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resenha ministério das relações exteriores de política exterior do brasil número 79, 2º semestre de 1996 2008

Resenha 2sem N79-1996 - itamaraty.gov.br · III Encontro de Negócios e Marketing do Cone Sul Pronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe

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resenha

ministério das relações exteriores

de política exterior do brasilnúmero 79, 2º semestre de 1996

2008

RESENHA DE POLÍTICA EXTERIOR DO BRASILNúmero 79, 2o semestre de 1996

Ano 23, ISSN 0101 2428

A Resenha de Política Exterior do Brasil é uma publicação semestral do Ministério das Relações Exteriores, organizada e editada pelaCoordenação de Documentação Diplomática (CDO) do Departamento de Comunicações e Documentação (DCD).

Ministro de Estado das Relações ExterioresEmbaixador Celso Amorim

Secretário-Geral das Relações ExterioresEmbaixador Samuel Pinheiro Guimarães

Subsecretário-Geral do Serviço ExteriorEmbaixador Paulo Cesar Meira de Vasconcellos

Diretor do Departamento de Comunicações e DocumentaçãoMinistro Hélio Vitor Ramos Filho

Coordenação de Documentação DiplomáticaPrimeiro Secretário Henrique Archanjo FerrariSecretário Igor de Carvalho Sobral

Padronização / Editoração eletrônicaHilton Ferreira da Silva

Endereço para correspondência:Coordenação de Documentação Diplomática (CDO)Ministério das Relações Exteriores, Anexo II, 1o subsoloCEP 70170-900, Brasília, DFTelefones: (61) 3411-9273, (61) 3411-9037, fax: (61) 3411-6591

© 2008 Todos os direitos reservados. A reprodução ou tradução de qualquer parte desta publicação será permitida coma prévia permissão do Editor.

Resenha de Política Exterior do Brasil / Ministério das Relações Exteriores. –Ano 1, nº 1 (jun. 1974) -.- Brasília, Ministério das Relações Exteriores,1974 –.

248p.

ISSN 0101 2428Semestral

1.Brasil – Relações Exteriores – Peródicos. I.Brasil. Ministério das Relações Exteriores

CDU: 327 (05)

Departamento de Comunicações e Documentação

3Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

SUMÁRIO

DISCURSOSA Execução da Política Externa BrasileiraPalestra do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, para osestagiários da Escola Superior de Guerra, sobre o tema “A execução da política externa brasileira”, 3 dejulho de 1996 ..................................................................................................................................... 11

V Centenário do Descobrimento do BrasilPronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, nacerimônia de instalação da comissão nacional para as comemorações do V Centenário do Descobrimentodo Brasil, Brasília, 4 de julho de 1996 ................................................................................................. 27

Cúpula da Comunidade dos Países de Língua PortuguesaDiscurso do Presidente da República por ocasião da sessão solene de abertura da reunião de Cúpula daComunidade dos Países de Língua Portuguesa, Lisboa, 17 de julho de 1996 ....................................... 29

Cerimônia de CondecoraçãoDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãoda Cerimônia de Condecoração de sua Santidade Karekin I, Patriarca Supremo da Igreja ApostólicaArmênia, com a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul, Brasília, 2 de agosto de 1996 ...................... 33

Assinatura do protocolo de cooperação entre o Itamaraty e o BNDESDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores ,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãoda assinatura do protocolo de cooperação entre o Itamaraty e o Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social, Brasília, 7 de agosto de 1996 .............................................................................. 35

Comemorações da Criação dos Cursos Jurídicos no BrasilConferência do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, naFaculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, por ocasião das comemorações daCriação dos Cursos Jurídicos no Brasil, sobre o Tema “A Política Externa Brasileira”, Recife, 11 deagosto de 1995. ................................................................................................................................. 37

Brasil - ChileDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, naAcademia Diplomática Andrés Bello, Santiago, 13 de agosto de 1996 ................................................. 49

4 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Brasil-MaliBrinde do Presidente da República, por ocasião do jantar que oferece ao Primeiro-Ministro da Repúblicado Mali, Senhor Ibrahim Boubacar Keita. Brasília, 21 de agosto de 1996 ........................................... 57

Brasil-JapãoDiscurso do Presidente da República, por ocasião do almoço que oferece ao Primeiro-Ministro do Japão,Senhor Ryutaro Hashimoto, Brasília, 26 de agosto de 1996 ................................................................. 59

ALADIDiscurso do Vice-Presidente da República, Marco Maciel, em sessão solene do comitê deRepresentantes da Aladi, Montevidéu, 27 de agosto de 1996 .............................................................. 61

Abertura do Seminário de Villa D’estePronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião da abertura do Seminário de Villa D’este (Itália), sobre o tema “Latin America And Brazil: AfterThe Storm”, Villa D´Este, 1º de setembro de 1996 .............................................................................. 65

OEADiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãodo almoço que oferece ao Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos, César Gaviria,Brasília, 5 de setembro de 1996 .......................................................................................................... 71

Brasil-ColômbiaBrinde do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãodo jantar oferecido à Ministra das Relações Exteriores da Colômbia, María Emma Mejía, Brasília, 9 desetembro de 1996 .............................................................................................................................. 73

Brasil-CoréiaDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso por ocasião do jantar que oferece aoPresidente da República da Coréia,Kim Young Sam, Brasília, 11 de setembro de 1996 ........................ 75

Brasil-República TchecaDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do jantar oferecido aoPresidente da República Tcheca, Vaclav Ravel, Brasília, 16 de setembro de 1996 ................................ 77

Brasil-AlemanhaDiscurso do Presidente da República, por ocasião do jantar que oferece ao Chanceler da RepúblicaFederal da Alemanha, Helmut Kohl, Brasília, 17 de setembro de 1996 ................................................ 79

Abertura da 51ª Assembléia-Geral das Nações UnidasPronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na sessãode abertura da 51ª Assembléia-Geral das Nações Unidas, Nova York, 23 de setembro de 1996 ................ 83

5Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

América Latina e CaribeDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãodo almoço oferecido aos Chanceleres e Representantes Permanentes do Grupo Latino-Americano e doCaribe junto às Nações Unidas, Nova York, 24 de setembro de 1996 ................................................. 89

“A Pledge to New Interamericanism”Pronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião do almoço oferecido pela “Americas Society”, em associação com o Conselho das Américas,sobre o tema “A Pledge to New Interamericanism”, Nova York, 25 de setembro de 1996 ................... 91

Sociedade Ibero-AmericanaPronunciamento do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros,por ocasião da Conferência da Sociedade Civil Ibero-americana, sobre o tema “O Estado, o SetorPrivado e a Sociedade Ibero-Americana ante a Globalização da Economia e as Relações Internacionais”,Brasília, 4 de outubro de 1996 ............................................................................................................ 95

Abertura da V Reunião da Comissão Binacional de Alto Nível Brasil-VenezuelaPronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião da Abertura da V Reunião da Comissão Binacional de Alto Nível Brasil - Venezuela, Caracas, 10de outubro de 1996 .......................................................................................................................... 101

Brasil-VenezuelaBrinde do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, no almoço oferecido peloChanceler da Venezuela Miguel Angel Burellirvas, Caracas, 10 de outubro de 1996 ........................... 103

La Política Exterior Brasileña y las Relaciones Brasil-Venezuela en El Contexto da laintegración sudamericanaDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãoda inauguração da Cátedra Brasil da Universidad Central de Venezuela, sobre o tema “La PolíticaExterior Brasileña y las Relaciones Brasil-Venezuela en El Contexto da la integración sudamericana”,Caracas, 10 de outubro de 1996 ...................................................................................................... 105

O Brasil e o Mundo no Século XXI - Uma Visão do ItamaratyPalestra do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, no III EncontroNacional de Estudos Estratégicos, sobre o tema “O Brasil e o Mundo no Século XXI — Uma Visão doItamaraty”, Rio De Janeiro, 14 de outubro de 1996 ........................................................................... 109

Mercosul-União EuropéiaExposição do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, porocasião do Encontro Empresarial Brasil-Alemanha, Dresden, 14 de outubro de 1996 ........................ 119

6 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

XXIII Reunião da Comissão Mista Brasil-Alemanha de Cooperação EconômicaExposição do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, porocasião da Abertura da XXIII Reunião da Comissão Mista Brasil-Alemanha de Cooperação Econômica,Dresden, 15 de outubro de 1996 ...................................................................................................... 125

Abertura da III Reunião de Comissão Geral de Coordenação Brasil-UruguaiPronunciamento do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião daAbertura da III Reunião de Comissão Geral de Coordenação Brasil-Uruguai, Rivera, 16 de outubro de1996 ................................................................................................................................................ 129

Visita oficial do Chanceler do ParaguaiDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, a serproferido na cerimônia de assinatura de atos, por ocasião da visita oficial do Chanceler do Paraguai,Embaixador Rubén Darío Melgarejo Lanzoni, Brasília, 23 de outubro de 1996 .................................. 133

Brasil-DinamarcaBrinde do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãodo almoço oferecido a sua Alteza Real, o Príncipe Herdeiro Frederik da Dinamarca, Brasília, 30 deoutubro de 1996 ............................................................................................................................... 135

III Encontro de Negócios e Marketing do Cone SulPronunciamento do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, porocasião do III Encontro de Negócios e Marketing do Cone Sul, Florianópolis, 31 de outubro de 1996 ...... 137

Encerramento do 3º Congresso de Marketing e NegóciosDiscurso do Presidente da República na sessão de encerramento do 3º Congresso de Marketing e Negócios,Organizado pelo Fórum de Integração do Cone Sul, Florianópolis, 1º de novembro de 1996 .................... 141

Cerimônia de Comemoração do Cinqüentenário da UnescoDiscurso do Ministro de Estado da Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na Cerimôniade Comemoração do Cinqüentenário da Unesco, Brasília, 4 de novembro de 1996 ........................... 145

Abertura do ciclo de palestras sobre a política exterior do BrasilPalestra do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros , naabertura do ciclo de palestras sobre a política exterior do Brasil, promovido pela Universidade de Brasíliae pela Fundação Alexandre de Gusmão, Brasília, 5 de novembro de 1996 ......................................... 147

Brasil-ChinaDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do jantar oferecido aoPrimeiro-Ministro da República Popular da China, Li Peng, Brasília, 8 de novembro de 1996 ............ 155

7Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

VI Conferência de Cúpula Ibero-AmericanaDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na sessão de abertura da VIConferência de Cúpula Ibero-Americana, Santiago do Chile, 10 de novembro de 1996 ..................... 159

Inauguração da ExpotecniaDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião da Inauguração daExpotecnia, na presença de sua Alteza Real o Príncipe das Astúrias, São Paulo, 24 de novembro de 1996 . 161

Brasil-AngolaDiscurso do Senhor Presidente da República no Almoço oferecido pelo Presidente da República deAngola, José Eduardo dos Santos, Luanda, 25 de novembro de 1996. .............................................. 163

Brasil-África do SulDiscurso do Senhor Presidente da República, Senhor Fernando Henrique Cardoso, por ocasião dobanquete que lhe oferece o Presidente da República da África do Sul, Nelson Mandela. Pretória, 27 denovembro de 1996 ........................................................................................................................... 167

Globalização e Política InternacionalConferência do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na Universidade de Witwatersrand,sobre “Globalização e Política Internacional”, Joanesburgo, 27 de novembro de 1996 ....................... 171

Seminário sobre Defesa Nacional da Câmara dos DeputadosPalestra do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, sobre otema “Política Externa e Defesa Nacional”, por ocasião do Seminário sobre Defesa Nacional da Câmarados Deputados, Brasília, 28 de novembro de 1996 ........................................................................... 179

Brasil-PortugalDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãodo banquete oferecido pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Jaime Gama, Lisboa,Palácio das Necessidades, 4 de dezembro de 1996 .......................................................................... 189

I Conferência Ministerial da Organização Mundial do ComércioDiscurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na IConferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio, Cingapura, 9 de dezembro de 1996. . 193

XI Reunião do Conselho do MercosulDiscurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na XI Reunião do Conselho doMercosul, Fortaleza, 17 de dezembro de 1996 ................................................................................. 197

Política ExternaMensagem de fim-de-ano do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz FelipeLampreia, Brasília, 30 de dezembro de 1996 .................................................................................... 201

8 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

ATOS INTERNACIONAIS .......................................................................................................... 203

COMUNICADOS, NOTAS, MENSAGENS E INFORMAÇÕESInformação à imprensa sobre “fatos sobre a questão timorense: a posição brasileira” , 15 de julho de1996 ................................................................................................................................................ 207

Informação à imprensa sobre a aprovação do tratado sobre proibição completa de testes nucleares -CTBT, 11 de setembro de 1996 ....................................................................................................... 208

Nota sobre o relacionamento entre o Brasil e os Estados Unidos na área de combate ao tráfico e uso dedrogas, 1º de outubro de 1996 ......................................................................................................... 208

Nota sobre o regime automotivo brasileiro e os interesses exportadores norte-americanos, 1º de outubrode 1996 ........................................................................................................................................... 209

Comunicado conjunto Brasil-Chade, 8 de outubro de 1996 ............................................................... 209

Comunicado conjunto Brasil-Djibouti, 22 de outubro de 1996 ........................................................... 209

UNESCO - cerimônia comemorativa do 50º aniversário da organização, 4 de novembro de 1996 ..... 209

Notas sobre a eleição do Ministro Francisco Rezek para a Corte Internacional de Justiça, do EmbaixadorBaena Soares para a Comissão de Direito Internacional e do Embaixador Álvaro Alencar para o Comitêde Contribuições das Nações Unidas, 6 de novembro de 1996 ......................................................... 210

Nota sobre assinatura do tratado sobre cumprimento de pena no país de origem entre Brasil e Espanha,7 de novembro de 1996 ................................................................................................................... 210

Nota sobre reféns na Embaixada do Japão em Lima, 18 de dezembro de 1996 ................................. 211

Mensagem do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, ao Presidente do Peru, AlbertoFujimori, sobre a ocupação terrorista da Embaixada do Japão em Lima, 20 de dezembro de 1996 .... 211

ARTIGOS”Mercosul-Chile, um acordo de qualidade”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado na“Gazeta Mercantil”, Rio De Janeiro, 12 de julho de 1996 .................................................................. 213

“Brasil e Portugal na Comunidade”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado noJornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17 de julho de 1996 ........................................................................ 214

9Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

“Política Comercial: os pingos nos is”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado naGazeta Mercantil, Rio de Janeiro, 18 de julho de 1996 ...................................................................... 215

“O Brasil e a Armênia”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado noJornal de Brasília, Brasília, 6 de agosto de 1996 ................................................................................ 217

“Brasil - Chile, Una amistad sin límites”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado noJornal “El Mercurio”, Santiago, 11 de agosto de 1996 ....................................................................... 218

“Uma contribuição de qualidade”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, para apublicação “Sessenta anos de Política Externa Brasileira (1930-1990)”editada pela Universidade de SãoPaulo. São Paulo, setembro de 1996 ................................................................................................ 219

“O Brasil e os processos de integração na sociedade global”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, para a publicação na obra“Seis cumbres, una comunidade”. Outubro de 1996 .......................................................................... 220

“O marketing no Mercosul”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado noDiário Catarinense. Florianópolis, outubro de 1996 ........................................................................... 224

“O Brasil e a integração hemisférica”Artigo do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, publicadona Gazeta Mercantil. Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1996 ............................................................. 224

“Os próximos passos no Mercosul”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado noJornal Zero Hora. Porto Alegre, 17 de outubro de 1996 .................................................................... 226

“O Brasil e o mundo no século XXI”Artigo “do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado naFolha de São Paulo. São Paulo, 20 de outubro de 1996 ................................................................... 228

“A cláusula social no comércio internacional”Artigo do Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado na Folha deSão Paulo. São Paulo, novembro de 1996. ...................................................................................... 229

10 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

“Algumas verdades acerca da cláusula social”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia., publicado noJornal o Globo. Rio de Janeiro, novembro de 1996 .......................................................................... 231

“Os Resultados da reunião da OMC em Cingapura”Artigo do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicado naGazeta Mercantil. Rio de Janeiro, dezembro de 1996 ........................................................................ 232

“A nova política de assistência aos brasileiros no exterior”Artigo do Secretário-Geral das Relações Exteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros. Dezembrode 1996 ........................................................................................................................................... 234

ENTREVISTAEntrevista do Ministro de Estado das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, para a Revista daEmbaixada do Chile em Brasília. Brasília, agosto de 1996 ................................................................. 241

INDICE REMISSIVO .................................................................................................................. 245

11Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

IntroduçãoQuero agradecer ao Comandante e Diretor

de estudos da Escola Superior de Guerra, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Masao Kuwanami, e a toda aDiretoria e Corpo Docente desta Instituição, por maisesta oportunidade de discutir a brasileira em um climade grande cordialidade e franqueza.

A ESG projetou-se no Brasil como umespaço de reflexão sobre a realidade e os interessesnacionais. Os estagiários da Escola Superior deGuerra tradicionalmente representam setoresimportantes e participativos da sociedade brasileira.O interesse dessa sociedade pela é legítimo ealentador para o Itamaraty, que tem aresponsabilidade de assessorar o Presidente daRepública na tarefa de conceber e executar a nossadiplomacia.

Por isso, esta oportunidade de apresentar ediscutir as grandes linhas da diplomacia brasileira comos estagiários da ESG é da maior importância para oItamaraty. Ao longo dos anos, a presença do Ministrodas Relações Exteriores e de outros altos funcionáriosdo Itamaraty nesta Casa tem sido um exercícioproveitoso de organização das idéias e desistematização dos fundamentos da brasileira. Masesta é também uma ocasião para conhecer opensamento e o sentimento dos estagiários aquipresentes em relação aos temas que nos mobilizam

na tarefa de projetar e defender os interessesbrasileiros no exterior.

Farei portanto uma apresentação sucinta daque vem sendo posta em prática pelo GovernoFernando Henrique Cardoso, situando-a em seuscontextos mais importantes e procurando mostrar-lhes como a nossa diplomacia procura fazer a ponteentre o interno — do ponto de vista político,econômico e social — e o externo, ou seja, nossapresença e atuação nos cenários regional einternacional.

Nossa hoje se move em função dastransformações que ocorreram nesses dois planos— no Brasil e no mundo. É preciso, portanto, quetenhamos uma noção clara da natureza e extensãodessas mudanças, para que a relação a serestabelecida pela entre os dois planos seja a melhorpossível, isto é, reverta em benefício concreto parao desenvolvimento econômico e social do Brasil.

A visão brasileira de um mundo emtransformação

Há quinze ou vinte anos atrás, quem ousasseantecipar a natureza e o alcance das transformaçõesque alterariam tão profundamente a face do mundoe as relações internacionais, no final dos anos 80 einício dos anos 90, certamente seria visto como umsonhador. Muitos de meus predecessores vinham à

A Execução da PolíticaExterna Brasileira

Palestra do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, para os estagiários daEscola Superior de Guerra, sobre o tema “A execução dapolítica externa brasileira”, 3 de julho de 1996

12 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

ESG para falar de um mundo rigidamente conformadoao longo de clivagens político-ideológicas eeconômicas muito claras e quase sempreintransponíveis. Norte e Sul, Leste e Oeste eramreferências precisas na geografia política mundial. E,é preciso reconhecer, a análise dessas oposiçõesconceituais quase sempre era dominada por umaconcepção estática, como se estivéssemos parasempre condenados àquela realidade, o que aliástornava mais fácil a concepção do mundo, do nossopapel e das nossas prioridades e limitações.

Hoje, isso mudou radicalmente.Uma revolução democrática varreu o mundo,

começando pela América Latina, e hoje a imensamaioria dos povos vive sob regimes democráticos,com novos padrões de comportamento político queafetam as esferas econômica e social.

Uma revolução econômica se operou, à basedo esgotamento dos modelos mais fechadosprevalecentes nos anos 50 a 70, e hoje a imensamaioria dos povos vive em sistemas econômicosbaseados na liberdade de mercado, buscandointegrar-se competitivamente com seus vizinhos e naeconomia global.

E também ocorreu uma revolução decomportamento dos Estados, com a crescenteuniversalização de regras de convivência política eeconômica regulando áreas como a não-proliferaçãode armas de destruição em massa, o comérciointernacional de bens e serviços, a promoção dosdireitos humanos, o desenvolvimento sustentável, aproteção ambiental e assim por diante.

Mesmo sem que tenham desaparecido asdesigualdades e as diferenças de poder nacional ede bem-estar social entre países e regiões do mundo,é inegável que se romperam as fronteiras entre Nortee Sul, Leste e Oeste. Parece definitivamente fechadoo caminho do isolamento, da autarquia, das opçõesà margem da estrada principal por onde correm asrelações internacionais – à margem da democracia,da liberdade econômica, da participação nosesquemas de integração regional e livre comércio,

da busca constante de credibilidade e confiabilidadena relação tanto com parceiros desenvolvidos quantocom parceiros em desenvolvimento. Há um custoclaro e intolerável na marginalidade e no nacionalismoxenófobo, e esse custo se expressa não apenas emtermos político-diplomáticos, mas também em termoseconômicos e sociais.

O conceito de globalização, cujo uso hoje muitasvezes se reduz ao aspecto produtivo e financeiro dosistema internacional, pode ser usado paracompreender precisamente esse fenômeno complexo:a crescente homogeneização das relações internacionais.

Democracia, liberdade econômica eparticipação nos esquemas de integração econômico-comercial e nos sistemas universais de regulação dasrelações entre Estados passaram a ser padrões. Semo fator relativizador da Guerra Fria e com acompetição internacional agora efetivamente centradanos aspectos econômicos e científico-tecnológicos,os países são classificados e interagem com basenesses padrões. Eles se transformaram em umaespécie de “grau zero” das relações internacionais,em que os desvios têm um custo político e econômicocada vez maior e a credibilidade é tanto maior quantomenor for o afastamento desse “grau zero”.

E isto porque democracia se traduz emestabilidade; enquanto liberdade econômica eparticipação nos esquemas de integração e de livrecomércio se traduzem em investimentos, acesso amercados e a tecnologias, competitividade e empregos.

A globalização como fator de transformaçãoO germe da transformação do sistema

internacional cujo principal marco foi a queda do murode Berlim, em 1989, já se encontrava na globalizaçãovertiginosa da economia, tanto na esfera da circulaçãodos capitais quanto na da produção de bens eserviços. Muito antes do fim da Guerra Fria, umatransformação estrutural das relações internacionaisvinha se processando, inclusive através da ascensãode potências econômicas — o Japão, a entãoComunidade Econômica Européia, os chamados

13Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

“Tigres Asiáticos” — que disputavam poder einfluência com as duas superpotências.

Ou seja, ao mesmo tempo em que seevidenciava a perda relativa da participação dassuperpotências no produto mundial e no comérciointernacional, o processo de acumulação internacionalse desviava para países como o Japão, a Alemanhae outros países europeus e vários países da regiãoda Ásia-Pacífico, detentores, ainda hoje, das maiorestaxas de poupança e de investimento no globo.

Não quero entrar aqui em uma discussãosobre se a globalização é de fato o fenômeno recenteque muitos apontam ou se ela já organizava asrelações internacionais há muito mais tempo. Éconveniente desmistificar um pouco o conceito deglobalização, que tende a ser percebidoimediatamente como uma ameaça aos países emdesenvolvimento e portanto como algo que nósdeveríamos e poderíamos combater.

A globalização, antes de mais nada,corresponde a um novo processo produtivo em escalamundial. Ou seja, o que antes era produzido de formamais concentrada em um país ou grupo de paísespróximos, hoje é produzido em uma cadeia maisextensa, buscando justamente a melhor relação custo-qualidade-competitividade-retorno do investimento.Isso naturalmente afeta os fluxos de investimento, quecomeçam a orientar-se pela cadeia produtiva maisestendida e a beneficiar-se da maior aberturaproporcionada pelo desejo dos países de participardessa cadeia produtiva.

Uma conseqüência natural da globalizaçãoda produção foi seu efeito multiplicador sobre ocomércio internacional, que cresce em proporçãomuito superior à do produto mundial. E não apenasisso. Ela tem tido um impacto muito grande sobre aspróprias políticas econômicas dos paísestradicionalmente mais fechados e vem impulsionandoos processos regionais de integração em áreas antesdominadas por essas economias mais fechadas.

Aspectos básicos da vida dos Estadossoberanos, como o nível da atividade econômica, o

nível de emprego, a competitividade dos seusprodutos nos mercados externos e nos seus própriosmercados — todos eles aspectos que têm impactosobre o nível de bem-estar, a estabilidade política ea estabilidade econômica e, naturalmente, sobre aprópria soberania em sentido mais amplo —passaram a ter um grau muito maior de incidência defatores internacionais. O mundo ganhou umadimensão que antes não tinha no âmbito interno dospaíses, refletindo-se essa nova realidade até nospadrões de consumo das populações, para não falarpor exemplo do impacto positivo de uma ofertaampliada de bens e serviços sobre os esforços deestabilização de economias como a brasileira.

Justamente por causa da importânciaacrescida da dimensão internacional na vida dospaíses, estabilidade política e econômica, aberturacomercial e aos capitais de investimento internacionaise capacitação tecnológica e em recursos humanospassaram a ser muito mais importantes do queconsiderações geopolíticas ligadas aos fatorestradicionais do poder nacional, como tamanho doterritório e recursos naturais.

Essas, aliás, são as forças que já estavam portrás da mudança radical de projeto nacional de paísescomo o Japão e a Alemanha, que abandonarampretensões territoriais e hegemônicas e políticasexternas militarmente agressivas para transformar-seem Estados mercadores — trading States. Nessanova realidade, o poder nacional mede-se muito maispelos indicadores sociais, pela capacidadetecnológica e pela competitividade econômica do quepelo tamanho da força militar Armadas.

Oportunidades, desafios e riscosEssas transformações geraram um mundo

diferente, o mundo em que vivemos hoje. Mas ele édiferente muito mais no sentido de que muitas dasforças que se encontravam em segundo plano sob odomínio da Guerra Fria passaram ao primeiro plano,oferecendo algumas oportunidades, masevidenciando, como disse, desafios e riscos para um

14 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

país das características e com os imperativos deinserção externa do Brasil.

Insisto, aliás, em que não podemos ter aingenuidade de acreditar que a força da globalizaçãoé capaz de automaticamente minorar ou resolverproblemas graves que persistiram, como a pobreza,as desigualdades sociais e regionais, a concentraçãode riqueza, o mau uso do meio ambiente e asagressões contra os direitos de grupos ou indivíduosdentro dos países em todo o mundo. É importanteadotarmos uma visão objetiva e crítica do fenômeno:trata-se de uma realidade que é preciso compreenderpara melhor lidar com ela.

Ao dizermos que o mundo contemporâneoapresenta oportunidades, desafios e riscos, nãoestamos inovando em nada, porque essa é acaracterística de qualquer ambiente em que existaatividade humana. O que é preciso fazer é reconhecerque o mundo dos anos 90 apresenta novasoportunidades, novos desafios e novos riscos,diretamente vinculados às forças ou tensões quepassaram a dominar o cenário mundial com a retraçãodas tensões de natureza ideológica e estratégico-militar próprias da Guerra Fria.

Em vez de preocupar-se com a preservaçãoda sua forma de vida diante das ameaças de outrosistema político-estratégico, os Estados hoje pensammuito mais no jogo das forças econômicas,conscientes de que a soberania, o poder nacional e acapacidade de influência se ampliam com ofortalecimento da economia e dos indicadores sociais.

É do sucesso econômico e social — e nãomais da proteção do guardachuva estratégico de umasuperpotência ou da doutrina da “segurançanacional”— que dependem os elementos fundamentaispara a preservação de um Estado: estabilidade políticae social, crescimento econômico sustentável, geraçãode empregos, bem-estar da população. É dessesucesso, e não de políticas de prestígio, que depende aprojeção internacional dos países.

Os riscos dessa nova realidade estão ligadosmuito mais à incapacidade que um Estado tenha de

se adaptar para fazer face às novas condições dacompetição internacional. A marginalizacão por forçade mazelas sociais e econômicas internas e pelaincapacidade de competir passa a ser um risco real,com conseqüências materiais e graves prejuízos paraa soberania.

Uma sociedade mal integrada e com baixodesempenho econômico é muito mais susceptível deser afetada adversamente por problemas como onarcotráfico, o terrorismo, o crime organizado e acorrupção, subprodutos de um mundo ainda longeda perfeição e em que se acirram fatores propulsoresdessas distorções.

Por outro lado, o isolamento internacionaltorna-se ainda mais impraticável sob a vigência dademocracia, um sistema que tem sido o grandecatalisador das forças da aglutinação nas relaçõesinternacionais. E não só por isso. É na democraciaque se fortalece o papel do consumidor como agenteeconômico, cujas decisões individuais — a busca domelhor preço e da melhor qualidade e o exercício dedireitos inalienáveis próprios da sua condição deconsumidor e cidadão — acabam por exigir daeconomia um desempenho melhorado, para o qual éimprescindível a componente internacional que vemsob a forma do desafio da competitividade ou dosinvestimentos e tecnologias que garantirão uma maiore melhor oferta de bens e serviços.

Da mesma forma, diante da tendência a quese consolidem regras universais para regular atransferência de tecnologia, a não-proliferação, apromoção e a proteção de investimentos, o acesso amercados, e face à postura claramente competitivacom que os países se voltam para o exterior,configuram-se novas áreas em que o isolamento temum preço a ser pago — um preço que se medeprecisamente pelo acesso a mecanismos decisórios,a mercados, a investimentos produtivos e atecnologias.

Nessa ordem de raciocínio, riscos reaispróprios da atual estrutura internacional convertem-se em desafios e oportunidades quando um país

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procura estar na vanguarda da internalização dastransformações em curso no mundo. Não falo,naturalmente, de uma internalização acrítica ousubserviente, mas sim de um processo refletido deaperfeiçoamento dos mecanismos que nos integram aomundo através do aperfeiçoamento de nós mesmos.

Em outras palavras, a liberdade econômicaque prevalece como força motriz das relaçõesinternacionais de hoje nos abre mercados antes muitorestritos ou fortemente protegidos. E ela nos induz abuscar fórmulas criativas, entre as quais a daintegração regional, para ampliar a escala e melhorara competitividade da nossa economia — não apenaspara torná-la mais apta a disputar fatias de mercadoe explorar janelas de oportunidade no exterior, mastambém para torná-la mais atrativa para os paísesque dispõem de reservas de capital e de conhecimentotecnológico e buscam parcerias orientados pelosimperativos da globalização da produção e da maiorparticipação nos benefícios do comércio mundial.

A esses desafios e oportunidades se somamnovas perspectivas surgidas com o fim ou a atenuaçãode conflitos regionais — na África Austral, no OrienteMédio, na América Central — ou com a aberturaeconômica de países como a Índia, a China, o Vietnãou a Rússia e os antigos países socialistas da EuropaCentral e Oriental.

A diplomacia brasileira em um mundo emtransformação

A diplomacia que o Governo FernandoHenrique é chamado a exercer deve ser uma respostaa mais completa possível a essa nova realidadeinternacional e aos imperativos internos brasileiros,valendo-se obviamente das condições maisfavoráveis que temos hoje para melhor inserir-nosem nossa região e no mundo.

A diplomacia defende e projeta no exterioros interesses nacionais, da mesma forma que elaprocura melhorar a inserção internacional do país querepresenta. Mas ela não cria interesses, nem podeprojetar o que não existe. O país que se encontra

por trás da diplomacia é o único elemento a partir doqual ela pode operar. Por isso, a diplomacia só poderáresponder adequadamente às transformações docenário internacional se essas transformações forem,de alguma forma, internalizadas pelo país emetabolizadas de acordo com os nossos interessese necessidades.

Daí a insistência nas reformas como um fatorbásico de propulsão do Brasil no mundo, como osvetores que nos possibilitarão ser mais competitivostanto para projetar-nos lá fora quanto para atrairmosos investimentos e as tecnologias que nos ajudarão acrescer com dinamismo.

E a diplomacia de um país como o Brasilopera necessariamente a partir de um patrimôniodiplomático. Ela não admite mudanças irrefletidas oubruscas, nem barganhas voltadas para o curto prazo,nem jogos de cena ou buscas irrealistas de prestígio.

Temos um sólido patrimônio políticoconstruído com os diferentes grupos de países comos quais nos relacionamos, temos uma tradição deatuação equilibrada e amadurecida nos forosmultilaterais e temos interesses claros como grandepaís continental, com uma economia cada vez maisdinâmica e integrada ao exterior e que cresce comoreferência para outras economias.

O Brasil visto pela sua diplomaciaFeitas essas precisões, é preciso caracterizar

o Brasil, seu projeto de desenvolvimento e suasprioridades atuais, de forma a orientar a açãodiplomática.

Temos nossas características intrínsecas —dimensão continental, população, recursos naturais,tamanho do mercado consumidor potencial, situaçãoúnica no Hemisfério Sul, distante dos grandes pólosde poder com capacidade de galvanizar economiasmenores e mais próximas. E temos o que dá umadimensão dinâmica a essas características.

Temos uma tradição de inserção internacionalque nos foi legada pela nossa própria irrupção naHistória como colônia de exportação de produtos

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tropicais e matérias-primas. Nossa formação social,fortemente marcada pela imigração, reforçou ao longodo último século essa vocação universalista do Brasil.Até pela própria mentalidade aberta ao mundo dosbrasileiros, nunca foi seriamente admitida entre nós, nema título de especulação teórica, a idéia da autarquia.

O mundo exterior, que nunca deixou dechegar-nos com a rapidez cada vez maisimpressionante dos meios de comunicação, sempreconstituiu um padrão contra o qual nós nos julgamose julgamos o que fazemos. A referência externa é umcomponente central da psicologia brasileira — umcomponente que comparece sem despertar traumas,temores ou receios exagerados, provavelmenteporque, além de uma personalidadde própria, temosfirmado no inconsciente coletivo o significado de 125anos de paz ininterrupta com nossos vizinhos e asensação de confortável segurança que nos dão anossa própria localização geográfica, as nossasdimensões físicas e os nossos indicadoresmacroeconômicos.

Nossa economia cresceu e diversificou-secom o aporte continuado de capitais de empréstimose de investimentos estrangeiros — ingleses, primeiro,a que se somaram os norte-americanos, os de outrospaíses europeus, do Japão e mais recentemente outrospaíses asiáticos, da própria América Latina. Temosuma tradição de economia de mercado das maissólidas nos países em desenvolvimento. O vigor e acomplexidade do nosso parque produtivo nos colocaem posição de vantagem relativa no conjunto dospaíses em desenvolvimento.

Durante mais de duas décadas, a substituiçãode importações – que reservava para o produtorinstalado no Brasil um mercado potencial dedimensões continentais — foi responsável pela nossacapacidade de atrair investimentos produtivos.Contudo, esses investimentos, pouco a pouco, seforam concentrando mais em áreas como a mineraçãode ferro e alumínio, até se estancarem por força daslimitações geradas pela crise da dívida externa, altainflação, excesso de intervenção estatal e políticas

erráticas na área industrial, comercial emacroeconômica.

Ao mesmo tempo em que crescíamos a ritmoacelerado nos anos 70 e consolidávamos adiversificação da nossa economia, fomos capazes deampliar consideravelmente a nossa presençainternacional, em grande parte pela nossa capacidadede atuar, sem exclusões voluntárias, nos mais variadostipos de mercado.

Ficou cada vez mais evidente que parte danossa atividade econômica dependia da dimensãoexterna da nossa economia e da nossa capacidadede ampliar a nossa presença global, com asconseqüências político diplomáticas desse imperativo.

A evolução do quadro econômico internobrasileiro só fez acentuar a dimensão internacionaldo Brasil. A superação do modelo de substituiçãode importações, pela incidência adversa que vinhatendo na competitividade da economia brasileira eaté mesmo por pressões oriundas de um mercadoconsumidor mais exigente, obrigou-nos a um exercíciode conscientização sobre as tendências dominantes nocenário internacional e no cenário interno dos paísesque figuram na nossa faixa de inserção.

A estabilização como alavanca da inserção ex-terna

O imperativo de estabilizar a economia egarantir bases para o seu crescimento sustentado,tão bem traduzido pelo Plano Real, tem também umaforte dimensão externa, ainda que boa parte das suascondições mínimas digam respeito a questões denatureza interna, como o equilíbrio fiscal, aausteridade monetária e a própria confiabilidade doplano, que desta vez recusou choques, surpresas,intervenção na economia, congelamentos. A própriaabertura da economia ao exterior foi fator fundamentalpara assegurar o êxito do plano: pela primeira vez sepôde utilizar a oferta externa para enfrentar a pressãoda demanda provocada pelo aumento do poderaquisitivo da população com a redução da inflação.

A solução adequada da questão da dívida

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externa, depois de doze anos como hipoteca sobre boaparte da agenda externa brasileira, foi também umacondição necessária ao êxito do plano, e a ele se somouno capítulo das novas credenciais com que o Brasil buscarenovar ou aprofundar suas parcerias no mundo.

Não preciso aqui estender-me sobre o efeitopositivo que a estabilização da economia, o ajuste,as reformas em curso, a integração regional e aretomada do crescimento em bases mais seguras têmtido sobre a imagem do Brasil no exterior e sobre ocrescimento do interesse de nossos parceiros peloBrasil. A percepção do Brasil como país deoportunidades e como força emergente na economiamundial parece consolidar-se.

O meu testemunho, depois de um ano e meiode exercício no cargo e um grande número decontatos com autoridades estrangeiras, no exteriorou no Brasil, é de que nós passamos a ocupar umlugar de realce na agenda mundial. Essa condição sereforçará na medida em que avançarmos nasreformas e o Plano se mantiver firme.

Democracia consolidada, sinônimo deestabilidade

Não preciso tampouco estender-me sobreconsiderações a respeito da consolidação das nossasinstituições democráticas que resistiram, nos últimosdez anos, à morte de um Presidente-eleito e aoimpeachment de outro. Essas instituições têm sidocapazes de canalizar demandas, conflitos econtradições próprias de uma sociedade complexacomo a brasileira.

Do ponto de vista do padrão internacionalvigente hoje, nossa democracia traduz-se em umtrunfo importante, insubstituível: estabilidade políticae a certeza de regras transparentes no jogo políticoem sentido mais amplo. Combinada à estabilizaçãoeconômica, a estabilidade política passa a ser umfator central da projeção externa brasileira. E, comodisse, a democracia passa a alimentar um interesseconcreto da sociedade por aspectos da que afetammais diretamente a vida dos indivíduos, grupos,

regiões e agentes econômicos, os quais reagematravés do exercício da cidadania ou por intermédiodas instâncias de intermediação — partidos,sindicatos, ONGs etc.

Brasil, país em desenvolvimentoOutro dado básico da realidade brasileira é

a permanência de indicadores sociais ainda muitoabaixo da média, a funcionar como fator deconstrangimento em várias áreas — isto apesar dosavanços que inegavelmente temos feito em muitasáreas e regiões, conforme atesta o recente estudoproduzido pelo PNUD e ao qual os jornais brasileirosderam ampla divulgação. Comparado a alguns dosseus competidores internacionais, o Brasil ainda perdeem capacitação de mão-de-obra, em escala real domercado consumidor frente à escala potencial, emcustos sociais (custo da enfermidade, custo da baixaprodutividade), em engajamento dos cidadãos noprojeto nacional e na defesa dos interesses do país.

A concentração social e regional de rendaafeta nosso potencial de desenvolvimento, depoupança e de consumo. E esses aspectos negativos,que é forçoso reconhecer, nos recordam claramenteque o país, embora tenha várias dimensões dedesenvolvimento, enfrenta desafios de natureza socialque ganham sentido de urgência. Seria ilusório pensarque reduzimos muito ou eliminamos um traço comumde identidade que nos une à imensa maioria dospaíses em desenvolvimento no mundo.

Somos um país em desenvolvimento, comuma economia industrial forte e inúmeras marcas dedesenvolvimento, mas ainda marcado por muitas dascaracterísticas do subdesenvolvimento e da pobreza.Esse é um dado primário da nossa inserçãointernacional e portanto uma condicionantefundamental da nossa . Não podemos fingir que osesquecemos ou achar que podemos alterá-los pelasimples força das imagens.

A importância das reformasO amadurecimento político do país e a

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consciência dos nossos desafios e constrangimentosgerou um quase-consenso sobre a necessidade e aurgência de reformas que nos permitam reduzir asdisparidades sociais e regionais com medidas eficazese duradouras, que não comprometam a médio oulongo prazo a estabilidade econômica e o crescimento.Essas reformas se vêm fazendo com o ritmo própriode uma democracia complexa. Já avançamos muitoem matéria de flexibilização de monopólios eeqüidade no tratamento dos capitais nacionais einternacionais.

Temos avançado na desestatização, com aabertura de monopólios e a privatização, com ascautelas que ela requer. Afinal, como disse oPresidente Fernando Henrique Cardoso em suarecente viagem ao Japão, não somos um pequenopaís que está privatizando uma linha aérea ou doisou três pequenos bancos provinciais. Estamosfalando de empresas de grande porte, que necessitamde capitais privados, mas que constituem umimportante patrimônio público com grande incidênciasobre o sistema produtivo do país. O interesse queessas empresas geram constitui sem dúvida um trunfoem nossa relação com nossos parceiros no exterior.

Alguns elementos definidores da nossaCom esse panorama interno e internacional,

torna-se mais fácil compreender as linhas-mestras dadiplomacia que o Governo Fernando HenriqueCardoso vem implementando nestes quinze meses.

Não quero buscar um rótulo que designe essa, mas sim caracterizá-la pelos seus elementosdefinidores centrais. Não andamos atrás de slogans,mas sim de resultados.

Nossa diplomacia é universalista e não-excludente. Essa é uma característica que deriva daprópria inserção internacional do Brasil, um país comrelações equilibradas entre quatro grandes pólos —a Europa, a América do Norte, a América Latina e aÁsia. Buscamos reforçar ou criar parcerias com baseem interesses concretos e naturais, no seu impactono nosso nível de atividade econômica, e no seu papel

na configuração de uma rede de presençainternacional do Brasil. Queremos estender essasparcerias em todas as áreas do globo, em especialnaquelas que mostram maior dinamismo, como aÁsia, a última região em que nos restam amplosespaços a explorar — a última grande fronteira danossa diplomacia.

Não há elementos ideológicos que presidama busca dessas parcerias.

Com princípios, mas com pragmatismo,buscamos as oportunidades onde elas existam. E nãohá, na concepção brasileira, razão para privilegiarum ou outro relacionamento externo, um ou outroforo internacional ou agrupamento regional outemático, em prejuízo ou detrimento de outros.

Os limites de nossa ação diplomática serãoos limites dos nossos próprios recursos. Sua principalbaliza é o princípio de que é importante para o Brasilassumir, nas suas relações com o resto do mundo,um lugar condizente com as suas dimensões e comas suas características de grande país emdesenvolvimento.

Traduzindo em termos práticos relativos aoano de 1996, isso quer dizer que a diplomaciabrasileira é um instrumento a serviço da estabilizaçãoda economia brasileira, da melhoria do nosso acessoa mercados, a investimentos e a tecnologias, e daampliação da nossa presença nos mecanismosdecisórios internacionais que lidem com assuntospolíticos ou econômicos que nos digam respeito.

Para isso, estamos fazendo os ajustesnecessários em nossa ação.

Ampliamos nossa reflexão e, emboraconscientes da importância do nosso patrimôniodiplomático, estamos evitando, a todo custo, açõesreflexas, atitudes mecânicas e pré-concebidas edogmatismos que são in limine incompatíveis comas mudanças que caracterizam o mundo e o nossopróprio país.

Por fim, nossa diplomacia é ativa, não reativa,como corresponde a um país que tem interessesconcretos a promover nos mais variados âmbitos da

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política internacional. Repudiamos toda falsa cautelae todo principismo abstrato que justificam a inação epodem ser responsáveis por perdermos espaço nacena internacional e tempo nos movimentosestratégicos que se impõem.

Estamos empenhados em consolidar eestender o Mercosul, hoje um parceiro internacionalrespeitado e procurado e uma espécie de segundadimensão da nossa projeção internacional graças àforça econômica e comercial — portanto, política— que nos acrescenta. O recém-firmado acordo como Chile reflete o acerto dessa estratégia.

Não queremos chegar tarde às áreas novasque se reincorporam ao convívio internacional, e porisso estamos fazendo uma política ativa na ÁfricaAustral e no Oriente Médio; erigimos em prioridadeconcreta as nossas parcerias com os países daASEAN, possivelmente o núcleo de países que maiscresce no mundo, e atualizamos a nossa relação coma China, a Índia e o Japão; estamos participandocom interesse e espírito aberto e construtivo dosdebates em torno da reforma das Nações Unidas; etemos estado ativos no seguimento da Cúpula deMiami, preocupados em dar um curso positivo,construtivo e realista ao processo de integraçãohemisférica a partir dos arranjos sub-regionais.Estamos envolvidos

também em um processo paralelo de criaçãode uma área de livre comércio com a União Européia,a fim de manter o perfil equilibrado do comércioexterior do Mercosul.

Algumas áreas de atuaçãoSão muitos os exemplos de ações que temos

promovido para tornar palpáveis essas diretrizes. Umano e meio de particularmente ativa já são suficientespara mostrar o grau em que praticamos a dialética quese consagrou na nossa história diplomática: a renovaçãocombinada com a continuidade.

Insistindo no fato de que a lista sucinta queapresento a seguir é exemplificativa e não exclui outrasáreas de atuação e prioridades da nossa (como a

própria União Européia, que só mencionarei depassagem), gostaria de encaminhar-me para o finalmencionando alguns desses exemplos da nossaatuação diplomática mais recente.

Diplomacia PresidencialA diplomacia promove os interesses do país

no exterior através de diversos meios — as nossasEmbaixadas, as missões especiais, as viagens doChanceler e outros altos funcionários, as missõesempresariais e, evidentemente, as viagenspresidenciais. Não são instrumentos que se excluam;ao contrário, completam-se, no desempenho de umatarefa cada vez mais complexa, em um mundocompetitivo em que os países investem pesadamentena promoção dos seus interesses no exterior.

As viagens internacionais do PresidenteFernando Henrique Cardoso não são apenas oexercício, pelo Brasil, da diplomacia de Chefes deEstado e Governo, característica das relaçõesinternacionais nas últimas décadas e uma prática hojecomum entre os Estados. Elas traduzem também umaestratégia deliberada de nos valermos do instrumentodos encontros de cúpula, com sua capacidade únicade mobilizar meios governamentais, a imprensa e aopinião pública, para promover uma atualização dapresença externa brasileira no mundo. Essaatualização se faz ainda mais necessária se pensamosnos desenvolvimentos positivos que o Brasil vemtendo e que é preciso apresentar à comunidadeinternacional.

O programa de viagens presidenciais écoerente com as prioridades da do Governo. Comsentido de equilíbrio e de abrangência, vamoscobrindo o universo das relações exteriores do Brasilem termos de parcerias importantes — na Américado Sul, na América do Norte, na Europa e na Ásia,futuramente na África e no Oriente Médio.

Os resultados que temos colhido são, naminha avaliação, os mais favoráveis possíveis. Bastacitar os países visitados pelo Presidente nestes quinzemeses para se ter uma idéia da importância desse

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projeto de diplomacia presidencial: Chile, EstadosUnidos, Portugal, Alemanha, Bélgica e UniãoEuropéia, China, Malásia, Índia, México, Japão,Argentina e França, sem contar as possespresidenciais e reuniões multilaterais de cúpula emque temos estado ativamente presentes. O Brasil hojeé respeitado e olhado com interesse no exterior nãoapenas porque temos uma nova realidade política eeconômica aqui dentro, mas porque temos sabidopromover essa realidade junto aos nossos principaisparceiros valendo-nos da habilidade, da experiência edo interesse diplomático do presidente da República.

A diplomacia presidencial é um instrumentoútil para a nossa . Ao utilizá-lo, não estamos inovando,mas apenas seguindo uma tendência mundial em umsistema internacional competitivo e em no qual osgrandes interesses e as grandes questões que afetamos países devem ser tratados sem timidez, com todaa nossa capacidade.

Proteção aos nacionais brasileiros no exteriorTalvez o dado mais novo para a diplomacia

brasileira nestes últimos tempos seja o da imigraçãobrasileira ao exterior. Em países fronteiriços ou empaíses desenvolvidos, o contingente de brasileiros quevive temporariamente ou em bases mais definitivasno exterior aumentou geometricamente, alcançandohoje perto de 2 milhões de cidadãos. A eles se agregaum número crescente de turistas, estudantes eempresários, levados ao exterior pela estabilidadeda moeda brasileira e pelas oportunidades que seabrem fora do país.

A proteção ao nacional no exterior étradicionalmente uma das atribuições básicas dadiplomacia, ao lado da representação, da negociaçãoe da informação. Para a diplomacia brasileira, nuncahouve uma situação comparável. Os desafios que seabrem para nós são imensos.

Além da demanda por serviços cartoriaisprestados pela rede consular, aumentam asnecessidades de apoio consular a brasileiros e deincentivo à organização das comunidades brasileiras

fora do país. Temos respondido a esses novosdesafios através do fortalecimento da nossa redeconsular e de fórmulas criativas, como os ConsuladosItinerantes, as cartilhas consulares e os Conselhosde Cidadãos — formas de levar ao cidadão brasileirono exterior a presença do Estado brasileiro e osserviços e a participação a que esse cidadão templeno direito.

União EuropéiaA Europa tem sido tradicionalmente, em

conjunto, o mais importante parceiro econômico ecomercial do Brasil, responsável por cerca de 30por cento do nosso comércio exterior e por algumasdas mais importantes parcerias individuais do Brasilno mundo, como é o caso da Alemanha, da Grã-Bretanha, da França e da Itália. Embora a Europatenha perdido algo de sua posição relativa nocomércio exterior brasileiro e nos investimentos noBrasil, ela constitui uma das bases do equilíbrio quecaracteriza nossa inserção no mundo. Nossointeresse é manter e reforçar esse equilíbrio, inclusiveporque estão em curso iniciativas, como a projetadaintegração hemisférica, que poderão incrementar emmuito as relações comerciais e financeiras entre oBrasil e o Continente americano.

Esse é um dos fundamentos da políticaeuropéia que temos seguido e que encontra seumelhor exemplo na viagem presidencial à Alemanha,em setembro de 1995, e na visita à França, agoraem maio. Outras iniciativas semelhantes obedecem àpreocupação de manter a Europa como grandeparceiro econômico, comercial e tecnológico doBrasil. Entre elas, ressalta o nosso compromisso firmecom progressos nas negociações entre o Mercosul ea União Européia, ao amparo do recém-assinadoAcordo-Quadro de Cooperação Inter-Regional, comvistas a criar futuramente uma área de livre comércioentre os dois agrupamentos regionais.

Temos defendido enfaticamente anecessidade de dar caráter operacional ao Acordo,iniciando um mapeamento e um inventário das áreas

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e questões que deverão ser cobertas pelasnegociações. Nosso objetivo é criar um processoparalelo de negociação entre a integração hemisféricae a aproximação União Européia-Mercosul. Nossointeresse, como já disse, é evitar que os progressosque já temos feito na ALCA — Área de LivreComércio das Américas — possam de alguma formaalterar em nosso desfavor a situação de relativoequilíbrio do nosso comércio internacional, retirandoda Europa a condição de nosso principal parceirocomercial, desviando correntes de comércio econcentrando no Hemisfério a maior parte das nossasrelações econômicas externas.

Estados UnidosMesmo tendo em conta a perda relativa do

poder econômico e político norte-americano aolongo dos últimos 50 anos, as relações com osEstados Unidos continuam sendo um dos paradigmasda brasileira desde que o Barão do Rio Branco, noinício do século, operou a mudança no principal eixode relacionamento internacional do país, movendo-o de Londres para Washington. Os EUA são oprincipal parceiro individual do Brasil e hoje a únicapotência com real capacidade política e estratégicaglobal. A importância do diálogo político e do intercâmbioeconômico-comercial e tecnológico com os EstadosUnidos é patente para o Brasil. Ao mesmo tempo, crescea consciência de que esse interesse é uma via de duasmãos, a ser trilhada na base do respeito e com umaabordagem construtiva e positiva.

A visita presidencial aos Estados Unidos, emabril de 1995, serviu ao propósito de redimensionaressa parceria tradicional do Brasil, valendo-se dosnovos elementos de que dispomos no cenário internobrasileiro: a estabilização, a abertura econômica, asreformas, o crescimento, a consolidação da nossacredibilidade. Ampliamos e avançamos nossa agendacom os Estados Unidos, uma agenda afirmativa, quemostra o compromisso dos dois Governos detrabalhar ativamente pelo fortalecimento dointercâmbio e pela solução das diferenças que

naturalmente aparecem em um relacionamento dadensidade e complexidade do nosso.

Posso dizer hoje com muita tranqüilidade quepossivelmente nunca, desde a Segunda Guerra, foramtão boas e equilibradas as relações Brasil-EstadosUnidos. Com os Estados Unidos, temos tido umdiálogo maduro e franco sobre temas de interessecomum ou iniciativas conjuntas: as relações comerciaisbilaterais, a integração hemisférica, a reforma dasNações Unidas. Graças, em grande medida, aosenormes avanços que fizemos no Brasil, a relaçãocom os Estados Unidos se encontra hoje livre degrandes diferendos. Nossa agenda, mais do quepositiva, é afirmativa, no sentido de que existe umapreocupação constante em construir sobre os aspectospositivos que vão compondo o universo das relações.

Ainda assim, temos defendido de maneirafirme que os Estados Unidos reciproquem asoportunidades comerciais e de investimentos que têmtido no Brasil, graças à abertura econômica, àampliação do nosso mercado e à desestatização,promovendo o levantamento de barreirasprotecionistas que continuam a afetar algunsimportantes produtos da nossa pauta de exportaçãopara aquele país.

MercosulO Mercosul é talvez, hoje, a síntese do que

tradicionalmente foi o nosso outro paradigmadiplomático no campo das relações bilaterais: ospaíses do Prata. Mais do que síntese, o Mercosul étambém um símbolo do grande avanço qualitativoque essas relações tiveram a partir da década de 80,quando o signo da cooperação e da parceriacompleta substituiu definitivamente o signo dacompetição nas relações entre os dois maiores sóciosdo empreendimento, a Argentina e o Brasil.

O Mercosul é área prioritária da brasileira.Mais do que isso, já se consolidou como uminstrumento de política econômica para cada um dosseus Estados-membros. Com sentido de realismo epragmatismo e tendo em vista os interesses da

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estabilização brasileira para a própria consolidaçãodo Mercosul, procuramos adaptar a iniciativa aosimperativos que podem derivar de conjunturasmacroeconômicas adversas ou potencialmentearriscadas para os Estados-membros, e creio quetemos tido grande êxito.

Continuamos a trabalhar pela consolidaçãoda União Aduaneira e a promover as bases para umrelacionamento mais amplo entre o Mercosul e outrospaíses ou grupos de países. Começamos com a UniãoEuropéia, através do acordo de cooperação econômicafirmado em dezembro último em Madri. A intenção échegarmos a um acordo de livre comércio entre as duasregiões, que fortaleça, do nosso ponto de vista, oequilíbrio relativo do comércio exterior dos quatro paísesque integram a nossa união aduaneira.

Estamos atuando também no sentido dechegar a acordos de liberalização comercial entre oMercosul e outros países da nossa região,começando pelo Chile, que acaba de assinar umacordo 4+1, e seguindo com a Bolívia e a Venezuela.Pouco a pouco, o Mercosul vai completando o seucaráter de nova grande realidade econômica e políticana América do Sul — um dos núcleos a partir dos quaisserá possível ampliar a integração hemisférica.

Firmemente apoiado no caráter democráticodos países que o compõem, o Mercosul firma-secomo um parceiro internacional e como umimportante reforço à identidade e à projeção externados países que o compõem. E, convém não esquecer,o Mercosul tem tido um impacto impressionantesobre o comércio entre os seus quatro integrantes,que se multiplicou por quatro nos últimos cinco anos,e sobre o comércio internacional da nossa uniãoaduaneira, que dobrou nesse mesmo período.

América LatinaEstamos ampliando a nossa parceria com

nossos vizinhos latinoamericanos, dando ênfase àinterconexão física e à cooperação fronteiriça com essespaíses, respondendo a um interesse concreto cada vezmaior dos agentes econômicos e das populações que

negociam através de nossas fronteiras.A América Latina volta a ocupar hoje, com

vantagens, o lugar de destaque que teve em nossocomércio exterior no final dos anos 70 e início dos80; hoje, esse comércio é maior ainda, maisdiversificado e mais equilibrado, e participa com perfilelevado tanto na geração de atividade econômica noBrasil quanto no suprimento de bens de consumo ematérias-primas para a nossa economia.

Um dado a reter é que hoje a Argentina já éo nosso primeiro fornecedor de petróleo, com umamédia de 135 mil barris diários neste primeirosemestre, o que revela uma alteração substancial emnosso esquema de fornecimentos de petróleo. Asvisitas presidenciais ao Chile e à Venezuela, em 1995,ao México, em fevereiro último, e à Argentina, emabril, respondem a essa diretriz de intensificar aindamais o intercâmbio e a cooperação bilaterais compaíses da nossa região.

Em nossa região, a dimensão multilateral, deintegração no âmbito do Mercosul, não substitui nemexclui a dimensão dos relacionamentos bilaterais comtodos e cada um dos países latino-americanos —inclusive, individualmente, com os nossos três sóciosdo Mercosul. A dimensão bilateral e multilateral seintegram perfeitamente, fortalecendo-se mutuamentee contribuindo para que a América Latina consolidea sua posição como um dos quatro grandes blocosde relacionamento externo do Brasil, ao lado doNAFTA, da União Européia e da Ásia.

Integração hemisféricaO Brasil tem participado das reuniões de

seguimento da Cúpula das Américas animado domesmo espírito construtivo que orientou a nossaparticipação em Miami, em dezembro de 1994.Nosso compromisso com o processo iniciado emMiami é firme.

Para nós, fortalecer as relaçõesinteramericanas sobre a base de um expressivocrescimento do comércio e dos fluxos deinvestimentos intra-regionais constitui um instrumento

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insubstituível no marco mais amplo de uma melhorinserção da economia brasileira na economiainternacional.

A realidade de que estamos partindo écomplexa, mas extremamente favorável. AOrganização Mundial do Comércio nos dá umaestrutura de regulação e liberalização do comérciojá em pleno funcionamento e em processo deaperfeiçoamento. Os arranjos sub-regionais deintegração ou liberalização do comércio já sãoimportantes focos de interação econômica. NoContinente, a liberdade econômica e a aberturacompetitiva ao exterior consolidam-se como forçaspropulsoras do desenvolvimento econômico e doprogresso social.

Mas essa realidade complexa que nos permiteser otimistas sobre a integração hemisféricaaconselha-nos uma abordagem cuidadosa doprocesso. Queremos evitar expectativas irrealistas outemores que possam ser nocivos ao processo a maislongo prazo. Queremos ir com cautela e sentido deresponsabilidade em áreas onde não existe consensoou onde o consenso será alcançado passandonecessariamente pela OMC e pelos arranjosregionais. E queremos estar certos de que osprocessos unilaterais de abertura e reformaeconômica, que têm sido a dominante na nossa região,estão se consolidando.

Em suma, queremos evitar uma exposiçãoprecoce e descontrolada da economia brasileira eum segundo choque de abertura competitiva aoexterior — e a economias muito mais produtivas doque a nossa, como a canadense e a norte-americana— antes de que se consolidem as adaptações eaperfeiçoamentos impostos pelo primeiro choque.Afinal, de 1990 para cá, fizemos uma ampla aberturacomercial em três níveis — unilateral, regional, noâmbito do Mercosul, e internacional, no âmbito dosacordos da Organização Mundial do Comércio. Emuitas vezes essa abertura não encontrou reciprocidadena eliminação de barreiras protecionistas que dificultamo acesso de produtos brasileiros os mais variados ao

mercado norte-americano.Em nossa visão, não há atalhos para chegar

a um objetivo da magnitude da área de livre comérciodas Américas. Queremos garantir que a obra querealizaremos trará a marca da permanência e dointeresse consensual de todos os países participantese, dentro de cada país, dos seus agentes econômicos.

ÁfricaNa África, estamos redimensionando nossa

presença e adequando-a à nossa capacidadediplomática. Apostamos fortemente na pacificação ena reconstrução de Angola e Moçambique, que têmtodo o potencial para serem dois dos nossos maisimportantes parceiros no mundo em desenvolvimento.Esse é o sentido da nossa participação na UNAVEMIII, a Força de Paz das Nações Unidas que ali contacom mais de 1.100 soldados brasileiros — nossamaior força militar fora do país desde a SegundaGuerra.

Estamos também repensando nossorelacionamento com a África do Sul, país que surge,com a sua democratização, como um dos pólos maisdinâmicos de desenvolvimento no Hemisfério Sul,além de ser o foco da atenção quase universal pelassuas potencialidades e pelo seu vigor econômico,ampliado com o fim do embargo e a volta dosinvestimentos.

Esses exemplos falam de uma novaperspectiva que se abre para o Brasil na África, quevolta a figurar no horizonte das nossas prioridades graçasa uma feliz combinação de fatores internos brasileiroscom progressos sensíveis no cenário africano.

Oriente MédioTambém no Oriente Médio estamos

reequilibrando nossa presença, a partir da própriaevolução do processo de paz que tenta pôr fim a umconflito que por décadas assolou a região evirtualmente subtraiu-a ao convívio internacional e aosesforços pelo desenvolvimento. Embora conturbadopor atos de oposição violenta e pelas complexidades

24 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

próprias de um intrincado mecanismo negociador, quecoloca em presença muitos interesses e visõesconflitantes e mesmo opostos e sobre o qual aindaincidem as alterações na política interna dos paísesda região, o processo de paz no Oriente Médiomerece o apoio imparcial e decidido da comunidadeinternacional e o Brasil não poderia agirdiferentemente.

Estamos atentos às oportunidades que aregião vem produzindo e ao efeito multiplicador quecada etapa do processo de paz vem tendo sobreessas oportunidades.

Ásia-PacíficoNa Ásia, estamos reforçando nossa presença

diplomática, equipando melhor algumas Embaixadasem países dinâmicos, definindo uma agenda e pondoem prática uma ampla iniciativa de diplomaciapresidencial, que começou, em dezembro de 1995,com a visita à China e à Malásia, dois casos desucesso na revolução econômica mais recente quetransforma a região da Ásia-Pacífico no pólo maisdinâmico da economia mundial nos anos 90. Essainiciativa prosseguiu em janeiro com a visita à Índia,devida há mais de duas décadas e voltada a colocarvirtualmente a Índia na tela dos nossos interesses edas nossas boas parcerias na região. E completamosa primeira fase dessa diplomacia asiática com a visitaao Japão, que sinalizou a retomada da relaçãobilateral sobre uma nova base de confiança recíprocae com novos elementos a favorecer a relação. Osresultados foram apreciáveis, tanto do ponto de vistapolítico quanto do ponto de vista econômico.

MTCR e outros mecanismos regulatóriosGraças aos compromissos que assumiu e

consolidou em matéria de controle de exportaçõesde materiais e tecnologias sensíveis e de nãoproliferação de armas de destruição em massa, oBrasil foi admitido, em outubro último, no Regime deControle de Tecnologia de Mísseis. A participaçãono MTCR foi resultado de um importante processo

de coordenação interna do Governo brasileiro e deatualização das nossas posições em face dedesenvolvimentos internacionais importantes.

Percebendo o desinteresse de manter umaposição principista contrária ao caráter restrito doMTCR em matéria de participação, o Brasil passoua ver no regime uma garantia de acesso a tecnologiasindispensáveis ao desenvolvimento do seu programaespacial.

Não abrimos mão do nosso programa; aocontrário, ele se mantém absolutamente intacto dentrode suas características de programa pacíficocontrolado por uma agência civil, a Agência EspacialBrasileira, e já começa a colher os benefícios da nossaadesão ao MTCR na forma do interesse desimpedidode grandes empresas em participar e da possibilidadede ter facilitado o acesso a tecnologias ecomponentes que ainda não temos condições dedesenvolver internamente.

Essa mesma abordagem pragmática nosorientou em nossa adesão ao Grupo de SupridoresNucleares, formalizada no dia 23 de abril, na reuniãode Buenos Aires. Reconhecendo nossa condiçãoobjetiva de supridor, estamos assumindo asresponsabilidades internacionais inerentes a essacondição e garantir aos nossos parceiros que nósnos pautamos por regras estritas em matéria decomércio de bens e insumos da área nuclear.

Trata-se de mais uma credencial em nossaatuação na área de desarmamento e não-proliferação,que ao mesmo tempo facilita o nosso acesso atecnologias e fortalece a credibilidade geral do país— uma moeda particularmente apreciada nasrelações internacionais de hoje.

Conselho de SegurançaFinalmente, para encerrar esta lista

exemplificativa, temos procurado influir positivamentenas discussões em torno da reforma do Conselho deSegurança das Nações Unidas, defendendo a tesede que a melhoria da eficácia do órgão, para cumpriro papel renovado que lhe cabe no sistema

25Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

internacional pós-Guerra Fria, depende do aumentoda sua legitimidade internacional e da suarepresentatividade — o que se traduz em um aumentocriterioso de membros permanentes e não-permanentes.

Sem nos mobilizarmos em uma campanha poruma candidatura a membro permanente, temosdeixado claro que defendemos uma reforma doConselho nesses moldes e que estamos dispostos acolaborar em um Conselho ampliado, se formoschamados a fazê-lo. Mais uma vez, convém que sereafirme: não se trata de um pleito ou de umacandidatura.

Não se trata tampouco de uma iniciativa debusca de prestígio e liderança. E muito menos estamossubordinando qualquer interesse da nossa em geralou da intensa teia de relacionamentos com nossosparceiros em todo o mundo a esse objetivo.Fazemos, isso sim, uma defesa sincera da necessidadede reformar as Nações Unidas, até como signo desua vitalidade, ao iniciar-se seu segundo meio séculode existência em um ambiente internacionalinteiramente diverso daquele que lhe deu origem.

ConclusãoEsta é, em grandes linhas, a diplomacia que

nós procuramos empreender. Espero ter deixadoclaro a forma como ela pretende — e só pode ser— uma resposta coesa e coerente a esse duplo jogode forças, as que movem o cenário internacional e asque nos movem como Estado soberano em buscada sua realização como Nação.

Ainda é cedo para anteciparmos resultadosou para julgarmos se estamos no melhor caminho.Para esse exercício, a participação da sociedadebrasileira, através do mundo acadêmico, doCongresso, dos partidos, das associações de classe,dos sindicatos, das organizações não-governamentaistemáticas, é essencial e insubstituível.

O voto de confiança que pedimos à sociedadebrasileira para a que implementamos é suaparticipação, seu interesse, seu julgamento críticoconstrutivo. O Itamaraty não inventa interesses nemdefine prioridades, ele apenas cumpre um mandato.

Esse é o verdadeiro sentido da em umasociedade democrática. As Instituições de reflexãoe formação de quadros, como a escola Superior deGuerra, têm um papel importante na identificaçãoserena e objetiva de muitos desses interesses. Porisso, o diálogo entre o Itamaraty e os estagiários daescola Superior de Guerra é importante para nós. Énesse intercâmbio de idéias e informações que oItamaraty também se baseia para encontrar seusentido maior: fazer da o instrumento de defesa eprojeção de uma Nação independente, soberana epor isso mesmo apta a lidar com a História não comoseu objeto, mas para fazê-la acontecer.

Quero agora agradecer o interesse dosSenhores e colocar-me à sua disposição paraaprofundar, em debate, quaisquer dos pontos destaexposição ou outros que, pelas óbvias limitações detempo, vi-me forçado a não tocar.

Muito obrigado.

27Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Nós estamos reunidos aqui hoje paraformalizar a instalação da Comissão Nacional quevai organizar as comemorações do Quinto Centenáriodo Descobrimento do Brasil.

Embora a data do aniversario a celebrar seja22 de abril de 2000, as comemorações não selimitarão àquela data, nem àquele mês. A idéia quepreside os trabalhos da Comissão é estender aquelascomemorações a um contexto mais amplo,procurando abarcar os muitos aspectos que o quintocentenário do descobrimento necessariamente invocano espírito brasileiro.

Esses aspectos vão da própria naturezaespecial do nosso surgimento para a História ocidentalaté a contribuição portuguesa para a nossa formaçãonacional, passando pelos inúmeros traços que nosdefiniram como sociedade e como cultura na colônia,no Império e na era republicana.

Diz Emerson que “Os que ignoram a históriaestão condenados a repeti-la”.

O Quinto Centenário do Descobrimento devepor isso mesmo ser um marco de referência parauma reflexão objetiva sobre 500 anos da Históriabrasileira e sobre o futuro que desejamos construirpara este país e para as gerações vindouras a partirda inúmeras experiências do nosso passado.

Por isso, o Quinto Centenário já estáinduzindo o Governo e entidades representativas dos

vários segmentos da sociedade brasileira à promoçãode uma série de eventos comemorativos. Não serãoapenas celebrações no sentido festivo do conceito,mas também um necessário e amplo exercício derevisitação de nossa História, das nossas origens etambém, por que não, dos problemas e desafios quese formaram ao longo de cinco séculos. Porque anossa é uma história que mescla o heroísmoempreendedor das grandes navegações portuguesase da empresa do descobrimento e colonização daAmérica às estruturas sociais e políticas criadas pelosistema das capitanias e sesmarias, pelo colonialismo,pela escravidão e pelas peculiaridades daadministração colonial, pelas características que foramfazendo do Brasil um país de grandes contrastes aolado de um intenso dinamismo econômico.

Ao ser criada, há cerca de três anos, aComissão Nacional para as Comemorações do VCentenário do Descobrimento do Brasil lançou asbases conceituais para sua atuação e estabeleceu asdiretrizes que orientariam a programação a serdesenvolvida nos anos vindouros.

Este ano, dando início à segunda fase deatividades, Vossa Excelência, Senhor Presidente,reformulou integralmente a composição da ComissãoNacional. Transferida para o âmbito do Ministériodas Relações Exteriores e dotada de um SecretárioExecutivo, a Comissão passou a ser composta de

Pronunciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na cerimôniade instalação da comissão nacional para as comemoraçõesdo V Centenário do Descobrimento do Brasil, Brasília, 4 dejulho de 1996

V Centenário do Descobrimento do Brasil

28 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Representantes de cinco Ministérios — Marinha,Exército, Educação e Desporto, Cultura e RelaçõesExteriores —, além de membros do CongressoNacional e do Poder Judiciário.

Nesta nova fase, dedicada mais à concepção,exame e aprovação de eventos comemorativos, aComissão Nacional tem elaborado alguns projetospróprios e examinado outros que lhe têm sidoapresentados por órgãos públicos e privados,inclusive pelos Ministérios que a integram. Até omomento, foram aprovados mais de quarentaprojetos, que deverão ser executados neste e nospróximos anos, até o ano 2000.

Dentre os projetos até agora incluídos na“Programação do V Centenário”, destacam-se o“Programa de Seminários e Congressos”, o“Programa de Reedições de Obras de História doBrasil”, o “Museu Aberto do Descobrimento” e a“Grande Cerimônia do dia 22 de abril de 2000”, arealizar-se em Porto Seguro. Outros projetos serãoanunciados nos próximos meses.

Não são esses, contudo, os únicos eventosem consideração. A Comissão Nacional interagetambém com a sua congênere portuguesa, no âmbitoda Comissão Bilateral para as Comemorações do VCentenário da Viagem de Pedro Alvares Cabral,criada para a promoção de eventos comuns.

Teremos assim uma dimensão internacionalnas comemorações como é próprio de um país quetem consciência dos seus vínculos históricos, culturaise lingüísticos com a antiga metrópole. Um país quepode, sem qualquer ressentimento — muito aocontrário — celebrar com a antiga metrópole o seunascimento para a História.

Em recente reunião em Lisboa, a ComissãoBilateral alcançou acordo preliminar sobre váriosprojetos comemorativos que estão, neste momento,sendo examinados por cada parte.

Senhor Presidente,Agradeço a Vossa Excelência a honra que

nos conferiu, ao receber os Ministros de Estado queindicaram representantes ao colegiado e osintegrantes da comissão Nacional para asComemorações do V Centenário do Descobrimentodo Brasil.

Estou seguro de que a Comissão Nacionalcorresponderá plenamente à confiança neladepositada pelo povo brasileiro, para que ascomemorações do V Centenário do Descobrimentosejam uma oportunidade para celebrar a nossaorigem como povo, valorizar a fundação da nossaHistória e aprender com ela.

Muito obrigado.

29Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Quero dizer-lhes, antes de mais nada, que eutrago do Brasil a saudação muito afetuosa e amistosado povo brasileiro a todos os demais povos que, naÁfrica ou na Europa, compartilham conosco oprivilégio que é refletir e sentir, falar e escrever emportuguês.

Peço a todos os meus colegas que aqui seencontram para o lançamento da nossa Comunidadede Países de Língua Portuguesa que sejam osportadores dessa mensagem de amizade brasileiraaos cidadãos dos seus países.

Digam-lhes que estamos felizes de poderafirmar, pelo gesto político de unir-nos emcomunidade, a dimensão internacional inegável queé pertencer a uma cultura própria — a cultura afro-luso-brasileira, presente em todo o mundo, com umavocação universal que nada tem de arrogância ousoberba, mas que, isso sim, traduz uma maneiracordial de ser que a suavidade da língua que falamosse encarrega de transmitir.

Agradeço ao povo e ao Governo de Portugalpela acolhida tão generosa e amiga que nos estãodando, na melhor tradição do espírito e dahospitalidade portugueses.

A mesma Lisboa que serviu de marcogeográfico e político da Era dos Descobrimentos,epopéia portuguesa e momento fundamental daHistória moderna, é hoje palco de um acontecimento

que terá impacto e repercussão em três continentes:a decisão dos sete países de língua portuguesa deassumir, no campo político internacional, o traçomarcante de identidade e de comunhão de interessesproporcionadas pela nossa base cultural comum.

O Brasil esteve na origem da idéia de umaComunidade de Países de Língua Portuguesa e issoé motivo de orgulho para nós. O Presidente ItamarFranco interpretou o sentimento brasileiro ao darpleno apoio à iniciativa, e o ex-Embaixador JoséAparecido de Oliveira foi incansável no seulançamento e na sua promoção.

O Brasil continua imbuído de entusiasmo econfiança quando entende que a Comunidade seráuma extensão da sua própria personalidadeinternacional. Estamos certos de que o mesmo ocorracom todos os demais países que a integram.

Ao constituir a Comunidade, já familiarmenteconhecida por sua sigla CPLP, nós estamos dandoum passo que há muito se impunha: estamosatualizando, perante nós mesmos e perante toda acomunidade internacional, o passado comum que nosliga indissoluvelmente.

E, ao resgatar esse passado naquilo que eletem de permanente, na sua força de aproximar eharmonizar a diversidade própria de nações que seorgulham da sua soberania duramente conquistada econsolidada, nós o estamos projetando no futuro —

Discurso do Presidente da República por ocasião da sessãosolene de abertura da reunião de Cúpula da Comunidadedos Países de Língua Portuguesa, Lisboa, 17 de julho de1996

Cúpula da Comunidade dosPaíses de Língua Portuguesa

30 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

não um futuro distante, mas um futuro imediato, soba forma de ação política internacional e decooperação solidária e construtiva entre nós mesmos.

Queremos construir uma Comunidade emsentido pleno, inspirada no valor da igualdade,afastada de articulações hegemônicas, dedicada a umtrabalho harmonioso de cooperação — umaComunidade que, em suas deliberações, honre nossoespírito democrático.

Com sentido de realismo, a Comunidaderesponderá adequadamente ao impulso, próprio dasrelações internacionais contemporâneas, de que ospaíses pertençam a coalizões ordenadas não maisao longo de clivagens entre Norte e Sul ou Leste eOeste, mas sim de interesses prontamenteidentificáveis pelo cidadão.

Esse é o sentido da participação brasileirano Mercosul, por exemplo, ou de que Angola eMoçambique sejam parte da SADC, ou de quePortugal pertença à União Européia. Esse é o sentidode que Brasil e Portugal formem parte daComunidade Ibero-Americana.

E esse é o sentido de que os Sete, apoiadosnessa comunhão lingüística que nos torna um núcleoparticular, estabeleçamos uma comunidade políticade países diferentes, é certo, mas com muitosinteresses compartilhados, com um grande potencialde ampliar a nossa voz e de melhorar a qualidade dacooperação que bilateralmente nos oferecemos unsaos outros.

É com esse espírito e com essescompromissos que o Brasil comparece a esta reuniãode cúpula que formaliza a CPLP.

Nós saudamos a decisão dos Sete de confiara um Secretário-Executivo angolano e a umSecretário Adjunto Sãotomense a condução daSecretaria-Executiva da CPLP nesta sua etapa delançamento e consolidação.

Estaremos apresentando alguns projetosconcretos de cooperação, que gostaríamos de verprosperar e frutificar. São projetos realistas, simples,mas de concepção voltada para resultados.

Nossa Comunidade está construída sobre trêspilares muito concretos.

O primeiro pilar é o da concertação política,para a defesa e promoção de interesses comuns sejanas instituições internacionais, como as NaçõesUnidas, seja em torno de questões específicas — oschamados temas globais, ou a promoção da paz eda democracia nas regiões em que temos maiorpresença.

O segundo pilar é o da cooperação para odesenvolvimento, para que possamos juntos, os Sete,oferecer-nos esquemas adequados de estímulo aodesenvolvimento econômico e social através dotreinamento e formação de recursos humanos, e dointercâmbio de experiências em áreas como aadministração pública e o desenvolvimento técnico etecnológico aplicado à produção. A união dos Setedeve ser um instrumento não apenas para criar escalanessa cooperação, mas também para viabilizaresquemas de financiamento e de triangulação, demodo a permitir-nos maximizar recursos decooperação.

E o terceiro pilar é o da promoção e defesado idioma português em âmbito universal. Nummundo de cultura global, cada vez mais uniformizada,é necessário afirmar as diferenças linguísticas paraque o mundo não se empobreça, para que não seestreitem os horizontes da humanidade.

E nossa língua não tem nada a temer nascomparações: não pretende ser superior ou inferior,porque sabemos que o português é uma língua quepermite a expressão de todos os sentimentos e todasas formas capazes de elevar o espírito humano àsalturas mais elevadas.

O português é a terceira língua mais faladano mundo ocidental.

São duzentos milhões de falantes espalhadospelos cinco continentes — portanto, dando à nossalíngua uma boa base humana e geográfica para a suaprojeção.

É claro que a maior difusão do portuguêsdepende essencialmente da nossa capacidade de nos

31Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

desenvolvermos econômica e socialmente, degerarmos conhecimento e cultura e de nosprojetarmos politicamente em nossas regiões e foradelas.

O Brasil tem conseguido algum resultadonesse sentido. Hoje, graças ao Mercosul, o portuguêsé um idioma com prestígio crescente nos paísesvizinhos.

Mas há sem dúvida espaço para uma açãoconcertada dos Sete, inclusive mediante aconsolidação do Instituto Internacional da LínguaPortuguesa, uma idéia que nasceu sob a inspiraçãodo então Presidente Sarney, que me acompanha nestaviagem. O Instituto deve estar aparelhado para tornarmais acessíveis e eficientes os métodos de ensino dalíngua e mais atraente a possibilidade de que os

interessados no nosso idioma possam ter um convíviomais intenso com ele e com a cultura que lhe servede base.

A língua é veículo de cultura que nos dácondições de entender, de uma perspectiva própriae solidamente ancorada no mundo latino, asprofundas transformações do mundo contemporâneo,as quais, sabemos, vão muito além da esferaeconômica e têm a ver também com novos valores,com novos modos de vida.

Que nossa CPLP seja, em suma, uminstrumento na promoção das tarefas que decorremde cada um dos três pilares que a sustentam e quehaverão de mostrar, com o tempo, o acerto dadecisão que estamos ratificando hoje.

Muito obrigado.

33Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

É um privilégio ser o intérprete do respeito edo apreço do Governo e de todos os brasileiros porVossa Santidade e pela Igreja Apostólica Armênia.

O Brasil que saúda o Patriarca Supremo detodos os armênios é um país orgulhoso da suadiversidade étnica e da contribuição que muitos povose culturas trouxeram ao seu desenvolvimento materiale espiritual. Por isso, é para nós uma grande satisfaçãorecebê-lo em Brasília, para, através da mais altadistinção honorífica do Brasil, fazer-lhe umahomenagem de todo o povo brasileiro.

A presença de Vossa Santidade em terrasbrasileiras tem importante significado não só para acomunidade brasileira de origem armênia, mastambém para todo o povo do maior país católico domundo.

Alma da primeira Nação a ser cristianizadapelos Santos Apóstolos Bartolomeu e Tadeu, a IgrejaApostólica Armênia traduz o sentimento cristão dopovo armênio, que se refletiu em outras partes domundo antigo e contribuiu para a consolidação da fécristã no Ocidente.

Após muitos séculos como um farol da fécristã na Ásia Menor, a Igreja Apostólica Armêniacontinua sendo um dos bastiões do cristianismo.Manteve sua crença e sua unidade nas condiçõesmais adversas através dos séculos e por isso merece

o respeito e a admiração de todos os cristãos domundo.

A trajetória do povo armênio é indissociávelda Igreja Apostólica Armênia. De sua espiritualidadea Nação armênia retirou a força para sobrevivermesmo quando compelida, em diversos momentosda História, a abandonar a terra de seusantepassados e a buscar refúgio em outras paragens.

No processo de fixação dos armênios daDiáspora no Brasil e em outros países, a IgrejaApostólica Armênia teve um papel central. Comoimigrantes distanciados da pátria, os armêniosencontravam na Igreja um traço de identidade, umsustentáculo moral para a manutenção de sua cultura,sua língua e sua fé. Uma razão, enfim, para lutar eprosseguir.

Desde o fim do século passado, o Brasilacolheu imigrantes armênios, que hoje formam umacomunidade laboriosa, que em muito tem contribuídopara o desenvolvimento material e espiritual do nossopaís, onde se integrou em harmonia e com plena eperfeita participação em todos os setores da vidanacional, na esfera privada e no Governo, inclusivena diplomacia.

