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RESENHA DE PALÁCIOS

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Page 1: RESENHA DE PALÁCIOS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ- CAMPUS CAMPO MOURÃO

CURSO DE HISTÓRIA

HISTÓRIA ANTIGA

PROF. JORGE PALIARIN JR.

06 JUN. 2013

MARIA HELENA IBANEZ

RESENHA: PALÁCIOS, TEMPLOS E ALDEIAS: O “MODO DE PRODUÇÃO

ASIÁTICO”

CARDOSO, Ciro F. Palácios, templos e aldeias: o “modo de produção asiático”.

(Ática, São Paulo/SP. 2007. Pag. de 06 a 52).

Ciro Flamarion Cardoso (20 de agosto de 1942, Goiânia), é professor de

história antiga e medieval da Universidade Federal Fluminense, onde atua no

curso de história (graduação) e no programa de pós-graduação em história; é

membro do Centro de Estudos Interdisciplinares da Antiguidade (CEIA-UFF) e

publicou numerosos livros e artigos sobre história antiga, história da América

(escravidão negra) e teoria e metodologia da história. Foi o vencedor do Prêmio

Delavignette (França) em 2000.

Dentre outros, “O Egito antigo”, “O trabalho compulsório na Antiguidade”,

“A cidade-estado antiga” e “O trabalho na América Latina colonial (na Série

Princípios)”, além daquele que trataremos nesta resenha: “Palácios, templos e

aldeias: o modo de produção asiático".

Trata-se de um autor que se mantém fiel desde o princípio de sua carreira

de historiador e ensaísta aos conceitos básicos do Materialismo histórico, muito

embora, tenha deslocado sua linha de análise de um Marxismo um pouco mais

fechado no princípio de sua carreira (culminando esta primeira fase com os

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Ensaios racionalistas) para uma abordagem marxista mais flexível, voltada para

interações interdisciplinares diversas.

Neste texto sobre as sociedades do antigo Oriente Próximo (através dos

exemplos egípcio e mesopotâmico), ele vincula seu estudo diretamente à noção

de modo de produção asiático.

Inicialmente traça um perfil dos antecedentes do surgimento deste conceito

(M.P.A.); da sua elaboração na obra de Marx; e do seu complexo destino

posterior.

Em seguida, expõe a versão específica do mencionado conceito, usando-o

como base para interrogar os exemplos escolhidos.

Nos antecedentes do conceito de "modo de produção asiático", elabora a

idéia de que no período compreendido entre os séculos XVI ao XVIII, os

escritores europeus, se referiam ao Oriente, Ásia, partindo de um contexto de

pensamento relativo ao social como existia em sua época. Ou seja, manifestando

interesse prioritário pelos aspectos políticos, uma vez que a concepção de que a

política não passa de uma parte do todo social, sendo só o princípio condutor,

surge pouco antes do século XIX.

Desta forma situações denominadas como "despotismo oriental" eram

tratadas de forma autônoma, com análise própria usando-se materiais originados

da Bíblia e de escritores antigos.

Ainda no século XVI, descreve uma Europa mergulhada nas necessidades

emergenciais das nações-estado e das monarquias absolutistas, dentre as quais,

exércitos e burocracias permanentes, sistemas de finanças nacionalmente

integrados, impostos e leis.

Neste emaranhado, prevaleceu a opinião dos gregos sobre o Império

Persa, Turcos Otomanos e o Império Russo (Moscovita).

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No século XVII, filósofos, historiadores, economistas e/ou políticos,

começam a utilizar os primeiros textos elaborados por viajantes ao Oriente

(mercadores, navegantes e diplomatas), para tratar de temas, sobre o

absolutismo, sobre o livre comércio e sobre os direitos naturais do homem.

E a partir do século XIX surgem estudos mais aprofundados sobre as

sociedades asiáticas em sua heterogeneidade e multiplicidade, e, como objeto de

estudo em si mesmas por conta não só das mudanças na maneira de abordar o

tema “social”, mas muito mais pelo crescente interesse europeu em tais

sociedades. Buscava-se além compreensão dos problemas, as respostas

correspondentes, surgindo assim, autores que apontavam as sociedades orientais

como uma antítese da monarquia européia. Dentre eles Machiavel, por exemplo,

acreditava que no Império Turco havia um único senhor, sendo todos os outros

homens seus servidores; o motivo seria que, ao contrário do que ocorria na

Europa, entre os otomanos inexistiria uma nobreza hereditária, idéia algum tempo

depois retomada por Francis Bacon, na qual o governo europeu, exercido por um

monarca cercado de conselheiros diferenciava-se totalmente do despotismo

oriental; contrastando os numerosos Estados europeus, em que havia condições

que favoreciam a criatividade dos habitantes, aos imensos impérios orientais,

caracterizados por uma população servil.

