adiantamentosSeguros de vida e fundos de pensõesAções não cotadas e outras participaçõesAções cotadasParticipações em fundos de investimentoTítulos exceto açõesNumerário e depósitosTotal transações líquidas em ativos fi nanceiros

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Valores consolidados. (a) Inclui outras reservas técnicas de seguros e outras contas a receber.

Gráfi co 3.6

JUROS LÍQUIDOS RECEBIDOS POR PARTICULARES E MARGEM DA INTERMEDIAÇÃO BANCÁRIA COM PARTICULARES

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

2000 2002 2004 2006 2008 2010

Em

per

cent

agem

do

rend

imen

to d

ispo

níve

l

Margem dos empréstimos (a)Margem dos depósitos (b)Juros recebidos (c)Juros pagos (d)Juros líquidos (c-d)

08 09 10 11S1 S1 S1 S1

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Os serviços de intermediação fi nanceira indiretamente medidos (SIFIM) constituem a remuneração indireta obtida pelas

instituições fi nanceiras nas operações de depósitos e empréstimos que realizam com os seus clientes. (a) SIFIM estimados para os

empréstimos de particulares. (b) SIFIM estimados para os depósitos de particulares. (c) Corresponde à diferença entre os juros a

receber incluídos na conta de distribuição do rendimento de particulares e os respetivos SIFIM. (d) Corresponde à soma dos juros a

pagar incluídos na conta de distribuição do rendimento de particulares com os respetivos SIFIM.

57

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 60: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Está em curso o processo de desalavancagem das famílias

Do lado do passivo, destaca-se a redução dos empréstimos obtidos pelos particulares no primeiro semestre

de 2011 (Gráfi co 3.8). É particularmente relevante a evolução dos empréstimos para aquisição de habi-

tação, que registaram um fl uxo negativo, o que acontece pela primeira vez num longo período. Esta

evolução refl ete sobretudo os empréstimos concedidos pelos bancos domésticos. O crédito concedido

aos particulares por instituições fi nanceiras residentes não domésticas registou também uma desacele-

ração desde o início de 2011, mantendo, no entanto, algum dinamismo face ao crédito concedido pelos

bancos domésticos3. Note-se que esta atuação diferenciada no mercado do crédito por parte dos bancos

3 De facto, os bancos não domésticos a operar em Portugal têm enfrentado menores difi culdades de fi nanciamen-

to no mercado internacional, o que lhes tem permitido uma menor restritividade de critérios na concessão de

crédito (ver “Secção 4.4 Risco de crédito” e o artigo “O comportamento dos bancos domésticos e não domésti-

cos na concessão de crédito à habitação: uma análise com base em dados microeconómicos”, deste Relatório).

Gráfi co 3.7

COMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE ATIVOS FINANCEIROS DOS PARTICULARES | EM PERCENTAGEM DO TOTAL DA

CARTEIRA

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Numerário e depósitos

Títulos cotados

Ações não cotadas

Seguros e FP Outros

Em

per

cent

agem

2007 S12008 S12009 S12010 S12011 S1

Fonte: Banco de Portugal.

Gráfi co 3.8

PASSIVOS FINANCEIROS DE PARTICULARES | TRANSAÇÕES

-10

-5

0

5

10

15

20

2000 2002 2004 2006 2008 2010 08S1

09S1

10S1

11S1

Em

per

cent

agem

do

rend

imen

to d

ispo

níve

l

Outros débitos e créditos(a)

Créditos comerciais e adiantamentosOutros empréstimosEmpréstimos bancários para outros fi nsEmpréstimos bancários para consumoEmpréstimos para habitaçãoTotal

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Valores consolidados. (a) Inclui outras reservas técnicas de seguros e outras contas a receber.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

58

I

Page 61: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

não domésticos tem contribuído para amenizar as consequências do processo de ajustamento. Contudo,

os dados mais recentes apontam para uma interrupção da tendência de aumento do peso dos bancos

não domésticos na concessão de crédito à habitação e uma convergência das taxas de juro praticadas,

sugerindo alguma reaproximação do comportamento dos bancos domésticos e não domésticos.

Ainda assim, a redução do rácio entre o nível de endividamento dos particulares e o rendimento disponível

foi marginal e deveu-se sobretudo à evolução dos empréstimos não bancários, essencialmente emprés-

timos concedidos por outras instituições fi nanceiras não monetárias (Gráfi co 3.9). No contexto da área

do euro, a dívida dos particulares, medida em percentagem do PIB, é superior à média, tendo mantido

a sua posição relativa, num patamar que se situa claramente abaixo do observado no grupo de países

que apresentam os rácios mais elevados (Chipre, Países Baixos e Irlanda) (Gráfi co 3.10).

A deterioração da confi ança das famílias num enquadramento macroeconómico muito desfavorável

tem-se traduzido na contração gradual da procura de crédito. Ao longo de 2010 esta situação foi

sobretudo visível no caso dos empréstimos para consumo e outros fi ns, uma vez que os empréstimos

para habitação continuaram a apresentar, até ao terceiro trimestre, taxas de crescimento relativamente

elevadas face ao que seria de esperar dada a evolução dos seus determinantes de longo prazo. Do lado

da oferta de crédito, de acordo com as respostas dos bancos portugueses participantes no Inquérito

ao Bancos sobre o Mercado do Crédito, as instituições têm vindo a aplicar condições cada vez mais

restritivas na concessão de crédito, num enquadramento caracterizado por acrescidas difi culdades de

fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso, necessidade de ajustamento dos seus

balanços e aumento do risco dos clientes. Esta maior exigência traduz-se em particular no aumento dos

spreads. Adicionalmente, outras condições contratuais ter-se-ão tornado também mais exigentes. Os

bancos inquiridos referem, por exemplo, o aumento das comissões e outros encargos não relacionados

com taxas de juro e a diminuição do montante dos empréstimos face ao valor da garantia. No que

respeita ao crédito para consumo e outros fi ns, acrescem outros fatores tais como a avaliação menos

favorável da capacidade dos consumidores para assegurar o serviço de dívida e o aumento dos riscos

relacionados com o valor das garantias.

Gráfi co 3.9 Gráfi co 3.10

ENDIVIDAMENTO DOS PARTICULARES | POSIÇÕES

EM FIM DE PERÍODO(a)

DÍVIDA FINANCEIRA DOS PARTICULARES | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL

0

2

4

6

8

10

12

0

20

40

60

80

100

120

140

160

2001 2003 2005 2007 2009 2011S1

Em

per

cent

agem

Em

per

cent

agem

do

rend

imen

to d

ispo

níve

l

Empréstimos bancários - HabitaçãoEmpréstimos bancários - ConsumoEmpréstimos bancários - Outros finsOutros empréstimosJuros a pagarTaxa de juro implicita

(b)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Chi

pre

Paí

ses

Bai

xos

Irla

nda

Por

tuga

lE

span

haF

inlâ

ndia

Ale

man

haG

réci

ustr

iaB

élgi

caLu

xem

burg

oIt

ália

Esl

ováq

uia

Esl

ovén

iaE

stón

iaF

ranç

a

Áre

a do

eur

o

Din

amar

caR

eino

Uni

doS

uéci

a

Em

per

cent

agem

do

PIB

2001200820092010

Fontes: INE e Banco de Portugal. Fontes: Eurostat, INE e Banco de Portugal.

Nota: (a) No primeiro semestre de 2011, os outros emprésti-

mos incluem os empréstimos concedidos pela instituição Totta

IFIC que foi integrada no Banco Santander Totta em abril de

2011. (b) Estimativas do Banco de Portugal relativas a juros a

pagar de dívida fi nanceira dos particulares.

Nota: A média para a área do euro foi calculada com os dados

dos países para os quais existe informação disponível.

59

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 62: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Perspetivas de deterioração mais profunda na situação fi nanceira dos particulares

As perspetivas sobre a evolução da situação fi nanceira dos particulares são de deterioração da confi ança

das famílias, num contexto de aumento continuado do desemprego e redução acentuada do rendimento

disponível. Esta evolução deverá traduzir-se numa diminuição considerável da procura de crédito por

parte dos particulares prosseguindo o processo de desalavancagem deste setor. É de esperar também

que, por sua vez, a oferta de crédito contribua para esta evolução, dado que se perspetiva a aplicação

de condições mais exigentes na concessão de empréstimos, nomeadamente no caso dos empréstimos

para aquisição de habitação. Além disso, parece ter-se interrompido a tendência de aumento do peso

dos bancos não domésticos na concessão de crédito à habitação, registando-se uma aproximação entre

as taxas de juro praticadas por bancos domésticos e não domésticos.

Neste contexto, deverá prosseguir a tendência de subida da materialização do risco de crédito, com o

aumento das situações de incumprimento especialmente no que respeita aos empréstimos para consumo

e outros fi ns. No caso dos empréstimos à habitação, as prestações mantêm ainda um nível relativamente

moderado em termos absolutos face ao que se observava no início de 2009, o que se deve à queda

acentuada das taxas de juro (Gráfi co 3.11). No futuro próximo, apesar de se esperar que persista a

tendência de descida das taxas de juro do mercado monetário, as prestações de novos empréstimos

refl etirão condições contratuais mais restritivas (com spreads mais elevados e prazos menos longos). Para

os empréstimos já concedidos, a tendência de descida das taxas de mercado conjugada com a manu-

tenção dos spreads, incidirá favoravelmente nas prestações a pagar. Por sua vez, a quebra acentuada

que se projeta para o rendimento disponível refl etir-se-á também no nível médio da taxa de esforço4.

Sociedades não fi nanceiras

No primeiro semestre de 2011, o valor das necessidades de fi nanciamento das sociedades não fi nanceiras

foi de cerca de 7 por cento do PIB, o que representa algum agravamento face ao mesmo período do ano

anterior. Esta evolução refl etiu a acentuada quebra da taxa de poupança bruta do setor (em percentagem

do PIB) que foi parcialmente atenuada pela diminuição da taxa de investimento (Gráfi co 3.12). Note-se

que a habitual discrepância estatística entre o valor das necessidades de fi nanciamento e o saldo das

4 Ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.

Gráfi co 3.11

PRESTAÇÃO MÉDIA NO CRÉDITO À HABITAÇÃO

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11

Eur

os

Juros TotaisCapital Amortizado

Fonte: INE.

Nota: Último valor: agosto de 2011.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

60

I

Page 63: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

operações fi nanceiras foi particularmente elevada neste semestre. Esta situação refl ete sobretudo a maior

incerteza associada às estimativas relativas ao segundo trimestre do ano, que em geral apresenta um valor

mais elevado e mais volátil das necessidades de fi nanciamento por ser o trimestre em que tipicamente se

realiza a distribuição de dividendos5.

A poupança bruta das empresas é medida basicamente pela diferença entre o excedente bruto de explo-

ração e os rendimentos distribuídos (lucros e encargos fi nanceiros líquidos). A queda da taxa de poupança

resultou da ligeira diminuição do excedente bruto de exploração, medido em percentagem do PIB, e do

aumento signifi cativo dos rendimentos de propriedade (quer a parcela dos rendimentos distribuídos de

sociedades quer a dos encargos fi nanceiros) (Gráfi co 3.13). No caso dos lucros distribuídos, a evolução

deve-se em parte à distribuição extraordinária de dividendos da Portugal Telecom (no seguimento da

venda da participação no capital da Vivo).

A análise da situação fi nanceira das sociedades não fi nanceiras com base em dados agregados é muito

insufi ciente. Com efeito, o conjunto de empresas que constituem o setor das sociedades não fi nanceiras

é muito heterogéneo. As empresas diferem quanto ao setor de atividade, quanto à dimensão, quanto

ao facto de serem privadas ou públicas, entre outros aspetos. Num período de grandes tensões como

o atual, é particularmente importante ter em conta essa heterogeneidade. Assim, os dados de contas

nacionais, que se referem a uma situação média não representativa de nenhum dos tipos de empresas

que formam o conjunto, têm uma interpretação limitada. A informação de caráter microeconómico,

como a base de dados da Central de Balanços do Banco de Portugal, pode ser muito útil para colmatar

as insufi ciências da análise com base em dados agregados6.

5 Considerando os valores anuais terminados no semestre, a discrepância face às contas fi nanceiras é considera-

velmente menor.

6 Para uma caraterização detalhada das bases de dados da Central de Balanços, ver Banco de Portugal, Suplemen-

to 5/2005 ao Boletim Estatístico, dezembro-2005 e Suplemento 1/2008 ao Boletim Estatístico, maio de 2008

e os Estudos da Central de Balanços (Banco de Portugal, novembro de 2010, dezembro de 2010, setembro de

2011 e novembro de 2011).

Gráfi co 3.12

POUPANÇA, INVESTIMENTO E NECESSIDADES DE FINANCIAMENTO DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

-20

-15

-10

-5

0

5

10

2000 2002 2004 2006 2008 2010 08S1

09S1

10S1

11S1

Em

per

cent

agem

do

PIB Capacidade/ necessidade líquida de fi nanciamento

Capacidade/ necessidade líquida de fi nanciamento(a)

Poupança brutaSaldo de transferências de capital(a)

Saldo de transferências de capitalAquisições líquidas de cessões de ativos reais(b)

Fonte: INE.

Notas: (a) Estes valores estão corrigidos da operação de transferência dos fundos de pensões da Portugal Telecom para a Caixa Geral

de Aposentações. (b) Corresponde à soma da formação bruta em capital fi xo, variação de existências, aquisições líquidas de cessões

de objetos de valor e aquisições líquidas de cessões de ativos fi nanceiros não produzidos.

61

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 64: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Inverteu-se a tendência de melhoria da rendibilidade das empresas observada até meados de

2010

A rendibilidade das empresas portuguesas, que tende a fl utuar de acordo com o ciclo económico, foi

particularmente atingida pela recessão de 2008/2009 (Quadro 3.1). Em 2010, observou-se inicialmente

alguma recuperação da atividade económica, que se caracterizou por uma virtual ausência de ajustamento

a nível interno, designadamente em matéria orçamental, por alguma recuperação da economia mundial

e pela manutenção das taxas de juro em níveis baixos. Estes aspetos contribuíram de forma signifi ca-

tiva para que a rendibilidade das empresas tivesse aumentado até meados do ano7. No entanto, esta

tendência não prosseguiu. A partir do fi nal de 2010, as perspetivas de crescimento interno deterioraram-se

signifi cativamente, num período dominado pela iminência de um pedido de assistência fi nanceira inter-

nacional que veio a concretizar-se. Já em meados de 2011, num contexto de agravamento das tensões

associadas à crise de dívida soberana na área do euro, a procura externa inverteu também a tendência de

recuperação. Assim, os indicadores disponíveis apontam para uma quebra da rendibilidade operacional

das sociedades não fi nanceiras. A evolução dos resultados líquidos, para além dos fatores relacionados

com a atividade produtiva, refl etiu a subida dos custos com a dívida, em resultado da inversão, no fi nal

de 2010, da trajetória descendente das taxas de juro (Gráfi co 3.14). A informação disponível sobre os

prazos médios de pagamentos e recebimentos aponta para um evidente alargamento do prazo médio

de pagamentos a terceiros, o que poderá traduzir as difi culdades, por parte das empresas, em obter

fi nanciamento de curto prazo (Gráfi co 3.15). Nas transações com não residentes, a tendência parece ser

de redução dos prazos médios, especialmente evidente do lado dos recebimentos, verifi cando-se também

uma reaproximação entre os prazos médios do lado dos pagamentos e do lado dos recebimentos.

De acordo com a informação disponível, a rendibilidade das empresas na primeira metade de 2011 não

7 A informação sobre a situação fi nanceira das sociedades não fi nanceiras em 2010 e 2011 está disponível apenas

para as empresas que constituem a amostra do Inquérito Trimestral às Empresas não Financeiras (ITENF), em que

estão sobre-representadas as empresas de maior dimensão.

Gráfi co 3.13

CONTRIBUTOS PARA A POUPANÇA BRUTA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

-20

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

2000 2002 2004 2006 2008 2010 08S1

09S1

10S1

11S1

Em

per

cent

agem

do

PIB

Excedente de exploração (bruto)Rendimentos de propriedade (saldo)Impostos sobre o rendimento e patrimónioOutras transferências correntes (saldo)Rendimentos distribuídos de sociedades (saldo)Juros (saldo)Outros rendimentos de propriedade (saldo)Poupança bruta

Fonte: INE.

Nota: Saldo refere-se à diferença entre os valores registados em recursos e empregos. Nas contas nacionais a partir de 2009 (inclu-

sivé) não está ainda disponível a informação sobre as componentes dos rendimentos de propriedade (rendimentos distribuídos de

sociedades, juros e outros rendimentos de propriedade)

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

62

I

Page 65: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

terá evoluído no mesmo sentido em todos os tipos de empresas e em todos os setores de atividade8. Nas

empresas do setor privado a situação fi nanceira é bastante menos grave do que nas empresas públicas,

quando avaliada pelos rácios contabilísticos do balanço e demonstração de resultados habitualmente

utilizados. De facto, as empresas do setor privado apresentam uma estrutura de balanço mais equilibrada

entre dívida e capital e taxas de rendibilidade mais elevadas. Além disso, a evolução mais recente dos

rácios de endividamento indica que está em curso o processo de desalavancagem para estas empresas, o

que não se observa no caso das empresas públicas. Por setores de atividade, a indústria transformadora

apresenta a situação mais favorável. Por sua vez, no setor dos transportes, no qual se incluem algumas

empresas públicas, o rácio dívida/capital é muito elevado e registou-se um decréscimo signifi cativo dos

lucros9. No setor do comércio, fundamentalmente produtor de serviços não transacionáveis, registou-se

também uma quebra assinalável dos indicadores de rendibilidade.

O crédito às empresas privadas não fi nanceiras abrandou signifi cativamente

No primeiro semestre de 2011, o fi nanciamento das sociedades não fi nanceiras voltou a comprimir-se

signifi cativamente (Gráfi co 3.16). De uma forma geral todas as fontes de fi nanciamento contribuíram para

aquela contração. O aspeto mais marcante desta evolução é o facto de os empréstimos terem registado

um fl uxo semestral ligeiramente negativo. A taxa de variação anual da dívida fi nanceira das sociedades

não fi nanceiras, de cerca de 1 por cento no primeiro semestre de 2011, contrasta com as taxas muito

elevadas registadas em anos recentes (Gráfi co 3.17). O ritmo de crescimento da dívida fi nanceira das

empresas do setor público permaneceu relativamente estável desde o fi nal de 2010, sendo mais elevado

do que o das empresas do setor privado10. No que respeita aos empréstimos, as instituições de crédito

residentes registaram uma taxa marginalmente negativa. Note-se que esta evolução tem subjacente uma

8 Ver “Caixa 3.1 A rendibilidade das empresas não fi nanceiras – evolução recente com base nos dados da Central

de Balanços”, neste capítulo.

9 Não inclui, no entanto, as três empresas públicas de transportes (REFER – Rede Ferroviária Nacional - EPE; Me-

tropolitano de Lisboa - EPE; Metro do Porto -SA) que foram reclassifi cadas do setor institucional das sociedades

não fi nanceiras para o setor institucional das administrações públicas em 31 de março de 2011, no contexto da

notifi cação do Procedimento dos Défi ces Excessivos, relativa aos anos de 2007 a 2010.

10 Ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.

Quadro 3.1

INDICADORES DO DESEMPENHO DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

CBA CBT

2006 2007 2008 2009 2009 2010 2011

I II III IV I II III IV I II

Lucros líquidos/Receitas (%) 4.3 4.7 1.8 2.2 1.9 3.3 3.8 3.7 4.2 4.7 4.6 4.6 3.2 3.7

Dívida/Capital (%) 184.8 190.1 204.7 210.9 243.1 248.1 251.1 239.0 229.0 240.0 235.0 228.0 220.0 227.0

Dívida de curto prazo/Dívida (%) 56.7 55.8 53.8 51.5

EBITDA/Receitas (%) 7.8 8.5 6.0 6.0 10.2 11.4 11.8 12.6 11.1 11.9 11.9 12.2 10.3 11.0

Rácio de cobertura de juros

(nº de vezes) 3.9 3.5 2.0 2.5 3.6 4.4 4.8 4.9 5.8 6.2 6.2 6.2 5.0 4.9

Encargos fi nanceiros/Volume

de negócios (%) 2.2 2.7 3.2 2.6 3.0 2.8 2.7 2.8 2.1 2.1 2.1 2.2 2.2 2.4

ROE (%) 8.9 9.7 3.9 4.4 4.5 7.7 9.2 9.0 9.6 11.4 11.0 10.9 7.4 8.9

ROI (%) 8.2 9.2 6.1 5.4 5.4 6.6 7.1 7.3 6.5 7.2 7.1 7.1 5.5 6.3

Dívida em risco (%) 29.8 29.4 34.4 34.6 26.9 21.7 18.4 16.2 26.3 18.7 17.8 13.3 22.9 22.4

Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços.

Notas: (a) Para 2010 e 2011, os indicadores trimestrais correspondem aos que se obtêm com uma amostra constante em todos os

trimestres; os valores trimestrais para 2009 foram obtidos aplicando as taxas de variação implícitas nos indicadores calculados com

base na amostra constante entre o primeiro trimestre de 2009 e o quarto trimestre de 2010. (b) EBITDA (Earnings before interest,

taxes, depreciation and amortisation) é uma medida da rendibilidade operacional; Rácio de cobertura de juros = EBITDA/Encargos

fi nanceiros; ROE (Rendibilidade do capital) = Resultado líquido/Capital próprio; ROI (Rendibilidade do investimento) = (Resultado

líquido+encargos fi nanceiros)/Ativo total; Dívida em risco: dívida das empresas em que as despesas com juros são superiores ao EBI-

TDA em percentagem da dívida de todas as empresas.

63

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 66: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 3.16

PASSIVOS FINANCEIROS DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | TRANSAÇÕES

-5

0

5

10

15

20

25

2000 2002 2004 2006 2008 2010 08S1

09S1

10S1

11S1

Em

per

cent

agem

do

PIB

Outros débitos e créditos - efeito da transferência dos fundos de pensõesOutros débitos e créditos - excluindo o efeito da transferência dos Fundos de Pensões(a)

Créditos comerciais e adiantamentosAções não cotadas e outras participaçõesAções cotadasTítulos exceto açõesEmpréstimosTotal

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Valores consolidados. (a) Inclui reservas técnicas de seguros e outras contas a pagar e exclui valores relativos à transferência

de fundos de pensões.

Gráfi co 3.14 Gráfi co 3.15

CUSTO DA DÍVIDAPRAZOS MÉDIOS DE RECEBIMENTOS E PAGAMENTOS

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

2001-Jun 2003-Jun 2005-Jun 2007-Jun 2009-Jun 2011-Jun

Em

per

cent

agem

45

50

55

60

65

70

2001-Jun 2003-Jun 2005-Jun 2007-Jun 2009-Jun 2011-Jun

Núm

ero

de d

ias

Prazo médio de pagamentosPrazo médio de pagamentos: face ao exteriorPrazo médio de recebimentosPrazo médio de recebimentos: face ao exterior

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Nota: Custo da dívida = juros pagos / dívida fi nanceira. O indi-

cador calculado com base nos dados do ITENF refere-se a junho

de cada ano. O indicador relativo a um período é comparável

com o do mesmo período no ano anterior.

Fontes: INE e Banco de Portugal (ITENF e Central de Balanços

Trimestral).

Notas: Os indicadores referem-se a junho de cada ano. O in-

dicador relativo a um período é comparável com o do mesmo

período no ano anterior. Prazo médio de recebimentos = (cré-

ditos comerciais e adiantamentos concedidos / vendas e pres-

tações de serviços) x número de dias no período. Prazo médio

de pagamentos = (créditos comerciais e adiantamentos obtidos

/ (compras de mercadorias, de matérias primas, subsidiárias e

de consumo + fornecimentos e serviços externos)) x número

de dias no período.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

64

I

Page 67: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

grande divergência entre a variação dos empréstimos concedidos às empresas públicas e a variação dos

empréstimos concedidos às empresas do setor privado. Com efeito, os primeiros registaram um cresci-

mento acentuado, com uma aceleração no terceiro trimestre de 2011, tendo os empréstimos concedidos

às empresas privadas mantido desde o fi nal de 2010 taxas de crescimento ligeiramente negativas. As

instituições não residentes continuaram a dar um contributo positivo para o crescimento do crédito no

caso das empresas privadas e dão um contributo apenas ligeiramente negativo no caso das empresas

públicas, tendo registado, em ambos os casos, alguma moderação em 2011.

A partir do início da área do euro, as empresas tiveram um fácil acesso a fi nanciamento através de crédito

bancário, obtido a custos muito mais baixos do que anteriormente. Este enquadramento contribuiu para

um aumento dos rácios de endividamento (em percentagem do PIB e em percentagem do capital) para

níveis muito elevados, quer em termos absolutos quer por comparação com a média da área do euro

(Gráfi cos 3.18 e 3.19). Assim, as sociedades não fi nanceiras terão de proceder a ajustamentos nos seus

balanços para atingirem uma estrutura de fi nanciamento mais equilibrada e mais estável. A evolução

mais recente no crédito concedido às empresas dá indícios de que o necessário processo de desalavan-

cagem das empresas privadas se terá iniciado. A situação é diferente no caso das empresas públicas que

mantiveram um ritmo acentuado de crescimento do crédito com uma aceleração muito pronunciada

no terceiro trimestre de 2011.

Do lado da procura, a evolução do crédito bancário concedido às empresas está em linha com as fracas

perspetivas da atividade económica e a evolução do investimento. Por sua vez, a oferta de crédito também

se encontra em retração dado o aumento do risco de crédito dos devedores e as já referidas difi culdades

dos bancos no acesso aos mercados de fi nanciamento por grosso, não obstante a manutenção de um nível

elevado de fi nanciamento junto do Eurosistema e a evolução favorável dos depósitos de clientes. Assim,

de acordo com os resultados do Inquérito aos Bancos sobre o Mercado do Crédito, os bancos portugueses

tornaram o acesso ao crédito mais restritivo também às empresas não fi nanceiras ao imporem spreads

mais elevados, reduzirem montantes e encurtarem maturidades. No mesmo sentido, os resultados dos

inquéritos de conjuntura às empresas (de natureza qualitativa) sugerem que o número de empresas que

se sentem afetadas por difi culdades no acesso ao crédito tem vindo a crescer em todos os setores da

atividade económica, embora de forma bastante heterogénea. Na indústria transformadora e no setor

dos serviços, a percentagem de empresas afetadas é relativamente pequena e tem aumentado mode-

Gráfi co 3.17

DÍVIDA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | POSIÇÕES EM FIM DE PERÍODO

-5

0

5

10

15

20

25

30

0

20

40

60

80

100

120

140

160

2000 2002 2004 2006 2008 2010 11S1

Em

per

cent

agem

Em

per

cent

agem

do

PIB

Dívida Total (a)Dívida Financeira (b)Dívida Financeira - tva (esc. dir.)Empréstimos concedidos por ICs residentes - tva (esc. dir.)

Fontes: INE e Banco de Portugal.

Notas: Valores consolidados. (a) Dívida total = dívida fi nanceira + créditos comerciais e adiantamentos recebidos de outros setores.

(b) Dívida fi nanceira = empréstimos + títulos emitidos. (c) O valor de 2010 foi ajustado relativamente à venda de uma carteira de

crédito por parte do BPN.

65

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 68: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

radamente. Em contraste, no caso da construção, esta situação afeta uma proporção muito elevada de

empresas e apresenta um acentuado crescimento desde o início de 2008 (Gráfi co 3.20A, 3.20B e 3.20C).

Também do lado das instituições de crédito existe alguma diversidade de comportamentos. As institui-

ções de crédito residentes não domésticas, em particular, têm contribuído para mitigar a redução dos

empréstimos ao setor das empresas não fi nanceiras. No entanto, tal como no caso do crédito a parti-

culares, o contributo destas instituições para o crescimento do crédito tem-se vindo a reduzir em 2011.

As necessidades de fi nanciamento foram satisfeitas sobretudo por via da emissão de papel

comercial por parte de uma grande empresa, assim como pela emissão de ações não cotadas

e, em menor grau, ações cotadas

No primeiro semestre de 2011, as necessidades de fi nanciamento das empresas não fi nanceiras foram

sobretudo asseguradas por via da emissão de títulos de curto prazo (papel comercial emitido por uma

empresa de grande dimensão), colocados essencialmente junto de não residentes. Note-se que o cres-

cimento dos títulos na posse deste setor, quer no caso de títulos emitidos por empresas privadas, quer

no de títulos emitidos por empresas públicas, compensou o abrandamento registado pelos empréstimos

concedidos por não residentes.

No que respeita a títulos de dívida de médio e longo prazo, a emissão líquida registou, neste período, um

fl uxo de sinal negativo. Esta evolução está relacionada com o facto da taxa de rendibilidade das obrigações

emitidas por sociedades não fi nanceiras ter aumentado signifi cativamente nos últimos meses, refl etindo

as perturbações nos mercados de dívida soberana da área do euro, e o consequente aumento do risco

associado à generalidade dos emitentes portugueses, embora, no caso das sociedades não fi nanceiras,

esse aumento tenha sido menos acentuado do que no caso da dívida soberana.

Gráfi co 3.18 Gráfi co 3.19

DÍVIDA FINANCEIRA DAS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL

RÁCIO ENTRE DÍVIDA E CAPITAL PRÓPRIO | COMPARAÇÃO INTERNACIONAL

0

50

100

150

200

250

Irla

nda

Chi

pre

Por

tuga

lE

span

haP

aíse

s B

aixo

sE

stón

iaF

inlâ

ndia

Áus

tria

Esl

ovén

iaF

ranç

aIt

ália

Bél

gica

Gré

cia

Ale

man

haE

slov

áqui

a

Áre

a do

eur

o

Sué

cia

Rei

no U

nido

Din

amar

ca

Em

per

cent

agem

do

PIB

2001200820092010

0

50

100

150

200

250

300

Gré

cia

Esl

ovén

iaE

span

haP

ortu

gal

Irla

nda

Chi

pre

Áus

tria

Itál

iaF

inlâ

ndia

Paí

ses

Bai

xos

Esl

ováq

uia

Ale

man

haF

ranç

aE

stón

iaB

élgi

ca

Áre

a do

eur

o

Din

amar

caS

uéci

aR

eino

Uni

do

Em

per

cent

agem

2001200820092010

Fontes: Eurostat, INE e Banco de Portugal. Fontes: Eurostat e Banco de Portugal.

Nota: O valor da área do euro corresponde à média dos países

apresentados no gráfi co. Os valores são consolidados, exceto

nos casos da Irlanda e do Reino Unido.

Nota: Este rácio corresponde ao quociente entre o valor da

dívida fi nanceira, ou seja, entre a soma de empréstimos com

títulos exceto ações e o valor do capital (medido a valores de

mercado). O valor para a área do euro corresponde à média dos

países apresentados no gráfi co. Os valores são consolidados,

exceto nos casos da Irlanda e do Reino Unido.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

66

I

Page 69: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Quanto aos outros instrumentos fi nanceiros, o recurso a capital acionista por parte das empresas cotadas

foi também mais baixo do que no primeiro semestre de 2010. A emissão de ações cotadas não tem tido

qualquer expressão neste setor porque o número de empresas cotadas é reduzido e a performance dos

mercados de ações tem sido muito negativa. As transações de ações cotadas apenas transparecem como

forma de fi nanciamento das empresas quando há venda para outros setores institucionais de ações das

suas carteiras de ativos. Em contraste, a emissão de ações não cotadas e outras participações teve um

peso signifi cativo no primeiro semestre de 2011, o que constitui um sinal positivo de rebalanceamento

da estrutura de fi nanciamento das empresas.

Perspetivas de forte contração da procura interna, evolução menos favorável da procura

externa e continuação do processo de ajustamento

A deterioração das expectativas de crescimento da procura e a necessidade de ajustamento dos balanços

das empresas face ao seu elevado nível de endividamento condicionarão a evolução do investimento e a

contribuição das empresas para a recuperação da atividade económica poderá ser mais lenta do que em

Gráfi co 3.20

EMPRESAS COM DIFICULDADES NO ACESSO AO CRÉDITO

A - Indústria transformadora B - Construção e obras públicas

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11

Em

per

cent

agem

Valor trimestral

Média anual

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11E

m p

erce

ntag

em

Valor mensal

Média anual

C - Serviços

0

5

10

15

20

25

30

35

2001-I 2002-III 2004-I 2005-III 2007-I 2008-III 2010-I 2011-III

Em

per

cent

agem

Valor trimestral

Média anual

Fonte: INE.

67

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 70: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

anteriores recessões. Com o agravamento da crise da dívida soberana na área do euro, as perspetivas

para a evolução da procura externa são menos favoráveis do que se previa no início do ano. Assim,

o contributo positivo dos setores transacionáveis para o crescimento da economia no futuro próximo

tenderá a ser menor do que se esperava. Não obstante, os setores mais dependentes da evolução da

procura interna, como a construção e o comércio, deverão ser particularmente afetados. No entanto, o

processo de desalavancagem das empresas deverá continuar, refl etindo fatores quer do lado da procura

quer do lado da oferta de crédito. De qualquer modo, é de esperar também que o elevado nível de

endividamento das empresas, a diminuição da sua rendibilidade e o mais difícil acesso ao fi nanciamento

bancário deverão traduzir-se no aumento da frequência e intensidade das situações de incumprimento

do crédito.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

68

I

Page 71: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

CAIXA 3.1 | A RENDIBILIDADE DAS EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS –

EVOLUÇÃO RECENTE COM BASE NOS DADOS DA CENTRAL DE BALANÇOS

A rendibilidade das empresas tende a acompanhar a evolução cíclica da economia. A atual conjuntura económica,

nacional e internacional, é particularmente desfavorável ao desempenho das empresas portuguesas. Acresce que,

num enquadramento caracterizado pelo aumento do risco de crédito dos devedores, pela difi culdade dos bancos

portugueses no acesso aos mercados de fi nanciamento por grosso e pela necessidade de re-estruturação dos

seus balanços, os bancos têm imposto condições contratuais mais exigentes na concessão de crédito às empresas

não fi nanceiras. Neste contexto, o acompanhamento da rendibilidade das empresas é particularmente relevante.

O capital próprio representa a parcela mais importante na estrutura de fi nanciamento das empresas não fi nanceiras

portuguesas, embora o seu fi nanciamento através da emissão de ações no mercado de capitais se mantenha limitado

a um pequeno conjunto de empresas de grande dimensão. No que toca a fontes de fi nanciamento externas às

empresas, são os bancos que desempenham o papel principal. Com a participação na área do euro, as empresas

portuguesas tiveram acesso a fi nanciamento bancário a taxas de juro muito mais baixas e menos voláteis do que

anteriormente. Neste enquadramento, durante a última década, as necessidades de fi nanciamento das empresas

não fi nanceiras foram satisfeitas em grande parte através do recurso a empréstimos bancários, o que levou a que

o seu nível de endividamento seja muito elevado, quer em termos históricos, quer por comparação com os países

da área euro.

O nível de endividamento não deixará de condicionar a rendibilidade das empresas não fi nanceiras, não só no

presente, mas também no futuro próximo. Note-se que o chamado efeito alavanca só benefi cia a rendibilidade

do capital próprio (ROE) das empresas cuja rendibilidade operacional é superior ao custo médio da dívida1. Na

situação inversa, em que os resultados operacionais são insufi cientes para cobrir o custo da dívida, o aumento do

endividamento amplifi ca o efeito negativo sobre o ROE das empresas. É, assim, importante garantir que o processo

de desalavancagem das empresas com resultados operacionais mais baixos se realiza. Note-se que, em Portugal,

estas tendem a ser também as mais endividadas, o que se conclui comparando, por exemplo, as empresas públicas

com as empresas privadas (Quadro 1A).

O desempenho das empresas depende necessariamente das suas características específi cas, tais como a dimensão

ou a qualidade da sua gestão, e ainda de características dos setores em que se centra a sua atividade, tais como o

grau de concorrência. Assim, ocorre uma grande diversidade de situações que não são aparentes quando se analisa

a informação de forma muito agregada. A informação sobre as contas das empresas recolhida pela Central de

Balanços do Banco de Portugal pode ser muito útil para identifi car padrões de comportamento distintos de acordo

com as características das empresas. O acesso por parte da Central de Balanços ao sistema Informação Empresarial

Simplifi cada (IES) permite a recolha de informação sobre as contas anuais de, praticamente, todo o universo das

empresas (mais de 350 mil)2. Esta informação está disponível apenas até 2009, pelo que não permite mostrar um

retrato muito atualizado do desempenho das empresas. Assim, para uma análise da situação mais recente, recorreu-

-se à informação da Central de Balanços Trimestral3.

1 Efeito positivo sobre a rendibilidade do capital próprio (ROE) resultante do aumento do seu nível de endivida-

mento. O efeito só é positivo em determinadas condições e é negativo para níveis de endividamento muito

elevados e/ou taxas de juro da dívida muito altas.

2 A informação é recolhida pela Central de Balanços desde o exercício de 2006, ano em que o sistema IES entrou

em vigor. Através deste sistema, as obrigações legais das empresas relativamente à entrega das suas contas

anuais podem ser substituídas por uma única entrega realizada de forma eletrónica.

3 A informação de periodicidade trimestral continua a ser recolhida através do Inquérito Trimestral às Empresas

não Financeiras (ITENF) realizado pelo INE e pelo Banco de Portugal. O ITENF recolhe um conjunto de variáveis

económico-fi nanceiras de cerca de 3 mil empresas, que cobrem uma parte signifi cativa da atividade do setor das

sociedades não fi nanceiras, mas refl etem sobretudo a situação das empresas de maior dimensão. Esta informa-

ção está disponível até ao segundo trimestre de 2011.

69

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 72: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Os indicadores sobre o desempenho das empresas calculados com base na informação anual da Central de Balanços

mostram que a situação fi nanceira das empresas portuguesas foi particularmente atingida pela recessão de 2008-

2009 (Quadros 1A e 1B). A redução da rendibilidade, em particular da rendibilidade operacional foi transversal aos

vários tipos de empresas e setores de atividade4. Nesse período, verifi cou-se também que o endividamento das

empresas continuou a crescer signifi cativamente, especialmente no caso das empresas públicas. Apesar disso, em

2009, a redução dos resultados operacionais foi parcialmente mitigada pela queda acentuada das taxas de juro.

A informação mais recente sobre a situação fi nanceira das sociedades não fi nanceiras está disponível apenas

para as empresas que constituem a amostra da Central de Balanços Trimestral. Note-se que nesta amostra estão

sobre-representadas as empresas de maior dimensão, o que deve ser tido em conta na análise da informação. No

caso das empresas privadas, observa-se uma ligeira melhoria da rendibilidade operacional ao longo de 2009 e

4 Os indicadores anuais apresentam-se apenas para os grupos de empresas para os quais existe informação tri-

mestral. Refi ra-se por exemplo que a construção, que não aparece aqui representada, teve um desempenho

particularmente negativo em 2008 com quebra de rendibilidade e aumento do endividamento.

Quadro 1A

INDICADORES DO DESEMPENHO DAS EMPRESAS | COMPARAÇÃO ENTRE EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS(a)

Todas as empresas Empresas públicas Empresas privadas

2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009

Lucros líquidos/Receitas (%) 4.3 4.7 1.8 2.2 1.7 -0.9 -3.7 -2.0 4.4 4.9 2.0 2.4

Dívida/Capital (%) 184.8 190.1 204.7 210.9 476.9 543.3 621.4 702.5 175.3 180.3 193.8 198.4

Dívida de curto prazo/Dívida (%) 56.7 55.8 53.8 51.5 33.9 34.7 31.2 31.5 58.8 57.6 55.7 53.3

EBITDA/Receitas (%) 7.8 8.5 6.0 6.0 7.2 4.8 2.5 2.9 7.8 8.7 6.1 6.1

Rácio de cobertura de juros (nº vezes) 3.9 3.5 2.0 2.5 2.3 1.1 0.5 0.8 4.0 3.7 2.1 2.6

Encargos fi nanceiros/Volume de

negócios (%) 2.2 2.7 3.2 2.6 3.6 5.0 5.4 4.0 2.1 2.6 3.1 2.5

ROE (%) 8.9 9.7 3.9 4.4 4.5 -2.4 -11.7 -7.1 9.1 10.0 4.3 4.7

ROI (%) 8.2 9.2 6.1 5.4 4.5 3.2 1.2 1.6 8.4 9.5 6.3 5.6

Dívida em risco (%) 29.8 29.4 34.4 34.6 42.4 44.3 51.5 48.5 28.6 28.2 33.0 33.3

Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços Anual.

Nota: (a) EBITDA (Earnings before interest, taxes, depreciation and amortisation) é uma medida da rendibilidade operacional; Rácio

de cobertura de juros = EBITDA/Encargos fi nanceiros; ROE (Rendibilidade do capital) = Resultado líquido/Capital próprio; ROI (Ren-

dibilidade do investimento) = (Resultado líquido+encargos fi nanceiros)/Ativo total; Dívida em risco: dívida das empresas em que as

despesas com juros são superiores ao EBITDA em percentagem da dívida de todas as empresas.

Quadro 1B

INDICADORES DO DESEMPENHO DAS EMPRESAS | COMPARAÇÃO ENTRE AS EMPRESAS DA INDÚSTRIA(a)

TRANSFORMADORA, DO COMÉRCIO E DOS TRANSPORTES E ARMAZENAGEM

Empresas da indústria transformadora

Empresas do comércio Empresas de transportes e armazenagem

2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009 2006 2007 2008 2009

Lucros líquidos/Receitas (%) 3.1 3.4 1.6 1.1 1.5 1.8 0.9 1.7 2.0 4.0 0.8 0.9

Dívida/Capital (%) 163.7 164.0 175.3 183.5 197.9 194.7 197.7 194.3 505.7 489.6 571.4 659.4

Dívida de curto prazo/Dívida (%) 65.0 66.3 61.9 58.7 74.8 76.5 75.7 69.7 28.8 29.1 27.6 30.3

EBITDA/Receitas (%) 6.0 6.4 4.6 3.8 3.3 4.0 3.4 3.6 7.6 9.8 7.5 7.1

Rácio de cobertura de juros (nº vezes) 4.6 4.3 2.7 2.5 3.6 3.1 2.1 3.6 2.0 2.1 1.5 1.5

Encargos fi nanceiros/Volume de

negócios (%) 1.3 1.6 1.8 1.6 1.0 1.3 1.7 1.0 4.1 5.0 5.7 5.3

ROE (%) 8.2 9.2 4.5 2.7 6.3 7.2 3.6 6.2 5.9 13.0 2.9 3.2

ROI (%) 8.2 9.2 6.2 4.1 7.3 8.9 7.3 7.0 4.9 8.2 6.0 5.0

Dívida em risco (%) 26.4 24.2 28.9 30.0 24.4 22.1 26.2 29.0 30.4 36.7 43.1 39.3

Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços Anual.

Nota: (a) EBITDA (Earnings before interest, taxes, depreciation and amortisation) é uma medida da rendibilidade operacional; Rácio

de cobertura de juros = EBITDA/Encargos fi nanceiros; ROE (Rendibilidade do capital) = Resultado líquido/Capital próprio; ROI (Ren-

dibilidade do investimento) = (Resultado líquido+encargos fi nanceiros)/Ativo total; Dívida em risco: dívida das empresas em que as

despesas com juros são superiores ao EBITDA em percentagem da dívida de todas as empresas.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

70

I

Page 73: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

2010 e uma clara inversão desta tendência no início de 2011 que, no entanto, não se terá confi rmado para todos

os tipos de empresas (Gráfi cos 1 e 2). Nas empresas públicas, cuja situação fi nanceira é determinada por fatores

muito específi cos, ter-se-á registado alguma melhoria da rendibilidade operacional no segundo trimestre de 2011.

Entre o fi nal de 2009 e o fi nal de 2010, o aumento dos resultados líquidos refl etiu em grande parte a tendência de

descida das taxas de juro. A partir de fi nais de 2009 e, mais claramente em 2010, as empresas privadas reduziram

o seu grau de endividamento, mas terá havido uma inversão dessa tendência em meados de 2011. A dívida em

risco das empresas, ou seja a proporção que corresponde a empresas com resultados operacionais inferiores aos

encargos fi nanceiros, apresenta uma tendência para aumentar na generalidade das empresas, mas é muito mais

baixa nas empresas privadas do que nas empresas públicas. No que respeita às empresas públicas, refi ra-se ainda

que apresentam graus de endividamento incomparavelmente superiores o que, necessariamente, se refl ete em

resultados líquidos muito inferiores.

Para os setores de atividade para os quais existe informação trimestral disponível, o melhor desempenho em termos

de rendibilidade operacional e grau de endividamento observa-se na indústria transformadora (Gráfi co 2). Neste

setor, mais exposto à concorrência internacional, a rendibilidade é relativamente mas baixa do que a da média das

empresas, mas a sua evolução foi menos desfavorável em 2011. Além disso, o seu grau de endividamento é mais

baixo e parece estar a ajustar-se de forma mais rápida do que a média das empresas. Pelo contrário, no setor de

transportes, em que as empresas estão fortemente alavancadas e relativamente menos rentáveis, os lucros diminuíram

claramente. Note-se também que nestes dois setores o processo de desalavancagem parece ter-se também iniciado.

A informação sobre prazos médios de recebimentos e de pagamentos mostra que, de uma forma geral, a tendência

mais recente é de aumento dos prazos, sobretudo no caso dos pagamentos, o que pode estar relacionado com as

difi culdades das empresas em obter fi nanciamento de curto prazo, nomeadamente fi nanciamento bancário. No

entanto, observa-se uma grande heterogeneidade de situações quando se comparam as empresas privadas e as

empresas públicas ou as empresas de diferentes setores de atividade. Note-se, por exemplo, que o prazo médio de

pagamentos no caso das empresas públicas é de uma ordem de grandeza muito superior à da média. Por setores

de atividade, destaca-se positivamente o desempenho das empresas da indústria transformadora, apresentando

uma tendência decrescente dos prazos médios e uma aproximação entre o prazo médio de pagamentos e o de

recebimentos (Gráfi co 3).

Em suma, num enquadramento particularmente adverso para a generalidade das empresas não fi nanceiras

portuguesas, observa-se uma signifi cativa heterogeneidade no desempenho de empresas privadas e públicas e

entre empresas de diferentes setores de atividade. As empresas públicas, muito mais endividadas do que a média,

apresentam menor rendibilidade operacional e, sobretudo, menor rendibilidade do capital, dado que uma grande

parte dos seus resultados é consumida pelos encargos fi nanceiros. O endividamento das empresas privadas também

cresceu acentuadamente em anos anteriores, mas o seu nível é signifi cativamente menor do que nas empresas

públicas. Além disso, em 2010 as empresas privadas iniciaram o necessário processo de desalavancagem. Para os

setores de atividade para os quais está disponível informação mais atualizada, destaca-se o melhor desempenho

das empresas da indústria transformadora, de acordo com a generalidade dos indicadores habitualmente utilizados.

71

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 74: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 1

PRINCIPAIS INDICADORES DE RENDIBILIDADE | COMPARAÇÃO ENTRE EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Em

per

cent

agem

Lucros líquidos/ReceitasTodas as empresasEmpresas públicasEmpresas privadas

0

2

4

6

8

10

12

14

16

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Em

per

cent

agem

EBITDA / Receitas

Todas as empresasEmpresas públicasEmpresas privadas

600

700

800

900

1 000

1 100

1 200

150

200

250

300

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Em

per

cent

agem

Em

per

cent

agem

Dívida/Capital

Todas as empresasEmpresas privadasEmpresas públicas (esc.dir.)

0

1

2

3

4

5

6

7

8

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Núm

ero

de v

ezes

EBITDA / Encargos financeiros

Todas as empresasEmpresas públicasEmpresas privadas

0

1

2

3

4

5

6

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Em

per

cent

agem

Encargos financeiros / Volume de negócios

Todas as empresasEmpresas públicasEmpresas privadas

0

10

20

30

40

50

60

70

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Em

per

cent

agem

Dívida em risco

Todas as empresasEmpresas públicasEmpresas privadas

Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços Trimestral.

Nota: Para 2010 e 2011, os indicadores correspondem aos que se obtêm com uma amostra constante em todos os trimestres; os

valores para 2009 for obtidos aplicando as taxas de variação implícitas nos indicadores calculados com base na amostra constante

entre o primeiro trimestre de 2009 e o quarto trimestre de 2010.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

72

I

Page 75: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 2

PRINCIPAIS INDICADORES DE RENDIBILIDADE | COMPARAÇÃO ENTRE EMPRESAS DA INDÚSTRIA TRANFORMADORA, DO

COMÉRCIO E DOS TRANSPORTES E ARMAZENAGEM

-6

-4

-2

0

2

4

6

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Em

per

cent

agem

Lucros líquidos/ReceitasTodas as empresasEmpresas da indústria transformadoraEmpresas do comércioEmpresas de transportes e armazenagem

0

5

10

15

20

25

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011E

m p

erce

ntag

em

EBITDA / Receitas

Todas as empresasEmpresas da indústria transformadoraEmpresas do comércioEmpresas de transportes e armazenagem

0

1 000

2 000

3 000

4 000

5 000

6 000

7 000

8 000

9 000

10 000

0

50

100

150

200

250

300

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Em

per

cent

agem

Em

per

cent

agem

Dívida/CapitalTodas as empresasEmpresas da indústria transformadoraEmpresas do comércioEmpresas de transportes e armazenamento (esc.dir.)

0

2

4

6

8

10

12

14

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Núm

ero

de v

ezes

EBITDA / Encargos financeirosTodas as empresasEmpresas da indústria transformadoraEmpresas do comércioEmpresas de transportes e armazenagem

0

2

4

6

8

10

12

14

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Em

per

cent

agem

Encargos financeiros / Volume de negócios

Todas as empresasEmpresas da indústria transformadoraEmpresas do comércioEmpresas de transportes e armazenagem

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

I II III IV I II III IV I II

2009 2010 2011

Em

per

cent

agem

Dívida em riscoTodas as empresasEmpresas da indústria transformadoraEmpresas do comércioEmpresas de transportes e armazenagem

Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços Trimestral.

Nota: Para 2010 e 2011, os indicadores correspondem aos que se obtêm com uma amostra constante em todos os trimestres; os

valores para 2009 for obtidos aplicando as taxas de variação implícitas nos indicadores calculados com base na amostra constante

entre o primeiro trimestre de 2009 e o quarto trimestre de 2010.

73

3

Situ

ação

Fin

ance

ira d

os P

artic

ular

es e

Soc

ieda

des

não

Fina

ncei

ras

Page 76: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 3

PRAZOS MÉDIOS DE RECEBIMENTOS E DE PAGAMENTOS, POR TIPO DE EMPRESA E SETOR DE ATIVIDADE

40

45

50

55

60

65

2010-I 2010-II 2010-III 2010-IV 2011-I 2011-II

Núm

ero

de d

ias

Todas as empresas

Prazo médio de recebimentosPrazo médio de pagamentos

-40

-20

0

20

40

60

80

100

120

140

2010-I 2010-II 2010-III 2010-IV 2011-I 2011-II

Núm

ero

de d

ias

Empresas públicas

Prazo médio de recebimentosPrazo médio de pagamentos

48

50

52

54

56

58

60

62

2010-I 2010-II 2010-III 2010-IV 2011-I 2011-II

Núm

ero

de d

ias

Empresas privadas

Prazo médio de recebimentosPrazo médio de pagamentos

50

52

54

56

58

60

62

64

66

2010-I 2010-II 2010-III 2010-IV 2011-I 2011-II

Núm

ero

de d

ias

Indústria tranformadora

Prazo médio de recebimentosPrazo médio de pagamentos

30

35

40

45

50

55

60

2010-I 2010-II 2010-III 2010-IV 2011-I 2011-II

Núm

ero

de d

ias

Comércio

Prazo médio de recebimentos

Prazo médio de pagamentos

0

10

20

30

40

50

60

2010-I 2010-II 2010-III 2010-IV 2011-I 2011-II

Núm

ero

de d

ias

Transportes e armazenagem

Prazo médio de recebimentos

Prazo médio de pagamentos

Fonte: Banco de Portugal - Central de Balanços Trimestral.

Nota: Os indicadores foram obtidos com uma amostra constante em todos os trimestres.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

74

I

Page 77: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

75

4

Sist

ema

Banc

ário

4. Sistema Bancário1

4.1. Atividade e rendibilidade

O primeiro semestre de 2011 fi cou marcado por alterações profundas do quadro em que se desenvolve

a atividade do sistema bancário. A deterioração das condições de fi nanciamento do Estado português

nos mercados internacionais traduziu-se num considerável aumento do fi nanciamento do setor público

junto dos bancos, que reforçou a ligação entre os riscos soberano e bancário, agravando as difi culdades

dos bancos portugueses no acesso aos mercados de dívida por grosso. O exacerbar da crise da dívida

soberana na área do euro e o consequente aumento do risco sistémico a nível europeu contribuíram

para adensar o problema de fi nanciamento dos bancos domésticos que, juntamente com o aumento

do risco de crédito associado aos agentes económicos nacionais, resultou numa maior restritividade da

oferta de crédito. Por sua vez, a contração da atividade económica portuguesa, a diminuição do rendi-

mento disponível das famílias e a deterioração das perspetivas, refl etiram-se numa redução da procura

de crédito, concorrendo para o abrandamento do crédito concedido ao setor privado não fi nanceiro.

A escalada das taxas de rendibilidade dos títulos de dívida pública de alguns países da área do euro

(incluindo Portugal) provocou fortes desvalorizações na carteira de ativos fi nanceiros dos bancos, contri-

buindo adicionalmente para a erosão do capital contabilístico do sistema bancário. Neste contexto, os

níveis de rendibilidade foram signifi cativamente afetados, refl etindo, em larga medida, o aumento das

provisões e imparidades associadas ao crédito e a diminuição dos resultados em operações fi nanceiras.

No curto prazo, o processo de ajustamento do balanço dos bancos, num contexto mais abrangente de

correção dos desequilíbrios estruturais da economia, deverá continuar a condicionar negativamente a

evolução da atividade e rendibilidade do sistema bancário português. Contudo, um processo de desa-

lavancagem ordenado e gradual, que permita atingir uma estrutura de fi nanciamento mais sustentável

no médio prazo, deverá facilitar o reacesso aos mercados internacionais de dívida por grosso e reforçar

a capacidade do sistema bancário para continuar a fi nanciar os setores mais produtivos da economia. No

terceiro trimestre de 2011, de acordo com a informação disponível para os principais grupos bancários,

1 Na análise efetuada neste capítulo, o agregado defi nido como sistema bancário português refere-se às institui-ções de crédito e empresas fi nanceiras a operar em Portugal sob supervisão do Banco de Portugal, com exceção das instituições com sede no off-shore da Madeira. Assim, são considerados os grupos fi nanceiros, em base consolidada, que incluam no perímetro de consolidação pelo menos uma instituição de crédito ou uma empresa de investimento, e as instituições de crédito e empresas de investimento, em base individual, que não são objeto de consolidação em Portugal (incluindo as sucursais de instituições de crédito ou empresas de investimento). A análise deste universo revela-se importante na medida em que é a este conjunto de instituições que se aplica a nova Diretiva de Requisitos de Capital, sendo o universo de referência na generalidade dos países europeus. Todavia, não é possível ter dados anteriores a 2007 para o agregado em consideração, uma vez que a adoção das Normas Internacionais de Contabilidade (NIC) não foi transversal a todas as instituições, coexistindo em 2005 e 2006 diferentes sistemas contabilísticos. Deste modo, os dados apresentados neste capítulo têm por base diferentes agregados de instituições. Em particular, até 2004 o conjunto de instituições refere-se a bancos e caixas económicas, com exceção dos bancos com sede ou atividade exclusiva no off-shore da Madeira e/ou atividade predominante com não residentes. Foram considerados como bancos as sucursais de instituições de crédito com sede em outro Estado-membro da União Europeia - excluindo aquelas que não sejam classifi cáveis como instituições fi nanceiras monetárias (IFM) – assim como as sucursais de instituições de crédito com sede em países terceiros. De dezembro de 2004 até 2009, são considerados dois conjuntos de instituições. Um pri-meiro, para o período de dezembro de 2004 a dezembro de 2007, que corresponde aos treze grupos bancários que adotaram as NIC (ou as Normas de Contabilidade Ajustadas) na elaboração das respetivas demonstrações fi nanceiras em 2005 (e que representava, em Dezembro de 2004, cerca de 87 por cento do total do ativo do conjunto de instituições analisado até então). O segundo para o período de março de 2007 a 2009. O período de sobreposição dos diferentes conjuntos de instituições permite a análise consistente de variações. De forma a facilitar a leitura, sempre que necessário os gráfi cos e quadros deste capítulo apresentam um tracejado vertical que sinaliza as quebras de série.

Page 78: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

76

I

o ativo total permaneceu virtualmente inalterado. Contudo, o aumento das imparidades registadas na

carteira de ativos fi nanceiros traduziu-se numa deterioração dos níveis de rendibilidade dos bancos2.