O espirito empreendedor, corajoso e tenazdos armênios aqui radicados, faz com que acomunidade de origem armênia tenha participação

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião daCerimônia de Condecoração de sua Santidade Karekin I,Patriarca Supremo da Igreja Apostólica Armênia, com aGrã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul, Brasília, 2 de agostode 1996

Cerimônia de Condecoração

34 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

ativa na construção de um Brasil democrático epróspero, que seja respeitada e admirada.

Mas a comunidade de origem armênia étambém solidamente apegada aos valores da milenarcivilização armênia. Por esse apego, por essa forçainterior que vem da identidade cultural e da fé, acomunidade armênia tem dado uma contribuiçãorelevante para a vida brasileira, que ela ajuda aenriquecer e a projetar-se como cultura aberta euniversal, de convivência e pluralismo.

Santidade,Em dezembro de 1991, o Governo brasileiro,

reconheceu, com grande satisfação, a independênciada República da Armênia e com ela estabeleceurelações diplomáticas poucos meses depois.

Desde então, tivemos o prazer de contarcom a participação do Presidente Levon TerPetrossian na Conferência das Nações Unidas sobreMeio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio deJaneiro, em 1992, e de receber a visita particular doVice-Presidente Gaguik Arutiunian, em 1993, marcosimportantes no relacionamento entre o Brasil e aArmênia.

Nesse processo de aproximação entre oBrasil e a Armênia, a Igreja Apostólica Armênia temtido uma importante participação, até mesmo porqueela constitui um elo de ligação espiritual entre os doispaíses e entre a comunidade armênia no Brasil e opovo armênio.

O próprio Ministro Antônio Kandir, querepresenta a comunidade no mais alto escalão doGoverno, esteve na Armênia, na qualidade de enviadoespecial do Governo brasileiro para a entrega da Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul a Sua SantidadeVazken I, predecessor de Vossa Santidade comoCatholicós de Todos os Armênios.

Vossa Santidade será o portador damensagem de amizade e admiração do povo brasileiropelo povo armênio e da firme vontade política doGoverno brasileiro de estreitar, cada vez mais, seuslaços de amizade e cooperação com a Armênia.

Guardaremos da visita de Vossa Santidadeao Brasil uma lembrança afetuosa e respeitosa —um marco simbólico da amizade brasileiro-armênia.

Em reconhecimento de todos os brasileiros àmissão de Vossa Santidade em prol doaprofundamento da amizade entre o Brasil e aArmênia, como demonstração de profundo respeitopela fé apostólica armênia e como uma homenagemao povo armênio e à comunidade armênia no Brasil,o Senhor Presidente da República houve por bemoutorgar-lhe a Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro doSul.

É uma honra para mim impor-lhe nestemomento essas insígnias. Aceite-as como umahomenagem sincera e como um tributo de admiraçãoe respeito dos brasileiros pelo seu povo e pela suaIgreja.

Muito obrigado.

35Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

O Protocolo de Cooperação que acabamosde assinar formaliza uma parceria já existente e degrande potencialidade entre o Itamaraty e o BNDES,com o objetivo de fortalecer a nossa contribuiçãopara o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

As atividades a serem realizadas ao amparodeste instrumento serão parte das iniciativas doGoverno federal para a ampliação e intensificaçãoda cooperação com muitos dos nossos parceiros,com vistas à captação de investimentos e detecnologia e expansão das trocas comerciais.

A prioridade atribuída às ações nessas áreasjustifica-se plenamente. A consolidação da atual fasede crescimento da economia brasileira tem entre seuspressupostos a modernização da estrutura produtivae o aumento da competitividade das empresasbrasileiras. Para isso, a contribuição dos parceirosestrangeiros é imprescindível.

As instituições que representamos têm umasólida tradição de serviços prestados aodesenvolvimento econômico brasileiro. Todosconhecemos o importante papel desempenhado peloBNDES na implantação no Brasil do maior parqueindustrial existente no mundo em desenvolvimento,com importante participação de capitais estrangeiros.

Temos também consciência da relevanteatuação do BNDES como fonte de financiamentos

que estimularam o crescimento e a diversificação dasexportações brasileiras. Para o êxito no desempenhodessas atividades, o BNDES vale-se de sua condiçãode agente financeiro do setor público e de umaestrutura organizacional exemplar dentro do Estadobrasileiro, assentando-se em um corpo deadministradores e técnicos de competência e espíritopúblico reconhecidos no Brasil e além-fronteiras.

Entende-se, portanto, que o Governobrasileiro tenha atribuído ao BNDES o papel deexecutor do Programa Nacional de Desestatização,vetor fundamental do processo de ajustamento daeconomia brasileira aos novos paradigmas daeconomia mundial e às necessidades do própriodesenvolvimento econômico e social brasileiro.

Ampliando sua área de atuação, o BNDESincorporou a suas responsabilidades a promoção dodesenvolvimento social. Com essa mudança, o Bancohabilitou-se a contribuir para o atendimento aosreclamos da sociedade brasileira em matéria degeração de empregos e riquezas e melhoria dascondições de vida das camadas menos favorecidasda população, objetivos fundamentais do Governodo Presidente Fernando Henrique Cardoso.

O Ministério das Relações Exteriores vemdedicando parcela substancial de seus recursoshumanos e materiais à captação de investimentos e

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião daassinatura do protocolo de cooperação entre o Itamaraty eo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social,Brasília, 7 de agosto de 1996

Assinatura do protocolo de cooperaçãoentre o Itamaraty e o BNDES

36 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

de tecnologia estrangeira e à promoção comercialdo Brasil. Essa vertente da atuação da Diplomaciabrasileira ganhou novo interesse no cenário dedesafios e oportunidades próprio do fenômenoconhecido como globalização da economia mundiale da abertura competitiva da economia brasileira.

O Itamaraty está capacitado para responderaos desafios do momento, coadjuvando os esforçosdo Governo para promover com êxito o aumento daparticipação brasileira nos fluxos internacionais decomércio e de investimentos produtivos. Osresultados alcançados nessas área não dependerãoexclusivamente da dedicação e da reconhecidacompetência do quadro de funcionários desteMinistério. Na realidade, o êxito nessas tarefas serátambém condicionado pela qualidade e adequaçãodos instrumentos utilizados para a defesa e projeçãode nossos interesses econômicos e comerciais.

Por isso é extremamente afortunada a iniciativado BNDES de colocar à disposição do Itamaraty,conforme o presente Protocolo de Cooperação,informações e material a serem utilizados para amobilização do interesse de investidores estrangeirosem empreendimentos no Brasil e para a intensificaçãodos fluxos de comércio.

Com os mesmos objetivos, o Banco dispõe-se a prestar cooperação técnica ao Itamaraty e aparticipar de seminários e outras formas de divulgaçãoimprescindíveis para o trabalho diplomático.

Só temos, portanto, motivos para noscongratularmos com o BNDES pela iniciativa deformalização desta parceria com o Itamaraty. Nossasatividades conjuntas nessas áreas darão umacontribuição positiva ao trabalho empreendido peloGoverno brasileiro para fornecer ao empresariadonacional os instrumentos e os estímulos adequadospara a modernização de suas empresas, melhoria desua competitividade, diversificação da oferta de bense serviços e uma inserção bem sucedida na economiainternacional.

Tenho a certeza de que a formalização dacooperação que já vinha existindo entre o BNDES eo Itamaraty dará um acréscimo de qualidade eeficiência aos serviços que, juntas, as duas instituiçõesjá vêm prestando no campo da projeção externa dosinteresses brasileiros. Em nome do Itamaraty, queroagradecer o empenho e o engajamento do BNDESnesse empreendimento.

Muito obrigado.

37Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

IntroduçãoQuero agradecer à Diretoria da Faculdade

de Direito do Recife, e muito particularmente aoProfessor Romualdo Marques Costa, pelo honrosoconvite para me associar a mais estas celebraçõesda criação dos cursos jurídicos no Brasil.

O 11 de agosto é uma tradição viva naconsciência cívica brasileira. Em todo o Brasil,estudantes de Direito lideram as comemorações destadata que representa um divisor de águas na formaçãopolítica e intelectual do Brasil — uma espécie dehomologação da nossa independência no campoespiritual.

O Direito e aTrago aqui a palavra de uma Instituição, o

Itamaraty, que tradicionalmente se beneficia dapresença, em seus quadros, de um expressivo, quasemajoritário, número de bacharéis em Direito.

Não é essa, aliás, uma coincidência ou umsimples dado sociológico. A diplomacia forjou-se,ao longo da História, em estreita vinculação com aciência jurídica, chegando mesmo a confundir-se, emcertos momentos, com o Direito internacional. Maisque isso, é no Direito que a diplomacia encontra muitoda sua própria identidade como atividade humana,

porque os mesmos princípios de justiça, concórdia eordem inspiram o diplomata em sua ação, enquantoa vocação de negociação e persuasão, que identificao talento do advogado, constitui atributo indissociáveldo diplomata.

Atividade política por excelência, adiplomacia brasileira não seria exceção entre aquelessetores que, ao buscar excelência intelectual ecombatividade política, encontrariam na área jurídicao universo onde recrutar parte considerável da suaforça.

É por essa razão que eu quero aproveitar aoportunidade de estar na Faculdade de Direito doRecife para lembrar-lhes que o Itamaraty continuaselecionando, periodicamente, os quadrosdiplomáticos que haverão de suceder-nos nessa linhade frente da defesa do interesse nacional que é adiplomacia. E Pernambuco e o Nordeste, que deramgrandes nomes à carreira diplomática, devemcontinuar essa tradição que nos honra e da qualsomos os primeiros a nos beneficiar.

Tributo a Azeredo da SilveiraHá exatos vinte anos, em março de 1975, o

então Ministro das Relações Exteriores, o saudosoEmbaixador Antônio Francisco Azeredo da Silveira,

Conferência do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na Faculdade de Direitoda Universidade Federal de Pernambuco, por ocasião dascomemorações da Criação dos Cursos Jurídicos no Brasil,sobre o Tema “A Política Externa Brasileira”, Recife, 11 deagosto de 1995.

Comemorações da Criação dosCursos Jurídicos no Brasil

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de quem orgulhosamente fui assessor próximo, valeu-se desta mesma tribuna e do interesse particular destaaudiência pela política internacional e pela diplomacia,para proferir uma conferência que se transformariaem marco conceitual da revolução diplomática queo Brasil fez no Governo Geisel.

Sua detalhada explicação sobre aquilo emque consistia o chamado pragmatismo responsável eecumênico constitui hoje um patrimônio da diplomaciabrasileira, uma base sólida para continuarmos arefletir sobre o que somos como país soberano eindependente, sobre como vemos o mundo em quede forma inexorável nos inserimos e sobre comopretendemos estabelecer as conexões entre essesdois pólos fundamentais da diplomacia, de forma aextrair o maior número de benefícios tangíveis denossa inserção internacional ao custo mais baixo.

Ao prestar aqui uma homenagem aoChanceler Azeredo da Silveira, quero ressaltar aquiloque a diplomacia que ele chefiou nos legou de maisimportante, porque soube sempre ter a consciênciade que a é um instrumento a serviço dodesenvolvimento do país: o patrimônio de relaçõesque se ampliaram por todo o mundo e acabaram pordesenhar o perfil de ator global que caracteriza oBrasil de hoje. Graças à diplomacia que Silveiraencarnou como ninguém, nossos esforços podemconcentrar-se hoje em outras áreas, porque nossapresença em todas as regiões do mundo estábasicamente consolidada, e somos reconhecidoscomo parceiro de interesse.

Um patrimônio sem hipotecas: este é olegado da diplomacia revolucionária que Silveiracomandou.

O mundo vinte anos depoisVinte anos depois daquela conferência, o

mundo mudou radicalmente e o nosso país mudouradicalmente. Quem ousasse antecipar, em 1975, anatureza e o alcance das transformações quealterariam tão profundamente a face do mundo e asrelações internacionais nos anos 80 e início dos anos

90, certamente seria visto como um sonhador. O Chanceler Silveira dizia, em sua palestra,

que vivíamos sob o domínio da crise, mas extraía daprópria etimologia da palavra — decisão, em grego— os elementos de criatividade e de vigor que umquadro de crise pode proporcionar. Acostumados avaler-nos do conceito de crise para descreverqualquer situação que escape a uma supostanormalidade, às vezes nos esquecemos de que a criseé o próprio motor da história, e portanto contém oselementos básicos da vitalidade humana. É o que nosmostram, dentro e fora do nosso país, esses vinte anos.

O que mudouUma revolução democrática varreu o mundo,

começando pela América Latina, e hoje a imensamaioria dos povos vive sob regimes democráticos.

Uma revolução econômica se operou, à basedo esgotamento dos modelos mais fechadosprevalecentes nos anos 50 a 70, e hoje a imensamaioria dos povos vive em sistemas econômicosbaseados na liberdade de mercado.

Democracia e liberdade econômicapassaram a ser padrões a partir dos quais os paísessão classificados, uma espécie de “grau zero” dasrelações internacionais, em que os desvios têm umcusto político e econômico cada vez maior, porquedemocracia se traduz em estabilidade e liberdadeeconômica se traduz em investimentos, acesso atecnologias, competitividade e empregos.

Como uma síntese de ambas as revoluções,a política e a econômica, o esfacelamento do blocosoviético, com o colapso do socialismo real que nãoresistiu à corrida armamentista e à baixaprodutividade.

O fim do bloco socialista operou atransformação mais visível, a mais apregoada aomenos, que alteraria completamente o panoramadescrito vinte anos atrás pelo Chanceler Silveira: ode um mundo bipolar, ainda centrado na confrontaçãoideológica e estratégica, mesmo que cada vez maismatizado pelo surgimento de grandes potências

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econômicas, como a então Comunidade Européia eo Japão. Um mundo em que grande parte dosesforços da comunidade internacional pelodesenvolvimento econômico estavam condicionadosou eram afetados pela disputa estéril e sem saída daGuerra Fria.

A natureza e o alcance das transformaçõesMas esse era também um mundo que já trazia

em si o germe da mudança, em grande partefortalecido pelo próprio clima de crise persistente emultidimensional que marcaria boa parte dessesúltimos vinte anos. Com o seu sentido de desordeme o seu potencial de ameaça indiscriminada, a crise aque se referia o Chanceler Silveira evidenciaria ainviabilidade da permanência indefinida do rígidosistema do imediato pós-guerra, corroído einstabilizado.

A crise tinha inúmeras faces e força suficientepara desencadear as transformações, que atenuariamalgumas dessas faces ou dariam dimensão nova a outras.Sucintamente, podemos identificar as seguintes “crisesdentro da crise” nos últimos vinte anos:

- a crise monetária, com a perda do poderde referência do dólar frente às demais moedasfortes;

- a crise do petróleo, que afetaria diretamenteas economias desenvolvidas e de vários países emdesenvolvimento, estes ainda mais prejudicados pelaretração dos seus mercados no mundo desenvolvido;

- o recrudescimento de um radicalismopolítico que não se encaixava na lógica quer doOcidente, quer do mundo socialista, e que passou ater uma de suas expressões no terrorismo, inclusiveno terrorismo patrocinado por Estados;

- a crise da dívida nos países emdesenvolvimento;

- a recessão nos países desenvolvidos, coma geração de elevados déficits fiscais e comerciais eo recrudescimento do protecionismo;

- o estancamento do desenvolvimento nochamado “Sul”, com o crescimento das correntes

migratórias; - a consolidação do desemprego comoo grande desafio político, social e econômico domundo no limiar do século XXI;

- a crise dos conflitos regionais que, com opoderoso vetor da Guerra Fria incidindo sobre eles,resistiram, até a exaustão virtual das partesenvolvidas, a todas as fórmulas de bom senso e deconciliação; e

- a crise descrita pelos chamados “novostemas”, como os direitos humanos (que ganharamprojeção à medida que se fortaleceu a democraciacomo tendência dominante das relaçõesinternacionais), o narcotráfico, o terrorismo, o tráficode armas, o crime organizado, a destruição ambiental,as doenças epidêmicas transnacionais.

A ascensão de novos traços dominantes aprimeiro plano Mas não foi só essa crise multifacetadaque desencadeou as forças que levariam finalmenteà superação do sistema internacional identificado coma Guerra Fria e à geração de outro sistema, aindaindefinido, marcado por muitas oportunidades novas,mas também muitos desafios e riscos evidentes.

Esse germe da transformação se encontravanos traços cada vez mais fortes, e hoje dominantesno cenário internacional, da multipolarizaçãoeconômica e tecnológica, que tinha sua outra face noagrupamento regional de países em torno de núcleosde polarização (os Estados Unidos, na América doNorte; o núcleo inicial da CEE, na Europa; o Japão,na Ásia). O mundo bipolar já trazia em seu bojo omundo multipolar — do ponto de vista do podereconômico — que o substituiu.

O germe da transformação encontrava-setambém no crescimento da importância dacompetitividade econômica e tecnológica em relaçãoao poderio militar e estratégico, à medida em que seevidenciava a perda relativa da participação dassuperpotências no produto mundial e no comérciointernacional e em que o processo de acumulaçãointernacional se desviava para países como o Japão,a Alemanha e os chamados “Tigres asiáticos”,detentores, ainda hoje, das maiores taxas de

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poupança e de investimento no globo.E se encontrava na globalização vertiginosa

da economia, tanto na esfera da circulação doscapitais quanto na da produção de bens e serviços,com impacto surpreendente sobre o comérciointernacional, que cresceria em proporção muitosuperior à do próprio produto mundial.

Aspectos básicos da vida dos Estadossoberanos, como o nível da atividade econômica, onível de emprego, a competitividade dos seusprodutos nos mercados externos e nos seus própriosmercados — todos eles aspectos que têm impactodiretamente sobre o nível de bem-estar, a estabilidadepolítica e a estabilidade econômica e, naturalmente,sobre a própria soberania em sentido mais amplo —passaram a ter um grau muito maior de incidência defatores internacionais. Estabilidade, abertura,capacitação tecnológica e em recursos humanospassaram a ser muito mais importantes do queconsiderações geopolíticas ligadas aos fatorestradicionais do poder nacional, como território erecursos naturais.

Essas transformações, que aceleraram ainviabilidade do modelo socialista soviético, incapazde se adaptar sem perder o seu sentido original,geraram um mundo diferente, o mundo em quevivemos hoje. Mas ele é diferente muito mais nosentido de que muitas da forças que se encontravamem segundo plano sob o domínio da Guerra Friapassaram ao primeiro plano, oferecendo algumasoportunidades, mas evidenciando, como disse,desafios e riscos para um país das características ecom a projeção externa do Brasil.

Oportunidades, desafios e riscosAo dizermos que o mundo contemporâneo

apresenta oportunidades, desafios e riscos, nãoestamos inovando em nada, porque essa é acaracterística de qualquer ambiente em que existaatividade humana. O que é preciso fazer é reconhecerque o mundo dos anos 90 apresenta novasoportunidades, novos desafios e novos riscos,

diretamente vinculados às forças ou tensões quepassaram a dominar o cenário mundial com a retraçãodas tensões de natureza ideológica e estratégico-militar próprias da Guerra Fria.

Em vez de preocupar-se com a suapreservação e a da sua forma de vida diante dasameaças oriundas de outro sistema político-estratégico, os Estados hoje pensam muito mais nojogo das forças econômicas, com a consciência deque a soberania e a capacidade de articulação políticase fortalecem com o fortalecimento da economia. Édo sucesso econômico — e não mais da proteçãodo guarda-chuva estratégico de uma superpotênciaou da doutrina da “segurança nacional”— quedependem os elementos fundamentais para apreservação de um Estado: estabilidade política esocial, o crescimento econômico sustentável, ageração de empregos, o bem-estar da população.

Há riscos nessa nova realidade? Claro quehá. Mas esses riscos estão ligados muito mais àincapacidade que um Estado tenha de se adaptar parafazer face às novas condições da competiçãointernacional. A marginalizacão por força daincapacidade de competir passa a ser um risco real,com conseqüências materiais. Basta citar um exemplo.Em uma situação de mercado protegido dentro domodelo de substituição de importações, os baixosindicadores sociais de um país não representam senãouma redução do mercado consumidor real, mas essaredução é administrada pelos agentes econômicosque se limitam a adaptar a sua produção à escalareal do mercado.

Em uma situação de mais aberta competiçãopor investimentos, mercados e tecnologia, baixosindicadores sociais passam a representar umconstrangimento direto para o desempenho daeconomia e um fator de risco real.

Da mesma forma, diante da tendência a quese consolidem regras universais para regular atransferência de tecnologia, a não-proliferação, apromoção e a proteção de investimentos, o acesso amercados, e face à postura claramente competitiva

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com que os países se voltam para o exterior,configuram-se novas áreas em que a marginalizaçãoe o isolamento têm um preço a ser pago — um preçoque se mede precisamente pelo acesso a mercados,investimentos produtivos e tecnologias.

Nessa ordem de raciocínio, riscos reaispróprios da atual estrutura internacional convertem-se em desafios e oportunidades quando um paísprocura estar na vanguarda da internalização dastransformações em curso no mundo. A eles se somamoutras oportunidades reais surgidas com o fim deconflitos regionais — na África Austral, no OrienteMédio, na América Central — ou com a aberturaeconômica de países como a China, o Vietnã ou osantigos países socialistas da Europa Central eOriental.

Se apresenta o risco de reduzir-nos a buscarvantagens comparativas que no passado nos teriamcondenado a sermos eternamente uma grande fazendade café e cana-de-açúcar, a liberdade econômicaque prevalece como força motriz das relaçõesinternacionais de hoje nos abre mercados antes muitorestritos, como os próprios mercados latino-americanos, e nos induz a buscar fórmulas criativas,entre as quais a da integração regional, para ampliara escala e melhorar a competitividade da nossaeconomia — não apenas para torná-la mais apta adisputar fatias de mercado e explorar janelas deoportunidade no exterior, mas também para torná-lamais atrativa para os países que dispõem de reservasde capital e de conhecimento tecnológico e buscamparcerias orientados pelos imperativos daglobalização da produção e da maior participaçãonos benefícios do comércio mundial.

O papel da diplomacia nesse mundo em trans-formação

A diplomacia que o Governo FernandoHenrique é chamado a exercer deve ser uma respostao mais completa possível a essa nova realidadeinternacional. Mas é preciso desde já fazer duasprecisões.

A primeira delas é que a diplomacia defendee projeta no exterior os interesses nacionais, damesma forma que ela procura melhorar a inserçãointernacional do país que representa. Mas ela nãocria interesses, nem pode projetar o que não existe.O país que se encontra por trás da diplomacia é oúnico elemento a partir do qual ela pode operar. Porisso, a diplomacia só poderá responderadequadamente às transformações do cenáriointernacional se essas transformações forem, dealguma forma, internalizadas pelo país.

A importância do patrimônio diplomáticoA segunda é que a diplomacia de um país

como o Brasil opera necessariamente a partir de umpatrimônio diplomático. Ela não admite mudançasirrefletidas ou bruscas, nem barganhas voltadas parao curto prazo.

Temos um patrimônio político construído comos diferentes grupos de países com os quais nosrelacionamos, temos uma tradição de atuaçãoequilibrada e amadurecida nos foros multilaterais.

Poucas vezes no passado nos moveramveleidades de liderança, a ilusão do prestígioconstruído através de iniciativas de impacto na cenaregional ou internacional ou a miragem de relaçõesespeciais ou alinhamentos automáticos que nãotinham correspondência na escala de prioridades doparceiro. Quando isso ocorreu, rapidamente sepercebeu a limitação do gesto, e se voltou ao cursorefletido de uma diplomacia amadurecida emdécadas de complexas lides internacionais.

Há uma sabedoria na tradição, na memória ena prudência diplomáticas, não por conservadorismoou principismo estéril, mas porque as relações entreEstados se dão ao longo de períodos extensos daHistória.

Por isso, o papel da diplomacia brasileira éinterpretar corretamente as prioridades nacionais,situando-as dentro do projeto mais amplo do nossodesenvolvimento e procurando servir comoinstrumento dessas prioridades no plano exterior.

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O Brasil visto pela sua diplomaciaFeitas essas precisões, como podemos

caracterizar o Brasil, seu projeto de desenvolvimentoe suas prioridades atuais, de forma a orientar a açãoda nossa ?

Um país continentalPasso por alto aquelas que são as nossas

características intrínsecas — dimensão continental,população, recursos naturais, tamanho do mercadoconsumidor potencial, situação única no HemisférioSul, distante dos grandes pólos de poder comcapacidade de galvanizar economias menores e maispróximas — para entrar naquilo que propriamentedá uma dimensão dinâmica a esses fatores.

Em , não basta ser grande e atraente paragerar interesses e promover parcerias, é precisoparecer grande e atraente. E a medida dessa grandezae dessa atratividade é muito relativizada pelo tempo,pelas circunstâncias históricas e, sobretudo, pelaprópria grandeza e atratividade dos demais jogadoresque se encontram no tabuleiro, jogando o mesmojogo e tentando interpretar ou mudar as regras a seufavor.

Uma história de parceria com o exteriorUma primeira resposta àquela indagação —

o que somos do ponto de vista diplomático, naverdade a pergunta que constitui o cerne da reflexãoque me proponho fazer aqui — deriva, naturalmente,da avaliação que fizermos da capacidade e danecessidade que o país apresenta de relacionar-secom outros países e regiões. Nossa história é clara aesse respeito.

Temos uma tradição de inserção internacionalque nos foi legada pela nossa própria irrupção naHistória como colônia de exportação de produtostropicais e matérias-primas. Nossa formação social,fortemente marcada pela imigração, reforçou ao longodo último século essa vocação universalista do Brasil.Até pela própria mentalidade aberta ao mundo dosbrasileiros, nunca foi seriamente admitida entre nós,

nem a título de especulação teórica, a idéia daautarquia.

O mundo exterior, que nunca deixou dechegar-nos com a rapidez cada vez mais alucinantedos meios de comunicação, sempre constituiu umpadrão contra o qual nós nos julgamos e julgamos oque fazemos. A referência externa é um componentecentral da psicologia brasileira — um componenteque comparece sem despertar traumas, temores oureceios exagerados, provavelmente porque temosfirmado no inconsciente coletivo o significado de 125anos de paz ininterrupta com nossos vizinhos e asensação de confortável segurança que nos dá a nossaprópria localização geográfica.

Nossa economia cresceu e diversificou-secom o aporte continuado de capitais de empréstimose de investimentos estrangeiros — ingleses, primeiro, aque se somaram os norte-americanos, os de outrospaíses europeus, do Japão, da própria América Latina.

Uma tradição de economia de mercadoNossa industrialização se fez com grande

dose de intervenção estatal, mas foi centrada nainiciativa privada e, em grande medida, na iniciativaprivada transnacional. Temos uma tradição deeconomia de mercado das mais sólidas nos paísesem desenvolvimento.

Pusemos em prática, é verdade, por longoperíodo, um processo de substituição de importaçõesque foi responsável pela ampliação horizontal donosso parque industrial e por uma complexidade donosso parque produtivo (tanto na área de bens deconsumo quanto de bens de equipamento quanto naárea de serviços). O vigor e a complexidade do nossoparque produtivo nos coloca em posição de vantagemrelativa no conjunto dos países em desenvolvimento.

Durante mais de duas décadas, esse processo— que reservava para o produtor instalado no Brasilum mercado potencial de dimensões continentais —foi responsável pela nossa capacidade de atrairinvestimentos produtivos, que pouco a pouco,contudo, se foram concentrando mais em áreas como

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a mineração de ferro e alumínio, até se estancarempor força das limitações geradas pela crise da dívidaexterna, alta inflação, excesso de intervenção estatale políticas erráticas na área industrial, comercial emacro-econômica.

Uma presença globalAo mesmo tempo em que crescíamos a ritmo

acelerado nos anos 70 e consolidávamos adiversificação da nossa economia, fomos capazes deampliar consideravelmente a nossa presençainternacional, em grande parte pela nossa capacidadede atuar, sem exclusões, nos mais variados tipos demercado. Geramos parcerias novas ou fortalecemosparcerias tradicionais tanto no mundo emdesenvolvimento — América Latina, África e OrienteMédio, em menor proporção na Ásia, à exceção daChina — e no mundo desenvolvido — de que sãoexemplares as relações desenvolvidas com aRepública Federal da Alemanha e com o Japão.

Essa presença global do Brasil era uma parteintegrante da nossa política econômica, que tinha nabusca e diversificação de mercados e na garantia desuprimentos vitais, como petróleo e derivados, umapreocupação central, ligada à própria manutenção ecrescimento da nossa atividade econômica.

Cada vez mais ficou evidente que parte danossa atividade econômica dependia da dimensãoexterna da nossa economia e da nossa capacidadede ampliar a nossa presença global, com asconseqüências político-diplomáticas desseimperativo.

A evolução do quadro econômico internobrasileiro só fez acentuar a dimensão internacionaldo Brasil. A superação do modelo de substituiçãode importações, pela incidência adversa que vinhatendo na competitividade da economia brasileira eaté mesmo por pressões oriundas de consumidoresmais exigentes, obrigou-nos a um exercício deconscientização sobre as tendências dominantes nocenário internacional e no cenário interno dos paísesque figuram na nossa faixa de inserção.

Um programa de estabilização bem concebido O imperativo de estabilizar a economia e garantirbases para o seu crescimento sustentado, tão bemtraduzido pelo Plano Real, tem também uma fortedimensão externa, ainda que boa parte das suascondições mínimas digam respeito a questões denatureza interna, como o equilíbrio fiscal, aausteridade monetária e a própria confiabilidade doplano, que desta vez recusou choques, surpresas,intervenção na economia, congelamentos. A própriaabertura da economia ao exterior foi fator fundamentalpara assegurar o êxito do plano: por primeira vez sepôde utilizar a oferta externa para enfrentar a pressãoda demanda provocada pelo aumento do poderaquisitivo da população permitido pelo fim da inflação.

A solução adequada da questão da dívidaexterna, depois de doze anos como hipoteca sobreboa parte da agenda externa brasileira tanto compaíses desenvolvidos como com parceiros emdesenvolvimento, foi também uma condiçãonecessária ao êxito do plano, e a ele se somou nocapítulo das novas credenciais com que o Brasil buscarenovar ou aprofundar suas parcerias no mundo.

Não preciso aqui estender-me sobre o efeitopositivo que a estabilização da economia, o ajuste,as reformas em curso e a retomada do crescimentoem bases mais seguras têm tido sobre a imagem doBrasil no exterior e sobre o crescimento do interesse denossos parceiros pelo Brasil. A percepção do Brasilcomo país de oportunidades e como força emergentena economia mundial parece consolidar-se.

O meu testemunho, depois de sete meses deexercício no cargo e um grande número de contatoscom autoridades estrangeiras, no exterior ou noBrasil, é de que nós passamos a ocupar um lugar derealce na agenda mundial, reforçado ainda mais pelaforma como fomos capazes de resistir, precavendo-nos e adotando as correções de rumo necessárias,quando do auge da crise financeira que assolou algunspaíses latino-americanos.

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Uma democracia consolidada, um país estávelNão preciso tampouco estender-me sobre

considerações a respeito da consolidação das nossasinstituições democráticas que resistiram, nos últimosdez anos, à morte de um Presidente-eleito, aoimpeachment de outro e a vários escândalos políticos,e que têm sido capazes de canalizar demandas,conflitos e contradições próprias de uma sociedadecomplexa como a brasileira.

Importa ressaltar que, do ponto de vista dopadrão internacional vigente hoje, nossa democraciatraduz-se em um trunfo importante, insubstituível:estabilidade política e a certeza de regrastransparentes no jogo político em sentido mais amplo.Combinada à estabilização econômica, a estabilidadepolítica passa a ser um fator central da projeçãoexterna brasileira.

Um país com muitos desafios na área socialOutro dado básico da realidade brasileira é apermanência de indicadores sociais ainda muitoabaixo da média, a funcionar como fator deconstrangimento em várias áreas. Comparado aalguns dos seus competidores internacionais, o Brasilperde em capacitação de mão-de-obra, em escalareal do mercado consumidor frente à escala potencial,em custos sociais (custo da enfermidade, custo dabaixa produtividade), em coesão social. Aconcentração social e regional de renda afeta nossopotencial de desenvolvimento, de poupança e deconsumo. E esses aspectos negativos, que é forçosoreconhecer, nos recordam claramente que o país,embora tenha várias dimensões de desenvolvimento,enfrenta vários desafios de natureza social queganham sentido de urgência. Seria ilusório pensarmosque reduzimos ou eliminamos um traço comum deidentidade que nos une à imensa maioria dos paísesem desenvolvimento no mundo.

Um país comprometido com as reformasO amadurecimento político do país e a

consciência dos nossos desafios e constrangimentosgerou um quase-consenso sobre a necessidade e a

urgência de reformas que nos permitam reduzir asdisparidades sociais e regionais com medidas eficazese duradouras, que não comprometam a médio oulongo prazo a estabilidade econômica e o crescimento.

Uma engajadaCom esse panorama interno e internacional,

torna-se mais fácil compreender as linhas-mestras dadiplomacia que o Governo Fernando HenriqueCardoso vem implementando nestes sete meses emeio.

Não quero buscar um rótulo que designe essa, mas sim caracterizá-la pelos seus elementosdefinitórios centrais.

Nossa diplomacia é não-excludente, nosentido de que buscamos reforçar ou criar parceriascom base em interesses concretos e naturais, no seuimpacto no nosso nível de atividade econômica, e noseu papel na configuração de uma rede de presençainternacional do Brasil. Não há elementos ideológicosque presidam a busca dessas parcerias. Comprincípios, mas com pragmatismo, buscamos asoportunidades onde elas existam. E não há, naconcepção brasileira, razão para privilegiar um ououtro relacionamento externo em prejuízo de outros.Os limites de nossa ação diplomática serão os limitesdos nossos próprios recursos.

Nossa diplomacia é um instrumento a serviçodo nosso desenvolvimento sustentável com justiçasocial. Isso quer dizer que ela não é um fim em simesma, nem obedece a concepções puramenteintelectuais da realidade mundial ou do nosso própriopaís. Não se ilude com veleidades de liderança oude prestígio, tem uma consciência aguda dos trunfose dos constrangimentos que o Brasil apresenta, masnão busca confrontos estéreis que possam isolar-nos.Tem uma consciência aguda também do que é aagenda internacional contemporânea, de como elaevoluiu nos últimos anos, de quais são as prioridadesreais para um país como o Brasil e de quais são asatitudes e os reflexos que não mais correspondem auma realidade internacional transformada.

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Traduzindo em termos práticos relativos aoano de 1995, isso quer dizer que a diplomaciabrasileira é um instrumento a serviço da estabilizaçãoda economia brasileira, da melhoria do nosso acessoa mercados, a investimentos e a tecnologias, e daampliação da nossa presença nos mecanismosdecisórios internacionais que lidem com assuntospolíticos ou econômicos que nos digam respeito.

Para isso, faremos os ajustes necessários emnossa ação, ampliaremos nossa reflexão e, emboraconscientes da importância do nosso patrimôniodiplomático, evitaremos, a todo custo, ações reflexas,atitudes mecânicas e pré-concebidas e dogmatismosque são in limine incompatíveis com a mudança quecaracteriza o mundo e o nosso próprio país.

Por fim, nossa diplomacia é ativa, não reativa,como corresponde a um país que tem interessesconcretos a promover nos mais variados âmbitos dapolítica internacional. Repudiamos toda falsa cautelaque justifica a inação e que pode ser responsávelpor perdermos espaço na cena internacional e temponos movimentos estratégicos que se impõem.

Não queremos chegar tarde às áreas novasque se reincorporam ao convívio internacional: aÁfrica Austral, o Oriente Médio; não queremosperder mais tempo para erigir em prioridade nossasparcerias com os países da ASEAN, possivelmenteo núcleo de países que mais cresce no mundo; nãoqueremos ser omissos ou tímidos na questão dareforma das Nações Unidas, da ampliação doConselho de Segurança, da urgência de mecanismosque previnam e corrijam os impactos da volatilidadedos capitais sobre as economias emergentes; nãoqueremos ficar a reboque em grandes iniciativas,como a da integração hemisférica.

Uma diplomacia em açãoSão muitos os exemplos de ações que temos

promovido para tornar palpáveis essas diretrizes.Sete meses e meio de já são suficientes para mostraro grau em que praticamos a dialética que se consagrouna nossa história diplomática, da renovação

combinada com a continuidade. Insistindo no fatode que a lista sucinta que apresento a seguir éexemplificativa e não exclui outras áreas de atuaçãoe prioridades da nossa (como a própria UniãoEuropéia, que só mencionarei de passagem), eu gostariade encaminhar-me para o final mencionando algunsdesses exemplos da nossa atuação diplomática maisrecente.

Estados UnidosA visita presidencial aos Estados Unidos

redimensionou uma parceria tradicional do Brasil,valendo-se dos novos elementos de que dispomosno cenário interno brasileiro, a estabilização, aabertura econômica, as reformas, o crescimento, aconsolidação da nossa credibilidade. Ampliamos eavançamos nossa agenda com os Estados Unidos,uma agenda afirmativa, que mostra o compromissodos dois Governos de trabalhar ativamente pelofortalecimento do intercâmbio e pela solução dasdiferenças que naturalmente aparecem em umrelacionamento da densidade e complexidade donosso.

Com os Estados Unidos, temos tido umdiálogo maduro e franco sobre temas de interessecomum ou iniciativas conjuntas: a integraçãohemisférica, a cooperação interamericana na área dadefesa, a reforma das Nações Unidas.

Graças, em grande medida, aos enormesavanços que fizemos no Brasil, a relação com osEstados Unidos se encontra hoje em um patamarúnico em sua história.

MercosulContinuamos a tratar com sentido de

prioridade nossa integração no Mercosul e apromover as bases para o início de negociações entreo Mercosul e a União Européia, com vistas a umacordo de livre comércio entre as duas regiões, quefortaleça, do nosso ponto de vista, o equilíbrio relativodo comércio exterior dos quatro países que integrama nossa união aduaneira.

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Com sentido de realismo e pragmatismo etendo em vista os interesses da estabilização brasileirapara a própria consolidação do Mercosul,procuramos adaptar a iniciativa aos imperativos quepodem derivar de conjunturas macroeconômicasadversas ou potencialmente arriscadas para osEstados-membros, e creio que tivemos grande êxito.O Mercosul firma-se como um parceiro internacional,como um reforço à identidade e à projeção externados países que o compõem.

América LatinaEstamos ampliando a nossa parceria com

nossos vizinhos latinoamericanos, dando ênfase àinterconexão física e à cooperação fronteiriça comesses países, respondendo a um interesse concretocada vez maior dos agentes econômicos e daspopulações que negociam através de nossasfronteiras.

A América Latina volta a ocupar hoje, comvantagens, o lugar de destaque que teve em nossocomércio exterior no final dos anos 70 e início dos80; hoje, esse comércio é maior ainda, maisdiversificado e mais equilibrado, e participa com perfilelevado tanto na geração de atividade econômica noBrasil quanto no suprimento de bens de consumo ematérias-primas para a nossa economia. Um dado areter é que hoje a Argentina é o nosso segundofornecedor de petróleo, o que revela uma alteraçãosubstancial em nosso esquema de fornecimentos depetróleo. As visitas presidenciais ao Chile e àVenezuela respondem a essa diretriz de intensificarainda mais o intercâmbio e a cooperação na áreasul-americana, ao mesmo tempo em que se exploramfórmulas de associação de outros países sul-americanos ao Mercosul.

ÁfricaNa África, estamos redimensionando nossa

presença, apostando fortemente na pacificação e nareconstrução de Angola, que tem todo o potencialpara voltar a ser um de nossos mais importantes

parceiros no mundo em desenvolvimento. Esse é osentido da nossa participação na UNAVEM-III, aForça de Paz das Nações Unidas que ali contarácom mais de 1.100 soldados brasileiros. Estamostambém repensando nosso relacionamento com aÁfrica do Sul, país que surge, com a suademocratização, como um dos pólos mais dinâmicosde desenvolvimento no Hemisfério Sul, além de sero foco da atenção quase universal pelas suaspotencialidades e pelo seu vigor econômico,ampliado com o fim do embargo e a volta dosinvestimentos.

Esses exemplos falam de uma novaperspectiva que se abre para o Brasil na África, quevolta figurar no horizonte das nossas prioridades graçasa uma feliz combinação de fatores internos brasileiroscom progressos sensíveis no cenário africano.

Oriente MédioTambém no Oriente Médio estamos

reequilibrando nossa presença, a partir da própriaevolução do conflito que por décadas assolou a regiãoe virtualmente subtraiu-a ao convívio internacional eaos esforços pelo desenvolvimento. O Líbano sereconstrói, Israel chega a termos com os palestinose com vários de seus vizinhos árabes, os olhos demundo se voltam para a região atrás de oportunidadesque renascem. Minha visita a Israel, de 28 a 30 deagosto, a primeira de um Chanceler brasileiro em 23anos, tem esse sentido de redimensionar e equilibrarnossa presença no Oriente Médio. Meu encontro comYasser Arafat, na mesma oportunidade, para tratar denossas relações com a Autoridade Palestina por elepresidida, tem esse mesmo sentido de equilíbrio e deaperfeiçoamento da nossa presença na área.

Ásia-PacíficoNa Ásia, estamos reforçando nossa presença

diplomática, equipando melhor algumas Embaixadasem países dinâmicos, definindo uma agenda eplanejando uma grande iniciativa de diplomaciapresidencial, que começará, em dezembro, com uma

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visita à China e à Malásia, dois casos de sucesso narevolução econômica mais recente que transforma aregião da Ásia-Pacífico no pólo mais dinâmico daeconomia mundial nos anos 90.

Conselho de SegurançaFinalmente, para encerrar esta lista

exemplificativa, temos procurado influir positivamentenas discussões em torno da reforma do Conselho deSegurança das Nações Unidas, defendendo a tesede que a melhoria da eficácia do órgão, para cumpriro papel renovado que lhe cabe no sistemainternacional pós-Guerra Fria, depende do aumentoda sua legitimidade internacional e da suarepresentatividade.

Sem nos mobilizarmos em uma campanha poruma candidatura a membro permanente, temosdeixado claro que defendemos uma reforma doConselho nesses moldes e que estamos dispostos acolaborar em um Conselho ampliado nessas bases,se formos chamados a fazê-lo. Mais uma vez, convémque se reafirme: não se trata de um pleito e muitomenos de uma iniciativa de busca de prestígio eliderança, mas sim de uma defesa sincera danecessidade de reformar as Nações Unidas até comosigno de sua vitalidade, ao iniciar-se seu segundo meioséculo de existência em um ambiente internacionalinteiramente diverso daquele que lhe deu origem.

Um voto de confiançaEsta é, em grandes linhas, a diplomacia que

nós procuramos empreender. Espero ter deixadoclaro a forma como ela pretende — e só pode ser –uma resposta coesa e coerente a esse duplo jogo deforças, as que movem o cenário internacional e asque nos movem como Estado soberano em buscada sua realização como Nação.

Ainda é cedo para anteciparmos resultadosou para julgarmos se estamos no melhor caminho.Para esse exercício, a participação da sociedadebrasileira, através do mundo acadêmico, doCongresso, dos partidos, das associações de classe,dos sindicatos, das organizações não-governamentaistemáticas, é essencial e insubstituível.

O voto de confiança que pedimos à sociedadebrasileira para a que implementamos é a suaparticipação, o seu interesse, o seu julgamento críticoconstrutivo. O Itamaraty não inventa interesses nemdefine prioridades, ele apenas cumpre um mandato.

Esse é o verdadeiro sentido da em umasociedade democrática.

Esse é o sentido da minha presença aqui e arazão do meu reconhecido agradecimento pelaatenção que me dispensaram pois é nesse intercâmbioque o Itamaraty encontra seu sentido maior e a serealiza como um instrumento da Nação, uma Naçãoindependente, soberana e por isso mesmo apta a lidarcom a História não como seu objeto, mas para fazê-la acontecer.

Muito obrigado.

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Comércio Internacional e Integração EconômicaBoa tarde, senhoras e senhores,Senhor Subsecretário Mariano Fernandes,Senhores Embaixadores,Senhoras e Senhores,Minha intenção seria fazer uma apresentação

genérica sobre assuntos de comércio e integração,talvez durante 30 ou 40 minutos, e depois colocar-me à disposição dos senhores para responder aalguma pergunta que queiram formular.

Gostaria de iniciar no nível mais geral do tema,enfocando a Rodada Uruguai e a importância dessanegociação para o Brasil, os países emdesenvolvimento e o resto do mundo em geral. Diriaque, no nosso caso, e seguramente no da maioriados países da América Latina, a plena participaçãona Rodada Uruguai refletiu uma decisão de mudarfundamentalmente a atitude e a relação do país como mundo alterar profundamente as disciplinas docomércio de bens e de serviços, e até as relaçõesem temas tão fundamentais como os das patentes,marcas, propriedade intelectual e investimentos.

Até meados dos anos 80, o Brasil, comcerteza, havia-se encaminhado em direção a umapolítica muito decidida e profunda de desenvolvimentobaseado em um papel fundamental do Estado comoempresa no básico, inclusive no campo industrial, enum profundo esforço de substituição deimportações, por meio de uma meio de tarifas altasque privilegiava a produção doméstica, salvo em

poucas áreas em que não possuíamos nenhumavantagem comparativa e que, portanto, seria ilógicotratar de buscar a plena autarquia.

Hoje, com o triunfo das idéias liberais e arestauração da imagem de pensadores como AdamSmith, Ricardo e os grandes economistas anglo-saxões do passado, tende-se a pensar que a políticade substituição de importações, de desenvolvimentoautocentrado, seguiu a mesma linha das meiosimplementadas nos países da Europa Oriental, ouseja, um disparate que custou muito caro e queatrasou muito os países em desenvolvimento. Creioque não é assim pelo menos nesses termos. Seriauma simplificação excessiva, e nos impediriacompreender o momento atual do processo. No casobrasileiro, seguramente a partir da década de 50, emfins dos anos 50, o país deixou de ser mero produtorde manufaturas rudimentares, como têxteis, cimentoe cerveja, e cuja pauta de exportação dependia dealguns poucos produtos — café, açúcar, cacau,algodão, mineral de ferro — para tornar-serapidamente, em 10 anos, um país com uma indústriaautomobilística respeitável, uma siderurgia forte, como início de uma indústria aeronáutica, uma indústriaeletro-etetrônica, uma indústria manufatureirasignificativa, com uma indústria de petróleoimportante, enfim, uma série de resultados querepresentam um patrimônio considerável.

Já nos anos 80, quando chegamos à beira doprecipício devido à famosa crise da dívida, depois

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na AcademiaDiplomática Andrés Bello, Santiago, 13 de agosto de 1996

Brasil - Chile

50 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

do setembro negro do México, o Brasil haviaacumulado um patrimônio significativo de ativosindustriais produtivos em geral, situando-se emtermos razoáveis no universo do comérciointernacional em matéria de exportações. Gerou, apartir desse momento, para poder enfrentar opagamento da dívida, imensos saldos comerciais, queeram todos praticamente dirigidos para a amortizaçãoda dívida externa. Durante a década perdida, tivemossete anos seguidos de um penoso retrocesso, queexacerbou os problemas urbanos, sociais e regionais.Creio que o Brasil se deu conta que já não era maispossível seguir nesse caminho e que era necessáriofazer do comércio internacional e da inserçãointernacional uma variável dinâmica, crucial para odesenvolvimento e para a manutenção de taxas decrescimento compatíveis com o tamanho dapopulação, o ritmo de crescimento demográfico e asdisparidades sociais e regionais do país.

A partir desse momento, foi tomada a decisãode abrir o mercado brasileiro que, de certo modo,ocorreu de forma drástica, já que em poucos meses,no ano de 1991, decidiu-se baixar a tarifa média de50% que se praticava antes para um nível inferior a20%. A partir desse momento, inserimo-nosplenamente na negociação da Rodada Uruguai comoparticipantes ativos e não somente comoespectadores e, ao lado dos nossos sócios doMERCOSUL( Argentina, Uruguai, Paraguai) e doChile, com quem tivemos uma atuação muitopróxima, logramos obter importantes conquistas paranossas exportações e, por outro lado, assumimostambém uma série de obrigações compatíveis comas nossas intenções, ou seja, abertura de mercados,a existência de regras internacionais estáveisconhecidas e um sistema de solução de controvérsiaseficaz e, sobretudo, eqüitativo.

Com isso, creio, chegamos finalmente aMarrakesh, em abril de 1994, com resultadosbastante significativos. O acesso das exportaçõesbrasileiras aos mercados externos melhorou em maisde 50% no Japão, de 40% na União Européia e de

30 a 35% nos Estados Unidos, o que é um resultadoconsiderável. Ao mesmo tempo em que se pôsefetivamente em vigor o sistema, de tipo judicial naprática, de solução de controvérsias da OMC, o qualpermitiu, inclusive, que Brasil e Venezuela ganhassemum caso importante há poucos meses contra osEstados Unidos em matéria de gasolina, fortementediscriminada por esse país. Os norte-americanosperderam em todos os níveis e em todas as instânciasdo processo decisório. Temos agora em Genebra,na OMC, um organismo que com certeza ainda nãoestá consolidado e que tem suas crises, que tempassado por incidentes recentes frustrantes, como ofracasso da negociação de serviços financeiros, asuspensão da negociação em matéria detelecomunicações básicas e também o fracasso doacordo de serviço de transporte marítimo, os quaistem sido difíceis de negociar, basicamente, porquetem existido falta de cooperação dos Estados Unidos.Este é um fenômeno importante e preocupante emnossos dias — o fato desse país, havendo sido ogrande patrocinador da Rodada Uruguai, sem dúvidaalguma o país com a economia mais aberta e liberaldo mundo, estar se destacando pelas atitudesnegativas em matéria de comércio internacional,usando seu poder unilateral nos casos da Seção 301do “Trade Act” com relação ao Japão, China;envolvido em disputas sérias como esse caso dagasolina; com problemas gravíssimos agora criadospela lei Helms-Burton e pela lei D’Amato, quecaracterizam um princípio inaceitável deextraterritorialidade, enfim, uma lista lamentavelmentelonga.

Não estou aqui, evidentemente, para fazeruma arenga contra os Estados Unidos, até porquetemos ótimas relações, de muita franqueza e solidez.Esses comentários nós os fazemos como amigos ecomo aliados, mas é necessário fazê-los, porque estetipo de situação que se está produzindo nestemomento cria uma insegurança e uma vulnerabilidadeque põem a OMC à prova, algo perigoso e negativopara todos. Tenho certeza que os EUA não vão se

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transformar em algum tipo de fortaleza, tampouco opensamento das classes políticas americanasadmitiriam uma atitude como a que o SenhorBuchannan defendeu na campanha eleitoral, nasprimárias republicanas. Creio que não passa pelacabeça nem do Presidente Clinton nem do SenhorDole mudar substancialmente a situação, porémconsidero importante dizê-lo que, hoje, estaorganização básica, este sistema que é a OMC, estáenfrentando um momento de dúvidas e de angustiaspor ações tomadas basicamente pelos EUA. Esperoque seja possível reverter essa situação no curtoprazo. Isso é particularmente importante, porque nãoé por acaso que a OMC existe. A OMC representao desejo e a aspiração de todos os países paraorganizar um quadro de regras conhecidas e claraspara reger este fenômeno que hoje se chamaglobalização. A globalização, que não é uma ideologia,tampouco uma criação intelectual de quem quer queseja, mas, sim, uma forma sincera de descreverrelações de produção e modos de organização decomércio que se tem desenvolvido ao lado da buscada eficiência e da modernização das empresas e quetem sido possível pela agilidade da comercializaçãode bens, de transporte, de comunicações e todas asfacilidades que existem nos contatos humanos. AOMC é a culminação de tudo isso, é a constituiçãodo mundo globalizado, se é que se pode usar essaexpressão. Por esses motivos, acreditamos que éimportante que seja protegida e valorizada aomáximo.

Neste momento, inclusive, estamos já muitoadiantados na preparação da reunião ministerial deCingapura, prevista na Carta da OMC, que serealizará no mês de dezembro próximo e que sedestina a cumprir duas tarefas. Em primeiro lugar,avaliar como foi implementada a negociação daRodada Uruguai, como estão sendo respeitados oscompromissos que foram assumidos em várioscampos, sendo que para alguns, inclusive, não haviapraticamente regras de comércio internacional, comoé o caso dos têxteis, por exemplo, e o da própria

agricultura, nos quais os grandes países do mundofaziam o que bem entendiam em matéria de subsídioe de proteção. A partir do acordo de Marrakech,esses países assumem compromissos relativamentemodestos, porém claros, de diminuir a proteção e oapoio a agriculturas menos eficazes — uma conquistaimportante para todos, inclusive para os quepraticavam a Política Agrícola Comum, como osEUA e a União Européia. A reunião de Cingapurapossui uma segunda dimensão: a meta de tentar incluir,no corpo das regras da OMC, novas e mais audazescaracterísticas que não figuraram em Marrakech, jáque, ao longo dos sete anos bíblicos que durou aRodada Uruguai, não foi possível chegar a um acordosobre temas tão complicados como concorrênciaentre empresas, investimentos, padrões trabalhistasou cláusulas sociais e temas concernentes à relaçãoentre comércio e meio ambiente. Tudo isso é muitoambicioso e, somando-se ao que já estava sobre amesa, forma um conjunto impossível, mas agora é oSenhor Ruggiero quem deverá tomar as decisõessobre esses assuntos.

Nossa preocupação e a de muitos países emdesenvolvimento é a de não sobrecarregar a agendae a própria OMC. Já começa a haver, nesse contexto,uma reversão curiosa de posições em países comoMalásia e Índia, nos quais se nota um discursobastante contundente, e às vezes agressivo, emrelação à globalização, como se a globalização fosseum sistema como o socialismo, o comunismo ou onazismo — do que não se trata evidentemente — eculpando-a que marginaliza países, que criadificuldades de competição internacional em umasérie de setores, que cria a necessidade de umaeficiência as vezes muito cruel. Em nossa época, ocapitalismo vai-se tomando, outra vez, como em seuinício, um sistema bastante cruel, que desemprega,que utiliza robôs para substituir seres humanos e que,atendo-se a uma lógica muito clara e dura, tambémprovoca problemas e repercussões sociais grandes.Há, então, reações de muitos participantes sérios,países importantes, como Malásia e Índia, que

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começam a expressar dúvidas e angústias sobreaonde vamos. Não é o caso do Brasil, que tem, aocontrário, um propósito deliberado, talvez seja oobjetivo mais profundo do Governo do PresidenteFernando Henrique Cardoso, que é a inserção plenado Brasil na economia internacional com tudo o queisso significa, porque estamos convencidos de queessa é a melhor maneira de gerar crescimento comjustiça social, que são os objetivos máximos aalcançar.

Nossa preocupação, todavia, também é a denão sobrecarregar a agenda, ou seja, não acrescentarao conjunto de disciplinas da OMC uma série deregras que possam ser limitativas do desenvolvimentoindustrial, da melhor distribuição de riquezas ou desua distribuição harmônica entre as regiões dos paísesem desenvolvimento. Vale dizer, há hoje, creio, umdesafio fundamental e este desafio fundamentalconsiste, não em uma realidade, porque há estudosclaros e inteligentes que mostram que não é assim,mas, sim, há uma percepção crescente nas opiniõespúblicas, há muitos intelectuais supostamente de peso,em vários países ricos, desenvolvidos, que dizem queestá ocorrendo uma transferência de riquezas eempregos dos países desenvolvidos aos países emdesenvolvimento, como se a maior presença denossos países no conjunto do comércio exportadorinternacional e o fato de nós estarmos nosindustrializando, com nossas vantagens comparativas,fosse a causa do desemprego na Alemanha ou naFrança ou dos ciclos econômicos nos Estados Unidose da modificação da estrutura de ingressos nessespaíses.

Não vou me dedicar aqui, nem seria o caso,a dar aulas de economia e explicar-lhes porque nãoé assim, eu lhes peço que aceitem essa afirmação eposso até recomendar textos sobre o assunto. Dequalquer modo, como se diz em inglês, é“preposterous” crer que, por culpa dos países emdesenvolvimento, de seus desenvolvimento industrial,possamos estar causando graves perturbações na vidaeconômica dos Estados Unidos, por exemplo. Para

chegar a essa conclusão, é necessário recorrer a umgrau de populismo e de contundência, manipulando,a exemplo do senhor Ross Perot, determinadosdados e informações. É fácil e cômodo encontrarum culpado externo, sobretudo se for um país demenor força e desenvolvimento. É interessante e bompara o discurso político e há pessoas que estãopraticando esse esporte com entusiasmo: o SenhorGoldsmith, por exemplo, um político anglo-francês -e ser um político anglo-francês já é razoavelmentecomplicado - cujo discurso é protecionista do inícioao fim. Na base desse raciocínio, existe a intenção, aproposta de inserir no corpo das regras da OMCcláusulas trabalhistas, por exemplo. O discurso quese apresenta é o de que é preciso dar aos pobrestrabalhadores do mundo em desenvolvimento umpadrão de proteção social compatível com o que sepratica no mundo desenvolvido, para que não hajadesequilíbrios e para que não se cometam injustiças.

Evidentemente, ficamos muito comovidoscom esse grande interesse, esse espírito generosoque se está demonstrando agora, essa repentinacomiseração. Bem-vindos. Sabemos todos, porém,que não podemos ser ingênuos ao ponto de ignorarque se está tratando de encontrar muito discretamente(não seria bem-visto admiti-lo publicamente) meiosque possam propiciar resultados protecionistas. Disseao próprio Embaixador Mickey Kantor, do qual soumuito amigo, que compreendo muito bem o propósitoelevado que ele tem. No entanto, também consigoimaginar a cena de um senador de Massachusettsque vem avistar-se com o Sr. Kantor no seu escritórioem Washington e diz: “Veja Mickey, essa gente noBrasil tem uma porção de crianças trabalhando naprodução de sapatos. É necessário impor-lhes gravesrestrições porque é inaceitável que haja uma fábricacom 10 crianças tratando de colar sapatos. Use abendita 301 para os propósitos nobres das cláusulassociais a fim de fechar o acesso ao mercadoamericano de sapatos em nome dessa cláusulamagnânima e justa”. Isto é um motivo depreocupação, porque o sistema comercial não é um

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corpo de exortações, tampouco de regras amáveis ecivilizadas. Trata-se de um corpo de normas comsanções. Se não se cumpre o pactuado e os tribunaispertinentes assim o decidirem, se é obrigado a pagar,a compensar, a retirar, enfim, a adotar medidas quecausam variações patrimoniais muito claras. Não setrata aqui de decisões da Assembléia Geral dasNações Unidas, que são um pouco uma força moral,porém, seguramente, sem força comunitária. Aí não,nesse caso estamos falando de questões muitoprecisas, portanto temos que ter cuidado para sabero que inserir nesse livro, a fim de evitar conseqüênciasnegativas para nós mesmos.

Gostaria de passar ao tema da integração paraexpor-lhes algumas reflexões sobre como vemos oMercosul, nossas relações com os vizinhos - agorafelizmente sócios na América do Sul - e o Chile. OMercosul é seguramente uma prioridade central denossa , talvez, se tivesse de escolher uma prioridade,esta seria a “prioridade”, porque é o primeiro passodo processo de inserção internacional e de aberturada economia do Brasil. O Mercosul aproveita, semdúvida, a proximidade geográfica, que é um pouco alógica, a base de todo esse projeto, e aproveita acomplementariedade das economias vizinhas, sobrea base de um intercâmbio cada vez mais ágil e fluido,que vai criando comércio, em preços, riquezas - essessão os grandes feitos do Mercosul e sua trajetória odemonstra claramente. O Mercosul tem sido umgerador de riquezas, um multiplicador de empregose de oportunidades de negócios - uma substituição,não um desvio de fluxos comerciais. Basta dizer-lhesque, no período 88-94, o comércio interno doMercosul cresceu 300%. Cresceu de 3 a 12 bilhõesde dólares. O comércio do Mercosul com o restoda ALADI, ou seja, os sete outros países que nãopertencem ao Mercosul, cresceu de 4,6 a 9,7 bilhõesde dólares, isto é, 58 %, o que, creio, seja uma provacabal de que não há nenhuma contradição entre oexercício da integração aberta que estamosconduzindo e a manutenção de um padrão de relaçõeseconômicas internacionais totalmente compatível com

o espírito do GATT/OMC. A iniciativa do Mercosulfoi, naturalmente, o resultado de um ato de vontadedos governos; contou, porém, com a consolidaçãodos regimes democráticos no continente e com asuperação de rivalidades, diria antiquadas econtraproducentes, como, por exemplo, a que opôsBrasil e Argentina durante talvez quase 15 a 20 anosem uma corrida que nunca foi particularmenteexplosiva ou grave, mas que representava uma máutilização dos fatores produtivos e, sobretudo, dasenergias nacionais, das burocráticas e das forçasarmadas. Essas rivalidades estão totalmentesuperadas no caso de Brasil e Argentina. OPresidente Fernando Henrique Cardoso fez umaviagem a Buenos Aires em abril e a excelência dasrelações bilaterais ficou muito patente para qualquerespectador. No plano econômico, naturalmente, ooutro fator que tomou possível a criação do Mercosulfoi a superação dos modelos de substituição deimportações, a qual já me referi, e a adoção depolíticas voltadas para a inserção internacional. Porque o Mercosul, qual sua real utilidade? Em primeirolugar, o Mercosul funciona, evidentemente, comouma plataforma de lançamento para o mercadointernacional de nossas empresas. Vale dizer, umaempresa do Mercosul tem a oportunidade de transporsuas fronteiras e começar a atuar em um ambienteque não faz parte de sua cultura, de sua gente,movendo-se em um ambiente que originalmente nãoé o seu, que é parecido, porém não exatamente igual.

Esse é o primeiro grande benefício doMercosul. Em segundo lugar, o Mercosul prepara asempresas para exposição a uma maior concorrênciainternacional, isto é, funciona como um campo deprovas para esta exposição à competiçãointernacional. Em terceiro lugar, orienta os quatropaíses em direção a um modelo de mercado aberto,de um mercado global e competitivo.

Em quarto lugar, funciona como umaampliação de nossas circunstâncias nacionais, porquehoje, quando nos apresentamos nos EUA, na Europa,na Ásia ou na África como Mercosul, seguramente

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Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile tem maioraudiência e crédito do que se estivessemapresentando-se individualmente. Tal fato,naturalmente, facilita a formação de sociedades cominvestidores estrangeiros. Quando uma grandemultinacional pensa em um investimento, o fato deque existe o Mercosul confere-lhe vantagensadicionais muito interessantes, porque lhe permitevislumbrar um espaço maior, com uma infra-estruturamelhor, com dificuldades e barreiras mais limitadas.Por isso, nossa decisão é a de seguir nesse caminho,sem nenhum sentido de fechamento, sem nenhumaintenção de voltarmo-nos exclusivamente a nósmesmos; ao contrário, o propósito é o de irmos nosexpandindo em velocidades graduadas, porque nãose pode, naturalmente, pensar que vamos fazer issode uma vez só, porém nossa idéia é, pouco a pouco,ir conformando um espaço mais amplo com paísesda América do Sul, particularmente com Bolívia, comquem estamos muito próximos de firmar um acordo,posteriormente com Venezuela, Colômbia e Equador;talvez mais adiante o Peru, e talvez com outros países,seguindo uma negociação firme, porém tranqüila, nosentido da integração hemisférica.

Concordamos todos que a data de 2005 seráo marco do início do funcionamento da área de livrecomércio das Américas, e disso não nos afastaremos.Não temos a intenção de andar mais além, tampoucode cortar prazos, queremos nos ater a essecompromisso e, para cumpri-lo, queremos prepararbem as coisas, estudar os instrumentos, fazer asanálises comparativas e, sobretudo, saber o queefetivamente haverá de atrativo na mesa denegociação a partir de um certo momento.Logicamente que, para qualquer país das Américas,um acesso muito amplo ao mercado norteamericano,ao mercado dos EUA e do Canadá, é umaoportunidade atraente, porém, também temos acerteza de que nossos mercados são crescentes,dinâmicos e expandem-se, em certos terrenos, avelocidades que não existem no mundo desenvolvidoem matéria de ampliação de consumo de uma série

de bens. Então não estamos tratando de ser recebidosno paraíso, estamos tratando de fazer um acordoequilibrado em que haja vantagens para ambas aspartes e, por isso, naturalmente, necessitamos de umanegociação harmônica, na qual possamos obterganhos, oferecer oportunidades, porém semdesequilíbrios entre as ofertas mútuas postas à mesanas negociações.

Queremos, também, manter esse mesmo tipode relação com a Europa, já que a diversificação demercados é muito importante. Estamos convencidosde que constitui um “asset” do Brasil, e do Mercosulem geral, ter um importante sócio em seu comérciocom a Europa, pouco a pouco também com a Chinae com outros países. Essa diversificação é umpatrimônio que nos protege, que nos dá garantias desegurança e de oportunidades, e não seriaconveniente que alterássemos fundamentalmente essadistribuição que temos do nosso comérciointernacional para investir todas nossas esperançasem um só lugar, por mais atraente e por mais próximasque sejam nossas relações com os países americanos.Creio que, com a Europa, teremos claras dificuldadesna área agrícola, na negociação de produtosagroindustriais, nos quais somos muito competitivos,e para os quais praticamente não usamos subsídios.É uma situação que cria angústias e preocupaçõesna União Européia e, em particular, em alguns paísesque sabemos muito bem de quem se trata. Nãoestamos, tampouco, querendo dar um ultimato ouignorar realidades -políticas, econômicas eorçamentarias - cuja importância reconhecemos,porém, naturalmente, desejamos que nossa estruturaprodutiva e as vantagens comparativas que seapresentam em nossas economias, eficientesprodutores que somos de uma série de produtosalimentícios e agrícolas, sejam reconhecidas e quenossa oportunidade de competir no mercado europeuseja assegurada. Vejo que acaba de chegar meuamigo Ernesto Tironi, colega de armas na Rodada.Sei que esse discurso que estou fazendo nestemomento é um discurso que ele fez com grande brilho

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e autoridade. Esse é o desafio que temos em nossospaíses. O Chile e os quatro países do Mercosul estãoabsolutamente identificados nesta batalha queenfrentamos absolutamente juntos em Genebra.

Por fim, gostaria de dizer que estamos agoraconfiantes em que havendo chegado, depois de umano e meio, a um acordo minucioso, equilibrado, quenão é cem por cento satisfatório para ninguém, comodevem ser os bons acordos, porém que é razoávelpara todos. Temos no Chile um sócio no qualdepositamos muita confiança e nutrimos muitaesperança porque o vemos não somente como umsócio comercial a curto prazo, mas como um paísque, em poucos anos, pela própria lógica da evoluçãode nossas economias, será incorporado plenamenteao Mercosul. O único impedimento para isso eraexistência de uma tarifa externa comum, porém, jáse vê que temos uma tarifa externa média de 12% noMercosul. O Chile está na faixa de 11%. Claro quedevemos levar em conta as perfurações causadaspelos diversos acordos bilaterais e multilaterais. Detodo modo, as distâncias não são imensas e são,sobretudo, muito compatíveis com as velocidades deexpansão de seus comércios. o comércio com Chilecresce a passos gigantes, muito superior à taxa decrescimento da economia brasileira em geral. Temosum comércio que passou de 1,2 a 1,8 e agora estáem 2,4 bilhões de dólares, e já ultrapassamos a marcade 1 bilhão nos primeiros seis meses deste ano,somente entre Chile e Brasil. Trata-se de

circunstância que nos dá a garantia de que vamosconstruir relações importantes entre Chile e Mercosule temos certeza de que o Chile acrescenta muito aoMercosul na medida em que traz uma classeempresarial que já aprendeu a funcionar, a nadar nesteoceano da globalização, um Governo que aprendeua organizar sua relação com a economia aberta, quejá realizou grande esforço de privatização em setoresformidavelmente eficientes, como telecomunicaçõese uma série de outros campos. Há toda uma série desinergias evidentes em termos comerciais, detransporte, de acesso a mercados e tal fato, creio, épositivo, inclusive porque serve, como dizia no início,com relação a Brasil e Argertina, à superaçãodefinitiva de antigas rivalidades e antigos problemasque no passado serviram como freios à aproximaçãoentre os dois povos. Por isso, para concluir, SenhorSubsecretário, devo dizer-lhe que nós acreditamosque o Chile vai dar uma contribuição muito importanteao Mercosul e que vai melhorar sua estrutura e porteem geral. Da parte do Ministério das RelaçõesExteriores do Brasil esta afirmação não possui nadade extraordinário e de novo. A amizade entre Chile eBrasil é secular e muito sólida, nunca tem variado,porém creio que de todos os modos é oportuno falar-lhes sobre comércio e integração, dizer-lhes que issoé uma afirmação totalmente não retórica, é umaafirmação absolutamente sincera e objetiva de minhaparte.

Muito obrigado.

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Em nome do Governo e do povo brasileiros,dou as boas vindas a Vossa Excelência e à comitivaque o acompanha.

Nós, brasileiros, interpretamos sua visita aonosso país como uma demonstração de interesse eapreço, que procuraremos retribuir com a plenadisposição de aprofundar os laços de cooperaçãoque unem o Brasil e o Mali.

Esta é, assim, uma noite de congraçamentoentre brasileiros e malineses, uma ocasião paracelebrarmos uma amizade que ganha novo impulsocom sua presença entre nós.

Senhor Primeiro-Ministro,Temos acompanhado o processo de

redemocratização e as amplas reformas econômicasque Vossa Excelência e o Presidente Alpha Kounarévêm implementando com êxito.

Aplaudimos a assinatura, em março passado,do Acordo de Paz e Desmobilização, que lançou asbases para a consolidação das reformas em seu paíse para a criação de um ambiente interno detranqüilidade e harmonia. Este ambiente é um passofundamental para que o Mali possa lançar-se agora,como o vem fazendo, na busca do desenvolvimentocom eqüidade e de sua plena inserção na economiamundial.

O Brasil vem igualmente passando por umamplo processo de reforma das estruturaseconômicas e de reformulação do papel do Estado.

Sabemos que se trata de desafio complexo,que não se limita a transformações institucionais;envolve, necessariamente, formas novas dearticulação entre o Governo e a sociedade. E asmudanças têm de ser conduzidas no marco dademocracia, que tem um ritmo próprio, ditado pelanecessidade do diálogo e da negociação constantese necessários para conferir legitimidade ao processodecisório.

Nós, brasileiros, temos plena consciência deque somente de forma democrática será possível aconstrução do Brasil que desejamos: um Brasileconomicamente sadio, socialmente justo, coeso eharmônico no seu interior e solidário em suas relaçõesinternacionais.

Senhor Primeiro-Ministro,Esses valores democráticos que brasileiros e

malineses compartilhamos constituem um importanteelemento propulsor de nosso relacionamento bilateral.

Identificamo-nos, o Brasil e o Mali, comopaíses em desenvolvimento, em estágios diferentes,é verdade, mas com desafios, oportunidades e riscoscomuns nas áreas econômica, social, ambiental emesmo política.

E o Brasil se identifica com a África, cujacontribuição cultural e étnica para nossa formaçãovalorizamos como um dos maiores patrimônios deque dispomos e que nos singulariza como nação. Porisso, a África ocupa um espaço insubstituível da

Brasil-Mali

Brinde do Presidente da República, por ocasião do jantarque oferece ao Primeiro-Ministro da República do Mali,Senhor Ibrahim Boubacar Keita. Brasília, 21 de agosto de1996

58 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

política externa brasileira.A opção pela democracia e as reformas

econômicas abrem novos horizontes de cooperaçãopara países que, como o Mali, podem tornar-semodelos para o renascimento africano.

O Brasil quer participar desse renascimento.E queremos participar com fórmulas

inovadoras e criativas, no âmbito de um esforçoconjunto para o desenvolvimento de parceriasmutuamente satisfatórias, com pragmatismo eobjetividade. A cooperação com os países da Áfricaapresenta para nós o atrativo adicional de que nãoprecisa ser necessariamente baseada apenas nasgrandes empresas do Sul-Sudeste, mas oferecetambém perspectivas promissoras para empresas demenor porte sobretudo do Nordeste brasileiro.

Em suma, queremos trabalhar para estreitarnossos laços de cooperação com a África, e com oMali em particular.

Senhor Primeiro-Ministro,Sua visita dá expressão concreta a esse desejo

de fortalecer nossos vínculos de cooperação eamizade.

O Brasil está pronto para identificar todas asoportunidades de cooperação e intercâmbio com oMali e trabalhar para viabilizá-las, com umapermanente disposição de estimular as iniciativas demaior visibilidade e efeito multiplicador.

E é com esse espírito e na certeza de que omundo todo ganhará com o progresso africano quelhes peço que me acompanhem em um brinde àamizade entre o Brasil e o Mali, à prosperidade debrasileiros e malineses e à saúde e felicidade pessoaisdo Presidente Alpha Kounaré, do Primeiro MinistroIbrahim Boubacar Keita e da Senhora Aminata

59Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Em nome do Governo brasileiro, quero maisuma vez dar-lhe as boas vindas a Brasília e expressar-lhe a satisfação genuína com que recebemos a suavisita. Ela é mais um sinal expressivo da sólidaamizade que une os nossos povos.

O Governo brasileiro tem acompanhado cominteresse o papel de crescente importância que oJapão vem assumindo nas relações internacionais,graças à liderança segura de Vossa Excelência dentroe fora do seu país.

Sua liderança é, para nós, garantia de quetemos no Governo japonês um interlocutor de grandesensibilidade, capaz de situar em posição prioritária, comobjetividade e sentido de futuro, a parceria com o Brasil.

Sua liderança é capaz de compreender quenossas relações devem estar em sintonia com ainigualável densidade humana sobre a qual se baseiaa amizade entre o Brasil e o Japão, derivada da forçada imigração japonesa no Brasil e, maisrecentemente, da imigração brasileira no Japão.

Em momento de profundas transformações nasrelações internacionais, é fundamental que os Estadossaibam dialogar de forma aberta, democraticamente e,sobretudo, com sentido de solidariedade.

Esta é a visão do Brasil; e é desta forma quequeremos participar mais ativamente do processointernacional. O Japão é protagonista essencial nesteprocesso e estou seguro de que sua atuação saberáatender às expectativas que todos temos de construirum mundo de paz, eqüidade e desenvolvimento.

Senhor Primeiro Ministro,É um fato político eloqüente que Vossa

Excelência venha ao Brasil menos de seis mesesdepois de minha visita de Estado ao Japão. É umreencontro que consolida o interesse recíproco pelaparceria brasileiro-japonesa.

A visita do Casal Imperial em março dopróximo ano, além do seu simbolismo próprio, seráo marco máximo deste início do segundo século daamizade entre o Japão e o Brasil.

A aproximação diplomática entre nossospaíses, no mais alto nível, expressa de forma objetivae produtiva o quanto as nossas relações puderamprosperar nos últimos tempos. E traduz um patamarnunca antes alcançado no relacionamento entre doisparceiros tradicionais e muito próximos, ligados porinteresses permanentes e uma abrangente presençainternacional. Ela traduz também uma etapa favorávele segura do desenvolvimento brasileiro, tanto doponto de vista político e econômico, quanto do pontode vista da nossa inserção na região e no mundo.

Nada ilustra melhor essa nova projeçãoexterna do Brasil do que o sucesso crescente doregionalismo aberto que estamos construindo noMercosul, agora enriquecido com a associação doChile e a perspectiva de novas associações naAmérica do Sul. O Mercosul é a expressão regionaldo compromisso brasileiro com o multilateralismo ecom a liberdade no comércio internacional.

Acompanhando de perto o desenvolvimento

Brasil-Japão

Discurso do Presidente da República, por ocasião do almoçoque oferece ao Primeiro-Ministro do Japão, Senhor RyutaroHashimoto, Brasília, 26 de agosto de 1996

60 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

das nossas relações, Vossa Excelência sabe que oBrasil mudou, e para melhor.

Temos consciência de que ainda há muito afazer. Mas os progressos feitos em termos de reformase de modernização, o impulso do fortalecimento da nossaeconomia que ganha competitividade, a melhoria dodesempenho social combinam-se para dar resposta aoanseio de toda a sociedade brasileira por um futuro dejustiça e progresso.

Estamos trabalhando para isso, nos tempose ritmos próprios da democracia, e com a segurançade que temos estabilidade política e um rumo definidoa seguir.

Por todos esses motivos, temos avançadomuito na amizade Brasil-Japão. Refiro-me a aspectosmuito concretos ao falar desse avanço, a passosfirmes que temos dado notadamente depois da visitapresidencial a Tóquio.

Falo de uma intensificação sem precedentesno número de visitas e missões voltadas para camposespecíficos e substantivos das relações — o diálogopolítico, os investimentos, a cooperação financeira ea cooperação técnica.

Falo de contratos específicos como o que aPetrobrás assinou com empresas japonesas para aconstrução de uma plataforma de exploraçãosubmarina.

E falo das decisões da Honda e da Toyotade investir na produção de automóveis no Brasil,aproveitando a consolidação do mercadoautomobilístico brasileiro, uma política eficiente parao setor e as oportunidades criadas pela estabilizaçãoe pelo desenvolvimento brasileiro e pelo potencial doMercosul.

A indústria automobilística, carro-chefe dodesenvolvimento industrial brasileiro a partir dos anos50, entrou recentemente em um novo ciclo deexpansão e modernização tecnológica, em sintoniacom um modelo de desenvolvimento aberto e maiscompetitivo. É bom saber que empresas japonesasestarão agora participando diretamente de um saltoqualitativo no desenvolvimento dessa indústria no Brasil.

Tivemos há pouco, nas consultas querealizamos sobre a questão do regime automotivobrasileiro, uma prova de maturidade e abrangênciadas nossas relações. Chegamos a um compromissoequilibrado que expressa nossa capacidade deentendimento e visão do futuro, além da disposiçãode atender aos objetivos do sistema multilateraldecomércio. O compromisso representa uma garantia,enfim, de que compreendemos o quanto é necessárioque relações do porte e da significação das nossassejam de fato mutuamente benéficas.

Senhor Primeiro-Ministro,Estamos ingressando no segundo século da

amizade nipo-brasileira da melhor forma que seriapossível conceber.

A vitalidade dessa amizade está em suacapacidade de renovar-se, de adaptar-se à evoluçãodos tempos e das circunstâncias.

Essa é a melhor homenagem que nóspoderíamos fazer aos imigrantes anônimos queteceram e continuam a tecer as fibras de uma relaçãosingular, única, entre um grande país desenvolvido eum grande país em desenvolvimento.

Esse elo humano nos aproxima apesar dasdistâncias que a geografia, a história e a cultura nosimpuseram.

Nada poderia expressar melhor apermanência e a força desse elo do que dar às nossasrelações, pela ação dos Governos, dos empresáriose dos cidadãos, um caráter especial.

Nós estamos fazendo isso. Celebramos, coma visita de Vossa Excelência, uma nova era na nossaamizade.

É por isso que peço a todos que meacompanhem em um brinde a essa nova era dasnossas relações, à prosperidade do povo japonês, àsaúde de Suas Majestades os Imperadores do Japãoe à felicidade e ventura pessoais de Vossa Excelênciae da Senhora Hashimoto.

Muito obrigado.

61Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Senhor Presidente do Comitê deRepresentantes,

Senhor Secretário-Geral da ALADI,Senhores Representantes Permanentes,Senhores Secretários-Gerais Adjuntos,Minhas Senhoras e meus Senhores,É para mim motivo de grande satisfação ser

recebido, em sessão solene, na Casa da Integraçãolatino-americana pelo Comitê de Representantes daALADI. Nos trinta e cinco anos de profícuo trabalhodesta Associação, que compreendem o projeto inicialcorporificado na ALALC e sua atualização pelaALADI e o Tratado de Montevidéu-80, vimos amontagem, em Montevidéu, de um laboratóriopioneiro em matéria de experiências de integraçãoeconômica e comercial. As fases iniciais do processoforam caracterizadas por um regionalismo ortodoxo,que não se coadunava com a realidade do modelode desenvolvimento daquela época, e pelofortalecimento decorrente do Tratado de Montevidéude 1980, que trouxe flexibilidade jurídica aoprocesso.

Atualmente, o perfil de complementaridadedas pautas do comércio latino-americano e suaacrescida amplitude apontam para a constituição deuma massa crítica verdadeiramente capaz de induzira uma profunda integração dos processos nacionaisprodutivos, comerciais e financeiros.

Assim o demonstram as estatísticas decomércio “intra-aladiano”, em particular nos últimos

cinco anos:a) O comércio “intramercosul” deu um salto

qualitativo e cresceu cerca de quatro vezes, de 1991a 1995, atingindo 15 bilhões de dólares, dos quaisquase 13 bilhões constituem intercâmbio com o Brasil,nos dois sentidos.

b) O comércio entre o Brasil e seus sóciosda ALADI não membros do Mercosul cresceu, apósa assinatura do Tratado de Assunção, 70 por cento,o que demonstra que o aumento de intercâmbiodentro do Mercosul não ocorreu às expensas dedesvio de comércio com os demais sócios daALADI.

Empiricamente, comprovou-se, portanto,que o processo de integração caracteriza-se por seraberto, ao propiciar aceleração do “ciclo” comercialdos países sócios.

Senhor Presidente,Pode-se perguntar se o comércio intra-

regional é efeito derivado, única e exclusivamente,da onda globalizadora internacional. A resposta éfrancamente negativa. Pensar assim seria desmerecero papel desta Associação e de cada um de seusintegrantes. A macroestrutura econômica internacionalmudou. Mas também mudou a Associação e, maisimportante ainda, todos os países da região realizaramreformas direcionadas à sua melhor inserção naeconomia regional e internacional, no bojo de ummovimento convergente de promoção do

ALADI

Discurso do Vice-Presidente da República, Marco Maciel,em sessão solene do comitê de Representantes da Aladi,Montevidéu, 27 de agosto de 1996

62 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

desenvolvimento econômico e social e dereconstrução da democracia.

Esgotou-se, com o tempo, o projeto dedesenvolvimento nacional autárquico, que nosorientou a todos até os anos 80. Simultaneamente, aregião engajou-se, com ímpeto político, naconformação de acordos sub-regionais e bilaterais,de nova geração: substituímos as negociaçõesproduto a produto e de reduzida margem efetiva deabertura - características da ALALC – por novasistemática. Hoje, as negociações abarcam todo ouniverso tarifário, implicam aumentos substanciais,programados e automáticos da margem de acessoaos mercados respectivos e incluem ampla normativacomercial.

