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REQUISIÇÃODEPEQUENOVALOR

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AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 556.475-6,

DE ASTORGA – VARA ÚNICA.

AGRAVANTE : MUNICÍPIO DE

ASTORGA.

AGRAVADO : ALCINDO JOSÉ

FERRARI.

RELATOR : DES. IDEVAN LOPES.

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS – EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL – REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR (RPV) – ART. 100, §§ 3º E 5º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ART. 87 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS - EDIÇÃO DE LEI MUNICIPAL DEFININDO AS OBRIGAÇÕES DE PEQUENO VALOR – APLICABILIDADE – DECISÃO REFORMADA. O art. 87 do ADCT atribui competência para os Municípios estipularem as obrigações de pequeno valor e, como o citado Município de Astorga assim já procedeu, deve ser aplicada ao caso em análise a legislação municipal respectiva, tendo em vista que não foi revogada pelo dispositivo constitucional acima mencionado. RECURSO PROVIDO.

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Agravo de Instrumento nº 556.475-6 fls. 2

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de

Agravo de Instrumento nº 556.475-6, de Astorga – Vara Única, em que é

Agravante MUNICÍPIO DE ASTORGA e Agravado ALCINDO JOSÉ

FERRARI.

ACORDAM os Membros da Primeira Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de

votos, em dar provimento ao recurso.

Adota-se, por brevidade e a título de relatório, o

contido no r. despacho de fls. 217/219, a seguir transcrito:

“Cuida-se de Agravo de Instrumento

manejado pelo Município de Astorga contra decisão que

determinou a expedição de RPV nos autos de Reparação de

Danos nº 265/99.

Afirma, in verbis, o agravante:

Em data de 02/06/1999 o Agravado

propôs Ação de Reparação de Danos, em face do Município de

Astorga, tendo a sentença transitado em julgado em 15/05/2006

(fl. 163).

Às fls. 165/166 foi promovida a

execução, sendo os valores apurados através da conta de fls.

168/169.

Diante da ausência de impugnação, o

Agravado requereu às fls. 174/175 que fosse expedida

requisição de pequeno valor ao Município de Astorga, para

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liquidação dos débitos, que foi deferido pelo MM. Juiz a quo (fl.

184).

Através do pedido de fls. 186, o

Município de Astorga informou que, conforme lhe permitiu o §

5º, do Art. 100 da CF e caput do Art. 87 do ADCT, ainda dando

cumprimento ao § 3º do artigo 100 da Constituição Federal,

editou a Lei Municipal n. 1.486/2001-E, de 21 de setembro de

2001 (fl. 187), a qual estabeleceu o valor de R$ 2.500,00 (dois

mil e quinhentos reais) para as obrigações de pequeno valor.

O MM. Juiz a quo, através do despacho

de fl. 188 e v., determinou que o pagamento da Execução se dê

mediante requisição de pequeno valor, motivo pelo qual é

interposto o presente recurso.

Sustenta o agravante que errôneo o

entendimento do juízo recorrido ao entender que a Lei

Municipal nº 1.486/2001-E, que limitou os débitos de pequeno

valor, foi revogada pela EC nº 37/02.

Pede: (a) efeito suspensivo; (b) final

provimento do recurso.

Decido.

Eis a decisão agravada, in verbis:

Autos nº 265/1999.

Vistos etc...

1. Cuida a espécie de execução de título

judicial referente à indenização por danos morais, no valor de

R$ 12.331,33.

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2. É de ressaltar que o credor em sua

inicial requereu que o pagamento do débito fosse realizado

através de RPV.

3. O Município de Astorga,

devidamente citado, concordou com o valor pleiteado,

manifestando o interesse em opor embargos. No entanto,

informou o ente federado que foi editado a Lei Municipal n.

1.486/2001-E, de 21 de setembro de 2001 (fl. 187), a qual

estabeleceu o valor de R$ 2.500,00 para as obrigações de

pequeno valor, sustentando que não há que se falar em

aplicação do inciso II, do art. 87, do ADCL.

DECIDO.

4. É cediço que não se sujeitam ao

regime dos precatórios os pagamentos de obrigações definidas

em lei como de pequeno valor que a Fazenda Federal, Estadual,

Distrital ou Municipal deva fazer em virtude de sentença

judicial transitada em julgado (CF, art. 100, § 3°). Cabe, pois, à

lei ordinária estipular os parâmetros para identificar as causas

de pequeno valor, admitindo-se a possibilidade de diferenciação

conforme a capacidade de pagamento das entidades de direito

público (CF, art. 100, § 5º).

