8
Resenha - Gestão de Pessoas e Discurso Organizacional 1.Características da sociedade, do indivíduo e do trabalho. As empresas são a principal fonte do desenvolvimento capitalista. Dotada de vontade própria, objetivos e metas, esta adquire uma personalidade e uma cultura, as quais tendem a serem passadas aos demais indivíduos que a compõe. Entra em cena o discurso organizacional, como sendo a forma como a organização vai buscar tirar maior adequação dos funcionários tentando incrementar sua perpetuidade e produtividade, o que denota a grande importância da gestão das pessoas. Fica claro a relação de poder que as organizações exercem nas pessoas, e estas sem muitas escolhas acabam por acatar tudo o que lhes é passado. A década de 90 deixa muito clara a situação de repressão das empresas em relação ao trabalhador: em meio grande crise econômica, o emprego se tornando escasso, existiam muitas pessoas para poucas vagas. O trabalhador vivia com o constante medo de demissão, o que fazia com que as organizações conseguissem maior adaptação e integração do individuo, uma vez que se este não o fizer, outro o fará. Outro fator, desta década, que aguça a dominação das empresas ante ao trabalhador é a globalização entendida como “a integração mais estreita dos países e dos povos do mundo” (STIGLIZ, 2002), levando poderosas multinacionais a países pobres, trazendo ainda maior injustiça na relação do trabalho entre o povo necessitado de emprego e a organização plena e poderosa oriunda de países ricos que dita o quando deve ou não deve pagar. Ainda nos anos

Resenha - Gestão de Pessoas e Discurso Organizacional

Embed Size (px)

DESCRIPTION

As empresas são a principal fonte do desenvolvimento capitalista. Dotada de vontade própria, objetivos e metas, esta adquire uma personalidade e uma cultura, as quais tendem a serem passadas aos demais indivíduos que a compõe. Entra em cena o discurso organizacional, como sendo a forma como a organização vai buscar tirar maior adequação dos funcionários tentando incrementar sua perpetuidade e produtividade, o que denota a grande importância da gestão das pessoas.