Os fundamentos nacionais oferecem umabase sólida ao processo de integração. No caso doBrasil, a estabilização macroeconômica e a maiorabertura do mercado brasileiro constituem,possivelmente as contribuições mais marcantes quepodemos propiciar ao objetivo comum de integraçãolatino-americana. Por isso afirmamos, sem exagero,que o “Plano Real” extravasa, em seusdesdobramentos, o mero âmbito da economianacional.

Assume papel de virtual garante da ativaparticipação brasileira no processo integracionista.

Ressalto, a propósito, os dois parâmetrosreferenciais da política comercial externa do GovernoBrasileiro. De um lado, o patamar máximo deharmonização de regras multilaterais de comércio;de outro, a frente necessariamente móvel de nossosesforços sistemáticos de inserção na economiaregional e internacional.

O Mercosul vale primordialmente comoinstrumento de aproximação entre países irmãos, quecompartilham os mesmos valores culturais, a mesmasedimentação histórica e uma geografia rica emrecursos naturais.

Mas a União Aduaneira do Mercosul étambém uma “plataforma de ensaio” para a projeçãoexterna dos esforços nacionais de integração que,

congregados, atuam com peso maior no competitivoe avassalador mercado global. Nossa “plataforma”é útil não só para os quatro Estados Partes, comotambém para os demais países sócios da ALADI.Daí nossa convicção de que a ampliação do esquemaquadripartite, via acordos “4 mais 1”, conduzirá aoaprofundamento dos fluxos intra-regionais decomércio e investimentos, em benefício de todos.

Outra faceta importante do Mercosul é o seurealismo em termos de direitos e obrigações. Acoincidência entre a construção da União Aduaneirae o encerramento da Rodada Uruguai fez com queos quatro sócios pudessem aproveitar a oportunidadeda elaboração da normativa sub-regional tambémcomo forma de assimilar os padrões mais elevados,resultantes da Ata de Marrakesh, de 1994.

A assunção desses padrões constitui, em si,desafio de proporções consideráveis, na medida emque, até o passado recente, as relações das economiaslatino-americanas, entre si e com o mundo,submetiam-se a níveis ainda atenuados de direitos eobrigações, graças à vigência de um arcabouço deexceções e tratamentos especiais para países emdesenvolvimento. A assimilação de direitos eobrigações em grau condizente com os de paísesaltamente desenvolvidos é um esforço que devemos,em todo momento, respeitar e valorizar, razão pelaqual consideramos prematuro aceitar, no momento,compromissos adicionais aos derivados da RodadaUruguai.

Senhor Presidente,O firme engajamento governamental brasileiro

com a integração hemisférica tem se refletido emparticipação construtiva e pragmática desde Miami,e, mais recentemente, na assunção da “PresidênciaPro-Tempore” informal da ALCA, por decisãounânime ministerial de Cartagena, que muito noshonrou. Ao longo deste ano e do próximo, o Brasilserá sede de três reuniões de Vice-Ministros e, emmaio de 1997, acolheremos, na cidade de BeloHorizonte, a reunião anual de Ministros da ALCA.

63Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

O Governo de Brasília espera contar com acooperação dos demais integrantes desta Associaçãono sentido de juntos alcançarmos progressosexpressivos na preparação das negociações daALCA. Estes progressos devem ser sólidos e, paraisso, devem partir dos acordos regionais existentes,ou seja, devem obedecer ao princípio dos “buildingblocks” - elemento fundamental do consenso quepermitiu o lançamento da ALCA na Cúpula de Miami.Só assim estaremos preservando o patrimônioacumulado, ao longo de trinta e cinco anos, pelaALALC e pela ALADI, ora em vias deaperfeiçoamento.

Senhor Presidente,À luz das mudanças nos planos global,

regional e sub-regional, a ALADI necessita cada vezmais operar na base de uma “Agenda de AçãoImediata”, que nos auxilie a organizar, com realismo,as ações cotidianas e a estabelecer, criteriosamente,grandes prioridades, em cada etapa do caminho daintegração.

Ao aproveitar as oportunidades que sedescortinam, com vistas a potencializar projetos aindamais amplos, não podemos, contudo, perder de vistaos rumos traçados por nossas políticas e a relevânciadas conjunturas nacionais.

Para o Brasil, a “agenda de ação imediatapara a ALADI” de alguma forma já se encontra,ainda que indiretamente, determinada pelo somatóriode negociações do tipo “4 mais 1” iniciadas entre oMercosul e seus demais sócios regionais.

Tais rodadas negociadoras, motivadas pelaemergência do Mercosul como União Aduaneira epela necessidade de evitar perfurações à tarifa externacomum, permitirão ampliar os atuais fluxos decomércio e conduzirão a significativo aumento doacesso comercial entre todos os membros daALADI.

Senhor Presidente, Ao visitar a Casa da Integração, não poderia

deixar de enfatizar um fato novo em meu país: acrescente conscientização da sociedade quanto aopapel a ser desempenhado pelo Brasil como elementode articulação da integração latino-americana.

O Congresso Nacional está se voltando cadavez mais para as questões externas, prestandocrescente atenção ao processo de consolidação doMercosul e ao significado dos acordos que estamosfirmando ao amparo do Tratado de Montevidéu. Essaextroversão do Congresso Nacional reflete, por suavez, a percepção generalizada da sociedade civil deque o aprofundamento dos acordos regionaisrepercutirá de forma concreta no cotidiano doscidadãos.

Até o presente, assistimos, como era natural,quase tão somente à mobilização das regiões sul esudeste brasileiras em torno do projeto da UniãoAduaneira. Hoje, todavia, com a ampliação dopróprio Mercosul e a perspectiva dos acordos comnossos outros vizinhos, já testemunhamos um aumentoda mobilização de outras regiões brasileiras, comrespeito à problemática integracionista. Em particular,o Nordeste brasileiro e a Amazônia.

A esse respeito, registro, com especialsatisfação, o surgimento de iniciativas que enfatizamos vínculos entre o processo de integração e asdinâmicas econômicas do Nordeste e da Amazônia.Tive, inclusive, a oportunidade de presidir, em váriasocasiões, mesas de debates, encontros empresariaise rodadas de negócios Mercosul/Nordeste,realizados em diversas capitais nordestinas, bemcomo seminário Mercosul/Norte, que reuniu diversasautoridades e líderes empresariais da região emManaus. Esses eventos têm permitido um intercâmbioenriquecedor entre o público em geral, autoridadesbrasileiras e representantes dos países do Mercosule demais parceiros regionais.

Ressalto, também, a recente abertura de umescritório do Ministério das Relações Exteriores doBrasil no Recife, na sede da Superintendência doDesenvolvimento do Nordeste, cujo titular integra aminha comitiva, juntamente com o presidente do

64 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Serviço Nacional de Apoio à Pequena e MédiaEmpresa, o Diretor de Planejamento do Banco doNordeste e presidentes de federações de empresáriosdaquela região e de instituições de desenvolvimentotecnológico.

Esse processo de “interiorização” da brasileira ajuda a formar percepções diferenciadas,a articular o regional brasileiro com o grande espaçolatino-americano, que a todos nós confere identidade.De alguma forma, assim se completa um círculo,iniciado com o Tratado de Montevidéu - 1960 e aALALC, quando a integração era expressão quasetão somente da vontade política dos Estadosassociados. Hoje, a integração latinoamericanadeixou definitivamente de ser tema exclusivo daagenda do Estado para se tomar questão vital para

cada uma de nossas sociedades civis.Essa longa evolução, essa apropriação da

problemática da integração pelo conjunto doscidadãos é, ela também, um indicador a mais, e talvezo mais importante, para avaliarmos o quantoprogrediu, na realidade concreta, o que já foi projetoquase utópico das elites políticas latinoamericanas.

Senhor Presidente,O desejo do Governo brasileiro é que os

esforços do Mercosul e dos outros sócios regionaise da ALADI possam frutificar em mais crescimentoeconômico, fortalecimento político e democrático ebem-estar social, como forma de enriquecer opatrimônio comum da América Latina.

Muito obrigado.

65Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

I am very glad to have the unique opportunityto take part in this important workshop and to presentmy views on the most significant developments in LatinAmerica and Brazil over the past twelve months.

Much has happened during this brief period,and we must be careful not to interpret events bywhat they seem on the surface. Everyone knows thatthe way of the financial market is to react swiftly toboth positive and negative scenarios, and that thisfrequently leads to overrated expectations one wayor another. What we need to do is to make a soberevaluation of underlying economic factors andconditions, for it often shows that the truth is neitheras good nor as bad as imagined, but is usuallysomewhere in the middle.

This, in a few words, is what happened tointernational perceptions about Latin America - and,to a certain extent, about Brazil - before and after therecent financial market crisis. If prior to the devaluationof the Mexican peso in December of 1994 LatinAmerica was being generally perceived as a newhaven for foreign capital, the ensuing difficulties thatafflicted countries of the region with more or lessintensity led to immediate capital flight in fear of awidespread economic debacle.

As it turns out, the financial market crisisproved that Latin America was not the financialsanctuary that had been loudly advertised, but nordid the region’s economies collapse one after the other

from structural weakness, as some had prematurelyforeshadowed. While the effects and lessons of thefinancial market crisis are certainly not circumscribedto Mexico alone, they have prompted a much neededevaluation of the political and economic reformprocess undergone by the region over the last fewyears. And the conclusion that can be drawn, takinginto account the particularities of each country,certainly allows for optimism, especially with regardto Brazil.

In order to shed some light on the events ofrecent months, I thought it would be useful to brieflyoutline some of the main characteristics of the reformprocess undergone by Latin America over the lastfew years, for they provide a unique insight into theevents of recent months.

1) DemocracyThe first important aspect to have in mind

when looking at the changes that have taken place inLatin America is that political reform precededeconomic reform in almost every country. By the endof the 1980’s, democracy had been restoredpractically everywhere, putting an end to authoritarianregimes that, in some cases - like Brazil itself -, datedback twenty years.

Economic stagnation, as a result of theexhaustion of the import substitution developmentmodel, and the debt crisis were the essential factors

Pronunciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãoda abertura do Seminário de Villa D’este (Itália), sobre otema “Latin America And Brazil: After The Storm”, VillaD´Este, 1º de setembro de 1996

Abertura do Seminário de Villa D’este

66 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

behind the erosion of authoritarian rule in the region.By the early nineties, when economic reform is finallyundertaken by the vast majority of Latin Americancountries, democracy was firmly in place in many ofthem.

Democracy has in some places served thepurpose of cleaning up the political way of life, throughgreater accountability of governmental action.

And, if it is true that some democracies in LatinAmerica have faced difficulties, it is important to noticethat they have been dealt with on strictly constitutionalbases, as the option of a regression to authoritarianrule is no longer viable. Thus, democracy in LatinAmerica translates, in the medium and long-terms,into stability, a much valued international asset.

I want to emphasize that this implies animportant break with the past, when economic policieswere planned and executed with little concern forpublic opinion. The fact is that many reformers of the1990’s have risen to power through the democraticprocess and have generally counted on the supportof large constituencies for their ideas, not onlyfacilitating their implementation but also accordingthem greater legitimacy.

The genuine belief that economic reform wasthe road to development and social progress foundextraordinary expression among Latin Americans ingeneral, and is one of the core elements thatdifferentiates this reform process from those thatpreceded it. This change in behavior is graphicallyillustrated by the vastly different reactions to the 1982and 1994 financial crises. In 1982, the majority ofLatin American countries reacted to the Mexican debtcrisis by adopting more protectionist, statist andnationalistic policies, while what we have seen in 1995is a deepening of reforms in the region with the generalsupport of populations.

If this remarkable change is due to someextent to the political considerations I have justdescribed, economic conditions also played a decisiverole in determining the course of action undertakenearly this year by many Latin American countries.

2) Latin America and the Washington ConsensusAs I have pointed out, economic reform

generally followed political reform in Latin America.Not only that, but it also took place amidst rapidlychanging international realities, in which the demiseof real socialism proved to be inversely proportionalto a renewed faith in free market capitalism. This cameto be referred to as the “Washington consensus”,which basically meant a general agreement that theroad to economic success for developing countrieslaid in free market policies - trade liberalization,privatization, fiscal balance, and a stable exchangerate - allied with a strong currency.

But this moment also coincided with aparticularly favorable set of circumstances ininternational financial markets. Interest rates indeveloped countries were low, especially in the UnitedStates, and there was a surplus of capital looking fora safe port. Not only that, the structure of investmentwas changing, as individuals and enterprises lookedincreasingly towards stocks, bonds and mutual funds.

It was in this context that most Latin Americancountries engaged in economic reform in the early1990’s. Foreign capital saw in this processextraordinary opportunities for large profits, as theimplementation of free market policies producedimmediate macroeconomic effects in previouslystagnated economies. The subsequent result was ahuge inflow of capital into emerging markets as awhole, and those of Latin America in particular.

This flow of investment to the region was amixed blessing. On the positive end, it helped toeliminate internal opposition to the reform processand served as an incentive for the spread of reformsto neighboring countries, as it became clear thateconomic policies along free market lines wererewarded by foreign investment. On the negative end,it delayed the implementation of deeper structuralreform, as arriving foreign capital was used to financebalance of payment deficits, easing the political costof economic reform. This increased substantially thedependence of reforming countries on international

67Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

capital flows.When events in Mexico led to a confidence

crisis among investors, capital flight was immediateand of immense proportions, as much of it wascomposed of highly volatile short-term portfolioinvestment. This flight was not limited to Mexicoalone. Most countries of the region, including Brazil,saw their access to foreign capital considerablyrestricted in the first trimester of 1995.

However, contrary to what was initiallyforecasted, the withdrawal of investors from the regiondid not lead to widespread economic chaos. LatinAmerican countries, with more or less difficulty, havemanaged to maintain the course of their reforms andare, in general, recovering from the setbacks of thefirst hours.

3) Brazilian reform: why there is a difference This brings me now to economic reform in

Brazil, which has some particulars that set it apartfrom the general process in Latin America as I havedescribed it.

First of all, Brazil is a relative latecomer toeconomic reform along freemarket lines whencompared to countries like Chile, Argentina andMexico, which began their respective reformprocesses earlier. It is true that the initial steps towardliberalization in Brazil were taken back in 1990, butthese were not nearly as encompassing as what wasbeing done in other Latin American countries. It wasonly in 1994, with the introduction of the Real Plan,that Brazil finally and fully engaged itself in an organiceconomic reform process.

This “delay” can be partly attributed to aninternal political situation that involved theimpeachment of a President - an ordeal, by the way,that contributed much to the strengthening of Brazil’sdemocratic institutions. But, more than anything, itreflected the natural timing of the democratic debateregarding free-market economic reform in a countryof great social complexity such as ours. Nevertheless,it was common in those days to see references to

Brazil as “Latin America’s white elefant”. It wasthought by some that, while other countries of theregion raced toward integration into the internationaleconomy, Brazil was condemning itself to economicbackwardness.

As later events came to show, the deliberatepace we established actually consolidated the overallcharacter of our reform process. I will try to explainthe reasoning behind this affirmation in the context ofthe Latin American scenario.

In comparison to what was happening in otherLatin American countries that were already far alongthe reform process, Brazil was not benefitted by thelarge flows of foreign capital into Latin America duringthe early years of the decade. This certainlycontributed to the “white elephant” image, but it alsoforced us to look carefully for our own solutions tocertain problems and to craft a clear economicstrategy.

The Real Plan translates this strategy intopractice. It basically seeks to modernize the Brazilianeconomy, preparing the country for deep integrationinto international capital, trade and technology flows.The Plan is based on a stable currency and an openeconomy, to be achieved on a long-term basis througha profound transformation of Brazilian economicstructures.

The introduction of a new currency, the Real,was at the center of our economic strategy, but itwas preceded by measures aimed at setting theappropriate groundwork, such as balancing publicfinances and resolving the internal and external debtproblems, as well as tight controls over monetary andexchange policy.

As a result, inflation in Brazil - which at almost50% a month had reached levels that were seriouslydisrupting the functioning of the national economy -dropped to an average of just 2% a month over thefirst year of the Real, the lowest indicators in over 20years. In the first semester of 1995, inflation barelysurpassed 11%. Economic growth acceleratedsubstantially to 7.8% from July 1994 to June of this

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year, compared to 3.5% in 1992.Consumption soared as the end of the

“inflationary tax” raised purchasing power levels,especially for lower income segments. Economicactivity indicators were at an all-time high, as industrialgrowth over the first year of the Real reached 9.6%.Investment went up from 13% of GDP in 1992 toalmost 19% earlier this year.

These numbers are eloquent and provideample reason for optimism about the future. However,there is a clear conscience in Brazil that theseadvances, although a major and irreversible stepforward, are not enough to sustain economic stabilityin the long run.

We have thus moved immediately to the morecomplicated process of structural reform of theBrazilian economy. Restrictions on foreign capital havebeen eliminated. Areas formerly closed to foreigninvestment, such as telecommunications, energy andoil, have been opened up. Market reserves in theshipping and mining sectors have been abandoned.

We are confronting the task of modernizingthe public sector, through social security reform, taxreform, more intense privatization and concessionsof public services to the private sector. We believethat this package will create the necessary conditionsfor Brazil to successfully compete for investment,technology and markets on a global scale.

It will also allow us to promote better incomedistribution and to integrate marginalized segmentsof the population into the Brazilian market, fosteringfar-reaching economic development with socialjustice.

4) Prospects for Brazil and Latin AmericaAn analysis of the Brazilian case shows

therefore that our reform process was not subject tothe self-reinforcing cycle which led to the speculativebubble that burst in December of 1994. Exactlybecause we were latecomers to the reform process,we survived the financial crisis relatively unscathed.

The loss of currency reserves in the first

trimester - some US$ 5 billion, basically in short-term portfolio investment - has been subsequentlycompensated by larger gains over the last fourmonths, which have placed our reserves at thecomfortable level of over US$ 40 billion.

This is an important development, for it clearlyshows that investor confidence in Brazil has notwaned, even after the financial crisis. Our reformprocess has proven to have solid foundations, andthe evident political will to push ahead with it isreflected in the positive market perception of Brazil.

This, in turn, reinforces and is reinforced bythe Latin American recovery from the reality checkof December last. As I said earlier, fundamentalpolitical and economic conditions in the region arevastly different from previous decades. Democracyis firmly rooted and sustains the commitment toeconomic and social reform.

Furthermore, Latin America is irrevocablymoving towards economic integration. Mercosur isprobably today’s most dynamic regional integrationscheme. Its four member countries, Brazil, Argentina,Paraguay and Uruguay, have eliminated barriers tointrazonal trade — which multiplied threefold in justover three years, soaring to over US$ 10 billion. Thepositive effects of integration have given individualeconomies an added boost in terms of bettercompetitiveness and productivity.

Mercosur is already negotiating the futureparticipation of Chile and Bolivia, in what we see asnecessary steps toward a larger free trade area in theContinent. Talks with the European Union are alsovery advanced on the way to an interregional freetrade zone aimed at strengthening Mercosur’sbalanced foreign trade.

In addition, we have set in motion the processfor full Hemispheric integration by the year 2005, asdecided during the Miami Summit of last year. Thisgenerates positive prospects for the region as a whole,as it points to trade liberalization that can be a catalystfor sustained economic growth. It is important thatthis process be open, and fully in line with the

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provisions of the WTO, a true complement to themultilateral trade system. Integration is a process ofaddition, not subtraction. For it to be successful, itmust be gradual, and take into account existingsubregional schemes such as Mercosur and Nafta.

This all adds up to one conclusion: Brazil hasjust cause for optimism about the future, based noton overrated expectations, but on solid nationaleconomic performance and generally favorableregional and international conditions.

As the “tequila effect” fades and Latin Americaawakens from the financial crisis, much of the smokehas been cleared away. Gone are the misperceptions.In their place, a sober and differential evaluation ofthe possibilities for the countries of the region. And,as a whole, it can be said that prospects are good.

Of course, the financial euphoria of the firsthalf of the decade will not repeat itself. Foreign capital

will be much more selective. Investment will followeconomic success; and economic success will dependon the ability to move forward with structural reform.

One thing is for certain: there is no reversingthe trend of free market reform. The “Washingtonconsensus” may have been a moment of exageratedoptimism, but the truth is that strong currencies alliedwith liberalization, privatization and deregulation arethe only viable option for economic development.Latin America is aware of this. Brazil, in particular isaware of this.

Today, the “white elephant” image is gone.As economic stabilization in Brazil proves to be morethan just a passing trend, one fact is becomingincreasingly clear for the eye to see: the latecomer isnow ahead of the pack.

Thank you.

71Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Em nome do Governo brasileiro e de todosaqui presentes, quero dar as boas-vindas a VossaExcelência e manifestar-lhe o nosso agrado pela suavisita.

A OEA tem hoje uma agenda intensa erelevante e participa ativamente dos processospolítico-diplomáticos em curso no nosso Continente.Ela recuperou prestígio e momento político.

Por isso, é natural o nosso interesse em ouviras avaliações e propostas de ação do Secretário-Geral da Organização, na sua dupla condição deEstadista e de singular observador e interlocutor eminúmeros assuntos de interesse para os paísesamericanos.

O Secretáno-Geral da OEA é semprerecebido no Brasil como o Representante de umaorganização relevante para os brasileiros no cenáriopolítico internacional e em nossa região.

Como nossa primeira circunstância, comonosso meio ambiente diplomático natural, as Américashá muito ocupam o lugar de prioridade da brasileira.

Temos dez vizinhos com os quais vivemos empaz há mais de 125 anos.

Temos nas Américas dois dos nossos maioresparceiros econômico-comerciais em volume eintensidade de relações. Aqui desenvolvemos hojeum dos paradigmas da nossa em sentido mais amplo,o Mercosul, realidade que cresce e se projeta cadavez mais regional e internacionalmente.

É das Américas que vem o nosso maiorempuxe diplomático e é para elas que se dirige boaparte dos nossos esforços e da nossa atenção.

Nada mais natural que a OEA, rejuvenescidae atualizada em seus papéis, objetivos e métodos,esteja presente nessa prioridade.

Graças aos dois mandatos consecutivos doEmbaixador João Clemente Baena Soares à frenteda Organização, o Brasil acostumou-se a ver a OEAretomando o espaço político que lhe coube, em nossocontinente, durante longo tempo depois da suafundação.

Vossa Excelência recebeu de seu antecessoruma Organização fortalecida e com a sua imagemrecuperada perante os povos e Governos da nossaregião, com um patrimônio de realizações concretasno campo político, especialmente no que se refere àpromoção e à consolidação da democracia nasAméricas, de que a ação no Haiti constitui um marcohistórico no Continente.

Graças a esse patrimônio, Vossa Excelênciapode, como vem fazendo, servir à causa de uma OEAmais atuante na nova agenda que se desenhou parao nosso Hemisfério com o fim da Guerra Fria, aintensificação dos processos de integração regionale hemisférica, os compromissos assumidos na Cúpulade Miami e, sobretudo, a consolidação dademocracia, da liberdade política e econômica e dosdireitos humanos como valores e patrimônios

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião do almoçoque oferece ao Secretário-Geral da Organização dos EstadosAmericanos, César Gaviria, Brasília, 5 de setembro de 1996

OEA

72 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

supremos dos nossos povos.Esse patrimônio que traz a marca da nova

OEA também reflete a ação coordenada e harmônicados países americanos em vários dos chamados temasglobais que afetam o nosso Continente.

Esses temas globais são hoje também temasregionais plenamente incorporados na agenda danossa Organização e sobre cada um deles a OEAtem realizado ou acaba de realizar esforços muitoconcretos.

Basta lembrar esses temas para se verificar ograu de pertinência política que a OEA tem hoje: osdireitos humanos, o desenvolvimento sustentável, ocombate ao narcotráfico e ao uso ilícito de drogas, ocombate ao terrorismo, a luta contra a corrupção, odesenvolvimento social com ênfase na educação, aintegração regional e, como tenho insistido, a defesae a promoção da democracia sem qualificativos,como instrumento de liberdade e de justiça social,de governabilidade e de legitimidade.

A OEA tem tratado desses temas de formaativa e concreta, dando-lhes visibilidade diplomáticae de opinião pública e gerando compromissosefetivos entre os Governos da região. Novasconvenções e novos acordos interamericanos vãoampliando e atualizando o escopo do direitointernacional em nossa região.

Há alguns meses, falando perante o ForumSol Linowitz do Interamerican Council, eu me referiaà necessidade e à oportunidade que os povos dasAméricas têm de promover um novointeramericanismo, um interamericanismo para umaera global.

Não se trata de um conceito retórico. Trata-

se de dar forma concreta a um desafio que nós jáestamos enfrentando com resultados positivos, queconvém aprofundar: o desafio de dar à ação políticacoordenada dos nossos países um sentido deresposta objetiva e serena às oportunidades e aosriscos da chamada globalização.

Uma ação política que não seja tribuna paraarroubos retóricos ou falsas opções ideológicas, massim instrumento de concertação para promover osnossos trunfos — a democracia como fator deestabilidade política, a integração como fator decompetitividade das nossas economias, a liberdadeeconômica como fator de desenvolvimentotecnológico e atração de investimentos produtivosque gerem empregos, atividade econômica e riquezamaior e mais bem distribuída.

A OEA tem um papel a cumprir nesse saltoqualitativo, político e econômico, que o Continenteestá dando — e tem de dar —para fazer face aosnovos tempos. A OEA tem condições de oferecerliderança e impulso criador no cumprimento dessatarefa.

Nós já temos provas de que a Organizaçãoé capaz de seguir esse rumo, traçado com firmeza eperseguido com sentido de liderança.

E é para comemorar esse feito, que recolocao interamericanismo no leito principal da história doContinente, em que nasceu, que eu convido a todosa me acompanharem em um brinde à nossaOrganização, à prosperidade dos Estados-Membrose à saúde e ventura pessoais do Secretário-GeralCésar Gaviria.

Muito obrigado.

73Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Sólo queria decir unas palabras paraagradecer esta hospitalidad colombiana, estehomenaje al Canciller brasileño y las palabras tanamables que Usted acaba de pronunciar. Yo creoque este ambiente de familiaridad y confianzareproduce como una sintesis lo que sienten lospueblos brasileño y colombiano el uno hacia el otro.

La diplomacia que los países latinoamericanoshan venido construyendo en el Grupo de Rio, en elMercosur, en las Cumbres Iberoamericanas y en lasgrandes conferencias y foros internacionales nos hapermitido a nosotros, Cancilleres, desarrollar unaamistad personal y una facilidad de lenguaje y decomunicación sin paralelo en la historia de nuestrocontinente y eso es lo que hemos una vez mas podidoatestiguar en esta visita.

Nuestros países pueden beneficiarse de esaamistad y creo sinceramente que lo han venidohaciendo.

En cierta forma, usted se inicia en este club,y lo hace en una forma llena de encanto.

Ésta es una primera visita de la Cancillercolombiana a Brasil y esperamos muy sinceramenteque se repita. Como usted vió, estos encuentros valenmucho mas por su contenido, por la oportunidad realque proporcionan de dialogar, consultar y pleitear, yno tanto por los viejos aspectos protocolarios. Esuna buena señal de los tiempos.

Ésta no es por lo tanto una ocasión para usarpalabras graves o solemnes, sino para expresar, con

sencillez y mucha franqueza, la amistad que losbrasileños sentimos por Colombia y por su pueblo.

Nosostros recibimos su visita como unaprueba de interés hacia las relaciones que unennuestros países desde siempre.

A pesar de que empezaron sus — vidasindependientes de manera bastante distinta Brasilcomo un Imperio, Colombia ya como una República—, nuestros países han sabido siempre mantener elrespeto y la consideración que crea naturalmente lavecindad.

Colombia es un país capaz de concentrar laatención de los brasileños por múltiples razones.

Por su tamaño, por la riqueza y variedad desus recursos, por su potencial, por el dinamismo desu economia.

Porque es gran productor de café y en ciertamedida siempre ha sido la primera referencia externade Brasil en esa área.

Porque es un país amazónico, com el quecompartimos la riqueza y los desafios de ese enormepatrimonio ambiental y de biodiversidad.

Y porque es un país que conecta cuatrodistintas regiones, el Pacífico, el Caribe, los Andes yla Amazonía, de las cuales ha retirado una parte delo mucho que constitutye su personalidad nacional.

Por todo ello la relación entre Brasil yColombia tiene una dimensión histórica, de tradicióny proyección en el tiempo. Nos unen intereses muyconcretos como vecinos y socios sudamericanos y

Brinde do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião do jantaroferecido à Ministra das Relações Exteriores da Colômbia,María Emma Mejía, Brasília, 9 de setembro de 1996

Brasil-Colômbia

74 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

amazónicos.Nos asocia la perspectiva de aplicar, a

nuestras relaciones, los avances que estamoshaciendo en el plano interno y subregional de nuestrospaíses en materia de ajuste y apertura económica,de integración, de desestatización y de desarrollosocial.

Hemos tenido conversaciones muy francas aese respecto, en el marco de un proyecto más amplode retomar el sentido y la dinámica de nuestrasrelaciones.

Gracias a su visita, hemos podido recordar

que las relaciones entre Brasil y Colombia tienen unadimensión de perennidad.

Nos cabe a nosostros, en cuanto responsablesdel presente, asegurar que esa dimensión frutifique.

Por lo pronto, Usted lleva de Brasil unmensaje de amistad y afecto del pueblo brasileño alpueblo colombiano y la seguridad de que lasrelaciones de Brasil con su país movilizan el Gobiernobrasileño y tienen prioridad en nuestra agendasudamericana.

Muchas gracias y un feliz viaje de regreso.

75Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Senhor Presidente,Recebemos a sua visita, a primeira de um

Chefe de Estado coreano ao Brasil, como sinal denossa disposição de intensificar nossas relações, dedar-lhes novas dimensões e novo alcance.

A expressiva comitiva governamental eempresarial que acompanha Vossa Excelência éprova de que o Brasil e a Coréia vêem-se comoparceiros importantes e estão construindo umarelação baseada em elementos concretos — nocomércio, nos investimentos, nos fluxos de tecnologia—, assim como em amplas perspectivas de diálogopolítico.

No espaço de uma geração, a Coréiaassumiu a condição de décima-primeira economiamundial e de grande investidor internacional, comreconhecida e crescente influência no cenário externo.No Brasil, vemos a Coréia como uma referênciaobrigatória na dinâmica de crescimento da região daÁsia-Pacífico, como um país que, em seu processode desenvolvimento, foi capaz de aliar a educaçãouniversal e bons indicadores sociais ao arrojo nodesenvolvimento de tecnologias e métodos deprodução eficazes e competitivos em nível mundial.

Senhor Presidente,A Coréia tem estado cada vez mais presente

no Brasil. Uma operosa comunidade de origemcoreana tem trazido uma importante contribuição ao

desenvolvimento brasileiro, integrando-se cada vezmais à nossa sociedade e reduzindo assim de certaforma as distâncias que a geografia, a história e aprópria cultura impuseram aos nossos países. Ela dáum conteúdo humano e social a relações que têmcrescido em todos os seus aspectos.

Falamos uma mesma linguagem, objetiva epragmática, a linguagem de dois países emdesenvolvimento dinâmicos e com um imensopotencial no seu intercâmbio.

E estamos trabalhando para explorar essepotencial, não apenas no campo bilateral, mastambém no plano internacional. Temos clarosinteresses comuns nas áreas do comérciointernacional e da Organização Mundial do Comércio;das Nações Unidas, do desarmamento e da não-proliferação nuclear, inclusive na Península coreana, cujaestabilidade é de interesse direto para a paz mundial.

Temos ampliado o arcabouço jurídico entreos dois países, inclusive com a assinatura do Acordode Promoção Turística e dos demais textos bilateraisque firmamos hoje.

Juntos, esses acordos devem contribuir paragerar novas iniciativas e mais atividade nos campospolítico, econômico e de cooperação entre os doispaíses, inclusive na área de ciência e tecnologia, emque a Coréia tem tido um desenvolvimento notável eem que os nossos centros de excelência têm muito aoferecer-se em termos de intercâmbio.

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso por ocasião do jantar que oferece ao Presidenteda República da Coréia,Kim Young Sam, Brasília, 11 desetembro de 1996

Brasil-Coréia

76 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Senhor Presidente,Sabemos que há atualmente maior interesse

e uma nova confiança no Brasil. E sabemos tambémque isto é uma resposta às condições favoráveis queaqui se têm desenvolvido, com a estabilização, ocrescimento e a abertura da nossa economia; com atransparência e estabilidade políticas que resultam deuma democracia plena; com a integração daeconomia brasileira no plano sub-regional, noMercosul; e com uma ativa, modelada pelos valoresda paz e da justiça.

Essas condições favoráveis projetam-se hoje,na verdade, além dos limites do Brasil para incluirtoda a América do Sul, cujos países atravessam umacelerado processo de mudanças que combinam,sempre no marco político da democracia,transformações estruturais na economia com medidasdestinadas a combater a pobreza e a corrigir osdesequilíbrios sociais. A América do Sul converteu-se, ao lado da região do Pacífico, em pólo decrescimento econômico, de atração de capitais einvestimentos. Sua visita, Senhor Presidente, é maisum testemunho dessa confiança da comunidadeinternacional na América do Sul e no Brasil, emparticular; é um sinal claro de que as transformaçõesaqui ocorridas estão sendo percebidas em todo omundo.

O resultado dessa confiança já se expressa,por exemplo, nos números da nossa balançacomercial bilateral, que passou de um bilhão e cemmilhões de dólares em 1994 a pouco mais de doisbilhões em 1995. O empresariado coreano tambémpassou a ver perspectivas promissoras no Brasil e acanalizar investimentos de envergadura nas áreaseletroeletrônica, siderúrgica e automotiva, bem comoa ter um interesse renovado pelo potencial brasileirocomo fornecedor de matérias-primas e bensindustrializados.

Nossas relações vão adquirindo, portanto,uma crescente complexidade. E vão adquirindotambém maior maturidade, como demonstram as

consultas que fizemos em relação ao regimeautomotivo brasileiro, que nos permitiram encaminharo assunto de forma a preservar e promover osinteresses de nossa relação econômico-comercial.

É verdade que os números do nossocomércio bilateral e dos fluxos de investimentos aindasão pequenos em relação ao tamanho das nossaseconomias e mercados e à nossa participação nocomércio internacional.

Por isso, o fator conhecimento recíproco éfundamental para se identificarem novasoportunidades de negócios e investimentos.

Esse é o grande sentido desta visita e esseserá o sentido da visita que tenciono fazer à Coréia eque está sendo definida pelas nossas Chancelarias.

Senhor Presidente,A Ásia já não é mais a última grande fronteira

da diplomacia brasileira.Temos investido muito dos nossos recursos

diplomáticos em fortalecer nossas parceriastradicionais na região e em criar novas. Os países daregião da Ásia-Pacífico adquirem, assim, umadimensão prioritária na do meu Governo.

Tenho procurado traduzir esta prioridadeviajando a alguns países da região, pois quero que aÁsia se firme como um dos grandes pólos das relaçõesexteriores do Brasil.

Por isso, e por tudo o que a Coréia significanas relações internacionais nestes nossos tempos deglobalização, recebemos a sua visita com um agradoespecial e como uma demonstração de confiança nasnossas relações.

É com esse espírito que convido todos ospresentes a me acompanharem em um brinde pelacontinuada prosperidade do povo coreano, porrelações cada vez mais intensas e mutuamenteproveitosas entre o Brasil e a Coréia e pela felicidadee ventura pessoais de Vossa Excelência e da SenhoraKim.

Muito obrigado.

77Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Senhor Presidente,O Brasil acolhe Vossa Excelência, e a

importante delegação que o acompanha, com honrae satisfação.

Na Europa central, o povo tcheco semprefoi uma referência para os brasileiros, por sua tradiçãoindustrial e também por sua força criadora, que temna cidade de Praga uma síntese perfeita.

Brasília, antigo sonho de integração nacional,foi tornada real pela audácia e determinação de umneto de tchecos nascido em Minas Gerais, JuscelinoKubitschek. Assim, esta capital é um símbolo dacontribuição dos imigrantes tchecos à construção doBrasil.

Estamos honrados em receber o Estadistaque personifica a luta de seu povo pela liberdade. Oescritor que antecipou, com sua arte, a liberdade e ofuturo de seu país.

Fundindo elementos do teatro do absurdo acorrentes puramente tchecas, que vão da denúnciakafkiana da burocracia à sátira do soldado Schweik,a obra de Václav Havel contestou, com lucidez eeficácia, o totalitarismo.

Seu nome é um marco no despertar deconsciência e nas grandes mudanças ocorridas naEuropa Central e Oriental, a partir de 1989.

Signatário da Carta 77, como o grandehumanista Jan Patocka, e um dos principaisrepresentantes do Foro Cívico, foi decisivo o seu

papel na transição democrática na então RepúblicaFederativa Tcheca e Eslovaca.

Fiel a suas convicções, renunciou a cargo dechefe de Estado quando a Federação chegou ao fim.Mas, por suas qualidades pessoais e de liderança,foi novamente convocado por seu povo, em eleiçãomemorável, para exercer a Presidência da RepúblicaTcheca.

Os povos precisam desse tipo de liderançanos momentos decisivos de sua história.

Senhor Presidente,Em nosso primeiro encontro em Praga, em

1994, ainda quando Presidente-eleito, pude verificarque tínhamos afinidades não só pessoais, mas tambémem relação aos propósitos e à forma de levar adianteo exercício da Chefia do Estado.

Durante sua visita a nosso país, será possívelverificar que as instituições democráticas estãoconsolidadas e que estamos em um profundoprocesso de reforma da economia. Democracia eliberdade econômica são forças motrizes dessa novaetapa na vida brasileira.

A estabilidade política, a abertura econômica,o Plano real, a desestatização, a integração regionale o programa de reformas tornam o Brasil um atorcada vez mais ativo na cena internacional, na buscade melhor participação nos fluxos de comércio,investimentos e tecnologias.

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião do jantar oferecido ao Presidente daRepública Tcheca, Vaclav Ravel, Brasília, 16 de setembrode 1996

Brasil-República Tcheca

78 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

O Brasil tem dado prioridade ao processode consolidação do Mercosul, hoje interlocutor devários países e grupos de países e um reforço daidentidade internacional dos seus membros.

A recente associação do Chile ao Mercosule os entendimentos ora em curso com a Bolívia e oPacto Andino terão conseqüência, quandoconcluídos, o fortalecimento da América do Sul comoespaço econômico e político.

Abrem-se, desse modo, perspectivas sólidaspara a ampliação das parcerias com a Europa, cujaslinhas mestras encontram um exemplo de expressãono Acordo assinado em Madri, em dezembro do anopassado, entre o Mercosul e a União Européria.

A Europa Central é uma área de interesseparticular, por tudo o que representa com símbolodas mudanças do nosso tempo e pelas oportunidadesque oferece a transição econômica.

Os atrativos que os países reemergentes daEuropa Central apresentam combinam-se com asnovas realidades da América Latina para gerarperspectivas cada vez mais promissoras.

O Brasil tem não só a vontade política deaprofundar os tradicionais laços de amizade ecooperação com a República Tcheca, mas tambémas condições objetivas para a implementação de umaparceria mutuamente vantajosa, em variados setoresde atividade.

Senhor Presidente,A convergência de pontos de vista sobre as

grandes questões internacionais da atualidade,fundada na crença comum nos valores democráticos,nos direitos humanos e na liberdade econômica,permite uma colaboração estreita entre nossos países.

Possibilita também a identificação de áreasde cooperação pouco exploradas anteriormente. Acultura, a educação e a pesquisa científica e

tecnológica são algumas dessas áreas.A dinamização da atividade econômica tanto

no Brasil como na República Tcheca, com acrescente participação de empresas privadas, podedar novos impulsos ao intercâmbio econômico-comercial bilateral. Isso já se verificou em 1995,quando ocorreu expressivo crescimento no comérciobilateral.

Essa tendência ascendente poderá fortalecer-se por meio de maior conhecimento mútuo a respeitodas potencialidades e oportunidades em ambos ospaíses.

Senhor Presidente,As cordiais e construtivas conversões que

mantivemos, bem como os encontros entre altasautoridades da delegação que o acompanha eautoridades brasileiras reforçam minha convicção deque a amizade entre o Brasil e a República Tchecapode tornar-se ainda mais sólida.

Sua visita a outras cidades brasileiras lhepropiciará visão mais abrangente de nossa realidadee certamente contribuirá para o aprofundamento doslaços bilaterais.

Estamos praticamente recriando as relaçõesentre nossos povos e países.

Temos uma boa base para isso e, com estasua visita, um excelente começo. Vamos preservarnesse caminho e fazer do Brasil uma referência paraos tchecos na América do Sul, e da República Tchecauma parceria destacada do Brasil na Europa Central.

É com esse espírito que convido os presentesa erguer um brinde à continuada prosperidade doprovo tcheco, à crescente amizade entre o Brasil e aRepública Tcheca e à saúde e felicidade pessoal deVossa Excelência.

Muito obrigado.

79Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Senhor Chanceler,O Brasil recebe com muita honra sua visita.

Reconhecemos na Alemanha uma nação amiga, umparceiro privilegiado e um país de influência decisivanas relações internacionais contemporâneas.

Acolhemos Vossa Excelência como um dosmais destacados estadistas de nosso tempo, comoum político dedicado à construção de seu país e àconsolidação do processo de integração da Europa.

Sob sua liderança, ao longo de quase décadae meia, sobressai a Alemanha como grandearticuladora da paz e da segurança européias. O idealkantiano de uma “federação dos estados livres”,condição última da paz, encontra expressão na uniãoeconômica e política da Europa, à qual o Governoalemão tanto se tem dedicado. Mas a Alemanha étambém, não apenas na Europa, mas no mundo todo,um pólo de estabilidade política e de desenvolvimentoeconômico.

Senhor Chanceler,Desde minha visita de Estado à Alemanha,

há um ano, uma expressiva seqüência de contatosbilaterais de alto nível revela uma nova etapa noentendimento e na cooperação entre os nossospaíses.

A visita do Presidente Roman Herzog foimarco importante na consolidação de nosso diálogopolítico e na expansão de nossa cooperaçãoeconômica bilateral. Em São Paulo, onde há talvez a

maior concentração de investimentos alemães forada Alemanha, o Presidente Herzog e eu inauguramosa FEBRAL, uma das maiores exposições industriaisque seu país organizou no exterior nos últimos anos.

Desde então, diversos Ministros de ambosos países têm cruzado o Atlântico, dando formaconcreta ao clima de entendimento que têm permitidoo aprofundamento de nossa densa e diversificadarelação.

À nossa vontade política de impulsionar estanova parceria entre o Brasil e a Alemanha somam-secondições propícias para que isto ocorra.Acontecimentos significativos desta décadapermitiram que se abrisse mais espaço à atuaçãointernacional de nossos países e que se ampliassemos pontos de convergência de nossas políticas.

Completado com êxito o processo dereunificação, a Alemanha viu-se politicamentefortalecida no plano interno e dotada de maiorespossibilidades de ação externa, reforçando parceriasàs quais tem muito a oferecer com sua economiapróspera e tecnologicamente sofisticada.

O processo de integração da Europa ganhounovas dimensões nos últimos anos, com aincorporação de novos membros e o aprofundamentodos compromissos integracionistas. Criaram-se,assim, condições mais favoráveis à afirmação de umaidentidade européia, com um impacto positivo sobrea própria projeção internacional da Alemanha.

Também o Brasil passou por importantes

Discurso do Presidente da República, por ocasião do jantarque oferece ao Chanceler da República Federal daAlemanha, Helmut Kohl, Brasília, 17 de setembro de 1996

Brasil-Alemanha

80 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

transformações que nos deram maior latitude de açãoexterna. Consolidamos a democracia, hoje fatorfundamental de nossa estabilidade e de nossodesenvolvimento social.

Estabilizou-se a moeda e voltou a crescer aeconomia brasileira, graças ao Plano Real, mais doque um simples plano de estabilização, a base de umprojeto de desenvolvimento para o Brasil.

Nossa economia abriu-se ao exterior eintegrou-se nos fluxos internacionais de comércio,investimentos e tecnologia. Integrou-se também emsua região, com o MERCOSUL, que representa hojeum reforço de nossas próprias capacidades e umelemento de identidade internacional do Brasil.

Estamos desestatizando o setor produtivoatravés da quebra de monopólios e da privatizaçãode importantes empresas. Estamos fortalecendo oEstado brasileiro para que seja mais eficiente em suasatribuições básicas, especialmente na saúde, naeducação, na defesa nacional, na .

E estamos promovendo as reformas quedarão sustentação no longo prazo às transformaçõesem curso.

Senhor Chanceler,Como países de forte presença regional e com

projeção global, a Alemanha e o Brasil apresentamcerto paralelismo em suas visões estratégicas e emsuas preocupações com as realidades do mundo pós-Guerra Fria.

Esse paralelismo se dá, por exemplo, nos“temas globais”, entre os quais a proteção ambiental,que oferece perspectivas capazes de sustentar umainiciativa bilateral de visibilidade e alcanceverdadeiramente internacionais.

Brasil e Alemanha coincidem também nadefesa ativa de um sistema internacional aberto, emque a Organização Mundial de Comércio, no planoeconômico-comercial, e uma Organização dasNações Unidas reformada e eficaz, no plano político,sejam as bases institucionais a moldar umaconvivência construtiva e harmoniosa entre os

Estados.Essa coincidência de pontos de vista se

estende igualmente à cooperação entre a UniãoEuropéia e o Mercosul. Por isso, o Brasil espera queavancemos rapidamente na implementação dosobjetivos comuns a que as duas partes chegaram noAcordo de Madri.

O Mercosul é um dado novo e relevante emnossa região.

Temos progredido em sua consolidação,como uma iniciativa de regionalismo aberto. A recenteassociação do Chile ao Mercosul e os entendimentos,ora em curso com a Bolívia e a Venezuela visandoaquele mesmo propósito fortalecerão a América doSul como espaço econômico e político.

Ampliam-se, dessa forma, as perspectivaspara uma crescente interação entre o Mercosul e aUnião Européia e abrem-se vastas oportunidadespara o desenvolvimento de uma vantajosa parceriaentre os setores privados europeus e sul-americanos,em geral, e alemães e brasileiros, em particular.

Senhor Chanceler,São muito boas as perspectivas para maiores

investimentos de seu país no Brasil, dentro da tradiçãode participação alemã no desenvolvimento industrialbrasileiro. A delegação empresarial que o acompanhae reúne nomes de grande expressão na vidaeconômica da Alemanha terá a oportunidade deconstatar, nos contatos que manterá em Brasília, asoportunidades de negócios geradas por umaeconomia estável e em crescimento.

As tendências que marcam essa nova etapada economia brasileira são inovadoras. É o caso dadesconcentração regional, que atende à preocupaçãode melhor equilibrar o desenvolvimento das váriasregiões do Brasil. Meu Governo tem grande interesseem que os benefícios econômicos e tecnológicos dasrelações germano-brasileiras se espalhem peloterritório nacional, alcançando também Estados doNordeste, Centro-Oeste e Norte.

Esperamos, também, que os investimentos

81Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

alemães, tradicionalmente concentrados no setor daindústria manufatureira, venham a diversificar-se,ingressando nos processos de privatização de nossainfra-estrutura. O capital alemão no Brasil evoluirá,assim, para uma atuação mais moderna e para umapresença maior na operação de sistemas e na ofertade serviços em setores de tecnologia de ponta.

Surgem inéditas modalidades de cooperaçãoe ampliação de investimento e intercâmbio de técnicase experiências em áreas como as detelecomunicações, transportes, energia e portos.

Novas possibilidades de colaboração surgemtambém em ciência e tecnologia, em tecnologias deponta e em cooperação técnica.

Senhor Chanceler,Entre os países desenvolvidos, a Alemanha é

aquele com que o Brasil tem um dos relacionamentosmais abrangentes, que abarca, com elevado nível dedensidade, o diálogo político, o intercâmbio

parlamentar e múltiplas formas de cooperação. Osinvestimentos alemães no Brasil, no total de 7 bilhõesde dólares, são a expressão concreta da magnitudee da transcendência dessa relação.

É uma relação viva e dinâmica, cujasustentação, em nosso interesse recíproco, não nosexige mais do que o compromisso de tratá-las comcriatividade e pragmatismo.

É com esse sentido que encaramos a visitade Vossa Excelência: como um compromissorenovado com a excelência da amizade e das relaçõesentre a Alemanha e o Brasil.

Nesse espírito, convido a todos paraacompanhar-me em um brinde à continuadaprosperidade do povo alemão, à amizade semprerenovada e cada vez mais intensa entre os nossospaíses, à saúde do Presidente Roman Herzog e àfelicidade e ventura pessoais de Vossa Excelência.

Muito obrigado.

83Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Mr. President,Accept my congratulations on your election

as President of the fifty-first session of the GeneralAssembly.

The Brazilian delegation is confident that underyour leadership this body will find new strength in thepursuit of the principles and purposes of our Charter.

I also wish to pay tribute to my dear friend,Professor Diogo Freitas do Amaral, for the dedicationwith which he conducted the historic fiftieth session.We are grateful for his steadfast commitment to ensurethat our work was consistent with the highexpectations of the fiftieth anniversary celebration.

My delegation extends a word of gratitudeand recognition to the Secretary-General, Mr.Boutros-Ghali, for the perseverance he has shown incarrying out his tasks.

Mr. President,For the first time Angola, Brazil, Cape Verde,

Guinea-Bissau, Mozambique, Portugal and SãoTomé and Principe come to the General Assemblyas members of the Community of Portuguese-speaking Countries, a body dedicated to cooperationand political coordination.

The Member States of the Community intendto consult and to work closely together at the UnitedNations, with a view to better promoting their common

interests and fostering their linguistic, cultural andhistorical identity.

The MERCOSUL countries have also cometo the General Assembly with an enhanced sense ofunity.

MERCOSUL gives living and concreteexpression to economic integration and openregionalism and represents one of the creative forcesat work in the Americas.

It is a new and striking feature of ourcontinent’s identity and a reflection of democracy andthe commitment to economic reform in our region.

With the customs union firmly in place, Chilehas now joined MERCOSUL as an associated State,by means of a free trade agreement with far-reachingpolitical and diplomatic implications.

Bolivia will also shortly associate itself withMERCOSUL. We look forward to other countriesof the region joining as well, to further bolster thedynamic and open nature of MERCOSUL.

Now firmly rooted, in the process ofexpanding, and acting as an important partner of agrowing number of countries and regional groups,MERCOSUL is a positive response by SouthAmerican countries to the challenges and opportunitiesof today’s world.

Achievements such as MERCOSUL and theCommunity of Portuguese-speaking Countries

Pronunciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na sessãode abertura da 51ª Assembléia-Geral das Nações Unidas,Nova York, 23 de setembro de 1996

Abertura da 51ª Assembléia-Geral das Nações Unidas

84 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

enhance the credentials of their members and help tomake of their presence in the world an instrument foreconomic development and social progress.

Mr. President,My country comes to this General Assembly

proud to present itself before the internationalcommunity with a stronger presence in the world.

Brazil owes this to the consolidation of itsdemocracy, to economic stabilization and liberalizationand to the resumption of economic growth with adeeper sense of social justice.

It owes this as well to its participation inregional integration and in the globalization of theworld economy.

We are in tune with the two main forces thatare shaping the world today: political and economicfreedom on the one hand, and cooperation throughintegration and trade on the other.

I am pleased to say that, through decidedaction, rather than words, we have made genuinestrides in enlarging our dialogue and cooperation withfriendly nations worldwide, developed anddeveloping alike.

We have strengthened traditional partnershipsand established new ones, especially in Africa, Asiaand the Middle East.

We are aware that, if the Brazilian people areto consolidate these achievements, we will need topersevere in the policies that have brought us this far.

We know these policies have yet to meetmany challenges Brazil faces in the social, economicand cultural fields.

But they are an important beginning.We are convinced that Brazil’s growing

interaction with its region and the world, theconsolidation of its international partnerships and afruitful dialogue and cooperation with its many friendsare necessary conditions for our country to continueto pursue its policies at the domestic level.

Brazil is one of the world’s largestdemocracies, a dynamic and diversified developing

economy, an attractive opportunity for productiveforeign investment and a market of huge potential - ina word, a country capable of enjoying fruitful ties withall nations on the basis of mutual respect andreciprocity.

By its very nature, Brazil can act as a bridgebetween the many different worlds which conformits own internal reality.

Our aspirations to enlarge the scope of ourparticipation in the international decision-making bodieswill always reflect a careful assessment of our own merits,of our own specific weight and of the contribution thatwe can bring to the community of Nations.

We seek to be a force for peace andintegration.

Mr. President,The fiftieth anniversary of the United Nations

understandably raised the expectations of theinternational community.

Expectations that we would not only dwellon the past and on the many achievements of theOrganization, but also look to the future, in search ofways for it to come to grips with new realities andproblems.

We can confidently say that the celebrationof the fiftieth anniversary produced good results.

As world public opinion was focused on theUN, leaders and governments were compelled toreflect on the Organization and to make room for it intheir political agendas.

The historic meaning of the San FranciscoCharter was recalled, as was the UN’s importanceas a forum for political debate and as a sounding boardfor conflicting interests in the post-war era.

Our collective reflection clearly revealed that,without the UN, the world would only have beenmore violent, more unstable and insecure, more unjustand cruel, especially to the weak — a prey to powerpolitics and to arbitrary decisions.

We celebrated great advances in internationallaw and in the political and ethical commitment to

85Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

issues of concern to humanity — issues such assustainable development, protection of theenvironment, respect for human rights, disarmament,non-proliferation and the fight against poverty,terrorism, organized crime and drug trafficking.

We have thus made a positive account of thefirst fifty years of the United Nations.

Mr. President,We cannot say with the same confidence that

the fiftieth anniversary has ushered in a renewedcommitment to the UN and its future.

Our efforts have fallen well short of theexpectations of the international community. Theyhave been disappointing even in light of the predictionsof some of the most cautious analysts.

A stalemate persists, an uncomfortablestalemate that leads to a feeling of uncertainty andfrustration, of insecurity about the future of the UnitedNations, and thus of apprehension.

In the wake of momentous changes in theinternational scene, the United Nations has embarkedupon a new phase in its history without the meansand the effectiveness to act as the highest politicalforum of mankind and to fulfill the mandate conferredupon it by the international community — a mandatewhich remains as valid today as it was a halfcenturyago.

Back in 1961, President John F. Kennedyreferred to the UN as “our last, best hope”.

In the face of the threat of nuclear war and inthe midst of various conflicts, those words expressedthe confidence of the international community in anOrganization founded on the universal purposes ofpeace, understanding and prosperity for all peoples.

President Kennedy renewed then a pledgeto the United Nations, (quote) “our pledge of support— to prevent it from becoming merely a forum forinvective — to strengthen its shield of the new andthe weak — and to enlarge the area in which its writmay run” (unquote).

Twenty-five years after these inspired words,

the United Nations finds itself at a crossroads.The world has changed, the correlation of

forces has changed and so have the hopes andexpectations of countries in regard to the UnitedNations and its capacity to manage, prevent and settleconflicts.

Yet various confrontations still cause suffering,instability and misery throughout the world.

This is happening just as the Organizationfaces the worst financial and motivational crisis in itshistory.

There is a widespread feeling ofdissatisfaction, sometimes veiled and sometimesexplicit, with an organization which still embodies theloftiest ideals ever conceived by the human spirit inthe search for peace and understanding amongpeoples.

Mr. President,Brazil is committed to the UN Charter and to

the Organization’s political, legal and diplomatic legacyof the past fifty years.

That commitment is part of the diplomatichistory of Brazil and of the principles which havealways governed our actions in this body and in ourrelations with all peoples, particularly with our tenneighbors, with which we have lived in peace for wellover a century.

Compelled by that commitment, we sound aword of caution to all those who, like ourselves, wishto see the United Nations as a source of leadershipin international relations, as an instrument forpromoting an international society based on freedom,the rule of law and the rights of the citizen.

With the political and ideological constraintsof the Cold War behind us, the world is now organizedaround much more concrete and pragmatic variables,such as international trade, investment flows and thetransfer of technology.

The emphasis on political and ideologicalcoalitions has given way to an emphasis on economiccoalitions.

86 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Pressured by public opinion, governmentstoday are concerned with social well-being, the qualityof life, economic and social indicators, unemployment.

The focal point of the political debate is shiftingirrevocably from strategy and ideology to economicsand integration.

This is why the world is following the path oflarge-scale regional economic agreements.

North-South and East-West, the main axesof international politics in the last fifty years, have givenway to groups of countries dedicated to the goals ofeconomic integration and the coordination ofmacroeconomic, financial and trade policies.

North, South, East and West are no longerthe cardinal points on the international politicalcompass. The WTO and its body of universal rulesand regulations for fostering free trade, the EuropeanUnion, APEC, NAFTA, the OECD, the Group of 7,ASEAN, SADC and MERCOSUL have become,in their respective areas of action, the catalysts fordevelopment, cooperation, understanding and, yes,for peace.

The peace that the founders of the UnitedNations envisioned might come about as a responseof the various regions and groups of countries to thechallenges, opportunities and risks of a new world,today called the world of globalization.

A world which generates prosperity and ahealthy competition among countries and regions.

But a world which also swells the ranks ofthe destitute and the outcast among and withincountries.

A world which breeds conflict and increasesinequality.

A world which demands reason, reflection andconstructive action.

Mr. President,Through peace, cooperation, respect for

human rights and development, the UN has a majorrole to play in preventing that the divisions of the ColdWar find new expression in a widening gap in

wellbeing.The Organization must evolve in order to

successfully play that role as it has so often done inthe past.

It must adapt its structure and methods ofwork, in order to optimize its human, material andfinancial resources.

It must make use of the great political,strategic, and moral power it is able to muster.

It must implement and follow up on itsdecisions, on the rules with which it updates andconsolidates international law and on thecommitments it has won from the internationalcommunity.

Much remains to be done in the wake of thegreat conferences which have shaped the internationalagenda in the present decade.

The conferences on the rights of the child,environment and development, human rights,population and development, social development,women and human settlements have sealedcommitments that must be honored, decisions whichmust be implemented and followup work which mustbe carried out.

The UN must ensure that its agenda becomesmore appealing and result-oriented, in order to earnthe esteem of the public and to retain its priority ininternational relations.

We must correct the tendency to convenemeetings whose only result is to produce othermeetings or to adopt resolutions of a rhetorical nature.

We must rid the UN of its image as a moroseand lethargic body incapable of rising to the challengesof our times.

Brazil is convinced that UN reform remainswithin reach, that it is still possible to ensure that theUN will play a paramount role in this new phase ofits existence.

We believe in reform as a means to ensurethat the UN becomes a viable and logical alternativeto unilateralism or power politics.

We believe in reform as a means to empower

87Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

the UN to act in a radically changed world.We believe in reform as a mean to restore the

UN’s role as a unique forum for political anddiplomatic action and debate.

Mr. President,One year after our Heads of State and

Government drew attention to the seriousness of thefinancial situation of the UN, a solution to the problemremains elusive.

To stifle the UN little by little by depriving itof the means to perform its functions is no way tosecure greater administrative efficiency.

Should this scenario persist, then the capacityof the UN to adapt to the dynamics of thecontemporary world could be seriously jeopardized.

We could very well witness a situation whereother bodies come to occupy the space left by theUN, bodies with their own goals and agendas, whichmay or may not reflect the prevailing sentiments ofthe international community and the interests of worldpeace, security and stability.

That is why we need perseverance, courageand, above all, the political will to advance thediscussion on issues which reflect a true commitmentto the United Nations.

Issues which relate to the very relevance ofthe Organization for international relations on the eveof the twenty-first century.

Issues such as reform of the Security Council.There is a virtual consensus that the Security

Council should be enlarged to allow for greaterparticipation by countries with the capacity to act ona global scale and the willingness to bear theresponsibilities it would entail.

We must now set a course for this process.Its outcome is essential for strengthening the UnitedNations.

Mr. President,Brazil has made several commitments in the

field of nuclear disarmament and non-proliferation of

weapons of mass destruction and their deliverysystems.

We are now committed to having the SouthernHemisphere recognized as an area free of nuclearweapons.

It is our firm belief that this is a right to whichthe peoples of the Southern Hemisphere are entitledand an obligation on the part of those throughout theworld who possess nuclear weapons or the meansto develop them.

A further commitment to disarmament in allfields that I wish to convey to this Assembly is thedecision by the Brazilian Government to declare amoratorium on the export of anti-personnel landmines.

The experience of the Brazilian contingentserving in the United Nations Angola VerificationMission has underlined for us the importance of auniversal moratorium of this kind and the need to ridthe world of the scourge of land mines, which pose athreat to the daily lives of millions of human beings.

We would like to see all countries that exportland mines or that have the capability to do so join usin this decision.

Mr. President,The international community has set its hopes

on a Comprehensive Nuclear Test-Ban Treaty.These hopes are fully justified.We have a historic opportunity to put an end

to an outdated practice which has increasingly drawnrepudiation and condemnation from internationalpublic opinion.

We are taking an important step towardsgeneral and complete nuclear disarmament and statingunequivocally that there is no room in today’s worldfor nuclear weapons or regional arms races.

Brazil is committed to the non-proliferationof weapons of mass destruction and to the eliminationof nuclear arsenals. It has consistently expressed itsdisapproval of nuclear tests.

Brazil strove for approval of the CTBT at the

88 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Conference on Disarmament and considered theblocking of consensus in Geneva a grave setback.

It was inconceivable for Brazil that we couldhave let the moment pass, that we could have run therisk of seeing the CTBT meet the same fate of somany other initiatives which were allowed to lapseinto oblivion.

This is why Brazil was one of the first to co-sponsor the Australian initiative to seize the historicopportunity of submitting the CTBT for approval bythe General Assembly.

This decision reflected the commitment tobequeath to present and future generations a saferworld, free of nuclear weapons.

This is why Brazil will immediately sign theCTBT.

We call upon all nuclear and non-nuclearweapon States to do the same.

Mr. President,The peoples of the world expect action and

leadership from the United Nations.They expect that the UN will continue to be

an essential benchmark of international politics overthe next fifty years.

That the UN will always be not the last, butour best hope.

Thank you.

89Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Es un honor poder recibirlos una vez más paraeste almuerzo que constituye una de las muchastradiciones de nuestro Grupo de América Latina ydel Caribe.

Esas tradiciones dejan patente que, en NuevaYork, en Ginebra o en los múltiples foros de los queparticipamos, América Latina y el Caribe son capacesde presentarse ante el mundo como una unidadpolítica – una unidad respetuosa de lasindividualidades de cada pueblo o subregión denuestro vasto continente, pero también una unidadcon gran poder de convocatoria cuando se trata deconsultarnos y coordinarnos.

Es importante que sigamos esa tradición y quesepamos encontrar los espacios en los que lacoordinación y la identidad regionales siguen siendoelementos definitorios de una acción político-diplomática a nivel multilateral.

Es fundamental que podamos reaccionar aciertos hechos, proyectos y problemas de lasrelaciones internacionales como una región quecomparte no sólo rasgos físicos y culturales, sinoprincipalmente muchos desafíos en lo económico, lopolítico y lo social.

Somos distintos en muchos sentidos, vivimosnuestros propios sueños y construímos nuestrospropios proyectos nacionales o subregionales, peroa nadie se le ocurriría pensar que encontraríamos unlugar en el mundo si abdicáramos de nuestra

circunstancia geográfica e histórica. Y es importante que sepamos reforzar esa

identidad regional, en los foros internacionales,proyectando las nuevas iniciativas y coaliciones quehemos venido forjando a la medida en que seconsolida la democracia en nuestro continente yavanzan los cambios económicos y la integración ennuestro hemisfério.

El Grupo de Río ya lo ha venido haciendodesde hace algún tiempo y por ello es ya unareferencia política importante también en el marcode las Naciones Unidas.

Este año los países-miembros del Mercosur,a los que nos honra incluir ahora a Chile, nuestronuevo asociado, y Bolívia, nuestro próximo asociado,hemos empezado a actuar en las Naciones Unidascomo un grupo coheso y coordinado.

Estamos tratando de poner al servicio denuestros intereses e ideales en Naciones Unidas elproyecto común de integración económica ycomercial regional, que ya ha aportado tanto entérminos de ampliación de nuestros mercados,competitividad de nuestras economías e interés de lacomunidad internacional hacia nuestros países.

La idea de integración, en nuestro caso, serefiere a la búsqueda de una política clara ydeterminada, sin propósitos de confrontación y sinánimos de subordinación. Nuestro objetivo es claro:fortalecer nuestros vínculos comerciales paso a paso

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião do almoçooferecido aos Chanceleres e Representantes Permanentesdo Grupo Latino-Americano e do Caribe junto às NaçõesUnidas, Nova York, 24 de setembro de 1996

América Latina e Caribe

90 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

en el marco jurídico multilateral de la OrganizaciónMundial del Comercio.

El concepto de regionalismo abierto,condicionado únicamente, en lo político, a la vigenciaplena de la democracia y los derechos humanos,puede llegar a ser un nuevo factor de agregación denuestro continente, dándole a nuestra personalidadpolítico-diplomática, que tantas contribuciones trajoen las Naciones Unidas, la concretud de relacioneseconómicas y comerciales ampliadas por laintegración.

Señores Ministros,Estamos empezando esta Asamblea General

de Naciones Unidas después de que lasconmemoraciones del cincuentenario han empezadoa hacer parte de la historia de nuestra organización.Hemos reflexionado sobre los éxitos del pasado ytambién sobre las frustraciones y dificultades que lasNaciones Unidas enfrentaron en sus primeroscincuenta años de vida.

Y hemos creado expectativas justificadas en laopinión pública mundial sobre los destinos queestábamos dispuestos a darle a nuestra organización apartir del inicio de una nueva era en la historia mundial.

Yo creo interpretar los sentimientos de todoslos presentes al decir que hemos avanzado muy pocoy que, a pesar de que no lo decimos tan abiertamente,tenemos la impresión de que estamos perdiendo laoportunidad histórica de darles a las Naciones Unidaslos medios para hacer frente a sus nuevos retos, parareforzar su legitimidad y darles más eficiencia y poder.

Los países latinoamericanos y caribeñostienen una de las más largas tradiciones de aportes alas Naciones Unidas.

Como principal grupo de países en desarrollodurante varios años, fuimos abanderados en favorde una transformación positiva de las relacionesinternacionales y de la introducción de los temas deldesarrollo en la agenda internacional.

Fuimos una voz firme y serena en favor de ladescolonización y de la ampliación de los mandatos

de las Naciones Unidas en respuesta al reto deldesarrollo como base de la paz y de la estabilidad.

Es importante que actuemos ahora con elmismo espíritu, a fin de que podamos contribuir paraque las Naciones Unidas sigan siendo un hito dereferencia obligatoria de las relaciones internacionales— para que asuman plenamente la condición deinstrumento de transformación de las relaciones entrelos Estados y entre las regiones y se ofrezcan comouna alternativa viable y eficiente a las políticas depoder y a las decisiones arbitrarias.

Con el aumento de la actividad diplomáticaen función de los movimientos de integración regionaly de las exigencias del llamado mundo de laglobalización, las Naciones Unidas corren el riesgode perder substancia, de ver disminuído su espaciode actuación y su razón de ser.

Aunque estamos seguros de que las nuevastendencias de las relaciones internacionales sonpositivas y contribuyen a la paz y la harmonía entrelos pueblos, podría ser una ilusión pensar que esosavances dispensan una organización que sigue siendouna respuesta válida a los anhelos del espíritu humanopor la paz y la seguridad internacionales.

Señores Ministros,Señores Representantes Permanentes,La agenda internacional que se refleja en esta

Asamblea-General contiene muchos asuntos deinterés directo para nuestros países y para nuestraregión. El Grupo de América Latina y del Caribeconstituye una instancia importante para acercarnosa esos temas con una visión abierta y más llena desensibilidad hacia las exigencias de nuestracircunstancia regional.

Estoy seguro de que, con el apoyo de lasdemás instancias que le van dando una nuevaidentidad a nuestro Grupo, mantendremos nuestrocompromiso original de proyectar en conjunto lasaspiraciones de nuestro Continente en el mundo.

Muchas gracias.

91Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

I wish to thank the Americas Society and theCouncil of the Americas for this renewed opportunityto address this distinguished audience.

Institutions such as these have been playing acentral role in the development of Brazilian-Americanrelations and that is why we cherish them. It is indeeda pleasure to be here.

I keep saying that this kind of exchange ofviews between government, business and theAcademy is necessary and useful for policy plannersand decision makers.

Foreign Ministries can no longer act as anivory tower and this is certainly not the case ofItamaraty.

Policies must reflect the views, the needs andthe sensibility of a broader segment of public opinion,particularly in a world with a tendency towardshomogeneity based on democracy and economicfreedom, where ideology is no longer the dominantforce. And public opinion means the academic world,the press, the business community, labor, and, yes,the consumers, the citizens, who are the ultimate goalof policy-making in a democratic society.

I have chosen a subject that pertains to thecore of the relations in our Hemisphere and that canshed light on Brazilian-American relations as well: theneed for a new Interamericanism.

Interamericanism was born and has unfoldedunder very specific continental realities and withparticular, though evolving objectives.

It served the purpose of strengtheninghemispheric relations at the beginning of the century andagain during and immediately after World War II.

As a movement, as an initiative, it may lookoutdated. As an area for concerted action, it certainlyrecalls specific moments or initiatives in ourcontinent’s history, when it was used as a lever forspecific policies.

As an ideological, vindictive or evenconfrontational field of international relations, it certainlydoesn’t serve any purpose in the present day.

But as a framework for advancing hemisphericrelations, the concept of Interamericanism can beinstrumental in promoting development, trade,investment, technology transfers and wide-rangingcooperation among the countries of this Hemisphere.

For many years now, and especially since theelection of Secretary-General Baena Soares, theOAS has undertaken the task of strengtheningdemocracy and human rights, of consolidating aconfidence-building process in our continent and offighting crime and drug-trafficking.

In a way, in the political field, Interamericanismhas already been reformed and enhanced in order to

Pronunciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãodo almoço oferecido pela “Americas Society”, emassociação com o Conselho das Américas, sobre o tema “APledge to New Interamericanism”, Nova York, 25 desetembro de 1996

“A Pledge to New Interamericanism”

92 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

reflect new realities and challenges in our hemisphere.This is proof that Interamericanism, with the

right perspective, can remain as a powerful force inregional relations, a catalyst for action, and a necessarycomplement to our subregional and national identities.

Our broad geographic circumstance is anintegral part of our definition as peoples and nationsand everything that reinforces that sense of geographicbelonging is useful as a tool in international relationstoday more than ever.

Nevertheless, a renewed Interamericanismshould assimilate not only the political trends in ourhemisphere — the commitment to democracy, humanrights and political stability in the region —, but alsothe economic trends, namely, economic freedom andintegration and the ways these trends interact withthe different levels of Interamerican relations.

A new Interamericanism should reflect andpositively contribute to the changing realities that ourregion will carry on to the next century.

It must reflect and reinforce the logical relationbetween our goals in terms of regional integration andof bilateral policies.

Hemispheric integration, both at subregionaland continental levels, and the quality and complexityof the bilateral ties in our continent are a key tounderstanding what the relations in our hemispherehave become and where they can go from here.

Both Brazil and the US play a pivotal role inthose three levels of relationship. They are keycountries in their respective subregional groups, theNAFTA and Mercosul, and thus directly concernedwith their outcomes.

Also, US-Brazilian relations are better nowthan they have ever been since the end of World WarII. Indeed, our relations today are certainly morecomplex and more respectful than ever, for theyunfold without even a trace of automatic alignmentsor subordination and can count on a very affirmativeand constructive spirit — the spirit that governedPresident Fernando Henrique Cardoso’s State visitto Washington last year.

We need a renewed commitment based onshared economic interests, on a more open economicsystem throughout the Hemisphere, on trade andintegration, as Latin America moves towards moreopen economies thanks to sounder adjustmentpolicies, privatization and monetary stabilization.

Governments of the entire continent areworking on that commitment, not with rhetoricalpurpose, but with a clear bearing and tangibleobjectives: to enhance the participation ofInteramerican economic relations in expanding foreigntrade, improving domestic production andemployment and increasing competitiveness.

Hemispheric integration aiming at a Free TradeArea of the Americas, and the upgrading of thenetwork of bilateral relations in our Continent are thekey to this new Interamericanism.

FTAA talks, now preparing the next concretesteps of how and when to start the negotiations, thequality of the network of present bilateral relations— for example, between Brazil and the US or Braziland Argentina —, and the expansion of Mercosulthrough free trade agreements with South Americancountries, starting with Chile, are new trends andrealities on which we can count to move forward intothat kind of new Interamericanism.

As ideological barriers erode throughout theworld, as democracy and economic freedom becomethe pattern in international relations, the internationalcommunity moves forward to the consolidation ofuniversal rules regulating trade and productiveinvestment, technology flows, nonproliferation and theenforcement of human rights and environmentalprotection.

Countries are more and more conscious thatcollective action and solidarity, through free tradeagreements, market integration, an intenseparticipation in the international decision-makingprocess and also strong sets of bilateral relationshipsare key to approaching global markets and globalissues.

Credentials, such as political and economic

93Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

stability, economic freedom and openness, fulladherence to universal rules and regulations and widecredibility, are essential. You either play by the rulesor you don’t play at all.

Countries are aware that they should use acautious, realistic approach in tackling the challengesof this day and age. They must be affirmative inidentifying their objectives, in defining their timetablefor negotiations, in engaging constructively in thesenegotiations and in building upon what they areaccomplishing.

This is precisely what we are doing infollowing-up the commitments reached at the MiamiSummit of the Americas, a cornerstone of a newapproach towards Hemispheric relations.

All the new elements in the contemporaryworld structure are present in this pragmatic exerciseof weaving a new pattern of relations and cooperationwithin the Americas.

First of all, developing countries in the regionhave moved towards more open and outward-lookingeconomic policies. Those policies have replaced theimport-substitution policies that had prevailed fordecades as a strategy for development andindustrialization.

Several unilateral concessions or advanceshave been made by countries in the region, when theyrealized the importance of exposing their economiesto outside competition in order to better respond tothe challenges of quality, cost and productivity.

Several other concessions have been madeby countries such as Brazil as a result of the launchingand consolidation of subregional agreements —Mercosul, in our own case — and during the Uruguayround.

Many economies in the region — and this iscertainly our case — are in a process of adapting tothis new reality. They have been challenged and thusrequire a certain amount of time in order to becomefully competitive.

Second, we have a global framework fortrade relations under the WTO agreements, with

universal, non-discriminatory rules regulating worldtrade and new areas such as intellectual propertyrights. WTO provides also for a strong disputesettlement mechanism that enables countries to dealon an equal basis with trade differences and conflicts.

Third, several sub-regional initiatives, suchas Mercosul, clearly show that integration has left theworld of rhetoric and policy-planning to become astrong reality in the day-to-day lives of our countries,our business communities, our labor unions andespecially our consumers.

Subregional integration is a main force inincreasing international trade. Mercosul countries, forinstance, have more than tripled their subregional tradein four years, and they accomplished this just as theydoubled their foreign trade as a whole.

Finally, bilateral relations have also gained anew momentum.

Developing countries account for aremarkable increase in imports in our region, manytimes surpassing the growth in their own exports.Brazilian-US relations are a show-case of this newtrend.

Once largely favorable to us, our bilateraltrade has grown at the same time as the balanceshifted favorably to US exports. It is important tonotice that this happened as non-tariff barriers toBrazilian products, affecting significant areas such assteel products, orange juice, footwear and textiles,remained as a constraint to the further growth of ourbilateral trade. This is being the object of carefulconsideration and straight-forward discussions by theUS and Brazilian governments, which places the entireissue under a positive light.

As these conditions unfold, Hemisphericrelations gain an unprecedented momentum, as strongand affirmative as it has ever been since theinauguration of the Pan-American movement acentury ago.

For this trend to endure, it is important, in ourview, that all countries in the Americas have a far-sighted approach to Hemispheric relations.

94 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Brazil’s position is consistent and firm in thisregard. We deeply believe that the FTAA talks couldnow set the course — the how and when – of thenegotiations, provided these negotiations take intoaccount three components:

- First, that the subregional arrangements beconsolidated so that they can act as the building blocksfor a larger free trade area in the Americas;

- Second, that any further opening of oureconomy takes into account our ability to adapt theproductive sector in order to allow for competitionon an approximately equal footing with moredeveloped economies in the hemisphere. We shouldalso be allowed to strengthen our defenses againstunfair trade practices and our safeguards systemunder WTO rules; and

- Third, that concessions in terms of lowertariffs within the process are fully reciprocated with

broader access to other markets in the region andthe removal of protectionist measures.

In our view, this approach will ensure that thethree levels of interaction among our countries willweave a new pattern of relationship in our region,one based in sound realities and strongly sharedinterests.

This new pattern of relationship, based onmutual respect, confidence and a long term vision ofcommon interests, has already begun to make thedreams and ideals of the founding-fathers of Inter-Americanism come true.

As History unfolds in our Hemisphere, let usfollow this path. Let us leave to future generations ofthis Continent the legacy of a new Inter-Americanismthat is based on confidence, respect and a strongsense of regional community in a challenging world.

Thank you.

95Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Foi com grande satisfação que aceitei oconvite para presidir esta mesa sobre o tema “OEstado, o Setor Privado e a Sociedade Ibero-americana ante a Globalização da Economia e asRelações Internacionais”. Quero agradecer aoMinistério da Justiça, ao Governo do Distrito Federale à UNESCO pela gentileza do convite e louvar ainiciativa da organização desta Conferência, que julgoda maior importância. É uma honra pessoal e para oItamaraty, que aqui represento, discutir comautoridades governamentais e representantes do setorprivado temas tão atuais e polêmicos quanto aglobalização e seus efeitos sobre as nossassociedades.

O objetivo desta minha intervenção inicial éanalisar os novos fluxos comerciais, financeiros etecnológicos. Trata-se de avaliar em que medida oconjunto de mudanças na economia internacional temafetado não apenas o relacionamento entre Estado eSociedade, mas também o relacionamento entreEstados nacionais.

Estas questões têm sido discutidas, cada vezmais, tanto na Academia quanto na imprensa, sob orótulo abrangente e nem sempre preciso da“globalização”, que compreenderia aspectoseconômicos, políticos e culturais.

Segundo uma definição clássica de

“globalização”, derivada das análises de economiainternacional, estaria ocorrendo um progressivoenfraquecimento do fator “territorialidade” nasatividades econômicas: as cadeias de produção sedesenvolveriam com crescente independência anteos recursos específicos de um dado territórionacional. Esta desterritorialização estaria se tornandopossível pela redução dos custos de transporte demercadorias, pelo crescimento do comérciointernacional e pela liberalização e intensificação dosfluxos finaceiros internacionais.

Como fator a motivar esta tendência estariaa necessidade de obter ganhos de escala em cadaetapa do processo produtivo, imperativo para asobrevivência numa economia internacional em quea renovação tecnológica vertiginosa elevaconsideravelmente os custos de produção.

Esta interpretação econômica da“globalização” é acompanhada, quase sempre, deavaliações político-culturais do fenômeno. Muitasvezes, o termo tem sido utilizado com sentidosemelhante ao da expressão “Aldeia Global”, cunhadapor Marshall Macluhan há mais de trinta anos, emque o desenvolvimento das comunicações e oencurtamento das distâncias operariam progressivauniformização de valores e padrões decomportamento. Antes aplicável a aspectos

Pronunciamento do Secretário-Geral das RelaçõesExteriores, Embaixador Sebastião do Rego Barros, porocasião da Conferência da Sociedade Civil Ibero-americana,sobre o tema “O Estado, o Setor Privado e a SociedadeIbero-Americana ante a Globalização da Economia e asRelações Internacionais”, Brasília, 4 de outubro de 1996

Sociedade Ibero-Americana

96 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

essencialmente culturais, como na abordagem dopensador canadense, a idéia de unidade de valorespassa a ser atribuída também ao campo político.Neste prevaleceriam, como modelos quaseuniversais, as opções pelo regime democrático e pelaeconomia de mercado. Ao lado, portanto, daprogressiva universalização de determinados bensmateriais e simbólicos, e da crescente unidade culturaldo mundo, ocorreria, sem necessária relação decausa e efeito, a proliferação de regimesdemocráticos e de políticas públicas de corte liberal.

Não é minha intenção, menos pela exigüidadedo tempo do que pela complexidade do assunto,analisar a validade destas hipóteses sobre o processoda globalização em seus diferentes aspectos. Pretendoapenas identificar as principais características daglobalização no campo econômico e avaliar asconseqüências deste fenômeno sobre a atuação doEstado.

Os novos fluxos comerciais, financeiros etecnológicos A intensificação mundial dosintercâmbios de comércio, finanças e tecnologias nãoé uma tendência recente, podendo ser associada aépoca tão remota quanto o início da Idade Moderna,na passagem do século XV para o século XVI,quando se iniciavam as grandes navegações e aformação dos sistemas coloniais. O que distingue,no entanto, o intercâmbio de hoje do de outrora, eque justifica associar o fenômeno da globalização ànossa época, é a intensidade sem precedentes dosfluxos atuais e a velocidade com que se multiplicam.A economia global foi gestada nos últimos cincoséculos e, em especial, a partir do desenvolvimentodo capitalismo industrial desde fins do século XVIII,mas sua forma integral só vem sendo alcançada nestasúltimas décadas, em que já se pode falar de umacrescente interdependência entre economiasnacionais.

Na área financeira, por exemplo, o processode liberalização e intensificação dos fluxosinternacionais como conhecemos hoje é bastanterecente. Iniciou-se com a formação do mercado de

eurodólares, nos anos 60, e aprofundou-se nasdécadas seguintes, com a desregulamentação dosmercados financeiros empreendida pelos EstadosUnidos e secundada pelos demais paísesdesenvolvidos. O mercado financeiro internacionalé hoje uma entidade um tanto enigmática, deproporções desconhecidas e comportamento poucoprevisível.

