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  • RESPONSABILIDADE CIVIL, PENAL, TRABALHISTA E PREVIDENCIRIA DECORRENTES DO ACIDENTE DO TRABALHO.1

    EDSON BRAZ DA SILVA2

    1. IMPORTNCIA DO TEMA

    O tema proposto, RESPONSABILIDADE CIVIL, PENAL, PREVIDENCIRIA E TRABALHISTA DECORRENTES DO ACIDENTE DO TRABALHO, interessa-me como cristo preocupado com a sade e a integridade fsica dos semelhantes, que pensa nada valer a pena quando conseguido com prejuzo sade ou a vida de um irmo. E tambm como membro do Ministrio Pblico do Trabalho que tem o dever constitucional de defender os direitos difusos, coletivos e individuais indisponveis dos trabalhadores. E, certamente, a segurana no trabalho um direito indisponvel dos trabalhadores.

    H dcadas que os rgos oficiais de preveno e represso ao acidente do trabalho se esforam, em vo, buscando a erradicao do acidente do trabalho no Brasil. Estatstica de 1996 indica que naquele ano o Brasil teve 428.072 acidentes do trabalho, sendo 5.538 fatais. Significando que morreram 15 trabalhadores por dia ou 22 a cada cem mil trabalhadores.

    As medidas repressivas at ento utilizadas no deram muito resultado e o

    Pas era campeo dessa macabra estatstica: em 1993 foram 3.110 bitos, em 1994 foram 3.129, em 1995 foram 3.967 e em 1996 foram 5.538 bitos, em 97 foram 3469 bitos; em 1998 foram 7578 bitos. Em 1999 experimentamos uma ligeira reduo: foram 378.365 acidentes com 3.896 mortes; em 2000 foram 3094 mortes.

    Dados do Ministrio do Trabalho e Emprego revelam que em 1998 foram

    concedidas 3.641 penses por morte em acidente do trabalho e 6.986 aposentadorias por invalidez decorrentes de acidente do trabalho. At outubro de 1999 esses nmeros foram: 2.818 penses por morte e 6.942 aposentadorias por invalidez.

    Em Gois tivemos 114 penses por morte e 131 aposentadorias por invalidez

    em 1998. At outubro de 1999 tivemos 90 penses por morte e 102 aposentadorias por invalidez. Segundo notcia do jornal "O Popular", de 12 de abril de 2001, pgina 11, o

    governo e as empresas gastam cerca de R$ 20 bilhes por ano por causa dos acidentes do acidentes do trabalho e que o uso de mquinas obsoletas e inseguras para reduzir custos responsvel pela maior parte dos acidentes do trabalho. A Previdncia Social que em 1995 pagou R$ 983,08 milhes com benefcios decorrentes de acidente do trabalho, em no ano de 2000 pagou R$ 2,1 bilhes com a mesma rubrica.

    Um dado novo a mexer com a qumica social nesse campo, ao qual

    depositamos muitas esperanas para reverter essa situao, a interveno da Justia do Trabalho no problema. Atendendo aos reclamos do Ministrio Pblico do Trabalho contra as empresas recalcitrantes no descumprimento das normas de segurana e medicina do trabalho, os Juzes Trabalhistas tm dado significativo respaldo s aes do Ministrio Pblico do Trabalho, fixando pesadas multas para obrigar as empresas a cumprirem com o dever de agir para prevenir e evitar acidentes do trabalho.

    1 Palestra proferida no 8 Congresso Goiano de Direito do Trabalho e Processo do Trabalho Goinia junho/1999 com atualizao posterior de alguns dados estatsticos. 2 SubProcurador-Geral do Trabalho. Professor de Direito do Trabalho na Universidade Catlica de Gois. Membro do Instituto Goiano de direito do Trabalho e da Academia Goiana de Direito.

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    E para fechar o cerco, buscamos a parceria com a Polcia Civil do Estado de Gois. Se 98% dos acidentes do trabalho tm um culpado, conforme dizem os especialistas em estatstica desse setor, por que no temos a condenao criminal desses culpados? Por que a condenao criminal em casos de acidente do trabalho uma raridade da Justia Brasileira? A resposta est na fragmentao da cadeia repressiva aos que desobedecem s normas de preveno e causam acidente do trabalho. Quem estuda e conhece as causas do acidente do trabalho so o Ministrio do Trabalho, o Ministrio Pblico do Trabalho e a Justia do Trabalho. Todavia, a investigao criminal do acidente do trabalho e a represso aos respectivos culpados esto a cargo da Polcia Civil, do Ministrio Pblico Estadual e da Justia Estadual, que no tm intimidade com as normas de medicina e segurana do trabalho, pois os concursos de ingresso nessas carreiras no exigem o conhecimento da matria. Se os concursos no exigem conhecimento de Direito do Trabalho e muito menos de Normas Regulamentadoras, especficas para a preveno do acidente do trabalho; como cobrar dos Membros desses rgos uma atuao mais eficiente na represso ao acidente do trabalho?

    Ao justificar a edio de uma apostila sobre a investigao criminal do acidente do

    trabalho, a Direo da Polcia Civil do Estado de So Paulo destacou:3

    "Ausente a matria no curso de formao dos Delegados de Polcia em nossa Academia e vista de maneira superficial nas faculdades, ressente-se desta falta o colega que assume os plantes distritais ou delegacias no interior.

    A polcia, como todos sabem, rgo pblico de prestao de servios e assim sendo, seus integrantes devem estar identificados com as necessidades e aspiraes da populao e conscientes de seu importante papel na represso e preveno da criminalidade.

    Assim, no que toca aos acidentes do trabalho, cada vez mais os delegados devem estar preparados para atuar, visando apurar responsabilidade daqueles que lhe deram causa, seja direta ou indiretamente.

    Trata-se sem dvida de campo frtil para realizao de relevante trabalho que, se bem executado, em curto espao de tempo trar positivas repercusses para nossa instituio.

    preciso ter em conta que o trabalho deve ser desenvolvido dentro de condies humanas e cercado de garantias destinadas a preservao da sade e vida do trabalhador.

    O delegado de polcia deve ter em vista que sua eficiente atuao neste campo constitui forma de preveno de acidente do trabalho.

    A finalidade deste trabalho, longe de ministrar aulas, fornecer subsdios quanto s providncias que podem ser adotadas em caso de acidentes do trabalho. Diante de casos concretos, no raramente podero surgir dvidas quanto ocorrncia ser ou no acidente do trabalho."

    Todavia, mais que o Judicirio, o Ministrio Pblico do Trabalho ou a Polcia

    Civil, so os empregadores e seus agentes que realmente mais podem fazer para resolver esse problema, pois detm os meios materiais e legais para prevenir e evitar acidentes do trabalho. Se o empresariado tiver a vontade poltica de querer prevenir acidentes do trabalho e investir na proteo da sade e da integridade fsica do trabalhador, o que considero um timo investimento financeiro, as estatsticas sero implodidas, reduzindo-se a nmeros inexpressivos. 2. Conceito de acidente do trabalho.

    Segundo o art. 19 da Lei n 8.213/91, "acidente do trabalho o que ocorre pelo exerccio do trabalho a servio do empresa ou exerccio do trabalho dos segurados referidos no inciso VII 3 Cartilha Polcia e Acidentes de Trabalho FUNDACENTRO - SP - 1998

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    art. 11 desta Lei, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte ou a perda ou reduo, permanente ou temporria, da capacidade para o trabalho." 4

    Como visto, a lei considera acidente do trabalho tanto o ocorrido pelo exerccio do trabalho a servio da empresa, como o prestado em benefcio prprio nos casos daqueles que exercem suas atividades individualmente ou em regime de economia familiar. Ex. meeiro e parceiro rurais, garimpeiro etc. Entretanto, para ns, o que interessa o acidente que ocorre pelo exerccio do trabalho prestado empresa.

    A lei tambm considera acidente do trabalho a doena profissional e a doena do trabalho. As chamadas doenas ocupacionais. *DOENA PROFISSIONAL a produzida ou desencadeada pelo exerccio do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relao elaborada pelo Ministrio do Trabalho e Emprego. *DOENA DO TRABALHO a adquirida ou desencadeada em funo de condies especiais em que o trabalho realizado e com ele se relaciona diretamente, e constante da respectiva relao elaborada pelo Ministrio do Trabalho e Emprego.

    A doutrina classifica os acidentes do trabalho em trs espcies: "DOENAS DO TRABALHO, tambm chamadas mesopatias, so

    aquelas que no tm no trabalho sua causa nica ou exclusiva. A doena resulta de condies especiais em que o trabalho executado (pneumopatias, tuberculose, bronquites, sinusite, etc.). As condies excepcionais ou especiais do trabalho determinam a quebra da resistncia orgnica fazendo eclodir ou agravar a doena.

    4 Lei 8.213/91 Art. 19. Acidente do trabalho o que ocorre pelo exerccio do trabalho a servio da empresa ou pelo exerccio do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte ou a perda ou reduo, permanente ou temporria, da capacidade para o trabalho. Art. 11. So segurados obrigatrios da Previdncia Social as seguintes pessoas fsicas VII - como segurado especial: o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatrio rurais, o garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que exeram suas atividades, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxlio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cnjuges ou companheiros e filhos maiores de 14 (quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo. (O garimpeiro est excludo por fora da Lei n 8.398, de 7.1.92, que alterou a redao do inciso VII do art. 12 da Lei n 8.212 de 24.7.91). 1 Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos membros da famlia indispensvel prpria subsistncia e exercido em condies de mtua dependncia e colaborao, sem a utilizao de empregados. 2 Todo aquele que exercer, concomitantemente, mais de uma atividade remunerada sujeita ao Regime Geral de Previdncia Social obrigatoriamente filiado em relao a cada uma delas. 3 O aposentado pelo Regime Geral de Previdncia SocialRGPS que estiver exercendo ou que voltar a exercer atividade abrangida por este Regime segurado obrigatrio em relao a essa atividade, ficando sujeito s contribuies de que trata a Lei n 8.212, de 24 de julho de 1991, para fins de custeio da Seguridade Social. (Pargrafo acrescentado pela Lei n 9.032, de 28.4.95) 4 O dirigente sindical mantm, durante o exerccio do mandato eletivo, o mesmo enquadramento no Regime Geral de Previdncia Social-RGPS de antes da investidura. (Pargrafo acrescentado pela Lei n 9.528, de 10.12.97)

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    DOENAS PROFISSIONAIS ou tecnopatias - Tm no trabalho a sua

    causa nica, eficiente por sua prpria natureza, ou seja, a insalubridade. So doenas tpicas de algumas atividades (silicose, leucopenia, tenossinovite, etc).