Citation preview

Resenha - Gesto de Pessoas e Discurso Organizacional1. Caractersticas da sociedade, do indivduo e do trabalho.As empresas so a principal fonte do desenvolvimento capitalista. Dotada de vontade prpria, objetivos e metas, esta adquire uma personalidade e uma cultura, as quais tendem a serem passadas aos demais indivduos que a compe. Entra em cena o discurso organizacional, como sendo a forma como a organizao vai buscar tirar maior adequao dos funcionrios tentando incrementar sua perpetuidade e produtividade, o que denota a grande importncia da gesto das pessoas.Fica claro a relao de poder que as organizaes exercem nas pessoas, e estas sem muitas escolhas acabam por acatar tudo o que lhes passado. A dcada de 90 deixa muito clara a situao de represso das empresas em relao ao trabalhador: em meio grande crise econmica, o emprego se tornando escasso, existiam muitas pessoas para poucas vagas. O trabalhador vivia com o constante medo de demisso, o que fazia com que as organizaes conseguissem maior adaptao e integrao do individuo, uma vez que se este no o fizer, outro o far. Outro fator, desta dcada, que agua a dominao das empresas ante ao trabalhador a globalizao entendida como a integrao mais estreita dos pases e dos povos do mundo (STIGLIZ, 2002), levando poderosas multinacionais a pases pobres, trazendo ainda maior injustia na relao do trabalho entre o povo necessitado de emprego e a organizao plena e poderosa oriunda de pases ricos que dita o quando deve ou no deve pagar. Ainda nos anos 90, lembramos-nos da diminuio do amparo do estado em relao ao indivduo, fazendo com que as instituies aumentassem ainda mais seu grau de influencia sobre os mesmos.O ser humano como refm da sua prpria sobrevivncia fica preso ao sistema e ao capital vindo das organizaes, e o trabalho como sua nica moeda de troca a forma como este se submete as primeiras. Assim cabe ao indivduo manter seu emprego inserindo-se em um ambiente altamente competitivo e com relaes desiguais. Assim as empresas veem os empregados como meros ativos ou recursos que devem ser explorados ao mximo em busca de lucro, perpetuidade e crescimento. Em busca ainda de seus objetivos as organizaes lanam mo de diversos dispositivos, modelos de gesto e modismos para a reduo de seus custos, e estes consequentemente passam pela reduo de pessoal, levando os trabalhadores sentirem-se mais comprometidos com a empresa para serem reconhecidos e admirados. Assim o homem comea a criar no trabalho uma realidade de vida, no trabalho o homem tem o sentido de sua vida, l ele busca a realizao e a concretizao de seus sonhos, deixando por exemplo aspectos sociais de lado, ou at mesmo a famlia, est implcito quando as organizaes influenciam a sociedade.2. O PoderAs empresas usam diversas ferramentas para um aumento na produtividade, como regras, normas e em muitos casos at a tica. Assim como dito anteriormente o indivduo busca a realizao de seus sonhos dentro da organizao, e esta, por sua vez, se mostra o local perfeito para a realizao destes. Assim o discurso organizacional vem para somar esta relao, onde a organizao tem em si como toda poderosa.Assim a organizao busca que o indivduo seja perfeito em seu trabalho, um super-homem, pr-ativo, criativo, que saber resolver problemas, lidar com conflitos, a empresa quer um perfil uniforme no seu hall de empregados, e estes se submetem, pois esta oferece salrios, possibilidade de carreira, humanismo, satisfao do empregado, conquista de seus objetivos. Vemos que nos prprios programas de recrutamento e seleo, que so os perfeitos exemplos de como as organizaes influenciam a sociedade, h uma procura por indivduos que satisfaam partes desses requisitos de super-homens, ou em casos de extrema competio, todos. Uma vez dentro da prpria organizao o individuo se submeter ainda mais ao perfil que esta lhe impe, pois toda a estrutura desenvolvida para tal objetivo. Os programas de alcance de metas tambm so uma forma de moldar o indivduo, marginalizando-o. Afinal de contas, tudo gira em torno do aumento de produtividade e lucros, e indivduos devem entrar na lgica da organizao, e a medita que este se reconhece tanto no imaginrio quanto na cultura organizacional, este reconhecido pela prpria organizao.As empresas fazem com que o indivduo consinta na dominao, sem revelar o aspecto assimtrico do seu poder, e esta tenta legitim-lo, porm no s dentro dela como tambm na vida das pessoas: se veem como legitimadas a interferir na vida dos empregados, em sua famlia. Ela quer as pessoas inseridas de corpo e alma nos seus objetivos, e assim deseja passar a imagem de parceira a elas para que aumente o poder que tem em relao aos seus membros. Este poder se origina na identificao que os empregados tm com a empresa, um sinal de forte atrao, e este tem por base o medo que estes tem de serem aniquilados de dentro deste corpo (organizao).Um grande problema, oriundo dessa relao assimtrica, ocorre quando as pessoas, presas nessa lgica que a organizao as passa, ou seja, o imaginrio organizacional sofrem grandes desiluses, o que afeta gravemente o seu estado mental, levando a depresses ou at casos mais srios. Sabemos que muito dos problemas de sade advm do trabalho, um destes, o estresse tem afetado milhes de pessoas. Se esta pessoa desligada da empresa, o quadro mais grave ainda, muitas pessoas sofrem danos irreparveis mental e fisicamente, outras chegam a tirar a prpria vida, isso nos mostra at aonde vai o domnio da empresa, o quanto ela muitas vezes absorve tudo do indivduo e o torna completamente dependente, sem lhe garantir grande perpetuidade nesta relao, e quando h um rompimento to traumtico, sua vida torna-se sem sentido algum pois houve uma grande assimilao.Outro