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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OEO documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
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AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 556.475-6,
DE ASTORGA – VARA ÚNICA.
AGRAVANTE : MUNICÍPIO DE
ASTORGA.
AGRAVADO : ALCINDO JOSÉ
FERRARI.
RELATOR : DES. IDEVAN LOPES.
AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS – EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL – REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR (RPV) – ART. 100, §§ 3º E 5º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ART. 87 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS - EDIÇÃO DE LEI MUNICIPAL DEFININDO AS OBRIGAÇÕES DE PEQUENO VALOR – APLICABILIDADE – DECISÃO REFORMADA. O art. 87 do ADCT atribui competência para os Municípios estipularem as obrigações de pequeno valor e, como o citado Município de Astorga assim já procedeu, deve ser aplicada ao caso em análise a legislação municipal respectiva, tendo em vista que não foi revogada pelo dispositivo constitucional acima mencionado. RECURSO PROVIDO.
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Agravo de Instrumento nº 556.475-6 fls. 2
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de
Agravo de Instrumento nº 556.475-6, de Astorga – Vara Única, em que é
Agravante MUNICÍPIO DE ASTORGA e Agravado ALCINDO JOSÉ
FERRARI.
ACORDAM os Membros da Primeira Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de
votos, em dar provimento ao recurso.
Adota-se, por brevidade e a título de relatório, o
contido no r. despacho de fls. 217/219, a seguir transcrito:
“Cuida-se de Agravo de Instrumento
manejado pelo Município de Astorga contra decisão que
determinou a expedição de RPV nos autos de Reparação de
Danos nº 265/99.
Afirma, in verbis, o agravante:
Em data de 02/06/1999 o Agravado
propôs Ação de Reparação de Danos, em face do Município de
Astorga, tendo a sentença transitado em julgado em 15/05/2006
(fl. 163).
Às fls. 165/166 foi promovida a
execução, sendo os valores apurados através da conta de fls.
168/169.
Diante da ausência de impugnação, o
Agravado requereu às fls. 174/175 que fosse expedida
requisição de pequeno valor ao Município de Astorga, para
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liquidação dos débitos, que foi deferido pelo MM. Juiz a quo (fl.
184).
Através do pedido de fls. 186, o
Município de Astorga informou que, conforme lhe permitiu o §
5º, do Art. 100 da CF e caput do Art. 87 do ADCT, ainda dando
cumprimento ao § 3º do artigo 100 da Constituição Federal,
editou a Lei Municipal n. 1.486/2001-E, de 21 de setembro de
2001 (fl. 187), a qual estabeleceu o valor de R$ 2.500,00 (dois
mil e quinhentos reais) para as obrigações de pequeno valor.
O MM. Juiz a quo, através do despacho
de fl. 188 e v., determinou que o pagamento da Execução se dê
mediante requisição de pequeno valor, motivo pelo qual é
interposto o presente recurso.
Sustenta o agravante que errôneo o
entendimento do juízo recorrido ao entender que a Lei
Municipal nº 1.486/2001-E, que limitou os débitos de pequeno
valor, foi revogada pela EC nº 37/02.
Pede: (a) efeito suspensivo; (b) final
provimento do recurso.
Decido.
Eis a decisão agravada, in verbis:
Autos nº 265/1999.
Vistos etc...
1. Cuida a espécie de execução de título
judicial referente à indenização por danos morais, no valor de
R$ 12.331,33.
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2. É de ressaltar que o credor em sua
inicial requereu que o pagamento do débito fosse realizado
através de RPV.
3. O Município de Astorga,
devidamente citado, concordou com o valor pleiteado,
manifestando o interesse em opor embargos. No entanto,
informou o ente federado que foi editado a Lei Municipal n.
1.486/2001-E, de 21 de setembro de 2001 (fl. 187), a qual
estabeleceu o valor de R$ 2.500,00 para as obrigações de
pequeno valor, sustentando que não há que se falar em
aplicação do inciso II, do art. 87, do ADCL.
DECIDO.
4. É cediço que não se sujeitam ao
regime dos precatórios os pagamentos de obrigações definidas
em lei como de pequeno valor que a Fazenda Federal, Estadual,
Distrital ou Municipal deva fazer em virtude de sentença
judicial transitada em julgado (CF, art. 100, § 3°). Cabe, pois, à
lei ordinária estipular os parâmetros para identificar as causas
de pequeno valor, admitindo-se a possibilidade de diferenciação
conforme a capacidade de pagamento das entidades de direito
público (CF, art. 100, § 5º).