O que preocupa mais os gestores daseconomias nacionais não é tanto o volume dos capitaisde curto prazo, mas sua volatilidade, a circulaçãoacelerada de capitais ao sabor das expectativas.Como afirmou o Presidente Fernando HenriqueCardoso, em palestra que proferiu em Nova Délhi,há uma espécie de vigilância constante dos agentesfinanceiros sobre o comportamento das economiase as decisões governamentais. Cristaliza-se umaortodoxia econômica, cujos desvios desencadeiamexpectativas e podem provocar crises financeiras nosmercados nacionais e no próprio sistema financeirointernacional.

Para os países em desenvolvimento e, emparticular, para a América Latina, o tema davolatilidade dos fluxos financeiros internacionaispassou a adquirir especial significado a partir da crisemexicana de dezembro de 1994, que teve efeitos,em maior ou menor grau, sobre a Argentina e aVenezuela. Na ocasião, reforçou-se a percepção deque a contrapartida à adoção de normas liberalizantesde ingresso de investimentos estrangeiros, e aorecurso crescente à poupança externa para ofinanciamento de deficits fiscais ou do balanço depagamentos, era o aumento dos riscos de evasãobrusca de capitais, decorrente de crises de confiançaou mesmo da redução da rentabilidade.

O episódio, de alguns meses atrás, dedeclaração de economista do MIT, sobre o estadoda economia brasileira é exemplo do papel dasexpectativas nos mercados financeiros. Se suasdeclarações provocaram reação imediata doGoverno brasileiro, isto se deveu não apenas àimprecisão do que foi dito, mas ao receio de que,

97Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

por imprecisas que fossem, as previsões feitasacabassem assimiladas pelo mercado. Dada aimaterialidade dos mercados financeiros, onde oscapitais circulam sem lastro correspondente de bens,as previsões podem ser, de fato, autorealizáveis.

Nos dias de hoje a construção daconfiabilidade requer não apenas gestão econômicaeficiente; exige também esforço de interferir sobreos fatores que concorrem para gerar determinadasexpectativas no mercado internacional de capitais.

Por esta razão, o Presidente FernandoHenrique atribui grande importância ao objetivo dedotar o sistema financeiro internacional de maiortransparência e previsibilidade. Tem defendido juntoaos Chefes de Estado e de Governo do Grupo dosSete e dos países emergentes a necessidade de secriarem mecanismos de coordenação entre governose instituições finaceiras internacionais para previnir afuga repentina de capitais ou, ao menos, amenizar osefeitos após a instalação de crises. A percepção doGoverno brasileiro é a de que uma avaliação constanteda natureza e da mobilidade dos capitais de curtoprazo permitirá desenvolver formas deacompanhamento das tendências do mercadofinanceiro que orientem as opções governamentais efavoreçam a concertação entre os países.

IITambém no campo comercial as

transformações ocorridas nos últimos anos têm sidoprofundas. A globalização econômica confunde-se,em grande medida, com a liberalização do comérciomundial, pois esta tem sido, ao mesmo tempo, causae efeito da maior interdependência entre as economiasnacionais. Se, por um lado, a abertura comercialprogressiva dos diversos países tem permitido certadesterritorialização do processo produtivo e,portanto, a globalização da economia mundial, poroutro, os esforços dos países para elevar aprodutividade de suas economias num mundo cadavez mais globalizado induzem-nos a empreenderprogramas de liberalização de seus mercados de bens

e serviços, sob o risco de protegerem um parqueprodutivo ineficiente.

O resultado é o crescimento do comérciointernacional em taxas superiores às do crescimentoda economia mundial. Esta tendência viu-sereforçada nas últimas décadas pela liberalizaçãomultilateral empreendida no âmbito do GATT, apóssucessivas rodadas de negociações, e pelosprogramas de liberalização unilateral lançados porpaíses em desenvolvimento. Estes países têm sido,aliás, numa inversão dos papéis históricos, osprincipais defensores da liberalização dos mercadosmundiais nos setores ainda bastante protegidos, comoo comércio agrícola e de alguns bens industrializados,como têxteis e siderúrgicos.

A relativa mudança nos papéis de paísesdesenvolvidos e em desenvolvimento quanto aodilema liberalização/protecionismo pode serpercebida pela alteração da agenda comercial dosanos 80 para os anos 90.

A substituição dos “novos temas” da RodadaUruguai pelos chamados “novíssimos” temas pós-Rodada, como a vinculação entre comércio, de umlado, e meio ambiente, condições trabalhistas ecorrupção, de outro, demonstram que, por efeito doaumento do desemprego e das correspondentespressões domésticas, muitos países desenvolvidospassaram a adotar, com mais freqüência, propostasde sentido francamente protecionista.

Ao lado do protecionismo seletivo —abertura em setores avançados e preservação debarreiras comerciais em setores tradicionais – outracaracterística fundamental da globalização em seusaspectos comerciais é o aprofundamento dasiniciativas de integração regional.

Há alguns anos atrás, prevaleciaminterpretações de que regionalização e globalizaçãoeram fenômenos excludentes e contraditórios. Hoje,poucos se arriscam a interpretá-los desta maneira.

De fato, o desenvolvimento das iniciativas deintegração regional demonstraram ser, de um lado,fator do crescimento dos fluxos de comércio e

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investimentos e, de outro, instrumento para a próriainserção dos países numa economia globalizada.

O exemplo do Brasil é ilustrativo. Aintegração com seus parceiros do MERCOSUL nãose esgota em si mesma: não se pretende privilegiar ocomércio intra-regional em detrimento dosintercâmbios com os demais parceiros. Ao contrário,o MERCOSUL é também instrumento para umamelhor inserção do Brasil na economia internacional,seja porque a liberalização regional prepara osagentes econômicos nacionais para uma posteriorintegração com outros mercados, seja porque aampliação dos mercados ao âmbito regional aumentaa escala de produção e as proporções do mercadosconsumidor, necessárias para compensar oscrescentes custos do processo produtivo.

Tomando-se de empréstimo uma expressãocara aos autores geopolíticos, pode-se dizer que aestratégia de integração brasileira respeita umaseqüência de “círculos concêntricos”. O núcleocentral é a consolidação do Mercosul. O primeiroentorno corresponderia à maior aproximação comos países sul-americanos, em que os exemplos maisanimadores são os acordos já concluídos como oChile e a Bolívia. Estão em andamento também asnegociações com os países do Grupo Andino.

O círculo seguinte, por fim, refere-se àsnegociações de uma área de livre comércio dohemisfério americano e de um acordo de integraçãoMercosul-União Européia. Ainda que todas estasnegociações ocorram simultaneamente, a celeridadeconferida pelo Brasil a cada um destes objetivosresponde à lógica gradualista e à própria viabilidade,a médio e a longo prazo, do término de cada umdestes processos de negociação.

IIITão importantes quanto as transformações do

comércio internacional são as mudanças no campotecnológico. Muito se tem falado da redução do ciclode vida dos produtos, da elevação dos custos dasinovações, do imperativo dos investimentos em

ciência e tecnologia para manter a competitividadenuma economia globalizada e da conseqüentenecessidade de ampliar economias de escala pormeio da integração regional e da liberalização docomércio. O que me interessa desenvolver, noentanto, é uma discussão sobre a correlação entreprogresso tecnológico, transformação do processoprodutivo e níveis de emprego.

O aspecto inquietante da globalização é oaumento do desemprego.

As palavras de ordem do processo deglobalização são competitividade e produtividade.Ambas pressupõem maior produto por unidade deprodução, ou seja, produzir mais com menor uso defatores, entre os quais a mão-de-obra. Nãosurpreende, assim, que, ao lado do crescimento dariqueza como um todo, o desenvolvimento de umaeconomia globalizada esteja elevando as taxas dedesemprego mundiais.

O crescimento do desemprego é bastantediferenciado por setor. De uma maneira geral, pode-se falar de deslocamento da mão-de-obra do setorindustrial para o setor de serviços, o qual representa,cada vez mais, parcelas maiores do produto dospaíses. Ocorre que o uso da automação e detecnologias da informação tem crescido em todas asáreas, inclusive em serviços, como no caso do setorbancário. Ser competitivo tornou-se sinônimo dereduzir pessoal, o que pode ser observado pelastransformações das estratégias de administração egerenciamento.

O resultado desta renovação gerencial,estimuldada pelo imperativo da competitividade, sãodemissões em grande escala, dificuldades dereadptação dos trabalhadores em outros setores,crescentes custos de treinamento e de realocação,menor sindicalização, decorrente do elevadodesemprego e da terceirização, e transferência derenda dos trabalhadores menos qualificados para osmais qualificados.

O desemprego passa a associar-se, portanto,não apenas aos períodos de desaceleração

99Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

econômica e recessão, mas também ao própriofuncionamento da economia internacional em seusmomentos de crescimento. O desemprego cíclicotorna-se estrutural. Seus níveis são particularmentecríticos na Europa. Segundo dados da OCDE,existem pelo menos 35 milhões de desempregadosnos países desenvolvidos.

Mesmo o caso dos Estados Unidos,tradicionalmente menos afetado pelo desemprego,começa a provocar preocupações e debatesdomésticos. Nos últimos cinco anos, apesar doconstante crescimento econômico, inflação baixa,elevação da produtividade e aumento da taxa deinvestimento, houve, no mundo desenvolvido,estagnação da taxa de emprego e redução da rendamédia da grande maioria dos trabalhadores.

Mais grave do que a situação dos paísesdesenvolvidos é o quadro de alguns paísesemergentes que, embora mantenham níveis aindaaltos de emprego, começam a sofrer os efeitos dastransformações tecnológicas e gerenciais sobre autilização da mão de obra nos setores mais modernose sofisticados da produção. O risco, nestes casos,decorre da precariedade de sistemas compensatóriosde amparo ao desempregado e da escassez derecursos para o treinamento e redirecionamento dostrabalhadores.

O desemprego constitui, portanto, osubproduto mais temido da globalização. A mão deobra é, aliás, o único fator de produção que não foiobjeto de um processo de liberalização em escalaglobal. Prevalece ainda o princípio da territorialidade,onde as fronteiras são rigidamente preservadas e osmercados, essencialmente nacionais. O futuro daglobalização dependerá, em boa medida, dacapacidade dos Governos e das sociedades deenfrentar este duplo desafio: preparar as economiasnacionais para uma economia global, crescentementeliberalizada na circulação de bens, serviços, capitaisde curto prazo e investimentos, e, ao mesmo tempo,criar condições para a valorização dos mercadosnacionais de mão-de-obra, sem o que o objetivo de

estabilidade social, política e econômica,indispensável à convivência com a globalização, seráfrustrado.

O papel do EstadoApesar de todas estas transformações

comerciais, financeiras e tecnológicas, não ocorreu,como muitos supôem, uma redução do papel doEstado. Houve antes uma redefinição de suas tarefas.Como tem afirmado o Presidente Fernando HenriqueCardoso, o Estado hoje não deve ser maior oumenor, máximo ou mínimo, grande ou pequeno, maso necessário.

O grande desafio para o Estado na atualidadederiva do fato que dispõe de menor controle sobre aeconomia, em razão da maior influência de fatoresinternacionais que escapam ao seu controle, aomesmo tempo em que sofre maior exigência dasociedade, em função da democratização e crescentetransparência dos processos políticos. O papel doEstado é, neste sentido, mais ambicioso: trata-se decriar condições para o desenvolvimento em meio auma economia globalizada e, ao mesmo, atender àsreivindicações de uma sociedade cada vez maisinformada e exigente.

Mesmo frente à globalização, o papel doEstado não se reduziu, conforme reza o discursoliberal. Sua participação direta na produção é menor,mas suas novas tarefas são ainda mais complexas eabrangentes, por duas razões:

1) a produção hoje depende menos de vantagenscomparativas tradicionais, que constituem fatores“estáticos”, como mão de obra barata e recursosnaturais. Ao contrário, depende da disponibilidadede fatores “produzidos”, “trabalhados”, como mãode obra qualificada, desenvolvimento científico etecnológico, infra-estrutura de transportes ecomunicações, fatores para os quais a atuação doEstado, direta ou indireta, é fundamental;2) o sucesso de um projeto nacional e, portanto, dagovernabilidade no mundo da globalização pressupõe

100 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

a existência de condições de estabilidade econômicae social que somente o Estado pode prover. OEstado não pode, no entanto, ser mero provedor denúmeros econômicos saudáveis. A governabilidade,em sentido amplo, compreende o progresso social,o fortalecimento da democracia, o aumento da rendapopulacional, fatores que não são meros instrumentospara o bom exercício da atividade econômica e paraa atração de investimentos. São fins em si.

O desafio é o fato de que o Estado precisarealizar estas tarefas constrangido por diversasdificuldades decorrentes da globalização. Entre elasressaltam:a) a maior vulnerabilidade frente aos movimentos decapitais, que expôem as políticas cambiais emonetárias ao assédio de ataques especulativos;b) a menor liberdade de decisão no que respeita àspolíticas públicas, em razão da vigilância ortodoxa

do mercado e da progressiva uniformização, pornegociação multilateral e regional, de legislações emdiversas áreas econômicas, como propriedadeintelectual, política comercial e política deinvestimentos.

Para compensar essa situação em que oEstado tem reduzida sua capacidade de enfrentarsozinho os enormes desafios do mundocontemporâneo, é essencial a participação crescentede toda a sociedade no debate e na ação política.Só uma sociedade democrática pode propiciar estasinergia em que os movimentos comunitários, asONGs e os meios de comunicação de massatrabalhem no mesmo sentido do Estado, para exigire propiciar que este desenvolva instrumentos maiseficazes de gestão e possa prestar conta de seus atosà população.

101Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Quiero agradecer, en nombre de laDelegación brasileña, la generosa acogida que noshan brindado desde nuestra llegada a Caracas.

Me gustaría también saludar a la Delegaciónvenezolana y registrar mi satisfacción personal enparticipar de la apertura de los trabajos de esta QuintaReunión de la Comisión de Alto Nivel Brasil-Venezuela.

Hacerlo durante mi vista oficial a este Paísoferece el contexto apropiado para una evaluaciónde los avances que registramos en las relaciones entreBrasil y Venezuela en estos dos últimos años, y másimportante, para consolidad el sentido pragmático yde prioridad que dimos a nustras relaciones.

La COBAN, como foro operacional para lacooperación bilateral, há sido un instrumentofundamental en la consolidación y en el fortalecimientode la integración entre nuestros países.

A lo largo de los últimos dos años, nuestrosgobiernos supieron dar un importante impulso políticoa las relaciones bilaterales, resolviendoadecuadamente asuntos importantes en la agendabilateral.

Asistimos en este breve espacio de tiempo anada menos que dos visitas del Presidente RafaelCaldera a Brasil y una visita del Presidente FernandoHenrique Cardoso a Venezuela, además de susencuentros en Nueva York, en octubre de 1995, y

más recientemente, en Cochabamba.Son demonstraciones inequívocas y en el más

alto nivel, de una nueva disposición de fortalecer lacooperación bilateral y desarrollar en nuevas áreas.Las relaciones entre dos grandes países vecinos quetanto tienen por oferecer uno al otro.

Estamos traduciendo ese gran interésrecíproco en acciones práticas y recogiendoresultados concretos de nuestra cooperación. Esonos permite mirar hacia el futuro con optimismo ytrabajar sobre una agenda equilibrada y consecuente.

Una expresión de cambio equitativo ennuestras relaciones es el intercambio comercial, queregistro un aumento significativo, superando el nivelde los US$ 1,3 billones. Esto traduce no sólo elesfuerzo de nuestros gobiernos, sino sobre todo lapercepción por parte de los agentes económicos, deque existe un espacio a explorar, con recíprocos enlas relaciones entre Brasil y Venezuela. Venezuela porejemplo, ha ido conquistando un lugar importante enla matriz energética brasileña. No es necesario señalarla importancia política y económica de esto.

Hay perspectivas para el perfeccionamientode nuestra cooperación en diversos campos, comoexergía, desarrollo fronterizo, medio ambiente, cienciay tecnología, planificación y cooperación cultural.

Las directrices que emanarán de esta reuniónorientarán las actividades de los diversos grupos de

Abertura da V Reunião da ComissãoBinacional de Alto Nível Brasil-Venezuela

Pronunciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãoda Abertura da V Reunião da Comissão Binacional de AltoNível Brasil - Venezuela, Caracas, 10 de outubro de 1996

102 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

trabajo y deben estar dirigidas hacia la obtención deresultados concretos en todas las áreas de interésmútuo.

Es necesario implementar los proyectos queya están definidos. Es necesario dar mayor eficienciaa las discusiones en aquelos grupos de trabajo quese avocan a áreas de fundamental importancia parael relacionamiento bilateral y además no cumpleronsu mandato, como es el caso de los grupos de trabajosobre energía y minas, y siderurgía.

Los resultados de esta reunión seránimportantes para la consolidación del papel de laCOBAN como órgano promotor de las relacionesbilaterales. Pero además, tendrán un impacto sobrela vida cotidiana de las poblaciones ligadas a la

frontera entre nuestros países y significado muyconcreto para el desarrollo de la región Norte deBrasil y la región Sur de Venezuela.

Esto debe servir como estímulo adicional paraque nuestras deliberaciones contribuyan a laconsolidación de los avances de estos últimos dosaños y señalen nuevos rumbos para el fortalecimientode la relaciones entre Brasil y Venezuela.

Hago votos para que esta V Reunión de AlCOBAN tenga mucho éxito y correspondaplenamente a la confianza en ella depositada pornuestros gobiernos y por todos aquellos que sebenefician del progreso en las relaciones entre Brasily Venezuela.

Muchas gracias.

103Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Una vez más quiero agradecer a VuestraExcelência los cuidados y antenciones que he recibidodesde mi llegada. Esa hospitalidad es una prueba másde la genuina amistad entre Brasil y Venezuela. ElPresidente Caldera y Vustra Excelência son amigosde Brasil y han dado muchas mustras de su empeñopor el progreso en nuestras relaciones.

Mi presencia en Caracas da continuidad alintenso proceso de construcción de esas relaciones.Es un proceso que responde a un interés claro de lospaíses y que constituye una etapa importante en elproceso de integración de América del Sur.

Brasil y Venezuela juntos, abarcan lasdimensiones Atlántica, Platense, Caribeña y Andinaen América del Sur. Nada más natural que nustrasrelaciones relfejen esa diversidad presente en larealidad interna de los dos países.

Somos dos grandes países sudamericanos,ligados no sólo por una faja de frontera de más dedos mil qulómetros, sino también por el apego a losvalores democráticos y por el desafío del desarrollosustentable.Somos dos grandes economías, con altogrado de complementariedad, ambas comprometidasen progresos de estabilización y reforma hanpresentado resultados muy positivos, con fuerteimpacto positivo sobre nuestra insercióninternacional.

Todo eso abre perspectivas muy promisoraspara la consolidación y el fortalecimiento de nuestracooperación.

Avanzamos mucho en estos dos años desdeel encuentro presidencial de “La Guzmania”, en marzode 1994, que elevo las relaciones entre nuestrospaíses a un nuevo nivel de importancia.

Nuetros gobiernos han dado impulso políticoa estas relaciones, a partir de demonstracionesinequívocas, en el más alto nivel, de la prioridad delrelacionamiento bilateral.

La visita del Presidente Rafael Caldera aBrasil em mayo último – su segunda vez em apenasdos años – fué la más reciente demonstración delinterés venezolano por Brasil, que se manifiestaelocuentemente también en el deseo de asociación alMercosur.

Este es un interés que compartimospelnamente y que llevó al Presidente FernandoHenrique Cardoso a visitar a Venezuela hace pocomás le un año, participando aquí de lascommemoraciones de la fecha nacional venezolana,sesalando de esa forma el deseo brasileño dedesarrollar lazos con este que es un parcero de losmás importantes en América del Sur.

Por eso hemos firmes defensores de laasociación de Venezuela al Mercosur, a través delacuerdo que habrá de crear un área de libre comercioentre el Pacto Andino y el Mercosur. Sabemos quela intensificación de nuestras relaciones bilateralesrepercute de forma positiva sobre el proceso deaproximación entre el Mercosur y el Pacto Andino,

Brinde do Ministro de Estado das Relações Exteriores, LuizFelipe Lampreia, no almoço oferecido pelo Chanceler daVenezuela Miguel Angel Burellirvas, Caracas, 10 de outubrode 1996

Brasil - Venezuela

104 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

y continuaremos trabajando para que la próximareunión de cúpula en Fortaleza, sea un marco históricoen ese proceso.

Señor Ministro,Hoy por la mañana dimos un paso más hacia

el fortalecimiento de nuestras relaciones, al abrir la VReunión de la Comisión Binacional de Alto NivelBrasil-Venezuela.

La Comisión es un ejemplo de comopodemos traducir la prioridade política de nuestrarelación en acciones con gran sentido de pragmatismoy objetividad, procurando avanzar los proyectos quetenemos en curso y definir en áreas que consideramosprioritarias.

Esta es por lo tanto, un excelente oportunidadpara una evaluación de los notables progresos ennustras relaciones en los últimos años y para trazarlos rumbos que pretendemos seguir de aquí enadelante.

El balance que hacemos es positivo y lasperspectivas para el futuro de nustro relacionamentoson ampliamente favorables.

Nuestro intercambio comercial presentó unanotable evolución el último año, superando el añopasado, el nivel de los US$ 1,3 billones.

Venezuela es hoy el tercer mayor fornecedorde petróleo para Brasil.

Es un hecho político y económico de lamayor importancia. Las possibilidade de profundizarlos lazos en el área energética son muy positivas. Esorefleja un interés estratégico de Brasil, que está en laraíz de la aproximación entre la Petrobras y PDVSA.

La integración energética es hoy una de lasgrandes áreas de promesa en el contexto mayor dela integración del Continente Sudamericano. Por esoBrasil viene trabajando con el concepto de creaciónde una matriz energética sudamericana, que va alencuentro de los intereses tanto de Brasil, como

potencial consumidor de excendentes, como deVenezuela, como fornecedor cada vez másimportante de energiá para Brasil.

Ya dimos pasos importantes, y con resultadosmuy positivos, también en otras áreas delrelacionamiento bilateral, como desarrollo fronterizo,transportes, meio ambiente, ciencia y tecnologia.

E hicimos eso con la participación activa delos gobiernos estaduales, tanto en Brasil como enVenezuela. La integración física con Venezuela tendráun impacto muy favorable sobre el desarrollo de losestados del Norte de Brasil, que presentan un altogrado de complementariedad con los Estadosvenezolanos próximos a la frontera comun. Lapavimentación de la Rodovia BR-174, ligandoManaus a Santa Elena de Uairen, es una de lasprioridades establecidas en el plan de metas delGobierno de Fernando Hnerique Cardoso y dará unnuevo impuso al desarrollo de la región fronterizaentre los dos países.

Señor Ministro,Estamos haciendo todo eso con la seguridade

de que ese proceso contínuo de profundización denuestras relaciones, servirá de modelo para lacooperación entre países sumamericanos de aquí enadelante.

Estamos seguros de que esa asociaciónsingular entre nuestros dos países ha de correspondera las expectativas de fuimos gerando y que vamosatendiendo, con sentido práctico, realismo y voluntadpolítica.

Y es con ese espíritu que ruego a todos queme acompañen en um brindis por la prosperidad deeste pueblo amigo, Venezuela, por la amistad entrenuestros países, por la salud, ventura y felicidadpersonales de Presidente Rafael Caldera y de VuestraExcelência.

Muchas Gracias.

105Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Quiero agradecer esta honrosa invitación dela Universidad Central de Venezuela para inaugurarla Cátedra Brasil. Estamos poniendo en marcha unmecanismo académico que estará dedicado apromover el intercambio y el conocimiento recíprocode Venezuela y Brasil en muchos campos del saber,de las artes y del quehacer político de nuestros países.

La creación de la Cátedra es un servicio a laamistad brasileño-venezolana.

Éste es un testimonio indiscutible del gradode desarrollo y sofisticación al que llegan lasrelaciones entre Brasil y Venezuela. Yo esperosinceramente que esta ceremonia dé inicio inmediatoa un intercambio académico de alto nivel, en formacontinuada e intensa, entre nuestros países.

La cátedra es un eslabón más en nuestra laborde consolidar un nuevo perfil en las relaciones entreBrasil y Venezuela. Por ello, tiene un interés particularpara la de Brasil y muy especialmente para nuestrapolítica sudamericana.

La diplomacia brasileña trata de reforzar, sinningún sentido de exclusión o subordinación,relaciones con nuestros socios tradicionales,empezando por el MERCOSUR y Sudamérica, losEstados Unidos, la Unión Europea y el Japón, y deampliarlas hacia aquellas áreas en el mundo donde

han surgido nuevas oportunidades de interacción,como en África Austral y en la región que hoy seconoce como Asia-Pacifico.

Esas áreas prioritarias la diplomacia brasileñalas está abordando con base en el profundo cambiode imagen y percepción del Brasil entre nuestrossocios y entre los agentes económicos internacionalesen general.

De hecho, hay un nuevo interés por el Brasilde la democracia consolidada y de la estabilizacióneconómica con crecimiento, reforma estructural,apertura hacia el exterior y una conciencia social másfuerte.

Combinada a la exitosa empresa delMercosur, que ha dado una nueva dimensión almercado brasileño y a nuestras relaciones conSudamérica, esa nueva identidad de Brasil constituyeun elemento primordial de nuestra .

Otro instrumento del que nos estamosutilizando como nunca antes en nuestra historiadiplomatica es la diplomacia presidencial. La agendade viajes internacionales del Presidente FernandoHenrique responde intensamente a nuestrasprioridades y ha sido concebida con sentido deequilibrio y de interés. Su meta básica es la derelanzar algunas relaciones e inaugurar otras, siempre

La Política Exterior Brasileña y las Relaciones Brasil-Venezuela en El Contexto da la integración sudamericana

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião dainauguração da Cátedra Brasil da Universidad Central deVenezuela, sobre o tema “La Política Exterior Brasileña ylas Relaciones Brasil-Venezuela en El Contexto da laintegración sudamericana”, Caracas, 10 de outubro de 1996

106 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

en las regiones que responden a los imperativos dela . En esa agenda, Venezuela figuró desde el principiocomo prioridad y el viaje del Presidente brasileño aCaracas se realizó a los seis meses de iniciado suGobierno.

Queremos con esa agenda presidencialreforzar la inserción externa de Brasil, ampliar elconocimiento internacional sobre lo que ocurre enBrasil y llamar la atención en Brasil para lo que ocurreen otros países, atraer inversiones y mejorar el accesoa mercados y tecnologías. Nuestro objetivo es claro:la diplomacia debe sostener y consolidar los éxitosque estamos obteniendo en lo interno con laestabilización y las reformas.

Un tercer elemento es el mismo Mercosur,cuya consolidación, a la vez que es objetivo prioritariode la diplomacia brasileña, nos dio una dimensiónadicional en nuestra propia personalidadinternacional. La asociación de Chile, a través de unAcuerdo de Libre Comercio que recién acaba deentrar en vigor, la próxima asociación de Bolívia y lafutura asociación del Pacto Andino, en especial deVenezuela, completarán un ciclo de consolidación yproyección de un espacio económico sudamericano,con efectos positivos sobre todos nuestros países.

Una parte substancial del interés que Brasilhoy despierta en el mundo se debe al Mercosur, unahistoria de éxito que ha ampliado exponencialmenteel comercio entre sus miembros — más del 300%en cuatro años — y se ha vuelto uno de los elementosmás atractivos de las economías de sus Estados-miembros.

Las relaciones intra-latinoamericanas vienenadquiriendo un carácter especial en el contexto delas políticas exteriores de nuestros países.

Cuando se habla de globalización como lacaracterística central del sistema económicointernacional, hay una tendencia a mirar hacia losgrandes polos del poder económico mundial —Norteamérica, la Unión Europea y el Pacífico asiático.

Ese abordaje, sin embargo, no debeofuscarnos en la búsqueda del fortalecimiento de

nuestros propios instrumentos regionales departicipación en la dinámica de las relacioneseconómicas internacionales.

Lo regional y lo internacional, lo regional y loextra-regional no son instancias excluyentes o queimpliquen una subordinación estéril. Son ámbitoscomplementarios. Hay que trabajar intensamente conlas dos instancias.

Varios de los instrumentos a nuestradisposición para mejorar nuestra inserción externa yhacerla operativa en el campo interno – generandoempleo y riqueza y actuando en el sentido de latransformación de nuestras sociedades –, tienen unadimensión específicamente latinoamericana y por elloinciden directamente sobre las relaciones entrevecinos como Brasil y Venezuela.

Compartimos la democracia – sinónimo deestabilidad política, y por lo tanto una condiciónbásica en el mundo contemporáneo.

La integración económica, a su lado, es larespuesta regional al fenómeno de la globalización yse viene dando en dos niveles complementarios: laintegración subregional, que amplía la dimensióninternacional de nuestros países, al ensanchar suseconomías y al agregar dimensión a sus mercados; yla integración física fronteriza.

Brasil comparte con Venezuela una larga zonafronteriza cuyo potencial va mas allá de loestrictamente local para alcanzar la integraciónenergética y las vías de comunicación entre laAmazonia y la costa del Caribe. Pronto alcanzaremosun grado más elevado de integración económica através de la liberalización comercial.

El comercio intrarregional latinoamericano hatenido un crecimiento significativo en los últimos añosmerced de las políticas de apertura económica en laregión y de la retomada del crecimiento que se siguióal ajuste estructural en varios países del Continente.

Con el Grupo de Río, la ConferenciaIberoamericana, el Tratado de CooperaciónAmazónica y los esquemas subregionales deintegración, hemos creado una intensa familiaridad

107Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

entre nuestros Presidentes y nuestras Cancillerías yforos políticos y económico-comerciales insustituiblesen su tarea de coordinación e iniciativa.

Gracias a esos foros, Latinoamérica yparticularmente Sudamérica tienen hoy unapersonalidad política internacional más completa ymejor proyectada hacia el exterior. Ésa es una de lasrazones por las que la región es hoy día el segundopolo de atracciópn de inversiones en el mundo endesarrollo.

De ahí surgió también la base de la respuestaque podemos dar a los desafíos, oportunidades yriesgos de la globalización. Esa respuesta es una sóla:tenemos que ampliar la escala de nuestras economíaspara que puedan desarrollar al mismo tiempo sucompetitividad y su capacidad de atraer inversionesproductivas que generan riqueza, empleos ytecnologías.

La democracia, la estabilidad monetaria, laapertura y la libertad económicas, la modernizacióndel Estado y las reformas estructurales son nuestrasrespuestas a los retos de la globalización y alimperativo de superar los rezagos sociales. Tambiénla integración con nuestros vecinos constituye una delas respuestas.

Pero la integración no se limita a lo regional,sino que abarca en un grado hoy mucho más intensotambién lo bilateral. Porque lo bilateral y lo regionalno se pueden excluir. Se trata, en verdad, deinstancias complementarias.

El ejemplo de las relaciones brasileño-venezolanas es ilustrativo. Son relaciones que hanganado un nuevo perfil en los últimos dos años, en elmarco político de frecuentes encuentrospresidenciales. Hoy nuestras relaciones se fortalecencon la perspectiva de las negociaciones entre elMercosur y el Pacto Andino. El impacto de eseproceso en las relaciones bilaterales brasileño-venezolanas y en las relaciones intra-sudamericanasserá enorme. Agregaremos otra área de convergenciaen la región, un espacio de cooperación quefortalecerá también la dimensión bilateral, a la vez

que contribuirá a reforzar el perfil externo de todoslos países de nuestra región.

Brasil y Venezuela son países con similitudesque van más allá de las identidades básicas que unen,en lo cultural, lo étnico y lo histórico a los países deLatinoamérica. Tenemos una multiplicidad devertientes geográficas o geopolíticas, que nos hacenunas especies de puentes o bisagras entre subregionesdel Continente. Brasil es un país atlántico, amazónicoy platino — y miembro del Mercosur. Venezuela esa la vez andina, amazónica y caribeña — y miembrodel Pacto Andino.

Con una considerable complementaridadentre sus economías, Brasil y Venezuela empiezan aexplotar fórmulas capaces de permitir unaprovechamiento óptimo de esa doble circunstanciaque nos asocia: la proximidad física y una demandarecíproca considerable por bienes industriales,alimentos y materias-primas necesarios al desarrollo.Los proyectos concretos se multiplican.

La Amazonia, antaño una barrera, hoy es unespacio de unión entre los dos países. Allí tenemosun patrimonio ambiental y de biodiversidadincomensurable, que debe incentivarnos a lacooperación bilateral y en el marco del Tratado deCooperación Amazónica, para su protección yaprovechamiento en bases sustentables.

Los Estados septentrionales de Brasil miranhacia Venezuela como una oportunidad en variossectores: como mercado consumidor, como mercadoproveedor, como fuente de energía, comointerconexión con el mundo por el Caribe, socio envariadas formas de cooperación y hasta deinversiones.

Hemos sido capaces de ir resolviendo en sudimensión correcta los problemas que a vecesocurren en el área fronteriza merced de actividadesilegales que a veces se desarrollan en esas zonas yque exigen un tratamiento eficaz y concertado.

Estamos intensificando los contactosgubernamentales en todos los niveles, de lo que sontestimonios elocuentes el intercambio de visitas

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presidenciales y ministeriales y de misiones técnicas.En esa labor estamos, por nuestra parte, involucrandolos Estados de Brasil que hacen frontera conVenezuela. Pero esa es una tarea que debe trascenderla acción de los Gobiernos para alcanzar laparticipación de las sociedades y los agenteseconómicos.

En cierta manera, la creación de la CátedraBrasil en la Universidad Central de Venezuela es unarespuesta firme a ese reto.

Conociéndonos mejor, promoviendo elintercambio cultural y académico, intercambiandoexperiencias y creando un sentido más personal deidentidad entre los que participan de esta empresaconjunta, estaremos contribuyendo a proyectarnuestras relaciones aún más de lo que ya hacen losintereses concretos del comercio, la integración físicay el diálogo político.

Muchas gracias.

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IntroduçãoA importância deste III Encontro Nacional

de Estudos Estratégicos se expressa pelo número equalidade dos participantes. É uma honra estar aquie queria por isso começar agradecendo aosorganizadores do Encontro pela oportunidade deexpor algumas idéias do Itamaraty sobre os cenáriosque se desenham para o Brasil nas próximas décadase sua relação com o que desejamos para a inserçãointernacional do nosso país.

O Itamaraty encara a reflexão estratégica delongo prazo como um instrumento de concepção ede aperfeiçoamento das políticas que estamosimplementando no presente.

Essa dialética entre o presente que estamosvivendo, e sobre o qual temos certa medida decontrole, e o futuro coberto de incertezas einterrogantes é o que dá sentido ao tipo de reflexãoque estamos fazendo neste seminário.

A inquirição sobre o futuro não pode ser umexercício de diletantismo ou uma empresa deadivinhação desconectada do presente.

Não pode tampouco ser uma profissão de févoluntarista ou ideológica, que confunde o que édesejável com o que é objetivamente previsível epossível.

Como exercício de realismo e pragmatismo,

a reflexão sobre o futuro deve, isso sim, ser uminstrumento de planejamento, de determinação deobjetivos, de definição de opções — e de escolha,dentre essas opções, daquelas que são mais racionaise conseqüentes.

Algumas notas de cautela É preciso tambémreconhecer a dificuldade de traçar cenários para ofuturo. Essa dificuldade é reforçada até mesmo pelaslições mais recentes da história.

Quem teria previsto, em 1979 — ano dainvasão do Afeganistão pela então União Soviética eponto alto da doutrina Brejnev —, que dez anosdepois o muro de Berlim cairia e em seguida a própriaUnião Soviética deixaria de existir?

O analista ou diplomata que, apenas algunsanos antes, quisesse apostar nesse cenário tãodecisivo para as relações internacionaiscontemporâneas provavelmente teria sido visto comoum temerário. Se Reagan tivesse essa certeza, nãose teria envolvido tanto nos problemas centro-americanos ou na polêmica do Programa Guerra nasEstrelas, concebido como se o que chamou em 1984de “Império do Mal” fosse durar outros setenta anos.

Por outro lado, fugir à inconstância eimprevisibilidade da história refugiando-se emcenários demasiado genéricos, ou construindodetalhadas elaborações analíticas que fazem sentido

Palestra do Ministro das Relações Exteriores, EmbaixadorLuiz Felipe Lampreia, no III Encontro Nacional de EstudosEstratégicos, sobre o tema “O Brasil e o Mundo no SéculoXXI — Uma Visão do Itamaraty”, Rio De Janeiro, 14 deoutubro de 1996

O Brasil e o Mundo no SéculoXXI - Uma Visão do Itamaraty

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apenas como um sistema fechado, também não trazajuda ao estrategista que reflete sobre o futuro.

Cenários demasiado genéricos têm poucarelevância analítica e para o planejamento, enquantocenários muito precisos são altamente perecíveis,porque o mundo se move ao mesmo tempo em tantasdireções e níveis, que seria impossível acertar nacombinação exata dos movimentos em cada umdeles. A chance de acertarmos hoje na descriçãoexata do mundo e do nosso país dentro de cinqüentaanos deve ser menor do que a de ganhar o prêmioda Sena acumulada.

Faço essas ressalvas um pouco para recordara ironia de Raymond Aron, que alertava para aimportância de fazer previsões, sim, mas sem contudoarriscar datas para elas.

De qualquer forma, o século XXI, períodoproposto para a nossa análise, é demasiado tempopara qualquer exercício de reflexão que sejaoperacional para as políticas que devemos perseguiragora. Essa dificuldade é bastante óbvia.

Se nos colocássemos na perspectiva dealguém que, cem anos atrás, em 1896, se visseobrigado a refletir sobre o mundo ao longo de todoo século XX, compreenderíamos quão difícil já deviaser, em um momento de aceleração das ciências edo tempo histórico, fazer previsões e traçar políticasde longuíssimo prazo.

Dificilmente alguém situado no cenáriopolítico e econômico do auge da Belle Époque teriatido condições de prever minimamente os grandesdesdobramentos do século XX: a própria GrandeGuerra, a Revolução bolchevique, o nazi-fascismo,a Segunda Guerra, a Guerra Fria e a revoluçãotecnológica que desembocaria na chamadaglobalização.

Dificilmente alguém se arriscaria a fazer issotendo consciência da rapidez com que a humanidadejá avançava — ou se agitava – naquela época. Odesmentido de teorias futuristas impecavelmenteconstruídas com os dados disponíveis ao autor jáhavia começado a se tornar freqüente. Se não, que o

diga Malthus, já no século XIX desautorizado emsua teoria populacional fatalista pelo progresso dastécnicas agrícolas, pelos avanços da ciência médicae pela capacidade de ampliação das áreasagricultáveis no mundo.

Hoje, com a velocidade das mudanças e doprogresso tecnológico aumentada exponencialmente,esse exercício é praticamente irrealizável.

O Brasil e o futuro das relações internacionaisPor essas razões, penso que o melhor é concentrar anossa análise sobre as perspectivas internacionais doBrasil naquilo que já hoje deve constituir a base parao desenvolvimento brasileiro nas primeiras décadasdo século XXI.

Mais do que prever o futuro, é precisoprepararmo-nos para as suas diversas e muitas vezesimprevisíveis possibilidades de realização. E essepreparo se faz naquelas áreas básicas cuja relevânciae operacionalidade na definição do poder nacionalindependem dos rumos que a história mundial tomar.

Ninguém discutirá que investir em educaçãoe em melhoria dos indicadores sociais, por exemplo,é condição mínima indispensável para participar comvantagens do sistema internacional. Isso é verdadehoje e o será cada vez mais.

Há muito ficou evidente que odesenvolvimento social é condição para odesenvolvimento econômico e constitui a primeiralinha de defesa nacional e de sustentação dasoberania.

Projetado para o futuro, esse axioma indicaclaramente os caminhos a perseguir em sociedadesem desenvolvimento, como a brasileira, marcadaainda por desequilíbrios, atrasos e grande carênciade coesão social.

Ninguém discutirá que é preciso ter umapolítica de defesa atualizada e abrangente, não-ideológica e que leve em conta não só as relaçõesentre Estados e os sistemas políticos regionais einternacionais, mas também a incidência cada vezmaior de fenômenos como o narcotráfico, o tráficode armas, e o crime organizado, ou a proliferação

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cada vez mais intensa de atores internacionais comoempresas multinacionais, Organizações Não-Governamentais, Igrejas, Federações sindicais eempresariais, grupos parlamentares.

Num horizonte de vinte a vinte e cinco anos ,o que é preciso, portanto, é analisar algumas dasvariáveis com que necessariamente o Brasil deveráoperar nas próximas duas ou três décadas em suainserção internacional. A identificação dessas variáveise a sua hierarquização devem partir do quadro hojeexistente. A definição desse quadro, portanto, precisaser acurada e destituída de subjetivismos ou viesesideológicos.

Falo de um horizonte de vinte a vinte e cincoanos porque creio que, realisticamente, esse é operíodo máximo que poderemos, com algumasegurança, ter em mente ao fazer uma reflexão sobreo futuro. Esse é o horizonte, aliás, que nos autoriza ahistória do século XX.

Uma periodização, em grandes linhas, a partirdo início do século XX até onde imagino que irá ociclo histórico atual nas relações internacionais,compreenderia etapas de entre vinte e vinte e cincoanos, sempre marcadas ao final pela aceleração deuma grande transformação.

Dependendo naturalmente do ângulo deenfoque, o século XX, compreendendo as duastransições dos seus extremos, poderia ser divididoem cinco grandes períodos, cada qual muitoprofundamente diverso do anterior: o primeiro, daGuerra Hispano-Americana de 1898, marco do inícioda projeção mundial dos Estados Unidos, até oTratado de Versalhes, de 1919; o segundo, deVersalhes até o fim da Segunda Guerra; o terceiro,do fim da Segunda Guerra e do início do bipolarismoda Guerra Fria até mais ou menos 1965, com oressurgimento do Japão e da Europa como grandespólos econômicos mundiais, o auge dadescolonização e início do declínio — apenas relativo— dos EUA e da União Soviética; o quarto, darearrumação internacional dos anos 60 ao fim dobloco soviético, no início dos anos 90; e, o quinto,

de então até algum ponto nas primeiras duas décadasdo século XXI, talvez a união definitiva da Europaou mesmo a ascensão da China a primeira ou segundapotência mundial — um período que, à falta de melhornome, poderíamos chamar de consolidação daglobalização.

É esse período — um período relativamentecurto, mas marcado por novas e intensastransformações da realidade mundial — quedeveríamos ter em mente ao analisar a forma pelaqual o Brasil deve ingressar no século XXI.

Vinte a vinte e cinco anos que poderão assistirao amadurecimento do Brasil como potência média,economicamente forte e socialmente mais sólida ecoesa, com intensa presença regional e considerávelintercâmbio com outras regiões, embora sem poderioestratégico e capacidade de influência global.

Ou vinte a vinte e cinco anos que poderãoassistir à sua estagnação como país de desigualdadessociais e regionais, que alterna ciclos curtos dedesenvolvimento e espasmos de recessão e que separalisa diante do esfacelamento progressivo da basesocial, com sérios riscos para a sua integridade esoberania.

Uma análise a partir do quadro atual É difícil que possamos contemplar algo a meio

caminho entre essas duas possibilidades antagônicas.Nós estamos ingressando no que poderá ser umperíodo decisivo na nossa formação nacional — umaespécie de momento de crise no sentido gramsciano,ou seja, em que o novo, que chega com vigor, aindanão acabou de nascer e o velho ainda não morreu detodo.

O quadro típico nesse tipo de situação é oque presenciamos hoje aqui mesmo, se olharmos pelajanela. Áreas de notável progresso e sofisticação,instituições estáveis e funcionais, segmentos dasociedade perfeitamente integrados ao mundo, árease setores econômicos com elevada produtividade ecompetitividade, disposição para mudanças e êxitonas reformas que vão adaptando o país a novas

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realidades e desafios. Ao lado, manifestaçõesarcaicas de uso do poder, áreas de atraso eindescritível desigualdade, setores esclerosados,resistência às mudanças, domínio dos privilégios eda exclusão, falta de coesão social.

Como resultante do enfrentamento dos doisconjuntos de forças, as do progresso e as do atraso,um grande dinamismo, um país que mostra umanotável vitalidade, mas cujo destino ainda dependede decisões e de políticas em implantação ou emmaturação e de uma vitória decisiva do novo sobreo velho.

Os grandes países — e sem qualquerufanismo, o Brasil tem tudo para ser um deles —atravessam alguns períodos cruciais na sua formaçãohistórica. Esses períodos determinam estruturas,comportamentos, mentalidades e objetivos nacionaisque constituirão por longo tempo a base do que serãoesses países e de como se participarão dentro dosistema internacional.

Foi o caso da Espanha de Carlos V, da Françade Luís XIV, da Grã-Bretanha no final do séculoXVIII e início do século XIX e dos EUA no final doséculo XIX até o New Deal de Roosevelt — duasou três décadas de transformações e consolidaçãoque forjaram a personalidade interna (política,econômica e social) e internacional (diplomática eestratégica) desses países e lhes deram traçosduradouros como Nações e como forças dominantesnas relações internacionais em seus respectivosperíodos de apogeu.

Sem que seu projeto nacional contemple umavocação de hegemonia regional ou internacionalcomo os países que acabo de citar, o Brasil semdúvida está reunindo um bom potencial para dar umsalto qualitativo tanto no seu desenvolvimento internoquanto na sua inserção internacional. Esse potencialé a resultante de diversos avanços que o país temconseguido a partir da sua consolidação como umademocracia, uma sociedade majoritariamente urbana,uma economia industrial moderna e diversificada ecom um grau crescente de interação com o mundo.

Essas tendências não se vão firmando semresistências. Mas elas sem dúvida constituem umaresposta adequada a dois imperativos básicos dopaís: o primeiro, o da consolidação da cidadania,base fundamental da soberania no mundo modernoe fonte de legitimidade e poder do Estado; o segundo,o de valer-se adequadamente da inexorabilidade danossa inserção internacional para dela extrair o maiornúmero possível de benefícios concretos — emgeração de riqueza, empregos e apoio para odesenvolvimento econômico e social — ao menorcusto possível.

Essas são, de fato, as duas realidades maisnovas e desafiadoras em que o Estado brasileiro devemover-se.

A primeira, a crescente preeminência docidadão, na sua vertente política de eleitor e na suavertente econômica de consumidor, no Estado e noGoverno e portanto como objetivo das políticas.

A segunda, a crescente globalização daeconomia — um termo que se tornou lugar comum,mas que é efetivo para descrever uma realidadeobjetiva (não se confundindo, portanto, com ummovimento ou uma ideologia contra a qual é possívelinsurgir-se).

É evidente que a questão da cidadania, comofator principal da estruturação do Estado, do Governoe das políticas nacionais, tem a maior relevância paraa análise que estamos fazendo. O Itamaraty tem aliás,incorporado sistematicamente o conceito de cidadãoe de consumidor no discurso diplomático brasileiro.

Mas, por serem competência do Itamaratyos aspectos internacionais da realidade que estamosexaminando, prefiro apenas deixar esse registro sobrea importância crescente do cidadão como objetivoprimeiro das políticas nacionais, para concentrar-mesobre os desdobramentos previsíveis do fenômenoda globalização como ordenador das relaçõesinternacionais nesta passagem de século.

Concluiria então assinalando quais políticas,no entender da diplomacia brasileira, fortalecerão aação internacional do Brasil e o deixarão mais

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preparado para atuar diante desses desdobramentosprevisíveis da globalização nos próximos vinte a vintee cinco anos.

Alguns desdobramentos previsíveis nas relaçõesinternacionais nos próximos vinte a vinte e cincoanos

O primeiro desdobramento é a acentuaçãoda homogeneização da vida internacional em tornodas duas forças centrais da democracia e da liberdadeeconômica. É evidente que continuará havendoexceções a essa tendência, mas o provável é queelas se confinem cada vez mais à periferia do sistemainternacional. Em termos territoriais e populacionais,a tendência deve ser a de que a imensa maioria dahumanidade viverá sob o domínio dessas duas formasou ao menos da liberdade econômica.

Essa homogeneização se reforça tambémpelo fato de que, no horizonte previsível, as relaçõesinternacionais serão dominadas, do ponto de vistaestratégico-militar, pelo unipolarismo, com opredomínio da única superpotência remanescente doperíodo anterior, os Estados Unidos, cuja perda —apenas relativa — de poder econômico em nadaalterou sua condição de único ator global capaz dejogar e influir nos diversos tabuleiros diplomáticos.

Mesmo estando distantes dos anos em querespondiam por mais de 40% do produto mundial,os EUA continuarão sendo o principal mercadoindividual do mundo, provavelmente o mais aberto,mas também o que com maior facilidade recorre amedidas unilaterais de proteção e de busca deacessos no exterior. A crescente ascensão econômicae política da Alemanha, da China e do Japão, emboracruciais e determinantes no planejamento estratégico-diplomático brasileiro, não deve alterar essa realidadea não ser em termos relativos. Trata-se de umarealidade que é preciso compreender e com a qual épreciso saber operar.

Um segundo desdobramento previsível — eaté certo ponto já mapeado e definido porentendimentos realizados ou em curso — será a

intensificação da integração regional e daintegração entre regiões, de que são exemplos osprocessos já lançados, mas projetados para umfuturo de médio a longo prazo, das negociações paraa criação da Área de Livre Comércio das Américase para a criação de uma área de livre comércio entreo Mercosul e a União Européia.

O próprio Mercosul adota hoje um curso quepermite antever o que será nas próximas duasdécadas: um processo intensificado de integração,baseado em um núcleo algo ampliado de Estados-Membros, que irão aprofundando os mecanismos doMercado Comum através de um crescente númerode políticas internas concertadas (direitos doconsumidor, proteção da propriedade intelectual,regime de salvaguardas e defesa contra práticasdesleais de comércio, etc.) , e com um númeroimportante de acordos de livre comércio com outrospaíses da região e fora dela.

O aumento da competição internacional— por mercados, por investimentos e por tecnologias— é apenas um corolário desse processo descritopelo conceito de globalização. A intensificação dascorrentes de investimentos, combinada à crescentehomogeneização e universalização de regras,apresentará a mais curto prazo o desafio dotratamento multilateral da proteção e promoção dosinvestimentos. A ênfase na regulamentação universaldos chamados novos temas do GATT só tende acrescer com a consolidação da globalização.

Competitividade e produtividade continuarãoa ser as alavancas principais das relações econômicasinternacionais e a conquista de mercados será nãoapenas um objetivo, mas também um instrumento paraintensificar a capacidade de competir dos países.

Dois elementos particularmente negativos seassociam a esse fenômeno.

O primeiro é a persistência previsível doproblema do desemprego nas economiasdesenvolvidas. O desemprego, talvez a grandequestão internacional da nossa época, é uma questãoeconômica e social que já adquiriu a condição de

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primeira prioridade política. Seu efeito imediato éintensificar a agressividade das economias por eleafetadas, na busca de mercados e oportunidades, etolher de certa forma a disposição de investir noexterior, pelo receio de extrapolar o limite doaceitável na alegada “exportação de empregos”.

O segundo é a persistência previsível doprotecionismo. A competição internacional e ofenômeno do desemprego deverão continuar aalimentar atitudes protecionistas e políticas unilateraisde comércio mesmo apesar de o mundo contar hojecom um sistema multilateral de comércio maiscoercitivo, sob a égide da Organização Mundial deComércio e do seu sistema de solução decontrovérsias. O protecionismo tem se ampliado coma proposta de fórmulas novas, que o disfarçam sobiniciativas de natureza ambiental ou social, porexemplo. Essa será uma área que exigirá redobradaatenção de um país como o Brasil.

Um contraponto igualmente perigoso doprotecionismo são as práticas desleais de comércio— dumping, subsídios ilegais, utilização de mão deobra não-remunerada, subfaturamento e outras —,que constituem um fenômeno que se universalizou ese acentuou com a agressiva ampliação daparticipação dos países asiáticos no comérciointernacional.

Nada indica que, no curto ou médio prazos,essa tendência se atenue ou desapareça; ao contrário,a forte competição internacional só tende a alimentaresse tipo de práticas, o que valoriza imensamentenão apenas a Organização Mundial de Comércio,mas também o desenvolvimento, em um país comoo Brasil, de mecanismos eficazes de proteção contraessas práticas desleais ou predatórias de comércio.

Ainda no plano do racionalmente previsível,as relações internacionais continuarão marcadas pelapresença de radicalismos em certos países ouregiões e pela ação desestabilizadora de Estados oumovimentos radicais que preferem o caminho damarginalidade em relação às grandes tendênciascontemporâneas. Uma conseqüência disso será a

persistência do fenômeno do terrorismo e suapressão sobre a agenda internacional.

No mesmo capítulo da agenda negativainternacional, fenômenos como o crimeorganizado transnacional, o narcotráfico e aexploração predatória do meio ambientecontinuarão a estar no topo, em parte comoconseqüência da falta de coesão social em um grandenúmero de países, em parte devido às facilidadescrescentes que a própria globalização oferece emtermos de comunicações e meios tecnológicos àdisposição das redes criminosas.

A dificuldade de se dar uma solução efetivaao problema da demanda por drogas nos paísesconsumidores tende a eternizar uma relação demercado pura: onde há demanda, haverá oferta; ondeo comércio, e não a demanda, é reprimido, o aumentodos preços tende a compensar os riscos.

Acresce a isso uma sensação crescente deimpunidade internacional na área do narcotráfico, docrime organizado e da corrupção. A lavagem dedinheiro é facilitada pela existência de paraísos fiscaise mecanismos de sigilo bancário, enquanto apermeabilidade dos sistemas políticos de váriospaíses permite que os criminosos de certa formaconsigam proteção e santuário.

Quanto ao meio ambiente, a equação tendea tornar-se cada vez mais complexa, na medida emque crescem as pressões pela exploração de recursosnaturais, inclusive as riquezas da biodiversidade, naproporção em que crescem as pressões internas einternacionais pela preservação do patrimônioambiental de países que, como o Brasil, são grandesrepositórios de biodiversidade e de recursos minerais,florestais e hídricos e apresentam rica variedade deecossistemas ainda intocados ou apenas parcialmenteafetados pela atividade humana.

Há um lado positivo nessas preocupações,na medida em que elas encorajam uma visão maisabrangente do patrimônio nacional, que vai muito alémdo território e dos recursos neles existentes paraenglobar a preservação e o uso sustentado desses

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recursos e o combate a práticas predatórias. Mas éum tema com forte impacto político e diplomático,ainda que tenha havido uma desmobilizaçãointernacional depois de passada a Rio-92.

Ainda na agenda negativa, o fenômeno daimigração ilegal ainda parece longe de se reverter,especialmente na medida em que diversosmecanismos que operam sob a globalizaçãoproduzem ou acentuam as desigualdades dentro dospaíses ou entre os países.

Como país de crescente migração em direçãoao exterior – um fenômeno novo do ponto de vistasocial e diplomático para nós —, o Brasil deveacompanhar com crescente atenção o fenômeno, namedida em que ele gera não apenas restriçõesimportantes ao livre trânsito internacional de pessoas,mas também atitudes individuais ou coletivas dediscriminação nos países recipiendários e políticasde contenção e reversão das correntes migratóriasnesses países. O crescimento da xenofobia é umcorolário desse fenômeno e pode afetar também acomunidade brasileira no exterior.

Nada autoriza tampouco a acreditar em umfim próximo de focos de instabilidade e conflito nosantes chamados segundo e terceiro mundos.

As tensões étnicas e políticas, orenascimento do nacionalismo radical e os conflitosdistributivos têm estado na raiz de tragédias como ada Bósnia, da Somália, do Burundi e de Ruanda.

Não há garantia explícita nosdesenvolvimentos mais recentes da história mundialno sentido de que será possível evitar novos focosde conflitos como esses, na medida em que as suascausas profundas não são resolvidas e em que acomunidade internacional mostra grande relutânciaem se envolver diretamente nos países afetados.

Tem havido desenvolvimentos positivos emalgumas regiões, como na África Austral, queressurgiu como área de grande interesse para acomunidade internacional em razão do fim doapartheid e do encaminhamento dos conflitos emAngola e Moçambique.

O Oriente Médio acaba de demonstrar queainda é uma área volátil, que encontrou o caminhoda paz — e portanto do desenvolvimento – em umprocesso complexo, submetido a fortes pressões esujeito a grande instabilidade. É possível fazer umaaposta nesse processo, como aliás o Brasil tem feito,mas trata-se ainda de uma situação que recomendacautela, apoio imparcial mas interessado e uma atitudede observação atenta.

Pacificado, o Oriente Médio rapidamente sealçará à condição de uma área dinâmica do mundoem desenvolvimento, pela sua condição deencruzilhada entre continentes e por sua vocação parao comércio internacional. Mas ainda poderápermanecer como uma grande interrogação.

Os países da Ásia deverão continuar a lideraras estatísticas de crescimento do produto e departicipação no comércio. Um importantedesenvolvimento ocorrerá em 1997 com aincorporação de Hong Kong à China. Seráfundamental observar essa intersecção de doissistemas políticos distintos que dão expressão a duaseconomias poderosas, com uma extraordináriavocação de participação no comércio internacionale nos fluxos de investimentos.

No campo da não-proliferação e dodesarmamento, deve prosseguir a tendência atual deuniversalização de regras e de participação nosdiversos esquemas multilaterais, como ficou patentena recente aprovação, por esmagadora maioria —um virtual consenso —, do Tratado de ProscriçãoCompleta dos Testes Nucleares. Cada vez mais ocusto político – e certamente o custo tecnológico —do desvio da norma será maior. As exceções, asreticências, serão cada vez mais limitadas e comvisibilidade cada vez maior.

Essa já longa descrição de alguns dos traçosmais marcantes do mundo em que deveremos nosmovimentar nesta mudança de século poderiaconcluir com a menção de uma realidade nova paranós: a presença, em diversos pontos do globo, deimigrantes brasileiros, que já vão constituindo

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colônias brasileiras em vários países.Essas colônias, cuja preservação do vínculo

com o Brasil interessa profundamente ao Estadobrasileiro, têm efeitos muito claros sobre as nossasrelações exteriores, na medida em que geram umanecessidade de proteção e acompanhamento porparte do Governo e na medida em que contribuempara criar vínculos mais fortes, e de uma naturezadiferente, com os países recipiendários.

A tendência previsível nos próximos anos éde consolidação dessas comunidades, que começama participar intensamente da vida econômica e socialde muitas cidades e regiões no exterior e parecemestar destinadas a durar.

O Brasil e o mundo no início do século XXIObjetivamente, a continuada melhoria da

inserção internacional do Brasil, nos rumos e no ritmoque se vem processando, especialmente a partir doPlano Real e das reformas empreendidas peloGoverno, dependerá da continuidade das políticasde estabilização, abertura econômica, desestatização,retomada do crescimento e reforma social.

Meus interlocutores no exterior têm sidoenfáticos em dois aspectos: em louvar os progressosque temos feito e seu impacto positivo nas relaçõesdo Brasil com os principais parceiros em todo omundo, e na expectativa de que as tendênciasresponsáveis por essa significativa alteraçãoqualitativa da inserção externa do Brasil se sustenteme ultrapassem os limites temporais de um mandatopresidencial.

A mera indicação de uma possibilidade deretorno a políticas condenadas pelo passado —crescimento à base de inflação, políticas populistas,arroubos ideológicos, discriminação dosinvestimentos produtivos estrangeiros, controle estatalde setores da economia, protecionismo tarifário enão-tarifário exacerbado, apoio a práticascorporativistas, excessos de regulamentação e tantasoutras – seria suficiente para literalmente queimar osganhos significativos que temos obtido, expressos,

entre outros, pelos cerca de 9 bilhões de dólares deinvestimentos diretos que o Brasil receberá este anoe pelo notável crescimento do nosso comércioexterior nos dois sentidos.

Da mesma forma, será preciso intensificar aspolíticas sociais e de recuperação dos nossosindicadores. O Plano Real e a perspectiva de umainflação de um dígito já neste ano têm tido um efeitosocial sustentado, expresso na melhoria do padrãoalimentar e de consumo da população de mais baixarenda. Tudo autoriza antever que desse patamarbásico será possível ampliar a conquista social daestabilidad monetária para as áreas da educação,da saúde e da habitação.

O Brasil depende de uma melhoria sensível esustentada dos seus indicadores sociais paraconsolidar a sua democracia e estabilizar a suasociedade, além de melhorar o seu desempenhoeconômico. Estes anos serão decisivos para marcaressa mudança qualitativa no projeto dedesenvolvimento brasileiro: crescer levando em contaa dimensão social.

Outro elemento importante do ponto de vistada é equacionamento dos direitos do consumidorno quadro da política industrial e comercial brasileira.

O consumidor brasileiro já assumiu como umaconquista a abertura econômica e o choque decompetitividade por ela gerado na produção nacional.A definição da política industrial e comercial develevar em conta esse elemento, cada vez mais, porquetem ficado patente que qualquer retorno a esquemasde proteção indiscriminada e incondicional prejudicao consumidor e afeta adversamente a perspectiva dosconsumidores de mais baixa renda de ter acesso abens de consumo, duráveis ou não. O impacto político— e social — dessa preocupação é decisivo.

Um elemento particularmente importante paraa inserção externa do Brasil nestes próximos anos éa definição de uma política de defesa nacional, queharmonize e maximize a ação das três forçassingulares e engaje a sociedade brasileira através daconsciência sobre o imperativo de proteger

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adequadamente o nosso território, o nosso patrimônioambiental e os nossos valores e identidades culturaise nacionais.

Trata-se de adequar os meios de defesanacional aos fins a que se destinam: proteger umterritório continental, formado por diversosecossistemas distintos, com variados graus dedesenvolvimento e problemas de toda a ordem.Trata-se de estender sistematicamente a presença doEstado brasileiro a todo o território nacional,promovendo um sentimento de inclusão daspopulações que hoje podem ter razões para se sentirmenos conectadas ao restante da Nação — inclusive,é preciso que se diga, em áreas urbanas controladaspor poderes para-estatais.

Essa política unificada está em elaboração noâmbito da Câmara de Relações Exteriores e DefesaNacional do Conselho de Governo. Sua definição,fundada em uma concepção realista e pragmática dosobjetivos e das prioridades, está sendo feita com baseem amplas consultas e coordenação entre os órgãosinteressados e Forças Singulares.

Ela certamente abrirá uma nova perspectivapara o planejamento estratégico e para a açãogovernamental em todo o território brasileiro,permitindo a otimização dos recursos humanos,materiais e financeiros e maior eficiência em matériade defesa territorial e patrimonial do Brasil.

A intensificação da do Governo FernandoHenrique fornece outros elementos de preparo paraque o Brasil possa ingressar para entrar no séculoXXI capacitado a prosseguir em um projeto dedesenvolvimento econômico e social que atenda àsnecessidades de um país que terá cerca de duzentosmilhões de habitantes nesse horizonte de tempo quevenho analisando.

O relançamento das nossas principaisparcerias e a exploração de novas parcerias ondeelas se apresentam — na África, na Ásia, no OrienteMédio deverá deixar em poucos anos o patrimôniode uma verdadeiramente universal, ou seja, cuja redede relações tem uma base concreta de natureza

econômica e comercial.Esse patrimônio será enriquecido pelo

fortalecimento do multilateralismo econômico,comercial e regulatório nos próximos anos: regrasuniversais e transparentes para regular as múltiplasesferas do relacionamento econômico, financeiro,comercial e tecnológico devem facilitar odesenvolvimento das relações do Brasil com cadaum dos seus parceiros individuais, na medida em quea economia brasileira continue a crescer emcomplexidade, dinamismo e grau de inter-relação como mundo.

A consolidação vertical do Mercosul, ou seja,seu aprofundamento mais além da área de livrecomércio com união aduaneira e tarifa externacomum, e sua ampliação horizontal, com aincorporação de alguns novos membros plenos e aassociação de parceiros por meio de acordos, deveráser uma das linhas-mestras da brasileira nestespróximos anos.

Esse será o instrumento que nos permitiráparticipar com intensidade das negociações para aÁrea de Livre Comércio das Américas, com umcontinuado sentido de realismo e as cautelasnecessárias para evitar uma exposição precoce enociva das economias do Mercosul a novo choquede liberalização sem que antes se tenham consolidadoas transformações e ganhos perseguidos pelo amplochoque anterior. Permitirá também que ampliemosnossas relações comerciais com a União Européia ecom outras regiões, utilizando a alavancagem doMercosul, que já se firmou como uma marca de êxito.

Para finalizar, é preciso não esquecer que aprevisível consolidação de uma comunidade brasileiraem diversos países nos obrigará a umaprofundamento sistemático da política de proteçãoaos brasileiros no exterior e de promoção dos seusdireitos, tanto como cidadãos brasileiros, quantocomo cidadãos dos países em que se fixaram.

Creio que essa menção aos brasileiros quese dirigiram ao exterior em busca de melhoresoportunidades é um bom símbolo para concluir este

118 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

exercício de inquirição sobre o futuro.Será muito importante que o Brasil sinalize

claramente, pelo seu crescimento como Nação, etambém através da proteção e da assistência doEstado aos brasileiros no exterior, que é de fato aPátria dos brasileiros em todo o mundo.

Será muito importante que esses brasileirosparticipem dessa etapa decisiva do nossodesenvolvimento, onde quer que se encontrem, e quepossam logo ter a opção, a liberdade, a oportunidadede ser brasileiros lá ou aqui.

Hoje é possível pensar nessa possibilidade eantevê-la no futuro previsível. Afinal, se prevalecer asabedoria e o bom senso, e se soubermos sustentare ampliar as tendências atuais, essa etapa que estamoscomeçando nos consolidará como uma potênciamédia, estável politicamente, saudáveleconomicamente e socialmente justa — algo quemultiplicará o orgulho que começamos a sentir hojequando nos vemos no espelho do mundo e nospreparamos para enfrentar o início do próximoséculo.

119Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

O Brasil vem empreendendo uma profundareformulação de sua economia e de sua inserção nocenário econômico internacional, com o objetivo depromover o desenvolvimento interno e de distribuirseus benefícios de modo mais equânime. Ao processode reformas domésticas, que compreende areestruturação do aparelho do Estado, amodernização das atividades produtivas e o combateà inflação, corresponde, no plano externo, umaatualização de nossa diplomacia econômica, por meioda eliminação de barreiras ao comércio, do estímuloà captação de investimentos estrangeiros e, demaneira marcante, do aprofundamento das iniciativasde integração regional.

Entre os diversos processos de integração deque o Brasil participa, o Mercosul assume a condiçãode prioridade em nossa política econômico-comercial.

Esta iniciativa mostrou-se surpreendente tantopela velocidade de sua implementação como peladimensão dos resultados alcançados.

Apesar da exigüidade do seu tempo degestação, o Mercosul constitui-se no eixo maisavançado da integração sul-americana, seja pelasconquistas institucionais e pela ousadia das metas deliberalização, seja pelo aumento do volume decomércio entre seus países membros.

O Mercosul é, antes de mais nada, uminstrumento de dinamização econômica, pela abertura

de novos e significativos mercados para asexportações dos países que o integram. A Argentinatornou-se o segundo maior parceiro comercialindividual do Brasil. Ao mesmo tempo, o comérciocom Paraguai e Uruguai cresceu de maneiraexpressiva: as exportações brasileiras para essespaíses são, hoje, superiores a nossas vendas paraparceiros tradicionais, como Reino Unido e Espanha.O intercâmbio entre os parceiros do Mercosul, alémde volumoso, passou a cobrir uma pauta de produtosaltamente diversificada, demonstrando o elevadograu de complementaridade entre as economias, nummercado regional de mais de 200 milhões dehabitantes, com um Produto Interno Bruto deaproximadamente US$ 900 bilhões.

Aos rápidos avanços institucionais doMercosul, que culminaram na constituição de umaUnião Aduaneira no início de 1995, correspondeuum enorme incremento do volume de trocas entre osquatro países.

Segundo dados da ALADI, o comércio intra-Mercosul aumentou de US$ 4.1 bilhões em 1991para cerca de US$ 13 bilhões em 1995. Járepresentaria cerca de 40% do comércio intra-latino-americano, dados tanto mais impressionantes quandose tem em conta que o comércio dos países doMercosul com os demais países da América Latinatambém é bastante expressivo. Ao mesmo tempo,as importações dos países do Mercosul provenientes

Exposição do Secretário-Geral das Relações Exteriores,Embaixador Sebastião do Rego Barros, por ocasião doEncontro Empresarial Brasil-Alemanha, Dresden, 14 deoutubro de 1996

Mercosul-União Européia

120 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

do resto do mundo cresceram de forma acelerada.Como resultado, a participação do Mercosul

no total das importações mundiais dobrou entre 1990e 1995.

Além de gerar ganhos decorrentes doaumento do comércio na região, o Mercosul temfuncionado nos últimos anos como um mecanismoestabilizador das duas maiores economias sul-americanas, a brasileira e a argentina. Neste caso,não se trata apenas do controle da inflação medianteaumento de importações, mas também dos efeitospositivos da desgravação tarifária subregional comoelemento moderador dos ciclos de desaceleração erecessão econômica. De 1991 a 1993, num períodode baixo crescimento econômico no Brasil, aprodução brasileira beneficiou-se do acesso aomercado argentino então aquecido, o que explica amanutenção, no período, de elevados superávitsbilaterais em favor do Brasil. A partir de 1994,ocorreu o inverso, com o aquecimento da economiabrasileira e os sinais de desaquecimento da economiaargentina, o que acabou por ser amenizado peloenorme crescimento das exportações para o Brasil ea reversão do superávit em favor da Argentina.

Com a entrada em vigor da União Aduaneiraentre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, oMercosul passou a assumir dimensão própria nocenário internacional. O Protocolo de Ouro Preto,assinado em dezembro de 1994, além de definir aestrutura institucional do Mercosul, conferiu-lhepersonalidade jurídica de Direito Internacional,confirmando a disposição dos quatro países membrosde atuarem com voz única no diálogo com outrospaíses e regiões. A conformação da União Aduaneirae de sua personalidade jurídica também reforça avisão, compartilhada por seus integrantes, de que oMercosul não busca a auto-suficiência. Ao contrário,representa, antes de tudo, um extraordinário fatorde ampliação e intensificação do relacionamento daregião com o resto do mundo.

Destacaria, nesse sentido, as quatro“dimensões” das negociações futuras do Mercosul:

a sub-regional, a hemisférica, as relações com a UniãoEuropéia e, por fim, as relações com outras regiõese países. Essas diferentes dimensões não indicam umahierarquia de prioridades: desenvolvem-seconcomitantemente, dentro do espírito de crescenteexposição das economias do Mercosul aos fluxosinternacionais de comércio, investimentos e finanças.

No âmbito sub-regional, o objetivo doMercosul é empreender as chamadas negociações“4 + 1” com os demais membros da AssociaçãoLatino-Americana de Integração (ALADI), dentrodo objetivo de liberalização progressiva das barreirastarifárias e não-tarifárias no comércio entre os paísessul-americanos. No último dia 1 de outubro, apósdois anos de negociações, entrou em vigor o acordode associação do Chile ao Mercosul, com umcronograma de desgravações que levará aoestabelecimento de uma área de livre comércio jáem 2004. Até o final deste ano , e as negociaçõesestão em fase final, deverá ser assinado acordosemelhante do Mercosul com a Bolívia, com quemtambém estabeleceremos uma zona de livrecomércio.

Para o Brasil, essas negociações sãoparticularmente importantes, no sentido de querepresentam uma oportunidade de realizar o que nãofoi possível nas décadas anteriores: um espaçoeconômico integrado na América do Sul. Com asuperação dos modelos autárquicos dedesenvolvimento econômico e de visões geopolíticasantiquadas, alimentadas por rivalidades entre regimesinfensos à democracia, os países da América do Sulcaminham hoje para o aprofundamento de suasrelações econômicas, tendo por base a cooperaçãoentre regimes democrátricos.

No campo hemisférico, o Mercosul é um dosprincipais atores nas negociações iniciadas pelaCúpula de Miami, em dezembro de 1994, queapontam para a formação de uma Área de LivreComércio nas Américas (ALCA), a ser implementadaa partir do ano 2005. Os principais atores noprocesso de formação da zona hemisférica serão,

121Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

exatamente, os grupos regionais, como o Mercosul,o NAFTA e o Grupo Andino. Em que pese àdiversidade dos 34 países do hemisfério, comestruturas de produção bastante diferenciadas, asnegociações têm avançado de modo muitosatisfatório, compreendendo não apenas asdiscussões quanto ao futuro processo dedesgravação tarifária de bens, mas também otratamento de outros temas, como investimentos,propriedade intelectual e serviços.

Também na Ásia, Oceania e África, oMercosul vem participando de inicativas com vistasa intensificar os intercâmbios comerciais. Desde1995, os Quatro mantém um diálogo com o CER,zona de livre comércio que reúne Austrália e NovaZelândia. Um novo encontro está programado parao segundo semestre de 1997, e as partes já estãoengajadas em atividades de facilitação de informaçõescomerciais, a fim de estimular as trocas. Com o Japão,o Mercosul realizou, no último dia 1 de outubro, emSão Paulo, uma primeira reunião, de grandeimportância em razão do expressivo relacionamentocomercial e de investimento entre os cinco países.Mantivemos também reuniões preliminares com aÍndia, em setembro, e com a Comunidade de EstadosIndependentes, em outubro.

Encontros com a SADC (Southern AfricaDevelopment Committee) e com a ASEAN serãorealizados até o final de 1997.

É com a União Européia, no entanto, que oMercosul mantém, há mais tempo, entendimentoscom vistas a aprofundar os vínculos de comércio einvestimentos. É inegável o interesse em intensificaras relações econômicas com um bloco regional cujoproduto interno é superior a 7 trilhões de dólares,semelhante, portanto, ao do NAFTA e quase duasvezes o do Japão. Os números do comércio entre asduas regiões, por sua vez, já são bastante expressivose alcançaram cerca de 40 bilhões de dólares em1995. A União Européia é o principal parceirocomercial do Mercosul, absorvendo cerca de 30%de suas exportações, além de ser o principal

investidor estrangeiro, com 42% dos investimentosdiretos totais na região.

Um mês após a assinatura, em 1991, doTratado de Assunção, marco legal constitutivo doMercosul, os Chanceleres dos quatro países seencontraram em Luxemburgo para uma reunião detrabalho com seus colegas da União Européia. Nesseencontro, decidiu-se estabelecer reuniões regularesentre os Chanceleres dos dois agrupamentosregionais, com vistas à promoção de um diálogopermanente. Por diversas vezes, após esse primeiroencontro, os Presidentes do Mercosul e os Chefesde Estado e de Governo da União Européiareiteraram a importância de uma salto qualitativo nasrelações entre os dois blocos regionais.

Avanço significativo no campo institucionaldeu-se em abril de 1994, em reunião de chanceleres,em São Paulo. Propunha-se, pela primeira vez, umaaproximação mais ampla, que deveria conduzir aoque se chamou de uma “associação” entre as duasregiões. Na ocasião, os Ministros manifestaram ointeresse em subscrever acordo-marco decooperação econômica.

Esses esforços culminaram, em dezembro de1995, na assinatura, em Madri, do “Acordo-QuadroInter-Regional de Cooperação Econômica eComercial”, o primeiro entre duas uniões aduaneiras.O Acordo-Quadro é o instrumento de transição parauma futura “Associação Inter-regional Política eEconômica” entre o Mercosul e a União Européia,que teria como características principais aliberalização progressiva e recíproca do comércio, aimplementação de mecanismo de consulta política,a promoção de investimentos e o aprofundamentoda cooperação técnica.

Para o Brasil e seus parceiros do Mercosul,são muitas as razões que aproximam os dois blocose estimulam o aprofundamentos de suas relações,entre as quais se enumeram:

- a natureza aberta dos dois processos deintegração: a União Européia vem buscando aampliação de seus laços extra-regionais, enquanto o

122 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Mercosul pretende intensificar sua projeçãointernacional;

- o compromisso de ambos os agrupamentosregionais com as normas multilaterais de comércio;

- o grau já bastante elevado do intercâmbiocomercial entre as duas regiões: a União Européiaconstitui o principal parceiro comercial do Mercosul,com exportações, em 1995, da ordem de US$ 18bilhões, e importações de US$ 22 bilhões, o quecorresponde a 25,4% e 31,8% de nosso comércioglobal, respectivamente;

- a presença de vultosos investimentoseuropeus nos países do Mercosul, e a perspectivade ampliação desses investimentos, em função dacontinuação do processo de reformas econômicasnos quatro países;

- os laços históricos, étnicos e culturais entreos países da União Européia e os do Mercosul, e acoincidência de valores que fundamentam suassociedades, o que proporciona base sólida a qualqueriniciativa de aproximação política e econômica;

- a identificação adicional advinda não apenasda contingência de que a União Européia e oMercosul são as duas principais uniões aduaneirasdo mundo, mas também do fato de que a experiênciaintegracionista dos países europeus serviu deinspiração para os esforços desenvolvidos noMercosul.

Todas estas razões explicam os avançosalcançados, nos últimos anos, no processo deaproximação inter-regional. É verdade que emalgumas áreas o progresso nas negociações exigirámaior cautela, e os resultados não serão imediataos.Por mais positivos que sejam os dados sobre orelacionamento econômico-comercial entre a UniãoEuropéia e o Mercosul e os avanços no processo deintegração, seria ilusório supor que o relacionamentobilateral tenha alcançado um padrão compatível como potencial de complementaridade política eeconômica entre as duas regiões.

No que diz respeito ao comércio entre osdois blocos regionais, preocupa, por exemplo, o fato

de que as importações da União Européiaprovenientes do Mercosul estejam crescendo emproporções menores do que as exportaçõescomunitárias para nossos mercados. O menorcrescimento das vendas do Mercosul para os paíseseuropeus deve-se ao enorme peso, em nossa pautade exportações para aquele mercado, de produtosprimários, cujo acesso vem sofrendo restriçõesdecorrentes das mudanças do Sistema Geral dePreferências comunitário e da elevada subsidiaçãono âmbito da Política Agrícola Comum.

O campo para o fortalecimento dos vínculosdo Mercosul com a União Européia é muito vasto.Esse fortalecimento deverá estar centrado em umsistema de facilitação das trocas comerciais entre asduas regiões, conduzindo a uma zona de livrecomércio no sentido pleno da expressão.

A própria experiência interna da UniãoEuropéia, desde o Tratado de Roma, bem como ocaso mais recente do Mercosul, demonstram que oincremento do comércio cria a massa crítica quepermite elevar o patamar do relacionamento entreos países e alicerçar um processo de integração maisamplo. O comércio tem a propriedade de colocarem foco as outras esferas que exigem ação conjuntae coordenada, facilitando a identificação de interessescomuns.

Nesse sentido, o processo de aproximaçãoentre as duas regiões produzirá os melhores frutosse for construído em torno da liberalização comercial.Desejamos tratar, contudo, de uma multiplicidade deoutros temas, começando por aqueles maisdiretamente relacionados com o comércio de bens,como a questão das medidas não-tarifárias e dasnormas e regulamentos técnicos. Paralelamente, seránecessário avançar na discussão das políticas deinvestimento, das questões ligadas à ciência etecnologia e da temática da propriedade intelectual,entre outros campos a explorar.

A aproximação envolverá, sem dúvida, umanegociação complexa – e não poderia ser diferente,dada a complexidade da empresa por realizar.

123Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Trata-se de dois processos de integraçãoavançados, com enorme diversidade einterpenetração de interesses. Ambos compartilhamde uma experiência bem sucedida em matéria deintegração: no caso da União Européia, quarenta anosde trabalho no desenvolvimento de um projeto emtodos os sentidos admirável, que ensinou ao mundoque a integração econômica é um instrumentoextraordinário para a paz e a prosperidade dasnações. No caso do Mercosul, se consideramos oprimeiro acordo de complementação econômica entreBrasil e Argentina como marco inicial, são dez anosde aproximação e vinculação crescente, queconformam um processo que se intensificou de formaextraordinária a partir de 1991 e que constitui hojeum patrimônio inestimável dos quatro países. Sãoessas duas histórias de sucesso e de superação dedificuldades que estarão sobre a mesa denegociações entre Mercosul e União Européia. Estouconvencido de que a coincidência de experiências

construtivas será um catalisador de entendimentos.Ao concluir esta apresentação, quero

reafirmar minha certeza de que são extraordináriasas potencialidades a explorar, entre o Mercosul e aUnião Européia. Os mecanismos atualmenteexistentes para a facilitação do comércio entre asduas regiões — que se restringem basicamente aoSistema Geral de Preferências — são insuficientesante o volume de comércio alcançado e a pautadiversificada de interesses mútuos entre os doisblocos. Faz-se necessário desenvolver instrumentosque despertem os nossos setores produtivos para odesafio da expansão de mercados através doAtlântico. Dentro do propósito de aprofundar suainserção na economia internacional, instrumentoindispensável para promover o desenvolvimento, ospaíses do Mercosul, e o Brasil em particular, atribuema mais alta importância a esta tarefa.

Muito obrigado.

125Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Senhor von Heydebreck,Senhores Delegados,É com grande satisfação que participo da

abertura dos trabalhos desta Vigésima-TerceiraReunião da Comissão Mista Brasil-Alemanha deCooperação Econômica. Trata-se de foro da maisalta importância no âmbito de um relacionamentoprivilegiado, que reflete de modo fiel e vigoroso ointenso intercâmbio e diálogo que se tem verificadoentre nossas duas nações.

Em nome da Delegação brasileira, gostariade expressar ao Governo da República Federal daAlemanha, do Estado Livre da Saxônia e da Cidadede Dresden meu melhor agradecimento pelasatenções e gentilezas que temos recebido desde nossachegada a esta acolhedora cidade.

Gostaria ainda de manifestar meu particularreconhecimento pelo excelente trabalho daConfederação das Indústrias Alemãs, daConfederação Alemã das Câmaras de Comércio eIndústria, da Câmara de Comércio e Indústria deDresden e da Confederação Nacional da Indústriana organização desta reunião, assim como doencontro empresarial do dia de ontem.

Senhores,A ampla identidade de pontos de vista e a

coincidência de objetivos em relação às grandesquestões e temas da realidade internacional conferemcaráter especial às relações teuto-brasileiras. Poucospaíses terão hoje uma parceria tão rica e diversificadacomo a que o Brasil possui com a República Federalda Alemanha.

Esse quadro favorável e promissor estárefletido de forma particularmente expressiva nointenso intercâmbio de visitas bilaterais registrado nosúltimos meses e encontra manifestação de suacrescente vitalidade nos trabalhos desta ComissãoMista e do Encontro Empresarial ontem encerrado.Em ambos, a confiança na continuidade do processode consolidação e aprofundamento do elevado nívelde relacionamento entre o Brasil e Alemanhaconstituiu o traço marcante.