Atividade do sistema bancário português contraiu signifi cativamente no primeiro semestre

de 2011

No primeiro semestre de 2011, o balanço do sistema bancário português, em base consolidada, contraiu

de forma signifi cativa (queda de 1.8 por cento face a dezembro de 2010 e de 1.5 por cento face a junho

de 20103, Quadro 4.1.1). Esta evolução refl ete sobretudo a diminuição da carteira de crédito líquido a

clientes4 (incluindo ativos titularizados e não desreconhecidos) e da carteira de ativos fi nanceiros, num

contexto de desvalorização generalizada dos títulos de dívida detidos pelos bancos5. No que se refere

à carteira de crédito a clientes, é de destacar o volume signifi cativo de vendas de créditos realizadas no

primeiro e segundo trimestres de 2011 (totalizando cerca de 5.3 mil milhões de euros), que justifi cam

a totalidade da diminuição observada. Estas operações foram constituídas, essencialmente, por vendas

da carteira doméstica de crédito a empresas (essencialmente vendas de papel comercial) e por vendas

da carteira de crédito das fi liais e sucursais no exterior dos principais grupos bancários portugueses. De

facto, corrigindo este efeito, observou-se uma relativa estabilização do stock de crédito concedido, à

qual esteve associado um contributo positivo dos empréstimos concedidos pelas fi liais e sucursais dos

grupos bancários estrangeiros e pelas fi liais estrangeiras dos grupos bancários domésticos (atividade

internacional). De acordo com os dados das Estatísticas Monetárias e Financeiras, que dizem respeito à

atividade doméstica dos bancos, observou-se uma redução gradual dos empréstimos concedidos ao setor

privado não fi nanceiro no primeiro semestre, em especial dos empréstimos concedidos a particulares, e,

paralelamente, um aumento do fi nanciamento do setor público junto dos bancos domésticos. Importa

ainda sublinhar a manutenção da tendência de crescimento da rubrica de ativos titularizados e não

desreconhecidos, no seguimento da estratégia de reforço da pool de ativos elegíveis para fi nanciamento

junto do BCE que tem vindo a ser adotada pelos principais bancos domésticos. Num contexto de fortes

condicionalismos ao fi nanciamento dos bancos nos mercados internacionais, o recurso a operações de

titularização e vendas de crédito, apesar de potencialmente penalizador em termos de rendibilidade,

contribuiu para mitigar o impacto do processo de desalavancagem do setor bancário sobre a economia

portuguesa.

Face ao primeiro semestre de 2010, é de destacar, para além da diminuição da carteira de crédito líquido

a clientes (incluindo os créditos sob a forma de títulos), o contributo negativo das disponibilidades e apli-

cações em outras instituições de crédito, num contexto de difi culdades acrescidas de fi nanciamento nos

mercados internacionais (Gráfi co 4.1.1). Por sua vez, a carteira de ativos fi nanceiros teve um contributo

virtualmente nulo para a variação do ativo, uma vez que a signifi cativa expansão da carteira de ativos

disponíveis para venda, designadamente através da aquisição de títulos de dívida pública portuguesa,

foi contrabalançada pela desvalorização generalizada dos títulos de dívida detidos pelos bancos e pela

alienação de alguns títulos de capital.

2 Para mais detalhes ver a “Caixa 4.1 Situação fi nanceira dos seis maiores grupos bancários do sistema bancário português no terceiro trimestre de 2011”, deste Relatório.

3 Em dezembro de 2010, o BPN cedeu um montante signifi cativo de ativos a um conjunto de veículos fi nanceiros, o que teve um impacto relevante em algumas rubricas do balanço do sistema bancário. Excluindo o BPN em toda a série, de forma a obter valores comparáveis, a taxa de variação do ativo do sistema bancário, em base consolidada, situou-se em -1.0 por cento face a junho de 2010.

4 Para uma análise pormenorizada da evolução da carteira de crédito a clientes ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.

5 A análise detalhada da carteira de ativos fi nanceiros é apresentada na “Secção 4.2 Risco de mercado”, deste Relatório.

Page 79: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

77

4

Sist

ema

Banc

ário

O aumento da captação de depósitos no primeiro semestre e a manutenção a nível elevado

do fi nanciamento junto do Eurosistema mitigaram o impacto das crescentes difi culdades de

fi nanciamento dos bancos nos mercados fi nanceiros internacionais

Na primeira metade do ano, o fi nanciamento do sistema bancário dependeu, em grande medida, do

aumento da captação de recursos de clientes, rubrica que registou um crescimento de 3.6 por cento

face a dezembro de 2010 (8.9 por cento face a junho de 2010). Esta evolução é justifi cada quer pela

dinâmica de recomposição da carteira de ativos fi nanceiros dos particulares – num contexto de crescente

aversão ao risco –, quer pelo incentivo das instituições fi nanceiras em integrar no balanço recursos que

se encontram fora do perímetro de consolidação, como os montantes aplicados em fundos de investi-

mento ou companhias de seguro dos respetivos grupos fi nanceiros. Em sentido contrário, observou-se

um decréscimo generalizado das restantes rubricas do passivo, com destaque para a diminuição dos

recursos de outras instituições de crédito e das responsabilidades representadas por títulos, como conse-

quência das fortes restrições, em termos de quantidade e de preço, no acesso dos bancos aos mercados

internacionais de dívida por grosso. Por seu turno, o recurso às operações de cedência de liquidez do

Eurosistema manteve-se em níveis elevados, mas estáveis, face ao fi nal de 20106. O capital contabilístico

do sistema bancário foi severamente afetado neste período, devido ao impacto das perdas latentes da

carteira de ativos disponíveis para venda (valorizadas ao justo valor através do capital), observando-se

uma diminuição de 7.6 por cento dos capitais próprios face a dezembro de 2010 (-5.5 por cento face

ao período homólogo do ano anterior)7. Perante condições de mercado desfavoráveis à realização de

aumentos de capital, e na sequência de uma recomendação efetuada pelo Banco de Portugal no início

do ano, os principais bancos portugueses adotaram uma política de distribuição de dividendos bastante

moderada, o que permitiu o reforço dos capitais próprios, por via da incorporação dos resultados retidos.

É também de destacar o aumento de capital realizado por um dos principais grupos bancários domésticos,

6 A análise detalhada do fi nanciamento do sistema bancário no decurso de 2011, bem como a respetiva posição de liquidez, é apresentada na “Secção 4.3 Risco de liquidez”, deste Relatório.

7 A análise da adequação de capital em termos prudenciais é efetuada na “Secção 4.5 Adequação de fundos próprios”, deste Relatório.

Gráfi co 4.1.1

CONTRIBUTOS PARA A EVOLUÇÃO DO ATIVO(a)

6

8

10

12

14

16

pont

os p

ecen

tuai

s

-4

-2

0

2

4

6

J 07 D 07 J 08 D 08 J 09 D 09 J 10 D 10 J 11

Em

per

cent

agem

e

Jun-07 Dez-07 Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Jun-11

Disponibilidades e aplicações em Bancos Centrais

Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito

Títulos, derivados e participações

Crédito a clientes líquido – ajustados de operações de titularização

Outros créditos e valores a receber (titulados)

Ativos tangíveis e intangíveis

Outros ativos

Taxa de variação homóloga do ativo

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A quebra de série representada em 2007 corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise. Os títulos, derivados e participações compreendem os ativos fi nanceiros ao justo valor através de resultados, os ativos fi nanceiros disponíveis para venda, os investimentos detidos até à maturidade, os investimentos em fi liais e os derivados de cobertura. O crédito a clientes liquído – ajustado de operações de titularização exclui a componente de outros créditos e valores a receber (titulados), classifi cados na carteira de crédito. (a) Face ao período homólogo do ano anterior.

Page 80: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

78

I

Qu

adro

4.1

.1 (

con

tin

ua)

BA

LAN

ÇO

DO

SIS

TEM

A B

AN

RIO

| B

ASE

CO

NSO

LID

AD

A

Em m

ilhõ

es d

e eu

ros

Estr

utu

ra(e

m p

erce

nta

gem

do

at

ivo

to

tal)

Taxa

s d

e va

riaç

ão h

om

ólo

ga

(e

m p

erce

nta

gem

)Ta

xas

de

vari

ação

sem

estr

al

(em

per

cen

tag

em)

Taxa

s d

e va

riaç

ão t

rim

estr

al

(e

m p

erce

nta

gem

)

2009

2010

2011

2009

2010

2011

2009

2010

2011

2009

2010

2011

2010

2011

Jun

.D

ez.

Jun

.D

ez.

Jun

.Ju

n.

Dez

.Ju

n.

Dez

.Ju

n.

Jun

.D

ez.

Jun

.D

ez.

Jun

.S1

S2S1

S2S1

T1T2

T3T4

T1T2

Cai

xa e

dis

po

nib

ilid

ades

em

ban

cos

cen

trai

s9

452

10 8

899

134

7 26

47

220

1.9

2.1

1.7

1.4

1.4

19.4

9.8

-3.4

-33.

3-2

1.0

-4.7

15.2

-16.

1-2

0.5

-0.6

-6.7

-10.

1-9

.7-1

1.9

12.5

-11.

6

Dis

po

nib

ilid

ades

em

ou

tras

inst

itu

içõ

es d

e cr

édit

o4

921

4 91

85

130

5 34

55

271

1.0

1.0

1.0

1.0

1.0

17.0

5.4

4.2

8.7

2.8

5.5

-0.1

4.3

4.2

-1.4

-11.

417

.8-2

.36.

7-1

3.8

14.4

Ap

licaç

ões

em

inst

itu

içõ

es d

e cr

édit

o37

312

38 3

5632

726

29 7

6530

010

7.6

7.5

6.2

5.6

5.7

-2.5

28.9

-12.

3-2

2.4

-8.3

25.4

2.8

-14.

7-9

.00.

8-2

.0-1

2.9

-4.0

-5.2

-5.1

6.3

dos

quai

s: e

m B

anco

s C

entr

ais

8 39

34

377

1 94

03

222

2 29

71.

70.

90.

40.

60.

4-

--7

6.9

-26.

418

.4-

-47.

8-5

5.7

66.1

-28.

7-2

9.8

-36.

9-9

1.7

--7

0.9

144.

7

Ati

vos

fi n

ance

iro

s ao

just

o v

alo

r at

ravé

s d

e re

sult

ado

s21

074

20 8

0522

583

19 4

3714

855

4.3

4.1

4.3

3.7

2.8

-14.

6-1

.17.

2-6

.6-3

4.2

0.2

-1.3

8.5

-13.

9-2

3.6

11.7

-2.8

-5.1

-9.3

-14.

7-1

0.4

Títu

los

de c

apita

l1

731

2 05

21

958

1 91

51

459

0.4

0.4

0.4

0.4

0.3

22.7

79.2

13.1

-6.7

-25.

551

.218

.6-4

.6-2

.2-2

3.8

1.8

-6.2

1.8

-3.9

15.4

-34.

0

Inst

rum

ento

s de

dív

ida

9 28

39

772

9 63

78

778

6 32

41.

91.

91.

81.

71.

2-3

1.4

8.4

3.8

-10.

2-3

4.4

3.0

5.3

-1.4

-8.9

-28.

09.

4-9

.8-1

2.5

4.1

-23.

6-5

.7

Out

ros

10 0

608

982

10 9

888

745

7 07

32.

11.

82.

11.

61.

43.

4-1

7.5

9.2

-2.6

-35.

6-7

.5-1

0.7

22.3

-20.

4-1

9.1

16.4

5.1

0.1

-20.

5-1

2.3

-7.8

Ati

vos

fi n

ance

iro

s d

isp

on

ívei

s p

ara

ven

da

31 3

9043

131

47 7

6956

550

55 1

876.

48.

49.

010

.610

.612

.259

.552

.231

.115

.516

.137

.410

.818

.4-2

.414

.1-2

.96.

011

.7-7

.25.

1

Títu

los

de c

apita

l6

355

7 51

76

693

5 27

03

967

1.3

1.5

1.3

1.0

0.8

0.3

32.6

5.3

-29.

9-4

0.7

12.1

18.3

-11.

0-2

1.3

-24.

73.

7-1

4.1

1.2

-22.

2-6

.1-1

9.8

Inst

rum

ento

s de

dív

ida

23 1

8133

282

39 3

8249

827

49 9

344.

76.

57.

49.

49.

616

.970

.469

.949

.726

.818

.743

.618

.326

.50.

217

.60.

67.

118

.2-7

.38.

1

Out

ros

1 85

32

331

1 69

41

453

1 28

60.

40.

50.

30.

30.

22.

127

.3-8

.6-3

7.6

-24.

11.

225

.8-2

7.3

-14.

2-1

1.5

-3.4

-24.

8-1

.1-1

3.2

-6.6

-5.2

Inve

stim

ento

s d

etid

os

até

à m

atu

rid

ade

6 05

27

641

12 9

7314

659

14 5

511.

21.

52.

42.

82.

816

3.6

52.5

114.

391

.812

.220

.826

.269

.813

.0-0

.79.

654

.97.

25.

41.

0-1

.7

Der

ivad

os

de

cob

ertu

ra1

810

1 74

22

052

1 45

11

094

0.4

0.3

0.4

0.3

0.2

13.2

-24.

413

.4-1

6.7

-46.

7-2

1.5

-3.8

17.8

-29.

3-2

4.6

8.5

8.6

0.8

-29.

8-2

0.1

-5.6

Inve

stim

ento

em

fi l

iais

2 87

73

348

3 23

14

518

4 16

80.

60.

70.

60.

80.

8-1

2.6

21.0

12.3

34.9

29.0

4.0

16.4

-3.5

39.8

-7.7

5.2

-8.2

44.1

-3.0

-5.6

-2.3

Cré

dit

o a

clie

nte

s líq

uid

o31

8 39

831

9 36

933

1 34

431

7 42

030

8 69

464

.962

.562

.559

.759

.13.

1-0

.64.

1-0

.6-6

.8-0

.90.

33.

7-4

.2-2

.7-0

.54.

3-1

.4-2

.9-2

.2-0

.5

Cré

dito

bru

to32

9 35

233

1 38

634

4 20

632

9 57

332

2 07

067

.264

.964

.962

.061

.74.

20.

14.

5-0

.5-6

.4-0

.50.

63.

9-4

.3-2

.3-0

.44.

3-1

.2-3

.1-2

.1-0

.2

do q

ual:

Cré

dito

ven

cido

a c

lient

es10

041

10 9

1712

869

12 0

4013

749

2.0

2.1

2.4

2.3

2.6

61.6

52.8

28.2

10.3

6.8

40.6

8.7

17.9

-6.4

14.2

6.3

10.9

6.4

-12.

19.

04.

7

Impa

ridad

e e

corr

eçõe

s de

val

or d

e cr

édito

a c

lient

es-1

0 95

4-1

2 01

7-1

2 86

2-1

2 15

3-1

3 37

5-2

.2-2

.4-2

.4-2

.3-2

.650

.325

.917

.41.

14.

014

.89.

77.

0-5

.510

.11.

05.

92.

3-7

.72.

67.

2

Ati

vos

titu

lari

zad

os

e n

ão d

esre

con

hec

ido

s32

893

34 0

6334

444

47 2

2250

717

6.7

6.7

6.5

8.9

9.7

42.9

20.5

4.7

38.6

47.2

16.4

3.6

1.1

37.1

7.4

5.0

-3.7

8.1

26.8

5.4

1.9

do q

ual:

Cré

dito

a c

lient

es32

362

33 5

4734

016

46 5

0948

929

6.6

6.6

6.4

8.7

9.4

40.6

20.8

5.1

38.6

43.8

16.5

3.7

1.4

36.7

5.2

4.6

-3.1

8.0

26.6

2.9

2.2

Ati

vos

tan

gív

eis

e in

tan

gív

eis

5 90

95

930

6 04

65

912

6 23

91.

21.

21.

11.

11.

25.

90.

32.

3-0

.33.

2-0

.10.

42.

0-2

.25.

51.

00.

9-2

.80.

60.

94.

6

Ou

tro

s at

ivo

s18

348

20 3

9622

791

22 1

7924

286

3.7

4.0

4.3

4.2

4.6

14.3

8.7

24.2

8.7

6.6

-2.2

11.2

11.7

-2.7

9.5

5.9

5.5

-0.3

-2.4

0.4

9.1

TOTA

L D

O A

TIV

O49

0 43

751

0 58

753

0 22

253

1 72

152

2 29

310

0.0

100.

010

0.0

100.

010

0.0

5.8

7.1

8.1

4.1

-1.5

2.8

4.1

3.8

0.3

-1.8

1.7

2.1

0.0

0.3

-2.5

0.7

Rec

urs

os

de

ban

cos

cen

trai

s13

076

19 4

1945

962

49 1

5749

558

2.7

3.8

8.7

9.2

9.5

89.6

34.8

251.

515

3.1

7.8

-9.2

48.5

136.

77.

00.

86.

712

1.8

1.5

5.4

-6.5

7.8

Rec

urs

os

de

ou

tras

inst

itu

içõ

es d

e cr

édit

o73

009

74 3

1679

043

81 1

2578

104

14.9

14.6

14.9

15.3

15.0

-2.3

0.0

8.3

9.2

-1.2

-1.7

1.8

6.4

2.6

-3.7

4.9

1.4

-1.0

3.6

2.1

-5.7

Rec

urs

os

de

clie

nte

s e

ou

tro

s em

pré

stim

os

217

232

218

478

219

342

230

558

238

906

44.3

42.8

41.4

43.4

45.7

6.9

0.3

1.0

5.5

8.9

-0.3

0.6

0.4

5.1

3.6

-0.9

1.3

4.6

0.5

-0.9

4.5

Res

po

nsa

bili

dad

es r

epre

sen

tad

as p

or

títu

los

108

696

116

807

106

129

89 0

6180

009

22.2

22.9

20.0

16.7

15.3

3.1

24.0

-2.4

-23.

8-2

4.6

15.4

7.5

-9.1

-16.

1-1

0.2

3.0

-11.

8-8

.7-8

.1-7

.4-3

.0

Pass

ivo

s su

bo

rdin

ado

s12

098

11 4

6310

606

10 0

388

087

2.5

2.2

2.0

1.9

1.5

5.6

-3.2

-12.

3-1

2.4

-23.

82.

2-5

.2-7

.5-5

.4-1

9.4

-3.9

-3.7

-0.8

-4.6

-7.8

-12.

6

Pass

ivo

s fi

nan

ceir

os

de

neg

oci

ação

17 4

9414

867

14 4

1611

895

10 5

703.

62.

92.

72.

22.

045

.1-1

3.3

-17.

6-2

0.0

-26.

72.

0-1

5.0

-3.0

-17.

5-1

1.1

8.8

-10.

91.

0-1

8.3

-7.6

-3.8

Der

ivad

os

de

cob

ertu

ra1

488

1 46

12

048

1 61

91

578

0.3

0.3

0.4

0.3

0.3

-38.

8-4

1.4

37.6

10.8

-23.

0-4

0.3

-1.8

40.1

-20.

9-2

.614

.922

.00.

0-2

0.9

-11.

410

.0

Pass

ivo

s p

or

ativ

os

não

des

reco

nh

ecid

os

em o

per

açõ

es d

e ti

tula

riza

ção

3 81

76

971

4 13

59

224

8 87

70.

81.

40.

81.

71.

7-1

5.2

71.0

8.3

32.3

114.

7-6

.382

.6-4

0.7

123.

1-3

.8-3

.6-3

8.5

-4.7

134.

2-2

.0-1

.8

Ou

tro

s p

assi

vos

14 4

2115

040

16 4

5116

219

16 2

182.

942.

93.

13.

053.

1-1

.05.

914

.17.

8-1

.41.

64.

39.

4-1

.40.

00.

58.

9-9

.69.

0-3

.63.

8

Tota

l do

pas

sivo

461

331

478

822

498

132

498

896

491

905

94.1

93.8

93.9

93.8

94.2

6.0

6.3

8.0

4.2

-1.2

2.4

3.8

4.0

0.2

-1.4

1.6

2.4

-0.2

0.3

-2.5

1.2

Page 81: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

79

4

Sist

ema

Banc

ário

Qu

adro

4.1

.1 (

con

tin

ua)

BA

LAN

ÇO

DO

SIS

TEM

A B

AN

RIO

| B

ASE

CO

NSO

LID

AD

A

Em m

ilhõ

es d

e eu

ros

Estr

utu

ra(e

m p

erce

nta

gem

do

at

ivo

to

tal)

Taxa

s d

e va

riaç

ão h

om

ólo

ga

(e

m p

erce

nta

gem

)Ta

xas

de

vari

ação

sem

estr

al

(em

per

cen

tag

em)

Taxa

s d

e va

riaç

ão t

rim

estr

al

(e

m p

erce

nta

gem

)

2009

2010

2011

2009

2010

2011

2009

2010

2011

2009

2010

2011

2010

2011

Jun

.D

ez.

Jun

.D

ez.

Jun

.Ju

n.

Dez

.Ju

n.

Dez

.Ju

n.

Jun

.D

ez.

Jun

.D

ez.

Jun

.S1

S2S1

S2S1

T1T2

T3T4

T1T2

Cap

ital

29 1

0631

765

32 0

9032

825

30 3

875.

96.

26.

16.

25.

82.

520

.710

.33.

3-5

.310

.69.

11.

02.

3-7

.44.

5-3

.42.

10.

2-1

.2-6

.3

TOTA

L D

O P

ASS

IVO

E C

API

TAL

490

437

510

587

530

222

531

721

522

293

100.

010

0.0

100.

010

0.0

100.

05.

87.

18.

14.

1-1

.52.

84.

13.

80.

3-1

.81.

72.

10.

00.

3-2

.50.

7

Por

mem

ória

:

Cré

dito

a c

lient

es in

clui

ndo

oper

açõe

s de

titu

lariz

ação

não

de

srec

onhe

cida

s36

1 71

436

4 93

337

8 22

237

6 08

237

0 99

973

.871

.571

.370

.771

.06.

71.

74.

63.

1-1

.90.

80.

93.

6-0

.6-1

.40.

03.

6-0

.4-0

.2-1

.40.

1

Cré

dito

a c

lient

es n

ão r

epre

sent

ado

por

valo

res

mob

iliár

ios

incl

uind

o op

eraç

ões

de t

itula

rizaç

ão n

ão d

esre

conh

ecid

as34

5 58

434

8 40

836

0 52

735

7 93

435

5 20

470

.568

.268

.067

.368

.04.

71.

84.

32.

7-1

.50.

90.

83.

5-0

.7-0

.80.

23.

3-0

.6-0

.1-1

.10.

3

Sald

o de

ope

raçõ

es d

e ve

nda

de c

rédi

tos

(acu

mul

ado

no a

no)

n.d.

n.d.

317

1 01

85

344

Cré

dito

a c

lient

es in

clui

ndo

oper

açõe

s de

titu

lariz

ação

não

de

srec

onhe

cida

s (c

orrig

ido

de o

pera

ções

de

vend

a de

cré

dito

s)n.

d.36

4 93

337

8 53

937

7 10

037

6 34

3-

--

--

--

--

-0.6

--

--0

.4-0

.2-

--0

.30.

0-0

.70.

5

Cré

dito

a c

lient

es d

as fi

liais

est

rang

eira

s do

s gr

upos

ban

cário

s do

més

ticos

32 5

4732

415

35 3

4734

055

32 8

056.

66.

36.

76.

46.

37.

8-0

.48.

65.

1-7

.20.

0-0

.49.

0-3

.7-3

.70.

48.

6-7

.54.

1-5

.01.

4

Recu

rsos

de

clie

ntes

(inc

luin

do t

ítulo

s em

itido

s pe

los

banc

os e

co

loca

dos

junt

o de

clie

ntes

)24

5 08

924

7 07

324

2 21

824

5 10

225

4 53

850

.048

.445

.746

.148

.78.

62.

5-1

.2-0

.85.

11.

70.

8-2

.01.

23.

9-1

.2-0

.84.

1-2

.8-0

.44.

3

Excl

uin

do

o b

anco

BPN

(a)

Ati

vos

fi n

ance

iro

s d

isp

on

ívei

s p

ara

ven

da

30 4

8942

177

46 8

5156

487

55 1

186.

38.

49.

010

.710

.611

.660

.753

.733

.917

.616

.238

.311

.120

.6-2

.414

.5-3

.06.

113

.7-7

.25.

1

Títu

los

de c

apita

l5

580

6 72

15

886

5 26

33

960

1.2

1.3

1.1

1.0

0.8

-4.7

33.9

5.5

-21.

7-3

2.7

11.1

20.5

-12.

4-1

0.6

-24.

84.

0-1

5.8

1.2

-11.

7-6

.1-1

9.8

Inst

rum

ento

s de

dív

ida

23 0

6333

136

39 2

8249

771

49 8

724.

86.

67.

59.

49.

617

.370

.870

.350

.227

.018

.943

.718

.526

.70.

217

.80.

67.

118

.3-7

.38.

1

Out

ros

1 84

62

320

1 68

31

453

1 28

60.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

00.

0

Cré

dit

o a

clie

nte

s líq

uid

o31

3 47

631

4 71

632

6 50

331

3 73

430

5 18

164

.962

.562

.459

.558

.93.

5-0

.64.

2-0

.3-6

.5-1

.00.

43.

7-3

.9-2

.7-0

.54.

3-1

.4-2

.6-2

.2-0

.5

Cré

dito

bru

to32

2 73

532

4 92

933

7 41

932

5 40

831

8 07

766

.864

.564

.561

.861

.44.

10.

04.

50.

1-5

.7-0

.60.

73.

8-3

.6-2

.3-0

.54.

4-1

.2-2

.4-2

.1-0

.2

do q

ual:

Cré

dito

ven

cido

a c

lient

es9

264

9 84

011

071

11 7

1213

356

1.9

2.0

2.1

2.2

2.6

54.2

46.1

19.5

19.0

20.6

37.6

6.2

12.5

5.8

14.0

5.5

6.7

6.2

-0.4

9.3

4.3

Impa

ridad

e e

corr

eçõe

s de

val

or d

e cr

édito

a c

lient

es-9

260

-10

212

-10

916

-11

674

-12

896

-1.9

-2.0

-2.1

-2.2

-2.5

30.2

26.6

17.9

14.3

18.1

14.8

10.3

6.9

6.9

10.5

-0.2

7.1

2.8

4.1

2.8

7.5

TOTA

L D

O A

TIV

O48

2 98

650

3 42

152

3 15

152

6 85

451

7 78

510

0.0

100.

010

0.0

100.

010

0.0

6.2

7.2

8.3

4.7

-1.0

2.9

4.2

3.9

0.7

-1.7

1.8

2.1

0.0

0.7

-2.5

0.8

Por

mem

ória

:

Cré

dito

a c

lient

es in

clui

ndo

oper

açõe

s de

titu

lariz

ação

não

de

srec

onhe

cida

s35

4 38

035

7 87

037

0 90

237

1 45

536

6 62

473

.471

.170

.970

.570

.86.

61.

74.

73.

8-1

.20.

71.

03.

60.

1-1

.30.

03.

7-0

.40.

5-1

.40.

1

Fon

te: B

anco

de

Port

ugal

.

No

ta: (

a) E

m d

ezem

bro

de 2

010,

o B

PN c

edeu

um

mon

tant

e si

gnifi

cativ

o de

ativ

os a

um

con

junt

o de

veí

culo

s fi n

ance

iros,

o q

ue t

eve

um im

pact

o re

leva

nte

em a

lgum

as r

ubric

as d

o ba

lanç

o do

sis

tem

a ba

ncár

io.

(co

nti

nu

ação

)

Page 82: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

80

I

concretizado maioritariamente através de uma operação de troca de dívida subordinada por capital.

Adicionalmente, foram realizadas algumas operações de recompra de obrigações próprias por parte de

algumas instituições, com impactos positivos nos capitais próprios (por via do aumento dos resultados),

dado o desconto face ao valor de emissão com que as mesmas transacionavam nos mercados secundários.

Ativos externos do sistema bancário doméstico prosseguiram a tendência de diminuição no

primeiro semestre, assistindo-se a uma redução da exposição face aos bancos e setor público

não residentes

Em junho de 2011, os ativos externos do sistema bancário doméstico, em base consolidada, registaram

uma diminuição em termos homólogos de 14 por cento (-10 por cento face a dezembro de 2010),

representando cerca de 25 por cento do total do ativo doméstico8 (Quadro 4.1.2). Em termos de matu-

ridades, e contrariamente à tendência registada nos últimos dois anos, observou-se uma recomposição

da carteira a favor de ativos a curto prazo (até 1 ano), em detrimento de ativos a prazos mais longos.

No que se refere às contrapartes institucionais, continuou a registar-se uma tendência de diminuição

da exposição face a bancos estrangeiros, sendo também de salientar uma diminuição da exposição ao

setor público, designadamente à divida soberana de países da área do euro. Esta evolução é justifi cada

8 A análise da exposição internacional é efetuada de acordo com as orientações metodológicas do Bank for In-ternational Settlements para o reporte e publicação das “Consolidated banking statistics”. Nesta análise apenas se considera o subconjunto das instituições domésticas, em base consolidada, uma vez que as instituições não domésticas são integradas no perímetro de consolidação dos sistemas bancários dos países das respetivas sedes.

Quadro 4.1.2

ATIVOS EXTERNOS CONSOLIDADOS DO SISTEMA BANCÁRIO DOMÉSTICO NA ÓTICA DO RISCO IMEDIATO – ESTRUTURA | EM PERCENTAGEM

2008 2009 2010 2011

Dez. Jun. Dez. Jun. Dez. Jun.

Total (106 €) 108 913 113 005 117 727 120 299 114 903 103 497

Em percentagem do ativo total 28.9 29.0 29.3 29.2 27.8 25.4

Ativos internacionais 71.7 72.1 71.2 70.7 69.2 67.5

Maturidade

até 1 ano 23.6 21.8 19.0 18.0 17.4 19.1

de 1 a 2 anos 4.6 4.1 4.7 5.1 4.4 4.3

a mais de 2 anos 36.5 38.7 39.1 41.1 41.3 37.6

Outros 7.1 7.5 8.4 6.5 6.1 6.6

Contraparte institucional

Bancos 21.8 20.1 18.3 15.3 14.3 12.4

Setor público 2.2 2.8 4.5 5.3 4.9 4.4

Setor privado não bancário 47.0 48.9 48.1 49.7 49.7 50.4

Outros 0.7 0.3 0.2 0.5 0.2 0.2

Contraparte geográfi ca

Países desenvolvidos 49.6 53.3 51.6 48.4 48.8 48.4

Centros off-shore 7.4 6.1 5.8 6.0 4.9 4.8

Países em desenvolvimento na Europa 6.2 5.3 5.2 5.5 5.6 5.9

Outros 8.5 7.4 8.5 10.8 9.8 8.4

Ativos locais em moeda local 28.3 27.9 28.8 29.3 30.8 32.5

Contraparte geográfi ca

Países desenvolvidos 20.5 20.3 20.0 20.2 20.0 20.1

Centros off-shore 0.4 0.4 0.5 0.5 0.6 0.4

Países em desenvolvimento na Europa 4.7 4.3 5.1 4.8 5.1 5.9

Outros 2.8 2.9 3.1 3.8 5.2 6.1

Por memória:

Ativos locais em moeda local (106 €) 30 834 31 546 33 899 35 204 35 440 33 608

Passivos locais em moeda local (106 €) 21 472 23 007 24 819 22 237 25 291 22 802

Fonte: Banco de Portugal.

Page 83: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

81

4

Sist

ema

Banc

ário

pelo necessário ajustamento do balanço dos bancos, processo que tem sido preferencialmente concre-

tizado através da alienação de ativos externos não estratégicos, de forma a mitigar os efeitos sobre o

fi nanciamento da economia portuguesa.

Forte diminuição da rendibilidade do sistema bancário no primeiro semestre de 2011

refl etindo, inter alia, o aumento das provisões e imparidades associadas à carteira de crédito

No primeiro semestre de 2011, os resultados antes de impostos e interesses minoritários do sistema

bancário português, em base consolidada, registaram um decréscimo de 52.5 por cento face ao período

homólogo de 2010 (Quadro 4.1.3). Esta evolução refl etiu-se numa diminuição acentuada da rendibilidade

do ativo e dos capitais próprios, situando-se os respetivos indicadores em 0.25 e 4.2 por cento, no fi nal

de junho (0.29 e 4.4 por cento excluindo o BPN) (Gráfi co 4.1.2).

Para esta diminuição contribuíram, essencialmente, o aumento das provisões e imparidades associadas à

carteira de crédito a clientes9, num contexto de forte materialização do risco de crédito, e a diminuição

dos resultados em operações fi nanceiras (Gráfi co 4.1.3a). No segundo caso são de destacar as perdas

registadas nas operações de venda de créditos e na carteira de títulos de dívida. Em sentido contrário,

observou-se um contributo ligeiramente positivo da margem fi nanceira, a principal componente da

demonstração de resultados, que registou um aumento de 4.5 por cento em termos homólogos,

enquanto os rendimentos de serviços e comissões líquidas permaneceram praticamente inalterados

face a junho de 2010.

Face ao segundo semestre de 2010, registou-se igualmente um contributo negativo dos resultados em

operações fi nanceiras e das provisões e imparidades associadas à carteira de crédito a clientes, sendo

ainda de salientar o impacto negativo dos outros resultados de exploração (Gráfi co 4.1.3b). Por seu

turno, observou-se um contributo positivo da componente de custos operacionais (custos com pessoal,

9 Para mais detalhes ver “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório.

Gráfi co 4.1.2

RENDIBILIDADE DO ATIVO (ROA) E DOS CAPITAIS PRÓPRIOS (ROE)

-0.1

0.3

0.7

1.1

1.5

-2.0

3.0

8.0

13.0

18.0

1999 2001 2003 2005 2007 2008S12009S12010S12011S1

Em

per

cent

agem

Em

per

cent

agem

ROEROE - Excluindo BPN e BPPROA (esc. dir.)ROA - Excluindo BPN e BPP (esc. dir.)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: A quebra de série apresentada em 2004 corresponde à introdução das normas internacionais de contabilidade, a qual im-plicou uma redefi nição do conjunto de instituições bancárias analisado. Adicionalmente, existe uma quebra de série em 2007 que corresponde a um alargamento do conjunto das instituições em análise. Os dados relativos ao semestre encontram-se anualizados.

Page 84: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

82

I

Qu

adro

4.1

.3

DEM

ON

STR

ÃO

DE

RES

ULT

AD

OS

DO

SIS

TEM

A B

AN

RIO

| B

ASE

CO

NSO

LID

AD

A

Em m

ilhõ

es d

e eu

ros

Estr

utu

ra(e

m p

erce

nta

gem

do

ati

vo m

édio

)(a)

Taxa

s d

e va

riaç

ão h

om

ólo

ga

(em

per

cen

tag

em)

2009

2010

2011

2009

2010

2011

2009

2010

2011

An

oS1

S2A

no

S1A

no

S1S2

An

oS1

An

oS1

S2A

no

S1

1.Ju

ros

e re

ndim

ento

s si

mila

res

23 0

2410

044

10 4

3220

476

11 0

484.

703.

863.

933.

894.

23-2

7.9

-22.

43.

6-1

1.1

10.0

2.Ju

ros

e en

carg

os s

imila

res

15 1

176

259

6 36

712

627

7 08

73.

092.

412.

402.

402.

71-3

4.5

-27.

7-1

.4-1

6.5

13.2

3.M

arg

em fi

nan

ceir

a (1

-2)

7 90

83

785

4 06

57

849

3 96

11.

621.

461.

531.

491.

52-1

0.8

-11.

912

.5-0

.74.

7

4.Re

ndim

ento

s de

inst

rum

ento

s de

cap

ital

222

211

230

441

275

0.05

0.08

0.09

0.08

0.11

-21.

415

.647

7.4

98.4

30.3

5.Re

ndim

ento

s (lí

quid

os) d

e se

rviç

os e

com

issõ

es3

430

1 87

61

925

3 80

11

881

0.70

0.72

0.73

0.72

0.72

2.5

13.7

8.1

10.8

0.2

6.Re

sulta

dos

de a

tivos

e p

assi

vos

fi nan

ceiro

s av

alia

dos

ao ju

sto

valo

r at

ravé

s de

res

ulta

dos

526

221

-233

-12

-232

0.11

0.09

-0.0

90.

00-0

.09

--4

0.2

-250

.3-1

02.2

-204

.9

7.Re

sulta

dos

de a

tivos

fi na

ncei

ros

disp

onív

eis

para

ven

da39

424

221

145

314

30.

080.

090.

080.

090.

05-2

6.5

232.

7-3

4.4

14.9

-41.

0

8.Re

sulta

dos

de r

eava

liaçã

o ca

mbi

al26

913

729

142

827

70.

050.

050.

110.

080.

1156

.263

.957

.259

.310

2.4

9.Re

sulta

dos

de a

liena

ção

de o

utro

s at

ivos

fi na

ncei

ros

506

121

298

419

151

0.10

0.05

0.11

0.08

0.06

141.

4-3

7.0

-5.0

-17.

224

.3

10.O

utro

s re

sulta

dos

de e

xplo

raçã

o40

616

237

153

314

70.

080.

060.

140.

100.

06-3

9.2

-41.

318

6.1

31.5

-9.2

11.P

rod

uto

de

ativ

idad

e (3

+4+5

+6+7

+8+9

+10)

13 6

606

756

7 15

813

913

6 60

22.

792.

602.

702.

652.

53-3

.2-5

.19.

51.

9-2

.3

12.C

usto

s co

m o

pes

soal

4 21

82

103

2 24

54

348

2 14

20.

860.

810.

850.

830.

820.

70.

25.

93.

11.

8

13.G

asto

s ge

rais

adm

inis

trat

ivos

2 88

91

420

1 56

82

988

1 39

00.

590.

550.

590.

570.

53-4

.14.

82.

23.

4-2

.1

14.A

mor

tizaç

ões

do e

xerc

ício

658

335

340

675

319

0.13

0.13

0.13

0.13

0.12

3.0

4.7

0.7

2.6

-4.8

15.P

rovi

sões

líqu

idas

de

repo

siçõ

es e

anu

laçõ

es41

728

7510

322

0.09

0.01

0.03

0.02

0.01

-32.

2-8

0.0

-73.

0-7

5.4

-20.

9

16.P

erda

s de

impa

ridad

e e

outr

as c

orre

ções

de

valo

r líq

uida

s3

522

1 60

11

965

3 56

62

132

0.72

0.62

0.74

0.68

0.82

-13.

3-1

0.5

13.5

1.3

33.2

17.D

ifere

nças

de

cons

olid

ação

neg

ativ

as-2

8-1

10

-1-0

.01

0.00

0.00

0.00

0.00

--

-102

.3-9

9.9

-

18.A

prop

riaçã

o de

res

ulta

dos

de a

ssoc

iada

s e

empr

eedi

men

tos

conj

unto

s(e

qui.

patr

imon

ial)

204

129

147

276

700.

040.

050.

060.

050.

03-

--2

2.9

35.4

-

19.R

esul

tado

ant

es d

e im

post

os e

de

inte

ress

es m

inor

itár

ios

(11-

12-1

3-14

-15-

16-1

7+18

)2

190

1 40

01

110

2 51

066

90.

450.

540.

420.

480.

2638

.1-2

.447

.014

.6-5

2.2

20.Im

post

o so

bre

os lu

cros

do

exer

cíci

o44

616

614

330

9-4

40.

090.

060.

050.

06-0

.02

-28.

0-4

4.1

-3.6

-30.

6-1

26.7

21.R

esu

ltad

o a

nte

s d

e in

tere

sses

min

ori

tári

os

(19-

20)

1 74

41

234

966

2 20

071

40.

360.

470.

360.

420.

2780

.58.

459

.526

.2-4

2.2

22.In

tere

sses

min

oritá

rios

646

361

406

767

307

0.13

0.14

0.15

0.15

0.12

36.1

18.1

19.4

18.8

-14.

9

23.R

esu

ltad

o lí

qu

ido

(21

-22)

1 09

887

356

01

434

407

0.22

0.34

0.21

0.27

0.16

123.

34.

911

0.8

30.5

-53.

4

Por

mem

ória

:

Resu

ltado

s de

ope

raçõ

es fi

nanc

eira

e im

parid

ades

ass

ocia

das

1 40

561

431

793

123

50.

290.

240.

120.

180.

09-

-2.4

-59.

2-3

3.8

-61.

7

Prov

isõe

s e

impa

ridad

e as

soci

adas

a c

rédi

to a

clie

ntes

2 91

81

371

1 43

42

805

1 82

50.

600.

530.

540.

530.

7012

.0-1

1.6

4.9

-3.9

33.1

Fon

te: B

anco

de

Port

ugal

.

No

ta: (

a) O

s da

dos

rela

tivos

aos

sem

estr

es e

ncon

tram

-se

anua

lizad

os.

Page 85: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

83

4

Sist

ema

Banc

ário

Gráfi co 4.1.3a Gráfi co 4.1.3b

VARIAÇÃO HOMÓLOGA DA RENDIBILIDADE DO ATIVO – ROA | DECOMPOSIÇÃO DE CONTRIBUTOS

VARIAÇÃO FACE AO SEMESTRE ANTERIOR DA RENDIBILIDADE DO ATIVO – ROA | DECOMPOSIÇÃO

DE CONTRIBUTOS

Margem fi nanceira

Comissões liquídas

Rendimentos de instrumentos de capital

Resultados em operações fi nanceiras

Outros resultados de exploração

Custos operacionais

Provisões e imparidade associado a crédito a clientes

Outras provisões e imparidades

Apropriação de resultados de associadas e diferenças de consolidação

Variação do ROA

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: A rendibilidade do ativo é calculada considerando os resultados antes de impostos e de interesses minoritários.

gastos gerais administrativos e amortizações) e da rubrica de outras provisões e imparidades (associadas

a ativos fi nanceiros disponíveis para venda e a ativos não fi nanceiros), que tinha registado um forte

aumento no segundo semestre de 2010.

A análise das curvas de distribuição empírica sugere uma diminuição dos indicadores de rendibilidade do

ativo (ROA) e dos capitais próprios (ROE) transversal à generalidade das instituições bancárias (Gráfi cos

4.1.4 e 4.1.5), observando-se um aumento do peso das instituições com níveis de rendibilidade nega-

tivos. Este aumento é justifi cado essencialmente pelo facto de um dos principais bancos domésticos

ter apresentado resultados antes de impostos e interesses minoritários negativos no primeiro semestre

de 2011. Em termos gerais, o sistema bancário português registou uma queda aproximada de 80 por

cento da rendibilidade por comparação com os valores observados antes do início da crise económica

e fi nanceira, em 200710.

De acordo com a informação publicamente disponível para um conjunto de grandes instituições fi nanceiras

da área do euro, os indicadores de rendibilidade estabilizaram na primeira metade de 2011, atingindo,

em média, valores superiores aos registados pelos bancos portugueses. Contudo, é de salientar a forte

deterioração registada no segundo trimestre, período em que se assistiu ao exacerbar da crise da dívida

soberana dos países da área do euro e ao aumento da incerteza nos mercados fi nanceiros internacionais.

10 Em ambos os indicadores de rendibilidade (ROA e ROE).

Page 86: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

84

I

Gráfi co 4.1.4 Gráfi co 4.1.5

RENDIBILIDADE DO ATIVO | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA RENDIBILIDADE DOS CAPITAIS PRÓPRIOS | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA

-2.0 -1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0

Jun-10Dez-10Jun-11

-10 -5 0 5 10 15 20 25 30

Jun-10Dez-10Jun-11

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo; indicador calculado considerando o resultado antes de impostos e de in-teresses minoritários.

Notas: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo seu ativo; indicador calculado considerando o resultado antes de impostos e de in-teresses minoritários.

Margem fi nanceira diminuiu ligeiramente no primeiro semestre de 2011, acompanhando a

contração da atividade do sistema bancário

Tal como referido anteriormente, a margem fi nanceira, a principal componente do produto bancário

português, apresentou uma evolução positiva em termos homólogos e uma ligeira redução face ao

segundo semestre de 2010 (-2.6 por cento), acompanhando a diminuição do ativo bancário. Como se

observa no gráfi co 4.1.6, registou-se uma virtual estabilização da margem fi nanceira, em percentagem

do ativo total médio, pese embora a evolução diferenciada por tipo de operação.

Em primeiro lugar, destaque-se o aumento da margem associada a operações com instrumentos fi nan-

ceiros. A diminuição das responsabilidades representadas por títulos – decorrente das difi culdades de

renovação da dívida obrigacionista colocada, em larga medida, junto de não residentes – e o facto do

aumento da remuneração implícita dos ativos representados por títulos ter sido superior ao aumento

da remuneração das responsabilidades (efeito de preço positivo) contribuíram para a evolução favorável

desta componente. Adicionalmente, refi ra-se o contributo do aumento dos juros provenientes de títulos

de dívida pública e privada, emitida por residentes.

No que se refere às operações no mercado monetário, a diminuição da margem esteve sobretudo associada

a um efeito preço negativo. Num contexto de fortes restrições ao fi nanciamento dos bancos portugueses

nos mercados internacionais, o movimento de subida das taxas de juro interbancárias traduziu-se na

diminuição do diferencial entre a remuneração dos ativos e dos passivos interbancários (Quadro 4.1.4).

Adicionalmente, o facto de a posição líquida dos bancos portugueses no mercado interbancário se ter

mantido fortemente defi citária (incluindo a posição face ao Eurosistema) reforçou o efeito de preço,

concorrendo para explicar a diminuição da margem das operações no mercado monetário neste período.

Importa, contudo, salientar que a evolução desfavorável desta componente está diretamente relacionada

com o comportamento da margem associada a operações com instrumentos fi nanceiros e com clientes,

na medida em que os juros pagos pelo fi nanciamento obtido junto do BCE são mais do que compensados

pelos juros dos ativos que permite fi nanciar.

Page 87: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

85

4

Sist

ema

Banc

ário

Qu

adro

4.1

.4

TAX

AS

DE

JUR

O M

ÉDIA

S IM

PLÍC

ITA

S D

AS

PRIN

CIP

AIS

RU

BR

ICA

S D

O B

ALA

O(a

) | E

M P

ERC

ENTA

GEM

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2007

2008

2009

2010

2011

S1S2

S1S2

S1S2

S1S2

S1

Ati

vos

rem

un

erad

os

com

juro

s5.

444.

243.

883.

304.

224.

565.

485.

933.

763.

155.

235.

725.

836.

044.

413.

133.

053.

263.

64

dos

quai

s:

Ativ

os in

terb

ancá

rios(b

)4.

092.

792.

231.

772.

693.

714.

164.

311.

741.

473.

924.

394.

454.

222.

271.

281.

301.

662.

00

Ativ

os n

ão in

terb

ancá

rios

Cré

dito

6.26

4.94

4.60

4.00

4.56

4.86

5.87

6.33

4.16

3.43

5.64

6.08

6.17

6.49

4.83

3.49

3.33

3.56

4.03

Títu

los

5.05

4.08

3.96

2.94

4.85

4.52

5.60

6.32

4.80

4.14

5.33

5.95

6.12

6.63

5.51

4.19

4.19

4.12

4.48

Pass

ivo

s re

mu

ner

ado

s co

m ju

ros

3.59

2.61

2.28

1.87

2.32

2.71

3.49

3.92

2.25

1.77

3.23

3.73

3.82

4.02

2.67

1.86

1.71

1.84

2.25

dos

quai

s:

Pass

ivos

inte

rban

cário

s(c)

4.42

3.00

2.42

2.02

2.89

3.58

4.39

4.64

2.00

1.25

4.13

4.66

4.65

4.64

2.44

1.56

1.25

1.28

1.80

Pass

ivos

não

inte

rban

cário

s

Dep

ósito

s2.

812.

101.

801.

451.

601.

802.

463.

042.

001.

492.

262.

652.

903.

172.

391.

611.

381.

602.

06

Títu

los

4.12

3.17

3.12

2.46

3.03

3.72

4.38

4.79

2.74

2.72

4.02

4.73

4.63

4.99

3.16

2.38

2.52

2.96

3.19

Pass

ivos

sub

ordi

nado

s5.

484.

534.

303.

724.

614.

825.

305.

553.

993.

255.

265.

325.

565.

504.

513.

503.

343.

153.

41

Dif

eren

ciai

s (p

on

tos

per

cen

tuai

s):

Ativ

os r

emun

erad

os-p

assi

vos

rem

uner

ados

1.86

1.63

1.60

1.43

1.90

1.84

1.99

2.01

1.51

1.38

2.00

1.99

2.01

2.01

1.75

1.28

1.34

1.42

1.39

Cré

dito

-dep

ósito

s3.

452.

842.

812.

562.

963.

053.

413.

292.

161.

943.

393.

433.

273.

322.

441.

871.

951.

961.

97

Fon

te: B

anco

de

Port

ugal

.

No

tas:

A q

uebr

a de

sér

ie a

pres

enta

da e

m 2

004

corr

espo

nde

à in

trod

ução

das

nor

mas

inte

rnac

iona

is d

e co

ntab

ilida

de,

a qu

al im

plic

ou,

adic

iona

lmen

te,

uma

rede

fi niç

ão d

o co

njun

to d

e in

stitu

içõe

s ba

ncár

ias

anal

isad

o. P

or s

ua

vez,

a q

uebr

a de

sér

ie r

epre

sent

ada

em 2

007

corr

espo

nde

a um

ala

rgam

ento

do

conj

unto

das

inst

ituiç

ões

em a

nális

e. (

a) T

axas

de

juro

méd

ia im

plíc

itas

calc

ulad

as c

omo

o rá

cio

entr

e o

fl uxo

de

juro

s no

per

íodo

em

con

side

raçã

o e

o st

ock

méd

io d

a co

rres

pond

ente

rub

rica

do b

alan

ço. (

b)

Incl

ui c

aixa

, dep

ósito

s à

orde

m n

o Ba

nco

de P

ortu

gal,

disp

onib

ilida

des

sobr

e in

stitu

içõe

s de

cré

dito

e a

plic

açõe

s em

inst

ituiç

ões

de c

r édi

to. (

c) In

clui

rec

urso

s de

ban

cos

cent

rais

e o

utra

s in

stitu

içõe

s de

cré

dito

.

Page 88: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

86

I

Nas operações com clientes, a evolução da margem fi nanceira refl etiu essencialmente um efeito de

volume negativo, associado ao abrandamento da concessão de crédito ao setor privado não fi nanceiro e

ao aumento da captação de depósitos. A aplicação de spreads mais elevados na generalidade dos novos

empréstimos concedidos compensou virtualmente o impacto negativo sobre a margem do aumento da

remuneração dos recursos de clientes, observando-se uma estagnação do diferencial entre as taxas de

juro implícitas no crédito e nos depósitos (efeito de preço nulo). Num contexto de forte deterioração da

capacidade de fi nanciamento dos bancos no mercado de dívida por grosso, a evolução ascendente das

taxas de juro de curto prazo não se traduziu no aumento da margem associada a operações com clientes

que tipicamente tem caracterizado o sistema bancário português. De facto, de acordo com os dados

das Estatísticas Monetárias e Financeiras, que dizem respeito à atividade doméstica, a partir de meados

de 2010 assistiu-se a uma ligeira diminuição da margem total entre os empréstimos e os depósitos de

clientes, sendo de salientar o aumento das taxas de juro dos depósitos para valores signifi cativamente

superiores às taxas de juro do mercado interbancário (taxas Euribor) (Gráfi co 4.1.7). Com o objetivo de

conter a subida progressiva das taxas de remuneração dos depósitos e de mitigar os riscos acrescidos

para o sistema bancário que essa situação representa, o Banco de Portugal defi niu, no âmbito da sua

competência de supervisão prudencial, novas exigências de fundos próprios relativamente a depósitos

contratados com taxas de remuneração elevadas, isto é, superiores em 300 pontos base à taxa de refe-

rência do mercado interbancário para o prazo correspondente11.

No médio prazo, no contexto do processo gradual de desalavancagem do setor bancário, a redução

gradual do recurso ao Eurosistema deverá contribuir para a diminuição da margem fi nanceira. Contudo,

será também de referir que a substituição de fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por

grosso por depósitos tenderá a ter um impacto favorável sobre a margem fi nanceira. Por outro lado, a

adoção de uma política de concessão de crédito mais restritiva por parte dos bancos, nomeadamente

através da aplicação de spreads mais elevados nos novos empréstimos, deverá exercer um efeito posi-

tivo sobre a margem fi nanceira. Este facto é particularmente relevante no caso do crédito às empresas,

caracterizado por maturidades mais curtas o que facilita o repricing do crédito. Finalmente, o processo de

11 Para mais detalhes ver “Instrução nº 28/2011” do Banco de Portugal.

Gráfi co 4.1.6

DECOMPOSIÇÃO DA MARGEM FINANCEIRA | EM PERCENTAGEM DO ATIVO MÉDIO

-1.5

-1.0

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

2007 2008 2009 2010 08S1 08S2 09S1 09S2 10S1 10S2 11S1

Em

per

cent

agem

Operações com instrumentos fi nanceiros

Operações no mercado monetário

Operações com clientes

Outras operações

Margem fi nanceira – Total

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Os valores semestrais encontram-se anualizados.

Page 89: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

87

4

Sist

ema

Banc

ário

desalavancagem do balanço dos bancos, em particular, a redução do rácio entre crédito e depósitos dos

oito maiores grupos bancários para um nível de 120 por cento até ao fi nal de 2014, deverá condicionar,

em termos de volume, a evolução da margem fi nanceira.

O abrandamento da atividade económica no primeiro semestre resultou numa diminuição

generalizada da produção de serviços bancários

Depois do signifi cativo crescimento registado em 2010, os resultados associados a serviços e comissões

voltaram a abrandar no primeiro semestre de 2011, em resultado da queda generalizada na produção

de serviços bancários. Num quadro de contração da atividade económica e consequente redução do

volume de transações fi nanceiras na economia, observou-se uma diminuição considerável das comis-

sões associadas à gestão de cartões, administração, cobrança e transferência de valores, que caíram

aproximadamente 9 por cento nos primeiros seis meses do ano, face ao segundo semestre de 2010. No

mesmo sentido, refl etindo, por um lado, a dinâmica de recomposição da carteira de ativos fi nanceiros dos

particulares e, por outro, a gestão ativa dos bancos no sentido de privilegiarem a captação de depósitos,

registou-se uma diminuição das comissões associadas à gestão de fundos de investimento mobiliários.

Ainda assim, os valores observados são superiores aos do primeiro semestre de 2009, período também

caracterizado por um elevado grau de aversão ao risco por parte dos investidores. O crescimento das

comissões associadas à prestação de garantias/avales, a operações de factoring e à negociação de títulos

por conta de terceiros (em bolsa e fora de bolsa) concorreu para mitigar o impacto negativo desta rubrica

sobre a rendibilidade do sistema bancário.

Por seu turno, os rendimentos de instrumentos de capital evidenciaram um comportamento positivo no

primeiro semestre, justifi cado, essencialmente, pela distribuição do dividendo extraordinário da Portugal

Telecom (no seguimento da venda da participação no capital da Vivo), que tem como acionistas alguns

dos principais grupos bancários portugueses. Excluindo operações de caráter extraordinário, verifi cou-se

uma ligeira diminuição desta rubrica, refl etindo quer a diminuição dos resultados das empresas partici-

padas, quer o aumento da taxa de retenção dos mesmos.

Gráfi co 4.1.7

DIFERENCIAIS DE TAXA DE JURO NAS OPERAÇÕES COM CLIENTES

-6

-5

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6

Jan-03 Jun-04 Nov-05 Abr-07 Set-08 Fev-10 Jul-11

Em

pon

tos

perc

entu

ais

Em

per

cent

agem

e p

onto

s pe

rcen

tuai

s

Diferencial dos empréstimos

Diferencial dos depósitos a prazo (esc. dir; invertida)

Diferencial total

mm6 da taxa Euribor 6 meses

Diferencial dos depósitos – Total (esc. dir; invertida)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: O diferencial das operações ativas foi calculado como a diferença entre as taxas de juro de saldos dos empréstimos (disponi-bilizadas pelas Estatísticas Monetárias e Financeiras) e a média móvel de seis meses da Euribor a 6 meses, enquanto o das passivas como a diferença entre a média móvel de seis meses da Euribor a 6 meses e as taxas de juro de saldos dos depósitos. O diferencial total corresponde à diferença entre a taxa de juro dos empréstimos e a taxa de juros dos depósitos. Última observação: setembro de 2011.

Page 90: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

88

I

Num contexto de contração do produto bancário, a contenção dos custos operacionais

mitigou parcialmente a deterioração dos indicadores de efi ciência dos bancos

No primeiro semestre de 2011 observou-se uma contenção dos custos operacionais, em linha com a

estratégia de re-estruturação das redes comerciais e de racionalização do número de efetivos adotada

pelos principais grupos bancários. Em particular, no que se refere aos custos com pessoal, é de salientar a

diminuição, tanto em termos homólogos como semestrais, dos encargos sociais com fundos de pensões

e das remunerações de empregados. Num contexto de contração das componentes mais relevantes

do produto bancário, a contenção dos custos operacionais contribuiu para mitigar a deterioração dos

indicadores de efi ciência dos bancos portugueses. No primeiro semestre de 2011, o rácio cost to income

do sistema ascendeu a 58.3 por cento, o que representa um aumento de 0.7 pontos percentuais face

ao conjunto do ano de 201012. A deslocação para a direita da curva de distribuição empírica (Gráfi co

4.1.8) revela uma deterioração generalizada deste indicador. Saliente-se, ainda, a convergência dos níveis

de efi ciência dos bancos, particularmente evidente na comparação com o período homólogo do ano

anterior (caracterizado claramente por uma distribuição bimodal).

Atividade internacional representou mais de metade do resultado do sistema bancário no

primeiro semestre de 2011

Os resultados gerados pelas fi liais estrangeiras dos grupos bancários portugueses cresceram de forma

considerável no primeiro semestre de 2011, o que, juntamente com a forte diminuição dos resultados da

atividade doméstica, resultou num aumento acentuado do peso da atividade internacional no resultado

líquido do sistema bancário (Quadro 4.1.5). O aumento da margem fi nanceira e a diminuição das impa-

ridades registadas na atividade das fi liais estrangeiras contribuíram positivamente para esta evolução.