    ACIDENTES DO TRABALHO TIPO - Em seu conceito devem estar

    presentes a subtaneidade da causa e o resultado imediato, ao contrrio das doenas que possuem progressividade e mediatidade do resultado."5

    O ponto de distino bsico que na doena profissional o fator determinante

    a atividade, enquanto na doena do trabalho a relevncia est nas condies em que a atividade exercida.

    Excepcionalmente, mesmo que a doena no esteja includa na relao, se demonstrado que ela resulta das condies especiais em que o trabalho executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdncia Social deve consider-la acidente de trabalho.6

    Existem tambm algumas situaes em que, apesar da leso ou perturbao funcional no ocorrer pelo exerccio do trabalho, a lei equipara a acidente do trabalho, o que ns chamaramos de acidente do trabalho por fico legal.

    A lei considera o empregado no exerccio do trabalho nos perodos destinados a refeio ou descanso ou por ocasio da satisfao de outras necessidades fisiolgicas, no local do trabalho ou durante este. Logo, ser acidente do trabalho o ocorrido nesses perodos.7 5 Conceitos extrados da Cartilha Polcia e Acidente de Trabalho FUNDACENTRO SP - 1998 6 Lei n 8.213/91 Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mrbidas: I - doena profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exerccio do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relao elaborada pelo Ministrio do Trabalho e da Previdncia Social; II - doena do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em funo de condies especiais em que o trabalho realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relao mencionada no inciso I. 1 No so consideradas como doena do trabalho: a) doena degenerativa; b) a inerente a grupo etrio; c) a que no produza incapacidade laborativa; d) a doena endmica adquirida por segurado habitante de regio em que ela se desenvolva, salvo comprovao de que resultante de exposio ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. 2 Em caso excepcional, constatando-se que a doena no includa na relao prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condies especiais em que o trabalho executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdncia Social deve consider-la acidente do trabalho. 7 Art. 21. Equiparam-se tambm ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: I - o acidente ligado ao trabalho que, embora no tenha sido a causa nica, haja contribudo diretamente para a morte do segurado, para reduo ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido leso que exija ateno mdica para a sua recuperao; II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horrio do trabalho, em conseqncia de:

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    Reputo importante a distino entre acidente do trabalho real e por fico legal e entre doena profissional e doena do trabalho para se fixar a responsabilidade do empregador e seus agentes. 3. A RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR PELA PREVENO DE ACIDENTES DO TRABALHO.

    Por lei, a empresa responsvel pela adoo e uso das medidas coletivas e individuais de proteo e segurana da sade do trabalhador, devendo prestar informaes pormenorizadas sobre os riscos da operao a executar e do produto a manipular, cabendo-lhe, ainda, (art. 157 da CLT) cumprir e fazer cumprir as normas de segurana e medicina do trabalho; e instruir os empregados, atravs de ordens de servio, quanto s precaues a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenas ocupacionais. Devendo inclusive punir o empregado que, sem justificativa, recusar-se a observar as referidas ordens de servio e a usar os equipamentos de proteo individual fornecidos pela empresa.(art. 158 da CLT).89

    a) ato de agresso, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa fsica intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudncia, de negligncia ou de impercia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razo; e) desabamento, inundao, incndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de fora maior; III - a doena proveniente de contaminao acidental do empregado no exerccio de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horrio de trabalho: a) na execuo de ordem ou na realizao de servio sob a autoridade da empresa; b) na prestao espontnea de qualquer servio empresa para lhe evitar prejuzo ou proporcionar proveito; c) em viagem a servio da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitao da mo-de-obra, independentemente do meio de locomoo utilizado, inclusive veculo de propriedade do segurado; d) no percurso da residncia para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoo, inclusive veculo de propriedade do segurado. 1 Nos perodos destinados a refeio ou descanso, ou por ocasio da satisfao de outras necessidades fisiolgicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado considerado no exerccio do trabalho. 2 No considerada agravao ou complicao de acidente do trabalho a leso que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha s conseqncias do anterior. CLT: Art. 157 - Cabe s empresas:

    I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurana e medicina do trabalho; II - instruir os empregados, atravs de ordens de servio, quanto s precaues a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenas ocupacionais; lIl - adotar as medidas que lhe sejam determinadas pelo rgo regional competente; IV - facilitar o exerccio da fiscalizao pela autoridade competente.

    Lei 8.213/91:

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    Art. 19. Acidente do trabalho o que ocorre pelo exerccio do trabalho a servio da empresa ou pelo exerccio do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte ou a perda ou reduo, permanente ou temporria, da capacidade para o trabalho. 1 A empresa responsvel pela adoo e uso das medidas coletivas e individuais de proteo e segurana da sade do trabalhador. 2 Constitui contraveno penal, punvel com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurana e higiene do trabalho.

    3 dever da empresa prestar informaes pormenorizadas sobre os riscos da operao a executar e do produto a manipular.

    9 Norma Regulamentadora n. 1.

    1.7. Cabe ao empregador: cumprir e fazer cumprir as disposies legais e regulamentares sobre segurana e medicina do trabalho;

    (101.001-8 / I1)

    elaborar ordens de servio sobre segurana e medicina do trabalho, dando cincia aos empregados, com os seguintes objetivos: (101.002-6 / I1)

    I - prevenir atos inseguros no desempenho do trabalho;

    II - divulgar as obrigaes e proibies que os empregados devam conhecer e cumprir;

    III - dar conhecimento aos empregados de que sero passveis de punio, pelo descumprimento das ordens de servio expedidas;

    IV - determinar os procedimentos que devero ser adotados em caso de acidente do trabalho e doenas profissionais ou do trabalho;

    V - adotar medidas determinadas pelo MTb;

    VI - adotar medidas para eliminar ou neutralizar a insalubridade e as condies inseguras de trabalho.

    informar aos trabalhadores: (101.003-4 / I1)

    I - os riscos profissionais que possam originar-se nos locais de trabalho;

    II - os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela empresa;

    III - os resultados dos exames mdicos e de exames complementares de diagnstico aos quais os prprios trabalhadores forem submetidos;

    IV - os resultados das avaliaes ambientais realizadas nos locais de trabalho.

    permitir que representantes dos trabalhadores acompanhem a fiscalizao dos preceitos legais e regulamentares

    sobre segurana e medicina do trabalho. (101.004-2 / I1)

    1.8. Cabe ao empregado:

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    Por fora de norma regulamentadora, a empresa tomadora de servios est obrigada a estender aos empregados da empresa contratada que lhe presta servios no seu estabelecimento (terceirizao) a assistncia de seus Servios Especializados em Engenharia e Segurana e em Medicina do Trabalho. 4. A RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR E SEUS AGENTES NOS ACIDENTES DO TRABALHO.

    Quando ocorre um acidente do trabalho, o fato tem repercusses no mbito penal, civil, previdencirio e trabalhista, respondendo cada um que para ele concorra, na medida de sua participao.

    Para haver responsabilizao do empregador e seus agentes necessrio

    existir nexo causal entre a conduta deles e o resultado danoso (causalidade naturalstica) ou entre o resultado dano e a conduta que deveriam ter adotado (causalidade normativa).10 Foi por isso que, ao definir acidente do trabalho, fizemos a distino entre acidente do trabalho real e por fico legal, entre doena profissional e doena do trabalho.

    Enquanto no acidente do trabalho real e na doena do trabalho a regra o nexo

    causal com a conduta do empregador e seus agentes, no acidente do trabalho por fico legal e na doena profissional a regra a inexistncia de nexo causal com a conduta do empregador e seus agentes.

    Isto porque, enquanto no acidente de trabalho real e na doena do trabalho, o empregador sempre tem o domnio da situao ftica, no acidente do trabalho por fico e na doena profissional a situao refoge ao seu controle, no tendo ele meios para previr ou evit-los, quase sempre.

    4.1 RESPONSABILIDADE DOS INTEGRANTES DOS SERVIOS ESPECIALIZADOS DE SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO NOS ACIDENTES DO TRABALHO.

    cumprir as disposies legais e regulamentares sobre segurana e medicina do trabalho, inclusive as ordens de servio expedidas pelo empregador;

    usar o EPI fornecido pelo empregador;

    submeter-se aos exames mdicos previstos nas Normas Regulamentadoras - NR;

    colaborar com a empresa na aplicao das Normas Regulamentadoras - NR;

    1.8.1. Constitui ato faltoso a recusa injustificada do empregado ao cumprimento do disposto no item anterior.

    1.9. O no-cumprimento das disposies legais e regulamentares sobre segurana e medicina do trabalho acarretar ao empregador a aplicao das penalidades previstas na legislao pertinente. 10 "Assim, incorreta a afirmao de que a omisso produziu o resultado, uma vez que no plano fsico existem apenas aes. A estrutura da conduta omissiva essencialmente normativa, no naturalstica. A causalidade no formulada em face de uma relao entre a omisso e o resultado, mas entre este e a conduta que o sujeito estava juridicamente obrigado a realizar e omitiu. Ele responde pelo resultado no porque o causou com a omisso, mas porque no o impediu realizando a conduta a que estava obrigado." Damsio E. de Jesus Direito Penal Parte geral. 11 ed. 1 vol. Saraiva, SP 1986 P. 219.

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    Segundo o item 4.4 da NR 4, os Servios Especializados em Engenharia de

    Segurana e em Medicina do Trabalho, tm a finalidade promover a sade e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho, sendo integrados por mdico do trabalho, engenheiro de segurana do trabalho, enfermeiro do trabalho, tcnico de segurana do trabalho e auxiliar de enfermagem do trabalho, variando o nmero e a especialidade desses profissionais, bem como o tempo mnimo de dedicao diria funo, de acordo com a grau de risco da atividade da empresa e o nmero de empregados no estabelecimento.