A visita do Chanceler Federal Helmut Kohl aBrasília, há pouco menos de um mês, insere-se nesseimportante cenário de diálogo e entendimento, emque a clara sinalização da opção do Governo alemãopor um relacionamento intenso com o Brasil sóencontra paralelo em nossa vontade política deestabelecer uma parceria ampla e privilegiada.

Essa disposição foi plenamente reiterada noscontatos mantidos em Brasília pelos membros dacomitiva que acompanhou o Chanceler Helmut Kohl,composta por empresários altamente representativos

Exposição do Secretário-Geral das Relações Exteriores,Embaixador Sebastião do Rego Barros, por ocasião daAbertura da XXIII Reunião da Comissão Mista Brasil-Alemanha de Cooperação Econômica, Dresden, 15 deoutubro de 1996

XXIII Reunião da Comissão Mista Brasil-Alemanha de Cooperação Econômica

126 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

dos setores produtivos da Alemanha. No encontrode trabalho que os empresários alemães mantiveramcom o Ministro Pedro Malan, foi-lhes apresentadoquadro objetivo e realista da economia brasileira ereafirmada a irreversibilidade dos processos deestabilização monetária e de modernizaçãoeconômica, objetivos da mais absoluta prioridade do

Governo do Presidente Fernando HenriqueCardoso.

A visita do Chanceler Helmut Kohl reflete omomento extraordinário do relacionamento entre oBrasil e a Alemanha iniciado pela visita do PresidenteFernando Henrique Cardoso a este país, emsetembro de 1995, e pela visita do Presidente RomanHerzog em novembro último.

Desde então, vieram à Alemanha os Ministrosdas Relações Exteriores, da Justiça, da Fazenda, daSecretaria de Assuntos Estratégicos, dasComunicações, dos Transportes, do Meio Ambientee da Educação. O Brasil, por sua vez, recebeu nesseperíodo a visita de importantes missões doBundestag, do Ministro da Economia, GünterRexrodt, e do Ministro das Telecomunicações,Wolfgang Bötsch.

Em novembro próximo, receberemos a visitada Ministra do Meio Ambiente, Angela Merkel, e doGovernador do Estado da Saxônia, Doutor KurtBiedenkopf, que se fará acompanhar de expressivacomitiva de empresários. Em fevereiro de 1997, oVice-Presidente Marco Maciel deverá realizar visitaoficial a este país em atenção a convite do Vice-Chanceler Federal Klaus Kinkel e, em março, estáprevista a visita ao Brasil do Ministro-Presidente daBaviera, Edmund Stoiber, à frente de missãoempresarial.

A intensidade e a diversidade desses contatosrevela as excelentes perspectivas que se oferecem àcooperação e à parceria entre brasileiros e alemãesem áreas até então pouco exploradas, sobretudo nossetores da infra-estrutura portuária, de transportes,de telecomunicações e de energia.

Essa movimentação invulgar vem conferir

dinamismo ainda maior às relações Brasil-Alemanhaque, por sua abrangência e complexidade, constituemmodelo de cooperação entre um país plenamentedesenvolvido e outro em importante estágio dedesenvolvimento.

Esse novo ímpeto no relacionamento teuto-brasileiro coincide com as novas realidadesprevalecentes em ambos os países, resultantes dasprofundas transformações por que vêm passando.O Brasil projeta-se hoje como um país moderno,dinâmico e aberto a oportunidades, refletindo suamaturidade política e sua estabilidade econômica. AAlemanha, de sua parte, fortalecida pela reunificação,pela consolidação dos valores da democracia,liberdade e solidariedade e pelos avançoseconômicos e sociais, disfruta de uma situação ímparno cenário europeu.

Senhores,A Alemanha constitui o segundo maior

investidor estrangeiro no Brasil, logo após os EstadosUnidos, e o nosso terceiro maior parceiro comercial,depois dos EUA e da Argentina, superando com largamargem os demais países da União Européia e oJapão.

As estatísticas brasileiras demonstram que acorrente de comércio entre os dois países elevou-sede cerca de 2 bilhões de dólares em 1985 paraaproximadamente 7 bilhões em 1995. No primeirosemestre do corrente ano, exportamos para aAlemanha cerca de 1,1 bilhão de dólares eimportamos quase 2,5 bilhões.

De acordo com dados do Banco Central, emjunho de 1995, o estoque de investimentos ereinvestimentos alemães no Brasil totalizava cerca deUS$ 7 bilhões, 12,1% do total de capitais estrangeirosno país. No âmbito da União Européia, a Alemanhaocupa a primeira posição, com cerca de 33% dototal das aplicações da Comunidade no Brasil. Amaior parte dos investimentos alemães em nosso paísvem-se dirigindo à indústria de transformação(89,3%), sobretudo de veículos automotores (23,7%)

127Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

e mecânica (12,2%).Estima-se em cerca de 1200 o número de

empresas alemãs estabelecidas no Brasil, das quaiscerca de 800 localizadas no Estado de São Paulo,gerando mais de 400 mil empregos diretos. Arelevância do capital alemão no Brasil pode serigualmente aferida pela estatística alemã quecomprova ser São Paulo a maior cidade industrialalemã em termos de volume de mão de obraempregada em empresas de capital germânico.

Os resultados amplamente positivosalcançados pelo Brasil nos dois últimos anos e acrescente consolidação do processo de integraçãoregional configurado pelo Mercosul levaram, em1994, após virtual estagnação durante dez anos, auma intensa retomada no fluxo anual de capital alemãopara o Brasil. Essa retomada poderá acentuar-seainda mais caso as empresas alemãs demonstremmaior interesse em participar do processo brasileirode privatizações, e caso novos investidores,sobretudo empresas de porte médio e pequeno, aindanão presentes no Brasil; venham a investir no país ea se interessar pela formação de joint-ventures comsócios brasileiros.

Ainda no plano econômico-comercial,constitui fato positivo a recente elevação do Brasilpara a categoria 3 no quadro de risco mantido pelaAgência Hermes, em julho passado. Essa medidapoderá doravante desonerar os custos de nossastransações, permitindo uma desejável intensificaçãodas trocas comerciais e incentivando os fluxosfinanceiros de investimentos.

No plano multilateral, Brasil e Alemanhatambém compartilham visões convergentes, como nointeresse pelo fortalecimeto do sistema multilateralde comércio, pela reforma das Nações Unidas e pelaaproximação política e econômica entre o Mercosule a União Européia.

Quero reiterar a satisfação do Governobrasileiro com o empenho do Governo alemão nesseprocesso de aproximação, que culminou, emdezembro último, com a assinatura do Acordo-

Quadro de Madri. Sublinho, ainda, o construtivopapel desta Comissão na discussão da integraçãode nossos agrupamentos regionais, assim como dosacordos de cooperação entre o Brasil e a UniãoEuropéia.

Senhores,Nos últimos 22 anos, a Comissão Mista

Brasil-Alemanha de Cooperação Econômica tem-se afirmado como o foro privilegiado para o examedo estado e do desenvolvimento das relaçõeseconômicas e financeiras entre os dois países. Nestaocasião, podemos identificar as áreas de interessecomum e avaliar as perspectivas de incremento dacooperação bilateral, propondo providências e açõesconcretas para a implementação de projetos e deprogramas do interesse dos dois países.

No dia de hoje passaremos em revista umaagenda densa e diversificada, que reflete as muitasdimensões e vertentes que constituem o quadro globaldas relações entre o Brasil e a Alemanha. Trataremosaqui de temas tão importantes no quotidiano dessarelação como a evolução do comércio bilateral, asperspectivas para novos investimentos alemães noBrasil, a cooperação entre pequenas e médiasempresas dos dois países, a formação deprofissionais de nível médio e gerencial e as amplasperspectivas a serem exploradas na área do turismo.Pela primeira vez, introduzimos em nossa agenda otema do agribusiness, área promissora para odesenvolvimento de uma proveitosa parceria entraalemães e brasileiros. É importante que façamos umareflexão conjunta sobre meios e modos a seremalcançados que permitam um monitoramento eficientee confiável das recomendações da Comissão Mista,de tal forma que se possa assegurar a efetivaimplementação de suas decisões e determinações.

Temos, pois, muito trabalho à frente e umestimulante desafio à nossa capacidade de trabalho.

Estou certo de que a história de êxito dasrelações teuto-brasileiras passa, em grande parte, pelahistória de sucesso desta Comissão. Confio em que

128 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

esta Vigésima-Terceira Reunião da Comissão Mista,que ora se inicia, será digna continuadora dessatradição e representará marco adicional à exitosaparceria entre Brasil e Alemanha. A importância queo Governo brasileiro atribui a este encontro édiretamente proporcional à intensidade de nossainteração econômico-comercial. Em razão disso,

posso vos assegurar que não pouparemos esforçosno sentido de aprimorar e incrementar as atividadesdesta Comissão Mista, de forma a acentuar-lhe, cadavez mais, a característica de instrumento fundamentaldo extraordinário relacionamento entre Brasil eAlemanha.

Muito obrigado.

129Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Ao agradecer as palavras de VossaExcelência, desejo expressar meu reconhecimentopela hospitalidade do povo e do Governo uruguaio eas atenções que eu e minha comitiva estamosrecebendo desde nossa chegada a esta prósperacidade de Rivera.

Santana do Livramento e Rivera simbolizamde forma muito viva as relações de vizinhança eamizade entre uruguaios e brasileiros. Estas duascidades constituem um ponto privilegiado de contatoentre nossos povos e nossas culturas, um exemplopara o mundo de convivência harmoniosa e fraterna.

Junto com nossos irmãos argentinos eparaguaios, o Brasil e o Uruguai estão levando adianteambicioso projeto de integração que deverá constituirum instrumento fundamental para o desenvolvimentode nossas economias e uma plataforma privilegiadapara a inserção internacional de nossos países.

Em dezembro, na cidade de Fortaleza,daremos passos adicionais no processo deconsolidação deste projeto comum, traduzido deforma elqüente pelo MERCOSUL, agoraenriquecido pelo recente acordo de livre comérciocom o Chile e pela perspectiva de que se possaconcluir até o fim do ano um instrumento similar coma Bolívia. Com vistas a dinamizar ainda mais asperspectivas de intercâmbio e integração, estamos

também conduzindo entendimentos com os paísesandinos, bem como com os demais países de nossoshemisfério, com a União Européia e com países deoutras partes do mundo.

Mas os empreendimentos em que somosparceiros com as nações irmãs de nossa região nãonos fazem perder de vista a importância, asingularidade e a intimidade do relacionamento entreo Brasil e o Uruguai, um entendimento consolidadopor nossos laços históricos e culturais e que vive hojeperíodo auspicioso tanto no plano econômico ecomercial como no que se refere ao diálogo políticoe cooperação bilateral.

Nos últimos meses tem sido intenso ointercâmbio de visitas de altas autoridades entre osdois países. De nosso lado, cabe destacar a visita doVice-Presidente Marco Maciel, que veio ao Uruguaino final de agosto com importante comitiva dedirigentes empresariais. A visita serviu de estímulopara uma maior aproximação entre os Estados doNordeste e o Uruguai, cujas economias possuem altograu de complementaridade. Cabe lembrar tambémas visitas do Governador do Estado do EspíritoSanto, acompanhado de importante delegaçãoempresarial; do Ministro dos Transportes, que tratoude temas de importância para a integração de nossaseconomias; do Ministro da Indústria, do Comércio e

Pronunciamento do Ministro das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião da Aberturada III Reunião de Comissão Geral de Coordenação Brasil-Uruguai, Rivera, 16 de outubro de 1996

Abertura da III Reunião de ComissãoGeral de Coordenação Brasil-Uruguai

130 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

do Turismo, que transmitiu a disposição do Governobrasileiro de intensificar o diálogo entre as autoridadeseconômicas dos dois países, com vistas a evitar aocorrência de situações perturbadoras do comérciobilateral.

Registro, ainda, a ida a Montevidéu de meucolega o Ministro da Administração Pública e daReforma do Estado, que participou de importanteprocesso de reflexão, promovido pelo PresidenteJulio Maria Sanguinetti, sobre o tema dagovernabilidade.

E é com expectativa que aguardamos a visitaoficial que fará em novembro a Brasília, Salvador,Recife e São Luís o Vice-Presidente Hugo Batalla,que se deverá fazer acompanhar de expressivadelegação de empresários uruguaios, dandocontinuidade ao projeto de aproximar os estadosbrasileiros do Norte e Nordeste ao Uruguai e aosdemais países do MERCOSUL.

Senhor Ministro,O Brasil é hoje o principal parceiro comercial

do Uruguai. Nosso comércio tem demonstrado nosúltimos anos uma grande vitalidade, muitoespecialmente a partir da entrada em funcionamentoda União Aduaneira do MERCOSUL no início de1995. De fato, o Comércio Brasil-Uruguai atingiuno ano passado a cifra recorde de quase US$ 1,4bilhões.

No ano passado, o Brasil absorveu um terçodas exportação uruguaias, que atingiram o valor demais de US$ 700 milhões, cifra também recorde nocomércio bilateral. As exportações uruguaias para oBrasil foram beneficiadas pelos efeitos do Plano Real,que aumentou significativamente o poder aquisitivodo mercado brasileiro.

No primeiro semestre de 1996, o nível dademanda brasileira por produtos uruguaios continuouelevado, um pouco superior ao patamarcorrespondente ao mesmo período de 1995,absorvendo hoje o Brasil um total de 34,2% dasexportações uruguaias. Esses números representam

um aumento de 123% em relação aos do mesmoperíodo de 1994, imediatamente antes daimplementação do Plano Real.

Por outro lado, o Brasil forneceu em 1995quase 25% das importações uruguaias, com vendasno valor de US$ 689 milhões. A importância atualdo mercado uruguaio para o Brasil pode serressaltada se comparada ao volume de vendasbrasileiras para outros mercados do mundo. Bastadizer que as exportações brasileiras para o Uruguaiforam em 1995 superiores às nossas vendas paramercados expressivos da região e mesmo de paísesindustrializados.

O balanço do comércio bilateral Brasil-Uruguai é positivo e encorajador.

O intercâmbio apresenta excelente grau decomplementaridade e está praticamente equilibrado,com pequeno saldo em favor do Uruguai funcionandonas duas vidas para o nosso benefício mútuo. Temosde trabalhar para aumentar os fluxos de comércionos dois sentidos, por meio de um estimulo aoengajamento de nossos empresários no projeto deestreitar cada vez mais os vínculos comerciais e acomplementação econômica entre o Brasil e oUruguai.

Senhor Ministro,Hoje a Comissão Geral de Coordenação se

reúne pela primeira vez em terra uruguaia. Acelebração deste encontro demonstra a renovada avontade política dos Governos dos PresidentesFernando Henrique Cardoso e Julio Maria Sanguinettide aprofundar a dimensão bilateral de nossaconvivência, em que são numerosos os temas deinteresse comum. Nossa pauta de trabalho está longede esgotar-se. Sente-se, diante de um mundo emrápida transformação, a necessidade de modernizaros instrumentos de que dispomos para canalizarnosso relacionamento. A celebração aqui em Riverade um novo Acordo de Cooperação Culturaldemonstra o empenho com que estamos enfrentandoesse desafio. Com o mesmo ímpeto, estamos

131Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

buscando mecanismos de cooperação em novasáreas de interesse para nossos países, como asegurança e a facilitação das atividades empresariais.

Sem perder de vista o conjunto de nossasrelações bilaterais, é a zona fronteiriça que reclamacom maior urgência uma modernização de nossosinstrumentos de ação. A realização desta reunião nacidade de Rivera pôs em evidência a determinaçãode nossos Governos de buscar mecanismos maiságeis e eficientes para atender aos justos anseios debem-estar e prosperidade das comunidades quevivem ao longo dos quase mil kms é de nossa fronteiracomum. Por isso estamos empenhados emmodernizar e aperfeiçoar nosso instrumento básicode cooperação nessa área, o Estatuto da Fronteirade 1993, para dar maior espaço de atuação e deiniciativa às comunidades fronteiriças, que estão emcondições de avaliar conjuntamente suasnecessidades e seus problemas e de propor soluçõescomuns.

Entendo que é coincidente nosso interesse emapoiar e estimular o funcionamento das instânciasbilaterais que temos criado ao longo dos anos, comas Comissôes Mistas para o desenvolvimento dezonas fronteiriças, das bacias da Lagoa Mirim e doRio Quaraí e os Comitês de Fronteira. Sãoimportantes os progressos que temos alcançado naárea da proteção ambiental, definindo eprogramando em reunião técnico-diplomáticasiniciativas de cooperação bilateral. De particularinteresse para nossas comunidades fronteiriças sãoos entendimentos em curso para a próximaimplementação do ajuste complementar sobreprevidência social, que firmamos em Punta del Este

em dezembro do ano passado.No campo da interconexão energética, elo

essencial de nosso processo de integração, cabemencionar o acordo para a instalação conjunta deuma estação conversora nesta cidade de Rivera,projeto que contará com financiamento do BID eque deverá ser referendado ainda este mês. O estudoda viabilidade para o grande projeto de interconexãoelétrica de alta tensão no eixo San Carlos-PresidenteMédici ou Gravataí deverá ampliar ainda mais o lequede opções para a complementação energética entreos dois países.

Na declaração conjunta que firmaram emBrasília em junho de 1995, os Presidentes Julio MariaSanguinetti e Fernando Henrique Cardosocoincidiram quanto à necessidade de incrementaresforços para obter os resultados perseguidos noâmbito das Comissões Mistas fronteiriças eexpressaram seu decidido apoio às iniciativasdestinadas a implementar e a ampliar a integraçãoenergética entre os dois países. Estamos assim dandocumprimento nesta reunião à vontade de nossos doispovos, tal como traduzida pelos seus máximosrepresentantes.

Senhor Ministro,Quero reiterar meus agradecimentos pela

hospitalidade que recebemos em Rivera, como deresto recebem todos os brasileiros que visitam oUruguai, e por esta oportunidade de tratar, em climade diálogo e bom entendimento, a multiplicidade detemas que compõem a densa agenda da amizadeBrasil-Uruguai.

Muito obrigado.

133Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

A visita que Vossa Excelência realiza ao Brasilé representativa dos sólidos laços de amizade e decooperação que unem os Governos e os povosparaguaio e brasileiro. Mais do que parceiros esócios, Brasil e Paraguai estão ligados por tradições,aspirações e objetivos comuns.

As relações entre o Brasil e o Paraguai têm-se beneficiado de notável diversificação. Ésignificativo o fato de que a primeira visita oficial deVossa Excelência ao Brasil seja marcada pelaassinatura de Acordo sobre o Exercício de AtividadesRemuneradas por Parte de Dependentes do PessoalDiplomático, Consular, Administrativo e Técnico, eainda pela troca dos instrumentos de ratificação doAcordo de Cooperação Militar, assinado em julhode 1995.

O Acordo sobre o Exercício de AtividadesRemuneradas por Parte de Dependentes do PessoalDiplomático, Consular, Administrativo e Técnico,similar aos assinados com os Estados Unidos, oCanadá e a Grã-Bretanha (em 1987), com aArgentina (em 1991), com o Chile, a Colômbia e oUruguai (em 1993), com a Dinamarca, Venezuela eAustrália (em 1994), com a República Dominicana(em 1995) e com a França (em 1996), refletetendência que se acentua. Esses serviços diplomáticoscontemporâneos, e que obedece a imperativos nãosó de natureza material, mas sobretudo de ordem

econômica e social. Trata-se de criar condições quepermitam aos familiares – sobretudo cônjuges - dosservidores que se encontram no exterior, em missãooficial de caráter permanente, exercer atividadesprofissionais.

O Acordo de Cooperação Militar, assinadono dia 24 de julho de 1995 pelo Embaixador doBrasil em Exercício e pelo então chanceler paraguaioLuis María Ramírez Boettner, substitui e atualiza oAcordo relativo à Missão Militar Brasileira deInstrução no Paraguai, de 1948. O presente Acordopermite a retomada de uma colaboração que abrangefins científicos, culturais, tecnológicos e deaperfeiçoamento na área militar. Possibilita, assim, acontinuidade da construtiva cooperação militar queo Brasil vem mantendo com o Paraguai nos últimoscinqüenta anos, por meio do estabelecimento de umescritório de ligação do Exército Brasileiro, compostopor oficiais sob a autoridade do Adido do Exército esubordinados à adidância dessa Força junto àEmbaixada do Brasil em Assunção.

Gostaria de valer-me da oportunidade pararegistrar a recente assinatura, em Assunção, doAcordo sobre o Tráfico Ilícito de Armas, pelo qualos dois países trocarão informações sobre osnacionais ou residentes de um deles que efetuemcompra de armas no território do outro, para coibiro tráfico ilícito de armas entre os dois países.

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, a ser proferido nacerimônia de assinatura de atos, por ocasião da visita oficialdo Chanceler do Paraguai, Embaixador Rubén DaríoMelgarejo Lanzoni, Brasília, 23 de outubro de 1996

Visita oficial do Chanceler do Paraguai

134 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Evoluem, de maneira muito positiva, os entendimentoscom vistas à conclusão de acordos de cooperaçãocultural e educacional, com caráter inovador edinamizador de iniciativas nessas áreas.

Senhor Chanceler,Os Acordos já assinados e em vias de sê-lo,

aqui referidos, bem indicam a amplitude e a

diversidade de nossa agenda de trabalho, cujoconstante desenvolvimento requer o diálogopermanente e aberto entre nossos Governos e nossasChancelarias. Tenho a certeza de ter em VossaExcelência interlocutor experiente e qualificado e deque, juntos, poderemos contribuir para umaaproximação cada vez maior entre nossos países.

135Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

On behalf of the Brazilian government, it is anhonor for me to welcome Your Highness and themembers of your delegation to Brasilia.

Your visit coincides with an importantmilestone in our relations, as we celebrate the 50thanniversary of the establishment of the Danish-Brazilian Chamber of Commerce. This is anopportunity for us to take stock of what we haveaccomplished so far and to set a course for the yearsto come.

We share with Denmark the values ofdemocracy, justice, and peace.

Your country is viewed as a model of socialprogress and political stability. Denmark is one of thefew countries to contribute one percent of its GNPto foreign aid and development assistance. Its actionsregarding the environment, its role in promotingEuropean integration, its pursuit of greater securitythrough an easing of tensions, and its efforts aimed atmore effective international cooperation inspire andset an example for the peoples of the world.

Your Highness,Brazil is in the midst of a process of economic

adjustment and stabilization with sustained growth.Your visit comes at a time of renewed hope andenthusiasm, a time of important social progress andconcrete economic results such as the reduction andcontrol of inflation, currency stabilization, an increase

in the purchasing power of the population, expansionof productive investment, in the context of anunprecedented opening of our market.

Like Denmark in Europe, Brazil is alsoengaged in a successful process of integration.MERCOSUL, a customs union comprising a marketof some 200 million people, has helped to expandintra-regional and foreign trade and to rekindle theinterest of foreign investors in its member countries.

Brazil’s sizable economy and growing market,its participation in MERCOSUL, the strength of itspolitical institutions, as well as its global interests havecreated conditions for us to strengthen traditionalpartnerships and forge new ones, particularly withlong-standing friends such as Denmark.

And we have a sound foundation to buildupon. Our relationship extends from the political andeconomic to the scientific and cultural fields. Youcountry houses one of the oldest and most importantcollections of works by Albert Ekhout on colonialBrazil. The collection, donated to King Frederik IIIby Maurice of Nassau in 1654, was exhibited at theMuseum of Modern Art of São Paulo in 1991, underthe sponsorship of the Danish government.

Between 1830 and 1840, the famous Danishpaleontologist, Peter Wilhelm Lund, ventured throughour country and made important findings in the regionof Lagoa Santa, in the State of Minas Gerais. Nearly150 years later, I am pleased to note that you are

Brinde do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião do almoçooferecido a sua Alteza Real, o Príncipe Herdeiro Frederikda Dinamarca, Brasília, 30 de outubro de 1996

Brasil-Dinamarca

136 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

reviving the Danish tradition of exploring Brazil, as,in addition to Rio de Janeiro, São Paulo and Brasilia,you are also visiting the Amazon region.

I trust your trip to Brazil will provide you witha better understanding of our realities and will help topromote further interest between Danes andBrazilians. Just as bilateral trade and investment levelshave increased significantly in recent years, we mustalso help to bring our peoples closer together. Andyour presence here today is of great significance.

We welcome each and every opportunity torenew our friendship with the Danish people. Wegladly received the visit of Minister Mimi Jakobsenearlier this year. We are honored to have YourHighness here with us, and we hope to be further

honored with a visit from Her Majesty QueenMargrethe II in the near future.

I myself hope to make an official trip toDenmark in the first semester of next year, thussignaling the importance Brazil attaches to our bilateralrelations.

And it is in this spirit of further strengtheningthe bonds of friendship between us that I ask all toraise your glasses to the prosperity and happiness ofthe Danish people, to the close ties which bindDenmark and Brazil, to the health of Her MajestyQueen Margrethe II and His Royal Highness PrinceHenrik, and to the personal happiness and well-beingof His Highness Prince Frederick.

Thank you.

137Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Aceitei com satisfação o convite paraparticipar do III Encontro de Negócios e Marketingdo Cone Sul, evento que reputo da maior importânciapara a difusão do processo de integração suasrealizações e perspectivas.

Eventos como o que hoje se realiza emFlorianópolis comprovam que o Mercosul há muitodeixou de ser um projeto de Governos para tomar-se parte do dia-a-dia das Nações que o integram.Como fenômeno essencialmente político, o Mercosulconstitui instrumento a serviço de sociedadesdemocráticas para consecução de seus objetivosmais caros. A democracia está na origem do processode integração e no seu cotidiano; foi a retomada danormalidade democrática nos quatro Estados Partesque criou o ambiente político propício à superaçãode rivalidades históricas e ao desenvolvimento deprojetos comuns na região: é a vivência democráticaque incentiva o crescente engajamento dassociedades civis dos países membros no processode integração.

Integrar economias nacionais significa, naprática, ampliar mercados e racionalizar processosprodutivos. A opção pela integração regional ganhaforça na medida em que a participação no sistemamultilateral de comércio não fornece todas asrespostas aos desafios impostos pelo fenômeno da

globalização. Se, por um lado, os avanços obtidosno processo multilateral representam importantegarantia contra o recrudescimento do protecionismo,o regionalismo, por sua vez, potencializa capacidadesnacionais e funciona como elemento dinamizador daseconomias. Regionalização e multilateralismointeragem de forma positiva: a primeira metade dadécada de 90 assistiu à conclusão exitosa da RodadaUruguai do GATT e, ao mesmo tempo, aoflorescimento do regionalismo em iniciativas como aimplementação do Mercado Único Europeu, acriação do NAFTA, o lançamento do projeto deÁrea Hemisférica de Livre Comércio e a criação econsolidação do Mercosul.

A América Latina incorporou cedo osignificado e as exigências da globalização, revelando-se capaz de modificar seu paradigma econômico, bemcomo o próprio conceito de integração. O modelobaseado na substituição de importações - queorientou durante décadas a estratégia dedesenvolvimento latino-americana inclusive comrelação aos projetos integracionistas-, esgotou-secom o avanço da globalização. Em poucos anos, ospaíses latino-americanos foram capazes de adotarum novo modelo de desenvolvimento nacionalbaseado na inserção competitiva no mercadointernacional, modelo esse em que a integração

Pronunciamento do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasiãodo III Encontro de Negócios e Marketing do Cone Sul,Florianópolis, 31 de outubro de 1996

III Encontro de Negócios eMarketing do Cone Sul

138 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

regional desempenha papel de especial importância.Hoje, para esses países, a participação nos forosmultilaterais e a construção dos processos regionaissão vertentes que mutuamente se estimulam.

É no contexto dessa redefinição do processointegracionista latino-americano que surge oMercosul. Do ponto de vista econômico, o Mercosulteve como premissa básica a convergência dosobjetivos de políticas econômicas praticadas por seusmembros, fundadas na abertura comercial, na buscade estabilidade e no aumento da competitividade,elementos centrais do novo paradigma daglobalização. Ao implementar-se, o Mercosulcontribuiu decisivamente para o aprofundamento e aaceleração das reformas em cada Estado Parte ereforçou por intermédio dos compromissos geradosno processo de integração, a credibilidade daspolíticas nacionais de abertura.

A análise dos compromissos firmados noprocesso de integração, bem como de seus resultadoseconômico-comerciais, revela que o Mercosul nãoconstitui uma estratégia de proteção, mas de inserção.A Tarifa Externa Comum, implementada a partir de10 de janeiro de 1995 representou umaprofundamento do processos nacionais deliberalização comercial. No caso ao Brasil, a médiatarifária passou de 58% em 1989 - ano que antecedeuo início da reforma tarifária - para 13,5%, em 1994,e para 12,6% a partir da adoção da Tarifa ExternaComum. Além disso, no Mercosul, a redução tarifáriarepresentada pela implementação da TEC foiacompanhada pelo desmantelamento de instrumentosnão-tarifários de proteção, os quais impunham ofechamento total de certos segmentos, como oautomotivo. O mesmo esforço não foi empreendidopor outras regiões do mundo. Trata-se aqui de umademonstração inequívoca do comprometimento doMercosul com as disciplinas multilaterais.

Desde a assinatura do Tratado de Assunção,em marco de 1991, o Mercosul deu mostras degrande capacidade de geração de comércio tantoentre seus Estados Partes, como no intercâmbio com

terceiros países ou blocos. A liberalização comercialintra-zona, que hoje alcança 95% dos fluxoscomerciais no Mercosul, não coibiu o significativocrescimento das importações extra-zona, quesaltaram de US$ 25,06 bi1hões, em 1990, paraexpressivos US$ 55,16 bilhões, em 1995(observações que talvez soem redundantes para osque acompanham o grande debate interno sobre aquestão do déficit comercial brasileiro).

O extraordinário crescimento dosintercâmbios tanto intra quanto extra-Mercosul, e oresultado da grande capacidade dos agenteseconômicos de aproveitar as oportunidades criadaspela definição de um marco regulatório favorável porparte dos Governos. O crescimento do comérciointra-Mercosul, que passou de US$ 4,2 bilhões, em1990, para US$ 14,3 bilhões, em 1995, é umfenômeno que se pode encontrar em todos osprocessos de abertura regional. Geralmenteconhecido como “efeito integração”. O que se deveaqui enfatizar é que, apesar das especifidades dademanda regional os setores produtivos que detêmcompetitividade no plano regional tendem a ser osmesmos que a possuem no plano internacional. Aanálise da pauta exportadora brasileira demonstrasignificativa similitude entre os principais setoresexportadores para, por exemplo, o Nafta e oMercosul em 1995: máquinas e equipamentos (18%das exportações para o Mercosul e 20,7% para oNafta), produtos siderúrgicos (7,3% para o Mercosule 13,2% para o Nafta) e papel e celulose (4,6% parao Mercosul e 5,8% para o Nafta).

O caso do setor automotivo é, nesse sentido,exemplar. Passou da proibição total de importaçõesà abertura atual simultaneamente com um processode restruturação que exemplifica o processo de ajusteao mercado ampliado. Esse ajuste implicouracionalizar a produção, redefinir a política delançamento de modelos e a redistribuição espacialdos investimentos, com vistas ao atendimento domercado externo e da crescente demanda interna doMercosul - resultado do êxito com que os Governos

139Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

vêm aplicando programas de estabilizaçãoeconômica. Registre-se que o setor automotivo é itemfundamental na pauta de exportação brasileira nãosó para o Mercosul como também para os demaispaíses latino-americanos (15,3 % das exportaçõespara os países da ALADI não-membros doMercosul), em cujos mercados o Brasil não goza depreferências, o que é revelador da qualidade ecompetitividade do produto mesmo fora de umesquema integracionista. O fenômeno dareestruturação do setor automotivo pertence àessência mesma da formação de uma UniãoAduaneira: nesse contexto, políticas até entãoindividuais passam a ter um sentido mais globalizante.

O Mercosul pratica hoje, comprovadamente,um regionalismo aberto, estratégia em perfeitaconsonância com os objetivos de liberalização eincremento do comércio mundial. Ao mesmo tempoem que forma e consolida um espaço econômicoampliado. O Mercosul busca a intensificação docomércio com seus principais parceiros, em umaperspectiva mundial: promove a negociação deacordos de livre comércio com seus vizinhossulamericanos, participa ativamente do exercício denegociação da Área de Livre Comércio dasAméricas, dedica-se à criação de uma futuraAssociação Inter-Regional com a União Européia eaprofunda o diálogo com interlocutores, como oJapão, a Índia, a CEI, a CER (Austrália e NovaZelândia) e a SADC. Os acordos de livre comérciojá firmados com o Chile e a Bolívia são a pedra detoque dessa política, uma vez que já dão dimensãoconcreta ao discurso do Mercosul.

O Mercosul busca uma expansão horizontalcom a convicção de que o nível de coesão alcançadopelos quatro é suficientemente forte para que aagenda externa não comprometa o projeto deconstrução de um Mercado Comum. Em nenhummomento pretende o Mercosul esgotar-se nadimensão do livre comércio. Para tanto, deverá fazeracompanhar a expansão horizontal com um projetoclaramente definido de aprofundamento vertical, a

ser desenvolvido em etapas. Na primeira, almeja-sedefinir, já na reunião do Conselho do Mercosulprevista para dezembro, em Fortaleza, instrumentoscomuns de defesa da concorrência, defesa doconsumidor, práticas desleais de comércio,salvaguardas. Na segunda, intensificar-se-ia o esforçonegociador em terrenos como serviços, comprasgovernamentais, temas trabalhistas, meio ambiente einfraestrutura.

Todos esses elementos são importantes paramanter a coesão do bloco e preparar o Mercosul doséculo XXI. O exemplo de sucesso dado pelo setorautomotriz poderá reproduzir-se em muitos outrosramos da economia se para tanto se aproveitarem asvantagens da expansão do mercado e dareestruturação produtiva. Ao mesmo tempo, oMercosul tende a crescer como pólo de atração deinvestimentos e, como tal, a incorporar as novastecnologias necessárias a manutenção e ao aumentodos níveis de competitividade.

A própria existência do Mercosul é vista hojepelos empresários externos como um fator de grandepeso em suas decisões de investir no Brasil,Argentina, Paraguai e Uruguai. Isso se dá nãosomente em virtude da ampliação do mercado, masigualmente pelo fato de que processo de integraçãoproporciona maior credibilidade internacional àspolíticas nacionais de estabilidade e aberturadesenvolvidas por seus membros.

Nesse contexto, o papel dos Governos éessencialmente o de manter regras do jogo estáveise aperfeiçoar o funcionamento dos mecanismos demercado. Estamos rapidamente construindo uma“marca Mercosul”, capaz de impor-se nos mercadosregionais e internacionais. Essa marca - que não ésimplesmente um símbolo, mas a expressão de umprocesso sólido e eficiente - tem a capacidade degerar negócios e de chamar a atenção para nossaspotencialidades.

Enfrentamos uma agenda multifacetada, ondea sintonia Governo-setor privado deve estar presenteem todos os esforços de aprofundamento da

140 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

integração. Estamos convencidos de que somenteessa sintonia permite identificar e enfrentar comrapidez os pontos de estrangulamento do processo,tanto em termos de infra-estrutura física quanto defuncionamento institucional.

A construção do Mercosul torna cada vezmais nítida a convergência dos Estados Partes emtorno do objetivo de desenvolvimento econômico

com justiça social, bem como das maneiras dealcançá-lo. Não há dúvida de que o Mercosul tem acapacidade de exponenciar os projetos nacionais dospaíses que o compõem. Na medida em que avançao processo de integração e aprofundam-se os laçospolíticos e econômicos entre os Estados Partes, oMercosul torna-se cada vez mais um instrumento demobilização da sociedade nos quatro países.

141Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Foi com grande prazer que aceitei o convitepara participar da sessão de encerramento desteencontro, que reuniu representantes dos meios políticoe empresarial do Cone Sul. Alegro-me também dever aqui a meu lado os Presidentes Carlos Menem eJuan Carlos Wasmosy, prova da união das liderançaspolíticas de nossa região em torno do objetivo maiorda integração do Cone Sul.

Grande parte do público aqui presente écomposta de especialistas em marketing, pessoas queconhecem o valor de uma marca e sabem que o nomeMERCOSUL tornou-se um rótulo de sucesso. Onome MERCOSUL vem sendo tão difundido econhecido, em cada um de nossos países e no exterior,que tendemos a considerá-lo como parte de nossarealidade econômica há muito tempo. Esquecemo-nos, muitas vezes, de que o MERCOSUL é umaconstrução relativamente recente, que data de marçode 1991.

Um nome não se consolida em espaço tãocurto de tempo sem que esteja associado a umainiciativa bem-sucedida. E isto podemos dizer doMERCOSUL sem qualquer hesitação.

Foi extraordinário o percurso que fizemos. Enão me refiro aqui, unicamente, às conquistas no planoestritamente comercial, por mais significativas quetenham sido, já que permitiram a multiplicação por

cinco do comércio entre os países membros nosúltimos anos, bem como a negociação de acordosentre o MERCOSUL e outros parceiros comerciaiscomo o Chile, a Bolívia e a União Européia.

Talvez mais importante, talvez nossa maiorvitória esteja no fato de que estão lançadas as basesde uma verdadeira “cultura da integração” no ConeSul, que agora se estende a toda a América do Sul.Ela está enraizada em nossas sociedades; permitiuque superássemos antigas rivalidades e quepassássemos a ver no cenário externo enorme campode oportunidades.

Esta “cultura da integração” só poderiaflorescer entre sociedades democráticas como sãohoje as nossas. Vemos, no MERCOSUL, ademocracia e a integração como elementosindissociáveis. Isto é uma garantia de que ascondições políticas que deram origem aos êxitoscomerciais do presente estarão asseguradas tambémno futuro.

A percepção de que o destino de cada umde nossos países está intimamente ligado ao de nossaregião vale não apenas para o MERCOSUL ou parao Cone Sul, mas também, e de forma crescente, parao conjunto da América do Sul. A visão de umaAmérica do Sul efetivamente integrada passou a fazerparte de forma definitiva do horizonte de

Discurso do Presidente da República na sessão deencerramento do 3º Congresso de Marketing e Negócios,Organizado pelo Fórum de Integração do Cone Sul,Florianópolis, 1º de novembro de 1996

Encerramento do 3º Congressode Marketing e Negócios

142 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

planejamento, das decisões, da estratégia de cadaum dos Governos dos países da região.

O êxito do Mercosul enquanto arquiteturainstitucional para a expansão do comércio se explicaem grande parte pela existência, no mais alto nível,de vontade política para levá-lo adiante.

Sem esse ingrediente vital, não há projeto deintegração que possa ser bem conduzido, porque éa vontade política, e só ela, que permite perseverarnos objetivos traçados e resistir às pressões pelaproteção deste ou daquele setor.

Vontade política — sólida porquedemocrática, reflexo do que queriam nossassociedades — nunca nos faltou para que pudéssemoster construído, com o MERCOSUL, um marcojurídico político e regulatório favorável à expansãodo comércio de seus membros e plenamentecompatível com as regras da Organização Mundialde Comércio.

Quero ressaltar a importância deste ponto: oMERCOSUL é um projeto de integração aberto, quenão exclui os vínculos com parceiros de outrasregiões, que tem por objetivo criar fluxos adicionaisde comércio e investimentos num espaço econômicoampliado. É um instrumento com que contam ospaíses membros para poderem se inserir plenamente,em condições de maior competitividade, no processode globalização econômica.

A vontade política que impulsionou oMERCOSUL até o presente continuará a prevalecer.Que estejam todos os aqui presentes seguros disto.

Aprofundaremos verticalmente oscompromissos de integração, consolidando aquelesjá firmados e estendendo-os para outras áreas comoa interconexão de infra-estrutura, a circulação depessoas e serviços.

Iremos além da atual etapa de UniãoAduaneira. Nosso objetivo, conforme determina opróprio Tratado de Assunção, é e permanece o dealcançarmos um estágio mais avançado no processode integração, o de construirmos um verdadeiromercado comum. Desse objetivo não nos

desviaremos.Queremos também expandir o MERCOSUL

horizontalmente, no sentido de estabelecer acordosde livre comércio ou de associação com outros paísesvizinhos e dentro do hemisfério, assim como comoutros esquemas de integração como a UniãoEuropéia. O MERCOSUL evoluirá fiel à concepçãoque o inspira de regionalismo aberto.

O sucesso do MERCOSUL dependerá cadavez mais da capacidade de nossas sociedades deaproveitarem as oportunidades criadas. Isto já estáocorrendo de forma admirável, mas é preciso queelas se aproximem ainda mais.

Chegarmos a uma etapa mais avançada daintegração, a de um verdadeiro mercado comum,exigirá uma interação crescente, em diversos níveis,entre nossas sociedades. A agenda social doMERCOSUL tenderá a ganhar peso, incluindoquestões como relações trabalhistas e emprego;harmonização de regulamentos ambientais, decurrículos escolares – com vistas à futurapossibilidade de livre exercício das profissões nospaíses membros; facilitação de trâmites judiciais, entreoutros.

Os Governos criaram e estão aperfeiçoandoa moldura jurídico-institucional do MERCOSUL.Dar-lhe expressão concreta, em termos de geraçãode maior riqueza, será cada vez mais uma tarefa dosagentes econômicos, da iniciativa privada.

Por isto, entidades como o Fórum para aIntegração do Cone Sul e eventos como esteCongresso são importantes. Por isso fiz questão deprestigiá-lo com minha presença, assim como osdemais Presidentes que aqui estão. De uma certaforma, é uma maneira de mostrarmos que umainiciativa da envergadura do MERCOSUL dependedo trabalho conjunto de Governo e sociedade.

Aos representantes dos diversos setoresprivados, peço que contribuam com os Governospara o sucesso do MERCOSUL. Que dêemsugestões para aperfeiçoar as instituições e as regrascom que contamos.

143Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Que identifiquem lacunas em que se façanecessária a ação governamental.

O marketing é uma ferramenta essencial paraque uma marca se firme, para que, em meio a umvolume vastíssimo de informações, o público retenhauma mensagem, um conceito.

Comprem o nome MERCOSUL. Juntos,Governo e sociedade, continuaremos a consolidá-locomo símbolo de nossa capacidade de bemencaminharmos o processo de integração de nossaseconomias e de nossos povos.

145Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Excelentíssimo Senhor Ministro da Educaçãoe do Desporto;

Excelentíssimo Senhor Governador doDistrito Federal;

Excelentíssimo Senhor RepresentantePermanente da UNESCO;

Excelentíssimo Senhor Secretário-Executivodo Ministério Comunicações;

Excelentíssimo Senhor Vice-Presidente daEmpresa Brasileira de Correios e Telégrafos;

Magnífico Reitor da Universidade de Brasília;Excelentíssimos Senhores Parlamentares;Excelentíssimos Senhores Embaixadores;Senhoras e Senhores,Com esta cerimônia, o Governo brasileiro

junta-se à Comunidade internacional para celebraros 50º aniversário da UNESCO. O Brasilcomemora, hoje, 50 anos de bom e contínuorelacionamento com a Organização, de umacooperação ampla e diversificada. O fato de termosquatro cidades - Ouro Preto, Olinda, Brasília eSalvador – consideradas patrimônio cultural dahumanidade pela UNESCO, faz da Organizaçãoreferência presente na vida brasileira.

Há um ano atrás, na qualidade de Chefe daDelegação Brasileira à vigésima oitava sessão daConferência Geral da UNESCO, o Ministro Paulo

Renato observou que as celebrações deveriam incluir,além das festividades, uma avaliação das dificuldadesencontradas ao longo desse tempo.

Falou, também, da necessidade de que“comemorações e ponderações se cobrem, de modoa produzir um genuíno impulso que contribua para ocontínuo aperfeiçoamento da Organização”.

O Brasil, como Estado Membro fundador,tem buscado vender e valorizar a mensagem ética epolítica do Ato Constitutivo da UNESCO, que realçaa “construção da Paz” no espírito dos Homens e oestabelecimento de uma verdadeira “solidariedademoral e intelectual da humanidade”.

Elaborados com o objetivo de erradicar a“incompreensão mútua dos povos” que haviaresultado no genocídio da Segunda Guerra Mundial,os princípios consagrados na Carta da UNESCOforam aperfeiçoados e amadurecidos mesmo sob oconflito ideológico da Guerra-Fria. Essa evoluçãohistórica atesta o seu valor permanente e universal.Os princípios indicam caminhos para a resolução dealgumas das grandes questões que figuram na AgendaInternacional contemporânea e, ao mesmo tempo,constituem desafios específicos para inúmerosEstados Nacionais.

No caso do Brasil, que vem procurandoenfrentar problemas como a exclusão social, a

Discurso do Ministro de Estado da Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na Cerimônia deComemoração do Cinqüentenário da Unesco, Brasília, 4de novembro de 1996

Cerimônia de Comemoraçãodo Cinqüentenário da Unesco

146 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

degradação ambiental e o tráfico de drogas, éimportante que aqueles princípios sejam aplicadoscom vistas à consolidação de um novo conceito dedesenvolvimento que, além dos aspectos ecológicos,contemple também uma dimensão humanística. Foinesse sentido que o Governo brasileiro apresentouao Conselho Executivo a proposta de criação de um“Foro Internacional de Ação Solidária” destinado acongregar, no âmbito da UNESCO, pessoasresponsáveis por iniciativas bem sucedidas na áreade combate à pobreza.

O Governo brasileiro, através da DelegaçãoPermanente junto à UNESCO, tem procurado unir-se a todas as iniciativas de valorização da dimensãointelectual da Organização. Quero mencionar, nessecontexto, a participação do Brasil na ComissãoInternacional sobre Cultura e Desenvolvimento e olançamento, em 1994, da iniciativa de criação do“Centro de Pensamento Crítico da América Latina eCaribe”, com o objetivo de propiciar reflexão sobregrandes temas de interesse regional, a partir de umaperspectiva cultural.

Atribuímos grande relevância à decisão doDiretor-Geral de designar o Escritório de Brasíliacomo representação da UNESCO junto aoMERCOSUL. O Brasil reconhece a importância daUNESCO no processo de integração regional, emparticular na área da cultura, e o papel da Organizaçãono lançamento da Comunidade dos Povos de LínguaPortuguesa, traduzido na criação, no âmbito doSecretariado, do posto de coordenador dos paíseslusófonos.

O Brasil tem contribuído ativamente para aimplementação de instrumentos jurídicos importantesgerados no âmbito da Organização, como o caso daConvenção do Patrimônio Mundial, da Convençãosobre o Homem e a Biosfera e do Tratado daConvenção Oceanográfica Internacional.

Nossa participação nos diversos Comitês de

coordenação é prova da importância que atribuímosà UNESCO. Mas é preciso estabelecer prioridadesclaras dentro de cada uma das quatro grandes áreasdefinidas pela Conferência Geral: educação, ciência,cultura e desenvolvimento, e comunicação einformática.

Para que o nível da participação brasileirapossa ser mantido, cabe atualizar dois importantescanais de cooperação entre o Brasil e a UNESCO,quais sejam, o Instituto Brasileiro de Educação,Ciência e Cultura -IBECC, e o Acordo deCooperação Técnica em Matéria Educacional,Científica e Cultural, de 1982.

Por isso já estamos procedendo à atualizaçãodas cláusulas do Acordo, hoje envelhecidas em razãodas transformações experimentadas pelo Brasil nosúltimos anos. Da mesma forma, é cada vez maisurgente proceder a revitalização do Instituto Brasileirode Educação, Ciência e Cultura -IBECC.

Criado em 1946, em obediência a dispositivocontido no Tratado da UNESCO, o Instituto sofreuma vinculação excessiva a fontes governamentais.O objetivo da reforma proposta pelo Itamaraty é dar-lhe maior autonomia administrativa e financeira e umamaior agilidade no desempenho de suas tarefasenquanto Comissão Nacional para a UNESCO.

Mas essa autonomia não deverá resultar emprejuízo de sua vinculação política ao Governo,enquanto órgão auxiliar da execução da .

Senhoras e Senhores,Ao reafirmar o compromisso brasileiro com

os princípios e objetivos que levaram à criação daUNESCO, quero expressar a minha confiança emque os próximos cinqüenta anos da Organizaçãoserão tão significativos para forjar um maiorentendimento entre os povos do mundo quanto esteprimeiro meio século de sua existência.

Muito obrigado.

147Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Pelo terceiro ano consecutivo, a FundaçãoAlexandre de Gusmão, do Ministério das RelaçõesExteriores, promove, com o Centro de Intercâmbioe Programas Internacionais do Departamento deRelações Internacionais da Universidade de Brasília,o ciclo de conferências sobre a política exterior doBrasil.

Ao abrir o III Ciclo, gostaria de agradecer àUNB pela oportunidade de apresentar e discutir asgrandes linhas da diplomacia brasileira. Farei umaapresentação sucinta da que vem sendo posta emprática pelo Governo do Presidente FernandoHenrique Cardoso, situando-a em seus contextosmais importantes e procurando mostrar-lhes como anossa diplomacia busca fazer a ponte entre o interno— isto é, as caracterísiticas e objetivos políticos,econômicos e sociais do Brasil — e o externo,entendido como a presença e atuação do País noscenários regional e mundial.

O exercício da brasileira é constantementeaperfeiçoado e atualizado em função dastransformações que ocorrem nesses dois planos —no Brasil e no mundo. É preciso, portanto, quetenhamos uma noção clara da natureza e extensãodessas mudanças, para que a relação a serestabelecida pela diplomacia entre estas duas esferasreverta em benefício concreto para o

desenvolvimento econômico e social do Brasil.Há uma ou duas décadas, quem ousasse

antecipar as transformações que, no final dos anos80 e início dos anos 90, alterariam tão profundamenteo mundo e as relações internacionais, certamenteseria visto como um ingênuo ou irrealista. Nós, osdiplomatas, bem como os senhores, estudiosos dasrelações internacionais, surpreendemo-nos com anatureza e a velocidade das mudanças. Antesprevalecia uma ordem mundial rigorosamentedeterminada por divisões político-ideológicas eeconômicas quase sempre intransponíveis. Norte eSul, Leste e Oeste eram referências precisas nageografia política mundial, em uma concepção estáticaque tornava automática e cômoda a concepção domundo, do nosso papel e das nossas prioridades elimitações.

Hoje, isso mudou radicalmente. Umarevolução democrática varreu o mundo, começandopela América Latina, e a imensa maioria dos povospassou a viver sob regimes democráticos, com maiortransparência e melhor representatividade dasinstituições e processos políticos.

Uma revolução econômica se operou, porforça do esgotamento dos modelos autárquicosprevalecentes nos anos 50 a 70, e hoje grande partedos países adota sistemas econômicos baseados na

Palestra do Secretário-Geral das Relações Exteriores,Embaixador Sebastião do Rego Barros , na abertura do ciclode palestras sobre a política exterior do Brasil, promovidopela Universidade de Brasília e pela Fundação Alexandrede Gusmão, Brasília, 5 de novembro de 1996

Abertura do ciclo de palestrassobre a política exterior do Brasil

148 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

liberdade de mercado, buscando integrar-secompetitivamente com seus vizinhos e na economiaglobal.

Também ocorreu uma revolução decomportamento dos Estados, com a crescenteuniversalização de regras de convivência política eeconômica regulando áreas tão distintas quanto a não-proliferação de armas de destruição em massa, ocomércio internacional de bens e serviços, apromoção dos direitos humanos, o desenvolvimentosustentável e a proteção ambiental.

Embora não tenham desaparecido asdesigualdades e as diferenças de poder nacional ede bem-estar social entre países e regiões do mundo,é inegável que as antigas clivagens ideológicasperderam apelo e eficácia.

Parece definitivamente fechado o caminho doisolamento, da autarquia, das opções à margem daestrada principal por onde correm as relaçõesinternacionais — à margem da democracia, daliberdade econômica, da participação nos esquemasde integração regional e livre comércio, da buscaconstante de credibilidade e confiabilidade na relaçãotanto com parceiros desenvolvidos quanto comparceiros em desenvolvimento. Há um custo claro eintolerável na marginalidade e no nacionalismoxenófobo, e esse custo se expressa não apenas emtermos políticodiplomáticos, mas também em termoseconômicos e sociais.

Aspectos básicos da vida dos Estadossoberanos, como a atividade econômica, o nível deemprego, a competitividade dos seus produtos nosmercados externos e nos seus próprios mercados— todos eles aspectos que têm impacto sobre o nívelde bem-estar, a estabilidade política e a estabilidadeeconômica e, naturalmente, sobre a própriasoberania em sentido mais amplo — passaram a terum grau muito maior de incidência de fatoresinternacionais. O mundo ganhou uma dimensão queantes não tinha no âmbito interno dos países.

Mais do que se preocupar com a sua auto-preservação diante das ameaças militares externas,

os Estados tendem hoje a concentrar seus esforçosno jogo das forças econômicas, conscientes de quea soberania, o poder nacional e a capacidade deinfluência se ampliam com o fortalecimento daeconomia e dos indicadores sociais.

Uma sociedade mal integrada e com baixodesempenho econômico é muito mais susceptível deser afetada por problemas como o narcotráfico, oterrorismo, o crime organizado e a corrupção,subprodutos de um mundo em que se acirram fatoresdesencadeadores dessas distorções.

A diplomacia que o Governo FernandoHenrique é chamado a exercer deve ser uma respostaa mais completa possível a essa nova realidadeinternacional e aos imperativos internos brasileiros,valendo-se obviamente das condições maisfavoráveis que temos hoje para melhor inserir-nosem nossa região e no mundo.

A diplomacia defende e projeta no exterior osinteresses nacionais.

Mas ela não cria interesses, nem podeprojetar o que não existe. O país que se encontrapor trás da diplomacia é o único elemento a partir doqual ela pode operar. Por isso, a diplomacia só poderáresponder adequadamente às transformações docenário internacional se essas transformações forem,de alguma forma, internalizadas pelo país eaproveitadas de acordo com os nossos interesses enecessidades.

A diplomacia de um país como o Brasil operanecessariamente a partir de um patrimôniodiplomático. Ela não admite mudanças irrefletidas oubruscas, nem barganhas voltadas para o curto prazo,nem jogos de cena ou buscas irrealistas de prestígio.

Temos um sólido patrimônio políticoconstruído com os diferentes grupos de países comos quais nos relacionamos, temos uma tradição deatuação equilibrada e amadurecida nos forosmultilaterais. Temos também interesses claros comogrande país continental, com uma economia cada vezmais dinâmica e integrada ao exterior.

149Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Nossa diplomacia é universalista e não-excludente. Essa é uma característica que deriva daprópria inserção internacional do Brasil, um país comrelações equilibradas entre quatro grandes pólos —a Europa, a América do Norte, a América Latina e aÁsia. Buscamos reforçar ou criar parcerias com baseem interesses concretos e naturais, no seu impactono nosso nível de atividade econômica, e no seu papelna configuração de uma rede de presençainternacional do Brasil.

Os limites de nossa ação diplomática serãoos limites dos nossos próprios recursos. Sua principalreferência é o princípio de que é importante para oBrasil assumir, nas suas relações com o resto domundo, um lugar condizente com as suas dimensõese com as suas características de grande país emdesenvolvimento.

São muitos os exemplos de ações que temospromovido para tornar palpáveis essas diretrizes.Quase dois anos de do Governo Fernando HenriqueCardoso são suficientes para mostrar o grau em quepraticamos a dialética que se consagrou na nossahistória diplomática: a renovação combinada com acontinuidade. A lista sucinta que apresento a seguir éexemplificativa e não exclui outras áreas de atuaçãoe prioridades da nossa .

Diplomacia PresidencialA diplomacia promove os interesses do país

no exterior por diversos meios — as nossasEmbaixadas, as missões especiais, as viagens doChanceler e outros altos funcionários, as missõesempresariais e, evidentemente, as viagenspresidenciais.

As viagens internacionais do PresidenteFernando Henrique Cardoso não são apenas oexercício, pelo Brasil, da diplomacia de Chefes deEstado e Governo, característica das relaçõesinternacionais nas últimas décadas e uma prática hojecomum entre os Estados. Elas traduzem também umaestratégia deliberada de nos valermos dos encontrosde cúpula, com sua capacidade única de mobilizar

meios governamentais, a imprensa e a opinião pública,para promover uma atualização da presença externabrasileira no mundo. Essa atualização se faz aindamais necessária se pensamos nos desenvolvimentospositivos que o Brasil vem tendo, os quais devemosapresentar à comunidade internacional.

O programa de viagens presidenciais écoerente com as prioridades da do Governo. Comsentido de equilíbrio e de abrangência, vamoscobrindo o universo das relações exteriores do Brasil— na América do Sul, na América do Norte, naEuropa e na Ásia, proximamamente na África e noOriente Médio.

Os resultados que temos colhido são, naminha avaliação, muito favoráveis. Basta citar ospaíses visitados pelo Presidente nestes quinze mesespara se ter uma idéia da importância desse projetode diplomacia presidencial: Chile, Estados Unidos,Portugal, Alemanha, Bélgica e União Européia, China,Malásia, Índia, México, Japão, Argentina e França,sem contar as posses presidenciais e reuniõesmultilaterais em que temos estado ativamentepresentes. O Brasil hoje é respeitado e olhado cominteresse no exterior, não apenas porque temos umanova realidade política e econômica aqui dentro, masporque temos sabido promover essa realidade juntoaos nossos principais parceiros, valendo-nos dahabilidade, da experiência e do interesse diplomáticodo presidente da República.

Proteção aos nacionais brasileiros no exteriorTalvez o dado mais novo para a diplomacia

brasileira nestes últimos tempos seja o da imigraçãobrasileira ao exterior. Em países fronteiriços ou empaíses desenvolvidos, o contingente de brasileiros quevive temporariamente ou em bases definitivas noexterior aumentou consideravelmente, alcançandohoje perto de 2 milhões de cidadãos. A eles se agregaum número crescente de turistas, estudantes eempresários, levados ao exterior pela estabilidadeda moeda brasileira e pelas oportunidades que seabrem fora do país.

150 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

A proteção ao nacional no exterior étradicionalmente uma das atribuições básicas dadiplomacia, ao lado da representação, da negociaçãoe da informação. Para a diplomacia brasileira, nuncahouve uma situação comparável. Além da demandapor serviços cartoriais prestados pela rede consular,aumentam as necessidades de apoio consular abrasileiros e de incentivo à organização dascomunidades brasileiras fora do país. Temosrespondido a esses novos desafios através dofortalecimento da nossa rede consular e de fórmulascriativas, como os Consulados Itinerantes, as cartilhasconsulares e os Conselhos de Cidadãos — formasde levar ao cidadão brasileiro no exterior a presençado Estado brasileiro e os serviços e a participação aque esse cidadão tem pleno direito.

União EuropéiaA Europa tem sido tradicionalmente, em

conjunto, o mais importante parceiro econômico ecomercial do Brasil, responsável por cerca de 30por cento do nosso comércio exterior e por algumasdas mais importantes parcerias individuais do Brasilno mundo, como é o caso da Alemanha, da Grã-Bretanha, da França e da Itália. Embora a Europatenha perdido algo de sua posição relativa nocomércio exterior brasileiro e nos investimentos noBrasil, ela constitui uma das bases do equilíbrio quecaracteriza nossa inserção no mundo.

Esse é um dos fundamentos da políticaeuropéia que temos seguido e que encontra seumelhor exemplo na viagem presidencial à Alemanha,em setembro de 1995, e na visita à França, em maiopassado. Outras iniciativas semelhantes obedecem àpreocupação de manter a Europa como grandeparceiro econômico, comercial e tecnológico doBrasil. Entre elas, ressalta o nosso compromisso firmecom progressos nas negociações entre o Mercosul ea União Européia, ao amparo do Acordo-Quadrode Cooperação Inter-Regional, com vistas a criarfuturamente uma área de livre comércio entre os doisagrupamentos regionais.

Temos reiterado enfaticamente a necessidadede dar caráter operacional ao Acordo, iniciando ummapeamento e um inventário das áreas e questõesque deverão ser cobertas pelas negociações. Nossoobjetivo é criar um processo paralelo de negociaçãoentre a integração hemisférica e a aproximação UniãoEuropéia-Mercosul. Nosso interesse é evitar que osprogressos que já temos feito na ALCA — Área deLivre Comércio das Américas — possam de algumaforma alterar em nosso desfavor a situação de relativoequilíbrio do nosso comércio internacional, retirandoda Europa a condição de nosso principal parceirocomercial, desviando correntes de comércio econcentrando no Hemisfério a maior parte das nossasrelações econômicas externas.

Estados UnidosMesmo tendo em conta a perda relativa do

poder econômico e político norte-americano aolongo dos últimos 50 anos, as relações com osEstados Unidos continuam sendo um dos principaiseixos da brasileira. Os EUA são o principal parceiroindividual do Brasil e hoje a única potência com realcapacidade política e estratégica global. É indiscutívela importância para o Brasil do diálogo político e dointercâmbio econômico-comercial e tecnológico comos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, cresce a consciência deque esse interesse é uma via de duas mãos, a sertrilhada na base do respeito e com uma abordagemconstrutiva e positiva.

A visita presidencial aos Estados Unidos, emabril de 1995, serviu ao propósito de redimensionaressa parceria tradicional do Brasil, com base em novoselementos do cenário interno brasileiro: aestabilização, a abertura econômica, as reformas, ocrescimento, a consolidação da nossa credibilidade.Ampliamos e avançamos nossa agenda com osEstados Unidos, o que mostra o compromisso dosdois Governos de trabalhar ativamente pelofortalecimento do intercâmbio e pela solução dasdiferenças que naturalmente aparecem em um

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relacionamento da densidade e complexidade donosso.

As relações bilaterais se encontram hoje, noentanto, livre de grandes diferendos. Nossa agenda,mais do que positiva, é afirmativa, no sentido de queexiste uma preocupação constante em construir sobreos aspectos positivos que vão compondo o universodas relações.

Ainda assim, temos defendido de maneirafirme que os Estados Unidos concedamcontrapartidas às oportunidades comerciais e deinvestimentos que têm tido no Brasil, graças àabertura econômica, à ampliação do nosso mercadoe à desestatização. Temos buscado, por exemplo, olevantamento de barreiras protecionistas quecontinuam a afetar alguns importantes produtos danossa pauta de exportação para aquele país.

MercosulO Mercosul é o símbolo do grande avanço

qualitativo que as relações do Brasil com os paísesdo Prata tiveram a partir da década de 80, quando opropósito da cooperação e da parceria substituiu acompetição nas relações entre os dois maiores sóciosdo empreendimento, a Argentina e o Brasil.

O Mercosul é área prioritária da brasileira.Mais do que isso, já se consolidou como uminstrumento de política econômica para cada um dosseus Estados-membros. Continuamos a trabalhar pelaconsolidação da União Aduaneira e a promover asbases para um relacionamento mais amplo entre oMercosul e outros países ou grupos de países.Começamos com a União Européia, através doacordo de cooperação econômica firmado emdezembro último em Madri.

Estamos atuando também no sentido dechegar a acordos de liberalização comercial entre oMercosul e outros países da nossa região.

O primeiro exemplo é o do Chile, cujoacordo de associação ao Mercosul entrou em vigorno início de outubro passado. Há menos de um mês,concluímos as negociações para a assinatura do

acordo com a Bolívia.Pouco a pouco, o Mercosul vai completando

o seu caráter de nova realidade econômica e políticana América do Sul — um dos núcleos a partir dosquais será possível ampliar a integração hemisférica.

Além de ter tido um impacto impressionantesobre o comércio entre os seus quatro integrantes,que se multiplicou por quatro nos últimos cinco anos,e de apoiar-se no caráter democrático dos paísesque o compõem, o Mercosul firma-se, portanto,como um importante reforço à identidade e à projeçãoexterna dos países que o compõem.

América LatinaEstamos ampliando a nossa parceria com

nossos vizinhos latino-americanos, dando ênfase àinterconexão física e à cooperação fronteiriça comesses países, o que responde a um interesse concretocada vez maior dos agentes econômicos e dasociedade em geral.

A América Latina volta a ocupar hoje, comvantagens, o lugar de destaque que teve em nossocomércio exterior no final dos anos 70 e início dos80. Hoje, esse comércio é maior ainda, maisdiversificado e mais equilibrado, permitindoexportações de produtos de maior sofisticaçãotecnológica e a geração de empregos de elevadaqualificação.

Um dado a reter é que hoje a Argentina já éo nosso primeiro fornecedor de petróleo, com umamédia de 135 mil barris diários no primeiro semestre,o que revela uma alteração substancial no perfil denossos fornecedores de petróleo. As visitaspresidenciais ao Chile e à Venezuela, em 1995, aoMéxico, em fevereiro último, e à Argentina, em abril,respondem a essa diretriz de intensificar ainda maiso intercâmbio e a cooperação bilaterais com paísesda nossa região.

A vertente multilateral, de integração noâmbito do Mercosul, não substitui nem exclui avertente dos relacionamentos bilaterais com todos ecada um dos países latino-americanos — inclusive,

152 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

individualmente, com os nossos três sócios doMercosul. A dimensão bilateral e multilateral seintegram perfeitamente, fortalecendo-se econtribuindo para que a América Latina consolide asua posição como um dos quatro grandes blocos derelacionamento externo do Brasil, ao lado doNAFTA, da União Européia e da Ásia.

Integração hemisféricaO Brasil tem participado das reuniões de

seguimento da Cúpula das Américas animado domesmo espírito construtivo que orientou a nossaparticipação em Miami, em dezembro de 1994.

Para nós, fortalecer as relaçõesinteramericanas sobre a base de um expressivocrescimento do comércio e dos fluxos deinvestimentos intra-regionais constitui um instrumentoinsubstituível no marco mais amplo de uma melhorinserção da economia brasileira na economiainternacional.

A realidade de que estamos partindo écomplexa, mas extremamente favorável. AOrganização Mundial do Comércio nos dá umaestrutura de regulação e liberalização do comérciojá em pleno funcionamento e em processo deaperfeiçoamento. Os arranjos sub-regionais deintegração ou liberalização do comércio já sãoimportantes focos de interação econômica.

Mas essa realidade complexa que nos permiteser otimistas sobre a integração hemisféricaaconselha-nos uma abordagem cuidadosa doprocesso. Queremos evitar expectativas irrealistas outemores que possam ser nocivos ao processo a maislongo prazo. Queremos avançar com cautela e sentidode responsabilidade em áreas onde não existe consenso.

E queremos estar certos de que os processosunilaterais de abertura e reforma econômica, que têmsido a dominante na nossa região, estão seconsolidando.

Em suma, queremos evitar uma exposiçãoprecoce da economia brasileira e um segundo choquede abertura competitiva ao exterior — e a economias

muito mais produtivas do que a nossa, como acanadense e a norte-americana — antes de que seconsolidem as adaptações e aperfeiçoamentosimpostos pelo primeiro choque. Afinal, de 1990 paracá, fizemos uma ampla abertura comercial em trêsníveis — unilateral, regional, no âmbito do Mercosul,e internacional, no âmbito dos acordos daOrganização Mundial do Comércio. E muitas vezesessa abertura não encontrou reciprocidade naeliminação de barreiras protecionistas que dificultamo acesso de produtos brasileiros.

Em nossa visão, não há atalhos para chegara um objetivo da magnitude da área de livre comérciodas Américas. Queremos garantir que a obra querealizaremos trará a marca da permanência e dointeresse consensual de todos os países participantese, dentro de cada país, dos seus agentes econômicos.

ÁfricaNa África, estamos redimensionando nossa

presença e adequando-a à nossa capacidadediplomática. Apostamos fortemente na pacificação ena reconstrução de Angola e Moçambique, que têmtodo o potencial para serem dois dos nossos maisimportantes parceiros no mundo em desenvolvimento.Esse é o sentido da nossa participação naUNAVEMIII, a Força de Paz das Nações Unidasque ali conta com mais de 1.100 soldados brasileiros— nossa maior força militar fora do país desde aSegunda Guerra.

Estamos também repensando nossorelacionamento com a África do Sul, país que surge,com a sua democratização, como um dos pólos maisdinâmicos de desenvolvimento no Hemisfério Sul,além de ser o foco da atenção quase universal pelassuas potencialidades e pelo seu vigor econômico.Esses exemplos falam de uma nova perspectiva quese abre para o Brasil na África, que volta a figurar nohorizonte das nossas prioridades graças a uma felizcombinação de fatores internos brasileiros comprogressos sensíveis no cenário africano. As próximasvisitas presidenciais a Angola e África do Sul refletem

153Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

este propósito.

Oriente MédioTambém no Oriente Médio estamos

reequilibrando nossa presença, a partir da própriaevolução do processo de paz que tenta pôr fim a umconflito que por décadas assolou a região evirtualmente subtraiu-a ao convívio internacional e aosesforços pelo desenvolvimento. Embora conturbadopor atos de oposição violenta e pelas complexidadespróprias de um intrincado mecanismo negociador, quecoloca em presença muitos interesses e visõesconflitantes, o processo de paz no Oriente Médiomerece o apoio imparcial e decidido da comunidadeinternacional, e o Brasil não poderia agirdiferentemente. Estamos atentos às oportunidadesque a região vem produzindo e ao efeito multiplicadorque cada etapa do processo de paz vem tendo sobreessas oportunidades.

Ásia-PacíficoNa Ásia, estamos reforçando nossa presença

diplomática, equipando melhor algumas Embaixadasem países dinâmicos, definindo uma agenda e pondoem prática uma ampla iniciativa de diplomaciapresidencial, que começou, em dezembro de 1995,com a visita à China e à Malásia, dois casos desucesso na revolução econômica mais recente quetransforma a região da Ásia-Pacífico no pólo maisdinâmico da economia mundial nos anos 90. Essainiciativa prosseguiu em janeiro com a visita à Índia,devida há mais de duas décadas e voltada a colocarvirtualmente aquele país na tela dos nossos interessese das nossas boas parcerias na região. Ecompletamos a primeira fase dessa diplomaciaasiática com a visita ao Japão, que sinalizou aretomada da relação bilateral sobre uma nova basede confiança recíproca. Os resultados foramapreciáveis, tanto do ponto de vista político quantodo ponto de vista econômico.MTCR e outros mecanismos regulatórios

Graças aos compromissos que assumiu e

consolidou em matéria de controle de exportaçõesde materiais e tecnologias sensíveis e denãoproliferação de armas de destruição em massa,o Brasil foi admitido, em outubro do ano passado,no Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis. Aparticipação no MTCR foi resultado de um processode coordenação interna do Governo brasileiro e deatualização das nossas posições em face dedesenvolvimentos internacionais. Percebendo odesinteresse de manter uma posição principistacontrária ao caráter restrito do MTCR, o Brasilpassou a ver no regime uma garantia de acesso atecnologias indispensáveis ao desenvolvimento do seuprograma espacial.

Não abrimos mão do nosso programa. Aocontrário, ele se mantém absolutamente intacto dentrode suas características de programa pacíficocontrolado por uma agência civil, a Agência EspacialBrasileira, e já começa a colher os benefícios da nossaadesão ao MTCR na forma do interesse desimpedidode grandes empresas em participar e da possibilidadede ter facilitado o acesso a tecnologias ecomponentes que ainda não temos condições dedesenvolver internamente.

Essa mesma abordagem pragmática nosorientou em nossa adesão ao Grupo de SupridoresNucleares, formalizada no dia 23 de abril, na reuniãode Buenos Aires. Reconhecendo nossa condiçãoobjetiva de supridor, estamos assumindo asresponsabilidades internacionais inerentes a essacondição e garantindo aos nossos parceiros que nósnos pautamos por regras estritas em matéria decomércio de bens e insumos da área nuclear. Trata-se de mais uma credencial em nossa atuação na áreade desarmamento e não-proliferação, que ao mesmotempo facilita o nosso acesso a tecnologias e fortalecea credibilidade geral do país — uma moedaparticularmente apreciada nas relações internacionaisde hoje.

Conselho de Segurança. Finalmente, para encerrar esta lista de

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exemplos, temos procurado influir positivamente nasdiscussões sobre a reforma do Conselho deSegurança das Nações Unidas. Defendemos a tesede que a maior eficácia do órgão, para cumprir opapel que lhe cabe no sistema internacional pós-Guerra Fria, depende do aumento da sua legitimidadeinternacional e da sua representatividade — o quese traduz em um aumento criterioso de membrospermanentes e não-permanentes.

Sem nos mobilizarmos em uma campanha poruma candidatura a membro permanente, temosdeixado claro que defendemos uma reforma doConselho nesses moldes e que estamos dispostos acolaborar em um Conselho ampliado, se formoschamados a fazê-lo. Mais uma vez, convém que sereafirme: não se trata de um pleito ou de umacandidatura. Não se trata tampouco de uma iniciativade busca de prestígio e liderança.

E muito menos estamos subordinandoqualquer interesse da nossa em geral ou da intensateia de relacionamentos com nossos parceiros emtodo o mundo a esse objetivo. Fazemos, isso sim,uma defesa sincera da necessidade de reformar asNações Unidas, até como signo de sua vitalidade,ao iniciar-se seu segundo meio século de existênciaem um ambiente internacional inteiramente diversodaquele que lhe deu origem.

ConclusãoEsta é, em grandes linhas, a diplomacia que

nós procuramos empreender. Ainda é cedo paraanteciparmos resultados ou para julgarmos seestamos no melhor caminho. Para esse exercício, aparticipação da sociedade brasileira, através domundo acadêmico, do Congresso, dos partidos, dasassociações de classe, dos sindicatos, dasorganizações não-governamentais temáticas, éessencial e insubstituível.

O voto de confiança que pedimos à sociedadebrasileira para a que implementamos é suaparticipação, seu interesse, seu julgamento críticoconstrutivo. O Itamaraty não inventa interesses nemdefine prioridades, ele apenas cumpre um mandato.

Esse é o verdadeiro sentido da em umasociedade democrática.

As Instituições de reflexão e formação dequadros, como a Universidade, têm um papelfundamental na identificação objetiva de muitosdesses interesses. Por isso, o diálogo entre o Itamaratye a Academia é importante para nós. É nesseintercâmbio de idéias e informações que o Itamaratytambém se baseia para encontrar seu sentido maior:fazer da o instrumento de defesa e projeção de umaNação independente e soberana.

Muito obrigado.

155Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Quero mais uma vez expressar a satisfaçãocom que revemos Vossa Excelência e o recebemos,com a sua ilustre comitiva, aqui em Brasília.

Nós interpretamos essa visita do Chefe doGoverno chinês como mais uma demonstração dogrande interesse que a China tem pelo Brasil e pelaparceria que nos associa. Por isso, estamos honradoscom a sua presença entre nós.

Nós o acolhemos como um amigo do Brasil,como um estadista da China moderna, que se abreao mundo e procura os caminhos do desenvolvimentoem crescente sintonia com a história e as tendênciasdo nosso tempo.

Percebemos o quanto o Brasil é prioritárionesse projeto diplomático chinês e sabemos aimportância de que o Governo chinês seja capaz demobilizar-se em torno desse objetivo, como vemfazendo.

Vossa Excelência retorna ao Brasil, ondeesteve chefiando a delegação chinesa à históricaConferência do Rio sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento, na qual mais uma vez nossos paísesexploraram convergências e interesses comuns.

Pôde naquela ocasião estender suapermanência no Brasil para conhecer um poucomelhor o país e identificar, no nosso desenvolvimento,áreas de interesse para a China e pontos a explorarno nosso relacionamento bilateral.

Sua visita a Itaipu, a maior hidrelétrica domundo e um exemplo de cooperação entre dois

países em desenvolvimento, certamente lhe terá dadouma noção das nossas dimensões, dos nossosdesafios e da nossa capacitação.

Vossa Excelência reencontra agora umanação politicamente transformada, mais integrada aomundo, mais auto-confiante e determinada, cujosêxitos internos a habilitam melhor para as relaçõesinternacionais.

Têm sido numerosas as visitas de altasautoridades chinesas ao Brasil, cobrindo as maisdiversas áreas do nosso relacionamento e dando umapoio político claro ao projeto comum de construiruma parceria estratégica entre os dois países. Graçasa essa intensa presença de autoridades chinesas noBrasil, o Governo chinês é um dos que melhorconhecem a nossa realidade.

Minha visita à China, menos de um ano atrás,quis também significar a importância que atribuímosaos grandes parceiros tradicionais do Brasil,desenvolvidos e em desenvolvimento, em todo omundo.

Entre eles, por sua importância política, porseu vigor econômico e pela originalidade e força doseu processo de desenvolvimento nacional, a Chinaocupa lugar de prioridade.

Graças aos desenvolvimentos positivos quetemos conseguido no Brasil em matéria deestabilização da economia, reforma econômica eestabilidade e funcionalidade do sistema político,pude levar a Beijing e Xangai a palavra de um novo

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião do jantar oferecido ao Primeiro-Ministro da República Popular da China, Li Peng, Brasília,8 de novembro de 1996

Brasil-China

156 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Brasil, de um Brasil que se sente mais preparado ecom melhores atrativos para aprofundar os seus laçoscom o mundo de vertiginoso dinamismo a que seconvencionou chamar de mundo da globalização.

A China é uma das expressões desse mundo,uma referência obrigatória para a sua compreensão.É um mundo que transformou o comérciointernacional, a transnacionalização da produção e abusca da competitividade e dos investimentos emforças motoras da história e das relações entre ospovos.

Um mundo em que a presença e o pesopolítico da China se ampliaram para acrescentar-lhesa dimensão inédita de um crescimento acelerado esustentado, com uma média anual de mais de onzepor cento desde 1991, uma participação intensa emesmo desafiadora no comércio internacional debens e uma inigualada capacidade de atrairinvestimentos produtivos.

A essa nova dimensão, graças ao retornopróximo de Hong Kong à plena soberania chinesa, aChina acrescentará a pujança econômica e comercialdessa vitrine do desenvolvimento econômico e socialda Ásia, desse monumento à capacidadeempreendedora do povo chinês e à sua vocaçãointernacional.

Nós saudamos com entusiasmo esse históricodesdobramento, a realização dessa antiga e legítimaaspiração do povo chinês. Juntamente com aincorporação, em 1999, de Macau —um canto domundo a que nos sentimos particularmente ligados,graças à comum herança portuguesa —, areincorporação de Hong Kong fecha um capítulo nahistória da humanidade para abrir, na convivência desistemas diferentes, uma era de esperança para a todaa China.

Senhor Primeiro-Ministro,Separados pela história, pela geografia e pela

cultura, mas em contato desde o início do séculopassado, brasileiros e chineses souberam identificar,nestes 22 anos de relações cuidadosamente

construídas, aqueles espaços que os aproximam,aquelas áreas em que necessariamente podem edevem ampliar o seu diálogo, a sua cooperação e oseu entendimento.

Era natural que dois países emdesenvolvimento, de proporções continentais, comgrande variedade regional e notável dinamismo epotencial econômico, soubessem ir criando ao mesmotempo em que iam identificando possibilidadesconcretas de intercâmbio e de cooperação geradaspela grande e crescente complementaridade entre asduas economias.

Os nossos são países com muitascaracterísticas próprias, que os definem esingularizam no concerto das nações. Somosdiferentes em muitos aspectos, e é preciso respeitaressas diferenças, como temos sabido fazer ao longodos anos, mas os nossos desafios são em grandemedida comuns, ou aproximados, e o contextointernacional em que procuramos avançar nossosinteresses nacionais nos afeta em forma bastantesemelhante.

É um mundo de desafios e riscos, mastambém um mundo de oportunidades que convémexplorar, e sempre que possível em parcerias criativascomo se tem revelado a relação sino-brasileira.

Temos uma intensa pauta de temas deinteresse comum, que vai de uma agenda ambientalao projeto de desenvolvimento conjunto do satélitede observação terrestre, exemplo de cooperaçãocientífica, técnica e tecnológica entre países emdesenvolvimento.

Todas as áreas básicas para o nossodesenvolvimento individual têm uma projeção e umpotencial na nossa relação bilateral: odesenvolvimento da infra-estrutura básica, a energia,a petroquímica, as comunicações, a área espacial.

A crescente abertura das duas economias temproporcionado um notável aumento do comércio, quehoje já alcança dois bilhões de dólares, fazendo daChina nosso segundo parceiro comercial na Ásia.Surgem novas oportunidades na área de serviços. A

157Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

dimensão do mercado chinês e a dimensão domercado brasileiro, reforçado pela nossa participaçãono Mercosul, geram um interesse cada vez maior dosagentes econômicos.

A perspectiva do ingresso da China naOrganização Mundial do Comércio, que conta comnosso pleno apoio, terá um desdobramentoimportante no nosso relacionamento comercial, quecaminha para uma crescente maturidade. Colocaresse relacionamento sob o amparo das regrasuniversais e transparentes da OMC contribuirá paraconsolidar o perfil de uma relação mutuamenteimportante entre países que ainda se adaptam aosnovos tempos de abertura comercial e econômica eaprendem a lidar com as novas realidades docomércio internacional.

Senhor Primeiro-Ministro,Em português como em tantas línguas, nós

utilizamos a expressão “fazer amigos” com o sentidoliteral que ela encerra: um sentido de construção, depermanente atenção, de continuada disposição deentreter e de conviver.

Em poucas parcerias brasileiras esse sentidoda expressão “fazer amigos” se aplica como no casodas nossas relações com a China. É um projetoambicioso, esse de aproximar países antípodas, tãodiversos pela sua história e cultura — um, milenar, ooutro, jovem, na adolescência da história. Mas nóstemos sabido construir a nossa amizade sobre a base

sólida de algumas identidades determinantes, a maiordelas o fato de sermos os dois maiores países emdesenvolvimento.

Se é verdade que a construção dessa amizadegera expectativas que se vão cumprindo apenaspouco a pouco, não é menos certo que é de muitasdessas expectativas que se alimenta o próprioprocesso.

Nós estamos vivendo um momento decisivodesse processo. Vinte e dois anos de amizade deixamjá um patrimônio considerável de muitas realizaçõesno campo político e econômico-comercial. É essepatrimônio que estamos valorizando agora quequeremos dar um salto qualitativo nas nossa relações,adaptando-as aos avanços que temos realizadointernamente em um e outro país e às mudançasaceleradas que vêm ocorrendo no mundo.