No médio prazo, as perspetivas favoráveis para atividade económica de países onde os grupos bancários

portugueses detêm posições importantes (Angola, Brasil e Moçambique) deverão continuar a suportar o

crescimento da atividade internacional e, consequentemente, o aumento do seu peso no resultado do

12 O rácio cost to income é defi nido como o quociente entre os custos operacionais (que correspondem à soma dos gastos gerais administrativos, dos custos com pessoal e das amortizações) e o produto da atividade.

Gráfi co 4.1.8

RÁCIO COST TO INCOME | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA

30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90

Jun-10Dez-10Jun-11

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Distribuição empírica obtida recorrendo a um Kernel gaussiano que pondera as instituições pelo ativo total; indicador calcula-do como o quociente entre os custos operacionais (defi nidos como o somatório dos custos com pessoal, dos custos administrativos e das depreciações) e o produto da atividade.

Page 91: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

89

4

Sist

ema

Banc

ário

sistema bancário português. Ainda assim, a tendência de concentração da atividade internacional em

torno de um número cada vez mais reduzido de mercados considerados estratégicos adiciona alguma

incerteza à evolução futura deste agregado.

Quadro 4.1.5

IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE INTERNACIONAL PARA OS RESULTADOS DOS SISTEMA BANCÁRIO | EM PERCENTAGEM

Peso das fi liais estrangeiras

Atividade internacional

Taxa de variação homóloga

Atividade domésticaTaxa de variação

homóloga

2009 2010 2011 2010 2011 2010 2011

Dez. Jun. Dez. Jun. Jun. Dez. Jun. Jun. Dez. Jun.

Margem fi nanceira 15.4 18.7 19.9 19.1 11.3 28.5 8.4 -15.9 -6.1 3.8

Comissões 14.9 14.6 13.9 15.1 17.5 3.8 1.0 13.1 12.0 0.1

Produto da atividade 14.5 20.5 19.3 19.4 38.9 35.6 -9.6 -12.3 -3.9 -0.4

Gastos administrativos 13.8 14.9 14.6 14.7 9.6 8.7 -4.2 1.1 2.3 0.5

dos quais: Custos com pessoal 13.7 15.4 14.9 15.0 12.4 12.4 -3.7 -1.7 1.6 2.8

Imparidade 9.5 13.2 12.0 4.4 56.5 27.6 -57.2 -16.0 -1.5 46.9

Resultado antes de impostos e de interesses minoritários 33.3 36.3 32.8 76.7 30.2 13.3 9.3 -14.6 15.2 -87.2

Resultado líquido 15.4 25.1 23.6 58.4 59.5 102.2 20.0 -5.9 17.5 -78.1

Fonte: Banco de Portugal.

Page 92: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se
Page 93: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

91

4

Sist

ema

Banc

ário

4.2. Risco de mercado

A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros do sistema bancário português diminuiu no decurso do

primeiro semestre de 2011, refl etindo em grande medida a perda de valor associada à evolução desfavo-

rável dos mercados fi nanceiros internacionais, em particular a crise nos mercados de dívida soberana da

área do euro, mas também a não renovação de alguns títulos que atingiram a maturidade e a alienação

de parte da carteira por algumas instituições, no contexto do respetivo processo de desalavancagem. As

crescentes difi culdades de colocação de dívida titulada no mercado por parte do Estado Português foram

acomodadas por algumas instituições bancárias, registando-se um aumento da exposição da carteira ao

risco soberano nacional. Uma vez que a carteira de títulos e investimentos fi nanceiros está maioritaria-

mente classifi cada em ativos fi nanceiros disponíveis para venda ou detidos até à maturidade, as elevadas

perdas de valor apuradas no semestre repercutiram-se apenas parcialmente na rendibilidade e capital

regulamentar das instituições. Por sua vez, a posição fi nanceira dos fundos de pensões dos empregados

bancários foi também condicionada de forma adversa pelos desenvolvimentos nos mercados fi nanceiros

internacionais, refl etindo-se negativamente nos rácios de capital das instituições. O agravamento das

condições nos mercados fi nanceiros no período mais recente, num quadro de abrandamento da atividade

económica e de intensifi cação da crise da dívida soberana na área do euro – com destaque para a dete-

rioração da situação da Grécia e para a intensifi cação do contágio a Espanha e a Itália – deverá reforçar

os efeitos negativos observados no primeiro semestre sobre a rendibilidade e o capital das instituições.

Adicionalmente, poderá limitar de forma signifi cativa a capacidade de alienação de alguns ativos, assim

como afetar as condições em que a mesma se realize.

Dada a exposição dos bancos europeus ao setor público da área do euro, a intensifi cação da crise da

dívida soberana e a maior aversão ao risco dos investidores têm condicionado negativamente a avaliação

dos bancos por parte dos participantes nos mercados fi nanceiros internacionais. Neste contexto, e face ao

aumento do risco sistémico, o Conselho Europeu aprovou recentemente um conjunto de medidas propostas

pela European Banking Authority (EBA) com o objetivo de reforçar os rácios de capital das principais

instituições europeias, entre as quais a constituição, até 30 de junho de 2012, de um buffer temporário

de capital refl etindo a avaliação a valores de mercado das exposições a dívida soberana detidas em 30 de

setembro de 201113. Refi ra-se que, de acordo com a regulamentação prudencial previamente defi nida pelo

Banco de Portugal, as instituições do sistema bancário nacional têm de deduzir a capital 21 por cento do

valor nominal das suas exposições à dívida pública helénica, com efeitos a partir de setembro de 2011.

A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros registou uma diminuição no primeiro

semestre de 2011, não obstante o aumento da exposição à dívida pública portuguesa

A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros do sistema bancário português apresentou uma dimi-

nuição no primeiro semestre de 2011, de cerca de 7 por cento14. Deste modo, interrompeu-se a trajetória

ascendente do peso desta carteira no total do ativo do sistema bancário que se verifi cava desde fi nal de

2008 (Gráfi co 4.2.1). Quando comparado com o período homólogo, o valor da carteira apresenta um

crescimento próximo de 8 por cento, refl etindo o aumento signifi cativo no segundo semestre de 2010.

A redução da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros no primeiro semestre de 2011 refl etiu a dete-

rioração das condições nos mercados fi nanceiros internacionais, evidenciando-se o aumento das taxas de

juro de dívida pública de alguns países da área do euro, a alienação de instrumentos fi nanceiros, incluindo

13 Para mais informações ver “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012”, deste Relatório.

14 A carteira de títulos e investimentos fi nanceiros compreende os ativos fi nanceiros ao justo valor através de re-sultados incluindo derivados de negociação (líquidos de passivos detidos para negociação), os ativos fi nanceiros disponíveis para venda, os investimentos detidos até à maturidade, os investimentos em fi liais e o valor líquido de derivados de cobertura, registados no balanço do sistema bancário português, em base consolidada. A car-teira inclui ainda posições associadas a operações de titularização não desreconhecidas de balanço.

Page 94: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

92

I

títulos de capital, por parte de alguns grupos bancários, e a não renovação de posições que entretanto

atingiram a maturidade (Gráfi co 4.2.2). A opção pela venda e não renovação de alguns instrumentos

insere-se na estratégia adotada por algumas instituições para desalavancagem dos respetivos balanços, o

que contribuiu simultaneamente para a redução dos requisitos de capital regulamentar e para obtenção

de liquidez adicional, limitando o recurso a fi nanciamento junto do Eurosistema.

Apesar da diminuição da carteira, as instituições continuaram a adquirir títulos de dívida em montantes

signifi cativos, nomeadamente títulos de dívida pública portuguesa. Com efeito, as crescentes difi culdades

de fi nanciamento do setor público português junto de investidores internacionais, que aumentaram dras-

Gráfi co 4.2.1

CARTEIRA DE TÍTULOS E INVESTIMENTOS FINANCEIROS | DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO NIC

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Jun07

Dez07

Jun08

Dez08

Jun09

Dez09

Jun10

Dez10

Jun11

Em

per

cent

agem

do

ativ

o

Ativos fi nanceiros ao justo valor através de resultados (líquidos)

Ativos fi nanceiros disponíveis para venda

Investimentos detidos até à maturidade

Investimento em fi liais

Derivados detidos para negociação

Derivados de cobertura

Total da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Carteira de títulos e investimentos fi nanceiros registada no balanço do sistema bancário, em base consolidada.

Gráfi co 4.2.2

DECOMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE TÍTULOS E INVESTIMENTOS FINANCEIROS | DE ACORDO COM A

CLASSIFICAÇÃO NIC E FONTE DE RISCO

-2

0

2

4

6

8

10

12

Jun10

Dez10

Jun11

Jun10

Dez10

Jun11

Jun10

Dez10

Jun11

Jun10

Dez10

Jun11

Jun10

Dez10

Jun11

Ativos financeiros ao

justo valor através de resultados (líquidos)

Ativos financeiros disponíveis para venda

Investimentos detidos até à maturidade

Derivados de cobertura e

de negociação

Investimento em filiais

Em

per

cent

agem

do

ativ

o

Taxa de juroAçõesCambialOutrosFiliais

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Carteira de títulos e investimentos fi nanceiros registada no balanço do sistema bancário, em base consolidada.

Page 95: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

93

4

Sist

ema

Banc

ário

ticamente ao longo do primeiro trimestre de 2011 e que conduziram ao pedido de assistência fi nanceira

no início de abril, foram em grande medida supridas pela tomada de títulos de dívida pública por algumas

instituições bancárias. Posteriormente, já no contexto do Programa de Assistência Económica e Financeira,

a necessidade de intermediação de fi nanciamento a empresas públicas anteriormente concedido por não

residentes contribuiu também para o aumento da exposição dos bancos portugueses ao setor público

nacional. Assim, a componente de títulos de dívida pública portuguesa aumentou no decurso do primeiro

semestre de 2011, apesar do impacto negativo sobre o valor de parte desta carteira, decorrente do

signifi cativo aumento das taxas de juro da dívida pública nacional no período em análise (Gráfi co 4.2.3).

Refl etindo estes desenvolvimentos, em junho de 2011, a carteira de títulos de dívida continuava a

ser a principal componente da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros, representando perto de

14 por cento do ativo total em base consolidada. Por sua vez, o peso da carteira de títulos de capital

permaneceu limitado, em torno de 1 por cento do ativo total. Cerca de metade da carteira de títulos

de dívida é constituída por títulos de dívida soberana, dominando a componente nacional. De acordo

com a informação disponível, para alguns dos principais grupos bancários, os emissores soberanos da

área do euro representam uma parcela signifi cativa dos títulos de dívida pública estrangeira. Em termos

de distribuição dos títulos de dívida pública pelas diferentes carteiras de ativos, 69 por cento dos títulos

estão classifi cados em ativos fi nanceiros disponíveis para venda, 18 por cento em ativos detidos até à

maturidade, estando a restante carteira em ativos avaliados a justo valor através de resultados. Uma

vez que os títulos de dívida pública são normalmente emitidos com taxa de juro fi xa, o risco de taxa

de juro é elevado, num contexto em que as tensões nos mercados de dívida soberana na área do euro

permanecem exacerbadas.

Quando comparados com outros bancos da área do euro, em particular com os de países fortemente

pressionados nos mercados de dívida, os bancos portugueses continuam a apresentar, de um modo geral,

uma menor exposição dos respetivos balanços a títulos de dívida pública (Gráfi co 4.2.4). Com base na

informação divulgada no âmbito do exercício de stress test realizado pela EBA, a principal componente

destas exposições estará associada ao respetivo risco soberano, à semelhança do observado para as

instituições portuguesas.

Gráfi co 4.2.3 Gráfi co 4.2.4

DECOMPOSIÇÃO DA CARTEIRA DE TÍTULOS DE DÍVIDA

TÍTULOS DE DÍVIDA PÚBLICA DETIDOS POR INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS EM ALGUNS PAÍSES DA ÁREA DO EURO

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Jun07

Dez07

Jun08

Dez08

Jun09

Dez09

Jun10

Dez10

Jun11

Em

milh

ares

de

milh

ões

de e

uros

Dívida pública portuguesa e outros emitentes públicos residentesEmitentes públicos estrangeiros e organismos financeiros internacionaisOutros títulos de dívida

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Jan-07 Out-07 Jul-08 Abr-09 Jan-10 Out-10 Jul-11

Em

per

cent

agem

do

ativ

o

Portugal Irlanda Grécia Espanha Itália

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: BCE.

Nota: Carteira de títulos de dívida no balanço do sistema ban-cário, em base consolidada.

Nota: Última observação – setembro 2011.

Page 96: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

94

I

A evolução da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros repercutiu-se de forma signifi cativa nos

resultados e no capital contabilístico do sistema bancário português no primeiro semestre de 2011. Neste

contexto, recorde-se que a distribuição da carteira entre as diferentes componentes de ativo é relevante no

apuramento dos resultados e na determinação do capital contabilístico e regulamentar das instituições15.

Face à intensifi cação da crise de dívida soberana na área do euro e à crescente pressão dos participantes

nos mercados fi nanceiros internacionais sobre o sistema bancário europeu, no fi nal de outubro, o

Conselho Europeu aprovou algumas medidas com o objetivo de reforçar os rácios de capital das institui-

ções participantes no exercício de stress test realizado pela EBA. Deste modo, estas instituições deverão

reforçar os respetivos níveis de capital de forma a atingir, até 30 de junho de 2012, um rácio Core Tier

1 de 9 por cento (fazendo uso de um conceito que implica inter alia deduções aos fundos próprios core

relacionados com participações em instituições fi nanceiras), tendo por base uma avaliação a valores de

mercado de toda a dívida soberana detida no fi nal de setembro de 2011, independentemente da carteira

de ativos onde estivesse classifi cada16,17.

Os resultados associados a operações fi nanceiras e imparidades em títulos e investimentos

fi nanceiros diminuíram de forma signifi cativa no primeiro semestre de 2011, contribuindo

negativamente para a evolução da rendibilidade do ativo

No primeiro semestre de 2011, os resultados em operações fi nanceiras ajustados das imparidades associadas

à carteira de títulos e investimentos fi nanceiros denotaram um decréscimo signifi cativo face ao primeiro

semestre de 2010, superior a 60 por cento (Gráfi co 4.2.5)18. Apesar de contribuírem positivamente para

a rendibilidade do ativo, a evolução destes resultados constituiu um dos principais contributos para a

diminuição da rendibilidade no período em análise. Em comparação com o segundo semestre do ano

anterior, registou-se uma diminuição de 26 por cento nos resultados de operações fi nanceiras e perdas

por imparidades na carteira de títulos e investimentos fi nanceiros.

Os resultados em operações fi nanceiras no primeiro semestre de 2011 benefi ciaram da realização de

mais-valias em alguns instrumentos de capital, associadas sobretudo à alienação de títulos de capital

classifi cados na carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para venda, bem como dos resultados obtidos

em diferenças cambiais e em outras operações fi nanceiras. Em sentido oposto, registou-se uma desva-

lorização da carteira de títulos de dívida, bem como menos-valias na alienação de títulos e créditos

realizada por alguns dos principais grupos bancários. Verifi cou-se também uma evolução desfavorável

dos resultados relativos a derivados. Por sua vez, as perdas por imparidade associadas à carteira de títulos

15 Em termos contabilísticos, as variações na carteira dos ativos fi nanceiros avaliados ao justo valor através de resultados refl etem-se na íntegra nas rubricas de resultados, enquanto as variações nas restantes componentes da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros apenas afetam os resultados do exercício quando relacionados com a alienação de instrumentos ou quando têm subjacentes alterações de valor que impliquem o reconhe-cimento de imparidades. Variações de valor que não exijam este registo são contabilizadas na componente de reservas de reavaliação, elemento dos capitais próprios. Deve notar-se que as variações de valor dos ativos fi nanceiros disponíveis para venda, também avaliados mark-to-market, têm impacto em termos prudenciais (i.e. sobre o capital regulamentar das instituições), embora de forma diferenciada por tipo de instrumento. Em particular, enquanto as mais e menos-valias latentes dos títulos de capital são consideradas na determinação dos fundos próprios, as variações de valor dos títulos de dívida têm um efeito neutro.

16 Refi ra-se que o conceito Core Tier 1 subjacente às medidas aprovadas no Conselho Europeu coincide com a defi nição utilizada no exercício de stress test realizado pela EBA em 2011.

17 Para mais detalhes sobre as medidas adotadas a nível europeu com impacto nos rácios de capital ver “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012“, deste Relató-rio.

18 Os resultados em operações fi nanceiras analisados nesta secção correspondem à soma dos resultados de ati-vos e passivos fi nanceiros avaliados ao justo valor através de resultados, dos resultados dos ativos fi nanceiros disponíveis para venda, dos resultados de reavaliações cambiais e dos resultados da alienação de outros ativos fi nanceiros. Por sua vez, a componente das perdas por imparidades corresponde às imparidades associadas à carteira de títulos e investimentos fi nanceiros.

Page 97: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

95

4

Sist

ema

Banc

ário

e investimentos fi nanceiros permaneceram relativamente próximas do observado no primeiro semestre

de 2010. Refi ra-se, no entanto, que estas perdas evidenciaram uma diminuição signifi cativa face ao

segundo semestre de 2010.

Ainda no que diz respeito aos resultados relacionados com os mercados fi nanceiros, as comissões líquidas

obtidas em operações fi nanceiras registaram uma diminuição em termos homólogos, que se refl etiu

numa ligeira redução do respetivo contributo para a rendibilidade do ativo. As principais componentes

subjacentes a esta redução relacionaram-se com a gestão de fundos de investimento e montagem de

operações, não compensada pela evolução favorável das comissões obtidas em operações com títulos

por conta de terceiros. Comparativamente ao segundo semestre de 2010, registou-se um aumento das

comissões líquidas. Esta evolução foi comum às diferentes componentes, com exceção das comissões

associadas à gestão de fundos de investimento.

O signifi cativo aumento das perdas latentes refl etiu-se desfavoravelmente na evolução do

capital contabilístico das instituições

A variação de valor dos ativos fi nanceiros disponíveis para venda repercutiu-se negativamente na evolução

dos capitais próprios e, em muito menor grau, no capital regulamentar do sistema bancário português.

Em particular, as desvalorizações registadas nos títulos desta carteira, sobretudo nos títulos de dívida, no

primeiro semestre de 2011, implicaram um aumento substancial das menos-valias latentes (próximo de

2900 milhões de euros), contribuindo para a diminuição dos capitais próprios contabilísticos. O impacto no

capital regulamentar foi também negativo, mas bastante inferior, em linha com a neutralidade em termos

Gráfi co 4.2.5

CONTRIBUTOS PARA A RENDIBILIDADE DO ATIVO DOS RESULTADOS EM OPERAÇÕES FINANCEIRAS E IMPARIDADES EM TÍTULOS E INVESTIMENTOS FINANCEIROS | DE ACORDO COM A FONTE DE RISCO, POR

SEGMENTOS SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO NIC

-0.2

-0.1

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

Taxade juro

Ações Outrosriscos

Taxade juro

Ações Outrosriscos

Derivados Filiais Cambiais Outros Imparida-des

Total

Em

per

cen

tage

m d

o at

ivo

méd

io

09S109S210S110S211S1

Ativos financeiros ao justo valor através de resultados (líquidos)

Ativos financeiros disponíveis para venda

Fonte: Banco de Portugal.

Page 98: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

96

I

prudenciais das variações de valor dos títulos de dívida classifi cados nesta carteira de ativos. Todavia, como

mencionado anteriormente, no âmbito das decisões do Conselho Europeu de outubro, a neutralidade

dos títulos de dívida pública registados nesta carteira foi revista, tendo as instituições participantes no

exercício de stress test da EBA que reconhecer em fundos próprios até junho de 2012 as desvalorizações

apuradas em 30 de setembro de 2011.

O capital regulamentar foi igualmente penalizado pela elevada sensibilidade da posição

fi nanceira dos fundos de pensões aos mercados fi nanceiros

Como referido em anteriores Relatórios de Estabilidade Financeira, a carteira de ativos dos fundos de

pensões dos empregados do sistema bancário português caracteriza-se por uma elevada sensibilidade

a fl utuações nos mercados fi nanceiros, nomeadamente nos mercados acionistas e de dívida titulada. A

evolução das condições nestes mercados ao longo do primeiro semestre de 2011 repercutiu-se negativa-

mente na posição fi nanceira dos fundos de pensões de algumas instituições. Neste contexto, registou-se

um aumento das deduções aos fundos próprios relacionados com os fundos de pensões, contribuindo

negativamente para a evolução do capital regulamentar. Uma vez que algumas instituições apresentam

perdas atuariais acumuladas acima do limite aceite na determinação do capital regulamentar, limite

usualmente designado por “corredor”, os desenvolvimentos nos mercados fi nanceiros tendem a ter um

impacto integral nos fundos próprios destas instituições19.

As fortes tensões nos mercados fi nanceiros internacionais, sobretudo de dívida soberana

na área do euro, refl etiram-se em pressões adicionais sobre os rácios de capital dos bancos

portugueses

A crescente relevância da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros no ativo dos bancos ao longo dos

últimos anos, em particular a componente de dívida soberana, constitui uma vulnerabilidade adicional

para o sistema bancário português. Com efeito, as fortes tensões nos mercados fi nanceiros internacionais,

que se adensaram consideravelmente no decurso do segundo semestre, criaram pressões adicionais para

os bancos no que diz respeito à gestão do ativo, rendibilidade e capital regulamentar.

A deterioração das condições prevalecentes nos mercados de dívida e de capitais observada ao longo de

2011 condiciona de forma signifi cativa a capacidade de desinvestimento em alguns ativos, num período

em que os bancos portugueses enfrentam restrições de liquidez e têm de proceder à desalavancagem

dos respetivos balanços, de forma a garantir no médio prazo uma estrutura de fi nanciamento mais

sustentável. A alienação de parte da carteira de títulos e investimentos fi nanceiros nas atuais circunstân-

cias poderá implicar o reconhecimento de perdas substanciais, com impacto negativo na rendibilidade

e consequentemente nos rácios de capital das instituições. Os desenvolvimentos desfavoráveis nos

mercados fi nanceiros deverão também traduzir-se no aumento das menos-valias na carteira de títulos e

investimentos fi nanceiros detida pelas instituições, acentuando os efeitos negativos sobre a rendibilidade

e o capital observados no primeiro semestre.

Adicionalmente, a exposição das instituições portuguesas ao setor público nacional e ao de alguns países

da área do euro assumirá particular relevância nos próximos meses no que diz respeito aos níveis de

capital. Por um lado, face ao agravamento da situação orçamental e fi nanceira grega ao longo de 2011,

19 Em termos prudenciais, o montante dos desvios atuariais negativos que exceda o “corredor contabilístico”, defi nido como 10 por cento do máximo entre o valor da carteira dos fundos de pensões e o valor das respon-sabilidades, constitui um elemento negativo dos fundos próprios. No entanto, entre 2008 e 2012, existe um alargamento do “corredor” para efeitos prudenciais, sendo esse alargamento progressivamente diminuído ao longo do período. Com efeito, dadas as características excecionais registadas nos mercados fi nanceiros em 2008, o Banco de Portugal, através do Aviso nº11/2008, permitiu que os desvios atuariais negativos apurados em 2008, deduzidos do rendimento esperado dos ativos do fundo de pensões no ano, fossem reconhecidos nos fundos próprios de forma faseada ao longo de 4 anos.

Page 99: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

97

4

Sist

ema

Banc

ário

e em linha com a decisão na cimeira europeia realizada em julho, de envolvimento do setor privado no

programa de apoio fi nanceiro à Grécia, o Banco de Portugal determinou que as instituições teriam que

deduzir ao Core Tier 1, a partir de setembro de 2011, o montante correspondente a 21 por cento do

valor nominal das posições em risco perante dívida pública grega20. Por outro lado, apesar de uma parte

signifi cativa dos títulos de dívida soberana estar classifi cada em ativos disponíveis para venda ou detidos

até à maturidade, i.e. em ativos sujeitos a fi ltros prudenciais ou não contabilizados a valor de mercado,

as medidas recentemente adotadas na União Europeia relativamente à reavaliação de todas as exposições

soberanas detidas em setembro de 2011 traduzem-se em necessidades de capital elevadas para as quatro

principais instituições do sistema bancário português.

A adoção destas medidas visa reforçar a solidez das instituições e, consequentemente, promover a

confi ança no sistema bancário. No entanto, a persistência de fortes tensões nos mercados de dívida sobe-

rana, associada à incerteza quanto às políticas europeias para solucionar a crise, continua a condicionar

adversamente a avaliação por parte dos investidores das instituições bancárias com maiores exposições

ao setor público da área do euro.

Por fi m, os fundos de pensões dos empregados bancários constituem um elemento adicional de vulne-

rabilidade das instituições portuguesas aos desenvolvimentos nos mercados fi nanceiros internacionais.

A manutenção da turbulência nos mercados fi nanceiros deverá continuar a ter repercussões adversas e

signifi cativas na posição fi nanceira dos fundos de pensões. Para algumas instituições, estes desenvolvi-

mentos traduzir-se-ão em pressões adicionais sobre o respetivo capital regulamentar. Neste contexto será

de salientar o impacto decorrente da eventual transferência parcial dos fundos de pensões dos empregados

bancários para a Segurança Social, cujos detalhes ainda não foram anunciados.

Deste modo, a deterioração das condições nos mercados fi nanceiros internacionais, em particular a

intensifi cação da crise de dívida soberana na área do euro, pressiona os rácios de capital, aumentando

consideravelmente as necessidades de capital das instituições portuguesas no decurso dos próximos meses.

Recorde-se que, no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira, os bancos portugueses

têm que apresentar um rácio de Core Tier 1 mínimo de 9 por cento no fi nal de 2011 e de 10 por cento

a partir de dezembro de 201221. Neste contexto, o Programa de Assistência Económica e Financeira

contempla o reforço do fundo de apoio para capitalização dos bancos portugueses, para um montante

de 12 mil milhões de euros, que poderá ser utilizado na eventualidade das instituições não conseguirem

cumprir os novos requisitos de capital através de soluções de mercado, sem que essa utilização afete a

natureza privada das instituições.

Será ainda de salientar que, a médio prazo, no âmbito do Novo Acordo de Capital - Basileia III, a deter-

minação dos fundos próprios estará mais exposta a fl utuações nos mercados fi nanceiros. Em particular,

embora de forma progressiva, será eliminado o fi ltro prudencial aplicado aos ativos fi nanceiros disponíveis

para venda. Assim, toda a carteira de títulos registada a valores de mercado terá impacto nos fundos

próprios das instituições. Adicionalmente, a nova regulamentação prevê a eliminação, também de forma

faseada, do “corredor” na determinação do impacto sobre o capital regulamentar dos desvios atuariais

negativos associados aos fundos de pensões dos empregados bancários. O impacto de Basileia III é bastante

heterogéneo entre as principais instituições do sistema bancário e encontra-se condicionado pela eventual

transferência parcial dos fundos de pensões para a Segurança Social.

20 No âmbito do Pilar 2, o Banco de Portugal determinou que as instituições terão que deduzir, a partir de 30 de se-tembro de 2011, 21 por cento do valor nominal das posições em risco perante dívida pública grega ao respetivo Core Tier 1. No entanto, caso exista o reconhecimento de imparidade relativamente a esses títulos, o montante da referida dedução deverá ser reduzido pelo valor dessa mesma imparidade.

21 Para mais detalhes sobre as medidas defi nidas no Programa de Assistência Económica e Financeira a Portugal, em particular as medidas relacionadas com o sistema fi nanceiro português, ver “Caixa O programa de ajus-tamento económico e fi nanceiro no âmbito do pedido de assistência fi nanceira à União Europeia, aos países membros da área do euro e ao Fundo Monetário Internacional“ apresentada no Relatório Anual do Banco de Portugal de 2010.

Page 100: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se
Page 101: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

4.3. Risco de liquidez

Num contexto caracterizado pelo recrudescimento das tensões nos mercados fi nanceiros internacionais,

traduzido na generalização das difi culdades de acesso aos mercados de dívida por grosso por parte dos

bancos europeus, os bancos portugueses conseguiram estabilizar o seu fi nanciamento junto do Euro-

sistema, se bem que a nível elevado. Esta evolução, que contrasta com a observada para o conjunto

dos bancos da área do euro, foi possibilitada pela intensifi cação do ajustamento do balanço dos bancos

domésticos, traduzida na contínua redução do rácio entre o crédito e os depósitos. De facto, assistiu-se a

um forte crescimento dos depósitos de clientes, bem como a alienações signifi cativas de ativos. Contudo,

a intensifi cação da crise da dívida soberana na área do euro teve também refl exos negativos sobre a

gestão da liquidez dos bancos portugueses, em particular via redução do valor do colateral subjacente às

operações de fi nanciamento quer com o BCE quer no mercado repo internacional. Finalmente, a possi-

bilidade de downgrades adicionais ao rating da República Portuguesa tem implicações negativas sobre

a valorização do colateral dos bancos para operações de fi nanciamento, exercendo pressões adicionais

sobre a sua capacidade de fi nanciamento.

O Programa de Assistência Económica e Financeira inclui medidas que visam uma redução do grau de

alavancagem do sistema bancário, uma redução ordenada do fi nanciamento junto do Eurosistema e

um reforço da posição de capital, que visam garantir a consolidação, a médio prazo, de uma estrutura

de fi nanciamento sustentável da economia portuguesa. Esta deverá privilegiar as fontes de fi nancia-

mento mais estáveis, tais como os recursos de clientes, em particular os depósitos, de forma a diminuir

a dependência do fi nanciamento nos mercados de dívida por grosso. Adicionalmente, as autoridades

comprometeram-se a facilitar a emissão de obrigações bancárias com garantia do Estado num valor até

35 mil milhões de euros. Recorde-se que a adoção de regras mais exigentes para a gestão de liquidez, no

âmbito da futura regulamentação comunitária sobre requisitos de liquidez, constitui um desafi o adicional

para os bancos a nível internacional, incluindo os portugueses22. De qualquer modo, o ajustamento do

balanço dos bancos portugueses previsto no Programa de Assistência Económica e Financeira é consen-

tâneo com a regulamentação internacional de liquidez a aplicar no futuro. A signifi cativa dispersão da

situação de liquidez dos bancos portugueses deverá repercutir-se em esforços de ajustamento bastante

diferenciados23. Assim, o Programa de Assistência Económica e Financeira visa reforçar a solidez dos

bancos, nomeadamente através de um processo de desalavancagem exigente mas gradual e adequado.

A capacidade de fi nanciamento do sistema bancário português nos mercados internacionais

continuou fortemente condicionada em 2011

A nível internacional subsistem bastantes dúvidas quanto aos mecanismos de resolução da crise da dívida

soberana na área do euro, o que tem vindo a exercer pressões signifi cativas sobre os bancos europeus.

Com efeito, o exacerbar da crise da dívida soberana na área do euro no verão de 2011, e o consequente

aumento do risco sistémico a nível europeu, contribuiu para adensar o problema de fi nanciamento dos

bancos portugueses. Neste contexto, o BCE continuou a ter um papel crucial para mitigar os efeitos de

contágio na área do euro. No mês de agosto de 2011, o BCE anunciou que iria implementar novamente

o Securities Market Programme, suspenso desde o fi nal de março. A atuação do BCE nos mercados

fi nanceiros secundários, através da aquisição de títulos de dívida no âmbito deste programa tem sido

bastante importante para mitigar a generalização de perturbações na área do euro. No início de outubro

22 Para mais detalhes sobre as propostas para o novo enquadramento regulamentar, ver “Caixa 2.1 As principais

propostas de Basileia III”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira - Novembro 2010.

23 No fi nal do segundo trimestre de 2011, os oito maiores grupos bancários do sistema bancário português envia-

ram pela primeira vez ao Banco de Portugal os seus planos de fi nanciamento e capital, nos quais evidenciaram

as estratégias a implementar para cumprir os objetivos e as orientações defi nidas pelo Banco de Portugal e pelo

BCE em colaboração com a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional.

99

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 102: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

o BCE anunciou ainda um novo programa de aquisição de obrigações hipotecárias (covered bonds).

Adicionalmente, o BCE reduziu as taxas de juro de referência em 25 pontos base na reunião de 3 de

novembro e continuou a conduzir operações de cedência de liquidez a taxa fi xa e montante ilimitado,

por prazos até cerca de 1 ano.

No decurso de 2011 observou-se um signifi cativo aumento do prémio de risco associado à dívida pública

portuguesa no contexto das signifi cativas perturbações nos mercados de dívida soberana da área do euro.

Esta situação refl etiu-se num forte aumento dos Credit Default Swaps (CDS) para a república portuguesa

e para os principais grupos bancários portugueses. Refi ra-se que, depois do forte aumento registado em

2010, os CDS dos principais grupos bancários portugueses diminuíram consideravelmente no primeiro

trimestre de 2011, aproximando-se do CDS sobre as obrigações do tesouro de maturidade comparável,

conforme referido no último Relatório de Estabilidade Financeira (Gráfi co 4.3.1). No entanto, após a

formalização do pedido de auxílio fi nanceiro, o risco associado à dívida dos bancos nacionais retomou

a tendência ascendente. Como resultado, o diferencial médio dos CDS nacionais face ao índice repre-

sentativo da área do euro (Dow Jones iTraxx Financials) passou de cerca de 20 pontos base, no início de

2010, para aproximadamente 970 pontos base no início de novembro de 2011.

As taxas de juro no mercado monetário mantiveram-se em valores reduzidos, em linha com as taxas de

juro ofi ciais do BCE, embora apresentando uma tendência de subida no decurso de 2011, assistindo-se a

um aumento do diferencial entre operações não colateralizadas e colateralizadas (Gráfi co 4.3.2). Ainda,

assim, os bancos sentiram signifi cativas restrições quantitativas no acesso ao mercado monetário, essen-

cialmente nos segmentos de prazos mais longos, bem como um aumento do custo de fi nanciamento,

Gráfi co 4.3.1 Gráfi co 4.3.2

CREDIT DEFAULT SWAP SPREADS DE BANCOS PORTUGUESES (5 ANOS SENIOR)

CUSTO DE FINANCIAMENTO DOS BANCOS PORTUGUESES

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

Jan-07 Set-07 Mai-08 Jan-09 Set-09 Mai-10 Jan-11 Set-11

Em

pon

tos

base

BCPCGDBESDJ iTraxx Financial Senior 5 yearsCDS República Portuguesa

0

2

4

6

8

10

12

Dez06

Mar07

Jun07

Set07

Dez07

Mar08

Jun08

Set08

Dez08

Mar09

Jun09

Set09

Dez09

Mar10

Jun10

Set10

Dez10

Mar11

Jun11

Set11

Em

per

cent

agem

Operações principais de refinanciamento do BCEEuribor 6 meses (média mensal)Taxas de rendibilidade de obrigações senior de bancos portuguesesTaxas de rendibilidade de obrigações com garantia estatal de bancos portuguesesDepósitos a prazo do sector privado não financeiro (saldo)

Fontes: Bloomberg e Thomson Reuters. Fontes: Bloomberg e Banco de Portugal.

Nota: Última observação: 08/11/2011. Nota: A série da taxa de rendibilidade de obrigações senior de

bancos portugueses refere-se a médias ponderadas pelo mon-

tante de emissão de obrigações do BCP, BPI, BES, BST, CGD e

MG. A série correspondente a obrigações com garantia estatal

de bancos portugueses inclui obrigações emitidas pelo BCP e

BES. A falta de liquidez do mercado restringe a representativi-

dade dos preços das obrigações, pelo que as taxas apresenta-

das devem ser interpretadas como meramente indicativas. As

obrigações emitidas com garantia estatal têm subjacente uma

comissão paga ao governo de 50 p.b., a que se adiciona o pré-

mio de risco do credit default swap do banco (ou de bancos

semelhantes, caso não exista CDS para esse emitente) à data de

emissão se esta tiver uma maturidade superior a 1 ano.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

100

I

Page 103: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

que se agravaram após a cimeira de 26 de outubro24. Adicionalmente, o impacto dos downgrades da

notação de rating da República Portuguesa nos ratings dos próprios bancos, bem como no valor dos

títulos de dívida soberana e na disponibilidade das contrapartes os aceitarem como colateral deterioraram

a capacidade de fi nanciamento dos bancos portugueses. De facto, para além dos efeitos diretos das

tensões na dívida soberana sobre os bancos, por via da exposição a estes ativos, existem outros efeitos

indiretos que também afetam negativamente a estabilidade fi nanceira, nomeadamente o aumento do

risco soberano tem implicações negativas sobre a valorização do colateral dos bancos para operações de

fi nanciamento, exercendo pressões adicionais sobre a sua capacidade de refi nanciamento.

Num enquadramento marcado pela crescente diferenciação do risco soberano na área do euro, verifi -

caram-se fortes aumentos das taxas de rendibilidade em mercado secundário das obrigações emitidas

por bancos portugueses com garantia estatal e das obrigações senior de bancos portugueses. Adicio-

nalmente, as taxas de rendibilidade das covered bonds emitidas pelos bancos portugueses mantiveram

um perfi l ascendente, aumentando o seu diferencial face ao índice IBoxx, que constitui um benchmark

e agrega títulos semelhantes de melhor qualidade (investment grade) emitidos em euros (Gráfi co 4.3.3).

Esta evolução constitui um indicador da perceção de risco dos investidores internacionais relativamente

aos bancos portugueses, mas não se traduziu num custo efetivo de fi nanciamento destes nos mercados

de dívida por grosso a médio e longo prazo já que o acesso a estes mercados se lhes encontra vedado

desde o fi nal de abril de 2010.

Financiamento do sistema bancário português dependente, em larga medida, da cedência de

liquidez do Eurosistema e da captação de depósitos junto de clientes, face às difi culdades de

acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso

Na primeira metade de 2011, e em particular no segundo trimestre, a expansão da atividade do sistema

bancário português foi fi nanciada essencialmente através da captação de recursos de clientes sob a

forma de depósitos (Gráfi co 4.3.4). Adicionalmente, o aumento do recurso às operações de cedência

de liquidez do Eurosistema contribuiu também, embora em muito menor grau do que no primeiro

semestre de 2010, para o fi nanciamento dos bancos. Em sentido contrário, registou-se uma diminuição

das responsabilidades representadas por títulos e dos recursos líquidos de outras instituições de crédito,

24 Para mais detalhes relativos à cimeira de 26 de outubro ver “Capítulo 2 Riscos macroeconómicos e fi nanceiros”,

deste Relatório.

Gráfi co 4.3.3

TAXAS DE RENDIBILIDADE DAS COVERED BONDS

0

2

4

6

8

10

12

14

Dez08

Mar09

Jun09

Set09

Dez09

Mar10

Jun10

Set10

Dez10

Mar11

Jun11

Set11

Em

per

cent

agem

Taxa de rendibilidade das covered bonds de bancos portuguesesIboxx Euro Covered 1-10 years yield

Fontes: Thomson Reuters e Bloomberg.

101

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 104: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

em consequência das fortes restrições no acesso dos bancos aos mercados internacionais de dívida por

grosso, em particular nas maturidades médias e longas. Tiveram também lugar compras de obrigações

próprias em mercado secundário. De acordo com a informação mais recente das Estatísticas Monetárias e

Financeiras, que diz respeito à atividade doméstica dos bancos, nos seis meses terminados em setembro de

2011, o fi nanciamento do sistema bancário português continuou a apresentar uma estrutura semelhante

à observada no primeiro semestre (Gráfi co 4.3.5). O recurso às operações de cedência de liquidez do BCE

permaneceu relativamente estável, em níveis elevados, representando no fi nal de setembro cerca de 10

por cento do balanço do sistema. A informação disponível para os últimos meses não indicia alterações

signifi cativas na evolução do passivo do sistema bancário, sendo contudo expectáveis alterações signifi -

cativas da estrutura de fi nanciamento dos bancos no médio prazo. Em particular, espera-se uma maior

importância dos depósitos de clientes, uma diminuição do fi nanciamento junto do Eurosistema e um

Gráfi co 4.3.4

FLUXOS SEMESTRAIS DE FINANCIAMENTO DO SISTEMA BANCÁRIO EM BASE CONSOLIDADA

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1 S2 S1

2007 2008 2009 2010 2011 2007 2008 2009 2010 2011

Em

milh

ares

de

milh

ões

de e

uros

Bancos domésticosSistema bancário

Recursos de clientes e outros empréstimosResponsabilidades representadas por títulosPassivos subordinadosPassivos por ativos não desreconhecidos em operações de titularizaçãoRecursos (líq.) de outras instituições de créditoRecursos (líq.) de bancos centraisFinanciamento total

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Existe uma quebra de série em junho de 2007 que corresponde a um alargamento do conjunto de instituições em análise.

Gráfi co 4.3.5

PRINCIPAIS PASSIVOS DA ATIVIDADE DOMÉSTICA DO SETOR BANCÁRIO PORTUGUÊS | CONTRIBUTO PARA A

TAXA DE VARIAÇÃO SEMESTRAL

-8.0

-6.0

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

Jan-07 Set-07 Mai-08 Jan-09 Set-09 Mai-10 Jan-11 Set-11

Em

per

cent

agem

do

ativ

o to

tal

Capital e reservas

Passivos diversos

Títulos exceto capital

Depósitos e equiparados do setor não monetário residente

Depósitos e equiparados de não residentes

Passivos face ao Banco de Portugal

Total do passivo e capital

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Última observação: setembro 2011.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

102

I

Page 105: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

retorno aos mercados de dívida de médio e longo prazo, na sequência do regresso a estes mercados por

parte do Estado no terceiro trimestre de 2013, de acordo com o assumido no Programa de Assistência

Económica e Financeira.

No período de janeiro a setembro de 2011, o valor das emissões de obrigações do sistema bancário

português situou-se em cerca de 9 mil milhões de euros, mantendo a tendência de diminuição obser-

vada desde o início de 2010. O montante relativo a emissões a taxa fi xa foi signifi cativamente inferior

ao de obrigações a taxa variável (Quadro 4.3.1). A maior parte destas emissões insere-se na estratégia

dos bancos de emissão de títulos para utilizar como colateral nas operações de cedência de liquidez do

Eurosistema. Na primeira metade de 2011, destacou-se a emissão de covered bonds, correspondendo

a um valor próximo de 80 por cento do total de obrigações emitidas. Mais recentemente, dadas as

difi culdades acrescidas de emissão de dívida nos mercados primários (mesmo no mercado de covered

bonds), em linha com uma avaliação progressivamente mais negativa pelos participantes nos mercados

fi nanceiros e pelas agências de rating da qualidade dos títulos emitidos pelas instituições fi nanceiras

nacionais, estas têm vindo a recorrer à emissão de obrigações com garantia do Estado. No terceiro

trimestre de 2011, a emissão de obrigações com garantia do Estado representou cerca de 70 por cento

do total das obrigações emitidas pelos bancos, o que corresponde a 2080 milhões de euros. Quanto

à estrutura de fi nanciamento dos bancos no mercado de títulos, observou-se ao longo de 2010 uma

diminuição considerável do stock de certifi cados de depósito no passivo dos bancos, que levou a uma

diminuição do peso destes instrumentos no total das responsabilidades representadas por títulos. No

primeiro semestre de 2011, o seu peso manteve-se virtualmente inalterado face ao fi nal do ano anterior

(Gráfi co 4.3.6). As difi culdades de acesso aos mercados de fi nanciamento por grosso traduziram-se numa

diminuição do saldo vivo das obrigações emitidas por bancos portugueses em 2010 e, sobretudo, no

período de janeiro a setembro de 2011 (Gráfi co 4.3.7).

Os recursos de clientes sob a forma de depósitos mantiveram-se como principal fonte de fi nanciamento

dos bancos, representando em junho de 2011 cerca de 46 por cento do ativo em base consolidada (51

por cento no caso das instituições domésticas). Face às difi culdades de acesso aos mercados internacionais

de dívida por grosso, ao nível elevado de fi nanciamento obtido junto do Eurosistema e à necessidade

de desalavancagem dos bancos, a captação de depósitos tem vindo a assumir um papel relevante na

sua estratégia de fi nanciamento. Neste contexto, após um período de alguma estagnação no primeiro

semestre de 2010, a captação de depósitos junto de residentes voltou a aumentar na segunda metade

do ano, tendência que se manteve ao longo de 2011, tendo-se registado uma diminuição dos depósitos

do setor não monetário não residente (Gráfi co 4.3.8).

O aumento dos depósitos do setor não monetário residente esteve associado essencialmente à evolução

dos depósitos de particulares. A taxa de variação homóloga destes depósitos tem apresentado uma

tendência crescente, situando-se em 9.6 por cento no fi nal de setembro de 2011 (Gráfi co 4.3.9). De

acordo com informação mais recente relativa aos oito maiores grupos bancários portugueses, a taxa de

variação homóloga dos depósitos dos particulares situou-se em 9.2 por cento em outubro de 2011. Esta

evolução é justifi cada quer pela dinâmica de recomposição da carteira de ativos fi nanceiros dos parti-

Quadro 4.3.1

EMISSÕES BRUTAS DE OBRIGAÇÕES DOS GRUPOS BANCÁRIOS PORTUGUESES | ESTRUTURA POR TIPO DE

TAXA (EM PERCENTAGEM DO TOTAL)

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011(a) Posição em 30 de setembro de 2011

Taxa variável 87.8 98.1 82.7 75.9 49.7 32.4 60.3 77.1 57.3

Taxa fi xa e outros 12.2 1.9 17.3 24.1 50.3 67.6 39.7 22.9 42.7

Fontes: Bloomberg, Dealogic Bondware e Thomson Reuters.

Nota: (a) Inclui observações até 30 de setembro 2011.

103

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 106: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

culares - num quadro de elevada aversão ao risco -, quer pelo incentivo das instituições fi nanceiras em

integrar no balanço recursos que se encontravam fora do perímetro de consolidação, como os montantes

aplicados em fundos de investimento ou companhias de seguro dos respetivos grupos fi nanceiros. De

facto, o aumento dos depósitos bancários contrasta com a queda verifi cada na generalidade dos outros

instrumentos de poupança, nomeadamente a diminuição dos títulos de dívida dos bancos colocados junto

de clientes, a já referida diminuição das subscrições líquidas de unidades de participação em fundos de

Gráfi co 4.3.6 Gráfi co 4.3.7

ESTRUTURA DAS RESPONSABILIDADES REPRESENTADAS POR TÍTULOS | EM BASE

CONSOLIDADA

SALDO VIVO DAS OBRIGAÇÕES EMITIDAS POR BANCOS PORTUGUESES POR MATURIDADE RESIDUAL | EM PORTUGAL E NO EXTERIOR

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Dez08

Dez09

Jun10

Dez10

Jun11

Dez08

Dez09

Jun10

Dez10

Jun11

Em

per

cent

agem

ObrigaçõesCertificados de depósitoOutras responsabilidades representadas por títulos

Bancos domésticosSistema bancário0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Dez-06 Dez-07 Dez-08 Dez-09 Dez-10 Set-11E

m m

ilhar

es d

e m

ilhõe

s de

eur

os

Mais de 10 anos ou obrigações perpétuas5 a 10 anos3 a 5 anos2 a 3 anos1 a 2 anosAté 1 ano

Fonte: Banco de Portugal. Fontes: Bloomberg, Dealogic Bondware e Thomson Reuters.

Nota: Inclui emissões de sucursais e fi liais de bancos portugue-

ses no exterior.

Gráfi co 4.3.8

TAXAS DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA DOS DEPÓSITOS DE CLIENTES

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Dez-98 Jan-01 Fev-03 Mar-05 Abr-07 Mai-09 Jun-11

Em

per

cent

agem

Depósitos em Portugal do setor não monetário (residente e não residente) e depósitos no exterior (residentes)(a)

Depósitos em Portugal e no exterior do setor não monetário residente(a)

Recursos de clientes (sistema bancário em base consolidada)

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: (a) Excluindo passivos por contrapartida de operações de titularização não desreconhecidas do balanço, registados sob a

forma de depósitos (e equiparados) de OIFAF. Última observação: junho 2011.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

104

I

Page 107: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

investimento e o aumento dos resgates de certifi cados de aforro25. O forte crescimento dos depósitos de

particulares é especialmente relevante tendo em conta a sua maior estabilidade. Contudo, é de antecipar

um abrandamento a prazo do crescimento destes depósitos uma vez que a sua evolução recente tem

subjacente, em parte, ajustamentos da carteira dos particulares. A desagregação do total dos depósitos

bancários por setor institucional evidencia ainda uma desaceleração dos depósitos de sociedades não

fi nanceiras ao longo de 2011, depois de terem sido afetados por fatores temporários, uma diminuição

signifi cativa dos depósitos de não residentes e um aumento dos depósitos das administrações públicas,

setores cujos depósitos apresentam tipicamente uma evolução mais volátil (Gráfi co 4.3.10).

Diminuição signifi cativa do rácio entre o crédito e os recursos de clientes, sugerindo que se

terá intensifi cado na primeira metade de 2011 o processo ordenado de desalavancagem do

sistema bancário

No período de janeiro a setembro de 2011, o rácio entre o crédito e os recursos de clientes manteve a

tendência decrescente iniciada no terceiro trimestre do ano anterior26. Esta evolução foi semelhante para

o sistema bancário e para o agregado dos bancos domésticos, mantendo estes últimos níveis inferiores

aos observados para os bancos não domésticos (Gráfi cos 4.3.11 e 4.3.12). A diminuição observada

no rácio entre o crédito e os recursos de clientes refl etiu essencialmente o aumento dos depósitos de

clientes, mas também alguma diminuição do crédito, refl etindo em larga medida vendas de crédito.

Esta evolução surge em linha com o compromisso de desalavancagem ordenado e gradual assumido

no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira. O rácio entre o crédito e os depósitos

relativos à atividade internacional dos bancos domésticos registou uma diminuição a partir do último

trimestre de 2010, apresentando alguma estabilização no segundo trimestre de 2011. Este rácio manteve-

-se em valores relativamente reduzidos comparativamente aos observados para a atividade doméstica27.

25 Para mais detalhes a respeito da evolução da carteira de aplicações fi nanceiras dos particulares ver “Capítulo 3

Situação fi nanceira dos particulares e sociedades não fi nanceiras”, deste Relatório.

26 O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não considera os títulos emitidos pelos

bancos e colocados junto de clientes.

27 O valor dos créditos titularizados e não desreconhecidos, que não está incluído nos rácios entre o crédito e os

depósitos calculados para a atividade internacional, está em larga medida concentrado na atividade doméstica

dos bancos.

Gráfi co 4.3.9

DEPÓSITOS DE PARTICULARES RESIDENTES | TAXAS DE VARIAÇÃO

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

Dez-98 Out-00 Ago-02 Jun-04 Abr-06 Fev-08 Nov-09 Set-11

Em

per

cent

agem

Taxa de variação homólogaTaxa de variação trimestral anualizada

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: A taxa de variação trimestral anualizada é calculada com base em valores ajustados de sazonalidade. Última observação:

setembro 2011.

105

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 108: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

No quadro do Programa de Assistência Económica e Financeira, fi cou estabelecido que os oito maiores

grupos bancários deverão atingir um rácio entre o crédito e os depósitos de 120 por cento no fi nal de

2014, procedendo à redução gradual deste rácio, nos casos em que tal é relevante28. No fi nal de setembro

de 2011, o rácio entre o crédito e os depósitos dos oito maiores grupos bancários portugueses situava-se

em 139 por cento, menos 9 pontos percentuais do que em dezembro de 2010 (Gráfi co 4.3.13).

28 O conceito de crédito utilizado é líquido de imparidades e inclui créditos titularizados e não desreconhecidos. O

conceito de depósitos não inclui títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes e considera linhas

de fi nanciamento estáveis com a casa-mãe, acionistas qualifi cados ou instituições multilaterais.

Gráfi co 4.3.11

RÁCIOS ENTRE CRÉDITO E RECURSOS DE CLIENTES(a) | SISTEMA BANCÁRIO

120

130

140

150

160

170

180

Jun-05 Mar-06 Dez-06 Set-07 Jun-08 Mar-09 Dez-09 Set-10 Jun-11

Em

per

cent

agem

Rácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientesRácio crédito líquido (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes(b)

Rácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titulari-zados e não desreconhecidos) - recursos de clientes

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) São utilizados dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não

considera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. A quebra de série em 2007 corresponde a um alargamento

do conjunto de instituições em análise. (b) Dados recolhidos ao abrigo da Instrução nº13/2009 do Banco de Portugal, que considera

apenas as instituições que recebem depósitos de clientes.

Gráfi co 4.3.10

DEPÓSITOS DO SETOR NÃO MONETÁRIO - ATIVIDADE DOMÉSTICA | TAXAS DE VARIAÇÃO ANUAL E CONTRIBUTOS

POR SETOR INSTITUTIONAL

-3

-1

1

3

5

7

9

11

13

15

-3

-1

1

3

5

7

9

11

13

15

Jan-07 Out-07 Jul-08 Abr-09 Jan-10 Out-10 Jul-11

Em

per

cent

agem

e p

onto

s pe

rcen

tuai

s

Companhias de Seguro e Fundos de PensõesInstituições fi nanceiras não monetárias excluindo depósitos com prazo acordado superior a 2 anosAdministrações PúblicasSociedades não fi nanceirasParticularesEmigrantesNão residentes Total de depósitos(a)

Total depósitos de residentes(a)

Total depósitos excluindo os depósitos das administrações públicas(a)

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: (a) Exclui os depósitos com prazo acordado superior a 2 anos de instituições fi nanceiras não monetárias. Última observação:

setembro de 2011.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

106

I

Page 109: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

A diminuição do rácio entre o crédito e os recursos de clientes no fi nal do terceiro trimestre de 2011 foi

registada pela generalidade das instituições domésticas. Com efeito, neste período, a curva de distribuição

empírica relativa a este rácio deslocou-se para a esquerda, quer face ao observado em igual período do

ano anterior, quer face a dezembro de 2010 (Gráfi co 4.3.14). É de salientar que a distribuição bimodal

aponta para a existência de dois grupos importantes de bancos com necessidades de ajustamento

bastante diferenciadas.

Gráfi co 4.3.12

RÁCIOS ENTRE CRÉDITO E RECURSOS DE CLIENTES(a) | BANCOS DOMÉSTICOS

90

100

110

120

130

140

150

160

Jun-05 Mar-06 Dez-06 Set-07 Jun-08 Mar-09 Dez-09 Set-10 Jun-11

Em

per

cent

agem

Rácio crédito bruto (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientesRácio crédito líquido (incluindo créditos titularizados e não desreconhecidos) - recursos de clientes(b)

Rácio crédito líquido de imparidade (incluindo créditos titulari-zados e não desreconhecidos) - recursos de clientesRácio crédito bruto - recursos de clientes (atividade interna-cional)Rácio crédito líquido de imparidade - recursos de clientes (atividade internacional)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) São utilizados dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não

considera os títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes. A quebra de série em 2007 corresponde a um alargamento

do conjunto de instituições em análise. (b) Dados recolhidos ao abrigo da Instrução nº13/2009 do Banco de Portugal, que considera

apenas as instituições que recebem depósitos de clientes.

Gráfi co 4.3.13

RÁCIO ENTRE CRÉDITO E DEPÓSITOS DOS OITO MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS RESIDENTES

100

110

120

130

140

150

160

170

Dez-07 Dez-09 Mar-10 Set-10 Mar-11 Set-11

Em

per

cent

agem

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: O conceito de crédito utilizado é líquido de imparidades e inclui créditos titularizados e não desreconhecidos. O conceito de

depósitos não inclui títulos emitidos pelos bancos e colocados junto de clientes e considera linhas de fi nanciamento estáveis com a

casa-mãe, acionistas qualifi cados ou instituições multilaterais

107

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 110: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Num quadro de signifi cativas difi culdades de acesso aos mercados de dívida por grosso,

o fi nanciamento junto do Eurosistema manteve-se num nível elevado, mas relativamente

estável na primeira metade de 2011

Não obstante a persistência de difi culdades de acesso aos mercados de dívida internacional, quer em

termos de preço, quer em termos de quantidade, o recurso dos bancos portugueses ao fi nanciamento

junto do Eurosistema manteve-se em níveis elevados, mas virtualmente estáveis, face ao fi nal de 2010

(Quadro 4.3.2; Gráfi co 4.3.15). Em contraste, o recurso ao fi nanciamento obtido junto do Eurosistema

para o conjunto da área do euro tem seguido uma trajetória ascendente no período mais recente, em linha

com a intensifi cação e generalização das difi culdades no acesso dos bancos europeus ao fi nanciamento

nos mercados de dívida por grosso, em particular nas maturidades médias e longas (Gráfi co 4.3.16). De

facto, as perturbações deixaram de assumir uma magnitude signifi cativa apenas nos países com programas

de assistência económica e fi nanceira (Grécia, Irlanda e Portugal), passando a afetar outros países onde

também existem receios quanto à sustentabilidade das fi nanças públicas (Bélgica, Chipre, Eslováquia,

Eslovénia, Espanha, França e Itália). Por sua vez, o fi nanciamento junto de outras instituições de crédito

registou uma diminuição no segundo trimestre do ano, consentânea com a deterioração da perceção

do risco dos investidores internacionais relativamente aos bancos portugueses.