    No exerccio de suas atividades, que tm por finalidade promover a sade e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho, os integrantes dos Servios Especializados em Engenharia de Segurana e em Medicina no Trabalho possuem a obrigao legal, cada um dentro de sua especialidade, de "aplicar os conhecimentos de engenharia de segurana e de medicina do trabalho ao ambiente de trabalho e a todos os seus componentes, inclusive mquinas e equipamentos, de modo a reduzir at eliminar os riscos ali existentes sade do trabalhador". Quando esgotados todos os meios conhecidos para a eliminao do risco e este persistir, mesmo reduzido, os integrantes dos Servios Especializados de Segurana e Medicina do Trabalho devero determinar a utilizao, pelo trabalhador, de equipamentos de proteo individual, de acordo com o que determina a NR 6, desde que a concentrao, a intensidade ou caracterstica do agente assim o exija.

    Se os SESMT estabelecem e avaliam os procedimentos adotados pela empresa no campo de segurana e medicina no trabalho, natural que seus integrantes, cada um no limite de sua participao, respondam quando, por culpa ou dolo, do causa ao acidente do trabalho.

    Os integrantes dos SESMT podem dar causa ao acidente do trabalho por ao ou omisso. Ressalto que a omisso relevante juridicamente quando o omisso devia e podia agir para evitar o resultado.11 Tendo os integrantes dos SESMT a obrigao legal de agir para promover a sade e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho, somente se eximiro de responsabilidade provando que no puderam agir para prevenir ou evitar o acidente ou que, apesar de cumprirem com todas as suas obrigaes legais, ainda assim ocorreu o acidente. Sendo certo que a ordem manifestamente ilegal de superior hierrquico no caracteriza a impossibilidade de agir, assumindo responsabilidade o membro dos SESMT que, ao dar cumprimento a ordem manifestamente ilegal, contribui para o evento danoso.

    Para se imputar responsabilidade penal aos membros dos SESMT, necessrio existir nexo causal entre a conduta deles, ao ou omisso, e o acidente do trabalho.

    Nas hipteses de acidente do trabalho real ocorrido no local de trabalho, e de doena do trabalho, h forte possibilidade de existir nexo causal entre o resultado e a conduta dos membros dos SESMT. J nas outras hipteses, o nexo de causalidade dificilmente existir. Isso porque, enquanto no acidente de trabalho real ocorrido no local de trabalho e na doena do trabalho os profissionais dos SESMT tm a possibilidade de influncia e controle da situao ftica, no acidente fora do local de 11 Cdigo Penal: Art. 13 - O resultado, de que depende a existncia do crime, somente imputvel a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ao ou omisso sem a qual o resultado no teria ocorrido. 1 - A supervenincia de causa relativamente independente exclui a imputao quando, por si s, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. 2 - A omisso penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigao de cuidado, proteo ou vigilncia; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrncia do resultado.

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    trabalho ou por fico legal, bem como na doena profissional, a situao ftica refoge esfera de controle desses profissionais, no tendo eles meios para preveni-los ou evit-los, quase sempre. 4.2 RESPONSABILIDADE DOS INTEGRANTES DA CIPA NOS ACIDENTES DO TRABALHO.

    As empresas privadas e pblicas e os rgos governamentais que possuam

    empregados regidos pela Consolidao das Leis do Trabalho so obrigados a organizar e manter em funcionamento, por estabelecimento, uma Comisso Interna de Preveno de Acidentes. A CIPA tem por objetivo observar e relatar condies de risco nos ambientes de trabalho e solicitar medidas para reduzir at eliminar os riscos existentes e/ou neutralizar os mesmos, discutir os acidentes ocorridos, encaminhando aos Servios Especializados em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho e ao empregador o resultado da discusso, solicitando medidas que previnam acidentes semelhantes e, ainda, orientar os demais trabalhadores quanto preveno de acidentes.

    Quando constatar risco ou ocorrer acidente do trabalho, com ou sem vtima, o responsvel pelo setor dever comunicar o fato, de imediato, ao presidente da CIPA, o qual, em funo da gravidade, convocar reunio extraordinria ou incluir na pauta ordinria. A CIPA dever discutir o acidente e encaminhar aos SESMT e ao empregador o resultado e as solicitaes de providncias. O empregador, ouvido os SESMT, ter oito dias para responder CIPA, indicando as providncias adotadas ou a sua discordncia devidamente justificada.

    Quando o empregador discordar das solicitaes da CIPA e esta no aceitar a justificativa, o empregador dever solicitar a presena do Ministrio do Trabalho e Emprego, no prazo de oito dias a partir da data da comunicao da recusa da justificativa pela CIPA.

    Os integrantes da CIPA podem dar causa ao acidente do trabalho por ao ou omisso. Ressalto que a omisso relevante juridicamente quando o omisso devia e podia agir para evitar o resultado. Tendo os integrantes da CIPA a obrigao legal de proteger a sade e integridade do trabalhador no local de trabalho, somente se eximiro de responsabilidade provando que no puderam agir para prevenir ou evitar o acidente ou que, apesar de cumprirem com todas as suas obrigaes legais, ainda assim ocorreu o acidente. Sendo certo que a ordem manifestamente ilegal de superior hierrquico no caracteriza a impossibilidade de agir, assumindo responsabilidade o membro da CIPA que, ao dar cumprimento ordem manifestamente ilegal, contribui para o evento danoso.

    Para se imputar responsabilidade penal aos membros da CIPA, necessrio existir nexo causal entre a conduta deles, ao ou omisso, e o acidente do trabalho

    Nas hipteses de acidente do trabalho real ocorrido no local de trabalho, e de doena do trabalho, h forte possibilidade de existir nexo causal entre o resultado e a conduta dos membros da CIPA. J nas outras hipteses, o nexo de causalidade dificilmente existir. Isso porque, enquanto no acidente de trabalho real ocorrido no local de trabalho e na doena do trabalho membros da CIPA, tm a possibilidade de influncia e controle da situao ftica, no acidente fora do local de trabalho ou por fico legal, bem como na doena profissional, a situao ftica refoge esfera de atuao deles, no tendo eles meios para preveni-los ou evit-los, quase sempre. 5. RESPONSABILIDADE PENAL DO EMPREGADOR E SEUS AGENTES NO ACIDENTE DO TRABALHO.

    Enquanto na esfera civil admite-se a responsabilidade por ato de outrem, na

    seara penal a responsabilidade nica e exclusiva de quem deu causa ao crime. Considerando-se causa a ao ou omisso sem a qual o resultado no teria ocorrido.

    Sendo a empresa uma pessoa por fico legal, pois no tem vontade e ao prprias, conduzindo-se segundo a vontade da pessoa fsica que a representa, emprestando-lhe tambm

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    a ao, nunca ser ela sujeito ativo de crime, respondendo pessoalmente por suas condutas todos os que participem da gesto da empresa: scios gerentes, diretores, administradores ou gerentes.

    O empregado somente se eximir de responsabilidade se tiver agido em estrita

    obedincia ordem no manifestamente ilegal de superior hierrquico. Assim, se o superior hierrquico determina o descumprimento de normas de segurana e medicina do trabalho, o subalterno no deve obedec-lo, sob pena de responder civil e criminalmente no caso de acidente do trabalho.

    Se o causador do acidente for o prprio empregado, por culpa exclusiva sua (ato inseguro), no haver crime, pois a auto-ofensa no punida no nosso ordenamento jurdico. 5.1 ENQUADRAMENTO PENAL DA CONDUTA.

    Dependendo do modo de conduzir-se do agente, se com dolo ou culpa, que se dar o enquadramento legal do crime.

    Agindo com dolo - quando quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo - responder por leso corporal ou homicdio simples, de acordo com o caso. Sujeitando-se a pena de 3 meses a 1 ano de deteno no caso de leso corporal leve e de 6 a 20 anos de recluso no caso de homicdio.

    Agindo com culpa - quando d causa ao resultado por imprudncia, negligncia ou impercia - responder por crime de leso corporal culposa ou homicdio culposo, de acordo com o caso. Sujeitando-se a pena de 2 meses a 1 ano de deteno no caso de leso corporal, e de 1 a 3 anos no caso de homicdio culposo.

    Nessas duas hipteses a pena ser aumentada de 1/3 se o crime resultar de inobservncia de regra tcnica de profisso, arte ou ofcio. o caso do engenheiro que falha na escolha do ferro da laje que desaba; do tcnico de segurana que orienta erroneamente o empregado que se acidenta, do mdico do trabalho que erra no tempo de exposio do empregado aos gases exalados de certo produto qumico, etc.

    Temos ainda, no caso de dolo, o crime do artigo 132 do Cdigo Penal, que pune com pena de deteno de 3 meses a 1 ano, se o fato no constituir crime mais grave, a exposio da vida ou sade de outrem a perigo direto e iminente.

    Ressalto que a exposio de motivos do Cdigo Penal ao justificar o crime do artigo 132, diz que ele seria um complemento legislao trabalhista, punindo o empreiteiro que, para poupar-se ao dispndio com medidas tcnicas de prudncia, na execuo da obra, expe o operrio a risco de grave acidente.

    E mais, mesmo que no haja qualquer acidente ou risco de acidente, o simples descumprimento das normas de segurana e higiene do trabalho j um relevante penal, respondendo o transgressor por contraveno penal punvel com multa - art. 19 2 da Lei 8213/91.12 6. RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR E SEUS AGENTES NOS ACIDENTES DO TRABALHO.

    Antes da Constituio de 1988, o empregador s respondia civilmente nos casos de acidente do trabalho se havido com culpa grave. Hoje a culpa determinadora da 12 Vide no final desta cartilha acrdo do Tribunal de Justia de So Paulo condenando criminalmente os scios de uma empresa por descumprimento de norma de medicina e segurana do trabalho.

