Reportagem

Parlamento dos Jovens 2016

Secundário

“Da agitação dos corredores da escola aos passos tímidos pelas salas da Assembleia”

Jornalista

Catarina Duarte Pereira Figueiredo, 17 anos, Ciências Socioeconómicas

Escola Secundária de Almeida Garrett, Vila Nova de Gaia, Porto

Acompanhou: Marco Santos e Rui Teixeira

Orientada por: Filomena Bispo e António Pereira

Os nossos primeiros passos - A Sessão Escolar

Por meados do mês de janeiro iniciou-se, na Escola Secundária de Almeida Garrett, o processo

escolar relativo ao Parlamento dos Jovens. Estava anunciado o tema: “Portugal: assimetrias

litoral/interior- que soluções?” e era, portanto, altura de começar a pensar nele e em quais as

medidas a implementar. Foram inscritas cinco listas diferentes no projeto, todas elas com

medidas distintas umas das outras. Houveram pequenas reuniões entre a professora

coordenadora, Filomena Bispo, e os alunos que iriam participar no Parlamento dos Jovens para que

todas a dúvidas relativas ao projeto e ao seu desenvolvimento fossem tiradas de forma a que tudo

corresse pelo melhor.

As campanhas das listas candidatas ocorreram durante dois dias e não foram muito expressivas,

no entanto, ainda conseguimos obter um considerável número de votos. No final do segundo dia de

campanha os votos foram contados na presença de duas professoras e dos representantes de cada

lista. As listas com mais votos foram, respetivamente, a lista D (Rui Teixeira), lista A (Catarina

Figueiredo) e lista C (Marco Santos). Estavam desta forma eleitos os deputados que iriam

participar na Sessão Escolar.

A Sessão Escolar aconteceu num dia à tarde numa sala da escola. As medidas das diversas listas

foram debatidas de forma bastante intensa, tendo algumas delas mais tarde sofrido alterações. No

fim da sessão foi feita a votação das medidas e dos representantes a levar para a Sessão

Distrital e os resultados demonstraram uma certa pluralidade, visto que tanto as

recomendações como os representantes surgem de listas diferentes. Estava então tudo

preparado para seguir em frente e para representar a nossa escola na distrital do Porto.

Os passos seguintes - A Sessão Distrital

Após todo o processo descrito, seguiu-se uma nova fase - a Sessão

Distrital. Realizou-se no Fórum da Maia nos dias 7 e 8 de março e

contou com a presença de mais de 40 instituições de ensino.

Às 9h efetuou-se a receção aos deputados e, meia hora depois, iniciou-

se a sessão propriamente dita. Na sessão estavam presentes várias

entidades, como o Presidente da Câmara da Maia e o Diretor regional

do Norte do Instituto Português do Desporto e Juventude. Estava

também presente Andreia Neto, deputada da Assembleia da República

pelo PSD que respondeu às perguntas colocadas pelos deputados das

diferentes escolas, tendo estas focado diversos assuntos.

Posteriormente à fase das questões referida, iniciou-se a apresentação e, de seguida, o debate e a

eleição dos Projetos de Recomendação das Escolas. O Projeto de Recomendação que foi eleito

como projeto base foi o da nossa escola, Escola Secundária Almeida Garrett, o que nos deixou

bastante felizes e mais confiantes para continuarmos o nosso percurso.

Estabeleceram-se grupos de trabalho no sentido de introduzir modificações ao projeto base e,

seguidamente, iniciou-se o debate e a eleição dessas mesmas propostas de alteração. Após isto,

deu-se por encerrado o primeiro dia da Sessão Distrital.

No dia seguinte, os trabalhos começaram igualmente cedo e,

desta vez, o nervosismo era maior, visto que este seria o dia em

que se faria a votação para a eleição dos deputados à Sessão

Nacional. Após uma demorada espera pela contagem dos votos

desta eleição, os resultados foram divulgados e para nossa

surpresa e felicidade a escola que obteve mais votos foi

novamente a nossa, seguindo-se a Escola Secundária de Penafiel, o Instituto Nun’Alvres, o

Colégio Casa Mãe e a Escola Secundária de Alpendurada. Seguidamente, elegeu-se, o porta-

voz que iria representar o círculo eleitoral do Porto. De entre os candidatos, estava o Rui

Teixeira - deputado pela nossa escola - que ficou em segundo lugar, ficando em primeiro lugar o

Nuno Brochado, deputado pela Escola Secundária de Penafiel. Embora a eleição de um

deputado como porta-voz fosse algo que nós queríamos muito, já ficamos extremamente satisfeitos

pelo facto de irmos à Sessão Nacional. Chegava agora uma nova fase, era preciso preparar muito

bem a nossa ida a Lisboa.