O Programa de Assistência Económica e Financeira a Portugal prevê a necessidade de reforço do colateral

dos bancos, no sentido de, entre outras, preservar o recurso às operações de cedência de liquidez do

BCE. Tal é particularmente relevante uma vez que o valor da pool de colateral para efeitos de acesso

às operações de crédito do BCE é afetada negativamente pelo agravamento das tensões nos mercados

fi nanceiros internacionais. No primeiro semestre de 2011, registou-se um aumento do valor da pool de

colateral para o que contribuíram os títulos de dívida pública, bem como as obrigações hipotecárias. A

evolução destes ativos compensou a diminuição observada ao nível dos Asset Backed Securities. Poste-

riormente, até ao fi nal do mês de outubro, destacou-se o contributo dos títulos emitidos com garantia

do Estado, o que permitiu mitigar a ligeira diminuição observada no valor total da pool de colateral.

Gráfi co 4.3.14

RÁCIO ENTRE O CRÉDITO E OS RECURSOS DE CLIENTES - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS | DISTRIBUIÇÃO

EMPÍRICA

0 50 100 150 200 250 300

Set-10

Dez-10

Set-11

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Dados em base consolidada. O conceito de recursos de clientes inclui essencialmente depósitos e não considera títulos emi-

tidos pelos bancos e colocados junto de clientes. Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal.

Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pondera as insti-

tuições pelo seu ativo.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

108

I

Page 111: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Ligeira deterioração dos gaps de liquidez no decurso dos três primeiros trimestres de 2011

No terceiro trimestre de 2011, os gaps de liquidez apresentaram uma deterioração muito ligeira em

todos os prazos considerados face ao fi nal de 2010, sendo esta evolução semelhante para o sistema

Gráfi co 4.3.15

SALDO DAS OPERAÇÕES DE POLÍTICA MONETÁRIA DOS BANCOS PORTUGUESES

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Jul-11

Em

per

cent

agem

Em

milh

ares

de

milh

ões

de e

uros

Operações principais de refi nanciamentoOperações de refi nanciamento de prazo alargadoFacilidade permanente de cedência de liquidezOutras operações de cedência de liquidez(a)

Facilidade permanente de depósitoOutras operações de absorção de liquidez(b)

Peso do fi nanciamento obtido junto do Eurosistema no ativo concolidado das OIFM residentes(c) (esc. dir.)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Inclui as “Operações ocasionais de regularização de liquidez” e as “Operações estruturais de ajustamento de liquidez”.

(b) Inclui “Depósitos a prazo” e “Acordos de recompra”. (c) OIFM - Outras Instituições Financeiras Monetárias. Última observação:

outubro 2011.

Quadro 4.3.2

POSIÇÃO DOS BANCOS PORTUGUESES FACE A BANCOS CENTRAIS E A OUTRAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO | EM BASE CONSOLIDADA, EM MILHARES DE MILHÕES DE EUROS

Sistema bancário Dez-07 Dez-08 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11

Recursos (líq.) de bancos centrais -6.9 3.7 4.2 34.9 38.7 36.9 40.0

Recursos (líq.) de outras instituições de crédito 32.7 40.7 35.4 43.1 49.2 50.9 44.5

Caixa, disponibilidades e aplicações em bancos centrais 12.7 10.7 15.3 11.1 10.5 9.1 9.5

Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito 39.7 33.6 38.9 35.9 31.9 31.9 33.0

no país 8.5 11.9 13.2 13.0 8.8 8.0 9.1

no estrangeiro 31.2 21.7 25.7 22.9 23.0 23.9 23.9

Recursos de bancos centrais 5.7 14.4 19.4 46.0 49.2 46.0 49.6

Recursos de outras instituições de crédito 72.4 74.3 74.3 79.0 81.1 82.8 77.5

no país 7.7 10.2 8.6 7.5 7.0 6.7 5.9

no estrangeiro 64.7 64.1 65.8 71.5 74.1 76.1 71.5

Bancos domésticos Dez-07 Dez-08 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11

Recursos (líq.) de bancos centrais -8.1 2.4 2.2 30.5 32.9 33.0 36.8

Recursos (líq.) de outras instituições de crédito 9.8 8.4 6.0 8.5 10.7 14.0 6.6

Caixa, disponibilidades e aplicações em bancos centrais 11.6 9.2 13.4 9.2 9.0 8.1 7.8

Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito 26.0 23.4 23.4 18.4 15.4 13.4 16.0

no país 6.1 9.3 10.8 9.3 6.2 5.4 7.0

no estrangeiro 19.9 14.2 12.6 9.1 9.2 7.9 9.1

Recursos de bancos centrais 3.5 11.5 15.7 39.7 41.9 41.1 44.6

Recursos de outras instituições de crédito 35.8 31.8 29.5 26.9 26.1 27.4 22.6

no país 5.5 7.9 6.0 4.8 5.7 5.7 5.0

no estrangeiro 30.3 23.9 23.5 22.2 20.4 21.7 17.6

Fonte: Banco de Portugal.

109

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 112: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

bancário e para o agregado dos bancos domésticos (Gráfi co 4.3.17)29. Esta evolução refl etiu o menor

contributo dos ativos elegíveis (disponíveis) como garantia em operações de crédito de bancos centrais,

associado à diminuição do valor dos ativos integrados na pool de colateral, em linha com os sucessivos

downgrades da República Portuguesa, e também o ligeiro aumento do recurso a operações de crédito

do Eurosistema (Gráfi co 4.3.18).

Os gaps de liquidez evoluíram de forma próxima para a generalidade das instituições domésticas nos

três primeiros trimestres de 2011 (Gráfi cos 4.3.19 e 4.3.20). Contudo, em linha com o agudizar das

tensões nos mercados fi nanceiros internacionais, observou-se uma ligeira deslocação das curvas de

29 Gap de liquidez defi nido como (Ativos Líquidos – Passivos Voláteis)/(Ativo – Ativos Líquidos)x100, em cada esca-

la cumulativa de maturidade.

Gráfi co 4.3.17

GAPS DE LIQUIDEZ EM ESCALAS CUMULATIVAS DE MATURIDADE

-21

-18

-15

-12

-9

-6

-3

0

3

6

9

12

Dez08

Mar09

Jun09

Set09

Dez09

Mar10

Jun10

Set10

Dez10

Mar11

Jun11

Set11

Em

per

cent

agem

dos

ativ

os to

tais

ded

uzid

os d

os

ativ

os lí

quid

os

Até 1 mês Até 3 meses Até 1 ano

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Gap de liquidez defi nido como (Ativos líquidos - Passivos voláteis)/(Ativo - Ativos líquidos)x100 em cada escala cumulativa de

maturidade residual. O indicador foi calculado com base nos dados e nos conceitos defi nidos na Instrução nº13/2009. Os resultados

para as instituições domésticas surgem a tracejado.

Gráfi co 4.3.16

SALDO DAS OPERAÇÕES DE POLÍTICA MONETÁRIA DO EUROSISTEMA

-600

-400

-200

0

200

400

600

800

1000

Jan-08 Jul-08 Jan-09 Jul-09 Jan-10 Jul-10 Jan-11 Jul-11

Em

milh

ares

de

milh

ões

de e

uros

Operações principais de refi nanciamentoOperações de refi nanciamento de prazo alargadoFacilidade permanente de cedência de liquidezOutras operações de cedência de liquidez(a)

Facilidade permanente de depósitoOutras operações de absorção de liquidez(b)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Inclui as “Operações ocasionais de regularização de liquidez” e as “Operações estruturais de ajustamento de liquidez”.

(b) Inclui “Depósitos a prazo” e “Acordos de recompra”. Última observação: outubro 2011.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

110

I

Page 113: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 4.3.18

GAP DE LIQUIDEZ DAS INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS PARA HORIZONTES TEMPORAIS DE ATÉ 12 MESES | PRINCIPAIS CONTRIBUTOS

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

Até

1 m

êsA

té 3

mes

esA

té 1

ano

Até

1 m

êsA

té 3

mes

esA

té 1

ano

Até

1 m

êsA

té 3

mes

esA

té 1

ano

Até

1 m

êsA

té 3

mes

esA

té 1

ano

Até

1 m

êsA

té 3

mes

esA

té 1

ano

Até

1 m

êsA

té 3

mes

esA

té 1

ano

Até

1 m

êsA

té 3

mes

esA

té 1

ano

Até

1 m

êsA

té 3

mes

esA

té 1

ano

Até

1 m

êsA

té 3

mes

esA

té 1

ano

Até

1 m

êsA

té 3

mes

esA

té 1

ano

Dez08 Mar09 Jun09 Set09 Dez09 Jun10 Dez10 Mar11 Jun11 Set11

Em

per

cent

agem

do

ativ

o to

tal d

eduz

ido

dos

ativ

os lí

quid

os

Ativos elegíveis como garantia em operações de crédito de bancos centrais (disponíveis)Instrumentos fi nanceiros derivadosCompromissos assumidos perante terceirosOutros ativos/passivosRecursos (liq.) de bancos centraisRecursos (liq.) de outras instituições de créditoResponsabilidades representadas por títulosGap de liquidez - Até 1 mêsGap de liquidez - Até 3 mesesGap de liquidez - Até 1 ano

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009 do Banco de Portugal.

Gráfi co 4.3.19 Gráfi co 4.3.20

GAP DE LIQUIDEZ ATÉ 1 MÊS - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA

GAP DE LIQUIDEZ ATÉ 12 MESES - INSTITUIÇÕES DOMÉSTICAS | DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA

-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40

Set-10Dez-10Set-11

-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40

Set-10

Dez-10

Set-11

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009

do Banco de Portugal, considerando dados em base consoli-

dada. Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não

paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pon-

dera as instituições pelo seu ativo.

Notas: Informação recolhida ao abrigo da Instrução nº 13/2009

do Banco de Portugal, considerando dados em base consoli-

dada. Distribuição empírica obtida recorrendo a métodos não

paramétricos, nomeadamente a um kernel gaussiano que pon-

dera as instituições pelo seu ativo.

111

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 114: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

distribuição empírica para a esquerda, quer face ao observado em igual período do ano anterior, quer

face a dezembro de 2010, indicando alguma deterioração dos gaps.

O processo de desalavancagem do sistema bancário português nos próximos anos, acordado no âmbito do

Programa de Assistência Económica e Financeira, deverá traduzir-se numa melhoria dos gaps de liquidez

à medida que os bancos convirjam para uma estrutura de fi nanciamento mais estável, traduzindo-se em

rácios entre o crédito e os recursos de clientes mais baixos. Este facto deverá contribuir, inter alia, para

que, a prazo, os bancos recuperem o acesso aos mercados internacionais de dívida por grosso e sejam

menos sensíveis às alterações da perceção de risco dos investidores internacionais.

Redução do risco para a posição de liquidez dos bancos advindo dos elementos

extrapatrimoniais

No atual contexto de crise económica, e em particular de signifi cativas difi culdades de fi nanciamento

das empresas, uma possível fonte de pressão adicional sobre a liquidez dos bancos prende-se com os

compromissos assumidos perante terceiros, que incluem linhas de crédito, descobertos bancários e garan-

tias concedidas, uma vez que podem constituir um risco adicional para o processo de desalavancagem

que os bancos deverão desenvolver nos próximos anos30.

O valor dos compromissos assumidos perante terceiros registou uma diminuição signifi cativa no decurso

de 2011. A fração dominante deste valor é representada pelos compromissos com reduzida probabi-

lidade de execução ou com maturidade residual superior a 12 meses. Por seu turno, os compromissos

incluídos nas classes de maturidade até 1 ano representaram cerca de 1.3 por cento do ativo total,

merecendo entre estes particular destaque os compromissos com prazo de execução esperado inferior

a uma semana que têm vindo a apresentar uma redução sensível (Gráfi co 4.3.21). Importa ainda referir

que estes valores incluem compromissos revogáveis e irrevogáveis, representando estes últimos cerca de

um terço do total em junho de 2011.

30 De acordo com a Instrução do Banco de Portugal nº12/2009 os bancos reportam, por maturidades residuais, o

valor dos compromissos assumidos perante terceiros em relação aos quais haja certeza ou elevada probabilidade

de execução, incluindo na classe de maturidade superior a 12 meses os compromissos que considerem como

sendo de execução improvável.

Gráfi co 4.3.21

COMPROMISSOS ASSUMIDOS PERANTE TERCEIROS PELO SISTEMA BANCÁRIO

0

2

4

6

8

10

12

Dez08

Mar09

Jun09

Set09

Dez09

Mar10

Abr10

Mai10

Jun10

Set10

Dez10

Mar11

Jun11

Set11

Em

milh

ares

de

milh

ões

de e

uros

À vista e até 1 semanaSuperior a 1 semana e até 1 mêsSuperior a 1 mês e até 3 mesesSuperior a 3 meses e até 6 mesesSuperior a 6 meses e até 12 meses

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Dados recolhidos ao abrigo da Instrução nº13/2009 do Banco de Portugal, que considera apenas as instituições que recebem

depósitos de clientes.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

112

I

Page 115: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

4.4. Risco de Crédito

A situação macroeconómica desfavorável da economia portuguesa tem-se traduzido numa deterioração

da situação fi nanceira do setor privado não fi nanceiro, refl etindo-se num aumento da materialização do

risco de crédito. Os vários indicadores de qualidade de crédito disponíveis confi rmam que a tendência

de aumento do risco de crédito no total das carteiras das instituições de crédito se acentuou em 201131.

O rácio de incumprimento, obtido com base nas Estatísticas Monetárias e Financeiras, situa-se no

conjunto do setor privado não fi nanceiro em valores máximos desde o início da área do euro. Por sua

vez, o fl uxo anual de novos empréstimos vencidos e de cobrança duvidosa voltou a aumentar desde o

quarto trimestre de 2010, embora permaneça abaixo dos valores máximos atingidos durante a atual

crise fi nanceira (Gráfi co 4.4.1)32.

31 Neste relatório é divulgado pela primeira vez um novo indicador de qualidade de crédito (crédito em risco). Este

indicador é um conceito mais abrangente do que o crédito com incumprimento, que procura levar em conside-

ração a possibilidade dos devedores com prestações em atraso continuarem a não cumprir as suas responsabi-

lidades de crédito. Para uma descrição deste indicador e a sua comparação com o crédito em incumprimento

calculado numa base comparável ver ”Caixa 4.2 Novo rácio de crédito em risco”, deste Relatório. A análise efe-

tuada neste capítulo continua contudo a basear-se essencialmente no rácio de incumprimento dos empréstimos

bancários obtido com base nas Estatísticas Monetárias e Financeiras, o qual corresponde aos empréstimos ven-

cidos há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa em percentagem do saldo dos empréstimos ajustado de

titularização. Refi ra-se que os indicadores de crédito com incumprimento e crédito em risco analisados na Caixa

4.2 incluem o crédito vencido há mais de 90 dias, para além de serem obtidos com dados em base consolidada

e de terem subjacente um conjunto ligeiramente diferente de instituições de crédito.

32 O mês de dezembro de 2010 fi cou marcado por duas operações com um forte impacto nas estatísticas mone-

tárias e fi nanceiras: a passagem das empresas Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto do setor das sociedades

não fi nanceiras para o setor das administrações públicas e a venda de uma carteira de crédito por parte do BPN

à Parvalorem (empresa que, também no mês de dezembro, transitou para o setor das administrações públicas).

De forma a facilitar a análise, os dados apresentados neste relatório foram corrigidos destas operações, sempre

que tal for relevante. Para mais detalhes sobres estas correções ver Relatório de Estabilidade Financeira-maio

2011.

Gráfi co 4.4.1

INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS AO SETOR PRIVADO NÃO FINANCEIRO RESIDENTE(a)

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11

Em

per

cent

agem

Em

per

cent

agem

Rácio incumprimento(b)Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e de cobrança duvidosa (esc. dir.)(c)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa

e Metro do Porto para o setor das Administrações Públicas. (b) Defi nido como crédito em incumprimento (empréstimos vencidos

há mais de 30 dias, e outros de cobrança duvidosa) em percentagem do saldo dos empréstimos ajustados de titularização. (c) A

estimativa do fl uxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos em-

préstimos, corrigidos de titularização, sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança

duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005, das vendas para fora do sistema bancário

de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme a Instrução do

Banco de Portugal nº17/2008.

113

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 116: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

A tendência de aumento da materialização do risco de crédito é transversal aos vários segmentos,

assumindo, contudo, níveis e ritmos mais acentuados nos empréstimos a particulares para consumo e

outros fi ns e nos empréstimos às sociedades não fi nanceiras. No crédito à habitação, o rácio de incum-

primento situa-se num nível historicamente elevado, mas substancialmente inferior ao registado nos

outros segmentos. Para esta situação contribui o peso dominante do crédito à primeira habitação, para

o qual a probabilidade de incumprimento é menor33, a participação relativamente baixa das famílias

de menores rendimentos neste mercado34, o facto de uma parte signifi cativa destes créditos para além

das garantias hipotecárias terem associadas garantias pessoais prestadas por familiares35, assim como

o facto do rácio das prestações dos empréstimos à habitação no rendimento familiar ser relativamente

reduzido em Portugal, quando comparado com o de outros países da área do euro, o que refl ete, em

larga medida, as maturidades mais longas destes empréstimos em Portugal36. Por fi m, refi ra-se que o

facto de não existir evidência de uma sobrevalorização em termos agregados dos preços da habitação em

Portugal limita as perdas para as instituições de crédito em caso de execução de hipotecas, não obstante

alguma redução de preços dos imóveis decorrente do abrandamento da procura.

No caso das sociedades não fi nanceiras, o aumento dos rácios de incumprimento tem sido comum aos

vários setores de atividade, sendo particularmente acentuado nos setores “Construção” e “Atividades

imobiliárias”. O incumprimento continua a ser mais frequente e signifi cativo nos empréstimos com

montantes mais reduzidos e nas empresas de menor dimensão. Esta situação poderá estar a contribuir

para um ajustamento da carteira de crédito dos bancos às sociedades não fi nanceiras. Com efeito, em

2011 os empréstimos de montantes mais reduzidos concedidos às sociedades não fi nanceiras conti-

nuam a registar um enfraquecimento acentuado, enquanto os empréstimos de maiores montantes e

os empréstimos concedidos a grandes empresas mantêm taxas de crescimento positivas. Para o maior

dinamismo dos empréstimos de montantes mais elevados contribui em grande parte o forte crescimento

dos empréstimos concedidos às empresas públicas não incluídas nas administrações públicas. Note-se, no

entanto, que a heterogeneidade da evolução dos empréstimos bancários por dimensão das empresas é

mitigada quando se consideram os restantes empréstimos concedidos por residentes e os títulos detidos

quer por residentes quer por não residentes.

Por setores de atividade persiste uma signifi cativa dispersão das taxas de crescimento dos empréstimos,

mas observa-se igualmente alguma convergência, com os setores inicialmente mais afetados pela crise,

nomeadamente “Construção” e “Atividades imobiliárias”, a registarem reduções menores do que no

fi nal de 2010 e a maioria dos restantes setores a registar uma redução das taxas de crescimento.

Ao nível das instituições de crédito regista-se alguma heterogeneidade de comportamentos na concessão

de crédito às sociedades não fi nanceiras. De facto, embora tenha aumentado o número de instituições

que estão a reduzir signifi cativamente o crédito, existe, em simultâneo, uma fração não negligenciável

de instituições com taxas de crescimento dos empréstimos moderadamente positivas. Na concessão de

crédito aos particulares, onde o abrandamento dos empréstimos tem sido mais signifi cativo em 2011,

verifi ca-se uma maior convergência de comportamento por parte das diferentes instituições, com uma

concentração das taxas de crescimento dos empréstimos em torno de valores ligeiramente negativos.

No caso dos empréstimos para consumo e outros fi ns existe, contudo, um número signifi cativo de

instituições com taxas de crescimento bastante negativas, o que não se observa no crédito à habitação.

33 Ver “Caixa 4.2 Principais características dos empréstimos a particulares para aquisição de habitação em Portu-

gal”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira 2008.

34 Ver Farinha (2008), “O endividamento das famílias portuguesas: evidência recente com base nos resultados do

IPEF 2006-2007”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira 2007.

35 Ver “Caixa 4.3 Crédito concedido às famílias e incumprimento: uma caracterização com base na Central de

Responsabilidades de Crédito”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira-maio 2010.

36 Ver “Caixa 4.3 Características dos empréstimos hipotecários de maior risco nos Estados Unidos e na Europa”,

Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira 2008 e “Housing fi nance in the euro area”, Occasional

Paper No 101, BCE, 2009.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

114

I

Page 117: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Em termos gerais, o abrandamento dos empréstimos ao setor privado tem resultado de uma deterioração

dos determinantes de longo prazo da procura de crédito e de fatores da oferta de crédito, num contexto

de aumento da materialização do risco de crédito, de fortes restrições à captação de fundos por parte

dos bancos no mercado internacional de fi nanciamento por grosso e de necessidade do ajustamento de

balanço das instituições de crédito para uma estrutura de fi nanciamento mais sustentável. O abrandamento

dos empréstimos tem, contudo, assumido um ritmo gradual e limitado, para o que tem contribuído o

aumento da captação de depósitos de clientes e o facto do recurso às operações de cedência de liquidez

do BCE ter permanecido num nível elevado, ainda que estável. O comportamento das instituições de

crédito residentes não domésticas, as quais enfrentam menores difi culdades de fi nanciamento do que

as instituições domésticas, tem igualmente contribuído para que não se registem maiores reduções dos

empréstimos ao setor privado não fi nanceiro. O contributo destas instituições para o crescimento do

crédito tem-se vindo contudo a reduzir desde fi nais de 2010. Este comportamento foi particularmente

marcado nos empréstimos às sociedades não fi nanceiras. No caso dos particulares, as taxas de crescimento

dos empréstimos concedidos por instituições residentes não domésticas permanecem signifi cativamente

acima das taxas das instituições domésticas.

O processo de ajustamento da economia portuguesa, designadamente a intensifi cação da consolidação

orçamental, em particular num contexto de abrandamento da economia internacional, deverá implicar

uma forte contração da atividade económica em Portugal em 2012 e a consequente manutenção da

tendência de aumento do desemprego e do número de empresas em processos de falência ou insolvência.

Em simultâneo, dada a necessidade de desalavancagem dos balanços dos bancos e as suas difi culdades

de fi nanciamento nos mercados internacionais de dívida por grosso, estes deverão ter menor margem

de manobra do que no passado para renegociarem condições mais favoráveis, como por exemplo um

alargamento dos prazos, em caso de difi culdades dos clientes cumprirem as suas obrigações. Esta situ-

ação deverá ser particularmente relevante no caso das famílias, podendo assistir-se mais facilmente no

caso das empresas a processos de re-estruturação empresarial que levem a renegociações de dívida.

É assim de esperar que se continue a assistir a uma maior materialização do risco de crédito, o que sugere

a necessidade dos bancos continuarem a aumentar a dotação de imparidade para perdas de carteira de

crédito (Quadro 4.4.1). Em setembro de 2011, as imparidades/provisões relativas ao setor privado não

fi nanceiro cobriam cerca de 82 por cento do crédito com incumprimento e de 55 por cento do crédito

em risco, defi nidos na “Caixa 4.2 Novo rácio de crédito em risco”, deste Relatório, traduzindo uma

redução face aos níveis registados no fi nal de 2010.

Existem, contudo, alguns fatores que deverão mitigar o impacto do enquadramento macroeconómico

desfavorável sobre a situação fi nanceira do setor privado não fi nanceiro. Em primeiro lugar, é de esperar

que, num contexto de enfraquecimento da situação macroeconómica na área do euro, as taxas de juro

do mercado monetário mantenham uma tendência de ligeira redução. Adicionalmente, importa referir

que, embora o ajustamento a médio prazo do sistema fi nanceiro português exija que os bancos prossigam

o respetivo processo de desalavancagem de acordo com o Programa de Assistência Económica e Finan-

ceira, este processo deverá ocorrer de forma gradual e ordenada, sem condicionar de forma excessiva

o fi nanciamento da economia, em especial das empresas mais produtivas e com melhores perspetivas

de crescimento. Neste contexto, a situação fi nanceira do setor empresarial e dos particulares continuará

a ser acompanhada no sentido de identifi car possíveis medidas de política que mitiguem o impacto do

endividamento elevado destes setores na sua capacidade de fi nanciamento. Complementarmente, o

Código de Insolvência está a ser alterado, o que deverá permitir que se identifi quem mais rapidamente

empresas viáveis que possam ser alvo de planos de re-estruturação de dívida.

115

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 118: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Quadro 4.4.1

INDICADORES DE QUALIDADE DE CRÉDITO E PROVISÕES/IMPARIDADES | EM PERCENTAGEM

2008 2009 2010 2010 2011Dez. Dez. Set. Dez. Set.

Indicadores de Qualidade do Crédito

Rácio de crédito em risco(a),(b) 3.5 4.8 5.2 5.1 6.8

Setor privado não fi nanceiro residente, 4.0 5.3 5.7 5.5 7.3

do qual:

Habitação 4.4 4.6 4.5 4.3 4.9

Consumo e outros fi ns 6.8 9.2 10.0 10.1 12.2

Sociedades não fi nanceiras 3.2 5.1 6.1 5.8 8.5

Rácio de crédito com incumprimento(a),(c) 1.9 3.0 3.4 3.4 4.5

Setor privado não fi nanceiro residente, 2.2 3.3 3.9 3.8 4.9

do qual:

Habitação 1.7 2.2 2.4 2.5 2.7

Consumo e outros fi ns 4.4 6.4 7.7 7.8 9.7

Sociedades não fi nanceiras 2.1 3.6 4.4 4.2 5.9

Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa (Estatísticas Monetárias e Financeiras)(d)

Setor privado não fi nanceiro residente, 0.9 1.2 0.8 0.9 1.2

do qual:

Habitação 0.3 0.3 0.1 0.1 0.2

Consumo e outros fi ns 2.4 2.0 1.9 2.1 2.6

Sociedades não fi nanceiras 1.3 2.1 1.4 1.6 2.1

Provisões/Imparidades acumuladas para crédito

Em percentagem do crédito(a)

Setor privado não fi nanceiro residente, 2.4 2.9 3.2 3.3 4.0

do qual:

Habitação 1.4 1.4 1.5 1.5 1.5

Consumo e outros fi ns 4.5 5.9 6.4 7.5 9.1

Sociedades não fi nanceiras 2.9 3.6 4.0 4.0 5.3

Em percentagem do crédito em risco(a),(b)

Setor privado não fi nanceiro residente, 60.4 55.6 55.2 58.9 54.9

do qual:

Habitação 32.4 31.0 32.6 33.8 30.7

Consumo e outros fi ns 66.7 64.1 64.1 74.7 74.1

Sociedades não fi nanceiras 90.0 71.0 66.5 69.5 62.3

Em percentagem do crédito com incumprimento(a),(c)

Setor privado não fi nanceiro residente, 112.1 89.1 81.7 86.3 81.6

do qual:

Habitação 81.7 65.1 59.6 59.6 56.0

Consumo e outros fi ns 102.9 91.6 82.8 96.1 93.1

Sociedades não fi nanceiras 138.8 101.4 92.3 96.9 89.4

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Valores de crédito reportados em base consolidada pelo agregado do sistema bancário português (ver nota 1 secção 4.1),

excluindo as sucursais em Portugal de instituições de crédito com sede em países pertencentes à União Europeia. Exclui igualmente o

banco BPN por forma a evitar a distorção decorrente da venda de uma carteira de crédito à Parvalorem em dezembro de 2010. Inclui

o crédito concedido a residentes e a não residentes, bem como os créditos concedidos pelas fi liais estrangeiras dos bancos portugue-

ses. As titularizações desreconhecidas não foram consideradas. (b) O crédito em risco, defi nido de acordo com a Instrução do Banco

de Portugal nº22/2011, inclui o valor total em dívida do crédito: que tenha prestações de capital ou juros vencidos há mais de 90 dias;

do crédito que tenha estado nesta situação tendo sido reestruturado e; do crédito com prestações de capital ou juros vencidos há

menos de 90 dias, mas sobre os quais existam evidências que justifi quem a sua classifi cação com crédito em risco. (c) O crédito com

incumprimento compreende o crédito e juros vencidos há mais de 90 dias e outros créditos de cobrança duvidosa, que respeita às

prestações futuras de um crédito quando houver dúvidas relativamente à sua cobrança, tal como se encontra estabelecido no Aviso

do Banco de Portugal nº3/95. (d) Fluxos de empréstimos vencidos há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa concedidos

pelas outras instituições fi nanceiras monetárias a residentes. A estimativa do fl uxo anual é calculada ajustando a variação do saldo de

empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005,

das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em

base trimestral conforme Instrução do Banco de Portugal nº17/2008.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

116

I

Page 119: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Signifi cativo abrandamento dos empréstimos concedidos a particulares e aumento do grau

de restritividade na concessão de crédito...

Em 2011, os empréstimos bancários a particulares mantiveram a tendência de signifi cativo abrandamento

que vêm a registar desde meados de 2010, atingindo taxas de variação inferiores às observadas no

período recessivo de 2003. Esta trajetória foi comum tanto aos empréstimos para habitação como aos

empréstimos para consumo e outros fi ns, embora continue a assumir um caráter mais acentuado neste

último caso. Os empréstimos para aquisição de habitação reduziram-se 0.6 por cento em setembro de

2011, em termos de variação anual, o que compara com um crescimento de 3.3 por cento em meados

de 2010 (Gráfi co 4.4.2). A taxa de variação trimestral anualizada permanece abaixo da taxa de variação

anual, o que sugere que o enfraquecimento dos empréstimos à habitação deverá manter-se nos próximos

meses, em linha com a evolução dos seus determinantes37. Para a manutenção de uma tendência de

enfraquecimento dos empréstimos à habitação aponta também o facto dos empréstimos concedidos por

instituições fi nanceiras residentes não domésticas estarem a registar uma tendência de desaceleração

desde o início de 2011, embora mantenham um dinamismo muito superior ao das instituições domésticas.

De facto, as menores difi culdades de fi nanciamento das instituições não domésticas estarão a permitir

a estas instituições oferecer condições menos restritivas do que as instituições domésticas no crédito à

habitação, levando a um aumento da sua quota de mercado38.

No caso dos empréstimos para consumo e outros fi ns, a taxa de variação anual regista valores negativos

desde o início de 2011, situando-se em setembro em -3.5 por cento (Gráfi co 4.4.3). A taxa de variação

trimestral anualizada mantém-se igualmente abaixo da taxa anual, perspetivando a continuação de

37 Atualmente o crescimento dos empréstimos à habitação parece estar próximo do que resultaria dos seus deter-

minantes de longo prazo (taxas de juro e investimento em habitação). Veja-se Castro, G. e C. Santos, (2010),

“Determinantes das taxas de juro e do crédito bancário”, Banco de Portugal, Boletim Económico-Primavera

2010.

38 Ver artigo “O comportamento dos bancos domésticos e não domésticos na concessão de crédito à habitação:

uma análise com base em dados microeconómicos”, deste Relatório.

Gráfi co 4.4.2 Gráfi co 4.4.3

EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO(a)

EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES PARA CONSUMO E OUTROS FINS(a)

-5.0

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11

Em

per

cent

agem

Taxa de variação anualTaxa de variação trimestral anualizada

-10.0

-5.0

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11

Em

per

cent

agem

Taxa de variação anualTaxa de variação trimestral anualizada

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) As taxas de variação são calculadas com base na

relação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês,

ajustados de operações de titularização, e transações mensais,

as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi -

cações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de

preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade.

Os valores apresentados estão corrigidos do efeito da venda da

carteira de crédito do BPN à Parvalorem.

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) As taxas de variação são calculadas com base na

relação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de mês,

ajustados de operações de titularização, e transações mensais,

as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi -

cações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de

preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade.

Valores corrigidos da venda de uma carteira de créditos do BPN

à Parvalorem em dezembro de 2010.

117

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 120: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

quedas nestes empréstimos no futuro próximo, em linha com a evolução do consumo privado e com o

aumento da restritividade na concessão de crédito por parte dos bancos. Os empréstimos para consumo e

outros fi ns concedidos pelos bancos residentes não domésticos, embora estejam a desacelerar, continuam

igualmente a dar um contributo positivo para a taxa de variação destes empréstimos.

Os dados das contas fi nanceiras, disponíveis até ao segundo trimestre de 2011, apontam para que o

enfraquecimento dos empréstimos aos particulares seja ainda mais acentuado quando se consideram,

para além dos empréstimos concedidos por instituições fi nanceiras monetárias, também os empréstimos

concedidos por outros intermediários fi nanceiros e auxiliares fi nanceiros (Gráfi co 4.4.4).

Segundo o Inquérito trimestral aos bancos sobre o mercado de crédito, o enfraquecimento dos emprés-

timos a particulares tem refl etido tanto fatores da procura como da oferta. Ao longo de 2011, os bancos

têm reportado reduções signifi cativas da procura, as quais foram particularmente acentuadas no segundo

e terceiros trimestres no caso da habitação. Para esta evolução terá contribuído essencialmente uma

tendência de deterioração das perspetivas para o mercado da habitação e da confi ança dos consumi-

dores. Do lado da oferta, os bancos reportaram um signifi cativo aumento de exigência dos critérios de

concessão de crédito desde o início de 2011. Este aumento da restritividade terá sido motivado tanto por

maiores custos de fi nanciamento e restrições de balanço, como por um aumento dos riscos associados

à atividade económica em geral, às perspetivas para o mercado de habitação e à capacidade dos consu-

midores assegurarem o serviço da dívida. Segundo os bancos inquiridos, a maior exigência nos critérios

de aprovação de crédito tem-se traduzido num aumento dos spreads assim como na generalidade das

restantes condições contratuais, nomeadamente numa redução das maturidades, num aumento de

comissões, aumento das garantias exigidas e redução dos montantes dos empréstimos.

Os spreads das taxas de juro das novas operações de crédito à habitação e consumo têm vindo a aumentar

desde meados de 2010 e início de 2010, respetivamente, situando-se em níveis elevados quando

comparado com os valores registados desde o início da área do euro (Gráfi co 4.4.5). O nível elevado dos

spreads é particularmente signifi cativo se se levar em consideração que estará a ocorrer em simultâneo

com uma recomposição das carteiras dos bancos a favor de empréstimos de menor risco e que está a

ser limitado por um nível relativamente menor das taxas de juro praticadas pelas instituições residentes

não domésticas. Contudo, este último efeito atenuou-se em 2011 face ao segundo semestre de 2010,

refl etindo o aumento do risco de crédito e as perspetivas menos favoráveis para o mercado imobiliário.

O número de instituições que estão a reduzir as suas carteiras de crédito à habitação e ao consumo e

outros fi ns tem vindo a aumentar. As distribuições das taxas de crescimento dos empréstimos a parti-

culares nestes dois segmentos deslocaram-se signifi cativamente para a esquerda, passando as modas

a situarem-se em valores negativos (Gráfi co 4.4.6). O enfraquecimento relativamente generalizado

das determinantes da oferta e procura de crédito tem contribuído para uma maior concentração das

distribuições, a qual é mais acentuada no caso da habitação, onde se continuam contudo a registar

taxas de crescimento elevadas por parte de algumas instituições residentes não domésticas. No caso

dos empréstimos para consumo e outros fi ns existe um número signifi cativo de instituições com taxas

de crescimento bastante negativas.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

118

I

Page 121: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 4.4.4 Gráfi co 4.4.5

CONTRIBUTOS PARA A TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES CONCEDIDOS PELO SISTEMA FINANCEIRO RESIDENTE

TAXAS DE JURO DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES PARA AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO E PARA CONSUMO

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2 T3 T4 T1 T2

2007 2008 2009 2010 2011

Em

per

cent

agem

Pon

tos

perc

entu

ais

0.01.02.03.04.05.06.07.08.09.010.011.012.013.014.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

14.0

Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11

Em

pon

tos

perc

entu

ais

Em

per

cent

agem

Spread - habitação (esc.dir.) (a)Spread - consumo (esc.dir.) (b)Taxa de juro de novas operações - habitaçãoTaxa de juro de novas operações - consumo(c)Taxa de juro de saldos - habitação

Instituições fi nanceiras Monetárias (IFM)Outros Intermediários Financeiros e Auxiliares Financeiros (OIFAF)Taxa de variação anual dos empréstimos concedidos a particulares por IFM e OIFAF (esc. dir.)

Fontes: INE e Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Dados ajustados da transferência da carteira de crédito

do BPN para a Parvalorem em dezembro de 2010.

Notas: (a) Spread de taxa de juro de novos empréstimos a

particulares para aquisição de habitação utilizando Euribor a

6 meses. (b) Spread de taxa de juro de novos empréstimos a

particulares para consumo estimado utilizando a Euribor a 6

meses, a Euribor a 1 ano e a taxa de juro dos swaps em euros

a 5 anos, nos casos em que o prazo de fi xação inicial da taxa

é 1 ano, entre 1 e 5 anos e mais de 5 anos respetivamente.

(c) Taxa de juro média calculada com base nas taxas de novos

empréstimos por prazo de fi xação inicial da taxa, ponderados

pelos montantes de novas operações em cada prazo.

Gráfi co 4.4.6

DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DA TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A PARTICULARES

Para aquisição de habitação Para consumo e outros fi ns

-20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48

Taxa de variação anual dos empréstimos

Set 10Set 11

-20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60

Taxa de variação anual dos empréstimos

Set 10Set 11

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.

119

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 122: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

...num contexto de aumento da materialização do risco de crédito dos particulares

O rácio de incumprimento dos empréstimos bancários a particulares mantém uma tendência de aumento

desde o início de 2008, situando-se em cerca de 3 por cento, em setembro de 2011, o que traduz um

nível máximo desde o início da área do euro (Gráfi co 4.4.7). Num contexto de deterioração da situação

fi nanceira das famílias, o acréscimo da materialização do risco de crédito tem sido comum à generalidade

dos segmentos de crédito, assumindo contudo um nível e ritmo muito mais acentuados no caso dos

empréstimos para consumo e outros fi ns.

No caso do crédito à habitação, o rácio de incumprimento dos empréstimos situa-se num nível historica-

mente elevado, embora ainda relativamente contido. Para esta situação tem contribuído o facto do fl uxo

de novos empréstimos em incumprimento permanecer em linha com a média registada desde o início

da área do euro, embora registe uma tendência de aumento, desde fi nais de 2010 (Gráfi co 4.4.8). Em

2011, a deterioração dos indicadores de incumprimento tem sido comum à generalidade das exposições

(Quadro 4.4.2). Desde o fi nal de 2010, a percentagem do número de devedores com incumprimento

tem registado um aumento mais acentuado no caso dos empréstimos com montantes mais elevados.

O aumento da materialização do risco de crédito no caso dos empréstimos à habitação é igualmente

evidenciado pelo acréscimo da execução de hipotecas e/ou das dações em pagamento, o que se tem

traduzido num aumento dos ativos imobiliários no balanço dos bancos, os quais continuam, contudo,

a representar um valor inferior a 1 por cento do total do ativo dos bancos em base consolidada. Esta

situação acentua ainda mais o desequilíbrio atualmente existente entre a oferta e a procura de imóveis,

contribuindo para o fraco comportamento dos preços (Gráfi co 4.4.9).

No que se refere ao consumo e outros fi ns, os fl uxos de empréstimos em incumprimento situam-se

em valores historicamente elevados. Estes fl uxos, depois de terem registado um aumento signifi cativo

no segundo semestre de 2010, estabilizaram no primeiro semestre de 2011, voltando a aumentar nos

Gráfi co 4.4.7 Gráfi co 4.4.8

RÁCIOS DE INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS(a)

FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA(a)

Particulares Particulares

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

9.0

10.0

11.0

12.0

Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11

Em

per

cent

agem

TotalHabitaçãoConsumo e outros fins

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11

Em

per

cent

agem

TotalHabitaçãoConsumo e outros fins

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Defi nido como os empréstimos vencidos há mais

de 30 dias e outros de cobrança duvidosa em percentagem

do saldo dos empréstimos ajustado de titularização. Valores

corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à

Parvalorem.

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) A estimativa do fl uxo anual de novos empréstimos

vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em per-

centagem dos empréstimos, corrigidos de titularização, sendo

calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos ven-

cidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ati-

vo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005, das

vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e

outros de cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados

em base trimestral conforme a Instrução do Banco de Portugal

nº17/2008. Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de

crédito do BPN à Parvalorem.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

120

I

Page 123: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 4.4.9

ÍNDICE CONFIDENCIAL IMOBILIÁRIO | TAXA DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA

-8.0

-6.0

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11

Em

per

cent

agem

NominalReal (a)

Fonte: Confi dencial Imobiliário.

Nota: (a) Defl acionado pela taxa de variação homóloga do IPC.

Quadro 4.4.2

INDICADORES DE INCUMPRIMENTO DOS EMPRÉSTIMOS A PARTICULARES, POR DIMENSÃO DA EXPOSIÇÃO (a)

2009 2010 2010 2010 2011 2011

Dez. Jun. Set. Dez. Jun. Set.

Habitação

Exposição total

Número de devedores com incumprimento (%)(b) 5.1 5.4 5.1 4.9 5.1 5.4

Crédito e juros vencidos (%)(c) 1.7 1.9 1.8 1.8 1.8 2.0

Exposições de montante superior ao percentil 90(d)

Percentagem do crédito(e) 28.5 28.6 28.5 28.6 28.6 28.6

Número de devedores com incumprimento (%)(b) 6.3 6.4 6.0 5.9 6.4 6.9

Crédito e juros vencidos (%)(c) 1.6 1.8 1.7 1.8 1.9 2.1

Consumo

Exposição total

Número de devedores com incumprimento (%)(b) 12.2 12.7 12.6 12.8 13.4 13.4

Crédito e juros vencidos (%)(c) 6.9 7.5 8.1 8.6 9.1 9.3

Exposições de montante superior ao percentil 90(d)

Percentagem do crédito (e) 54.6 54.8 54.6 54.8 55.0 55.5

Número de devedores com incumprimento (%)(b) 13.0 13.3 13.5 13.7 14.7 14.9

Crédito e juros vencidos (%)(c) 5.4 6.0 6.5 7.1 7.8 8.0

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Correspondem a crédito conce-

dido por bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de factoring,

sociedades de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros resi-

dentes. Inclui também crédito concedido (ou detido) por entidades que não pertencem ao sistema fi nanceiro, nomeadamente pela

Parvalorem, pelo Instituto de Turismo de Portugal e desde setembro de 2011 por algumas sociedades de recuperação de crédito.

Apenas as exposições face a uma determinada instituição superiores a 50 euros foram consideradas e foram excluídas as linhas de

crédito não utilizadas. Considerou-se que um determinado devedor se encontra em situação de incumprimento se o montante de

crédito vencido for superior a 0.5 por cento da sua exposição face ao sistema fi nanceiro. Os valores obtidos através da CRC não têm

necessariamente que coincidir com os apurados no âmbito das Estatísticas Monetárias e Financeiras (EMF) visto que as instituições

com obrigações de reporte direto para efeito das EMF (Bancos, Caixas Económicas e Caixas de Crédito Agrícola Mútuo) são um

subconjunto das entidades participantes na CRC. (b) Em percentagem do número de devedores com crédito nesta carteira. (c) Em

percentagem do crédito total concedido nessa carteira. (d) Percentis defi nidos com base no número de devedores ordenados segun-

do o montante da sua exposição no segmento em causa. (e) Crédito à habitação (ou ao consumo) com exposições superiores ao

percentil 90, em percentagem do crédito total à habitação (ou ao consumo).

121

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 124: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

meses mais recentes. Neste contexto, o rácio de incumprimento mantém uma tendência de aumento,

situando-se num nível bastante superior aos níveis médios registados desde o início da área do euro.

Para esta situação deverá estar a contribuir o aumento do acesso a este segmento de crédito por parte

de famílias de menor rendimento durante os anos que antecederam a crise económica e fi nanceira. No

caso do crédito ao consumo, as exposições mais elevadas mantêm rácios de incumprimento menores do

que as restantes exposições, embora tenham registado acréscimos signifi cativos em 2011 (Quadro 4.4.2).

Os empréstimos bancários às sociedades não fi nanceiras voltaram a desacelerar em 2011,

apresentando um maior dinamismo nas empresas de maior dimensão, com destaque para as

empresas públicas

A taxa de variação anual dos empréstimos concedidos pelos bancos às sociedades não fi nanceiras

retomou no segundo trimestre de 2011 a tendência de desaceleração que tinha interrompido em

meados de 2010, situando-se em setembro de 2011 num valor ligeiramente negativo (Gráfi co 4.4.10).

Este comportamento recente foi essencialmente determinado pelo signifi cativo abrandamento dos

empréstimos concedidos por instituições residentes não domésticas, num contexto em que a taxa de

crescimento anual dos empréstimos concedidos por bancos domésticos tem permanecido em valores

praticamente nulos desde fi nais de 2010.

O setor bancário também se encontra exposto ao risco de crédito das sociedades não fi nanceiras através

das posições em dívida titulada. A dívida titulada emitida por sociedades não fi nanceiras na posse de

bancos ascendia em setembro de 2011 a 17 mil milhões de euros, em comparação com empréstimos

concedidos no valor de 117 mil milhões de euros. Em 2011, o agregado de crédito mais amplo, que

engloba empréstimos e dívida titulada emitida por sociedades não fi nanceiras na posse de bancos, tem

apresentado uma evolução em linha com a dos empréstimos, muito embora refl ita em parte vendas de

títulos de dívida de empresas na carteira dos bancos (Gráfi co 4.4.10).

Gráfi co 4.4.10

CRÉDITO BANCÁRIO CONCEDIDO ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a)

-5.0

0.0

5.0

10.0

15.0

20.0

Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11

Em

per

cent

agem

Taxa de variação anual dos empréstimos e dos títulos emitidos pelas sociedades não fi nanceiras e detidos pelo sistema bancárioTaxa de variação anual dos empréstimosTaxa de variação trimestral anualizada dos empréstimos

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) As taxas de variação são calculadas com base na relação entre saldos de empréstimos bancários (ou saldos de emprés-

timos bancários e títulos de curto prazo detidos pelo sistema bancário) em fi m de mês, ajustados de operações de titularização, e

transações mensais, as quais são calculadas a partir de saldos corrigidos de reclassifi cações, de abatimentos ao ativo e de reavaliações

cambiais e de preço. A taxa de variação trimestral é ajustada de sazonalidade. Os valores apresentados encontram-se corrigidos da

passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das Administrações Públicas e da venda da carteira de créditos

do BPN à Parvalorem.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

122

I

Page 125: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Desde o fi nal de 2010 que se tem vindo a registar uma clara divergência entre o dinamismo dos emprés-

timos concedidos por bancos residentes às empresas públicas (não incluídas nas administrações públicas)

e os empréstimos concedidos às sociedades não fi nanceiras do setor privado. Enquanto os primeiros têm

registado ritmos de crescimento muito elevados, os empréstimos concedidos por bancos residentes às

empresas privadas têm mantido taxas de crescimento ligeiramente negativas (Gráfi cos 4.4.11 e 4.4.12).

Do ponto de vista do crédito total concedido a estes dois tipos de empresas, as diferenças não são

contudo tão acentuadas, embora as empresas do setor público mantenham ritmos de crescimento do

crédito mais elevados do que as do setor privado39. O crescimento do crédito total permaneceu relativa-

mente estável desde o fi nal de 2010, de forma mais notória no caso das empresas públicas. No caso das

empresas privadas, os empréstimos concedidos por não residentes registaram alguma moderação em

2011, mas continuam a dar um contributo positivo para o crescimento do crédito, o que não acontece

no caso das empresas públicas. Adicionalmente, os saldos de títulos emitidos por empresas privadas têm

a vindo a registar em 2011 um crescimento signifi cativo em relação a período idêntico do ano anterior,

contrastando com o crescimento praticamente nulo dos mesmos no caso das empresas públicas40.Em

qualquer dos casos estes movimentos têm subjacentes aumentos nos saldos dos títulos na posse de não

residentes, que estão a ser infl uenciados por movimentos intra grupos. No caso das empresas públicas

teve lugar uma venda de títulos de curto prazo por parte de um banco residente não-doméstico à sua

casa-mãe e no caso das sociedades não fi nanceiras privadas registaram-se no período emissões que

foram adquiridas por empresas do mesmo grupo no exterior.

A heterogeneidade dos empréstimos bancários por dimensão das empresas é mitigada

quando se considera um conceito mais abrangente de crédito

O forte dinamismo dos empréstimos às empresas públicas contribui, em grande parte, para a aceleração

registada pelos empréstimos associados a exposições mais elevadas desde meados de 2011 (Quadro

4.4.3). No caso das sociedades não fi nanceiras do setor privado, as taxas de crescimento dos empréstimos

associados a exposições mais elevadas registaram no período mais recente algum aumento, embora sejam

substancialmente inferiores às registadas para os empréstimos das empresas públicas de dimensão equiva-

lente. Pelo contrário, os empréstimos de montantes mais reduzidos, os quais estão quase exclusivamente

associados às empresas de setor privado, têm continuado a enfraquecer signifi cativamente em 2011.

A evolução dos empréstimos por dimensão da exposição está em linha com a diferenciação observada

no dinamismo dos empréstimos, concedidos por residentes (excluindo o Tesouro), por dimensão das

empresas (Gráfi co 4.4.13). Esta diferenciação é ainda mais acentuada quando se consideram apenas os

empréstimos bancários. De facto, os empréstimos bancários têm vindo a registar taxas de crescimento

bastante signifi cativas no caso das grandes empresas, uma tendência de aceleração para um ritmo mode-

rado no caso das empresas médias e taxas de crescimento próximas de zero ou ligeiramente negativas

no caso das micro e pequenas empresas. Quando se consideram igualmente os títulos emitidos pelas

sociedades não fi nanceiras, na posse quer de residentes, quer de não residentes, a diferença da evolução

do crédito entre as pequenas e as grandes empresas reduz-se, com as grandes empresas a registarem

ritmos de crescimento mais moderados e as pequenas empresas ritmos mais elevados. Refi ra-se, contudo,

que a aceleração da dívida titulada das pequenas empresas está a ser em grande parte determinada por

emissões de pequenas empresas que fazem parte de grupos não fi nanceiros.

39 O crédito total engloba empréstimos, títulos e créditos comerciais concedidos ou detidos pelos setores residen-

tes (fi nanceiro e não fi nanceiro) e pelo resto do mundo.

40 Refi ra-se que os empréstimos concedidos por não residentes às empresas públicas incluídas nas Administrações

Públicas registaram um enfraquecimento no terceiro trimestre de 2011 e que os títulos emitidos por estas em-

presas na posse de não residentes têm vindo a registar desde meados de 2011 ligeiras reduções face ao mesmo

período do ano anterior.

123

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 126: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 4.4.12

CRÉDITO CONCEDIDO ÀS EMPRESAS PÚBLICAS NÃO INCLUÍDAS NAS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS | CONTRIBUTOS PARA A TAXA DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

14.0

16.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

14.0

16.0

2010T3 2010T4 2011T1 2011T2 2011T3

Em

per

cent

agem

Em

pon

tos

perc

entu

ais

Empréstimos concedidos por bancos residentesEmpréstimos concedidos por outras instituições fi nanceiras residentesEmpréstimos concedidos por não residentesEmpréstimos concedidos pelo TesouroTítulos na posse de residentesTítulos na posse de não residentesTotal (taxa de variação homóloga) (esc. dir.)Empréstimos concedidos por bancos residentes (taxa de variação homóloga) (esc. dir.)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Taxas de variação homólogas dos saldos em fi m de período. As séries não se encontram ajustadas de operações de titulari-

zação, reclassifi cações, abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. Dados ajustados da integração da Totta IFIC no

Banco Santander Totta em abril de 2011.

Gráfi co 4.4.11

CRÉDITO CONCEDIDO ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS DO SETOR PRIVADO | CONTRIBUTOS PARA A TAXA

DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA

-2.0

-1.0

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

-2.0

-1.0

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

2010T3 2010T4 2011T1 2011T2 2011T3

Em

pon

tos

perc

entu

ais

Em

per

cent

agem

Empréstimos concedidos por bancos residentesEmpréstimos concedidos por outras instituições fi nanceiras residentesOutros empréstimos concedidos por residentesEmpréstimos concedidos por não residentesTítulos na posse de residentesTítulos na posse de não residentesCréditos comerciais concedidos por residentesCréditos comerciais concedidos por não residentesTotal (taxa de variação homóloga) (esc. dir.)Empréstimos concedidos por bancos residentes (taxa de variação homóloga) (esc. dir.)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Taxas de variação homólogas dos saldos em fi m de período. As séries não se encontram ajustadas de operações de titulari-

zação, reclassifi cações, abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. Dados ajustados da transferência da carteira de

crédito do BPN para a Parvalorem em Dezembro de 2010 e da integração da Totta IFIC no Banco Santander Totta em abril de 2011.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

124

I

Page 127: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Qu

adro

4.4

.3

CR

ÉDIT

O A

SO

CIE

DA

DES

O F

INA

NC

EIR

AS,

PO

R D

IMEN

SÃO

DA

S EX

POSI

ÇÕ

ES(a

) | T

AX

AS

DE

VA

RIA

ÇÃ

O H

OM

ÓLO

GA

, EM

PER

CEN

TAG

EM(b

)

Por

mem

óri

a (e

m s

et 2

011)

:

Dez

-09

Jun

-10

Set-

10D

ez-1

0Ju

n-1

1Se

t-11

Lim

ite

infe

rio

r(d)

(103 €

)

Sald

o

méd

io

(103 €

)

Peso

do

sal

do

n

o t

ota

l (%

)

de

emp

resa

s

Tota

l1.

4-0

.20.

0-0

.1-0

.7-0

.310

0.0

240

789

Exp

osi

ções

de

mo

nta

nte

su

per

ior

ao p

erce

nti

l 90(b

)1.6

0.2

0.5

0.4

0.1

0.6

52

04

41

98

8.1

24

07

9

das

quais

: exp

osi

ções

de m

onta

nte

superior

ao p

erc

entil 99

(b)

2.8

1.5

2.3

2.2

2.2

2.6

7 3

13

28

90

05

7.6

2 4

08

das

quais

: exp

osi

ções

de m

onta

nte

superior

ao q

uantil 99.5

(b)

2.9

1.7

2.6

2.9

2.5

3.5

14

40

04

7 7

00

47

.51

20

4

das

quais

: exp

osi

ções

de m

onta

nte

superior

ao q

uantil 99.9

(b)

1.7

1.3

2.1

2.9

3.6

4.8

59

40

01

31

00

02

6.1

24

1

Peq

uen

as e

xpo

siçõ

es(c

)0.1

-2.8

-3.3

-3.6

-5.6

-6.3

0.0

5 6

71

1.9

21

6 7

10

SNF

do

set

or

pri

vad

o1.

2-0

.20.

0-0

.5-1

.0-1

.095

.624

0 43

4

Exp

osi

ções

de

mo

nta

nte

su

per

ior

ao p

erce

nti

l 90(b

)1.3

0.2

0.5

0.0

-0.3

-0.2

52

04

23

48

3.6

23

87

7

das

quais

: exp

osi

ções

de m

onta

nte

superior

ao p

erc

entil 99

(b)

2.6

1.7

2.2

1.5

1.2

1.7

7 3

13

27

80

05

3.2

2 3

21

das

quais

: exp

osi

ções

de m

onta

nte

superior

ao q

uantil 99.5

(b)

2.9

1.7

2.7

1.7

2.0

2.2

14

40

04

6 3

00

43

.31

13

6

das

quais

: exp

osi

ções

de m

onta

nte

superior

ao q

uantil 99.9

(b)

2.1

2.5

3.4

1.4

2.5

2.8

59

40

01

27

00

02

3.3

22

2

Peq

uen

as e

xpo

siçõ

es(c

)0.1

-2.8

-3.3

-3.6

-5.6

-6.4

0.0

5 6

71

2.2

21

6 5

57

SNF

do

set

or

blic

o n

ão in

clu

ídas

nas

ad

min

istr

açõ

es p

úb

licas

8.0

0.0

0.8

10.6

9.1

15.9

4.4

355

Fon

te: B

anco

de P

ort

ugal.

No

tas:

(a)

Indic

ad

ore

s base

ados

na info

rmaçã

o d

a C

entr

al de R

esp

onsa

bili

dades

de C

rédito (

CRC

), s

endo c

ada e

xposi

ção c

ara

cteriza

da p

elo

valo

r to

tal d

os

em

pré

stim

os

a u

ma d

ete

rmin

ad

a s

oci

ed

ad

e n

ão

fi n

an

ceira.

Incl

ui cr

éd

ito

conce

did

o p

or

banco

s, c

aix

as

eco

nóm

icas,

caix

as

de c

rédito a

gríco

la m

útu

o,

inst

ituiç

ões

fi nance

iras

de c

rédito,

soci

edades

de f

act

oring,

soci

edades

de lo

caçã

o fi

nan

ceira,

soci

ed

ad

es

em

iten

tes

ou

gest

ora

s d

e c

art

ões

de c

réd

ito

e

outr

os

inte

rmediá

rios

fi nance

iros

resi

dente

s. Incl

ui ta

mbém

cré

dito c

once

did

o (

ou d

etido)

por

entidades

que n

ão p

ert

ence

m a

o s

iste

ma fi

nance

iro,

no

mead

am

en

te p

ela

Parv

alo

rem

, p

elo

In

stitu

to d

e T

urism

o d

e P

ort

ug

al e d

esd

e

sete

mbro

de 2

01

1 p

or

alg

um

as

soci

edades

de r

ecu

pera

ção d

e c

rédito.

Apenas

as

exp

osi

ções

face

a u

ma d

ete

rmin

ada e

ntidade s

uperiore

s a 5

0 e

uro

s fo

ram

co

nsi

dera

das.

