Resenha sobre texto de educação

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José dias sobrinho

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHOFACULDADE DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS

RESENHA DO LIVRO a ESTRUTURA DAS REVOLUES CIENTIFICAS

FRANCA2015VERIDIANA PALMIERI

RESENHA DO LIVRO a ESTRUTURA DAS REVOLUES CIENTIFICAS

Resenha elaborada como exigncia para obteno de crdito disciplina de Produo de Texto Cientifico ministrado pelo professoro Dr. Leandro Teodoro no curso de Histria da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho Faculdade de Cincias Humanas e Sociais.

FRANCA2015

A HISTRIA DA CINCIA

Uma das principais obras de Kuhn, A estrutura das revolues cientficas aborda um novo conceito de Cincia, que pode ser encontrado dos prprios registros histricos das atividades de pesquisa. O autor lana tona, para reflexo, a indagao de se a cincia poder ser considerada efetivamente como um amlgama de fatos, teorias e mtodos. Se for o caso, deve-se considerar a construo do conhecimento e da tcnica cientfica como algo realizada de modo gradativo. O autor, em relao a essa questo, destaca a Histria da Cincia como importante ferramenta para essa construo. Outro questionamento que o autor elenca a questo de como a cincia realmente se desenvolva. Um dos objetos de estudos dessa obra de Kuhn a histria da cincia.Para ele, nessa disciplina que se encontram os detalhes da produo cientfica de uma determinada comunidade:(...) a Histria da Cincia torna-se a disciplina que registra tanto esses aumentos sucessivos como os obstculos que inibiram sua acumulao. Preocupados com o desenvolvimento cientifico, o historiador parece ento ter duas tarefas principais. De um lado deve determinar quando e por quem cada fato, teoria ou lei cientifica contempornea foi descoberta ou inventada. De outro lado, deve descrever e explicar os amontoados de erros, mitos e supersties que inibiram a acumulao mais rpida dos elementos constituintes do moderno texto cientfico. (p.20)Essas tarefas do historiador, no entanto, so complexas e remetem a diferentes entendimentos do que seja cincia. Kuhn argumenta que: Talvez a cincia no se desenvolva pela acumulao de descobertas e invenes individuais ...(p.21). Assim, quando os historiadores dedicam-se ao estudo de uma concepo ou teoria cientfica percebem que para a poca eram to cientficas quanto as teorias e concepes que temos hoje:Quanto mais cuidadosamente estudam, digamos, a dinmica aristotlica, a qumica flogstica ou a termodinmica calrica, tanto mais certos tornam-se de que, como um todo, as concepes de natureza outrora correntes no eram nem menos cientificas, nem menos o produto de idiossincrasias do que as atualmente em voga. (p.21) nesse sentido que podemos perceber o entendimento de cincia para Kuhn. Ao contrrio do que sempre vimos nos manuais cientficos, a cincia no o acmulo gradual de conhecimentos, mas a complexa relao entre teorias, revistas, fontes, dados e paradigmas. Tampouco a Cincia neutra. Mesmo em seus mtodos, como a observao e a experimentao, ela define de antemo o que ou no possvel de ser realizado: A observao e a experincia podem e devem restringir drasticamente a extenso das crenas admissveis, porque de outro modo no haveria cincia. Mas no podem, por si s, determinar um conjunto especfico de semelhantes crenas. (p. 23)Ou seja, a observao feita sobre aquilo que possvel ver dentro de um paradigma. Se tomarmos como exemplo a astronomia, veremos que, para Ptolomeu, em seu Almagesto Isso porque toda a conformao terica tinha de derivar da perfeio geomtrica, produto dos slidos de Plato. Alm disso, a representao do universo estava baseada na teoria de Aristteles de que o mundo supra lunar era perfeito e imutvel e o mundo sublunar era imperfeito e mutvel.Se nos remetermos a essas concepes tericas, veremos que de fato o mundo supra lunar aparentemente perfeito e imutvel, uma vez que as estrelas fixas no mudam suas posies no cu. Elas surgem e ressurgem periodicamente no mesmo lugar. Quando surge alguma anomalia, como o movimento de Marte, que parece retrgrado em determinado momento de sua translao, o que vai contra os pressupostos do movimento circular perfeito, adequaes so feitas, e o uso de epiciclos retoma a ideia da perfeio e da harmonia do mundo supra lunar. nesse sentido tambm que a cincia normal e o paradigma delimitam aquilo que pode ou no ser visto na natureza ou nos fenmenos que submetemos pesquisa dentro de uma comunidade cientifica.