Os passos fundamentais - A Sessão Nacional

Chegada á Assembleia da República

Saímos do Porto no dia 23 de maio por volta das 08h45m e seguimos numa viagem de camioneta

de mais de 4h até Lisboa. Durante a viagem as conversas e os

debates entre nós surgiram de forma bastante natural, o que

nos ajudou a conhecermo-nos melhor e mais rapidamente.

Chegamos a Lisboa por volta das 13h30m, parando a

camioneta mesmo em frente à Assembleia da República.

Ao entrarmos no edifício fizemos a credenciação, tendo-nos

sido entregue algum material necessário e, imediatamente,

começamos os nossos trabalhos.

Reuniões das Comissões

As Reuniões das Comissões iniciaram-se às 14h e duraram

toda a tarde, tendo apenas uma interrupção para o lanche.

Nestas sessões realizou-se o debate, na generalidade e na

especialidade, dos Projetos de Recomendação aprovados

nos vários círculos eleitorais, cujo objetivo era cada

comissão de trabalho levar até cinco medidas para o

Plenário que iria ocorrer no dia seguinte. O nosso distrito,

Porto, estava representado na Comissão número dois que foi orientado pela deputada Heloísa

Apolónia, tendo sido as nossas recomendações as eleitas como

projeto base. Após eleito o

projeto base iniciou-se o

processo de debater as

propostas de alteração a

este pelos diferentes

círculos eleitorais. As

medidas delineadas e levadas ao Plenário continham propostas

dos vários distritos candidatos. Nestas comissões estabeleceu-se também as questões a colocar

aos deputados que estariam presentes na manhã seguinte, dispostos a respondê-las.

Visita ao Palácio de São Bento

Por volta das 15h30m, iniciou-se uma visita guiada ao

Palácio de São Bento para os jornalistas. A visita começou

na Sala do Passos Perdidos com a guia a explicar a curiosa

história e origem do nome daquele agradável espaço.

Tivemos a oportunidade de observar e de fotografar os

diversos elementos estéticos que nos remetiam a épocas

históricas anteriores.

A visita continuou e seguimos para a Sala das Sessões, o lugar onde são feitos os mais importantes

debates que ocorrem na Assembleia da República. A guia falou-nos da sua arquitetura e da forma

como é elaborada a distribuição do espaço pelas diferentes funções dos seus ocupantes. Foi-nos

explicado onde se situam os deputados, a mesa presidencial, a comunicação social, o público e as

altas individualidades e que os vários partidos políticos são

distribuídos pela Sala de acordo com a sua ideologia. Ainda nos

foi disponibilizado um tempo para que pudéssemos fazer

perguntas e tirar as

nossas dúvidas.

Esta visita foi bastante

importante para nós

pois permitiu-nos estar mais familiarizados com espaços

que, normalmente, percecionamos de forma muito

distante.

Momento cultural

O momento cultural ocorreu após as Reuniões das Comissões e teve lugar na Sala do Senado.

Este ano assistimos a duas atuações, sendo a primeira de

ginástica acrobática e a segunda de dança.

Estas atuações serviram para descontrairmos de um dia de

trabalhos e debates e conseguiram animar todos os que

estavam presentes. No final, toda a gente acabou a dançar

juntamente com o grupo de hip-hop encerrando-se, desta

forma, o primeiro dia da Sessão Nacional

Plenário na Sala das Sessões

No dia seguinte, os trabalhos retomaram bem cedo pela manhã

com a abertura do Plenário. O momento da abertura do

plenário ocorreu com as intervenções do Vice-Presidente da

Assembleia da República, José Manuel Pureza e do Ministro

da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.

O Plenário contou também com a presença de um deputado de

cada grupo parlamentar da Assembleia da República, Ana Virgínia Pereira (PCP), António Carlos

Monteiro (CDS-PP), Heloísa Apolónia (PEV), Luís Monteiro (BE), Pedro Pimpão (PSD), Susana

Amador (PS). Aos deputados presentes estabeleceram-se questões pelos diferentes círculos

eleitorais que se debruçaram sobre temas muito diversos, desde o atual governo português à

atual situação da Europa, passando ainda pela crise económico-financeira de Angola. Todas as

questões foram respondidas com uma grande disponibilidade por parte dos deputados, sendo

importante de referir que Heloísa Apolónia se comprometeu a levar uma das perguntas, que a ela

lhe foi dirigida, ao governo visto que era este o recetor da mesma.