(b

) Para

o c

álc

ulo

das

taxa

s d

e v

ariaçã

o h

om

ólo

ga,

os

limites

infe

rior e

s d

e c

ada g

rupo d

e e

xposi

ções

coin

cidem

com

os

quantis,

que e

m c

ada m

om

ento

do t

em

po s

ão d

efi nid

os

com

base

no n

úm

ero

de e

mp

resa

s o

rden

ad

as

seg

un

do

o m

on

tan

te d

a e

xpo

siçã

o t

ota

l. (

c) E

xpo

siçõ

es

cujo

s

monta

nte

s sã

o m

enore

s do q

ue o

lim

ite infe

rior

das

gra

ndes

exp

osi

ções.

Corr

esp

ondem

a 9

0 p

or

cento

das

em

pre

sas

com

dív

ida junto

das

inst

ituiç

ões

part

icip

an

tes

na C

RC

. (d

) M

on

tan

te d

a e

xpo

siçã

o d

e m

en

or

valo

r d

o c

on

jun

to

das

exp

osi

ções

consi

dera

das

no q

uantil.

125

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 128: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 4.4.13

CRÉDITO CONCEDIDO ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a)

-6.0

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

2010:I 2010:II 2010:III 2010:IV 2011:I 2011:II 2011:III

Em

per

cent

agem

Micro-empresas

-6.0

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

2010:I 2010:II 2010:III 2010:IV 2011:I 2011:II 2011:III

Em

per

cent

agem

Empresas pequenas

-6.0

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

2010:I 2010:II 2010:III 2010:IV 2011:I 2011:II 2011:III

Em

per

cent

agem

Empresas médias

-6.0

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

2010:I 2010:II 2010:III 2010:IV 2011:I 2011:II 2011:III

Em

per

cent

agem

Empresas grandes

-6.0

-4.0

-2.0

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

2010:I 2010:II 2010:III 2010:IV 2011:I 2011:II 2011:III

Em

per

cent

agem

Sociedades Gestoras de Participações Sociais

Crédito totalCrédito bancárioEmpréstimos totaisEmpréstimos bancários

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Taxas de variação homólogas dos saldos em fi m de período. Inclui empréstimos concedidos por residentes, exceto pelo

Tesouro e títulos na posse de residentes e de não residentes. As séries não se encontram ajustadas de operações de titularização,

reclassifi cações, abatimentos ao ativo e de reavaliações cambiais e de preço. Dados ajustados da transferência da carteira de crédito

do BPN para a Parvalorem em dezembro de 2010 e da integração da Totta IFIC no Banco Santander Totta em abril de 2011.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

126

I

Page 129: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Os empréstimos bancários com maturidade superior a 5 anos continuam a ser os que dão o maior

contributo para o crescimento dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras (Gráfi co 4.4.14). Apesar

desta situação, tem-se observado em 2011 um enfraquecimento dos empréstimos com prazos mais

longos e um aumento das taxas de variação registadas pelos empréstimos com prazos mais curtos. Os

descobertos bancários e empréstimos até 1 ano, que estavam a registar quedas em termos homólogos

desde o segundo semestre de 2009, registaram um ligeiro acréscimo no terceiro trimestre de 2011. Esta

evolução está em grande parte a ser determinada pelos empréstimos concedidos às empresas públicas,

os quais estão a registar uma aceleração muito acentuada nos prazos mais curtos e reduções nos prazos

mais longos, que continuam, contudo, a ter um maior peso no total.

De entre os principais setores de atividade, as maiores reduções dos empréstimos continuam a ser regis-

tadas na “Construção” e nas “Atividades imobiliárias”, setores que foram inicialmente mais diretamente

afetados pela atual crise (Quadro 4.4.4). Contudo, nestes setores, os empréstimos bancários têm registado

em 2011 reduções menores, em termos homólogos, do que as observadas no fi nal de 2010. Pelo contrário,

na maioria dos restantes setores de atividade, as taxas de crescimento dos empréstimos têm mantido

uma tendência de redução. Nos últimos meses, os empréstimos têm registado um enfraquecimento

particularmente notório nos setores das “Indústrias transformadoras” e do “Comércio por grosso e a

retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos”. Os empréstimos dos setores “Educação, saúde

e outras atividades de serviços sociais e pessoais” e “Atividades de consultoria técnicas e administrativas”

são os únicos que não têm registado uma tendência de desaceleração em 2011.

Segundo o Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito, o comportamento anémico dos empréstimos

às sociedades não fi nanceiras terá ocorrido num contexto de enfraquecimento da procura e de condições

gradualmente mais restritivas na concessão de crédito, em particular nos empréstimos de prazos mais

longos. Em linha com a evolução observada pelo investimento empresarial, as respostas ao inquérito

apontam para que a redução de necessidades de fi nanciamento do investimento seja o principal fator

para a redução da procura. Por sua vez, as necessidades de fi nanciamento das empresas associadas à

Gráfi co 4.4.14

CONTRIBUTOS DOS SEGMENTOS DE PRAZO CONTRATUAL PARA A TAXA DE VARIAÇÃO DO SALDO DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

-6

-3

0

3

6

9

12

15

-6

-3

0

3

6

9

12

15

Jan-03 Jan-04 Jan-05 Jan-06 Jan-07 Jan-08 Jan-09 Jan-10 Jan-11

Em

per

cent

agem

Em

pon

tos

perc

entu

ais

Empréstimos a mais de 5 anosEmpréstimos de 1 a 5 anosEmpréstimos até 1 ano, excluindo descobertosDescobertos bancáriosTaxa de variação homóloga do saldo dos empréstimos bancá-rios (esc. dir.)Taxa de variação anual do saldo dos empréstimos bancários (esc. dir.)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Os contributos referem-se ao saldo de empréstimos bancários contabilizados no ativo dos bancos, sem qualquer ajusta-

mento, para o qual a taxa de variação homóloga é apresentada. A taxa de variação anual dos empréstimos é calculada com base

na relação entre os saldos ajustados de operações de titularização e transações mensais calculadas a partir dos saldos corrigidos de

reclassifi cações, abatimentos ao ativo e reavaliações cambiais e de preço. Os descobertos bancários foram classifi cados como tendo

prazo inferior a um ano. Os valores apresentados encontram-se corrigidos tanto da venda da carteira de créditos do BPN à Parvalorem

como da passagem da Refer, Metro de Lisboa e Metro do Porto para o setor das administrações públicas através de uma estimativa

baseada em dados da CRC.

127

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 130: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

re-estruturação de dívida têm constituído praticamente o único fator a contribuir para um aumento da

procura. Ao longo dos três primeiros trimestres de 2011, os bancos inquiridos apontaram como prin-

cipais determinantes do acréscimo de restritividade, o aumento do custo do capital, a manutenção de

condições desfavoráveis no acesso ao fi nanciamento no mercado, riscos elevados associados à atividade

económica em geral e, de forma crescente desde o início do ano, um aumento dos riscos específi cos

das empresas. A maior exigência dos critérios de concessão de crédito tem-se traduzido num aumento

dos spreads, em simultâneo com um agravamento das restantes condições contratuais. De facto, de

acordo com os inquéritos aos empresários efetuados pelo INE, o crédito bancário tem sido apontado de

forma crescente como um dos fatores limitativos da atividade. A importância deste fator é bastante mais

acentuada na construção do que na indústria transformadora e nos serviços, setores onde tem vindo a

aumentar, mas de forma bastante mais limitada41.

O acréscimo na restritividade nos critérios de concessão de crédito está em linha com o aumento

signifi cativo registado desde fi nais de 2010 pelo diferencial entre as taxas de juro dos empréstimos às

sociedades não fi nanceiras e a Euribor a 6 meses (Gráfi co 4.4.15). Refi ra-se que este diferencial se situa

num nível mais elevado nos bancos domésticos do que nos bancos residentes não domésticos, embora

esteja a aumentar em ambos os casos.

A distribuição das taxas de crescimento dos empréstimos às sociedades não fi nanceiras revela, tal como

já acontecia no fi nal de 2010, uma bipolarização de comportamentos por parte das instituições de

crédito (Gráfi co 4.4.16). De facto, um número signifi cativo de instituições está a reduzir os empréstimos,

ao mesmo tempo que uma fração também importante das instituições mantém taxas de crescimento

moderadamente positivas.

41 Sobre este assunto ver “Capítulo 3 Situação fi nanceira dos particulares e sociedades não fi nanceiras”, deste Relató-

rio.

Quadro 4.4.4

EMPRÉSTIMOS CONCEDIDOS POR OUTRAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MONETÁRIAS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a) | DESAGREGAÇÃO SETORIAL, TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL EM FIM DE PERÍODO(b)

2007 2008 2009 2010 (c) Setembro 2011 (c)

Peso no total

Total 11.2 10.5 1.9 1.2 -0.2 100.0

Por setor de atividade:

Agricultura, produção animal, caça, fl oresta e pesca 17.6 23.4 5.6 6.1 2.3 1.8

Indústrias extrativas 4.6 9.4 1.4 -1.9 -4.3 0.4

Indústrias transformadoras 10.6 9.2 3.2 0.6 -1.2 12.9

Eletricidade, gás, vapor, água, gestão de resíduos e despoluição 11.8 49.6 9.6 9.3 1.4 4.2

Construção 10.8 3.1 0.7 -6.1 -4.2 20.5

Comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis

e motociclos 4.8 4.2 -2.6 1.1 -2.7 13.0

Transportes e armazenagem 9.9 20.8 5.0 11.8 5.6 6.6

Alojamento, restauração e similares 21.0 12.9 11.2 16.4 4.6 5.1

Atividades de informação e de comunicação 11.2 10.3 6.1 19.4 3.1 1.2

Atividades das SGPS não fi nanceiras 21.5 15.5 2.3 8.4 4.4 10.1

Atividades imobiliárias 15.0 13.8 1.4 -5.1 -3.0 13.6

Atividades de consultoria técnicas e administrativas 3.5 8.7 -7.4 -2.1 4.9 6.5

Educação, saúde e outras atividades de serviços sociais e pessoais 11.0 13.7 15.7 4.8 5.6 4.0

Outras atividades de serviços 110.7 149.7 96.1 804.6 4.3 0.1

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) São considerados os empréstimos concedidos por outras instituições fi nanceiras monetárias, sendo a afetação dos em-

préstimos por setor de atividade estimada com base na estrutura da Central de Responsabilidades de Crédito. (b) As taxas de varia-

ção são calculadas com base na relação entre saldos de empréstimos bancários em fi m de período e transações calculadas a partir de

saldos corrigidos de reclassifi cações. São igualmente ajustados de operações de titularização e corrigidos de abatimentos ao ativo e

reavaliações cambiais e de preço. (c) As taxas de variação anual de dezembro de 2010 e de setembro de 2011 foram corrigidas do

efeito causado pela venda da carteira de créditos do BPN através de uma estimativa baseada na variação do total de empréstimos do

banco e das reclassifi cações efetuadas em cada setor.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

128

I

Page 131: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 4.4.15 Gráfi co 4.4.16

TAXA DE JURO DE EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DA TAXA DE VARIAÇÃO ANUAL DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11

Em

pon

tos

perc

entu

ais

Em

per

cent

agem

Euribor a 6 meses

Taxa de juro de saldos de empréstimos bancários

Diferencial (esc. dir.)

-20 -16 -12 -8 -4 0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48

Taxa de variação anual dos empréstimos

Set 10

Set 11

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Notas: Taxas e diferencial referentes a saldos em fi m de perío-

do. Os fi nais de ano encontram-se sublinhados. Até dezembro

de 2002, as taxas de saldos são estimativas. O diferencial é cal-

culado como a diferença entre a taxa sobre saldos e a média

móvel de 6 meses da Euribor a 6 meses.

Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano

que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.

Aumento generalizado da materialização do risco de crédito das sociedades não fi nanceiras

por setor de atividade e dimensão das exposições

A forte contração da atividade económica está a contribuir para que a materialização do risco de crédito

das sociedades não fi nanceiras continue a aumentar para níveis muito elevados (Gráfi co 4.4.17). Os

créditos vencidos e de cobrança duvidosa no balanço dos bancos, corrigidos da venda da carteira de

crédito do BPN que ocorreu em dezembro de 2010, representavam 6.4 por cento do total de empréstimos

concedidos às sociedades não fi nanceiras em setembro de 2011 (4.7 por cento no fi nal de 2010). Por

sua vez, o fl uxo de novos créditos em incumprimento, depois de ter registado uma redução entre fi nais

de 2009 e o terceiro trimestre de 2010, tem mantido uma tendência de aumento em 2011.

A deterioração dos indicadores de incumprimento tem sido comum aos diferentes graus de exposição

(Quadro 4.4.5). De acordo com os dados disponíveis até setembro de 2011, o rácio do crédito vencido

tem continuado a aumentar na generalidade das exposições, mantendo valores mais reduzidos nas

grandes exposições. A percentagem de devedores com incumprimento, que até ao fi nal de 2010 estava

a registar acréscimos mais acentuados no caso das exposições mais reduzidas, tem registado em 2011

acréscimos signifi cativos nas exposições mais elevadas, embora permaneça num nível inferior ao das

restantes exposições. Por dimensão das empresas, regista-se igualmente um acréscimo generalizado

da materialização do risco de crédito, embora as empresas de maior dimensão mantenham rácios de

incumprimento signifi cativamente inferiores aos das empresas mais pequenas (Quadro 4.4.6). Indepen-

dentemente da dimensão das empresas, os indicadores de incumprimento apresentam valores mais

reduzidos no caso do crédito concedido por bancos do que no caso dos empréstimos concedidos por

outras instituições fi nanceiras não bancárias, o que deverá refl etir o diferente nível de risco de crédito

dos devedores dos dois tipos de instituições.

Por setor de atividade, continua igualmente a registar-se um aumento generalizado dos rácios de incum-

primento no crédito concedido pelo setor bancário (Gráfi co 4.4.18). Este acréscimo foi particularmente

129

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 132: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Quadro 4.4.5

INDICADORES DE INCUMPRIMENTO DO CRÉDITO A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS | POR DIMENSÃO DAS

EXPOSIÇÕES(a), EM PERCENTAGEM

2008 2009 2009 2009 2010 2010 2010 2011 2011

Dez. Jun. Set. Dez. Jun. Set. Dez. Jun. Set.

Exposição total

Número de devedores com incumprimento(b) 16.3 18.5 18.6 18.7 19.7 19.9 19.9 22.0 23.0

Crédito e juros vencidos(c) 2.4 4.0 4.4 4.1 4.7 5.1 5.1 6.1 7.2

Exposições de montante superior ao percentil 90(d)

Número de devedores com incumprimento(e) 11.5 15.7 15.9 14.3 16.0 16.4 15.6 19.2 21.8

Crédito e juros vencidos(f) 1.8 3.5 3.9 3.6 4.1 4.5 4.5 5.5 6.6

das quais: exposições de montante superior ao percentil 99(d)

Número de devedores com incumprimento(e) 9.2 13.8 13.8 11.4 13.2 13.7 12.5 16.8 19.8

Crédito e juros vencidos(f) 0.9 2.6 2.9 2.3 2.6 2.9 2.9 3.6 4.5

das quais: exposições de montante superior ao percentil 99.5(d)

Número de devedores com incumprimento(e) 7.6 13.0 12.4 9.3 11.8 12.0 10.7 15.4 17.9

Crédito e juros vencidos(f) 0.6 2.4 2.6 2.0 2.1 2.4 2.4 3.0 3.6

das quais: exposições de montante superior ao percentil 99.9(d)

Número de devedores com incumprimento(e) 6.3 11.3 10.9 7.1 7.8 9.1 6.2 10.7 11.6

Crédito e juros vencidos(f) 0.3 2.0 1.9 1.4 0.9 1.2 1.3 1.3 1.7

Exposições de retalho(g)

Número de devedores com incumprimento(e) 16.8 18.8 18.9 19.1 20.1 20.3 20.3 22.3 23.1

Crédito e juros vencidos(f) 5.8 7.3 7.9 7.8 8.7 9.0 9.2 10.5 11.6

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Inclui crédito concedido por

bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades

de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros residentes. Inclui

também crédito concedido (ou detido) por entidades que não pertencem ao sistema fi nanceiro, nomeadamente pela Parvalorem,

pelo Instituto de Turismo de Portugal e desde setembro de 2011 por algumas sociedades de recuperação de crédito. Apenas as

exposições face a uma determinada instituição fi nanceira superiores a 50 euros foram consideradas e foram excluídas as linhas de

crédito não utilizadas. Considerou-se que uma determinada sociedade não fi nanceira se encontra em situação de incumprimento

se o montante de crédito vencido for superior a 0.5 por cento da sua exposição face ao sistema fi nanceiro. (b) Em percentagem do

número de sociedades não fi nanceiras com dívidas a instituições fi nanceiras participantes na CRC. (c) Em percentagem do crédito

total concedido por instituições fi nanceiras participantes na CRC a sociedades não fi nanceiras residentes. (d) Percentis defi nidos com

base no número de empresas ordenadas segundo o montante da exposição total. (e) Em percentagem do número de devedores

desta carteira. (f) Em percentagem do crédito total desta carteira. (g) Exposições cujos montantes são menores do que o limite

inferior das grandes exposições. Correspondem a 90 por cento das empresas com dívida junto das instituições participantes na CRC.

Gráfi co 4.4.17

INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a)

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

Jan-99 Jan-01 Jan-03 Jan-05 Jan-07 Jan-09 Jan-11

Em

per

cent

agem

Em

per

cent

agem

Rácio incumprimento(b)Fluxo anual de novos empréstimos vencidos e de cobrança duvidosa (esc.dir.)(c)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Valores corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem e da passagem da Refer, Metro de Lisboa

e Metro do Porto para o setor das Administrações Públicas. (b) Defi nido como os empréstimos vencidos há mais de 30 dias e outros

de cobrança duvidosa em percentagem do saldo dos empréstimos ajustado de titularização. (c) A estimativa do fl uxo anual de novos

empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa é apresentada em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização,

sendo calculada ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo,

das reclassifi cações e, a partir de dezembro de 2005, das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de

cobrança duvidosa não abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme a Instrução do Banco de Portugal nº17/2008.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

130

I

Page 133: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

acentuado nos setores “Construção” e “Atividades imobiliárias”, os quais registam, em simultâneo

com os setores “Comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos”,

“Indústrias transformadoras” e “Indústrias extrativas”, um nível de incumprimento superior à média

das sociedades não fi nanceiras.

Os bancos terão de continuar a aumentar as dotações/imparidades para perdas na carteira de

crédito

Num contexto de perspetivas de uma forte contração da atividade económica em Portugal durante o

próximo ano, que deverá ter um impacto muito negativo sobre a situação fi nanceira das famílias e das

empresas, é de esperar que se continue a registar um acréscimo generalizado da materialização do risco

de crédito. Nestas circunstâncias, assume particular importância que os bancos continuem a aumentar

as dotações de imparidades/provisões para perdas na carteira de crédito, de forma a assegurar que os

rácios de cobertura do crédito em risco não se reduzam. Em simultâneo, não obstante o cenário macro-

económico desfavorável enfrentado pela economia portuguesa e o necessário processo de ajustamento

dos vários setores para níveis de endividamento mais sustentáveis, é importante que a desalavancagem

do setor fi nanceiro se continue a processar de uma forma gradual, não pondo em causa o fi nanciamento

dos setores mais produtivos da economia.

Quadro 4.4.6

INDICADORES DE INCUMPRIMENTO DOS EMPRÉSTIMOS A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS, POR DIMENSÃO DAS EMPRESAS E TIPO DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA(a) | EM PERCENTAGEM

2009 2010 2010 2010 2010 2011 2011 2011 Peso dos empréstimos no total (%)

(Set-11)Dez. Mar. Jun. Set. Dez. Mar. Jun. Set.

Número de devedores com incumprimento(b)

Empréstimos concedidos por IFM 17.8 18.5 18.7 18.9 18.4 19.9 20.7 21.6

Micro-empresas 18.4 19.1 19.3 19.4 18.9 20.3 21.4 22.2

Pequenas empresas 15.2 16.3 16.9 17.2 16.7 18.3 18.3 19.2

Médias empresas 14.8 15.8 16.3 16.3 16.3 18.1 18.3 19.0

Grandes empresas 11.0 11.2 11.7 9.9 8.2 9.9 11.9 12.1

Empréstimos concedidos por IFNM 19.0 19.8 20.3 21.0 21.8 22.8 26.7 28.0

Micro-empresas 20.2 20.8 21.3 22.0 22.9 23.9 28.6 29.8

Pequenas empresas 16.5 17.6 18.2 19.0 19.6 20.6 23.3 24.7

Médias empresas 15.6 17.3 18.1 18.5 18.6 19.2 21.5 22.3

Grandes empresas 9.7 11.2 12.2 12.7 9.5 12.5 12.7 12.9

Crédito e juros vencidos(c)

Empréstimos concedidos por IFM 4.0 4.4 4.5 5.0 4.3 4.9 5.2 6.0 100.0

Micro-empresas 5.8 6.3 6.8 7.4 6.5 7.2 8.1 9.2 35.2

Pequenas empresas 3.9 4.5 4.6 4.9 4.5 5.1 5.0 6.0 24.7

Médias empresas 3.1 3.3 3.2 3.8 2.9 3.5 3.8 4.2 24.5

Grandes empresas 1.4 1.0 1.0 1.2 1.1 1.2 1.4 1.6 15.6

Empréstimos concedidos por IFNM 9.3 9.7 9.9 10.3 10.4 11.1 14.7 15.5 100.0

Micro-empresas 13.1 13.6 13.7 13.8 14.2 15.1 20.7 22.0 32.2

Pequenas empresas 11.3 12.0 12.9 13.5 14.2 14.4 17.7 19.2 25.9

Médias empresas 8.0 8.8 9.4 10.2 9.6 10.5 12.4 12.1 24.7

Grandes empresas 1.9 1.9 1.0 1.2 1.0 1.3 1.9 2.6 17.1

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Indicadores baseados na informação da Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Inclui crédito concedido por

bancos, caixas económicas, caixas de crédito agrícola mútuo, instituições fi nanceiras de crédito, sociedades de factoring, sociedades

de locação fi nanceira, sociedades emitentes ou gestoras de cartões de crédito e outros intermediários fi nanceiros residentes. Não

inclui crédito concedido a Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS). (b) Em percentagem do número de sociedades não

fi nanceiras com dívidas a Instituições Financeiras Monetárias (IFM) ou Instituições Financeiras não Monetárias (IFNM) participantes na

CRC. (c) Em percentagem do crédito total concedido por IFM ou IFNM participantes na CRC a sociedades não fi nanceiras residentes.

131

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 134: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

Gráfi co 4.4.18

RÁCIOS DE INCUMPRIMENTO NOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS ÀS SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS(a) POR SETOR DE ATIVIDADE

0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0

Alojamento e restauração Set-11Dez-10

SGPS não financeiras Set-11Dez-10

Indústrias transformadoras Set-11Dez-10

Comércio e reparação de veículos Set-11Dez-10

At. imobiliárias Set-11Dez-10

Construção Set-11Dez-10

Total Set-11Dez-10

Pontos percentuais

0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0

Outros serviços Set-11Dez-10

Eletricidade, gás, vapor, água Set-11Dez-10

Indústrias extrativas Set-11Dez-10

Informação e comunicação Set-11Dez-10

Agricultura, produção animal, etc Set-11Dez-10

Educação, saúde, etc Set-11Dez-10

Transportes e armazenagem Set-11Dez-10

Consultoria técnicas e administrativas Set-11Dez-10

j ç

Em percentagem

Rácio de incumprimentoContributo para o rácio de incumprimento das SNF (escala superior)

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Valores corrigidos da carteira de crédito vendida pelo BPN. As correções setoriais foram estimadas com base na diferença

entre a posição do banco no mês de novembro e de dezembro de 2010 e ajustados pelo montante das reclassifi cações efetuadas em

cada setor. Os rácios de incumprimento correspondem aos empréstimos vencidos há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa

em percentagem do saldo dos empréstimos.

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

132

I

Page 135: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

133

4

Sist

ema

Banc

ário

4.5. Adequação de fundos próprios42

No fi nal de junho de 2011, o rácio Core Tier 143 médio do sistema bancário português registou um

acréscimo signifi cativo face a dezembro de 2010 (0.5 pontos percentuais), situando-se em 8.6 por cento

(7.9 por cento incluindo BPN44) (Quadro 4.5.1). Esta evolução traduz o esforço de cumprimento do rácio

mínimo de 9 por cento a partir do fi nal do ano (10 por cento a partir do fi nal de 2012), defi nido na

sequência do Programa de Assistência Económica e Financeira45, que reviu em alta o mínimo de 8 por

cento estipulado pelo Banco de Portugal no início de abril. Em particular, refi ra-se o impacto conside-

rável no rácio total do sistema do aumento de capital efetuado por um dos principais grupos bancários

portugueses e a adoção, pela generalidade dos bancos, de uma política moderada de distribuição de

dividendos no seguimento de uma recomendação efetuada pelo Banco de Portugal.

Ainda que a convergência para os novos requisitos de capital tenha sido efetuada a um bom ritmo no

primeiro semestre, as medidas de caráter prudencial defi nidas no Conselho Europeu de 26 de Outubro,

sob proposta da European Banking Authority (EBA), deverão exigir aos quatro maiores grupos bancários

portugueses um assinalável esforço de capitalização46, estimado, a título preliminar, em aproximadamente

7.8 mil milhões euros, a concretizar até ao fi nal de junho de 201247. Dada a magnitude dos montantes

envolvidos, a capacidade de geração de fundos próprios através da retenção de resultados e da alie-

nação de ativos afi gura-se insufi ciente para assegurar o cumprimento das novas exigências de capital.

Adicionalmente, o facto de estas medidas implicarem um reforço dos capitais num conjunto alargado

de bancos de países da área do euro que concorrem entre si na atração de investidores internacionais,

deverá também difi cultar a obtenção de recursos por parte dos bancos portugueses através de soluções

privadas de mercado. Em todo o caso, o fundo de apoio ao reforço de capital dos bancos, no montante

de 12 mil milhões de euros, criado no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira,

será sufi ciente para suprir eventuais necessidades de capitalização dos bancos portugueses. As novas

exigências de capital regulamentar tiveram por objetivo explícito contribuir para reforçar a solidez das

instituições fi nanceiras europeias, incrementar a sua capacidade para fazer face a choques adversos e

conter o aumento do risco sistémico provocado pelo agudizar da crise da dívida soberana na área do

euro. No que se refere especifi camente aos bancos portugueses, a eventual transferência parcial dos

fundos de pensões dos bancos para a Segurança Social e os resultados das inspeções on-site à qualidade

dos ativos dos bancos deverão resultar em deduções adicionais aos fundos próprios, a serem efetuadas,

previsivelmente, até ao fi nal de junho de 2012.

42 O conjunto de instituições analisado nesta secção difere do considerado nas secções anteriores, na medida em que foram excluídas as sucursais de grupos fi nanceiros com sede em países membros da União Europeia.

43 O rácio Core Tier 1 é apurado através do quociente entre o conjunto de fundos próprios designado de “core” e as posições ponderadas em função do risco. O conjunto de fundos próprios “core” compreende o capital de melhor qualidade da instituição, em termos de permanência e capacidade de absorção de prejuízos, deduzido de eventuais prejuízos e de certos elementos sem valor de realização autónomo, numa perspetiva de continui-dade da atividade de uma instituição. As posições ponderadas em função do seu risco representam uma medida dos riscos decorrentes da atividade fi nanceira, designadamente dos riscos de crédito, de mercado (incluindo requisitos mínimos de fundos próprios associados aos riscos cambial e da carteira de negociação) e operacional. Em Portugal, a medida de Core Tier 1 tem por base as regras de Basileia III aplicáveis em 2013 para a defi ni-ção do Common Equity Tier 1, i.e. antes da aplicação do regime transitório para determinadas deduções. Em particular, não inclui a dedução relativa a participações em instituições fi nanceiras que não consolidam, nem a dedução relativa a ativos por impostos diferidos. O cálculo do rácio Core Tier 1 é defi nido no Aviso nº1/2011 do Banco de Portugal.

44 Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril 2010, deixando, a partir dessa data, de ser incluído no universo de instituições bancárias.

45 De acordo com o Aviso nº3/2011 do Banco de Portugal.

46 Aqueles que, pela sua dimensão, foram integrados nos exercícios de stress test da EBA e que, por isso, são diretamente abrangidos pelas suas deliberações.

47 A análise das medidas de reforço de capital anunciadas no Conselho Europeu de 26 de Outubro é efetuada na “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e perspetivas para 2012”, deste Relatório.

Page 136: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

134

I

Retenção de resultados dos bancos contribui positivamente para a evolução dos fundos

próprios de base

No primeiro semestre de 2011, os fundos próprios de base registaram um ligeiro aumento (Gráfi co

4.5.2), o que se traduziu numa melhoria dos rácios Tier 1 e Core Tier 1 para 9.3 e 8.6 por cento, respe-

tivamente. Para esta evolução contribuiu positivamente a incorporação dos resultados não distribuídos,

assim como a diminuição das deduções associadas à detenção de participações não qualifi cadas em

instituições fi nanceiras e sociedades de seguro. Em sentido contrário, observou-se um aumento dos

elementos negativos, justifi cado, em larga medida, pela deterioração da posição fi nanceira dos fundos

Quadro 4.5.1

ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS | EM BASE CONSOLIDADA, EM MILHÕES DE EUROS

2009 2010 2011

Jun. Dez. Jun. Dez. Jun.

1. Fundos próprios

1.1. Fundos próprios de base totais para efeitos de solvabilidade 23 904 25 572 26 124 27 099 27 608

1.1.1. Fundos próprios de base (brutos) 25 233 27 000 27 416 29 015 29 258

dos quais: Elementos non core 3 819 4 656 4 560 4 952 3 700

1.1.2. Deduções aos fundos próprios de base 1 329 1 427 1 292 1 916 1 649

1.2. Fundos próprios complementares totais para efeitos de solvabilidade 9 646 9 049 8 385 7 293 6 412

1.2.1. Fundos próprios complementares (brutos) 10 861 10 352 9 593 8 940 7 658

1.2.2. Deduções aos fundos próprios complementares 1 215 1 303 1 207 1 647 1 246

1.3. Deduções aos fundos próprios totais 1 284 386 1 672 702 1 178

1.4. Fundos próprios suplementares totais disponíveis para cobertura de riscos de mercado 34 0 0 0 0

Total dos fundos próprios 32 300 34 235 32 837 33 690 32 843

2. Requisitos de fundos próprios

2.1. Requisitos de FP para risco de crédito, risco de crédito de contraparte e transações incompletas 22 898 23 571 23 453 23 402 23 294

2.2. Risco de liquidação 1 0 0 0 0

2.3. Requisitos de fundos próprios para riscos de posição, riscos cambiais e riscos de mercadorias 711 759 855 874 772

2.4. Requisitos de fundos próprios para risco operacional 1 732 1 795 1 765 1 818 1 819

2.5. Requisitos de fundos próprios - Despesas gerais fi xas 5 5 4 4 5

2.6. Grandes riscos - Carteira de negociação 0 0 0 0 0

2.7. Requisitos transitórios de fundos próprios ou outros requisitos de fundos próprios 0 0 0 0 0

Total dos requisitos de fundos próprios 25 346 26 130 26 077 26 098 25 891

3. Rácios (em percentagem)

3.1. Fundos próprios/Requisitos totais 127.4 131.0 125.9 129.1 126.9

3.2. Fundos próprios/(Requisitos totais x 12.5) 10.2 10.5 10.1 10.3 10.1

3.3. Fundos próprios de base/(Requisitos totais x 12.5) 7.5 7.8 8.0 8.3 8.5

3.4. Rácio Core Tier I(a) 6.8 6.9 7.0 7.4 7.9

Por memória:

Rácios de capital excluindo BPN e BPP(b)

Fundos próprios/Requisitos totais 141.4 145.3 136.5 139.1 137.1

Fundos próprios/(Requisitos totais x 12.5) 11.3 11.6 10.9 11.1 11.0

Fundos próprios de base/(Requisitos totais x 12.5) 8.6 8.9 8.8 9.1 9.3

Rácio Core Tier I(a) 7.8 7.9 7.8 8.1 8.6

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Calculado como o rácio entre (fundos próprios de base subtraídos de elementos non core) e (requisitos totais x 12.5). (b) A partir de 2010 apenas se excluiu o BPN, uma vez que o BPP entrou em liquidação em abril de 2010 , deixando a partir dessa data de ser incluído no universo de instituições bancárias.

Page 137: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

135

4

Sist

ema

Banc

ário

de pensões dos empregados bancários, num contexto de fortes perturbações nos mercados fi nanceiros

internacionais48. Por seu turno, dado o fi ltro prudencial aplicável às variações de valor dos títulos de

dívida classifi cados na carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para venda49, as desvalorizações dos

títulos de dívida pública detidos pelos bancos tiveram um impacto relativamente reduzido sobre o capital

regulamentar, em junho. Importa ainda salientar que o aumento de capital referido anteriormente,

concretizado maioritariamente através de oferta pública de troca de dívida subordinada perpétua por

ações ordinárias da instituição, teve um impacto neutro nos fundos próprios de base, contribuindo

apenas para o reforço do rácio Core Tier 1 (substituição de elementos non-core por elementos core).

No mesmo período, os fundos próprios totais registaram um decréscimo de 2.5 por cento, o que se

refl etiu numa ligeira deterioração do rácio de adequação global de fundos próprios do sistema bancário

português para 10.1 por cento. Para esta evolução contribuiu sobretudo a redução dos fundos próprios

complementares, em resultado da diminuição da rubrica de empréstimos subordinados e das provisões

para riscos gerais de crédito. Em particular, refi ra-se a concretização de algumas operações de recompra

de obrigações próprias por parte dos bancos – benefi ciando do desconto face ao valor de emissão com

que as mesmas transacionavam no mercado secundário – e que contribuíram para o reforço do rácio

Core Tier 1 (via aumento dos resultados). Deste modo, a crescente importância atribuída recentemente

a elementos de capital de maior qualidade, nomeadamente em termos de permanência e capacidade

de absorção de prejuízos, e a aplicação de medidas prudenciais mais exigentes no contexto europeu,

enquadram a ligeira redução verifi cada nos fundos complementares que apresentam uma tendência

descendente desde o fi nal de 2008.

48 Note-se que, paralelamente à deterioração da posição fi nanceira atual dos fundos de pensões, na sequência da aplicação do Aviso nº11/2008 do Banco de Portugal continuam a ser reconhecidas nos fundos próprios parte das perdas atuariais registadas em 2008.

49 De acordo com alínea d) do Artº 10 do Aviso nº6/2010 do Banco de Portugal, na determinação dos fundos próprios de base devem excluir-se os ganhos e as perdas não realizados, que não representem imparidade, em títulos de dívida, créditos e outros valores a receber classifi cados como ativos fi nanceiros disponíveis para venda.

Gráfi co 4.5.1 Gráfi co 4.5.2

ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS

DECOMPOSIÇÃO DOS FUNDOS PRÓPRIOS DE BASE

6.0

7.0

8.0

9.0

10.0

11.0

12.0

Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Jun-11

Em

per

cent

agem

Rácio Core Tier 1Rácio de adequação de fundos próprios de base, Tier 1Rácio de adequação global de fundos próprios

-10 000

-5 000

0

5 000

10 000

15 000

20 000

25 000

30 000

35 000

Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Jun-11E

m m

ilhõe

s de

eur

os

Capital elegível Interesses minoritáriosOutros elementos positivos Elementos negativosDeduções ao FP de Base Total

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Nota: As séries apresentadas excluem os bancos BPN e BPP. Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril de 2010 , deixando a partir dessa data de ser incluído no universo de ins-tituições bancárias.

Page 138: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

136

I

Estabilização dos requisitos de fundos próprios no primeiro semestre, em linha com o

abrandamento da atividade do sistema bancário

Em junho de 2011, os requisitos de fundos próprios permaneceram virtualmente inalterados face ao

fi nal de 2010, em consonância com o abrandamento da atividade dos bancos, quer a nível da carteira de

crédito a clientes, quer da carteira de ativos fi nanceiros (Quadro 4.5.1). De facto, apesar da forte dete-

rioração das condições monetárias e fi nanceiras da economia portuguesa, os ativos do sistema bancário

ponderados pelo risco estagnaram neste período. Contudo, no que se refere aos riscos de crédito, de

contraparte e transações incompletas – a principal componente dos requisitos de fundos próprios –, é

de sublinhar o aumento dos requisitos associados ao crédito a Administrações Regionais e Locais e a

crédito vencido. No primeiro caso, esta evolução deverá estar relacionada com os downgrades do rating

da República Portuguesa que afetaram os ponderados de risco associados às instituições na esfera do

Estado e, de modo geral, os créditos garantidos pelo Estado.

Reforço generalizado do rácio Core Tier 1 no primeiro semestre

O rácio Core Tier 1 do sistema bancário português registou um acréscimo signifi cativo no primeiro

semestre, situando-se em 8.6 por cento no fi nal de junho, em linha com a necessidade de convergência

para o objetivo de 9 por cento defi nido no Programa de Assistência Económica e Financeira, a ser atin-

gido a partir de dezembro de 2011. A melhoria do rácio Core Tier 1 foi transversal à maior parte das

instituições bancárias, ainda que se observe uma ligeira diminuição do rácio de três dos oito maiores

grupos bancários portugueses, sendo que um destes se encontra numa posição confortável para o

cumprimento do referido objetivo (Gráfi co 4.5.3). Note-se que as instituições de menor dimensão – na

sua grande maioria fi liais e sucursais de grandes bancos estrangeiros – apresentam, regra geral, níveis

de solvabilidade superiores à média do sistema bancário.

Numa perspetiva estritamente contabilística, observou-se uma diminuição do rácio entre os capitais

próprios e total do ativo, mesmo quando excluídas as componentes intangíveis (designadamente as

diferenças de consolidação negativas – Goodwill) (Gráfi co 4.5.4). Esta evolução refl ete sobretudo o

Gráfi co 4.5.3 Gráfi co 4.5.4

EVOLUÇÃO DO RÁCIO CORE TIER 1 DOS BANCOS PORTUGUESES | Em percentagem

RÁCIO ENTRE CAPITAL E ATIVO

9.0

10.0

11.0

12.0

13.0

o 2

011

5.0

6.0

7.0

8.0

5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 12.0 13.0

Jun

ho

Oito maiores grupos bancáriosOutros grupos bancários (agregado)Média sistema bancário

Dezembro 2010

4.0

4.5

5.0

5.5

6.0

6.5

7.0

7.5

8.0

Jun-08 Dez-08 Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Jun-11

Em

per

cent

agem

Capital/AtivoCapital Tangível/Ativo Tangível

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Notas: As séries apresentadas excluem os bancos BPN e BPP. Note-se que o BPP entrou em liquidação em abril de 2010, deixando, a partir dessa data, de ser incluído no universo de instituições bancárias.

Page 139: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

137

4

Sist

ema

Banc

ário

impacto da desvalorização dos títulos de dívida da carteira de ativos fi nanceiros disponíveis para venda

que, embora não sendo considerada para efeitos prudenciais, afetou negativamente os capitais próprios

dos bancos, a nível contabilístico. Note-se que este rácio não discrimina os ativos dos bancos em função

do risco que lhes está associado, distinguindo-se, por isso, do rácio utilizado, para fi ns prudenciais, como

medida de adequação de capital. No entanto, a sua utilização como ferramenta de análise complementar

é cada vez mais pertinente, atendendo a que os rácios Core Tier 1 dos bancos podem resultar da utili-

zação de modelos internos de avaliação de risco (na terminologia anglosaxónica, Internal Ratings Based

approach-IRB) no cálculo dos requisitos de fundos próprios que constituem um fator de enviesamento

na comparação entre bancos, em especial a nível internacional.

O gráfi co 4.5.5 apresenta uma comparação dos principais grupos bancários portugueses com um

painel de grandes bancos europeus em termos de Core Tier 1 e de peso dos ativos ponderados pelo

risco no total do balanço. No quadrante A encontram-se os bancos com rácios Core Tier 1 bastante

elevados, associados ao facto de mitigarem fortemente o risco dos seus ativos. No quadrante oposto,

D, encontram-se os bancos que são penalizados em termos de Core Tier 1 pelo facto de ponderarem

mais em termos de risco o ativo dos seus balanços. Este é o caso dos bancos portugueses que, apesar

de apresentarem rácios de capital sobre o ativo relativamente elevados, comparam mal, em termos de

capital regulamentar a nível europeu, pelo facto de utilizarem em menor proporção modelos IRB no

cálculo dos ativos ponderados pelo risco. Em Portugal apenas três grupos bancários utilizam modelos

desenvolvidos internamente, contrariamente ao que acontece nos países do Centro e do Norte da Europa,

onde a adoção de modelos IRB é mais generalizada. Através de um exercício de simulação conclui-se

que uma redução de 25 por cento nos ativos ponderados pelo risco dos principais bancos portugueses

(para valores mais próximos da média dos bancos europeus) permitiria a cada um atingir um rácio Core

Tier 1 superior 10 por cento, tendo por base os valores observados em junho de 2011.

Gráfi co 4.5.5

RÁCIO CORE TIER 1 VS ATIVO PONDERADO PELO RISCO/ATIVO | POSICIONAMENTOS DOS BANCOS PORTUGUESES

NO CONTEXTO EUROPEU (JUNHO 2011)

0.12

0.14

0.16

0.18

e T

ier

1

Bancos EuropeusBancos Portugueses

A B

0.04

0.06

0.08

0.1

0.1 0.3 0.5 0.7 0.9

Rác

io C

or

C D

Ativo ponderado pelo risco/Ativo

Fonte: Banco de Portugal.

Page 140: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se
Page 141: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

CAIXA 4.1 | SITUAÇÃO FINANCEIRA DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS DO SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS NO TERCEIRO TRIMESTRE DE 20111

De acordo com a informação disponível para os seis maiores grupos bancários portugueses, no terceiro

trimestre de 2011 a atividade do sistema bancário, medida pelo ativo total em base consolidada, perma-

neceu virtualmente inalterada (Quadro 1). De facto, após a signifi cativa queda registada no primeiro

trimestre, justifi cada pela diminuição da carteira de ativos fi nanceiros e pela concretização de operações

de venda de créditos em montante signifi cativo, o balanço dos bancos estabilizou nos trimestres seguintes.

No terceiro trimestre, a ligeira diminuição observada na carteira de crédito líquido a clientes refl ete, em

parte, um aumento das imparidades associadas à carteira de crédito, não existindo evidência de uma

retração signifi cativa na concessão de novo crédito. É também de salientar um signifi cativo aumento

da materialização do risco de crédito neste período, consubstanciado num crescimento de aproxima-

damente 11 por cento da carteira de crédito vencido. No que se refere à carteira de ativos fi nanceiros,

1 O total do ativo dos seis grupos bancários analisados na presente caixa (Caixa Geral de Depósitos, Espírito Santo Financial Group, Banco Comercial Português, Banco BPI, Santander Totta e a Caixa Económica Montepio Geral) representava cerca de 77 por cento do ativo do sistema bancário português em junho de 2011. De modo a neutralizar o impacto da integração do Finibanco na Caixa Económica Montepio Geral, foram revistos os dados anteriores a 2011, que passaram a incluir aquela instituição.

Quadro 1

BALANÇO DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS | Base consolidada

Estrutura(em percentagem do

activo)

Taxas de variação homóloga (em percentagem)

Taxas de variação trimestral

(em percentagem)

2009 2010 2011 2010 2011 2011

Dez. Dez. Set. Set. Dez. Mar. Jun. Set. Mar. Jun. Set.

Disponibilidades e aplicações em Bancos Centrais 3.3 2.1 1.9 -25.0 -32.5 -31.6 -12.4 13.9 -14.1 3.1 -2.2

Disponibilidades e aplicações em outras instituições de crédito 5.6 3.2 3.4 -21.3 -39.6 -38.4 -23.2 -23.1 -2.2 3.4 2.0

Títulos, derivados e participações 15.8 19.7 18.3 28.9 29.7 3.6 -2.8 -5.4 -9.2 -1.4 0.6

Crédito a clientes líquido 63.5 60.0 59.6 3.0 -1.8 -4.4 -8.1 -6.8 -2.8 -0.2 -0.5

Ativos titularizados e não desreconhecidos 6.7 9.6 10.4 3.5 47.6 49.8 55.8 39.5 7.4 -0.4 -1.5

Ativos tangíveis e intangíveis 1.0 1.0 1.0 -23.6 -0.8 -0.1 -3.4 0.9 1.5 -2.9 1.1

Outros ativos 4.2 4.4 5.4 21.4 10.7 0.8 5.6 14.0 -1.0 10.6 7.9

Total do ativo 100.0 100.0 100.0 5.3 3.9 -1.4 -3.0 -2.5 -3.2 0.2 0.1

Recursos de bancos centrais 3.8 9.9 10.7 272.6 169.5 132.1 5.2 9.1 -8.3 10.6 4.1

Recursos de outras instituições de crédito 7.3 7.3 5.9 -1.4 3.1 -5.7 -23.7 -19.2 -1.3 -21.2 0.9

Recursos de clientes e outros empréstimos 45.2 46.4 51.1 7.6 6.7 7.4 11.5 8.1 -0.1 5.0 1.9

Responsabilidades representadas por títulos 27.1 20.1 17.1 -18.6 -23.1 -31.1 -24.3 -21.7 -7.7 -4.8 -6.2

Passivos subordinados 2.5 2.1 1.4 -10.4 -12.8 -17.5 -25.7 -37.2 -8.8 -13.8 -15.9

Outros passivos 7.1 7.5 7.7 -3.1 9.3 -5.1 -3.2 7.0 -5.6 0.9 5.1

Capitais próprios 6.9 6.8 6.1 3.2 1.8 -2.4 -4.7 -12.0 -1.3 -6.9 -5.3

Total do passivo e capital 100.0 100.0 100.0 5.3 3.9 -1.4 -3.0 -2.5 -3.2 0.2 0.1

Por memória:

Crédito a clientes incluindo operações de titularização não desreconhecidas 72.0 71.4 72.1 3.3 3.1 1.0 -2.0 -1.6 -1.6 0.1 -0.3

Fonte: Banco de Portugal.

139

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 142: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

a desvalorização generalizada dos títulos de dívida e de capital detidos pelos bancos foi compensada

pela valorização de instrumentos derivados da carteira de ativos fi nanceiros detidos para negociação.

No terceiro trimestre, manteve-se a tendência de recomposição da estrutura de fi nanciamento dos

bancos, sendo de destacar o aumento dos recursos de clientes sob a forma de depósitos por contra-

partida da diminuição das responsabilidades representadas por títulos. Adicionalmente, registou-se uma

diminuição da rubrica de passivos subordinados, que continuou a refl etir a concretização de operações

de recompra de obrigações próprias por parte dos bancos, benefi ciando do desconto face ao valor de

emissão com que as mesmas transacionam no mercado secundário. O facto de estes títulos não serem

elegíveis para o cumprimento das novas metas de adequação de capital (em termos de Core Tier 1)

contribui para os tornar menos atrativos como fonte de fi nanciamento. Por seu turno, os recursos de

bancos centrais – que incluem o fi nanciamento obtido junto do Eurosistema e os recursos obtidos pelas

fi liais e sucursais estrangeiras dos grupos bancários domésticos junto de outros bancos centrais - regis-

taram um ligeiro aumento.

No terceiro trimestre, os resultados antes de impostos e interesses minoritários do conjunto das insti-

tuições em análise registaram uma forte diminuição face ao apurado em igual período de 2010. De

facto, à semelhança do observado no segundo trimestre, os resultados antes de impostos e interesses

minoritários situaram-se em valores próximos de zero, o que se traduziu numa forte deterioração dos

indicadores de rendibilidade (Quadro 2 e Gráfi co 1). Para esta evolução contribuiu a desvalorização

da carteira de ativos fi nanceiros, incluindo, inter alia, a dedução de 21 por cento ao valor nominal das

posições em risco perante a dívida pública grega, determinada no âmbito do plano de envolvimento do

setor privado no programa de apoio fi nanceiro à Grécia. As imparidades associadas à carteira de crédito

a clientes continuaram a condicionar negativamente a rendibilidade das instituições, pese embora a

diminuição registada por comparação com os valores extraordinariamente elevados do trimestre ante-

Quadro 2

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS | BASE CONSOLIDADA; EM

PERCENTAGEM DO ATIVO MÉDIO

Resultado apurado no trimestre Resultado acumulado desde o início do ano

2010 2011 2010 2011

T3 T4 T1 T2 T3 Set. Dez. Mar. Jun. Set.

Margem fi nanceira 1.49 1.42 1.37 1.43 1.35 1.39 1.39 1.37 1.41 1.39

Rendimentos (líquidos) de serviços e comissões 0.72 0.71 0.70 0.71 0.67 0.71 0.71 0.70 0.71 0.70

Resultados em operações fi nanceiras 0.17 0.30 0.14 0.17 0.12 0.27 0.28 0.14 0.15 0.14

Outros resultados 0.18 0.25 0.09 0.26 0.05 0.16 0.19 0.09 0.17 0.13

Produto da atividade 2.56 2.69 2.30 2.57 2.19 2.53 2.56 2.30 2.44 2.36

Custos operacionais 1.44 1.51 1.32 1.45 1.30 1.41 1.43 1.32 1.39 1.36

Dotações de provisões e de imparidade 0.70 0.64 0.52 1.18 0.90 0.65 0.64 0.52 0.85 0.87

das quais: associadas a crédito a clientes 0.42 0.43 0.40 1.00 0.54 0.47 0.46 0.40 0.71 0.65

Diferenças de consolidação e apropriação de resultados -0.09 -0.06 -0.06 -0.06 0.00 -0.06 -0.06 -0.06 -0.06 -0.04

Resultados antes de impostos e de interesses minoritários 0.51 0.60 0.52 0.00 0.00 0.54 0.55 0.52 0.26 0.18

Imposto sobre os lucros do exercício 0.07 0.02 0.09 -0.21 0.01 0.06 0.05 0.09 -0.06 -0.04

Resultado antes de interesses minoritários 0.44 0.58 0.43 0.21 -0.01 0.48 0.51 0.43 0.32 0.21

Interesses minoritários 0.19 0.19 0.14 0.15 0.09 0.17 0.18 0.14 0.14 0.13

Resultado líquido 0.25 0.38 0.29 0.07 -0.10 0.31 0.33 0.29 0.18 0.09

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Os resultados, trimestrais e acumulados, foram anualizados para o cálculo das respetivas percentagens sobre o ativo médio.

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

140

I

Page 143: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

rior. Adicionalmente, observou-se uma relativa estabilização da margem fi nanceira e dos rendimentos

de serviços e comissões, que continuaram a evidenciar um elevado nível de resiliência (Gráfi co 2). Por

último, é de salientar a diminuição dos custos operacionais (custos com pessoal, gastos administrativos

e amortizações).

O rácio Core Tier 1 dos principais grupos bancários registou uma ligeira redução, situando-se em 8.3

por cento no fi nal de setembro de 2011 (Quadro 3). Esta evolução refl ete sobretudo o aumento dos

elementos negativos associadas aos desvios atuariais dos fundos de pensões dos bancos e a aplicação

da dedução de 21 por cento do valor nominal das posições em risco perante a dívida pública grega.

Refi ra-se que, em 30 de setembro, três das instituições cumpriam o rácio mínimo de 9 por cento defi nido

no Programa de Assistência Económica e Financeira para o fi nal de 2011. As restantes instituições em

análise têm programado, para o trimestre em curso, medidas que visam assegurar o cumprimento do

Quadro 3

ADEQUAÇÃO DE FUNDOS PRÓPRIOS DOS SEIS PRINCIPAIS GRUPOS BANCÁRIOS | BASE CONSOLIDADA, EM

MILHÕES DE EUROS

2010 2011

Set. Dez. Mar. Jun. Set.

1. Fundos próprios

Fundos próprios de base (A) 24 151 25 484 26 011 25 889 24 803

dos quais: Elementos non-core (B) 4 294 4 616 4 595 3 420 2 682

2. Requisitos de fundos próprios (C) 21 771 21 694 21 426 21 508 21 437

3. Rácio Core Tier 1 (em percentagem) (A-B)/(C x 12.5) 7.3 7.7 8.0 8.4 8.3

Fonte: Banco de Portugal.

Gráfi co 1 Gráfi co 2

RENDIBILIDADE DO ATIVO (ROA) E DOS CAPITAIS PRÓPRIOS (ROE) DOS SEIS MAIORES GRUPOS BANCÁRIOS | COM BASE NO RESULTADO DO

TRIMESTRE

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS – FLUXOS TRIMESTRAIS

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Mar-08 Set-08 Mar-09 Set-09 Mar-10 Set-10 Mar-11 Set-11

Em

per

cent

agem

Em

per

cent

agem

ROE ROA (esc. dir.)

-400

-200

0

200

400

600

800

1 000

1 200

1 400

1 600

1 800

2010T1 2010T2 2010T3 2010T4 2011T1 2011T2 2011T3

Em

milh

ões

de e

uros

Margem financeiraRendimentos (líquidos) de serviços e comissõesResultados de operações financeiras e imparidades associadas Custos operacionaisProvisões e imparidades associadas a crédito a clientesResultados antes de impostos e de interesses minoritários

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Nota: A medida de rendibilidade utilizada é o resultado antes de interessses minoritários e impostos. Os resultados trimestrais foram anualizados para o cálculo dos indicadores de rendibi-lidade.

141

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 144: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

referido objetivo sem necessidade de recurso ao fundo público de apoio à capitalização dos bancos. Esta

avaliação não incorpora o impacto dos resultados do programa das inspeções on-site em curso, bem

como o impacto da eventual transferência parcial dos fundos de pensões dos bancos para a Segurança

Social, que apenas terão refl exo prudencial em junho de 2012, conjuntamente com as necessidades de

capitalização determinadas no Conselho Europeu de 26 de Outubro, para quatro das instituições em

análise, sob proposta da European Banking Authority (EBA)2.

2 Para mais detalhes ver “Caixa 4.3 Novas exigências de adequação de capital: desenvolvimentos recentes e pers-petivas para 2012”, deste Relatório.

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

142

I

Page 145: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

CAIXA 4.2 | NOVO RÁCIO DE CRÉDITO EM RISCO

A Instrução do Banco de Portugal nº23/2011, que entrou em vigor no dia 26 de setembro de 2011,

alarga o conjunto de indicadores de qualidade de crédito que as instituições devem reportar sempre

que divulgam informação quantitativa sobre a matéria. Com esta alteração, as instituições de crédito

passaram a ter de divulgar não apenas rácios de crédito com incumprimento no crédito total, como

acontecia até aqui, mas também rácios de crédito em risco no crédito total.

O conceito de crédito em risco é mais abrangente do que o de crédito com incumprimento, incorpo-

rando, nomeadamente, a possibilidade dos devedores com prestações em atraso continuarem a não

cumprir as suas responsabilidades de crédito. Os rácios de crédito em risco reforçam a comparabilidade

e a transparência da informação relativa à qualidade de crédito e seguem o conceito de “non-perfoming

loans” que consta no manual de metodologia de compilação das estatísticas dos “Financial Soundness

Indicators” do FMI. A divulgação destes novos indicadores cumpre um dos requisitos do Programa de

Assistência Económica e Financeira a Portugal1.

O rácio de crédito com incumprimento2 e o rácio de crédito em risco estão defi nidos em (1) e (2).

Crédito com incumprimento Rácio de crédito com incumprimento=

Crédito total(1)

Crédito em risco Rácio de crédito em risco=

Crédito total(2)

O crédito com incumprimento inclui as prestações de crédito vencido há mais de 90 dias e o crédito que,

verifi cadas algumas condições de severidade do incumprimento já observado (que depende da percen-

tagem já vencida de um crédito ou de um mesmo cliente), seja considerado de cobrança duvidosa3. Por

sua vez, o crédito em risco corresponde ao conjunto dos seguintes elementos:

a) Valor total em dívida do crédito que tenha prestações de capital ou juros vencidos por um pe-

ríodo igual ou superior a 90 dias. Os créditos em conta corrente não contratualizados deverão

ser considerados como crédito em risco decorridos 90 dias após a verifi cação dos descobertos.

b) Valor total em dívida dos créditos re-estruturados não abrangidos na alínea anterior, cujos

pagamentos de capital ou juros, tendo estado vencidos por um período igual ou superior a

90 dias, tenham sido capitalizados, refi nanciados ou postecipada a sua data de pagamento,

sem que tenham sido adequadamente reforçadas as garantias constituídas (devendo estas ser

1 No ponto 2.9 do Memorando de entendimento sobre as condicionalidades de política económica fi cou estabe-lecido que o “Banco de Portugal assegurará até fi m de setembro de 2011 que a divulgação de informação sobre empréstimos em incumprimento será melhorada através da adição de um novo rácio, alinhado com práticas internacionais, ao rácio atual que apenas inclui os pagamentos de empréstimos em atraso”.

2 Note-se que o rácio de crédito com incumprimento apresentado nesta caixa difere do indicador de incumpri-mento obtido com base nas Estatísticas Monetárias e Financeiras, que é utilizado na maior parte da análise efetuada na “Secção 4.4 Risco de crédito”, deste Relatório. A principal diferença consiste no facto do indicador das Estatísticas Monetárias e Financeiras incluir empréstimos vencidos há mais de 30 dias e outros de cobrança duvidosa, em percentagem do saldo dos empréstimos ajustado de titularização, e de ser obtido com base em dados não consolidados. Refi ra-se ainda que em anteriores edições do Relatório de Estabilidade Financeira era já incluído em alguns quadros o indicador de crédito com incumprimento com uma defi nição igual à do apre-sentado nesta caixa, mas para o qual o reporte não permitia o seu cálculo para os vários segmentos de crédito, nem em base consolidada.