A permanente atenção dos dois Governosaos novos vetores que orientam a nossa relação égarantia de que estaremos avançando no sentidocerto. A visita de Vossa Excelência é uma expressãodesse compromisso.

É para saudar esse compromisso que peço atodos que me acompanhem em um brinde pelaprosperidade do povo chinês, pela continuada ecrescente amizade e cooperação entre a China e oBrasil, pela saúde do líder Deng Xiao Ping e doPresidente Jiang Zemin e pela felicidade e venturapessoais de Vossa Excelência e da Senhora Li Peng.

Muito obrigado.

159Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Quero juntar-me a todos nas palavras deagradecimento pela hospitalidade com que o povo eo Governo chilenos nos estão recebendo. A amizadechilena é dos bens que eu mais prezo. Dela já tivemuitas e inesquecíveis provas, desde quando aquimorei com a minha família e fui recebido com a melhoramizade.

A Conferência Ibero-Americana é hoje umespaço político com identidade própria, uma ponteentre dois mundos, a Europa e as Américas, e umprojeto político e diplomático.

Nosso grupo tem alguns traços que odistinguem de forma clara e que constituem basesólida para ação. A herança cultural e histórica, ocompromisso com a democracia, com a liberdade, ecom o respeito aos direitos humanos, o desafio dodesenvolvimento sustentável são traços que nãoapenas devem identificar-nos, mas também ampliaro nosso espaço de atuação conjunta. Outras regiõese grupos de países fazem o mesmo: reforçam suasidentidades através de parcerias e esquemas decoordenação ou integração e, assim, preparam-semelhor para atuar no cenário internacional e promoveros seus interesses.

Os países devem agir solidariamente tambémpara marcar suas individualidades. Nós somos maisfortes como membros de um grupo de integraçãoregional ou de um esquema de consulta, concertaçãoe cooperação como é a nossa Conferência.

Essa solidariedade é ainda mais importanteno mundo contemporâneo, palco de acontecimentosque estão mudando a vida das nações e alterando asrelações de força. Nos últimos anos, vimosdesaparecer referências básicas das relaçõesinternacionais, enquanto outras, muito poderosas,ocuparam um lugar de destaque. Hoje, o fenômenohistórico da globalização é uma componenteincontornável das decisões de Governo e dasociedade, condicionando escolhas, não apenas noplano externo, mas também no plano interno.

O tema que o Presidente Frei nos propôs paraesta reunião não poderia ser mais oportuno:governabilidade para uma democracia eficiente eparticipativa. Nós temos a tendência a ver ademocracia como um fim em si mesmo, e de certaforma ela é um fim em si mesmo, porque ela encarnao ideal de harmonia social e política que está na basedo contrato social fundamentado no humanismo. Masesquecemos às vezes de que a democracia é tambémum instrumento de transformação da sociedade,especialmente das sociedades como as nossas,mesmo a espanhola e a portuguesa, que estão emdesenvolvimento, ainda que em graus e ritmosdistintos. E, para ser instrumento, a democracia temque ser eficiente, operacional, respeitando os ritmospróprios de um processo decisório complexo, mascapaz de produzir resultados tangíveis para acidadania, para os agentes econômicos, para os

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, na sessão de abertura da VI Conferência de CúpulaIbero-Americana, Santiago do Chile, 10 de novembro de1996

VI Conferência de Cúpula Ibero-Americana

160 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

grupos e regiões.Não estamos falando de abstrações, ou de

conceitos vagos. Estamos falando de capacidade degovernar, de resolver problemas, de equacionarsituações, de tomar decisões e escolher entre opçõesem nome do interesse público. Entre a legitimidadedo sistema representativo de maiorias, do diálogo eda composição, e a urgência e eficácia daimplementação das políticas, é preciso que seencontre esse vetor que se convencionou chamar degovernabilidade.

A forma de encontrá-lo não tem segredos.Primeiro, é preciso aprimorar a cidadania e osmecanismos de controle da sociedade civil sobre oEstado. As experiências totalitárias algumas vezescriaram a ilusão da eficiência e da governabilidade.Não foram poucas as vezes que a democracia emnossos países foi sacrificada em nome dagovernabilidade. Hoje, ao contrário, a democraciarepresentativa, o pluralismo político e o respeito aosdireitos humanos constituem requisitos essenciais daboa governabilidade. Mais ainda: são as verdadeirascondições da estabilidade política.

Segundo, é preciso desenvolver osmecanismos de controle dos órgãos do poderpúblico, para que as políticas sejam, além deadequadas, transparentes e coerentes, relevantes doponto de vista do interesse público.

E, terceiro, é preciso dar ao Estado, aospoderes públicos, os meios, os instrumentos paraserem eficientes e competentes no desempenho dassuas tarefas. A reforma do Estado, a valorização doservidor público, a obtenção dos recursos necessáriosatravés de uma política fiscal eficiente e justa, aaplicação de critérios que valorizem a criatividade eo zelo público da maquina — todas essas são formasmuito palpáveis de gerar condições degovernabilidade. E o critério para aferir essagovernabilidade não são padrões de países maisavançados, mas os resultados obtidos no combate àmiséria, na geração de empregos e riqueza, nadistribuição de renda, na aplicação de políticas

eficientes de educação, saúde, habilitação, proteçãoambiental, defesa nacional, segurança da população— em suma, desenvolvimento econômico e social.

Para além da vontade política dosgovernantes, o ambiente para que tais esforçospossam se provar eficazes depende, também, emgrande medida, do estabelecimento de condiçõeseconômicas favoráveis. Daí a grande importância doêxito dos planos de estabilização econômica, daquebra do círculo vicioso da inflação e da retomada,em vigor, do crescimento. Daí a importância,também, da implantação de reformas que levem emconta a necessidade de redimensionar o papel doEstado, que continua e continuara a ser essencial.Ninguém se iluda com a idéia de que a ação domercado basta como elemento regulador infalível,como única forca capaz de orientar as decisões doGoverno.

Não há fórmula universal ou mágica paraencontrar a perfeita governabilidade. Cada país, deacordo com suas prioridades e condições objetivasespecíficas, deverá buscar seu próprio caminho. Ocerto é que os povos são capazes de chegar acondições ótimas de governabilidade na medida emque possam exercer plenamente a cidadania e namedida em que possam fazer operar a democracia,sem constrangimentos, sem imposições.

A cooperação no âmbito ibero-americanosempre teve presente o respeito irrestrito à soberania,à integridade territorial, à autodeterminação e àindependência de cada país. Esse respeito, quereafirmamos, não deve inibir iniciativas que entre nós,sirvam ao nosso objetivo comum de promover eaperfeiçoar a democracia, o pluralismo político e orespeito aos direitos humanos.

Portanto, em beneficio da governabilidade,o nosso dever, no plano internacional, é reforçar ocompromisso com a democracia, ajudando-a aflorescer onde esta brotando, e protegendo-a ondese sentir ameaçada. É o que temos feito e é o quevamos continuar a fazer.

Muito obrigado.

161Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

O Brasil está acolhendo por primeira vez estagrande exposição industrial espanhola e a recebe comum grande entusiasmo.

A presença entre nós do Príncipe de Astúriasé um testemunho da importância que o Governoespanhol está atribuindo a esta grande iniciativa deaproximação entre o setor produtivo espanhol e omercado brasileiro.

Nós estamos honrados com a presença deSua Alteza Real e o recebemos com a admiração e oapreço que a Espanha moderna desperta em todo omundo, ao combinar a sabedoria das suas tradiçõescom o arrojo moderno de uma economia plenamenteintegrada à Europa e competitiva em nível mundial.

A Expotecnia que se inaugura neste momentoem São Paulo é a maior de todas as realizadas até omomento.

Está congregado aqui o impressionanteconjunto de cerca de 400 empresas espanholas, dosmais variados setores, interessadas em criar ouampliar vínculos com o Brasil e com parceirosbrasileiros.

Ela nos apresenta a capacidade industrial etecnológica de uma economia moderna, diversificadae com grande dinamismo.

É importante que o Brasil possa conhecer acapacidade industrial e comercial espanhola. Queperceba as oportunidades de associação e decooperação empresarial que se tem criado graças

ao desenvolvimento das nossas duas economias.Essa é uma aposta firme que o empresariado

espanhol está fazendo no Brasil e nós recebemos essamostra de interesse com muita satisfação.

É bom confirmar que o Brasil cada vez maisdesperta interesse dos agentes econômicosinternacionais — graças certamente, aos avanços quefizemos na estabilização da economia, à expansãodo nosso mercado consumidor, à abertura econômicae reformas.

E, com o prosseguimento do programa deprivatizações um número sem precedentes deoportunidades concretas se abrem para osinvestidores espanhóis que serão muito bemrecebidos no Brasil.

Também o Mercosul é um elemento centralna nova projeção internacional do Brasil. Afinal, oMercosul é uma história de êxito que se converteuem um importante acréscimo para as economias dospaíses que o compõem.

Quem olha o Brasil hoje, ou o Uruguai, aArgentina e o Paraguai não vê mais esses paísesisoladamente, e sim como parte de um conjunto maiorao qual cada um deles está fortemente ligado.

A Espanha tem compreendido essa novarealidade e em grande medida acredito, a Expotecniaé uma resposta política e empresarial a ela, comotem sido também, aliás o grande apoio que a Espanhatem prestado no processo de diálogo e cooperação

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, por ocasião da Inauguração da Expotecnia, napresença de sua Alteza Real o Príncipe das Astúrias, SãoPaulo, 24 de novembro de 1996

Inauguração da Expotecnia

162 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

entre o Mercosul e a União Européia.Nós valorizamos muito especialmente o papel

construtivo e mobilizador que a Espanha temdesempenhado nesse processo e este é um momentoapropriado para fazer esse reconhecimento.

Alteza Real,As relações entre o Brasil e a Espanha

precisavam deste impulso que a Expotecniarepresenta. Nosso comércio, hoje na casa de 1,5bilhão de dólares, com bom equilíbrio, cresceu nosúltimos dois anos muito mais em função da aberturacomercial brasileira. Mas é preciso darsustentabilidade a esse crescimento das correntescomerciais, dando uma dimensão econômica maiscompleta às nossas relações.

Nós temos um exemplo extraordinário dopotencial dessa cooperação entre a Espanha e oBrasil na área aeronáutica. A EMBRAER tem umaassociação com a empresa espanhola GAMESApara a construção do jato regional EMB-145, queeu tive o prazer de experimentar recentemente numvôo para Santiago. É o tipo de parceria que envolvetecnologia sofisticada em um projeto de grande arrojoempresarial, já destinado a ser um grande sucessointernacional de vendas.

É disso que nós precisamos. Que osempresários de um e de outro país se conheçam,conheçam suas empresas, seus projetos, suascapacidades. Que sejam audaciosos na concepçãode projetos conjuntos visando os nossos próprios

mercados ou terceiros mercados. Que se inspiremno exemplo da EMBRAER e da GAMESA cujoresultado é um produto de alta sofisticação que nosdá orgulho dos nossos respectivos parques industriais.

Por isso, o Governo brasileiro dá todo o apoioa esta iniciativa do Governo e do empresariadoespanhol. Esse apoio se estenderá a todas asiniciativas que visem a aproximar os agenteseconômicos e os mercados dos dois países, porquenós queremos que as relações entre o Brasil e aEspanha se fortaleçam sobre uma base econômicaconcreta. Nós esperamos também que o ComitêEmpresarial Brasil-Espanha, criado ontem no marcodo lançamento da Expotecnia, possa servir a essepropósito.

Alteza Real,Senhoras e Senhores,Quero também fazer uma exortação aos

empresários brasileiros para que procurem reciprocara iniciativa espanhola, levando à Espanha uma mostraexpressiva da nossa capacidade industrial etecnológica.

Ao declarar aberta a Expotecnia 96, querodesejar muito êxito aos organizadores e expositores.Que a Expotecnia seja o começo de um intensoprocesso de conhecimento recíproco e cooperaçãoentre a Espanha e o Brasil, entre os empresáriosbrasileiros e espanhóis.

Muito obrigado.

163Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Quero agradecer a Vossa Excelência e aopovo irmão de Angola pela hospitalidade que Ruth eeu recebemos nesta nossa visita a Luanda.

Nós recebemos essa hospitalidade como umahomenagem do povo e do Governo angolanos àamizade especial entre nossos dois países.

Fiz questão de estar aqui para trazerpessoalmente a todos os angolanos o apoio e asolidariedade do povo brasileiro e para renovar-lhesde viva voz o compromisso do Brasil com a causada paz e da prosperidade de Angola.

Vim reiterar-lhes um sentimento genuíno, dosentido de dever de um país amigo que, desde aprimeira hora, esteve sempre ao lado de Angola.

A presença de nossos soldados naUNAVEM-III dá expressão viva a esse compromissode amizade que nos une. Mais de mil e cem brasileirosencontram-se em solo angolano, a maior força militarque enviamos ao exterior desde a Segunda GuerraMundial.

É uma prova de confiança no processopolítico angolano. É uma exortação que fazemos pelofuturo generoso que espera este país quando a paz ea democracia deitarem raízes definitivas neste solo.

Nós sabemos que esse futuro será, antes detudo, uma obra da coragem e da determinação doshomens e mulheres de Angola, uma obra dereconciliação nacional, de restauração da confiançae da fraternidade — uma obra de união e deharmonia.

Confiamos em que as lideranças deste paístão cheio de promessa terão a sabedoria de concluirque o gesto recíproco da concessão, em favor dapaz e da concórdia, é infinitamente menos dolorosodo que o sacrifício insensato de milhares de vidasangolanas em nome de posições extremas eirreconciliáveis.

Esse é o caminho.E é como um amigo de Angola que gostaria

de fazer um apelo a todos os angolanos para quepersistam na complexa obra de engenharia que é aconstrução da paz e da democracia. E que o façamcom o espírito e o coração desarmados, sem abrirmão de suas convicções, mas com a consciência deque não há nada a ganhar com o confronto e oimpasse.

A nossa própria experiência nos ensinoumuito sobre as virtudes da conciliação e docompromisso.

Reconstruímos a democracia no Brasil pormeio de duros embates políticos. Foi uma conquistaárdua, mas compensadora. Não oferecemos essaconquista como exemplo ou fórmula, porque cadapovo é capaz de encontrar o seu próprio caminho.

Mas para nós foi uma lição, uma lição de queé possível dar aos povos a oportunidade de dedicar-se ao que é importante: o desenvolvimento e a justiçasocial.

O mundo e a África em particular precisam

Discurso do Senhor Presidente da República no Almoçooferecido pelo Presidente da República de Angola, JoséEduardo dos Santos, Luanda, 25 de novembro de 1996.

Brasil-Angola

164 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

de uma Angola em paz e reconciliada consigo mesma,uma Angola que seja um fator de unidade e não dedivisão neste grande continente, uma Angola querecorde a todos os que ainda vivem sob o signo daconflagração que é possível reencontrar o caminho.

Queremos ver Angola ocupando plenamenteo espaço que lhe cabe na África e no mundo. Massabemos que isto não pode ocorrer como o resultadode um impulso externo. É preciso que a semente daunidade seja cultivada aqui, para firmar na sociedadeangolana as raízes que permitirão a Angola dedicar-se à urgente tarefa da reconstrução e à retomada dodesenvolvimento.

A assinatura do Protocolo de Lusaca apontouo caminho da paz através de um duplo compromisso:um compromisso da comunidade internacional deapoio ao processo de paz em Angola e, maisimportante, um compromisso dos próprios angolanos,de negociar, de entender-se, de buscar soluçõescriativas e justas para as diferenças que aindapersistem.

Um compromisso de fazer o gesto recíprocoda concessão.

A comunidade internacional tem mantidofirme o compromisso que assumiu em Lusaca.

O Brasil está na vanguarda dessecompromisso.

Por isso vim a Angola.

Senhor Presidente,Este encontro é uma oportunidade para

fortalecer ainda mais a nossa amizade e para estreitaros nossos laços de cooperação.

O Brasil reencontrou-se com o caminho dodesenvolvimento sustentado e está-se projetando nomundo com um novo ímpeto, renovando parcerias eforjando outras novas.

Olhamos para a África com interesserenovado, mas partindo da mesma base sólida: a forteherança africana que compõe a identidade nacionalbrasileira e que nos distingue no mundo.

Devemos muito dessa herança a Angola.Falamos a mesma língua e hoje pertencemos

à Comunidade de Países de Língua Portuguesa, quereúne mais de duzentos milhões de pessoas — umprojeto comum que agrega uma dimensão multilateralà rede de relações dos países que a compõem.

Somos vizinhos atlânticos, que se olham coma certeza de que a geografia está em nosso favor.

Temos uma tradição de relacionamento ecooperação que atravessou momentos difíceis, masque só fortaleceu o sentimento de confiança recíproca.

Tudo isso nos aproxima e nos permitetrabalhar com um projeto que reflete as afinidadesentre brasileiros e angolanos.

Tudo isso singulariza a nossa parceria.E, para que possamos dar um novo impulso

a essa parceria e capitalizar as múltiplas vertentes dacooperação bilateral, a continuidade do processo depaz em Angola é fundamental.

Demos passos importantes há um ano,quando Vossa Excelência esteve no Brasil. Temoshoje uma agenda positiva e sem pendências, queaponta para o adensamento de nosso intercâmbioem diversos campos.

Com minha visita, quero reafirmar o interessebrasileiro em estabelecer uma linha de ações concretascom Angola. Estamos prontos para colaborar naformação de recursos humanos, em agricultura,saúde, educação, cultura e ciência e tecnologia.

Queremos ampliar o nosso intercâmbioeconômico-comercial e a presença de empresasbrasileiras em Angola.

Em suma, queremos estar presentes na novaetapa de paz, democracia e prosperidade que sevislumbra para Angola.

Senhor Presidente,Depois da independência da Namíbia, do fim

do apartheid na África do Sul e da eleição de NelsonMandela, a consolidação da paz e da democraciaem Angola será o próximo sinal de que esta regiãoestá destinada a ocupar um lugar de destaque no

165Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

mundo em desenvolvimento.Temos a certeza de que, sob a condução de

Vossa Excelência, as lideranças angolanas saberãoencontrar o equilíbrio fundamental de uma pazduradoura para todos os cidadãos deste país, umapaz que seja o início de uma nova era dedesenvolvimento em Angola.

Queremos ser parceiros nessa etapa, comotemos sido até aqui.

E é com esse espírito que quero fazer umbrinde à amizade que une os nossos dois povos, àcoragem e determinação de todos os angolanos —para que sejam iluminados na tarefa de construçãode um futuro de paz e entendimento — e à saúde ebem-estar pessoal do Presidente José Eduardo dosSantos e de sua família.

Muito obrigado.

167Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Muito obrigado, Senhor Presidente, muitoobrigado por suas palavras tão inspiradas.

É uma honra para mim estar aqui esta noite ecompartilhar esta refeição entre amigos como oprimeiro Presidente brasileiro a visitar a África doSul.

É uma honra ser o porta-voz de todos osbrasileiros ao trazer-lhes os nossos sentimentos deprofunda admiração e amizade pelo povo sul-africanoe suas lideranças.

Peço ao Presidente Mandela, símbolo e guiadessas lideranças, que faça com que aquelessentimentos ecoem por todo este vasto e belo país,para que cada sul-africano saiba que, do outro ladodo Atlântico, um povo orgulhoso de sua herançaafricana pede a Deus que abençoe esta terra parasempre com a dádiva da paz e da liberdade.

Durante o minuto para reflexão há algunsinstantes, nossos pensamentos se dirigiram àquelesque, através de sua luta e ao custo de sua liberdadee mesmo de suas vidas, deram à África do Sul um“novo raiar da liberdade”, para que este grande paíspudesse entrar na grande corrente da históriacontemporânea. Nós honramos e celebramos acoragem, a força, a sabedoria e a generosidadedaqueles que tornaram isto possível.

Nós devemos àqueles guerreiros da liberdadeuma África do Sul capaz de fazer uma contribuiçãoimportante para o seu continente e para o mundo —

uma contribuição que toma a forma não só da pujançaeconômica e de um enorme potencial, mas tambémde uma esperança renovada.

Senhoras e Senhores,Estou aqui em nome do povo brasileiro para

render homenagem a um homem, Nelson Mandela,e a um povo, os sul-africanos, que ofereceram àhumanidade um exemplo de determinação edignidade e uma prova duradoura de que é possívelforjar um compromisso com a liberdade e com a paza partir da desesperança e da opressão.

Estou aqui para visitar uma terra em que aHistória dos nossos tempos se desenrolou com todaa sua ferocidade e poder, desespero e esperança,injustiça e promessa. Uma terra que foi o berço dopasso mais recente rumo à liberdade humana, aoafirmar, para sempre, que todos os homens e mulheresnascem iguais e têm o direito de conquistar a suafelicidade independentemente de sua crença, da corde sua pele ou da cultura de seus antepassados.

A África do Sul, um país que agora brilhacom a perspectiva de um futuro cintilante entre ospaíses em desenvolvimento, tornou-se uma razão vivapara renovar a esperança na África quando NelsonMandela e o seu povo concluíram a tarefa de enterrar,de uma vez por todas, o flagelo do apartheid.

Assistimos ao nascimento de uma nova nação,construída a partir da confiança, do respeito e da

Discurso do Senhor Presidente da República, SenhorFernando Henrique Cardoso, por ocasião do banquete quelhe oferece o Presidente da República da África do Sul,Nelson Mandela. Pretória, 27 de novembro de 1996

Brasil-África do Sul

amizade de seus cidadãos, todos iguais e dignificados,vivendo em uma terra fértil, mãe de todos.

Fomos as testemunhas do maior movimentopela liberdade desde a Revolução Francesa, desdea luta contra a escravidão nas Américas, desde avitória dos Aliados sobre o nazi-fascismo na SegundaGuerra Mundial, desde a campanha vitoriosa epacífica de Mahatma Gandhi pela independência daÍndia e desde as grandes passeatas dos anos sessentapelas liberdades civis.

Senhor Presidente,Nós brasileiros ficamos ao seu lado, porque

a sua luta era a nossa luta e a sua cruzada pelaliberdade, pela igualdade e pela justiça representou,em última instância, a busca de cada ser humano nesteplaneta.

Essa luta põe os sul-africanos ao lado dospovos que fizeram a História em seu sentido maisamplo, pois a história do homem é uma epopéia embusca da paz e da dignidade humana para todos,sem exceção, incondicionalmente e sem medo.

Nós estivemos ao seu lado na luta pelaliberdade porque queríamos tê-los ao nosso lado naluta comum pelo desenvolvimento e pela democracia.Pois não haverá verdadeira realização ou liberdade emqualquer lugar do mundo enquanto um único ser humanofor privado de suas necessidades essenciais, dos direitoshumanos básicos e da cidadania, ou for oprimido emrazão de sua raça, de suas raízes étnicas, de sua religiãodo seu sexo ou de suas convicções políticas.

Senhoras e Senhores,O Brasil e a África do Sul estão se

encontrando em um contexto de esperança e dejustificado otimismo. Nós aguardamos este momentopor tanto tempo, mas agora podemos finalmente olharpara o futuro. O sonho de uma parceria sólida entre oBrasil e a África do Sul está finalmente ao nosso alcance.

Nós estamos fazendo uma promessa, apromessa de uma nova era de amizade entre a Áfricado Sul e o Brasil, dois grandes países em

desenvolvimento que nasceram para serem amigos eparceiros. Fazemos essa promessa porque estamosdestinados a caminhar juntos na busca pelodesenvolvimento com justiça social, pela democraciacom real oportunidade para todos e pela paz emnossas regiões e em todo o mundo.

É chegada a hora de assumirmos ocompromisso de fortalecer os laços entre nossospovos.

Aproveitemos as nossas muitas identidadese interesses comuns, a nossa vizinhança atlântica, paraconstruir o que certamente será uma parceria únicano nosso Hemisfério Sul.

Vamos fazer isso já.Se nos conhecermos melhor uns aos outros,

nós certamente seremos capazes de construir umaparceria tão forte quanto seria possível entre doispovos com tanto para compartilhar.

Nós temos diante de nós a oportunidade deestreitar nossos laços, pois somos povos abençoadoscom terras repletas de oportunidades e com imensopotencial, que estão vivendo a revolução de nossostempos — a democracia em toda a sua plenitude, aliberdade econômica, a busca determinada dodesenvolvimento sustentável e a reforma econômica esocial.

Nós somos parceiros nessa revolução, e porisso devemos ser parceiros também em outrarevolução, que elevará nossas relações a um patamarcompatível com as nossas próprias aspirações a umamaior participação nas relações internacionais.

Há um lugar para as relações brasileiro-sul-africanas em nossos respectivos projetos nacionais.

Juntos, podemos ser mutuamente úteis umpara o outro.

Juntos, podemos partir em busca de umfuturo melhor.

O comércio, os investimentos, a cooperaçãoe um diálogo intenso trarão benefícios a nossos paísesno esforço que estamos envidando para aumentar acompetitividade econômica, para melhorar os índicessociais, para criar mais empregos com melhores

169Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

salários.Nossos países e nossos continentes têm que

trabalhar em uma parceria autêntica na tarefa comumde enfrentar os desafios do novo século.

Vamos trabalhar juntos.Vamos fazê-lo já.Vamos construir uma ponte sobre o Atlântico.

Senhor Presidente,O seu exemplo inspira todos os povos do

mundo. Graças a tudo o que a sua pessoa representae a tudo o que ajudou a conquistar, a África do Sul é

hoje uma promessa realizada no continente africano.Nós brasileiros estamos aqui para assumir o

compromisso de forjar uma relação forte com estagrande nação.

Como uma homenagem a nossa amizade eadmiração pelo povo da África do Sul, peço-lhesque levantem suas taças em um brinde à continuadaprosperidade e crescente bem-estar de todos os sul-africanos, ao lançamento de uma parceria sólida entreo Brasil e a África do Sul e à saúde, à felicidade e àcontinuada liderança de estadista de Nelson Mandela.

Muito obrigado.

171Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

I - É com grande prazer que encontro colegassul-africanos para conversar sobre alguns temas depolítica internacional.

Quero que esta palestra se acrescente aospassos iniciais que estamos dando para umintercâmbio cultural mais profundo. Ao que eu saiba,já se organizaram dois seminários que procuraramcomparar as nossas realidades, e o resultado, segundoconstatei, foi dos mais proveitosos.

Temos muito que aprender com assemelhanças e os contrastes que existem entre osnossos dois países. Aliás, da leitura dos textosproduzidos para aqueles encontros, o queimpressionou é a facilidade com que se estabeleceuo diálogo entre temas tão diversos quanto os padrõesde convivência étnica e as soluções econômicas queBrasil e África do Sul articulam em um mundoglobalizado. A percepção de que vivemos problemascomuns, que podem ser “pensados” de formacomum, já é um passo importante para nosaproximarmos.

De muitas maneiras, nós, brasileiros, nosidentificamos fortemente com a luta sul-africana contrao apartheid. Seu fim foi recebido também como umavitória nossa. Agora é o momento de ampliar ostemas e o foco de nosso diálogo, conhecer, em todasas suas dimensões, o que é a África do Sul de hoje,que desafios encontra, quais os seus caminhos.

Não sei, porém, qual a imagem que o Brasil

terá para os intelectuais sul-africanos, de que maneiranos “olham”. O que sei, sim, é que hoje, neste universode comunicações instantâneas, mas altamenteseletivas, não haverá outra alternativa para nossosdois países que não seja a de, deliberadamente, comclara intenção política, construirmos com paciênciaos canais de compreensão mútua. É algo que vaidepender de vários movimentos simultâneos, nocampo da economia, da política, da cultura.

Em cada um deles, os atores serão diferentes;as lógicas de aproximação, distintas.

No campo da economia, são os empresáriosna busca de oportunidades de negócios e tambémda criação de confiança nas possibilidades daeconomia do parceiro. Às vezes, para os países emdesenvolvimento, não se articula imediatamente essemovimento de reforço da confiança que é necessáriopara o estabelecimento de vínculos de largo prazo.Mas, falando pelo lado brasileiro, com o queconseguimos em matéria de estabilidade monetária,de abertura comercial, de ganhos de investimentos,a possibilidade de aproximação econômica entre osdois países encontrará terreno propício.

Se pensarmos em cultura, sabemos quenossos artistas e criadores ainda se conhecem pouco.Certamente, porém, interessará aos sul-africanos ocontacto com as expressões de um Brasil em que asformas de convivência, mescla e integração de nossasraízes européias e africanas constituem o substrato

Conferência do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, na Universidade de Witwatersrand, sobre“Globalização e Política Internacional”, Joanesburgo, 27de novembro de 1996

Globalização e Política Internacional

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mesmo da originalidade de nossa cultura e de nossaarte. Em uma palavra, a sensibilidade brasileira é oresultado de uma forma única de encontro étnico.

Do ângulo da , há avanços significativos nacooperação entre as nossas diplomacias,conquistados em relativamente pouco tempo. A forçacom que a nova diplomacia sul-africana se projetaregional e mundialmente abre vários espaços para aação comum em muitas atividades.

Além disso, como indiquei, há uma outra áreanatural de aproximação, que é a da reflexãosociológica, da reflexão política. E, neste sentido,quero propor, sem a preocupação de aprofundá-los,uns tantos temas que creio que cabem nestaperspectiva de “aproximação natural”.

II - Da mesma maneira que, no século XIX,as indagações em torno do capitalismo se tornaramo centro do pensamento sociológico e, na realidade,o fundaram, é hoje em torno da globalização que searticula parte significativa da reflexão nas ciênciassociais.

Certamente, não estamos, agora, diante deum fenômeno — ou de uma série de fenômenos —que tenha claramente propiciado o desenho de umanova perspectiva científica, como o fizeram, emposições opostas, Marx e Weber, ao propor formasnovas de entender a relação entre economia esociedade. Ainda são os clássicos que conformam ouniverso conceitual que nos dá as chaves para acompreensão da globalização, um fenômeno que, naverdade, leva ao extremo tendências do capitalismo.

Sabemos, todavia, que o pensamentoclássico, embora forneça referências, é claramenteinsuficiente. De um lado, não existem mais fórmulasque dêem conta, com facilidade, dos movimentosgerais da globalização; não existe uma teoria geralda globalização, como houve para os primórdios docapitalismo. É como se o avanço do modo deprodução guardasse certos traços que ainda não odescaracterizam completamente e, ao mesmo tempo,adquirisse outros que significariam talvez uma

mudança qualitativa. Os modos materiais de produzir,a dispersão dos sistemas de propriedade da empresa,a expansão de classes médias, a importância dosmecanismos de comunicação de massas na política,as formas múltiplas de mobilização das sociedades,são sinais de diferença que impedem reduzir a análisedo capitalismo ao que nos propõem os clássicos. Deoutro lado, se as melhores compreensões analíticasadvertem para problemas tais como o desemprego,a marginalização e o aumento da desigualdade, nãochegam ao estágio de propor claramente soluçõespolíticas globais que levem a maior nível de igualdade,a mais emprego. O problema clássico da combinaçãoentre expansão do mercado e exclusão não temsoluções globais, como aliás a experiência históricadas fórmulas liberais e social-democratas demonstra.

Exatamente por isto e, também, pelos ganhosda democracia no sistema de estados, os ideais desociedades mais justas não se amorteceram. Aocontrário, tornam-se até mais amplos. Aumenta ademanda por equidade, por sociedades maisjustas, mais equilibradas ecologicamente, maisrespeitadoras dos direitos humanos, embora nemsempre estejam indicados ou sequer claros os meiosdisponíveis para realizar tais ideais. Diria mesmo queo avanço do capitalismo terá mostrado que asexpectativas deterministas — os desenhos dasestruturas econômicas escondem o destino do povoe basta desvendar os primeiros para conhecer o quea humanidade será — arrefeceram diante de ummundo em que as escolhas sociais e, portanto, apolítica, reinam soberanas. A globalização poderá ounão oferecer as condições para um mundo mais justo;mas, para tanto, não existem fórmulas acabadas ouatores privilegiados.

Evitaremos o pior se soubermos fazer asescolhas políticas corretas nos planos nacional einternacional.

A afirmação pode parecer paradoxal em ummomento em que a tendência predominante, entreos analistas da realidade social, é a de sublinhar osprocessos de uniformização, acentuados pela

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globalização e, de uma certa maneira, identificar umcomponente determinista na globalização. O velhotema da uniformização, que estava em Comte, emMarx e, modernamente, em Aron, volta, para muitos,como se agora suas “promessas”, positivas,estivessem a ponto de materializar-se.

Para países como o Brasil e a África do Sul,a globalização é uma realidade palpável. Mas, paraa nossa sociologia, talvez seja também importanteindagar o que, no mundo contemporâneo, aglobalização não explica. E certamente ela nãoexplica porque os Estados tem reações diferentesdiante do próprio processo de globalização.

III - Valem umas poucas palavras sobre aquestão.

Em primeiro lugar, na medida em que o núcleoanalítico é a uniformização, a tendência natural éacreditar que o que não se encaixa dentro daglobalização é o seu contrário. Neste sentido, asinterpretações que opõem forças de globalização àsde fragmentação, as modalidades de adaptação àsde inadaptação às realidades econômicas, fazem,mais ou menos explicitamente, um contraponto devalores “positivos” e “negativos”.

Nessa ordem de idéias, as diferenças entreos Estados seriam explicadas dentro do própriomarco da globalização. Temos aí o perigo de um“reducionismo analítico” que atribuiria o êxito oufracasso de cada sociedade, de cada nação, à suacapacidade ou não de integrar-se nos fluxosinternacionais de comércio, investimento, tecnologia,capacidade esta que seria definida em termos dealguns requisitos considerados essenciais para queum país se transforme numa “success story”, outrotermo da moda. Basicamente, o que se enfatiza sãoos valores da performance econômica; e acompetitividade passa a ser a chave da projeçãointernacional. A globalização passa da condição deum dado da realidade — que temos de reconhecer edentro qual opções devem ser feitas — a um padrãoque serve de base para juízos de valor. Os níveis

“numéricos” de performance existem, diferenciam,mas não são tudo.

Neste quadro, haveria países mais ou menospreparados – em termos de grau de abertura daeconomia, da gestão das contas públicas, dequalificação dos recursos humanos, de capacitaçãotecnológica – para enfrentar os desafios impostos pelaordem internacional. A globalização valoriza umelenco, conhecido, de “boas políticas”, a partir dosquais os Estados são julgados e medidos,especialmente pelos que tomam, como referência, omercado. Os desvios em relação às “boas políticas”explicariam, em última análise, as dificuldadesindividuais e , portanto, as diferenças nacionais.

Então a pergunta será a seguinte: Por que hádesvios, positivos ou negativos? Dou dois exemplos.O primeiro diz respeito à extraordinária “adaptação”dos tigres asiáticos, que se deveu a opções de políticabem engendradas, em tempo certo, e, em parte, amodos de aproveitamento moderno de alguns valoresculturais, embora estes também estivessem vivos nosmomentos em que aqueles países eram pobres. Éessa combinação complexa de cultura e política, demodelos de estrutura social e posição internacional,que explicará, em última instância, o “sucesso” e,neste sentido, parte substancial do sucesso seexplicará pelas diferenças nacionais.

Um segundo exemplo dirá que a referência aprocessos de globalização, a adesão a valores deeficiência e competitividade, não explicam, também,porque os países sul-americanos não podem explorarplenamente a sua vocação exportadora agrícola emfunção, entre outros motivos, do protecionismoeuropeu e da exportação subsidiada de gênerosagrícolas por praticamente todos os paísesdesenvolvidos. A política agrícola comum européia,de sua parte, tampouco pode ser entendida sem umacompreensão histórica do modelo de organizaçãoespacial e social de alguns países europeus, quebuscaram manter fixada a população no campo, aindaque à custa de um ônus para o contribuinte.

Reverter situações como a descrita é um

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processo complexo, que envolverá transformaçõesnacionais e na própria maneira pela qual acomunidade internacional atua sobre processos demudança.

IV - Não será assim, por simples referênciaao “global”, que poderemos entender o complexojogo das forças em atuação no cenário internacional,nem as linhas de evolução política e econômica quetêm origem em modos diferenciados dedesenvolvimento. Não se pode reduzir tudo aosatributos considerados necessários para umaintegração bem sucedida nos processos deglobalização.

Na realidade, volto ao mesmo recursometodológico que inspirou a “teoria da dependência”.O capitalismo se expande de forma diferenciada e oelemento central para compreender a lógica de seumovimento está na ligação entre a dinâmica daexpansão e as “situações concretas” que encontra,que dizem respeito ao modo de articulação das leisde expansão com as estruturas sociais e políticasnacionais. Agora, é certo, as leis da expansão ganhammaior força e velocidade, mas as situações concretascontinuam a existir, e é preciso entendê-las.

O marco da globalização é uma molduraestreita para dar conta das situações sociais de cadapaís, para explicar modos de inserção no capitalismocontemporâneo. Sem um conhecimento dos limitesde globalização e da relevância da especificidade dashistórias nacionais, qualquer análise fica imperfeita,prejudicada. Perde-se o movimento dialético entreo que é universal e o que é particular. E,politicamente, perde-se a compreensão dasoportunidades positivas de integração, que apenasse concretizarão se baseadas numa visão nacionaldas tendências — limites, oportunidades, desafios— das forças globalizantes, do que é o capitalismohoje no plano mundial, como se expande, como gerapadrões de uniformização.

Nesse sentido, cabe uma palavra sobre opapel do Estado. A globalização não fornece

elementos suficientes para situar o Estado nodesenvolvimento de cada sociedade. Em geral, tendea diminui-lo, a vê-lo, no limite, como simplesmentecumprindo funções de gestor das finanças públicas,no plano doméstico, e de negociador de tarifassempre mais baixas, no plano internacional. Em algunscasos, novamente tendo como pano de fundo o êxitodos países asiáticos, admite a “intervenção seletiva”do Estado naqueles setores em que um país poderiadesenvolver vantagem comparativa.

Na verdade, parece haver atualmente umacerta confusão sobre o papel do Estado, que areferência simplista à globalização não ajuda aesclarecer. O que importa é menos o tamanho doEstado, definido a priori por critérios doutrinários,do que a qualidade de sua atuação, sobretudo naárea social. Hoje, o Estado necessário num paíscomo o Brasil será aquele que intervenha menos emelhor, que tenha capacidade de definir prioridadesclaras e mobilizar os recursos necessários paraimplementá-las.

De certo modo, o Estado deve, em vez deenfraquecer-se, antes fortalecer-se para que sejainstrumental na promoção do desenvolvimento.

Na realidade, o papel do Estado é bem maiscomplexo. Além das funções clássicas, comosegurança, saúde e educação, tem de atender, nomarco da democracia, a demandas crescentes, pormais equidade, por mais justiça, por um meioambiente saudável, pelo respeito aos direitoshumanos. A uma cidadania mais exigente devecorresponder um maior refinamento também dasações do Estado. Um Estado coeso e organizado,portanto forte, terá melhores condições de atenderàs necessidades oriundas da própria globalização.

Outro ponto significativo é o de que o Estadodeve também estar bem aparelhado para que, nadefinição política das regras da globalização, osinteresses nacionais que defende sejam preservados.Ou seja, o Estado que deve definir políticas de meioambiente, escolher as melhores soluçõesinternacionais para questões complexas de comércio

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e finanças, que deve lutar contra o narcotráfico, quedeve equilibrar tendências contraditórias empraticamente toda a agenda política, como é naturalnas democracias, deve adquirir condições de escolhae decisão que são obviamente muito mais complexasdo que as que teria o Estado “forte” dos anos 30. OEstado deve refinar-se, tornar-se mais agudo e maisaberto, porque o espectro de temas com que lida émais complexo e difícil. Estamos longe da morte doEstado, como alguns profetizaram. Mas, precisamosde um Estado diferente do que, até hoje, existiu.

Um tema paralelo é o da política internacionalda globalização.

Seria um erro grosseiro enxergar aglobalização como resultante exclusiva das forças demercado. Os contornos dentro dos quais o mercadoatua são delineados politicamente, num contexto emque o jogo de poder entre as nações está semprepresente de modo inequívoco. As negociações sobrecomércio, sobre as regras da competiçãointernacional, sobre padrões de preservaçãoambiental, sobre mecanismos de integração regionalsão conduzidas através do diálogo tradicional entreEstados, em foros onde eles têm assento. OsGovernos têm como influenciar a direção destesprocessos. Não podem renunciar a este papel emnome de uma falsa ideologia do mercado.

É do embate direto entre posiçõesnegociadoras distintas que nasce o arcabouço deregras e parâmetros que fixará os limites dentro dosquais os processos de globalização terão de operar.Nas rodadas de negociações comerciais multilaterais,por exemplo, como na Rodada Uruguai, embora sepudesse admitir como pressuposto que houvesse uminteresse geral em que fossem adotadoscompromissos adicionais no sentido de “liberalizar”o comércio mundial, cada país tinha visões distintassobre os ritmos e as modalidades destescompromissos, assim como os produtos a serem nelesincluídos. Estas diferenças reais na mesa denegociações têm a ver, antes de tudo, com o graudiferenciado de desenvolvimento de cada país, com

as peculiaridades de sua organização social e política,com a especificidade de sua trajetória, com tudoaquilo, em suma, que as forças da uniformização nãosão suficientes para explicar de maneira satisfatória.

Neste processo, economia e política,mercado e poder, se combinam com enorme clareza.

V - A globalização não elimina,conseqüentemente, a hierarquia entre Estados, nãoos coloca forçosamente num mesmo patamar, numnível de igualdade. Mas há duas diferenças na maneirapela qual a hierarquia se reflete no comportamentodos atores internacionais.

A primeira é a de que agora a hierarquia nãose apresenta apenas em termos de diferencial depoder militar estratégico, embora este continue a serdecisivo, como a Guerra do Golfo terá demonstradode maneira inequívoca. A hierarquia se estabeleceem função de uma complexa equação que inclui comovariáveis cada vez mais importantes o podereconômico e aquilo a que se denominada “softpower”, ou seja, a capacidade de coletar e processarinformação, o poder de irradiar cultura e padrõescoletivos de comportamento, a projeção diplomáticae o prestígio internacional. A hierarquia se manifestasobretudo no momento de definição das regras quecompõem o quadro institucional da globalização, emque se tornam evidentes os distintos graus decapacidade de influenciá-las.

Como evitar que as negociações consagremregras que aprofundem a hierarquia? Como criarregras comuns quando existe graus significativos dediferença entre Estados? Como criar poder debarganha para poder intervir positivamente nesteprocesso?

Fique claro, por outro lado, que é preferíveldispor de regras transparentes e estáveis — aindaque não tenhamos sido protagonistas centrais em suaelaboração — que prevaleçam sobre o uso arbitráriodo poder. De novo, o desafio de adaptação, deincorporação da regra como estímulo positivo, égrande para países médios, como o Brasil e a África

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do Sul.A segunda é a de que os deslocamentos, as

manobras dentro da hierarquia obedecem amovimentos variados. Existem diversas possibilidadesde associação de interesses entre grupos de paísesque se unem em torno de temas específicos. Há umaampla gama de geometrias possíveis com interessescomuns em áreas como comércio de bens agrícolas,liberalização de serviços, meio-ambiente, direitoshumanos. A capacidade de resistir às forçastransnacionais “negativas” como o narcotráfico, ocrime organizado ou aos ataques especulativos contramoedas leva também a novas formas de agrupamento,na medida em que ações nacionais isoladas sejampercebidas como insuficientes. Já não há assim umapolítica previsível ou pré-determinada quecorresponda a uma posição dentro da hierarquia.

Paradoxalmente, a globalização leva assim aque estejamos obrigados a ter uma consciência maior,muito mais aguda e profunda de nossa individualidade,daqueles elementos que nos diferenciam no conjuntodas nações. Porque será a partir desta consciênciaque se desdobrará o leque de nossas possibilidadesde atuação internacional, através tanto dealinhamentos variados em diferentes temas da agendainternacional, quanto da construção de parceirasbilaterais que sejam promissoras para aumentar osfluxos de intercâmbio e as iniciativas de cooperação.

É o conhecimento de nossa identidade quelevará a um refinamento de nossas opçõesdiplomáticas, à busca de formas de atuaçãointernacional condizentes com os melhores interessesda nação. É assim com base em nossa realidadeespecífica, em nossa situação dentro da hierarquiainternacional, que trataremos de inserir nossaeconomia nos processos de globalização,obedecendo a um ritmo que seja compatível com anecessidade de modernizar nossas estruturasprodutivas, de prepará-las para poderem suportar,internamente, níveis crescentes de competição e teremtambém condições de sucesso num mercadointernacional em que cada espaço é disputado.

VI - O Brasil e a região em que está inserido,a América do Sul, sentem-se afinados com as forçasde mudança no cenário internacional. Vêem comnaturalidade as tendências de liberdade econômicae da democracia, porque são valores abraçados portodos os países da região. São parte de nossa história,parte, portanto, de nossa especificidade.

Vemos a globalização antes pela ótica dasoportunidades que oferece do que pelos riscos quetambém acarreta. Já começamos a colher os frutosde um maior grau de integração nos fluxoseconômicos e financeiros internacionais. Emvelocidades distintas, mas num movimento coletivo,deixamos de lado os modelos econômicos de nossopassado recente, baseados na industrializaçãoprotegida para substituir importações, na fortepresença do Estado no setor econômico produtivo.

A América do Sul também se engaja nosmecanismos de integração regional que se multiplicamnesta década dos 90. Sabemos que é necessárioalargar nosso espaço econômico com o objetivo deproporcionar mercados ampliados, os quais sãoexigidos para que possam operar as economias deescala associadas aos modernos processosprodutivos intensivos em tecnologia. Os países daregião estão negociando uma série de acordoscomerciais bilaterais ou sub-regionais que deverãoconcorrer para a conformação de um espaçointegrado de livre comércio na Amér ica do Sul. Masa integração na América do Sul não se limita aos fluxosde comércio; estende-se também à infra-estrutura, oque criará vínculos mais sólidos, com sentido depermanência. Para o Brasil, o núcleo primordial denossa integração na região é o MERCOSUL, cujaconsolidação se tornou uma prioridade de nossa .

Também, neste ponto, temos uma vantagemque decorre de uma tradição — que começa com aCEPAL — de refletir sobre a melhor forma deinserção econômica no sistema internacional. É outrotraço específico que nos deu vantagens quandodesenhamos os processos modernos de integração.Não criamos sobre o nada. Criamos sobre tentativas,

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frustradas algumas, é verdade, mas tentativas queengajaram a melhor vontade política das liderançasdo continente.

A América do Sul é também uma região emque predominam a paz e a democracia. Nossadiferença específica é a paz entre os Estados e acapacidade de diálogo. A democracia é a melhorgarantia de permanência da mudança, na medida emque, ao refletir o desejo da maioria, asseguraprevisibilidade, coerência e transparência ao processode transformações.

Temos, cada país sul-americano, umcompromisso com a defesa da democracia em nossaárea. Não preciso acentuar as vantagens da paz, daboa convivência regional, em um momento em quedecisões complexas de integração à economiamundial são tomadas. A paz facilita a projeçãointernacional; e, não por acaso, o MERCOSUL teráorigem em um processo de efetiva aproximaçãopolítica entre Brasil e Argentina, processo que dissipaformas velhas de rivalidade. A paz regional é umrequisito para que fluxos de investimento e comérciocresçam e ganhem contornos de permanência.

Mas também sabemos, no Brasil, que aindahá muito por fazer em nosso país, que nossosprocessos de mudança ainda estão de certo modoincompletos. Estamos tratando de encaminhar asreformas necessárias, dentro dos limites de tempoque impõe o funcionamento de nossas instituiçõesdemocráticas. No campo social, é enorme a tarefaque temos pela frente para corrigirmos os históricosdesequilíbrios de repartição da renda e melhorarmosnossos indicadores sociais. Avançamos muito emalgumas áreas, como na consolidação da democraciae no campo do tolerância racial e religiosa. O PlanoReal e a estabilização da economia proporcionaram,por outro lado, uma ampla redistribuição de rendaem benefício dos menos favorecidos. Mas nossadívida social ainda é enorme.

Resgatá-la é tarefa para mais de um Governo,para mais de uma geração.

Teremos de fazê-la com o melhor

entendimento do que queremos, integrados naeconomia mundial, mas conscientes de que isto nãobasta como solução.

A consciência de nossas qualidades e denossas dificuldades não nos impede de vermos comopositivas as perspectivas do Brasil de participar comêxito dos processos de globalização. Mas nos balizao caminho, nos dita ritmos próprios, nos diferenciaem relação a outros países, fixa campos prioritáriosde ação, determina a escolha de parceiros em temasespecíficos da pauta internacional e para acooperação bilateral.

VII - E um destes aliados seránecessariamente a África do Sul. Temos graussimilares de desenvolvimento e perspectivas tambémsemelhantes diante do cenário internacional. Aremissão ao global aproxima, em vez de diferenciar,nossos dois países. Nossas posições estão próximasna hierarquia internacional em uma série de temas.Que o Brasil e a África do Sul participem juntos dadefesa de seus interesses na cena internacional é ocorolário natural de nossas afinidades. Para isto vimà África do Sul.

Vim também para que possamos dar ímpetoà exploração das oportunidades de cooperaçãobilateral, em todas as áreas. Somos próximos emtermos de geografia. O Atlântico Sul é um espaço deunião entre nossos dois países. As linhas detransportes marítimos e aéreos operam a favor deuma intensificação dos fluxos de comércio e deinvestimentos. O MERCOSUL oferece à África doSul uma perspectiva ampliada de negócios, assimcomo sabemos que este país tem laços comerciaiscom todo a África Meridional, é uma porta de entradapara uma série de países. Tratemos de criar umquadro normativo que propicie uma expansão dosfluxos comerciais entre o sul da África e o Cone Sul.

Tratemos de dar vida e expressão concretaao imenso potencial existente entre nossos países.Isto reforçará nossas credenciais para que possamosnos inserir de maneira bem sucedida na economia

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internacional. Volto ao início de minhas palavras nesta tarde,

quando dizia que um passo importante para quenossos países se aproximem é o sentimento de quetemos problemas comuns, que podem ser pensadosconjuntamente e dar possivelmente origem a caminhosa serem percorridos também em conjunto, emparticular naquelas situações concretas com que nosdefrontamos nas mesas de negociação em diferentesforos internacionais.

Enfrentamos o mesmo desafio daglobalização, a partir de perspectivas similares. Tereicumprido a contento a missão a que me propus nestatarde se as idéias por mim expostas tiveremcontribuído para reforçar a percepção de que temosmuito a fazer juntos num mundo em que açõespolíticas da parte de atores do peso da África do Sule do Brasil são indispensáveis na conformação dosprocessos atuais de globalização.

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Palestra do Secretário-Geral das Relações Exteriores,Embaixador Sebastião do Rego Barros, sobre o tema“Política Externa e Defesa Nacional”, por ocasião doSeminário sobre Defesa Nacional da Câmara dosDeputados, Brasília, 28 de novembro de 1996

Seminário sobre Defesa Nacionalda Câmara dos Deputados

Em primeiro lugar, gostaria de cumprimentara Comissão de Defesa Nacional, especialmente seupresidente, Deputado Elias Murad, pela iniciativaoportuna de realizar um Seminário sobre Política deDefesa Nacional, um tema indubitavelmenteimportante e atual, que diz respeito a toda a sociedadebrasileira. Conforme afirmou o Deputado JoséGenoíno em artigo publicado anteontem no jornal “OGlobo”, o Congresso Nacional desempenha papel-chave na discussão dos problemas relativos à defesae segurança do país. Esse evento representa hojeum passo importante para o fortalecimento do diálogoenvolvendo a questão das relações entre os PoderesExecutivo e Legislativo.

Durante a reunião da Câmara de RelaçõesExteriores e Defesa Nacional(CREDEN), que tevelugar no dia 6 de setembro passado, o PresidenteFernando Henrique Cardoso expôs a necessidadede que o Brasil conte com uma política de defesaque leve em conta os objetivos políticos do país,basicamente no que se refere às suas relações comos países estrangeiros. Naquela ocasião, determinouque fosse preparado um documento que se referiaao problema, definindo, como sua diretriz básica, quefossem levados em conta os princípios relacionadosno artigo 4º da Constituição Federal, que regem asrelações internacionais do Brasil.

A defesa nacional, juntamente com odesenvolvimento econômico e social, tem sido umobjetivo permanente para a diplomacia brasileira.

Já no processo de consolidação daIndependência brasileira foi possível detectar oprincipal objetivo que iria direcionar a política externado País: manter a unidade nacional e a vasta áreaterritorial por meio da consolidação de um aparatode estado pronto para intervir em nome dos interesseseconômicos, políticos e de segurança da nova nação.

Quando terminou o período imperial, tambémchegou ao fim a primeira fase da formação da políticaexterna brasileira, a chamada consolidação do estadonação. Com a República, e com o Barão do RioBranco na chefia da Chancelaria, teve início a fasede definição das fronteiras, a qual, devido ao seusucesso, conferiu peso irreversível à dimensãojurisdicional e legalista da política externa brasileira.

A política de consolidação das divisas comos dez Estados fronteiriços, abrangendo umaextensão de quase 16.000 quilômetros, constitui-seuma experiência histórica desafiadora e extremamentebem-sucedida. Não seria exagero afirmar que partesubstancial da credibilidade do Brasil junto aos seusparceiros americanos resulta do fato de ter o Brasilsuas fronteiras claramente delimitadas através denegociações bilaterais e avaliações, em processos

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transparentes, pacíficos e juridicamente concluídos.No entanto, o problema da preservação da

integridade territorial, um objetivo permanente dapolítica externa e de segurança, ultrapassa adelimitação, demarcação e proteção da linha defronteira. O Brasil aprendeu a manter relaçõespacíficas com seus vizinhos nos últimos cento e vinteanos. Essa política, no entanto, não se caracterizoupor uma atitude passiva, pela simples negação dosconflitos. Pelo contrário, tem sido ativa, deliberada ediligente na consolidação de laços econômicos,políticos e culturais com os países sul-americanos.

O documento “Política de Defesa Nacional”,mencionado anteriormente, apresenta algumas dasiniciativas brasileiras no plano externo, as quais, maisrecentemente, têm consolidado as relações pacíficase, mais do que isso, de cooperação, mantidas peloBrasil com seus vizinhos. Entre elas, podem sermencionadas, em nível multilateral, o fortalecimentodo processo de integração levado a efeito peloMercosul, o fortalecimento das relações com ospaíses da Amazônia – desenvolvido no âmbito doTratado de Cooperação da Amazônia – aintensificação da cooperação com os países africanosde língua portuguesa e a consolidação da Zona dePaz e Cooperação no Atlântico Sul.

Ainda no plano bilateral, por muitos anosfomos capazes de tecer uma rede de interessescomuns que contribui para o fortalecimento dos laçose consolida as relações do Brasil com os paísesvizinhos. A construção e operacionalização dahidrelétrica de Itaipu, o sistema hidroviário doParaguai-Paraná, o fornecimento crescente depetróleo por parte da Argentina – nosso maiorfornecedor atualmente – a construção do gasodutorealizada em parceria com a Bolívia, o fornecimentode energia por parte da Venezuela, são algunsexemplos dos muitos empreendimentos cujosresultados ultrapassam, em grande parte, o significadomeramente econômico ou comercial. Juntamente como crescimento contínuo do comércio e dos fluxos deinvestimentos, a constante melhoria nas relações

políticas gera um processo de cooperação einterdependência que leva estados nações a sepreocuparem com a estabilidade e a prosperidadede seus parceiros.

Os esforços históricos brasileiros paraconstruir suas relações internacionais e regionaiscalcadas na paz e cooperação também se reflete noplano político. O nível de proximidade política entreos países da América do Sul tem aumentadoconsideravelmente devido a mecanismos de açõesdiplomáticas combinadas como o Grupo do Rio, oTratado de Cooperação da Amazônia e o Tratadoda Bacia do Prata, além de planos de integraçãoregional. Atualmente, há uma intensa familiaridadeentre os Presidentes latino americanos e entre oschanceleres dos países localizados naquela região.Tanto esse conhecimento como essa coordenaçãoforneceu-nos capacidade para rápida mobilização,em alguns casos através de reduzidos grupos depaíses envolvidos em certas questões, a fim deenfrentar situações conjunturais. No planoeconômico, um exemplo desse tipo de situaçãoencontra-se na crise causada pela evasão do capitalespeculativo, no início de 1995, e, no plano político,na tentativa de desestabilizar o regime político doParaguai, alguns meses depois.

A integração econômica, a intensificação doslaços e contatos de natureza política e, sobretudo, ofato de todos os países da América Latina estaremmantendo sistemas democráticos de governo,certamente facilitam o estabelecimento de umaatmosfera de confiança, na qual se insere a segurançacontinental. Os avanços alcançados no âmbito doComitê Hemisférico de Segurança da OEA, o tipode diálogo ocorrido durante as reuniões dos Ministrosda Defesa, em Williamsburg, em 1995, e emBariloche, em 1996, a multiplicidade de reuniões decoordenação levadas a efeito entre os militaresbrasileiros e de diversos países vizinhos são exemploseloqüentes da nova mentalidade relativa à segurançaentre nós.

A atuação externa brasileira visa não apenas

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a garantir a segurança nas fronteiras e a integridadeterritorial mediante a minimização dos focos deconflito em escala regional. O mundo dos anos 90apresenta novas oportunidades, novos desafios enovos riscos, diretamente relacionados com as forçase tensões que vieram a dominar o cenário mundial,com a redução das tensões de natureza ideológicaou estratégico-militar, que caracterizaram o períododa Guerra Fria.

Conforme lembrou muito bem o Ministro LuizFelipe Lampreia em recente palestra na EscolaSuperior de Guerra, “mais do que estar preocupadocom a preservação de seu estilo de vida frente àsameaças apresentadas por outro sistema político-estratégico, atualmente os Estados estão muito maisenvolvidos com o jogo das forças econômicas,conscientes de que a soberania, o poder nacional e acapacidade de influência aumenta com ofortalecimento da economia e dos indicadores sociais.Os elementos fundamentais para a preservação doEstado, como a estabilidade política e econômica, ocrescimento econômico sustentável, a geração deempregos e o bem-estar da população, dependemdo progresso econômico e social – não mais daproteção do guarda-chuva estratégico de uma super-potência ou de uma doutrina de “segurança nacional”.É a partir dessa conquista, não de políticas deprestígio, que depende a projeção internacional dospaíses.” Uma política de defesa nacional é, portanto,inseparável de uma política econômica dedesenvolvimento.

Regras econômicas estáveis e previsíveis,como aquelas que garantem a operacionalização dosistema multilateral de comércio, passam a afetar,embora indiretamente, a defesa de um país,especialmente aqueles com relativamente menospoder. Com a globalização, práticas econômicasinjustas podem ser potencialmente tão ou menosadversas para um país, do que as ameaças comunsde natureza geopolítica. Nesse contexto, porexemplo, a ação de especuladores nos mercadosglobais pode causar mais danos à segurança de um

país do que um eventual conflito de fronteira.Em relação a isso, o desempenho brasileiro

junto às agências econômicas internacionais constituiimportante aspecto da defesa dos interessesbrasileiros. A diplomacia econômica constitui a linhade frente da defesa do país no que diz respeito aoacesso aos mercados, medidas anti-dumping eprotecionistas, subsídios ilegais, garantia depermanência de mercadorias, fluxos de capital etecnologia, entre outros. Em suma, ela visa à melhorinserção da economia brasileira na economiainternacional.

A diplomacia brasileira tem atuado no sentidode fortalecer as credenciais, confiabilidade ecredibilidade brasileiras no exterior, com base napercepção de que o Brasil é um membro efetivo dacomunidade internacional, identificado com as regrasbásicas de relacionamento no âmbito das relaçõesinternacionais contemporâneas. A preservação doEstado legítimo, democrático, a defesa dos direitoshumanos, a prevenção dos problemas em áreas comoa não-proliferação de armas nucleares, o terrorismo,drogas e meio ambiente, entre outras, são questõesfundamentais para uma estratégia de defesa nacional.Certamente, elas contribuem para manter alegitimidade internacional do país e evitar o surgimentode pressões externas. Tais pressões são exercidas,por exemplo, mediante legislações com jurisdiçãoextraterritorial, manifestações neo-protecionistas outendências unilaterais em relação ao comércio einvestimentos.

Apenas lembraria, como exemplos deiniciativas recentes do Governo brasileiro, destinadasa reafirmar os compromissos assumidos relativos aocontrole das exportações de matérias-primas etecnologia sensível, bem como a não-proliferação dearmas nucleares de destruição massiva, a admissãodo Brasil no Regime de Controle da Tecnologia deMísseis (RCTM) e no Grupo de Fornecedores deMateriais Nucleares (GFMN). Além dessasiniciativas, nesse ano o Brasil aderiu ao Tratado sobreTotal Banimento de Testes Nucleares e ratificou a

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Convenção sobre Interdição da Produção,Estocagem e Utilização de Armas Químicas.

O Brasil foi também o quarto país a contribuirindividualmente com tropas às operações de paz dasNações Unidas. Na UNAVEM III, para mencionarapenas uma, o Brasil enviou uma tropa de 1.115militares, o que constitui o maior contingente daoperação de apoio à paz em Angola.

A defesa permanente dos interesses nacionaisno exterior constitui uma atribuição básica dadiplomacia. No que concerne ao Ministério dasRelações Exteriores, essa tarefa é desenvolvida emdiversos níveis. A rede de postos no exterior, porexemplo, desempenha tarefas relacionadas àpromoção das exportações brasileiras e apoio aoingresso de investimentos estrangeiros. Fornecetambém informações e recomendações aosempresários brasileiros no exterior, e busca incentivara participação de empresas brasileiras em licitaçõesinternacionais.

No plano da defesa e difusão dos valoresculturais brasileiros, o Itamaraty patrocina o ensinodo idioma nacional em todos os países latinoamericanos e em alguns países europeus e africanos,e apoia, no exterior, as diferentes formas de expressãoda arte brasileira. Os Centros de Estudos Brasileiros(CEB’s) estão sendo reestruturados com o intuitode serem transformados em instituições autônomasdo ponto de vista financeiro e administrativo. Noplano multilateral, o estabelecimento da Comunidadede Países de Língua Portuguesa (CPLP) surgiu comoum novo espaço para atuação e cooperação, voltadopara promover nossas identidades e atuar em defesada língua portuguesa, sem colidir com os esforçosintegracionistas levados a efeito pelos países de línguaportuguesa em seus respectivos contextos regionais.

A defesa de interesses nacionais no exteriorencontra sua expressão mais visível na atuaçãoconsular, estabelecida e regulamentada no serviçoexterior brasileiro, mesmo antes da própria funçãodiplomática. Refiro-me particularmente aomovimento de emigração de brasileiros ocorrido

recentemente. Estima-se em um milhão e meio onúmero de brasileiros vivendo fora do seu país. Parafins de apoio consular, soma-se a esse contingenteturistas, estudantes e empresários, que viajam cadavez mais ao exterior, devido, especialmente, àestabilidade da moeda brasileira.

Procuramos responder a essa nova ecrescente demanda por meio de serviços notariais eassistência consular prestada de forma criativa eoriginal, cientes de que estamos fornecendo noexterior, o apoio ao qual os cidadãos brasileiros têmdireito de receber do Estado. O alcance das medidastomadas, especialmente nos últimos dois anos, émuito amplo. Mencionarei apenas algumas delas:

- ampliação da rede consular, com ainstalação de repartições consulares em Tóquio eCape Town por exemplo;

- contatos freqüentes com autoridadesportuguesas com vistas a resolver problemasrelacionados a profissionais brasileiros, especialmentecirurgiões-dentistas que vivem e trabalham emPortugal;

- incentivos à organização das comunidadesbrasileiras no exterior, especialmente em cidades commaior concentração de cidadãos brasileiros;

- instalação de vários Conselhos deCidadãos, entidades que propiciam a interaçãopermanente entre as autoridades consulares e osindivíduos que representam as comunidadesbrasileiras;

- organização de consulados itinerantes, umaforma rápida, eficaz e econômica de estender aatuação consular às comunidades que se encontramem locais distantes da sede do consulado, geralmenteaqueles com poucos recursos e meios financeiros;

- distribuição de cartilhas consulares cominformações úteis para viajantes e turistas;

- monitoramento sistemático de cerca de 700nacionais presos no exterior; e

- negociação de instrumentos jurídicos,estendendo proteção aos nacionais brasileiros quese encontram no exterior, desde acordos para

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isenção de vistos a acordos para a transferência deprisioneiros e para cooperação judiciária com ospaíses de vários continentes.

Essa breve referência a algumas dasatividades levadas a efeito no exterior pelo Itamaratyvisou a ilustrar a total identidade entre a açãodiplomática e a defesa nacional. A diplomaciabrasileira cumpre, invariavelmente, os objetivosrelacionados na “Política de Defesa Nacional”. Entreeles, gostaria de destacar o conceito de garantia dopatrimônio nacional. É nosso dever – e o Ministériodas Relações Exteriores está totalmente ciente disso– defender o legado de nossos ancestrais e o produtodo trabalho de milhões de cidadãos brasileiros.

O conceito patrimonial implica a diversidadede visões sobre a defesa nacional, desde a soberaniaà integridade territorial, desde os valores sociais emorais aos bens materiais, desde os interessesbrasileiros no exterior à nossa capacidade depreservar e ampliar nossos recursos de naturezafinanceira, comercial e econômica. Esse é o significadode uma ampla política de defesa, voltada para aproteção do território, da mesma forma que para apreservação dos interesses nacionais em seus maisdiversos aspectos, tanto no plano político, comoeconômico, social e cultural.

Muito obrigado.

(versão em inglês)

First of all, I want to compliment the NationalDefense Committee, and especially its president,deputy Elias Murad, for the opportune initiative ofholding a seminar on National Defense Policy, anunquestionably important and updated issue, whichconcerns the whole Brazilian society. As stated bydeputy José Genoíno, in an article published the daybefore yesterday in the newspaper “O Globo”, theNational Congress has a key role in the discussion ofmatters concerning the defense and security of thecountry, and today’s event represents an importantstep toward strengthening the dialogue on the issue

between the Executive and the Legislative Powers.During a meeting of the External Relations and

National Defense Chamber (CREDEN), held on lastSeptember 6, President Fernando Henrique Cardosoaddressed the need for Brazil to count on a defensepolicy which would take into account the country’spolitical objectives, basically in what concerns itsrelations with foreign countries. On that occasion, heordered that a document be prepared, which wouldaddress the matter, and determined, as its basicguideline, that the principles listed on article 4 of theFederal Constitution, which rule Brazil’s internationalrelations, should be taken into account. As a result ofthe efforts made by CREDEN and the NationalDefense Committee established by CREDEN,President Fernando Henrique Cardoso has signedand made public, on November 7, a document knownas “National Defense Policy”, which assembles basicconcepts on the country’s external defense.

National defense, together with social andeconomic development, has been an enduringobjective for Brazilian diplomacy.

Already in the process of consolidatingBrazilian Independence, it was possible to detect themain purpose which would guide the country’sexternal policy: keeping the national unity and the vastterritorial area by means of consolidating a stateapparatus ready to intervene on behalf of theeconomic, political and security interests of the youngnation.

As the Imperial period came to an end, thefirst phase of the formation of Brazilian external policy,the so-called consolidation of the nation state, wasalso over. With the Republic, and with Baron of RioBranco at the head of the chancery, it began the phaseof equating boundaries, which, due to its success,conferred an irreversible weight to the juristical andlegalist dimension of Brazil’s external policy.

The policy of consolidating Brazil’s boundarieswith ten frontier States, comprising an arch of almos16.000 kilometers, has been a challenging andextremely well-succeded historical experience. It

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would be no exaggeration to state that a substantialpart of Brazil’s credibility next to its American partnersresults from the fact of Brazil having its borders clearlydelimited through bilateral negotiations and appraisals,in transparent, peaceful and juridically concludedproceedings.

However, the issue of preserving the territory’sintegrity, an enduring objective of both foreign andsecurity policies, goes beyond the delimitation,demarcation and protection of the borderline. Brazilhas learned to carry on peaceful relations with itsneighbours over the last one hundred and twentyyears. This policy was not characterized by a passiveattitude, by a simple denial of conflicts, though. Onthe contrary, it has been an active, deliberate andlaborious building of economic, political and culturalties with South American countries.

The “National Defense Policy” document,which I have mentioned before, presents some of theBrazilian initiatives on the external plan, which, in morerecent times, have been consolidating the peacefuland, more than that, cooperative relations Brazil andits neighbours have. Among them, it may bementioned, on the multilateral plan, the strenghteningof the integration process brought about byMERCOSUR, the strenghtening of relations with theAmazonian countries – developed within the scopeof the Amazonian Treaty of Cooperation -, theintensification of cooperation with Portuguese-speaking African countries and the consolidation ofthe Zone of Peace and Cooperation in the SouthAtlantic.

Also on the bilateral plan, over many years,we have been capable to weave a network of sharedinterests which contribute to strenghten the ties andto consolidate Brazil’s relations with neighbourcountries. The construction and operation of the Itaipuhydro-electric power station, the Paraguai-Paranáriver system, the increasing oil supply from Argentina- our largest supplier nowadays -, the constructionof the gas pipeline undertaken jointly with Bolivia,the supply of power from Venezuela, are but a few

instances of the many undertakings whose results go,to a large extent, beyond their mere economical orcommercial meaning. Together with the increasinggrowth of trade and investment flows, the constantimprovement in political relations generates a processof cooperation and interdependence which leadsnation states to be concerned with the stability andprosperity of their partners.

Brazil’s historical efforts to build itsinternational, hemispherical and regional relationsupon peace and cooperation is also reflected on thepolitical plan. The level of political proximity betweenSouth American countries has considerably increaseddue to mechanisms of combined diplomatic action,such as the Group of Rio, the Amazon CooperationTreaty and the Plate Basin Treaty, besides the regionalintegration schemes. At present, there is an intensefamiliarity between Latin American Presidents andbetween the chanceries of the countries located inthat region. Both this knowledge and coordinationhave provided us with a capacity of rapid mobilization,in some instances through reduced groups of countriesdirectly involved in certain issues, to face adverseconjunctural situations. In relation to the economicplan, an example of these situations was the crisiscaused by the evasion of speculative capital, early in1995, and, in relation to the political plan, the attemptto destabilize Paraguai’s democratic regime a fewmonths later.

The economic integration, the intensificationof ties and contacts of a political nature, and, aboveall, the circumstance that all Latin American countriesare living up to the democratic system of government,certainly facilitate the establishment of an atmosphereof trust in which the continental security is concerned.Progresses made within the scope of OAS’sHemispherical Security Committe, the kind ofdialogue that went on during the meetings of DefenseMinistries, in Williamsburg, in 1995 and in Bariloche,in 1996, the multiplicity of coordination meetings heldbetween Brazilian military and those from severalneighbour countries, are eloquent examples of the new

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mentality regarding security around us.Brazil’s external action aims not only to

guarantee security on the borders and territorialintegrity by means of minimizing focuses of conflicton a regional scale. The world of the 1990s presentsnew opportunities, new challenges and new risks,directly related to the forces or tensions which cameto dominate the world’s scene with the reduction oftensions of an ideological or strategical-military nature,which characterized the Cold War period.

As Minister Luiz Felipe Lampreia wellrecalled in a recent lecture at the National War College,“rather than being concerned with the preservationof their way of life in face of threats posed by otherpoliticalstrategic system, at present, States are muchmore involved with the play of economic forces,aware that the sovereignity, the national power andthe capacity of influence increase with thestrenghtening of the economy and the social indicators.The fundamental elements for the preservation of aState, such as, political and economical stability,sustainable economic growth, job generation andwell-being of the population, depend on theeconomical and social achievement - no longer onthe protection of the strategical umbrella from asuperpower or from a “national security” doctrine. Itis from this achievement, not from policies of prestige,that the countries’ international projection dependsupon.” A defense policy is therefore inseparable froman economic development policy.

Stable and predictable economic rules, suchas those which guarantee the operation of themultilateral system of trade, start to affect, althoughindirectly, the defense of a country, especially thosewith relatively smaller power. With the globalization,unfair economic practices may be potentially as muchor more adverse to a country, as the usual threats ofa geopolitical nature. In this context, for instance, theaction of speculators on the global markets may causemore harm to the security of a country, than aneventual border skirmish.

In this connection, Brazilian performance next

to international economic agencies constitutes animportant aspect of the defense of Brazilian interests.The economic diplomacy constitutes a front line ofthe country’s defense on what regards access tomarkets, anti-dumping and protective measures, illegalsubsidies, guarantee of stay of goods, capital andtechnology flows, among others. In sum, it is intendedto a better insertion of the Brazilian economy into theinternational economy.

Brazilian diplomacy has been acting tostrenghten Brazilian credentials, reliability andcredibility abroad, based upon the perception thatBrazil is a full member of the international community,identified with the basic rules of relationship in thecontemporary international relations. Thepreservation of the lawful, democratic State, thedefense of human rights, the prevention of problemsin areas such as nonproliferation of nuclear weapons,terrorism, drugs and environment, among others, aremajor issues for a strategy of national defense.Certainly, they contribute to maintain the country’sinternational legitimacy and to avoid the emergenceof external pressures. These pressures exertthemselves, for instance, by means of legislations withextraterritorial jurisdiction, neoprotectivemanifestations or unilateral tendencies regarding tradeand investments.

I would only recall, as examples of recentinitiatives of the Brazilian government aimed at therestatement of undertaken and consolidatedcommitments concerning the control of exports ofmaterials and sensitive technology, as well as the non-proliferation of mass destruction weapons, theadmittance of Brazil into the Missile TechnologyControl Regime (MTCR) and into the NuclearSuppliers Group (NSG).

Besides these initiatives, this year Brazil hasadhered to the Treaty on the Complete Ban ofNuclear Tests and ratified the Convention on theInterdiction of Production, Stocking and Utilizationof Chemical Weapons.

Brazil has also been the 4th individual country

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to contribute with troops to the United Nations peacesupport operations. At UNAVEM III, to mention justone, Brazil has deployed 1115 military, whichconstitute the largest contingent of the peace supportoperation in Angola.

The permanent defense of national interestsabroad constitutes a basic attribution of diplomacy.In which the Ministry of External Relations isconcerned, this duty is carried out on several plans.The network of offices abroad, for instance, performsduties that are related to the promotion of Brazilianexports and support to the uptaking of foreigninvestments. It also provides information and adviceto Brazilian businessmen abroad, and seeks toencourage the participation of Brazilian companies ininternational biddings.

On the plan of the defense and diffusion ofBrazilian cultural values, the Itamaraty provides allLatin America, and some European and Africancountries with teaching the national language, andsupporting Brazilian different ways of expressing Artabroad. The Centers for Brazilian Studies (CEBs)are being restructured, with a view to turn them intoautonomous institutes, from a financial andadministrative standpoint. On the multilateral plan, theestablishment of the Community of Portuguese-speaking Countries (CPLP) emerged as a new spacefor action and cooperation, intended to foster ouridentities and to act in defense of the Portugueselanguage, without colliding with the integrationistefforts undertaken by the Lusitanian countries in theirrespective regional contexts.

The defense of national interests abroad findsits most conspicuous expression in the consularcapacity, established and regulated in the Brazilianforeign-service even before that of the diplomaticcapacity itself. However, there are new elements whichinvolve immense challenges for Brazilian diplomacy.I am particularly referring to the emigration movementof Brazilians occurred in recent years. The numberof Brazilians living outside their country is estimatedin one million and a half. For purposes of consular

support, add to this contingent tourists, students andbusinessmen who go more and more abroad, dueespecially to the stability of Brazilian currency.

We have sought to respond to this new andincreasing demand by means of notarial services andconsular assistance delivered in a creative andingenious way, aware that we are providing abroadthe support Brazilian citizens are entitled to receivefrom the State. The scope of measures taken, speciallyin the last two years, is very comprehensive. I willmention only a few of them:

- enlargement of the consular network withthe installation of consular offices in Tokyo and CapeTown, for instance;

- frequent contacts with Portuguese authoritieswith a view to solve problems related to Brazilianprofessionals, especially surgeon-dentists, who liveand work in Portugal;

- incentive to the organization of Braziliancommunities abroad, especially in cities with greaterconcentration of Brazilians citizens;

- installation of various Citizen Councils,entities which provide for permanent interactionbetween consular authorities and individualsrepresentative of Brazilian communities;

- organization of itinerant Consulates, a fast,efficient and economic way to extend consular actionto communities distant from the main office, usuallythose with smaller resources and economic means;

- distribution of consular guidebooks withuseful information for travellers and tourists;

- systematic monitoring of about 700 nationalsemprisoned abroad; and

- negotiation of juridical instruments extendingprotection to Brazilian nationals abroad, fromagreements for exemption of visas to agreements forthe transfer of prisoners and for judiciary cooperationwith countries of several continents.

This brief reference to some activities carriedout abroad by the Itamaraty has aimed to illustratethe full identification between diplomatic action andnational defense. Brazilian diplomacy complies

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invariably with the objectives enlisted in the “NationalDefense Policy”. Among these, I would like toemphasize the concept of guarantee of the nationalpatrimony. It is our duty - and the Ministry of ExternalRelations is fully aware of this - to defend the legacyof our ancestors and the offsprings of the labour ofmillions of Brazilian citizens.

The patrimonial concept comprehends thediversity of views on national defense, fromsovereignty to territorial integrity, from social and

moral values to material assets, from Brazilianinterests abroad to our capacity to preserve andenlarge our resources of a financial, commercial andeconomic nature. This is the meaning of acomprehensive defense policy, aimed at the protectionof the territory as much as at the preservation ofnational interests in their most diverse aspects, on thepolitical, economic, social and cultural plan.

Thank you very much.

189Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Quero antes de mais nada agradecer asinúmeras demonstrações de amizade e de carinhoque venho recebendo em mais esta estada emLisboa, entre tantos amigos.

Embora essas demonstrações em absolutosejam uma surpresa para nós, brasileiros, e sobretudopara mim, que tenho uma ligação tão forte comPortugal, elas não deixam de nos emocionar eencantar a cada vez que se repetem. Elas falam comeloqüência desse sentimento de irmandade tãopróprio de povos que têm quase quinhentos anos deHistória comum e cuja amizade está entranhada emseu próprio ser.

E, porque temos orgulho, como brasileiros,de haver nascido para a História no auge da era dasgrandes navegações, nós já começamos a viver noBrasil a expectativa de comemorar o quinto centenáriodo nosso descobrimento.

Podem todos imaginar a emoção com quenos preparamos para celebrar esse capítulo tãoespecial da aventura nacional portuguesa, que levoua Europa aos confins do mundo — às costas daÁfrica, à América, ao Japão, a Macau e à China, aGoa, ao Timor, no que seria talvez a mais forte ecriativa saga do Ocidente, que Camões imortalizoun’Os Lusíadas com a melhor lírica universal e que naverdade se encontra na origem histórica desseprocesso que hoje nos acostumamos a chamar de

globalização ou mundialização.O Ministro Jaime Gama teve a felicidade de

propor esta visita oficial do Chanceler brasileiro comouma forma de dar continuidade aos vários encontrosque têm marcado uma nova etapa das relações entrePortugal e o Brasil, a partir da posse do novo Governoportuguês no primeiro semestre deste ano.

Eu quero expressar a gratidão do Governobrasileiro por mais esta oportunidade deexercitarmos, na prática diplomática, a nossa amizadetão especial. Cada vez mais Portugal e o Brasildesempenham papéis importantes em suas respectivasregiões e em algumas partes do mundo, onde temosinteresses concretos e naturais e onde a nossa açãoconcertada pode ser útil e criativa.

O diálogo freqüente, franco e incondicionalé, portanto, uma exigência da própria dinâmica dasnossas políticas eternas e das nossas relações. E odesejo de dar a essas relações um conteúdoeconômico mais forte e consistente é uma exigênciados nossos próprios processos econômicos e umaconseqüência das oportunidades que vão surgindoneste e no outro lado do Atlântico.

Fomos parceiros próximos, íntimos mesmo,em momentos menos promissores e menos criativos,em que não acertávamos em dar às nossas relaçõesoutra dimensão que não a do afeto fraterno e a daidentidade cultural e lingüística. Desde que o Brasil

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, por ocasião do banqueteoferecido pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros dePortugal, Jaime Gama, Lisboa, Palácio das Necessidades,4 de dezembro de 1996

Brasil-Portugal

190 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

se redemocratizou e Portugal entrou para a UniãoEuropéia, começamos a mudar gradualmente aconcepção das nossas relações. Hoje, a determinaçãode dar um perfil mais moderno e dinâmico a essasrelações faz parte do nosso discurso e tem estadopresente nas nossas conversas.

Falamos a mesma língua e compartilhamos amesma matriz cultural.

Mas é bom não esquecer que falamostambém a linguagem dos negócios, das joint-ventures,dos investimentos, da capacidade e da necessidadede aproveitarmos conjuntamente as oportunidadesque surgem em Portugal e no Brasil com asprivatizações, com a abertura da economia, com abusca de competitividade e de escala na produção.

Já temos um exemplo do que poderemosfazer nesta nova fase das nossas relações naassociação entre a EMBRATEL e a Portugal Telecomno projeto “Aliança Atlântica”.

Esse é o caminho. A amizade, a simpatia, osentimento de fraternidade e de identidade entre doispovos e os laços insubstituíveis que o elementohumano cria nas relações entre os Estados não podemser fins em si mesmos, nem os objetivos para os quaisa diplomacia deve trabalhar.

Eles são o ponto de partida, o instrumento, abase para o que no fundo é o grande objetivo dasdiplomacias de todo o mundo: construir parceriasfirmes e produtivas, que contribuam para odesenvolvimento social e econômico, para a criaçãode empregos, para a geração de comércio e deprodução, para a geração de riqueza, enfim.

Esse desejo de resgatar, literalmente, asrelações luso-brasileiras já havia encontradoexpressão na visita do Primeiro-Ministro AntônioGuterres ao Brasil, a primeira que fez ao exterior, eque por certo nos honrou e sensibilizou pela forçado gesto. Nós pudemos apreciar, no Governoportuguês, um sentido de pragmatismo, insubstituívelno mundo de hoje, e que nós compartilhamosplenamente.

Depois daquela visita, já tivemos outros

encontros entre o Presidente e o Primeiro-Ministrode Portugal e o Presidente do Brasil, aqui mesmoem Lisboa, durante o lançamento da Comunidadedos Países de Língua Portuguesa, e em Santiago,durante a Reunião de Cúpula Iberoamericana.