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    responsabilidade civil do empregador deixou de ser adjetivada, o que implica responder pela reparao do dano mesmo que a culpa seja levssima.13

    A verificao da culpa e a avaliao da responsabilidade regulam-se pelo disposto no Cdigo Civil.14

    A lei tambm fixa a responsabilidade da empresa dizendo que o patro

    responder pelos atos de seus empregados, praticados no exerccio do trabalho que lhes competir. Estando a matria sumulada no Supremo Tribunal Federal no sentido de que " PRESUMIDA A CULPA DO PATRO OU COMITENTE PELO ATO CULPOSO DO EMPREGADO OU PREPOSTO" - Smula 311.

    Segundo a lei civil aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou imprudncia, violar direito ou causar prejuzo a outrem, obrigado a reparar o dano, ficando seus bens sujeitos reparao, e tendo mais de um autor a ofensa, todos respondero solidariamente pela reparao.

    13 Constituio Federal, art. 7, XXVIII So direitos dos trabalhadores... "seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenizao a que este est obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa". 14 Cdigo Civil: Art. 159 - Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia, ou imprudncia, violar direito, ou causar prejuzo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. Art. 1.518 - Os bens do responsvel pela ofensa ou violao do direito de outrem ficam sujeitos reparao do dano causado; e, se tiver mais de um autor a ofensa, todos respondero solidariamente pela reparao.

    Pargrafo nico - So solidariamente responsveis com os autores, os cmplices e as pessoas designadas no art. 1.521. Art. 1.521 - So tambm responsveis pela reparao civil: III - o patro, amo ou comitente, por seus empregados, serviais e prepostos, no exerccio do trabalho que lhes competir, ou por ocasio dele (art. 1.522); Art. 1.522 - A responsabilidade estabelecida no artigo antecedente, n III, abrange as pessoas jurdicas, que exercerem explorao industrial.

    Art. 1.523 - Excetuadas as do art. 1.521, V, s sero responsveis as pessoas enumeradas nesse e no art. 1.522, provando-se que elas concorreram para o dano por culpa, ou negligncia de sua parte.

    Art. 1.524 - O que ressarcir o dano causado por outrem, se este no for descendente seu, pode reaver, daquele por quem pagou, o que houver pago.

    Art. 1.525 - A responsabilidade civil independente da criminal; no se poder, porm, questionar mais sobre a existncia do fato, ou quem seja o seu autor, quando estas questes se acharem decididas no crime.

    Art. 1.526 - O direito de exigir reparao, e a obrigao de prest-la transmitem-se com a herana, exceto nos casos que este Cdigo excluir. Lei 8.213/91, art. 121. O pagamento, pela Previdncia Social, das prestaes por acidente do trabalho no exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem.

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    Apesar do texto expresso da lei, preceituando que todos os responsveis pela

    ofensa respondero pela reparao do dano com o respectivo patrimnio, o comum tem sido acionar apenas a empresa que possui maior patrimnio, deixando impune civilmente os seus agentes, responsveis diretos pelo descumprimento das normas de segurana do trabalho.

    O ideal seria acionar solidariamente a empresa e as pessoas que contriburam para o dano. Primeiro por cautela, no caso de falncia da empresa, e em segundo como forma pedaggica, atingindo a parte mais sensvel do ser humano que o bolso, a fim de torn-las mais diligentes.

    Outra forma de se cobrar maior cuidado no cumprimento das normas de segurana do trabalho, agindo regressivamente todas as vezes que a empresa tiver que responder pelo ato culposo do empregado ou preposto.

    Mesmo no se confundindo a pessoa e patrimnio do scio com os da sociedade, vislumbro a possibilidade dos bens pessoais dos scios responderem pela reparao do dano.

    A jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal firme no sentido de que:

    EMENTA: Sociedade por quotas de responsabilidade limitada. Os bens particulares dos scios, uma vez integralizado o capital, no respondem por dvida fiscal da sociedade, salvo se o scio praticou ato com excesso de poderes ou infrao da lei, contrato social ou estatutos. Jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal. (Recurso Extraordinrio n 85.241 - Recorrente: Estado de So Paulo; Recorridos: Hortncia Muntareanu e outro. Ac. n 412, 2 t., DJ 24/02/78).

    Partindo da premissa que o scio que pratica ato com infrao da lei responde

    com seus bens pessoais por dvidas da sociedade e que o scio-gerente tem o dever legal de agir para evitar acidentes, CUMPRINDO E FAZENDO CUMPRIR AS NORMAS DE SEGURANA E MEDICINA DO TRABALHO, bem como FORNECENDO OS EQUIPAMENTOS DE PROTEO INDIVIDUAL NECESSRIOS, (art. 166 da CLT) podemos concluir, naturalmente, que os scios gerentes que deixarem de atender a esses preceitos, estaro praticando atos contrrios ao texto expresso de lei, e, no caso de acidente do trabalho, seus bens particulares respondero pela reparao do dano. Registramos que em diversas aes propostas pelo Ministrio Pblico do Trabalho os Juzes do Trabalho condenaram os scios dirigentes como responsveis solidrios.

    Salientamos que se o acidente decorrer de culpa exclusiva do empregado, no h falar em indenizao civil. 6.1 CUSTO DA REPARAO DO DANO

    A reparao do dano deve ser mais ampla possvel, buscando restituir ao mximo a situao anterior do ofendido, tornando-o indene de qualquer prejuzo. a) A indenizao no caso de morte consiste no pagamento das despesas com o tratamento da vtima, seu funeral, luto da famlia, na prestao de alimentos s pessoas a quem o defunto os devia, dano moral e mais a constituio de um capital, cuja renda assegure o cabal cumprimento do pagamento das

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    prestaes vincendas. Este capital ser representado por imveis ou ttulos da dvida pblica, impenhorveis.

    Para garantir um salrio mnimo de R$ 136,00, o capital necessrio, considerando-se o rendimento da poupana, seria de R$ 27.200,00, se considerado o juro legal mximo de 12% a.a., seria de R$13.600,00.

    Paradoxalmente, no caso de acidente fatal a despesa do causador bem

    menor do que quando a vtima sobrevive. Vejamos. b) despesas de tratamento mdico da vtima, isto inclui, por exemplo: medicamentos, hospitais, fisioterapia, prteses, rteses, colcho de gua, cama hospitalar, cadeira de rodas sem e com motor, enfermeiros, acompanhantes, e manuteno dos equipamentos, dos prteses e rteses, por toda a vida da vtima. c) lucros cessantes at o fim da convalescena - (tudo que deixou de ganhar em razo do acidente). d) multa no grau mdio da pena criminal correspondente, duplicada se resultar aleijo ou deformidade. e) se mulher em condies de casar, resultar aleijo ou deformidade, o pagamento de dote, segundo as posses do ofensor e as circunstncias da ofendida. f) se a ofensa resultar incapacidade total ou parcial permanente para o trabalho, o pagamento de penso correspondente a importncia do trabalho, para que se inabilitou ou da depreciao que sofreu. g) dano esttico. h) o mesmo capital para garantir as prestaes vincendas. i) dano moral.15 7. REFLEXO PREVIDENCIRIO.

    No caso de acidente do trabalho por negligncia quanto s normas padro de segurana e higiene do trabalho indicadas para a proteo individual e coletiva, a Previdncia Social propor ao regressiva contra os responsveis. (art. 120 da Lei 8.213/91).

    Esse dispositivo importante por constituir-se em mais um instrumento de punio a quem der causa a acidente do trabalho, que no ficar civilmente impune mesmo que a vtima

    15 O DECRETO 52.795 de 31/10/1963 - DOU 12/11/1963 - que aprova o Regulamento dos Servios de Radiodifuso, no TTULO XVIII - Da Reparao dos Danos Morais - estabelece um padro de valor para o dano moral: ART.165 - Na estimao do dano moral, conforme estabelece o art.84, da Lei n 4.117, de 27 de agosto de 1962, o Juiz ter em conta, notadamente, a posio social ou poltica do ofendido, a situao econmica do ofensor, a intensidade do nimo de ofender, a gravidade e repercusso da ofensa. 1 O montante da reparao ter o mnimo de 5 (cinco) e o mximo de 100 (cem) vezes o maior salrio-mnimo vigente no Pas. 2 O valor da indenizao ser elevado ao dobro quando comprovada a reincidncia do ofensor em ilcito contra a honra, seja por que meio for. 3 A mesma agravao ocorrer no caso de ser ilcito contra a honra praticado no interesse de grupos econmicos ou visando a objetivos antinacionais.

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    ou seus parentes no tenham interesse ou no possam, por qualquer motivo, acionar o causador do dano. 8. REFLEXO TRABALHISTA: 8. 1 Estabilidade Provisria:

    Em decorrncia do acidente de trabalho, o empregado ter garantida a manuteno do seu contrato de trabalho pelo prazo mnimo de doze meses, aps a cessao do auxlio-doena acidentrio, independentemente de ter restado seqela.16 8.2 Resciso indireta:

    Descumprindo a empresa normas de proteo segurana e sade do trabalhador, seus empregados podero rescindir o contrato de trabalho por culpa do empregador, com base nas alneas c, correr perigo de mal manifesto, e f, o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legtima defesa, prpria ou de outrem, do artigo 483 da CLT. Entendemos que no caso de morte em acidente do trabalho decorrente de culpa da empresa ou seus prepostos, os dependentes ou herdeiros do falecido tero direito s mesmas verbas trabalhistas que ele teria direito no caso de resciso indireta do contrato de emprego, como por exemplo, 40% do FGTS e aviso prvio. 9. OUTROS PREJUZOS PARA A EMPRESA

    Havendo grave e iminente risco para o trabalhador, a empresa, alm da multa, ainda poder ter interditado o estabelecimento, setor de servio, mquinas e equipamentos, ou embargada a obra comprometendo a sua produtividade e o seu cronograma, o que fatalmente resultar em prejuzos de monta (artigo 161 da CLT).

    A empresa tambm fica sujeita multa administrativa, na forma do artigo 201 da CLT. 1O. COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO PARA JULGAR AS AES DE INDENIZAO DECORRENTES DE ACIDENTES DO TRABALHO.