O CONCEITO DE PARADIGMA

O conceito de paradigma vai atravessar toda essa obra de Kuhn com um sentido muito especfico. J na introduo, Kuhn apresenta a seguinte definio:Considero paradigmas as realizaes cientficas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e solues modelares para uma comunidade de praticantes de uma cincia. (p. 13).Ou seja, o paradigma um conjunto de saberes e fazeres que garantam a realizao de uma pesquisa cientfica por uma comunidade. O paradigma determina at onde se pode pensar, uma vez que dados e teorias, sempre que aplicados a uma pesquisa, iro confirmar a existncia desse paradigma.Extrapolando a leitura para o campo da educao, podemos pensar que estamos submetidos tambm a um paradigma, isto , a uma forma de entender e fazer cincia na educao que leva em considerao um aspecto dos fenmenos de ensino e de aprendizagem. Nosso paradigma atual na educao o ensino. Todas as pesquisas, todas as dissertaes e teses tm alguma relao com esse paradigma.Todos querem melhorar o ensino. Toda a preocupao de nossas ltimas produes tem sido a tarefa de ensinar mais e melhor.Mesmo quando estudamos o outro plo da relao, a aprendizagem, para garantirmos um melhor ensino. A formao dos profissionais em educao est muito mais interessada na qualidade do ensino do que na aprendizagem. Muito embora tambm possamos defender que esses processos no sejam separveis, h uma ntida diferena entre formar para ensinar e formar para possibilitar aprendizagens.No entanto, no campo da educao, percebemos que existem rupturas e alianas com outras reas que movem novos entendimentos dessa cincia. Perguntas e dados que no podem mais ser respondidos ou compreendidos pelo paradigma do ensino passam agora a desafiar os cientistas da educao. A isto, Kuhn chama de crise de paradigmas.Essa crise de paradigmas a responsvel pelas mudanas conceituais e procedimentais dentro de um campo do saber. Ela surge dentro da chamada cincia normal, por meio de anomalias que no se conformam as formas tradicionais de conceber o processo e o produto cientfico.E quando isto ocorre isto , quando os membros da profisso no podem mais esquivar-se das anomalias que subvertem a tradio existente da prtica cientfica ento comeam as investigaes extraordinrias que finalmente conduzem a profisso a um novo conjunto de compromissos, a uma nova base para a prtica da cincia. (p. 25)Ou seja, quando as formas tradicionais de pesquisa j no respondem s necessidades que novos dados ou novos fatos impem, as investigaes extraordinrias permitem o surgimento de novidades na pesquisa e na cincia. Isso conduza comunidade cientfica a novas formas de praticar sua cincia.

A CINCIA NORMAL

Outro conceito especfico da obra de Kuhn o de cincia normal. Para ele, ela se desenvolve junto com a ideia de paradigma, ou seja, podemos compreender que a cincia normal produto e produtor de um paradigma. Isso fica evidenciado no seguinte trecho: Invenes de novas teorias no so os nicos acontecimentos cientficos que tem um impacto revolucionrio sobre os especialistas do setor em que ocorrem. Os compromissos que governam a cincia normal especificam no apenas as espcies de entidades que o universo contm, mas tambm, implicitamente, aquelas que no contm. (p. 26)A cincia normal o estado de uma cincia na qual suas pesquisas e seus resultados so previsveis, isto , ela acontece adequando a realidade s teorias e esquemas conceituais que os cientistas aprendem na sua formao profissional.Diante disso, podemos dizer que a comunidade cientfica sabe como o mundo, e as pesquisas servem para comprovar ou aperfeioar esses saberes. Para Kuhn:Neste ensaio, cincia normal significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizaes passadas. Essas realizaes so reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade cientfica especfica como proporcionando os fundamentos para sua prtica posterior. (p.29)Uma metfora que Kuhn utiliza para a cincia normal a montagem de quebra-cabeas. Ou seja, a realidade seria uma poro de peas que, ao serem corretamente unidas, nos daria uma viso real de como a natureza ou os fenmenos estudados funcionam. Alm disso, quando montamos um quebra-cabea, em geral j sabemos aonde vamos chegar, isto , j sabemos qual o produto final que o encaixe das peas vai nos proporcionar ver.Nisto no h espao para a novidade. Na cincia normal, no h espao para o inusitado ou para o inesperado. Assim como na montagem do quebra-cabea, j se sabe aonde se quer chegar. Se houver um encaixe de peas errado, o que se dever fazer no questionar o motivo pelo qual isso ocorreu, mas sim retir-la e coloc-la no seu devido lugar. cincia, e ao cientista, caberia a funo de encaixar a pea certa no local correto com base nas evidncias que as demais peas lhe do, ou seja, aquilo que j foi feito por outros cientistas anteriormente e que funcionou.A cincia normal no est preocupada em criar novidades, mas em se especializar naquilo que j est posto pelo paradigma vigente. As experincias no criam novidades (intencionalmente), mas desejam especificar melhor o que j se sabe: O resultado j sabido de antemo, o fascnio est em como se vai chegar at ele. (p. 60).