Depois do período de perguntas aos deputados

iniciou-se o Debate de Recomendação à Assembleia

da República que se estendeu por bastante tempo,

tendo este apenas uma paragem para o almoço. Finaliza-

se esta sessão com a votação final global da

Recomendação e com a presença de Alexandre

Quintanilha, Presidente da Comissão da Educação e

Ciência.

Jornalistas e deputados

Durante o Debate da Recomendação á Assembleia da República no Plenário, os deputados que lá

estavam presentes dirigiram-se para a Sala dos Passos Perdidos, tendo os jornalistas a

oportunidade de falar diretamente com eles e de lhes fazer diversas questões. As perguntas

elaboradas aos deputados passaram pela discussão do tema tratado este ano no Parlamento dos

Jovens, mas passaram também por muitos outros temas relevantes relativos à situação atual do

nosso país.

Heloísa Apolónia, deputada do Partido Ecologista Os Verdes (PEV), fez uma pequena reflexão

sobre a solução ao problema das assimetrias entre o litoral e o interior de Portugal:

“Nós encerramos serviços públicos, fechamos redes ferroviárias, pomos

portagens nas autoestradas, como é que a gente leva a população para

o interior do país? Essa é que é a grande questão e é aqui que eu quero

dizer que o Estado tem um papel fundamental que é de colocar serviços

de proximidade no interior.”

A Educação foi um dos temas mais debatidos entre os deputados e os jornalistas. Susana Amador

do Partido Socialista (PS) focou-se na importância da escola e Luís Monteiro do Bloco de Esquerda

(BE) centrou-se mais nas falhas existentes no sistema educativo português.

Susana Amador “A escola é o verdadeiro ascensor social. Os meus

pais eram de classe média baixa, não tiveram hipótese de estudar, mas

eu e a minha irmã fomos para a faculdade e ambos ficamos realizadas

na vida. Quem nasce pobre não tem de morrer pobre (…) e é através

da escola que conseguimos corrigir as assimetrias de berço.”

Luís Monteiro “Há uma lógica de formatação e não há sequer uma lógica

de criatividade (…) Nós somos ensinados a fazer relatórios, mas somos

pouco ensinados a escrever poesia. Porque é que temos de preparar

dactilógrafos e não temos de preparar poetas? (…). Estamos a formatar

estudantes que depois têm sérios problemas no ensino superior e na sua

carreira.”

Conferência de Imprensa

Ao meio-dia ocorreu uma conferência de imprensa destinada aos jornalistas com Alexandre

Quintanilha, Presidente da Comissão de Educação e Ciência.

Como não podia deixar de ser, a educação foi o tema mais

debatido, tocando-se em temas como as oportunidades existentes

nas escolas secundárias e nas faculdades ou como os polémicos

contratos de associação. O debate foi muito interessante e

podemos contar sempre com a disponibilidade e simpatia de

Alexandre Quintanilha. No final da sessão foi entregue aos jornalistas um diploma de participação.

Os nossos momentos de partida e reflexões…

Com o encerramento do Plenário dá-se também a finalização de todos os trabalhos, sendo agora a

altura de nos despedirmos e de regressarmos para o nosso distrito de origem, dizendo adeus àquela

que foi uma das mais inesquecíveis atividades de todo o nosso percurso escolar.

O Parlamento do Jovens foi sem dúvida uma das melhores experiências que já presenciámos, pois

permitiu-nos melhorar as nossas capacidades de retórica, intervenção e sociabilização. Este projeto

deu-nos a oportunidade de ter mais contacto com a política e de perceber que esta não é assim tão

distante como, por vezes, nos parece. A política é para todos e é essencial que se perceba

desde jovem a importância de se ter uma vida ativa na sociedade. Foi ótimo conhecer pessoas

de todo o país e poder conversar com elas sobre os mais diversos assuntos, é sempre bom

conhecer gente nova e ouvir diferentes perspetivas. O Parlamento dos Jovens deu-nos uma

maior consciência política e mostrou-nos a possibilidade de participar na construção de uma

nova realidade social.

Catarina Figueiredo