    Tendo o pedido de indenizao como causa de pedir o descumprimento de uma norma trabalhista (artigo 157 da CLT) e como base legal o preceito constitucional que obriga o empregador a indenizar o empregado vtima de acidente do trabalho, quando o evento danoso decorrer de dolo ou culpa sua, evidente a competncia da Justia do Trabalho para apreciar a lide, pois o pedido e o dever de atend-lo derivam da relao de emprego, mais precisamente da responsabilidade que a lei impe ao empregador pela segurana do trabalhador no seu ambiente de trabalho. 16 Redao original do art. 118 da Lei n 8.213/91: "O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo prazo mnimo de doze meses, a manuteno do seu contrato de trabalho na empresa, aps a cessao do auxlio-doena acidentrio, independentemente de percepo do auxlio-acidente. Redao dada ao art. 118 da Lei n 8.213/91 pela Medida Provisria n ......., que no foi reedita e por isso perdeu eficcia: "O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantida, pelo mnimo de doze meses, a manuteno do seu contrato de trabalho na empresa, aps a cessao do auxlio-doena acidentrio, desde que, aps a consolidao das leses , resulte seqela que implique reduo da capacidade para o trabalho que exercia habitualmente."

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    Nesse sentido recente deciso do Excelso Supremo Tribunal Federal:

    "Competncia da Justia do Trabalho. Compete Justia do Trabalho o julgamento de ao de indenizao, por danos

    materiais e morais, movida pelo empregado contra seu empregador, fundada em fato

    decorrente da relao de trabalho [CF, art. 114: "Compete Justia do Trabalho

    conciliar e julgar os dissdios individuais e coletivos entre trabalhadores e

    empregadores, (...) outras controvrsias decorrentes da relao de trabalho..."], nada

    importando que o dissdio venha a ser resolvido com base nas normas de Direito Civil.

    Com esse entendimento, a Turma conheceu e deu provimento a recurso

    extraordinrio para reformar acrdo do STJ que ao entendimento de que a causa

    de pedir e o pedido demarcam a natureza da tutela jurisdicional pretendida, definindo-

    lhe a competncia assentara a competncia /da Justia Comum para processar

    ao de reparao, por danos materiais e morais, proposta por trabalhador

    dispensado por justa causa sob a acusao de apropriao indbita. Precedente

    citado: CJ 6.959-DF (RTJ 134/96). RE 238.737-SP, rel. Min. Seplveda Pertence,

    17.11.98."

    Se no caso de indenizao dos danos causados ao empregador por culpa ou dolo do empregado, art. 462, 1 da CLT, ningum questiona a competncia da Justia do Trabalho, por uma questo de simetria substancial, no razovel question-la quando se tratar de dano causado ao empregado por dolo ou culpa do empregador, mesmo quanto o fato determinante da obrigao de indenizar for um acidente do trabalho, art. 7, XXVIII, da Constituio Federal. Se na ao de indenizao de danos decorrentes de acidente do trabalho o que se discute a conduta do ru como empregador, que frente legislao trabalhista tem o dever de agir para evitar acidentes, art. 157 da CLT, no vemos lgica ou coerncia em deslocar-se a competncia para a Justia Comum, ainda mais quando se admite que as aes que tenham por objeto prevenir doenas ocupacionais e acidentes do trabalho sejam da competncia da Justia do Trabalho, como acertadamente entendeu o Excelso Supremo Tribunal Federal:

    "Competncia da Justia do Trabalho

    Compete Justia do Trabalho o julgamento de ao civil pblica que tenha por objeto a preservao do meio ambiente trabalhista e o respeito irrestrito s normas de proteo ao trabalho (CF, art. 114, 1 e 2). Com esse entendimento, a Turma julgou procedente recurso extraordinrio para reformar acrdo do STJ que, ao dirimir conflito negativo de competncia estabelecido entre a Quarta Junta de Conciliao e Julgamento de Juiz de Fora-MG e o Juzo de Direito da Fazenda Pblica, assentara a competncia da justia comum para o julgamento de ao civil pblica, entendendo ser esta uma verdadeira ao de acidente de trabalho (CLT, art. 643, 2: "As questes referentes a acidentes de trabalho continuam sujeitas justia ordinria, na forma do Decreto n. 24.637, de 10 de julho de 1934, e legislao subseqente."). Trata-se, na espcie, de ao civil pblica proposta pelo Ministrio Pblico do Estado de Minas Gerais contra vinte e um bancos, em que se busca o cumprimento da legislao trabalhista diante da precariedade das condies e do ambiente de trabalho

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    oferecidas pela rede bancria de Juiz de Fora, quais sejam, a extrapolao da jornada de trabalho e o conseqente aparecimento de leses por esforo repetitivo - LER. RE 206.220-MG, rel. Min. Marco Aurlio, 16.3.99."

    No Egrgio Tribunal Regional do Trabalho da 18 a matria j foi enfrentada e teve a

    seguinte deciso:

    COMPETNCIA DA JUSTIA DO TRABALHO. ACIDENTE DO TRABALHO. da competncia da Justia do Trabalho o julgamento de pedido de indenizao a cargo do empregador, prevista no art. 7, XXVIII/CF e art. 159/CC. ( Proc. TRT/RO-3268/99 Ac. n 7099/99. Relator Juiz Heiler Alves da Rocha. Lcia Honria Arajo de Almeida X Banco do Estado de Gois S/A - BEG

    10. Glossrio

    Algumas definies, segundo Damsio de Jesus em sua obra Direito Penal, teis a compreenso da matria. AO - "Ao a que se manifesta por intermdio de um movimento corpreo tendente a uma finalidade "(Damsio de Jesus). OMISSO - " a no-realizao de um comportamento exigido que o sujeito tinha a possibilidade de concretizar. Assim, a possibilidade de realizao da conduta constitui pressuposto do dever jurdico de agir. S h omisso relevante quando o sujeito, tendo o dever de agir, abstm-se do comportamento: IMPRUDNCIA - a prtica de um fato perigoso. Ex.: dirigir veculo em rua movimentada com excesso de velocidade. NEGLIGNCIA - a ausncia de precauo ou indiferena em relao ao ato realizado Ex.: deixar arma de fogo ao alcance de uma criana. Enquanto na negligncia o sujeito deixa de fazer alguma coisa que a prudncia impe, na imprudncia ele realiza uma conduta que a cautela indica que no deva ser realizada. IMPERCIA - a falta de aptido para o exerccio de arte ou profisso. De observar que se o sujeito realiza uma conduta fora de sua arte, ofcio e profisso, no se fala em impercia, mas em imprudncia ou negligncia. A impercia pressupe que o fato tenha sido cometido no exerccio desses misteres. DOLO - Quando o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo. *AUTOR - quem executa o comportamento descrito pelo ncleo do tipo (quem mata, subtrai) *PARTCIPE o agente que acede sua conduta realizao do crime, praticando atos diversos dos do autor. Assim, se A instiga B a matar C, este autor e aquele participa.

    11.2 Acrdo sobre responsabilidade penal decorrente de acidente do trabalho.

    A C R D O

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    Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CRIMINAL n 1.145.827-6 (Ao Penal n. 427/96-A) da 2. Vara Criminal da Comarca de CATANDUVA, em que so apelantes e apelados JOO GERALDO RUETE e o MINISTRIO PBLICO:

    ACORDAM, em Quarta Cmara do Tribunal de Alada Criminal, por votao unnime,

    negar provimento ao apelo defensivo e dar parcial provimento ao da Justia Pblica para condenar o ru a coima de 10 (dez) dias-multa, no valor de duzentos reais a diria, por incurso no art. 19, 2., da Lei 8.213 de 24 de julho de 1.981, de conformidade com o voto do Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

    Presidiu o julgamento o Sr. Juiz Marco Nahum, participaram os Srs. Juzes Canellas de

    Godoy e Figueiredo Gonalves, com votos vencedores. So Paulo, 15 de junho de 1.999. Pricles Piza Relator

    VOTO 7024 APELAO CRIMINAL 1.145.827-6 - CATANDUVA JOO GERALDO RUETE e MINISTRIO PBLICO - apelantes e apelados I - A Justia Pblica e o ru JOO GERALDO RUETE inconformados com a r. sentena do Magistrado da 2. Vara Criminal de Catanduva (Processo n. 427/96-A) que, com apoio no art. 386, III e VI, do Cdigo de Processo Penal, o absolveu da acusao de infringncia do art. 19, 2., da Lei 8.213/81, oportuno tempore, apelam. A Justia Pblica objetiva a reforma do julgado com a condenao nos termos da denncia que entendeu provada, realando que figura-tipo prescinde de dolo, basta a voluntariedade da conduta e reinante o dolo eventual. A defesa igualmente apela objetivando o reconhecimento da inpcia da denncia, por descrever fatos atpicos. Pelo improvimento de ambos os apelos o parecer da Douta Procuradoria. II - A Lei 8.213/81 dispe sobre os Planos de Benefcios da Previdncia Social e d outras providncias. O artigo referido na denncia, 19, consta do Captulo II, Das Prestaes em Gerais, Seo I, Das Espcies de Prestaes. Tal artigo dispe respeito da configurao de acidente do trabalho, definindo-o como acidente do trabalho o que ocorre pelo exerccio do trabalho a servio da empresa ou pelo exerccio de trabalho dos segurados referidos no inciso VI do art. 11 desta Lei, provocando leso corporal ou perturbao funcional que cause a morte ou a perda ou reduo, permanente ou temporria da capacidade para o trabalho. No caso em questo, o apelante e apelado, JOO GERALDO RUETE, foi denunciado por violao ao 2., do art. 19, acima transcrito, cuja redao especfica diz que constitui contraveno penal, punvel com multa, deixar a empresa de cumprir as normas de segurana e higiene do trabalho.