Já estamos trabalhando na próxima Cimeiraluso-brasileira. O que o meu amigo Jaime Gama e euestamos fazendo nesta visita, portanto, é continuarum processo que já se iniciou, e se iniciou bem.

Nada melhor para as nossas relações do quedois Governos jovens e conscientes de que é possívele necessário assumir as relações luso-brasileirascomo prioridade, não apenas como manifestação deum simbolismo diáfano e volátil quando se trata dasquestões que interessam concretamente aos doispovos.

Não é exagero dizer que há um novo tomnessas conversas, uma nova química entre osGovernos do Brasil e Portugal.

Depois de algumas acomodações necessáriasnas relações bilaterais, em função dosdesenvolvimentos ocorridos em ambos os países edo seu envolvimento nas respectivas regiões e sub-regiões, era natural que aproveitássemos acircunstância da mudança, tão própria da democracia,para fazer uma revisão crítica da relação e assumircom ela um novo compromisso.

Foi o que fizemos e devo dizer que acontribuição do novo Governo português foiinsubstituível.

Essa determinação tem se manifestado nobom entendimento entre Portugal e o Brasil em tornoda necessidade de dar um caráter operacional aoacordo-quadro entre a União Européia e o Mercosul.

Portugal tem sido um advogado fervorosodessa causa e nós apreciamos e agradecemos esseempenho, que deriva da sensibilidade especial que oGoverno português tem demonstrado em relação àimportância da dimensão transatlântica da suadiplomacia.

É importante para nós que assim seja, masouso dizer que é também importante para Portugal e

191Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

para a Europa que assim seja.Não queremos que a Europa perca a posição

relativa que tem em nosso comércio exterior e nosinvestimentos em nossa região, porque prezamos evalorizamos o equilíbrio relativo em que repousamnossas relações econômicas com o mundo inteiro.

Também em relação à África temosencontrado maior facilidade de diálogo e disposiçãode cooperação, especialmente agora, em quepodemos ajudar a consolidar uma dimensãomultilateral própria dos países de língua portuguesa.A CPLP haverá de ser um instrumento decooperação, entendimento e concertação entre ospaíses africanos de língua oficial portuguesa, o Brasile Portugal, sem qualquer veleidade de hegemonia,mas com um espírito construtivo e a determinaçãode ocupar um espaço condizente com o pesoespecífico da própria comunidade.

Nosso compromisso com a África de línguaportuguesa é firme.

Expressa-o a presença em Angola da maiorforça militar enviada pelo Brasil ao exterior desde aSegunda Guerra. O que o Presidente FernandoHenrique pôde ver e sentir em sua recente visita aLuanda e às tropas brasileiras em Cuito Canavaleapenas reforçou o nosso sentimento de solidariedadee o nosso compromisso com a reconstrução de umaAngola democrática.

Quero por último dizer-lhes que também oTimor, tema caro ao sentimento português, temocupado um lugar nas preocupações brasileiras. OPresidente Fernando Henrique está enviando a Oslo,para representá-lo na cerimônia de outorga doPrêmio Nobel da Paz ao Professor José RamosHorta e ao Bispo Dom Carlos Ximenes Belo,expoentes da liderança timorense, o Senador JoséSarney, Presidente do Congresso Nacional e umamigo dileto de Portugal e de todos os países delíngua portuguesa.

É mais uma forma que o Presidente encontrou

para reiterar o apoio brasileiro à autodeterminaçãodo povo do Timor Leste e a uma solução justa,pacífica e duradoura para a questão timorense, dentrodo mais estrito respeito aos direitos humanos e àcausa da boa convivência entre as nações.

Senhor Ministro, meus amigos,Sabem todos que Portugal é como uma

segunda pátria para mim, e Lisboa e seus arredoresum cenário privilegiado de recordações e de reflexões.

Minhas ligações de família, meusantepassados, minha estada aqui como Embaixadordo meu país, as lembranças e o orgulho do meubisavô que foi Encarregado de Negócios e depoisEmbaixador de Portugal no Brasil, cem anos atrás, afilha que aqui ficou, os muitos amigos que aqui fiz,alguns dos quais tenho a emoção de rever esta noite,tudo, evoca em mim um compromisso com a amizadebrasileiro-portuguesa e com o futuro das nossasrelações.

Quero que saibam que vim a Lisboa comoparte desse compromisso.

Quero que saibam que trago da parte doPresidente Fernando Henrique Cardoso umasaudação muito entusiasmada a um novo tempo nasrelações entre os nossos países e a garantia de que,também de nossa parte, essas relações são umaprioridade, e uma prioridade concreta.

Porque somos tão intimamente amigos,podemos ser os bons parceiros que os temposreclamam e as oportunidades aconselham.

E é com esse espírito que peço a todos queme acompanhem em um brinde à prosperidade dopovo português, à amizade fraterna e semprerenovada entre o Brasil e Portugal, à saúde e venturapessoais do Presidente Jorge Sampaio e do Primeiro-Ministro Antônio Guterres e à felicidade dos nossosqueridos amigos Jaime Gama e Senhora.

Muito obrigado.

193Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Senhor Presidente,Permita-me em primeiro lugar felicitá-lo e

expressar nossos agradecimentos às autoridades eao povo da república de Cingapura, os quais nãopouparam esforços no sentido de propiciar excelentescondições de trabalho para os participantes daConferência.

Gostaria também de manifestar nosso apreçopelo trabalho realizado pelo Embaixador RenatoRuggiero na qualidade de Diretor-Geral daOrganização Mundial de Comércio.

O grau de importância que o Brasil atribui aesta I Conferência Ministerial da OMC pode sermedido pela presença de três Ministros de Estadoem nossa Delegação, bem como de destacadosmembros do Congresso Nacional e de importantesrepresentantes do setor privado.

Durante o trabalho preparatório daConferência, insistimos em que a ConferênciaMinisterial de Cingapura deveria se concentrarprioritariamente na avaliação da implementação dosacordos da Rodada Uruguai e do funcionamento daOMC.

O Brasil avalia positivamente os doisprimeiros anos de funcionamento da OrganizaçãoMundial de Comércio. Já incorporamoscompletamente os acordos da Rodada Uruguai à

nossa própria legislação interna e também adotamosregulamentação complementar em várias áreas. Paraampliar a coordenação em nível ministerial, oPresidente Fernando Henrique Cardoso decidiu criara Câmara de Comércio Exterior, diretamentesubordinada à Casa Civil e composta dos Ministrose funcionários graduados responsáveis por nossocomércio exterior.

Temos observado integralmente nossoscompromissos no que tange à redução de tarifas combase na cláusula de nação mais favorecida. Nasocasiões em que fomos compelidos a recorrer àadoção de medidas de defesa contra práticascomerciais desleais ou medidas de salvaguardas,seguimos rigorosamente as regras e procedimentoscontidos nos acordos da OMC.

Do ponto de vista do Brasil, uma dasrealizações fundamentais da Organização Mundial doComércio diz respeito ao funcionamento domecanismo solução de controvérsias. Acreditamosque o funcionamento do Órgão de Solução deControvérsias (OSC) e do Órgão de Apelação temrepresentado um progresso significativo em relaçãoaos procedimentos de soluções de controvérsiasprevistos no antigo GATT. O mecanismo em vigorna OMC associa a possibilidade de se criarjurisprudência com a busca de soluções criativas pelas

Discurso do Ministro de Estado das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, na I ConferênciaMinisterial da Organização Mundial do Comércio,Cingapura, 9 de dezembro de 1996.

I Conferência Ministerial daOrganização Mundial do Comércio

194 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

partes em litígio. A relativa automaticidade noprocesso de estabelecimento de painéis incorporadano “Entendimento sobre Solução de Controvérsias”tem sido fundamental para que as partes em conflitoexplorem todas as possibilidades de solucionar suasdiferenças por meio de consultas.

Devemos insistir na imediata e completaobservância das decisões no âmbito do“Entendimento sobre Solução de Controvérsias”.

Com relação aos temas pendentes da RodadaUruguai, o Brasil reafirma seu compromisso com amodernização e a liberalização em todos os setoresora em negociação. Apresentamos, assim, ofertassubstantivas em transportes marítimos etelecomunicações básicas. Em ambos os setores,assim como em serviços financeiros, temos buscadoempreender reformas legislativas amplas e coerentesno nível nacional. Os resultados alcançados até agorano nível multilateral enfatizam a importância da idéiade liberalização progressiva. Dado que nem todosos países começaram do mesmo ponto, nem todospoderão alcançar imediatamente o mesmo nível decomprometimento. O estabelecimento, agora, deobjetivos excessivamente ambiciosos somente serviriapara colocar em risco nossas possibilidades desucesso.

Em Marraqueche adotamos uma Decisãosobre Comércio e Meio Ambiente, a qualestabeleceu um foro para discutirmos a relação entrea defesa e a preservação de um sistema multilateralde comércio aberto, nãodiscriminatório e equânime,de um lado, e a proteção do meio ambiente e apromoção do desenvolvimento sustentável, de outro.Logo depois, durante as reuniões que tive o privilégiode presidir, ainda na fase preparatória da OMC, teveinício um interessante debate, baseado na agendadefinida na Decisão de Marraqueche.

O trabalho do Comitê sobre Comércio eMeio Ambiente, presidido pelo Embaixador SanchezArnau, tem servido ao propósito de identificar assinergias entre liberalização comercial e a promoçãodo desenvolvimento sustentável. A OMC começou,

dessa forma, a cumprir sua função de ajudar aalcançar as metas de desenvolvimento sustentávelincorporadas na Declaração do Rio de Janeiro. Emum aspecto, em particular, ela pode contribuir paraalcançar o desenvolvimento sustentável: a eliminaçãodas restrições comerciais que afetam os países emdesenvolvimento. Esperamos que se possa obterbrevemente avanços nessa direção.

Gostaria agora de discorrer sobre pontosespecíficos de especial importância para o Brasil.

Em sua condição de país com interessescomerciais globais, com participação significativa dosprodutos agrícolas em sua pauta de exportações, oBrasil conclama todos os membros a cumprir,integralmente e nos prazos previstos, oscompromissos relativos ao Acordo de Agricultura.Nesse sentido, apoiamos fortemente o início, a partirde 1997, de trabalhos preparatórios consistentes noComitê de Agricultura, com vistas a iniciar a troca deinformações necessárias para encetar as negociaçõesmencionadas no artigo 20 daquele Acordo.

Após termos cumprido a difícil tarefa políticade incorporar o setor agrícola às regras daOrganização, devemos enviar um claro sinal à opiniãopública de nossos países de que a agricultura é umaprioridade em nosso trabalho futuro. Um processoverdadeiramente significativo de liberalizaçãocomercial deve necessariamente incorporardisciplinas mais fortes no sentido de reduzir subsídios,bem como compromissos efetivos e ampliados deacesso a mercados. Infelizmente, verificamos que faltaclaramente vontade política nessas áreas.

Na verdade, dificilmente poderíamosconceber qualquer declaração Ministerial emanadadessa Conferência que não contivesse uma fortereferência específica ao trabalho futuro nesse setor.

A proposta de inclusão de alguns novos itensna já sobrecarregada agenda da OrganizaçãoMundial do Comércio merece consideração maisdetalhada.

Já indicamos nossa disposição de aceitar acriação de um Grupo de Trabalho no âmbito da

195Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

OMC para tratar do tema comércio e investimento.Esse Grupo de Trabalho deveria permitir a plenacompreensão, pelos Estados Membros, de todas asimplicações do relacionamento entre comércio einvestimento. Estaremos preparados para nos engajarem amplas negociações acerca de um acordo sobreinvestimentos e consideramos que as mesmas devemser conduzidas no âmbito de uma organizaçãoverdadeiramente multilateral, como a OMC.

No que tange ao papel que a UNCTADpoderia desempenhar em tal processo, acredito quea cooperação entre as duas organizações certamentecontribuiria para um melhor entendimento dasimplicações de um acordo negociado na OMC,permitindo, dessa maneira, que os membros destaOrganização tomem a decisão apropriada acerca decomo tratar o tema no futuro.

O Brasil considera que o trabalho propostosobre “políticas de concorrência” é um complementonecessário ao trabalho na área de investimentos.Nesse sentido, apoiamos a criação de um Grupo deTrabalho para examinar as regras da OMC existentesna área de comércio e concorrência, bem como anecessidade de fortalecer as disciplinas relativas apráticas comerciais restritivas.

No que tange a compras governamentais,poderíamos nos associar à proposta de criar umGrupo de Trabalho para discutir e negociar umconjunto de princípios e procedimentos relativos àtransparência das práticas de comprasgovernamentais quanto aos métodos de licitação, bemcomo a notificação de oportunidades licitatóriasoferecidas por governos federais ou centrais. OGrupo de Trabalho deveria reportar suas conclusõesà II Reunião Ministerial da OMC em 1998.

O Brasil não tem nenhuma dificuldade com aquestão do respeito aos padrões trabalhistas básicos.Assinamos um número significativo de convençõesda Organização Internacional do Trabalho relativasa esses temas. O Governo brasileiro tem apresentadoum histórico firme e coerente de respeito aos direitoshumanos fundamentais, particularmente na área de

direitos trabalhistas.No Brasil não há limites ou obstáculos à livre

negociação entre empregados e empregadores, nemà criação de sindicatos trabalhistas.

Nossa legislação não tolera trabalho forçado,nem a exploração de mão-de-obra infantil, e casosisolados de violações têm sidos investigados epunidos. Não obstante, temos dificuldade em vercomo uma organização orientada para oestabelecimento de regras, como a OMC, poderiatratar do tema do cumprimento de padrõestrabalhistas. O Brasil deseja enfatizar suapreocupação com a possibilidade de que a proteçãode padrões trabalhistas básicos, que é em si mesmauma meta a ser buscada por todos, seja utilizada comopretexto para lidar com o problema do desempregoestrutural nas economias desenvolvidas.

Acreditamos que a Organização Internacionaldo Trabalho é o foro adequado para tratar do temado cumprimento de padrões trabalhistas básicos eque qualquer declaração sobre esse ponto pelaConferência Ministerial não deveria contemplarqualquer seguimento do tema no âmbito da OMC.

Por fim, gostaria de tratar do tema doregionalismo no contexto do sistema multilateral docomércio, com base na experiência brasileira namatéria. O Brasil apóia o trabalho em curso na OMCno sentido de analisar as implicações dos acordosregionais de comércio para o sistema multilateral.Acreditamos que tal exercício servirá para esclarecerdúvidas suscitadas pelo estabelecimento de acordosregionais de comércio, mais ambiciosos por definiçãodo que qualquer iniciativa multilateral.

Nossa própria experiência tem demonstradoque acordos regionais de comércio podem reforçare beneficiar o sistema multilateral de comércio.

O MERCOSUL representa não somente umcompromisso de liberalização mas também — eprincipalmente — uma decisão de fortalecer o diálogopolítico e a coordenação propiciados pelaredemocratização da região. A necessidade deintegrar nossos países numa economia globalizada

196 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

levou-nos a adotar uma forma aberta de regionalismo,como evidenciada pelo significativo aumento docomércio com países não-membros desde a criaçãoda união aduaneira. Esse aumento — de 25 para 55bilhões de dólares em cinco anos — é a prova cabalda natureza aberta do Mercosul.

Do ponto de vista político, o MERCOSULrepresenta somente parte de um processo em queoutros componentes democráticos estão presentes,

tais como respeito aos direitos humanos, proteçãodo meio ambiente e iniciativas relacionadas à paz esegurança internacionais. Vamos fortalecer eaprofundar o Mercosul ao mesmo tempo em que omanteremos plenamente compatível com a OMC,que é a base e o principal suporte do sistemamultilateral de comércio.

Muito obrigado.

197Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Senhores Presidentes e companheiros daArgentina, do Paraguai, do Uruguai,

Senhores Chanceleres,Senhores Ministros,Senhoras e Senhores,Em primeiro lugar, quero expressar a

satisfação do povo e do governo do Brasil pelapresença do presidente Carlos Menem, do presidenteJulio Sanguinetti, Juan Carlos Wosmosy, aqui entrenós, em Fortaleza, aguardando a presença dospresidentes do Chile e da Bolívia que, em breve, sejuntarão a nós. E essa satisfação hoje é redobrada.

Primeiro, por estarmos juntos numa reuniãode consolidação do Mercosul. Segundo, porestarmos juntos no Brasil mas, muito especialmente,por estarmos aqui em Fortaleza, uma cidade doNordeste do Brasil.

Era nosso empenho, e eu tenho certeza queé o empenho de todos os senhores presidentes quenos visitam de, simbolicamente, demonstrar com anossa presença, aqui numa região mais ao Norte doBrasil, essa vocação integracionista do Mercosul.Dadas as dimensões do território do país, muitasvezes, quando se fala de Mercosul pode ficar aimpressão de que se trata da integração da parte suldo Brasil. Nada mais distante do nosso pensamentodo que isso. Na verdade, é uma integração do conjuntodo país. E o fato de nós estarmos, hoje, aqui, emFortaleza, indica esta vontade de todo o país, de todo oBrasil, de estarmos juntos com o Mercosul.

E há, também, alguns fatos importantes queeu creio que conviria manifestar nesse primeiroencontro, que é o que de que, na verdade, houve umaumento muito grande das exportações desta regiãodo Brasil para os países competentes do Mercosul.Contrariamente ao senso comum, na verdade,relativamente, o intercâmbio da Região Nordeste dopaís com os países do Mercosul cresceu maisdepressa - é verdade que a partir de uma base menor,mas cresceu mais depressa, se multiplicou maisrapidamente do que o intercâmbio feito pelo conjuntodo Brasil com os demais países do Mercosul.

De modo que eu acho que é muito importanteassinalar essa nossa presença, aqui, em Fortaleza, eeu espero que os presidentes tenham gostado doencontro de ontem à noite. Sei que alguns gostaramtanto que foram a um forró, coisa que é vedada aopresidente da República do Brasil.

Por outro lado, eu queria, também, expressara nossa satisfação pelo avanço que nós temosconseguido nos nossos encontros com o Mercosul.

E creio que estamos chegando a uma faseem que já não basta a atenção para os êxitos no quediz respeito ao fluxo de comércio, que é muito grande.Nós sabemos que passamos de um comércio decerca de 5 bilhões, em 91, para 15 bilhões, em 95,no conjunto dos países. É alguma coisa assim muitoxpressiva, realmente muito expressiva. E sabemos,também, que isso não se deu em detrimento docomércio da nossa região com outras regiões, porque

Discurso do Presidente da República, Fernando HenriqueCardoso, na XI Reunião do Conselho do Mercosul,Fortaleza, 17 de dezembro de 1996

XI Reunião do Conselho do Mercosul

198 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

passamos de 29 bilhões para 55 bilhões no conjuntodo comércio industrial.

De modo que não tem nenhum fundamento aidéia de que o Mercosul aumentou as trocas entre ospaíses da região em detrimento das trocas globais.Não aconteceu isso. Houve um aumento significativotanto das trocas no Mercosul com o resto do mundo,como das trocas internas ao Mercosul. Mas eu achoque isso nós já sabemos que é uma aquisição dosnossos povos. Agora, nós estamos partindo paradimensões, digamos, de maior profundidade na nossaintegração. Refiro-me aos aspectos políticos e aosaspectos culturais e sociais. Os aspectos políticos,claramente. Nós temos, hoje, indiscutivelmente, umcompromisso comum dos países do Mercosul.Compromisso que se desenvolve com muitanaturalidade, sem nenhuma afetação.

Nós não precisamos estar reiterando a nossavocação democrática, por nós estamos praticando,e isso é que é o mais importante. E praticando comnaturalidade. E nós todos sabemos, aqui, o modopelo qual os governos dos nossos 4 países compõemsuas eventuais divergências. Da forma latino-americana, conversando. E se possível, com algumsenso de humor.

O presidente Menem eu comentávamos queos nossos ministros das Finanças precisam rir umpouco mais, porque nós presidentes compomos asnossas diferenças de uma maneira mais alegre. Euimagino que os ministros, não só das finanças, daárea econômica em geral podiam seguir os exemplospresidenciais, porque vão chegar a composiçõesmesmo, então vamos aproveitar e fazê-lo com alegria.

Bom, isso, hoje, já é um dado da nossarelação de cordialidade, de amizade, mas nósestamos dando passos que vão além desserelacionamento de governos. Estamos dando passosimportantes da integração cultural e na atençãocultural a alguns aspectos sociais da integração.

Aqui em Fortaleza, é a primeira vez, eu creio,que se faz um encontro desse tipo no âmbito deMercosul, onde produtores de cultura, intelectuais

dos nossos países tiveram juntos discutindo algo quevale a pena ressaltar, que é a nossa identidade. Nós,temos as nossas identidades nacionais, elas não serãoobscurecidas, mas nós começamos a ter, além delas,e para dar até relevo a elas, uma identidade deMercosul, uma experiência cultural que começa a serintercambiada de forma muito ativa, muito viva. Eisso marca os povos.

A nossa marca Mercosul, hoje, não se refereapenas ao fluxo comercial, aos investimentos quefazemos reciprocamente em nossos países, mas tema ver também, com a nossa sensibilidade, com onosso modo de refletir sobre nós próprios, a buscade fatores culturais que nos aproximam, e aproximammuito, e eu creio que isso se desenvolve, também,com muita força.

Quero também mencionar, nossas palavrasde boas vindas e introdutórias, o aspecto que começaa ser de preocupação crescente nossa, positivamente,que é o fato de que nós estamos começando a lidarcom questões de integração no plano das pessoas,no plano social. A um entendimento que aqui seavançou bastante no que diz respeito a um códigode defesa do consumidor.

No mundo moderno é fundamental que nósprestemos atenção crescente ao consumidor, àdefesa do consumidor, que é da pessoa, que é docidadão. Nós adiantamos a discussão sobre asquestões da previdência social, sobre os direitostrabalhistas. Nós vamos, progressivamente,organizando o marco jurídico. E, no momentooportuno, esse marco estará, com naturalidade,definindo sem que nós precipitemos decisões quepodem ter aspectos mais complexos relativos àsoberania, que não é o caso de nós entrarmos nessasmatérias, nem é necessário, dado o grau decoincidência e convergência dos nossos interesses,mas nós estamos sentido que existe uma acomodaçãocrescente no modo de ver as coisas, nos países doMercosul.

Por fim, eu queria dizer que nós, os 4 paísesaqui reunidos, temos, como todos sabemos, muita

199Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

ação comum. Ainda recentemente, em Cingapura,nós vimos que houve coincidência de pontos de vista,e é muito importante isso. Cingapura, de algumamaneira, é um indicador de que nós precisamos estarcada vez mais juntos, porque se nós não estivermoscada vez mais juntos, outros estarão definindo commais presteza, com mais rapidez, o modo pelo qualo mundo vai se organizar e nós podemos ter,eventualmente prejuízos. E nós não queremos tê-los.E porque não queremos tê-los nós queremos,precisamos, efetivamente, estar cada vez mais agindoem comum. Foi o que fizemos em Cingapura.

Queria também lhes dizer que, nessa ocasiãoeu estou terminando a presidência pro-tempore, nósavançamos bastante no que diz respeito à vigênciada nossa união aduaneira, construída a partir de OuroPreto e nós acrescentamos, agora, com a questãoda Bolívia, além do Chile que já vinha do outrosemestre, nós estamos acrescentando algo muitosignificativo que são esses acordos de área de livrecomércio e ampliando, por conseqüência, o raio deinfluência do Mercosul no nosso âmbito de AméricaLatina.

Tudo isso se faz, só para repetir, mas eugostaria de mencionar, sem que tenhamos comoobjetivo afastarmo-nos da integração hemisférica. Aintegração hemisférica é um compromisso. Ocompromisso assinado e assumido em Miami portodos nós será mantido e nós estamos, nesseprocesso, qualificado de regionalismo aberto,preparando-nos para essa integração de uma maneirasólida e madura.

Finalmente, senhores presidentes, senhoresministros, queria fazer referência a algo que tem umcaráter simbólico: nós acabamos de descerrar uma

placa, onde vimos que havia uma logomarca - nãosabia nem que existia essa expressão em português -a logomarca Mercosul, que aí está exposta. Estesímbolo foi feito a partir de uma concorrênciainternacional, onde houve, não sei, centenas de...1300 candidatos, 1300 propostas. Saiu vencedoraa proposta que é de um artista argentino e, enfim, eucreio que foi muito feliz porque ela faz referência, ésimples.

Mercosul, existe aí o Cruzeiros do Sul,realmente, nos une. É alguma coisa que marca essehemisfério e tem uma grande vantagem: é que oCruzeiro do Sul é uma constelação infinita. Eu dissehá pouco que ele tem geometria viável. Quantos maispaíses entrarem mais estrelas haverá no Mercosul. Abandeira do Brasil já faz certa referência ao Cruzeiro,e que aqui nós fomos criando vários Estados, foipossível também ampliar as estrelas na nossa bandeirasem que isso desorganizasse o desenho e osimbolismo que nele existe. Aqui essas quatro queestão aí e aquela que se destaca mais é por rodízio,depende da presidência pro-tempore.

Daqui a pouco vai ser o Paraguai, aqui nósestamos dentro de um marco de irmandade e, dentrode pouco tempo, vamos ter mais algumas estrelasnessa marca Mercosul. E com essa facilidadeextraordinária do português e espanhol, é só trocaruma letra, o “l” pelo “r” e já se muda de idioma semque ninguém perceba. De modo que eu acho que,realmente, essa logomarca foi muito bem achada esimboliza o nosso espírito de integração.

Ao reiterar as boas vindas, e o faço em nomede todos aqui presentes, àqueles que nos visitam,dou portanto por aberta essa sessão.

201Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Ao concluir o ano de 1996, quero agradecera todos os funcionários que, no exterior, com alembrança da pátria por inspiração - “ubique patriaememor”-, ajudaram a concluir mais uma etapa naconstrução de uma nova relação do Brasil com omundo, sob a condução pessoal do PresidenteFernando Henrique Cardoso.

Creio que 1996 completou um ciclo naredefinição da nossa a partir dos novos dados darealidade brasileira - a estabilização e a aberturaeconômica e comercial sustentadas, a melhoria dopadrão médio de vida dos brasileiros, a ampliaçãodo nosso mercado interno com a incorporação desetores antes marginalizados do consumo básico, ogrande e persistente interesse que o Brasil vemdespertando na comunidade internacional em geral eos agentes econômicos internacionais em particular.

Concluindo o ano com a histórica visita aLuanda, às nossas tropas em Kuito e à África doSul, o Presidente realizou um grande programa devisitas a parceiros-chave do Brasil no mundodesenvolvido e em desenvolvimento. Ao mesmotempo, o País intensificou o recebimento de visitasde retribuição que sinalizam claramente a importânciade que voltou a desfrutar na comunidade internacionale em especial junto a parceiros, como a França eJapão, que haviam diminuído sensivelmente o perfildo seu relacionamento conosco. O Presidente poderáagora, com maior tranqüilidade e embasamento,dedicar-se a alguns temas de interesse nacional no

campo externo, como o meio ambiente, por exemplo,enquanto completará, com algumas visitas, a sua obrade reinserção internacional do Brasil.

Entre as várias realizações em 1996,defendemos sistemática, mas serenamente, os nossosinteresses na organização mundial do comércio, aotempo em que continuamos a dar uma contribuiçãoconstrutiva para o fortalecimento do sistemamultilateral de comércio. Ajudamos a consolidar oMercosul, ampliando-o horizontalmente com aassociação do Chile e recentemente a da Bolívia, everticalmente, iniciando a exploração sistemática dasvertentes da União Aduaneira relacionadas aocomércio, como a defesa do consumidor e osmecanismos de salvaguardas. Nossa contribuição naárea do desarmamento, para citar um exemplo naesfera política multilateral, foi reconhecida pordiversos dos nossos parceiros. A eleição do MinistroFrancisco Rezek para a Corte Internacional de Justiçarepresentou não apenas o coroamento de umacampanha séria e conduzida com profissionalismo portodos os postos e unidades desenvolvidos, mastambém uma prova de que o Brasil é hoje um paíscom trânsito internacional. Na área consular,consolidamos um novo padrão de atendimento aoscidadãos brasileiros no exterior, inclusive através defórmulas imaginativas que se revelaram de grandeoperacionalidade, como os consulados itinerantes eos conselhos de cidadãos.

Todos esses bons resultados, que fazem da

Mensagem de fim-de-ano do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, Brasília, 30de dezembro de 1996

Política Externa

202 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

uma área de grande consenso nacional, só forampossíveis graças ao trabalho, à dedicação e à exaçãocom que os funcionários desta casa, no Brasil e noexterior, cumpriram com suas obrigações. A todos,em nome do Presidente da República e em meupróprio nome, desejo um ano novo pleno defelicidades e de realizações profissionais, ao lado de

suas famílias e amigos. Exorto-os a repetirem em 1997as mostras de dedicação ao serviço público quefizeram em 1996, pois somente assim será possívelmanter a nossa casa forte e respeitada em um Brasilque cada vez mais exige das instituições públicaseficiência, zelo e respeito aos direitos dos cidadãos.

203Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre o Projeto Pro-rendaViabilização de Espaços Econômicos paraPopulações de Baixa Renda da Periferia Urbana dePorto Alegre (26.7.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre o Projeto ServiçoIntegrado de Assessoria para o DesenvolvimentoEconômico-Industrial das Pequenas e MédiasEmpresas do Paraná (26.7.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre o Projeto Controle deDefensivos Agrícolas (26.7.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República do Equadorsobre Isenção parcial de Vistos (30.7.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo do Reino dos Países Baixosrelativo ao Exercício de Atividades Remuneradas porParte de Dependentes do Pessoal Diplomático,Consular, Administrativo e Técnico (31.7.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República da Bolívia paraIsenção de Impostos Relativos à Implementação doProjeto do Gasoduto Brasil-Bolívia (5.8.1996)

Protocolo de Consulta entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República doEquador (10.8.1996)

Acordo, por Troca de Notas, entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo do Japãorelativo a um Empréstimo Japonês Concedido aosEstados de Santa Catarina, Paraná, Bahia e Cearápara Projetos Ambientais (26.8.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo de CooperaçãoCientífica e Técnica para Atividades na Área deBiotecnologia entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaOriental do Uruguai (27.8.1996)

Declaração Conjunta entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaOriental do Uruguai (27.8.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo Básico deCooperação Científica e Técnica nos Campos deMetrologia Científica e Legal e da InformaçãoTecnológica entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaOriental do Uruguai (27.8.1996)

Acordo de Cooperação Científica e Tecnológicaentre o Governo da República Federativa do Brasile o Governo da República da Polônia (5.9.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo Básico deAssistência Técnica de 19 de dezembro de 1964 daONU, entre o Governo da República Federativa doBrasil e a Organização das Nações Unidas para a

ATOS INTERNACIONAIS

204 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, emMatéria de Pesquisa e Desenvolvimento dosEcótonos Brasileiros (6/9/1996)

Acordo de Cooperação no Domínio do Turismo entreo Governo da República Federativa do Brasil e oGoverno da Coréia do Sul (11.9.1996)

Memorando de Entendimento entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daCoréia do Sul para Estabelecer Consultas Políticas(11.9.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da Coréia do Sul sobreConcessão de Vistos para Viagens de Negócios,Investimentos de Cobertura Jornalística (11.9.1996)

Termo de Cooperação Técnica entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e a ComissãoEconômica para a América Latina (12.9.1996)

Acordo Básico de Cooperação Técnica entre oGoverno da República Federativa do Brasil e oGoverno da República Federal da Alemanha(17.9.1996)

Memorando de Entendimento entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública Federal da Alemanha sobre Cooperaçãona Área de Transporte (17.9.1996)

Protocolo de Intenções entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública Federal da Alemanha sobre a Realizaçãode um Projeto Conjunto na Área de Recolhimento,do Tratamento e da Disposição Final de ResíduosUrbanos (17.9.1996)

Memorando de Entendimento entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública da Indonésia para Estabelecer ConsultaBilateral (18.9.1996)

Acordo Comercial entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República daIndonésia (24.9.1996)

Acordo de Cooperação Cultural entre o Governoda República Federativa do Brasil e o Governo daRepública Oriental do Uruguai (16.10.1996)

Acordo, por Troca de Notas, entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública do Paraguai sobre Contrabando de Armas(17.10.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República do Paraguaisobre o Exercício de Atividades Remuneradas porParte de Dependentes do Pessoal Diplomático,Consular, Administrativo e Técnico (23.10.1996)

Declaração Conjunta entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República doParaguai (23.10.1996)

Acordo, por Troca de Notas, de Isenção de Visto,entre o Governo da República Federativa do Brasile o Governo da Coréia do Sul (6.11.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República Popular da Chinasobre a Manutenção do Consulado-Geral na RegiãoAdministrativa Especial de Hong Kong da RepúblicaPopular da China (8.11.1996)

Declaração Conjunta entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaPopular da China relativa às Aplicações Pacíficas daCiência e Tecnologia Espacial (8.11.1996)

Declaração Conjunta entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaPopular da China sobre a Agenda Comum para oDesenvolvimento Sustentável (8.11.1996)

205Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Ajuste Complementar ao Acordo de CooperaçãoTécnica para Implementação do “Projeto Apoio àReforma Administrativa” entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo do ReinoUnido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte(12.11.1996)

Memorando de Entendimento entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública de Cuba sobre Turismo (14.11.1996)

Acordo de Cooperação entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo dosEstados Unidos Mexicanos para o Combate aoNarcotráfico e à Farmacodependência (18.11.1996)

Declaração Conjunta entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre Agenda Comum Brasil-Alemanha para o Meio Ambiente (20.11.1996)

Ajuste Complementar ao Acordo de CooperaçãoEconômica, Científica e Técnica na Área deFormação Profissional entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República deAngola (25.11.1996)

Ata de Cerimônia de entrega da Contribuição doGoverno da República Federativa do Brasil aoPrograma de Reabilitação Nacional do Governo daRepública de Angola (25.11.1996)

Acordo sobre Cooperação e Assistência Mútua entreo Governo da República Federativa do Brasil e oGoverno da República da África do Sul na Área doCombate à Produção e ao Tráfico Ilícito deEntorpecentes e Substâncias Psicotrópicas eAssuntos Correlatos (26.11.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República da África doSul sobre Serviços Aéreos entre seus Territórios eAlém (26.11.1996)

Acordo entre o Governo da República Federativado Brasil e o Governo da República da África doSul sobre Cooperação no Campo da Cultura(26.11.1996)

Acordo, por Troca de Notas, entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública da África do Sul para Dispensa de Vistoem Passaporte Diplomático, Oficial e Comum(26.11.1996)

Memorando de Entendimento entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo doCanadá sobre Consultas e Cooperação em MatériaAmbiental e de Desenvolvimento Sustentável(26.11.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre a Ampliação do Fundopara Estudos Técnicos (“POOL” DE PERITOS)(3.12.1996)

Ajuste Complementar entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da RepúblicaFederal da Alemanha sobre o Projeto “Apoio àEstruturação e Implementação de Sistemas deQualidade na Indústria” (13.12.1996)

Memorando de Intenções entre o Governo daRepública Federativa do Brasil e o Governo daRepública Argentina no Âmbito de Defesa daConcorrência (17.12.1996)

Acordo Básico de Cooperação Técnica, Científicae Tecnológica entre o Governo da RepúblicaFederativa do Brasil e o Governo da República daBolívia (17.12.1996)

207Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Informação à imprensa sobre “fatos sobre aquestão timorense: a posição brasileira” , 15 dejulho de 1996

Fatos Históricos: na seqüência da Revoluçãodos Cravos de 1974, Portugal deixou, em 1975, oterritório oriental da ilha de Timor, sem completar oprocesso de descolonização. À luz da guerra civilque então se deflagrou, o Governo indonésio ocupoumilitarmente a parte oriental da ilha.

O papel das Nações Unidas: a ONUcondenou a invasão e a anexação de Timor Orientalpelo Governo indonésio. A Organização atribuiu aPortugal o encargo de “potência administradora” doterritório.

Nenhum movimento de resistência timorenseé reconhecido como observador junto à AssembléiaGeral das Nações Unidas.

Até 1982 a Assembléia Geral da ONUaprovou Resoluções condenatórias da invasãoindonésia. O Brasil apoiou todas essas Resoluções.Em seguida, a ONU criou um foro próprio para oencaminhamento da vertente política da questãotimorense: o diálogo entre os chanceleres de Portugale da Indonésia, sob os auspícios do Secretário-Geraldas Nações Unidas, complementado por diálogoparalelo intratimorense ( reunindo facções pró-anexação à Indonésia e pró-independência), tambémconvocado sob os auspícios do Secretário-Geral dasNações Unidas.

A vertente de direitos humanos da questãotimorense passou, em 1983, a ser tratado no âmbitoda Comissão de Direitos Humanos das NaçõesUnidas (CDH ), que se reúne em Genebra. O Brasil

apoiou ( e em alguns casos chegou a co-patrocinar )as Resoluções condenatórias do desrespeito dosdireitos humanos da população maubere pelas forçasde ocupação indonésia. Nos últimos 3 anos ( 1994 a1996 ), a CDH não mais votou resoluções, havendoadotado, em seu lugar, consensuais (aprovadas,portanto, por Portugal e pela Indonésia ), sobre asituação dos direitos humanos naquele território.

A posição brasileira: o Brasil dá irrestrito apoioao diálogo entre os Chanceleres de Portugal e daIndonésia realizado sob os auspícios do Secretário-Geral das Nações Unidas, foro privilegiado para quese logre uma solução justa, global einternacionalmente aceita para a questão.

O Brasil atua com firmeza na CDH em defesados direitos humanos da população maubere.

O Governo brasileiro entende que qualquerinterferência de terceiros no processo de diálogo entreos Chanceleres das partes diretamente interessadasna questão poderá afetar adversamente o curso dasnegociações, em prejuízo, em última análise, daprópria população timorense.

Alguns erros comuns de percepção sobre aposição brasileira na questão do Timor Leste:

a) afirma-se que o Governo brasileiro nãotem posição definida sobre tão importante matéria: oque não é verdadeiro, conforme acima exposto. Aocontrário, o Brasil esteve ativo e atuante, nos doisforos das Nações Unidas que trataram do assunto -a Assembléia Geral e a CDH;

b) confundem-se as responsabilidades doBrasil e de Portugal sobre a questão: Portugal, comoex-Metrópole, tem responsabilidade direta em relação

COMUNICADOS, NOTAS,MENSAGENS E INFORMAÇÕES

208 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

ao processo de descolonização de Timor Oriental, epor isso está envolvido no diálogo com a Indonésia sobos auspícios do Secretário-Geral da ONU;

c) parte-se às vezes do pressuposto de queexiste unanimidade entre os timorenses em torno daauto-determinação. Tal não é o caso. Existem duasgrandes linhas - uma pró-indexação à Indonésia,outra pró-autodeterminação que mantêm diálogoperiódico, conforme apontado anteriormente; e

d) atribui-se a interesses econômicos oalegado descaso do Brasil no que diz respeito a TimorOriental. As relações econômicas com a Indonésia,ainda modestas, não interferem na formulação daposição brasileira quanto à questão timorense. Essaposição é orientada pela solidariedade para com apopulação maubere, com a qual o Brasil compartilhaa herança cultural, pelo tratamento que o Governobrasileiro dá às discussões sobre a defesa dos direitoshumanos mauberes realizadas em Genebra e na sólidaposição diplomática brasileira de privilegiar a via denegociação para a solução dos contenciosos entreas nações. No caso timorense, entre duas naçõesamigas e duas facções mauberes.

Informação à imprensa sobre a aprovação dotratado sobre proibição completa de testesnucleares - CTBT, 11 de setembro de 1996

O Governo brasileiro recebeu com grandesatisfação a notícia de que a Assembléia-Geral dasNações Unidas, no dia 10 de setembro, adotou, pelaampla maioria de 158 votos favoráveis, resoluçãopatrocinada por 123 países, inclusive o Brasil, queaprova o Tratado sobre Proibição Completa deTestes Nucleares, conhecido internacionalmente porsuas iniciais em língua inglesa - CTBT.

O Brasil, na figura do Ministro de Estado dasRelações Exteriores, assinará o Tratado na cerimôniasolene que deverá realizar-se em 24 de setembro,na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.

A adoção do CTBT atende a uma antigaaspiração da comunidade internacional e do Brasilem particular à cessação completa de testes nucleares,

que impedirá o desenvolvimento de novos tipos dearmas nucleares.

Nota sobre o relacionamento entre o Brasil eos Estados Unidos na área de combate ao tráficoe uso de drogas, 1º de outubro de 1996

O Governo brasileiro considera que orelacionamento bilateral entre o Brasil e os EstadosUnidos da América na área de combate ao tráfico euso de drogas se tem caracterizado por alto nível decooperação e fluidez.

O Governo brasileiro tomou a decisão de nãorenovar a validade de um memorando deEntendimento anual, que define o valor da assistênciafinanceira fornecida pelo Governo dos EstadosUnidos para execução de programas conjuntos nessaárea, por entender que o montante dessa assistência(710 mil dólares) sinalizaria de forma errônea, aintensidade dos esforços brasileiros na luta contra otráfico e consumo de drogas e a verdadeira dimensãoda cooperação entre os dois países na matéria.

O Governo brasileiro está empenhado emcombater o problema das drogas e delitos conexostanto por meio da cooperação internacional – nosplanos multilateral regional e bilateral – , quanto pormeio de medidas adotadas no plano interno, de quesão exemplos entre outros, a elaboração eimplementação do Programa de Ação Nacional deCombate às Drogas e a preparação, para submissãoao Congresso Nacional de projetos de lei destinadosa tipificar e punir os delitos de lavagem de dinheiro ecoibir o porte de armas.

O Brasil e os Estados Unidos da Américapartilham, portanto, da mesma preocupação com oproblema do uso indevido de drogas e dadeterminação de combatê-lo. O Governo brasileiroentende que a suspensão de um programa de alcancelimitado não afetará a cooperação crescente com osEstados Unidos nesse campo e reitera suadeterminação de dar continuidade aos esforçosbilaterais.

209Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

Nota sobre o regime automotivo brasileiro e osinteresses exportadores norte-americanos1º de outubro de 1996

O Governo brasileiro tomou conhecimentodo comunicado de imprensa pelo qual aRepresentante Comercial dos EUA (USTR ) emexercício Charlene Barshefsky anunciou hoje, 1º deoutubro de 1996, o início de investigações de medidasque estariam efetuando interesses exportadoresnorte-americanos.

O Governo brasileiro esclarece que:(1) o regime automotivo brasileiro, ao contrário do

que consta do comunicado, visa justamente aoincremento da produção, do comércio e dosinvestimentos no setor, e representa um estímuloàs exportações de automóveis e de autopeçasdo EUA para o Brasil;

(2) o regime automotivo não tem qualquer impactodiscriminatório sobre as exportações norte-americanas;

(3) tomou nota da disposição norte-americana derealizar conversações a respeito do tema e sepronunciará a respeito tão logo lhe sejaencaminhada solicitação nesse sentido;

(4) estará pronto a examinar, como foi o caso dasconsultas realizadas com outros parceiroscomerciais sobre o assunto, efeitos que o regimepossa estar tendo sobre o comércio bilateral.

Comunicado conjunto Brasil-Chade, 8 deoutubro de 1996

O Governo da República Federativa do Brasile o Governo da República do Chade, desejandodesenvolver ainda mais as relações amistosasexistentes entre os dois países e promover acooperação nas áreas de interesse comum, decidiramestabelecer relações diplomáticas.

Os dois Governos acordaram desenvolversuas relações com base no respeito mútuo da

soberania e da integridade territorial, de não-agressãoe coexistência pacífica, a fim de manter a paz no seloda Comunidade Internacional, de acordo com osobjetivos e princípios da Carta das Nações Unidase as disposições das Convenções de Viena sobrerelações diplomáticas e relações consulares.

O Governo da República Federativa do Brasile o Governo da República Federativa do Chadeacordaram trocar Embaixadores (residentes ou não-residentes).

Nova York, 8 de outubro de 1996

Comunicado conjunto Brasil-Djibouti, 22 deoutubro de 1996

O Governo da República Federativa do Brasile o Governo da República do Djibouti com o desejode desenvolver as relações amigáveis que existementre os dois países e de promover a cooperaçãonas áreas de interesse comum, decidiram estabelecerrelações diplomáticas.

Os dois Governos acordaram desenvolversuas relações com base no respeito mútuo a suassoberania e integridade territorial, à não-agressão eà coexistência pacífica, a fim de manter a paz no seioda Comunidade internacional, conforme os objetivose princípios da Carta das Nações Unidas e asdisposições da Convenção de Viena sobre relaçõesdiplomáticas e consulares.

Nova Iorque, 22 de outubro de 1996

Assinaram, pelo Governo da RepúblicaFederativa do Brasil, o Embaixador Celso Amorim,Representante Permanente junto à ONU, e, peloGoverno da República do Djibouti, o EmbaixadorRoble Olhaye, Representante Permanente junto àONU.

UNESCO - cerimônia comemorativa do 50ºaniversário da organização, 4 de novembro de1996

Será realizada no dia 04 de novembro de1996, às 12:00 horas, no Palácio do Itamaraty,

210 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

cerimônia comemorativa do 50º aniversário daOrganização das Nações Unidas para a Educação,a Ciência e a Cultura - UNESCO - que será presididapelo Ministro de Estado das Relações Exteriores econtará com a presença do Ministro da Educação.

O Ato Constitutivo da UNESCO foi assinadoem 16 de novembro de 1945, por 37 países, e entrouem vigor com a vigésima ratificação, em 04 denovembro de 1946.O objetivo principal daOrganização foi então definido como: “contribuir paraa manutenção da paz e da segurança ao promover acolaboração entre as nações por meio da educação,da ciência e da cultura, a fim de assegurar o respeitouniversal à justiça, à lei, aos direitos do homem e àsliberdades fundamentais a todos, sem distinção deraça, sexo, língua ou de religião, de acordo com aCarta das Nações Unidas”.

Como membro fundador, o Brasil tem atuadoincisivamente na UNESCO em defesa de uma entidadesensível aos seus ideais históricos, comprometida como desenvolvimento de seus Estados-Membros epromotora da paz mundial justa e solidária. Nessaperspectiva, a atuação do Brasil tem sido determinantenos principais órgãos constitutivos da UNESCO, quaissejam: a Conferência-Geral, o Conselho Executivo e oSecretariado.

A UNESCO tem gradualmente investido, poriniciativa do Brasil, na vertente cultural da integraçãolatino-americana. Exemplo disto é a aprovação, peloConselho Executivo, de projetos como os da“Comunidade Latino-Americana e Caribenha”, do“Centro de Pensamento Crítico” e das “CapitaisCulturais Rotativas”. Ainda na vertente cultural, oGoverno brasileiro tem defendido, com sucesso, ouso do Português como língua de trabalho das NaçõesUnidas dentro da UNESCO, liderando a comunidadede países lusófonos.

O cinqüentenário da UNESCO constituioportunidade para a redefinição de seu papel noâmbito do sistema das Nações Unidas, a partir dareinterpretação de conceitos clássicos comosegurança, paz, democracia e direitos humanos.

Notas sobre a eleição do Ministro FranciscoRezek para a Corte Internacional de Justiça,do Embaixador Baena Soares para a Comissãode Direito Internacional e do EmbaixadorÁlvaro Alencar para o Comitê de Contribuiçõesdas Nações Unidas, 6 de novembro de 1996

Na data de hoje, 6 de novembro, durante a51ª Assembléia Geral das Nações Unidas, foramrealizadas eleições para renovar cinco dos quinzeassentos da Corte Internacional de Justiça. Naocasião, para cumprir mandato de nove anos, forameleitos os seguintes candidatos:- Ministro Francisco Rezek, do Brasil, com 97 votosna Assembléia Geral e 8 votos no Conselho deSegurança;- Juiz Stephen Schwebel, dos Estados Unidos;-Senhor Vladen Vereschetin, da Rússia;- Senhor Pieter Kooijmans, dos Países Baixos;- Senhor Mohammed Bedjaoui, da Argélia.

O Ministro Francisco Rezek será o quartorepresentante brasileiro a ocupar um assento na CorteInternacional de Justiça, tendo sido precedido porJosé Philadelpho de Barros Azevedo (eleito em1946), Levi Fernandes Carneiro (nomeado em 1951,para cumprir o restante do mandato de Barros deAzevedo, que faleceu no exercício do cargo) e oEmbaixador José Sette Câmara (eleito em 1978).

Nota sobre assinatura do tratado sobrecumprimento de pena no país de origem entreBrasil e Espanha, 7 de novembro de 1996

0 tratado sobre cumprimento de pena no paísde origem, denominado Tratado sobre Transferênciade Presos, entre o Brasil e a Espanha, a ser assinadono dia 7 de novembro às 17:15 horas na Sala dosTratados do Itamaraty, foi rubricado em Madri, em30 de junho de 1992. Tratados dessa natureza sãocada vez mais freqüentes entre os Estados e decorremde razões de ordem humanitária, fundadas naevolução do Direito Penal contemporâneo.

Tais acordos, contudo, têm cláusulas desalvaguardas, que conferem ao Estado remetente a

211Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

exclusividade da iniciativa de transferir presos, bemcomo exige a exiqüibilidade de cumprimento, noEstado recebedor, da pena imposta no Estadoremetente. Deve-se ressaltar que não haveráimpunidade do condenado em nenhum caso.

As situações são consideradas caso a caso ea transferência só é efetuada se o Estado remetentea aprovar, não sendo nunca automática, o queresguarda plenamente o direito soberano do Estadode autorizar ou não a transferência.

Esta se faz desde que a pena seja exeqüívelno Estado recebedor e como tal considerada peloEstado remetente.

Deve-se ressaltar, ademais, que o Tratado,além de definir especificamente procedimentos eregras para a transferência de presos, estabelececlaramente os direitos e obrigações das partes,respeitando-se integramente as respectivaslegislações internas. No que se refere às razões deordem humanitária que estão na base dodesenvolvimento deste tipo de acordos, deve-sesublinhar que a transferência do prisioneiro para seupaís de origem, além da proximidade da família, queconstitui apreciável suporte psicológico e emocional,facilita a reabilitação social após o cumprimento dapena, um dos principais objetivos dos sistemaspenitenciários.

Há atualmente cerca de 70 presos brasileirosna Espanha e cerca de 40 espanhóis cumprindo penano Brasil, os quais poderão vir a ser beneficiários doTratado.

Nota sobre reféns na Embaixada do Japão emLima, 18 de dezembro de 1996

Na noite de ontem, integrantes do chamado“Movimento Revolucionário Tupac Amaru”(MRTA) invadiram a Embaixada do Japão em Limae tomaram como reféns todas as pessoas que aí seencontravam por motivo de uma recepção oficial.Dentre essas está o Embaixador do Brasil no Peru,Carlos Luiz Coutinho Perez, juntamente com oChanceler do Peru, Francisco Tudela, e outras altas

autoridades do Governo peruano, bem comorepresentantes diplomáticos de outros países.

O Governo brasileiro deplora profundamenteo ocorrido e manifesta sua solidariedade com oGoverno do Peru e com os reféns e suas famílias, emespecial o Embaixador Coutinho Perez que, segundoas informações recebidas, se encontra bem de saúde.

O Governo brasileiro recebeu do Governoperuano as garantias de que sua ação tem comoobjetivo assegurar a integridade física dos reféns econfia plenamente nas medidas que venha a adotarnesse sentido.

O Itamaraty está acompanhandopermanentemente a evolução do assunto e estáenviando ainda hoje a Lima o Embaixador AdolphoBenevides, que estará em ligação com as autoridadesperuanas.

Mensagem do Presidente da República,Fernando Henrique Cardoso, ao Presidente doPeru, Alberto Fujimori, sobre a ocupaçãoterrorista da Embaixada do Japão em Lima, 20de dezembro de 1996

Senhor Presidente,Desejo expressar, em nome do Governo e

do povo brasileiros, o meu repúdio à violênciaocorrida na Embaixada do Japão em Lima.

Recebam Vossa Excelência e o povo peruanoa solidariedade brasileira, neste momento em quenossos pensamentos estão voltados para os reféns esuas famílias. A presença entre os detidos doEmbaixador Carlos Luiz Coutinho Perez reforça onosso sentimento de dor e de expectativa.

O Governo brasileiro está pronto a prestar acooperação que se fizer necessária para alcançar asolução que todos desejamos. Nesse intuito, envieio Embaixador Adolpho Benevides a Lima paraassegurar toda a agilidade na coordenação entrenossos Governos.

Confio plenamente em que o Governo deVossa Excelência está tomando as medidaspertinentes para garantir a integridade física e a

212 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

libertação dos reféns.Reitero a Vossa Excelência minha mais

profunda convicção de que será possível fazerprevalecer a serenidade e a razão no encaminhamentofavorável desse ato de violência que atenta contra adignidade humana e os princípios mais elementaresda convivência social.

Cordialmente,

Fernando Henrique CardosoPresidente da República Federativa do Brasil

Ao Excelentíssimo SenhorAlberto Fujimori

Presidente da República do Peru

213Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

”Mercosul-Chile, um acordo de qualidade”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado na “Gazeta Mercantil”, Rio DeJaneiro, 12 de julho de 1996

Os Presidentes dos países-membros doMercosul e do Chile assinaram, em 25 de junhoúltimo, durante a reunião presidencial de San Luis,na Argentina, um acordo de complementaçãoeconômica que criará uma área de livre comércioentre os cinco países em um prazo de oito anos. Alémde sinalizar uma clara opção chilena pelo projeto deregionalismo aberto que o Mercosul estápromovendo na América do Sul, o acordo, que entraem vigor em outubro próximo para o primeiro grandeconjunto de concessões tarifárias recíprocas, temcomo grande efeito político e econômico a virtualassociação do Chile ao Mercosul. Nessa qualidadede parceiro privilegiado, o Chile, mesmo não sendoparte do Tratado de Assunção, ajudará a prosseguirna tarefa de construção dessa obra de engenhariadiplomática e econômica que é o Mercosul. O Brasilseguirá essa orientação no exercício da Presidênciapro-tempore do Mercosul neste segundo semestrede 1996.

De fato, o Chile traz, no seu convívio maispróximo com o Mercosul, uma parceria de grandequalidade, não apenas por ser, dos cinco, o país commais longa experiência na estabilização e aberturacompetitiva da economia, mas pela própria naturezado aporte que traz aos fluxos de comércio einvestimentos no Cone Sul do nosso Continente.Com uma economia bastante diversificada, ummercado relativamente sofisticado de 14 milhões deconsumidores, acesso privilegiado aos mercados da

região do Pacífico e excedentes de poupança internaque podem rapidamente transformar-se emsubstanciais investimentos produtivos nos países doMercosul, o Chile passa a constituir uma importanteextensão do espaço econômico hoje formado pelaArgentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

O processo de negociação que culminou como acordo de associação do Chile foi longo ecomplexo, como convinha. Afinal, era fundamentalque sinalizássemos para os nossos mercados e parao mercado internacional em geral que não estávamosempenhados em um gesto unicamente político,destituído de conseqüências econômicas e comerciais,ou, o que seria pior, em um lance apenas retórico. Acomplexidade da negociação era função direta dacomplexidade dos interesses concretos envolvidos e daamplitude das pautas comerciais a serem cobertas epotencializadas pelo Acordo. Não nos impusemosprazos fatais, nem nos valemos de artificialismos parachegar ao Acordo final, que amadureceu e ficou prontoem função da sua própria lógica.

A partir de outubro, o comércio Mercosul-Chile terá uma tarifa média de 6% sobre a maioriados produtos, a qual será reduzida gradualmente azero em oito anos. O acordo com o Chile tem todasas características de uma obra destinada a dar certo.Parte de um interesse recíproco no mais pleno sentidoda expressão. Deve ampliar e diversificar nos doissentidos o comércio de cada um dos países doMercosul com o Chile - um comércio que já vinhaganhando uma expressão notável, tendo mais quedobrado no período de 1991(770 milhões de dólares)a 1995 (1,8 bilhões de dólares). Amplia para 220milhões de consumidores potenciais o mercado atualdo Mercosul, reforçando portanto a escala e a

ARTIGOS

214 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

dimensão das economias que o conformam, aomesmo tempo em que dá ao Chile um acessoampliado a esse mercado, em condições maisfavoráveis do que aquelas de que desfrutava antes.Acrescenta ao Mercosul um parceiro que temreconhecida credibilidade e confiabilidade nomercado internacional, ao mesmo tempo em que dáa esse parceiro um acesso facilitado às inúmerasoportunidades de investimentos geradas nos quatropaíses que integram a União Aduaneira tanto pelaintegração em si quanto pelas políticas deestabilização, abertura e crescimento econômico emconsolidação nesses países e sinaliza claramente quea tese do regionalismo aberto é uma realidadedinâmica no Mercosul, à qual o Chile se incorpora.Juntos, os quatro membros do Mercosul se preparampara prosseguir na busca de outros sócios, a começarpela Bolívia, seguindo-se a Venezuela — ambosreforçando a noção de que o Mercosul tem umavocação plenamente sul-americana.

O Brasil assume assim a Presidência pro-tempore do Mercosul sob um signo especialmentepositivo, o que é bom, se pensarmos na dimensão ena importância da pauta que temos pela frente, tantona agenda externa do Mercosul quanto na sua agendainterna. A Presidência brasileira será movimentada eintensa, e se desenvolverá sob a atenção crescenteque o Mercosul vem despertando dentro e fora danossa região. Na agenda externa, figuramprincipalmente a conclusão do processo deassociação da Bolívia, o início das tratativas com aVenezuela, a multilateralização do patrimônio históriconegociado entre cada um dos quatro países doMercosul com os países membros da ALADI, acontinuação das negociações para a conformaçãoda Área de Livre Comércio das Américas (o Brasilsediará a próxima reunião ministerial do processonegociador, em Belo Horizonte, em maio de 1997),o prosseguimento das negociações com a UniãoEuropéia para dar início ao processo esboçado peloAcordo-Quadro de Cooperação assinado em Madri,em dezembro de 1995, e a coordenação dos países

do Mercosul no âmbito do sistema multilateral decomércio regido pela Organização Mundial doComércio. Na agenda interna, é prioridade agoradotar o Mercosul de mecanismos de defesa contrapráticas desleais de comércio, de um acordo desalvaguardas, de um código de defesa do consumidore de um protocolo sobre a defesa da concorrênciadentro do bloco.

A associação do Chile ao Mercosul e acontribuição que a participação chilena começa a nostrazer serão importantes para ajudar-nos a avançarnessa agenda, para assegurar uma boa gestãobrasileira na Presidência pro-tempore e para garantiro sucesso da reunião presidencial de Fortaleza, nofim do ano.

“Brasil e Portugal na Comunidade”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado no Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,17 de julho de 1996

No dia 17 de julho, o Brasil e Portugal unem-se aos países africanos de expressão portuguesa paraformar a Comunidade dos Países de LínguaPortuguesa, a CPLP. Além da dimensão decooperação política e econômica transcontinental, aComunidade representa também mais um importanteelo de ligação entre o Brasil e Portugal, mais umaparceira brasileiro-portuguesa que responde àscaracterísticas do mundo pós-Guerra Fria e àexigência de novos tipos de coalizõespolíticodiplomáticas.

A reafirmação do traço moderno da ligaçãoentre Portugal e Brasil é o sentido a extrair-se dolançamento da CPLP, juntamente com nossos amigosafricanos. É preciso mostrar as relações Brasil-Portugal sob o prisma da modernidade dos doispaíses, da sua participação ativa nos respectivosentornos regionais, a União Européia e o Mercosul,e no lançamento da CPLP, uma empresa voltada paraa projeção política e diplomática dos elos históricose culturais entre os sete países de língua portuguesa.

215Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

O Brasil nasceu de Portugal na maisimportante transição da História do mundo moderno,a Era dos Descobrimentos. Camões traduziu n’OsLusíadas a gênese puramente lusitana dessa transição.O Brasil e Os Lusíadas são a criação de um mesmoespírito nacional. Pela ação de Portugal, rapidamenteformamos um mundo criado à sua imagem esemelhança, mas marcado por traços depersonalidade próprios. Fomos co-participantes deuma História comum construída ao longo de trezentosanos de regime colonial. Nossa independência foiparticular, em contraste com a porção hispânica daAmérica, que rompeu abruptamente os laços com aantiga metrópole e dividiu-se, por força doslocalismos, em diversos países.

De Portugal herdamos também, além delíngua, História e cultura comuns, três patrimôniosfundamentais: a mestiçagem , que no Brasil gerou umasociedade aberta e universal, em que convivem emharmonia, junto à base luso-afro-brasileira, culturasvindas de todo o mundo; a unidade territorial, produto,em grande medida, da capacidade aglutinadora daadministração colonial portuguesa; e o patrimôniodiplomático de fronteiras praticamente definidas,ainda durante a colônia, pela habilidade, sensibilidadee sabedoria da diplomacia portuguesa, que teve emAlexandre de Gusmão um profissional que inspirariae iluminaria a diplomacia do Brasil independente.

É comum que as referências às relações entreo Brasil e Portugal privilegiem a dimensão história,ontológica e cultural. Com isso, o relacionamentoentre os dois países tende a ser classificado comoespecial, homologando assim os aspectos afetivos,humanos – familiares, mesmo – da convivência entreos portugueses e brasileiros. Criam-se vínculosprofundos: a identidade que nos une e o fato de queBrasil, ao longo de toda a sua vida como colônia e comonação independente, recebeu, em sucessivas levas,grandes contingentes de imigrantes portugueses que,plenamente adaptadas, deram continuada e expressivacontribuição ao desenvolvimento do nosso país.

O velho Tratado de 1953 formalizaria o

conceito de relação especial entre os dois países,ao dar um arcabouço jurídico-diplomático à amizadeluso-brasileira. Mas a própria evolução do Brasil ede Portugal iria alterando o perfil das relaçõesbilaterais. Hoje, podemos falar de algo mais do queuma relação especial, que poderia esgotar-se naprópria utilização do conceito. Porque o Brasil ePortugal de hoje pouco têm em comum com o queeram nas décadas de 50 e 60 – as décadas-síntesedas relações especiais. A profunda transformaçãoeconômica de Portugal, somando-se àdemocratização, acabaria por levar o país à suaintegração plena na União Européia alcançando umanova projeção internacional e um novo e formidávelpatamar no seu desenvolvimento econômico, sociale político.

Portugal passaria a ser um exemplo depujança econômica da orla mediterrânea da Europa.

Também o Brasil mudou muito dos anos 60para cá, e muito particularmente nos últimos doisanos, com o Plano Real. Crescemos a um ritmo semprecedentes, com um desenvolvimento econômicoque hoje nos coloca na condição de nona economiado mundo. Em termos de produto, de capacidadeindustrial e tecnológica, de comércio internacional,de vínculos com a economia mundial, de atrativospara os investimentos internacionais, pouco temoshoje em comum com a nação agrária, exportadorade produtos primários e majoritariamente rural quefomos até o início dos anos 60.

“Política Comercial: os pingos nos is”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado na Gazeta Mercantil, Rio de Janeiro,18 de julho de 1996

Engana-se quem, em uma análise maisapressada das medidas restritivas impostas àimportação de alguns produtos, pensa que o Brasilestaria desrespeitando compromissos assumidos nosacordos da Organização Mundial de Comércio(OMC) e no Mercosul ou tomando um caminho

216 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

diverso da política de abertura competitiva do seucomércio externo. Engana-se também quem,convencido da necessidade de expor a indústrianacional à competição internacional, não leva emconta as dificuldades de ajuste estrutural e as ameaçasao equilíbrio das contas externas e logo rotula ogoverno de protecionista e usuário reincidente deinstrumentos típicos da exaurida “substituição deimportações”.

É preciso ficar claro, em primeiro lugar, quenão interessa ao Brasil - e portanto ao governobrasileiro - retroceder no processo de liberalizaçãocomercial e integração econômica regional, que seconsolida como uma clara opção da sociedadebrasileira. Esse processo tem contribuído para odesenvolvimento econômico do País, para a suaintegração competitiva na economia internacional e,convém não esquecer, para a estabilização da nossaeconomia. Afastar-se dessa rota poria em riscoobjetivos básicos do Plano Real, criaria oupreservaria bolsões de ineficiência em setores daprodução doméstica e submeteria o País a queixas elitígios bilateriais ou multilaterais que, na melhor dashipóteses, desgastariam o capital diplomáticoacumulado nos últimos anos pelo Brasil e, na hipótesemenos favorável, poderiam até resultar na exigêncialegal de compensações por prejuízos comerciaiscausados a nossos parceiros ou na aplicação demedidas retaliatórias na forma da suspensão ouretirada de concessões de valor equivalente.

A proteção injustificada é deletéria em todosos sentidos. Mas a proteção condicional, a aplicaçãode remédios contra práticas desleais de comércio(subsídios proibidos e “dumping”) e o uso de medidasemergenciais para contra-arrestar o dano resultantede um aumento súbito e substancial de importaçõesem setores específicos são recursos legítimos,amparados nos acordos assinados em Marrakesh e,o que é mais importante, necessários em umaconjuntura de transição como a da economiabrasileira.

Na verdade, o governo, ao verificar uma

concorrência predatória em determinado setor, tomaas providências cabíveis para restabelecer ascondições normais de mercado. Se não agisse assim,estaria não apenas favorecendo o desmoronamentode setores produtivos, mas inviabilizado uma políticasustentada de abertura competitiva. Nesta etapa deimplantação dos compromissos da Rodada Uruguai,em que não têm sido poucos ou triviais os esforçospara honrar os pactos subscritos, países como oBrasil vêm procurando demonstrar a seus parceiroscomerciais que o êxito sustentado da aberturadepende: 1) de uma atitude firme em relação àquelesque desrespeitam as regras do jogo para ingressarno nosso mercado; 2) da obediência ao cronogramade reduções tarifárias negociado na Rodada doUruguai; e 3) do exercício de autocontenção naapresentação de propostas tendentes asobrecarregar a agenda da OMC, criando tensõesindesejáveis para o sistema multilateral de comércioe introduzindo obrigações novas ainda mais onerosaspara os países em desenvolvimento.

Mas convém também exercer o máximo rigorna avaliação dos casos e das situações invocadaspara proteção temporária, conforme os dispositivosmultilateralmente acordados. Simples erros deprocedimentos na aplicação de sobretaxas ourestrições quantitativas podem resultar emrecomendações mandatórias para revogação dasmedidas impostas, mesmo que sejam demonstradasa existência de prática acionável e sua relação causualcom o prejuízo sofrido.

Do ponto de vista de um Brasil que pode serainda mais competitivo e parelhado para usufruir dosbenefícios alcançados na RodadaUruguai, é essencialcontar com regras e disciplinas multilaterais rígidas eestáveis, que protejam economias pequenas e médiascontra abusos previstos em legislações comerciais enacionais e contra ações unilaterais e discriminatórias.É preciso também - e essa é uma prioridade absoluta- contar com um sistema nacional eficiente paracombater práticas desleais de comércio, um desafioque não é só de governo, mas também do setor

217Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

produtivo.Respeito à OMC e defesa legítima da

concorrência e dos interesses comerciais não secontradizem e devem, na verdade, apoiar-semutuamente. O Itamaraty é enfático na defesa daabertura competitiva da economia brasileira - poroposição ao que seria uma abertura indiscriminada eirresponsável -, porque está consciente da suaimportância para o desenvolvimento brasileiro e paraa melhor inserção do Brasil em sua região e no mundo.O Ministério das Relações Exteriores tem agido paraa preservação e o uso do capital diplomático queessa política nos tem dado e vem insistindo em queas medidas tópicas que buscam aperfeiçoar a políticade abertura competitiva não devem e não podem serentendidas como sinalização de uma indesejável voltaao passado. Ponham-se, pois , os pingos nos “is”.

“O Brasil e a Armênia”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado no Jornal de Brasília, Brasília, 6 deagosto de 1996

O Brasil que recebeu este ano o patriarcasupremo da Igreja Apostólica Armênia é um paísorgulhoso de sua diversidade étnica e da contribuiçãoque muitos povos e culturas trouxeram ao seudesenvolvimento material e espiritual. Por isso, foipara nós uma grande satisfação receber em BrasíliaSS. Karekin I para, através da mais alta distinçãohonorífica do Brasil - a Grã-Cruz da Ordem doCruzeiro do Sul - fazer-lhe uma homenagem de todoo povo brasileiro. A presença de S. Santidade emterras brasileiras teve importante significado não sópara a comunidade brasileira de origem armênia, mastambém para todo o povo do maior país católico domundo.

Alma da primeira nação a ser cristianizadapelos santos apostólicos Bartolomeu e Tadeu, aIgreja Apostólica Armênia traduz o sentimento cristãodo povo armênio, que se refletiu em outras partes domundo antigo e contribuiu para a consolidação da fé

cristã no Ocidente.Após muitos séculos como um farol da fé

cristã na Ásia Menor, a Igreja Apostólica Armêniacontinua sendo um dos bastiões do cristianismo.Manteve sua crença e unidade nas condições maisadversas através dos séculos e por isso merece o respeitoe a admiração de todos os cristãos do mundo.

A trajetória do povo armênio é indissociávelda Igreja Apostólica Armênia. De sua espiritualidadea nação armênia retirou a força para sobrevivermesmo quando compelida, em diversos momentosda História a abandonar a terra de seus antepassadose a buscar refúgio em outras paragens.

No processo de fixação dos armênios daDiáspora no Brasil e em outros países a IgrejaApostólica Armênia teve um papel central. Comoimigrantes distanciados da pátria, os armêniosencontravam na Igreja um traço de identidade, umsustentáculo moral para a manutenção de sua cultura,sua língua e sua fé. Uma razão, enfim, para lutar eprosseguir.

Desde o fim do século passado, o Brasilacolheu imigrantes armênios, que hoje formam umacomunidade laboriosa, que em muito tem contribuídopara o desempenho material e espiritual do nossopaís, onde se integrou em harmonia e com plena eperfeita participação em todos os setores da vidanacional, na esfera privada e no Governo, inclusivena diplomacia.

O espírito empreendedor, corajoso e tenazdos armênios aqui radicados, faz com que acomunidade de origem armênia tenha participaçãoativa na construção de um Brasil democrático epróspero, que seja respeitada e admirada. Mas acomunidade de origem armênia é também solidamenteapegada aos valores da milenar civilização armênia.

Por esse apego, por essa força interior quevem da identidade cultural e da fé, a comunidadearmênia tem dado uma contribuição relevante para avida brasileira, que ajuda a projetar-se como culturaaberta e universal, de convivência e pluralismo.

Em dezembro de 1991, o Governo brasileiro

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reconheceu, com grande satisfação, a independênciada República da Armênia e com ela relaçõesdiplomáticas poucos meses depois. Desde então,tivemos o prazer de contar com a participação doPresidente Levon Ter Petrossian na Conferência dasNações Unidas sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992, e dereceber a visita particular do Vice-Presidente GaguikArutiunian, em 1993, marcos importantes norelacionamento entre o Brasil e a Armênia.

Nesse processo de aproximação entre oBrasil e a Armênia, a Igreja Apostólica Armênia temtido uma importante participação, até mesmo porqueela constitui um elo de ligação espiritual entre os doispaíses e entre a comunidade armênia no Brasil e opovo armênio. O próprio Ministro Antonio Kandir,que representa a comunidade no mais alto escalãodo Governo, esteve na Armênia, na qualidade deenviado especial do Governo brasileiro para a entregada Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul a S.S.Vazken I, predecessor de Karekin I como Catholicósde todos os armênios. S.S. Karekin I será o portadorda mensagem de amizade e admiração do povobrasileiro pelo armênio e da firme vontade políticado Governo brasileiro de estreitar, cada vez mais,seus laços de amizade e cooperação com a Armênia.Guardaremos de sua visita ao Brasil uma lembrançaafetuosa e respeitosa - um marco simbólico daamizade brasileiro-armênia.

Em reconhecimento de todos os brasileiros àsua missão em prol do aprofundamento da amizadeentre o Brasil e a Armênia, como demonstração doprofundo respeito pela fé apostólica armênia e comouma homenagem ao povo armênio e à comunidadearmênia no Brasil, o Presidente da República houvepor bem outorgar-lhe a Grã-Cruz da Ordem doCruzeiro do Sul. É uma honra para mim impor-lheessas insígnias como homenagem sincera e um tributode admiração e respeito dos brasileiros pelo povo epela sua Igreja.

“Brasil - Chile, Una amistad sin límites”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado no Jornal “El Mercurio”, Santiago,11 de agosto de 1996

Amanezco hoy en Santiago para la primerareunión de cancilleres de Brasil y Chile bajo el nuevosistema ampliado de coordinación y consulta creadoen la visita del Presidente Frei a Brasil, en marzoúltimo. El canciller Insulza y yo estamos poniendo enmarcha un mecanismo de diálogo de alto nivel quehomologa, en el plano político, el estatuto de lasrelaciones bilaterales generado por el intercambio devisitas presidenciales y la ascciación de Chile alMercosur.

Además de conmemorar, con sobradasrazones, la prioridad presidencial que esas relacioneshan asumido con la amistad personal entre losPresidentes Frei y Fernando Henrique Cardoso, yde celebrar el paso histórico que han dado Chile y elMercosur en San Luís, Argentina, se trata aqui dediscutir, en lo concreto, una amplia agenda brasileño-chilena.

Esa agenda da la medida exacta de laimportancia creciente que las relaciones vienenadquiriendo para ambos países, porque ya sedesdobla en cuatro grandes dimensiones: la bilateral,centrada en aspectos económicos, pero también conalgunos temas políticos; la subregional, en función dela participación chilena en el Mercosur y del aportede calidad que trae Chile a un proceso que sigueganando intensidad económica y diplomática; lahemisférica, en función tanto del proceso denegociación de lo que será el Área de Libre Comerciode las Américas cuanto de los demás aspectos delseguimiento de la Cumbre de Miami, además de lostemas de la agenda interamericana y latinoamericana(la Conferencia Iberoamericana, cuya cumbre secelebrará en Chile este año, el Grupo de Rio, nuestrorol como garantes del Protocolo de Rio de Janeiroentre Perú y Ecuador, etc.); y finalmente,internacional, porque tenemos intereses comunes

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tanto en el âmbito político (Naciones Unidas, porejemplo), como económico (la Organización Mundialde Comercio, por ejemplo).

Caracterizadas desde hace muchas décadascomo una amistad sin límites, porque somos, portodo y en todo, vecinos sudamericanos que tan sólono comparten fronteras comunes, esas relaciones hanasumido un nuevo grado de interés a partir de losavances que Brasil ha hecho en materia deestabilización y apertura competitiva de su economía.El descompás que se habia verificado entre Chile yBrasil en lo económico — porque en lo político lademocracia hace tiempo es un elemento decisivo deidentidad — se ha superado, dejando en su lugar unconsiderable conjunto de oportunidades comercialesy de inversión que se están aprovechando en ritmocreciente.

Esa amistad sin limites, por lo tanto, ha ganadoun acrécimo de substancia económica que esfundamental en el mundo de hoy. El crecimiento delas relaciones comerciales entre Chile y Brasil es laexpresión concreta de ese nuevo interés y habla porsí solo. Las exportaciones brasileñas hacia Chile hancrecido de 999 millones de dólares en 1994 a 1.210millones en 1995; ya alcanzaron 254 millones en elprimer trimestre de este año. Las exportacioneschilenas hacia Brasil han crecido de 593 millones dedólares en 1994 a 1.106 millones en 1995; en elprimer trimesatre de este año ya alcanzaron 227millones. Hoy día Brasil es el tercer socio chileno,con el 6% del comercio exterior de Chile.

El acuerdo entre Chile y el Mercosur tendráseguramente un efecto multiplicador sobre esacorriente de comercio y, muy especialmente, sobreel flujo de inversiones. Brasil presenta hoyoportunidades ampliadas para inversiones por tresrazones fundamentales: primero, la dimensión delmercado consumidor del Mercosur, de 200 millonesde habitantes, a los cuáles se suman ahora los catorcemillones de chilenos; la apertura económica yfinanciera; y la estabilización, cuyo efecto inmediatoha sido el de ampliar el poder adquisitivo de un sector

importante de la población brasileña y por ende deampliar el poder de consumo del mercado brasileñocomo un todo. La capacidad inversora chilena — unfenómeno nuevo en América Latina se puede dirigircon tranquilidad hacia Brasil porque las oportunidadesy garantías son reales. Se estará de esa formaconsolidando una tendencia que ya se vienemanifestando, incluso con la presencia de inversionesbrasileñas en Chile, donde un número significativode empresas viene contribuyendo al desarrollo delpaís y al crecimiento de las relaciones bilaterales.

También en el âmbito del Mercosur, conconsecuencias importantes en las negociaciones sobrela integración hemisférica, el acuerdo con Chile va ahacer una diferencia. Chile ofrece una ampliaexperiencia de apertura competitiva, de estabilizacióny ajuste económico y de recepción de inversionesextranjeras, además de traer la dimensión delPacífico. El Mercosur ha ganado substancia y fuerzadiplomática con el aporte chileno.

Por todo ello, nunca antes el concepto deamistad sin límites ha tenido más substancia ni hasido más preciso para caracterizar las relaciones entreBrasil y Chile. Estamos construyendo una relaciónde calidad, anclada en intereses muy concretos, en cifrasexpresivas y, gracias a los pasos concretos que estamosdando, con un potencial efectivamente sin límites.

“Uma contribuição de qualidade”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,para a publicação “Sessenta anos de Brasileira(1930-1990)”editada pela Universidade de SãoPaulo. São Paulo, setembro de 1996

O leitor tem nas mãos o resultado de umgrande esforço conjunto da área acadêmica e doserviço exterior brasileiro para preencher uma lacunanos estudos sobre a história diplomática mais recentedo nosso país, a partir dos anos 30.

Por razões que não caberia analisar aqui, ahistória diplomática brasileira não tem podido contarcom manuais ou estudos abrangentes que cubram,

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fatual ou analiticamente, o período da diplomaciabrasileira que acertadamente tem sido chamado de“diplomacia do desenvolvimento”, em contraste coma diplomacia da afirmação da independência, doperíodo do império, e com a diplomacia da afirmaçãoterritorial, de que o Barão do Rio Branco foi oexpoente máximo.

Tanto Delgado de Carvalho, quanto HélioViana e José Honório Rodrigues concluem suashistórias diplomáticas quando a diplomacia dodesenvolvimento se estava esboçando e afirmando.Há muitos textos esparsos e de boa qualidade sobreaspectos desse longo período em que o tema dodesenvolvimento passou a ser a principal linhacondutora da brasileira; mas esta é provavelmente aprimeira vez em que um grande número de artigosde qualidade, e com uma perspectiva plural, sedebruçam sobre a matéria.

Graças à iniciativa da Universidade de SãoPaulo e do Instituto de Pesquisa de RelaçõesInternacionais - IPRI, da Fundação Alexandre deGusmão, foi possível motivar diversos especialistase diplomatas com alguns temas centrais da diplomaciabrasileira para buscar, a partir dos anos 30, aqueleselementos de continuidade e de inovação que tãobem ilustram, na brasileira, a reflexão feliz que oministro Azeredo da Silveira fez sobre a ChancelariaBrasileira: “a melhor tradição do Itamaraty é saberrenovar-se”.

Com uma multiplicidade de temas e pontosde vista à sua disposição, o leitor especializado ousimplesmente interessado em ampliar seusconhecimentos sobre a inserção externa do Brasilencontrará aqui um vasto panorama da brasileiraatravés da análises criteriosa e original seja deperíodos, seja de temas e áreas de concentração dadiplomacia brasileira.

Produzidos originalmente como contribuiçõespara um seminário que levava o mesmo nome destaobra coletiva e que concluiu em 1993, os textos quese apresentam a seguir nem por isso perderamatualidade ou significado.

Ao contrário. Constituem uma contribuiçãoexpressiva em uma área dos estudos históricosbrasileiros que ainda permanece sob o domínio deespecialistas, embora a diplomacia esteja assumindocada vez mais uma importância central até mesmona vida quotidiana da sociedade brasileira.

Foi com muita satisfação que o Itamaraty seenvolveu na concepção e na implementação doexercício do qual resultaram estes textos e é agoracom renovado gosto que, em nome da casa de RioBranco, posso participar da apresentação desta obracoletiva que haverá de enriquecer a reflexão sobre onosso país e a nossa história, ao mesmo tempo emque nos fornece elementos valiosos paracompreender o presente e preparar o futuro da nossadiplomacia.

“O Brasil e os processos de integração nasociedade global”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Luiz Felipe Lampreia, para apublicação na obra “Seis cumbres, unacomunidade”. Outubro de 1996

Os processos de integração econômica sãorelativamente recentes, tendo adquirido importânciaapós a Segunda Guerra Mundial, períodocaracterizado por forte crescimento econômicomundial, crescente interdependência e aceleração datransnacionalização do capital.

Dentre as formas clássicas de integraçãoeconômica podem ser citadas, dependendo dosrespectivos graus de intensidade, as zonas de livrecomércio, as uniões aduaneiras e as uniõeseconômicas ou mercados comuns. De um ponto devista econômico, a integração em seu grau maisintenso (Mercado Comum) envolve a combinaçãode dois ou mais mercados nacionais potencialmentecomplementares, com o objetivo de formar um únicomercado, mais amplo e dinâmico e portanto maisfavorável ao processo de desenvolvimentoeconômico de cada país que o integra.

Todo processo de integração econômica

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obriga a uma coordenação política mais estreita entreos seus países-membros, podendo ocorrer, a partirde certo patamar, uma progressiva transferência deparcelas das políticas nacionais às instituiçõescomuns.

Qualquer que seja o seu desenho, todaintegração econômica se baseia na vontade políticados Estados de, por meio desse processo, obtervantagens econômicas: aumento da produção atravésda especialização e de um melhor aproveitamentodas economias de escala; estimulo à eficiênciaprodutiva, pelo aumento da concorrência interna;melhora das relações de troca com terceiros países;aumento do poder negociador frente a outros paísesou grupos regionais; maior atração aos investimentosprodutivos internacionais e à transferência detecnologias.

A integração traz também seu bojo aobrigação de uma formu1ação mais coerente dapolítica econômica interna e conduz, a médio ou longoprazos, as necessárias reformas estruturais, as quais,em um contexto de puramente nacional, poderiamadiar-se “sine die”.