3 Ver artigo 4º do Aviso do Banco de Portugal nº3/95.

143

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 146: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

sufi cientes para cobrir o valor total do capital e juros em dívida) ou integralmente pagos pelo

devedor os juros e outros encargos vencidos.

c) Valor total do crédito com prestações de capital ou juros vencidos há menos de 90 dias, mas

sobre o qual existam evidências que justifi quem a sua classifi cação como crédito em risco,

designadamente a falência ou liquidação do devedor. Em caso de insolvência do devedor, os

saldos recuperáveis poderão deixar de ser considerados em risco após a homologação em

tribunal do respetivo acordo ao abrigo do Código de Insolvência e Recuperação de Empresas,

caso não persistam dúvidas sobre a efetiva cobrabilidade dos valores em dívida.

No gráfi co 1 apresenta-se uma comparação dos dois rácios para o período entre dezembro de 2008

e setembro de 2011. Por defi nição, o rácio de crédito em risco assume um valor superior ao rácio de

crédito com incumprimento. Os dois rácios apresentam contudo um comportamento semelhante ao

longo do tempo. Desde o fi nal de 2008, ambos os indicadores mantêm uma tendência de aumento,

a qual, depois de ter abrandado em 2010, se acentuou de novo em 2011. Em setembro de 2011, o

crédito em risco representava 6.8 por cento do crédito total concedido pelo sistema bancário, o que

compara com um valor de 3.5 por cento no fi nal de 20084. No mesmo período, o rácio de crédito com

incumprimento passou de 1.9 por cento para 4.5 por cento.

Nos principais segmentos de crédito, com exceção da habitação, os rácios de crédito em risco e de

crédito com incumprimento têm vindo registar uma tendência de aumento nos últimos anos, que se

acentuou em 2011 (Gráfi cos 2 e 3)5. Na habitação, a deterioração dos rácios de qualidade de crédito

tem sido bastante mais moderada. Em setembro de 2011, os rácios de crédito em risco situavam-se em

4.9 por cento na habitação, 12.2 por cento no consumo e outros fi ns, 8.5 por cento nas sociedades

não fi nanceiras e 6.4 por cento no crédito concedido a não residentes (2.7, 9.7, 5.9 e 3.6 por cento,

respetivamente, no caso dos rácios de crédito com incumprimento).

Ao nível das várias instituições de crédito verifi ca-se uma concentração de rácios de crédito em risco à

habitação no intervalo entre 5 e 7 por cento em setembro de 2011, existindo contudo um conjunto de

4 Estes indicadores foram calculados com base na informação reportada ao abrigo da Instrução do Banco de Por-tugal nº22/2011, incluindo assim dados das instituições de crédito e das sucursais em Portugal de instituições de crédito com sede em países não pertencentes à União Europeia. Na análise efetuada excluíram-se os dados do banco BPN por forma a evitar a distorção decorrente da venda de uma carteira de crédito com elevado nível de incumprimento à Parvalorem em dezembro de 2010.

5 Sublinhe-se que esta segmentação é apenas efetuada para a atividade com residentes.

Gráfi co 1

INDICADORES DE QUALIDADE DE CRÉDITO | NO CONJUNTO DO SISTEMA BANCÁRIO (BASE CONSOLIDADA)

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

Dez-08 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11 Set-11

Em

per

cent

agem

Rácio de crédito em riscoRácio de crédito com incumprimento

Fonte: Banco de Portugal.

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

144

I

Page 147: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

instituições, com peso não negligenciável na concessão de crédito à habitação, com rácios de crédito em

risco mais reduzidos (Gráfi co 4). Desde o fi nal de 2010, embora se tenha vindo a assistir a uma deslo-

cação da distribuição para a direita, não parecem ter existido alterações muito signifi cativas ao nível da

dispersão dos rácios entre instituições. Pelo contrário, no caso dos rácios de crédito em risco associados

ao crédito ao consumo e outros fi ns, existe em setembro de 2011 uma elevada heterogeneidade de

valores entre instituições (Gráfi co 5). Esta dispersão dos rácios de crédito em risco a particulares para

consumo e outros fi ns acentuou-se face ao fi nal de 2008. Nessa data, a distribuição apresentava-se

Gráfi co 2 Gráfi co 3

RÁCIOS DE CRÉDITO EM RISCO | NO CONJUNTO DO

SISTEMA BANCÁRIO (BASE CONSOLIDADA)

RÁCIOS DE CRÉDITO COM INCUMPRIMENTO | NO

CONJUNTO DO SISTEMA BANCÁRIO (BASE CONSOLIDADA)

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

Dez-08 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11 Set-11

Em

per

cent

agem

TotalHabitação residentesConsumo e outras finalidades residentesSociedades não financeiras residentesNão residentes

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

9.0

10.0

Dez-08 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11 Set-11E

m p

erce

ntag

em

TotalHabitação residentesConsumo e outras finalidades residentesSociedades não financeiras residentesNão residentes

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Gráfi co 4 Gráfi co 5

DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DO RÁCIO DE CRÉDITO EM RISCO A PARTICULARES RESIDENTES | PARA

AQUISIÇÃO DE HABITAÇÃO

DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DO RÁCIO DE CRÉDITO EM RISCO DO CRÉDITO A PARTICULARES RESIDENTES | PARA CONSUMO E OUTROS FINS

0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 11% 12% 13% 14% 15%

Rácio de crédito em risco

Dez 08Dez 10Set 11

0% 3% 5% 8% 10% 13% 15% 18% 20% 23% 25% 28% 30%Rácio de crédito em risco

Dez 08Dez 10Set 11

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.

Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.

145

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 148: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

relativamente concentrada, o que sugere que desde esse período existiu um conjunto de instituições

que registaram apenas ligeiros acréscimos dos rácios de crédito em risco, enquanto um outro grupo de

instituições registou acréscimos muito acentuados do risco de crédito. No caso do crédito às sociedades

não fi nanceiras tem igualmente ocorrido um aumento signifi cativo da dispersão, a qual tem sido acompa-

nhada por um aumento signifi cativo dos rácios de crédito em risco da maioria das instituições (Gráfi co 6).

No gráfi co 7 apresentam-se as imparidades/provisões para crédito em percentagem do crédito em

risco por segmento de crédito (rácio de cobertura do crédito em risco). O crédito em risco à habitação

tem níveis de cobertura por provisões/imparidades bastante inferiores aos dos restantes segmentos, o

que refl ete o facto de estes créditos terem em geral associadas hipotecas sobre os imóveis e/ou outras

garantias. Este rácio regista uma relativa estabilidade desde dezembro de 2008, situando-se em cerca

de 30 por cento em setembro de 2011. O crédito em risco a particulares para consumo e outros fi ns

tem o nível de cobertura mais elevado, o qual se situa em cerca de 74 por cento em setembro de 2011,

depois de ter registado um acréscimo em fi nais de 2010. No crédito às sociedades não fi nanceiras, o

rácio de cobertura situa-se em cerca de 62 por cento e no crédito a não residentes em cerca de 57

por cento. Em ambos os casos registou-se uma redução signifi cativa do rácio de cobertura em 2009,

seguida de uma relativa estabilização no caso das sociedades não fi nanceiras. O gráfi co 8 inclui os rácios

de cobertura do crédito com incumprimento por provisões/imparidades para crédito. Neste caso, o

maior rácio de cobertura está associado ao crédito com incumprimento concedido a não residentes, o

qual tem vindo a registar contudo uma tendência de redução, situando-se em setembro de 2011 num

nível já não muito superior aos rácios de cobertura do crédito ao consumo e outros fi ns e do crédito às

sociedades não fi nanceiras.

Em resumo, o novo rácio de crédito em risco constitui uma medida mais abrangente do risco de crédito

que refl ete, nomeadamente, a possibilidade dos devedores com crédito com incumprimento no momento

atual ou com créditos re-estruturados após incumprimento continuarem a não cumprir as suas respon-

sabilidades de crédito no futuro. Adicionalmente, este novo indicador tem a vantagem de estar próximo

dos indicadores de qualidade de crédito mais utilizados internacionalmente. Contudo, dada a heteroge-

neidade nas defi nições de Non-Performing Loans (NPL) utilizadas pelos vários países, as comparações

internacionais deverão ser efetuadas com cautela. O indicador de crédito em risco apresenta em geral

uma evolução próxima da registada pelo rácio de crédito com incumprimento, não alterando assim a

Gráfi co 6

DISTRIBUIÇÃO EMPÍRICA DO RÁCIO DE CRÉDITO EM RISCO A SOCIEDADES NÃO FINANCEIRAS RESIDENTES

0% 5% 10% 15%Rácio de crédito em risco

Dez 08Dez 10Set 11

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: Distribuição empírica recorrendo a um kernel gaussiano que pondera as instituições fi nanceiras pelo crédito concedido.

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

146

I

Page 149: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

análise da evolução do qualidade de crédito que tem vindo a ser efetuada com o rácio de crédito com

incumprimento. Estes dados confi rmam que a tendência de deterioração da qualidade de crédito no

total das carteiras das instituições de crédito se acentuou em 2011. O nível e o ritmo de aumento do

risco de crédito são diferenciados nos vários segmentos, sendo em particular de destacar, no caso do

setor residente não fi nanceiro, o comportamento bastante mais favorável registado pelo crédito à habi-

tação, face ao crédito ao consumo e outros fi ns e ao crédito às sociedades não fi nanceiras. Nestes dois

últimos segmentos existe uma elevada heterogeneidade entre os rácios de crédito em risco das várias

instituições de crédito, o que contrasta com a menor dispersão registada no caso do crédito à habitação.

Gráfi co 7 Gráfi co 8

RÁCIOS DE COBERTURA DE CRÉDITO EM RISCO | NO CONJUNTO DO SISTEMA BANCÁRIO (BASE CONSOLIDADA)

RÁCIOS DE COBERTURA DE CRÉDITO COM INCUMPRIMENTO | NO CONJUNTO DO SISTEMA

BANCÁRIO (BASE CONSOLIDADA)

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

70.0

80.0

90.0

100.0

Dez-08Dez-09Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11 Set-11

Em

per

cent

agem

TotalHabitação residentesConsumo e outras finalidades residentesSociedades não financeiras residentesNão residentes

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

120.0

140.0

160.0

Dez-08 Dez-09 Mar-10 Jun-10 Set-10 Dez-10 Mar-11 Jun-11 Set-11

Em

per

cent

agem

TotalHabitação residentesConsumo e outras finalidades residentesSociedades não financeiras residentesNão residentes

Fonte: Banco de Portugal. Fonte: Banco de Portugal.

147

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 150: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se
Page 151: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

CAIXA 4.3 | NOVAS EXIGÊNCIAS DE ADEQUAÇÃO DE CAPITAL: DESENVOLVIMENTOS RECENTES E PERSPETIVAS PARA 2012

No decurso de 2011, foram adotadas diversas medidas relativas à adequação de fundos de próprios

com vista a reforçar os níveis de solvabilidade do sistema bancário português. O objetivo desta caixa é

sintetizar este conjunto de iniciativas, com especial ênfase nas exigências de reforço de capital determi-

nadas no Conselho Europeu de 26 de outubro.

No início de abril, no âmbito da sua competência de supervisão prudencial, o Banco de Portugal fi xou

um limite mínimo de 8 por cento para o rácio Core Tier 1 (Aviso nº1/2011), a observar pelas instituições

sujeitas à sua supervisão até ao fi nal de 2011. O conceito de Core Tier 1 foi defi nido com base nas regras

de Basileia III aplicáveis em 2013 para a defi nição do Common Equity Tier 11. Este conceito compreende

apenas os elementos de melhor qualidade dos fundos próprios, nomeadamente em termos de perma-

nência e capacidade de absorção de prejuízos. Para além do objetivo de reforçar a solidez dos bancos

portugueses, numa conjuntura internacional extremamente adversa, a defi nição deste limite em abril

permitiu também antecipar a convergência para os novos padrões internacionais de Basileia III.

Em maio, no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira, o objetivo fi xado para o rácio

Core Tier 1 mínimo foi revisto de 8 para 9 por cento, a ser cumprido até ao fi nal de 2011, sendo adicio-

nalmente estipulado um rácio mínimo de 10 por cento, até ao fi nal de 2012 (Aviso nº3/2011). Para fazer

face a situações em que os bancos não consigam, recorrendo a soluções de mercado, satisfazer atem-

padamente os níveis de capital exigidos, foi criado o fundo de apoio ao reforço de capital do sistema

bancário no montante de 12 mil milhões de euros. Destaque-se ainda o reforço dos mecanismos de

monitorização da solvabilidade e da liquidez, como a realização de inspeções on-site à qualidade dos

ativos dos bancos e a obrigatoriedade de apresentação de planos de fi nanciamento e capital trimestrais

por parte dos oito maiores grupos bancários, que ajudarão a detetar eventuais necessidades adicionais

de capitalização.

Face à deterioração da situação orçamental grega e em linha com a decisão na Cimeira Europeia reali-

zada em julho, de envolvimento do setor privado no programa de apoio fi nanceiro à Grécia, o Banco de

Portugal determinou a dedução ao Core Tier 1 das instituições fi nanceiras portuguesas, do montante

correspondente a 21 por cento do valor nominal das posições em risco perante a dívida pública grega,

com aplicação a partir do fi nal de setembro.

Posteriormente, no Conselho Europeu de 26 de outubro, foi acordado um haircut de 50 por cento no

valor nominal da dívida grega detida pelos investidores privados. Os termos e condições desta nova

proposta ainda se encontram por ultimar, não estando prevista uma data para o reconhecimento efetivo

do haircut acordado.

A agudização da crise da dívida soberana na área do euro motivou a defi nição de um conjunto de

medidas de reforço de capital, à escala europeia, para o conjunto das instituições sujeitas ao exercício

de stress test da European Banking Authority (EBA). Neste contexto, assume especial relevância a

eliminação do fi ltro prudencial aplicável aos títulos de dívida soberana da carteira de ativos fi nanceiros

disponíveis para venda e a avaliação a preços de mercado das exposições soberanas2, quer na carteira

de ativos detidos até à maturidade quer na carteira de crédito, com referência ao fi nal de setembro de

1 Para mais detalhe ver “Basel III: A global regulatory framework for more resilient banks and banking systems”em www.bis.org/publ/bcbs189.pdf.

2 O conceito de “soberano” utilizado pela EBA corresponde à categoria prudencial de “Administrações Centrais e Locais”, isto é, considera as exposições numa ótica de risco imediato, não incluindo exposições a outras con-trapartes, garantidas, total ou parcialmente, pelo Estado.

149

4

Sist

ema

Banc

ário

Page 152: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

2011. As necessidades adicionais de capital resultantes desta alteração valorimétrica foram estimadas

preliminarmente em 4.4 mil milhões de euros para o conjunto dos quatro maiores grupos bancários

portugueses (totalizando aproximadamente 41 mil milhões para o conjunto das instituições europeias

sujeitas ao exercício) e deverão assumir a forma de um buffer temporário de capital.

A este montante acrescem necessidades de 3.4 mil milhões de euros (cerca de 65 mil milhões para o

conjunto das instituições europeias) para que estes atinjam um rácio Core Tier 1 de 9 por cento até junho

de 2012. Note-se que a medida de Core Tier 1 utilizada pela EBA difere da portuguesa pelo facto de

incluir, inter alia, deduções relativas a participações em instituições fi nanceiras que não consolidam no

grupo e deduções relativas ao diferencial entre a perda esperada e a imparidade para as instituições que

utilizam o método das notações internas (com exceção da carteira de ações). Esta diferença metodológica

tem um impacto não negligenciável no caso português, pelo que o objetivo de 9 por cento fi xado pela

EBA para o conjunto dos quatro maiores bancos portugueses é mais exigente que o objetivo de 9 por

cento estipulado no âmbito do Programa de Assistência Económica e Financeira (o qual abrange todas

as instituições sujeitas à supervisão do Banco de Portugal). Em todo o caso, refi ra-se que as estimativas

apresentadas a 26 de outubro para o buffer temporário de capital têm um caráter preliminar, estando

em curso uma reavaliação das necessidades de capitalização dos bancos com base nas posições de

capital, exposições soberanas e preços de mercado a 30 de setembro de 2011.

No plano nacional, a eventual transferência parcial dos fundos de pensões dos bancos para a Segurança

Social deverá resultar em necessidades de capitalização acrescidas. Contudo, apesar da operação se

encontrar planeada para 2011, o seu impacto nos fundos próprios apenas se fará sentir em junho de

2012. Adicionalmente, os resultados das inspeções on-site à qualidade dos ativos dos bancos poderão

determinar o registo de imparidades adicionais com impacto no capital regulamentar.

BA

NC

O D

E PO

RT

UG

AL

|

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

150

I

Page 153: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

IIARTIGOS

UM INDICADOR DE RISCO SISTÉMICO BASEADONO MODELO DE DÍVIDA CONTINGENTE

O COMPORTAMENTO DOS BANCOS DOMÉSTICOS E NÃO DOMÉSTICOS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO À HABITAÇÃO:

UMA ANÁLISE COM BASE EM DADOS MICROECONÓMICOS

MODELAÇÃO DO INCUMPRIMENTO DOS PARTICULARES

Page 154: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se
Page 155: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

153

Art

igos

UM INDICADOR DE RISCO SISTÉMICO BASEADO NO MODELO DE

DÍVIDA CONTINGENTE*

Nuno Silva** | Nuno Ribeiro** | António Antunes**

Resumo

Este artigo apresenta um novo indicador de risco sistémico assente no modelo de

dívida contingente. O modelo proposto adapta o trabalho de Gray, Merton e Bodie

(2007) às características de um país da área do euro. Posteriormente, com base nos

balanços intersetoriais e assumindo um mecanismo de transmissão de choques onde

todos os ativos são constantemente valorizados a preços de mercado, consideram-se

todas as combinações de choques em diversas dimensões capazes de esgotar a base de

capital de pelo menos um dos setores institucionais. A probabilidade destes choques

acontecerem é de seguida estimada. A metodologia proposta é aplicada à economia

portuguesa no período entre 2002 e 2010. Para tal, consideraram-se choques em sete

dimensões, os quais podem ser divididos em dois tipos: choques no capital próprio

de alguns setores (sociedades não fi nanceiras, instituições fi nanceiras, sociedades de

seguros e administrações públicas) e choques nos passivos (sociedades não fi nanceiras

e particulares). No caso de choques sobre os passivos de particulares, distinguiram-

se os passivos relacionados com hipotecas residenciais dos restantes. O indicador

desenvolvido aponta para um elevado nível de risco sistémico desde o fi nal de 2007.

1. Introdução

Tradicionalmente a literatura sobre risco sistémico tende a focar-se nas instituições fi nanceiras e nas

relações entre elas. A crise fi nanceira que começou nos EUA em 2007 e, em particular, a atual crise da

dívida soberana europeia são exemplos de que existem canais de contágio mais abrangentes do que os

que estão associados estritamente às interconexões entre bancos. Neste contexto, a extensão do estudo

dos canais de transmissão de choques de natureza fi nanceira ao conjunto da economia é essencial para

entender os mecanismos subjacentes à formação do risco sistémico.

Na base do risco sistémico estão geralmente posições fi nanceiras desequilibradas, associadas, inter alia,

a elevados graus de alavancagem, que se tendem a acumular nas fases ascendentes do ciclo económico.

Neste contexto, choques desfavoráveis de elevada magnitude, de natureza real ou fi nanceira, tendem a

produzir uma cascata de perdas por toda a economia. Dependendo da fragilidade dos vários setores e

das interconexões existentes entre eles, estes choques acabam ora por se diluir, gerando mais ou menos

expressivas oscilações na economia, ou por ser amplifi cados, caso em que conduzem a reduções muito

pronunciadas da atividade económica. A este respeito, o modelo de dívida contingente tem sido usado

* Os autores agradecem ao Departamento de Estatística pelo fornecimento de informação relativa às contas fi nan-

ceiras nacionais. As opiniões expressas no artigo são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessa-

riamente com as do Banco de Portugal ou do Eurosistema. Eventuais erros e omissões são da exclusiva responsa-

bilidade dos autores.

** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos.

Page 156: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

154

II

para identifi car estas posições ao nível dos balanços setoriais, bem como os canais de transmissão dos

choques. Nesta área destacam-se os artigos de Gapen, et al. (2004, 2008), Gray, Merton e Bodie (2007)

e Gray et al. (2008). No entanto, estes estudos focam-se em economias sujeitas a risco cambial, pelo que

lhes falta a generalidade sufi ciente para serem aplicados a grandes economias avançadas.

Na sequência do trabalho de Castrén e Kavonius (2009), Silva (2010) propõe-se a adaptar o modelo às

especifi cidades das economias da área do euro, nomeadamente, a existência de uma moeda comum

num contexto de política orçamental descentralizada. Adicionalmente, introduz-se um mecanismo de

transmissão de choques onde todos os ativos são permanentemente avaliados a preços de mercado. Este

estudo pretende estender o modelo proposto em Silva (2010) alterando algumas das assunções então

feitas e propondo um novo indicador de risco sistémico que explicitamente estima, em cada momento

no tempo, a probabilidade de pelo menos um dos setores em análise entrar em incumprimento no prazo

de um ano. O valor estimado é interpretado como sendo a probabilidade da economia no seu conjunto

entrar em rutura fi nanceira. O modelo foi desenhado para poder ser aplicado a qualquer economia avan-

çada, muito em particular às economias dos países participantes na área do euro, sendo que algumas

das suas hipóteses permitem captar alguns factos estilizados da atual crise fi nanceira, nomeadamente,

a importância sistémica da ligação entre os riscos no sistema bancário e os riscos soberanos. Finalmente,

o indicador proposto constitui a primeira medida conhecida pelos autores baseada no modelo de dívida

contingente que faz a síntese de toda a informação das contas nacionais fi nanceiras.

Este estudo é composto por 7 secções. A secção 2 apresenta o modelo de dívida contingente (modelo

de Merton). A secção 3 explicita a utilização das contas nacionais fi nanceiras com o objetivo de aplicar

o modelo de dívida contingente ao nível setorial. O procedimento é exemplifi cado com dados para a

economia portuguesa. A secção 4 apresenta uma forma de aplicação de choques exógenos e detalha

o mecanismo de transmissão no sistema de posições fi nanceiras intersetoriais. A secção 5 introduz o

conceito de fronteira de estabilidade na literatura de estabilidade fi nanceira. Este conceito é depois

utilizado na secção 6 na construção da medida de risco sistémico apresentada, que se designará por

“probabilidade da economia entrar em rutura fi nanceira”. A secção 7 conclui.

2. O modelo de dívida contingente

O modelo de dívida contingente faz apelo ao modelo de Merton (1974) para avaliar os passivos de um

determinado emissor de dívida, que designaremos por empresa, mas que poderá ser um setor económico,

como veremos mais adiante. Considere-se uma empresa que emite dívida num determinado momento

com uma determinada maturidade. A questão que se coloca é se, no momento da maturidade da dívida,

a empresa tem ativos sufi cientes para honrar esse compromisso. A empresa honrará o compromisso se o

valor dos seus ativos suplantar na maturidade o valor da dívida a pagar. Se isso não acontecer, a empresa

declarar-se-á insolvente, sendo os ativos liquidados a favor dos credores. A diferença entre a dívida e

os ativos será então o montante da perda que os credores terão de suportar. O processo de decisão de

efetuar ou não o re-embolso da dívida na maturidade é análogo ao de exercer ou não uma opção de

compra sobre um ativo. Naturalmente, o detentor da opção comprará o ativo subjacente unicamente

se o seu preço de mercado, nessa altura, for superior ao preço previamente acordado. Neste caso hipo-

tético, o ativo subjacente é a totalidade dos ativos da empresa e o preço de exercício é o valor nominal

da dívida. Por sua vez, e seguindo a mesma lógica, o valor de mercado da dívida deverá ser igual ao seu

valor nominal descontado por uma taxa de juro sem risco deduzido do valor de uma opção de venda

sobre o ativo da empresa ou setor1. Ou seja, na ausência de oportunidades de arbitragem, um investidor

deverá estar indiferente entre tomar um montante de dívida sem risco, ou tomar o mesmo montante

com risco mas garantindo que, em caso de não re-embolso, ele pode reaver a diferença entre aquilo

1 A taxa de juro sem risco utilizada neste estudo é a Eurepo a 3 meses.

Page 157: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

155

Art

igos

que recebe (o valor do ativo da empresa) e aquilo que deveria receber (o re-embolso da dívida). Tal é

conseguido através da opção de venda. Em termos práticos, conhecido o valor corrente da empresa, a

volatilidade da rendibilidade da empresa em bolsa, o valor da dívida e a taxa de juro sem risco, o modelo

de dívida contingente permite calcular uma série de medidas de risco, de onde se destacam a distância

ao incumprimento, a probabilidade de incumprimento e a perda esperada.

Designemos por A o valor de mercado dos ativos de uma empresa ou setor e por B e E o valor da sua

dívida contingente e o seu capital próprio a preços de mercado, respetivamente. Na ausência de fricções

fi nanceiras e assumindo liquidez na maturidade de todos os ativos da empresa, verifi ca-se a identidade

A E B= + (1)

ou seja, o valor da empresa é igual à diferença entre os seus ativos e o valor da sua dívida com risco (ou

contingente). Suponha-se que A segue um processo estocástico de difusão em torno de uma tendência

determinística equivalente à taxa de retorno sem risco. Assuma-se também que em 0t = a empresa

emite obrigações de cupão zero de valor nominal T

B correspondente à totalidade da sua dívida. Uma

empresa é considerada insolvente se, na maturidade, o valor dos seus ativos, A , for inferior a TB . Assim,

seguindo a teoria de apreçamento de opções já enunciada, o valor corrente da empresa, E , é igual ao de

uma opção europeia sobre o ativo subjacente A , com maturidade em t T= e preço de exercício igual

à dívida a liquidar nesse momento, ou seja, TB . Aplicando o Lema de Itô, impondo condições de não

arbitragem e de fronteira correspondentes a uma opção de compra, e defi nindo T tt = - , obtém-se

a seguinte equação para o valor de E ,

1 2( ) ( )r

TE A d B e dt-= F - F (2)

em que defi nimos

2

1

1ln ( )

2 AT

A

Ar

Bd

s t

s t

+ += (3)

2

2

1ln ( )

2 AT

A

Ar

Bd

s t

s t

+ -= (4)

Nas equações anteriores, As é a volatilidade do retorno do ativo, r é a taxa de juro de um ativo sem

risco, que supusemos constante, t é o intervalo de tempo até à maturidade e F é a função cumulativa

normal estandardizada. A equação 2 tem uma interpretação simples. O primeiro termo avalia o valor dos

ativos ponderados por um valor relacionado com a probabilidade de a opção de compra ser exercida; o

segundo termo desconta o montante de dívida a re-embolsar, ponderado por um montante menor do

que o anterior (devido ao sinal negativo no argumento de ()F ⋅ ) por haver limitação superior nos prejuízos.

Por sua vez, o prémio de risco da dívida, P , pode ser calculado como

rT

Ae EP Bt- + -= (5)

Note-se que, no caso sem risco, 0P = e o valor do ativo resume-se à divida nominal descontada pela

taxa de juro acrescida do valor do capital próprio.

A equação 2 apresenta duas incógnitas, A e A

s . De forma a obter o valor destas variáveis é necessário

Page 158: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

156

II

impor uma segunda condição. Uma possibilidade é dizer que o valor da empresa, E , também segue

um movimento Browniano geométrico mas com parâmetros diferentes dos de A .

Aplicando o Lema de Itô e igualando os termos correspondentes à volatilidade resulta que

1( )

E AE A ds s= F (6)

onde E

s é a volatilidade do retorno da empresa.

Resolvendo o sistema composto pelas equações 2 e 6 para cada momento é possível obter uma série

temporal para A e A

s 2. Substituindo A e E na equação 1, pode-se então recuperar B

e calcular a

distância ao incumprimento, 2

d , a probabilidade de incumprimento, 2

( )N d- , e a perda esperada, ou

seja, P .

As empresas raramente têm uma única emissão de dívida. Felizmente o modelo de Merton é passível

de ser adaptado para emissões de dívida de diferentes níveis de senioridade. Neste estudo é utilizada

essa adaptação em relação à dívida das administrações públicas, a qual é dividida em três tranches com

diferentes níveis de subordinação3.

3. O modelo de dívida contingente ao nível setorial

O modelo de Merton foi inicialmente desenvolvido para ser aplicado a empresas cotadas em bolsa, para

as quais informação sobre o seu valor de mercado e volatilidade dos seus retornos está publicamente

disponível e é fácil de interpretar. A aplicação do modelo de dívida contingente a setores económicos

requer um conjunto de assunções e simplifi cações que se detalham mais à frente. Esta secção tem três

subsecções: a primeira articula uma forma de conjugar a análise ao nível micro e ao nível setorial; a

segunda explicita a abordagem seguida na estimação das designadas contas “quem-a-quem” a partir

das contas nacionais fi nanceiras. Finalmente, iremos mostrar como é que estas, juntamente com infor-

mação do mercado, podem ser usadas para defi nir o capital próprio, a volatilidade do retorno do capital

e a barreira de incumprimento dos vários setores em análise. Os resultados obtidos são divulgados em

Silva, Ribeiro e Antunes (a publicar).

3.1. Do nível micro para o nível setorial

Considere-se uma economia com oito setores: sociedades não fi nanceiras, banco central, outras insti-

tuições fi nanceiras e monetárias, outros intermediários fi nanceiros e auxiliares fi nanceiros, sociedades

de seguros e fundos de pensões, administrações públicas, particulares e resto do mundo4. Todos estes

setores apresentam as suas próprias especifi cidades. No entanto, com base na sua diversidade, podem

ser divididos em dois tipos. Por um lado, existem aqueles setores que podem ser vistos apenas como um

único agente económico. É o caso das administrações públicas e do banco central. Para estes setores,

é indiferente analisar o seu risco de crédito ao nível micro ou em termos agregados porque coincidem.

2 Note-se que, ao contrário do assumido no modelo original de Black e Scholes (1973), a hipótese de estaciona-

riedade de A

s não é tida em conta na resolução deste sistema.

3 Para mais informação a este respeito, ver Cossin e Pirotte (2007).

4 Dado que a quase totalidade das pensões em Portugal são de benefício defi nido, resolveu-se atribuir os ativos

e passivos dos fundos de pensões em questão ao balanço dos setores que em última instância são responsáveis

pelo seu pagamento. Este procedimento permite-nos interpretar o setor sociedades de seguros e fundos de

pensões como sendo constituído apenas por empresas de seguros. Por esse motivo, este setor será doravante

designado por SS. Os acrónimos OIFM e OIFAF serão em diante utilizados para designar as outras instituições

fi nanceiras monetárias e os outros intermediários fi nanceiros e auxiliares fi nanceiros, respetivamente. Nos grá-

fi cos apresentados e sempre que facilite a exposição do conteúdo, os setores sociedades não fi nanceiras, admi-

nistrações públicas e resto do mundo são denominados como SNF, AP e RM, respetivamente.

Page 159: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

157

Art

igos

Por outro lado, existem aqueles setores que resultam da agregação de vários agentes económicos. É o

caso das sociedades não fi nanceiras, OIFM, OIFAF, SS, particulares e resto do mundo. Para estes setores,

o capital próprio e a dívida do agregado correspondem à soma do capital próprio e da dívida de todos

os agentes que os compõem, respetivamente. A volatilidade do retorno do capital próprio é, no entanto,

inferior à média da volatilidade do retorno dos capitais próprios de cada um dos agentes que compõem

o setor devido à existência de um efeito diversifi cação. Adicionalmente, ao ignorar a heterogeneidade

existente em cada setor, e dadas as não linearidades inerentes ao modelo de avaliação do valor de

mercado da dívida, a aplicação do modelo de dívida contingente ao nível setorial tende a subestimar o

risco existente na economia. Este enviesamento é especialmente importante no caso de setores com um

elevado nível de heterogeneidade, como as sociedades não fi nanceiras e os particulares. Este problema é

de difícil resolução sem abordar a questão ao nível micro. No entanto, mostrar-se-á na secção 4.1 como

esta difi culdade pode ser mitigada concetualmente no desenho dos choques que estão subjacentes ao

cálculo do indicador de risco sistémico.

3.2. As contas quem-a-quem

O modelo de Merton pode ser aplicado ao nível setorial utilizando para tal as contas nacionais fi nanceiras

não consolidadas que no caso de Portugal são publicadas trimestralmente pelo Banco de Portugal5.

Estas contas estão organizadas de forma matricial com base nos oito setores já apresentados e sete

instrumentos (ouro monetário e direitos de saque especiais, numerário e depósitos, títulos exceto ações,

empréstimos, ações e outras participações, reservas técnicas de seguros e outros débitos e créditos).

Títulos exceto ações e empréstimos estão divididos em curto e longo prazo. O instrumento dos títulos

exceto ações inclui derivados financeiros, os quais são tratados como um instrumento à parte. Ações e

outras participações incluem ações cotadas, não cotadas e fundos de investimento. As reservas técnicas

de seguros foram divididas entre reservas relacionadas com seguros e reservas associadas a fundos de

pensões6. À exceção do ouro monetário e direitos de saque especiais, todas as operações são registadas

segundo o princípio da dupla entrada, pelo que qualquer ativo tem um passivo correspondente que lhe

serve de contrapartida. Esta característica faz com que o sistema seja fechado no seu conjunto, tornando-

-o especialmente útil para o estudo dos canais de propagação dos choques na economia.

Infelizmente no caso de Portugal, à exceção de “depósitos” e “empréstimos”, as contas nacionais fi nan-

ceiras não contêm qualquer informação relativamente aos balanços bilaterais (contas quem-a-quem).

No entanto, estas podem ser estimadas por máxima entropia tal como é feito em vários estudos no

mercado interbancário (ex. Sheldon and Maurer (1998), Upper and Worms (2004) and Wells (2004)).

Considere-se para tal que os balanços bilaterais num dado instrumento k podem ser representados

por uma matriz N N´ onde N é o número de setores e kij

x é a exposição do setor i ao setor j no

instrumento k :

5 Estes dados são publicados para todos os países da área do euro, embora com diferentes níveis de detalhe.

6 Esta divisão foi necessária de forma a separar as sociedades de seguros dos fundos de pensões. De forma a

facilitar a exposição, os instrumentos em análise serão doravante referidos apenas como “depósitos”, “títulos

de dívida”, “empréstimos”, “ações”, “seguros”, “pensões” e “outros”.

Page 160: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

158

II

1 1

11 1 1

1

1

N N

k k k kij i ij j

j i

k

j N

com x a e x li ij iN

N Nj NN

x x x

x x x

x x x

= =

= =

é ùê úê úê úê ú

å åê úê úê úê úê úê úë û

Neste caso, ki

a e kjl correspondem ao total de ativos e ao total de passivos do setor i e j no instru-

mento k , respetivamente.

Adicionalmente, considere-se que ki

a e kjl podem ser vistos como os componentes de ( )kf a e ( )kf l , as

distribuições marginais dos ativos e dos passivos, respetivamente, e que kij

x é uma realização da distri-

buição conjunta ( , )kf a l .

Assumindo independência, ou máxima entropia, kij

x é o produto das duas distribuições marginais. Com

o objetivo de melhorar os resultados, várias restrições foram impostas a posteriori. Em particular, as

exposições intra-setores foram deduzidas a partir da diferença entre dados consolidados e não consoli-

dados e o banco central foi considerado como sendo totalmente detido pelas administrações públicas.

Adicionalmente, todas as exposições entre banco central, OIFM, OIFAF e SS foram restringidas de forma

a igualar a diferença entre as contas consolidadas e não consolidadas do setor fi nanceiro em agregado.

Sendo que nem todas as restrições consideradas correspondem a zeros, defi niu-se um procedimento

iterativo em que cada matriz é rebalanceada imediatamente após a restrição ser imposta. Este meca-

nismo garante que a igualdade entre ativos e passivos é respeitada para cada instrumento. O algoritmo

repete-se até que se atinja a convergência7.

3.3. Assunções setoriais

3.3.1. Capital próprio e volatilidade dos retornos do capital próprio

O capital próprio de uma empresa é geralmente defi nido como sendo a sua riqueza líquida, isto é, o

excesso de valor dos ativos sobre os passivos. Este pode ser medido em termos contabilísticos, refl etindo

o passado da empresa, ou a valor de mercado, caso em que reproduz não só o passado da empresa, mas,

sobretudo, as expectativas relativamente ao seu futuro. Deste modo, para fi ns de aplicação do modelo

de dívida contingente, é mais adequado utilizar os valores de mercado. No caso de empresas cotadas,

estes valores resultam da cotação em bolsa, pelo que são do conhecimento público e não requerem

qualquer tipo de estimação adicional. Para as restantes, o valor contabilístico é passível de ser ajustado

fazendo apelo à evolução das suas congéneres cotadas. Este procedimento pode ser replicado ao nível

setorial, mas apenas para os setores que emitem ações, tais como, as sociedades não fi nanceiras, OIFM,

OIFAF e SS. Os direitos conferidos aos detentores das ações destes setores podem ser considerados como

equivalentes a opções de compra nos seus ativos com preço de exercício igual aos seus passivos. No

caso das sociedades de seguros, não existindo ações cotadas em Portugal, e dado que estas empresas

ao nível europeu tendem a investir em ativos similares e, portanto, estão sujeitas a riscos idênticos,

7 Os dados relativos às ações não cotadas foram ajustados de forma a melhor refl etir a evolução do mercado.

Este ajuste é posterior à estimação das contas quem-a-quem. De forma semelhante, também a separação entre

sociedades de seguros e fundos de pensões é posterior à estimação das contas quem-a-quem.

Page 161: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

159

Art

igos

decidiu-se multiplicar o valor contabilístico registado nas contas nacionais fi nanceiras pelo rácio price-

-to-book implícito em cada momento às ações constantes do índice Stoxx Europe 600 Insurance. Os

fundos de investimento emitidos, os quais são especialmente relevantes no caso de OIFAF, também são

contabilizados como fazendo parte do seu capital próprio. A volatilidade dos retornos do capital próprio

destes setores foi estimada com base no índice PSI-20, no caso das sociedades não fi nanceiras, do índice

PSI-Serviços fi nanceiros no caso de OIFM e OIFAF, e do índice Stoxx Europe 600 Insurance no caso de

SS. Em relação ao banco central, apesar de este emitir “ações”, as quais são totalmente detidas pelas

administrações públicas, estas não se encontram cotadas no mercado. Sendo assim, resta-nos utilizar o

seu capital próprio contabilístico, o qual tem em conta o valor de mercado do ouro, mas exclui os lucros

futuros do banco. Dado que no caso português o banco central não se encontra cotado, não é possível

calcular a volatilidade do retorno dos seus capitais próprios. Como alternativa, calculou-se a volatilidade

do retorno do capital próprio do Banque National de Belgique, o qual é o único banco central na zona

euro cotado no mercado.

Para os setores que não emitem “ações”, tais como particulares, administrações públicas e resto do

mundo, a defi nição do seu capital próprio não resulta diretamente das contas fi nanceiras. Felizmente

no caso dos particulares continua a fazer sentido considerar que o seu capital próprio corresponde à

soma da riqueza líquida de cada agente que compõe o setor. De forma a manter a consistência com

a forma como os mercados valorizam as empresas, a riqueza dos particulares deverá corresponder à

soma da posição fi nanceira líquida das famílias, da sua riqueza imobiliária e do valor presente das suas

poupanças futuras. A informação necessária ao apuramento da posição fi nanceira líquida dos particu-

lares encontra-se nas contas nacionais fi nanceiras e é defi nida como a diferença entre ativos e passivos

fi nanceiros. Relativamente à riqueza imobiliária, não se encontram disponíveis estatísticas para todos os

países da área do euro. No caso de Portugal, as estimativas mais recentes foram preparadas no contexto

da elaboração do Relatório Anual 2010 do Banco de Portugal, as quais foram usadas neste estudo. Por

fi m, o valor presente das poupanças dos particulares foi estimado considerando uma série infi nita de

fl uxos fi nanceiros com valor igual aos da poupança atual e uma taxa de desconto igual à taxa de juro

implícita ao valor das obrigações nacionais a 10 anos. Assumiu-se que estes fl uxos cresceriam a uma

taxa anual de 2 por cento, que corresponde ao nível considerado pelo BCE como compatível com a

estabilidade de preços e tomado como referência na condução da política monetária. No que diz respeito

à volatilidade do retorno do capital próprio dos particulares, estimou-se a volatilidade de um portfolio

semelhante ao detido pelos particulares8.

Nos setores tratados anteriormente os conceitos de capital próprio e riqueza líquida foram considerados

como sucedâneos. Contudo, no caso das administrações públicas e do resto do mundo, parece existir

evidência empírica a sugerir que esta defi nição não é a mais razoável. Nas próximas duas subsecções

iremos apresentar uma nova abordagem à avaliação do capital próprio destes dois setores.

8 A volatilidade da Euribor a 6 meses foi utilizada como medida da volatilidade dos “depósitos”, “seguros” e

“pensões”. A volatilidade das taxas de juro implícitas nas obrigações nacionais a 10 anos foi usada para os

ativos em “títulos de dívida”, “empréstimos” e “outros”. A volatilidade do PSI-20 foi utilizada como proxy para

os investimentos em “ações”. A volatilidade dos retornos em imobiliário foi estimada com base no índice de

preços de habitação Confi dencial Imobiliário. Finalmente, a volatilidade das poupanças futuras dos particulares

foi estimada assumindo que a única fonte de incerteza é a taxa de desconto (para mais informação sobre este

procedimento ver secção 3.3.1.1 relativamente ao setor das administrações publicas). A estimativa obtida da

volatilidade foi posteriormente ajustada de forma a refl etir a estrutura de fi nanciamento do setor. Dadas estas

hipóteses, a volatilidade dos retornos do capital próprio dos particulares tendeu a variar num intervalo entre

20% e 45%.

Page 162: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

160

II

3.3.1.1. As administrações públicas

O lado esquerdo do balanço das administrações públicas é constituído pela soma dos seus ativos fi nan-

ceiros e reais com o valor atual dos impostos futuros. Por seu turno, o lado direito do balanço é composto

pelo valor atual das despesas futuras e pelos passivos fi nanceiros incorridos. Não considerando os ativos

reais, para os quais não se dispõe de estimativas, a riqueza líquida das administrações públicas corres-

ponde à soma da posição fi nanceira líquida com o valor presente das poupanças futuras. Sendo que a

posição fi nanceira líquida da maioria das administrações públicas dos países da zona euro é negativa, e

seguindo uma lógica baseada na riqueza líquida, ter-se-á necessariamente de chegar à conclusão que

as poupanças futuras são mais que sufi cientes para compensar este facto, ou alternativamente, que as

administrações públicas da grande maioria destes países se encontram insolventes. Estimar o valor das

poupanças futuras das administrações futuras é, no entanto, uma tarefa com algum nível de complexi-

dade, na medida em que envolve não só estimar a receita, mas também a despesa futura. Não obstante

essas difi culdades de estimação, dado os permanentes défi ces públicos, é difícil argumentar que esta

poupança será suficiente para compensar as atuais posições financeiras fortemente negativas. Ainda assim,

até muito recentemente a questão do fi nanciamento não se afi gurou como um obstáculo ao endivida-

mento dos Estados da zona euro. Acontece que, ao contrário das empresas, as receitas e despesas das

administrações públicas são em grande medida defi nidas politicamente. Pelo menos do ponto de vista

teórico, a receita de um Estado é unicamente condicional à riqueza do país e ao seu PIB futuro. De forma

semelhante, à parte de algumas despesas obrigatórias, as quais por defi nição não podem ser evitadas, o

Estado tem autonomia para defi nir quanto pretende gastar. Enquanto os mercados acreditarem que um

determinado governo tem capacidade para equilibrar as fi nanças públicas nalgum horizonte futuro, as

administrações públicas continuarão a obter fi nanciamento mesmo no caso em que as estimativas para

as contas públicas no futuro imediato apontem para défi ces signifi cativos e persistentes. No momento

em que surjam dúvidas sobre essa capacidade, o governo poderá ter que exercer algumas das opções

de que dispõe, nomeadamente, aumentar impostos ou reduzir despesas. Estes factos não permitem

assumir a equivalência entre capital próprio e riqueza líquida neste setor. Em alternativa, a abordagem

que é seguida neste trabalho consistiu na avaliação do espaço de manobra de que o governo de um

determinado Estado dispõe para consolidar as suas fi nanças públicas no momento em que surjam descon-

fi anças entre os operadores de mercado quanto à capacidade de o governo realizar essa consolidação.

Dado que o modelo de Merton se propõe estimar o lado esquerdo do balanço com base unicamente

no lado direito, as receitas futuras do governo serão ignoradas para este efeito. Em contrapartida, no

lado direito do balanço são identifi cadas as despesas que não sejam essenciais ao exercício estrito da

soberania e, como tal, sejam passíveis de redução sem pôr em causa a própria existência do Estado como

entidade soberana. Os passivos fi nanceiros correspondem a responsabilidades já assumidas por contra-

partida, grosso modo, de défi ces passados e, como tal, são exigíveis pelos credores no seu vencimento.

Contudo, existe alguma fl exibilidade no que diz respeito às despesas futuras, as quais dividiremos em

duas categorias: “obrigatórias” e “discricionárias”. As despesas discricionárias correspondem ao conjunto

de bens e serviços que as administrações públicas prestam aos cidadãos, mas que não são necessários

ao exercício da soberania. Com base nas suas receitas e em escolhas políticas, o Estado decide o seu

nível de despesas discricionárias. Em contraste, as despesas obrigatórias correspondem a gastos que

não podem ser evitados, sob pena de estar em causa a existência do próprio Estado, nomeadamente,

defesa, justiça, administração interna e negócios estrangeiros9. Neste estudo, defi niu-se que as despesas

obrigatórias correspondem a 30% do PIB10. Em face de uma forte redução da confi ança do mercado na

9 Pode argumentar-se também que existe um nível mínimo de despesa associado à redistribuição de riqueza e à

coesão social, sem o qual as funções de soberania referidas podem estar comprometidas.

10 Este valor foi decidido de forma relativamente arbitrária e com alguma subjetividade. Ainda assim, corresponde

a uma aproximação da média da despesa realizada pelas administrações públicas de países com um nível de

produto médio-alto e países com um nível de produto elevado não pertencentes à OCDE, onde o estado social

é menos desenvolvido do que na maioria dos países da zona do euro.

Page 163: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

161

Art

igos

capacidade do soberano cumprir os seus compromissos fi nanceiros, o governo pode reduzir a despesa

discricionária, indiciando um aumento da poupança futura. No limite, quando confrontado com choques

extremamente negativos, o Estado poderá eliminar toda a sua despesa discricionária, mas nunca a sua

despesa obrigatória. Embora possa acontecer que esta opção nunca seja exercida, e daí não fazer parte

da riqueza líquida das administrações públicas, ela deve ser tida em conta aquando da valorização do

capital próprio deste setor. Neste estudo, designaremos esta opção como reserva discricionária, a qual

corresponde à capacidade do Estado soberano aumentar a poupança por via da redução da despesa. De

forma a melhor espelhar a realidade no modelo, foram impostas três restrições adicionais. Em primeiro

lugar, de forma a refl etir a rigidez normalmente associada à despesa pública, considera-se que nenhum

Estado tem condições para reduzir a despesa mais de 2 por cento por trimestre. Em segundo lugar,

assume-se que não é possível o governo reduzir a sua despesa nominal em mais de 20 por cento do seu

nível atual. Sempre que alguma destas condições for efetiva, esta hipótese implica que o Estado não

pode apropriar-se da totalidade da diferença entre despesa corrente e despesa obrigatória. A despesa

discricionária remanescente é, portanto, inelástica e deve ser assimilada como fungível com a despesa

obrigatória. Neste estudo designamos o horizonte temporal necessário para que estas restrições sejam

efetivas de “período de ajustamento”. Por fi m, considera-se que a despesa obrigatória cresce a uma

taxa anual de 2 por cento, a qual corresponde à taxa de infl ação compatível com o objetivo primordial

de estabilidade de preços do BCE na condução da política monetária. A partir do momento em que

a despesa total, já tendo em conta a reserva discricionária, interseta a despesa obrigatória, a reserva

discricionária começa a diminuir, isto é, a possibilidade de fazer poupanças adicionais é decrescente no

tempo. A reserva discricionária desaparece no momento em que a despesa obrigatória iguala o atual

nível de despesa total. O conjunto de fl uxos fi nanceiros futuros associados à reserva discricionária é

sujeito a uma avaliação em termos presentes, para a qual é necessário defi nir uma taxa de desconto.

Neste estudo, foi utilizada a taxa de juro implícita nas obrigações nacionais a 10 anos, a qual introduz

a opinião do mercado relativamente à sustentabilidade do atual nível de despesa e receita do Estado. O

gráfi co 1 apresenta o processo de estimação da reserva discricionária com base na informação do último

trimestre de 2010. O capital próprio das administrações públuca é calculado somando a sua posição

financeira líquida com a sua reserva discricionária.

Relativamente à volatilidade dos retornos do capital próprio das administrações públicas, a maioria dos

estudos realizados nesta área utiliza a volatilidade da taxa de juro implícita às obrigações nacionais a 10

anos. Neste estudo utilizou-se uma metodologia diferente, mais consistente com a defi nição de capital

Gráfi co 1

ESTIMAÇÃO DA RESERVA DISCRICIONÁRIA EM 2010 T4

0

5 000

10 000

15 000

20 000

25 000

2011 2014 2017 2020 2023 2026 2029 2032 2035 2038

Des

pesa

trim

estr

al

Projeções do modelo (trimestrais)

Reserva discricionária Despesa correnteDespesa obrigatória Despesa discricionáriaDespesa corrente (excl. reserva disc.)

Fonte: Cálculos dos autores.

Page 164: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

162

II

próprio das administrações públicas defi nida anteriormente. Em termos gerais, considerou-se que o

capital próprio das administrações públicas depende apenas da taxa de desconto utilizada para calcular

o valor presente dos fl uxos futuros associados às reservas discricionárias. Assumiu-se que essa taxa segue

uma distribuição triangular com limite inferior igual ao mínimo observado durante o período amostral

da taxa de juro implícita às obrigações nacionais a 10 anos. A moda e o limite superior da distribuição

foram calibrados para que o desvio padrão iguale a volatilidade da taxa de juro implícita às obrigações

nacionais durante o trimestre em causa e o valor esperado seja tão próximo quanto possível da taxa de

juro efetivamente observada no fi nal do trimestre.

3.3.1.2 O resto do mundo

O setor “resto do mundo” resulta da agregação de vários agentes económicos com características muito

distintas. Esta heterogeneidade cria difi culdades à presente análise. Adicionalmente, o facto de estarmos

a avaliar o resto do mundo apenas na sua relação com o país em análise diz-nos muito pouco sobre a

situação fi nanceira do resto do mundo. Assim, independentemente da defi nição utilizada para capital

próprio, esta será sempre de difícil interpretação. Isto não signifi ca que o resto do mundo é irrelevante

no modelo. O resto do mundo é muito importante como absorvedor e emissor de choques. A título de

exemplo, se uma empresa não residente ou um soberano não cumprirem as suas responsabilidades, isto

poderá ter um impacto importante sobre a economia em análise. Dadas as restrições, procurámos sobre-

tudo garantir que a defi nição utilizada é passível de ser aplicada a todos os países, independentemente

de terem uma posição fi nanceira positiva ou negativa em relação ao exterior. Adicionalmente, defi niu-se

o capital próprio do resto do mundo de forma a não afetar o valor de mercado da sua dívida. Não faria

sentido concluir que os ativos de algum setor relativamente ao resto do mundo valiam menos só porque

um determinado país tem uma posição externa bastante positiva. Assim, a metodologia seguida em relação

ao resto do mundo é bastante semelhante à seguida para as administrações públicas. O lado esquerdo

do balanço do resto do mundo corresponde ao valor presente de todas as exportações futuras para o

país em análise acrescido de todos os ativos fi nanceiros. Em contrapartida, o lado direito do balanço

inclui o valor atual das importações futuras ao qual acrescem os passivos fi nanceiros do resto do mundo.

Contrariamente às administrações públicas, não é possível argumentar que existe um nível mínimo de

importações. No caso limite, se o resto do mundo tiver difi culdades de pagamento, as empresas do país

em análise deixarão de exportar restaurando o equilíbrio por essa via. Deste modo, assumiu-se que o

capital próprio corresponde ao valor presente de todas as importações futuras do resto do mundo, acres-

cidas da sua posição fi nanceira líquida. As importações constituem, assim, um amortecedor, diminuindo

sempre que interpretadas como insustentáveis pelo mercado. A sustentabilidade dessas importações é

avaliada utilizando uma taxa de desconto, a qual pode ser defi nida através do modelo CAPM. Desta

forma, pretende-se que a taxa de desconto incorpore o risco sistemático nas exportações para o resto

do mundo face ao portfolio de mercado. Assim, países que têm as suas exportações concentradas em

mercados mais voláteis terão necessariamente taxas de desconto mais elevadas. Por seu turno, o índice

Vstoxx, que é uma medida de volatilidade implícita baseada no índice Dow Jones Eurostoxx 50, é utilizado

como proxy para a volatilidade dos retornos do capital próprio do resto do mundo.

3.3.2 A barreira de incumprimento

A literatura relativa ao modelo de dívida contingente considera geralmente a barreira de incumprimento,

TB , como sendo igual à soma dos passivos de curto prazo com 50 por cento dos passivos de longo

prazo. Esta hipótese é justifi cada pela possibilidade de no longo prazo as empresas poderem ajustar o seu

comportamento de acordo com a evolução do mercado. Tendo por base as contas nacionais fi nanceiras,

os instrumentos “depósitos”, “empréstimos (curto prazo)”, “títulos de dívida (curto prazo)” e “outros”

foram considerados como passivos de curto prazo, enquanto “empréstimos (longo prazo)”, “títulos de

dívida (longo prazo)”, “seguros” e “pensões” foram considerados como passivos de longo prazo. Para

Page 165: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

163

Art

igos

todos os setores exceto as administrações públicas e o resto do mundo seguiu-se uma abordagem em

linha com a literatura. Para estes setores, a segmentação por maturidade foi ignorada na medida em que

a defi nição utilizada para o seu capital próprio foi justifi cada pela sua capacidade de ajustamento. No

caso das administrações públicas impôs-se uma estrutura de passivos mais complexa de forma a ter em

conta as idiossincrasias do setor. Assim, os passivos das administrações públicas foram divididos em três

tranches de forma a incorporar a ideia proposta por Silva (2010) de que o soberano tem capacidade para

impor restrições ao comportamento dos agentes económicos residentes que não seria possível aplicar

aos não residentes. Este procedimento tem sido observado durante a atual crise de dívida soberana

durante a qual os bancos residentes acomodaram a menor procura dos não residentes nos leilões de

dívida pública. Esta fl exibilidade imposta tem que ser considerada aquando da valorização da dívida das

administrações públicas detida por agentes económicos residentes. Assim, considerou-se como dívida

sénior o valor presente de todas as despesas obrigatórias, incluindo todas as despesas inevitáveis durante

o período de ajustamento. A primeira tranche de dívida subordinada é composta por “títulos de dívida”

e “empréstimos” detidos pelo resto do mundo, “depósitos”, maioritariamente detidos por particulares e

“outros” que correspondem a passivos junto de fornecedores. Finalmente, a segunda tranche de dívida

subordinada inclui os restantes passivos, nomeadamente, “empréstimos” e “títulos de dívida” detidos

por todos os setores exceto o resto do mundo, o que corresponde, quase na totalidade, a passivos em

relação a OIFM. As administrações públicas não têm passivos sob a forma nem de “seguros” nem de

“pensões”. Considerou-se que “depósitos” tem menos risco que “empréstimos” e “títulos de dívida”

na medida em que é politicamente menos aceitável não honrar compromissos relativamente a particu-

lares do que persuadir os bancos residentes a renovar linhas de crédito previamente existentes. Todas as

defi nições encontram-se sumarizadas no quadro 1.

Quadro 1

TABELA DE ASSUNÇÕES SETORIAIS

Setores que emitem

açõesParticulares Resto do Mundo Administrações Públicas

Capital

próprio

SNF, OIFM, OIFAF,

SSFP: Valor das

ações cotadas,

valor ajustado das

ações não cotadas e

valor dos fundos de

investimento

BC: Valor contabilistico

das respetivas ações

Posição fi nanceira

líquida

+

Ativos imobiliários

+

Valor presente das

poupanças futuras

Posição fi nanceira

líquida

+

Valor presente das

importações futuras

Posição fi nanceira líquida

+

Valor presente das reservas

discricionárias

Volatilidade

do retorno

do capital

próprio

SNF: PSI-20

BC: Banque Nationale

de Belgique

OIFM e OIFAF: PSI-

Serv. Financeiros

SSFP: Stoxx Europe

600 Insurance

Volatilidade do

portfolio de ativos de

particulares ajustado

para a estrutura de

fi nanciamento do

setor

VStoxx

Simulação onde as taxas de

juro implícitas nas obrigações

de dívida pública a 10 anos

seguem uma distribuição

triangular

Passivos

(curto prazo)

Depósitos

Empréstimos (curto prazo)

Títulos de dívida (curto prazo)

Derivados fi nanceiros

Outros

Depósitos

Empréstimos

Títulos de dívida

Seguros

Pensões

Outros

Sénior: Valor presente das

despesas obrigatórias

1ª sub.: Depósitos, Títulos de

dívida e Empréstimos detidos

por não residentes e outros

2ª. sub.: Títulos de dívida

e Empréstimos detidos por

residentes

Passivos

(longo prazo)

Empréstimos (longo prazo)

Títulos de dívida (curto prazo)

Seguros

Pensões

Page 166: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

164

II

4. O modelo de dívida contingente em termos prospetivos

Na secção 3 mostrou-se como aplicar o modelo de dívida contingente ao nível setorial de forma a estimar

o valor de mercado dos ativos de cada setor, bem como vários indicadores de risco. Em termos pros-

petivos, não existe informação disponível quer quanto ao valor de mercado do capital próprio de cada

setor, quer em relação à volatilidade futura dos seus retornos. Assim, é necessário fazer mais assunções

relativamente à forma como os choques são transmitidos na economia. Nesta secção são descritos os

tipos de choques a estudar com o modelo. De seguida desenha-se o mecanismo de transmissão que

permite quantifi car as perdas que resultam desses mesmos choques.