Já Bodin, comparou a "monarquia real" européia com a "monarquia

senhorial" do Oriente, na qual o rei governava seus súditos como um chefe de

família romano governava seus escravos.

Thomas Hobbes apoiou algumas das idéias de Bodin, ao tratar do que

chamou de "reino despótico".

Durante o século XVII problematizou-se sobre as origens e bases do

"poder despótico”, apoiando teses como a de Maquiavel e Bacon acerca da

ausência de mediações sociais entre a corte e o povo, na qual o déspota era o

único proprietário do solo.

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Prosseguindo, cita a tese de Bernier, que acreditava ser a propriedade a

fonte do poder despótico (adotada posteriormente pelos fisiocratas, por Adam

Smith e por Marx), enquanto outros defendiam que era do poder absoluto que o

governante derivava seus direitos sobre as pessoas e os bens, além de verificar

que os artífices orientais dependiam da redistribuição das riquezas concentradas

através de tributos feita pelos soberanos, para os quais trabalhavam.

É no século XVIII que surge a China como foco de interesse da

intelectualidade do Ocidente, alimentando a posição entre "sinófilos" (que

defendiam os assuntos ligados à/ou da própria china), e "sinófobos". Voltaire

ilustrando a primeira posição e Montesquieu, a segunda.

Montesquieu, em 1748, exemplifica o "despotismo" uma das formas

fundamentais de governo, não apenas nas sociedades orientais, mas também no

Império Romano e na Inglaterra de Henrique VIII.

Contrapõe "monarquia" e "despotismo" explicando que sob este último

regime, inexiste qualquer instância entre o déspota e o povo.

No entanto, Voltaire criticou Montesquieu, e foi apoiado por alguns

fisiocratas, dentre eles Quesnay, que descrevia a China como um "despotismo

legal", em oposição ao "despotismo arbitrário". Credita-se a eles a formulação do

primeiro modelo econômico sistemático aplicado ao "despotismo oriental". Foram

os primeiros a descreverem a economia como um todo, feita de partes

interdependentes ou solidárias.

Passando por Anquetil-Duperron, que defende a idéia de que a Índia não

tinha um governo despótico e que, consequentemente, não ignorava as leis ou o

direito de propriedade, além de negar a afirmação; por Adam Smith, que em “A

riqueza das nações” (1776), afirmou que na Índia e na China a agricultura, e não a

manufatura era altamente considerada e favorecida; por Hegel que faz um

contraste entre Oriente e Ocidente; por John Stuart Mill, que defendia que em

borá o Estado fosse o proprietário das terras, os camponeses detinham seu

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usufruto mediante pagamento de rendas, cita outro economista político, cujas

idéias teriam grande influência sobre Marx, Richard Jones, que em 1831

caracterizara a "renda em forma de tributo". Os pontos principais deste tema são:

1) ENGELS sugeriu que a inexistência de sociedade privada residiria

nas condições climáticas de semi-aridez, fazendo com que a irrigação, organizada

pelas comunidades ou pelo Estado, fosse primordial para a agricultura. Sugeriu

dois caminhos históricos para o surgimento do Estado: o que conduz ao

despotismo oriental, no qual se mantêm em existência as comunidades aldeãs, e

o que passa pela dissolução das comunidades tribais e pela evolução das forças

produtivas, levando ao desenvolvimento do escravismo.

2) MARX, ao abordar as formas que precedem o a produção

capitalista, enxerga a forma “asiática” como uma entre várias possíveis, e

justamente a mais resistente às mudanças, devido à união da agricultura e

artesanato, onde o indivíduo não poderia se converter em proprietário.

3) Surgimento da escravidão e da servidão pouco alterou essas

comunidades.

4) O trabalho se dá pelo cultivo das famílias em lotes individuais e pelo

cultivo comum do solo (comunidades).

5) As obras públicas, na prática exercidas pela comunidade, aparecem

como realização divina, do DÉSPOTA.

6) Seguindo as idéias de ADAM SMITH e RICHARD JONES, Marx

ressalta a necessidade de um recurso de coação extra-econômica, ou seja, da

utilização da repressão militar, dos mecanismos judiciais, das ideologias, etc.,

para apropriação do excedente produzido pelo camponês.