5. Ocorre que cumprindo o novo
preceito constitucional, a Lei nº 10.259/2001, definiu as
obrigações de pequeno valor como sendo as que se inserem na
competência do Juizado Especial Federal, ou seja, aquelas cujo
valor seja de até sessenta (60) salários mínimos, regra a ser
aplicada para as execuções da esfera federal. Quanto aos
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demais entes da Federação que, nos termos do novo § 5º do art.
100 da CF/88 poderão sujeitar-se a limites diferenciados, a
Emenda Constitucional nº 37, de 12.6.2002, estabeleceu no art.
87 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
provisoriamente, o parâmetro de trinta salários mínimos para
identificar as causas de pequeno valor perante a Fazenda dos
Municípios e de quarenta salários mínimo para a Fazenda dos
Estados e do Distrito Federal.
6. No caso vertente, entendo que a
edição anterior de Lei Municipal limitando os débitos de
pequeno valor em patamar inferior ao previsto no Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, não inviabiliza a
expedição da RPV nos termos do que prevê atualmente o art.
87, II, do ADCT, visto que referida norma municipal foi
revogada frente ao posterior advento da EC nº 37/2002.
7. Neste aspecto, entendo que as
requisições de pequeno valor somente são aplicáveis após a
Emenda Constitucional nº 37/2002, que definiu o que são
débitos de pequeno valor e determinou a aplicabilidade da
sistemática do art. 100, § 3º, da CF/88. Assim, embora o
Plenário do STF (ADIN n. 2.868- P1) tenha proclamado a
transitoriedade dos parâmetros estabelecidos no art. 87 do
ADCT e assentado a liberdade dos entes federativos para
procederem à fixação dos valores referenciais das dívidas de
pequeno valor, inclusive em montante inferior àqueles inscritos
no dispositivo transitório, é certo que referida norma de cunho
estadual ou municipal deveria ser editada após o advento da
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Emenda Constitucional nº 37/2002, o que não ocorre no caso
do Município de Astorga.
8. Com efeito, e diante do requerimento
do credor, o pagamento se dará mediante requisição de pequeno
valor (RPV) no valor correspondente a 30 (trinta) salários
mínimos, na forma do art. 87, inciso II, do ADCT. Para tanto,
reitere-se, com com cópia do presente despacho e oficie-se
diretamente ao Município de Astorga, na pessoa do Prefeito
Municipal, requisitando-lhe, no prazo máximo de 60 dias o
recebimento da requisição, o pagamento em conta judicial do
crédito individualizado e de natureza comum do exeqüente e
demais acessórios (custas processuais), devidamente
individualizados e atualizados na data do efetivo depósito,
consoante autoriza a Resolução nº 06/2007, do Órgão Especial
do TJPR, sob pena de seqüestro do numerário suficiente pelo
próprio juízo da execução, a pedido do credor, sem prejuízo de
outros efeitos de natureza jurídica e de caráter político-
administrativo ao responsável.
9. Intimem-se.
Verifica-se, pois, que determinada a
expedição de ofício o pagamento do valor apurado em conta
judicial, sob o fundamento de que de pequeno valor.
Análise perfunctória leva à concessão
do efeito suspensivo, diante de danos de difícil e incerta
reparação.
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Oficie-se ao Juízo a quo, para que
preste as informações que julgar convenientes, no prazo de 10
(dez) dias.
Intime-se a parte agravada para,
querendo, apresentar resposta no prazo legal.
Após, à Procuradoria Geral de Justiça.
Autorizo a Chefia da Divisão Cível a
assinar os respectivos ofícios, aos quais deverá ser anexada
cópia dessa decisão.
Intimem-se.
Curitiba, 23 de janeiro de 2009.
SÉRGIO ROBERTO NÓBREGA
ROLANSKI
Relator Designado”
ALCIDO JOSÉ FERRARI ofereceu resposta ao
recurso (fls. 235/238), pugnando pela manutenção do despacho agravado,
ao entendimento de que a lei editada pelo Município de Astorga restou
superada por norma constitucional que disciplina de forma diferente o
mesmo tema e que, o limite fixado pelo Município afronta os princípios da
razoabilidade e da moralidade, considerando, também, que a Lei
Municipal, editada em 2001, não pode fazer incidir seus efeitos restritivos
a crédito que nasceu de demanda iniciada em 1999.
O Dr. Juiz de Direito prestou informações (fls.