fator importante a ser analisado nesta relao de poder, o tempo. O tempo por onde a organizao cria parmetros para que seus membros consigam atingir os objetivos dela mesma. E pelo tempo que calculado a produtividade, e as organizaes buscam otimiz-lo, e para isso deve fazer com que cada hora trabalhada seja uma experincia que tenha grandes sentidos na vida das pessoas, para no haver desmotivao e consequente queda de produtividade, ou seja, ganhos. Assim entra mais uma vez o imaginrio organizacional, pois com indivduos completamente inseridos no contexto da empresa, fica muito mais fcil trazer tais sentidos, existe uma confuso entre o real e o imaginrio, entre o querer do indivduo e o da empresa, praticamente uma fuso de interesses, que sim podem se influenciar entre si, mas na maioria do tempo o primeiro influenciado e vista do poder do segundo.3. O Discurso OrganizacionalA anlise do discurso organizacional leva em conta todos os aspectos apresentados anteriormente, tanto em relao ao poder quanto ao indivduo, assim temos a noo da real necessidade de um discurso convincente e lgico. A comunicao entra como fator chave deste discurso, e a partir dela podemos identificar o que realmente acontece e que no foi passado, ou seja, os reais interesses e crenas no s das organizaes como tambm dos indivduos.No discurso podemos ter cincia da ideologia de quem se comunica, no s atravs da mensagem, mas tambm de como esta passada para o destinatrio. O discurso no s a simples passagem de informao, mas tambm uma construo da realidade a partir de quem o pratica, ele realmente uma construo social, e sendo a organizao como detentora de grande poder, esta utiliza esse artifcio enormemente, pois no se leva s em conta a o fator de construo da realidade, mas tambm o fator poltico do discurso, que se mostra na manuteno da relao de poder entre empresa e empregados.Podemos analisar o discurso atravs de seis diferentes ticas de conceituao. A primeira se refere ao superexecutivo de sucesso, esta mostra duas partes distintas referentes ao discurso, o super-homem, que trabalha com grande excelncia, e consegue desempenhar suas funes com alta perspiccia e qualidade, e o sucesso, aquilo que os indivduos mais almejam dentro da empresa. Assim o superexecutivo de sucesso aquele grande ideal que organizao procura aquele que se entregar completamente e estar disposto a tudo. O perfil procurado muito variado e as vezes paradoxal, mas no fim das contas a organizao ir tirar tudo que precisa do indivduo, pois este sabe que o seu sucesso depende disto e far de tudo para conquist-lo e assim melhorar suas habilidades, comportamentos e qualificaes de acordo com as exigncias do mercado. A segunda tica de anlise do discurso organizacional diz respeito ao comprometimento organizacional reflete a velha expresso vestir a camisa da empresa. As empresas buscam manter os funcionrios que tem maior comprometimento com a organizao, principalmente e momentos de grande mudana como na aplicao de reengenharia ou downsizing, e recompensa queles com maior emprenho com melhores salrios e benefcios. O indivduo se v preso mais uma vez a esta lgica pois esta ameaado pelo desemprego, entretanto a organizao ainda assim deve lhe fornecer insumos motivadores para que este continue a trabalhar adequadamente. Na terceira categoria de anlise entram em cena os modismos gerenciais. Na prpria teoria e histria da administrao vemos que modismos sempre puderam ser vistos, passam-se os anos e estes sempre voltam com uma roupagem diferente e adequada s novas tecnologias e caractersticas que surgiram. As empresas lanam mo destes modismos e modelos de gesto para conquistar e gerenciar melhor seus empregados na busca contnua por maiores ganhos, e assim ajustam seu discurso de acordo com o modelo em questo. A inovao e a criatividade so modismos muito vistos atualmente, as empresas querem que seus empregados sempre procurem por novas melhorias e formas de trabalhar, mas um aspecto interessante que a liberdade pregada nem sempre a praticada, o indivduo nem sempre esta completamente livre para fazer mudanas, uma vez que o peso da organizao est sobre seus ombros. Na quarta categoria temos a participao dos funcionrios nos processos de deciso e lucros da empresa, como a poltica de participao nos lucros, para isso a organizao deve se democratizar a abrir canais de comunicao com os funcionrios. Com a participao as organizaes buscam uma integrao ainda maior por parte dos indivduos bem como a melhoria no seu trabalho em grupo, incentivando a comunicao entre eles. Na quinta categoria temos a sade como uma parte importante do discurso, onde a organizao diz-se preocupada com a sade de seus empregados. A organizao leva o indivduo ao seu mximo acarretando graves problemas de sade, e esta tenta encontrar meios para minimizar esses danos, isso muitas vezes garante maior identificao do empregado. A sexta e ltima tica est no discurso das melhores empresas para se trabalhar, revistas especializadas muitas vezes fazem rankings de acordo com diversos critrios obscuramente obtidos, onde mostram quais so as melhores organizaes para o trabalhador. Isto se relaciona muito com a imagem que a empresa passa para a sociedade e seu discurso. A responsabilidade social serve como perfeita promoo da imagem da organizao perante a sociedade. O individuo seduzido, e dentro da organizao encontra grande presso para se manter atualizado e qualificado e acompanhar a mesma.4. ConclusoConclui-se que a organizao tem grandes poderes para mudar o individuo e a sociedade e esta se utiliza de todos os mecanismos possveis, sua imagem o ponto chave para manter a dominao, assim seu discurso deve ser adequado bem como a forma de gerir as pessoas.