5. Ocorre que cumprindo o novo

preceito constitucional, a Lei nº 10.259/2001, definiu as

obrigações de pequeno valor como sendo as que se inserem na

competência do Juizado Especial Federal, ou seja, aquelas cujo

valor seja de até sessenta (60) salários mínimos, regra a ser

aplicada para as execuções da esfera federal. Quanto aos

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demais entes da Federação que, nos termos do novo § 5º do art.

100 da CF/88 poderão sujeitar-se a limites diferenciados, a

Emenda Constitucional nº 37, de 12.6.2002, estabeleceu no art.

87 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,

provisoriamente, o parâmetro de trinta salários mínimos para

identificar as causas de pequeno valor perante a Fazenda dos

Municípios e de quarenta salários mínimo para a Fazenda dos

Estados e do Distrito Federal.

6. No caso vertente, entendo que a

edição anterior de Lei Municipal limitando os débitos de

pequeno valor em patamar inferior ao previsto no Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias, não inviabiliza a

expedição da RPV nos termos do que prevê atualmente o art.

87, II, do ADCT, visto que referida norma municipal foi

revogada frente ao posterior advento da EC nº 37/2002.

7. Neste aspecto, entendo que as

requisições de pequeno valor somente são aplicáveis após a

Emenda Constitucional nº 37/2002, que definiu o que são

débitos de pequeno valor e determinou a aplicabilidade da

sistemática do art. 100, § 3º, da CF/88. Assim, embora o

Plenário do STF (ADIN n. 2.868- P1) tenha proclamado a

transitoriedade dos parâmetros estabelecidos no art. 87 do

ADCT e assentado a liberdade dos entes federativos para

procederem à fixação dos valores referenciais das dívidas de

pequeno valor, inclusive em montante inferior àqueles inscritos

no dispositivo transitório, é certo que referida norma de cunho

estadual ou municipal deveria ser editada após o advento da

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Emenda Constitucional nº 37/2002, o que não ocorre no caso

do Município de Astorga.

8. Com efeito, e diante do requerimento

do credor, o pagamento se dará mediante requisição de pequeno

valor (RPV) no valor correspondente a 30 (trinta) salários

mínimos, na forma do art. 87, inciso II, do ADCT. Para tanto,

reitere-se, com com cópia do presente despacho e oficie-se

diretamente ao Município de Astorga, na pessoa do Prefeito

Municipal, requisitando-lhe, no prazo máximo de 60 dias o

recebimento da requisição, o pagamento em conta judicial do

crédito individualizado e de natureza comum do exeqüente e

demais acessórios (custas processuais), devidamente

individualizados e atualizados na data do efetivo depósito,

consoante autoriza a Resolução nº 06/2007, do Órgão Especial

do TJPR, sob pena de seqüestro do numerário suficiente pelo

próprio juízo da execução, a pedido do credor, sem prejuízo de

outros efeitos de natureza jurídica e de caráter político-

administrativo ao responsável.

9. Intimem-se.

Verifica-se, pois, que determinada a

expedição de ofício o pagamento do valor apurado em conta

judicial, sob o fundamento de que de pequeno valor.

Análise perfunctória leva à concessão

do efeito suspensivo, diante de danos de difícil e incerta

reparação.

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Oficie-se ao Juízo a quo, para que

preste as informações que julgar convenientes, no prazo de 10

(dez) dias.

Intime-se a parte agravada para,

querendo, apresentar resposta no prazo legal.

Após, à Procuradoria Geral de Justiça.

Autorizo a Chefia da Divisão Cível a

assinar os respectivos ofícios, aos quais deverá ser anexada

cópia dessa decisão.

Intimem-se.

Curitiba, 23 de janeiro de 2009.

SÉRGIO ROBERTO NÓBREGA

ROLANSKI

Relator Designado”

ALCIDO JOSÉ FERRARI ofereceu resposta ao

recurso (fls. 235/238), pugnando pela manutenção do despacho agravado,

ao entendimento de que a lei editada pelo Município de Astorga restou

superada por norma constitucional que disciplina de forma diferente o

mesmo tema e que, o limite fixado pelo Município afronta os princípios da

razoabilidade e da moralidade, considerando, também, que a Lei

Municipal, editada em 2001, não pode fazer incidir seus efeitos restritivos

a crédito que nasceu de demanda iniciada em 1999.