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    Norma penal em branco, portanto. Entende-se por lei penal em branco as que estabelecem uma pena ou sano para uma conduta que ser individualizada em outra lei, formal ou material, que a completa na integrao da figura-tipo. Dos autos se infere que no ms de junho de 1.996, nos dias 13 e posteriores, Fiscais do Ministrio do Trabalho dirigiram-se a Regio de Catanduva, mais precisamente na cidade de Pindorama, onde, constataram descumprimento de normas regulamentadoras de segurana e higiene de trabalho, nas empresas Destilaria So Geraldo Ltda. e Agropastoril So Geraldo Ltda. (fazendas destinadas ao cultivo de cana-de-acar), sendo que como scio-proprietrio, de ambas, figurava a pessoa de JOO GERALDO RUETE. Na diligncia apuraram-se inmeras irregularidades, dentre as quais: a) no oferecimento aos trabalhadores de suprimento de gua, potvel e fresca, em quantidade de 250 ml, por hora/homem/trabalho, sendo que as localizadas nos nibus no eram adequadas ou de acordo com a NR 24.7.1.1, da Portaria 3.214/78 do MTB; b) no fornecimento de materiais de primeiros socorros e recursos mnimos para atendimento de urgncia, agindo em desacordo com a NRR 2, da Portaria 3.067/88 do MTB; c) falta de tcnico de segurana do trabalho, o que se exige dado o nmero mdio de trabalhadores, descumprindo a NR 2.1, da NRR 2; d) no fornecimento aos trabalhadores de dispositivos trmicos em nmero suficiente, de modo a garantir o aquecimento da alimentao, conforme NR 24.6.3.2; e) falta de elaborao e implementao de Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional, NR 7; f) no utilizao por parte dos trabalhadores, por no terem recebidos, de luvas de raspa de couro, caneleiras com proteo de ao, calados de segurana com biqueira de ao, em desconformidade com a NRR 4; e g) ausncia de condies e equipamentos bsicos de segurana nos nibus utilizados para o transporte dos trabalhadores. Diante de tais irregularidades o representante do Ministrio Pblico ofereceu denncia, imputando ao ru a prtica de contraveno penal, art. 19, 2., da Lei 8.213/81. Tentou-se a aplicao da Lei 9.099/95, com proposta de transao penal por parte do rgo acusatrio (cf. fls. 104), a qual no restou aceita pela defesa. O processo teve seu regular prosseguimento, restando o ru absolvido pelo juzo monocrtico, sob fundamento de que ausente o requisito subjetivo do tipo, dolo. Da a razo do presente inconformismo. A Justia Pblica requereu a condenao nos termos da denncia que entendeu provada, alegando para tanto que prescindvel o dolo no caso em questo, bastando a simples voluntariedade da conduta. E, se exigvel o dolo na conduta do ru estaria configurado o dolo eventual pela omisso do cumprimento de obrigaes impostas ao empregador. A nobre defesa, no obstante o decreto favorvel, sustenta a tese de que inepta seria a inicial por descrever fatos atpicos. Analisa-se, pois, os pedidos. Em primeiro, quanto a prejudicial argida pela defesa, adoto os fundamentos jurdicos incorporados na r. sentena absolutria, rejeitando a pretenso deduzida. A inicial no se mostra inepta. Descreveu os fatos com clareza e imputa ao denunciado a responsabilidade pela prtica de contraveno penal, consistente em descumprir as normas de segurana e higiene do trabalho.

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    No se pode exigir em ilcito como o presente descrio pormenorizada dos trabalhadores que estariam sem usar ou receber equipamentos de segurana, sendo que, como bem asseverou o Magistrado sentenciante, todas as irregularidades consignadas na inicial tm apoio na constatao levada a efeito por Fiscais do Ministrio do Trabalho, conforme se verifica do Auto de Infrao de fls. 106/115, documentos oficiais, cujo teor goza da presuno de veracidade, diante da condio de funcionrios pblicos dos emitentes. E ademais, nos referidos documentos oficiais constam nomes de vrios trabalhadores que na data da inspeo encontravam-se presentes no local dos fatos e, correlativamente, expostos aos riscos do no cumprimento das normas regulamentadoras. Da, presentes os requisitos exigidos em nosso ordenamento jurdico, necessrios para o recebimento da pea vestibular, no se h de falar em inpcia da exordial. E os fatos nela descritos so tpicos, por extenso, completada a norma penal em branco, pelas portarias regulamentadoras da obrigao do empregador no resguardo da segurana e higiene do trabalhador. Ao exame do mrito da causa. As provas amealhadas no caderno processual demonstram, de forma induvidosa e consubstanciosa, a autoria e a materialidade delitiva. E tanto assim que o culto Magistrado sentenciante, em sua fundamentao, descreveu e considerou todas as irregularidades descritas na exordial, reinantes, uma por uma, sem exceo, s no julgando procedente a ao penal por entender que ausente o elemento subjetivo do tipo, dolo. Vejamos. A falta de fornecimento de materiais de emergncia para primeiros socorros, demostrada no Auto de Infrao de fls. 109, bem como no depoimento de Alcebiades que confirmou a inexistncia de tais objetos nas frentes de trabalho (cf. fls. 371/373). Quedou-se, pois, o vazio a alegao defensiva de que a norma regulamentadora no menciona tal procedimento e, a juntada de documentos de fls. 245/258, notas fiscais de compra de referidas mercadorias, no supre tal descumprimento pois pequena a quantidade adquirida se comparada com o nmero de trabalhadores. E ainda, registre-se que os documentos encartados s fls. 273/281 e fls. 186, demonstra a aquisio da referida mercadoria em 14 de junho de 1.996, um dia aps a fiscalizao levada a efeito. Com tal proceder, adquirindo tais bens aps a consumao e configurao do delito, tentou apenas sanar a omisso at ento reinante. Comprovou-se, igualmente, a ausncia de tcnico de segurana de trabalho, profissional este habilitado a auxiliar na aferio do cumprimento das Normas Regulamentares de Segurana, bem como responsvel pela orientao dos trabalhadores no uso de equipamentos que viessem, eventualmente, a lhes ser entregues. A defesa alega que no havia o costume na regio da contratao desses profissionais, por isso a dificuldade em t-lo em suas empresas, sendo que foram feitas publicaes com esse intuito (cf. fls. 315/321). No se justifica a falta do cumprimento da norma e, data venia, infere-se que as referidas publicaes datam de dezembro de 1.996 e fevereiro de 1.997, respectivamente, em tempo bem posterior a inspeo que comprovou a irregularidade. Tambm quanto ao fornecimento de equipamentos prprios para aquecimento da alimentao a ser ingerida pelos trabalhadores, no obstante dispe a norma regulamentar sobre marmitas trmicas, houve descumprimento de seu preceito. Neste sentido foram os depoimentos de Thomaz e Alcebiades, os quais afirmaram o no recebimento de qualquer dispositivo para esse fim. Ademais, tendo em vista que os fiscais realizaram a diligncia no horrio reservado para o almoo dos trabalhadores, tornou-se induvidoso o descumprimento deste procedimento.

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    A nota fiscal de fls. 260, que comprova a aquisio de 260 (duzentos e sessenta) marmitas trmicas, no serve de escusa espancar tal imputao pois, a aquisio se deu no dia 20 de junho de 1.996, data posterior ao da fiscalizao. No que diz respeito ao Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional, prevista na norma NR 7.2.3., tambm restou descumprida. A alegao de que eram realizados exames quando da admisso e demisso dos empregados, no se justifica pois o preceito regulamentar faz meno a exames peridicos, com o intuito de preveno e diagnsticos de agravos sade relacionada com a atividade desenvolvida pelos trabalhadores. No Auto de Infrao de fls. 111, consta o no fornecimento aos trabalhadores de luvas de couro, caneleiras com proteo e calados de segurana com biqueira de ao, redundando em mais uma irregularidade por parte do empregador. Tal fato restou corroborado pela prova testemunhal, Thomaz e Alcebiades (cf. fls. 369/373). E a desculpa de que lhes eram concedidos os equipamentos, e no utilizavam por vontade prpria, no se comprovou nos autos e, mesmo se assim o fosse, mas no o , caberia ao empregador, na falta de um profissional competente, v.g., Tcnico de Segurana do Trabalho, adverti-los quanto ao perigo de no se fazer uso de tais equipamentos preventivos. Por derradeiro, no obstante a precariedade dos veculos utilizados para o transporte dos trabalhadores, como bem acentuou o juzo monocrtico, nota-se a inexistncia de tipicidade para a conduta referida no texto normativo (NRR 1.7. alnea e). Infere-se de seu dispositivo que: cabe ao empregador rural: e) colaborar com as autoridades na adoo de medidas que visem proteo dos trabalhadores rurais. Em se tratando de norma penal de tipo aberto, no descrita qual a colaborao a ser prestada pelo empregador, se faz necessria definio exata da conduta do ru para imputar-lhe prtica do ilcito, o que no a hiptese dos autos pois cuida-se de regra meramente preventiva e que no permite a devida tipificao. Desta forma, demonstradas as inmeras irregularidades nas empresas do ru, seria o caso de conden-lo por prtica de infrao contravencional, nos termos da denncia. Mas, ocorre que o culto Magistrado de primeiro grau, aps analisar com acuidade as provas encartadas nos autos, e embora concluindo que reinante tais irregularidades, julgou improcedente a ao penal sob o argumento de que ausente o dolo necessrio para condenao, haja vista que o ru/empregador, responsvel pela parte financeira da empresa, no teria conhecimento das tais deficincias. Data venia das vozes divergentes, no comungo do entendimento supra mencionado. A nossa legislao, em relao ao elemento subjetivo da contraveno, adotou como critrio para sua caracterizao o dolo e a culpa, admitindo as mesmas caractersticas fixadas no art. 18, incisos I e II, do Cdigo Penal. Neste sentido o magistrio do ilustre Prof. BASILEU GARCIA que assim assevera: As contravenes, tanto quanto os delitos, cometem-se ou deliberadamente ou por mera desateno. Seriam dolosas ou culposas. Mas, como so ocorrncias de pequena monta, sempre apenadas benignamente, a sua distribuio pelas duas categorias do elemento subjetivo, obrigando a mais minudente redao de cada figura, no teria sensveis conseqncias prticas (Instituies de Direito Penal, vol. I, tomo I, 4. edio, 1972, SP, MAX LIMOND, p. 283). Embora no seja esta a discusso em pauta, de que tenha o ru agido com dolo ou culpa, sendo ambas aptas a configurar a conduta contravencional, a atitude do empregador, deixando de cumprir normas de segurana e higiene do trabalho, revelou comportamento de natureza negativa. Em