Como nos simpósios realizados em Tbilisi e Leningrado concluiu-se pela

inexistência de um M.P.A. específico, havendo apenas uma “variante asiática” do

escravismo ou do feudalismo, o conceito foi abandonado por várias décadas, até que

KARL Wittfogel, ex-líder do PC alemão, mudou-se para os Estados Unidos, onde expôs

sua teoria sobre as sociedades hidráulicas, e seus representantes na contemporaneidade

seriam a URSS e a China, grandes inimigas do ocidente, defendendo que a necessidade

de controle sobre os grandes trabalhos exigidos pela manutenção de um sistema

complexo de irrigação foi o fator central gerador do Estado despótico. Teoria antiga,

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defendida por historiadores como J. Baillet, J. Pirenne, J. Vercoutter, A. Moret e H. W. F.

Saggs.

Tal Hipótese é falsa, e isso foi provado por um dos mais incondicionais seguidores

de Wittfogel, A. Palerm, que buscava provar a hipótese no caso do México pré-

colombiano, mas acabou por provar o contrário: que o controle dos sistemas de irrigação

competia às comunidades locais e que só tardiamente o Estado desenvolveu uma política

de grandes obras públicas do tipo hidráulico.

Estas opiniões provocaram não só indignação como contribuíram para a retomada

do interesse pelo conceito.

Nas décadas de 60 e 70 aprofundaram-se os debates em torno do tema, com

muitos o chamando de “tributário”, “despótico-tributário”, “despótico-aldeão”, etc., já que

julgavam “asiático” um adjetivo inadequado.

Enfim, o autor destaca ser impossível seguirmos toda a trajetória do conceito de

“modo de produção asiático”, desde que sua discussão foi retomada, pouco antes de

1960. Mas destaca o grande número de sociedades e cortes cronológicos também

variados: as civilizações do antigo oriente próximo; algumas das civilizações da proto-

história (cretense, micênica), Índia, Sudeste Asiático e China pré-colonial; algumas das

culturas da África negra, as altas culturas pré-colombianas.

Continua explicitando que por volta de 7000 a.C., já existiam na Ásia

ocidental, aldeias sedentárias, resultantes do processo que o arqueólogo

australiano Gordon Childe propôs fosse chamado “Revolução neolítica”, cuja

forma de organização se generalizou aos poucos no Oriente Próximo.

Alguns séculos antes de 3000 a.C., na baixa mesopotâmia, e por volta

desta data no Egito, nova transformação – que Childe denominou “Revolução

Urbana” – se traduziu no surgimento das cidades, do Estado e de uma

diferenciação social profunda; ou, mais em geral, do que se convencionou chamar

CIVILIZAÇÃO.

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Mário Liverani, ao interpretar a situação posterior à Revolução Urbana,

propõe um duplo quadro teórico de referência: o modo de produção doméstico, ou

aldeão, e o modo de produção palatino.

O modo de produção doméstico, ou aldeão seria uma estruturação social

cuja origem remonta à Revolução neolítica, cujas características são: economia

de subsistência; ausência de divisão e especialização do trabalho dando-se em

cada aldeia a união da agricultura e do artesanato com a ausência de uma

diferenciação em classes sociais; a propriedade comunitária sobre a terra.

O modo de produção palatino resultaria da “revolução urbana”, que

desembocaria no surgimento de complexos palaciais e templários como centros

de nova organização social.

A economia passara a basear-se na concentração, transformação e

redistribuição dos excedentes extraídos por templos e palácios dos produtores

diretos – em sua maioria ainda membros de comunidades aldeãs - mediante

coação fiscal (tributos e corvéias), ou trabalhos forçados por tempo limitado, para

atividades civis (trabalhos diversos) e militares; isso manifestava a divisão e

especialização do trabalho, com o surgimento de especialistas, um sistema

fortemente hierárquico da sociedade, um sistema já complexo de propriedade que

incluía, entre outras formas, as propriedades dos palácios e templos.

Ele divide a Mesopotâmia em duas partes, a Alta Mesopotâmia, mais

montanhosa, e a Baixa Mesopotâmia, imediatamente ao norte do Golfo Pérsico,

região extremamente Plana.

A primeira povoada desde tempos pré-históricos, a segunda,

potencialmente fértil, mas pouco adequada à agricultura primitiva de chuva, não

parece ter sido ocupada antes do V milênio a.C., durante a fase de Ubaid, talvez

entre aproximadamente 5000 a 3500 a.C., além do berço de civilizações como

Sumérios, Babilônicos, Assírios e Caldeus.