4.1. O que é que entendemos por choque?

Os agentes económicos são constantemente confrontados com mudanças que afetam as suas decisões.

Estas decisões podem resultar de alterações esperadas ou inesperadas no ambiente em que operam.

A hipótese de racionalidade dos agentes económicos assume que apenas as alterações inesperadas

implicam alterações nas escolhas dos agentes. Desta forma, alterações previsíveis já se encontram total-

mente incorporadas no valor de mercado dos ativos. No modelo utilizado neste estudo, com exceção

do banco central, todos os setores encontram-se contabilizados, pelo menos parcialmente, a valor de

mercado11. Deste modo assume-se que apenas alterações inesperadas são relevantes . Designaremos

essas alterações como choques, os quais são interpretados como eventos exógenos, na medida em que

são determinados fora do modelo.

Para cada setor, o modelo apresentado até agora tem duas variáveis endógenas, A e As , e várias

variáveis exógenas, nomeadamente, E , Es , T

B e r . Para fi ns prospetivos, no entanto, como será

melhor explicado na secção 4.2, assumimos que Es segue uma trajetória defi nida endogenamente.

Adicionalmente, assume-se que r está fi xo. Deste modo, obtém-se um modelo onde apenas existe a

possibilidade de ocorrência de choques diretos nos agregados de balanço, nomeadamente em E e

TB . Dada a igualdade entre os lados esquerdo e direito do balanço, esta abordagem é equivalente

a considerar choques em A . No entanto, ao considerarmos apenas choques em E e T

B , evita-se o

risco de duplicação de choques. Em relação a E , existem duas situações distintas. Por um lado, para

aqueles setores que emitem “ações”, qualquer choque em E afeta não só o setor que sofre o choque

mas também todos os seus acionistas de forma proporcional à sua detenção de capital. Por outro lado,

no caso dos setores que não emitem ações (particulares, administrações públicas e resto do mundo), o

capital próprio é visto como correspondente a ações sem setor detentor. Por outras palavras, o capital

próprio destes setores é apenas uma medida da solvência do setor e não propriamente um ativo de outro

setor. Isto garante-nos que continuamos a olhar apenas para um dos lados do balanço12. Em contraste

com E , T

B é composto por um grande número de instrumentos: “depósitos”, “títulos de dívida”,

“empréstimos” “seguros”, “pensões” e “outros”. Cada um destes instrumentos pode ser interpretado

como uma variável exógena, sendo possível simular choques em cada um deles individualmente.

No parágrafo anterior restringiu-se o número de choques suscetíveis de serem analisados no modelo a

choques em E e em T

B . No contexto do modelo de Merton, no entanto, faz sentido olhar apenas para

choques em E na medida em que se trata de um modelo de um só fator. Por outras palavras, existe

apenas uma fonte de incerteza. Os compromissos são cumpridos sempre que os ativos superem a barreira

de incumprimento na maturidade. Caso contrário, os detentores de dívida têm que assumir perdas. O

11 O capital próprio de particulares não se encontra a valor de mercado. No entanto, vários dos instrumentos uti-

lizados na sua estimação estão ora a preço de mercado, como é o caso de “ações”, ora de acordo com algum

modelo de avaliação, como é o caso dos ativos imobiliários e das poupanças futuras. O capital próprio das

administrações públicas e do resto do mundo são contabilizados através de um modelo baseado em dados de

mercado.

12 Tal não seria possível se considerássemos que o capital próprio de um determinado setor é constituído pela soma

e subtração de elementos do lado esquerdo e direito do balanço.

Page 167: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

165

Art

igos

modelo não considera a possibilidade de não pagamento sem insolvência explícita, ou seja, sem que

a totalidade da base de capital tenha sido consumida. No entanto, é possível que muitos dos agentes

económicos que compõem um setor se tornem insolventes sem que isso signifi que que o setor, no seu

todo, seja insolvente. Como exemplo, considere-se que a atividade económica diminui inesperadamente.

As sociedades fi nanceiras têm menos lucros, as instituições fi nanceiras registam mais perdas de crédito, as

administrações públicas registam maiores défi ces, o desemprego aumenta e as importações aumentam.

Todos estes eventos tendem a diminuir o capital próprio de cada um dos setores e, por conseguinte,

o valor de mercado da dívida. Isto são tudo choques em E . No entanto, ao mesmo tempo, algumas

empresas fecharão, alguns bancos desaparecerão e alguns particulares decretar-se-ão insolventes. Ao

nível agregado, é impossível ter isto em conta sem considerar a possibilidade de choques em T

B .

4.2. O mecanismo de transmissão de choques

Na última secção discutiu-se que choques faria sentido considerar no contexto de uma aplicação do

modelo de dívida contingente ao nível setorial. Defi niram-se e justifi caram-se dois tipos de choques:

choques em E e choques em T

B . Como explicitado na secção 2, no contexto do modelo de Merton,

os passivos são contingentes no valor dos ativos e o capital próprio funciona como um amortecedor de

choques, na medida em que representa um direito residual sobre os rendimentos gerados pelo ativo. No

caso de choques em E , este impacto é direto, enquanto para choques em T

B , é o setor que detém o

ativo correspondente que sofre uma perda no seu capital próprio. O choque é depois transmitido por

duas vias. Por um lado, os detentores do capital dos setores atingidos sofrem uma perda proporcional

à percentagem do capital detido. Daqui em diante este mecanismo irá ser denominado de “canal de

capital”. Por outro lado, dado que o valor da dívida é contingente nos ativos, qualquer choque que

produza alterações ao nível da qualidade da dívida implica também perdas no setor que detém essa

dívida como ativo. Este canal constituirá o “canal de dívida” na taxonomia utilizada13. As perdas que

resultam deste canal não são geralmente registadas nos balanços. No entanto, a sua consideração

contribui para melhor compreender os canais de transmissão de choques na economia. Assim, qualquer

que seja a fonte da perda, ela tem de ser transmitida aos detentores de capital dos setores atingidos. O

mecanismo repete-se até que o choque se tenha dissipado totalmente. Este modelo de transmissão pode

ser replicado através de um algoritmo onde as perdas relacionadas com ambos os canais são calculadas

e distribuídas no fi m de cada iteração14. Este mecanismo iterativo encontra-se representado no gráfi co

2. O painel A ilustra como um choque hipotético no capital próprio de todos os setores se propaga. O

painel B mostra como é que as perdas de cada setor são calculadas e distribuídas.

Os canais de capital e de dívida têm duas interpretações económicas bastante distintas. Enquanto o canal

de capital corresponde a perdas efetivamente verifi cadas, o canal de dívida considera as perdas esperadas

como resultado de alterações na probabilidade de incumprimento e perda dado o incumprimento dos

vários setores. Na ausência de risco de crédito, isto é, assumindo que todos os setores cumprem todas as

suas responsabilidades, o canal de dívida não existiria no modelo. Ao contrário das perdas relacionadas

com o canal de capital, as quais são quantifi cáveis de forma trivial com base nas iterações anteriores,

as perdas associadas ao canal de dívida exigem a utilização de um modelo de valorização de dívida, tal

como o modelo de dívida contingente. Uma vez defi nido o valor futuro do capital próprio de cada setor

com base no modelo de transmissão de choques, falta-nos apenas defi nir uma trajetória em relação à

13 O valor dos choques em E e T

B correspondem às perdas iniciais indicadas no gráfi co 2 – Painel A. O primeiro

impacto de ambos os tipos de choques pertence ao canal de capital. Relativamente a choques em T

B , note-se

que aqueles setores que falharam os seus compromissos tornam-se mais solventes após o choque. Este ganho

é registado no canal de dívida.

14 Apesar das perdas originadas pelo canal de dívida em iterações anteriores serem transmitidas pelo canal de capi-

tal, considera-se que estas perdas pertencem ao canal de dívida, na medida em que se este último não existisse,

estas perdas também não existiriam.

Page 168: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

166

II

evolução da volatilidade dos retornos do capital próprio após o choque para podermos aplicar o modelo

de dívida contingente em termos prospetivos. Manipulando o sistema de equações defi nido na equação

2, obtém-se a seguinte expressão15:

21 ( )rT

E A

Be d

Ets s -

æ ö÷ç ÷ç= + F ÷ç ÷÷çè ø

Substituindo 2

d e A

s , que não estão disponíveis no momento da iteração, pelos seus valores na iteração

anterior é possível ter uma previsão de E

s .

De forma a melhor representar a realidade, o modelo integra três aspetos que merecem atenção

adicional. Dois desses aspetos referem-se à forma como as OIFM e as administrações públicas inte-

15 Ver Bensoussan, Crouhy, Galai, Wilkie e Dempster (1994).

Gráfi co 2

O MECANISMO DE TRANSMISSÃO DE CHOQUES

Painel A

Painel B

Page 169: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

167

Art

igos

ragem. Na secção 3.3.2 considerou-se que a barreira de incumprimento das administrações públicas se

encontra dividida em três tranches com diferentes níveis de risco e, portanto, diferentes valores. Esta

diferenciação também tem que ser tida em linha de conta no mecanismo de transmissão de choques.

Assim, choques na capacidade do soberano pagar as suas dívidas afetam principalmente os detentores

de dívida mais júnior, ou seja, as OIFM. Em paralelo, considera-se que o Estado garante toda a dívida

das OIFM. Assim, todas as variações no valor de mercado da dívida das OIFM tendem a repercutir-se no

capital próprio das administrações públicas e, de forma indireta, nos detentores de dívida do soberano.

Neste estudo considera-se que, para o período amostral, o valor desta garantia já está incorporado nas

expetativas de mercado associadas à taxa de desconto utilizada para calcular o valor presente da reserva

discricionária. No entanto, para fi ns prospetivos, qualquer alteração no valor de mercado da dívida das

OIFM deverá ser subtraída explicitamente no capital próprio das administrações públicas. Em conjunto,

estamos perante um ciclo que se autoalimenta de forma semelhante ao que se tem verifi cado durante

a atual crise fi nanceira (Gráfi co 3).

O último aspeto a considerar tem a ver com a forma como o resto do mundo interage com os restantes

setores. Como qualquer outro setor, o resto do mundo age simultaneamente como um detentor de ativos

e um emissor de capital e dívida. Como detentor de ativos, admite-se que o resto do mundo absorve

todas as variações no valor dos ativos que detém. De forma semelhante, enquanto emissor de dívida,

se algum dos agentes que compõem o resto do mundo não pagar as suas dívidas faz sentido pensar

que tal gerará uma cascata de perdas no sistema. No entanto, é menos razoável assumir que perdas no

capital próprio do resto do mundo causadas por perdas registadas por agentes residentes em iterações

anteriores sejam devolvidas aos setores residentes em iterações subsequentes. As perdas tenderão a

dissipar-se dentro do resto do mundo, sendo que apenas uma pequena parte deverá voltar a impactar

os setores residentes através de ações de não residentes detidas por agentes residentes. Acontece que,

tal como referido na secção 3.3.1.2 deste estudo, o setor resto do mundo engloba apenas os agentes

económicos não residentes na sua relação com os residentes. Assim, qualquer cálculo da exposição sob

a forma de “ações” de agentes económicos residentes a não residentes com base nas contas nacionais

fi nanceiras levaria a uma excessiva sobreavaliação da mesma. De forma a evitar este problema, este

estudo optou por assumir que o resto do mundo não transmite perdas no canal de capital. Em relação

ao canal de dívida, esta hipótese não foi excluída à partida. No entanto, qualquer perda neste canal

deverá ser irrelevante dada a defi nição de capital próprio do resto do mundo utilizada.

Gráfi co 3

MECANISMO DE INTERAÇÃO ENTRE AS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS E OIFM

Page 170: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

168

II

5. A fronteira de estabilidade

A secção anterior propôs um método de quantifi cação das perdas decorrentes da ocorrência de choques.

A partir daí é possível calcular uma série de indicadores de risco. Na sequência da crise fi nanceira inter-

nacional que teve origem nos Estados Unidos em 2007, o acompanhamento do risco sistémico assumiu

particular relevância para os decisores de política. Neste quadro, indicadores avançados da robustez

do sistema fi nanceiro assumem importância acrescida. Esta secção apresenta o conceito de fronteira

de estabilidade, o qual, à parte de ser um indicador de risco por si só, é um conceito fundamental na

metodologia associada ao nosso novo indicador de risco sistémico.

De acordo com Silva, Ribeiro e Antunes (a publicar), as perdas relacionadas com os canais de capital e de

dívida evoluem de forma totalmente diferente à medida que o número de iterações aumenta. Enquanto

a variação marginal nas perdas relacionadas com o canal de capital tende a diminuir à medida que o

número de iterações aumenta (independentemente do número de iterações), a variação marginal nas

perdas totais relacionadas com o canal de dívida evolui de forma não monotónica. Silva, Ribeiro e Antunes

(a publicar) estudam as características destes dois canais e concluem que apesar de o canal de capital

ser o mais importante para choques convergentes, é o canal de divida que determina se o sistema tem

capacidade ou não de absorver o choque. Este tipo de mecanismo cria uma falsa sensação de robustez

na medida em que nas primeiras iterações o canal de capital tende a dominar sobre o canal de dívida. No

entanto, nos casos divergentes há um ponto a partir do qual o canal de capital é dominado pelo canal

de dívida gerando uma série de perdas que conduz ao colapso do sistema. Este mecanismo é consistente

com o que é advogado por Castrén e Kavonius (2009), Allen e Gale (2000), Gallegati, Greenwald, Stiglitz

e Ruchiardi (2008) e Haldane (2009), os quais, embora de forma não formalizada, referem a existência

de um ponto de infl exão da rede. Uma vez ultrapassado este ponto, todas as interações na economia

tornam-se canais de amplifi cação e não de absorção tornando um sistema aparentemente robusto num

sistema muito frágil. No nosso modelo, este ponto é motivado pela existência de risco de crédito.

Seguindo a ideia relacionada com a existência deste ponto de infl exão, introduz-se neste estudo o

conceito de fronteira de estabilidade. Defi na-se fronteira de estabilidade como o espaço geométrico em

nR composto por todas as combinações de choques inesperados em n dimensões capaz de conduzir

o sistema ao colapso num determinado momento do tempo. O sistema colapsa a partir do momento

em que o capital próprio de pelo menos um dos setores se torna não positivo após a total absorção

de um determinado choque. Qualquer ativo ou combinação de ativos pode constituir uma dimensão.

Quando n é igual a um, designa-se de fronteira de estabilidade individual. Condicional nos balanços,

nas relações intersetoriais e na perceção de risco do mercado, as fronteiras de estabilidade individuais

permitem aferir a dimensão do choque inesperado necessário para fazer colapsar o sistema. O resultado

vem sobre a forma de percentagem de todos os ativos nessa dimensão.

Com base na secção 4.1 consideraram-se choques no capital próprio de todos os setores. Adicionalmente,

consideraram-se choques nos passivos das sociedades não fi nanceiras, OIFAF, SS, particulares e resto

do mundo. Para os particulares, estimou-se também a fronteira de estabilidade associada às hipotecas

residenciais. Por fi m, estimou-se a fronteira de estabilidade associada às duas tranches de dívida subor-

dinada das administrações públicas.16 O gráfico 4 apresenta as fronteiras de estabilidade para algumas

destas dimensões.

Como se constata no gráfi co 4, as fronteiras de estabilidade não são estáticas no tempo. Quanto melhor

for a estrutura fi nanceira, maior é o choque necessário para fazer colapsar o sistema, o que sugere uma

16 A existência de fronteiras de estabilidade relacionadas com choques em T

B foram justifi cadas pela existência

de heterogeneidade intersetorial. No caso das administrações públicas esta heterogeneidade não existe. No

entanto, em contraste com o que acontece nas empresas, no caso do soberano é possível que este decida

unilateralmente não pagar parte da sua dívida sem que isso signifi que que deixe de existir. Este facto justifi ca a

consideração de choques nos passivos das administrações públicas.

Page 171: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

169

Art

igos

maior robustez. Este princípio é válido também para fronteiras de estabilidade com mais dimensões.

Conclui-se daqui que é possível avaliar alterações no risco sistémico com base em alterações no posi-

cionamento da fronteira de estabilidade. Quanto mais distante estiver a fronteira de estabilidade da

origem no espaço n

R , maior é a resiliência da rede intersetorial a choques nas dimensões consideradas.

Na secção 6 mostra-se como resumir toda a informação contida na(s) fronteira(s) de estabilidade num

único indicador.

6. O indicador de risco sistémico

A secção 5 apresentou o conceito de fronteira de estabilidade. Tal como foi argumentado, a fronteira

de estabilidade é, por si só, um indicador de risco, na medida em que representa todas as combinações

de choques inesperados de magnitude sufi cientemente elevada para consumir o capital próprio de pelo

menos um setor. Contudo, o conceito de fronteira de estabilidade não tem em conta a probabilidade de

ocorrência destes choques. O objetivo do indicador de risco sistémico proposto é justamente avaliar a

probabilidade da economia sofrer uma combinação de choques para além da fronteira de estabilidade.

Dada a impossibilidade de estimar o modelo quando um determinado setor fi ca com capital próprio não

positivo, designamos a probabilidade de isso acontecer de probabilidade da economia entrar em rutura

fi nanceira. Matematicamente, o indicador proposto pode ser defi nido como:

1

( ,..., )

( ,..., )

(dim1,..., dim )nFE FE

I n¥ ¥

= Yò

onde Y é uma função densidade probabilidade n-dimensional e { }1,...,

nFE FE

são as coordenadas da

nossa fronteira de estabilidade multidimensional.

Para muitas das dimensões apresentadas na secção 5 é difícil ter uma opinião fundamentada sobre a sua

distribuição. É o caso de choques nos passivos de OIFM, OIFAF, SS e resto do mundo. Iremos portanto

Gráfi co 4

FRONTEIRAS DE ESTABILIDADE INDIVIDUAIS ENTRE 2002T1 E 2010T4

Painel A – Choques em E Painel B – Choques em BT

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1

Mar-02 Mar-03 Mar-04 Mar-05 Mar-06 Mar-07 Mar-08 Mar-09 Mar-10

SNF OIFM SS AP

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1

Mar-02 Mar-03 Mar-04 Mar-05 Mar-06 Mar-07 Mar-08 Mar-09 Mar-10

SNF Dívida de AP (2ª sub.)Particulares (exceto emp. habitação) Particulares (habitação)RM

Fontes: Cálculos dos autores.

Page 172: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

170

II

deixar estas dimensões fora do nosso indicador de risco sistémico17, o que nos deixa com 7 dimensões:

1. Capital próprio das sociedades não fi nanceiras

2. Capital próprio de OIFM e OIFAF (optou-se por juntar estas duas dimensões)

3. Capital próprio de SS

4. Capital próprio das administrações públicas

5. Passivos das sociedades não fi nanceiras

6. Passivos de particulares exceto “empréstimos” concedidos por OIFMs para aquisição de habi-

tação.

7. Passivos de particulares em “empréstimos” concedidos por OIFMs para aquisição de habitação.

Por simplicidade, assumiu-se que Y é uma distribuição Normal com 7 dimensões, valor esperado nulo

e matriz variância-covariância W . O valor esperado de Y tem de ser necessariamente nulo, na medida

em que apenas as inovações, ou choques, são de interesse neste modelo. Os desvios esperados no

valor futuro das posições de balanço já estão contabilizados no capital próprio de cada setor a valor de

mercado. Assim, o desafi o analítico reside na estimação de W , o qual, à semelhança da fronteira de

estabilidade, não é constante ao longo do tempo. Cada uma das matrizes variâncias-covariâncias foi

estimada com base em dados sobre o retorno do capital próprio de cada um dos setores nos 12 meses

precedentes a cada trimestre. No caso das dimensões 1, 2 e 3, W foi estimado com base na volatilidade

dos retornos do PSI-20, do PSI-Serviços Financeiros e do Stoxx Europe 600 Insurance, respetivamente.

A volatilidade da dimensão 4 foi estimada com base no retorno das estimativas mensais do capital

próprio das administrações públicas. Para as restantes dimensões, utilizou-se a volatilidade dos desvios

dos fl uxos de empréstimos em incumprimento (em percentagem do total de empréstimos concedidos)

em relação à média dos últimos doze meses. Com base nestas hipóteses obteve-se a probabilidade da

economia entrar em rutura fi nanceira18. No gráfi co 5 apresenta-se a série da probabilidade da economia

entrar em rutura fi nanceira para o período Março de 2002 a Dezembro de 2010. O indicador de risco

proposto aponta para dois períodos de risco sistémico especialmente elevado, nomeadamente, o período

entre 2002 e 2003 e o período após Setembro de 2007. Apesar de o indicador indicar probabilidades

17 As dimensões relacionadas com o capital próprio do banco central, dos particulares e do resto do mundo foram

também excluídas do indicador. Este facto não deverá ter grande impacto, uma vez que a fronteira de estabili-

dade relacionada com estas dimensões é sempre próxima de 1.

18 Na prática esta probabilidade foi estimada por via de simulações de Monte-Carlo. Para mais resultados, ver Silva,

Ribeiro e Antunes (a publicar).

Gráfi co 5

PROBABILIDADE DE COLAPSO FINANCEIRO DA ECONOMIA

0%

5%

10%

15%

20%

25%

Mar-02 Mar-03 Mar-04 Mar-05 Mar-06 Mar-07 Mar-08 Mar-09 Mar-10

Fonte: Cálculos dos autores.

Page 173: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

171

Art

igos

de ruptura fi nanceira claramente acima de 10% em ambas as crises, as fronteiras de estabilidade no

gráfi co 4 (painel A) e as estimativas de W sugerem que o primeiro período foi, não exclusivamente, mas

especialmente focado num setor apenas, SS, o qual atingiu níveis de volatilidade do capital próprio muito

elevados. Em oposição, a atual crise é caracterizada por uma forte diminuição das fronteiras de estabili-

dade associadas a todas as dimensões. De facto, quase todas as fronteiras de estabilidade apresentadas

no gráfi co 4 atingiram o seu mínimo durante a atual crise, contribuindo para que a probabilidade de

rutura fi nanceira da economia registasse o seu valor máximo, cerca de 20%, em Dezembro de 2008.

7. Conclusão

Este estudo propõe um novo indicador de risco sistémico baseado em análise de redes e no modelo de

dívida contingente. O indicador proposto pretende ser uma proxy da probabilidade da economia entrar

em rutura fi nanceira no prazo de um ano. Do ponto de vista conceptual, a metodologia proposta pode

ser dividida em duas partes. Em primeiro lugar, são estimadas todas as combinações de choques neces-

sários para colapsar o sistema de relações intersetoriais na economia. O conjunto dessas combinações

constitui a fronteira de estabilidade, conceito introduzido neste artigo. De seguida, avalia-se a probabi-

lidade de ocorrência desses choques. O modelo proposto tem a vantagem de permitir a construção de

um indicador-síntese do risco sistémico na economia. Movimentos do indicador podem depois ser melhor

entendidos, analisando deslocações das fronteiras de estabilidade individuais, bem como alterações nos

parâmetros da distribuição multivariada dos fatores de risco e da velocidade de absorção da rede. O

modelo contribui ainda para melhor entender a forma como os choques são transmitidos na economia

e o papel de cada setor. Em particular, considera-se explicitamente a forte interconexão existente entre

o risco soberano e o risco no setor bancário.

Page 174: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

172

II

referências

Allen, F. e Gale, D. (2000), “Financial contagion”, Journal of political economy, 108(1), 1-33.

Bensoussan, A., Crouhy, M. Galai, D. Wilkie, A. e Dempster, M. (1994), “Stochastic equity volatility and

the capital structure of the fi rm”, Philosophical Transactions: Physical Sciences and Engineering,

pp. 531-541.

Black, F., e Scholes, M. (1973), “The pricing of options and corporate liabilities”, Journal of Political

Economy , 81(2), 637-654.

Castren, O. e Kavonius, I. (2009), “Balance sheet interlinkages and macro-fi nancial risk analysis in the

euro area”, ECB Working Paper Series.

Cossin, D. e Pirotte, H. (2007), Advances credit risks analysis: fi nancial approaches and mathematical

models to assess, price and manage credit risk, John Wiley & Sons, Ltd.

Gallegati, M., Greenwald, B., Richiardi, M., e Stiglitz, J. (2008), “The asymmetric effect of diffusion pro-

cesses: risk sharing and contagion”, Global Economy Journal, 8(3), 2.

Gapen, M., Gray, D., Lim, C. e Xiao, Y. (2004), “The contingent claims approach to corporate vulnerabil-

ity analysis: estimating default risk and economy-wide risk transfer”, IMF Working Papers.

Gapen, M., Gray, D. F., Lim, C. e Xiao, Y. (2008), “Measuring and analyzing sovereign risk with contin-

gent claims”, IMF Staff Papers.

Gray, D., Lim, C., Loukoianova, E. e Malone, S. (2008), “A risk-based debt sustainability framework:

incorporating balance sheets and uncertainty”, IMF Working Papers.

Gray, D., Merton, R., e Bodie, Z. (2007), “New framework for measuring and managing macrofi nancial

risk and fi nancial stability”, NBER Working Paper Series.

Haldane, A. (2009), “Rethinking the fi nancial network”, Speech at Financial Student Association, Am-

sterdam, April.

Merton, R. (1974), “On the price of corporate debt”, Journal of Finance, 29(2), 449-470.

Sheldon, G. e Maurer, M. (1998), “Interbank lending and systemic risk: an empirical analysis for Switzer-

land”, Swiss Journal of Economics and Statistics (SJES) 134(IV), 685-704.

Upper, C. e Worms, A. (2004), “Estimating bilateral exposures in the German interbank market: Is there

a danger of contagion?”, European Economic Review 48,(4), 827-849.

Wells, S. (2004), “Financial interlinkages in the United Kingdom’s interbank market and the risk of con-

tagion”, Bank of England Working Paper.

Page 175: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

173

Art

igos

O COMPORTAMENTO DOS BANCOS DOMÉSTICOS E NÃO

DOMÉSTICOS NA CONCESSÃO DE CRÉDITO À HABITAÇÃO:

UMA ANÁLISE COM BASE EM DADOS MICROECONÓMICOS*

Sónia Costa** | Luísa Farinha**

Resumo

As instituições fi nanceiras não domésticas têm tido um papel importante na suavização

do processo de desalavancagem da economia portuguesa, contribuindo em particular

para uma menor desaceleração do crédito à habitação. O peso dos novos empréstimos

concedidos por bancos não domésticos aumentou signifi cativamente ao longo de

2010. Adicionalmente, os bancos não domésticos têm praticado taxas de juro mais

reduzidas nos novos empréstimos do que os bancos domésticos. A diferença entre

as taxas praticadas pelos dois tipos de instituição aumentou, em meados de 2010,

com o agravamento da crise da dívida soberana. Neste artigo utilizam-se dados

microeconómicos relativos a novos contratos de crédito à habitação para analisar

se os bancos domésticos e não domésticos têm um comportamento diferenciado

relativamente à restritividade aplicada na concessão de crédito. Os resultados apontam

para que os bancos domésticos sejam mais sensíveis ao grau de risco dos devedores

do que os não domésticos. Este comportamento ter-se-á acentuado no período

de alargamento do diferencial de taxas de juro entre os bancos domésticos e não

domésticos.

1. Introdução

O processo de desalavancagem do setor privado, fi nanceiro e não fi nanceiro, é um aspeto crucial do

ajustamento em curso na economia portuguesa. Com o agudizar da crise da dívida soberana na área do

euro tornou-se particularmente evidente que os atuais níveis de endividamento dos vários setores são

insustentáveis. A necessária correção das despesas em consumo e investimento por parte das famílias

começou entretanto a verifi car-se, refl etindo-se num abrandamento da procura de crédito. Num contexto

de aumento do risco de crédito dos devedores, de difi culdade dos bancos portugueses no acesso aos

mercados de fi nanciamento por grosso e de necessidade de re-estruturação dos seus balanços, os efeitos

do lado da oferta têm contribuído também para o enfraquecimento do crédito.

A contração da oferta de crédito pode traduzir diferentes comportamentos por parte dos bancos. Os

bancos podem impor condições contratuais mais exigentes de forma generalizada a todos os devedores,

aplicando, por exemplo, taxas de juro mais elevadas. Podem também optar por aumentar relativamente

mais a restritividade na concessão de crédito aos devedores de risco mais elevado. Os bancos podem

ainda decidir não conceder crédito aos devedores com maior probabilidade de incumprimento, mesmo

* As autoras agradecem a Susana Narciso e Susana Salvado do Departamento de Supervisão Comportamental

do Banco de Portugal os esclarecimentos prestados sobre a base de dados do crédito à habitação e a António

Antunes pela discussão dos resultados. As opiniões expressas no artigo são da responsabilidade das autoras, não

coincidindo necessariamente com as do Banco de Portugal ou do Eurosistema. Eventuais erros e omissões são da

exclusiva responsabilidade das autoras.

** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos.

Page 176: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

174

II

que estes estivessem dispostos a pagar o prémio de risco1. Estes vários tipos de comportamento têm

consequências diferentes no que respeita à “qualidade” média dos novos devedores das instituições de

crédito e, por isso, implicações distintas em termos de estabilidade fi nanceira. Assim, tentar identifi car o

tipo de comportamento seguido pelos bancos domésticos, no contexto atual, é uma questão relevante.

A presença de instituições não domésticas no mercado de crédito poderá ser muito útil na análise desta

questão dado que o seu comportamento é, em princípio, diferenciado do das instituições em que a

origem do capital é doméstica. Estas instituições têm a vantagem face às instituições portuguesas de

poderem fi nanciar-se junto das respetivas casas-mãe, as quais fazem em geral parte de grupos fi nanceiros

internacionais com carteiras de ativos diversifi cadas e estão localizadas em mercados onde as instituições

enfrentam menores problemas de acesso ao fi nanciamento. Além disso, as instituições que são sucursais

não estão sujeitas aos requisitos de capital e de desalavancagem mais exigentes associados ao processo

de ajustamento da economia portuguesa.

As instituições fi nanceiras não domésticas têm tido um papel importante na suavização do ciclo de

crédito na economia portuguesa, em particular no caso do crédito à habitação2. De facto, os novos

empréstimos à habitação concedidos pelo conjunto dos bancos domésticos têm registado nos últimos

anos uma tendência de redução, a qual só se começou a observar no caso dos bancos não domésticos

em 2011. Neste contexto, o peso dos novos empréstimos concedidos por bancos não domésticos, que se

situava em cerca de 20 por cento em 2009, aumentou signifi cativamente ao longo de 2010, situando-se

desde meados desse ano em cerca de 35 por cento, um valor muito superior à quota de mercado destes

bancos no total do stock de crédito à habitação. Além disso, os bancos não domésticos têm praticado

taxas de juro mais reduzidas nos novos empréstimos do que os bancos domésticos, o que se intensifi cou

em meados de 2010, com o agravamento da crise da dívida soberana. Esta evolução diferenciada das

taxas de juro pode dever-se ao facto de ter aumentado a proporção dos devedores com maior risco nas

instituições domésticas face às não domésticas (efeito composição) e/ou a uma aplicação de critérios

mais restritivos na concessão de crédito por parte das instituições domésticas. As consequências para

a estabilidade fi nanceira são diferentes num ou noutro caso. Este artigo tenta dar um contributo para

esclarecer esta questão.

Neste artigo utilizam-se dados microeconómicos relativos a novos contratos de crédito à habitação para

analisar se os bancos domésticos e não domésticos têm um comportamento diferenciado relativamente

à restritividade aplicada na concessão de crédito. O estudo benefi ciou da disponibilidade de uma base de

dados relativa a contratos de crédito à habitação recolhida pelo Departamento de Supervisão Compor-

tamental (DSC) do Banco de Portugal. Esta base de dados contém informação detalhada ao nível dos

contratos de crédito, tendo a vantagem de permitir relacionar o montante do empréstimo com a respetiva

taxa de juro, controlando ao mesmo tempo outras características dos contratos e determinadas caracte-

rísticas das instituições fi nanceiras (como, por exemplo, a origem doméstica/não doméstica do capital).

Desta base de dados foi selecionada uma amostra de novos empréstimos para os quais foi possível obter

as condições iniciais dos contratos.

Uma limitação da base de dados do DSC consiste no facto de não incluir informação sobre as caracte-

rísticas do devedor. Adicionalmente, a amostra de novos empréstimos selecionada a partir desta base

de dados cobre um período temporal relativamente curto (de outubro de 2009 a setembro de 2010),

incluindo assim poucos meses após o agravamento da crise de dívida soberana que ocorreu em meados

de 2010 e que acabou por implicar o pedido de assistência fi nanceira de Portugal em abril de 2011.

Com o objetivo de colmatar estas limitações utilizam-se também neste artigo os dados da Central de

Responsabilidades de Crédito (CRC) do Banco de Portugal relativos aos saldos de crédito concedido a

1 É o caso de racionamento do crédito apresentado por Stiglitz e Weiss (1981).

2 Ver “Caixa 4.1 O papel mitigante das instituições fi nanceiras residentes não domésticas no processo de desala-

vancagem da economia portuguesa”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira, Maio de 2011.

Page 177: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

175

Art

igos

particulares, para o período de abril de 2009 a junho de 2011. Com estes dados calcularam-se indica-

dores de incumprimento no sistema bancário para os devedores com novos empréstimos à habitação,

os quais permitem ter uma ideia aproximada sobre a qualidade média do crédito concedido por bancos

domésticos e não domésticos.

O artigo está organizado da seguinte forma: na secção 2 efetua-se uma breve revisão da literatura rela-

tiva ao papel das instituições não domésticas na oferta de crédito do país de acolhimento; na secção 3

apresentam-se as bases de dados utilizadas; a secção 4 inclui uma análise descritiva dos dados, a qual

permite caracterizar a evolução recente dos empréstimos à habitação concedidos por bancos domés-

ticos e não domésticos; a secção 5 apresenta os resultados de regressões efetuadas com o objetivo de

analisar se os bancos domésticos e não domésticos têm um comportamento diferenciado relativamente

à restritividade aplicada na concessão de crédito; por fi m a secção 6 inclui as principais conclusões.

2. Literatura

Uma parte da literatura empírica recente sobre o efeito da entrada/presença de instituições fi nanceiras não

domésticas sobre a estabilidade económica e fi nanceira no país de acolhimento procura avaliar se aquela

entrada/presença contribui para atenuar ou amplifi car os choques macroeconómicos. Os fundamentos

teóricos para esta literatura baseiam-se quase sempre no modelo desenvolvido por Holmstrom, Bengt e

Tirole (1997) ou em extensões deste modelo. Este artigo centra-se nos efeitos da integração fi nanceira

e conclui que esta tende a amplifi car o impacto dos choques negativos que afetem o valor do colateral

porque, no caso de ocorrer um choque deste tipo, os bancos não locais tenderão a deslocalizar-se. No

caso de o choque incidir sobre o próprio sistema bancário, a presença de bancos não locais tende a ter

um efeito estabilizador porque estes têm mais facilidade em importar recursos fi nanceiros do exterior

para fi nanciar projetos locais. Dado que os dois tipos de choques acontecem frequentemente em simul-

tâneo é difícil saber à partida qual o efeito dominante. De acordo com Clarke et al. (2005), a presença de

bancos não locais de maior dimensão, com um maior nível de compromisso com a economia, traduzido

numa estratégia de longo prazo, tenderia a minimizar o primeiro efeito sendo mais provável obter um

resultado global no sentido da estabilização.

A literatura empírica refl ete esta dualidade de posições. Goldberg (2002), por exemplo, conclui que a

presença de bancos americanos em mercados emergentes contribui para estabilizar a oferta de crédito

em caso de fl utuações no crescimento e nas taxas de juro nestes mercados. No entanto, conclui também

que os mercados nos países de acolhimento fi cam sensíveis às fl utuações da economia dos EUA. Morgan

e Strahan (2004) tratam a questão do ponto de vista das consequências da integração fi nanceira dentro

dos EUA, estendendo a análise a um conjunto de países.

Tanto quanto foi possível averiguar, não existem na literatura empírica estudos diretamente compará-

veis com a análise que se apresenta neste artigo. Os estudos empíricos recentes que analisam, ao nível

microeconómico, os principais fatores determinantes das taxas de juro dos empréstimos à habitação e

outros empréstimos concedidos às famílias, põem sobretudo ênfase nas características dos devedores.

Por exemplo, Edelberg (2003, 2006) e Magri e Pico (2011), respetivamente para o caso dos EUA e de

Itália, centram-se sobretudo no efeito do risco de crédito sobre as taxas de juro.

3. Dados

a. Dados de contratos de crédito à habitação

Neste artigo utiliza-se uma base de dados de contratos de crédito à habitação recolhida pelo Departamento

de Supervisão Comportamental (DSC) do Banco de Portugal junto das instituições de crédito, com o

objetivo de proceder ao acompanhamento deste mercado. Esta base de dados contém informação sobre

Page 178: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

176

II

as principais características de todos os contratos vivos em 30 de setembro de 2010, nomeadamente

a identifi cação da instituição de crédito que concedeu o empréstimo, as datas de início e de termo do

contrato, o montante inicial do empréstimo, o montante em dívida e as taxas de juro (taxa nominal e taxa

anual efetiva) em 30 de setembro de 2010. A base de dados tem ainda informação sobre o regime de

taxa de juro, o tipo de indexante e o spread, a duração do período da taxa fi xa, o regime de prestações,

o tipo de crédito e a modalidade de amortização dos empréstimos3. Para além das características dos

empréstimos vivos a 30 de setembro, a base de dados contém informação sobre re-embolsos antecipados

e renegociações dos empréstimos à habitação que tenham ocorrido entre 1 de outubro de 2009 e 30

de setembro de 2010.

A informação sobre as renegociações dos empréstimos permitiu construir, para o período entre outubro

de 2009 e setembro de 2010, uma base de dados dos novos empréstimos contratados em cada mês, os

quais são o objeto de estudo deste artigo. Em particular, os dados relativos às renegociações de prazos

e de spreads efetuadas entre 1 de outubro de 2009 e 30 de setembro de 2010 foram utilizados para se

obterem as taxas de juro e os prazos no início do contrato4. Assim, na análise, não foram utilizados os

dados dos empréstimos contratados no período anterior a outubro de 2009, uma vez que para estes não

é possível obter as condições iniciais dos contratos. Além disso, excluíram-se os empréstimos com taxas de

juro indexadas a uma taxa não especifi cada, com taxas mistas, e aqueles em que ocorreram renegociações

que envolveram alterações no regime de taxa de juro. Para todos estes contratos não é possível obter

o valor da taxa inicial. Por fi m, refi ra-se que não foram utilizados os dados relativos a crédito conexo,

a empréstimos com regimes de prestações diferentes de constantes e a empréstimos com períodos de

carência de capital e juros. A exclusão destes dados foi motivada pelo facto das características muito

específi cas dos contratos serem difíceis de controlar numa análise de regressão. Além disso, evita-se a

perturbação causada nos dados pela eventual imprecisão na utilização de algumas destas classifi cações.

Os dados utilizados dizem assim respeito a 68633 novos empréstimos, com data de início entre outubro

de 2009 e setembro de 2010. Destes, 15516 correspondem a empréstimos concedidos por bancos não

domésticos. A periodicidade considerada é mensal.

b. Dados da Central de Responsabilidades de Crédito

A base de dados da CRC do Banco de Portugal contém informação enviada mensalmente ao Banco

de Portugal por todas as instituições de crédito a operar no país. Para cada par instituição de crédito/

devedor, a informação sobre os saldos de crédito está desagregada por nível de responsabilidade do

crédito (individual ou conjunto), tipo de produto fi nanceiro, situação do crédito, prazo original e residual

do crédito e, ainda, classe de crédito vencido (para o crédito em situação de vencido). Desde o início de

2009, a informação sobre o tipo de produto permite identifi car inequivocamente o crédito à habitação.

A informação sobre o crédito vencido permite construir indicadores de incumprimento do crédito e rela-

cioná-los com determinadas características das instituições de crédito, dos devedores e dos empréstimos.

3 Os regimes de taxa de juro considerados são taxa fi xa, variável ou mista. Os indexantes da taxa variável consis-

tem nas taxas de juro Euribor a 3, 6 e 12 meses ou outro indexante. As prestações podem ser constantes, pro-

gressivas ou ter outro regime. O tipo de contrato inclui as categorias de crédito à habitação e de crédito conexo.

As modalidades de amortização dos empréstimos incluem amortizações clássicas ou contratos com períodos

de carência inicial de capital ou de capital e juros (até 6 meses, 6 meses – 1 ano, mais de 1 ano) e/ou com uma

percentagem de capital diferido para a última prestação.

4 O prazo no momento inicial foi obtido subtraindo ao prazo a 30 de setembro a soma das alterações de prazo

que tenham eventualmente ocorrido até essa data devido a renegociações. O mesmo procedimento foi seguido

para calcular o spread no momento do contrato. No caso dos empréstimos indexados às taxas de juro Euribor

a 3, 6 e 12 meses, os valores destes indexantes na data de início do contrato, em simultâneo com os spreads

calculados, permitiram obter a taxa de juro nominal estabelecida na data de início do contrato. No caso dos

empréstimos de taxa fi xa considerou-se que o valor da taxa de juro inicial é igual ao valor da taxa em 30 de

setembro, o que é uma hipótese razoável uma vez que, segundo a informação da base de dados, os períodos

de fi xação destas as taxas são sempre iguais ou superiores a 1 ano.

Page 179: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

177

Art

igos

Na CRC não existe informação que permita identifi car de forma inequívoca os empréstimos novos, os

quais são o objeto da análise deste trabalho. Assim, a identifi cação dos novos empréstimos resultou da

comparação dos saldos do crédito à habitação para os mesmos devedores e com as mesmas caracterís-

ticas, na mesma instituição de crédito, em três meses consecutivos. Num determinado mês, considerou-se

que um saldo corresponde a um novo empréstimo se tiver um montante padronizado (múltiplo de 100

euros) e se nos dois meses anteriores o devedor não tiver qualquer crédito ou tiver apenas créditos com

características muito diferentes.

Dada a natureza aproximada destes dados, os indicadores obtidos com base na CRC devem ser interpre-

tados com um cuidado especial. No entanto, no período comparável, a informação sobre novos créditos

na CRC obtida desta forma parece ser consistente com a da base de dados do DSC. A utilização destes

dados tem a vantagem de se poder alargar o período temporal de junho de 2009 a junho de 2011. Além

disso, permite calcular os indicadores de incumprimento, suprindo parcialmente a falta de informação

ao nível do devedor na base de dados do DSC. Uma das principais limitações da CRC é não dispor de

informação sobre taxas de juro associadas aos créditos. Os indicadores de incumprimento da CRC não

podem assim ser utilizados para estimar o modelo apresentado na secção 5 para analisar a restritividade

dos critérios de concessão de crédito das instituições domésticas e não domésticas. Neste contexto, os

indicadores de incumprimento são utilizados como uma fonte de informação complementar à análise

de regressão. Em particular, estes indicadores permitem ter alguma ideia sobre o nível e evolução da

“qualidade” inerente aos novos empréstimos concedidos por instituições domésticas e não domésticas.

4. Análise descritiva

No gráfi co 1a apresenta-se a evolução, entre outubro de 2009 e setembro de 2010, do número de

novos empréstimos à habitação considerados na amostra retirada da base de dados do DSC. O número

de contratos estabelecidos por bancos domésticos é superior ao dos bancos não domésticos, contudo a

diferença entre ambos reduz-se bastante a partir do primeiro trimestre de 2010. Enquanto o número de

empréstimos concedidos por bancos domésticos regista uma tendência claramente decrescente, passando

de cerca de 5000 em outubro de 2009 para menos de 3000 em setembro de 2010, o número de contratos

dos bancos não domésticos aumentou ligeiramente (de cerca de 1200 para cerca de 1400). Os dados

da CRC confi rmam esta evolução, mas indicam que desde o início de 2011 o número de empréstimos

concedidos por bancos não domésticos estará igualmente a reduzir-se (Gráfi co 1b).

A informação sobre o montante total de crédito concedido pelos dois tipos de instituições, apresentada

no gráfi co 2, confi rma que o peso dos bancos não domésticos na concessão de novos empréstimos à

habitação terá aumentado signifi cativamente entre fi nais de 2009 e setembro de 2010, permanecendo

depois relativamente estável até junho de 2011.

Quanto às características dos contratos, observa-se que o montante médio por contrato é sempre superior

no caso das instituições não domésticas (média mensal de 94 mil euros para os bancos domésticos e 117

mil euros para os bancos não domésticos, segundo os dados do DSC), tendo-se mantido relativamente

estável ao longo do período em análise (Gráfi co 3).

A estrutura dos prazos dos novos empréstimos concedidos pelos dois tipos de bancos regista algumas

alterações durante o período em análise (Gráfi co 4). De acordo com os dados do DSC, nas instituições

domésticas reduziu-se claramente o peso dos empréstimos com prazos mais longos, o que é visível ao

longo de todo o período no caso do prazo de mais de 45 anos (Gráfi co 4a). Por sua vez, nas instituições

não domésticas parece ter diminuído a importância dos prazos na classe 25-30 anos e aumentado o

peso dos prazos mais longos (Gráfi co 4b). Entre outubro de 2009 e setembro de 2010, o prazo médio

dos novos empréstimos aumentou cerca de dois anos nos bancos não domésticos e reduziu-se cerca de

um ano nos domésticos. Na CRC, os prazos só estão disponíveis em intervalos, o que limita a compara-

bilidade com os dados do DSC, tanto mais que não existe desagregação para os prazos superiores a 30

Page 180: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

178

II

anos, onde se concentram a maior parte dos empréstimos à habitação e onde parecem ter ocorrido as

maiores alterações. Estes dados sugerem que tanto as instituições domésticas, como as não domésticas

terão reduzido no período mais recente o peso dos prazos superiores a 30 anos (Gráfi cos 4c e 4d). Como

contrapartida, os bancos domésticos terão aumentado o peso dos empréstimos com prazos mais curtos

(inferiores a 10 anos) e os não domésticos o peso de prazos intermédios (10-25 anos).

As taxas de juro médias implícitas nos dados do DSC são sempre inferiores no caso dos empréstimos

Gráfi co 2a Gráfi co 2b

MONTANTE TOTAL DOS NOVOS EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO

DADOS DSC DADOS CRC

10

20

30

40

50

60

100 000

200 000

300 000

400 000

500 000

600 000

Out-09 Dez-09 Fev-10 Abr-10 Jun-10 Ago-10

Per

cent

agem

Milh

ares

de

euro

s

10

20

30

40

50

60

100 000

300 000

500 000

700 000

900 000

1 100 000

Jun-09 Dez-09 Jun-10 Dez-10 Jun-11

Per

cent

agem

Milh

ares

de

euro

s

Não domésticos / Total (esc. dir.)Não domésticosDomésticos

Fonte: Banco de Portugal.

Gráfi co 1a Gráfi co 1b

NÚMERO DE CONTRATOS DE NOVOS EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO

DADOS DSC DADOS CRC

10

18

26

34

42

50

1 000

2 000

3 000

4 000

5 000

6 000

Out-09 Dez-09 Fev-10 Abr-10 Jun-10 Ago-10P

erce

ntag

em

Nº d

e co

ntra

tos

10

18

26

34

42

50

1 000

3 000

5 000

7 000

9 000

11 000

Jun-09 Out-09 Fev-10 Jun-10 Out-10 Fev-11 Jun-11

Per

cent

agem

Nº d

e co

ntra

tos

Não domésticos / Total (esc. dir.)Não domésticosDomésticos

Fonte: Banco de Portugal.

Page 181: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

179

Art

igos

concedidos por instituições não domésticas e apresentam tanto nos bancos domésticos como nos não

domésticos uma tendência crescente a partir do primeiro trimestre de 2010 (Gráfi co 5a), num contexto

de expectativas de aumento de taxas de juro por parte do BCE. A diferença entre as taxas dos bancos

domésticos face às dos não domésticos alargou-se signifi cativamente durante o segundo e o terceiro

trimestres de 2010. Os dados obtidos a partir das Estatísticas Monetárias e Financeiras do Banco de

Portugal, apontam para que no período mais recente tenha ocorrido uma redução do diferencial entre

as taxas de juro dos dois tipos de bancos, continuando, contudo, as taxas dos bancos não domésticos

a apresentar um nível inferior (Gráfi co 5b).

Finalmente, apresentam-se, no gráfi co 6, dois indicadores de incumprimento calculados com base nos

dados da CRC para os devedores com novos empréstimos à habitação por tipo de instituição. O primeiro

indicador corresponde ao rácio entre o número de devedores com novos empréstimos à habitação que

têm algum crédito vencido no sistema bancário e o número total de devedores com novos empréstimos

à habitação (Gráfi co 6a). O segundo indicador refere-se à média ponderada dos rácios, por devedor,

entre o seu crédito vencido e o seu crédito total no sistema bancário (Gráfi co 6b). Como ponderador

utilizou-se o peso do novo crédito concedido a cada devedor no total do novo crédito por tipo de banco

(doméstico ou não doméstico). Os dois indicadores têm sempre um nível superior nos bancos domésticos,

o que sugere que a qualidade média dos devedores a quem concedem novos empréstimos é inferior

à dos bancos não domésticos. Até ao terceiro trimestre de 2010 parece observar-se contudo alguma

aproximação da qualidade de crédito concedido pelos dois tipos de bancos, determinada principalmente

pela redução dos indicadores de incumprimento no caso dos bancos domésticos. Esta situação é contudo

em grande parte revertida no período posterior.

Em resumo, de acordo com estes dados, ao longo do período analisado, os bancos não domésticos

concederam crédito à habitação a devedores de qualidade média superior, o que é sugerido tanto pelo

nível médio mais elevado dos montantes dos empréstimos5, como pelos indicadores de incumprimento.

5 O montante inicial dos empréstimos à habitação está fortemente correlacionado com o valor do colateral, tendo

assim em geral, como se vai ver na secção 5, uma relação positiva com a qualidade de crédito do devedor.

Gráfi co 3a Gráfi co 3b

MONTANTE MÉDIO POR CONTRATO DOS NOVOS EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO

DADOS DSC DADOS CRC

105

112

119

126

133

140

80

90

100

110

120

130

Out-09 Dez-09 Fev-10 Abr-10 Jun-10 Ago-10

Per

cent

agem

Milh

ares

de

euro

s

105

112

119

126

133

140

80

90

100

110

120

130

Jun-09 Out-09 Fev-10 Jun-10 Out-10 Fev-11 Jun-11

Per

cent

agem

Milh

ares

de

euro

s

Não domésticos / Domésticos (escala da direita)Não domésticosDomésticos

Fonte: Banco de Portugal.

Page 182: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

180

II

Esta situação pode, pelo menos em parte, justifi car o nível mais reduzido das taxas de juro nos bancos

não domésticos. Na maior parte do período analisado observa-se um aumento signifi cativo da quota

de mercado dos bancos não domésticos, em simultâneo com um aumento do diferencial positivo das

taxas de juro dos bancos domésticos face às dos não domésticos. Não parece existir evidência de que

esta evolução das taxas de juro seja justifi cada por um efeito composição, ou seja, por uma melhoria

relativa da qualidade da carteira de crédito dos bancos não domésticos face à dos domésticos. De facto,

no período de alargamento do diferencial das taxas de juro, os montantes médios dos empréstimos não

sofrem alterações signifi cativas e os indicadores de incumprimento não apontam para uma melhoria

da qualidade relativa dos novos devedores dos bancos não domésticos. Neste contexto, uma possível

explicação para a evolução diferenciada das taxas de juro podem ser diferenças ao nível da exigência

Gráfi co 4a Gráfi co 4b

PRAZO DOS NOVOS EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO

DADOS DSC – BANCOS DOMÉSTICOS DADOS DSC – BANCOS NÃO DOMÉSTICOS

0

5

10

15

20

25

30

35

<10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 >45

Per

cent

agem

Anos

0

5

10

15

20

25

30

35

<10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 >45

Per

cent

agem

Anos

Gráfi co 4c Gráfi co 4d

PRAZO DOS NOVOS EMPRÉSTIMOS À HABITAÇÃO

DADOS CRC – BANCOS DOMÉSTICOS DADOS CRC – BANCOS NÃO DOMÉSTICOS

0

10

20

30

40

50

60

70

<10 10-20 20-25 25-30 >30

Per

cent

agem

Anos

0

10

20

30

40

50

60

70

<10 10-20 20-25 25-30 >30

Per

cent

agem

Anos

Fonte: Banco de Portugal.

2009T4 2010T1 2010T2 2010T3

2009T3 2009T4 2010T1 2010T2 2010T3 2010T4 2011T1 2011T2

Page 183: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

181

Art

igos

Gráfi co 5a Gráfi co 5b

TAXA DE JURO MÉDIA DOS NOVOS EMPRÉSTIMOS

DADOS DSC ESTATÍSTICAS MONETÁRIAS E FINANCEIRAS

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

Out-09 Dez-09 Fev-10 Abr-10 Jun-10 Ago-10

Pon

tos

perc

entu

ais

Per

cent

agem

-0.5

0.0

0.5

1.0

1.5

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

Jan-09 Jun-09 Nov-09 Abr-10 Set-10 Fev-11 Jul-11

Pon

tos

perc

entu

ais

Per

cent

agem

Não domésticos - Domésticos (esc. dir.)Não domésticosDomésticos

Fonte: Banco de Portugal.

Gráfi co 6a Gráfi co 6b

INDICADORES DO RISCO DE CRÉDITO DOS NOVOS DEVEDORES NO CRÉDITO À HABITAÇÃO

PERCENTAGEM DE NOVOS DEVEDORES COM INCUMPRIMENTO

NO SISTEMA BANCÁRIO(a)

MÉDIA PONDERADA DA PERCENTAGEM POR DEVEDOR DO SEU

CRÉDITO VENCIDO NO SISTEMA BANCÁRIO NO CRÉDITO TOTAL

NO SISTEMA BANCÁRIO(b)

DADOS DSC DADOS CRC

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

0.0

1.0

2.0

3.0

4.0

Jul-09 Out-09 Jan-10 Abr-10 Jul-10 Out-10 Jan-11 Abr-11

Pon

tos

perc

entu

ais

Per

cent

agem

(mm

3 ce

ntra

da)

0.00

0.02

0.05

0.07

0.10

0.12

0.00

0.04

0.08

0.12

0.16

0.20

Jul-09 Out-09 Jan-10 Abr-10 Jul-10 Out-10 Jan-11 Abr-11

Pon

tos

perc

entu

ais

Per

cent

agem

Não domésticos / Domésticos (esc. dir.)Não domésticosDomésticos

Fonte: Banco de Portugal.

Notas: (a) Percentagem do número de devedores com novos empréstimos à habitação nos bancos domésticos (ou não domésticos)

que têm algum crédito vencido no sistema bancário, no número de devedores total com novos empréstimos à habitação nos bancos

domésticos (ou não domésticos). (b) Percentagem por devedor do seu crédito vencido no seu crédito total no sistema bancário

ponderada pelo peso do crédito concedido por bancos domésticos (ou não domésticos) a esse devedor no total do crédito concedido

pelos bancos domésticos (ou não domésticos).

Page 184: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

182

II

dos critérios aplicados na concessão de crédito para o mesmo tipo de devedores. Esta hipótese será

analisada na próxima secção.

Refi ra-se ainda que os dados disponíveis para fi nais de 2010 e para o primeiro semestre de 2011 ilustram

uma interrupção da tendência de aumento do peso dos bancos não domésticos na concessão de crédito

à habitação e uma maior proximidade das taxas de juro praticadas, sugerindo alguma reaproximação do

comportamento dos dois tipos de instituições.

5. Análise de regressão

a. Metodologia e variáveis

O objetivo desta secção é identifi car os principais fatores que explicam o nível das taxas de juro aplicadas

por instituições de crédito domésticas e não domésticas na concessão de crédito à habitação. Um aspeto

central da análise é testar a existência de diferenças no comportamento dos dois tipos de instituições

bem como a existência de eventuais alterações temporais nesse comportamento.