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    outras palavras, caracterizou-se a existncia da infrao contravencional pois o sujeito ativo, no caso o ru (empregador), tinha o dever jurdico de praticar o ato de que se absteve, o que torna sua conduta omissiva. A prtica por omisso de delito comissivo exige, no entanto, uma omisso qualificada. No , pois, qualquer omisso, o que tornaria impossvel e intolervel o exerccio de qualquer atividade profissional, a ponto de poder ser responsabilizado criminalmente por algo que poderia ter feito e no fez. Estar-se-ia alargando, sem limites, a responsabilidade penal, a ponto de consagrar o regressus ad infinitum, o que no pode e no admitido pela nossa legislao penal. Exige-se, pois, omisso qualificada. E, por omisso qualificada, entende-se que o sujeito deve ter conhecimento de que lhe possvel impedir a produo de resultado, ou, em outras palavras, poder de fato (WELZEL) que tem para interromper a causalidade que desembocar no resultado. Tais condutas ilcitas se perfazem com a simples absteno da prtica de um ato, independentemente do resultado posterior. E o resultado imposto ao sujeito pela simples omisso. Fosse necessrio o dolo, direto ou eventual, como entendeu a r. sentena guerreada, estaramos diante da figura tpica do art. 132 do Cdigo Penal, expor a vida ou a sade de outrem a perigo direto e eminente. Tal crime exige, para sua integrao, a presena do dolo, requisito dispensvel espcie dos autos, mera contraveno penal punvel com multa, por parte do empregador que deixa de cumprir com as normas de segurana e higiene do trabalho (art. 19, 2., da Lei 8.213/81). Correta, pois, a iniciativa Ministerial em imputar ao empregador a infrao meramente contravencional. Delito de mera conduta ou puramente formal onde dispensvel se perquirir da ocorrncia do dolo ou culpa. Resguarda a incolumidade pblica do trabalhador em geral e integra-se pela simples conduta, independentemente da produo de perigo concreto (DAMSIO - Lei das Contravenes Penais, Saraiva, 1993, pg. 101). E a contraveno, entre ns, considerado delito ano, porque regula delitos de menos gravidade, enquanto ao direito penal o resguardo dos de maior gravidade, e, a diferena entre eles meramente quantitativa. A ordem contravencional um direito penal de menor quantia. Considera-se, pois, a existncia de infraes penais que deve ser includas num ordenamento jurdico de maior gravidade, crimes regulamentados por lei penal material, e outras que devem ser cuidadas mediante uma ordem de menor gravidade, as denominadas contravenes penais. E, para a existncia da contraveno, infrao de menor gravidade, basta, para sua configurao, a culpa como regra geral (art. 3. da Lei das Contravenes Penais). No caso, repita-se, o apelante, pelo cumprimento das normas de segurana do trabalho, ao deixar de fornecer o uso de apetrechos necessrios e obrigatrios proteo do trabalhador, em especial, preveno do acidente de trabalho-tipo, obrou manifesta e punvel negligncia, posto que, com seu omisso proceder, colocou em risco a integridade fsica de seus funcionrios. O fato de, aps ter sofrido diversas e mltiplas autuaes pela fiscalizao do Ministrio do Trabalho (cf. fls. 106/15), haver comprado equipamentos de proteo individual, botinas, luvas e etc., bem como a serdia contratao de tcnico de segurana de trabalho, pessoa habilitada a conferir e fazer cumprir as Normas Regulamentadoras de Segurana, no elidem a responsabilidade penal do empregador. Com tal conduta, louvvel at, simplesmente acabou por se enquadrar regiamente no cumprimento de sua obrigao legal, na qualidade de empregador, ou seja, a de resguardar a segurana

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    e higiene do trabalhador, tal qual disposto no 1., do art. 19 da Lei 8.213/81. Demonstra que, agora, est a cumprir o que lhe era exigido por lei e, at ento, no o vinha fazendo satisfatoriamente e, com tal proceder, colocando em risco a integridade fsica dos obreiros por ele contratado para o perigoso servio de corte de cana. Justamente a hiptese dos autos. Na posio de empregador, caberia ao ru, obrigatoriamente, cumprir as normas de segurana e higiene do trabalho, no se podendo furtar de tal obrigao prevista na Lei 8.213/81, que dispe sobre os Planos de Benefcios da Previdncia Social e d outras providncias. Alegar ignorncia por assumir outras atividades na administrao da empresa, no lhe afasta da responsabilidade criminal pois, como cedio, em nosso ordenamento jurdico penal, no pode figurar no plo passivo da relao processual a pessoa jurdica. Por tudo que resultou exposto e o mais que dos autos consta, impe-se a reforma do julgado, tal qual o objetivado no apelo Ministerial, no assistindo razo alguma ao mavrtico defensor, com a conseqente condenao do ru nos termos da denncia, parcialmente acolhida. A sano prevista espcie meramente pecuniria. O ru engenheiro civil e scio proprietrio da Destilaria So Geraldo Ltda. e Agropastoral So Geraldo Ltda. e, segundo afirmou em juzo, h mais de vinte e cinco anos administra trs empresas, duas delas, certamente as versadas nos autos, o que denota posio econmica razoavelmente abastada. Da porque o valor do dia-multa de se distanciar do piso, fixado seu valor em duzentos reais, dentro da possibilidade econmica do agente. Fixar em quantia menor poderia servir de estmulo a novas investidas no descumprimento de suas obrigaes, tal qual o aqui apurado, o que no se recomenda. Afora isso o valor encontrado, certamente, no o privara, nem seus familiares, de meios subsistncia. Ante ao exposto, nego provimento ao apelo defensivo e dou parcial provimento ao da Justia Pblica para condenar o ru a coima de 10 (dez) dias-multa, no valor de duzentos reais a diria, por incurso no art. 19, 2., da Lei 8.213 de 24 de julho de 1.991. PRICLES PIZA Relator Jurisprudncia17. EMENTA 039 CONTRAVENO PENAL LEI N 8.213/91. Deixar a empresa de cumprir as normas de segurana e higiene do trabalho. Agente que no fornece e no exige o uso de apetrechos necessrios a proteo do operrio. Caracterizao. Existncia de dano ou perigo concreto ao bem juridicamente tutelado. Desnecessidade: Incorre nas penas do art. 19, 2, da Lei n 8.213/91, o agente que, responsvel por empresa construtora, no fornece e no exige o uso dos apetrechos necessrios a proteo do operrio, pois age com manifesta negligncia punvel, sendo absolutamente irrelevante a existncia do dano ou perigo concreto ao bem juridicamente tutelado, por tratar-se de contraveno penal de perigo abstrato ou presumido. APELAO N 998.343/1, 11 Cmara do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo, relator Xavier de Aquino, processo original da 5 Vara Regional de Santana da Comarca de So Paulo, feito n 235/93. 17 Jurisprudncia gentilmente cedida pela Coordenadoria da Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos Procuradoria Regional do Trabalho da 2 Regio-SP

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    EMENTA 021 HOMICDIO CULPOSO.Menor que recebe ordem para pulverizar lavoura de alta toxidez Infrao aos preceitos do Cdigo de Menores e do Estatuto do Trabalhador Rural Delito caracterizado. RESPONSABILIDADE PENAL Modalidades de culpa Equivalncia, em princpio, quanto ao tratamento penal. Age culposamente quem, infringindo normas legais que probem trabalho de menor em servios perigosos, ordena a este pulverizar lavoura com inseticida de elevada toxidez, mxime quanto, conhecedor do preparado, deixa de fornecer-lhe indispensveis artefatos de proteo. So indistingveis as modalidades de culpa sob o ponto de vista da censurabilidade, eqivalendo-se, aprioristicamente, quanto ao correspondente tratamento penal. Assim, tanto faz no prever o resultado previsvel, como prev-lo, confiando em sua no ocorrncia, ou mesmo quer-lo, supondo, erroneamente, no contrrio ao direito, pois que comum a todas as espcies a omisso do dever de precauo ou diligncia. TACrimSP 53 EMENTA 022 HOMICDIO E LESES CULPOSAS. Engenheiro agrnomo e administrador que permitem que lavradores apliquem inseticida na lavoura sem a proteo necessria Contribuio do agente sob a modalidade de omisso. Se as vtimas tambm agiram culposamente, tal quadro no exclui a participao culposa dos agentes, aos quais cumpria traar as normas de trabalho em consonncia com os cuidados indispensveis preservao da sade e da vida daqueles, que, em verdade, so homens rsticos, mas no de ndole rebelde e agressiva. Se a realidade impunha a assuno de riscos, por estes a responsabilidade, sobretudo no campo criminal, s poderia pesar nos ombros de quem os deliberara assumir. JTACrSP-LEX 459/69 EMENTA 023 HOMICDIO CULPOSO. Queda e morte de operrio durante execuo de reparos na cobertura de prdio Culpa do empreiteiro, pela inexistncia de segurana. Culpa alguma se pode imputar ao ru ou ao comitente dos servios empreitados, mas sim ao empreiteiro responsvel pela execuo dos reparos na cobertura do prdio, pois somente a ele cabia a obligatio ad delingentiam no sentido de acompanhar o conserto do telhado, cuja parte tcnica e medidas de segurana do trabalho eram de sua exclusiva responsabilidade. JTACrSP LEX 338/76 EMENTA 024 HOMICDIO CULPOSO. Acidente de trabalho Morte de dois operrios decorrente de deslizamento de terra, em obra, em construo Responsabilidade do engenheiro e do mestre de obras bem caracterizadas. As normas de segurana do trabalho nas atividades da construo civil, exigem que os taludes das escavaes de profundidade, superior a 1,5 m devam ser escorados com pranchas metlicas ou de madeira, assegurando estabilidade de acordo com a natureza do solo. JTACrSP-LEX 499/80 EMENTA 025 HOMICDIO E LESES CORPORAIS CULPOSAS. Acidente em obras de demolio de prdio Responsvel que recruta pessoal inexperiente e desprotegido Culpa configurada Condenao mantida. Se o ru, encarregado de demolio, no planeja a obra, escolhe operrios tecnicamente despreparados e no lhes fornece instrumentos adequados e equipamentos de segurana, limitando-se a recomendar cuidado, age com manifesta culpa, por impercia e por negligncia. JTACrSP-LEX 299/83 EMENTA 026 HOMICDIO CULPOSO. Negligncia Falta de manuteno de elevador pelo Engenheiro responsvel Configurao.