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Apesar de características etnolingüísticas marcadas por dois grupos

iniciais: sumérios, vinculando-se arqueologicamente ao sudoeste do Irã (o Elam,

ou Susiana), que falavam uma língua aglutinante; e os acádios, que falavam uma

língua de flexão do grupo semita, e provavelmente vieram do oeste, no IV milênio

a. C., aconteceu uma fusão, na qual predominou as línguas semitas: o acadiano,

o babilônico dele derivado, e por fim o aramaico.

Sendo as cheias dos rios da Mesopotâmia irregulares e violentas era

necessário um sistema completo de proteção e de irrigação, diques e barreiras de

proteção, e ao mesmo tempo acumular água e cavar canais que irrigassem os

campos nas secas. Por volta do III milênio a. C., o principal dos canais naturais

dos rios era da cidade de Kish, o da cidade da Babilônia se tornou o mais

importante no final do milênio seguinte. As mudanças dos cursos dos rios

influenciavam nos assentamentos e concentrações demográficas. Na Suméria os

principais eram na cidade de Nippur, Shuruppak, Uruk, Ur e Eridu.

Era impossível uma agricultura de irrigação individual, pois as obras de

proteção e de irrigação exigiam um esforço coletivo e um uso regulamentado e

disciplinado pela lei. Há casos de ter que voltar ao nomadismo devido a

destruição das instalações de irrigação. Nas áreas planas o problema das cheias

era que imobilizava o solo em charcos e impregnava-o de sal e gesso, acorrendo

abandono das terras.

Mas o esforço era recompensado, pois a fertilização do solo rendia até

200% a colheita. Essa qualidade da plantação explica as cidades como Ur que

chegou facilmente a ter 200.000 habitantes e outras chegaram a 20.000 ou

50.000.

Os assentamentos seguiam perto os cursos dos principais rios, no inicio os

sistemas de irrigação eram em pequena escala, foi apenas no III milênio a.C. é

que surgiram as obras de grande porte, por causa dos governantes

desenvolvendo a urbanização. Então, as obras de irrigação não foram

responsáveis totalmente pela povoação na mesopotâmia, mas permitiram uma

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concentração bem maior em um espaço que limitavam a existência de um numero

de pessoas com tamanha densidade. Mas temos que levar em consideração as

tecnologias que surgiam, o uso do ferro para ferramentas foram importantes para

o desenvolvimento de uma agricultura que levou a um aumento populacional e,

conseqüentemente, a um comércio.

A agricultura: base da vida econômica e da urbanização, desde o milênio

III. O cereal mais cultivado era a cevada para a alimentação do gado e para

matéria-prima (cerveja); Também o trigo, gergelim para o azeite, legumes, raízes,

pomares de árvores frutíferas e árvores para obtenção da madeira. Muito escassa

na região (a madeira utilizada era a tamareira).

A pecuária era praticada junto com a agricultura; criavam ovinos, carneiros,

porcos, gados, mulas. Os gados e asnos (meio de transporte) puxavam arados e

carros. Os cavalos só vieram no milênio II a.C.

A lã também era para a produção têxtil, o linho e o algodão só vieram no II

milênio a.C. a pesca e a caça, depois que se sedentarizaram, se tornaram

atividades complementares. O junco, planta que nascia nos pântanos das cheias,

era usado para produção de barco, cestas, cordas e cabanas. A argila era para a

fabricação de cerâmica e tijolos, havia escultores e carpinteiros, além de trabalhar

com a argila e com a madeira, trabalhavam na escultura com pedra. Nas oficinas

desses artesãos a matéria-prima era importada quando não produziam como o

metal, cobre e o estanho.

O comércio, desde 4000 a.C. era muito importante, havia contatos com a

Arábia e a Índia.

Os comerciantes mesopotâmios mantinham uma rede de agentes e

correspondentes ao longo das rotas comerciais. Desde que deixou de ser

monopólio dos palácios e templos, o comércio de longo curso passou a permitir

considerável acúmulo privado de riquezas.

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A economia era protomonetária: não houve moeda cunhada antes do

domínio persa, mas a cevada e os metais (prata e cobre) funcionavam como

padrão de valor e unidade de conta nas transações. No século XXIV a.C., houve

uma reversão passageira do bronze ao cobre, aparentemente por que faltou

estanho.