263) noticiando a manutenção da decisão agravada e o cumprimento do
disposto no art. 526 do Código de Processo Civil.
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Agravo de Instrumento nº 556.475-6 fls. 8
A douta Procuradoria Geral de Justiça, em r.
pronunciamento de fls.246 e 269, não vislumbrando interesse público
relevante no caso em análise, não emitiu parecer de mérito.
É o relatório.
Trata-se de decisão que, nos autos de Ação de
Reparação de Danos nº 265/1999, em fase de Execução de Título Judicial,
referente a indenização por danos morais, no valor de R$ 12.331,33 (doze
mil, trezentos e trinta e um reais e trinta e três centavos), onde o credor
requereu que o pagamento do débito fosse realizado através de Requisição
de Pequeno Valor (RPV).
O Município de Astorga concordou com o valor
pleiteado, mas informou que a Lei Municipal nº 1.486/2001-E, estabeleceu
o valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) para obrigações de
pequeno valor.
O Dr. Juiz de Direito entendendo, em síntese, que
as requisições de pequeno valor somente são aplicáveis após a Emenda
Constitucional nº 37/2002, que definiu o que são débitos de pequeno valor
com aplicação do art. 100, § 3º da Constituição Federal de 1998 e, diante
do requerimento do credor, decidiu que o pagamento se dará mediante RPV
no valor correspondente a 30 (trinta) salários mínimos, na forma do art. 87,
inc. II, do ADCT.
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A Lei Municipal nº 1.486/2001-E, de 21 de
setembro de 2001, em seu art. 1º define (fls. 201):
“ART. 1º - Fica definido em R$ 2.500,00 (dois mil e
quinhentos reais) as obrigações de pequeno valor a que alude
o § 3º, do Art. 100, da Constituição Federal, com redação
dada pela Emenda Constitucional nº 30, de 13 de setembro de
2000.”
O § 3º, do art. 100 da Carta Magna, com a redação
dada pela Emenda Constitucional nº 30, de 13 de setembro de 2000,
disciplina que:
“§ 3º O disposto no caput deste artigo, relativamente à
expedição de precatórios, não se aplica aos pagamentos de
obrigações definidas em lei como de pequeno valor que a
Fazenda Federal, Estadual, Distrital ou Municipal deva fazer
em virtude de sentença judicial transitada em julgado.”
O § 4º da Emenda Constitucional nº 30/2002,
renumerado para § 5º pela Emenda Constitucional nº 37, de 12 de junho de
2002, dispôs que:
“§ 4º A lei poderá fixar valores distintos para o fim previsto no §
3º deste artigo, segundo as diferentes capacidades das entidades
de direito público.”
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O art. 87, inc. I, acrescentado pela Emenda
Constitucional nº 37, de 12/06/2002, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, disciplinou que:
“Art. 87. Para efeito do que dispõem o § 3º do art. 100 da
Constituição Federal e o art. 78 deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias serão considerados de pequeno
valor, até que se dê a publicação oficial das respectivas leis
definidoras pelos entes da Federação, observado o disposto
no § 4º do art. 100 da Constituição Federal, os débitos ou
obrigações consignados em precatório judiciário, que tenham
valor igual ou inferior a:
(...)
II – 30 (trinta) salários-mínimos, perante a Fazenda dos
Municípios.
(...).”
No caso em espécie o Município de Astorga, com
edição de Lei Municipal nº 1.486/2001-E, definiu em R$ 2.500,00 (dois mil
e quinhentos reais), as obrigações de pequeno valor, nos termos do § 3º do
art. 100 da Constituição Federal,
O art. 87 do ADCT atribui competência para os
Municípios estipularem as obrigações de pequeno valor e, como o citado
Município de Astorga assim já procedeu, deve ser aplicada ao caso em
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análise a legislação municipal respectiva, tendo em vista que não foi
revogada pelo dispositivo constitucional acima mencionado.
Assim, como o valor pretendido pelo credor é
superior a R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), não há que se falar, no
Município de Astorga, em Requisição de Pequeno Valor (RPV).
Nestas condições, à vista de elementos bastantes a
autorizar a pretensão da Agravante, a decisão agravada deve ser
modificada.
Participaram do julgamento os Excelentíssimos
Desembargadora DULCE MARIA CECCONI e o Desembargador RUY
CUNHA SOBRINHO.
Curitiba, 23 de março de 2010.
IDEVAN LOPES
Presidente e Relator