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    HOMICDIO CULPOSO. Impercia Manuteno de elevador Empregado sem capacidade tcnica Defeito no constatado Configurao. Age negligentemente e responde pelas conseqncias o Engenheiro responsvel pela manuteno de antigo elevador que violando posturas municipais, deixa de realizar pessoalmente os servios contratados, contribuindo, com isso, morte da vtima. Age imperitamente o empregado de empresa especializada em manuteno de elevadores que executa servios de reparo sem possuir capacitao tcnica exigida, e, por isso, no constata defeito em porta sanfonada interna de elevador antigo, contribuindo assim para a morte da vtima. RJDTACRIM 90/10 EMENTA 027 HOMICDIO CULPOSO. Engenheiro responsvel por obra que, por inobservncia de exigncias tcnicas, d causa a morte de Operrio Negligncia Caracterizao: Age com negligncia e responde pelo crime de homicdio culposo o Engenheiro responsvel por uma obra que d ordens para que seja feita uma vala em local aterrado sem a observncia das normas tcnicas exigidas, o que a causar a morte da vtima por asfixia em virtude de desmoronamento, sendo irrelevante a eventual cupabilidade concorrente do Encarregado da turma de Operrios, vez que est presente a relao de causalidade entre o evento e a responsabilidade do agente. RJTDTACRIM 247/23 EMENTA 028 LESO CORPORAL CULPOSA. Obra rodoviria Desabamento de viga de sustentao Inexistncia de erro de clculo de engenharia ou de fenmeno irresistvel da natureza Argio de caso fortuito repelida. Toda obra, ao ser projetada, obedece inicialmente a um minucioso trabalho de pesquisa, que envolve basicamente as condies do solo e bem assim s condies oferecidas pela natureza, para a sua execuo, sendo o estudo realizado tendo como retaguarda sempre o designado "coeficiente de segurana", isto , avaliao de riscos mximos e as figuras de preveno destinadas a cada caso. Assim, salvo hiptese de erro de clculo de engenharia ou do fenmeno irresistvel da natureza, responde o engenheiro responsvel pela execuo da obra, por falha causadora de desabamento de viga de sustentao. TACrimSP 256. EMENTA 029 LESO CORPORAL CULPOSA. Empregador que contrata menor para auxiliar em cilindro destinado ao preparo de massa de po Anterior acidente na mesma mquina Imprudncia Culpa configurada. manifesta a imprudncia de comerciante que, sabendo dos perigos do manuseio de cilindro destinado ao preparo de massa de po, no toma as cautelas devidas, para evitar o acidente, perfeitamente previsvel, ante a ocorrncia de fato anterior, que vitimara outro menor. RJDTACRIM 122/1 EMENTA 030 LESO CORPORAL CULPOSA. Agente que mantm em seu salo de cabeleireiros produto com alcalinidade superior autorizada Ocorrncia de queimadura no couro cabeludo de cliente Caracterizao. Incorre nas sanes do art. 129 6, do CP, o agente que, imprudentemente, mantm em seu salo de cabeleireiros produto com alcalinidade superior autorizada, que, utilizado por funcionrio por tempo excessivo, vem a provocar queimaduras no couro cabeludo de cliente do estabelecimento, no o exculpando as alegaes de inmeras pessoas que receberam o tratamento sem conseqncias, de existirem outros produtos para a mesma finalidade com pH ainda mais elevado e de a aplicao ter sido feita por terceiro, vez que sua culpa decorre do fato de manter tal produto em seu estabelecimento. RJDTACRIM 118/20. EMENTA 031 LESO CORPORAL CULPOSA. Acidente com mquina agrcola Responsabilidade do empregador que deveria tomar providncias protetivas Negligncia Culpa configurada. De pouco vale dizer que o fabricante do equipamento deveria ser responsabilizado; talvez tambm o devesse; mas a punio de empregadores displicentes acaba sendo forma de compelir-se o fabricante a tomar maiores providncias protetivas, ao invs de simplesmente confiar na diligncia de seus consumidores, afinal negligentes.

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    Descabe pedir absolvio a pretexto de injurdica isonomia, acarretadora da mais pura injustia. JTACrSP-LEX 264/83. EMENTA 032 PERIGO PARA A VIDA OU SADE DE OUTREM. Dirigentes de empresa que permitem o trabalho com produtos qumicos altamente lesivos e nocivos em precrias condies de segurana. Caracterizao. As condies precrias de segurana da empresa que trabalha com produtos qumicos altamente lesivos e nocivos expondo seus empregados a riscos constantes e iminentes, evidenciam, inequivocamente, que os responsveis, conscientemente, admitem e aceitam o risco de produzir resultados danosos, estando evidente o dolo eventual necessrio para a caracterizao do delito do art. 132 do CP. Apelao n 930.413/7, 15 Cmara do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo, relator Borges Pereira, processo original 2 Vara Regional da Lapa Comarca de So Paulo, feito n 1088/90. EMENTA 033 LESO CORPORAL CULPOSA. Dono de empresa que permite que funcionrio opere, sem treinamento adequado, prensa desprovida de sistema de proteo, onde vem a perder parte do dedo da mo. Negligncia. Caracterizao: EMENTA OFICIAL. Quem explora atividade econmica tem o dever de resguardar a segurana e incolumidade fsica de seus operrios, pena de responder por negligncia se a falta de trava de segurana de uma prensa vier a lesion-los no desempenho de suas funes. O treinamento a ser propiciado a uma operria semi-alfabetizada e jovem, sem qualquer formao especial e entregue a uma operao perigosa com mquina antiga e desprovida de sistema de segurana h de ser completo e suficiente a evitar acidentes, quanto a tanto se mostrar insuficiente, ntida a negligncia do empregador. A perda do indicador da mo direita de operria que opera prensa desprovida de sistema de proteo pode ser punida como leses corporais culposas sob a modalidade negligncia, imputvel ao dono da empresa. APELAO n 1.038.885/1, 11 Cmara do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo, relator Renato Nalini, processo original da 12 Vara Criminal da Comarca de So Paulo, feito n 729/95. EMENTA 034 LESO CORPORAL CULPOSA. Agente que designa funcionria sem habilitao especfica para operar mquina que oferece risco pessoal ao operador. Imprudncia. Configurao: efetivamente imprudente a conduta do agente que designa funcionria sem habilitao especfica para operar prensa, a substituir colega que faltara, vez que deixou de observar o dever objetivo de cuidado a que estava obrigado, consistente em s designar pessoas com a necessria qualificao profissional para a operao de mquina que oferece risco pessoal ao operador, sendo-lhe o evento previsvel objetiva e subjetivamente, APELAO n 971.079/6, 1 Cmara do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo, relator Eduardo Goulart, processo original da 5 Vara Regional de Santana da Comarca de So Paulo, feito n 681/94. EMENTA 035 LESO CORPORAL CULPOSA. Gerente geral de empresa que permite que funcionrio atue fora de sua funo, operando uma mquina sem o treinamento necessrio, o que vem a causar-lhe a perda da mo. Caracterizao: Incorre nas penas do art. 129 6, do CP, o gerente geral de empresa que permite que funcionrio, atuando fora de sua funo, opere mquina injetora de plstico sem o necessrio treinamento, o que vem a causar-lhe esmagamento da mo e conseqente perda da mesma por amputao traumtica, sendo irrelevante o fato da vtima gostar e , inclusive, pedir para manusear a injetora, pois isto no diminui a responsabilidade de quem se aproveita dessa disposio para expor operrio a risco previsvel. APELAO N 863.503/1, 7 Cmara do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo, relator Antnio Cortez, processo original da 3 Vara Regional de Santo Amaro da Comarca de So Paulo, feito n 1.334/91. EMENTA 036 LESES CORPORAIS E HOMICDIO CULPOSO. Engenheiro e tcnico de segurana do trabalho que, por negligncia, permitem o aprofundamento da escavao sem adoo dos cuidados tcnicos exigveis.

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    Configurao. Ocorrncia: caracteriza os delitos de leses corporais culposas e homicdio culposo a conduta de engenheiro e tcnico de segurana do trabalho que, por negligncia, permitem o aprofundamento de escavao sem adoo dos cuidados tcnicos exigveis, o que vem a causar acidente, vez que infringem dever de cautela que lhes incumbe. APELAO N 873.721/6, 8 Cmara do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo, relator Paulo Dimas, processo original da 3 Vara Criminal da Comarca de Araatuba, feito n 04/91. EMENTA 037 HOMICDIO CULPOSO. Construo civil, conserto de telhado. Imprudncia. Caracterizao: caracteriza a culpa na modalidade de imprudncia a conduta do agente, encarregado de obra, que atribui a menor inexperiente a realizao de tarefa perigosa, consistente em reparos num velho telhado de um galpo, sendo que para a execuo do servio praticamente no existiam dispositivos de segurana, sobrevindo queda e morte deste ltimo. APELAO N 545.997/7, 9 Cmara do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo, relator Barbosa de Almeida, processo original da 3 Vara Criminal de So Bernardo do Campo da Comarca de So Paulo, feito n 166/84. EMENTA 038 HOMICDIO CULPOSO. Acidente de trabalho: a permisso dada a operrio de construo civil para trabalhar em andaime marcado pela precariedade e sem capacete ou cinto de segurana, usando sapatos comuns, est a revelar imprudncia e negligncia do empregador. APELAO N 304.997/8, 4 Cmara do Tribunal de Alada Criminal de So Paulo, relator Nelson Schiesari, processo original da 25 Vara da Comarca de So Paulo, feito n 415/80. Apostila revisada em 26/11/2002