O Brasil, respondendo às mudanças e àsnovas estruturas que se delineiam no mundo e quetomam cada vez mais complexo o desafio da inserçãocompetitiva do país na economia internacional, temparticipado ativamente do processo integracionistana América do Sul, região que, por óbvias razõesgeográficas, históricas e econômicas, mobilizaprioritariamente as suas atenções e constitui umespaço natural para as suas relações econômicasexternas.

Uma das características mais marcantes daintegração econômica na América Latina é a enormediferença de velocidade do processo antes e depoisdo início dos anos 80. Até começos da décadapassada, a integração latino-americana em geral eraantes uma intenção de parte das elites nacionais docontinente, inspiradas em teses cepalinas ou na teoriada dependência, do que uma realidade histórica, denúmeros e estatísticas incontestáveis. A integração

era mais desejada do que posta em prática, pelasimples razão de que as economias não eramsuficientemente complementares ou abertas para quehouvesse expressivo intercâmbio comercial efinanceiro.

Nos anos 80, em contraste com as décadasanteriores, ganhou impulso o processo de integração,o que se expressou tanto pelo aumento do volumede comércio intra-regional como pela proliferaçãode acordos bilaterais e sub-regionais de desgravaçãotarifária. Os vizinhos latino-americanos, especialmenteos sul-americanos, deixaram de ser parceiroscomerciais relativamente inexpressivos e começarama tornar-se mercados importantes para os países daprópria região.

Quatro foram as razões básicas para aaceleração do processo.

A primeira delas foi o efeito-demonstraçãodecorrente das próprias tendências, complementaresna economia internacional, de globalização eregionalização. Numa economia mundialcrescentemente marcada pelos imperativos dacompetitividade comercial e, por extensão, de ganhosde escala para a assimilação de tecnologias einvestimentos, tomava-se necessária a formação demercados mais amplos e mais abertos ao comércioexterior. Em suma, a integração regional passou aser vista como um passo necessário para evitar amarginalização e como “campo de provas” para oprojeto de maior inserção na economia internacional.Tomou-se a via obrigatória para a atração de novosinvestimentos e, em alguns casos, eventual instrumentode barganha para posteriores negociações comblocos regionais já existentes.

A 1iberalização comercial e o progressivoajuste econômico empreendidos pelos países latino-americanos a partir do final dos anos 80 foi a segundarazão para a aceleração do processo integracionistano período. Com o esgotamento do modeloautárquico de substituição de importações e olançamento de programa de desgravação tarifária ede eliminação de barreiras não-tarifárias, inclusive em

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função das negociações da Rodada Uruguai doGATT, que levariam à criação da OrganizaçãoMundial do Comércio, criaram- se as condições paraa assinatura de acordos bilaterais e sub-regionais deliberalização comercial, algo antes muito limitado entreeconomias fechadas. Com a progressiva estabilizaçãoeconômica na região e a razoável homogeneizaçãode políticas econômicas e comerciais, tornou-sefactível assumir compromissos regionais de longoprazo, inviáveis em um quadro de instabilidadeeconômica e monetária.

A terceira razão do impulso nos anos 80refere-se à própria reformulação dos mecanismos deintegração no continente, que levou os países daAssociação Latino-Americana de Livre Comércio aproceder, em 1980, à revisão do Tratado deMontevidéu, que passa a admitir os chamadosacordos de alcance parcial e os acordos decomp1ementação econômica.

Os resultados dessa nova estratégia deintegração latino-americana mostraram-se bastantepositivos. Em torno de relações bilaterais mais densasentre economias de maior desenvolvimento relativona região, como no caso dos eixos Brasil-Argentinae Colômbia-Venezuela, intensificaram-se as trocascomerciais e criaram-se as condições para aassinatura de acordos sub-regionais queincorporariam, posteriormente, países vizinhosmenores. Os eixos bilaterais e sub-regionais deaproximação econômico-comercial criaram,portanto, a estrutura básica que permitiria aintensificação da integração do continente sul-americano como um todo.

A quarta condição para o impulsointegracionista sul-americano dos anos 80 foi adistensão política entre os países, decorrente, em boamedida, do processo de redemocratização. A partirdesse momento, desanuviaram-se as desconfiançaspolíticas e os vizinhos redemocratizados passaram aser considerados como parceiros preferenciais, comono caso da relação entre o Brasil e a Argentina. Maisdo que isso, as democracias da região, em seu

empenho em consolidar-se, acharam na integraçãouma forte base de apoio político calcado em umabase econômica e comercial concreta.

Em termos formais, é possível identificar trêsmecanismos básicos de integração na América Latina,que constituem conjuntos de acordos bilaterais ousub-regionais: o Pacto Andino, o MERCOSUL e osacordos bilaterais firmados pelo Chile com diversosparceiros latino-americanos.

O caso do MERCOSUL é o mais significativotanto pela velocidade de sua implementação comopelos resultados alcançados. Apesar da exigüidadedo seu tempo de gestação, o MERCOSUL revelou-se o eixo mais avançado da integração latino-americana, seja pelas conquistas institucionais e pelaousadia das metas de libera1ização e deharmonização de políticas comerciais, seja pelovolume de comércio entre seus países- membros. 0MERCOSUL não apenas gerou comércio intra-regional (que cresceu 300% em quatro anos), mastambém contribuiu para aumentar o volume dastrocas dos seus países membros com o restante domundo (o comércio extra-regional cresceu mais de80% no mesmo período).

Segundo números da ALADI, o comérciointra-MERCOSUL já representaria cerca de 40%do comércio intra-latino-americano, dado tanto maisexpressivo quando se tem em conta que o comérciodos países do MERCOSUL com os demais paísesda América Latina também é bastante significativo.

Além dos ganhos decorrentes do aumento docomércio na região, o MERCOSUL acabou,ademais, por funcionar nos últimos anos como ummecanismo estabilizador das duas maiores economiasda região: a brasileira e a argentina. Neste caso, nãose trata apenas do controle da inflação medianteaumento de importações, mas também dos efeitospositivos da desgravação tarifária sub-regional comoelemento moderador dos ciclos de desaceleração erecessão econômica. De 1991 a 1993, num períodode baixo crescimento econômico no Brasil, aprodução brasileira beneficiou-se em larga escala do

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acesso ao mercado argentino então aquecido, algoque explica a sucessão de elevados superávitsbilaterais do Brasil. A partir de 1994, ocorreu oinverso, com o aquecimento da economia brasileiraem função do Plano Real.

A integração latino-americana atravessa, nosdias de hoje, um período de consolidação dosavanços recentes em vista da perspectiva deconcretização do projeto de integração hemisféricalançado pela reunião de cúpula de Miami, emdezembro de 1994. Discutem-se agora as próximasetapas da integração continental: a de articulação econvergência entre os acordos sub-regionais.

Se os anos 80 foram marcados peloaprofundamento dos acordos de integração bilaterais,como o argentino-brasileiro e o colombiano-venezuelano, e se a primeira metade dos anos 90 foimarcada pela bem-sucedida construção ouconsolidação de acordos sub-regionais, como oMERCOSUL e o Pacto Andino, a segunda metadedos anos 90 será caracterizada pelos esforços deintegração entre os blocos.

À medida em que se consolida oMERCOSUL, desenvolvem-se negociações com osdemais países da América Latina com vistas àeliminação de tarifas e barreiras não-tarifárias.Segundo a proposta, a negociação com os demaisparceiros é feita com base no modelo 4+1, em queos quatro países originais do MERCOSUL, pordisporem de tarifa externa comum, negociam emconjunto com uma contraparte que tanto pode serum país isolado, tal como concretamente ocorreucom Chile e vem ocorrendo com a Bolívia, quantoum agrupamento sub-regional, como o Pacto Andino.

Esta iniciativa brasileira respondeu a doisprincípios básicos da abordagem brasileira do projetode integração hemisférica: o gradualismo, de forma anão submeter a economia a novos choques deabertura sem antes consolidar os avanços já feitos, ea conformação de “building blocks” sucessivos —os agrupamentos sub-regionais em vias deconsolidação.

Tomando-se de empréstimo uma expressãotão cara aos autores geopolíticos, pode-se dizer quea estratégia de integração brasileira respeita umaseqüência de “círculos concêntricos”, sendo o núcleocentral a consolidação do MERCOSUL, o primeiroentorno as negociações com países sul-americanos,como com o Chile e a Bolívia, e o círculo seguinte asnegociações simultâneas de uma área de livrecomércio hemisférica. O objetivo de se alcançar umacordo inter-regional MERCOSUL-União Européiaé o contraponto necessário da integração hemistérica,pois permitirá que se mantenha o equilíbrio dasrelações econômico-comerciais entre oMERCOSUL e o NAFTA e entre o MERCOSUL ea União Européia.

Pela sua tradição diplomática e pela suacondição de “global trader” com bom equilíbrio nasua inserção econômico-comercial externa, com umapauta de exportações diversificada, o Brasil precisamanter-se aberto a todas as perspectivas possíveisdentro dos múltiplos esquemas de integração emâmbito mundial, de modo a tornar parte em todos osmovimentos e beneficiar- se de cada um deles. Aintegração regional aberta, a partir do núcleo, paranós central, do MERCOSUL, é uma opçãoestratégica de longo prazo, cujo acerto vem sendocomprovado a cada dia pelo significativo aumentodo comércio intra-regional e extra-regional, pelaatração que a união aduaneira vem exercendo sobreinvestidores externos e pelo expressivo reforço deidentidade política e diplomática que proporciona aospaíses que o compõem. Como resposta aos desafios,oportunidades e riscos do chamado mundo daglobalização, a integração sul-americana vemcorrespondendo às necessidades da região emtermos de desenvolvimento econômico, estabilidadee maior participação no produto mundial. Comoprojeto, é ao mesmo tempo um objetivo e uminstrumento de ação que se vem mostrando de grandeutilidade nesta etapa decisiva do desenvolvimento dasnossas sociedades.

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“O marketing no Mercosul”,Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado no Diário Catarinense.Florianópolis, outubro de 1996

O êxito do Congresso de Marketing eNegócios do Mercosul, que chega à sua terceiraedição com toda a força, confirma que o Mercosuljá deixou de ser uma obra de engenharia diplomáticapara tornar-se realidade palpável para os agenteseconômicos e os consumidores dos países que oformam. A preocupação com a definição deestratégias de marketing no âmbito do Mercosulprova que a nossa união aduaneira adquiriu umaidentidade própria e um papel relevante noplanejamento empresarial e na estratégia publicitária.Do ponto de vista diplomático, esse dado éfundamental e bem-vindo: não estamos maisdiscutindo a viabilidade política ou econômica doMercosul, mas a forma de operar com ele como umdado da realidade objetiva.

Essa realidade tem impacto sobre a vidaquotidiana de produtores e consumidores dos paísesque integram a União Aduaneira e daqueles que,como o Chile e a Bolívia, se estão associando aobloco através de um acordo de livre comércio. Nomomento em que estamos lançando o concurso paraa criação do logotipo do Mercosul — uma identidadevisual, gráfica e simbólica típica do marketing e dapublicidade —, a marca Mercosul se consolida. Elatem estado presente nas prateleiras dossupermercados, nas lojas de bens de consumo, nasrevendedoras de automóveis, nas feiras. Tem sidoum dado importante no processo de crescimento eestabilização das nossas economias, comomecanismo de ampliação de mercados e deregulação da oferta de bens e alimentos e, portanto,dos preços. Tem sido um fator de alargamento doleque de escolhas do consumidor. E tem sido umelemento de projeção dos nossos países no mundoexterior, reforçando as identidades nacionais eagregando interesse nas relações com outros países

e regiões, na permanente busca de parcerias,investimentos e mercados.

O papel dos agentes econômicos e dosconsumidores foi decisivo para a consolidação doMercosul. Sem a percepção positiva desses doisgrandes grupos econômicos, a iniciativa teria sido umprojeto diplomático sem conseqüência. Produtorese consumidores passaram a operar, em suas infinitasdecisões, tendo em conta, consciente ouinconscientemente, a realidade do mercado ampliado,da competitividade e das facilidades por ele geradas.O marketing aproxima esses pólos fundamentais darelação econômica, que operam hoje em umambiente muito distinto daquele que prevalecia cincoou seis anos atrás, quando o Mercosul começava.Daí a importância de que os agentes econômicos, ospublicitários, as empresas de comercialização e asentidades que representam os consumidores,prossigam na tarefa de construir o Mercosul tambémpor esse lado do marketing.

Para a consolidação do Mercosul, temosnovos passos a dar no processo, ampliando aintegração para abarcar áreas como a proteçãocontra práticas desleais de comércio, propriedadeintelectual e defesa do consumidor, entre outras. Masé preciso que se avance também na área de marketinge promoção de negócios. É uma tarefa que incumbeprimordialmente à iniciativa privada, nessa grandeparceria Governo/ sociedade em que o Mercosul setransformou. O III Encontro de Marketing eNegócios do Mercosul é um foro sob medida paraajudar nessa tarefa e consolidar a imagem doMercosul como um espaço econômico vigoroso ecompleto.

“O Brasil e a integração hemisférica”Artigo do Secretário-Geral das RelaçõesExteriores, Embaixador Sebastião do RegoBarros, publicado na Gazeta Mercantil. Rio deJaneiro, 13 de outubro de 1996

Com a participação de representantes de todoo continente americano, realizou-se, nos últimos dias

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16 e 17, em Florianópolis, reunião vice-ministerialsobre a formação da Área de Livre Comércio dasAméricas (ALCA). Foi a primeira de uma série detrês reuniões viceministeriais preparatórias para aReunião Ministerial de Belo Horizonte, prevista paramaio de 1997, e o primeiro encontro sob aPresidência pro-tempore do Brasil, que, ao assumiro compromisso de sediar e presidir as negociaçõeshemisféricas, reafirmou o seu mais alto interesse nosucesso dos trabalhos com vistas à integraçãocomercial do continente.

Florianópolis representou um começo bem-sucedido desta nova fase das negociações com vistasà conformação da ALCA. Os debates demonstrarama maturidade das delegações, que, com espíritoaberto e desarmado, discutiram temas tão diversosquanto o ritmo de construção da futura área de livrecomércio e a ampliação da participação de segmentossociais no processo de negociação. Em que pese opassado de solidariedade americana, o continentereúne países de características econômicas, sociaise culturais muito diferenciadas e, somente com adisposição e a diligência demonstradas emFlorianópolis, será possível conciliar os interessespara que possamos concluir, até 2005, conformedecidido na Cúpula Presidencial de Miami, de 1994,as negociações da ALCA.

Para o Brasil, a Reunião de Florianópolis teveduplo mérito.

Desfizeram-se dois mitos. O primeiro, e maisfalacioso, é o da resistência brasileira ao processode integração hemisférica. Em reuniões passadas,tanto nos Estados Unidos como na Colômbia, oGoverno brasileiro foi identificado, por alguns, comoo defensor de excessiva cautela e moderação nasnegociações. A posição brasileira de que somentepassos prudentes assegurariam a construção de umaALCA livre de tropeços e retrocessos era, por vezes,interpretada como escassa disposição para avançarrumo à liberalização comercial hemisférica.

Se esta impressão equivocada persistia paraalguns, a reunião vice-ministerial da semana passada

a desfez. O Brasil e seus parceiros do Mercosul foramos mais construtivos na apresentação de propostaconcreta sobre as etapas da negociação hemisférica,em que se distinguiria uma fase inicial de “businessfacilitation”, uma segunda etapa de harmonização denormas técnicas e medidas sanitárias e uma faseposterior de discussão sobre acesso a mercados.Sem abdicar da exigência de moderação e prudênciaante um processo de liberalização comercial que traráprofundas conseqüências para as economias de todosos países do continente, o Mercosul, com uma sóvoz, identificou prioridades e apresentou, de formaobjetiva, a sua visão sobre as negociações rumo àALCA.

Para o Brasil e seus parceiros do Mercosul,liberalização comercial e integração regional não sãopeças de retórica, mas sim objetivos efetivamentepraticados dentro de uma estratégia dedesenvolvimento de nossos países. Exemplosrecentes deste propósito são o fortalecimento doMercosul por meio da negociação de políticascomuns em novas áreas, como defesa doconsumidor, e a celebração de acordos de livrecomércio com nossos vizinhos sul-americanos. Nasemana que vem, no dia 1 de outubro, entrará emvigor o Acordo de Livre Comércio Mercosul-Chile,o primeiro celebrado pelo Mercosul, que deverá serseguido, em breve, por acordos semelhantes com aBolívia e o Grupo Andino.

A segunda falsa impressão desfeita porFlorianópolis, dessa vez de âmbito doméstico, é ade que o Governo brasileiro não estimula aparticipação dos diversos segmentos de nossasociedade nas discussões sobre integração regional.Vez por outra, leio ou ouço insinuações de que oPoder Executivo, em geral — e o Itamaraty, emparticular — evita abrir o processo de negociaçãodo Mercosul ou da ALCA à participação empresarialou sindical, encapsulando-se em conversaçõesrestritas ou definindo de modo olímpico o interessenacional. Nada mais enganoso ou injusto. Desde ocomeço das tratativas de integração, o Poder

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Executivo vem buscando atrair os mais diversossetores sociais para o processo de negociação,mesmo porque a força de nossa posições ereivindicações junto a nossos parceiros externos éproporcional ao respaldo e ao apoio de quedispomos domesticamente.

O Mercosul, uma vez mais, é o melhorexemplo. Além de contar com uma ativa ComissãoParlamentar Conjunta, cuja Seção Nacional épresidida pelo Deputado Paulo Bornhausen, dispõe,desde o ano passado, de um Foro ConsultivoEconômico Social, que reúne representantessindicais, empresariais e de órgãos de defesa doconsumidor dos quatro países. As recomendaçõesdo Foro são submetidas diretamente ao GrupoMercado Comum, órgão executivo de negociaçãoentre os parceiros do Mercosul. O Itamaraty tem-seempenhado também em divulgar informações sobreo Mercosul e demais iniciativas de integração:comparecemos regularmente ao Congresso Nacional,realizamos seminários em diversas cidades do País edistribuímos material informativo, inclusive por meioda Internet. Não se trata, portanto, da falta demecanismos de veiculação dos interesses dos grupossociais ou de desatenção governamental; o que falta,talvez, é tradição e prática da nossa sociedade departicipação nas discussões sobre temas de .

Em Florianópolis, reafirmou-se ocompromisso do Governo brasileiro de atrair asociedade para as discussões sobre integraçãocomercial. As reuniões hemisféricas sobre a formaçãoda ALCA, que já compreendem um segmentoorganizado por e para empresários — o Foroempresarial — não incorporaram, ainda, aparticipação de outros setores, como os sindicatos.Preocupado com este desequilíbrio e coerente coma própria estrutura do Mercosul aberta aoengajamento dos trabalhadores, o Brasil apoiou otratamento do tema “participação do setor privado”na reunião de Florianópolis e defendeu a inclusãodos sindicatos nas discussões sobre a ALCA.Conforme reiterei em pronunciamento na abertura

da reunião, a integração hemisférica está voltada parao progresso e desenvolvimento das populaçõesamericanas, e seria um contra-senso não contar coma participação de um de seus grupos maisrepresentativos e abrangentes.

Por estar consciente da ampla repercussãoeconômica e social decorrente do processo deintegração sul-americana e hemisférica, o Governobrasileiro - e o Itamaraty, em particular - preocupa-se em ampliar ao máximo o debate interno sobre otema e sobre suas conseqüências para o futuro doPaís. É preciso que toda a sociedade brasileira (ossindicatos, os empresários, as associações de defesado consumidor, a classe política, a universidade)participe dessa discussão, porque seus resultados nãoafetarão apenas o jogo diplomático ou a projeçãodo País no exterior, mas também e, sobretudo, ocotidiano de cada um nós.

“Os próximos passos no Mercosul”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado no Jornal Zero Hora. Porto Alegre,17 de outubro de 1996

O Mercosul já se firmou como uma imagemde marca dos países que o compõem e como umahistória de sucesso no mundo. O fato de que já éresponsável por um aumento de cerca de 300 porcento no comércio intraregional em quatro anos, ede cerca de 80 por cento no comércio extraregional,demonstra a força de um mercado ampliado e explicaem grande medida por que o Mercosul é cada vezmais percebido como um interlocutor importante nasrelações internacionais contemporâneas. Com aassociação do Chile, em efeito desde 1º de outubro,e a da Bolívia, já negociada, o nosso grupo sub-regional já pode ser visto como o quarto blococomercial no mundo. Seu perfil internacional se firmae se reforça — e o interesse que tem despertado emnossos parceiros tem-se multiplicado.

A todo momento recebemos novos pedidosde contatos. Investimentos produtivos se dirigem em

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grandes volumes para cá. A inegável sinergia que oMercosul tem com os processos de estabilização ede modernização das economias que o integramagrega-lhe interesse.

Também no plano interno o Mercosul tem-se projetado como uma realidade cada vez maispresente, não só nas atividades e no planejamentodos agentes econômicos, mas também no dia-a-diados consumidores, acostumados cada vez mais a verboa parte da sua demanda por bens de consumo seratendida pelo Mercosul ou pela indústria nacional,fortalecida e mais competitiva graças ao estímulo daunião aduaneira.

Como Estado fronteiriço, com uma grandevocação internacional e uma participação intensa ecrescente nos fluxos de comércio gerados peloMercosul, o Rio Grande do Sul é talvez o melhortestemunho dessa nova realidade internacional doBrasil. Aqui o Mercosul está presente em todas assuas dimensões, inclusive no que se refere aosaspectos práticos, materiais, físicos da integração: otrânsito de mercadorias e pessoas pelas nossasfronteiras com o Uruguai e a Argentina. Nessa área,o desafio é a agilização através da construção deuma melhor infra-estrutura de transportes ecomunicações, da eliminação de gargalos decomunicação e da modernização dos serviços defiscalização e inspeção aduaneira.

Já estamos avançando nisso, inclusiveatravés de novas fórmulas, como a que permitiu oprojeto da ponte São Borja-Santo Tomé, com aparticipação do setor privado, em um dos trechosmais dinâmicos da nossa fronteira com a Argentina.Conhecer de perto essa realidade a fronteira com anova perspectiva que lhe dá o Mercosul é o objetivoda minha visita a Santana do Livramento/Rivera,Uruguaiana/Paso de los Libres e São Borja/SantoTomé.

Esse imperativo do aperfeiçoamento dainterconexão física com os demais países-membrosé apenas um dos próximos passos que devemos darna consolidação do Mercosul. Uma avaliação

objetiva e realista do processo de integração sub-regional mostra, ao lado do sucesso, algumas lacunase algumas necessidades, que o Governo brasileiro,em conjunto com os parceiros, pretende atender.Afinal, a consolidação do Mercosul não pode serpensada apenas em termos da sua expansãohorizontal, através da conclusão de novos acordosde livre comércio (o próximo poderá ser com o PactoAndino), da intensificação das relações com outrasáreas comerciais (como a União Européia, a partirdo Acordo-Quadro Inter-regional, assinado emMadri em dezembro de 1995) ou da possível eprevisível inclusão de novos membros plenos.

Também há um extenso trabalho a fazer naconsolidação vertical do Mercosul — ou seja, oaprofundamento do processo, levando-o à área deserviços, do livre trânsito de pessoas, da defesa doconsumidor, da proteção da propriedade intelectuale da criação e fortalecimento de mecanismos ágeisde salvaguardas e de proteção contra práticasdesleais de comércio. Dessa perspectiva, fica claroque o livre comércio entre os membros do Mercosule a tarifa externa comum é um preâmbulo, um núcleo-força original que necessariamente deve serconsolidado. É preciso também engajar ainda maisas sociedades dos países-membros nesse esforço,ampliando a sua percepção sobre os inúmerosbenefícios que o Mercosul traz não apenas em termosdo abastecimento de produtos de consumo, mastambém em fortalecimento dos países que o formam.É preciso incorporar cada vez mais os Estados doNorte e do Nordeste, expandindo os seus contatoscom os demais países-membros do Mercosul eampliando os benefícios que a integração pode trazerpara todo o Brasil.

A realização da reunião presidencial dedezembro em Fortaleza deve contribuir para isso.Também o acordo com a Bolívia e o futuro acordocom o Pacto Andino deverão ser instrumentais paracimentar uma percepção nacional do Mercosul, pelaproximidade física desses países em relação à regiãoNorte do Brasil.

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Finalmente, será preciso fortalecer aidentidade interna e externa do Mercosul. O semináriosobre Marketing no Mercosul, que se realiza emFlorianópolis, no final de outubro, é uma mostra doque se pode fazer para ir firmando essa identidadedo Mercosul como um espaço econômico,comercial, financeiro e publicitário com característicaspróprias. A criação da logomarca do Mercosul, jádecidida oficialmente pelo Grupo Mercado Comumserá simbólica dessa nova etapa em que o Mercosulingressou. Com os próximos passos já mapeados,estamos dando início à caminhada nesse novo trechodo projeto Mercosul.

“O Brasil e o mundo no século XXI”Artigo “do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado na Folha de São Paulo. São Paulo,20 de outubro de 1996

Um horizonte de 20 a 25 anos é o razoávelpara uma reflexão sobre o futuro da inserção do Brasilno mundo. Esse período, que, nas relaçõesinternacionais, à falta de melhor nome, poderíamoschamar de consolidação da globalização, poderáassistir ao amadurecimento do Brasil como potênciamédia, economicamente forte e socialmente maissólida e coesa, com intensa presença regional econsiderável intercâmbio com outras regiões, emborasem poderio estratégico e capacidade de influênciaglobal. Ou poderá assistir à sua estagnação comopaís de desigualdades sociais e regionais, que alternaciclos curtos de desenvolvimento e espasmos derecessão e que se paralisa diante do esfacelamentoprogressivo da base social, com sérios riscos para asua integridade e soberania.

O Brasil tem potencial para dar um saltoqualitativo no seu desenvolvimento interno e na suainserção internacional. Para isso, teremos deresponder a dois imperativos: a consolidação dacidadania, base fundamental da soberania no mundomoderno e fonte de legitimidade e poder do Estado;e o aproveitamento da inexorabilidade da nossa

inserção internacional para dela extrair o máximo debenefícios concretos — em geração de riqueza,empregos e desenvolvimento econômico e social —ao menor custo possível.

Essas são as novas realidades em que oEstado brasileiro deve mover-se: a crescentepreeminência do cidadão/eleitor/consumidor, comoobjetivo das políticas; e a crescente globalização daeconomia — um termo que se tornou lugar comum,mas que é efetivo para descrever uma realidadeobjetiva (não se confundindo, portanto, com ummovimento ou uma ideologia contra a qual é possívelinsurgir-se). A ênfase no cidadão/consumidor e acontinuada melhoria da inserção internacional doBrasil dependerão da continuidade das políticas deestabilização, abertura econômica, reformas,desestatização, retomada do crescimento e reformasocial — ou seja, da consolidação do Plano Real.

Meus interlocutores no exterior têm sidoenfáticos ao louvar os progressos que temos feito eseu impacto positivo nas relações do Brasil com osprincipais parceiros e ao esperar que as tendênciasresponsáveis por essa alteração qualitativa dainserção externa do Brasil se sustentem e ultrapassemos limites temporais de um mandato presidencial. Amera ameaça de retorno a políticas condenadas —crescimento à base de inflação, populismo, arroubosideológicos, discriminação dos investimentosprodutivos estrangeiros, controle estatal de setoresda economia, protecionismo, práticas corporativistas,excessos de regulamentação e tantas outras — seriasuficiente para queimar os ganhos como os obtidosna atração de investimentos produtivos.

Da mesma forma, será preciso intensificar aspolíticas de melhoria dos nossos indicadores sociais.O Plano Real e a perspectiva de uma inflação de umdígito já neste ano têm tido um efeito social sustentado,expresso na melhoria do padrão alimentar e deconsumo da população de mais baixa renda. A partirdaí será possível ampliar a conquista social daestabilidade monetária para as áreas da educação,da saúde e da habitação.

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O consumidor brasileiro já assumiu comoconquista a abertura econômica e o choque decompetitividade por ela gerado na produção nacional.A definição da política industrial e comercial deverálevar isso em conta, porque qualquer retorno aesquemas de proteção indiscriminada e incondicionalprejudica o consumidor e afeta adversamente aperspectiva dos consumidores de baixa renda de teracesso a bens de consumo, duráveis ou não. Oimpacto político – e social – dessa preocupação édecisivo e veio para ficar.

Outro elemento básico para a inserçãoexterna do Brasil nestes próximos anos é a definiçãode uma política de defesa nacional, em elaboraçãona Câmara de Relações Exteriores e DefesaNacional do Conselho de Governo, que harmonizee maximize a ação das três forças e engaje asociedade por meio da consciência sobre o imperativode proteger adequadamente o nosso território, onosso patrimônio ambiental e os nossos valores eidentidades culturais e nacionais. Trata-se de estendera presença do Estado a todo o território,promovendo a inclusão das populações hoje menosligadas ao resto da Nação.

A diplomacia do presidente FernandoHenrique, que vem promovendo o relançamento dasnossas principais parcerias, deixará o patrimônio deuma verdadeiramente universal. Esse patrimônio seráenriquecido pela consolidação vertical do Mercosul,ou seja, seu aprofundamento mais além da área delivre comércio com união aduaneira e tarifa externacomum, e sua ampliação horizontal, com aincorporação de novos membros plenos e aassociação de parceiros por meio de acordos, deveráser uma das linhas-mestras da brasileira. Deverátambém beneficiar-se do fortalecimento domultilateralismo econômico e comercial, cujas regras,mais universais e transparentes, devem ajudar-nos alidar com o persistente protecionismo, práticasdesleais de comércio e barreiras ao acesso atecnologias.

Nesses próximos anos, será muito importante

que o Brasil sinalize claramente, pelo seu crescimento,que é de fato a Pátria dos brasileiros em todo o mundo.Se soubermos sustentar e ampliar as tendênciasatuais, essa etapa nos consolidará como potênciamédia, estável politicamente, saudáveleconomicamente e socialmente justa — algo quemultiplicará o orgulho que começamos a sentir hojequando nos vemos no espelho do mundo e nospreparamos para o início do próximo século.

“A cláusula social no comércio internacional”Artigo do Ministro das Relações Exteriores,Embaixador Luiz Felipe Lampreia, publicadona Folha de São Paulo. São Paulo, novembrode 1996.

“...most of the discussion of international tradeissues among those who matter is marked by deepignorance — all the deeper because it often poses assophistication .”

Paul Krugman, Pop Internationalism, pg.70Aproximando-se a reunião ministerial de

Cingapura — que fará a revisão crítica destes doisprimeiros anos de funcionamento da Organizaçãomundial de Comércio (OMC) e examinará seu futuro—, a chamada cláusula social ganha crescenteatenção no Brasil e no mundo. Diz-se que ela estaráno centro da ampla agenda de Cingapura e será agrande linha de conflito entre países desenvolvidos eem desenvolvimento, entre “progressistas” e“retrógrados”, entre os que já teriam feito oupropugnam a “revolução do trabalho” e os queresistem às melhorias no padrão de vida dostrabalhadores. Acena-se também com a ameaça deque o Brasil seja colocado sob foco negativo nocapítulo da cláusula social, porque se destacaria nessaárea.

Há muito de erro, exagero e mistificaçãonessas suposições. A abordagem da cláusula socialnão pode comportar maniqueísmos e simplificações.É engano pensar, por exemplo, que o conjunto dospaíses desenvolvidos propugna a inclusão da cláusulasocial nas negociações da OMC, ou que haja

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consenso entre eles em torno do assunto. Emboraenfrentem o desemprego e a cláusula social tenhapara eles forte apelo político, diversos paísesdesenvolvidos mantêm perfil discreto na matéria,enquanto outros são francamente contrários àintrodução de elemento estranho ao comércio, eimprevisível nas suas conseqüências, na estruturajurídica da OMC. A própria União Européia estámuito dividida e sua posição deverá ser o mínimodenominador comum em relação ao assunto.

Se o tema figurar na agenda de Cingapura,será de forma diluída, entre numerosos assuntos. E,de qualquer forma, o embate entre o ativismo de unse a militância contrária de outros estará reduzido apoucos países, entre os quais o Brasil certamentenão se encontrará.

Tem sido freqüente a confusão estabelecidaem torno da cláusula social. Idealmente, ela permitiriaque se adotassem medidas de caráter multilateral —sanções, direitos compensatórios, salvaguardas –contra países cujas práticas trabalhistas nãoestivessem de acordo com certos padrões mínimosmundiais, a serem definidos, obviamente, mais emfunção do que vige nos países industrializados: salário,segurança social, condições de trabalho, liberdadesindical e outros. Baixos salários, regimes de sobre-exploração do trabalho, trabalho escravo, de presosou infantil, restrições à liberdade sindical e outrosseriam passíveis de punição pela comunidadeinternacional. A cláusula social seria a garantiaadicional de que os trabalhadores possam contar nãocom a vaga simpatia, mas com pressões concretasdos países do mundo para lograr melhorias nascondições de trabalho.

Isso, num mundo ideal, justamente. Naprática, invocar padrões trabalhistas para regular ocomércio internacional poderia abrir o caminho paraum sem-número de medidas e práticas de caráternitidamente protecionista — inclusive unilaterais, aexemplo da utilização da famosa seção 301 da Leide Comércio dos Estados Unidos, que já nos atingiuduramente com sanções muito prejudiciais. O social

se transformaria em justificativa para a proteçãoabusiva de setores que se sintam prejudicados pelaconcorrência de produtos oriundos de outros países.Os padrões trabalhistas serviriam não ao propósitode promover melhorias nas práticas dos paísesafetados, mas simplesmente para disfarçar novasmedidas de protecionismo, novos gestos desatisfação aos trabalhadores que enfrentam ofantasma do desemprego estrutural. Sendo mais difícilhoje ser abertamente protecionista, o protecionismose traveste em defesa ambiental, progressismo socialem terceiros países, e assim por diante.

Mais: os efeitos punitivos dessas medidaspoderiam se dar não sobre as áreas ou atividadesem que se verificam os padrões trabalhistas ruins quese deseja teoricamente corrigir, mas sobre áreas quecompetem com vantagens no mercado internacional.Empresas e trabalhadores de setores competitivospoderiam ter de pagar um preço por mazelas eproblemas de outros setores ou de regiões específicas— problemas que devem ser corrigidos e enfrentadoscom os instrumentos apropriados, como asconvenções da OIT, a legislação interna, a aplicaçãoda justiça, as reformas sociais e econômicas. Seriaum erro de graves conseqüências comerciais,econômicas e sobretudo sociais achar que nossa liçãode casa em matéria social pode ser substituída pelacláusula social.

Embora tenhamos nossos problemas na áreatrabalhista e social, nosso país não é o alvo principaldas preocupações dos que acusam a concorrênciade países do terceiro mundo como causa dodesemprego estrutural que afeta a maioria dos paísesdesenvolvidos. Não participamos do comérciointernacional à base de salários iníquos, do usointensivo de trabalho infantil, escravo ou depresidiários. Ao contrário; temos ampla liberdadesindical, plenas garantias democráticas e algunssetores competitivos onde se pagam salários muitomais altos do que a média dos países emdesenvolvimento, e também sofremos alguns efeitosadversos oriundos das práticas trabalhistas de países

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que competem conosco em nosso próprio mercadoe em terceiros mercados.

Como se vê, é um debate complexo.Felizmente, as lideranças sindicais brasileirasdemonstram ter consciência dessa complexidade, nãocaindo em simplificações ou na ingenuidade de acharque o único propósito dos que defendem a cláusulasocial é a melhoria das condições de vida dostrabalhadores do mundo em desenvolvimento. OGoverno brasileiro tem mantido consultas com ossetores da economia diretamente interessados nessee nos demais temas da agenda de Cingapura edefenderá lá, como sempre tem feito, os interessesda sociedade brasileira, e não teorizações ouabstrações de gabinete.

“Algumas verdades acerca da cláusula social”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia.,publicado no Jornal o Globo. Rio de Janeiro,novembro de 1996

Há sinais de um engano atrapalhando odebate interno sobre a inclusão ou não de uma“cláusula social” na Organização Mundial doComércio: a idéia de que o Governo brasileiro, aomanifestar-se contrário a algumas propostas paraexame na reunião de Cingapura, esteja de algumaforma favorecendo o desrespeito aos direitostrabalhistas, endossando práticas condenáveis comoo trabalho escravo ou o trabalho infantil ousimplesmente agindo com indiferença em relação àluta dos trabalhadores para melhorar o seu padrãode vida e as suas condições de trabalho.

Aquelas propostas, independentemente desuas supostas intenções sociais, visamprimordialmente a demonstrar a existência de umvínculo entre os padrões trabalhistas e o comércio e,em nome de corrigir os primeiros, visam na realidadea interferir no segundo. Com base na constatação deque padrões menos rígidos constituem ou propiciamvantagens comparativas para os parceiros menosdesenvolvidos, as propostas maximalistas em matéria

de cláusula social na OMC visam a adotar regrasque venham a restringir os fluxos comerciais emprejuízo justamente dos países exportadores onde ocusto da mão de obra seja mais baixo ou onde alegislação trabalhista não tenha atingido o grau deproteção alcançado nos países ricos. Setores quenada têm a ver com os problemas sociais e trabalhistasde um país poderiam ser penalizados.

Iniciativas unilaterais de suposto sentido socialpoderiam ser encorajadas. Basta conhecer a naturezae os objetivos do GATT e agora da OrganizaçãoMundial de Comércio para entender que um sistemabaseado em regras multilateralmente negociadasdificilmente se presta para discussões de cunhoideológico ou imposições ou recomendações decaráter social ou político. A história e a experiênciatêm provado com riqueza de exemplos que o GATT/OMC, por enfeixar obrigações contratuais por partedos membros que o compõem, está longe de ser umamera caixa de ressonância das queixas epreocupações tópicas ou sistêmicas que lhe sejamtrazidas para consideração. Antes, a OMC, que servede guarda-chuva para acordos não apenas sobretarifas e comércio de bens, mas também sobre direitosde propriedade intelectual e serviços, é vista comopassível de abrigar outros tantos temas que, por suademonstrável relação com o comércio, venham a serobjeto de regulamentação e, o que é mais importante,questionamento ou decisões mandatórias.

Desde que foram referendados os acordosde Marraqueche, tornou-se intrusiva e mandatória,por consentimento da comunidade internacional, aaplicação de disciplinas destinadas a assegurar queo comércio flua mais livremente. Mas a maior eficáciaobtida no cumprimento de tais disciplinas — atravésde um mecanismo de solução de controvérsias muitomais ágil e acessível — estimula a demanda paratratamento de questões alheias ou eventualmente atécontrárias à preservação de um sistema multilateralde comércio aberto, eqüitativo e não-discriminatório.

Já se admite consensualmente que, até pararesguardar os direitos e interesses daqueles cujo

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comércio exportador se concentra em produtosderivados de recursos naturais, faz-se necessáriodiscutir no seio da OMC meios e modos para efetuaruma harmonização entre medidas ambientais e asregras comerciais. Não se cogita, porém, de criarnovas exceções, além das que já figuram no ArtigoXX do Acordo Geral e que, a rigor resultariam embarreiras não-tarifárias restritivas e discriminatórias.

E é sempre bom lembrar que o mesmo ArtigoXX já permite a adoção de medidas restritivas àimportação de bens produzidos por trabalhadoresforçados. Não há dúvidas de que nessa e em outrascircunstâncias o comércio é gerado de forma ilegítima,não revertendo em qualquer benefício para quemproduz a riqueza, mas prejudicando os concorrentes.

O Governo brasileiro apóia, semambigüidade, o aprofundamento do debate sobre orespeito aos direitos internacionais básicos dotrabalhador nos foros apropriados — a OrganizaçãoInternacional do Trabalho, a mais antiga instituiçãomultilateral emanada da Liga das Nações, e aComissão de Direitos Humanos. Também temos defazer o nosso dever de casa em matéria social. Masrecorrer a instrumentos internacionais de políticacomercial não seria adequado para o tratamento dequestões sociais; seria abrirmos um flanco semnenhuma garantia, sequer, de que as penalidadeseventualmente impostas serviriam para impulsionaro progresso social nos países afetados. Sua utilizaçãonesse contexto teria como conseqüência inevitávelacrescentar uma arma poderosa ao arsenalprotecionista que ainda existe à disposição de paísesque, em nome do livre comércio (free trade) ou docomércio leal (fair trade), fecham seus mercados anossos produtos e com isso comprometem o aumentoda produção e a manutenção de empregos em setoresda área agrícola e industrial.

Nos encontros em que o tema da “cláusulasocial” vem sendo examinado, o Brasil não assume,nem precisaria assumir, qualquer liderança naoposição à cláusula social e à crítica que países comoo Japão, a Austrália, a Suíça, a Nova Zelândia, o

Reino Unido e a virtual totalidade dos países emdesenvolvimento fazem às propostas desobrecarregar a agenda da OMC com questões cujarelação teórica ou empírica com o comércio estálonge de ser comprovada. Tentativas isoladas elevianas de intrigar o Governo com a classe trabalhistamediante exortações demagógicas, argumentosdesinformados e citações fora de contexto nãosurtirão efeito. Em preparação a Cingapura, oGoverno tem mantido um diálogo contínuo econstrutivo com os representantes sindicais e estáatento à necessidade de proteger seus direitos einteresses, apontando engodos que podem gerarconseqüências adversas para o nosso crescimentoeconômico, a geração de empregos na agricultura ena indústria e a promoção de melhores níveis derenda para os que trabalham. É o que importa.

“Os Resultados da reunião da OMC emCingapura”Artigo do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Embaixador Luiz Felipe Lampreia,publicado na Gazeta Mercantil. Rio de Janeiro,dezembro de 1996

A sensação de anti-clímax na conferênciaministerial da Organização Mundial de Comércio(OMC), em Cingapura, derivou mais das expectativascriadas em torno da declaração final do que daocorrência de perdas ou retrocessos. Como nostempos do GATT, teria sido quase impossível obterconsenso committee of the whole com a presençade 127 chefes de delegação, vários deles colocadossob o refletor das suas opiniões públicas internas. OBrasil foi a Cingapura convencido de que aconferência deveria ter permitido um debate em altonível sobre a agenda da avaliação dos resultados daRodada Uruguai e o programa de trabalho futuro daOMC. Em vez da análise coletiva, a implementaçãofoi objeto apenas de manifestações individuais, nosdiscursos feitos num plenário concorrido só na sessãoinaugural. Mas, ainda assim, é possível falar do êxitode Cingapura, uma espécie de certificação sobre a

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OMC após dois anos de provas.A reunião teve êxito porque transmitiu em

comunicado internacional um sinal claro de que osistema multilateral de comércio pós-Rodada Uruguaiopera satisfatoriamente e que a OMC continuará ater um papel de liderança na liberalização do comércioe mesmo, eventualmente, dos investimentos, nostermos decididos na Rodada. Além disso, a OMCservirá de quadro institucional para a discussão detemas como políticas de concorrência, de interessepara o Brasil, sem ser contaminada por questões cujarelação com o comércio não pôde ser demonstrada— como no caso dos padrões trabalhistas.

Mas mesmo o parágrafo da declaração sobreos padrões fundamentais de trabalho é prova de quea OMC, embora sem competência para tratar doassunto, está disposta a colaborar com a OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT), através dosrespectivos secretariados, traduzindo umapreocupação com os benefícios do livre comérciopara os trabalhadores de todo o mundo.

Lida a fio, a declaração ministerial é um primorde equilíbrio e moderação. Nela foramsalvaguardados todos os interesses do Brasil eprevaleceram muitas das nossas teses (acompatibilidade do regionalismo aberto com omultilateralismo, a inter-relação entre investimentose políticas de concorrência, a referência aos direitosdos trabalhadores, a transparência nas comprasgovernamentais e a referência expressa ao relatóriodo Comitê de Agricultura. A declaração dá razão aoentendimento, ressaltado pelo Brasil, de que a reuniãonão deveria produzir decisões especulares, uma vezque os resultados da Rodada mal foraminternalizados e que já é considerável a carga detrabalho da OMC ( em 1996, realizaram-se emmédia, em Genebra, nada menos do que 46 reuniõespor semana, além das consultas informais e dosencontros bi ou plurilaterais, sem os serviços dosecretariado).

O que mais captou a atenção da mídia -graças, inclusive, ao alarde feito pelos EUA, a União

Européia e o Japão -, foi sem dúvida a DeclaraçãoMinisterial sobre o Comércio de Produtos deTecnologia de Informação ( ITA na sigla abreviadaem inglês), nome pomposo de um instrumento queacabou interessando, no momento ao menos, apenasa uma dezena de países e territórios ( Hong Kong eTaiwan ), além dos próprios proponentes. O Brasilpreservou seus interesses e atuou em estritocumprimento de suas políticas nacionais e de seuscompromissos no Mercosul. E, no caso do ITA, aindaficou-nos um alerta construtivo sobre a necessidadede não esmorecermos no empenho de reforçar nossacompetividade no setor de tecnologia de informação.

A frustração dos que se esforçaram por umamenção forte à agricultura só se compreende nocontraste com o grande esforço de mídia que cercouo ITA. Para todos os fins práticos, essa menção sóteria o efeito de sinalizar a disposição de todos,sobretudo da União Européia, Japão e Coréia, deencetar negociações efetivas em 1999, iniciando já apartir de 1997 um trabalho preparatório sério enecessário. Mas o relatório do Comitê de Agriculturadeve ser base suficiente para lançar o processo edescartar manobras dilatórias.

O importante é que o sistema da OMC saiufortalecido desse desafio, tendo sido possível diluiras expectativas naturais que cercam uma reuniãoministerial fora da sede do organismo e fartamentecoberta pela imprensa internacional e contornar astensões do momento — cláusula social, acordo sobreinvestimentos, negociação agrícola, o ITA. Tambémfoi possível firmar as condições para que possamosseguir a nossa trajetória de liberalização dentro doscompromissos da Rodada. O Brasil esteve em todosos momentos confortável, atuou construtivamente efoi freqüentemente instado a mediar divergências,graças à sua imagem de confiabilidade, coerência eexperiência.

O País também mostrou que vai buscandointegrar-se na economia mundial de forma segura,não precipitada e atenta à possibilidade de assegurara estabilidade macroeconômica em um ambiente em

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que novas oportunidades coexistem com focos deproteção e políticas que distorcem o comércio.

“A nova política de assistência aos brasileirosno exterior”Artigo do Secretário-Geral das RelaçõesExteriores, Embaixador Sebastião do RegoBarros. Dezembro de 1996

Um dos fênomenos mais importantes, e dosmenos analisados, nas relações exteriores recentesdo Brasil é o crescimento acelerado, a partir dos anos80, do fluxo de brasileiros — emigrantes e turistas— que se destinam ao exterior. Quando se discute aatuação internacional do Brasil nos últimos dez anos,muitos enfatizam a progressiva atualização dadiplomacia econômica brasileira a um modelo dedesenvolvimento menos autárquico, alguns chamama atenção para a apregoada revisão do terceiro-mundismo dos anos 70, outros se detêm sobre umasuposta variação do peso específico do Brasil nocenário internacional ao sabor do desempenhoirregular da economia brasileira no passado recente.Poucos são, no entanto, os que buscam avaliar estefênomeno menos aparente das relações externas doPaís que é o aumento expressivo de brasileiros noexterior e seus efeitos sobre a diplomacia brasileira.O propósito deste artigo é justamente o de analisar,em linhas gerais, a presença de brasileiros em outrospaíses e as medidas que o Governo brasileiro e, emparticular o Itamaraty, vem adotando para melhorassisti-los.

Diversos fatores, nos últimos anos, levaramum número expressivo de brasileiros a buscar noexterior uma alternativa de vida. Entre as razões deordem doméstica, destacam-se as sucessivas criseseconômicas do passado recente e a redução doemprego no setor formal da economia.

Entre os fatores de ordem mais geral, nãorelacionados ao desempenho da economia brasileirana última década, ressalta o avanço extraordináriodas comunicações, que permite divulgaroportunidades de trabalho fora do Brasil,

principalmente em países desenvolvidos. Soma-se ofato de que a emigração, uma vez iniciada, criou umadinâmica própria: brasileiros estabelecidos no exteriorpassaram a atrair familiares e conhecidos, que chegamao estrangeiro contando com uma base de apoio, oque torna menos traumática a inserção no novo meio.Como resultado deste conjunto de razões, o Brasil,a partir de meados de 80, deixou de ser um país deimigração para tornar-se também um país deemigração.

Para conhecer melhor essa nova realidade, oMinistério das Relações Exteriores efetuou um censode brasileiros residentes no exterior, fazendo uso desua rede de Embaixadas e Consulados. Olevantamento realizou-se com base emrecenseamentos locais, dados e estimativas dosserviços de imigração, matrículas consulares,participação em eleições, teses e trabalhosacadêmicos e fontes complementares. Apurou-se,desse modo, a existência de aproximadamente ummilhão e meio de brasileiros vivendo no exterior, cifrasuperior à população de vários estados brasileiros.As maiores concentrações de brasileiros residentesforam encontradas em três países: nos EstadosUnidos, são cerca de 600 mil; no Paraguai, em tornode 350 mil; e no Japão, aproximadamente 200 mil.

Ao milhão e meio de residentes permanentesacrescem-se cerca de três milhões de viajantesbrasileiros ao exterior por ano, principalmenteturistas, mas também empresários, estudantes quefazem estágios ou cursos de curta duração e pessoasque viajam por motivos familiares ou de saúde. Osprincipais destinos desses fluxos são Europa, EstadosUnidos e América do Sul. Temos, portanto, todosos anos, um universo de quatro milhões e meio depessoas que são candidatas em potencial aos serviçosconsulares.

Em sua maioria, os brasileiros que vivem noexterior não romperam os vínculos com o País. Naverdade, com seu trabalho, auxiliam familiares noBrasil, aqui criando riqueza e dinamizando certossetores. Para se ter uma idéia da importância

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econômica do fenômeno da emigração, basta dizerque as remessas dos emigrantes brasileiros somam,em valores anuais, algo em torno de quatro bilhõesde dólares. Hoje, em qualquer análise do balanço depagamentos do Brasil, ressalta a importância do fluxode transferências unilaterais de recursos.

A existência de um numeroso contigente debrasileiros no exterior é uma realidade que muitoprovavelmente veio para ficar, ainda que possaocorrer um ou outro caso isolado de refluxo dacorrente migratória. No geral, como disse o MinistroLuiz Felipe Lampreia, em recente palestra, “atendência previsível nos próximos anos é deconsolidação dessas comunidades, que começam aparticipar intensamente da vida econômica e socialde muitas cidades e regiões no exterior e parecemestar destinadas a durar”.

Tendo em conta este novo quadro emigratóriobrasileiro, o Presidente Fernando Henrique Cardosodeterminou a formulação de uma política consular,que, sem deixar de lado as funções tradicionais,estivesse mais voltada para uma efetiva assistência eproteção ao nacional no exterior, que, como os demaiscidadãos brasileiros, tem pleno direito aos serviçosprestados pelo Estado. Em outras palavras, todosos cidadãos brasileiros no exterior têm o direito auma correta e eficiente assistência consular.

Com a determinação presidencial depreservar a plena cidadania do brasileiro no exterior,propôs-se o Itamaraty, na presente gestão, aestabelecer algumas bases conceituais que norteariamsuas ações e projetos no campo consular. Emprimeiro lugar, definiu-se com clareza a assistência eproteção aos brasileiros no exterior como uma dasprioridades da brasileira, o que tem sido reiteradona freqüente menção ao tema em discursos edocumentos oficiais do Presidente da República edo Vice-Presidente, bem como do Ministro dasRelações Exteriores.

Em segundo lugar, decidiu-se operar umamudança na cultura administrativa do Itamaraty notocante ao atendimento ao cidadão brasileiro que

recorre aos Consulados e Embaixadas. No passado,como eram poucos os brasileiros no exterior, oatendimento fazia-se de maneira burocrática, quasemecânica. Hoje exige-se do funcionário consular umatendimento crescentemente profissional, em quecortesia e eficiência se unam para facilitar a vida daspessoas.

Uma terceira mudança conceitual prevê queo Consulado, ou o Serviço Consular da Embaixada,deve ir ao encontro dos cidadãos, ao encontro dascomunidades brasileiras, deixando sua posiçãoanterior de mero receptor de demandas. O objetivoé estabelecer um Consulado dinâmico, empermanente interação com a comunidade, a fim deque, também no exterior, Governo e sociedade civilsomem esforços na busca de um Estado que atendacom mais eficiência aos interesses do Brasil e àsnecessidades dos brasileiros.

Um quarto aspecto diz respeito à divulgaçãodas funções consulares.

O Itamaraty vem buscando divulgar, commaior regularidade e freqüência, serviços quasedesconhecidos do grande público. A cidadaniapressupõe o conhecimento dos direitos e, nessesentido, é fundamental que os brasileiros no exteriorconheçam seus direitos e os serviços oferecidos pelarede consular. Somente desta maneira, a açãoconsular não será meramente reativa, mas tambémpreventiva.

Esta reformulação da atividade de assistênciaao brasileiro no exterior pressupõe uma visãomoderna e democrática do que deve ser a brasileira.Para o público em geral, diplomacia sempre pareceualgo distante do cotidiano de cada um, seja pelo fatode que a atividade diplomática é enganosamenteassociada a uma suposta aura aristocrática, denegociações secretas e de glamour social, seja porquea temática da diplomacia envolve, quase sempre,questões cujos efeitos são de longo prazo e amploescopo, como as negociações multilaterais, otratamento do tema do desenvolvimento, e discussõessobre paz e segurança internacionais. Ocorre que a

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atividade diplomática não pode circunscrever-sesomente aos grandes temas internacionais, por maiorque seja o impacto, muitas vezes neglicenciado,destes temas sobre o dia-a-dia do País e de cadacidadão brasileiro, de que são exemplos asnegociações comerciais e a preservação de relaçõespacíficas e cooperativas com os países vizinhos. Numasociedade crescentemente democrática, como abrasileira, a diplomacia deve também voltar-se parauma assistência mais direta e competente doscidadãos brasileiros, que podem e devem exigir oatendimento de seus direitos.

Outra razão a exigir do Governo brasileirotoda a atenção para as questões consulares é oprocesso recente de aproximação das agendasconsular e diplomática. No passado, estes assuntosnão se confundiam. A antiga estrutura do Itamaraty,por exemplo, em que as carreiras diplomática econsular eram distintas, refletia o fato de que asdiscussões internacionais de temas diplomáticos econsulares seguiam rumos independentes. Nas últimasdécadas, no entanto, com a ampliação da agendainternacional, que passou a incorporar questões comoimigração, narcotráfico, lavagem de dinheiro e tráficode armas, alguns problemas de natureza consularganharam uma dimensão política inédita e passarama ter importância crescente na condução da .

Em razão da enorme sensibilidade destesnovos temas, e de sua crescente importância eprojeção tanto na opinião pública mundial quanto norelacionamento entre os países, já não se pode maistratá-los de forma exclusivamente técnica e legalista,com ênfase em seus aspectos consulares e jurídicos,como se fazia no passado. Nesse sentido, duas sãoas preocupações maiores do Governo brasileiro. Aprimeira delas é o efeito que determinadas questõespodem ter sobre as relações do Brasil com outrospaíses. Há um cuidado todo especial de nossadiplomacia de evitar que dificuldades de naturezaconsular degenerem em constrangimentos e atritospolíticos. A situação dos chamados “brasiguaios” noParaguai e a dos dentistas brasileiros em Portugal

são exemplos da necessidade de enfrentar comrealismo e espírito cooperativo situações que exigemdo tamaraty a defesa dos interesses dos brasileirosno exterior e a manutenção do bom relacionamentocom países amigos. A segunda preocupação dizrespeito à imagem do Brasil no exterior.

O atento acompanhamento dos problemasenfrentados pelas comunidades brasileiras noestrangeiro e a pronta e eficiente assistência aosnacionais são importantes fatores da preservação daimagem positiva do País no exterior. E quandomenciono a importância da imagem internacional doBrasil não estou me referindo apenas ao tema dacredibilidade do Governo no exercício das suasrelações exteriores, mas também e principalmente àmaneira como são vistos, aceitos e recebidos osbrasileiros nos demais países. Os brasileiros serãotanto melhor tratados quanto menos a imagem doPaís for passível de associação com atividadeseventualmente desempenhadas por cidadãosbrasileiros em violação às legislações locais einternacionais. O que está em jogo, nessas situações,é, ao mesmo tempo, a credibilidade do País e arespeitabilidade de seus cidadãos, dois conceitos que,numa sociedade democrática, se complementam.

Para dar cumprimento, na prática, às novasdiretrizes da política de assistência a brasileiros, oItamaraty elaborou alguns projetos, que estão emexecução e que imprimiram novas e importantescaracterísticas às funções consulares. A seguir, sãobrevemente descritos alguns desses projetos e seusresultados.

Criação dos Conselhos de Cidadãos juntoaos Consulados e Embaixadas. Consistem osConselhos em órgãos apolíticos de aconselhamentodo Consulado, com vistas a uma melhor adaptaçãodos brasileiros à realidade de cada país. Sãointegrados, em forma rotativa, por uma variada gamade participantes, todos cidadãos brasileirosresidentes na jurisdição ou funcionários da repartição.Os Conselhos permitem a apresentação regular desugestões da comunidade e a disseminação mais ágil

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de informações. Servem como elemento aglutinadorda comunidade, com atuação nas áreas de seguro-saúde, aconselhamento psicológico, organização deeventos comunitários e apoio a cidadãosnecessitados.

Esta é uma iniciativa de enorme relevância,pois constitui, na linha de orientação do PresidenteFernando Henrique Cardoso, um precioso canal decomunicação, cooperação e interação entre oGoverno e a sociedade civil no exterior. Já contamoscom 29 Conselhos de Cidadãos, distribuídos pelaEuropa, Estados Unidos, Canadá, Japão e Américado Sul. Em 1997, o número de Conselhos deCidadãos deverá ser ampliado.

Abertura de novas repartições consulares decarreira. Na medida da disponibilidade de recursos,está sendo ampliada a rede consular, para uma maiorcobertura das necessidades dos brasileiros noexterior. Em 1995, foi inaugurado o Consulado-Geralem Tóquio, que atende a cem mil brasileirosresidentes. Os outros cem mil brasileiros no Japãosão assistidos pelo Consulado-Geral em Nagóia. Em1996, foram instalados outros dois Consulados decarreira: um na Cidade do Cabo, África do Sul, paísque recebe um crescente fluxo de turistas eempresários brasileiros, e outro em Atlanta,importante pólo regional dos Estados Unidos. Para1997, está prevista a inauguração do Consulado emCórdoba, na Argentina.

Ampliação da Rede Consular Honorária. OMinistério das Relações Exteriores tem tambémdesenvolvido uma política de abertura de ConsuladosHonorários, os quais, embora possuam funçõeslimitadas, se constituem em importantes pontos deapoio para a prestação de assistência a brasileiros.Suas atividades podem estender-se a outros camposalém da função consular propriamente dita, como,por exemplo, apoio a delegações brasileiras queparticipem em eventos na sua área de jurisdição. Nosúltimos dois anos, foram abertos três ConsuladosHonorários nos Estados Unidos: em Birmingham,(Alabama), Phoenix (Arizona) e Seattle (Estado de

Washington). Também foram abertos os ConsuladosHonorários em Rovaniemi, na Finlândia, em Gdanske Cracóvia, na Polônia, e Port Said, no Egito. Háplanos para abertura em Riga, na Letônia, Tallim, naEstônia, Cuenca, no Equador, Casablanca, noMarrocos, Pointe-à-Pitre, no Caribe francês, Cancún,no México, San Ignacio de Velasco e Trinidad, ambosna Bolívia, e Santander, na Espanha.

Instituição do Sistema de ConsuladosItinerantes. Experiência que começou no Paraguai,consiste no deslocamento, a localidades de maiorconcentração de brasileiros, de uma equipe integradapelo Cônsul e outros funcionários consulares, a qualpresta atendimento “in loco”. Trata-se aqui da políticaconsular de ir ao encontro da comunidade, evitando-se que o cidadão brasileiro, muitas vezes de baixopoder aquisitivo, deixe de praticar algum ato notarialou de registro civil por falta de meios para deslocar-se uma ou mais vezes ao Consulado, localizado longede sua área de trabalho e residência. Já se realizarammais de 30 missões consulares itinerantes, comdestaque para as feitas nos Estados Unidos, onde acomunidade de brasileiros é maior. Foram atendidosaproximadamente 4.000 cidadãos brasileiros, como auxílio das próprias comunidades, que indicam, comfreqüência, voluntários para assessorar osfuncionários consulares nos seus trabalhos.

No Paraguai, tem-se buscado atender àsnecessidades de trabalhadores rurais brasileiros, dosquais cerca de 70.000 não dispunham de permissãode residência (e muitos sequer dos documentosbrasileiros que os habilitassem a obtê-la), vivendo,por isto, em situação de ilegalidade. Apósnegociações realizadas entre as Chancelarias deBrasil e Paraguai, foi possível realizar, entre 15 desetembro e 30 de novembro de 1995, amplacampanha para a documentação de nacionais que seencontravam à margem da lei. Por meio dessaoperação, executada em conjunto pela rede consularbrasileira, autoridades de imigração paraguaias efuncionários da Polícia Federal, cerca de 35.000compatriotas receberam certificados de residência e

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8.000 os atestados de antecedentes criminais quelhes permitem regularizar sua situação.

Assistência a presos brasileiros no exterior.Dentro do universo de um milhão e meio de brasileirosresidentes no exterior e de três milhões de viajantespor ano, é compreensível que muitos se envolvamem situações jurídicas as mais diversas, inclusive decunho penal. Consciente da necessidade de enfrentartambém essa nova realidade específica, o Itamaraty,desde 1995, vem efetuando levantamento sobre osbrasileiros presos no exterior, por meio desolicitações, às Embaixadas e Consulados, deinformações sobre os encarcerados, com vistas aaprimorar o serviço de assistência que lhes é prestado.Segundo o mais recente levantamento, há cerca de900 brasileiros presos no exterior, distribuídos emmais de 40 países. Observada sempre a praxeinternacional consagrada de respeito às leis e àsautoridades do país onde estão situadas, as missõesdiplomáticas e repartições consulares são orientadasa verificar se o nacional está sendo bem tratado, seprecisa de cuidados médicos e se conta comassessoria jurídica. As repartições brasileiras tambémrealizam visitas periódicas aos presos, com vistas aum acompanhamento regular de sua situação.

Prestação de assistência jurídica emsituações determinadas. Sempre que julgadanecessária, de acordo com o critério de desvalimento,tem sido prestada assistência jurídica aos cidadãosbrasileiros no exterior. Em alguns países, dadas aspeculiaridades locais, as repartições brasileirascontam com assessoria legal permanente. Na maioriados casos, são solicitados pareceres jurídicos parasituações concretas, tópicas, de molde a orientar tantoa repartição brasileira quanto, principalmente, ocidadão brasileiro interessado. Em casos mais gravesde violação de direitos, tem-se contratado advogadopara ajuizamento de ação.

Reserva de Assistência Consular. Tem porobjetivo custear despesas urgentes e imprevistas deassistência consular. Embora em montante limitado,em razão da escassez de recursos, beneficia a mais

de sessenta repartições no exterior, justamente as demaior movimento consular. É uma espécie de fundode recursos, que são adiantados preventivamente noinício de cada exercício. A disponibilidade imediatapermite aos Consulados e Embaixadas o atendimentoao brasileiro desvalido, evitando assim situaçõesconstrangedoras para a repartição e, principalmente,para o cidadão.

Edição de Cartilhas Consulares. As Cartilhasconsistem em folhetos bastante simples, comconselhos práticos para evitar situações desagradáveise facilitar a vida das pessoas no exterior. Editou-se,por exemplo, uma cartilha especial para os JogosOlímpicos de Atlanta, que foi distribuída junto àscompanhias aéreas e nos hotéis onde se hospedavambrasileiros na cidade. Também estão sendo editados500 mil exemplares de cartilhas de viajantes, em trêsversões, destinados às pessoas que se destinam paraa Europa, América do Norte e Japão. Há aindacartilhas para brasileiros residentes em determinadospaíses e para estrangeiros que viajam ao Brasil. Opróximo passo nesse campo é desenvolver umacartilha especial de instalação, destinada aosbrasileiros que chegam a certos países para nelesresidir.

Criação da Direção-Geral de AssuntosConsulares, Jurídicos e de Assistência a Brasileirosno Exterior. Em 1995, foi criada essa Direção-Geralno Itamaraty, tendo como uma de suas incumbênciasespecíficas, como o próprio nome indica, aassistência aos cidadãos brasileiros no exterior. Alémdisso, a Direção-Geral de Assuntos Consulares,Jurídicos e de Assistência a Brasileiros no Exterior(DCJ) passou a responder diretamente à Secretaria-Geral do Itamaraty, o que lhe confere maiorautonomia, agilidade e acesso direto à alta direçãodo Ministério. Essa elevação de categoria também éclara sinalização da relevância política que a proteçãoa brasileiros ganhou dentro da estrutura do Itamaraty.Contatos diretos com as comunidades brasileiras noexterior.

Identificados, por intermédio do censo, os

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principais núcleos de presença de brasileiros noexterior, o Diretor-Geral de Assuntos Consulares,Jurídicos e de Assistência a Brasileiros no Exteriordesenvolveu e continua a desenvolver programa devisitas às comunidades - intituladas ouvidoriasconsulares -, em que promove contatos diretos comentidades e personalidades mais representativas dacolônia. Julga-se, dentro do objetivo do Itamaratyde ir além das funções consulares clássicas, ser essauma das formas de identificar as necessidades dascomunidades e de avaliar a melhor maneira desatisfazê-las. Com esse propósito, foram visitadascomunidades de brasileiros nos Estados Unidos, noCanadá, na Europa, no Japão e no Paraguai.

Criação do Núcleo de Assistência aoBrasileiro. Em 1995, foi criado, no âmbito da Divisãode Assistência Consular - que se subordina àDireção-Geral de Assuntos Consulares, Jurídicos ede Assistência a Brasileiros no Exterior - , um Núcleode Assistência ao Brasileiro, formado porfuncionários especializados no atendimento desituações de emergência. O Núcleo constitui elo ágile desburocratizado entre o brasileiro no exterior emsituação de dificuldade e seus familiares ou amigosno Brasil. É dotado de telefone/fax próprio e faz usode um boletim especial, o Boletim de OcorrênciaConsular, que facilita, em linguagem simples e direta,as comunicações urgentes com a rede consular noexterior.

Há ainda diversos outros projetos de reforçodas bases de assistência consular que estão emexecução, como realização de reuniões consularesde coordenação por áreas geográficas para Cônsulese responsáveis pelo Serviço Consular deEmbaixadas, programa de visitas às fábricas -sobretudo no Japão - que empregam grande númerode brasileiros, realização de palestras de divulgaçãodos serviços consulares, revisão e atualização doManual de Serviço Consular e Jurídico, padronizaçãodos documentos consulares e atos notariais,intensificação do treinamento dos funcionáriosconsulares, entre outros.

Esse conjunto de projetos traduz, na prática,a prioridade atribuída pelo Governo à assistência eproteção ao brasileiro no exterior. A execução detais projetos está redefinindo as funções do ServiçoConsular Brasileiro, hoje cada vez mais voltado paraa comunidade e seus anseios.

O que se busca é aproximar o Consuladodas colônias e aprofundar o diálogo entre ambos, demodo a poder recolher comentários, ouvir problemase promover solucões. Esta interação confirma ocompromisso do Governo com o aperfeiçoamento ea democratização dos serviços e assistênciaconsulares, desenvolvimento que permitirá a tantosmilhões de brasileiros se sentirem crescentementeamparados, mais cidadãos e menos distantes do País.

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Entrevista do Ministro de Estado das RelaçõesExteriores, Luiz Felipe Lampreia, para a Revistada Embaixada do Chile em Brasília. Brasília,agosto de 1996

Revista: O acordo Mercosul-Chile foiqualificado pelo Senhor como “um acordo dequalidade” e “um bom sinal” que ajudará na gestãobrasileira na presidência pro-tempore do Mercosul.Concretamente, quais são, na sua opinião, os aportesmais importantes que essa associação do Chile traz?

Ministro: São dois tipos de aportes. De umlado, muito concretamente, esta o próprio mercadochileno, que agrega 14 milhões de habitantes econsumidores potenciais ao Mercosul, além de quase70 bilhões de dólares de Produto e uma notávelcapacidade de investimento decorrente das altastaxas de poupança da economia chilena em torno de27 por cento, talvez sem precedentes na histórialatino-americana.

O Chile passa, assim, a ser um importantefator econômico para o Mercosul. De outro lado,está a longa experiência que o Chile tem em matériade estabilização, ajuste e abertura da sua economia,o que lhe valeu um grande prestígio internacionaljuntamente com resultados que alteraramcomplemente, para melhor, a natureza da suainserção internacional. E um aporte político, porqueo Chile reforça a imagem de consistência doMercosul, sua vocação de regionalismo aberto e suacapacidade de incorporar novos parceiros dequalidade que ajudarão na tarefa de continuarconsolidando o processo e aprimorando tanto as suasrelações com outros países e regiões, quanto a suaprópria organização interna, seus mecanismos paralidar com práticas desleais de comércio, salvaguardas

e direitos do consumidor, etc.Revista: Entre os elementos positivos

mencionados pelo Senhor está o fato de que o Chile“permitirá um acesso privilegiado ao Pacífico”. Noentanto, há opiniões de funcionários do Governobrasileiro no sentido de que essa possibilidade nãoseria viável no momento. O Senhor considera possívelimplementar em um prazo razoável corredoresbioceânicos que permitam a saída de produtosbrasileiros ao Pacífico?

Ministro: Eu creio que a importância doscorredores bioceânicos será antes de mais nadafacilitar a comunicação entre o Chile e os países doMercosul. A utilização dos corredores como acessoaos mercados do Oceano Pacífico dependerá defatores muito precisos que os agentes econômicosavaliarão em função das suas prioridades, como custoe tempo do transporte, segurança, possibilidade deutilização de frete de retorno e assim por diante. Nósdevemos fazer um esforço para fazer a interconexãoviária, utilizando as opções mais economicamenteviáveis, para vermos depois se, além de servirem deinterconexão física entre os países do Cone Sul daAmérica do Sul, eles poderão também servir deinterconexão da parte oriental do continente com ospaíses da outra margem do Pacífico.

Revista: O Senhor considera que oscorredores bioceânicos podem cumprir o objetivode desenvolvimento interno das regiões queatravessam? Em que prazos pensa que poderiamvislumbrar-se resultados positivos?

Ministro: Sem dúvida as obras de infra-estrutura e interconexão física são ao mesmo tempouma resposta e um estímulo ao desenvolvimento dasregiões que atravessam e que colocam em contato.

ENTREVISTA

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Não tenho dúvida de que a região centro-oeste doBrasil será grandemente beneficiada com um melhoracesso aos mercados boliviano, chileno e peruano eeventualmente com o próprio acesso facilitado aosmercados da região da Ásia-Pacífico. Algunsresultados poderiam dar-se mais rapidamente,inclusive tendo em vista que já está concluída a ligaçãoLa Paz-Arica e que a ligação do Brasil com La Pazpoderia avançar em função da própria densificaçãodas relações econômicas e comerciais com a Bolívia,graças ao acordo em gestação com o Mercosul egraças também ao bom desfecho das negociaçõessobre o gasoduto Brasil-Bolívia.

Revista: Apesar de que o Governo doPresidente Cardoso, e especialmente o Itamaraty,favorecem uma abertura real do comércio brasileiro,medidas do Ministério da Indústria e Comérciopoderiam se consideradas “protecionistas”. Hácondições de resolver essas aparentes contradiçõesna política comercial do Brasil?

Ministro: Não há contradições.O Brasil fezuma ampla e rápida abertura do seu comércio exteriore precisou fazer alguns ajustes de curso para quepudéssemos justamente consolidar essa abertura.Tenho sido enfático ao dizer que não se trata de voltaao passado. O Brasil está comprometido com aabertura econômica e comercial não apenas pordecisões de política econômica, mas também porvários acordos internacionais, a começar pelaOrganização Mundial do Comércio e pelo Mercosul.Nós queremos assegurar que essa abertura se consolideem termos que sejam positivos para a sociedadebrasileira, para o consumidor brasileiro e também paraos agentes econômicos brasileiros, que ganharãomelhores condições de competitividade e produtividade.Para isso, precisamos estar atentos a alguns pontosbásicos.

Primeiro, não criar desvantagens para o Brasilem relação a outros sócios em matéria deinvestimento; segundo, não comprometer o PlanoReal, seja reduzindo a oferta de bens, seja permitindoum desequilíbrio arriscado na balança de

pagamentos; terceiro, impedir práticas desleais decomércio; e, quarto, garantir reciprocidade de acessodos produtos brasileiros aos mercados dos nossosparceiros, sem para isso ter de expor a economiabrasileira a um segundo choque de abertura aoexterior, que seria precoce e contraproducente, alémde muito arriscado. E isso o que estamospromovendo, seja ao fazer pequenos ajustes napolítica comercial, seja ao participar de negociaçõesinternacionais no âmbito do Mercosul, entre oMercosul e outros países ou regiões e no âmbito daformação da Área de Livre Comércio das Américas.

Revista: Poderia fazer um breve balançoda sua visita ao Chile?

Ministro: A visita não poderia ter sidomelhor. Na verdade, serviu mais que nada paracorroborar que as relações entre o Chile e o Brasilde fato chegaram a um novo patamar em termospolíticos e econômico-comerciais, com as duas visitaspresidenciais e com o Acordo Chile-Mercosul, e quede agora em diante devem desenvolver-se com muitodinamismo. Já somos o terceiro parceiro comercialdo Chile e nosso comércio bilateral ultrapassou em1995 os dois bilhões de dólares, com bastanteequilíbrio. Os chilenos me disseram que o comércioexterior do Chile cresceu como um todo em umaproporção sem precedentes no ano passado, mas ocomércio com o Brasil cresceu muito mais.

Já havíamos resolvido a questão do tráfegoaéreo, que agora deve repercutir muito positivamentenas relações entre os dois países, inclusive ampliando oturismo recíproco, um elo de ligação importante porquetem uma dimensão humana que não pode faltar nasparcerias privilegiadas como a brasileiro-chilena.

Realcei a importância de que os investimentosrecíprocos aproveitem essa expressiva mudança paramelhor das relações para crescer e colocar-se à alturados demais aspectos do relacionamento. Acho queas privatizações no Brasil, a estabilização e ocrescimento brasileiro, além das facilidades criadaspelo Acordo Chile-Mercosul, criaram um novoambiente em que o crescimento dos investimentos

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poderá se tornar o carro-chefe das relações. Deresto, fui muito bem recebido pelo Governo e pelopovo chilenos e minha visita teve da imprensa chilena

uma cobertura que, quero crer, é produto do interessenovo com que os chilenos estão olhando para o Brasil.

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INDICE REMISSIVO

A

África 41África do Sul 23, 46, 152, 164, 171, 173, 175, 177,178, 201, 205, 237ALADI53, 61, 62, 63, 64, 119, 120, 139, 214, 222Alemanha13, 20, 39, 43, 52, 79, 80, 81, 113,125, 126, 127, 128, 149, 150, 203, 204,205Meio Ambiente14, 34, 51, 71, 97, 104, 114, 126, 139,155, 174, 194, 196, 201, 205, 218América do Sul 19, 22, 53, 54, 59, 76, 78, 80, 120,141, 149, 151, 176, 177, 213, 221, 234,237, 241América Latina12, 16, 18, 22, 38, 42, 43, 46, 49, 64,78, 89, 90, 96, 119, 137, 146, 147, 149,151, 152, 199, 204, 219, 221, 222, 223Americas Society 91Angola23, 30, 46, 83, 87, 115, 152, 163,164, 165, 191, 205Armênia 34, 217, 218Assembléia Geral das Nações Unidas53, 207, 210Azeredo da Silveira 37, 220

B

BNDES 35, 36Brasileiros no Exterior 11, 20, 117, 149, 201, 234, 235, 236, 237, 238

C

Caribe 73, 89, 90, 106, 107, 146, 237Chade 209Chile19, 22, 46, 50, 53, 54, 55, 59, 68, 80,89, 98, 106, 120, 129, 133, 139, 141,149, 151, 199, 201, 213, 214,218, 219, 222, 223, 225, 241, 242China15, 19, 20, 24, 41, 43, 47, 50, 54, 111,113, 115, 149, 153, 155, 156, 157,189, 204Cingapura 51, 193, 199, 229, 230, 231, 232Cláusula social 229, 230, 231, 232, 233Colômbia 54, 133, 222, 225Comissão de Direito Internacional 210Comitê de Contribuições das Nações 210Comunidade dos Países de Língua Portuguesa(CPLP) 29, 30, 31, 191, 214Cone Sul 137, 141, 142, 177, 213, 241Conselho de Segurança 24, 45, 47, 153, 210Conselho do Mercosul 139Cooperação21, 22, 30, 34, 35, 36, 45, 46, 50, 60,63, 75, 78, 79, 80, 81, 120, 121, 126,127, 129, 131, 133, 145, 146, 151, 155,156, 157, 159, 160, 161, 162, 164, 172,176, 177, 191, 195, 208, 209, 211, 214,218, 237Coréia 75, 76, 204, 233Corte Internacional de Justiça 201, 210CTBT 87, 88, 208Cúpula Iberoamericana 190Cursos jurídicos no Brasil 37

246 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

D

Democracia 12, 14, 18, 30, 39, 44, 60, 62, 71, 72,76, 80, 89, 90, 100, 105, 106, 107, 112,113, 116, 120, 126, 137, 148, 159, 160,163, 164, 172, 174, 176, 177, 190, 210,219, 222Descobrimento do Brasil 27, 28Dinamarca 133Diplomacia 19, 3611, 15, 18, 19, 20, 24, 25, 33, 37, 38,41, 44, 45, 46, 47, 73, 105, 106, 112,119, 147, 148, 149, 150, 153, 154, 172,190, 215, 217, 220, 229, 234, 235, 236Djibouti 209

E

Equador 54, 203, 237Escola Superior de Guerra 11, 25Espanha 112, 119, 161, 162, 210, 211, 237Estabilização13, 16, 17, 18, 21, 22, 43, 44, 45, 46,60, 62, 76, 80, 116, 126, 139, 150, 155,160, 161, 177, 201, 213, 214,216, 222, 224, 227, 228, 241, 242Estados Unidos20, 21, 39, 45, 50, 52, 99, 105, 111,113, 126, 133, 149, 150, 151, 205, 208,210, 225, 230, 234, 237, 239Expotecnia 161, 162

F

Fundação Alexandre de Gusmão 147, 220

G

Globalização 9512, 13, 14, 15, 36, 40, 41, 51, 55, 72,

76, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 110, 111,112, 113, 114, 115, 137, 138, 156, 172,173, 174, 175, 176, 177, 178,189, 221, 223, 228

I

Itália 20, 150Itamaraty11, 25, 35, 36, 37, 47, 91, 95, 109,154, 209, 210, 211, 217, 220, 225,226, 234, 235, 236, 238, 239, 242Integração hemisférica19, 20, 21, 22, 45, 54, 62, 150, 151,199, 223, 224, 225, 226

J

Japão12, 13, 16, 18, 19, 20, 24, 39, 42, 43,50, 59, 60, 111, 113, 121, 126, 139, 149,153, 189, 201, 203, 211, 232, 233, 234,237, 238, 239

L

Lisboa 28, 29, 189, 190, 191

M

Marketing 141, 143, 223, 224, 228Mercosul137, 138, 139, 140, 142, 150, 151,152, 157, 161, 162, 176, 177, 190, 196,197, 198, 199, 201, 213, 214, 216,223, 224, 225, 226, 227, 228, 229MTCR 24, 153

247Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

N

Nações Unidas19, 21, 24, 25, 30, 34, 45, 46, 47, 53,75, 80, 127, 152, 154, 203, 207, 208,209, 210, 218

O

OEA 71, 72Ordem do Cruzeiro do Sul 34, 217, 218Organização Mundial do Comércio 23, 75, 152, 157, 193, 194, 201, 214, 231,242Oriente Médio15,19, 23, 41, 43, 45, 46, 115, 117, 149, 153

P

Pernambuco 37Política Externa 38, 42, 44, 45, 47, 53, 64, 71, 76, 80, 105Polônia 203, 237Portugal20, 29, 30, 83, 149, 189, 190, 191, 207, 214, 215, 236

R

Reformas15, 17, 21, 43, 44, 45, 60, 61, 77, 80,106, 107, 111, 116, 119, 122, 138, 150,160, 161, 177, 194, 221, 228, 230Reino Unido 119, 205, 232República Tcheca 77, 78

S

Século XXI39, 110, 111, 116, 117, 139, 228Setor Privado95, 139, 193, 226, 227

T

Timor Leste 191, 207

U

UNESCO 95, 145, 146, 204, 209, 210União Européia 21419, 20, 22, 30, 45, 50, 51, 54, 80,98, 113, 117, 120, 121, 1 22, 123, 126,127, 129, 139, 141, 142, 149, 150,151, 152, 162, 190, 215, 223,227, 230, 233

Universidade 145, 147, 154, 219, 22, 225Uruguai49, 50, 51, 54, 62, 97, 119, 120, 129,130, 131, 133, 137, 139, 161, 175, 193,194, 197, 203, 204, 213, 216,222, 227, 232, 233

V

Venezuela22, 46, 50, 54, 80, 96, 101, 102, 103,104, 105, 106, 107, 108, 133, 151,214, 222

248 Resenha de Pol. Ext. Brasil, a. 23, n. 79, 2º semestre 1996

RESENHA DE POLÍTICA EXTERIOR DO BRASILNúmero 79, 2o semestre de 1996Ano 23Capa / Editoração eletrônica e projeto gráfico Hilton Ferreira da SilvaFormato 20 x 26 cmMancha 15,5 x 21,5 cmTipologia Times New Roman 12 x 18 (textos);

Times New Roman 26 x 31,2 (títulos e subtítulos)Papel Supremo 250 g/m2, plastificação fosca (capa),

e 75 g/m2 (miolo)Número de páginas 248Tiragem 500 exemplaresImpressão / Acabamento Dupligráfica Editora Ltda

Departamento de Comunicações e Documentação