É de esperar que as taxas de juro do crédito estejam relacionadas com características das instituições

(em particular o país de origem do capital), características dos devedores (em particular o seu grau de

risco), características dos empréstimos (em particular o prazo) e ainda com condições do enquadramento

económico-fi nanceiro que afetam da mesma forma todas as instituições a operar no mesmo país. Assim,

procedeu-se a uma análise de regressão, começando por se estimar um modelo do seguinte tipo:

0 1 2 3 4 5

6 7

i i i i i

k k n nk i i i

n

iTAN NDom DReemb lnMont Prazo DIsol

DIndex DTime

b b b b b b

b eb

= + + + + + +

å + +å

( )1

Neste modelo, a variável a explicar é a taxa de juro nominal iTAN aplicada ao empréstimo i na data

de início do contrato. Como variáveis explicativas incluíram-se variáveis que captam as características

da instituição de crédito que concedeu o empréstimo e que são consideradas relevantes para explicar

diferenças entre as taxas de juro. Em particular, incluiu-se no modelo uma variável dummy que indica se

a origem do capital da instituição de crédito que concedeu o empréstimo é doméstica ou não doméstica

( )iNDom . Esta variável toma o valor 1 no caso de a instituição ser não doméstica e 0 no caso contrário.

Além disso, o modelo inclui uma variável dummy que toma o valor 1 nos casos em que a instituição não

pertence a um grupo bancário ( )iDIsol , o que só acontece no caso de algumas instituições domésticas6.

A variável iDReemb é uma variável dummy que toma o valor 1 no caso de, no período em análise,

ter havido algum re-embolso antecipado do empréstimo e o valor 0 no caso oposto. A inclusão deste

indicador destinou-se a captar o efeito da qualidade do crédito associada ao devedor do empréstimo.

A inclusão desta variável pressupõe que os re-embolsos são tipicamente efetuados por indivíduos com

uma melhor situação fi nanceira e, por isso, apresentam um menor risco de crédito.

O modelo inclui também como variáveis explicativas as principais características do empréstimo no

momento inicial: montante – ilnMont - e prazo – iPrazo . O montante é medido pelo logaritmo do valor

6 Tentou-se incluir no modelo outras variáveis que representassem características das instituições de crédito que à

partida pareciam relevantes para explicar diferenças de taxas de juro, tais como a dimensão, rácios de rendibi-

lidade, de solvabilidade ou de liquidez. No entanto, o facto de não se dispor destes indicadores para o grupo a

que pertencem as instituições não domésticas mas apenas para as fi liais e sucursais a operar em Portugal parece

distorcer os resultados estimados para os respetivos coefi cientes. Refi ra-se que a inclusão destas variáveis não

altera de forma signifi cativa os efeitos estimados para as restantes variáveis.

Page 185: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

183

Art

igos

inicial do empréstimo em milhares de euros, e o prazo é medido em anos. À partida, para devedores com

um grau de risco igual, seria de esperar uma relação positiva entre o montante do empréstimo e a taxa

de juro, uma vez que quanto maior o montante emprestado maior o valor da perda para a instituição de

crédito associada à eventual materialização do risco de crédito. No entanto, é de esperar que o montante

do empréstimo que, no caso do crédito à habitação, está em geral fortemente correlacionado com o

valor do colateral, possa captar em grande parte a qualidade de crédito dos diferentes devedores. Assim,

o coefi ciente associado à variável montante deve ser interpretado levando em consideração estes dois

efeitos possíveis. Refi ra-se que, por exemplo, Magri e Pico (2011) e Edelberg (2003) obtêm um efeito

negativo e signifi cativo do montante sobre a taxa de juro dos empréstimos à habitação, em regressões

que incluem também uma variável destinada a medir especifi camente o risco do devedor (credit score).

Quanto ao efeito da variável prazo do empréstimo, espera-se que, controlando o risco do devedor, a prazos

maiores correspondam taxas mais elevadas, dada a existência de um prémio de risco para compensar a

maior incerteza associada a prazos mais longos.

O modelo inclui também quatro variáveis dummy –kiDIndex – que controlam o regime de taxa de juro.

Três destas variáveis referem-se aos casos em que os indexantes são as taxas de juro Euribor a 3, 6 e

12 meses e a quarta variável refere-se ao caso de empréstimos com taxa de juro fi xa. Espera-se que,

em princípio, quanto maior for o prazo de renovação das taxas maior será o risco para a instituição de

crédito e, por isso, mais elevada a taxa aplicada ao empréstimo.

Finalmente, incluíram-se no modelo dummies mensais niDTime , que captam o efeito das condições

variáveis no tempo mas que afetam de forma semelhante todas as instituições e devedores. Ainda que

a dimensão temporal da amostra seja limitada, os dados cobrem um período de alguma instabilidade

fi nanceira associada ao agravamento da crise da dívida soberana na área do euro, pelo que se justifi ca

a inclusão destas dummies.

O modelo dado pela equação (1) impõe que os coefi cientes estimados associados às características dos

empréstimos sejam idênticos para instituições de crédito diferentes, nomeadamente para as domésticas

e não domésticas. No entanto, um aspeto essencial da análise apresentada neste artigo é o de saber se,

perante um empréstimo de características semelhantes, a taxa de juro aplicada por instituições de crédito

domésticas e não domésticas é ou não diferente. Assim, a partir da especifi cação base, estimou-se um

modelo em que se admite a possibilidade de os coefi cientes estimados associados às variáveis explicativas

mais relevantes ( ), ,i i ilnMont Prazo DReemb poderem ser diferentes no caso de empréstimos concedidos

por bancos domésticos e não domésticos, que corresponde à seguinte equação:

( ) ( )( ) ( )

11 12 21 22

31 32 41 42

5 6 7

1 1

1 1

i i i i i i i

i i i i i i i i

k k n ni i i i

k n

TAN NDom NDom NDom DReemb NDom DReemb

NDom lnMont NDom lnMont NDom Prazo NDom Prazo

DIsol DIndex DTime

b b b b

b b b b

b b b e

= + - + + - +

+ - + + - +

+ + +å å( )2

A estimação da especifi cação seguinte, obtida através de uma reparametrização do modelo dado pela

equação (2):

Page 186: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

184

II

( )( ) ( ) ( )

12 11 12 22 32 42

21 22 31 32 41 42

5 6 7

i i i i i

i i i i i i

k k n ni i i i

k n

TAN NDom DReemb lnMont Prazo

NDom DReemb NDom lnMont NDom Prazo

DIsol DIndex DTime

b b b b b b

b b b b b b

b b b e

= + - + + + +

- + - + - +

+ + +å å( )2 '

permite testar se os efeitos das variáveis , ,i i ilnMont Prazo DReemb , sobre as taxas de juro são signifi ca-

tivamente diferentes no caso de empréstimos concedidos por instituições de crédito domésticas e não

domésticas7.

Finalmente, com o objetivo de testar a possível existência de alterações temporais no comportamento dos

dois tipos de instituições, estimou-se uma especifi cação ainda mais geral que admite a possibilidade de

os coefi cientes associados ao montante, ao prazo e aos re-embolsos poderem ser diferentes não só entre

instituições mas também na primeira e na segunda parte do período amostral. De facto, de acordo com

a análise efetuada na secção anterior o aumento da quota de mercado das instituições não domésticas

foi mais acentuado na segunda metade do período da amostra. Neste período observou-se igualmente

um acréscimo no diferencial de taxas de juro entre os dois tipos de instituições. Esta evolução poderá ser

justifi cada por alguma alteração no comportamento das instituições num contexto de agravamento da

crise de dívida soberana, que difi cultou ainda mais a capacidade de fi nanciamento dos bancos domésticos

nos mercados de dívida por grosso.

Assim, estimou-se também o modelo seguinte:

( )( )( ) ( )

11 12 13

14 21 22

23 24

31 32

1

1

1 1

i i i i

i i i i i

i i i i

i i i

TAN NDom DAntes NDom DDepois NDom DAntes

NDom DDepois NDom DReemb DAntes NDom DReemb DDepois

NDom DReemb DAntes NDom DReemb DDepois

NDom lnMont DAntes NDom lnMon

g g g

g g g

g g

g g

= + + - +

- + + +

- + - +

+ ( )( )( ) ( )

33

34 41 42

43 44

5 6 7

1

1

1 1

i i i

i i i i i i

i i i i

k k n ni i i i

k n

t DDepois NDom lnMont DAntes

NDom lnMont DDepois NDom Prazo DAntes NDom Prazo DDepois

NDom Prazo DAntes NDom Prazo DDepois

DIsol DIndex DTime

g

g g g

g g

g g g e

+ - +

- + + +

- + - +

+ + +å å

( )3

Nesta especifi cação DAntes e DDepois são variáveis dummy que tomam o valor 1 para as observações

antes e depois de Abril de 2010, respetivamente. A estimação das reparametrizações adequadas deste

modelo permitem testar se as diferenças nos efeitos das variáveis dummy de re-embolsos, montante

e prazo são estatisticamente diferentes para os bancos domésticos e não domésticos em cada um dos

períodos temporais e se, os coefi cientes estimados são estatisticamente diferentes para o mesmo conjunto

de bancos (domésticos ou não domésticos) na primeira e na segunda parte do período temporal.

Refi ra-se ainda que, para se interpretar melhor o efeito da nacionalidade do capital sobre as taxas de

juro do crédito, para cada um dos modelos se estimaram também especifi cações em que se inclui como

variável explicativa adicional a taxa de juro das obrigações de dívida pública a 10 anos no país de origem

7 Note-se que testar a signifi cância estatística dos coefi cientes associados às variáveis multiplicativas NDomiDRe-embi, NDomilnMonti e NDomiPrazoi é equivalente a testar se as diferenças entre os coefi cientes associados às

variáveis dummy de re-embolsos, montante e prazo nas duas sub-amostras (bancos domésticos e não domésti-

cos) são estatisticamente signifi cativas.

Page 187: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

185

Art

igos

do capital, medida em médias mensais. No contexto da crise atual em que as taxas de juro das obriga-

ções dos bancos se encontram muito correlacionas com as taxas de juro da dívida pública, esta variável

pretende identifi car, de forma mais precisa, o impacto das difi culdades de fi nanciamento dos bancos e

da necessidade de desalavancagem dos seus balanços, nas taxas de juro que aplicam aos seus devedores.

b. Resultados das estimações

Especifi cação base

Na primeira coluna do quadro 1 apresentam-se os resultados da estimação do modelo dado pela equação

(1) que corresponde à especifi cação de base. No que respeita ao efeito das características das instituições

de crédito, observa-se que o coefi ciente estimado associado à dummy que toma o valor 1 no caso de

as observações corresponderem a empréstimos de instituições não domésticas ( )iNDom é negativo e

signifi cativo, sugerindo que os empréstimos destas instituições têm, em média, taxas de juro mais baixas

mesmo quando apresentam características idênticas. Os resultados sugerem também que as instituições

domésticas isoladas apresentam em média taxas de juro signifi cativamente mais elevadas, o que pode

refl etir o facto de estas instituições não benefi ciarem das vantagens de economias de escala e acesso

a informação que se espera estarem associadas ao comportamento das instituições que pertencem a

um grupo.

O coefi ciente estimado para a dummy associada à existência de re-embolsos antecipados do empréstimo

( )Re iD emb é negativo e signifi cativo, sugerindo que esta variável estará, como se pretendia, a captar

a qualidade do devedor em termos de risco de crédito. De facto, espera-se que os devedores com uma

situação fi nanceira mais sólida tenham uma maior propensão para realizar re-embolsos antecipados dos

seus empréstimos. Assim, o coefi ciente negativo obtido na estimação sugere, como seria de esperar, que os

devedores com menor risco de crédito negoceiam com os bancos taxas de juro mais reduzidas em média.

Relativamente ao efeito das características dos contratos, é de realçar que o montante ( )ln iMont apre-

senta um coefi ciente negativo e signifi cativo. Esta situação sugere que esta variável deve, em grande

parte, captar a “qualidade” do devedor, ou seja, o facto de em geral empréstimos de montantes mais

elevados serem concedidos a devedores com um nível de rendimento e/ou riqueza mais elevado, aos

quais estará associado um menor risco de crédito. O coefi ciente associado ao prazo do empréstimo

( )iPrazo apresenta um sinal positivo e signifi cativo, tal como esperado, que refl ete o prémio de risco

que se deve à maior incerteza associada a prazos mais elevados. Os coefi cientes associados ao regime

de taxa sugerem que as taxas de juro dos empréstimos com taxa variável aumentam com o prazo do

indexante e que os empréstimos com taxa fi xa têm em média taxas de juro mais elevadas. Estes efeitos

estão de acordo com o que seria de esperar num período em que não existiam expectativas de reduções

das taxas de juro por parte do BCE.

Na segunda coluna do quadro 1 apresentam-se os resultados da estimação de um modelo idêntico ao

anterior em que se inclui adicionalmente como regressor a taxa de juro de dívida pública a dez anos do

país de origem da instituição de crédito. O coefi ciente estimado associado a esta variável é positivo e

signifi cativo como seria de esperar. Quando se comparam os resultados das duas primeiras colunas do

quadro 1 conclui-se que o principal impacto da inclusão da taxa de juro da dívida pública é uma redução

do efeito, em termos de magnitude e signifi cância estatística, associado à dummy relativa às instituições

não domésticas. Esta situação parece confi rmar que uma das principais razões para o nível mais elevado

das taxas de juro das instituições domésticas são as suas maiores difi culdades de fi nanciamento decor-

rentes da crise de dívida soberana.

Page 188: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

186

II

Inclusão de efeitos diferenciados por tipo de instituição (doméstica/ não doméstica)

Nas últimas três colunas do quadro 1 apresentam-se os resultados da estimação da equação (2), ou seja,

da especifi cação em que se considera a possibilidade do montante, do prazo e da dummy que indica

a existência de re-embolsos terem coefi cientes diferentes para bancos domésticos e não domésticos.

A terceira e quarta colunas apresentam, respetivamente, os coefi cientes estimados, e correspondentes

t-rácios, para o caso dos bancos domésticos e dos não domésticos. A última coluna apresenta as diferenças

entre os coefi cientes estimados para os bancos domésticos e os não domésticos e os t-rácios associados

ao teste da igualdade entre estes coefi cientes, obtidos com base na equação (2’).

Os coefi cientes estimados associados ao montante e à dummy de re-embolsos são negativos e signifi ca-

tivos, embora de magnitude signifi cativamente inferior no caso dos bancos não domésticos do que nos

domésticos. No sentido em que estas variáveis parecem estar a captar o risco de crédito do devedor, as

diferenças entre os coefi cientes podem ser interpretadas como evidência de que as taxas de juro apli-

Quadro 1

RESULTADOS DA REGRESSÃO SEM DISTINÇÃO DE ACORDO COM O PERÍODO AMOSTRAL

Sem distinção entre bancos domésticos e não domésticos

Com distinção entre bancosdomésticos e não domésticos

(1) (1b)

Bancos domésticos

(2a)

Bancos não domésticos

(2b)

Diferença

(2b)-(2a)

Constante 4.34 3.72 4.79 2.25 -2.55

(82.6) (65.65) (71.46) (38.37) (-28.69)

Dummy banco não doméstico -0.78 -0.62

(-155.14) (-85.28)

Taxa de juro da dívida pública 0.16

(31.47)

Dummy banco isolado 0.72 0.72 0.70

(8.49) (8.51) (8.36)

Logaritmo do montante -0.20 -0.20 -0.25 -0.09 0.16

(-43.79) (-44.15) (-40.85) (-17.12) (19.77)

Prazo (anos) 0.005 0.005 0.006 0.005 -0.001

(19.07) (18.78) (17.06) (13.29) (-1.44)

Dummy ocorrência de reembolsos -0.21 -0.20 -0.23 -0.06 0.173

(-10.30) (-10.09) (-9.99) (-1.92) (4.56)

Dummy indexante euribor 6 meses 0.36 0.33 0.37

(64.39) (53.75) (64.92)

Dummy indexante euribor 12 meses 0.40 0.39 0.39

(8.08) (7.9) (7.74)

Dummy taxa fi xa 0.45 0.42 0.44

(8.96) (8.29) (8.78)

Número de observações 68633 68633 68633

Root MSE 0.6603 0.6575 0.6588

Fonte: Banco de Portugal.

Nota: t-rácios entre parêntesis

Page 189: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

187

Art

igos

cadas pelos bancos domésticos terão sido, neste período, mais sensíveis ao grau de risco dos devedores.

Relativamente ao prazo não existe evidência de um comportamento diferente por parte dos dois tipos

de instituições.

Inclusão de efeitos diferenciados por tipo de instituição e período temporal (antes e depois

de abril de 2010)

O quadro 2 inclui os resultados da estimação das regressões em que se permite que os coefi cientes

associados ao montante, ao prazo, à dummy que indica a existência de re-embolsos e à dummy que

indica se o empréstimo foi concedido por uma instituição não doméstica sejam diferentes na primeira e

na segunda parte do período amostral (outubro de 2009 a março de 2010 e abril de 2010 a setembro

de 2010). A primeira parte do quadro corresponde aos resultados da estimação do modelo dado pela

equação (3). As primeiras quatro colunas apresentam os coefi cientes estimados, e correspondentes

t-rácios, para o caso dos bancos domésticos e dos não domésticos antes e depois de abril de 2010. As

quatro colunas seguintes apresentam as diferenças entre os coefi cientes bem como os t-rácios associados

ao teste da igualdade entre os coefi cientes8.

As diferenças estimadas para a constante do modelo captam o facto de as taxas de juro terem aumentado,

tanto no caso dos bancos domésticos, como no dos não domésticos, na segunda parte do período amostral,

mas de forma mais acentuada nos bancos domésticos. A dummy relativa aos re-embolsos tem, tal como

no modelo anterior, um sinal negativo de maior magnitude para as instituições domésticas do que para

as não domésticas, não parecendo ter havido alterações signifi cativas da primeira para a segunda parte

do período amostral. A interpretação das diferenças entre os dois sub-períodos no efeito desta variável

deve ser efetuada com cautela. Dado que só se conhecem os re-embolsos ocorridos até setembro de

2010, os empréstimos contratados em datas próximas deste mês têm naturalmente um reduzido número

de ocorrências. No caso do montante, o coefi ciente negativo acentua-se entre os dois sub-períodos para

as instituições domésticas e não se altera signifi cativamente no caso das não domésticas, o que pode

sugerir que a maior diferenciação do risco de crédito por parte das instituições domésticas se possa ter

acentuado ligeiramente no tempo. Por fi m, os resultados para o prazo apontam para que, na primeira

parte do período amostral, os bancos não domésticos possam ter estado a exigir prémios menores nas

taxas de juro quando a maturidade do contrato aumenta do que os bancos domésticos. Esta situação

pode sugerir que as instituições não domésticas terão facilitado a extensão do prazo impondo uma

penalização menos forte em termos de taxa de juro para manter a possibilidade de aliviar as prestações.

As instituições de crédito domésticas terão, atualmente, mais difi culdade em prosseguir esta prática. Este

comportamento está de acordo com a evolução diferenciada observada nos prazos dos empréstimos

analisada na secção anterior. A diferença entre o comportamento dos bancos relativamente ao prazo

parece, contudo, ter-se esbatido na segunda parte do período amostral.

Na segunda parte do quadro 2 apresentam-se os resultados de uma regressão idêntica à anterior, mas

em que se inclui adicionalmente a taxa de juro das obrigações de dívida pública dos países de origem

das instituições domésticas. Como seria de esperar, as taxas de juro das obrigações da dívida pública têm

um impacto signifi cativamente maior nas taxas de juro dos empréstimos na segunda metade da amostra,

refl etindo o agravamento da crise da dívida soberana. Com a introdução desta variável os níveis médios das

taxas de juro cobradas pelos bancos (dados pelas “constantes”) deixam de aumentar signifi cativamente

da primeira para a segunda parte da amostra. Esta situação sugere que o aumento das taxas de juro no

período entre abril e setembro de 2010, expurgado do efeito da evolução da qualidade de crédito dos

devedores e das características dos contratos, será em grande parte explicado pelas diferenças ao nível

das necessidades de desalavancagem dos bancos. Os restantes resultados mantêm-se inalterados face

à regressão em que não se incluem as taxas de juro da dívida pública.

8 Testa-se a igualdade entre os coefi cientes para os bancos doméstico e não domésticos em cada um dos sub-

-períodos e a igualdade entre os coefi ciente para o mesmo tipo de bancos nos dois sub-periodos.

Page 190: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

188

II

Qu

adro

2

RES

ULT

AD

OS

DA

REG

RES

SÃO

CO

M D

ISTI

ÃO

DE

AC

OR

DO

CO

M O

PER

ÍOD

O A

MO

STR

AL

Prim

eira

par

te d

o

per

íod

o a

mo

stra

lSe

gu

nd

a p

arte

do

p

erío

do

am

ost

ral

Dif

eren

ças

Prim

eira

par

te d

o

per

íod

o a

mo

stra

lSe

gu

nd

a p

arte

do

p

erío

do

am

ost

ral

Dif

eren

ças

Ban

cos

do

més

tico

s

(1a)

Ban

cos

não

do

-m

ésti

cos

(1b

)

Ban

cos

do

-m

ésti

cos

(2a)

Ban

cos

não

do

-m

ésti

cos

(2b

)(1

b)

- (1

a)(2

b)

- (2

a)(2

a) -

(1a

)(2

b)

- (1

b)

Ban

cos

do

-m

ésti

cos

(3a)

Ban

cos

não

do

-m

ésti

cos

(3b

)

Ban

cos

do

més

tico

s

(4a)

Ban

cos

não

do

-m

ésti

cos

(4b

)(3

b)

- (3

a)(4

b)

- (4

a)(4

a) -

(3a

)(4

b)

- (3

b)

Co

nst

ante

4.6

62.4

45.5

92.7

1-2

.22

-2.8

80.9

30.2

74.2

12

.03

4.4

21

.87

-2.1

7-2

.55

0.2

1-0

.16

(53.7

3)

(29.3

7)

(53.5

9)

(34.1

9)

(-18.4

9)

(-22.1

7)

(6.8

8)

(2.3

7)

(40.3

7)

(21

.41

)(4

0.5

2)

(25

.58

)(-

18

.07

)(-

20

.25

)(1

.42

)(-

1.3

8)

Taxa

de juro

da d

ívid

a p

úblic

a0.1

20

.21

0.0

9

(8.4

1)

(33

.51

)(6

.18

)

Dum

my

banco

iso

lado

0.7

00

.71

(8.3

3)

(8.3

9)

Logaritm

o d

o m

onta

nte

-0.2

3-0

.10

-0.2

6-0

.08

0.1

40.1

8-0

.03

0.0

1-0

.23

-0.1

0-0

.26

-0.0

80

.14

0.1

8-0

.03

0.0

2

(-30.0

1)

(-13.0

3)

(-27.8

8)

(-11.7

8)

(12.6

9)

(15.3

4)

(-2.2

7)

(1.4

5)

(-30.0

1)

(-1

3.0

0)

(-2

7.9

2)

(-1

2.8

3)

(12

.77

)(1

6.1

5)

(-2

.31

)(1

.69

)

Pra

zo (anos)

0.0

054

0.0

040

0.0

065

0.0

064

-0.0

013

-0.0

0003

0.0

011

0.0

024

0.0

053

0.0

03

80

.00

64

0.0

05

9-0

.00

14

-0.0

00

50

.00

11

0.0

02

1

(12.4

5)

(6.8

9)

(11.5

2)

(13.0

0)

(-1.8

4)

(-0.0

4)

(1.5

1)

(3.1

1)

(12.1

9)

(6.4

9)

(11

.43

)(1

2.7

5)

(-1

.96

)(-

0.7

2)

(1.6

0)

(2.7

4)

Dum

my

oco

rrênci

a d

e r

eem

bols

os

-0.2

1-0

.08

-0.2

7-0

.12

0.1

30.1

6-0

.06

-0.0

3-0

.2108

-0.0

87

3-0

.25

14

-0.1

74

10

.12

0.0

8-0

.04

-0.0

9

(-8.2

6)

(-2.4

5)

(-5.2

2)

(-2.0

0)

(3.0

1)

(2.0

2)

(-1.0

2)

(-0.4

7)

(-8.1

6)

(-2

.51

)(-

4.8

3)

(-3

.16

)(2

.86

)(1

.02

)(-

0.7

0)

(-1

.33

)

Dum

my

indexa

nte

eurib

or

6 m

ese

s0.3

60

.32

(63.5

7)

(52

.15

)

Dum

my

indexa

nte

eurib

or

12 m

ese

s0.3

80

.37

(7.7

0)

(7.4

9)

Dum

my

taxa

fi x

a0.4

40

.42

(8.5

5)

(8.1

4)

Núm

ero

de o

bse

rvaçõ

es

68633

68

63

3

Root

MSE

0.6

581

0.6

55

6

Fon

te: B

anco

de P

ort

ugal.

No

tas:

Os

coefi ci

ente

s das

variáve

is p

ara

as

quais

não s

e e

stim

ara

m e

feitos

cruza

dos

são iguais

em

todos

os

modelo

s. t

-ráci

os

entr

e p

arê

nte

sis.

Page 191: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

189

Art

igos

6. Conclusões

Entre fi nais de 2009 e o terceiro trime stre de 2010, os bancos não domésticos aumentaram a sua

quota no mercado de crédito à habitação em Portugal. Para esta situação terão contribuído as maiores

difi culdades de fi nanciamento enfrentadas pelos bancos portugueses, assim como a necessidade de

desalavancagem dos seus balanços no contexto do processo de ajustamento da economia portuguesa.

Durante o segundo e terceiro trimestres de 2010, o aumento da quota de mercado dos bancos não

domésticos ocorreu em simultâneo com uma subida do diferencial positivo entre as taxas de juro dos

bancos domésticos e as dos não domésticos.

Os resultados de regressões efetuadas com dados microeconómicos para os novos contratos de crédito à

habitação no período de outubro de 2009 a setembro de 2010 apontam para que os bancos domésticos

sejam mais sensíveis ao grau de risco dos devedores do que os não domésticos. Este comportamento

ter-se-á acentuado no período de alargamento do diferencial de taxas de juro entre os bancos domés-

ticos e não domésticos, ou seja, os bancos domésticos terão cobrado neste período taxas de juro ainda

mais diferenciadas para devedores com diferentes qualidades de crédito. Os resultados sugerem também

que os bancos não domésticos possam ter estado a exigir prémios de taxas de juro menores do que os

bancos domésticos, para maturidades maiores dos contratos.

De acordo com os indicadores de incumprimento calculados para os novos devedores, embora os bancos

não domésticos concedam em média crédito a devedores com risco de crédito inferior, não terá ocorrido

uma melhoria da “qualidade” relativa dos novos devedores dos bancos não domésticos, face à dos

domésticos, durante o período de alargamento do diferencial das taxas de juro. Neste contexto a redução

das taxas de juro dos bancos não domésticos face às dos domésticos não terá ocorrido em simultâneo

com uma alteração na composição da “qualidade” dos devedores entre os dois tipos de bancos.

Os dados agregados disponíveis para fi nais de 2010 e o primeiro semestre de 2011 apontam para uma

interrupção da tendência de aumento do peso dos bancos não domésticos na concessão de crédito à

habitação e uma maior proximidade das taxas de juro praticadas, sugerindo alguma reaproximação do

comportamento dos bancos domésticos e não domésticos. A análise dos mecanismos subjacentes a esta

evolução só será possível efetuar quando estiverem disponíveis dados microeconómicos para este período.

Page 192: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

190

II

Referências

Clarke, Cull, Peria e Sanchez (2005) “Bank lending to small businesses in Latin America: does bank origin

matter?”, Journal of Money, Credit and Banking, 83-118.

Edelberg (2003) “Risk-based pricing of interest rates in household loan markets”, Finance and Economic

Discussion Series, No. 62, Board of Governors of the Federal Reserve System.

Edelberg (2006) “Risk-based pricing of interest rates for consumer loans”, Journal of Monetary Econom-

ics, 53, 2283–2298.

Goldberg (2002) “When is US bank lending to emerging markets volatile?”, University Of Chicago Press.

Holmstrom, Bengt e Tirole (1997) “Financial Intermediation, Loanable Funds, and the Real Sector”, Quar-

terly Journal of Economics, CXII, 663-691.

Magri e Pico (2011) “The rise of risk-based pricing of mortgage interest rates in Italy” Journal of Banking

and Finance, 35 (2011), 1277–1290.

Morgan e Strahan (2003) “Foreign bank entry and business volatility: Evidence from US states and other

countries”, National Bureau of Economic Research (Cambridge, EUA).

Stiglitz e Weiss (1981) “Credit Rationing in Markets with Imperfect Information”, The American Eco-

nomic Review, Vol. 71, No. 3, June, 393-410.

Page 193: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

191

Art

igos

* Os autores agradecem os comentários de António Antunes, Ana Cristina Leal e Carlos Santos. As opiniões expres-

sas no artigo são da responsabilidade dos autores, não coincidindo necessariamente com as do Banco de Portugal

ou do Eurosistema. Eventuais erros e omissões são da exclusiva responsabilidade dos autores.

** Banco de Portugal, Departamento de Estudos Económicos.

MODELAÇÃO DO INCUMPRIMENTO DOS PARTICULARES*

Nuno Alves** | Nuno Ribeiro**

Resumo

A realização de stress tests requer, entre outros, a disponibilidade de instrumentos que

permitam projetar perdas na carteira de crédito, muito em particular em diferentes

cenários macroeconómicos. Este artigo apresenta regularidades empíricas entre

medidas de risco de crédito bancário aos particulares e variáveis macroeconómicas. São

estimados dois modelos econométricos respectivamente para o segmento de crédito a

particulares para aquisição de habitação e de crédito a particulares consumo e outros

fi ns.

1. Introdução

Ao longo das últimas décadas, em diversos países desenvolvidos, a materialização intensa do risco de

crédito esteve subjacente a crises bancárias generalizadas. Estas ocorreram, em muitos casos, devido a

uma combinação de um grau de alavancagem elevado e a ocorrência de choques desfavoráveis e de

magnitude elevada. Neste particular, Pesola (2005, 2007) estuda exaustivamente o papel dos fatores

Macroeconómicos na explicação das perdas na carteira de crédito nos países Nórdicos, assim como um

conjunto de outros países desenvolvidos onde se assistiu a crises bancárias. De facto, os mercados de

crédito, e em geral os mercados de capitais, são caracterizados por incerteza e por problemas de infor-

mação suscetíveis de conduzir a um nível de riscos assumidos superior ao desejável na fase ascendente

do ciclo de crédito.

Uma discussão teórica detalhada das imperfeições no mercado de crédito que podem explicar porque

é que a materialização do risco de crédito pode desviar-se substancialmente das expectativas existentes

quando o crédito é concedido está fora do âmbito deste trabalho. De qualquer forma, podem sublinhar-se

sinteticamente algumas, tais como: (i) miopia; (ii) alterações no sentimento dos investidores que conduzem

a ciclos em que um período de forte aumento da procura de ativos não monetários (incluindo ativos

reais) é seguido de uma reversão repentina dessa procura no sentido de ativos monetários – Kindleberger

(1978); (iii) comportamento de manada (herd behaviour) – Banerjee (1992); (iv) incentivos à gestão para

obter resultados no curto prazo; (v) inexistência de memória institucional (o ciclo de crédito é sufi cien-

temente longo para que exista rotação das pessoas diretamente envolvidas no processo de aprovação

de crédito – Berger e Uddel (2004)); (vi) alterações ao longo do ciclo económico das implicações dos

problemas de seleção adversa e de risco moral (por exemplo, no momento em que um banco toma a

iniciativa de aumentar a taxa de juro do crédito para compensar os sinais de aumento da materialização

do risco de crédito, os projetos com menor risco poderão deixar de ser viáveis à nova taxa de juro, ao

mesmo tempo que são transmitidos aos devedores incentivos para alterar o perfi l de risco no sentido de

privilegiarem atividades mais arriscadas – Stiglitz e Weiss (1981, 1983)).

Page 194: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

192

II

Em concreto, os modelos que se baseiam em relações econométricas simples capazes de simular os

desenvolvimentos no incumprimento nas carteiras de crédito dos bancos em diferentes cenários

macroeconómicos são cruciais no desenho de stress tests ao sistema bancário – Gambera (2000),

Andersen et al. (2008), Hoggart et al. (2005). Estes últimos são, por sua vez, um instrumento para avaliar

a adequação do capital dos bancos para absorver choques severos mas plausíveis, exatamente aqueles

que qualifi cariam como adequados à realização de stress tests.

Neste trabalho são apresentados modelos com o objetivo de simular o incumprimento no setor dos

particulares, com distinção dos empréstimos para aquisição de habitação dos empréstimos para fi nalidade

distinta da habitação (consumo e outros fi ns). As abordagens empíricas ao risco de crédito concentram-se

habitualmente no setor das sociedades não fi nanceiras. Uma das razões assenta no fato de a informação

ao nível micro para um período temporal sufi cientemente longo estar mais facilmente disponível para

este setor, seja em bases de dados privadas ou baseada em informação pública relativa ao mercado de

obrigações1. Outra razão relaciona-se com o fato de a maior parte das crises bancárias que ocorreram

até aos anos 90 terem estado associadas a problemas no setor das empresas, enquanto as perdas nas

carteiras de empréstimos a particulares não foram sufi cientemente elevadas em termos agregados.

Contudo, o aumento muito forte do endividamento dos particulares a partir de fi nais da década de 90

constituiu uma alteração de paradigma, de tal forma que o estudo dos determinantes do incumprimento

dos particulares passou a ser objeto de estudo mais atento, seja na dimensão temporal, seja em amostras

longitudinais – Rinaldi e Sanchis-Arellano (2006); para o caso português ver Farinha e Lacerda (2010).

Adicionalmente, o cálculo explícito de taxas de incumprimento (a medida ex-post de probabilidade de

incumprimento) está mais facilmente disponível para empresas e pode ser desagregado por características

relevantes das empresas (como a dimensão e o setor de atividade económica) com sensibilidades face

aos fatores macroeconómicos diferenciadas. Em Portugal, na ausência de séries temporais de eventos

de incumprimento identifi cados ao nível micro (ou indicadores agregados baseados em incumprimentos

observados) que cubram pelo menos um ciclo económico, a estimação da relação entre incumprimentos

e fatores cíclicos necessita de fazer apelo a indicadores agregados que possam ser utilizados, com um

grau de confi ança razoável, como variáveis proxy das taxas de incumprimento. Em primeiro lugar, as

medidas baseadas nos saldos de empréstimos com montantes em incumprimento não são adequadas,

uma vez que refl etem a acumulação passada de empréstimos que entraram em incumprimento. Como

tal, este tipo de indicadores têm uma memória longa dos episódios de incumprimento passados e

exibem persistência elevada. Por sua vez, à primeira vista, tanto as dotações de provisões para perdas na

carteira de crédito (ou imparidades no conceito das IAS/IFRS) como o fl uxo de abatimentos parecem bons

candidatos para este efeito. Contudo, estes indicadores são infl uenciados por alterações nas políticas de

provisionamento e de abatimento de créditos dos bancos, assim como nas regras contabilísticas, de tal

forma que estão sujeitos a movimentos espúrios. Outra possibilidade, que é a que constituirá a opção

do trabalho empírico deste estudo, será considerar o fl uxo de empréstimos de cobrança duvidosa (mais

à frente esta variável será defi nida mais rigorosamente) em percentagem do saldo vivo de empréstimos.

Este indicador pode ser interpretado como uma taxa de incumprimento (Quaglariello e Marcucci (2008)),

na medida em que, ao longo da amostra, a taxa a que os devedores individuais normalizam a respetiva

situação de incumprimento ao longo do tempo mantém proporcionalidade face à taxa a que a que novos

devedores entram em incumprimento ao longo da vida dos respetivos empréstimos.

Neste artigo, optou-se pela estimação de uma equação linear multivariada, em vez de um modelo VAR,

o qual é particularmente popular na literatura, uma vez que toma em consideração todas as possíveis

interações entre as variáveis. Contudo, a integração dos resultados dos modelos VAR no conjunto de

toda a infraestrutura de stress test, incluindo todo o bloco macroeconómico tradicional, não é tarefa

óbvia. Deve notar-se que, a literatura empírica identifi ca importantes não linearidades nos modelos de

risco de crédito. De facto, a sensibilidade das variáveis que representam o risco de crédito face às variáveis

1 A este respeito, ver Pederzoli e Torriceli (2005), Bonfi m (2009), Simons e Rowles (2009), Allen e Saunders (2004),

Sorge e Virolainen (2006), Gambera (2000), Andersen et al. (2008) e Jakubík (2006).

Page 195: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

193

Art

igos

macroeconómicas é frequentemente variante no tempo e ao longo do ciclo económico. Em particular, a

materialização do risco de crédito é mais sensível aos fatores macroeconómicos nos períodos recessivos

do que nos períodos não recessivos – ver Marcucci e Quagliariello (2009), Laevan e Majnoni (2003),

Gasha e Morales (2004), Misina e Tessier (2008).

Finalmente, deve sublinhar-se que este artigo não aborda as questões relacionadas com as políticas de

provisionamento dos bancos nem a respetiva prociclicidade. Estas questões teriam que ser respondidas

num quadro de análise mais vasto, no qual as provisões/imparidades são utilizadas diretamente como

variável de estudo, em conjugação com a evolução cíclica das receitas brutas de provisões – ver Bikker

e Metzemakers (2005), Luc e Majnoni (2003), Bikker e Hu (2005).

O remanescente deste artigo encontra-se organizado como segue. Na Secção 2 descrevem-se as principais

características das variáveis a estimar. Nas secções 3 e 4 apresentam-se os modelos econométricos que

estão subjacentes à estimação. A Secção 5 apresenta simulações fora da amostra, utilizando as projeções

macroeconómicas do Banco de Portugal mais recentes e na Secção 6 apresentam-se as conclusões.

2. Os dados

De modo a estimar as perdas nas carteiras de crédito aos particulares seria ideal começar por calcular

as probabilidades de incumprimento (PDs) com base em dados individuais de empréstimos aos particu-

lares e subsequentemente aplicar uma LGD (acrónimo inglês para Loss Given Default, ou seja, a perda

dado o incumprimento) a essas PDs. Esta é a metodologia utilizada pelo Banco de Portugal para estimar

perdas de crédito no caso das empresas não fi nanceiras2. Infelizmente, não existem atualmente séries

sufi cientemente longas para os dados relativos aos particulares3.

Neste artigo apresentamos uma nova metodologia para estimar o incumprimento nas carteiras de crédito

bancário aos particulares, com base em dados agregados. Este procedimento permite igualmente prever

o incumprimento face a alterações no enquadramento macroeconómico.

O procedimento é ancorado nas séries temporais do fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de

cobrança duvidosa – este últimos defi nidos como aqueles empréstimos que cumprem os critérios cons-

tantes no Artigo 4º. do Aviso 3/95 do Banco de Portugal – em percentagem dos empréstimos, corrigidos

de titularização. As séries são calculadas ajustando a variação do saldo de empréstimos vencidos e

outros de cobrança duvidosa dos abatimentos ao ativo, das reclassifi cações e, a partir de dezembro de

2005, das vendas para fora do sistema bancário de créditos vencidos e outros de cobrança duvidosa não

abatidos ao ativo, reportados em base trimestral conforme a Instrução do Banco de Portugal nº2/2007.

Os valores encontram-se corrigidos do efeito da venda da carteira de crédito do BPN à Parvalorem. As

séries encontram-se disponíveis desde 1991T1. A análise separa os empréstimos para habitação dos

empréstimos para consumo e outros fi ns (Gráfi co 1). O Banco de Portugal publica estas séries regular-

mente no Relatório de Estabilidade Financeira.

Deve ser sublinhado que estes fl uxos não correspondem estritamente a uma medida de PD, dado que

também incluem as recuperações de empréstimos anteriormente em incumprimento. Não obstante, será

de esperar que a evolução desta série seja um bom referencial para a evolução da PD4.

2 Para uma descrição da metodologia, ver Banco de Portugal, Occasional Paper 1/2007 “Financial Setor Assess-

ment Programme Portugal: Banking System Stress Testing Exercise”.

3 O Banco de Portugal encontra-se presentemente a iniciar um projeto que visa preencher esta lacuna, o que

implicará um pedido de bases de dados microeconómicas aos bancos.

4 De modo a testar esta hipótese, comparámos o nível e a dinâmica do fl uxo anual de empréstimos vencidos e

outros de cobrança duvidosa para as empresas não fi nanceiras com a medida de PD habitualmente calculada

pelo Banco de Portugal com base na Central de Responsabilidades de Crédito (CRC). Os resultados sugerem

que a evolução do fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa, para as empresas não

fi nanceiras, acompanha de forma bastante próxima a evolução da respetiva PD (embora com um nível diferente,

o que é expectável devido à recuperação de situações de incumprimento).

Page 196: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

194

II

O gráfi co 1 revela algumas características interessantes das séries em análise, que importa destacar. Em

primeiro lugar, enquanto o fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para

habitação (em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização5) é uma variável estacionária,

o fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para consumo e outros fi ns é

claramente não estacionário no período amostral. Em segundo lugar, em 2011, enquanto o fl uxo anual

de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para habitação se manteve em níveis relativa-

mente baixos, o fl uxo relativo aos empréstimos para consumo e outros fi ns aumentou para níveis muito

elevados, embora abaixo dos máximos registados em 2009. Em terceiro lugar, os fl uxos anuais podem

ocasionalmente ser negativos (nomeadamente no caso de as recuperações mais que compensarem os

novos empréstimos em incumprimento). Este foi precisamente o caso dos empréstimos bancários para

habitação em 2005.

A diferente natureza dos dois fl uxos de empréstimos vencidos implica que é necessário adotar um modelo

econométrico distinto para cada um. O modelo relativo ao incumprimento no segmento da habitação

é apresentado na secção seguinte. O modelo relativo ao incumprimento no segmento do consumo e

outros fi ns é apresentado na Secção 4.

3. Modelação do fluxo anual de empréstimos vencidos e

outros de cobrança duvidosa para habitação

Como acima referido, o fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para habitação

(em percentagem dos empréstimos, ajustados de titularização) é uma variável estacionária na amostra.

Devido a limitações nos dados disponíveis, o período de estimação resume-se a 1999T1-2011T2. Esta

é uma amostra relativamente curta mas tem a vantagem de se centrar num único regime monetário.

O modelo empírico estimado foi o seguinte:

( )4 46, , , ,habitação habitaçãot crise t j

Fluxodeempréstimos vencidos f M spread PIB U dummy-

= D D

5 No remanescente do texto, os fl uxos de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa serão sempre

apresentados em percentagem dos empréstimos, corrigidos de titularização.

Gráfi co 1

VARIÁVEIS A ESTIMAR

FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE

COBRANÇA DUVIDOSA: HABITAÇÃO

FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE

COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS

-0.1

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T10

0.5

1

1.5

2

2.5

3

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1

Fonte: Banco de Portugal.

Page 197: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

195

Art

igos

em que 6M corresponde à taxa de juro a 6 meses no mercado monetário, habitaçãospread é o diferencial

entre as taxas de juro dos empréstimos para habitação e a taxa de juro a 6 meses no mercado mone-

tário, 4PIBD é a taxa de variação homóloga do PIB, 4UD é a variação anual da taxa de desemprego

e crisedummy é uma variável dummy que se inicia em 2009T1, de modo a captar o período de crise

fi nanceira após a falência do banco de investimento Lehman Brothers. Os dados são das Estatísticas Mone-

tárias do Banco de Portugal e da edição de Verão de 2011 do Boletim Económico do Banco de Portugal.

A especifi cação fi nal, usando um procedimento de simplifi cação do modelo “do geral para o particular”,

é apresentada no quadro 1. Os resultados na amostra são apresentadas no gráfi co 2. O desempenho do

modelo é bastante bom, em particular tendo em conta que a especifi cação não inclui nenhum termo

desfasado da variável explicada. Os sinais dos coefi cientes também são os esperados. De facto, o fl uxo

anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para habitação aumenta com o nível das

taxas de juro (tanto no que se refere à taxa no mercado monetário como ao diferencial de taxas de juro)

Quadro 1

MODELAÇÃO DO FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: HABITAÇÃO

Variáveis Coefi ciente

Constante -0.903***

(-0.09)

6tM 0.196***

(0.017)

habitaçãotspread 0.103***

(0.020)

2habitaçãotspread - 0.099***

(0.020)

4habitaçãotspread - 0.085***

(0.017)

4tPIBD -0.032***

(0.009)

41tPIB -D -0.034***

(0.009)

41tU -D 0.062***

(0.018)

44tU -D 0.103***

(0.015)

crisedummy 0.265***

(0.036)

Número de observações 50

R 20.864

Fonte: Cálculos dos autores.

Notas: 6M corresponde à taxa de juro a 6 meses no mercado

monetário; habitaçãospread é o diferencial entre as taxas de juro

dos empréstimos para habitação e a taxa de juro a 6 meses

no mercado monetário; 4PIBD é a taxa de variação homó-

loga do PIB; 4UD é a variação anual da taxa de desemprego

e crisedummy é uma variável dummy que se inicia em 2009T1.

***, ** e * indicam signifi cância estatística a 1%, 5% e 10%,

respetivamente.

Page 198: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

196

II

e é globalmente contra-cíclico. Adicionalmente, desde o início da crise, o fl uxo anual permaneceu acima

do que seria expectável com base nos seus determinantes fundamentais, tal como refl etido no sinal

positivo da variável dummy (bem como na sua signifi cância estatística). Este facto pode dever-se inter

alia ao aumento da restritividade das condições fi nanceiras neste período. Finalmente, os coefi cientes

são estáveis ao longo da amostra (os resultados da análise recursiva estão disponíveis mediante pedido).

4. Modelação do fluxo anual de empréstimos vencidos e

outros de cobrança duvidosa, para consumo e outros fins

O fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa, para consumo e outros fi ns, é

uma variável não estacionária no período amostral (1999T1-2011T2). Deste modo, esta variável será

modelada com base numa equação com um Mecanismo Corretor do Erro (MCE).

No período amostral existe uma relação de longo prazo entre o fl uxo anual de empréstimos vencidos

e outros de cobrança duvidosa para consumo e outros fi ns, a taxa de desemprego e a taxa de juro dos

empréstimos para consumo e outros fi ns. Este facto foi confi rmado através de testes de cointegração de

Johansen (o quadro 2 apresenta os resultados dos testes corrigidos do enviesamento de pequena amostra).

O gráfi co 3 apresenta a relação estimada de longo prazo (a respetiva nota apresenta os coefi cientes da

equação de longo prazo). No longo prazo, o fl uxo anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança

Gráfi co 2

RESULTADOS DO MODELO RELATIVO AOS EMPRÉSTIMOS PARA HABITAÇÃO | FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS

VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: HABITAÇÃO

-0.1

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1

Valores observadosEstimativas do modelo

Fonte: Cálculos dos autores.

Quadro 2

TESTES DE COINTEGRAÇÃO DE JOHANSEN: SISTEMA COM O FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA PARA CONSUMO E OUTROS FINS, A TAXA DE DESEMPREGO E A TAXA DE JURO DOS EMPRÉSTIMOS PARA CONSUMO E OUTROS FINS

RankTeste do Traço [Prob.]

Corrigido do enviesamento de pequena amostraTeste do Máximo [Prob.]

Corrigido do enviesamento de pequena amostra

0 30.56 [0.040]** 24.25 [0.015]**

1 6.32 [0.662] 6.25 [0.588]

2 0.07 [0.040] 0.07 [0.797]

Fonte: Cálculos dos autores.

Notas: ***, ** e * indicam signifi cância estatística a 1%, 5% e 10%, respetivamente.

Page 199: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

197

Art

igos

duvidosa para consumo e outros fi ns tem uma relação positiva com a taxa de desemprego e com a taxa

de juro dos empréstimos para consumo e outros fi ns.

A dinâmica de curto prazo foi estimada através de um procedimento habitual de simplifi cação “do geral

para o particular”. A especifi cação fi nal é bastante simples (Quadro 3). A variação trimestral do fl uxo

anual de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa para consumo e outros fi ns é estimada

como função de um termo autoregressivo, da variação em cadeia do PIB e do Mecanismo Corretor do

Erro (desfasado). Estas variáveis apresentam os sinais habituais. Em particular, o coefi ciente do MCE é

Gráfi co 3

MECANISMO CORRETOR DO ERRO – RELAÇÃO DE LONGO PRAZO ENTRE O FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA PARA CONSUMO E OUTROS FINS, A TAXA DE DESEMPREGO E A TAXA DE JURO DOS EMPRÉSTIMOS PARA CONSUMO E OUTROS FINS |

MECANISMO CORRETOR DO ERRO

-0.8

-0.6

-0.4

-0.2

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1

Fonte: Cálculos dos autores.

Nota: O gráfi co apresenta a seguinte série:

. . 4.153 0.305 * 0.348 * cons eoutros fins cons eoutros finst t t tECM Fluxodeempréstimosvencidos U Taxade juro= + - -

Quadro 3

MODELAÇÃO DA VARIAÇÃO TRIMESTRAL DO FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS

Variáveis Coefi ciente

Constante 0.030

(0.022)

.1

cons eoutros finstFluxodeempréstimos vencidos -D 0.551***

(0.105)

tPIBD -0.047*

(0.025)

1tMCE - -0.272***

(0.063)

Número de observações 48

R 2

0.493

Fonte: Cálculos dos autores.

Notas: ***, ** e * indicam signifi cância estatística a 1%, 5%

e 10%, respetivamente.

Page 200: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

198

II

estimado em -0.27, o que implica que os fl uxos anuais retornam ao respetivo nível de longo prazo (tal

como determinado pelo MCE) a um ritmo relativamente rápido. Em termos gerais, o modelo consegue

captar as características mais salientes da variável explicada ao longo do período amostral (Gráfi co 4).

5. Previsões fora da amostra

Os modelos descritos nas Secções 3 e 4 podem ser utilizados para prever a evolução do fl uxo anual de

empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa em diferentes cenários macroeconómicos. Nesta

secção apresentamos previsões fora da amostra com base nas projeções macroeconómicas mais recentes

divulgadas pelo Banco de Portugal. Os resultados, para o período 2011T3-2012T4, são apresentados no

gráfi co 5. Os resultados sugerem que, não obstante a prevalência de baixas taxas de juro no mercado

monetário, as condições macroeconómicas adversas da economia portuguesa implicarão uma subida

Gráfi co 5

PROJEÇÕES DO FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA | EM

PERCENTAGEM DOS EMPRÉSTIMOS, CORRIGIDOS DE TITULARIZAÇÃO: 2011T3-2012T4

FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE

COBRANÇA DUVIDOSA: HABITAÇÃO

FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE

COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS

0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

2007T1 2008T1 2009T1 2010T1 2011T1 2012T10.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

2007T1 2008T1 2009T1 2010T1 2011T1 2012T1

Fontes: INE, Banco de Portugal e cálculos dos autores.

Gráfi co 4

DINÂMICA DE CURTO PRAZO DO MODELO RELATIVO AOS EMPRÉSTIMOS PARA CONSUMO E OUTROS FINS) | VARIAÇÃO DO FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1

Estimativas do modeloValores observados

Fonte: Cálculos dos autores.

Page 201: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

199

Art

igos

dos fl uxos anuais de empréstimos vencidos e outros de cobrança duvidosa nos próximos trimestres, para

níveis superiores aos observados em meados de 2009.

6. Conclusões

Este artigo apresentou dois modelos que visam estimar a evolução dos fl uxos anuais de empréstimos

vencidos e outros de cobrança duvidosa, nos dois segmentos mais relevantes dos empréstimos a parti-

culares: habitação e consumo e outros fi ns. O desempenho dos modelos revelou-se aceitável e robusto.

Em certas condições – em particular num quadro em que os devedores normalizam a situação de incum-

primento a uma taxa constante – a evolução daqueles fl uxos será uma boa aproximação à evolução das

probabilidades de incumprimento em cada um dos segmentos. Neste sentido, estes modelos permitem

projetar a evolução do incumprimento dos particulares em cenários macroeconómicos alternativos.

Page 202: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

200

II

Referências

Allen, L. e Saunders, A. (2004), “Incorporating systemic infl uences into risk measurements: a survey of

the literature”, Journal of Financial Services Research, 26:2, 161-192.

Andersen, H., Berge, T., Bernhardsen, E., Lindquist, K. e Vatne, B. (2008), “A suite of models approach

to stress-testing fi nancial stability”, Norges Bank Staff Memo, June.

Banerjee, A. (1992), “A simple model of heard behavior”, The Quarterly Journal of Economics, 107 (3),

797-817.

Berger, A. e Udell, G. (2004), “The institutional memory hypothesis and the procyclicality of bank lending

behavior”, Journal of Financial Intermediation, Vol. 13, Issue 4, October, 458-495.

Bikker, J. e Hu, H. (2002), “Cyclical patterns in profi ts, provisioning and lending to banks”, DNB Staff

Reports, Nº 86.

Bikker, J. e Metzemakers, P. (2005), ”Bank provisioning behaviour and procyclicality”, Journal of Interna-

tional Financial Markets, Institutions and Money, Vol. 15, Issue 2, 141-157.

Bonfi m, D. (2009), “Credit risk drivers: evaluating the contribution of fi rm level information and macro-

economic dynamics”, Journal of Banking and Finance, 33, 281-299.

Farinha, L. e Lacerda, A. (2010), “Incumprimento no crédito aos particulares: qual é o papel do perfi l

de crédito dos devedores?”, Banco de Portugal, Relatório de Estabilidade Financeira, Novembro.

Gambera, M. (2000), “Simple forecasts of bank loan quality in the business cycle”, Emerging Issues Se-

ries, Supervision and Regulation Department, Federal Reserve of Chicago, April.

Gasha, J. e Morales, R. (2004), “Identifying threshold effects in credit risk stress testing”, International

Monetary Fund, WP/04/150.

Hoggart, G., Logan, A. e Zichino, L. (2005), “Macro stress tests in the UK”, BIS Papers, No 22, part 20.

Jakubík, P., (2006), “Does credit risk vary with economic cycles? The case of Finland”, IES Working Paper

11.

Kindleberger, C. (1978), “Manias, panics, and crashes: a history of fi nancial crises”, New York: Basic

Books.

Laeven, L. e Majnoni, G. (2003), “Loan loss provisioning and economic slowdowns: too much, too

late?”, Journal of Financial Intermediation, Vol. 12, Issue 2, 178-197.

Marcucci, J. e Quagliariello, M. (2009), “Asymmetric effects of the business cycle on bank credit risk”,

Journal of Banking and Finance, Vol. 33, Issue 9, 1624-1635.

Misina, M. e Tessier, D. (2008), “Non-linearities, model uncertainty, and macro stress testing”, Bank of

Canada, Working Paper, 30.

Pederzoli, C. e Torricelli, C. (2005), “Capital requirements and business cycle regimes: Forward-looking

modelling of default probabilities”, Journal of Banking & Finance, Vol. 29, Issue 12, 3121-3140.

Pesola, J. (2005), “Financial fragility, macroeconomic shocks and banks’ loan losses: evidence from Eu-

rope”, Bank of Finland Discussion Papers, 13.

Pesola, J. (2007), “Financial fragility, macroeconomic shocks and banks’ loan losses: evidence from Eu-

rope”, Bank of Finland Discussion Papers, 15.

Rinaldi, L. e Sanchis-Arellano, A. (2006), “Household debt sustainability: what explains household non-

performing loans? An empirical analysis”, European Central Bank, Working Paper Series, No 570.

Page 203: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

201

Art

igos

Simons, D. e Rolwes, F. (2009), “Macroeconomic default modelling and stress testing”, International

Journal of Central Banking, September.

Sorge, M. e Virolainen, K. (2006), “A comparative analysis of macro stress-testing methodologies with

application to Finland”, Journal of Financial Stability, Vol. 2, Issue 2, 113-151.

Stiglitz, J. e Weiss, A. (1981), “A credit rationing in markets with imperfect information”, The American

Economic Review, Vol. 71, No. 3, 393-410.

Stiglitz, J. e Weiss, A. (1983), “Incentive effects of terminations: applications to credit and labor mar-

kets”, The American Economic Review, Vol. 73, No.5, 912-927.

Page 204: Relatório de Estabilidade Financeira novembro 2011† Novembro 2011 8 I tência de dúvidas em torno dos mecanismos de resolução institucional da crise da dívida soberana, assistiu-se

BA

NC

O D

E P

OR

TU

GA

L |

RELA

TÓRI

O D

E ES

TABI

LID

AD

E FI

NA

NC

EIRA

• N

ovem

bro

2011

202

II

ANEXO: Dados utilizados

FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: HABITAÇÃO

FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS

VARIAÇÃO DO FLUXO ANUAL DE EMPRÉSTIMOS VENCIDOS E OUTROS DE COBRANÇA DUVIDOSA: CONSUMO E OUTROS FINS

-0.1

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T10

0.5

1

1.5

2

2.5

3

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1

-0.6

-0.5

-0.4

-0.3

-0.2

-0.1

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1

TAXA DE JURO DO MERCADO MONETÁRIO A 6 MESES

DIFERENCIAL DE TAXA DE JURO (FACE À TAXA DO MERCADO MONETÁRIO A 6 MESES): PARTICULARES PARA HABITAÇÃO

DIFERENCIAL DE TAXA DE JURO (FACE À TAXA DO MERCADO MONETÁRIO A 6 MESES): PARTICULARES PARA CONSUMO E OUTROS FINS

0

1

2

3

4

5

6

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T10

0.5

1

1.5

2

2.5

3

3.5

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T15

6

7

8

9

10

11

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1

TAXA DE VARIAÇÃO HOMÓLOGA DO PIB

TAXA DE DESEMPREGO(NOVA METODOLOGIA)

VARIAÇÃO ANUAL DA TAXA DE DESEMPREGO

-5

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

5

6

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T10

2

4

6

8

10

12

14

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

1.5

2

2.5

99T1 00T1 01T1 02T1 03T1 04T1 05T1 06T1 07T1 08T1 09T1 10T1 11T1

Fontes: INE e Banco de Portugal.