DAS REVOLUES CIENTFICAS: POR QUE COPRNICO REVOLUCIONOU?

Com o avano da cincia normal, vemos surgir novos problemas e novas questes. Conforme Kuhn: Mas os problemas extraordinrios no surgem gratuitamente. Emergem apenas em ocasies especiais, geradas pelo avano da cincia normal. (p 55).Quando uma anomalia perturba o andamento da pesquisa na cincia normal, surgem novos e reforados movimentos de adequao dos dados s teorias existentes.Como no j citado caso da astronomia grega, as anomalias eram condicionadas quilo que se dispunha de conceitos e teorias da poca.Quando uma novidade surgiu no cu, logo se tratou de adequ-la teoria existente. No entanto, essas anomalias nem sempre so percebidas, uma vez que a cincia normal (como vimos anteriormente) no est preocupada em criar novidades, mas em se especializar naquilo que j est posto pelo paradigma vigente.As experincias no criam novidades (intencionalmente), mas desejam especificar melhor o que j se sabe.No entanto, as anomalias persistem. Elas podem gerar o que Kuhn chama de crise de paradigma:De forma muito semelhante (ao que ocorre nas revolues polticas), as revolues cientficas iniciam-se com um sentimento crescente, tambm seguidamente restrito a uma pequena subdiviso da comunidade cientfica, de que o paradigma existente deixou de funcionar adequadamente na explorao de um aspecto da natureza, cuja explorao fora anteriormente dirigida pelo paradigma. [...] o sentimento de funcionamento defeituoso, que pode levar crise, um pr-requisito para a revoluo. (p. 126). Portanto, as anomalias provocam desajustes.Portanto, Coprnico , de fato, responsvel por uma revoluo tanto na Fsica quanto na Astronomia. No entanto, iluso pensar que essa revoluo instalou-se e foi bem sucedida em pouco tempo. Coprnico no foi aceito durante quase um sculo, haja vista que alguns adeptos de suas teorias foram colocados duras provas pelos cientistas da poca da Inquisio. Giordano Bruno e Galileu so exemplos claros da morosidade e da complexidade que compem mudanas de paradigmas.

PARA ENTENDER A NATUREZA DA CINCIA.

Chama ateno, logo no prefcio desse texto de Kuhn, a seguinte colocao:A pesquisa eficaz raramente comea antes que uma comunidade cientifica pense ter adquirido respostas seguras para perguntas como: quais so as entidades fundamentais que compem o universo? Como interagem essas entidades umas com as outras e com os sentidos? Que questes podem ser legitimamente feitas a respeito de tais entidades e que tcnicas podem ser empregadas na busca de solues? (p.23)Percebemos que teorias sempre sustentam as buscas cientficas de uma comunidade de pesquisadores. Nunca os dados sero analisados de forma neutra e isenta de teorias. Na tentativa de explicar este ou aquele fenmeno, estamos sempre propensos a fazer uso das teorias que nos constituem.Nosso olhar nunca isento de julgamentos. Somos constitudos do paradigma vigente. Embora isso limite nossa viso para o novo (conforme vimos na cincia normal), possvel que anomalias surjam em nossas pesquisas. Nosso primeiro movimento certamente ser o de adequ-las o mais rpido possvel quilo que temos como verdade cientfica. Caso isso no se d, ou seja, caso as anomalias persistam, o caminho certamente ser o da mudana.S que esse caminho no se d de forma isolada, nem se dar de maneira imediata. Isso pode ser visto claramente no campo da educao. Diversos pequenos grupos margem do paradigma vigente buscam solues para problemas nas teorias atuais.Como falamos anteriormente, irregularidades esto ocorrendo. Por melhor que sejam os mtodos de ensino aplicados pelas melhores didticas, as aprendizagens no ocorrem sempre, tampouco da maneira esperada. possvel que dessas anomalias os pequenos grupos de cientistas da educao consigam mobilizar novas possibilidades, que o inusitado e o criativo surjam e demonstrem novas possibilidades de compreenso para fazer pesquisas e desenvolver estudos na rea da educao.