Por volta de 3100 a.C. e 2900 a.C. haviam chefes de cidades-estados que

também eram sacerdotes. No milênio III a.C., por volta de 2500 a.C. aparece

outros elementos de organização, como as “corvéias”, que seriam formas de

trabalho forçado para obras públicas como os diques para irrigação. É nesse

tempo que os reis se proclamam de caráter divino (dizem ser representantes de

deuses, os chamados patesi). Cada cidade tinha um deus e esse vaiava de

acordo com quem dominava a cidade, no período de domínio sumério foi o deus

MARDUK que reinou nas imediações da cidade de Babilônia.

O resto da população se dividia em terras comunais e de famílias extensas

como comunidades aldeãs. A propriedade privada era pouco existente, pois

precisava de um grupo muito grande de pessoas para construção de diques para

a irrigação e uma só família não dava conta. A população construía os diques em

troca de ração. As comunidades possuíam terras coletivas.

Os Templos eram enormes complexos com terras e rebanhos, oficinas artesanais,

pois havia camponeses e artesãos a serviço dos sacerdotes, além de

comerciantes.

A escravidão era predominante nas mulheres, que ficavam nas tecelagens,

nos moinhos, serviços domésticos; a agricultura era para os homens. Pelas terras

não ter proprietários particular, ou era do Estado (do rei) ou das comunidades

aldeãs (nessas era um pequena parcela), portanto a produção era estatal (toda do

rei).

Os comerciantes (damgar) eram funcionários a serviço do palácio e dos

templos, mas faziam negócios por conta própria mesmo no período estatizante da

Dinastia de Ur, cidade que se tornou um grande centro urbano. Basicamente

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havia três tipos de propriedade de terra: as extensas terras reais; os domínios dos

templos; as terras coletivas.

Essa divisão de terras variava conforme alguns reinados que permitia até

propriedade privada, como no tempo que a cidade de Ur chegou a ter 200.000

habitantes e um grupo comercialmente importante, estes eram chamados de

tamkaru e faziam vínculos com o Estado. Faziam empréstimos para a

comunidade aldeã, compravam terras e escravos. Nesse tempo o direito privado

se tornou legal na legislação do Estado, sendo protegido pelo rei. Nas terras

reais havia três setores: a parte que administrava o palácio, trabalhada por

lavradores dependentes e pessoas que cumpriam a “corvéia real”; os que ficavam

nos lotes arrendados a colonos ou camponeses e recebiam uma renda in natura;

e as porções (ilku) que seriam concedidas a usufruto de soldados e funcionários

em troca de serviços, eram inalienáveis, mas transmissíveis por herança.

A mão de obra agrícola compreendia lavradores dependentes (ishshakku)

e também assalariados alugados por dia, em especial para a colheita, tanto nas

terras do rei quanto nas de particulares. A sociedade dividia-se em três categorias

jurídicas: awilum - o homem livre que gozava da plenitude dos direitos;

mushkenum - o homem livre de status inferior, talvez uma categoria de

dependentes do palácio e por este tutelados e protegidos; wardum- o escravo.

Seus direitos e deveres variavam conforme suas categorias.

Em 1792-1595 desenvolveu-se transações mercantis, cidades como

Sippar, Eshnunna e Ur se desenvolveram pelo ano de 1894 e 1595 a. C. , devido

a muitas famílias ricas que não tinham conexão com os templos e o governo real.

No período por volta 2900 a.C. ocorre imigrações de povos tribais

(cassitas, arameusm e caldeus) que revitalizaram as estruturas comunitárias.

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E a interrupção dos editos do tipo misharum significou o abandono da

proteção aos pequenos proprietários endividados, disto resultando a

concentração de propriedade do solo.

Nesse milênio já estamos com cidades desenvolvendo atividades

privilegiadas como centros agrícolas, comerciais e manufatureiros.

O domínio assírio nas cidades não mudou muito suas leis e sua

organização social, tendo os grupos com privilégios fiscais e outros obrigados a

pagar os impostos, tendo sociedades urbanas e rurais.

Concluindo, apesar de meu pouco domínio sobre o tema, atrevo-me a dizer

que um modo de produção segundo a proposta marxista, aquela de uma

sociedade organizada em comunas, nas quais a sociedade produziria seus bens

e serviços de acordo com sua estrita utilização/necessidade, distribuindo-os

igualitariamente, seria uma utopia.

Desta forma, atribuo ao texto em análise certa dose de complexidade,

indicado para leitura de quem já está um pouco familiarizado com o assunto, uma

vez que como seria natural, a teoria claramente marxista do autor, não é

compartilhada de forma unânime por outros escritores que discorrem sobre o

tema, mas admito que no atual estágio de minha formação faltam-me as leituras

complementares necessárias para uma contraposição com a pertinente

fundamentação teórica.

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