O Dr. Juiz de Direito prestou informações (fls.

263) noticiando a manutenção da decisão agravada e o cumprimento do

disposto no art. 526 do Código de Processo Civil.

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A douta Procuradoria Geral de Justiça, em r.

pronunciamento de fls.246 e 269, não vislumbrando interesse público

relevante no caso em análise, não emitiu parecer de mérito.

É o relatório.

Trata-se de decisão que, nos autos de Ação de

Reparação de Danos nº 265/1999, em fase de Execução de Título Judicial,

referente a indenização por danos morais, no valor de R$ 12.331,33 (doze

mil, trezentos e trinta e um reais e trinta e três centavos), onde o credor

requereu que o pagamento do débito fosse realizado através de Requisição

de Pequeno Valor (RPV).

O Município de Astorga concordou com o valor

pleiteado, mas informou que a Lei Municipal nº 1.486/2001-E, estabeleceu

o valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) para obrigações de

pequeno valor.

O Dr. Juiz de Direito entendendo, em síntese, que

as requisições de pequeno valor somente são aplicáveis após a Emenda

Constitucional nº 37/2002, que definiu o que são débitos de pequeno valor

com aplicação do art. 100, § 3º da Constituição Federal de 1998 e, diante

do requerimento do credor, decidiu que o pagamento se dará mediante RPV

no valor correspondente a 30 (trinta) salários mínimos, na forma do art. 87,

inc. II, do ADCT.

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A Lei Municipal nº 1.486/2001-E, de 21 de

setembro de 2001, em seu art. 1º define (fls. 201):

“ART. 1º - Fica definido em R$ 2.500,00 (dois mil e

quinhentos reais) as obrigações de pequeno valor a que alude

o § 3º, do Art. 100, da Constituição Federal, com redação

dada pela Emenda Constitucional nº 30, de 13 de setembro de

2000.”

O § 3º, do art. 100 da Carta Magna, com a redação

dada pela Emenda Constitucional nº 30, de 13 de setembro de 2000,

disciplina que:

“§ 3º O disposto no caput deste artigo, relativamente à

expedição de precatórios, não se aplica aos pagamentos de

obrigações definidas em lei como de pequeno valor que a

Fazenda Federal, Estadual, Distrital ou Municipal deva fazer

em virtude de sentença judicial transitada em julgado.”

O § 4º da Emenda Constitucional nº 30/2002,

renumerado para § 5º pela Emenda Constitucional nº 37, de 12 de junho de

2002, dispôs que:

“§ 4º A lei poderá fixar valores distintos para o fim previsto no §

3º deste artigo, segundo as diferentes capacidades das entidades

de direito público.”

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O art. 87, inc. I, acrescentado pela Emenda

Constitucional nº 37, de 12/06/2002, do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias, disciplinou que:

“Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da

Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno

valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis

definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto

no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou

obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham

valor igual ou inferior a:

(...)

II – 30 (trinta) salários-mínimos, perante a Fazenda dos

Municípios.

(...).”

No caso em espécie o Município de Astorga, com

edição de Lei Municipal nº 1.486/2001-E, definiu em R$ 2.500,00 (dois mil

e quinhentos reais), as obrigações de pequeno valor, nos termos do § 3º do

art. 100 da Constituição Federal,

O art. 87 do ADCT atribui competência para os

Municípios estipularem as obrigações de pequeno valor e, como o citado

Município de Astorga assim já procedeu, deve ser aplicada ao caso em

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análise a legislação municipal respectiva, tendo em vista que não foi

revogada pelo dispositivo constitucional acima mencionado.

Assim, como o valor pretendido pelo credor é

superior a R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), não há que se falar, no

Município de Astorga, em Requisição de Pequeno Valor (RPV).

Nestas condições, à vista de elementos bastantes a

autorizar a pretensão da Agravante, a decisão agravada deve ser

modificada.

Participaram do julgamento os Excelentíssimos

Desembargadora DULCE MARIA CECCONI e o Desembargador RUY

CUNHA SOBRINHO.

Curitiba, 23 de março de 2010.

IDEVAN LOPES

Presidente e Relator