Resenha Manuela Cunha Cultura com AS´PAS

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esenha Manuela Cunha Cultura com AS´PAS

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MESTRADO ASSOCIADO UFMG-UNIMONTES EMSOCIEDADE, AMBIENTE E TERRITRIO

RESENHA Cultura e Cultura: Conhecimentos tradicionais e direitos intelectuais.

Disciplina: Cultura, Populao e NaturezaProfessores: Flvia Galizoni, Felisa Anaya e Andra NarcisoMestranda: Raquel de Ftima Alves

Manuela Carneiro da Cunha apresenta a diferena entre cultura e "cultura", vale dizer, em termos muito incertos, onde h um sistema pressupostos,nos modos de pensamento, hbitos, etc. que, sem oposio, pode influenciar os indivduos, e o maneira de se falar sobre este sistema. Entretanto, essa clssica diferena entre uso e meno, delimitada pela distino entre linguagem e metalinguagem, serve tanto para refletir sobre o carter reflexionante da cultura como para justificar prticas polticas. J que certos conhecimentos de povos tradicionais passaram a ser ditos e objetivados, e assim caem no circuito da explorao capitalista, nada mais justo que esses povos recebam parte dos lucros criados. Vale ressaltar que a anlise que desenvolve como muitos desses povos j se atribuem a suas respectivas culturas e formas de conhecimentos de tal maneira que elas surgiram como algo objetivado, quase sempre participando de um sistema de trocas. Muito interessante a explanao de como esses povos vo tecendo um sistema de representao que lhes reportam permita dialogar com o Estado nacional e o sistema internacional. Sua considerao me chama ateno numa das dificuldades da lgica formal contempornea. Quando uma linguagem meditativa, isto , permite a fala de si mesma, abrem-se as reflexes contraditrias.Com relao aos conhecimentos tradicionais nas aldeias indgenas, a professora exps sobre o caso emblemtico e a histrica do "kamp", iniciada a discusso com a carta que os Katukina (Acre) enviaram ento ministra Marina Silva, reivindicando seus direitos. Como vrios grupos tnicos (do Brasil e Peru, pases com legislaes diferentes sobre o assunto) compartilhavam os conhecimentos sobre o uso do kamp (secreo de r), como se fazer a possvel repartio de benefcios deste conhecimento tradicional associado? Registra-se que desde os anos 1990, muitas patentes ocorreram envolvendo a substncia referida.Ela apresenta a dinmica que est sendo provocada pela reflexividade da cultura e entre uma das consequncias a socializao do que seria um direito privado de poucos. E com a asceno dos conhecimentos tradicionais, os conhecimentos que estavam difusos, passam a ser reservados. A "Cultura" est relacionada no sentido de metalinguagem, falar de si mesmo, sendo difcil diferenciar a cultura com aspas e cultura sem aspas, pois h co-existncia dos universos de discursos (o que no quer dizer que um falso, ambos so verdadeiros), o que pode levar contradies, como o paradoxo que no tem soluo, pois inerente linguagem completa, que capaz de falar de si mesma, ou seja, que reflexiva. Me limitarei aqui a citar passagens do texto de Carneiro da Cunha nas quais ela: (1) apresenta a natureza lgico-analtica, e no necessariamente emprica da distino proposta; (2) evidencia que cultura (sem aspas) se refere a uma lgica interna a uma dada sociedade (com todos os problemas dessa noo) enquanto cultura se refere a uma lgica intertnica (i.e., uma relao entre diferentes sociedades, como quando a palavra cultura permite que povos de uma dada cultura falem sobre sua prpria cultura); e (3) finaliza o texto com uma viso otimista dos paradoxos inerente ao uso social (e sempre poltico) da linguagem, como quando uma cultura fala sobre si mesma.

Ressalto a reflexo sobre a questo dos direitos individuais e coletivos, principalmente no que concerne propriedade intelectual. Nos mostra a oposio entre: propriedade intelectual coletiva ("cultura") X domnio pblico (cultura). E que trata-se de um "jogo justo", que as sociedades indgenas tm toda razo para jogar este jogo, defendendo a propriedade intelectual coletiva. Relata sobre as novas formas de representao (associao) para se ter "existncia jurdica" e a questo da legitimidade da representao (e quando h vrias associaes, quem representa?), que, sobretudo, devemos considerar que h uma dinmica das circunstncias, e se tem legitimidade ou no, isso vai ser decidido internamente. Sublinha-se que a cultura dinmica e est em constante mudana.Para finalizar menciono principal linha argumentativa, mas chamou a minha ateno pela clareza e economia com que abordou um tema que alguns gastam pginas e mais pginas de discurso infrtil. Trata-se de uma passagem em que Manuela Carneiro da Cunha considera brevemente os motivos pelos quais povos como os Kayap preferem usar a palavra cultura, em portugus, para se referir a elementos de sua vida que poderiam perfeitamente ser designados por palavras em seu idioma nativo:

Usar termos de emprstimo o mesmo que declarar sua intraduzibilidade, um passo que no ditado por limitaes lingsticas e sim por uma opo lingstica. Essa afirmao, que primeira vista pode parecer tautolgica, tem um significado importante: as palavras emprestadas contm informao meta-semntica. Sinalizam o fato de que, embora haja outros meios possveis para a comunicao semntica, houve a escolha de mant-las explicitamente ligadas a um determinado contexto. As palavras de emprstimo devem ser entendidas, por conveno, segundo uma certa chave. Em outras palavras, indicam o registro de sua prpria interpretao .

Referncia Bibliogrfica

CUNHA, Manuela C. Etnicidade: da cultura residual mas irredutvel. IN: Cultura com Aspas e outros ensaios. So Paulo: CoascNayf,2009. Cap:14, Pg 235-244 e Cap 19, Pg 311-387.